Criciúma Orgulho de Cidade - II

Transcrição

Criciúma Orgulho de Cidade - II
1
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO
CRICIÚMA,
ORGULHO
DE
CIDADE! II
Fragmentos da História de seus 120 Anos
2000
2
Revisão:
“A luta contra erro tipográfico tem algo de homérico. Durante a revisão os erros se
escondem, fazem-se positivamente invisíveis”.
Monteiro Lobato
Capa: Evandro Manique Barreto Buogo
Fotos: Foto Zappelini
Praça Nereu Ramos
N 263c
Naspolini Filho, Archimedes
Criciúma, Orgulho de Cidade! II: Fragmentos da
História de seus 120 Anos / Archimedes Naspolini
Filho
-Criciúma: Ed. do autor; 2000
224
Il.
1. Criciúma História. I Título
CDD. 21ª Ed. 981.64
Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária Rosângela Westrupp – CRB 364/14ª
Região
3
Para
Marcos Rovaris, José Gaidzinski e Francisco Meller;
Cincinato Naspolini;
Elias Angeloni e Hercílio Amante;
Addo Caldas Faraco;
Alfredo Bortoluzzi, João Carlos de Campos,
Carlos Octaviano Seára e Luiz Lazzarin;
Paulo Preis, Sinval Rosário Boherer e Napoleão de Oliveira:
Nery Jesuino da Rosa;
Arlindo Junkes;
Ruy Hülse;
Nelson Alexandrino e João Sônego;
Algemiro Manique Barreto e Fidelis Bach;
Altair Guidi, Mário Sônego e Ademir Uggioni;
José Augusto Hülse e Roseval José Alves;
Eduardo Pinho Moreira e Anderlei Antonelli;
Paulo Roberto Meller e Maria Dal Farra Naspolini
que, no exercício do cargo de Prefeito do Município não mediram esforços para fazer de
Criciúma, este orgulho de cidade!
4
A TÍTULO DE PREFÁCIO
Ainda sob o impacto emocional experimentado há 25 dias, quando protagonizei um dos mais
memoráveis eventos literários da Região, retorno à atividade radiofônica que produziu o objeto
daquele acontecimento: o livro “Criciúma Orgulho de Cidade, Fragmentos da História de seus 120
anos”.
O livro retrata, exatamente, as crônicas trazidas ao rádio desde 1º de julho de 1999 até 06 de
janeiro do corrente ano. Lançado nesse dia, no calçadão da Praia do Rincão, teve sua edição
literalmente esgotada em menos de duas semanas.
No prefácio da obra epigrafada, falo da minha disposição de continuar este trabalho, haja vista que
significativa parcela de facetas da nossa História não fora ali contemplada. Cito, inclusive, três dos
tantos nomes de tantas pessoas que, a rigor, precisam ser mencionadas e que, por absoluta falta de
data, não o foram naquela edição.
Afora isto, sinto-me investido da responsabilidade de contar essa história fantástica pela resposta
recebida do povo criciumense que não só ouviu a produção radiofônica como, também, adquiriu o
livro.
Não bastassem estes motivos, considere-se o interesse da Rádio Eldorado que, através do seu
diretor José Adelor Lessa, insistiu na continuidade deste trabalho.
Assim, a partir de hoje e até 31 de agosto, estarei ocupando este espaço, neste horário, de segunda
a sexta-feira, radiofonizando perfis biográficos e narrando fatos que, na minha ótica, ajudaram a
construir a nossa história.
Para esta disposição, prezado ouvinte, faço-lhe dois pedidos:
o primeiro para que me acompanhe;
o segundo para que, na medida do possível, me auxilie nesta obra monumental, sugerindo temas e
fatos para a narrativa diária. Essa ajuda pode ser através do telefone, pessoalmente ou por carta no
endereço da Rádio Eldorado.
Feita esta (re) apresentação, colho a oportunidade para reiterar a todos os meus sentimentos da
mais alta estima e amizade.
Eu gosto de falar de Criciúma, de qualquer época, este orgulho de cidade!
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Publicado dia 02 de fevereiro – quarta-feira
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APRESENTAÇÃO
Tenho o máximo prazer de aceitar a oportunidade de fazer esta apresentação
de “CRICIÚMA, ORGULHO DE CIDADE II, de Archimedes Naspolini
Filho por razões pessoais e literárias. Até relia a apresentação do primeiro
livro, com o cuidado para não ficar fora do que se costuma fazer. José Adelor
Lessa, Diretor da Rádio Eldorado, foi de uma felicidade imensa ao fazer
aquela apresentação. Reli, ao tempo, as duas orelhas, a primeira do ilustre
prefeito municipal de Criciúma, Dr. Paulo Meller e a segunda de Zulcema
Póvoas Carneiro que situou muito bem o escrito do seu ex-aluno.
Digo por razões pessoais, pelo seguinte: o Archimedes não sabe, mas tenho
com ele mais afinidade do que pensa. Conheço-o desde os anos 60, quando a
política estudantil efervescia em todos os cantos do país, e eram inúmeras as
agremiações de jovens de todos os matizes ideológicos. Na época um irmão
seu, o Dr. e Professor Antenor Naspolini, foi também meu professor. E era
muito bom professor com quem aprendi muito do que hoje sei. Atualmente o
Professor Naspolini é Secretário de Educação do Estado do Ceará, onde tem
realizado um excelente trabalho, pelo que sei. O Antenor me falava muito do
Archimedes, que vim a conhecer mais tarde. Depois veio a família e assim por
diante. E hoje estamos diante de um escritor, com mais de cinco livros
publicados. Ainda, por razões pessoais é porque também escrevo. Já escrevi
muito para jornais, rádios, boletins, discursos, estatutos, regulamentos,
convenções e até tenho um livro esboçado. Não sei se vou terminar. Portanto,
somos pessoas afins. E me sinto muito à vontade nesta seara
Fragmentos da História dois 120 anos de Criciúma, “este orgulho de cidade”,
como diz o Archimedes, com certeza constituir-se-á em livros que a grande
maioria dos criciumenses terá em suas casas, mesmo porque não há outra
forma de se ter à mão a história do surgimento e do desenvolvimento da
cidade.
Por uma questão de oportunidade tenho ouvido praticamente todos os
capítulos que foram transmitidos pela Rádio Eldorado e confesso que tenho
me divertido e aprendido um monte sobre Criciúma e seus atores.
O jornalista e escritor Archimedes, com seu estilo acurado, mas ao mesmo
tempo leve e divertido, tem conseguido traduzir para o escrito, de forma
brilhante, os fatos que marcaram a história de Criciúma e região. Sim, porque
de Criciúma irradiou o desenvolvimento para as demais regiões. O estilo
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simples, natural, claro e conciso, flui de uma forma citadina, caseira,
agradável e convidativa para se ler mais e mais. Eu mesmo tenho rido muito
ao ouvir, no rádio, e guardo um exemplar em casa, não pelo fato de ser seu
amigo e conhecido, mas mais pela estima que tenho pela obra.
Por outro lado, fico imaginando o grande trabalho e a persistência exigidos do
autor para a pesquisa dos fatos narrados. São entrevistas, procura de pessoas,
busca em cartórios, em bibliotecas, nas prefeituras, em jornais e outros meios
que, com certeza, exigiram grande dedicação, desprendimento, atenção e mito
trabalho. Às vezes escutava no rádio, dois minutos, nos quais passava na
mente um longo período da história de Criciúma. E eu ficava pensando “onde
foi o Archimedes buscar isso tudo?” E se não fosse o Archimedes, com a
colaboração da Rádio Eldorado, como poderíamos, nós, ter a oportunidade de
saber tanto de Criciúma, e tantas coisas boas?
Não vou chamar a atenção para nenhum capítulo deste segundo livro, porque
todos, para mim, são maravilhosos, divertidos, instrutivos, conscientes, cultos
e atrativos. Archimedes em o condão de falar de coisas sérias e relatá-las de
forma tão cristalina que nos parecer ouvir as pessoas falando no bar ou no
local onde elas estiveram, na Igreja, na Prefeitura, na Câmara Municipal, nas
Delegacias de Polícia, nas Intendências e assim por diante, como se fosse ao
vivo.
Em se lendo as crônicas do Archimedes, aprender-se-á mais sobre Criciúma,
inclusive sobre a personalidade de muitos atores que, nos dias de hoje,
continuam fazendo a história desta cidade. É mais fácil entender as pessoas,
conhecendo-se a sua história.
Ao lerem e entenderem a história, os leitores, os de Criciúma, sentir-se-ão
muito orgulhosos desta cidade.
Cesario Rogerio
Presidente do Grupo Cecrisa
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SUMÁRIO
I – A CIDADE
FALTA RAÇA NA QUERMESSE
OS NEGROS
NOSSOS PÁROCOS
CÓDIGO DE POSTURAS
POR QUE CRESCIUMA?
VIADUTO?
BR-59 E SEU TRAÇADO
O VIVEIRO DA PRAÇA
RUA DE SANTA BÁRBARA
NOSSA BIBLIOTECA
HORÁRIOS DE VÔOS
COMEU A DAMA DE COPAS
CIDADE DOS MINEIROS
CITY CLUB
NOMES DE RUAS
SOCIEDADE AMIGOS DE CRICIÚMA
GUARDA DE VIGILANTES NOTURNOS
CENTRO SOCIAL RURAL
PREVISÕES FUTURISTAS
S NÚMEROS DA ASSISTÊNCIA
COLÔNIA DE PESCADORES
CÂMARA JÚNIOR
CRICIÚMA 1965
JORNAL DO DIA
CRICIÚMA 2000
II – O CARVÃO
MESA REDONDA DO CARVÃO
CPI DO CARVÃO
SIDESC
METROPOLITANA E SÃO MARCOS
CARBONÍFERA PRÓSPERA
DNPM, CPCAN, CNP
III – A POLÍTICA
O PARTIDO DO PREFEITO
A CASA DOS VEREADORES
ENCRENCAS COM O EXÉRCITO
NOTÍCIAS COMUNISTAS E PROSPECTOS PORNOGRÁFICOS
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O NASCIMENTO DA ARENA
PTBosta
PARTIDO SOCIAL PROGRESSISTA
ELEIÇÕES DE 1958
ELEIÇÃO EXTEMPORÂNEA
PAGUEM O DÍZIMO
COMIDA PARA ELEITORES
ELEIÇÕES DE 1926
IV – EDUCAÇÃO & CULTURA
AJUDEM-ME
MACARRONADA
NOSSOS ALUNOS E SEUS DESEMPENHOS
FORMATURA NO PEDERNEIRAS
RAINHA DOS ESTUDANTES
NOSSA BIBLIOTECA
A ESCOLA DA SATC
TEATRO AMADOR
E CRIOU-SE A UNESC
E FUNDARAM A UESC
CNEG & CENEC
V – CARNAVAL
CARNAVAL DE ONTEM
O NOSSO CARNAVAL
TENENTES DA FOLIA
VILA ISABEL
VI – FUTEBOL
SURURU NO FUTEBOL
FUTEBOL DE SALÃO
OURO PRETO & BOA VISTA
OS CATARINA GANHARAM
VII – HOMENS E MULHERES
ALTAIR DA SILVA CASCAES
ANIBAL SÔNEGO
ANTÔNIO BALTHAZAR
ANTÔNIO DE LUCA, DI PAOLO
ANTÔNIO BATISTA DE LUCA
ANTÔNIO FELIX DE LUCA
ANTÔNIO MILIOLI – NIN
DEFENDE CASAGRANDE
DEMÉTRIO E JOANA DARIO
DINO GORINI
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DONA SISSI
ELEONORA – MINHA MÃE
FÁBIO SILVA
FIOBO MINATTO
FRANCISCO MARTIGNAGO
GILBERTO – JUJU – VIEIRA
HENRIQUE DAL SASSO
IDALINA MARIA DA SILVA GOULART
ILDEBRANDO DE LUCA
IRIA ZANDOMÊNEGO DE LUCA
JOÃO (MAGRO) BENEDET
JOÃO CECHINEL
JOÃO PAULO DE LUCA
JOÃO SORATTO
JOÃO SPILLERE
JOÃO ZANETT
JORGE DA CUNHA CARNEIRO
JORGE ELIAS DE LUCA
JOSÉ MANOEL ALVES
JOSÉ TARQUINO BALSINI
JOVITO ÁLVARO TIAGO DE CAMPOS
JÚLIO GAIDZINSKI
KARL, O HIPNOTIZADOR
LINDOMAR AGUIAR – DONA SANTA
LÍRIO ROSSO
MANOEL DILOR DE FREITAS
MANSUETO COSTA
MARIA JOSÉ NUNES PIRES CASTELAN
MARIA DE LOURDES HÜLSE LODETTI
MATIAS RICARDO PAZ
MIGUEL NAPOLI
NICOLAU DESTRI NAPOLEÃO
NOMES COMPARADOS
OCTÁVIA BÚRIGO GAIDZINSKI
OPHÉLIO BENETON
PROCÓPIO FERREIRA
VALDEMIRA ISABEL DE SOUZA
VITÓRIO E VIENIR
ZELINDO TRENTO
ZELY CYRINO
ZULEIMA BÚRIGO GUGLIELMI
VIII – POST SCRIPTUM
ARCHIMEDES NASPOLINI
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I
A CIDADE
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FALTA RAÇA NA QUERMESSE
Viva a Quermesse, esta festa popular que resgata os valores culturais e étnicos do povo
criciumense. De mãos dadas, italianos, alemães, poloneses, portugueses, africanos e árabes põem
para fora toda a sua alegria nos festejos contagiantes dos dias da Quermesse.
Os italianos, da massa primitiva, da colonização do primeiro momento, de 1880; os poloneses, de
1890; os portugueses, de 1905; os africanos, de 1910; os alemães, de 1912 e os árabes de 1922.
Mas, senhores, falta gente nessa festa. Há uma etnia que trabalhou duro para o progresso deste
chão e que, todavia, sequer é mencionada em eventos dessa e de outras ordens.
Em 1914 Henrique Lage trazia 16 pessoas especializadas em abrir galerias de carvão para
trabalharem nas minas da CBCA. Eram todos espanhóis, à época todos solteiros, levados para
residir numa “república”, na Vila Operária, onde – mais tarde – seria construído o estádio de
futebol do Atlético Operário Futebol Clube. Eram considerados bons de braço para o trabalho,
valentes, destemidos e corajosos. Aos poucos foram constituindo família e contribuindo
decisivamente para o progresso deste município. Suaram bonito e ganharam o pão que os alimentou
e fez realizar os seus projetos de vida em nosso meio.
Dentre aqueles, são lembrados: Antonio Bastos, Antonio Libanez, Desidério Castanha, Domingos
Damas (pai do ex-vereador Manoel Domingues Rodrigues), Eloy Diaz, Florindo Meis (pai do exvereador Elpídio Meis), José Contin Portella (minerador e vereador) e Lucas Cortez.
Façamos justiça e inserimos, no contexto dos que escreveram nossa história, esses abnegados
espanhóis que, com grossos calos às mãos, abriram minas e ajudaram a alargar os horizontes dos
120 anos de história de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicado dia 13 de outubro de 1999, deveria ter sido publicado no primeiro volume desta obra. Por um lapso, deixou de sê-lo, razão pela qual é
trazido para esta obra.
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OS NEGROS
Quando se fala na participação negra na sedimentação da “raça” criciumense, acho que se comete
pelo menos uma injustiça.
Raciocinemos: afirmamos que os italianos que, nos colonizaram, obviamente, são provenientes da
Itália, um país; que os alemães vieram da Alemanha, também um país; que os poloneses vieram da
sua Polônia, outro país; que os lusos vieram de Portugal, nosso país-mãe. Mas, quando falamos dos
negros, dizemos que são originários da África.
É verdade que toda a ascendência negra é africana. Isto nenhum inteligente vai discutir. Todavia, se
falamos de italianos, alemães, poloneses e portugueses, não há como se falar de africanos. O certo
seria mencionar o gentílico do país de onde são procedentes aqueles que aqui habitam. Por
exemplo, o congolês, numa referência ao Congo de onde, segundo é afirmado alhures, procedeu a
maior parte dos negros brasileiros.
E mais: a continuarmos afirmando que os africanos trabalharam na edificação de nossa cidade,
temos que corrigir o restante: seriam, então, os africanos e os europeus. O que não se pode é fazer
essa misturança que diuturnamente é ouvida por aqui.
Essa discussão de lado, falemos dos negros que também plantaram nosso município. As pesquisas
dão três prováveis datas para a chegada dessa raça; 1905, 1910 e 1912. Fiquemos, então, com o
interregno de 1905 a 1912. Naqueles sete anos, primeiro os solteiros e, depois, também os casados,
chegavam por aqui para serviços braçais: uns trabalhavam na indústria da extração do carvão, que
aflorava; outros, na abertura de estradas já que a própria mineração do carvão exigia vias de
escoamento. A origem deles era a vizinhança: uns de Tubarão, outros de Jaguaruna, alguns de
Araranguá e uns poucos de Laguna.
Dentre aqueles primeiros, que foram morar, praticamente todos, ali na Santa Bárbara, são citados:
Antonio Fidelis, Afonso José Cangeri, Aristides Lima, Bento Bibiano, Benjamin Cândido, Domingos
de Jesus, Ezaú José Cangeri, Francisco de Assis dos Santos, Família Lalau, Felisbino Santiago,
José Cangeri, José Sebastião, Lizoca Cândido, Manoel Bibiano, Manoel Estevão e Pedro Paulo dos
Santos.
Na indústria carbonífera e na construção civil, os negros revelaram-se a melhor mão de obra na
construção da cidade. Houve destaques no futebol e noutras profissões e são cultuados como
expressões máximas dessa raça, dentre outros, o Maestro Jacó Vitório, por muitos anos presidentes
da Banda Musical Cruzeiro do Sul e grande compositor; o Padre Manoel João Francisco, por
muitos anos vigário da Paróquia Nossa Senhora da Salete, da Próspera; Pedro Paulo dos Santos,
pai de 15 filhos todos com curso superior concluído, e Wilson Lalau, vocação tardia para o
magistério e primeiro diretor geral do Centro Interescolar de Segundo Grau de Criciúma Abílio
Paulo - CIS.
Eu gosto de falar de Criciúma, de todos os tempos, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicado dia 11 de fevereiro – sexta-feira
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NOSSOS PÁROCOS
Para alguns historiadores, o primeiro sacerdote a atender os colonos lá nos anos 80 do século XIX,
fora o padre Buona Cuore, de Tubarão. A maioria, todavia, registra que o primeiro guia espiritual
de nossos ancestrais foi o padre João Canônico então vigário de Araranguá.
A Paróquia São José foi criada em 1898 e seus primeiros vigários foram o Padre Ludovico
Coccollo, Padre João Canônico, José Francisco Bertero, João Casalli e Padre Pedro Baldoncini.
Marcaram época no pastoreio eclesiástico local, também, os padres Agenor Neves Marques,
Raymundo Ghizoni, Boleslau Smielewski, Osni Rosembrock, Estanislau Ciseski e Huberto Oening.
Ao todo, contados desde Ludovicco Coccollo até os dias de hoje, são mais de 40 os curas d’alma
que tiveram sob seus ombros os encargos da Paróquia São José que, hoje divide sua jurisdição com
as da Próspera, Operária, Pinheirinho, Bairro Michel, Cidade Mineira e Rio Maina.
De todos os sacerdotes que gerenciaram a São José, dois receberam a vestimenta púrpura destinada
aos bispos: Dom Wilson Laus Shmits e Dom Gregório Warmling. O primeiro foi sagrado Bispo
Auxiliar do Rio de Janeiro a 15 de dezembro de 1956, ainda convalescendo de um distúrbio
cerebral ocasionado por um choque elétrico sofrido no púlpito da Matriz São José durante o sermão
dominical. Dom Gregório, por sua vez, foi sagrado bispo na Igreja Santo Antonio dos Anjos em
Laguna da qual, agora, era seu titular. Natural de São Ludgero, Dom Gregório assumiu a diocese
de Joinville a 17 de julho de 1957 ali permanecendo até morrer.
Nossa Paróquia que, quando foi criada, fazia parte do arcebispado de Curitiba, depois à diocese de
Florianópolis, em 1955 à de Tubarão, desde 1998 é sede diocesana sob o cajado de Dom Paulo
Antonio de Conto.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 10 de março – sexta-feira
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CÓDIGO DE POSTURAS
A Lei nº 48, de 09 de janeiro de 1928, editou amplas reformas do nosso primeiro Código de
Posturas baixado em dezembro de 1926. Essa nova lei dizia em seu artigo 1º que a Vila de
Cresciúma compreende a extensão dos lotes de nºs 1 a 23 do Rio Criciúma e de 01 a 04 de Linha
Anta, tendo por centro a estrada geral de Linha Anta para Nova Veneza e tomando 500 metros por
lado da referida estrada. No art. 2º dessa lei, lê-se: São considerados urbanos todos os prédios e
terrenos compreendidos dentro dos limites mencionados no art. 1º.
Notem os ouvintes que, ao longo da estrada que demandava de Linha Anta para Nova Veneza, num
raio de 500 metros de cada lado até o Lote 23 do Rio Criciúma (mais ou menos a Santa Augusta)
era tudo perímetro urbano.
O art. 59 daquele Código determinava que a largura das ruas a serem abertas na Vila ou na sede de
povoações terá, no mínimo, 12 metros de largura.
O art. 83, hoje, causa espanto. Reza, textualmente: “caprinos, ovinos, suínos, assim como todas as
espécies de aves que penetrarem na lavoura alheia, depois de avisados os respectivos donos, serão
mortas pelo proprietário da lavoura o qual comunicará, imediatamente, ao respectivo dono”.
O art. 84 diz que “lançar fogo às matas ou capoeiras alheias, não tendo licença do dono, além de
pagar os prejuízos, acarreta multa de 20 mil réis”. Resta saber como é que era descoberto o
incendiário...
Já o art. 86 aplicava multa de 50 mil réis para quem cortasse mata nas nascentes d’água. Era o
primeiro ensinamento ecológico da cidade...
Agora ouça o prezado ouvinte como era propagada a notícia de incêndio:
“Art. 94. As igrejas das localidades onde se manifestar incêndio, darão sinais por badaladas de
sino, lentas e sucessivas, até que as labaredas sejam dominadas”. Ah, esse artigo possui um
parágrafo que determinava multa de 20 mil réis e prisão por 24 horas àquele que, podendo, se
negasse a ajudar a debelar as chamas...
O art. 106 do nosso velho Código de Posturas diz: “Tirar esmolas para qualquer fim. Sem licença
da superintendência, além de perder a quantia já arrecadada, multa de cinco mil réis”.
Esse Código de Posturas é de janeiro de 1928 e leva as assinaturas do Superintendente Municipal,
Marcos Rovaris e do Secretário João Ângelo Gomes.
Eu gosto de falar de Criciúma, de todos os tempos, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 14 de fevereiro, segunda-feira.
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POR QUE CRESCIÚMA?
Há algum tempo falei da troca do nome Cresciúma para Criciúma, cuja origem está centrada em
decreto baixado pelo Presidente da República relativamente à nomenclatura de estações da rede
ferroviária federal em todo o território nacional.
E o nome Cresciúma tem origem no que?
Lá nos primeiros anos, como todos já sabemos, nossos colonizadores fixaram suas residências no
atual território do Bairro Santo Antônio e adjacências e ao longo da Primeira Linha. O transporte,
à época, era à base de tração animal: carroças, carros de boi e no próprio lombo de cavalos e
burros. Fora esses meios, o objetivo era sempre alcançado a pé.
João Milioli, um dos imigrantes, sempre contou que o centro da cidade de Criciúma era constituído
de um banhadão no qual se desenvolvia com muita facilidade uma gramínea muito apropriada para
a alimentação dos animais, especialmente cavalos e burros. Essa gramínea era – e é – denominada
de cresciúma.
Foram tantas as idas e vindas àquele banhadão para buscar a tal gramínea para os animais que,
aos poucos, aquele pedaço de terra alagadiça foi tomando o nome de cresciúma. Pelo menos
tornar-se-ia um referencial para a conversa dos habitantes da periferia:
Olha, Bepi, é ali perto da cresciúma...
Giovanni, não vai te perder na cresciúma...
E cresciúma, a taquarinha, passou a denominar este pedaço da Colônia. Não precisou de muito
tempo para que todo o território que estava sendo ocupado pelos italianos passasse a ser conhecido
como Cresciúma, topônimo que deu nome ao Município emancipado de Araranguá em 1925. Na
década de 50, como já foi dito, Cresciúma passaria a ser chamada Criciúma.
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Publicada dia 28 de fevereiro, segunda-feira.
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VIADUTO?
Há algumas iniciativas que foram tomadas pela administração pública municipal que, embora já
tenham deixado de existir, merecem rememoração.
Como primeiro exemplo, cito o velho viaduto sobre os trilhos da Estrada de Ferro Dona Theresa
Christina, ao lado direito da estação ferroviária.
Nossa cidade sempre foi dividida em duas partes bem distintas: a do lado de cá dos trilhos e a do
lado de lá da ferrovia.
A cidade crescia e, com o crescimento, a travessia sobre os trilhos da referida ferrovia foi se
tornando cada vez mais perigosa. Não raras vezes, veículos e pedestres eram colhidos por comboios
que rodavam sobre ela, especialmente na passagem sobre o leito da Joaquim Nabuco/Anita
Garibaldi e ali na frente do templo da Assembléia de Deus. O restante da área, compreendido entre
a Anita Garibaldi/Joaquim Nabuco até a frente do Banco Real, era todo cercado com altos muros.
As duas únicas passagens de um para outro lado eram as mencionadas. Então, resolveu-se fazer a
passarela, juntando a Conselheiro João Zanette com a Desembargador Pedro Silva. Era só para
pedestres. Foi um sucesso. Por ali passavam todas as pessoas que necessitavam alcançar o outro
lado e, pasmem, a passarela tornou-se atração turística: vinha gente de todo lado para passar sobre
ela e nela ser fotografado. Dava status conhecer o viaduto. E se a passagem se desse durante o
traslado dos comboios, com as possantes máquinas expelindo fumaça a todo vapor, melhor ainda.
Hoje aquela passarela está servindo os moradores ali da Vila Milaneze. Ela foi transportada até ali
em 1974 quando todo o complexo ferroviário deixou o centro para dar lugar à avenida axial da
cidade que conhecemos como Avenida Centenário.
O Prefeito que construiu aquela passagem aérea foi Paulo Preis, em 1954. Mas o idealizador
daquela obra foi o senhor Hercílio Amante que, da década de 40 até a de 60 foi o secretário do
Paço municipal de Criciúma.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 15 de fevereiro, terça-feira.
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BR-59 E SEU TRAÇADO
Essa discussão que envolve a comunidade araranguaense em torno do novo traçado da Br-101 em
seu território e que pode protelar a duplicação da BR-101 em nossa região, reporta-nos ao final dos
anos 50, quando todo o sul catarinense reivindicava urgência na abertura dessa rodovia então
denominada BR-59.
Especialmente as autoridades e as forças vivas da cidade de Criciúma moveram intensos trabalhos
no sentido de demover o DNER de construir a tal rodovia no leito que acabou sendo sedimentado.
Nossa gente queria o traçado da 59 bem mais próximo da cidade de Criciúma e afirmava: “pelo
traçado previsto pelo DNER a rodovia passará a mais de 12 km embora aquele órgão assegure que
a distância será de apenas 7 km em linha reta. Veio, de Florianópolis, o diretor da autarquia
federal, engenheiro Antero que verificou, in loco, a reivindicação dos criciumenses e acabou por
afirmar que os interesses que seriam levados em conta seriam os do Departamento e não os da
população.
Foi-lhe mostrado, contudo, que o traçado do projeto avança por sobre terreno alagadiço, com
verdadeiros banhados e que, trazendo a rodovia para mais perto, sua pista terá como base terrenos
firmes.
Resultado: o Dr. Antero determinou que as obras fossem aceleradas no trecho Tubarão
Florianópolis e que fossem suspensos os trabalhos no trecho Maracajá-Tubarão, o nosso.
A BR-59 acabou sendo construída, com atraso, é bem verdade, no traçado original projetado pelo
DNER e o último trecho a ser implantado foi o de Maracajá a Tubarão já que nossa gente pedia um
trajeto diferente.
A BR-59 foi inaugurada em 1969 e trocou de número: passou a ser 101 e não 59 como fora
desenhada. E ficou provado que o DNER tinha razão. Já imaginaram a 101 cortando a cidade como
queriam nossos “advogados”?
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 20 de abril – quinta-feira
18
O VIVEIRO DA PRAÇA
Na quinta-feira falei aqui de Hercílio Amante que, na condição de Secretário administrativo do
nosso Paço Municipal, apresentara a proposta da construção da nossa passarela sobre os trilhos da
Estrada de Ferro, denominada, popularmente, de viaduto.
Hoje quero falar de outra iniciativa acatada pela administração municipal.
Houve um tempo em que qualquer garoto, já em tenra idade, ganhava – ou fazia – uma funda, para
caçar passarinhos. E alardeava aos quatro cantos cada vez que um sabiá, uma rolinha, um tico-tico,
um sanhaço, um canário da telha ou qualquer outro pássaro era vitimado por uma pelota
arremessada por essa “arma”.
Paralelamente, possuir uma gaiola em casa, com um pássaro preso, era condição "sine qua" de
completar a mobília doméstica: havia a cômoda, a cristaleira, o guarda-comidas e a gaiola. Ou as
gaiolas. A variedade dos pássaros cativos começava no pintassilgo e não tinha limite a ser
alcançada. Quando a gaiola mostrava-se pequena, construía-se um viveiro no qual se misturavam
pássaros de todas as plumas, de todas as raças, de todos os tamanhos. Os que comiam alpiste, os
que se alimentavam de banana, os que só gostavam de laranja, os que comiam pendões de sementes
de capim, e vai por aí. Uma desgraceira total. Só que isto fazia parte da cultura de então.
Aí apareceu a novidade: no final dos anos 50, no Jardim da Praça Nereu Ramos, bem em frente da
Loja A Triunfante, foi construído um grande viveiro para pássaros. Agora, o viveiro é na praça, bem
público, para que todos possam apreciar a maravilhosa coleção de aves à disposição do Homem.
Umas, as primeiras, foram adquiridas de conhecidos colecionadores. Outras foram sendo trazidas,
aleatoriamente, por pessoas que,sabendo da existência do tal viveiro, entusiasmavam-se e traziam a
sua colaboração.
Ali conviviam pássaros de todos os tamanhos, cágados, galinhas garnisés e até um macaco que –
embora difícil de imaginar – foi preso ali com a passarada.
Evidentemente que, hoje, a sociedade condena este tipo de ação: sequer passa pela cabeça de
qualquer vivente, construir um viveiro para prender passarinhos. Mas, à época, o viveiro da Praça
Nereu Ramos se constituía numa das iniciativas mais louváveis da administração de então. Não há
registro de quem acabou com aquele viveiro, mas a idéia de sua construção, aplaudida por todos,
àquela época, foi também do nosso ex-secretário Hercílio Amante.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade.
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 6 de março, segunda feira.
19
RUA DE SANTA BÁRBARA
Uma das primeiras ruas da velha cidade de Criciúma está localizada no Bairro de Santo Antônio, o
aglomerado urbanístico que deu origem à Capital do Carvão. Essa Rua teve seu destaque
especialmente com a exploração do carvão mineral, no início deste século.
Seu nome primitivo foi Rua de Santa Bárbara em homenagem à padroeira dos mineiros cuja
imagem era venerada na capela que fora construída lá em cima, já no finalzinho da Rua, mas bem
próxima das bocas de minas que se tornariam famosas com o nome de Mina Velha.
É uma rua agora pavimentada com lajotas irregulares que respeitou o velho leito, tortuoso, por
onde escoaram as primeiras toneladas do mineral que daria fama à nossa cidade.
Ali morou gente famosa como, por exemplo, o senhor Heriberto Hülse. Inclusive foi residindo nessa
rua que Dona Luci Corrêa Hülse daria à luz a seu segundo filho, Ruy Hülse que seria um dos
grandes personagens da política catarinense, do seu tempo.
A Rua de Santa Bárbara, como era conhecida, ficou conhecida, também, como a Rua do João
Alípio, do Manoel Marcos, do João André, Ernesto Passos, do Manoel Alípio, do seu Otacílio,
alguns dos primeiros mineiros da Mina Velha e, um pouco mais tarde, da Família do seu França, do
Manoel e do José Sebastião e do Manoel Estevão. Nessa rua, a maioria das casas era de pau a
pique pela grande dificuldade, à época, de serem feitas de outro material.
Seu João Alípio, nas horas vagas, fazia coves para pesca. Seu Ernesto Passos era o responsável
pelo Boi-de-mamão e pelos Ternos de Reis que, para colherem sucesso, tinham de contar com a
participação da Jovelina, da Alexandra, da Inácia, do Dorvalino, dentre outros...
Essa era a Rua de Santa Bárbara, a Rua da Mina Velha, hoje denominada de Rua Rio Sul, do Bar
do Paquito onde, no início da noite, aos sábados e domingos, seus habitantes se reúnem para
atualizar a fofoca e para beber um traguinho. Nessa Rua as mulheres ainda sentam-se à beira da
calçada, nos fins de tarde, para jogar conversa fora.
É uma pena que tenham destruído a velha capelinha de Santa Bárbara. É uma pena que tenham
trocado o seu nome primitivo. Mas, as vertentes de ordem e de trabalho impostas pelos primitivos lá
nos 10 e 20, ainda são a constante dessa via pública e de seus ordeiros habitantes.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 14 de março, terça-feira.
20
NOSSA BIBLIOTECA
Era 1944. O dia era 29 de novembro. O Prefeito Elias Angeloni, atendendo ao pedido de alguns
professores das redes estadual e municipal de ensino, baixa um decreto criando a nossa Biblioteca
Pública. Dá-lhe o nome de Pereira Oliveira, numa homenagem ao governador catarinense que, em
1925, houvera sancionado a lei que criava o nosso Município.
Nossa Biblioteca foi instalada no dia 02 de dezembro, quatro dias depois de ter sido criada, em
cerimônia havida no gabinete do Prefeito onde se achavam, além do senhor Elias Angeloni, as
senhoras Dozola Rovaris e a Professora Gerda Becke Machado. Naquele dia foi criado, também, o
Conselho de Amigos da Biblioteca que teve a seguinte formação: presidente Dr. Euclides de
Cerqueira Cintra – que era o Juiz de direito da comarca, à época nosso único magistrado;
tesoureiro Hercílio Amante que era o secretário municipal para todos os assuntos; orador o
Professor Marcilio Dias de San Thiago; secretária Professora Gerda Becke Machado e diretora a
Sra. Donatila Teixeira Borba.
Os primeiros volumes da nossa Biblioteca foram emprateleirados numa sala de múltiplas funções no
próprio edifício do Paço Municipal, na Praça Nereu Ramos. Dois anos depois, todavia, o Prefeito
Addo Caldas Faraco transferiria seu acervo e, por conseguinte, sua sede, para a Praça do
Congresso, na esquina com a Rua Santo Antônio. Já em 1974, nossa biblioteca deixava aquele
endereço e era transportada para uma sala do Centro Comercial de Criciúma, na Rua Anita
Garibaldi, para onde também fora transferida a sede da municipalidade.
Em 1983, o nome de Pereira Oliveira é substituído pelo da poetisa maior, Donatila Borba,
denominação que ostenta até os dias de hoje e seu acervo foi levado para o Centro Cultural Santos
Guglielmi, anexa ao Teatro Municipal Elias Angeloni. O acervo bibliográfico da nossa biblioteca
pública é de mais de 11 mil volumes. Aproximadamente quatro mil volumes fazem parte da
biblioteca itinerante que percorre os bairros da cidade em duas unidades móveis: já que o povo não
vai à biblioteca, a biblioteca vai ao encontro do povo.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 15 de março, quarta-feira.
21
HORÁRIOS DE VÔOS
Recém inaugurado, o aeroporto Leoberto Leal – cuja pista de pouso e estação de passageiros deram
lugar ao parque municipal que hospeda, hoje, o Paço, o Teatro, a Biblioteca e o Ginásio de
Esportes municipais e o novo Fórum da Comarca – mantinha extraordinário movimento de vôos e
passageiros, se considerarmos o tamanho da cidade há 43 anos.
As empresas que atendiam ao nosso aeródromo eram a TAC/Cruzeiro do Sul e a Real Aerovias –
mais tarde encampadas pela VARIG, e a própria empresa aérea dos gaúchos.
A TAC – Transportes Aéreos Catarinenses, com sede em Florianópolis, fazia, por exemplo, os
seguintes itinerários: Para o Sul: Porto Alegre e Livramento, às 13 horas e 15 minutos das quartas
feiras; para Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande, os vôos se davam as segundas e sextas-feiras,
também às 13 horas e 15 minutos.
Para o Norte, o Douglas DC-3 da TAC fazia as seguintes escalas: Laguna, Florianópolis, Itajaí,
Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro, às quintas-feiras, às 12 horas e 30 minutos. Mas, às terças
feiras e sábados, o vôo era semidireto: às 12horas e 30 minutos havia o roteiro Criciúma,
Florianópolis, São Paulo e Rio. Cada vôo destes permitia conexão para Chapecó, Videira, Lages,
Joinville, Mafra, Cuiabá e Norte do Paraná. Isto tudo apenas da TAC/Cruzeiro. Depois havia os
horários da Real Aerovias e os da Varig sempre mais freqüentes.
Para se ter idéia do número de passageiros do nosso velho Leoberto Leal, registre-se que, no mês
de julho de 1957 houve 341 embarques e 215 desembarques para um total de 50 vôos. Já no mês de
agosto daquele ano, 353 passageiros embarcaram e 376 desembarcaram nos 57 vôos que aquelas
empresas aéreas operaram em nosso aeroporto.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 22 de março, quarta-feira.
22
COMEU A DAMA DE COPAS
O descendente de italianos, o de alemães, o de poloneses, o de portugueses, o de espanhóis, os de
ganeses e senegaleses e os brasileiros de um modo geral, gostam de jogo. De qualquer jogo. Vai do
baralho ao bicho passando por cavalos e galos e todas as suas variantes.
Em algumas salas, para puro divertimento, para passar o tempo, como se costuma dizer. Noutras,
nem tanto. Nestas as apostas são altas e geram expectativas doentias.
Na Criciúma do início da segunda metade deste século, quando as opções de lazer eram inexistentes
e arremessavam significativa parcela da população a um “dolce fare niente” severo, os abastados
da cidade (e até os desafortunados), fixaram seu endereço de disputa na jogatina no velho
Mampituba e no Comerciário Esporte Clube cujas sedes estavam localizadas no início da Rua Seis
de Janeiro, ali à frente da Praça Nereu Ramos.
Nessas duas agremiações, a jogatina começava de manhã e terminava de manhã (do outro dia). Não
incomodava ninguém haja vista que os jogadores reservavam toda a sua angústia, sua ira e seus
ímpetos de raiva para o próprio ambiente. Mas, o exemplo poderia macular a formação da
juventude que ouvia falar daquilo tudo.
Consta que Ernesto Milioli foi um dos mais exigentes jogadores do Mampituba: em sua mesa o
baralho durava uma partida apenas. Jogada esta, seu Vico Piazza – que cuidava do balcão para
servir bebida, cigarro e comida – já se apressava em entregar-lhe novo jogo de cartas.
Consta, também, que Hélvio Beneton, conhecido como Pupo Beneton, teria comido uma dama de
copas dentro de um pão d’água, simulando um sanduíche. É que ele ficou esperando a tal dama
durante todo o jogo para ganhar a rodada e esta só apareceu quando seu companheiro bateu. Seria
a carta que ele iria comprar em seguida. Pediu um pedaço de pão e devorou a dita cuja.
Consta, finalmente, que o Jornal Tribuna Criciumense encetou severa campanha para acabar com a
jogatina nas duas casas, envolvendo, nessa jornada, todas as forças vivas da sociedade. Mas não
levou. Pelo contrário: o jogo disseminou aqui e em todo o Brasil. É proibido desde o governo de
Eurico Gaspar Dutra e a lei que decretou a sua falência é desrespeitada desde então cada vez em
maior escala,
E eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade.
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 23 de março, quinta-feira.
23
CIDADE DOS MINEIROS
Poucos dos habitantes do grande Bairro denominado Cidade dos Mineiros – Nova e Velha – sabem
a origem desse populoso conglomerado urbano.
Era 1957. Numa ação conjunta do Sindicato dos Mineradores, do Sindicato dos Mineiros, da
administração pública municipal e do próprio governo federal, foi projetada uma vila que, com toda
a infraestrutura urbanística, atendesse à classe operária que trabalhava no carvão: seria a Cidade
dos Mineiros.
A área foi adquirida pelas empresas mineradoras Rio Maina, São Marcos, Boa Vista,
Metropolitana, Catarinense e União. Media mais de um milhão de metros quadrados.
Em agosto daquele ano, viajaram ao Rio de Janeiro, nossa então capital federal, o Prefeito Addo
Caldas Faraco, o Interventor do Sindicato dos Mineiros, Pedro Andrade e o Arquiteto que estudara
e desenhara todo o projeto, Fernando da Cunha Carneiro, para buscar o apoio da Fundação Casa
popular que financiaria a construção das residências, todas em alvenaria.
Em Exposição de Motivos que lhe fez a Casa Popular, o Presidente Juscelino Kubtschek de Oliveira
aprovaria a concessão do auxílio e, com a efetiva participação das empresas mineradoras, a cidade
dos mineiros foi tomando forma.
Do projeto constavam amplas avenidas e ruas, jardins de infância e escola, áreas verdes e praças,
área para o serviço de saúde e – uma sofisticação para a época – local pré-determinado para a
construção de supermercados.
A ocupação das unidades residenciais deveria ter sido resultado de estudo levantado por assistentes
sociais que, a pedido das empresas mineradoras, pesquisaram as necessidades da massa operária
que lá gostaria de residir. Todavia, numa ação desenfreada e comandada por pseudas lideranças,
houve uma invasão indiscriminada e o projeto original sequer chegou a ser concluído. De qualquer
forma, temos ali um dos melhores exemplos de loteamento bem planejado, graças à ação dos
mineradores daquela época.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 27 de março, segunda-feira.
24
CITY CLUB
Década de 1960. O referencial do social de Criciúma era o Mampituba e o Criciúma Clube. Havia
outro clube, mas de proporções quilometricamente mais modestas, chamado Ajato Futebol Clube. A
diferença é a de que no Ajato a juventude da época se reunia. Mas o clube era pequeno e mais
voltado para o futebol. Aliás, era um time de futebol. Tinha sua sede no andar superior do Edifico
São Joaquim, em cima do Café Rio, na Praça Nereu Ramos.
Nas eleições do Mampituba, de 1962, bem que a rapaziada tentou participar. Mas não logrou êxito.
E daí, nem certo dia – ou melhor, numa determinada noite – num dos bancos da Praça, Anastácio
da Silva, Aurélio Francisco Garcia, Eloi Martignago, João Luiz Pescador, José Dagostin, Mauro
Sonego, Olímpio Vargas, Olívio Zock, Romeu Santana e Wolnei Zaniboni, depois de muita troca de
idéias, resolveram levar adiante uma proposta ali semeada de constituir uma agremiação social
exclusivamente de jovens. Já naquela noite começaram a listar possíveis associados e o objetivo era
convidar uma centena deles. O pré-requisito era a idade e a condição civil: o associado deveria ser
jovem e solteiro. Ah, e o nome da associação era City Club.
