A Influência da mídia na Política Externa dos Estados Unidos

Transcrição

A Influência da mídia na Política Externa dos Estados Unidos
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BELO HORIZONTE – UNI-BH
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E
GERENCIAIS
CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS
MARIANA CASTRO CANÇADO PARAÍSO
A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NAS DECISÕES DE POLÍTICA
EXTERNA DOS ESTADOS UNIDOS: GUERRA DO
VIETNÃ
BELO HORIZONTE
DEZEMBRO DE 2008
MARIANA CASTRO CANÇADO PARAÍSO
A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NAS DECISÕES DE POLÍTICA
EXTERNA DOS ESTADOS UNIDOS: GUERRA DO
VIETNÃ
Monografia apresentada ao Centro
Universitário de Belo Horizonte UNI-BH, como requisito parcial à
obtenção do título de bacharel em
relações internacionais.
Orientador: Geraldine Rosas
BELO HORIZONTE
DEZEMBRO DE 2008
2
MARIANA CASTRO CANÇADO PARAÍSO
A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NAS DECISÕES DE POLÍTICA
EXTERNA DOS ESTADOS UNIDOS: GUERRA DO
VIETNÃ
Monografia apresentada ao Centro
Universitário de Belo Horizonte UNI-BH, como requisito parcial à
obtenção do título de bacharel em
relações internacionais.
Monografia aprovada em:
Banca examinadora:
_______________________________________________
__________________________________________________
3
Sinceros agradecimentos a minha orientedora, Geraldine
Rosas, por confiar em mim e por me orientar, no verdadeiro
sentido do termo, permitindo-me finalizar este trabalho. As
pessoas que me ajudaram ao longo desta caminhada me
incentivando e a todos os professores pela convivência e
inteligência cativantes, que guiaram e direcionaram meus
interesses acadêmicos.
4
RESUMO
Esta monografia tem como objetivo analisar a influência da cobertura da mídia
americana na opinião pública, demonstrando como esta influência afeta a tomada de
decisão de política externa do Estado norte-americano em relação à Guerra do Vietnã. A
guerra do Vietnã trouxe conseqüências fortes para a economia norte-americana e para a
sociedade norte-americana, inserida em um contexto de Guerra Fria, onde os embates
ideológicos marcavam as políticas externas dos países. A cobertura da mídia norteamericana na guerra do Vietnã, foi marcante, pois foi a primeira guerra televisionada ao
vivo para uma sociedade, mostrando em tempo real o que aconteciam nos campos de
batalha. O descontentamento entre a população civil norte-americana sobre a guerra do
Vietnã, após a cobertura da mídia aumentou, levando os Estados Unidos a tomarem
medidas que eram requisitadas pela sociedade. Para não ter que lidar com uma revolta
generalizada em seu território o governo norte-americano, toma medidas para uma
solução pacifica da guerra do Vietnã. Demonstrando assim, que a população civil após a
cobertura da mídia norte americana na guerra, perseguiu seus objetivos, que eram contra
a guerra do Vietnã e fim de envios de tropas americanas para o território do Vietnã.
Palavras Chave: Política Externa, mídia e Guerra do Vietnã.
5
ABSTRACT
This thesis aims to analyze the influence of media coverage in American public
opinion. The idea is demonstrating how this influence affects decision-making of
American foreign policy in relation to the Vietnam War. The war in Vietnam has strong
consequences for the U.S. economy and for American society, inserted in the context of
Cold War, where the ideological clashes marked the foreign policies of countries. The
American media coverage in Vietnam was marked as the first war broadcasted live to a
country, showing in real time what has happened in the battlefields. The discontent
among the civilian population on the U.S. war in Vietnam, after the media coverage has
increased, leaded the United States to take measures that are required by society. To not
have to deal with a widespread revolt in its territory the American government takes
steps to a peaceful solution of the war in Vietnam. This demonstrates that the civilian
population chased their goals, after the U.S. media coverage of the war, which was
against the war in Vietnam and order of items of American troops into the territory of
Vietnam.
Key words: Foreign Policy, Media and the Vietnam War.
6
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
08
1
Capítulo 1 - PREMISSAS TEÓRICAS
10
1.1
Teoria Pluralista
11
1.2
Grupos de interesses internos
14
1.3
Mídia como grupos de interesse
17
2
CAPÍTULO 2 - GUERRA FRIA E DO VIETNÃ E A MANISFESTAÇÃO
22
PÚBLICA
2.1
Guerra Fria e seus desdobramentos
22
2.2
Retrospectiva histórica da guerra do Vietnã
30
2.3
Impacto da Guerra nos Estados Unidos
36
3
Capítulo 3 – ANÁLISE DA GUERRA DO VIETNÃ E SUAS INFLUÊNCIAS
41
3.1
Cobertura da Mídia na Guerra do Vietnã
41
3.2
Manifestações da opinião pública americana
44
3.3
Influência das manifestações na política americana
46
4
CONSIDERAÇÕES FINAIS
52
5
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
54
7
Introdução
O objetivo do trabalho é identificar a importância da mídia nas decisões de
política externa dos Estados, tendo como estudo de caso a guerra do Vietnã e a
influência da mídia na opinião pública norte-americana, e como isso refletiu nas
decisões de política externa dos Estados Unidos em relação a guerra do Vietnã. O
trabalho mostra como os interesses dos grupos internos do Estado, que não
necessariamente são os mesmo que os Estatais refletem na política externa do país, que
acaba adotando políticas pelas quais os grupos internos almejavam.
O trabalho terá como foco a guerra do Vietnã, pois foi a primeira guerra
televisionada ao vivo, onda a mídia televisiva, teve um impacto como nunca visto antes
na historia das guerras mundiais. Mídia tratada no trabalho como veículos que são
utilizados para a divulgação de conteúdos jornalísticos e informativos. A sociedade
americana assistiu as imagens da guerra na sala de televisão, ao mesmo tempo que
sentiam em suas vidas, como quando perdiam alguém na guerra, o custo caro da guerra.
Estas motivações foram suficientes para que a população civil americana, se organizasse
e se manifestasse contra a guerra. As manifestações na sociedade americana tiveram
proporções nunca vistas na história do país, gerando uma pressão muito forte sobre o
governo para tomar medidas que fossem do interesse da população.
O trabalho está estruturado em três capítulos e as considerações finais. O
primeiro capítulo irá tratar da teoria de Relações Internacionais, para ajudar na
afirmação da influência dos grupos de interesses internos sobre os Estados. A teoria
utilizada é a Pluralista, desenvolvida por Putnam (1993), é explicado a sua teoria e o
enfoque nos grupos de interesse internos dos Estados, para que se entenda a mídia como
grupo de interesse, e sua influência na política externa do Estado. Em seguida, será feita
uma explicação sobre os grupos de interesses internos dos Estados, e a influência destes
grupos na dinâmica de políticas externa e domésticas dos países. A última seção do
capitulo tem o objetivo de identificar a mídia como um grupo de interesse interno do
Estado, ressaltando características os grupos de pressão, que são importantes no
processo de influência da mídia nas decisões dos Estados.
O segundo capítulo tem o objetivo de contextualizar a Guerra do Vietnã na
historia mundial, para se entender os motivos que incentivavam o conflito, e uma
retrospectiva histórica sobre a Guerra do Vietnã para entender o real interesse dos países
8
envolvidos na guerra, bem como a manifestação da população norte americana diante a
guerra do Vietnã. A primeira parte tratará do contexto mundial no qual a guerra está
inserida, a Guerra Fria, para se entender os embates ideológicos que, que na verdade se
justificava o conflito. E o contexto no qual os Estados Unidos e a mídia americana
estavam inseridos. A segunda parte irá tratar da retrospectiva histórica da guerra do
Vietnã, para que se contextualize o envolvimento dos Estados Unidos na guerra,
tornando mais fácil, a compreensão da importância desta guerra para a mídia e a
sociedade americana. Na última parte será feita uma breve demonstração das
manifestações da população norte-americana com o intuito de mostrar o impacto da
guerra na população civil e no governo americano.
O terceiro capítulo tem como objetivo analisar a influência da cobertura da
mídia na opinião pública norte-americana, e a conseqüência desta na opinião pública
americana para a política externa dos Estados Unidos na guerra do Vietnã. A primeira
parte irá tratar da cobertura da mídia na guerra do Vietnã, para que se entenda a sua
influência na opinião pública americana. A segunda parte demonstra as manifestações
que ocorreram na sociedade americana, para se analisar como a decisão de política
externa dos Estados Unidos refletiu os interesses da população americana. A última
seção é uma analise sobre as manifestações e como, a cobertura da mídia influenciou a
opinião publica, levando os Estados Unidos, a considerarem os interesses desses grupos
de pressão na decisão de política externa adotada na guerra do Vietnã.
9
Capítulo 1 – PREMISSAS TEÓRICAS :
Este capítulo tem como objetivo identificar as abordagens teóricas para a análise
do estudo sobre a influência da mídia nas decisões dos Estados. O capítulo será divido
em três partes de modo a contribuir para o objetivo do estudo, mostrando que a mídia
realmente é uma força capaz de influenciar as decisões dos Estados.
A primeira parte irá tratar da abordagem teórica do estudo. Esta seção tem com
objetivo definir as premissas e características da vertente teórica do campo das Relações
Internacionais, o Pluralismo, para demonstrar a afirmação de que os grupos de interesse
têm influência nas decisões políticas dos Estados. Para isto, o enfoque teórico fica na
teoria Pluralista que considera os grupos de pressão como fator importante para a
formulação de política externa dos Estados. A segunda seção trata mais profundamente
os grupos de interesses internos dos Estados influenciando a sua postura no cenário
internacional e sua política externa, e usando um embasamento teórico discutido por
Putnam (1993) e sua discussão de política doméstica e política externa. Na última seção
será feito um estudo sobre a Mídia como um grupo de interesse interno usado para
influenciar as decisões do Estado.
1.1 - Teoria Pluralista
Para entender o objetivo do trabalho, que mostrar como a mídia influencia as
decisões dos Estados, é preciso demonstrar pela linha teórica do Pluralismo como isso
seria possível de acontecer no cenário internacional. Por isso se faz necessário um
estudo breve sobre esta vertente teórica, que mostra com mais clareza a hipótese de que
a mídia (como grupo de interesses internos) influencia a postura do Estado. A corrente
teórica do campo das Relações Internacionais, o Pluralismo, será tratada a seguir com o
intuito de demonstrar a afirmação de que a mídia em sua medida influencia a decisão do
Estado no cenário internacional.
Para compor o estudo teórico do trabalho na afirmação de que mídia é uma força
influenciadora nas decisões dos Estados, se faz necessário um olhar mais atento à teoria
Pluralista, pois ela é capaz de explicar a ação de outros atores, que não o Estado, no
10
cenário internacional. A teoria Pluralista vem se contrapondo a teoria Realista1 em
vários aspectos. Em suma ela vem explicando as mudanças que ocorreram no cenário
internacional com uma visão mais completa a respeito da realidade que se passa com os
Estados e a política internacional (NOGUEIRA E MESSARI, 2005).
Segundo os teóricos da corrente Pluralista, como o Putnam (1993), o Estado
quando toma uma decisão de política externa, não é de acordo com o interesse na nação
e sim de um grupo social especifico, sendo que este grupo, às vezes, ainda busca essa
política para favorecer outros grupos de outros Estados. O Estado, segundo a teoria
Pluralista, não é um ator unitário, pois a sua postura no cenário internacional, não é de
forma única, não é unitária. A postura não unitária do Estado se dá em grande parte
devido aos grupos internos, que passam uma postura diferente do Estado no ambiente
internacional, mostrando que a postura do Estado não é única, pois a postura do estado
pode ser uma, e dos grupos de interesses internos ser outra.
A teoria pluralista, influenciada pelo liberalismo, então reformula a visão realista
das teorias de relações internacionais de Estado como ator unitário, sendo capaz de
absorver esses novos rumos e características do sistema internacional. Os pluralistas
afirmam que o Estado não é mais um ator unitário. Ele é composto por disputas de
grupos de interesse e burocracias individuais. De acordo com Viotti (1999), a decisão
desse Estado pode ser o resultado da pressão de um grupo (lobby) feito por atores não
governamentais como multinacionais e grupos de interesse ou pode ainda ser
influenciada pela opinião pública (NOGUEIRA E MESSARI, 2005).
Muitas vezes os representantes dos Estados agem de acordo com seu próprio
interesse com resultados benéficos para poucos, não levando em conta o que seria bom
para toda a população, e sim somente para um grupo específico. Na teoria pluralista a
tomada decisão não depende só do Estado, mas também de fatores como cultura, a
sociedade, a mídia e até a migração. Todos estes aspectos podem limitar ou expandir as
possibilidades de ação dos atores no ambiente internacional, como por exemplo, quando
Estados de religiões diferentes se relacionam, a religião entre os países caso seja
contrária, pode ser um grande fator de desentendimento na relação entre os Estados,
1
Segundo teóricos do Realismo, o Estado é um ator central e unitário, portanto somente os Estados têm
legitimidade para manter ou defender a ordem domestica, no âmbito internacional os Estados estão
sempre em uma busca constante por poder, considerando a guerra uma possibilidade maior que a paz. E
sua postura no cenário internacional sempre será unitária, pois não são considerados os grupos internos no
momento de formulação de uma política externa, por exemplo ( Nogueira e Messari, 2005).
11
como também podem ser um fator de cooperação caso a religião entre os países seja
similar ou a mesma (PUTNAM, 1993).
Segundo Nogueira e Messari, (2005), um dos problemas políticos mais
importantes para os pensadores pluralistas diz respeito à construção de uma sociedade
bem ordenada que assegure aos indivíduos as melhores condições para o exercício de
sua liberdade. Partindo deste pressuposto, temos aí um problema, que é sobre quem
garantirá estas melhores condições de liberdade para o indivíduo, senão o Estado, se
beneficiando do legítimo monopólio da força, para garantir o mínimo de ordem dentro
do Estado. Este pensamento mostra que os Estados nem sempre são capazes de avaliar o
que seria benéfico para os indivíduos, trazendo para a população a sensação de
impotência para que consigam benefícios que os favoreçam, gerando, assim, motivações
pra que se organizem e consigam gerar pressões nos Estados à tomarem medidas que o
favoreçam.
