Dissertacao Carla Maria Erre Araujo - SIGAA
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Dissertacao Carla Maria Erre Araujo - SIGAA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO – UFMA CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE OCEANOGRAFIA E LIMNOLOGIA – DEOLI PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO SUSTENTABILIDADE DE ECOSSISTEMAS CARLA MARIA ERRE ARAÚJO FAUNA ACOMPANHANTE DO SISTEMA DE PRODUÇÃO PESQUEIRA PESCADA AMARELA (CYNOSCION ACOUPA – PISCES: SCIANIDAE, LACEPÉDE 1802) DESEMBARCADA NA PRAIA DO ARAÇAGY ÁREA DO LITORAL DA ILHA DO MARANHÃO, BRASIL: subsídios para sua conservação São Luís 2008 CARLA MARIA ERRE ARAÚJO FAUNA ACOMPANHANTE DO SISTEMA DE PRODUÇÃO PESQUEIRA PESCADA AMARELA (CYNOSCION ACOUPA – PISCES: SCIANIDAE, LACEPÉDE 1802) DESEMBARCADA NA PRAIA DO ARAÇAGY, ÁREA DO LITORAL DA ILHA DO MARANHÃO, BRASIL: subsídios para sua conservação Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Sustentabilidade de Ecossistemas – PPGSE da Universidade Federal do Maranhão – UFMA, para obtenção do título de Mestre em Sustentabilidade de Ecossistemas. Orientador: Prof. Dr. Walter Luis Muedas Yauri Co-Orientador: Prof. Dr. Antonio Carlos Leal de Castro São Luís 2008 Araújo, Carla Maria Erre Fauna acompanhante do Sistema de Produção Pesqueira Pescada Amarela (Cynoscion acoupa, PISCES: SCIANIDAE, LACEPÉDE 1802) desembarcada na praia do Araçagy, área do litoral da Ilha do Maranhão, Brasil: subsídios para sua conservação/Carla Maria Erre Araújo. – São Luís, 2008. 85f. : il. Dissertação (Mestrado em Sustentabilidade de Ecossistemas) Universidade Federal do Maranhão, 2008. 1 – Cynoscion acoupa (Pescada amarela). 2 – Fauna acompanhante. 3 – Dasyatis guttata (Raia bicuda). Título. CDU: 597.56 CDU... CARLA MARIA ERRE ARAÚJO FAUNA ACOMPANHANTE DO SISTEMA DE PRODUÇÃO PESQUEIRA PESCADA AMARELA (CYNOSCION ACOUPA – PISCES: SCIANIDAE, LACEPÉDE 1802) DESEMBARCADA NA PRAIA DO ARAÇAGY, ÁREA DO LITORAL DA ILHA DO MARANHÃO, BRASIL: subsídios para sua conservação Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Sustentabilidade de Ecossistemas – PPGSE da Universidade Federal do Maranhão – UFMA, para obtenção do título de Mestre em Sustentabilidade de Ecossistemas. Aprovada em / / BANCA EXAMINADORA ___________________________________________________ Prof. Dr. Walter Luis Muedas Yauri (Orientador) ___________________________________________________ Prof. Dr. Claudio Urbano Bittencourt Pinheiro ___________________________________________________ Prof. Dr. Haroldo Gomes Barroso ___________________________________________________ Prof.ª Ph.D. Larissa Nascimento Barreto Aos pescadores da praia do Araçagy/Mangue Seco, que encantaram o trabalho de campo! AGRADECIMENTOS Ao Programa de Pós-Graduação em Sustentabilidade de Ecossistemas da Universidade Federal do Maranhão por viabilizar a realização da pesquisa. Ao Prof. Dr. Walter Muedas pela orientação, direcionamentos e sua alegre disposição que sanaram muitas angústias ao longo do trabalho. Ao Prof. Dr. Antonio Carlos Leal de Castro pela co-orientação e colaboração que aprimorou muito este trabalho. Ao prof. Dr. Claudio Urbano Bittencourt Pinheiro pelas contribuições e especialmente pela atuação como coordenador do Mestrado. Aos meus pais, Ribamar Araújo e Aparecida Erre, que sempre me apoiam e acreditam no meu sucesso. Amo vocês! A Rôney, Eneida, Virgínia e Ribamar Segundo, pelo simples e maravilhoso fato de serem meus irmãos. Aos meus sobrinhos Ana Beatriz, Luís Filipe e Alícia que suavizam minha caminhada por serem fonte de extremo carinho. À Zafira Almeida Querida, pelo apoio de sempre. Aos amigos Ângela Medeiros, Karla Bittencourt e Roberto Ramos pelas trocas e companhias inestimáveis. Obrigada principalmente pelos bons momentos de estudo e aprendizado para prova do Mestrado, por tudo que aprendi com vocês, pelo carinho e atenção constantes. Minha eterna gratidão! A todos os professores do Programa de Pós-Graduação em Sustentabilidade de Ecossistemas. Aos pescadores da praia