19 a 21 de Julho de 2016

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19 a 21 de Julho de 2016
19 a 21 de Julho de 2016
São Paulo/Brasil
Universidade de São Paulo
V CONGRESSO LATINO-AMERICANO DE HISTÓRIA ECONÔMICA
(CLADHE V)
Universidade de São Paulo – USP, São Paulo (Brasil)
Título do Simpósio/ Título del Simposio
Escravidão e História Econômica
Coordenadores (Universidade)/Coordinadores (Universidad)
Jonis Freire
UFF/Brasil
Araceli Reynoso Medina
UNAM/México
Resumos Aprovados / Resúmenes aprobados
La Evaluación Económica de la Esclavitud en Santiago de Chile, Fines
del Siglo XVIII
Celia Cussen
Universidad de Chile
[email protected]
Juan José Martínez Barraza
Universidad de Chile
[email protected]
Adquirir un esclavo a fines de siglo XVIII en Santiago de Chile constituía una
inversión relativamente alta, si se compara con valores de salarios y bienes de
la época. La presente ponencia tiene como objetivo identificar los elementos
que determinaron la decisión de adquirir o mantener esclavos por parte de sus
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potenciales compradores, y cuantificar los retornos de inversión que
generaban.
El método para evaluar la conveniencia de adquirir y poseer esclavos fue
propuesto por Conrado y Meyer (1958) y posteriormente de Fogal y Enjalman
(1974), y consiste en aplicar el modelo de la evaluación de proyectos de
inversión en aquella época por la adquisición y/o tenencia de esclavos. Se
estima entonces uno de los indicadores costo-beneficio de mayor uso para
evaluar la conveniencia y decidir la ejecución de un proyecto de inversión, esto
es, el valor actual neto (VAN), cuyas variables para su cálculo se redefinen en
función del fenómeno de esclavitud objetivo de este estudio. Grosso modo el
modelo se compone de cuatro variables: i) inversión inicial o valor de compra
de un esclavo, para lo cual se construye un perfil de precios por sexo/edad; ii)
beneficio esperado futuro por la compra de un esclavo, que se define como el
ahorro efectivo del dueño, en términos del no pago de salario por el trabajo al
cual se destina el esclavo, en vez de encargarlo a un trabajador libre; iii) costo
esperado futuro, o los gastos asociados a la mantención de un esclavo y; iv)
tasa de descuento o interés, correspondiente a un 5% para esta época, que
equivale a la tasa que se cobraba por la colocación de créditos entre personas
naturales.
Nos interesa aplicar este modelo al caso de Santiago de Chile para evaluar, en
lo posible, los resultados en un contexto muy diferente a aquello de los EEUU.
En primer lugar, se trata de una zona de tradición ibérica, donde, según
Tannenbaum (1946) y otros, tanto las leyes de la Iglesia Católica como las
costumbres peninsulares habrían influido en las prácticas y actitudes
asociadas a la esclavitud, produciendo un supuesto trato favorable a los
esclavos y esclavas. En segundo lugar, en la ciudad de Santiago los esclavos
cumplían labores domésticas, y no agrícolas, como en el caso norteamericano.
Y finalmente, la historiografía chilena ha argumentado largamente que los
esclavos eran caros, y “bienes de lujo”, una aseveración que puede llevar al
cuestionamiento de su rentabilidad.
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En términos generales, encontramos que la tasa de retorno de un esclavo
hombre a lo largo de su ciclo de vida alcanzó, en promedio, un 10%, el mismo
resultado que estiman Fogel y Engelman para el sur de Estados Unidos a
mediados del siglo XIX. Pero a diferencia de los resultados para Norte
América, la adquisición de una esclava podía generar un cambio negativo en
la riqueza de su dueño, al menos que ella desempeñara varias labores en la
casa o se dedicaba a una actividad que exigía cierta calificación, como la
cocina. Asimismo, los resultados mejoran para la mujer si se considera la
tenencia de hijos.
Preços dos escravos em Campinas no século XIX.
Maria Alice Rosa Ribeiro
Livre-Docente do Departamento de Economia da Faculdade de Ciências e
Letras da Universidade Estadual Paulista, Campus de Araraquara. UNESP
(aposentada). Pesquisadora do Centro de Memória UNICAMP
[email protected]
O objetivo do trabalho é acompanhar o comportamento dos preços dos
escravos, ao longo do século XIX, com ênfase especial, na segunda metade
do século, quando dois acontecimentos redefiniram as relações entre
escravidão e a economia na sociedade paulista. Referimos à Lei da Abolição
do Tráfico de Escravos (1850) à transição da economia açucareira para
cafeeira no município de Campinas na Província de São Paulo. A abolição do
comércio de escravos africanos ocorreu no momento em que a economia
campineira abandonava paulatinamente os engenhos de açúcar para
ingressar na produção de café. Essa transição começara na década anterior,
portanto em 1850, as exigências de trabalhadores tornaram crescentes para
atender as novas tarefas impostas pela lavoura cafeeira. Diante de uma
demanda crescente por escravos, com restrição legal da oferta, logo, os
preços responderam com uma elevação expressiva. Dado que a reprodução
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natural da população no cativeiro era negativa, somente a criação da oferta
interna, por meio do tráfico de escravo interprovincial e intraprovincial,
acomodou parcialmente e temporariamente os preços a níveis compatíveis
com a expansão da economia cafeeira para novas áreas da economia
paulista. No entanto, o comportamento dos preços também era afetado pela
legislação do trabalho escravo que a partir de 1871 imprimiu um ritmo
gradualista para o fim da escravidão no Brasil, o que o levou a ser a última
nação do mundo a abolir o trabalho escravo. Em 1874, em decorrência da
expansão da economia cafeeira, Campinas concentrava 13.685 escravos o
maior contingente de cativos da Província de São Paulo. Os dados sobre os
preços dos escravos foram levantados nos inventários post mortem de
grandes proprietários de escravos, senhores de engenho e/ou cafeicultores de
Campinas. Os inventários pertencem a Fórum da Justiça de Campinas e
encontram-se sob a custódia do Centro de Memória da UNICAMP.
