Recursos Espirituais

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Recursos Espirituais
Recursos Espirituais
MARÇO 2010
Í N D I C E
1. Autoliderança
Eric D. Rust
Líderes eficazes devem investir mais energia no
desenvolvimento de suas habilidades de liderança do que
em qualquer outra área.
3
2. Princípios e Práticas Bíblicas para um
Testemunho Pessoal Eficaz
Randy Hurst
Devemos disciplinar a nós mesmos para fazermos nossa
parte no evangelismo pessoal enquanto que, ao mesmo
tempo, permanecemos dependentes de Deus, que fará o
que somente Ele pode fazer.
3. Aprendendo com os Erros
Mark Batterson
Se permitirmos que nossos fracassos nos definam, eles
conseguirão nos arruinar. Mas se o fracasso for administrado
de maneira apropriada, sairemos dele vitoriosos.
4. Transformando Decisões em Acréscimos e
Acréscimos em Discipuladores
Jim Hall
O discipulado para novos crentes é indispensável se
pastores querem desacelerar a alarmante taxa de morte
espiritual na igreja.
5. Valorizando o Início da Vida:
Aconselhamento Premarital e Bioético
Christina M.H. Powel
A Bíblia afirma que a presença de Deus e Seu propósito
para nossas vidas são estabelecidos enquanto ainda
estamos no ventre de nossa mãe.
6. Comunicando o Batismo com o Espírito Santo de
uma Maneira Nova
Gary Grogan
Não é necessário levar os crentes a um retiro para
serem batizados no Espírito Santo.
7. Cessação do Miraculoso? A Era dos Apóstolos Através
da Perspectiva Bíblica, Extrabíblica, Lógica e Teológica
W.E Nunnally
A natureza de Deus, a mensagem unificada das Escrituras e
a natureza substancialmente necessitada do homem decaído
argumentam em favor da continuação do miraculoso no
mundo atual.
6
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34
RECURSOS ESPIRITUAIS • 1
“NÃO É COMIGO”
Esta é uma estória sobre 4 pessoas: Todo Mundo, Alguém,
Qualquer Um e Ninguém.
Havia um importante trabalho a ser feito, e Todo Mundo tinha certeza
que Alguém o faria.
Qualquer Um poderia tê-lo feito, mas Ninguém o fez.
Alguém zangou-se porque era um trabalho de Todo Mundo.
Todo Mundo pensou que Qualquer Um poderia fazê-lo, mas
Ninguém imaginou que Todo Mundo deixasse de fazê-lo.
Ao final, Todo Mundo culpou Alguém quando Ninguém fez o
que Qualquer Um poderia ter feito.
Autor desconhecido
Que cada um possa fazer a sua parte sem esperar pelo outro.
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Equipe Editorial / Versão em Português
Tradução: Nadja Matta e Rejane Eagleton
Revisão de textos: Martha Jalkauskas
Revisão Geral: Neide Carvalho
Diagramação: ©MMDesign
Coordenação geral: Márcio Matta
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2 • enrichment | MARÇO 2010
Liderança de Ponta / Eric D. Rust
Autoliderança:
Liderando de Dentro para Fora
M
encione a palavra liderança em
uma mesa redonda de líderes dotados espiritualmente e a probabilidade é que a conversa irá imediatamente
virar para o desempenho das atividades do
líder em liderar outros.
Os líderes da igreja passam a maior parte
da semana liderando outros. Contudo, no
esforço de nos tornarmos líderes melhores,
não prestamos atenção no maior dos desafios
que iremos enfrentar — nós mesmos.
Tendemos a não administrar a nós mesmos
porque liderar nós mesmos é muito mais
difícil do que liderar outros.
É difícil passar uma semana sem tomarmos conhecimento de que um líder foi desqualificado para o exercício da liderança.
Culpamos esse fracasso por causa de comprometimento sexual, improbidade financeira,
ânsia pelo poder e uma liderança fraca. Essas
falhas, porém, são apenas os sintomas aparentes de um fracasso pessoal mais profundo.
Ao olharmos o problema mais além, geralmente descobrimos que o líder negligenciou
sua vida pessoal.
Em seu livro Leading from Inside Out,
Samuel Rima afirma: “O modo como um líder conduz sua vida pessoal tem, de fato, um
impacto profundo sobre sua habilidade para
exercitar uma liderança pública eficaz. Existe
uma correlação direta entre autoliderança e
liderança pública.
O escritor do Novo Testamento, Paulo,
entendeu muito bem este conceito: “Antes,
subjugo o meu corpo e o reduzo à servidão, para
que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de
alguma maneira a ficar reprovado.” (1Co 9.27).
Paulo entendeu que para ser tudo o que
Deus o chamara para ser, ele precisava manter firmemente sua vida pessoal em ordem.
Importância da Autoliderança
Os líderes devem cuidar da nutrição e da
administração de suas vidas pessoais. Nos círculos da liderança, isto é conhecido como
autoliderança. Líderes eficazes devem investir mais energia no desenvolvimento de suas
habilidades de liderança do que em qualquer
outra área.
O expert em liderança, Dee Hock, sugere
que a autoliderança deve ocupar 50% do
tempo de um líder. O que aconteceria se os
líderes de igreja levassem a sério a recomendação de Hock e investissem metade da semana em autoliderança? Para nos tornarmos
os líderes sãos que Deus quer que sejamos,
devemos desenvolver um domínio pessoal
sobre nossas próprias vidas.
Formação de Caráter
Compreender personalidade e dons, esclarecer valores, identificar pontos fortes e fracos,
melhorar a habilidade de comunicação e
administrar o tempo de modo eficaz são todas
áreas importantes em que os líderes precisam
concentrar suas energias. Enquanto há dezenas de facetas para a autoliderança, nenhuma
é tão crítica quanto a do caráter do líder. Sem
caráter, os líderes não têm nada. Nosso caráter nos define. Apenas após determinarmos
quem somos podemos saber como crescer.
Para o líder cristão, caráter é essencial.
É fato que a falta de caráter moral forte
irá arruinar um líder. Um deslize financeiro
pode ser reparado. Comunicação deficiente
pode ser consertada. Decisões da liderança
que não funcionam como o líder prometeu
podem ser refeitas. Mas, falhas no caráter são
capazes de destruir um líder. Recuperar-se
de um comprometimento ético e moral é
geralmente impossível. Uma vez perdida a
confiança de um líder, raramente é recuperada. As pessoas só seguirão lideres que
expressem o mais alto nível de integridade.
Andy Stanley diz claramente: “Nós estamos sempre a apenas uma decisão, uma palavra, uma reação de colocarmos a perder o que
se levou anos para desenvolver”. Vinte ou
trinta anos de trabalho fiel a Deus podem ser
destruídos com uma decisão simplesmente
Líderes eficazes
devem investir
mais energia no
desenvolvimento
de suas
habilidades de
liderança do que
em qualquer
outra área.
ERIC D. RUST,
Pastor-presidente da Igreja Assembleia de Deus Cedar Hills,
em Sandpoint, Idaho (EUA).
RECURSOS ESPIRITUAIS • 3
Autoliderança: Liderando de dentro para fora
A melancia é
por dentro o
que aparenta
ser por fora.
E você?
comprometedora.”
Quando o caráter fracassado de um líder
é exposto, o problema geralmente origina-se
na falta de integridade. Integridade é ser por
dentro o que você afirma ser por fora.
Erwin McManus usa a analogia de uma
melancia para descrever integridade. Você
provavelmente já comprou uma melancia.
Quando você está em uma banca de frutas,
enquanto segura a melancia, tudo o que
consegue ver é a casca. Você bate na casca e
se a melancia fizer um som oco, então você a
compra. Ao passar pelo caixa, você gasta seu
suado dinheiro em uma melancia que apenas
consegue ver o que há por fora. Quando
chega em casa e corta a casca, o que você
espera encontrar? Melancia. Você confiou
que a melancia tinha integridade. E se você
cortasse a casca e encontrasse uma banana?
Isso nunca aconteceria porque uma melancia
tem integridade. A melancia é por dentro o
que parece ser por fora.
E você? E se alguém descascasse sua
camada mais superficial, o que encontraria?
Encontraria dentro o mesmo que você
aparenta ser por fora? Aqui encontramos uma
vantagem que a melancia leva sobre as
pessoas — pela sua natureza, a melancia tem
integridade.
A integridade não vem naturalmente com
as pessoas, nem mesmo com líderes.
Ela deve ser desenvolvida.
Líderes que praticam a autoliderança tem
ciência das inconsistências de suas vidas.
Ao contrário de ignorá-las enquanto ainda
pequenas, eles escolhem alinhar o que são
com o que acreditam. Entendem que a vida
não pode ser compartimentada em caixinhas.
Nós fomos criados como seres inteiros.
Quem somos no particular não pode ser
isolado de quem somos em público.
Como líderes, devemos decidir quem
queremos ser e então alinharmos a vida para
que ela seja assim. Não é fácil, porque a
pessoa que você não quer ser é a que mais
naturalmente você se torna se deixar por sua
própria conta. Jesus disse “porque aquele que
quiser salvar a sua vida perdê-la-á e quem
perder a sua vida por amor de mim achá-la-á.”
(Mt 16.25). Autolíderes devem morrer para
suas tendências naturais internas para que se
tornem o que Deus os está chamando para
serem. Deus nos chama para sermos líderes
de dentro para fora — líderes definidos mais
pelo o que somos por dentro do que pelo o
que parecemos ser por fora.
4 • enrichment | MARÇO 2010
Por causa de títulos e cargos que os líderes de igreja geralmente recebem, pode ser
fácil para o orgulho entrar furtivamente em
suas vidas. Quando líderes caem, vítimas de
pecado sexual ou do jogo de poder, o orgulho
normalmente está na raiz. Romanos 12.3 nos
lembra, “... digo a cada um dentre vós que não
saiba mais do que convém saber, mas que saiba
com temperança, conforme a medida da fé que
Deus repartiu a cada um.”. 1 Pedro 5.5 nos
alerta “... porque Deus resiste aos soberbos, mas
dá graça aos humildes.”.
Os líderes da igreja só são cônscios de
quem eles são quando praticam a disciplina
espiritual de serventia. Quando os líderes
colocam os joelhos no chão ou a toalha
dobrada nos braços, em posição de serviço, aí
lembram que Jesus encontrou Sua grandeza
na serventia. Jesus jamais Se orgulhou de
Sua santidade. Ele encontrou seu status na
serventia. Em Sua pequenez, Ele se tornou
grande. Pequenez e serventia podem não ser
naturalmente palavras confortáveis para
líderes, mas são palavras com as quais nosso
Líder Se sentia confortável.
Reconhecer nossa fraqueza é outro modo
excelente de mantermos o orgulho a distância. Muitos líderes desconhecem suas forças
e fraquezas. Admitir fraqueza requer segurança e humildade pessoal. Líderes que praticam a autoliderança prontamente reconhecem suas fraquezas. Em vez de entreter-se
na soberbia ocultando suas fraquezas, eles as
admitem e convidam outros que possuam
forças complementares para ajudá-los a
administrar suas fraquezas.
Protegendo Nosso Caráter
Líderes da igreja devem ser mestres de si
mesmos pois as demandas são muito altas.
Para um líder de negócios, os sinais do dólar
é o que pesa na balança. Para líderes de
igreja, o ministério futuro e a eternidade é o
que está na balança. É triste ver um líder de
negócios ou político ser vítima de sua própria
negligência, mas o preço é sempre mais alto
quando um líder que cai é da igreja.
Pat Williams, cristão e vicepresidente da
Orlando Magic, apresenta 6 ideias para salvaguardar nosso caráter, as quais servem como
regras úteis para o líder da igreja que deseja
liderar a si mesmo com excelência.
1. Separe um tempo para a reflexão e
consistente restauração do corpo e da alma.
Muitos líderes de igreja mantêm um ritmo
tão acelerado em seus ministérios que mal
conseguem tempo para si mesmos. Jesus
exemplificou a restauração da alma deixando
as multidões rotineiramente para despender
algum tempo a sós com o Pai. Autolíderes
tiram um tempo regular para a oração e a leitura. Um coração sadio é o melhor presente
que um líder pode dar a seus seguidores.
Além disso, os lideres precisam cuidar
do corpo. A saúde física é um ponto cego
para muitos pastores. A Bíblia nos desafia a
honrar a Deus com nosso corpo (1Co 6.20).
A saúde boa nos proporciona energia para
que possamos responder ativamente ao
chamado de Deus. Alimentar-se bem e
praticar exercícios regularmente deveria ser
parte do estilo de vida de todo líder.
2. Quando enfrentar uma escolha
ética ou uma tentação, leve em consideração
o exemplo que você estabeleceu para aos
outros. Pense em todos aqueles que estão
observando você — filhos, amigos, mentoreados e membros da igreja. Como sua decisão
os impactará? Com a liderança da igreja vem
também o dom sagrado da autoridade moral.
Nossa autoridade moral pode ser perdida em
um instante. Quando a tentação bate à porta,
devemos nos perguntar se vale a pena dizer
sim a ela em detrimento daqueles que nos
observam.
3. Mostre para um pequeno grupo de
amigos confiáveis que você é alguém com
quem eles podem contar. Soldados solitários
se arriscam muito mais do que os líderes que
estão envolvidos em relacionamentos que
requerem prestação de contas. Autoliderança
é um trabalho muito grandioso para ser feito
sozinho. Líderes precisam convidar um
pequeno grupo de pessoas que conheça e em
quem confiam para conversar regularmente e
fazer perguntas difíceis. Todos nós somos capazes de mentir para nós mesmos com tamanha frequência que finalmente começamos a
acreditar em nossas próprias mentiras.
Amigos não são enganados facilmente.
4. Concentre-se em integridade, não
em imagem. Líderes que cultivam sua vida
interior irão consistentemente reposicionar
acima de situações na vida que os tentaria a
empurrá-los para baixo.
Dr. Robert Terry, autor de Reflective
Leadership, observa que “o nosso desafio
profundo é a autenticidade — ser verdadeiro
e real conosco mesmo, em nossos relaciona-
mentos e no mundo.”
5. Cresça profundamente em sua fé.
Como seguidores de Cristo, acreditamos que
o Espírito de Deus tenha o poder de promover uma mudança espiritual no coração humano. O desenvolvimento do caráter é tarefa
muito difícil de promover sem o envolvimento do Espírito de Deus. Nutrir o nosso relacionamento com Cristo e estar em sintonia
com Seu Espírito nos mantém dependentes
da operação divina em nossas vidas. Quanto
mais profundamente conhecemos o amor de
Deus, mais profundo se torna nosso amor pelo próximo e maior proteção teremos contra o
mal.
6. Lidere de modo firme e inflexível
com falhas de caráter e pecados ocultos.
Todos os líderes têm um lado sombrio.
Alguns só querem agradar as pessoas. Outros
desejam construir um nome para si mesmos.
Outros têm problemas com raiva ou com
tendências codependentes. Esses problemas
afetarão a habilidade de liderança do líder.
Bill Hybels pergunta aos líderes: “Quem é
responsável por resolver seus problemas pessoais de forma que a igreja não seja negativamente impactada pelo seu dejeto? Você”.
Líderes espirituais devem separar essas coisas. Nossas igrejas estão dependendo disso.
Conclusão
Na última página de seu livro The Next Generation Leader, Andy Stanley apresenta a pergunta: “Qual é a pequena coisa em minha vida atual que tem o potencial de crescer para
algo grande?” Caráter medíocre não aparece
do nada. Começa pequeno — tão pequeno
que inicialmente não é sequer notado. Finalmente, o que era pequeno e despercebido se
torna algo tão enorme, que controla a vida de
um líder. Assim como o câncer no corpo humano, a melhor hora para remover o caráter
medíocre é quando este ainda é “uma coisa
pequena”.
Em Sua infinita sabedoria, Deus escolheu
colocar o futuro da Igreja nas mãos de líderes.
Fez isto com expectativas claras. Ele quer
que sejamos líderes excepcionais. Quer que
afiemos nossas habilidades de liderança, para
nos comunicarmos de forma eficaz e administrarmos bem nossas equipes. Mas, acima
de tudo, o desejo de Deus para Seus líderes é
que possam ser mestres na arte da autoliderança.
Quando a
tentação bate à
porta, devemos
nos perguntar se
vale a pena dizer
sim a ela em
detrimento
daqueles que
nos observam.
RECURSOS ESPIRITUAIS • 5
Princípios e
Práticas Bíblicas
U
Por Randy Hurst
m estudo recente afirma que apenas
10% daqueles que decidem seguir a
Cristo fazem sua decisão em um culto na igreja. De longe, a prioridade maior de uma campanha evangelística da igreja é o testemunho
pessoal de seus membros durante a semana.
Outro estudo revela que menos de 10% da congregação realiza evangelismo. Por que mais cristãos não
falam sobre Jesus Cristo com outras pessoas? Muitos
acham que a razão mais comum seja o desinteresse —
que os cristãos não se importam. Mas, para a maioria das
pessoas, a razão é a falta de confiança. Eu acredito que
os crentes queiram ser testemunhas eficazes, mas se
sentem inadequados, intimidados, ou temerosos em
compartilhar sua fé, especialmente com alguém que não
tenha uma base cristã.
Jesus disse, “Conhecerás a verdade, e a verdade o
6 • enrichment | MARÇO 2010
libertará.” (Jo 8.32). Conhecer o que a Palavra inspirada
de Deus diz sobre a natureza do evangelismo libertará
os crentes da sensação de inadequação ou até mesmo de
medo em relação ao testemunho pessoal.
Em Colossenses, Paulo fala sobre evangelismo de
uma maneira que ajuda a libertar os crentes dos equívocos e emoções que possam inibi-los de falar sobre
Cristo. Ele proporciona uma abordagem simples, bíblica
e prática para ajudá-los no evangelismo relacional.
