rced - relatório público - v1.4
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Redes Colaborativas de Elevado Desempenho no norte de Portugal Luís Carneiro António Lucas Soares Rui Patrício Adília Alves Ricardo Madureira Jorge Pinho de Sousa Copyright INESC Porto 2007 Rua Dr. Roberto Frias, nº 378 4200 - 465 Porto Portugal www.inescporto.pt Sumário Parte 1 - estudo "redes colaborativas no norte de Portugal" 7 1. Redes, colaboração, desempenho 9 Redes 10 Colaboração 11 Tecnologias de apoio à colaboração 12 Desempenho 12 O projecto RCED 13 Metodologia do projecto 14 2. Quadro conceptual de referência para análise de redes colaborativas 19 Elementos de cooperação 20 Tipologia de redes colaborativas 21 Condições favoráveis ao bom desempenho (factores de sucesso) 23 Princípios e critérios para a avaliação de desempenho 24 Tipologia de tecnologias para apoio à colaboração em rede 26 3. As melhores práticas em redes colaborativas Melhores práticas internacionais: iniciativas 31 32 O exemplo da Dinamarca 32 O exemplo da Irlanda 33 Outros casos 34 Melhores práticas de redes em Portugal 36 Cluster dos Moldes 36 Mota-Engil 39 RAVT 41 Rede ShoeInov - Sector do Calçado 43 i Rede de distribuição dos Lavradores de Feitoria Conclusão 45 47 4. Redes e colaboração no norte de Portugal 49 Introdução 49 Metodologia de recolha e análise de dados 49 Entrevistas 50 Questionários 51 Workshop 51 Análise dos resultados: aspectos comuns 52 Nível de colaboração inter-organizacional na região Norte 52 Condições favoráveis 53 Principais dificuldades 58 Nível de utilização de Tecnologias Colaborativas pelas Redes 59 Análise dos resultados: aspectos específicos por tipo de rede 59 Redes de produção 59 Redes de distribuição 61 Redes de I&D+i 62 Redes de compras 63 Redes do tipo Cluster 65 Ambiente Virtual De Crescimento 66 Redes de fornecimento 67 Comunidades patrocinadas 69 Conclusões 70 5. Recomendações 73 Recomendação 1: Promoção de Contextos Criativos de Colaboração 73 Recomendação 2: Motivação de empresas âncora 74 Recomendação 3: Implementação de demonstradores 74 Recomendação 4: Infra-estruturas tecnológicas de suporte à colaboração 74 Recomendação 5: Conhecimento e comunidades 74 Recomendação 6: Rede de redes 74 Recomendação 7: Promover a avaliação do desempenho 75 ii Recomendação 8: Financiamento das redes 75 Recomendação 9: Divulgação 75 Recomendação 10: Formação em colaboração 75 Parte 2 - A metodologia RCED 77 6. mRCED: apoio na implementação de redes e colaboração 79 FASE 1 - Seleccionar o Tipo de Rede 81 FASE 2 - Enumerar ou verificar os factores de sucesso 86 FASE 3 - Definir critérios e indicadores de desempenho 90 FASE 4 - Seleccionar tecnologias colaborativas 92 Aplicação da mRCED: kit de iniciação às redes colaborativas 96 Descrição sumária 96 7. Referências bibliográficas 101 Anexos 105 Entrevistas 107 Guião das entrevistas 109 iii Agradecimentos A equipa de projecto RCED agradece a todos aqueles que colaboraram de alguma forma neste projecto, em especial: • À CCDRN pelo apoio financeiro atribuído ao projecto e pela colaboração dispensada durante a sua execução. • Aos membros da comissão de acompanhamento pelo interesse, envolvimento e recomendações fornecidas. • Às empresas e pessoas que se disponibilizaram para as entrevistas, preenchimento do questionário, workshop, bem como outros contributos dispensados. iv Parte 1 - estudo "redes colaborativas no norte de Portugal" 1. Redes, colaboração, desempenho É amplamente reconhecido que, no contexto actual, a cooperação entre empresas é um factor crucial de competitividade em particular para as micro, pequenas e médias empresas. As tendências do ambiente sócio-económico apontam para uma crescente complexidade na criação de valor tornando incontornável a cooperação entre as PMEs. Há já PMEs portuguesas com uma longa história e cultura de cooperação com outras organizações, contudo, estas tendências irão exigir não só uma participação mais frequente das PME em redes de cooperação, mas também um salto qualitativo nos benefícios obtidos dessa participação. Esta tendência tem reflexos nas práticas da cooperação empresarial, segundo três aspectos. Primeiro, o conceito de rede inter-organizacional necessita de ser difundido e operacionalizado nas PMEs de uma forma mais estruturada e diferenciada. De facto, as necessidades de cooperação são cada vez mais multifacetadas e com janelas temporais cada vez mais curtas, o que resulta em tomadas de decisão complexas, dificultando os processos de entrada e saída das PMEs em redes inter-organizacionais. Segundo, para fazer face a exigências crescentes na complexidade dos processos intra e inter-organizacionais, é necessário que se verifique um aumento de qualidade nas formas de interacção e partilha de recursos, pressupondo um envolvimento mais rico e complexo das pessoas em formas eficazes de colaboração. Terceiro, porque no passado as redes inter-organizacionais mostram elevadas taxas de insucesso, é necessário que as PMEs compreendam e conheçam a cada momento qual o “estado de saúde” das redes em que participam e quais os reais benefícios que retiram dessa participação. Para fazer face às exigências colocadas por esta evolução do contexto sócio-económico, a cooperação em rede entre PMEs deverá ser orientada por três vectores: • Estruturação de redes inter-organizacionais específicas • Desenvolvimento de processos de colaboração avançados • Integração de sistemas de avaliação de desempenho Da soma destes três vectores resulta o que designamos por Redes Colaborativas de Elevado Desempenho (ver Figura 1.1). 3 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho Figura 1.1 - O conceito de Redes Colaborativas de Elevado Desempenho Assim, este estudo considera uma rede colaborativa como uma rede de relações, entre indivíduos ou grupos de indivíduos, que se baseia fundamentalmente em processos colaborativos mediados por tecnologias de informação. Considera-se que uma rede de organizações é uma rede colaborativa de organizações se as relações colaborativas são uma parte importante das relações inter-organizacionais existentes entre essas organizações. Redes O papel das redes de cooperação no actual mundo empresarial pode parecer demasiado óbvio para muitos, mas não é clara ou completa para todos. Por isso, recapitulamos aqui os motivos pelos quais as redes são considerados atributos fundamentais para o desenvolvimento e competitividade do tecido empresarial de uma região. As redes não só ajudam as empresas a atingir massa crítica e economias de escala, mas também a competir em mercados maiores, mais diversificados e competitivos, o que não aconteceria se as empresas trabalhassem isoladas. Concentrando-se nas suas competências chave e criando uma rede com os seus principais parceiros de negócio, incluindo fornecedores, parceiros especializados ou clientes, as empresas desenvolvem as suas competências únicas, tornando-se flexíveis e adaptáveis e, ao mesmo tempo, mais capazes de responder às exigências do mercado global. Empresas especializadas nas suas competências chave e funcionando em rede conseguem criar competências únicas e colocar no mercado com sucesso produtos mais diferenciados, o que lhes permite criar mais valor e atingir níveis de desempenho económico e sociais superiores. As redes permitem às empresas partilhar despesas, investimentos e riscos que se têm tornado demasiado elevados para as empresas de trabalham isoladas. Num nível menos tangível, as redes facilitam a transferência de conhecimento tácito entre as empresas. O contacto entre as pessoas a diversos níveis funcionais e entre várias empresas melhora a aprendizagem, 4 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho aumenta o conhecimento, abre novos canais de informação e cria novas oportunidades. Este processo de “aprendizagem em rede” é agora visto como uma das mais valiosas vantagens para as empresas que participam em redes, uma vez que lhes permite desenvolver e melhorar um grande conjunto de competências de um modo mais flexível. As redes são fortes motivadores da inovação. A competitividade é o objectivo mais importante das políticas públicas, regionais, nacionais ou europeias. A inovação é o elemento crucial que alimenta a competitividade (Fórum Económico Mundial, 2004). As empresas que facilmente se adaptam, dinamizam actividades de investigação e desenvolvimento e adoptam novas tecnologias nas suas actividades são aquelas que têm maior probabilidade conseguir maior produtividade e sustentabilidade. Trabalhar em colaboração com os outros permitem-lhes atingir vantagem competitiva de um modo mais rápido, mais barato, com menos riscos e ruptura nas suas actividades tradicionais. Em redes ou clusters, a cooperação e o alinhamento de estratégias entre os diversos actores na cadeia de valor permite reduzir custos e acrescentar mais valor, permitindo que todos ganhem mais do que isoladamente. As redes interorganizacionais têm sido estudadas com base em diferentes perspectivas teóricas mas os estudos de redes interorganizacionais têm-se também focalizado em distintas dimensões de análise - tipo de relações, actores, recursos, actividades, motivação e contexto – e em distintos níveis de análise. As dimensões de análise anteriormente referidas - tipo de relações, actores, recursos, actividades, motivação e contexto - podem ser percebidas a distintos níveis. Se o foco de análise da rede for micro os actores são indivíduos, grupos de indivíduos ou organizações. Por exemplo, se a análise da rede se focalizar nos indivíduos, analisa as propriedades e acções dos indivíduos (naturalmente, quando relacionadas com questões a nível interorganizacional) mas se e a análise da rede se focalizar nos grupos de indivíduos (entre organizações) analisa as propriedades ou acções de grupos de indivíduos (naturalmente, quando relacionadas com questões a nível inter-organizacional). A um nível macro os actores são grupos de organizações, regiões/ sectores industriais ou a sociedade em geral. Por exemplo, se a análise da rede se focalizar nos grupos de organizações, analisa as propriedades e acções dos grupos de organizações mas se a análise da rede se focalizar na sociedade, analisa como as propriedades de uma ou mais sociedades em particular afectam as relações interorganizacionais e vice-versa. Evidentemente, o foco da investigação de uma rede interorganizacional em distintas dimensões e níveis de análise condiciona as conclusões dessa investigação. Colaboração A colaboração é, e será cada vez mais no futuro, um processo fundamental em redes de empresas, quer pelo exposto acima, quer pelo efeito catalisador das tecnologias que apoiam especificamente processos colaborativos (tecnologias colaborativas). Pode-se dizer que a introdução de processos colaborativos entre PMEs corresponde à evolução natural dos processos de cooperação, em direcção a redes colaborativas. Colaboração e cooperação são aqui considerados como conceitos relacionados mas distintos. Cooperação (num contexto de redes inter-organizacionais): refere-se à prática das organizações articularem estratégias e actividades para atingirem objectivos acordados entre si e assim obterem benefícios mútuos; para que as organizações cooperem deverá haver confiança mútua, alguma forma de divisão do trabalho e eventualmente a adopção de métodos comuns; se não há cooperação, então as organizações trabalham isoladamente (em competição ou não). 5 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho Colaboração (num contexto de redes inter-organizacionais): é o processo de duas ou mais organizações conseguirem resultados colectivos através da realização de tarefas em conjunto; estes resultados seriam muito difíceis (ou mesmo impossíveis) de ser obtidos individualmente; é uma actuação conjunta e coordenada de indivíduos apoiados por comunicação num contexto de cooperação; num processo de colaboração actores autónomos interagem através de negociações formais e informais, criando conjuntamente regras e estruturas que governam as suas relações e a forma como actuam ou decidem sobre os aspectos que os mantêm juntos; é um processo que envolve partilha de normas e interacções mutuamente benéficas (Thomson e Perry, 2006). Tecnologias de apoio à colaboração A revisão da literatura académica e profissional sobre tecnologias colaborativas mostrou, como seria de esperar, uma miríade de estudos, abordagens, teorias, etc. relativas à conceptualização das tecnologias de informação e comunicação no apoio à colaboração nas organizações. O mesmo já não se verifica no que respeita à aplicação de tecnologias colaborativas nas relações inter-organizacionais. Em particular, verifica-se uma ausência de estudos relativos à (possibilidade) de aplicação de tecnologias e conceitos colaborativos emergentes (aplicações de social networking, espaços de trabalho virtuais, esquemas “democráticos” de meta-informação (folksonomies) etc.) num contexto de redes de organizações. O quadro conceptual de referência RCED inclui um quadro para caracterização das necessidades de colaboração inter-organizacional segundo três níveis de colaboração (básico, médio e elevado) e três dimensões da colaboração (comunicação, partilha de informação e coordenação) que têm associadas cinco categorias de tecnologias e plataformas colaborativos. Desempenho A avaliação do desempenho de uma rede interorganizacional (a medição dos resultados da actuação da rede interorganizacional) é muito importante para organizações que participam ou pretendem participar em redes de negócios e para os stakeholders de redes de negócios. Se as relações que uma organização mantém com outras organizações são um recurso valioso para a própria organização, as organizações podem perder ou ganhar valor dependendo das relações em que se envolvem. Assim sendo, os participantes e os stakeholders de redes de negócios necessitam de conseguir avaliar o desempenho de redes de negócio para tomar decisões informadas num ambiente empresarial e individual tão interligado como o actual. As motivações para a implementação de sistemas de avaliação de desempenho em redes colaborativas passam por as organizações poderem avaliar os benefícios e prejuízos resultantes da sua participação numa rede (para, por exemplo, averiguarem se seria melhor sair da rede ou mesmo participar noutra rede), por poderem avaliar previamente e de forma mais realista os benefícios e prejuízos esperados da sua futura participação numa rede de negócios e por entidades externas poderem avaliar as redes interorganizacionais, por exemplo, para fins de financiamento. A avaliação de desempenho é fundamental para implementar programas de melhoria contínua e medidas correctivas necessárias ao cumprimento dos objectivos propostos. Apesar de reconhecida a importância da avaliação do desempenho em redes, há dificuldades importantes que complicam a sua aplicação na prática. Em primeiro lugar, há a dificuldade de selecção de critérios de avaliação e nível de avaliação. Esta dificuldade tem a ver, em particular, com a necessidade de ser atingido um alinhamento dos objectivos da avaliação por parte das organizações participantes na rede. Em segundo 6 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho lugar, as próprias características estruturais da rede – por exemplo, o nível de integração da rede - podem ser consideradas resultados da actuação da rede (outputs dos processos da rede) ou condicionantes da actuação da rede (inputs dos processos da rede), tornando não trivial a selecção de indicadores. Por último, qualquer avaliação é um processo político que implica frequentemente uma colaboração com distribuição assimétrica de poder entre múltiplos stakeholders que perseguem interesses distintos. Para o projecto RCED, o elevado desempenho assume duas perspectivas. Na perspectiva das PMEs, o elevado desempenho reflecte-se em primeiro lugar nos resultados obtidos individualmente pelas empresas, mas também em aspectos de eficiência na entrada e saída de redes e nas actividades operacionais envolvidas na participação na rede. Numa perspectiva da própria rede colaborativa, o elevado desempenho diz respeito à criação efectiva de sinergias em termos mais estratégicos, e á eficiência e eficácia nos processos de formação e dissolução bem como de gestão operacional da rede. O projecto RCED inclui no seu quadro conceptual de referência (ver Capítulo 2) um conjunto de princípios e uma lista de critérios para avaliação do desempenho de redes colaborativas. A metodologia RCED (ver Capítulo 6) oferece um quadro para selecção de critérios e indicadores de acordo com o tipo de rede. O projecto RCED A ideia inovadora que motivou o projecto RCED foi o de abordar, de uma forma conjunta e articulada, redes, colaboração e desempenho. Conforme se concluiu durante este projecto, o tema das "redes de cooperação empresarial" está de certa forma "gasto". Há, contudo, a convicção que esta é uma temática demasiado importante para para não continuar a ser explorada dada a sua relevância para o presente e futuro das nossas PMEs. Assim, o objectivo principal deste projecto foi o de oferecer um conjunto de instrumentos que proporcionassem uma forma prática mas abrangente e rigorosa de tratar o tema das redes colaborativas, e que pudessem ser efectivamente operacionalizados pelas PMEs. Em termos conceptuais e teóricos, o projecto não se fundamentou em apenas uma escola de conhecimento, dado não se pretendia realizar investigação de base. Trata-se, pelo contrário, de um projecto de investigação aplicada cujo objectivo é testar e disseminar boas práticas colaborativas, numa perspectiva multidisciplinar. O projecto toma em consideração, portanto, resultados de escolas de conhecimento tão diversas como “Digital Ecosystems”1 , “Collaborative Networks”2, “Transaction-Cost Theory”3 , “Industrial Networks Approach”4, “Industrial Organization”5 , “Resource Based View”6 e “Entrepreneurship”7. 1 Dini et. al 2005; Nachira et. al 2002 2 Camarinha-Matos & Afsarmanesh 2006 3 Williamson 1975, 1979, 1981 4 Easton 1992, Johanson & Mattsson 1987, Hakansson & Johanson 1993; Ford et. al 2003 5 Porter 1980, 1985; Ketels 2006 6 Wernfelt 1984; Barney 2006 7 Schumpeter 1934; Casson 2005 7 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho A questão de investigação de partida foi: Que condições estratégicas, organizacionais e tecnológicas deverão existir para que as PME do norte de Portugal possam constituir e participar em redes colaborativas e obter daí melhorias no seu desempenho? Esta questão assenta em dois pressupostos que derivam de conclusões de trabalhos anteriormente realizados em que se conclui que a colaboração é um processo fundamental em redes de cooperação organizacionais e que as tecnologias que apoiam especificamente processos colaborativos (tecnologias colaborativas) são um dos catalisadores fundamentais das redes colaborativas. Mais concretamente os objectivos do projecto foram: I. estudar os principais modelos de redes colaborativas - quais os modelos de referência, a nível mundial, para redes colaborativas de elevado desempenho; identificar os modelos mais adaptados à realidade da região norte; II. identificar e definir as condições para o estabelecimento de um ambiente potenciador da existência de redes colaborativas de elevado desempenho, envolvendo o tecido empresarial do norte de Portugal; verificar se existe um contexto propício à colaboração no tecido empresarial do norte de Portugal; III. definir as condições necessárias para o desenvolvimento de estruturas de relacionamento sócio-económicas e tecnológicas para suporte à colaboração; IV. definir as condições necessárias para o desenvolvimento e utilização de ferramentas tecnológicas que suportem “ambientes criativos” e que potenciem o estabelecimento e manutenção de redes colaborativas; V. divulgar as redes colaborativas como forma de organização potenciadora de ganhos de eficiência e eficácia; identificar quais os instrumentos mais adequados para a promoção e consolidação dos modelos baseados em redes colaborativas junto das empresas. Metodologia do projecto A metodologia adoptada no projecto RCED foi elaborada de acordo com critérios científicos geralmente adoptados em investigação de base e aplicada. Por outras palavras, procurou-se garantir uma relação coerente entre: a) a contribuição teórico-prática do projecto, b) o método de investigação adoptado, e c) as fontes analisadas (ver figuras 1.2 e 1.3). A primeira fase da metodologia, consistiu na recolha e análise de informação resultado de uma ampla pesquisa, incluindo conteúdos de estudos anteriores (nacionais e internacionais), bibliografia relevante, artigos científicos, notícias dos media e recursos on-line. A análise desta informação permitiu a definição do estado da arte em redes colaborativas a nível nacional e internacional e a definição de uma primeira versão do quadro conceptual de análise. Um aspecto fundamental e diferenciador desta metodologia e do quadro conceptual de referência é a definição de uma tipologia de redes colaborativas baseada nas principais actividades realizadas e posicionamento 8 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho na cadeia de valor. A análise de uma realidade mais homogénea associada a cada um dos tipos de rede definidos permitiu um nível de análise substancialmente mais profundo, quando comparado com outras abordagens mais tradicionais. Figura 1.2 - Estrutura da investigação no projecto RCED A segunda fase da metodologia consistiu na realização de entrevistas presenciais a responsáveis por empresas, entidades sectoriais, entidades públicas e especialistas em cooperação empresarial. O objectivo principal destas entrevistas foi a análise da experiência de colaboração em redes concretas, incluindo casos de sucesso e de insucesso. Procurou-se ainda complementar a análise de redes concretas com a opinião de especialistas na área e entidades púbicas com responsabilidades na dinamização da economia. A informação recolhida nas entrevistas realizadas foi tratada utilizando uma metodologia de análise de conteúdos, em que se procurou enquadrar as respostas obtidas em cada uma das entrevistas, nos diferentes tipos de rede e dimensões do quadro conceptual de referência: • Dimensões da colaboração; • Condições favoráveis para um bom desempenho de uma Rede (divididas por Recursos humanos, Recursos financeiros, Relações Sociais, Infra-estruturas e plataformas tecnológicas e Gestão e organização); • Critérios e indicadores para avaliar o desempenho de uma Rede (divididas por Capital Humano, Capital Financeiro, Capital Social, Capital Infra-estrutura, Capital Organizacional, Inovação: Novos Produtos / Serviços, Inovação: Novos Processos, Inovação: Nova Organização, Inovação: Novos Mercados de Venda e Inovação: Novos Mercados de Compra); • Utilização de tecnologias de apoio à colaboração. As entrevistas realizadas pretenderam ainda avaliar o nível de colaboração na região e o nível de interacção entre as várias redes identificadas. Como resultado da análise das entrevistas foi definida uma versão prelimi- 9 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho nar do nível de colaboração na região Norte, das motivações, das condições de favoráveis e dos critérios para avaliar o desempenho de cada uma dos tipos de rede. A informação recolhida permitiu ainda refinar o quadro conceptual de análise, dando origem à sua segunda versão. A terceira fase da metodologia consistiu na realização de um questionário on-line com objectivo de validar as propostas definidas na fase anterior. O questionário solicitava aos respondentes uma avaliação do conjunto preliminar de condições favoráveis, critérios de avaliação do desempenho e tecnologias relevantes. Com base nessa avaliação, confirmaram-se as condições e critérios recomendados para cada tipo de rede identificado e foi actualizado o quadro conceptual. A fase final da metodologia consistiu na realização de um workshop de validação, sob a forma de um focus group. Da discussão dos resultados apresentados, das recomendações apresentadas e da exploração de novas propostas resultou a proposta das conclusões e recomendações do estudo. Para implementação desta metodologia foi ainda necessário o desenvolvimento das ferramentas utilizadas para levantamento de informação, nomeadamente um guião de entrevista e um questionário on-line, que seguiram o quadro conceptual definido. Cada uma das fases da metodologia é apresentada em maior detalhe no capítulo 4. 10 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho Figura 1.3 - Processo de investigação do projecto RCED 11 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho 12 2. Quadro conceptual de referência para análise de redes colaborativas O quadro conceptual de referência RCED (qcrRCED) foi concebido com o objectivo de proporcionar um instrumento de análise a actores organizacionais envolvidos na gestão ou no estudo de de redes colaborativas, podendo ser usado como fundamento em abordagens práticas (por exemplo consultoria) ou como referência em trabalhos de investigação que aprofundem esta temática. O qcrRCED foi desenvolvido em duas fases. Uma primeira versão foi elaborada a partir de uma revisão exaustiva da literatura científica nas área das redes inter-organizacionais e tecnologias de apoio à colaboração. A versão actual resulta de um processo de validação e refinamento a partir de dados empíricos recolhidos por entrevistas e questionários on-line (ver Capítulos 1 e 4). O qcrRCED é constituído por cinco componentes: grelha de elementos organizacionais de cooperação, tipologia de redes inter-organizacionais, lista de condições favoráveis ao bom desempenho de uma rede, princípios e critérios para a avaliação de desempenho em redes, e tipologia de tecnologias para apoio à colaboração em rede (ver figura 2.1). Figura 2.1 - Estrutura do quadro conceptual de referência RCED 13 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho Elementos de cooperação O primeiro módulo do qcrRCED é a grelha de elementos de cooperação, que tem como objectivo caracterizar uma rede colaborativa segundo um conjunto de atributos agrupados em seis dimensões: I. Relações (tipo de ligações entre os nós da rede) II. Contexto (informação sobre o contexto da rede) III. Motivação (meta estratégica da rede) IV. Actores (tipo de nós da rede) V. Recursos (conteúdo das ligações entre os nós da rede) VI. Actividades (actividades de valor acrescentado desempenhadas pela rede) Figura 2.2 - Elementos de cooperação inter-organizacional As relações são a base da rede, uma vez que sem elas não haveria estrutura. Pressupõe-se, portanto, que relações entre actores são mais duradouras que meros episódios de interacção entre os mesmos. Por outro lado, os elementos da dimensão relações podem ser mais ou menos formalizados, variando entre “relações sociais” baseadas na confiança, “relações virtuais” baseadas em TICs, “relações legais” baseadas em contratos, e “relações proprietárias” baseadas em participações de capital. Além de relações, as dimensões de cooperação incluem contexto, motivação, actores, recursos e actividades. As três últimas dimensões são 14 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho inspiradas no modelo “Actors-Resources-Activities” da “Industrial Networks Approach”8 , que as considera interdependentes. Os respectivos elementos são, Rede de I&D+i - duas ou mais organiza- todavia, inspirados noutras escolas de conhecimen- ções independentes que se relacionam to. Os elementos das dimensões actores e recursos para obter sinergias nas funções de inves- são inspirados na “Resource Based View”9, enquan- tigação e desenvolvimento. to os elementos da dimensão actividades são inspi- Rede de Compras - duas ou mais orga- rados em “Industrial Organization”10 . A dimensão nizações independentes que se relacio- motivação é inspirada em “Entrepreneurship”11 , nam para obter sinergias na função de sendo que os seus elementos correspondem a dife- compras. rentes tipos de inovação. A dimensão contexto, por Rede de Produção - duas ou mais orga- último, é elaborada sem recurso a nenhuma escola nizações independentes que se relacio- de conhecimento dado o seu cariz mais empírico. nam para desempenhar em conjunto uma Os elementos desta dimensão variam em função do ou mais actividades no processo de des- regime legal (público, privado, e terceiro sector), do envolvimento de produtos e/ou serviços. espaço geográfico (local, nacional, internacional) e Rede de Fornecimento - rede com rela- do tempo (curto, médio, longo prazo). ções baseadas em acordos de subcontratação, OEM e/ou ODM entre um cliente e os seus fornecedores de inputs produtivos Tipologia de redes colaborativas intermédios. Rede de Distribuição - rede com relações baseadas em acordos de distribuição O segundo componente do qcrRCED é uma con- entre produtores e cadeia de valor a jusan- ceptualização de redes inter-organizacionais que se te até ao utilizador final. materializa numa tipologia (ver caixa ao lado e figura Cluster - conjunto de organizações inde- 2.3). As categorias principais são rede colaborativa pendentes que articulam estratégias e/ou e rede de organizações. A primeira, num sentido actividades para benefício comum. Estas mais lato e segundo a dimensão actor, pode ser redes são abertas quer em termos de uma rede colaborativa de indivíduos ou uma rede membros quer em termos de objectivos. colaborativa de organizações. A segunda (rede inter- Ambiente virtual de crescimento - duas organizacional) pode ser ou não uma rede colabora- ou mais organizações independentes que, tiva de organizações, conforme as relações inter-or- num ambiente propício (confiança, rela- ganizacionais se apoiem ou não em processos co- ções sociais, mediação tecnológica), arti- laborativos. Esta conceptualização tem como fun- culam de forma mais ou menos informal damento uma revisão exaustiva da literatura 12, ten- estratégias e/ou actividades para atingirem do como principal contributo integrar as visões de os seus objectivos. duas comunidades científicas que têm as redes Comunidade virtual patrocinada por como objecto de estudo: uma comunidade essen- organizações - comunidade (de prática, cialmente na área de gestão, que se dedica a estu- profissional, de projecto ou híbrida) supor- dar redes de organizações e redes sociais, e uma tada por tecnologias colaborativas, em que participam indivíduos de várias organi- 8 Ver por exemplo Johanson & Mattsson 1987, Ford et. al. 2003 9 Ver por exemplo Wernerfelt 1984, Barney 2006 zações, visando satisfazer objectivos individuais e organizacionais, sendo essa mesma participação incentivada pelas 10 Ver por exemplo Porter 1985, Johnson et. al 2005 11 Ver por exemplo Schumpeter 1934, Sawhney et. al. 2006 12 Ver em particular Nassimbeni 1998, Burlat et al. 2003, Forfas 2004, Camarinha-Matos e Afsarmanesh 2006. organizações a que pertencem. 