Pretendemos fazer a análise balizada pelas leis referentes ao trabalho escravo
e pelo ritmo de expansão da economia cafeeira paulista, cotejando a produção
historiográfica sobre o tema.
Escravidão indígena na Amazônia Caribenha
Reginaldo Gomes de Oliveira
Universidade Federal de Roraima (UFRR/Brasil)
[email protected]
Lodewijk A.H.C. Hulsman
Pesquisador no programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional
da Amazônia na Universidade Federal de Roraima (UFRR/Brasil)
[email protected]
Essa comunicação se trata de uma pesquisa histórica com enfoque na
temática mão de obra no contexto das fazendas da Amazônia colonial, com
destaque para as Guianas em particular. As Guianas constituem um espaço
singular na Amazônia por vários motivos, pois, desde a pré-história conhecem
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uma dinâmica regional e são marcadas por uma natureza caraterística dentro
da Amazônia; ao mesmo tempo as Guianas são divididas por cinco nações e
incluem, à parte do português, espanhol, francês, neerlandês e inglês, suas
respectivas línguas nacionais, as várias etnias e línguas indígenas,
caracterizada assim como uma região excêntrica do Norte da América do Sul.
A literatura indica que houve um fluxo constante de mão de obra indígena,
especialmente escrava, da Amazônia para a costa das Guianas no período
1640-1800. A pesquisa procura ampliar o entendimento do papel da mão de
obra indígena nas fazendas da Amazônia e das Guianas, que, supostamente,
gerou esse fluxo de cativos, no contexto regional e internacional. A
investigação é de natureza arquivista, cujas fontes são manuscritos inéditos
neerlandeses que documentaram o emprego da mão de obra indígena nas
fazendas na colônia holandesa de Berbice no período 1726-1736. Esses
registros detalhados possibilitam uma análise da população escrava indígena
e africana durante um período de uma década providenciando informações
comparativas sobre taxa de doença, taxa de mortalidade, taxa de nascimento
até a trajetória de pessoas escravizadas individuais. Essa análise resultou em
várias conclusões surpreendentes que precisam ser aprofundadas como a do
crescimento da população escrava indígena que parece superar aquela da
população escrava de origem africana. Parece também que a população
indígena em Berbice é muito menos atingida por doenças do que a população
de origem africana. O viés comparativo preenche uma lacuna sobre a
discussão dessa mão de obra no desenvolvimento das fazendas quando
cotejadas as fontes neerlandeses com as portuguesas que tomam como
referência a mão de obra indígena na Amazônia colonial.
Angolas e crioulos na planície açucareira de Campos dos Goitacazes:
população, tráfico atlântico e variação da posse de escravos (1750-1830)
Márcio de Sousa Soares
Universidade Federal Fluminense (UFF/Brasil)
[email protected]
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Esta comunicação examina o impacto do tráfico atlântico de escravos sobre a
população estabelecida nos Campos dos Goitacazes, região localizada ao
norte da capitania / província do Rio de Janeiro, durante o processo de
montagem e expansão da produção açucareira entre 1750 e 1830. Ao lançar
mão de um conjunto diversificado de fontes de pesquisa, a exemplo de
mapeamentos populacionais; inventários post-mortem; registros paroquiais de
batismo; passaportes e despachos de escravos, pretende-se avaliar o quadro
demográfico e a variação da posse de cativos ao longo do período. Com isso,
pretende-se analisar os desdobramentos da relação proporcional entre
africanos e crioulos na população escrava e verificar os níveis de
concentração de riqueza na planície goitacá, tomando como medida a
evolução da estrutura da posse de escravos.
Não obstante o estreito vínculo de dependência com relação ao tráfico
atlântico, salta aos olhos uma expressiva presença de escravos crioulos entre
os adultos ao longo do período examinado e em todas as faixas de posse,
mormente nas grandes unidades produtivas. Sem querer acender uma
polêmica semelhante à que animou a historiografia mineira em torno da
possibilidade de reprodução natural da população escrava em Minas Gerais,
os inventários dos senhores estabelecidos em Campos sugerem que Manolo
Florentino tem razão ao argumentar que a lógica demográfica da plantation
não impedia algum grau de reprodução natural da escravaria. Seja como for, a
escravidão em Campos foi predominantemente, adulta, masculina e africana,
uma vez que todas as faixas de tamanho de escravarias sempre se
mostraram, entre adultos e velhos, enormemente africanizadas, pois o ritmo
acelerado de expansão da produção açucareira exigia sempre, e cada vez,
mais braços de africanos adultos.
A íntima relação entre o acesso ao tráfico atlântico de escravos e a
agroexportação determinou as expressivas proporções de africanos nas
escravarias locais em todos os períodos estudados. Mesmo entre aqueles
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pequenos produtores voltados para o cultivo de alimentos que, sempre que
podiam e julgavam conveniente adquirir um cativo, decerto se beneficiavam
daquela enxurrada de africanos que passou a inundar a região anualmente.