Nogueira e Messari (2005), dizem que o Estado passa a ter uma importância
jamais vista na história, porque ele é percebido como um ator que se torna necessário
para o bem da população e da sociedade, pois possui o legítimo monopólio do uso da
força. Este legítimo monopólio é necessário para proteger os indivíduos contra ameaças
externas, como agressões, invasões imperialistas, etc., e contra grupos de indivíduos
que, internamente, não respeitam o império da lei.
Alguns autores, como Moravscki, ainda vão dizer que a relação entre estados e
sociedade
(doméstica
e
transnacionalmente)
pautam
significativamente
o
comportamento do Estado ao influenciar os propósitos sociais que sustentem as
preferências dos Estados, ou seja as preferências do Estados são influenciadas pelos
propósitos sociais. Esta afirmação comprova como os interesses domésticos podem ser
norteador das políticas externas perseguidas pelos Estados (MORAVSCKI, 1999).
Os teóricos pluralistas afirmam ainda que os atores fundamentais das relações
internacionais são os indivíduos e os grupos privados, que são avessos a riscos e se
originam de forma coesa para promoverem seus interesses, em relação à
constrangimentos impostos até mesmo pelos Estados. Os Estados na verdade,
representam subgrupos sociais domésticos que têm interesses definidos como
preferências do Estado e perseguidos na política mundial (MORAVSCKI, 1999).
Portanto, em última análise, o Estado precisa existir, conforme argumentam e
defendem os realistas e também os pluralistas, porém existem algumas ressalvas. Para
os realistas, os Estados, e só os Estados, têm legitimidade para manter e defender a
12
ordem doméstica. E no âmbito internacional, os Estados em busca sem tréguas pelo
poder, estão constantemente minando a paz e promovendo guerras (Nogueira e Messari,
2005). Já para os liberais, uma sociedade sem governo dá lugar a discórdias incessantes
entre interesses divergentes. Uma das características que diferenciam a tradição
pluralista é a não aceitação dessa condição de uma sociedade sem governo como
imutável (NOGUEIRA E MESSARI, 2005).
Portanto pode-se concluir que a teoria Pluralista e seu pensamento de Estado não
unitário ajudam ainda mais a reforçar a idéia de que a mídia, como grupos de pressão,
pode influenciar a postura do Estado no cenário internacional, e ainda consegue de certa
forma mudar como o Estado irá buscar suas preferências no cenário internacional.
Segundo a lógica Realista, os Estados vão sempre buscar maximizar o seu poder. Em
contraponto ao realismo, o Pluralismo vem afirmando que nesta nova ordem mundial,
os Estados vão se preocupar com o interesse de seus grupos internos tendo como foco
de suas preferências o individuo. Isto demonstra que os Estados são sensíveis aos seus
grupos internos e suas preferências (NOGUEIRA E MESSARI, 2005).
1.2 - Grupos de interesses internos
Helen Milner (1997), em sua obra Interest, Institutions and Information elenca
momentos da produção teórica que abordam a relação entre as políticas interna, externa
e internacional. De acordo com Milner (1997), em um primeiro momento (décadas de
1960 e 1970), a política externa dos Estados era vista como um resultado da política
interna. Em seguida (décadas de 1970 e 1980), houve a revisão dessa concepção, que
passou a dar destaque para as influências internacionais no interno e vice-versa. Por fim
(1980-1990), sob a influência dessas teorias, Robert Putnam sistematizou a teoria dos
jogos de dois níveis, reafirmando a influencia de grupos internos na política externa dos
Estados.
Então a autora a partir da metodologia dos jogos de dois níveis de Robert
Putnam, explicado a seguir, procura incorporar a este modelo o papel de outros atores
além dos Estados. Considerando o papel de atores como a mídia, gerando um suporte de
confiança para o governo através de suprimento de informações. Esses grupos de
pressão conseguem moldar a postura dos Estados, repassando informações ou não. Caso
13
os Estados não tenham este suporte de informações, através de seus grupos de pressão, a
sua postura pode ser moldada de uma forma conservadora, gerando mudanças na sua
postura no cenário internacional (MILNER, 1997).
Putnam (1993) faz um estudo minucioso sobre a ligação entre política externa e
política interna dos Estados. O autor faz uma análise baseada nos jogos de dois níveis.
Esta teoria se baseia da divisão clara do nível internacional e o nível doméstico de cada
Estado. Nos jogos de dois níveis, no nível 1 (internacional) os governos nacionais
buscam maximizar suas próprias habilidades para satisfazer pressões domésticas,
enquanto minimiza as conseqüências contrárias ao seu desenvolvimento externo. Já no
nível 2 (doméstico) são considerados os grupos domésticos que perseguem seus
interesses pressionando o governo a adotar políticas que lhe favoreçam. Por outro lado,
o governo busca o poder construindo coalizões entre estes grupos domésticos.
Segundo a visão de Putnam (1993), o sucesso e fracasso de uma negociação
internacional estão atrelados não só a fase de negociação internacional (que ele
considera o nível 1), mas também à capacidade de satisfazer a pressões e interesses de
grupos domésticos (que é considerado em seu estudo como nível 2). O autor chama
atenção para a complexidade no processo de formulação da última, que estão presentes
valores e interesses dos envolvidos e que sentirão os efeitos, portanto existe a
preocupação de influenciar as decisões tomadas no cenário internacional, entre estes
estão todos os atores políticos que tem a capacidade de influir no processo decisório do
Estado (PUTNAM, 1993).
Devido à capacidade insuficiente explicativa dos estudos sistêmicos2, Robert
Putnam (1993) sugere uma orientação analítica que considera os níveis domésticos e
internacionais de maneiras uniformes, possuindo os dois uma mesma condição
explicativa. O autor construiu um programa mais completo que explica as variáveis
internas e externas na formulação de políticas externas, o papel do governante nas
negociações internacionais e o papel da barganha neste processo, que serão vistas
rapidamente para se entender o estudo de Putnam.
2
Estudos sistêmicos tratam da relação entre a estrutura e as suas partes. Ela se refere à formação da
estrutura internacional através do arranjamento das partes, e que a posição dos estados em relação aos
outros no sistema internacional é mais importante que s características intrínsecas de cada um deles. Já as
teorias Reducionistas, que se contrapõe à Sistêmica, parte do pressuposto que o sistema internacional
pode ser entendido a partir dos atributos e interação dos estados. Podemos conhecer o todo através das
partes. Esta teoria trata também do estudo das forças internas explicando o comportamento externo.
(Waltz, 1979)
14
O governante precisa ter habilidade para lidar com pressões políticas vindas das
duas dimensões, e é um elo entre o ambiente interno e externo, e freqüentemente se
encontra em situação de risco. Os resultados obtidos no processo de negociação
internacional dependem da influência do governante na política doméstica e externa,
segundo Putnam o poder de barganha (tanto doméstico quanto interno) que determinam
os rumos de uma negociação internacional3. No cenário internacional (nível 1) os
Estados tentam formular políticas que melhor atendam as necessidades dos grupos
domésticos. Já no âmbito doméstico (nível 2) os Estados têm que negociar com grupos
de pressões que tentam medidas que lhe favoreçam, ao mesmo tempo que busca
conquistar confiança doméstica e prestígio para se manter no poder. Nesta situação o
governante só conseguirá ratificação interna de um acordo caso não demande muitos
custos e demanda política de sua parte, e que não crie coalizões internas ameaçando o
seu investimento político. Isso mostra o quanto um Estado precisa levar em conta os
grupos de pressão internos, tanto para tomarem decisões dentro do Estado quanto no
ambiente internacional, comprovando a influência da mídia na formulação da política
do Estado (PUTNAM, 1993).
A existente interdependência entre nível interno e externo se mostra de formas
distintas mas complementares, pois para que se tenha um debate inicial no nível 1 é
preciso que muito já se tenha debatido no nível 2. Outro ponto é que o apoio necessário
para se ter sucesso no nível 2 depende do poder de negociação (barganha)
do
governante do nível doméstico (nível 1). O governante pode interferir no suporte
doméstico explorando sua autonomia em relação aos grupos que compõe sua esfera,
neste caso quanto maior a independência do governante dos seus grupos internos, maior
a possibilidade de ratificação do acordo (Putnam, 1993). Isto demonstra que os Estados
se tornam dependentes de seus grupos internos para uma ratificação de um acordo, por
exemplo, para que sua decisão seja aprovada. Isso porque os grupos internos (como a
3
Geralmente, durante o desenvolvimento dos debates que envolvem a ratificação de um acordo/tratado, o
governante/negociador tende a incluir seus próprios interesses políticos. Este comportamento pode ser
explicado, basicamente, por dois fatores : a) um acordo internacional de sucesso pode ser um elemento
que contribua para o aumento do índice de popularidade do governante, principalmente se o mesmo tiver
desempenhado papel significativo no decorrer das discussões; b) o governante pode estar objetivando
efetivar uma política que ele deseja mas que não é capaz de implementá-la (como as políticas de
estabilização econômica que não são amplamente aceitas internamente mas que podem ser adotadas como
resultante de um acordo com o FMI). Há situações, também, que o governante segue sua própria
concepção sobre o que se configura como interesse nacional. (Putnam, 1993)
15
mídia) conseguem mobilizar a opinião pública, colocando em ricos as suas preferências
egoístas (PUTNAM, 1993)
A amplitude do apoio doméstico pode ser influenciada pela postura adotada pelo
governante no cenário internacional, tornando necessárias maiores concessões que terão
que ser feitas para que o tratado seja ratificado, impelindo o governante a participar de
um tratado internacional para aumentar ou manter seu prestígio interno (PUTNAM,
1993).
Os jogos de dois níveis demonstram que a política doméstica pode ser capaz de
alterar resultados nas políticas externas, considerando também que as metas
internacionais só serão atingidas se as internas o forem. Putnam ressalta a limitação das
teorias sistêmicas em explicar a influência de fatores domésticos no âmbito externo, tais
como: meio-ambiente, intervenções humanitárias mídia etc. (PUTNAM,1993)
Em seu trabalho Putnam resgata a chamada conjectura de Schelling4, onde
Schelling propõe em seu trabalho que a divisão do nível doméstico é um importante
recurso político em processos de decisões internacionais. Reforçando assim a idéia de
que os grupos internos buscam pressionar os Estados a buscarem benefícios que o
favoreçam, ou favoreçam os indivíduos (Putnam,1993). A divisão do nível doméstico se
torna importante, pois agora os Estados precisam negociar internamente para
conseguirem aprovar algo que os favoreçam. Caso o Estado queira aprovar alguma
política especifica, é preciso que ele leve esta discussão para o âmbito interno, e leve em
consideração as discussões internas, para que sua ação não seja considerada como
contrária a vontade da população que o próprio Estado organiza.
Em seu estudo, Milner (1997) afirma que um Parlamento se torna coeso através
dos grupos de pressão, que fornecem e repassam informações, pois caso as informações
não cheguem ao Parlamento ele tende a agir de forma conservadora. Esses grupos de
pressão se tornam o suporte de confiança do Estado, onde estão inseridos atores como a
mídia manipulando informações a favor de um interesse específico (MILNER,1997).
Assim se torna possível concluir que os interesses dos grupos internos dos
Estados influenciam as suas políticas externas. Segundo os estudos de Putnam (1993)
podemos confirmar uma ascendência do nível doméstico sobre o nível internacional,
4
- o conceito segundo o qual um negociador A, cujo nível doméstico é heterogêneo ou dividido na
estrutura de preferências, pode mostrar para um negociador B como certas concessões não seriam aceitas
pelo seu nível doméstico, comprometendo-o então com determinado limite a partir do qual a negociação
se tornaria inviável. Desta forma, o negociador conseguiria melhorar sua posição negociadora, tirando
proveito da heterogeneidade das preferências internas ( Putnam, 1993).
16
fazendo com que as pressões domésticas sobre os Estados gerem benefícios para grupos
específicos internos. O Estado passa a ser um agente que busca conciliar a duas esferas
interna e externa, tomando decisões que, em sua maioria, favorecem grupos internos
(PUTNAM, 1993).
O estudos das teorias citadas, vêm como uma forma de se confirmar o objetivo
do estudo, mostrando que a mídia, aqui neste trabalho tratado como uma forma genérica
de todos os meios de comunicação, ou seja, os veículos que são utilizados para
divulgação de conteúdos jornalísticos, informativo e de propaganda,
pode ser
considerada um fator de influência interno para as decisões dos Estados na formulação
de suas decisões de política externa, no momento em que influenciam a população civil.
1.3 - Mídia como grupo de interesse
Esta seção tem como objetivo identificar a mídia como grupo de interesse
interno dos Estados. Para uma maior definição do estudo, a mídia aqui tratada são os
grupos e agências internacionais de notícias jornalísticas e de informação. Porém,
existem algumas características sobre os grupos de pressão que precisam ser analisadas,
para a afirmação do estudo de que a mídia influencia as decisões dos Estados.
Segundo Paulo Pereira (2001) os grupos de interesses em grande parte são
organizações nas quais seus membros partilham de um mesmo interesse, e atuam no
sentido de conseguirem este objetivo em comum. O estudo proposto tem a intenção de
focar apenas nos interesses de organizações que emergem da sociedade civil, sendo que
estes atores civis utilizam a mídia para exercer uma pressão política que irá de acordo
com os interesses destes atores (PEREIRA, 2001).
É possível afirmar que os grupos de pressão em um dado momento são formados
por subconjuntos dos grupos de interesses. Estes grupos visam pressionar o poder
político estatal, a alterar as suas políticas para que se favoreçam, ou manter medidas que
já os favoreçam. Qualquer grupo que esteja organizado tem a capacidade de exercer
pressão política, porém esta capacidade dependerá do número de membros, e do
controle de formas socialmente desestabilizadoras de ação política, como os
sindicalismos (PEREIRA,2001).
17
Os grupos de interesse contribuem para uma certa conflituosidade social que de
certa forma pode gerar problemas à capacidade de controle interno do Estado.
