Utilização de recursos didáticos facilitadores do processo ensino

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Utilização de recursos didáticos facilitadores do processo ensino
Utilização de recursos didáticos facilitadores do processo ensino
aprendizagem em Ciências e Biologia nas escolas públicas da cidade de
de Ilha Solteira/SP
Ângela Coletto Morales Escolano¹ (Univ. Estadual Paulista – UNESP ) [email protected]
Eliane de Melo Marques² (Univ. Estadual Paulista – UNESP) [email protected]
Rafaela Rodrigues de Brito² (Univ. Estadual Paulista – UNESP) [email protected]
Resumo:
As escolas públicas de Ensino Fundamental e Médio são criticadas por não oferecerem equipamentos
e ambientes adequados ao ensino de Ciências e Biologia, deste modo o presente trabalho tem por
objetivo verificar os recursos disponíveis nas escolas de Ensino Fundamental e Médio para o ensino
de Ciências e Biologia, contextualizando com a visão dos professores responsáveis por essas
disciplinas, dos coordenadores pedagógicos e dos diretores das escolas participantes. Os resultados
foram obtidos através de entrevistas semi-estruturadas e demonstram que segundo os professores
entrevistados, as escolas não oferecem todos os subsídios para prepararem suas aulas, e o pouco
disponibilizado, muitas vezes não é utilizado de forma adequada por não disporem do tempo
necessário para sua preparação ou ainda pela grande quantidade de alunos em sala tornando
impossível sua utilização.
Palavras chave: Recursos didáticos; Ensino público; Professores.
Use of educational resources that facilitate the teaching-learning
process in Science and Biology in public schools in the city of Ilha
Solteira/ SP
Abstract
Elementary and Secondary Education in Public Schools is criticized for not offering equipment and
environments suitable for teaching science and biology, so this study evaluated the educational
resources for elementary and high schools for teaching Science and Biology contextualizing the vision
of teachers responsible for these disciplines, educational coordinators and directors of the
participating schools. Results were obtained through semi-structured interview and evidence that
according to the interviewed teachers, schools do not offer all instruments to prepare their lessons,
and what is available is not used for lack of time to prepare the material or by the large number of
students in the classroom.
Key-words: Educational resources, public education, Teachers.
1 Introdução
As escolas públicas de Ensino Fundamental e Ensino Médio são criticadas por não
oferecerem equipamentos e ambientes adequados ao ensino de Ciências e Biologia, pois estas
disciplinas englobam assuntos que são mais facilmente compreendidos quando demonstrados,
seja por meio de experiências ou por meio de observação e análise, necessitando de materiais
específicos para tais atividades. Apenas 46% das escolas privadas e 20% das escolas públicas
brasileiras têm laboratório de ciência (INEP, Brasília, 2003). Segundo Cachapuz et al (2005),
a experimentação faz parte de um conjunto de aspectos relativos ao processo ensinoaprendizagem das ciências que alguns autores têm chamado de consenso construtivista na
educação em ciência, compreendendo ainda a aprendizagem de conceitos, a resolução de
problemas e a atitude em relação às ciências.
Erikson (1950/1971) observou que em todas as culturas as crianças passam por algum
tipo de processo de ensino, com tarefas socialmente aceitas e reconhecidas pela sociedade em
que estão inseridas. A educação formal, em nossa sociedade, inicia-se a partir da entrada da
criança na escola e sua sistemática exige do aluno a assimilação de conhecimentos e
comportamentos da cultura dominante, portanto, ser bem sucedida na escola é meta adaptativa
do ponto de vista psicossocial da criança (LINDAHL, 1988).
Em nossa cultura, a escola é de grande importância na formação do autoconhecimento
e da auto-estima da criança e do adolescente, podendo ser cerceadora das suas iniciativas ou
então estimuladora de um processo de crescimento individual (OLIVEIRA, 2000). A escola
além de transmitir conhecimentos sistematizados, também é importante para a formação
pessoal do indivíduo, representando um fator que promove o desenvolvimento adaptativo e
proteção contra as adversidades que ameaçam o desenvolvimento individual.
