decapitado anão feto
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decapitado anão feto
A Reforma Tributária Possível Cid Heraclito de Queiroz Setembro 2012 Amor, ciúme e crime – agressão maligna – necrofilia Samuel Auday Buzaglo Meio Ambiente: Quando a natureza fala, precisamos entender Número 690 Claudio Contador Síntese da Conjuntura Conjuntura econômica Ernane Galvêas Setembro 2012 690 Conselho Técnico Presidente Antonio Oliveira Santos Conselheiros Amaury Temporal Antonio Celso Alves Pereira Antonio Chagas Meirelles Antonio Paim Ari Cordeiro Filho Arnaldo Niskier Arno Wehling Arnoldo Wald Aspásia Camargo Carlos Afonso Pierantoni Gambôa Carlos Antonio Bettencourt Bueno Carlos Mario Alves Pinto Célio Borja Cid Heraclito de Queiroz Claudio R. Contador Diogo de Figueiredo Moreira Neto Eduardo da Silveira Gomes Júnior Eliseu Álvares Pujol Ellen Gracie Northfleet Ernane Galvêas Ernesto Albrecht Evaristo de Moraes Filho Geraldo Holanda Cavalcanti Gilberto Paim Harry Adler Ives Gandra da Silva Martins Jaime Rotstein Jarbas Passarinho J. Bernardo Cabral João Clemente Baena Soares João Havelange João Paulo de Almeida Magalhães João Paulo dos Reis Velloso João Ricardo Carneiro Moderno Joel Mendes Rennó José Arthur Rios José Botafogo Gonçalves José Carlos Barbosa Moreira José Carlos Fragoso Pires José Carlos Soares Freire José Luiz S. Miranda José Osvaldo de Meira Penna Julian Chacel Léa Maria Sussekind Viveiros de Castro Leonidas Pires Gonçalves Leopoldo Garcia Brandão Luiz Felipe Lampreia Luiz Guilherme Schymura de Oliveira Luiz Roberto A. Cunha Manoel Pio Corrêa Júnior Marco Cesar Meira Naslausky Marcos de Azambuja Marcus Faver Maria Beltrão Mary del Priore Mauro Gandra Mauro Moreira Meton Soares Junior Nelson M. de Mello e Souza Ney E. Prado Olga Côrtes Leão Simbalista Oscar de Oliveira Oswaldo Trigueiros Júnior Paulo Bonavides Paulo Mercadante Ricardo Vélez Rodríguez Roberto Abdenur Roberto Cavalcanti de Albuquerque Roberto Fendt Roberto P. de Lima Netto Roberto Rosas Rosiska Darcy de Oliveira Rubem de Freitas Novaes Samuel Auday Buzaglo Sebastião do Rego Barros Sergio F. Quintella Sydney A. Latini Theophilo de Azeredo Santos Vasco Mariz Walber José Chavantes Setembro 2012 Problemas Nacionais 690 Conferências pronunciadas nas reuniões semanais do Conselho Técnico da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo Sumário A Reforma Tributária Possível ................................... 3 Cid Heraclito de Queiroz Amor, ciúme e crime – agressão maligna – necrofilia .................................. 32 Samuel Auday Buzaglo Meio Ambiente: Quando a natureza fala, precisamos entender ................................................ 51 Claudio Contador Síntese da Conjuntura Conjuntura econômica ......................................... 103 Ernane Galvêas São de responsabilidade de seus autores os conceitos emitidos nas conferências aqui publicadas. Solicita-se aos assinantes comunicarem qualquer alteração de endereço. As matérias podem ser livremente reproduzidas integral ou parcialmente, desde que citada a fonte. A íntegra das duas últimas edições desta publicação estão disponíveis no endereço www.cnc.org.br. Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo Setembro 2012, n. 690 Brasília SBN Quadra 01 Bloco B no 14, 15o ao 18o andar Edifício CNC CEP 70041-902 PABX (61) 3329-9500 | 3329-9501 [email protected] Rio de Janeiro Avenida General Justo, 307 CEP 20021-130 Rio de Janeiro Tels.: (21) 3804-9241 Fax (21) 2544-9279 [email protected] www.cnc.org.br Publicação Mensal Editor-Responsável: Gilberto Paim Projeto Gráfico: Assessoria de Comunicação/Programação Visual Impressão: Gráfica Ultraset Carta Mensal |Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo – v. 1, n. 1 (1955) – Rio de Janeiro: CNC, 1955116 p. Mensal ISSN 0101-4315 1. Problemas Brasileiros – Periódicos. I. Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo. Conselho Técnico. A Reforma Tributária Possível Cid Heraclito de Queiroz Advogado; ex-Procurador-Geral da Fazenda Nacional – 1979/1991; Consultor Jurídico da CNC I – A Reforma Tributária Impossível a) O Sistema Tributário Nacional b) As precondições para uma reforma tributária ideal c) Os projetos possíveis/impossíveis d) A desconstitucionalização do Sistema Tributário II – A Reforma Tributária Possível a) A reforma tributária fatiada b) A posição do empresariado do setor do comércio c) A redução possível da carga tributária Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 3-31, set. 2012 3 d) A próxima fatia e) Outras fatias f) A simplificação e desburocratização do Sistema Tributário g) O SiMpleS (Simples?) h) A compensação Dívida Ativa x Dívida passiva da União i) A consolidação da legislação fiscal j) A desoneração dos investimentos e a competitividade dos produtos nacionais III – A Conclusão 4 C a r t a Men s a l • Rio de Janeiro, n. 690, p. 3-31, set. 2012 I – A Reforma Tributária Impossível a) O Sistema Tributário Nacional O Sistema Tributário Nacional é o conjunto de tributos – impostos, taxas e contribuições – estabelecidos pelas normas constitucionais e legais, com a finalidade de prover o Tesouro Público – federal, estadual e municipal – dos recursos necessários para o custeio dos serviços públicos e das ações econômicas e sociais necessários à plena realização dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, fixados no artigo 3o da Constituição. A primeira imposição tributária entre nós ocorreu ainda no BrasilColônia: o primeiro tributo foi o quinto do pau-brasil (quinta parte do produto de venda da madeira extraída), em favor da Fazenda Real, depois estendido a metais e pedras preciosas. posteriormente, vieram os “direitos régios das alfândegas”, o “dízimo” do pescado e das colheitas dos produtos da terra. Com a vinda da Família Real, para o Brasil, novos tributos foram criados, como os direitos de importação, a décima dos prédios urbanos, a siza sobre os bens de raiz, que corresponde ao atual imposto sobre a transmissão imobiliária por ato inter vivos, o imposto do selo etc. A primeira discriminação de rendas constou da Constituição de 1891, que enumerou os impostos da União e dos estados-Membros. Nova discriminação, incluindo os Municípios, foi estabelecida pela Carta de 1934, ligeiramente alterada pela Carta de 1937. Finalmente, a Constituição de 1946 estabeleceu nova discriminação das rendas tributárias, dispondo, também, sobre as participações na arrecadação Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 3-31, set. 2012 5 dos impostos (Compêndio de Direito Tributário, do professor Bernardo Ribeiro de Moraes, Forense, Rio, 1984). Todavia, o Sistema Tributário Nacional – juridicamente organizado como tal – somente veio a ser instituído pela emenda Constitucional no 18, de 1965, à Constituição de 1946, no Governo Castello Branco, por iniciativa do então Ministro da Fazenda, o eminente professor Octavio Gouveia de Bulhões, como fruto de substancioso trabalho de uma comissão composta pelos ilustres luiz Simões lopes, Rubens Gomes de Souza, Sebastião Santana e Silva, Gilberto de Ulhôa Canto e Mário Henrique Simonsen. O Sistema foi complementado pelo Código Tributário Nacional estabelecido pela lei no 5.172, de 25/10/1966 (com força de lei complementar) e por numerosas leis. Na Constituição de 1988, o Sistema foi amplamente reformulado e, desde então, numerosos projetos de Reforma foram elaborados, debatidos e apresentados ao Congresso Nacional. Neste, outros projetos foram elaborados. Nós tivemos a oportunidade de participar de uma comissão designada com a mesma finalidade, pelo Presidente José Sarney (Decreto no 91.157, de 18/3/1985) e de diversas outras. No entanto, nenhum desses projetos logrou êxito. Nenhum deles chegou a ser votado pelo plenário da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal. Desde a Carta de 1988, nenhum governo conseguiu obter o apoio do legislativo para aprovar uma emenda constitucional de ampla reforma tributária. As soluções tem sido provisórias, ou seja, emendar a Constituição, em um ou em outro ponto. Assim, o Sistema Tributário foi sucessivamente alterado pelas emendas Constitucionais nos 3/93, 10/96, 12/96, 17/97, 21/99, 27/2000, 29/2000, 33/2001, 35/2001, 37/2002, 39/2002, 41/2003, 42/2003, 44/2004, 55/2007, 56/2007 6 C a r t a Men s a l • Rio de Janeiro, n. 690, p. 3-31, set. 2012 e 59/2007 (17 emendas), afora numerosas leis complementares, leis ordinárias e medidas provisórias. É surpreendente a persistência do governo na adoção de soluções parciais, que, aliás, distorceram o Sistema. Como observava o Barão de itararé (Jornalista Aparicio Torelly), “o mal do governo não é a falta de persistência, mas a persistência na falta”. Conforme dispõe o Código Tributário Nacional, “os tributos são impostos, taxas e contribuições de melhoria” (art. 5o) e “tributo é toda prestação pecuniária, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada” (art. 2o). A Constituição de 1988, ao dispor sobre o Sistema Tributário Nacional, preceitua que a União, os estados e os Municípios podem instituir “impostos, taxas”, em razão do poder de polícia ou pela utilização efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos à sua disposição, e contribuições de melhoria decorrentes de obras públicas” (art. 145). entretanto, a própria Carta de 1988 tratou, no capítulo referente ao Sistema Tributário Nacional, das contribuições sociais (a Cofins, a CSll e a Contribuição ao piS-pasep), das contribuições de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas (art. 149) e da contribuição para o custeio do serviço de iluminação pública (art. 149-A), e, no artigo 212, §5o, dispôs sobre a contribuição social do salário-educação, a todas se aplicando numerosas regras pertinentes aos tributos. por essas razões, podem ser consideradas como tributos por equiparação constitucional. Já foi extinta a Contribuição provisória sobre Movimentações Financeiras (CpMF). Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 3-31, set. 2012 7 Ora, a chamada “Reforma Tributária” tem por finalidade alterar e aperfeiçoar o Sistema Tributário Nacional, de modo, sobretudo, a reduzir a nossa exagerada carga tributária – cerca de 36% atualmente –, simplificar as normas tributárias, desburocratizar os procedimentos fiscais e, ainda, assegurar competitividade aos produtos brasileiros diante da concorrência estrangeira. Observamos anteriormente que o primeiro tributo brasileiro foi o quinto, ou seja, 20% sobre a produção, e que era tão odiado pelo povo que passou a ser chamado de “quinto dos infernos”, expressão até hoje em uso. Um advogado observou que a carga tributária atual corresponde a quase “dois quintos dos infernos”, o que é insuportável, e um ilustre tributarista, professor emérito, acrescentou que “são dois quintos e dois infernos: aguentar a carga tributária e aguentar o governo”. O certo é que, na atual conjuntura política, social e econômica, uma reforma tributária ideal revela-se impossível. primeiramente, porque uma reforma tributária, sob um enfoque não só fiscal, mas, sobretudo, econômico-social, importaria na prévia análise e tomada de decisão política quanto a seis precondições, envolvendo a própria reestruturação da Federação e do estado. É forçoso reconhecer-se que não há clima para isso. O momento é totalmente inoportuno. O momento propício seria o da posse de um presidente eleito por expressiva maioria de votos e que iniciasse a reforma no primeiro dia do seu governo. Justiça se faça a Fernando Collor, que, no dia de sua posse, desfechou uma profunda reforma administrativa e uma audaciosa reforma monetária, mas lhe faltou base política para prosseguir nos seus propósitos. 8 C a r t a Men s a l • Rio de Janeiro, n. 690, p. 3-31, set. 2012 b) As precondições para uma reforma tributária ideal São precondições para uma reforma tributária ideal: 1a) a estimativa da carga tributária tolerável, em face da capacidade contributiva dos brasileiros, ou, na letra da Constituição (art. 145, §5o), “a capacidade econômica do contribuinte”, a qual é função do produto interno bruto, da renda per capita e da distribuição da renda nacional entre as diversas camadas sociais. 2a) a enumeração dos encargos afetos ao poder público, em função das exigências da sociedade, no que tange à quantidade e à qualidade dos serviços públicos, daí decorrendo o grau de intervenção do estado na economia e o desenho do tamanho ideal da Administração Pública. 3a) a definição e limitação dos encargos próprios da União, dos Estados e dos Municípios, indispensável para a estimativa dos respectivos custos anuais e a adequada partilha das receitas tributárias entre esses três níveis de governo. 4a) a fixação dos objetivos políticos, sociais e econômicos, bem assim das prioridades nas ações que visem a redução das desigualdades sociais e regionais, os investimentos públicos nas áreas da educação, saúde, habitação, infraestrutura etc. 5a) a utilização do sistema tributário exclusivamente como provedor do Tesouro – pourvoyeur du Trésor –, segundo a feliz expressão de René Stourm, ou também como instrumento de finalidades econômicas: indução ao desenvolvimento, aos investimentos, às exportações, à redução de desequilíbrios regionais etc.; de finalidades sociais: indução à redistribuição da renda, à redução das desi- Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 3-31, set. 2012 9 gualdades, à construção de habitações, à diminuição do consumo de produtos nocivos à saúde etc.; ou de política monetária: à redução ou expansão do poder aquisitivo e do crédito. 6a) a escolha das hipóteses genéricas de incidência (fatos imponíveis, suportes fáticos; fatos geradores) dos tributos e contribuições: o patrimônio (a propriedade de imóveis e veículos, o patrimônio global, os ativos); a produção (industrial, mineral, agropecuária); a prestação de serviços, a circulação de riquezas, o giro ou volume dos negócios (chiffre d’affaires, para os franceses; importação, exportação, valor agregado, circulação de mercadorias ou de dinheiro, créditos e valores mobiliários); a renda (entradas ou ingressos pecuniários ou patrimoniais, inclusive ganhos de capital e mais-valia); o consumo; as despesas ou renda consumida (proposta do professor Nicholas Kaldor, em 1955) etc. Ora, nenhum dos projetos de reforma tributária elaborados pelo governo foram precedidos do estudo dessas precondições, enfrentando, por consequência, em barreiras intransponíveis. c) Os projetos possíveis/impossíveis Nos últimos 20 anos, numerosos projetos foram elaborados pelo executivo, por parlamentares e por especialistas. Alguns deles são muito bons. O iCMS, base da receita estadual, inspirado no Impôt sur le Valeur Ajouté (iVA) dos franceses – revelou-se inadequado ao regime federativo. Prova disso é a chamada “guerra fiscal” entre os Estados, consistente na concessão, pelos diversos estados, de isenções e outros benefícios (redução da base de cálculo do imposto, postergação do pagamento, financiamento do saldo devedor do imposto), sem a autorização, 10 C a r t a Men s a l • Rio de Janeiro, n. 690, p. 3-31, set. 2012 por unanimidade de votos, do Conselho de política Fazendária (CONFAZ) (presidido pelo Ministro da Fazenda e integrado pelos secretários de Fazenda ou Finanças dos estados e Distrito Federal). Diversas propostas confluíram para a melhor solução, qual seja a federalização da legislação do ICMS, mediante lei complementar, que assim é denominada por ser complementar a Constituição. A fiscalização continuaria na competência dos estados e a arrecadação pela via bancária, cabendo às instituições financeiras entregar, automaticamente, aos estados e aos Municípios as parcelas de cada um. Todavia, os governadores e seus secretários de fazenda divergiram frontalmente quanto a alíquotas, rateio da receita nas operações interestaduais, concessão de benefícios fiscais etc. Alguns alegaram – improcedentemente – que a proposta envolveria a perda da autonomia financeira dos Estados, essencial na Federação. O certo é que todos os diversos projetos de reforma tributária esbarraram nas posições inconciliáveis entre o governo e os contribuintes, entre o governo federal e os governos estaduais e municipais, entre os próprios governos estaduais, entre estes e os governos municipais, entre os próprios especialistas, entre os próprios empresários e, sobretudo, entre os Deputados Federais e os Senadores, da situação e da oposição, enfim uma “Torre de Babel”, o que sempre impediu a obtenção do quorum necessário para a aprovação de qualquer reforma de maior relevância. Outro erro residiu nas dimensões dos projetos. por exemplo, a PEC no 233, do Governo Lula, compunha-se de 22 artigos, 53 parágrafos, 98 incisos, 38 alíneas e 2 itens, em um total 213 novas regras constitucionais, as quais, obvia e necessariamente, iriam gerar numerosíssimas controvérsias. Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 3-31, set. 2012 11 d) A desconstitucionalização do Sistema Tributário portanto, o governo, sem apoio político para realizar uma ampla reforma tributária, tem de continuar a buscar alternativas. Ora, a alternativa para uma Reforma Tributária ideal dependeria, na verdade, da desconstitucionalização do Sistema Tributário, ou seja, de emenda Constitucional que reduzisse o texto do capítulo relativo ao Sistema Tributário às normas concernentes: a) aos princípios gerais (tributos, contribuições, matéria própria para a lei complementar etc.); b) às limitações do poder de tributar (princípios da legalidade, igualdade, irretroatividade, não confisco etc.); c) à enumeração dos impostos da competência da União, dos estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Nesses aspectos, aliás, a Carta de 1988 é excelente. Todas as matérias restantes, sobretudo as conjunturais, que hoje provocam tantas controvérsias, poderiam ser reguladas em lei complementar, cuja aprovação depende do voto (quorum) da maioria absoluta, na Câmara dos Deputados e no Senado Federal (CF, art. 69) e não de dois terços dos votos na Câmara dos Deputados e no Senado Federal (CF, art. 60, §2o), que é o quorum para aprovação de emenda constitucional. Com esse objetivo, elaboramos e divulgamos, em 2006, na Revista Jurídica Consulex, uma proposta de emenda Constitucional composta por apenas dois artigos, que suprimiriam 84 dispositivos, daria nova redação a cinco dispositivos e acrescentaria uma regra de transição no capítulo concernente ao Sistema Tributário (vide Anexo). Como redigida, a referida peC pode encontrar o consenso das diferentes correntes políticas, bem assim dos governos federal, estaduais e municipais, desde que aceita a premissa básica de que a regulação 12 C a r t a Men s a l • Rio de Janeiro, n. 690, p. 3-31, set. 2012 dos diversos impostos não constitui matéria própria para o texto constitucional, como parece pacífico entre os constitucionalistas e os tributaristas. Além da simplificação do Sistema, aspiração de todos os contribuintes, especialmente todo o empresariado nacional, a desconstitucionalização do Sistema Tributário importaria numa apreciável redução na carga de trabalho do Supremo Tribunal Federal, uma vez que, hoje, todos os litígios judiciais em questões fiscais acabam sendo submetidos a essa Corte de Justiça, mediante recursos extraordinários, por envolverem matéria tratada pela Constituição, distorção essa que não se verifica em outros países. A grande vantagem da desconstitucionalização do Sistema Tributário reside no fato de que as divergências e controvérsias passarão a girar em torno de simples projetos de lei, como ocorre em todos os países do mundo civilizado. em suma, a reforma tributária ideal tem sido impossível, mas há caminhos para torná-la possível. No estado de Direito, tem de haver caminhos – democráticos, constitucionais e legais – para o aperfeiçoamento ideal do Sistema Tributário. II – A Reforma Tributária Possível a) A reforma tributária “fatiada” De novo, é o Barão de Itararé quem ensina: não é triste a gente mudar de ideia. Triste é não ter ideia para mudar. Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 3-31, set. 2012 13 Ora, diante da impossibilidade prática de uma reforma tributária ideal, o Governo da presidente Dilma Rousseff, com sensibilidade política e pragmatismo, resolveu mudar de ideia e estaria optando, ao que se anuncia, por uma reforma tributária em etapas, a chamada reforma fatiada. Segundo a imprensa, a presidente classificou de inadequada a tributação brasileira e declarou que a opção é fazer reformas pontuais, acrescentando que “já tentamos duas vezes fazer uma reforma de maior folego. Resolvemos agora atuar, em vez de ficar discutindo se a reforma sai ou não sai”. Disse ainda que “nós tributamos insumos fundamentais para o desenvolvimento do país” (O Estado de S. Paulo, de 16/5/2012). por conseguinte, em função de todas as condicionantes não só constitucionais, mas, sobretudo, políticas e econômicas, mudar, radicalmente, o rumo da reforma tributária constitui uma decisão acertadíssima. entretanto, mesmo em relação a uma reforma fatiada, existem divergências quanto aos objetivos, ao alcance e ao próprio conteúdo. Para vencer essas dificuldades, cada fatia ou etapa de uma reforma racional terá, sem dúvida, de levar em conta as principais aspirações dos contribuintes e, em particular, do empresariado, neste caso em função da geração de emprego e renda nos investimentos dos estabelecimentos comerciais, industriais e agropecuários. A reforma fatiada não depende de emendas constitucionais. pode ser efetuada mediante leis ordinárias ou, melhor ainda, mediante medidas provisórias, estas quando resultarem de razoável consenso entre os interessados. 