Assim se propôs e assim passou a ser. Os jovens da cidade, de 18 a 28 anos, foram chamados para
se associarem.
No dia 8 de abril de 1962, o City Club era fundado e começava uma nova era social para Criciúma.
As grandes promoções daquela década sempre continham a assinatura do clube da juventude. Gente
de todos os lados da Região acorria para tomar parte de seus eventos. A Festa Junina daquele ano
marcou época. José Caetano Sobrinho, um dos homens que mais gostavam de festa naquela
Criciúma foi chamado para ser o Juiz de Paz do casamento caipira que, mercê de Deus e do amor
ali jurado, uniria para sempre José Dagostin e Bárbara Trento. O desfile dos convidados, em
carroças e carros de bois ainda continua na retina de seus participantes. Os acordes da gaita
tocada pelo João Luiz Pescador ainda permanecem no subconsciente dos festeiros. Depois veio a
Yeda Maria Vargas, Miss Internacional, num baile que decorou o clube com copos de leite jamais
imagináveis na cabeça da gente ali reunida.
Passados 38 anos da fundação, o City Club hoje, sob a direção do executivo celesquiano Estácio
Fagundes, continua exercendo seu papel na sociedade. Já não tão exigente como na época da
fundação, mas aberto a qualquer pessoa de bem que a ele queira se associar, se transformou no
Clube da Colina e continua a colher sucesso nos eventos sociais que programa.
E eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
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Publicada dia 28 de março, terça-feira.
25
NOMES DE RUAS
Uma das maneiras de se homenagear um vulto histórico, um desbravador, um colonizador, um
profissional de qualquer área de serviço é dar-lhe o nome de um próprio público. Vai de uma sala,
passa por um prédio e acaba num logradouro público. Assim, temos a sala Fulano de Tal. Temos a
Escola Beltrano de Tal. Temos a Travessa, a Servidão, a Ponte, a Rua, a Avenida, a Rodovia, a
Praça sempre recebendo uma denominação que passa a caracterizá-la prestando uma homenagem
a alguém. Até distrito e municípios, em alguns casos, são assim batizados. Esse alguém, não raras
vezes, fez absolutamente nada para receber tamanha honraria, mas a recebe.
Dentro deste raciocínio, a atual Avenida Getúlio Vargas passou a ser assim denominada nos anos
40, por decreto do ex-prefeito Elias Angeloni que trocou o nome original daquela artéria, que era
Seis de Janeiro, para o do estadista que se matou em 1954. Também a Praça Nereu Ramos, à
mesma época, teve o nome original de Jardim Etelvina Luz para o atual para homenagear o então
interventor federal. Uma pracinha triangular que havia ao lado da Nereu, bem em frente ao Café
São Paulo, era denominada de Praça da Imigração. Já em 1972, aquele triângulo receberia o nome
de Praça do Mineiro porque para ali fora transportada a estátua respectiva que, desde 1946, até
aquela data, encimava um monumento construído exatamente no centro da Praça Nereu. E deixou
de ser assim caracterizada, isto é, Praça do Mineiro, quando o Prefeito Altair Guidi construiu o
calçadão fazendo falecer as características triangulares daquele pedacinho singular. A imigração,
todavia, é homenageada pela pracinha triangular situada no final (ou início?) da Rua Seis de
Janeiro. E o mineiro recebe homenagem numa avenida no Bairro Próspera, um de seus berços.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
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Publicada dia 29 de março, quarta-feira.
26
SOCIEDADE AMIGOS DE CRICIÚMA
No dia 7 de agosto de 1957, um punhado de valorosos homens de nosso município resolveu fundar
uma entidade não governamental que pudesse discutir e apresentar soluções para os angustiantes
problemas comunitários. Nascia a Sociedade Amigos de Criciúma, uma entidade que – com certeza
– ainda existe, no papel.
Foram seus primeiros dirigentes os senhores Dr. Sebastião Toledo dos Santos como presidente,
Sinval Rosário Boherer, vice-presidente, João Carlos de Campos, 1º secretário, Ézio Lima, 2º
secretário, João Fernandes dos Reis, 1º tesoureiro, Honório Búrigo 2º tesoureiro e José Pimentel
orador. Àquela época Criciúma crescia a todo vapor, a olhos nus fotografava-se o crescimento
vertiginoso da cidade. Em 1940, nossa população contava um pouco mais do que 40 mil almas; Em
1950, já tínhamos mais de 52 mil habitantes e previa-se, para o censo de 1960, pelo menos 70 mil
pessoas habitando o nosso território.
O Município, como entidade pública administradora do bem estar sócio-comunitário, arrecadava
muito pouco para atender o muito de reivindicações que brotavam de todos os quadrantes. Surgia aí
a Sociedade Amigos de Criciúma na condição de braço do poder público para ajudar no
encaminhamento das soluções.
Em sendo uma sociedade não governamental, sem fins lucrativos, tomadora de tempo de muita
gente muito ocupada, não demorou muito e ficou arquivada. Seus estatutos, certamente no Cartório.
Seu acervo, por aí...
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Publicada dia 30 de março, quinta-feira.
27
GUARDA DE VIGILANTES NOTURNOS
A falta de segurança que amedronta tanta gente nos dias de hoje, é uma constante que se arrasta no
tempo.
Nos anos 50, para tentar amenizar o problema no centro daquela pacata Criciúma, um grupo de
abnegados criou a Guarda dos Vigilantes Noturnos de Criciúma. Era uma entidade não
governamental, com vida própria e que, administrada por uma diretoria, triava pessoas que
pudessem exercer o severo ofício de vigilante do sossego público, à noite. Os vigilantes,
devidamente uniformizados num azul escuro e portando apitos que eram soprados em código, eram
distribuídos nas principais artérias do perímetro urbano. O silvo do apito era freqüente durante
toda à noite: um carro que estacionasse, um transeunte que passasse, uma pessoa suspeita sempre
provocava o apito que, soprado aqui, era repetido ali à frente identificando que o guarda da
próxima rua entendera o recado.
Esses vigilantes eram pagos pela própria entidade que recolhia contribuições dos moradores que
morassem na área coberta pela vigilância.
No dia 11 de maio de 1958, houve uma Assembléia Geral da Guarda de Vigilantes Noturnos de
Criciúma que discutiu a demonstração da receita e da despesa havidas no exercício que se findava e
elegeria a nova diretoria. Jorge Leal era o presidente, Balthazar Gomes o Secretário e Duílio
Silvestre o Tesoureiro. Naquele dia foram eleitos os novos dirigentes cuja composição contemplou
Bernardino João Campos, como presidente; Max Finster, vice-presidente reeleito; Baltazar Gomes
reeleito 1º Secretário; Mário da Cunha Carneiro reeleito 2º secretário; Nery Búrigo, tesoureiro e
Duílio Silvestre 2º tesoureiro. No Conselho Fiscal eram eleitos Waldemar Machado, Névio Lazzarin
e Ernesto Bianchini Góes.
A Guarda de Vigilantes Noturnos de Criciúma não impediu totalmente o roubo noturno em nossas
residências, mas impediu quase a sua totalidade. Pena que acabou.
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Publicada dia 4 de abril, terça-feira.
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CENTRO SOCIAL RURAL
Quando se fala, hoje, em interesses dos produtores rurais, imediatamente nos vêm à mente os
sindicatos dos proprietários e dos empregados na agricultura. Todavia, há algum tempo havia
associações que congraçavam e uniam as famílias rurais.
Em 1959, nosso Município já possuía duas dessas sadias entidades: a primeira delas fundada em
São Roque e, a segunda, de Morro Estevão.
Esta, de Morro Estevão, foi fundada a 1º de março de 1959 e sua primeira diretoria era assim
constituída: Presidente, João Tomazzi; Vice Presidente, Abel D’Agostin; 1º secretário, professor
Zéfiro Giassi; 2º secretário, Dozolina Zanette; Tesoureiro, Ângelo de Luca. Orador Quintino de
Luca. No Conselho Fiscal: Maria Cesa, Florindo D’Agostin e Hercílio Cirimbelli. Dava assistência
às duas entidades, os extensionistas Rurais Karl Erick Oncken e Lucia Maria Althoff.
Repito: a nominata revelada fazia parte da primeira diretoria do Centro Social Rural do Morro
Estevão, uma entidade cujo objeto direto era a congregação das famílias rurais daquele pedaço de
Criciúma.
Algumas das pessoas mencionadas já não estão entre nós. Outras estão aí construindo o nosso diaa-dia e testemunhando os grandes feitos do passado.
Os Centros Sociais Rurais dos anos 50 sedimentaram a base dos futuros sindicatos classistas da
área agrícola. Fica demonstrado que, muito antes do advento destes, nossos agricultores já
fundavam a sua entidade representativa.
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Publicada dia 2 de maio, terça-feira.
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PREVISÕES FUTURISTAS
Ézio Lima, um dos mais completos comunicadores que Criciúma conheceu e prematuramente
falecido na década de 70, deixou escrito um prognóstico sobre o futuro de nossa cidade que foi
publicado em maio de 1955. Segundo aquele saudoso radialista, “empreendimentos de vulto
assinalarão a passagem de 1955 para a cidade de Criciúma”. Afirma, em seguida, que será
construído o nosso aeródromo. Da mesma forma, a implantação do ensino secundário com a
instalação de um ginásio misto o qual deverá se instalar nas dependências da Escola Normal Rural.
Ézio declara que a iluminação pública será totalmente reparada não só na Praça como também em
todas as ruas. Registra, ainda, que, até o final do ano de 1955, todas as ruas do perímetro urbano
serão calçadas. Da mesma forma, diz o jornalista Lima, nossa cidade receberá um importante
cinema. Dentre tantas previsões, estas merecem serem destacadas, passados 45 anos de sua
previsão. Vejamos:
O aeródromo foi construído, inaugurado, destruído, transferido. Hoje, nosso aeroporto está no
território de Forquilhinha.
O ensino secundário foi instalado: inicialmente o ginásio misto que atendeu pelo nome de Escola
Normal Madre Teresa Michel, posteriormente pelo Ginásio masculino Marista, mais tarde pelo São
Bento e, hoje, por mais de uma dezena de casas educadoras de nossa juventude, em nível de
segundo grau. Acrescente-se a criação da nossa UNESC – a Universidade do Extremo Sul de Santa
Catarina, cujo campus principal está aqui sediado.
A iluminação pública foi, é e continuará sendo precária. Não bastasse a falta de providências dos
responsáveis os atos de vandalismo contribuem sobejamente para a sua deficiência. O calçamento
pode não ter atingido todas as vias públicas em 1955, todavia, com certeza, nossa cidade é
referencial de sistema viário pavimentado. Relativamente ao cinema que se resumia na única casa
de espetáculos denominada Cine Rovaris, ganhamos o Milanez – que já cerrou suas portas – o
Ópera que foi transformado em templo evangélico e aqueles instalados nos shoppings da cidade.
São passados 45 anos. Muito pouco tempo para a transformação radical havida na nossa cidade da
qual ouso afirmar: tivesse calçadas para os pedestres e conservasse esses passeios extirpando a
sujeira que abunda suas vias públicas, viveríamos em cidade com extraordinária qualidade de vida.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
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Publicada dia 9 de maio, terça feira.
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OS NÚMEROS DA ASSISTÊNCIA
Ao longo dos tempos ficou consagrado o pensamento de que a administração municipal deve ser
paternalista e resolver – ou tentar resolver, pelo menos – os problemas de cada munícipe. O
clientelismo sempre foi o carro chefe de administrações cujos métodos escondiam-se de um
planejamento mais sério. Bastava – até pouco tempo – dar remédios, fazer mudanças, doar
passagens para quem precisasse e, conforme o volume do auxílio o prefeito teria feito uma boa ou
ruim administração. Isto, todavia, tem sido abolido se não de todo, mas quase 100%.
Em 1960 o Prefeito Addo Caldas Faraco informava a população sobre o balanço do auxílio
prestado durante o ano de 1959. Orgulhosamente ele comunicava:
Doentes encaminhados para a Santa Casa de Misericórdia, em Porto Alegre, 98. Para o Hospital
São Pedro, também de Porto Alegre, 26. Um doente para o Hospital Nereu Ramos, de
Florianópolis. Para a Colônia Santana, em São José, foram encaminhados 43 dementes. No
Hospital São José de Criciúma, durante o ano de 1959, foram internados 876 doentes com despesas
pagas pela municipalidade e igual tratamento foi dado a 163 outras pessoas que não necessitaram
de internação.
Causava espécie o número de doentes mentais. O ouvinte deve ter notado o número assustador
dessas pessoas que o Município encaminhou para a Colônia Santana: foram 43, uma média de mais
de três por mês...
Se, por um lado, o analista político-administrtativo critica o administrador pela falta de
planejamento e atenção dispensada apenas a política de assistência imediatista do munícipe, há que
registrar, também, o zelo com que essa política era exercitada na busca do bem estar dos
governados.
Isto tudo também é parte da história de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 12 de junho, segunda-feira.
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COLÔNIA DE PESCADORES DE CRICIÚMA
A atividade pesqueira exercitada no nosso litoral, sempre foi fiscalizada por organismos oficiais. As
tais Colônias de Pesca que, nos dias de hoje, abundam a orla atlântica, remontam ao início deste
século.
Devidamente documentado, nossa Câmara Municipal possui o registro daqueles que,em janeiro de
1926, lançavam redes ao mar em busca do pescado. Por esse documento, estavam devidamente
autorizados à pesca, na Colônia de Pescadores Tenente Silveira – Lauro Paulo Pacheco de Freitas,
os seguintes cresciumenses:
Antonio Manoel Pereira, de Cangicas (recordemo-nos de que, até junho de 1926, Cangicas
pertencia ao nosso recém instalado Município; Adolpho Campos e Albina Piazza, do centro de
Cresciúma; Zuleima Goeldner, da Capela de São Roque; Maria Piazza, da Mina Dr. Paulo de
Frontin; Clotilde Sampaio, de Nova Veneza; Paula Westphal, de Hercílio Luz (também território
pertencente ao município de Criciúma até junho de 1926); Custódia Cardoso de Oliveira, de Rio
Maina; Laurindo dos Santos Coelho, de Santa Augusta; Guido Costa, de São Bento Alto; Fridolino
Michels, de São Bento Baixo e Salustiano Antonio Cabreira, de Urussanga Velha.
Repito: os nomes mencionados faziam parte da Colônia de Pescadores estabelecida em Criciúma,
em janeiro de 1926, todos credenciados à pesca no litoral da Região, acentuadamente na foz do Rio
Araranguá assim como nos rios que cortam este grande Sul.
Isto também é parte da história de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 16 de junho, sexta-feira.
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CÂMARA JÚNIOR DE CRICIÚMA
Em 1964, depois de intensas discussões doutrinárias sobre seus postulados, um grupo de homens
jovens da cidade fundou a Câmara Júnior de Criciúma. Para alguns, uma associação filantrópica;
para outros, um clube de serviço; para os que assinaram a sua carta constitutiva, uma entidade
egoisticamente criada para aprimorar a veia de liderança de seus membros.
Helmuth Anton Schaarschmidt, brilhante advogado gaúcho aqui estabelecido, Ildefonso Rochadel,
empresário de sucesso estabelecido na “Avenida Paulista” local, a Henrique Lage, Rodeval José
Alves, o idealizador primeiro da criação e este articulista, tomaram a dianteira e transformaram a
idéia em realidade palpável junto à comunidade. Para a instalação era recebido, nos salões do
aristocrático Criciúma Clube, o presidente da Câmara Júnior do Brasil, empresário Hugo
Hoffmann, de Porto Alegre que aqui compareceu especialmente para o evento. No ano seguinte, a
Câmara Júnior de Criciúma participava, com muito sucesso, da Convenção Nacional dos Juniores,
na cidade de Curitiba lá elegendo o Vice Presidente Regional, Carlos Alberto Abreu. Naquele
conclave fora eleito o novo Presidente da entidade nacional, o empresário José Antonio Serrado
que, no final do ano, visitava a cidade e instalava a Câmara Júnior de Lauro Müller, nascida sob o
comando da entidade criciumense. Também Siderópolis, Tubarão e Chapecó teriam capítulos
fundados sob a orientação dos juniores de Criciúma. A Cajucri, como era conhecida, reunia-se
festivamente uma vez por mês em concorridos eventos nos quais a freqüência sempre fora unânime.
A criação da Fundação Educacional de Criciúma, a Fucri, nasceu em discussões promovidas pela
Câmara Júnior de Criciúma que sempre se embrenhou em projetos desse jaez. Não foi de sua pauta
o filantropismo. Sua preocupação foi sempre o aprimoramento de seus próprios membros para os
quais estabelecia cursos de liderança em todos os campos com destaque para o empresarial e para
a comunicação. Sobre este último, é possível afirmar que nenhum de seus integrantes se
amedrontava, depois de participar de algumas reuniões, de falar em público.
Lamentavelmente, como outras entidades de escol, a Câmara Júnior de Criciúma que abriga em seu
seio homens de 18 a 40 anos de idade, desapareceu. Realmente é lamentável porque essa entidade
poderia estar aí, ainda, ajudando a formatar a intelectualidade de Criciúma, este orgulho de
cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 13 de julho, quinta-feira.
33
CRICIÚMA 1965
É provável que, ao longo dos 120 anos que nos separam do início da nossa colonização, a data da
chegada dos primeiros imigrantes tenha sido festejada. Em alguns anos com programação maior,
noutros com menor, mas acredita-se, anualmente se fez alguma coisa para relembrar o grande
acontecimento de 1880.
Ainda que fosse apenas uma mensagem radiofônica lida pelo Prefeito da cidade nos microfones da
Rádio Eldorado, sempre foi relembrada a data de seis de janeiro, quando Cresciúma começou a ser
colonizada.
Em 1965, quando eram apagadas as primeiras 80 velinhas, foi escrito um pequeno elucidário
relacionado ao evento e dele saltam às vistas os números que nosso município então contava. A
extração do carvão mineral de nosso subsolo, por exemplo, alcançava a casa das 40 mil toneladas.
Essa montoeira de carvão resultava na quantia de 920 milhões de cruzeiros que Criciúma fazia
circular mensalmente no mercado local. Todavia, os criciumenses já davam amostras da
preocupação futura antevendo que, um dia, a hulha negra esgotaria as minas. Segundo se lê no
documento já referido, o parque industrial começava a receber unidades empresariais de calçados,
confecções, alimentos, móveis, ração e metalurgia.
Em 1965 Criciúma registrava como suas principais indústrias: o Pastifício Fio de Ouro, a Calçados
Crisul, Confecções Omega, Cerâmica Santa Catarina, Fábrica de ladrilhos, Frigorífico Santa
Catarina, Metalúrgica Criciúma, Fábrica de Balas São Luiz e uma fábrica de móveis de vime.
Repito: há 35 anos, esse era o parque industrial de nosso Município. Então vejamos: o Pastifício
Fio de Ouro continua exportando massas de qualidade para todo o Sul e a Sudeste do Brasil;
Calçados Crisul, lamentavelmente foi engolida pela sucessão de planos econômicos impostos pelo
governo; Confecções Omega, deu lugar a Calças Calcutá; a Cerâmica Santa Catarina, a CESACA,
cerrou suas portas; a Fábrica de ladrilhos, não pode competir com os pisos das cerâmicas e fechou;
o Frigorífico Santa Catarina deixou de abater e fabricar embutidos, dele só restando o prédio; a
Metalúrgica Criciúma – a MECRIL – continua produzindo as melhores conexões para o transporte
de energia elétrica do Brasil; a Fábrica de Balas São Luiz, deixou saudades; e a fábrica de móveis
de vime deve estar por aí abafada pelo elevado número de concorrentes.
Em 35 anos, uma transformação radical: o carvão foi pro espaço, vieram as confecções, vieram as
cerâmicas, as metalúrgicas, as fábricas de artefatos de plásticos, as de embalagens, as do setor
químico... Enfim, já é difícil enumerar a quantidade de unidades fabris ostentadas por Criciúma
que, acordando por volta dos anos 60, soube se organizar para ostentar o título de uma das mais
progressistas cidades do Brasil. Não é mesmo um orgulho de cidade?!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 25 de julho, terça feira.
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JORNAL DO DIA
A história de um povo, de uma civilização, de uma cidade, o homem constrói e conta
praticamente todos os dias. Há que haver dois agentes para que ela não se perca no
tempo: o contador das histórias e o veículo que as transmita.
Aqui no rádio, tenho comparecido todos os dias, há quase um ano, narrando fatos que os
homens que nos precederam protagonizaram. Alguns com maior outros com menor
interesse, mas todos desenhando um pedaço da nossa saga. Falei a respeito disto quando
me referi aos órgãos de imprensa que se sucederam ao longo do tempo em nosso
município. Ficou lá para trás, por exemplo, o nosso primeiro jornal quinzenal, O
MINEIRO, que o Marcos Rovaris e o Pedro Benedet montaram e que tinha como redator
Adolfo Campos, um misto de professor e secretário para todas as empreitadas.
Depois vieram outros tantos, alguns com vida efêmera, outros nem tanto e a todos se
juntando aqueles portadores de notícias de empresas, de colégios, de fábricas, de
sindicatos.
Jornal, mesmo, Jornal, uns poucos... E diários, apenas dois: o Jornal da Manhã e o
Tribuna Criciumense.
Agora um novo órgão de comunicação pede licença para adentrar a nossa casa e o nosso
ambiente de serviço. Num projeto audacioso de dois jovens empresários da comunicação,
surge o Jornal do Dia, a mais nova iniciativa do gênero em nosso Estado.
Tem o formato de tantos outros similares, mas trás, no seu ventre, um receituário
diferente: os ingredientes que fazem o seu corpo, de frente com a verdade, fazem a
diferença.
Nossa Região e a nossa cidade que têm experimentado tantas iniciativas que resultam na
certeza da afirmação de que a crise já faz parte do passado, vivem, hoje, um dia diferente:
o número um de um Jornal que vai se impor pela qualidade, pela credibilidade e pela
honradez e que, certamente contará a nossa história com caracteres maiúsculos.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade.
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicado dia 1º de março – quarta-feira
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CRICIÚMA 2000
O editorial com o qual José Adelor Lessa abriu o seu programa no dia de ontem remeteu-me à
dissertação que faço hoje. Como nos recordamos, Lessa abriu os pulmões para afirmar que os
tempos de crise para o município de Criciúma já fazem parte do passado nada saudoso. Adelor
disse, com todas as letras, que o ar hoje respirado em nossa terra é de soerguimento da economia e,
com ele, o retorno do crescimento sócio-econômico desta que é a principal cidade da região sul
catarinense.
É evidente que atravessamos uns tempos bicudos, aí para traz, com alguns negócios sendo desfeitos,
algumas empresas cerrando suas portas, muitas pessoas sendo jogadas à margem do mercado
produtor. Mas também é verdade que, filtrada a competência dos que se estabeleceram por pura
aventura, a ordem volta a ser o imperativo norteador do processo evolutivo de nossa cidade. Todos
os dias – reconheçamos – novos empreendimentos são anunciados para tantas cidades da região,
com destaque para a nossa, catalisadora de tudo o que ocorre ao seu redor.
Demos um passeio no passado. Venham comigo a 1926. Querem ver o tamanho da penúria de uma
cidade? Pois ouçam: nosso Prefeito de então, Marcos Rovaris, respondia a um telegrama que lhe
fora transmitido pelo Inspetor Agrícola Federal, em Florianópolis, e informava que o município de
Cresciúma possuía 80 pequenos engenhos produzindo mais ou menos oito mil arrobas de açúcar e
60 alambiques que produziam aproximadamente 60 pipas de aguardente. Afora a extração mineral,
esse era o potencial da capacidade industrial de nosso Município.
Não é salutar remexer na história de Criciúma, este orgulho de cidade?
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 15 de junho – quinta-feira
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II
O CARVÃO
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MESA REDONDA DO CARVÃO
Em outubro de 1957, constatado que mais de 350 mil toneladas de carvão mineral estavam
estocadas nos pátios das empresas mineradoras, Addo Caldas Faraco, nosso Prefeito Municipal,
propôs que se fizesse uma Mesa Redonda com a participação de todos os interessados para serem
propostas alternativas do seu consumo. Já naquele ano eram reivindicadas a construção de uma
usina termoelétrica (que acabou sendo construída em Capivari), uma Siderúrgica (tantas vezes
começada e tantas vezes abortada) e uma fábrica de enxofre (construída e fechada em Imbituba).
Já no dia 3 de outubro daquele ano o salão de bailes do Mampituba era palco da primeira reunião
do gênero à qual compareceram o Prefeito de Laguna, Walmor de Oliveira; os presidente e
secretário do Sindicato dos Estivadores de Capivara, respectivamente Antonio João Machado e
Geraldo José da Rosa; José Jeremias Fernandes, Presidente da Associação Comercial e Industrial
de Tubarão; representantes da Cia Siderúrgica Nacional; Presidentes das Câmaras de Vereadores
de Criciúma e Urussanga e inúmeros vereadores; presidentes dos Sindicatos dos Mineiros e dos
Mineradores de Criciúma; presidentes da Associação Comercial e Industrial de Criciúma e do
Rotary Club; mineradores, comerciantes, industriais, engenheiros, jornalistas e radialistas.
A sessão foi presidida pelo Prefeito Addo Caldas Faraco e o principal palestrante foi o engenheiro
Sebastião Toledo dos Santos. Os assuntos foram debatidos especialmente por Napoleão de Oliveira,
José Pimentel, Enio Ezequiel de Oliveira, Victor Dequech, Sebastião Netto Campos e João Gabriel
Maccari. Ao final foram constituídas comissões para elaboração de memorial descritivo da crise
carbonífera. A mesa redonda seria realizada mais três vezes: uma em Laguna, outra em Tubarão e
uma última em Criciúma. Um único parlamentar acompanhou toda a sua programação: o senador
Alencastro Guimarães, eleito pelo então Distrito Federal, cidade do Rio de Janeiro.
Do evento foram colhidos vários resultados que reoxigenaram a indústria extrativa do carvão
mineral até a sua próxima crise, tantas foram ao longo de tantos anos...
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 13 de março, segunda-feira.
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CPI DO CARVÃO
As crises do carvão eram tantas e tão sucessivas que, em 1957, a Câmara dos Deputados resolveu
instituir uma Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar as irregularidades havidas na
execução de sua política ou os óbices que arremessavam essa indústria às referidas crises.
O Jornal Tribuna Criciumense, na sua edição de 3 de junho daquele ano, publicava, em sua
primeira página, um edital assinado pelo Presidente daquela CPI, o deputado catarinense Elias
Adaime. No documento a população era informada de que nos próximos dias aquela Comissão
estaria em território criciumense para ouvir “quem quisesse depor, empregados e empregadores,
aos quais eram garantidas todos os direitos no sentido de livremente se expressarem como bem
quiserem e entenderem”.
O Deputado Adaime, ainda naquele Edital, fazia saber que, “se preciso for, determinará
diligências, ouvirá indiciados, inquirirá testemunhas, requisitará informações e documentos,
convocará funcionários públicos e autárquicos e, até, ministros de estado se preciso for, tomando,
ainda, depoimentos de quaisquer autoridades federais, estaduais ou municipais”.
Esse edital foi baixado dia 29 de maio e publicado, como já afirmei anteriormente, dia 3 de junho de
1957.
As CPIs já faziam história. E abriam largas avenidas para, por elas, trafegarem todas as demais
CPIs que, com raríssimas exceções, concluíram seus trabalhos relatando alguma coisa.
A Comissão Parlamentar de Inquérito que pretendeu buscar as razões das constantes crises da
indústria da extração do carvão do Brasil, conhecida como a CPI do Carvão, chegou a lugar
nenhum e, a exemplo das contemporâneas, acabou em pizza.
E eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 16 de março, quinta-feira.
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SIDESC
Faz algum tempo que a notícia da criação de uma siderúrgica em Santa Catarina povoa a massa
encefálica de alguns inescrupulosos políticos e, em decorrência, a de grande parte dos cidadãos
comuns. Os primeiros prometem e asseguram a sua construção e os segundos não desconfiam
absolutamente da seriedade da promessa. Ou melhor, não desconfiavam.
Ainda ecoa no ar a entrevista concedida à Rádio Eldorado, dia 5 de junho de 1958, pelo deputado
federal Leoberto Leal assegurando que o Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira viria a
Criciúma para, ao pé do monumento ao mineiro, na Praça Nereu Ramos, assinar a mensagem ao
Congresso Nacional criando a Siderúrgica Sul Catarinense. E ele dava detalhes: o Presidente viria
até a capital do Estado, Florianópolis, a bordo do “Viscount” presidencial e, da ilha até aqui, num
avião Douglas DC-3 devendo aqui pousar às 11h00min horas do dia 18 de junho. Depois de
assinada a tal mensagem o Presidente, sua comitiva e convidados participariam de uma
churrascada no Bairro da Juventude retornando em seguida para o Rio de Janeiro, então nossa
capital federal.
O Presidente não veio, a Siderúrgica não saiu do papel, mas os políticos continuaram a mentir. Nos
anos 60 foram comercializadas ações da Sidesc que era a Siderúrgica de Santa Catarina que seria
instalada na cidade de Laguna. Acreditava-se tanto no empreendimento que todos os homens que
tinham fonte de receita adquiriram pelo menos uma de suas ações. A Sidesc não saiu e o seu mentor
– e corretor – deputado Wilmar Dias, acabou ficando sem seus direitos políticos por dez anos. Já
nos anos 70, apareceu a Sidersul, com extensa área demarcada ao longo da BR-101, em Imbituba,
com escritório e canteiro de obras devidamente montado. Acabou em nada.
A siderurgia que nunca saiu do papel fez história em terras catarinenses, especialmente nas aqui de
nossas bandas.
Eu gosto de falar de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 10 de abril, segunda-feira.
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METROPOLITANA E SÃO MARCOS
Hoje vou falar de duas carboníferas. Uma delas continua minerando, a outra já faz parte da nossa
história.
Reporto-me às Carboníferas Metropolitana e São Marcos.
A Metropolitana, tendo como objeto a colonização de glebas de terras localizadas na Região Sul
catarinense, foi fundada a 29 de setembro de 1890, na cidade do Rio de Janeiro. A Firma Ângelo
Fiorita & Cia requerera ao governo seis bilhões de metros quadrados de área de terra em nossa
região e, em seguida, vendeu essa propriedade à Metropolitana. Esta, por sua vez, cumpriu o seu
papel e fixou mais de 20 mil famílias de imigrantes sobre a área concedida. Em 1915, o governo do
Estado, por ato do governador Gustavo Richard, vendeu mais 150 milhões de metros quadrados. A
exemplo da primeira gleba, esta também foi vendida aos colonos, mas com reserva da exploração
do seu subsolo. Iniciou, então, a exploração do carvão mineral, no distrito do Rio Maina, até a sua
exaustão. Até 1959, a sede da Metropolitana era o Rio e Janeiro e, nesse ano, foi transferida para
Criciúma. Eram, então, seus diretores, Milton Euvaldo Lodi e José Müller. Em 7 de agosto de 1959,
o Grupo Diomício Freitas/Santos Guglielmi adquiriu seu controle acionário que, mais tarde, foi
transferido para a família Guglielmi que o detém até os dias de hoje minerando no subsolo do
município de Treviso.
Já a Carbonífera São Marcos foi fundada em 18 de Junho de 1942, em Nova Veneza. O nome é uma
homenagem ao santo padroeiro do Município. Lembremo-nos que, à época, Nova Veneza era parte
integrante do território municipal de Criciúma. Seu capital era de 660 contos de réis, integralizado
pelos cotistas Coque do Brasil Ltda, Mário Crippa, Mário Diomário da Rosa, Cechino Scavone,
Carlos Scavone, Dino Gorini, Dionísio Mondardo, Gabriel Milanez, Frederico Berti, Bortolo
Bortolotto, Arthur Bianchini, Gracioso Meller, Ângelo Alamini e Antonio Diomário da Rosa. Sua
primeira diretoria foi constituída por Carlos Scavone, Mário Crippa e Dionísio Mondardo. A
Carbonífera São Marcos também minerou o subsolo do distrito do Rio Maina e a localidade de São
Marcos recebeu este nome porque ali estavam localizadas as embocaduras de suas principais
minas.
É impossível falar de nossa história sem falar das empresas de mineração de Criciúma, este orgulho
de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 26 de julho, quarta-feira.
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CARBONÍFERA PRÓSPERA
Em oportunidade anterior já fiz referência à Carbonífera Próspera S. A. o que, todavia, não me
impede de retornar ao assunto no dia de hoje.
Ao lado da CBCA, a Carbonífera Próspera foi a mais importante empresa mineradora de nossa
Região, extraindo o carvão mineral do subsolo do nosso município e nos de Içara e Siderópolis. A
Próspera foi fundada a 21 de janeiro de 1921, por um grupo de alemães com a característica de
sociedade por cotas limitadas. Só a partir de 1924 é que foi transformada em Sociedade Anônima.
Sua sede era a capital federal, Rio de Janeiro, de onde foi trazida para a nossa cidade no ano de
1937. Nesse ano eram seus diretores os senhores Júlio Gaidzinski e Jorge da Cunha Carneiro, os
quais, com outros criciumenses e empresários de Urussanga adquiriram o seu controle acionário.
Em seguida esse controle foi transferido ao grupo empresarial do Banco Inco, à frente Irineu
Bornhausen e Genésio de Miranda Lins. Posteriormente Bornhausen negociou praticamente todas
as ações com a Companhia Siderúrgica Nacional. Isto se deu em 1953 quando já produzia mais de
50 mil toneladas/mês.
A Carbonífera Próspera chegou a ter, como empregados, mais de duas mil pessoas aí contados os
seus diretores, os empregados dos escritórios e os mineiros e seus auxiliares.
Os empregados da Próspera eram aquinhoados com planos assistenciais especiais que os
distinguiam da massa trabalhadora regional. Uma cooperativa de consumo fazia o papel hoje
exercido por supermercados; uma farmácia vendia só para os prosperanos; um fundo rotativo
especial permitia que os mineiros construíssem suas casas. A Próspera sempre manteve jardim de
infância para as crianças filhas de seus empregados prestando-lhes toda assistência. A médica e
odontológica só eram alcançadas, gratuitamente, por empregados da referida Companhia. Para o
lazer, a Próspera mantinha duas sociedades recreativas: O Próspera Clube Recreativo e a
Sociedade Esportiva Sul do Estado, sem contar com o tradicional Esporte Clube Próspera com um
dos mais bem aparelhados estádios da época áurea da mineração.
Na década de 90, a Carbonífera foi privatizada deixando de minerar. Seu acervo patrimonial é
objeto de demanda judicial.
A Sociedade Carbonífera Próspera, a exemplo de tantas outras mineradoras, escreveu de forma
maiúscula a história de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 27 de julho, quinta-feira.
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DNPM, CPCAN, CNP, ...
Quando trafegamos pela Rua Cel. Pedro Benedet, a pé ou num veículo automotor, sempre chama a
nossa atenção a suntuosidade de uma edificação situada bem em frente da JUGASA. É o prédio do
DNPM, ou da CPCAN, ou do CNP. Se subirmos a monumental escadaria, bem no hall de entrada, à
parede, leremos o significado dessas siglas. Copiei, guardei e transcrevo:
“Estas siglas, ou o seu significado, sempre foram incógnitas pra a população de Criciúma. O que
acontecia, como acontecia, qual o objetivo daquele prédio majestoso e imponente no centro da
cidade?
Poucos sabemos a importância que este prédio teve para o desenvolvimento e enriquecimento da
Região Sul do estado. Em plena II Guerra, o Departamento Nacional de Produção Mineral
supervisionava todo o trabalho da indústria carbonífera, desde a extração do carvão até os
cuidados médicos com os que trabalhavam no subsolo. Ali foi instalado o primeiro equipamento de
Raios-X do estado de Santa Catarina. O DNPM fazia todo o levantamento geológico e topográfico e
aqui foi implantado o primeiro serviço de água tratada da região. Em 1962, o DNPM foi desativado
e a Comissão Executiva do Plano do Carvão Nacional assumiu o serviço pertinente à indústria
carvoeira. Durante o regime totalitário nem só de carvão viveu o DNPM. Vários cidadãos, por
divergência política com o governo, foram aqui encarcerados em duas salas que se transformaram
em celas da ditadura. Quando foi desativado o setor do DNPM de Criciúma, o Conselho Nacional
do Petróleo tomou conta do casarão que passou a ser conhecido como CNP. Com atribuições
idênticas às da Cpcan e ao DNPM, o CNP atendia o serviço de controle e de fiscalização do que
dizia respeito a combustíveis e lubrificantes. Desativado o CNP, o prédio que servira a três
repartições públicas federais, passou a ser disputado por várias entidades criciumenses. Em 1993, a
Fundação Cultural de Criciúma conseguiu instalar-se na ala direita. Em 1996, no dia 11 de abril,
através de convênio, a Fundação Cultural de Criciúma teve oficializado a ocupação total do prédio
que foi entregue à comunidade criciumense com o nome de “Centro Cultural Jorge Zanatta".
Nesse edifício estão instaladas, além da Fundação Cultural, escolas de música e de artes plásticas;
uma galeria de artes na qual os artistas expõem seus trabalhos e a Academia Criciumense de
Letras.
Como CPCAN, como DNPM, como CNP, como Fundação Cultural, como Centro Cultural Jorge
Zanatta ou com qualquer outra denominação, o prédio majestoso da Cel. Pedro Benedet é parte
integrante da história econômico-cultural de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 28 de julho, sexta-feira
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III
POLITICA
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O PARTIDO DO PREFEITO
Desde o tempo do Império brasileiro que os políticos abrigam-se em partidos na busca do poder.
Sempre que duas ou mais pessoas reúnem-se para discutir o bem comum, estão praticando um ato
político.
Via de regra ouvimos um interlocutor afirmar que odeia política; todavia, esse mesmo personagem
discute, em pé de igualdade e de interesse, a situação da associação do seu Bairro, a administração
do Município, a política econômica do governo. Nada mais está fazendo senão praticar um ato
severamente político.
Certamente o que ele odeia é a prática da política eleitoral ou partidária. Aí, pode até ser que ele
“odeie essa política”.
Clandestinamente, durante o Império, existia o Partido Republicano que deu sustentação ao golpe
militar de 15 de novembro de 1889 quando o Império foi derrubado.
Dali para cá, os partidos foram sendo criados e ou apoiavam os governantes ou faziam-lhes
oposição.
Em 1925, para eleger nossos primeiros mandatários, houve consenso geral entre os políticos que
dominavam a terrinha e uma chapa oficial foi sufragada sem oposição. Mas, já em 1930, os
Republicanos dividiam espaços com os Liberais.
Marcos Rovaris era Republicano; Cincinato Naspolini e Elias Angeloni eram do Partido Liberal. A
Constituinte de 1945 acabou com aquelas agremiações e, nas eleições daquele ano, o Partido Social
Democrático, PSD, elegia Addo Caldas Faraco. Seus sucessores confessavam as seguintes
ideologias partidárias: Alfredo Bortoluzzi, da União Democrática Nacional, UDN; João Carlos de
Campos, PSD; Carlos Octaviano Seara, PSD; Luiz Lazzarin, PSD; Paulo Preis, PSD; Sinval
Rosário Boherer, PSD; Napoleão de Oliveira, PSD; Nery Jesuíno da Rosa, Partido Trabalhista
Brasileiro, PTB; Arlindo Junkes, PSD; Ruy Hülse, UDN. Portanto, de 1945 a 1970, à exceção de
Alfredo Bortoluzzi – que foi substituto de Addo Faraco, na condição de Presidente da Câmara
Municipal – de Ruy Hülse, que eram da UDN e de Nery Jesuíno da Rosa que era do PTB, todos os
demais prefeitos pertenciam ao PSD. Em 1965, o Presidente Castello Branco extinguiu os partidos
existentes e nasceram a Aliança Renovadora Nacional – ARENA e o Movimento Democrático
Brasileiro – MDB. Dali para frente, os nossos mandatários era partidários: Nelson Alexandrino,
MDB; Algemiro Manique Barreto, ARENA; Altair Guidi, ARENA. No final da década de 70,
novamente foi modificada a lei orgânica dos partidos e novas agremiações puderam ser criadas. Aí
o resultado foi este: José Augusto Hülse, do Partido do Movimento Democrático Brasileiro, PMDB;
Altair Guidi, do Partido Democrático Social, PDS; Eduardo Pinho Moreira e Paulo Meller, do
PMDB e esta é a história político-partidária dos mais altos dignitários da administração pública do
Município.
Eu gosto de falar de Criciúma, de qualquer época, este orgulho de cidade!
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Publicada dia 03 de fevereiro – quinta-feira
45
A CASA DOS VEREADORES
No sexto pavimento do Edifício Centro Profissional, na Rua Cel. Benedet está instalado o Poder
Legislativo de Criciúma, a nossa Câmara Municipal.
E antes de estar ali, por onde andou a edilidade criciumense?
No dia 1º de janeiro de 1926, nossos vereadores então denominados conselheiros, tomavam posse
em solenidade ocorrida no Clube Seis de Janeiro, na Praça Nereu Ramos local no qual fora dada
posse, também, ao nosso primeiro prefeito, Marcos Rovaris, então denominado de Superintendente.
Depois, as reuniões do Conselho – quer dizer, da Câmara – passaram a ser realizadas numa sala da
Cooperativa Vitória.
No dia 16 de abril de 1936, agora já com a denominação de Câmara de Vereadores, a Casa do
povo criciumense passou a ser uma sala do Mampituba Futebol Clube, na Rua Seis de Janeiro
sendo que a posse dos nossos legisladores foi presidida pelo Juiz Diretor do Fórum da Comarca de
Urussanga, Dr. Albino Sá Filho. Naquele dia eram empossados Cincinato Naspolini, Olivério
Nüernberg, Silvino Rovaris, José Dandolini, Francisco Meller, Procópio Lima e Arthur Campos.
Sete, ao todo.
Em 1944, com a inauguração do edifício-sede do Poder Executivo e instalação da nossa Comarca, a
Câmara Municipal passou a utilizar o salão do júri para suas sessões plenárias e uma pequena sala
para a sua secretaria. Era o andar superior daquele edifício que, certamente, um dia voltará a ser a
nossa Casa da Cultura.
Em 1967, o Prefeito Ruy Hülse, em ação unilateral, transferiu a sede do Poder Legislativo para uma
sala do andar intermediário da Galeria Benjamim Bristot. Em 1978, a Câmara passou a ocupar
todo o andar superior da mesma Galeria para, em 1986 ser transferida para o local que habita nos
dias de hoje.