Veiga, Leite e Duarte (2005) salientam que:
A literatura aponta para quatro conjuntos de fatores que podem interferir no
processo de aprendizagem da criança. O primeiro tem que ver com as características
das unidades escolares: qualificação e competência técnica dos profissionais,
disponibilidade de infra-estrutura física e de material didático para as atividades
escolares, adaptação dos currículos aos diferentes contextos socioculturais da
clientela. O segundo conjunto leva em consideração as características de quem
recebe a escolarização. O terceiro decorre do tipo de relações estabelecidas entre
família e escola e o quarto refere-se ao perfil do professor.
No âmbito escolar, o professor, como principal mediador da aprendizagem e da
relação com os alunos, necessita de apoio ou suporte para desenvolver seu trabalho e deve
estar preparado para fornecer os conhecimentos necessários exigidos dentro de um conteúdo
acadêmico pré-estabelecido (ESCOLANO, 2004).
O papel reservado ao professor, após a reformulação do sistema educacional no país,
deveria ser o de "refletir sobre a própria prática, problematizando-a, distinguindo as suas
dificuldades, sugerindo hipóteses de solução, testando-as, procurando as razões subjacentes às
suas ações, observando a reação dos alunos, verificando como aprendem" (GARRIDO E
CARVALHO, 1999). Os professores precisam preocupar-se com a sua profissão, dirigindo-a,
estabelecendo normas e valores de acordo com a prática profissional necessária para atender
às demandas atuais do processo ensino-aprendizagem e da sociedade (NÓVOA, 1995).
Segundo Shulman (1987), citado por Longhini e Hartwig (2007), o professor deveria
ter para ensinar os seguintes conhecimentos: de Conteúdo; Pedagógico Geral; do Currículo;
Pedagógico do Conteúdo; do Aluno; do Contexto Educacional e dos Fins Educacionais.
Levando sempre em consideração a prática cotidiana por tratar-se de um trabalho rico e
complexo.
O professor de Ciências atualmente encontra muitos desafios, pois precisa acompanhar
os avanços tecnológicos e científicos presentes no cotidiano e torná-los acessíveis aos alunos,
necessitando de muito estudo e dedicação. Alves-Mazzotti (2007), porém destaca algumas
dificuldades para o exercício da profissão como: o acúmulo de tarefas atribuídas ao professor;
as condições de trabalho desfavoráveis; a perda de autonomia; a degradação dos salários e a
falta de tempo livre para planejar aulas mais atraentes. Assim, juntamente com as condições
precárias das atividades docentes, estes fatores desvalorizam a identidade profissional.
Por falta de autoconfiança ou por comodismo o professor usa quase que
exclusivamente o livro didático como recurso para suas aulas (KRASILCHIK, 2004).
Apesar dos avanços científicos e tecnológicos, a educação pública limita-se às aulas
expositivas com pouca participação dos alunos no processo de aprendizagem, comprometendo
o desenvolvimento cognitivo, uma das principais metas na educação.
A “Ciência” é definida pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998)
como uma elaboração humana para a compreensão do mundo. Seus procedimentos devem
estimular uma postura reflexiva e investigativa sobre os fenômenos da natureza e de como a
sociedade nela intervém, utilizando seus recursos e criando uma nova realidade social e
tecnológica (VASCONCELOS; SOUTO, 2003).
Lima e Vasconcelos (2006) destacam que:
Alunos do ensino fundamental da rede pública na maioria das vezes deparam-se com
metodologias que nem sempre promovem a efetiva construção de seu conhecimento.
Tampouco lhes são oferecidos mecanismos de compensação por defasagens sociais,
que vão desde problemas de natureza familiar ao limitado acesso a livros, sites e
outras fontes de conhecimento.
