Recursos Espirituais
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Recursos Espirituais MARÇO 2010 Í N D I C E 1. Autoliderança Eric D. Rust Líderes eficazes devem investir mais energia no desenvolvimento de suas habilidades de liderança do que em qualquer outra área. 3 2. Princípios e Práticas Bíblicas para um Testemunho Pessoal Eficaz Randy Hurst Devemos disciplinar a nós mesmos para fazermos nossa parte no evangelismo pessoal enquanto que, ao mesmo tempo, permanecemos dependentes de Deus, que fará o que somente Ele pode fazer. 3. Aprendendo com os Erros Mark Batterson Se permitirmos que nossos fracassos nos definam, eles conseguirão nos arruinar. Mas se o fracasso for administrado de maneira apropriada, sairemos dele vitoriosos. 4. Transformando Decisões em Acréscimos e Acréscimos em Discipuladores Jim Hall O discipulado para novos crentes é indispensável se pastores querem desacelerar a alarmante taxa de morte espiritual na igreja. 5. Valorizando o Início da Vida: Aconselhamento Premarital e Bioético Christina M.H. Powel A Bíblia afirma que a presença de Deus e Seu propósito para nossas vidas são estabelecidos enquanto ainda estamos no ventre de nossa mãe. 6. Comunicando o Batismo com o Espírito Santo de uma Maneira Nova Gary Grogan Não é necessário levar os crentes a um retiro para serem batizados no Espírito Santo. 7. Cessação do Miraculoso? A Era dos Apóstolos Através da Perspectiva Bíblica, Extrabíblica, Lógica e Teológica W.E Nunnally A natureza de Deus, a mensagem unificada das Escrituras e a natureza substancialmente necessitada do homem decaído argumentam em favor da continuação do miraculoso no mundo atual. 6 13 18 26 30 34 RECURSOS ESPIRITUAIS • 1 “NÃO É COMIGO” Esta é uma estória sobre 4 pessoas: Todo Mundo, Alguém, Qualquer Um e Ninguém. Havia um importante trabalho a ser feito, e Todo Mundo tinha certeza que Alguém o faria. Qualquer Um poderia tê-lo feito, mas Ninguém o fez. Alguém zangou-se porque era um trabalho de Todo Mundo. Todo Mundo pensou que Qualquer Um poderia fazê-lo, mas Ninguém imaginou que Todo Mundo deixasse de fazê-lo. Ao final, Todo Mundo culpou Alguém quando Ninguém fez o que Qualquer Um poderia ter feito. Autor desconhecido Que cada um possa fazer a sua parte sem esperar pelo outro. Life Publishers International © Copyright Life Publishers 2010 Publicado por Life Publishers, Springfield, Missouri - EUA Todos os direitos reservados. Agora você pode acessar online Recursos Espirituais em 13 idiomas. Visite o website do Enrichment Journal e tecle na opção desejada. Você será direcionado para um dos treze idiomas que selecionar: português, espanhol, francês, alemão, russo, ucraniano, romeno, húngaro, croata, tâmil, bengalês, malaio ou hindi. Você terá oportunidade para ler os periódicos online ou pode ainda transferir os arquivos, para sua conveniência. As informações para contato encontram-se em http://www.enrichmentjournal.ag.org Equipe Editorial / Versão em Português Tradução: Nadja Matta e Rejane Eagleton Revisão de textos: Martha Jalkauskas Revisão Geral: Neide Carvalho Diagramação: ©MMDesign Coordenação geral: Márcio Matta Entre em contato conosco para obter informações adicionais ou fazer perguntas através do e-mail [email protected] 2 • enrichment | MARÇO 2010 Liderança de Ponta / Eric D. Rust Autoliderança: Liderando de Dentro para Fora M encione a palavra liderança em uma mesa redonda de líderes dotados espiritualmente e a probabilidade é que a conversa irá imediatamente virar para o desempenho das atividades do líder em liderar outros. Os líderes da igreja passam a maior parte da semana liderando outros. Contudo, no esforço de nos tornarmos líderes melhores, não prestamos atenção no maior dos desafios que iremos enfrentar — nós mesmos. Tendemos a não administrar a nós mesmos porque liderar nós mesmos é muito mais difícil do que liderar outros. É difícil passar uma semana sem tomarmos conhecimento de que um líder foi desqualificado para o exercício da liderança. Culpamos esse fracasso por causa de comprometimento sexual, improbidade financeira, ânsia pelo poder e uma liderança fraca. Essas falhas, porém, são apenas os sintomas aparentes de um fracasso pessoal mais profundo. Ao olharmos o problema mais além, geralmente descobrimos que o líder negligenciou sua vida pessoal. Em seu livro Leading from Inside Out, Samuel Rima afirma: “O modo como um líder conduz sua vida pessoal tem, de fato, um impacto profundo sobre sua habilidade para exercitar uma liderança pública eficaz. Existe uma correlação direta entre autoliderança e liderança pública. O escritor do Novo Testamento, Paulo, entendeu muito bem este conceito: “Antes, subjugo o meu corpo e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado.” (1Co 9.27). Paulo entendeu que para ser tudo o que Deus o chamara para ser, ele precisava manter firmemente sua vida pessoal em ordem. Importância da Autoliderança Os líderes devem cuidar da nutrição e da administração de suas vidas pessoais. Nos círculos da liderança, isto é conhecido como autoliderança. Líderes eficazes devem investir mais energia no desenvolvimento de suas habilidades de liderança do que em qualquer outra área. O expert em liderança, Dee Hock, sugere que a autoliderança deve ocupar 50% do tempo de um líder. O que aconteceria se os líderes de igreja levassem a sério a recomendação de Hock e investissem metade da semana em autoliderança? Para nos tornarmos os líderes sãos que Deus quer que sejamos, devemos desenvolver um domínio pessoal sobre nossas próprias vidas. Formação de Caráter Compreender personalidade e dons, esclarecer valores, identificar pontos fortes e fracos, melhorar a habilidade de comunicação e administrar o tempo de modo eficaz são todas áreas importantes em que os líderes precisam concentrar suas energias. Enquanto há dezenas de facetas para a autoliderança, nenhuma é tão crítica quanto a do caráter do líder. Sem caráter, os líderes não têm nada. Nosso caráter nos define. Apenas após determinarmos quem somos podemos saber como crescer. Para o líder cristão, caráter é essencial. É fato que a falta de caráter moral forte irá arruinar um líder. Um deslize financeiro pode ser reparado. Comunicação deficiente pode ser consertada. Decisões da liderança que não funcionam como o líder prometeu podem ser refeitas. Mas, falhas no caráter são capazes de destruir um líder. Recuperar-se de um comprometimento ético e moral é geralmente impossível. Uma vez perdida a confiança de um líder, raramente é recuperada. As pessoas só seguirão lideres que expressem o mais alto nível de integridade. Andy Stanley diz claramente: “Nós estamos sempre a apenas uma decisão, uma palavra, uma reação de colocarmos a perder o que se levou anos para desenvolver”. Vinte ou trinta anos de trabalho fiel a Deus podem ser destruídos com uma decisão simplesmente Líderes eficazes devem investir mais energia no desenvolvimento de suas habilidades de liderança do que em qualquer outra área. ERIC D. RUST, Pastor-presidente da Igreja Assembleia de Deus Cedar Hills, em Sandpoint, Idaho (EUA). RECURSOS ESPIRITUAIS • 3 Autoliderança: Liderando de dentro para fora A melancia é por dentro o que aparenta ser por fora. E você? comprometedora.” Quando o caráter fracassado de um líder é exposto, o problema geralmente origina-se na falta de integridade. Integridade é ser por dentro o que você afirma ser por fora. Erwin McManus usa a analogia de uma melancia para descrever integridade. Você provavelmente já comprou uma melancia. Quando você está em uma banca de frutas, enquanto segura a melancia, tudo o que consegue ver é a casca. Você bate na casca e se a melancia fizer um som oco, então você a compra. Ao passar pelo caixa, você gasta seu suado dinheiro em uma melancia que apenas consegue ver o que há por fora. Quando chega em casa e corta a casca, o que você espera encontrar? Melancia. Você confiou que a melancia tinha integridade. E se você cortasse a casca e encontrasse uma banana? Isso nunca aconteceria porque uma melancia tem integridade. A melancia é por dentro o que parece ser por fora. E você? E se alguém descascasse sua camada mais superficial, o que encontraria? Encontraria dentro o mesmo que você aparenta ser por fora? Aqui encontramos uma vantagem que a melancia leva sobre as pessoas — pela sua natureza, a melancia tem integridade. A integridade não vem naturalmente com as pessoas, nem mesmo com líderes. Ela deve ser desenvolvida. Líderes que praticam a autoliderança tem ciência das inconsistências de suas vidas. Ao contrário de ignorá-las enquanto ainda pequenas, eles escolhem alinhar o que são com o que acreditam. Entendem que a vida não pode ser compartimentada em caixinhas. Nós fomos criados como seres inteiros. Quem somos no particular não pode ser isolado de quem somos em público. Como líderes, devemos decidir quem queremos ser e então alinharmos a vida para que ela seja assim. Não é fácil, porque a pessoa que você não quer ser é a que mais naturalmente você se torna se deixar por sua própria conta. Jesus disse “porque aquele que quiser salvar a sua vida perdê-la-á e quem perder a sua vida por amor de mim achá-la-á.” (Mt 16.25). Autolíderes devem morrer para suas tendências naturais internas para que se tornem o que Deus os está chamando para serem. Deus nos chama para sermos líderes de dentro para fora — líderes definidos mais pelo o que somos por dentro do que pelo o que parecemos ser por fora. 4 • enrichment | MARÇO 2010 Por causa de títulos e cargos que os líderes de igreja geralmente recebem, pode ser fácil para o orgulho entrar furtivamente em suas vidas. Quando líderes caem, vítimas de pecado sexual ou do jogo de poder, o orgulho normalmente está na raiz. Romanos 12.3 nos lembra, “... digo a cada um dentre vós que não saiba mais do que convém saber, mas que saiba com temperança, conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um.”. 1 Pedro 5.5 nos alerta “... porque Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes.”. Os líderes da igreja só são cônscios de quem eles são quando praticam a disciplina espiritual de serventia. Quando os líderes colocam os joelhos no chão ou a toalha dobrada nos braços, em posição de serviço, aí lembram que Jesus encontrou Sua grandeza na serventia. Jesus jamais Se orgulhou de Sua santidade. Ele encontrou seu status na serventia. Em Sua pequenez, Ele se tornou grande. Pequenez e serventia podem não ser naturalmente palavras confortáveis para líderes, mas são palavras com as quais nosso Líder Se sentia confortável. Reconhecer nossa fraqueza é outro modo excelente de mantermos o orgulho a distância. Muitos líderes desconhecem suas forças e fraquezas. Admitir fraqueza requer segurança e humildade pessoal. Líderes que praticam a autoliderança prontamente reconhecem suas fraquezas. Em vez de entreter-se na soberbia ocultando suas fraquezas, eles as admitem e convidam outros que possuam forças complementares para ajudá-los a administrar suas fraquezas. Protegendo Nosso Caráter Líderes da igreja devem ser mestres de si mesmos pois as demandas são muito altas. Para um líder de negócios, os sinais do dólar é o que pesa na balança. Para líderes de igreja, o ministério futuro e a eternidade é o que está na balança. É triste ver um líder de negócios ou político ser vítima de sua própria negligência, mas o preço é sempre mais alto quando um líder que cai é da igreja. Pat Williams, cristão e vicepresidente da Orlando Magic, apresenta 6 ideias para salvaguardar nosso caráter, as quais servem como regras úteis para o líder da igreja que deseja liderar a si mesmo com excelência. 1. Separe um tempo para a reflexão e consistente restauração do corpo e da alma. Muitos líderes de igreja mantêm um ritmo tão acelerado em seus ministérios que mal conseguem tempo para si mesmos. Jesus exemplificou a restauração da alma deixando as multidões rotineiramente para despender algum tempo a sós com o Pai. Autolíderes tiram um tempo regular para a oração e a leitura. Um coração sadio é o melhor presente que um líder pode dar a seus seguidores. Além disso, os lideres precisam cuidar do corpo. A saúde física é um ponto cego para muitos pastores. A Bíblia nos desafia a honrar a Deus com nosso corpo (1Co 6.20). A saúde boa nos proporciona energia para que possamos responder ativamente ao chamado de Deus. Alimentar-se bem e praticar exercícios regularmente deveria ser parte do estilo de vida de todo líder. 2. Quando enfrentar uma escolha ética ou uma tentação, leve em consideração o exemplo que você estabeleceu para aos outros. Pense em todos aqueles que estão observando você — filhos, amigos, mentoreados e membros da igreja. Como sua decisão os impactará? Com a liderança da igreja vem também o dom sagrado da autoridade moral. Nossa autoridade moral pode ser perdida em um instante. Quando a tentação bate à porta, devemos nos perguntar se vale a pena dizer sim a ela em detrimento daqueles que nos observam. 3. Mostre para um pequeno grupo de amigos confiáveis que você é alguém com quem eles podem contar. Soldados solitários se arriscam muito mais do que os líderes que estão envolvidos em relacionamentos que requerem prestação de contas. Autoliderança é um trabalho muito grandioso para ser feito sozinho. Líderes precisam convidar um pequeno grupo de pessoas que conheça e em quem confiam para conversar regularmente e fazer perguntas difíceis. Todos nós somos capazes de mentir para nós mesmos com tamanha frequência que finalmente começamos a acreditar em nossas próprias mentiras. Amigos não são enganados facilmente. 4. Concentre-se em integridade, não em imagem. Líderes que cultivam sua vida interior irão consistentemente reposicionar acima de situações na vida que os tentaria a empurrá-los para baixo. Dr. Robert Terry, autor de Reflective Leadership, observa que “o nosso desafio profundo é a autenticidade — ser verdadeiro e real conosco mesmo, em nossos relaciona- mentos e no mundo.” 5. Cresça profundamente em sua fé. Como seguidores de Cristo, acreditamos que o Espírito de Deus tenha o poder de promover uma mudança espiritual no coração humano. O desenvolvimento do caráter é tarefa muito difícil de promover sem o envolvimento do Espírito de Deus. Nutrir o nosso relacionamento com Cristo e estar em sintonia com Seu Espírito nos mantém dependentes da operação divina em nossas vidas. Quanto mais profundamente conhecemos o amor de Deus, mais profundo se torna nosso amor pelo próximo e maior proteção teremos contra o mal. 6. Lidere de modo firme e inflexível com falhas de caráter e pecados ocultos. Todos os líderes têm um lado sombrio. Alguns só querem agradar as pessoas. Outros desejam construir um nome para si mesmos. Outros têm problemas com raiva ou com tendências codependentes. Esses problemas afetarão a habilidade de liderança do líder. Bill Hybels pergunta aos líderes: “Quem é responsável por resolver seus problemas pessoais de forma que a igreja não seja negativamente impactada pelo seu dejeto? Você”. Líderes espirituais devem separar essas coisas. Nossas igrejas estão dependendo disso. Conclusão Na última página de seu livro The Next Generation Leader, Andy Stanley apresenta a pergunta: “Qual é a pequena coisa em minha vida atual que tem o potencial de crescer para algo grande?” Caráter medíocre não aparece do nada. Começa pequeno — tão pequeno que inicialmente não é sequer notado. Finalmente, o que era pequeno e despercebido se torna algo tão enorme, que controla a vida de um líder. Assim como o câncer no corpo humano, a melhor hora para remover o caráter medíocre é quando este ainda é “uma coisa pequena”. Em Sua infinita sabedoria, Deus escolheu colocar o futuro da Igreja nas mãos de líderes. Fez isto com expectativas claras. Ele quer que sejamos líderes excepcionais. Quer que afiemos nossas habilidades de liderança, para nos comunicarmos de forma eficaz e administrarmos bem nossas equipes. Mas, acima de tudo, o desejo de Deus para Seus líderes é que possam ser mestres na arte da autoliderança. Quando a tentação bate à porta, devemos nos perguntar se vale a pena dizer sim a ela em detrimento daqueles que nos observam. RECURSOS ESPIRITUAIS • 5 Princípios e Práticas Bíblicas U Por Randy Hurst m estudo recente afirma que apenas 10% daqueles que decidem seguir a Cristo fazem sua decisão em um culto na igreja. De longe, a prioridade maior de uma campanha evangelística da igreja é o testemunho pessoal de seus membros durante a semana. Outro estudo revela que menos de 10% da congregação realiza evangelismo. Por que mais cristãos não falam sobre Jesus Cristo com outras pessoas? Muitos acham que a razão mais comum seja o desinteresse — que os cristãos não se importam. Mas, para a maioria das pessoas, a razão é a falta de confiança. Eu acredito que os crentes queiram ser testemunhas eficazes, mas se sentem inadequados, intimidados, ou temerosos em compartilhar sua fé, especialmente com alguém que não tenha uma base cristã. Jesus disse, “Conhecerás a verdade, e a verdade o 6 • enrichment | MARÇO 2010 libertará.” (Jo 