Título de la ponencia: Esclavizados y descendientes libres en Corrientes,
a finales de la colonia
Fátima V. Valenzuela
Pertenencia Institucional: Becaria Doctoral del Instituto de Investigaciones
Geohistóricas (CONICET/UNNE)- Resistencia, Argentina
[email protected]
Tomando una clásica definición postulada por la historiografía
americana, las regiones del Nuevo Mundo se dividían entre las sociedades
esclavistas y las sociedades con esclavos como lo sostiene Silvia Mallo
(2005). En las primeras podíamos situar y contextualizar los casos de las
colonias de plantación Estados Unidos, Cuba, Brasil, Haití, entre otros
espacios. En el segundo grupo se encuadrarían la mayor parte de la América
Española.
Una mirada centrada en el caso del Río de la Plata nos obligaría a
analizar la constitución y configuración de una sociedad con esclavos en
donde la esclavitud era un fenómeno secundario dentro de la formación social
y económica de esa región. No obstante, encontramos diferencias y matices
en las diferentes ciudades, por ejemplo a nivel demográfico existía una gran
concentración de población esclavizada en las ciudades del noroeste con una
economía asociada al Alto Perú, y en las ciudades portuarias como Buenos
Aires y Montevideo con una apertura mercantil a partir de finales del siglo
XVIII. En cambio, reconocemos que había territorios lejanos a estas urbes,
marginales y periféricos, que tenían sus propias especificidades que deben ser
clarificadas y evaluadas.
En este sentido, uno de esos era la ciudad de Corrientes, ubicada al
norte de la Cuenca del Plata, en las márgenes del Río Paraná, nexo entre el
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Paraguay (Asunción) y Buenos Aires. En esta ciudad, la población esclavizada
y sus descendientes libres constituían el 10% del total poblacional. Su
presencia se circunscribía al espacio urbano de la ciudad y en la campaña con
sus pequeñas estancias ganaderas y chacras, en donde junto con los
indígenas, guaraníes y etnias provenientes del Chaco, constituían la mano de
obra de este espacio. En este sentido, la historiografía local ha considera que
la población esclava tuvo una importancia relativa en la economía
(Chiaramonte, 1991:118), específicamente al referirse las tareas agrarias.
Creemos que es necesario un estudio pormenorizado que permita hacer
foco en el peso económico que tenían los esclavizados y sus descendientes
libres en dicho espacio, a partir de una mirada centrada en los desplazamiento
que realizaban estos sujetos una vez alcanzada su libertad hacia la campaña y
en el ejercicio de las tareas rurales como mecanismo de ascenso social. Si
tenemos en cuenta su distribución espacial, la mayor parte de la población
esclavizada y sus descendientes libres ocupaban la campaña correntina, en
1820 el 62.5% de estos habitaban dicho espacio y con el paso del tiempo se
elevó al 71,96% en la década del 30 y en 1841, al 78%.
Para explicar este amplio proceso, nos proponemos estudiar y
caracterizar a la población esclavizada y a sus descendientes libres con el fin
de explicar los patrones de vida y formas de subsistencia teniendo en cuenta
la movilidad espacial (ciudad-campaña) y su relación intrínseca con las
condiciones socio-económicas que presentó este grupo social en Corrientes.
Economia e liberdades: a Concessão de alforrias em época da faina
aurífera em Mariana na segunda metade do século XVIII
Carlo Guimarães Monti
Centro Universitário Barão de Mauá - Ribeirão Preto/SP/Brasil
[email protected]
Algumas pesquisas compreenderam os fatores econômicos como relevantes
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para a liberdade de cativos nas Minas Gerais setecentistas. Esses trabalhos,
inauguraram o uso das alforrias concedidas no Brasil como fonte principal de
pesquisa, tiveram como foco preponderante os fatores econômicos, tidos
como definidores das concessões.
As relações nas manumissões seriam
motivadas por questões de mercado, seguindo a lógica do lucro em suas
ocorrências. À época, indicavam os autores o pouco uso de fontes notariais,
assim como a falta de leis que regeram a concessão das alforrias no Brasil. De
tal modo, adveio uma tendência historiografia em apontar as alforrias como
determinadas por movimentos de cunho econômico, sem, contudo, testar
essas afirmações para Minas Gerais. Alguns historiadores relacionaram a
crise econômica na faina aurífera mineira com a quantidade de alforrias
concedidas. Os senhores aliviariam os seus custos em época de crise com a
liberdade dos escravos. As alforrias pesquisadas no trabalho ora apresentado
foram concedidas por moradores de arraiais e freguesias do termo de Mariana
que foi uma das principais áreas de mineração no século XVIII e, também por
moradores de outras partes da comarca e de outras comarcas, que
registraram nos cartórios da cidade as liberdades, pois tinham algum tipo de
ligação com o centro urbano. Na busca pela compreensão da política
senhorial, nos baseamos em duas séries documentais: a primeira composta
pelos registros de alforria, que foram trabalhados em sua totalidade para os
anos de 1750 a 1779; a segunda, formada pelos inventários e testamentos
daqueles senhores que concederam alforrias no período acima citado, embora
não tenhamos localizado estes documentos para todos os proprietários que
alforriaram. Nessa pesquisa buscamos relacionar a concessão de alforrias
com as questões econômicos geradas em uma época de crise na produção
aurífera e pudemos verificar que a crise na produção aurífera não foi tão
preponderante na concessão das alforrias em Mariana entre 1750 e 1779.
