Musculação e Ginástica Laboral na Melhoria da Saúde e Qualidade

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Musculação e Ginástica Laboral na Melhoria da Saúde e Qualidade
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Artigo de Revisão
Pós-Graduação em Musculação e Treinamento de Força - Universidade Gama Filho - UGF
Musculação e Ginástica Laboral na Melhoria da Saúde e Qualidade de Vida
Márcio R. Mota
José Antônio Lamonier
Ronaldo Guerra
José Américo
Paulo Henrique
Brasília – DF
Introdução
Este trabalho de caráter informativo pretende mostrar os benefícios dos exercícios com
pesos, mais conhecido como musculação e ginástica laboral na prevenção da Doença
Osteomuscular Relacionada ao Trabalho (DORT), do qual não se restringe somente aos conceitos
outrora utilizados os quais se limitavam atividades de alongamento e correção da postura, hoje se
questiona, sobretudo, a aplicação de métodos de treinamento com pesos juntamente com a
ginástica laboral, proporcionado resultados mais abrangentes.
A musculação é um método efetivo para o desenvolvimento músculo-esquelético, sua
prescrição é voltada para o desenvolvimento da aptidão física, favorecimento da saúde e
prevenção e reabilitação de lesões ortopédica. A importância do treinamento de força deve-se ao
fato de que este é um componente integral na compreensão de um programa de saúde, promovido
pela maioria das organizações de saúde, como: American College of Sports Medicine, American
Heart Association, Centers for Disease Control and Prevention e US Surgeon General’s Office.
Um guia para a população esportiva foi publicado em uma revista recentemente, e abordou
os seguintes pontos: na média adulta o programa de treinamento de força volta-se para iniciantes,
pesquisas recentes indicam, que no programa de treinamento simples recomendam-se treinos de
pelo menos duas vezes por semana. Acima deste, o programa de treinamento múltiplo, o qual
consome menos tempo e é mais eficiente, pois promove maiores benefícios para a saúde e a
aptidão física. O objetivo deste programa é desenvolver e manter uma quantidade significativa de
massa muscular, endurance e níveis de força contribuindo para toda a aptidão física e saúde, e
não para otimizar força, potência e hipertrofia. Incorporado pela prescrição do exercício o
treinamento causará aumento e efetividade na prevenção da saúde, (Feigenbaum, 1997).
Para condições fisiológicas e de saúde ideais, é essencial ter uma função músculoesquelético sadia. Embora seja verdade, poucas pessoas morrem em decorrência da falta de força
muscular e da falta de flexibilidade. Um número significativo de indivíduos – que se não fossem por
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isto seriam considerados sadios -, sofrem de problemas lombares crônicos e de redução
concomitante em seus níveis metabólicos basal e de repouso. Freqüentemente, a ingestão
alimentar não se reduz na mesma proporção em que o gasto metabólico diminui, resultando daí
um aumento dos depósitos de gordura. Finalmente, na ausência de um estímulo apropriado, os
ossos perdem força, em conseqüência da perda da matriz óssea e dos sais minerais. A
osteoporose e as fraturas de quadril e vértebras freqüentemente resultam deste processo
degenerativo, (Pollock, 1993).
Vários trabalhos recentes têm documentado importantes benefícios do treinamento com
pesos para a reabilitação e profilaxia de incapacidade física em pessoas idosas (Ades et al, 1996;
Dupler & Cortes, 1993; Fiatarone et al, 1990; Fiatarone et al, 1990; Frontera et al, 1988; Heislen et
al, 1994; Judge et al, 1994; McCartney et al, 1993; Menkes, et al, 1993; Meredith et al, 1992; Pyca
et al, 1994; Thompson, 1994). A análise destes trabalhos levanta uma questão de alta relevância
para a medicina esportiva: até que ponto as restrições que habitualmente se fazem com relação ao
trabalho com pesos para objetivos de aptidão e qualidade de vida estão bem fundamentadas?
Com o objetivo de orientar o raciocínio, faremos inicialmente algumas considerações conceituais, e
em seguida analisaremos os benefícios do aumento de massa muscular e particularidades
fisiológicas do treinamento de força (Santarém, 1999).
Musculação significa estritamente aumento de massa muscular. Como este objetivo é mais
facilmente obtido por meio dos exercícios resistidos, o termo costuma ser utilizado para designar o
próprio treinamento com pesos. Neste sentido, a musculação pode ter muitas aplicações:
preparação de atletas e esportistas em geral (que invariavelmente necessitam de massa
muscular), modelagem do corpo tanto do homem quanto da mulher, reabilitação, e
desenvolvimento de aptidão física. A competição em musculação caracteriza o culturismo
(fisiculturismo em espanhol e body-building em inglês), uma modalidade desportiva solidamente
estruturada internacionalmente (Santarém, 1999).