Embora independentes e harmônicos entre si, o Legislativo sempre esteve a reboque do Executivo. A
via crucis que percorre, desde 1926, é o testemunho do que afirmo. Enquanto para o Poder
Executivo foram construídos três edifícios – o da Praça Nereu Ramos que foi sucedido pelo da Anita
Garibaldi que deu lugar para o atual no Parque Centenário – a Câmara Municipal pagou aluguel
até o final dos anos 80 e, quando partiu para se instalar num prédio próprio, deram-lhe o sexto
andar (equivalente ao 8º se considerados a garagem e o mezanino) de um edifício...
Eu gosto de falar de Criciúma, de qualquer época, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 04 de fevereiro – sexta-feira
46
ENCRENCAS COM O EXÉRCITO
Recém instalado o governo revolucionário, que resultou da derrubada do Presidente João Goulart,
o 23º Regimento de Infantaria, sediado na cidade de Blumenau, acantonou em nossa cidade fazendo
do edifício da CPCAN, o seu Quartel General. Em época de intensa caça às bruxas, isto é, caça aos
políticos que ombreavam com Jango, aqueles militares detinham pessoas inquirindo-as a respeito
de seus posicionamentos políticos. Isto valia, também, para entidades, agremiações políticas e
empresas.
Entre março e maio de 1964, a Câmara Municipal encaminhou um expediente ao Coronel Newton
Machado Vieira, daquele Regimento. Essa correspondência tomou o número 20-A/64 e dela não
ficou qualquer resquício no arquivo de nossa edilidade. Mas, pela resposta que o Coronel Newton
enviou ao Presidente da Câmara, dá para se ter idéia do que lhe fora perguntado. Pelo Ofício nº
30/C, de 25 de maio de 1964, aquela autoridade militar dá as seguintes informações: a) Addo Vânio
de Aquino Faraco acha-se incurso na Lei de Segurança Nacional e foi solicitada, à autoridade
competente, a sua prisão preventiva; b – a direção local do Partido Trabalhista Brasileiro é
conivente no processo de subversão da ordem, neste município; c – a Rádio Difusora de Criciúma,
ZYT-52, desempenhou papel relevante na propaganda subversiva, desde a sua fundação.
A correspondência que a Câmara encaminhou, de cujo original não se encontra cópia, deve ter
pedido informações ao Coronel acerca do senhor Vânio Faraco, que estava detido numa das salas
da CPCAN, a respeito do diretório municipal do PTB, que fora fechado e suas portas lacradas, e da
Rádio Difusora de Criciúma que fora tirada do ar. A resposta foi essa aí que acabo de mencionar.
Vânio acabou preso, levado para Curitiba, teve seus direitos políticos cassados por dez anos; o PTB
nunca mais se aprumou; a Difusora só retornou ao ar 25 dias depois, graças ao empenho do Sr.
José Gentil de Assis, um de seus funcionários, que foi ao Comandante do 5º Distrito Naval, em
Florianópolis, a quem fez ver que os radialistas não tinham nada a ver com as questões políticas a
que estavam envolvidos os proprietários da emissora. Assim mesmo, todos os dias a programação
da Rádio deveria receber o “aprovo” do Coronel (na CPCAN).
Isto tudo também faz parte da história de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 10 de agosto, quinta-feira
47
ENCRENCAS COM O EXÉRCITO - II
O assunto ventilado aqui na data de ontem, deu panos pra manga. A Câmara viria a receber mais
um, ofício, o de número 34/C, datado em 05 de junho de 1964, no qual aquela autoridade militar diz
textualmente: “Informo a essa colenda Câmara, em face dos documentos e provas testemunhais que
me foram apresentadas, que:
1) o Senhor Romeu Lopes de Carvalho, em declaração pública, afirmou que obedeceria
fielmente a orientação do Partido Trabalhista Brasileiro. Tal declaração está com o
“confere com o original” do senhor Milton Francisco Rebello e com o “visto” de Addo
Vânio de Aquino Faraco;
2) 2) de acordo com o documento firmado pela Sra. Hilda Assis Trevisol, (gerente da Rádio
Difusora) o senhor Romeu Lopes de Carvalho disse que “levaria ao conhecimento do diretor
proprietário, Sr. Vânio Faraco, seu particular amigo e elemento que chefiava o PTB
municipal, razão pela qual não poderia impedi-lo de proferir suas palavras;
3) os senhores Manoel Higino Maciel e Henrique Soares Bello depuseram dizendo que o
senhor Romeu Lopes de Carvalho proferiu palavras depreciativas aos poderes públicos, na
Rádio Difusora, antes do movimento revolucionário vitorioso”.
Lida assim, essa correspondência parece refletir um ato de uma comédia qualquer. Mas não o foi. O
Senhor Romeu Lopes de Carvalho – ao lado de Vânio Faraco, como já foi visto – também enfrentou
muitos dissabores. A fidelidade ao seu líder local e ao Partido do qual fazia parte, resultou em
castigo que, convenhamos, imerecidos.
Aliás, faço este relato para que fique registrada, na nossa história, uma página de lealdade políticopartidária de um homem simples como o foi Romeu Lopes de Carvalho, de saudosa memória.
O processo montado na Câmara Municipal, a partir desses dois ofícios, contém declarações de
alguns radialistas que, por serem (as declarações) irrelevantes para o objetivo destas linhas,
deixam de ser citadas.
Esta também é uma página que não pode deixar de fazer parte da História de Criciúma, este
orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 11 de agosto, sexta-feira
48
NOTÍCIAS COMUNISTAS E PROSPECTOS
PORNOGRÁFICOS
O Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Extração de Carvão de Criciúma, desde a sua
fundação, sempre esteve na berlinda. Os patrões temiam as suas investidas e, tanto quanto possível,
lutavam para ter suas lideranças ao seu lado. Vai daí que, por razões que agora não necessitam de
explicação, a diretoria daquele organismo foi destituída e, no seu lugar, investida uma Junta
Governativa. Da diretoria destituída faziam parte, dentre outros, o vereador Lourival Espíndola,
eleito pela legenda do MDB, no cargo de Delegado do Sindicato junto à Federação, e o mineiro
Walter Henrique Willy Horn, na condição de seu presidente. Daquela Diretoria, demitida por ato
unilateral do governo federal, faziam parte, também: Luiz Maria Júlia, Osni Antunes, Hélio Mozart
Luciano, Valdemar Schimidt, Zeferino Toretti, João Jovino de Souza, Caulino de Carvalho, Manoel
Inocêncio Bittencourt, Túlio Valmor Bresciani, José Ernesto dos Santos, Natal Martins, Pedro
Oliveira da Silva, Emanoel João Teixeira, Laudelino Hilário Custódio e Armiro Saturno Santiago.
A Junta, designada pelo Ministério do Trabalho, era presidida pelo senhor Zelindro Serafim que,
em maio de 1975, foi convidado a prestar alguns esclarecimentos, sobre a vida do sindicato, aos
vereadores.
Na sessão em que o Sindicato foi inquirido, foram levantadas várias denúncias contra o pessoal
desalojado da corporação, especialmente ao seu Presidente e ao Vereador Espíndola, saltando às
vistas – e aos ouvidos – as seguintes:
ligação política do nosso Sindicato com os comunistas do Chile; distribuição de fotografias
pornográficas patrocinada pelo Sindicato; Manifesto de 1º de Maio e das trabalhadoras gaúchas e
algumas investidas sobre a administração sindical.
O Interventor a tudo respondeu, mas ficou de oficializar uma resposta, por escrito, nos dias
seguintes.
Amanhã farei um breve relato do que foi respondido na sessão da Câmara Municipal.
Isto também faz parte da história de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 14 de agosto, segunda-feira
49
NOTÍCIAS COMUNISTAS E PROSPECTOS
PORNOGRÁFICOS – II
No dia 03 de junho, o Presidente da Junta Governativa do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria
da Extração do Carvão de Criciúma, Zelindro Serafim, pelo Ofício nº 144, dava as informações ao
Presidente da Câmara, conforme prometera quando da sua participação em uma das reuniões da
edilidade.
Dessa correspondência destaco os seguintes trechos:
“1. Boletim Informativo do Chile: trata-se de documento de Sindicatos esquerdistas chilenos,
enviado a este órgão de classe logo após a nossa posse, o qual tece críticas à política
salarial brasileira, provando, assim, a ligação e correspondência deste sindicato com
entidades esquerdistas. Acreditamos que alguém se esqueceu de comunicar aos chilenos que
este sindicato encontra-se sob intervenção federal.
1. Fotocópias pornográficas: encontradas escondidas atrás de um rádio velho existente no
almoxarifado e que vem provar o trabalho de enfraquecimento dos lares (trabalho típico dos
comunistas) e a desmoralização que se encontrava a casa do trabalhador.
2. Manifesto de 1º de Maio e das Trabalhadoras Gaúchas: esses panfletos provam a política de
agitação mantida, pois os mesmos eram introduzidos por baixo da porta das residências dos
trabalhadores, inclusive pelo nobre Vereador Lourival Espíndola e pelo ex-presidente
Walter Henrique Willy Horn.
3. Levantamento das dívidas: as dívidas subiam a casa dos CR$ 178.000,00 constatando uma
diferença de caixa de CR$ 7.938,99.
4. Horas Extras: Conforme mostra esse documento os senhores vereadores poderão constatar
a orgia das horas extras efetuadas pelo funcionário Clóvis Villatore”.
E segue a correspondência do Interventor do Sindicato, senhor Zelindro Serafim, ora com mais ora
com menos ímpeto sempre denunciando aspectos da administração sindical despojada.
Junto à missiva foram juntadas cópias de alguns manifestos e do material pornográfico encontrados
no Sindicato. É possível que, a trinta anos, a literatura política de organismos sindicais chilenos e
dos trabalhadores do Rio Grande do Sul, amedrontassem. Hoje, todavia, são de rir. E o material
pornográfico, representado por duas fotos de relação amorosa heterossexual, é encontrado aos
milhares em qualquer banca de revista.
Nada como o tempo para colocar todas as coisas no seu lugar. Com certeza.
Há passagens que entristecem a história de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 15 de agosto, terça-feira
50
O NASCIMENTO DA ARENA
Política é a arte do imponderável. Quem afirmar que política tem lógica corre o risco de ser
desmentido na primeira esquina. “Todas as verdades, na política, não duram mais de 24 horas”
afirmava o líder liberal Álvaro Valle, recentemente falecido.
Todos temos presente que os grandes partidos de Santa Catarina foram o Partido Social
Democrático, PSD, e a União Democrática Nacional, a UDN. Como terceira força, o Partido
Trabalhista Brasileiro, o PTB.
Se estes eram os grandes partidos, registre-se, também, que os grandes adversários políticos, entre
si, eram os pessedistas contra os udenistas. Os petebistas, por sua vez, eram disputados por uma e
outra agremiações que, ao coligarem-se com o PTB asseguravam praticamente a vitória eleitoral
daquela eleição.
Podemos afirmar, utilizando-nos do adágio popular, que a disputa entre udenistas e pessedistas era
igual a de gato e cachorro. E isto passava de pai para filho, geração a geração... Até que, em 1965,
extinta toda a vida partidária da Nação, por ato institucional do Presidente Castello Branco, o
Brasil entrou na era do bi partidarismo e foram criados dois partidos: a Aliança Renovadora
Nacional – ARENA, e o Movimento Democrático Brasileiro, o MDB. Enquanto este era criado para
fazer uma oposição “consentida” ao governo, a Arena nascia para dar sustentação a esse mesmo
governo reunido, no seu seio, os velhos adversários egressos do PSD e da UDN. E agora? Lá em
cima, tudo bem. Mas e aqui, nas bases?
Ainda não haviam sido cicatrizadas as feridas abertas com a eleição do ano anterior, quando Ivo
Silveira,do PSD, batera o udenista Antonio Carlos Konder Reis na disputa pelo governo do estado.
Reunir udenistas e pessedistas num partido só? De jeito nenhum, afirmavam uns e outros.
Mas, no restaurante Pigalle, do senhor Oliveira, nos fundos do seu prédio, Alina Travessa Padre
Pedro Baldoncini, udenistas e pessedistas, de pé, aplaudiram a entrada, as falas e a saída dos
grandes líderes Celso Ramos de braços dados com Irineu Bornhausen. Na entrada, os acenos. Nas
falas, o severo momento político que o Brasil enfrentava e a necessidade de serem deixados os
ressentimentos de lado, na saída, o sorriso – meio forçado, é bem verdade – que mostrava a
satisfação imposta do dever cumprido.
Nascia ali, a Arena de Criciúma que, Já na primeira eleição municipal, em 1969, amargava uma
derrota acachapante que lhe impôs o emedebista bissexto Nelson Alexandrino embora elegesse a
maioria absoluta dos senhores vereadores.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 17 de fevereiro – quinta-feira
51
PTBosta
Desde a sua fundação, havida no final de 1945, início de 1946, o Partido Trabalhista Brasileiro –
PTB – exerceu forte influência na vida operário-sindical de Criciúma. Dificilmente um líder
operário não tivesse vinculação estreita com o Partido de Getúlio Vargas. O PTB era tido como o
Partido de Vargas embora o estadista tivesse criado duas agremiações partidárias: o PTB para
fazer-lhe campanha junto aos humildes e o PSD – Partido Social Democrático que, composto por
fazendeiros e classe média alta, dar-lhe apoio nas camadas sociais de cima.
Aqui em Criciúma o PTB se constituía na terceira força e reunia esquerdistas, assim denominados
aqueles que enveredavam por caminhos contrários aos do governo e seu status quo.
Evidentemente que o Partido era disputado por fortes grupos políticos. E, numa dessas disputas, o
postulante à direção, Addo Vânio de Aquino Faraco, teria feito um comentário pejorativo à sigla
partidária. E o fizera publicamente.
Vânio teria chamado o PTB de PTBosta, qualificativo que enfureceu a massa trabalhista e
conseguiu reunir contra si todas as correntes do trabalhismo local.
Rodolfo Rufino de Souza, presidente da agremiação em 1957, chegou a publicar um anúncio, em
forma de “a pedido” comunicando aos trabalhadores de todo o Município que o PTB vetava o
ingresso do senhor Vânio Faraco em suas fileiras. Essa proibição era avalizada por próceres
petebistas do porte de Nero Fernandes, Otacílio Carolina e José Hector Parente.
Considere-se que, à época, Vânio Faraco era filho do Prefeito Municipal, pessedista Addo Faraco e
exercia o importante cargo de Agente local do IAPETC, uma das principais forças sócio-políticas
de toda a Região.
Naquele tempo, senhores, a militância partidária era um exercício sério da cidadania e
manifestações do tipo dessa feita pelo Sr. Faraco não eram assimiladas pelos homens de bem que
componham os respectivos diretórios municipais de agremiações partidárias.
Vânio Faraco, naquela, dançou.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 21 de março, terça-feira
52
PARTIDO SOCIAL PROGRESISTA
Até os primeiros anos do governo de força imposto pelo movimento revolucionário de 1964, as
eleições no Brasil não coincidiam. Havia legislaturas diferentes entre os estados federados e seus
respectivos municípios. Então, era uma festa: todo ano havia eleição em algum pedaço do Brasil
embora os mandatos, todos de quatro anos, a exceção de senador que era de oito anos. E mais: aqui
em Criciúma, por exemplo, a eleição de Prefeito não coincidia com a de Vereador: isto só começou
a ocorrer em 1968. Vai daí que a vida político partidária, em todas as agremiações, era dinâmica.
Dinâmica até demais. A todo instante os diretórios municipais tomavam decisões importantes ora
visando o pleito local, ora o do município vizinho, ora o do Estado e assim por diante.
O PSP – Partido Social Progressista, no qual se notabilizou o populista Ademar de Barros, fincou
estacas aqui na terrinha. E compôs o seu diretório municipal. E, a 6 de junho de 1958, preparandose para o outubro daquele ano, anunciava a sua composição: Presidente Adolpho Francisco da
Silva; 1º vice-presidente Zuvaldo do Livramento; 2º vice Vidal Horário de Oliveira; 3º vice Ayrton
César; 4º vice Mário Fontanella. (Eu não sei pra que tantos vices). Secretário Geral Augusto José
Firmino; 1º secretário Mário Spillere; 2º secretário Waldemar Durval da Silva (o Professor
Bigode); Tesoureiro geral Paulino Búrigo; 1º tesoureiro Adamastor Martins da Rocha; 2º
tesoureiro Giocondo Bristot; 1º Procurador, João Carlos de Campos; 2º procurador Irio Broleis;
Diretores: Arthur Souza, Sebastião Teófilo Gomes, Roque Manique Barreto, Virgílio Constantino
Rocha, Wilson Fernandes Barata, Heraldo de Oliveira e Paulo Serafim. No Conselho Fiscal
tínhamos: Ondino de Castro Alves, Raul Francisco de Oliveira, Algemiro Manique Barreto,
Juventino Dias, Sebastião Costa, Antonio Isaias Coelho e Manoel Vieira da Rocha.
Repito: esta nominata, cheia de vices presidentes, secretários, tesoureiros e procuradores, fazia a
composição do diretório municipal do Partido Social Progressista, em 1958. Registre-se que, já no
pleito eleitoral daquele ano, Paulino Búrigo seria candidato a deputado pelo PTB e o presidente do
PSP, Adolpho Francisco da Silva receberia 205 votos para legislador estadual.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 19 de abril, quarta-feira
53
ELEIÇÃO DE 1958
Vimos, na semana passada, quando falei da composição do Diretório Municipal do PSP, que as
eleições não eram gerais no Brasil e que os pleitos não se davam no mesmo ano em todo o território
nacional. Assim, em 1958, tivemos eleição para senador, deputados federal e estadual e vereadores
em Santa Catarina. Naquele pleito, Criciúma somava 12.302 eleitores, enquanto Tubarão, por
exemplo, tinha um contingente eleitoral de 17.056. Ferido aquele pleito, no dia 3 de outubro, as
urnas revelaram estes números: para senador Carlos Gomes de Oliveira, do PTB, 3.863 votos;
Irineu Bornhausen, da UDN, 3.768 e Celso Ramos, do PSD/PRP 3.176. Para a Câmara dos
Deputados, os votos de Criciúma, na sua grande maioria, foram endereçados para Doutel de
Andrade, do PTB, 3.400 votos; Irineu Bornhausen, da UDN – que também disputava o senado –
2.859; Joaquim Ramos, do PSD, 2.523 sufrágios. Para a Assembléia Legislativa, os eleitores de
Criciúma, em 1958 sufragaram em maior quantidade: Ruy Hülse, da UDN, 3.546 votos; Paulino
Búrigo do PTB, 2.949; Paulo Preis, do PSD, 1.877. Registre-se que o PSD lançou dois nomes: o de
Paulo Preis e o de Napoleão de Oliveira. Este obteve 927 votos e os dois acabaram suplentes de
deputado, enquanto Ruy e Paulino foram eleitos. Para a Câmara Municipal o mais votado seria o
senhor Vânio Faraco, do PTB, com 959 votos; na UDN seria Nicolau Destri Napoleão, com 879;
pela coligação PSP/PRP, Ernesto Bianchini Góes, com 523 votos; no PSD Pedro Guidi com 422
votos. Dos onze vereadores, o PTB elegeu quatro: Vânio Faraco, Aryovaldo Machado, Dorizo
Francisco Rocha e Pedro Andrade; a UDN, três: Nicolau Destri Napoleão, Antonio Colonetti e
Wilmar Zózimo Peixoto; o PSD três: José Contin Portella, Nelson Alexandrino e Pedro Guidi, e o
PRP um: Ernesto Bianchini Góes.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 24 de abril, segunda-feira
54
ELEIÇÃO EXTEMPORÂNEA
O clima pré-eleitoral da eleição que se avizinha me transporta para os idos de 1926 para, sobre
textos telegráficos que nosso arquivo mantém intactos. Dissertar dois minutos sobre o assunto
vivido há mais de 70 anos.
No dia 19 de agosto de 1926 nosso Superintendente Marcos Rovaris recebia a comunicação oficial
da morte do Senador Lauro Muller e, com ela, a notícia de que no ano seguinte seria feita a eleição
para a ocupação de sua cadeira já que não eram eleitos suplentes como ocorre nos dias de hoje. No
dia 16 de janeiro do ano seguinte, Marcos Rovaris e os demais Republicanos da cidade eram
cientificados de que o candidato à sucessão de Lauro Muller era o senhor Dr. Celso Bayma. Alguns
dias depois, a 3 de fevereiro de 1927, um novo telegrama, encaminhado pelo Governador Adolfo
Konder, concitava os republicanos criciumenses dizendo “Apelo amigos desse Município para que
envidem todos os esforços sentido eleição 24 de fevereiro tenha a maior concorrência possível. A
fim poder estabelecer estimativa próximo pleito preciso saber mínimo sufrágio que aí obterão
candidatos oficiais. Preciso esclarecer importância desse pleito para nós pois dela depende posição
nosso partido no cenário político nacional. Daí seu empenho para que a chapa oficial seja
fortemente e sem discrepância sufragada nesse setor política. Agradecendo antecipadamente
obséquio de uma breve resposta envia cordiais saudações Adolfo Konder, governador.”
Como o ouvinte deve ter percebido sempre houve a chapa oficial do governo e, conseqüentemente o
apelo veemente para que seus candidatos fossem sufragados.
Mais de 70 anos depois, tudo igual...
Não é fantástico poder rememorar a história de Criciúma, este orgulho de cidade?!
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Publicada dia 19 de junho, segunda-feira
55
PAGUEM O DÍZIMO
A exemplo de ontem, busco, novamente, no arquivo de telegramas que faz parte do acervo da nossa
Câmara Municipal, a inspiração para as linhas de hoje.
É comum a gente ouvir: quem sustenta um partido político?
A resposta também é corriqueira: os próprios filiados. Os filiados que exercem mandatos ou cargos
administrativos, os diretorianos.
É também verdade que, desses, muitos “se esquecem” de tais compromissos e, não se sabe qual
toque de mágica as agremiações políticas não sucumbem.
E sempre foi assim.
Em 1926, um telegrama testemunha que o caixa do Partido Republicano – que mantinha o governo
do Estado – não andava bem das pernas. Para o seu caixa contribuíam os diretorianos que,
naqueles tempos, faziam parte das agremiações políticas em busca de status. Um Presidente de
partido era gente. E se o seu Partido estivesse no governo, em qualquer das esferas, o status era
ainda maior.
Ao apagar das luzes de 1926, exatamente no dia 31 de dezembro daquele ano, o Partido
Republicano de Criciúma recebia este telegrama: “Tendo comissão diretora última reunião
deliberado que também suplentes esse diretório também concorrem para caixa partido, peço-vos
providências com maior brevidade possível sentido recolher contribuições dos suplentes desse
diretório. Cordiais Saudações Adolpho Konder”.
Em outras palavras: os membros dos diretórios municipais, titulares e suplentes, eram obrigados a
contribuir com o caixa do Partido.
Isto também é parte da história de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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20 de junho, terça-feira
56
COMIDA PARA ELEITORES
Haveria eleições. Seria no dia 7 de novembro, do ano de 1926. Daí, o Conselho Municipal (entendase Câmara de Vereadores) fez uma reunião para “tratar sobre o tratamento dos eleitores que
vierem votar...”
Por volta das 14 horas, na sala de sessões do Conselho, a reunião foi realizada com as presenças
dos conselheiros Pedro Benedet, Gabriel Arns, Olivério Nuernberg e o suplente João de Luca e
ainda do superintendente Marcos Rovaris. Depois de discutido o assunto pautado para a ordem do
dia daquela sessão, ficou estabelecido que para cada eleitor que votasse diretamente nos candidatos
(oficiais) receberia um cartão do Município com o competente carimbo a fim de ir tomar uma
refeição após a eleição.
Da leitura dessa ata, saltam à admiração algumas constatações:
Primeira: somente por esse documento é que se tem a primeira notícia de que João de Luca era
suplente de conselheiro e, nessa condição, assumira o mandato.
Segunda: o Superintendente, isto é, o Prefeito, tomava parte das reuniões do Conselho;
Terceira: os mesários da seção eleitoral sabiam em quem o eleitor votava haja vista que o voto era
a descoberto. Mais ou menos assim: o eleitor era chamado até a mesa onde se encontravam os
mesários e, depois de assinar um determinado livro, pronunciava o nome do candidato no qual
votava.
Quarta: os conselheiros fizeram essa reunião a que estou me referindo para discutir o que fazer com
o eleitor que sufragasse candidatos do Partido Republicano. E decidiu que, para esses, haveria uma
refeição. Se o voto fosse para a oposição, o castigo era a fome.
Senvergonhinhas nossos antigos conselheiros, não?!
Isto também é parte da fantástica história de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 23 de junho, sexta-feira.
57
ELEIÇÕES DE 1926
A exemplo de sexta-feira da semana passada volto ao livro de atas do Conselho Municipal de
Criciúma e extraio, da página 12, mais um espetacular pedaço da nossa fantástica história.
No dia 27 de novembro de 1926, às 12 horas, na sala de sessão do Conselho, reuniram-se o
Superintendente Marcos Rovaris e os conselheiros Pedro Benedet, Gabriel Arns,Olivério Nuernberg
e Henrique Dal Sasso e ainda os senhores Francisco Meller, 1º substituto de Superintendente,
Olympio Motta, vice-presidente do diretório municipal do Partido Republicano e Conselheiro eleito
para o futuro quatriênio,Leandro Crippa, Agente Fiscal Municipal em Nova Veneza e Adolfo
Campos, secretário municipal e da Junta Eleitoral. O Presidente Cel. Pedro Benedet designou os
conselheiros Gabriel Arns, Olivério Nuernberg e Henrique Dal Sasso para tratarem da apuração da
eleição de superintendente, substituto de superintendente, conselheiros e suplentes e juízes de paz e
seus suplentes para o distrito sede e para a vila de Nova Veneza. Feita a contagem dos votos
registrados nas respectivas atas de eleição, foi apurado o seguinte resultado: para Superintendente
Municipal o cidadão Marcos Rovaris contou 328 votos. Para Conselheiros Municipais: Pedro
Benedet, 320; Gabriel Arns, 326; Olivério Nuernberg, 324; Humberto Bortoluzzi, 328, Olympio
Motta, 322. Para suplentes: João Zanetta, 318; Frederico Minato, 316; Cincinato Naspolini, 314;
Manoel Herculano, 312 e Gervásio Teixeira Fernandes, 309. Para juízes de paz de Criciúma João
Mangilli, 204 votos, João Milioli, 202, Benjamin Bristot 200 e Elias Angeloni com 188 votos. Para
suplentes de juízes de paz: Fiorento Meller 186 votos, Henrique Lodetti 180 Hercílio Amante 175 e
Pedro Beneton 169 votos. Juízes de Paz de Nova Veneza: José Canella, 124 votos, Francisco Berti
122, Hildebrando Pessi 120 e Bernardo Kestering, 118 votos. Suplentes: Anacleto Girardi com 116
votos, Luiz Alessi com 114, Pedro Bortolotto 112 e Francisco Cirimbelli com 110 votos. O resultado
foi homologado pelo Presidente do Conselho e os candidatos declarados eleitos.
Esta é uma das belas páginas da história de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 26 de junho, segunda-feira.
58
IV
EDUCAÇÃO & CULTURA
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AJUDEM-ME!
Noutro dia fui abordado por uma senhora que me fez a seguinte reclamação: Archimedes, nas tuas
historinhas dificilmente entra episódios envolvendo mulheres. Será que na história de nossa cidade
elas não tiveram participação?
A surpresa da indagação daquela ouvinte transportou-me a uma reflexão necessária sobre todas as
linhas produzidas para este horário. E, da busca de tudo quanto se falou, a constatação e que,
realmente, muito pouco foi falado sobre o extraordinário trabalho desenvolvido pela mulher ao
longo dos 120 anos de existência da nossa Criciúma. E olha que elas merecem muito mais do pouco
que foi dito. A omissão é da própria história que sempre colocou na linha de frente o Homem.
Basta, contudo refletir um pouquinho para se concluir que, nas entrelinhas, o papel desempenhado
pela mulher deve ser destacado. E não no genérico, mas no particular também. Falei de algumas
mulheres, mas falta falar de uma porção de mulheres.
Então, colho a oportunidade deste horário e deste dia para fazer um apelo às pessoas que me dão a
honra da sintonia e que conhecem histórias vividas por grandes mulheres: coloquem esses fatos no
papel e, por favor, façam chegar às minhas mãos, através da Rádio Eldorado. Aliás, este apelo vale
também para grandes feitos de outros tantos homens que também estão no anonimato e que
precisam ser justiçados com um comentário, ainda que pequeno, sobre o seu trabalho.
Este é o sentido da crônica de hoje: para não dizerem, amanhã, que uma boa história ficou no
esquecimento, ajudem-me a narrá-la, neste espaço, avivando minha memória e escrevendo sobre um
parente seu: o bisavô, o tri avô, o próprio pai, um amigo, enfim uma pessoa que mereça ser aqui
destacada, sem nos esquecermos da mulher.
Porque é isto que merece Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 16 de maio – terça-feira
60
MACARRONADA
Faz muito tempo que os chineses inventaram uma massa alimentícia que, depois de levada para a
Europa, tornar-se-ia a mais tradicional comida dos italianos: o macarrão. Hoje existe uma
infinidade de tipos de macarrão e quase a sua totalidade originada em fábricas de todos os
tamanhos produzindo quantidades incomensuráveis e levados ao mercado consumidor com apelos
promocionais e de preços realmente convidativos.
Ontem, no entanto, não era assim.
Desde a colonização até os anos 40, 50 - não mais que isto – o macarrão era totalmente artesanal:
feito em casa. E sua confecção sempre lembrou o final da semana: fazia-se macarrão para o almoço
do domingo.
Então, em cada casa dos "oriundi", a mãe se ocupava da mistura dos ingredientes, com farinha de
boa procedência, ovos da galinha do terreiro, água fervida, um bom rolo de macarrão e os
condimentos finais. A massa era esticada sobre a mesa com o auxílio de farinha de trigo que ia
sendo aspergida generosamente sobre ela para evitar que grudasse nas mãos ou na própria mesa e,
quando dada por pronta, era colocada em descanso por algum tempo findo o qual era enrolada e,
com uma faca de bom fio, cortada em diminutas fatias as quais, abertas com muito carinho por
ágeis dedos, voltavam ao local do descanso para secar e, dali, para a panela.
Essa tarefa toda de esticar, enrolar e cortar, foi substituída, dali a pouco, por uma pequena
máquina, irmã gêmea daquela que moia carne. Aí, era necessária a participação de mão de obra
com força já que, para fazer aquele artefato funcionar, era preciso braço forte.
O macarrão nosso de cada dia, de hoje, é diferente daquele consumido nos dias de ontem. Deste,
sequer procuramos saber a procedência... Daquele, o aguçamento do paladar quando se sabia ter
sido feito pela nonna, ou pela comadre tal. Aliás, chegava-se a programar visita a alguma pessoa,
no domingo, por se saber que naquela casa, no almoço era servido aquele macarrão.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 17 de maio – quarta-feira
61
NOSSOS ALUNOS E SEUS DESEMPENHOS
Nos últimos tempos, nos colégios das redes pública e privada de ensino, deixou de ser publicado o
desempenho obtido pelos alunos nas diversas disciplinas. Todavia essa prática fazia parte das
atividades de secretaria de escola que, não raras vezes, extrapolava a divulgação além dos muros
do estabelecimento escolar.
Em setembro de 1957, por exemplo, o Ginásio Madre Teresa Michel – que ensinava fazia dois anos
- publicava no jornal de nossa cidade a relação dos seus melhores alunos, com a menção de Honra
ao Mérito pelos resultados colhidos em agosto daquele ano.
Da listagem constam: Aplicação: 2a. série A: Dahil Maria Gomes e Stella Firmino; 2a. série B:
Altamiro Bittencourt e Nereu Guidi; 2a. série C: Júlio César Hülse e José Borges de Medeiros; 1a.
série A: Maria Helena Lacombe e Clara Cleonis Zaccaron; 1a. série B: Maria Valkíria Zanette e
Ana Bonfanti; 1a. série C: Alvani dos Santos e Newton Luiz Barata; 1a. série D: Manoel Carlos
Cardoso e Clóvis de Luca. Repito: estes eram os primeiros colocados em Aplicação do Ginásio
Madre Teresa Michel no mês de agosto de 1958.
No ensino religioso, o destaque contemplava: Celso Olinto Carvalho, Adiléia Maria Zin, Ana
Bonfanti, Ana Teresa Naspolini, Dilma Dário, Jurema Conti, Maria Figueiredo M. Filha, Maria
Valkiria Zanette, Marisa Dalsasso, Nina Rosa de M. Vieira, Ayser Guidi, Franklin José da Silva,
Pedro Heitor Zanette, Luiz Carlos Búrigo e Lúcio Nuernberg. Repito: os nomes pronunciados são
dos melhores alunos no ensino de religião do Teresa Michel em agosto de 1958.
Já em Procedimentos os destaques seriam: Dahil Maria Gomes, Faustina Anselmo, Francisca
Tomaz Vieira, Iraní Ferraro, Maria de Lourdes Correa, Zurene Povoas Carneiro, Carlos Roberto
Gouvêa, José Borges Medeiros, Pedro Goulart, Jacira Santa Veras, Kátia Povoas Carneiro, Maria
Helena Lacombe e Waldiléia da Rosa.
Como vimos a lista é de uma plêiade de jovens que faziam sucesso no Teresa Michel no ano de
1957. Faziam sucesso ontem e fazem sucesso hoje na comprovação de que sempre haverá prêmio
para os que estudam.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 9 de março, quinta-feira.
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FORMATURA NO PEDERNEIRAS
No final do ano de 1957, exatamente na sexta-feira dia 7 de dezembro, a cidade de Criciúma parou.
E o fez em homenagem aos formandos do Curso Normal Regional Nicolau Pederneiras à época o
ápice do ensino em nossa terra. A solenidade foi feita no Cine Milanez cuja capacidade foi
totalmente tomada pelos formandos, seus familiares e convidados constando que até nos corredores
muita gente se acomodou.
A mesa diretora dos trabalhos não poderia ser mais luzidia: Heriberto Hülse, vice-governador do
estado; Addo Caldas Faraco, prefeito municipal; Nicolau Destri Napoleão, delegado regional de
ensino, José dos Santos Maciel, inspetor escolar, Gerda Becke Machado, diretora do educandário e
mais uma dezena de notáveis que ali compareciam para prestigiar os novos normalistas. Da
programação do evento constou uma primeira parte com música e poesia: Brisa Nacional, cantada
pelo coral orfeônico do Nicolau Pederneiras; Canto à Bandeira, pela concluinte Quênia Maria
Correa; Querido Símbolo da Pátria, pela formanda Dorilda Soares da Rosa; Canção do Exílio, pelo
concluinte João Maria Ramos e A lágrima e a pérola, por Maria Robélia Kestering. Na segunda
parte, os magistrandos receberiam os seus diplomas depois de ouvirem Oração da Mestra recitada
por Maria Eliete Gomes e o discurso do orador da turma, o professorando Clésio Búrigo. Depois de
tudo isto se ouviu o discurso do Professor Nicolau Destri Napoleão que era o paraninfo da turma.
Terminada a cerimônia aconteceu uma soirée nos salões da Sociedade Recreativa Mampituba.
Daquela turma, além dos já citados, faziam parte, dentre outros: Altamiro Ernesto Milioli, Hugo
Zanette, Pedro Bernardino, Valmor Périco, Albina Milaneze, Edite Maria Cardoso, Emirene Paulo
dos Santos, Iria Maria Zilli, Maria Aldavir Antonelli, Myrian Luz, Vera Inez Damiani e mais uns
cinqüenta novos professores.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 31 de março, sexta-feira.
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RAINHA DOS ESTUDANTES
O final dos anos 50 e os primeiros da década de 60 foram pródigos nos eventos patrocinados pelos
estudantes secundaristas de Criciúma. Em 1959, como já foi reportado, foi fundada a União dos
Estudantes Secundários de Criciúma, a Uesc, que tantos serviços prestou à classe que representava
e à própria cidade. Aquela entidade teve seus grandes momentos nos anos de 1960 a 1964 sendo
que, neste último, seria condenada ao fechamento pelo stablischmant administrativo do país.
Antes da UESC, todavia, também havia intensa atividade estudantil. Os estabelecimentos escolares
de então promoviam campeonatos multisseriados entre si e deles participava a comunidade
estudantil e a própria família criciumense.
Um desses eventos era a escolha da Rainha dos Estudantes. A cidade parava para acompanhar a
escolha da mais bela jovem do mundo estudantil secundarista local.
Assim, depois de intensa campanha, no dia 7 de maio de 1958 era coroada a nova rainha dos
estudantes criciumenses. Foi no palco do Cine Teatro Milanez, a maior casa de espetáculos da
época. Aquela eleição compreendia a venda de votos e os recursos angariados eram destinados à
construção do Ginásio e Escola Normal Madre Teresa Michel. As candidatas travestiam-se de
misses representantes de outras nações e o resultado foi o seguinte: Em 4º lugar, como Miss
Portugal, com 49.123 votos, a estudante Tânia Mara da Rosa Góes; em 3º lugar, como Miss
Espanha, com 77.334 votos, a estudante Maria Griselda Guglielmi; em 2º lugar, como Miss Itália,
com 167.880 votos, a estudante Alba Belinzoni; e, em 1º lugar, recebendo o cetro e a cora de rainha
dos estudantes de 1958, como Miss Brasil e 226.248 votos, a estudante Adoralice Zoe da Rosa, a
Dora.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 5 de abril, quarta-feira.
64
NOSSA BIBLIOTECA
Era 1944. O dia era 29 de novembro. O Prefeito Elias Angeloni, atendendo ao pedido de alguns
professores das redes estadual e municipal de ensino, baixa um decreto criando a nossa Biblioteca
Pública. Dá-lhe o nome de Pereira Oliveira, numa homenagem ao governador catarinense que, em
1925, houvera sancionado a lei que criava o nosso Município.
Nossa Biblioteca foi instalada no dia 02 de dezembro, quatro dias depois de ter sido criada, em
cerimônia havida no gabinete do Prefeito onde se achavam, além do senhor Elias Angeloni, as
senhoras Dozola Rovaris e a Professora Gerda Becke Machado. Naquele dia foi criado, também, o
Conselho de Amigos da Biblioteca que teve a seguinte formação: presidente Dr. Euclides de
Cerqueira Cintra – que era o Juiz de direito da comarca, à época nosso único magistrado;
tesoureiro Hercílio Amante que era o secretário municipal para todos os assuntos; orador o
Professor Marcilio Dias de San Thiago; secretária Professora Gerda Becke Machado e diretora a
Sra. Donatila Teixeira Borba.
Os primeiros volumes da nossa Biblioteca foram emprateleirados numa sala de múltiplas funções no
próprio edifício do Paço Municipal, na Praça Nereu Ramos. Dois anos depois, todavia, o Prefeito
Addo Caldas Faraco transferiria seu acervo e, por conseguinte, sua sede, para a Praça do
Congresso, na esquina com a Rua Santo Antônio. Já em 1974, nossa biblioteca deixava aquele
endereço e era transportada para uma sala do Centro Comercial de Criciúma, na Rua Anita
Garibaldi, para onde também fora transferida a sede da municipalidade.
Em 1983, o nome de Pereira Oliveira é substituído pelo da poetisa maior, Donatila Borba,
denominação que ostenta até os dias de hoje e seu acervo foi levado para o Centro Cultural Santos
Guglielmi, anexa ao Teatro Municipal Elias Angeloni. O acervo bibliográfico da nossa biblioteca
pública é de mais de 11 mil volumes. Aproximadamente quatro mil volumes fazem parte da
biblioteca itinerante que percorre os bairros da cidade em duas unidades móveis: já que o povo não
vai à biblioteca, a biblioteca vai ao encontro do povo.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 15 de março, quarta-feira.
65
A ESCOLA DA SATC
Um dos educandários mais respeitados do universo do ensino profissional do Brasil é a Escola
Técnica General Oswaldo Pinto da Veiga ou Escola da Satc como conhecemos popularmente.
Essa escola foi criada em 1955 e constituída com capital originário das companhias mineradoras
que operavam em Criciúma. Seu nascimento se deu no dia da padroeira dos mineiros, Santa
Bárbara, 4 de dezembro de 55.
Era o nascimento da Sociedade de Assistência ao Trabalhador do Carvão – Satc – entidade cujo
objeto era a prestação de assistência médico-farmacêutica, bem como aprendizado técnico aos
trabalhadores da indústria carbonífera sul catarinense, seus dependentes e filhos.
Naquele dia, presentes à solenidade de instalação, eram contadas as presenças do Dr. Aníbal Alves
Bastos, diretor executivo da Comissão do Plano do Carvão Nacional, um dos homens que mais
contribuiu com nossa cidade na esfera do governo republicano; o Dr. Paulo Mendes, diretor
secretário da Companhia Siderúrgica Nacional; do prefeito municipal Addo Caldas Faraco e várias
outras autoridades. A SATC resultava de estudos e propostas formuladas pelo minerador engº.
Sebastião Toledo dos Santos e contou com os préstimos do advogado Nery Jesuíno da Rosa como
seu diretor executivo.
Prontamente a escola foi instalada e nela só ingressavam filhos de mineiros. O corpo docente foi
triado no que existia de melhor por aqui e, havendo deficiência, eram buscados professores de
outras praças. A escola se impôs pela austeridade que lhe impôs a Ordem religiosa dos irmãos
maristas, seus primeiros administradores e a eficiente direção financeira do Sr. Woimer
Wasniewski. Não faltou muito tempo para ser cotejada pela população alheia à mineração para a
qual as portas foram abertas a partir dos anos 80. A Escola da SATC é um dos mais ricos celeiros
da cultura técnica de nossa juventude e os dali egressos são disputados por grandes empresas
brasileiras. Em Santa Catarina, Jaraguá do Sul, Joinville, Blumenau e, evidentemente, Criciúma,
disputam os profissionais que anualmente a nossa Escola da SATC joga no mercado.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 11 de maio, quinta feira.
66
TEATRO AMADOR
Noutro dia tive a grata oportunidade de reportar-me sobre o grande ator do teatro nacional,
Procópio Ferreira. Noutra investida, falei da programação cívico-cultural patrocinada pela
Bandinha Filho do Mineiro que acontecera numa quarta-feira no Cine Milanez. Hoje, volto ao
assunto para relembrar, uma vez mais, a presença do teatro amador em nosso meio.
No final do ano de 1959, a peça Pluft, o Fantasminha, era levado para a capital paulista, com
direção e atores de nossa terra. Era um festival nacional de Teatro Amador. O abnegado professor
Jocy Pereira, conhecido como Sérgio Luciano, um dos diretores da antiga Rádio Eldorado,foi o
responsável pelo feito.
A crítica especializada não poupou elogios aos nossos atores, jovens estudantes da cidade, na sua
maioria.
O sucesso premiou a apresentação de Júlio César Hülse, na condição de Pluft; Zulma Búrigo, como
Maribel; Delci Broleis, como mamãe fantasma; Daltro Rebello, como o pirata da perna de pau;
Carlos Gomes, como o marinheiro Julião; Luiz Gonzaga Amante, como marinheiro João; Wandick
Magno Garbelotto, como marinheiro Sebastião e Juarez Garbelotto, como o Tio Gerúndio.