O pedido mais frequente feito pela Comissão de
Evangelismo é por materiais sobre motivação pessoal e
treinamento para testemunhar. Pastores e outros líderes
da igreja podem ensinar princípios e práticas apresentados a seguir, defendidos por Paulo de várias maneiras
dentro da igreja. Estes princípios proporcionam uma
estrutura bíblica para ensinar o evangelismo pessoal que
pode se tornar uma parte integrante do estilo de vida de
um crente.
um
Testemunho
Pessoal Eficaz
para
A Abordagem do Apóstolo Paulo
preso; para que o manifeste, como convém falar. Andai com
O evangelismo não é uma opção; mas o modo como o
sabedoria para com os que estão de fora, remindo o tempo.
fazemos sim. A mesma Bíblia que nos ordena alcançar
A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal,
as pessoas com o Evangepara que saibais como vos
lho também nos mostra
convém responder a cada
Devemos disciplinar a nós mesmos para
como fazê-lo.
um.” (Cl 4.2-6, grifo nosso).
fazermos nossa parte no evangelismo
Paulo nos deu um ensiNas instruções de Paulo
pessoal enquanto que, ao mesmo tempo,
namento profundo mas
vemos que o testemunho
permanecemos dependentes de Deus, que
também prático sobre o
eficaz envolve dois
fará o que somente Ele pode fazer.
testemunho cristão eficaz à
princípios — dependência
igreja de Colossenses. As instruções finais em sua carta
(vv. 2-4) e disciplina (vv. 5,6). Devemos nos disciplinar
mostram como os cristãos precisam se relacionar com os
para fazermos nossa parte no evangelismo pessoal endescrentes, a quem ele chama apropriadamente de “os
quanto, ao mesmo tempo, permanecemos dependentes
de fora” (4.5). Eu chamo a abordagem de Paulo de
de Deus fazer o que somente Ele pode fazer.
evangelismo de resposta (veja v. 6). “Perseverai em oração,
Paulo expressa essa interação divina/humana numa
velando nela com ação de graças; orando também juntamente
trecho inicial de sua carta: “E para isto também trabalho,
por nós, para que Deus nos abra a porta da palavra a fim de combatendo segundo a sua eficácia, que opera em mim podefalarmos do ministério de Cristo, pelo qual estou também
rosamente.” (Cl 1.29). Paulo está defendendo o esforço
RECURSOS ESPIRITUAIS • 7
humano (“também trabalho”) que
depende de Deus (“segundo a sua
eficácia”).
Juntamente com os princípios de
dependência e de disciplina, Paulo
defende seis práticas na vida cristã
que ajudam a realizar o testemunho
eficaz e contínuo a não crentes. Um
pastor pode ensinar estes princípios
à congregação de duas maneiras.
Primeiro, pode ensinar os princípios
e práticas juntos, como uma abordagem bíblica abrangente para o evangelismo pessoal. Segundo, cada
princípio e prática precisa ser enfatizado sempre que possível em contextos diferentes. Apenas um ensino
ou um sermão não ajudará adequadamente os crentes a fazerem
dessas práticas uma parte de seu
estilo de vida.
Prática nº 1 — Ore por Portas Abertas
“Orando... para que Deus nos abra a
porta da palavra.” (Cl 4.3)
Paulo começa suas instruções aos
Colossenses exortando-os a orar.
A oração é algo essencial no evangelismo. A menos que Deus trabalhe
no coração e na vida das pessoas,
nosso trabalho não produzirá resultados duradouros.
No Livro de Atos, encontramos
um exemplo expressivo do trabalhar
de Deus com um de Seus mensageiros. Quando Paulo e seus companheiros foram à margem do rio fora
de Filipos para orar no sábado, sentaram e começaram a falar com um
grupo de mulheres. “E uma certa
mulher chamada Lídia, vendedora de
púrpura, da cidade de Tiatira, e que
servia a Deus, nos ouvia, e o Senhor lhe
abriu o coração para que estivesse
atenta ao que Paulo dizia.” (At 16.14).
Paulo pregou a mensagem.
O Senhor abriu o coração de Lídia.
8 • enrichment | MARÇO 2010
Nós temos o privilégio e a
responsabilidade de compartilhar o
Evangelho. Mas apenas Deus pode
abrir o coração de uma pessoa.
Dependemos de Deus para nos
abrir oportunidades, para trazer entendimento às mentes dos ouvinte,
e mover seu coração para a decisão.
Os crentes precisam de ensino
regular e repetido sobre oração e
encorajamento para fazer com que a
oração seja uma característica de
suas vidas diárias.
Prática nº 2 — Faça com que sua
mensagem seja clara
“Para que o manifeste, como convém
falar.” (Cl 4.4).
A mensagem de Paulo foi “o mistério de Deus” (Cl 2.2). O foco de
nossa mensagem também deve ser
Jesus (veja Cl 1.13-23,28; 2.9-15).
Após a ascensão de Jesus, o apóstolo Pedro se tornou rapidamente
uma das vozes mais proeminentes
na Igreja do Novo Testamento.
No poder do Espírito Santo, este
pescador tão indouto se tornou um
pregador convincente e eloquente
do Evangelho.
Pedro pregou seu sermão mais
conhecido no Dia de Pentecostes.
Lucas, porém, registra várias proclamações de Pedro sobre o Evangelho
em Atos (3.12-26; 4.8-12; 5.29-32;
10.34-43). Quando analisamos essas
apresentações, encontramos Pedro
destacando em cada sermão duas
verdades básicas: quem Jesus é e por
que Ele entregou Sua vida. Estar
preparado para discutir estas duas
verdades ajuda todo crente a falar
sobre Cristo de forma eficaz com os
não crentes.
Quem foi Jesus?
A avaliação da vida de Cristo pela
mídia secular geralmente apresenta
Jesus como um personagem fictício.
Mesmo quando O mostra como uma
pessoa histórica, a mídia O retrata
como um grande mestre ou mesmo
profeta — mas apenas um homem.
Os crentes devem transmitir que
Jesus foi mais que um mestre ou
profeta; Ele era Deus em forma de
homem. Foi concebido pelo Espírito Santo, nascido de uma virgem,
viveu uma vida sem pecados, morreu por nossos pecados e venceu a
morte ressuscitando para oferecer o
perdão dos nossos pecados e o dom
da vida eterna.
Por Que Jesus Entregou Sua Vida?
João Batista anunciou porque Jesus
veio ao mundo quando disse, “Eis o
Cordeiro de Deus, que tira o pecado do
mundo”. (Jo 1.29, grifo nosso).
Os pecados de toda a humanidade
são a razão para a morte de Jesus.
A existência da cruz estabelece dois
fatos: todos somos pecadores e não
há nada que possamos fazer.
É significativo que Paulo, como
Pedro, comunicassem as mesmas
duas verdades em Tessalônica.
Lucas resumiu os ensinamentos de
Paulo nas sinagogas nos dias de
sábado: “E Paulo, como tinha por
costume, foi ter com eles e, por três
sábados disputou com eles sobre as
Escrituras, expondo e demonstrando
que convinha que o Cristo padecesse e
ressuscitasse dos mortos. E, este Jesus,
que vos anuncio, dizia ele, é o Cristo”
(At 17.2,3).
A apresentação do Evangelho
precisa incluir essas duas verdades
sobre Jesus. Ambas são essenciais
para a compreensão da graça que
Deus manifestou através da morte
de Jesus na cruz, Sua ressurreição e
Sua consequente compra da
redenção de toda a humanidade.
Prática nº 3 — Seja Prudente com
“os que estão de fora”
“Andai com sabedoria para com os que
estão de fora.” (Cl 4.5).
O termo “os que estão de fora” de
Paulo dá uma descrição apropriada e
prática de onde os não crentes estão
não crentes possam entender e através de conceitos com os quais consigam se relacionar — como Jesus fez.
Prática nº 4 — Aproveite as
Oportunidades ao Máximo.
“Aproveitai as oportunidades.” (Cl 4.5)
As oportunidades têm um tempo
certo. O ditado que diz que uma
Compartilhar nossa experiência e
nosso relacionamento pessoal com
Jesus Cristo com sinceridade e
convicção pode ser um argumento
convincente para algumas pessoas.
em relação à Igreja. Por diversas razões, a maioria dos não crentes hoje
estão mais fora do contexto cristão
do que nunca. Não podemos afirmar
que os não crentes estejam comprometidos com os valores cristãos ou
mesmo que compreendam.
A Igreja hoje enfrenta o desafio
de comunicar o Evangelho interculturalmente, como os missionários
em países estrangeiros fazem. Se os
crentes têm passado boa parte da
vida na Igreja, eles têm adquirido
valores, percepções e vocabulário da
Igreja. Cristãos e não cristãos podem
ambos falar português, mas os
cristãos geralmente usam termos
não familiares ou com significado
diferente na cultura secular.
Ao usarmos jargões cristãos, criamos uma barreira de comunicação
com os não crentes. Cristãos entendem palavras como salvo, evangelho e
unção, porém são confusas para
pessoas que não estão familiarizadas
com elas. Os não crentes devem ser
alcançados através do vocabulário
deles — não do nosso.
Parte da cultura da Igreja precisa
ser equipar os cristãos para transmitirem sua fé numa linguagem que os
oportunidade não bate duas vezes à
porta é verdadeiro. Uma oportunidade pode não aparecer uma segunda vez. Cada uma é única porque as
pessoas e as circunstâncias são
diferentes.
Memorizar alguns versículos bíblicos ou fazer um curso de evangelização não prepara cristãos para responder tudo às pessoas. Pode ajudar, mas conhecer a verdade, que
nos capacita a responder às pessoas
em várias situações, requer um
aprendizado contínuo no decorrer
da vida. Significa que devemos crescer em um conhecimento pessoal de
Jesus Cristo. Nós nunca nos graduamos nisso. Estamos todos em uma
jornada espiritual. O que estamos
aprendendo pessoalmente podemos
compartilhar com um vigor renovado tal, que convença os descrentes.
Alguns se sentem desconfortáveis para testemunhar porque não
conseguem lembrar os versículos
que acham que precisam saber.
Mesmo que gravem, não se sentem
seguros em sua habilidade de
lembrar-se quando necessário. Mas
todo crente, mesmo sem qualquer
treinamento em evangelismo pes-
soal, pode compartilhar seu testemunho pessoal e orar. Todo mundo
tem um testemunho pessoal. Compartilhar nossa experiência e nosso
relacionamento pessoal com Jesus
Cristo com sinceridade e convicção
pode ser um argumento convincente para algumas pessoas.
Uma das maneiras mais oportunas de ministrar a descrentes é a
oração. Quando incrédulos expressam seus problemas, peça o privilégio de orar com eles. Se cremos
que Deus responde nossa oração,
precisamos praticar a fé através da
oração com e pelas pessoas e acreditar que Deus irá responder. Ouvir
a oração de um crente pode causar
um efeito significativo sobre os
descrentes. Quando os crentes oram
por uma necessidade, as pessoas
podem sentir que eles são sinceros e
que têm um relacionamento com
Deus. Os corações podem ser
abertos ao Evangelho quando Deus
responde as orações.
A liderança pastoral pode
também desencadear oportunidades
para os membros da igreja se conectarem com descrentes através de
eventos de evangelismo.
Prática nº 5 — Fale com Graça.
“A vossa palavra seja sempre agradável,
temperada com sal.” (Cl 4.6)
Em 1 Pedro 3.15, o apóstolo faz
um comentário similar ao de Paulo.
Pedro diz aos crentes para estarem
sempre preparados para dar uma
resposta à sua esperança, mas com
“mansidão e temor”. Não é somente
o que falamos que importa, mas
também como falamos. A maior
parte da nossa comunicação interpessoal é não verbal. Se há uma
contradição entre o que alguém diz e
a maneira como ela diz, acreditareRECURSOS ESPIRITUAIS • 9
A ESCALA DE ENGEL
A escala de Engel é um sistema
numérico que mostra onde as
pessoas estão em sua caminhada
espiritual.
-8 Ciência de um ser supremo,
mas nenhum conhecimento do
Evangelho.
-7 Consciência inicial do Evangelho.
-6 Ciência dos fundamentos do
Evangelho.
-5 Noção das implicações do
Evangelho.
-4 Atitude positiva em relação ao
Evangelho.
-3 Reconhecimento de problemas
pessoais.
-2 Decisão para agir
-1 Arrependimento e fé em Cristo.
0 Conversão
+1 Avaliação pósdecisão
+2 Integração ao corpo de Cristo
+3 Uma vida de crescimento
conceitual e comportamental
em Cristo.
As pessoas estão dispostas a
mos sempre na mensagem não
verbal. Uma pessoa pode ver uma
apologia — feita com as mesmas
palavras mas falada de diferentes
formas — quer sincera, quer sarcástica. Entonação de voz e expressões
faciais podem mostrar mensagens
confusas que contradizem as palavras que dizemos.
A maioria dos que se tenta alcançar nos EUA tem uma história
negativa com a igreja; é defensiva
ou mesmos hostil aos testemunhos
cristãos. Outros com cicatrizes
emocionais se tornaram insensíveis
a questões espirituais. Um cristão
com graça e credibilidade pessoal
pode ajudar a neutralizar a confusão
dos sinais que as pessoas receberam
daqueles cuja vida tem se mostrado
inconsistente em relação às suas
mensagens. Assim como o sal tem10 • enrichment | MARÇO 2010
pertencer antes mesmo de estarem
dispostas a acreditar. Quando falar
sobre o Evangelho, use uma linguagem básica. As pessoas não entendem
palavras como arrependimento, santificação e redenção se nunca ouviram ou
viram palavras como amor, bondade, e
aceitação. Até mesmo a Palavra de
Deus sugere que o amor de Deus
conduz ao arrependimento. Essas palavras abrangentes conduzem a coisas
mais profundas do Evangelho. Paulo
reconhecia que bebês precisam de
leite antes de precisarem de carne.
Ele apresentava o Evangelho em
diferentes níveis, de acordo com o
público a quem estava ministrando.
Nosso desejo é ver pessoas
progredirem dos números
negativos para os positivos e
finalmente, para um crescimento saudável +3.
Existe, geralmente, uma
lacuna entre o mundo dos
descrentes e o mundo dos
crentes. O conhecimento
social-arbitrário, ou conhecimento cultural-específico dos cristãos
pode tão plenamente ser desenvolvido que eles acabem se alienando
completamente dos não cristãos.
Começam, inconscientemente, a
utilizar jargões simplesmente aos
quais se referem porque aprenderam a
cultura da cristandade.
Para termos um espírito missionário, precisamos aprender como reestruturar nossas vidas, ações e discurso,
para que sejam relevantes àqueles que
não desenvolveram a noção de cristandade. Devemos aprender, como disse
Paulo, a nos fazermos de “tudo para
pera a comida, o espírito de graça,
vidual. Em nossos esforços para
brandura e respeito precisa tementender e agir sabiamente em relaperar nossa conversa com não
ção aos “de fora”, não devemos
crentes. Não devemos transigir com
jamais esquecer que cada um deles
a verdade, mas podemos comunicáé único. Entender a mentalidade, os
la com bondade.
valores, as preocupações, os interesCrentes necessitam de um disses e os desejos das pessoas em
cipulado contínuo em formação
várias culturas e gerações é muito
espiritual para que os frutos do
útil. Generalizações, porém, podem
Espírito se torconduzir a
Deus chama todo crente para
nem cada vez
equívocos
mais evidentes
ser testemunha, e cada crente porque cada
em suas vidas.
pessoa é única.
pode ser com a ajuda dEle.
O fator mais
Termos como
crítico em um evangelismo pessoal
geração “X”, póscristãos, pósmodernos,
é a credibilidade do pregador.
etc. são perfis e estereótipos, não
realidades pessoais.
Prática nº 6 — Responda IndividualAs pessoas não são estatísticas ou
mente.
apenas almas que conquistamos
“Para que saibais como vos convém
para o Reino. Pessoas são indivíduos
responder a cada um.” (Cl 4.6)
com personalidades distintas —
Relevância é uma questão indicriações únicas para as quais Deus
todos, para, por todos os meios, chegar a
salvar alguns.” (1Co 9.22).
Essa reestruturação estende-se até
mesmo ao nosso discurso. Paulo, em
seu sermão no Areópago, usa ícones
culturais da época (deuses e ídolos, e
os poetas da época) para apresentar o
seu caso. Refere-se à estátua do deus
desconhecido e aos seus poetas que
disseram, “Nós...somos sua geração.”
(At 17.22-31), para falar em um nível
que fosse relevante e significante para
aqueles a quem estava tentando
alcançar.
O livro The Shaping of Things to
Come, de Michael Frost e Alan Hirsh,
apresenta um gráfico para explicar
como os não crentes devem superar a
lacuna cultural da sua ignorância sobre
Deus, antes de conseguirem atravessar a lacuna do discipulado que todos
os crentes enfim devem atravessar.
Se as pessoas passam por estágios,
como Engel sugere, devemos
examinar como e quando apresentamos as sugestões verbais e não verbais
do Reino de Deus. Até mesmo Jesus
insistiu em conversar com as crianças,
mesmo com os discípulos tentando
despachá-las. Ele ensinou Seus
discípulos, tanto de forma verbal
como não verbal, que o coração de
uma pessoa deve ser como o de uma
criança para entrar no Reino dos Céus.
Quando falou com a mulher adúltera no poço (Jo 4.5-29), Jesus não
começou a conversa pelo pecado dela
e pela necessidade de arrependimento. Ao contrário, Ele se dirigiu a ela
em um nível físico quando disse, “Dême de beber”. Dirigiu-Se ao seu estilo
de vida, mencionando o fato de que
“tinha muitos maridos”. Dirigiu-Se à
necessidade dela de encontrar
satisfação — beber de tudo o que é
bom. Ele então ofereceu-lhe água
viva. A oferta de Jesus não foi um
clichê cristão do momento; foi uma
oferta para satisfazer sua necessidade
atual.