Aumento da massa muscular é a adaptação morfológica mais evidente induzida pelos
exercícios com pesos. Força é a adaptação funcional que sempre acompanha os níveis de massa
muscular. Para entendermos melhor a importância da força muscular na vida diária das pessoas, o
idoso é o modelo ideal. Freqüentemente o idoso é um sedentário de longa data, que perdeu
aptidão física geral, acentuadamente massa muscular e força. Sabe-se que flexibilidade e força
diminuídas são as maiores limitações para as atividades da vida diária (Fiatarone et al, 1994;
Fiatarone et al, 1990; Guralnick et al, 1995). Agachar e levantar, subir e descer escadas, levantar
objetos muitas vezes pesados, banhar-se e vestir-se são exemplos de atividades do cotidiano
muito prejudicadas do ponto de vista biomecânico pela diminuição da força e da flexibilidade. Evitar
quedas nas situações de desequilíbrios do corpo é outra função importante da força e da
flexibilidade, aspecto fundamental para a integridade física dos idosos (Fiatarone et al, 1994;
Fiatarone et al, 1990; Guralnick et al, 1995). Estudos longitudinais demonstraram que idosos aptos
para a vida diária mas com baixos níveis de força muscular, evoluem rapidamente para a inaptidão,
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com alto índice de quedas e suas conseqüências muitas vezes fatais (Guralnick et al, 1995). O
treinamento com pesos é a maneira mais eficiente para aumentar a força muscular e a densidade
óssea. A flexibilidade aumenta dentro dos limites de amplitude que eventuais processos
degenerativos possam permitir (Dupler & Cortes, 1993; Frontera et al, 1988; Gettman, et al, 1978;
Heislen et al, 1994; Karlson et al, 1993; Menks et al, 1993; Meredith et al, 1992; Pyca et al, 1994;
Rians et al, 1987; Sitta et al, 1994; Smith & Rutherford, 1993; Stone, 1988; Thompson, 1994;
Webb, 1990; Wilmore et al, 1978). A sobrecarga tensional dos exercícios com pesos estimula a
síntese de proteína contrátil no músculo, o aporte de matriz calcificada no osso e a proliferação do
tecido conjuntivo do endomísio, aumentando assim as propriedades visco-elásticas do músculo
(Sitta et al, 1994; Stone, 1988; Vandemburg, 1987) (Santarém, 1999).
Um aspecto apenas recentemente documentado é a importância da força para a
manutenção da homeostase hemodinâmica na vida diária. Verificou-se que idosos com pouca
força muscular apresentavam aumentos acentuados e perigosos de freqüência cardíaca e pressão
arterial na realização de atividades como subir escadas e levantar janelas. Esta situação foi
revertida apenas com o aumento da força muscular induzido pelo treinamento com pesos
(McCartney et al, 1993). A explicação é que a homeostase é afetada na razão direta da
intensidade dos esforços, e o grau de intensidade é dado basicamente pelo percentual de
capacidade contrátil disponível que está sendo utilizado (Chwalbinska-Moneta et al, 1989;
Marcinick et al, 1991). Intensidade do esforço é portanto um conceito relativo, e para pessoas com
pouca força muscular, atividades comuns na vida diária podem ser grandes esforços. Situações do
cotidiano observadas por todos ilustram este mecanismo fisiológico: pessoas fortes carregam
objetos pesados conversando normalmente, enquanto que pessoas mais fracas fazem a mesma
tarefa com grande dificuldade e evidente dispnéia. O treinamento com pesos desenvolve não
apenas a força muscular e a flexibilidade, mas a capacidade de prolongar esforços, tanto de alta
quanto de baixa intensidade, apesar de não aumentar a capacidade aeróbia das pessoas (Ades et
al, 1996; Dudley, 1988; Dupler & Cortes, 1993; Frontera et al, 1994; Hickson et al, 1988; Marcinik
et al, 1991; Thompson, L.V., 1994; Wilmore et al, 1978). O tipo de aptidão física desenvolvido pela
musculação é particularmente útil para o trabalho braçal, doméstico ou não, que envolve esforços
basicamente anaeróbios. Prolongar esforços de média intensidade, como correr, pedalar ou nadar
longas distâncias (o que exigiria grande capacidade aeróbia) não faz normalmente parte da vida
diária das pessoas. Caminhar é um esforço suave, exceto para pessoas muito debilitadas, não
exigindo portanto grande capacidade aeróbia para ser prolongado (Santarém, 1999).