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Casamentos mistos: entre a escravidão e a liberdade em Franca-São
Paulo/Brasil, século XIX.
Maísa Faleiros da Cunha
NEPO – Unicamp (Brasil)
[email protected]
Um conjunto de pesquisas relativamente recentes tem demonstrado que a
formação da família no passado colonial e imperial brasileiro foi pautada por
intrincadas relações estabelecidas entre os sujeitos em uma sociedade
escravista marcada pela mestiçagem e por profundas desigualdades. Uma
parte significativa dos membros dessas famílias transitaram entre os mundos
da escravidão e da liberdade, do concubinato e do casamento, e, até mesmo,
do celibato. Nosso trabalho pretende analisar os casamentos mistos (uniões
entre pessoas de estratos sociais distintos: livres e escravos ou entre livres e
descendentes de escravos/as) através dos registros paroquiais de casamento
da paróquia Nossa Senhora da Conceição de Franca, São Paulo, no período
10806-1888, de listas nominativas de habitantes e de inventários post mortem.
Nosso intuito é o de ampliar o estudo sobre os casamentos mistos, uma vez
que trabalhos versando sobre esta temática ainda são escassos no âmbito da
historiografia brasileira.
Trabalho compulsório indígena nas Minas Setecentistas
Fernando Gaudereto Lamas
Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
[email protected]
Os indígenas brasileiros foram amplamente utilizados em trabalhos forçados
durante praticamente todo o período colonial, apesar da extensa legislação
que proibia tal uso. A ideia de que, uma vez proibida a escravidão indígena
perdeu espaço para a escravidão do africano, obscureceu os estudos a
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respeito de outras formas de trabalho compulsório. Nesse sentido, como a
escravidão indígena era proibida, o termo não pode e nem deve ser usado
para definir as formas de trabalho em que se utilizavam a referida mão de
obra. Nesse artigo optamos pelo uso do termo trabalho compulsório, uma vez
que ele engloba uma série de formas obrigatórias de trabalho, incluindo a
escravidão, mas ao mesmo tempo permite entender que o tipo de trabalho
realizado era imposto por alguém de fora. Nesse artigo, inicialmente
passaremos em revista o conceito de trabalho compulsório para melhor
compreensão do termo à época que analisaremos. Após essa questão teórica,
pretendemos estudar o trabalho compulsório indígena em Minas Gerais ao
longo do século XVIII em suas variadas formas, que vão desde a mineração
até a agricultura, passando pela coleta de drogas do sertão (plantas, raízes,
etc.). Ressaltamos, porém, que como a escravidão indígena era legalmente
proibida desde o século XVII, nem sempre é possível encontrar referências
claras a respeito do uso de mão de obra indígena em trabalhos compulsórios.
Portanto, utilizaremos uma variada gama de fontes primárias que vão desde
cartas trocadas entre autoridades lusitanas com o Rei de Portugal, até ordens,
bandos e despachos dos Governadores mineiros, para encontrarmos nas
brechas das mesmas as referências necessárias para o entendimento dessa
forma de trabalho.
Escravidão e hierarquia social: o tamanho das escravarias e a
diferenciação social dos senhores em um contexto de transformações
econômicas – Minas Gerais na passagem do século XVIII para o XIX.
Carlos de Oliveira Malaquias
Universidade Federal de Sergipe (UFS)
[email protected]
É conhecido que com a crise da mineração aurífera na segunda metade do
século XVIII a sociedade mineira teve sua base econômica convertida para as
atividades voltadas para o abastecimento alimentar que marcaram o
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Oitocentos (MARTINS, 1980; LENHARO, 1979; LIBBY, 1988; BEGARD, 2004). Os
ritmos e características desse processo de acomodação foram diversos no
extenso território da capitania/província e suas reverberações na estrutura
social ainda não são satisfatoriamente conhecidas (ALMEIDA, 2010; GRAÇA
FILHO, 2015). Esta proposta discute como as mudanças econômicas nas
Minas Gerais que afetaram o acesso à mão de obra escrava, a manutenção
das escravarias, o emprego e uso do trabalho cativo influenciaram os
contornos sociais do grupo senhorial. Para tanto, parte-se do estudo de caso
de uma antiga freguesia mineradora, a de São José do Rio das Mortes,
situada na região que se converteu no maior celeiro agropecuário das Minas
Gerais. No final do século XVIII, no ano de 1795, os moradores da freguesia
foram submetidos a um arrolamento nominal dos confessados que listou
criteriosamente, domicílio por domicílios, a cor e a condição dos indivíduos.
Quase quarenta anos mais tarde, em 1831, os habitantes da freguesia foram
novamente submetidos a um recenseamento, dessa vez civil, elaborado pelo
governo da província, que, com um pouco menos de critério às nuances da cor
e condição, discriminou os habitantes novamente agrupados por domicílio.
Esses documentos, ao apresentar a força de trabalho escravo de cada
unidade domiciliar, mais aspectos identitários fundamentais de seus
moradores, como a cor e a condição (além de outros como ocupação, idade,
estado conjugal) apontam as linhas fundamentais da estrutura social da
freguesia e de suas mudanças na passagem do século XVIII para o XIX.