do Araçagy/Mangue Seco, pela contribuição no registro de desembarques e principalmente por acreditarem na pesquisa, cito especialmente Miguel, Zé Ribeiro, Natal e Chico Borrozão. Primitivos Modernos! As pessoas costumam dizer que são abertas, intensas! Que enfrentam os desafios sem medo, seguem em frente, sempre! Alimentam dores do passado, Deixam as pessoas do presente de lado! Viajam no ‘túnel do tempo’, procurando uma razão para sua existência. Atravessam crises, superam os momentos de dificuldades. Será mesmo? Na correria diária tentam sufocar suas ‘paixões’. Mergulham de cabeça em busca da ‘caça’, seu sustento... Entregam-se nas mãos do trabalho, e acusam este de ser o vilão de suas vidas. Pois consome o tempo, a energia, a vitalidade, Alegando que este impede seus corações, por novas decisões. Observe: Primitivos Modernos! Assim como no passado, a busca incessante pela sobrevivência, A dificuldade de expressar o que sente, Uma mente poluída por dúvidas, medos, Alguns... Voltam o tempo, E se tornam primatas de si mesmos! Cada dia uma nova descoberta? Não! Cada dia uma nova fuga! Cada dia uma ilusão, A ilusão de fechar o próprio coração. Somos o que pensamos! ‘Restos’ do passado, Que juntam ‘uma figura’ no presente, Que constrói o futuro. Que o ‘primitivo’ de atitudes covardes e fugas insanas de si mesmo, Permaneçam no passado! Que o ‘moderno’ dos atos de coragem e o amor por sim mesmo, Estejam no presente! Para que o ‘equilíbrio’ e o bom senso pela própria vida, Possam ser a base do futuro! Gênice Suavi RESUMO O Sistema de Produção Pesqueira Pescada Amarela possui grande representatividade no Estado do Maranhão, é composto por embarcações de madeira com motor de até 18HP. O petrecho de pesca utilizado para as capturas, rede de emalhar malhadeira (malhão ou pescadeira), é confeccionado com fio de seda nº 33, 36 e 46 (sedão) ou grilon nº 100 (nylon). É uma pesca realizada em todo o litoral, tem como recurso alvo a Cynoscion acoupa (pescada amarela), mas nesta pescaria há ocorrência de outras espécies acessórias denominadas fauna acompanhante. A necessidade de estudo da fauna acompanhante da “pescada amarela” surgiu da preocupação da intensa exploração que sofre a pescada. As capturas acontecem durante todo o ano, e as várias espécies que compõe a pescaria, de forma não-intencional, nem sempre atingem comercialização. Nesta pesquisa, representaram 30,61% das capturas. Este trabalho foi desenvolvido na localidade de Mangue Seco, praia do Araçagy, Ilha do Maranhão (MABrasil), onde a modalidade de pesca predominante é da “pescada amarela”. Foram registrados desembarques efetuados ao longo do período de janeiro a setembro de 2008 a fim de se verificar a participação, comercialização e produção das diferentes espécies na pescaria. O teste para analisar a ocorrência das espécies da fauna acompanhante com o recurso alvo nas capturas foi o Qui-quadrado. As espécies de maior participação nos desembarques e, portanto consideradas como potenciais componentes da fauna acompanhante neste trabalho foram: Dasyastis guttata (arraia bicuda); Caranx latus (xaréu); Cynoscion microlepidotus (corvina uçu); Aetobatus narinari (arraia pintada); Hexanematichthys parkerii (gurijuba); Hexanematichthys proops (uritinga) e Centropumus undecimalis (camurim preto). Foi observado que a principal espécie acompanhante da pescada é a “arraia bicuda” (Dasyatis guttata) e esta espécie sofre uma alteração em sua abundância nas pescarias de acordo com a estação seca ou chuvosa. Não é um recurso apreciado no comércio, tendo mais um valor social perante a comunidade local. Outros dados da pesquisa analisados foram: pesca, nº de indivíduos capturados, composição e biodiversidade da fauna acompanhante, categoria bioecológica das espécies, freqüência de ocorrência das espécies nas capturas, índices biométricos e estratégias de ciclo de vida de algumas espécies, esforço de pesca e cadeia de comercialização de espécies envolvidas nesta pescaria. Palavras-chave: Cynoscion acoupa (pescada