8.32). Conhecer o que a Palavra inspirada de Deus diz sobre a natureza do evangelismo libertará os crentes da sensação de inadequação ou até mesmo de medo em relação ao testemunho pessoal. Em Colossenses, Paulo fala sobre evangelismo de uma maneira que ajuda a libertar os crentes dos equívocos e emoções que possam inibi-los de falar sobre Cristo. Ele proporciona uma abordagem simples, bíblica e prática para ajudá-los no evangelismo relacional. O pedido mais frequente feito pela Comissão de Evangelismo é por materiais sobre motivação pessoal e treinamento para testemunhar. Pastores e outros líderes da igreja podem ensinar princípios e práticas apresentados a seguir, defendidos por Paulo de várias maneiras dentro da igreja. Estes princípios proporcionam uma estrutura bíblica para ensinar o evangelismo pessoal que pode se tornar uma parte integrante do estilo de vida de um crente. um Testemunho Pessoal Eficaz para A Abordagem do Apóstolo Paulo preso; para que o manifeste, como convém falar. Andai com O evangelismo não é uma opção; mas o modo como o sabedoria para com os que estão de fora, remindo o tempo. fazemos sim. A mesma Bíblia que nos ordena alcançar A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, as pessoas com o Evangepara que saibais como vos lho também nos mostra convém responder a cada Devemos disciplinar a nós mesmos para como fazê-lo. um.” (Cl 4.2-6, grifo nosso). fazermos nossa parte no evangelismo Paulo nos deu um ensiNas instruções de Paulo pessoal enquanto que, ao mesmo tempo, namento profundo mas vemos que o testemunho permanecemos dependentes de Deus, que também prático sobre o eficaz envolve dois fará o que somente Ele pode fazer. testemunho cristão eficaz à princípios — dependência igreja de Colossenses. As instruções finais em sua carta (vv. 2-4) e disciplina (vv. 5,6). Devemos nos disciplinar mostram como os cristãos precisam se relacionar com os para fazermos nossa parte no evangelismo pessoal endescrentes, a quem ele chama apropriadamente de “os quanto, ao mesmo tempo, permanecemos dependentes de fora” (4.5). Eu chamo a abordagem de Paulo de de Deus fazer o que somente Ele pode fazer. evangelismo de resposta (veja v. 6). “Perseverai em oração, Paulo expressa essa interação divina/humana numa velando nela com ação de graças; orando também juntamente trecho inicial de sua carta: “E para isto também trabalho, por nós, para que Deus nos abra a porta da palavra a fim de combatendo segundo a sua eficácia, que opera em mim podefalarmos do ministério de Cristo, pelo qual estou também rosamente.” (Cl 1.29). Paulo está defendendo o esforço RECURSOS ESPIRITUAIS • 7 humano (“também trabalho”) que depende de Deus (“segundo a sua eficácia”). Juntamente com os princípios de dependência e de disciplina, Paulo defende seis práticas na vida cristã que ajudam a realizar o testemunho eficaz e contínuo a não crentes. Um pastor pode ensinar estes princípios à congregação de duas maneiras. Primeiro, pode ensinar os princípios e práticas juntos, como uma abordagem bíblica abrangente para o evangelismo pessoal. Segundo, cada princípio e prática precisa ser enfatizado sempre que possível em contextos diferentes. Apenas um ensino ou um sermão não ajudará adequadamente os crentes a fazerem dessas práticas uma parte de seu estilo de vida. Prática nº 1 — Ore por Portas Abertas “Orando... para que Deus nos abra a porta da palavra.” (Cl 4.3) Paulo começa suas instruções aos Colossenses exortando-os a orar. A oração é algo essencial no evangelismo. A menos que Deus trabalhe no coração e na vida das pessoas, nosso trabalho não produzirá resultados duradouros. No Livro de Atos, encontramos um exemplo expressivo do trabalhar de Deus com um de Seus mensageiros. Quando Paulo e seus companheiros foram à margem do rio fora de Filipos para orar no sábado, sentaram e começaram a falar com um grupo de mulheres. “E uma certa mulher chamada Lídia, vendedora de púrpura, da cidade de Tiatira, e que servia a Deus, nos ouvia, e o Senhor lhe abriu o coração para que estivesse atenta ao que Paulo dizia.” (At 16.14). Paulo pregou a mensagem. O Senhor abriu o coração de Lídia. 8 • enrichment | MARÇO 2010 Nós temos o privilégio e a responsabilidade de compartilhar o Evangelho. Mas apenas Deus pode abrir o coração de uma pessoa. Dependemos de Deus para nos abrir oportunidades, para trazer entendimento às mentes dos ouvinte, e mover seu coração para a decisão. Os crentes precisam de ensino regular e repetido sobre oração e encorajamento para fazer com que a oração seja uma característica de suas vidas diárias. Prática nº 2 — Faça com que sua mensagem seja clara “Para que o manifeste, como convém falar.” (Cl 4.4). A mensagem de Paulo foi “o mistério de Deus” (Cl 2.2). O foco de nossa mensagem também deve ser Jesus (veja Cl 1.13-23,28; 2.9-15). Após a ascensão de Jesus, o apóstolo Pedro se tornou rapidamente uma das vozes mais proeminentes na Igreja do Novo Testamento. No poder do Espírito Santo, este pescador tão indouto se tornou um pregador convincente e eloquente do Evangelho. Pedro pregou seu sermão mais conhecido no Dia de Pentecostes. Lucas, porém, registra várias proclamações de Pedro sobre o Evangelho em Atos (3.12-26; 4.8-12; 5.29-32; 10.34-43). Quando analisamos essas apresentações, encontramos Pedro destacando em cada sermão duas verdades básicas: quem Jesus é e por que Ele entregou Sua vida. Estar preparado para discutir estas duas verdades ajuda todo crente a falar sobre Cristo de forma eficaz com os não crentes. Quem foi Jesus? A avaliação da vida de Cristo pela mídia secular geralmente apresenta Jesus como um personagem fictício. Mesmo quando O mostra como uma pessoa histórica, a mídia O retrata como um grande mestre ou mesmo profeta — mas apenas um homem. Os crentes devem transmitir que Jesus foi mais que um mestre ou profeta; Ele era Deus em forma de homem. Foi concebido pelo Espírito Santo, nascido de uma virgem, viveu uma vida sem pecados, morreu por nossos pecados e venceu a morte ressuscitando para oferecer o perdão dos nossos pecados e o dom da vida eterna. Por Que Jesus Entregou Sua Vida? João Batista anunciou porque Jesus veio ao mundo quando disse, “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”. (Jo 1.29, grifo nosso). Os pecados de toda a humanidade são a razão para a morte de Jesus. A existência da cruz estabelece dois fatos: todos somos pecadores e não há nada que possamos fazer. É significativo que Paulo, como Pedro, comunicassem as mesmas duas verdades em Tessalônica. Lucas resumiu os ensinamentos de Paulo nas sinagogas nos dias de sábado: “E Paulo, como tinha por costume, foi ter com eles e, por três sábados disputou com eles sobre as Escrituras, expondo e demonstrando que convinha que o Cristo padecesse e ressuscitasse dos mortos. E, este Jesus, que vos anuncio, dizia ele, é o Cristo” (At 17.2,3). A apresentação do Evangelho precisa incluir essas duas verdades sobre Jesus. Ambas são essenciais para a compreensão da graça que Deus manifestou através da morte de Jesus na cruz, Sua ressurreição e Sua consequente compra da redenção de toda a humanidade. Prática nº 3 — Seja Prudente com “os que estão de fora” “Andai com sabedoria para com os que estão de fora.” (Cl 4.5). O termo “os que estão de fora” de Paulo dá uma descrição apropriada e prática de onde os não crentes estão não crentes possam entender e através de conceitos com os quais consigam se relacionar — como Jesus fez. Prática nº 4 — Aproveite as Oportunidades ao Máximo. “Aproveitai as oportunidades.” (Cl 4.5) As oportunidades têm um tempo certo. O ditado que diz que uma Compartilhar nossa experiência e nosso relacionamento pessoal com Jesus Cristo com sinceridade e convicção pode ser um argumento convincente para algumas pessoas. em relação à Igreja. Por diversas razões, a maioria dos não crentes hoje estão mais fora do contexto cristão do que nunca. Não podemos afirmar que os não crentes estejam comprometidos com os valores cristãos ou mesmo que compreendam. A Igreja hoje enfrenta o desafio de comunicar o Evangelho interculturalmente, como os missionários em países estrangeiros fazem. Se os crentes têm passado boa parte da vida na Igreja, eles têm adquirido valores, percepções e vocabulário da Igreja. Cristãos e não cristãos podem ambos falar português, mas os cristãos geralmente usam termos não familiares ou com significado diferente na cultura secular. Ao usarmos jargões cristãos, criamos uma barreira de comunicação com os não crentes. Cristãos entendem palavras como salvo, evangelho e unção, porém são confusas para pessoas que não estão familiarizadas com elas. Os não crentes devem ser alcançados através do vocabulário deles — não do nosso. Parte da cultura da Igreja precisa ser equipar os cristãos para transmitirem sua fé numa linguagem que os oportunidade não bate duas vezes à porta é verdadeiro. Uma oportunidade pode não aparecer uma segunda vez. Cada uma é única porque as pessoas e as circunstâncias são diferentes. Memorizar alguns versículos bíblicos ou fazer um curso de evangelização não prepara cristãos para responder tudo às pessoas. Pode ajudar, mas conhecer a verdade, que nos capacita a responder às pessoas em várias situações, requer um aprendizado contínuo no decorrer da vida. Significa que devemos crescer em um conhecimento pessoal de Jesus Cristo. Nós nunca nos graduamos nisso. Estamos todos em uma jornada espiritual. O que estamos aprendendo pessoalmente podemos compartilhar com um vigor renovado tal, que convença os descrentes. Alguns se sentem desconfortáveis para testemunhar porque não conseguem lembrar os versículos que acham que precisam saber. Mesmo que gravem, não se sentem seguros em sua habilidade de lembrar-se quando necessário. Mas todo crente, mesmo sem qualquer treinamento em evangelismo pes- soal, pode compartilhar seu testemunho pessoal e orar. Todo mundo tem um testemunho pessoal. Compartilhar nossa experiência e nosso relacionamento pessoal com Jesus Cristo com sinceridade e convicção pode ser um argumento convincente para algumas pessoas. Uma das maneiras mais oportunas de ministrar a descrentes é a oração. Quando incrédulos expressam seus problemas, peça o privilégio de orar com eles. Se cremos que Deus responde nossa oração, precisamos praticar a fé através da oração com e pelas pessoas e acreditar que Deus irá responder. Ouvir a oração de um crente pode causar um efeito significativo sobre os descrentes. Quando os crentes oram por uma necessidade, as pessoas podem sentir que eles são sinceros e que têm um relacionamento com Deus. Os corações podem ser abertos ao Evangelho quando Deus responde as orações. A liderança pastoral pode também desencadear oportunidades para os membros da igreja se conectarem com descrentes através de eventos de evangelismo. Prática nº 5 — Fale com Graça. “A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal.” (Cl 4.6) Em 1 Pedro 3.15, o apóstolo faz um comentário similar ao de Paulo. Pedro diz aos crentes para estarem sempre preparados para dar uma resposta à sua esperança, mas com “mansidão e temor”. Não é somente o que falamos que importa, mas também como falamos. A maior parte da nossa comunicação interpessoal é não verbal. Se há uma contradição entre o que alguém diz e a maneira como ela diz, acreditareRECURSOS ESPIRITUAIS • 9 A ESCALA DE ENGEL A escala de Engel é um sistema numérico que mostra onde as pessoas estão em sua caminhada espiritual. -8 Ciência de um ser supremo, mas nenhum conhecimento do Evangelho. -7 Consciência inicial do Evangelho. -6 Ciência dos fundamentos do Evangelho. -5 Noção das implicações do Evangelho. -4 Atitude positiva em relação ao Evangelho. -3 Reconhecimento de problemas pessoais. -2 Decisão para agir -1 Arrependimento e fé em Cristo. 0 Conversão +1 Avaliação pósdecisão +2 Integração ao corpo de Cristo +3 Uma vida de crescimento conceitual e comportamental em Cristo. As pessoas estão dispostas a mos sempre na mensagem não verbal. Uma pessoa pode ver uma apologia — feita com as mesmas palavras mas falada de diferentes formas — quer sincera, quer sarcástica. Entonação de voz e expressões faciais podem mostrar mensagens confusas que contradizem as palavras que dizemos. A maioria dos que se tenta alcançar nos EUA tem uma história negativa com a igreja; é defensiva ou mesmos hostil aos testemunhos cristãos. Outros com cicatrizes emocionais se tornaram insensíveis a questões espirituais. Um cristão com graça e credibilidade pessoal pode ajudar a neutralizar a confusão dos sinais que as pessoas receberam daqueles cuja vida tem se mostrado inconsistente em relação às suas mensagens. Assim como o sal tem10 • enrichment | MARÇO 2010 pertencer antes mesmo de estarem dispostas a acreditar. Quando falar sobre o Evangelho, use uma linguagem básica. As pessoas não entendem palavras como arrependimento, santificação e redenção se nunca ouviram ou viram palavras como amor, bondade, e aceitação. Até mesmo a Palavra de Deus sugere que o amor de Deus conduz ao arrependimento. Essas palavras abrangentes conduzem a coisas mais profundas do Evangelho. Paulo reconhecia que bebês precisam de leite antes de precisarem de carne. Ele apresentava o Evangelho em diferentes níveis, de acordo com o público a quem estava ministrando. Nosso desejo é ver pessoas progredirem dos números negativos para os positivos e finalmente, para um crescimento saudável +3. Existe, geralmente, uma lacuna entre o mundo dos descrentes e o mundo dos crentes. O conhecimento social-arbitrário, ou conhecimento cultural-específico dos cristãos pode tão plenamente ser desenvolvido que eles acabem se alienando completamente dos não cristãos. Começam, inconscientemente, a utilizar jargões simplesmente aos quais se referem porque aprenderam a cultura da cristandade. Para termos um espírito missionário, precisamos aprender como reestruturar nossas vidas, ações e discurso, para que sejam relevantes àqueles que não desenvolveram a noção de cristandade. Devemos aprender, como disse Paulo, a nos fazermos de “tudo para pera a comida, o espírito de graça, vidual. Em nossos esforços para brandura e respeito precisa tementender e agir sabiamente em relaperar nossa conversa com não ção aos “de fora”, não devemos crentes. Não devemos transigir com jamais esquecer que cada um deles a verdade, mas podemos comunicáé único. Entender a mentalidade, os la com bondade. valores, as preocupações, os interesCrentes necessitam de um disses e os desejos das pessoas em cipulado contínuo em formação várias culturas e gerações é muito espiritual para que os frutos do útil. Generalizações, porém, podem Espírito se torconduzir a Deus chama todo crente para nem cada vez equívocos mais evidentes ser testemunha, e cada crente porque cada em suas vidas. pessoa é única. pode ser com a ajuda dEle. O fator mais Termos como crítico em um evangelismo pessoal geração “X”, póscristãos, pósmodernos, é a credibilidade do pregador. etc. são perfis e estereótipos, não realidades pessoais. Prática nº 6 — Responda IndividualAs pessoas não são estatísticas ou mente. apenas almas que conquistamos “Para que saibais como vos convém para o Reino. Pessoas são indivíduos responder a cada um.” (Cl 4.6) com personalidades distintas — Relevância é uma questão indicriações únicas para as quais Deus todos, para, por todos os meios, chegar a salvar alguns.” (1Co 9.22). Essa reestruturação estende-se até mesmo ao nosso discurso. Paulo, em seu sermão no Areópago, usa ícones culturais da época (deuses e ídolos, e os poetas da época) para apresentar o seu caso. Refere-se à estátua do deus desconhecido e aos seus poetas que disseram, “Nós...somos sua geração.” (At 17.22-31), para falar em um nível que fosse relevante e significante para aqueles a quem estava tentando alcançar. O livro The Shaping of Things to Come, de Michael Frost e Alan Hirsh, apresenta um gráfico para explicar como os não crentes devem superar a lacuna cultural da sua ignorância sobre Deus, antes de conseguirem atravessar a lacuna do discipulado que todos os crentes enfim devem atravessar. Se as pessoas passam por estágios, como Engel sugere, devemos examinar como e quando apresentamos as sugestões verbais e não verbais do Reino de Deus. Até mesmo Jesus insistiu em conversar com as crianças, mesmo com os discípulos tentando despachá-las. Ele ensinou Seus discípulos, tanto de forma verbal como não verbal, que o coração de uma pessoa deve ser como o de uma criança para entrar no Reino dos Céus. Quando falou com a mulher adúltera no poço (Jo 4.5-29), Jesus não começou a conversa pelo pecado dela e pela necessidade de arrependimento. Ao contrário, Ele se dirigiu a ela em um nível físico quando disse, “Dême de beber”. Dirigiu-Se ao seu estilo de vida, mencionando o fato de que “tinha muitos maridos”. Dirigiu-Se à necessidade dela de encontrar satisfação — beber de tudo o que é bom. Ele então ofereceu-lhe água viva. A oferta de Jesus não foi um clichê cristão do momento; foi uma oferta para satisfazer sua necessidade atual. Como