Prova de Letras
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Prova de Letras
Prova Específica para o Curso de Letras 10 de julho de 2012 INSTRUÇÕES INSTRUÇÕES 1. Verifique se este caderno contém 30 questões. 2. Ao constatar qualquer irregularidade com relação ao total de questões, solicite ao fiscal da sala a substituição do caderno. 3. Cada questão tem apenas uma alternativa correta ou incorreta. 4. As respostas deverão ser transcritas no GABARITO ou folha de respostas, com caneta esferográfica azul ou preta. 5. Não rasure o gabarito, sob pena de ter a questão anulada. 6. Não haverá substituição do gabarito ou folha de respostas. 7. Verifique os dados relativos ao nome do(a) candidato(a), número da cédula de identidade, número de inscrição e curso. Após, assine o gabarito no local apropriado. Nº de Inscrição 8. O tempo mínimo de duração desta prova é de 1 hora (uma hora). Somente após decorrido esse tempo, o(a) candidato(a) poderá ausentar-se da sala, porém sem levar o caderno de questões. 9. O tempo máximo de duração desta prova (inclusive preenchimento do gabarito ou folha de respostas) é de 3 horas (três horas). Após às 21h30 o(a) candidato(a) poderá ausentarse levando o caderno de questões. 10. Os candidatos que saírem antes desse horário só poderão retirar o caderno de questões no período de 13 a 15 de dezembro de 2011 na sala 11 - Comissão de Vestibular no período vespertino. Após este período os cadernos de questões não serão mais entregues. Nome do(a) Candidato(a) Página 1 Vestibular - FAFIPA/VERÃO 2012 Texto para as questões 01,02 e 03. LÍNGUA VIVA O verbo detonar é, sem dúvida, o campeão. Se fôssemos escolher o maior vício da linguagem jornalística dos últimos anos, o detonar já estaria eleito. Eu não estou me referindo ao enorme número de bombas que, infelizmente, foram detonadas neste período. Na, verdade, estou aludindo ao mau uso do verbo detonar, nos mais variados sentidos. Hoje “detonam” qualquer coisa. Eu diria que virou modismo linguístico, tendo superado até o famoso a nível de. Temos tido oportunidade de ler e ouvir coisa do tipo: “Foi a avó que detonou nela a verdadeira paixão pela música.” “A estratégia foi suficiente para detonar uma intensa propaganda boca a boca.” O presidente detona o que pode ter um difícil processo de confirmação.” “É o mesmo fato que detonou a crise dos Estados Unidos.” É interessante observar que o verbo “detonar” ganhou várias acepções: começar, iniciar, gerar expandir, crescer, desenvolver... Isso tudo sem falar na mania de usar o detonar como sinônimo de dizer ou afirmar. Além da pobreza de estilo (toda metáfora exageradamente repetida perde a expressividade e a graça), devemos observar as ambiguidades. No exemplo “Foi a avó que detonou nela a verdadeira paixão pela música”, o autor queria referir-se ao fato de ter sido a avó quem despertou nela a verdadeira paixão pela música. Porém, um desavisado poderia imaginar que a avó teria destruído a paixão pela música. Fenômeno semelhante ocorre em “ É o mesmo fator que detonou a crise dos Estados Unidos”. Aqui, o autor se referia ao fator gerador ou ao fato que iniciou a crise nos Estados Unidos. Mais uma vez, o nosso leitor desavisado poderia dar outra interpretação: para ele, é o fator que acabou com a crise dos Estados Unidos. Sugiro, portanto, que o verbo “detonar” seja detonado, no verdadeiro sentido da palavra. E aqui surge um novo problema. “Terrorista explodem bomba em hotel lotado de turistas”. É impossível que terroristas tenham explodido uma bomba. É a bomba que explode. O verbo explodir é intransitivo (= ninguém explode nada, é a coisa que explode). Na verdade, “os terroristas detonaram uma bomba”. Esse é o uso correto do verbo “detonar”. (... ) Cuidado com as metáforas! Com o desejo de não repetir o verbo dizer, é frequente vê-lo substituído não só por detonar e explodir como também por “disparou fulano”, “alfinetou beltrano”, “dinamitou sicrano”... Essa criatividade excessiva pode nos levar a coisas ridículas, como: “Foram tantos sucessos que catapultaram o grupo para a fila do gargarejo da MPB”. Se você não entendeu a metáfora, a tradução é a seguinte: “ O tal grupo estava na parada de sucessos, em 10º lugar, entretanto os últimos sucessos foram tantos que o grupo foi para o 1º lugar”. Haja criatividade! Assim não dá! Se detonar já é difícil de aturar, imagine catapultar. Autor: Sérgio Nogueira Duarte Questão 1 A argumentação desenvolvida pelo autor do texto é: (A) um ponto de vista declaradamente normatizador da língua sobre vícios da linguagem jornalística. (B) um ponto de vista obviamente descritivo da língua usada metaforicamente. (C) apenas uma reflexão sobre o ponto de vista diacrônico ou histórico do estudo da língua. (D) apenas uma reflexão sobre o ponto de vista sincrônico no estudo da língua. (E) apresentar noções sobre a gramática normativa da língua sem criticar. Questão 2 O que o autor diz sobre o verbo “detonar”? I. Sugere que ele seja banido do nosso vocabulário. II. Quando usado deve ser feito com parcimônia, com cuidado. III. É um exemplo de deteriorização da língua. IV. Pode ser usado, porém deve-se evitar