Pluft, o Fantasminha, de Maria Clara Machado – a teatróloga que tanto escreveu para o nosso
teatro – é uma das peças que mais se viu no Brasil inteiro. E nós, aqui de Criciúma, podemos nos
orgulhar de ter participado daquele festival nacional encenando aquele trabalho. A
responsabilidade dos nossos atores era enorme haja vista que muitos já teriam tido a oportunidade
de presenciar sua apresentação.
O Teatro Amador da Região Mineira, como era chamado aquele grupo e o Teatro Amador
Próspera, que veio logo a seguir, marcaram época e fazem falta no cotidiano de nossa gente.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
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Publicada dia 15 de maio, segunda-feira.
67
E CRIOU-SE A UNESC
Desde os primeiros tempos, nossos ancestrais tiveram como ideal de vida para seus filhos o estudo,
a escolaridade, um curso de nível superior – se possível.
Das primeiras pequenas escolas destinadas umas ao sexo masculino e as outras ao sexo feminino,
passou-se para as escolas mistas, as reunidas, os grupos escolares, as escolas básicas, os colégios,
as escolas técnicas.
Já no final da primeira metade deste século as famílias mais abastadas e esclarecidas reclamavam
pela instalação de escolas de segundo grau.
Criou-se a Escola Rural que, com recursos federais alocados no orçamento da União pelo então
deputado federal Joaquim Fiúza Ramos, foi construída na colina do Bairro Olaria. Nunca
funcionou para responder à justificativa de sua criação, isto é, nunca foi uma Escola Rural com
currículo voltado às ciências agrárias. Seu objeto era de ensinar a técnica da produção agrícola
aos filhos dos colonos por aqui residentes. Aquela escola seria transformada no Colégio Estadual
Joaquim Ramos assim como aquele bairro seria repartido: uma parte Bairro São Luiz e outra,
Bairro Michel.
Em 1964, acolhendo pedido que lhe fazia a classe estudantil, o então Prefeito Arlindo Junkes propôs
– e a Câmara Municipal aprovou – a lei de criação de uma faculdade municipal de Direito. A lei foi
publicada e jamais revogada o que importa em afirmar que, no papel, a faculdade municipal de
direito, existe.
Em 1968, o Prefeito Ruy Hülse proporia e a Câmara daria seu aval e Criciúma ganhava a
Fundação Educacional de Criciúma, a Fucri que, instalando as primeiras unidades de ensino
superior imediatamente, buscaria o seu reconhecimento como Universidade o que acabou por
ocorrer a dois anos com a criação da Unesc, a Universidade do Extremo Sul de Santa Catarina.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 19 de maio, sexta-feira.
68
E FUNDARAM A UESC
12 de março de 1960. Um punhado de estudantes criciumenses resolve se unir em torno de ideais
comuns e funda a entidade representativa da classe: nascia a União dos Estudantes Secundários de
Criciúma, conhecida pela sigla Uesc. Na sua grande maioria, todos os alunos da Escola Técnica de
Comércio de Criciúma, à época o único estabelecimento escolar que funcionava à noite em nossa
cidade.
Da sua diretoria faziam parte: Fúlvio Naspolini como presidente; Francisco Faraco, como vicepresidente; José Vitório, Julio Wessler e Júlio César Hülse, na secretaria; Olimpio Vargas, Daltro
Rabello e Adilson Faraco, na tesouraria; Sebastião Humberto Pieri como orador. Os membros
titulares do Conselho Fiscal eram Gilberto de Oliveira, Alberto Abreu e Arlindo Junkes; os
suplentes: Nilo de Oliveira, Anastácio Gonçalves da Silva e Haroldo Roque.
A Uesc foi uma das mais atuantes entidades estudantis de Santa Catarina e teve funcionamento
pleno até 1964 quando, por recomendação não se sabe de quem, cerrou suas portas para ficar na
história.
Não houve nenhuma grande campanha comunitária, no interregno de 1960 a 1964, que não tenho
recebido a participação da Uesc, tamanha era a sua representatividade junto às forças vivas do
Município.
Ocupei-me dela, na primeira rodada destas histórias, mas faço questão de a ela retornar haja vista
ter descoberto a composição de sua primeira diretoria à qual são endereçadas nossas homenagens.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
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Publicada dia 29 de maio, segunda-feira.
69
CNEG & CNEC
21 de setembro de 1963: com raízes nordestinas, é plantada, em nossa cidade a Campanha
Nacional de Educandários Gratuitos. A idéia era a de oferecer ensino noturno à parcela de jovens –
e de adultos – que, não podendo ir à escola nos períodos matutino e vespertino em função de
obrigações profissionais, pudessem compensar essa lacuna em suas vidas.
O aluno paga o que tiver condição de pagar. E quem não puder pagar, estuda do mesmo jeito. Para
estes, são buscadas doações de terceiros, pessoas físicas ou jurídicas.
À frente da empreitada, o advogado Benedito Narciso da Rocha para cá trazido para cuidar do
departamento jurídico do Sindicato dos Mineradores.
É, então, instalado o Ginásio Criciumense 29 de Julho com os cursos Ginasial e Admissão ao
Ginásio. A clientela era tão significativa, em número, que o educandário viu-se obrigado a fazer
concurso de seleção no qual eram medidas as aptidões intelectuais de cada postulante a uma vaga.
O 29 de Julho – assim denominado em comemoração à data de fundação, lá no Nordeste –
funcionou nas dependências da Escola Básica Joaquim Ramos, no período noturno no qual
permanecia com suas portas fechadas.
Seu corpo docente foi constituído de renomados professores das redes pública e particular de ensino
do Município que não se furtaram em ajudar aquele educandário. Na direção, a professora Maria
Ignês Junkes. Na secretaria, Marly Amábile Costa. Na assessoria administrativa, Rodeval José
Alves e, na geral, o advogado Benedito Narciso da Rocha.
Daqui a CNEG – como era denominada – avançou para os municípios vizinhos não só da região
carbonífera, mas, também, do Vale do Araranguá. Aliás, nessa, ainda há educandários com aquele
embasamento.
Mais tarde deixou de ser Campanha Nacional de Educandários Gratuitos e passou a ser
denominada de Campanha Nacional de Escolas da Comunidade, Cnec.
No 29 de Julho havia um Grêmio Estudantil denominado de Tiradentes e seu primeiro presidente foi
Luiz Morona Sobrinho.
A Cneg, depois Cnec, o Ginásio 29 de Julho e o Grêmio Estudantil Tiradentes também contribuíam
para o progresso de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 14 de julho, sexta-feira.
70
V
CARNAVAL
71
CARNAVAL DE ONTEM
Dentro de um mês estaremos vivendo o feriado do Carnaval de 2000, um dos mais tardios dos
últimos anos. Sob o império do Rei Momo, primeiro e único, a população fica às voltas com os
folguedos momescos direta ou indiretamente. Os que gostam, vão para os salões, para as avenidas,
fazem blocos, fantasias, se esbaldam... Os que não gostam, ou dão u, ma olhadinha nas reportagens
da televisão ou se enclausuram em retiros que vão desde os balneários até casas de orações.
Lá pelos anos 30, 40, também era assim.
Aqui em Criciúma, por exemplo, não havia carnaval de rua, mas a moçada fazia – à sua moda – um
carnaval de rua. Blocos exclusivamente masculinos, cujos integrantes vestiam roupa de mulher e
como elas caracterizavam-se, saiam às ruas cantando as marchinhas da época para cá trazidas pela
potência dos aparelhos de rádio.
Em 1939, por exemplo, Gilberto Vieira, de nós todos conhecido pelo apelido de Juju, comandava
um desses blocos tocando o seu trombone. Dele faziam parte, dentre outros, Ademar Costa, Mário e
Lauro da Cunha Carneiro, Antenor Longo, Manoel Gonçalves de Farias – o Bá -, Wilson Barata,
Jorge Frydberg, Mário Penna, Dino Campos, José Caetano Sobrinho, Antonio Balthazar e Abelardo
Scheidt. Brincavam em volta da Praça Nereu Ramos e, depois, iam visitar os salões de danças dos
bairros como o Vinte (que tinha este nome porque a casa era assim numerada), o 25 (que tinha este
nome porque a Sociedade era denominada de Clube 25 de Dezembro), o União Mineira, o
Metropolitano de Nova Veneza e até o Clube de Urussanga.
Nessa época, brincava-se, também, de entrudo e de limão d’água. O entrudo consistia em
surpreender alguém lhe atirando um balde de água para molhar, mesmo. Não raras vezes, o banho
era dado com seringa d’água feita de bambu: tomava-se um gomo de bambu, enchia-se do líquido e,
com o auxílio de uma pequena vara com uma borracha à ponta, pressionava-se e a água era
lançada à distância. E o limão, era uma brincadeira no mínimo trabalhosa: tomava-se uma laranja,
ou um limão, passava-se sabão e, sobre ele, uma pequena camada de cera de abelha, derretida.
Quando a cera endurecia, cortava-se essa película com uma gilete e tinha-se, ali, um cítrico de cera
cujas metades eram soldadas novamente com cera derretida com o auxílio de uma pena de asa de
galinha. Enchia-se de água comum, ou água de cheiro, elegia-se o folião ou o transeunte e, sem
perguntar se a roupinha estava passada, se ia pra missa ou para o clube, atirava o artefato sobre o
mesmo que, arrebentando contra o corpo, molhava-o de cima a baixo.
Era o carnaval dos anos 30, 40 e até 50, quando, em nome do moderno, acabaram com essas
inofensivas e gostosas brincadeiras.
Eu gosto de falar de Criciúma, de qualquer época, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 07 de fevereiro, segunda-feira
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O NOSSO CARNAVAL
A partir de hoje – e até terça-feira – nossa cidade – como de resto todo o Brasil – vive sob o império
de Rei Momo, Primeiro e Único.
Poderíamos dizer que o ano está preste a começar, haja vista que, para significativa parcela da
população, as festas de final de ano começam lá em dezembro e só terminam na quarta-feira de
cinzas.
Carlos Lacombe, um dos mais fervorosos amantes do carnaval (de ontem), disse, na letra de uma
marcha-rancho, ter saudade do carnaval da Operária e da Praia do Rincão. Qualquer cidadão na
faixa etária dos 60 anos, ou mais, confirma o que compôs o carnavalesco Carlinhos Lacombe: o
carnaval, quando entrou na vida dos criciumenses, notabilizou-se, mesmo, com os bailes do União
Mineira e, de alguma forma, lá da Praia do Rincão, por incrível que isto possa parecer.
Os grã-finos da cidade, que se afugentavam na Praia nos dias de Momo, faziam lá a festa
carnavalesca que deveriam fazer aqui. E havia, ali na Rua da Igrejinha da Praia, mais ou menos a
uns 50 metros do calçadão, um salão de bailes que, nessa época, recebia decoração especial,
orquestra especial e dê-lhe carnaval. Fotografias que são exibidas hoje mostram os carnavalescos
em cordões percorrendo, inclusive, a única rua daquele balneário.
Já o União Mineira, mesmo antes de receber essa denominação, fazia os grandes bailes do carnaval
aqui da terra. Hoje, ainda, mantém a tradição e oferece um dos melhores carnavais de salão da
terra do carvão.
Só que os tempos evoluíram e, nas ruas e avenidas, veremos, a partir de hoje, blocos de sujos –
fazendo crítica despudorada a autoridades e costumes – blocos carnavalescos e escolas de samba
desfilando com a desenvoltura das grandes congêneres das grandes cidades brasileiras que o
mundo conhece através da televisão.
Este é o último carnaval do Século XX e, pelo desenho que é mostrado, fechará com chave de ouro
os folguedos dos criciumenses que começaram há muito tempo com os blocos patrocinados pelo
Mampituba Esporte Clube, o mais sofisticado dos clubes carnavalescos de toda a Região, àquela
época.
E eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 3 de março, sexta-feira
73
TENENTES DA FOLIA
Hoje, quarta-feira de cinzas. Dia de reflexão introspectiva inclusive sobre os festejos que acabam de
ir para a história: os últimos do Século XX. Se foi bem ou não o carnaval que as cinzas de hoje
estão sepultando, só a história dirá.
E é na história que vamos escudar as linhas de hoje. Regressemos no tempo. Vamos a 1957, 43 anos
atrás. No mês de maio era fundado o Clube Carnavalesco Tenentes da Folia que, nos anos
imediatamente seguintes, ditaria o tom do nosso carnaval. Pela nominata que compunha a sua
diretoria já dá para se concluir que aquela entidade viera para encarar os folguedos momescos com
responsabilidade: sob a presidência de Wilmar Peixoto estes eram os “tenentes” da corporação:
José Caetano Sobrinho, Ayrton Nogueira César, Balthazar Gomes, Jairo Jacy Campos, Jaime
Martins, Napoleão de Oliveira, Ézio Lima, Eloy Búrigo, Dino Campos, Ondino Castro Alves,
Sebastião Humberto Pieri, João Fernandes dos Reis, Mário Gregório dos Reis e Wairton Peixoto.
Já no carnaval de 1958 era feito o primeiro concurso para a escolha da Rainha do Carnaval com as
candidatas do Próspera Clube Recreativo, do Mampituba, do União Mineira e do União Operária.
Foi eleita Emilia Nazaré Gomes que, naquele carnaval, seria a atração principal dos bailes de
salão e do desfile havido na Praça Nereu Ramos envolvendo inúmeros blocos e cinco carros
alegóricos: o primeiro deles levava a rainha do Próspera Alzira Correa e fora denominado de
Jardim de Infância com adereços de gangorra e balanços; o segundo, de nome Cacique, carregando
verdadeira tribo de índias e índios, homenageava o Prefeito da cidade, Addo Caldas Faraco; o
terceiro era o Pagode Chinês, transportava a Srta. Iolanda Sonego, rainha da S. R. União Mineira;
o quarto recebeu o nome de Águia, homenageava o político Ruy Hülse e transportava a rainha do
carnaval Emília Nazaré Gomes. O último carro alegórico do carnaval de1958 fora da
responsabilidade do Esporte Clube Metropol. Consta que milhares de pessoas originárias de todos
os cantos do Município (que começava lá no pé da Serra e ia até o Atlântico) acorreram à Praça
Nereu Ramos para os desfiles organizados pela Sociedade Carnavalesca Tenentes da Folia.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 8 de março, quarta-feira
74
VILA ISABEL
Dentre tantas entidades associativas que deixaram de existir em nosso meio, quero me referir a uma
que, com toda certeza, é lembrada por todas as pessoas maiores de 40 anos: a Escola de Samba
Vila Isabel. Das entidades estritamente carnavalescas que Criciúma conheceu – e conhece – a Vila
Isabel é a mais antiga.
Com seu chão cobrindo o perímetro geográfico da velha Vila Operária – hoje Bairro santa Bárbara
– a Vila Isabel era a coqueluche dos carnavais de ontem. Todos íamos às ruas para ver e aplaudir
seus componentes garbosamente desfilando pelas vias públicas de Criciúma, com concentração
apoteótica na Praça Nereu Ramos.
Em 1960 a diretoria da Escola de Samba Vila Isabel era formada por Romeu Lopes de Carvalho
como presidente reeleito; José Bento Borges, como vice também reeleito; Onélia Alano da Rosa
como secretária geral; José Farias e Luiz Valentin como tesoureiros. Seu comandante era o senhor
Luis Valentin, auxiliado por Aldo Domingos e assistidos por Carlos Alexandre. O departamento
feminino era comandado por Carmen de Carvalho, a primeira dama da escola.
Depois da Vila Isabel, surgiram outras agremiações carnavalescas: umas estão aí, enriquecendo o
nosso carnaval; outras, a exemplo da Vila, também fazem parte do passado. Todas, todavia, fizeram
e fazem a história da maior festa popular do Brasil em nosso território.
Lamenta-se, evidentemente, que – uma escola com tamanha tradição e composta de nomes tão fortes
como a Vila Isabel – já não brinde mais os aficionados dos folguedos momescos com suas
apresentações. Criciúma lamenta seu desaparecimento.
E eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 09 de março, quinta-feira.
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VI
FUTEBOL
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SURURU NO FUTEBOL
Nas páginas do Jornal Tribuna Criciumense, edição de 26 de maio de 1958, busco as linhas da
crônica de hoje. A cidade vivia o clima forte do início de um novo campeonato de futebol, o da Liga
Atlética da Região Mineira que, àquele tempo, era o que de melhor havia nas competições
futebolísticas da Região. A notícia a que me reporto começa com a manchete O PAU COMEU
GROSSO. TREMENDO SURURU NO INICIO DO CAMPEONATO DA LARM NA PELEJA
ATLÉTICO ZERO VERSUS BOA VISTA ZERO.
E segue: Na tarde de ontem tivemos o início do campeonato da Larm com a partida Atlético x Boa
Vista, no estádio Waldemar de Brito. A pugna foi iniciada às 15h e 30minutos com saída dada pelo
Boa Vista que dominou seu adversário até os 20 minutos do jogo quando, então, o Atlético começou
a se encontrar. Na segunda etapa, o jogo pertenceu ao Atlético Operário diz o Jornal que prossegue
assim: “Grande chance de ganhar a peleja perdeu o Boa Vista, por intermédio de Almerindo
quando, sozinho, frente a frente com Zezé, não teve calma suficiente para atirar a pelota nas redes
atleticanas. As equipes formaram assim: Boa Vista: Itamar, Zabot, Biroide e Doroci; Nesio e
Panca; Foguinho, Alamiro, Almerindo, Santos e Costinha. O Atlético Operário com Zezé, Paulo,
Djalma e Daltro; Dal Bó e Carrasco; Edson Santinho, Aldo, Gelson e Camisa.
Quando transcorriam 25 minutos de jogo, na primeira etapa, verificou-se tremendo sururu com a
participação de atletas e assistentes. O mesmo foi ocasionado por Costinha que saiu da ponta
esquerda para agredir Gelson porque este dera um ponta-pé em Itamar. Foi árbitro da partida o
senhor Adamastor Martins da Rocha com uma atuação calamitosa, servindo-lhe de auxiliares
Pachá e Antonio Santana, estes com desempenho regular. Renda da partida: 7.528 cruzeiros sendo
de notar que os sócios do Atlético não pagaram.”
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 6 de abril, quinta-feira.
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FUTEBOL DE SALÃO
A prática de se buscar um barzinho para jogar conversa fora, muito utilizada nos dias de hoje,
sequer era imaginada pela juventude de outros tempos. Nos anos 60, por exemplo, nem se
imaginava que isso pudesse ocorrer. Nossos jovens divertiam-se em festinhas familiares de 15 anos
ou de outras idades quaisquer, ouvindo Ray Caniff, orquestra e coral e dançando suas composições,
fazendo festinhas americanas, indo ao cinema e estamos conversados. Mas havia, na década a que
reporto, um esporte que reunia significativa parcela das mulheres e homens jovens da época: era o
futebol de salão, recém introduzido em nosso meio cujas disputas eram havidas numa quadra aos
fundos de um imóvel da família Benedet, na quadra central da cidade. Ficava aos fundos da
Livraria Fátima. Era alcançada tanto pela própria Praça Nereu Ramos como por um magro
caminho perpendicular à Rua Cel. Pedro Benedet, ao lado do Hotel Palace.
Naquela quadra, havia jogos de futebol de salão todas as noites, todos os dias, o ano inteiro. Em
sua volta, uma tosca arquibancada de quatro ou cinco lances, não mais do que isto, construída com
taboas refugadas em construção de nível. Um alambrado de um metro de altura (será que era tão
alto?) separava os jogadores dos torcedores. A iluminação era parca, mas o suficiente para
iluminar a bola e os pés dos atletas na disputa de cada partida. Se chovesse, não havia jogo, pois
não havia um centímetro de cobertura para ninguém.
Houve noite em que a Escola Técnica de Comércio – que funcionava no Grupo Escolar Professor
Lapagesse – viu-se às moscas haja vista que quase cem por cento de seus alunos tinham ido ver uma
determinada partida do futebol ali praticado. Somem-se a isto, tantos outros torcedores que se
obrigavam a retornar para suas casas, em bairros distantes da cidade, a pé, por terem perdido o
último ônibus que, à época, partia por volta das 23 horas.
É provável que o romantismo da empírica quadra contribuísse para a freqüência de tantos que a
procuravam para o lazer de ontem já que, hoje, sofisticadas quadras instaladas em modernos
ginásios de esportes já não levam torcedores nem atletas como então.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada o dia 4 de maio, quinta-feira.
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OURO PRETO & BOA VISTA
Hoje vou buscar o registro feito no início do ano de 1960, falando de duas importantes agremiações
futebolísticas da época. Falo do Ouro Preto Futebol Clube e do Esporte Clube Boa Vista.
O Ouro Preto – como poderá ser constatado pelos nomes de seus diretores – era o time de futebol
dos médicos de Criciúma. O saudoso facultativo Olavo de Assis Sartori era a própria encarnação
daquele Clube.
Pois bem; em fevereiro de 1960 foi renovada a diretoria do clube da estrela solitária a qual ficou
assim constituída: Presidentes de Honra: João Zanette e Pedro Guidi. Presidente o médico Olavo
de Assis Sartori. Vices Presidentes os médicos Everaldo Sabatini e Carlos Deslandes e o senhor
Joares Guidi; na Secretaria os senhores Valmor Nagel, José Carlos Nobre e Heráclito Amaral; na
tesouraria os senhores Amâncio Carlos Luciano e Raulino Meneghel; o diretor de esportes era o
Dr. Lourenço Cianci Filho; Técnico, o senhor José Victor com os auxiliares Max Machado e João
Constantino Filho; o orador oficial era o senhor Ado Vânio de Aquino Faraco. Pedro de Paulo
Freitas era o representante junto à Larm e Agenor Gonçalves era o guarda-esportes. O Conselho
Fiscal era composto pelos médicos Naby Zacharias, João Conrado Leal, Thomaz Reis Mello e
Raimundo José Perez com os suplentes Max Finster, Jorge Leal e Oduvaldo Machado. Conclusão:
médicos e funcionários do antigo IAPTEC eram os dirigentes do Ouro Preto Futebol Clube.
Já o Boa Vista, na mesma época, tinha como Presidente benemérito o engenheiro Sebastião Toledo
dos Santos e como presidente de honra o Senhor José Nicomedes Lentz. Olirio da Silva Floriano era
o presidente e os vices eram os senhores José Geraldo dos Santos e Loreno Manoel Dias; na
Secretaria, João Manoel Machado e Manoel Marcelino; na tesouraria Alfredo Lacy Zabott e Luiz
Locks; Nilo de Oliveira era o diretor de patrimônio; João José da Silva, o diretor esportivo; Edemir
Marcelo o diretor técnico e Arino Cândido Fortuna o guarda esportes. O Conselho Fiscal era
formado por Manoel Alano Teixeira, Andrino Pinheiro da Silva e Gabriel Antonio Rodolfo. O Ouro
Preto e o Boa Vista eram duas aguerridas equipes de futebol que marcaram época no cenário
esportivo de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 9 de junho, sexta-feira.
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OS CATARINAS GANHARAM
Esta eu fui buscar na página 8 da edição do dia 11 de janeiro de 1960 do velho Tribuna
Criciumense. A manchete anuncia: Carnaval Catarinense em pleno coração de Porto Alegre. E a
nota é assim escrita:
“Sensacional, espetacular, magnífico, monumental, inédito, emocionante... são vocábulos que temos
de usar para melhor explicar, dizer, o que tenha sido a extraordinária vitória da equipe catarinense
em pleno estádio Olímpico frente à seleção campeã pan-americana.
Dois gols para a história do nosso futebol, de autoriza do vovô Teixeira deram a vitória à equipe
dirigida por Saul de Oliveira, e o direito de enfrentar os conterrâneos do Presidente Jocélio.
Vitória clara, técnica, clássica e disciplinada dos barrigas-verdes que ganharam nova vida e
colocação no ranking nacional.
Primeiro o tabu dos paranaenses; agora, o dos homens que chegaram a jurar que carregariam
sacos de milho se perdessem para Santa Catarina.
Frases que ficaram gravadas nas páginas esportivas do nosso estado, como esta, pronunciada pelos
locutores, após o jogo: Enquanto os gaúchos deixam o campo debaixo de tremenda vaia, os
catarinenses saúdam a torcia barriga-verde dando uma volta olímpica em pleno estádio Olímpico.
Detalhes técnicos: 1º tempo Santa Catarina um a zero, Teixeirinha aos 24 minutos;
Final, Santa Catarina dois a zero, Teixeirinha aos 30 minutos. Juiz: Gama Maucher, ótimo. Renda:
450 mil cruzeiros. Quadros: Santa Catarina: Gainete, Roberto, Ivo e Antoninho; Zilto e Nelinho;
Galego, Teixeirinha, Edésio, Valério e Almerindo.
Rio Grande do Sul: Suly, Augusto, Osvaldo e Jacy; Cléo e Canário; J. Borges, Negrito, Lelo,
Naninho (depois Mauro) e Zé Francisco.”Como disse no início, esta reportagem foi escrita dia 11
de janeiro de 1960 e faz parte da feliz memória de Criciúma, este orgulho de cidade!”.
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 14 de junho, quarta-feira
80
VII
HOMENS & MULHERES
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ALTAIR DA SILVA CASCAES
Lá pelos idos anos 50, ali no Bairro Próspera, um músico de nome Altair da Silva Cascaes, resolve
fundar uma pequena bandinha de música que, por reunir filhos de operários da Carbonífera
Próspera, foi denominada de Banda Filho do Mineiro. Deu início à sua jornada e constatou, de
pronto que, sem apoio financeiro e material, não chegaria a lugar algum. Addo Faraco, o Prefeito,
apostou no sucesso da empreitada e, na medida do possível, estendeu-lhe a mão. Mais tarde, o SESI
faria o mesmo chegando mesmo a tomar sob a sua responsabilidade a referida Bandinha. Esta era
requisitada para fazer suas tocatas em todos os finais de semana, por aqui e por toda a Região. Era
um brilho só, uma afinação ímpar, uma responsabilidade de gente madura. Mas sempre lutando
com muita dificuldade e buscando, por todos os meios possíveis, o apoio da comunidade. Assim, a
12 de agosto de 1959, uma quarta-feira, o Cine Milanez abria suas portas para uma sessão cívicocultural em benefício da Bandinha Filho do Mineiro. Daquele espetáculo fizeram parte:
Teu Pezinho – um bailado típico de tradições gauchescas, executado pelas então meninas Maria
Inês, Vera, Rita de Cássia, Maria Isabel, Dóris, Ana Maria, Célia, Sonia, Elisabete, Lourdes e
Laura e, do Rio Grande do Sul, um casal vestido com trajes a rigor da nação gaúcha. Pena que o
sobrenome dessas garotas foi esquecido pelo informante. Em seguida aquele espetáculo apresentou:
Desde em Alma, uma valsa, executada em acordeom por Joaquim Arantes de Bem e Ana Maria
Rocha;
Infância e Morte, poesia recitada por Marilena Lentz; As Flores, um bailado infantil e um drama,
em quatro atos, intitulado “Vencida por uma Criança”. Dele tomaram parte Marilena Lentz, Sonia
Canarin, Zulma Búrigo, Zurene Póvoas Carneiro, Silésia Correa, Claudete Búrigo, Jurê João
Borba, Zilma Casagrande e Ana Maria Rocha.
A noitada foi um sucesso e alguns cruzeiros foram amealhados aos magricelos cofres da Bandinha
Filho do Mineiro que, a exemplo de tantas outras iniciativas fantásticas havidas em nosso meio,
desapareceram. Aquela garotada não poderia ter se transformado numa companhia de teatro? E
porque não?
Merece nossa homenagem, todavia, o seu idealizador Altair da Silva Cascaes, um benemérito
cidadão a quem a cidade ficou devendo.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 05 de maio – sexta-feira
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ANIBAL SÔNEGO
Seu Caetano Sônego e Dona Amábile Milaneze Sônego tiveram oito filhos: Giácomo (o Seu Jaqui, da
Cooperativa Agrícola), o Anibal, o Albino, o João, a Adélia, a Albina e as gêmeas Maria e Santa.
Vou falar, hoje, do Anibal, nascido dia 11 de janeiro de 1911. Um homem comum que viveu como
quase todos os comuns de sua época: da honradez e do trabalho. Aos nove anos já trabalhava: era
o entregador de água para os operários da CBCA empresa na qual viria a se aposentar depois de
41 anos de efetivo trabalho. Passou pela oficina mecânica e dela foi o seu chefe, função na qual
passou para a inatividade.
Em 1929 contraiu núpcias com Elzira Vieira Maciel de cuja união nasceriam os filhos João (o Jota
Sônego) casado com Ortenila Piovesan; a Maria, casada com João Marcos de Oliveira Filho;a
Ana, casada com Alberto Fernandes, o “Camisa”;Isabel, casada com Paulo Philippe; o Caetano
Neto e a Maria Bernardete, esta casada com José Spillere.
Seu Anibal gostava muito de futebol. Foi um dos fundadores do Mampituba Futebol Clube; foi um
dos fundadores e jogadores do Fortaleza Futebol Clube; foi um dos fundadores e presidiu o
Atlético Operário Futebol Clube.
Além do futebol teve atuação marcante na fundação da Sociedade Recreativa União Mineira, da
qual foi presidente.
Tinha seus valores religiosos, mas não foi muito de igreja. Julgava-se no direito, todavia, de
reclamar ao vigário da paróquia São José a suspensão das batidas dos sinos nos horários das
12h00 e 18h00.
Anibal Sônego faleceu dia 14 de fevereiro de 1996, depois de ter contribuído, à sua maneira, com o
progresso de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 25 de agosto, sexta-feira
83
ANTONIO BALTHAZAR
Ele voltava de Florianópolis, com seu veículo rodando sobre o leito da futura BR-101, quando,
repentinamente, ali nas proximidades do trevo de acesso a Imbituba, de uma transversal, corta-lhe a
frente um outro veículo. O choque dos dois carros foi inevitável e ele veio a falecer, ali mesmo.
Era 20 de agosto de 1970. Falo de Antonio Balthazar que a família chamava de Iço. Fora a
Florianópolis cuidar de interesses comerciais haja vista a sua condição de agente regional da
Companhia de Seguros Sul América.
Gostava de carnaval. Foi até coordenador de festejos carnavalescos, especialmente aqueles de rua.
Um dos idealizadores do Mampituba Campestre. Nas horas vagas, escrevia versos. Um de seus
poemas, intitulado Esperança, diz assim:
As mãos tenho vazias. No entanto
Sementes espalhei pelo caminho
Que palpitei com o coração sozinho,
Sem ter do teu amor o tão sonhado encontro.
Para o bem semear por todo o canto
Muito cedo saia do meu ninho
Onde vivo com alma em desalinho
Contando as frias gotas de um pranto.
Semeei para os outros... mas, quem sabe
Se a lei da compensação a todos cabe
E talvez inda inspirado nessa lei
Alguém venha trazer ao meu caminho
Alguma coisa do que na vida semeei.
Antonio Balthazar, de saudosa memória, também ajudou a escrever a história de Criciúma, este
orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 25 de maio, quinta-feira
84
ANTONIO DE LUCA, de Paolo
Tomo carona no brilhante livro de Derlei Catarina de Luca, lançado oficialmente no dia 14, “Os
Jasmins do Jardim de Paolo”, e passo a transmitir alguns dados biográficos de alguns membros da
família De Luca que tanto contribuiu para o crescimento da nossa Criciúma, este orgulho de
cidade!
Falo, por exemplo, de Antonio de Luca, nascido a 16 de junho de 1860, filho mais velho de Paolo de
Luca e Augusta Furlan. Segundo o livro de Derlei, ele saiu clandestinamente da Itália, enfiado entre
queijos e salames ou enrolado entre roupas, com o nome de Daniel. Era agrimensor e, no exercício
da profissão, foi encarregado de medir as colônias da velha Cresciúma. Letra firme, bem delineada,
segura. É dele a rubrica analisadora do livro nº 3, de assentamentos do cartório do registro cível de
nossa cidade porque fora escolhido Juiz de Paz. Na condição de juiz de paz, foi o celebrante do
casamento de João Milioli com Delfina Scotti e de Ângelo Benedet com Teresa Milanese. O
exercício da função era gracioso, mas emprestava grande prestígio ao seu titular.
O livro nº 5 daquele cartório, é rubricado por ele e pelos senhores Frederico Minatto e Pedro
Benedet. Esses três – aliás – aparecem juntos em vários empreendimentos e ocasiões demonstrando
recíproca amizade.
Ajudou a constituir um consórcio agrário, do qual foi presidente, para ajudar financeiramente os
colonos, o qual não só foi reconhecido pelo governo como deste recebeu verba para financiamentos
agrícolas. Uma das primeiras empresas mineradoras de carvão de Cresciúma era de sua
propriedade: a Sociedade Carbonífera Ítalo Brasileira Ltda. que abriu galerias no Bairro hoje
denominado Pio Correa, onde mantinha sua residência.
A 6 de janeiro de 1881, contraiu núpcias com Chiara Serafim e, dessa união, nasceriam: Augusto,
do qual se perdeu a memória; Giovanni, casado com Catarina Simon; Luigi, casado com Tedea
Gobbo; Guerino Lorenzo, casado com Genoveva Zilli; Constante Andréa, casado com Delfina
Benedet; Clara Maria, casada com Domingos Peruchi; Augusta, casada com Domingos Darós;
Giovanna, casada com Antonio Dal Pont; Isabel, casada com Luiz Dal Pont; Teresa, casada com
José Antonio de Souza; Genoveva, casada com Constante Casagrande e Cláudia, da qual não se
tem maior referência.
Antonio de Luca, di Paolo, também é personagem da brilhante história de Criciúma, este orgulho de
cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 18 de julho – terça-feira
85
ANTONIO BATISTA DE LUCA
Ainda na trilha do livro “Os Jasmins do Jardim de Paolo”, da acadêmica Derlei Catarina de Luca,
falo de um dos integrantes dessa numerosa família. Reporto-me, hoje, a Antonio Batista de Luca.
Ele nasceu dia 18 de dezembro de 1904, filho de João Paulo (de quem falei no dia de ontem) e de
Catarina Simon. Ali em São Roque, viveu sua infância e a mocidade. Com seus irmãos, ajudava seu
pai na faina diária de roças, serraria, animais. Dia 22 de março de 1930, contraiu núpcias com
Irene Benedet e foi residir em Morro Estevão onde se estabeleceu com um armazém de secos &
molhados. O negócio prosperou e trocaram de residência: foram morar em Sangão, bem próximo
dos trilhos da ferrovia Thereza Christina para facilitar no embarque/desembarque de mercadorias.
É que, agora, Antonio Batista exportava gêneros alimentícios – derivados da suinocultura – para as
praças do Rio de Janeiro e São Paulo, por navios que eram abastecidos, em Laguna e Imbituba,
pelos comboios da nossa Thereza Christina. Mais tarde, viria morar no centro da cidade de
Criciúma, objetivando dar escolaridade mais aprimorada aos seus filhos. Foi quando construíram e
exploraram o Palace Hotel, o primeiro edifício de três pavimentos da nossa cidade. Estava ali onde
hoje temos a loja Fretta, na Cel. Pedro Benedet.
Da união matrimonial de Antonio Batista de Luca com Irene Benedet, nasceriam os filhos Rubens
Antônio, hoje empresário do ramo cerâmico, que foi casado com Zulma Cechinel, de cuja união
nasceram Rubens Filho, Paulo Roberto, João Batista, Jorge Luiz e Joana; hoje é casado com
Vanilda de César Perito; Zélia, casada com Luiz Zanette, de cujo casamento nasceram Gilberto
Luiz, Margarete Terezinha, Gilson Heitor, Sonia Maria, Mirian Teresa, Susana Maria, Silvia Maria,
Geraldo Luiz e Gilmar Antonio Luiz; Zulma Regina, casada com Haroldo Berti de cuja união
nasceram Tânia Terezinha, Valmir José e Álvaro; Zilda Clara, casada com Diamor Meller, pais da
Jane Terezinha, da Sandra Helena, da Susana Inês e da Sara Josiane;
Raul, casado com Vera Damiani e pais de Gianini, André Luiz e da Janaina. Raul faleceu em
desastre rodoviário; Renato, pai da Danielle, do Renato Júnior e da Renata; Reni Roberto, casado
com Elisa Velloso, pais da Carina, da Luciana e do Gabriel; Zaira Catarina, casada com Atair
Zappelini, de cuja união nasceram a Alessandra e o Raphael; Rodinei Tadeu, casado com Janne
Jacottet, de cujo casamento nasceram Michelle, Monique e Bianca; e Ricardo que ficou viúvo de
Sandra Helena Grijó e, nas segundas núpcias, casado com Ana Beatriz Ferreira de Souza. Ricardo
é pai da Fernanda.
Antonio Batista de Luca, responsável por toda essa prole, também é partícipe da brilhante história
de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 20 de julho – quinta-feira
86
ANTONIO FELIX DE LUCA
Dentre outros De Luca citados no Livro “Os Jasmins do Jardim de Paolo”, da acadêmica Derlei
Catarina de Luca, e reportados nesta série de crônicas diárias que esta emissora irradia sob a
minha responsabilidade, conheci Antonio de Luca. Ou melhor: Antonio Felix de Luca, casado com
dona Clarinda Milioli e que residia exatamente entre as vilas de Mina do Toco e Mina Naspolini. À
esquerda de quem se dirigisse a Siderópolis nos tempos em que a única ligação com aquele
município se dava pela Mina do Toco. Sua casa, muito parecida com a de meus pais, era enorme, de
grandes varandas, rodeada de jardins, quintal, pomar. Aos fundos, um paiol acoplado a estrebarias
e “garagem” de aranha. Oitavo dos nove filhos do primeiro de três casamentos de Felipe de Luca,
seu Antonio exerceu forte liderança na Mina do Mato. Desde o Clube, o campo de futebol até a
igreja, tudo passava pelas suas mãos. Hoje, naquela vila, duas vias públicas homenageiam seu
Antonio e dona Clarinda. Ali, na Mina do Mato, estabeleceu o primeiro armazém de secos &
molhados que tinha como fiel freguesia os operários das minas da CBCA que ali extraia carvão
mineral às toneladas. Essa casa comercial, mais tarde, foi propriedade do seu filho mais velho,
Octávio e, na ordem de sucessão, uma de suas filhas. Seu Antonio foi minerador, serrador,
madeireiro, agricultor. Católico Apostólico Romano, temente a Deus educou sua família nos
parâmetros estabelecidos por essa religião. Ajudou a fundar a Cooperativa Agrícola e criou, com
seus filhos e o genro Osvaldo, a oficina mecânica e o comércio de peças para veículos automotores
ADMOL de nós todos conhecida.
Seu Antonio nasceu em 1904, no dia 4 de dezembro. Seu casamento se deu em 1924. E como o final
de ano quatro esteve sempre presente nos grandes eventos de sua vida, veio a falecer em 1984. De
sua união com Clarinda Milioli nasceriam 12 filhos, a saber: Octávio, casado com Nair Naspolini,
de cuja união nasceriam: Jane Terezinha, Janete Maria, OctávioFilho, Janei Magda, Carlos
Roberto, Cláudio Rogério e Ítalo Antonio. Maria, casada com Rosalino Ramos Santana, de cujo
casamento nasceram Lindomar e Clédio. Valdemiro, casado com Francisca Furtado, de cuja união
nasceram Sidenei, Clarinda, Odete Terezinha, Marilene, Roseli Maria, Antonio Felix, Valdomiro
Filho, Silvana Raquel, Paulo César e Bruna. Viúvo casou com Brandina Rooden. Lindomar Antonio,
casado com Marli Colle, pais da Rosane, do Ricardo e da Rosimeri. Arlindo, casado com Ivete
Rocha, pais do Sandro Roberto, do Rogério e da Rosângela. Ana Irma, viúva de Osvaldo Rocha e
atual mulher de Hilário Zanette. Irma é mãe da Ana Maria e da Adriana. Adair, casado com Ozaide
Lorenzo, de cujo casamento nasceram o Roberto Carlos, o Marco Aurélio e o Marcelo. Diotil, o
Bimba, recentemente falecido, que foi casado com Elza Piazza e, mais tarde, com Selma Quadros.
Bimba foi pai do Júlio César, da Silvia Regina, da Simoni e do Rodrigo. Nair, a Cuca, casada com o
Rocilon Negro, pais do Carlos Alberto. José Antônio, o Toninho da Admol, casado com Sonia
Mondardo, pais do Renato, da Viviane e do Rafael. Moacir, casado com Maria Madalena Soares, já
falecida e com Laurita Dal Pont. É pai da Sibeli, do Fernando, da Amanda e da Danieli. Tereza
Lúcia, casada com Odilon Soares Linhares, pais do Guilherme e da Caroline.
Quando se falar da parte Oeste – ou Noroeste? – de Criciúma, há que se falar de Antonio Felix de
Luca e de dona Clarinda. Eles também ajudaram a escrever a história de Criciúma, este orgulho de
cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 24 de julho – segunda-feira
87
ANTÔNIO (NIN) MILIOLI
O Senhor Francisco Milioli, casado com Dona Genoveva Dalmolin Milioli, teve os
seguintes filhos: Anibal, Josefina, Serafina, Júlia e Antônio.
Falemos de Antônio. Antônio era nome muito comum e, para diferenciar de outro possível
Antônio Milioli, chamavam-no e Antônio Milioli de Genoveva, nome de sua progenitora.
Ele nasceu dia 13 de junho de 1916, dia de Santo Antônio. Daí o nome que lhe foi dado na
pia batismal.
Desde cedo, todavia, pais, irmãos, padrinhos, parentes e vizinhos trataram-no de Nin. E
ficou sendo Nin. Seu Nin, o da Churrascaria. Casou com a professora Simone Pereira
Milioli que, à época, lecionava em Içara. Seu Nin não teve dúvidas: transferiu residência
para lá, para facilitar a locomoção de sua mulher. Na sede desse distrito montaria um
armazém que, um pouco depois, foi trazido para Criciúma, já que aqui voltava a residir,
haja vista uma transferência de sua mulher. Agora o armazém estava localizado na
esquina da Rua Hercílio Luz com a Rua El. Pedro Benedet. Desse casamento com Dona
Simone nasceriam os filhos Francisco Neto – Milioli Neto – casado com Marlene Serafim;
Terezinha, casada com Pedro Manoel Alves; José, noivo de Ana Maria Matos; Herta,
casada com Cláudio Bristot; Geraldo; Agenor, casado com Jane Tiscoski; Antônio Filho,
casado com Vanilda Milioli; Maria de Lourdes que foi casada com Valfredo Damiani;
Maria Irene, casada com Valmir Dagostin; Ademir casado com Eliane Zaccaron e
Gilberto, casado com Daniele Junkes. Aquele armazém que Seu Nin possuía ali na subida
do Hospital São José o vendeu e adquiriu o Café São Paulo, aqui na Praça Nereu Ramos;
depois comprou, também, o Café Danúbio, no térreo do edifício Mampituba. Dali foi
montar um restaurante. Restaurante que fez muito sucesso, na Praça Nereu, nos fundos da
Galeria Beneton: o Recanto de Kátia, por vários anos um dos melhores de toda a região.
Vendeu o Kátia e construiu o Castelinho, na esquina fronteiriça ao Campos & Búrigo. Era
o endereço da alimentação... Seu Nin sabia tudo de restaurante.
