Tristeza parasitaria bovina

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Tristeza parasitaria bovina
TRISTEZA PARASITÁRIA BOVINA E PREMUNIÇÃO
Carlos Luiz Massard1
Cleber Oliveira Soares2
José Carlos Pereira de Souza3
Adivaldo Henrique da Fonseca4
1
Professor Titular, PhD., Dep. de Parasitologia Animal, Instituto de Biologia, Universidade Federal Rural do
Rio de Janeiro. Rod. Rio – São Paulo, Km 47, Seropédica-RJ, 23851-970; 2Médico Veterinário, MSc.,
Doutorando do Curso de Pós-Graduação em Medicina Veterinária - Parasitologia Veterinária, UFRRJ.
3
Médico Veterinário, MSc., Ministério da Agricultura e do Abastecimento; 4Professor Titular, PhD., Dep. de
Epidemiologia e Saúde Pública, Instituto de Veterinária, UFRRJ.
INTRODUÇÃO .........................................................................................................................................................................................1
ETIOLOGIA ..............................................................................................................................................................................................2
BIOLOGIA.................................................................................................................................................................................................2
EPIZOOTIOLOGIA ..................................................................................................................................................................................4
IMPORTÂNCIA ........................................................................................................................................................................................5
PATOGENIA E SINTOMAS CLÍNICOS ...............................................................................................................................................5
IMUNIDADE .............................................................................................................................................................................................7
DIAGNÓSTICO ........................................................................................................................................................................................7
CONTROLE..............................................................................................................................................................................................8
TRATAMENTO ........................................................................................................................................................................................9
PREMUNIÇÃO PARA A TRISTEZA PARASITÁRIA BOVINA..........................................................................................................9
PREMUNIÇÃO ..................................................................................................................................................................................10
MÉTODOS DE PREMUNIÇÃO.......................................................................................................................................................10
VACINAS............................................................................................................................................................................................12
IMUNÓGENOS NÃO VIÁVEIS........................................................................................................................................................12
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................................................................................................13
INTRODUÇÃO
“Tristeza Parasitária Bovina” (TPB) é a denominação à associação dos agentes da
babesiose e anaplasmose dos bovinos. Esta enfermidade é desencadeada pela massiva
destruição de eritrócitos, decorrente dos aspectos biológicos dos agentes em realizarem
parte do seu ciclo no interior destas células.
O complexo TPB é conhecido desde o final dos século XIX onde a enfermidade era
considerada como entidade única. Em 1888, BABÉS descreveu um microrganismo
intraeritrocítico em bovinos na Romênia, denominando-o Haematococcus bovis,
posteriormente classificado como Babesia bovis. No sudoeste dos Estados Unidos da
América (EUA), em 1893, SMITH & KILBORNE identificaram o hematozoário Pyrosoma
bigeminum, classificado posteriormente como Babesia bigemina, causador de grandes
perdas econômicas no rebanho bovino texano, enfermidade então denominada “febre do
Texas”. Neste mesmo trabalho, os autores identificaram o vetor (Boophilus annulatus) e o
modo de transmissão. Esta foi uma das mais importantes descobertas na história da
Parasitologia, por ter sido a primeira demonstração de que os carrapatos são hábeis
transmissores de patógenos. No início do século XX, na África do Sul, foi identificado o
terceiro agente etiológico do "complexo TPB", o Anaplasma marginale, descrito como
agente do “mal da bile” (THEILER, 1910).
No Brasil, o primeiro registro da “febre do Texas” foi realizado por FAJARDO (1901),
ao examinar animais recém-importados e em fase de aclimatação. A anaplasmose, no
Brasil, foi primeiro relatada por CARINI (1910).
A distribuição da TPB tem relação estreita com a distribuição dos seus vetores;
ocorrendo nos países de clima tropical e sub-tropical do globo. Esta é uma das doenças
mais importantes na pecuária bovina, e é considerada fator limitante no desenvolvimento e
melhoramento dos rebanhos bovinos (MC COSKER, 1981).
ETIOLOGIA
A TPB é decorrente, principalmente, da associação de protozooses, determinadas
pela B. bigemina e pela B. bovis, associadas a rickettsiose causada pela A. marginale
(FONSECA & BRAGA, 1924; MASSARD & FREIRE, 1985). Estes agentes podem
apresentarem-se ainda em conjunto com outros hematozoários como a rickettsia Ehrlichia
bovis que parasita leucócitos (linfócitos e monócitos) (Fig. 1), levando ao agravamento da
TPB (MASSARD & MASSARD, 1982).
BIOLOGIA
O carrapato, B. microplus, durante o repasto sangüíneo, inocula no hospedeiro os
esporozoítos, estas formas penetram nos eritrócitos, se diferenciam em trofozoítos e
multiplicam-se dando origem aos merozoítos. Estes rompem as hemácias e invadem novos
eritrócitos continuando o processo de divisão do tipo merogônica.
Durante o hematofagismo, o carrapato ingere células sangüíneas e com estas os
eritrócitos que contém trofozoítos. Na luz intestinal do carrapato ocorre o rompimento dos
eritrócitos com liberação dos zoítos que evoluem para corpos raiados ("gametas"). Estes
corpos, contendo material genético e sem dimorfismo sexual, se fusionam dois a dois
originando os zigotos. Esta fase representa a gametogonia dos babesiideos.