15 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho comunidade essencialmente dentro da engenharia (industrial, informática), que se dedica ao estudo das redes de organizações a partir de uma perspectiva tecnológica. Uma rede de sinergias operacionais é uma rede de organizações que cooperam para obter sinergias no processo de produção de produtos e/ou serviços (actividades primárias da cadeia de valor). Uma rede de sinergias tecnológicas/funcionais é uma rede de organizações que cooperam para obter sinergias funcionais de I&D, de marketing, de distribuição, etc. (actividades de suporte na cadeia de valor). Uma rede de sinergias estratégicas é uma rede de organizações (empresas e instituições de suporte) que cooperam numa base de longo prazo, com o principal objectivo de aumentar as suas possibilidades e preparação para a participação em potenciais redes de sinergias operacionais, tecnológicas e funcionais. As sub-categorias de redes de sinergias operacionais, funcionais/tecnológicas e estratégicas correspondem às actividades de valor acrescentado a montante e jusante da cadeia de valor de um produto ou serviço: redes de I&D+i, redes de compras, redes de produção, redes de fornecimento e redes de distribuição. Além destas, consideram-se também organizações virtuais, clusters e ambientes virtuais de crescimento. A organização virtual é uma rede de organizações que utiliza TICs, para obter sinergias operacionais e funcionais/tecnológicas no curto prazo, sendo normalmente temporária. O cluster é uma rede de organizações, a maior parte das vezes geograficamente próximas, onde as sinergias estratégicas são o principal objectivo. O ambiente virtual de crescimento ou “virtual breeding environment”13 é uma rede de organizações, normalmente dispersas geograficamente, cujo relacionamento visa obter sinergias estratégicas. Pode dizer-se que um ambiente virtual de crescimento é uma sofisticação do conceito de cluster, resultante de um apoio intensivo de plataformas de tecnologias colaborativas, que gerem eficazmente as suas relações. Figura 2.3 - Tipologia de redes inter-organizacionais 13 Ver Camarinha-Matos e Afsarmanesh, 2006 16 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho Condições favoráveis ao bom desempenho (factores de sucesso) O terceiro módulo teórico do qcrRCED é uma lista de condições favoráveis ao bom desempenho de uma rede. Estas condições definem-se como situações ou estados desejáveis para as organizações pertencentes a uma rede (tomadas individual ou colectivamente) que, ao verificarem-se, conduzem potencialmente a um bom desempenho da rede como um todo e/ou ao bom desempenho de cada um dos seus membros individualmente considerados 14. A lista das condições favoráveis está organizada segundo os tipos de recursos relevantes para a gestão de uma rede colaborativa (ver quadro 2.1). Quadro 2.1 - Condições favoráveis ao bom desempenho de uma rede colaborativa tipo de recurso condições favoráveis Capital humano ter experiência institucional de cooperação ter valores comuns ter trocado experiências estar disposto a partilhar competências possuir colaboradores com competências adequadas a rede possuir recursos humanos dedicados ao seu próprio funcionamento Capital financeiro pagar uma comissão de entrada como membro pagar uma comissão de manutenção como membro investir em recursos comuns para a rede (que não TIC) participar na organização da rede ter boa saúde financeira Capital social ter uma história em comum ter confiança nos parceiros da rede estar geograficamente próximo da maioria dos elementos da rede aceitar e promover um líder claro da rede manter a sua imagem e individualidade no mercado não ter sobreposição significativa de competências em relação aos outros membros definir critérios de selecção dos membros Infra-estruturas e plataformas tecnológicas utilizar aplicações e plataformas próprias para gerir a sua participação na rede utilizar aplicações e plataformas comuns para gerir a sua participação na rede partilhar equipamentos partilhar instalações O termo "condições favoráveis" tem aqui um significado semelhante a "factores críticos de sucesso". De facto em alguns pontos deste documento os dois termos são usados indistintamente. Contudo, usou-se preferencialmente "condições favoráveis" em detrimento de "factores críticos" dada a conotação demasiado prescritiva e pouco rigorosa com que este termo é usado em alguns textos nas áreas de tecnologia e gestão. 14 17 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho tipo de recurso condições favoráveis Gestão e organização ter objectivos bem definidos e quantificados formalizar contratos de cooperação formalizar procedimentos de cooperação uniformizar processos de cooperação adoptar práticas de gestão da mudança adoptar práticas de auditorias externas patrocinadas pela rede Princípios e critérios para a avaliação de desempenho O quarto componente do qcrRCED é uma lista de critérios para a avaliação de desempenho e um conjunto de princípios para a sua aplicação. Não existe na literatura uma abordagem exaustiva e integrada da avaliação de desempenho em redes. Em particular, concluiu-se que a avaliação do desempenho de uma rede não é independente da sua actividade principal ou tipologia. Desta forma, o qcrRCED fornece uma lista de critérios de desempenho, a partir dos quais deverá ser elaborado um conjunto de indicadores para o tipo de rede e horizonte temporal em jogo. Princípios para a construção de um sistema de avaliação do desempenho de uma rede colaborativa: I. A avaliação do desempenho de uma rede organizacional é dependente dos seus objectivos e tipologia; II. Para cada rede organizacional devem ser definidos quais os critérios de avaliação do desempenho e, para cada critério, um ou mais indicadores que permitam quantificar o desempenho; III. Deverão ser definidos critérios e indicadores específicos para avaliar o desempenho da rede e o desempenho da participação de cada membro da rede; IV. Deverão ser usadas abordagens multicritério para analisar o desempenho global da rede; V. Para cada tipo de rede o projecto propõe critérios e indicadores de avaliação do desempenho, que deverão ser adaptados/afinados a cada rede. Em seguida enumeram-se os critérios de desempenho básicos para a avaliação do desempenho de uma rede colaborativa. Para cada tipo de rede deverão ser seleccionados quais os critérios mais relevantes e definidos os indicadores necessários para a avaliação segundo cada critério. Na lista apresentada no quadro abaixo, os critérios estão agrupados em áreas. 18 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho Quadro 2.2 - Lista de critérios de desempenho área critérios Recursos humanos acesso a competências externas acções de formação em novas competências aprendizagem de cooperação Financeira proveitos produtividade rentabilidade custos financiamento externo fundo de maneio Relações sociais conflitos entre organizações saídas de organizações entradas de organizações reputação da rede / reputação da organização Infra-estruturas e plataformas tecnológicas acesso a instalações, equipamentos acesso a sistemas de informação Gestão e organização eficiência dos processos eficácia dos processos flexibilidade Inovação - Novos Produtos ou Serviços patentes / licenciamentos de tecnologia novos produtos ou serviços áreas de negócio custo de desenvolvimento de produtos/competências Inovação - Novos Processos custos tempo de resposta influência na criação de nova legislação qualidade Inovação - Nova Organização novos modelo de negócio novas estrutura organizacional “spin-offs” / fusões e aquisições Inovação - Novos Mercados de Venda negócios em novos mercados exportações peso das exportações no volume de negócios risco 19 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho área critérios Inovação - Novos Mercados de Compra qualidade dos fornecedores quantidade de fornecedores capacidade negocial peso das importações no volume de compras risco Tipologia de tecnologias para apoio à colaboração em rede As tecnologias de informação para apoio à colaboração em rede 15 têm sofrido uma evolução significativa nos últimos anos. No passado, as tecnologias de apoio à colaboração incidiam essencialmente em uma das três dimensões: comunicação, partilha de informação e coordenação. Os sistemas e plataformas actualmente disponíveis, bem como as tendências que se verificam na indústria de software nesta área, apontam para uma integração das ferramentas de suporte aquelas três dimensões, em detrimento das soluções especializadas, até há pouco promovidas e usadas. Esta evolução é, sem dúvida, benéfica para as organizações, mas coloca dificuldades na caracterização e selecção de sistemas e plataformas colaborativas por parte das organizações. A tipologia de tecnologias para apoio à colaboração em rede pretende ser um instrumento para auxiliar as empresas nessa selecção. O qcrRCED caracteriza as necessidades de colaboração inter-organizacional segundo três níveis de colaboração (básico, médio e elevado) e as três dimensões da colaboração acima referidos (comunicação, partilha de informação e coordenação) que têm associadas três conjuntos de categorias de tecnologias e plataformas colaborativas (ver figura 2.4). A partir de uma análise da literatura técnica e científica sobre este assunto, de uma análise do panorama de oferta tecnológica actual, e de várias opiniões em termos de tendências, categorizaram-se as tecnologias de apoio à colaboração em cinco classes: gestão colaborativa de projectos, gestão de conteúdos, gestão de comunidades e social networking, gestão de processos e comunicações unificadas. 15 Utilizar-se-á doravante o termo "tecnologias de apoio à colaboração" ou "tecnologias colaborativas". 20 nível de colaboração elevado intermédio básico espaços de colaboração virtuais (team rooms, shared online workspaces); classificações descentralizadas; organização e pesquisa sistemas de reputação; semântica de conteúdos redes de interesse comunicação vídeo; integração de meios; conferência de aplicações comunicação básica: audio, texto comunicação conteúdos geridos descentralizadamente; definição de perfis de necessidades informacionais; subscrição e entrega automática de conteúdos gestão de workflow adaptativa; optimização de processos de negócio; apoio a tomadas de decisão colaborativa gestão do fluxo de trabalho; gestão do ciclo de vida de conteúdos; articulação de processos operacionais acesso a documentos partilhados; organização básica de documentos; controlo centralizado distribuição de tarefas; coordenação básica de tarefas partilha de informação coordenação groupware avançado; gestão de conteúdos avançada; gestão de comunidades; integração completa de aplicações email; telefonia sobre IP; instant messaging; gestão documental; gestão de projectos gestão de conteúdos simples (portal); workflow IO; aplicações integradas; groupware básico; serviços sobre IP categorias de sistemas RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho componentes da colaboração Figura 2.4 - Conceptualização das tecnologias colaborativas e necessidades das redes Gestão colaborativa de projectos Estas aplicações estão concebidas para a apoiar a gestão de projectos que não envolvam uma elevada complexidade, e disponibilizam diversas funcionalidades que facilitam a colaboração entre os membros da equipa. Disponibilizam funcionalidades básicas de gestão de projectos que permitem, por exemplo, definir o plano do projecto, atribuir tarefas, enviar notificações, controlar milestones e gerir versões e comentários a ficheiros partilhados. Normalmente alojam o repositório de toda a informação do projecto, gerem e dinamizam a comunicação entre os elementos da equipa e dão suporte à colaboração no projecto. Para além destas funcionalidades mais tradicionais, poder-se-ão utilizar aplicações que permitem a utilização de áreas de trabalho para potenciar a criatividade das equipas (processo de geração de ideias e da sua avaliação estruturada por parte dos membros) e de integração com outras aplicações corporativas. Por exemplo a plataforma ActiveCollab (www.activecollab.com) disponibiliza um conjunto de funcionalidades que permitem atribuir tarefas, enviar notificações, controlar milestones e gerir versões e comentários a ficheiros partilhados. Podem ser geridos vários projectos ao mesmo tempo, e o tamanho dos ficheiros é apenas limitado à capacidade do servidor web. Poder-se-ão incluir nesta categoria aplicações web em base de dados opensource como Basecamp (www.basecamphq.com) e Dotproject (www.dotproject.net). Existem outras aplicações como, por exemplo, o TeamSpace (www.teamspace.com) em que para além das tradicionais funcionalidades de gestão de ficheiros, tarefas, calendário, whiteboard e contactos, são disponibilizadas áreas de trabalho para potenciar a criatividade das equipas (processo de geração de ideias e da sua avaliação estruturada por parte dos membros, mas com garantia de total independência e entrega dos resultados). 21 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho Aplicações de Gestão de Conteúdos Estas aplicações permitem a partilha de informação e conhecimento, numa dada organização ou em organizações distintas, e podem ser usadas em variados contextos tais como desenvolvimento de produtos e serviços, produção, e prestação de serviços. Este tipo de aplicações, designado em inglês por Content Management Systems ou Enterprise Content Management, permite estruturar e facilitar a criação, administração, distribuição, publicação e disponibilização de informação num portal/sítio web, podendo também funcionar como uma intranet. Com este tipo de aplicações é possível gerir todos os conteúdos de uma forma dinâmica e autónoma por parte do utilizador através de um interface web. Cada uma das equipas de trabalho envolvidas poderá gerir os seus próprios conteúdos, sem necessitar de recursos dedicados para este efeito. Fundamental nestas ferramentas são as funcionalidades de pesquisa de conteúdos, tornando simples a tarefa de criação de novos conteúdos, com base nos existentes. Existem aplicações mais vocacionadas para a construção e gestão de portais (intranets / extranets), com sistemas de edição e gestão de documentos Adicionalmente, podem ainda disponibilizar módulos para criação de Blogs, Fóruns de discussão, wikis, feeds RSS criados automaticamente e edição de páginas de internet. Outras aplicações utilizam este tipo tecnologia fundamentalmente para facilitar o trabalho colaborativo, por exemplo, no desenvolvimento de projectos que envolvam uma elevada partilha e gestão de conteúdos e a criação de diferentes perfis de acesso (caso do Plone – aplicação utilizada pela equipa de projecto do RCED, ver em http://plone.org/). As aplicações de gestão de conteúdos também são utilizadas para suportar projectos de formação à distância. Por exemplo, o Moodle (http://moodle.org/) é uma tecnologia muito utilizada para aprendizagem num ambiente de colaboração inter-organizacional, em que para além das funcionalidades de gestão de conteúdos são disponibilizadas outras que contribuem para dinamizar a sua utilização (por exemplo, fóruns, blogs, wikis, sondagens, chat, peer assessment). Aplicações de Gestão de Comunidades e Social Networking Estas aplicações suportam o desenvolvimento e manutenção de relações entre grupos de indivíduos , tais como comunidades (profissionais, de interesse, projecto, de clientes, etc.) ou centros de competência virtuais. Neste tipo de aplicações encontram-se funcionalidades específicas de apoio à colaboração em grupo virtuais (desenvolvimento de tarefas comuns através de um ambiente partilhado, por exemplo, acesso a correio electrónico, tarefas, contactos, calendário/agendas e bases de dados), funcionalidades para estabelecer perfis de utilizadores e associar perfis semelhantes (social networking) e funcionalidades para interacção social (discussão, divulgação, escrita colaborativa, etc.) implementadas através de, por exemplo, sistemas wiki e blogs. As aplicações de gestão de comunidades (community building) disponibilizam ferramentas orientadas para suportar a criação e manutenção de comunidades e de grupos de interesse profissionais. Designam-se por comunidades online ou gestão de serviços para comunidades e disponibilizam várias funcionalidades que permitem partilhar boas práticas, coordenar agendas, submeter ficheiros e de uma forma geral desenvolver sólidas relações com os parceiros de negócio, colegas de empresa ou projecto e clientes (por exemplo, fóruns discussão, calendário, bases de dados, imagens, artigos, mailing list, chat, gestão documental em versão light). Um bom exemplo deste tipo de aplicações é o caso da CommunityZero (www.ramius.net). As aplicações de Social Networking caracterizam-se por integrar num mesmo interface a vida profissional e o pessoal, através de tecnologias como os wikis e os blogs. Este tipo de software colaborativo permite que vários utilizadores separados geograficamente possam interagir entre si na criação de conteúdos através de uma mesmo interface web. Há plataformas wiki como é o caso da Wikispaces (www.wikispaces.com/) que podem ser utilizadas para criar portais colaborativos para equipas de trabalho agregando outro tipo de funcionalidades como a gestão de conteúdos, fóruns e Mensagens Instantâneas. Existem aplicações como a 22 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho Socialtext (www.socialtext.com) em que a colaboração é suportada por uma plataforma wiki com uma forte integração de editores de blogs e gestão de ficheiros em versão light. Outras como a Firestoker (www.firestoker.com) são apenas baseadas em blogs. Aplicações de Comunicações Unificadas Estas aplicações são caracterizadas pela utilização integrada de aplicações de voz, dados, som e vídeo, permitindo melhorar a comunicação dentro de uma rede colaborativa. Este tipo de aplicações inclui tecnologias vocacionadas para serviços específicos como a voz e vídeo (por exemplo, aplicações de conferência via web), e outras integradoras de outro tipo de conteúdos, resultado da actual convergência nas redes IP (por exemplo, aplicações de servidores de comunicações VoIP-SIP que permitem reduzir custos e implementar novos serviços como por exemplo a ligação directa entre extensões de parceiros de diferentes empresas em diferentes locais). As aplicações de conferência via web, como por exemplo a Teliris (www.teliris.com), a Webex (www.webex.com) e a GoToMeeting (www.gotomeeting.com), são cada vez mais uma alternativa às reuniões presenciais e disponibilizam funcionalidades interactivas de audio e vídeo com um grau de operacionalidade muito aceitável. Proporcionam a realização de reuniões e seminários online com parceiros geograficamente dispersos em que também é possível trocar ideias e partilhar agendas, informações e ficheiros (por exemplo, apresentações em slides). Existem ainda outras aplicações de servidores de comunicações VoIP-SIP que permitem reduzir custos e implementar novos serviços como por exemplo a ligação directa entre extensões de parceiros de diferentes empresas em diferentes locais. Para além de facilitarem as comunicações de voz (de e para redes móveis e fixas) entre parceiros de empresas muito dispersas geograficamente, integram outras funcionalidades de dados e vídeo como por exemplo, web phone, mensagens instantâneas, fax2mail e mail2fax e até groupware (partilha de agendas e contactos). A maior parte das tecnologias analisadas no âmbito destas categorias de aplicações têm funcionalidades comuns, nomeadamente as relacionadas com os fóruns, mensagens instantâneas e wikis, pelo que a sua classificação numa das quatro categorias diz apenas respeito à intensidade com que determinadas funcionalidades mais específicas (por exemplo: gestão de conteúdos ou agendas partilhadas) são utilizadas. Aplicações para Gestão de Processos Estas aplicações estão vocacionadas para a coordenação e automatização de processos intra e inter-organizacionais (cadeia de valor). Poderão ser utilizadas para gerir processos de negócio como as compras, vendas, gestão de canais de distribuição, processos administrativos e até mesmo actividades de formação. Apresentam uma perspectiva transversal à organização (orientada para os processos) e menos funcional (restrita a uma determinada área funcional). Este tipo de aplicações implica um elevado nível de colaboração entre as partes envolvidas, tendo em conta que será necessário desenvolver um cuidado mapeamento prévio dos processos. Existem aplicações de gestão dos fluxos de trabalho (workflow) que facilitam a interacção entre os utilizadores de uma empresa / organização, de uma forma coordenada e alinhada com a formalização ou procedimentos acordados. Algumas destas aplicações permitem desenhar apenas os fluxos de trabalho (por exemplo: www.smartdraw.com) enquanto que outras mais completas permitem mapear, desenhar e automatizar os fluxos de trabalho. Dado que este tipo de aplicações não suporta a colaboração inter-organizacional, não será objecto de análise no âmbito das tecnologias colaborativas. 23 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho Do ponto de vista da Coordenação de Processos de Negócio que implicam algum nível de interacção entre utilizadores de diferentes organizações, identificam-se as seguintes categorias de tecnologias: • Tecnologias mais orientadas para processos transaccionais, como é o caso da compra e venda de bens e serviços (por exemplo www.econstroi.com). • Tecnologias mais orientadas para a gestão de processos de negócio (business process management) num âmbito mais colaborativo, como é o caso do desenvolvimento de novos produtos ou a execução de um projecto de construção (por exemplo www.micrograf.com/aec/buzzsaw). Todas estas tecnologias podem ser baseadas em aplicações proprietárias que são disponibilizadas aos parceiros sob a forma de uma extranet ou em aplicações de terceiros que disponibilizam as suas plataformas tecnológicas aos diferentes parceiros sob a forma de uma taxa de utilização. 24 3. As melhores práticas em redes colaborativas Com a análise de casos e a identificação das melhores práticas em redes colaborativas, procurou naturalmente definir-se linhas de orientação e princípios gerais que pudessem, com utilidade, ser adoptados na nossa realidade. No entanto, há que ter em conta que diferentes contextos sociais e culturais poderão ter um peso importante no desempenho das redes e que, por outro lado, este desempenho está fortemente associado às perspectivas dos actores envolvidos e tem, por isso, de ser interpretado numa lógica de critérios múltiplos, com diferentes importâncias relativas. Vários estudos (por exemplo Brusco, 1982) identificam os distritos industriais existentes no Norte de Itália e atribuem os elevados índices de desenvolvimento verificada nesses distritos industriais (nas décadas de 70 e 80) à localização e aglomeração de redes organizacionais constituídas, essencialmente, por pequenas empresas. Essas redes organizacionais criaram-se e desenvolveram-se, por mecanismos de auto-desenvolvimento, em condições sócio-culturais, económicas e políticas muito específicas existentes no Norte de Itália. A zona Norte da Itália era, antes da Segunda Guerra Mundial, uma região muito pobre e rural. A população dessa zona geográfica emigrou para os Estados Unidos à procura de melhores condições de vida. Quando na década de 60 a Itália começou a recuperar economicamente, grande parte desses emigrantes voltou a deslocar-se para a sua terra natal e, com conhecimento, capacidade técnica e espírito de empreendedorismo, criaram pequenas empresas na região do Norte da Itália. Entre as pequenas empresas criadas nessa década na região norte de Itália existia um ambiente de confiança perpetuado por relações familiares e uma grande apetência para a colaboração, assim sendo as redes de pequenas empresas surgiram de forma natural e espontânea. Na década de 70 os governos regionais e as instituições financeiras suportaram essas pequenas empresas e estimulavam a colaboração em rede com apoios técnicos, financeiros e legais. O desempenho das redes organizacionais depende muito das condições macro e micro ambientais que as ‘envolvem’. Assim sendo, não é garantido que as redes colaborativas de pequenas empresas possam ser replicadas noutras regiões geográficas com o mesmo desempenho registado (na década de 80) no Norte da Itália. Os elevados índices de desenvolvimento verificados na década de 70 e 80 nos distritos industriais do Norte de Itália suscitou interesse noutros países e levou muitos países a implementar planos de desenvolvimento de redes para pequenas empresas. Alguns desses países foram segundo Forfás (2004): a Dinamarca, a Noruega, a Austrália, o Estados Unidos da América (alguns estados e não a nível federal), a Nova Zelândia, o Canadá, o Reino Unido, a Espanha, a Holanda e a Irlanda. Um dos maiores problemas com que esses países tiveram que lidar foi a inexistência de uma cultura de colaboração entre as empresas de pequenas dimensões existentes nesses países (cultura essa que existia, conforme anteriormente referido, no Norte na década de 70). 