cristãos, devemos considerar nossas palavras, que podem, às vezes, advir de uma necessidade em nossa vida, mas as pessoas que encontramos podem não ter as mesmas necessidades. Elas podem não necessitar de uma igreja no momento, mas podem precisar de alguém que demonstre o amor de Deus através de palavras generosas e sugestões não verbais, como ação e serviço. A forma como demonstramos interesse e estruturamos palavras determinam se pareceremos repugnantes em nosso orgulho, abstratos em nossas conversas na igreja ou amáveis e gentis em nossa preocupação genuína pelas necessidades do nosso próximo. É hora de os crentes redescobrirem a linguagem esquecida de sua juventude espiritual. Devemos falar aos descrentes onde vivem, onde trabalham e onde quer que estejam na escala de Engel. tem um plano e um propósito pessoal. Nós construímos o Reino de Deus com uma pessoa de cada vez. Jesus é o melhor exemplo nos ensinamentos de Paulo sobre como responder às pessoas. O ensino de Jesus era claro para os Seus ouvintes. Ele usava vocabulário e figuras de linguagem tirados da vida diária de Seu público. Identificou-Se e conectou-Se com Seus ouvintes através de uma linguagem que conseguiam entender, e conceitos com os quais tinham como se relacionar. Devemos lembrar que o versículo mais citado na Bíblia, João 3.16, não era parte de um dos sermões de Jesus. Essas palavras foram proferidas por Jesus em uma conversa informal com Nicodemos numa noite quando respondia às perguntas desse fariseu. Mesmo que ensinasse a multidões, Jesus se concentrava em indivíduos e respondia a eles. Pessoas perdidas merecem o mesmo que aqueles que vieram ao encontro de Jesus receberam — uma resposta pessoal. Deus chama todo crente para ser testemunha, e cada crente pode ser com a ajuda dEle. Membros da igreja podem ficar seguros de que Deus os usará como testemunhas eficazes à medida que cooperarem na obra que o Espírito Santo estiver fazendo na vida de um descrente. Estes cinco versículos de Colossenses oferecem um ensinamento bíblico, prático e abrangente em relação a evangelismo pessoal. Os princípios de dependência (vv. 2-4) e de disciplina (vv. 5,6) referem-se a toda a vida cristã. As práticas precisam ser reforçadas continuamente em todos os aspectos da vida da igreja. A verdade da Palavra de Deus em relação à natureza do evangelismo pode libertar as pessoas de qualquer coisa que as amarre, assim como pode ajudá-las a encontrar o propósito que Deus quer que se cumpra através delas. Se a liderança pastoral ajudar pessoas a entenderem as verdades poderosas que Paulo ensina, os crentes conseguirão desenvolver um estilo de vida de evangelismo pessoal eficaz. L. ALTON GARRISON, Springfield, Missouri (EUA) RANDY HURST, Springfield, Missouri (EUA) RECURSOS ESPIRITUAIS • 11 12 • enrichment | MARÇO 2010 Se permitirmos que nossos fracassos nos definam, eles conseguirão nos arruinar. Mas se o fracasso for administrado de maneira apropriada, sairemos dele vitoriosos. APRENDENDO COM OS ERROS Por Mark Batterson P or mais de uma década tenho servido como pastor da Igreja National Community em Washington, DC (EUA). Eu amo morar em Capitol Hill. Sou grato a Deus por ter pastoreado uma igreja na vida. Mas também já passei pela minha quota de desafios, decepções e fracassos. Após me formar pelo Central Bible College, em Springfield, Missouri, entrei na Trinity Evangelical Divinity School, em Deerfield, Illinois. Meu sonho era o de plantar uma igreja na área de Chicago, IL. RECURSOS ESPIRITUAIS • 13 Minha esposa e eu crescemos em Naperville, um subúrbio na região oeste de Chicago. Amo o estilo de pizzas de Chicago. E Michael Jordan ainda estava jogando pelo Chicago Bulls. Por que iríamos querer estar em qualquer outro lugar? Então criamos um grupo principal, abrimos uma conta no banco, e escolhemos um nome de igreja. Eu fiz até um planejamento para 25 anos. Mas nosso grupo implodiu antes mesmo que pudéssemos realizar nosso primeiro culto. Ainda tenho questões sem respostas sobre aquela primeira igreja. Será que fomos chamados para plantar essa igreja? Ou foi Deus quem planejou nosso fracasso? Estávamos fora de tempo? Ou foi minha inaptidão e inexperiência que me fizeram fracassar? Eu saí dessa experiência com uma forte convicção: às vezes, nossos planos têm que fracassar para que os de Deus tenham sucesso. Essa tentativa frustrada de plantar uma igreja se classifica como uma das fases mais constrangedoras e desiludidas da minha vida. Eu não fazia ideia de para onde ir ou o que fazer. Estava emocional e espiritualmente abalado. Se permitirmos que nossos fracassos nos definam, eles conseguirão nos arruinar. Mas se o fracasso for administrado de maneira apropriada, sairemos dele vitoriosos. Nós não estamos propensos a admitir ou a levar o crédito por um sucesso tardio. Descobrimos que, mesmo quando caímos de cara no chão, Deus está lá para nos levantar. O fracasso tem um jeito de abrir novas opções. Quando o sonho de plantar uma igreja em Chicago desvaneceu, estava disposto a ir a qualquer lugar. Então, depois de vários meses orando e buscando a Deus, encontrei uma porta aberta em Washington. Nós não tínhamos um lugar para morar ou um salário garantido; mas, pela fé, arrumamos nossas coisas e nos mudamos. nevasca varreu a costa leste, deixando um recorde de nevasca nos EUA. Este foi meu primeiro fim de semana como pastor da Igreja National Community. Apenas 3 pessoas apareceram no culto — minha esposa, meu filho e eu. A parte boa foi que tivemos a experiência de vermos um crescimento de 533% em uma semana, quando 19 pessoas apareceram no domingo seguinte. Nós colocamos por terra vários axiomas de como se plantar uma igreja. Contaram-me que se você não alcançar 100 pessoas em seu primeiro ano, ou 200 em seu segundo ano, você nunca conseguiria quebrar aquelas barreiras. A média de frequência em nosso primeiro ano foi de aproximadamente 35 pessoas. Geralmente começávamos os cultos com seis ou oito pessoas na assistência. Eu fechava meus olhos durante o louvor porque era deprimente abri-los. Mas nunca perdi minha esperança. Sabia que Deus tinha nos chamado. E sabia que alguma coisa boa aconteceria. Só não sabia que a coisa boa seria algo que eu julgaria ser ruim. No outono de 1996, a escola pública em Washington onde estávamos nos reunindo foi fechada por causa de violação do código de incêndio. A Igreja National Community poderia facilmente ter se tornado uma casualidade. Começamos a explorar as opções de espaço para as reuniões. Todas as portas se fecharam exceto uma: a do cinema da Union Station. Fazendo uma retrospectiva, é difícil imaginar um ponto espiritual mais estratégico que a Union Station. Vinte e cinco milhões de pessoas passam pela Union Station todo ano, fazendo-a o destino mais visitado de Washington. Temos nove salas, 40 restaurantes e um estacionamento coberto. Nós também temos nosso “próprio” sistema de metrô, com estação em frente à nossa porta. Se Deus não tivesse fechado a porta da escola pública de Washington, não teríamos procurado por uma porta aberta no cinema. Devo mencionar um comentário histórico. No dia Se suas perspectivas são de curto prazo, você viverá em um desencorajamento perpétuo. “EM BREVE, EM UM CINEMA PERTO DE VOCÊ” No primeiro final de semana de Janeiro de 1996, uma 14 14• •enrichment enrichment| MARÇO | MARÇO2010 2010 que assinei o contrato de aluguel do cinema na Union Station, peguei um livro, Union Station: A History of Washington’s Grand Terminal. Eu queria conhecer a história por trás da Union Station. Em 28/02/1903, o presidente norte-americano Theodore Roosevelt assinara o projeto de Lei do Congresso, permitindo a criação da Union Station. O projeto declarava: “Um Ato do Congresso para criar uma Union Station e para outros propósitos”. O presidente Roosevelt pode ter pensado que estava construindo uma estação de trem, mas Deus sabia que anos depois a Union Station serviria Seus propósitos através do ministério desta igreja — Igreja National Community. Implantação de igrejas: Estudo VINEYARD sobre Fracassos e Sucessos Todd Hunter conduziu um significativo estudo enquanto diretor denominacional de implantação de igrejas. Embora datadas, diversas descobertas apresentadas em seu estudo para Association of Vineyard Churches — Church Pathology Report, de Dezembro de 1986, ainda são totalmente relevantes. Hunter dividiu seu relatório em duas categorias principais: “Relatórios de Autópsia” de igrejas fracassadas e “Igrejas Bem Sucedidas”. As questões-chaves mencionadas, que contribuem grandemente para o fracasso incluem: • A inabilidade do plantador de igrejas de recrutar, mobilizar e fomentar trabalhadores e líderes; • A inabilidade do plantador de igrejas de planejar eficazmente; • A ineficácia do plantador de igrejas de recrutar pessoas e; • A ineficácia do plantador de igrejas em sua metodologia de evangelismo. Hunter concluiu que os obreiros que implantam novas igrejas poderiam corrigir essas questões com treinamento e a experiência do crescimento da igreja. Hunter prosseguiu para descobrir que a disposição desses obreiros faz uma diferença crucial. Os pastores que lutam muito em sua maioria são mais pastorais do que carregadores de peso e faltam-lhes habilidades fortes de liderança. Os obreiros que plantam novas igrejas e não são bem sucedidos ficam simplesmente predispostos a uma abordagem mais passiva para ministério, que concentra-se em fomentar aqueles que naturalmente vêm de encontro a eles, em vez de buscar agressivamente adentrar a comunidade e reunir aqueles que poderiam ser líderes para o Reino. Eles preferem nutrir os relacionamentos já existentes ao invés de recrutar, evangelizar, planejar ou examinar sua comunidade. FATORES DE SUCESSO Por outro lado, de acordo com a pesquisa Vineyard, as igrejas que prosperam são dirigidas por pastores que trabalham arduamente, que possuem bem elaborados planejamentos, que focam-se em recrutar pessoas novas e que conseguem se mexer de forma criativa para resolver problemas. Estes pastores se envolvem agressivamente com ações sociais e o otimismo e a fé servem como combustível para sua paixão. Além disso, esses plantadores de igrejas possuem boas habilidades sociais e assumem responsabilidade pelo crescimento da igreja enquanto consolidam o valor da igreja para as pessoas. F inalmente, Hunter também descobriu vários fatores de sucesso relacionados à nova congregação. As perspectivas de sobrevivência de uma igreja nova diminuem se em seu estágio inicial ela atrair muitos cristãos feridos ou aqueles apenas nominais que não estão dispostos ou não são capazes de crescer (i.e., saltadores de igrejas, líderes queimados, os feridos crônicos, etc.). Da mesma forma, se os primeiros membros não estiverem dispostos a buscar e a receber ativamente aqueles que são diferentes deles mesmos, isto pode também reduzir a saúde e a capacidade de sobrevivência da igreja. Estrangulação sociológica e os problemas ocultos ferem tanto as igrejas novas quanto as igrejas estabelecidas. — ED STETZER Extraído de “Improving the health and Survability of New Churches”. Leadership Network. Usado com permissão. RECURSOS RECURSOSESPIRITUAIS ESPIRITUAIS• •15 15 NO MEIO DO MERCADO Entrei no negócio de plantar uma igreja com uma mentalidade tradicional: reunir-se em prédios alugados até se conseguir comprar ou construir um templo. No entanto, eu experimentei uma mudança de paradigma. Sabia que iria demorar até que começássemos até mesmo a pensar em comprar ou construir um prédio. As propriedades custavam US$ 10 milhões o acre. Então veio-me este pensamento: por que construir uma igreja quando temos um auditório todo adaptado, com telões, assentos confortáveis e sistema de som surround? Além disso, quantas igrejas têm praça de alimentação, estacionamento coberto e metrô? Estabelecer uma igreja no mercado se tornou parte do nosso DNA espiritual. Eu estava caminhando da Union Station para casa quando tive uma visão na esquina das ruas Fifth com a F. Nenhum coral de anjos. Nenhum grafite na calçada. Mas pude ver um mapa do metrô em minha mente. Eu enxerguei a Igreja NC se reunindo em salas do cinema nas estações do metrô em toda a área de Washington. Finalmente, conseguimos nosso segundo cinema em Ballston Commom Mall, em Arlington, Virgínia. Desde então, conseguimos também mais dois lugares: um em Georgetown (Washington, DC) e outro em Alexandria, Virgínia. Juntamente com nossos quatro cinemas, a igreja NC também possui e opera a maior cafeteria de Capitol Hill. Em 2008, Ebenezers foi considerada a cafeteria número 1 do metrô de Washington pela AOL CityGuide. A paixão era simples: criar um lugar onde a igreja e a comunidade cruzassem seus caminhos. Jesus não aparecia apenas nas sinagogas; Ele aparecia também perto dos poços. Poço não é somente um lugar para se tirar água. Na cultura antiga, os poços eram lugares onde as pessoas se reuniam. Cafeterias são os poços pósmodernos. Não apenas interagimos com centenas de clientes diariamente; também fazemos dois cultos no sábado à noite em nosso auditório. Todo o lucro da cafeteria é investido em missões. Lição nº 1: Abra os horizontes Se suas perspectivas são de curto prazo, você viverá em um desencorajamento perpétuo. Quando estou desencorajado, geralmente é porque superdimensionei algumas coisas que me frustraram. Preciso subdimensioná-las e lembrar do quadro grande. Preciso lembrar que, há mais de 2000 anos, Jesus morreu numa cruz por meus pecados. Preciso também me lembrar do futuro eterno que tenho. Isso ajuda a recalibrar-me espiritualmente. Por que estou fazendo o que estou fazendo? Preciso reconectar com meu primeiro chamado que Deus fez para a minha vida. Preciso me lembrar que estou nisso para um grande projeto. Crescimento leva tempo. Deus não abençoará você mais do que possa lidar com isso. Deus está mais preocupado com o que você está se tornando do que com o que você está fazendo. Quanto mais você precisa esperar, mais você aprecia. Nossa cafeteria, por exemplo, é o resultado de oito anos de oração, rezoneamento e construção. Crescimento de igreja não é a questão. A questão é o crescimento pessoal. Se você tiver o crescimento pessoal, a igreja crescerá em escala corporativa. Aqui está uma ironia do crescimento da igreja. Nas semanas que estou “a todo vapor” e penso que todo visitante se tornará um membro na semana seguinte, ninguém volta. Então na semana seguinte prego uma mensagem que bomba. Sinto-me como se estivesse mandando um e-mail com queixa para mim mesmo. Então as pessoas se convertem e todos os visitantes voltam. Parte do desafio da liderança é descobrir CINCO LIÇÕES Aqui estão as lições que aprendi durante a jornada de plantar igrejas. 