Os zigotos darão origem aos cinetos (formas móveis) que penetram em células do
epitélio intestinal do carrapato e realizam divisão multípla originando novos cinetos. Estes
são liberadas na hemolinfa e invadem células de vários órgãos, fazendo novas divisões até
a morte do carrapato. Quando os oócitos são infectados haverá a multiplicação no ovo, no
embrião e em diversos órgãos da larva; caracterizando assim, a transmissão transovariana.
Quando os cinetos penetram nas células epiteliais das glândulas salivares, esses se
transformam em esporontes; os esporontes se rompem e liberam os esporozoítos, formas
infectantes para o hospedeiro vertebrado. Esta multiplicação representa a fase de
esporogonia (FRIEDHOF, 1982; KAKOMA & MEHLHORN, 1994; MASSARD et al., 1998).
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Babesia bovis: Esta espécie possui dimensões pequenas, atinge no máximo 3µm e
apresenta morfologia, predominantemente, arredondada ou lanceolada que apareçem
frequentemente aos pares (FONSECA & BRAGA, 1924). Apresenta coloração basofílica,
idêntica tanto pelo corante de giemsa, leishman ou outros corantes derivados do
romanovski e apresenta pequena massa citoplasmática e abundante massa nuclear. É uma
espécie que possui acentuado tropismo pela circulação de órgãos viscerais e centrais e
pouco tropismo pela circulação periférica (Fig. 2). O carrapato B. microplus é o vetor deste
agente; a infecção é adquirida através das fêmeas em ingurgitamento e, as larvas
infectadas, via transovariana, serão o único ínstar de B. microplus a transmitir a B. bovis ao
bovinos (MAHONEY & MIRRE, 1979).
Babesia bigemina: Este organismo possui tropismo pela circulação periférica e
raramente é encontrado no plasma ou superfície eritrocítica. É muito pleomórfico, as
formas pequenas possui bordos irregulares, devido à emissão de pseudópodes; as formas
piriformes podem aparecer isoladas, mas frequentemente estão bigeminadas com a
extremidade disposta em ângulo obtuso ou agudo (Fig. 3) (FONSECA & BRAGA, 1924).
Classificada como grande babésia, esta espécie possui dimensões de 3 a 5 µm. As formas
arredondadas confundem-se com as formas de B. bovis. As formas amebóides e ovaladas
têm sido relacionadas ao ciclo sexuado, o qual se completa no vetor, e as formas piriformes
relacionam-se ao ciclo assexuado. Apresenta coloração basofílica pelos corantes derivados
do romanovski. Na fase de convalescência do hospedeiro, a morfologia deste babesídeo
pode estar alterada, podendo ainda encontrar elementos livres no plasma. As drogas
babesicidas também induzem à modificações morfológicas (MASSARD & FREIRE, 1985).
Esta espécie também é transmitida pelos carrapatos B. microplus, cuja infecção no
carrapato também ocorre no período de ingurgitamento da fêmea; existe a transmissão
transovariana, porém, apenas os ínstares de ninfa e adultos transmitem este agente para
os bovinos (MASSARD et al., 1998). Os machos de B. microplus, devido à sua mobilidade
e longevidade podem transmitir a B. bigemina para diferentes bovinos (RIEK, 1964;
FRIEDHOF & SMITH, 1981).
Anaplasma marginale: É uma rickettsia caracterizada morfologicamente como um
pequeno corpo arredondado ou ovalado, com características tintoriais basofílicas aos
corantes derivados do romanovski. Este organismo está localizado no eritrócito, em 80 a
90% das ocorrências, periférica/marginalmente (MOREL, 1989). Mais de um corpo podem
estar presentes no eritrócito. Corado pelo giemsa o A. marginale apresenta-se sob forma
arredondada, densa e homogênea, com tonalidade purpúrea, e dimensões de 0,3 a 1,0 µm
(Fig. 4). Cada corpo pode conter de um a oito subunidades (corpúsculos iniciais) que são
as formas infectantes. Os corpúsculos iniciais aderem-se às hemácias e sua entrada se dá
por invaginação da membrana citoplasmática, embolsamento do microrganismo e a
posterior formação do vacúolo parasitóforo. Logo após a penetração no eritrócito, o
corpúsculo inicial se multiplica por divisão binária, sendo discutida a multiplicação por
brotamento, e forma o corpo elementar. A transmissão do A. marginale se dá
mecanicamente, principalmente por dípteros hematófagos (tabanídeos, culicídeos e
muscídeos), os carrapatos são importantes quanto à transmissão transestadial e para o B.
microplus o macho tem papel relevante. A utilização de agulhas, instrumentos cirúrgicos e
outros objetos perfurantes contaminados são fontes de infecção (RIBEIRO, 1991;
MASSARD et al., 1998).