14 C a r t a Men s a l • Rio de Janeiro, n. 690, p. 3-31, set. 2012 b) A posição do empresariado do setor do comércio Traduzindo a posição do empresariado, pelo menos do setor comercial, que congrega cerca de cinco milhões de empresas comerciais, o presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, Antonio Oliveira Santos, elencou as seguintes aspirações dos contribuintes brasileiros, de caráter geral: 1a) reduzir a extravagante carga tributária (hoje cerca de 36% do piB); 2a) diminuir a quantidade exagerada de impostos, taxas e contribuições; 3a) simplificar o Sistema, notadamente as obrigações fiscais concernentes ao iR, COFiNS, iCMS, impostos de transmissão e ao próprio Simples; 4a) consolidar a legislação fiscal, pois a sociedade não suporta mais as 240.210 normas em vigor, segundo o iBpT; 5a) desonerar os investimentos; e 6a) assegurar competitividade aos produtos nacionais (O Globo, de 19/6/2011).” O Presidente da CNC manifestou, publicamente, apoio: 1o) à “ampliação do limite de faturamento, para a inclusão, no Simples, das micro e pequenas empresas”. 2o) “à desoneração dos investimentos, com a efetiva restituição às empresas dos créditos concernentes a máquinas e equipamentos, Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 3-31, set. 2012 15 os decorrentes das exportações e os admitidos pela legislação da COFiNS e do piS.” 3o) a “desoneração da folha de pagamento, mas nunca pela transferência, para o faturamento, da base de incidência das contribuições previdenciárias”, cabendo, em uma primeira fatia, a redução da contribuição patronal de 20% para 16%, sendo 2,5% pela extinção da Contribuição ao Salário-educação, 0,2% pela extinção da contribuição ao iNCRA e 1,3% em face do aumento da arrecadação em decorrência do crescimento econômico. Acrescentaríamos a imperiosa necessidade da implementação do Fundo do Regime Geral de Previdência Social, já criado pelo artigo 250 da lei de Responsabilidade Fiscal (lei Complementar no 101, de 4/5/2001), para acolher o produto das contribuições sociais dos empregadores e trabalhadores e outras receitas previstas naquela lei, inclusive o resultado da aplicação financeira de seus ativos, os quais, hoje, permanecem na conta do Tesouro Nacional, em uma espécie de empréstimo compulsório sem render um centavo sequer. em relação à previdência urbana, esse Fundo seria amplamente superavitário, o que ensejaria, evidentemente a redução da contribuição do empregador, assim interessando não só aos segurados, mas a todo o empresariado. c) A redução possível da carga tributária A redução da carga tributária tem de ser alcançada em “fatias” e de modo a não desfalcar seriamente os cofres do Tesouro. Depende, logicamente, da extinção de tributos e contribuições ou da redução de alíquotas ou da base de cálculo dos diversos tributos ou, ainda, da revogação de isenções genéricas ou específicas. 16 C a r t a Men s a l • Rio de Janeiro, n. 690, p. 3-31, set. 2012 Com esse propósito, a presidente terá de vencer as naturais reações do Ministério da Fazenda, no respeitante à perda de receitas em geral, em face da necessidade de não gerar déficits na execução do Orçamento e respeitar a lei de Responsabilidade Fiscal. Diante disso, a presidente terá de agir com força de Hércules para impor a redução de despesas, mediante a contenção ou revogação de determinadas dotações autorizadas pela lei do Orçamento. No entanto, isso não será difícil se o Ministério do planejamento indicar à presidente dezenas e dezenas de dotações previstas no Orçamento, mas que, por envolverem gastos supérfluos, desnecessários ou adiáveis, podem ser contidas ou revogadas. Para identificá-las, basta folhear as 2.580 páginas da lei do Orçamento para o corrente exercício. A redução da despesa poderá ser alcançada, com maior dimensão, se o governo diminuir o tamanho da Administração Pública Federal, que vem crescendo, sem cessar, ao longo dos anos, com uma ligeira interrupção no início do Governo Collor. No Governo Kubitschek, funcionavam 12 (doze) ministérios. O número foi crescendo, até que, no primeiro dia do Governo Collor, foi reduzido, novamente, para 12 (doze). Depois, voltou a crescer sem parar, atingindo o montante recorde atual de 38 Ministérios ou órgãos equivalentes. Até o Banco Central, uma autarquia, foi equiparado a Ministério! A Administração Pública Federal não para de crescer. Afora o número exagerado de Ministérios, cresceu o número de repartições (secretarias, superintendências, departamentos, divisões, comissões, conselhos etc.), de autarquias e de fundações públicas. Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 3-31, set. 2012 17 A propósito, o eminente Ministro Delfim Netto advertia, há mais de 15 anos, que “o governo chegou a tal ponto que, se comprar um circo, o anão começa a crescer”. Dois exemplos de crescimento imoderado são o ipeA e o CADe. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), de duração ilimitada, tem por finalidade principal “promover e realizar pesquisas e estudos sociais e econômicos e disseminar o conhecimento resultante”, atividades que também são desenvolvidas, com toda a competência, nos Ministérios do planejamento, Fazenda, Relações exteriores, Ciência e Tecnologia, Agricultura, educação, previdência, Esportes, Saúde, Trabalho, Meio Ambiente, Indústria e Comércio exterior e Desenvolvimento Social, afora entidades como o iBGe, a Fundação Getúlio Vargas e todas as Universidades, destas destacandose a pUC-RiO e a UNiCAMp. Os estudos e pesquisas do ipeA não são estabelecidos pelo governo, mas pela própria Diretoria da Fundação (sete diretorias) e podem ser contrários ao governo. O ipeA, hoje, se auto-organiza. Assim, estruturou-se em 108 unidades administrativas, com destaque para nove Coordenações-Gerais e 26 Coordenações de estudos. O quadro de pessoal é de alto nível, notadamente os seus economistas, e composto por 1.176 cargos, abrangendo até mesmo 4 (quatro) médicos. em outras palavras, o ipeA é um clube de estudos, custeado pelos contribuintes. Neste ano, serão R$312 milhões, mais do que as verbas do iNpi (R$272 milhões) e da CVM (R$296 milhões). Com a menor parte dessa verba, o governo poderia contratar estudos aos melhores técnicos do mundo. Por sua vez, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADe), criado, no Governo parlamentarista de João Goulart, pela 18 C a r t a Men s a l • Rio de Janeiro, n. 690, p. 3-31, set. 2012 lei no 4.137, de 10/9/1962, que dispôs sobre a repressão ao abuso do poder econômico, foi, mais uma vez, reestruturado, agora pela lei no 12.529, de 30/11/2011. Constitui uma autarquia federal, mas foi definido como “entidade judicante” e sua unidade principal é um Tribunal Administrativo de Defesa Econômica, sendo certo que “tribunal’ é uma expressão empregada pela Constituição para denominar, tão somente, órgãos do poder Judiciário (Constituição, art. 92). A única exceção é o Tribunal de Contas da União, mantido por tradição (Constituição, art. 71), mas como órgão auxiliar do Congresso Nacional. O artigo 123 da citada lei delega, ao Ministro de estado do Planejamento, competência, própria do Legislativo, para fixar “o quantitativo ideal de cargos efetivos” do CADe, que já dispõe de 2.483 cargos em comissão! para completar, o CADe ganhou um novo e moderno prédio para sua sede. por outro lado, o Programa Nacional de Desestatização foi instituído pela lei no 8.028, de 12/4/1990, do Governo Collor, em 1990, sendo privatizadas, entre outras, a Cia. Vale do Rio Doce, a Cia. Siderúrgica Nacional, a eMBRAeR, a liGHT, as 27 empresas de telefonia fixa e 26 de telefonia celular, diversos bancos estaduais, geradoras de energia elétrica, rodovias, ferrovias etc. Surpreendentemente, o número de empresas estatais ficou maior. Agora, são 140 (cento e quarenta)! A propósito, ainda o Ministro Delfim Netto, também há 15 anos, já observava que o ineficiente Estado brasileiro é o único que, depois de privatizar, ficou maior. A seu turno, o presidente Ronald Reagan, inobstante encontrar-se à frente da modelar administração norte-americana, concluiu que “o estado não é a solução, é o problema”. Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 3-31, set. 2012 19 A redução da despesa pública, no plano federal, depende de o governo dispor de vontade e de força para, por exemplo: reduzir vários dos 38 Ministérios, pelo menos os sete que são absolutamente supérfluos (Meio Ambiente, Desenvolvimento Agrário, Desenvolvimento Social e Combate à Fome, esporte, Turismo, integração Nacional e pesca e Aquicultura). Todos podem ser fundidos com outros ministérios, mais importantes. e extinguir também metade das 131 autarquias federais, metade dos 33 fundos financeiros, que desperdiçam recursos orçamentários, e uma centena de repartições (secretarias, departamentos, superintendências, serviços, conselhos, comissões). essa, devemos reconhecer, não é uma ação fácil, nem mesmo para o mais poderoso ditador. Henri Déroche, no seu excelente Les Mythes Administratifs (paris, Presses Universitaires de France, 1996), observando que il n’est rien dans l’organization sociale de plus solide et de plus stable qu’um service administratif, formula a lei da persistência: 1a) “tout service bureaucratique est organisé pour fonctionner sans limitation de durée; 2a) tout service bureaucratique oppose des forces actives et des forces d’inertie à sa diparation”. No Brasil, por exemplo, o Ministério do Desenvolvimento Agrário e o iNCRA não têm prazo para cumprir os seus objetivos. É que a conclusão da reforma agrária seria um desastre para todos, do Ministro aos subalternos. Todos perderiam suas posições. A eMBRAFilMe reagiu à sua extinção e ressurgiu das cinzas, rebatizada como a autarquia ANCiNe, muito embora outras áreas culturais não mereçam o mesmo tratamento. SUDeNe e SUDAM também já renasceram, para voltar a disputar poder com os governadores dos estados e distribuir bons empregos. 20 C a r t a Men s a l • Rio de Janeiro, n. 690, p. 3-31, set. 2012 d) A próxima fatia O Governo pretenderia, na próxima fatia, reduzir os custos da energia elétrica – que afeta a competitividade dos produtos nacionais –, desonerando parcialmente as contas de energia elétrica, inclusive mediante a extinção do encargo destinado a compor a Reserva Global de Reversão (RGR), que é uma conta de depósito criada em 1950 e destinada a prover recursos para custear, quando admitidas pela lei ou pactuadas nos contratos de concessão, as indenizações do poder Concedente aos concessionários, relativas a investimentos não amortizados e não depreciados totalmente, nos casos de extinção da concessão. esses depósitos podem ser utilizados pelo poder concedente em operações de interesse dos serviços de energia elétrica. A quota anual de reversão acompanha a natureza do preço público das tarifas, como parcela nelas embutida, sendo cobrada pelas concessionárias e transferida à conta de depósitos da RGR. Consta, ainda, que, além da prorrogação do ipi para os produtos da chamada “linha branca”, outras reduções ou isenções de tributos estariam sendo cogitadas. e) Outras fatias No interesse do empresariado e dos contribuintes em geral, o governo poderia promover pequenas alterações, pequenas fatias, para, ao mesmo tempo, reduzir a carga tributária e simplificar o Sistema: Com relação à tributação das pessoas jurídicas: 1o) extinguir a Contribuição ao PIS/Pasep, criada como instrumento de participação de todos os trabalhadores no lucro de todas Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 3-31, set. 2012 21 as empresas, mas transformada, pelo artigo 239 da Constituição de 1988, em fonte de financiamento do seguro-desemprego e pagamento do chamado “décimo-quarto salário” aos trabalhadores que recebam remuneração mensal de até dois salários-mínimos; ora, essas despesas, de natureza assistencialista, podem ser atendidas com a receita proveniente da COFINS e da CSLL, que têm essa finalidade e está em constante elevação; 2o) extinguir a Contribuição ao Salário-Educação (2,5% sobre a folha de salários) prevista no artigo 212, §5o, da Constituição, como “fonte adicional” de financiamento da “educação básica pública”, fonte essa que é desnecessária porque a própria Carta (art. 212) obriga a União a aplicar, anualmente, “nunca menos de 18%” da receita proveniente de todos os impostos, na “manutenção e desenvolvimento do ensino”; 3o) extinguir a Contribuição ao INCRA incidente (0,2%) sobre a folha de salários, mas que nada tem a ver com colonização ou reforma agrária, sendo certo que essa autarquia dispõe de satisfatória receita própria; 4o) extinguir as contribuições de intervenção no domínio econômico, que são figuras exdrúxulas no Sistema Tributário; 5o) ampliar o limite para enquadramento das pessoas jurídicas na tributação pelo lucro presumido; 6o) rever as tabelas do IPI, de modo a estabelecer novas reduções de incidências, o que redundará no aumento do consumo e da produção industrial; 7o) rever o elenco de taxas federais, sobretudo as taxas de fiscalização cobradas pelas diversas agências autárquicas federais. 22 C a r t a Men s a l • Rio de Janeiro, n. 690, p. 3-31, set. 2012 Com relação à tributação das pessoas físicas: 1o) atualizar a chamada tabela do imposto de renda das pessoas físicas, de modo a que a parcela isenta – hoje de apenas R$1.637,11 – seja aumentada para algo como o equivalente a 3,5 salários-mínimos, ou seja, R$2.177 – e que a alíquota máxima – 27,5% – incidente sobre rendimentos mensais superiores a R$4.087,65, passe a incidir sobre rendimentos mensais superiores a R$10.000,00, sendo certo que as consequentes disponibilidades para os contribuintes serão certamente gastas na compra de mercadorias e serviços, gerando, assim, novas receitas tributárias; 2o) modificar as regras relativas a ganhos de capital, a fim de permitir, por uma questão de justiça fiscal, a justa atualização do valor dos bens dos contribuintes; 3o) ampliar as hipóteses de tributação definitiva nas fontes; 4o) admitir a dedução integral, na renda bruta, das despesas concernentes à educação do contribuinte e seus dependentes; 5o) autorizar a atualização monetária do valor dos bens constantes das declarações anuais de rendimentos e bens; No plano estadual, poder-se-ia extinguir o imposto de transmissão sobre doações, de receita modesta e que contraria a índole do povo brasileiro (depois da CpMF, é o imposto mais repudiado pelo contribuinte brasileiro). O fim da chamada “guerra fiscal”, na área do iCMS, pode ser aprovada pelo próprio CONFAZ, conforme projeto que está sendo negociado pelos Secretários de Fazenda. Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 3-31, set. 2012 23 f) A simplificação e desburocratização do Sistema Tributário A simplificação do Sistema Tributário envolve, primeiramente, a redução da quantidade de tributos e contribuições, como antes exposto. O passo seguinte seria o de reduzir o valor das penalidades por infrações à legislação tributária, em boa parte calculadas e estabelecidas antes da estabilização da moeda nacional com o plano Real. A propósito, consta que cerca da metade do imenso valor global da Dívida Ativa da União – de um trilhão de reais – corresponde a multas. A desburocratização do Sistema deve envolver a simplificação das obrigações principais (que têm por objeto o pagamento de tributo ou de penalidade tributária) e acessórias (que têm por objeto as prestações positivas ou negativas de interesse da arrecadação ou fiscalização dos tributos). Nesse campo, inúmeras medidas podem simplificar o Sistema, como, por exemplo: 1) simplificar, ainda mais, a declaração de rendimentos bens da pessoa física; 2) simplificar a declaração do ITR (DITR) da SRF, incorporando, a esse documento, o Ato Declaratório Ambiental (ADA) do iBAMA e a atualização cadastral de imóveis rurais (CCiR) do iNCRA, todos anuais; 3) reorganizar, no plano federal, os serviços de atendimento e orientação aos contribuintes, considerados péssimos. 24 C a r t a Men s a l • Rio de Janeiro, n. 690, p. 3-31, set. 2012 g) O SIMPLES (Simples?) O SiMpleS, instituído pela lei no 9.317, de 5/12/1996, rege-se, presentemente, pela lei Complementar no 123, de 14/12/2006, e constitui, sem dúvida, um fantástico avanço na direção da redução da carga tributária sobre as microempresas (receita bruta anual inferior a R$360.000,00), as “empresas de pequeno porte” (receita bruta anual superior a R$360.000,00 e inferior a R$3.600.000,00) e as empresas individuais. Também importa em imensa simplificação por estabelecer um único recolhimento mensal, englobando diversos tributos federais. lamentavelmente, empresas de vários setores estão excluídas (art. 17, §12), entre as quais as empresas que realizem cessão ou locação de mão de obra e que têm papel relevante na terceirização de serviços. Todavia, o SIMPLES não é tão simples. Basta dizer que o pagamento envolve 80 diferentes alíquotas, de 4% a 17,42%, em função do setor empresarial – comércio, indústria, serviços e locação de bens móveis – e da faixa de renda bruta mensal. Uma resolução do Comitê Gestor do Simples Nacional (no 94, de 29/11/2011), regulando a matéria, ocupou 23 páginas do Diário Oficial, sendo constituída por 140 artigos, mais parágrafos e incisos, e 13 anexos, o último dos quais em cinco páginas. portanto, a microempresa e a empresa de pequeno porte continuam a ter de recorrer a um contador. h) A compensação Dívida Ativa x Dívida Passiva da União A Dívida Ativa da União montava, ao final de 2011 (o chamado estoque), a “R$1 trilhão” (Balanço divulgado pela pGFN na internet ), Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 3-31, set. 2012 25 que corresponde a quase 2/3 da receita total da União (excluído o refinanciamento da dívida pública = R$655 milhões) estimada no Orçamento de 2012: R$1.494 trilhão. em curtíssimo prazo, o montante da Dívida Ativa poderia ser expressivamente reduzido se autorizada, por lei ou medida provisória, a compensação entre essa Dívida Ativa e a Dívida Passiva da União, representada, basicamente, pelas dívidas correspondentes aos precatórios da Justiça Federal e a restos a pagar. para estimular a compensação, as multas e o valor dos juros de mora poderiam ser reduzidos à metade, a exemplo do que já ocorreu anteriormente, por força de diferentes diplomas legais. O procedimento de compensação teria de ser rápido e eficaz, como, por exemplo, a troca por intermédio de uma câmara transitória de compensação no Ministério da Fazenda, com emprego da internet. i) A consolidação da legislação fiscal Segundo o iBpT, existiam, em 2010, 240.210 normas em vigor, o que não só confunde os contribuintes, mas também os advogados e os contadores. essa torrencial legislação exige uma ampla consolidação. O ideal seria a consolidação da legislação relativa a cada tributo, mediante leis delegadas, o que depende de a Presidente da República obter do Congresso Nacional a competente delegação. Outra solução seria a de efetuar-se a consolidação mediante medidas provisórias, dada a relevância da matéria e a urgência nessa simplificação, inclusive para reduzir os custos das pessoas jurídicas e das pessoas físicas concernentes à localização, com segurança, das normas legais pertinentes a cada questão fiscal. A elaboração dos projetos 26 C a r t a Men s a l • Rio de Janeiro, n. 690, p. 3-31, set. 2012 de consolidação, extremamente trabalhosos no passado, hoje serão facilmente preparados, com a ajuda dos sistemas eletrônicos. j) A desoneração dos investimentos e a competitividade dos produtos nacionais Uma medida importante para a desoneração dos investimentos seria a devolução, com rapidez, dos créditos referentes a máquinas e equipamentos, bem assim os decorrentes das exportações e os admitidos pela legislação da COFiNS e da Contribuição ao piS. A fim de proporcionar competitividade aos produtos nacionais, a Constituição estabelece, expressamente, a não incidência do ipi sobre “produtos industrializados destinados ao exterior” (art. 153, §3o, iii). Por outro lado, o artigo 146, §2o, inciso i, da Constituição dispõe que “as contribuições sociais e as de intervenção no domínio econômico não incidirão sobre as receitas decorrentes da exportação”, ou seja, CiDe, COFiNS/piS e CSll. Empresas exportadoras merecem tratamento administrativo objetivo, prioritário e eficaz, nas dependências da Secretaria da Receita Federal, especialmente nas inspetorias junto aos nossos portos, que, na década de 1970, substituíram as antigas alfândegas. É oportuno afastar as incidências sobre insumos em geral e a efetiva restituição ou compensação dos valores acaso recolhidos. A desoneração das exportações envolve, ainda, incidências de natureza não tributária, como a já mencionada “quota anual de reversão” à Reserva Global de Reversão”. Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 3-31, set. 2012 27 III – A Conclusão por todas essas considerações, cabe a conclusão de que a reforma tributária possível, na atual conjuntura política e econômica, é a reforma fatiada anunciada pela presidente Dilma Roussef, sendo aconselhável que o empresariado mantenha permanente e eficiente articulação para apresentar, ao Governo, sem divergências, propostas concretas, redigidas com adequação e que se revelem importantes e oportunas e estejam devidamente justificadas. No caso de redução da receita tributária, cada proposta deve estar acompanhada de indicações para o aumento de outros tributos ou a redução da despesa, de modo a atender às exigências da lRF. É oportuno acentuar que a implementação de uma reforma tributária, ainda que sob a forma de etapas, desde a escolha da melhor alternativa, a redação do anteprojeto e sua justificação até a remessa ao Congresso Nacional e o assessoramento aos parlamentares, exige ação governamental eficaz e eficiente, sob a direção e coordenação de pessoas íntegras, competentes e dinâmicas. Finalizando, a reforma tributária possível, na atual conjuntura política, social e econômica, é a reforma fatiada, como já anunciada pela Presidente da República, a qual merece o apoio dos contribuintes em geral. Entretanto, a reforma tributária possível não é uma meta final. É uma etapa, a possível, que abrirá o caminho para uma reforma profunda, que aperfeiçoe o Sistema nos seus pontos essenciais. Afinal, “a esperança é a única que resta”. 28 C a r t a Men s a l • Rio de Janeiro, n. 690, p. 3-31, set. 2012 Anexo Proposta de Emenda Constitucional Reforma o Sistema Tributário Nacional, alterando os arts. 146, 150, 153, 155 e 156 da Constituição Federal. Art. 1o Os artigos 146, 150, 153, 155 e 156 da Constituição Federal passam a vigorar com a seguinte redação: “Art. 146. Cabe à lei complementar relativa ao Código Tributário Nacional: iii .......................................................................................................................... b) obrigação, fato gerador, sujeitos ativo e passivo, responsabilidade, substituição, lançamento, crédito, prescrição e decadência, bem assim constituição, suspensão, extinção, exclusão, garantias, privilégios e preferências do crédito tributário e dívida ativa tributária.” (NR) “Art. 150. iii ....................................................................................................... iii .......................................................................................................................... c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os tenha instituído ou que haja aumentado as alíquotas ou modificado as bases de cálculo respectivas.” (NR) “Art. 153. ............................................................................................................. § 2o (Revogado) § 3o (Revogado) § 4o (Revogado) Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 3-31, set. 2012 29 § 6o Os impostos de que trata este artigo serão criados e regulados em lei, observados os princípios, condições e demais normas estabelecidos nesta Constituição e na lei complementar relativa ao Código Tributário Nacional.” (NR) “Art. 155. ................................................................................................................. § 1o (Revogado) § 2o (Revogado) § 3o (Revogado) § 4o (Revogado) § 5o (Revogado) § 6o (Revogado) § 7o Os impostos de que trata este artigo serão criados e regulados pela lei estadual, observados os princípios, alíquotas máximas e mínimas, condições e demais normas estabelecidos na lei complementar relativa ao Código Tributário Nacional.” (NR) “Art. 156 ................................................................................................................. § 1o (Revogado) § 2o (Revogado) § 3o (Revogado) § 4o (Revogado) § 5o Os impostos de que trata este artigo serão criados e regulados pela lei municipal, observados os princípios, alíquotas máximas e mínimas, 30 C a r t a Men s a l • Rio de Janeiro, n. 690, p. 3-31, set. 2012 condições e demais normas estabelecidos na lei complementar relativa ao Código Tributário Nacional.” (NR) Art. 2o esta emenda Constitucional entra em vigor na data de sua publicação, mas as alterações introduzidas nos arts. 153, 155 e 156 somente produzirão efeitos na data da publicação da lei complementar que, modificando o Código Tributário Nacional, regule os impostos a que se referem aqueles dispositivos da Constituição Federal. Brasília, Palestra pronunciada em 24 de julho de 2012 Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 3-31, set. 2012 31 Amor, ciúme e crime – agressão maligna – necrofilia Samuel Auday Buzaglo Advogado Criminalista/RJ/SP, Subprocurador Geral da República aposentado e Professor Universitário A palavra amor (do latim amor) presta-se a múltiplos significados na língua portuguesa. Pode significar afeição, compaixão, misericórdia, ou ainda, inclinação, atração, apetite, paixão, querer bem, satisfação, conquista, desejo, libido etc. O conceito mais popular de amor envolve, de modo geral, a formação de um vínculo emocional com alguém, ou com algum objeto que seja capaz de receber este comportamento amoroso e enviar os estímulos sensoriais e psicológicos necessários para a sua manutenção e motivação. É tido por muitos como a maior de todas as conquistas do ser. A palavra ciúme (jealousy) entrou na língua inglesa através da língua francesa. palavras comparáveis em francês são jaloux e jalousie, ambas derivadas da palavra latina zelosus. por sua vez, o latim pedira emprestado ao grego a palavra zelos, o que significa fervor, calor, ardor ou intenso desejo. 32 C a r t a M en sa l • Rio de Janeiro, n. 690, p. 32-50, set. 2012 A palavra francesa jalousie, porém, tem um significado duplo. Um é semelhante ao jealous inglês, mas jalousie refere-se também à janela veneziana, com numerosas fendas horizontais suspensas uma sobre a outra. O psiquiatra norueguês Nils Retterstol da Universidade de Oslo especula que tal significado origina-se de uma situação na qual um marido suspeitoso da mulher pudesse observá-la não detectado por trás da jalouse, presumivelmente para pegá-la em intercurso sexual com outro homem. Apesar de seu valor para as pessoas no passado e no presente, o ciúme é uma emoção que expõe os parceiros a um extremo perigo. O lado sombrio do ciúme leva os homens a explodirem violentamente para reduzir as probabilidades de que suas parceiras se desgarrem. em um estudo sobre mulheres espancadas, muitas das quais necessitaram de cuidados médicos, a mulher típica relatava que o marido “tenta limitar meu contato com amigos e família” (a tática da ocultação), “insiste em saber onde estou a todos os momentos” (a tática da vigilância) e “me xinga para rebaixar e para que eu me sinta mal a respeito de mim mesma” (a tática de minar a autoestima). O ciúme dos homens coloca as mulheres em risco de serem assassinadas. O ciúme pode ser um ácido que corrói os casamentos, mina a autoestima, desencadeia espancamentos e leva ao assassinato final. O ciúme extremo tem recebido muitos nomes: síndrome de Otelo, ciúme mórbido, ciúme psicótico, ciúme patológico, paranoia conjugal e síndrome do ciúme erótico. No Texas, até 1974, um marido que matasse a esposa e seu amante quando os pegasse em flagrante delito não era julgado criminoso. Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 32-50, set. 2012 33 De fato, a lei apoiava que um “homem razoável” respondesse a uma provocação tão extrema com atos de violência. A fúria extrema ante a descoberta da esposa nua nos braços de outro homem é algo que as pessoas do mundo inteiro acham intuitivamente compreensível. Atos criminosos que normalmente receberiam duras sentenças de prisão são rotineiramente abrandados quando a infidelidade das vítimas é a circunstância atenuante. O ciúme nem sempre é uma reação a uma infidelidade já descoberta. pode ser uma resposta antecipada, um ataque de antemão estabelecendo direitos de posse para impedir a infidelidade que poderia ocorrer. Ciúme excessivo pode ser extraordinariamente destrutivo. Mas o ciúme moderado, não um excesso ou uma ausência do sentimento, sinaliza compromisso. O conceito popular para crime passional é de um crime cometido por paixão. O fato do crime ter sido cometido por motivo no qual figura o sentimento onde uma pessoa se sente dona da outra e quer que seu amor seja reconhecido como único, e se isso não acontece, a pessoa resolve cometer atos contra a vida da outra. Geralmente este tipo de crime é cometido por pessoas que argumentam se sentirem pouco valorizadas por seus companheiros(as) para justificar o controle e domínio que exercem sobre ele, considerando-o uma propriedade. Neste enquadramento, argumentando ter ciúmes devido aos comportamentos do(a) companheiro(a), reais ou imaginários, que não controlam, ciúmes estes gerados por esta situação, que levam os ciumentos a cometer crimes. Juridicamente, o crime passional é um crime como outro qualquer e não se enquadra na figura penal atenuante de “violenta emoção”. 34 C a r t a M en sa l • Rio de Janeiro, n. 690, p. 32-50, set. 2012 Em uma primeira análise, superficial e equivocada, poderia parecer que a paixão, decorrente do amor, tornaria nobre a conduta do homicida, que teria matado por não suportar a perda de seu objeto de desejo ou para lavar sua honra ultrajada. No entanto, a paixão que move a conduta criminosa não resulta do amor, mas sim do ódio, da possessividade, do ciúme ignóbil, da busca da vingança, do sentimento de frustração aliado à prepotência, da mistura de desejo sexual frustrado com rancor. Paixão não é sinônimo de amor. Pode recorrer do amor e, então, será doce e terna, apesar de intensa e perturbadora; mas a paixão também resulta do sofrimento, de uma grande mágoa, da cólera. por essa razão, o prolongado martírio de Cristo ou dos santos torturados é chamado de “paixão”. Benedito Ferri distingue duas espécies de paixão: “as sociais e as antissociais”, conforme sejam úteis ou danosas, favoráveis ou contrárias à ordem e ao desenvolvimento da sociedade civilizada. No seu entender, “são paixões sociais” o amor, a honra, o patriotismo, o afeto materno; “são paixões antissociais” o ódio, a vingança, a cólera, a ferocidade, a cobiça, a inveja. A paixão não basta para produzir o crime. este sentimento é comum aos seres humanos que, em variáveis medidas, já o sentiram ou sentirão em suas vidas. Nem por isso praticaram a violência ou suprimiram a existência de outra pessoa. A paixão não pode ser usada para perdoar o assassinato, senão para explicá-lo. É possível entrever os motivos que levam um ser dominado por emoções violentas e contraditórias a matar alguém, destruindo não apenas a vida da vítima, mas, muitas vezes, sua própria vida, Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 32-50, set. 2012 35 no sentido físico ou psicológico. Sua conduta, porém, não perde a característica criminosa e abjeta, não recebendo a aceitação social. O exemplo de paixão assassina, trazido por Shakespeare em Otelo, é bastante atual, pois mostra o aspecto doentio daquele que mata sob o efeito de suspeitas de adultério por parte de sua esposa. Após o crime, o grande dramaturgo atribui ao matador a seguinte frase: “Dizei, se o quereis, que sou um assassino, mais por honra, porque fiz tudo pela honra e nada por ódio.” Na verdade, a palavra “honra” é usada para significar “homem que não admite ser traído”. Os homicidas passionais não se cansam de invocar a honra, ainda hoje, perante os tribunais, na tentativa de ver perdoadas suas condutas. O sentimento de “posse sexual” está intimamente ligado ao ciúme. Há quem entenda não existir amor sem ciúme, mas é preciso verificar que o amor afetuoso é diferente do amor possessivo. Em ambas as categorias amorosas pode existir ciúme; amigos sentem ciúmes uns dos outros; irmãos sentem ciúmes do amor dos pais; crianças demonstram, sem rodeios, seus ciúmes generalizados de tudo e de todos. Embora esses sentimentos tenham a mesma natureza do ciúme sexual, são diferentes na sua intensidade e nas consequências que produzem na vida. O amor-afeição não origina a ideia de morte porque perdoa sempre, ainda que haja ciúme. Já o amor-sexual-possessivo é muito egoísta, podendo gerar ciúmes violentos que levam a graves equívocos, inclusive à violência. Nossa pesquisa ao longo da última década tem se centrado em explorar a natureza das paixões de homens e mulheres, suas origens 36 C a r t a M en sa l • Rio de Janeiro, n. 690, p. 32-50, set. 2012 e consequências, com um foco especial no ciúme, infidelidade, amor, sexo e status. Fundamentalmente, o papel central do ciúme nas relações íntimas. Alguns argumentam que tais mistérios deveriam ser deixados em paz, puros e desimpedidos, protegidos do olhar áspero e feroz do escrutínio científico. Mas a mulher que tem sua liberdade e senso de segurança esmagado por um marido ciumento se sairá melhor se não souber como evitar tal tormento? O homem obcecado por um amor não correspondido se sairá melhor deixando de entender os motivos subjacentes à sua rejeição? A ignorância pode ser, às vezes, uma benção, mas pode causar também uma angústia desnecessária. Minha esperança é pôr a nu a lógica que subjaz às paixões perigosas, fornecendo um caminho para a compreensão do sofrimento que se passa nas mãos de amantes e rivais, e possivelmente aperfeiçoará de algum modo os instrumentos para enfrentarmos os demônios não domesticados de nossas vidas. Amor e crime Amor e morte nasceram irmãos, e mais do que amor e morte, nasceram irmãos, amor e crime, assim assinalava o grande enrico Ferri, grande criminalista italiano, fundador junto com lombroso e Garofalo, da escola positiva de Direito penal. A sua palavra fácil, clara e vibrátil, ora se dirigia ao coração, implorando e enternecendo, ora à inteligência, expondo e esclarecendo. porém todos os seus discursos, tanto de defesa quanto de acusação, têm, além do seu real valor literário, um alto interesse jurídico: são verdadeiramente, pequenas monografias de Direito Penal, embora revestindo a forma de discursos forenses. Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 32-50, set. 2012 37 É a sua faceta de advogado ilustre, na fulguração no seu talento de orador que produziu a célebre defesa de Carlos Cienfuegos, assassino da Condessa Bianca Hamilton, no Tribunal Criminal de Roma. Amor e crime nasceram gêmeos, inseparáveis como o corpo e a sombra. Diziam que o ódio é vizinho do amor. esses sentimentos da honra e do amor nos limites da vida normal, são a expressão e o fermento sadio fecundo da existência humana, quando chegam ao excesso, ao delírio, descambam na torpeza, na ferocidade e no assassinato. O crime é a aberração da vontade humana, que desce a ofender os direitos de outrem sem causa justa, levada por uma questão de cegueira moral, como quando se mata, simplesmente, para derrubar a vítima, ou por um regresso selvagem à brutalidade primitiva, como quando se mata por vingança, quando não se pratica o crime no ardor de uma paixão que, sem essa aberração, poderia, talvez sem dúvida, se circundada por uma auréola de simpatia, e até de admiração, como o sentimento da honra e como o sentimento do amor, que são, em si mesmos, chamas puras da vida humana, e podem, todavia, no delírio da febre, dirigir a mão que bate, que incendeia e que mata. O amor tem uma escala infinita e indefinível de graus e de colorações, desde o ritmo tranquilo do amor de Tadeu e Veneranda, que Giuseppe Giusti descreveu maravilhosamente, até a loucura de Otelo, que Shakespeare esculpiu na consciência da humanidade civilizada, por forma inesquecível. e Otelo suicida-se, subitamente, depois de ter beijado e assassinado Desdêmona adormecida. O crime passional é um delito de amor, e o amor é a mais humana e a mais terrível das paixões! 38 C a r t a M en sa l • Rio de Janeiro, n. 690, p. 32-50, set. 2012 por consequência, o crime provocado pelo amor contrariado, é um crime passional, por excelência. Mas quais são as relações entre o crime e a paixão? As relações que constituem a vida quotidiana de todos os seres humanos – como de todos os seres vivos –, as quais, na grande maioria dos casos, não chegam ao conhecimento do público e se esvaem na penumbra, desaparecendo nas baixas camadas da vida anônima, mas que, às vezes, por uma erupção sangrenta, atingem o fastígio da arte, como nas figurações imortais de Shakespare e de Dante, ou como no presente caso da vida real, levam à trepidante ansiedade do julgamento público. As leis humanas não podiam deixar de ocupar-se destas relações entre a paixão e o crime, porque não podiam deixar de sentir-se impressionadas pela frequência dos crimes determinados pelo turbilhonar de uma paixão. Quando se traz a vingança no coração, nem em comer se pensa, o que equivale, também, a dizer que a própria ideia da vingança pode atingir um tal estado de intensidade, que constitua um delírio, uma obsessão, aquilo a que os psicólogos chamam de monomania, isto é, a tirania de uma ideia, de um sentimento, que paralisa e exclui a influência de qualquer outra ideia ou sentimento, que possa deter o homem, na execução daquilo que ele julga ser o seu dever. Carrara, um grande criminalista italiano, disse: “É preciso ver se as paixões são cegas ou permitem o raciocínio?.” As paixões que dão tempo e possibilidade de raciocinar, não excluem a responsabilidade; as que cegam o clarão da razão produzem a irresponsabilidade. Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 32-50, set. 2012 39 Disse ainda Carrara: “São paixões cegas o amor e o medo, são paixões raciocinadoras a vingança e a cupidez.” Amor e morte Defrontamo-nos agora com um dos mais profundos e significativos paradoxos do amor: a intensificação de abertura para ele, que a consciência da morte acarreta, e simultaneamente a intensificação do senso da morte acarretada pelo amor. Amar é abrir-se tanto ao negativo quanto ao positivo, à dor, à tristeza, à decepção, assim como à alegria, à realização, e a uma intensidade de percepção que ignorávamos existisse. Quando nos apaixonamos, segundo o verbo tão expressivo, o mundo estremece e se altera a nossa volta, não só na aparência, como em todas as nossas realizações. em geral, o abalo é sentido conscientemente em seus aspectos positivos – o milagre e o mistério do amor produzem de súbito um novo céu e uma nova terra maravilhosos. O amor resolve tudo, cantamos. A relação entre morte e amor conta com uma história impressionante na literatura. Na língua italiana havia o frequente jogo de palavras com “amore e morte”. A conexão tem também suas analogias biológicas na natureza. O zangão morre após fertilizar a rainha. Mais vívido é o caso do louva-a-deus: a fêmea arranca a cabeça do macho durante a cópula e seus espasmos mortais confundem-se com os amorosos, tornando-os mais vigorosos. Fertilizada, a fêmea continua a comê-lo, a fim de armazenar alimento para o filhote. 40 C a r t a M en sa l • Rio de Janeiro, n. 690, p. 32-50, set. 2012 Agressão maligna – Necrofilia Necrofilia, no sentido caracterológico, pode ser descrita como a apaixonante atração por tudo o que é morto, pútrido, doentio; é a paixão de transformar o que é vivo em algo sem vida; de destruir pelo prazer de destruir; o interesse exclusivo em tudo o que seja puramente mecânico. É a paixão de despedaçar estruturas vivas (H. von Hentig, 1964). O termo necrofilia, amor ao que é morto, tem sido aplicado geralmente a apenas duas espécies de fenômenos: 1) Necrofilia sexual, o desejo manifestado pelo homem de estabelecer relações sexuais ou qualquer outra espécie de contato sexual com o cadáver de uma espécie fêmea. 2) Necrofilia não sexual, o desejo de manipular, de se aproximar e de examinar pela visão os cadáveres e, particularmente, o desejo de desmembrá-los. Mas o termo não tem sido aplicado, em geral, a uma paixão enraizada no caráter, em cujo solo as suas manifestações mais explícitas e mais rudes florescem. Uma apreciação geral de alguns exemplos de necrofilia no sentido tradicional tornará mais fácil identificar o caráter necrófilo menos óbvio. Relatos de casos de necrofilia podem ser encontrados em um grande número de obras, especialmente naquelas que tratam de perversão sexual e de criminologia. A seleção mais completa é dada por H. von Hentig, é um dos mais importantes criminalistas alemães, em uma obra que trata exclusivamente do assunto. Foi invocado por erich Fronm, no seu clássico Anatomia da destrutividade humana, Zahar editores, 1975. Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 32-50, set. 2012 41 Exemplos de necrofilia: (1) atos de contato sexual com o cadáver de fêmea (relações sexuais, manipulação de órgãos sexuais); (2) excitação sexual produzida pela visão de um cadáver de mulher; (3) atração por cadáveres e túmulos e objetivos vinculados aos túmulos, como flores e quadros; (4) atos de esquartejamento de um cadáver; (5) a sede de tocar ou de sentir o cheiro de cadáveres ou de algo pútrido. Von Hentig compartilha a opinião de outros autores – como T. Spoerri, a quem cita – de que a necrofilia é muito mais frequente do que se supõe em geral. por motivos de ordem prática, contudo, essa perversão encontra muito poucas oportunidades de satisfação. As únicas pessoas que têm livre acesso a cadáveres e a oportunidade de exercitar explicitamente essa perversão são os coveiros e os funcionários de necrotérios. Dessa forma, não é de surpreender verificar que a maioria dos exemplos dados recaia nesse grupo de pessoas. Sem dúvida, também é possível que essas profissões possam, por si mesmas, atrair pessoas necrófilas. A forma de necrofilia não mesclada ao sexo significa ato de pura paixão de destruir. Frequentemente, essa paixão de destruir já se manifesta na infância; algumas vezes, aparece apenas em uma idade mais madura. 