Geralmente estes grupos de pressão se caracterizam pelo fato de que para conseguirem
benefícios outros devem perdem os seus. Isso pode ser visto através de uma decisão que
a mídia toma ou apóia que não é exatamente o que o Estado busca ou defende que
influencia a população civil, e por conseqüência influencia a decisão do Estado, pois o
Estado precisa pensar no bem da população, e no seu próprio interesse, para que as sua
decisões sejam aceitas pela opinião pública ( PEREIRA, 2001).
Os interesses dos grupos internos geralmente são organizados de forma que
dependem funcionalmente do poder político estatal. Em algumas situações os Estados
são apenas um veículo de transmissão de mediação de interesses organizados. Neste
caso de intermédio, não há dominância do Estado nem dos grupos de interesse, mas há
uma articulação de uma elite que em certos momentos pode liderar os grupos de
interesse, e em outros ocupa posição chaves no aparelho do Estado (PEREIRA, 2001).
A teoria Pluralista olha os grupos de interesse e pressão sob uma ótica mais
otimista, em relação ao papel destes grupos na sociedade. Isso se dá em grande medida
pelo fato da teoria ter se desenvolvido em um país (EUA) onde surgiam muitos novos
grupos de interesse, associado a uma certa incapacidade do sistema político de resolver
alguns problemas. O grande argumento pluralista é que onde existe interesse, irão se
formar grupos para defendê-los (PEREIRA, 2001).
A organização de grupos de interesse é uma forma pela qual diferentes grupos
sociais expressam seus desejos, aspirações, e até motivações. Essas organizações de
grupos de interesse demonstram uma elevada participação cívica, e uma sociedade
desenvolvida5. Estas organizações devem se desenvolver sem qualquer interferência
estatal e constituir uma forma privilegiada de expressão política, assim com as pressões
exercidas pela forças midiáticas (PEREIRA, 2001).
É preciso observar que as pressões políticas exercidas por grupos de interesse
são de certa forma benéfica. Alguns autores consideram que o mercado de grupos de
interesse é competitivo. Isso quer dizer que se um interesse está organizado e faz
pressão para adoção de alguma política, e o que não partilham do mesmo interesse não
estão organizados, estes últimos terão um grande incentivo para se organizarem e
também pressionarem o poder político (PEREIRA, 2001).
5
É preciso ressaltar que as principais vertentes Pluralistas surgem na sociedade Norte Americana,
seguindo a lógica do contexto histórico de desenvolvimento econômico e social do país.
18
Alguns autores como Pereira (2001) subestimam o papel dos Estados,
considerando-o como um agente passivo sujeito a atuação dos grupos de interesse.
Porém consideram também que os decisores políticos são permeáveis pressões dos
grupos de interesse, mas o papel dos cidadãos deixados de lado (PEREIRA,2001).
Os efeitos da mídia são transformadores para a política externa, e a influência
dos grupos de pressão, acontecem em situações extremas e dramáticas, quando se tem a
falta de uma liderança, ou o Estado toma uma decisão política de forma caótica.
Seguindo uma lógica ou outra, é possível perceber que a mídia é capaz de influenciar as
políticas externas dos Estados, como no caso da guerra do Vietnã. Quando o governo
norte-americano se encontrava envolto na guerra, voltando toda sua atenção para o
conflito, a mídia cumpriu seu papel, e demonstrou para o mundo a postura dos Estados
Unidos na Guerra, dando espaço para a opinião publica se manifestar (GILBOA, 2005).
Existem alguns aspectos que comprovam esta influência como, por exemplo, a
cobertura jornalística que acelera as tomadas de decisões de política externa, e que
podem ate afetar tanto o comportamento do governante, como da oposição. É preciso
observar as situações em que um governo pretende tomar uma decisão, e, não só não se
opõe à comunicação social e a cobertura da verdade, mas também na realidade inicia ou
o encoraja a agir, e os casos quando um governo está relutante a intervir e,
conseqüentemente, resiste aos meios de pressão para fazê-lo. Isto demonstra a
importância da pressão que é exercida pela mídia nas tomadas de decisão dos Estados
(GILBOA, 2005).
A mídia é uma força que pressiona os Estados a adotarem certas políticas, pois é
levado em conta o fato de a mídia concorrer com outros aspectos sociais para
influenciar as decisões dos Estados. A influência da mídia nas decisões dos Estados terá
um impacto se inseridos e analisados em momentos de pânico político, quando o
governante do Estado não tem qualquer política ou decisão em curso a respeito do
assunto (GILBOA, 2005). O fator crítico em todas as condições em que a mídia
influencia a decisões dos Estados se encontra na liderança. Se os lideres não tem uma
política externa clara, os meios de comunicação se encarregam de produzir uma política
externa, e de substituir o líder em ação (PEREIRA, 2001).
Novos dispositivos de comunicação estão disponíveis a atores não estatais em
regiões mais remotas do mundo, estas tecnologias poderiam alterar os processos de
defesa de assuntos relacionados à política externa. Isto por que a todo momento chegam
informações que mudam os rumos das decisões estatais. A influência da mídia nas
19
decisões políticas, tem muito impacto sobre a opinião pública e a sua pressão sobre os
lideres a adotarem políticas defendidas pelos meios de comunicação (GILBOA, 2005).
Para alguns autores, como Gilboa (2005), os efeitos da mídia nas decisões
políticas são aplicados independente da vontade da opinião pública. Este pensamento
sugere também que os diversos decisores estatais, as elites, e os meios de comunicação,
tentam moldar as informações que chegam à população, tentando influenciar a formação
da opinião pública. A mídia faz um grande uso deste requisito, pois molda a opinião
pública a favor de seus interesses. Isso pode ser percebido quando a mídia publica
informações escolhidas que vão à direção do seu interesse, e não publica informações
que iriam, ou poderiam, comprometer a adoção dos seus interesses.
Um dos aspectos mais relevantes da influencia da mídia nas decisões política, é
o fato de que o público civil é capaz de ver um evento em tempo real, antes que o
Estado tenha tempo para se pensar em uma tomada de decisão política. As decisões dos
Estados se tornam mais pautadas nos acontecimentos relatados pela mídia do que
costumavam ser.
A mídia e sua influência geram vários aspectos na decisão política, alguns
negativos e outros positivos. Alguns efeitos negativos são relativos à necessidade que as
forças midiáticas exercem de se reagir rapidamente aos acontecimentos, não dando
tempo suficiente dos Estados examinarem as opções políticas, e o fato de a mídia
sempre demonstrar os interesses nacionais. Um dos pontos positivos é que a mídia
oferece a oportunidade de líderes estrangeiros se comunicarem diretamente, deixando
de utilizar aparatos que são específicos para esta função como as embaixadas
internacionais. (GILBOA, 2005)
A força da mídia nas decisões políticas tem um peso muito grande,
principalmente se tratando do fato de os Estados terem que responder a eventos de
forma cada vez mais rápida devido à pressão da mídia. Tornando os relatórios de ação
do Estado mais imprecisos, pois não existe tempo de colocá-las em contexto adequado,
devido a agilidade necessária na hora da decisão (GILBOA, 2005).
Este capítulo analisou a teoria Pluralista, os grupos de interesse internos dos
Estados, e a política externa, para que mais adiante possa ser possível analisar a
influencia da mídia na opinião pública norte-americana, tornado possível demonstrar a
influência da opinião pública na decisão dos Estados Unidos na Guerra do Vietnã.
Pode-se perceber que os grupos de interesse são importantes na formulação de
política externa do Estado, pois forçam o Estado a agir de uma forma mais rápida e ágil
20
aos acontecimentos que os envolve, e demanda do Estado uma boa capacidade de
manobra política, para que os interesses internos não prejudiquem os interesses externos
e vice versa.
21
2- GUERRA FRIA E DO VIETNÃ E A MANISFESTAÇÃO PÚBLICA
Este capítulo tem o propósito de identificar o contexto histórico da Guerra Fria e
da Guerra do Vietnã, com o intuito de mostrar o contexto histórico em que Guerra do
Vietnã estava inserida e mostrar o quanto a mídia influenciou a postura dos Estados
Unidos no cenário internacional e comprovar que a mídia influenciou a opinião pública
dos norte-americanos. Tentando, assim, mostrar se o governo norte-americano teve
influência da mídia em sua postura no cenário internacional sobre a Guerra do Vietnã.
Primeiro será feito um panorama sobre o contexto da Guerra Fria, para que se
entenda o conflito ideológico que se encontrava o mundo e a Guerra do Vietnã. Em
seguida, será feito um retrospecto histórico sobre a Guerra do Vietnã, mostrando o
envolvimento dos Estados Unidos no país e na guerra, demonstrando o contexto de
disputa ideológica que existia envolvido no conflito. E por ultimo, será feita uma análise
sobre o impacto da Guerra do Vietnã na mídia americana e seu envolvimento com o
governo, tentando demonstrar o quanto ela influenciou a opinião pública americana e
mundial, trazendo conseqüências para a política externa dos Estados Unidos.
2.1 - Guerra Fria e seus desdobramentos
A Guerra Fria foi um conflito entre duas potências, causado pela ameaça
soviética, na qual os Estados Unidos tentava conter a União Soviética e impedir a
influência desta potência no mundo. A Guerra Fia pode ser entendida também como um
acordo tácito entre União Soviética e os Estados Unidos, sob o qual os Estados Unidos
conduziram suas guerras contra o Terceiro Mundo e controlaram seus aliados na
Europa, enquanto os soviéticos mantiveram com muito sufoco seu próprio império
interno e seus satélites na Europa Oriental. Cada lado utilizava o outro para justificar a
repressão e a violência e seus próprios domínios, como será dito a seguir (CHOMSKY,
1986).
Após a II Guerra Mundial, os soviéticos controlaram os países do Leste Europeu
com um sistema político socialista, com um único partido, o Partido Comunista,
baseado na igualdade social e na falta de democracia. Os Estados Unidos tentaram
22
manter o controle e a influência sobre a oura parte da Europa, defendendo a expansão
do sistema capitalista, baseado em uma economia de mercado, com um sistema
democrático e com grande apego a propriedade privada. As tendências dos movimentos
antifascistas davam grande força a uma esquerda que, em sua maioria, se opunham a
penetração americana na Europa. Este fenômeno aliado à existência de vias nacionais
pela independência, tanto no Oeste como no Leste europeu, e o ápice do movimento
operário dentro dos Estados Unidos (que lutavam para não perder os privilégios
conquistados com a guerra, que estavam ameaçados após a reconversão industrial)
representavam a verdadeira ameaça segundo a versão e visão dos Estados Unidos
(VIZENTINI, 2003).
A partir daí, a administração dos Estados Unidos passou a trabalhar em uma
estruturação de um mercado europeu rentável para as finanças e comércio privados dos
EUA, o que permitiu lançar fundamentos materiais necessários ao desencadeamento da
luta contra as tendências políticas contrárias ou opostas aos seus interesses. A
implementação desta política ocorreu em 1947 com a proclamação da Doutrina Truman
e o lançamento do Plano Marshall. A Doutrina Truman defendia o auxilio dos EUA aos
povos livres que fossem ameaçados pela agressão totalitária (um conceito extraído do
fascismo6) tanto de forças externas quanto de forças das minorias internas. A doutrina
Truman foi proclamada durante a realização dos trabalhos da Conferencia Econômica
de Moscou, que tratava de concessões de ajuda americana para a reconstrução européia,
e ao mesmo tempo lançava uma verdadeira cruzada do “mundo livre” contra o seu
inimigo comunista (VIZENTINI, 2003).
O Plano Marshall tinha como uma das metas concederem empréstimos a juros
baixos aos governos europeus, para que a elite conseguisse adquirir mercadorias dos
EUA. O custo político da aceitação do plano era alto, pois as nações beneficiadas
deveriam abrir suas economias aos investimentos americanos, o que no caso das
6
O fascismo é uma doutrina totalitária desenvolvida por Benito Mussolini na Itália, a partir de 1919,
durante seu governo (1922–1943 e 1943–1945). Fascismo deriva de fascio, nome de grupos políticos ou
de militância que surgiram na Itália entre fins do século XIX e começo do século XX. O fascismo é uma
doutrina e uma prática política estadista e coletivista, opondo-se aos diversos liberalismos, socialismos e
democracias (Vizentini, 2003).
23
economias fracas (como as do Leste europeu), ou as devedoras (como a Europa
ocidental) significava o abandono de parte de sua soberania. Além disso, o plano
propunha uma divisão do trabalho onde a Europa Ocidental industrial e o Leste se
tornaria a parte agrária do continente (VIZENTINI, 2003).
A URSS e os governos sob sua influência recusaram-se a aceitar esta ajuda
americana, que foi percebida por eles como uma invasão econômica e que a aceitação
do plano os levaria à perda de poder, pois a abertura econômica reforçaria as
enfraquecidas burguesias do Leste europeu (de influência comunista). Os dois planos
acabaram por materializar a partilha da Europa, lançando bases para a formação dos
blocos políticos-militares. A ameaça soviética e a defesa do mundo livre constituíram
mitos e imagens que acabaram como legitimadores da Guerra Fria (VIZENTINI,2003).
Em 1949 a Guerra Fria se intensifica quando a URSS criou em janeiro deste ano
o Conselho de Assistência Mútua Econômica (Came ou Comecon), que integrava os
planos de desenvolvimento e lançava as bases de um mercado comum dos países
socialistas, numa clara resposta ao Plano Marshall. Em abril deste ano os EUA e seus
aliados da Europa Ocidental criaram a OTAN (Organização do Tratado do atlântico
Norte) a qual perpetuava, intensificava e legalizava a presença militar americana no
continente europeu (FARIA, 2003).
A Guerra Fria, na concepção dos Estados Unidos, possuía uma racionalidade
clara, pois permitia o país manter seu controle político e a sua primazia econômica tanto
sobre seus aliados industriais europeus, como sobre a periferia subdesenvolvida. Ao
manipular a idéia de uma ameaça externa, os Estados Unidos obtinha a unidade do
mundo capitalista e a orientava contra a URSS e os movimentos de esquerda e
nacionalistas. A URSS era relativamente “domesticada” como ator internacional, cuja
presença no sistema mundial como a outra superpotência (em contraposição aos Estados
Unidos) legitimava um novo desenho estratégico. A permanente tensão permitia a
hegemonia da formidável máquina militar americana, em um tempo de paz
(VIZENTINI, 2003).
