Meio Ambiente - Saneamento Básico em Natal

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Meio Ambiente - Saneamento Básico em Natal
cap 01 Meio Ambiente
1. Ecologia
Ecologia é a ciência que se ocupa do estudo das relações entre os seres vivos entre si e com o ambiente que os cerca. Portanto, a
Ecologia é uma ciência que destaca a emergência da vida como ponto central para compreender os processos terrestres. Para a
Ecologia, a Terra é um planeta tomado pela vida e é esta vida que caracteriza o nosso planeta e o particulariza dentre os corpos
celestes conhecidos.
O grande objeto de estudo da Ecologia são os processos terrestres, vistos sob a ótica da participação e protagonismo dos seres
vivos. Para entender os processos ecológicos, precisamos entender o conceito de sistema.
2. Elementos básicos da teoria de sistemas
Sistema é o conjunto de estruturas e dinâmicas que explicam os processos, a partir da circulação de matéria e energia. Estudar
sistemas é estudar fluxos, seu dinamismo e estágios de alteração e armazenamento. Todo sistema estuda o fluxo de matéria e
energia.
Para caracterizar um sistema, precisamos definir:
1. Fluxos;
2. Compartimentos.
2.1. Fluxo
Definir um sistema é definir seu fluxo e o caminho que trilha. Este fluxo é o fluxo de alguma matéria, que utiliza para seu
movimento energia, e/ou o fluxo de energia. Por exemplo, podemos estudar, do ponto de vista sistêmico, o fluxo da água na
natureza ou estudá-lo inserido nos serviços de abastecimento urbano de água ou de esgotamento sanitário. podemos estudar
também o fluxo de energia na biosfera.
2.2. Compartimentos
Todo fluxo tem um caminho. Este caminho passa por locais ou estágios, onde sofre alterações quantitativas, no tempo e no
espaço. Estes locais, que exercem influências no fluxo, são os seus compartimentos. Portanto, estudar fluxos é estudar suas
alterações no tempo e no espaço, e o papel de seus compartimentos nestas alterações. Os compartimentos são reservatórios ou
meios de transporte para a matéria que flui. Por exemplo, um manancial é um compartimento para o sistema de fluxo de água
para abastecimento. A atmosfera é um compartimento para o fluxo de CO2. Os níveis tróficos são compartimentos para o fluxo
de energia solar na biosfera.
2.3. Sistemas e sub-sistemas
Os sistemas podem aninhar outros sistemas e assim sucessivamente. Um compartimento, por exemplo, pode possuir dentro dele
um sub-sistema, por onde flui a matéria. Desta forma, o fluxo vai percorrendo o sistema e, dentro dele seus compartimentos e
sub-sistemas. Na verdade a divisão em sub-sistemas surge mais por uma necessidade de sub-dividir sistemas complexos. Por
exemplo, o sistema de abastecimento de água pode acomodar os sub-sistemas de captação, tratamento e distribuição de água.
Um sistema trófico pode acomodar vários sub-sistemas correspondentes aos níveis tróficos.
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2.4. Sistemas abertos e fechados
Os sistemas podem ser abertos ou fechados. No primeiro caso, a matéria flui numa única direção, criando assim fontes de
entrada e de saída do sistema. Nos sistemas fechados, a matéria fica confinada, isto é, flui em ciclo. Existem ainda sistemas semiabertos ou semi-fechados, dependendo das representatividades de suas entradas e saídas, quando comparadas ao montante de
fluxo interno. Por exemplo, na Terra todos os fluxos de matéria ocorrem em sistemas fechados. Isto se dá pelo fato da Terra não
trocar matéria com o espaço. Já em relação à energia é o contrário.
Todos os sistemas que trabalham com o fluxo de energia são obrigatoriamente abertos, pois a energia utilizada não pode ser
recuperada.
2.5. Entradas e saídas
Como os sistemas são caracterizados por seus fluxos, é importante conhecer as portas de entrada e saída da matéria e/ou
energia que flui num sistema, tanto dentro dos compartimentos que o compoem, quanto com o meio externo ao sistema,
quando este for um sistema aberto. Por exemplo, Num sistema de esgotamento sanitário, a água de abastecimento consumida é
a entrada do sistema, enquanto que as águas servidas, tratadas ou não, despejadas nos corpos receptores (rios, oceanos, etc.)
são a saída.
2.6. Tempo de residência
Outro aspecto importante em nossa compreensão do funcionamento dos sistemas é o tempo que a matéria ou energia fica
residente num dado compartimento. A este tempo denominamos tempo de residência. O tempo de residência é muito
importante para compreendermos o dinamismo do fluxo sistêmico. Assim, um compartimento com um tempo de residência
pequeno dará mais celeridade ao fluxo. por exemplo, o tempo de residência do CO2 no copartimento atmosférico é de cerca de
50 anos. Já no compartimento litosférico (ver item ****litosfera)pode ser de milhões de anos.
2.7. Retroalimentação
A retroalimentação, ou feed-back, é um mecanismo em que um componente A do sistema exerce influência em outro, B, a partir
da informação ou fluxo que sai de B para A, daí o nome de retroalimentação. De fato, B gera a informação para A, que por sua
vez retorna a informação para B, de sorte a alterar o fluxo em B. Isto é, A retroalimenta B.
A retroalimentação pode ser:
1. Positiva;
2. Negativa.
Será positiva quando a retroalimentação aumentar o fluxo, que por sua vez voltará mais forte e será retroalimentado ainda mais,
gerando aumentos sucessivos. este caso, A fomenta o aumento progressivo do fluxo em B. É como se fosse uma bola de neve.
Já na retroalimentação negativa ocorre o contrário. Neste caso, A exerce controle sobre o fluxo em B, não permitindo que
ultrapasse um determinado nível.
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Por exemplo, o degelo das calotas polares faz aumentar a absorção de calor pelos oceanos, que por sua vez aumenta ainda mais
o degelo, e assim sucessivamente, num caso típico de retroalimentação positiva. Um exemplo de retroalimentação negativa é o
controle interno de temperatura nos mamíferos, onde um aumento de temperatura desencadeia uma série de mecanismos de
controle térmico que a fazem baixar. A sudorese nos humanos é um exemplo de mecanismo de controle térmico.
2.8. Equilíbrios
Inúmeros são os sistemas que funcionam no planeta Terra, tanto os naturais quanto os artificiais. A tendência de qualquer
sistema é atingir alguma estabilidade, onde seus compartimentos trabalhem com quantidades de fluxo razoavelmente
constantes. Quando isto ocorre, temos o equilíbrio.
2.8.1. Balanço sistêmico
Uma forma de detectar equilíbrio dinâmico é através da diferença entre entrada e saída, que recebe o nome de balanço. Para
haver equilíbrio, o balanço deve ser zero, isto é, a entrada se iguala à saída. Quando o balanço é positivo, estará havendo mais
entrada do que saída. O contrário ocorre no balanço negativo. Um exemplo de balanço nulo é a energia que a Terra, um sistema
aberto para a energia, troca com o espaço, quando a entrada de energia do sol deve igualar-se à quantidade de energia que a
Terra lança ao espaço. Infelizmente, estudos recentes apontam para um ligeiro balanço positivo, resultado de uma diminuição do
lançamento de energia da Terra para o espaço, recrudescendo o aquecimento global (ver item ****aq global).