42 C a r t a M en sa l • Rio de Janeiro, n. 690, p. 32-50, set. 2012 Crimes em que a vítima é desmembrada, esquartejada ou mutilada, em geral, têm como motivo a vantagem lucrativa, o ciúme ou a vingança. “O objetivo real dos criminosos necrófilos não é a morte da vítima – que, é claro, é uma condição necessária – mas o ato do esquartejamento.” Crimes marcados pela necrofilia – Lorena Bobbitt, a mulher de origem equatoriana que ficou famosa por cortar o pênis de seu marido John Wayne e jogar o órgão em um terreno baldio. O fato aconteceu depois de seu marido ter chegado em casa bêbado e a ter estuprado. Wayne, um ex-fuzileiro naval que acumulou um longo histórico de agressões e maus-tratos em seus dois casamentos seguintes, aproveitou a “fama” obtida com o caso para fazer aparições na TV e protagonizar filmes para adultos. Lorena, por sua vez, permaneceu no anonimato em uma tentativa de retomar seu “sonho americano”. “De repente, minha vida privada ficou pública. era como um livro aberto e todo mundo conhecia minha história”, disse lorena à equipe do programa The Early Show. “Às vezes não podia sequer ir ao supermercado para comprar comida, porque me reconheciam”, acrescentou. lorena Bobbitt foi declarada inocente após alegar loucura motivada pelos maus-tratos a que vinha sendo submetida pelo marido John Wayne, que teve de realizar uma operação cirúrgica para ter seu pênis reimplantado, se mudou para las Vegas. lá, após uma breve carreira no cinema pornô, trabalhou em um bordel como garçom, em um restaurante e como caminhoneiro. lorena e Wayne se divorciaram em 1995, após seis anos de casamento. Segundo ela, não se falaram desde então. Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 32-50, set. 2012 43 – Jorge da Silva, de 26 anos, confessou ter matado a companheira, patrícia Vicente da Silva, 24 anos, e depois estraçalhou diversos órgãos e comeu o coração dela frito, como tira-gosto. O crime aconteceu no Município de Arapiraca, em Alagoas, no final do ano de 2010, mas somente em setembro de 2011, o autor foi preso na cidade de Carmópolis, em Sergipe. – Cristal paulette Richardson, de 28 anos, cortou o pênis de Cedric lamont antes de cortar sua garganta e esfaqueá-lo até a morte em um quarto de motel, em Dallas no mês de maio do corrente ano de 2012. – Farah Jorge Farah, foi condenado em abril de 2008, a 13 anos de prisão pela morte e esquartejamento da ex-paciente e amante Maria do Carmo Alves. A vítima teve o corpo retalhado e colocado em pedaços no porta-malas do carro do assassino, que teve seu registro de médico cassado. – Um homem de 32 anos foi detido em Berlin após assassinar e esquartejar sua esposa na frente de seus seis filhos, que possuem idades entre um e 13 anos. Vizinhos informaram que depois de uma acalorada discussão, o homem arrastou a mulher até o terraço da casa e, posteriormente começou a agredi-la até sua morte. As testemunhas ainda acrescentaram que o assassino teria decapitado a esposa e atirado a cabeça da vítima na rua. Os agentes o encontraram ensanguentado e rodeado de partes do corpo de sua esposa de 30 anos. – O conhecido “crime da mala” aconteceu em 1928 aqui no Brasil. Um imigrante italiano, Giuseppe pistone, assassinou sua esposa, Maria Fea e decidiu ocultá-la em uma mala, seccionando o joelho com uma navalha e quebrando o pescoço para que o cadáver coubesse na mesma. Usando endereços e nomes falsos, remete a mala à “Francesco Ferrero”, em Bordeaux, França, através do navio Massilia. 44 C a r t a M en sa l • Rio de Janeiro, n. 690, p. 32-50, set. 2012 No dia 7 de outubro de 1928 a mala é içada a bordo do navio, então atracado no porto de Santos. Ao ser descarregada, sofre um pequeno impacto, que abre uma fresta na parte inferior e revela um forte mau cheiro. A mala é aberta, e o cadáver, em avançado estado de putrefação, descoberto. Junto a ele, além de algumas roupas da vítima e a navalha utilizada no crime, estava um feto de uma menina, com aproximadamente seis meses de gestação. O episódio ganhou ampla cobertura na época, gerando comoção popular. – Chico picadinho foi condenado a 20 anos de prisão pela morte de uma garota de programa em São paulo, em 1976. Antes de matar a garota de programa, Chico picadinho havia assassinado uma bailarina austríaca na Rua Aurora, no centro de São paulo, em 1966. A vítima foi estrangulada e teve o corpo retalhado em vários pedaços. Após ser condenado a mais de 20 anos de prisão, o criminoso foi colocado em liberdade, em 1974, por bom comportamento. Dois anos depois, no entanto, ele cometeu novo assassinato, porém, desta vez, destrinchou sua vítima com um cuidado muito maior, e tentou jogar alguns pedaços pelo vaso. A vítima se chamava Suely e tinha vários codinomes. Depois de matá-la e esquartejá-la, tentando fazer com que o vaso levasse partes do corpo, ele não consegue colocar o corpo todo no vaso sanitário, e depois anda com as partes do corpo da moça. – “Jack, o Estripador” foi o pseudônimo dado a um assassino em série não identificado que agiu no distrito de Whitechapel em Londres na segunda metade de 1888. O nome foi tirado de uma carta, enviada à Agência Central de Notícias de londres por alguém que se dizia o criminoso. Suas vítimas eram mulheres que ganhavam a vida como prostitutas. Duas delas tiveram a garganta cortada e o corpo mutilado. Teorias Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 32-50, set. 2012 45 sugerem que, para não provocar barulho, as vítimas eram primeiro estranguladas, o que talvez explique a falta de sangue nos locais dos crimes. A remoção de órgãos internos de três vítimas levou oficiais da época a acreditarem que o assassino possuía conhecimentos anatômicos ou cirúrgicos. – Rosanita dos Santos, matou e esquartejou o marido, o tenente reformado da polícia Militar, José Raimundo dos Santos. O corpo da vítima foi cortado em cerca de 100 partes, cozidas em óleo e colocados dentro de um saco plástico, debaixo de uma escada, próximo à residência do casal, na Vila São Cosme, Vale do Ogunjá, em Salvador/ BA. Segundo o delegado de polícia, Rosanita matou o policial com golpes de faca do tipo peixeira. para a polícia, Rosanita planejou o crime, pois aproveitou o período de São João para ficar sozinha com o marido. A dona de casa diz que José Raimundo cometeu suicídio, mas foi enviada para o presídio feminino, onde vai aguardar julgamento. A polícia tem pistas de uma mulher que poderia ter ajudado Rosanita. Os vizinhos estavam chocados com a violência. Um deles, que evitou se identificar, admitiu que ela ameaçava o marido e chegava mesmo a prometer que iria cortá-lo em pedacinhos. – Katherine Knight, é a primeira mulher australiana a receber uma pena perpétua sem nenhuma chance de condicional. Katherine, em um dia de fúria, matou seu marido, mas até aí “tudo bem”. Depois de matá-lo com 37 facadas, ela arrancou toda a pele do homem e a pendurou no teto da casa. Depois ela o decapitou e pôs sua cabeça em uma panela junto com um pouco de carne das nádegas e preparou o jantar para as crianças. por sorte a polícia chegou antes de ela servir o jantar. 46 C a r t a M en sa l • Rio de Janeiro, n. 690, p. 32-50, set. 2012 – Katia Kharitonova, estava assistindo um filme com seu marido e uma amiga e resolveu ir dormir. Meia hora depois, ela acordou e encontrou seu marido e sua melhor amiga em meio ao ato sexual. ela bateu com um candelabro na cabeça da ex-amiga e deu uma bela mordida no pênis do seu esposo, arrancando-o. Katia foi condenada a dois anos de prisão em um campo de trabalho. – A japonesa Kaori Mihashi, 32 anos, foi detida sob suspeita de matar o marido, cortar seu corpo em pedaços e tê-los espalhado por Tokyo. Kaori confessou que matou o marido, Yusuke, 30 anos, funcionário da corretora Morgan Stanley properties Japan, quebrando sua cabeça com uma garrafa de vinho enquanto ele dormia. ela alegou que sofria maus-tratos. Nos dias que se seguiram, o tronco nu da vítima foi encontrado dentro de um saco plástico, abandonado na rua. De início, foi confundido por quem passava com um manequim de vitrine. As pernas e a barriga foram encontradas no jardim de uma casa abandonada e, graças à confissão de Kaori, a polícia localizou a cabeça do defunto, em um parque de um bairro da periferia de Tokyo. em relação às duas mãos do marido, que não foram encontradas, a mulher disse que havia jogado junto com o lixo queimável. A polícia de Shinjuku (Tokyo), que investiga o caso, acredita que Kaori fez isso para dificultar a identificação do corpo através das impressões digitais. em seu depoimento, ela disse ter agido por vingança, após seis anos sofrendo maus-tratos do marido. “O corpo era mais pesado que eu pensava. eu não conseguiria movê-lo sozinha. Dividi em várias partes porque queria esconder o mais rápido possível”, disse a mulher, falando sobre os motivos do esquartejamento. Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 32-50, set. 2012 47 Segundo as investigações, Kaori comprou um serrote, sacolas plásticas e pá dois dias depois da morte do marido. entre a noite e a madrugada deixou a parte do tronco em Shinjuku e as partes inferiores em uma área particular de Shibuya. No outro dia, usou a pá para enterrar a cabeça em um parque de Machida. Kaori disse que carregou a cabeça dentro de uma bolsa para ir de trem até o parque, que fica perto de sua casa e a 700 metros da estação Machida da linha Odakyu. – Recentemente um novo caso de necrofilia chocou o Brasil. A revista Veja, edição 2.273, intitulou a reportagem como “Fim do Conto de Fadas”. Trata-se do assassinato, com requintes de crueldade cometidos por elize Matsunaga. ela matou e esquartejou seu marido e pai de sua filha, Marcos Matsunaga – diretor da empresa do setor de alimentos Yoki. A perícia revela que ela degolou o marido e cortou seus braços quando ele ainda estava vivo, concluindo que sua morte se deu em decorrência de um tiro na cabeça associado a “asfixia respiratória por sangue aspirado devido à decapitação”. O corpo do empresário foi encontrado, cerca de uma semana após o desaparecimento, cortado em pedaços e colocado em sacolas plásticas. elize carregou as sacolas em três malas, descartando-lhes pela cidade. Fatos que merecem reflexão Não se trata de aconselhar comportamento belicoso, trata-se, simplesmente, de constatar fatos, mudanças de comportamentos nas pessoas, mudanças essas que devem refletir na mudança de atitude do 48 C a r t a M en sa l • Rio de Janeiro, n. 690, p. 32-50, set. 2012 Poder Judiciário, diante do clamor público que provocam, podendo conduzir à impunidade. As razões da impunidade O levantamento da Estratégia Nacional de Justiça e Segurança Pública (eNASp) mostra que a polícia vem prendendo mais, mas os inquéritos não são conclusivos, os crimes mais violentos continuam não sendo esclarecidos e a maioria das investigações é arquivada. A enasp é uma parceria entre o Ministério da Justiça, o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) e o Conselho Nacional de Justiça (CNJ). O estudo mostra que mais de 80% dos inquéritos relativos a homicídio doloso – em que há intenção de matar – foram arquivados. O arquivamento decorreu da prescrição dos crimes, a falta de identificação de autoria, da falta de provas e da morte dos assassinos. Segundo o mapa da violência do Ministério da Justiça, Alagoas é o estado mais violento do país, com 66,8 homicídios por 100 mil habitantes, além de ser o estado nordestino com pior desempenho de inquéritos criminais. Ora, não podemos possuir justiça enquanto a questão da impunidade estiver na base da crise judiciária. Segundo a história jurídica brasileira, esta crise vem desde os tempos da Colônia. O sentimento no Brasil é o de que as penas, a aplicação das penas, a morosidade da justiça e as leis demasiadamente protetivas ao criminoso estão destruindo nossa sociedade. Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 32-50, set. 2012 49 lembre-se, por oportuno, que o Código penal, no capítulo destinado aos “Crimes Contra o Respeito aos Mortos”, estabelece pena irrisória para o crime de “Destruição, Subtração ou Ocultação de Cadáver”, que é reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. Bibliografia BUSS, David M. A paixão perigosa. 3. ed. [Rio de Janeiro]: Objetiva, 2000. FeRRi, Henrique. Discursos de defesa: defesas penais 6. ed. [S. l.]: Armênio Amado, [2002]. FROMM, erich. Anatomia da destrutividade humana. Rio de Janeiro: Zahar, 1975. iTAGiBA, ivair Nogueira. Homicídio, exclusão de crime e isenção de pena. Rio de Janeiro: [s. n.], 1958. p. 334. MAY, Rollo. Eros e repressão. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1978. MOliC, Fernando (Org.). 50 anos de crimes: reportagens policiais. Rio de Janeiro: Record, 2007. NAGiB elUF, luiza. A paixão no banco dos réus. São Paulo: Saraiva, 2002. RABiNOWiCZ, léon. O crime passional. São Paulo: Saraiva, 1933. Palestra pronunciada em 17 de julho de 2012 50 C a r t a M en sa l • Rio de Janeiro, n. 690, p. 32-50, set. 2012 Meio Ambiente: Quando a natureza fala, precisamos entender Claudio Contador Economista 1 – Introito Q ualquer ação humana, mesmo a mais inocente e bem intencionada, causa uma intervenção e modifica o meio ambiente. Os resultados das nossas intervenções fazem parte da categoria de efeitos denominados pelos economistas como “externalidades”. Quando geram efeitos positivos, as externalidades são positivas; em caso contrário, negativas. A intervenção humana no meio ambiente – o chamado efeito antropogênico – é em geral negativo (embora em alguns casos a externalidade seja positiva) e tem sido motivo de polêmicas infindáveis. De um lado, os ecologistas fundamentalistas enxergam toda intervenção como prejudicial. Do outro, grupos igualmente radicais, consideram os recursos ambientais como inesgotáveis e refutam medidas conservacionistas. Ambos recorrem a abundantes (e nem sempre conclusivos) estudos científicos e evidências empíricas. Ou a questão pode ser posta de outra forma. Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 51-102, set. 2012 51 Os recursos ambientais são fatores de produção, essenciais para a geração de novos produtos e assim gerar mais conforto e qualidade de vida. Consequentemente, seguindo com o argumento, quanto maior a exploração de recursos ambientais, maior tende ser o nível de produção. esta lógica encontra defensores a favor dos grandes projetos de infraestrutura – rodovias, hidroelétricas, desmatamento de florestas para uso agrícola etc. – embora possam discordar da utilização predatória e insensata do meio ambiente. Destruir o meio ambiente significa que o nível de produção futura será menor, e consequentemente pior a qualidade de vida das próximas gerações, do que ocorreria com o uso mais sensato dos recursos. Levado este raciocínio ao extremo, o crescimento econômico é considerado o grande agressor do meio ambiente e culpado de todos os males e catástrofes que temos assistido. e aceitando as evidências empíricas, o impacto sobre o meio ambiente é inevitável. Cada 1% de aumento na renda per capita está associado com o aumento de 0,34% na geração de lixo sólido, enquanto cada 1% de aumento na população expande a geração de lixo em 1,04%1. estatísticas de 149 países alertam que a geração de lixo sólido deve dobrar entre 1990 e 2019 2. Nas regiões com crescimento econômico mais intenso, a geração de lixo per capita cresce duas vezes mais rápido do que a renda per capita. para não gerar complexo de culpa, a maioria dos problemas ambientais causados pela atividade humana pode ser corrigida – com custo naturalmente. em comparação, a Natureza se encarrega de nos brindar com choques maiores, impossíveis de serem corrigidos ou revertidos. Os exemplos são diversos e dolorosos, desde o meteoro que atingiu a Terra há 65 milhões de anos e modificou os ecossistemas – para tristeza dos dinossauros, mas que permitiu o surgimento de formas 52 C a r t a Men sa l • Rio de Janeiro, n. 690, p. 51-102, set. 2012 de vida consideradas mais avançadas – a erupção do Vesúvio em 79 d.C., que destruiu pompeia e Herculanum; os terremotos de lisboa em 1531 e 1755; o tsunami do Sudeste da Ásia em 2004; o furacão Katrina em 2005; o terremoto no Haiti em 2010, e muitos outros. Alguns impactos já se tornaram conhecidos e visitas não desejadas, como os terremotos e maremotos causados pelos movimentos das placas tectônicas; as explosões solares a cada 11 anos que afetam a agricultura e aumentam a emissão de raios gama e ultravioleta; e os fenômenos El Niño (aquecimento do Oceano Pacífico na zona do equador) e La Niña (queda de temperatura e aumento de furacões). Imaginar o Homem como o único e grande responsável pelas mudanças no meio ambiente é um raciocínio simplista e arrogante. Simplista por ignorar as fontes naturais de mudanças nos ecossistemas e arrogante por supor que o Homem tem capacidade de alterar as forças maiores – como as mencionadas anteriormente – que impactam a natureza. em maio de 2012, a revista Current Biology publicou um artigo com a hipótese de que os saurópodes, répteis herbívoros gigantes que viveram na Terra há 150 milhões de anos, emitiam 520 milhões de toneladas de metano por ano,3 mais do que toda a vida animal de hoje – aí contabilizada a vida humana e todos os animais – que emite atualmente 500 milhões de toneladas de metano por ano. em uma linha de argumentação em moda atualmente, os saurópodes teriam contribuído para o aquecimento da Terra no período jurássico. A temperatura média da Terra era 10 graus Celsius superior a de hoje. Será que um “ambientalista” radical acusaria – se pudesse – os saurópodes pelo aumento da temperatura e recomendasse que controlassem seus gases? Até mesmo as fontes “limpas” de geração de eletricidade são suspeitas de gerar aquecimento.4 Durante a noite, as usinas eólicas aquecem a Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 51-102, set. 2012 53 superfície do solo abaixo delas. Com o movimento gerado pelas pás da turbina, o ar frio que em geral se assenta na superfície se mistura com o ar mais quente no topo da torre. Quanto maior o número de usinas eólicas na região mais acentuado o impacto e o aquecimento, que pode inclusive afetar os padrões da chuva. 2 – O ciclo das grandes catástrofes O planeta Terra encontra-se neste momento na fase ascendente do ciclo de eventos naturais catastróficos, onde o tempo deve ser medido pela escala geológica. A Figura 1 mostra que desde 1500 (inexistem registros confiáveis para o período anterior) o número de terremotos com intensidade acima de 5oC na escala Richter está aumentando. Áreas densamente habitadas estão a mercê destas forças: Califórnia/ eUA, Japão, portugal etc. O mapa da Figura 2 assinala as pressões sísmicas em atuação. O bom-senso impede que culpemos os nossos ancestrais de seis séculos atrás pela escalada sísmica. Figura 1. Quantidade de terremotos com magnitude acima de cinco graus Ritcher. 54 C a r t a Men sa l • Rio de Janeiro, n. 690, p. 51-102, set. 2012 E não é apenas o número de sismos que assume tendência crescente. A Figura 3 mostra que a temperatura média mundial, após oscilar entre 13,5oC e 14oC no período 1850-1900, sobe nos 40 anos seguintes, diminui de 1940 a 19505 e desde então mostra tendência crescente. Com o aumento da temperatura, cresce o nível médio do mar e diminui o volume médio de neve no hemisfério Norte. Mas o importante é observar a instabilidade e flutuações em torno da tendência da temperatura. Figura 2. Movimento das placas tectônicas e áreas mais propícias a sismos. Diz o ditado que a desgraça nunca anda sozinha. Segundo os dados da Geo Risks Research (janeiro de 2012) na Figura 4, o nosso planeta está sendo afligido por temperaturas extremas, enchentes, aumento do nível dos oceanos e avanço do mar nas áreas costeiras,6 tempestades violentas, tornados, além dos sismos. Enfim, a Natureza não está sendo generosa com as gerações atuais, nem parece mais condescendente com as próximas. Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 51-102, set. 2012 55 Figura 3. Mudanças de temperatura, nível do mar e volume de neve. Figura 4. Número de catástrofes naturais 1980-2011. 56 C a r t a Men sa l • Rio de Janeiro, n. 690, p. 51-102, set. 2012 Figura 5. Temperatura média mundial, graus centígrados. As estatísticas levantadas pelas OGNs e instituições ambientais apontam o aumento da emissão de CO2. Como a temperatura da Terra também está aumentando parece convincente concluir que o aumento da emissão de CO2 gera o efeito estufa que causa o aumento da temperatura global. Esta é a mensagem do filme de Al Gore, “An inconvenient truth” que despertou os ânimos dos ambientalistas mais radicais. Figura 6. Aquecimento visto pelo tamanho de geleiras e a emissão de carbono. Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 51-102, set. 2012 57 O aquecimento global derrete as calotas polares – que por sua vez aumenta o nível dos oceanos. A Figura 6 mostra que o derretimento das calotas se iniciou nas primeiras décadas do século XiX, enquanto o uso das fontes básicas de carbono (gás, petróleo, carvão), ocorreu no século XX, quase um século depois. O argumento da causalidade de emissão de CO2 e aquecimento global perde importância. A correlação – se existe – é simplesmente espúria. por outro lado, a associação entre atividade solar e temperatura no Ártico, na Figura 7, é mais convincente. e mais uma vez, o uso (e emissão) de carbono não está correlacionado com a temperatura no Ártico.7 A temperatura no Ártico é a melhor medida do aquecimento global, pois evita os erros de mensuração nos equipamentos instalados em áreas urbanas, onde a atividade humana e poluição deturpam a escala de termômetros. Figura 7. Atividade solar, temperatura no Ártico e emissão de CO2. Consequentemente, duas conclusões emergem desta análise: (1) a temperatura da Terra está aumentando; e (2) a atividade antropogênica 58 C a r t a Men sa l • Rio de Janeiro, n. 690, p. 51-102, set. 2012 de emissão de CO2 não pode ser responsabilizada pelo aquecimento global. Os pregadores mais radicais apontam os nossos pecados ambientais como as causas da rebelião da Natureza. Felizmente não existe qualquer base científica para esta causalidade, apesar dos nossos pecados contra o meio ambiente. O planeta Terra simplesmente passa por mais um ciclo de catástrofes, como muitos e muitos outros ocorridos anteriormente. Se a humanidade vai sobreviver aos cataclismos naturais não sabemos. Na verdade, a Natureza simplesmente não se importa. Tolera as formas de vidas existentes, e pode facilmente nos trocar por novas formas, possivelmente mais inteligentes e menos arrogantes. O gás carbônico é acusado de ser um poluente. No entanto, o CO2 tem sido um grande benfeitor, favorecendo a produção agrícola e o desenvolvimento de florestas.8 A nossa inocência sobre as catástrofes naturais não nos dá o direito de agredir e destruir o meio ambiente em nossa volta. É óbvio que queimar uma floresta gera impactos no meio ambiente da região, com temperaturas mais elevadas, ar menos puro, desaparecimento de fontes d’água etc. O mesmo acontece quando uma fábrica emite poluição na atmosfera, ou despeja esgoto e resíduos químicos nos rios. estes danos são tão óbvios que todos nós neste aspecto somos ambientalistas. Quando causada pelo Homem, a agressão ao meio ambiente não fica impune. O problema é que o agressor pode ficar impune, dividir ou mesmo transferir a responsabilidade e os danos para pessoas inocentes. Desastres ambientais surgem do descaso criminoso, como o deslizamento de morros e favelas, evitáveis com melhor fiscalização de prefeituras e de órgãos ambientais. estas agressões fragilizam o meio ambiente no nosso entorno e potencializam os danos quando ocorre um desastre natural. Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 51-102, set. 2012 59 3 – As causas dos efeitos no meio ambiente para organizar a discussão, as causas dos efeitos no meio ambiente podem ser divididas em quatro grupos: • Causas naturais, gestadas pelos movimentos da própria natureza sem a intervenção do Homem, como os meteoros, vulcões, el Niño, La Niña, terremotos, tsunamis etc. • Causas antropogênicas, de responsabilidade da ação direta ou indireta do Homem, como a contaminação por mercúrio da baía de Minamata, no Japão; os deslizamentos de encostas causados pelo lixo acumulado, emissão de gases tóxicos e de radioatividade, CO2 etc. • Causas naturais agravadas pela ação do Homem, como chuvas excessivas sem escoamento (obstruído por lixo e construções), e que causam alagamentos, deslizamentos de encostas etc. O exemplo de maior impacto foi o acidente nuclear de Fukushima em 2011 após um terremoto. • Causas antropogênicas que intensificam as catástrofes naturais, onde a ação do Homem causa sismos dirigidos ou artificiais. Alguns exemplos: a extração de minerais, de água dos aquíferos, de combustíveis fósseis e de gás natural; a detonação de bombas nucleares (em 1961, a URSS detonou uma bomba nuclear de 50 megatons e gerou um sismo com magnitude acima de cinco. este evento serviu para acelerar o tratado de não proliferação de armas nucleares) etc. 60 C a r t a Men sa l • Rio de Janeiro, n. 690, p. 51-102, set. 2012 4 – Catástrofes naturais e as antropogênicas O confronto entre as catástrofes naturais e as causadas pelo Homem aponta que, em números, as causas naturais são em menor número, porém provocam maior perda de vidas humanas. As Figuras 8 e 9 reproduzem a evolução das catástrofes em número e em perdas de vidas, respectivamente. Ambos os tipos de catástrofe aumentaram em frequência, mas o número de vidas perdidas se manteve relativamente constante. Figura 8. Número de catástrofes naturais e antropogênicas. No tocante às causas naturais, nada podemos fazer senão contar com a sorte e rezar para que um meteoro não nos atinja, lembrando que a Terra está terrivelmente perto do cinturão de asteroides do nosso sistema solar. Como não temos meios de aplacar a cólera da Natureza, devemos concentrar atenção nos danos gerados ou agravados por nós. Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 51-102, set. 2012 61 Figura 9. perda de vidas humanas com catástrofes naturais e antropogênicas. 5 – Direito de propriedade e o meio ambiente A intervenção do Homem no meio ambiente se manifesta com ampla faixa de intensidade, desde o simples ato mal-educado de jogar papel no chão até os projetos de grande envergadura, como a transposição do Rio São Francisco, a hidroelétrica de Belo Monte, e outros. paradoxalmente os grandes projetos que passam pelo crivo de estudos técnicos e – em princípio – geram melhoria na qualidade de vida – causam mais polêmica e críticas do que o despejo irresponsável do lixo. enquanto isto, as agressões menores passam despercebidas e não encontram eco na mídia. Os dejetos, os resíduos industriais e a poluição do ar e da água não são os únicos responsáveis pela intervenção ambiental causada pelo Homem. É impossível encontrar uma atividade produtiva que não tenha efeitos negativos sobre o meio ambiente. Isto significa que todas as atividades devam ser proibidas? Devemos regredir a um padrão de vida selvagem (também com impactos no meio ambiente) como sugerido pelos ecologistas fundamentalistas? Claro que não, mas não significa que podemos continuar destruindo o meio ambiente em nome de alguns duvidosos pontos percentuais de crescimento no 62 C a r t a Men sa l • Rio de Janeiro, n. 690, p. 51-102, set. 2012 piB. Os recursos ambientais não são uma herança; é um empréstimo que deve ser devolvido às próximas gerações. Mas não precisamos transformar o ambientalismo em religião.9 por que o meio ambiente é agredido? A todo momento, alguma atividade humana está gerando uma externalidade, causando danos ao meio ambiente e prejudicando direta ou indiretamente outras pessoas. pura maldade ou algo mais complexo? As externalidades causadas ao meio ambiente têm três características bem definidas. A primeira é que resultam da definição imprecisa do direito de propriedade, e não do comportamento perverso ou bondoso dos indivíduos e empresas. As externalidades não são características do mecanismo de mercado. pelo contrário, o funcionamento de mercados competitivos e com liberdade econômica fundamenta-se no direito de propriedade, que pode fazer tanto bem quanto mal. As externalidades ocorrem principalmente quando o direito de propriedade é imperfeitamente estabelecido e exercido. Uma fábrica polui a atmosfera, provoca distúrbios respiratórios nas pessoas e prejudica a vida animal e vegetal, porque não existem direitos de propriedade sobre o ar puro. Caso existissem, proprietário do ar puro poderia reclamar e exigir uma indenização da fábrica, que seria forçada a adotar providências antipoluentes para continuar funcionando. Os búfalos foram praticamente dizimados no século XiX no oeste dos estados Unidos porque não tinham dono. A pesca predatória de baleias, a caça de tigres, a matança de tartarugas, de micos-leões etc. não aconteceriam se estas espécies tivessem dono. A forma mais rápida e eficiente de recuperar uma espécie em extinção é criar direitos de propriedade, seja na esfera pública com a criação de reservas, parques e zoológicos, ou na esfera privada com jardins particulares.10 pessoas jogam lixo nas encostas e rios porque consideram estes locais como um bem público, sem dono. O que é de todos, é de ninguém. por isso, o estabelecimento de direitos de Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 51-102, set. 2012 63 propriedade sobre todos os recursos eliminaria a maioria das externalidades ou favoreceria seu controle.11 Em muitos casos, a indefinição dos direitos de propriedade é causada pela dificuldade de policiar o uso do recurso ambiental. Para descobrir quem polui o ar e com que intensidade, o “proprietário do ar” teria de instalar medidores e estabelecer um sistema de vigilantes ecológicos, o que seria, definitivo e demasiadamente oneroso (mas que os patrulheiros ecológicos adorariam). pior ainda, todo este aparato teria eficácia discutível, uma vez que as medidas da qualidade do ar e da água podem variar consideravelmente em um mesmo dia e local em função de muitas variáveis, como vento, temperatura, pressão etc. A segunda característica da externalidade é seu caráter incidental, involuntário. A empresa que polui ou a pessoa mal-educada que joga lixo no chão não tem interesse em poluir o ar ou sujar as ruas: seu objetivo é produzir, digamos, cimento, no caso da empresa, ou desfazer-se do lixo. A poluição é apenas uma consequência, um subproduto desagradável da atividade ou do comportamento humano, com efeitos incômodos em outras pessoas e atividades. Certamente, o empresário está consciente da sua agressão ao meio ambiente e a poluição que gera. Talvez seja mesmo prejudicado por ela, mas os danos que causa ao bem-estar de outras pessoas e atividades não são considerados nos cálculos de seus custos e benefícios. para não dizer que toda externalidade ao meio ambiente é negativa, podemos citar o caso de um apicultor nas proximidades de um bairro residencial ou de uma área de pomares. Os moradores vizinhos do apicultor são beneficiados com jardins mais floridos e pomares mais produtivos devido à ação polinizadora das abelhas. O apicultor certamente conhece os efeitos do comportamento das abelhas, e também 64 C a r t a Men sa l • Rio de Janeiro, n. 690, p. 51-102, set. 2012 sabia e necessitava da existência de jardins e pomares na vizinhança antes de investir na colmeia. porém, mesmo que goste de apreciar flores e frutas, os benefícios gerados aos proprietários dos jardins e pomares são involuntários e não contabilizados em seu negócio, a menos que haja um acordo. A falta de controle direto a um custo nulo sobre as fontes dos efeitos externos – a não ser pelo próprio externalizador – é a terceira característica das externalidades no meio ambiente. O próprio responsável não consegue eliminar totalmente a externalidade sem incorrer em custos e despesas adicionais, a menos que encerre as atividades causadoras das externalidades, o que, na verdade, representa um custo de oportunidade para si. portanto, o sistema de preços de mercado não consegue estabelecer valores para a externalidade. É importante não confundir externalidades com bens coletivos. externalidades ambientais, quando positivas, afetam um grande número de pessoas e, muitas vezes são confundidas com um bem coletivo. porém, enquanto a externalidade é apenas o subproduto de uma atividade, o bem coletivo é um produto final. Ademais, a externalidade assume a característica de inevitável, ou evitável a certo custo social. O bem coletivo, por sua vez, é evitável a um custo zero. excluindo os casos de externalidades positivas, o fato é que, mesmo incidentais, tais efeitos não são absorvidos – ou, empregando um jargão mais apropriado, internalizados – com prazer ou indiferença pelos demais indivíduos e empresas. Fechar simplesmente as indústrias poluidoras e proibir o uso de inseticidas e insumos tóxicos prejudica os trabalhadores, que perdem as oportunidades de emprego. Os consumidores mais ricos têm acesso a bens substitutos, muitas vezes importados, e consequentemente Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 51-102, set. 2012 65 são menos afetados diretamente. Filtros e medidas antipoluentes aumentam os custos de produção, limitando o acesso dos produtos às classes mais pobres. Enfim, a resposta não é simples e direta. É impossível divorciar a questão social da ambiental, mas não é preciso esperar soluções para o meio ambiente para então abordar os problemas sociais, e vice-versa. existe um amplo espectro de medidas que reduzem as disparidades sociais – melhor educação e informação, programas de saneamento e de água tratada, melhores transportes básicos, hospitais e postos comunitários etc. – e simultaneamente ajudam a preservar e recuperar o meio ambiente. 6 – O desenvolvimento sustentável A relação entre crescimento econômico e meio ambiente ressurgiu12 no século XX com duas abordagens polares exageradas. De um lado, o Clube de Roma, representado pelo Relatório Meadows de 1972, propôs crescimento econômico zero para estancar os efeitos antropogênicos no meio ambiente, e de outro, representado pelo Relatório Brundtland, de 1987, que endossava o “direito” dos países mais pobres ao crescimento econômico mesmo à custa da degradação ambiental no seu território. pelo menos, ambas as abordagens reconheciam que o crescimento econômico afetava negativamente o meio ambiente, com a causalidade fluindo basicamente do crescimento econômico para os danos ambientais. Felizmente, uma posição menos radical acabou prevalecendo – o conceito de “desenvolvimento sustentável” – apresentada em estocolmo em 1979. O conceito de desenvolvimento sustentável busca conciliar as visões polarizadas e reconhece que o crescimento econômico é imperativo para os países mais pobres, embora não 66 C a r t a Men sa l • Rio de Janeiro, n. 690, p. 51-102, set. 2012 suficiente, reduzirem as desigualdades e a pobreza. Por outro lado, alerta a necessidade de políticas públicas, legislação, controle e severa supervisão da proteção ao meio ambiente. No conceito de desenvolvimento sustentável, a relação crescimento econômico e meio ambiente é bicausal: a atividade econômica afeta o meio ambiente, mas este também gera impactos econômicos, como as alterações no microclima da região, mais poluição, exaustão do solo e de mananciais e perda de qualidade de vida e de saúde. Estima-se que o custo anual da recuperação com o meio ambiente supera US$250 bilhões, e se as práticas de desenvolvimento sustentável fossem aplicadas, o custo anual seria de apenas US$45 bilhões. O interesse pela preservação do meio ambiente teve quatro fases. A primeira fase surgiu com ações isoladas de governos, em resposta a questões específicas. A segunda – conhecida como a fase da conscientização – ocorreu nos anos 1960 do século XX, a partir dos alertas do Clube de Roma, sobre os limites para a exploração dos recursos naturais, e os efeitos dos pesticidas e venenos sobre a cadeia ecológica. A terceira surgiu nos anos 1970-1980, com políticas para regulamentação, salvaguardas e controle do meio ambiente, e racionalização da geração e uso da energia.13 A quarta, que se estende até nossos dias, foi a da adesão das instituições privadas (empresas, ONGs, associações de moradores) na defesa do meio ambiente e na reciclagem dos resíduos, e a instituição de selos verdes e de sistemas de certificação ISOs e de licenciamento. esta fase consagrou o “efeito estufa” como o principal responsável pelo aquecimento do planeta. Os raios do sol atravessam sem aquecer a atmosfera terrestre. em contato com a superfície, os raios aquecem o ar nas camadas mais baixas, com a emissão de raios infravermelhos, e o ar aquecido sobe para as camadas mais altas, que fica represado Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 51-102, set. 2012 67 pelas moléculas de gás carbônico (CO2) e de metano (CH4). Como argumento, o efeito estufa teve uma aceitação rápida e conveniente. Atualmente, os meios científicos já não aceitam o efeito estufa e a importância do gás carbônico no represamento do calor no planeta. A participação do gás carbônico na composição da atmosfera é no máximo 0,039%. Outros gases como oxigênio e nitrogênio contribuem com 99% para a composição da atmosfera e são eles que se aquecem em contato com a superfície. portanto reduzir as emissões de gás carbônico teria um efeito insignificante na temperatura do planeta.14 Apesar da falta de comprovação científica, o Protocolo de Kyoto, criado em 1997 e ordenado em 2005, consagrou o “efeito estufa”. este protocolo estabeleceu um compromisso entre os países signatários (atualmente 174 países) de não exceder o volume total de emissão de gases e reduzir pelo menos 5% abaixo dos níveis de 1990 até 2012. A vertente financeira do Protocolo de Kyoto se revelou em 2003, quando o Parlamento e Conselho da Comunidade Econômica Europeia promulgaram a Diretiva 2003/87/eC – baseada no protocolo de Kyoto – e estabeleceu o sistema de permissão de emissões de gases de efeito estufa e o mercado de troca destas permissões, chamadas de eU Allowance’s. Cada permissão da eU Allowance dá direito ao comprador emitir uma tonelada de dióxido de carbono (CO2) por metro cúbico durante um ano, e as permissões podem ser negociadas nas bolsas de mercadorias e futuros. em 2005, a international petroleum exchange (ipe), londres, passou a negociar as permissões de emissões de dióxido de carbono através de um convênio com a european Climate exchange (eCX). O mercado global de carbono negociado em bolsas já atinge US$100 bilhões. para alimentar as tran- 68 C a r t a Men sa l • Rio de Janeiro, n. 690, p. 51-102, set. 2012 sações nas bolsas dos direitos de emissão, a Conferência Rio+20 deve aprovar a criação de um Fundo Verde no valor de US$100 bilhões. No Brasil, a história registrada da defesa da biodiversidade surgiu com a lei sancionada por D. pedro ii em 1861 para recuperação da Floresta da Tijuca e da Serra do Mar. José Bonifácio combatia a pesca predatória de baleias e defendia a conservação das florestas.15 Mas só um século mais tarde, nos anos 1970, foram adotadas medidas coordenadas. A criação do pró-Álcool em 1975, em resposta ao choque de petróleo de 1973, pode ser considerado um marco, ainda que involuntário no aspecto ambiental, na busca de combustíveis renováveis e menos poluentes. Ainda assim, projetos de grande porte foram implantados sem o cuidado da análise dos seus impactos ambientais. Nos anos 1970, a construção da Usina de itaipu (que destruiu as Sete Quedas) e de outras hidroelétricas menores enfatizaram apenas a geração da energia elétrica. A justificativa foi a necessidade – verdadeira – de atender o consumo crescente de eletricidade no novo surto de industrialização. Nesta década do século XXi, a regulamentação e o interesse com o meio ambiente evoluíram muito no Brasil, e a análise dos impactos ambientais tornou-se uma prática e exigência para implantação de qualquer projeto. De interesse para a discussão sobre o meio ambiente no Brasil, deve ser lembrado que a Constituição Federal de 1988 extinguiu a propriedade privada da água, incorporando-a ao patrimônio público.16 legislação posterior implantou a política Nacional de Recursos Hídricos. Mas em geral, a intervenção no meio ambiente é justificada com o argumento da geração de emprego e de renda. Atualmente sabemos que o respeito ao meio ambiente não conflita com o sacrifício do Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 51-102, set. 2012 69 conforto e da qualidade de vida. A poluição nas regiões pobres resulta mais da insuficiência da oferta dos serviços públicos de saneamento do que da atividade econômica. Muitos efeitos ambientais decorrem da carência de infraestrutura sanitária, de falhas técnicas em fábricas e empreendimentos, a escolha de um local inadequado para um aeroporto ou o esquecimento de um sistema de filtros para o controle de gases poluentes ou de despejo de esgotos em rios e lagoas. existem mais de um bilhão de pessoas sem sistemas de esgotamento sanitário nos países mais pobres. A associação entre qualidade da água e saúde é estreita e direta. Mais de 20 doenças graves, como poliomielite, hepatite, cólera, tifo, salmonela etc., têm sua origem e propagação nas águas poluídas. Outras perdas resultam da falta de informação perfeita sobre as consequências indiretas das atividades produtivas. Não importa, porém, qual a causa principal da não incorporação das externalidades ou dos danos ambientais na avaliação das atividades; cedo ou tarde, a coletividade terá de pagar um preço para tentar remediar as decisões erradas do passado, ou ainda pior, em outras regiões ou pela geração anterior. A Conferência do Meio Ambiente realizada em 1992 no Rio de Janeiro focalizou os debates na destruição da camada de ozônio e nos efeitos negativos do crescimento populacional explosivo e da industrialização descontrolada. idêntica preocupação ocupou as conferências no Rio de Janeiro de 2002 e de 2012. Apesar dos eventos bombásticos e discursos brilhantes, os resultados são e serão modestos. Como convencer a China, o maior emissor de poluentes, e os estados Unidos a reduzirem a poluição? Como convencer o Brasil a não utilizar seus recursos ambientais e explorar cientificamente a diversidade? Se não conseguimos consenso entre nós, como provou os debates sobre o Código Florestal, como convencer os demais países na Rio+20? 70 C a r t a Men sa l • Rio de Janeiro, n. 690, p. 51-102, set. 2012 7 – Mitos sobre o meio ambiente A seriedade do debate sobre o meio ambiente é arranhada por três linhas de atuação: (1) a falta de conhecimento científico; (2) o oportunismo e falta de ética de grupos; e (3) os interesses políticos. Da conjugação destas condutas emergem 10 mitos, pelo menos. Quando apresentados em sequência estes mitos formam uma cadeia aparentemente lógica, mas non-sequitur: 1. A Natureza é frágil e os danos antropogênicos deixam sequelas irreversíveis no meio ambiente. A falta de conhecimento e a arrogância se juntam para propagar a ideia de que a Natureza é frágil e constantemente ameaçada pelo Homem. Certamente o nosso entorno mais estreito sofre com a agressão que provocamos com o despejo de lixo, gases tóxicos, resíduos em rios, e o desmatamento. Mas a agressão fica circunscrita a uma área relativamente pequena e o meio ambiente se encarrega de acertar as contas com a comunidade. A Natureza não é frágil. A vida como conhecemos é que é frágil e facilmente substituível. As baratas são mais resistentes e adaptadas as condições ambientais adversas do que o Homem. 