A URSS marcada pelo voluntarismo de seu líder, na segunda metade dos anos
50, passou realmente a desenvolver uma política no âmbito internacional. O país
recuperou-se do baque no plano econômico e demográfico sofrido na Segunda Guerra
Mundial, atingindo um relativo equilíbrio nuclear na Europa e ultrapassaram os EUA na
corrida espacial, ao lançar o primeiro satélite artificial ( o Sputnik) em 1957 e ao colocar
o primeiro homem em órbita (Yuri Gagarin). Moscou superava a fase de sua extrema
24
vulnerabilidade do país, que acabava por reforçar a sua postura reativa e defensiva nas
Relações Internacionais. O seu presidente na época, Kruchven, implementou, mesmo
que com deficiências, uma diplomacia mundial com programas de ajuda ao
nacionalismo de países de Terceiro Mundo. A URSS se considerava uma potencia, e
propunha-se a ultrapassar economicamente os EUA em pouco tempo (VIZENTINI,
2003).
Os EUA descobriram que a URSS não se encontrava em vantagens estratégicas,
pois não possuíam capacidade de desenvolvimento nuclear. Junto a este acontecimento
veio a proclamação de Cuba como um Estado socialista e ao bloqueio7 americano,
estimulando os soviéticos a instalarem mísseis na ilha caribenha em 1962, tornando a
Revolução Cubana um elemento importante da Guerra Fria. O estabelecimento de um
Estado de orientação marxista-lenista a cem milhas de seu território levou os EUA à
escalada, com ampliação do bloqueio econômico da ilha. A definição cubana pelo
socialismo, por outro lado, deixou a URSS em uma situação delicada, pois o
reconhecimento de tal status implicava em estender a área de influencia soviética a uma
região importante para os EUA. Esta situação propiciava condições de reação por parte
do voluntarismo krucheviano, que havia sofrido um forte revés quando satélites e aviões
espiões americanos haviam descoberto que a URSS não possuíam o potencial atômico
que afirmavam ter. Esta posição devolvia ao presidente Kennedy (EUA) a iniciativa e
colocava Kruchev (URSS) em desvantagem, alem do equilíbrio nuclear, estava em jogo
o prestigio de Moscou junto ao Terceiro Mundo, pois somente se tornando uma
potência nuclear poderia se igualar e competir com os Estados Unidos (FARIA, 2003).
Faz-se importante destacar que a Guerra Fria representava mais um problema de
ênfase quanto ao antagonismo entre conflito ou negociação, centro ou periferia e ação
ou pressão. É preciso ressaltar que os conflitos gerados no Terceiro Mundo não foram
causados por Moscou e Washington, mas sim manipulados e enquadrados no grande
jogo estratégico (VIZENTINI, 2003).
A segunda metade da década de 60 assistiu ao estabelecimento de uma distenção
(déten) entre as duas potências. Em 1963 Kennedy foi assassinado, e Kruchev era
derrubado um ano depois. Ambos os sucessores tentavam manter as suas áreas de
7
Este bloqueio é o embargo econômico, comercial e financeiro imposta a Cuba pelos estados Unidos que
iniciou-se em 7 de fevereiro de 1962, foi convertido em lei em 1992 e em 1995. Em 1999 o atual
presidente Bill Clinton ampliou o embargo comercial proibindo que as filias estrangeiras de companhias
norte-americanas de comercializar com Cuba. A medida está em vigor até os dias atuais tornando-se um
dos maiores embargos comerciais da história moderna (Faria, 2003)
25
influência. Os EUA intensificavam a ofensiva no Vietnã, guerra na qual estavam
envolvidos desde a Segunda Guerra Mundial com o intuito de barrar a influência
comunista na região e será explicada mais profundamente na seção a seguir, enquanto
Moscou tentava restaurar sua liderança no campo socialista. Assim os EUA aceitaram
negociar vários acordos sobre limitação de armamentos, em troca da redução do
desenvolvimento e influência soviética no Terceiro Mundo (que apoiavam aos
nacionalismos emergentes) (VIZENTINI, 2003).
A URSS adquire a posição de potência mundial somente na passagem das
décadas de 60 para 70, com a obtenção do equilíbrio estratégico global, através de
construção de uma esquadra capaz de operar em todo o oceano mundial, com acesso a
pontos de apoio no terceiro Mundo, e da efetivação de um arsenal nuclear capaz de
atingir o território americano, e também com a aceitação na comunidade internacional
como nação e não mais como revolução, demonstrando que seria capaz de conquistar
seus objetivos, mesmo que fosse a força (VIZENTINI, 2003).
Os EUA em contrapartida encontravam-se atolados diplomática e militarmente
com a guerra do Vietnã, (explicada com mais profundidade adiante), guerra iniciada
para manter o controle sobre a disseminação do comunismo no sudeste asiático
barrando a ameaça da União Soviética. O desgaste com a guerra levou o governo
americano a tomar uma série de medidas econômicas de alcance internacional, como em
1971, quando decretou a inconvertibilidade do dólar em relação ao ouro. As medidas
tomadas tinham como objetivo desencadear uma gigantesca reconversão da economia
capitalista mundial, retomando o dinamismo e a primazia americana em detrimento da
Europa, Japão e países de Terceiro Mundo (VIZENTINI, 2003).
O desgaste da hegemonia americana se deu também no plano estratégico. O
governo americano, preocupado em desengajar seu país do problema vietnamita e
reduzir os
custos
políticos-econômicos
advindos
da liderança internacional,
implementou duas doutrinas: a Doutrina Nixon e a de Guam, que tinham como
objetivos a vietnamização do conflito8, a atribuição aos aliados regionais um papel
maior nas tarefas de segurança, e o estabelecimento de uma aliança estratégica com a
Republica Popular da China. Esta aliança influenciou o ingresso da China Popular no
Conselho de Segurança da ONU, no lugar de Taiwan. A aliança sino-americana alterou
8
Política na qual basea-se a entrega do conflito para as forças Vietnamitas, atribuindo as forças regionais
o papel de regulador do conflito, retirando suas forças e não participando diretamente e politicamente do
conflito (Faria, 2003).
26
o equilíbrio estratégico mundial. Onde antes se via um confronto bipolar regulado, onde
os demais países desempenhavam um papel limitado, surgiu no cenário uma terceira
potência (a China) que já era capaz de alterar o jogo político internacional o tornado
mais complexo (FARIA, 2003).
Este novo contexto mundial estava marcado pela propagação de crises pela
periferia, o que acabou por levar um grande número de potencial de mobilização social
pelas forças esquerdistas e nacionalistas. Essa conjuntura foi aproveitada pelos
movimentos revolucionários e de libertação nacional do Terceiro Mundo, e
desencadearam uma verdadeira onda de manifestações nos anos 70, com apoio
ostensivo do campo socialista. Mais de uma dúzia de manifestações9 (nas faculdades)
antiimperialista, e mesmo socialistas, abalaram o cenário internacional que já estava
marcado pelo desgaste do império norte americano e da economia mundial
(CHOMSKY, 1986).
Em 1978 a direita americana conseguiu recuperar-se do baque da guerra do
Vietnã e restaurava o seu Congresso, obrigando o governo democrata a mudar sua
política. E em dezembro de 1979, foi aprovado o aumento do orçamento militar, a
fabricação da bomba de nêutrons, entre outras medidas que seguiam a direção de uma
corrida armamentista. Esta virada espetacular se deu ao fato de uma tendência social e
ideológica conservadora fomentada pela crise econômica. Revoluções selvagens e
imprevisíveis ocorreram nas partes mais pobres do mundo, e somaram-se a um
populismo religioso no mundo árabe. Estas revoluções possuem um potencial de
desestabilização em nível regional, reafirmando uma certa lógica à teoria do dominó10
invocada pelos EUA (FARIA, 2003).
A estratégia adotada pela nova direita americana era oposta a qualquer
multilateralização das relações internacionais, e contrária ao dialogo Norte-Sul,
buscando restaurar uma nova e estrita bipolaridade com vantagens estratégicas para os
EUA. Assim se identificam a corrida armamentista e a política de confrontação, como
exemplo destas políticas pode-se citar a instalação de novos mísseis na Europa. Esse
novo desdobramento, que é considerada uma nova Guerra Fria, consistia no esquema
onde os Estados Unidos moveram uma vigorosa corrida armamentista convencional e
9
Faculdades como Harvard, Radcliffe e Universidade de Boston nos Estados Unidos tiveram grandes
mobilizações para o fim da Guerra do Vietnã , casos mais específicos serão tratados no capítulo três.
10
A Teoria do Dominó foi uma doutrina da politica externa americana na Guerra Fria, que postulava que
se um país, ou região, caísse para o comunismo, os países com os quais esse fizesse fronteira irão cair de
seguida (Faria, 2003).
27
estratégica; cujo o ponto principal era a militarização do espaço que os colocariam em
superioridade estratégica sobre a URSS. Estas medidas desestabilizaram ainda mais a
economia da URSS, que já se encontrava desestabilizada pelo aumento dos gastos
militares e devido ao embargo comercial dos EUA e seus aliados (VIZENTINI, 2003).
O governo da URSS se viu obrigado a limitar o apoio às nações revolucionárias
do Terceiro Mundo, como forma de negociar a redução da pressão militar americana.
Desta forma, se tornou mais fácil para os EUA e seus aliados mais militarizados acabar
com os movimentos e regimes revolucionários, enquanto os americanos logravam
restabelecer sua ascendência sobre os seus aliados economicamente bem sucedidos, e
dividindo com eles os custos e despesas de armas e afastando-os de vantajosas
cooperações econômicas. E por ultimo, os EUA tentariam abrir os países socialistas à
penetração econômica ocidental, aumentando o controle sobre os blocos soviéticos, e
fornecendo alternativas financeiras e comerciais para a superação da estagnação do
sistema econômico capitalista (VIZENTINI, 2003).
A respeito do Terceiro Mundo os EUA aplicaram a estratégia dos conflitos de
baixa intensidade no qual não seria aplicada toda a força militar dos Estados Unidos na
país, e que seriam travados em teatros limitados, visando derrubar ou enfraquecer os
regimes revolucionários no poder nestes países. Essas estratégias fizeram com que os
frágeis regimes revolucionários do Terceiro Mundo decaíssem até a exaustão, tornando
impossível qualquer possibilidade de transição social. Assim como os países do
Terceiro Mundo os países socialistas também foram paralisados devido à ofensiva
belicista, ao embargo comercial e tecnológico, e as pressões diplomáticas ocidentais. A
URSS se sentindo muito acuada buscou se adaptar a essa nova configuração, oferecendo
facilidades econômicas aos aliados, e abandonando os seus aliados terceiro mundistas,
em troca de acordos de desarmamento e cooperação financeira e comercial (FARIA,
2003).
A respeito do plano ideológico e político a nova direita americana substituía o
discurso dos direitos humanos pela defesa da democracia, e de combater o narcotráfico
e o terrorismo. A democracia em um contexto de crise deveria ser isenta de
qualificações como popular, social ou participativa. A democracia como valor universal
era uma arma ideológica contra os países socialistas e os jovens Estados revolucionários
do Terceiro Mundo. Além de serem acusados de “antidemocráticos” também eram
acusados de práticas terroristas que atingiam igualmente os movimentos revolucionários
e de libertação nacional. O terrorismo (ou o sentimento anti-terrorista) permitia criar um
28
clima de histeria para a manipulação da opinião pública, legitimando as agressões e
pressões dos EUA a países anti-americanos do Terceiro Mundo (FARIA, 2003).
Com um novo governo, a URSS em 1985 lançou políticas reformistas que
visavam à transparência e a reconstrução do país. Essas novas políticas encaradas como
um novo pensamento da URSS, desencadeou o fim da Guerra Fria em menos de três
anos, e em conseqüência a própria desintegração da URSS. Em um sentido mais amplo,
a Guerra Fria começou em novembro de 1917 com o estabelecimento do primeiro
regime socialista, passando por fases mais conflituosas a de ‘’distensão’’ dos países,
pois o conflito e a coexistência sempre fizeram parte de um mesmo processo, com
ênfase ora em um, ora em outro aspecto (VIZENTINI, 2003).
O século XX representa uma era de transição longa e violenta marcada pelos
conflitos de formação social e políticas opostas, entretanto o centro da gravidade do
conflito se dava nos países de Terceiro Mundo. A principal razão destes fatos é que a
expansão planetária do capitalismo destrói continuamente as estruturas tradicionais na
periferia, produzindo elos frágeis em seus sistemas e internacionalizando as forças de
revolta contra ele (capitalismo) (CHOMSKY, 1986).
A Guerra Fria não pode ser caracterizada apenas por um conflito entre EUA e a
URSS. Esta imagem é somente parte do processo, quando logo após a Segunda Guerra
o capitalismo foi reestruturado sob hegemonia americana, anulando a rivalidade
intercapitalista e permitindo a atuação conjunta do sistema contra a URSS. A revolução
soviética havia criado uma base industrial econômica, capaz de lhe permitir uma
independência de ação e de fornecer recursos econômicos e militares às revoluções e ao
nacionalismo nas periferias (VIZENTINI, 2003).
Por isto não existia a necessidade de se conter não uma “exportação da
revolução”, mas sim o apoio da URSS às revoluções e rivalidades espontaneamente
surgidas no Terceiro Mundo quando isto os convinha. A corrida armamentista, nuclear
ou não, representava um regulador de um sistema internacional em transição e
convulsionado por rupturas revolucionárias, regulador este imposto pela economia
dominante a norte-americana. O desenvolvimento nuclear que constitui apenas um
aspecto da corrida armamentista serviu para dar coesão aos blocos e regular o conflito
entre eles. Assim o fim da Guerra Fria tornou o mundo mais instável conflitivo e
imprevisível (VIZENTINI, 2003).
