perguntas retóricas: uma estratégia encoberta de “não

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perguntas retóricas: uma estratégia encoberta de “não
Web - Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br
Bacharelado em Linguística e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande
Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande
IS SN : 2 17 8 -1 4 86 • V ol u m e 1 • Nú m er o 6 • f e v er ei ro 20 12
Homenagem ao Prof. Dr. Ataliba Teixeira de Castilho
PERGUNTAS RETÓRICAS: UMA ESTRATÉGIA ENCOBERTA DE
“NÃO-RESPOSTA”
Simone Muller Costa (PPGLINGUISTICA-UFJF / IFSEMG)
[email protected]
Sonia Bittencourt Silveira (UFJF)
[email protected]
Resumo: Nosso objeto de estudo são respostas evasivas, mais especificamente, o que denominamos de
“não-respostas”. Foi observado que, nos contextos analisados, os respondentes constróem respostas
“insatisfatórias” em relação ao que foi posto ou pressuposto pela pergunta. Para a geração e análise dos
dados, utilizamos uma abordagem qualitativa e interpretativa, em consonância com uma perspectiva
teórico-metodológica interacional nos estudos do discurso. Os resultados desse estudo mostram que as
práticas discursivas de “não-respostas” devem ser analisadas de modo situado, sequenciamentel, sem
ignorar, contudo, as opções oferecidas pela língua, limitadas por contingências macro-contextuais
operantes em cada situaçao particular de uso da linguagem. Nossa análise chama a atenção para o uso de
perguntas retóricas nas respostas como um tipo de evasão encoberta com duas funções principais nos
tipos de atividades estudados: (1) o de mudar o foco da pergunta; e (2) o de contestar o ponto de vista ou
a relevância da informação implicados na pergunta.
Palavras-chave: Perguntas retóricas; evasão; atividade de responder.
Abstract: Our object of study is what we call “non-answers”, more specifically, evasive answers. We
have observed that, in some contexts, the respondents built “unsatisfactory” answers in relation to what
had been asserted or presupposed by the questions performed. We have adopted a qualitative and
interpretative approach for the generation and analysis of the data, which are consistent with the theoreticmethodological perspectives of an interactional approach in studies of discourse. The results of this study
show that discursive practices of “non-answers” must be analyzed in a situated way, sequentially, without
ignoring, however, that the options that the language offers are limited by macro contextual contingences
that operate on the language use in each social encounter. Our analysis calls attention to the use of
rhetoric questions in answers as a kind of covert evasion with two main functions in the contexts studied:
(1) that of changing the focus of the question; and (2) that of contesting the point of view or the relevance
of the information held on the question.
Key-words: rhetorical question; evasion; answering activity.
1. Introdução
O presente trabalho busca analisar a ocorrência de respostas evasivas, por nós
denominadas “não-respostas”, em dois tipos de atividade (cf. Levinson, 1992 e Sarangi,
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2000): duas audiências de conciliação, realizadas no PROCON de uma cidade minerira
e uma entrevista televisiva do programa “Roda Viva”, com o ex-ministro da Educação,
Paulo Renato. Dentre os vários tipos de “não-respostas” encontradas, focalizamos, um
tipo especial de evasão “encoberta”, realizada através de perguntas retóricas.
A atividade de responder é analisada como sendo projetada por uma pergunta ou
outra ação que crie para um dos participantes o papel discursivo de respondente. As
respostas podem ser vistas como “insatisfatórias” se considerados o posto ou
pressuposto da pergunta. Adotamos como ponto de partida analítico os seguintes
aspectos a partir dos quais o par pergunta-resposta pode ser analisado: (a) a existência
de algum tipo de relação entre a natureza da pergunta e as não-respostas produzidas; (b)
de que modo o tipo de contexto institucional pode influenciar a produção de respostas
evasivas; e (c) as razões pessoais/profissionais que podem contribuir para a formulação
de “não-respostas”. Essas questões são analisadas a partir de uma abordagem qualitativa
e interpretativista de dados reais de fala e de modo compatível com os pressupostos
teóricos da Sociolingüística Interacional e da Análise da Conversa, etnometodológica.