2. O Homem está destruindo a camada de ozônio. Não existem provas científicas de que as mudanças na camada de ozônio sejam resultado da atividade do Homem, nem de que o CO2 seja um poluente. experimentos mostram que o CO2 acelera o crescimento de plantas. 3. A destruição da camada de ozônio intensifica o aquecimento global. Outra afirmativa que não está provada cientificamente, e as evidências apontam que não existe esta causalidade. 4. O aquecimento global vai inviabilizar a vida humana. Se de fato a tendência da temperatura for crescente, a vida na Terra como Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 51-102, set. 2012 71 conhecemos sofrerá mudanças nas áreas de produção agrícola, na viabilidade das cidades costeiras etc. Mas a origem do aquecimento se deve a fatores naturais fora do controle do Homem. 5. O Homem destruirá o planeta Terra. Outra peça da dupla acima. Nos anos 1950 e 1970, a ameaça nuclear propalou o mito da capacidade do Homem em destruir o planeta. Os efeitos da radioatividade permaneceriam na atmosfera e solo por centenas de anos, impossibilitando a vida humana nas áreas afetadas. entretanto, as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki atingidas pelas bombas atômicas no final da Segunda Guerra Mundial hoje estão completamente recuperadas, e sem vestígio da tão ameaçadora radioatividade. A situação atual do vazamento da usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, não serve como argumento em favor do mito, pois as medidas de recuperação da área foram insuficientes. Um caso de recuperação do meio ambiente mais próximo de nós ocorreu em Cubatão, São paulo. A industrialização dos anos 1950 e 1960 transformou a região em um dos centros mais ricos e modernos do Brasil. Nos anos 1980, o Vale de Cubatão, 40 km da cidade de São paulo, era considerado o local mais poluído do mundo e foi denominado de Vale da Morte. A emissão de poluentes na atmosfera era de 30 mil toneladas por mês. Os óxidos de enxofre se misturavam com a unidade da atmosfera e caíam sob a forma de chuva de ácido sulfúrico. Favelas foram construídas sobre um mangue por onde passavam as tubulações de gases tóxicos. As condições sociais beiravam os limites das condições humanas: a taxa de acidentes de trabalho (percentual do número de acidentes por população) atingia quase 60% contra a média nacional de 5,1%; quase 1,5 % da população eram de deficientes físicos ou mentais. 72 C a r t a Men sa l • Rio de Janeiro, n. 690, p. 51-102, set. 2012 em 1984, foi implantado um programa de recuperação ambiental ao custo de mais de US$1 bilhão. em 2008, a poluição atmosférica havia diminuído 98% em comparação com 1983, mesmo com a produção industrial crescendo. A emissão de amônia diminuiu de 3.480 para 20 toneladas por ano; o volume de hidrocarbonetos despejados de 32,8 toneladas para 1,3 mil toneladas etc. Atualmente a região ainda tem poluição atmosférica, mas ela é suportável e continua em redução. É um exemplo conhecido mundialmente de recuperação ambiental.17 6. Devemos buscar as fontes de energia limpa para reduzir a emissão de gases poluentes. De fato, as fontes de energia alternativa renováveis devem ser preferidas por serem, no longo prazo, mais econômicas do que as fósseis (não renováveis) e por causarem menos poluição local (etanol versus gasolina nos veículos urbanos). Ainda assim, fontes consideradas limpas como as usinas eólicas são suspeitas de agredir o meio ambiente. 7. Falta legislação e supervisão adequada. A legislação brasileira é suficiente e em muitos casos até impeditiva. O problema é que a questão ambiental ainda tem aspectos de difícil solução, como os direitos de propriedade dos recursos ambientais. 8. O mecanismo de mercado e a ganância do setor privado destroem os recursos naturais. O mecanismo de mercado encontra dificuldades em incorporar as externalidades nos preços dos produtos, e, em geral, o equilíbrio do mercado gera um volume de produção maior do que o ótimo social, mas isto é uma questão técnica, que nada tem a ver com o objetivo de lucro. este argumento ignora que espécies em extinção foram resgatadas com a redefinição dos direitos de propriedade e a criação de mercados. Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 51-102, set. 2012 73 9. A proteção do meio ambiente é melhor realizada com os movimentos sociais e ONGs. Muitos movimentos e instituições ambientalistas adotam argumentos “pseudocientíficos” de salvar a Terra, proteger o mico leão-dourado etc. para mascarar objetivos puramente financeiros. 10. Precisamos preservar o meio ambiente a qualquer custo para as futuras gerações. De fato, a discussão da preservação dos recursos ambientais envolve decisões intergeracionais, e sem dúvida nossos descendentes merecem uma atmosfera e rios mais limpos, e uma biodiversidade preservada. Mas o nosso legado não deve ir além. Deixar de construir uma usina elétrica – que vai permitir melhor padrão de vida hoje, mais escolas, laboratórios, remédios etc. – para preservar o ambiente e entregá-lo às futuras gerações com menor nível de educação e saúde não faz sentido. A pergunta que geralmente é escondida: Quem vai pagar? E a quem? As ações “humanitárias” e “preservacionistas” já custaram mais de US$70 bilhões desde 1990. Certamente estes recursos beneficiaram muitas pessoas e instituições. Notas 1 Economic Growth and Environmental Quality: Time-series and Cross-country evidence. World Development Report 1992, World Bank. A elasticidade-renda está no intervalo 0,34-0,38. 2 CONTADOR, C. R. A valorização do lixo: uma agenda para a cidadania. Apresentado no Seminário – Lixo: alternativas e reciclagem. Uma discussão necessária. petrópolis, novembro de 1997. 3 O gás metano contribui para o efeito estufa ao absorver parte da radiação infravermelha. 74 C a r t a Men sa l • Rio de Janeiro, n. 690, p. 51-102, set. 2012 4 FilGUeiRAS, ligia. Usinas eólicas estão aquecendo a Terra. Comentário do Dia, instituto liberal, 3/5/2012. 5 A queda na temperatura média no início da década de 1950 levou ambientalistas mais apressados a preverem uma nova era glacial. A partir dos anos 1980, o discurso mudou e passaram a prever o aumento da temperatura e exacerbar o papel do Homem neste processo. 6 O monitoramento pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) confirma que 120 praias em 16 estados do Brasil estão sofrendo efeitos severos de erosão e do avanço do mar. 7 Ou que a emissão de CO2 na Terra seja capaz de afetar a atividade solar! 8 DUTCH, Steven. A global warming counterfeit. Natural and Applied Sciences, mar. 2007. 9 Como afirma a Widerness Society dos EUA “...a Natureza é a igreja literalmente construída por Deus”. NelSON, R. H. How Much is God Worth? The Problems, Economic and Theological of Existence Value. Washington: Competitive Enterprise Institute, Environmental Studies program, 1996. 10 Naturalmente, a melhor forma seria a conscientização dos usuários e dos externalizadores potenciais. este é um processo demorado e com resultados duvidosos. No Brasil, estas reservas são denominadas “espaços protegidos” ou Áreas de preservação permanente (App) não necessariamente privados e sob supervisão e licença do governo. Ver: TRENTINI, Flavia; AGUIAR, Carolina Costa de. Espaços protegidos e externalidades positivas: custos e incentivos à proteção. In: HAUSCHilD, Mauro luciano et al. (Coord.). Meio ambiente, propriedade e agronegócio. Brasília: Instituto Perspectiva, 2011. Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 51-102, set. 2012 75 11 CONTADOR, C. R. Projetos sociais: avaliação e prática. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2007, Capítulos 9 e 10. 12 Os economistas clássicos nos séculos XViii e XiX foram pioneiros em chamar a atenção para a relação entre a economia e a ecologia. Os dois ramos de conhecimento têm raiz comum. economia é formada por eco (oikos), que em grego significa casa, e nomos, que significa administração, organização, distribuição. ecologia é a conjunção de oikos (casa, moradia) com logos (estudo). 13 Os dois choques do petróleo em 1973 e 1979 foram importantes para consolidar a fase de racionalização do uso do petróleo e a busca de fontes alternativas renováveis. Inúmeros desastres ambientais colaboraram para a consolidação da agenda ambiental: a explosão em Bhopal, Índia, da fábrica da Union Carbide em 1984; a contaminação do Rio Reno em 1986; a explosão do reator nuclear de Chernobyl, Ucrânia, em 1986; o naufrágio do navio exxon Valdez, no Alaska em 1989. 14 SANTOS, Antonio Oliveira. O aquecimento da Terra. Jornal do Commercio, 22/5/2012, p. A15. 15 VAlle, Cyro eyer do. A longa evolução até chegarmos à gestão socioambiental. MARCONDeS, Adalberto W. et al. (Org.). Bench mais: as 85 melhores práticas em gestão socioambiental do Brasil. São Paulo: Mais Projetos, Instituto Envolverde e Ruschel & Associados Marketing ecológico, 2007. p. 75-92. A preocupação com o meio ambiente ensejou medidas em diversos países neste período: em 1863, o parlamento inglês aprovou o Alkali Act, considerada a primeira lei ambiental para regular a emissão de poluentes no ar; em 1872, os estados Unidos criaram o parque Yellowstone. 76 C a r t a Men sa l • Rio de Janeiro, n. 690, p. 51-102, set. 2012 16 O resumo da legislação básica até 1987 é encontrado em: SILVEIRA, Sandra Sulamita B.; SANT’ANNA, Fernando Soares p. poluição hídrica. In: MARGULIS, Sergio (Org.). Meio ambiente: aspectos técnicos e econômicos. Rio de Janeiro: IPEA, 1990. p. 81-83. Ver também: MAGRINI, Alexandra. A avaliação de impactos ambientais. In: MARGULIS, op. cit., p. 104-107. Para legislação mais recente ver CARVAlHO, Rodrigo Speziali de. A cobrança pelo uso da água: uma abordagem desse instrumento de gestão de recursos hídricos. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, Escola de Governo, nov. 2003. Anexos. 17 AMARAL E SILVA, Carlos C. et al. Níveis de mercúrio na Baixada Santista. Ciência e Cultura, v. 35, n. 6, p. 771-773, 1982. Bibliografia AMARAL E SILVA, Carlos Celso do. et al. Níveis de mercúrio na Baixada Santista. Ciência e Cultura, [S.l.], v. 5, n. 6, p. 771-773, 1982. ASHeR, Chase. Anthropogenic contribution to global warming and its effects on multiple sea level and temperature models. Critical Review Paper, [S.l.], Geo 387H, 2009. BeeDe, David N.; BlOOM, David e. The economics of municipal solid waste. Research Observer, The World Bank, [S.l.], v. 10, n. 2, p. 113-150, ago. 1995. CARVAlHO, Rodrigo Speziali de. A cobrança pelo uso da água: uma abordagem desse instrumento de gestão de recursos hídricos. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro: Escola de Governo, nov. 2003. Anexos. Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 51-102, set. 2012 77 CONTADOR, C. R. Projetos sociais: avaliação e prática. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2007. –––––––––. A valorização do lixo: uma agenda para a cidadania. In: SEMINÁRIO LIXO: ALTERNATIVAS E RECICLAGEM. UMA DiSCUSSÃO NeCeSSÁRiA, petrópolis. Atas… Rio de Janeiro: [s.n.], nov. 1997. COURBAGe, Christophe; STAHel, Walter R. (ed.). extreme events and insurance: 2011 annus horribilis. The Geneva Reports, [S.l.], n. 5, mar. 2012. DUTCH, Steven. A global warming counterfeit: natural and applied sciences. [S.l.: s.n.], mar. 2007. FilGUeiRAS, ligia. Usinas eólicas estão aquecendo a Terra. Comentário do Dia: Instituto Liberal. 2012. Disponível em: <http://www. institutoliberal.org.br/comentario.asp?cdc=4054>. Acesso em: 03 maio 2012. HAUSCHilD, Mauro luciano et al. (Coord.). Meio ambiente, propriedade e agronegócio. Brasília: Instituto Perspectiva, 2011. 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Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 51-102, set. 2012 79 Apêndice 1 – Sismos com magnitude acima de cinco graus na escala richter 1.a) Grandes Sismos até o século xIx Data 23 de janeiro de 1556 17 de agosto de 1668 26 de janeiro de 1700 1 de novembro de 1755 28 de fevereiro de 1780 16 de dezembro de 1811 23 de janeiro de 1812 7 de fevereiro de 1812 2 de junho de 1823 10 de junho de 1836 junho de 1838 5 de janeiro de 1843 9 de janeiro de 1857 16 de dezembro de 1857 8 de outubro de 1865 3 de abril de 1868 31 de outubro de 1868 20 de fevereiro de 1871 26 de março de 1872 15 de dezembro de 1872 23 de novembro de 1873 80 Lugar Shaanxi, China Anatolia, Turquia Cascadia, Carolina do Norte à ilha de Vancouver lisboa, portugal irã New Madrid, Missouri, eUA New Madrid, Missouri, eUA New Madrid, Missouri, eUA lado sul de Kilauea, Havaí, eUA Região sul da Baía de São Francisco, Califórnia, eUA península de São Francisco, Califórnia, eUA Marked Tree, Arkansas, eUA Forte Tejon, Califórnia (Falha de Santo André) Nápoles, itália São José, Califórnia, eUA Hilea, sudeste do Havaí, eUA Hayward, Califórnia, eUA Molokai, Havaí, eUA Owens Valley, Califórnia, eUA Norte de Cascades, Washington, eUA Costa de Califórnia, Óregon C a r t a Men sa l • Rio de Janeiro, n. 690, p. 51-102, set. 2012 31 de agosto de 1886 24 de abril de 1890 27 de outubro de 1891 19 de abril de 1892 21 de abril de 1892 31 de outubro de 1895 15 de junho de 1896 12 de junho de 1897 20 de junho de 1897 31 de março de 1898 15 de abril de 1898 4 de setembro de 1899 10 de setembro de 1899 9 de outubro de 1900 Charleston, Carolina do Sul, eUA Corralitos, Califórnia, eUA Mino-Owari, Japão Vacaville, Califórnia, eUA Winters, Califórnia, eUA Charleston, Missouri, eUA Sanriku, Japão Assam, Índia Falha de Calaveras, Califórnia, eUA ilha de Mare, Califórnia, eUA Condado de Mendocino, Califórnia, eUA Cabo Yakataga, Alasca, eUA Baía de Yakutat, Alasca, eUA ilha Kodiak, Alasca, eUA 1.b) Grandes Sismos, século xx Data 3 de março de 1901 27 de agosto de 1904 9 de julho de 1905 31 de janeiro de 1906 18 de abril de 1906 17 de agosto de 1906 28 de dezembro de 1908 1 de julho de 1911 3 de outubro de 1915 11 de outubro de 1918 6 de dezembro de 1918 Lugar Parkfield, Califórnia, EUA Fairbanks, Alasca, eUA Mongólia Colômbia e Equador S. Francisco, Califórnia (Falha de Santo André) Valparaíso, Chile Messina, itália Falha de Calaveras, Califórnia, eUA Vale pleasant, Nevada, eUA porto Rico Ilha de Vancouver, Colúmbia Britânica, Canadá Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 51-102, set. 2012 81 16 de dezembro de 1920 31 de janeiro de 1922 1 de março de 1922 22 de janeiro de 1923 1 de setembro de 1923 1 de março de 1925 28 de junho de 1925 29 de junho de 1925 22 de outubro de 1926 7 de março de 1927 22 de maio de 1927 4 de novembro de 1927 18 de novembro de 1929 21 de dezembro de 1932 2 de março de 1933 11 de março de 1933 20 de novembro de 1933 15 de janeiro de 1934 8 de junho de 1934 1 de novembro de 1935 22 de julho de 1937 23 de janeiro de 1938 10 de novembro de 1938 26 de dezembro de 1939 19 de maio de 1940 7 de dezembro de 1944 1 de abril de 1946 23 de junho de 1946 82 Ningxia-Kansu, China Ao largo de Cape Mendocino, Califórnia, eUA Parkfield, Califórnia, EUA Cape Mendocino, Califórnia, eUA Kanto, Japão Charlevoix, Quebec, Canadá Vale Clarkston, Montana, eUA Santa Bárbara, Califórnia, eUA Baía de Monterey, Califórnia, eUA Tango, Japão Tsinghai, China Ao largo de lompoc, Califórnia, eUA Grand Banks, Nova escócia, Canadá Montanha Cedar, Nevada, eUA Sanriku, Japão long Beach, Califórnia, eUA Baía de Baffin, Canadá Bihar, Índia Parkfield, Califórnia, EUA Timiskaming, Quebec, Canadá Salcha, Alasca, eUA Maui, Havaí, eUA ilhas Shumagin, Alasca, eUA erzincan, Turquia Vale imperial, Califórnia, eUA Tonankai, Japão ilha Unimak, Alasca, eUA Ilha Vancouver, Colúmbia Britânica, Canadá C a r t a Men sa l • Rio de Janeiro, n. 690, p. 51-102, set. 2012 4 de agosto de 1946 20 de dezembro de 1946 16 de outubro de 1947 13 de abril de 1949 22 de agosto de 1949 15 de agosto de 1950 21 de agosto de 1951 21 de julho de 1952 4 de novembro de 1952 29 de março de 1954 6 de julho de 1954 24 de agosto de 1954 16 de dezembro de 1954 16 de dezembro de 1954 24 de outubro de 1955 9 de março de 1957 4 de dezembro de 1957 7 de abril de 1958 10 de julho de 1958 18 de agosto de 1959 29 de fevereiro de 1960 22 de maio de 1960 28 de março de 1964 16 de junho de 1964 4 de fevereiro de 1965 29 de abril de 1965 28 de junho de 1966 12 de setembro de 1966 10 de dezembro de 1967 República Dominicana Nankaido, Japão Fairbanks, Alasca, eUA Olympia, Washington, eUA ilha Rainha Charlotte, Columbia Britânica, Canadá Assam e Tibete Kona, Havaí, eUA Condado Kern, Califórnia, eUA Kamchatka, Rússia espanha Montanha Rainbow, Nevada, eUA Stillwater, Nevada, eUA pico Fairview, Nevada, eUA Vale Dixie, Nevada, eUA Concord, Califórnia, eUA ilha Andreanof, Alasca, eUA Gobi-Altai, Mongólia Huslia, Alasca, eUA Fairweather, Alasca, eUA lago de Hebgen, Montana, eUA Agadir, Marrocos Chile prince William Sound, Alasca, eUA Niigata, Japão ilha Rat, Alasca, eUA Seattle-Tacoma, Washington, eUA Parkfield, Califórnia, EUA Truckee, Califórnia, eUA Koyna, Índia Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 51-102, set. 2012 83 2 de outubro de 1969 31 de maio de 1970 31 de julho de 1970 9 de fevereiro de 1971 4 de fevereiro de 1975 1 de agosto de 1975 29 de novembro de 1975 4 de fevereiro de 1976 29 de julho de 1976 6 de agosto de 1979 15 de outubro de 1979 24 de janeiro de 1980 15, 25 e 27 de maio 1980 8 de novembro de 1980 2 de maio de 1983 28 de outubro de 1983 16 de novembro de 1983 24 de abril de 1984 23 de novembro de 1984 19 de setembro de 1985 23 de dezembro de 1985 7 de maio de 1986 8 de julho de 1986 21 de julho de 1986 1 de outubro de 1987 30 de novembro de 1987 22 de janeiro de 1988 6 de março de 1988 84 Santa Rosa, Califórnia, eUA peru Colômbia San Fernando, Califórnia, eUA Haicheng, China Oroville, Califórnia, eUA lado sul de Kilauea, Havaí, eUA Guatemala Tangshan, China lago Coyote, Califórnia, eUA Vale imperial, Califórnia, eUA livermore, Califórnia, eUA lagos Mammoth, Califórnia, eUA plataforma Gorda, Califórnia, eUA Coalinga, Califórnia, eUA pico do Borah, idaho, eUA Kaoiki, Havaí, eUA Monte Morgan, Califórnia, eUA Vale Round, Califórnia, eUA Michoacán, México Nahanni, Territórios do Noroeste, Canadá ilha Andreanof, Alasca, eUA Norte de palm Springs, Califórnia, eUA Vale Chalfant, Califórnia, eUA Whittier Narrows, Califórnia, eUA Golfo do Alasca enseada Tennant, Austrália Golfo do Alasca C a r t a Men sa l • Rio de Janeiro, n. 690, p. 51-102, set. 2012 25 de novembro de 1988 7 de dezembro de 1988 18 de outubro de 1989 25 de dezembro de 1989 28 de junho de 1991 17 de agosto de 1991 23 de abril de 1992 25 de abril de 1992 28 de junho de 1992 29 de junho de 1992 21 de setembro de 1992 29 de setembro de 1993 17 de janeiro de 1994 9 de junho de 1994 1 de setembro de 1994 16 de janeiro de 1995 31 de maio de 1997 17 de julho de 1998 25 de janeiro de 1999 17 de agosto de 1999 20 de setembro de 1999 16 de outubro de 1999 12 de novembro de 1999 3 de setembro de 2000 16 de novembro de 2000 Saguenay, Quebec, Canadá Spitak, Armênia loma prieta, Califórnia, eUA Ungava, Quebec, Canadá Sierra Madre, Califórnia, eUA Honeydew, Califórnia, eUA Joshua Tree, Califórnia, eUA Cabo Mendocino, Califórnia, eUA landers, Califórnia, eUA Montanha de little Skull, Nevada, eUA Nicarágua latur-Killari, Índia Northridge, Califórnia, eUA Bolívia Cabo Mendocino, Califórnia, eUA Kobe, Japão Jabalpur, Índia papua-Nova Guiné Colômbia izmit, Turquia Chi-Chi, Taiwan Hector Mine, Califórnia, eUA Duzce, Turquia Napa, Califórnia, eUA Nova irlanda, papua-Nova Guiné 1.c) Grandes Sismos, século xxI Data 13 de janeiro de 2001 26 de janeiro de 2001 Lugar el Salvador Gujarat, Índia Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 51-102, set. 2012 85 28 de fevereiro de 2001 23 de junho de 2001 25 de março de 2002 20 de abril de 2002 3 de novembro de 2002 21 de maio de 2003 26 de dezembro de 2004 12 de janeiro de 2010 11 de março de 2011 20 de maio de 2012 (início) Olympia, Washington, eUA Costa do peru Hindu Kush, Afeganistão Au Sable Forks, Nova iorque Denali park, Alasca, eUA Boumerdes, Argélia indonésia porto príncipe, Haiti Sendai, Japão Região Norte, itália Outros Sismos, com registros insuficientes Data 464 a.C. 226 a.C. 365 365 20 de maio de 526 844 847 847 856 856 893 893 893 1036 1042 1057 1138 86 Lugar esparta, Grécia Rodes, Grécia Knossos, Creta (Grécia) Cyrene, líbia Antiochia, Síria Damasco, Síria Mosul, iraque Damasco, Síria Qumis, Damghan, irã Corinto, Grécia Cáucaso Daipur, Índia Ardabil, irã Shanxi, China palmyra, Baalbek, Síria Chihli (Hopeh), China Ganzah, Aleppo, Síria C a r t a Men sa l • Rio de Janeiro, n. 690, p. 51-102, set. 2012 1170 1201 1268 27 de setembro 1290 20 de maio 1293 26 de janeiro 1531 novembro de 1667 7 de junho 1692 11 de janeiro 1693 1693 1707 30 de setembro 1730 1731 11 de outubro 1737 7 de junho 1755 18 de novembro 1755 4/5 de fevereiro e 28 de março 1783 4 de fevereiro 1797 8 de dezembro de 1812 23 de janeiro de 1855 3 de fevereiro de 1931 25 de dezembro de 1932 Sicília Alto egito ou Síria Cilicia, Anatólia (Turquia) Chihli (Hopeh), China Kamakura, Japão