Isso ocorre porque as Escolas Públicas, frequentemente, não dispõem ou possuem
frágeis instrumentos de trabalho, tornando os docentes cada vez mais dependentes de livros
didáticos. Porém, por tratarem de assuntos concretos, as disciplinas de Ciências e Biologia
perdem o sentido quando observadas somente sob o ponto de vista teórico. Assim, grande
parte do saber científico transmitido na escola é rapidamente esquecida, prevalecendo idéias
alternativas ou de senso comum bastante estáveis e resistentes, identificadas, até mesmo, entre
estudantes universitários (MORTIMER, 1996).
O espaço físico de escolas precisa ser revisto. Restringe-se a implantação da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação (LDB). Criada em 1996, a legislação propõe um projeto
pedagógico que vá além de lousa, giz e palestra do professor, a fim de preparar melhor o
aluno para os desafios de mercado de trabalho.
Ao considerarmos importante os saberes dos professores sobre os materiais didáticos,
abrimos mais um espaço para vermos estes profissionais como sujeitos de sua prática, e
portanto capazes de refletir e colaborar com a construção dos saberes que rodeiam a utilização
dos materiais didáticos na sala de aula. Desta forma, é importante repensarmos que tanto a
formação inicial dos professores quanto as atividades de formação continuada, devem
considerar não somente o ideário pedagógico existente sobre esta utilização dos materiais
didáticos como também os saberes e experiências vividos por esses profissionais, na escola
(FISCARELLI, 2006).
Deste modo propomos o presente estudo com o objetivo de verificar os recursos
disponíveis nas escolas de ensino fundamental e ensino médio da cidade de Ilha Solteira - SP,
para o ensino de Ciências e Biologia, contextualizando-os com a visão dos professores
responsáveis por essas disciplinas, dos coordenadores pedagógicos e dos diretores das escolas
participantes.
2 Material e Métodos
2.1 Participantes
Participaram do trabalho quatro professores (duas professoras de Ciências do Ensino
Fundamental e duas de Biologia do Ensino Médio), três coordenadores pedagógicos e três
diretores do ensino público estadual da cidade de Ilha Solteira – SP,
2.2 Material
Para a realização do trabalho foram utilizados os seguintes materiais:
• Entrevista semi estruturada;
• Gravador.
2.3 Procedimento
2.3.1 Coleta de dados
Após contato inicial com as escolas e a permissão da direção para a realização do
inventário de recursos auxiliares na escola e das entrevistas, entramos em contato com os
professores e com os coordenadores pedagógicos para obtermos sua concordância em
participar da entrevista. Obtida a permissão marcamos um horário para a realização das
entrevistas, as quais foram realizadas individualmente na escola, durante intervalo de aula (no
caso das professoras), e estas foram gravadas para posterior transcrição e análise. As
observações foram realizadas de forma independente nas escolas participantes.
2.3.2 Análise de dados
As entrevistas foram transcritas na íntegra e após leitura foram identificadas palavraschave, elaborados eixos temáticos e selecionados os exemplos das verbalizações dos
participantes. Em seguida, as transcrições e a análise foram lidas por uma segunda
pesquisadora com o objetivo de aferir a elaboração dos eixos temáticos e a relação de
exemplos.
Foi realizada uma tabulação em relação aos recursos didáticos disponíveis nas escolas
para o Ensino de Ciências e Biologia, segundo as observações.
3 Resultados
Inventário sobre recursos disponíveis nas escolas para o Ensino de Ciências e Biologia
A Tabela 1 apresenta o resultado das observações realizadas nas escolas quanto aos
recursos disponíveis.