Como cristãos, devemos considerar
nossas palavras, que podem, às vezes,
advir de uma necessidade em nossa
vida, mas as pessoas que encontramos
podem não ter as mesmas
necessidades. Elas podem não
necessitar de uma igreja no
momento, mas podem precisar de
alguém que demonstre o amor de
Deus através de palavras generosas
e sugestões não verbais, como ação
e serviço. A forma como demonstramos interesse e estruturamos
palavras determinam se
pareceremos repugnantes em
nosso orgulho, abstratos em nossas
conversas na igreja ou amáveis e
gentis em nossa preocupação
genuína pelas necessidades do
nosso próximo.
É hora de os crentes
redescobrirem a linguagem
esquecida de sua juventude
espiritual.
Devemos falar aos descrentes
onde vivem, onde trabalham e
onde quer que estejam na escala
de Engel.
tem um plano e um propósito pessoal. Nós construímos o Reino de
Deus com uma pessoa de cada vez.
Jesus é o melhor exemplo nos
ensinamentos de Paulo sobre como
responder às pessoas.
O ensino de Jesus era claro para
os Seus ouvintes. Ele usava vocabulário e figuras de linguagem
tirados da vida diária de Seu público. Identificou-Se e conectou-Se
com Seus ouvintes através de uma
linguagem que conseguiam entender, e conceitos com os quais
tinham como se relacionar.
Devemos lembrar que o versículo mais citado na Bíblia, João 3.16,
não era parte de um dos sermões de
Jesus. Essas palavras foram proferidas por Jesus em uma conversa
informal com Nicodemos numa
noite quando respondia às
perguntas desse fariseu.
Mesmo que ensinasse a multidões, Jesus se concentrava em indivíduos e respondia a eles. Pessoas
perdidas merecem o mesmo que
aqueles que vieram ao encontro de
Jesus receberam — uma resposta
pessoal.
Deus chama todo crente para ser
testemunha, e cada crente pode ser
com a ajuda dEle. Membros da
igreja podem ficar seguros de que
Deus os usará como testemunhas
eficazes à medida que cooperarem
na obra que o Espírito Santo estiver
fazendo na vida de um descrente.
Estes cinco versículos de Colossenses oferecem um ensinamento bíblico, prático e abrangente em relação
a evangelismo pessoal. Os princípios
de dependência (vv. 2-4) e de disciplina (vv. 5,6) referem-se a toda a
vida cristã. As práticas precisam ser
reforçadas continuamente em todos
os aspectos da vida da igreja.
A verdade da Palavra de Deus
em relação à natureza do evangelismo pode libertar as pessoas de
qualquer coisa que as amarre, assim
como pode ajudá-las a encontrar o
propósito que Deus quer que se
cumpra através delas.
Se a liderança pastoral ajudar
pessoas a entenderem as verdades
poderosas que Paulo ensina, os
crentes conseguirão desenvolver um
estilo de vida de evangelismo
pessoal eficaz.
L. ALTON GARRISON,
Springfield, Missouri (EUA)
RANDY HURST,
Springfield, Missouri (EUA)
RECURSOS ESPIRITUAIS • 11
12 • enrichment | MARÇO 2010
Se permitirmos que nossos fracassos nos definam, eles
conseguirão nos arruinar. Mas se o fracasso for administrado
de maneira apropriada, sairemos dele vitoriosos.
APRENDENDO
COM OS ERROS
Por Mark Batterson
P
or mais de uma década
tenho servido como pastor da
Igreja National Community em
Washington, DC (EUA). Eu amo
morar em Capitol Hill. Sou grato
a Deus por ter pastoreado uma igreja na vida. Mas
também já passei pela minha quota de desafios,
decepções e fracassos.
Após me formar pelo Central Bible College, em
Springfield, Missouri, entrei na Trinity Evangelical
Divinity School, em Deerfield, Illinois. Meu sonho
era o de plantar uma igreja na área de Chicago, IL.
RECURSOS ESPIRITUAIS • 13
Minha esposa e eu crescemos em Naperville, um
subúrbio na região oeste de Chicago. Amo o estilo de
pizzas de Chicago. E Michael Jordan ainda estava
jogando pelo Chicago Bulls. Por que
iríamos querer estar em qualquer
outro lugar? Então criamos um grupo principal, abrimos uma conta no
banco, e escolhemos um nome de
igreja. Eu fiz até um planejamento
para 25 anos. Mas nosso grupo
implodiu antes mesmo que pudéssemos realizar nosso primeiro culto.
Ainda tenho questões sem respostas sobre aquela primeira igreja.
Será que fomos chamados para
plantar essa igreja? Ou foi Deus
quem planejou nosso fracasso?
Estávamos fora de tempo? Ou foi
minha inaptidão e inexperiência que
me fizeram fracassar? Eu saí dessa
experiência com uma forte convicção: às vezes, nossos planos têm
que fracassar para que os de Deus
tenham sucesso.
Essa tentativa frustrada de plantar uma igreja se classifica como uma
das fases mais constrangedoras e
desiludidas da minha vida. Eu não
fazia ideia de para onde ir ou o que
fazer. Estava emocional e espiritualmente abalado.
Se permitirmos que nossos fracassos nos definam, eles conseguirão
nos arruinar. Mas se o fracasso for
administrado de maneira apropriada,
sairemos dele vitoriosos. Nós não estamos propensos
a admitir ou a levar o crédito por um sucesso tardio.
Descobrimos que, mesmo quando caímos de cara no
chão, Deus está lá para nos levantar. O fracasso tem
um jeito de abrir novas opções.
Quando o sonho de plantar uma igreja em Chicago
desvaneceu, estava disposto a ir a qualquer lugar.
Então, depois de vários meses orando e buscando a
Deus, encontrei uma porta aberta em Washington.
Nós não tínhamos um lugar para morar ou um salário
garantido; mas, pela fé, arrumamos nossas coisas e nos
mudamos.
nevasca varreu a costa leste, deixando um recorde de
nevasca nos EUA. Este foi meu primeiro fim de semana como pastor da Igreja National Community. Apenas 3 pessoas apareceram no culto —
minha esposa, meu filho e eu.
A parte boa foi que tivemos a experiência de vermos um crescimento
de 533% em uma semana, quando
19 pessoas apareceram no domingo
seguinte.
Nós colocamos por terra vários
axiomas de como se plantar uma
igreja. Contaram-me que se você
não alcançar 100 pessoas em seu
primeiro ano, ou 200 em seu segundo ano, você nunca conseguiria quebrar aquelas barreiras.
A média de frequência em
nosso primeiro ano foi de
aproximadamente 35 pessoas.
Geralmente começávamos os
cultos com seis ou oito pessoas na
assistência. Eu fechava meus olhos
durante o louvor porque era
deprimente abri-los. Mas nunca
perdi minha esperança. Sabia que
Deus tinha nos chamado. E sabia
que alguma coisa boa aconteceria. Só
não sabia que a coisa boa seria algo
que eu julgaria ser ruim.
No outono de 1996, a escola
pública em Washington onde estávamos nos reunindo foi fechada por
causa de violação do código de
incêndio. A Igreja National
Community poderia facilmente ter se tornado uma
casualidade. Começamos a explorar as opções de
espaço para as reuniões. Todas as portas se fecharam
exceto uma: a do cinema da Union Station.
Fazendo uma retrospectiva, é difícil imaginar um
ponto espiritual mais estratégico que a Union Station.
Vinte e cinco milhões de pessoas passam pela Union
Station todo ano, fazendo-a o destino mais visitado de
Washington. Temos nove salas, 40 restaurantes e um
estacionamento coberto. Nós também temos nosso
“próprio” sistema de metrô, com estação em frente à
nossa porta. Se Deus não tivesse fechado a porta da
escola pública de Washington, não teríamos procurado
por uma porta aberta no cinema.
Devo mencionar um comentário histórico. No dia
Se suas
perspectivas
são de
curto
prazo,
você viverá
em um
desencorajamento
perpétuo.
“EM BREVE, EM UM CINEMA PERTO DE VOCÊ”
No primeiro final de semana de Janeiro de 1996, uma
14
14• •enrichment
enrichment| MARÇO
| MARÇO2010
2010
que assinei o contrato de aluguel do cinema na
Union Station, peguei um livro, Union Station:
A History of Washington’s Grand Terminal. Eu queria
conhecer a história por trás da Union Station.
Em 28/02/1903, o presidente norte-americano
Theodore Roosevelt assinara o projeto de Lei do
Congresso, permitindo a criação da Union Station.
O projeto declarava: “Um Ato do Congresso para criar
uma Union Station e para outros propósitos”.
O presidente Roosevelt pode ter pensado que estava
construindo uma estação de trem, mas Deus sabia que
anos depois a Union Station serviria Seus propósitos
através do ministério desta igreja — Igreja National
Community.
Implantação de igrejas:
Estudo VINEYARD sobre Fracassos e Sucessos
Todd Hunter conduziu um significativo estudo enquanto diretor denominacional de implantação de igrejas.
Embora datadas, diversas descobertas apresentadas em seu estudo
para Association of Vineyard Churches
— Church Pathology Report, de
Dezembro de 1986, ainda são totalmente relevantes.
Hunter dividiu seu relatório em
duas categorias principais: “Relatórios de Autópsia” de igrejas fracassadas e “Igrejas Bem Sucedidas”. As
questões-chaves mencionadas, que
contribuem grandemente para o
fracasso incluem:
• A inabilidade do plantador de
igrejas de recrutar, mobilizar e fomentar trabalhadores e líderes;
• A inabilidade do plantador de
igrejas de planejar eficazmente;
• A ineficácia do plantador de
igrejas de recrutar pessoas e;
• A ineficácia do plantador de
igrejas em sua metodologia de evangelismo.
Hunter concluiu que os obreiros
que implantam novas igrejas poderiam corrigir essas questões com treinamento e a experiência do crescimento da igreja.
Hunter prosseguiu para descobrir
que a disposição desses obreiros faz
uma diferença crucial.
Os pastores que lutam muito em
sua maioria são mais pastorais do que
carregadores de peso e faltam-lhes
habilidades fortes de liderança.
Os obreiros que plantam novas
igrejas e não são bem sucedidos ficam simplesmente predispostos a
uma abordagem mais passiva para
ministério, que concentra-se em
fomentar aqueles que naturalmente
vêm de encontro a eles, em vez de
buscar agressivamente adentrar a
comunidade e reunir aqueles que
poderiam ser líderes para o Reino.
Eles preferem nutrir os relacionamentos já existentes ao invés de
recrutar, evangelizar, planejar ou
examinar sua comunidade.
FATORES DE SUCESSO
Por outro lado, de acordo com a
pesquisa Vineyard, as igrejas que
prosperam são dirigidas por pastores
que trabalham arduamente, que
possuem bem elaborados planejamentos, que focam-se em recrutar
pessoas novas e que conseguem se
mexer de forma criativa para resolver
problemas. Estes pastores se envolvem agressivamente com ações
sociais e o otimismo e a fé servem
como combustível para sua paixão.
Além disso, esses plantadores de
igrejas possuem boas habilidades
sociais e assumem responsabilidade
pelo crescimento da igreja enquanto
consolidam o valor da igreja para as
pessoas.
F inalmente, Hunter também
descobriu vários fatores de sucesso
relacionados à nova congregação. As
perspectivas de sobrevivência de uma
igreja nova diminuem se em seu
estágio inicial ela atrair muitos cristãos
feridos ou aqueles apenas nominais
que não estão dispostos ou não são
capazes de crescer (i.e., saltadores de
igrejas, líderes queimados, os feridos
crônicos, etc.). Da mesma forma, se os
primeiros membros não estiverem dispostos a buscar e a receber ativamente aqueles que são diferentes deles
mesmos, isto pode também reduzir a
saúde e a capacidade de sobrevivência
da igreja.
Estrangulação sociológica e os
problemas ocultos ferem tanto as
igrejas novas quanto as igrejas estabelecidas.
— ED STETZER
Extraído de “Improving the health and
Survability of New Churches”.
Leadership Network. Usado com
permissão.
RECURSOS
RECURSOSESPIRITUAIS
ESPIRITUAIS• •15
15
NO MEIO DO MERCADO
Entrei no negócio de plantar uma igreja
com uma mentalidade tradicional:
reunir-se em prédios alugados até se
conseguir comprar ou construir um templo. No entanto, eu experimentei uma
mudança de paradigma. Sabia que iria
demorar até que começássemos até
mesmo a pensar em comprar ou construir um prédio. As propriedades custavam US$ 10 milhões o acre. Então veio-me este pensamento: por que construir
uma igreja quando temos um auditório
todo adaptado, com telões, assentos
confortáveis e sistema de som surround?
Além disso, quantas igrejas têm praça de
alimentação, estacionamento coberto e metrô?
Estabelecer uma igreja no mercado se tornou parte do
nosso DNA espiritual.
Eu estava caminhando da Union Station para casa
quando tive uma visão na esquina das ruas Fifth com a
F. Nenhum coral de anjos. Nenhum grafite na calçada.
Mas pude ver um mapa do metrô em minha mente. Eu
enxerguei a Igreja NC se reunindo em salas do cinema
nas estações do metrô em toda a área de Washington.
Finalmente, conseguimos nosso segundo cinema
em Ballston Commom Mall, em Arlington, Virgínia.
Desde então, conseguimos também mais dois lugares:
um em Georgetown (Washington, DC) e outro em
Alexandria, Virgínia.
Juntamente com nossos quatro cinemas, a igreja NC
também possui e opera a maior cafeteria de Capitol
Hill. Em 2008, Ebenezers foi considerada a cafeteria
número 1 do metrô de Washington pela AOL
CityGuide.
A paixão era simples: criar um lugar onde a igreja e a
comunidade cruzassem seus caminhos. Jesus não
aparecia apenas nas sinagogas; Ele aparecia também
perto dos poços. Poço não é somente um lugar para se
tirar água. Na cultura antiga, os poços eram lugares
onde as pessoas se reuniam. Cafeterias são os poços
pósmodernos.
Não apenas interagimos com centenas de clientes
diariamente; também fazemos dois cultos no sábado à
noite em nosso auditório. Todo o lucro da cafeteria é
investido em missões.
Lição nº 1: Abra os horizontes
Se suas perspectivas são de curto prazo,
você viverá em um desencorajamento
perpétuo. Quando estou desencorajado,
geralmente é porque superdimensionei
algumas coisas que me frustraram.
Preciso subdimensioná-las e lembrar
do quadro grande. Preciso lembrar que,
há mais de 2000 anos, Jesus morreu
numa cruz por meus pecados. Preciso
também me lembrar do futuro eterno
que tenho. Isso ajuda a recalibrar-me
espiritualmente. Por que estou fazendo o
que estou fazendo? Preciso reconectar
com meu primeiro chamado que Deus
fez para a minha vida. Preciso me lembrar que estou nisso para um grande projeto.
Crescimento leva tempo. Deus não abençoará você
mais do que possa lidar com isso. Deus está mais preocupado com o que você está se tornando do que com o
que você está fazendo. Quanto mais você precisa esperar, mais você aprecia. Nossa cafeteria, por exemplo,
é o resultado de oito anos de oração, rezoneamento e
construção.
Crescimento de igreja não é a questão. A questão é o
crescimento pessoal. Se você tiver o crescimento
pessoal, a igreja crescerá em escala corporativa.
Aqui está uma ironia do crescimento da igreja. Nas
semanas que estou “a todo vapor” e penso que todo
visitante se tornará um membro na semana seguinte,
ninguém volta. Então na semana seguinte prego uma
mensagem que bomba. Sinto-me como se estivesse
mandando um e-mail com queixa para mim mesmo.
Então as pessoas se convertem e todos os visitantes
voltam.
Parte do
desafio da
liderança é
descobrir
CINCO LIÇÕES
Aqui estão as lições que aprendi durante a jornada de
plantar igrejas.
16
16• •enrichment
enrichment| MARÇO
| MARÇO2010
2010
quem
você é.
Lição nº 2: Não tenha medo de cometer erros
Todo obreiro que planta uma igreja luta com medo de
fracassar. O remédio não é o sucesso. O remédio é
fracassar em pequenas doses, quase como injeções de
alergia, para que consiga imunidade.
O fracasso tem um efeito de libertação. Você percebe que Deus está lá para pegar e limpar você. Isso mantém você humilde.
Nós temos um valor central na Igreja NC: tudo é um
experimento. Se o Reino de Deus tivesse departamentos, poderíamos trabalhar em pesquisa e desenvolvimento. Sou guiado por uma convicção elementar:
existem maneiras de se plantar uma igreja que ninguém
pensou ainda. Isso, no entanto, significa que preciso
cometer alguns erros. Preciso chegar ao ponto onde fico
com mais medo de perder oportunidades do que de
errar.
Não tenho problemas em ver a minha equipe
cometendo um erro. Só não quero que cometam os
mesmos erros várias vezes. Cometer erros significa que
você está tentando coisas novas. E este é o caminho
para se crescer como líder.
Lição nº 3: Desista de fazer comparação
Sou competitivo, não gosto de perder nem um jogo de
damas para meus filhos. Mas, pedi a Deus para
santificar meu ímpeto competitivo e usá-lo para Seus
propósitos. Com muita frequência, nós nos comparamos
com outros pastores e olhamos para outras igreja como
concorrentes.
Líderes sãos têm uma mentalidade vol-tada para o
Reino. Não preciso ser todas as coisas para todas as
pessoas porque eu não sou a única igreja na cidade. Precisamos de diferentes tipos de igrejas porque existem
diferentes tipos de pessoas. Celebremos nossas diferenças enquanto pregamos o Evangelho.
Você pode se comparar a alguém que não tenha os
mesmos dons que você, e isso resultará em orgulho.
Ou pode se comparar a alguém que possua mais dons
que você, e isso resultará em ciúme. De qualquer jeito,
você perde.
Parte do desafio da liderança é descobrir quem você
é. A outra parte é descobrir quem você não é. Então se
cerque de pessoas que compensem suas fraquezas. Já
no início do ministério, seu nível de dotações irá determinar sua influência. Mas, com o tempo, suas dotações
terão menos a ver com sua influência final. Sua influência será determinada pelas dotações das pessoas com as
quais você se cerca. É por isso que o desenvolvimento
de liderança e a contratação de pessoal são capacidades
de missão tão críticas.