Na área do treinamento desportivo também estão surgindo novos conhecimentos relativos
à importância da força muscular, mesmo para atletas de resistência como corredores e ciclistas de
longa distância. O aumento da capacidade contrátil de atletas de resistência se acompanha do
aumento do limiar de lactato, parâmetro indicativo da diminuição da intensidade relativa dos
esforços (Marcinik et al, 1991). Estão documentados aumentos entre 10 e 20 % no desempenho
de ciclistas e corredores em provas de longa duração, apenas com a introdução do treinamento de
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força, e sem aumentos do VO2 máximo (Hickson et al, 1988). Uma hipótese para explicar esse fato
é que a capacidade contrátil aumentada nas fibras vermelhas permitiria que maior quantidade de
trabalho fosse realizado aerobiamente, antes que as fibras brancas fossem recrutadas (Santarém,
1999).
No que diz respeito à segurança dos exercícios com pesos, vários aspectos anteriormente
controvertidos estão sendo esclarecidos por recentes trabalhos. Os exercícios utilizados no
treinamento para musculação são isotônicos. Quando os exercícios são realizados até a exaustão,
surgem fases isométricas. Os esforços isométricos não possuem efeitos nocivos para pessoas
saudáveis, mas induzem sobrecargas que devem ser evitadas em situações de doenças ou
despreparo físico. Evitar cargas que levem à esforço isométrico é o cuidado básico no treinamento
com pesos em situações especiais de saúde. Da mesma maneira, correr, nadar ou pedalar em
velocidades altas podem levar à sobrecargas indesejáveis em alguns casos. No treinamento com
pesos, o controle que se pode ter sobre fatores como a carga, a amplitude, a velocidade, a
duração e a freqüência dos exercícios é total, permitindo que os esforços sejam adaptado às
condições físicas de cada praticante. Esta plasticidade das características do treinamento com
pesos são particularmente úteis para os exercícios de pessoas debilitadas. Exemplificando, as
cargas podem ser graduadas para valores tão baixos que, comparativamente, o suporte do peso
do corpo para caminhar induz maior sobrecarga ao organismo. No caso de pessoas acometidas
por processos degenerativos articulares, exercícios de pequena amplitude com cargas razoáveis
são terapêuticos, ao contrário dos exercícios sem carga e com grande amplitude, que podem
traumatizar os tecidos. Estudos transversais com levantadores de peso olímpicos demonstraram
incidência de artrose de coluna igual à da população geral, mas com uma diferença fundamental:
os atletas tinham muito menos sintomas (Fitzgerald & McLatchie, 1990). Estes resultados
confirmam o relevante componente genético da artrose, e a importância de músculos fortes para a
profilaxia eficiente dos sintomas dolorosos. Com relação aos traumas, deve ser esclarecido que o
índice de lesões no treinamento bem orientado é muito baixo, provavelmente devido à ausência de
movimentos bruscos e choques, e mínimo risco de quedas. Lesões ocorrem com maior freqüência
no treinamento sem orientação ou em movimentos com cargas máximas (Mazur & Risser, 1993;
Mundt et al, 1993; Rians et al, 1987; Risser, 1990; Sewall & Micheli, 1986; Webb, 1990). Ainda
abordando o sistema músculo-esquelético, é de fundamental importância realçar o fato de que
todos os trabalhos que pudemos levantar e que estudaram o treinamento com pesos em
adolescentes e crianças pré-púberes, não documentaram qualquer efeito nocivo ao crescimento
ósseo ou à integridade articular (Rians et al, 1987; Risser, 1990; Servedio et al, 1985; Sewall &
Micheli, 1986; Webb, 1990) (Santarém, 1999).
