d∊mocracia digital

Transcrição

d∊mocracia digital
revista do serpro
entrevista
Cezar Alvarez, coordenador
do Programa de Inclusão
Digital do governo federal
ANO XXXVI – No 202 – 2010
Democracia
digital
Plano Diretor
de Tecnologia
da Informação
Planejamento estratégico
garante efetividade no uso
das TICs por organizações
públicas e privadas
redes sociais
Órgãos dos três Poderes
da República aderem às
comunidades virtuais e se
aproximam do cidadão
inteligência
artificial
Novas tecnologias devem
aperfeiçoar os serviços do
governo em meio eletrônico
Governo, setor privado e
sociedade civil se articulam
para universalizar o acesso
da população brasileira às
Tecnologias da Informação
e Comunicação
Foto: Arquivo Serpro
revista do serpro
entrevista
Cezar Alvarez,
coordenador do Programa
de Inclusão Digital do
governo federal
ANO XXXVI – No 202 – 2010
Democracia
digital
Plano Diretor
de Tecnologia
da Informação
Governo, setor privado e
sociedade civil se articulam
para universalizar o acesso
da população brasileira às
Tecnologias da Informação
e Comunicação
Planejamento estratégico
garante efetividade no uso
das TICs por organizações
públicas e privadas
redes sociais
Órgãos dos três Poderes
da República aderem às
comunidades virtuais e se
aproximam do cidadão
inteligência
artificial
Novas tecnologias devem
aperfeiçoar os serviços do
governo em meio eletrônico
– A revista do Serpro
Ano XXXVI nº 202 mar/abr 2010
ISSN 0100-5227
Título depositado no INPI, sob nº 01125
A revista não se responsabiliza por matérias
assinadas. As matérias podem ser reproduzidas,
desde que mencionada a fonte.
Coordenação de Comunicação
Social do Serpro
Tiago Macini
Por que a Inclusão
Digital é tão importante
para um país como
o Brasil?
N
o ano de 2005, fiz o concurso para o Serpro. Passei em 10º lugar.
O telecentro transformou minha vida”. Essas são as palavras
de Jorge Barbosa, empregado do Serpro, que teve seu primeiro
contato com a informática num espaço de inclusão digital instalado em sua comunidade, no Rio de Janeiro (RJ).
A história desse cidadão brasileiro é parecida com a de milhares de outras
espalhadas pelo País. Pessoas simples, sem acesso à Internet, que viram
suas vidas mudar quando conheceram o mundo digital. Por isso, propiciar
telecentros é mais do que doar computadores. É dar oportunidade. É permitir
e incentivar a construção e a apropriação do conhecimento. É compartilhar e
fomentar a preservação das culturas regionais e das atividades comunitárias.
É promover o desenvolvimento humano e econômico do Brasil.
Acreditar no acesso digital é abrir portas. É tornar possível um mundo de
conhecimento e inovações a um clique. Ciente disso, o governo federal possui inúmeras ações e projetos na área de inclusão digital. Iniciativas como o
Casa Brasil, o Telecentros.br e o Um Computador por Aluno – UCA mostram
que os meios digitais são a forma mais rápida e eficiente de alcançar novos
patamares na Educação.
“Foi meu primeiro contato com a informática, e me apaixonei pela área de
tecnologia. Participei de cursos que me estimularam a estudar mais, terminar meus estudos”, afirma Jorge, que aprendeu essa valiosa lição num dos
mais de 300 telecentros dados pelo Programa Serpro de Inclusão Digital.
Além disso, democratizar o acesso à informação é levar os serviços públicos mais próximos do cidadão. Enviar a declaração do imposto de renda pela
Internet, acompanhar os gastos do governo e emitir certidões são facilidades
disponíveis, bastando apenas um micro e conectividade à rede.
Nesse sentido, a atuação dos governos, em parceria com a sociedade civil
na promoção da inclusão digital, é um componente obrigatório para a garantia
dos direitos à cidadania e ao desenvolvimento social. O Brasil não pode ficar
de fora da revolução digital.
Editor
Carlos Marcos Torres
cHEFE DE REPORTAGEM
Ana Lúcia Carvalho
Diretor Presidente
Marcos Vinícius Ferreira Mazoni
Diretor Superintendente
Gilberto Paganotto
Diretores
Antônio Sérgio Borba Cangiano
Nivaldo Venancio da Cunha
Jorge Luiz Guimarães Barnasque
Vera Lúcia de Moraes
José Antonio Borba Soares
Conselho Diretor
Bruno César Grossi de Souza
Francisco Mendes de Barros
Laerte Dorneles Meliga
Marcos Vinícius Ferreira Mazoni
Marilene Ferrari Lucas Alves Filha
Raimundo José Rodrigues da Silva
Conselho Fiscal
Ernesto Carneiro Preciado
Juliêta Alida Garcia Verleun
André de Sosa Vérri
Endereço
Sede: SGAN, Q. 601, Mód. V
CEP: 70836-900 – Brasília/DF
Fones: (61) 2021-8181
Fax: 2021-8531
Regionais do Serpro
Brasília – Av. L2 Norte – SGAN, Quadra 601,
Módulo G. 70830-900 – Tel. (61) 2021-9000
Belém – Av. Perimetral da Ciência, 2.010,
Bairro Terra Firme. 66077-830 – Tel. (91) 3342-1777
Fortaleza – Av. Pontes Vieira, 832, São João Tauape.
60130-240 – Tel. (85) 4008-2800
Recife – Av. Parnamirim, 295. 52060-901
Tel. (81) 2126-4000
Salvador – Av. Luís Vianna Filho, 2355.
41130-530 – Tel. (71) 2102-7800
Belo Horizonte – Av. José Cândido da Silveira, 1.200,
Cidade Nova. 31170-000 – Tel. (31) 3311-6200
Rio de Janeiro – Rua Pacheco Leão, 1.235,
Jardim Botânico. 22460-905 – Tel. (21) 2159-3300
São Paulo – Rua Olívia Guedes Penteado, 941, Socorro.
04766-900 – Tel. (11) 2173-1322
Curitiba – Rua Carlos Piolli, 133, Bom Retiro.
80520-170 – Tel. (41) 3313-8282
Porto Alegre – Av. Augusto de Carvalho, 1.133, Cidade
Baixa. 90010-390 – Tel. (51) 2129-1200
Edição, redação, revisão, projeto gráfico, diagramação e arte final:
i-Comunicação Integrada
Fotografia: Arquivo Serpro, Luiz Okubo, Luciano Vargas, Agência
Brasil, Agência Senado, PhotoXpress.com, Heroturko.org e Stock.
xchng®
TIRAGEM: 12 mil exemplares
Marcos Mazoni
Presidente do Serpro
IMPRESSÃO: Mais Gráfica
DISTRIBUIÇÃO: Gratuita
sumário
capa
O poder da
inclusão
digital para o
desenvolvimento
do indivíduo
18
30
pdti
Planejamento
é crucial para
administração
dos recursos
e processos
tecnológicos
Foto: Heroturko.org
Foto: Heroturko.org
14
DISCUSSÃO MARCO CIVIL
Legislativo e
Executivo preparam
projetos antagônicos
para internet
Fotos: Heroturko.org
páginas
verdes
redes
sociais
Por meio da
reciclagem de
computadores
também se
promove a
Inclusão Digital
Órgãos públicos
aderem à
onda das
comunidades
virtuais
32
42
38
inteligência
artificial
Supercomputadores
mais próximos do
raciocínio humano
06
08
09
10
24
29
36
46
entrevista principal
Cezar Alvarez: o acesso às TICs
interação
As novidades da revista Tema
opinião
Sérgio Amadeu da Silveira, doutor em
Ciência Política
curtas
Planejamento adota Software Livre e mais
artigos
Especialistas falam de Open Source
e Java Enterprise Edition 6
arte digital
Quilombolas valorizam produção artística
e cultural através das tecnologias
memória
As primeiras unidades de telecentros
implantados no País
opinião
Nivaldo Venancio da Cunha fala da
Inclusão Digital
entrevista principal
A inclusão
digital é um
direito fundamental
do cidadão
6 | tema | mar/abr 2010
Foto: Arquivo Serpro
C
oordenador
do Programa
de Inclusão
Digital do governo
federal e chefe de
gabinete-adjunto
de Agenda do Gabinete
Pessoal do Presidente
da República, o
economista Cezar
Alvarez fala nesta
entrevista exclusiva
à revista Tema sobre
os avanços do País no
esforço de proporcionar
o acesso de todos os
cidadãos às Tecnologias
da Informação e
Comunicação (TICs).
Ele destaca iniciativas
como o recém-lançado
Plano Nacional de
Banda Larga e outras
ações que buscam
erradicar a exclusão
digital do Brasil.
Segundo Alvarez, o
sucesso desse trabalho
depende de uma ampla
articulação entre os
governos federal,
estaduais e municipais,
além do setor privado
e organizações da
sociedade civil.
TEMA: Qual a real importância da inclusão digital
para o desenvolvimento social de um país?
ALVAREZ: Eu não tenho a menor dúvida de que o
acesso ao conhecimento e a capacidade de processar, criticar e produzir informação é um direito fundamental que se afirma no dia de hoje. E, para isso,
é preciso haver políticas públicas, porque nossas
disparidades regionais, de renda e culturais, não
permitem que isso aconteça de uma forma natural.
É necessária uma articulação entre governo – aí incluindo União, estados e municípios –, sociedade e
indústria para dar conta disso. No Brasil, a exclusão
digital acentua ainda mais as desigualdades sociais
existentes.
TEMA: Qual a importância de existir uma Coordenação de Inclusão Digital diretamente vinculada à Casa
Civil da Presidência da República?
ALVAREZ: Em 2004, no máximo cinco ministérios faziam alguma ação enquadrada no conceito de inclusão digital. Dois anos depois, esse número subiu para
13 ministérios. Isso mostra a necessidade de uma articulação que dê escala e complementaridade, evitando duplicações e lacunas numa estrutura de governo
que é muito fragmentada, especializada. O tema da
inclusão digital é horizontal, perpassa de forma perpendicular um conjunto de ações envolvendo educação, cultura, saúde, relações sociais, conhecimento
e outras questões. A ideia do presidente Lula foi de
que essas ações precisavam ter uma otimização,
uma visibilidade e um planejamento conjunto. Uma
política transversal. A Coordenação não pretende
substituir nenhuma iniciativa deste ou daquele ministério, mas potencializá-las. O programa Telecentros.
BR, por exemplo, envolve a coordenação-executiva do
Ministério do Planejamento, o Ministério da Ciência e
Tecnologia, o das Comunicações, mas circula e unifica o conjunto das ações de todos os demais órgãos
federais, respeitando as especificações de cada instituição. Há uma política única, faz uma única licitação,
tem uma proposta de suporte e qualificação que, de
forma separada, cada um não poderia ter.
TEMA: A mesma Coordenação assumiu o Plano Nacional de Banda Larga, não é isso?
ALVAREZ: Sim, esse grupo de trabalho, quando foi
constituído, definiu quatro estratégias: educação,
redução de preço dos terminais na ponta, novos aplicativos de instrumentos de governo eletrônico e conexão. Portanto, a conexão é uma das linhas de ação.
O acesso à internet, os novos aplicativos, o vídeo, a
troca de dados, tudo isso exige banda larga de qualidade, bem distribuída, com penetração e preço
acessível. O Plano foi construído sempre com a determinação muito clara e expressa do presidente da
República. Eu insisto em dizer que esse projeto que
demos vida é apenas uma primeira fase de um plano
abrangente de banda larga no País.
o plano objetiva garantir maior
competitividade ao mercado,
redução do preço aos consumidores,
ampliação das redes de
telecomunicações e criação
de uma política de financiamento
industrial e tecnológica
TEMA: Significa que ele deve ser ampliado?
ALVAREZ: Sabemos que um plano dessa natureza requer uma articulação estratégica entre empresas, setor
privado, produtores de equipamentos, Agência, instituições de defesa do consumidor, desenvolvimento de
novos aplicativos, entre outros. O País precisa da banda
larga para viabilizar suas várias aplicações relativas à
educação, cultura, saúde, e-Gov, e isso exige todo um
trabalho relativo a softwares, serviços públicos, modernização administrativa e, principalmente, qualificação
das nossas pequenas e médias empresas. Mais da metade delas tem, no máximo, dois computadores, normalmente usados para troca de e-mails ou para uma
listinha de preços, com um sítio precário. Então, vemos
que há um grande potencial no sentido de dar mais
qualidade, mais serviço, mais produtividade à pequena
e à média empresas nos mais diversos setores. O Plano
tem como foco três grandes setores: cidadãos, empresas e governos. E objetiva garantir maior competitividade ao mercado, redução do preço aos consumidores,
ampliação das redes de telecomunicações e criação de
uma política de financiamento industrial e tecnológica.
TEMA: Quais as próximas ações em planejamento,
no diz respeito à inclusão digital?
ALVAREZ: Para dar conta do programa global desenvolvido em 2006, ainda está faltando a qualificação das
lan houses como espaços de prestação de serviços e
também contribuição para a inclusão digital. Trata-se
da última ação de nosso plano original, e que será executada até o final do ano. E isso já começou com o novo
enquadramento da lan house, tirando-a da atividade
econômica do campo dos jogos e colocando-a no da
prestação de serviços. A ideia é estimulá-las a vir para
a legalidade, para que tenham acesso a financiamentos, conexão de qualidade e possibilidade de desenvolver novos aplicativos, até mesmo jogos nacionais a partir da realidade brasileira. O governo federal pretende
dar qualidade para essas pequenas ex-casas de jogos,
que hoje são prestadoras estratégicas de serviços para
a população. No total, 49% dos acessos à internet no
Brasil são feitos por meio de lan houses. Portanto, é
preciso ter uma política também em relação a elas.
tema | mar/abr 2010 | 7
interação
Revista Tema foca nas novidades tecnológicas
A
revista Tema reformulou seu projeto gráfico e editorial.