lisboa, portugal Shemaja, Azerbaijão port Royal, Jamaica Catânia, Sicília Nápoles, itália Japão (onda sísmica) Hokkaido, Japão pequim, China Calcutá, Índia Norte da pérsia Boston, Massachusetts, eUA Calábria, itália Quito, equador e Cuzco, peru Wrightwood, Califórnia, eUA Wairarapa, Nova Zelândia Napier, Nova Zelândia Gansu, China 1.d) Outros Sismos recentes Data 25 setembro de 2003 17 novembro de 2003 26 de dezembro de 2003 24 de fevereiro de 2004 Lugar Hokkaido, Japão ilha Rat, Alasca, eUA Bam, irã (irão) Al-Hoceima, Marrocos Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 51-102, set. 2012 87 27 de junho de 2004 28 de setembro de 2004 8 de outubro de 2004 9 de outubro de 2004 23 de outubro de 2004 27 de outubro de 2004 10 de novembro de 2004 11 de novembro de 2004 15 de novembro de 2004 21 de novembro de 2004 21 de novembro de 2004 29 de novembro de 2004 23 de dezembro de 2004 26 de dezembro de 2004 26 de maio de 2006 27 de fevereiro de 2008 22 de abril de 2008 12 de maio de 2008 88 Fora do centro da Região de Tokai, extremo oeste do Japão 11,3 km a sudeste de Parkfield, Califórnia, eUA Mindoro, Filipinas 80 km a sudoeste de Manágua, Nicarágua Ojiya, Japão Vrancea, Romênia ilhas Salomão 96 km a oeste-noroeste de Díli, Timor-leste Costa de Chocó, Colômbia 45 km a norte-noroeste de Dominica 48 km a sul-sudeste de San José, Costa Rica 900 km a Ne de Tóquio, 50 km abaixo do nível do mar 495 km a norte da ilha Macquarie, Nova Zelândia 160 km a oeste de Samatra, indonésia; abaixo do mar ilha de Java, indonésia Reino Unido, londres, também sentido em Newcastle, Yorkshire, Manchester e em partes no país de Gales São Paulo, também sentido em Santa Catarina, Rio de Janeiro, Paraná e Minas Gerais (magnitude 3 Richter) Sichuan, República Popular da China C a r t a Men sa l • Rio de Janeiro, n. 690, p. 51-102, set. 2012 6 de abril de 2009 12 de janeiro de 2010 15 de janeiro de 2010 27 de fevereiro de 2010 22 de fevereiro de 2011 11 de março de 2011 Áquila, itália, também sentido em Roma porto príncipe, Haiti Sucre, Venezuela Concepción, Chile Christchurch, Nova Zelândia Sendai, Japão Fontes: “Bachelet says Chile quake toll rises to 795-report”, Reuters AlertNet, 2 de março de 2010. “Christchurch earthquake: Latest news - Wednesday”, stuffconz, 2 de março de 2011. http://www.yomiuri.co.jp/dy/national/T110312004794.htm “Tsunami atinge Japão após sismo de magnitude 8.9”, publicopt, 11 de março de 2011. Apêndice 2 – a atividade vulcânica É estimado que cerca de 10 mil vulcões entraram em atividade nos últimos dois milhões de anos. Atualmente cerca de 500 podem ser considerados ativos, dos quais 20 deles são muito ativos. • • • • • • • • • • • • • Ojos del Salado, Andes, Chile, maior vulcão da Terra Monte Baker, Washington, estados Unidos Vulcão de Cold Bay, Alasca, estados Unidos el Chichon, Chiapas, México pico de Orizaba, Veracruz/puebla, México Cotopaxi, equador Monte Fuji, Honshu, Japão Monte Hood, Oregon, estados Unidos Monte erebus, ilha de Ross, Antártica etna, Sicília, itália Krafla, Islândia Hekla, islândia Kick-em-Jenny, Granada Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 51-102, set. 2012 89 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Kilauea, Havaí, estados Unidos Vulcão das Furnas, ilha de São Miguel, Açores Klyuchevskaya Sopka, Kamchatka, Rússia Krakatoa, estreito de Sunda, indonésia Mayon, Filipinas Mauna Kea, Havaí, estados Unidos Mauna loa, Havaí, estados Unidos el Misti, Arequipa, peru Novarupta, Alasca, estados Unidos pico, ilha do pico, Açores, portugal paricutín, Michoacán, México Monte pinatubo, Filipinas popocatépetl, puebla, México Santorini, Santorini, Grécia Soufrière Hills, Montserrat Monte Rainier, Washington, estados Unidos Vulcão do Fogo, ilha do Fogo, Cabo Verde Vulcão da Serreta, Açores Vulcão da Urzelina, Açores Monte Shasta, Califórnia, estados Unidos Monte Santa Helena, Washington, estados Unidos Surtsey, islândia Tambora, Sumbava, indonésia Teide, Tenerife, ilhas das Canárias, espanha Whakaari, Baía de plenty, Nova Zelândia Vesúvio, Baía de Nápoles, na Itália Mendanha (inativo), Serra do Mendanha, Rio de Janeiro, Brasil São Domingos (inativo), Serra de São Domingos, Poços de Caldas, Brasil • Caldas Novas (inativo), Goiás • Fernando de Noronha (extinto), Brasil 90 C a r t a Men sa l • Rio de Janeiro, n. 690, p. 51-102, set. 2012 Apêndice 3 – Texto original do manifesto a favor da hipótese antropogênica do aquecimento global “January 28, 2011 To the Members of the U.S. House of Representatives and the U.S. Senate: The Importance of Science in Addressing Climate Change As you begin your deliberations in the new 112th Congress, we urge you to take a fresh look at climate change. Climate change is not just an environmental threat but, as we describe below, also poses challenges to the U.S. economy, national security and public health. Some view climate change as a futuristic abstraction. Others are unsure about the science, or uncertain about the policy responses. We want to assure you that the science is strong and that there is nothing abstract about the risks facing our Nation. Our coastal areas are now facing increasing dangers from rising sea levels and storm surges; the southwest and southeast are increasingly vulnerable to drought; other regions will need to prepare for massive flooding from the extreme storms of the sort being experienced with increasing frequency. These and other consequences of climate change all require that we plan and prepare. Our military recognizes that the consequences of climate change have direct security implications for the country that will only become more acute with time, and it has begun the sort of planning required across the board. The health of Americans is also at risk. The U.S. Climate impacts Report, commissioned by the George W. Bush administration, states: “Climate change poses unique challenges to human health. Unlike Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 51-102, set. 2012 91 health threats caused by a particular toxin or disease pathogen, there are many ways that climate change can lead to potentially harmful health effects. There are direct health impacts from heat waves and severe storms, ailments caused or exacerbated by air pollution and airborne allergens, and many climate-sensitive infectious diseases.” As with the fiscal deficit, the changing climate is the kind of daunting problem that we, as a nation, would like to wish away. However, as with our growing debt, the longer we wait to address climate change, the worse it gets. Heat-trapping carbon dioxide is building up in the atmosphere because burning coal, oil, and natural gas produces far more carbon dioxide than is absorbed by oceans and forests. No scientist disagrees with that. Our carbon debt increases each year, just as our national debt increases each year that spending exceeds revenue. And our carbon debt is even longer-lasting; carbon dioxide molecules can last hundreds of years in the atmosphere. The Science of Climate Change it is not our role as scientists to determine how to deal with problems like climate change. That is a policy matter and rightly must be left to our elected leaders in discussion with all Americans. But, as scientists, we have an obligation to evaluate, report, and explain the science behind climate change. The debate about climate change has become increasingly ideological and partisan. But climate change is not the product of a belief system or ideology. Instead, it is based on scientific fact, and no amount of argument, coercion, or debate among talking heads in the media can alter the physics of climate change. 92 C a r t a Men sa l • Rio de Janeiro, n. 690, p. 51-102, set. 2012 political philosophy has a legitimate role in policy debates, but not in the underlying climate science. There are no Democratic or Republican carbon dioxide molecules; they are all invisible and they all trap heat. The fruits of the scientific process are worthy of your trust. This was perhaps best summed up in recent testimony before Congress by Dr. Peter Gleick, co-founder and director of the Pacific Institute and member of the U.S. National Academy of Sciences. He testified that the scientific process “is inherently adversarial – scientists build reputations and gain recognition not only for supporting conventional wisdom, but even more so for demonstrating that the scientific consensus is wrong and that there is a better explanation. That’s what Galileo, pasteur, Darwin, and einstein did. But no one who argues against the science of climate change has ever provided an alternative scientific theory that adequately satisfies the observable evidence or conforms to our understanding of physics, chemistry, and climate dynamics.” National Academy of Sciences What we know today about human-induced climate change is the result of painstaking research and analysis, some of it going back more than a century. Major international scientific organizations in disciplines ranging from geophysics to geology, atmospheric sciences to biology, and physics to human health – as well as every one of the leading national scientific academies worldwide – have concluded that human activity is changing the climate. This is not a “belief.” instead, it is an objective evaluation of the scientific evidence. The U.S. National Academy of Sciences (NAS) was created by Abraham lincoln and chartered by Congress in 1863 for the express Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 51-102, set. 2012 93 purpose of obtaining objective expert advice on a range of complex scientific and technological issues. Its international reputation for integrity is unparalleled. This spring, at the request of Congress, the NAS issued a series of comprehensive reports on climate change that were unambiguous. The NAS stated, “Climate change is occurring, is caused largely by human activities . . . and in many cases is already affecting a broad range of human and natural systems.” This conclusion comes as no surprise to the overwhelming majority of working climate scientists. Climate Change Deniers Climate change deniers cloak themselves in scientific language, selectively critiquing aspects of mainstream climate science. Sometimes they present alternative hypotheses as an explanation of a particular point, as if the body of evidence were a house of cards standing or falling on one detail; but the edifice of climate science instead rests on a concrete foundation. As an open letter from 255 NAS members noted in the May 2010 Science magazine, no research results have produced any evidence that challenges the overall scientific understanding of what is happening to our planet’s climate and why. The assertions of climate deniers therefore should not be given scientific weight equal to the comprehensive, peer-reviewed research presented by the vast majority of climate scientists. The determination of policy sits with you, the elected representatives of the people. But we urge you, as our elected representatives, to base your policy decisions on sound science, not sound bites. Congress needs to understand that scientists have concluded, based on a sys- 94 C a r t a Men sa l • Rio de Janeiro, n. 690, p. 51-102, set. 2012 tematic review of all of the evidence, that climate change caused by human activities raises serious risks to our national and economic security and our health both here and around the world. it’s time for Congress to move on to the policy debate. How Can We Move Forward? Congress should, we believe, hold hearings to understand climate science and what it says about the likely costs and benefits of action and inaction. it should not hold hearings to attempt to intimidate scientists or to substitute ideological judgments for scientific ones. We urge our elected leaders to work together to focus the nation on what the science is telling us, particularly with respect to impacts now occurring around the country. Already, there is far more carbon in the air than at any time in human history, with more being generated every day. Climate change is underway and the severity of the risks we face is compounded by delay. We look to you, our representatives, to address the challenge of climate change, and lead the national response. We and our colleagues are prepared to assist you as you work to develop a rational and practical national policy to address this important issue. Thank you for your attention. Sincerely, John Abraham, University of St. Thomas Barry Bickmore, Brigham Young University Gretchen Daily,* Stanford University G. Brent Dalrymple,* Oregon State University Andrew Dessler, Texas A&M University Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 51-102, set. 2012 95 Peter Gleick,* Pacific Institute John Kutzbach,* University of Wisconsin-Madison Syukuro Manabe,* princeton University Michael Mann, penn State University pamela Matson,* Stanford University Harold Mooney,* Stanford University Michael Oppenheimer, princeton University Ben Santer, lawrence livermore National laboratory Richard Somerville, Scripps institution of Oceanography Kevin Trenberth, National Center for Atmospheric Research Warren Washington, National Center for Atmospheric Research Gary Yohe, Wesleyan University George Woodwell,* The Woods Hole Research Center *Member of the National Academy of Sciences” Apendice 4 – Texto original do manifesto dos cientistas contra a hipotese antropogenica do aquecimento global “Scientists Oppose Global Warming legislation Craig Idso, Keith Idso, and Sherwood Idso drafted and submitted the following letter to Congress in response to a letter recently submitted by 18 scientists urging Congress to pass legislation to reduce carbon dioxide emissions. The Idsos are scientists who operate the Center for the Study of Carbon Dioxide and Global Change. Thirty-five scientists signed this letter and another 38 scientists endorsed this letter. February 8, 2011 To the Members of the U.S. House of Representatives and the U.S. Senate: in reply to “The importance of Science in Addressing Climate Change” 96 C a r t a Men sa l • Rio de Janeiro, n. 690, p. 51-102, set. 2012 On 28 January 2011, eighteen scientists sent a letter to members of the U.S. House of Representatives and the U.S. Senate urging them to “take a fresh look at climate change.” Their intent, apparently, was to disparage the views of scientists who disagree with their contention that continued business-as-usual increases in carbon dioxide (CO2) emissions produced from the burning of coal, gas, and oil will lead to a host of cataclysmic climate-related problems. We, the undersigned, totally disagree with them and would like to take this opportunity to briefly state our side of the story. The eighteen climate alarmists (as we refer to them, not derogatorily, but simply because they view themselves as “sounding the alarm” about so many things climatic) state that the people of the world “need to prepare for massive flooding from the extreme storms of the sort being experienced with increasing frequency,” as well as the “direct health impacts from heat waves” and “climate-sensitive infectious diseases,” among a number of other devastating phenomena. And they say that “no research results have produced any evidence that challenges the overall scientific understanding of what is happening to our planet’s climate,” which is understood to mean their view of what is happening to earth’s climate. To these statements, however, we take great exception. it is the eighteen climate alarmists who appear to be unaware of “what is happening to our planet’s climate,” as well as the vast amount of research that has produced that knowledge. For example, a lengthy review of their claims and others that climate alarmists frequently make can be found on the Web site of the Center for the Study of Carbon Dioxide and Global Change Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 51-102, set. 2012 97 see : http://www.co2science.org/education/reports/prudentpath/ prudentpath.php. That report offers a point-by-point rebuttal of all of the claims of the “group of eighteen,” citing in every case peer-reviewed scientific research on the actual effects of climate change during the past several decades. if the “group of eighteen” pleads ignorance of this information due to its very recent posting, then we call their attention to an even larger and more comprehensive report published in 2009, Climate Change Reconsidered: The 2009 Report of the Nongovernmental International panel on Climate Change (NipCC). That document has been posted for more than a year in its entirety at www.nipccreport.org. These are just two recent compilations of scientific research among many we could cite. Do the 678 scientific studies referenced in the CO2 Science document, or the thousands of studies cited in the NipCC report, provide real-world evidence (as opposed to theoretical climate model predictions) for global warming-induced increases in the worldwide number and severity of floods? No. In the global number and severity of droughts? No. in the number and severity of hurricanes and other storms? No. Do they provide any real-world evidence of earth’s seas inundating coastal lowlands around the globe? No. increased human mortality? No. plant and animal extinctions? No. Declining vegetative productivity? No. More frequent and deadly coral bleaching? No. Marine life dissolving away in acidified oceans? No. Quite to the contrary, in fact, these reports provide extensive empirical evidence that these things are not happening. And in many of 98 C a r t a Men sa l • Rio de Janeiro, n. 690, p. 51-102, set. 2012 these areas, the referenced papers report finding just the opposite response to global warming, i.e., biosphere-friendly effects of rising temperatures and rising CO2 levels. in light of the profusion of actual observations of the workings of the real world showing little or no negative effects of the modest warming of the second half of the twentieth century, and indeed growing evidence of positive effects, we find it incomprehensible that the eighteen climate alarmists could suggest something so far removed from the truth as their claim that no research results have produced any evidence that challenges their view of what is happening to earth’s climate and weather. But don’t take our word for it. Read the two reports yourselves. And then make up your own minds about the matter. Don’t be intimidated by false claims of “scientific consensus” or “overwhelming proof.” These are not scientific arguments and they are simply not true. like the eighteen climate alarmists, we urge you to take a fresh look at climate change. We believe you will find that it is not the horrendous environmental threat they and others have made it out to be, and that they have consistently exaggerated the negative effects of global warming on the U.S. economy, national security, and public health, when such effects may well be small to negligible. Signed by: Syun-ichi Akasofu, University of Alaska Scott Armstrong, University of pennsylvania James Barrante, Southern Connecticut State University John Boring, University of Virginia Roger Cohen, American physical Society Fellow Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 51-102, set. 2012 99 David Douglass, University of Rochester Don easterbrook, Western Washington University Robert essenhigh, The Ohio State University Martin Fricke, Senior Fellow, American physical Society lee Gerhard, University of Kansas Ulrich Gerlach, The Ohio State University laurence Gould, University of Hartford Bill Gray, Colorado State University Will Happer, princeton University Howard Hayden, University of Connecticut Craig idso, Center for the Study of Carbon Dioxide and Global Change Sherwood idso, USDA, U.S. Water Conservation laboratory Richard Keen, University of Colorado Doral Kemper, USDA, Agricultural Research Service Hugh Kendrick, Office of Nuclear Reactor Programs, DOE Richard lindzen, Massachusetts institute of Technology Anthony lupo, University of Missouri patrick Michaels, Cato institute Donald Nielsen, University of California, Davis Al pekarek, St. Cloud State University John Rhoads, Midwestern State University Nicola Scafetta, Duke University Gary Sharp, Center for Climate/Ocean Resources Study S. Fred Singer, University of Virginia Roy Spencer, University of Alabama George Taylor, past president, American Association of State Climatologists Frank Tipler, Tulane University leonard Weinstein, National institute of Aerospace Senior Research Fellow 100 C a r t a Men sa l • Rio de Janeiro, n. 690, p. 51-102, set. 2012 Samuel Werner, University of Missouri1 Thomas Wolfram, University of Missouri1 1 – emeritus or Retired 2 – Member of the National Academy of Sciences Endorsed by: Rodney Armstrong, Geophysicist Richard Becherer, University of Connecticut1 Edwin Berry, Certified Consulting Meteorologist Joseph Bevelacqua, Bevelacqua Resources Carmen Catanese, American physical Society Member Roy Clark, Ventura photonics John Coleman, Meteorologist KUSi TV Darrell Connelly, Geophysicist Joseph D’Aleo, Certified Consulting Meteorologist Terry Donze, Geophysicist1 Mike Dubrasich, Western institute for Study of the environment John Dunn, American Council on Science and Health of NYC Dick Flygare, Qep Resources Michael Fox, Nuclear industry/scientist Gordon Fulks, Gordon Fulks and Associates Steve Goreham, Climate Science Coalition of America Ken Haapala, Science & Environmental Policy Project Martin Hertzberg, Bureau of Mines Art Horn, Meteorologist Keith idso, Center for the Study of Carbon Dioxide and Global Change Jay lehr, The Heartland institute Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 51-102, set. 2012 101 Robert lerine, industrial and Defense Research and engineering peter link, Geologist James Macdonald, Chief Meteorologist for the Travelers Weather Service Roger Matson, Society of independent professional earth Scientists Tony pann, Meteorologist WBAl TV Ned Rasor, Consulting physicist James Rogers, Geologist1 Norman Rogers, National Association of Scholars Rene Rogers, litton electron Devices1 Thomas Sheahen, Western Technology incorporated Andrew Spurlock, Starfire Engineering and Technologies, Inc. leighton Steward, plantsNeedCO2.org Soames Summerhays, Summerhays Films, inc. Charles Touhill, Consulting environmental engineer David Wojick, Climatechangedebate.org” Palestra pronunciada em 24 de julho de 2012 102 C a r t a Men sa l • Rio de Janeiro, n. 690, p. 51-102, set. 2012 Síntese da Conjuntura Conjuntura econômica Ernane Galvêas Ex-Ministro da Fazenda Reaquecimento C ercada pela estagnação da indústria, que já dura mais de 12 meses, a economia brasileira vinha declinando, na direção de um acréscimo de apenas 1,5% do piB, em 2012. entretanto, a partir de agosto, em resposta aos inúmeros estímulos criados pelo Governo, começam a surgir sinais de recuperação, em grande parte baseada na expansão de crédito do BNDeS para investimentos, da Caixa econômica, para habitação e, de um modo geral, para consumo. em agosto, a produção de veículos subiu 10,58% sobre julho, que já havia registrado expansão de 8,85%, embora tenha caído 5,4% em setembro. A circulação de veículos pesados nas estradas aumentou 4,4%, o consumo de energia aumentou 2,59% e as vendas de papelão ondulado mais 4,83%. Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 103-114, set. 2012 103 No setor externo, o fluxo do comércio – exportações mais importações – caiu 3,2%, até setembro. A saída da crise Nas conjunturas de recessão, como a atual, a teoria e o bom-senso indicam que para sair da crise é preciso o Governo gastar mais e não menos. Acontece que, de um modo geral, nos países em crise, os Governos estão quebrados e não têm como gastar mais. O recurso, como está sendo utilizado nos Estados Unidos, na Europa, e também no Brasil, é expandir o crédito, a partir do nada. Segundo a teoria econômica, as atividades, tradicionalmente, estão sujeitas aos altos e baixos dos ciclos econômicos. A saída das crises pode seguir um curso natural, na medida em que os velhos equipamentos precisam ser substituídos e, igualmente, na medida em que surgem as inovações, que irão mobilizar novos investimentos, mais emprego e maior consumo. Em um de seus últimos artigos no New York Times, o economista Paul Krugman teve a ousadia de dizer que a revolução do novo iPhone 5 pode ser o início da saída da crise nos Estados Unidos. Em relação à Europa, pode-se dizer, em resumo, que a soma das fatias do Estado (40%), dos trabalhadores e aposentados (50%) e empresários e investidores (20%) excede o bolo do PIB nacional. Daí, a dificuldade da solução: se o Estado corta a arrecadação, diminuem os investimentos e aumenta o desemprego; se forem reduzidos os salários e as aposentadorias, os trabalhadores se revoltam; se cair mais ainda a margem de lucro dos empresários e investidores, caem os investimentos e as ofertas de emprego. 104 C a r t a M en sa l • Rio de Janeiro, n. 690, p. 103-114, set. 2012 O difícil da solução é cortar um pouco de cada setor. Restaria o problema do endividamento do Governo e dos bancos, que só se resolve com empréstimos externos. É o que está tentando fazer o BCE. Inflação e Taxa de Juros A elevação da taxa de juros (Selic) é o instrumento de ação do Banco Central para balizar a política monetária, de um modo geral, a fim de controlar a inflação pela via do crédito. A inflação pode ter várias origens, basicamente classificadas como inflação de oferta e inflação de demanda. Na conjuntura atual, geralmente, a inflação de oferta vem da elevação dos preços do petróleo, matérias-primas e das commodities de alimentação, como está acontecendo agora, em face das adversidades climáticas nos Estados Unidos e no Brasil. A inflação de demanda ocorre, em geral, nos períodos de boom econômico, principalmente, diante dos elevados níveis do emprego e da renda (salários) e do déficit fiscal, acompanhados da expansão do crédito. Adicionalmente, podemos ter inflação inercial, isto é, uma alta de preços que, automaticamente, se realimenta e se perpetua. A inflação brasileira tem um pouco de tudo isso e a pergunta que se faz é sobre a eficácia da taxa Selic, para combatê-la. A indagação é importante, quando se sabe que há pressões de alta vindas de várias direções. Cabe uma advertência: Em uma situação próxima do pleno emprego da mão de obra e da capacidade industrial instalada, obviamente não é o melhor momento para a elevação sistemática dos salários reais e dos gastos de custeio Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 103-114, set. 2012 105 do setor público. Pelo contrário, quando há uma declarada inflação originada do lado da oferta, cabe considerar duas ações: 1) estimular os investimentos para aumentar a produção; e 2) considerando que os investimentos criam empregos e elevam os salários, que alimentam a demanda, cabe, prudentemente, controlar a expansão do crédito ao consumo, para compensar as pressões do lado da oferta. Via crucis da indústria A economia industrial brasileira luta contra travas pesadas: a taxa de juros, a taxa de câmbio e a carga tributária. A taxa de juros está sendo parcialmente equacionada; é baixa para quem chega aos financiamentos do BNDeS, mas ainda é muito alta no capital de giro. A taxa de câmbio já foi quase totalmente reajustada, restaurando as chances da exportação e protegendo a produção doméstica; a desvalorização prejudicou empresas endividadas em dólares, mas isso é passageiro. permanece a trava mais pesada, que é a carga tributária, que para algumas indústrias chega a mais de 40% do faturamento. Incrível. O Governo vem tentando amenizar alguns casos, a conta gotas, uma solução que não infunde confiança aos investidores. Há casos, como a transferência do encargo previdenciário da folha de pagamento para o faturamento, que é uma simples ilusão, não reduz custos, além de ser uma medida equivocada do ponto de vista previdenciário. Além das dificuldades citadas, a indústria brasileira luta, ainda, com a deficiente logística dos transportes. A Presidente Dilma está empenhada em destravar essa parte da infraestrutura, mas não há projetos prontos para começar e tampouco dinheiro para financiar. O programa anunciado só deve começar a sair do papel em princípios de 2013. 106 C a r t a M en sa l • Rio de Janeiro, n. 690, p. 103-114, set. 2012 Até o momento, quem está segurando a barra são os múltiplos projetos do Pré-Sal e a obesa indústria automobilística movida a subsídios. Ambos em declínio. Política industrial O novo “pacote” do Governo tem três dimensões: 1o) estimular a formalização da mão da obra; 2o) antecipar investimentos em máquinas; e 3o) por consequência, reduzir preços e tarifas de transportes. Foi ampliado o programa de desoneração dos 20% da contribuição previdenciária sobre a folha de pagamentos, que aumenta de 15 para 40 setores os seguintes benefícios (20 indústrias, 2 setores de serviços e 3 de transportes); em troca, pagarão ao iNSS 1% ou 2% sobre o faturamento. A nosso ver, essa não é uma medida inteligente, pois nada mais lógico do que associar contribuições previdenciárias à folha de salários e não ao faturamento. Muito mais coerente seria simplesmente retirar da folha de pagamentos as contribuições à educação e ao incra, por exemplo. De outro lado, foi dado à indústria um incentivo tributário, mediante redução da depreciação acelerada de 10 anos (10%) para 5 anos (20%), no caso de aquisição de novos equipamentos, até dezembro/2012, além do juro real negativo (2,5% ao ano), nos empréstimos do BNDeS. Atividades Econômicas Indústria Segundo o iBGe, a produção industrial cresceu 0,5% no bimestre junho-julho, sinalizando uma possível retomada. Também a CNi Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 103-114, set. 2012 107 informa que o índice da produção industrial subiu de 51,1 em julho para 54,7 em agosto, enquanto a utilização da capacidade instalada aumentou de 73% para 74% (em agosto/2011, estava em 75%). No acumulado janeiro/setembro, a indústria registra um crescimento negativo de -2,3%. No ano, as vendas de papelão ondulado subiram 2,18% e a indústria de máquinas e equipamentos registrou alta de 2,1% no faturamento de agosto em relação a julho, acumulando no ano expansão de apenas 0,3% (Abimac). Um bom sinal. Segundo a Fiesp, o indicador de atividade (iNA) caiu 0,3% em São paulo, em agosto. Uma notícia preocupante é que a produção de carros e veículos comerciais pode superar a demanda em 1,8 milhão de unidades, em face dos investimentos das montadoras em novas fábricas, até 2017. É a ameaça de uma “bolha” no setor automobilístico. O Governo continua oferecendo novos estímulos nos investimentos industriais, com redução temporária do ipi, depreciação acelerada, juros subsidiados pelo BNDeS e margem preferencial de 20% nas compras governamentais. Nesse contexto, o índice de confiança da indústria (ICI) passou de 104,1 em agosto para 105,0 em setembro. Comércio Segundo o iBGe, as vendas no varejo cresceram 1,6% em junho e 1,4% em julho, sobre o mês anterior. em agosto, segundo a CNC, as vendas ficaram abaixo das expectativas, mas, ainda assim, aumentaram 6,1%, em relação a agosto/2011, e no comércio varejista carioca houve crescimento de 7,9% nesse período e de 7,7% no acumulado de oito meses (CDl-Rio). preocupa o fato de que cerca de 20% das lojas estão com estoque elevado. Na Zona Franca de Manaus, que concentra a produção de eletrônicos e motos, as encomendas para o 108 C a r t a M en sa l • Rio de Janeiro, n. 690, p. 103-114, set. 2012 Natal estão muito fracas. Até junho, as vendas em dólares caíram 10% e em julho e agosto estão baixas, segundo o presidente da Cieam. A inadimplência do consumidor recuou 0,2% entre julho e agosto, a terceira queda mensal consecutiva, embora nos oito meses do ano tenha aumentado 16,2% (Serasa). O índice de intenção de consumo das famílias (ICF) se manteve estável em setembro, frente a agosto, segundo a CNC, o mesmo que em Brasília (Fecomércio-DF). O endividamento das famílias caiu em setembro, após três meses de alta. À vista dos indicadores antecedentes, a CNC estima um crescimento de 7,0% no volume de vendas do varejo, em 2012. Agricultura Pelos levantamentos do IBGE, a produção agrícola caiu 8,5% no primeiro trimestre, mas recuperou-se, daí em diante, com expansão de 6,5%, nos meses seguintes. No acumulado janeiro/setembro ainda registra queda de -2,2%. O PIB do agronegócio caiu 1,55% no primeiro semestre, segundo a CNA. Houve queda na produção de soja, algodão, cana-de-açúcar e trigo. A produção de cana, porém, deverá ter aumento físico de 2,6%, enquanto os produtores de laranja devem sofrer perda de 40 milhões de caixas, devido à queda no consumo, interno e externo. Mercado de Trabalho O nível de desemprego em agosto ficou em 5,3%, o melhor resultado desde 2002, o mesmo que as taxas de junho (5,9%) e julho (5,4%). Foram criadas 185,9 mil novas vagas. O emprego na indústria caiu Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 103-114, set. 2012 109 1,6%, em julho. pelos dados do Caged, em agosto, foram criadas 100,9 mil vagas, 56% abaixo da geração de empregos em agosto/2011, com queda de 16,6 mil postos na agricultura. O setor serviços contratou 54,7 mil, o comércio 31,3 mil e a indústria de transformação 16,4 mil. O rendimento médio, de janeiro a agosto, foi de R$ 1.744,15, o mais alto desde 2003. Segundo o Dieese, a taxa de desemprego subiu de 10,7% em julho para 11,1% em agosto, sendo maior a contratação sem carteira assinada (+2,2%) do que com carteira (+0,3%). Na construção civil houve fechamento de 58 mil vagas. Na região metropolitana de São Paulo, o número de trabalhadores no comércio varejista, com carteira assinada, aumentou 3,4% em junho. Várias: a empresa Furnas está reduzindo seu quadro de pessoal em 35%. Um quinto dos brasileiros jovens (20%), de 18 a 25 anos, não estuda, não trabalha, nem procura emprego. Nos últimos 10 anos, 37 milhões de brasileiros saíram da pobreza e passaram à classe média. entre 2009 e 2011, foram 5,6 milhões. entre 2001 e 2011, o salário dos 10% mais pobres subiu 91,2% e o dos 10% mais ricos 16,6%. Setor Financeiro As operações de crédito do sistema financeiro cresceram 1,2% em agosto, 3,5% no trimestre, 8,9% no ano, refletindo uma taxa de expansão de 17% em 12 meses. No ano, a parcela da indústria subiu 5,0%, da habitação 24,7%, do setor rural 7,2%, do comércio 2,5% e das pessoas físicas 7,3%. A expansão dos bancos públicos foi de 14,5% e a dos bancos privados 4,2%. Ou seja, os bancos públicos expandem três vezes e meia mais que os bancos privados. A expansão do crédito é uma das principais fontes de pressão inflacionária. 110 C a r t a M en sa l • Rio de Janeiro, n. 690, p. 103-114, set. 2012 O Governo está mais interessado na expansão das atividades econômicas do que no controle da inflação, daí a ênfase na expansão do crédito (BB, BNDeS, CeF) e na redução da taxa dos juros bancários. A fixação da taxa de juros é um problema complexo, dado à grande variedade de taxas no mercado. Dizer, por exemplo, que a taxa média no financiamento ao consumidor caiu para 35,6% em agosto, é uma ficção. No BNDES, há taxas anuais de 2,5% a 10%, no crédito rural, idem, na Caixa Econômica também. No mercado, há mais de 30 taxas diferentes, até 360% no crédito rotativo dos cartões de crédito. Nesse amplo contexto, a taxa Selic é um caso especial, que serve para balizar o rendimento dos títulos públicos e a taxa de captação dos fundos bancários. Há algumas aberrações no sistema financeiro, como, por exemplo, a entrada da Caixa Econômica ao crédito rural, a abertura de nova carteira de investimentos e de mais 2 mil agências, até 2014. A CeF pode ser o estopim de uma futura “bolha de crédito”. No segundo trimestre deste ano, o Banco do Brasil expandiu 50% e a CeF 60%. O Governo acaba de autorizar (Mp-581) uma nova injeção de recursos de R$13 bilhões para a CeF e R$8,1 bilhões para o Banco do Brasil. A CEF reduziu os juros para financiamento de veículos (!?). Segundo a Serasa, a inadimplência (cheques sem fundo) das empresas cresceu 1,7% em agosto, em relação a julho, que já havia crescido 1,8%. Inflação O Governo está empenhado em baixar os preços da energia e da cesta básica, para salvaguardar o objetivo de conter a inflação (IPCA) em 4,5%, mas o preço dos alimentos está em alta, basicamente devido Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 103-114, set. 2012 111 à seca no Centro-Oeste americano. O preço do arroz subiu 3,98%, em setembro e a alta dos preços da soja e do milho está forçando a alta das rações e, por consequência, das carnes de porco e de frango. Na primeira prévia de setembro, o iGp-10 subiu 1,05% e o ipCA15 ficou em 0,48%. O IGP-M de setembro caiu para 0,97%, depois de avançar 1,43% em agosto, mas o preço da cesta básica na capital paulista subiu 3,25%. O índice Fipe/ipC fechou setembro em 0,38%. A seca nos estados Unidos elevou os preços da soja em 84,75% e do milho em 18,43% (FGV). No Brasil, o preço do arroz subiu 11,25% em setembro e 34,84% em nove meses. Setor Público O Governo Central arrecadou de janeiro a agosto R$691,9 bilhões, 7,2% mais do que no mesmo período do ano passado. em compensação, gastou mais 12,2% no período. O Governo Federal reforçou suas contas com R$16,1 bilhões de dividendos pagos pelas empresas estatais.em oito meses, o Setor Público economizou (superávit primário) R$74,2 bilhões para pagar R$147,6 bilhões de juros, incorrendo em um déficit nominal de R$73,4 bilhões (2,53% do piB). Comparado com o mesmo período do ano passado, o encargo dos juros registra uma redução de R$12,2 bilhões. A dívida mobiliária sofreu uma redução de R$10 bilhões em agosto sobre julho e de R$4,2 bilhões comparada com dezembro 2011. Entretanto, a dívida bruta do Governo chegou a R$2.491,3 bilhões (57,5% do PIB), um aumento de R$247,7 bilhões no ano. Os analistas consideram que esse resultado é o pior dos últimos 10 anos. 112 C a r t a M en sa l • Rio de Janeiro, n. 690, p. 103-114, set. 2012 A presidente Dilma sancionou a lei 12.715, que concede novos benefícios à indústria nacional. O Governo está também estimulando o endividamento dos estados junto ao sistema bancário privado, com a aprovação do Ministério da Fazenda e do Senado. Setor Externo O fluxo do comércio exterior – exportações e importações – caiu 3,2% de janeiro a setembro, em relação ao mesmo período de 2011, o que, de alguma forma, se relaciona com o fraco desempenho da economia mundial. As exportações brasileiras em setembro ficaram em US$20 bilhões, bem abaixo de agosto/2012 e de setembro/2011, o mesmo que as importações. O último relatório do LLoyd’s revela que, neste ano, até julho, o movimento de containers caiu 13,2%. As medidas adotadas pelo Brasil, para conter as importações, foram justificadas como “legítima defesa comercial”, amparadas pelas normas da OMC. Ainda assim, deram margem à criação de um contencioso com os estados Unidos. O Brasil acusa “os bancos centrais dos países desenvolvidos de persistirem em uma política expansionista, que desequilibra as taxas de câmbio. Com isso, os países emergentes perdem mercado e a valorização artificial de suas moedas agrava ainda mais o quadro recessivo global”. em verdade, não é bem assim. Observa-se neste ano uma queda de 23,9% nas receitas das exportações de minério de ferro e alta de 22% na soja em grão. De janeiro a agosto, as exportações para os estados Unidos aumentaram 13%, enquanto para o Mercosul caíram 13,4%, com menos 18% para a Argentina. Carta Mensal • Rio de Janeiro, n. 690, p. 103-114, set. 2012 113 O Banco Central, neste ano, espera uma entrada de US$82 bilhões de capitais estrangeiros, sendo cerca de US$60bilhões de investimentos diretos (ieDs). A conjuntura internacional continua incerta, agravada pelo incidente China-Japão, que poderá ter consequências lamentáveis. A OMC está pessimista em relação ao comércio mundial, cujo crescimento está estimado em 2,5%, em 2012, contra 13,9% em 2010 e 5,8% em 2011. Haverá eleições nos estados Unidos e na China na primeira semana de novembro, com resultados imprevisíveis. enquanto isto, o índice de atividade industrial nos estados Unidos subiu de 49,6 em agosto para 51,5 em setembro e os investimentos em projetos residenciais subiram 0,9% em agosto, o maior nível desde janeiro 2009. estima-se um crescimento de 1,3% para o piB 2012. Na Zona do euro, a situação permanece difícil para os bancos e para os governos, em taxa média de desemprego de 11,4% e de 25% para a espanha. 114 C a r t a M en sa l • Rio de Janeiro, n. 690, p. 103-114, set. 2012 2 0 10/2 0 1 4 Presidente Antonio Oliveira Santos Vice-Presidente Administrativo Josias Silva de Albuquerque Diretores Secretários 2º Pedro Jamil Nadaf 3º Luiz Gastão Bittencourt da Silva Vice-Presidentes 1º José Roberto Tadros 2º Darci Piana 3º José Arteiro da Silva Abram Abe Szajman Adelmir Araújo Santana Bruno Breithaupt José Evaristo dos Santos José Marconi Medeiros de Souza Laércio José de Oliveira Leandro Domingos Teixeira Pinto Orlando Santos Diniz Vice-Presidente Financeiro Luiz Gil Siuffo Pereira Diretores Tesoureiros 2º Antonio Osório 3º José Lino Sepulcri Diretores Hugo Lima França Ladislao Pedroso Monte Lázaro Luiz Gonzaga Marcelo Fernandes de Queiroz Marco Aurelio Sprovieri Rodrigues Raniery Araújo Coelho Valdir Pietrobon Wilton Malta de Almeida Zildo De Marchi Diretores Alexandre Sampaio de Abreu Antonio Airton Oliveira Dias Carlos Fernando Amaral Carlos Marx Tonini Edison Ferreira de Araujo Euclides Carli Francisco Valdeci de Sousa Cavalcante Hugo de Carvalho Conselho Fiscal Arnaldo Soter Braga Cardoso Lélio Vieira Carneiro Valdemir Alves do Nascimento Suplentes da Diretoria Ademir dos Santos Aderson Santos da Frota Alex de Oliveira da Costa Anselmo da Silva Moraes Antonio Florêncio de Queiroz Júnior Antônio Lopes Trindade Antônio Trevisan Ari Faria Bittencourt Canuto Medeiros de Castro Célio Spagnoli Daniel Mansano Diocesmar Felipe de Faria Edson Duarte Mascarenhas Edy Elly Bender Kohnert Seidler Expedito Edilson Mota Borges Fernando Teruó Yamada Hermes Martins da Cunha João Elvécio Faé José Marcos de Andrade Liliana Ribas Tavarnaro Lúcio Emílio de Faria Júnior Luiz Carlos Bohn Marcantoni Gadelha de Souza Suplentes do Conselho Fiscal Hilário Pistori Marcelino Ramos Araujo Márcio Olívio Fernandes da Costa Miguel Setembrino E. de Carvalho Natan Schiper Odair de Jesus Conceição Osvino Juraszek Paulo Miranda Soares Pedro J. M. Fernandes Wähmann Renato Rossi Robert Bittar Rubens Torres Medrano Vicente de Paulo Santos Correia A Reforma Tributária Possível Cid Heraclito de Queiroz Setembro 2012 Amor, ciúme e crime – agressão maligna – necrofilia Samuel Auday Buzaglo Meio Ambiente: Quando a natureza fala, precisamos entender Número 690 Claudio Contador Síntese da Conjuntura Conjuntura econômica Ernane Galvêas Setembro 2012 690