2.8.2. Estático e dinâmico
O equilíbrio pode ser:
1. Estático;
2. Dinâmico.
No equilibrio estático não corre fluxo. É como se fosse a morte do sistema. Cada compartimento possui a sua quantidade de
matéria, e ela não flui mais. Trata-se de um caso incomum de equilíbrio na natureza.
No equilíbrio dinâmico, as quantidades compartimentais são mantidas, mas o fluxo continua sem parar. Neste caso, as entradas e
saídas dos compartimentos são equivalentes, isto é, o que entra é igual ao que sai. A natureza é pródiga em apresentar sistemas
com equilíbrio dinâmico.
Por exemplo, um dado volume de água, em condições de temperatura e pressão fixas, tem uma capacidade máxima de diluir o
sal. Uma vez atingida esta concentração, a quantidade de sal dissolvido não mais será alterada. Entretanto, continuará havendo
troca de sal dissolvido por precipitado e vice-versa, mas cujas quantidades serão iguais, isto é, a quantidade de sal adicional que
for dissolvida será igual à quantidade de sal precipitada. Neste caso, a entrada é igual a saída, logo, o balanço de sal de sal
dissolvido é zero.
2.8.3. Permanência do equilíbrio
O equilíbrio nos sistemas pode ser duradouro ou não, dependendo das circunstâncias em que estiverem envolvidos.
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Existem 2 qualidades dos sistemas que denotam sua tendência a permanecer em equilíbrio:
1. Resitência;
2. Resiliência.
2.8.3.1. Resistência
A resistência é a propriedade do sistema resistir em modificar o seu estado de equilíbrio.
2.8.3.2. Resiliência
Já a resiliência não trata da resistência em sair do equilíbrio, mas sim na capacidade sistêmica em voltar para o estado de
equilíbrio, após ter saído dele.
equilíbrio sela e cuia
Uma forma de visualizarmos a resiliência é através dos diagramas de sele e cuia. Umsistema de grande resiliência é um sistema
emforma de cuia. Quando sofre uma perturbação, ele sai de sua zona de equilíbrio, mas depois de oscilar volta ao seu estado
original, como se fosse uma bola dentro de uma cuia.
Um sistema em sela tem uma pequena resiliência. Basta uma perturbação de pouca intensidade, para que ele se desestabilize e
não volte mais à sua condição original de equilíbrio. Como se fosse uma bola numa sela, basta um leve movimento para que caia.
2.8.3.3. Homeostase
Dá-se o nome de homeostase ao equlíbrio dinâmico de longa duração. A tendência dos sistemas naturais é a homeostase.
2.8.4. Mudanças de patamar
Sistemas submetidos a perturbações superiores a sua capacidade de resistência e resiliência, alteram irreversivelmente seu
estado de equilíbrio. Entretanto, como a tendência da natureza é a homeostase, espera-se que estes sistemas venham a se
acomodar, mais cedo ou mais tarde, em um novo estado de equilíbrio. Desta forma, os sistemas vão mudando de patamar de
equilíbrio e podem evoluir ou ser descaracterizados. A evolução das espécies é um bom exemplo de mudanças de patamar
sistêmicas.
3. O universo entrópico
O universo tido como o maior de todos os sistemas também tende à homeostase. A ciência que estuda o sistema de energia do
universo é a termodinâmica.
3.1. As leis da termodinâmica
A termodinâmica é governada por 2 leis, denominadas leis da termodinâmica, que são as seguintes:
1. 1a Lei: Lei da Conservação da Energia;
2. 2a Lei: Lei da Entropia;
3.1.1. Lei da Conservação da Energia
A Lei da Conservação da Energia diz que a energia não pode ser criada ou destruída. Significa dizer que a energia existente no
momento da origem do universo, o big bang ou grande explosão, é a mesma que existe hoje ou existirá amanhã no universo.
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3.1.2. Lei da Entropia
A Lei da Entropia diz que em qualquer circunstância, toda vez que a energia é utilizada, uma parte se perde em sua forma mais
desorganizada, o calor. Significa dizer que sempre existirá uma perda de energia na forma de calor, quando fizermos qualquer
uso da energia. Por exemplo, quando colocamos gasolina num automóvel, estaremos utilizando a energia química da gasolina
para transformá-la em energia de movimento. Quando isto ocorre, parte da energia da gasolina é perdida na forma de calor. É
por isso que o motor do automóvel esquenta. É o calor originado pela conversão de energia química em energia cinética. Pela Lei
da entropia, é impossível ser criada uma máquina que possa aproveitar 100% da energia a ela fornecida. Inexoravelmente, parte
da energia fornecida irá perder-se na forma de calor.
Outro exemplo vem da utilização da energia dos alimentos pelos seres vivos. Toda vez que um ser vivo ingere um alimento, parte
das calorias deste alimento se perde na forma de calor. Significa dizer que é impossível aproveitar todas as calorias de um
alimento ingerido.
3.1.3. Aumento da entropia
Juntando as 2 leis da termodinâmica, temos que, com o passar do tempo, toda a energia do universo será transformada em sua
forma mais desorganizada, o calor. Assim, a termodinâmica informa que o universo caminha inexoravelmente para um estado de
absoluta desorganização, onde só existirá o calor, que, uma vez que esteja espalhado uniformemente por todo o universo, se
manifestará por uma temperatura muito, mas muito, baixa, não muito distante do zero absoluto.
Como a entropia é a grandeza que mede o grau de desorganização de um sistema. Podemos dizer que estamos a caminho do
universo entrópico, isto é, um estado de entropia máxima.
3.2. A vida dentro do universo entrópico
E como fica o advento da vida, num universo entrópico? É uma pergunta que embute uma contradição. De fato, a vida é uma
manifestação bastante organizada da matéria. Logo, a vida caminha na direção contrária do universo. Enquanto este tende a se
desorganizar, a vida manifesta-se em direção contrária. Estaria assim a vida contrariando a 2a Lei da Termodinâmica? A resposta
a esta pergunta foi dada pelo físico Ilya Prigogine, e por ter encontrado a resposta foi agraciado com o Prêmio Nobel. Prigogine
explica que a vida, com toda a sua organização, tem de utilizar grandes porções de energia para manter esta organização. A
energia utilizada pelos seres vivos é então convertida, em sua maior parte, em calor, corroborando a Lei da entropia. Melhor
dizendo, o advento da vida não contraria a 2a Lei, muito pelo contrário, ratifica-a na medida que grandes porções de calor são
geradas para manter os seres vivos e sua organização.
4. Teoria de Gaia: a Terra como super-organismo
A Terra, como já comentado, é o nosso maior sistema. Como tal, possui fluxos e compartimentos. O estudo do sistema Terra, faz
ver que nela atuam vários mecanismos de retroalimentação que também podem ser apreciados nos seres vivos.
