Emergent/re-emergent zoonotic poultry pathogens: Important
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Emergent/re-emergent zoonotic poultry pathogens: Important
XXIV World´s Poultry Congress 5 - 9 August - 2012 • Salvador - Bahia - Brazil Emergent/re-emergent zoonotic poultry pathogens: Important or not? Professor Associado III, Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Federal de Uberlândia Introduction A A indústria avícola depende da produção anual de bilhões de aves saudáveis — principalmente galinhas e perus — que acabam em centenas de produtos alimentícios nas mais diferentes formas de apresentação para consumo humano. As doenças emergentes de aves domésticas e a presença de agentes patogênicos é uma ameaça contínua para o sistema de produção avícola e um grande esforço de pesquisa para controlá-los. Novas tecnologias de aplicação de vacinas virais ou bacterianas vetorizadas ou recombinantes — spray ou injeção in ovo — serão economicamente mais viáveis em curto e médio prazo, comparado à injeção manual de aves individualmente; além da vantagem destas tecnologias poderem distinguir aves com infecções naturais de aves vacinadas — o que é muito importante para o comércio internacional. Está bem documentado que a contaminação de alimentos com agentes patogênicos é uma preocupação importante da saúde pública em todo o mundo (Mead et al., 1994; Cohen et al., 2007). A frequência relativamente elevada de exposição para bactérias patogênicas nas aves domésticas, como Listeria monocytogenes, Salmonella sp, Campylo- Aves selvagens, e especialmente espécies migratórias, podem se tornar vetores de longas distâncias para uma grande variedade de microrganismos. Pesquisas realizadas com o objetivo de identificar agentes patogênicos específicos conhecidos por serem associados com aves migratórias e selvagens avaliaram a transmissão direta de patógenos aviários para seres humanos e classificaram a transmissão como direta, com existência de provas científicas para transmissão de espécies aviárias para o homem, ou indireta para a transmissão que requer outro vetor além das espécies aviárias. Estes estudos concluíram que a melhor compreensão dos padrões de migração e epidemiologia das doenças infecciosas das aves será muito útil para prever futuros surtos de infecções devido à agentes patogênicos zoonóticos emergentes (Reed et al., 2003; Jourdain et al., 2007). P.L. Silva demanda crescente por produtos de origem animal, resultado do desenvolvimento técnico-científico, aumento da preocupação dos consumidores por segurança alimentar e rastreabilidade, com menor impacto ambiental, melhor condição de bem-estar animal, uso responsável de antibióticos e programas estruturados de saúde animal tem determinado o desenvolvimento de um novo modelo na produção da indústria avícola para as próximas décadas. bacter sp e outras bactérias entéricas (Maretha et al., 1996; Cohen et al., 2007), com conseqüência para os produtos avícolas in natura são relatados como responsáveis por um número significativo de casos de intoxicação alimentar humana (Geornaras et al., 1995). Na ausência de condições de higiene adequadas, as aves podem ser altamente expostas a estas bactérias patogênicas e outras bactérias entéricas (Cohen et al., 2007). Várias espécies de aves migratórias e selvagens servem como reservatórios e/ou vetores mecânicos (simplesmente transportando um patógeno ou dispersando vetores artrópodes infectados) para inúmeros agentes infecciosos. Uma associação com transmissão destes patógenos de aves para os seres humanos foi identificada para pelo menos 10 agentes patogênicos. Aves selvagens, incluindo as espécies migratórias, podem desempenhar um papel significativo na epidemiologia dos vírus da influenza do tipo A, arbovírus, como o vírus do Nilo Ocidental e patógenos entéricos bacterianos (Jourdain et al., 2007). No entanto, apesar da evidência potencial disponível, estes estudos sugerem que as aves selvagens desempenham um papel limitado na transmissão de doenças infecciosas para humanos. A transmissão direta de um agente infeccioso de aves selvagens Area: Poultry Health and Biosecurity • August 08 1 XXIV para os seres humanos raramente é identificada. Fatores potenciais e mecanismos envolvidos na transmissão de agentes infecciosos de aves para os seres humanos ainda precisam de mais elucidação (Reed et al., 2003; Jourdain