25 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho Melhores práticas internacionais: iniciativas Para uma análise e avaliação das melhores práticas internacionais, seleccionaram-se as experiências da Dinamarca e da Irlanda por serem países que, em vários aspectos, têm características semelhantes às de Portugal, e porque os casos analisados contêm ensinamentos interessantes. Nos pontos seguintes, são então apresentados os esforços verificados na Dinamarca e na Irlanda para implementar redes colaborativas de Pequenas e Médias Empresas (PMEs) e os resultados obtidos. O exemplo da Dinamarca Antecedentes Em 1989 a Dinamarca aproximava-se de uma crise económica devido ao seu deficit de exportações nas últimas três décadas. O tecido empresarial na Dinamarca, à semelhança do que acontecia no Norte de Itália nas décadas de 60/70, era constituído maioritariamente por pequenas empresas (com cerca de 10 a 30 empregados) que operavam em industrias tradicionais (por exemplo, têxtil e metalúrgica) e que não possuíam capacidade para competir no mercado global. O reduzido tamanho das empresas dinamarquesas era apontado num relatório realizado por McKinsey & Company como o problema da indústria dinamarquesa. Para tornar menor esse problema o mesmo relatório referia a necessidade de 'fundir' essas pequenas empresas em empresas maiores. Essa prescrição, no entanto, apresentava dois problemas muito difíceis de colmatar a relutância dos decisores nas pequenas empresas em desistir do controlo dessas mesmas empresas e o facto de que fundir pequenas empresas não cria empresas com escala comparável às grandes empresas multinacionais. Uma proposta de desenvolvimento da indústria dinamarquesa alternativa à apresentada pelo relatório realizado por McKinsey & Company foi a criação de redes entre pequenas empresas, à semelhança das redes existentes nos distritos indústrias no Norte de Itália. Foi esta a opção seguida pela Dinamarca. Plano de implementação de redes Em Março de 1989, o Ministro do Comércio e da Indústria dinamarquês anunciou a “Estratégia de 92” que incluía um plano para a implementação de redes para pequenas empresas. Em Agosto começou a implementação do referido plano. A implementação do plano foi dividida em três fases. Os objectivos das três fases de implementação foram: • Fase I: encorajar as empresas a apresentar ideias explicitas de colaboração em rede. Para esta fase foram reservados 3 milhões de dólares (cerca de 2.6 milhões de euros). Adicionalmente, foram gastos em promoção da criação de redes, suporte técnico e avaliação 3 milhões dólares (cerca de 2.6 milhões de euros). • Fase II: estimular as empresas a detalhar os seus planos de operação da rede idealizada. O planeamento operacional da rede pelas empresas envolvidas foi financiado mas as empresas tinham que investir nesta fase; O orçamento para esta fase foi de 5 milhões de dólares (cerca de 4.3 milhões de euros), 26 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho • Fase III: providenciar capital de risco às redes durante os dois anos iniciais (50% no primeiro ano e 30% no segundo ano). O orçamento para esta fase foi de 14 milhões de dólares (cerca de 12.2. milhões de euros). Resultados No primeiro ano o plano de implementação de redes na Dinamarca tinha ajudado a criar mais de 1500 redes de pequenas empresas. Nos 6 meses seguintes, o número de redes tinha aumentado na Dinamarca para 3500, envolvendo cerca de metade das empresas dinamarquesas. O envolvimento de, pelo menos, 10 a 15% das empresas dinamarquesas em redes foi um objectivo assumido pelo governo dinamarquês como sendo crítico ao sucesso do plano de implementação de redes. As redes de fabrico flexíveis criadas na Dinamarca revitalizaram a economia deste país pois a obtenção de sinergias operacionais e a partilha de recursos na rede permitiu a aquisição de equipamento mais avançado, o desenvolvimento de processos conjuntos, o investimento em design e em marketing. As pequenas empresas dinamarquesas passaram a conseguir oferecer produtos e serviços mais diversificados e flexíveis ao cliente a nível global. Um relatório final sobre o programa de redes dinamarquês foi publicado em 1996. Neste relatório são apresentados as seguintes conclusões: I. os brokers foram muito importantes para o inicio das redes, mas deixaram de o ser para o desenvolvimento das mesmas; II. as redes criadas por iniciativa das empresas envolvidas (normalmente empresas que já mantinham entre elas relações colaborativas) eram mais robustas do que as empresas criadas com suporte de um broker. III. As empresas dinamarquesas sentem-se muito mais motivadas para se envolverem em projectos de colaboração em rede. IV. a obrigação, imposta pelo plano de implementação de redes na Dinamarca, de formalizar as redes implicou o envolvimento de apenas actividades consideradas periféricas pelas empresas. V. pelo menos do orçamento total reservado ao plano de implementação de redes na Dinamarca foi gasto com redes de empresas que já não existem. Embora os resultados não pareçam à primeira vista muito positivos, o plano de implementação de redes conseguiu o mais difícil, mudar a cultura das pequenas empresas. Quase todas as pequenas empresas dinamarquesas reconhecem actualmente as vantagens de se envolverem em iniciativas de colaboração e cooperação em rede. O exemplo da Irlanda Antecedentes Na década de 90 a Irlanda, tal como os restantes países da Europa, debatia-se com a forte concorrência de empresas existentes em zonas geográficas de produção mais barata (por exemplo China e países de Leste Europeu) e com a consequente deslocação das cadeias de valor para essas zonas geográficas. Os baixos custos de mão-de-obra nesses países tornava as empresas irlandesas muito pouco competitivas em tremos de liderança de custos. A única solução viável parecia ser a valorização dos produtos e serviços produzidos pelas pequenas empresas irlandesas. 27 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho Plano de implementação de redes Em Março de 1995 foi identificado no relatório Science, Technology and Innovation Advisory Council (STIAC) que a indústria irlandesa possuía um problema estrutural importante, a maior parte das empresas eram de pequena dimensão e possuíam um reduzido âmbito de operações. Este relatório, baseando-se no sucesso atribuído ao plano de implementação de redes na Dinamarca, referiu que uma solução para este problema seria criar um programa de suporte à colaboração em rede nas empresas. Este relatório recomendava que deveria ser criado na Irlanda um Programa de Cooperação Inter-organizacional baseado no sistema dinamarquês de suporte à colaboração em rede. Em resposta às recomendações deste relatório foi introduzido, pela organização Forbairt, um programa piloto para redes de cooperação inter-empresarial a ser executado durante um período de seis meses em 1997 a título experimental. O programa piloto foi considerado muito positivo e foi recomendado que um programa nacional e de mais longo prazo deveria ser criado para incutir nas pequenas empresas da Irlanda uma cultura de colaboração em rede mais forte. Este programa nacional nunca chegou a ser implementado, mas localmente as agências estatais têm tentado criar essa cultura. As agências estatais contribuíram para a formação de redes empresariais implementando as seguintes medidas: • promovendo os benefícios de colaborar para servir melhor clientes internacionais. • fornecendo informação sectorial relevante, por exemplo directorias sectoriais de empresas a nível internacional • participação em missões comerciais e em visitas de estudo de mercado. As viagens em conjunto fortalecem as relações pessoais e, consequentemente, a propensão para a criação de redes. • organização de encontros para a promoção da criação de redes, com participação muitas vezes, de oradores estrangeiros para tornar os eventos mais apelativos. • Organização de encontros entre pequenas empresas fornecedoras e grandes clientes internacionais para, por um lado perceber quais as necessidades desses grandes clientes e, por outro lado, dar a conhecer a esses grandes clientes as capacidades e os produtos dos pequenos fornecedores. Resultados A Irlanda possui na última década índices de crescimento económico e de crescimento de emprego muito elevados. A Irlanda é actualmente um dos países mais atractivos para subcontratação de grandes empresas multinacionais que competem globalmente. Como exemplo de iniciativa local (suportada por uma agência estatal - Shannon Development) existente na Irlanda para suporte á criação de redes de colaboração entre empresas de pequena dimensão pode ser considerada a rede Supply Network Shannon (SNS) – www.shannon.com. Outros casos Actualmente, os planos de implementação de redes existentes em diversos países procuram, simultaneamente, encorajar: • o desenvolvimento de relações cooperativas verticais entre pequenas empresas fornecedoras e grandes empresas clientes, procurando orientar a estratégia das pequenas empresas fornecedoras para actividades de maior valor acrescentado e para a competição global; 28 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho • o desenvolvimento de relações cooperativas horizontais entre pequenas empresas e instituições de suporte, procurando obter sinergias que lhes permitam competir efectivamente com empresas maiores e mais competitivas. O quadro seguinte caracteriza sinteticamente os esforços desenvolvidos em vários países. Quadro 3.1 - Esforços de implementação de redes País Existência de Focalizado em Assistência Nacional vs Recursos um broker cluster num único Regional relativamente à momento população Dinamarca Sim Não Não Nacional Grande Noruega Sim Não Não Nacional Grande Austrália Sim Não Sim Nacional Grande EUA Nalguns locais Nalguns locais Não Regional Pequena Nova Zelândia Sim Não Sim Nacional Grande Canadá Sim Alguns locais Não Ambos Média Reino Unido Sim Não Sim Nacional Grande Espanha Sim Não Sim Regional Grande Holanda Por vezes Sim Sim Nacional Média Irlanda Sim Sim Não Regional Média Os keiretsu japoneses Os Keiretsu do Japão são redes interorganizacionais constituídas normalmente por duas partes distinguíveis, um núcleo central no qual se situa uma organização de grande poder económico e um conjunto de pequenas organizações autónomas. O Keiretsu é constituído por empresas de diferentes indústrias, tipicamente as indústrias envolvidas num, keiretsu são: a banca comercial, os seguros, indústrias pesadas e a indústria química. Sempre que possível, as empresas do keiretsu também fornecem produtos e serviços a outras empresas do mesmo keiretsu, criando em certa medida alguma integração vertical. Os maiores keiretsu possuem uma instituição bancaria que empresta dinheiro aos outros membro do keiretsu e que possui grande controlo sobre as mesmas. No entanto, os participantes no keiretsu são empresas independentes (unidades de tomada de decisão independentes) que cooperam umas com as outras no mesmo grupo. Exemplos bem conhecidos de Keiretsu são, por exemplo, a Mitsubishi e a Toyota. O modelo Keiretsu surgiu no Japão durante o período pós-guerra da Segunda Guerra Mundial e tem inspirado muitas redes género-keiretsu (diz-se género-keiretsu porque as propriedades originais dos keiretsu não têm sido completamente experimentada fora do Japão). Um exemplo de rede género-keiretsu é o Grupo Virgin (Reino Unido) - , conforme se analisará em seguida. A formação dos keiretsu foi induzida, mais uma vez, pela história do ambiente em que essas redes se formaram. A formação dos keiretsu deveu-se, por um lado, às questões culturais do povo japonês, por outro lado, à protecção pós-guerra da indústria nacional 29 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho japonesa implementada pelas políticas de governação do país. O indivíduo japonês possui uma forte consciência de pertencer a um grupo e cultiva valores de lealdade e de zelo pelo bem comum. O Grupo Virgin tem sido apelidado keiretsu pois, de forma semelhante a um keiretsu japonês, as empresas que constituem o grupo Virgin possuem ligações financeiras e de gestão e um sentido de identidade comum. Embora as ligações formais existentes entre as empresas do grupo se encontrem limitadas à shareholding de Richard Branson (criador da marca Virgin), à sua presença ou influência na direcção e à utilização comum da marca Virgin, existe ainda uma organização informal constituída por Branson e por gestores e consultores seniores que se reune na residência pessoal de Branson. Esta organização informal é o que distingue este grupo de um keiretsu japonês. Embora o Grupo Virgin não possua uma estrutura organizativa formal Branson e os seus executivos e consultores seniores formam uma equipa que define a cultura Virgin (transversal a todas as empresas do grupo Virgin ) , que define um controlo financeiro, que define uma estratégia global para o grupo e que procura novas ideias. Melhores práticas de redes em Portugal Apresentam-se agora quatro casos de redes existentes em Portugal enquadrando-os num dos tipos existentes na tipologia proposta pelo qcrRCED. Cada caso é caracterizado pelo contexto da rede, a motivação para sua formação, os resultados obtidos e as conclusões e ensinamentos que se podem dele retirar. Cluster dos Moldes Tipologia de Rede RCED: Cluster. Contexto O cluster de empresas do sector dos moldes está fortemente concentrado em dois pólos. Um na zona de Oliveira de Azeméis/Entre Douro-Vouga, e outro na zona de Leiria/Marinha Grande, onde estão localizadas um número elevado de empresas, a associação empresarial do sector CEFAMOL e o centro tecnológico CENTIMFE. Este cluster teve a sua consolidação num contexto em que a indústria dos moldes evoluiu da mão-de-obra intensiva para tecnologia intensiva. Para responder a estes desafios, o sector teve o suporte de grandes grupos empresariais como a Simoldes ou a Iberomoldes e de organizações como o CENTIMFE e a CEFAMOL. O sector dos moldes é composto maioritariamente por PMEs especializadas nas actividades de engenharia, produção de moldes e produção de peças em plástico, existindo complementaridade e concorrência entre muitas delas. Têm como mercados principais o sector automóvel, os electrodomésticos e a metalo-mecânica de precisão. Como as empresas estão concentradas nestas duas regiões criaram-se redes sociais informais, o que facilitou a criação de uma cultura própria e a acumulação de conhecimento. É frequente pessoas da mesma família ou da mesma vizinhança trabalharem em empresas diferentes o que reforça esta rede informal. Este ambiente foi propício à geração de spin-offs industriais e à criação de novas empresas muito especializadas em diversas actividades da cadeia de valor industrial (como o projecto de moldes, os moldes de alta precisão e a electro-erosão). As empresas de maior dimensão funcionam como âncoras deste sector, garantindo massa crítica e facilitando a existência de pequenos fornecedores especializados e altamente inovadores. De salientar a existência de uma proximidade grande entre os empresários do sector e as enti- 30 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho dades sectoriais. Por exemplo, é fácil organizar num curto espaço de tempo uma reunião ao início da manhã com um número significativo de empresários para discutir um tema importante. Um factor crítico neste tipo de cluster é o papel que entidades sectoriais (como o CENTIMFE) têm na dinamização e coordenação de actividades de I&D+i, na demonstração e transferência de tecnologia para as empresas e no apoio à selecção e formação de recursos humanos nas novas tecnologias. Estas organizações de interface funcionam como um catalisador assegurando o envolvimento de instituições do SC&T que colaboram com as empresas (directa ou indirectamente) em actividades de investigação e desenvolvimento ou inovação. Em termos de colaboração entre estas empresas, há relações antigas no desenvolvimento de projectos de I&D em consórcio na área da tecnologia e engenharia do plástico e na área do desenvolvimento de software. Também na área do marketing e na participação em feiras, há um relacionamento regular. No entanto, com excepção dessas áreas, o tipo de relacionamento mais tradicional é ao nível da subcontratação de actividades complementares (por exemplo, quando não têm capacidade de injecção, fazem parcerias com outras empresas especializadas nessa área) e de capacidade produtiva (necessária para responder a encomendas pontuais). A proximidade geográfica entre os principais actores envolvidos neste sector é uma aspecto facilitador deste tipo de relacionamento. Mais recentemente foram criadas comunidades de prática constituídas por empresas e centros tecnológicos, cujos especialistas em determinadas áreas partilham com os outros parceiros as suas experiências e conhecimento. Há exemplos interessantes de dinamização deste tipo de redes em que um líder se destaca pelas suas competências e abertura de espírito e que alimenta de uma forma pró-activa o fluxo de informação e relacionamento entre os membros da rede. Este tipo de relacionamento tem permitido que algumas das empresas lideres do sector assumam posições comuns e alinhadas, principalmente em decisões de carácter mais estratégico. Para além da partilha de know-how entre as empresas, ao longo da cadeia de valor, também se registam alguns investimentos partilhados em equipamentos e tecnologias produtivas. O CENTINFE criou um portal à medida, requerido por um grupo de empresas que pretenderam ensaiar um modelo de gestão partilhada de equipamentos para fomentar a sua maior utilização, tornando-os disponíveis para outras empresas. Contudo este tipo de partilha é ainda limitada. Objectivos A estratégia de desenvolvimento do cluster dos moldes procurou responder aos objectivos de crescimento, subida na cadeira de valor e aumento da flexibilidade. Do ponto de vista das empresas maiores o funcionamento em rede e o desenvolvimento deste cluster ou tecido industrial permitiu uma redução do risco (com a existência deste tecido industrial é possível reduzir o volume de investimento necessário em equipamentos e formação) e o desenvolvimento de novas tecnologias. As empresas procuravam desta forma aumentar a sua rentabilidade e flexibilidade na resposta aos desafios do mercado. Resultados Em termos de pontos fortes é de destacar o desenvolvimento de um cluster de moldes com um tecido empresarial constituído por um número elevado de empresas dinâmicas e muito especializadas. Esta estrutura conduz a elevados níveis de flexibilidade, especialização e competitividade. A existência de entidades que assumiram a coordenação e dinamização do processo (CEFAMOL, CENTIMFE e algumas empresas de dimensão) e a experiência de cooperação empresarial contribuíram para o sucesso. A colaboração entre estas empresas deverá ainda permitir responder a oportunidades de mercado maiores e mais diversificadas. 31 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho Em termos de pontos fracos, verifica-se que ainda existe um enorme potencial de colaboração entre as empresas que deve ser explorado permitindo ampliar novas oportunidade conjuntas a prazo. Isto leva a que o potencial de partilha de investimentos e a abordagem a projectos integrados e de grande dimensão sejam apenas parcialmente conseguidos. Tanto a CEFAMOL como o CENTIMFE assumem a coordenação do sector e envolvem as empresas em projectos de investigação e desenvolvimento e em iniciativas de projecção da imagem do sector dos moldes (no estrangeiro e em mercados emergentes - novas aplicações). No entanto, a colaboração entre as empresas é mais difícil quando se tratam de negócios com clientes. Trata-se de um processo complexo e que muitas vezes não funciona porque a discussão e partilha dos benefícios do negócio é difícil de acordar. Ainda assim, há exemplos de empresas que se apresentam em conjunto aos clientes para responderem a grandes encomendas (por vezes com o envolvimento neutro da CEFAMOL – que é garante do não favorecimento de nenhuma das partes envolvidas no negócio). Conclusão/ Ensinamentos Análise das condições favoráveis para um bom desempenho da rede Recursos Humanos – Os recursos humanos da rede deverão desenvolver as competências adequadas aos objectivos propostos. No cluster dos moldes há a destacar a cultura de inovação e a abertura das pessoas a assimilar e partilhar novas ideias. As redes informais que neste ambiente emergiram de forma natural ajudaram ao desenvolvimento do cluster. Financeiros - A abertura demonstrada para trabalhar em rede e fomentar o aparecimento de empresas especializadas são uma forma de reduzir a necessidade de investimento e aumentar a rentabilidade. Assim se criou um tecido industrial dinâmico que permitiu desenvolver competências e aumentar a flexibilidade. Relações Sociais - A colaboração implica patamares de confidencialidade e de definição de regras claras para garantir o sucesso e evitar conflitos. A cultura individualista (não olhar aos benefícios globais, mas apenas às suas necessidades individuais) é um obstáculo à colaboração que pode ser ultrapassado pelo desenvolvimento de novas redes informais e sociais e de comunidades de prática. Infra-estruturas e plataformas tecnológicas – O CENTIMFE tem procurado uniformizar e disseminar tecnologias críticas para o desenvolvimento de novos produtos. Por outro lado, empresas com a SIMOLDES também impõem normas tecnológicas que são seguidas pelos seus fornecedores. Apesar de considerado prioritário por parte das grandes empresas, ainda não há plataformas que facilitem a integração de sistemas de informação entre as empresas. Gestão e Organização – É essencial a existência de uma ou mais entidades que assumam o papel de definição e comunicação da visão e estratégia do cluster que permita a adesão de um número significativo de empresas ao projecto e o alinhamento das suas iniciativas. No cluster dos moldes é de destacar o papel da CEFAMOL, CENTINFE e de algumas grandes empresas. Deve ser estruturado um relacionamento mais próximo entre as empresas e desenvolvida uma cultura que facilite uma melhor interacção entre as pessoas. A definição de procedimentos internos e processos de fabricos iguais ou compatíveis é importante na partilha de meios de produção e relações de subcontratação. Critérios para avaliar o desempenho de CLUSTERS Em termos da avaliação do desempenho de um Cluster deverão ser considerados os seguintes indicadores: produtividade média, rentabilidade média das empresas, volume de vendas em mercados externos, número de novas empresas. 32 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho Mota-Engil Tipologia de Rede RCED: Rede de produção. Contexto A criação de uma rede de produção suportada por tecnologias colaborativas foi desenvolvida num contexto muito favorável. De facto, a Mota-Engil Engenharia já tinha experiência na utilização de plataformas electrónicas, nomeadamente na execução de projectos de construção de maior dimensão e complexidade. A Mota-Engil Engenharia é um empreiteiro geral, que assume a responsabilidade pela execução de um projecto de construção para um determinado cliente (por exemplo, uma empresa, uma Câmara Municipal ou um Hospital). No âmbito deste tipo de projectos, existem várias entidades envolvidas que constituem uma rede de empresas com responsabilidade pelas diferentes áreas da obra (sub-empreiteiros, projectistas, empresas de fiscalização e o próprio cliente). A actividade principal que caracteriza este tipo de rede é a execução de projectos de construção (de edifícios ou obras públicas), ou seja a produção de uma obra. As actividades que são desempenhadas por cada um dos parceiros estão bem definidas e contratualizadas no caderno de encargos da obra. Quando há necessidade de gerir um projecto de maior complexidade, a Mota-Engil Engenharia tomou a iniciativa de propor ao seu cliente a execução do projecto suportada por uma plataforma electrónica. Sempre que o cliente aceita, a Mota-Engil Engenharia cria uma rede constituida pelas principais empresas responsáveis pela execução do projecto e suportada por uma tecnologia colaborativa. Neste tipo de rede, participam todos os intervenientes relevantes na execução da obra e apenas estes. No entanto, mesmo sendo a Mota-Engil Engenharia a suportar os custos da utilização da tecnologia colaborativa, se o cliente ou outros intervenientes no projecto não aceitarem este tipo de relacionamento, não há possibilidade de se implementar este tipo de rede. Independentemente do tipo de relacionamento adoptado, há sempre uma relação contratual entre as várias partes envolvidas na execução deste tipo de projectos. De notar que este tipo de rede é sempre desenvolvida para um projecto específico, podendo ou não existir um relacionamento anterior entre os parceiros. De acordo com a experiência da Mota-Engil, para projectos de maior complexidade, a maior parte dos clientes aceita e valoriza este tipo de relacionamento mediado por tecnologias coloborativas. Motivação A principal motivação para o desenvolvimento de uma rede suportada por este tipo de tecnologia colaborativa, visa melhorar o relacionamento entre as várias partes envolvidas (permitir uma maior visibilidade, poupar tempo, aumentar a transparência de informação, reduzir erros, aumentar a qualidade,…) e facilitar a gestão deste tipo de projectos. Para além disso, há interesse da parte da Mota-Engil em gerar maior diferenciação face aos concorrentes, através da disponibilização deste tipo de ferramentas aos seus clientes. No entanto, este tipo de abordagem só se justifica quando se trata de um projecto de grande dimensão. Isto porque, ainda há um investimento elevado por parte da Mota-Engil Engenharia para a utilização desta tecnologia colaborativa. Trata-se de um valor referente à utilização de um software para ser utilizado na execução deste tipo de projectos. Da parte da Mota-Engil Engenharia, para além do custos de licenciamento da tecnologia, há ainda um investimento muito reduzido em recursos humanos (apenas um colaborador dedicado a esta gestão que abre os 33 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho projectos e que faz todo o trabalho de gestão dos utilizadores). Os restantes participantes na rede não têm qualquer custo pela utilização deste tipo de ferramenta. Ainda assim, tudo isto só é possível se o cliente aceitar esta forma de trabalhar mais estruturada e alinhada por um fluxo de trabalho comum a todas as partes. Para além da vontade própria da Mota-Engil Engenharia, a motivação do seu cliente é um aspecto crítico para permitir a criação deste tipo de rede. Resultados Em termos dos pontos fortes, é de destacar a maior transparência, flexibilidade e gestão da informação e o potencial de criação de valor e diferenciação. Apesar do elevado investimento, este tipo de colaboração mediada por tecnologia colaborativa tem muitas vantagens para a Mota-Engil Engenharia. Para além da maior eficácia das operações, permite gerar valor e criar diferenciação face aos seus mais directos concorrentes. Os pontos fracos estão relacionados com o elevado preço da utilização da ferramenta e a dificuldade de quantificação do desempenho (dado que muitos dos benefícios são intangíveis). Conclusões/ Ensinamentos Análise das condições favoráveis para um bom desempenho Recursos Humanos - A Mota-Engil Engenharia partilhou com os parceiros o seu conhecimento de utilização deste tipo de tecnologias. A partilha e sincronização de informação entre todas as partes envolvidas tem um forte impacto no relacionamento interpessoal. Recursos Financeiros – Todos os custos de utilização da tecnologia são suportados pela Mota-Engil Engenharia. Ainda assim, estima-se que estes custos serão inferiores aos que seriam necessários para contratar uma equipa de colaboradores dedicados a tratar e gerir o fluxo de informação associado a este tipo de projectos. Relações Sociais – O relacionamento existente entre os parceiros deriva de uma relação comercial e de um contrato estabelecido entre as partes. Infra-estruturas e plataformas tecnológicas - Todos os parceiros utilizam a mesma tecnologia de suporte à rede. Isto permite seguir e controlar melhor o trabalho do dia a dia e gerir com mais flexibilidade todas as situações imprevistas. Gestão e Organização – Todos os objectivos estão definidos e planeados. As funções e responsabilidades de cada um dos parceiros está bem contratualizada. Desvios e problemas que possam ter maior impacto nos planos são tratados directamente com o dono da obra. Em termos das condições favoráveis para um bom desempenho de uma Rede de Produção • Deve-se partilhar recursos que poderão ser aplicados em processos produtivos de outras organizações da rede e contribuir, por exemplo, para o desenvolvimento conjunto de um projecto. A tecnologia colaborativa disponibilizada pela Mota-Engil Engenharia dá acesso a toda informação sobre o projecto em tempo real, com total visibilidade e transparência. • Deverá haver reciprocidade na cadeia de valor, por exemplo participantes que actuam como clientes e fornecedores uns dos outros. E em algumas situações estas organizações são concorrentes umas das outros adoptando posturas de franca “co-opetição”. Por exemplo, a Mota-Engil Engenharia relaciona-se com empresas concorrentes de menor dimensão a quem adjudica as sub-empreitadas. 