4.1. Autopoiese
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Dá-se o nome de autopoiese ao conjunto de propriedades de auto-organização, que caracterizam os seres vivos. Os sistemas
autopoiéticos são passíveis de possuirem mecanismos de autoreparo, por exemplo.
A Terra se enquadra nos quesitos para ser considerado um sistema autopoiético.
4.2. Teoria de Gaia
O advento da vida em nosso planeta, fez com que o sistema Terra sofresse alterações importantes para que ela pudesse se
desenvolver. Assim, criou-se uma interação definitiva entre os processos geoquímicos, isto é, processos envolvendo grandes
forças telúricas, e os processos biológicos. Desta forma, o sistema Terra é um grande sistema de processos biogeoquímicos. Esta
é a proposição embutida na Teoria de Gaia.
A Teoria de Gaia preconiza que o sistema Terra é um sistema particular, que não apenas sustenta a vida, mas é por ela
modificado e esta alteração visa ocorrer em benefício da própria manutenção e expansão da vida. Tal asserção contraria um
senso comum, que tem permeado a compreensão de cientistas e leigos de que os seres vivos é que se adaptam às condições
ambientais. A Teoria de Gaia diz que esta relação é apenas parte da história, a outra parte vai no sentido contrário e estabelece
que os seres vivos modificam o meio ambiente para que este atenda às suas necessidades.
O planeta Terra, visto como um grande sistema autopoiético, que incorpora a vida como um agente interativo e protagonista,
capaz de participar ativamente dos processos que o fazem único, destacado de todos os outros planetas conhecidos, passa a ser
denominado Gaia. Assim, Gaia não é apenas um planeta que abriga a vida, mas sim um planeta vivo, um superorganismo.
O nome Gaia foi emprestado da deusa que expressa a criação da Terra, na mitologia grega.
4.3. Breve história de Gaia
A história de Gaia não começa com o surgimento do Planeta Terra. O nascimento de Gaia se dá centenas de milhões depois, os
microrganismos começam a agir sobre o planeta e alterar suas configurações para que a vida pudesse então expandir-se e
cumprir o seu desiderato na Terra.
Alguns acontecimentos mostram o protagonismo dos seres vivos em Gaia. Dentre tantos exemplos, vamos a seguir apreciar a
história da constituição da atmosfera terrestre.
Logo após o surgimento da Terra, e durante centenas de milhões de anos, sua atmosfera era formada por gases em
concentrações muito diferentes das que temos hoje. Era uma atmosfera estável, com uma composição de gases inertes, com
pouco poder reativo. Esta composição de gases pouco reativos muito se assemelhava a dos outros planetas do sistema solar, e
que até hoje neles são mantidas.
Ocorre que, como veremos a seguir, esta situação começou a mudar irreversivelmente, há cerca de 500 milhões de anos após o
surgimento da Terra.
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A vida surgiu no mar. Nesta época as águas serviam como uma providencial proteção para os primeiros seres vivos. Isto porque
não havia camada de ozônio nesta época. Com isso, os raios ultravioleta emitidos pelo sol não eram filtrados, sendo então letais
a qualquer organismo vivo. No oceano, os organismos ancestrais foram consumindo a pouca matéria orgânica existente, pois não
tinham condição de sintetizar o seu próprio alimento, daí serem denominados heterótrofos ou seres heterotróficos (ver item
****). Tal situação, se persistente, levaria todos à morte, pois não era suficiente para alimentá-los por muito tempo.
Foi aí que ocorreu uma novidade. Uma novidade produzida pela própria comunidade biológica. Alguns organismos modificaram o
seu aparato metabólico e passaram a fabricar o seu próprio alimento, a partir de substâncias mais simples, abundantes nos
oceanos e a luz do sol. Foi o advento da fotossíntese. Os seres fotossintetizadores foram denominados autótrofos ou seres
autotróficos (ver item ****). Tal novidade resolveu o problema da demanda por alimento, inclusive dos seres heterotróficos, que
agora poderiam consumir os autótrofos e garantir, através destes, o seu suprimento de matéria orgânica. Assim, a comunidade
biológica encontrou os meios para resolver um problema importante, que dizia respeito à sua própria sobrevivência.
Junto com a novidade da autotrofia, aparece a produção de oxigênio molecular. Isto porque o oxigênio molecular é liberado no
processo da fotossíntese. Como os autótrofos foram muito bem sucedidos, multiplicaram-se rapidamente, liberando generosas
quantidades de oxigênio. Este oxigênio liberado, após reagir com várias substâncias nos oceanos, começou a sobrar nos mares e
foi consequentemente aportar o compartimento atmosférico. A atmosfera então começou a alterar significativamente a sua
composição, incorporando cada vez mais oxigênio molecular.
O oxigênio na atmosfera cumpriu uma função importante que foi a construção da camada de ozônio, antes inexistente. Esta
camada, passou, e o faz até hoje, a atuar como um verdadeiro filtro para os raios ultravioleta. A consequência natural deste
evento foi a possibilidade da migração da vida para as áreas secas. Tal fato propiciaria à vida uma absolutamente nova
perspectiva de expansão, agora para a terra firme, com todas as possibilidades que, com isso, iriam se configurar. Mais uma vez,
a comunidade biológica foi desbravando os seus próprios caminhos de sobrevivência e expansão.
Entretanto, mesmo com todos estes benefícios, um problema se criou. Ocorre que, não obstante o advento benéfico da camada
de ozônio, a crescente concentração de oxigênio atmosférico poderia ser letal aos organismos. De fato, o oxigênio tem um
enorme poder reativo. As reações de oxidação no meio celular, por meio de radicais livres de oxigênio, geram processos
deletérios, prejudiciais ao funcionamento do organismo.
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Entra em cena então, mais uma vez, a inventividade biológica. Um novo processo metabólico foi criado: a respiração celular do
oxigênio. Por este novo processo, a capacidade reativa do oxigênio seria utilizada para o aproveitamento de grandes quantidades
de energia pelas células. O oxigênio passaria de vilão à mocinho. A respiração celular foi então utilizada largamente pelos seres
vivos, procedendo a diminuição da concentração de oxigênio na atmosférica. Ao longo de milhões de anos sua concentração foi
sendo estabilizada pela combinação destes 2 processos: fotossíntese, gerando oxigênio, e respiração, retirando oxigênio. Desde
há muito, até os nossos dias, a concentração de oxigênio atmosférico tem estado estabilizada em torno de 20%.
Esta concentração de oxigênio, presente em nossa atmosférica, é absolutamente improvável em todos os outros planetas
dosistema solar. Neles, a concentração de oxigênio é mínima ou inexistente Logo, o oxigênio presente em nossa atmosfera é
uma singularidade. Esta singularidade só é possível pelo advento da vida e sua inventividade. Foram os seres vivos que
garantiram, e garantem até hoje, a presença do oxigênio em nossa atmosfera. Podemos entao concluir que o oxigênio
atmosférico é uma impressão digital da presença de vida na Terra.