A definição de Guerra Fria se dá pelo fato de que não houve realmente um
conflito armado entre estes países após a II Guerra Mundial. O conflito aconteceu no
29
campo ideológico, não ocorrendo um embate militar declarado e direto entre os Estados
Unidos e a URSS. O conflito aramado entre os dois países após a II Guerra seria uma
catástrofe mundial, pois após a corrida armamentista os dois países se armaram com
bombas e mísseis nucleares, que tornaria um conflito armado uma grande possibilidade
de destruição planetária. A Guerra Fria adquiriu proporções de um conflito
multifacetado, que somente é explicado através das enormes transformações que
marcaram o século XX (CHOMSKY, 1986).
A Guerra Fria foi um embate ideológico entre os EUA e a URSS, onde sem o
conflito direto entre estas potências, cresceu uma enorme tendência de imperialismo,
cada potência com o intuito de manter seu império e conter o inimigo. Neste contexto
acontece a Guerra do Vietnã, que como será visto adiante, foi uma guerra travada por
idéias tanto capitalistas quanto comunistas. Cada lado tentando se impor sua posição ao
outro, em uma região pobre e sem recursos militares suficientes para impedir que as
intervenções acontecessem.
2.2 - Retrospectiva histórica da guerra do Vietnã
Para que possa se comprovar se houve algum tipo de influência na guerra do
Vietnã por parte da mídia, é preciso que se entenda o porquê do conflito, e que se faça
um estudo sobre o conflito a fim de tornar mais claro o fato da mídia ter influenciado a
decisão dos Estados Unidos nesta Guerra.
Para se entender melhor a respeito da guerra aqui citada é preciso fazer uma
breve retrospectiva histórica sobre a guerra e a região em que ela acontece. O sudeste da
Ásia, especificamente as regiões de Laos, Camboja e Vietnã, conhecidos como
Indochina, haviam sido colonizados pela Coroa Francesa até 1940. Durante a Segunda
Guerra Mundial esta região foi invadida e dominada pelo Japão. Os vietnamitas, sobre a
liderança de Ho Chi Minh (líder revolucionário), reuniram e formaram a Liga
Revolucionária para Independência do Vietnã, ligada ao partido comunista com o ideal
de combater os orientais e conseguir sua independência (MANDEL, 1979).
Durante a Segunda Guerra Mundial iniciaram-se os primeiros conflitos na região
(por volta de 1941), em 1946 a Liga pela Independência criada contra o domínio francês
na Indochina acaba formando um Estado no norte do Vietnã, sob a liderança de Ho Chi
30
Minh. Esta decisão acaba por desencadear um conflito entre este domínio das forças
revolucionárias e os Franceses, forçando os franceses a estabelecerem o Estado do
Vietnã do Sul, e instalam como rei Bao Daí, no ano seguinte a França legitimou sua
independência. A Liga pela Independência não reconhece a decisão de legitimar a
independência do Vietnã do Sul, e ainda tenta reivindicar o controle sobre todo o
território. Os japoneses não dispunham de uma administração efetiva, caindo antes que
os Estados Unidos entrassem no conflito. Este conflito acaba somente em 1954 com a
derrota dos franceses na Batalha de Diem Bien Phu, passando a resolução do conflito
para as mãos da Conferência de Genebra (MANDEL, 1979)
A Conferência e Genebra no mesmo ano (1954), que foi convocada para
negociar a paz na região, impõem a retirada das tropas francesas e reconhece a
independência do Camboja, Laos e Vietnã, forçando os franceses a reconhecerem e
aceitarem a independência do Vietnã. Além de reconhecer a independência desses
países, a Conferência de Genebra tomou outras medidas em relação ao conflito e
estabeleceu que o Vietnã ficasse dividido em dois a partir do paralelo 17, Vietnã do Sul
e Vietnã do Norte. Além disto, o acordo trás uma exigência dos Estados Unidos de que
em julho de 1956 seria marcado um plebiscito no qual a população do Vietnã decidiria a
respeito da unificação (HERMAN, 2003).
O Vietnã do Norte ficou sob o comando de Ho Chi Minh e adotou a linha
comunista, realizando profundas reformas no território ao implementar uma reforma
agrária completa e efetiva, e ao tomar medidas que acabaram com o analfabetismo no
país e promoveram um rápido progresso social através do que foi chamado de
planificação econômica. Ho Chi Minh tinha também a pretensão de tornar a
reunificação do país, que estava prevista pela Convenção de Genebra (MANDEL,
1979).
Já o Vietnã do Sul se tornou uma Monarquia independente liderada por Bao Dai,
porém um ano após a divisão em 1955, o primeiro ministro Nao Dinh Diem dá um
golpe de Estado instalando uma ditadura militar que promoveu uma intensa perseguição
a outras religiões que não fossem a sua (o primeiro ministro era católico fervoroso) e as
minorias étnicas, além de ser contrário a unificação do país (MANDEL, 1979).
É preciso entender que o conflito surge e acontece em uma época na qual
existia luta pela hegemonia de duas potências os Estados Unidos e a União Soviética,
tornando o mundo dividido em dois pólos os Capitalistas e os Socialistas, como
explicados na seção anterior. Logo após o golpe militar o ditador Diem recebeu apoio
31
dos Estados Unidos, não por que eles concordavam com seu governo, mas sim por que
havia uma grande chance dos nacionalistas e comunistas de Ho Chin Minh ganharem as
eleições, tornando-se uma grande influência na região, fazendo com que outras nações o
seguissem. Com o intuito de “barrar” a influencia comunista na região, as Forças
Armadas passam a receber dinheiro e treinamento militar dos Estados Unidos
(HERMAN, 2003)
Por volta de 1959, os vietcongues11 do norte sabotam bases norte-americanas e
ameaçam o governo de Diem. O líder revolucionário Ho Chi Minh em 1960 cria a
Frente de Libertação Nacional (FLN), e tem o apoio do exército vietcongue. Após a
criação da FLN o presidente dos Estados Unidos, John Kennedy, como um ato de
reação envia para o Vietnã do Sul 15 mil conselheiros militares, mostrando sua
influencia na região, e instalando comandos militares no país (GRECO, 1979).
Apesar de todo o apoio dos Estados Unidos no Vietnã do Sul, a população
apoiava os vietcongues (revolucionários) e lutavam para por um fim no regime ditatorial
e de intolerância de Ngo Dinh Diem. Um grupo de monges budistas ateou fogo aos
próprios corpos em praça pública, com o intuído de chamar a atenção mundial para o
conflito, e conseguiram chocar a todos, incluindo a população norte americana. Este
fato não foi o que levou os Estados Unidos a intervirem no conflito, mas acabou por
desencadear um serie de rebeliões, e no ano de 1963 Diem foi assassinado , no primeiro
de uma serie de golpes militares que se sucederam, aumentando o caos político no
Vietnã do Sul, e acabou levando os Estados Unidos intervirem definitivamente na
Guerra (GRECO, 1979).
O presidente dos Estados Unidos na época, Lyndon Johnson, (que tomou posse
após o assassinato de John Kennedy) usou como pretexto para uma intervenção mais
profunda no conflito, um ataque dos norte-vietnamitas a navios norte-americanos
enquanto patrulhavam o golfo de Tonkin em julho de 1964. O envio de tropas ao Sul se
intensifica e dão inicio a sistemáticos ataques aéreos ao Norte (MANDEL, 1979).
Apesar dos armamentos de alta tecnologia, helicópteros e outros recursos, os
Estados Unidos não conseguiam barrar o exército vietcongue do norte com as suas
táticas de guerrilha. Os soldados norte-americanos não sabiam como lidar com a guerra
em um território marcado por florestas tropicais fechadas e grandes quantidades de
chuvas. E o exército vietcongue além de conhecer muito bem o território e de lidar
11
Exercito de Libertação Nacional, do Vietnã do Sul, um grupo de guerrilheiros pró Vietnã do Norte
considerado popularmente pelo Estados Unidos como Vietcongue (Kurlansky,2004)
32
muito bem com o clima, utilizaram táticas de guerrilhas que sucederam em várias
vitórias contra o exercito dos norte-americanos (CHOMSKY, 1999).
Os Estados Unidos, ao intervirem no conflito, acabaram por invadir outros
territórios que eram de grande influência no conflito, como a Tailândia, onde
mantinham a maior base aérea do sudeste asiático e um contingente de cinqüenta mil
soldados. Outras áreas foram invadidas como Camboja e Laos, no norte do Laos
houveram incessantes bombardeios, pois fazia parte de rota de suprimentos dos
guerrilheiros vietcongues, a famosa trilha Ho Chi Minh. Esta trilha era um sistema de
transportes camuflado que ligava o Norte ao Sul do país, o que possibilitava que os
vietcongues recebessem armas, alimentos e munições enviadas pela China e pela URSS,
que apoiavam o Vietnã do Norte e era realmente a grande ameaça aos Estados Unidos.
Para demonstrar o quão intenso foi o conflito nesta região entre 1965 e 1971 a trilha de
Ho Chi Minh teve mais bombas jogadas pelos Estados Unidos em seu percurso do que
foi jogada em toda a Segunda Guerra Mundial (MANDEL, 1979).
Os governos dos dois países eram conscientes desta rota de suprimentos para o
Vietnã, e eram complacentes com isto, e permitiam a manutenção da trilha em seus
domínios. Este apoio ao Vietnã do Norte trouxe conseqüência para ambos os países
(Laos e Camboja) quando estes se envolveram no conflito por volta de 1970
(MANDEL,1979)
Resistindo com táticas guerrilheiras e com acesso às armas ocidentais, os
soldados norte-vietnamitas e os guerrilheiros, em janeiro de 1968, invadem a embaixada
dos EUA em Saigon e atacam quase todas as bases norte-americanas e marcham sobre
as principais cidades e ruas do Sul do país. Em contra ataque a invasão de Saigon, as
forças norte-americanas e sul-vietnamita respondem ao ataque provocando a morte de
165 mil vietnamitas (GRECO, 1979).
Em torno deste conflito, junto com o imperialismo americano, alinha-se a
burguesia mundial, e junto às massas vietnamitas os marxistas revolucionários, que
aumentaram o nível da exigência de uma frente unida de todos os estados operários para
fornecer apoio bélico, sem qualquer limitação à revolução vietnamita (GRECO, 1979).
Uma contribuição decisiva para a causa vietnamita foi o gigantesco movimento
de solidariedade em demonstrações massivas na quase totalidade dos países capitalistas.
Fomentado pela juventude, teve a sua maior expressão no movimento anti-guerra que se
espalhou velozmente no próprio interior dos Estados Unidos, como será demonstrado
33
adiante, chegando a mobilizar cerca de um milhão de pessoas marchando na cidade de
Washington (GRECO, 1979).
Enquanto o mundo se dividia a respeito da guerra do Vietnã, as burocracias
soviéticas e chinesas tentavam proceder como árbitros, desenvolvendo uma política
dupla. Pressionando as direções indochinesas a uma saída negociada com o
imperialismo, dando, ao mesmo tempo uma ajuda militar dosada às forças
revolucionárias. Temendo a possibilidade de um triunfo total, que acabaria com as suas
boas relações com a burguesia imperialista, os burocratas chineses e soviéticos,
enquanto se acusavam mutuamente, e se recusavam a atuar unidos contra um inimigo
comum, forneciam ao Vietcongue e as forças revolucionárias o suficiente para subsistir,
mas não o necessário para triunfar (MANDEL, 1979).
Mesmo sem os recursos necessários para triunfar, o imperialismo americano se
encontrou em uma situação angustiante. A situação era um poço sem fundo onde
soldados, armas, dólares e até o bem estar e a estabilidade econômica e política dos
Estados Unidos iam decaindo, enquanto os regimes controlados pelos Estados Unidos
no Vietnã decaiam gradualmente devido a uma corrupção desenfreada (Mandel,1979).
E foram nestas condições desfavoráveis que surgiram novas negociações, desta
vez o cenário foi Paris, em 1973, os Estados Unidos aceitam o acordo de cessar fogo, e
são convocadas eleições no sul do país e libertados alguns prisioneiros de guerra. Os
EUA perdem 45.941 soldados, tiveram 800.635 feridos e 1.811 desaparecidos em ação.
Não há dados seguros sobre as baixas vietnamitas, mas sabe-se que ultrapassam cento e
oitenta mil (MANDEL, 1979).
Porém, a interpretação do acordo de Paris não foi homogênea nas massas
indochinesas. Para alguns, o acordo é uma afirmação de que poderiam se considerar um
povo livre, harmônico e independente. Porém, para muitos era um indício de que a
trégua em Paris não era o fim da guerra, e que a intervenção americana continuaria
através de armas, e auxílio econômico. E com a retirada dos Estados Unidos do
território do Vietnã, começaram a eclodir guerras civis entre os vietcongues e as forças
sulistas (MANDEL, 1979).
Se analisado no contexto de Guerra Fria a Guerra da Vietnã foi uma das mais
importantes. A guerra do Vietnã não foi apenas um conflito militar entre exércitos
nacionais, mas sim uma profunda revolução social. Sendo possível perceber o desgaste
do império americano e as potencialidades da aliança das revoluções populares do
Terceiro Mundo com as nações socialistas industrializadas. O movimento afetou toda a
34
Indochina, pois ao mesmo tempo em que ocorria o triunfo dos movimentos
revolucionários de Laos e do Camboja, tentava se criar um novo poder regional sob a
liderança do Vietnã (FARIA, 2003).
A primeira derrota militar dos EUA atingiu em cheio o país, gerando a Síndrome
do Vietnã12, fazendo com o governo retraísse nas relações internacionais, não tomando
decisões de caráter tão intervencionista, como pode ser visto anteriormente na história.
A crise econômica foi associada à derrota militar, da consciência na opinião pública dos
crimes praticados e dos problemas sociais internos, com os desajustados, drogados e
mutilados gerados pela guerra. Além disso, os movimentos de direitos civis, pacifistas e
minorias étnicas desafiavam o status quo americano desde os anos 60, para a opinião
pública os conflitos do Terceiro Mundo eram complicações que os EUA não deveriam
intervir, além do fato de considerarem que os americanos consumiam os recursos
destinados ao bem-estar interno (VIZENTINI, 2003).