ambiguidades. Estão corretas as afirmativas: (A) I, II e III (B) II, III e IV (C) I, II, III e IV (D) III e IV (E) I, II e IV Questão 3 Marque a alternativa que contém o verbo “detonar” usado metaforicamente e cuja frase é ambígua. (A) “Foi a avó que detonou nela toda a paixão pela música.” (B) “Hoje detonam qualquer coisa.” (C) “O verbo detonar é, sem dúvida, o campeão.” (D) “... o detonar já estaria eleito.” (E) “Se detonar já é difícil de aturar, ...” Página 2 VESTIBULAR – UNESPAR/ FAFIPA – INVERNO 2012 Questão 4 Questão 8 No texto “Conseguiremos o financiamento da pesquisa, caso o projeto convenha aos novos diretores da instituição”, se o termo “caso” for substituído por “se”, como o verbo convir estaria corretamente flexionado? “Não é possível que _____ ele o responsável por todos (A) convir _____________ percebemos que valeu a pena, embora se você ________ as contas ainda encontrará erros.” (B) convinha (C) convier (D) conviesse (E) convêm Questão aqueles problemas. Porém, se não nos _____________ calmos, os problemas seriam maiores. Entretanto, nós nos _______________ calmos e quando tudo Marque a alternativa que contém as formas verbais que preenchem corretamente os espaços em branco no parágrafo acima. 5 (A) é – mantivermos – mantivemos – acabou – revisse “Muita gente vê que é possível usar o computador com respeito; e entende que ele auxilia no trabalho; e que o mau uso pode resultar em problemas.” A diferença sintática entre as duas conjunções “e” usadas no texto acima é: (B) foi – mantivemos – manteremos – acabará - rever (C) seja – mantivéssemos – mantermos – acabará – revir (A) as duas coordenam orações principais. (D) será – mantermos – mantivéssemos – acabou – revisse (B) a primeira coordena oração subordinada e a segunda coordena oração principal. (E) seja – mantivéssemos – mantivemos – acabou – revir (C) as duas coordenam orações subordinadas. (D) a primeira coordena a oração principal e a segunda coordena oração subordinada. (E) as duas introduzem orações subordinadas. Questão 6 Assinale a opção em que o verbo “chamar” tem sentido de “qualificar” e a frase é construída com objeto mais predicativo. (A) Arthur é bom jogador, mas ninguém o chamou para jogar. (B) Ao anoitecer ouvia-se a viúva a chamar pelo falecido. (C) Os comerciantes da cidade chamam-no de fiscal. (D) Os fiéis chamavam-lhe de traidor do povo. Questão 9 Marque a opção onde o emprego do acento indicador de crase está incorreto. (A) A vítima levara vários tiros à queima-roupa. (B) Diga às pessoas que me procurarem que tive de sair. (C) Entregue tudo àquele homem de quem lhe falei. (D) A cantora à cuja voz sempre me refiro virá ao Brasil daqui à dois meses. (E) Diga a Sua Excelência que não tenho nada a acrescentar às palavras que já disse. Questão 10 (E) Cristina chamou pelo colega de classe em voz alta. Questão 7 Nas frases abaixo o plural dos adjetivos compostos está correto, exceto em: Assinale a alternativa incorreta quanto ao uso das expressões destacadas. (A) Mulheres surdas-mudas fizeram um protesto contra a discriminação de que são vítimas. (A) A distribuição de renda melhorará na medida em que forem feitos investimentos voltados para o mercado interno. (B) Os documentos do ano passado estão nas pastas (B) Senão se fizer alguma coisa, o estado virará um caos. E ainda há quem não faça nada se não perseguir privilégios. (C) Várias entidades latino-americanas de defesa dos (C) Já que temos ideias afins deveríamos trabalhar juntos a fim de conseguir melhores resultados. (D) Dali a três meses eu mudaria de vida. (E) Há anos não nos vemos. E só poderei reencontrálo daqui a dois meses. azul-marinho; os deste ano, nas pastas azulceleste. direitos humanos protestaram contra as ações policiais. (D) Olhos verde-esmeralda e cabelos castanho-claros: é assim que a imagino em meus devaneios. (E) Comprei uma camisa amarela-clara e amarela-canário para desfilar no Carnaval. calça Página 3 VESTIBULAR – UNESPAR/ FAFIPA – INVERNO 2012 Observe o texto de Affonso Romano de Sant’Anna: Casada, amando outro Aquela mulher ali, em meio a esta reunião social, tem um amante. Amante: palavra que já derramou sangue e até os anos 30 era proibida nos palcos brasileiros, conforme revelou, há tempos, Procópio Ferreira. Mas o que me leva a achar que ela tem um amante, se não sou seu marido, não sou sua melhor amiga e, a rigor, a estou vendo pela primeira vez? Talvez seja isto: quando as pessoas estão amando, os outros percebem. Aliás, quando estão desamando também. Certa vez vi uma amiga atravessar a Av. Atlântica às três horas da tarde e dirigir-se a um cinema, que hoje não existe mais. Não sei se era o jeito de ela ir sozinha, havia nela alguma coisa que me fez chegar em casa e comentar: acho que fulana está se separando. Daí a dias veio a confirmação. Uma vez a amiga me disse: “Antes que eu soubesse que estava grávida, percebi que algo amoravelmente diferente acontecia comigo: os homens me observavam mais e até me cantavam.” É que uma mulher amada é uma fêmea que se denuncia e alicia outros amores entre os machos na campina. Deve ser isto: para mim, aquela mulher ali no terraço, nesta festa ao