Escolas
Escola A
Escola B
Escola C
não
não
sim
. vídeos / DVD
sim
sim
sim
. livros didáticos
sim
sim
sim
. livros paradidáticos
sim
sim
sim
. revistas / jornais
sim
sim
sim
. livros complementares
sim
sim
sim
. jogos didáticos / pedagógicos
sim
sim
sim
Sala de informática
sim
sim
sim
Internet
sim
sim
sim
. TV
sim
sim
sim
. Vídeo Cassete / DVD Player
sim
sim
sim
. Retroprojetores
sim
sim
sim
. Multi-mídia
não
não
sim
Recursos
Laboratório de Ensino de Ciências
Biblioteca
Equipamentos didáticos auxiliares
Tabela 1 – Inventário de recursos da Escola para Ensino de Ciências e Biologia.
Através das observações realizadas nas escolas, podemos constatar a existência de
recursos ambientais que podem auxiliar o professor tanto no planejamento bem como na
efetiva atividade em sala de aula. Estes recursos bem utilizados favorecem uma diversidade
em relação a metodologia das aulas ministradas, no entanto cabem as seguintes considerações:
a) Quanto a existência de Laboratório de Ensino de Ciências:
. A Escola A transformou o antigo laboratório de Ciências em sala de aula e embora
tenha ainda alguns materiais como, por exemplo, vidrarias, estes, encontram-se amontoados
em um depósito;
. A Escola B desmontou o laboratório para que pudessem ampliar a biblioteca;
. Segundo relato do Coordenador Pedagógico, o laboratório de Biologia da Escola C
não é utilizado para aulas, a não ser para exposição durante a Feira de Ciências que acontece
uma vez por ano.
b) Quanto a Biblioteca:
. A Biblioteca das três escolas pode ser utilizada pelos professores e alunos a qualquer
hora. Possuem livros didáticos, paradidáticos e complementares para educação de Ciências e
Biologia, além de várias revistas de divulgação e jornais, possuem ainda alguns vídeos
didáticos e jogos pedagógicos, mas estes só devem ser utilizados na presença ou com
autorização de professores.
c) Quanto a Sala de Informática:
. As três escolas possuem sala de informática com computadores conectados a internet,
no entanto não em número suficiente para acomodar uma turma inteira (cerca de 35 alunos
por sala). Estas salas podem ser utilizadas a qualquer horário, mas sempre com autorização de
um responsável na escola, mas a preferência são para as aulas que por ventura utilizem desta
ferramenta.
d) Quanto a Equipamentos didáticos auxiliares:
. Todas as escolas possuem retroprojetores, mas em número bastante limitado, não
sendo uma ferramenta de trabalho que possa ser freqüentemente utilizada. O mesmo acontece
com a televisão e o vídeo cassete e/ou DVD player.
Perfil dos professores, coordenadores e diretores participantes
No Quadro 1, serão apresentados dados de caracterização dos professores participantes
do trabalho.
Professores
Formação
Local de formação
P-A
Ciências com habilitação em
Biologia.
Universidade Federal
do Mato Grosso do Sul
P-B
Ciências Biológicas e 1 ano
e meio de Biologia
(licenciatura).
Universidade de Jales
P-C
Licenciatura plena.
Universidade
de São Carlos
P-D
Ciências Biológicas
(Licenciatura plena)
Universidade Estadual
de Londrina
Tempo de magistério
15 anos.
7 anos em Ilha Solteira.
Federal
Quadro 1- Caracterização dos professores participantes.
21 anos.
3 anos e meio
Pode-se notar que, dos professores entrevistados, três são formados em universidades
públicas e apenas um em universidade privada. Quanto ao tempo de magistério, variou de 3
anos e meio a 21 anos e todos possuem graduação em Licenciatura em Ciências Biológicas.
No Quadro 2 serão apresentados a formação e tempo como coordenador pedagógico
dos coordenadores participantes.