São descritas outras espécies da família Anaplasmataceae parasitando bovinos,
como o A. centrale THEILER, 1911 e Paranaplasma caudatum KREIER & RISTIC, 1963, a
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segunda espécie ainda não descrita no Brasil. O A. centrale, nome dado pelo fato de 80 a
90% das formas estarem no centro do eritrócito (Fig. 5) (MOREL, 1989) é o agente
etiológico da anaplasmose bovina benigna; no entanto, esta rickettsia quando foi
diagnosticada pela primeira vez no Brasil, em bovinos da raça holandesa no município do
Rio de Janeiro, os animais desenvolveram doença aguda (MASSARD et al., 1980).
EPIZOOTIOLOGIA
Distribuição Geográfica: A TPB encontra-se amplamente distribuída. As
babesioses determinadas pelas espécies B. bigemina e B. bovis ocorrem nas regiões
tropicais e sub-tropicais do mundo, entre os paralelos 320N e 32oS, região onde encontrase o B. microplus (MC COSKER, 1981). E a anaplasmose ocorre tanto em regiões tropicais
e sub-tropicais como em zonas temperadas (DALGLIESH et al, 1990; KESSLER et al.,
1992). A TPB possui diferentes situações epizootiológicas (MOREL, 1989):
Estabilidade enzoótica: Nesta situação existe uma alta probabilidade de infecção
primária antes do desaparecimento da proteção passiva adquirida por anticorpos colostrais.
Neste estágio, a infecção ocorre em aproximadamente 100% dos bezerros com 3 a 4
meses e idade, embora a doença seja normalmente inaparente. A qualidade da proteção
passiva é garantida pelo grau de premunição maternal.
Instabilidade enzoótica: O risco da doença clínica nesta situação é muito alto, pois
frequentes infecções primárias ocorrem após a perda da proteção passiva, entre a idade de
4 meses a 3 anos. A situação pode vir a ser crítica quando o vetor começa a ficar escasso,
principalmente em casos de massivos tratamentos acaricidas, mesmo não erradicando-o.
Assim, os casos clínicos são raros, pois a maioria dos bovinos não são infectados e,
consequentemente premunidos; a região pode tornar-se livre, o que é desfavorável no
momento da introdução e/ou proliferação dos carrapatos, pois os animais estarão
desprotegidos.
A epizootiologia da TPB está influenciada ainda pela relação hemoparasitohospedeiro, onde o fator primordial é a imunidade, a qual é dependente da especificidade
dos anticorpos. Entretanto, não existe uma correlação entre título de anticorpos e o nível de
proteção, exceto em animais jovens onde mesmo os baixos títulos asseguram efetiva
proteção.
Relação hemoparasito-carrapato: Nesta relação está determinada a infecção do
carrapato pelo agente (Babesia sp) e a infectividade à geração seguinte. Em altas
parasitemias, as fêmeas de B. microplus sofrem severas lesões intestinais pelas
sucessivas multiplicações da Babesia nas células do epitélio digestivo. Este processo pode
reduzir a oviposição do carrapato, mas as larvas terão uma relativa quantidade de B. bovis,
assim como as ninfas e adultos para B. bigemina (RIEK, 1966). Quanto ao A. marginale é
sabido que este se multiplica nas células intestinais do carrapato, mas sua transmissão via
transovariana ainda é discutível (RIBEIRO, 1991; KESSLER et al., 1992).
Relação carrapato-hospedeiro: A variação sazonal, a biologia e a dinâmica
populacional determinam os períodos de atividade do vetor no hospedeiro e,
consequentemente, o período de infecção ou reinfecção (MOREL, 1989). O
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desenvolvimento da Babesia no vetor depende do ciclo de vida do carrapato e,
principalmente, da época quando o carrapato é infectado e da época em que este
transmitirá o piroplasmídeo ao hospedeiro. O risco de infecção está ainda relacionado ao
habitat do carrapato, e em muitas situações o ixodídeo pode permanecer com o agente por
longos períodos (NEITZ, 1956; FRIEDHOF & SMITH, 1981; MOREL, 1989).
IMPORTÂNCIA
A TPB é de grande importância em todo o mundo devido às grandes perdas
econômicas. Segundo MC COSKER (1981), se o EUA não tivessem erradicado o B.
annulatus, as perdas decorrentes do carrapato e da TPB (babesioses) estariam próximo de
500 milhões de dólares anuais. Na América Latina considera-se perdas em torno de 266
milhões de dólares/ano. A anaplasmose nos EUA é responsável por cerca de 100 milhões
de dólares anuais (MC CALLON, 1973).
No Brasil a associação de B. microplus e as doenças transmitidas por ele
determinam prejuízos estimados em mais de 1 bilhão de dólares (Ministério da Agricultura
do Brasil, 1985).
Esta importância decorre do fato destes agentes serem responsáveis por prejuízos
diretos e indiretos. A morbidade determinada pela TPB é alta nos países tropicais e subtropicais, e em áreas de instabilidade a taxa de mortalidade é alta. Além das
consequências decorrentes da patogenia, deve-se levar em consideração a onerosidade do
tratamento, pois as drogas são específicas e de custo elevado.