et al., 2007). Neste sentido, o objetivo deste artigo é comentar resumidamente alguns dados da literatura científica disponível sobre os agentes patogênicos associados às espécies de aves domésticas e selvagens causando doenças humanas e importância ou não destes patógenos aviários emergentes ou remergentes com potencial zoonótico. P.L. Silva Doenças do “sistema de produção animal” Susceptibilidade a doenças. Muitas condições na produção animal, embora não relacionadas a doenças altamente contagiosas e epidêmicas, afetam gravemente a criação relacionada aos animais de produção. Há necessidade de se investigar síndromes evidentes ou clinicamente latentes em relação ao hospedeiro, seu perfil genético e imunológico e as espécies de agentes patogênicos. Fatores ambientais e econômicos também devem ser considerados. Epidemiologia, diagnóstico e vacinação. A investigação é necessária para melhorar a nossa compreensão da epidemiologia das doenças de produção, entre e dentro de rebanhos e gerar o conhecimento de base necessário relacionado com o desenvolvimento de ferramentas de controle aprimorado, incluindo testes de diagnóstico e vacinas, e suas aplicações. Papel das aves selvagens como reservatórios e/ou vetores de patógenos aviários. Aves selvagens podem adquirir agentes enteropatogênicos, tais como Salmonella sp., Campylobacter spp. e Listeria monocytogenes, alimentando-se de lixo e de esgoto, e podem disseminar esses agentes para os seres humanos diretamente ou por contaminação das operações comerciais de aves domésticas. Por outro lado, as aves selvagens podem adquirir agentes enteropatogênicos resistentes aos medicamentos provenientes de explorações avícolas e espalhar estas cepas ao longo das rotas de migração. Neste sentido, as aves contribuem para a propagação global de doenças infecciosas emergentes de forma análoga às viagens aéreas humanas. Assim, a melhor compreensão das rotas de migração e do- 2 Area: Poultry Health and Biosecurity • August 08 World´s Poultry Congress 5 - 9 August - 2012 • Salvador - Bahia - Brazil enças infecciosas das aves selvagens poderia prever futuros surtos de infecções por patógenos zoonóticos emergentes (Reed et al., 2003; Jourdain et al., 2007). Embora o foco atual sobre doenças emergentes na literatura científica e na imprensa popular possam sugerir o contrário, doenças novas ocorreram ao longo da história da humanidade. Por definição, cada doença recentemente identificada é nova. Doença endêmica de hoje foi uma doença nova de ontem. Doenças emergentes Doenças infecciosas emergentes (DE) são definidas como infecções que recentemente têm aparecido em uma população ou tem existido anteriormente, mas rapidamente estão aumentando em incidência ou localização geográfica (Morens et al., 2004). Desde a década de 1940, a incidência de DE aumentou significativamente e mais de 300 doenças infecciosas surgiram (Jones et al., 2008), a maioria das quais são vírus (Taylor et al., 2001). Mais de 60% das DE são de origem zoonótica (Jones et al., 2008), e na última década do século XX, as doenças emergentes zoonóticas constituía 52% de todos os eventos de DE (Taylor et al., 2001). De todas as DE, as zoonoses de animais selvagens representam a mais significativa e crescente ameaça para a saúde global. Entre as DE zoonóticas surgidas desde a década de 1940, a maioria dos eventos de DE se originaram em animais selvagens (71,8%) e sua incidência continuou a aumentar (Jones et al., 2008). Agentes patogênicos zoonóticos emergentes foram identificados em ungulados, carnívoros, roedores, primatas, morcêgos e outras espécies de mamíferos e não-mamíferos (Woolhouse e Gowtage-Sequeria, 2005). A dinâmica da propagação de doenças no mundo mudou consideravelmente nas últimas décadas. Estamos vivendo em uma “aldeia” global onde as doenças podem “viajar nas asas de aviões”, em viagens e comércio internacionais e podem “saltar” de um continente para outro em questão de horas. O volume de viagens internacionais é uma oportunidade extraordinária para a transmissão de doenças. Isso tem tornado todas as nações vulneráveis – não apenas a invasão de seu território por agentes XXIV World´s Poultry Congress 5 - 9 August - 2012 • Salvador - Bahia - Brazil patogênicos, mas também para o impacto econômico, político e social de eventos em saúde pública em outros lugares. Eles têm o poder de interromper todo o sistema