Os resultados de nossa pesquisa mostram a relevância em se adotar como ponto
de partida aquilo que os participantes mostram ser relevante em seus atos de
fala,realizados em uma situaçao real de fala-em-interaçao. A atividade discursiva da
evasão só pode ser identificada sequencialmente, como a não-produção de uma ação
tornada relevante pela primeira parte deste par - a pergunta. A categoria “não-resposta”
vem entre aspas devido ao pressuposto, por nós adotado, segundo o qual o quer que se
faça após a primeira parte do par, a pergunta, deve ser interpretado como uma resposta
(e.g. o silêncio pode ser visto como uma resposta). Desse modo, “não-resposta” é
concebida como uma resposta que não atende ao posto ou pressuposto da pergunta.
Ressaltamos, contudo, que uma abordagem situada das “não-respostas” não exclui a
necessidade de se pensar nos fatores macro-contextuais (e.g sócio-contextuais,
ideológicos, etc) que podem influenciar o uso da evasão no discurso. Nos contextos
estudados, as “não-respostas” foram utilizadas, principalmente, em situações em que
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uma resposta direta/aberta poderia causar danos à imagem do respondente ou causar-lhe
ainda algum prejuízo material (e.g para o consumidor ou fornecedor de bens e serviços,
no PROCON).
Nas seções subsequentes, introduzimos as noções fundamentais a este estudo: a
atividade de responder, incluindo respostas e “não–respostas”; dentre as últimas o tipo
clássico denominado respostas evasivas e o subtipo de evasão - evasão por meio do uso
de pergunta retórica dentro da resposta.
2. Atividade de Responder
Considerando-se a relação sequencial entre perguntas e respostas, a segunda
parte do par é vista como uma tentativa de resposta, ou seja, aquilo que se diz ou se faz
em uma posiçao subsequente à primeira parte deste par de ações. De acordo com a
noção de relevância condicional, nos termos da Análise da Conversa, é a primeira parte
do par que torna relevante a ocorrência de uma segunda parte, bem como sua
classificação enquanto ação discursiva. Assim, se uma dada ação é formulada/percebida
como pergunta, cria-se a expectativa de que ela irá projetar, em uma segunda posição,
uma açâo que será enquadrada como “resposta”. É a partir da resposta dada que
podemos verificar se a primeira parte foi mesmo entendida/tratada como pergunta pelo
endereçado. Deste modo, a relevância de um dado enunciado, no par PerguntaResposta, decorre da relação mútua entre as partes do par.
Embora a ação de perguntar projete uma resposta, muitas vezes, as respostas não
ocorrem nos turnos adjacentes, mas sim em turnos de fala subsequentes e distantes das
perguntas. Por isso, preferimos adotar a noção de posição proposta por Schegloff (1987,
apud Levinson, 2007), a qual estabelece que a resposta a uma pergunta não precisa estar
necessariamente adjacente a ela. No entanto, as respostas devem manter relação
semântico-pragmática com o que foi perguntado.
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Em nossa análise, tentamos nos guiar, principalmente, pela tipologia de
respostas de Clayman (2001) e pelas tipologias de práticas evasivas, propostas por
Clayman (2001) e Galasinski (1996). Por isso, na seção seguinte, abordaremos, de
maneira breve, essas teorias.
2.1 Tipos de respostas e “não-respostas”
Para distinguir respostas de “não-respostas”, Clayman (2001) apoia-se no
conceito de “adequação”. Este autor propõe um conjunto de critérios que permitiriam a
classificação das “respostas” como adequadas (respostas) e não-adequadas (nãorespostas)
2.1.1 Tipos de respostas
Clayman (2001) estabelece como critério para sua classificação das “respostas”
a idéia de “adequação”. Assim, as respostas, para serem consideradas adequadas, devem
se enquadrar em algum dos tipos:
(a) resposta com trajetória indireta– começam com uma unidade de fala que não pode
ser, em si mesma, ser uma resposta possível, mas que é parte de uma fala maior que
pode ser vista, no todo, como uma resposta.