PATOGENIA E SINTOMAS CLÍNICOS
A patogenia para o complexo TPB difere em relação aos agentes etiológicos e,
consequentemente, à expressão sintomatológica. As principais ações são decorrentes de:
Ação hemolítica: Na TPB a eritrólise é decorrente da multiplicação assexuada, dos
piroplasmídeos, de forma gradual e progressiva, levando a acentuada diminuição do
número de hemácias circulantes. A destruição de eritrócitos é bem marcada pela B.
bigemina, enquanto a B. bovis é considerada menos hemolítica (ARAGON, 1976). Na
anaplasmose não há hemólise intravascular, as hemácias parasitadas e/ou marcadas são
fagocitadas pelas células do sistema fagocítico mononuclear, a nível de baço
principalmente; assim a anemia é consequência da remoção dos eritrócitos parasitados da
circulação. Entretanto na anaplasmose pode ocorrer um processo imuno-mediado,
determinado pela destruição de eritrócitos normais (BOERO, 1974).
Ação sobre o sistema digestivo: Nos casos graves de TPB é frequente observar
alterações digestivas como diarréia ou coprostase e desidratação, associada à icterícia e
anemia em função da eritrólise. A nível hepático, sobrevém a degeneração dos
hepatócitos, seguido de bilirrubinemia devido ao desdobramento de pigmentos hemáticos.
Na babesiose encontra-se uma hemoglobinemia intensa, já na anaplasmose a
hemoglobina é decomposta e os pigmentos biliares estaram em altas concentrações no
plasma e nas fezes (BOERO, 1974). Na babesiose a hemoglobina liberada passa ao
plasma para então ser expelida pela urina ou acumular nas cavidades como no saco
pericárdico. Na anaplasmose a massiva destruição dos eritrócitos levará a excessiva
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produção biliar, ficando a vesícula aumentada com
(MASSARD & FREIRE, 1985).
A insuficiência hepática permite a passagem
podem determinar uma toxemia. A grumosidade
aparecimento das disfunções digestivas. A ação
consequência a esplenomegalia, a hepatomegalia,
dentre outros distúrbios.
bile espessa e grumosa (“mal da bile”)
de sais e ácidos à circulação, os quais
e o espessamento biliar favorece o
sobre o sistema digestivo terá como
a icterícia, a coprostase ou a diarréia,
Ação sobre a termorregulação: Existe uma relação, nas babesioses, entre a
eritrólise, hemoglobinúria e hipertermia. Os primeiros sinais febris normalmente são
decorrentes da infecção pela B. bigemina, cuja parasitemia é maior e a febre próxima de
40oC (MASSARD & FURLONG, 1994). Em relação a infecção pela B. bovis, a parasitemia
é menor, pois esta tem características viscerotrópicas, não havendo intensa
hemoglobinemia, hemoglobinúria e a febre pode ser menor que para a B. bigemina. A
anaplasmose, normalmente, caracteriza a segunda fase da TPB e o terceiro pico febril,
embora esta possa manifestar-se de forma isolada, e a febre é acima de 40 oC (FONSECA
& BRAGA, 1924).
Ação sobre a hematopoiese: A atividade da medula óssea pode ser caracterizada
pela presença de reticulócitos circulantes. A hemólise intravascular nas babesioses
associada a intensa função esplênica quanto a hemocaterese (anaplasmose e babesiose),
determina uma parada de atividade esplênica quanto a sua função frenadora. Assim a
medula óssea enviará grande número de células imaturas à circulação (BOERO, 1974).
Estas células são ineficientes no transporte de oxigênio.
A disfunção dos órgãos hematopoiéticos e do tecido sanguíneo, quanto a eritrólise, a
diminuição da resistência globular, a liberação de hemoglobina e a trombose capilar,
caracterizam a vitória do parasitismo sobre a barreira imunológica do hospedeiro, o que
fará o animal apresentar um quadro patológico de gravidade variável.
Ação viscerotrópica bloqueante: Enquanto a B. bigemina e o A. marginale
apresentam tropismo pela circulação periférica, para a B. bovis esse comportamento é raro.
Esta espécie possui tropismo por capilares de órgãos centrais como cérebro, cerebelo e
meninges, e órgãos viscerais como rins, baço, pulmão, e coração. A B. bovis determina
uma patologia menos anemiante e menos icterógena com característica viscerotrópica
aglutinante com bloqueio de vasos (MASSARD & FREIRE, 1985). A B. bovis, a nível de
capilares do SNC, pode desencadear a sintomatologia nervosa decorrente de alterações
devido a congestão da rede capilar, aglutinação de hemácias e trombose. Assim, o animal
apresentará sinais de incoordenação motora, sialorréia, andar vacilante, cefeléia,
culminando com encefalites e morte.
Ação sobre a função renal: Na babesiose a hemoglobinúria é consequência da
massiva eritrólise intravascular o que é bem marcada na infecção pela B. bigemina. Na
anaplasmose, no entanto, não há hemoglobinúria. É comum ocorrer na babesiose
nefropatias devido à deposição de pigmentos férricos e acúmulo de cristais no glomérulo
renal (HILDEBRANDT, 1981).
Os sinais clínicos associados a toxemia hematógena, a lesão renal, a desidratação,
a perda da viscosidade sanguínea e a diminuição da tensão superficial do sangue,
determinam a morte do animal (MASSARD & FREIRE, 1985).