Alto, forte, com um pequeno distúrbio ocular que o fazia diferente, recebia a todos com
muita simpatia e simplicidade, razão do enorme sucesso que fazia na exploração daquele
comércio.
Cansado passou o negócio para a frente e parou de trabalhar.
Faleceu dia 26 de outubro de 1989. Certamente poderia ter vivido um pouco mais, pelo
menos para testemunhar o avanço da cidade que o viu nascer e q eu, também com o seu
trabalho, tanto progrediu: Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 28 de agosto, segunda-feira
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DEFENDE CASAGRANDE - I
Quem não conheceu Defende Casagrande? A menos que o ouvinte seja muito novo para responder
afirmativamente à indagação que acabo de formular, haja vista a cotidiana presença de seu
Defende nos mais diversos pontos do centro de nossa cidade.
Ele nasceu aqui em Criciúma no dia 4 de março de 1910, 13º dos 15 filhos de Augusto Casagrande
e de dona Cecília Daros Casagrande, um e outra grandes figuras da nossa história e, ambos,
imigrantes colonizadores de Criciúma.
Conheceu o trabalho cedo: já aos sete anos de idade tinha como dever de família o trato dos
animais domésticos: vacas, terneiros e cavalos. Travesso, gostava de correr sobre tijolos recém
fabricados na olaria da família, para ver os pés afundar sobre a massa de barro. Cada vez era uma
surra. Aos dez anos, transportava tijolos para as construções que a cidade ia construindo. A casa de
Pedro Benedet, a Fábrica de banha e a oficina do Marcos Rovaris e a igreja matriz, hoje nossa
catedral tiveram seus tijolos transportados pelo jovem Defende.
O Martim Milioli tinha uma rinha de briga de galos, “esporte” a que o Defende, gurizote, era
apaixonado. Só que ele não tinha um galo para a briga. Então levava uma galinha inglesa. Aos 12
anos foi para a fazenda da família, ali em Tubarão, onde permaneceu durante seis anos. Cuidava de
50 cabeças de gado, ordenhava oito vacas, era o responsável pelo fabrico de queijo e manteiga.
Nunca estudou. Não que não quisesse fazê-lo; pelo contrário. Faltava-lhe tempo para as letras...
Aos 18 anos, embarcou num navio, no Porto de Imbituba e navegou até São Francisco do Sul.
Queria ir mais pra frente, mas o enjôo do mar fez com que desistisse do intento. Ali, na cidade
histórica da ilha de São Francisco, tomou um trem e viajou para o planalto norte catarinense, indo
para Porto União.
Daquela cidade catarinense, em cima de um caminhão, rumaria para o Paraná indo trabalhar em
São João dos Pobres, ajudando a abrir estradas tendo como ferramentas picaretas e pás. Nessa
atividade, passaria por Butiazal, Irati, Papua, Horizonte e Palmas. A empresa construtora era
comandada pelos irmãos Denis e Adhemar por sua vez irmãos de Irineu Bornhausen que,
futuramente, governaria nosso Estado.
Amanhã eu volto a falar de Defende Casagrande, um dos mais ilustres personagens da história
contemporânea de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 31 de maio – quarta-feira
89
DEFENDE CASAGRANDE - II
Falemos um pouco mais de Defende Casagrande. Nas linhas de ontem, fizemos uma pausa quando
ele estava trabalhando lá no sudeste paranaense, abrindo estradas. Quando contava com 300 mil
réis para receber da empreiteira – uma verdadeira fortuna para um jovem à sua época – resolveu
voltar. Só que os patrões não lhe quiseram pagar. Precisou certa negociação para que o dinheiro
lhe fosse entregue.
Era 1929. Defende Casagrande sobe a Serra com seus irmãos Vitório, Abel e José e mais o amigo
Martin Milioli e constroem uma Olaria em Bom Jesus com a finalidade de fabricar os tijolos para a
construção da igreja daquela Vila.
No ano seguinte, lá estava Defende Casagrande trabalhando na fábrica de cerveja Pérola, em
Caxias do Sul. Seu ofício era distribuir cerveja e gelo que eram transportados numa carroça de dois
eixos e quatro cavalos.
Depois resolveu retornar para Criciúma. Acompanhado de Virgílio Conti, pagou um tropeiro que os
trouxe até Maracajá. De trem, retornaram a nossa cidade só que Defende desceu em Sangão e, dali,
a pé, seguiu até a Primeira Linha para passar à frente da casa de sua namorada. Que decepção!
Ela não o viu.
Com o dinheiro que trouxe de seu trabalho no Paraná e no Rio Grande do Sul, comprou um terreno
em Morrinhos, Tubarão para onde levou sua mulher, Henriqueta Meller e seus dois filhos Victor e
Viemar. Atividades agropecuárias mantiveram a família até 1942 quando, por conselho do amigo
Francisco Meller, que fora visitá-lo, resolveu retornar a Criciúma. Agora foram residir com os pais,
na casa que hoje aloja o museu da cidade. Nicolau Machado vendeu-lhe 11 hectares e meio de terra
numa mata ao lado da cidade que, paulatinamente foi sendo derrubada e nela construídas casas
dando origem ao Bairro São Cristóvão. Agora sim achou tempo para estudar: pagou o Sr. Polidoro
José da Silva que, por vinte mil réis por mês, abriu a cabeça de seu Defende para o saber. Aqui
nasceriam seus dois outros filhos: Valda e Varlei.
Da vida comunitária, participava com invulgar vontade. Doou o terreno para a construção da
igreja do Bairro. Doou o terreno para a construção da escola. Doou o terreno para a construção do
Neblina Clube. Doou o terreno para a construção da Casa da Amizade do Rotary Club. Doou terra
para a reserva de área verde. Doou terra para a abertura da Rua Chile. Abriu as ruas Manoel
Alves, Antonio Gabriel Machado e Henrique Dalssasso cobrindo todos os custos.
Dia 2 de setembro de 1998, não resistindo a doenças, faleceu. Partiu mas deixou esse legado
precioso de amor à Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 1º de julho – quinta-feira
90
DEMÉTRIO E JOANA DARIO
Falemos, hoje, de imigrantes. Vamos nos reportar a Demétrio Dário e Joana Daros Dario.
Lá na Itália onde nasceu a 13 de julho de 1833, recebera o nome de Del Pio Logo Demetrio Dario,
marido de Giovanna da Ros. Dessa união nasceriam seis filhos, todos naturais de Serravalle:
Augusta, Giustina Antonia, Giuseppe Andréa, Giovanne Antonio, Antonia Luigia e Maria Giovanna.
Quando a filha mais velha contava 17 anos de idade e a mais nova com seis meses, reuniu alguns
amigos e emigraram para o Brasil. Aqui, foram registrados pelos nomes de Demétrio Dario e Joana
Daros Dario e seus filhos como Augusta, Jiustina Antonia, José, João, Antonia Luiza e Maria
Joana.
Como tantos outros italianos, acabaram vindo residir aqui em Criciúma onde viveram vida igual à
de todos aqueles outros abnegados patrícios que resolveram construir o nosso município.
Os filhos foram crescendo e constituindo suas famílias. Cada qual com o seu ofício e a sua colônia.
Jiustina casou com Giácomo Sonego – o descobridor do carvão – e na sua casa, no bairro Santo
Antonio, o velho Demétrio, cansado e doente, viveu seus últimos dias.
Augusta casou com Antonio Brunes, José com Inocente Meller, João com Antonia Milanez, Antonia
com João Meller e Maria com José Milanez.
José e João Dario, os dois varões dos quais descendem os Dário de hoje, passaram a residir na
localidade de Morro da Miséria, hoje Morro da Cruz, localidade da qual foram fundadores.
Daquela primeira colonização ainda restam, hoje, alguns resquícios. A cruz, em cima do morro,
construída pela segunda geração, em 1942, é um desses marcos. A primeira capelinha data de 1908.
Depois foi ampliada em 1911 e finalmente em 1945. A padroeira da localidade sempre foi Nossa
Senhora da Saúde.
Hoje, mais de cem anos passados, seus descendentes, miscigenizados com outras raças ali
habitantes dão continuidade à obra dos pioneiros que ajudaram a construir Criciúma, este orgulho
de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 08 de junho – quinta-feira
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DINO GORINI - I
Hoje falo de Dino Gorini, um simpático médico que se fez respeitar pólo amor ao ofício e ao
paciente. Certamente um dos mais respeitados médicos que clinicou em nossa região. Valho-me das
informações que me foram transmitidas por sua filha Brigite para dizer que a vida de Dino Gorini,
nascido em Pavia, Itália, a 28 de outubro de 1909, se constitui uma verdadeira epopéia. A par das
injunções próprias da Europa conturbada politicamente por disputas filosóficas e territoriais que
culminaram com a Primeira Guerra, Gorini vivenciou experiências que enriqueceram sua vida
numa trajetória plena de trabalho, realizações e muitas emoções.
Dino era filho de Carlos Triulzi Gorini e Giuseppina Celé Gorini. Seu pai, médico, veio para o
Brasil em 1910 indo para Urussanga a fim de substituir seu primo, também médico, Dr. Mário
Vecchio que empreendera viagem à Itália, em lua de mel. Esse primo acabou não retornando e o
Dr. Carlos acabou por se fixar ali em Urussanga. Nesse meio tempo eclodiu a Guerra a que já fiz
menção. Sua mulher, com os filhos Mário e Dino, resolveu vir ao encontro do marido e,
embarcando no navio Formose, no Porto de Gênova, emigra para o Brasil. Depois de 19 dias de
viagem, desembarcam no porto do Rio de Janeiro e tomam outra embarcação, agora o navio
Itaipava, e vêm até Imbituba. Dessa cidade, de trem, viajam até Tubarão onde permaneceram
durante três dias a espera de um comboio de passageiros que os trouxesse até Criciúma. Acabaram
viajando em vagão prancha, desses que transportam carga. Aqui em Criciúma os esperava o marido
e pai, Dr. Carlos Gorini que, numa charrete puxada por quatro cavalos, os transporta até Nova
Veneza, onde fixariam residência.
Como não havia escola primária na região, Dino Gorini inicialmente aprendeu português numa
escola em Nova Veneza subvencionada pelo governo italiano. Em 1924 fez o curso equivalente ao
quarto ano primário, no Grupo Escolar Jerônimo Coelho, na cidade de Laguna. Em 1925, fez o
admissão ao ginásio no Gynásio Catharinense, em Florianópolis onde estudou até 1928. Em 1929
foi levado a São Paulo onde estudou no famoso Instituto Brasileiro Dante Alighieri. Em 1930,
ingressou na faculdade de medicina de Porto Alegre onde colou grau em 1935, o festejado ano do
Centenário da Revolução Farroupilha. Para registrar seu diploma e poder clinicar, foi obrigado a
naturalizar-se brasileiro e, já casado, a cumprir o serviço militar. Este, Dino Gorini o fez no Tiro de
Guerra na cidade de Turvo, aqui no Sul do estado.
Amanhã darei seqüência ao perfil biográfico do médico Dino Gorini que tanto ajudou a medicar
gente da nossa Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 06 de junho – terça-feira
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DINO GORINI - II
Ontem revelamos algumas particularidades da via de Dino Gorini prometendo dar seqüência no dia
de hoje. Lembro que todas as informações me foram transmitidas por sua filha Brigite a quem
renovo os agradecimentos pela colaboração.
Já vimos a paternidade, a naturalidade, a emigração e a instrução do nosso personagem.
Dino Gorini casou com Augusta Trento, urussanguense, a 17 de junho de 1937, de cuja união
nasceriam sete filhos: dois homens e quatro mulheres.
A profissão de médico ele a exercitou plenamente em Nova Veneza. Para os parâmetros da época,
foi sempre um médico atualizado já que, permanentemente, comparecei a eventos de natureza
médica. Fez pós-graduação em cirurgia e ginecologia na Universidade de São Paulo e em Buenos
Aires.
Único médico de Nova Veneza foi obrigado a abrir mão de domingos e feriados. Nos domingos,
especialmente, os colonos traziam seus doentes para a missa e, depois desta, levavam-nos a
presença do médico para a consulta. Montado a cavalo, a pé, de jipe, no afã de levar conforto para
seus pacientes, conheceu caminhos, trilhas, picadas e velhas estradas. A geografia local a conhecia
como poucos. Durante 28 anos trabalhou em Nova Veneza e, de 1931 a 1961 foi diretor médico do
Hospital São Marcos. Introduziu exames laboratoriais no Hospital os quais ele mesmo os fazia
numa pequena sala daquele nosocômio.
Paralelamente, Dino Gorini participava da vida comunitária. Em 1942, juntamente com alguns
amigos, fundou a Carbonífera Catarinense tendo sido cotista também das carboníferas Rio Maina e
São Marcos. Foi fundador do Metropolitano Clube de Nova Veneza e seu presidente durante muitos
anos. Membro do Rotary Clube de Criciúma, clube de serviço que presidiu e de cuja entidade foi
Governador distrital para todo o estado barriga-verde. Maçom da Loja Presidente Roosevelt foi seu
venerável e representante da Grande Loja do Grande Oriente da Itália para o Estado de Santa
Catarina. Com a emancipação do distrito de Nova Veneza, foi Vereador e presidiu a Câmara
Municipal. Em 1962, transferiu residência para Criciúma ajudando a fundar o Hospital Santa
Catarina do qual foi diretor. Em 1977 a Câmara de Criciúma outorgou-lhe o título honorífico de
Cidadão Honorário do Município.
Seu conceito profissional e de homem de bem podem ser constatados pelos inúmeros amigos que
deixou e pelas muitas crianças que receberam o seu nome, modo com que as famílias da colônia o
homenageavam.
Dino Gorini faleceu a 21 de julho de 1988 e seus restos repousam no cemitério de Nova Veneza
plantado numa de suas colinas de onde continua olhando a cidade que ajudou a construir.
É um orgulho ter vivido com Dino Gorini em Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 07 de junho – quarta-feira
93
DONA SISSI
Ela nasceu na Palhoça, ali na Grande Florianópolis. Seu Alberto Scheidt e Dona Leopoldina Sharf
Scheidt batizaram-na com o nome de Araci, mas desde o nascimento recebeu o apelido de Sissi e
assim foi conhecida até a morte.
Nasceu dia 16 de outubro de 1927.
Sempre estudou na cidade de Florianópolis e, o curso de educação física, o fez no Quartel da
Polícia Militar de Santa Catarina.
No final dos anos 40 – em 1948 ou 49 – seus pais resolveram adquirir o Hotel Palace, aqui em
Criciúma. Era aquele hotel que estava localizado na Rua Cel. Pedro Benedet, onde hoje temos as
Lojas Fretta. E, adquirido o hotel, toda a família veio residir em nossa cidade. A partir daquele ano,
dona Sissi começou a lecionar educação física no Grupo Escolar Professor Lapagesse e, mais tarde,
no Curso Particular Póvoas Carneiro.
Notabilizou-se pela severidade com que lecionava. No preparo do desfile de Sete de Setembro não
descansava sem que todos perfilassem harmonicamente e em uníssono: “Peito pra fora, barriga pra
dentro, um dois, um dois...” lá ia ela acompanhando um a um os desafinados...
Paralelamente, nessa mesma época, um caixeiro-viajante de nome Nator, freqüentava nossa cidade,
com assiduidade, para vender os produtos que representava. E tinha, no Hotel Palace, a sua
hospedaria. Costumeiramente, reparava na presença daquela mocinha desenvolta, esguia e muito
simpática. Desse reparo ao flerte, foi um piscar de olhos... E, do piscar de olhos ao namoro, um já.
Depois de quatro anos, a 15 de dezembro de 1955, sob o severo olhar do vigário Estanislau Ciseski,
a professora Sissi tornava-se a mulher de Nator Arjona com quem viveu até a morrer.
Desse casamento nasceriam a Raquel, a Regina, o André e o Luiz.
Dona Sissi faleceu a 24 de maio de 1996 depois de intenso sofrimento que lhe ocasionou um câncer
em seu útero.
Há uma legião de pessoas em nossa região que não sabia que o nome de dona Sissi é Araci. Mas,
essa legião, somada a mais uma grande porção de catarinenses, sabe que muito se deve àquela
guerreira que, no magistério, ensinando ginástica para tantos jovens desajeitados, ajudou a dar
mais saúde para muita gente.
Com humildade, é verdade, e com desajeitadas linhas – com certeza - na condição de seu ex aluno,
junto-me a tantos e presto esta homenagem à Dona Sissi em nome de Criciúma, este orgulho de
cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 17 de agosto, quinta-feira
94
ELEONORA – MINHA MÃE
Se estivesse viva, hoje estaria festejando seus 95 anos de vida, ela que nasceu no ano da graça de
1905. Partiu para a eternidade muito jovem: aos 67 anos de idade. Trouxe-a à luz, a nonna Ida
Smânia, mulher do nonno Bepi Búrigo, filho mais velho do patriarca Ferdinando, este um imigrante
italiano que fundou o seu clã lá no Rancho dos Bugres, em Urussanga e, mais tarde, na República
Independente do Cocal, hoje Cocal do Sul.
Ela estudou em Urussanga e em Cocal com cartilhas escolares que o consulado italiano oferecia.
Conheceu o amor de seu futuro marido numa domingueira num dos salões de bailes do grande
Cocal. Namorou pouco e foi levada ao altar para o sim eterno como soe acontecer com os
casamentos da época. E veio o primeiro filho, numa modesta casa construída ao lado de uma
serraria na qual ela e ele construíam o seu projeto de vida. E veio o segundo filho. Mais dois: um
casal de gêmeos: nem bem quatro anos de casada e já mãe de quatro filhos. E agora vem morar
com eles a sogra, uma viúva carregada de problemas de ordem psicológica e de doença. Havia as
vacas leiteiras para ordenhar e tratar. Havia o quintal. A roupa "dei tosatti"... a igreja, a missa...
Santa Ciara benedetta que me empreste la escaleta...
E vieram mais filhos: 5, 6, 7, 8,9, 10, 11, 12,13, 14, 15, 16. Isto: Dezesseis. Um time de futebol, com
o trio de arbitragem e dois gandulas.
E, aos 16 ela se doou como poucos têm capacidade para fazê-lo. A cada um acompanhou no B-A-BA da vida, da escola, da doutrina, da moral, dos bons costumes. De cada um cobrou comportamento
a altura de uma família educada. A cada um demonstrou o que é saber amar e perdoar... A cada um
mostrou o significado do trabalho, do amor ao próximo, do respeito aos mais velhos...
Mantinha a família sob seu comando e possuía a rara felicidade de saber dos sentimentos de cada
um.
Um dia, retornando da missa, encontrou o seu parceiro agonizante, resultado de um fulminante
colapso cardíaco. Deixou de viver ali: não concebia a vida sem a presença do seu amado. E morreu
de saudade, dessa saudade brutal que só os que bebem do fel da perda de um ente querido pode
avaliar. E morreu de saudade, naquele 18 de janeiro de 1972.
Hoje ela completaria 95 anos. Faz 28 anos que foi se encontrar com o seu marido na pátria dos
eleitos onde espera por nós que habitamos este vale de lágrimas.
Essa mulher é a minha mãe, Eleonora Búrigo Naspolini!
E eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 26 de abril – quarta-feira
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FÁBIO SILVA
Fábio da Silva nasceu e morreu na cidade de tubarão. Veio ao mundo em 1883, no dia 11 de maio e
partiu para a eternidade em 1954, dia 10 de dezembro. Fez, contudo, grande parte do seu projeto de
vida, aqui em Criciúma para onde transferiu residência em 1918, estabelecendo-se com armazém de
secos & molhados na Vila Operária. Escolheu a Vila Operária porque ali residia a maior parte da
massa operária que trabalhava nas minas de carvão e o seu estabelecimento tinha esse endereço:
vender para os mineiros. Era casado com Maria Soares da Silva, de cuja união nasceriam os filhos
Antonio Thomaz (que foi prefeito de Araranguá por duas vezes), Lindomar, Maria, Ranulfa, Nair,
Zanzi, Bernardete e Efi Sueli.
Destacava-se como um homem culto, de ótima caligrafia e de um relacionamento extraordinário.
Isto lhe valeu uma cadeira de Conselheiro na primeira legislatura do nosso Município assumindo
em1º de janeiro de 1926 e já guindado à condição de Secretário da corporação. Foi delegado de
polícia. Foi também feitor de estradas. Como tal, foi abrir o caminho da Serra da Garganta, lá em
São Bonifácio. A época era 1930. Ferrenho adepto do Partido Republicano, não admitia o
movimento revolucionário encabeçado por Getúlio Vargas. Ali, no canteiro de obras para a
abertura do caminho da Serra, cercava os getulistas não permitindo que seguissem à frente. Uns
bugreiros (matadores de índios) que habitavam a redondeza procuraram os getulistas, agora
vencedores do movimento revolucionário, e indicaram a localização do acampamento de Fábio
Silva. A polícia foi mobilizada e o nosso Conselheiro acabou sendo preso e transportado para
Florianópolis. Aos parentes, aqui residentes, enviaram a notícia de que Fábio Silva havia falecido.
A família enlutou-se a própria comunidade lamentava a perda daquele homem público naquelas
condições. Durante sete dias, a viúva e os filhos trancaram-se em casa para melhor refletir sobre a
vida do extinto haja vista que esse era o costume da época.
Mas, passados uns quinze dias do desenlace, eis que chega à cidade o feitor de estradas dado por
morto. Morrera coisa nenhuma. Foi tudo armação da polícia para penalizar, ainda mais, o nosso
ex-conselheiro e sua família. Esta arrancou o luto que portava e chamou amigos de todos os lados
para, durante três dias, festejarem a ressurreição de Fábio Silva.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade.
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 04 de maio – quinta-feira
96
FIOBO MINATTO - I
Hoje vou falar de um dos maiores personagens folclóricos de nossa cidade. Falo de FIOVO
MINATTO ou FIOBO MINATTO.
Filho de Frederico Minatto e de Narcisa Dandolini Minatto.
Nunca trabalhou, no sentido clássico do trabalho...
Vivia de jogos, de dinheiro que arrancava dos pais e daquele proveniente de aluguéis de imóveis
que possuía.
Nos jogos, era o mais exímio nas roletas, nas tampinhas e no pula-macaco. Nestes dois últimos,
ganhou praticamente todo o dinheiro que o sustentou.
Se o policial enveredasse em sua direção, fazia o jogo da tampinha com cascas de nozes. Proibido
era com tampinhas, mas não com cascas da fruta.
Com a idade aproximada de 20 anos, depois de trapacear uma dezena de incautos lagunenses, na
cidade de Laguna, arrumou uma confusão monumental: brigou com um cabo e dois soldados. Um
deles apanhou tanto que cuspiu sangue por mais de uma semana. Foi preso. Na cadeia, um dia,
recebeu a visita que um amigo que lhe levou, dentro do pão, um pedaço de serra para aço. Com
aquela ferramenta, foi serrando as varas de ferro que faziam a grade da sua cela. Aparava as
limalhas do metal e as misturava com sabonete. Se algum guarda, por acaso, viesse fazer vistoria
das celas, imediatamente “soldava” os ferros já serrados cobrindo as fendas com a mistura de
limalha com sabonete dando a aparência de que tudo estava intacto. Até que, numa certa noite,
conseguiu o intento: a grade da cela serrada fugiu. Foi até o pátio de manobra da estação da
Estrada de Ferro Dona Theresa Christina e ali furtou um trolley (uma espécie de vagão, sem teto,
de – mais ou menos dois por 3 metros – que é acionado com um remo de bambu, cuja extremidade
inferior é empurrada contra a terra e, impulsionado pelo condutor é arremessado para frente ou
para traz).
Pela ferrovia, embarcado naquele veículo, alcançou a estação da Barranca, em Araranguá. Fez
todo o trajeto (Laguna/Araranguá) sem ser admoestado por ninguém. Como a estação da Barranca
fica do lado de cá do Rio, utilizou um caíque que estava amarrado na margem deste lado do Rio e
fez a travessia. Já no outro lado, a pé, dirigiu-se ao pé da Serra Geral, lá na Rocinha e, pela trilha
dos tropeiros, subiu aquela cadeia de montanhas. Alcançou Bom Jesus.
Em Bom Jesus, conheceu Maria Antonia Camargo, por quem se apaixonou. Esqueceu sua
companheira Carolina Perplau, sua primeira mulher que lhe dera a filha Marta. Com Maria
Antonia viria a se casar, de papel passado e tudo. Houve festa na Serra. Desse matrimônio nasceria
Frederico Lucas, o Riquinho.
Com ela conviveria durante três anos findos os quais mãe e filho seriam abandonados para, no
lombo de um burro, descer a Serra. Mas não suportou a saudade do filho. Retornou a Bom Jesus,
subornou seu cunhado Jango (irmão de sua mulher) e este roubou o filhote Riquinho da mãe
entregando-o ao pai saudoso. Estes, apressadamente – agora no lombo de uma mula – vieram para
Criciúma.
Retornarei a falar de Fiobo Minatto, em futuras crônicas.
Eu gosto de falar de Criciúma, de todas as épocas, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 15 de fevereiro – terça-feira
97
FIOBO MINATTO - II
Retorno, hoje, a falar de Fiovo – ou Fiobo – Minatto.
As mulheres sempre estiveram presentes na vida de Fiobo. Carolina, a primeira, já era passado.
Maria Antonia ficara na Serra e aqui ele arrumaria a Carolina, com a qual se amasiou e dessa
união viria nascer o filho Luiz. Deixou Maria para trás e juntou-se com outra, em Caxias do Sul, de
cujo ajuntamento nasceria mais um filho que ele só veria uma única vez. Fiobo Minatto nutria
especial apreço pelos alemães que considerava uma raça altamente inteligente. Lia toda a literatura
que lhe chegasse às mãos, especialmente aquela que falasse da medicina natural dos alemães.
Especializou-se nessa seara e começou a dar garrafadas para acabar com algumas doenças. Ficou
famoso especialmente em curar asma e tuberculose.
Um belo dia um pai desesperado trouxe-lhe a filha Regina Helena Romagna que, com 15 anos,
estava tuberculosa. Seu Romagna e sua filha moravam ali na Primeira Linha.
Fiobo interessou-se pelo caso por dois motivos; primeiro: era um desafio muito grande haja vista
que a tuberculose havia sido diagnosticada como de 3º grau, de difícil cura; segundo: aquela
mulherzinha era muito bonita para os olhos do “médico”.
Construiu uma sauna: um pequeno ambiente de um por um metro, com um banquinho para o
banhista; a cobertura era um pano de mesa de sinuca. Numa das laterais externas, um fogareiro
sobre o qual um grande bule cujo bico adentrava aquele ambiente. Por ele entraria o vapor. Fez
aquela paciente tomar vários banhos de vapor a 70/80º Celsius findos os quais a submetia a uma
ducha de água fria: “o choque do quente com o frio mata o bacilo de Koch” afirmava.
E matou. O bacilo, claro.
Apaixonado pela paciente - agora completamente sã - Regina Helena passou a conviver com ela.
Grávida, morreu depois de uma congestão que lhe provocara 36 vomitadas. “Bebeu um copo de
leite depois de chupar duas laranjas. Congestão certa” afirmou o “viúvo”.
Mandou comunicar ao padre da matriz que sua mulher havia falecido e os sinos precisavam ser
tocados para avisar a população.
O padre mandou dizer-lhe que não haveria som de sinos coisa nenhuma porque a defunta não era
casada.
- Ou os sinos tocam agora ou vão tocar a semana inteira – determinou Fiobo que dissessem ao
Padre...
Os sinos tocaram. Um pouquinho, mas tocaram.
Eu gosto de falar de Criciúma, de todos os tempos, este orgulho de cidade.
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 16 de fevereiro – quarta-feira
98
FIOBO MINATTO - III
Continuo, hoje, a falar do folclórico Fiovo Minatto que todos conhecemos por Fiobo Minatto.
Como já vimos, mulher era o seu fraco. Abandonou a primeira, Carolina; a segunda, Maria Antonia
Camargo; a terceira, Maria; a quarta Adalziza, mãe de Zilda; e a quinta, lá de Caxias do Sul. A
sexta, Regina Helena, falecera grávida. Agora entraria a sétima, Júlia Fogueteiro, com 18 anos de
idade. Conversou com a “musa” e a roubou levando-a para a casa de um parente, ali da Mãe
Luzia, na qual ficaria escondida.
O objetivo dele era o seguinte: não tocaria sexualmente nela até que o seu pai viesse ter consigo. Se
este inventasse de querer cobrar-lhe dote por ter sido “o primeiro”, devolveria a dita cuja, intacta.
Se houvesse um acerto, a mulher seria sua.
O velho foi procurar-lhe e perguntou:
- Vais casar com minha filha?
- É só o que eu quero, respondeu Fiobo.
- Pois então trate de fazer o casamento, arrematou o futuro sogro.
O velho Café Ouro Preto, ao lado do Mampituba, serviu de palco para as bodas do enlace
matrimonial de Fiobo Minatto com a Júlia. Das iguarias que compunham o cardápio da festa, cobra
frita e cobra ensopada. Ele era singular...
Desse casamento nasceria Regina.
Como das vezes anteriores, o idílio duraria pouco. Logo depois do nascimento dessa filha, Fiobo
abandonaria Júlia.
Foram sete mulheres. E sete filhos.
Fiobo Minatto possuía um burro que – alardeava aos quatro cantos – era o mais inteligente dos
animais. Atendia pelo nome de Martim.
Martim abria porteiras: ou com os beiços ou com coices.
Era um animal disposto igual ao dono. Entrava nos cafés da cidade com a desenvoltura de um
freguês qualquer. Aliás, nisso Fiobo era ímpar: montava seu Martim e, no lombo do dito cujo, fazia
os bares esvaziarem já que ali entrava fazendo idas-e-vindas com o eqüino.
Martin, o seu burro, o inteligente, ao ser chinchado, enchia a barriga de vento. Isto fazia com que a
chincha não lhe apertasse tanto o ventre.
Fiobo sentiu a malandragem do animal e resolveu dar o troco: com o pé fazendo força contra o
ventre do burro, empurrando-o, ajustava aquele arreio tanto quanto imaginava ser o ideal.
Numa destas, o “inteligente” asinino deu-lhe uma mordida no braço.
Incontinenti Fiobo sacou o revolver e descarregou a arma nas patas do animal ferindo-lhe os
cascos...
Voltarei a falar do Fiobo, pois eu gosto de falar de Criciúma, de todos os tempos, este orgulho de
cidade.
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 17 de fevereiro – quinta-feira
99
FIOBO MINATTO – IV
Fiobo Minatto brigava muito. Por qualquer coisa. Até por ser chamado de Fiobo e não
Fiovo, como fora registrado, era motivo de uma boa briga.
Nos cafés, dava tiro a esmo.
Nestes, era costume pedir o seu almoço à base de verde. Até salada de urtiga com bastante
azeite de oliva. Enchia o prato de azeite e, finda a refeição, o local ocupado estava
invariavelmente sujo de azeite que escorria do prato quando a verdura era levada à boca.
Por causa dessa sujeirada, os donos de bares não gostavam de fornecer-lhe a tal
“refeição”. Num dia, no Café Ouro Preto (hoje uma loja de calçados) ele viu, ao entrar, à
hora do almoço, que esconderam o azeite que estava sobre o balcão, num gesto inequívoco
de que não queriam servi-lo. Ele olhou para a prateleira, cheia de latas do óleo e, sacando
o revólver, atirou em cada uma, fazendo chover azeite...
No dia seguinte mandou um emissário conhecer o estrago e pagar os danos. Aliás, esta
prática esteve sempre presente em sua vida: qualquer estrago provocado por brigas
resultantes de bebedeiras (ou não), sempre foi indenizado, centavo por centavo.
A propósito: Fiobo tinha três amores: o burro, as mulheres e a cachaça. Gostava desta
última e, praticamente, vivia bêbado. Mas consciente, sempre. Muitas vezes, simulava o
estado de embriagues, mas para tirar vantagem. Por exemplo, ia à casa do pai, seu
Frederico, para pedir dinheiro. Era impossível dizer que não estava tomado. Que nada!
Era só para engambelar o pai e a mãe: - Ou me dão dinheiro ou quebro tudo aqui dentro.
E lá vinham as pelegas, pelas mãos do pai e pelas da mãe, também. Era a maneira de
verem-se livres daquele estorvo.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 18 de fevereiro – sexta-feira
100
FIOBO MINATTO - V
Arno Amboni, lá no Rio Cedro – hoje Nova Veneza – mostrava aos seus amigos e,
especialmente para as crianças, que o sapo é um batráquio que não faz mal a ninguém,
não morde e é limpo. Para isso, apanhava um sapo e colocava metade do seu corpo em sua
boca. Cena no mínimo repugnante...
Fiobo ia chamar o Amboni para fazer uma demonstração por aqui, mas, achou melhor
economizar o tempo do traslado e ele mesmo começou a fazer tal demonstração. “E
quando as patinhas dianteiras não entravam na boca, ao natural, ele as fazia penetrar
ajudando com as mãos”. Cansou de fazer isto.
Aliás, gostava muito de sapo. Buscava-os em balaios ao pé de postes com lâmpada acesa.
E os levava e soltava dentro de casa. - Para matar insetos, dizia. Realmente na sua casa
não havia barata e outros insetos rasteiros; os sapos encarregavam-se de banquetear-se
com elas...
Um dia um valente lá do Rio Morto deixou um recado para ele, com sua irmã, a viúva
Júlia Minatto. “Bala trocada não dói” dizia o recado.
Tratava-se, na realidade, de uma provocação.
- Vou mostrar se bala trocada não dói.
Ficou dois dias em jejum completo. Com estômago vazio é mais difícil morrer...
Naquele estado, foi procurar o valente. Encontrou o dito cujo que num de repente se viu
presa e recebeu a maior surra de que se tem notícia. Apanhou de rabo de tatu. Fiobo
cansou de tanto surrar aquele infeliz que acabou caindo por sobre a vítima. Este,
inesperadamente, puxou um punhal que trazia às costas e o feriu, mortalmente, à altura do
estômago. Fiobo só não morreu porque seu estômago estava vazio. Montou no seu burro e
alcançou o Hospital São Marcos, de Nova Veneza, a ponto de receber todos os
indispensáveis socorros. Não foi desta vez!
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 22 de fevereiro – terça-feira
101
FIOBO MINATTO – VI
Lampião, o Cangaceiro, aprontava no Nordeste. Sua fama de valentia invadia o Sul.
Fiobo Minatto, ao mesmo tempo, auto intitulou-se de Lampião do Sul. Pintou esta frase na
borda dobrada de um chapelão que nunca saia de sua cabeça, vestiu uma capa preta,
tomou uma espingarda 16 à mão direita e, vamos que vamos...
Fiobo possuía sua residência na Rua Henrique Lage, mais ou menos onde, posteriormente,
foi construído o Atacado Althoff. Aquela quadra ali, era dele. Sua casa estava construída
dentro de uma chácara: Chácara Regina Helena. Assim denominada em homenagem a
uma de suas mulheres e um grande amor de sua vida. No quintal havia um pé de caqui. O
único pé de caqui de Criciúma. Ninguém sequer sabia o que era caqui. Pois o homem tinha
um pé dessa fruta no seu quintal. E quando as frutas estavam maduras, encheu uma cesta,
chamou o Luiz Português (taxista) e saiu a vender caqui nas casas do centro da cidade.
Ninguém comprava, pois ninguém sabia que fruta era aquela. Voltava para casa, pagava o
táxi – e não era pouco – devolvia as frutas para o consumo caseiro e estamos
conversados...
Certa vez Fiobo contratou o táxi do Luiz Português (um Mercury, 46) e ficou por aí
durante 16 dias corridos. Gastou 60 contos de réis, o valor de uma Mercury daquelas.
Rodou sem destino, ou melhor, com o destino das casas de prostituição do litoral.
Acompanhava-o, sempre, a gaita e o cachorro Dodge. Este era o nome do seu fiel amigo. A
primeira visita foi na de Laguna; depois Imbituba; depois Florianópolis. Na capital, bebeu
até não poder mais e voltou. Mas perdeu o seu cachorro Dodge na ilha...
Já se passavam 15 dias do retorno daquela aventura e eis que, bebendo com um amigo no
Café São Paulo, o Dodge lhe pula sobre o colo, esfregando a língua em seu rosto. Chorou
de alegria ao ter seu amigo novamente ao colo. E ficaram ali no bar até que este fechasse,
já de madrugada, a trocar carinhos... (Aquele cachorro retornou de Florianópolis a pé e
sozinho).
Conta que era costume Fiobo ser recebido, ainda distante de sua casa, pelos cães que
faziam a guarda de sua moradia. É que estes conheciam o som da gaita. Essa gaita, Fiobo
a tocava até não poder mais. Então, pendurava-a as costas deixando que caísse até os pés.
Ao contatar com os calcanhares, as teclas dos baixos entoavam o foommm, foommm,
foommm fazendo com que os cães despertassem para a volta do patrão... Não é
fantástico?!
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 23 de fevereiro – quarta-feira
102
FIOBO MINATTO - VII
Um dia um indivíduo aparentando ser descendente de alemães bateu-lhe à porta Queria
comida, estava faminto.
A mesa estava sendo posta: macarrão, galinha, arroz e feijão.
Fiobo não se fez de rogado. Afinal de contas, o sujeito tinha a pinta de ser alemão e só isto
já era o suficiente para merecer o convite para sentar-se à mesa com ele e seus familiares.
Sentaram-se todos e o alemão nem esperou o convite: encheu o prato. Dava gosto vê-lo
devorar o conteúdo do prataço que acabara de armar. Ao terminar aquela porção, olhou
para o Fiobo e para os demais comensais e, com o olhar implorando, já foi servindo-se
novamente com igual quantidade da primeira “servida”. E foi comendo... E deu-se por
satisfeito, mas deixando pelo menos ¼ daquilo que colocara no prato.
Fiobo perguntou-lhe:
- Está servido?
- Sim, respondeu o alemão.
- Não cabe mais nada?
- Não. Estou realmente cheio.
- Muito bem. Mas fica aí na mesa.
Chamou a mulher e mandou que fizesse uma polenta; não precisava ser muito grande, mas
ele queria uma polenta.
O alemão fez um gesto de querer levantar e ele sentenciou:
- Fica aí sentadinho.
E, chamando o Riquinho, adolescente, determinou que empunhasse a espingarda,
carregada, mirando bem no meio da testa do infeliz.
- Você não vai levantar da mesa sem limpar o prato...
O alemão deu jeito. Comeu, mas na última garfada sentiu que já não dava mais...
Aí a polenta ficou pronta. Fiobo esperou que a iguaria esfriasse o suficiente para ser
mastigada e determinou ao alemão, apontando para a dita cuja:
- Come.
O alemão franziu a testa, torceu o nariz, a boca desenhou um sorriso Monalisa, mas viu
que não havia outro jeito: cortou um pedacinho da polenta e colocou no seu prato.
Fiobo interrompeu o gesto civilizado do dito cujo e virou o prato da polenta no seu prato
(dele).
- Come.
- Não dá, não cabe, - retrucou o alemão.
- Pois vai ter de caber. Aqui em casa todos podem comer, mas infeliz nenhum tem o
direito de vir pedir comida e jogar resto fora... Come, desgraçado...
E a polenta foi comida.
Quando o alemão colocou as mãos sobre a mesa demonstrando que ia se levantar, ouve o
Fiobo, novamente:
- Sentado. Agora você vai tomar um café, para rebater.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 24 de fevereiro – quinta-feira
103
FIOBO MINATTO - VIII
O Nelinho, o Demarch, o Ghedin, o Serafim e o Português, do Ponto de Automóveis da
Praça (era o único ponto da época) cansaram de ser contratados por Fiobo Minatto para
corridas a uma porção de lugares. Isto até era justificado. Não há como justificar, todavia,
o prazer que ele tinha de pagar esses taxistas (motoristas de praça, era o nome) para ficar
dando voltas na Praça Nereu Ramos, muitas vezes uma tarde inteirinha...
Obs.: nunca ficou devendo um metro de corrida.
Ali no início da Rua São José, entre o Justi Bebidas e o INPS, Fiobo possuía 27 casas para
locação. Algumas delas, para “mulheres da vida fácil”. Exigia ser bem tratado e o
dinheiro do aluguel pago no dia do vencimento. Se esta última parte fosse descumprida, já
na madrugada do dia do vencimento lá estava ele com um saco de pedras a quebrar o
telhado deixando o inquilino a ver estrelas...
Mandou fazer uma casa de mulheres lá no Santo Antônio. Deu-se mal: a mulherada do
Bairro soube que “aquela casa lá vai ser um cabaré das mulheres do Fiobo". Meteram
fogo.
Ao saber do incêndio, Fiobo foi lá, com sua gaita a tira colo e um fotógrafo e, bem no meio
dos escombros e das cinzas, pediu para ser fotografado. Tocando gaita...
Sentia que a vida estava chegando ao fim. A medicina diagnosticara câncer no pulmão.
Foi à procura da medicina alemã, pois só confiava em alemão. Aqui, só o Dr. Assenger
para tocar nele.
Ao sentir-se mal, enfiou sete contos de réis nos bolsos e se mandou para o Rio grande do
Sul. Hospitalizou-se lá em Gramado, no hospital dos alemães. Ali redigiu o seu inventário:
uma casa para cada filho.
Internado, já às vésperas da morte, recebeu a visita de um sacerdote. Acompanhava-o, seu
filho Riquinho.
O padre, com a intenção de confessá-lo, perguntou:
- Faz tempo que meu filho não se confessa?
Indignado pela pergunta e pelo “meu filho”, quis chutar o balde... Faltaram-lhe forças
para qualquer reação. Então, resolveu responder:
- Não. Faz pouco tempo, padre.
E deu uma piscada para o filho. Nunca se confessou durante toda a vida.
E morreu. Era 1950.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 25 de fevereiro – sexta-feira
104
FRANCISCO MARTIGNAGO
No último dia 3 de maio, ele teria completado seus 103 anos de vida haja vista ter nascido, ali em
Urussanga, a 03 de maio de 1897. Era filho de Ferdinando Martignago e de dona Rosa Fagotto
Martignago.
Hoje vou me reportar ao Seu Chico Martignago, batizado como Francisco, mas de todos conhecido
como Seu Chico, um dos mais velhos e respeitados moradores da Mina do Mato. Seu Chico faleceu
dia 26 de junho de 1985, contando 88 anos de idade. Seus restos repousam no jazigo da família, no
Cemitério Municipal de Criciúma.
Em junho de 1918 contraiu casamento com Catarina Dário. Tanto ele quanto ela, filhos de
imigrantes e trabalhadores na agricultura. Ele sempre foi da roça, de onde buscou o sustento para a
sua numerosa família constituída pelos filhos João, que casou com a Tomázia; Adelina, casada com
Paulo Demétrio; Líbera casada com Manoel Galdino Vieira; Gracioso, casado com Maria Nely;
Zeferino, casado com Adail Waldira; Ascendino, casado com Tereza; Amélia, casada com Antonio
Artismo e Nair, casada com Mário Lodetti.