Se você não tem uma visão claramente definida, tentará ser tudo para todos. Vários pastores são verdadeiros
contorcionistas. Tentamos atender todos os caprichos e
desejos de todos que batem à nossa porta.
Anos atrás, memorizei algo que Abraham Lincoln
disse e isto se tornou um mantra da liderança: “Você
consegue agradar todas as pessoas por algum tempo,
algumas pessoas todo o tempo, mas não consegue
agradar todas as pessoas todo o tempo”.
Lição nº 4: Continue aprendendo
Um seminarista me perguntou: “Qual é a chave do
sucesso no ministério?”
Eu disse: “Continue aprendendo”.
Líderes são aprendizes. Parte do que os guia é uma
curiosidade santa. E eles são suficientemente humildes para admitir sua falta de conhecimento.
Um dos meus medos é o de me tornar um sistema
fechado. Você deixa de fazer o ministério a partir de
sua imaginação e começa a fazê-lo a partir de sua memória. Você deixa de criar o futuro e começa a repetir
o passado. Você deixa de liderar e passa a administrar.
Duas coisas têm me ajudado a continuar a ser um
sistema aberto. Primeiro, os livros mantêm minhas
sinapses queimando de maneiras novas. Tento também fazer o máximo de reconhecimento possível. Vou
a conferências e visito outras igrejas para obter novas
ideias. Isso me ajuda a manter minha perspectiva
saudável na Igreja National Community.
Lição nº 5: Aproveite a jornada
Quando fui entrevistado para obter credencial, um
pastor do comitê perguntou: “Se você tivesse que
descrever você mesmo com uma palavra, qual seria?”
Eu disse: “guiado”. Pensei que fosse então uma
ótima resposta. Agora não tenho tanta certeza.
Meu objetivo como obreiro que planta igrejas era
pastorear mil pessoas antes de fazer 30 anos. Não há
nada errado em estabelecer objetivos enormes desde
que o motivo esteja correto. A dimensão dos nossos
sonhos é um ótimo barômetro de maturidade espiritual. O problema, porém, com este objetivo em particular é: eu estava preocupado mais com números do que
com pessoas. Nós plantamos e regamos; Deus dá o
crescimento (1Co 3.7).
Eu estou tão voltado para o futuro que normalmente deixo de apreciar a jornada. Mas o Senhor
estampou em mim: seja o melhor pastor que você
puder aqui e agora. É como ser pai. Você precisa aproveitar cada idade e cada fase. Ministrar é difícil. Mas
que possamos jamais nos esquecer do privilégio
maravilhoso de fazer parte do plano de redenção de
Deus para o planeta Terra.
Esteja certo de que os sacrifícios que fazemos
renderão dividendos eternos.
MARK BATTERSON é o pastor presidente
da Igreja National Community, em
Washington, DC (EUA).
RECURSOS
RECURSOSESPIRITUAIS
ESPIRITUAIS• •17
17
Transformando Decisões
em Acréscimos e
18 • enrichment | MARÇO 2010
Acréscimos em Discipuladores
(Cuidados para com o Novo Convertido)
Por Jim Hall
P
ara onde foram todas os crianças espirituais? Uma
Valores do Discipulado
tendência alarmante e perturbadora está ocorrenDeus se alegra quando um perdido é encontrado e nos
do nas Assembleias de Deus dos EUA. Quando
chama para nos alegrarmos com Ele (Lc 15. 6-10).
mais de 75% de todas as decisões por Cristo nas igrejas
O pai do filho pródigo argumentou com seu filho
assembleianas escapam pela porta dos fundos, algo está
mais velho que ele também precisava celebrar porque
desesperadamente errado e requer uma resposta para
“o seu irmão” voltara para casa (Lc 15.32). Os recémesta pergunta: “Por que tão poucas decisões por Cristo
nascidos espirituais são claramente nossos irmãos e cada
resultam em adição à igreja?”
um deve ser bem vindo porque os novos crentes têm o
Numa tentativa de responder a esta pergunta, devemesmo valor que nós para o Pai Celestial.
mos considerar primeiramente o exemplo do apóstolo
No Novo Testamento, o valor de cada criança em
Paulo aos crentes de Tessalônica: “antes, fomos brandos
Cristo reflete-se nas referências apostólicas ao cuidado
individualizado. Paulo falou aos Tessalonicenses que
entre vós, como a ama que cria seu filho.” (1Ts 2.7, grifo
nosso). Paulo sabia que esses recém-nascidos em
Cristo viveriam e cresceriam através de relaciona- O discipulado para novos crentes é
mentos carinhosos, ou morreriam se deixados
indispensável se pastores querem desacelerar
sozinhos. O relacionamento de Paulo com eles
a alarmante taxa de morte espiritual na igreja.
continuou, podendo assim exortá-los, encorajá-los
e implorar que “a cada um de vós...como o pai a seus
ele guiara “cada um de vós” como um pai (1Ts 2.11, grifo
filhos.” (1Ts 2.11). O resultado foi a sobrevivência espinosso). Ele lembrou aos Efésios: “vigiai, lembrando-vos
ritual e sua transformação em poderosas testemunhas.
de que, durante três anos, não cessei, noite e dia, de
Como um pai orgulhoso, Paulo notou que “em todos os
admoestar, com lágrimas, a cada um de vós.” (At 20.31,
lugares a vossa fé para com Deus se espalhou.” (1Ts 1.8).
O discipulado para novos crentes é indispensável
grifo nosso). Jesus discipulou Pedro individualmente
se pastores querem desacelerar a alarmante taxa de
desde o início de Seu ministério público. O primeiro
morte espiritual na igreja.
objetivo para o acompanhamento de novos convertidos
Tem sua igreja um ministério de discipulado bem
é o de prover um cuidado individual, colocando-os em
desenvolvido que garanta a taxa de sobrevivência de
contato com outros cristãos maduros ou discipuladores
seus novos convertidos e que os ajude a se tornarem
treinados.
membros que cresçam e sejam prósperos?
Este artigo apresenta passos práticos para se estaAmizade no discipulado
belecer um ministério eficaz de discipulado para
O ingrediente amizade no discipulado pode preceder a
novos convertidos numa igreja de qualquer tamanho,
conversão ou ser desenvolvida através de um discipuque irá transformar decisões em acréscimos e acréslador que seja designado para um novo convertido após
cimos em discipuladores. Essas dinâmicas são atemsua entrega a Cristo. Os discipuladores precisam ser do
porais e eficazes.
mesmo sexo que o novo convertido. Também, leve em
RECURSOS ESPIRITUAIS • 19
Identidade e comunidade são questões primordiais para a igreja hodierna.
consideração a idade, personalidade,
profissão, trabalho, horários, onde as
pessoas vivem e a direção do
Espírito. A dificuldade inicial de um
relacionamento entre o novo
convertido e o discipulador é
normalmente superada com um
pouco de persistência. Em raras
ocasiões, pode haver a necessidade
de um novo discipulador.
Fidelidade ao discipulado
É importante que um novo cristão
seja contatado pela igreja, e/ou pelo
pretenso discipulador, logo após ter
se convertido, para agendar um
horário (de 1 a 1 hora e meia) para
um discipulado informal.
Escolha um lugar confortável
para se reunir que seja conveniente
para o novo convertido — a casa
dele, ou qualquer outro lugar que
ele escolha.
Reunir-se na casa do novo
convertido permite ao discipulador
encontrar outros membros da
família e amigos e dar apoio ao
testemunho do novo convertido.
Também oferece um contexto
importante para o discipulador
observar e entender o ambiente de
onde provém o novo convertido.
O discipulado precisa ser realizado semanalmente. A fidelidade do
discipulador cria uma experiência
consistente que é importante para a
vida espiritual do novo crente.
A igreja precisa desenvolver um
sistema de prestação de contas para
que o discipulador apresente a
consistência e a qualidade de cada
reunião de discipulado.
A Formação do Discipulado
As reuniões de discipulado precisam
concentrar-se em ajudar os novos
convertidos a interagirem com as
Escrituras para aprenderem como
20 • enrichment | MARÇO 2010
ter um relacionamento diário com
Jesus. Lições com cadernos de exercícios que levem o novo convertido
diretamente à Palavra para verem
por si mesmos o que Deus está
dizendo são os melhores.
A comunicação com Deus é
aprendida através do ouvir Sua
Palavra escrita, da resposta de
oração e também do ouvir Deus
falar através de Seu Espírito
enquanto se ora.
A cooperação momento a
momento com Deus é o objetivo
para cada novo convertido.
O discipulador, assim como as lições
utilizadas, precisa enfatizar que o
conteúdo da Bíblia é aprendido por
causa da conduta bíblica.
O relacionamento do discipulado
precisa propiciar uma prestação de
contas de apoio para aplicar o que
Deus está dizendo ao novo convertido a respeito de como Ele quer que
viva. A celebração pelo avanço deve
ser frequente e sincera (At 11.23).
O Processo do Discipulado
Primeiro Encontro
Após estar familiarizado, o discipulador precisa perguntar se pode orar
para que Deus os ajudem enquanto
estudam Sua Palavra juntos. A oração deve ser simples, curta e em
uma linguagem do dia-a-dia. Isso dá
exemplo ao novo convertido de que
a oração é uma conversa natural com
Deus. No final da lição, o novo
convertido precisa ser encorajado a
conversar com Deus de maneira
similar. Suas orações sinceras e não
polidas devem ser estimuladas pelo
discipulador (por exemplo: “Foi
uma ótima oração. Sei que Deus
gostou muito de ter ouvido você
falando assim com Ele.”)
Segundo: use lições de discipulado escritas para pessoas, que nun-
ca frequentaram uma igreja, possam
entender. Essas lições devem levar
o novo convertido a passagens
simples na Palavra que mostrem
como Deus quer ter comunicação e
cooperação com os crentes.
O conteúdo da série de lições
deve incluir:
1. uma revisão do compromisso de
seguir a Jesus;
2. sua presença constante para guiar
e dar assistência à obediência;
3. o primeiro e segundo mandamentos;
4. batismos em águas e no Espírito
Santo;
5. comunhão;
6. princípios de administração do trabalho e do dinheiro;
7. como testemunhar e discipular
outros.
Terceiro: atravesse a primeira lição com o novo convertido, utilizando uma linguagem simples, sobre
como fazê-la, como localizar as referências bíblicas, como entender a
verdade na lição, e como pôr em
prática a verdade no seu viver diário.
Faça com que o novo cristão leia
cada questão e acompanhe as
passagens das Escrituras, então faça
perguntas que gentilmente o levem
a ver as respostas no caderno de
exercícios sobre a passagem que foi
lida. Não aceite um “chute” ou uma
resposta baseada em conhecimento
anterior. Você está lançando este
novo convertido numa vida de
disciplina em que usará a Bíblia a
vida toda para encontrar as respostas
para a vida.
Faça com que o novo convertido
explique o que ele vê na passagem
que responde à pergunta da lição —
e qualquer outra coisa interessante
que ele veja. O Espírito Santo
mostrará frequentemente verdades
não ditas na lição, mas que são
mostradas na passagem bíblica e
que são úteis ao novo crente.
Observações corretas precisam
ser afirmadas e respostas incorretas
precisam ser gentilmente
redirecionadas até que a verdade
seja depreendida e confirmada.
As respostas a cada questão devem
ser escritas nos espaços providenciados na folha de estudo. As verdades
bíblicas providenciam o Espírito
que conduz à convicção no que diz
respeito a substituir velhas práticas
por novos comportamentos.
Quarto: combinem um horário
regular para os encontros semanais
— o máximo de vezes possível de
acordo com a conveniência do novo
convertido. Além disso, deve existir
um contato ou alguma atividade
semanal informal (tomar café, fazer
compras, lazer ou uma conversa
pelo telefone) para fazer com que a
amizade se desenvolva. Neste
ambiente, o novo cristão pode
conversar sobre coisas que estão em
sua mente e coração ou fazer
perguntas. Isso permite ao discipulador entender melhor o quanto o
novo convertido está crescendo
espiritualmente ou onde estão suas
dificuldades e valores. Seja fiel aos
encontros e ao tempo que passar
com o novo cristão. A vida espiritual
deles depende disso.
Finalmente, no final do
encontro, explique a importância de
um tempo diário dedicado ao estudo
e à oração além das lições de casa.
Ajude-o a planejar tempo e lugar
para seu momento com Deus,
encoraje-o a ser fiel aos encontros
com Deus.
Segundo Encontro
Vá para a lição seguinte — ou termine a primeira — com o novo convertido, ajudando-o no que for preciso.
Pergunte se ele aplicou em sua vida
o que aprendeu no encontro ante-
rior. Pergunte sobre suas devoções e
se ele já sentiu a presença de Deus
ou Deus falando com ele durante
esse período — ou em qualquer
outro momento durante a semana.
Se o novo convertido parecer
confortável com o formato da lição
ou com o processo de aprendizagem, peça para que a próxima lição
seja feita por sua conta antes do
próximo encontro. Encoraje-o a fazer o melhor e ajude-o em qualquer
coisa que ainda não esteja clara.
Terceiro e Demais Encontros
Entre na lição que você pediu no
encontro anterior. Leve seu novo
convertido a ver a verdade nas passagens que estão sendo estudadas.
Discuta suas respostas, perguntas e
ainda outras respostas dadas na
lição. Se ele quiser discutir questões
que não sejam importantes para sua
vida neste momento, gentilmente
diga que irá responder à sua pergunta depois e continue com a lição. Se
a questão estiver distraindo-o do
aprendizado e uma lição seguinte
lidar com o assunto, entre nessa
lição e lide com esta urgência.
Flexibilidade é uma vantagem do
discipulado individual.
Certifique-se de que você discute continuamente como o novo
convertido está aplicando à sua vida
cotidiana as lições que tem aprendido das Escrituras. Isto estabelece
uma prestação de contas amigável a
fim de alcançar o objetivo de seus
encontros — para que este novo
convertido se torne um praticante
da Palavra. Isto também permite
uma celebração pelo avanço que o
anima e o encoraja. Quando orarem
juntos, inclua o agradecimento pelo
progresso e a evidência de Deus no
trabalho em sua vida. A oração deve
também incluir o pedido pela ajuda
de Deus em relação aos desafios
que enfrenta no dia-a-dia.
No final do encontro, atribua a
nova lição. Continue esse processo
com relação às lições remanescentes. Recomendo de 6 a 8 meses de
curso em uma grade de uma por
uma. Após completar o processo de
discipulado, algumas igrejas fazem a
transição dos novos convertidos para
grupos de estudo. Independentemente de quando o discipulado
individual termina, o novo convertido precisa unir-se a um grupo que
seja apropriado para sua próxima
fase de aprendizado e crescimento.
Um sistema de acompanhamento
deve existir para monitorar sua participação contínua no processo de
aprendizado do grupo.
O andamento do discipulado
Reunir-se regularmente é mais
importantes do que completar uma
lição em cada reunião. Às vezes,
lidar com necessidades urgentes da
vida do novo convertido significa
que várias sessões são necessárias
para terminar aquela lição. É importante oferecer o tempo que for
necessário para entender e aplicar a
verdade em sua vida. É como alimentar um bebê — ele é que decide a frequência com que se deve
alimentá-lo. O processo individual
facilita a flexibilidade no andamento
do discipulado.
Conexões do Discipulado
O discipulador se torna o elo entre o
novo convertido e a igreja ao acolhê-lo na igreja ou em grupo pequeno.
O discipulador ou encontra com
o novo convertido na reunião ou lhe
oferece carona. O discipulador também precisa sentar-se com o novo
convertido e apresentá-lo às pessoas
e às atividades. Este é um papel
RECURSOS ESPIRITUAIS • 21
Certifique-se de que você discute continuamente como o novo convertido está
aplicando à sua vida cotidiana as lições que tem aprendido das Escrituras.
importante que precisa ser cumprido com fidelidade pelo discipulador.
Batismo em Águas
O batismo em águas é um passo de
obediência muito importante para
os novos convertidos e deve ser
fortemente estimulado, o mais rápido possível, após seu novo nascimento. O discipulador pode ajudar
o novo crente a preparar um testemunho breve para ser compartilhado antes do batismo. Pode ser
escrito e lido por ele mesmo para
aliviar o nervosismo e ganhar
tempo. (Outra opção é mostrá-lo
testificando em um vídeo editado).
Uma boa ideia é fazer com que o
discipulador participe do batismo
orando por seu discípulo — ou mesmo executando o batismo. É tam-
bém uma boa oportunidade para o
novo convertido convidar familiares
e amigos para testemunhar seu
batismo e ouvir seu testemunho.
turas e da oração, seguida de obediência; e a busca consciente do
crescimento no amor por Cristo e
pelas outras pessoas.
Medindo o Progresso
O discipulador precisa exercitar a
paciência e dar tempo para que a
Palavra e o Espírito tragam mudança interna à medida que os antigos
hábitos rendem-se às substituições
de Deus. A mudança na vida do
novo convertido precisa ser uma
resposta do senhorio de Cristo, não
condizente com a pressão humana.
Deve haver celebração quando
ocorre mudança. A evidência mensurável da transformação precisa
incluir: esforço consistente em
oração e estudo da Bíblia; a evidência de ouvir Deus através das Escri-
Reprodução
O discipulado básico não é considerado completo até que o novo
convertido esteja discipulando outro
novo convertido. O discipulador
precisa encorajá-lo a ser uma testemunha para sua rede de relacionamentos. Enquanto o discipulado
estiver em curso, explique ao
discipulando que ele está sendo
discipulado para discipular outros.
Mostre que Deus pode usá-lo para
ajudar novos crentes. O novo convertido precisa fornecer algumas
instruções à medida que o discipulando começa a discipular.