global de maneira que não podem ser controlados por uma nação agindo isoladamente. SARS foi a primeira doença do século XXI para expor as vulnerabilidades do mundo. Não será a última. Vulnerabilidades comuns implicam responsabilidades compartilhadas e criam a necessidade de uma forte ação coletiva para proteger vidas e meios de subsistência de propagação de doenças. Doenças emergentes não respeitam fronteiras. Surgiram novas doenças: dengue, HIV/AIDS, o vírus do Nilo Ocidental, SARS e outras re-emergentes como malária, cólera, tuberculose. Por quê? Mais de 75% das doenças emergentes nas últimas duas décadas têm sido zoonóticas, sendo a maioria destas, vírus que vieram de morcêgos (particularmente morcêgos frugívoros), roedores ou aves. Isto demonstra a importância de noções básicas sobre doenças dos animais e aves selvagens e a importância da “atividade” humana. Quais as oportunidades específicas em “interface” entre a saúde humana e a saúde animal? Identificar novas ameaças, sistema articulado de vigilância/notificação, desenvolvimento da capacidade de diagnóstico laboratorial, rede de informação laboratorial, sensibilização pública/comunicação de risco, medidas de controle factíveis, que simultaneamente protegem os meios de subsistência e protegem a saúde pública. O aumento da densidade de aves/m2, estresse, condições higiênico-sanitárias inadequadas, e práticas inadequadas de manejo nos sistemas de produção de aves e ovos podem facilitar o aparecimento e propagação de doenças das aves com implicações para a saúde pública. Um fator que permite um aumento na virulência de agentes patogênicos aviários é a alta densidade nas instalações de produção intensiva de aves e ovos de consumo. Os agentes patogênicos aviários podem sobreviver nas instalações de produção e dependendo das condições do ambiente, podem A intensificação nas práticas de produção animal muitas vezes permite que os patógenos entrem na cadeia alimentar na sua origem e se disseminem, em grande parte por causa de fatores predisponentes, por exemplo, aqueles relacionados ao estresse. O estresse ocasionado por superpopulação pode ter um intenso impacto sobre a imunidade das aves, predispondo os animais para infecção. A função imune diminuída desencadeia um “efeito cascata”, reduzindo a resposta protetora à vacinação, e desta forma, a imunidade vacinal é comprometida por fatores relacionados ao estresse, abrindo porta para vários desafios virais e bacterianos. Doenças das aves transmissíveis para o homem Algumas doenças dos animais são transmissíveis aos seres humanos. Os microorganismos que causam as doenças podem ser protozoários, fungos, bactérias, chlamidia ou vírus (Jacob et al., 2003). Alguns exemplos de doenças aviárias transmissíveis aos seres humanos incluem Chlamidiose, de periquitos, pombos e papagaios e criptococose de pombos. Salmonelas, E. coli, Campylobacter sp, os vírus que causam a influenza aviária e alguns vírus de encefalite são associados com aves domésticas e selvagens. P.L. Silva A maior ameaça à segurança da saúde internacional seria uma pandemia de influenza. Ela não tem diminuído, mas sinais de advertência antecipados permitem que o mundo tenha a oportunidade de se preparar através da implementação de planos de contingência. persistir na cama do aviário por semanas, meses ou anos. Durante esse tempo, os agentes podem se disseminar em calçados, roupas, pneus, caminhões, gaiolas, caixas de aves e ovos, bandejas de ovos, insetos, roedores, ou mesmo através do vento, expulsos para o exterior por ventiladores dentro dos galpões das aves. Embora não seja uma forma comum para uma pessoal “pegar” uma doença das aves domésticas ou selvagens, o risco potencial está sempre presente. O principal método de se proteger de um agente zoonótico é a adoção de boas práticas de higiene pessoal. Neste sentido, várias doenças podem passar de galinhas, perus, patos e outras aves domésticas ou de aves selvagens para o homem. A capacidade de um microrganismo causar doença varia entre diferentes cepas do agente e as diferentes espécies acometidas. Por exemplo, enquanto algumas espécies de aves podem se tornar muito doentes a um vírus de influenza aviária; existem outras espécies que sofrem um efeito mínimo se expostas ao vírus. Isso é Area: Poultry Health and Biosecurity • August 08 3 XXIV conhecido como a “virulência” do microrganismo. P.L. Silva