16 16• •enrichment enrichment| MARÇO | MARÇO2010 2010 quem você é. Lição nº 2: Não tenha medo de cometer erros Todo obreiro que planta uma igreja luta com medo de fracassar. O remédio não é o sucesso. O remédio é fracassar em pequenas doses, quase como injeções de alergia, para que consiga imunidade. O fracasso tem um efeito de libertação. Você percebe que Deus está lá para pegar e limpar você. Isso mantém você humilde. Nós temos um valor central na Igreja NC: tudo é um experimento. Se o Reino de Deus tivesse departamentos, poderíamos trabalhar em pesquisa e desenvolvimento. Sou guiado por uma convicção elementar: existem maneiras de se plantar uma igreja que ninguém pensou ainda. Isso, no entanto, significa que preciso cometer alguns erros. Preciso chegar ao ponto onde fico com mais medo de perder oportunidades do que de errar. Não tenho problemas em ver a minha equipe cometendo um erro. Só não quero que cometam os mesmos erros várias vezes. Cometer erros significa que você está tentando coisas novas. E este é o caminho para se crescer como líder. Lição nº 3: Desista de fazer comparação Sou competitivo, não gosto de perder nem um jogo de damas para meus filhos. Mas, pedi a Deus para santificar meu ímpeto competitivo e usá-lo para Seus propósitos. Com muita frequência, nós nos comparamos com outros pastores e olhamos para outras igreja como concorrentes. Líderes sãos têm uma mentalidade vol-tada para o Reino. Não preciso ser todas as coisas para todas as pessoas porque eu não sou a única igreja na cidade. Precisamos de diferentes tipos de igrejas porque existem diferentes tipos de pessoas. Celebremos nossas diferenças enquanto pregamos o Evangelho. Você pode se comparar a alguém que não tenha os mesmos dons que você, e isso resultará em orgulho. Ou pode se comparar a alguém que possua mais dons que você, e isso resultará em ciúme. De qualquer jeito, você perde. Parte do desafio da liderança é descobrir quem você é. A outra parte é descobrir quem você não é. Então se cerque de pessoas que compensem suas fraquezas. Já no início do ministério, seu nível de dotações irá determinar sua influência. Mas, com o tempo, suas dotações terão menos a ver com sua influência final. Sua influência será determinada pelas dotações das pessoas com as quais você se cerca. É por isso que o desenvolvimento de liderança e a contratação de pessoal são capacidades de missão tão críticas. Se você não tem uma visão claramente definida, tentará ser tudo para todos. Vários pastores são verdadeiros contorcionistas. Tentamos atender todos os caprichos e desejos de todos que batem à nossa porta. Anos atrás, memorizei algo que Abraham Lincoln disse e isto se tornou um mantra da liderança: “Você consegue agradar todas as pessoas por algum tempo, algumas pessoas todo o tempo, mas não consegue agradar todas as pessoas todo o tempo”. Lição nº 4: Continue aprendendo Um seminarista me perguntou: “Qual é a chave do sucesso no ministério?” Eu disse: “Continue aprendendo”. Líderes são aprendizes. Parte do que os guia é uma curiosidade santa. E eles são suficientemente humildes para admitir sua falta de conhecimento. Um dos meus medos é o de me tornar um sistema fechado. Você deixa de fazer o ministério a partir de sua imaginação e começa a fazê-lo a partir de sua memória. Você deixa de criar o futuro e começa a repetir o passado. Você deixa de liderar e passa a administrar. Duas coisas têm me ajudado a continuar a ser um sistema aberto. Primeiro, os livros mantêm minhas sinapses queimando de maneiras novas. Tento também fazer o máximo de reconhecimento possível. Vou a conferências e visito outras igrejas para obter novas ideias. Isso me ajuda a manter minha perspectiva saudável na Igreja National Community. Lição nº 5: Aproveite a jornada Quando fui entrevistado para obter credencial, um pastor do comitê perguntou: “Se você tivesse que descrever você mesmo com uma palavra, qual seria?” Eu disse: “guiado”. Pensei que fosse então uma ótima resposta. Agora não tenho tanta certeza. Meu objetivo como obreiro que planta igrejas era pastorear mil pessoas antes de fazer 30 anos. Não há nada errado em estabelecer objetivos enormes desde que o motivo esteja correto. A dimensão dos nossos sonhos é um ótimo barômetro de maturidade espiritual. O problema, porém, com este objetivo em particular é: eu estava preocupado mais com números do que com pessoas. Nós plantamos e regamos; Deus dá o crescimento (1Co 3.7). Eu estou tão voltado para o futuro que normalmente deixo de apreciar a jornada. Mas o Senhor estampou em mim: seja o melhor pastor que você puder aqui e agora. É como ser pai. Você precisa aproveitar cada idade e cada fase. Ministrar é difícil. Mas que possamos jamais nos esquecer do privilégio maravilhoso de fazer parte do plano de redenção de Deus para o planeta Terra. Esteja certo de que os sacrifícios que fazemos renderão dividendos eternos. MARK BATTERSON é o pastor presidente da Igreja National Community, em Washington, DC (EUA). RECURSOS RECURSOSESPIRITUAIS ESPIRITUAIS• •17 17 Transformando Decisões em Acréscimos e 18 • enrichment | MARÇO 2010 Acréscimos em Discipuladores (Cuidados para com o Novo Convertido) Por Jim Hall P ara onde foram todas os crianças espirituais? Uma Valores do Discipulado tendência alarmante e perturbadora está ocorrenDeus se alegra quando um perdido é encontrado e nos do nas Assembleias de Deus dos EUA. Quando chama para nos alegrarmos com Ele (Lc 15. 6-10). mais de 75% de todas as decisões por Cristo nas igrejas O pai do filho pródigo argumentou com seu filho assembleianas escapam pela porta dos fundos, algo está mais velho que ele também precisava celebrar porque desesperadamente errado e requer uma resposta para “o seu irmão” voltara para casa (Lc 15.32). Os recémesta pergunta: “Por que tão poucas decisões por Cristo nascidos espirituais são claramente nossos irmãos e cada resultam em adição à igreja?” um deve ser bem vindo porque os novos crentes têm o Numa tentativa de responder a esta pergunta, devemesmo valor que nós para o Pai Celestial. mos considerar primeiramente o exemplo do apóstolo No Novo Testamento, o valor de cada criança em Paulo aos crentes de Tessalônica: “antes, fomos brandos Cristo reflete-se nas referências apostólicas ao cuidado individualizado. Paulo falou aos Tessalonicenses que entre vós, como a ama que cria seu filho.” (1Ts 2.7, grifo nosso). Paulo sabia que esses recém-nascidos em Cristo viveriam e cresceriam através de relaciona- O discipulado para novos crentes é mentos carinhosos, ou morreriam se deixados indispensável se pastores querem desacelerar sozinhos. O relacionamento de Paulo com eles a alarmante taxa de morte espiritual na igreja. continuou, podendo assim exortá-los, encorajá-los e implorar que “a cada um de vós...como o pai a seus ele guiara “cada um de vós” como um pai (1Ts 2.11, grifo filhos.” (1Ts 2.11). O resultado foi a sobrevivência espinosso). Ele lembrou aos Efésios: “vigiai, lembrando-vos ritual e sua transformação em poderosas testemunhas. de que, durante três anos, não cessei, noite e dia, de Como um pai orgulhoso, Paulo notou que “em todos os admoestar, com lágrimas, a cada um de vós.” (At 20.31, lugares a vossa fé para com Deus se espalhou.” (1Ts 1.8). O discipulado para novos crentes é indispensável grifo nosso). Jesus discipulou Pedro individualmente se pastores querem desacelerar a alarmante taxa de desde o início de Seu ministério público. O primeiro morte espiritual na igreja. objetivo para o acompanhamento de novos convertidos Tem sua igreja um ministério de discipulado bem é o de prover um cuidado individual, colocando-os em desenvolvido que garanta a taxa de sobrevivência de contato com outros cristãos maduros ou discipuladores seus novos convertidos e que os ajude a se tornarem treinados. membros que cresçam e sejam prósperos? Este artigo apresenta passos práticos para se estaAmizade no discipulado belecer um ministério eficaz de discipulado para O ingrediente amizade no discipulado pode preceder a novos convertidos numa igreja de qualquer tamanho, conversão ou ser desenvolvida através de um discipuque irá transformar decisões em acréscimos e acréslador que seja designado para um novo convertido após cimos em discipuladores. Essas dinâmicas são atemsua entrega a Cristo. Os discipuladores precisam ser do porais e eficazes. mesmo sexo que o novo convertido. Também, leve em RECURSOS ESPIRITUAIS • 19 Identidade e comunidade são questões primordiais para a igreja hodierna. consideração a idade, personalidade, profissão, trabalho, horários, onde as pessoas vivem e a direção do Espírito. A dificuldade inicial de um relacionamento entre o novo convertido e o discipulador é normalmente superada com um pouco de persistência. Em raras ocasiões, pode haver a necessidade de um novo discipulador. Fidelidade ao discipulado É importante que um novo cristão seja contatado pela igreja, e/ou pelo pretenso discipulador, logo após ter se convertido, para agendar um horário (de 1 a 1 hora e meia) para um discipulado informal. Escolha um lugar confortável para se reunir que seja conveniente para o novo convertido — a casa dele, ou qualquer outro lugar que ele escolha. Reunir-se na casa do novo convertido permite ao discipulador encontrar outros membros da família e amigos e dar apoio ao testemunho do novo convertido. Também oferece um contexto importante para o discipulador observar e entender o ambiente de onde provém o novo convertido. O discipulado precisa ser realizado semanalmente. A fidelidade do discipulador cria uma experiência consistente que é importante para a vida espiritual do novo crente. A igreja precisa desenvolver um sistema de prestação de contas para que o discipulador apresente a consistência e a qualidade de cada reunião de discipulado. A Formação do Discipulado As reuniões de discipulado precisam concentrar-se em ajudar os novos convertidos a interagirem com as Escrituras para aprenderem como 20 • enrichment | MARÇO 2010 ter um relacionamento diário com Jesus. Lições com cadernos de exercícios que levem o novo convertido diretamente à Palavra para verem por si mesmos o que Deus está dizendo são os melhores. A comunicação com Deus é aprendida através do ouvir Sua Palavra escrita, da resposta de oração e também do ouvir Deus falar através de Seu Espírito enquanto se ora. A cooperação momento a momento com Deus é o objetivo para cada novo convertido. O discipulador, assim como as lições utilizadas, precisa enfatizar que o conteúdo da Bíblia é aprendido por causa da conduta bíblica. O relacionamento do discipulado precisa propiciar uma prestação de contas de apoio para aplicar o que Deus está dizendo ao novo convertido a respeito de como Ele quer que viva. A celebração pelo avanço deve ser frequente e sincera (At 11.23). O Processo do Discipulado Primeiro Encontro Após estar familiarizado, o discipulador precisa perguntar se pode orar para que Deus os ajudem enquanto estudam Sua Palavra juntos. A oração deve ser simples, curta e em uma linguagem do dia-a-dia. Isso dá exemplo ao novo convertido de que a oração é uma conversa natural com Deus. No final da lição, o novo convertido precisa ser encorajado a conversar com Deus de maneira similar. Suas orações sinceras e não polidas devem ser estimuladas pelo discipulador (por exemplo: “Foi uma ótima oração. Sei que Deus gostou muito de ter ouvido você falando assim com Ele.”) Segundo: use lições de discipulado escritas para pessoas, que nun- ca frequentaram uma igreja, possam entender. Essas lições devem levar o novo convertido a passagens simples na Palavra que mostrem como Deus quer ter comunicação e cooperação com os crentes. O conteúdo da série de lições deve incluir: 1. uma revisão do compromisso de seguir a Jesus; 2. sua presença constante para guiar e dar assistência à obediência; 3. o primeiro e segundo mandamentos; 4. batismos em águas e no Espírito Santo; 5. comunhão; 6. princípios de administração do trabalho e do dinheiro; 7. como testemunhar e discipular outros. Terceiro: atravesse a primeira lição com o novo convertido, utilizando uma linguagem simples, sobre como fazê-la, como localizar as referências bíblicas, como entender a verdade na lição, e como pôr em prática a verdade no seu viver diário. Faça com que o novo cristão leia cada questão e acompanhe as passagens das Escrituras, então faça perguntas que gentilmente o levem a ver as respostas no caderno de exercícios sobre a passagem que foi lida. Não aceite um “chute” ou uma resposta baseada em conhecimento anterior. Você está lançando este novo convertido numa vida de disciplina em que usará a Bíblia a vida toda para encontrar as respostas para a vida. Faça com que o novo convertido explique o que ele vê na passagem que responde à pergunta da lição — e qualquer outra coisa interessante que ele veja. O Espírito Santo mostrará frequentemente verdades não ditas na lição, mas que são mostradas na passagem bíblica e que são úteis ao novo crente. Observações corretas precisam ser afirmadas e respostas incorretas precisam ser gentilmente redirecionadas até que a verdade seja depreendida e confirmada. As respostas a cada questão devem ser escritas nos espaços providenciados na folha de estudo. As verdades bíblicas providenciam o Espírito que conduz à convicção no que diz respeito a substituir velhas práticas por novos comportamentos. Quarto: combinem um horário regular para os encontros semanais — o máximo de vezes possível de acordo com a conveniência do novo convertido. Além disso, deve existir um contato ou alguma atividade semanal informal (tomar café, fazer compras, lazer ou uma conversa pelo telefone) para fazer com que a amizade se desenvolva. Neste ambiente, o novo cristão pode conversar sobre coisas que estão em sua mente e coração ou fazer perguntas. Isso permite ao discipulador entender melhor o quanto o novo convertido está crescendo espiritualmente ou onde estão suas dificuldades e valores. Seja fiel aos encontros e ao tempo que passar com o novo cristão. A vida espiritual deles depende disso. Finalmente, no final do encontro, explique a importância de um tempo diário dedicado ao estudo e à oração além das lições de casa. Ajude-o a planejar tempo e lugar para seu momento com Deus, encoraje-o a ser fiel aos encontros com Deus. Segundo Encontro Vá para a lição seguinte — ou termine a primeira — com o novo convertido, ajudando-o no que for preciso. Pergunte se ele aplicou em sua vida o que aprendeu no encontro ante- rior. Pergunte sobre suas devoções e se ele já sentiu a presença de Deus ou Deus falando com ele durante esse período — ou em qualquer outro momento durante a semana. Se o novo convertido parecer confortável com o formato da lição ou com o processo de aprendizagem, peça para que a próxima lição seja feita por sua conta antes do próximo encontro. Encoraje-o a fazer o melhor e ajude-o em qualquer coisa que ainda não esteja clara. Terceiro e Demais Encontros Entre na lição que você pediu no encontro anterior. Leve seu novo convertido a ver a verdade nas passagens que estão sendo estudadas. Discuta suas respostas, perguntas e ainda outras respostas dadas na lição. Se ele quiser discutir questões que não sejam importantes para sua vida neste momento, gentilmente diga que irá responder à sua pergunta depois e continue com a lição. Se a questão estiver distraindo-o do aprendizado e uma lição seguinte lidar com o assunto, entre nessa lição e lide com esta urgência. Flexibilidade é uma vantagem do discipulado individual. Certifique-se de que você discute continuamente como o novo convertido está aplicando à sua vida cotidiana as lições que tem aprendido das Escrituras. Isto estabelece uma prestação de contas amigável a fim de alcançar o objetivo de seus encontros — para que este novo convertido se torne um praticante da Palavra. Isto também permite uma celebração pelo avanço que o anima e o encoraja. Quando orarem juntos, inclua o agradecimento pelo progresso e a evidência de Deus no trabalho em sua vida. A oração deve também incluir o pedido pela ajuda de Deus em relação aos desafios que enfrenta no dia-a-dia. No final do encontro, atribua a nova lição. Continue esse processo com relação às lições remanescentes. Recomendo de 6 a 8 meses de curso em uma grade de uma por uma. Após completar o processo de discipulado, algumas igrejas fazem a transição dos novos convertidos para grupos de estudo. Independentemente de quando o discipulado individual termina, o novo convertido precisa unir-se a um grupo que seja apropriado para sua próxima fase de aprendizado e crescimento. Um sistema de acompanhamento deve existir para monitorar sua participação contínua no processo de aprendizado do grupo. O andamento do discipulado Reunir-se regularmente é mais importantes do que completar uma lição em cada reunião. Às vezes, lidar com necessidades urgentes da vida do novo convertido significa que várias sessões são necessárias para terminar aquela lição. É importante oferecer o tempo que for necessário para entender e aplicar a verdade em sua vida. É como alimentar um bebê — ele é que decide a frequência com que se deve alimentá-lo. O processo individual facilita a flexibilidade no andamento do discipulado. Conexões do Discipulado O discipulador se torna o elo entre o novo convertido e a igreja ao acolhê-lo na igreja ou em grupo pequeno. O discipulador ou encontra com o novo convertido na reunião ou lhe oferece carona. O discipulador também precisa sentar-se com o novo convertido e apresentá-lo às pessoas e às atividades. Este é um papel RECURSOS ESPIRITUAIS • 21 Certifique-se de que você discute continuamente como o novo convertido está aplicando à sua vida cotidiana as lições que tem aprendido das Escrituras. importante que precisa ser cumprido com fidelidade pelo discipulador. Batismo em Águas O batismo em águas é um passo de obediência muito importante para os novos convertidos e deve ser fortemente estimulado, o mais rápido possível, após seu novo nascimento. O discipulador pode ajudar o novo crente a preparar um testemunho breve para ser compartilhado antes do batismo. Pode ser escrito e lido por ele mesmo para aliviar o nervosismo e ganhar tempo. (Outra opção é mostrá-lo testificando em um vídeo editado). Uma boa ideia é fazer com que o discipulador participe do batismo orando por seu discípulo — ou mesmo executando o batismo. É tam- bém uma boa oportunidade para o novo convertido convidar familiares e amigos para testemunhar seu batismo e ouvir seu testemunho. turas e da oração, seguida de obediência; e a busca consciente do crescimento no amor por Cristo e pelas outras pessoas. Medindo o Progresso O discipulador precisa exercitar a paciência e dar tempo para que a Palavra e o Espírito tragam mudança interna à medida que os antigos hábitos rendem-se às substituições de Deus. A mudança na vida do novo convertido precisa ser uma resposta do senhorio de Cristo, não condizente com a pressão humana. Deve haver celebração quando ocorre mudança. A evidência mensurável da transformação precisa incluir: esforço consistente em oração e estudo da Bíblia; a evidência de ouvir Deus através das Escri- Reprodução O discipulado básico não é considerado completo até que o novo convertido esteja discipulando outro novo convertido. O discipulador precisa encorajá-lo a ser uma testemunha para sua rede de relacionamentos. Enquanto o discipulado estiver em curso, explique ao discipulando que ele está sendo discipulado para discipular outros. Mostre que Deus pode usá-lo para ajudar novos crentes. O novo convertido precisa fornecer algumas instruções à medida que o discipulando começa a discipular. Discipulado que Conduz à Decisão O discipulado que precede a decisão pode acontecer no contexto de amizade para preparar o novo convertido para uma decisão de mudança de vida baseada em: • Um entendimento claro do compromisso: a) Por exemplo, deve-se esclarecer que Jesus apenas oferece a vida eterna àqueles que se submetem à Sua autoridade. Sem submissão, sem salvação. b) Use um vocabulário claro para que uma pessoa que nunca frequentou uma igreja possa entender e utilizar termos que relacionem ao indivíduo. Por exemplo, Jesus falou sobre pescaria para pescadores e sobre água da vida à mulher junto ao poço. • Uma profunda persuasão de Deus de que o Evangelho é verdadeiro. É trabalho do Espírito Santo o convencer e atrair uma pessoa para Cristo. 