Agora, o visual está mais leve e dinâmico, com a apresentação de novos recursos gráficos. Tudo para tornar
sua leitura ainda mais agradável. Além disso, novas
editorias foram criadas com o objetivo de ampliar a abrangência temática e o debate em torno das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) aplicadas ao setor público.
A publicação, com mais de 35 anos de existência, já se
tornou referência para o setor público e a área tecnológica.
Tanto é que já recebeu vários prêmios em reconhecimento à qualidade de seu conteúdo. A cada edição, a Entrevista Principal traz um especialista ou
autoridade para apresentar, com exclusividade,
suas ideias e posições a respeito de um assunto
relativo ao seu campo de atuação.
Na seção Opinião, colunistas internos e externos ao Serpro se revezam em análises sobre novidades e tendências do setor de TI. Por sua vez, a seção Memória resgata a história da evolução do uso da
tecnologia no Brasil, especialmente na administração pública. O novo formato também proporciona ao leitor informações
sobre as novidades em TICs. Na editoria Curtas, o leitor da
Tema tem a oportunidade de se interar de fatos como eventos,
comunidades de desenvolvimento e softwares livres.
A abordagem de assuntos controversos no meio tecnológico também tem presença garantida na Revista, com comentários de entrevistados, por meio da seção Discussão.
A editoria Arte Digital divulga manifestações artísticas produzidas com o auxílio de recursos tecnológicos, enquanto as
Páginas Verdes se constituem em um campo dedicado às
práticas de responsabilidade socioambientais.
E, por último, a editoria Interação, que tem o propósito de
ser um espaço especialmente destinado para que você, leitor,
manifeste seu pensamento sobre os assuntos aqui tratados. Participe, envie seu comentário e contribua para
fazer da Tema uma revista cada vez melhor.
com a palavra...
Parabéns pelo novo visual obtido com o projeto gráfico arrojado!
A Revista ganhou em beleza e estética. Sua leitura ficou mais agradável.
Muito boa a matéria de capa sobre Inovações Tecnológicas. Continuem com este assunto!
José Carlos Santos Jorge – Rio de Janeiro/RJ
Sou estudante do 3º período de Análise e Desenvolvimento de Sistemas e trabalho como professor voluntário de informática na
Associação Pestalozzi de Santa Teresa/ES. Soube da Revista por meio de colegas de curso e achei interessante o material. Ao
pesquisar mais, descobri que a Revista possui tudo que preciso: informações atuais, de confiança, interessantes e inteligentes.
Algumas matérias auxiliaram meus trabalhos acadêmicos, além de me fornecerem informações úteis.
Matheus Calmon Baptisti – Santa Teresa/ES
Sou desenvolvedor de sistemas da Universidade Federal da Paraíba-UFPB. Gostaria de parabenizá-los pela Revista, que é de
excelente qualidade, sempre com ótimos artigos e temas atuais. Acompanho as edições on-line pelo site do Serpro.
José Augusto Carvalho Filho – João Pessoa/PB
No encontro técnico do meu curso de pós-graduação a distância em Administração de Sistemas de Informação, da Universidade
Federal de Lavras, foi entregue um exemplar da revista Tema para cada aluno. Gostei muito da publicação. Sou funcionário
da Marinha do Brasil, do Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira, em Arraial do Cabo, Rio de Janeiro. Onde eu
trabalho são de grande valia os assuntos abordados na Revista, principalmente aqueles relacionados ao software livre.
Gustavo Mesquita da Silva – Cabo Frio/RJ
Gostei muito da Revista que encontrei no balcão da biblioteca. Sou estudante de Sistemas de Informação, da Universidade
Estácio de Sá de Niterói/RJ. É de grande importância esta publicação. Espero compartilhar com meu grupo de estudos, em sala
de aula, o seu conteúdo que apresenta novos horizontes para nossa área de atuação. Gostei dos assuntos de software livre!
Fábio de Souza Botelho – Niterói/RJ.
8 | tema | mar/abr 2010
Foto: Fernando Cavalcanti
http://www.flickr.com/photos/imprensacampuspartybr/2267030359/sizes/l/in/photostream/
opinião
ALARGAR
O BRASIL E
DIGITALIZAR
NOSSA
DIVERSIDADE
Sérgio Amadeu da Silveira
Sociólogo, doutor em Ciência Política e professor da pósgraduação da Faculdade de Comunicação Cásper Líbero
O
país com o maior número de internautas
no mundo é a China. Todavia, menos de
25% dos chineses têm acesso à internet. Esse fenômeno é um dos exemplos
da grande desigualdade comunicacional em nosso planeta. Mas a China não é o único país que
espelha uma considerável assimetria no acesso
às redes informacionais. As nações em desenvolvimento, em geral, registram dois índices aparentemente contrapostos, mas que são plenamente
compreensíveis: primeiro, esses países registram
os maiores níveis de crescimento da conectividade,
ao mesmo tempo, são os países com gigantescos
percentuais de pessoas excluídas da sociedade
informacional.
O Brasil não fugiu do padrão. Trata-se de um
país com grandes iniquidades. As elites brasileiras estão conectadas. Enquanto 85% da classe A
utilizam a internet, apenas 17% das classes D/E
usam as redes digitais. A novidade é que a classe C
teve um grande impulso em sua conectividade.
Em 2009, 44% de seus integrantes acessaram à
internet. Contribuíram, para isto, os programas do
governo de incentivo à produção de computadores
baratos e a explosão das lan houses.
Se, em 2008, apenas 38% dos brasileiros acessaram à rede mundial de computadores, em 2009,
este percentual subiu para 43%. Contudo, ainda
praticamente metade dos brasileiros estão impedidos de se comunicar com velocidade, estão apartados do uso do maior repositório de informações já
construído pela humanidade. Por mais que o Brasil
esteja vivendo um momento redistributivo, a renda
era e ainda é exageradamente concentrada, e a miséria somente começou a ser efetivamente enfren-
tada nos últimos oito anos. Estes elementos sociais
e econômicos constituem uma barreira concreta
para a inclusão digital da nossa sociedade.
Entre os que acessam à Internet no Brasil,
existe uma série de assimetrias. Uma delas decorre do fracasso do mercado em ofertar a conexão
de banda larga com estabilidade e preço razoável.
Nas periferias e nos centros degradados das grandes cidades, a banda larga chega limitada, cara e
sem nenhuma estabilidade. No interior do Brasil,
centenas de cidades e localidades estão privadas
do acesso rápido à rede. Assim, os mais pobres
que se conectam à internet pagam caro por um
serviço ruim. Além disso, não conseguem utilizar
os recursos multimídias e as aplicações que, cada
vez mais, são pensadas e desenvolvidas para conexões superiores a 2 Mb (megabits por segundo).
Acertadamente, o governo federal está propondo
um plano nacional de banda larga que buscará instalar a real competição e a qualidade no segmento
das telecomunicações. Precisamos baixar o preço
do Megabit e, com isso, viabilizar democratização
dos recursos multimídia para milhões de brasileiros que poderão acessar cotidianamente aos repositórios de vídeo, às redes P2P e participar da
produção de conteúdos em diversas redes sociais.
A banda larga democratizada ampliará a diversidade cultural, pois permitirá que nossas comunidades
portem seus conteúdos simbólicos para a internet.
Mesmo com as dificuldades de utilizarmos uma
banda larga instável, “muito estreita” e cara, 39%
dos brasileiros que acessam à internet fizeram
download de filmes, músicas e softwares, em 2009,
e, 67% alegam participar de sites de relacionamento,
as chamadas redes sociais.
“A banda larga
democratizada
ampliará a
diversidade
cultural, pois
permitirá
que nossas
comunidades
portem seus
conteúdos
simbólicos
para a internet”
tema | mar/abr 2010 | 9
Foto: Arquivo Serpro
curtas
Oficina de Inclusão Digital
faz balanço de ações
Aconteceu de 22 a 24 de junho, em Brasília, a 9ª Oficina para Inclusão
Digital. O evento foi realizado na Confederação Nacional dos Trabalhadores do
Comércio (CNTC) e teve como proposta principal fazer um balanço das políticas
públicas implantadas nos últimos 10 anos pelo poder público. Além disso, temas
como a implantação do Plano Nacional da Banda Larga (PNBL) e de três mil
novos telecentros em todo o País também fizeram parte das discussões.
No primeiro dia do encontro, a plenária sobre o Plano foi o foco principal.
Participaram das discussões, o presidente da Telebrás, Rogério Santanna e o
coordenador de projetos de inclusão digital da Presidência da República, Cezar
Alvarez. No dia 23, os destaques foram: o Programa Nacional de Apoio à Inclusão
Digital nas Comunidades (Telecentros.Br) e a Formação de Monitores e Gestores
de Telecentros. No último dia (24), a plenária – Inclusão Digital no Brasil: 10 anos
de Políticas Públicas. O que mudou? – encerrou a programação.
Anualmente, a oficina é organizada pela Secretaria de Logística e Tecnologia
da Informação do Ministério do Planejamento Orçamento e Gestão (SLTI/MP),
em conjunto com o Comitê Técnico de Inclusão Digital do Governo Federal,
atualmente coordenado pela Dataprev, e pelas instituições Sampa.org, RITS
(Rede de Informações para o Terceiro Setor), Cidadania Digital, Coletivo Digital,
Projeto Saúde & Alegria e IPSO (Instituto de Pesquisas e Projetos Sociais
e Tecnológicos).
Planejamento adota Software Livre
O Ministério do Planejamento (MP) começou, no ano passado, a migrar
sua rede para software livre. A mudança contempla as 27 representações
regionais, além de dois pontos avançados de atendimento, localizados nas
capitais. Todos esses setores, que antes estavam sob o comando o Ministério
da Justiça (MJ), passam a integrar de forma definitiva a estrutura do MP, o que
justifica a padronização de toda a plataforma.
A ideia é possibilitar o acesso uniforme aos recursos de Tecnologia da
Informação e Comunicação (TIC) com os mesmos níveis de serviço, segurança e
diretivas do próprio MP.
O projeto de implantação de softwares livres foi dividido em três partes. A
primeira foi concluída em março deste ano com a migração de nove unidades.
A segunda parte contempla a instalação dos novos programas em mais 12
regionais até o final do ano. E, por último, as oito localidades restantes receberão
a atualização de seus softwares a partir do primeiro semestre de 2011.
10 | tema | mar/abr 2010
Consegi 2010:
Computação
em Nuvem com
Software Livre
O 3º Congresso Internacional
Software Livre e Governo Eletrônico
(Consegi 2010), que ocorrerá entre
os dias 18 e 20 de agosto, na Escola
de Administração Fazendária (Esaf),
em Brasília, terá como tema principal
“Computação em Nuvem com Software
Livre”. O evento irá reunir especialistas,
gestores públicos e estudantes, e as
atividades previstas incluem palestras,
painéis e oficinas. A proposta é difundir
as recentes tecnologias desenvolvidas em
plataformas abertas. O Serviço Federal
de Processamento de Dados (Serpro) é
um parceiro na realização do evento.
A Computação em Nuvem, que será
o tema central do Consegi 2010, diz
respeito à utilização de recursos
disponíveis em rede – servidores,
storages, aplicações e serviços – que
podem ser provisionados, configurados
e liberados a partir de programações
mínimas. Essa forma de trabalho
possibilita ao usuário requisitar
servidores, espaços em disco de acordo
com suas necessidades, sem a presença
física de um profissional. O acesso aos
serviços pode ser feito por celulares,
laptops e PDAs.
O ponto principal do Consegi é promover
a discussão nos diferentes níveis da
administração pública, sociedade civil
organizada e representantes de países
parceiros. A Computação em Nuvem
fará parte das diversas atividades
como painéis, oficinas e palestras.
Entre os temas previstos para o Consegi
2010, estão: Infraestrutura e Plataforma
como Serviço para ambiente de
computação em nuvem; Software como
Serviço para ambiente de computação
em nuvem; Governança, Gestão e
Estratégia voltado para o paradigma de
nuvem; Ecossistema do Software Livre:
Comunidades e Colaboração; Sistemas
e Aplicações livres: Desenvolvimento e
Uso; Apresentações sobre Sistemas e
Aplicações desenvolvidas com software
livre; além de Mobilidade em Sistemas
Embarcados, entre outros.
gestão da internet
Exemplo brasileiro
Comitê Gestor da Internet no Brasil completa 15 anos, sendo
referência internacional de governança da rede mundial de
computadores
forma transparente e democrática: “O Comitê Gestor virou uma referência não só para outros países.
Ele tem sido valorizado por diferentes instituições e
órgãos brasileiros, incluindo o Legislativo, o Judiciário e o Executivo. Hoje existe um respeito muito grande pelo nosso trabalho.”
“O Comitê Gestor virou
uma referência não só para
outros países. Ele tem sido
valorizado por diferentes
instituições e órgãos
brasileiros, incluindo o
Legislativo, o Judiciário e o
Executivo. Hoje existe um
respeito muito grande pelo
nosso trabalho.”
tema | mar/abr 2010 | 11
Foto: Heroturko.org
O
Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br)
completou 15 anos no último mês de maio
e tem apresentado resultados animadores
no que se refere à governança da Internet
no Brasil, em particular na gestão do domínio <.br>.