O sistema cardiovascular reage às sobrecargas de treinamento impostas pelos exercícios
resistidos de maneira fisiológica (Crawford & Maron, 1992; Fleck, 1988). O coração de pessoas
treinadas com pesos por muitos anos é absolutamente normal e saudável (Crawford & Maron,
1992; Effron, 1989; Fleck, 1988; MacFarlane et al, 1991; Menapace et al, 1982), além de ser
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melhor adaptado para situações de esforços isométricos de alta intensidade, comparativamente
com o coração de pessoas treinadas apenas aerobiamente (Ben-Ari et al, 1993). Tais esforços são
relativamente freqüentes na vida diária de todas as pessoas, ao contrário dos esforços
prolongados de média intensidade. A hipertrofia do miocárdio não se acompanha de redução das
câmaras cardíacas, tal como ocorre na doença hipertensiva crônica (Crawford & Maron, 1992;
Fleck, 1988). Em nosso levantamento bibliográfico não encontramos qualquer referência à
aumento da pressão arterial em repouso. Ao contrário, existem citações de redução deste
parâmetro com o treinamento (Hagberg et al, 1984; Webb, 1990). Os aumentos da pressão arterial
em treinamento ficam dentro dos limites de segurança, mesmo com sobrecarga tensional em torno
de 80 % da máxima, desde que se evitem as contrações isométricas e a apnéia (Effron, 1989;
Ghilarducci et al, 1989; Kelemen, 1989; Sale et al, 1994; Webb, 1990). Mesmo em treinamento
intenso, a freqüência cardíaca não costuma ultrapassar 70 % da freqüência cardíaca máxima, o
que leva a um duplo produto de baixo risco cardíaco (Effron, 1989; Ghilarducci et al, 1989;
Kelemen, 1989). A relação oferta / demanda de oxigênio para o miocárdio é mais favorável nos
exercícios com pesos do que nos exercícios aeróbios de média intensidade. Pessoas que
apresentaram arritmias e sinais de isquemia no teste ergométrico em esteira suportaram
treinamento com pesos com 80 % de carga máxima, sem qualquer sinal de sofrimento do
miocárdio (Ghilarducci et al, 1989). A fórmula sangüínea se altera favoravelmente com relação aos
fatores de risco para doença ateromatosa, tal como ocorre com o treinamento aeróbio (Cardoso et
al, 1994; Hurley, 1989; Hurley et al, 1984; Yki-Jarvinen et al, 1984; Giada et al, 1996) (Santarém,
1999).
A redução de gordura corporal é estimulada tanto pelos exercícios aeróbios quanto pelos
anaeróbios como o ginástica com pesos (Broeder et al, 1992; Brown & Wilmore, 1974; Fahey &
Brown, 1973; Gettman et al, 1978; Gettman & Pollock, 1981; Mayhew & Gross, 1974; Misner, et al,
1974; Wilmore, 1974; Wilmore et al, 1978). Os livros clássicos de fisiologia do exercício
apresentam as características da mobilização de gordura induzida pela atividade física. Quaisquer
que sejam os substratos energéticos utilizados durante a atividade, a sua reposição será priorizada
na realimentação subsequente os exercícios. Havendo excesso ou falta de ingestão calórica,
haverá, respectivamente, aumento ou redução na quantidade de reserva energética (tecido
adiposo). O metabolismo basal volta aos níveis de repouso minutos após os exercícios aeróbios
mas permanece ativado durante várias horas após os exercícios anaeróbios (Gaesser & Brooks,
1984). Pode-se dizer que os ácidos graxos são mobilizados durante os esforços aeróbios e após
os esforços anaeróbios. Qualquer tipo de exercício é útil para a redução da gordura corporal por
gastar calorias e por dificultar a redução do metabolismo basal durante dietas hipocalóricas.
Considerando-se que cerca de 2/3 do gasto calórico diário corresponde à taxa metabólica basal,
admite-se que a elevação do metabolismo produzido pelo aumento da massa magra seja uma
vantagem importante dos exercícios resistidos no sentido de facilitar a mobilização de gordura em
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repouso (Bossealer et al, 1994; Broeder et al, 1992; Melby et al, 1993; Evans, 1996) (Santarém,
1999).
Distúrbios posturais e doenças pulmonares crônicas são algumas situações onde os
aumentos de força e elasticidade muscular que acompanham a hipertrofia podem justificar a
utilização de exercícios com pesos. Nos casos de diabetes, atividade física em geral é útil não
apenas em função da captação de glicose insulino-independente durante os exercícios, mas
também devido ao aumento da sensibilidade insulínica nos músculos. Os exercícios com pesos
parecem ser particularmente úteis devido ao aumento da massa muscular, o que leva à uma maior
quantidade de tecido captador de glicose, mesmo em repouso (Pollock & Wilmore, 1993; YkiJarvinen et al, 1984) (Santarém, 1999).
Um aspecto que pode confundir as pessoas é a existência de trabalhos documentando
problemas de saúde em atletas de força. No entanto, o fator etiológico destes problemas
invariavelmente são as drogas, principalmente os esteróides anabolizantes, e não o treinamento
com pesos. Problemas como a interrupção do crescimento dos adolescentes, hipertensão arterial,
hipertrofia
concêntrica
do
miocárdio,
dislipidemias,
alterações
hormonais,
distúrbios
comportamentais, e outros, são todos reconhecidamente produzidos pelo abuso de drogas por
atletas de diversas modalidades esportivas.
Diante dos atuais conhecimentos, defendemos o ponto de vista de que o treinamento com
pesos deve ser considerado a forma ideal e padrão de preparação física para todas as pessoas.
Pelas suas qualidades, atende com segurança e eficiência às necessidades de condicionamento
físico mesmo das pessoas mais debilitadas. Na medida em que a condição física geral for
melhorando, serão atingidos níveis de aptidão compatíveis com diferentes atividades, dentre elas
as diversas modalidades esportivas, com suas abordagens específicas de treinamento.