Foi a constatação desta anomalia que suscitou a curiosidade do cientista escocês James Lovelock, que, após estudos exaustivos,
propôs a Teoria de Gaia. Lovelock, junto com sua colaboradora, a microbióloga Lynn Margullis, defendeu a ideia de que a vida vai
protagonizando sua própria trajetória de sobrevivência e expansão, interferindo no meio ambiente planetário em seu próprio
benefício, nele deixando marcas, mudando suas configurações e o seu destino.
5. As esferas terrestres
O grande sistema Terra pode ser dividido em vários compartimentos que interagem entre si de forma interdependente e são
interconectadas. Suas fronteiras físicas estão entrelaçadas e formamo todo planetário. Tais partes são denominadas esferas
terrestres, e são as seguintes:
1. Atmosfera;
2. Litosfera;
3. Hidrosfera;
4. Biosfera.
5.1. Atmosfera
A atmosfera é o invólucrogasoso que isola o planeta Terra do espaço. Cumpre funções muito especiais, quais sejam:
1. Amortece e quase sempre evita a colisão de corpos celestes com a terra firme;
2. Filtra as radiações epspaciais;
3. Armazena os gases que propiciam as condições de vida no planeta;
4. É o maior compartimento em volume do sistema Terra;
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5. Por ser o maior compartimento, participa ativamente do fluxo de grande parte da matéria existente no planeta;
6. Estabelece as condições de tempo que vão agir sobre o planeta e porporcionar as condições de vida existentes.
É fácil perceber que a atmosfera é um ator fundamental para o desenrolar do drama da existência do planeta Terra.
A atmosfera pode ser dividida em camadas, com as seguintes denominações:
1. Troposfera;
2. Mesosfera;
3. Estratosfera;
4. Exosfera;
5.1.1. Troposfera
A troposfera é a camada mais próxima ao solo. Sua espessura gira em trono de 10 km. É na troposfera que os grandes processos
atmosféricos são realizados. Toda a ocorrência de vida dependente da atmosfera, está confinada na troposfera. As mudanças de
tempo, as chuvas, as frentes frias, os ventos, a poluição do ar, todos estes processos e muitos outros mais, ocorrem nesta
camada. Portanto, a troposfera é a camada mais importante para a ocorrência dos processos vitais da Terra.
5.1.2. Mesosfera
A mesosfera é uma camada intermediária, onde o ar já possui grande rarefação, quando comparado à troposfera.
5.1.3. Estratosfera
A estratosfera é a camada onde localiza-se a camada de ozônio, tão importante para a vida em terra firme, e já comentada
anteriormente.
5.1.4. Exosfera
A exosfera é a camada final, que faz a interface do planeta com o espaço infinito.
5.2. Litosfera
Pertencem à litosfera as áreas sólidas do planeta, que vão desde a terra firme e o fundo dos oceanos até o centro da Terra.
A litosferapode ser divida nas seguintes camadas:
1. Crosta terrestre;
2. Manto;
3. Núcleo central.
5.2.1. crosta terrestre
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A crosta terrestre está para a litosfera, assim como a troposfera está para a atmosfera. É a camada que recobre a parte sólida do
planeta. Por isso, sofre tanto a ação dos movimentos da troposfera, quanto a ação dos movimentos do manto. Portanto, a crosta
terrestre apresenta um grande dinamismo, desencadeando e sofrendo processos que mudam continuamente a face do relevo. É
ela que fornece o substrato para a biosfera e a hidrosfera. Nela temos a formação do solo, onde crescem as plantas e outras
infinitas formas de vida. É nela que o homem edificou a sua civilização.
5.2.2. manto
O manto é a camada que fica abaixo da crosta e sobre ela exerce grande influência geológica. O manto é constituído de material
pastoso, submetido a elevadíssimas temperaturas. Este material fica em movimento, abaixo da crosta, que é constituída de
vários pedaços, denominados placas tectônicas. Este movimento do manto acaba por arrastar todas as placas tectônicas,
gerando a conhecida deriva continental, que é o movimento de porções da crosta que se chocam ou se afastam, gerando a
mudança das configuraçoes continentais. De fato, os movimentos de crosta, induzidos pelo manto, fazem surgir, na extensão dos
encontros entre as placas, montanhas, vulcões e terremotos, que em conjunto denominamos processos tectônicos.
5.2.3. Núcleo central
Nesta camada ocorrem grandes processos de transformação de matéria, gerando grande liberação de energia. Esta energia é que
patrocina os movimentos tectônicos e aquece as regiões mais profundas da Terra.
5.3. Hidrosfera
A hidrosfera é a camada que reune as grandes massas hídricas do Planeta. Os rios, as geleiras, os lagos, os mares e os lençóis
subterrâneos abundam em nosso planeta. 75% da superfície da Terra é tomada pelos oceanos. A água é a fonte da vida e foi por
onde a vida começou e floresceu. Além de sua importância para a vida, a hidrosfera interage com a litosfera, sendo um forte
agente de modificação do relevo, e com a atmosfera, trocando gases e interferindo decididamente no clima.
A hidrosfera tem uma espessura de aproximadamente 10 km, indo da superfície dos mares até as fossas submarinas mais
profundas.
De toda a água existente no planeta, menos de 0,5% está disponível para uso direto pelos seres pelos seres humanos.
5.4. Biosfera
A biosfera é a camada planetária, formada por todos os seres vivos. Em termos de localização, a biosfera ocupa o mesmo espaço
destinado à crosta terrestre e a troposfera. Por isso, sua espessura é em torno de 20 km. É na biosfera que se desenrola o drama
da vida, com todos os seus protagonistas.
5.4.1. Biodiversidade
Denominamos biodiversidade o conjunto de espécies que formam a biosfera. Portanto a biosfera é a reunião de todas as
populações de organismos, cujas espécies constituem a biodiversidade.
5.5. O sol
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O Sol é o grande provedor de insumos energéticos ao planeta Terra. Pelas Leis da Termodinâmica, toda a energia da Terra seria
convertida em calor, que acaba indo para o espaço. Isto não acontece porque o sol nos abastece diariamente com doses muito
generosas de energia. Apenas menos de 1% da energia que nos é enviada pelo sol é suficiente para prover toda a biosfera
terrestre.
Além do suprimento de energia necessário à manutenção da vida, a energia solar cumpre inúmeras outras funções. Podemos
generalizar e dizer que todos os grandes processos terrestres ocorrem com o patrocínio direto, quase sempre, ou indireto da
energia solar. Ventos, chuva, marés, correntes de água, ritmos diários e sazonais, erosão são alguns exemplos de fenômenos
terrestres que estão relacionados à ação do sol sobre a Terra.
6. Ecossistemas
Ecossistemas são sistemas terrestres que promovem o fluxo de matéria e energia, com intensa participação da biosfera.
Todo ecossitema é um sistema aberto. Portanto possui compartimentos, fluxos, entradas e saídas.
6.1. A rede trófica
Num ecossistema podemos acompanhar o fluxo de energia e de matéria que passa pelos seres vivos.