O modelo brasileiro dessa governança é hoje uma referência internacional, sendo visto como um padrão
a ser seguido por outros países conforme reconhecido pelo representante da Organização das Nações
Unidas (ONU), no Fórum de Governança da Internet
(IGF) realizado na Índia, em 2008.
Formado por 21 representantes de distintos segmentos – governo, empresas, terceiro setor e comunidade acadêmica –, o Comitê Gestor foi criado
em 1995 por meio de uma portaria interministerial e
consolidado por decreto em 2003, com a atribuição,
dentre outras, de estabelecer diretrizes estratégicas
relacionadas ao uso e desenvolvimento da Internet
no País e adotar os procedimentos administrativos
e operacionais necessários para sua gestão.
O secretário de Política de Informática do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), Augusto Cesar
Gadelha Vieira, coordena o CGI.br desde 2005 e explica que o modelo brasileiro se destaca como uma
experiência pioneira de governança com participação multissetorial, ao congregar diferentes atores de
Das reuniões mensais do Comitê, surgiram importantes resultados, tais como: a criação do Núcleo
de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br);
uma carta de 10 princípios de governança da internet – que têm norteado políticas públicas relativas
ao uso da Internet no Brasil –; ações de combate a
crimes na rede mundial de computadores, em particular ao spam; estabelecimento de indicadores e
levantamento de dados estatísticos sobre o uso de
Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) e
da Internet no Brasil; e o desenvolvimento de tecnologias para a rede.
“O domínio <.br> já é o
sexto maior do mundo,
com cerca de 19 milhões
de sítios registrados,
ultrapassando os códigos
de países como a China,
e ficando atrás apenas
do <.net> e <.com> e dos
códigos do Japão, Itália e
Alemanha.”
Em 2005, o CGI criou o NIC.br, uma entidade civil,
sem fins lucrativos, que coordena o registro de nomes de domínio, e estuda, responde e trata incidentes de segurança no Brasil, entre outras atribuições.
“O software que gerencia o domínio <.br> foi desenvolvido pelo NIC.br e é hoje utilizado pela Argentina
e alguns países africanos”, ressalta Gadelha. O domínio <.br> já é o sexto maior do mundo, com cerca
de 19 milhões de sítios registrados, ultrapassando
os códigos de países como a China, e ficando atrás
apenas do <.net> e <.com> e dos códigos do Japão,
Itália e Alemanha.
Marco Civil
Nos últimos meses, os membros do comitê participaram ativamente das discussões relativas ao estabelecimento do Marco Civil da Internet do Brasil.
Elaborado pelo Ministério da Justiça, em parceria
com a Fundação Getulio Vargas (FGV) e com a contribuição da sociedade civil, o anteprojeto de lei define
quais são os direitos e deveres de usuários, empresas e do governo na internet.
O CGI tem uma atuação ampla. Uma prova disso
é a participação também em questões judiciais. Foi
assim no célebre caso da modelo Daniella Cicarelli,
filmada num momento de intimidade em uma praia
da Espanha. O vídeo teve acesso recorde na rede e
causou constrangimento aos envolvidos. “Nesse
caso, nos tornamos parte do processo judicial na
figura de amicus curiae (amigo da corte), atuando
como um órgão de orientação técnica”, afirma Gadelha.
O CGI tem também atuado no combate a crimes
na rede, tendo contribuído com informações técnicas
à CPI da pedofilia e apoiando a SaferNet, organização
que se dedica a identificar os usos da Internet para
tal crime.
Futuro
Uma discussão que deverá receber atenção do
CGI, no futuro próximo, é quanto à internet do futuro, com a implantação da nova versão do protocolo
IP, o IPv6, e o uso mais extensivo da rede com a introdução de atores que serão objetos com sensores
inteligentes.
Regras para fazer registro de um domínio:
O registro do domínio
<.com.br> deve ser
feito no site:
http://www.registro.br
Verifique se o nome está
disponível ou se é uma
marca notória do INPI. Isso
pode ser feito no sistema de
pesquisa do site registro.br.
12 | tema | mar/abr 2010
É necessário que
o usuário esteja
cadastrado e identificado
no sistema do registro.br.
Deve-se evitar a utilização
de nomes longos e sinais
gráficos.
O valor cobrado é de
R$ 30 pelo período de um
ano. As instruções para o
pagamento são enviadas
no e-mail de confirmação
do registro do domínio.
O IPv6 permitirá uma quantidade quase ilimitada de
endereçamentos na Internet, identificando indivíduos,
instituições e objetos na rede. “Estamos preparados
para o uso do IPv6, sendo o Brasil um dos países mais
avançados em sua implantação. O IPv6 é imprescindível para o crescimento da Internet e seu uso cada vez
mais ubíquo na sociedade, tendo em vista que os endereços livres no IPv4 estão acabando”, explica Gadelha.
Nos próximos meses, além de participar de debates
sobre marcos regulatórios e caracterização de delitos
no uso da Internet, em continuidade ao estabelecimento do Marco Civil, os membros do CGI querem estimular, junto à comunidade técnico-científica, acadêmica
e de usuários em geral, projetos de desenvolvimento
de tecnologias e serviços para a internet, incluindo a
geração de conteúdo. Indagado sobre a participação de
Para registrar um domínio, é
necessário ser uma entidade legalmente
representada ou estabelecida no Brasil
como pessoa jurídica (instituições que
possuam CNPJ) ou física (CPF) que possua
um contato em território nacional.
Informações dos sites:
http://www.governoeletronico.gov.br
Foto: Heroturko.org | Infográfico: DIego Pizzini
“Estamos preparados
para o uso do IPv6, sendo
o Brasil um dos países
mais avançados em sua
implantação. O IPv6 é
imprescindível para o
crescimento da Internet
e seu uso cada vez mais
ubíquo na sociedade, tendo
em vista que os endereços
livres no IPv4 estão
acabando.”
instituições como o Serpro no CGI, Gadelha mencionou
que está sendo analisada a proposta de criação de comitês consultivos com foco em temas específicos, tais
como segurança, conteúdo, marcos regulatórios, dentre outros, que possibilitará uma atuação mais direta de
instituições competentes nessas questões da Internet e
que hoje não compõem o CGI.
http://www.registro.br
Somente poderão ser utilizados domínios de <.gov.br> por
órgãos civis da administração pública, <.mil.br> por órgãos
militares e <.edu.br> por instituições de ensino superior. Os
domínios sob a raiz <.gov.br> são isentos de pagamento. É preciso
de autorização do Ministério do Planejamento. A aprovação de
domínios <.mil.br> é de responsabilidade do Ministério da Defesa.
Se o site for de uma empresa,
tem que ser informado o CNPJ e três
contatos: 1) da pessoa responsável pelo
domínio; 2) da pessoa responsável pela
parte administrativa; e 3) da pessoa
responsável pela parte técnica.
tema | mar/abr 2010 | 13
Foto: Heroturko.org | Composição: DIego Pizzini
plano diretor
14 | tema | mar/abr 2010
A palavra é
planejamento
A elaboração de um Plano Diretor de Tecnologia
da Informação é fundamental para que qualquer
organização possa utilizar todo o potencial que
as TICs oferecem
U
m dos grandes desafios enfrentados por
uma empresa que usa recursos informatizados é garantir que o dinheiro investido em Tecnologia da Informação (TI) não
seja usado em projetos dissociados dos objetivos da
organização. Muitas decisões, na área tecnológica,
são tomadas de forma isolada, geralmente para
solucionar problemas pontuais, com pouco ou ne-
nhum planejamento. Com isso, não é raro que os
resultados obtidos fiquem aquém das expectativas.
Daí a importância de se ter um Plano Diretor de
Tecnologia da Informação (PDTI). Trata-se de um
instrumento que se aplica a todo tipo de organização, seja ela grande, pequena, pública ou privada.
O PDTI é uma ferramenta de diagnóstico, planejamento e administração dos recursos e processos
tema | mar/abr 2010 | 15
tecnológicos. Ele é pensado para atender às necessidades de informação de um órgão ou entidade
em um determinado período, geralmente de dois ou
três anos. O Plano possibilita uma visão completa
do ambiente atual da TI, compara cenários alternativos à demanda e ajuda a decidir o que é melhor
para a empresa, levando em conta a sua área de
atuação e o seu negócio.
“A Diretoria da empresa
entendeu o PDTI como um
importante instrumento de
gestão e planejamento do
ambiente de Tecnologia da
Informação. E adicionado
a isso, o Planejamento
Estratégico Participativo
do Serpro indicou a
elaboração do Plano
como uma necessidade
fundamental para a
empresa.”
O Serpro é um bom exemplo de empresa pública que orienta as suas ações por meio de um
Plano Diretor dessa natureza. O primeiro PDTI
da instituição ficou pronto em fevereiro de 2009,
abrangendo o biênio 2009/2010. A motivação para
a elaboração desse Plano foi a Instrução Normativa nº 04 (IN-04), editada pela Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério
do Planejamento (SLTI). Em vigor desde janeiro de
2009, a instrução obriga a adoção de um PDTI para
autorizar qualquer compra ou contrato na área de
tecnologia pelos órgãos públicos federais.
Além disso, segundo a norma, o PDTI precisa levar em consideração a demanda de recursos
16 | tema | mar/abr 2010
humanos, a formação e a capacitação dos funcionários nas áreas de Tecnologia da Informação e
o melhor equilíbrio entre os riscos e os investimentos.
O coordenador de Governança de Tecnologias
da Informação e Comunicação do Serpro, Marcos
Melo, esclarece que, por não fazer parte dos órgãos públicos da administração federal direta, a
empresa não precisaria seguir as regras previstas
na IN-04. Mesmo assim, optou por desenvolver o
seu Plano Diretor de Tecnologia da Informação.
“A Diretoria da empresa entendeu o PDTI como
um importante instrumento de gestão e planejamento do ambiente de Tecnologia da Informação.
E adicionado a isso, o Planejamento Estratégico
Participativo do Serpro indicou a elaboração do
Plano como uma necessidade fundamental para a
empresa”, afirma Marcos Melo.
A maior dificuldade enfrentada pelo Serpro na
elaboração do PDTI foi definir a metodologia para
sua montagem. Isso porque a empresa tem como
negócio a própria Tecnologia da Informação e Comunicação. “A TIC é o nosso negócio. As metodologias existentes se aplicavam mais a empresas
onde ela é meio, e não o fim”, diz Marcos Melo.
A saída foi criar uma metodologia própria. E deu
certo. O Plano foi aprovado pela Diretoria e terá a
sua primeira versão totalmente implantada até o
final deste ano.
O coordenador do Escritório Estratégico de
Projetos do Serpro, João Melo, afirmou que ainda
não é possível avaliar os resultados do PDTI, uma
vez que o plano encontra-se em fase de execução.
Mas segundo Melo, a empresa espera alcançar,
ao final de 2010, uma significativa melhoria nos
procedimentos operacionais e na tomada de decisões. “O PDTI realizou diagnósticos sobre os principais problemas e oportunidades de TI e definiu
ações para temas como integração de processos
e ferramentas, software livre, governo eletrônico,
entre outros”, completa.
Os resultados do Plano Diretor de Tecnologia
da Informação do Serpro só serão conhecidos ao
final deste ano, mas o caminho trilhado até agora já proporcionou à empresa bagagem suficiente
para auxiliar outros órgãos públicos na elaboração dos seus planos, como já está sendo feito junto ao Ministério do Planejamento.
Passo 7:
passo a passo do pdti
7
Passo 6:
segurança
(disponibilidade e
a confidencialidade
das informações,
em níveis
diferenciados de
acesso)
6
Passo 5:
5
Passo 4:
levantamento de
recursos humanos
para a área
de Tecnologia
da Informação
(contratação,
terceirização,
realocação e
treinamento)
4
3
Passo 2: aquisição
de tecnologia
(sistemas
operacionais e
aplicativos de
rede que devem
ser comprados/
desenvolvidos para
atender à demanda
da empresa/clientes)
gestão integrada do
ambiente de TI (garantia
de eficiência a um
ambiente que possui uma
variedade grande de
equipamentos, sistemas
de computação e
tecnologias)
Passo 3: modelo de
Tecnologia da Informação
(definição da estrutura
mínima de rede –
equipamentos, acesso
à internet, estações de
trabalho, rede elétrica
etc e a arquitetura
organizacional das
atividades de informática,
como a manutenção de
equipamentos e sistemas)
2
Passo 1: análise do
Infográfico: Diego Pizzini
1
Fonte: SEBRAE – Modelo para elaboração
do PDTI, abril de 2008
documentação
(permite a
recuperação da
funcionalidade do
ambiente de TI,
caso ocorra algum
problema)
mercado (área de
atuação da empresa,
particularidades e
limitações, clientes
pretendidos e
concorrência)
tema | mar/abr 2010 | 17
capa
Democracia
Os computadores são amigos fiéis.
Parecem conhecer as nossas digitais.
O Telecentro Esperança é uma esperança
que esperamos que nunca se acabe.
Bartolomeu Valter da Costa,
aluno do Telecentro Esperança,
no Instituto Municipal de Assistência
à Saúde Juliano Moreira (RJ).