Muitas vezes essas doenças inaparentes nas aves, podem causar doenças graves no homem. Pessoas com condições médicas específicas, tais como uma doença crônica, imunodeficiência e gravidez podem apresentar maior risco em desenvolver a doença ou as complicações de uma doença zoonótica. A maioria dos casos de infecção pelo vírus da influenza aviária em seres humanos resulta do contato com aves domésticas infectadas ou de superfícies contaminadas com o vírus. Outro fator que afeta ou não a exposição a um microrganismo causador de doença desencadeando doença é o nível de exposição. Para algumas doenças, a pessoa precisa ser exposta a um grande número de microrganismos para que fiquem doentes. A exposição a um agente patogênico abaixo desse nível limiar é menos provável de desencadear doença, ou seja, quão grande é esse número depende da saúde do indivíduo. Se o sistema imunológico da pessoa não está funcionando bem, não precisa de uma exposição tão grande para que ela fique doente. Crianças, pessoas idosas e imunocomprometidas (HIV, transplantados e pacientes com câncer), devem ser cautelosos no contato com aves e seus habitats (incluindo galpões de aves domésticas, composteiras, cavernas, viveiros de aves, etc). As doenças aviárias zoonóticas mais comuns associadas com aves domésticas e selvagens incluem chlamidiose, salmonelose, arizonose, campilobacterose, criptosporidiose, encefalite eqüina, tuberculose aviária, histoplasmose, entre outras, as infecções em seres humanos podem ser graves e até mesmo fatais. Influenza aviária H5N1 da linhagem asiática é uma ameaça potencial de aves domésticas em alguns países asiáticos, mas até o momento não se apresenta em populações de aves nas Américas. Chlamidiose. Causada pela bactéria Chlamydia psittaci e pode causar doença em várias espécies de animais, incluindo o homem, aves, bovinos, caprinos, ovinos e suínos. Nas aves é encontrada em papagaios, periquitos, perus, gansos, patos e pombos. A doença geralmente é designada de psitacose ou febre do papagaio ou febre dos psitacídeos quando ocorre em aves psittacídeas (papagaios, periquitos, etc.). Quando ocorre em outras aves é referida como ornitose. Chlamidiose é transmitida de ave para ave principalmente através da poeira contaminada com material fecal, podendo ser disseminada por aves portadoras. Estas aves estão infectadas com o microrganismo, mas não apresentam sinais clínicos e eliminam o organismo nas fezes e secreções nasais 4 Area: Poultry Health and Biosecurity • August 08 World´s Poultry Congress 5 - 9 August - 2012 • Salvador - Bahia - Brazil para o ambiente, onde outras aves podem entrar em contato e ficar doentes. Aves portadoras podem eliminar as bactérias por vários anos. A C. psittaci sobrevive à dessecação, que faz com que a roupa e equipamentos contaminados sejam potenciais fontes de infecção. Aves com chlamidiose podem apresentar inflamação dos olhos, dificuldade respiratória, diarréia (algumas vezes sanguinolenta) e presença de urato verde nas fezes (aves excretam material fecal tipicamente com cristais de ácido úrico brancacento). Muitas aves infectadas, no entanto, não apresentam sintomas até que sofra estresse por transporte, aglomeração, má nutrição, má ventilação, falta d’água ou de ração, entre outros. A maioria dos casos humanos é contraída de aves de estimação (como papagaios ou periquitos), pombos e perus. Pombos domésticos são identificados como os portadores mais comuns em alguns países. A doença também pode ser transmitida de pessoa para pessoa (não é comum). A infecção por Chlamydia psittaci no homem geralmente ocorre por inalação de poeira contaminada com fezes secas, secreções e penas de aves infectadas. O período de incubação é de cinco a 14 dias e os sintomas são muito semelhantes aos da gripe, com febre, diarréia, calafrios, olhos inchados e dor de garganta. Se não tratada, pode desenvolver complicações como baço aumentado, inflamação do músculo cardíaco, ou taxa cardíaca reduzida. Infecção em gestantes já foi relatada associada com aborto infeccioso. O principal grupo de risco são trabalhadores em áreas onde podem respirar poeira contaminada com fezes de ave portadoras. Uma vez infectado, o homem pode disseminar a doença para familiares e amigos, mas esses métodos de propagação da doença são raros. É importante relatar que as pessoas podem ser expostas sem ter contato com aves de produção