Os chamados exercícios resistidos, ou exercícios contra-resistência, geralmente são
realizados com pesos, embora existam outras formas de oferecer resistência à contração
muscular. Musculação é o termo mais utilizado para designar o treinamento com pesos, fazendo
referência ao seu efeito mais evidente, que é o aumento da massa muscular. Assim sendo,
musculação não é uma modalidade esportiva, mas uma forma de treinamento físico. Os exercícios
com pesos constituem a base do treinamento do culturismo (musculação de competição) e dos
levantamentos de peso (básico e olímpico), além de participarem da preparação de atletas de
diversas outras modalidades. Pelas suas qualidades, a musculação passou a ocupar lugar de
destaque nas academias, onde o objetivo é a preparação física das pessoas, independentemente
de objetivos atléticos. Além de induzir o aumento da massa muscular, os exercícios com pesos
estimulam a redução da gordura corporal e o aumento de massa óssea, levando à mudanças
extremamente favoráveis na composição corporal. Homens e mulheres de todas as idades podem
mudar favoravelmente a forma do corpo com a ajuda do treinamento com pesos. Do ponto de vista
funcional, os exercícios com pesos desenvolvem importantes qualidades de aptidão, constituindo
uma das mais completas formas de preparação física. Uma das características mais marcantes
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dos exercícios com pesos é a facilidade com que podem ser adaptados à condição física
individual, possibilitando até mesmo o treinamento de pessoas extremamente debilitadas. Pela
ausência de movimentos rápidos e desacelerações, os exercícios com pesos apresentam também
baixo risco de lesões traumáticas. Por todas as suas qualidades, e pela documentação da sua
segurança geral, o treinamento com pesos ocupa hoje lugar de destaque em reabilitação geriátrica
e em terapêutica por exercícios (Santarém, 1999).
O volume dos músculos das pessoas é determinado pelas suas condições genéticas e
pelas características da atividade física à qual foi submetido. Algumas pessoas apresentam boa
massa muscular, mesmo com estilo de vida sedentário, o que se explica por um código genético
favorável. No entanto, com o avançar da idade, mesmo essas pessoas irão perdendo massa
muscular por falta de exercícios. Qualquer exercício estimula algum aumento de massa muscular,
embora os exercícios resistidos sejam os mais eficientes nesse sentido. Os exercícios com pesos
também produzem resultados variáveis em pessoas diferentes. As pessoas que reagem melhor,
aumentando rapidamente a massa muscular, parecem possuir maior número de fibras nos
músculos esqueléticos ao nascimento. Diferenças metabólicas também podem ter influência no
potencial para massa muscular, mas este aspecto ainda não está bem esclarecido. O efeito do
treinamento é estimular a hipertrofia ou seja, o aumento de volume das fibras musculares. Tanto as
fibras musculares brancas (do tipo II ou glicolíticas ou rápidas) quanto as vermelhas (do tipo I ou
oxidativas ou lentas) apresentam hipertrofia. As fibras brancas são maiores do que as vermelhas,
tanto nos sedentários quanto nos atletas. Algumas evidências sugerem que o treinamento com
pesos grandes e baixas repetições (menos de 5) estimulam mais as fibras brancas, e que o
treinamento com repetições mais altas (acima de 5) estimulam a hipertrofia de ambos os tipos de
fibras. O treinamento com pesos apresenta dois tipos de sobrecargas, úteis para a hipertrofia:
sobrecarga tensional e sobrecarga metabólica, esta do tipo energética anaeróbia. A sobrecarga
tensional é o grau de tensão que ocorre no músculo durante a contração, e é proporcional à
resistência oposta ao movimento. Quanto maior o peso, maior a sobrecarga tensional. A
sobrecarga metabólica é a solicitação acentuada dos processos de produção de energia, e nos
exercícios com pesos é dada pelas repetições mais altas e pelos intervalos curtos entre as séries.