34 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho Em termos dos critérios para avaliar o desempenho de uma Rede de Produção • O aumento de proveitos e rentabilidade é um critério de maior importância para justificar a criação da rede. • O aumento da eficiência e eficácia dos processos (mais focados na flexibilidade e no ciclo de vida do produto) são critérios especialmente indicados para avaliar se os projectos são desenvolvidos num espaço de tempo mais curto e com custos mais reduzidos. RAVT Tipologia de Rede RCED: Rede de Compras. Contexto A RAVT (Representação de Agências de Viagens e Formação em Turismo) é uma rede de agências de viagens, criada em Novembro de 2005, que tem como objectivo a promoção, representação e intermediação de empresas e produtos turísticos, bem como formação turística. A RAVT visa proporcionar mais segurança ao pequeno empresário das agências de viagens independentes, ajudando-o à optimização e maior rentabilidade da sua empresa. A agência aderente mantém a sua completa independência e liberdade na sua gestão, sem necessitar de mudar de imagem ou nome (a RAVT tem uma imagem própria, mas que fica totalmente apagada em relação à das agências), podendo participar nas estratégias conjuntas, aproveitar sinergias, poder de negociação ganhando força e voz e, acima de tudo, os bons níveis de rentabilidade dos grandes grupos. Esta rede surgiu em resposta à necessidade das agências de viagens, com base num modelo de negócio emergente - o grupo de gestão. As agências portuguesas necessitavam de ter algum peso junto dos operadores não deixando de ser independentes e com gestão própria. Este modelo permite que empresas pequenas possam ser competitivas em relação às de maior dimensão, mas ao contrário do franchising esta prática não requer a obrigação das empresas participantes terem a mesma imagem nem o pagamento de um valor associado ao volume de vendas. A RAVT surgiu, desta forma, como contraponto às redes de agências espanholas que já adoptaram este modelo. A RAVT é a entidade que faz a gestão, o controlo de qualidade, a formação e a negociação de condições comerciais. As Agências são os utilizadores – clientes da RAVT – em Maio de 2006 eram 38 Micro empresas compostas por 1/3 pessoas em que na maior parte é o dono que exerce toda as funções de gestão - tipo familiar. De notar que 90% agências que entraram nesta rede foram através de contactos da fundadora da RAVT e que há uma selecção muito cuidada dos novos membros (se tiverem mau nome no mercado, pagarem ou trabalharem mal - não entram na rede). É que a RAVT assume a responsabilidade pela negociação com os fornecedores (operadores da área do TRADE, como as companhias de viagens, hotéis, rent-a-car) e os operadores externos (engenharia, máquina de água, comunicações). Em termos de relacionamento com as agências, existe um contrato formal com a duração de 2 anos, com indicação de todos os direitos e deveres para com a RAVT e para com os fornecedores. Para além disso, há uma comunicação constante, seguimento de contactos e promoções por vários meios de uma forma constante e diária. As decisões são tomadas pela RAVT, entidade que tem poder de decisão e apenas as mais críticas é que são referendadas pelas agências. Há discussão regular para debater problemas (comissões, produtos, operadoras), partilhar informação de mercado. A relação entre as agências é de concorrência saudável e em alguns casos é de amizade, recorrendo muitas vezes uns aos outros para resolver problemas. 35 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho Motivação As principais motivações da criação desta rede foram: 1) desenvolver um projecto alternativo ao que existe em Portugal; 2) acabar com os lobbies – ganha o fornecimento, quem oferece melhores condições e não que tem melhores contactos; 3) dar maior confiança e apoio às agências - estar mais perto das suas necessidades e 4) ter mais poder de mercado (compras em grupo), com melhores condições junto dos operadores. Sendo a actividade principal que caracteriza a RAVT, a negociação e contratação de serviços e a formação dos colaboradores das agências, é natural que as motivações de entrada na rede estejam relacionadas com estes factores. Apesar das agências pagarem uma jóia de entrada e uma taxa mensal, o seu reduzido custom é facilmente compensado pelos benefícios da sua participação na rede. As agências da RAVT deixaram de ter despesas com advogados e com a contratação de outros serviços indirectos (exemplo, serviços bancários). Passaram a ter acesso ao envio regular de informação por correio electrónico (legislação, entrada de vistos e passaportes) e ao suporte a problemas com o sistema de reservas e de outros de carácter mais operacional. Para além disso, a RAVT partilha com as agências o seu networking de parceiros e contactos no sector. Há também em comum um sistema de informação de gestão e uma ligação de messaging entre as agências. Está prevista a implementação de uma extranet para as agências poderem aceder a informação com as condições negociadas e Formação (por exemplo, as agências estão a ter formação num novo sistema de informação de gestão). Resultados Em termos dos pontos fortes, é de destacar o excelente relacionamento, comunicação e serviço prestado às agências. O facto de existir uma selecção de todos os parceiros (agências e operadores) e uma gestão muito cuidada das entradas e saídas, tem um impacto muito positivo no resultado final. Um outro aspecto que contribui de uma forma muito positiva é a existência de recursos humanos totalmente dedicados à gestão da rede (formada pela equipa de gestão da RAVT). Os pontos fracos identificados estão relacionados com a falta de massa crítica para negociar melhores condições com os fornecedores e a forte concorrência de grupos com o mesmo tipo de modelo de negócio. Conclusões/ Ensinamentos Análise das condições favoráveis para um bom desempenho Recursos Humanos - A RAVT partilhou o seu networking de parceiros e agências. Uma boa medida do desempenho da rede é a boa relação que existe entre as agências da rede. O relacionamento bom e salutar ajuda a criar sinergias – as agências ajudam os colegas/ concorrentes porque sabem que eles também os podem ajudar. Existem uma equipa de gestão da rede, que se ocupa e assume a responsabilidade pelo seu funcionamento. Recursos Financeiros - É exigido um esforço financeiro para pertencer à rede. As agências pagam uma jóia de entrada e uma taxa mensal. Relações Sociais - A RAVT é a entidade líder que faz a gestão, o controlo de qualidade, a formação e a negociação de condições comerciais. As Agências são os utilizadores – 90% agências que entraram foram contactos da fundadora. Há uma selecção muito cuidada das agências. Existem ainda os operadores da área do TRADE (como as companhias de viagens, hotéis, rent-a-car). Infra-estruturas e plataformas tecnológicas - Todos os parceiros utilizam de tecnologia de suporte à rede. Está prevista a implementação de uma extranet para as agências poderem aceder a informação com as 36 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho condições negociadas e formação. Também há em comum sistemas de gestão e um sistema que faz a ligação com as agências (ambrosio – é um IM específico para o trade). Gestão e Organização - Há comunicação constante, seguimento, contratos, promoções, por vários meios de forma constante e diária – também existem visitas presenciais e reuniões (há reuniões duas vezes ao ano que são por zonas geográficas – norte, centro, sul). As decisões são tomadas atempadamente pela RAVT, que tem poder de decisão e não necessita de pedir autorização a todas as agências. Só nas situações mais críticas é que essas decisões são referendadas. Em termos das condições favoráveis para um bom desempenho de uma Rede de Compras • Troca de experiência e partilha de competências em áreas complementares às compras, por exemplo na gestão de categorias, no procurement e no marketing. • Selecção muito cuidada das organizações que entram na rede – é natural que existam empresas concorrentes, mas devem ter uma dimensão semelhante (ou seja, nunca com uma dimensão que lhes garanta um poder negocial significativamente superior). • Partilha de SI que disponibilizem informação sobre as condições negociadas, em tempo real e com total visibilidade e transparência. Será um forte contributo para aumentar o nível de confiança entre as partes. • Mecanismos de controlo das condições contractualizadas entre as organizações, com formas de penalização dos que não cumprirem. Assegurar que quem não cumpre o estabelecido deve abandonar a rede de imediato. Critérios para avaliar o desempenho de uma Rede de Compras • Novas competências (complementares à compra) • Aumento da capacidade negocial (acesso a preços mais competitivos e a novos fornecedores) Rede ShoeInov - Sector do Calçado Tipologia de Rede RCED: Rede de I&D+i. Contexto Sob liderança da APICCAPS – Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos em Pele e seus Sucedâneos foi implementada uma estratégia de desenvolvimento numa lógica de Cluster, apoiada num estudo de Michael Porter realizado em 1994. Para além das empresas do sector, o Cluster inclui os fornecedores de tecnologia e equipamentos produtivos e centros de investigação. O Centro Tecnológico da Calçado (CTC) dinamizou a realização de um elevado número de projectos de Investigação e Desenvolvimento Tecnológico que procuravam resolver problemas identificados na indústria que não encontravam resposta na oferta do mercado. Procurou-se o desenvolvimento de uma indústria de bens de equipamento como instrumento de melhoria da competitividade e diferenciação da indústria de calçado nacional. Foram executados projectos de pequena ou média dimensão focados na resolução de problemas específicos e foram realizados projectos mobilizadores de grande dimensão que pretenderam abordar o desenvolvimento do sector de forma mais integrada. 37 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho Nos projectos mobilizadores já realizados participaram cerca de 25 empresas de base tecnológica, cerca de 10 entidades do SCTN (Sistema Científico e Tecnológico Nacional) e cerca de 25 empresas demonstradoras. Pretende-se que estes projectos tenham efeito sobre todas as empresas do sector, através de acções de divulgação, implementação de projectos demonstradores e disponibilização de soluções e serviços inovadores, pelas empresas de base tecnológica. Exemplos de projectos desenvolvidos incluem o desenvolvimento de equipamentos e soluções para a produção em pequenas séries e com resposta rápida. A adequação das soluções aos requisitos das PME’s foi outra das preocupações dos projectos desenvolvidos. O sector do calçado é caracterizado por uma elevada concentração de empresas em dois pólos principais localizados nas proximidades de São João da Madeira e Felgueiras (representando cerca de 90% das empresas). Nestas regiões existem relações informais muito intensas entre empresas, sendo frequente o empréstimo de equipamentos ou a partilha de custos de participação em feiras. A informação fluiu informalmente com grande facilidade, mesmo à mesa do café. Objectivos Pode-se considerar que há uma rede de inovação a funcionar com sucesso há muitos anos. Desenvolvem-se produtos inovadores, criam-se novas empresas e reconvertem-se muitas outras. É um exemplo interessante de ligação entre os sectores empresarial, tecnológico e científico. Em 2005 esta rede informal de entidades ligadas à inovação no sector definiu uma agenda de investigação ambiciosa e assumiu a designação de ShoeInov. A Rede ShoeInov é liderada pelo Centro Tecnológico do Calçado e tem por objectivo consolidar Portugal como um actor competitivo e global no negócio do calçado e acessórios de moda, através da inovação (radical ou incremental) nos modelos de negócio, no marketing, na produção, na integração na cadeia de valor, no design, na inovação tecnológica e na qualificação do capital humano. Resultados O recurso mais importante foi a capacidade de criar uma visão e uma estratégia sectorial que permitiu alinhar os interesses e a actuação dos vários agentes do Cluster. A colaboração continuada das empresas do sector com as empresas fornecedoras de soluções de base tecnológica e os centros de investigação levou ao desenvolvimento de equipamentos e tecnologias mais adequadas à realidade empresarial do sector, permitindo acrescentar valor e diferenciar a oferta nacional. Para os fornecedores de base tecnológica a existência de um mercado nacional exigente para as suas soluções tornou possível o sucesso da sua internacionalização. As entidades sectoriais APPICAPS e CTC tiveram um papel fundamental na definição e divulgação da estratégia e na liderança do processo. A identificação das entidades chave para participar na rede foi outro dos factores críticos de sucesso. Procurou-se as entidades com maior competência nas áreas chave, com a preocupação de atingir massa crítica. Garantindo a participação de entidades adequadas às várias fases do processo de inovação (investigação, desenvolvimento tecnológico, validação, demonstração e comercialização da tecnologia), garantiu-se uma elevada taxa de sucesso. A existência de uma estratégia consolidada e de consórcios adequados facilitaram a acesso aos financiamentos, o que por sua vez permitiu multiplicar o número de iniciativas realizadas. Outros sectores ou agrupamento de empresas poderão desenvolver redes semelhantes, com o objectivo de alinhar os interesses de investigação e desenvolvimento com as suas estratégias empresariais. 38 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho Conclusões/ Ensinamentos Análise das condições de sucesso Recursos Humanos - A experiência de trabalho em conjunto e a confiança entre diferentes elementos do Cluster facilitam o seu desenvolvimento. É essencial que a rede inclua entidades que garantam as competências necessárias e que se procure atingir massa crítica. Financeiros – As entidades envolvidas deverão ter capacidade financeira adequada à dimensão dos projectos. O acesso a financiamento públicos permite a execução de projectos de maior dimensão. Relações Sociais – A aceitação da liderança clara do CTC e o estabelecimento de relações de confiança entre os membros da rede foram factores importantes para o sucesso da rede. A proximidade geográfica também facilita o estabelecimento de relações estreitas entre os membros da rede. Infra-estruturas e plataformas tecnológicas – Na rede ShoeInov não há utilização partilhada de TICs. Contudo há potencial na utilização de ferramentas para apoio à gestão colaborativa de projectos e gestão do conhecimento. Gestão e Organização - O CTC é o líder assumido e reconhecido da rede. O CTC define os objectivos e as prioridades em função da estratégia do Cluster. Esta liderança fomenta o alinhamento das actividades de IDT e evita conflitos. São muito proactivos na promoção de novas ideias junto das empresas, dinamizando a sua demonstração e adopção pelas empresas. No início dos projectos concretos é sempre definido o tomador da tecnologia desenvolvida e os detentores dos direitos de propriedade. Foi possível criar uma visão comum e um ambiente de grande motivação entre todos os agentes que nele participam, sempre pronto a acolher novas ideias e novos promotores. Critérios para avaliar o desempenho de uma rede de I&D+i • Número e volume de vendas de novos produtos • Número de novas empresas • Número de patentes • Número de artigos científicos Rede de distribuição dos Lavradores de Feitoria Tipologia de Rede RCED - Rede de Distribuição Contexto A região do Douro, berço do famoso vinho do Porto com vinhas em socalcos ao logo do rio, produz também vinhos de mesa inscritos no quadro de honra dos melhores vinhos do mundo. Em finais da década de 90 diversas quintas estavam confrontadas com dificuldades na comercialização dos seus vinhos VQPRD da região demarcada do Douro. Ou não conseguiam vender o seu produto ou apenas o conseguiam vender a preços claramente desvantajosos. Nesta altura foi realizado um estudo e definido um plano de negócios para juntar um grupo de Quintas do Douro na produção e comercialização de vinhos de qualidade. 39 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho A existência de fundos públicos para realizar estudos para a criação de empresas e necessidade de fazer face às oscilações anuais no preço de compra das uvas foram motivações adicionais para a colaboração entre estes produtores. A existências de fundos públicos para a criação de empresas e necessidade de fazer face às oscilações anuais no preço de compra das uvas foram motivações adicionais para a colaboração entre estes produtores. Objectivos O projecto Lavradores de Feitoria (LdF) juntou em 1999 quinze produtores da região do Douro com o objectivo de valorizar a produção vinícola e promover a produção de vinhos de qualidade. Cada quinta pode produzir os seus próprios vinhos, potenciando a rede a sua distribuição a nível nacional e internacional. Quando se considera justificado, o vinho de uma quinta é engarrafado e comercializado como tal. A LdF desenvolveu produtos e marcas próprias que comercializa. Estes vinhos de lote que ostentam as marcas "Três Bagos", "Cheda" ou "Lavradores de Feitoria", embora de menor qualidade do que os vinhos de quinta, mostram um Douro rico, feito do fruto das quintas de excepção que compõem a LdF. A rede disponibiliza ainda apoio técnico e acesso a condições de produção e armazenamento actuais com a qualidade e capacidade exigidas. Quando solicitado pelos participantes é possível fazer o acompanhamento da produção em termos de viticultura por técnicos especializados. Foi ainda objectivo melhorar a imagem dos participantes nos mercados internacionais e futuramente potenciar uma oferta mais alargada e integrada de serviços turísticos. Resultados O projecto uniu lavradores do Douro para fazerem vinhos de feitoria (DOC) semelhantes aos produzidos nos tempos de Marquês de Pombal. São cerca de 800 hectares que ainda escapam aos capitais estrangeiros e garantem uma produção de 1200 pipas de vinho, com tendência para aumentar. Actualmente a LdF conta com 14 lavradores associados e 12 colaboradores. Os seus vinhos são comercializados tanto no mercado nacional, como no mercado internacional. Este projecto prova que é possível juntar os lavradores do Douro ganhando mais força, sem perderem a sua individualidade. O volume de negócios da Lavradores de Feitoria ronda um milhão de euros. Estados Unidos, Canadá, Áustria, Alemanha, Suíça, Noruega, Finlândia, Bélgica Holanda, França e Espanha são os principais destinos, que representam 51% da comercialização. Com a Lavradores de Feitoria as quintas conseguem garantir a venda dos seus produtos a melhor preço e promover a sua imagem em mercados mais alargados. Foi criada uma adega e um armazém de escala e qualidade consideráveis, o que conjuntamente com o apoio técnico disponibilizado permitiu melhorar significativamente a qualidade dos vinhos produzidos. Foi dinamizada a oferta turística e facilitada a articulação com a universidade e entidades públicas (como o ICEP). Conclusões/ Ensinamentos Análise das condições favoráveis para um bom desempenho Recursos Humanos - É importante a existência de uma estrutura de gestão das actividades da rede com pessoas em número suficiente e com as competências necessárias. No caso da LdF foram importantes as competências na área do marketing e distribuição dos vinhos e as competências técnicas em viticultura e enologia que permitiram um aumento da qualidade dos produtos. 40 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho Financeiros – Foi objectivo desta rede disponibilizar meios de produção e armazenamento em boas condições, o que constituiu um investimento significativo. Foi criada uma empresa, participada pelas várias quintas, que assumiu este investimento. O facto de na altura existirem financiamentos públicos para este tipo de iniciativas facilitou a sua implementação. De qualquer forma é essencial que os participantes na rede tenham capacidade financeira para assumirem os investimentos previstos. Relações Sociais – É necessário o estabelecimento de relações de confiança entre os participantes e a aceitação do tipo de liderança estabelecido. No caso da LdF foi ainda importante o facto dos participantes terem culturas semelhantes. Infra-estruturas e plataformas tecnológicas – São utilizadas ferramentas tradicionais de comunicação e produtividade pessoal, bem como gestão das actividades correntes (correio electrónico, escritório electrónico, gestão do armazém). São também usadas aplicações partilhadas para acompanhar as vendas, os stocks e os processos logísticos, bem como para acompanhamento do grupo de viticultura. Gestão e Organização – Existe um conselho de administração e uma assembleia geral que reúne normalmente para aprovação de contas e para fixação dos padrões mínimos de qualidade e preços de compra de uvas/vinho. A estrutura criada garante a gestão operacional das actividades da rede. Neste tipo de rede é importante que os objectivos sejam claros e correspondam a uma necessidade crítica dos seus membros. Devem ser definidos programas de melhoria contínua. Critérios para avaliar o desempenho de uma rede de distribuição Em termos da avaliação do desempenho de um Cluster deverão ser considerados os seguintes indicadores: preço unitário médio de venda e volume de vendas em novos mercados. Conclusão As experiências da Dinamarca e da Irlanda, entre outros casos de melhores práticas analisados neste estudo, demonstram claramente o potencial das redes colaborativas, mas também o papel fundamental de mecanismos institucionais que promovam a sua criação e criem as condições para o seu funcionamento. Na situação portuguesa, os casos estudados, de natureza muito variada, demonstram também as vantagens inegáveis das redes colaborativas, e permitem identificar um conjunto de condições favoráveis para o seu bom desempenho, bem como as debilidades e limitações das nossas empresas na concretização de redes colaborativas e na obtenção de ganhos de desempenho baseados na colaboração. Também nos casos portuguesas se reforça a ideia de que entidades exteriores às empresas (centros tecnológicos, “brokers”, ...) podem desempenhar um importante papel, tanto na formação como na operação de uma rede colaborativa. 41 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho 42 4. Redes e colaboração no norte de Portugal Introdução No âmbito do projecto RCED foi realizado um estudo empírico sobre redes colaborativas no Norte de Portugal. O presente capítulo apresenta em detalhe o processo de análise da informação recolhida e os principais resultados deste estudo. Os resultados apresentados incluem aspectos gerais como o nível de colaboração na região, os factores de sucesso e o nível de utilização de tecnologias colaborativas. É ainda apresentada uma análise específica para cada tipo de rede de colaboração, incluindo as motivações que levam à criação dessas redes, os factores de sucesso, os critérios de avaliação do desempenho e as tecnologias de informação utilizadas. A apresentação destes elementos é complementada com uma breve descrição de exemplos de redes ilustrativos. De salientar que a análise da informação recolhida nas várias fases do projecto permitiu ainda a criação e validação de duas ferramentas importantes e inovadoras: o quadro conceptual de referência análise de redes colaborativas (qcrRCED) e a metodologia para apoio à implementação de redes e colaboração (mRCED). Estas ferramentas, apesar de resultarem da análise da informação recolhida neste estudo, não são incluídas neste capítulo, para facilitar a leitura deste documento e a sua utilização futura. O quadro conceptual é apresentado no capítulo 2 uma vez que serviu de base à análise dos casos de sucesso e elaboração dos instrumentos de recolha de informação (entrevistas e questionário). A metodologia mRCED é apresentada no último capítulo para facilitar a sua utilização futura. Empresas ou outras organizações que pretendam aderir ou avaliar redes existentes ou criar novas redes colaborativas podem seguir esta metodologia, que se encontra sistematizada na Parte 2 deste relatório. A mRCED é parcialmente implementada no kit de iniciação à colaboração, também desenvolvido neste projecto. Metodologia de recolha e análise de dados A metodologia de desenvolvimento do projecto RCED foi apresentada no capítulo 1 e está dividida em quatro fases principais: análise e síntese da literatura e casos de estudo sobre redes; realização de entrevistas a organizações com experiência de participação em redes colaborativas, a especialistas na área e a entidades públicas; e realização de um questionário on-line; realização de um workshop de validação. Os pontos seguintes apresentam de forma mais detalhada o processo de recolha e análise de informação. 