ou de fundo de quintal. Existem casos na literatura onde biólogos adquiriram a doença quando capturaram aves selvagens para observações e estudos de migração. Pessoas envolvidas com criação de pombos constituem outro grupo de risco. Outros relatos de casos onde trabalhadores de unidades de processamento de perus ficaram doentes — e que não tinham qualquer ave em casa. O local de trabalho foi o único lugar com possíveis fontes de infecção. A incidência de chlamidiose é baixa, assim raramente os médicos suspeitam da doença em pacientes com sintomas de gripe. De acordo com o CDC (2004), menos de 50 casos relatados foram confirmados desde 1996. Embora possa haver alguns XXIV World´s Poultry Congress 5 - 9 August - 2012 • Salvador - Bahia - Brazil casos que não foram relatados porque não foram diagnosticados corretamente, é importante lembrar que a incidência de infecções humanas é relativamente baixa. Chlamidiose aviária é doença de notificação obrigatória para Organização Mundial de Saúde Animal, ou seja, se a doença ocorre em qualquer lugar, deve ser notificada imediatamente para a OIE (2010). Salmonelose. Doença bacteriana mais importante e de difícil controle na avicultura industrial. Salmonelas são difundidas no ambiente e associadas com todas as espécies animais, incluindo mamíferos, aves, répteis e anfíbios. Vários surtos de salmonelose foram associados à manipulação de patos, frangos e pintos de um dia (CDC, 1998), assim, o risco de contrair salmonelas de aves está sempre presente, e pode ser reduzido, evitando contato com as fezes desses animais, lavando cuidadosamente as mãos com água e sabão após manipulação desses animais e evitar contato mão-boca. S. Gallinarum e S. Pullorum não são problemas de saúde pública. S. Typhimurium e S. Enteritidis são causas comuns de doença transmitida por alimentos nos seres humanos. Intoxicação alimentar é caracterizada por diarréia e dor intestinal aguda. Todos os tipos de salmonela produzem endotoxinas e as toxinas e as bactérias são capazes de causar intoxicação e infecção alimentar. O período de incubação no homem é 6 a 72 horas. Pode ocorrer vômito, diarréia sanguinolenta, febre e desidratação. Recuperação geralmente ocorre em 2 a 4 dias. Salmonella pode ser transmitida de pessoa a pessoa. O homem portador de salmonelas pode infectar as aves domésticas e selvagens. Arizonose. Infecções por Arizona são causadas pela bactéria Salmonella arizona, anteriormente conhecido como Arizona hinshawii. Salmonella arizona é bioquimicamente diferente de outros sorotipos de Salmonella. S. arizona ocorre em todo o mundo, e é mais frequente nos répteis e aves, mas todos os animais são sensíveis. A arizonose tem um significado especial em perus. Na maioria das espécies de aves domésticas a infecção por S. arizona produz sintomas semelhantes aos da salmonelose. Surtos em perus, frangos e canários podem ter até 60% de mortalidade. O período de incubação é de 6 a 72 horas, embora 12 a 36 horas é o mais comum. A doença é disseminada por consumo de alimento contaminado com material fecal (conhecido como a via fecal-oral), embora exista alguma transmissão através de ovos. Aves infectadas podem se tornar portadoras intestinais por muito tempo. Antibióticos reduzem casos de mortalidade, mas não eliminam o estado de portador intestinal. S. arizona é um pouco menos resistente do que a maioria das espécies de Salmonella, mas ainda pode sobreviver durante meses em solo, alimentação e água. P.L. Silva Salmonelas são bactérias que podem infectar o homem, as aves e outros animais. Existem aproximadamente mais de 2500 sorotipos diferentes de espécies de Salmonella. Grande importância devido às perdas econômicas na produção industrial (S. Pullorum e S. Gallinarum), ou problemas relacionados à saúde pública (salmonelas paratíficas). Pulorose (S. Pullorum) e tifo aviário (S. Gallinarum) são duas doenças específicas de aves que tem recebido atenção especial nas últimas quatro décadas devido ao seu impacto econômico na indústria avícola. Outros importantes sorotipos de salmonelas de interesse econômico e de saúde pública são os envolvidos com as infecções paratifóides, quais sejam, determinadas pelas espécies não adaptadas às aves, isto é, as ubíquas que são adaptadas a outros hospedeiros ou sem preferência por um hospedeiro em especial (Salmonella spp., S. Enteritidis, S. Typhimurium). As infecções