a apresentação do projeto

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a apresentação do projeto
“PENSAR SOBRE O FUTEBOL”
UMA SÉRIE DE COLÓQUIOS FRANCO-BRASILEIROS
PARA PREPARAR A COPA DO MUNDO COM A CABEÇA
MARÇO - ABRIL 2014
RIO DE JANEIRO - SÃO PAULO
-
SEIS REFLEXÕES SOBRE O FUTEBOL
Nos próximos anos, o coração do Brasil vai bater,
mais do que nunca, ao ritmo do esporte, mais particularmente do futebol. Com a Copa do Mundo (junho de 2014), o futebol ocupa a terra de quem considera esse esporte como parte do seu patrimônio
cultural e genético. Com entusiasmo, o país inteiro
multiplica suas infraestruturas e mobiliza seus habitantes para receber este grande evento e, depois,
em 2016, os Jogos Olímpicos.
O Brasil e a França têm uma história comum e uma
longa amizade recíproca. Além disso, os dois países
mantêm uma relação muito particular com o futebol. Mas qual é exatamente essa relação? A simples
“paixão”? Não. Será que se trata talvez de uma «intelectualização» da relação entre o futebol e a consciência coletiva em nossos dois países? Por exemplo,
será que é o fato do futebol não ser visto simplesmente como um esporte, mas como uma espécie
de resumo da sociedade, dos seus conflitos e seus
problemas?
Esse projeto, apoiado pela Embaixada da França
quer examinar essa relação especial através de uma
série de conferências e debates. Personalidades do
mundo jornalístico, econômico, literário, psicanalítico, esportivo, político, científico e artístico, serão
convidadas, a partir de hoje até junho de 2014, para
falar sobre seis temáticas ligadas ao futebol. Elas
irão propor reflexões sobre o futebol de hoje apontando para perspectivas de melhora, novas atitudes
e idéias de reformas.
• O primeiro tema, Futebol e ação política e social,
estudará como, no Brasil assim como na França, o
Futebol tende a ser um instrumento de transformação política e social.
• Os pontos abordados nesse módulo repercutirão
no segundo módulo, Futebol e integração, que analisará a influencia do futebol sobre a integração efetiva dos imigrantes e jogadores das classes menos
favorecidas.
• Evidentemente, vamos interrogar sobre as novas
realidades comerciais do Futebol e seu impacto na
mentalidade dos jogadores, dos torcedores e das
políticas dos clubes num módulo dedicado ao tema
Futebol e negócios.
• O quarto tema, Futebol e antropologia, vai tratar
da preocupação pela «estética» e pelo estilo no Futebol, comum aos dois países.
• O conservadorismo e o machismo do meio futebolístico serão objeto dos debates em torno do
Futebol e a mulher.
• Finalmente, o tema Futebol e nostalgia questionará a perda de autenticidade do Futebol e a sua
uniformização.
Os debates serão animados e moderados
pelo jornalista brasileiro Juca Kfouri. Para
cada temática haverá dois debates sucessivo
um em São Paulo e outro no Rio de Janeiro.
Projeto - Futebol - Patrícia Amsellem - Junho 2013 - pg 1
1/ FUTEBOL E AÇÃO POLÍTICA E SOCIAL:
QUANDO A BOLA TORNA-SE UMA ARMA DE RESISTÊNCIA.
O Futebol, como qualquer elemento de mobilização
de massa, pode ser utilizado como uma bandeira
política ou social. Ao longo da história, alguns jogadores foram verdadeiros mestres nessa arte. É exatamente o que mostra o documentário “Les Rebelles
du Foot”, traduzido literalmente como “Os Rebeldes
do Futebol”.
O filme, produzido pelo antigo jogador «bad boy»
francês Eric Cantona, conta a trajetória de cinco jogadores de futebol que, desafiando as circunstâncias e os obstáculos da conjuntura política de suas
épocas e de seus países, defenderão a sua postura
política e, através do esporte, apresentarão e promoverão as suas idéias.