Discipulado que Conduz à Decisão
O discipulado que precede a decisão pode acontecer
no contexto de amizade para preparar o novo convertido para uma decisão de mudança de vida baseada em:
• Um entendimento claro do compromisso:
a) Por exemplo, deve-se esclarecer que Jesus
apenas oferece a vida eterna àqueles que se
submetem à Sua autoridade. Sem submissão,
sem salvação.
b) Use um vocabulário claro para que uma
pessoa que nunca frequentou uma igreja
possa entender e utilizar termos que relacionem ao indivíduo. Por exemplo, Jesus falou
sobre pescaria para pescadores e sobre água
da vida à mulher junto ao poço.
• Uma profunda persuasão de Deus de que o Evangelho é verdadeiro. É trabalho do Espírito Santo
o convencer e atrair uma pessoa para Cristo.
22 • enrichment | MARÇO 2010
A pessoa deve decidir. Jesus disse, “E, quando já
o fruto se mostra, meta-lhe logo a foice, porque
está chegada a ceifa.” (Mc 4.29). Nosso papel é
orar.
• Uma decisão esclarecida para entrar em um relacionamento com Jesus baseada em Suas condições. A oração pode ser explicada como a assinatura do compromisso e as cláusulas devem ser
revisadas e incluídas na oração. Quem busca a
salvação pode ser encorajado a orar por si só, ou
pode ser dirigido em oração, como já explicado.
Um discipulado informal prepara a nova etapa do discipulado mais formal (treinamento) que é necessário mais
adiante.
JIM HALL, Springfield, Missouri (EUA)
Decisão Verdadeira:
Salvação e Senhorio
A revista Decision, de Billy Graham, tem um título
apropriado para uma publicação focada em
evangelismo. Quer seja evangelismo pessoal
individual ou um culto evangelístico público, as
decisões são a questão principal.
No decorrer da minha vida eu ouvi essa pergunta muitas vezes em igrejas pentecostais:
“Você recebeu a Cristo como seu Salvador — mas
já O aceitou como seu Senhor?” Esta pergunta
deveria motivar as pessoas a um comprometimento espiritual mais profundo. Infelizmente,
também cria uma distinção antibíblica na mente
de algumas pessoas entre salvação e senhorio.
Jamais devemos insinuar aos descrentes que
salvação é meramente uma questão de escapar
do Inferno. Cristo veio ao mundo não apenas para
nos livrar da pena do pecado mas também para
nos livrar do poder do pecado.
As duas decisões mais importantes da minha
vida foram ambas feitas no altar. A primeira ao
aceitar a Cristo; a segunda, meu casamento. Essas
decisões têm várias semelhanças. Cada decisão,
feita em um momento particular, determinou uma
multiplicidade de escolhas futuras.
Quando eu disse “eu aceito” — duas palavras
pequenas — em meu casamento, eu não tinha
ideia das consequências de uma vida inteira às
quais meu comprometimento estava sendo
vinculado. Naquela única decisão eu estava fazendo milhares de outras decisões. Estava decidindo
Reconhecimento
Após completar o processo de discipulado básico, o discipulador e o
novo convertido devem ser honrados em um culto de domingo.
O pastor pode oferecer ao novo convertido um Certificado de Conclusão e uma Bíblia de estudos para
que publicamente confirme o valor
dessa experiência para as duas
pessoas envolvidas.
o que eu iria comer nas maioria das minha futuras refeições,
o tipo de louça nas quais minhas refeições seriam servidas, o
estilo dos móveis que estariam na cozinha e que cortinas
seriam penduradas nas janelas. Pedir a Ruth para ser minha
esposa envolveu as escolhas pelo seu gosto, preferências e
decisões a respeito de muitas coisas.
Quando eu tinha 7 anos, fiz a escolha de receber a Cristo
como meu Salvador. Mesmo que eu não entendesse naquele
momento, eu também estava fazendo milhares de outras
decisões. Estava determinando onde eu estaria em cada dia
do Senhor, para onde iriam os 10 centavos de cada tostão
conseguido, que tipo de livros eu leria e de quais entretenimentos eu participaria.
Quando aceitamos a Cristo, obtemos o benefício dos
nossos pecados perdoados. Mas também devemos responder apropriadamente ao sacrifício de Jesus, submetendo
nossa vida à Sua autoridade.
Quer em um evangelismo pessoal ou um culto público,
quando oramos com alguém que está recebendo a Cristo,
devemos ter a certeza de que ele entende a natureza da
decisão que está tomando. Na salvação recebemos perdão
através da graça de Deus e nos entregamos ao senhorio de
Cristo.
A Palavra de Deus ensina que a decisão de uma pessoa
de receber a Cristo não é a linha final do processo de
evangelismo. É um ponto de entrada para uma vida de segui-lO.
RANDY HURST, Springfield, Missouri (EUA)
Preparando para Discipular
Recrutamento de discipuladores
Ao pregar uma série de mensagens
sobre discipulado, você motivará
potenciais candidatos a discipuladores para treinamento em sua
congregação. Os candidatos, porém,
precisam ser abordados individualmente — não publicamente — e ser
convidados para serem treinados.
Os discipuladores que não tem
auto-confiança para se voluntariar
publicamente geralmente aceitarão
um convite pessoal do pastor ou de
alguém de sua equipe. Este convite
pessoal também evita que indivíduos não qualificados se voluntariarem para o treinamento.
As características dos candidatos
a discipuladores devem ser: amor
consistente e genuíno por Jesus e
pelas pessoas; devoção para obedeRECURSOS ESPIRITUAIS • 23
DISCIPULADO EFICAZ
Ajudando os novos convertidos na caminhada cristã.
24 • enrichment | MARÇO 2010
Quando a igreja segue a direção dada pelas estruturas e atitudes societárias, o foco de
sua missão torna-se obscuro e seus membros são desviados do curso.
cer a Deus; bons aprendizes, bons
ouvintes e comunicadores.
Os candidatos também devem
ser batizados no Espírito Santo ou
buscarem honestamente este dom
espiritual. Os candidatos também
devem ser treinados para se tornarem proficientes no sistema de discipulado em uso. O treinamento é
também importante porque a maioria nunca foi discipulada. O treinamento lhes permitirá desenvolver
(ou melhorar) suas habilidades e
segurança para discipular.
riências passadas e do processo de
crescimento. O discipular ajuda o
novo convertido a entender o processo de crescimento na vida cristã.
5. Aceitação da tarefa de discipular um novo convertido — ou um
crente com problemas — enquanto
ainda estiver em treinamento. (Isso
acrescenta a vantagem do treinamento em serviço.)
O treinamento do discipulador
eficaz é uma experiência do tipo
BootCamp (jogo de Arcade) —
aprendizado dirigido pela prática.
Treinamento do Discipulado
É recomendável que o pastor tanto
crie um modelo de discipulado
individual quanto conduza o treinamento. Este envolvimento do pastor
acrescenta valor ao ministério de
discipulado e, em discipulando,
ganha uma valiosa experiência que
se estenderá ao treinar outros.
Os discipuladores se sentem valorizados porque seu pastor está confiando neles para fazerem uma parte
do processo pastoral na igreja.
O treinamento deve incluir:
1. Estudo das lições por conta do
novo convertido para se familiarizar
com o conteúdo e o formato bíblico.
2. Convocação semanal em grupo
para discutir as perguntas e as respostas do material do discipulado.
Treinadores e treinandos precisam
se ajudar mutuamente para evitar
jargões e usar vocabulário do dia-adia de forma que os novos convertidos possam entender. Este pode
ser um desafio para os que já estão
integrados na igreja, mas é crucial
para ajudar os novos convertidos.
3. Prática da paciência e do ouvir
atentamente.
4. Prática da honestidade e da
transparência de se falar sobre expe-
Potencial da Disciplina
As experiências têm mostrado que
um novo convertido responsivo pode ser discipulado para discipular
outros novos convertidos dentro de
1 ano, dobrando assim o número de
discipuladores a cada ano. O pastor
precisa avaliar o número de discipuladores potenciais em sua igreja, os
quais pode treinar, considerando um
potencial de crescimento numérico
da igreja se todos os anos o discipulador dobrar esse número. Por exemplo, se ele treinou 10 discipuladores,
os quais cada um discipulou e acrescentou um discipulador no primeiro
ano, o resultado em 5 anos pode ser
de 320 discipuladores na igreja
(10+10=20+20=40+40=80+80=160+160=320).
O plano de Deus produz os melhores resultados em transformar a
vida do indivíduo crente e os
melhores resultados na multiplicação do número de crentes.
Conclusão
Discipular todas as nações é a descrição do trabalho do Comandante-em-Chefe para Sua Igreja.
Quando estivermos diante dEle,
qual será nosso registro de obediência para aqueles a quem nós
lideramos como pastor e para nossa
vida como seguidores? Quantos
estaremos presentes diante do
Senhor como resultado de nossa
obediência?
Podemos ter uma visualização
prévia dessa celebração futura vendo agora como o discipulado de novos convertidos traz uma vida nova
e em crescimento para a igreja. Essa
tarefa frutífera de amar os bebês
espirituais aumenta grandemente a
fé e a satisfação dos pais espirituais
nos bancos da igreja.
Quando os discipuladores se
tornam avós espirituais, a alegria é
ainda maior. Não há melhor expressão que “o aperfeiçoamento dos santos
para a obra do ministério” de acordo
com “o trabalho eficaz” de cada parte
individual (Ef 4.12,16) do que um
ministério de discipulado de novos
convertidos que treina novos crentes para se tornarem discipuladores
na seara, juntamente com aqueles
que os discipularam. Foi tudo plano
de Deus e o Reino tem sofrido com
a negligência. O Reino floresce
quando somos fiéis para seguir as
instruções, e Pai, Filho e Espírito
Santo se alegram com isso.
Que possamos preservar e multiplicar a colheita, usando os métodos já exemplificados e prescritos
pelo Senhor da colheita.
JIM HALL é fundador do
New Life Christian
Ministries, em Springfield,
Missouri (EUA).
Como missionário das
Assembleias de Deus
americanas, Jim se
concentra nos maiores centros populacionais
dos EUA, incluindo treinamento de evangelismo e discipulado, publicação de materiais
utilizados em cursos de treinamento, e apoio
a pastores urbanos em mais de 35 cidades de
atividades do Urban Bible Training Centers.
RECURSOS ESPIRITUAIS • 25
Valorizando o
Início da Vida:
Aconselhamento
Premarital e
Bioético
Pastores têm o
privilégio de
assentar as pedras
para a fundação de
um lar cristão ao
ajudar casais
noivos a lidarem
com questões
potencialmente
difíceis sobre
planejamento
familiar.
U
ma das grandes alegrias do
ministério pastoral é o privilégio
de orientar as pessoas através de
marcos importantes em sua vida,
como unir duas vidas em matrimônio.
Durante o aconselhamento prenupcial, os
pastores têm a oportunidade para educar
casais novos sobre várias questões relacionadas à vida conjugal, incluindo questões bioéticas. Vamos explorar as questões bioéticas
que casais em fase inicial da vida marital
enfrentarão e maneiras que os ensinos sobre
essas questões podem ser integradas neste
aconselhamento prenupcial.
Perspectivas Culturais X Perspectivas
Bíblicas sobre a Gravidez
Quando se aproxima o dia do casamento,
os casais se envolvem em um sentimento de
euforia por compartilhar a vida
juntos como marido e mulher.
A ideia de se tornarem pais e
compartilharem a vida como
uma família geralmente parece
uma possibilidade distante, um
momento da vida que ainda
está por vir. Entretanto, o
aconselhamento premarital
oferece uma oportunidade
ideal para discutir questões
relacionadas à gravidez. Tais
questões incluem escolhas em
relação ao momento certo para
a gravidez e o número desejado de filhos, assim como os
assuntos relacionados às
tecnologias de reprodução.
A idade com que o casal está
se casando influenciará sua visão
sobre o tempo ideal para engravidar. Um casal com mais ou menos
20 anos de idade pode ter objetivos
que esperam alcançar antes mesmo de
começar uma família. Por exemplo, um ou
ambos podem ter o desejo de terminar os
estudos ou estabelecer uma carreira ou
mesmo de alcançar um certo nível de estabilidade financeira antes de ter filhos. Casais
casando-se com mais de 30 anos de idade
pode já ter conseguido o término de seus
estudos, e alcançado objetivos de carreira e
financeiros e estarem prontos para ter filhos.
Enquanto há sabedoria em um casal que
espera ter filhos ou enquanto eles fortalecem seu relacionamento como casal, as
crianças jamais devem ser vistas como um
fardo ou impedimento para alcançar outros
objetivos. Uma visão bíblica da gravidez é
que: “Eis que os filhos são herança do Senhor e o
fruto do ventre, o seu galardão” (Sl 127.3). Um
dos primeiros mandamentos de Deus para a
humanidade foi “... Frutificai, e multiplicai-vos, ...” (Gn 1.28). Se tivermos uma visão
CHRISTINA M.H. POWEL, PhD, ministra norte-americana ordenada e cientista de pesquisas
médicas, prega em igrejas e conferências em todos os EUA. Ela é pesquisadora na Escola de
Medicina de Harvard e no Hospital Geral de Massachussets, assim como fundadora do
Life Impact Ministries.
26 • enrichment | MARÇO 2010
panorâmica da vida, a capacidade de ter
filhos que serão o futuro de nossos dias na
terra é um dos maiores presentes de Deus
para nós. Os filhos trazem um sentido tal
para a nossa vida que transcende o limite
de nossa expectativa de vida.
Infelizmente, a urgência se sobrepõe à
importância. A pressão dos objetivos neste
momento pode ficar no caminhos dos objetivos a serem alcançados no longo prazo.
O objetivo de criar filhos para Deus pode ser
deixado de lado devido às preocupações do
momento.
Nossa cultura valoriza as aparências externas e o sucesso profissional. Em um ambiente como este, os sacrifícios que a maternidade exige de uma mulher, como as mudanças
físicas que aparecem com a gravidez e a
diminuição de tempo disponível para o crescimento profissional que ocorrem após o
nascimento de um filho, podem persuadi-la a
demorar ou até a evitar ter filhos.
Semelhantemente, a valorização de nossa
cultura à acumulação de riqueza material
pode dissuadir o homem de abraçar a paternidade até que ele sinta que tenha aumentado
suficientemente seu potencial de ganho.
Para o casal cristão, todo filho é planejado
por Deus, mesmo que seu nascimento não
tenha sido planejado por seus pais (Sl 139.15,
16; Ef 1.4-14). Embora possa ser aconselhável a um casal tomar precauções para tentar
controlar o número de filhos e o espaçamento
entre eles, um casal cristão deve estar preparado para amar e aceitar toda criança que vier.
Como parte da preparação para o casamento, casais devem ser encorajados a verem
os filhos como bênçãos de Deus e aconselhados a terem a responsabilidade de criá-los
com seriedade. Finalmente, os casais devem
ser aconselhados a discutirem decisões sobre
planejamento familiar com oração (Tg 1.5),
comunicação honesta com o cônjuge
(Ef 4.25) e respeito pela santidade da vida
humana (Jr 1.5).
O Que Torna a Vida Humana Sagrada?
Quando falamos da santidade da vida humana, estamos afirmando o fato de ela ser sagrada. Sagrado significa pertencente a Deus.
A vida humana pertence a Deus. “Porque
nenhum de nós vive para si e nenhum morre para
si. Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se
morremos, para o Senhor morremos. De sorte que,
ou vivamos ou morramos, somos do Senhor.”
(Rm 14.7,8). A vida humana é eterna (Mt
25.46). Além disso, a vida humana é sagrada
porque fomos feitos à imagem de Deus
(Gn 5.1). A vida humana é única em relação
a todas as outras que Deus criou, e na qual
Jesus Cristo veio dos céus e Se tornou
homem (Jo 1.14) para salvar-nos (1Tm 1.15).
Em contrapartida, temos a liberdade de escolher acreditar em Cristo e sermos reconciliados com Deus (Jo 3.16). O Evangelho salienta a santidade da vida humana. Uma vez que
a Bíblia é tão clara acerca do caráter sacro da
vida humana, a pergunta que devemos fazer
é: Quando a vida começa?
Quando a Vida Começa?
Quando você, como pessoa, passou a existir?
Foi quando como uma criança que dá seus
primeiros passos cambaleantes? Ou quando
você tinha um dia de idade? Você existia
enquanto estava no ventre de sua mãe e seu
coração começava a bater de forma ritmada?
Você existia quando era apenas um conjunto
de células contendo o código genético único
que definia suas características físicas?
Quando era um óvulo não fertilizado,
sua vida já tinha começado?
O desenvolvimento humano
é um continuum da concepção
ao fim da vida. Um blastocisto (um conjunto de
células que mais tarde
forma um embrião e uma
placenta) difere
grandemente de uma
criança trôpega comendo
pão e bebendo leite na
mesa da cozinha de casa.
Porém, se precisarmos
traçar uma linha para
marcar o começo de uma
nova vida, esta linha é
mais logicamente traçada
na concepção. Um óvulo não
fecundado ainda não possui o
código genético completo
necessário para definir um indivíduo. Porém, um novo indivíduo
com código genético único é formado
no momento em que o óvulo é fertilizado.
Com o tempo e a nutrição apropriada, aquela
célula única é capaz de se desenvolver em
um ser humano adulto composto por mais de
dez trilhões de células especializadas.
A Bíblia que a presença de Deus e Seu
A Bíblia
afirma que a
presença de
Deus e Seu
propósito
para nossas
vidas são
estabelecidos
enquanto
ainda
estamos no
ventre de
nossa mãe
(Sl 139.12-16;
Lc 1.39-44).
RECURSOS ESPIRITUAIS • 27
Valorizando o Início da Vida: Aconselhamento Premarital e Bioético
propósito para nossas vidas
são estabelecidos enquanto
ainda estamos no ventre
de nossa mãe (Sl 139.1216; Lc 1.39-44). Deste
modo, concluímos que
Deus valoriza as crianças
que ainda nem
nasceram.
É importante
que o marido
e a mulher
estejam em
paz em
relação a
qualquer
que seja o
método do
planejamento
familiar
escolhido.