(b) resposta mínima +elaboração - começa com uma unidade de fala que fornece a
informação alvo colocada pela pergunta de forma mínima, depois segue uma fala que a
esclarece e elabora (e.g.pergunta sim/não).
(c) resposta com a relevância da pergunta - uma palavra-chave da pergunta é retomada
na resposta.
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(d) resposta com retomada anafórica - uso de palavras de referência anafórica, tais
como: pronomes, alguns verbos, frases, porque. São palavras muito dependentes da
pergunta, pois é na pergunta que elas adquirem referência.
Quando a resposta não atende a esses critérios, somos convocados a examinar o
que tradicionamente tem sido rotulado como “evasão”, porque foge ao posto ou
pressuposto da pergunta. Esta “fuga” pode levar aquele que pergunta a reintroduzi-la
com o objetivo de forçar o respondente (em nossos dados, entrevistado ou parte em
litigio) a oferecer a informação solicitada.
2.1.2 Tipos de “não-respostas”
Dentre a literatura existente sobre o tema da evasão (Bull, 1994; Clayman, 2001;
Galasinski, 1996; Bavelas et al, 1988),destacamos como contribuição teórica e analitica,
para este estudo, os trabalhos de Clayman (2001) e Galasinski (1996). Segundo esses
autores, o interlocutor pode não oferecer a resposta projetada por uma dada pergunta ou
mesmo não oferecer qualquer resposta. Quando não há uma resposta satisfatória1,
ocorre o que eles denominam evasão. A evasão, segundo esses autores, pode se realizar
por meio de práticas “abertas” ou “encobertas”. Dentro desses dois grupos apresentamse vários subtipos de estratégias evasivas, como veremos a seguir.
2.1.2.1 Respostas evasivas “abertas”
Dentre os subtipos oferecidos por Clayman, 2001 e Galasinski, 1996,
selecionamos e adaptamos alguns tipos, relevantes ao nosso estudo, considerando a
principal característica da “evasão”:
1
Esse julgamento deriva-se do fato de que aquele que pergunta poder mostrar, em turno subsequente, sua
satisfação ou não com a resposta, quando não pode reformular/reapresentar a pergunta.
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(a) solicitação de evasão – o respondente pede permissão para mudar a agenda
tópica da pergunta;
(b) solicitação de divergência – o respondente procura justificar a evasão em
função de sua divergência com o posto ou pressuposto da pergunta;
(c) transferência responsabilidade resposta - o respondente atribui a outrem o
dever de resposta;
(d) desvalorização da pergunta - o respondente contesta a relevância da
pergunta, os dados que ela contém, etc;
(e) desconhecimento da resposta - o respondente diz que é impossível responder
o que lhe foi perguntado, seja por razões de tempo, falta de dados
apropriados, etc;
(f) recusa explícita - o respondente declara que não vai responder o que lhe foi
perguntado;
(g) resposta por implicatura - o respondente constrói uma resposta indireta.
2.1.2.2 Respostas evasivas “encobertas”
Como o próprio nome sinaliza, tratamos aqui das respostas em que o
respondente usa de algum artifício para se evadir da resposta. Por exemplo:
(a) mascaramento - o respondente utiliza repetição de palavras e pronomes anafóricos
para mascarar que as respostas são substancialmente resistentes.
(b) paráfrase- o respondente parafraseia a pergunta, reformulando-a a sua maneira.
(c) expansão do escopo da pergunta- o respondente oferece uma resposta, ampliando o
contexto da pergunta.
(d) mudança do foco da pergunta- o respondente foge ao que era focal na pergunta, em
termos de posto ou de pressuposto.
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Com a análise dos dados do PROCON e de uma entrevista televisiva com políticos,
identificomos um quinto subtipo de evasão encoberta que não havia sido, até então, tratado
como tal na literatura sobre “evasão”, por nós denominado “evasão por meio do uso de
perguntas retóricas”. Nessas práticas de evasão, os respondentes utilizam perguntas retóricas
para não responderem o que lhes foi perguntado. Lembramos que o presente trabalho terá como
foco essa última estratégia de produção de resposta evasiva encoberta, descrita e analisada de
forma mais a miúde a seguir.