Toma-se aqui os atributos de cor e condição apresentados nas fontes como
expressão do lugar social ocupado por brancos, pardos, crioulos e pretos,
lendo tais elementos como indicativos da qualidade social conferida ao seu
portador (MATTOS, 2004; BOTELHO, 2008; GUEDES, 2008; LIBBY, 2010). Nesse
sentido, eles são a expressão de maiores ou menores oportunidades de
inserção econômica e enriquecimento. Assim, não é estranho que, de acordo
com o tamanho da escravaria, o perfil dos senhores apresente variações, com
uma base diversificada, constituídas por homens e mulheres, negros e pardos,
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livres e libertos, e tornando-se mais homogêneo (mais masculino e branco) à
medida que se sobe na escala de posse.
Se, por um lado, a elite escravista corresponde às imagens clássicas da
hierarquia escravista, por outro lado, a base senhorial diversificada constitui
um ponto médio da estrutura social ainda pouco conhecido. Acredita-se que
tais “setores médios” sejam expressão da flexibilidade e capacidade de
incorporação do escravismo (FRANK, 2004; SOARES, 2009; LIBBY, 2015). No
entanto, essas características encontrariam seus limites na capacidade de
produção de riqueza, isto é, no desempenho econômico. Daí, o interesse
desta proposta em analisar as transformações na hierarquia social em um
momento de rearticulação econômica. Nota-se em São José um processo de
restrição no acesso à escravos e de concentração de sua posse no século
XIX, no momento em que a economia local é reorientada para o
abastecimento alimentar da corte do Rio de Janeiro, ampliando as fazendas
escravistas de alimentos e conversão dos habitantes à área rural.
O tráfico de crianças africanas para o Brasil, 1810-1850
Carlos Eduardo Valencia Villa
(UFF)
[email protected]
Manolo Florentino
(UFRJ)
[email protected]
A presente pesquisa mostra que, sob constante estrangulamento por parte da
Inglaterra desde 1810, o comércio negreiro para o Brasil se adaptou até o seu
fim definitivo, em 1850, a um novo padrão de demanda das elites escravistas,
pautado em crescentes aquisições de crianças africanas. Semelhante
movimento revela uma lógica demográfica flexível, fundada na utilização do
próprio tráfico visando estender temporalmente a escravidão. A aferição de
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semelhante hipótese está calcada no manejo dos registros dos navios
negreiros constantes do The Transatlantic Slave Trade Database: Voyages, o
maior banco de dados sobre o tráfico de africanos para as Américas, que
consolida informações sobre 35 mil viagens entre 1514 e 1866. No intuído de
verificar a efetividade da ação das elites escravistas, foram igualmente
analisados os inventários post-mortem de grandes proprietários rurais do Rio
de Janeiro, coletados nos anos terminados em 1, 2, 3 e 5, 6, e 7 entre 1810 e
1835.
Velhos em trânsito, velhos nos campos: Características dos cativos
idosos no tráfico e nas escravarias (Oeste Paulista, localidades
selecionadas, segunda metade do século XIX)
Luciana Suarez Lopes
Departamento de Economia - FEA/USP (Brasil)
[email protected]
José Flávio Motta
Departamento de Economia - FEA/USP (Brasil)
[email protected]
Em Motta (2010), dedicamos nossa atenção ao estudo do fluxo de escravos
velhos (50 ou mais anos de idade) vinculado ao tráfico interno de cativos nas
décadas derradeiras do período escravista brasileiro. Nossas fontes primárias
foram, em especial, as escrituras de transações envolvendo cativos.
Privilegiamos, outrossim, o pano de fundo dado pela expansão cafeeira em
território paulista, mediante a escolha para análise de algumas localidades da
Província de São Paulo que vivenciaram, no período referido, momentos
distintos no que tange àquela expansão.
Desta feita, nossa preocupação radica no estoque daquelas pessoas idosas.
Adicionalmente,
nosso
objetivo
estende-se
à
comparação
entre
as
características identificadas nesse estoque e aquelas atinentes ao fluxo de
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escravos velhos, resultado de nosso estudo anterior. Mantivemos o recorte
temporal, bem como o interesse na lavoura cafeeira. As fontes documentais
utilizadas para as inferências sobre o dito estoque de cativos idosos foram os
processos de inventários post-mortem. Os inventariados cujos escravos
computamos neste artigo eram moradores de Ribeirão Preto, município de
inequívoca importância em termos da cafeicultura do Oeste Novo paulista.
Este artigo está organizado da seguinte forma. Uma primeira seção sumaria
os resultados obtidos em nosso estudo do fluxo de escravos velhos. Em
seguida, realizamos as tabulações acerca do estoque de cativos idosos. Tanto
uma como a outra dessas duas seções são subdivididas: de início, um sucinto
comentário de caráter histórico e econômico acerca das localidades sobre as
quais nossos dados se referem; depois, a apresentação dos resultados
alcançados a partir desses dados. Uma terceira seção é alocada para
avançarmos a comparação entre as características que encontramos dos
escravos velhos em meio ao tráfico interno de cativos (o fluxo) e aquelas
conformadoras da vivência das pessoas idosas nas escravarias de seus
proprietários inventariados. As principais inferências fornecidas ao longo do
artigo são retomadas na última seção, de considerações finais.
A demografia de Angola e o tráfico transatlântico de escravos (séculos
XVIII-XIX).