amarela). Fauna acompanhante. Dasyatis gutatta (arraia bicuda). Conservação. ABSTRACT The handmade fishing of the Cynoscion acoupa it is a practice accomplished in the whole coast of the State of Maranhão. The need of study of the “by catch” of the "fished" it appeared of the concern of the intense exploration of the "fished" and of the several species that make the composition of that fishing as “by catch”. The work was developed at the beach of Araçagi, Island of Maranhão (MA-Brazil) with the purpose of obtaining knowledge on the fauna accompanying of this resource so explored. They were registered and analyzed the production data along the period of January to September of 2008, effort of fishing and different species that were part of the composition of the Fish Production System, this system is compounded of wooden boats with until 18Hp motors, its fishing method is the standard gill netting and its target species is the Acoupa weakfish (Cynoscion acoupa). The disembarkations were registered made along the period in order to verify the participation, commercialization and production of the different species in the fishery. The methodological procedures to evaluate the interdependence, in the occurrence factor in the fishery, of the accompanying species with the white resource were the Qui-square. The species of larger participation in the disembarkations and, therefore considered as potentials components of the accompanying fauna in this work they were: Dasyastis guttata (it stripes beaked); Caranx latus (xaréu); Cynoscion microlepidotus (corvina uçu); Aetobatus narinari (painted ray); Hexanematichthys parkerii (gurijuba); Hexanematichthys proops (uritinga) and Centropumus undecimalis (black camurim). it was observed that to main species accompanying of the fished it is the " beaked " line (Dasyatis guttata) and this species suffers an alteration in your abundance in the fisheries in agreement with the station it evaporates or rainy. It is not a resource appreciated in the trade, tends one more social value before the local community. Keywords: Cynoscion acoupa. By catch. Dasyatis gutatta.Conservation. LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Classificação das espécies capturadas na pescaria da Cynoscion acoupa (pescada amarela) na praia do Araçagy/Mangue Seco, Ilha do Maranhão, durante o período de janeiro a setembro de 2008 .................... 36 Tabela 2 – Frequência de ocorrência absoluta dos desembarques para cada espécie nos diferentes meses de pesquisa ............................................................ Tabela 3 – 38 Representação de categorias bioecológicas das espécies do Sistema de Produção Pesqueira Pescada Amarela desembarcadas na praia do Araçagy/Mangue seco, Ilha do Maranhão-Brasil .................................... Tabela 4 – 41 Valores do grau de associação (probabilidade p) entre a espécie alvo e a Cynoscion acoupa e as espécies que compuseram sua fauna acompanhante, em termos de composição de pescaria no Sistema durante o período de janeiro a setembro de 2008 .................................... Tabela 5 – 43 Espécies que apresentaram as maiores frequências de ocorrência na pescaria do SPPPA na praia do Araçagy/Mangue Seco, Ilha do Maranhão, Brasil, no período de janeiro a setembro de 2008 ................. Tabela 6 – 46 Dados de produção, números de desembarques, dias de pesca por mês, e captura por desembarques do recurso e das espécies mais representativas da fauna acompanhante, na praia do Araçagy/Mangue Seco, Ilha do Maranhão, durante o período de janeiro a setembro de 2008 .................... 48 Tabela 7 – Índices biométricos das espécies de peixes estuarinos do Sistema de Produção Pesqueira “pescada amarela” (Cynoscion acoupa) desembarcados na praia do Araçagy/Mangue Seco, Ilha do MaranhãoBrasil no período de janeiro a setembro de 2008 ..................................... Tabela 8 – Características distintas quanto às táticas que compõem o ciclo de vida das espécies r e K .................................................................................... Tabela 9 – 50 59 Preço médio de primeira comercialização das espécies do Sistema de Produção Pesqueira Pescada Amarela capturadas na praia do Araçagy/Mangue Seco ............................................................................ 