Coordenadores
C-A
C-B
C-C
Formação
. Licenciatura e Bacharelado em Geografia
. Pedagogia
. Licenciatura em História
. Magistério
. Licenciatura em História
. Pedagogia
Tempo como coordenador
5 anos
5 anos
8 anos
Quadro 2 – Caracterização dos coordenadores participantes
Observa-se que todos os coordenadores são formados em cursos de Licenciatura e
exceto o coordenador C-B que não possui formação em Pedagogia. Nota-se que todos os três
possuem um tempo igual ou superior a 5 anos de trabalho como coordenador pedagógico
No Quadro 3, estão apresentados os dados a respeito da formação, tempo de
magistério e tempo como diretoras de ensino, das participantes.
Diretoras
Formação acadêmica
Tempo que lecionou
Tempo na direção
D-A
Magistério e Pedagogia
18 anos
4 meses
D-B
Pedagogia, Educação Artística,
Especialização em Administração
Escolar, Orientação Vocacional.
40 anos
6 anos
D-C
Biologia e Pedagogia
23 anos
17 anos
Quadro 3 - Caracterização das diretoras participantes.
De acordo com a formação das três diretoras entrevistadas percebe-se que todas
possuem o curso de pedagogia, que de acordo com o que foi promulgado pela lei federal
n°5692/71 o curso de Pedagogia com habilitação em Administração Escolar passou a ser
exigido como requisito mínimo para inscrição ao concurso de diretores.
Consta também na caracterização da formação das diretoras que as três lecionaram por
um determinado período de tempo, experiência esta que pode ajudá-las a entender as
principais dificuldades encontradas pelos professores, uma vez que já desempenharam tal
função, realçando assim o olhar pedagógico destas diretoras que carregam na bagagem anos
trabalhados na sala de aula.
O quadro mostra também que todas as diretoras exceto a diretora A, já trabalham a
alguns anos na direção escolar, possuindo alguma experiência pelo tempo de atuação.
Disponibilidade e uso de recursos fornecidos pela escola para preparar e ministrar aulas
No Quadro 4 será apresentada a opinião dos professores em relação à disponibilidade
de recursos para ministrarem e/ou prepararem suas aulas.
Professores
P-A
Eixo temático
Dentro das possibilidades
Sala de computação
Exemplos
“Na medida do possível”
“...às vezes tem, tem a sala de computação...você trazer
quarenta alunos na sala de computação com dez
computadores, complicado. Então a gente acaba
adiando isso aí...Então eu trabalho mais com vídeos...”.
Laboratório Didático
“É sala ambiente, eu prefiro né ... não é 100% ... teria
que ter uma pia ... teria que ter alguma coisa lá dentro
mesmo ... não tem laboratório pra fazer uma atividade”
Laboratório Didático
“Não. O microscópio que tem é muito ruim ... o meu
material eu trago, as coisas que vou usar eu monto,
coleto, coleciono ... Umas das coisa que tem e eu não
uso por falha minha, eu não achei material adequado
ainda ... Tem sala de informática ...”
Mídias e Laboratório
“... a gente tem acesso às mídias ... a gente tem
laboratório com microscópios para dar ... mas na
maioria eu levo ... se for coisa fácil eu improviso e
levo”.
Sala Ambiente
“Eu gostaria de ter na escola era uma sala ambiente de
Biologia”
P-B
P-C
P-D
Quadro 4 – Eixo temático e exemplos de fala dos professores sobre a disponibilidade de recursos
auxiliares didáticos nas escolas para preparar e ministrar aulas.
Verifica-se no Quadro 4, por meio da fala dos professores, que dentre os diferentes
recursos didáticos oferecidos pelas escolas para o preparo das aulas os computadores estão
presentes. Entretanto os docentes alegam que o excesso de alunos e a falta de material
multimídia adequado impedem o uso da sala de informática, e que às vezes, eles mesmos
buscam e montam os materiais para ministrar suas aulas, demonstrando que as Escolas não
conseguem atender todas as necessidades dos docentes.
O uso efetivo de recursos auxiliares diferenciados para preparar as aulas segundo a
visão dos professores será apresentada no Quadro 5.