entardecer, está exalando amor, um secreto e doce amor. Se alguém encostar o ouvido nas paredes de sua alma, ouvirá que ela canta.Há alguns meses já não é a mesma. Uma parte do mundo se acrescentou a ela. De algum modo ainda está perplexa com a situação, mas não chega a estar ansiosa. O que me intriga, por outro lado, é que de algum modo também ama seu marido, ou, pelo menos, não pensa em separar-se nem em afastar-se dos filhos. Se um anjo do Senhor com uma espada baixasse dos céus e lhe dissesse: “Escolhei aquele com quem deveis ficar”, seria um suplício, pois, no fundo, ela sabe que são coisas diferentes. E necessárias. “Por favor, Senhor”, ela vai rezando enquanto se dirige ao balcão e olha o mar, “não me obrigueis a esse esfacelamento, ensinaime antes a coabitar com minha ambígua felicidade.” Não me perguntem como, quando, onde ela se encontrou como amante à primeira vez. Se foi após uma reunião de trabalho, durante um congresso ou às três horas da tarde num motel. O fato é que aconteceu depois de um misterioso desenrolar de vontades e curiosidades. Foi estranho voltar para casa naquele dia. E também nos outros. Mas naquela primeira vez, sobretudo. Já não era a mesma pessoa e a casa parecia a mesma. Não, a casa também já não era a mesma: os móveis e os objetos a olharam diferentemente: ela era uma mulher acrescida de algo indizível. Havia qualquer coisa de culpa, é claro. Como evitar isto que nossa cultura cultiva furiosamente há milhares de anos, maldições e assassinatos? Mas o que era consciência culposa aos poucos se transformou numa culpa corajosa. No primeiro encontro acabou dizendo, não sabe se para si ou para ele: “Sabe, é a primeira vez que me acontece isto desde que me casei.” E ela dizia isto como se desse um presente inadiável. Ela dizia isto com um desamparo tocante, como se fosse um frágil objeto que ao outro caberia proteger. Foi seu marido que se tornou menos interessante? Teria ele se interessado por outras e com isto começaram a se afastar sem se perceber? O que diziam esses livros ou manuais sobre o amor? O que aconselham? Como justificar-se e não se achar um bicho de duas cabeças, animal de três pernas? Lembrou-se de uma, de várias amigas que lhe contaram casos de amor que lhes aconteceram em pleno casamento. Algumas falavam disto como se estivessem sido acidentadas. Outras como se tivessem visto um arcanjo. Lembra que, de uma amiga, chegou a avistar o amante, e vendo-o, assim cruamente passando burguesmente na rua, não entendeu o porquê do arrebatamento da amiga. Era afinal um sujeito comum, como então despertava mais arroubos na outra? A festa vai transcorrendo. Estou passeando pelo passado, presente e futuro dessa mulher sem que ela o saiba. Vai esse amor extemporâneo reaproximá-la do seu marido? É apenas um parêntese poético no prosaico da sua vida? Pode parecer estranho, mas há casos em que certos casamentos melhoraram depois desses episódios. Claro, outros desabaram de vez, outros se complicaram ainda mais, mas há casos de casamentos que melhoraram silenciosamente a partir daí. Sei que isto pode soar indecente, amoral ou sei-lá-o-quê, mas não invento nada, apenas constato. É como se o outro tivesse ido lá fora aprender coisas sobre si mesmo. E nessa questão do aprendizado, seja ele escolar ou amoroso, a gente não aprende necessariamente aquilo que querem nos ensinar, mas aquilo que carecemos aprender. Ali está ela. A festa continua, já começa a anoitecer, claro que para nós, não para ela, que está num momento luminoso de sua vida. Num momento também delicadíssimo e sem poder partilhá-lo com quem quer que seja. É que certas travessias têm que ser feitas a sós. E são elas que dão sentido à vida, ainda que provisoriamente. (SANT’ANNA, Affonso Romano de. Que presente te dar. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 2002) Página 4 VESTIBULAR – UNESPAR/ FAFIPA – INVERNO 2012 Questão 11 O texto de Affonso Romano de Sant’Anna, um dos autores mais importantes da literatura brasileira contemporânea, pelas características que apresenta é: (A) Um artigo de opinião, considerando as frases “Vai esse amor extemporâneo reaproximá-la do seu marido? É apenas um parêntese poético no prosaico da sua vida?” (B) Uma carta ao leitor, a julgar por “Não me perguntem como, quando, onde ela se encontrou com o amante à primeira vez.” (C) Um relato, considerando-se “É como se o outro tivesse ido lá fora aprender coisas sobre si mesmo.” (D) Uma crônica, pois o texto fundamenta-se na exposição de um acontecimento, de um fato narrado, em que o cotidiano das relações humanas direciona a narração, como se percebe em “Se foi após uma reunião de trabalho, durante um congresso ou às três horas da tarde num motel. O fato é que aconteceu depois de um misterioso desenrolar de vontades e curiosidades.” (E) Uma pequena novela, a considerar-se “A festa vai transcorrendo. Estou passeando pelo passado, presente e futuro dessa mulher sem que ela o saiba.” Questão 12 Com relação ao texto, é possível afirmar que: (A) É a exposição de um tema em que as relações entre passado e presente estão entrelaçadas pelo comportamento nada confiável da mulher, como