(e) Evasão por meio do uso de perguntas retóricas
Frank (1990) destaca que estudos apontam que embora a maioria dos falantes
reconheça a existência de “perguntas retóricas” e seja capaz de fornecer exemplos
dessas perguntas, a análise de dados de fala espontânea tem apontado a dificuldade de
serem definidas de forma a dar conta dos seus diferentes usos. Tradicionalmente,
entende-se como perguntas retóricas aquelas perguntas em que não há a expectativa de
resposta. No presente trabalho, estamos considerando que há dois tipos de perguntas
retóricas: (1) perguntas que não apresentam nenhum tipo de resposta, conforme a
definição tradicional de perguntas retóricas, e o tipo identificado neste trabalho - (2)
perguntas feitas pelo respondente e respondidas por ele mesmo.
As “perguntas retóricas” são inerentemente complexas por apresentarem
diversidade e imprecisão em suas definições, o que torna difícil, portanto, uma
identificação precisa e confiável desse fenômeno. Não há um consenso entre os
estudiosos sobre a função das “perguntas retóricas” e uma teoria consistente e única
ainda está longe de ser alcançada.
Estudos mostram que as “perguntas retóricas” podem ser utilizadas com a
função argumentativa de convencer/persuadir. Deste modo, elas são comuns em
contextos em que a principal meta comunicativa é a de conquistar adesão a pontos de
vista (Anzillotti, 1982 apud Frank, 1990). Segundo pesquisadores da área da psicologia
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(Cacioppo & Petty, 1982 apud Frank, 1990), os efeitos persuasivos das “perguntas
retóricas” são muito superiores aos efeitos persuasivos das asserções.
Frank (op. cit) conclui que há contextos que favorecem o uso desse tipo de
pergunta. Assim, por essas perguntas terem como função primária a persuasão, elas são
encontradas em frequência maior em conversas marcadas por conflito2 real ou potencial.
O autor conclui ainda que uma teoria universal que dê conta das formas e funções das
“perguntas retóricas” está longe de ser produzida/alcançada e que muitos dos trabalhos
realizados sobre essas construções foram baseados em dados de fala monitorada e não
em dados reais de fala.
Em nossos dados, observamos a ocorrência de tais perguntas nas respostas, o
que constitui uma prática de evasão encoberta, pois ao usá-las, em nenhum momento, o
locutor tenta explicar sua “não-resposta” ou demonstra que não dará a resposta
esperada.
A seguir, veremos como se dá o uso estratégico/persuasivo das perguntas
retóricas para evasão nos tipos de atividade (Levinson, 1992 e Sarangi, 2000) por nós
analisados: uma entrevista do programa Roda Viva e duas audiências de conciliação
realizadas no PROCON de uma cidade mineira.
3. Análise dos dados
Conforme foi dito, encontramos em nossos dados uma estratégia de evasão não
apontada na literatura - a evasão por meio de perguntas retóricas. Por isso, no presente
trabalho, analisaremos algumas ocorrências desse tipo de evasão.
2
Conflito é aqui entendido como “a incompatibilidade, percebida ou real, de valores, expectativas,
processos ou resultados entre duas ou mais partes sobre questões substantivas ou relacionais " (TingToomey, 1994, p. 360).
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Vejamos alguns exemplos de uso de perguntas retóricas nas respostas durante as
audiências de conciliação do PROCON e a entrevista no “Roda Viva”.