18 | tema | jan/fev 2010
B
digital
Ilustraçao:Diego Pizzini
Órgãos governamentais,
setor privado e sociedade
civil organizada se
mobilizam num esforço
conjunto para possibilitar
acesso de todos os
brasileiros às Tecnologias
da Informação e
Comunicação (TICs).
airro de Cidade Tiradentes,
São Paulo, ano de 2006. O jovem Carlos Roberto dos Santos
Junior entra pela primeira vez
em um telecentro. O espaço,
implantado pelo Serpro, em parceria com
a ONG Cadesc, oferece aos moradores da
comunidade, tida como uma das mais violentas da capital paulista, a chance de usar
computadores, acessar à internet e participar de cursos de informática. Carlos se
entusiasma com o mundo da tecnologia.
Sente que descobriu sua vocação e decide
se aprofundar nos estudos.
Dois anos depois, tem a oportunidade
que tanto esperava: presta concurso público para trabalhar no Serpro. O resultado vem como um prêmio a sua dedicação
e força de vontade. Hoje, aos 25 anos, ele é
empregado da empresa. Atua na Superintendência de Centro de Dados, no prédio
da Regional São Paulo, no bairro de Socorro, e não reclama das 2h30 que leva diariamente para chegar ao serviço. “Foi no
telecentro que tive acesso ao microcomputador, às novas tecnologias, aos cursos de
software livre. Também conheci pessoas
novas. Realmente mudou a minha vida”,
recorda.
Felizmente, histórias como a de Carlos Roberto têm se multiplicado por todo
o País, desde que o governo federal intensificou os esforços de articulação com organizações da sociedade civil, empresas,
prefeituras e governos estaduais, no sentido de universalizar a inclusão digital para
todas as camadas da população.
“Iniciativas como Telecentros.BR, Computador para Todos, Um Computador por
Aluno, Computadores para Inclusão, Plano
Nacional de Banda Larga, entre outras fazem parte desse esforço para acabar com
a exclusão digital no Brasil. Todas elas se
relacionam e se complementam nas suas
várias dimensões”, diz Cezar Alvarez, coordenador do Programa de Inclusão Digital
do governo federal.
tema | mar/abr 2010 | 19
iniciativas de diversos outros ministérios, empresas
estatais e uma gama variada de entidades públicas
e privadas de todo o território nacional. Atualmente,
mais de 4 mil unidades vinculadas ao Telecentros.
BR estão em funcionamento, e a meta é superar as
10 mil até 2011.
Para o presidente do Serpro, Marcos Mazoni,
é fundamental que a temática da inclusão digital
seja tratada como uma política pública, a exemplo
do que ocorre nas áreas como educação e saúde.
“Se a universalização da educação não fosse uma
política pública, certamente o Brasil não teria obtido os índices atuais de combate ao analfabetismo. A exclusão digital aprofunda as desigualdades
sociais. Hoje, o acesso às TICs é fundamental para
a geração de emprego e renda, porém milhões de
cidadãos ainda permanecem à margem desse processo”, adverte.
“O ideal é que, em projetos
assim, a orientação
seja feita pela própria
comunidade, para que
sua inserção aconteça
a partir de suas próprias
necessidades. As pessoas
precisam estar livres para
tratar de suas questões e
interesses específicos.”
Telecentros.BR
Foto: Arquivo Serpro
Telecentros
equipados com
computadores e
internet auxiliam,
principalmente,
na formação
de jovens e
adolescentes
Entre as iniciativas de maior abrangência nessa
área, está o programa Telecentros.BR, criado em
2007 para articular as centenas de projetos públicos
e comunitários desenvolvidos nas diversas regiões
brasileiras. “Era necessário ganhar mais escala nas
ações de apoio aos telecentros, e isso demandava
uma melhoria na sua coordenação. O governo federal queria evitar a duplicação de esforços, organizar
melhor as parcerias e os locais a serem implantados”, conta Cristina Mori, assessora de Inclusão
Digital da Secretaria de Logística e Tecnologia da
Informação do Ministério do Planejamento (SLTI) e
coordenadora executiva do Programa Nacional de
Apoio à Inclusão Digital nas Comunidades Telecentros.BR.
Compõem o colegiado de coordenação do programa: os ministérios do Planejamento (responsável por montar uma rede nacional de formação de
monitores comunitários), das Comunicações (que
fornece equipamentos novos e conexão à internet
banda larga), e da Ciência e Tecnologia (que concede bolsas para jovens comunitários atuarem como
agentes de inclusão digital). O programa engloba
20 | tema | mar/abr 2010
Na avaliação de Beatriz Tibiriçá, cientista social
e diretora financeira da ONG Coletivo Digital, de São
Paulo, colocar as TICs ao alcance das comunidades
de baixa renda amplia as possibilidades para o seu
desenvolvimento. “Populações de lugares remotos
usam as tecnologias como a principal forma de comunicação; agricultores familiares comercializam
seus produtos nas redes de economia solidária;
grupos em luta por interesses e reivindicações podem transmitir seus debates e manifestações. Tudo
isso dá uma nova dimensão aos projetos comunitários e à sua história sociocultural”, afirma.
Carlos Alberto Afonso, diretor do Instituto Núcleo
de Pesquisas, Estudos e Formação, entidade civil sediada no Rio de Janeiro, concorda. “O ideal é que, em
projetos assim, a orientação seja feita pela própria
comunidade, para que sua inserção aconteça a partir
de suas próprias necessidades. As pessoas precisam
estar livres para tratar de suas questões e interesses
específicos, o que potencializa sua atuação e presença na internet como comunidade, e não mais como
usuários individuais”, observa o especialista.
Com o objetivo de ampliar a destinação de máquinas para a inclusão digital, a SLTI instituiu o
programa Computadores para Inclusão, por meio
do qual são recondicionados equipamentos doados
por órgãos públicos, empresas privadas e pessoas
físicas. A iniciativa inclui a capacitação de jovens
de comunidades de baixa renda para que eles saibam recuperar um equipamento usado e torná-lo
Foto: Arquivo Serpro
Gesac garante
conectividade
Coordenado pelo Ministério das
Comunicações, o programa Gesac é o
principal fornecedor de conectividade
para os telecentros, tanto os que
recebem os kits de equipamentos
cedidos pelo próprio Ministério quanto
os apoiados por outros órgãos públicos
e civis. O programa garante o acesso
à internet em áreas remotas como
escolas rurais, aldeias indígenas,
comunidades quilombolas, ribeirinhas,
extrativistas, entre outras.
funcional, entregando-o a escolas públicas, bibliotecas, telecentros e outras instituições.
Atualmente, sete cidades, nas cinco regiões do
País, abrigam centros de recondicionamento vinculados ao programa. Mais de 1,5 mil jovens foram formados, e cerca de 10 mil computadores já foram doados.
Programas de
Inclusão Digital,
espalhados
por todo o
País, buscam
a inserção da
população às
novas tecnologias
Segundo Heliomar Medeiros de Lima,
diretor do Departamento de Serviços
de Inclusão Digital do Ministério das
Comunicações, o Gesac também
promoverá, em parceria com o CNPq
e os Institutos Federais de Educação
Tecnológica, um projeto de formação
que levará oficinas, educação presencial
e a distância aos telecentros instalados
nessas áreas mais distantes.
“Dessa forma, o Gesac se integra
e complementa tanto o programa
Telecentros.BR quanto o Plano Nacional
de Banda Larga, pois com sua parte
via satélite alcança todas as regiões do
País, incluindo localidades nas quais só
se chega de barco ou avião de pequeno
porte e que contam apenas com energia
solar e/ou de geradores diesel”,
acrescenta o diretor.
Informações detalhadas sobre
a iniciativa e os locais para
doação podem ser obtidas no sítio
www.computadoresparainclusao.gov.br.
Pontos de Cultura
Cerca de 2,5 mil unidades espalhadas pelo País,
os Pontos de Cultura, implantados no âmbito do
Programa Cultura Viva, do Ministério da Cultura,
são exemplos de parceria governo-sociedade que
tem trazido resultados expressivos na luta contra
as desigualdades sociais. A iniciativa estimula a realização de ações culturais, artísticas, de cidadania
e de economia solidária pelas populações de baixa
Mais informações sobre o Gesac
podem ser obtidas no Portal
www.idbrasil.org.br.
tema | mar/abr 2010 | 21
renda. E, para isso, o acesso e a apropriação de ferramentas multimídias em software livre têm papel
preponderante.
“Os Pontos de Cultura são espaços articuladores de ações políticas na medida em que, organizados em redes a partir dos Pontões, constroem suas
agendas, pautam o governo e forçam o Estado a dar
respostas com mais agilidade e rapidez”, destaca
Valéria Labrea, coordenadora de Cultura e Cidadania da Secretaria de Cidadania Cultural do Ministério da Cultura.
Muitos dos telecentros estão localizados nesses
espaços. No Ponto de Cultura do Quilombo do Sopapo, em Porto Alegre, coordenado pela ONG Guayí,
o telecentro atende a um público médio de cem pessoas a cada semana. Segundo o coordenador Leandro Anton, a integração entre inclusão digital e demais ações do Ponto tem trazido resultados muito
positivos. “As pessoas passam a se interessar por
softwares como os de edição de vídeo, e começam a
usar essas ferramentas de maneira independente.
O interesse pela educação na escola também aumenta, e é perceptível a melhoria na postura delas
em relação ao uso dos equipamentos e ao cuidado
quanto ao espaço”, pontua Anton.
“Os Pontos de Cultura são
espaços articuladores de
ações políticas na medida
em que, organizados em
redes a partir dos Pontões,
constroem suas agendas,
pautam o governo e forçam
o Estado a dar respostas
com mais agilidade e
rapidez.”
Programa Serpro de Inclusão Digital
Maior provedor de soluções tecnológicas para
o governo federal, o Serpro exerce papel ativo no
esforço pela inclusão digital no País. Desde 2003,
as ações relativas ao tema são trabalhadas dentro
do Programa Serpro de Inclusão Digital (PSID), em
estrita vinculação às diretrizes coordenadas pela
Presidência da República. “Somos uma empresa
criada para melhorar a qualidade dos serviços do
governo, e isso deve valer para a cidadania como
22 | tema | mar/abr 2010
Resultados positivos
em todo o País
acre
No último mês de maio, os
seringueiros da Reserva
Extrativista Chico Mendes de Assis Brasil,
no Acre, ganharam um telecentro com
dez computadores conectados à internet.
Localizada em área remota da Floresta
Amazônica, a comunidade agora tem meios
para se comunicar com o mundo exterior,
mesmo nos períodos em que as estradas
da região ficam intransitáveis. A iniciativa foi
possibilitada pela chegada da energia elétrica
com o programa Luz para Todos, e contou com a
parceria do Serpro, do Sistema de Proteção da
Amazônia (Sipam), da Prefeitura Municipal e
da Associação de Moradores local.
paraná
No Paraná, o telecentro do Hospital Erasto Gaertner,
referência no tratamento do câncer, tornou-se uma
ferramenta imprescindível de comunicação para
pacientes, acompanhantes e familiares, muitos de
cidades distantes, além de ser uma opção de terapia e
um minimizador do tempo de espera no tratamento.
um todo. Para que possamos cumprir plenamente
nossa missão, temos de atuar fortemente também
nessa área, proporcionando isonomia de condições
a todos os brasileiros”, afirma Marcos Mazoni.
O coordenador estratégico de Inclusão Digital
do Serpro, Luiz Cláudio Mesquita, lembra que a
empresa apoia mais de 350 telecentros em periferias de grandes cidades, povoados ribeirinhos,
áreas indígenas, quilombolas, entre outros locais.
A ação já ultrapassou, inclusive, as fronteiras bra-
ceará
No Ceará, o coordenador do telecentro de Jaguaribe,
Cézar Pinheiro, lembra a trajetória de duas jovens
moradoras da cidade que, por falta de opções de estudo
e trabalho, chegaram a se envolver com a prostituição
e ganharam uma nova perspectiva após terem acesso
ao mundo da TI. “A tia delas nos procurou pedindo que
as matriculássemos em cursos de informática para que
tivessem uma ocupação. Hoje têm uma
vida bem diferente”, recorda. Uma delas,
T., enviou por escrito uma
mensagem à Tema. “O telecentro
foi um passo que eu tive
para melhorar minha
autoestima, e sou muito
grata por essa chance.
Não sabia mais o que ia
fazer da vida”, afirmou
a jovem.
rio de janeiro
Nas diferentes regiões
brasileiras, é possível encontrar
casos de sucesso quanto ao impacto
transformador da inclusão digital.
No Rio de Janeiro, por exemplo, o
Telecentro Esperança, no Instituto
Municipal de Assistência à Saúde
Juliano Moreira, tem ajudado a resgatar
a cidadania e a autoestima de pacientes
com transtornos mentais. Um dos
orgulhos do Telecentro é o aluno Bartolomeu Valter da
Costa, que recebeu apoio e orientação para publicar
um livro de poemas. “Ele escrevia suas poesias no
computador e uma educadora fazia a correção ortográfica,
sem interferir no estilo, na estética ou na essência da
obra”, lembra a coordenadora Andrea Matts.
Outro caso simbólico no Rio de Janeiro é o de Jorge
Barbosa, morador da favela de Acari, zona norte da
cidade, que teve seu primeiro contato com a informática
no telecentro local e hoje é empregado concursado do
Serpro. “Eu comecei a participar das atividades, depois
fiz outros cursos de informática e concluí meu primeiro
e segundo graus. Também dei aulas particulares e
trabalhei com manutenção de computadores. Em 2005,
fiz o concurso para o Serpro e passei em 10º lugar. Foi o
telecentro que transformou minha vida”, orgulha-se.
