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COMU 5 Título: O imperativo sexual: Ninfomaníaca e a relação padrão-desvio Autor: Beatriz Moreira da Gama Malcher Email: [email protected] Instituição de Origem: Universidade Federal do Rio de Janeiro / Mestrado em Comunicação e Cultura (ECO-Pós) O presente trabalho tem como objeto a interpretação do cineasta Lars von Trier sobre os imperativos sexuais em seu filme Ninfomaníaca (2013), à qual auxiliará a reflexão mais ampla acerca da forma contemporânea da relação padrão-desvio nas políticas de sexualidade ocidentais. Para tal é imprescindível que se recorra à obra História da Sexualidade: vontade de saber (1976), do filósofo Michel Foucault, na qual, se opondo à hipótese repressiva que supõe que o poder reprime as possibilidades de sexualidade reduzindo suas formas estéreis, analisa que o poder na verdade é responsável por sua criação e implantação (FOUCAULT, 2009). Este poder, em sua forma pastoral, cria as personalidades desviantes para, assim, indicar o indivíduo a ser corrigido através de uma dimensão terapêutica (FOUCAULT, 2010) que vai salvá-lo e tornálo novamente apto à sociabilidade1. As inúmeras perversões sexuais, que anteriormente eram vistas como libertinagem a ser punida em esfera legal, passam a ser analisadas como condição patológica isolada, instaurando-se, assim, sexualidades periféricas autônomas e tratáveis2. No entanto, com as chamadas Revoluções Sexuais da década de 1970 e a ascensão dos movimentos das minorias, aos poucos este cenário mudou. É axiomático, para a manutenção do poder, que haja uma atualização de suas estruturas tendo em vista a relação dialógica estabelecida entre as instituições que o detém e as pessoas sobre as quais ele age (BAKTHIN, 2011), ou seja, o pensamento hegemônico se recicla de modo a incorporar em si o contrahegemônico (GRAMSCI, 1999). Desta forma, com as demandas sociais destes grupos por reconhecimento, suas posições de desviantes são abandonadas para que eles sejam reintroduzidos no quadro social como normais. 1 De modo a torná-lo útil e produtivo tendo em vista os modelos capitalistas estabelecidos pelas Revoluções Burguesas. 2 O homossexual, o masturbador, o sádico, o masoquista, entre outros. De séries de tv falando sobre sexo, passando por best-sellers sobre relação sadomasoquista, e beijo gay na novela das 83, a demanda social pela liberdade sexual e igualdade de gêneros aos poucos se torna naturalizada e reificada no circuito da produção do capital. No entanto, com o desaparecimento das antigas formas desviantes, o poder pastoral precisa implantar novas sexualidades aberrantes através dos seus dispositivos para manter viva a economia dos corpos. Cria-se, desta forma, uma economia focada no sexo4 que faz mais do que estimular o conhecimento da sua sexualidade: cria um imperativo sexual onde o sexo é colocado exaustivamente em discurso de modo a instituir novos parâmetros em relação ao mesmo. Ninfomaníaca vai trabalhar com estes novos desvios, mostrando que existe uma linha tênue entre o que seria o comportamento saudável e normal e o comportamento patológico e anormal, onde quem não responde ao imperativo sexual passa a ser considerado um assexuado (como o personagem Seligman), e quem responde demais a ele se torna um viciado (como a personagem Joe). O filme se foca na história de Joe, que desde os sua juventude busca seguir este ditame sexual, tentando se assumir como uma mulher independente e sexualizada em busca do prazer constante. No entanto, por atender demais à tais demandas, ela não encontra mais local de atuação nas instituições5 da própria sociedade que as cria. São apresentadas duas soluções ao seu problema: se assumir como uma doente e procurar um tratamento (no caso, um grupos de apoio a viciados em sexo), limitando sua experiência ou optar por viver sozinha e à margem desta sociedade na qual ela não tem espaço para atuação. O mesmo vale para o personagem de Seligman, que, por não sentir desejo sexual o suficiente, tem sua sexualidade anulada no título de assexuado, tendo por opção a dimensão terapêutica ou a busca exaustiva pelo desejo ou viver em reclusão (como parece optar). Estes personagens sintetizam a relação padrão-desvio cuja centralidade se afigura patente no longa de von Trier sobre o qual me debruçarei neste trabalho. Referências 3 Referência à série Sex and The City (1998), à série de livros 50 Tons de Cinza (2011) e à novela Amor à Vida (2013). 4 De revistas femininas dedicadas ao tema até toda uma indústria de filmes, revistas e aparatos eróticos. 5 Explicitado na sua dificuldade de formar e manter uma família, um relacionamento amoroso ou um emprego. BAKHTIN, Mikhail Mikhailovitch. Estética da Criação Verbal. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2011. FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I: A vontade de saber. Trad. Maria Thereza da Costa Albuquerque. Rio de Janeiro: Edições Graal, 2009. ______. Os Anormais. Trad. Eduardo Brandão. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010. GRAMSCI, Antonio. Cadernos do Cárcere - Vol. 1. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999. TRIER, Lars von. Nymphomaniac: vol 1. [Filme]. Direção de Lars von Trier. Dinamarca, Alemanha, França, Bélgica, Inglaterra. Zentropa Entertainments, 2013.117 min. color. son. ______. Nymphomaniac: vol 2. [Filme]. Direção de Lars von Trier. Dinamarca, Alemanha, França, Bélgica, Inglaterra. Zentropa Entertainments, 2013.124 min. color. son.
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