paratifóides por serem inespecíficas de hospedeiros, possuem ampla disseminação na fauna silvestre, com variabilidade em virulência e patogenicidade. A maioria dos casos humanos de salmonelose é adquirida por ingestão de alimentos contaminados e não por contato direto com as aves. O habitat natural da Salmonella é o trato gastrintestinal dos animais infectados e humanos que excretam a bactéria nas fezes, continuamente ou intermitentemente. A maioria dos sorotipos pode infectar mamíferos, aves e répteis, os quais têm um grande potencial de infecção (reservatórios). Campilobacteriose. Campylobacter spp. são um dos mais importantes agentes patogênicos bacterianos humanos causando diarréia e outras doenças, como septicemia, meningite e como complicações de artrite reativa e síndrome de Guillain-Barré. A maioria dos casos humanos de campilobacteriose é transmitida por alimentos. A manipulação ou o consumo de carne de aves crus ou mal cozido é considerado como um fator de risco de infecção humana. Baixo número de células de Campylobacter é suficiente para causar infecções humanas. Uma vez introduzido em um plantel, Campylobacter spp., se espalha rapidamente, e as aves que portadoras de Area: Poultry Health and Biosecurity • August 08 5 XXIV Campylobacter spp. são assintomáticas sem quaisquer sintomas clínicos. As aves disseminam um grande número deste patógeno nas fezes, e o vazamento de conteúdo intestinal contaminam a carcaça no abate é considerada como a principal fonte de contaminação no abatedouro (van Asselt et al., 2008; Nather et al., 2009). Simultaneamente com o controle de contaminação de Campylobacter na fase de abate, a prevenção da colonização de Campylobacter no plantel de aves parece ser a melhor opção para reduzir a contaminação de Campylobacter na carne das aves domésticas. Possíveis fatores de risco para colonização de Campylobacter em lotes de frangos de corte são relatados em alguns estudos. O status de Campylobacter é associado com a estação do ano, idade das aves no momento do abate, tipo de produção e nas medidas de biossegurança (van Asselt et al., 2008; Nather et al., 2009). P.L. Silva Encefalite viral. Encefalite viral é transmitida através da picada de mosquito infectado por se alimentar em uma ave infectada com o vírus. O vírus não pode ser transmitido de pessoa para pessoa ou de aves para as pessoas. Além disso, não há nenhum perigo de infecção devido ao consumo de produtos de aves domésticas, incluindo carne e ovos. Aves que vivem perto de locais com água parada, tais como pântanos de água doce, são suscetíveis à infecção pelo vírus da encefalite. Por um curto período de tempo após a ave se infectar ela carrega altos níveis de vírus no seu sangue. Uma vez que a ave se recupera, desenvolve imunidade à doença. Se um mosquito se alimenta de uma ave recentemente infectada, o mosquito vai se tornar um portador da doença ao longo da vida. O mosquito, em seguida, ao se alimentar em outra ave irá transmitir a infecção e assim sucessivamente a outros mosquitos. Este padrão de transmissão normalmente ocorre sem qualquer impacto grave sobre o mosquito ou as aves e sem afetar os seres humanos. Isso ocorre em parte porque hospedeiros primários dos mosquitos são aves e pequenos mamíferos, e eles picam seres humanos apenas como uma segunda escolha. No entanto, algumas vezes desastres ambientais, ocasionam condições incomuns ou mudanças climáticas, que causam um aumento do número de aves infectadas, assim como dos mosquitos que se alimentam de aves e humanos. Nestas condições, os seres humanos podem ser infectados. Cerca de 3.000 espécies de mosquitos foram 6 Area: Poultry Health and Biosecurity • August 08 World´s Poultry Congress 5 - 9 August - 2012 • Salvador - Bahia - Brazil identificadas em todo o mundo, e em torno de 150 espécies vivem na América do Norte. O principal tipo de mosquito que transporta o vírus da encefalite é a espécie Culex, que geralmente é ativa desde o anoitecer ao amanhecer. Outro tipo de mosquito conhecido para transportar o vírus, Aedes vexans, também é ativo durante o dia. Existem vários tipos de encefalites transmitidas por mosquitos que podem afetar as pessoas: Encefalite eqüina (existem três principais tipos de encefalite equina (EE): Oriental, Ocidental e Venezuelana); Encefalite St. Louis; Encefalite LaCrosse; Encefalite do Nilo Ocidental Tuberculose aviária. Também conhecida