Exemplo (1):
Audiência: Ok Veículos
Participantes: José (consumidor), Ana (mediadora) e Pedro (amigo do consumidor)
Problema: Como definir, na prática, o que está coberto pela garantia,
considerando-se o que dispõe o Código de Defesa do Consumidor (CDC)
09 Ana /então/ uma bomba elétrica estaria dentro da garan[ t i a, né? ]
10 José
[é o que o ca]ra
11
falou comigo. tem jeito de você prever, pre- prever alguma
12
coisa aqui? não, não, não, aconteceu. É uma coisa- uma parte
13
elétrica? é igual ignição e cabo de vela, que tem que trocar (0.8) o
14
carro começou a::rodar, corrente (0.5) parou (0.2) eu vou- o
15
mecânico vai prever na HORA que ele vai ver o carro? não vai
16 Ana a parte elétrica aqui eu não concordo não. a maioria dessas
17
coisas aqui, é::, =
18 Pedro =igual correia dentada, tu- tudo bem, é desgaste, mas se
19
rebenta, e essas coisas assim, tá dentro tá onde, tá onde, onde
20
que tá? Tá dentro do motor, né?[ e o quê que vai acontecer? ]
O que está em jogo, neste segmento de fala, é a disputa daquilo que pode ser
considerado coberto pela garantia e aquilo que o mecânico pode analisar quando vistoria
um carro usado,para recomendar ou não sua compra. Assim, ao ser perguntado pela
mediadora sobre a cobertura de um item específico (então/ uma bomba elétrica estaria
dentro da garan[ t i a, né?]),o que mais parece um pedido de confirmação, José
reformula a pergunta retirando o foco “aquilo que a garantia cobre” (linha 9) para a
possibilidade ou não de identificação dos defeitos quando se compra um carro usado
“tem jeito de você prever, pré- prever alguma coisa aqui?”e “o mecânico vai prever na
HORA que ele vai ver o carro? (linhas 11 a 15).
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Vemos que o reclamante, ao formular a pergunta, o faz de forma a pressupor
uma resposta negativa evidente, já que está enquadrando os problemas apresentados
pelo carro comprado como “invisíveis”, categoria esta usada no CDC como um dos
fatores que podem garantir ao consumidor uma futura reparação ou troca do produto.
Um outro aspecto das perguntas retóricas merece nossa atenção: o fato de serem,
geralmente, respondidas por quem as formula, conforme podemos ver à linha 15 (:não
vai).
Esse mesmo fenômeno pode ser identificado, mais adiante, na fala de Pedro,
amigo do reclamante que o acompanha nessa audiência. Às linhas 19 e 20: “tá onde, tá
onde, onde que tá? Tá dentro do motor, né?” e “quê que vai acontecer?”. Sua fala
aparece como uma evasão à avaliação, feita pela mediadora à fala de José, de que a
parte elétrica não estaria coberta pela garantia (linhas 16-17), já que não parece ter uma
opinião clara sobre os itens que estariam cobertos pela garantia, objeto da pergunta. Ao
evadir-se, Pedro aparentemente deseja dar sustentação/continuidade ao argumento de
José de que há problemas que não se podem prever, usando como exemplo “a correia
dentada” que, embora seja passível de desgaste, faz parte do motor, logo estaria coberta
pela garantia que, segundo o reclamado, cobre apenas “motor e caixa”.
Há, portanto, o uso de perguntas retóricas em ambos os casos para direcionar a
argumentação, evadindo-se de uma pergunta/comentário para a qual ou não se tem uma
resposta direita ou não é interessante, do ponto de vista argumentativo, oferecer uma
resposta “satisfatória”.
Exemplo (2):
Audiência: Rui Pedreiro
Participantes: Jorge (mediador) e Lúcia (reclamante)
Tópico: o acordado entre Lúcia e Rui
01 Jorge
Pelo aco- pelo que ele tinha com- falado com a senhora, iria ser feito é
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02
03
04 Lúcia
05
06
a casa ia ser entijolada, batido a laje e, e emboçada
[e feito] o piso?
[ e l e ] ele falou que ia me dar a casa no ponto pra mim MORAR, pra
mim MORAR. se ele não ia fazer o piso, se ele não ia rebocar, como
é que eu ia morar?
Jorge, o mediador, inicia seu turno de fala fazendo um reparo ao tipo de
“acordo” existente entre Lúcia, a reclamante, e Rui, o reclamado. Como não foi firmado
um acordo, por escrito, o mediador tenta estabelecer o tipo de combinação verbal
existente entre as partes. Tendo ouvido a versão do reclamado, segundo a qual este teria
se comprometido apenas em “entijolar e a bater a laje” e feito, como um favor, o
emboço e o piso, o mediador submete à reclamante esta versão na forma de uma
pergunta do tipo sim/não. Lúcia não confirma, nem desconfirma a lista de ações
realizadas, segundo o pedreiro. Escolhe responder com uma pergunta retórica (linhas 5 e
6) em que defende que o acordo era entregar a casa “no ponto pra mim MORAR” (linha
4), Logo, por implicatura, o reclamado teria ainda que fazer, por exemplo, o reboco.