Eva: Feita de Forma
Terrível e Maravilhosa.
O salmista admirava
como o corpo humano
é feito “... de um modo
terrível e tão maravilhoso...” (Sl 139.14).
Um exemplo dramático
das maravilhas do corpo
humano é o ritmo cíclico da
fertilidade feminina e da capacidade do corpo de uma mulher
de proteger e nutrir uma nova vida
humana. O entendimento básico da biologia
feminina é inestimável para o homem que se
prepara para o casamento. Enquanto esse
entendimento pode advir de um livro de
ciências, um pastor conduzindo o aconselhamento prenupcial pode proporcionar o guia
moral necessário para fazer escolhas sábias
sobre questões de reprodução. Aspectos da
fertilidade feminina que são importantes entender em relação a decisões relacionadas a
planejamento familiar incluem ovulação, alterações no endométrio e regulação de fertilidade hormonal, gravidez e amamentação.
Um homem saudável é sempre fértil porque
os espermatozóides estão continuamente
sendo produzidos dentro de seu corpo a uma
taxa de aproximadamente mil por segundo.
Uma mulher saudável, porém, é fértil
somente uma semana por mês, tipicamente
produzindo um óvulo por ciclo mensal.
A ovulação é o processo através do qual
cada óvulo é produzido e liberado por um
folículo ovariano. O óvulo morre se não for
fecundado no prazo de 24 horas de ovulação.
A concepção ocorre quando o espermatozóide
fecunda o óvulo. A ovulação ocorre uma vez
por mês, porém uma fêmea é considerada
fértil quando tem o fluido cervical que consegue manter o espermatozóide vivo enquanto
espera o óvulo maduro ser liberado. O espermatozóide pode se manter vivo no corpo de
uma mulher fértil por mais de cinco dias.
28 • enrichment | MARÇO 2010
Uma vez que a ovulação acabou, a concepção
não é mais possível pelo restante do ciclo da
mulher.
Métodos de controle contraceptivo baseados em hormônios funcionam principalmente
ao evitar a ovulação, embora também tenham
o efeito secundário de inibir a movimentação
do espermatozóide através do colo do útero
por causa do espessamento do muco cervical,
evitando assim a fecundação do óvulo. Métodos de controle contraceptivo por barreira
evitam que o espermatozóide fecunde o óvulo. Métodos de controle contraceptivo por
observação detectam mudanças na temperatura basal do corpo e o muco cervical, que
sinalizam ovulação. Estas informações podem
ser usadas para prevenir a gravidez.
A ovulação é suprimida em uma mulher
que está amamentando seu bebê exclusivamente pelo peito, fazendo assim da amamentação um método natural de se ter um espaço
de tempo entre cada filho. Porém, se uma
mulher escolhe amamentar seu filho através
de uma escala ou oferece mamadeira e chupeta além de amamentá-lo, ela pode começar
a ovular de novo logo após o nascimento.
Uma vez que o óvulo é fecundado, o próximo passo na jornada da concepção é o da
implantação. Cerca de uma semana após a
concepção, o óvulo fecundado alcança o útero
depois da jornada pelas trompas de Falópio.
O óvulo fecundado se tornou agora um conjunto de células conhecido como blastocisto.
Se o blastocisto conseguir lograr êxito em
implantar-se no revestimento endometrial do
útero, então a gonadotropina coriônica humana (GCH) será ativada. Este é o hormônio
detectado pelos testes de gravidez. Normalmente, neste ponto do ciclo da mulher, o
revestimento do endométrio se torna mais
espesso, fazendo com que o embrião tenha
um lugar aquecido e rico em nutrientes para
se implantar. Alguns métodos de controle de
natalidade, como o dispositivo intra-uterino
(DIU) às vezes funcionam como um impedimento à implantação, embora seu mecanismo
de ação primária seja o de evitar a fecundação.
Tomando Decisões Conscientes sobre
Planejamento Familiar
Um dos princípios mais importantes dos
cuidados médicos éticos é o consentimento
informado. Significa que o paciente aceita
uma decisão proposta ou uma intervenção
médica após entender a natureza dessa
decisão ou intervenção médica; as alternativas razoáveis disponíveis; e os riscos, benefícios, e incertezas relacionadas à intervenção
médica; e toda alternativa disponível. Com o
princípio de consentimento informado, o
casal que estiver fazendo a escolha sobre o
controle de natalidade deve ter certeza que
entende os riscos e os benefícios do tipo de
controle que esteja escolhendo.
Em vez de recomendar ou condenar um
tipo de controle de natalidade, prefiro sugerir perguntas que o casal deve fazer ao tomar
a decisão de planejar uma família. Avanços
tecnológicos podem mudar as opções disponíveis para o planejamento familiar de um
casal, mas as perguntas sobre a escolha do
método do controle de natalidade são atemporais. Se você ensinar um casal a fazer as
perguntas certas como parte de uma preparação premarital, ele será capaz de fazer escolhas sábias, tanto agora como no futuro à medida que novas opções se tornem disponíveis.
Um bom questionamento para um casal
fazer a seu médico sobre métodos de
controle de natalidade inclui perguntar sobre
os mecanismos de ação dos métodos.
O método funciona evitando a ovulação,
prevenindo a fecundação ou a implantação
de óvulos fecundados, ou através de mecanismos combinados de ação? O mecanismo
de ação é desconhecido ou não tão claro?
O mecanismo de ação pode variar dependendo de certos fatores, como: quando e como o
método é empregado ou a presença de outras condições de saúde? Outras perguntas
boas para se fazer ao médico envolvem considerações sobre sua saúde futura. Qual é a
eficácia do método? O método é facilmente
reversível quando a gravidez for desejada?
O método pode afetar uma fertilidade
futura? Este método pode levar a um risco
maior de gravidez ectópica? Quais são os
efeitos colaterais e prejudiciais à saúde para
aqueles que adotam o método?
Boas perguntas para o casal questionar a
si próprio relacionado a métodos de controle
de natalidade que estejam considerando
incluem: Estamos confortáveis o suficiente
com este método para que possamos usá-lo e
ser eficaz? Entendemos como empregar
corretamente o método? Queremos ter filhos
(ou mais filhos) no futuro? Estamos ambos
felizes com esta escolha? Esta escolha entra
em conflito com nossas crenças sobre a santidade da vida humana?
Respeito pelas Necessidades do Cônjuge
Ajudar um casal a aprender como fazer uma
escolha sábia com relação a um método de
planejamento familiar se encaixa na categoria mais ampla de aconselhar casais a
respeitarem as necessidades de
cada um ao tomarem decisões
em seu casamento. O apóstolo Paulo lembra-nos em
1 Coríntios 7.3-6 sobre a
importância de satisfazer as necessidades
de cada um na intimidade física dentro do
casamento. É importante que o marido e a
mulher estejam em paz
em relação a qualquer que
seja o método do planejamento familiar escolhido.
Semelhantemente, as
considerações em relação à saúde
devem ser parte da decisão. Em alguns
casos, a mulher pode ter uma condição
médica que pode fazer com que a gravidez
futura seja um risco. Em outros casos, certos
métodos de controle de natalidade podem
expor a mulher a um risco maior de
coagulação sanguínea, derrame e infarto.
O princípio salientado pelo apóstolo Paulo
deve ser aplicado dentro do casamento:
“Nada façais por contenda ou por vanglória,
mas por humildade; cada um considere os outros
superiores a si mesmos. Não atente cada um
para o que é propriamente seu, mas cada qual
também para o que é dos outros.” (Fp 2.3,4).
Nenhum cônjuge deve se sentir pressionado
pelo outro a se submeter a um método que
não seja o melhor para sua própria saúde no
longo prazo.
Enquanto aprende a enfrentar o desafio
do planejamento familiar, o casal aprende a
respeitar um ao outro e a respeitar o início da
vida, ele estará dando um importante passo
em direção ao fortalecimento de sua relação.
Um dia, seu forte relacionamento conjugal
se tornará a fundação sobre a qual uma família cristã poderá ser construída.
Os pastores têm o privilégio de assentar
as pedras para a fundação de um lar cristão
ao ajudar casais noivos a lidarem com questões potencialmente difíceis. Lares fortes
fazem igrejas fortes e um testemunho eficaz
para o mundo ao nosso redor. Que alegria
construir o reino de Deus, casal por casal!
Encoraje os
casais a
verem os filhos
como bênçãos
de Deus e
a terem a
responsabilidade
de criá-los com
seriedade.
RECURSOS ESPIRITUAIS • 29
ENRIQUECIMENTO TEOLÓGICO / GARY GROGAN
“
Comunicando o Batismo
com o Espírito Santo de
uma Maneira Nova
30 • enrichment | MARÇO 2010
E todos foram cheios do Espírito Santo e
começaram a falar em outras línguas,
conforme o Espírito Santo lhes concedia
que falassem.” (At 2.4).
Numa nota explicativa sobre deste versículo, Worrell afirma: “esta experiência
graciosa — seja considerada imersão no
Espírito Santo ou enchimento com Ele,
ou o dom do Espírito Santo, é o privilégio
de cada cristão verdadeiro (v. 39), e seu
dever.” (Ef 5.18). Como ensinarmos
este privilégio e dever em nossa cultura póscristã?
O Senhor quer batizar cada crente
no poder do Espírito. Para que isto
aconteça, Ele quer ensinar pastores
— como Ele tem feito fielmente em
cada época de cada cultura. Como
transmitir essa experiência de
maneiras novas que alcançarão as
pessoas ao invés de afastá-las?
Aqui estão algumas maneiras práticas de ministrar o batismo com o
Espírito Santo na cultura de hoje.
Creia que o Batismo com o
Espírito Santo É uma Bênção, Não
uma Maldição
Líderes missionários trabalham
para se comunicar com as culturas
para as quais Deus os enviou.
A última coisa que eles querem
fazer é afastar as pessoas. Por causa
disso, alguns líderes desenvolvem
uma concepção em relação a pregar
ou ensinar sobre o batismo com o
Espírito Santo. Ninguém precisa se
sentir condenado; esta é uma
preocupação legítima, especialmente
para aqueles que estão alcançando
pessoas com diferentes backgrounds.
Os pastores devem se convencer
de que o batismo com o Espírito Santo
é bíblico e uma experiência viável para
sua igreja hoje. Com alguma criatividade e intencionalidade, os pastores podem conduzir seu povo para uma experiência de mudança de vida sem assustá-lo
nem afastá-lo.
Muitos ministros mais jovens estão se
esquivando de círculos pentecostais
porque se convenceram de que falar
em línguas não é mais teologicamente
correto. Em muitos casos, eles lutam
com metodologias antigas, mas nem
tanto com teologia.
Todo mundo que eu conheço que
se esquivou de proclamar o batismo
fala em línguas em seus momentos
particulares de oração. Agora, ao invés
de conduzir outros a esta feliz experiência, eles estão “roubando” este
dom de outros. Isto é repugnante e
desnecessário.
O batismo com o Espírito Santo é
tanto uma experiência válida e bíblica
que Jesus administra Ele mesmo
(Lc 24.49). Estou pedindo — não
importam as dificuldades — que os
pastores simplesmente digam com
sinceridade, “Tudo bem, é bíblico”.
É por onde devemos começar. O Pentecostes não é uma experiência cultural que nos desliga; é uma experiência
de Jesus, experiência bíblica e uma
experiência para os dias de hoje.
Christian Center, em Indianápolis,
Indiana, intitulado “Power-Aide.”
Minha jovem e criativa equipe de
ministros colocou mais de 100
garrafas de Power-Aide no palco.
Toda semana distribuíamos bebidas.
Este foi um jeito simples mas muito
interessante (e até divertido) de lidar
com o batismo no Espírito Santo.
Após a terceira mensagem, fomos à
frente e louvamos a Deus. Muitos
vivenciaram sua própria oração em
línguas pela primeira vez. Foi agradável, contemporâneo e fácil. Por várias semanas depois disso, as pessoas
nos mandaram e-mails testificando
que tinham recebido o batismo enquanto liam suas Bíblias em casa.
Uma pessoa recebeu o batismo enquanto dirigia para o trabalho.
certas mas que preferiríamos não
fazer. Para mim, é como pregar sobre
dinheiro. Não gosto de pregar sobre
dinheiro, mas quando prego, as
pessoas e a igreja são abençoadas por
causa da minha obediência. Pastorear
seria fácil se tudo o que tivéssemos
que pregar fosse a graça, mas não é
sempre fácil. Resista à sutil tentação
de esperar até que você tenha a
questão do batismo com o Espírito
Santo resolvida. É simplesmente
nosso trabalho como líderes ensinar
as pessoas e conduzi-las no caminho.
Devemos oferecer oportunidades
para o crescimento e fazemos isso
quando somos intencionais. É fazer
planos e depois trabalhar para que
eles se concretizem, assim como
fazemos com outras coisas.
Evite as Valas do Legalismo e do
Liberalismo
Queremos o que é melhor para o
nosso povo e não queremos que
nossa negligência retarde a caminhada com Deus. Relegar o ensinamento
sobre o batismo com o Espírito Santo
Seja Criativo Quando Ensinar sobre o
leva as pessoas a serem críticas,
Batismo com o Espírito Santo assim
julgadoras e à vala do liberalismo.
como Você É em Relação a Outros
Com liberalismo, eu quero dizer sem
Assuntos.
equilíbrio.
Eu amo a criatividade e a inovação
É melhor dirigir descida abaixo
desta geração. Então seja criativo ao
do que sair da estrada e cair
ensinar esta grande verdade.
numa vala. As pessoas podem
Use a criatividade que Deus lhe
Não é necessário levar os crentes a um retiro para
ficar feridas, nossos veículos
deu e faça com que seja agradáserem batizados no Espírito Santo.
podem ser danificados e, no
vel e poderoso.
mínimo, atrasaremos a viagem nossa
Mark Batterson, pastor da igreja
tentação de não fazer nada.
ou de outrem. Precisamos lembrar
National Community, em
Uma igreja luterana em Saint Paul,
que nosso chamado é para fielmente
Washington, DC, diz que parte da
Minnesota, ensina sobre o batismo
pregarmos a Palavra (1Tm 4.2).
semelhança com Deus é ser criativo.
com o Espírito Santo através de
Queremos fazer isto de maneira
Eu concordo. Ser semelhante a Deus
aulas, seminário, retiros e outras forculturalmente relevante.
em proclamar a verdade do batismo
mas criativas — mais do que a
Esta maravilhosa experiência do
no Espírito Santo.
maioria das igrejas pentecostais e
batismo com o Espírito Santo enriUsei uma série de sermões do
carismáticas fazem.
quecerá grandemente muitas vidas.
Pentecost Sunday escrita por Ron
Parte da liderança missionária é
Precisamos evitar a vala da indifeBontrager, pastor do Lakeview
fazer coisas que sabemos serem
rença.
Precisamos também evitar a vala
do
legalismo.
Os legalistas nunca estão
GARY GROGAN é o pastor-presidente da Igreja Stone Creek,
Urbana, Illinois (EUA).
contentes com o que foi dito ou feito.
Seu blog é: http://papagrogan.blogspot.com/
Eles estão certamente sem equilíbrio.
Legalistas geralmente comparam o
Seja Intencional
Programe um estudo bíblico individual ou uma série curta sobre batismo no Espírito Santo. Ao contrário
de ignorar o batismo com o Espírito
Santo, programar esta série forçará
você fazê-lo funcionar na cultura de
sua igreja e comunidade. Programe
um retiro com o tema “Batismo com
o Espírito Santo” e no final desta
série de estudos comece uma aula ou
seminário sobre o assunto. Resista à
RECURSOS ESPIRITUAIS • 31
Comunicando o Batismo com o Espírito Santo de uma Maneira Nova
Pentecostes com certos estilos de
pregar, cantar e outras metodologias.
Tendem a rejeitar qualquer coisa que
não entendam.
Uma legalista pentecostal adentrou nossa igreja enquanto eu estava
ensinando sobre o batismo com o
Espírito Santo. Eu ensinei como se
fosse uma conversa e então tivemos
um pequeno momento de louvor e
oração em volta do altar por mais ou
menos 10 minutos. Aproximadamente 20 pessoas começaram a falar em
línguas pela primeira vez naquela
manhã, incluindo Erika Harold, Miss
América 2003. Essa legalista pentecostal veio a mim após o culto e disse,
“De jeito nenhum aquelas pessoas
foram batizadas de fato no Espírito
Santo”. Perguntei por que ela se
sentia daquela maneira e ela me
respondeu, “Porque não foi alto o
bastante e não havia uma emoção
real”. Ela estava presa na vala do
legalismo.
Para ficarmos fora de ambos os
buracos, precisamos lembrar que
nenhum de nós pode salvar ninguém,
então por que achamos que podemos
encher alguém com o Espírito Santo?
Em ambos os casos, nós simplesmente ensinamos a Palavra de Deus e
criamos uma atmosfera, então Deus
faz Sua parte. Pregue sobre salvação
e as pessoas serão salvas. Pregue o
batismo com o Espírito Santo e os
crentes serão batizados. Nós obtemos
o que pregamos.
Para ficar fora das valas os pastores também precisam se libertar da
pressão de pensar que sempre precisam ter um culto no altar. Treine
pessoas para estarem em grupos de
oração e tenha-os sempre disponíveis
para orar por pessoas que querem ter
um compromisso público com Jesus e
por aqueles que querem ser cheios do
Espírito Santo.
Não é necessário convidar alguém
com o perfil de Billy Graham para ver
pessoas serem salvas, e não é necessário levá-las a um retiro para serem
batizadas no Espírito Santo. O públi32 • enrichment | MARÇO 2010
co de hoje jamais processará uma
metodologia antiga. Isso poderá
esfriar ou espantar as pessoas.
Nem sempre as pessoas reagem
imediatamente à mensagem de salvação. O mesmo acontece com o
batismo com o Espírito Santo.
As pessoas não darão sempre uma
resposta imediata, mas eventualmente algumas responderão.
Ore para Que seu Povo Seja Batizado
com o Espírito Santo.