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IMUNIDADE
A imunidade contra os agentes da TPB depende da especificidade dos anticorpos.
No entanto, não existe correlação entre o título de anticorpos e o nível de proteção, exceto
em animais jovens, onde mesmo títulos baixos pode conferir proteção (MOREL, 1989).
Variações antigênicas podem ocorrer entre amostras de agentes provenientes de
diferentes regiões geográficas. Estas diferenças também são aplicáveis quanto a
patogenicidade. Tais fenômenos são comuns entre as babésias, e não estão claramente
compreendidos.
As babésias possuem um mecanismo de variação antigênica que aparece após a
primeira expressão clínica/imunológica do hospedeiro. Este fenômeno é comum entre os
protozoários Apicomplexa (TAVERN & BRADLEY, 1997). Os antígenos permanecem
estáveis durante a primo-infecção; entretanto, a recorrência da enfermidade ocorre como
um resultado da produção de uma nova variação antigênica não correspondendo aos
anticorpos pré-estabelecidos (MOREL, 1989).
Os agentes da TPB têm uma grande habilidade de evasão ao sistema imune do
hospedeiro seja no caráter humoral ou celular. Pouco se conhece sobre a imunidade às
rickettsias, mas acredita-se que estas possuem mecanismos similares aos Apicomplexa.
Assim, a imunidade do tipo coinfecciosa é de grande importância, além de ter papel
relevante quanto a epizootiologia da enfermidade.
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico da TPB pode ser dividido em:
Diagnóstico clínico: As formas clínicas da TPB podem ser confundidas ou estarem
associadas a outros estados mórbidos (ARAGON, 1976). Em geral a babesiose é a
primeira manifestação da TPB, onde a B. bigemina determina febre próxima de 40 oC,
anemia, debilidade geral, prostação, inapetência, perda de peso, desidratação e
hemoglobinúria (ESTRADA PEÑA, 1984). Quanto a B. bovis raramente ocorre
hemoglobinúria. A característica viscerotrópica deste babesídeo levará ao bloqueio de
capilares e consequente congestão de órgãos, e esta babésia no SNC desencadeará o
quadro neurológico de incoordenação, movimentos de pedalagem, salivação e opistótomo
(KESSLER et al., 1992). A babesiose visceral tem como diagnóstico diferencial a raiva dos
bovinos e ainda intoxicação por plantas como a Cestrum laevigatum que determinam
sintomas neurológicos.
A anaplasmose representa a segunda fase da TPB, onde ocorre febre muito alta
(acima de 40 oC), palidez de mucosas, icterícia marcada, ausência de hemoglobinúria,
desidratação, perda do apetite, coprostase, fezes ressequidas e com estrias de sangue.
Pode ocorrer ainda aborto, esterilidade, além da queda de produção.
A anamnese é importante no diagnóstico da TPB, pois o histórico relacionado com a
apresentação clínica da enfermidade constituem pontos importantes para o fechamento do
diagnóstico.
Diagnóstico laboratorial: O diagnóstico laboratorial é de grande valia para a
confirmação e identificação dos agentes da TPB. Esse pode ser direto através da
confecção de esfregaços sanguíneos delgados, corados pelo método de Giemsa, onde
pode-se observar o agente parasitário. O exame direto pode ser auxiliado pela realização
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do hemograma (KESSLER et al., 1992) onde ter-se-á determinada a concentração de
hemoglobina, os níveis protéicos séricos e plasmáticos, o hematócrito e outros parâmetros
sanguíneos e bioquímicos. A urinálise também é um procedimento, auxiliar, importante no
diagnóstico.
Quanto ao diagnóstico indireto, pode-se proceder os imunoensaios como a fixação
de complemento, a imunofluorescência indireta, o ELISA indireto, a técnica de aglutinação,
a conglutinação e ainda técnicas mais modernas como a reação de polimerase em cadeia
e a hibridização in situ.
Os exames anatomo-patológicos são importantes no diagnóstico da TPB. Pela
necropsia pode-se observar mucosas e serosas hipocoradas ou ictéricas, hepatomegalia,
esplenomegalia. nefromegalia. congestão de diversos órgãos como fígado, baço, rins,
cérebro e cerebelo; linfonodos aumentados, bile espessa e grumosa, vesícula biliar
distendida e bexiga urinária contendo urina escura.
Na suspeita de babesiose visceral é importante proceder a confecção de impressões
de órgãos, pelo médico veterinário, principalmente, a partir de fragmentos de cérebro e
cerebelo, especialmente do hipocampo, onde pode-se encontrar a B. bovis, no interior dos
eritrócitos aglutinados ao capilar visceral.