Seu Chico viveu sempre numa simplicidade franciscana. Além dos afazeres da agricultura, cangava
seus bois a um carro e fazia frete transportando carvão das minas da Mina do Toco e da Mina do
Mato para o embarque nos vagões da Estrada de Ferro Dona Theresa Christina. Puxava, também,
com seus valentes bovinos, toras de madeira que eram derrubadas da mata virgem que circundava a
cidade, para as serrarias que se multiplicavam na região.
Não sabia ler nem escrever, mas desenhava o seu nome e com esse desenho autenticava os
documentos que lhe diziam respeito.
Magnânimo, era o partícipe número um das campanhas comunitárias da Mina do Mato e da própria
cidade de Criciúma. Lá no Bairro, doou o terreno para a construção da sua capela católica; foi
dele, também, a doação de toda a madeira empregada para erguer o templo; não bastassem essas
doações, seu Chico fez uma última: doou a imagem de Nossa Senhora Auxiliadora, padroeira da
localidade.
Seus netos carregam sobre os ombros a responsabilidade de prosseguir com a família e honrar os
postulados de honradez e de trabalho que Seu Chico transmitiu como Norte de vida. Seu nome é
perpetuado com a denominação de uma via pública no Bairro onde viveu a maior parte de sua vida:
a Mina do Mato.
Francisco Martignago – ou, simplesmente, Seu Chico – é mais um dos nomes que não podem deixar
de ser citado na história de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 09 de agosto, quarta-feira
105
GILBERTO – JUJU – VIEIRA
Ontem, quando falei sobre o carnaval dos anos 30, 40 e 50, registrei alguns nomes dando ênfase,
especialmente, ao do senhor Gilberto Vieira, o nosso Juju, conhecido de todo o município. Hoje, vou
falar exclusivamente dele.
Seus pais eram muito amigos de uma família vizinha que tinha, no seu seio, um menino cujo apelido
era Juju. De repente, essa família teve de deixar aquela cidade indo residir em Florianópolis e,
paralelamente, nascia o nosso personagem que, batizado com o nome de Gilberto, receberia, já no
dia do nascimento, o apelido de Juju, em homenagem aos amigos agora distantes. A cidade é
Imaruí, à época grafada com um H antes do i final. O ano era 1910, exatamente no dia 10 de março.
Mais alguns dias e estaremos festejando seus 90 anos de vida.
Aos 22 anos, Juju decidiu ir tentar a vida num centro maior. Fez suas malas e se mandou para
Porto Alegre. Era fevereiro de 1932. Não foi difícil arranjar emprego: a empresa de transportes
coletivos o empregou como condutor de bonde, veículo que ele jamais vira em sua vida, movido à
eletricidade.
Depois de seis anos, resolveu fazer a viagem de volta, para visitar seus familiares e, aqui em
Criciúma, visitaria sua irmã, a Professora Lucinda Machado Vieira, popularmente conhecida como
dona Luci, que lecionava na vila de Nova Veneza. Foi sua primeira viagem a Criciúma. E gostou. E
quando esteve na casa de seus parentes Carlito e Lady Sampaio, ali na Praça Nereu Ramos, disse
ter se apaixonado pela cidade manifestando o desejo de aqui permanecer desde que lhe fosse
arranjado um emprego. Dona Lady, de pronto, prontificou-se para acompanhá-lo à presença do
diretor da CBCA, seu amigo Heriberto Hülse. Seu Heriberto os recebeu informando que, no
momento, não havia vaga, mas que, tão logo essa vaga surgisse, ele haveria de ser lembrado.
Seis meses depois, Juju recebia uma carta da CBCA, em Porto Alegre, convocando-o para o
emprego solicitado. Lá, na condução de bonde, Juju percebia, mensalmente, a importância de 450
mil réis. A carta, que lhe oferecia trabalho, informava-o de que, aqui, receberia entre 150mil a 180
mil réis. A diferença era grande. Mas Juju aceitou e, dia dois de janeiro de 1939, tinha seu contrato
assinado com a CBCA, na profissão de almoxarife, na qual veio a se aposentar em 1968.
Em 1944 contraiu núpcias com Lydia Guidi, de cuja união nasceriam a Mariléia, a Marilena, a
Marilei, o José Renato, a Maricélia e o Gilberto Filho.
Sempre participou dos movimentos comunitários com destaque para a Banda Musical Cruzeiro do
Sul, de cuja corporação foi presidente em oito mandatos e ocupou outros cargos de 1940 a 1970.
Para bailes e festas, não esperava convite: era o primeiro a chegar e, com certeza, um dos últimos a
sair.
Às vésperas de seus 90 anos bem vividos, 69 dos quais em nosso meio, Gilberto Machado Vieira, o
simpático Juju, recebe a nossa homenagem.
Eu gosto de falar de Criciúma, de todas as épocas, este orgulho de cidade!
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Publicada dia 08 de fevereiro – terça-feira
106
HENRIQUE DAL SASSO
Como já foi divulgado, várias vezes, nossa primeira eleição municipal se deu em dezembro de 1925,
para a escolha dos nossos primeiros dignitários. Naquele pleito, com reduzidíssimo número de
eleitores, foram escolhidos os nossos primeiros Prefeito e seus substitutos e os cinco primeiros
vereadores. O Prefeito era chamado de Superintendente e os vereadores de conselheiros.
O Município tinha seu território estendido do Oceano Atlântico até o costão da Serra Geral. Os
cinco vereadores representavam todo esse território. Assim, Fábio Tomaz da Silva, Olivério
Nuernberg e o Cel. Pedro Benedet representariam o centro urbano; Gabriel Arns, Forquilhinha e
Henrique Dal Sasso, o território de Nova Veneza. Ocorre que o candidato de Nova Veneza era o
comerciante João Bortoluzzi, um dos mais prósperos empresários de toda a Região. Todavia,
prematura e repentinamente, o senhor João Bortoluzzi faleceria a 30 de novembro, seis dias antes
do pleito eleitoral. As eleições foram feridas dia 6 de dezembro.
Como Nova Veneza não poderia ficar sem seu conselheiro, buscou-se o sucessor de João Bortoluzzi
e a escolha recaiu sobre Henrique Dal Sasso, seu guarda livros. Dal Sasso nascera na Itália, na
cidade de Veneza, a três de agosto de 1881. Faleceu em Nova Veneza a seis de fevereiro de 1960.
Era casado com Arina Luchi Dal Sasso com quem teve os filhos Angélica, Alzira, Carlos Aristides,
Ana, Aufêmio, Severino, Guido e Ângelo. Comerciante e contador (à época guarda livros) Henrique
era filiado ao Partido Republicano, de cuja vertente nasceria, mais tarde, a União Democrática
Nacional.
Criciúma homenageia seu primeiro conselheiro com o patronato de uma via pública e a Câmara
Municipal entronizou o seu retrato junto aos demais primeiros legisladores no gabinete da
presidência.
É bom falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
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21 de junho, quarta-feira
107
IDALINA MARIA DA SILVA GOULART
Tercílio Bittencourt, natural de Imaruí, exerce a profissão de barbeiro, ali na Rua São Pedro,
Próspera, há mais de 40 anos. E, num dia desses, honrou-me com uma ligação telefônica dando
conta de que Dona Nenê, uma das mais idosas mulheres de Criciúma, gostaria de falar comigo.
Agendamos a visita e lá fui eu ter com dona Nenê. Falo de Idalina Maria da Silva Goulart que, no
próximo dia 16 de abril, estará completando a fantástica idade de 98 anos. Repito: 98 anos. Lúcida,
disposta, cheia de saúde, fez crochê até o final do ano passado o que demonstra a largueza de suas
vistas. Ela natural de Sangão, o da velha Jaguaruna, onde nasceu dia 16 de abril de 1902 e lá
mesmo casaria, em 1920, com Joaquim Silveira Goulart, um dos homens que ajudou a escrever a
história contemporânea de Criciúma com letras maiúsculas. Desse matrimônio nasceriam Ulysses,
Osvaldo, Nilda, Hilda, Nelsi, José, Manoel Joaquim que todos conheceram como Valter, Airton e
Néri. E com essa prole viram para Criciúma em 1937. A mudança foi provocada por dois motivos
imperiosos: o primeiro: estudar os filhos; o segundo: ganhar a vida por aqui. Mas não foi fácil: os
filhos não quiseram estudar. E a vida foi começada com uma venda de secos & molhados, numa
casa velha de José Gaidzinski, na Rua Cel. Pedro Benedet. Aliás, quem lhes deu as boas vindas foi
esse Coronel, o Pedro Benedet que, inclusive, lhes vendeu um pequeno terreno num projeto de rua
que, juntamente com os filhos, seu Joaquim ultimou a necessária urbanização: a Travessa Engº Boa
Nova, artéria que, prometia o cel.Benedet, um dia será denominada de Joaquim Goulart. Transferiu
seus negócios para a sua propriedade e, agora, engarrafava bebida: adquiria barris de vinho e
cachaça, engarrafava e vendia em toda a região. Depois veio a fábrica de gasosa, bebida muito
apreciada antes dos refrigerantes que abundaram a partir dos anos 60. Mas, seu Joaquim
notabilizou-se, mesmo, foi com a fábrica de vinagre: Vinagre Goulart, cuja fórmula foi buscada em
Caxias do Sul e consistia na mistura surpreendente de cachaça, água e sabugo de milho.
Enquanto seu Joaquim cuidava desse emaranhado de afazeres, Dona Nenê instalava o primeiro
salão de beleza de Criciúma, acolhendo conselhos que lhe dava a costureira Terezona, Tereza
Silvestre.
O desbravamento do Balneário Rincão teve a participação importante do senhor Joaquim e sua
família: além de ser deles uma das primeiras casas ali construídas era também de sua propriedade
o primeiro mercadinho (um venda) ali estabelecido no início dos anos 40.
Seu Joaquim Silveira Goulart é personagem da nossa história, sem dúvida. Mas o seria em maiores
proporções do que as de sua mulher, a extraordinária dona Nenê?
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 03 de abril – segunda-feira
108
ILDEBRANDO DE LUCA
Ildebrando de Luca, filho de Guerino Lourenço de Luca que era filho de imigrantes italianos,
nasceu aqui em Criciúma e executou seu projeto de vida aqui e em municípios do Vale do
Araranguá. Hoje, reside em Maracajá.
E o que é o seu Ildebrando tem a ver com a nossa Criciúma?
A primeira vista parece que nada, diria o menos avisado. Todavia seu Ildebrando é um dos
propulsores do nosso progresso. Querem ver?
Em 1946, ele fundou uma empresa de transporte coletivo que ligava Meleiro a Içara fazendo o
seguinte trajeto: Meleiro, Araranguá, Maracajá, Forquilhinha, Mãe Luzia, Criciúma e Içara. A
frota era constituída por quatro ônibus, um Ford adquirido dos Irmãos Amin e três Chevrolet,
adquiridos de Carlos Hoepcke S.A., ambos em Florianópolis.
Já no ano seguinte, em conseqüência de injunções políticas, seu Ildebrando perderia aquela
concessão para terceiros que, obedecida à sucessão, transformou-se na Araranguaense.
Em 1947, comprou, do senhor Basílio Aguiar, a linha de ônibus que fazia o trajeto Nova Veneza,
Criciúma, Içara e Mineração de Içara e, não raras vezes, Praia do Rincão.
Eram seus motoristas, dentre outros, os senhores Dorciso de March e Marcos Zanette e, dentre os
condutores, isto é os cobradores de passagens, os senhores Ézio Lima e Lilá Casagrande, ambos de
saudosa memória.
Enquanto ele operava a linha transportando gente de lá pra cá e de cá pra lá, o Senhor Luiz
Lazzarin acenava-lhe com a possibilidade de adquirir aquele negócio. Em 1950 o desejo do senhor
Lazzarin solidificou quando realmente adquiriu a Empresa de Transportes Coletivos de Luca Ltda.
No contrato social constavam como proprietários os senhores Névio Lazzarin, Arno Hertel e
Valdemar Machado.
No ato da transferência do capital para os novos sócios, a empresa tomaria o nome de Auto Viação
São Cristóvão que, nos anos 90, foi vendida para uma empresa nacional do ramo, a União
Cascavel.
Durante todo esse lapso de tempo, a São Cristóvão – que chegou a ser uma das mais importantes
empresas concessionários do transporte de passageiros de Santa Catarina - manteve sua sede na
esquina da Rua Marechal Floriano Peixoto com a Travessa Padre Pedro Baldoncini. Ali, num
prédio que imitava um palacete, a são Cristóvão mantinha seus escritórios, balcão de venda de
passagens e encomendas, pátio de embarque/desembarque, garagens e oficinas.
Ao tempo da Transportes Coletivos de Luca Ltda., só operavam em nossa cidade, com ela, a
Transportes Coletivos Naspolini, de Cincinato Naspolini que, a rigor, foi a primeira empresa
genuinamente criciumense a operar no transporte de passageiros e a Auto Viação São José, de
Urussanga.
Notaram como senhor Ildebrando de Luca tem muito a ver com a nossa história?!
Eu gosto de falar de Criciúma, de todos os tempos, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 09 de fevereiro – quarta-feira
109
IRIA ZANDOMÊNEGO DE LUCA
No próximo dia 12 de agosto, ela completará 90 anos de idade. Nasceu em Pedrinhas, uma
localidade pertencente ao município de Pedras Grandes, mas que, há noventa anos, pertencia ao de
Tubarão. Com muita dificuldade concluiu o curso regional do qual receberia um certificado que a
habilitava ao magistério do ensino fundamental.
Cunhada de João Gomes, braço direito de Marcos Rovaris, o nosso superintendente, não teve
dificuldade de assumir o cargo de professor na Escola Isolada de Linha Batista. Era 1928.
Injunções de ordem política afastaram-na daquela escola e foi transferida para a isolada e
desdobrada de Linha Ex Patrimônio, ali na Serraria, ao pé do morro da Mina do Toco. Residindo
na casa de meus pais, foi ensinar o b-a-b-á para as crianças da redondeza.
Uma nova Escola, moderna, foi construída, agora no Bairro Naspolini, pelo governo do estado na
gestão de Aderbal Ramos Da Silva. A direção lhe foi confiada. Eram dois turnos com alunos
procedentes da Mina do Toco, da Mina do Mato, do Morro do Bainha e do Naspolini. A matrícula
era disputada em razão da ótima qualidade de ensino e de educação ali implantados.
Em 1940 contraiu núpcias com Antonio de Luca, filho de Celeste de Luca, com quem teve os filhos
Ana Lenir, Luiza, Mário e Luiz. As duas primeiras também abraçaram o magistério, no rastro
profissional da mãe. Os dois últimos enveredaram na medicina e hoje clinicam no oeste de Santa
Catarina e no noroeste do Rio Grande do Sul, respectivamente.
Falo de Dona Iria Zandomênego de Luca, uma veneranda professora, responsável por tantas
iluminadas cabeças que dignificam o banco da escola primária sob a sua regência.
Já alquebrada pela idade, prestes a fazer a grande viagem, não se dá mais conta do que ocorre ao
seu redor. Assiste-lhe a filha mais nova, seu genro e seus netos ali residentes. Continua, contudo,
recebendo a atenção e o carinho de seus ex-alunos que, praticamente todos os dias, buscam notícias
suas.
Os noventa anos que dona Iria comemorará no próximo dia 12 certamente nos levarão, aos exalunos, até a sua residência para mais um abraço e, pelo menos, uma flor.
A professora Iria Zandomênego de Luca, educadora dos áureos tempos, ajudou a forjar a educação
de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 27 de junho – terça-feira
110
JOÃO CECHINEL
Era 22 de setembro de 1952. Criciúma chorava a morte de João Cechinel que, nascido em
Urussanga Baixa, a 2 de agosto de 1887, contava 65 anos.
João Cechinel foi um dos primeiros a nascer em solo criciumense, haja vista a sua
condição de filho de italianos imigrantes aqui chegados sete anos antes do seu nascimento.
Notabilizou-se como abridor de estradas. Não era engenheiro, aliás, mal sabia ler e
escrever. Todavia, tomou gosto pelos afazeres de abrir caminhos e passou a ser disputado
como feitor das estradas que interligavam os municípios e localidades da região.
São contabilizados para ele os serviços de abertura das velhas estradas que ligavam
Criciúma a Jaguaruna. Nós, uma pequena comunidade encravada aqui no Sul, mas
Jaguaruna já um importante ponto comercial do sul catarinense. A estrada partia daqui,
passava por Morro da Fumaça, Rua da Palha (hoje Sangão) e Jaguaruna.
Também a ligação rodoviária entre Mãe Luzia e Nova Veneza, foi feita por João Cechinel
que, além dessas, ajudou a desbravar muitas outras localidades de nosso território.
Não bastassem estas atividades, João Cechinel era, também, agricultor, panificador, agro
pecuarista e minerador na indústria da extração do carvão mineral.
No dia do seu falecimento a comoção tomou conta da cidade e foram notadas as bandeiras
do Mampituba e do Olímpico Basquete Clube hasteadas a meio pau e os alto falantes da
velha Eldorado – instalados na Praça Nereu Ramos – ficaram mudos durante alguns
minutos tudo creditado a homenagem póstuma ao ilustre falecido.
João Cechinel, hoje nome de importante via pública de nossa cidade, era casado com
Galdino Minatto de cujo matrimônio nasceriam os filhos Amélio, Achelina (conhecida
como Dona Nini, a precursora das funerárias da cidade), Amélia, Livio, Almiro, Aldo,
Pedro, Diógenes e Silvio.
Seria uma falha irreparável não falar de João Cechinel quando o assunto é a história do
nosso Município.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 29 de fevereiro – terça-feira
111
JOÃO PAULO DE LUCA
Ainda do livro “Os Jasmins do Jardim de Paolo”, de Derlei Catarina de Luca, busco as linhas da
crônica de hoje. Falo de João Paulo de Luca, nascido a 25 de março de 1883. Uma particularidade:
foi registrado com o nome de João Paulo; foi batizado com o nome de Giovanni e o registro do
casamento grafou seu nome como João, simplesmente. Para completar, todos o conheciam pelo
apelido de Barbaiani. Foi considerado brasileiro num ato institucional coletivo baixado pelo
primeiro governo republicano que outorgou a nacionalidade pátria a todos os estrangeiros e seus
filhos que habitassem o Brasil na data da derrubada do Império.
João Paulo, ou Giovanni, ou João, ou Barbaiani, casou, no civil, com Catarina Simon no dia 19 de
setembro de 1904. O casamento religioso já tinha sido realizado no dia 12 de fevereiro daquele ano.
Atividades agrícolas e agro-pastoris tomavam praticamente todo o seu tempo juntamente com seus
filhos. Possuía, além de muitas terras e fazendas, uma serraria. Fez a doação do terreno para a
construção da escola de São Roque, onde residia, assim como parte do terreno sobre o qual foi
edificada a igreja da localidade.
Faleceu dia 8 de julho de 1951.
Do seu casamento com Catarina Simon, nasceram os filhos: Antonio Batista, casado com Irene
Benedet; Pedro Natal, casado com Gilia Fontanella; Maria, casada com Batista Meller; Jorge
Elias, casado com Gilia Rizzieri; Afonso, casado com Vanda Hans; Silvino, casado com Maria
Rizzieri; Otávio, casado com Valdira Bettiol; Angélica, casada com Otávio Minotto; Zeferino,
casado com Noêmia Becker e Valdemar casado com Ida Rizzieri.
João Paulo de Luca, ou Giovanni, ou João ou simplesmente Barbaiani, também é personagem da
história de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 19 de julho – quarta-feira
112
JOÃO SORATTO - I
No início desta semana reportei-me acerca dos noventa anos que fará, no próximo dia 12, a
professora Iria Zandomênego de Luca. Noventa anos, não é todo dia.
Hoje, falo do nonagésimo aniversário de outro baluarte de nossa cidade: reporto-me a João
Soratto.
Fui visitá-lo, na sexta-feira, véspera do seu monumental aniversário. Monumental não pelo tamanho
da festa. Monumental pelo número de anos completados. Quando muitos se dão por satisfeitos com
seus 75/80 anos, seu João completou 90. E, ao adentrar em seu quarto e cumprimenta-lo pelos 90,
ele reclamou:
- Noventa, não! Faltam 10 para os cem!
Noventa anos, prezado ouvinte, é o mesmo que 1.080 meses. 90 anos são o mesmo que 64.800 dias.
90 anos equivalem a um milhão, 555 mil e duzentas horas. Horas de amargura, horas de saudade,
horas de alegria, horas de aflição, horas de angústia, horas de circunspeção, horas de
extravagâncias, horas de aborrecimentos, horas de orações, horas de doação, horas de prazer,
horas de felicidade. 90 anos são tempo suficiente para educar pelo menos uma geração e meia. São
tempos de registro de um largo lapso de nossa história especialmente para ele que veio para cá
quando a Criciúma ainda era Cresciúma e tudo estava por ser feito.
Há noventa anos, no dia 24 de junho de 1910, lá no Ribeirão da Areia, interior do interior da
interiorana Urussanga, nascia João, o mais velho de todos os descendentes de imigrantes da família
Soratto. Seus pais foram Luiz Soratto e Regina Salvador Soratto, ambos naturais da Itália.
A casa onde nasceu era de pau a pique, coberta de folhas de palmeiras e assoalho de chão batido.
Os afazeres da família, a roça e a agropecuária de subsistência. O abc que lhe abriu os olhos para
as letras, foi-lhe ensinado pelo seu pai, que se auto-alfabetizou para poder acudir aos desafios da
época. Depois, freqüentou uma escola isolada e particular cujo professor, um jovem de raça negra,
fora contratado para ensinar a ler e escrever direito e a fazer contas decorando a tabuada. De
lanche, batata e aipim assados e amendoim.
Assim começava a vida de João Soratto que, no dia 24 de junho passado, completou 90 anos de
idade muitos dos quais dedicados a Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 29 de junho – quinta-feira
113
JOÃO SORATTO - II
A exemplo de ontem, vou falar de João Soratto, um jovem cidadão que completou 90 anos de vida
no último dia 24.
Seu João sempre foi temente a Deus e confesso seguidor da Igreja Católica Apostólica Romana.
Diz, com todas as letras, que todas as religiões endereçam a um mesmo fim: Deus, criador do
mundo. E acrescenta: basta seguir os 10 mandamentos e todos os deveres para com a religião serão
cumpridos.
Ao ser perguntado sobre as alegrias e tristezas experimentadas ao longo de 90 anos, não hesita em
afirmar: as coisas tristes são esquecidas; não vale a pena relembra-las.
Agora, a maior alegria da vida foi quando vestiu sua primeira calça e sua primeira camisa. E ele
mesmo se apressa em explicar: é que, naquele tempo, o costume era vestir os garotos com uma
espécie de camisola comprida a fim de facilitar o serviço das mães. Então se sabia quando a
criança deixava de ser um pirralho, sujador de roupa, quando abandonava aquela camisola e vestia
calças e camisa de homem. Deste fato – ele afirma – jamais haverá de esquecer.
Dançar aprendeu em domingueiras que eram feitas nas casas dos próprios colonos da localidade
aonde vivia. Esporte, lá nos primeiros anos, só corrida com salto em distância. Com seus 10/12
anos, chegou a pular 1 metro e 4o centímetros. Já, quando contava seus 15 anos, apareceu o futebol.
De pronto, com seus colegas, foi construir e demarcar o campo. Depois, com a arrecadação
envolvendo a todos, comprou a primeira bola que chamavam de “bola de pneu”. “Furava uma
barbaridade. Era preciso sempre ter uma bomba para enchê-la e michelin para consertá-la” complementa. Depois daquela primeira, todas as demais bolas foram de sua exclusiva propriedade.
Era o dono da bola, o capitão do time, o juiz das partidas, o todo poderoso...
Seu pai vislumbrou novos horizontes e veio a São Rafael, hoje interior da Içara, adquiriu vasta
gleba de terra, construiu sua casa e trouxe a família para cá. Seu João, evidentemente, veio junto.
Era 1928. Ele deixara a puberdade e passava à condição de homem feito.
Ali em São Rafael, Roberto Maier e Balduino Réus eram donos de uma serraria movida a vapor,
através de um locomóvel. Num determinado dia o operador da engenhoca não compareceu ao
serviço. Foram à casa de seus pais e pediram para que João fosse substituir o faltante. Seu João foi,
gostou e ficou. Logo em seguida era promovido a serrador daquela indústria.
E assim começava a trabalhar profissionalmente na construção de Criciúma, este orgulho de
cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 30 de junho – sexta-feira
114
JOÃO SORATTO - III
Continuo, hoje, a falar de João Soratto, um jovem que acaba de apagar as velinhas comemorativas
ao seu nonagésimo aniversário, cheio de saúde e com, disposição explícita de atravessar a nova
década que a vida lhe desafia.
Aquela serraria ali de São Rafael, foi vendida para o senhor Antonio Ávila, um cidadão de
Jaguaruna. Seu Antonio, por mais que se esforçasse, não conseguia tocar o negócio. E, num belo
dia, ofereceu aquilo tudo para o serrador João. Este perguntou o preço. Resposta: 10 contos de réis.
Não tenho esse dinheiro; possuo apenas um mil réis. Retrucou o proprietário: então vai arranjar
pelo menos mais mil: vendo a serraria por 10 mil, você me paga dois mil de entrada e o resto a
gente se acerta. Proposta feita, proposta aceita. Seu João, da tarde para a noite era dono da maior
serraria da redondeza. Os negócios foram bem. Em 1936 adquiriu um armazém de secos &
molhados plantado bem na sede da vila de São Rafael. Ali ao lado montou uma nova serraria
acoplada a uma atafona e a uma fecularia. Era o industrial da região e, como tal, recebedor de todo
o respeito da comunidade.
No ano seguinte, em 1937, vinha a Criciúma para adquirir um terreno: comprou a esquina sobre a
qual, hoje, está construída a agência do Banco Bamerindus. Montou, ali, uma oficina mecânica. Só
havia duas: a do Bristot e a da Jugasa. Um belo dia teve de ir a Araranguá. Foi de carroça, seu
veículo de tração animal. Ao regressar, um cidadão lhe pediu carona. Não titubeou e mandou o
pedinte subir. Na conversa o caroneiro se apresenta como inspetor da Atlantic. Viera de Curitiba
para fechar um posto de gasolina na cidade das avenidas porque seu proprietário desobedecera a
ordem do governo de não vender gasolina para particulares tendo-a vendido para alguns
comerciantes locais. Perdera o posto e a bomba seria arrancada e levada para a capital do Paraná.
Seu João fez-lhe, então, o pedido: deixa essa bomba em Cresciúma. Eu monto um posto de
combustível.
E foi assim que nossa cidade ganhou a primeira bomba com registrador automático de consumo,
instalada no terreno hoje ocupado pela Ferragens Silvestrini.
Amanhã eu termino de falar de João Soratto, um dos maiores benfeitores de Criciúma, este orgulho
de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 03 de julho – segunda-feira
115
JOÃO SORATTO - IV
Já falamos de João Soratto, o jovem nonno que completou nove décadas de vida no último dia 24 de
junho, desde o último dia 29. Pode ser que hoje demos por completada esta magnífica tarefa.
Porque é muito bom falar de pessoas como o nosso homenageado...
Junto ao posto Atlantic, cuja bomba contava o consumo automaticamente, seu João montou a nossa
primeira borracharia. Quem quisesse consertar um pneu tinha de viajar ou para Araranguá ou para
Tubarão. Agora não: já tínhamos nossa primeira borracharia. Ah, e o nosso primeiro posto de
lavação e lubrificação de veículos automotores. A frota era pequena, é verdade. Mas quem quisesse
ter veículo limpo tinha que arregaçar as mangas... Agora, ufa! Criciúma já contava com esse
serviço. Outro pioneirismo de seu João foi a solda elétrica. Imaginem: não havia solda elétrica na
cidade. Somente em Tubarão. Nosso personagem instalou a primeira.
Todavia, a energia elétrica era escassa e de péssima qualidade. Aí Seu João comprou um gerador
para atender aos seus misteres. Era um conjunto a diesel de 24 cavear de potência. Um luxo só!
Num belo dia o locomóvel da Jugasa, que fornecia energia para a cidade, queimou. Seu conserto
dependia de peças que deveriam ser buscadas em Porto Alegre ou São Paulo. A cidade foi socorrida
pelo gerador de Seu João que forneceu energia para a fábrica de camisas Aguiar, para a Farmácia
são José, para a Igreja Matriz São José, para a Rádio Eldorado, para o Café Rio e para o Cine
Rovaris. O resto ficou às escuras...
Seu João Soratto foi o nosso primeiro concessionário de veículos automotores. Eram dele as
revendas dos automóveis Citroen, da indústria francesa e Vanguard Stander, do Reino Unido. Foi
dele, também, a revenda de caminhões e tratores agrícolas americanos da International Harvester.
Como o tempo esgotou, retornarei a falar de João Soratto, amanhã, neste mesmo horário. Ele faz
por merecer, tanto ajudou a escrever a história de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 04 de julho – terça-feira
116
JOÃO SORATTO - V
Hoje encerro a série de crônicas que falam da vida de João Soratto que, no último dia 24 de junho,
completou a idade de 90 anos.
Seu João era proprietário de grandes áreas de terras, aqui na cidade. No Bairro da Mina Brasil,
promoveu um dos maiores loteamentos da época.
Um belo dia procuraram-lhe os médicos Olavo de Assis Sartori e Lourenço Cianti Filho. Os
facultativos queriam construir uma casa de saúde. E propuseram negócio ao senhor João. Este
entraria com o terreno e os médicos com o capital. Daquela proposta nascia o Hospital São João
Batista, este mesmo que se tornou referencial da moderna medicina regional. Pois o nosso Hospital
foi fundado pelos médicos Sartori e Cianti Filho e pelo João Soratto. Aliás, o nome do nosocômio
homenageia seu João, proprietário das terras sobre as quais o hospital foi construído. Sob essa
composição societária funcionaria durante seus primeiros três anos findos os quais seria vendido às
empresas Metropolitana que gerem seus negócios até os dias atuais.
Em 1950, João Soratto acompanhou Primo Mazzucco e Leonildo Nervo e se mandou para o Paraná,
na febre de colonizar a terra roxa daquele estado. E colonizaram. E a cidade que fundaram está lá
para testemunhar o grande feito: Ivatuba, lá em cima, na região de Londrina.
João Soratto casou com Helena Salvador Soratto e dessa união nasceram a Maria, o Mário, a Marli
Teresa, a Marcolina e o Mauro Luiz.
Não fossem teimosas gripes que lhe visitam esporadicamente, poder-se-ia afirmar que João Soratto
é um homem de saúde de ferro. Vai ao sítio da família com a desenvoltura de um jovem de 30 anos.
Na conversa é sábio para ouvir e respeitado quando fala. Possui memória fotográfica dos anos
compreendidos entre a sua juventude até os dias atuais. Sabe como poucos.
Ao completar seus noventa anos de idade, não poderíamos deixar de prestar-lhe uma homenagem –
ainda que humilde – pois homem de sua têmpera, fazendo o que fez, e disposto a fazer cada vez
mais, precisa do reconhecimento de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 05 de julho – quarta-feira
117
JOÃO SPILLERE
Ele nasceu na localidade de Caravaggio, no então distrito de Nova Veneza, município de Criciúma.
Isto se deu a 7 de novembro de 1919. Era filho do italiano Valentin Spillere e de dona Teresa
Ronchi Spillere. Falo de João Spillere, o seu João, ali do Pinheirinho.
Teve infância igual a de todas as crianças do primeiro quarto de tempo do século XX. Foi
alfabetizado e estudou em Nova Veneza sob o severo olhar do professor Guido Costa.
Trabalhou na roça, como acontecia com praticamente toda a juventude de sua época. Imensas
lavouras contavam com sua ajuda na capina, no plantio e na colheita. No dia 8 de agosto de 1942,
levava a senhorita Ana Zanardo à igreja e, perante a Deus e ao padre, tomava-a como sua mulher.
Ficaram residindo em Caravaggio, com seus pais, dividindo a casa com todos os demais filhos num
total de 14 pessoas. A roça do seu Spillere ganhava, agora, os braços de Ana que só foi descobrir
que não era Anita – como fora batizada – ao reunir os documentos para o matrimônio.
Em 1944, seu Valentin resolveu comprar terras ao Sul de Cresciúma escolhendo dez hectares
cobertos de mato num lugarejo chamado Pinheirinho. Aqui construiu uma casa, de madeira, e nela
João e sua mulher vieram a residir. Seus únicos vizinhos eram as famílias de Jácomo Peruchi, João
e José Milanez. O resto era mato...
João cortava mato para fazer lenha e esta atividade dava o sustento para sua casa. Mais tarde,
montou uma padaria, bem ao lado de sua casa e tocou esse negócio por mais ou menos três anos.
Em seguida, construiu uma caieira, isto é, uma fábrica de cal. Ia buscar conchas na praia de
Imbituba e as transportava pela ferrovia Thereza Christina, sempre contando com a participação de
sua mulher. A cal era vendida, na sua totalidade, para a Companhia Siderúrgica Nacional, em
Siderópolis. Mais tarde, associou-se a João Zanette, na mineração de carvão de uma mina a céu
aberto localizada mais ou menos onde temos hoje a Carroçaria Becker. Seguiu-se a exploração de
carvão na Santa Augusta, associado a Pascoal Meller e Fortunato Biléssimo. Depois foi minerar em
São Marcos onde experimentou dissabores tão grandes que abandonou o negócio de mineração de
carvão. Montou um posto de gasolina, o Atlantic, o primeiro da zona sul de Criciúma, mais tarde
transformado no Posto Barp que todos conhecemos nos dias atuais.
De seu casamento com Ana, nasceram os filhos Nério, Nelson, Neri, Elza, Nereu e Nilton, que lhe
teriam presenteado com 16 netos e oito bisnetos.
Católico praticante, não se furtou em contribuir magnanimamente com as obras do Seminário
Rogacionista e com a própria Paróquia Nossa Senhora das Graças. Político, sua residência era
endereço certo para a visita de qualquer candidato que quisesse sucesso nas urnas do seu Bairro. O
PSD e Nereu Ramos eram as suas paixões
No dia 4 de maio de 1975, contando apenas 56 anos de idade, falecia por complicações pósoperatórias ocasionadas por uma intervenção cirúrgica que lhe extirpou uma úlcera estomacal.
João Spillere partiu muito cedo e poderia estar ainda conosco ajudando a escrever a bela história
de Criciúma, este orgulho de cidade
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 16 de agosto, quarta-feira
118
JOÃO ZANETTE - I
No ano da graça de 1911, exatamente no dia 18 de junho, dona Perpétua trazia à luz dois
garotinhos, gêmeos. Serviu de parteira aparadora, Dona Úrsula. Faz, portanto, 89 anos. Foi ali no
Santo Antonio, numa casa bem próxima da igrejinha de então, ao lado da antiga residência de
Caetano Sonego. Um desses garotinhos, o mais velho, deveria receber o nome do pai que já tinha o
nome do avô. Essa prática era comum nas famílias mais antigas. Todavia, o que viera em primeiro
lugar, era muito fraquinho e os pais temeram pela sua sobrevivência. Deveria ser chamado Gabriel
e, o outro, João. Para não correr o risco da quebra da corrente nomástica, inverteram os nomes: o
que seria João passou a ser Gabriel e o que seria Gabriel ficou sendo o João. Capito?
Pois bem, vou falar de João – o que deveria ser Gabriel. João Zanette, filho de Etore Zanette e de
Perpétua Serafim Zanette. É, do seu João Zanette, da CCU...
Com o irmão gêmeo, Gabriel, são o terceiro e o quarto filhos do casal Etore e Perpétua que são
pais, também, da Maria, da Luiza, de outra Maria (já que a primeira falecera ainda menina), do
Pedro, do Ângelo, do Luiz, do Antonio e do Batista.
Aos cinco anos de idade, João acompanhou a família indo residir no Morro Estevão, onde seu pai já
mantinha negócios com plantio de banana e cana de açúcar. Aliás, a cana de açúcar se constituiria
num dos mais prósperos negócios de João, na sua juventude, no fabrico de aguardente.
Aprendeu a ler e a escrever com o professor Fermo Mangilli que morava no caminho da cidade,
bem em frente ao local onde temos hoje o 28 GAC. Posteriormente foi estudar com Romildo
Lombardi que ensinava em língua italiana. Mas só estudou mais quatro meses já que o professor
Lombardi veio a falecer e a sua escolinha foi desativada.
Aos sete, oito anos, acompanhou os colegas de infância, se preparou e fez a primeira comunhão,
prática religiosa indispensável nas famílias dos “oriundi”. O sacramento lhe foi ministrado pelo
vigário da paróquia São José, Padre Ludovico Coccollo.
Com oito anos de idade, tanto ele quanto Gabriel já possuíam o seu cavalo encilhado, um luxo para
aqueles anos. No lombo desses animais os gêmeos compareciam a todas as festas religiosas da
região. As de Santo Antonio, no bairro do mesmo nome; São Pedro (na Santa Augusta); São
Donato, na Içara e São José da centenária Cresciúma, deixaram saudade.
Com 12 anos já ia às domingueiras e arrastava os pés. E como dançava. E gostava de namorar. Em
cada localidade, uma namorada...
Amanhã voltarei a falar de João Zanette, uma testemunha viva que ainda ajuda a escrever a história
de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 31 de julho – segunda-feira
119
JOÃO ZANETTE - II
Dou seqüência, hoje, a alguns traços da rica biografia de um jovem industrial criciumense que
acaba de completar 89 anos de idade. Continuo a falar de João Zanette, o da CCU.
Quando contava 24 anos de idade, resolveu entrar no “rol dos homens sérios”: contraiu núpcias
com Carmela Dal Toé. Aqui, mais uma coincidência com seu irmão gêmeo: Carmela é irmã de
Maria, mulher de Gabriel. O casamento foi feito na capela de Morro Estevão sem grande aparato.
Chovia muito, mas chovia muito, mesmo. Poucas pessoas compareceram à cerimônia religiosa. Os
dois, cada um montando seu cavalo, cobertos por grossas e pesadas capas impermeáveis, assim
compareceram à igreja. Mas, em casa, a festa foi igual a de tantos outros casamentos da época:
muita comida, muita bebida e muita música, com baile.
João e Carmela trabalhavam na agricultura. Cuidavam das lavouras de banana e de cana de
açúcar. Ele permaneceu nesse ofício até 1938 e dona Carmela até 1940.
Em 1938, convidado pelos sócios Batista Pirolla e Vitório Garbelotto – dentre outros coproprietários de uma empresa mineradora de Rio Maina – associou-se ao negócio e passou a
trabalhar na mina. Ali permaneceu até 1944, quando a reserva de carvão se exauriu. Desfeita a
sociedade, João amealhou alguns cruzeiros e ficou com a quota de carvão destinada àquela
mineração. Com o dinheiro quis comprar grande área de terra no Olaria, hoje Bairro São Luiz.
Seus proprietários, todavia, não aceitaram a proposta. Já, com relação à cota de carvão, a
Metropolitana, através de seu diretor Albino de Almeida Cirino, ofereceu uma concessão para
preencher a referida tonelagem e juntar o carvão com a da Metropolitana. João aceitou e abriu
uma das primeiras minas de carvão a céu aberto. Ficava em Siderópolis. Todo o trabalho extrativo
era feito a picaretas e pás já que, na época, não havia qualquer equipamento para o referido mister.
João Zanette começava, agora sim, a se estabelecer como minerador.
Amanhã eu retornarei a falar de João Zanette, uma testemunha viva que ainda ajuda a escrever a
história de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 1º de agosto – terça-feira
120
JOÃO ZANETTE - III
Retorno aos traços biográficos de João Zanette que, aos 89 anos de idade, continua a escrever, com
o seu trabalho, a história de nossa cidade.
Quando João Zanette contava 15 anos de idade, faleceu sua progenitora. João sofreu muito com a
perda da mãe só deixando a casa para o trabalho e para as corridas de cavalos, das quais era
aficionado. Seu pai, viúvo, casaria, novamente, um ano depois, com sua tia Rosa Meller.
Como vimos no capítulo anterior, João começou a minerar em Siderópolis, em mina a céu aberto,
no ano de 1944. Mas antes, em 1939, era cotista, com 25% do capital, da Mina União Operária,
juntamente com Pedro Milanez e Patrício de Souza. Logo depois, deixou a sociedade e participou de
outra, da Carbonífera Colonial, com Honorato Silva e Atílio Bratti.
Em 1940, foi residir em Rio Maina. Associou-se à Carbonífera Rio Maina Ltda. juntamente com o
Dr. Dino Gorini, Luiz Pirolla e outros sócios. Dessa empresa foi eleito seu presidente. Mineraram,
ali, durante cinco anos.
No ano de 1948, João Zanette adquiriu a Carbonífera Sete Irmãs.
Numa visita que fez ao senhor João Maccari, em Urussanga, acompanhado do nosso prefeito Addo
Caldas Faraco, seu João recebeu a proposta de compra da Carbonífera Pinheirinho. A resposta foi
negativa haja vista a falta de recursos. Maccari, no entanto, insistiu na venda e o negócio foi
fechado com o compromisso de pagamentos mensais de 50 mil cruzeiros. João Zanette, agora
proprietário da Pinheirinho, aceitou Pedro Milanez como seu sócio, a pedido do mesmo.
Depois seu João Zanette foi participando de vários outros empreendimentos empresariais. Podemos
citar: Colonizadora Criciúma Ltda., que operava no estado do Paraná; Construtora Dal Bó, na
época em que construiu os aeroportos de Passo Fundo e de Irai, no Rio Grande do Sul; Carbonífera
Santa Luzia, com Evaldo Losso, no Município de Urussanga.
João Zanette, em 1955, montou uma fábrica de pregos. Isto mesmo, uma fábrica de pregos aqui em
nossa cidade...
Amanhã eu volto a falar de João Zanette, constante presença na construção de Criciúma, este
orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 02 de agosto – quarta-feira
121
JOÃO ZANETTE - IV
Como nos outros dias desta semana, retorno aos traços biográficos do empresário João Zanette, o
jovem industrial criciumense que acaba de apagar a octogésima nona velinha de sua vida.
Depois do pioneirismo da instalação de uma fábrica de pregos, nosso ilustre personagem instalou
uma fábrica de garrafões de vidro em sociedade dom Zalmir Piazza. Para quem imagina que só no
Vale do Itajaí se produzem artefatos de vidro, a surpresa: aqui também já tivemos uma fábrica de
garrafões de vidro.
Nos anos de 1955 e 56, João Zanette enveredou suas aplicações em estabelecimentos comerciais de
gêneros alimentícios: pelos menos dois supermercados receberam injeção pecuniária de seu bolso.
Associado a Artur de Almeida Cirino, Silvino Dal Bó e Sebastião Toledo dos Santos, adquiriu a
Carbonífera Palermo Ltda. empresa que, em seguida, foi transferida para o sócio Artur Cirino.
Engenho para fabricar cachaça, Fábrica de pregos, fábrica de garrafões, mineração de carvão...
agora entra a malharia. Com Primo Silvestre e o irmão Gabriel, montou uma malharia no ano de
1956. Nesse mesmo ano, com Nelo Satiro e outros, montou uma fábrica de molas. No ano seguinte,
com Giglio Spillere e Olavo de Assis Sartori, comprou a Carbonífera Santa Bárbara.