Infográfico: Diego Pizzini
sileiras, chegando a alguns países africanos e ao
Haiti, nação mais pobre das Américas. “Hoje, todas
as máquinas substituídas na atualização de nosso parque computacional são direcionadas para a
criação de novos telecentros ou para reforçar os já
existentes. Antes, elas eram leiloadas ou doadas
para qualquer fim”, destaca.
“Pelo modelo do PSID, ao receber a solicitação
de qualquer entidade civil, prefeitura ou governo
estadual para instalação de um telecentro, o Ser-
pro analisa o trabalho da possível parceria na área
da inclusão digital, a situação da comunidade a
ser atendida e o espaço disponível para instalação.
Uma vez aprovados esses critérios, os equipamentos são doados. A empresa também se encarrega
de instalar todos os softwares livres necessários
para o funcionamento das máquinas, e de formar
monitores locais para orientar as atividades. Representantes regionais do Serpro ficam à disposição e são uma extensão da Coordenação Estratégica nos estados.”
Com o apoio aos telecentros, o PSID ampliou o
projeto Espaço Serpro Cidadão, que disponibiliza
à comunidade acesso a computadores instalados
nas regionais da empresa. Foi criada, ainda, a Oficina de Inclusão Sócio Digital, por meio da qual
as regionais oferecem cursos técnicos de TI para
jovens e adultos, nos níveis básico e intermediário. Todas as informações sobre o Programa estão
publicadas no Portal Serpro de Inclusão Digital
(www.serpro.gov.br/inclusao), que também traz
os contatos dos responsáveis pelas ações de inclusão digital da instituição.
Atualmente, em parceria com o Ministério do
Desenvolvimento Agrário (MDA), o Serpro trabalha
na construção da Rede Brasil Digital, um sistema
integrado de informações sobre os telecentros.
O objetivo é subsidiar a formulação de políticas
para o setor, a partir de uma base de dados estatísticos sobre os usuários desses espaços. A Rede
Brasil Digital será também uma ferramenta de
apoio e gestão não só ao Observatório Nacional de
Inclusão Digital (www.onid.org.br), como também
a outras ações de inclusão digital no Brasil. Isso
se dará por meio da integração com outras ferramentas de Gestão já utilizadas, como, por exemplo, o software OCARA, utilizado pelo Programa do
Banco do Brasil e que já está sendo adaptado para
funcionar juntamente com a RBD.
Rossana Moura, pesquisadora do Núcleo de
Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural do
MDA, avalia que a Rede Brasil será uma grande
oportunidade para agregar informações sobre a
população rural do País. “O que mais nos chamou
a atenção foi a agregação de informações de projetos e programas do governo federal. O MDA contribuirá de todas as formas e no que for preciso
para que a Rede Brasil se torne, assim como o
Observatório é hoje, referência de integração de
informações necessárias para nossos projetos”,
afirma.
“Além das iniciativas constantes do PSID, o
Serpro contribui com praticamente todas as ações
de inclusão digital do governo federal, como Computador para Todos e Um Computador por Aluno,
das quais participamos ajudando na especificação
de hardware, software e outros aspectos”, lembra
Luiz Cláudio Mesquita.
tema | mar/abr 2010 | 23
artigos
Foto: Arquivo Serpro
As novidades do
Java Enterprise
Edition 6
Por Cleuton Sampaio
Cleuton Sampaio de Melo Jr. é analista do Serpro, concursado de 2008, trabalha atualmente na
Superintendência de Suporte à Tecnologia, no Rio de Janeiro. Mestre, formado pelo IBMEC, é
também arquiteto certificado Java (SCEA), tendo trabalhado na elaboração do exame “Sun Certified
Enterprise Architect 5”. É autor de diversos livros sobre o assunto, incluindo o “Guia do Java
Enterprise Edition 5”, editora Brasport.
A versão 6 tem
como “mote” a
simplificação
do desenvolvimento, mas
nem por isto
possui menor
funcionalidade.
Vários recursos
foram modificados e/ou
adicionados ao
Java EE 6
E
m dezembro do ano passado (2009), participei do evento “Sun Tech Days”, onde James
Gosling (o criador do Java), entre outros palestrantes, anunciou a versão 6 da plataforma
Java Enterprise Edition. Tive a oportunidade de almoçar com James Gosling e pudemos conversar sobre
os novos recursos da plataforma.
Duas coisas aconteceram desde então: a Oracle
concluiu o processo de aquisição da Sun e James Gosling pediu demissão. Embora importantes, não creio
que influenciem a popularidade da plataforma Java.
Uma prova disto é o grande interesse pelo Java EE 6,
manifestado em fóruns e publicações especializadas.
Tive a oportunidade de avaliar e usar muito o Java
EE 5, tendo colaborado, inclusive, na elaboração do exame SCEA, com Bryan Bashan, consultor da Sun e coautor do livro “Head First: Servlets and JSP”. Devido ao
meu envolvimento com o Java EE, tenho acompanhado
a nova versão desde os primórdios e posso afirmar: o
impacto para o desenvolvedor será grande. A versão 6
tem como “mote” a simplificação do desenvolvimento,
mas nem por isto possui menor funcionalidade. Vários
recursos foram modificados e/ou adicionados ao Java
EE 6. Entre as maiores novidades estão:
24 | tema | mar/abr 2010
•
Servlet assíncrono: permite o processamento assíncrono de requests HTTP, oferecendo uma alternativa totalmente web ao uso de mensagens JMS;
•
JavaServer Faces 2.0: a nova versão do JSF
incorpora o Facelets como camada de apresentação,
eliminando a necessidade de páginas JSP;
•
Java API for RESTful Web Services: a implementação da arquitetura REST em Web Services, que
usa os comandos simples HTTP como: GET, PUT, DELETE para lidar com recursos na Internet;
•
Contexts and Dependency Injection for the
Java EE platform: uma coleção de serviços que, entre
outras coisas, tem um ciclo de vida para objetos plugados em contextos e injeção de dependências.
Uma das novas tecnologias que me impressionou
muito foi a dos Servlets assíncronos, que vem resolver um grande problema de todo website: o processamento lento. Quando um Container aloca um Thread
para processar um request, é esperado que seja logo
liberado. Se uma regra de negócios muito demorada
for invocada, o servidor fica com o Thread bloqueado, perdendo recursos importantes e reagindo mais
lentamente. Vamos exemplificar com um Servlet assíncrono:
package com.cleuton;
import java.io.IOException;
import java.util.concurrent.ScheduledThreadPoolExecutor;
import
import
import
import
import
import
javax.servlet.AsyncContext;
javax.servlet.ServletException;
javax.servlet.annotation.WebServlet;
javax.servlet.http.HttpServlet;
javax.servlet.http.HttpServletRequest;
javax.servlet.http.HttpServletResponse;
@WebServlet (name=”Async”,urlPatterns={“/assincrono”},
asyncSupported=true)
public class AsyncServlet extends HttpServlet {
private void processa(HttpServletRequest req, HttpServletResponse res) {
AsyncContext aCtx = req.startAsync(req, res);
aCtx.setTimeout(15000);
aCtx.addListener(new ServListener());
ScheduledThreadPoolExecutor executor = new
ScheduledThreadPoolExecutor(5);
executor.execute(new ConsomeRecurso(aCtx));
// Aqui o Thread é liberado...
}
@Override
protected void doGet(HttpServletRequest req, HttpServletResponse resp)
throws ServletException, IOException {
processa(req,resp);
}
@Override
protected void doPost(HttpServletRequest req, HttpServletResponse resp)
throws ServletException, IOException {
processa(req,resp);
}
}
No Java EE 6, usamos anotações para definir
um Servlet. Ele usa uma nova classe: “java.servlet.
AsyncContext” para representar o request assíncrono. Ao invocar o método “startAsync”, podemos
despachar o processamento do request para outra
classe, por exemplo, executando em outro Thread.
O Thread do Servlet é liberado, com todos os recursos alocados. Quando o processamento termina,
a resposta é finalizada. Eis a classe que processa o
request assíncrono:
tema | mar/abr 2010 | 25
package com.cleuton;
import
import
import
import
import
java.io.BufferedReader;
java.io.IOException;
java.io.InputStreamReader;
java.net.MalformedURLException;
java.net.URL;
import javax.servlet.AsyncContext;
import javax.servlet.http.HttpServletResponse;
public class ConsomeRecurso implements Runnable {
private AsyncContext aCtx;
public ConsomeRecurso(AsyncContext aCtx) {
super();
this.aCtx = aCtx;
}
@Override
public void run() {
HttpServletResponse res = (HttpServletResponse) aCtx.getResponse();
try {
// Simula o consumo de um recurso externo
URL google = new URL(“http://www.google.com/”);
BufferedReader in = new BufferedReader(
new InputStreamReader(
google.openStream()));
String inputLine;
// Grava a resposta
while ((inputLine = in.readLine()) != null)
res.getWriter().println(inputLine);
in.close();
// Completa o request assíncrono
aCtx.complete();
} catch (MalformedURLException e) {
e.printStackTrace();
} catch (IOException e) {
e.printStackTrace();
}
}
}
Esta classe é instanciada pelo Servlet, que passa a
instância do AsyncContext em seu construtor. O Thread
do Servlet é encerrado e retorna ao Pool do Container.
Quando a classe termina de obter o recurso (neste
caso, a página do Google ®), ela gera a resposta e
26 | tema | mar/abr 2010
conclui o request assíncrono (método “complete”).
Existem diversas outras tecnologias no Java EE 6,
mas como não dá para demonstrarmos todas aqui,
ficamos com esta, que é simplesmente fantástica,
economizando recursos do servidor web.
Foto: Arquivo Serpro
Inteligência
de Negócios,
a Fronteira Final
A revolução Open Source chegou à Diretoria
Por Fábio Michelette de Salles Prado
E
m 1980, para pegar suas impressões na recém-inventada impressora laser da Xerox,
Richard Stallman ia até o final do corredor
apenas para descobrir que um atolamento de
papel havia parado a impressora. Como resolver isso?
Sem poder alterar a parte mecânica, resolveu repetir a
mesma solução dada às outras impressoras: alterar o
software para que esse enviasse avisos aos donos das
impressões. Isso sempre levava a impressora a alguém
capaz de desatolá-la. Mas a Xerox não abriu o códigofonte do driver da impressora, e o restante é história:
graças ao movimento que Richard Stallman iniciou em
1983, em 2010 uma empresa pode ter 100% de seus
sistemas informatizados com Software Livre (SL).
Business Intelligence (BI) é o conjunto de processos
e tecnologias usados para obter percepções oportunas, precisas, valiosas e práticas sobre seus negócios.
O Pentaho é uma suite de softwares livres, com o qual
podemos criar soluções de BI. Essas devem ter um
Data Warehouse (DW ou Armazém de Dados) e ferramentas de consulta, para explorar esses dados. O DW é
um repositório de dados limpos, estáveis e organizados
para consultas (ao invés de transações).
Soluções de BI permitem que perguntas críticas
para o sucesso da empresa possam ser respondidas
com clareza e segurança. Por exemplo, quantos empregados existem na empresa? Fazer essa pergunta sem
um DW pode trazer respostas conflitantes (depende
do departamento que responder). Ferramentas como
OLAP ajudam a resolver situações problemáticas: primeiro, identificando-as e depois, graças ao recurso drill
down, chegar à origem dos problemas. Processos de
Data Mining (Mineração de Dados) podem ser usados
para identificar tendências ocultas nos dados, que simples relatórios não mostram.
O grande retorno desse tipo de sistema justifica
os altos preços dos fornecedores. Essas soluções,
caras e amarradas aos fornecedores, não eram acessíveis à maior parte das empresas. Vários softwares
livres de BI surgiram motivados por essa necessidade. Mas nenhum tão sofisticado e flexível quanto o
Pentaho. Ele inovou não apenas ao trazer todas as
ferramentas, mas também ao criar uma arquitetura
de soluções de BI, antes disponíveis apenas nos
softwares mais especializados e caros. Isso era, por
si só, uma revolução na área. E a Pentaho foi mais
longe: não existe diferença tecnológica entre as versões comunitária e corporativa.
Essa novidade causou uma onda de adoção do
Pentaho que varreu o mundo. Milhares de empresas
oficializaram a implantação de Pentaho, recorrendo
ao suporte oficial, e muitas adotaram a suite para suas
necessidades.
No Brasil, o Serpro é a primeira empresa a tornar
100% do Pentaho o padrão para criação de soluções
de BI, para si e para seus clientes. Sua importância se
tornou tão grande para a empresa que o próprio Diretor-Superintendente, Gilberto Paganoto, atuou para
acelerar sua implantação. “Para o Serpro, o Pentaho
possui um papel de tecnologia estruturante”, afirmou
Gerson Tessler/Cetec, em 2009. Graças a essa ação, o
Serpro entregou, em abril de 2010, um projeto Pentaho
para o primeiro cliente dessa infraestrutura, o Dest.
“A solução Pentaho dará aos usuários do Dest maior
independência na exploração de seus dados que até
então dependiam de equipe técnica”, diz Vinícius Motta,
analista de negócios da conta Dest na SUNMP.
Muitas outras empresas do setor público também
adotaram o Pentaho. A Caixa Econômica Federal e o
Banco do Brasil são dois exemplos. Do setor privado,
Martin-Brower e Têxtil Bezerra de Menezes são exemplos brasileiros. Entre as mais de 8 mil empresas que
adotaram o Pentaho ao redor do mundo, temos GE,
Ericsson, Swissport (Suíça), Mozilla Foundation, NHS
(Inglaterra), T Mobile (Alemanha).