43 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho Entrevistas Foram realizadas 43 entrevistas presenciais com responsáveis e decisores de empresas, associações, organismos do estado e instituições do SC&T. A identificação das empresas/organizações a entrevistar foi efectuada com base nas seguintes fontes: • Informação disponível sobre redes inter-organizacionais (nos media, na web, em artigos científicos e outros estudos). • Nas sugestões dos parceiros do projecto e dos membros da comissão de acompanhamento. • Informação recolhida nas primeiras entrevistas. Em cada entrevista, para além da análise de uma rede concreta foram analisadas as relações com outras redes, o que permitiu fazer um levantamento muito completo das experiências de redes e de cooperação na Região. A selecção das empresas/organizações a entrevistar teve em consideração preocupações de diversidade (redes de vários sectores de actividade e de diferentes dimensões) e de tipologia de redes (com casos de todos os tipos de redes identificadas). Para além destes aspectos, procurou-se não só identificar as iniciativas de (aparente) sucesso, como também os projectos de (aparente) insucesso, em termos de objectivos e de rentabilidade económica. A realização das entrevistas foi apoiada num guião estruturado de acordo com o qcrRCED. Apesar de não terem sido analisadas todos os casos de cooperação inter-organizacional no Norte de Portugal, os dados recolhidos através destas entrevistas poderão ser considerados uma amostra relevante das redes e colaboração no Norte de Portugal. A informação recolhida nas entrevistas realizadas foi tratada utilizando uma metodologia de análise de conteúdos, em que se procurou enquadrar as respostas obtidas em cada uma das entrevistas, nos diferentes tipos de rede e dimensões do quadro conceptual: • As motivações para cada tipo de rede; • As condições favoráveis para um bom desempenho de uma Rede - segundo as categorias Recursos Humanos, Recursos Financeiros, Relações Sociais, Infra-estruturas e plataformas tecnológicas e Gestão e Organização (ver qcrRCED); • Os critérios para avaliar o desempenho de uma rede - segundo as categorias: Capital Humano, Capital Financeiro, Capital Social, Capital Infraestrutural, Capital Organizacional e Inovação (Novos Produtos / Serviços, Novos Processos, Nova Organização, Novos Mercados de Venda, Novos Mercados de Compra) (ver qcrRCED no capítulo 2); • As tecnologias utilizadas pelas redes e as tecnologias que deveriam ser utilizadas para melhorar o desempenho dessas redes, considerando o estado da arte em termos de tecnologias disponíveis. A análise da informação recolhida permitiu ainda actualizar o quadro conceptual desenvolvido na primeira fase do projecto. 44 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho Questionários Na fase seguinte à realização das entrevistas foi disponibilizado um questionário on-line com o objectivo de validar e complementar alguns aspectos da análise dos resultados das fases anteriores. Neste questionário solicitou-se aos participantes que fizessem uma selecção das condições de sucesso mais relevantes, dos critérios de avaliação do desempenho e das tecnologias colaborativas (quais as tecnologias utilizadas no apoio à colaboração e quais as tecnologias que deviam ser utilizadas para melhorar o desempenho. Com base na análise das respostas ao questionário, elaborou-se a versão final do qcrRCED. Foram contactadas mais de 4000 empresas por email, com followup telefónico sistemático, tendo-se conseguido 78 respostas. Para operacionalizar o contacto com as empresas foi comprada a lista de contactos da empresa Dun&Bradstreet, relativas a empresas da região com mais de 30 trabalhadores e foram utilizadas listas de contactos de algumas associações empresariais. Foram ainda convidadas a responder ao questionário todas as empresas que foram entrevistadas na fase anterior do estudo. Ao contrário das entrevistas, a participação no questionários foi mais baixa do que o previsto. O principal motivo do baixo nível de resposta prende-se com o reduzido número de empresas e interlocutores com experiência concreta na participação em redes de cooperação, o que constituía pré-requisito para o preenchimento do questionário. Contudo, o questionário continua disponível na internet, mantendo-se a possibilidade de resposta. O gráfico da figura 4.1 apresenta a percentagem de respostas por tipo de rede. Rede de I&D+i Rede de compras Rede de produção Rede de distribuição Rede de fornecimento Cluster Ambiente virtual de crescimento Comunidades patrocinadas Figura 4.1 - Gráfico das respostas por tipo de rede Workshop Na última fase do projecto realizou-se um workshop com o objectivo de validar os resultados obtidos, incluindo o qcrRCED, por um conjunto de reconhecidos especialistas em questões de redes e cooperação empresarial 16 e pessoas com experiência relevante. A forma utilizada para a concretização deste objectivo foi uma sessão tipo focus group. 16 Ver no Anexo 1 o quadro com o o perfil das empresas/organizações que participaram no workshop. 45 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho Um focus group é um método de recolha de dados, normalmente inserido num estudo/pesquisa que, em vez de entrevistas individuais, reúne numa sala um grupo de entrevistados, seleccionados a partir de grupos alvo. Neste caso específico, os entrevistados eram responsáveis por empresas/organizações que estiveram ou estão envolvidos em redes de cooperação inter-organizacional, académicos e responsáveis por iniciativas de apoio ao desenvolvimento da cooperação empresarial. Os resultados da workshop foram muito importantes não só para a validação dos resultados da fase anterior mas também para a identificação de tendências futuras e para a formulação de recomendações sobre a evolução das redes de cooperação inter-organizacional no Norte de Portugal. Da discussão destes resultados e da exploração de novas propostas resultou a proposta final do qcrRCED. Análise dos resultados: aspectos comuns Neste ponto são apresentados os resultados que são comuns a todos os tipos de redes, nomeadamente o nível de colaboração inter-organizacional na região Norte, as condições favoráveis para o bom desempenho e o nível de utilização de tecnologias colaborativas. No ponto seguinte são apresentados os resultados que são específicos de cada tipo de rede. De salientar ainda que a metodologia para apoio à implementação de redes e colaboração (mRCED) apresentada na Parte 2 deste documento, é também resultado desta análise e complementa a informação aqui apresentada. A mRCED é apresentada de forma estruturada e completa na Parte 2 deste documento para facilitar a sua consulta futura. Nível de colaboração inter-organizacional na região Norte Da análise do conteúdo das entrevistas destacam-se os aspectos que a seguir se referem, em termos da visibilidade actual e identificação de formas de cooperação inter-organizacional na região norte de Portugal. Há cooperação entre organizações na região Norte, mas normalmente sob formas muito informais. O número de redes de cooperação identificadas na região, segundo as definições adoptadas pelo projecto RCED é relativamente reduzido. Contudo, esta apreciação não é consensual, uma vez que a própria definição de rede não é consensual. Sobre esta questão foram encontradas posições muito diversas, desde posições que defendem que cada empresa é o centro de uma rede, até posições que defendem que uma rede deve estar formalmente constituída, o que levaria à existência de muito poucas redes na região. Sendo difícil comparar objectivamente a densidade de redes de cooperação com outras regiões (uma vez que muitos estudos apresentam definições de rede diferentes e definem âmbitos de análise diferentes), podese de qualquer forma concluir que na região Norte esta densidade é bastante inferior à verificada em regiões apresentadas como exemplo de cooperação, como o norte de Itália, a Dinamarca ou a Irlanda. O único estudo anterior que tentou quantificar o número de redes com algum nível de formalismo numa determinada região foi realizado na Irlanda. Este estudo conseguiu identificar 110 redes em toda a Irlanda, envolvendo 9859 empresas. Contudo este número inclui associações empresariais que no projecto RCED não foram consideradas redes. Note-se que no projecto RCED foram analisadas cerca de 20 redes apenas na região norte, não se pretendendo ser exaustivo. Estes dados sugerem naturalmente que o número de redes 46 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho com algum nível de formalismo na região Norte de Portugal e na Irlanda não podem apresentar um desequilíbrio tão significativo. Há presentemente nas organizações a percepção das vantagens principais e do interesse na implementação de redes inter-organizacionais. No entanto, a imagem das redes de cooperação inter-organizacional junto das empresas concretas encontra-se, em muitos casos, associada a uma imagem de complexidade de implementação e influenciada por casos recentes de insucesso. Identificou-se por isso a necessidade de novas abordagens e metodologias que motivem as empresas/organizações a participarem em redes. Existe um número muito reduzido de formas de cooperação inter-organizacional que se possam classificar como Redes Colaborativas, fundamentalmente porque são muito poucos casos de colaboração suportada por tecnologias de informação e comunicação. Contudo, a análise desenvolvida e a literatura da área apontam estes tipos de redes como as de maior potencial para apresentar desempenho elevado. Não se pretendendo quantificar a densidade por tipologia de redes, identificaram-se áreas em que a colaboração está mais presente. Da análise efectuada, as redes de I&D+i são as mais frequentes, fruto do recente investimento público no apoio à criação deste tipo de iniciativas e de uma maior consciência da importância da inovação. Identificaram-se também um número significativo de redes de compras, que foram resultado de iniciativas focadas na redução de custos. Se tentarmos comparar o actual nível de cooperação na região com o nível que seria desejável (considerando por exemplo as motivações apresentadas em capítulos anteriores) podemos afirmar que haverá ainda um longo caminho a percorrer. Daí a forte recomendação de continuar a motivar e apoiar as empresas para desenvolver redes. Condições favoráveis Da análise efectuada às redes colaborativas (com base na informação recolhida nas entrevistas e questionários, complementada com outras fontes disponíveis), foram identificados os principais factores de sucesso (ou condições favoráveis para o seu bom desempenho). Os factores de sucesso identificados são apresentados neste ponto agrupados pelo tipo de recurso (relações sociais, gestão e organização, recursos humanos, recursos financeiros e Infra-estruturas e Plataformas Tecnológicas. Estes factores de sucesso têm graus de importância diferentes em cada um dos tipos de rede analisados. No ponto seguinte, sobre os resultados específicos a cada tipo de rede, são apresentados e explicados as principais condições de sucesso para cada tipo de rede. Na Parte 2 deste documento, na descrição da metodologia mRCED são identificados as condições de maior importância para cada tipo de rede. Em termos das relações sociais, as condições favoráveis para um bom desempenho das redes mais referidas nas entrevistas foram as que a seguir se referem. S1. Ter confiança nos parceiros da rede As relações de confiança entre os membros de uma rede são naturalmente o requisito mais referido pelas empresas / organizações e pelos estudos anteriores. A confiança deriva não só de relações antigas, como também das redes sociais (onde se geram referências e recomendações para se credibilizar os contactos) e redes informais (por exemplo, entre colegas da faculdade) que se criam entre as partes. Em muitos casos analisados, verificou-se que apesar da evidente necessidade de colaboração, acaba por vencer a desconfiança e o individualismo. Um outro aspecto relevante é a confiança nas instituições, que em muitas situações pode contribuir para a maior credibilização dos potenciais parceiros. As redes deverão implementar acções 47 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho que promovam um aprofundamento do conhecimento e das relações sociais entre os interlocutores das várias organizações participantes. S2. Aceitar e promover um líder claro da rede Para além de ser responsável pela selecção das empresas, o líder é quem toma o pulso nas deci- O que dizem as empresas sobre ... rela- sões mais importantes. Uma liderança “forte e ar- ções sociais: rastadora” permite evitar potenciais conflitos de • “em mercados protegidos ou monopo- interesses e identificar o potencial de sinergias que listas é possível trabalhar isoladamente, pode ser gerado no seio da rede. Verificou-se nal- mas em mercados competitivos é es- gumas situações que um líder forte fomenta o apa- sencial a cooperação” recimento de posições comuns e alinhadas, especi- • "A cultura individualista (não olhar ao almente em decisões de carácter mais estratégico bem comum, mas apenas às suas ne- (como, por exemplo, a resposta a oportunidades de cessidades individuais) é um obstáculo mercado e o investimento em equipamentos parti- à colaboração que pode ser ultrapassa- lhados). do pelo desenvolvimento de redes sociais informais e de comunidades de prá- S3. Definir critérios de selecção dos membros tica". • "As relações são sobretudo informais, Este é um aspecto crítico para garantir a adequação dos participantes na rede aos objectivos pro- com base na confiança". postos e a evitar o frequente conflito de interesses • "A empresa não tinha recursos e know entre as partes envolvidas (resultado da concorrên- how suficiente para fazer tudo sozinha. cia natural entre as empresas). Devem ser definidos E conhece casos de insucesso que critérios objectivos, que variam com a tipologia de aconteceram porque não houve parceri- rede, como por exemplo, posição na cadeia de as – iniciativas isoladas". valor, dimensão, proximidade geográfica, ausência • "Há a percepção de que uma liderança de posicionamento concorrencial, perfis de negócio 'forte e arrastadora' por parte do coor- semelhantes/complementares e competências denador evitou potenciais conflitos de complementares. As organizações que não cumpri- interesses no seio da rede" rem os critérios definidos não devem participar na • "O coordenador da rede é o líder res- rede. A gestão deste processo pode ser um papel ponsável pela selecção das empresas e do lider e dinamizador da rede, ou então através de que toma o pulso nas decisões mais qualquer outra forma de tomada de decisão colecti- importantes" • "Seleccionar bem as pessoas que estão va. a participar na rede – os interlocutores S4. Possuir uma boa rede de contactos que se colocam na rede têm de ter o perfil de facilitadores". A rede de contactos poderá servir para identificar • "Há uma selecção muito cuidada das recursos e oportunidades de geração de valor den- empresas que participam na rede". tro e fora da rede. Quanto mais vasta e rica ela for, maior será a possibilidade de ser utilizada em proveito dos membros e da rede como um todo. Tratase de um factor relevante no caso das redes bastante abertas ao exterior, em que o desempenho depende muito da capacidade de identificação de parceiros e de competências específicas em áreas críticas. 48 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho S5. Deve existir afinidade entre parceiros (geográfica, cultural, técnica...) Em algumas situações faz sentido a proximidade geográfica entre os membros para facilitar o desenvolvimento de redes informais. Por exemplo, é este tipo de relacionamento que poderá conduzir a spin-offs industriais especializados em áreas menos exploradas e com maior potencial de sinergias. Um outro tipo de afinidade relacionado com a cultura da empresa, poderá facilitar o desenvolvimento de consensos e o alinhamento de estratégias por parte dos membros da rede. S6. Existir um número mínimo de participantes Um número mínimo de participantes funcionando como "massa crítica" é um factor crítico para o bom desempenho de uma rede. Por exemplo, no caso específico das redes de compras, deverá existir um O que dizem as empresas sobre ... ges- número mínimo de participantes para garantir um tão e organização: volume de compras suficiente. Sem esse volume de • "Há objectivos estabelecidos claros e compras, as vantagens da rede não compensam os faseados. Para cada objectivo são defi- custos envolvidos e a rede deixa de fazer sentido. nidos indicadores de desempenho, por Noutras situações poderá ser necessário um núme- exemplo: 5% de aumento das exporta- ro mínimo de participantes para compensar a utili- ções e 15% do respectivo EBIT". • "O portal tem como objectivo permitir a zação de uma plataforma tecnológica de suporte à requisição e retorno ou consulta de in- actividade da rede. formação por parte dos lojistas”. Em termos de gestão e organização, as condi- • "Tem de haver procedimentos internos e ções favoráveis para um bom desempenho das processos de fabrico compatíveis para redes mais referidas nas entrevistas foram as que a que a interacção seja positiva. Se todos seguir se referem. fizerem de maneira diferente há sempre resistência das pessoas e conflitos. A S7. Ter objectivos bem definidos e quantificados metodologia de gestão é o mais difícil Tal como a confiança, ter objectivos bem definidos de conseguir para garantir o sucesso é um dos aspectos mais referidos pelas empresas / em redes de produção e partilha de organizações que participam nas redes analisadas recursos produtivos". (colaborar porquê – qual o âmbito da colaboração). • "Há sempre dificuldade em motivar as É essencial definir objectivos comuns que impli- pessoas (o processo de mudança que quem benefícios importantes para todos os partici- nem sempre é fácil), mas depois de se pantes (reciprocidade). Os objectivos da rede de- mostrar os benefícios da disponibilidade vem ser suficientemente mobilizadores para motivar e transparência da informação, acabam e garantir a atenção dos seus participantes. Os por aderir". objectivos variam de acordo com o tipo de rede, • "A empresa gestora do portal deu for- por exemplo reduzir necessidade de investimento, mação a cerca de 4000 empresas, al- reduzir o risco, garantir complementaridade de gumas delas nem sabiam mexer com o competências para permitir uma maior especializa- rato do PC. Ensinam a colocar / lançar ção, aumentar a flexibilidade, capacidade de res- consultas e elaborar as respectivas res- ponder a picos de trabalho, necessidade de escala postas. Mesmo assim, neste caso o para reduzir custos, necessidade de assegurar empenhamento da gestão de topo foi condições para concorrer com grandes grupos ou imprescindível para ultrapassar as resis- multinacionais, permitir uma maior visibilidade sobre tências à mudança verificadas". o projecto, reduzir tempos, melhorar a qualidade, responder a falhas de mercado ou simplesmente 49 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho aceder a contactos de potenciais clientes que façam parte da rede de contactos dos outros participantes. De forma a operacionalizar os objectivos deve-se quantificá-los sempre que possível, isto é, estabelecendo indicadores e as metas associadas. S8. Formalizar processos de colaboração A definição e formalização dos processos de colaboração entre os membros de uma rede é um factor favorável ao seu bom desempenho. É útil estruturar os processos de colaboração de uma forma flexível, considerando os seguintes pontos essenciais: modelos operacionais (fluxo de trabalho), representação dos parceiros, tomada de decisão (estrutura de governação), equilíbrio de poderes, definição e atribuição de papéis aos vários intervenientes (elementos dos grupos que colaboram) incluindo papéis de suporte, definição um modelo de custos e benefícios e sua distribuição, questões relacionadas com a propriedade intelectual. S9. Adoptar práticas de gestão da mudança Apesar da necessidade da implementação de uma rede ser facilmente justificada na maior parte das situações, há frequentemente dificuldade em gerir o processo de mudança, desde os aspectos operacionais até à motivação das pessoas. Identificar e realizar os benefícios da transparência e da maior colaboração facilita claramente o processo de mudança. S10. Implementar programas de melhoria contínua Este factor é importante para assegurar não só o cumprimento dos objectivos como a motivação e empenho dos membros da rede na melhoria dos resultados e do desenvolvimento de novas ideia, criatividade e inovação. Por outro lado, é uma boa forma de monitorizar o desempenho de todas as partes envolvidas e do seu grau de alinhamento com os objectivos. S11. Existirem regras de distribuição dos direitos de propriedade sobre os resultados obtidos Partindo do princípio que existe uma percepção correcta dos benefícios de colaborar com outras organizações em rede, haverá que assegurar uma justa distribuição desses benefícios em função do grau de esforço e investimento de cada um dos membros. Dever-seá atribuir uma remuneração proporcional ao valor O que dizem as empresas sobre... recur- investido por cada um dos membros. É importante sos humanos: que estas regras de distribuição dos resultados se- • "Faltou a componente da partilha do jam definidos logo nas fases iniciais do funciona- conhecimento e formação. Não estavam mento da rede. atrás do lucro fácil, mas sim à procura de partilhar saberes, experiências, noto- Em termos de recursos humanos, as condições riedade, certificação e mesmo forma- favoráveis para um bom desempenho das redes ção, o que não foi assumido por todos." mais referidas nas entrevistas são as que a seguir se • "Há partilha de experiências e constru- referem: ção de um produto a partir dessas reflexões - escrita de reflexões e relatos de S12. Estar disposto a partilhar competências experiências". É naturalmente uma das condições críticas aponta- • "Há apoio técnico na fase de viticultura, das pela maior parte das empresas / organizações. marketing e venda do vinho – know how As competências partilhadas podem ter a ver com de distribuição nacional e internacional aspectos técnicos, com o networking de contactos dos vinhos engarrafados". e parceiros, com identificação de oportunidades de mercado ou com o planeamento e o desenvolvimen- 50 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho to conjunto de projectos. A necessidade de partilhar deriva da ausência de todas as competências necessárias numa só empresa (não existem recursos e know-how suficiente para se fazer tudo), da tendência para a maior especialização e trabalho em equipas heterogéneas e do facto do investimento em recursos humanos ser avultado e com um retorno de longo prazo. No entanto, para poderem partilhar, as empresas / organizações devem possuir colaboradores com competências adequadas (tanto para dar como para receber). A partilha de competências permite um processo de aprendizagem em que todos ganham e onde o todo pode de facto ser superior à soma das partes. S13. Existir experiência de trabalho em conjunto com os outros parceiros Deve existir algum grau de experiência institucional de colaboração entre os membros. Verificou-se em algumas situações que a pouca tradição e pouca experiência de colaboração contribuíram de facto para atrasar o desenvolvimento e o sucesso da rede. A experiência de trabalho em conjunto levava em geral a um melhor entendimento das necessidades e especificidades dos parceiros envolvidos na rede. Em termos de recursos financeiros, as condições favoráveis para um bom desempenho das redes mais referidas nas entrevistas, foram as que a seguir se referem. S14. Capacidade financeira e de gestão dos membros da rede Os membros de uma rede devem apresentar uma capacidade e estabilidade financeira suficiente para suportar os investimentos e os custos operacionais associados às primeiras fases de desenvolvimento da rede. Devem ainda ter uma equipa de gestão com experiência e disponibilidade para gerir a sua participação na rede e participar, ou pelo menos acompanhar, a gestão da própria rede. O que dizem as empresas sobre... infraestruturas e plataformas tecnológicas: S15. Pagar uma comissão de entrada e de manu- • "Todos os parceiros utilizam essa tecno- tenção logia de suporte à rede. Está prevista a Há determinadas situações em que os membros implementação de uma extranet para as são obrigados a pagar uma comissão de entrada e empresas poderem aceder a informação de manutenção (fixa ou por transacção) para pode- com as condições negociadas e forma- rem usufruir das condições negociadas pela rede. ção." Este tipo de pagamentos garante o interesse e em- • "Muitos não aderiram porque isso impli- penhamento dos participantes na rede e financia cava investimento em TIC e em capaci- com maior transparência a estrutura de gestão da dade técnica, apesar de ter sido criada rede. uma equipa que dava apoio técnico para implementar o sistema, incluindo S16. A rede possuir recursos necessários ao seu toda a documentação necessária para funcionamento integrar os ERPs." • "Existe o acesso a aplicações dos par- É necessário que as empresas participantes na rede ceiros da rede para partilha de informa- se envolvam o suficiente, garantindo inclusive a ção, que os membros da rede necessi- afectação das pessoas com as competências ade- tam. Por exemplo, é possível consultar quadas e dos recursos físicos necessários. A exis- os stocks de alguns fornecedores por tência de experiência prévia em cooperação é um consulta dos seus sistemas de informa- factor favorável ao bom desempenho da rede. Em- ção." bora não seja obrigatória em todos os casos, é frequentemente necessária a criação de uma estrutura de gestão da rede com os recursos adequados. 51 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho Pode também ser necessário o investimento em equipamentos ou outros recursos a partilhar. Em termos de Infra-estruturas e Plataformas Tecnológicas, as condições favoráveis para um bom desempenho das redes mais referidas nas entrevistas foram as que a seguir se referem. S17. Utilizar aplicações e plataformas para apoio à colaboração Embora muitas redes ainda não utilizem plataformas tecnológicas ou aplicações informáticas para gerir as actividades da rede e facilitar a colaboração entre os seus membros, a maior parte das organizações considera que a implementação dessas plataformas e aplicações é uma questão prioritária. Estas ferramentas permitem ainda um acesso fácil, rápido e a baixo custo à informação. Devem ser implementadas ferramentas, usadas por todas as partes e que facilitem a partilha de informação, a colaboração e a articulação entre essas partes (especialmente relevante no caso de redes de empresas / organizações geograficamente muito distribuídas). Principais dificuldades Um dos aspectos abordados pelo questionário foi a identificação das principais dificuldades sentidas pelas organizações que participam em redes (ver gráfico da figura 4.2). Os resultados obtidos são coerentes com o resultado da análise das entrevistas e estudos anteriores, na medida em que as principais dificuldades estão associadas à criação de um clima de confiança, à identificação de competências adequadas e à gestão do processo de mudança. É interessante notar que o aspecto que menores dificuldades levanta é a distância geográfica entre os participantes, certamente como resultado da utilização dos meios de comunicação actuais. 