Em 2013, o documentário vai percorrer um circuito
de festivais de cinema. “Les Rebelles du Foot” não
é um filme sobre jogadores que fizeram de sua rebelião uma escapatória para seus problemas pessoais. É uma obra sobre jogadores que emocionaram
o mundo com suas ações e suas palavras, o amor
e a abnegação por seus países. Eles foram capazes
de despertar sentimentos sociais e políticos mesmo
quando confrontados pelo medo das repercussões
de suas ações e mesmo tendo que sacrificar a glória
de seus triunfos.
Entre eles, um brasileiro :
o Sócrates. O engajamento do capitão da Seleção
da Copa de 82 no final da
ditadura militar no Brasil,
na luta por eleições diretas para presidente da República e sua participação
no movimento da «Democracia Corintiana», é a tela
de fundo do capítulo que é dedicado a ele. O documentário apresenta quatro outros protagonistas : o
chileno Carlos Caszely, o marfinense Didier Drogba,
o argelino Rachid Meklhoufi e o bósnio Predrag Pasic.
Projeto - Futebol - Patrícia Amsellem - Junho 2013 - pg 2
2/ Futebol vetor de integração:
a última esperança?
Nas nossas sociedades, onde o preconceito contra
o “pobre” e a exclusão social são ainda recorrentes,
o esporte talvez seja, de acordo com vários analistas, um dos melhores - um dos únicos? - fatores de
integração e ascensão sociais. Depois da vitória dos
“Les Bleus” na Copa do Mundo de 1998, a França
inteira virou só alegria. A mídia e todos os políticos
comentaram e usaram esse triunfo para falar sobre
a “França plural” a “França multicultural”. Pela magia de uma vitória de enorme prestígio esportivo,
a França iria finalmente reconhecer os méritos de
seus “filhos de imigrantes”. Os descendentes de árabes (Zinedine Zidane), africanos (Marcel Desailly),
armênios (Youri Djorkaeff), caribenhos (Lilian Thuram, Thierry Henry) ofereceram ao país o mais cobiçado dos troféus esportivos.
Na França, a história do futebol está intimamente ligada à da imigração e da descolonização. E há semelhanças com o Brasil onde a integração (e ascensão)
social através do futebol foi também feita por jogadores pretos e mestiços, descendentes de escravos
e vindo das classes mais desfavorecidas. O futebol
francês tem melhorado em parte graças a contribuição técnica de jogadores estrangeiros e da integração de filhos de imigrantes até nos ”Les Bleus”. Raymond Kopa, Michel Platini e Zinedine Zidane, as três
maiores figuras do futebol francês, são, em graus
diferentes, descendentes diretos de imigrantes.
Esta evolução gradual e combinação de fatores abriu
o caminho dos gramados para os ídolos, como Leonidas, e muito tempo depois o preconceito social e
racial não pôde resistir as lendas como Garrincha,
Pelé, seguido por Romário, Ronaldo e muitos outros.
O quadro do futebol profissional em relação ao processo de integração social mudou drasticamente no
início de 1990 e, especialmente, na Europa com a Lei
Bosman (1995). A globalização do futebol e a abertura das fronteiras do mercado de jogadores “desnacionalizou” parcialmente o futebol.
Mas a grande mudança que a globalização trouxe
com a transformação do futebol em negócio, (outro
tema de nosso debate) é a idade cada vez mais precoce dos jovens jogadores de países em desenvolvimento (Brasil, Argentina, África, Maghreb, etc.) que
integram os centros de formação dos grandes clubes
europeus. Isso muda a perspectiva e o estilo de jogo:
os jovens formados na Europa nunca foram obrigados a driblar nos pequenos espaços de jogo das favelas. A sua aprendizagem já começou no gramado
grande e impecável, onde não necessariamente precisam desenvolver uma habilidade para controlar a
bola.