Num dia qualquer do ano de 1957, João Zanette encontrava-se na agência local do Banco Inco
quando foi surpreendido com a visita do ex-governador Heriberto Hülse. Este lhe comunicou que ali
comparecera para ofertar-lhe a Carbonífera Monte Negro Ltda. João Zanette falou do seu interesse,
mas que não possuía a quantia de três milhões e 700 mil cruzeiros, valor pedido pela transação.
Heriberto acabou vendendo a mina em prestações mensais de 100 mil cruzeiros.
Em 1959, João Zanette resolveu incorporar todas as minerações numa só. Aí foram juntadas a Rio
Maina, a Santa Bárbara, a Monte Negro, a Carlota e a Rio Salto. Nesse momento participam da
sociedade Sebastião Toledo dos Santos e Jorge Cechinel.
Amanhã retornarei aos traços da biografia de João Zanette, personagem marcante da história de
Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 03 de agosto - quinta-feira
122
JOÃO ZANETTE - V
Comecei e termino esta semana falando de João Zanette.
A Cia. Carbonífera Urussanga era de propriedade de uns empresários de Minas Gerais e tinha seu
escritório do Rio de Janeiro. Um de seus prepostos era Tasso Aquino que, no dia 22 de junho de
1960, comparecia à reunião dos mineradores aqui em Criciúma. Ao final da mesma, Tasso convida
João Zanette para uma conversa reservada e, nessa, mostra-lhe um telegrama originário do Rio
solicitando que a CCU fosse oferecida ao Senhor João. Seriam seis milhões de cruzeiros de entrada
e 263 mil cruzeiros por mês. João ouviu e, de pronto, fechou o negócio. No dia seguinte embarcou
para o Rio de Janeiro aonde o negócio foi concretizado. A CCU passou para o seu controle
acionário repartido com Tasso de Aquino, Sebastião Toledo dos Santos, Gabriel Zanette e Jorge
Cechinel. Com esses mesmos sócios, em 1962, adquiriu a Carbonífera Boa Vista e em 1967, a
Mineração Geral do Brasil.
João Zanette ainda teria incursões de investimento nos capitais da Cerâmica Santa Catarina, da
Madeireira São Jorge, da Metalúrgica e Mecânica Milano, da Maggiore Eletrotécnica, da Indústria
de Pescados Madeira, de fábricas de coque e de inúmeras outras empresas. Ao seu lado, sempre, o
irmão gêmeo, Gabriel, com quem dividiu suas alegrias e tristezas.
João Zanette, o da CCU como costumeiramente é reconhecido, recebeu vários títulos e
condecorações. Merecem destaque o Diploma de Mérito Mineral, a Ordem do Mérito do
Engenheiro Militar e a Ordem Mérito Industrial de Santa Catarina recentemente conferida pela
Federação das Indústrias de nosso Estado.
João Zanette foi vereador à Câmara Municipal de Criciúma na legislatura de 1951 a 1954.
João Zanette é pai do Heitor que é casado com Maria Goretti Pagnan Zanette e avô do Giovani e do
João Gabriel.
Foi muito salutar falar estes dias todos desse ilustre empresário que elegeu a simplicidade e a
humildade como marcas de sua vida ela toda dedicada ao progresso do nosso município que ele viu
ser instalado quando contava 15 anos de idade.
João Zanette, um dos esteios de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 04 de agosto – sexta-feira
123
JORGE DA CUNHA CARNEIRO
Encerro a série de perfis biográficos de pessoas marcadas pela História de Criciúma, falando de
Jorge da Cunha Carneiro. Seu pai, Antônio Pinto da Costa Carneiro, próspero comerciante
português estabelecido em Laguna, homem culto, jornalista, poeta e político, fez uma viagem para
Porto, Portugal, acompanhado de sua segunda esposa, Maria Isabel da Cunha Carneiro. Em 9 de
maio de 1887, em território da pátria-mãe, nascia Jorge da Cunha Carneiro. Dois anos depois
retornaram ao Brasil e naturalizaram-se brasileiros.
Na cidade de Laguna Jorge é alfabetizado e faz os cursos elementares.
Homem feito torna-se viajante comercial da firma de seu pai, um entreposto de produtos coloniais
da Região.
A 10 de maior de 1910, contrai núpcias com Vitória Búrigo, na localidade de Cocal.
Dessa união nasceriam seus doze filhos: Edegard, Maria Isabel, Mário, Maria Sylvia, Lauro, Maria
Victória, Maria Carmen, Lúcio, Antônio Sylvio, Maria de Lourdes, Fernando Jorge e Maria Lydia.
Estabelecido em Cocal é nomeado agente postal telegráfico.
Em 1924 ajuda a fundar a Cia. Carbonífera Próspera.
Proprietário rural da grande Araranguá, transfere residência para essa cidade e administra a
produção em suas glebas de terras no Pilão, no Rio dos Porcos, em Meleiro e na Barranca, empresa
que comandou até a sua morte, ocorrida dia 26 de fevereiro de 1953.
Jorge da Cunha Carneiro era um batalhador e grande incentivador da indústria carbonífera. Foi
uma espécie de representante, procurador, de outros mineradores junto ao mercado consumidor do
centro do país.
Preocupado com a educação formal de seus filhos e dos filhos dos seus amigos, os incentivou para
que completassem seus estudos em outras cidades devido à falta de educandários em nossa cidade
nas décadas de 1930-40.
Muito relacionado, sua presença era sempre solicitada em qualquer empreendimento sócioeconômico regional.
Foi um dos mais ardorosos amigos da Praia do Rincão e ali construiu a sua casa de veraneio, em
1943, já dotada de energia elétrica. Essa residência foi a quinta construção do Balneário.
Jorge Carneiro era político e, nessa condição, presidiu o Partido Republicano de Urussanga. Na
década de 1930 fez parte da Aliança Liberal, grupo político que deu sustentação à revolução
liderada por Getúlio Vargas. A partir de 1945 pertenceu aos quadros do Partido Social
Democrático, o PSD, sem – todavia – pleitear cargos eletivos.
Falar do nosso município, especialmente dos anos 1930-50, sem mencionar Jorge da Cunha
Carneiro seria uma indesculpável falha. Daí o registro, ainda que sucinto, do seu perfil biográfico
em homenagem ao muito que ele fez pela grandeza de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 29 de agosto, terça-feira
124
JORGE ELIAS DE LUCA
Falemos uma vez mais da saga dos De Luca. Embarco, novamente, no livro “Os Jasmins do Jardim
de Paolo” e dele extraio a crônica de hoje. Falo de Jorge Elias de Luca, o empresário e político
nascido em 12 de maio de 1912 e casado com Dona Gilia Rizzieri dia 10 de r de 1937. Jorge Elias
faleceu muito novo, para os parâmetros de hoje: contava 65 anos quando seguidos ataques
cardíacos deram-lhe o passaporte para a eternidade.
Desde cedo fez crescer o tino comercial que lhe abrigava a cabeça e isto pode ser atestado nos dias
atuais com a empresa que fundou: a J. de Luca de Içara, onde foi residir e construir o seu
patrimônio.
Tinha três obstinações: a família, a política e o jogo de cartas. Na família, deixou um legado que
enriquece qualquer sociedade; na política, a doutrina do PSD era o seu Norte. Por esse Partido foi
vereador à Câmara Municipal de Criciúma; no jogo consta que não conseguia dormir sem, antes,
exercitar os dedos num carteado. Certa vez, trouxe consigo a mulher, dona Gilia: enquanto ele
jogasse no Mampituba, aqui na Praça Nereu, sua mulher ficaria na casa da cunhada, dona Irene,
para atualizar as notícias da numerosa família. Jogou até alta madrugada e acabou esquecendo-se
da mulher. Só se deu conta quando chegou a casa e ela não estava deitada, como costumeiramente.
Acordou o filho Vanderlei, ainda uma criança, mas que sabia dirigir, e este veio buscar a mãe
esquecida.
Jorge Elias e Dona Gília são pais do Walmor Paulo, que foi deputado federal em algumas
legislaturas, representando Santa Catarina no Congresso Nacional; da Vanilda, que é mulher de
José Dal Toé, que foi Prefeito de Içara; da Norma Augusta, já falecida; da Icelda, casada com
Murilo Sampaio Canto, várias vezes deputado estadual em nosso Estado, representante da Região
Carbonífera; são pais da Dalva que é casada com Manoel Dias que foi Deputado Estadual, cassado
pela ditadura em 1964 e hoje Secretário Geral do PDT Nacional; Sônia Maria, professora,
divorciada de Adelir Cabreira; Vanderlei Jorge, empresário sucessor do pai; Volnei Elias, também
empresário sucessor do pai, casado com Rosalba Colle Stano. João Carlos, médico, falecido em
1998 e Ruth, advogada, casada com Roberto Luis dos Santos.
Como se vê, Jorge Elias de Luca constituiu uma família de políticos respeitados em nosso meio.
Quando não o são, revelam-se competentes profissionais nos vários segmentos produtivos.
Jorge Elias de Luca faz por merecer uma página da história de Criciúma, este orgulho e cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 21 de julho – sexta-feira
125
JOSÉ MANOEL ALVES
O personagem de hoje é natural de Pindotiba, município de Orleans, e veio ao mundo no dia 29 de
maio de 1919. Ontem, portanto, ele teria completado 81 anos de idade.
Seu pai trabalhava numa fábrica de café, em Tubarão, para onde a família se transferiu. Por causa
do ofício, recebeu o apelido de Mané Café que acabou transferindo para todos os seus filhos,
inclusive para ele, o Zé Café, já que seu nome era José.
Em 1938, foi contratado para trabalhar na Estrada de Ferro Dona Theresa Christina, em cuja
ferrovia ocuparia as funções de Guarda-Freios, Foguista e, finalmente, Maquinista. Nessa função,
foi maquinista da Pixorra, assim apelidada a locomotiva número 9, em decorrência da ação social
que praticava: como havia muita dificuldade de água na cidade, ele enchia o tanque da máquina e
distribuía o preciosos líquido ao longo da ferrovia...
Em 1945, trouxe a família para Criciúma indo residir na própria estação da Ferrovia, no Bairro
Pinheirinho, mas logo em seguida, fixaria residência no antigo Bairro 25, hoje Bairro São
Cristóvão, tendo se constituído num dos seus primeiros habitantes. Líder nato, logo seria eleito
presidente da Sociedade Recreativa 25 de Dezembro, daquele Bairro. Participou, ativamente,
também do América Futebol Clube, do IAPETC Clube, da Sociedade Ciclística Criciumense, do
Círculo Ferroviário e do Clube de Caça e Pesca Alberto Sheidt. Politicamente, militou no antigo
PRP – Partido de Representação Popular e na UDN – União Democrática Nacional.
A cidade de Criciúma receberia um choque no dia 13 de julho de 1956 quando o Zé Café, no pátio
da estação ferroviária, seria assassinado por um colega de trabalho.
José Manoel Alves, o Zé Café, hoje nome de rua no Bairro São Cristóvão, deixou viúva dona Adília
Bittencourt Borges e órfãos os filhos Rodeval, Roseval, Rodevalda e Romival Alves.
Recebe também nossas homenagens por ter auxiliado, à sua maneira, a construir Criciúma, este
orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 30 de maio – terça-feira
126
JOSÉ TARQUINO BALSINI
18 de fevereiro de 1966. Morria, em nossa cidade, um de seus mais ilustres médicos, o Dr. José
Tarquino Balsini. Nascido em Joinville, no nordeste de Santa Catarina, no dia 7 de setembro de
1905, partia para a eternidade com pouco mais de 61 anos de idade. Ainda criança veio residir em
Tubarão para onde fora transferida sua família. O curso ginasial o fez no Ginásio Catarinense, dos
padres jesuítas, ali em Florianópolis. Ginasiano, a contra gosto, estabeleceu-se com uma casa
comercial. Mas, não suportou a pressão que lhe fez a vocação para a medicina. Prestou concurso
de ingresso e, logrando êxito, ingressou na faculdade de medicina do Rio de Janeiro onde colaria
grau em 1933. Médico formado veio para a região iniciando seu sacerdócio na cidade de Orleans.
Mas ali permaneceu muito pouco tempo: trouxe-o para Criciúma o Hospital São José, de cujo
hospital foi médico, diretor clínico, diretor geral. Em 1936 contraiu núpcias com Carmem Mattos
Balsini. Dessa união nasceriam os filhos Clóvis, Cláudio e Sônia. De estatura baixa, magro, olhos
penetrantes, sempre vestido elegantemente, dono de uma gagueira danada, o Dr. Balsini, como o
conheceu a comunidade, era o médico da família criciumense. As famílias mais numerosas ela as
visitava com regularidade e acompanhava, a domicílio, a evolução de alguma possível doença. Não
havia quem não o conhecesse. E, em conhecendo-o, o admirasse e respeitasse pela qualidade de seu
serviço, mais uma doação do que, propriamente, um exercício profissional. A Câmara Municipal o
fez cidadão honorário de Criciúma, numa solenidade singular realizada em sua própria casa, ali na
esquina da Praça do Congresso com a Rio Branco. O Jornal Diário de Notícias, do Rio de Janeiro,
era a porta por onde trafegavam as notícias do Brasil e do mundo. Lia-o todos os dias embora cada
número lhe chegasse às mãos com quatro ou cinco dias de atraso. Mas os lia, assim como as obras
de Jorge Amado e Érico Veríssimo.
Poucas pessoas foram tão choradas, quando falecidas, como o foi o Dr. Balsini, razão da
benquerença que lhe tributava a gente aqui residente. E ele desmente o ditado de que as pessoas são
insubstituíveis. A lacuna aberta com a sua partida permanece aberta nos dias atuais.
Ao Dr. José Tarquino Balsini, mais uma homenagem da sua Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 17 de julho – segunda-feira
127
JOVITO ÁLVATO TIAGO DE CAMPOS
Na primeira parte deste projeto que resgata valores da história de Criciúma, este orgulho de
cidade, dediquei quatro ou cinco linhas para alguns personagens folclóricos do nosso cotidiano.
Todavia, consultando velhas edições do nosso mais festejado hebdomadário, a Tribuna
Criciumense, encontro informações preciosas acerca desses homens que me atrevo a retornar ao
assunto para melhor retrata-los.
Dentro desta ótica, falo, hoje, de Jovito Álvaro Tiago de Campos, o popular Bateria. Ele concedeu
uma entrevista ao TC que a publicou na edição de Natal de 1961 da qual faço o seguinte extrato:
ele veio para Criciúma em 1936. O apelido “Bateria” o recebeu no Exército porque tocava uma
bateria num conjunto de militares. Depois de ter sido operário em vários empregos foi trabalhar na
Prefeitura Municipal. Casado três vezes, Bateria teve alguns desgostos com alguns filhos o que lhe
deu a justificativa para embriagar-se com muita freqüência. Todos os dias, por volta das 18 horas,
fazia discursos em praça pública. Gostava de todo mundo e só guardou grande rancor de uma
pessoa que lhe bateu com muita violência uma vez. Abandonou o hábito do álcool por imposição de
doença renal que muito lhe incomodou.
Naquele Natal Jovito Campos desejava felicidades para o povo afirmando que todos os conheciam
por ser um operário braçal pobre, mas honesto. Mas adiantou, com amargura: sempre vivi judiado
e maltrapilho. Ao perguntar se gostaria de ser rico, deu uma aspirada profunda no seu "Tufuma" e
respondeu: “dinheiro não tem valor para mim; estou com 60 anos e quero seguir o bom caminho,
fora das folias”. E de política, o senhor gosta? E Bateria respondeu: “de política não posso dar
palpite. A pessoa precisa saber quantos verbos tem a leitura”. Mais adiante, ele afirmaria: "sou um
homem muito orgulhoso, pois tenho uma filha que estudou e é normalista e um filho que é sargento
da Marinha”. Ao terminar a entrevista, Bateria afirmou que conhece um pouco das línguas italiana,
inglesa e francesa.
Residiu em vários locais da cidade, mas notabilizou-se como morador do Bairro Lote Seis que hoje
lhe presta homenagem dando-lhe o nome para a sua Escola Municipal ali instalada.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 07 de julho – sexta-feira
128
JÚLIO GAIDZINSKI
Na segunda metade do século IX, lá do interior da Polônia, emigraram dois jovens com destino ao
Brasil, ou melhor, a Santa Catarina, ou – para ser mais preciso – para o sul catarinense. Vieram
para se juntar a outros compatriotas que, por aqui, se ocupavam dos afazeres da roça. Eram
Vicente e Margarida Gaidzinski, casados em 1884. Sua residência primitiva era ali no Morro da
Palha, ao pé da Serra do Corvo Branco, em Grão Pará, à época município de Tubarão. Desse
casamento nasceriam os filhos José, Júlio, Joana, Rosa, Ema, Helena, Lídia, Francisco, Valdina,
Maximiliano e Ana.
Essa numerosa família, nos anos 10 deste século, transferiu residência para Criciúma e, desses
filhos todos, vou me reportar a um que, certamente, colecionou conquistas ao longo de sua vida.
Falo de Júlio Gaidzinski nascido a 9 de abril de 1900. Teve uma mocidade igual à dos moços de sua
época: estudou em escola isolada, chutou bola, dançou bastante... Seu primeiro ofício foi ajudar o
pai e os irmãos na oficina de conserto de sapatos localizada na Rua Conselheiro João Zanette,
esquina com a Praça Nereu Ramos. Namorou, e desse idílio surgiria o casamento com a filha de
Pedro Benedet, Angélica. Dessa união nasceriam o Dorival, o Diniz e a Diana.
De sapateiro foi ser minerador, uma das condições sócio-empresariais mais cobiçadas de então:
com seus irmãos e alguns amigos, fundou a Carbonífera Ouro Preto que extraia carvão ao pé do
Morro Cechinel, mais ou menos onde hoje está localizado o Hospital São João Batista.
Paralelamente tocava uma fábrica de balas de banana e uma fábrica de café.
Quando a Carbonífera Próspera se mostrou mal das pernas a ponto de quase sucumbir, chamou –
novamente – seus irmãos e amigos e comprou aquela empresa que, mais tarde, seria negociada
para terceiros.
No final dos anos 30, início da década de 40, adquiriu o locomóvel a vapor do Dr. Pite, o transferiu
da Av. Getúlio Vargas para o terreno onde hoje está construída a JUGASA, e passou a ser o
distribuidor de energia elétrica à população do centro urbano de Criciúma. Nessa época, também,
foi gerenciar os negócios da Companhia de Mineração Geral do Brasil.
No ano de 1941 – sempre na companhia dos irmãos e de amigos – fundou a Júlio Gaidzinski e Cia.
Ltda., objetivando a exploração de oficina mecânica, ferraria para ferrar patas de cavalos,
comércio de peças e acessórios para veículos e fornecimento de combustível. Essa empresa se
transformaria na JUGASA de hoje sendo instalada, preliminarmente, no terreno que agora abriga o
Banco Bradesco. Nas eleições de 1946 tentou a Câmara Municipal, pelo velho PSD ficando na
suplência, mas sendo convocado inúmeras vezes para o exercício do mandato. Em 1947 – com o
pessoal que sempre o acompanhou nas empreitadas societárias – fundou a nossa primeira
cerâmica: a Cerâmica Santa Catarina de nós todos conhecida como CESACA. No final dos anos 40,
adquiria, de Cincinato Naspolini, a empresa de transportes coletivos que fazia as linhas de
Criciúma a Rio Maina, São Marcos e Siderópolis denominando-a de Transportes Coletivos Jugasa.
O bangalô que construiu na Rua Seis de Janeiro, para residência de sua família, no final dos anos
30, tornar-se-ia a curiosidade da época haja vista ter sido a primeira moradia cujos sanitários
ficavam dentro de casa. Um absurdo, diziam...
Júlio Gaidzinski que completaria cem anos de vida dia 9 deste mês, fez por merecer este humilde
registro com as homenagens desta emissora e deste articulista.
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 07 de abril – sexta-feira
129
KARL, O HIPNOTIZADOR
O ano, salvo traição da memória, era 1961. A cidade, Criciúma. O local, o Cine Teatro Milanez e a
Praça Nereu Ramos. O horário: no cinema, às 20h00min horas, numa programação dupla; na
Praça, às 12 horas.
Reporto-me a um dos mais comentados espetáculos de hipnose pública havido em nosso meio.
Um tal de Karl Maya, vindo Deus sabe de onde, aportou em nossa cidade e auto promoveu, com o
auxílio da Rádio Eldorado, uma sessão de hipnotismo no Cine Milanez depois da exibição de um
filme cujo nome o tempo devorou. A casa cinematográfica ficou lotada: nenhuma poltrona vazia.
Logo depois da película, começou o trabalho do artista.
No primeiro momento, sua exibição envolvia pessoas que a cidade não conhecia e a desconfiança
foi geral. Aos poucos, todavia, foi mexendo com o público envolvendo uma mulher daqui, um jovem
dali, um cidadão de acolá e a platéia indo ao delírio.
Chamou ao palco um jovem estudante do Ginásio Marista, Darci Althoff, hoje alto funcionário da
EPAGRI, em Urussanga, onde exerce a profissão de Engenheiro Agrimensor. Darci estava numa
das primeiras poltronas. Ia subindo os primeiros degraus do palco quando Karl pediu que parasse e
perguntou seu nome: ele respondeu, alto e bom som: Darci Althoff. Ainda naquele degrau Karl
Maya voltou a perguntar-lhe pelo nome. E Darci respondeu: Benito Mussolini. E foi assim, em toda
a subida ao palco e andando sobre este. Instantaneamente nosso amigo Darci era o próprio e, ao
mesmo tempo, o ditador italiano.
Lá de trás Maya chamou outro expectador. Seu sobrenome era Garbelotto, de profissão rádiotécnico. Trabalhava numa oficina se conserto de aparelhos de rádio que se localizava ao lado da
velha Jugasa, hoje Banco Bradesco. Garbelotto assomou o palco e lá ouviu do hipnotizador:
quando ouvires esta música (e o sonotécnico fez rodar uma determinada composição musical, do
repertório da música clássica), quando ouvires esta música, repetiu o artista, você vai reger a
orquestra. Isto vale a partir de agora. E o Garbelotto passou a reger a orquestra como se aqueles
acordes fossem resultado do seu comando. E mais: Karl Maya sentenciou: amanhã (seria uma
segunda-feira) ao meio dia, quando ouvires os sinos da matriz badalar às 12 horas, irás ao coreto
da Praça Nereu Ramos e regerás a orquestra sinfônica de Criciúma. Em seguida o espetáculo foi
dado por encerrado restando a expectativa do dia seguinte. Cedo, lá estava o Garbelotto na oficina
rodeado de pessoas que não se cansavam de comentar o grande feito da noite anterior. E as horas
foram passando. E os céticos e curiosos procurando um melhor local próximo ao coreto. Será que
vem? Será que a hipnose continua?
Repentinamente, chegada a hora, os sinos começam a bater as 12 horas. E lá vem o Garbelotto,
correndo feito maluco, subiu no coreto e fez a regência da orquestra. Não havia música nem
instrumentistas. Mas o Garbelotto regeu a orquestra fictícia ainda sob o impacto da hipnose havida
12 horas antes. Ficaram na história: o hipnotizador e os hipnotizados.
E eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
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Publicado dia 03 de maio – quarta-feira
130
LINDOMAR AGUIAR - DONA SANTA
Já falei, na série que resultou no livro CRICIUMA, ORGULHO DE CIDADE, lançado dia 06 de
janeiro lá na Praia do Rincão, a respeito do espetacular serviço prestado por algumas abnegadas
mulheres conhecidas como parteiras. Ao fazê-lo, tive, como propósito, mostrar a grandeza daquele
trabalho numa época em que a medicina obstetrícia não fazia parte do cotidiano de nosso
município. Falei de muitas e, certamente, esqueci de muitas.
Esqueci, por exemplo, de Dona Santa, apelido de Lindomar Luiza de Aguiar, mulher de João
Fermino Cardoso, mãe de seis filhos que formavam três casais.
Dona Santa nasceu a 10 de março de 1907 e trabalhou como aparadora de crianças de 1940 a
1975, no Bairro Boa Vista, mas com incursões também na São Marcos, no Metropol, no Rio Maina,
em Forquilhinha, no Sangão, no São Defende e na Mina União. Era analfabeta, mas valia-se dos
conhecimentos de suas ilustres colegas Felícia e Adelina Arns que, como ela, também eram
parteiras.
Sua locomoção era feita de caminhão, de carroça, de aranha e, não raras vezes, a pé, não
importando as condições climáticas e meteorológicas. Havia dias em que Dona Santa atendia a
mais de uma parturiente, ora aqui ora acolá. Se o caso se apresentasse como muito difícil e fora de
sua capacidade, imediatamente levava a gestante para o Hospital São José. Não há nenhuma
notícia dando conta de mau atendimento prestado por Dona Santa. E mais, em algumas ocasiões
além de nada receber pela execução do trabalho ainda cuidava das primeiras peças do enxoval do
neném assim como da alimentação da mãe. Uma abnegada. Certa feita apareceu, na Boa Vista, uma
mulher de nome Maromba, que andava de muletas e trazia consigo cinco filhos menores, sem ter
onde cair morta. Dona Santa, ao tomar conhecimento, dirigiu-se ao escritório da Carbonífera ali
localizada que, atendendo ao seu pedido, mandou abrigar a família desprovida numa pequena casa
de sua propriedade.
Dona Santa, ou melhor, Dona Lindomar Luiza de Aguiar, que faleceu dia 23 de abril de 1995, fez
por merecer este pequeno espaço com o qual esta emissora lhe homenageia in memoriam.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 24 de março – sexta-feira
131
LÍRIO ROSSO
Uma das grandes dificuldades da Criciúma até o final dos 70 era manter seus filhos estudando nas
capitais haja vista que, por aqui, não havia ensino superior. E uma das grandes dificuldades dos
que se atreviam a residir na capital catarinense, por exemplo, para estudar, era a alimentação.
Em 1958, todavia, numa iniciativa ousada da União Catarinense de Estudantes, foi criado e
instalado o restaurante universitário, cuja sede estava localizada na Rua Álvaro de Carvalho, quase
à esquina da Felipe Schmidt. Recordemo-nos que a nossa Universidade Federal data de 1960 e que,
ainda assim, suas unidades educacionais se esparramavam por toda a cidade florianopolitana.
Pois o RU – restaurante universitário, como ficou conhecido – recebeu a participação direta de
Criciúma já que um dos maiores propugnadores para a sua realização foi o estudante de
odontologia Lírio Rosso.
Data daquele ano um comunicado assinado pelo jovem acadêmico comunicando, na condição de
secretário geral da UCE, que o valor da refeição fora estipulado no da metade de um almoço
popular e que a ele também teriam acesso os secundaristas do interior que residissem na capital.
O Restaurante Universitário, da Rua Álvaro de Carvalho, fez história. Além das refeições de todos
os dias (exceto domingos), aquele local mantinha a sede da UCE e nele eram feitas as assembléias
envolvendo estudantes e operários numa época em que o debate sócio-comunitário fazia a ordem do
dia.
Como se viu, Criciúma emprestou a sua colaboração direta na construção daquele próprio e por
isso estas linhas foram escritas. Por esse feito Lírio Rosso recebe a nossa homenagem.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 25 de abril – terça-feira
132
MANOEL DILOR DE FREITAS
Meu personagem de hoje é um dos filhos de Diomício Freitas e de Agripina Francioni de Freitas.
Seria uma lacuna lastimável encerrar o ciclo de crônicas da história da cidade sem reportar-me ao
seu nome, tanto ele fez – e faz – por nosso município.
Refiro-me a Manoel Dilor de Freitas, aqui nascido em 28 de março de 1933.
Nos anos 50 foi administrar os negócios da família localizados na cidade paulista de Santos, a
Navecal, quando aproveitou a oportunidade e fez o curso de direito, graduando-se no ano de 1960.
Retornando à Criciúma, teve participação marcante em todos os negócios encabeçados por seu pai,
o empresário Diomício. Da Carbonífera Criciúma, foi Diretor.
No início dos anos 60 desenvolveu intensos estudos sobre a viabilidade econômica da possível
implantação de uma indústria cerâmica. Dessa iniciativa surgiu a Cerâmica Criciúma S. A. de nós
conhecida como CECRISA e que começou a produzir em 1971.
Essa empresa foi idealizada como alternativa empresarial do Grupo Freitas haja vista que o carro
chefe, representado pela extração do carvão mineral, estava com seus dias contados. O produto
cerâmico alcançou tamanha qualidade que passou a ser exportado para vários países. Como o
negócio se apresentou como vantajoso, a partir de 1973, por iniciativa de Dilor Freitas, a Cecrisa
investiu na aquisição de novas unidades fabricantes de cerâmica de revestimento.
Em 1980, Diomício Freitas, resolveu dividir seu patrimônio com os filhos. A Manoel Dilor de
Freitas e à sua irmã Maria Dilza, coube o setor cerâmico, dentre outras empresas.
A partir de 1990 a modernidade administrativa tomou conta da CECRISA que implantou o sistema
múltiplo de administração: foram contratados executivos para a sua gestão empresarial e criado o
Conselho de Administração do qual ele é o presidente.
A Cecrisa é a empresa vanguardeira do conglomerado industrial que Dilor Freitas mantém em
nosso território, mas há de ser contabilizado também o sucesso que alcançou com o setor
imobiliário, o de reflorestamento, o de mineração, o da agropecuária e, também, no das
comunicações. Nestes todos, tem ao seu lado o sobrinho e sócio Álvaro de Freitas Arns. O
faturamento anual das empresas que são administradas por Manoel Dilor de Freitas passa da casa
dos 170 milhões de dólares anuais.
Do seu casamento com Terezinha Heodete Borges de Freitas nasceram os filhos João Paulo,
Adriana, Daniele e André.
O Dr. Manoel Dilor de Freitas também contribuiu – e contribui – de forma singular, com a história
de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 21 de agosto, segunda-feira
133
MANSUETO COSTA
Meu personagem de hoje nasceu no ano da graça de 1900, no dia 22 de fevereiro. Era natural de
Urussanga e filho de José e Amábile Costa.
Aos 22 anos, veio morar em Criciúma. Já em 1933 era contratado pela CBCA, empresa mineradora
na qual desenvolvia a profissão de escriturário. Cinco anos depois era guindado à função de guarda
livros que, hoje, conhecemos como Contador. Agora era também chefe do escritório da maior
empresa mineradora de carvão do Brasil. Ali permaneceu até 1948 quando, por livre vontade, pediu
o afastamento.
Nesse mesmo ano, juntamente com diversos amigos, ajudaria a fundar a primeira cerâmica de
revestimento da cidade: a Cerâmica Santa Catarina Ltda., a conhecida CESACA, "velha de
guerra”. Trabalhou na CESACA, na função de diretor gerente, até 1957.
Durante toda a sua permanência na CBCA e na própria CESACA, desenvolvia atividades paralelas
com destaque para os ofícios de empreiteiro das minas de carvão de Archimedes Naspolini, de 1946
a 1950, e de Elias Angeloni, em 1951.
No comércio, foi sócio quotista das firmas Faraco Costa & Cia. Ltda., Zilli & Angeloni & Cia. Ltda.
e Carneiro e Faraco & Cia. Ltda.
Com vários companheiros, dentre os quais Leandro Martignago, trabalhou na construção da
estrada de ferro de Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul.
Associado, presidiu a Sociedade Recreativa Mampituba no ano de 1939.
Casou, em 1921, com Irene Búrigo, com a qual teve sete filhos: Adhemar, Aracy, Rubens, Valmor,
Zoyde, Terezinha e Marly.
Faleceu dia 6 de setembro de 1957, aos 57 anos de idade.
Falei de Mansueto Costa, um dos baluartes do desenvolvimento de Criciúma, este orgulho de
cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 2 de junho – sexta-feira
134
MARIA JOSÉ NUNES PIRES CASTELAN - I
Hoje retomo o tema da homenagem aos grandes educadores. E falo de uma das mais respeitadas
professoras que Criciúma conheceu e conhece. Ela é natural de Florianópolis, onde nasceu, na Rua
Conselheiro Mafra, nem pertinho da Ponte Hercílio Luz, a 26 de março de 1919. Dos oito filhos de
Cristóvão Colombo Nunes Pires e Maria de Lima Nunes Pires, era a de número seis. Sua residência
era numa enorme chácara que começava na Conselheiro Mafra, mas subia aquela colina e ia
terminar lá do outro lado da ilha, na velha Praia de Fora ou Praia do Müller, como ficou
conhecida. Sua família era um dos mais tradicionais troncos familiares da ilha-capital. Um de seus
irmãos, Aníbal Nunes Pires, também educador exerceu a cátedra em colégios das redes particular e
pública de ensino inclusive nas escolas embrionárias da atual Universidade Federal de Santa
Catarina.
Os primeiros anos escolares ela os ocupou no Colégio Arquidiocesano São José – durante os três
primeiros anos – e, a partir do 4º e até o final do Complementar, os fez no tradicional Colégio
Coração de Jesus. No Instituto Estadual Dias Velho, receberia o título de professora
correspondente ao Curso Normal. Dentre outros foram seus professores Egídio Abade Ferreira e
Antonieta de Barros. Na formatura, seu paraninfo foi o Interventor Nereu Ramos.
Seus pais, embora tivessem permitido que estudasse para o ofício sagrado do magistério, faziam
oposição ao exercício profissional haja vista que, na época, o ingresso na carreira importava em
lecionar pelo menos um ano em escola localizada no interior do Estado. Então, às escondidas do
pai, inscreveu-se para a nomeação. E, na hora da escolha, escreveu: Itajaí, Imbituba e Criciúma.
Não conseguiu Itajaí por apenas meio ponto; Imbituba, embora escolhida no primeiro momento,
não mais lhe simpatizou. Escolheu a desconhecida Criciúma, no Sul do Estado. Seu pai ficou
sabendo de seu plano, lendo o Diário Oficial do Estado que publicara o seu respectivo ato de
nomeação, assinado pelo Dr. Nereu.
Estou falando, o ouvinte já deve ter percebido, da Professora Maria José Nunes Pires Castelan de
quem voltarei a me reportar amanhã, neste horário.
Eu gosto de falar todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 10 de julho – segunda-feira
135
MARIA JOSÉ NUNES PIRES CASTELAN - II
Continuo a falar da Professora Maria José Nunes Pires Castelan, um dos esteios da educação
formal de Criciúma.
Era janeiro de 1937. O ato de sua nomeação para o magistério acabara de ser publicado no Diário
Oficial do Estado e o ano escolar teria seu início à 1º de fevereiro daquele ano. Para convencer
seus pais a permitirem seu traslado para nossa cidade, serviram-lhe seus irmãos, especialmente a
mana mais velha. Finalmente o pai acedeu e, no finalzinho do mês, embarcava num ônibus que a
transportaria até Laguna e, dali, de trem, até a velha Crescúma. O balançar do comboio fê-la
dormir só acordando quando o guarda-trem anunciou, no Corte da Próspera, em voz bem alta:
Cresciúma. Assustada e cansada perguntou: onde está a cidade?
Mais alguns instantes e o trem pararia na estação ferroviária, cheia de gente. Uns porque ali
compareciam todos os dias nos horários da passagem do trem de passageiros. Outros porque
queriam conhecer a professorinha nova que vinha da Capital. À frente o Professor Agrícola Índio
Guimarães que lhe fez a corte dando-lhe as boas vindas. O grupo significativo de rapazes – seus
futuros alunos – entreolhava-se e murmuravam palavras de admiração àquela garota que, mais três
dias, seria sua professora.
Foi residir na casa da senhora Iná Souza que era casada com o professor Abelardo Souza. Iná era
irmã de Diná, também professora. A casa era ali na Getúlio Vargas, já quase fora do centro da
cidade, praticamente na esquina com a Rua Lauro Müller. Nessa casa, tão logo chegou, quis matar
a sede e bebeu água trazida de um poço existente no fundo do quintal. Mal bebeu aquele líquido e
sentiu-se mal. Uma infecção intestinal brecou seus planos de conhecer a vila e ir ao Lapagesse
visitar sua sala de aulas. Ficou presa à casa durante três dias. Desanimada, pois atrasava em dois
dias a sua posse no magistério sonhado. O Grupo Escolar Professor Lapagesse estava localizado na
Praça Nereu Ramos, mais tarde dando lugar ao edifício da Prefeitura hoje ocupado pela
CODEPLA.
No dia 3 de fevereiro, com o ritual de estilo apropriado, era empossada no cargo de Professor do
nosso mais tradicional estabelecimento de ensino.
Amanhã continuarei a falar da Professora Maria José Nunes Pires Castelan, uma das maiores
educadoras de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 11 de julho – terça-feira
136
MARIA JOSÉ NUNES PIRES CASTELAN - III
Faz dois dias que falo, neste horário, de Maria José Nunes Pires Castelan, um dos esteios da
educação formal da nossa cidade.
Em 1937, quando veio residir em Criciúma, Dona Maria José conta que, no primeiro momento,
experimentou uma sensação de pânico. Ficara para trás uma cidade que, ainda por cima, era a
capital de um Estado. Uma ilha que, nesta condição, era rodeada de água por todos os lados. E
agora, aqui, numa cidade diminuta, sem ruas pavimentadas, cheia de carros de boi, carroças e
cavalos. Um centro urbano reduzido a pouquíssimas residências se estendendo da velha cadeia, da
Getúlio Vargas, até o pátio da estação ferroviária onde havia uma cerca haja vista que, dali pra
frente, era um grande potreiro onde pastavam animais bovinos. À noite, a energia era fraca para a
iluminação das casas o que dirá da iluminação pública! Nossa Praça – conta Dona Maria José –
era constituída por algumas árvores e alguns arbustos e tudo cercado por arame. Mas havia uma
calçada em volta da mesma e sobre ela ocorriam os passeios da juventude: as moças se mostrando
para os rapazes: elas dando as voltas e eles estrategicamente parados esperando-os. Ela se lembra
– e o diz com entusiasmo – dos sapatos de salto Luiz XV e dos chapéus brancos com flores que lhe
cobriam a cabeça, para ir à missa e, depois, para o passeio em volta da praça. E foi assim que
encarou a cidade na qual construiria a sua vida de adulta.
Lecionou matemática, ciências, educação moral e cívica e uma parte de geografia no Lapagesse, de
cujo estabelecimento foi auxiliar de direção durante dois anos, e diretora interina durante cinco
anos. Prestou concurso para o cargo de Diretor Escolar e, nesta condição, dirigiu o Grupo Escolar
Humberto de Campos de 1954 a 1961. Nesse ano, por remoção concursada, retornou ao Lapagesse
onde trabalhou mais seis anos. Aposentou-se em 1966 depois de educar duas gerações, isto é, deu
aula para um aluno e, mais tarde, para o filho deste. Conheceu seu marido, João de Bona Castelan,
numa domingueira, no Mampituba, o qual depois de muitos flertes encorajou-se e propôs namoro.
No ano seguinte, no dia 5 de janeiro de 1939, com ele contrairia núpcias e, desse casamento,
nasceriam os filhos Valter, Maria de Lourdes, Maria Helena, Maria Bernardete, João Filho e
Eugênio Neto.
As mágoas colhidas ao longo dos 63 anos que vive em nosso meio faz questão de jogar para o
esquecimento. Não contam, afirma. Mas, renova momento de intensa felicidade quando lhe aborda
um ex-aluno rememorando sua capacidade de educadora.
Dona Maria José conta 81 anos de idade e, desses, 63 de convívio com a terra e a gente da terra do
carvão.
Os criciumenses devemos muito à Dona Maria José Nunes Pires Castelan, uma das mais
respeitadas professoras de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 12 de julho – quarta-feira
137
MARIA DE LOURDES HÜLSE LODETTI
Hoje falo de uma emérita professora. Primogênita dos quatro filhos de Emílio Ventura Hülse e
Armandina Faraco Hülse reporto-me a Sra. Maria de Lourdes Hülse Lodetti. Veio ao mundo, em
Tubarão, em plena primeira guerra mundial, no dia 16 de novembro de 1914. Nessa cidade fez seus
cursos elementares, no Colégio São José e o Curso Normal, maior graduação de ensino médio da
época, o fez em Florianópolis, no Colégio Coração de Jesus. Recebeu seu certificado de professor,
no dia de seu aniversário: 16 de novembro de 1930. Quis lecionar na rede pública de ensino,
menina dos olhos do Interventor Federal Nereu Ramos. A idade impediu: o magistério público só
aceitava professores com 18 anos ou mais. Foi lecionar no São José até a maioridade, quando foi
nomeada professora do Grupo Escolar Hercílio Luz. Em 1940 seria transferida para o Grupo
Escolar Professor Lapagesse, aqui de Criciúma, para onde viera residir sua família já que, para o
seu pai, seu Emílio, foguista da Thereza Christina, era mais cômodo residir aqui, ponto de partida
dos comboios que transportavam carvão para as caldeiras dos navios ancorados no Porto de
Imbituba. Do velho Lapagesse, foi a primeira professora normalista; todas as demais eram
complementaristas. Esta condição serviu, inclusive, para que o governo aumentasse o repasse de
verba para a velha escola. Durante 10 anos foi auxiliar de direção, dividindo seu tempo nessa
atividade e na do quadro negro ensinando as crianças. O b-a-b-a, dona Lourdes ensinou para, pelo
menos, duas gerações.
Em 1940, começou a namorar o jovem César Lodetti, filho de José Lodetti – irmão de Marcelo –
ambos filhos de imigrantes italianos colonizadores de nosso município. Um ano depois, na Matriz
São José, contrairiam núpcias e, desse casamento, nasceria sua única filha Thamar.
Perguntada sobre as modificações da Cresciúma de ontem para a nossa Criciúma ela não titubeia:
deixei Tubarão, uma cidade, vim de trem para uma vila, escura, suja, com cheiro de carvão.
Adaptei-me, constituí família, trabalhei para o seu engrandecimento e sou criciumense mais do que
muitos dos aqui nascidos.
Dona Maria de Lourdes Hülse Lodetti foi a pedra angular da criação do Ginásio Madre Teresa
Michel. Esse Colégio deve a sua criação a ela, a dona Zulcema, ao Padre Estanislau Ciseski, ao
Professor Arlindo Junkes e aos mineradores da época.
Dona Maria de Lourdes Hülse Lodetti, nossa cidadão honorária, costuma dizer que “Os homens
que amavam Criciúma, morreram. Hoje Criciúma é dos forasteiros”.
Sempre que se falar em ensino, falar-se-á em Maria de Lourdes Hülse Lodetti, no município de
Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 06 de julho – quinta-feira
138
MATIAS RICARDO PAZ
Ele era de paz. Viveu uma vida de paz. Partiu para a eternidade, em paz. Falo de Matias Ricardo
Paz, um dos cidadãos mais íntegros que nossa sociedade conheceu.
Lagunense de berço veio ao mundo dia 24 de fevereiro de 1915. Jovem, ganhava a vida como
qualquer outro jovem da terra de Anita Garibaldi: desenvolvendo atividades pesqueiras e agrícolas.
Durante a II Grande Guerra Mundial, integrou as fileiras do Exército Nacional para a defesa do
litoral brasileiro aquartelando-se em Imbituba.