22 • enrichment | MARÇO 2010 A pessoa deve decidir. Jesus disse, “E, quando já o fruto se mostra, meta-lhe logo a foice, porque está chegada a ceifa.” (Mc 4.29). Nosso papel é orar. • Uma decisão esclarecida para entrar em um relacionamento com Jesus baseada em Suas condições. A oração pode ser explicada como a assinatura do compromisso e as cláusulas devem ser revisadas e incluídas na oração. Quem busca a salvação pode ser encorajado a orar por si só, ou pode ser dirigido em oração, como já explicado. Um discipulado informal prepara a nova etapa do discipulado mais formal (treinamento) que é necessário mais adiante. JIM HALL, Springfield, Missouri (EUA) Decisão Verdadeira: Salvação e Senhorio A revista Decision, de Billy Graham, tem um título apropriado para uma publicação focada em evangelismo. Quer seja evangelismo pessoal individual ou um culto evangelístico público, as decisões são a questão principal. No decorrer da minha vida eu ouvi essa pergunta muitas vezes em igrejas pentecostais: “Você recebeu a Cristo como seu Salvador — mas já O aceitou como seu Senhor?” Esta pergunta deveria motivar as pessoas a um comprometimento espiritual mais profundo. Infelizmente, também cria uma distinção antibíblica na mente de algumas pessoas entre salvação e senhorio. Jamais devemos insinuar aos descrentes que salvação é meramente uma questão de escapar do Inferno. Cristo veio ao mundo não apenas para nos livrar da pena do pecado mas também para nos livrar do poder do pecado. As duas decisões mais importantes da minha vida foram ambas feitas no altar. A primeira ao aceitar a Cristo; a segunda, meu casamento. Essas decisões têm várias semelhanças. Cada decisão, feita em um momento particular, determinou uma multiplicidade de escolhas futuras. Quando eu disse “eu aceito” — duas palavras pequenas — em meu casamento, eu não tinha ideia das consequências de uma vida inteira às quais meu comprometimento estava sendo vinculado. Naquela única decisão eu estava fazendo milhares de outras decisões. Estava decidindo Reconhecimento Após completar o processo de discipulado básico, o discipulador e o novo convertido devem ser honrados em um culto de domingo. O pastor pode oferecer ao novo convertido um Certificado de Conclusão e uma Bíblia de estudos para que publicamente confirme o valor dessa experiência para as duas pessoas envolvidas. o que eu iria comer nas maioria das minha futuras refeições, o tipo de louça nas quais minhas refeições seriam servidas, o estilo dos móveis que estariam na cozinha e que cortinas seriam penduradas nas janelas. Pedir a Ruth para ser minha esposa envolveu as escolhas pelo seu gosto, preferências e decisões a respeito de muitas coisas. Quando eu tinha 7 anos, fiz a escolha de receber a Cristo como meu Salvador. Mesmo que eu não entendesse naquele momento, eu também estava fazendo milhares de outras decisões. Estava determinando onde eu estaria em cada dia do Senhor, para onde iriam os 10 centavos de cada tostão conseguido, que tipo de livros eu leria e de quais entretenimentos eu participaria. Quando aceitamos a Cristo, obtemos o benefício dos nossos pecados perdoados. Mas também devemos responder apropriadamente ao sacrifício de Jesus, submetendo nossa vida à Sua autoridade. Quer em um evangelismo pessoal ou um culto público, quando oramos com alguém que está recebendo a Cristo, devemos ter a certeza de que ele entende a natureza da decisão que está tomando. Na salvação recebemos perdão através da graça de Deus e nos entregamos ao senhorio de Cristo. A Palavra de Deus ensina que a decisão de uma pessoa de receber a Cristo não é a linha final do processo de evangelismo. É um ponto de entrada para uma vida de segui-lO. RANDY HURST, Springfield, Missouri (EUA) Preparando para Discipular Recrutamento de discipuladores Ao pregar uma série de mensagens sobre discipulado, você motivará potenciais candidatos a discipuladores para treinamento em sua congregação. Os candidatos, porém, precisam ser abordados individualmente — não publicamente — e ser convidados para serem treinados. Os discipuladores que não tem auto-confiança para se voluntariar publicamente geralmente aceitarão um convite pessoal do pastor ou de alguém de sua equipe. Este convite pessoal também evita que indivíduos não qualificados se voluntariarem para o treinamento. As características dos candidatos a discipuladores devem ser: amor consistente e genuíno por Jesus e pelas pessoas; devoção para obedeRECURSOS ESPIRITUAIS • 23 DISCIPULADO EFICAZ Ajudando os novos convertidos na caminhada cristã. 24 • enrichment | MARÇO 2010 Quando a igreja segue a direção dada pelas estruturas e atitudes societárias, o foco de sua missão torna-se obscuro e seus membros são desviados do curso. cer a Deus; bons aprendizes, bons ouvintes e comunicadores. Os candidatos também devem ser batizados no Espírito Santo ou buscarem honestamente este dom espiritual. Os candidatos também devem ser treinados para se tornarem proficientes no sistema de discipulado em uso. O treinamento é também importante porque a maioria nunca foi discipulada. O treinamento lhes permitirá desenvolver (ou melhorar) suas habilidades e segurança para discipular. riências passadas e do processo de crescimento. O discipular ajuda o novo convertido a entender o processo de crescimento na vida cristã. 5. Aceitação da tarefa de discipular um novo convertido — ou um crente com problemas — enquanto ainda estiver em treinamento. (Isso acrescenta a vantagem do treinamento em serviço.) O treinamento do discipulador eficaz é uma experiência do tipo BootCamp (jogo de Arcade) — aprendizado dirigido pela prática. Treinamento do Discipulado É recomendável que o pastor tanto crie um modelo de discipulado individual quanto conduza o treinamento. Este envolvimento do pastor acrescenta valor ao ministério de discipulado e, em discipulando, ganha uma valiosa experiência que se estenderá ao treinar outros. Os discipuladores se sentem valorizados porque seu pastor está confiando neles para fazerem uma parte do processo pastoral na igreja. O treinamento deve incluir: 1. Estudo das lições por conta do novo convertido para se familiarizar com o conteúdo e o formato bíblico. 2. Convocação semanal em grupo para discutir as perguntas e as respostas do material do discipulado. Treinadores e treinandos precisam se ajudar mutuamente para evitar jargões e usar vocabulário do dia-adia de forma que os novos convertidos possam entender. Este pode ser um desafio para os que já estão integrados na igreja, mas é crucial para ajudar os novos convertidos. 3. Prática da paciência e do ouvir atentamente. 4. Prática da honestidade e da transparência de se falar sobre expe- Potencial da Disciplina As experiências têm mostrado que um novo convertido responsivo pode ser discipulado para discipular outros novos convertidos dentro de 1 ano, dobrando assim o número de discipuladores a cada ano. O pastor precisa avaliar o número de discipuladores potenciais em sua igreja, os quais pode treinar, considerando um potencial de crescimento numérico da igreja se todos os anos o discipulador dobrar esse número. Por exemplo, se ele treinou 10 discipuladores, os quais cada um discipulou e acrescentou um discipulador no primeiro ano, o resultado em 5 anos pode ser de 320 discipuladores na igreja (10+10=20+20=40+40=80+80=160+160=320). O plano de Deus produz os melhores resultados em transformar a vida do indivíduo crente e os melhores resultados na multiplicação do número de crentes. Conclusão Discipular todas as nações é a descrição do trabalho do Comandante-em-Chefe para Sua Igreja. Quando estivermos diante dEle, qual será nosso registro de obediência para aqueles a quem nós lideramos como pastor e para nossa vida como seguidores? Quantos estaremos presentes diante do Senhor como resultado de nossa obediência? Podemos ter uma visualização prévia dessa celebração futura vendo agora como o discipulado de novos convertidos traz uma vida nova e em crescimento para a igreja. Essa tarefa frutífera de amar os bebês espirituais aumenta grandemente a fé e a satisfação dos pais espirituais nos bancos da igreja. Quando os discipuladores se tornam avós espirituais, a alegria é ainda maior. Não há melhor expressão que “o aperfeiçoamento dos santos para a obra do ministério” de acordo com “o trabalho eficaz” de cada parte individual (Ef 4.12,16) do que um ministério de discipulado de novos convertidos que treina novos crentes para se tornarem discipuladores na seara, juntamente com aqueles que os discipularam. Foi tudo plano de Deus e o Reino tem sofrido com a negligência. O Reino floresce quando somos fiéis para seguir as instruções, e Pai, Filho e Espírito Santo se alegram com isso. Que possamos preservar e multiplicar a colheita, usando os métodos já exemplificados e prescritos pelo Senhor da colheita. JIM HALL é fundador do New Life Christian Ministries, em Springfield, Missouri (EUA). Como missionário das Assembleias de Deus americanas, Jim se concentra nos maiores centros populacionais dos EUA, incluindo treinamento de evangelismo e discipulado, publicação de materiais utilizados em cursos de treinamento, e apoio a pastores urbanos em mais de 35 cidades de atividades do Urban Bible Training Centers. RECURSOS ESPIRITUAIS • 25 Valorizando o Início da Vida: Aconselhamento Premarital e Bioético Pastores têm o privilégio de assentar as pedras para a fundação de um lar cristão ao ajudar casais noivos a lidarem com questões potencialmente difíceis sobre planejamento familiar. U ma das grandes alegrias do ministério pastoral é o privilégio de orientar as pessoas através de marcos importantes em sua vida, como unir duas vidas em matrimônio. Durante o aconselhamento prenupcial, os pastores têm a oportunidade para educar casais novos sobre várias questões relacionadas à vida conjugal, incluindo questões bioéticas. Vamos explorar as questões bioéticas que casais em fase inicial da vida marital enfrentarão e maneiras que os ensinos sobre essas questões podem ser integradas neste aconselhamento prenupcial. Perspectivas Culturais X Perspectivas Bíblicas sobre a Gravidez Quando se aproxima o dia do casamento, os casais se envolvem em um sentimento de euforia por compartilhar a vida juntos como marido e mulher. A ideia de se tornarem pais e compartilharem a vida como uma família geralmente parece uma possibilidade distante, um momento da vida que ainda está por vir. Entretanto, o aconselhamento premarital oferece uma oportunidade ideal para discutir questões relacionadas à gravidez. Tais questões incluem escolhas em relação ao momento certo para a gravidez e o número desejado de filhos, assim como os assuntos relacionados às tecnologias de reprodução. A idade com que o casal está se casando influenciará sua visão sobre o tempo ideal para engravidar. Um casal com mais ou menos 20 anos de idade pode ter objetivos que esperam alcançar antes mesmo de começar uma família. Por exemplo, um ou ambos podem ter o desejo de terminar os estudos ou estabelecer uma carreira ou mesmo de alcançar um certo nível de estabilidade financeira antes de ter filhos. Casais casando-se com mais de 30 anos de idade pode já ter conseguido o término de seus estudos, e alcançado objetivos de carreira e financeiros e estarem prontos para ter filhos. Enquanto há sabedoria em um casal que espera ter filhos ou enquanto eles fortalecem seu relacionamento como casal, as crianças jamais devem ser vistas como um fardo ou impedimento para alcançar outros objetivos. Uma visão bíblica da gravidez é que: “Eis que os filhos são herança do Senhor e o fruto do ventre, o seu galardão” (Sl 127.3). Um dos primeiros mandamentos de Deus para a humanidade foi “... Frutificai, e multiplicai-vos, ...” (Gn 1.28). Se tivermos uma visão CHRISTINA M.H. POWEL, PhD, ministra norte-americana ordenada e cientista de pesquisas médicas, prega em igrejas e conferências em todos os EUA. Ela é pesquisadora na Escola de Medicina de Harvard e no Hospital Geral de Massachussets, assim como fundadora do Life Impact Ministries. 26 • enrichment | MARÇO 2010 panorâmica da vida, a capacidade de ter filhos que serão o futuro de nossos dias na terra é um dos maiores presentes de Deus para nós. Os filhos trazem um sentido tal para a nossa vida que transcende o limite de nossa expectativa de vida. Infelizmente, a urgência se sobrepõe à importância. A pressão dos objetivos neste momento pode ficar no caminhos dos objetivos a serem alcançados no longo prazo. O objetivo de criar filhos para Deus pode ser deixado de lado devido às preocupações do momento. Nossa cultura valoriza as aparências externas e o sucesso profissional. Em um ambiente como este, os sacrifícios que a maternidade exige de uma mulher, como as mudanças físicas que aparecem com a gravidez e a diminuição de tempo disponível para o crescimento profissional que ocorrem após o nascimento de um filho, podem persuadi-la a demorar ou até a evitar ter filhos. Semelhantemente, a valorização de nossa cultura à acumulação de riqueza material pode dissuadir o homem de abraçar a paternidade até que ele sinta que tenha aumentado suficientemente seu potencial de ganho. Para o casal cristão, todo filho é planejado por Deus, mesmo que seu nascimento não tenha sido planejado por seus pais (Sl 139.15, 16; Ef 1.4-14). Embora possa ser aconselhável a um casal tomar precauções para tentar controlar o número de filhos e o espaçamento entre eles, um casal cristão deve estar preparado para amar e aceitar toda criança que vier. Como parte da preparação para o casamento, casais devem ser encorajados a verem os filhos como bênçãos de Deus e aconselhados a terem a responsabilidade de criá-los com seriedade. Finalmente, os casais devem ser aconselhados a discutirem decisões sobre planejamento familiar com oração (Tg 1.5), comunicação honesta com o cônjuge (Ef 4.25) e respeito pela santidade da vida humana (Jr 1.5). O Que Torna a Vida Humana Sagrada? Quando falamos da santidade da vida humana, estamos afirmando o fato de ela ser sagrada. Sagrado significa pertencente a Deus. A vida humana pertence a Deus. “Porque nenhum de nós vive para si e nenhum morre para si. Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. De sorte que, ou vivamos ou morramos, somos do Senhor.” (Rm 14.7,8). A vida humana é eterna (Mt 25.46). Além disso, a vida humana é sagrada porque fomos feitos à imagem de Deus (Gn 5.1). A vida humana é única em relação a todas as outras que Deus criou, e na qual Jesus Cristo veio dos céus e Se tornou homem (Jo 1.14) para salvar-nos (1Tm 1.15). Em contrapartida, temos a liberdade de escolher acreditar em Cristo e sermos reconciliados com Deus (Jo 3.16). O Evangelho salienta a santidade da vida humana. Uma vez que a Bíblia é tão clara acerca do caráter sacro da vida humana, a pergunta que devemos fazer é: Quando a vida começa? Quando a Vida Começa? Quando você, como pessoa, passou a existir? Foi quando como uma criança que dá seus primeiros passos cambaleantes? Ou quando você tinha um dia de idade? Você existia enquanto estava no ventre de sua mãe e seu coração começava a bater de forma ritmada? Você existia quando era apenas um conjunto de células contendo o código genético único que definia suas características físicas? Quando era um óvulo não fertilizado, sua vida já tinha começado? O desenvolvimento humano é um continuum da concepção ao fim da vida. Um blastocisto (um conjunto de células que mais tarde forma um embrião e uma placenta) difere grandemente de uma criança trôpega comendo pão e bebendo leite na mesa da cozinha de casa. Porém, se precisarmos traçar uma linha para marcar o começo de uma nova vida, esta linha é mais logicamente traçada na concepção. Um óvulo não fecundado ainda não possui o código genético completo necessário para definir um indivíduo. Porém, um novo indivíduo com código genético único é formado no momento em que o óvulo é fertilizado. Com o tempo e a nutrição apropriada, aquela célula única é capaz de se desenvolver em um ser humano adulto composto por mais de dez trilhões de células especializadas. A Bíblia que a presença de Deus e Seu A Bíblia afirma que a presença de Deus e Seu propósito para nossas vidas são estabelecidos enquanto ainda estamos no ventre de nossa mãe (Sl 139.12-16; Lc 1.39-44). RECURSOS ESPIRITUAIS • 27 Valorizando o Início da Vida: Aconselhamento Premarital e Bioético propósito para nossas vidas são estabelecidos enquanto ainda estamos no ventre de nossa mãe (Sl 139.1216; Lc 1.39-44). Deste modo, concluímos que Deus valoriza as crianças que ainda nem nasceram. É importante que o marido e a mulher estejam em paz em relação a qualquer que seja o método do planejamento familiar escolhido. Eva: Feita de Forma Terrível e Maravilhosa. O salmista admirava como o corpo humano é feito “... de um modo terrível e tão maravilhoso...” (Sl 139.14). Um exemplo dramático das maravilhas do corpo humano é o ritmo cíclico da fertilidade feminina e da capacidade do corpo de uma mulher de proteger e nutrir uma nova vida humana. O entendimento básico da biologia feminina é inestimável para o homem que se prepara para o casamento. Enquanto esse entendimento pode advir de um livro de ciências, um pastor conduzindo o aconselhamento prenupcial pode proporcionar o guia moral necessário para fazer escolhas sábias sobre questões de reprodução. Aspectos da fertilidade feminina que são importantes entender em relação a decisões relacionadas a planejamento familiar incluem ovulação, alterações no endométrio e regulação de fertilidade hormonal, gravidez e amamentação. Um homem saudável é sempre fértil porque os espermatozóides estão continuamente sendo produzidos dentro de seu corpo a uma taxa de aproximadamente mil por segundo. Uma mulher saudável, porém, é fértil somente uma semana por mês, tipicamente produzindo um óvulo por ciclo mensal. A ovulação é o processo através do qual cada óvulo é produzido e liberado por um folículo ovariano. O óvulo morre se não for fecundado no prazo de 24 horas de ovulação. A concepção ocorre quando o espermatozóide fecunda o óvulo. A ovulação ocorre uma vez por mês, porém uma fêmea é considerada fértil quando tem o fluido cervical que consegue manter o espermatozóide vivo enquanto espera o óvulo maduro ser liberado. O espermatozóide pode se manter vivo no corpo de uma mulher fértil por mais de cinco dias. 28 • enrichment | MARÇO 2010 Uma vez que a ovulação acabou, a concepção não é mais possível pelo restante do ciclo da mulher. Métodos de controle contraceptivo baseados em hormônios funcionam principalmente ao evitar a ovulação, embora também tenham o efeito secundário de inibir a movimentação do espermatozóide através do colo do útero por causa do espessamento do muco cervical, evitando assim a fecundação do óvulo. Métodos de controle contraceptivo por barreira evitam que o espermatozóide fecunde o óvulo. Métodos de controle contraceptivo por observação detectam mudanças na temperatura basal do corpo e o muco cervical, que sinalizam ovulação. Estas informações podem ser usadas para prevenir a gravidez. A ovulação é suprimida em uma mulher que está amamentando seu bebê exclusivamente pelo peito, fazendo assim da amamentação um método natural de se ter um espaço de tempo entre cada filho. Porém, se uma mulher escolhe amamentar seu filho através de uma escala ou oferece mamadeira e chupeta além de amamentá-lo, ela pode começar a ovular de novo logo após o nascimento. Uma vez que o óvulo é fecundado, o próximo passo na jornada da concepção é o da implantação. Cerca de uma semana após a concepção, o óvulo fecundado alcança o útero depois da jornada pelas trompas de Falópio. O óvulo fecundado se tornou agora um conjunto de células conhecido como blastocisto. Se o blastocisto conseguir lograr êxito em implantar-se no revestimento endometrial do útero, então a gonadotropina coriônica humana (GCH) será ativada. Este é o hormônio detectado pelos testes de gravidez. Normalmente, neste ponto do ciclo da mulher, o revestimento do endométrio se torna mais espesso, fazendo com que o embrião tenha um lugar aquecido e rico em nutrientes para se implantar. Alguns métodos de controle de natalidade, como o dispositivo intra-uterino (DIU) às vezes funcionam como um impedimento à implantação, embora seu mecanismo de ação primária seja o de evitar a fecundação. Tomando Decisões Conscientes sobre Planejamento Familiar Um dos princípios mais importantes dos cuidados médicos éticos é o consentimento informado. Significa que o paciente aceita uma decisão proposta ou uma intervenção médica após entender a natureza dessa decisão ou intervenção médica; as alternativas razoáveis disponíveis; e os riscos, benefícios, e incertezas relacionadas à intervenção médica; e toda alternativa disponível. Com o princípio de consentimento informado, o casal que estiver fazendo a escolha sobre o controle de natalidade deve ter certeza que entende os riscos e os benefícios do tipo de controle que esteja escolhendo. Em vez de recomendar ou condenar um tipo de controle de natalidade, prefiro sugerir perguntas que o casal deve fazer ao tomar a decisão de planejar uma família. Avanços tecnológicos podem mudar as opções disponíveis para o planejamento familiar de um casal, mas as perguntas sobre a escolha do método do controle de natalidade são atemporais. Se você ensinar um casal a fazer as perguntas certas como parte de uma preparação premarital, ele será capaz de fazer escolhas sábias, tanto agora como no futuro à medida que novas opções se tornem disponíveis. Um bom questionamento para um casal fazer a seu médico sobre métodos de controle de natalidade inclui perguntar sobre os mecanismos de ação dos métodos. O método funciona evitando a ovulação, prevenindo a fecundação ou a implantação de óvulos fecundados, ou através de mecanismos combinados de ação? O mecanismo de ação é desconhecido ou não tão claro? O mecanismo de ação pode variar dependendo de certos fatores, como: quando e como o método é empregado ou a presença de outras condições de saúde? Outras perguntas boas para se fazer ao médico envolvem considerações sobre sua saúde futura. Qual é a eficácia do método? O método é facilmente reversível quando a gravidez for desejada? O método pode afetar uma fertilidade futura? Este método pode levar a um risco maior de gravidez ectópica? Quais são os efeitos colaterais e prejudiciais à saúde para aqueles que adotam o método? Boas perguntas para o casal questionar a si próprio relacionado a métodos de controle de natalidade que estejam considerando incluem: Estamos confortáveis o suficiente com este método para que possamos usá-lo e ser eficaz? Entendemos como empregar corretamente o método? Queremos ter filhos (ou mais filhos) no futuro? Estamos ambos felizes com esta escolha? Esta escolha entra em conflito com nossas crenças sobre a santidade da vida humana? Respeito pelas Necessidades do Cônjuge Ajudar um casal a aprender como fazer uma escolha sábia com relação a um método de planejamento familiar se encaixa na categoria mais ampla de aconselhar casais a respeitarem as necessidades de cada um ao tomarem decisões em seu casamento. O apóstolo Paulo lembra-nos em 1 Coríntios 7.3-6 sobre a importância de satisfazer as necessidades de cada um na intimidade física dentro do casamento. É importante que o marido e a mulher estejam em paz em relação a qualquer que seja o método do planejamento familiar escolhido. Semelhantemente, as considerações em relação à saúde devem ser parte da decisão. Em alguns casos, a mulher pode ter uma condição médica que pode fazer com que a gravidez futura seja um risco. Em outros casos, certos métodos de controle de natalidade podem expor a mulher a um risco maior de coagulação sanguínea, derrame e infarto. O princípio salientado pelo apóstolo Paulo deve ser aplicado dentro do casamento: “Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmos. Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros.” (Fp 2.3,4). Nenhum cônjuge deve se sentir pressionado pelo outro a se submeter a um método que não seja o melhor para sua própria saúde no longo prazo. Enquanto aprende a enfrentar o desafio do planejamento familiar, o casal aprende a respeitar um ao outro e a respeitar o início da vida, ele estará dando um importante passo em direção ao fortalecimento de sua relação. Um dia, seu forte relacionamento conjugal se tornará a fundação sobre a qual uma família cristã poderá ser construída. Os pastores têm o privilégio de assentar as pedras para a fundação de um lar cristão ao ajudar casais noivos a lidarem com questões potencialmente difíceis. Lares fortes fazem igrejas fortes e um testemunho eficaz para o mundo ao nosso redor. Que alegria construir o reino de Deus, casal por casal! Encoraje os casais a verem os filhos como bênçãos de Deus e a terem a responsabilidade de criá-los com seriedade. RECURSOS ESPIRITUAIS • 29 ENRIQUECIMENTO TEOLÓGICO / GARY GROGAN “ Comunicando o Batismo com o Espírito Santo de uma Maneira Nova 30 • enrichment | MARÇO 2010 E todos foram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem.” (At 2.4). Numa nota explicativa sobre deste versículo, Worrell afirma: “esta experiência graciosa — seja considerada imersão no Espírito Santo ou enchimento com Ele, ou o dom do Espírito Santo, é o privilégio de cada cristão verdadeiro (v. 39), e seu dever.” (Ef 5.18). Como ensinarmos este privilégio e dever em nossa cultura póscristã? O Senhor quer batizar cada crente no poder do Espírito. Para que isto aconteça, Ele quer ensinar pastores — como Ele tem feito fielmente em cada época de cada cultura. Como transmitir essa experiência de maneiras novas que alcançarão as pessoas ao invés de afastá-las? Aqui estão algumas maneiras práticas de ministrar o batismo com o Espírito Santo na cultura de hoje. Creia que o Batismo com o Espírito Santo É uma Bênção, Não uma Maldição Líderes missionários trabalham para se comunicar com as culturas para as quais Deus os enviou. A última coisa que eles querem fazer é afastar as pessoas. Por causa disso, alguns líderes desenvolvem uma concepção em relação a pregar ou ensinar sobre o batismo com o Espírito Santo. Ninguém precisa se sentir condenado; esta é uma preocupação legítima, especialmente para aqueles que estão alcançando pessoas com diferentes backgrounds. Os pastores devem se convencer de que o batismo com o Espírito Santo é bíblico e uma experiência viável para sua igreja hoje. Com alguma criatividade e intencionalidade, os pastores podem conduzir seu povo para uma experiência de mudança de vida sem assustá-lo nem afastá-lo. Muitos ministros mais jovens estão se esquivando de círculos pentecostais porque se convenceram de que falar em línguas não é mais teologicamente correto. Em muitos casos, eles lutam com metodologias antigas, mas nem tanto com teologia. Todo mundo que eu conheço que se esquivou de proclamar o batismo fala em línguas em seus momentos particulares de oração. Agora, ao invés de conduzir outros a esta feliz experiência, eles estão “roubando” este dom de outros. Isto é repugnante e desnecessário. O batismo com o Espírito Santo é tanto uma experiência válida e bíblica que Jesus administra Ele mesmo (Lc 24.49). Estou pedindo — não importam as dificuldades — que os pastores simplesmente digam com sinceridade, “Tudo bem, é bíblico”. É por onde devemos começar. O Pentecostes não é uma experiência cultural que nos desliga; é uma experiência de Jesus, experiência bíblica e uma experiência para os dias de hoje. Christian Center, em Indianápolis, Indiana, intitulado “Power-Aide.” Minha jovem e criativa equipe de ministros colocou mais de 100 garrafas de Power-Aide no palco. Toda semana distribuíamos bebidas. Este foi um jeito simples mas muito interessante (e até divertido) de lidar com o batismo no Espírito Santo. Após a terceira mensagem, fomos à frente e louvamos a Deus. Muitos vivenciaram sua própria oração em línguas pela primeira vez. Foi agradável, contemporâneo e fácil. Por várias semanas depois disso, as pessoas nos mandaram e-mails testificando que tinham recebido o batismo enquanto liam suas Bíblias em casa. Uma pessoa recebeu o batismo enquanto dirigia para o trabalho. certas mas que preferiríamos não fazer. Para mim, é como pregar sobre dinheiro. Não gosto de pregar sobre dinheiro, mas quando prego, as pessoas e a igreja são abençoadas por causa da minha obediência. Pastorear seria fácil se tudo o que tivéssemos que pregar fosse a graça, mas não é sempre fácil. Resista à sutil tentação de esperar até que você tenha a questão do batismo com o Espírito Santo resolvida. É simplesmente nosso trabalho como líderes ensinar as pessoas e conduzi-las no caminho. Devemos oferecer oportunidades para o crescimento e fazemos isso quando somos intencionais. É fazer planos e depois trabalhar para que eles se concretizem, assim como fazemos com outras coisas. Evite as Valas do Legalismo e do Liberalismo Queremos o que é melhor para o nosso povo e não queremos que nossa negligência retarde a caminhada com Deus. Relegar o ensinamento sobre o batismo com o Espírito Santo Seja Criativo Quando Ensinar sobre o leva as pessoas a serem críticas, Batismo com o Espírito Santo assim julgadoras e à vala do liberalismo. como Você É em Relação a Outros Com liberalismo, eu quero dizer sem Assuntos. equilíbrio. Eu amo a criatividade e a inovação É melhor dirigir descida abaixo desta geração. Então seja criativo ao do que sair da estrada e cair ensinar esta grande verdade. numa vala. As pessoas podem Use a criatividade que Deus lhe Não é necessário levar os crentes a um retiro para ficar feridas, nossos veículos deu e faça com que seja agradáserem batizados no Espírito Santo. podem ser danificados e, no vel e poderoso. mínimo, atrasaremos a viagem nossa Mark Batterson, pastor da igreja tentação de não fazer nada. ou de outrem. Precisamos lembrar National Community, em Uma igreja luterana em Saint Paul, que nosso chamado é para fielmente Washington, DC, diz que parte da Minnesota, ensina sobre o batismo pregarmos a Palavra (1Tm 4.2). semelhança com Deus é ser criativo. com o Espírito Santo através de Queremos fazer isto de maneira Eu concordo. Ser semelhante a Deus aulas, seminário, retiros e outras forculturalmente relevante. em proclamar a verdade do batismo mas criativas — mais do que a Esta maravilhosa experiência do no Espírito Santo. maioria das igrejas pentecostais e batismo com o Espírito Santo enriUsei uma série de sermões do carismáticas fazem. quecerá grandemente muitas vidas. Pentecost Sunday escrita por Ron Parte da liderança missionária é Precisamos evitar a vala da indifeBontrager, pastor do Lakeview fazer coisas que sabemos serem rença. Precisamos também evitar a vala do legalismo. Os legalistas nunca estão GARY GROGAN é o pastor-presidente da Igreja Stone Creek, Urbana, Illinois (EUA). contentes com o que foi dito ou feito. Seu blog é: http://papagrogan.blogspot.com/ Eles estão certamente sem equilíbrio. Legalistas geralmente comparam o Seja Intencional Programe um estudo bíblico individual ou uma série curta sobre batismo no Espírito Santo. Ao contrário de ignorar o batismo com o Espírito Santo, programar esta série forçará você fazê-lo funcionar na cultura de sua igreja e comunidade. Programe um retiro com o tema “Batismo com o Espírito Santo” e no final desta série de estudos comece uma aula ou seminário sobre o assunto. Resista à RECURSOS ESPIRITUAIS • 31 Comunicando o Batismo com o Espírito Santo de uma Maneira Nova Pentecostes com certos estilos de pregar, cantar e outras metodologias. Tendem a rejeitar qualquer coisa que não entendam. Uma legalista pentecostal adentrou nossa igreja enquanto eu estava ensinando sobre o batismo com o Espírito Santo. Eu ensinei como se fosse uma conversa e então tivemos um pequeno momento de louvor e oração em volta do altar por mais ou menos 10 minutos. Aproximadamente 20 pessoas começaram a falar em línguas pela primeira vez naquela manhã, incluindo Erika Harold, Miss América 2003. Essa legalista pentecostal veio a mim após o culto e disse, “De jeito nenhum aquelas pessoas foram batizadas de fato no Espírito Santo”. Perguntei por que ela se sentia daquela maneira e ela me respondeu, “Porque não foi alto o bastante e não havia uma emoção real”. Ela estava presa na vala do legalismo. Para ficarmos fora de ambos os buracos, precisamos lembrar que nenhum de nós pode salvar ninguém, então por que achamos que podemos encher alguém com o Espírito Santo? Em ambos os casos, nós simplesmente ensinamos a Palavra de Deus e criamos uma atmosfera, então Deus faz Sua parte. Pregue sobre salvação e as pessoas serão salvas. Pregue o batismo com o Espírito Santo e os crentes serão batizados. Nós obtemos o que pregamos. Para ficar fora das valas os pastores também precisam se libertar da pressão de pensar que sempre precisam ter um culto no altar. Treine pessoas para estarem em grupos de oração e tenha-os sempre disponíveis para orar por