Porém novos focos de tensão começaram a surgir como na África e na América
Central, onde a amplitude dos conflitos envolveram as duas potências EUA e URSS e
seus respectivos aliados, enquanto os EUA se encontravam afetados pela Síndrome do
Vietnã e mantinham-se retraídos
nas
relações
internacionais,
a conjuntura
revolucionaria no Terceiro Mundo aprofundava-se. Na Indochina, o fim da guerra não
trouxe alívio nas tensas relações regionais, pois a pressão sobre a revolução vietnamita
adquiriu novas formas. As forças revolucionárias no Camboja provocavam o Vietnã por
meio de incidentes fronteiriços, e com o apoio chinês. A resposta do Vietnã não demora
e em fins de 1978 invade o Camboja, com o apoio dos refugiados deste país, derrubando
as forças revolucionarias, e implantando um regime aliado em 1979. Um mês depois
600 mil soldados chineses cruzavam a fronteira para “dar uma lição ao Vietnã”. Após
um mês de luta os chineses se retiraram com grandes baixas, a China neste episodio,
defendiam os interesses dos EUA na grande diplomacia (VIZENTINI, 2003).
A Guerra Fria e suas características ideológicas trouxeram para a guerra do
Vietnã características de um embate ideológico, como acontecia em todo o mundo. Isso
demonstra o quanto é grande a influência das potências nos países não desenvolvidos, e
o quanto eles se tornam dependentes da política das potências. A guerra do Vietnã é
considerada um conflito ideológico, e levou a depreciação de um país em troca do poder
12
Termo utilizado pelo autor para a definição das conseqüências negativas nas políticas e economia
sofridas pelos Estados Unidos com a guerra do Vietnã.
35
de influencia em uma região, e por causa de uma política ambiciosa dos Estados Unidos
de se manter defensor da democracia.
2.3 - Impacto da Guerra nos Estados Unidos
A guerra do Vietnã foi uma guerra que trouxe enormes conseqüências para a
sociedade e governo dos Estados Unidos. Pela primeira vez na história o resultado de
uma guerra não foi definido no campo de batalha, mas sim nas páginas impressas e
principalmente nas telas das televisões, levando à derrota dos Estados Unidos no
Vietnã. Esta crença de que a mídia, em particular a televisiva, foi responsável pelo
fracasso do governo dos Estados Unidos é muito coerente, como poderemos ver a
seguir. Se olharmos para mídia sobre um ponto de vista mais moderado, podemos
perceber que a mídia tornou-se uma notável nova fonte de poder nacional, como parte
de um excesso geral de democracias, contribuindo para a redução da autoridade
governamental nacional, no caso americana, e resultando em um declínio na influência
da democracia americana nos outros países (CHOMSKY, 2003).
A intervenção dos Estados Unidos de 1965 teve o desembarque de forças de
combate norte americanas no Vietnã, o bombardeio regular do Vietnã do Norte, e o do
Sul em escala três vezes maior. É um fato importante que nesta época (como antes) não
houve qualquer questionamento detectável da justificativa da causa norte-americana no
Vietnã ou da necessidade de engajamento em uma intervenção em escala máxima.
Nesta época, somente as questões de táticas e custos da guerra estavam abertas a
discussões, e discussões adicionais na mídia principal foram largamente limitadas a esta
estreita faixa de perguntas. À medida que a guerra progredia, a opinião da elite
gradualmente mudou para a crença de que a intervenção dos Estados Unidos era um
“erro trágico” que estava se mostrando muito dispendioso, aumentando o domínio do
debate de forma a incluir uma gama de questionamentos até mesmo táticos, que até
então estavam excluídos (CHOMSKY, 2003).
Porém, apesar das opiniões expressáveis na mídia ampliarem a justificativa da
causa, a nobreza das intenções no conflito não foram postas em dúvida. Os críticos mais
duros dentro da mídia americana sustentaram que a guerra começou com um esforço
enganado para fazer o bem, embora em 1969 (ano em que grande parte da comunidade
36
empresarial dos Estados Unidos concluiu que esse empreendimento deveria ser
encerrado) havia se tornado claro para a maior parte do mundo e para maior parte dos
norte-americanos, que a intervenção foi um erro desastroso, e que era uma ilusão tentar
construir um país no Vietnã do Sul segundo os moldes norte-americanos. O argumento
contra a guerra em sua maior parte era que os Estados Unidos não haviam
compreendido as forças políticas e culturais atuantes no Vietnã, e que estavam em uma
posição em que não podiam impor uma solução, exceto a um preço muito alto para si
próprio (KURLANSKY, 2004).
Durante o ano de 1956, a imprensa garantiu que o público americano veria a
guerra como uma luta entre o comunismo e o mundo livre, e os líderes vietinamitas
foram apresentados como meramente agentes de Moscou e Pequim cujos principais
meios de obter suporte eram o terror e a força. A imprensa liberal mostrou um
entusiasmo especial pela causa, e as reportagens também reforçaram os preconceitos do
governo, porque a imprensa baseava-se quase que inteiramente nas fontes do governo
para as informações que relatava (KURLANSKY, 2004).
A questão dos bombardeios no Vietnã do Norte foi controversa e ocasionalmente
relatada na mídia americana, a razão é que o custo para os Estados Unidos poderia ser
alto devido a uma potencial resposta dos chineses ou dos soviéticos, vista como uma
possibilidade séria e perigosa, ou até devido ao impacto na opinião pública
internacional. Porém, segundo relatos da época é possível concluir que as reportagens
de combates e as declarações do governo americano geralmente dão a impressão de que
os norte americanos estavam no controle na ofensiva e mantendo a iniciativa na guerra
do Vietnã (KURLANSKY, 2004).
Apesar desta aparente visão positiva da guerra, os Estados Unidos tiveram
grandes custos com a guerra tanto politicamente quanto economicamente, o grande
desgaste da economia americana devido a guerra levou o governo a tomarem medidas
econômicas, como a inconversibilidade do dólar em relação ao ouro, com o objetivo de
desencadear uma grande reconversão da economia capitalista mundial, retomando o
dinamismo e a primazia americana (HERMAN, 2003).
A cobertura jornalística (mais especificamente as três redes de televisão NBC
ABC e CBS) tinha políticas definidas a respeito de apresentação de filmes mostrando
soldados norte-americanos feridos, ou civis vietinamitas em sofrimento. Os produtores
de notícias ordenavam aos seus editores que excluíssem cenas chocantes ou
excessivamente detalhadas. Essa relativa falta de sangue da guerra mostrada na
37
televisão ajuda a explicar por que apenas uma minoria da população, na pesquisa Lou
Harris-Newsweek, mostra que a televisão aumentava a insatisfação com a guerra. A
rede NBC excluiu da televisão cenas que mostravam o duro tratamento dado aos
prisioneiros vietcongues por solicitação do governo Kennedy. Além disso, a cobertura
da televisão concentrou-se quase que exclusivamente nos esforços norte-americanos.
Houveram poucas entrevistas com militares ou líderes civis vietinamitas (HERMAN,
2003).
Entretanto o quadro de processo gradual da guerra na mídia televisiva foi
abruptamente rompido pela ofensiva comunista do Tet, ofensiva na qual as forças
revolucionárias do Vietnã se reuniram e atacaram as forças norte-americanas para tentar
recuperar o controle da maioria das grandes cidades do país, em janeiro de 1968,
quando os militares perderam o controle sobre os movimentos da imprensa, que poderia
sair de seus hotéis e registrar os combates sangrentos. Durante estes momentos os
correspondentes enviavam relatórios de campo que eram transmitidos no lugar da visão
usual cuidadosamente editada de uma guerra ordenada e controlada, e da política de
proteger os telespectadores norte-americanos das imagens de soldados americanos
feridos e de corpos espalhados pelas cidades. Isto rapidamente desmoronou, embora os
noticiários continuassem a ser editados com mensagens que diziam que as imagens
eram muito impactantes (HERMAN, 2003).
A ofensiva do Tet convenceu elites norte-americanas de que a guerra estava se
tornando muito dispendiosa para os Estados Unidos. Até 1968 a cobertura da televisão
foi controlada em grande parte pelos militares norte-americanos, e de modo geral
refletiu uma iniciativa controlada pelos americanos de que parecessem que estavam
vencendo no interior e dizimando os vietcongues. Raramente o foco era voltado para
questões relacionadas com o sofrimento dos civis vietnamitas. Durante a Ofensiva do
Tet o foco das notícias americanas mudou e mostrava os norte-americanos com uma
postura defensiva, em perigo e desesperadamente frustrados. Esta mudança drástica se
deu em grande parte em resposta a insatisfação com a guerra, algo que estava se
desenvolvendo em muitos níveis dos salões do Pentágono à Avenida Central. Outro
ponto que ajudou nesta mudança drástica da mídia foi o fato da infelicidade entre as
elites empresariais americanas. Antes da ofensiva do Tet, os editoriais dos jornalistas da
televisão eram favoráveis à política do governo na guerra numa proporção de quatro
para um, após a ofensiva essa proporção se inverte para dois editoriais contrários para
um a favor (CHOMSKY, 2003).
38
A critica padrão da mídia pelo fato dos Estados Unidos terem perdido a guerra
identifica a televisão como maior culpada. O analista televisivo Edward Jay Epstein
msotra isto claramente em um de seus pronuciamentos quando ele diz que ao longo dos
últimos dez anos, quase que todas as noites, os norte-americanos testemunharam a
guerra no Vitenã pela televisão. Nunca antes na história mundial uma nação permitiu
que seus cidadãos assistissem a cenas não censuradas de combate, destruição e
atrocidades em suas salas, ao vivo e em cores. Visto que a televisão se tornou a
principal -e mais confiável - fonte de notícias para a maioria dos norte-americanos,
supõe-se em geral que a exposição constante dessa guerra na televisão foi útil na
formação da opinião publica:
“Tornando-se quase um truísmo- e a retórica-padrão de executivos
de televisão- dizer que a televisão, ao mostrar a terrível verdade da guerra,
causou a desilusão dos norte-americanos com a guerra [...] Isso também tem
sido a visão dominante dos que governam a nação durante os anos de guerra
[...] Dependendo de a avaliação vir de um militarista ou de um pacifista, a
televisão tem sido tanto culpada quanto aplaudida pela desilusão do público
norte-americano com a guerra” (Chomsky,2003,pág 256)
Agora que as pessoas podiam ver a guerra, muitos não gostaram do que viram.
Manifestações contra a guerra do Vietnã, com a participação de centenas de milhares de
pessoas, tornavam-se comum no mundo inteiro. Entre os dias onze e quinze de fevereiro
de 1968, estudantes de Harvard, Radcliffe e da Universidade de Boston fizeram greve
de fome por quatro dias, para protestar contra a guerra. Em quatorze de fevereiro dez
mil manifestantes, ou cem mil segundo os organizadores, marcharam por Paris sob um
aguaceiro, acenando bandeiras norte-vietnamitas. Quatro dias depois, estudantes de
Berlim Ocidental fizeram uma passeata contra a guerra com um numero de dez mil
manifestantes. Na faculdade de direito da Harvard começaram a oferecer cursos sobre
os caminhos legais de resistência à guerra, e quinhentos professores de Direito
assinaram uma petição exortando os profissionais da lei a se oporem ativamente à
política de guerra dos estados Unidos (KURLANSKY, 2004).
Manifestações em toda a sociedade americana podiam ser percebidas, a
sociedade e seus vários níveis estavam dispostos a se manifestarem contra a Guerra do
Vietnã. A guerra trouxe custos para toda a sociedade americana, tanto para as elites
quanto para a classe média, influenciando o modo de vida de ambas, umas com
influências econômicas e outra com influência social. Tanto a elite condenava a guerra
39
por se tornar muito custosa para o país, quanto à classe média por levar seus filhos para
uma guerra sem propósito.
Em um contexto de Guerra Fria a guerra do Vietnã se tornou foco de discussão
na sociedade americana, pois era travada como uma luta ideológica, onde os ideais e
interesses norte-americanos estavam sendo defendidos, contra uma ameaça comunista.
Os interesses defendidos no Vietnã eram tidos como interesses americanos, porém a
população que estava arcando com o custo caríssimo da guerra, levando a um
descontentamento com a guerra por parte da opinião pública levando, por conseqüência,
os Estados Unidos a tomarem uma decisão em relação à guerra que não fosse a que
tomaria sem esta pressão da opinião pública.
40
Capítulo 3 – ANÁLISE DA GUERRA DO VIETNÃ E SUAS INFLUÊNCIAS
Este capítulo tem como intuito analisar a influência da mídia na opinião pública
americana, e a conseqüência da influência na opinião pública para a política externa dos
Estados Unidos na Guerra do Vietnã. Esta análise será feita primeiro através de uma
demonstração da cobertura da mídia na Guerra do Vietnã e a influência desta cobertura
na sociedade americana. Após será feita uma demonstração sobre a manifestação da
população norte-americana contra a guerra do Vietnã. Podendo então a influência da
opinião pública na decisão de política externa adotada pelos Estados Unidos na Guerra
do Vietnã.
3.1 - Cobertura da Mídia na Guerra do Vietnã
A ofensiva do Tet de 1968 teve início em 21 de janeiro com o cerco pelo
exército do Vietnã do Norte à base militar norte-americana, próxima ao paralelo 17.
Sem muitas dificuldades pode-se perceber que o propósito era expulsar as forças
americanas dos centros populosos, e o cerco foi bem sucedido nesse objetivo, pois
rapidamente o exército americano enviou forças de combate para região. Em 31 de
janeiro, todas as principais cidades e trinta e seis das quarenta e quatro capitais
provinciais, junto com outras numerosas cidades, foram atacadas simultaneamente pelas
forças da resistência da NLF no sul (os “vietcongues”). Após a ofensiva do Tem, o
governo norte-americano controlava apenas um terço do país, enquanto os outros dois
terços estavam nas mãos da NLF (KURLANSKY, 2004).