A entrada de energia quase sempre é a solar. O sol entra no compartimento vivo através dos autótrofos. A partir daí, a energia
vai sendo distribída pelos seres vivos através da rede trófica, que é uma série de mecanismos de interação entre os seres vivos,
de sorte que uns se alimentam de outros de forma radial e vertical. A migração da energia, quando é vertical, passa por
estruturas tróficas em vários níveis, denominados níveis tróficos. Assim, os organismos de um nível trófico superior alimentam-se
de organismos pertencentes a um nível trófico inferior. Por exemplo, um coelho se alimenta de uma planta e porsua vez é
comido por uma águia. Temos neste caso temos uma cadeia com 3 níveis tróficos: um produtor primário, a planta, um herbívoro,
o coelho, e um carnívoro, a águia.
Um aspecto importante nas redes tróficas é o entendimento dos processos de degradação da energia. Pela aplicação da Lei da
Entropia ( ver item ****lei entrop), a cada passagem de nível trófico, uma parte da energia se perde em forma de calor. Logo,
para suprir os níveis tróficos mais superiores, há a necessidade que estes tenham grandes consumos dos níveis tróficos inferiores,
para poder compensar as perdas inexoráveis nas passagens de níveis tróficos. Assim, deve haver grande produção de biomassa
vegetal para sustentar um felino. Isto se dá porque como o felino é um carnívoro de topo de cadeia, a energia que chega até ele,
por ter passado por vários níveis tróficos intermediários, é bastante degradada por estas passagens de níveis. Portanto para
sustentá-lo é imprescindível uma grande produção primária vegetal para que haja energia suficiente para prover os níveis tróficos
inferiores, até chegar em quantidade suficiente pra sustentar o felino.
O ser humano é onívoro, tem portanto comportamento alimentar diverso. Quando se comporta como um carnívoro de topo,
precisa de uma área cultivável muito maior do que quando se comporta como um herbívoro.
6.1.1. decomposição
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Um nível trófico imprescindível para garantir a ciclagem de matéria pelos seres vivos é o dos decompositores. Ocorre que a
matéria orgânica que constitui os seres vivos é originada da matéria inorgânica. As plantas e outros organismos autótrofos fazem
esta conversão da meatéria inorgânica para a orgânica. Depois dessa conversão, a matéria orgânica vai sendo distribuída ao
longo das cadeias tróficas. Quando os organismos morrem, ou quando excretam degetos orgânicos, a matéria orgânica morta
precisa ser transformada em matéria inorgânica, para que novamente possa ser utilizada pelos autótrofos e recomeçar o ciclo.
Este é o importante papel dos decompositores, o de degradar a matéria morta e transformá-la em substâncias inorgânicas mais
simples, disponíveis para retornar ao ciclo trófico.
Os organismos decompositores são muito utilizados para a degradação de matéria orgânica, proveniente dos esgotos sanitários.
7. Ciclos biogeoquímicos
Os ciclos biogeoquímicos retratam a trajetória das substâncias na Terra. Diferentemente da energia, a Terra praticamente não
troca matéria com o espaço. Significa dizer que quase a totalidade da matéria existente no planeta Terra está aqui confinada, e
aqui circula pelos comparimentos atmosférico, litosférico, hidrosférico e biosférico. Esta circulação se dá por inúmeros processos
de natureza geofísica, química e biológica, daí o nome de ciclos biogeoquímicos.
Podemos conhecer os ciclos biogeoquímicos de várias substâncias: carbono, oxigênio, nitrogênio, etc.
7.1. ciclo hidrológico
O ciclo da água é de especial interesse por toda a sua importância para a vida na Terra.
A maior parte da água na Terra existe na forma líquida. Por exemplo, nos mares congelados, encontramos água líquida abaixo da
superfície (ver item ****água como substrato/context/abast água). Os solos e os seres vivos detêm grandes quantidades de água
líquida.
A fase líquida do ciclo hidrológico ocorre em sua maior parte no compartimento hidrosférico, mas também é encontrada nos
compartimentos litosférico e biosférico. Após receber doses relevantes de energia, a água evapora e vai ter no compartimento
atmosférico. De fato, 1/4 da energia solar que chega à Terra é utiizada para proceder à evaporação.
Quando a água atinge patamares de concentração elevada de vapor, ela se condensa e retorna aos compartimentos de onde
saiu.
A biosfera tem papel estratégico no ciclo hidrológico pela transpiração, que é a liberação de vapor d'água pelos seres vivos.
Grandes toneladas de água saem diariamente da biosfera em direção à atmosfera, sobretudo da vegetação.
7.2. Biosfera como aceleradora de ciclos
cap 01 Meio Ambiente
Os seres vivos são vorazes consumidores de substâncias do meio ambiente, que transformam através do metabolismo e lançam
de volta a este mesmo ambiente, na forma de degetos. Estas relações dinâmicas de transformação e movimento, fazem dos
seres vivos os mais importantes agentes de ação sobre as substâncias que compoem o nosso planeta.
Os seres vivos não só agem sobre as substâncias, mas também o fazem de forma acelerada. De fato, os processos metabólicos
são mais rápidos que os processos que não envolvem seres vivos. Assim, qualquer substância que passe pela biosfera terá sua
trajetória acelerada. É como já dizia o cientista russo Vladmir Vernadsky: A biosfera é uma grande aceleradora de ciclos.
8. Antropoceno
8.1. As eras e períodos geológicos
A história da Terra é longa, com cerca de 5 bilhões e meio de anos. Durante este tempo, muitos eventos ocorreram que
propiciaram profundas modificações, levando a Terra de um estado árido, quente e hostil até o planeta ameno e permeável à
vida, que é hoje. Os estudiosos da história da Terra, dividiram este longo tempo em porções sequenciais, os éons, que por sua
vez foram sub-divididos em eras geológicas, que foram também sub-divididas em períodos e estes em épocas.
As divisões do tempo geológico em geral foram feitas levando em consideração eventos marcantes na vida do planeta.
8.1.1. Antropoceno
Estamos atualmente no éon fanerozóico, era cenozóica e período quaternário. Contudo, existem controvérsias sobre qual época
estamos passando. Para muitos estudiosos estamos vivendo o período Antropoceno. Para eles, o advento da civilização humana
foi tão definitivamente marcante na vida de nosso planeta, que merece o destaque de um período exclusivo para referir-se a este
protagonismo.
8.2. A ação do homem sobre a Terra
O homem é tido como o mais influente agente geológico, entre todos os existentes.
A significância da ação do homem sobre a Terra se expressa pelas seguintes interferências:
1. Modificação das feições da Terra;
2. Depleção dos recursos naturais;
3. Alterações nos ciclos biogeoquímicos;
4. Alterações na qualidade do meio ambiente.
8.2.1. Modificação das feições da Terra
A civilização humana tem ocupado virtualmente todos os grandes espaços terretres, incluindo os mais inóspitos. São milhões de
edificações, estradas, instalações de diversas naturezas, escavações, terraplanagens, modificações de cursos de rios, são alguns
exemplos do grande empreendimento humano, que mudou definitivamente a face de nosso planeta.
cap 01 Meio Ambiente
Estas interferências tem um propósito, o de criar ambientes exclusivamante humanos, onde possamos ter controle sobre tudo,
mesmo que seja ao custo de praticamente eliminar qualquer alusão à natureza.