como Micobacteriose, é causada pela bactéria Mycobacterium avium. Pelo menos 20 tipos diferentes de M. avium foram identificados, mas apenas três geralmente causam doença em aves. Papagaios, araras e outras grandes aves de poleiro, no entanto, são sensíveis aos tipos humanos e bovinos de tuberculose. M. avium é encontrada no solo e excrementos de aves infectadas e a transmissão da bactéria em um plantel ocorre por contato direto com aves infectadas, principalmente através de aerossóis, inalação do agente em fezes ressecadas das aves e solo contaminado ou ingestão de alimentos/água contaminados. Vários casos confirmados de infecção por M. avium em pessoas, embora o homem seja considerado altamente resistente a esta bactéria. Normalmente tuberculose aviária não é transmitida entre pessoas. A infecção é mais provável de ocorrer em pessoas com doenças pré-existentes, especialmente aquelas com infecção que afetam o sistema respiratório. As pessoas com maior risco são aqueles com sistemas imunológicos debilitados, como AIDS, em tratamento para câncer, ou receber recém - transplantados de órgãos. M. avium é altamente resistente aos antibióticos. Tuberculose aviária é uma doença zoonótica de notificação obrigatória para OIE. Histoplasmose. Certos fungos preferem crescer em solos enriquecidos com esterco de aves. Histoplasma capsulatum é uma deles. O fungo também está presente em cavernas e locais de construção. As aves não são suscetíveis à infecção, mas histoplasmose pode afetar os seres humanos, cães, gatos, gado, ovelhas, cavalos e muitos mamíferos selvagens. As pessoas adquirem histoplasmose pela inalação do Histoplasma capsulatum. Indivíduos infectados normalmente têm sintomas gripais leves incluindo febre, tosse, dores de cabeça e musculares. Uma vez infectado, normalmente leva 3-17 dias para XXIV World´s Poultry Congress 5 - 9 August - 2012 • Salvador - Bahia - Brazil sintomas ocorrem. A forma crônica da histoplasmose é semelhante à tuberculose. Histoplasmose não tratada pode causar uma doença ocular grave denominada síndrome histoplasmose ocular, causa de perda de visão entre 20 e 40 anos de idade. Histoplasmose não é transmitida de homem a homem. Histoplasma capsulatum existe na maioria dos solos, mas o fungo usa excrementos das aves ou morcêgos como fonte de nutrientes para o seu crescimento e desenvolvimento de esporos. Embora esta doença esteja associada com aves, não é considerada uma zoonose. O reservatório é o solo e não as aves. Casos humanos de histoplasmose não estão associados apenas com as aves domésticas. Morcêgos e aves selvagens também são fontes importantes. Como resultado, as seguintes ocupações correm maior risco: inspetores ou pintores de pontes, limpadores de chaminés, trabalhadores da construção civil, trabalhadores de demolição, agricultores, jardineiros, trabalhadores de telhados, trabalhadores de controle de pragas, etc. O homem pode obter criptococose por exposição aos ninhos antigos ou fezes de pombos. Locais de empoleiramento e de ninhos de pombos incluem sótãos, telhados, escolas, escritórios, armazéns, celeiros, edifícios, parques, etc. Estas áreas devem ser consideradas como potenciais fontes de contaminação pelos fungos. Nos seres humanos, a infecção do Cryptococcus neoformans normalmente começa como uma infecção respiratória com tosse, dor de cabeça, torcicolo e distúrbios visuais. Enquanto as pessoas geralmente são infectadas por respirar o fungo, o fungo pode também penetrar através da pele. Uma vez que uma pessoa se recupera da infecção, o fungo pode permanecer em seu corpo para que uma futura reativação da infecção é possível. Como com a histoplasmose, esta doença é associada com aves, mas não é uma zoonose porque o reservatório está no solo e não as aves. Regra geral, Criptococose não é transmitida de animal para animal ou de animais para o homem apesar de descrito Criptosporidiose. Causada por protozoários do gênero Cryptosporidium. Existem três espécies conhecidas, C. baileyi, C. meleagridis e uma espécie sem nome que ocorre em codornas. Criptosporidiose normalmente causa problemas respiratórios em frangos e perus, mas também pode causar inflamação do trato digestivo e diarréia. Nos seres humanos, criptosporidiose provoca dor abdominal, náuseas e diarréia aquosa com duração de 3-4 dias. Em pessoas com sistema imunológico debilitado pode causar diarréia grave e