Muita coisa mudou desde o início do século passado, no Brasil e na França. Qual foi a influência positiva do futebol durante todos esses anos sobre a
integração efetiva dos imigrantes ou jogadores das
classes menos favorecidas? Será que futebol, como
outros esportes (boxe, futebol americano, baseball,
etc. EUA) ajudou a integração social e étnica, no
mundo do futebol e também da sociedade como um
todo? Este é o tema deste debate.
No Brasil, a participação de pobres e negros em competições de futebol também causou inicialmente
muita controvérsia e conflito social. As restrições e
a má-vontade com jogadores negros ou mestiços no
Brasil existiu, mas foram gradualmente eliminadas
pelo talento excepcional de alguns desses jogadores.
Progressivamente com a crescente popularidade do
futebol no Brasil e o interesse financeiro dos clubes,
os times de futebol foram reforçados por jogadores
vindo de camadas sociais mais pobres, onde os clubes encontravam novos talentos, assim como um
amor e uma devoção sem limites ao futebol.
Projeto - Futebol - Patrícia Amsellem - Junho 2013 - pg 3
3/ FUTEBOL E “NEGÓCIOS”:
PARA ONDE FORAM OS VALORES DO ESPORTE?
O Futebol tornou-se uma empresa comercial e hoje
seu volume de negócios total é multi-bilionário. Os
grandes times (como o Manchester United) são cotados em Bolsas de Valores. A “promoção de vendas” e o “patrocínio”, a venda de camisas com os
logotipos dos clubes e nomes dos astros do time,
rendem mais do que os ingressos dos jogos. O valor
de «mercado» de alguns jogadores chegou a proporções inéditas, seus salários são astronômicos e
a comercialização da imagem lhes rende ainda mais.
Hoje, os grandes clubes são cada vez mais considerados como oportunidades de investimento por
grandes grupos financeiros e Fundos Soberanos de
países ricos. Com isso, alguns clubes estão abarrotados de grandes «estrelas», enquanto outros tem
dificuldades para apenas sobreviver.
Qual é o efeito dessa comercialização extrema do
Futebol? Ela seria o destino inevitável do esporte
mais popular do planeta? Ou seria necessário haver uma regulamentação para estabelecer melhores
condições de competição entre os clubes?
“JOGO LIMPO FINANCEIRO” UM CONCEITO EUROPEU A SER GLOBALIZADO?
O Comitê Executivo da UEFA aprovou, em setembro de 2009, por unanimidade, o conceito de “Jogo
Limpo” financeiro para melhorar o Futebol.
Os objetivos principais do “Jogo Limpo” são baseados na introdução de uma maior disciplina e racionalidade nas finanças dos clubes de futebol; nos salários e nos custos de transferências de jogadores
e na limitação da sua espiral inflacionária. Incentivar os clubes a terem as suas próprias finanças em
ordem; incentivar os investimentos a longo prazo do futebol dos jovens e suas infraestruturas; proteger a viabilidade a longo prazo do futebol europeu; garantir que os clubes resolvam seus próprios
problemas financeiros nos prazos previstos. Esses objetivos refletem uma visão que a UEFA deve levar
em conta, sobretudo no ambiente dos clubes europeus que brigam, em particular, para conter o vasto
impacto inflacionário das despesas dos clubes em salários e custos de transferências. O biênio 2011/12
será o primeiro a ser considerado pela entidade que controla o futebol europeu, e os clubes que estiverem fora das normas em 2013/14 serão excluídos dos campeonatos a partir da temporada seguinte.