“A solução
Pentaho dará
aos usuários
do Dest maior
independência
na exploração
de seus dados
que até então
dependiam de
equipe técnica”
Fábio de Salles é analista de sistemas da Coordenação de
Tecnologia do Serpro. Físico pela Unicamp, atuou como Gerente
de Soluções no SAS, multinacional de BI. Trabalha no Serpro
desde 2005. Faz parte do Comitê de Software Livre da Regional
São Paulo e participa da Comunidade Brasileira de Pentaho, tendo
motivado a criação do evento On-Line OpenTaho. Coordenou o
primeiro protótipo Pentaho do Serpro, na Superintendência de
Gestão Empresarial, onde atualmente colabora para expandi-lo.
tema | mar/abr 2010 | 27
arte digital
Uma rede que preserva
a cultura de um povo
Tecnologia ajuda comunidades quilombolas a expressar suas
manifestações artísticas e a resgatar suas raízes históricas
B
rasileiros afrodescendentes moradores de
comunidades Quilombolas de todo o País encontraram nas Tecnologias da Informação e
Comunicação (TICs) uma forma de transcender seus limites territoriais e valorizar a sua produção
artística e cultural. Projetos como “Orquestra de Tambores de Aço”, responsáveis por formar jovens e adolescentes em situação de risco por meio da música, foram
potencializados graças à interligação dessas comunidades, que atualmente formam a Rede Mocambos.
O domínio da informática possibilitou, ainda, o desenvolvimento econômico dessas pessoas pela valorização e facilidade de comercialização de seu artesanato.
A Rede congrega cerca de 200 comunidades quilombolas. Desse total,160 já possuem telecentros instalados.
Os membros da Rede Mocambos procuram nas
próprias habilidades uma forma de sobrevivência. A produção de artesanatos engloba tapetes, peças de argila e
sisal, colchas, cestas, entre outros. Tanto a troca de matérias-primas entre as comunidades quanto a comercialização dos produtos são facilitadas pela participação na Rede. “Hoje produzimos também nosso próprio
conteúdo e, assim, promovemos a difusão da cultura.
Vídeos, animações, jornais e rádio web, tudo isso é repassado principalmente para nossas crianças e jovens.
O teor desse material contém as lutas dos quilombolas,
a nossa identidade e as raízes do nosso povo. Temos até
gráficas para impressão desses materiais”, destaca um
dos coordenadores da Rede Mocambos, Antonio Carlos
dos Santos Silva, mais conhecido como “TC”.
Na sua opinião, o domínio das tecnologias propiciou
instrumentalizar todas as comunidades para uma discussão embasada. “Somos nós que produzimos a nossa própria notícia. A TV Mocambos é uma indutora da
nossa arte e de nossa cultura. Produzimos documentários desde a manifestação de grupos de Hip Hop
quilombolas até oficinas de tambores ministradas por
membros da nossa comunidade. Pela Rede, circula cultura e arte. Nela, conseguimos mobilizar quilombolas
nos mais distantes territórios do nosso País”, acentua.
O coordenador explica que a ideia da Rede nasceu
da iniciativa da Casa de Cultura Tainã, que tem como
missão fortalecer a prática da cidadania e a formação da
identidade cultural, principalmente da cultura afrodes-
cendente. “Além disso, tinha características marcantes
da comunidade Quilombola, o que foi determinante para
fundação da Mocambos”. Devido a essa luta, TC conta
que a Mocambos foi criada para conhecer melhor a realidade histórica dos negros no Brasil por meio dessas
comunidades quilombolas. “A referência dos quilombos
é muito importante, porque foi a primeira república democrática de fato no País”, observa.
Além da produção de informação para o fortalecimento e resgate da cultura, TC lembra, ainda, da experiência que membros da rede têm com as tecnologias
da informação. Ele explica que, para defender seus
direitos e produzir material de formação continuada, foi
preciso que dominassem diferentes tipos de softwares
livres. “Pensamos no uso social dessas tecnologias.
Garantimos o acesso de pessoas em situação de completa exclusão. Preparamos nossas comunidades para
que se apropriem do conhecimento disponível em rede.
Neste sentido, temos hoje 12 núcleos de formação
continuada espalhados por vários estados, para formar
jovens que sirvam de multiplicadores da cultura do
nosso povo”, diz.
“Temos hoje
12 núcleos
de formação
continuada
espalhados por
vários estados,
para formar
jovens que
sirvam de
multiplicadores
da cultura do
nosso povo.”
Quem quiser conhecer mais
sobre a Rede Mocambos e saber
como se estruturam em uma rede de troca
de informações, de valores culturais,
pode acessar o endereço eletrônico:
www.mocambos.net.
tema | mar/abr 2010 | 29
Foto: Heroturko.org
discussão
Marco Civil da internet
divide opiniões
Executivo propõe Marco Civil regulatório para usuários da rede;
Legislativo defende a punição
O
uso da internet no Brasil tem sido objeto de
ampla discussão, tanto no Poder Executivo
quanto no Legislativo e na sociedade em
geral. Um projeto de lei que tramita na Câmara dos Deputados pretende tipificar os crimes digitais e estabelecer penalidades para as irregularidades praticadas na rede. Outra proposta, que está
em fase de elaboração pelo governo federal, a cargo
do Ministério da Justiça (MJ), quer regular o acesso
do usuário antes de punir os possíveis infratores.
A ideia é estabelecer um marco civil para determinar
as responsabilidades, os direitos e os deveres dos
usuários, empresas e órgãos públicos. A expectativa é que as duas propostas sejam encaminhadas
para votação no início do segundo semestre.
O chefe de gabinete da Secretaria de Assuntos
Legislativos do MJ, Guilherme Almeida, que coordena a elaboração do Marco Civil do Executivo, explica que o governo federal recebeu diversas contribuições da sociedade para a criação do anteprojeto
de lei. Segundo ele, a proposta surgiu a partir de um
30 | tema | mar/abr 2010
pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para
que fossem definidos e regulamentados os direitos
e deveres dos usuários, antes de tipificar como crime a conduta de internautas na rede. “Mais do que
sair criando tipos penais e mecanismos de investigação, o Marco Civil propõe identificar, com clareza, os deveres e direitos dos indivíduos. Para isso,
consultamos a sociedade, disponibilizando na própria Internet as propostas que iriam fazer parte do
anteprojeto. Depois que desenvolvemos o projeto de
lei, ele foi aberto a essas contribuições”, enfatiza.
O representante do MJ afirma que a proposta
foi estruturada em três grandes eixos. O primeiro
deles, sobre os direitos dos cidadãos na internet.
O segundo, a respeito da responsabilidade dos diferentes atores – provedores de conteúdo e de acesso,
entre outros. E, por último, as diretrizes do governo federal para garantir a publicação de seus atos
na internet. “Tivemos mais de mil comentários em
cima do projeto de lei. Parágrafos, artigos e incisos
puderam ser comentados. Para a nossa surpresa,
o conteúdo referente às diretrizes do governo não
teve uma participação expressiva. O que pode significar que o material está bom ou que as pessoas
preferiram não interferir nesse item, por entender
que ele não as atinge de forma direta”, avalia.
Almeida diz que um dos pontos mais polêmicos do
projeto foi o de garantir a liberdade de acesso, mas
ao mesmo tempo buscar coibir abusos como o crime
de pedofilia. “Estamos em discussão, mas, a princípio, definimos que todo o conteúdo questionável na
rede deverá ser retirado apenas com ordem judicial.
As pessoas podem suprimir a publicação por vontade
espontânea, porém não serão obrigadas”, enfatiza. “A
guarda de registros na rede é outro ponto de discussão. Mas também deveremos chegar a um consenso a
partir das contribuições recebidas”, completa.
Sobre o projeto de lei em discussão no Legislativo,
Guilherme Almeida define como uma proposta que vai
de encontro aos anseios da sociedade. “Esse projeto
foi inspirado numa convenção da Comunidade Europeia de cyber crimes, mas o Brasil não assinou e é
contrário. Então, a proposta está na contramão da linha de pensamento do próprio País”, avalia.
“Mais do que sair criando
tipos penais e mecanismos
de investigação,
o Marco Civil propõe
identificar, com clareza,
os deveres e direitos
dos indivíduos. Para isso,
consultamos a sociedade,
disponibilizando na própria
Internet as propostas que
iriam fazer parte
do anteprojeto.”
Projeto de Lei
Na Câmara, o relator do projeto que tipifica crimes
digitais na lei brasileira, deputado federal Julio Semeghini (PSDB-SP), afirma que a ideia é apresentar
um texto alternativo ao projeto de lei nº 84/1999 – que
foi modificado no Senado e voltou para discussão na
Câmara dos Deputados. “Pretendemos reformular a
matéria e propor um substitutivo que contemple parte
do projeto que teve origem na Câmara e parte da proposta modificada pelo Senado. E, assim que conseguirmos um consenso, no mais tardar até o final de
julho, enviaremos a proposta para sanção do presidente da República”, explica.
De acordo com Semeghini, ao punir o mau uso da
rede, o projeto é uma complementação do Marco Civil,
e não um contraponto. “Não entraremos nas questões
de que trata o projeto do Executivo. Precisamos, sim,
abordar aqueles que entram na rede com o objetivo
de prejudicar alguém, seja para destruir informações e banco de dados, seja no intuito de subtrair
dados confidenciais de outros usuários, como senhas
de banco”, destaca.
O parlamentar considera que o principal impasse da proposta é quanto ao armazenamento de dados
pelos provedores de acesso. “O projeto atual prevê que
os dados fiquem arquivados durante três anos. Mas é
um ponto que está em discussão. A princípio, o que
está prevalecendo é que esse armazenamento seja
por um ano. Temos, ainda, outro ponto polêmico que
é a obrigatoriedade de os provedores denunciarem às
entidades competentes crimes praticados na rede.
Mas isso já existe no Código Penal: a obrigatoriedade
de a pessoa denunciar uma prática que tenha presenciado. Precisamos rever essas questões”, admite.
próximos passos
no executivo
Marco Civil – Ministério da Justiça
(MJ) espera concluir proposta,
no início do segundo semestre,
e enviar ao Congresso
no legislativo
Projeto de Lei nº 84/1999 –
Deputado Julio Semeghini,
relator da matéria, deverá
propor um substitutivo ao projeto,
enviado pelo Senado à Câmara, e,
na sequência, encaminhar para
sanção do Presidente da República
tema | mar/abr 2010 | 31
redes sociais
Canal direto
com o cidadão
As novas redes sociais
têm permitido a órgãos
dos três Poderes da
República manter
uma comunicação
permanente
e direta com
a sociedade
32 | tema | mar/abr 2010
Ilustração: Diego Pizzini
A
s redes sociais estão revolucionando as relações entre os cidadãos e
os órgãos da administração pública. Se antes as pessoas dependiam dos meios de comunicação tradicionais
para tomar conhecimento de alguma ação
do governo, hoje esse diálogo se dá de forma
mais direta.
O Ministério da Saúde (MS) é um dos
órgãos que conhece bem esse potencial.
A recente campanha nacional de vacinação
contra a gripe H1N1 levou milhares de internautas a procurarem informações sobre
o tema via redes sociais. Foram os boatos,
mitos e dúvidas que surgiram com a chamada gripe suína que levaram o MS a optar
por esse tipo de canal. A intenção era impedir o pânico e a divulgação de informações
incorretas sobre a doença. Além de ter seus
perfis oficiais no Twitter, Facebook, Orkut,
YouTube e Formspring, o MS monitora temas relacionados à saúde em sites de notícias e blogs.
Nas redes sociais, os internautas têm
as suas perguntas respondidas pelo Ministério em, no máximo, 24 horas. Além
desses perfis oficiais, o órgão disponibiliza
uma rádio – que só pega na internet – no ar
desde março deste ano. A audiência da Rádio Saúde surpreendeu a coordenadora da
emissora, Marina Mello. “Coletivas e transmissões ao vivo alcançam geralmente mais
de 100 internautas conectados. Programas
como Conexão Sexo, que trata de tirar dúvidas dos internautas sobre sexo e doenças
sexualmente transmissíveis, são recordistas de audiência”, diz ela.
tema | mar/abr 2010 | 33
Judiciário
As redes sociais também têm ajudado o Supremo
Tribunal Federal (STF) a se aproximar da população.
Há anos, sua página na internet (www.stf.jus.br) disponibiliza uma ferramenta que permite ao cidadão
saber o andamento de qualquer processo em julgamento no órgão. E essa consulta tem sido modernizada para ficar mais simples e direta. Uma novidade é o
acesso pelo celular. “O desenvolvimento do STF-mobile
é marcante. Ele permitiu aos cidadãos ter as informações sobre processos, notícias e jurisprudência por
smartphones”, afirma Lúcio Melre, secretário de Tecnologia da Informação (TI) do STF, acrescentando que
os serviços disponíveis para consulta por celular são
os mais acessados no sítio do Supremo.
Em abril deste ano, foi publicada uma resolução do STF regulamentando os tipos de processos
que poderão ter uma análise totalmente eletrônica. A Secretaria de TI lembra que o processo eletrônico já existe na Suprema Corte desde 2007,
mas o serviço foi ampliado para dar mais agilidade
ao julgamento das ações. “O agravo de instrumento foi incluído no rol dos processos eletrônicos.
Essa mudança provocará impactos muito grandes
na comunidade jurídica brasileira, porque mais de
60% dos processos distribuídos no STF são dessa
classe”, prevê Melre.