pessoas que querem ter um compromisso público com Jesus e por aqueles que querem ser cheios do Espírito Santo. Não é necessário convidar alguém com o perfil de Billy Graham para ver pessoas serem salvas, e não é necessário levá-las a um retiro para serem batizadas no Espírito Santo. O públi32 • enrichment | MARÇO 2010 co de hoje jamais processará uma metodologia antiga. Isso poderá esfriar ou espantar as pessoas. Nem sempre as pessoas reagem imediatamente à mensagem de salvação. O mesmo acontece com o batismo com o Espírito Santo. As pessoas não darão sempre uma resposta imediata, mas eventualmente algumas responderão. Ore para Que seu Povo Seja Batizado com o Espírito Santo. Orar para que as pessoas sejam batizadas não requer dons nem habilidades especiais. Nós simplesmente ensinamos a Palavra de Deus de maneira criativa, aprendemos a nos conectar com a cultura e não a alienar as pessoas; então oramos ao Senhor para que salve e batize Seu povo. Encorajo jovens líderes/pastores a orar: “Jesus, preciso que batize essas pessoas com o Espírito Santo. O Senhor disse que batizaria e eu estou pedindo para que batize”. Lance a Ele suas preocupações sobre pessoas que ficam estranhas, eufóricas e mal-assombradas. Peça para que Ele cuide disso. Eu pastoreio em uma cidade que possui uma grande universidade onde pessoas de vários estilos de vida frequentam nossos cultos. Tentamos fazer as coisas com ordem e excelência. Quero que as pessoas se relacionem com Deus através da salvação e do batismo com o Espírito Santo, mas não quero que coisas culturais pentecostais afugentem-nas. Eu disse ao Senhor que não estou envergonhado, mas que Ele precisa me ajudar a fazer todo o trabalho neste nosso ambiente. No passado, algumas igrejas americanas pentecostais deixaram de lado o batismo quando cresceram ou o deixaram para os domingos ou as quartas-feiras à noite. Com essa grande mudança cultural que vimos com o fim dos cultos nos domingos à noite, é imperioso que aprendamos como ensinar o batismo com o Espírito Santo de maneiras relevantes nos cultos de domingo de manhã, nas nossas reuniões de jovens ou de adultos, e outras reuniões importantes. Admita seu Medo e Faça uma Desfragmentação Paulo disse ao jovem Timóteo: “Porque Deus não nos deu o espírito de temor, mas de fortaleza, e de amor, e de moderação.” (2Tm 1.7). Assim como um computador precisa ser desfragmentado de vez em quando, precisamos fazer o mesmo. Precisar nos SEIS PASSOS que lhe ajudarão a receber o batismo com o Espírito Santo 1. Sede — Marcos 11.24; Mateus 5.6 2. Peça — Mateus 7.7 3. Olhe para Jesus — Atos 1.8 4. Receba — Gálatas 3.14 5. Louve — Salmos 22.3 6. Fale em uma línguas desconhecidas — Salmos 81.10 — GARY GROGAN, Urbana, Illinois livrar de coisas que não prestam, como o medo, que nos desacelera e nos afasta de fazermos o que sabemos que deveríamos fazer. Não podemos nos dar ao luxo de ceder aos nossos medos e apreensões. O desejo supera o medo e a intimidação. Se tivermos simplesmente o desejo e pedirmos ao Senhor que realmente nos ajude, Ele o fará. Se formos fiéis, Ele será fiel e batizará os crentes com Espírito Santo. Você não precisa perder a cabeça e frequentar um show evangélico para ensinar a verdade sobre o batismo com o Espírito Santo. Mas você precisa mesmo é estar disposto a pregar “... a palavra instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreenda, exortes, com toda a longanimidade e doutrina.” (1Tm 4.2) como prometeu fazer quando foi consagrado ao ministério do Evangelho pleno. Como homens e mulheres de integridade, os pastores devem fazer o que prometeram ao Senhor que fariam. Precisamos de alguns ministros jovens e destemidos para nos mostrar como fazer isto na cultura póscristã. Pastores não precisam pregar sobre o Espírito Santo toda semana, mas precisam estar dispostos a pregar esta importante doutrina pentecostal. Talvez, uma série de estudos sobre o tema seja suficiente. Se não há pecado algum em se pregar sobre Encarnação e Ressurreição somente perto do Natal ou da Páscoa, por que alguns hiperpentecostais acham que abandonamos o ensino sobre o batismo com Espírito Santo por pregarmos apenas uma vez por ano? Não deixe que legalistas arruínem sua pregação sobre batismo com o Espírito Santo. Você pode mencionar batismo com o Espírito Santo em seus ensinamentos no decorrer do ano dizendo: “Alguns de vocês precisam buscar o batismo com o Espírito Santo para ver se é verdade assim como fizeram ao clamar por Cristo. Esta é uma igreja bíblica. Prometo-lhes que eu não ensinaria a esse respeito se não estivesse na Palavra. Veja se Deus tem uma língua estranha de oração para você.” A maneira como dizemos as coisas irá libertar pessoas ou esfriá-las. Como líderes missionários, estamos tentando nos aproximar e alcançar as pessoas — não espantá-las. Também falo sobre o batismo com o Espírito Santo no final dos cultos de oração, quando as pessoas estão em torno do altar. Mostro um esboço no PowerPoint e passo pelas noções básicas do batismo com o Espírito Santo (veja na página anterior “Seis Passos para Receber o Batismo com o Espírito Santo”). Quase sempre as pessoas recebem o batismo e começam a orar em uma língua que jamais aprenderam. A atmosfera em uma reunião de oração é diferente da dos cultos de domingo quando estas mais parecem um Cristianismo de vitrine. Eu não me constranjo de ser pentecostal. É apenas uma questão de tentar ser sábio e alcançar o maior número de pessoas possível para Cristo. Afinal de contas, esta é a principal razão de Jesus ter dito para recebermos esta promessa do Pai, para que nós pudéssemos ser Suas testemunhas (At 1.4,8). Muitas pessoas criam suas ideias sobre Pentecostes por causa de filmes como O Apóstolo ou por causa de programas evangelísticos na TV, muitos dos quais a cultura até zomba. Por causa desses obstáculos, muitos temem ensinar e orar por pessoas para que sejam batizadas com o Espírito Santo. Desfragmente seu medo e ensine sobre o batismo de uma maneira que não transgrida sua personalidade ou a cultura de sua igreja. Estilos que funcionam em acampamentos, retiros e convenções geralmente não funcionam em cultos de domingo. Não tem problema. Concluindo Peço desculpas à nossa geração de jovens ministros que, às vezes, sentem-se abandonados. Perdoem minha geração por não sermos pais espirituais melhores. Perdoem-nos por fazermos metodologias e programas sagrados. Por favor, evitem nossos erros e abracem o batismo com o Espírito Santo. Minha palavra para nossos jovens ministros é: “procurai com zelo, profetizar e não proibais falar línguas.” (1Co 14.39, grifo meu). Eu gosto muito de orar em uma língua que jamais aprendi. Muitas vezes eu não sabia o que fazer, mas quando eu oro no Espírito, o Senhor me dá uma palavra de sabedoria, profecia ou discernimento, para trazer a cura e ajudar uma pessoa ou situação. Muitas pessoas que eu conheço e amo que estão tentando alcançar os sem igreja precisam da plenitude do Espírito Santo para ajudá-las. Seja Joel Gross em Minneapolis, Brad Riley na Universidade do Colorado, em Boulder, ou Terry Austria na Universidade de Illinois, em Urbana, perceberam que sem a ajuda do Espírito Santo eles não podem alcançar as pessoas em suas próprias culturas. Nenhum de nós pode se dar ao luxo de deixar de lado o batismo com o Espírito Santo quando pregamos. Devemos aprender a fazer melhor as coisas e desacreditar nos mitos pentecostais. O batismo com o Espírito Santo é uma benção tremenda para toda pessoa que o recebe. Como jovem ministro, seja criativo, intencional, fique longe das valas, ore para que o Senhor batize Seu povo, e faça uma desfragmentação de seus medos. Nós todos encontramos dificuldades. Ministrar o batismo com o Espírito Santo em uma cultura poscristã é um desafio para qualquer jovem líder. Mas saiba que você é amado, acreditado e é lhe dado um caminho adicional para descobrir coisas. Que não nos afastemos uns dos outros. Que possamos nos abraçar enquanto estivermos nesta jornada juntos. Estou passando o bastão para você. RECURSOS ESPIRITUAIS • 33 ENRIQUECIMENTO TEOLÓGICO / W.E. NUNNALLY Cessação do Miraculoso? A Era dos Apóstolos Através da Perspectiva Bíblica, Extrabíblica, Lógica e Teológica Os cessacionistas dizem que os dons espirituais se foram junto com a Era dos Apóstolos. Será que os pentecostais estão preparados para compartilhar porquê acreditam em um Deus miraculoso hoje? À direita: Pedro e João curam o coxo à porta do templo chamada Formosa. (At 3.1-10) C om muita frequência as pessoas pedem aos pentecostais para explicarem o porquê de sua crença e daquilo que praticam. Muitos, infelizmente, não estão “preparados para responder a qualquer pessoa que lhes pedir.” (1Pe 3:15 NVI) . Isto deve-se geralmente a um de dois fatores: ou os pentecostais não estão bem alicerçados na evidência ou não ponderaram a respeito daquilo que está por trás do conteúdo e das práticas de sua fé. Assim, costumam responder defensivamente, com vergonha ou apelando para experiências pessoais. Seus ouvintes facilmente descartam esses apelos com um “Serve para você mas não tem relevância W.E. Nunnally, PhD, professor de Judaísmo Antigo e Origens Cristãs na Evangel University, Springfield, Missouri (EUA). 34 • enrichment | MARÇO 2010 para nós”. É importante, então, que os pastores preparem melhor os membros de sua igreja para que possam compartilhar com outros a razão dos pentecostais confiarem em Deus, hoje, para o miraculoso. Uma pergunta frequentemente feita aos pentecostais é: por quê acreditar que milagres, dons do Espírito, revelações pessoais e intervenções divinas continuam acontecendo nos dias de hoje? A maioria dos cristãos à parte das tradições pentecostais ou carismáticas crê que essas manifestações do Espírito tenham cessado quando morreu o último apóstolo, período comumente conhecido como o fim da Era dos Apóstolos. Esse termo representa a crença de que o poder revelador e miraculoso de Deus, ausente por mais de 400 anos, foi restabelecido entre os homens por volta de 30-90A.D. Segundo essa teoria, com o fim da Era Apostólica, esses poderes foram novamente recolhidos ao céu, de onde aguardam o retorno de Cristo. Contestando os Argumentos Lógicos e Históricos para uma Era Apostólica A expressão Era dos Apóstolos é comumente usada entre os teólogos dispensacionalistas e da Aliança, que também o associam a um assunto relacionado — o encerramento do cânon bíblico. Ambos os lados tentam usar a doutrina da Era Apostólica para proteger e justificar o fim e o conteúdo do cânon do Novo Testamento. A justificativa seria que o fim desse período apostólico na história da Igreja tenha colocado uma pausa natural e lógica na revelação. Isso, por sua vez, marcou a conclusão dos escritos divinamente inspirados, os quais chamamos de Novo Testamento. Não há necessidade, entretanto, de atribuir o encerramento do processo canônico aos homens, seja pelo voto (o cânon do Novo Testamento havia se tornado realidade centenas de anos antes de qualquer conselho eclesiástico oficialmente ratificá-lo) ou pela morte de todos os apóstolos. A expressão Era dos Apóstolos e o conceito que ela representa não podem ser encontrados no Novo Testamento. Isso significa que a doutrina da Era dos Após- tolos e suas consequências — o fim da revelação e o encerramento do cânon — são ideias (ou revelações) posteriores ao Novo Testamento. Se for este o caso, temos uma contradição lógica. Não se pode logicamente afirmar a cessação de revelação por ocasião do encerramento da escrita do Novo Testamento enquanto se afirma, ao mesmo tempo, receber revelação adicional após a conclusão desse processo. A posição cessacionista baseia-se apenas em inferências extrabíblicas e pósbíblicas. Essa inferência, entretanto, parece ter alcançado status canônico (autoridade equivalente à da Bíblia) por aqueles que aderem a essa posição. Isso é evidenciado pelo fato de as comunidades de fé que mantêm a crença na Era dos Apóstolos terem permitido que esse conceito traduza sua fé e conduta. Já que os assuntos de fé e de conduta na cristandade protestante devem ser informados exclusivamente por revelação divina, pode-se dizer que essa posição extrabíblica tenha alcançado um status anteriormente reservado somente à Bíblia. Ironicamente, em uma tentativa de preservar o status único das Escrituras, os indivíduos e as comunidades adeptos da teoria cessacionista elevaram eles mesmos sua própria revelação extrabíblica ao mesmo status da Bíblia, um ônus normalmente atribuído a pentecostais ou a carismáticos. Defensores da doutrina da Era dos Apóstolos também tentam sustentar sua crença com a referência ao encerramento do cânon do Antigo Testamento. Afirmam que a revelação e os milagres cessaram com o último profeta do Antigo Testamento — o que para eles é análogo à relação dos apóstolos com o Novo Testamento, revelação e milagres na Era da Igreja. À primeira vista, esse argumento parece defensável. Em análise mais profunda, contudo, parece também ter sido mal formulado. Primeiramente, assim como o Novo Testamento, o cânon do Antigo Testamento foi determinado pelo uso dentro da comunidade da fé e não pelo voto de um corpo oficial ou pelo tempo de vida de qualquer indivíduo ou indivíduos. Acima: O derramemento do Espírito Santo no dia de Pentecostes. (At 2.1-4) A posição dos cessacionistas baseia-se apenas em inferências extrabíblicas e pós-bíblicas que chegam parecer ter alcançado status canônico. RECURSOS ESPIRITUAIS • 35 A Era dos Apóstolos Através da Perspectiva Bíblica, Extrabíblica, Lógica e Teológica A Igreja Primitiva acreditava que a atividade de Deus na história redentora permaneceu constante — da criação à encarnação e à consumação. Em segundo lugar, profecia e milagres encontram-se bem documentados em literatura relacionada ao período intertestamentário, como Flávio Josefo, Os Pergaminhos do Mar Morto, literatura rabínica antiga, os Livros Apócrifos e os Pseudepígrafos. Em terceiro lugar, relatórios históricos no Novo Testamento registram eventos que ocorreram durante o período intertestamentário. Tanto Mateus como Lucas relatam revelações, intervenções angélicas, profecia e milagres que antecedem a concepção, o nascimento e o ministério de Jesus. Zacarias recebeu revelação e proferiu profecia (Lc 1:11-20, 67-79). José recebeu revelação sobrenatural e direção através de sonhos (Mt 1:20-24; 2:13, 19-22). Maria recebeu revelação e proferiu um cântico inspirado (Lc 1:26-38, 46-55). Simeão recebera uma revelação muito antes dos eventos que envolveram o nascimento de Jesus e de João Batista (Lc 2:25, 26). Assim como os pastores (Lc 2: 8-16), Simeão havia recebido direção divina (v. 27). Tanto Maria como Isabel experimentaram concepções miraculosas (Mt 1:18,20; Lc 1:13,24,36, 37,57). Os reis magos obtiveram orientação divina através de um sinal sobrenatural (Mt 2:1,2,9,10) e de um sonho (v. 12). Estes e muitos outros eventos sobrenaturais importantes mostram que, no Novo Testamento, as revelações divinas e os milagres estavam acontecendo antes do nascimento e do ministério de Jesus. Deve-se concluir, com base nessas observações, que não houve cessação do profético nem do miraculoso na história de Israel antes da vinda de Jesus. A reconsideração desse dado relevante não apenas remove a fundação do argumento a favor da cessação baseado em paralelos do Antigo Testamento, como também é uma contrapartida. A Imutabilidade de Deus, O Sacramento da História e a Diferença entre Inspiração e Canonização Nosso Deus — o Deus da Bíblia, o Deus histórico de Israel — é um Deus de 36 • enrichment | MARÇO 2010 firmeza. Não é excêntrico ou instável, da maneira como os deuses pagãos geralmente eram retratados na mitologia antiga. O Deus da Bíblia é um Deus de fidelidade em Suas alianças. Ele não muda (Sl 55: 19; 102:27; Is 46:4; Ml 3:6; Hb 1:12) e Sua Palavra não muda (Is 40:8). Ele é o mesmo ontem, hoje e para sempre (Hb 13:8). Ele “não muda como sombras inconstantes.” (Tg 1:17 - NVI). Ele lida com o homem firmemente e Suas formas de lidar com o homem mostram continuidade. O assunto de que tratamos não é exceção. Já que as maneiras milagrosas de Deus lidar com Seu povo continuaram entre os Testamentos, não há precedente ou necessidade lógica que nos faça crer que Ele agiria de outra maneira no final do NT. Uma discussão sobre desenvolvimentos intertestamentários deve também tratar de algumas questões levantadas com a referência ao período intertestamentário. Primeiramente, toda a história é sagrada. Deus esteve envolvido nas vidas de Sua criação durante o período intertestamentário da mesma maneira como esteve em outras épocas. Muitas profecias contidas no livro de Daniel, por exemplo, cumpriram-se no período intertestamentário. Além disso, o Novo Testamento cita exemplos (mencionados acima) da atividade de Deus antes do início do período do Novo Testamento. Portanto, Deus tinha Sua mão na nação judaica, na tribo de Judá, na família de Jessé e em uma linhagem específica da família de David. Também