Há fortes opiniões na FIFA, na UEFA ou na ONU que consideram ser necessário interromper essa
tendência desenfreada do futebol que se tornou um grande negócio. O importante é que os clubes
consigam se administrar (controlar a questão do endividamento) de forma correta. Os clubes não
precisam ser, necessariamente, lucrativos, mas devem ter uma administração responsável, credibilidade, transparência nas contas e atrair capitais não especulativos. Vivemos numa sociedade que
respeita o esporte e, sem essa regulamentação da Licença dos Clubes (RCL), vamos abrir demais as
portas a práticas cada vez mais duvidosas que resultarão numa realidade cada vez mais sombria e que
a cada dia fragilizará mais a credibilidade do Futebol. Sem isso corremos o risco de levar o futebol a
métodos que ameaçam a autenticidade dos resultados, estimulam um comportamento cada vez mais
mercenário dos atletas, favoreçam a irresponsabilidade dos dirigentes, comprometam o equilíbrio
competitivo e coloquem em risco o futuro do futebol. É necessária uma regulamentação adequada do
RCL para harmonizar a ambição e a razão no futebol e contrabalançar a lógica esportiva (resultados)
e o equilíbrio econômico (lucro).
Projeto - Futebol -Patrícia Amsellem - Junho 2013 - pg 4
4/ FUTEBOL, PSICANÁLISE E ANTROPOLOGIA:
FRANÇA E BRASIL - A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO SER.
Ninguém gosta de perder. Mas perder faz parte da
dialética da vida, composta de alegrias e de tristezas,
indissociáveis da condição humana. A sensação que
nos invade no final de uma festa é de um mal-estar
misturado de tristeza. Pode-se dizer que a relação
ao Futebol, no Brasil e na França, é sempre marcada
com uma doce amargura e ou uma angústia. Essa relação não é apenas esportiva, guerreira, estatística
ou cultural. Ela é, antes de tudo, ontológica.
Se tomarmos o exemplo do Brasil,
basta nos lembrarmos das Copas
do Mundo de 82, 86, 98, 2006 e
2010. De onde vem essa instabilidade emocional? A “Seleção” parece
sempre fragilizada por uma espécie
de “esquizofrenia”. De um lado, a
leveza, seu talento artístico, um estilo inimitável, sua linda e irritante
despreocupação pelo resultado insistindo no drible inútil, sua falta de
comprometimento com qualquer
esquema tático, etc. De outro lado,
a necessidade de ter uma atitude
calculadora, uma disciplina, uma abnegação tática,
uma eficácia, mesmo sem brilho. O Brasil é sempre
favorito, ele sempre “tem que” e deve ganhar mas,
além disso, ganhar com brilho. Ele vive ontologicamente dividido entre um certo desprezo pelo seu tetra de 1994, que ganhou sem estilo, e uma certa admiração pela derrota de 1982 quando perdeu, mas
com tanta classe. O Brasil vive no Futebol a condição
humana que nos torna tão fortes quanto tão frágeis.
Essa equipe é humana, tão humana.
E se pegarmos o exemplo da França, lembrem-se das
Copas do Mundo de 2002 e 2010. A mesma instabilidade emocional com a perda de Zidane, machucado
em 2002, que teve um efeito de bomba psicológica sobre os “Bleus”, estranhamente parecido com o
fiasco psicológico da Seleção Canarinha após o estranho episódio da crise de Ronaldo pouco antes da
final de 98. E o que dizer do desequilíbrio psicológico que levou o «maestro» Zidane a
ser expulso da final França-Itália de
2006? O mesmo dilema entre estilo
e eficácia. A mesma inconsequência nas disputas internas dos Bleus
na Copa do Mundo de 2010.
Nada é mais revelador dessa dimensão psicológica do que os encontros entre o Brasil e a França
na Copa do Mundo. Vamos nos
lembrar de 58, 86, 98 e 2006. Entre
os dois times emocionalmente frágeis, o Futebol torna-se, como dizia
Maquiavel, uma questão de «fortuna» (de sorte) e de «virtú» (de virtude, de método e
de determinação), a condição ontológica na política.