64 LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Mapa da localização geográfica da praia do Araçagy/Mangue Seco, Ilha do Maranhão, Brasil .............................................................. 25 Figura 2 – Alguns pontos da área de pesca, onde ocorre captura da Cynoscion acoupa (pescada amarela) e da fauna acompanhante do Sistema de Produção Pesqueira Pescada Amarela no litoral maranhense ...................... 27 Figura 3 – A Arte de pesca, malhadeira, utilizada pelos pescadores da praia do Araçagy/Mangue Seco ................................................................................. 32 Figura 4 – Malhadeira, com destaque para a abertura de malha, tamanho nó a nó ....... 33 Figura 5 – Modelo da rede de emalhar “malhadeira”, disposição da rede no ambiente de pesca, é utilizada por pescadores da praia do Araçagy/Mangue Seco do Sistema de Produção Pesqueira Pescada Amarela ....................................... 33 Figura 6 – Pescada-amarela – Cynoscion ocoupa ......................................................... 35 Figura 7 – Arraia bicuda – Dasyatis guttata................................................................... 44 Figura 8 – Xaréu – Caranx latus.................................................................................... 44 Figura 9 – Gurijuba – Hexanematichthys parkerii ........................................................ 45 Figura 10 – Uritinga – Hexanematichthys proops ........................................................... 45 Figura 11 – Camurim preto – Centropomus undecimalis ................................................ 45 Figura 12 – Arraia pintada ............................................................................................ 56 Figura 13 – Venda direta de peixes ao consumidor (comercialização da “pescada”) ..... 61 Figura 14 – Esquema ilustrativo da cadeia de comercialização da pescada amarela na praia do Araçagy/Mangue Seco, São Luís MA ............................................ 62 Figura 15 – Esquema ilustrativo dos rendimentos econômicos da “pescada amarela” (Cynoscion acoupa) ...................................................................................... 63 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Produção do malhão no Estado, Cedral e Raposa ...................................... 34 Gráfico 2 – Cenário da quantidade de peixes capturados e “proporção” visual das capturas entre o recurso alvo da pescaria, a espécie mais abundante da fauna acompanhante (arraia bicuda) e as outras espécies envolvidas na pescaria no período de janeiro a setembro de 2008 ................................... 40 Gráfico 3 – Ocorrência das espécies envolvidas na pescaria da pescada amarela no período de janeiro a setembro de 2008. A altura das colunas é proporcional ao número de participação das espécies por mês nos desembarques ............................................................................................. 41 Gráfico 4 – Captura por unidade de esforço de pesca (CPUE), da “pescada amarela”, da “bicuda” e “outros peixes” da fauna acompanhante do sistema “pescada amarela” (Cynoscion acoupa), durante o período janeiro a setembro de 2008, no pesqueiro de “mangue seco” na praia do Araçagy, Ilha de São Luís-MA ............................................................................. Gráfico 5 – Correlação do esforço de pesca da Cynoscion acoupa e Dasyatis guttata 49 49 Gráfico 6 – Comparação da ocorrência de Dasyatis guttata e outras espécies da fauna acompanhante com o índice pluviométrico do período de janeiro a setembro de 2008........................................................................................ 