é evidente que Deus direcionou a propagação dessa linhagem até mesmo durante o período intertestamentário e que Ele finalmente fez com que o Messias nascesse dessa árvore genealógica específica. O fato de que Deus estava no controle desse processo, até no período intertestamentário, é evidenciado pela inclusão de nomes dessa época na genealogia de Jesus (Mt 1:13-16; Lc 3:23-27). A totalidade dessa história era evidentemente importante, pois o Espírito Santo orquestrou a narrativa de toda a História. O Espírito Santo não fez nenhuma distinção entre as histórias secular e sagrada (ou bíblica) nas genealogias de Jesus registradas por Mateus ou Lucas. Além disso, a preservação desses versículos pela Igreja Primitiva e sua atitude com relação aos mesmos sugerem que eles acreditavam que a atividade de Deus na história redentora permaneceu constante (incluindo a orquestração divina da história humana, a revelação e o miraculoso) — da criação à encarnação e à consumação. A Igreja Primitiva foi uma Igreja verdadeiramente pentecostal. Em segundo lugar, devemos fazer uma distinção entre atividade profética e Escritura canonizada. Em muitas igrejas pentecostais da atualidade, a voz autêntica de profecia ainda é ouvida. Contudo, essas profecias dos dias de hoje não são iguais às das Escrituras. O cânon bíblico não se encontra mais aberto e tais profecias não deveriam ser incluídas no cânon das Escrituras. Essas mensagens de Deus para Seu povo são para um tempo, lugar e situação específicos. Elas não prescrevem questões de fé e conduta para todo mundo, em todos os tempos, em todos os lugares. Além disso, sua legitimidade deve ser julgada pelo padrão da Palavra de Deus revelada, a Bíblia. A atividade profética do período intertestamentário deve ser vista de forma semelhante. Essas profecias representam as necessidades e as reflexões piedosas das comunidades individuais de onde se originaram. O fato de a profecia ser um meio de comunicação é uma questão de registro histórico. Seu status literário como não canônico, o qual reflete o processo dirigido por Deus pelo qual o cânon foi formado, também é uma questão de registro histórico. Todo o restante é para provar que a relação entre o Antigo Testamento e a profecia intertestamentária é análoga à relação que existe entre o Novo Testamento e a profecia dos dias de hoje. Antigo e Novo Testamentos são Escrituras canonizadas. Como tal, representam o auge de um processo sob a direta orientação de Deus. As Escrituras são normativas — eternamente relevante — e são nossa única regra de fé e conduta. A profecia intertestamentária não o era e a profecia dos dias modernos também não o é. Nenhuma delas passou por um processo de uso popular e universal, divinamente dirigido. Nenhuma delas é eternamente relevante ou normativa. Ambas estão condicionadas pelo tempo, pelo lugar e pela situação e, portanto, não possuem a autoridade intrínseca para ditar questões de fé e prática. No período intertestamentário, a comunidade da fé precisava da voz da profecia. Muito embora tivesse a Bíblia (o Antigo Testamento), ela necessitava ouvir a voz profética de reprovação, correção, desafio, esperança, encorajamento e chamada ao arrependimento, uma vez que lidava com situações contemporâneas. Deus em Sua sabedoria e constância instilou uma dinâmica semelhante em nossa comunidade de fé. Embora tenhamos a Bíblia (Antigo e Novo Testamentos), Deus continua a envolver Sua igreja com a voz da profecia. Ele conhece intimamente a natureza do homem (Gn 6:5; Sl 103:14; 139; Mt 7:11; Rm 3:23). Através dos tempos, a natureza do homem e sua necessidade de ouvir a voz profética de Deus não mudaram. Semelhantemente, a natureza de Deus não mudou. Ele ainda ama Sua criação, tem um plano para ela e deseja dinamicamente comunicar Seu plano para cada geração. A Era dos Apóstolos Versus O Ensino do Novo Testamento O Novo Testamento testifica contra a teoria de uma Era dos Apóstolos e a cessação de profecia e de outros fenômenos sobrenaturais. Efésios 4:11 nos diz que Deus concedeu dons à igreja através de indivíduos que trabalham como apóstolos, evangelistas, pastores e mestres. Os que defendem uma era apostólica e a cessação do miraculoso devem estar sendo seletivos com esse versículo. Por um lado, ninguém afirmaria que os postos de evangelista, pastor e mestre tenham se tornado ineficientes. Por outro lado, os cessacionistas precisam sustentar o argumento de que os postos de apóstolo e profeta já não O apóstolo Paulo, na prisão, escrevendo sua epístola aos Efésios Embora tenhamos a Bíblia, Deus continua a envolver Sua Igreja com a voz da profecia. RECURSOS ESPIRITUAIS • 37 A Era dos Apóstolos Através da Perspectiva Bíblica, Extrabíblica, Lógica e Teológica A imaturidade e inadequabilidade da igreja no passado e no presente estão diretamente relacionadas à falta de respeito e de ênfase que os dons carismáticos têm sofrido. 38 • enrichment | MARÇO 2010 existem devido à sua natureza carismática e reveladora. O problema com essa posição é sua abordagem puramente arbitrária. A intenção dos autores humano e divino dessa passagem era que essa lista fosse considerada como um todo. Não há nenhuma indicação de que exista uma distinção na lista com respeito à duração de alguns dons e de outros não. Mexer, truncar ou fazer uma linha de distinção entre os elementos dessa lista é uma violação ao texto. Paulo, entretanto, coloca limitações temporais em toda a lista. A passagem de fato indica que todos esses postos de trabalho acabarão no final. A questão, no entanto, não é “qual?”, mas “quando?”. Os versículos 12 e 13 claramente tratam dessa questão. Esses postos são concedidos “com o fim de preparar os santos para a obra do ministério, para que o corpo de Cristo seja edificado, até que todos alcancemos: 1. a unidade da fé 2. e do conhecimento do Filho de Deus, 3. cheguemos à maturidade, 4. atingindo a medida da plenitude de Cristo.” (NVI). Nenhum cristão conseguiu atingir plenamente esses alvos. Dessa forma, todos os cargos de Efésios 4:11 ainda são necessários para amadurecer a Igreja. Pode-se mesmo sugerir que a imaturidade e inadequabilidade da Igreja no passado e no presente estão diretamente relacionadas à falta de respeito e de ênfase que os dons carismáticos têm sofrido. “Os membros do corpo que parecem mais fracos são indispensáveis. ... Quando um membro sofre, todos os outros sofrem com ele.” (1Co 12:22,26; observe que o contexto se refere especificamente ao assunto em questão). Um segundo texto a considerar é Romanos 11:29, “pois os dons e o chamado de Deus são irrevogáveis”. Obviamente, os “dons” aqui mencionados não são os dons de 1 Coríntios 12. Nesse sentido, o contexto imediato dessa passagem não está relacionado com as passagens citadas acima. Contudo, o princípio básico em vigor é relevante. Romanos 11:29 fala da fideli- dade e da firmeza de Deus em lidar com o homem. Não só Sua natureza imutável O impede de anular Suas promessas para o Israel étnico, como Sua natureza também O impede de ab-rogar Sua promessa de conceder os dons do Espírito ao homem no decorrer da Era da Igreja. Uma terceira passagem que requer atenção no atual contexto é a de Atos 2:39. Nesse primeiro sermão cristão, numa situação escatologicamente intensa, Pedro declarou que a promessa de Deus para conceder o Espírito Santo — completa, com os fenômenos que acompanham Sua residência dentro de um ser humano — “ é para vocês, para os seus filhos e para todos os que estão longe, para todos quantos o Senhor, o nosso Deus, chamar.” (NVI). Esse versículo tem sido um locus classicus para a posição pentecostal. O texto sugere que no início da Era da Igreja, no derramamento inicial do Espírito Santo e as manifestações que Ele inspira, Pedro tenha declarado que essa experiência deveria ser a norma para a Era da Igreja toda. Especificamente mencionando, em sequência, a geração presente, a próxima geração e todas as gerações futuras, Pedro dá evidência apostólica explícita para uma crença na importância dessa promessa para todas as gerações. Embora mais obscura, uma quarta passagem importante, sobretudo para uma abordagem bíblica completa, é 1 Coríntios 1:7. Paulo observou que os membros da igreja de Corinto haviam sido “enriquecidos em tudo, isto é, em toda palavra e em todo conhecimento.” (1Co 1:5 - NVI) . A verdade do Evangelho havia sido miraculosamente “confirmada” entre eles “de modo que não lhes falta nenhum dom espiritual.” (vv. 6,7 NVI). O final do versículo 7 demanda nossa atenção. Paulo disse que os irmãos de Corinto estavam sendo enriquecidos, tendo o Evangelho miraculosamente confirmado entre eles, e gozando de cada dom espiritual — embora por um período de tempo específico — “enquanto vocês esperam que o nosso Senhor Jesus Cristo seja revelado.” (NVI). O que Paulo tem em vista é o mesmo espaço de tempo escatológico que ele apresenta em Efésios 4:13 e 1 Coríntios 13:10-12. (Uma discussão desse texto encontra-se abaixo). Os dons carismáticos do Espírito chegarão a um fim. Esse fim não se encontra no encerramento da Era dos Apóstolos ou em nenhum outro momento na história humana. A cessação dos dons miraculosos do Espírito acontecerá quando o tempo já não mais existir — quando o Rei retornar e a ordem deste mundo presente chegar ao fim. Nesse momento, os esforços evangelísticos cessarão. Pecado e doença farão parte do passado. Dons de revelação não serão necessários, pois teremos comunhão imediata e inextinguível com o divino — “face a face” (1Co 13:12; comparar com 1Jo 3:2). Até mesmo os dons de conhecimento sobrenatural perderão sua utilidade nesse estado abençoado, pois, com o retorno de Cristo, “conhecerei plenamente, da mesma forma como sou plenamente conhecido.” (1Co 13:12 - NVI). Um último texto de Paulo, possivelmente o mais negligenciado de todos, aparece em 2 Coríntios 3:3-11. Nessa passagem o apóstolo está comparando o esplendor da dispensação da lei com o da dispensação do Espírito. Ele argumenta: “O ministério que trouxe a morte foi gravado com letras em pedras; mas esse ministério veio com tal glória que os israelitas não podiam fixar os olhos na face de Moisés, por causa do resplendor do seu rosto, ainda que desvanecente. Não será o ministério do Espírito ainda muito mais glorioso? Se era glorioso o ministério que trouxe condenação, quanto mais glorioso será o ministério que produz justificação! ... E se o que estava se desvanecendo se manifestou com glória, quanto maior será a glória do que permanece!” (2 Co 3:7-9,11 - NVI) Paulo traça diversos paralelos interessantes entre as duas dispensações. O único de interesse para a presente discussão, entretanto, é a distinção entre o esplendor temporário ou desvanecente da dispensação da Lei com o maior esplendor da dispensação do Espírito, o qual, diz ele, é “permanente”. Mais uma vez, Paulo apresenta evidência de uma escatologia/ pneumatologia que vê o batismo no Espírito e os dons dEle advindos, como acessórios permanentes na Igreja até o retorno de Cristo. Com base nas declarações de Pedro e de Paulo, podemos concluir que se alguma vez houve uma Era dos Apóstolos, a igreja deve ainda estar nela. Assim sendo, é difícil de se imaginar um cenário tal qual aquele exigido pela teoria da Era dos Apóstolos. Levemos Timóteo em consideração. Paulo desafiou Timóteo com a responsabilidade de pastorear a igreja de Éfeso (1Tm 1:3). Timóteo recebeu poder especial de Deus quando Paulo e os anciãos impuseram as mãos sobre ele (1Tm 4:14; 2Tm 1:6). Imaginemos Timóteo, ocupado com seus deveres pastorais, orando pela cura de uma pessoa ou expulsando um demônio do único filho de alguém. Agora imagine que naquele momento, em Éfeso (de acordo com a tradição da Igreja Primitiva), o idoso apóstolo João, o último do círculo mais próximo de Jesus, desse o último suspiro e fosse para seu descanso celestial. Revogaria Deus, arbitrariamente, o poder para realizar maravilhas que havia dado a Timóteo e parar um milagre em andamento? Poderia Ele dar a um indivíduo necessitado uma explicação bíblica aceitável do porquê a pessoa anterior fora curada ou liberta e esta segunda pessoa não? Como seria afetado o testemunho da igreja local? Imagine o impacto negativo no ministério que Deus havia confiado a Timóteo. Em um nível pessoal, ele não poderia mais responder em obediência ao mandamento que havia recebido por inspiração divina, “mantenha viva a chama do dom de Deus que está em você mediante a imposição das minhas mãos.” (2Tm 1:6). Obviamente, esse cenário é insustentável. Vai contra a natureza de Deus, que é firme, fiel, imutável e misericordioso para com os necessitados. Vai contra a Palavra de Deus, a qual, enquanto discutimos, fornece apoio exclusivo ao conceito Acima: O livramento miraculoso de Pedro da prisão (At 12.6-11). Com base nas declarações de Pedro e de Paulo, podemos concluir que se alguma vez houve uma Era dos Apóstolos, a igreja deve ainda estar nela. RECURSOS ESPIRITUAIS • 39 A Era dos Apóstolos Através da Perspectiva Bíblica, Extrabíblica, Lógica e Teológica A natureza de Deus, a mensagem unificada das Escrituras e a natureza substancialmente necessitada do homem decaído argumentam em favor da continuação do miraculoso no mundo atual. 40 • enrichment | MARÇO 2010 de continuação, enquanto nada diz a favor de cessação. Graças a Deus que a Igreja não depende da frágil e fugaz condição física de um apóstolo para o seu poder, mas sim do Jesus ressurreto e eterno, que “vive sempre para interceder por nós.” (Hb 7:25 - NVI). Textos do Novo Testamento Impropriamente Usados para Apoiar a Era dos Apóstolos/Cessacionismo Proponentes de teorias da cessação geralmente referem-se a 1 Coríntios 13:10: “... quando, porém, vier o que é perfeito, o que é imperfeito desaparecerá.” (NVI). “O perfeito” não se refere ao Novo Testamento, como afirmam, mas ao retorno de Jesus, como está claro no versículo 12. Não há necessidade de outro argumento além daquele do contexto. É interessante, contudo, observar que o sexo de “o perfeito” (teleion) é neutro, enquanto que a palavra traduzida como testamento (diatheke) em outros lugares é feminina. Se Paulo tivesse a intenção de que o leitor entendesse esse adjetivo-usado-como-substantivo representando o Novo Testamento, ele teria colocado “o perfeito” no mesmo gênero — feminino. Da mesma forma, 1 Coríntios 15:8, “depois destes apareceu também a mim.” (NVI), não indica o fim de revelação nem a conclusão do cânon. Paulo continuou a receber revelação após a experiência na estrada de Damasco. Outros no Novo Testamento receberam revelação depois de Jesus ter aparecido a Paulo. Além disso, o Novo Testamento todo foi inspirado pelo Espírito Santo após o encontro de Paulo com Cristo na estrada de Damasco. A quê, então, se refere essa afirmação? Paulo está apenas dizendo que, daqueles homens chamados de apóstolos, ele era o último a ver o Cristo ressurreto. Hebreus 1:1,2 é outro conhecido texto de prova para os cessacionistas. Entretanto, é preciso apenas mostrar que os “dias” são “últimos”, não a revelação de Jesus na carne; caso contrário, o autor estaria quebrando a própria regra, tentando comunicar re- velação após a revelação terrena de Cristo. Apocalipse 22:18,19 é o texto de prova final utilizado por proponentes da cessação. É ordenado aos crentes, nesse versículo, que não acrescentem nem retirem algo das “palavras da profecia deste livro.” (NVI). Os cessacionistas argumentam que, como o Livro de Apocalipse vem no final da revelação canônica, essa passagem proíbe qualquer revelação posterior. Os problemas com essa interpretação são múltiplos. Em primeiro lugar, o autor nos fala especificamente a que se refere essa proibição. Não fala em termos gerais, mas refere-se apenas às suas palavras — “essa profecia” (itálico adicionado). Em segundo lugar, o autor não poderia ter tido em mente o Novo Testamento todo, pois este ainda seria formado. Então, a intenção autoral elimina essa linha de raciocínio. Em terceiro lugar, outros livros incluem proibições semelhantes. Um exemplo disso é Deuteronômio 12:32. Será que esse versículo significa que revelação além do livro de Deuteronômio é ilegítimo? Esperemos que não. Conclusão Três aplicações importantes podem ser extraídas deste artigo. Primeiramente, nenhuma analogia histórica ou passagem na Bíblia oferece argumento legítimo para apoiar uma Era dos Apóstolos ou a cessação do miraculoso. Em segundo lugar, a natureza de Deus, a mensagem unificada das Escrituras e a natureza substancialmente necessitada do homem decaído argumentam em favor da continuação do miraculoso no mundo atual. Em terceiro lugar, a Igreja hodierna encontra-se em solo bíblico firme quando procura ser revestida de poder para um trabalho para Deus mais efetivo através do batismo no Espírito Santo e dos dons do Espírito. Temos todos os motivos para buscar a Deus para direção, cura, proteção e provisão divinas. Nesse dia de necessidade e oportunidade sem precedentes, “Mantenha viva a chama do dom de Deus que está em você.” (2Tm 1:6).