Gustavo Acioli
Universidade Federal Rural de Pernambuco
[email protected]
Maximiliano Menz
Universidade Federal de São Paulo
[email protected]
O campo historiográfico sobre o tráfico escravista na e a partir da África
atlântica é eivado por debates e polêmicas as mais diversas. Entre estas, uma
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das mais recorrentes diz respeito aos efeitos – sociais, econômicos, políticos,
culturais – que a escravização e exportação de homens, mulheres e crianças
na condição de escravos tiveram sobre as sociedades africanas engolfadas no
tráfico escravista. Um dos aspectos mais discutidos e controversos refere-s ao
impacto que a contínua e crescente subtração de indivíduos de suas
sociedades – a grande maioria, homens jovens – pelo comércio escravista
acarretou à demografia africana. Nesta comunicação, depois de delinear as
principais abordagens da relação entre o tráfico transatlântico escravista e a
dinâmica demográfica de Angola, distinguindo as posições que minimizam e
aquelas que destacam os efeitos do tráfico escravista sobre a população
angolana, propomos uma retomada do debate, apontando para o impacto
negativo que a deportação contínua de africanos e africanas teve sobre as
sociedades que compunham a colônia portuguesa na África Centro-Ocidental.
Para tanto, baseamo-nos em dados de arrecadação dos dízimos no interior de
Angola ao longo do século XVIII e na revisão dos censos realizados pelas
autoridades coloniais entre fins do séc. XVIII e meados do século seguinte.
Com base nestes dados, é possível indicar os efeitos deletérios sofridos por
certos grupos da população do Reino de Angola, sobretudo no auge do tráfico
escravista, ao mesmo tempo em que estas populações eram fustigadas por
secas, fomes e epidemias, fenômenos que não podem ser dissociados da
expansão das atividades escravistas que produziam os cativos a serem
exportados para o outro lado do Atlântico.
La participación rioplatense en el comercio Atlántico de esclavizados
durante las últimas décadas del siglo XVIII
Maximiliano Camarda
IdIHCS, Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educación Universidad
Nacional de La Plata- CONICET- CEHIS - Argentina
[email protected]
Durante las últimas décadas del siglo XVIII, se produjo una transformación en
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el comercio ultramarino de esclavizados en la Región Río de la Plata. Un tercio
del total de esclavizados ingresados por el Río de la Plata lo fueron, en
embarcaciones y bajo riesgo de rioplatenses. Porqué se produjo éste
desarrollo del mercado de esclavizados será el interrogante que intentaremos
despejar. Se dividirá el trabajo en dos ejes, el primero estará abocado a
analizar las características del comercio ultramarino de la región para lo cual
contamos con los registros de salida de cueros y metales preciosos de las dos
últimas décadas del siglo XVIII, esto nos dará información de cómo se produjo
el proceso de acumulación económica que permitió la intervención de un
grupo de actores en tan costosa empresa. El segundo eje estará dedicado a
dar cuenta de las cifras y los actores que participaron de este comercio,
profundizando en las vinculaciones comerciales e institucionales que le
permitieron comprar embarcaciones, acumular el capital para la compra de
esclavizados y desarrollar las travesías.
Las fuentes trabajadas para esta ponencia son: Por un lado registros de
salida de las mercancías, la salida de metales preciosos entre 1779- 1794 se
procesaron 18.787 registros y para la salida de cueros en el período 17791799 se procesaron 7.513. Por otro lado analizamos los registros de ingreso
de esclavizados para el período 1779- 1806. Esta información nos permitió
establecer datos sólidos del comercio legal y poder reconstruir las cifras
totales del comercio, los circuitos comerciales.
Cacau, café e escravidão no sul da Bahia: Ilhéus, 1871-1885
Marcelo Loyola de Andrade
Doutorando do Programa de Pós Graduação em História Econômica da
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São
Paulo (FFLCH-USP/Brasil).
[email protected]
Entre 1871 e 1885 a Câmara Municipal de Ilhéus tributou a exportação de
vários produtos, dentre eles cacau e café. Nesse período também ocorreu no
19 a 21 de Julho de 2016
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Universidade de São Paulo
município a classificação dos escravos para serem libertos pelo fundo de
emancipação, conforme determinação da lei 2.040 de 28 de setembro de 1871
(Ventre Livre). O primeiro documento, o Livro de arrecadação de impostos,
dispõe de informações como o nome dos exportadores, a data, a quantidade
exportada e o valor do imposto cobrado. O segundo, a Lista de classificação
do escravos, contém dados como nome, cor, idade, estado conjugal e
profissão dos cativos, a quantidade de pessoas de família, o nome dos seus
proprietários e algumas observações sobre os filhos menores, nascidos antes
ou depois da lei.
A proposta do artigo é analisar a relação dos exportadores de cacau e café
com a posse de cativos discutindo, entre outras questões, a participação do
trabalho escravo no desenvolvimento das referidas culturas, algo possível de
realizar visto que muitos desses exportadores listaram escravos para possível
libertação. Ademais, utilizaremos como fontes complementares inventários
post-mortem, o Recenseamento Geral do Império do Brasil de 1872 e
Relatório de presidente de província. A investigação desses documentos, a
ligação/cruzamento das informações e a quantificação e qualificação dos
dados permitem analisar ainda as características demográficas da população
cativa, os tributos gerados pela exportação dos produtos e a importância dos
mesmos no circuito econômico local e regional.
Analisar e discutir essas questões pode ajudar a elucidar alguns aspectos da
relação entre escravidão e economia em Ilhéus no período assinalado,
identificando os principais exportadores dos referidos produtos, a quantidade
de escravos que listaram e algumas características desses cativos. Assim, ao
tratar deste assunto o texto pretende abordar as particularidades do
escravismo no sul da Bahia e inserir o estudo entre as pesquisas históricas
desenvolvidas recentemente.
