VISLUMBRE
Transcrição
VISLUMBRE
FILIPE BIANCHI Vive e trabalha em Lisboa. Descobriu a fotografia durante o curso de Imagem e Comunicação Audio Visual da Escola António Arroio. FILIPE BIANCHI VISLUMBRE Desde aí tem exposto, não só em Portugal, mas também nos Estados Unidos, Austrália, India, Georgia, Hungria, Espanha, Alemanha e Inglaterra. Os seus trabalhos têm sido publicados em várias revistas nacionais e estrangeiras. 7 a 29 maio Website: www.filipebianchi.com R. Andrade Corvo, 6 – Lisboa Dias úteis: 9h às 19h estranho, nosso irmão e Perante as fotografias desta inimigo, antepassado e coevo, exposição, devemos talvez vivo e morto. Vemos as abstrairmo-nos de pensar ou de imagens, as suas sombras e as procurar saber que elas foram suas cores, e sem esforço feitas no Nepal, em Singapura, vemos para além delas. Esse Deli, Mauritânia, no Vietname, olhar, para usar a definição em Bali, Angola, no Mali, imprecisa mas intuitiva de Etiópia ou na Roménia. Antes Antero de Quental, encontrasse do “onde”, que nos alicia com a na transição do estado inicial resposta pronta do “porquê”, do sonambulismo instintivo está “o quê”. E o enigma está para o estado reflexivo da dentro de nós. humanidade, e é essencialmente poético. A razão fria seria o O Filipe Bianchi, que tem uns estádio seguinte, mas aí Antero olhos largos, tem feito tudo enganou-se: a poesia rompeu o quanto pode para correr Sou fácil de definir: vi, como um contemplar, fragmento que em hímen do presente, porque o mundo, para ir ver lugares e, danado” — assim se descreve a si é um todo. nosso olhar para as coisas sobretudo, gentes. Tenho para não vive sem esse grau de mim que ele terá, no seu íntimo, si mesmo Alberto Caeiro, aliás Fernando Pessoa. A fotografia Cada imagem que contemplamos incandescência. Queremos ver uma fotografia só, uma única, é, porventura como todo o não existe senão no seu tempo, como danados. E, embora que não foi tirada neste ou desenho e toda a história da infinito e breve, e por isso tão também nos conformemos naquele continente, mas em pintura e da representação diferente do nosso. “Vivemos como facilmente com o pouco que todos os sítios onde já esteve, gráfica, a forma extática de dar num estado de transmigração para vemos, sabemos que há mais com fragmentos das viagens a ver uma coisa nunca antes a nossa fotografia”, escreveu para além do visível aparente. que ainda fará. Quem vê como vista. Uma coisa impossível de Pascoaes. O rosto do retrato Em tudo, no desenho, na um danado, vislumbra o todo ver e de encontrar na chamada que agora observamos, e pintura, na música, nas que a vista não alcança. realidade, uma coisa que não parece interpelar-nos, não tem políticas, na vida, queremos existe, afinal, senão nesse antes nem depois: é um rosto ver e precisamos de quem nos fragmento que podemos ao mesmo tempo familiar empreste o olhar. André Gago