uma característica exclusiva do século XXI. (B) É a exposição de um tema caracterizado pela procura de uma aventura amorosa, quando a personagem feminina, ao mesmo tempo, que deseja experimentar novas emoções, não se permite afastar das relações familiares. (C) É a exposição da figura da mulher em suas características mais evidentes, como o desejo descontrolado e a angústia do abandono conjugal. (D) É a exposição do tema da desconfiança, característica das narrativas urbanas em que a personagem mostra-se como a verdadeira representação de um tempo de crise generalizada, marcada, também, pelo ressentimento e pelo desejo de vingança. (E) É a representação do medo e do desconforto de uma personagem quando se confronta com situações estranhas à sua vontade e controle. Questão 13 Quando o narrador diz que “Mas o que era consciência culposa aos poucos se transformou numa culpa corajosa”, o sentido projetado no texto, em relação à personagem é: (A) A personagem busca um caminho seguro para sua realização amorosa, embora não confie na durabilidade dessa relação. (B) A personagem procura realizar seu desejo de satisfação pessoal, embora o medo e a insegurança dominem suas iniciativas aventureiras. (C) A evidência da transgressão conjugal está fundamentada na relação entre o desejo de aventura e a certeza de que não será punida, nem descoberta, pois sua atitude era respaldada pelo comportamento irregular do marido. (D) A personagem concentra em si o desejo de realizar novas descobertas amorosas; embora reconheça a existência de uma situação irregular, essa condição não elimina a possibilidade da transgressão conjugal. (E) A personagem ultrapassa os limites da impassibilidade, passando a agir de acordo com as convicções que regem o comportamento social, moral e familiar. Questão 14 Em uma passagem do texto, o narrador ao se referir à atitude da mulher, afirma: “Por favor, Senhor (...) não me obrigueis a esse esfacelamento, ensinai-me antes a coabitar com minha ambígua felicidade.” No contexto em que foi utilizada, a manifestação da mulher pode ser entendida como: (A) Ao mencionar o desejo da mulher, o narrador faz prevalecer a condição instintiva do ser humano, pela forma como manifesta os estados emotivos, quando a capacidade de amar está aquém da satisfação pessoal. (B) A manifestação da mulher é a comprovação de sua incapacidade de relacionar-se amorosamente apenas com o marido, o que a leva a procurar no amante o complemento de uma relação amorosa plena, ainda que ambígua. (C) Há um desejo manifesto pela mulher de que a relação amorosa no casamento seja transformada, continuamente, em novas situações afetivas, como aproximação familiar e a doação completa a seu marido. (D) O desejo manifestado pela mulher deve ser considerado como a comprovação de que, no casamento, as relações afetivas nunca se transformam, embora a satisfação pessoal busque formas diversas de realização. (E) A presença de uma forma ambígua de felicidade traz para a mulher a consolidação de sua capacidade de conviver plenamente a relação conjugal. Página 5 VESTIBULAR – UNESPAR/ FAFIPA – INVERNO 2012 15 No último parágrafo do texto, o narrador afirma que “Ali está ela. (...) Num momento também delicadíssimo e sem poder partilhá-lo com quem quer que seja. É que certas travessias têm que ser feitas a sós. E são elas que dão sentido à vida, ainda que provisoriamente”. Questão (A) O sentido do texto sugere que as ações da personagem são justificadas pela busca de novas formas de felicidade com seu cônjuge, ainda que ele não compreenda suas necessidades pessoais. (B) O sentido do texto conduz à compreensão de que a atitude da personagem é decorrente de um contexto que privilegia o prazer duradouro de viver, de amar e de buscar no outro o complemento amoroso. (C) O sentido do texto não descarta a possibilidade que a personagem tem de refutar as investidas amorosas inconvenientes, embora ela sinta um desejo ardente de ceder a elas. (D) O sentido do texto permite ao leitor perceber que nas relações amorosas nem sempre o amor é o que interessa. Muitas vezes, a preservação da vida ocupa um plano superior, mesmo quando a relação conjugal está em bases seguras. (E) O sentido do texto conduz o leitor a perceber na atitude da personagem a busca de uma satisfação amorosa fundada na relação solitária do amor extraconjugal, compensadora da existência, porém sem nenhuma garantia de sustentação ou duração. Questão cada alternativa: (A) Lygia Fagundes Telles - Dalton Trevisan. (B) Mário Quintana - Moacyr Scliar. (C) Rubem Fonseca - Marina Colasanti. (D) Lya Luft - Hilda Hilst. (E) Rubem Fonseca Questão - Sérgio Sant’Anna. 17 Com relação ao Ultrarromantismo, é acertado afirmar que: (A) Conhecido como segunda fase do Romantismo, caracterizou-se, especificamente, pela formalização dos estados emotivos produzidos pela Revolução Industrial, com o predomínio da evasão lírica, do conformismo diante dos fatos sociais e uma apresentação de um eu centrado em suas emoções. (B) Esta segunda fase do Romantismo foi caracterizada pela presença, nos textos poéticos ou em prosa, de uma visão egocêntrica do mundo real e do