Vigilância, obra e negócio: desdobramentos do fim
transatlântico de escravos em Valença (Bahia, 1831-1866)
do
tráfico
19 a 21 de Julho de 2016
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Universidade de São Paulo
Silvana Andrade dos Santos
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade
Federal Fluminense – UFF/Brasil
[email protected]
Esta comunicação tem como objetivo analisar os desdobramentos da lei de 7
de novembro de 1831, que proibia o tráfico de escravos africanos para o
Brasil, sobre uma localidade da Bahia historicamente produtora de gêneros de
abastecimento (a vila e, a partir de 1849, cidade de Valença). A cidade de
Valença está inserida atualmente no território de cidadania do Baixo Sul da
Bahia; Durante o período colonial, Valença foi integrante da Capitania de
Ilhéus e estava localizada na parte norte da mesma - uma região que adquiriu
preponderância econômica pela produção de farinha de mandicoa e pela
extração de madeiras de lei.
A partir de 1831, com a proibicão do tráfico de africanos para o Brasil, no
entanto, as áreas localizadas no sul da Bahia adquiriram mais um papel um
econômico: receber parte dos cativos oríundos dos tráfico transatlântico. É
possível crer que, assim como em outras regiões do Brasil, os traficantes de
escravos se apropriaram das rotas de comércio de gêneros de abastecimento,
para distribuir os cativos ilegalmente desembarcados no sul da Bahia para
outras regiões da Província e mesmo do Império.
A
proibição
e
o
reordenamento
do
tráfico
gerou
desdobramentos
socioeconômicas em escalas variadas. Neste sentido, busco perceber como a
proibição
do
comércio
transatlântico
de
escravos
e
seu
posterior
recrudescimento afetou a localidade de Valença nas questões relativas às
atividades do tráfico, ao acesso à mão de obra escrava e à produção agrícola.
Pretendo, desta forma, contribuir com as interpretações historiográficas
relativas ao fim do tráfico transatlântico de escravos e com os estudos sobre
regiões produtoras de gêneros de abastecimento.
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Universidade de São Paulo
Entre a escravidão e a autonomia: as negras de tabuleiro em Minas
Gerais
Juliana Resende Bonomo
Doutoranda em História Econômica da Universidade de São Paulo
(FFLCH/USP)
Professora do curso de Graduação em Gastronomia da Universidade
Mackenzie
[email protected]
O presente artigo tem como objeto de estudo a atuação das quitandeiras
negras no abastecimento de gêneros alimentícios em Minas Gerais no século
XVIII. Quitandeiras ou negras de tabuleiro era a denominação dessas
mulheres que transplantaram da África para o Brasil o comércio ambulante em
tabuleiros. Em todo Brasil, as negras quitandeiras encontravam-se na situação
de escravas, normalmente como “escravas de ganho”, assim denominadas
porque ajudavam a incrementar a renda dos seus senhores com o comércio
nas ruas. Muitas dessas mulheres cativas chegaram a representar a única ou
a fonte mais importante de renda das famílias de pequenos produtores que
habitavam os núcleos urbanos do país. Uma vez paga a sua obrigação para
com o senhor, essas negras poderiam comprar a própria alforria ou de seus
filhos e companheiros com o excedente que lhes sobrava. O “ganho”
representou para todas elas, além da prestação de serviços aos seus
senhores, uma possibilidade de libertação, ascendência econômica, além de
proporcionar uma maior sociabilização entre os escravos urbanos. Mulheres
negras, empobrecidas, libertas ou forras que adotaram a venda em tabuleiros
não só como forma de resistir à pobreza e à escravidão, mas também como
forma de sobrevivência diante das poucas oportunidades para a mão-de-obra
feminina na época.
Em Minas Gerais, esse comércio ambulante ampliou-se nos quadros da
economia devido ao desenvolvimento da mineração na capitania durante os
Setecentos. A exploração do ouro na região fez com que se incrementasse a
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atividade comercial, resultante de produtos vindos de outras partes da Colônia
e do Reino, que chegavam à população através de estabelecimentos
comerciais fixos como lojas e vendas. Já o comércio de gêneros da terra,
produzidos em território mineiro, era largamente praticado pelas quitandeiras.
Assim, responsáveis pelo comércio de gêneros de consumo ligeiro, as
vendedoras ambulantes também contribuíram para o abastecimento da
capitania. Por se aproximarem frequentemente dos locais de extração de ouro
e diamante, as negras vendeiras acabaram por suscitar um forte desagrado às
autoridades da administração colonial, que as acusava de responsabilidade
direta
no
desvio
de
jornais,
contrabando
de
ouro
e
diamantes.
Consequentemente, muitas foram as leis e proibições que incidiram sobre
esse tipo de comércio na forma de bandos e instruções repressivas. O
controle por parte das autoridades coloniais tinha um duplo objetivo: proibir a
presença das quitandeiras fora das vilas e arraiais (em estradas ou lavras) e o
de estabelecer variadas medidas fiscais para regular seu funcionamento. Ao
longo do século XVIII, observa-se uma infinidade de medidas tomadas pelo
governador e pelas Câmaras Municipais no sentido de concretizar tais
objetivos.