CONTROLE
O controle da TPB baseia-se na adoção de medidas integradas, tais como:
Controle do vetor: Deve-se proceder o controle do carrapato de forma mais
adequada para a situação, tendo-se por opções: o manejo dos animais, o sistema de
rotação de pastagem, o controle químico (MOREL, 1989), controle estratégico, controle
microbiológico e o controle imunológico que se baseia no uso de imunógenos
recombinantes para o B. microplus, diminuindo assim a população de carrapatos (DE LA
FUENTE, 1995). É importante ressaltar a necessidade dos animais jovens entrarem em
contato com o carrapato, a fim de desenvolverem imunidade. A erradicação do carrapato é
maléfica quanto a imunidade para os agentes da TPB (MOREL, 1989). Para a
anaplasmose deve-se adotar medidas de higienização dos intrumentos cirúrgicos, e o
controle dos dípteros hematófagos.
Controle dos agentes da TPB: No início do século iniciou-se o desenvolvimento da
técnica de premunição dos bovinos aos agentes da TPB, estando esta técnica hoje bem
aprimorada e amplamente utilizada com resultados satisfatórios.
O uso de vacinas no controle da TPB é uma questão muito discutida. As vacinas
inativadas, sejam elas obtidas a partir de animais infectados ou de cultivo celular, garantem
uma imunidade temporária e/ou possuem um baixo poder imunogênico, devido às
características regionais das cepas dos agentes (ESTRADA PEÑA, 1984). As vacinas
vivas, derivadas de sucessivas passagens dos agentes em bezerros esplenectomizados
também não garantem imunidade satisfatória, além de levarem consigo o risco da reversão
de patogenicidade/variação na virulência; embora sejam a melhor tecnologia disponível.
Atualmente, acredita-se que uma vacina ideal seria obtida a partir de proteínas produzidas
pelas organelas do complexo apical das babésias, como roptrias e micronemas. Estas
proteínas estão associadas ao processo de invasão do agente ao eritrócito, sendo de
função vital para a sobrevivência das babésias (PERKINS, 1992).
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TRATAMENTO
No tratamento terapêutico e na profilaxia é importante o acompanhamento pelo
profissional. O tratamento da TPB depende do diagnóstico específico quanto ao agente. As
babésias possuem diferentes níveis de sensibilidade às drogas. A B. bovis é mais
resistente aos babesicidas que a B. bigemina. As drogas babesicidas mais encontradas no
mercado são os derivados das diamidinas e derivados do imidocarb. A dose terapêutica
das diamidinas é de 3,5 mg/Kg de peso, em dose única, via intramuscular (IM), esta droga
é muito eficiente para a B. bigemina. A dose terapêutica dos derivados do imidocarb é de
1,2 mg/Kg de peso, por via subcutânea, esta droga é eficiente tanto para a B. bigemina
quanto para a B. bovis. O imidocarb além de possuir longa ação, tem efetividade sobre as
rickettsias na dose de 2,4 mg/Kg de peso (ARAGON, 1976; ESTRADA PEÑA, 1984).
A droga de eleição para o A. marginale é a tetraciclinas, principalmente sob a forma
de cloridrato de oxitetraciclina na dose de 2 a 4 mg/Kg de peso, via IM, fazendo aplicações
diárias até o desaparecimento dos sintomas. Para as axitetraciclinas de longa ação a dose
é de 20 mg/Kg de peso, via IM, em dose única, podendo repetir esta dose, se necessário,
após três dias, em casos severos (KESSLER et al., 1992). Todos estes quimioterápicos
apresentam efeitos colaterais sérios, portanto, devem ser usados com precaução
(TODOROVIC et al., 1973b; PATARROYO et al., 1982 ).
PREMUNIÇÃO PARA A TRISTEZA PARASITÁRIA BOVINA
SERGENT et al. (1924) postularam que o termo premunir, de origem latínica,
significa præ (= antes) e munire (= mœnia, igual a modo de defesa). Desta forma, premunir
nada mais significa do que fortalecer o sistema de defesa do animal contra um mal que
possa acontecer e, estando assim preparado, a doença ocorreria numa forma benígna.
Esclareciam ainda que premunir significa o ato, citando o seguinte exemplo: imunizar =
vacinar e premunição é o ato da vacinação.
Concomitantemente a postulação do termo premunir, FONSECA & BRAGA (1924)
registraram, no Brasil, estudos detalhados sobre a TPB e seus agentes, enfocando
metodologia de controle pela premunição.
Várias são as circunstâncias que levam à surtos de TPB. KESSLER et al. (1992)
relacionam como mais importantes:
•
Introdução de animais criados em áreas livres de carrapatos em áreas enzoóticas;
•
introdução de animais parasitados por carrapatos em áreas ou rebanhos livres;
•
redução temporária da infestação de carrapatos, devido às condições climáticas
desfavoráveis à sua multiplicação (áreas de instabilidade enzoótica) e,
•
redução temporária de infestação de carrapatos por meios artificiais (controle intensivo
de carrapato através de banhos carrapaticidas, descanso de pastagens e criação de
raças mais resistentes).
Além destes, a raça, a idade, a imunidade e o tempo de manifestação da doença
são fatores importantes relacionados ao animal que o predispõe ao aparecimento da
enfermidade. O controle dos agentes da TPB foi inicialmente realizado, de forma empírica,
no final do século XIX, concomitante à descrição da B. bigemina por SMITH & KILBORNE
em 1893, no extremo Sul dos EUA. Entretanto, os trabalhos precursores de premunição
foram realizados na África do Sul por THEILER (1912), logo após ter descrito o A.
marginale em 1910.