universo particular e, ainda, pela coerência das ações de um eu lírico que acreditava no amor, na vida e nas relações pessoais como manifestação de um tempo futuro. (C) A segunda fase do Romantismo caracterizou-se, basicamente, pela presença de estados emotivos dominados pela desesperança e pelo desencanto 16 Observe o texto As afirmações do crítico literário se ajustam aos seguintes escritores contemporâneos relacionados em de Alfredo Bosi sobre a produção literária brasileira, de uma determinada época do século XX: diante da vida, aspectos que estão diretamente relacionados com uma postura conhecida como mal do século , onde os sentimentos amorosos e bárbara. Imagem do caos e da agonia de valores que a tecnocracia produz num país de Terceiro Mundo é a oscilam entre o prazer , o tormento, a dor de existir e a fuga da realidade. (D) Por Ultrarromantismo pode-se entender a narrativa brutalista[...] A dicção que se faz no interior desse mundo é rápida, às vezes compulsiva; impura, se não obscena; direta, tocando o gestual; dissonante, permanência da influência do poeta inglês Lord Byron nos poemas de Álvares de Azevedo, particularmente os que apresentam a temática da quase ruído. [...] Essa literatura, que respira fundo a poluição existencial do capitalismo avançado, de que é ambiguamente secreção e contraveneno, segue de melancolia, da manifestação da obediência às convenções sociais e da criação de um universo dominado pela esperança no futuro. perto modos de pensar e de dizer da crônica grotesca e do novo jornalismo yankee. Daí os seus aspectos antiliterários que se querem, até, populares, mas que (E) A segunda fase do Romantismo pode ser entendida como um período em que a rebeldia, a insatisfação de viver e o desconforto espiritual criaram estados não sobrevivem fora de um sistema de atitudes que sela, hoje, a burguesia internacional”. anímicos que só poderiam ser recuperados satisfatoriamente através da religião e da confiança nas convenções sociais. “A sociedade de consumo é, a um só tempo, sofisticada (BOSI, Alfredo. Situação e formas do conto brasileiro contemporâneo. In: O conto brasileiro contemporâneo. São Paulo: Cultrix, 1981). Página 6 VESTIBULAR – UNESPAR/ FAFIPA – INVERNO 2012 Questão 18 Observe o texto que segue, parte do conto Bertran ,de Noite na Taverna, de Álvares de Azevedo: “ Talvez o gênio seja uma alucinação e o entusiasmo precise da embriaguez para escrever o hino sanguinário e fervoroso de Rouget de l’Isle, ou para, na criação do painel medonho do Cristo morto de Holbein, estudar a corrupção no cadáver. Na vida misteriosa de Dante, nas orgias de Marlowe, no perigrinar de Byron havia uma sombra da doença do Hamleto: quem sabe? [...] O velho esvaziou o copo, embuçou-se e saiu. Bertram continuou a sua história. - Eu vos dizia que ia passar-se uma coisa horrível: não havia mais alimentos, e no homem despertava a voz do instinto, das entranhas que tinham fome, que pediam seu cevo como o cão do matadouro, fosse embora sangue. A fome! A sede!... tudo quanto há de mais horrível!... Na verdade, senhores, o homem é uma criatura perfeita? Estatuário sublime, Deus esgotou no talhar desse mármore todo o seu esmero. Prometeu divino, encheu-lhe o crânio protuberante da luz do gênio. Ergueu-o pela mão, mostrou-lhe o mundo do alto da montanha, co mo Satã quarenta séculos depois o fez a Cristo, e disse-lhe: Vê tudo isso é belo - vales e montes, águas do mar que espumam, folhas das florestas que tremem e sussurram como as asas dos meus anjos – tudo isso é teu.” Pela leitura do trecho do conto, é possível perceber: (A) O narrador está preocupado em apresentar uma narrativa caracterizada pela associação de vários elementos que auxiliam na composição da fantasia e do clima fantástico, como a presença das diversas recorrências à intertextualidade, desde a mitologia, a literatura , a pintura e até a Bíblia, além de possibilitar ao leitor a avaliação d a capacidade inventiva do autor. (B) O narrador esforça-se para apresentar ao leitor o clima de mistério que envolve sua narrativa, a exposição dos instintos humanos que dominam comportamentos e a submissão da figura divina aos desejos demoníacos de Satã. (C) O narrador apresenta com o texto a prevalência do ciúme e do desejo de superioridade que dominam os seres humanos, como na apresentação do poder de Satã. (D) O narrador está preocupado apenas em organizar sua fantasia de forma desordenada e, para isso, ajunta no texto elementos intertextuais que não possuem entre si uma relação compreensível. (E) O narrador consegue mostrar ao leitor a coexistência do sagrado e do profano, numa relação desprovida de sentido, quando a fantasia e o clima fantástico do texto podem comprovar a desordem intelectual do autor. 