Orar para que as pessoas sejam batizadas não requer dons nem habilidades especiais. Nós simplesmente
ensinamos a Palavra de Deus de
maneira criativa, aprendemos a nos
conectar com a cultura e não a alienar as pessoas; então oramos ao
Senhor para que salve e batize Seu
povo.
Encorajo jovens líderes/pastores a
orar: “Jesus, preciso que batize essas
pessoas com o Espírito Santo.
O Senhor disse que batizaria e eu
estou pedindo para que batize”.
Lance a Ele suas preocupações sobre
pessoas que ficam estranhas, eufóricas e mal-assombradas. Peça para
que Ele cuide disso.
Eu pastoreio em uma cidade que
possui uma grande universidade
onde pessoas de vários estilos de
vida frequentam nossos cultos.
Tentamos fazer as coisas com ordem
e excelência. Quero que as pessoas
se relacionem com Deus através da
salvação e do batismo com o Espírito
Santo, mas não quero que coisas culturais pentecostais afugentem-nas.
Eu disse ao Senhor que não estou
envergonhado, mas que Ele precisa
me ajudar a fazer todo o trabalho
neste nosso ambiente.
No passado, algumas igrejas americanas pentecostais deixaram de
lado o batismo quando cresceram ou
o deixaram para os domingos ou as
quartas-feiras à noite. Com essa
grande mudança cultural que vimos
com o fim dos cultos nos domingos à
noite, é imperioso que aprendamos
como ensinar o batismo com o Espírito Santo de maneiras relevantes nos
cultos de domingo de manhã, nas
nossas reuniões de jovens ou de
adultos, e outras reuniões importantes.
Admita seu Medo e Faça uma
Desfragmentação
Paulo disse ao jovem Timóteo:
“Porque Deus não nos deu o espírito de
temor, mas de fortaleza, e de amor, e de
moderação.” (2Tm 1.7). Assim como
um computador precisa ser desfragmentado de vez em quando, precisamos fazer o mesmo. Precisar nos
SEIS PASSOS que lhe
ajudarão a receber o batismo
com o Espírito Santo
1. Sede — Marcos 11.24; Mateus 5.6
2. Peça — Mateus 7.7
3. Olhe para Jesus — Atos 1.8
4. Receba — Gálatas 3.14
5. Louve — Salmos 22.3
6. Fale em uma línguas desconhecidas — Salmos 81.10
— GARY GROGAN, Urbana, Illinois
livrar de coisas que não prestam,
como o medo, que nos desacelera e
nos afasta de fazermos o que sabemos que deveríamos fazer.
Não podemos nos dar ao luxo de
ceder aos nossos medos e apreensões.
O desejo supera o medo e a intimidação. Se tivermos simplesmente o
desejo e pedirmos ao Senhor que
realmente nos ajude, Ele o fará. Se
formos fiéis, Ele será fiel e batizará os
crentes com Espírito Santo.
Você não precisa perder a cabeça e
frequentar um show evangélico para
ensinar a verdade sobre o batismo
com o Espírito Santo. Mas você
precisa mesmo é estar disposto a
pregar “... a palavra instes a tempo e
fora de tempo, redarguas, repreenda,
exortes, com toda a longanimidade e
doutrina.” (1Tm 4.2) como prometeu
fazer quando foi consagrado ao ministério do Evangelho pleno.
Como homens e mulheres de integridade, os pastores devem fazer o
que prometeram ao Senhor que fariam. Precisamos de alguns ministros
jovens e destemidos para nos mostrar
como fazer isto na cultura póscristã.
Pastores não precisam pregar
sobre o Espírito Santo toda semana,
mas precisam estar dispostos a pregar
esta importante doutrina pentecostal.
Talvez, uma série de estudos sobre o
tema seja suficiente. Se não há pecado algum em se pregar sobre Encarnação e Ressurreição somente perto
do Natal ou da Páscoa, por que alguns
hiperpentecostais acham que abandonamos o ensino sobre o batismo
com Espírito Santo por pregarmos
apenas uma vez por ano?
Não deixe que legalistas arruínem
sua pregação sobre batismo com o
Espírito Santo. Você pode mencionar
batismo com o Espírito Santo em seus
ensinamentos no decorrer do ano
dizendo: “Alguns de vocês precisam
buscar o batismo com o Espírito Santo
para ver se é verdade assim como
fizeram ao clamar por Cristo. Esta é
uma igreja bíblica. Prometo-lhes que
eu não ensinaria a esse respeito se não
estivesse na Palavra. Veja se Deus
tem uma língua estranha de oração
para você.”
A maneira como dizemos as coisas irá libertar pessoas ou esfriá-las.
Como líderes missionários, estamos
tentando nos aproximar e alcançar as
pessoas — não espantá-las.
Também falo sobre o batismo
com o Espírito Santo no final dos
cultos de oração, quando as pessoas
estão em torno do altar. Mostro um
esboço no PowerPoint e passo pelas
noções básicas do batismo com o
Espírito Santo (veja na página anterior
“Seis Passos para Receber o Batismo com o
Espírito Santo”). Quase sempre as
pessoas recebem o batismo e começam a orar em uma língua que jamais
aprenderam.
A atmosfera em uma reunião de
oração é diferente da dos cultos de
domingo quando estas mais parecem
um Cristianismo de vitrine. Eu não
me constranjo de ser pentecostal.
É apenas uma questão de tentar ser
sábio e alcançar o maior número de
pessoas possível para Cristo. Afinal
de contas, esta é a principal razão de
Jesus ter dito para recebermos esta
promessa do Pai, para que nós
pudéssemos ser Suas testemunhas
(At 1.4,8).
Muitas pessoas criam suas ideias
sobre Pentecostes por causa de
filmes como O Apóstolo ou por causa
de programas evangelísticos na TV,
muitos dos quais a cultura até zomba.
Por causa desses obstáculos, muitos
temem ensinar e orar por pessoas
para que sejam batizadas com o
Espírito Santo. Desfragmente seu
medo e ensine sobre o batismo de
uma maneira que não transgrida sua
personalidade ou a cultura de sua
igreja. Estilos que funcionam em
acampamentos, retiros e convenções
geralmente não funcionam em cultos
de domingo. Não tem problema.
Concluindo
Peço desculpas à nossa geração de
jovens ministros que, às vezes,
sentem-se abandonados. Perdoem
minha geração por não sermos pais
espirituais melhores. Perdoem-nos
por fazermos metodologias e programas sagrados. Por favor, evitem nossos erros e abracem o batismo com o
Espírito Santo. Minha palavra para
nossos jovens ministros é: “procurai
com zelo, profetizar e não proibais falar
línguas.” (1Co 14.39, grifo meu).
Eu gosto muito de orar em uma
língua que jamais aprendi. Muitas
vezes eu não sabia o que fazer, mas
quando eu oro no Espírito, o Senhor
me dá uma palavra de sabedoria,
profecia ou discernimento, para trazer a cura e ajudar uma pessoa ou
situação. Muitas pessoas que eu
conheço e amo que estão tentando
alcançar os sem igreja precisam da
plenitude do Espírito Santo para
ajudá-las. Seja Joel Gross em
Minneapolis, Brad Riley na Universidade do Colorado, em Boulder, ou
Terry Austria na Universidade de
Illinois, em Urbana, perceberam que
sem a ajuda do Espírito Santo eles
não podem alcançar as pessoas em
suas próprias culturas.
Nenhum de nós pode se dar ao
luxo de deixar de lado o batismo
com o Espírito Santo quando pregamos. Devemos aprender a fazer
melhor as coisas e desacreditar nos
mitos pentecostais. O batismo com o
Espírito Santo é uma benção tremenda para toda pessoa que o recebe. Como jovem ministro, seja criativo, intencional, fique longe das
valas, ore para que o Senhor batize
Seu povo, e faça uma desfragmentação de seus medos. Nós todos
encontramos dificuldades. Ministrar
o batismo com o Espírito Santo em
uma cultura poscristã é um desafio
para qualquer jovem líder. Mas saiba
que você é amado, acreditado e é lhe
dado um caminho adicional para
descobrir coisas. Que não nos afastemos uns dos outros. Que possamos
nos abraçar enquanto estivermos
nesta jornada juntos. Estou passando
o bastão para você.
RECURSOS ESPIRITUAIS • 33
ENRIQUECIMENTO TEOLÓGICO / W.E. NUNNALLY
Cessação do Miraculoso?
A Era dos Apóstolos Através da Perspectiva
Bíblica, Extrabíblica, Lógica e Teológica
Os cessacionistas
dizem que os
dons espirituais
se foram junto
com a Era dos
Apóstolos.
Será que os
pentecostais
estão
preparados para
compartilhar
porquê
acreditam em
um Deus
miraculoso hoje?
À direita: Pedro e João
curam o coxo à porta do
templo chamada
Formosa. (At 3.1-10)
C
om muita frequência as pessoas
pedem aos pentecostais para
explicarem o porquê de sua crença
e daquilo que praticam. Muitos, infelizmente, não estão “preparados para responder
a qualquer pessoa que lhes pedir.” (1Pe 3:15 NVI) . Isto deve-se geralmente a um de
dois fatores: ou os pentecostais não estão
bem alicerçados na evidência ou não
ponderaram a respeito daquilo que está
por trás do conteúdo e das práticas de sua
fé. Assim, costumam responder defensivamente, com vergonha ou apelando para
experiências pessoais. Seus ouvintes
facilmente descartam esses apelos com um
“Serve para você mas não tem relevância
W.E. Nunnally, PhD, professor de Judaísmo Antigo e Origens Cristãs na
Evangel University, Springfield, Missouri (EUA).
34 • enrichment | MARÇO 2010
para nós”. É importante, então, que os
pastores preparem melhor os membros de
sua igreja para que possam compartilhar
com outros a razão dos pentecostais confiarem em Deus, hoje, para o miraculoso.
Uma pergunta frequentemente feita aos
pentecostais é: por quê acreditar que
milagres, dons do Espírito, revelações
pessoais e intervenções divinas continuam
acontecendo nos dias de hoje? A maioria
dos cristãos à parte das tradições pentecostais ou carismáticas crê que essas manifestações do Espírito tenham cessado quando
morreu o último apóstolo, período comumente conhecido como o fim da Era dos
Apóstolos. Esse termo representa a crença
de que o poder revelador e miraculoso de
Deus, ausente por mais de 400 anos, foi
restabelecido entre os homens por volta
de 30-90A.D. Segundo essa teoria, com o
fim da Era Apostólica, esses poderes
foram novamente recolhidos ao céu, de
onde aguardam o retorno de Cristo.
Contestando os Argumentos Lógicos e
Históricos para uma Era Apostólica
A expressão Era dos Apóstolos é comumente usada entre os teólogos dispensacionalistas e da Aliança, que também o associam a um assunto relacionado — o encerramento do cânon bíblico. Ambos os lados
tentam usar a doutrina da Era Apostólica
para proteger e justificar o fim e o conteúdo do cânon do Novo Testamento.
A justificativa seria que o fim desse
período apostólico na história da Igreja
tenha colocado uma pausa natural e lógica
na revelação. Isso, por sua vez, marcou a
conclusão dos escritos divinamente
inspirados, os quais chamamos de Novo
Testamento. Não há necessidade, entretanto, de atribuir o encerramento do
processo canônico aos homens, seja pelo
voto (o cânon do Novo Testamento havia
se tornado realidade centenas de anos
antes de qualquer conselho eclesiástico
oficialmente ratificá-lo) ou pela morte de
todos os apóstolos.
A expressão Era dos Apóstolos e o conceito que ela representa não podem ser
encontrados no Novo Testamento. Isso
significa que a doutrina da Era dos Após-
tolos e suas consequências — o fim da
revelação e o encerramento do cânon —
são ideias (ou revelações) posteriores ao
Novo Testamento. Se for este o caso,
temos uma contradição lógica. Não se
pode logicamente afirmar a cessação de
revelação por ocasião do encerramento da
escrita do Novo Testamento enquanto se
afirma, ao mesmo tempo, receber revelação adicional após a conclusão desse
processo.
A posição cessacionista baseia-se apenas em inferências extrabíblicas e pósbíblicas. Essa inferência, entretanto, parece ter alcançado status canônico (autoridade equivalente à da Bíblia) por aqueles
que aderem a essa posição. Isso é evidenciado pelo fato de as comunidades de fé
que mantêm a crença na Era dos Apóstolos terem permitido que esse conceito
traduza sua fé e conduta. Já que os assuntos de fé e de conduta na cristandade
protestante devem ser informados exclusivamente por revelação divina, pode-se
dizer que essa posição extrabíblica tenha
alcançado um status anteriormente reservado somente à Bíblia. Ironicamente, em
uma tentativa de preservar o status único
das Escrituras, os indivíduos e as comunidades adeptos da teoria cessacionista
elevaram eles mesmos sua própria revelação extrabíblica ao mesmo status da Bíblia,
um ônus normalmente atribuído a pentecostais ou a carismáticos.
Defensores da doutrina da Era dos
Apóstolos também tentam sustentar sua
crença com a referência ao encerramento
do cânon do Antigo Testamento. Afirmam
que a revelação e os milagres cessaram
com o último profeta do Antigo Testamento — o que para eles é análogo à relação dos apóstolos com o Novo Testamento, revelação e milagres na Era da Igreja.
À primeira vista, esse argumento parece defensável. Em análise mais profunda,
contudo, parece também ter sido mal
formulado. Primeiramente, assim como o
Novo Testamento, o cânon do Antigo
Testamento foi determinado pelo uso
dentro da comunidade da fé e não pelo
voto de um corpo oficial ou pelo tempo de
vida de qualquer indivíduo ou indivíduos.
Acima: O derramemento do Espírito
Santo no dia de Pentecostes. (At 2.1-4)
A posição dos
cessacionistas
baseia-se
apenas em
inferências
extrabíblicas e
pós-bíblicas que
chegam parecer
ter alcançado
status canônico.
RECURSOS ESPIRITUAIS • 35
A Era dos Apóstolos Através da Perspectiva Bíblica, Extrabíblica, Lógica e Teológica
A Igreja Primitiva
acreditava que a
atividade de
Deus na história
redentora
permaneceu
constante
— da criação à
encarnação e à
consumação.
Em segundo lugar, profecia e milagres
encontram-se bem documentados em
literatura relacionada ao período intertestamentário, como Flávio Josefo, Os Pergaminhos do Mar Morto, literatura rabínica
antiga, os Livros Apócrifos e os Pseudepígrafos. Em terceiro lugar, relatórios históricos no Novo Testamento registram
eventos que ocorreram durante o período
intertestamentário.
Tanto Mateus como Lucas relatam revelações, intervenções angélicas, profecia
e milagres que antecedem a concepção, o
nascimento e o ministério de Jesus.
Zacarias recebeu revelação e proferiu profecia (Lc 1:11-20, 67-79). José recebeu
revelação sobrenatural e direção através de
sonhos (Mt 1:20-24; 2:13, 19-22). Maria
recebeu revelação e proferiu um cântico
inspirado (Lc 1:26-38, 46-55). Simeão
recebera uma revelação muito antes dos
eventos que envolveram o nascimento de
Jesus e de João Batista (Lc 2:25, 26).
Assim como os pastores (Lc 2: 8-16),
Simeão havia recebido direção divina (v.
27). Tanto Maria como Isabel experimentaram concepções miraculosas (Mt 1:18,20;
Lc 1:13,24,36, 37,57). Os reis magos obtiveram orientação divina através de um
sinal sobrenatural (Mt 2:1,2,9,10) e de um
sonho (v. 12). Estes e muitos outros eventos sobrenaturais importantes mostram
que, no Novo Testamento, as revelações
divinas e os milagres estavam acontecendo
antes do nascimento e do ministério de
Jesus.
Deve-se concluir, com base nessas
observações, que não houve cessação do
profético nem do miraculoso na história de
Israel antes da vinda de Jesus. A reconsideração desse dado relevante não apenas
remove a fundação do argumento a favor
da cessação baseado em paralelos do
Antigo Testamento, como também é
uma contrapartida.
A Imutabilidade de Deus, O Sacramento
da História e a Diferença entre Inspiração
e Canonização
Nosso Deus — o Deus da Bíblia, o Deus
histórico de Israel — é um Deus de
36 • enrichment | MARÇO 2010
firmeza. Não é excêntrico ou instável, da
maneira como os deuses pagãos geralmente eram retratados na mitologia antiga.
O Deus da Bíblia é um Deus de fidelidade em Suas alianças. Ele não muda (Sl 55:
19; 102:27; Is 46:4; Ml 3:6; Hb 1:12) e Sua
Palavra não muda (Is 40:8). Ele é o mesmo
ontem, hoje e para sempre (Hb 13:8). Ele
“não muda como sombras inconstantes.” (Tg
1:17 - NVI). Ele lida com o homem firmemente e Suas formas de lidar com o
homem mostram continuidade. O assunto
de que tratamos não é exceção. Já que as
maneiras milagrosas de Deus lidar com
Seu povo continuaram entre os Testamentos, não há precedente ou necessidade
lógica que nos faça crer que Ele agiria de
outra maneira no final do NT.
Uma discussão sobre desenvolvimentos intertestamentários deve também
tratar de algumas questões levantadas com
a referência ao período intertestamentário.
Primeiramente, toda a história é sagrada.
Deus esteve envolvido nas vidas de Sua
criação durante o período intertestamentário da mesma maneira como esteve em
outras épocas. Muitas profecias contidas
no livro de Daniel, por exemplo, cumpriram-se no período intertestamentário.
Além disso, o Novo Testamento cita
exemplos (mencionados acima) da atividade de Deus antes do início do período do
Novo Testamento. Portanto, Deus tinha
Sua mão na nação judaica, na tribo de
Judá, na família de Jessé e em uma
linhagem específica da família de David.