Estas sobrecargas ocorrem sempre juntas, embora seja possivel enfatizar uma ou outra. Pesos
grandes e consequentemente baixas repetições, enfatizam a sobrecarga tensional, enquanto que
pesos não tão grandes, que permitem mais repetições, enfatizam a sobrecarga metabólica. A
sobrecarga tensional estimula o aumento das miofibrilas, e este é o principal mecanismo da
hipertrofia muscular. A sobrecarga metabólica estimula o aumento da rêde proteica estrutural, das
mitocôndrias, e também o acúmulo de glicogênio e água dentro da célula. O glicogênio pode
triplicar a sua quantidade, e cada grama dessa substância carrega consigo quase três gramas de
água. O resultado do acúmulo de glicogênio e água é o aumento da consistência do músculo, que
se torna mais firme à palpação. Outro efeito da sobrecarga metabólica é a maior vascularização
dos músculos. Todos esses efeitos ocorrem tanto nas fibras brancas quanto nas vermelhas. A
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associação de sobrecargas que parece ser mais eficiente para o aumento de massa muscular
utiliza repetições em torno de 10, e intervalos entre séries de 1 à 2 minutos. Repetições mais altas
e/ou intervalos mais curtos costumam ser utilizadas para intumescer e vascularizar os músculos,
geralmente associadas à dietas para definição, para efeito de campeonatos ou apresentações. O
grau de sobrecarga tensional ou seja, a quantidade de peso a ser utilizada, costuma ser
determinada experimentalmente em cada sessão: utilizam-se pesos leves nas primeiras séries
para aquecimento, e nas últimas séries do exercício escolhe-se um peso que permita a realização
das repetições planejadas com dificuldade. O método de determinação de carga máxima para uma
repetição (1 RM) costuma ser utilizado como parâmetro de avaliação do desempenho em trabalhos
científicos. Em nível de treinamento, técnicos experientes em musculação não utilizam o teste de 1
RM. Mesmo com os estímulos adequados, a hipertrofia muscular poderá não ocorrer caso não haja
completa recuperação do organismo entre as sessões de treinamento. As programações mais
eficientes em induzir o aumento de massa muscular caracterizam-se por serem curtas, e por
incluírem pelo menos dois dias de descanso total do organismo em cada semana. O uso de
anabolizantes permite que o treinamento seja mais exaustivo, mas não garante que os resultados
sejam muito diferentes do treinamento sem drogas bem orientado. Geralmente os anabolizantes só
fazem grande diferença quando a pessoa treina excessivamente. Embora não se possa negar que
os anabolizantes favoreçam a musculação, essas substâncias não mudam o potencial genético, e
portanto não são "formadoras de campeões" como popularmente se imagina. Além disto, colocam
os usuários em grupos de risco estatístico para várias doenças graves (Santarém, 1999).
Entende-se por "boa qualidade de vida" a condição das pessoas não se sentirem limitadas
para tarefas que desejam realizar por falta de condição física. Evidentemente uma pessoa que
tenha bem desenvolvidas todas as qualidades de aptidão estará preparada para qualquer tipo de
esforço. O sedentarismo é a cauda mais freqüente de má condição física, dominando todas as
qualidades de aptidão. Considerando-se os esforços mais comuns na vida diária e no trabalho
braçal, a diminuição de força e flexibilidade são as mais prejudiciais para a qualidade de vida. A
condição aeróbia acima da média, que seria importante para prolongar esforços de baixa
intensidade, não é condição necessária para a realização das tarefas da vida diária, e da grande
maioria das formas de trabalho braçal. Quando uma pessoa debilitada apresenta dispnéia e
taquicardia frente à pequenos esforços, estamos diante de um efeito da falta de força muscular.
Explicando melhor: a quebra da homeostase nos exercícios é proporcional à intensidade do
esforço, ou seja, quanto maior a intensidade do esforço, maior a repercussão hemodinâmica. A
intensidade do esforço é um conceito relativo, e que depende do percentual de capacidade
contrátil que está sendo utilizado. Assim sendo, uma tarefa qualquer será de baixa intensidade
para uma pessoa forte e de alta intensidade para uma pessoa enfraquecida. Pessoas fortes
utilizam menor percentual de capacidade contrátil do que pessoas debilitadas, para as mesmas
tarefas. Ao aumentar a força muscular portanto, consegue-se diminuir a intensidade dos esforços
em geral. No caso de uma pessoa com boa força muscular, na vida diária e no trabalho braçal, a
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homeostase somente será afetada na medida em que houver necessidade de prolongar os
esforços, o que exige resistência. Nestas situações, o tipo de resistência necessária e a anaeróbia.
Estes recentes conhecimentos de fisiologia do exercício explicam porque os exercícios com pesos
são tão eficientes em reabilitação geriátrica. O aumento da força e da flexibilidade devolve
rapidamente qualidade de vida aos idosos e, mais do que isto, auxilia na prevenção de quedas,
com conseqüente diminuição da mortalidade. Além disto, a adaptabilidade dos exercícios com
pesos à pessoas com qualquer condição física, e o baixo índice de lesões, contribuem para a
escolha preferencial desses exercícios para pessoas idosas e debilitadas (Przysiezny, 2000).