19 Com relação à poesia de João Cabral de Melo Neto, é acertado afirmar que: (A) Sua preocupação reside na construção de um texto a partir da associação dos sentimentos humanos com as formas geométricas dos objetos. (B) Sua poesia preocupa-se com as formas do trabalho com a linguagem, com as palavras enquanto instrumento de comunicação poética e, ao evitar a exposição sentimental do eu, permite que no poema os objetos e a realidade sejam explorados de forma objetiva, racional. (C) O poeta é caracterizado por construir textos em que os elementos concretos da realidade estão marcados pela oralidade, pela ausência da razão objetiva que denota uma relação sentimental com o mundo. (D) O poeta preocupa-se em organizar o texto a partir da magia que as palavras podem representar em sua relação com o mundo, de forma a caracterizar uma poesia onde a sua compreensão dependerá da capacidade de abstração do leitor. (E) Em seus poemas, é comum observar-se que na construção dos textos o poeta isola-se do convívio social e familiar, adentrando o universo das palavras para extrair delas o máximo efeito sentimental. Questão Questão 20 Observe o trecho de um artigo de João Luiz Lafetá sobre um conhecido romance modernista brasileiro: “ O motivo que deflagra a intriga desta terceira parte é a construção da escola na fazenda. [...] um negócio que agradará ao Governador e lhe renderá,portanto, certas vantagens. Manda chamar Padilha a fim de contratá-lo como professor e ele vem à fazenda acompanhado por João Nogueira e Azevedo Gondim. [...] Encontra-os, de volta do campo, palestrando no alpendre, elogiando umas pernas e uns peitos. [..] Fica sabendo que são de[...] uma professora, bonita, loura que está entre os vinte e os trinta anos. Depois a conversa toma outros rumos; falam da escola; da velha Margarida que fora localizada; da escola de novo [...] da escola e do Padilha; de política e do Padre Silvestre; do Pereira e de negócios. [...] Mas a casualidade é apenas aparente. De dentro do ziguezague de motivos vai surgindo, aos poucos, o dominante. Amanheci um dia pensando em casar”. Considerando as características do texto e a presença de algumas personagens do relato, o romance trata-se de: (A) (B) (C) (D) (E) Angústia, de Graciliano Ramos. Fogo Morto, de José Lins do Rego. A bagaceira, de José Américo de Almeida. São Bernardo, de Graciliano Ramos. Caetés, de Graciliano Ramos. Página 7 VESTIBULAR – UNESPAR/ FAFIPA – INVERNO 2012 · LÍNGUA INGLESA One out of every five people – 1.4 billion – currently lives on $1.25 a day or less. · A billion and half people in the world don’t have access to electricity. Read the following text then answer the questions from 21 to 25. · Two and a half billion people don’t have a toilet. · Almost a billion people go hungry every day. · Greenhouse gas emissions continue to rise, and more than a third of all known species could go extinct if climate change continues unchecked. The 1992 Earth Summit in Rio laid the groundwork. Rio+20 is a new opportunity to think globally so that we can all act locally to secure our common future. www.un.org/en/sustainablefuture/about.shtm/ 05/05 Questão 21 What is Rio+20? (A) Rioplus20 is an International Conference on Economy. What is “Rio+20”? (B) It is a kind of NGO-non governmental organization. “Rio+20” is the short name for the United Nations Conference on Sustainable Development to take place in Rio de Janeiro, Brazil, in June 2012 – twenty years after the landmark 1992 Earth Summit in Rio. Rio+20 is (C) A summit organized by the United Nations in 1992. also an opportunity to look ahead to the world we want in 20 years. (E) Rio+20 is a Conference on Sustainable Development arranged by United Nations. At the Rio+20 Conference, world leaders, along with thousands of participants from the private sector, NGOs and other groups, will come together to shape how we (D) A short name used for an important event on Education in Rio. Questão can reduce poverty, advance social equity and ensure environmental protection on an ever more crowded planet. The official discussions will focus on two main themes: how to build a green economy to achieve sustainable development and lift people out of poverty; and how to improve international development. coordination for sustainable future – a future with more jobs, more clean energy, greater security and a decent standard of living for all. “Rio+20 will be one of the most important global meetings on sustainable development in our time.” Why do we need Rio+20? If we are to leave a liveable world to our children and grandchildren, the challenges of widespread poverty and environmental destruction need to be tackled now. · Read the following statements carefully, and then choose the one(s) which is (are) correct according to the text. What are Rio+20’s aims? I. Rio+20 will be an opportunity to establish how we can shape the world we want in the future with a decent standard of living. II. The development of a green economy and poverty reduction will be the two main themes focused on the official discussions at the Conference. sustainable It is a historic opportunity to define pathways to a 22 III. World leaders from all over the world will take decisions to promote economy growth in order to improve the chances of profit. (A) Only I is correct. (B) Only II is correct. (C) Only III is correct. (D) Only I and II are correct. (E) Only II and III are correct. The world today has 7 billion people – by 2050, there will be 9 billion. Página 8 VESTIBULAR – UNESPAR/ FAFIPA – INVERNO 2012 Questão 23 Reread the sentences below: “If we are to leave a liveable world to our children and grandchildren, the challenges of wide spread poverty Read the following text then answer questions 26, 27, 28, 29 and 30. Feeding plastic waste to fungi 24th April, 2012 by Anonymous and environmental destruction need to be tackled now.” “… a third of all known species could go extinct if the climate change continues unchecked.” Analisando-as gramaticalmente, podemos classificá-las como: (A) Time clauses. (B) Reason clauses. (C) Place clauses. (D) Conditional clauses. (E) Result clauses. Questão 24 One out of every five people – 1.4 billion – currently lives on $1.25 a day or less. According to the passage above: (A) 1,4 bilhões de pessoas estão nadando contra a corrente. (B) 1,4 bilhões de pessoas ganham menos de $1,25 por dia. (C) Atualmente a cada cinco pessoas, uma vive com 1 dólar e vinte e cinco por dia ou menos. (D) Uma pessoa consegue viver com menos de $1,25 por dia. (E) Uma pessoa a cada cinco, exatamente 1,4 bilhões vive muito bem com $1,25 por dia. Questão 25 In the text: “The Earth Summit laid the groundwork…” (A) The Earth Summit laid the opportunities on the ground. (B) Groundwork was laid by the Earth Summit in Rio twelve years ago. (C) The 1992 Earth Summit did not prepare any significant pathways to Rio+20. (D) Groundwork lied by the 1992 Earth Summit was very important for far reaching environmental regulations. (E) The 1992 Earth Summit took place in Rio and laid the groundwork for Rio+20 twenty years ago. Mushrooms are one of the planet’s most effective natural recycling systems. Can they help us fix our landfill problem? In 2008, a group of Yale undergraduates went on a trip to the Amazon to study bioremediation – a natural waste disposal process, which mushrooms are particularly good at. They expected to find fungi that can break down plastics. What they didn't expect to find was endophytes that can do the trick in anaerobic conditions – that is, without oxygen. The findings were published last year in the journal 'Applied and Environmental Microbiology'. It's good news, because that's the prerequisite for dealing with landfill waste. Products use many different plastic types, making a meal of recycling processes. UK waste agency WRAP says 4.5 million tonnes of plastics are discarded each year. Now, the hope is that these fungi can be harnessed to break down complex plastics (in particular, the synthetic polymer polyester polyurethane) in landfill conditions. But it's still early days. Professor Scott Strobel, who supervised the team says, "We are not yet prepared for commercial roll out and need more research in laboratory settings." Sam Harrington has an eye on the progress. He's the Environmental Director at Ecovative Design, a start-up based in New York that offers a home-grown alternative to plastic-based packaging. The company harnesses mycelium, a fungal material which grows in the dark, with no watering, and no petrochemical inputs. For Harrington, breaking down industrial wastes – as well as avoiding them in the first place – could be a new business plan. "Fungi are often called a key part of nature's recycling system, since they can break down tough compounds that no other organism can," says Harrington. "Perhaps in the future we'll be using this Amazonian discovery to turn waste plastic into more environmentally responsible materials." Giles Crosse Página 9 VESTIBULAR – UNESPAR/ FAFIPA – INVERNO 2012 Questão II. 26 No título do artigo acima se encontra a pergunta: “Can they help us fix our landfill problem?” Qual é o sentido do verbo modal can na pergunta? Scott Strodel is a professor from Yale University who also owns an important laboratory. III. The fungi can be used to remedy the landfill condition. (A) Obrigação. IV. The Yale team is not ready for commercial roll out and they are sure they need more study. (B) Dedução. Therefore the correct option: (C) Necessidade. (A) I and II. (D) Habilidade. (B) I and III. (E) Suposição. (C) I and IV. Questão (D) II and III. 27 (E) III and IV. De acordo com o primeiro parágrafo, é correto afirmar que: Questão (A) Alunos de graduação da Universidade de Yale descobriram endófitos que podem representar um grande aliado na descontaminação da água. (B) Em um estudo de descontaminação, na Amazônia, foi descoberto um endófito que pode decompor plástico. (C) Os endófitos descobertos não podem funcionar em condições anaeróbicas. (D) Os cogumelos foram expostos no saguão do jornal ‘Applied and Environmental Microbiology’. (E) Em 2008, um grupo de professores de Yale viajou para a Amazônia para realizar um estudo sobre um processo natural de eliminação de resíduos. 