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PREMUNIÇÃO
A técnica de premunição foi utilizada, desde o início do século, para imunizar
bovinos importados de áreas indenes a serem introduzidos em áreas enzoóticas para
carrapatos, quando morriam cerca de 90 a 97% dos animais acometidos pela doença
(STEPHAN & SQUIBEL, 1929). A premunição é um método utilizado no Brasil, e quando
tecnicamente acompanhado, apresenta resultados satisfatórios. Este método consiste em
induzir a imunidade coinfecciosa pela inoculação de sangue total, parasitado pelos agentes
da TPB, seguido de tratamento com quimioterápico quando se estabelece a doença na
fase aguda.
Hoje, além da premunição clássica, também se utiliza a indução da imunidade
através do uso de “vacinas” atenuadas contra os hemoparasitos. As vacinas atenuadas por
passagem em animais esplenectomizados ou por passagem em outros hospedeiros têm
como principal fator desfavorável, o risco de reversão da patogenicidade (virulência),
embora estas sejam muito utilizadas (PERKINS, 1992). O insucesso das premunições
muitas das vezes estão relacionados com a não obervância de fatores como raça, idade e
época do ano que se procede a importação, o que poderá acarretar prejuízos consideráveis
(GRAÇA, 1996). Qualquer que seja o método, a imunização contra os patógenos da TPB
tem vantagens e desvantagens.
MÉTODOS DE PREMUNIÇÃO
Vários têm sido os métodos empregados no processo de premunição de animais
importados para adaptá-los antes de serem introduzidos em áreas enzoóticas para
carrapatos e consequentemente TPB. A premunição segundo SERGENT et al. (1924) é a
resistência de um animal ao primeiro ataque da babesiose ou anaplasmose, estabelecendo
de certo modo uma simbiose somato-parasitária entre o hospedeiro e o parasita. Em
condições naturais de criação a campo esta simbiose será mantida pelas sucessivas
reinfestações de carrapatos, havendo, desta forma, um equilíbrio entre a presença
constante do parasito e o organismo do hospedeiro.
Nas áreas de estabilidade enzoótica, os efeitos da TPB são minimizados pela
exposição precoce dos animais ao agente logo após o nascimento, pela primo-infecção,
embora essa normalmente assegure apenas a uma imunidade temporária. Entretanto, nas
áreas de instabilidade e em bovinos importados de áreas indenes a doença ocorre sob
forma aguda causando altos índices de mortalidade (CORRIER & GUZMAN, 1977; LIMA,
1991).
Os métodos comumente empregados utilizam a inoculação de sangue parasitado,
desfibrinado e resfriado, colhido de animais portadores, seguido de acompanhamento e de
tratamento específico quando aparece os sinais clínicos de babesiose e anaplasmose.
Contudo, deve-se ter o cuidado de não provocar uma quimioesterilização com o uso
excessivo de drogas. Os principais métodos de premunição são:
Método natural: Foi o primeiro a ser utilizado e consiste em infestar o animal a
premunir com 20 a 50 larvas de carrapato. Este método foi abandonado por apresentar
muitos inconvenientes, além de não estabelecer o número de formas infectantes dos
hematozoários.
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Métodos artificiais:
Inoculação de carrapatos triturados: Consiste num processo empírico de
premunição, onde se usa carrapatos coletados em bovinos naturalmente infestados. Estes
são lavados em solução de sulfato de cobre e posteriormente em água destilada, após
serem lavados, estes carrapatos são triturados em salina e preparado uma solução para
ser inoculada nos bovinos a premunir. Esta técnica consistia num tratamento empírico
apresentando mais desvantagens do que vantagens, como exemplo a formação de
abcessos, no local de inoculação, induzidos pela quitina do artrópode; outra desvantagem é
o risco dos hematozoários estarem com virulência exacerbada e a inoculação de outros
agentes (DALRYMPLE et al., citado por CORRÊA, 1973).
Método de NUTHAL & THEILER: É o método mais utilizado. Consiste na
premunição propriamente dita, ou seja, é um processo em que se utiliza sangue coletado
de um animal carrapateado, naturalmente portador dos três agentes da TPB. Inocula-se o
sangue no animal a ser premunido, estabelecendo desta forma a infecção, a qual é
controlada por quimioterápicos, e induz a imunidade coinfecciosa. Com a evolução das
investigações sobre a biologia dos agentes da TPB, este processo sofreu modificações.
Mesmo assim, desde que usado com acompanhamento técnico apresenta bons resultados
(SANTOS, 1950; KUTTLER, 1972; TODOROVIC et al., 1975; BANGEL Jr et al., 1987;
LIMA, 1991).
Método de LIGINIÉRES: Neste método usa-se o inóculo de A. marginale obtido por
sucessivas passagens em ovinos, para atenuação da virulência. Os ovinos, por serem
resistentes, ainda são usados como atenuadores do A. marginale com a finalidade da
produção de vacinas contra a anaplasmose do bovinos. Este processo foi confirmado por
OSORNO & SOLANA, (1975); VIZCAINO et al., (1978) e RISTIC & MONTENEGROJAMES, (1988), os quais utilizaram bezerros holstein-friesian para testar a nível de
laboratório e a campo a “vacina” contra anaplasmose.