persistente. Como resultado os nutrientes são mal absorvidos e perda de peso ocorre. O período de incubação para criptosporidiose é 3-7 dias e é disseminada através da via fecal-oral por ingestão de oocistos infectantes. Doença de newcastle. A doença de Newcastle é causada por um paramyxovirus isolado em aves selvagens e domésticas. A transmissão é principalmente por aerossol, mas alimentos, água e equipamentos contaminados também podem transmitir a infecção dentro de plantéis avícolas ou bandos de aves. As cepas patogênicas produzem doença respiratória e sinais neurológicos em aves jovens e adultas. Aves jovens muitas vezes apresentam. Nos seres humanos, a doença é caracterizada por conjuntivite, febre e sintomas respiratórios. P.L. Silva Criptococose. Outro fungo que prefere crescer em solos enriquecidos com adubo orgânico de aves é Cryptococcus neoformans. Infecções são vistas em muitas espécies de mamíferos, mas ocorrem mais freqüentemente no homem, cavalos, cães e gatos. As infecções são raras em aves. A associação da doença com aves é principalmente através da preferência do fungo para solos enriquecidos por esterco de aves. na literatura um caso de uma pessoa com imunodepressão que adquiriu criptococose do material fecal de uma ave de estimação que não mostrava sinais de doença. Considerações finais A transmissão de doenças aviárias zoonóticas ocorre principalmente por contato direto, contato indireto com insetos vetores e objetos inanimados contaminados, ingestão ou inalação de aerossóis. Podemos nos proteger da maioria destas doenças, seguindo alguns procedimentos de higiene básica, quais sejam, não comer, beber ou fumar ao manipular animais ou em áreas de alojamento dos animais; usar proteção respiratória em locais de criação; usar luvas ao manusear ou necropsiar os animais, tecidos animais, fluidos corporais e resíduos, e sempre lavar as mãos após o contato; usar vestuário de proteção como jaleco ou macacão quando em manuseio de animais; lavar a roupa suja separada da roupa pessoal, e de preferência na própria unidade de produção; manter as áreas de produção limpas de mato, restos de entulhos, etc e desinfetar os equipamentos após usá-lo em animais ou em áreas de criação. É importante conhecer as particularidades Area: Poultry Health and Biosecurity • August 08 7 XXIV das doenças zoonóticas potenciais associadas com cada espécie animal que estamos trabalhando. Conclusões P.L. Silva As inter-relações que existem entre as doenças infecciosas emergentes dos seres humanos, animais domésticos e animais selvagens são bastante complexas. As aves têm um papel importante na transmissão e disseminação de várias zoonoses emergentes dos seres humanos. O surgimento do vírus do Nilo ocidental nos Estados Unidos é um exemplo surpreendente de como rapidamente uma nova zoonose pode se tornar muito disseminada. No entanto, há muito a se aprender sobre os mecanismos específicos que estão envolvidos, e o papel de aves selvagens em doenças humanas em grande parte é muito pouco estudado. Uma melhor compreensão dos padrões de migração e das doenças infecciosas das aves seria útil para ajudar a prever futuros surtos de infecções devido a patógenos zoonóticos emergentes. Manipuladores, produtores e criadores de aves devem estar cientes de que podem contrair certas doenças das aves. A freqüência de transmissão de doenças das aves para os seres humanos é baixa, mas um grupo de risco de pessoas muito jovens, idosos e aquelas com sistema imunológico comprometido devem ser cautelosos. Muitas das doenças zoonóticas das aves são transmitidas por inalação de aerossóis contaminados ou por ingestão de alimentos contaminados por material fecal. A prevenção da maioria destas doenças, portanto, envolve simplesmente a utilização de equipamentos de proteção individual, como máscaras para evitar a inalação de poeira das instalações de aves, e o saneamento e higienização adequada. Referências CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION - CDC. (1998) Salmonella and Easter Chicks and Ducklings. http://www.cdc.gov/od/oc/media/pressrel/ salmchic.htm CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION CDC. (2004) Salmonella Infection (salmonellosis) and Animals. http://www.cdc.gov/healthypets/diseases/ salmonellosis.htm COHEN, N., ENNAJI, H., BOUCHRIF, B., HASSAR, M. and KARIB, H. 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