Tributo a Ian Stevenson

Transcrição

Tributo a Ian Stevenson
339
Tributo a Ian Stevenson
por: Jim B. Tucker
O Dr. Ian Stevenson faleceu no dia 8 de fevereiro, depois de uma
longa e produtiva carreira caracterizada por não aceitar as hipóteses
como fatos, simplesmente porque a maioria das pessoas pensava
que eram verdadeiras.
Depois de se formar como um dos melhores de sua turma, na
escola médica da Universidade de McGill, Ian estudou bioquímica
e posteriormente interessou-se por psiquiatria, em particular por
medicina psicossomática. Embora, Ian tenha alcançado muito sucesso na psiquiatria convencional – tornando-se o presidente do
Departamento de Psiquiatria e Neurologia da Universidade da
Virgínia, aos 38 anos –mostrou uma tendência inovadora em sua
linha de pesquisas. Isto pode ser visto em seu artigo desafiando
o conhecimento convencional psicanalítico, no qual explica que
a personalidade humana é mais flexível nos bebês e na infância do
que nos anos posteriores (Stevenson, 1957). Para ele, a questão era
como isto poderia ser provado e no caso, achou que faltavam evidências.
Logo depois, quando começou a explorar tópicos na parapsicologia, Ian manteve ênfase nas evidências, assim como sua vontade
de desafiar o conhecimento convencional. Ele escreveu uma peça
na Harper’s Magazine com o título “The Uncomfortable Facts about
Extrasensory Perception” na qual dizia que estudos parafisiológicos, mostraram que a mente poderia funcionar sem os sentidos
físicos (Stevenson, 1959). A sua abertura para considerar tais possibilidades o levaram a apresentar um artigo para consideração, em
um concurso anunciado pelo Journal of the American Society for
Psychical Research.
O concurso tinha o objetivo de escolher a melhor publicação
sobre fenômenos mentais paranormais e suas relações com a vida
após a morte. Ele foi o vencedor com um artigo sobre crianças de
várias partes do mundo que descreveram recordações de vidas passadas (Stevenson, 1960). Este não seria o último artigo escrito por
ele sobre o assunto.
340
Journal of Conscientiology, Vol. 9, No. 35
Neste primeiro artigo, ele compilou 44 relatórios de diversas
fontes, tais como livros, revistas e jornais. Em seguida, ele investigou seus próprios casos e criou um novo campo de estudos.
Seguiram numerosas publicações, todas com ênfase nas evidências
dos casos estudados. O título de seu primeiro livro sobre estas
crianças, “Twenty Cases Suggestive of Reincarnation” (Stevenson,
1966. Em português: Vinte Casos Sugestivos de Reencarnação),
mostrou o cuidado que ele teve em evitar quaisquer conclusões
exageradas, e seus conteúdos, com longas listas de relatos de vidas
passadas e a tentativa de verificar a precisão de cada um, demonstrou
sua atenção metódica ao detalhe.
Ian publicou uma série de livros, “Cases of the Reincarnation
Type”, que continham relatos de países específicos, com um dos
casos indianos citado no editorial do JAMA Journal of the American
Medical Association, que dizia “no que se refere à reencarnação
ele coletou cuidadosamente e sem emoções uma detalhada série de
casos na Índia, nos quais as evidências são difíceis de explicar em
quaisquer outras bases” (King 1975). Esta série eventualmente foi
seguida por sua grande obra, “Reincarnation and Biology”
(Stevenson, 1997), na qual ele descreveu mais de 200 casos de
crianças com marcas de nascimento ou malformações congênitas.
Estas marcas eram compatíveis com feridas, geralmente fatais em
corpos de pessoas falecidas, que pensavam terem sido estas em
vidas passadas. Ao invés de serem manchas usuais, estas eram
freqüentemente lesões dramáticas, tais como os dedos perdidos de
um menino indiano que descreveu a vida de outro garoto em uma
vida anterior, este havia perdido seus dedos numa máquina de cortar.
Outro caso ponderava sobre as marcas de nascença com aparência
de uma ferida de entrada e uma de saída, na cabeça de um menino
tailandês, que descreveu a vida de um professor em outra vida; ele