As doenças ocupacionais não são recentes. No Brasil, o fenômeno chega na década de
1980, quando começam a ser descritos os primeiros casos de LER em digitadores. As estatísticas
demonstram um crescimento no número de casos de DORT, tendo como vítimas, além dos
digitadores, bancários, telefonistas, operadores de caixa registradoras, operários das linhas de
montagem nas fábricas, auxiliares de enfermagem e muitos outros, com maior ou menor
acometimento. O que antes parecia ser uma doença isolada, causada por susceptibilidade do
trabalhador que é exposto aos riscos, começou a se identificar como epidemia, pois facilita a
condição de estabelecer o nexo causal do fato. A linguagem empregada quando se aborda o tema
LER/DORT, ainda é bastante confusa e de terminologia variada na literatura sobre o assunto. É
fundamental que se perceba que a LER/DORT não é uma doença ou uma entidade nosológica,
pois, representam um conjunto heterogêneo de afecções do sistema músculo esquelético que
estão relacionadas ao ambiente de trabalho. Porém, o novo termo Distúrbios Osteomusculares
Relacionados com o Trabalho ainda não é satisfatório, pois, as afecções ósseas e ocupacionais
são quase todas exclusivas dos acidentes de trabalho e o termo também exclui os distúrbios
ligamentares e as neuropatias compressivas periféricas Mais apropriado poderia ser Distúrbios
Ocupacionais Relacionados ao Trabalho. A incidência maior é no sexo feminino justificada por
questões hormonais, pela dupla jornada de trabalho, pela falta de preparo muscular para
determinadas tarefas e também por ter aumentado o número de mulheres no mercado de trabalho.
Algumas situações propiciam esta alta incidência das DORTs, destacando-se a mecanização do
trabalho, a organização do trabalho, a fragmentação das tarefas, a maior especialização e a maior
repetição. Também fatores psicossociais como trabalho monótono, trabalho pesado e inconsciente,
pressão pelo tempo, baixo suporte social e fatores psicológicos individuais, contribuem para gerar
as DORTs. Portanto, considera-se como DORT, qualquer distúrbio que seguramente esteja
relacionado ao trabalho, independente do segmente afetado, sendo que a etiologia deste conjunto
de afecções é complexa e abrange vários fatores multifatoriais (Przysiezny, 2000).
As lombalgias representam a principal enfermidade da sociedade moderna. Em 1974, as
companhias de seguros registraram mais pedidos por
problemas lombares do que por outra
causa. Kraus e Raab demonstraram que mais de 80% das lombalgias são secundárias à
deficiência muscular. Além disso, não há pesquisa longitudinal de 2 a 8 anos, envolvendo 233
pacientes com queixas de dor lombossacra. Participantes de um programa de fortalecimento
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muscular e flexibilidade, 82% assinalaram uma boa resposta, 15,5% uma razoável, enquanto
apenas 2,5% relataram respostas negativas ao programa de exercícios. Atualmente, é fato
claramente reconhecido que na vigência de comprometimentos da força muscular e da
flexibilidade, podem se desenvolver distúrbios músculos-esqueléticos graves que resultam em dor
e desconforto consideráveis, além de perdas na renda familiar, a incapacidade crescente e a
aposentadoria prematura, (Pollock, 1993).
Pollock, afirma que a prescrição de exercícios deve incluir um programa de treinamento
equilibrado, o qual englobe atividades que permitam o desenvolvimento e a manutenção da força e
do endurance muscular, assim como a flexibilidade e um treinamento aeróbico. Acredita-se que
este tipo de esquema de treinamento satisfaça melhor os interesses e as necessidades da
população adulta. Como uma forma de treinamento adicional ou alternativo ao esquema
previamente descrito, propõe-se uma série de exercícios calistênicos, de alongamento e com
pesos, para a maioria dos principais grupos musculares.
Os exercícios de alongamento devem ser incluídos como parte de uma rotina regular e
podem ser incorporados aos períodos de aquecimento e volta à calma. Podem relacionar-se
algumas vantagens associadas à realização de exercícios de alongamento ao final da sessão (fase
de recuperação), enquanto o corpo ainda se encontra aquecido e mais maleável.
No mundo capitalista, muito dos benefícios relacionados a uma vida sadia do trabalhador
estão ligados, a pequenas coisas como planos de saúde, convênios dentários, programas de
atividades físicas voltadas à empresa e salários entre outros, melhorando sobremaneira a
qualidade de vida dos empregados, comprovando a eficiência e a eficácia na produtividade e bem
estar dos mesmos, se enquadrando dentro da filosofia que “trabalhador que trabalha contente,
rende mais”.