53 Gráfico 7 – Correlação da Cynoscion acoupa “pescada amarela” e Dasyatis gutatta “bicuda” capturadas com “malhadeira” na praia do Araçagy/Mangue Seco, Ilha do Maranhão-Brasil no período de janeiro a setembro de 2008 54 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 13 2 OBJETIVOS ....................................................................................................... 17 2.1 Geral .................................................................................................................... 17 2.2 Específicos ........................................................................................................... 17 3 REVISÃO DE LITERATURA ......................................................................... 18 3.1 Os cenários da pesca e sua evolução ................................................................. 18 3.2 Atividade pesqueira e a fauna acompanhante ................................................. 19 3.3 Os recursos que compõem uma pescaria: ocorrência, categorias bioecológicas e estratégias reprodutivas ........................................................... 21 3.4 A conservação dos recursos naturais ................................................................ 24 4 METODOLOGIA ............................................................................................... 25 4.1 Área de estudo ..................................................................................................... 25 4.2 Coleta e análise dos dados .................................................................................. 27 4.2.1 Caracterização da pesca do sistema de produção pesqueiro Pescada Amarela .... 27 4.2.2 Composição da pesca do SPPPA e sua biodiversidade ........................................ 28 4.2.2.1 Análises estatísticas para aferir a fauna acompanhante da Cynoscion acoupa (pescada amarela) na praia do Araçagy/Mangue Seco - grau de dependência e associação de ocorrência nas pescarias do SPPPA ............................................... 28 4.2.4 Frequência de ocorrência das espécies no ambiente ............................................. 30 4.2.5 CPUE (Captura por Unidade de Esforço), maturidade sexual e características das espécies que demonstraram maior grau de associação com o recurso alvo do SPPPA ............................................................................................................. 30 4.2.6 Estratégias reprodutivas das espécies envolvidas no SPPPA ............................... 31 4.2.7 Cadeia de comercialização do SPPPA ................................................................. 31 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ....................................................................... 32 5.1 Caracterização da pesca .................................................................................... 32 5.2 O recurso alvo (Cynoscion acoupa – pescada amarela) .................................. 34 5.3 Composição e biodiversidade de espécies na fauna acompanhante do Sistema Pesqueiro Pescada Amarela ................................................................ 37 5.4 Análises estatísticas - Fauna acompanhante da Cynoscion acoupa (pescada amarela) - espécies da fauna acompanhante da pescada amarela e grau de dependência e associação de ocorrência nas pescarias do SPPPA ................. 42 5.5 Frequência de ocorrências das espécies no ambiente ...................................... 47 5.6 CPUE (Captura por Unidade de Esforço), maturidades sexual e características e particularidades observadas com as espécies que demonstraram maior relação de dependência e associação de ocorrência com o recurso alvo (Cynoscion acoupa, “pescada”) do Sistema ..................... 47 5.7 Cadeia de comercialização ................................................................................. 60 6 CONCLUSÃO ..................................................................................................... 65 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 67 APÊNDICES ..................................................................................................... 