A presença do Supremo nas redes sociais ainda
não pode ser considerada ampla. Mas tanto o próprio
STF quanto o Conselho Nacional de Justiça (CNJ),
órgão criado em 2004 para dar transparência e fiscalizar a atuação dos juízes, já contam com os seus
respectivos canais no YouTube e perfis no Twitter.
Uma das metas do planejamento estratégico do órgão, para o período 2009/2013, é ampliar sua visibilidade nas redes sociais.
Foto: Heroturko.org
As redes sociais
já fazem parte da
rotina de vários
órgãos públicos.
Cidadãos podem
acompanhar
julgamentos de
processos pelo
Legislativo e
a execução de
programas do
governo federal.
A coordenadora do Núcleo de Comunicação Interativa do MS, Fernanda Scavacini, avalia que os resultados obtidos com as redes sociais são os melhores
possíveis. “A população se sente ouvida. Agora ela
tem voz e autonomia para dizer o que quiser e ainda ganhar uma resposta. Nas redes, o cidadão pode
desabafar, criticar e também elogiar. E por sempre
ser atendido, independentemente do que tem a dizer,
ele fica muito satisfeito. Por isso, o Ministério conseguiu ter tantos amigos e seguidores em suas redes
sociais”, afirma. (Todos os links para acessar às páginas do MS nas redes sociais podem ser acessados
pelo sítio www.saude.gov.br).
Ainda no âmbito do Executivo, o Ministério da
Cultura é outro que investe na comunicação direta com os internautas. Na sua página na internet
(www.cultura.gov.br), o órgão disponibiliza os editais de seleção pública para projetos na área cultural.
O acesso é simples e aberto a todos os interessados.
34 | tema | mar/abr 2010
Foto: Sxc.hu
Acompanhe as ações de
órgãos públicos pelas redes
sociais. Abaixo, seguem alguns
exemplos:
O Ministério da Saúde (MS) possui
mais de 16 mil seguidores no
Twitter. O canal de comunicação
já se transformou em ponto de
referência para divulgação de
campanhas e ações.
http://www.saude.gov.br
Legislativo
No mesmo caminho dos Poderes Executivo e
Judiciário, o Legislativo já percebeu a importância
da internet e das redes sociais. Os projetos de lei
apresentados por deputados e senadores, o passo a
passo das propostas e a lista de matérias previstas
para irem à votação estão à disposição de qualquer
internauta. As notícias produzidas pelos veículos de
comunicação da Câmara e do Senado também estão
nos perfis do twitter que as agências, rádios e TVs
do Legislativo mantêm na rede mundial de computadores.
No Senado Federal, a ampla inserção nas redes
sociais é uma das metas do planejamento estratégico em construção para os próximos oito anos. Um
dos incentivadores desse processo é o próprio presidente da Casa, senador José Sarney (PMDB-AP),
que acredita que as redes sociais devem levar a sociedade a um modelo de democracia direta. “Este é
um caminho sem volta. Com a evolução das redes
sociais, o cidadão não precisará mais de representantes da forma que temos hoje”, diz o senador.
“Este é um
caminho sem
volta. Com a
evolução das
redes sociais,
o cidadão não
precisará
mais de representantes
da forma que
temos hoje”
Com mais de 14 mil seguidores,
o Ministério da Cultura (MinC)
também entrou na onda das redes
sociais. Espaço é um meio de se
acompanhar as atividades culturais
da pasta. http://www.cultura.gov.br
No Judiciário, as decisões do
Supremo Tribunal Federal (STF)
podem ser acompanhadas pelo
Twitter. O órgão é visto por mais
de 22 mil seguidores.
http://www.stf.jus.br
tema | mar/abr 2010 | 35
Ilustração: DIego Pizzini
memória
COLAR
AQUI
Primeiros passos
Iniciativas pontuais de implantação de telecentros e espaços
“Serpro Cidadão” marcaram o início do processo
de inclusão digital no Brasil
O
tema da inclusão digital começou a figurar no cotidiano do País, no início da década passada. O pressuposto era de que,
além de possibilitar o contato do cidadão
com o mundo digital, fazia-se necessário que ele
pudesse usufruir de um suporte tecnológico para
mudar sua condição de vida. No Serpro, os primeiros passos foram dados em meados de 2003, com
a implantação de telecentros no Rio de Janeiro
(RJ). Já as ações do governo federal tiveram início um pouco antes, em 2001, com a instalação de
unidades em São Paulo (SP) e Porto Alegre (RS).
Mesmo sem saber o significado de Inclusão
Digital, o Serpro passou a instalar, em suas representações regionais, o Espaço Serpro Cidadão,
oferecendo às comunidades o acesso à busca de
informações e aos serviços disponíveis na Internet.
Hoje, o Espaço está presente nas 10 unidades regionais (Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador,
Recife, Belo Horizonte, Belém, Fortaleza, Porto
Alegre e Curitiba). O ambiente segue os mesmos
moldes de um telecentro e é composto por computadores conectados à rede, operando em plataforma
Linux. Também, há impressoras que possibilitam a
impressão de certidões, documentos ou resultados
de exames e pesquisas.
Os primeiros passos em direção à implantação dos primeiros telecentros foram dados pelo
Serpro, no Rio de Janeiro, com a instalação de
11 unidades, em parceria com o Banco do Brasil.
De acordo com o gerente do Programa Serpro de
Inclusão Digital, Antônio Carlos Miranda da Silva,
conhecido como “Cabelinho”, o banco forneceu as
máquinas que foram substituídas de seu parque
tecnológico. “Além desta parceria, conseguimos
também o apoio do Programa Governo Eletrônico
Serviço de Atendimento ao Cidadão (Gesac), do
Ministério das Comunicações, que nos forneceu
conexão para duas unidades”, lembra.
Cabelinho ressalta, entretanto, que as máquinas fornecidas pelo Banco do Brasil possibilitaram
o avanço na instalação dos telecentros. “Graças ao
Banco, pudemos dar continuidade à proposta de
implantação das estruturas. As primeiras ações
foram difíceis, porque não tínhamos ainda no Serpro
uma área de inclusão digital. Nosso público interno não entendia como iríamos montar uma estrutura e configurar os computadores sem cobrar
nada. Tivemos que mudar a lógica e implantar a
visão de que o Serpro estava apenas devolvendo
para a sociedade toda a credibilidade recebida durante anos”, enfatiza.
Hoje são mais de 300 unidades instaladas em
todo o Brasil. Para utilizar os computadores doados, o Serpro teve que desenvolver uma plataforma tecnológica que pudesse atender ao programa
de Inclusão Digital e permitir a sua execução nas
máquinas. “Os colegas desenvolveram, então,
soluções híbridas com configurações mínimas
para executar basicamente placas de rede e vídeo.
Esses computadores eram ligados em rede a um
servidor com recursos melhores”, explica.
Mais computadores
Cabelinho conta que a montagem dos telecentros ganhou uma amplitude maior em 2006,
quando a Receita Federal devolveu cerca de 12 mil
máquinas ao Serpro. “Saímos de um Fusca para
um Monza naquela ocasião”, compara. “Os computadores eram melhores do que os que tínhamos
até então, por isso pudemos desenvolver recursos mais avançados, além de poder renovar todo
o parque dos telecentros já implantados. Os PCs
se tornaram mais independentes e não precisavam
tanto de um servidor para executar suas funções”,
recorda.
Naquele mesmo ano, e com a possibilidade maior de instalação de telecentros, foi criado
o Programa Serpro de Inclusão Digital (PSID). “A
partir desse momento, a empresa resolveu instituir uma estrutura para o programa funcionar. Foi
criada uma coordenação nacional e também um
grupo de trabalho de mais ou menos 20 pessoas
em todas as regionais do Serpro”, diz o gerente.
Em 2007, foi efetivada a Coordenação Estratégica de Inclusão Digital, em âmbito nacional.
Vários profissionais foram destacados nas regionais para atuar no Programa, e o Serpro ampliou
sua contribuição no esforço de assegurar a inclusão digital das diversas camadas da população.
“Tivemos que
mudar a lógica
e implantar
a visão de
que o Serpro
estava apenas
devolvendo
para a
sociedade
toda a
credibilidade
recebida
durante anos.”
tema | mar/abr 2010 | 37
ciência computacional
inteligência
artificial
a serviço do governo
38 | tema | mar/abr 2010
tema | mar/abr 2010 | 39
Ilustração: Diego Pizzini
Apesar de ser um ramo de pesquisa
científica ainda recente no Brasil,
a inteligência artificial pode
ajudar o país a ampliar os serviços
de governo eletrônico e a combater
a sonegação fiscal
A
inteligência artificial (IA) está por toda parte.
É possível perceber a atuação desse campo
da ciência computacional, que se inspira em
mecanismos do pensamento humano, no
nosso dia a dia. Os supercomputadores já controlam
os voos nos aeroportos, conversam com pessoas, fazem cirurgias, mudam o ritmo dos sinais de trânsito,
administram e detectam falhas em sistemas de produção industrial, funcionam como guias em museus
e até jogam xadrez.
Os conceitos de IA podem ser aplicados a diferentes áreas: na administração e logística para organizações, em cálculos e demonstrações de teoremas complexos, no modelamento de sistemas físicos
(eletroeletrônica, nanotecnologia), na robótica, na
automação de linhas de montagem, nos jogos e em
aplicações financeiras na Bolsa de Valores.
A previsão de alguns cientistas é de que não irá
demorar muito tempo para que as máquinas imitem
as qualidades humanas com perfeição. Há quem
diga, por exemplo, que até 2030 os computadores
serão dotados de consciência. De certa forma, a premissa tem até um respaldo científico. A Lei de Moore
(formulada por Gordon Moore, co-fundador da Intel)
estabelece que o número de transistores em um determinado chip é dobrado a cada dois anos. Desde
que Moore criou a lei, em 1965, ela se tornou um guia
do progresso da informática e da eletrônica.
Se isso continuar acontecendo, a IA alcançará a capacidade de processamento dos 100 bilhões
de neurônios do cérebro humano por volta de 2025.
Apesar dessa previsão otimista, existe uma vertente
de pensadores, dentre eles o neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, que acredita que as máquinas
nunca conseguirão abarcar a complexidade da cognição humana.
“É louvável essa política,
pois um Estado forte
não pode se basear
em tecnologias que o
mantenha dependente de
interesses particulares,
bem como deve ser capaz
de responder às demandas
do cidadão brasileiro.
A Inteligência Artificial é
uma dessas tecnologias
que devemos dominar.”
40 | tema | mar/abr 2010
Casos de sucesso
Discussão científica e filosófica à parte, a realidade é que o governo brasileiro e algumas organizações privadas têm formado grupos de trabalho para aperfeiçoar iniciativas de IA. Atualmente,
mais de 300 cadastrados no Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
estudam o tema. Entre as instituições nacionais
que desenvolvem pesquisas sobre aplicações baseadas em IA, estão a Petrobras, a Telebrás, a
Caixa Econômica Federal e a Receita Federal do
Brasil.
Um caso de sucesso é o projeto de Inteligência
Computacional do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Petrobras (Cenpes), desenvolvido em
parceria com a Pontifícia Universidade Católica
do Rio de Janeiro (PUC-RJ). O Sistema de Análise
Econômica de Projetos de E&P de Petróleo sob Incerteza (Anepi) possibilita a análise econômica em
relação à exploração e prospecção de petróleo.
Analista do Serpro e doutorando em Inteligência
Artificial pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica
(ITA), José Raimundo Fonseca explica que o modelo
da Petrobras usa técnicas de IA, como algoritmos
evolutivos, redes neurais e modelos neuro-fuzzy
(técnica que gera regras diretamente de dados
numéricos), para encontrar configurações de produção em campos petrolíferos “Trata-se de um
excelente exemplo do potencial de aplicação dessa
tecnologia em problemas relevantes”, afirma.
Recentemente, a Receita Federal deu seus
primeiros passos na área da IA. Em conjunto com
pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e do ITA, o órgão formatou o Projeto
Harpia – o nome foi dado em referência à maior ave
de rapina do mundo, também conhecida como gavião-real. Criado para combater a sonegação fiscal
no País, com a identificação de possíveis fraudes,
o Harpia ainda não foi finalizado, mas poderá dar
uma contribuição relevante na área de IA.
“Investir na pesquisa e em formas mais eficazes de detecção de fraudes é um excelente objetivo
a perseguir, num país que vem perdendo milhões
todos os anos com a corrupção. Poderíamos dar
seguimento ao projeto Harpia, agora, no âmbito do
Serpro”, pondera José Raimundo.
E-Gov
O analista adianta que o Serpro tem a intenção
de formar um grupo de trabalho, com a participação de funcionários da empresa e de estudiosos
de diferentes instituições, para fazer pesquisas de
Inteligência Artificial voltadas para governo eletrônico. Ele ressalta que a Coordenação Estratégica
de Tecnologia (Cetec) tem o entendimento de que
a instituição pode se tornar referência na área de
infraestrutura dirigida à prestação de serviços eletrônicos pelo setor público.
Filmes que apresentam
conceitos de inteligência
artificial:
Acesse o Portal de serviços e
informações do governo federal,
e fique por dentro das ações em gestão
eletrônica. http://www.e.gov.br/
Foto: Divulgação
Matrix (The Matrix, EUA, 1999) –
Ganhador de vários prêmios, o filme
conta a história de uma sociedade dominada por um programa de computador
chamado Matrix, que evoluiu por meio
da inteligência artificial. O personagem
do ator Keanu Reeves (Neo) é chamado
por um grupo de rebeldes para combater os computadores. Na trama, Neo tem
pesadelos horríveis em que se vê conectado por cabos a um sistema de computadores e começa a duvidar da realidade
em que vive. O personagem de Keanu
Reeves é visto como o salvador que irá
libertar os humanos presos na Matrix.