Após a Guerra e, agora casado com Maria Lima Paz, Matias vem residir em Criciúma em busca de
novos horizontes para o seu projeto de vida.
Fixou residência no Bairro São Cristóvão de onde só sairia para a sepultura. Estabeleceu-se como
comerciante e, no exercício dessa atividade deixou emergir a sua vocação de líder. Ajudou a fundar
a Associação Amigos do Bairro São Cristóvão, primeira entidade do gênero de todo o país, assim
como a Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais de Criciúma. Membro efetivo do Círculo
Operário Criciumense e da Liga Católica Jesus, Maria e José. A capela da igreja católica
construída no Bairro teve em Matias Ricardo Paz o seu incentivador primeiro. O colégio Estadual
São Cristóvão nasceu, praticamente, na sala de sua casa onde inúmeras reuniões nessa direção
foram realizadas.
Em 1962 – e até 1966 – foi vereador à Câmara Municipal de Criciúma, pelo velho Partido Social
Democrático, o PSD. Mas trafegava com desenvoltura nos demais partidos, resultado de sua
seriedade, simplicidade e simpatia irradiadas diuturnamente por onde passava.
Uma via pública de nossa cidade, no Jardim Maristela, foi batizada com o seu honrado nome e,
quando da fixação da placa indicativa, seu filho, César Paz, teve a oportunidade de afirmar:
“Assim, forjado no ideal maior, dedicou os melhores dias de sua vida para o desenvolvimento da
nossa comunidade e progresso da nossa querida Criciúma, despindo-se da busca de qualquer
satisfação pessoal ou vã glória de manchetes da imprensa, recolhendo-se à humildade que dotou
como lema e como bandeira de toda a sua vida. Este o perfil do líder comunitário. Esta a postura do
homem público, consciente e responsável, merecedor de nossa homenagem, nossa gratidão, nosso
respeito.”
Relembrar Matias Ricardo Paz faz bem. Ele faz falta à Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 05 de junho – segunda-feira
139
MIGUEL NAPOLI - I
Os comentários que farei nesta semana, são calcados no livro História de Nova Veneza, dos primos
Zulmar e Newton Bortolotto, um dos mais completos elucidários do pedaço de história de nossa
gente, ou, mais propriamente, desse simpático município de Nova Veneza que, até os anos 60, fazia
parte do território da nossa Criciúma.
Falemos de Miguel Napoli, italiano de Palermo, capital da ilha de Sicília, onde nasceu em 13 de
abril de 1854, portanto há 146 anos. Contando vinte anos de idade já era nomeado subtenente da
infantaria italiana, através de ato do imperial assinado por sua majestade o Rei Vittorio Emanuele
II. Fez os cursos de ciências naturais, matemática, topografia e desenho para construções e
ornamentos. Em 1878 recebia o certificado que o considerava arquiteto e agrimensor.
Com essa capacitação, veio ao Brasil, em 1890, para inteirar-se da política de colonização, a
serviço da empresa Ângelo Fiorita & Cia – que seria sucedida pela Companhia Metropolitana.
Resolveu-se, naquele instante, que Nova Veneza seria colonizada. A empresa Ângelo Fiorita aceitou
os termos de contrato que o Brasil lhe propusera e a colonização do burgo de Nova Veneza seria
implantada a partir de agora. Esse contrato contemplava cláusulas extraídas da Lei Glicério – que
dispunha sobre a colonização de pedaços do Brasil – e o núcleo de Nova Veneza foi o único que deu
certo em todo o território nacional. O sucesso foi, sempre, creditado à capacidade de trabalho e à
inteligência de Miguel Napoli, de quem estamos a nos ocupar no dia de hoje e nos dias que se
seguem.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
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Publicada dia 11 de abril – terça-feira
140
MIGUEL NAPOLI - II
Continuemos a falar de Miguel Napoli, o italiano da Sicília que tem seu nome diretamente vinculado
à colonização de Nova Veneza e, por extensão, de Criciúma.
Miguel Napoli, contando 44 anos de idade, casou-se com Otilia Saüer, de ascendência alemã,
nascida em território russo Era uma jovem de 24 anos e a cerimônia se deu na casa de Domenico
Fontanella, no povoado de Nova Veneza. Dessa união nasceria a prole de seis filhos, todos no velho
distrito: Luiz, Filipo, Arnaldo, Luiza, Leônidas e Manfredo, cujos descendentes continuam,
enriquecendo a população de nossa região.
Alem de colonizar, Miguel Napoli foi, também, jornalista e escritor tendo deixado inúmeros artigos
publicados em diversos jornais do país. Foi amigo de vários governadores, dentre os quais Hercílio
Luz e Lauro Müller. Este, inclusive, quando ministro do exterior, levou Miguel Napoli para ser o seu
secretário particular.
Em 1898, Napoli fundou, ao norte da colônia de Nova Veneza, um burgo agrícola que denominou de
Trinácria, em homenagem à sua Sicília. Todavia, esse burgo deu em nada haja vista seríssimos
problemas na aquisição das glebas de terra para tal assentamento.
Miguel Napoli, o criado de Nova Veneza, faleceu desgostoso – por causa da Trinácria – em 5 de
setembro de 1926, no ano da emancipação de Criciúma. Contava 72 anos de idade e o passamento
se deu na capital federal, cidade do Rio de Janeiro, onde seus restos estão sepultados.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
Para o dia 13 de abril – quinta-feira
Como ontem e antes de ontem, reporto-me – também hoje – ao criador de Nova Veneza, o siciliano
Miguel Napoli.
Esse italiano era uma figura polêmica. Amado e temido. Muito trabalhador, conseguiu plantar Nova
Veneza nomeio da floresta obedecendo a linhas imaginárias de um mapa assentador de um burgo
colonial. Por isso era extremamente admirado. Nas eleições para a legislatura de 1901/1903,
candidatou-se a deputado ao congresso de Santa Catarina, nossa então Assembléia Legislativa, pelo
Partido Republicano. Foi um dos menos votados daquele pleito: apenas 84 votos enquanto o mais
votado, cel. José Maurício dos Santos, amealhava 6.680 sufrágios. Isso demonstra que Miguel
Napoli era trabalhador, sim, mas nada popular.
Amigo do governador Hercílio Luz, recebeu desse governante a concessão para a construção da
estrada da serra em São Bento Alto, além de duas visitas do mais alto dignitário catarinense à sua
Colônia. Hercílio Luz o admirava às sobras, mas o seu sucessor, Felipe Schmidt, nem lhe
cumprimentava e acabou revogando aquela transação imobiliária para o assentamento do burgo
Trinácria, sepultando de vez o maior sonho daquele grande colonizador.
A partir de 1894, a Cia. Metropolitana começou a deixar de lado os negócios de colonização e a
enveredar pelos da extração do carvão mineral e teve seu nome trocado para Companhia
Carbonífera Metropolitana, denominação que sustenta até os dias atuais. Em 1896 o governo
federal suspendeu o contrato para a introdução de imigrantes e indenizou a Metropolitana com a
quantia de oito milhões e quinhentos mil réis.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
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Publicada dia 12 de abril – quarta-feira
141
MIGUEL NAPOLI - III
Embora a Metropolitana tivesse abandonado a política colonizadora, em 1896, Miguel Napoli,
nosso personagem desta semana, continuou a dedicar seu tempo aos colonizadores para cá trazidos
por sua indicação para a formação do núcleo de Nova Veneza. Agora, todavia, cuidava de outros
afazeres, também... Todavia teve a infelicidade de ver fracassar, uma a uma, todas as iniciativas que
punha em prática. Foi assim quando tentou implantar as salinas em Itapirubá; quando tentou
assentar imigrantes no burgo Trinácria; quando tentou a vida pública concorrendo a deputado
estadual; quando tentou fundar o Jornal La Colônia. Mas, isso tudo não conta porque sua grande
obra foi, sem dúvida, implantar Nova Veneza: esta sim dependeu dele um tudo.
Em 1899 chegava a Florianópolis o novo diretor da Companhia Metropolitana em Santa Catarina,
Sr. Nicolau Paranhos Pederneiras. Ele aqui já estivera em vezes anteriores, mas, agora, trouxera a
mulher, os quatro filhos e a empregada. Veio para ficar. Essa decisão da Metropolitana era o aviso
ao Napoli: seus dias estavam contados. E não deu outra: em setembro de 1899, Miguel Napoli era
dispensado e, em seu lugar, Pederneiras designava o senhor Alfredo Pessi.
Nessa época, o sul catarinense contava com quatro municípios: Imaruí, Laguna, Tubarão e
Araranguá. Em 1900, com a emancipação de Urussanga, foi residir nessa cidade.
E presidiu o primeiro diretório municipal do Partido Republicano, ao lado de Jacinto de Brida,
Antonio Ferrari, Cristoforo Pescador e Sebastião Bez Fontana. Foi nesse ano que tentou ser
deputado e somou fragorosa derrota.
Em 1902 foi morar em Orleans. Ali viveria muito pouco porque constantemente viajava ao Rio de
Janeiro. Sua ocupação, agora, era escrever para jornais, sob o pseudônimo de Sansoneto.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
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Publicada dia 14 de abril – sexta-feira
142
NICOLAU DESTRI NAPOLEÃO
A exemplo de ontem, hoje volto a falar de professor.
Meu personagem é florianopolitano, onde nasceu a 10 de setembro de 1918. As primeiras letras as
conheceu no centenário Colégio Coração de Jesus. Quis ser padre e ingressou no Seminário Menor
de Azambuja, em Brusque. Desistiu e voltou à capital indo estudar no Dias Velho, hoje Instituto
Estadual de Educação. Em 1936 recebia o título de professor e, já em 1937, era designado para
lecionar no Grupo Escolar Professor Lapagesse. Transferiu residência para cá e aqui conheceria
sua amada, Libera, filha de um próspero empresário, um misto de comerciante e industrial. Com ela
contrairia núpcias e destas nasceria uma única filha: Nice Maria.
Em 1940 foi promovido a diretor de Grupo e lotado no Grupo Escolar Olavo Bilac, de Pirabeiraba,
Joinville. A pedido seria transferido para o Almirante Tamandaré, de Guaramirim e ali
permaneceria até 1943. Desse ano até 1944, trabalharia como diretor do Castro Alves, da vizinha
Araranguá. Em seguida seria trazido para Criciúma indo dirigir o Lapagesse, primeira casa de seu
trabalho profissional.
Em 1950 participou de um concurso com outras seis pessoas e, conquistando o primeiro lugar,
assumiu o cargo de Inspetor Escolar indo trabalhar nas Inspetorias de Urussanga, depois São
Joaquim, mais tarde Araranguá e, finalmente, em Criciúma.
Em 1950 seria promovido a Delegado Regional de Ensino, lotado na delegacia de Criciúma, onde
trabalhou até 1961. Nesse ano foi colocado em disponibilidade, durante a qual assumiu a cadeira
de língua portuguesa da Escola Técnica General Osvaldo Pinto da Veiga, da SATC. Aposentou-se
em 1978.
Na política, era filiado à UDN e, mais tarde, à ARENA. Da primeira foi presidente. Da segunda, um
dos principais líderes. Disputou eleições e foi eleito vereador em três legislaturas. Estou me
reportando ao Senhor Nicolau Destri Napoleão uma das maiores expressões do magistério e da vida
pública de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 24 de maio – quarta-feira
143
NOMES COMPARADOS
A imprensa sempre dedicou algumas linhas ou comentários a respeito das pessoas que fazem o diaa-dia da cidade. Sempre foi assim. Chegou-me às mãos, num dia desses, uma pérola produzida em
1958 que julguei oportuna para ser trazida ao ar a fim de que, lendo-a, lembremos e relembremos
ilustres personagens da Criciúma de ontem. Confiram a criatividade produzida em cima dos nomes
de algumas pessoas:
Uso Café Castro, os irmãos, Borges; Uso cavanhaque, o Waldemar, Bigode; chupo laranja, o Ézio,
Lima; Eu te apalpo, o Nelson, Te(i)xeira; eu uso cinto, o Lindolfo, Corrêa; Tenho passo curto, o
Antenor, Longo; eu apito, o Adolfo, Silva; eu sou napolitano, o Pedro, Milanez; se eu não fizesse, o
Izauro, Faria; eu corto pedra, o Adamastor Rocha; eu vim do Cairo, o Hermílio, Delavi; eu sou da
plebe, o Mário, dos Reis; eu tenho teco-teco, o Faustino, Zappelini; eu sou tio, o Caetano, Sobrinho;
eu sou irmão, o Zé, Parente; eu tenho cara de mau, o Otacílio, de Bem; eu compro caminhão, o
Jacy, Fretta; eu sou a treva, o Mário, Luz; eu sou ovelha, o Mário, Carneiro; eu marco os anos, o
Tolentino, Dias; eu adoro os campos, o Waldemar Matos;eu cultivo lírios, o Agostinho, Flores; eu
tenho filha, o Dr. Lourenço, Filho; eu planto pinheiro, o Milton, Carvalho; eu tenho casa pequena,
o Modesto, Casagrande; eu uso boina, o Manique, Barreto; eu possuo florestas,o Jairo, Campos; eu
só uso pudim Royal, o Venâncio, Medeiros; eu uso martelo, o Valdemar, Machado; eu sou goleiro, o
Aluízio, Back; eu sou caseiro, o Primo, Silvestre; eu digo some,o David Conti; eu tenho medo dos
diabos, o Sebastião Toledo, dos Santos; eu sou do mar, o Rubens, Costa; eu sou brasileiro, o
Luiz,Português;eu uso inseticida, o Wilson, Barata; eu sou marisqueiro, o Artur, Pescador; eu
possuo faca, o Atílio, Bainha; o avião levanta vôo,o Cyro, Bacha; eu faço pouso e o Antonio, Bate
Asa; eu sou honesto, o Argenário, Virtuoso; eu sou rubro-negro, o Ruy, Esmeraldino; eu me trajo a
rigor, o Germano, Amorim; eu uso franja, o Osny, Kok; eu fujo do capeta,o Jacó,da Cruz; eu sou
católico, o Nereu, Batista.
E vai em frente, fazendo essa brincadeira sadia com os nomes da cidade, tantos deles já falecidos.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicado dia 27 de abril – quinta-feira
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OCTÁVIA BÚRIGO GAIDZINSKI
Hoje falo de mais uma mulher. Uma mulher extraordinária que foi incorporada ao patrimônio
criciumense, eis que nascida na vizinha Cocal do Sul.
Dedico-lhe este espaço no dia de hoje eis que, nesta data, ela presenteia nossa cidade com mais um
trabalho de sua lavra.
Reporto-me a Octávia Búrigo Gaidzinski, quarto dos seis rebentos de Gilio Búrigo e Ida Possamai
Búrigo. Casada com Maximiliano Gaidzinski de cuja união nasceram Jarvis, Edson, Edna, Delano,
Vicente e Eliane. Dede menina nunca se conformou em ser mandada. Quis, sempre, participar –
pelo menos. Assim, era quem determinava as coisas em sua velha casa lá no interior cocalense.
Ao lado de Milo, nome carinhoso com que se comunicava com seu marido, enfrentou os desafios da
empreitada de transformar a massa falida da velha Cerâmica Cocal numa cerâmica que, pelo
menos, não ocasionasse prejuízos. Com sua ajuda, aquele empreendimento desacreditado seria
transformado num dos maiores impérios cerâmicos do mundo. De repente, falta-lhe o marido que,
acometido de derrame, dependia de terceiros para continuar vivendo. Nesse momento, tomou o
timão empresarial e ditou o norte das empresas. Com o falecimento de Maximiliano, já costumada
com os misteres empresariais, não teve problemas em conduzir o processo. Organizou seu tempo e
encontrou espaço para, sem abandonar o papel de comandante das empresas e da família, aprender
pintura, para freqüentar a universidade alternativa, para aprimorar os conhecimentos literários, e
para escrever. Membro da Academia Criciumense de Letras escreveu Germes de Sonho e Nasci
antes dos Pássaros, duas obras de poemas que se somam a Poemas de Natal, que as empresas
Eliane brindaram ao seu universo num natal passado e Poemas de Oito Faces, obra lançada pelo
CALP com trabalhos de vários literatos. Hoje à noite conheceremos mais um trabalho seu: Entre o
Som e o Silêncio, novamente uma coletânea de poemas. A soma dessas obras literárias faz de
Octávia Búrigo Gaidzinski uma benemérita cidadã de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 26 de maio – sexta-feira
145
OPHELIO BENETTON
Hoje interrompo a série de crônicas fiobinas que retratam um pedacinho da vida de Fiobo
Minatto, o mais festejado personagem do nosso folclore, para falar de um parente seu que,
exatamente no dia de hoje, troca idade. E que idade: 80 anos.
Tendo vivido estas oito décadas, ele faz por merecer estas linhas especialmente pela vida
que viveu, está vivendo e ainda haverá de viver.
Neto de imigrantes italianos foi educado segundo os costumes lá dos anos 20 deste século
que caminha para o fim...
Jovem, aprontou todas que pudessem ser contabilizadas a um rapaz de sua época, se
considerarmos que a cidade oferecia quase nada de lazer para a juventude.
Trabalhou numa fábrica de bebidas, de seu pai. Aí se revelou um bom profissional de ramo
e o mais sarcástico dos aprontadores. Se vivos, o Amélio Cechinel e o "Maneca Já Te
Pego", confirmariam. É que estes dois, todos os dias, invariavelmente, visitavam a fábrica
para tomar um traguinho.
Certo dia, vendo que lá vinha o Amélio, ele fez um preparado com vários produtos que são
diluídos em grandes porções de bebida e deixou o copo com essa “farmácia” sobre o
balcãozinho. O Amélio entrou e já perguntando, gaguejando como ele só: que bebida é
essa primo? – “Uma bebida inglesa melhor que Uisque, respondeu-lhe.” Amélio não teve
dúvidas: esvaziou o copo na sua boca. Imediatamente sentiu a reação: as tripas queriam
enozar... Quase morreu.
O Maneca Já Te Pego além de gostar de um bom trago, usava um chapéu de palha que
nunca tirava da cabeça. Naquele dia, chovia. E lá vem o Maneca.
Para este, o nosso personagem reservou uma colher de um pigmento corante usado para
dar cor às bebidas. O normal seria uma grama desse produto para cada 500 litros de
líquido.
O homem entrou na fábrica e sobre seu chapéu foi derramada uma colher desse corante.
Tudo bem, até a hora em que o Maneca Já Te Pego tomou a rua para ir ao seu destino. A
chuva que caía sobre seu chapéu foi diluindo o corante e este esparramando sobre seu
corpo um líquido encarnado que deixou o homem vermelho dos pés à cabeça...
De outra feita, o seu caminhão Chevrolet que atendia pelo apelido de Carmelito, negou
fogo, isto é, não quis pegar. Aí o nosso personagem tomou uma atitude singular no mundo:
aplicou uma surra de manivela no velho veículo amassando-lhe todo o capô...
Durante a II Guerra Mundial, apresentou-se como voluntário e foi servir as Forças
Armadas lá no Arquipélago de Fernando de Noronha, para onde retornou a poucos dias,
em companhia de sua mulher, para rever o palco de um pedaço de sua vida longe de casa.
No Rio de Janeiro, ainda solteiro, foi motorista de táxi.
Casado há quase cinqüenta anos com a ex-professora Inês Daminelli, estou falando de
Ophélio Beneton, que a gente escreve com PH porque ele é mesmo PHd. Minerador
146
aposentado, blasfemador, amante da família é um exemplo de vida para tantos que o
conhecem e, especialmente, para os que lhe sucedem dentre os quais me incluo na
condição de genro.
Nossa história possui pedaços que só foram escritos assim por causa do Ophélio Beneton
que, no dia de hoje, ao completar 80 anos de vida, recebe a homenagem deste humilde
escriba e de toda a Rádio Eldorado.
Amanhã retorno com a série do Fiobo Minatto, de quem o Ophélio é sobrinho.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade.
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada 21 de fevereiro – segunda-feira
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PROCÓPIO FERREIRA
Um dos mais extraordinários atores do teatro brasileiro, sem qualquer sombra de dúvidas, foi
Procópio Ferreira. Nossa cidade teve a oportunidade de festejá-lo, pelo menos em duas
oportunidades: em 1959 e em 1971. Na primeira, esteve no palco do Cine Milanez, que lhe
homenageou com a afixação de uma placa de bronze numa das paredes do seu hall de entrada,
certificando sua passagem por aquela casa de espetáculos. Na segunda, a apresentação foi no Cine
Ópera que, naquela noite, lotou todas as suas poltronas para assistir o velho ator desempenhar seu
papel. Aproveitando a passagem do artista maior, o vereador Ney de Aragão Paz, de saudosa
memória, apresentou um projeto de resolução pelo qual o município outorgaria a Procópio Ferreira
o título honorífico de Cidadão Honorário de Criciúma. A Câmara – num dos processos mais velozes
havidos em nosso parlamento municipal. Proposta feita, proposta aceita. No dia seguinte – era uma
quarta-feira – Procópio chegava à cidade, se hospedaria no Hotel Criciúma do Abelardo Scheidt,
ali na Praça Nereu e, às 19h00minh, era conduzido à Câmara Municipal – que se localizava no
primeiro andar da Galeria Benjamin Bristot – e ali receberia o certificado do título honorífico de
nosso cidadão honorário.
É verdade que, especialmente para Criciúma, Procópio Ferreira muito pouco fizera, mas,
indiretamente, no sacerdócio do exercício de sua atividade profissional, espargindo cultura por
todos os quadrantes do Brasil, o pai da Bibi também contribuíra com a formação de nossa gente.
Daí as razões da proposta do Dr. Ney de Aragão Paz e da aprovação unânime dos vereadores
daquela época.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 10 de maio – quarta-feira
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VALDEMIRA IZABEL DE SOUZA
Hoje vou falar de uma professora. Diria até: uma emérita educadora. Educou no pó de giz da
escola e no trabalho diuturno a que são chamados os que querem vencer.
Falo de Dona Valdemira Izabel de Souza, nascida na Imaruí do Bom Senhor dos Passos, no dia 20
de agosto de 1929. Com os pais viria para a nossa Região eis que as condições de trabalho em
Criciúma, com o carvão de tantas mineradoras e, em Siderópolis, com a Companhia Siderúrgica
Nacional, as possibilidades de emprego eram bem maiores. Estudou, com muito sacrifício e formouse professora. Conheceu José de Souza que viria ser seu marido e com o qual estabeleceria uma
descendência de sete filhos: Noeli, Nelsi, Rodinei, Begair, Rogério, Jucenir e Maria Isabel. Em
1956, vieram morar no Pinheirinho, fixando residência muito próxima do local onde seria
construída a Escola Técnica da SATC.
Foi lecionar no recém instalado Grupo Escolar Paulo Gusse sob a direção da professora Letícia
Milanez. Todavia, os vencimentos do magistério eram poucos e as necessidades da família,
enormes. O marido pouco contribuía, viciado que era em jogos e bebida. Ele viria a falecer em
1963.
Para amealhar recursos para o sustento da prole, dona Valdemira não se intimidou e, cangando um
burrico, estabeleceu um serviço precário de frete transportando objetos em todo o perímetro urbano
da cidade. Mas isto era pouco: foi costurar sacas de arroz, daquele descascador que havia ali onde
hoje temos a Transportadora Manique. Mas era pouco: instalou uma pensão que abrigava os
trabalhadores da Socimbra, uma empreiteira que aqui se estabelecera para abrir o ramal
ferroviário da Theresa Christina até Siderópolis. Mas era pouco: levantava de madrugada, fritava
pastéis e assava roscas de polvilho, num forno de rua, cujos produtos eram vendidos de casa em
casa da vizinhança pelos seus filhos.
Dona Valdemira foi diretora do Grupo Escolar Marcilio Dias San Thiago, da Cidade Mineira e
lecionou, ainda, no Padre Ludovico Cóccolo, estabelecimento no qual se aposentou. Aposentada,
sim, mas não inativa: foi a primeira cozinheira do recém instalado refeitório dos servidores
públicos municipais instalado junto ao pátio de garagens e oficinas da municipalidade.
Só parou, porque uma trombose lhe condenou a uma cadeira de rodas. Ainda assim, ali, quase
imóvel, mas a tudo atenta, continua ensinando. Agora, aos seus netos aos quais transmite os
conceitos básicos da moral e da ética e o devotamento ao trabalho condição sine qua da
sobrevivência.
Eu gosto de falar de exemplos como este da nossa Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 23 de maio – terça-feira
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VITÓRIO E VIENIR
Aquele oito de dezembro foi singular. E triste. Muito triste.
Como ocorre nos dias atuais, também ali atrás os criciumenses já mantinham o costume de passar
finais de semana e feriados no Balneário Rincão.
Pois bem, naquele oito de dezembro, feriado religioso, significativa parcela da população foi para a
Praia do Rincão. Incluam-se aí, o comerciante Vitório Serafim e sua família (a mulher, a filha e o
filho).
Vitório Serafim era comerciante da Rua Henrique Lage. Com seu irmão, Antoninho, dividia a
propriedade da Casa Globo, um dos mais prósperos estabelecimentos comerciais da época.
Localizava-se um pouco antes da Sociedade Agrícola Ltda. sucedida pela União Comercial S.A.,
que acaba de cerrar suas portas e destruir seu edifício.
Seu Vitório era um cidadão de postura, elevado conceito moral, de fina educação, exemplar marido
e extremoso pai. Contava 45 anos de idade.
Naquela manhã de oito de dezembro, como todos os que se encontravam na Praia, seu Vitório, dona
Vitalina – sua mulher, Maria Vienir – sua filha e Vilney, seu filho, foram ao mar. E eis que uma
onda traiçoeira leva Maria Vienir. Não adiantaram seus esforços para desprender-se da força
daquele vagalhão e até mesmo sem poder soltar gritos de socorro, Maria Vienir sucumbia. O pai,
seu Vitório, vendo a filha sendo tragada pelo mar foi ao seu encontro para socorrê-la. Um
redemoinho – no qual se contorcia sua filha – acabou levando-o também mar adentro e ambos
acabaram por falecer, afogados.
A população praiana concentrou-se naquele pedaço de praia, mais ou menos à frente do tradicional
salva-vidas e, por todos os meios, todos se jogaram mar adentro na busca dos corpos que,
finalmente, foram resgatados.
Presentes, a esposa e o filho menor a tudo assistiram.
Vitório Serafim e sua filha Maria Vienir, esta com 17 anos de idade, mortos, comoveram a cidade.
Pararam a cidade. Fizeram a cidade chorar.
Muito conhecidos e relacionados com a população criciumense, ele na condição de comerciante, ela
como estudante concluinte do curso secundário na Escola Normal Madre Teresa Michel, Vitório
Serafim e Maria Vienir foram pranteados pela unanimidade de nossa gente que, no dia 9 de
dezembro de 1959, às 11 horas, apinhou-se no cemitério municipal para o sepultamento precedido
por concorrida missa de corpos presentes na então matriz São José, sob a presidência do vigário
Padre Estanislau Ciseski.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicado dia 28 de abril – sexta-feira
150
ZELINDO TRENTO
Hoje falo de um empresário que, faz muito tempo, muito tem contribuído para o desenvolvimento de
nossa cidade e de nossa região. Filho de Pedro Trento e Joana Fontanella Trento nasceu em 21 de
maio de 1924, em Rio Carvão, Urussanga, onde viveu até seus 21 anos. Falo de Zelindo Trento.
Único filho homem – teve mais quatro irmãs – trabalhou na serraria e na marcenaria do pai e, com
apenas 15 anos, ganhou (de seu pai) um automóvel Ford, ano 1934, se transformando no motorista
da família.
Em 1944 foi para Siderópolis trabalhar na Companhia Siderúrgica Nacional – CSN. Depois foi
consertar máquinas de costura e relógios. Montou uma locação de bicicletas.
Diversificou os negócios: passou a vender também materiais de construção, peças de automóveis e
uma linha completa de parafusos. Em dezembro de 1948 casou com Begair Delorenzi, a Bega com a
qual constituiu a família composta pelos filhos Edson, Edna, Everton e Júlio César. Em 1950, com o
incentivo de Arlindo Cesa, criou uma linha de ônibus entre Siderópolis e Urussanga, quando
Siderópolis era ainda distrito de Urussanga. Dia 13 de junho, data de Santo Antônio, foi feita a
primeira viagem do ônibus da sociedade chamada Cesa, Trento Cia Ltda. A viagem inaugural foi
feita entre Siderópolis e Rio Caeté para a festa de Santo Antônio, por isso a empresa foi batizada de
Empresa Santo Antônio Ltda. Ainda naquele ano adquiriu a Transportes Coletivos Jugasa e tomou o
nome de Zelindo Trento & Cia – ZTL. Em dezembro de 1966 comprou a Transportes Coletivos
Capivari Ltda, em Tubarão. Em 1985 a São Bonifácio e a Braçonortense que faz a linha São
Bonifácio e Florianópolis. Todas as terças-feiras, no período da manhã, faz reunião de trabalho em
sua casa com seus filhos. Nela são tomadas todas as decisões que envolvem as empresas. Deve-se
acrescentar o seu veio político. Com a redemocratização do Brasil, em 1946, filiou-se ao Partido
Social Democrático – PSD – agremiação política adversária da esposada por seu pai, a UDN –
União Democrática Nacional. No pleito daquele ano era eleito vereador à Câmara Municipal de
Urussanga como representante dos habitantes de Siderópolis, distrito daquele município. Nunca
disputou com seu pai. Pelo contrário: através dele sempre contou com o apoio dos udenistas... Em
1965, quando os partidos políticos foram extintos, filiou-se à Aliança Renovadora Nacional –
ARENA – e, por essa agremiação, seria eleito Prefeito Municipal de Siderópolis governando os
sideropolitanos de 1976 a 1982.
Na noite de hoje, Zelindo Trento reúne três centenas de amigos para comemorar o jubileu áureo de
sua ZTL – Zelindo Trento & Cia. Ltda., uma empresa que muito tem contribuído para o
desenvolvimento da Região e, de modo especial, de Criciúma, este orgulho de cidade!
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Publicada dia 13 de junho – terça-feira
151
ZELY CYRINO
Hoje, busco nas linhas de Castro de Alencar, pseudônimo que escondia a pena brilhante de
Sebastião Humberto Pieri, publicadas em junho de 1958, a razão da minha crônica. Falo de Zely
Cirino, esposa de Artur Albino de Almeida Cyrino, diretor comercial da Carbonífera Metropolitana
a qual, no dia 26 de abril daquele ano, falecia lá no interior de Minas Gerais. Moravam aqui e aqui
realizaram o seu projeto familiar de vida. Ela fora uma mulher extremamente religiosa, vivo
exemplo de caridade cristã espargindo o bem por todos os recantos do nosso município nos longos
anos em que viveu entre nós. Raras foram as instituições de caridade ou religiosas que deixaram de
ser aquinhoadas pela mão benéfica daquela ilustre dama. Dentre as obras de caridade patrocinadas
por Dona Zely destaca-se a capela do Rio Maina Alto junto às minas da Carbonífera Metropolitana.
Sem bem tenha sido uma construção financiada por essa carbonífera, sua realização é devida,
quase que exclusivamente, aos seus esforços e persistência da referida senhora que não descansou
enquanto não viu sua iniciativa concretizada. Nossa igreja matriz, as diversas capelas da paróquia,
o colégio das Irmãs de Forquilhinha, o Hospital São José e muitas outras obras assistenciais e de
ensino sempre mereceram a atenção e o auxílio de dona Zely.
Nosso escritor Castro de Alencar assevera, contudo que “quando de sua morte, porém, todos
responderam com o silêncio, com o frio e gélido silêncio do esquecimento”. E complementa:
“Infeliz e cega humanidade que apenas sabe seguir a filosofia do interesse! Olhos fitos no princípio
do “do ut des” – dôo para que me retribuas – segue ela avante à espera de novos benefícios
demonstrando reconhecimento somente quando dele pode auferir novos lucros. Depois da morte, o
esquecimento, o olvido absoluto é o que resta”.
Os tantos criciumenses que me ouvem e que conheceram dona Zely Cyrino têm ainda presente o
quanto de colaboração e doação pessoal aquela senhora despendeu a favor das obras sociais e da
Criciúma dos anos 40 e 50.
Eu gosto de falar de todos os tempos de Criciúma, este orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 18 de abril – terça-feira
152
ZULEIMA BÚRIGO GUGLIELMI
Ali na Estação Cocal, uma das mais prósperas localidades do início deste século, vivia um italiano
muito bem quisto por todos. Além de muito capaz, era uma das pessoas mais abonadas da região.
Trata-se de Victorio Búrigo, marido de Amália Damiani Búrigo. Esse casal teve três filhos: Zuleima
e os gêmeos Jaime e Agenor. Hoje vou falar de Zuleima, nascida em 26 de março de 1925, que ali
estudou as lições da velha cartilha alfabetizadora e, em seguida, foi para o internato do Colégio São
José, em Tubarão, onde completou o ensino ginasial. Transferida para o Colégio Sagrado Coração
de Jesus, em Florianópolis, ali receberia o título de professora normalista, no ano de 1944.
Dois anos depois, contraia núpcias com Antonio Guglielmi Sobrinho, o conhecido Nico, homem
forte da política local e regional que, à época, era um comerciante e cerealista.
Dona Zuleima, na condição de professora, lecionou, inicialmente, no Grupo Escolar Princesa
Isabel, de Morro da Fumaça, aonde residia. Foi residir na localidade de Esperança, interior de
Içara, mas continuou ensinando aos jovens de Morro da Fumaça. Mais tarde a família vem residir
em Criciúma e, aqui, dona Zuleima vai lecionar no Colégio São Bento, no Madre Teresa Michel, no
Lapagesse e no Heriberto Hülse.
Exímia professora jamais faltou a um dia sequer dos compromissos do magistério. Esses
compromissos preenchiam praticamente todo o seu dia, todavia, sempre encontrou espaço para
outras atividades comunitárias e associativas. Amante da música responsabilizava-se pelos acordes
do órgão do Coral da Paróquia São Roque, de Morro da Fumaça, quando ali residente. Fez o
mesmo, nas matrizes de Içara e de Criciúma. Na daqui, era também catequista.
Membro efetivo do Clube da Lady, uma instituição de mulheres de Criciúma instituída para ajudar
famílias necessitadas. Ajudou a construir o Asilo São Vicente de Paula, na qualidade de membro da
comissão pró sua instalação. Zuleima gostava do canto coral, ajudou a fundar e foi coralista da
nossa fantástica Associação Coral de Criciúma.
Da sua união com Nico Guglielmi, nasceram os filhos Antonio José – o Tolé -, Maria Aparecida,
Neusa Carmen e Luis Fernando.
Dona Zuleima Búrigo Guglielmi faleceu dia 8 de maio de 1970 e seu nome batizou um dos mais
populosos bairros de nossa cidade: a Vila Zuleima.
Dona Zuleima deixou saudades para toda a população que ajudou a educar: a de Criciúma, este
orgulho de cidade!
ARCHIMEDES NASPOLINI FILHO – CRICIÚMA ORGULHO DE CIDADE, II - 2000
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Publicada dia 18 de agosto, sexta-feira
153
POST SCRIPTUM
154
Não me perdoaria se, em dois volumes de minha lavra, narrando biografias e fatos que marcaram a
história de nossa cidade, deixasse de mencionar meu pai. Não tivesse ele sido o agricultor, o
industrial, o político, o homem de religião que foi, ainda assim aqui teria de comparecer pela
família que constituiu. Os 16 filhos que nasceram de sua união com a mãe Eleonora, bastariam para
afirmar que muito contribuiu para a formação da “raça criciumense”.
Registro, então, um breve relato do perfil biográfico de meu pai
Archimedes Naspolini
nascido em 28 de janeiro de 1899 em Cocal do Sul, penúltimo dos cinco filhos de Stefano Naspolini
e Giovanna Scott Naspolini. Órfão do pai aos cinco anos foi educado por sua mãe e pelo irmão mais
velho, Fortunato Brasil – que contava 16 anos de idade. Trabalhou na lavoura até ir servir ao
Exército Brasileiro, na capital do Paraná, Curitiba, no qual aprendeu a ler e a escrever. Depois de
retornar a Cocal, a 1º de março de 1924 casava com Eleonora Búrigo. Herdeiro do pai recebeu a
colônia nº 15, da Linha Ex Patrimônio, para onde levou sua mulher. Trabalhou com Joaquim Dal
Pont, na Mina do Toco. Começou sua vida profissional (1927?) ao arrendar a serraria de madeira,
tipo vertical, que funcionava com força hidráulica e era de propriedade do Sr. Felix De Luca e seus
filhos Alberto e Luca De Luca, atividade que funcionou, aproximadamente, vinte e dois anos. Seu
sonho, na realidade, era efetuar a compra do referido imóvel, fato este que veio a acontecer em
junho de 1949, pelo valor de CR$ 110.000,00 (cento e dez mil cruzeiros), que foram divididos assim:
50% de entrada e o restante em três pagamentos semestrais, com juros de 6% ao ano. No ato da
compra, foi adquirida uma gleba de terra com 33 hectares de área.
No ano de 1937, conseguiu grande façanha; fez considerável venda de madeiras de lei para a Cia.
Docas de Imbituba, com a finalidade de construir o Porto daquela cidade.
Em 1939 fundou a Sociedade Carbonífera Naspolini Ltda, que contava com os seguintes sócios:
Archimedes Naspolini, Antônio João Zanatta, Antônio Liberal De Luca, Pedro Dal Pont, Quintino
Dal Pont, Maria Pelegrin Zanette, Basílio Zilli, Francisco Martignago, Antônio Sartor, Sociedade
Agrícola Ltda - hoje União Comercial S.A, e outros. Permaneceu na gerência até 31 de janeiro de
1946.
Fundou a Sociedade Carbonífera Ex-Patrimônio Ltda, mais conhecida como Mina do Toco, no ano
de 1941, com os sócios que seguem: Sociedade Carbonífera Naspolini Ltda, Archimedes Naspolini,
Antônio João Zanatta, Fortunato Brasil Naspolini, Antônio Liberal De Luca, Ítalo Naspolini,
Arcângelo Sartor, e outros. Ali exerceu o cargo de Sócio Gerente até 31 de janeiro de 1946.
No mês de agosto de 1942, fundou a Sociedade Carbonífera Rio Branco Ltda, onde tinha como
sócios: Antônio João Zanatta, Mansueto Costa, Addo Caldas Faraco, Dr. José Tarquinio Balsini,
Leandro Martignago, Frederico Zanette, Gílio Zanette e irmãos. Também ocupou o cargo de Sócio
Gerente até 31 de janeiro de 1946.
A feliz história de quem queria ainda mais empreender no ramo carbonífero cessou em 31 de
janeiro de 1946, quando o governo federal encampou as carboníferas relacionadas, só efetivando o
pagamento no segundo semestre do ano de 1953, com desconto advocatício de 23,5%.
A partir do mês de fevereiro de 1946, passou a ser o empreiteiro Archimedes Naspolini, da
C.B.C.A., momento em que selou sociedade com os senhores Antônio João Zanatta, Antônio De
Luca, Mansueto Costa, José Passos da Mota e Fortunato Brasil Naspolini. Permanecem nesta
sociedade até o dia 23 de junho de 1955, quando mudou a razão social para Naspolini Filhos Cia
Ltda, conforme registro na Junta Comercial do Estado de Santa Catarina, sob o n.º 15.832, com os
seguintes acionistas: Archimedes Naspolini, Ascendino Naspolini, Egídio Naspolini, José Lauro
Naspolini, Alôncio Búrigo Naspolini, Leides Naspolini, Gílio Zanette, Antônio De Luca, Fortunato
155
Brasil Naspolini, Fiorento Pavan, Luiz Zanette I, permanecendo Sócio Gerente até 3 de março de
1965, quando faleceu.
Foi fundador da Sociedade Recreativa e Esportiva Naspolini, no dia 6 de janeiro de 1945, ocupando
a presidência por alguns anos.
Com muita força de vontade, construiu a estrada da Rua João Pessoa, no Morro do Bainha, até a
Soc. Carbonífera Naspolini Ltda., interligando-a a Soc. Carbonífera Ex-patrimônio Ltda., e, mais
tarde, à Soc. Carbonífera Rio Branco Ltda., mais conhecida pelo apelido de “Mina do Gílio”. Era
por esta estrada, que atualmente leva o nome de Rodovia Archimedes Naspolini, construída
braçalmente, que se transportava o carvão mineral para a estação férrea, que estava situada onde
se encontra, hoje, o Terminal Urbano no centro da cidade
Foi designado Inspetor de Quarteirão, durante vários anos, tempo em que procurou amenizar os
problemas da melhor maneira possível.
De 1946 a 1950, exerceu a vereança pelo partido PSD.
Tinha como esportes preferidos, a canastra, o futebol, a bocha. Detestava a briga de galo.
Gostava da agricultura e da pecuária. Possuía um cavalo mouro cujo apelido era “Trem”.
Comprou do Sr. Pedro Dal Pont, em 1937, a melhor junta de bois da redondeza, por exatos
630$000 (seiscentos e trinta mil réis), com a finalidade de arrastar madeiras do mato. Os nomes dos
bois eram “Salvino” e “Bonito”, verdadeiros tratores.
Em 1930, foi fundador da Sociedade Agrícola Ltda, sita à Rua Henrique Lage, 99, sendo o maior
cotista, com o montante de 1.124 cotas. Ocupou o cargo de Sócio Presidente por alguns anos; mais
tarde, a Sociedade passou a ser chamada de União Comercial S.A., como foi conhecida até
recentemente.
No ano de 1948, surgiu a Cerâmica Santa Catarina Ltda, da qual também foi acionista, vendendo
suas ações, mais tarde, ao Sr. Jorge Cechinel. Ainda no ramo da cerâmica, Archimedes Naspolini
foi acionista da Cerâmica Cocal Ltda, que foi à falência e hoje leva o nome de Cerâmica Eliane.
Um corretor da Cia. de Seguros Sul América, no ano de 1941, fez-lhe uma visita, oferecendo-lhe
seguro de vida, que seria pago durante 20 anos. Se permanecesse vivo após o vencimento, em 1961,
seria ressarcido de todo capital com seus juros respectivos. Porém, depois de vencido, o resgate não
foi pago, haja vista a apólice do seguro estar com o nome de Archimedes com “qu” e não com
“ch”.
Do seu casamento com Eleonora Búrigo Naspolini nasceriam 16 filhos, a saber: Ascendino, Egídio
José, José Lauro, Maria Laura, Alôncio, Leides, Maria Nely, Dorly, Maria Jandira, Olga, Antenor
Manoel, Archimedes Filho, Edeval, Elésio, Valter e Analdo Carlos.
No dia, 03 de março de 1965, quarta-feira de cinzas, estava no Clube que fundara, às 17h30min,
jogando canastra com os amigos e operários Osli Serafin Neto, Clementino Alano Teixeira,
Domingos Aristides Teixeira, Manoel Luiz De Bem Neto e Luiz Zanette I quando foi acometido de
um mau súbito. Contorcendo-se de dor conseguiu falar: “joguem vocês”. E morreu. De um colapso
cardíaco.
Estou convicto de que meu pai também fez muito por Criciúma, este orgulho de cidade!

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