71 13 1 INTRODUÇÃO A pesca desde os primórdios da civilização vem atuando como elemento fundamental para a humanidade. É uma das atividades de maior fonte de proteína e subsistência humana gerando estreita relação e constante interdependência. A Revolução Industrial, porém, provocou grandes mudanças nesta relação, e originou várias modificações tecnológicas na exploração dos recursos, acarretando grande impacto nos processos produtivos. A ampliação do mercado consumidor influenciou o desenvolvimento do comércio e passou a determinar o ritmo de produção. Este progresso econômico-tecnológico e social na pesca constituiu um importante marco. As formas rústicas de extração pesqueira onde os seres humanos retiravam da natureza pequenas quantidades, sem gerar grandes danos ambientais foram substituídas por grandes transformações tecnológicas, rápida construção de navios e portos pesqueiros com grande infraestrutura de processamento. O conhecimento tradicional e o extrativismo de subsistência foram sendo aprimorados para atingir grande produção. O nível de avanço tecnológico e as exigências do crescimento demográfico mudaram então por completo esta relação do homem com a natureza. Em prol de uma demanda que crescia constantemente foram surgindo evoluções cada vez mais importantes que influenciaram mais ainda no contexto da pesca: implantação da máquina a carvão e diesel nas embarcações pesqueiras, utilização de redes de arrasto, portos como centro de distribuição do pescado, facilidade de produzir gelo, capacitando assim o armazenamento dos estoques e estimulando a ida do barco para mais longe da costa. O volume das produções aumentava sempre mais para atender esta demanda. O saber-fazer, baseado no conhecimento tradicional sobre a dinâmica dos oceanos e no ciclo de vida dos recursos pesqueiros, suficiente para produzir uma quantidade de pescado necessária à subsistência das comunidades produtoras e até mesmo sua inserção nos mercados locais, vem sendo substituído pelo saber-usar instrumentos tecnológicos, pelo saber-ler gráficos, pelo saber interpretar informações, saberes requeridos pela necessidade de produção em larga escala. Explicitava-se, assim, a completa separação entre os seres humanos e os recursos pesqueiros (natureza) que, há muito, marcava outros setores da vida humana. A natureza de provedora de subsistência passa a ser "produtora" de bens de consumo de origem marinha (MARRUL FILHO, 2001, p.8). Este processo, iniciado com a Revolução Industrial, suscitou condições para o desenvolvimento do modo de produção capitalista na atividade pesqueira. O homem desenvolveu uma racionalidade cartesiana e capitalista em relação aos recursos pesqueiros. 14 Atualmente o sonho de todo pescador artesanal é ter um motor para aumentar cada vez mais o seu poder de pesca, mesmo percebendo a crise em que se encontram os recursos, pois a diminuição no estoque dos recursos pesqueiros e no tamanho dos indivíduos capturados são fatos ressaltados pelos pescadores como comprovantes desta crise. O excesso de capacidade de pesca, além de ser a face mais visível da crise, é a mais ameaçadora da viabilidade da explotação dos recursos pesqueiros. Atualmente, o setor pesqueiro industrial-capitalista não conta com nenhum instrumento especial para financiamento de seu desenvolvimento, tendo de buscar em suas próprias estruturas - no todo inalteradas - o capital necessário à sua reprodução, com o agravante de estarem a maioria dos estoques sobreexplotados (MARRUL FILHO, 2001, p.26). Para Dias Neto (2002, p.7): No Brasil esta situação confirma-se pelo nível de sobrepesca em que se encontra a grande maioria dos recursos pesqueiros. Estudos afirmam que na crise da pesca mundial, cerca de 75% dos principais recursos encontram-se plenamente explotados ou sob excesso de explotação, ou até esgotados, ou se recuperando de tal nível de utilização. No caso da pesca brasileira, os principais recursos nessas condições