Professores
P-A
Eixo temático
Depende do assunto
Falta de tempo
Exemplos
“Depende do assunto. Posso usar vídeo, recortes de revistas,
pesquisas em jornais, livros didáticos”.
“Não ... nem financeiro e nem tempo”.
“... não tem como trabalhar com um livro só”. “Tempo pra preparar
as coisas são curtos”.
P-B
Recursos não
sistematizados
“Ah! a gente pega um pouco de livro aqui ... o aluno traz, às vezes
jornal, às vezes comentário, notícias de televisão ...”
Sempre utiliza
“Sempre ... gosto muito da minha área ... de biologia ... sempre
penso que eu tenho que fazer com que os alunos gostem também ...”
Recursos alternativos
“... eu procuro procurar outros livros, dependendo do assunto eu vou
buscar na internet, em sites de educação ... coisa alternativas para
poder dar as aulas ... bastante atualidades”.
Motivação
“Dificuldade para preparar as aulas eu não encontro não ... o
professor que tem que correr atrás para preparar essas aulas né”.
P-C
P-D
Quadro 5 – Eixo temático e exemplos da fala dos professores sobre o uso de recursos auxiliares
diferenciados para preparar as aulas.
Observa-se no Quadro 5, que alguns professores utilizam recursos, como revistas,
jornais, vídeos e livros didáticos, mas mencionam a falta de tempo para usar tais recursos na
preparação das aulas. Outros docentes manifestam preocupação em fazer o aluno gostar do
assunto na aula e com isso procuram sempre utilizar materiais para essa finalidade
A visão dos coordenadores quanto a disponibilidade de materiais para preparar e
aplicar as aulas será apresentada no Quadro 6.
Coordenadores
Eixo temático
Apoio para o
professor
Exemplos
“... subsidiamos os professores com material pedagógico ...”
“... levando material, até encaminhando as vezes o professor para uma
outra pessoa da área ...”
Recursos
auxiliares
“... a Secretaria da Educação tem feito alguns avanços, em termos de
biblioteca, em termos de recursos como computador, televisão. DVD.”
C-A
“... ele (professor) tem disponível livros, computadores, DVDs,
revistas ...”
indisciplina
“... tem uma questão séria ... a indisciplina ...”
“... tenha diversidade de material ele (professor) não consegue manter a
atenção do aluno.”
Recursos
auxiliares
“... professores que costumam utilizar vários recursos e diversificar o
ensino ...”
“... temos softwares educacionais ...”
“... no laboratório de Biologia existem alguns recursos ... não é a situação
ideal ... realmente falta material. Alguns experimentos e algumas
atividades que poderiam ser realizadas em laboratório acabam não sendo
feitas devido a escassez de material ...”
Parceria para o
ensino
“... o ensino é desenvolvido de maneira bem legal, e ainda contamos com
a ajuda ou parceria ... a UNESP e o pessoal que estuda ...”
Projetos
“... Feira de Ciências, trabalho de prevenção, mas todos eles são
ancorados nos conteúdos de Biologia ...”
Bons
professores
“... nós temos sorte aqui, porque nossas professoras são excelentes.”
C-B
C-C
Quadro 6 – Eixo temático e exemplos da fala dos coordenadores sobre o ensino de Ciências e Biologia em
suas escolas
Verifica-se no Quadro 6 que os coordenadores entendem que os professores tem
materiais disponíveis para o preparo e aplicação das aulas. Verifica-se também uma
preocupação dos coordenadores em auxiliar o professor nas suas dificuldades, como
salientado pelo coordenador C-A, quando diz que procura pessoas mais experientes no
assunto que o professor apresentar dúvidas, para complementar seu conhecimento.
No Quadro 7 buscou-se verificar qual a visão das três diretoras entrevistadas a respeito
do ensino de Ciências e Biologia em suas escolas.