Entretanto, a forma como a reclamante enquadra sua versão do “acordo”, não conbribui
para a formulação objetiva do mesmo, serve apenas para refutar o argumento inicial do
reclamado de que o compromisso era apenas o de “entijolar e fazer a laje”.
Na entrevista com o Ministro Paulo Renato, ou seja, no contexto político, as
perguntas retóricas também foram frequentes, observem:
Exemplo (3):
Entrevista “Roda Viva”
Participantes: Um dos entrevistadores (Edor) e o ministro Paulo Renato (MPR)
Problema: As mudanças propostas pela Reforma do Ensino Médio
1 Edor.: e eu gostaria de saber então ... antes de mais nada ... pra
2
começar ... eh ...qual é a situação da reforma do Ensino Médio ?
3
eh ... eu sei que há apenas cinco estados até agora ...
4
infelizmente apresentaram os seus progra ... planos de reformas
5
que seria fundamental pra terem acesso ao dinheiro ... eh ... o
6
empréstimo do BIRD ... esses estados são São Paulo Ceará Bahia
7
Pernambuco e Goiás gostaria então que o senhor começasse dizendo
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quais são os programas que a reforma do ensino médio tem feito?
9 MPR: eu ... eu queria começar com uma análise do primeiro dado que
10
você mencionou porque eu acho que é muito sintomático ... eu vi
11
esse dado … de 18 a 24 anos apenas 40% das crianças ... dos
12
jovens estão na escola … nós temos a mania no Brasil de
13
enfatizarmos os dados piores possíveis não é ... e eu gostaria de
14
enfatizar outros dados ...
15 Edor: humhum
16 MPR: 96% das crianças de 7 a 14 anos estão na escola e 85% dos jovens
17
de 15 a 17 anos estão na escola ...é claro que nós temos ainda
18
uma baixa proporção de jovens no ensino médio e no ensino
19
superior..por quê?porque há ainda no Brasil ... nós temos uma
20
herança ... de uma situação em que poucos jovens concluíam o
21
Ensino Fundamental e concluíam já numa idade muito avançada quando
22
nós assumimos o governo ... apenas 50% das crianças concluíam o
23
ensino fundamental e levava doze anos pra concluir... isto já
24
melhorou ...hoje temos 63% que estão concluindo e estão levando em
25
média dez anos ... o que acontecia antes ... eles terminavam numa
26
idade onde não podiam continuar estudando, tinham que ir pro
27
mercado de trabalho não é ... então ... anh ... se nós tomamos só
28
18 a 24 anos.. a proporção é baixa por quê? Porque justamente
29
esses jovens não tiveram a oportunidade de concluir o Ensino
30
Fundamental e o Médio na idade adequada pra continuar estudando ... Agora
31
isso vem mudando radicalmente no Brasil ...
No exemplo (3), o entrevistador quer que o ministro Paulo Renato comente as
mudanças propostas por ele para o Ensino Médio – “qual é a situação da reforma do
Ensino Médio?” (linha 2) e “quais são os programas que a reforma do ensino médio
tem feito?” (linha 8).