0 1,25 2,50 criair um clima de confiança identificar organizações com as competências adequadas gerir o processo de mudança gerir os processos de colaboração distribuir oportunidades pelos membros da rede identificar um líder para a rede falta de infra-estruturas adequadas identificar organizações com experiência de coaboração investimento inicial falta de formalização excesso de formalização identificar organizações com TICS adequadas distância geográfica Figura 4.2 - Principais dificuldades sentidas na participação em redes 52 3,75 5,00 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho Nível de utilização de Tecnologias Colaborativas pelas Redes O nível de utilização de tecnologias colaborativas por parte das empresas/organizações para apoiar as relações em redes é, em termos médios, muito reduzido. De facto, é rara a utilização de tecnologias colaborativas para suportar e potenciar o estabelecimento e manutenção de redes colaborativas. A generalidade das empresas utiliza unicamente o correio electrónico para interagir com os seus parceiros de negócio (para além naturalmente do recurso ao telefone). Contudo, foram identificados alguns exemplos de redes que apresentam um nível de sofisticação nas tecnologias implementadas muito elevado. É o caso da rede de produção da Mota-Engil descrito no capítulo 3, ou o caso da plataforma ShoeBiz@pt implementada no sector do calçado para automatizar a troca de mensagens de negócio entre empresas do sector. Há ainda um número considerável de redes que disponibilizam sistemas simples para gestão de alguns processos ou acesso a informação de negócio como vendas ou stocks. Também se verifica que não é possível demonstrar a existência de uma relação directa entre uma dada tecnologia colaborativa e uma determinada tipologia de redes organizacionais. Isto porque muitas das tecnologias colaborativas, desde as mais básicas, como o correio electrónico, ou outras mais complexas como as plataformas de gestão de conteúdos ou blogs, são utilizadas de uma forma transversal por todo o tipo de empresas/organizações, qualquer que seja a tipologia de rede. Ainda assim, com base nos dados recolhidos, identificaram-se algumas tecnologias colaborativas que poderão ter uma maior aplicação em algumas das tipologias de redes organizacionais analisadas. Na análise por tipo de rede apresentada no ponto seguinte e na metodologia mRCED apresentada no capítulo 6 são apresentadas as tecnologias colaborativas mais relevantes para cada tipo de rede. Análise dos resultados: aspectos específicos por tipo de rede Neste ponto é feita uma síntese17 da análise dos resultados por tipo de rede, mais especificamente as motivações para criar e participar em redes, as condições favoráveis para o bom desempenho de cada rede específica e as tecnologias colaborativas para apoio à participação em redes. São ainda apresentados alguns exemplos de redes que pretendem ilustrar e contextualizar esta síntese. Redes de produção As motivações para pertencer a uma rede de produção passam em primeiro lugar por pretender aumentar o valor acrescentado dos produtos ou serviços da empresa, especializando a actividade nas competências nucleares de cada organização e integrando redes que complementem essas competências. Quando é possível partilhar os investimentos, as empresas participantes procuram a redução do risco e o aumento da rentabilidade associada à redução desses investimentos. Surge também, naturalmente, a intenção de aumentar o volume de vendas pela inserção em redes que potenciem novas oportunidades de negócio. Outras motiva- A metodologia para apoio à implementação de redes e colaboração (mRCED) apresentada na Parte 2 deste documento, é resultado desta análise e complementa a informação aqui apresentada. Em particular, a identificação sistemática dos factores de sucesso, critérios e indicadores de avaliação do desempenho e as tecnologias colaborativas está incluída na mRCED. 17 53 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho ções passam por tornar mais eficiente e eficaz a coordenação de um conjunto de empresas parceiras que já colaboram informalmente, através dos mecanismos que permitem a participação numa rede mais formalizada. As condições favoráveis ao bom desempenho de uma rede de produção passam por três factores fundamentais: a confiança nos parceiros da rede, a disposição para partilhar competências e a definição de objectivos comuns e, desejavelmente, quantificáveis. Este facto explica-se pela natureza preponderante das dimensões de coordenação e partilha de informação, na colaboração entre unidades organizacionais de produção em rede. Os membros da rede deverão ter um nível de especialização elevado e deve ser garantida reciprocidade na cadeia de valor, ou seja, todos deverão obter benefícios visíveis. Os participantes podem ser em algumas situações concorrentes, mas devem adoptar posturas de franca “co-opetição”, ou seja mesmo as organizações concorrentes beneficiam se cooperarem em actividades importantes para a rede, que não impliquem relação com o cliente final. Outras condições favoráveis para uma rede de produção são uma liderança forte, a formalização dos processos de colaboração e os critérios de selecção dos membros. Na avaliação do desempenho, os critérios principais a considerar numa rede de produção são os custos, flexibilidade, vendas e rentabilidade. A partir destes critérios, possíveis indicadores de desempenho incluem, respectivamente: taxa anual de redução de custos totais, prazo de entrega para novos produtos, taxa anual de crescimento de vendas, e taxa anual de crescimento do rácio lucro/volume de investimento. Relativamente à utilização de tecnologias colaborativas, as organizações utilizam aplicações informáticas que contribuem para a melhor coordenação do processo produtivo (como por exemplo, plataformas e ferramentas de integração B2B ou aplicações de gestão da cadeia de fornecimento) e de outras aplicações mais transversais de gestão do ciclo de vida de produto (CAD e gestão da informação). Exemplo de rede de produção: A rede Tsunami A rede Tsunami emergiu do Cluster Supply Network Shannon, na Irlanda. É constituída por sete empresas e tem como objectivo principal garantir uma oferta mais integrada e uma massa crítica que permita fornecer directamente companhias multinacionais ou fornecedores de primeira linha dessas companhias. As empresas do grupo são todas complementares, em termos da posição na cadeia de valor ou em termos do tipo de produção. Em conjunto, conseguem desenvolver e fabricar produtos electrónicos completos, assegurando o fabrico e a montagem dos circuitos impressos, suportes e caixas em metal ou plástico. A rede não consegue competir com os fabricantes globais de produtos massificados, mas consegue ser competitiva nas pequenas ou médias séries, onde se pretendam prazos de entrega curtos e as suas competências sejam relevantes. Actualmente, as empresas da rede estudam a possibilidade de reduzir custos através do estabelecimento de recursos partilhados (por exemplo, uma determinada unidade assegura simultaneamente a prestação de serviços de “design for manufacturing”, controlo da qualidade, contabilidade ou logística). O recurso a sistemas de informação de apoio à colaboração é visto como tendo um elevado potencial para melhorar o desempenho da rede. 54 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho Redes de distribuição Alargar a penetração no mercado nacional ou internacional, entrar em novos mercados, reduzir os custos de distribuição, aumentar o controlo sobre a cadeia de valor a jusante (incluindo o aumento da margem) são as motivações principais para participar ou criar uma rede de distribuição. Exemplos típicos de redes de distribuição incluem: • parcerias entre um produtor e um distribuidor que, se forem bem estruturadas, permitem que cada uma das partes concentre os seus recursos no que sabe fazer bem, potenciando as capacidades e pontos fortes comuns, na conquista de novos mercados, • um conjunto de parceiros que pretende constituir uma empresa de distribuição, detida por todos os parceiros; em geral os produtos devem ser complementares e não concorrenciais; trata-se de um modelo já utilizado por empresas da fileira casa (louça metálica, cutelarias e cerâmicas) para abordagem conjunta de mercados. • uma empresa de produção que pretende eliminar a figura do distribuidor tradicional, desenvolvendo uma rede de pequenas empresas retalhistas que comercializam um serviço/produto do fabricante em regime de "exclusividade"; ao vender directamente aos retalhistas, o fabricante assume também o papel de distribuidor; a rede torna-se mais complexa na gestão mas reduz-se o risco e aumentam-se as margens. Exemplo de rede de distribuição: A rede CD-Line Duas empresas dinamarquesas (uma de estamparia e outra de artigos em malha) pretendiam entrar no mercado alemão, procurando posicionar-se no segmento do vestuário profissional (fardas e uniformes), em grande crescimento. Sendo que a ideia era oferecer aos clientes soluções completas e integradas, procurou seleccionar-se outras empresas interessadas no projecto, numa lógica de complementaridade de produtos. Escolheram-se oito empresas dinamarquesas, com actividade já consolidada no sector e com bons níveis tecnológicos. Assim, em 1989, foi criada a “CD – Line, Corporate Design Fashion”, com o objectivo de assegurar as funções comuns, ligadas à concepção, marketing e distribuição dos produtos. Esta nova organização ficou responsável por actividades de desenvolvimento colaborativo de novos produtos; marketing, vendas e distribuição; controlo de qualidade; serviços de apoio; finanças e administração. Posteriormente, foi criada uma filial na Alemanha, em Hamburgo, para assegurar as funções de marketing e de vendas para o mercado alemão. Foram definidas as relações contratuais entre cada empresa e a rede, para evitar a apropriação assimétrica de benefícios. A CD-Line tem capacidade para fornecer todo o vestuário exterior (em malha ou tecido) e acessórios (gravatas, lenços, cintos, luvas, etc.), com uma componente elevada de moda e imagem. A CD-Line é apontada como um bom exemplo de cooperação, no que se refere à distribuição e venda, em mercados externos, por pequenas ou médias empresas. Num curto espaço de tempo, foi possível angariar diversos contratos de grande dimensão. Fonte: Projecto Rede Têxtil. 55 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho As principais condições favoráveis para o bom desempenho de redes de distribuição são a confiança nos parceiros da rede, a capacidade de liderança e a capacidade financeira para assumir os investimentos necessários. É importante assegurar que a rede tem recursos suficientes ao nível da estrutura de gestão e operação da rede (estrutura com um número de pessoas suficiente e com competências adequadas, das quais se destacam o marketing e a logística) e ao nível dos investimentos em publicidade, que em muitos casos são elevados. De destacar ainda a importância de seleccionar os membros da rede, procurando minimizar situações de rivalidade ou assimetrias no controlo da rede e dos benefícios obtidos. A utilização de ferramentas colaborativas contribui para uma melhor comunicação entre os membros da rede, resposta mais rápida e mais eficaz às oportunidades de mercado. Na avaliação do desempenho, os critérios principais a considerar numa rede de distribuição são o valor acrescentado, a eficiência e eficácia dos processos e as vendas em novos mercados. A partir destes critérios, possíveis indicadores a utilizar neste tipo de redes incluem, respectivamente: valor acrescentado, tempo de resposta de determinado(s) processo(s), custos de determinado(s) processo(s), número de reclamações, taxa anual de crescimento das vendas em novos mercados. Para o apoio à gestão de redes de distribuição existem tecnologias colaborativas específicas como Partner Relationship Management (gestão de relacionamento de parceiros do canal de distribuição), geralmente proprietárias da empresa que comercializa os produtos e disponibilizadas aos parceiros sob a forma de uma extranet. Este tipo de aplicação tem incorporado um fluxo de trabalho (workflow management system) que reflecte os procedimentos comerciais e operacionais acordados entre as partes. São ainda relevantes os sistemas para gestão do conteúdos de uma intranet ou extranet, aplicações para gestão do fluxo de trabalho, audio e video-conferência. Redes de I&D+i As motivações principais para participar ou criar uma rede de I&D+i são a redução de custos, prazos e risco na investigação e desenvolvimento de produtos, tecnologias ou competências; aceder a competências necessárias para o desenvolvimento de produtos e processos; e monitorizar tecnologias emergentes e soluções inovadoras. Estas redes facilitam ainda a transferência de tecnologia ou competência entre a universidade e as empresas. Chave para o sucesso desta rede é o alinhamento entre os interesses de investigação dos vários intervenientes, com vantagens óbvias para todos. Os utilizadores tem uma maior garantia de acesso a competências relevantes quando delas necessitam, e as entidades de I&D têm maior probabilidade de valorizar os resultados das suas actividades. As principais condições favoráveis para o bom desempenho de redes de I&D+i incluem a existência de parceiros com as competências adequadas (a rede é formada por um conjunto de organizações que asseguram todas as competências necessárias), a existência de uma liderança forte e confiança entre os membros da rede. Nos projectos de I&D é fundamental a existência na rede, desde o início, de tomadores dos resultados (por exemplo, da tecnologia a desenvolver) e as regras de distribuição dos direitos de propriedade sobre os resultados deve também ser definida no início. É fundamental garantir fontes de financiamento suficientes para a execução dos projectos. Normalmente a existência de fontes de co-financiamento público permitem reduzir o risco dos participantes, reduzir o prazo de execução dos projectos e abordar projectos mais ambiciosos. Na avaliação do desempenho, os critérios principais a considerar numa rede de I+D+i são os novos produtos, conhecimento gerado, novas empresas e o acesso a competências externas. Exemplos de possíveis indicadores de avaliação do desempenho para uma rede de I&D+i são: número de novos produtos, taxa 56 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho anual de crescimento de novos produtos, rácio das vendas de novos produtos/vendas totais, número de artigos científicos, número de patentes, número de empresas criadas e número de inovações por acesso a novas competências. As tecnologias colaborativas mais relevantes para redes de I+D+i são as bases de dados comuns de ideias, boas práticas, etc. (acedidas através de um portal por exemplo), aplicações de gestão de conteúdos, sistemas wiki, fóruns de discussão, blogs corporativos, audio e video conferência, mensagens instantâneas e VoIP. Exemplo de rede de I&D+i: Rede de I&D da Unicer A Unicer procura manter, desde há longos anos, uma colaboração regular com as universidades e institutos politécnicos, entre outras entidades do Sistema Científico e Tecnológico, apoiando projectos de investigação fundamental e aplicada. A Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, a Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica do Porto, a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, a Universidade do Minho, a Escola Superior Agrária de Beja, o Instituto Superior Técnico e o IPATIMUP são entidades com as quais a Unicer mantém uma estreita relação de parceria. Em 2003 a Unicer criou, com as entidades com que desenvolve projectos de investigação, o NITECER (Núcleo de investigação apoiado pela Agência de Inovação) que permitiu uma maior estruturação das actividades de Investigação, Desenvolvimento e Inovação. Os parceiros desta associação foram escolhidos em função da adequação das suas competências específicas aos planos e projectos de I&D da Unicer. O objectivo destas parcerias é, de facto, tornar disponível um leque de competências que dificilmente a Unicer poderá mobilizar exclusivamente com recursos internos. Chave para o sucesso desta rede é o alinhamento entre os interesses de investigação da Unicer com os restantes intervenientes, com vantagens óbvias para todos. A Unicer tem uma maior garantia de acesso a competências relevantes quando delas necessita, e as entidades de I&D têm maior probabilidade de valorizar os resultados das suas actividades. Desta forma todos saem beneficiados. São regularmente realizadas reuniões sectoriais e globais onde os planos, as prioridades e as oportunidades de investigação são discutidas. Apesar de a Unicer ser uma empresa de grande dimensão, empresas mais pequenas, ou associações de empresas com interesses de investigação comuns, poderão desenvolver redes deste tipo. www.unicer.pt Redes de compras As motivações principais para participar ou criar uma rede de compras são a melhoria das condições de compra (em termos de preço, prazos de entrega, risco, etc.), identificação de novos fornecedores, com produtos mais competitivos e inovadores e a obtenção de melhores condições negociais junto dos fornecedores. Este tipos de redes têm ainda potencial para tornar o processo de compras mais eficiente e eficaz. 57 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho As principais condições favoráveis para o bom desempenho de redes de compras incluem a existência de um número mínimo de participantes para garantir um volume de compras suficiente, a existência de recursos humanos dedicados à rede para garantir a sua operacionalidade (em número suficiente e com as competências necessárias), a confiança entre os membros da rede e a existência de critérios de selecção das organizações que pretendem entrar na rede. As organizações que forem seleccionadas para participar na rede poderão ser concorrentes, mas deve-se evitar casos em que a dimensão de um dos participantes lhe garanta um poder negocial significativamente superior ao dos outros. São ainda factores de sucesso a disponibilidade dos participantes para partilhar competências, a existência de procedimentos formalizados que permitem estabelecer mecanismos de controlo das condições contratualizadas entre as organizações - com formas de penalização dos que não cumprirem (quem não cumpre o estabelecido deve abandonar a rede) e a existência de aplicações colaborativas que são disponibilizadas a todos os parceiros. Estas aplicações devem ajudar cada um a gerir a sua participação na rede (por exemplo, através de sistemas de informação que disponibilizem informação sobre as condições negociadas, em tempo real e com total visibilidade e transparência). A existência de comissões de entrada e de permanência na rede (fixa ou por transacção) cobradas aos participantes, para estes poderem usufruir das condições negociadas pela rede, ajuda a suportar os custos de gestão da rede e garante o empenhamento dos participantes. Na avaliação do desempenho, os critérios principais a considerar numa rede de compras são os custos, os novos fornecedores e as condições de pagamento. A partir destes critérios, possíveis indicadores de avaliação do desempenho incluem, respectivamente: taxa anual de redução dos custos totais, taxa anual de redução dos custos de energia, taxa anual de crescimento de novos fornecedores, aumento do prazo de pagamento a fornecedores. Exemplo de rede de compras: Rede de compras da Sonae Sierra A Sierra Management - New Technologies Business, empresa do universo Sonae Sierra, foi a responsável pela criação de um portal de serviços designado por SierraCentres.Net. Para além da gestão do relacionamento entre a Sonae Sierra e cada um dos lojistas dos Centros Comerciais da Sonae Sierra, esta plataforma permite à rede de lojistas seleccionar um prestador de serviços em função das suas necessidades individuais, de uma forma simples e com a possibilidade de a rede usufruir de condições especiais. O Portal de Serviços SierraCentres.Net está disponível para todos os Lojistas presentes nos Shoppings da Sonae Sierra. O seu objectivo é melhorar o desempenho das lojas, permitindo menores custos e uma maior facilidade, rapidez e nível de serviço nas várias operações das lojas. Estes benefícios são possíveis, aproveitando a maior atractividade que a Rede de Shoppings da Sonae Sierra tem enquanto aglomerado de clientes, permitindo a obtenção de melhores condições que uma Loja ou Cadeia de Lojas conseguiriam individualmente. Os Centros Comerciais Sonae Sierra operam em Portugal, Espanha, Alemanha, Itália, Áustria Grécia e Brasil. O portal SierraCentres.Net foi lançado em Abril de 2002 contando com a adesão de 30 Centros Comerciais e Galerias Comerciais. Em Dezembro de 2002 foi alargado a mais 45 Centros Comerciais e Galerias e a todos os demais Centros e Galerias Comerciais da Sonae Sierra inaugurados desde então. www.sierracentres.net 58 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho As tecnologias colaborativas mais relevantes para redes de compras são os portais ou outras aplicações para partilha da informação relacionada com as condições negociadas e para gestão das transacções de compra. As aplicação para gestão do fluxo de trabalho podem automatizar parte dos processos e as aplicação para utilização conjunta de aplicações de voz, dados, som e vídeo e as aplicações de eLearning facilitam a comunicação e a colaboração entre os membros da rede. Redes do tipo Cluster As motivações principais para participar ou criar um Cluster são a melhoria do desempenho e da competitividade de um grupo de empresas no longo prazo e a redução do volume de investimento associado a um projecto de expansão ou desenvolvimento. A conjugação destas vantagens permite ainda aumentar a rentabilidade e reduzir o risco. A definição de uma visão e estratégia de longo prazo permitem alinhar as actividades dos vários intervenientes, permitindo maximizar os benefícios de cada um. Rede tipo cluster: Pólo de Software do Minho O Pólo de Software do Minho é uma iniciativa da COTEC Portugal, no âmbito da criação de Pólos de Inovação, de carácter local ou regional, e que mereçam ser reforçados e dinamizados. Trata-se, neste caso, de uma iniciativa na área das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC). O Pólo de Software do Minho é constituído pela Universidade do Minho, com competências reconhecidas na área das TIC, e por seis empresas da região, que actuam na área das TIC e que possuem características distintivas em termos de inovação e de potencial de crescimento. Com o objectivo de promover iniciativas de elevado potencial de inovação e de geração de valor acrescentado, a COTEC apoiou um conjunto de empresas de Tecnologias de Informação e Comunicação ligadas à Universidade do Minho a ganhar massa crítica e a aumentar as exportações de software, a desenvolver projectos de atracção de investimento relevante em tecnologias da infromação, a desenvolver negócios em rede e a promover uma lógica de “coopetição” dentro da rede. Cientes da necessidade para entrar e crescer em mercados internacionais, as seis empresas decidiram colaborar, trocando experiências, partilhando canais de distribuição e desenvolvendo conjunto. Apesar de serem sobretudo complementares, foram suficientemente abertas para adoptar um modelo claro de “coopetição” e de cooperação inter-empresarial. Complementado linhas de produto, partilhando canais de distribuição e projectos de investigação e desenvolvimento, estas empresas multiplicaram o seu potencial individual de crescimento e de criação de valor. Com relações privilegiadas com a Universidade do Minho, e numa lógica de “cluster”, têm, numa primeira fase, procurado desenvolver as empresas de software mais relevantes entre o tecido empresarial da região, mas apresentam já, planos de alargamento da actividade e da rede ao resto do país. Este caso de sucesso é um bom exemplo de que em rede, as empresas podem ganhar muito mais do que de forma isolada. www.cotec.pt As principais condições favoráveis para o bom desempenho de um Cluster incluem a existência de uma liderança forte (com uma visão mobilizadora que motive os participantes e que actue de uma forma determi- 59 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho nada na resolução de disputas e conflitos) e a existência de recursos humanos dedicados à gestão e funcionamento da rede que lhe garanta a operacionalidade e coordenação de actividades. A promoção de trabalho em conjunto (para aumentar a confiança entre os parceiros e para reforçar capacidade de visão e definição dos objectivos comuns da rede) e a existência de uma política de selecção de parceiros próximos (em termos geográficos, técnicos ou culturais) que facilitam, naturalmente, o desenvolvimento de redes informais. Na avaliação do desempenho, os critérios principais a considerar num Cluster são a rentabilidade, as vendas e a criação de novas empresas. Exemplos de possíveis indicadores de avaliação do desempenho para um Cluster são: taxa anual de crescimento do rácio lucro/volume de investimento, taxa anual de crescimento das vendas, número de novos fornecedores, número de spin-offs. As tecnologias colaborativas mais relevantes para Clusters são os portais ou outros sistema para gestão do conteúdos (intranet e extranet) e base de dados comum de ideias, boas práticas, etc. (acedida através de um portal por exemplo). Essencialmente todo o tipo de aplicações que facilite a partilha de informação e o desenvolvimento de uma cultura e valores comuns. Ambiente Virtual De Crescimento As motivações principais para criar um ambiente virtual de crescimento são: uma maior facilidade e rapidez na busca de informação e na formação de parcerias, para responder a novas oportunidades de negócio, na recolha, actualização e partilha de informação de interesse profissional, que não se consegue obter tão facilmente de outras formas. Estas redes permitem uma maior facilidade e rapidez na formação dos restantes tipos de redes anteriormente descritos (produção, fornecimentos, I+D+i, etc.) e facilitam a promoção de iniciativas com impacto regional, nacional ou internacional, que exigem uma gestão estruturada e cuidadosa. As principais condições favoráveis para o bom desempenho de um ambiente virtual de crescimento inclui a existência de disposição para a partilha de competências entre os parceiros e a existência de um líder que assume a coordenação e a dinamização da rede. Sem alguém que assuma a dinamização destas redes é difícil a sua sobrevivência. Na avaliação do desempenho, os critérios principais a considerar num ambiente virtual de crescimento são a reputação por pertencer à rede, vendas em novos mercados e a rentabilidade. São exemplos de indicadores de desempenho para um ambiente virtual de crescimento: o número de notícias nos media relacionadas com a participação da organização na rede, a taxa anual de crescimento das vendas em novos mercados e a taxa anual de crescimento do rácio lucro/volume de investimento. Em termos de tecnologias colaborativas, um ambiente virtual de crescimento exige aplicações e infra-estruturas sofisticadas para apoiar o seu funcionamento. A procura e selecção de parceiros, a configuração e coordenação de processos de negócio inter-organizacionais, a criação e decomposição de repositórios de informação, a integração de aplicações informáticas, e a manutenção de bases de conhecimento de oportunidades de negócio, boas práticas, etc. são alguns dos requisitos das tecnologias colaborativas para apoiar este tipo de redes. 