Dentre todas as ofensivas do Tet, que aconteceram simultaneamente em toda
região que era dominada e controlada pelo Estados Unidos, existe uma que deve ser
ressaltada, que foi a invasão da embaixada americana em Saigon. O que de fato é
especial neste ataque é o fato do ataque ter a melhor cobertura da imprensa,
conseguindo resumir para o mundo inteiro o que foi a Ofensiva do Tet. A embaixada
americana estava localizada em um local conveniente para a cobertura pelo corpo de
imprensa baseado em Saigon, e cujos integrantes moravam nas imediações. Até então, a
maioria dos combates no Vietnã eram noticiados após acontecer, ou na melhor das
41
hipóteses se a batalha fosse muito longa os repórteres entravam dentro dela, e
noticiavam o que estava acontecendo do campo de batalha (KURLANSKY, 2004).
Porém, da embaixada americana, as linhas de comunicação eram ininterruptas,
as matérias podiam ser enviadas das proximidades, e a imprensa ainda tinha a diferença
de tempo ao seu lado. O ataque aconteceu em 30 de janeiro, mas ainda era 29 de janeiro
nos Estados Unidos. Nos dias 30 e 31 de janeiro, os Estados Unidos tinham a matéria
em fotografia e filme. A primeira reportagem do ataque chegou cerca de quinze minutos
depois, enquanto os atacantes abriam com uma explosão o primeiro buraco na parede do
complexo da embaixada, e penetraram cada vez mais com foguetes, os noticiários
americanos já os descreviam como um pelotão suicida. Após os policiais militares
americanos romperem o portão da frente, veio o corpo da imprensa, com câmeras para
documentar os corpos, os buracos de balas. A embaixada fora retomada sem muita
demora, e uma das mais famosas batalhas da Guerra do Vietnã terminou. Oito
americanos morreram e todos os integrantes do grupo atacante morreram, foi uma
missão suicida, pois os integrantes não haviam recebido nenhum plano para escapar
(HERMAN, 2003).
O ataque teve um sucesso maior do que os norte-vietnamitas perceberam
porque, embora fosse encarado como um fracasso militar, foi um sucesso de mídia. Sem
conseguir explicar este tipo de guerra suicida, os agentes da inteligência americana
concluíram que esse único aspecto bem sucedido devia ser o objetivo da ofensiva para
obter uma vitória de relações publicas. Os resultados foram estonteantes, pois hoje
estamos acostumados a ver a guerra aparecer imediatamente na tela da televisão, mas
isto era novidade em 1968, a guerra nunca foi levada tão depressa para a sala de estar
dos telespectadores. Os militares hoje se tornaram muito mais experientes e
competentes no controle da mídia, mas na Ofensiva do Tet as imagens levadas para a
sala da população eram das forças armadas americanas numa carnificina, com imagens
de soldados em pânico e morrendo (CHOMSKY, 2003).
De acordo com inúmeros depoimentos, nos primeiros anos do envolvimento dos
Estados Unidos na guerra do Vietnã tudo era escondido e negado. Os correspondentes
em Washington tinham acesso a dados que camuflavam a verdade. Os jornais sem poder
conciliar as informações que eram passadas por Washington com as que procediam em
Saigon, preferiam publicar a versão oficial. No Vietnã os Estados Unidos não tentaram
impor a censura para solucionar seus problemas. Muito pelo contrario, ele montara uma
verdadeira campanha de relações publicas para divulgar a sua versão da guerra. Durante
42
o conflito os jornalistas das mais diversas procedências eram convidados a visitar o
Vietnã e a escrever sobre o que tinha visto. Eram cedidas tantas mordomias, como
hotéis mais confortáveis e comidas que normalmente seriam de difícil acesso, que
ficavam na obrigação “moral” de serem gratos e acabavam publicando exatamente o
que a propaganda do governo americano desejava (CHOMSKY, 2003).
Houve uma famosa exceção à farsa da cobertura da guerra por parte do governo
americano. Em cinco de agosto de 1965, uma reportagem de Morley Safer para a CBS
mostrou fuzileiros norte-americanos queimando casebres de aldeia vietnamitas com
isqueiros, o que despertou uma campanha semi-oficial por parte do Pentágono para
desacreditar a reportagem da televisão e qualificar o correspondente como impatriótico
(CHOMSKY, 2003).
Até 1968, a cobertura da televisão foi controlada em grande parte pelos militares
norte-americanos, e refletiam a iniciativa controlada pelos norte-americanos de passar
uma imagem de que estavam vencendo a guerra, raramente o foco era voltado para
questões relacionados como o sofrimento de civis vietnamitas. Durante a Ofensiva do
Tet o foco da mídia mudou mostrando os norte-americanos em uma posição de defesa,
perigo e frustrados. Após a Ofensiva do Tet, a cobertura norte americana mostrou para a
população a guerra ao vivo, isso desencadeou uma insatisfação entre as elites
empresariais americana, pois percebia-se que a guerra se tornava muito custosa para o
país, gerando uma pressão por parte deste grupo a uma saída negociada para o conflito
(CHOMSKY, 2003).
Antes da ofensiva do Tet, era possível perceber o quanto as imagens de soldados
morrendo no campo de batalha eram excluídos das noticias na televisão,esta cobertura
gerou uma impressão na sociedade de uma guerra limpa, eficaz e tecnológica. Após a
ofensiva das forças revolucionárias vietnamitas a atuação americana foi vista como uma
atuação desordenada, e frustrada por grande parte da sociedade americana, além de
demonstrar o verdadeiro custo para as elites americanas. Todos estes fatores
impulsionaram a sociedade americana a manifestar sua posição em relação à guerra, que
em sua grande maioria era contra, e as elites pressionarem o governo para uma saída
menos custosa para a guerra. Isto será demonstrado a seguir através de manifestações de
descontentamento com a guerra tanto por parte das elites empresariais como da
sociedade americana (CHOMSKY, 2003).
43
3.2 - Manifestações da opinião pública americana
Coma guerra sendo considerada cada vez mais cara e impopular, as autoridades
do governo americano ficaram sob intensa pressão para torná-la mais aceitável. Em
dezembro de 1966, pela primeira vez os estudantes da Universidade Livre (na
Alemanha Oriental) lutaram contra a polícia nas ruas, a guerra do Vietnã havia se
tornado uma das principais questões em torno do qual os movimentos estudantis se
organizavam. Usando manifestações imitadas dos norte-americanos para protestarem
contra diretrizes americanas, rapidamente este se tornou o movimento mais visível da
Europa. Demonstrando o quanto a guerra do Vietnã influenciou culturas e sociedades
pelo mundo, e não somente na sociedade americana (KURLANSKY, 2004).
O Congresso Internacional sobre o Vietnã (situado nos EUA) foi o primeiro
encontro internacional em larga escala de movimentos estudantis em 1968 e se realizou
no auge da Ofensiva do Tet, quando a guerra do Vietnã foi vista pelas televisões do
mundo inteiro. Na maioria dos países, a oposição à guerra não apenas era uma das
coisas mais populares, como em muitos casos, os grupos contra a guerra eram
movimentos muito bem organizados. Mas também a luta contra a guerra era a única
questão na qual todos tinham algo em comum, levando em consideração que a guerra
acontecia em um contexto de Guerra Fria sob qual o mundo se encontrava dividido
(KURLANSKY, 2004).
As manifestações que aconteciam em uma região especifica, como as que
aconteciam nos Estados Unidos, não tinham conseqüências somente nesta região, pois
os manifestantes estrangeiros que participavam destas manifestações voltavam para seus
países exultantes da manifestação da guerra do Vietnã. Um exemplo disto é que logo
após o ingleses fizeram sua própria manifestação com milhares de pessoas enchendo a
Oxford Sreet, com bandeiras e gritos entoados a favor da Do Vietnã e contra os Estados
Unidos (KURLANSKY, 2004).
O pentágono temia que a calada da guerra pudesse levar à desobediência civil
em massa, particularmente devido à oposição à guerra entre jovens, os menos
favorecidos, as mulheres e segmentos da intelectualidade. A visão de milhares de
pessoas presentes às manifestações pacifistas sendo confrontadas por tropas militares
foram particularmente perturbadoras para o governo americano. Uma ameaça de
revoltas da sociedade civil dentro do próprio país, seria uma ameaça ainda maior a sua
44
hegemonia mundial, visto que o apoio da população civil é fundamental para a aceitação
da causa pela qual o país luta (no caso a guerra do Vietnã) (KURLANSKY, 2004).
A ofensiva do Tet teve grande importância na guerra do Vietnã, pois foi a partir
desta ofensiva que a população norte-americana teve acesso ao que de fato acontecia no
Vietnã e com suas tropas, pois os Estados Unidos não contavam com uma ofensiva tão
impactante que acabou demonstrando o quanto os Estados Unidos estavam envolvidos
na guerra e com uma postura defensiva no momento da ofensiva do Tet. Neste momento
de desorientação norte-americana no território vietnamita, abriram brechas para que a
mídia transmitisse as notícias sem a “fiscalização” das forças militares americanas
(CHOMSKY, 2003).
Não apenas pesquisadores de opinião pública norte-americanos notaram uma
queda no apoio à guerra, mas um número crescente de pessoas mostravam-se dispostas
a fazer manifestações contra ela. Em 1965, quando o grupo de Estudantes por uma
Sociedade Democrática convocou uma manifestação contra a guerra em Washington
muitos queixaram-se do fato do grupo não ter criticado os comunistas, e houve muitos
desacordos quanto á tática de linguagem. Mesmo com todas essas desavenças o grupo
reuniu mais de vinte mil pessoas em sua marcha por Washington, a maior marcha contra
a guerra até aquela data (CHOMSKY, 2003).
O National Mobilization Committee to End the war in Vietnam (Comitê
Nacional de Mobilização para Terminar a Guerra do Vietnã), coalizão de pacifistas,
novos e velhos esquerdistas, trabalhadores em direitos civis e jovens, organizaram uma
manifestação pacífica de dezenas de milhares de pessoas em São Francisco. Em março
de 1968, o grupo reuniu algumas centenas de milhares de pessoas para acompanhar
Martin (KURLANSKY, 2004).
No final de 1968 o movimento Stop the Draft Week (Semana para Impedir o
Recrutamento), teve mais de dez mil manifestantes contra a guerra, na maioria jovens
que não queriam lutar por uma guerra sem sentido. Estes movimentos contra a guerra se
tornaram cada vez menos pacíficos, a semana contra o alistamento se tornou um
combate de rua com a polícia de Oakland, Califórnia, onde a manifestação aconteceu.
Esses manifestantes não se deixavam arrastar para os carros de policia, e desafiavam as
linhas policiais e refugiavam-se atrás de barricadas improvisadas nas ruas. Estudantes
da Universidade de Wisconsin tentaram a velha tática de sentarem em um prédio da
universiade, muitas centenas de estudantes participavam da manifestação, para protestar
contra a presença do recrutamento da Dow Chemical. A polícia não arrastou os
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manifestantes, mas usaram cassetetes e bastões, isso incomodou a tal ponto o público
norte-americano que logo a polícia lutava contra vários milhares de pessoas
(KURLANSKY, 2004).
A indústria bélica não passou ilesa das manifestações na sociedade norteamericana, como exemplo temos a empresa Dow Chemical, citada acima, que produzia
o napalm usado contra soldados, civis e a paisagem, no Vietnã, criado originalmente por
cientetista de Harvard para o exército americano durante a Segunda Guerra Mundial.
Inicialmente, o nome napalm foi dado a um engrossador que podeia ser misturado com
gasolina e outros materiais incendiários. No Vietnã a mistura em si foi chamada de
napalm. O engrossador transforma a chama em uma substância semelhante à geléia que
pode ser disparada, sob pressão até uma distância considerável. Ardendo com intenso
calor, ela se gruda ao alvo, seja este vegetal ou humano. Segundo a Associação
Nacional dos Estudantes, das setenta e uma manifestações organizadas em sessenta e
duas universidades, em outubro e novembro de 1967, vinte e sete manifestações eram
contra a empresa que produzia o napalm Dow Chemical. Apenas uma entre as setenta e
uma manifestações eram contra a qualidade da educação, mostrando à importância que
a guerra tomava na sociedade americana, e o quanto a população era capaz de se
expressar contra a guerra (KURLANSKY, 2004).
3.3 - Influência das manifestações na política americana
Logo no começo da Guerra do Vietnã podemos perceber que havia um esforço
muito grande da mídia americana passar uma imagem da guerra como o bem contra o
mal. Isto interessava as varias classes dominantes no país, pois estavam criando uma
guerra contra a influência do comunismo no mundo, gerando um sentimento de
nacionalismo muito grande entre todas estas classes, que tentavam manter o sistema
capitalista norte-americano, para se manterem no poder político e econômico da
sociedade (CHOMSKY, 2003).
A guerra do Vietnã trouxe vantagens claras para grupos específicos da
sociedade, no momento em que o Estado americano, não consegue conter as revoluções
dentro do estado vietnamita, e se encontra em situação de caos, dando oportunidade
46
para que os grupos de pressão expressassem suas vontades. Esta situação de descontrole
do Estado sobre os grupos de pressão interno acabam por acelerar a tomada de decisão
política do Estado. Isso pode ser visto, logo após a Ofensiva do Tet, quando os Estados
Unidos impactados com um ataque surpresa, perde o controle de sua política externa, e
demonstra uma clara direção para uma resolução “pacífica” do conflito abrindo mão de
todo o custo que a Guerra já havia lhe gerado. Por mais que os críticos mais duros da
mídia norte-americana sustentaram que a guerra começou com um esforço enganado
para fazer o bem, após 1969 (após a Ofensiva do Tet) grande parte da comunidade
empresarial dos Estados Unidos concluiu que esse empreendimento deveria ser
liquidado, além de ter se tornado claro para maior parte do mundo e da sociedade
americana que a intervenção no Vietnã foi um erro desastroso. Antes da Ofensiva do
Tet os editoriais dos jornais de televisão eram favoráveis à política do governo em uma
proporção maior que a não intervenção (CHOMSKY, 2003).