Diretoras
D-A
Eixo Temático
Processo dinâmico
Exemplos
“Para Ciências temos feito um processo dinâmico, inclusive
realizamos recentemente a Feira do Verde...”
Motivação
“De forma geral considero que os professores estão se
esforçando, e os alunos também é o que percebemos.”
Salas lotadas
“Eu acho que as pessoas são muito boas, só que a grande, a
grande dificuldade é o numero de alunos.”
Conteúdo
“O conteúdo de biologia é muito extenso...”
Condições de ensino
“...então eu acho que são as próprias condições, que faltam e que
impedem que tenha um desenvolvimento, bom, como poderia
ter.”
Indisciplina
“...eu acho que até em função da disciplina que antigamente era
mais fácil você conduzir a sala...”
Desmotivação
“...conseguia até mais do que eu vejo hoje nos meu professores.”
“...eu acho que a carga de um professor que trabalha com alunos
adolescentes, nessa fase, é muito pesada...”
D-B
D-C
Desgaste emocional
Quadro 7 - Eixo temático e exemplos de fala sobre a situação do Ensino de Ciências e/ou Biologia na
escola onde o diretor atua
Constata-se no Quadro 7, que são várias as opiniões a respeito de como está o ensino de
Ciências em cada escola, mostrando a singularidade do processo educacional, e que este olhar
das diretoras percebendo os erros, acertos e as principais dificuldades é de extrema
importância, uma vez que, o papel dos diretores de hoje vai muito além de uma função
somente administrativa, tem caráter educacional, podendo contribuir para o ensino de
Ciências e Biologia.
4 Discussão
Borges (2002) observa que curiosamente várias das escolas dispõem de alguns
equipamentos e laboratórios que, no entanto, nunca são utilizados. E algumas das razões
apontadas para isso são: o fato de não existirem atividades já preparadas para o uso do
professor; falta de recursos para compra de componentes e materiais de reposição; falta de
tempo do professor para planejar a realização de atividades como parte de seu programa de
ensino; laboratório fechado e sem manutenção. Esta situação foi verificada na fala do
coordenador C-B quando diz que várias atividades poderiam ser realizadas, mas não existem
materiais disponíveis.
Segundo Fonseca; Ferreira (2006) o computador possui vantagens e desvantagens,
como qualquer outra ferramenta utilizada no processo de ensino e aprendizagem e é preciso
que o educador saiba utilizar os meios a sua disposição, e no caso específico do computador,
que saiba valer-se dos recursos que ele oferece para contribuir com uma formação crítica dos
alunos. Na fala dos professores entrevistados neste trabalho, verificamos que o computador
está disponível, mas não é utilizado como ferramenta educacional, seja por falta de software
adequado ou mesmo por falta de conhecimento em como recorrer a este equipamento para
incrementar suas aulas.
Constata-se também, em uma das escolas, a necessidade de sala ambiente de Biologia
para manter em exposição permanente os materiais e modelos preparados pelo professor e
pelos alunos e assim ministrar aulas práticas com maior frequência. Entretanto, na escola que
possui sala ambiente o docente ressalta que esta não é absolutamente completa e poderia
haver alguns equipamentos e instalações ou ainda enfatiza a falta de um laboratório pra
realizar atividades.
Krasilchik (2004) destaca a relevância de um espaço físico adequado, quando afirma
que as aulas de laboratório são extremamente necessárias a aprendizagem dos conteúdos
biológicos.
Ainda de acordo com os resultados observados, o principal recurso, utilizado pelos
professores, é o livro didático, devido principalmente a sua facilidade de acesso. Vasconcelos;
Souto (2003) enfatizam, que o livro didático dentro da abordagem tradicional favorece a
memorização, com raras possibilidades de contextualização, formando então indivíduos
treinados para repetir conceitos, aplicar fórmulas e armazenar termos, sem, no entanto,
reconhecer possibilidades de associá-los ao seu cotidiano. Um professor, porém, afirmou que
procura livros, utiliza a internet como fonte de atualidades e procura materiais alternativos
para preparar suas aulas.