8.2.2. Depleção dos recursos naturais
A Terra é o quintal do empreendimento humano. Nela obtemos tudo o que precisamos para edificar a nossa civilização.
8.2.2.1. Recursos renováveis e não renováveis
Os recursos naturais, quanto à natureza de sua recuperação, podem ser divididos em:
1. Recursos renováveis;
2. Recursos não renováveis.
Em verdade, todos os recursos são renováveis, a diferença está no tempo. Recursos não renováveis são aqueles que demoram
enormes quantidades de tempo para ser criados. Uma jazida de ferro, por exemplo, demora milhões de anos para ser formada.
Um lençol petrolífero demora dezenas de milhares de anos para ser formado.
Já os recursos renováveis demoram pouco tempo para ser criados. Por exemplo, os recursos alimentares são tipicamente
renováveis. Um cardume de peixes por exemplo.
Apesar desta divisão ambos os recursos se forem explorados predatoriamente terminarão por esgotar-se. É isso que vem
acontecendo.
Alguns recursos renováveis biológicos vem sendo explorados por intermédio de cultivo. Ocorre que mesmo nestes casos, existem
limites de demanda e, mais importante, estes cultivos demandam por vezes grandes quantidades de recursos para a sua
manutenção.
O quadro é de que existe uma depleção generalizada de recursos naturais, alguns deles apresentando situações potenciais
geradoras de conflito. Um exemplo é a água. O conflito nooriente médio teve como uma de suas principais causas a disputa pelos
recursos hídricos da bacia do Rio Jordão.
8.2.3. Alterações nos ciclos biogeoquímicos
Já foi comentado que os seres vivos são aceleradores de ciclo. Todavia, nenhum ser vivo pode competir com o homem neste
quesito.
Vamos citar o exemplo do carbono. Reservas de petróleo são formadas por processos lentos de acúmulo, soterramento e
transformações químicas sofridas por organismos marinhos, cujos corpos, após a sua morte, vão aportar o leito dos mares. Neste
processo, o carbono, que inicialmente fez parte do compartimento biosférico, fica então confinado, sob a forma de petróleo, no
compartimento litosférico. Em condições naturais, o tempo de residência (ver item ****tpo de resid) do carbono nestes
reservatórios é de muitos milhares de anos, depois de formados. A formação de reservas de petróleofunciona como um
mecanismo de retroalimentação negativa, visando evitar o excesso de carbono em outros compartimentos como, por exemplo, a
atmosfera.
cap 01 Meio Ambiente
Todavia, este mecanismo é perturbado pelo ser humano, ao reduzir drasticamente o tempo de residência do carbono no
compartimento litosférico. De fato, o homem então envia uma sonda que retira o petróleo de seu reservatório e o lança na
atmosfera, litosfera e biosfera, sob as mais variadas formas e quantidades. O carbono, que estaria confinado na litosfera, agora é
fornecido à atmosfera, por exemplo, aumentando assim rapidamente a sua concentração, sob a forma de gases estufa, como o
CO2, e contribuindo para o aquecimento global (ver item ****aq global). Este exemplo mostra o poder do homem em alterar os
mecanismos de retroalimentação, existentes nos ciclos biogeoquímicos.
8.2.4. Alterações na qualidade do meio ambiente
Um dos custos mais caroa ao planeta, oriundos do empreendimento humano, é a modificação da qualidade ambiental. Os
resíduos produzidos por nossa civilização afetam termendamente a qualidade do solo, do ar e da água.
8.2.4.1. Poluição
Dá-se o nome de poluição aos processos que alteram o meio ambiente, de sorte a prejudicar as condições adequadas de vida.
poluição das águas
A hidrosfera é um dos compartimentos que mais sofrem a ação poluidora do homem. Os corpos d'água têm servido como lixões,
onde são despejados toda a sorte de degetos, com destaque especial aos esgotos domésticos e efluentes industriais.
Estas 4 interferências sobre a Terra, tomadas em conjunto, estão gerando consequências com grande potencial de comprometer
a existência de muitas espécies n oplaneta, sobretudo a espécie homo sapiens.
8.3. A sociedade de consumo
As interferências acima são consequentes de nosso modelo civilizatório, que poderia ser sintetizado pelo que denominamos
sociedade de consumo. A sociedade de consumo é o modelo civilizatório que privilegia o ter, em detrimento do ser. Significa
dizer que o valor de uma pessoa está diretamente ligado ao conjunto de bens e serviços que ela possui ou consome. Quanto mais
valiosos forem estes bens e serviços, mais reverenciada será ela. Desta forma, criou-se a corrida irrefreada atrás da aquisição e
consumo de bens e serviços, sem qualquer reflexão sobre as consequências advindas deste comportamento coletivo predatório,
não só para o planeta, mas também para os próprios seres humanos. De fato, a sociedade de consumo elegeu a competição
desenfreada como o instrumento por excelência para a conquista dos bens desejados. Isto porque os bens mais valiosos são
eletivos, e só os mais preparados podem ter acesso a eles. Esta competição gera quase que automaticamente situações de
injustiça social entre grupos, etnias, nações, etc.
8.3.1. Fatores de consolidação da sociedade de consumo
A sociedade de consumo só pôde prosperar porque foi consolidada pelos seguintes fatores:
1. Demografia;
cap 01 Meio Ambiente
2. Tecnologia;
8.3.2. Demografia
Demografia é a ciência que trata da dinâmica da população humana. A população humana sempre cresceu, desde seus
primórdios. Este aumento tem-se dado sobretudo pelas melhorias das condições de vida em geral e conversão de ambientes
inóspitos, ambas proporcionadas pelo progresso avassalador da tecnologia. A população humana foi crescendo e ocupando cada
vez mais espaços no planeta. Este aumento contínuo tem levado a sociedade a consumir cada vez mais recursos da natureza,
tanto para a produção de bens e serviços, quanto para a geração de energia.
8.3.3. Tecnologia
A desenvolvimento tecnológico foi, sem dúvida, o grande instrumento que possibilitou a expansão e a consolidação humana no
planeta.
Tecnologia é o conjunto de mecanismos que propiciam o aumento das capacidades humanas. Um óculos é um aparato
tecnológico, pois amplia a condição de visão humana. Um computador amplia a capacidade humana de armazenar e processar a
informação. Pois bem, pela tecnologia tornamo-nos super-humanos, destemidos desbravadores e ocupadores do planeta.
9. Mudanças globais
Denomina-se mudanças globais o conjunto de fatores atuantes no planeta, com potencial de, no médio ou longo prazos,
interferir decisivamente nos macro-agentes ambientais mais importantes. Estes agentes podem ser o solo e as águas, mas ofoco
maior das mudanças globais é o clima. É preciso esclarecer que alterações climáticas agem diretamente sobre todos os agentes
que atuam na superfície do planeta, como as águas e os solos.
9.1. Glaciações
Um dos processos mais estudados nas mudanças globais são as glaciações. Uma glaciação é um período em que a temperatura
média da Terra diminui, a ponto de que vastas regiões do planeta estejam cobertas por gelo. A terra já sofreu várias glaciações.