Quadro que muda após a Ofensiva, onde a ofensiva gera na mídia uma
manifestação muito grande contra a guerra, mostrando com imagens o quanto a guerra
era custosa para os Estados Unidos. A influência da mídia nas decisões dos Estados tem
um impacto se inseridos e analisados em momentos de pânico político, quando o
governante do Estado não tem qualquer política ou decisão em curso a respeito do
assunto, o fator critico em todas as condições que mídia influencia as decisões dos
Estados se encontra na liderança. Se o líder não tem uma política externa clara, os meios
de comunicação se encarregam de produzi-la e até por conseqüência substituir o líder
em ação (CHOMSKY, 2003).
Isto fica claro segundo a lógica da Guerra do Vietnã inserida no contexto
político interno dos Estados Unidos, a intervenção no conflito trouxe para o país
conseqüências políticas grandes, como a influencia nas eleições norte-americanas, a
guerra era sempre assunto de pauta, e mais do que isso, todos os candidatos foram
fortemente atacados a respeito de qual política iriam implementar sobre a guerra. Como
se isto fosse o ponto crucial para a escolha do governante. Nas eleições norteamericanas de 1964, a população votou na proporção de dois para um a favor do
candidato da paz, e Lyndon Johnson venceu, com um discuros de que não queria uma
guerra mais ampla no Vietnã (KURLANSKY, 2004).
Levando em conta isto, é preciso observar que a opinião pública influencia a
decisão dos Estados, pois em um momento de caos político o governante tem que
expressar que suas políticas estão em contentamento com as vontades do público. E
47
mais ainda, o governante precisa criar políticas que sejam de acordo com os interesses
dos grupos de pressão interno, para que não se cause desencontro de políticas almejadas
pelos Estados, é preciso que os dois lados estejam em acordo quanto às políticas
adotadas, para que se tenha um apoio interno suficiente para a manutenção da ordem
interna (KURLANSKY, 2004).
A influência da mídia nas decisões políticas tem muito impacto sobre a opinião
pública, assim como pressão sobre os lideres a adotarem políticas que são defendidas
pelo meio. Os diversos decisores estatais, as elites, e os meios de comunicação, tentam
moldar as informações que chegam à opinião publica, tentando influenciar a formação
da opinião pública. A mídia faz um grande uso deste requintes moldando a opinião
pública a favor de seus interesses. Como já dito anteriormente, a mídia pode buscar
interesses que sejam convergentes ou não com a vontade estatal. Isto pode ser percebido
quando a mídia, no começo da guerra, transmitia notícias positivas em relação à guerra
para a população, que por sua vez eram passadas pelas autoridades militares. No exato
momento em que as forças militares perdem este “controle” sobre as notícias, como na
ofensiva do Tet, e a mídia transmite a “verdade” sobre a guerra para população civil, ela
foi capaz de se engajar e buscar os seus interesses, através das manifestações, que
aconteciam em todo país, como forma de pressionar o governo (KURLANSKY, 2004).
A guerra do Vietnã mostra o quanto a mídia influencia a opinião pública. Logo
após a intervenção dos Estados Unidos o sentimento que se percebia na população
americana era de que os americanos estavam defendendo a liberdade e o bem, isto era
visto através das muitas notícias que circulavam na televisão com a visão de que os
Estados Unidos estavam vencendo a guerra e conseguindo o objetivo de levar a
liberdade a uma população oprimida pelo comunismo. É preciso levar em conta o
contexto mundial no qual a guerra se insere o da Guerra Fria, no qual a ameaça
comunista se espalhava pelo mundo aterrorizando as sociedades capitalistas, que
tentaram por todos os meios combatê-la (KURLANSKY, 2004).
Em 1967 o espírito da população estava mudando, e o publico começava a
desafiar o consenso das elites para as questões militaristas, um ponto de grande
preocupação para o governo. A expansão da guerra do Vietnã poderia polarizar as
opiniões ao ponto de os pacifistas saírem do controle, e começaram a fazer recusas
maciças em servir no exercito, a preocupação dos Estados Unidos é justa, pois a
população já não estava contente com o envolvimento do país na guerra, que traziam
conseqüências para suas vidas, como famílias desfeitas pelo alistamento, e até
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conseqüências econômicas tornando o consumo mais moderado, pois se encontravam
em época de Guerra (CHOMSKY, 2003)..
Em maio de 1967 o secretario de defesa Mc Namara advertiu secretamente o
presidente de que a expansão da guerra dos estados Unidos poderia polarizar as opiniões
pacifistas a ponto de chegarem a uma situação sem controle. Algumas medidas foram
tomadas para que não se perdesse o controle interno, afetando as decisões que os
Estados Unidos aplicariam na guerra. Na ofensiva do Tet o Estado americano estava
preocupado com a capacidade norte-americana de responder a possibilidade de
desordem civil generalizada nos próximos meses. Ao considerar o emprego de tropas
adicionais na guerra, o governo tomou o cuidado de assegurar que forças suficientes
ainda estivessem disponíveis para o controle de desordem civis, incluindo as forças da
Guarda Nacional e o Exército dos Estados Unidos. O Pentágono advertiu ainda que uma
solicitação por mais tropas na guerra, poderia levar a um maior desafio ao alistamento e
desordem nas cidades americanas, onde se corria o risco de provocar uma crise
doméstica de proporções sem precedentes (KURLANSKY, 2004).
A visão de milhares de pessoas presentes às demonstrações pacifistas sendo
confrontadas por tropas em uniforme de combate, durante as maciças demonstrações
pacifistas e a enorme marcha contra o Pentágono, em outubro de 1967, foram
particularmente perturbadoras. A retirada gradual das, cada vez mais desmoralizadas,
forças militares dos Estados Unidos no Vietnã, levou a uma diminuição visível nos
protestos no inicio da década de 70, porem a síndrome do Vietnã jamais foi curada, pois
muito depois disto em 1982 setenta e dois por cento do público norte-americano
julgaram a guerra do Vietnã como mais que um erro, era uma fundamentalmente errada
e imoral. O único interesse pelo Vietnã pós-guerra na mídia americana foi a recuperação
dos restos dos militares dos Estados Unidos mortos em combate, e servindo a população
vietnamita com outros assuntos, como prova de que existe uma insensibilidade moral
dos meios de comunicação comandados pelo governos americano (KURLANSKY,
2004).
A influência da guerra na sociedade e governo americano se deu com grande
impacto nas eleições americanas, as eleições de 1968 demonstram o quanto a guerra
influenciou a sociedade americana, mudando a forma de se pensar em qual candidato
votar. Os discursos dos candidatos a presidência eram voltados todos para a guerra do
Vietnã, com uma população cansada de pagar os custos caros de uma guerra e disposta a
se manifestar contra a guerra, tinha destaque o candidato que se colocasse contrário a
49
guerra. O presidente Nixon foi um deles, e seu discurso para a eleição americana, era da
promessa de uma paz com honra, através de seu plano para acabar com o envolvimento
dos Estados Unidos com a guerra. O seu plano, considerado a Doutrina Nixon, era a
estratégia que daria o controle da guerra para os vietnamitas, a vietnamização do
conflito. Nixon venceu as eleições e tornou-se presidente em janeiro de 1969, herdando
a necessidade de solucionar um problema que envolvia a sociedade americana, e os
interesses de política externa do país (CHOMSKY, 2003).
Coma vitória de Nixon, as tropas americanas começaram a ser retirada do
território vietnamita, a carga dos combates em terra foi passada para as forças
vietnamitas, que eram supridas e dirigidas pelos Estados Unidos. E os problemas dentro
dos Estados Unidos não estavam resolvidos, era preciso pensar em uma construção de
uma nova ideologia, era preciso que o governo acalmasse a população americana, que
havia perdido sua esperança na nobreza de intenção e na benevolência inspiradora das
elites que determinam a política dos Estados Unidos. . Os Estados Unidos decidiram
retirar todas as suas tropas no Vietnã em 1973, e dois anos depois, o Vietnã do Norte já
tinha o controle de todo o país (KURLANSKY, 2004).
Qualquer que seja o ponto de vista sobre a Guerra do Vietnã, a maioria dos
norte-americanos após a guerra acreditam que o custo foi muito alto, em particular o
custo de vidas norte-americanos. Os norte-americanos estavam morrendo pelo Vietnã,
mas aqueles que podiam perceber esse fato e que se opunham a guerra, não apenas por
que o custo era muito alto, mas por que consideravam que a agressão era errada, eram
excluídos da categoria de norte-americanos, numa clara política do governo de tentar
desmoralizar qualquer civil que fosse contra a guerra (KURLANSKY, 2004).
Através da cobertura feita pela mídia americana na guerra do Vietnã,
principalmente nos anos de 1967 e 1968, a sociedade americana teve acesso a real
dimensão do envolvimento dos norte-americanos, se revoltando com a guerra e trazendo
para dentro do Estado uma situação de descontentamento civil e entre as elites. As
maciças manifestações civis americanas acabaram influenciando a elite americana e o
governo, a tomarem medidas que atendessem as necessidades e interesses da população.
Quando a guerra se tornou muito custosa para a população, e ela pode ver isto através
dos noticiários de televisão, ela se manisfestou da forma que podia contra o aumento do
investimento na guerra. Para que se
estabeleça um governo em um território
conquistado é preciso se ter uma grande força militar. E o governo americano não podia
contar mais com os alistamentos civis, pois a população se rebelava e escapava do
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alistamento da forma que podia. Neste caso com a intenção de se evitar um colapso civil
interno, o governo americano atende a reivindicação civil, e toma medidas para uma
solução pacífica para o conflito. Dando início a retirada de tropas, e a limitação de
investimentos para as tropas no território vietnamita (CHOMSKY, 2003).
A cobertura da midia e as manifestações da população tiveram influência na
decisão de politíca externa dos Estados Unidos, analizado através da Guerra do Vietnã,
principalmente através das notícias exibidas pela mídia, que pela primeira vez mostrava
uma guerra ao vivo. Influenciando a população americana forçando a elite americana e
ao governo, a tomarem decisões que seguiam de encontro com o interesse civil.
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4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
A cobertura da mídia americana na guerra do Vietnã gerou influencias na
sociedade e no governo americano, o trabalho propõem mostrar a influência da
cobertura da mídia, na guerra do Vietnã, na opinião pública americana, e as influências
que geraram para a decisão de política externa adotada pelo governo americano em
relação a guerra.
Através da teoria de Putnam (1993), é possível perceber um maior foco dos
grupos de interesses internos dos Estados no momento da formulação da política
externa. Estes grupos são considerados na formulação de política externa dos Estados
como influenciadores na decisão estatal, segundo a visão Pluralista utilizada no
trabalho, pois influenciam a opinião pública, que pressionam o governo para alcançarem
seus interesses particulares. Como demonstrado no trabalho, quando a mídia influencia
a população civil americana, e esta busca pressionar o governo a tomar medidas que os
favoreçam.
A guerra americana no Vietnã não era única e, certamente, não era a mais
repreensível do que inúmeras outras guerras, mas desta vez a guerra travada ali era
travada por uma nação com poder global sem precedentes, os Estados Unidos da
América. Em um momento histórico em que as colônias lutavam para se recriarem
como nações, quando a luta anticolonialista tocava o idealismo das pessoas no mundo
inteiro, no Vietnã se via uma terra fraca e frágil, lutando pela sua independência,
enquanto este novo tipo de entidade, conhecido como “superpotência”, despejavam
mais bombas não-nucleares em seu pequeno território do que foi despejado em toda
Ásia e Europa durante a Segunda Guerra Mundial. Tudo isto acontecia em um contexto
de Guerra Fria onde o encolhimento do globo nunca mais será tão chocante, e onde
outros atores começaram a ser inseridos nos jogos do cenário internacional. Isso pode
ser visto no capitulo dois com o contexto da Guerra Fria, e a inserção da guerra do
Vietnã neste contexto.
As grandes manifestações da opinião publica norte-americana sobre a Guerra do
Vietnã, se davam em grande maioria porque a população não concordava com a guerra,
e já que não concordavam tinham a obrigação de falar francamente sobre o assunto, pois
em uma democracia, a guerra estava sendo feita em nome dos norte-americanos. É claro
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que uma das grande lições do ano de 1968 é que quando as pessoas tentam mudar o
mundo, outras pessoas que estão interessadas em manter o mundo como está, por uma
questão de direitos adquiridos, não se deterão diante de nada para tentar mantê-lo.
Porem as pessoas do mundo inteiro sabem que não são impotentes, e podem ir as ruas
como foi feito em 1968. e os grandes lideres e os grupos internos dos Estados têm muita
consciência do risco de se ignorar os movimentos populares. A mídia e a cobertura da
guerra do Vietnã, principalmente a cobertura da ofensiva do Tet, influenciou a
população civil a buscar seus interesses, que estavam sendo deixados em segundo plano
por causa da guerra, e a se manifestarem contra a guerra. Estas manifestações causaram
grande impacto nas elites americanas, e até mesmo no governo, pois, os Estados Unidos
não estavam em posição de enfrentar os custos altíssimos de uma revolta interna.
A influência da mídia na opinião pública americana foi grande e profunda, pois a
população estava arcando um custo altíssimo coma guerra, e após as imagens da guerra
serem mostradas de forma rápida à população, o sentimento entre as famílias
americanas de que a guerra estava mais próxima era grande. Este sentimento motivou a
sociedade a se manifestar contra as políticas adotadas pelo governo americano na
guerra. Desde manifestações contra indústria bélica, até manifestações pacificas nas
maiores universidades americanas, estavam acontecendo com o mesmo intuito, o de
pressionar o governo americano para encontrar uma solução pacifica do conflito, e que
as tropas e populações americanas que se encontravam no território vietnamita voltasse
para os Estados Unidos. O papel do Estado na formulação de políticas externas é ainda
central, porém é preciso levar em consideração os grupos internos dos Estados, pois
uma medida adotada que contraria o interesses destes grupos, pode gerar uma
insatisfação, que se for em um nível muito alto, como o da guerra do Vietnã, o governo
pode perder sua aprovação pública, tornando ainda mais difícil sua vida política,
podendo até perder seu prestígio e lugar no poder.
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