havia sido morto com um tiro na cabeça no caminho para a escola.
Harold Lief, uma notável figura na psiquiatria, comentando
sobre a decisão de Stevenson de devotar sua carreira a este trabalho,
escreveu que ele, ou estava cometendo um erro colossal, ou seria
reconhecido como “o Galileu do século XX” (Lief, 1977). A
conclusão sobre esta questão será feita no futuro, assim como a
adoção do modelo heliocêntrico de Galileu e do sistema solar de
Copérnico não foi aceita até muito tempo após sua aparição ante a
Inquisição em 1633, e sua morte nove anos depois. Foi dito que
quando Galileu tentou dar evidências às suas declarações, alguns
Notícias e Avisos
341
hesitavam em olhar através de seu telescópio. Desafiar as pessoas
em suas crenças mais arraigadas não é uma tarefa fácil.
Hoje a ciência convencional tem a crença arraigada no
materialismo, acredita que o mundo físico é tudo que existe; que
nosso corpo físico é o todo de nossa existência. Ian escreveu que
“certos fenômenos relatados não ocorreriam se o materialismo fosse
verdade; mas a partir do momento que eles ocorrem, o materialismo
é falso” (Stevenson 1977, p.153). Esta afirmação coloca os fatos
acima das hipóteses, como Ian sempre tentou fazer.
Em seus anos seguintes, Ian reconheceu que seu objetivo, de
que a reencarnação seja seriamente considerada pela ciência
convencional, não seria atingido durante sua vida; algo que ele
aceitou sem rancor. Esta falha não foi por falta de tentativas da
parte de Ian. Durante seus 40 anos de parapsicologia, ele registrou
uma enorme quantidade de informações, não somente a respeito
de pesquisas sobre vidas passadas, mas também muitos trabalhos
em outras áreas; fazendo uma contribuição significante com
evidências, desafiando a hipótese do materialismo.
Esta área de trabalho continua existindo, disponível para todos
os que desejam, assim como Ian, investigar idéias novas. Para estes,
o telescópio está aguardando.
BIBLIOGRAFIA:
KING, L.S.; Reincarnation; JAMA; 234:978, 1975.
LIEF, H.I.; Commentary on Dr. Ian Stevenson’s “The evidence of man’s
survival after death”; Journal of Nervous and Mental Disease; 165;
1977.
STEVENSON, I.; The evidence for survival from claimed memories of
former incarnations; Journal of the American Society for Psychical
Research; 54; 1960.
STEVENSON, I.; Is the human personality more plastic in infancy and
childhood? American Journal of Psychiatry; 114; 1957.
STEVENSON, I.; Reincarnation and Biology: A Contribution to the
Etiology of Birthmarks and Birth Defects; Praeger,Westport, CT, 1997.
STEVENSON, I.: Research into the evidence of man’s survival after
death; Journal of Nervous and Mental Disease; 165 (3); 1977;
STEVENSON, I.; Twenty Cases Suggestive of Reincarnation.
Proceedings of the American Society for Psychical Research: 26:1362; 1966.
342
Journal of Conscientiology, Vol. 9, No. 35
STEVENSON, I.; The uncomfortable facts about extrasensory
perception; Harper’s Magazine; 219; 1959.
Jim B. Tucker, pesquisador, médico e psicólogo, publicou inúmeros
artigos científicos em vários journals ao redor do mundo. Além de
atuar em sua carreira como médio, o Tucker é professor do Departmento de Psiquiatria, na Universidade de Virginia, nos EUA. Jim
Tucker conheceu e trabalhou diretamente com Ian Stevenson, com
o qual escreveu o artigo entitulado “Some Bodily Malformations
attributed to Previous Lives” (Deformações Somáticas atribuídas
a Vidas Passadas), publicado no Journal of Scientific Exploration
em 2005.
Traduzido por Bartira Presotto
Revisado por Waldson Dias, Luis Minero e Isel Talavera

Documentos relacionados

Implicações pedagógicas e terapêuticas da reencarnação

Implicações pedagógicas e terapêuticas da reencarnação há também a herança positivista dos séculos XIX e XX, que, como vimos, parte do pressuposto de que a ciência para ser ciência, tem que se ater aos fenômenos químicos, biológicos e não pode adentrar...

Leia mais