O ministro inicia seu turno de fala (linhas 9 a 11) produzindo um tipo de evasão
previsto nas tipologias de Clayman (2001) e Galasinski (1996) que denominamos de
“solicitação de evasão”, em que o respondente pede permissão para mudar a agenda
tópica da pergunta (linhas 9 e 10) - “... eu queria começar com uma análise do primeiro
dado que você mencionou”. Trata-se, portanto, de uma evasão anunciada ou em que o
respondente pede permissão para falar de outro assunto, não focalizado na pergunta,
mas mencionado antes de forma prejudicial para a imagem do governo e retomado por
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ele às linhas 11 e 12 – “de 18 a 24 anos apenas 40% das crianças ... dos jovens estão
na escola”- e explicitamente escolhe falar de dados positivos para a imagem do governo
– “96% das crianças de 7 a 14 anos estão na escola e 85% dos jovens de 15 a 17 anos
estão na escola”. O ministro vale-se de perguntas retóricas para introduzir “escusas”3
para o dado por ele enquadrado como “negativo”. Nas linhas 17 a 19, ele introduz, na
forma de pergunta, qual seria a causa do baixo percentual de jovens de 18 a 24 anos
matriculados – “é claro que nós temos ainda uma baixa proporção de jovens no ensino
médio e no ensino superior..por quê?” A causa apontada desresponsabiliza o Governo
ou sua gestão no Ministério da Educação: seria uma “herança” da situação em que
poucos jovens concluíam o segundo grau ou o faziam já em idade avançada. Através
desse recurso, ele assume o controle sobre a agenda tópica (aquilo sobre o que se fala
num encontro) e expõe seu ponto-de-vista, tendo como uma de suas metas
comunicativas afastar de sua gestão qualquer responsabilidade pelo problema.
Exemplo (4):
Entrevista “Roda Viva”
Participantes: Um dos entrevistadores e o ministro Paulo Renato
Problema: Como provar que o Fundef diminuiu a corrupção?
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Edort
MPR
Eort
MPR
Edor
MPR
como? como saber? como economista que gosta de mostrar os
índices.. ((rindo))
agora vamos ver ... agora eu vou ser economista..
Me mostra os índices... Por que há menos?
Agora eu vou ser economista não é?
Como provar que há menos?..há menos
vamos lá...Em SP, antes do Fundef ... eh.... dos 568 municípios de
SP, apenas 68.. eh... dos 648 municípios, apenas 68 tinham rede
municipal de ensino fundamental. Todos os demais tinham que gastar
25% da arrecadação em educação e não tinham escolas. Onde é que
gastavam esse dinheiro? Pavimentavam a rua na frente da escola...
construíam ginásio de esporte.. compravam carro pro prefeito..
3
Escusa, segundo Sottt & Lyman (1968), é um tipo de explicação em que se atribui a terceiros ou a
fatores externos a responsabilidade por um problema.
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No exemplo (3), o ministro argumenta que com a implantação do seu programa
para o Ensino Fundamental, denominado Fundef, a corrupção diminuiu. Com isso, o
entrevistador pede ao ministro que prove que, de fato, houve uma redução na corrupção
e que mostre que há menos corrupção com a implantação do Fundef (“Como provar que
há menos?”, linha 6). Assim, ao construir sua argumentação, Paulo Renato defende que
o Fundef possibilitou um controle maior do dinheiro destinado à educação e para
fundamentar sua resposta, ele fala sobre como o dinheiro da educação, no passado,
poderia ser gasto- “Onde é que gastavam esse dinheiro?” (Linhas 10 e 11). Entretanto,
não consegue provar que essa situação, de fato, mudou, isto é, que o dinheiro da
educação não continua sendo gasto para esses fins. Assim, a pergunta retórica e a sua
resposta subsequente, ao contrapor passado e presente, comprovam o que ministro
defende: agora há um controle maior do dinheiro da educação e, consequentemente,
menos corrupção. No entanto, o ministro usa estrategicamente as perguntas retóricas e
não prova, com números, conforme proposto pelo entrevistador, que há menos
corrupção.
4. Considerações finais
Com a análise dos dados, descobrimos uma prática de evasão muito importante
que não foi contemplada nas tipologias de Galasinski (1996) e Clayman (2001): evasão
por meio do uso de perguntas retóricas. Cabe destacar que não encontramos na
literatura nenhuma referência a essa prática de evasão. Entretanto, em nossos dados,
respostas que utilizavam essa estratégia de evasão foram muito frequentes.
A ocorrência desse tipo de recurso discursivo, no PROCON e na entrevista com
Paulo Renato, parece atender a uma meta comunicativa de ordem interacional: a defesa
de uma imagem positiva para o respondente, já que são usadas quando as perguntas que
lhe são endereçadas podem ser enquadradas como algum tipo de ameaça ou provocação.