ficam acima de 80% (DIAS NETO, 2002, p.7). No Maranhão, a pesca é caracterizada como artesanal e tem finalidade comercial. Esta pesca artesanal utiliza embarcações de pequeno e médio porte, com propulsão motorizada ou não; também não existe nenhuma sofisticação nos petrechos e insumos utilizados, tudo adquirido em comércio local. É uma das atividades econômicas mais importantes para o sustento das comunidades litorâneas. O esforço de pesca concentra-se em estuários, baías e em águas costeiras pouco profundas. A pescaria industrial acontece, mas em menor escala. A publicação intitulada “A pesca marinha e estuarina do Brasil no início do século XXI: recursos, tecnologias, aspectos socioeconômicos e institucionais”, reúne artigos produzidos por mais de 50 pesquisadores sobre a pesca no Brasil, dentre estes, Almeida et al. (2006), que com o objetivo de entender e gerar informações sobre a pesca realizada no litoral maranhense, e fazer o levantamento do estado das artes de pesca desenvolveram o trabalho Diagnóstico da Pesca Artesanal no Litoral do Estado do Maranhão. A partir dos conhecimentos obtidos, as modalidades de pesca observadas no litoral maranhense foram classificadas considerando as características tecnológicas de cada modalidade, os aspectos sociais, econômicos e ambientais. Através de um processo de subdivisão sucessiva do conjunto de características diagnosticas da pesca – frota, prática ou arte de pesca, recurso vivo explorado, ambiente alvo da exploração, residência do pescador, relação de trabalho do pescador, renda média do pescador e grau de isolamento da comunidade ou localidade – e dentro de cinco dimensões – ecológica, econômica, social, 15 tecnológica e de manejo – foram definidos os Sistemas Pesqueiros do Estado. Nesse cenário, aborda-se aqui o Sistema de Produção Pesqueira Embarcações de Médio Porte Malhão – combinação complexa e coerente de dinâmicas sociais, econômicas, tecnológicas e ambientais com vistas ao extrativismo pesqueiro no Maranhão. Os Sistemas de Produção Pesqueira devem apresentar dimensão tal que medidas de gestão possam ser neles aplicadas e são unidades homogêneas, no que diz respeito a características do meio aquático, relações de trabalho, organização social, comercialização, produção e qualidade de vida. A diferenciação em um dos critérios é suficiente para a distinção de um sistema. O Sistema de Produção Pesqueira Embarcação de Médio Porte Malhão possui grande representatividade no Estado do Maranhão, devido ao grande número de pescadores que utilizam o malhão como petrecho. A espécie alvo do Sistema é a “pescada amarela” (Cynoscion acoupa; Lacépède, 1801), muito embora nesta pescaria há ocorrência de outras espécies caracterizadas como fauna acompanhante. Por mais que o esforço pesqueiro seja dirigido a uma espécie-alvo (ou grupo de espécies), sempre haverá a captura de outras espécies (SLAVIN, 1983). A essas espécies acessórias, Alverson et al. (1994) denominam “by-catch” (fauna acompanhante). Quando parte desse by-catch é devolvido ao mar, por falta de interesse econômico e/ou tecnológico (SAILA, 1983; ALVERSON et al., 1994; CLUCAS, 1998), denomina-se de rejeição ou descarte. A pesca da “pescada-amarela” (Cynoscion acoupa) tem grande importância econômica no litoral maranhense. Centenas de barcos trabalham continuamente na costa, sendo também responsáveis pela captura não-intencional de algumas espécies nem sempre sem valor comercial (fauna acompanhante) e que podem atuar como recurso alvo em outras pescarias. Para conhecer a composição e a quantidade das capturas, além da sustentabilidade da exploração desses estoques atingidos na pesca, faz-se necessário uma investigação. A captura de fauna acompanhante pode afetar a estrutura e função de sistemas marinhos ao nível de populações, comunidades e ecossistemas, podendo ser considerada ameaça ambiental. Pois é fato que, há na natureza um equilíbrio dinâmico entre os organismos vivos e o ambiente em que vivem, compartimentos estes que, formam o ecossistema, com