A última glaciação que se tem notícia terminou há cerca de 10 mil anos atrás. Estamos pois vivendo um período interglacial, isto
é, entre glaciações.
9.1.1. medições paleotérmicas
Como podemos saber o valor da temperatura do planeta em épocas tão remotas? Existem vários métodos. Um dos mais usados
é o que analisa a composição de bolhas presentes em blocos extraídos de grandes colunas verticais de gelo. A ideia é a de que as
camadas de gelo vão-se sobrepondo ao longo do tempo. Assim, quanto mais remota for a época, maior será a profundidade de
seu testemunho no bloco. Os blocos de gelo são extraídos por sondas que podem atingir até milhares de metros de
profundidade. Cada bolha guarda um testemunho das condições atmosféricas reinantes na época de sua formação. Esta análise,
realizada por métodos sofisticados de espectometria de massa, permite então avaliar as oscilações vivenciadas pelo planeta em
períodos que chegam a dezenas de milhares de anos.
cap 01 Meio Ambiente
9.2. Aquecimento global
Como já foi comentado acima, a Terra já passou por vários períodos glaciais e interglaciais. Vivemos atualmente um período
interglacial. Ocorre que neste período a interferência humana tem produzido um aumento na concentração de gases
atmosféricos que têm o potencial de fomentar o aumento de temperatura na Terra. Dá-se o nome de aquecimento global ao
processo em curso de elevação da temperatura média da Terra. A grande questão é mostrar se oaquecimento global existente é
de origem antropogênica.
9.2.1. Efeito estufa
A atmosfera é composta de milhares de gases diferentes. Alguns são mais importantes devido à sua concentração, outros são
mais importantes devido à grande influência que a variação de suas concentrações pode provocar no clima da Terra. Dentre
estes gases de grande influência estão os gases estufa.
Gases estufa são aqueles que possuem a propriedade de reter calor. Assim, o calor emitido pela superfície da Terra não é
liberado adequadamente para o espaço, causando um maior aquecimento do planeta. Este é o efeito estufa, quando a atmosfera
dificulta a liberação de calor para o espaço.
9.2.1.1. O gás carbônico
Vários são os gases estufa. Dentre eles, o que tem sido o mais estudado é o gás carbônico, o CO2.Tem sido mostrado por
medições acuradas que a concentração de CO2 vem continuamente aumentando. Por ser ele o mais importante gás estufa, os
cientistas têm alertado a sociedade sobre as perspectivas de aumento da temperatura do planeta.
9.2.1.2. Efeito estufa antropogênico
Uma questão que preocupa adicionalmente a todos nós é que o homem tem modificado o ciclo do carbono, adicionando grandes
quantidades de CO2 na atmosfera. Estas adições não naturais certamente estão na raiz do problema do aumento do efeito
estufa. É o que chamamos de efeito estufa antrpogênico, isto é, causado pelo ser humano.
9.2.2. Retroalimentação positiva
Uma das consequências do aquecimento global é o seu potencial de desencadear processos de retroalimentação positiva. Um
exemplo está acontecendo no pólo norte. Lá existem grandes áreas oceânicas cobertas por camadas de gelo. O gelo tem uma
boa capacidade de reflexão para os raios solares.
9.2.2.1. albedo
A grandeza que mede a capacidade de um corpo refletir a energia que chega até ele denomina-se albedo. O gelo tem um albedo
elevado. já a água tem um albedo muito menor. Significa dizer que ambientes com muito gelo refletem mais os raios solares,
portanto aquecem menos. Já aqueles com maiores quantidades de água, refletem menos, portanto absorvem mais calor,
aquecendo mais o ambiente.
cap 01 Meio Ambiente
O que está acontecendo no pólo norte é que com o aquecimento global parte da cobertura de gelo é perdida. A perda desta
porção de gelo faz aparecer mais água do mar. A diminuição do gelo e o aumento da superfície de água do mar faz com que o
albedo aumente. O aumento do albedo, por sua vez, permite um maior aquecimento da área. Este maior aquecimento propicia
mais derretimento da cobertura de gelo, que, juntamente com a superfície maior do mar, diminue o albedo, que gera mais
aquecimento e assim sucessivamente, numa bola de neve. Este é um proceso típico de retroalimentação positiva, que tem por
consequência, acelerar o derretimento da cobertura de gelo no pólo norte. Pela primeira vez existe uma companhia que está
vendendo passagens de navio da Europaà América do Norte, passando pelo pólo norte. A alguns anos atrás isto seria impossível,
pois a cobertura de gelo no pólo norte era permanente.
10. Valoração ambiental
Qual o valor de uma floresta? Qual o valor de um recife de coral? A valoração ambiental pretende responder a estas perguntas. O
propósito da valoração ambiental é atribuir valores econômicos às estruturas naturais. A ideia é poder avaliar o custo econômico
embutido nos serviços prestados ao homem pelas estruturas ambientais. Melhor dizendo, quanto iria custar ao ser humano
realizar os serviços que a natureza presta a ele.
10.1. Serviços ecossistemológicos
A natureza presta serviços inestimáveis ao homem. Podemos citar alguns:
1. Melhoria da qualidade do ar;
2. Melhoria da qualidade da água;
3. Melhoria da qualidade do solo;
4. Polinização de plantas de interesse comercial;
5. Prevenção a enchentes;
6. Controle de secas;
7. Controle microclimático;
8. Reciclagem de materiais;
9. Prazer estético e bucólico.
Por exemplo, quanto vale uma paisagem? Se você compra um apartamento com vista para uma bela paisagem natural, este
imóvel terá uma valorização maior do que um outro de igual aspecto, mas localizado nos fundos do prédio, sem a vista da
peisagem. Desta forma, existe um valor associado à presença da paisagem.
Outro exemplo, agricultores de Santa Catarina tiveram de gastar 2 milhões de reais com o aluguel de 40 mil colméias para
cumprir a funçao de polinização dos campos de maçã do estado. Isto ocorreu devido ao fato de não haver mais, na região,
insetos que pudessem fazer o serviço da polinização.
cap 01 Meio Ambiente
Em Kampala, capital de Uganda, havia um desejo de eliminar um pântano nos arredores da cidade, pois o considrevam feio e
inútil. A área seria então destinada a outros aproveitamentos. Descobriram depois que para tratar o esgoto da cidade, que até
então era filtrado pelo pântano, teriam que gastar 1,7 milhão de dólares por ano. O resultado foi que, após tomarem
conhecimento do custo econômico dos serviços prestados pelo pântano, que, com a sua eliminação teriam de ser bancados pela
população, desistiram da ideia de eliminá-lo.
10.2. Valor intrínseco ambiental
A valoração ambiental pretende inserir os serviços ecossistemológicos no sistema de valores econômicos. Todavia, não se deve
conceber a natureza utilitariamente, isto é, valorizá-la por sua utilidade ao ser humano. A natureza tem um valor intrínseco à sua
existência por si só. E é o que basta. Os animais e as plantas devem ter sua existência garantida, não porque possam ser úteis ao
ser humano, mas sim porque têm direito intrínseco à existência. A maior parte das estruturas da natureza estavam aqui
presentes antes do surgimento do homem. Portanto, nossa postura deve ser a de cooperação e não a de destruição.