30 O pronome relativo é utilizado como um recurso linguístico gramatical com intenção de evitar a repetição. Desse modo, qual é o seu significado nas sentenças abaixo? “Sam Harrington has an eye on the progress. He's the Environmental Director at Ecovative Design, a start-up based in New York that offers a home-grown alternative to plastic-based packaging. The company harnesses mycelium, a fungal material which grows in the dark, with no watering, and no petrochemical inputs.” (A) Ecovative Design /a fungal material. (B) Sam Harrington/New York. (C) New York/packaging. Questão 28 (D) Ecovative Design/packaging. (E) Sam Harrington/the company. A Agência WRAP diz que… (A) Por ano, 4.5 milhões de toneladas de plásticos são descartados. (B) Há pré-requisitos sanitários. para trabalhar nos aterros (C) Os produtos utilizam vários tipos de plástico em suas embalagens. (D) A boa nova no mercado é a existência de um novo tipo de embalagem plástica. (E) 4.5 tonéis de plástico são fabricados todo ano. Questão 29 Which statements are correct according to the third paragraph? I. The team leader says that the discovered fungus is able to break down complex plastics. Página 10 VESTIBULAR – UNESPAR/ FAFIPA – INVERNO 2012 PROVA DE REDAÇÃO Instruções para a REDAÇÃO: 1. A redação vale 10 (dez) pontos, sendo 6 (seis) pontos para o conteúdo e 4 (quatro) pontos para a forma. 2. Escolha apenas um dos gêneros textuais propostos: 1, 2 ou 3 e escreva o respectivo número no espaço próprio. 3. Redija o que se pede, no mínimo 20 linhas e, no máximo, 30. 4. Faça primeiro no RASCUNHO, antes de passar para a FOLHA DEFINITIVA, releia a redação fazendo a devida autocorreção. 5. A redação que tiver menos de 20 linhas e, mais de 30, será desclassificada. 6. Não fuja do tema escolhido. 7. Em hipótese alguma haverá substituição da folha definitiva da PROVA DE REDAÇÃO. 8. Não coloque qualquer tipo de identificação na prova. 9. Na versão definitiva, use caneta esferográfica azul ou preta. 10. Não destaque nenhum dos gabaritos anexados à folha definitiva. 11. Devolva a Prova de Redação juntamente com os dois gabaritos anexados. Leia o texto “UMA FIGURA” de Genolino Amado. A campainha tiniu e retiniu à porta do apartamento. E como a empregada estivesse de prosa na vizinhança ou de compra no supermercado, eu mesmo tive de atender. Apareceu então diante de mim um tipo misterioso. Era o contrabandista a domicílio. Que divertida figura! Admirei-lhe a caracterização artisticamente perfeita, digna de um grande ator em seus papéis mais caprichados. Ostentava na cabeça, meio de banda, um clássico boné de marujo em navio mercante. Pelo jeito, marujo inglês. Embora o tempo seco e límpido estivesse longe de anunciar qualquer ameaça de chuva, vestia uma capa lustrosa e suja. No braço um gordo embrulho de oleado. Na fisionomia, um ar de sigilo, receio e conspiração contra as alfândegas do mundo inteiro. Olhava de um lado para outro, como se contasse com a presença da polícia a todo instante. Apesar de não haver ninguém no corredor do pavimento, falava baixinho, com o tom dos negócios suspeitos, inconfessáveis. Isso em voz fanhosa, britanicamente nasalada, assassinando o idioma de Shakespeare, um bafo azedíssimo de uísque barato. Lançou, de entrada, o seu Do You Speak English como se fora uma frase perigosa, que estabelecesse entre nós dois terrível cumplicidade em matéria de crime aduaneiro. Íamos lesar o fisco... Disse-me que vinha de Liverpool; trazia produtos de Manchester e de Birmingham. Pronunciou, no seu linguajar arrevesado, uma palavra esquisita, que naturalmente significava pechincha. Ótima oportunidade para que eu comprasse coisas finas da Inglaterra pelo preço de fábrica, livre de impostos e ainda por cima com um cambiozinho bem camarada, a libra valendo pouco. E como eu fingisse não entender bem, arriscou termos em espanhol. E lamentava ignorar completamente o “portugiese”. Em face da minha resistência, acentuada por um sorriso de ironia, acabou por desanimar e lá se foi com a sua lenga-lenga para a porta de outros apartamentos. Mas, depois, quando eu saí de casa, encontrei o curioso personagem tranquilamente aboletado no boteco da esquina, já com outro jeito, sem a capa, sem o gorro de navegante, com as mercadorias repousando numa cadeira. E gritava para o garçon, num sonoro falar bem brasileiro: “Ó velhinho, você traz ou não traz essa média que eu pedi? É com pão e manteiga, ouviu?” E enquanto esperava pela merenda nacionalíssima , ansioso pelo café e esquecido do chá, o falso homem de Liverpool, o vendedor de produtos ingleses fabricados em São Paulo, assoviava um sambinha novo de carnaval... Mas, daí a pouco estaria de novo “contrabandeando” de porta em porta. Um mau contrabandista, decerto. Mas, em compensação, que esplêndido ator! Do livro de crônicas “Vozes da Cidade” Após a leitura do texto, escolha um dos temas abaixo. 01 Baseado no tipo de narrativa acima, elabore um texto em prosa de, no mínimo, 20 linhas cujo personagem seja considerado “uma figura”. TEMA 02 Redija uma carta ao delegado de polícia de sua cidade, denunciando a prática de atos ilícitos por parte de alguns habitantes. Use, no mínimo, 20 linhas. TEMA TEMA 03 Faça um texto dissertativo-expositivo sobre “lesar o fisco”. Apresente as consequências desse ato em, no mínimo, 20 linhas. Página 11 VESTIBULAR – UNESPAR/ FAFIPA – INVERNO 2012 TEMA : ___________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________ Página 12 VESTIBULAR – UNESPAR/ FAFIPA – INVERNO 2012
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