60 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho Exemplo de ambiente virtual de crescimento: Supply Network Shannon A Supply Network Shannon (SNS) é uma rede aberta de empresas de engenharia e fornecimento de subsistemas electrónicos, localizada na região de Shannon, na Irlanda. No início dos anos 70, a região de Shannon tornou-se um importante destino de investimentos estrangeiros, especialmente nas áreas das tecnologias de informação. As empresas locais procuraram, então, estabelecer contratos de fornecimento para as grandes companhias que vieram alojar-se na região. O grande desafio a que tiveram de fazer face foi, naturalmente, a obtenção de escala, qualidade, logística e confiança. Era necessário desenvolverem-se para responder aos níveis de exigência do mercado global impostos pelas multinacionais. Em 1997 foi desenvolvido um directório das cerca de 80 empresas existentes na região, incluindo informação sobre o seu sector e sobre a sua actividade, volume de vendas, emprego e contactos. Este primeiro directório constituiu o ponto de partida para o desenvolvimento de um espírito de grupo, e funcionou como ferramenta de “bechmarking” e instrumento de apoio à procura de alianças entre empresas (uma vez que o mercado estava a iniciar uma fase de declínio). A rede SNS foi formalmente criada em Janeiro de 1999, contando hoje com cerca de 20 empresas. Os objectivos da rede incluem a promoção de uma imagem forte e distintiva, associada a produtos de alta qualidade; a disponibilização de um fórum para troca de informação de negócio; a promoção de acções de formação; a promoção da partilha de informação de benchmarking e de actividades colaborativas através de parcerias estratégicas. A colaboração com grupos de investigação da região foi também fortemente incentivada. Um dos sucessos da SNS foi a criação de uma rede mais focada na produção de produtos electrónicos, a rede Tsunami. Os resultados positivos desta rede mais formal, que emergiu do cluster SNS, constituíram uma forte motivação para os seus membros aumentarem o nível de colaboração. Neste caso a SNS é vista como um estágio inicial do desenvolvimento da rede, onde se forma um tecido industrial, com uma visão e estratégia conjuntas, e com a identificação de pontos fracos e de acções de formação para os resolver. O estabelecimento deste ambiente, para além de um conjunto de vantagens imediatas, facilita a criação de redes mais estruturadas, para responder a oportunidades ou desafios específicos. A duração estimada para o processo de desenvolvimento deste tecido industrial, segundo experiências anteriores, pode ir de seis meses a vários anos, dependendo das características e dimensão do grupo e do mercado alvo. www.snshannon.com Redes de fornecimento As motivações principais para participar ou criar uma rede de fornecimento são a redução do custo, dos prazos, do risco ou a melhoria de outras condições críticas dos principais aprovisionamentos. Estas redes podem ainda contribuir para a melhoria contínua dos aprovisionamentos e o aumento da simplicidade e eficácia nos processos de compras. O estabelecimento de acordos de longo prazo entre um cliente e os seus 61 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho fornecedores críticos permite realizar investimentos, desenvolver melhores produtos e implementar programas de melhoria contínua, permitindo que todos ganhem mais do que se trabalharem de forma isolada. As principais condições favoráveis para o bom desempenho de redes de fornecimento incluem a existência de relações estratégicas e de longa duração com os principais fornecedores (com maior volume de compras ou com organizações que assegurem fornecimentos críticos), a saúde financeira dos fornecedores e a existência de contratos de cooperação formalizados com cada um dos fornecedores. É importante a definição de critérios de selecção de fornecedores e a existência de aplicações informáticas para interagir com os fornecedores - por exemplo, consultar os stocks dos fornecedores ou para troca de informação (ficheiros de CAD, por exemplo). Exemplo de rede de fornecimento: HOTEC – Hotel Contract A HOTEC – Hotel Contract S.A. foi criada, em 1998, por sete empresas sediadas na Comunidade Valenciana, em Espanha, com actividades nos sectores de têxteis-lar (colchas, edredons, tecidos de decoração), tapetes e alcatifas, mobiliário e iluminação, e revestimentos cerâmicos. As sete empresas detinham quotas iguais na HOTEC. O objectivo da criação da rede foi o fornecimento integrado, tipo “chave na mão”, para hotéis e outros tipos de complexos turísticos, de produtos associados à decoração interior, como mobiliário, revestimentos cerâmicos, mármores, tapetes, alcatifas, cortinados e iluminação. A HOTEC assegura os serviços comerciais (prospecção, marketing, orçamentação, vendas) e os serviços de concepção do conjunto (em colaboração com arquitectos e designers), bem como, ainda, o fornecimento de protótipos e amostras, a pedido do cliente. Os mercados prioritários são os da Europa, América Latina e Caraíbas. A cooperação entre estas empresas permitiu criar uma oferta diferenciada, com claro valor acrescentado para o cliente final. Os membros da rede são complementares em termos dos produtos fabricados, evitando-se assim os riscos de rivalidade. Há uma distribuição equitativa do capital pelos parceiros, com a qual se procura minimizar os riscos de assimetria nos benefícios. É de salientar que um forte apoio das entidades públicas nacionais e regionais facilitou significativamente o arranque do projecto. www.hotec.es Na avaliação do desempenho, os critérios principais a considerar numa rede de fornecimento são a produtividade, a eficiência e eficácia dos processos, novos produtos e flexibilidade. Exemplos de possíveis indicadores de avaliação do desempenho são: taxa anual de redução dos custos totais, taxa anual de redução dos custos de energia, taxa anual de crescimento de novos fornecedores, aumento do prazo de pagamento a fornecedores. As tecnologias colaborativas mais relevantes para redes de fornecimento são as aplicações para gestão da cadeia de fornecimento (SCM), integração inter-empresarial, os fóruns de discussão e os blogs corporativos. 62 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho Comunidades patrocinadas As motivações principais para criar uma comunidade patrocinada são fidelizar e angariar novos clientes através da disponibilização de serviços de apoio e de um maior envolvimento dos clientes na discussão de assuntos como características de produtos ou serviços, novos requisitos, críticas e reclamações, etc. e recolher contribuições relevantes dos clientes para testar, desenvolver e melhorar produtos ou serviços. No caso de comunidades constituídas pelos trabalhadores de determinada organização, a motivação é melhorar o conhecimento organizacional através de uma maior socialização dos seus colaboradores, sobretudo focada nos interesses profissionais. Exemplo de comunidade patrocinada: Oracle Users Group A Oracle disponibiliza um forum de discussão para permitir a divulgação e partilha de informação sobre a tecnologia e as aplicações que comercializa em todo o mundo. Permite obter informação técnica e comercial, ter acesso a conferências e a workshops de utilizadores. Para além dos fóruns orientados para clientes finais, existe um específico para a rede de parceiros. Para participar é necessário efectuar um registo. Segundo dados da Oracle, existem 420 comunidades de utilizadores que estão envolvidas na discussão de assuntos relacionados com estas aplicações. Estas comunidades permitem recolher informação sobre erros encontrados pelos utilizadores, sugestões de novas funcionalidades, entre outras. A informação fornecida reforça a imagem da empresa patrocinadora e a lealdade dos clientes. Estas comunidades são muito úteis e vulgares entre os fornecedores de tecnologias de informação, mas podem acrescentar valor de forma significativa em todos os sectores. http://www.oracle.com/technology/community/user_groups A principal condição de sucesso para o bom desempenho de uma comunidade patrocinada consiste na boa coordenação e dinamização da rede pela entidade patrocinadora. Para funcionarem estas comunidades exigem uma atenção permanente e uma preocupação com a criação de valor para o cliente. Deve ser criada uma dinâmica própria, caso contrário os utilizadores desinteressam-se e deixam de participar. A troca de experiências e partilha de competências entre os membros da rede são outras vantagens que contribuem para a adesão dos membros destas comunidades. Na avaliação do desempenho, os critérios principais a considerar numa comunidade patrocinada são o acesso a competências externas e o acesso a novos mercados. Exemplos de possíveis indicadores de avaliação do desempenho a utilizar neste tipo de redes são: número de inovações por acesso a novas competências, taxa anual de crescimento das vendas em novos mercados, número de contactos comerciais em novos mercados. Em termos de tecnologias colaborativas nas comunidades patrocinadas, para além da utilização das aplicações de gestão de comunidades, utilizam-se todas as aplicações que facilitem a comunicação entre os participantes. Estão incluídos os fóruns de discussão, os blogs corporativos e as bases de dados comuns de conteúdos de suporte, ideias, boas práticas, etc. (acedidas através de um portal por exemplo). 63 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho Conclusões Apresenta-se em seguida, a jeito de conclusão, uma análise SWOT (Forças, Fraquezas, Oportunidades e Ameaças). Pretende-se com este tipo de análise justificar o desenvolvimento de redes colaborativas de elevado desempenho na região Norte face a outras formas de desenvolvimento estratégico como é por exemplo o caso da integração vertical. Quadro 4. - análise SWOT para RCED no norte de Portugal Forças Fraquezas A concentração geográfica de determinadas indústrias/ A falta de exemplos de sucesso de colaboração em redes. sectores, como por exemplo, o calçado, os moldes, o São muitos mais os casos de insucesso que são conheci- têxtil e vestuário e o mobiliário, e existência de associa- dos e divulgados. ções empresariais e centros tecnológicos activos e dina- A maior aversão ao risco por parte de muitas empresas mizadores dos clusters respectivos. (relacionada com perdas financeiras, perda de confidenci- A experiência de trabalho em conjunto que se verifica em alidade / segredos de negócio e à sua reputação). Acon- alguns sectores, geralmente liderada pelos centros tecno- tece especialmente em áreas em que os empresários não lógicos e/ou associações sectoriais. dominam e por isso não avançam. O número significativo de empresas fortemente internacio- A dificuldade de avaliar o valor que é gerado pela sua nalizadas. participação na rede. Seja pela sua falta de preparação para este efeito, seja pela falta de ferramentas específicas A percepção do valor que poderá ser gerado pela colabo- para demonstrar esse valor. ração em rede. A maior parte das empresas tem uma clara percepção que ao participarem em redes poderão A falta de uma metodologia de colaboração simples e bem ter benefícios ao nível da aprendizagem/aquisição de no- estruturada, que ajude as empresas a mudar as suas vas experiências e competências, de maior capacidade de práticas e a desenvolver novos processos colaborativos. resposta, flexibilidade, redução de custos e maior compe- A inércia de muitas empresas, com uma postura de cola- titividade em geral. boração mais reactiva do que proactiva. A falta de visão A existência de entidades do Sistema Científico e Tecnoló- estratégica de longo prazo por parte de mui-tas empresas gico com competências relevantes para o tecido empresa- da região e de entidades que as representam. rial, incluindo a área das redes de colaboração inter-orga- A resistência à mudança por parte das empresas da regi- nizacionais. ão, especialmente nos sectores tradicionais. A disponibilidade de recursos humanos qualificados que A dificuldade em identificar líderes para dinamizar redes poderão ser formados no desenvolvimento de competên- colaborativas. cias específicas na área da colaboração. A fraca utilização das TIC para suportar o desenvolvimento A maior atenção e investimento público nas áreas relacio- das redes e fraca cultura tecnológica. nadas com a Inovação e com a Sociedade do Conhecimento. A tendência é que os apoios ao investimento sejam cada vez mais direccionados para iniciativas que envolvam novos modelos de negócio (que por sua vez implicam uma maior colaboração entre as empresas). 64 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho Oportunidades Ameaças A criação de redes colaborativas entre os vários sectores Domínio do mercado por grandes empresas e multinacio- tradicionais (onde a pressão dos concorrentes globais é nais, incluindo grupos asiáticos. maior e onde a sobrevivência passa por uma mudança no Sendo a concorrência entre redes internacionais mutua- paradigma competitivo). São sectores onde se registam os mente exclusivas, poder-se-ão instalar na região empresas mesmos interesses e preocupações e onde o perfil das inseridas em redes concorrentes que levarão a procura empresas é muito semelhante. outras regiões. A reduzida dimensão/massa crítica das empresas, que faz A maior agressividade de regiões vizinhas (como é o caso com que seja necessário colaborarem entre elas para não da Galiza) que poderão desviar investimento e recursos da correrem o risco de serem “esmagadas” pelos seus con- região Norte devido à sua maior experiência no desenvol- correntes (sejam grandes empresas de base nacional ou vimento de redes de colaboração (tanto em sectores tra- multinacional). dicionais – caso das pescas e do vestuário – como tam- A necessidade de responder à procura de “pequenas bém do sector automóvel). séries” (encomendas de pouco volume e elevada comple- O tema das redes de cooperação está muito gasto, sendo xidade) pode forçar a colaboração entre empresas especi- fundamental encontrar novas abordagens que motivem as alizadas numa determinada área da cadeia de valor (mui- PME a reflectir sobre os benefícios da participação em tas delas spin-offs industriais). redes e a ultrapassar a imagem associada a alguns casos O impacto de medidas como o Plano Tecnológico, QREN de insucesso. e a Agenda de Lisboa na implementação dos futuros programas operacionais de apoio à economia da região Norte. O desenvolvimentos de projectos de interesse nacional (PIN) na região Norte, por exemplo em áreas como o mobiliário, energia ou os vinhos do Porto, que irão envolver empresas âncora multinacionais e um conjunto relevante de empresas da região. 65 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho 66 5. Recomendações A análise realizada mostra que na Região Norte de Portugal existem diversas redes de cooperação empresarial que podem ser considerados exemplos de sucesso num contexto nacional ou internacional. O conceito da colaboração é claramente conhecido das empresas da região. Os empresários e gestores reconhecem a importância das redes de cooperação. Contudo, o tema não faz ainda parte da lista de prioridades da generalidade das empresas. O insucesso de alguns casos de redes recentes, associado a uma falta de experiência na implementação de redes de cooperação e ao desconhecimento de metodologias de implementação adequadas, leva a maior parte dos empresários a não incluir este tema nas suas agendas. Apesar disso, a análise realizada, coincidente com a opinião expressa nas entrevistas, no questionário e no workshop, mostra que no actual contexto competitivo, a cooperação e a implementação de redes de cooperação são pré-requisitos para o sucesso, especialmente em regiões onde o tecido empresarial é maioritariamente constituído por PME’s. Como é apresentado no capítulo 1, as redes de cooperação são instrumentos essenciais para competir em mercados alargados e abertos, uma vez que contribuem para que as empresas ganhem massa crítica e economias de escala, mantendo-se flexíveis e adaptáveis. Permitem controlar riscos e distribuir custos que empresas isoladas não conseguem suportar. As redes podem ainda ser instrumentos importantes na gestão e transferência de conhecimento e na concretização da inovação. As redes de cooperação não serão um instrumento suficiente para garantir a competitividade da Região, mas são seguramente um instrumento necessário. Por outro lado, as tecnologias colaborativas têm presentemente um nível de implementação reduzido nas organizações da região. Contudo, a experiência dos casos analisados pelo projecto e as referências disponíveis na literatura mostram que estas tecnologias apresentam um elevado potencial para melhorar o desempenho em redes de cooperação. Assim, resulta a necessidade de difundir instrumentos que promovam a implementação dessas redes na região. Para atingir este objectivo apresentam-se um conjunto de recomendações, que constituem um dos contributos fundamentais deste projecto. Recomendação 1: Promoção de Contextos Criativos de Colaboração Deve ser promovido o desenvolvimento de ambientes empresariais propícios ao estabelecimento de redes de colaboração entre as empresas e organizações da Região. Estes ambientes, aqui designados de Contextos Criativos de Colaboração (inspirados nos Ambientes Virtuais de Crescimento - Virtual Breeding Environments), são ambientes onde as empresas envolvidas desenvolveram um elevado nível de confiança, tenham estabelecido acordos de cooperação, processos operacionais e infra-estruturas tecnológicas adequadas para aproveitar de forma dinâmica as oportunidades que surgem no mercado. Desta forma reduzem os custos e os prazos na identificação dos parceiros necessários, na negociação e na execução (resposta à 67 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho oportunidade de mercado). Estes ambientes, à semelhança de conceitos mais tradicionais como os Clusters, fomentam a especialização, a complementaridade e a cooperação. Recomendação 2: Motivação de empresas âncora Uma vez que alguns dos tipos de redes estudados pelo projecto RCED beneficiam da existência de empresas maiores, deverão ser identificadas organizações com dimensão e capacidade de liderança, que possam funcionar como âncora, motivando as empresas mais pequenas a aderir às redes. Recomendação 3: Implementação de demonstradores Para reforçar a confiança das empresas no conceito e facilitar a avaliação do potencial dos benefícios que lhe estão associados, deverão ser construídos mais casos de estudo e implementados projectos demonstradores. Recomendação 4: Infra-estruturas tecnológicas de suporte à colaboração Deverão ser implementados standards e plataformas tecnológicas de apoio à interacção e colaboração entre organizações (como por exemplo, o Projecto ShoeBiz para a integração electrónica de empresas da fileira do calçado, com base nos standards ebXML e ShoeNet). Plataformas deste tipo deverão facilitar a comunicação electrónica automatizada entre empresas, reduzindo custos de transacção e melhorando o tempo de resposta. Deverão ainda ser implementados sistemas que facilitem a pesquisa de parceiros de negócio, como directórios de empresas, em determinadas regiões ou sectores de especialização (à semelhança da rede Shannon). Recomendação 5: Conhecimento e comunidades Deverá ser implementado um programa que permita fazer uma identificação tão exaustiva quanto possível das redes existentes na região. Esta é uma medida importante para tornar possível um apoio mais especializado e troca de experiências. Deverá ainda ser promovida a criação de bases de conhecimento e de boas práticas. Adicionalmente, deverão ser desenvolvidos instrumentos para apoio à criação e dinamização de comunidades de conhecimento e de prática sobre redes colaborativas. Recomendação 6: Rede de redes Deverá ser promovido o estabelecimento de relações entre as redes existentes na região por um lado, e o estabelecimento de relações entre as redes da região e redes internacionais, por outro. Isto poderá ser conseguido pela promoção de projectos transnacionais e pela partilha de contactos. 68 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho Recomendação 7: Promover a avaliação do desempenho Deverão ser promovidas práticas de avaliação do desempenho das redes numa lógica das múltiplas perspectivas em jogo e permitindo avaliar o impacto na melhoria da competitividade das empresas e da região. Estas boas práticas constituirão a base para implementar acções de melhoria e inovação. Recomendação 8: Financiamento das redes A promoção das redes de colaboração na região deverá passar também pela disponibilização de apoios financeiros à sua implementação e desenvolvimento. Este apoio deverá ser essencialmente focado na contratação de serviços especializados para a criação de redes pelas empresas, bem como à implementação e operação de estruturas de coordenação ou outras infra-estruturas de suporte, necessárias ao funcionamento das redes. Deverá ainda cobrir os processos de identificação e implementação de tecnologias colaborativas. Recomendação 9: Divulgação Deverá ser estabelecido um programa divulgação que permita uma melhor percepção, por parte das empresas, dos benefícios das redes de colaboração e das metodologias de implementação disponíveis. Deverão ser divulgados casos de sucesso, nacionais e internacionais. A metodologia mRCED e o kit de iniciação às redes colaborativas desenvolvidos no âmbito deste projecto, poderão ser instrumentos importantes nesta divulgação. Recomendação 10: Formação em colaboração Deverão ser desenvolvidas e realizadas acções de formação na área da colaboração para as empresas e ainda para organizações ou indivíduos que se possam vir a constituir como facilitadores em colaboração. 69 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho 70 Parte 2 - A metodologia RCED 71 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho 72 6. mRCED: apoio na implementação de redes e colaboração A metodologia mRCED foi desenvolvida a partir do quadro conceptual de referência RCED (qcrRCED) e visa auxiliar as PME a planear e avaliar a sua participação em redes colaborativas. Os elementos da metodologia estão, como referido no capítulo 2, ancorados na tipologia de redes. Além dos componentes condições favoráveis (ou factores de sucesso), princípios e critérios de desempenho e tecnologias de apoio à colaboração, inclui-se o elemento motivações. Cada um destes elementos está organizado por tipo de rede. Esta estrutura está representada na figura 6.1. Figura 6.1 - Estrutura da metodologia RCED 73 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho A mRCED apoia três situações ou cenários: I. uma PME pretende participar numa rede (entrada) II. um conjunto de PMEs pretende constituir uma rede (criação) III. uma rede de PMEs já existente pretende avaliar o seu desempenho (avaliação) Em I) pretende-se apoiar uma organização a entrar numa rede já existente. Em II) o objectivo é apoiar um grupo de empresas que pretenda formar uma rede. Finalmente, em III) pretende-se ajudar um ou mais elementos de uma rede já existente, na avaliação do desempenho dessa rede. Para cada um destes cenários foi definido um conjunto de passos que permitem identificar, a partir dos benefícios pretendidos (Fase 1), quais as condições favoráveis (factores de sucesso) para o sucesso da rede (Fase 2), quais os critérios e indicadores de desempenho aconselhados (Fase 3), e quais as tecnologias colaborativas aconselhadas (Fase 4). Esta metodologia foi desenvolvida tendo em vista como potenciais utilizadores as PME e outros actores no campo da inovação organizacional e tecnológica (tais como empresas de consultoria ou instituições de I&D), que dela se poderão apropriar, adaptando-a a necessidades específicas dentro das redes colaborativas. O esquema da metodologia RCED é apresentado na Figura m1. Como referido, a metodologia é composta por 4 passos ou fases que poderão ter procedimentos diferentes para cada um dos 3 cenários considerados. Figura m2 - Esquema da metodologia RCED 74 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho FASE 1 - Seleccionar o Tipo de Rede Nesta fase, a partir dos benefícios esperados (cenário 1 e 2) ou directamente (cenário 3) é seleccionado o tipo de rede. Para os cenários 1 e 2, o quadro seguinte enumera, para cada tipo de rede, as motivações para participar na rede, a que tipo de parceria pode interessar o tipo de rede e exemplos do tipo de rede em questão. As empresas deverão começar por explorar os benefícios associados a cada tipo de rede, seleccionando aqueles que são mais importantes ou que fazem mais sentido no âmbito da sua estratégia de negócio. O tipo de rede adequado será aquele que contém mais potenciais benefícios alinhados com a sua estratégia particular. Quadro 6.1 - Benefícios, motivações e exemplos para participação em redes colaborativas Tipo de rede Tipo de benefícios pretendidos, motivações e exemplos Rede de produção Motivações Aumentar o valor acrescentado dos produtos ou serviços da empresa, especializando a actividade nas competências nucleares de cada organização e integrando redes que complementem essas competências. Reduzir o risco e aumentar a rentabilidade associados à redução dos investimentos necessários, quando for possível partilhar esses investimentos. Aumentar o volume de vendas pela inserção em redes que potenciem novas oportunidades de negócio. Tornar mais eficiente e eficaz a coordenação de um conjunto de empresas parceiras que já colaboram informalmente, através dos mecanismos inerentes à participação numa rede mais formalizada. A que parcerias pode interessar este tipo de rede Associações Complementares de Empresas. Grupos de empresas de produção dentro de clusters regionais ou sectoriais. Qualquer parceria entre empresas industriais com o objectivo principal de ganhar massa crítica e reduzir custos ou volume de investimento. Exemplos Mota-engil, Tsunami 75 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho Tipo de rede Tipo de benefícios pretendidos, motivações e exemplos Rede de distribuição Motivações Alargar a penetração no mercado tradicional. Entrar em novos mercados, a nível nacional ou internacional. Reduzir os custos de distribuição. Aumentar o controlo sobre a cadeia de valor a jusante, incluindo o aumento da margem. A que parcerias pode interessar este tipo de rede Parceria entre um produtor e um distribuidor que, se for melhor estruturada, permite que cada uma das partes concentre os seus recursos no que sabem fazer bem, potenciando as capacidades e pontos fortes comuns na conquista de novos mercados. Um conjunto de parceiros que pretende constituir empresa de distribuição, detida por todos os parceiros. Em geral os produtos distribuídos devem ser complementares e não concorrenciais. Trata-se de um modelo já utilizado por empresas da fileira casa (louça metálica, cutelarias e cerâmicas) para abordagem conjunta de mercados. Uma empresa de produção que pretende eliminar a figura do distribuidor tradicional, desenvolvendo uma rede de pequenas empresas retalhistas que comercializam um serviço/produto do fabricante em regime de "exclusividade". Ao vender directamente aos retalhistas, o fabricante assume também o papel de distribuidor. A rede torna-se mais complexa na gestão, mas reduz-se o risco e aumentam-se as margens. Exemplos Megarede, Lavradores da Feitoria, CD-Line Rede de I&D+i Motivações Reduzir custos, prazos e risco na investigação e desenvolvimento de produtos, tecnologias ou competências. Aceder a competências necessárias para o desenvolvimento de produtos e processos. Permitir a transferência de tecnologia e/ou competências entre a universidade e as empresas. Monitorizar tecnologias emergentes e soluções inovadoras. A que parcerias pode interessar este tipo de rede Um conjunto de parceiros que pretende desenvolver produtos, serviços ou soluções inovadoras. Um conjunto de parceiros (actuando em áreas sobrepostas ou complementares) que pretende ganhar massa crítica para resolver problemas colectivamente relevantes, através da partilha de recursos, competências e conhecimento. Um conjunto de parceiros com necessidades comuns na identificação e análise de tendências tecnológicas. Esta rede permitiria a partilha de informação e de experiências, a partilha de recursos (por exemplo a