Também é evidente que Deus direcionou a propagação dessa linhagem até
mesmo durante o período intertestamentário e que Ele finalmente fez com que o
Messias nascesse dessa árvore genealógica
específica. O fato de que Deus estava no
controle desse processo, até no período
intertestamentário, é evidenciado pela
inclusão de nomes dessa época na genealogia de Jesus (Mt 1:13-16; Lc 3:23-27).
A totalidade dessa história era evidentemente importante, pois o Espírito Santo
orquestrou a narrativa de toda a História.
O Espírito Santo não fez nenhuma distinção entre as histórias secular e sagrada
(ou bíblica) nas genealogias de Jesus
registradas por Mateus ou Lucas. Além
disso, a preservação desses versículos pela
Igreja Primitiva e sua atitude com relação
aos mesmos sugerem que eles acreditavam que a atividade de Deus na história
redentora permaneceu constante (incluindo a orquestração divina da história humana, a revelação e o miraculoso) — da
criação à encarnação e à consumação.
A Igreja Primitiva foi uma Igreja verdadeiramente pentecostal.
Em segundo lugar, devemos fazer uma
distinção entre atividade profética e
Escritura canonizada. Em muitas igrejas
pentecostais da atualidade, a voz autêntica
de profecia ainda é ouvida. Contudo,
essas profecias dos dias de hoje não são
iguais às das Escrituras. O cânon bíblico
não se encontra mais aberto e tais profecias não deveriam ser incluídas no cânon
das Escrituras. Essas mensagens de Deus
para Seu povo são para um tempo, lugar e
situação específicos. Elas não prescrevem
questões de fé e conduta para todo mundo, em todos os tempos, em todos os lugares. Além disso, sua legitimidade deve ser
julgada pelo padrão da Palavra de Deus
revelada, a Bíblia.
A atividade profética do período intertestamentário deve ser vista de forma
semelhante. Essas profecias representam
as necessidades e as reflexões piedosas
das comunidades individuais de onde se
originaram. O fato de a profecia ser um
meio de comunicação é uma questão de
registro histórico. Seu status literário como
não canônico, o qual reflete o processo
dirigido por Deus pelo qual o cânon foi
formado, também é uma questão de registro histórico. Todo o restante é para provar
que a relação entre o Antigo Testamento
e a profecia intertestamentária é análoga à
relação que existe entre o Novo Testamento e a profecia dos dias de hoje.
Antigo e Novo Testamentos são
Escrituras canonizadas. Como tal, representam o auge de um processo sob a
direta orientação de Deus. As Escrituras
são normativas — eternamente relevante
— e são nossa única regra de fé e conduta.
A profecia intertestamentária não o era
e a profecia dos dias modernos também
não o é. Nenhuma delas passou por um
processo de uso popular e universal,
divinamente dirigido. Nenhuma delas é
eternamente relevante ou normativa.
Ambas estão condicionadas pelo tempo,
pelo lugar e pela situação e, portanto, não
possuem a autoridade intrínseca para ditar
questões de fé e prática.
No período intertestamentário, a
comunidade da fé precisava da voz da
profecia. Muito embora tivesse a Bíblia (o
Antigo Testamento), ela necessitava ouvir
a voz profética de reprovação, correção,
desafio, esperança, encorajamento e chamada ao arrependimento, uma vez que
lidava com situações contemporâneas.
Deus em Sua sabedoria e constância
instilou uma dinâmica semelhante em
nossa comunidade de fé. Embora tenhamos a Bíblia (Antigo e Novo Testamentos), Deus continua a envolver Sua igreja
com a voz da profecia. Ele conhece intimamente a natureza do homem (Gn 6:5;
Sl 103:14; 139; Mt 7:11; Rm 3:23).
Através dos tempos, a natureza do
homem e sua necessidade de ouvir a voz
profética de Deus não mudaram. Semelhantemente, a natureza de Deus não
mudou. Ele ainda ama Sua criação, tem
um plano para ela e deseja dinamicamente comunicar Seu plano para cada geração.
A Era dos Apóstolos Versus O Ensino do
Novo Testamento
O Novo Testamento testifica contra a teoria de uma Era dos Apóstolos e a cessação
de profecia e de outros fenômenos sobrenaturais. Efésios 4:11 nos diz que Deus
concedeu dons à igreja através de indivíduos que trabalham como apóstolos,
evangelistas, pastores e mestres. Os que
defendem uma era apostólica e a cessação
do miraculoso devem estar sendo seletivos com esse versículo. Por um lado, ninguém afirmaria que os postos de evangelista, pastor e mestre tenham se tornado
ineficientes. Por outro lado, os cessacionistas precisam sustentar o argumento de
que os postos de apóstolo e profeta já não
O apóstolo Paulo, na prisão,
escrevendo sua epístola aos Efésios
Embora
tenhamos a
Bíblia, Deus
continua a
envolver Sua
Igreja com a voz
da profecia.
RECURSOS ESPIRITUAIS • 37
A Era dos Apóstolos Através da Perspectiva Bíblica, Extrabíblica, Lógica e Teológica
A imaturidade e
inadequabilidade
da igreja no
passado e no
presente estão
diretamente
relacionadas à
falta de respeito
e de ênfase
que os dons
carismáticos têm
sofrido.
38 • enrichment | MARÇO 2010
existem devido à sua natureza carismática
e reveladora.
O problema com essa posição é sua
abordagem puramente arbitrária. A intenção dos autores humano e divino dessa
passagem era que essa lista fosse considerada como um todo. Não há nenhuma indicação de que exista uma distinção na
lista com respeito à duração de alguns
dons e de outros não. Mexer, truncar ou
fazer uma linha de distinção entre os elementos dessa lista é uma violação ao texto.
Paulo, entretanto, coloca limitações
temporais em toda a lista. A passagem de
fato indica que todos esses postos de
trabalho acabarão no final. A questão, no
entanto, não é “qual?”, mas “quando?”.
Os versículos 12 e 13 claramente tratam
dessa questão. Esses postos são concedidos “com o fim de preparar os santos para a
obra do ministério, para que o corpo de Cristo
seja edificado, até que todos alcancemos:
1. a unidade da fé
2. e do conhecimento do Filho de Deus,
3. cheguemos à maturidade,
4. atingindo a medida da plenitude de
Cristo.” (NVI).
Nenhum cristão conseguiu atingir plenamente esses alvos. Dessa forma, todos
os cargos de Efésios 4:11 ainda são necessários para amadurecer a Igreja. Pode-se
mesmo sugerir que a imaturidade e inadequabilidade da Igreja no passado e no
presente estão diretamente relacionadas à
falta de respeito e de ênfase que os dons
carismáticos têm sofrido. “Os membros do
corpo que parecem mais fracos são indispensáveis. ... Quando um membro sofre, todos os outros sofrem com ele.” (1Co 12:22,26; observe
que o contexto se refere especificamente
ao assunto em questão).
Um segundo texto a considerar é Romanos 11:29, “pois os dons e o chamado de
Deus são irrevogáveis”. Obviamente, os
“dons” aqui mencionados não são os dons
de 1 Coríntios 12. Nesse sentido, o contexto imediato dessa passagem não está
relacionado com as passagens citadas acima. Contudo, o princípio básico em vigor
é relevante. Romanos 11:29 fala da fideli-
dade e da firmeza de Deus em lidar com o
homem. Não só Sua natureza imutável O
impede de anular Suas promessas para o
Israel étnico, como Sua natureza também
O impede de ab-rogar Sua promessa de
conceder os dons do Espírito ao homem
no decorrer da Era da Igreja.
Uma terceira passagem que requer
atenção no atual contexto é a de Atos
2:39. Nesse primeiro sermão cristão, numa
situação escatologicamente intensa, Pedro
declarou que a promessa de Deus para
conceder o Espírito Santo — completa,
com os fenômenos que acompanham Sua
residência dentro de um ser humano — “
é para vocês, para os seus filhos e para todos
os que estão longe, para todos quantos o
Senhor, o nosso Deus, chamar.” (NVI). Esse
versículo tem sido um locus classicus para a
posição pentecostal. O texto sugere que
no início da Era da Igreja, no derramamento inicial do Espírito Santo e as manifestações que Ele inspira, Pedro tenha
declarado que essa experiência deveria
ser a norma para a Era da Igreja toda.
Especificamente mencionando, em
sequência, a geração presente, a próxima
geração e todas as gerações futuras, Pedro
dá evidência apostólica explícita para uma
crença na importância dessa promessa
para todas as gerações.
Embora mais obscura, uma quarta
passagem importante, sobretudo para uma
abordagem bíblica completa, é 1 Coríntios
1:7. Paulo observou que os membros da
igreja de Corinto haviam sido “enriquecidos
em tudo, isto é, em toda palavra e em todo
conhecimento.” (1Co 1:5 - NVI) . A verdade
do Evangelho havia sido miraculosamente
“confirmada” entre eles “de modo que não
lhes falta nenhum dom espiritual.” (vv. 6,7 NVI). O final do versículo 7 demanda
nossa atenção. Paulo disse que os irmãos
de Corinto estavam sendo enriquecidos,
tendo o Evangelho miraculosamente
confirmado entre eles, e gozando de cada
dom espiritual — embora por um período
de tempo específico — “enquanto vocês
esperam que o nosso Senhor Jesus Cristo seja
revelado.” (NVI). O que Paulo tem em
vista é o mesmo espaço de tempo escatológico que ele apresenta em Efésios 4:13 e
1 Coríntios 13:10-12. (Uma discussão
desse texto encontra-se abaixo). Os dons
carismáticos do Espírito chegarão a um
fim. Esse fim não se encontra no encerramento da Era dos Apóstolos ou em
nenhum outro momento na história
humana. A cessação dos dons miraculosos
do Espírito acontecerá quando o tempo já
não mais existir — quando o Rei retornar
e a ordem deste mundo presente chegar
ao fim. Nesse momento, os esforços
evangelísticos cessarão. Pecado e doença
farão parte do passado. Dons de revelação
não serão necessários, pois teremos
comunhão imediata e inextinguível com o
divino — “face a face” (1Co 13:12; comparar com 1Jo 3:2). Até mesmo os dons de
conhecimento sobrenatural perderão sua
utilidade nesse estado abençoado, pois,
com o retorno de Cristo, “conhecerei plenamente, da mesma forma como sou plenamente
conhecido.” (1Co 13:12 - NVI).
Um último texto de Paulo, possivelmente o mais negligenciado de todos,
aparece em 2 Coríntios 3:3-11. Nessa
passagem o apóstolo está comparando o
esplendor da dispensação da lei com o da
dispensação do Espírito. Ele argumenta:
“O ministério que trouxe a morte foi gravado
com letras em pedras; mas esse ministério veio
com tal glória que os israelitas não podiam
fixar os olhos na face de Moisés, por causa do
resplendor do seu rosto, ainda que desvanecente. Não será o ministério do Espírito ainda
muito mais glorioso? Se era glorioso o ministério que trouxe condenação, quanto mais glorioso será o ministério que produz justificação! ... E se o que estava se desvanecendo se
manifestou com glória, quanto maior será a
glória do que permanece!”
(2 Co 3:7-9,11 - NVI)
Paulo traça diversos paralelos interessantes entre as duas dispensações. O único de interesse para a presente discussão,
entretanto, é a distinção entre o esplendor
temporário ou desvanecente da dispensação da Lei com o maior esplendor da
dispensação do Espírito, o qual, diz ele, é
“permanente”. Mais uma vez, Paulo
apresenta evidência de uma escatologia/
pneumatologia que vê o batismo no
Espírito e os dons dEle advindos, como
acessórios permanentes na Igreja até o
retorno de Cristo.
Com base nas declarações de Pedro e
de Paulo, podemos concluir que se alguma vez houve uma Era dos Apóstolos, a
igreja deve ainda estar nela.
Assim sendo, é difícil de se imaginar
um cenário tal qual aquele exigido pela
teoria da Era dos Apóstolos. Levemos
Timóteo em consideração. Paulo desafiou
Timóteo com a responsabilidade de pastorear a igreja de Éfeso (1Tm 1:3).
Timóteo recebeu poder especial de Deus
quando Paulo e os anciãos impuseram as
mãos sobre ele (1Tm 4:14; 2Tm 1:6).
Imaginemos Timóteo, ocupado com seus
deveres pastorais, orando pela cura de
uma pessoa ou expulsando um demônio
do único filho de alguém. Agora imagine
que naquele momento, em Éfeso (de
acordo com a tradição da Igreja Primitiva),
o idoso apóstolo João, o último do círculo
mais próximo de Jesus, desse o último
suspiro e fosse para seu descanso celestial.
Revogaria Deus, arbitrariamente, o poder
para realizar maravilhas que havia dado a
Timóteo e parar um milagre em andamento? Poderia Ele dar a um indivíduo
necessitado uma explicação bíblica
aceitável do porquê a pessoa anterior fora
curada ou liberta e esta segunda pessoa
não? Como seria afetado o testemunho da
igreja local? Imagine o impacto negativo
no ministério que Deus havia confiado a
Timóteo. Em um nível pessoal, ele não
poderia mais responder em obediência ao
mandamento que havia recebido por inspiração divina, “mantenha viva a chama do
dom de Deus que está em você mediante a
imposição das minhas mãos.” (2Tm 1:6).
Obviamente, esse cenário é insustentável. Vai contra a natureza de Deus, que
é firme, fiel, imutável e misericordioso
para com os necessitados. Vai contra a
Palavra de Deus, a qual, enquanto discutimos, fornece apoio exclusivo ao conceito
Acima: O livramento miraculoso
de Pedro da prisão (At 12.6-11).
Com base nas
declarações de
Pedro e de Paulo,
podemos concluir
que se alguma vez
houve uma Era
dos Apóstolos, a
igreja deve ainda
estar nela.
RECURSOS ESPIRITUAIS • 39
A Era dos Apóstolos Através da Perspectiva Bíblica, Extrabíblica, Lógica e Teológica
A natureza
de Deus, a
mensagem
unificada das
Escrituras e
a natureza
substancialmente
necessitada do
homem decaído
argumentam
em favor da
continuação do
miraculoso no
mundo atual.
40 • enrichment | MARÇO 2010
de continuação, enquanto nada diz a favor
de cessação. Graças a Deus que a Igreja
não depende da frágil e fugaz condição
física de um apóstolo para o seu poder,
mas sim do Jesus ressurreto e eterno, que
“vive sempre para interceder por nós.”
(Hb 7:25 - NVI).
Textos do Novo Testamento Impropriamente Usados para Apoiar a Era dos
Apóstolos/Cessacionismo
Proponentes de teorias da cessação geralmente referem-se a 1 Coríntios 13:10:
“... quando, porém, vier o que é perfeito, o que
é imperfeito desaparecerá.” (NVI). “O perfeito” não se refere ao Novo Testamento,
como afirmam, mas ao retorno de Jesus,
como está claro no versículo 12. Não há
necessidade de outro argumento além
daquele do contexto. É interessante, contudo, observar que o sexo de “o perfeito”
(teleion) é neutro, enquanto que a palavra
traduzida como testamento (diatheke) em
outros lugares é feminina. Se Paulo tivesse a intenção de que o leitor entendesse
esse adjetivo-usado-como-substantivo
representando o Novo Testamento, ele
teria colocado “o perfeito” no mesmo
gênero — feminino.
Da mesma forma, 1 Coríntios 15:8, “depois destes apareceu também a mim.” (NVI),
não indica o fim de revelação nem a conclusão do cânon. Paulo continuou a receber revelação após a experiência na estrada de Damasco. Outros no Novo Testamento receberam revelação depois de
Jesus ter aparecido a Paulo. Além disso, o
Novo Testamento todo foi inspirado pelo
Espírito Santo após o encontro de Paulo
com Cristo na estrada de Damasco. A quê,
então, se refere essa afirmação? Paulo está
apenas dizendo que, daqueles homens
chamados de apóstolos, ele era o último a
ver o Cristo ressurreto.
Hebreus 1:1,2 é outro conhecido texto
de prova para os cessacionistas. Entretanto,
é preciso apenas mostrar que os “dias” são
“últimos”, não a revelação de Jesus na carne; caso contrário, o autor estaria quebrando a própria regra, tentando comunicar re-
velação após a revelação terrena de Cristo.
Apocalipse 22:18,19 é o texto de prova
final utilizado por proponentes da cessação. É ordenado aos crentes, nesse versículo, que não acrescentem nem retirem
algo das “palavras da profecia deste livro.”
(NVI). Os cessacionistas argumentam que,
como o Livro de Apocalipse vem no final
da revelação canônica, essa passagem
proíbe qualquer revelação posterior.
Os problemas com essa interpretação são
múltiplos. Em primeiro lugar, o autor nos
fala especificamente a que se refere essa
proibição. Não fala em termos gerais, mas
refere-se apenas às suas palavras — “essa
profecia” (itálico adicionado). Em segundo
lugar, o autor não poderia ter tido em
mente o Novo Testamento todo, pois este
ainda seria formado. Então, a intenção
autoral elimina essa linha de raciocínio.
Em terceiro lugar, outros livros incluem
proibições semelhantes. Um exemplo
disso é Deuteronômio 12:32. Será que
esse versículo significa que revelação
além do livro de Deuteronômio é ilegítimo? Esperemos que não.
Conclusão
Três aplicações importantes podem ser
extraídas deste artigo. Primeiramente,
nenhuma analogia histórica ou passagem
na Bíblia oferece argumento legítimo para
apoiar uma Era dos Apóstolos ou a cessação do miraculoso. Em segundo lugar, a
natureza de Deus, a mensagem unificada
das Escrituras e a natureza substancialmente necessitada do homem decaído
argumentam em favor da continuação do
miraculoso no mundo atual. Em terceiro
lugar, a Igreja hodierna encontra-se em
solo bíblico firme quando procura ser
revestida de poder para um trabalho para
Deus mais efetivo através do batismo no
Espírito Santo e dos dons do Espírito.
Temos todos os motivos para buscar a
Deus para direção, cura, proteção e provisão divinas. Nesse dia de necessidade e
oportunidade sem precedentes, “Mantenha viva a chama do dom de Deus que está
em você.” (2Tm 1:6).