11. Pegadas ambientais
Uma das maneiras objetivas de medir a interferência do homem no planeta é através das pegadas ambientais. A pegada reflete o
uso de recursos por parte do homem e pode ser medida em qualquer escala. Você pode medir a pegada de uma pessoa, um
grupo, uma cidade, uma nação, um evento.
11.1. Pegada ecológica
A pegada ecológica reflete o consumo de recursos, em termos de área do planeta, destinada a gerar a energia necessária para
cobrir o custo equivalente àquele consumo. A pegada ecológica responde à seguinte pergunta: qual a área de planeta precisaria
ser utilizada para produzir a mesma energia gasta para realizar uma atividade? Por exemplo, se todos os seres humanos tivessem
a mesma vida que levam os norte-americanos, precisaríamos de 3,5 planetas Terra para poder atender a essa demanda. Já a
pegada ecológica do planeta, se todos os seus habitantes vivessem como os brasileiros, seria de 0,8 planetas.
11.2. Pegada de carbono
A pegada de carbono reflete os custos das atividades em termos de emissão de CO2. A pegada de carbono responde à seguinte
pergunta: Qual a emissão de CO2 equivalente à realização da atividade? Por exemplo, podemos calcular qual a emissão de CO2
equivalente à realização de um show de rock. O tamanho da pegada serve para avaliarmos o quanto uma dada atividade estaria
contribuindo para o aquecimento global.
É comum calcular a pegada de carbon, com vistas a neutralizar as emissões calculadas, através de medidas que reduzam e/ou
sequestrem, isto é, retirem do ar, a mesma quantidade de carbono emitido. Por exemplo, o show de rock pode ter sua pegada de
carbono neutralizada, através do plantio de árvores que sequestrem a mesma quantidade de carbono emitido, quando da
realização do show.
11.2.1. Protocolos internacionais
cap 01 Meio Ambiente
Os países têm tentado estabelecer protocolos internacionais para a redução das emissões de carbono para a atmosfera. Para tal,
calculam suas emissões nacionais e planejam reduzi-las a um patamar negociado nos protocolos.
O mais conhecido e primeiro acordo internacional foi o protocolo de Quioto, em homenagem à cidade onde foi assinado, em
1995, como consequência das diretrizes apontadas na conferência de meio ambiente do Rio de Janeiro, realizada em 1992, a Eco
92. O protocolo de Quioto estabelecia que as nações desenvolvidas teriam de reduzir, até 2012, as suas pegadas de carbono aos
níveis que eram em 1990. Os países sub-desenvolvidos ou em desenvolvimento estariam fora das metas do protocolo.
Infelizmente, as emissões de carbono só têm aumentado, desde então.
11.2.1.1. Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, MDL
Uma das novidades do protocolo de Quioto foi que os países compromissados a reduzir sua pegada de carbono, poderiam
financiar projetos de redução ou sequestro de carbono, a ser executados nos países sub-desenvolvidos ou em desenvolvimento.
A redução ou sequestro conseguida reverteria para a cota do país financiador. Desta forma, os países desenvolvidos poderiam
assim fomentar o desenvolvimento de práticas sustentáveis nos países pobres. Este mecanismo de transferência de recursos
entre países, visando a redução global de emissões de carbono, recebeu o nome de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo,
MDL.
11.3. Pegada hídrica
A pegada hídrica temo mesmo propósito das outras pegadas ambientais, só que agora procura medir o custo das atividades, em
termos de consumo de água. A pegada hídrica procura respinder à seguinte pergunta: qual o custo de uma dada atividade em
consumo de água?
11.3.1. água virtual
Uma aplicação da pegada hídrica tem sido na avaliação do consumo de água para a fabricação de produtos e commodities. Por
exemplo, para cultivar uma tonelada de melão são gastos 10 toneladas de água. Assim, ao exportar melão, você estará
exportando o equivalente a 10 vezes o seu peso em água, que é a sua pegada hídrica. Desta forma, criou-se o conceito de água
virtual, que é a quantidade de água embutida no desenvolvimento de um produto, uma água que você vê, por isso virtual, mas
que está agregada àquele produto. Por exemplo, a agua virtual de um computador gira em torno de 1500 litros.
Com o conceito de água virtual podemos construir um rank de países exportadores e importadores de água virtual. A Arábia
Saudita é um dos maiores importadores de água virtual.
12. O movimento ambientalista
O movimento ambientalista surgiu com força, a partir da década de 1960. Por volta do final da década de 50 e início dos anos 60,
vários acontecimentos imactaram a humanidade e acabaram servindo de inspiração para o surgimento do movimento
ambientalista. Destes, destacamos o seguinte:
1. Publicação do livro Primavera Silenciosa;
2. A Terra é vista do espaço;
cap 01 Meio Ambiente
3. O acidente na Baía de Minamata.
12.1. Publicação do livro Primavera Silenciosa
O livro Primavera Silenciosa foi publicado em 1962, pela bióloga Rachel Carson. Tratava-se da crônica dos acidentes causados
pelo DDT. O DDT até então era tido como a grande invenção do homem para resolver o problema da higienização. É uma
substância com forte poder biocida. Ocorre que sua ação evidentemente perpassaria os organismos indesejáveis e afetaria
tambéma biota cmo um todo. Rachel Carson investigou oassunto e publicou o livro, cujo título faria alusão de que, com a
aplicaçãoindiscriminada do DDT, teríamos no futuro uma primavera silenciosa, onde não mais ouviríamos o canto dos pássaros,
mortos pelo DDT.
12.2. A Terra é vista do espaço
Em 1961, o astronauta russo Yuri Gagarin foi oprimeiro homem a ver a Terra do espaço. Na ocasião, fez a seguinte frase: "A Terra
é azul". A visão da Terra do espaço suscitou uma série de sentimentos sobre a sua unidade, para além das fronteiras geopolíticas,
religiões, etnias, como também sobre sua fragilidade, sozinha, dentro de um espaço incomensurável, com incotáveis corpos
celestes, onde a Terra seria apenas mais um deles.
12.3. O acidente na Baía de Minamata
Em 1956, apareceram na região da Baiade Minamata, no Japão, casos de pessoas com sintomas de distúrbios neurológicos
sérios. Além disso, crianças eram abortadas, ou nasciam apresentando deficiências muito acentuadas. Depois de muto
estudarem o problema, foi desoberto que as enfermidades foram ocasionadas pela ingestão de concentrações elevadas de
mercúrio, que estaria sendo depositado na Baia por empresas de fabricação de produtos petroquímicos.
Estes 3casos, ocorrendo em épocas próximas mostrou claramente que deveria haver um controle sobrea ação do homem em seu
afã pelo progresso e desenvolvimento desenfreado e irrefletido. Daí surge o movimento ambientalista, que só tem tomad força
desde então.

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