Após a revolução industrial, e com o advento da tecnologia, a natureza do trabalho mudou
e favoreceu ao indivíduo desfrutar de conforto e facilidades para executar suas tarefas, levando-o a
uma vida sedentária e ocasionando posturas inadequadas e movimentos repetitivos. Considerando
que o homem passa parte de sua vida ativa envolvido com o trabalho, torna-se imprescindível que
se desenvolvam iniciativas para anular os aspectos negativos do desempenho inadequado das
atividades laborais.
A Ginástica Laboral é a prática de atividades físicas realizada pelos trabalhadores de forma
voluntária e coletiva, dentro do próprio local de trabalho durante sua jornada diária, é executada
por meio de exercícios que podem apresentar características preparatórias, compensatórias e
relaxantes, proporcionando ao indivíduo uma maior harmonia, na execução de suas funções em
seu ambiente de trabalho, através de umas atuações participativas, conscientes e integradas, com
conseqüente melhora de sua qualidade de vida, (Polito & Bergamschi, 2002).
Em sua jornada o indivíduo apresenta um dispêndio energético físico, emocional e mental,
em maior ou menor intensidade, acarretando um débito orgânico. Com a aplicação do programa de
ginástica na empresa, o trabalhador aprende sobre o seu corpo e os cuidados com o mesmo,
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despertando uma consciência corporal que o leva à prática de atividades físicas extra locais de
trabalho (academias, clubes, parques, etc), e em conseqüência a diminuição de fatores de risco
como: tabagismo, alcoolismo, sedentarismo e obesidade, (Polito & Bergamschi, 2002).
A diminuição de acidentes de trabalho e doenças profissionais como a fadiga, movimentos
inadequados e a má postura, são aspectos que estarão intimamente ligados a variadas causas de
acidentes de trabalho que geralmente ocorrem nas primeiras horas da jornada de trabalho, quando
a maioria dos trabalhadores não se encontra totalmente desperto, e nas últimas horas, quando há
diminuição da concentração e do reflexo em conseqüência da fadiga.
Os
casos
de
afastamento
por
licença
médica
que
refletem
na
relação
produção/produtividade, são em sua maioria acarretados pela Doença Osteomuscular Relacionada
ao Trabalho (DORT), as lombalgias, torcicolos e os aspectos ergonômicos incorretos.
A ginástica laboral colabora para a diminuição de todos esses fatores negativos, ao
despertar o trabalhador, a partir da quebra da rotina, prepara a musculatura para as ações
habituais do trabalho, ativa a circulação sangüínea, aumentando a oxigenação do cérebro
favorecendo a retomada da atenção e concentração no trabalho, (Polito & Bergamschi, 2002).
Com o incentivo à integração proporcionada pela prática da atividade física, o grupo de
trabalhadores desenvolve um grande espírito de equipe e disciplina, e individualmente proporciona
a quebra da timidez, elevação da auto-estima, favorecendo ainda na diminuição do absenteísmo e
a estimulação do sentido de liderança.
Numa proposta tradicional, a ginástica laboral caracteriza-se por ter particularidades que
devem ser adaptadas às condições no tocante ao espaço e ambiente de trabalho, tais como:
•
A atividade deve ser realizada diariamente ou no mínimo três vezes por
semana para uma melhor adaptação do indivíduo;
•
A duração varia de 8 a 15 minutos, com as séries sendo dirigidas pelos
monitores, divididos por setores da empresa.
Cabe ressaltar, no entanto, que numa proposta atual, há empresas que dispõem de
espaços específicos para a prática de atividades físicas (academia), desenvolvendo trabalhos mais
abrangentes tais como: força, resistência aeróbica e RML, etc. (Polito & Bergamschi, 2002).
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. FEIGENBAUM, Matthew S., e POLLOCK Michael L., The Physician and Sportsmedicine,
Vol 25 nº 2, fev, 1997.
2. POLLOCK, Michael L e WILMORE, Jack H., Exercícios na Saúde e na Doença, 2a edição,
Medsi, 1993. Pg 197, 428.
3. MEC/SEED, Esporte e Lazer na Empresa – Brasília, 1990.
4. POLITO, Eliane e BERGAMSASCHI, Elaine Cristina, Ginástica Laboral teoria e prática –
Sprint, 2002.
5. SCHIMITZ, João Carlos – Ginástica Laboral Compensatória, Rio de Janeiro, Comunidade
Esportiva II (16): 2-3, SET/OUT, 1981.
6.
KUNTZLEMAN – Comunicação Pessoal, 1985.
7.
PRZYSIEZNY, Wilson Luiz – Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho,
Florianópolis – SC, Programa de pós-graduação em Engenharia de Produção e Sistemas Ergonomia da Universidade Federal de Santa Catarina, 2000.
8.
SANTARÉM, JM. O Exercício: São Paulo. Editora Atheneu, 1999.

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