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O destaque dado às perguntas retóricas: evasivas, justifica-se primeiro, porque
elas foram muito recorrentes nas atividades analisadas; segundo, porque não tinham
sido apontadas por nenhum autor como um possível tipo de evasão nas respostas;
terceiro, porque, embora elas pareçam exercer a função de direcionar o discurso, podem
adquirir funções específicas em diferentes contextos.
Notamos que, as perguntas retóricas podem ser utilizadas como recurso
argumentativo, mais precisamente como uma estratégia usada para orientar os
argumentos para uma dada conclusão (cf. Koch, 1995) ou para sustentar um dado
argumento.O ex-ministro utilizou perguntas retóricas em suas respostas, ou em seu
papel discursivo de respondente, principalmente, para ter possibilidade de refocalizar e
de mostrar/falar sobre o que lhe seria conveniente, esta seria uma forma de resistir ao
controle que os entrevistadores detêm sobre os entrevistados, porque em tese, controlam
a agenda tópica prevista para o encontro. No PROCON, essas perguntas foram usadas
principalmente para desafiar a parte oponente, na tentativa de desqualificar os
argumentos da outra parte, posicionando-os como irrelevantes ou questionando a
racionalidade dos mesmos. Nas audiências de conciliação, no PROCON, desqualificar
os argumentos do outro está a serviço da atribuição ou refutação da responsabilidade
pelo problema que deu origem à reclamaçao.
Há, entretanto, a necessidade de se aprofundar a investigação, nos contextos,
estudados, fazendo-se necessário incluir outros tipos de atividades em futuras pesquisas
sobre o tema. Principalmente, seria importante investigar, de forma mais sistemática, as
razões discursivas que levam o respondente a evadir-se da resposta. Por exemplo,
Bavelas et al (1998) mostra que os políticos optam pela evasão em entrevistas por causa
da natureza das perguntas que são utilizadas pelos entrevistadores. Segundo esses
autores, as perguntas utilizadas nessas entrevistas exigem um posicionamento claro por
parte dos respondentes, o que pode comprometer a imagem pública que querem
resguardar. Entretanto, se os políticos não produzem uma resposta, são julgados
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negativamente. Esta parece ser a razão pela qual, no discurso politico, haja uma
preferência pelas evasões “encobertas”.
Do mesmo modo, acreditamos que as “não-respostas”, nos contextos políticos e
nas audiências de conciliação do PROCON, aqui analisados, o uso de evasões
encobertas pode decorrer do tipo de perguntas utilizadas: perguntas “ embaraçosas”.
Com isso, respostas claras a esse tipo de perguntas pode ocasionar prejuízos à imagem
do entrevistado/respondente. Há, nestes contextos, uma constante negociação do que
mostrar e do que esconder em termos informacionais, o que justificaria a “evasão” ser
uma prática discursiva relevante quando um dos participantes, cria para um outro a
“obrigação” de responder, pelo simples fato de tê-lo posicionado no papel discursivo de
“respondente”.
No caso do programa “Roda Viva”, o entrevistador pergunta sobre aquilo que
julga que o telespectador tenha o direito de ser informado. As perguntas podem
focalizar questões relativas ao exercício do cargo de Ministro. Responder de forma clara
e objetiva pode, entretanto, não ser a melhor opção “política”. No PROCON, as
perguntas feitas pelo mediador, por exemplo, podem ter como meta estabelecer/atribuir
responsabilidades pelos danos/prejuízos do consumidor. Há aqui, via de regra,
interesses conflitantes: o consumidor deve apresentar argumentos que responsabilizem o
reclamado e a este cabe, por vezes, refutar os argumentos do reclamante.
Uma das razões, então, para o uso frequente de respostas evasivas em nossos
dados, pode ser a tentativa de evitar respostas que produzam danos morais ou materiais
aos respondentes. Do ponto de vista discursivo, são usadas, principalmente, para mudar
ou reformular o foco da pergunta, seja por discordar do que é posto ou pressuposto pela
mesma, seja para proteger os interesses do respondente.
Referências Bibliográficas:
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Referências recomendadas:
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Recebido Para Publicação em 29 de dezembro de 2011.
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