Método de ROSEMBUSH: Os animais a serem premunidos são inicialmente
inoculados com Anaplasma a qual determina uma reação mais severa e de difícil
tratamento. Quando estiverem recuperados, os animais são então inoculados com Babesia,
a qual acarretará uma reação mais branda com melhor resposta ao tratamento. Esta
técnica foi recomendada por SANTOS (1950), este autor ressalvou que os melhores
resultados da premunição são obtidos em animais jovens e a técnica deve ter
acompanhamento técnico permanente.
Método de SERGENT: Este era inicialmente a forma clássica de produção de
vacinas contra TPB, que consistia em colher sangue de um animal com doença em fase
crônica e passar em animal jovem como forma de atenuar a virulência dos hematozoários.
Destes bezerros, coletava-se sangue para ser usado na premunição de outros animais.
Atualmente, esta técnica foi modificada e a atenuação dos hematozoários é feita por
passagens sucessivas em bezerros esplenectomizados (CALLOW & MELLORS, 1966;
KUTTLER, 1972; TODOROVIC et al., 1973a; KESSLER et al., 1992).
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VACINAS
Visando minimizar os problemas decorrentes dos inóculos utilizados nos métodos de
premunição, pesquisadores da Austrália, EUA, Argentina, Uruguai, Colômbia e Brasil, se
empenharam na obtenção de um antígeno padrão para imunização contra os agentes da
TPB (KESSLER et al., 1992). Os principais tipos de imunógenos são:
Vacinas vivas: São inóculos que contém organismos viáveis, purificados e
atenuados por passagens em bezerros esplenectomizados ou normais (CALLOW &
MELLORS, l966; VILAS NOVAS & VIANA, 1980).
Antígenos atenuados por irradiação: Este é um método pouco estudado. BISHOP
& ADANS (1974) testaram a infecciosidade e imunogenicidade de B. bovis submetida à
várias dosagens de irradiação por cobalto. Observaram que os hemoparasitos desta forma
atenuados e usados como vacina foram capazes de proteger bezerros contra a infecção ao
serem desafiados com cepas não atenuadas.
Amostras purificadas e não atenuadas: Neste processo utiliza-se doses mínimas
infectantes dos agentes da TPB para imunizar os animais (TODOROVIC et al., 1975;
BANGEL Jr et al., 1987; LIMA, 1991).
Amostras não purificadas nem atenuadas: Consiste no método clássico de
premunição, onde se utiliza inóculo proveniente de doadores naturalmente infectados. Este
processo confere bons resultados quando devidamente acompanhado (SANTOS, 1950;
BANGEL Jr. et al., 1987; LIMA, 1991; LOSS et al., 1992).
IMUNÓGENOS NÃO VIÁVEIS
Em virtude das vacinas contra a TPB conterem agentes íntegros que além da
infecção podem veicular outros patógenos e provocarem sensibilização dos eritrócitos,
podendo acarretar isoeritrólise neonatal; alguns pesquisadores investigaram a obtenção de
uma vacina que induzisse a imunidade estéril, isto é, mesmo sem a presença dos agentes
íntegros, o hospedeiro estaria imune.
Plasma de animais enfermos e recentemente recuperados: Consiste na
transferência de anticorpos para animais a serem premunidos. É uma técnica muito
discutida, pois esta não garante imunidade duradoura (CALLOW, 1967; MAHONEY &
GOODGER, l972).
Vacinas com o emprego da engenharia genética, DNA recombinante: Os
estudos sobre a obtenção de vacinas contra os agentes da TPB a partir da engenharia
genética tiveram início na década de 80. Entretanto, estas pesquisas têm utilizado
principalmente a B. bovis e, apesar dos resultados serem promissores, deve-se considerar
que uma boa vacina contra a TPB deverá conter todos os agentes (B. bovis, B. bigemina e
A. marginale) (KESSLER et al., 1992).
A premunição, como ainda hoje é feita no Brasil, desde que tecnicamente orientada
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e acompanhada tem demonstrado ser eficiente. O que se deve tentar minimizar são fatores
como o excesso de medicação quimioterápica nos animais que apresentem a doença na
forma aguda, evitando uma quimioesterelização. Este acontecimento acarretaria a
necessidade de reinoculações com sangue parasitado, o que possivelmente exporia o
animal ao risco de uma sensibilização para grupos sangüíneos, induzindo à isoeritrólise,
conforme relato de CARSON et al. (1976). Outros riscos deste método seria a veiculação
de doenças infecciosas como brucelose, leucose, tuberculose, diarréia viral bovina,
rinotraqueite infecciosa bovina, língua azul, febre aftosa, ehrlichiose, e outras; caso a
seleção do doador não seja rigorosa.
MAHONEY et al. (1981), define ser uma vacina de boa qualidade aquela que não
exponha o animal premunido aos riscos, ainda hoje, existentes e desta forma pudesse ser
recomendada na proteção de doenças hemotrópicas dos bovinos.
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