Os diretores conceberam a trama como
uma trilogia, concluída em 2003 com
Matrix Reloaded e Matrix Revolutions,
rodados simultaneamente. A direção e
o roteiro foram dos irmãos Wachowski,
com produção de Joel Silver.
Foto: Divulgação
Conhecido por e-Gov, o governo eletrônico é um
fenômeno resultante do uso intensivo das tecnologias da informação e da comunicação. É comprovado
que, quando um país investe na oferta de serviços
públicos por meio eletrônico, consegue redução nos
gastos e maximiza a sua produtividade.
“Nos últimos anos, acompanhamos um forte
investimento na infraestrutura e na formação de
recursos humanos da máquina estatal. É louvável
essa política, pois um Estado forte não pode se basear em tecnologias que o mantenha dependente de
interesses particulares, bem como deve ser capaz
de responder às demandas do cidadão brasileiro.
A Inteligência Artificial é uma dessas tecnologias que
devemos dominar”, sentencia José Raimundo.
2001 – Uma Odisséia no Espaço –
(A Space Odyssey, EUA, 1968) – O clássico de ficção científica, que completou
quatro décadas de sucesso, é baseado na obra de Artur C. Clarke. Dirigido
pelo cineasta Stanley Kubrick, aborda
a origem do Homem e sua escalada ao
espaço. Considerado um dos melhores
filmes de todos os tempos, apresenta
ao público o supercomputador inteligente Hal 9000, que se comunica com os
tripulantes e dá ordens na espaçonave.
No começo, Hal se comporta como um
computador prestativo, atendendo aos
pedidos dos cinco tripulantes. Com o
tempo, realiza ações sem o consentimento dos humanos. O filme suscita o
debate de que o computador perfeito é
aquele que não tem usuários.
Inteligência Artificial – (A.I. Artificial Intelligence, EUA, 2001) –
Inspirado em um conto de Brian Aldiss,
o longa-metragem retrata a história de
um menino robô (David) capaz de sonhar e amar. Com base em anotações e
desenhos deixados por Stanley Kubrick,
o diretor Steven Spielberg retrata um
futuro indefinido, em que robôs têm impressionantes feições humanas. No enredo, David é adotado por um casal para
ocupar o lugar do filho doente. Quando
a criança retorna ao lar, o menino robô
é abandonado. Apesar de máquina, ele
quer ser gente e tenta, desesperadamente, reencontrar a sua “mãe”.
Foto: Divulgação
“Investir na pesquisa e
em formas mais eficazes
de detecção de fraudes é
um excelente objetivo a
perseguir num país que vem
perdendo milhões todos
os anos com a corrupção.
Poderíamos dar seguimento
ao projeto Harpia, agora, no
âmbito do Serpro.”
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Foto: Heroturko.org | Composição: Diego Pizzini
O
“Toda e qualquer
instituição
responsável por
uma iniciativa
desse tipo pode
receber os
computadores
recondicionados,
basta a entidade
cadastrar o seu
projeto no sítio
do Ministério do
Planejamento
e aguardar
o resultado
da avaliação
bimestral feita
pelo governo.”
que fazer com aquele computador usado,
jogado num canto qualquer depois de
ter sido trocado por outro mais rápido e
moderno? E com aquela impressora que
foi substituída por uma mais econômica e funcional? Jogar no lixo? Nem pensar. Saiba que essas
máquinas podem ser recondicionadas e abrir as
portas do mundo digital para muita gente que
nunca teve a oportunidade de mexer em um equipamento assim.
O Ministério do Planejamento, por meio da Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação,
tem buscado parceiros na sociedade civil para
implantar o Projeto Computadores para Inclusão.
Organizações não governamentais recebem apoio
para instalar o chamado Centro de Recondicionamento de Computadores (CRC), que procura dar
destino social e ambientalmente correto para milhares de gabinetes, monitores, teclados, mouses
e impressoras descartados por órgãos da administração pública, empresas privadas e pessoas
físicas.
A ideia é espalhar os centros por todo o Brasil,
e já há unidades em funcionamento nas cidades
de Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo
Horizonte, Recife, Salvador e Brasília, onde cerca
de 700 equipamentos em plenas condições de uso
são remontados por mês.
Em São Paulo, foi firmada parceria com a ONG
Oxigênio Desenvolvimento de Políticas Públicas e
Sociais, que funciona na cidade de Guarulhos, região metropolitana da capital paulista. A entidade
desenvolve projetos em diversas áreas e tem experiências reconhecidas na formação profissional.
Além de recondicionar os computadores, o CRC
Oxigênio qualifica 80 jovens de famílias pobres da
região para trabalhar na manutenção de microcomputadores e em configuração de software livre, como o Linux e o BrOffice. Esses jovens prestam serviço na própria unidade, mas também são
encaminhados para o mercado de trabalho.
O CRC Oxigênio foi o primeiro a ser implantado
no Brasil, em 2006. As máquinas recondicionadas
são doadas sem nenhum custo para telecentros,
escolas, bibliotecas públicas ou qualquer entidade
que tenha projetos voltados para a inclusão digital.
“Toda e qualquer instituição responsável por uma
iniciativa desse tipo pode receber os computadores recondicionados, basta a entidade cadastrar o
seu projeto no sítio do Ministério do Planejamento
e aguardar o resultado da avaliação bimestral feita pelo governo”, diz Martha Del Bello, presidente
da ONG Oxigênio.
O CRC de Guarulhos ainda garante a manutenção
das máquinas doadas durante seis meses. E após o
término da vida útil desses computadores, a ONG recolhe os equipamentos nas entidades e troca por novas máquinas igualmente recondicionadas, evitando
44 | tema | mar/abr 2010
Confira alguns dos principais
exportadores e importadores
de computadores usados
Principais exportadores
América do Norte, Europa, Japão e Austrália
Principais importadores
Oriente Médio, África, Países da Ásia
(principalmente a China)
programa do governo federal
Projeto Computadores para Inclusão (CI), do
governo federal, tem o objetivo de recondicionar
produtos usados de informática e oferecê-los,
em plenas condições operacionais, a escolas,
bibliotecas, telecentros comunitários, entre outros.
A ideia é promover a inclusão digital. O projeto
atua, ainda, na formação de jovens adolescentes.
Veja situação do projeto em todo o País
5 Centros de Recondicionamento de
Computadores (CRCs) implantados:
• Porto Alegre (RS): 62 jovens formados;
70 em formação.
• Gama (DF): 778 jovens formados;
20 em formação.
• Guarulhos (SP): 350 jovens formados;
80 em formação.
• Belo Horizonte (MG): 369 jovens formados,
140 em formação.
• Recife (PE): 105 jovens formados,
110 em formação.
Nota: Dados de fevereiro de 2010.
Doações aprovadas:
Computadores
aprovados para doação
Projetos aprovados
2007
2008
2009
1.899
6.366
4.710
163
486
381
Fonte: www.computadoresparainclusao.gov.br
“Nós ajudamos no combate à poluição e ainda
levamos a inclusão digital para milhares de jovens,
adultos, crianças e até idosos que nunca tiveram
acesso à tecnologia da informação.”
que a pessoa que recebeu os computadores os descarte incorretamente. E o meio ambiente agradece:
só a Oxigênio recebe por ano cerca de 10 toneladas de lixo eletrônico. “Nós ajudamos no combate
à poluição e ainda levamos a inclusão digital para
milhares de jovens, adultos, crianças e até idosos
que nunca tiveram acesso à tecnologia da informação”, diz Martha Del Bello.
oficinas de artesanato, e dão vida às mais variadas
peças, desde as mais simples utilidades domésticas até os objetos de decoração mais sofisticados
e modernos.
Nos locais onde já foram implantados, os CRCs
são um sucesso ao gerar oportunidades de trabalho e colocar a tecnologia a serviço de comunidades de baixa renda.
Distrito Federal
No Distrito Federal, quem coordena o Centro
de Recondicionamento de Computadores é a ONG
Associação de Apoio à Família, ao Grupo e à Comunidade (Afago), que funciona na região administrativa do Gama, distante cerca de 40 quilômetros do centro de Brasília. Inaugurado em abril de
2007, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o
projeto CRC Gama tem como objetivo apoiar e viabilizar iniciativas de promoção da inclusão digital
por meio da oferta de cursos profissionalizantes
de informática para jovens de 16 a 24 anos, além
da doação de equipamentos recondicionados aos
telecentros comunitários, escolas e bibliotecas
públicas.
A presidente da Afago, Zélia Victorino dos Santos, explica que a principal tarefa do Centro é formar
profissionais aptos a ingressar no mercado de trabalho. Para isso, a ONG oferece cerca de 300 vagas
por ano para os cursos de informática básica, manutenção e configuração de microcomputadores.
Tudo de graça. “A partir deste ano, os funcionários
da área técnica e de logística da Afago passaram a
ser selecionados entre os ex-alunos do CRC Gama,
uma vez que foram formados e capacitados para
atuarem na área de manutenção, configuração e
recondicionamento de computadores. Os empregados são pessoas da comunidade e todos concluíram
o ensino médio”, diz Zélia. É uma forma de o CRC
ajudar esses jovens sem experiência a conseguirem
o tão desejado primeiro emprego.
E o que é feito com as partes de computadores
que não servem mais, nem para serem recondicionadas? Esse material é reciclado e usado em
Para mais informações sobre a doação
de equipamentos, acesse os sítios:
www.oxigenio.org.br
afagodf.blogspot.com
tema | mar/abr 2010 | 45
Foto: Luiz Okubo
opinião
Inclusão digital e
software livre são
pré-requisitos do
exercício da cidadania
Nivaldo Venancio da Cunha
Diretor de Operações do Serpro
U
ma certeza inabalável é que a inclusão digital
deve ser uma das armas de combate à exclusão social no Brasil. Para isso, deve ser realizada por meio de políticas públicas. Nos últimos oito anos, diversas foram as iniciativas de órgãos e
empresas estatais para a criação de telecentros: espaços públicos de acesso aos computadores e à internet,
baseados na parceria com comunidades, associações
e nos softwares de código aberto.
Se trabalharmos com a evolução dos serviços de governo e essa melhoria passar pela disponibilidade dos
mesmos na rede mundial de computadores, não poderemos aceitar que metade do País esteja impossibilitado
de navegar na internet. As lan houses têm, claro, papel
importante na universalização do acesso, porém a
função de fomentar não só o acesso, mas também a formação individual, profissional e a produção de conhecimento nas muitas localidades esquecidas pelo mercado
que explora a internet, tem sido dos telecentros.
Estes espaços de inclusão digital – repito – acertadamente baseados na parceria com a comunidade,
demandam infraestrutura e sustentabilidade. A interligação é óbvia, além de não possuírem alto custo de manutenção, têm que fornecer possibilidades de aprendizagem das ferramentas de informática. Por isso, não
há dúvida de que os telecentros devem ser equipados
com softwares livres. A lógica do conhecimento aberto, as comunidades formadas para qualificar as tecnologias e o provimento de respostas às dúvidas dos
usuários casam com a missão dos telecentros.
Não é aceitável capacitar as
pessoas em ferramentas de uma só
empresa, qualquer que seja ela,
porque isso, sabemos, aprisiona o
conhecimento e suas possibilidades
de evolução
46 | tema | mar/abr 2010
Os computadores dos centros, com participação do
Serpro, são instalados com Linux e uma vasta gama de
programas livres. Em breve, passarão da distribuição
Fedora para Ubuntu. Não é exagero dizer que a democracia ganha com isso. Na falta de uma metáfora mais
precisa, o que está ocorrendo é uma alfabetização digital. Não é aceitável capacitar as pessoas em ferramentas de uma só empresa, qualquer que seja ela, porque
isso, sabemos, aprisiona o conhecimento e suas possibilidades de evolução. Com essa opção tecnológica
aliada à decisão de o governo guiar as aquisições de
serviços por meio das plataformas abertas, quebramos
um ciclo vicioso entre educação da informática e exigências do mercado por um dado produto.
Esta lógica é utilizada, com razão, na seleção pública do Programa Nacional de Apoio à Inclusão Digital nas Comunidades – Telecentros.BR, lançado em
março deste ano. Além de novos equipamentos para
as iniciativas já existentes, prevê bolsa para monitores
e recondicionamento de computadores. Geração de
conhecimento em software e hardware tendo, entre
as premissas, acesso público e gratuito, realização de
cursos e atividades coletivas (de cultura, lazer e renda),
sempre com uso de programas de código aberto.
Não se pode deixar de falar do importante passo
para a inclusão digital, que é o Plano Nacional de Banda Larga – PNBL. Onde o mercado falhou em prover
acesso com justo equilíbrio entre preço e qualidade,
o governo dá o pontapé para a distribuição nacional
e integradora do usufruto das novas tecnologias de
comunicação em rede.
Inclusão Digital é um direito de todos que o governo
deve garantir. O pleno exercício da cidadania, além das
necessidades básicas clássicas, só é possível hoje com
acesso aos recursos informacionais e com a liberdade
de aprender e reproduzir. Ensinar a pescar é um ponto
importante e só acontece com a livre escolha das ferramentas: varas, linhas e anzóis. Contudo, antes disso,
é preciso fornecer o acesso ao mar, sem este ninguém
navega.

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