reutilização de cadernos de encargos) e aumentaria o poder negocial das empresas faces aos fornecedores de tecnologia. Exemplos ShoeInov, Unicer 76 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho Tipo de rede Tipo de benefícios pretendidos, motivações e exemplos Rede de Compras Motivações Melhorar as condições de compra (em termos de preço, prazos de entrega, risco, etc.). Identificar novos fornecedores, com produtos mais competitivos e inovadores. Conseguir melhores condições negociais junto dos fornecedores. Tornar o processo de compras mais eficiente e eficaz. A que parcerias pode interessar este tipo de rede Um conjunto de parceiros que pretende obter melhores condições na compras de produtos ou serviços, através de um aumento do poder negocial. Um conjunto de parceiros que pretende tornar mais eficiente os seus processos de compras através de um investimento conjunto em tecnologias de informação, para uma gestão centralizada desses processos. Exemplos RAVT, Sonae Sierra Rede de fornecimento Motivações Reduzir o custo, os prazos, o risco ou outras condições críticas dos principais aprovisionamentos. Melhor continuamente os aprovisionamentos Aumentar a simplicidade e eficácia nos processos de compras. A que parcerias pode interessar este tipo de rede Uma empresa que pretenda estabelecer acordos de longo prazo com os seus fornecedores. Uma empresa que pretenda definir programas de melhoria contínua com os seus fornecedores. Estreitar as relações comerciais entre uma empresa e os seus fornecedores estratégicos, com vista a uma relação de mais longo prazo. Exemplos Hotel Contract 77 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho Tipo de rede Tipo de benefícios pretendidos, motivações e exemplos Comunidades patrocinadas Motivações por organizações Melhorar o conhecimento organizacional através de uma maior socialização dos seus colaboradores, mediada por TICs e focada no interesse profissional. Fidelizar e angariar novos clientes, através da disponibilização de serviços de apoio e de um maior envolvimento dos clientes na discussão de assuntos, como características de produtos ou serviços, novos requisitos, críticas e reclamações, etc. Recolher contribuições relevantes dos clientes para testar, desenvolver e melhorar produtos ou serviços. A que parcerias pode interessar este tipo de rede Empresas que pretendem desenvolver formas de aprendizagem virtual e de criação de comunidades de prática (inovação com participação dos utilizadores finais, por exemplo, living labs). Empresas que pretendem envolver de uma forma interactiva os clientes no teste, desenvolvimento e definição dos seus produtos. Empresas que pretendem que os seus empregados melhorem o seu nível de conhecimento sobre produtos ou serviços profissionais, nas áreas directa ou indirectamente relacionadas com a sua missão. Exemplos Oracle Ambiente Virtual De Crescimento Motivações Facilitar e tornar mais rápida a busca de informação e a formação de parcerias para responder a novas oportunidades de negócio. Recolher, actualizar e partilhar informação de interesse profissional, que não se consegue obter tão facilmente de outras formas. Facilitar e tornar mais rápida a formação dos tipos de redes anteriormente descritos. Promover iniciativas com impacto regional, nacional ou internacional, que exigem uma forte disseminação e gestão de forma estruturada. A que parcerias pode interessar este tipo de rede Um conjunto de empresas que pretende articular estratégias, partilhar contactos e informação, com carácter informal, para potenciar a realização de projectos comuns. Exemplos Supply Network Shannon 78 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho Tipo de rede Tipo de benefícios pretendidos, motivações e exemplos Cluster Motivações Melhorar o desempenho e a competitividade de um grupo de empresas no longo prazo. Reduzir o volume de investimento. Aumentar rentabilidade. Reduzir o risco. A que parcerias pode interessar este tipo de rede Reforçar o desempenho e a competitividade de um grupo de empresas fornecedoras. Melhorar o relacionamento entre estas empresas através da criação de comunidades de prática e do desenvolvimento conjunto de projectos. Exemplos Pólo de software do Minho, Cluster do calçado, Distritos Industriais Italianos. 79 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho FASE 2 - Enumerar ou verificar os factores de sucesso Nesta fase enumeram-se (cenários 1 e 2) ou verificam-se (cenário 3) as condições favoráveis ao bom desempenho da rede (factores de sucesso) por tipo de rede. Depois de seleccionado o tipo de rede na Fase 1, a empresa deverá considerar o conjunto de factores de sucesso apresentados como fundamentais para obter um bom desempenho na participação na rede em questão. Quadro 6.2 - Condições favoráveis ao bom desempenho Redes Condições favoráveis Rede de produção Grau de importância alto Ter confiança nos parceiros da rede Aceitar e promover um líder claro da rede Ter objectivos bem definidos e quantificados Definir critérios de selecção dos membros Estar disposto a partilhar competências A rede possuir os recursos necessários ao seu funcionamento Utilizar aplicações informáticas e plataformas de colaboração Formalizar processos de colaboração Grau de importância médio Adoptar práticas de gestão da mudança Capacidade financeira e de gestão dos membros da rede Implementar programas de melhoria contínua 80 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho Redes Condições favoráveis Rede de distribuição Grau de importância alto Ter confiança nos parceiros da rede Aceitar e promover um líder claro da rede Ter objectivos bem definidos e quantificados Definir critérios de selecção dos membros A rede possuir os recursos necessários ao seu funcionamento Utilizar aplicações informáticas e plataformas de colaboração Formalizar processos de colaboração Adoptar práticas de gestão da mudança Capacidade financeira e de gestão dos membros da rede Grau de importância médio Estar disposto a partilhar competências Pagar uma comissão de entrada e de manutenção Implementar programas de melhoria contínua Rede de I&D+i Grau de importância alto Ter objectivos bem definidos e quantificados Estar disposto a partilhar competências A rede possuir os recursos necessários ao seu funcionamento Utilizar aplicações informáticas e plataformas de colaboração Formalizar processos de colaboração Capacidade financeira e de gestão dos membros da rede Existirem regras de distribuição dos direitos de propriedade sobre os resultados obtidos Possuir uma boa rede de contactos Grau de importância médio Ter confiança nos parceiros da rede Aceitar e promover um líder claro da rede Definir critérios de selecção dos membros Adoptar práticas de gestão da mudança Implementar programas de melhoria contínua Existir experiência de trabalho em conjunto com os outros parceiros 81 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho Redes Condições favoráveis Rede de Compras Grau de importância alto Ter confiança nos parceiros da rede Aceitar e promover um líder claro da rede Ter objectivos bem definidos e quantificados Definir critérios de selecção dos membros A rede possuir os recursos necessários ao seu funcionamento Utilizar aplicações informaticas e plataformas de colaboração Formalizar processos de colaboração Adoptar práticas de gestão da mudança Capacidade financeira e de gestão dos membros da rede Existir um número mínimo de participantes Pagar uma comissão de entrada e de manutenção Grau de importância médio Estar disposto a partilhar competências Implementar programas de melhoria contínua Cluster Grau de importância alto Estar disposto a partilhar competências Capacidade financeira e de gestão dos membros da rede Existência de afinidade entre parceiros (geográfica, cultural, técnica...) Ter objectivos bem definidos e quantificados Grau de importância médio Ter confiança nos parceiros da rede Aceitar e promover um líder claro da rede A rede possuir os recursos necessários ao seu funcionamento Utilizar aplicações informáticas e plataformas de colaboração Formalizar processos de colaboração Possuir uma boa rede de contactos Existir experiência de trabalho em conjunto com os outros parceiros 82 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho Redes Condições favoráveis Ambiente Virtual De Grau de importância alto Crescimento Ter confiança nos parceiros da rede Utilizar aplicações informáticas e plataformas de colaboração Possuir uma boa rede de contactos Grau de importância médio Ter objectivos bem definidos e quantificados Estar disposto a partilhar competências Capacidade financeira e de gestão dos membros da rede Rede de fornecimento Grau de importância alto Ter confiança nos parceiros da rede Aceitar e promover um líder claro da rede Ter objectivos bem definidos e quantificados Definir critérios de selecção dos membros A rede possuir os recursos necessários ao seu funcionamento Utilizar aplicações informáticas e plataformas de colaboração Formalizar processos de colaboração Adoptar práticas de gestão da mudança Capacidade financeira e de gestão dos membros da rede Implementar programas de melhoria contínua Grau de importância médio Estar disposto a partilhar competências Comunidades patrocinadas por organizações Grau de importância alto Estar disposto a partilhar competências Utilizar aplicações informáticas e plataformas de colaboração Existir experiência de trabalho em conjunto com os outros parceiros Grau de importância médio Ter confiança nos parceiros da rede Aceitar e promover um líder claro da rede Ter objectivos bem definidos e quantificados A rede possuir os recursos necessários ao seu funcionamento Formalizar processos de colaboração Adoptar práticas de gestão da mudança Capacidade financeira e de gestão dos membros da rede Possuir uma boa rede de contactos 83 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho FASE 3 - Definir critérios e indicadores de desempenho O quadro seguinte indica os critérios de desempenho mais adequados a cada tipo de rede. Para cada um destes critérios deverão ser definidos indicadores específicos de acordo com as particularidades de cada rede. Neste quadro apresenta-se um ou dois exemplos de indicadores para cada critério. Quadro 6.3 - Critérios e indicadores de desempenho tipo de rede critérios de desempenho exemplos de indicadores Rede de produção custos Taxa anual de redução dos custos totais Taxa anual de redução dos custos de energia flexibilidade Redução do prazo de entrega para novos produtos vendas Taxa anual de crescimento das vendas rentabilidade Taxa anual de crescimento do rácio lucro/volume de investimento Rede de distribuição eficiência e eficácia dos proces- Redução do tempo de resposta de determina- sos do(s) processo(s) Redução dos custos de determinado(s) processo(s) Redução do número de reclamações vendas em novos mercados Taxa anual de crescimento das vendas em novos mercados Rede de I&D+i novos produtos Número de novos produtos Taxa anual de crescimento de novos produtos Rácio das vendas de novos produtos/vendas totais novas empresas Número de empresas criadas conhecimento gerado Número de artigos científicos Número de patentes Rede de Compras acesso a novas competências Número de novos temas de formação custos Taxa anual de redução dos custos totais Taxa anual de redução dos custos de energia novos fornecedores Taxa anual de crescimento de novos fornecedores condições de pagamento Aumento do prazo de pagamento a fornecedores 84 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho tipo de rede critérios de desempenho Rede de fornecimento produtividade exemplos de indicadores Melhoria do rácio vendas/número de trabalhadores Melhoria do rácio vendas/custos com pessoal eficiência e eficácia dos proces- Redução do tempo de resposta de determina- sos do(s) processo(s) Redução dos custos de determinado(s) processo(s) Redução do número de reclamações desenvolvimento de novos produtos Número de novos produtos Taxa anual de crescimento de novos produtos Rácio das vendas de novos produtos/vendas totais flexibilidade Redução do prazo de entrega para novos produtos Comunidades patrocinadas por organizações Acesso a novas competências Número de novos temas de formação Acesso a novos mercados Taxa anual de crescimento das vendas em novos mercados Número de contactos comerciais em novos mercados Ambiente Virtual De Crescimento reputação Número de notícias nos media relacionadas com a participação da organização na rede vendas em novos mercados Taxa anual de crescimento das vendas em novos mercados rentabilidade Taxa anual de crescimento do rácio lucro/volume de investimento Cluster vendas Taxa anual de crescimento das vendas rentabilidade Taxa anual de crescimento do rácio lucro/volume de investimento novas empresas número de novos fornecedores número de spin-offs 85 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho FASE 4 - Seleccionar tecnologias colaborativas Nesta fase identificam-se e seleccionam-se as tecnologias colaborativas mais adequadas a um determinado tipo de rede. Face à diversidade de contextos e situações possíveis, mesmo num único tipo de rede, a mRCED identifica as categorias de tecnologias que poderão ser úteis num determinado tipo de rede, e sugere um conjunto de sistemas e aplicações informáticas actualmente disponíveis dentro dessas categorias. A figura 6.2 esquematiza o procedimento para selecção das tecnologias colaborativas mais adequadas a um determinado tipo de rede. Em primeiro lugar será necessário identificar quais os processos com componentes colaborativos mais importantes no tipo de rede em análise. Em seguida, identificam-se a(s) categoria(s) de sistemas e aplicações colaborativas que melhor apoiam as actividades desses processos. O qcrRCED define um quadro com os principais processos de negócio com componentes colaborativos e as categorias de tecnologias colaborativas que melhor os suportam (ver figura 6.2). Identificadas essas categorias, identificamse os sistemas e aplicações disponíveis no mercado. O quadro 6.4 descreve as categorias de tecnologias colaborativas apresentando os exemplos mais significativos de cada categoria. Figura 6.2 - Procedimento de selecção de tecnologias colaborativas 86 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho Quadro 6.4 - Categorias de tecnologias colaborativas categoria descrição Gestão Colaborativa de Estas aplicações estão vocacionadas para a apoiar a gestão de projectos, que não en- Projectos volvam uma elevada complexidade, e disponibilizam diversas funcionalidades que facilitam a colaboração entre os membros da equipa. Disponibilizam funcionalidades básicas de gestão de projectos que permitem, por exemplo, definir o plano do projecto, atribuir tarefas, enviar notificações, controlar milestones e gerir versões e comentários a ficheiros partilhados. Normalmente alojam o repositório de toda a informação do projecto, gerem e dinamizam a comunicação entre os elementos da equipa e dão suporte à colaboração no projecto. Para além destas funcionalidades mais tradicionais, poder-se-ão utilizar aplicações que permitem a utilização de áreas de trabalho para potenciar a criatividade das equipas (processo de geração de ideias e da sua avaliação estruturada por parte dos membros) e de integração com outras aplicações empresariais. Exemplos: activeCollab, Basecamp, TeamSpace Gestão de Conteúdos Estas aplicações permitem a partilha de informação e conhecimento, numa dada organização, e podem ser usadas em variados contextos tais como desenvolvimento de produtos e serviços, produção, e prestação de serviços. Este tipo de aplicações, designado em inglês por Content Management Systems ou Enterprise Content Management, permite estruturar e facilitar a criação, administração, distribuição, publicação e disponibilização de informação num portal/sítio web, podendo também funcionar como uma intranet. Com este tipo de aplicações é possível gerir todos os conteúdos de uma forma dinâmica e autónoma por parte do utilizador através de uma interface web. Cada uma das equipas de trabalho envolvidas poderá gerir os seus próprios conteúdos, sem necessitar de recursos dedicados para este efeito. Fundamental nestas ferramentas são as funcionalidades de pesquisa de conteúdos, tornando simples a tarefa de criação de novos conteúdos, com base nos existentes. Exemplos: Moodle, Plone, Shareworkz Gestão de Comunidades e Estas aplicações suportam o desenvolvimento e manutenção de relações entre grupos Social Networking de indivíduos, tais como comunidades (profissionais, de interesse, projecto, de clientes, etc.) ou centros de competência virtuais. Neste tipo de aplicações encontram-se funcionalidades específicas de apoio à colaboração em grupo virtuais (desenvolvimento de tarefas comuns através de um ambiente partilhado, por exemplo, acesso a correio electrónico, tarefas, contactos, calendário/agendas e bases de dados), funcionalidades para estabelecer perfis de utilizadores e associar perfis semelhantes (social networking) e funcionalidades para interacção social (discussão, divulgação, escrita colaborativa, etc.) implementadas através de, por exemplo, sistemas wiki e blogs. Exemplos: Communityspace, Leveragesoftware, BrainKeeper, wikispaces, Socialtext Comunicações Unificadas Estas aplicações são caracterizadas pela utilização integrada de aplicações de voz, dados, som e vídeo, permitindo melhorar a comunicação dentro de uma rede colaborativa. Este tipo de aplicações inclui tecnologias vocacionadas para serviços específicos como a voz e a imagem (por exemplo, aplicações de conferência via web), e outras integradoras de outro tipo de conteúdos, resultado da actual convergência nas redes IP (por exemplo, aplicações de servidores de comunicações VoIP-SIP que permitem reduzir custos e implementar novos serviços como, por exemplo, a ligação directa entre extensões de parceiros de diferentes empresas em diferentes locais). Exemplos: Bria, IPBrick.GT, Webex 87 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho categoria descrição Gestão de Processos Estas aplicações estão vocacionadas para a coordenação e automatização de processos intra e inter-organizacionais (cadeia de valor). Poderão ser utilizadas para gerir processos de negócio como as compras, vendas, gestão de canais de distribuição, processos administrativos e até mesmo actividades de formação. Apresentam uma perspectiva transversal à organização (orientada para os processos) e menos funcional (restrita a uma determinada área funcional). Este tipo de aplicações implica um elevado nível de colaboração entre as partes envolvidas, tendo em conta que será necessário desenvolver um cuidado mapeamento prévio dos processos. Exemplos: Vortal, Buzzsaw, Ultimus processos com componentes colaborativos gestão de sistemas e tecnologias de informação gestão da informação desenvolvimento de produtos gestão de aprovisionamentos gestão de recursos humanos gestão da inovação gestão de de canais de distribuição gestão de fornecedores gestão de clientes gestão da produção gestão de projectos nível de colaboração alto baixo gestão colaborativa de projectos gestão de conteúdos gestão de comunidades e social networking comunicações unificadas gestão de processos categorias de tecnologias colaborativas Figura 6.3 - Categorias de tecnologias colaborativas e seu apoio a processos organizacionais 88 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho Quadro 6.5 - Categorias de tecnologias colaborativas adequadas a processos organizacionais processos (em que a colaboração é importante) gestão de projectos categorias de tecnologias colaborativas Aplicações para Gestão Colaborativa de Projectos Aplicações para Gestão de Conteúdos Aplicações de Comunicações Unificadas gestão da produção Aplicações para Gestão de Processos Aplicações para Gestão Colaborativa de Projectos Aplicações de Comunicações Unificadas gestão de clientes Aplicações para Gestão de Comunidades e Social Networking Aplicações de Comunicações Unificadas gestão de fornecedores Aplicações para Gestão de Conteúdos Aplicações de Comunicações Unificadas gestão de canais de distribuição Aplicações para Gestão de Processos Aplicações de Comunicações Unificadas gestão da inovação Aplicações para Gestão Colaborativa de Projectos Aplicações de Comunicações Unificadas gestão de recursos humanos Aplicações para Gestão de Comunidades e Social Networking Aplicações de Comunicações Unificadas gestão de aprovisionamentos Aplicações para Gestão de Processos Aplicações de Comunicações Unificadas desenvolvimento de novos produtos Aplicações para Gestão Colaborativa de Projectos Aplicações de Comunicações Unificadas gestão da informação Aplicações para Gestão de Conteúdos Aplicações para Gestão de Comunidades e Social Networking Aplicações de Comunicações Unificadas gestão de sistemas e tecnologias da informação Aplicações para Gestão Colaborativa de Projectos Aplicações para Gestão de Conteúdos Aplicações de Comunicações Unificadas 89 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho Aplicação da mRCED: kit de iniciação às redes colaborativas O projecto RCED desenvolveu um conjunto de ferramentas designado de "Kit de Iniciação às Redes Colaborativas" visando disseminar o conceito de redes colaborativas de elevado desempenho. Este kit, foi difundido através do suporte CD e está alojado no sítio do projecto (redescolaborativas.org). O kit de colaboração inclui os seguintes conteúdos: I. uma apresentação multimédia interactiva em que é possível uma PME ou grupo de PME realizarem um auto-diagnóstico sintético (baseado na mRCED) no que se refere à sua participação ou intenção de participação em redes colaborativas II. a apresentação do projecto RCED III. um conjunto organizado dos conteúdos produzidos e analisados no projecto RCED Descrição sumária O kit de iniciação à colaboração, desenvolvido no âmbito do projecto RCED, disponibiliza informação sobre os objectivos e descrição do projecto, conteúdos sobre colaboração e redes (relatórios do projecto e outros conteúdos relacionados), assim como a uma ferramenta de Exploração de Cenários de Colaboração em Rede. 90 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho Nesta página da Exploração de Cenários de Colaboração em Rede, a empresa deverá definir qual o cenário mais próximo da sua realidade actual ou visão estratégica: • Cenário 1 - A minha empresa quer participar numa rede colaborativa • Cenário 2 - A minha empresa quer criar uma rede colaborativa • Cenário 3 - A minha empresa quer avaliar a sua rede colaborativa 91 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho Para cada um dos três cenários possíveis (participar, criar ou avaliar), existem quatro fases distintas: 1- Selecção/Identificação do Tipo de rede; 2 - Verificação/Avaliação dos Factores de Sucesso; 3 - Definição dos Critérios e Indicadores de Desempenho; 4 - Análise e Selecção de Tecnologias Colaborativas. Esta página corresponde à Identificação do Tipo de Rede que se pretende criar. 92 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho Por exemplo, antes de se tomar a decisão de criar uma Rede de Produção, é possível perceber quais os seus potenciais benefícios, a que tipo de parcerias pode interessar, assim como analisar alguns exemplos deste tipo de rede. 93 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho No Cenário 3, de avaliação de uma rede, poder-se-á durante a fase 2 efectuar um auto-diagnóstico e verificar em que grau estão a ser cumpridos os principais factores de sucesso. 94 Referências bibliográficas Alstyne, M., van (1997), “The state of network organization: a survey in three frameworks”, Journal of Organizational Computing, vol. 7, no. 3 Barney, J. (2006), Gaining and Sustaining Competitive Advantage, Prentice-Hall Brusco, S. 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Tipo de rede Empresas entrevistadas Rede de Compras APCMC / CENTRALMAT - Porto Sisal / CENTRALMAT - Carvalhos RAVT / RAVT - Maia Solnorte / RAVT - Maia Turinvicta / RAVT - Porto eConstroi / VORTAL – Todo o país Sonae Sierra / SierraCentres.Networks – Sede no Porto Rede de fornecimento Unicer - Maia Estaleiros NVC – Viana do Castelo Comunidades patrocinadas RT (rede temática) Equal – todo o país por organizações Ambiente Virtual De Crescimento Cluster BNI – todo o país Linkedin - virtual CTCOR / Cluster da Cortiça - Mozelos Polo Software/ Cluster TIC - Braga CITEVE / Cluster Têxtil – VN Famalicão Anivec / Cluster Têxtil – VN Famalicão CTC / Cluster do Calçado – S.J.Madeira Simoldes / Cluster dos Moldes – Oliveira de Azemeis CENTIMFE / Cluster dos Moldes – Marinha Grande Vangest / Cluster dos Moldes – Marinha Grande LN Moldes / Cluster dos Moldes – Marinha Grande Rede de I&D+i Tecmaia - Maia BIAL - Maia BIC Minho - Braga C.Excel.Mobilidade - Porto Unicer - Maia Efacec - Maia Inegi - Porto 101 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho Tipo de rede Empresas entrevistadas Rede de distribuição Megarede – todo o país TVTEL - Porto Cofanor - Porto Ruralnet – Bragança Lavradores da Feitoria – Douro Kyaia - Guimarães Rede de produção Quimonda - Vila do Conde CVRVV - Porto Mota-Engil - Porto Milliworks - Porto Azevedos - Porto De notar que ainda foram realizadas as seguintes entrevistas não classificadas nestas tipologias: IAPMEI (Porto), NERBA (Bragança), AICCOPN (Porto) e FEP (Porto). 102 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho Guião das entrevistas Guião de Entrevista NOME DA EMPRESA Entrevista com o NOME DO ENTREVISTADO | Local, DIA de MÊS de 2006 Objecto de estudo: Rede constituida por… NOME DOS ENTREVISTADORES: CONTEXTO Em que contexto foi desenvolvido este tipo de rede? Re: Houve algum incentivo para a criação deste tipo de rede? Re: MOTIVAÇÃO Quais foram os objectivos da criação da rede? Re: Que tecnologias de informação e comunicação foram adoptadas para apoiar o funcionamento em rede? Re: Ainda existe alguma motivação para funcionar em rede? Re: ACTORES Caracterize os principais participantes deste tipo de rede. Re: Como é que estes participantes foram seleccionados para a rede? Re: Há possibilidade de alguma entrada ou saída de participantes, depois da criação da rede? Re: 103 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho Estão receptivos à entrada de mais participantes na rede? Re: Quem foi o principal responsável pela constituição e promoção deste tipo de rede? Re: RELAÇÕES Caracterize o tipo de relacionamento existente entre as várias entidades / organizações que fazem parte desta rede. Re: Há quanto tempo é que existe um relacionamento entre as várias entidades / organizações que fazem parte desta rede? Re: Como é governada a rede? Existem reuniões? Quem participa nas reuniões? Re: RECURSOS Que tipo de recursos foi necessário partilhar para poder funcionar em rede com os outros parceiros? Re: A que tipo de recursos teve acesso pelo facto de participar na rede? Re: ACTIVIDADES Quais são as actividades principais desenvolvidas pela rede? Re: Quais são as responsabilidades de cada parceiro? Re: Que outras actividades necessárias ao bom funcionamento da rede são desenvolvidas por outras entidades (não parceiros)? Re: AVALIAÇÃO FINAL 104 RCED - Redes Colaborativas de Elevado Desempenho Quais são os pontos fortes e fracos da rede? Quais as oportunidades e ameaças para o futuro da rede? Quais são os factores de sucesso de uma rede? Quais são os factores de insucesso de uma rede? Quais são as dificuldades de implementação / gestão de uma rede? Quais são os benefícios de implementação / gestão de uma rede? Quais são os custos de implementação / gestão de uma rede? Quais os critérios / indicadores utilizados para avaliar o desempenho da rede? PRINCIPAIS CONCLUSÕES 105