Sorte que a França teve em 86, mas que não teve em
58. E pelo lado da determinação, vamos nos lembrar
da França de 98, com a virtude de uma equipe bem
montada, que conseguiu combinar o rigor do posicionamento tático com o brilho dos seus contra-ataques mortais.
Projeto - Futebol - Patrícia Amsellem - Junho 2013 - pg 5
5/ FUTEBOL E A MULHER:
DA MARGINALIDADE FORÇADA À ASCENSÃO CONFIRMADA.
A figura feminina sempre teve dificuldades em sua
relação com o Futebol.
esforço de algumas associações, o Futebol feminino
seria totalmente desconhecido no país.
Em geral, a «mulher» no Futebol é a «namorada» do
jogador, a acompanhante do ídolo e do astro, nunca
a própria jogadora. Esses preconceitos obrigaram as
mulheres a encontrar caminhos alternativos para fazerem parte do Futebol.
Várias questões são colocadas quando se trata de
Futebol feminino. De onde devem vira as propostas
e iniciativas? Das Federações locais (por exemplo a
FFF, a CBF, etc.), do governo ou de iniciativas privadas? Há algum planejamento para a seleção brasileira de Futebol feminino tendo em vista os Jogos
Olímpicos de 2016? Qual é, por exemplo, o salário
das jogadoras de futebol quando elas desejam praticar esse esporte em alto nível, em clubes ou na seleção? Infelizmente, na maioria dos casos, elas devem
«pagar para jogar» e são pouquíssimas a receberem
um salário decente.
A luta por um reconhecimento da jogadora de futebol continua e continuará até que alguns aspectos
mudem e a participação feminina obtenha a atenção
realmente merecida. Há mudanças reais : em países
como os EUA, a participação feminina no Futebol é
considerável, tanto na Liga quanto nas escolas. Mas
no Brasil e na França, o Futebol ainda é uma prática
essencialmente masculina, mesmo se a Marta já foi
eleita a melhor jogadora do mundo pela FIFA inúmeras vezes.
Essas questões e muitas outras ainda devem ser
resolvidas. Por enquanto, o Brasil e a França estão
bem atrasados nesse aspecto. Ainda hoje, o Futebol feminino é pouco reconhecido nesses países, as
jogadoras sofrem com o preconceito, e há poucos
clubes com times femininos profissionais. Ainda há
um logo caminho a percorrer.
Muitas pessoas ainda vêem o Futebol feminino
como um «produto» de pior qualidade. Ele não é
televisionado, não é promovido e os patrocínios são
mais raros. No Brasil, o Futebol feminino só é reconhecido através da notoriedade excepcional da Marta e de algumas outras jogadoras. Sem elas e sem o
Projeto - Futebol - Patrícia Amsellem - Junho 2013 - pg 6
6/ FUTEBOL E NOSTALGIA:
O FUTEBOL ERA MELHOR ANTIGAMENTE?
A comercialização do Futebol faz surgir, naturalmente, uma certa nostalgia do passado. Os torcedores de
Futebol, sobretudo os mais velhos, têm dificuldade
em escapar dessa dolorosa sensação. É como se as
emoções que eles tinham sentido pessoalmente no
passado através dessa paixão não correspondessem
mais as emoções vividas hoje nos estádios e diante
da televisão. O resultado é um gosto amargo, uma
ponta de desprezo ou uma verdadeira desilusão.
Fora o fato de ter «envelhecido» com seus ídolos, o
Futebol também mudou.