Diante do que foi exposto acima, o presente trabalho pretende analisar
o papel das quitandeiras negras no abastecimento alimentar na capitania de
Minas Gerais no século XVIII, assim como apontar os caminhos que fizeram
com que essas mulheres pudessem ascender social e economicamente,
apesar da constante perseguição das autoridades locais.
A reprodução natural de cativos em grandes escravarias no sul de Minas
Gerais – Lavras 1870-1888
Eduardo José Vieira
Mestre em História Econômica pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas da Universidade de São Paulo – FFLCH/USP (Brasil)
[email protected]
19 a 21 de Julho de 2016
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Universidade de São Paulo
O trabalho objetiva apresentar casos de grandes escravarias pertencentes à
localidade de Lavras-MG, já nas últimas décadas do regime escravista
brasileiro, onde são encontradas quantidades significativas de famílias e
crianças cativas, o que demonstra que a ocorrência da reprodução natural de
cativos em grandes propriedades foi uma alternativa à compra de cativos e um
atenuante para a escassez de mão de obra. Para demonstrar tais ocorrências,
tem-se como principais fontes 161 processos de inventários abertos na
localidade entre 1870 e 1888. O total de cativos arrolados nesses processos
foi de 3020. Também é utilizado como referência o Recenseamento Geral do
Império de 1872. O trabalho demonstra que as características de situação
conjugal e estrutura etária dessas grandes propriedades desviam fortemente
do perfil geral dos escravos inventariados e também das características
conjugais e etárias apresentadas pelo Recenseamento de 1872 para a
localidade. Acredita-se que a maior ocorrência de crianças verificada nas
escravarias maiores está relacionada à maior possibilidade de arranjos
familiares em planteis com essa característica. Não se trata de reduzir a
possibilidade de reprodução à existência de união matrimonial legítima ou
reduzir a possibilidade de união ao universo do plantel de apenas um senhor.
Considerados os dados dos inventários, foi possível perceber que, quanto
maior a escravaria, maiores as ocorrências de uniões matrimoniais entre os
cativos e, por conseguinte, maior a participação do número de crianças no
conjunto da escravaria. Significa dizer que entre os maiores proprietários de
cativos, a reprodução natural aparece como uma forma de manutenção da
escravaria, e, por conseguinte, uma alternativa à escassez da mão de obra
determinada pela proibição do tráfico de cativos e dificuldade de atração de
imigrantes.
Negros livres, escravos e libertos na produção e comercialização de
alimentos: Bahia, 1800-1850
19 a 21 de Julho de 2016
São Paulo/Brasil
Universidade de São Paulo
Alex Andrade Costa
Doutorando em História pela Universidade Federal da Bahia – UFBA (Brasil)
[email protected]
Este
trabalho
analisa
as
atividades
econômicas
autônomas,
desenvolvidas por escravos e libertos no litoral sul da Bahia, e o
abastecimento de alimentos para a cidade de Salvador, na primeira metade do
século XIX, período marcado por graves crises nesse setor decorrentes, entre
outras coisas, das sucessivas secas que atingiram as áreas produtoras, do
aumento populacional da capital e do Recôncavo e da guerra da
Independência. Na tentativa de garantir o fornecimento de produtos de
primeira necessidade, como a farinha de mandioca, o governo passou a agir
com rigor no controle da entrada desse produto em Salvador.
Para atender à demanda, a produção de farinha em Barra do Rio de
Contas, por exemplo, saltou de 30 mil alqueires anuais, em 1799, para algo
em torno de 120 mil alqueires no ano de 1840. Estes números, no entanto,
podem estar defasados por não computarem as mercadorias negociadas
diretamente nos barcos e praias, de forma ilegal, as quais eram realizadas por
atravessadores que vendiam para negociantes de diversos lugares, de regiões
vizinhas a Bahia à África. A atuação dos atravessadores era facilitada por
conta da existência de grupos coniventes com a prática, em especial os
pequenos
produtores
de
mandioca
cuja
maioria
era
de
pobres
e
afrodescendentes, e dependiam desses intermediários, muitos dos quais eram
afrodescendentes, para escoar suas produções com um preço melhor, uma
vez que o preço do produto costumava ser tabelado no mercado de Salvador.
Não eram apenas os lavradores e atravessadores que estavam
estabelecidos nessa prática econômica. Desde o século XVII a região já
estava ocupada por diversos quilombos que, embora fossem combatidos,
havia uma notória tolerância sobre eles da parte das autoridades locais e do
governo, além de alguns negociantes, o que resultava em raras prisões e na
19 a 21 de Julho de 2016
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Universidade de São Paulo
constante reprodução desses espaços, de tal forma que perduraram até
meados do século XIX. Muitos desses quilombos estavam situados nas
cercanias das vilas e contavam com ampla presença de pessoas livres que
negociavam e circulavam por ele. Isso se dava em virtude da grande produção
de mandioca efetuada nesses lugares, a qual se juntavam à produção das
pessoas livres, incrementando os negócios de venda desse produto.
Utilizando
inventários
post-mortem,
documentos
policiais
e
correspondências trocadas entre as autoridades, nesta pesquisa procuro
identificar o perfil dos proprietários de terras, as características e dimensão de
suas posses e fortunas. O maior interesse, no entanto, reside no
desvendamento das transações comerciais estabelecidas entre a população
livre e os escravos e libertos, com destaque para as atividades econômicas,
tais como: compra ou venda de mercadorias e empréstimos de dinheiro –
fosse credor ou devedor. A pesquisa ocupa-se, ainda, de apontar os impactos
das práticas econômicas da localidade no contexto da economia regional.