Lima e Vasconcelos (2008), discutem o envolvimento de educadores em pesquisas que
se destinam a produzir, adaptar, inovar e testar metodologias e recursos didáticos é
indispensável para a própria reconstrução de seu modo de pensar e agir no ensino, entretanto a
superlotação nas salas de aula, a desvalorização do professor e a defasada estrutura física,
metodológica e didática nas escolas instiga os docentes a questionarem “como” fazer e “com
que” fazer educação, adequando-se aos parâmetros curriculares.
Como professor, sua primeira função é mostrar ao educando que ele é apenas um
mediador, uma ponte que pode ajudá-lo, a atingir os seus próprios objetivos. O docente pode
trazer as situações do mundo para a sala de aula e explorá-las, enriquecê-las paralelamente
com a matéria. Pode trabalhar questões difíceis de maneira divertida, trocar experiências, ser
muito mais que um professor para seus alunos (DI SANTO, 2009).
Em relação a avaliação das diretoras quanto ao ensino de Ciências e Biologia em sua
escola, percebe-se, de modo geral, que há mais problemas a serem citados que pontos
positivos no ensino de Ciências e Biologia, sendo as dificuldades marcadas pela indisciplina
dos alunos e pelo grande número destes em sala de aula, o que têm dificultado as aulas,
impossibilitando muitas vezes apresentações práticas do assunto tratado.
O conteúdo extenso, falta de recursos materiais, o desestímulo dos professores na busca
por recursos que poderiam tornar a aula bem mais interessante, são alguns dos fatores citados
pelas diretoras, o que nos mostra que a culpa não está centrada somente na figura do
professor, a quem muitas vezes se volta a responsabilidade pelo fracasso do ensino.
A instituição escolar tem por responsabilidade dentro de uma sociedade, facilitar a
manutenção das aprendizagens apresentadas pelos alunos com desempenho acadêmico
satisfatório, de estimular as crianças, assim como promover a competência das que
apresentam desempenho acadêmico insatisfatório.
Por sua vez, os professores, como mediadores da aprendizagem escolar dos seus
alunos, devem estar preparados para fornecer os conhecimentos necessários e exigidos dentro
de um conteúdo acadêmico pré-estabelecido. Salienta-se o papel do professor porque este é o
profissional da educação que está em contato direto com o aluno, muito embora devemos
destacar a necessidade de uma rede de apoio ou suporte, para que este professor desenvolva
seu trabalho.
Nessa perspectiva de acordo com Francisco (2006), a educação escolar tem a tarefa de
promover a apropriação de saberes, de procedimentos, de atitudes e de valores por parte dos
alunos, mediante ação mediadora dos professores, da organização e da gestão escolar. A
escola tem de ser concebida como “espaço de síntese”, de outros contextos, de outras culturas,
de outras mediações, ligadas ao mundo econômico, político, cultural, com uma proposta
curricular voltada à formação geral e continuada dos seus sujeitos, à preparação para efetuar
no contexto técnico, científico, informacional da sociedade, exercendo a cidadania crítica,
participativa e ética.
Com os dados obtidos verificou-se que, as escolas não oferecem todos os subsídios
para que os docentes preparem suas aulas, e o pouco disponibilizado, muitas vezes não são
utilizados porque o professor não dispõe do tempo necessário para preparar o material de
forma adequada, ou ainda, pela grande quantidade de alunos em uma sala de aula fica
impossível a utilização de recursos auxiliares.
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¹ Psicóloga, Docente do Curso de Ciências Biológicas – Modalidade Licenciatura da Faculdade de Engenharia –
UNESP – Campus de Ilha Solteira.
² Graduanda do Curso de Ciências Biológicas – Modalidade Licenciatura da Faculdade de Engenharia – UNESP
– Campus de Ilha Solteira.