Há muito tempo, existe uma espécie de oposição
entre o estilo «físico» europeu e o estilo «artístico»
latino de jogar Futebol. O Brasil simbolizava o segundo, os anglo-saxões, o primeiro, e a França ficava entre os dois. Durante a maior parte do século XX, o
Brasil compensava uma falta de vigor físico em campo por uma «técnica» de toque de bola excepcional,
vinda das características da sua melhor escola de
formação: o Futebol de rua, dos meninos das favelas. No imaginário popular brasileiro, o vigor físico
excessivo no Futebol era até depreciado, uma característica do «gringo», do estrangeiro, daqueles que
não sabiam tocar bem na bola. «É a bola que deve
correr e não o jogador», como dizem. Talvez houvesse uma maior simpatia popular por Garrincha e
seu estilo «moleque», do que pelo gênio futebolístico de Pelé, que aliava a preparação física europeia
à sua excepcional qualidade técnica. Na França, esse
debate não era tão animado mas não deixava de ser
importante: talentos excepcionais como Éric Cantona eram admirados, mas no time da França era preciso o rigor e a disciplina dos Domenechs.
O Brasil conseguiu, durante décadas, fazer essa filosofia e essa atitude triunfarem na Copa do Mundo.
Esse sucesso inigualável talvez tenha ocultado uma
lenta, porém inevitável, transformação do jogo. O
resto do mundo, principalmente o Futebol físico
europeu, progressivamente aprendeu a lição com a
sua inferioridade «técnica» do passado: ele treinou
mais, reforçou suas vantagens físicas comparativas e
também melhorou seu «toque de bola».
Resultado : a vantagem parece que se inverteu.
Qualquer profano pode constatar isso ao comparar
a qualidade de jogo que vemos na «Champions League» da UEFA e na «Copa Libertadores» da América
do Sul. Os europeus melhoraram utilizando bastante
sua vantagem comparativa física e aprendendo pa-
cientemente a «tocar a bola» com talento. Enquanto isso, o Brasil regrediu em relação à sua vantagem
comparativa (o talento de tocar a bola) e não soube
progredir suficientemente na preparação física e na
disciplina tática. E quanto à França? Ela também ficou no meio do caminho.
É preciso encarar a dura realidade. O Brasil não
tem mais o melhor sistema de Futebol. A França,
a meio caminho entre os anglo-saxões e os latinos,
também sofre com a mesma decadência relativa. O
jogador brasileiro médio é bem inferior ao jogador
europeu médio, até no toque de bola, nossa antiga vantagem comparativa. Os talentos existem mas
são mais ou menos distribuídos de forma igualitária
entre continentes e não fazem mais (se é que já fizeram) diferença.
O Futebol moderno é isso ? Uma espécie de homogeneidade de estilo? Todo mundo jogando igual ?
Para onde foi a interessante diversidade do passado?
Projeto - Futebol - Patrícia Amsellem - Junho 2013 - pg 7
CALENDÁRIO DE ORGANIZAÇÃO
Futebol e ação política e social:
quando a bola torna-se uma arma de resistência
17 março no Rio de Janeiro/ 20 março em São Paulo
FUTEBOL VETOR DE INTEGRAÇÃO:
A ÚLTIMA ESPERANÇA?
18 março no Rio de Janeiro/ 21 março em São Paulo
Futebol e “negocios”:
para onde foram os valores do esporte?
31 março no Rio de Janeiro/ 3 abril em São Paulo
FUTEBOL PSICANÁLISE E ANTROPOLOGIA
FRANÇA E BRASIL – A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO SER
1 abril no Rio de Janeiro/ 4 abril em São Paulo
Futebol e a mulher:
da marginalidade forçada à ascensão confirmada
14 abril no Rio de Janeiro /17 abril em São Paulo
FUTEBOL E NOSTALGIA
O FUTEBOL ERA MELHOR ANTIGAMENTE ?
15 abril no Rio de Janeiro / 18 abril em São Paulo
UM PROJETO DE PATRICIA AMSELLEM
EM PARCERIA COM A EMBAIXADA DA FRANÇA
MODERAÇÃO DOS DEBATES : JUCA KFOURI
PRODUÇÃO:
CONTATOS:
PATRICIA AMSELLEM
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BONFILM
[email protected]
00 55 21 2557-6717
Projeto - Futebol - Patrícia Amsellem - Junho 2013 - pg 8