suas trocas e influências entre organismos e entre eles e o meio. Neste âmbito de incerteza é importante que esta pescaria se desenvolva de forma sustentável, mas o gerenciamento desta sustentabilidade nem sempre é tarefa fácil, pois a reposição dos estoques pesqueiros está sujeita a muitos fatores, não só a ações extrativistas, 16 mas há centenas de variáveis de origem biológica e natural, nem sempre previsíveis ou possíveis de serem controladas pelo homem sugerindo assim algumas hipóteses: 1) espécies capturadas como fauna acompanhante da pescada-amarela estariam sendo impedidas de realizar o seu recrutamento, o que poderia comprometer a renovação dos estoques pesqueiros futuros; 2) espécies integrantes da fauna acompanhante da pescada amarela representam uma quantidade de biomassa que ultrapassa o volume de captura da espécie alvo; 3) a considerável importância da fauna acompanhante para a dinâmica econômica da pescaria da pescada amarela tende a dificultar a busca por soluções que visem evitar sua captura, considerada um problema à preservação do equilíbrio ambiental e à estabilidade dos estoques sob explotação. Considerando todo o exposto, este trabalho pretende gerar subsídios – sob o ponto de vista ecológico e socioeconômico – para a conservação das espécies da fauna acompanhante, bem como para a própria pescaria no Sistema de Produção Pesqueiro Pescada Amarela. 17 2 OBJETIVOS 2.1 Geral Investigar a fauna acompanhante do Sistema de Produção Pesqueiro Pescada Amarela desembarcada na praia do Araçagy/Mangue Seco para ampliar conhecimentos sobre sua composição e gerar informações sobre sua sustentabilidade, bem como propor subsídios para sua conservação. 2.2 Específicos Estimar índices de abundância/espécie/captura da fauna acompanhante e do recurso alvo (pescada amarela); Determinar a frequência de ocorrência dos indivíduos por espécie; Caracterizar o uso da fauna acompanhante como recurso; Analisar a captura do recurso alvo sobre a fauna acompanhante (comparar os índices de captura); Realizar levantamento contemplando os aspectos comerciais da fauna acompanhante e sua participação como fonte de renda na realidade do pescador. 18 3 REVISÃO DE LITERATURA 3.1 Os cenários da pesca e sua evolução As sociedades humanas primitivas obtinham seus alimentos diretamente da natureza e a pesca sempre fez parte da atividade do homem desde os primórdios da civilização. Até hoje, boa parte da população de peixes existentes nos mares suprem as necessidades protéicas dos seres vivos que dependem desse recurso para sua dieta alimentar. Os oceanos sempre constituíram uma propriedade de uso comum, aberta a todos, seja para subsistência ou comercialização, entretanto há décadas a pesca está sofrendo a necessidade de gerenciamento, pois a grande maioria das atividades pesqueiras encontra-se em estado estacionário com os recursos escassos. A eficiência da exploração juntamente com a capacidade dos recursos em resistir à exploração decaíram drasticamente. Sempre que uma população natural é explorada, existe um risco de sobreexploração: os indivíduos são removidos em demasia e a população é levada ao perigo biológico ou insignificância econômica – talvez mesmo à extinção. As capturas globais de peixes marinhos cresceram cinco vezes entre 1950 e 1989. No entanto, muitos dos estoques de peixes do mundo estão hoje no ponto de sobreexploração ou próximo dele. Os exploradores, por outro lado, querem evitar a subexploração: se menos indivíduos são removidos do que a população pode comportar, a produção colhida é menor do que o necessário, potenciais consumidores são privados e aqueles que exercem a exploração ficam subempregados. Não é fácil percorrer o estreito caminho entre sub e sobreexploração. Espera-se de uma política de governo que combine o bem-estar da espécie explorada, o lucro da empresa exploradora e a continuidade de emprego para a força de trabalho, bem como os estilos de vida tradicionais, os costumes sociais e a biodiversidade natural (TOWNSEND; BEGON; HARPER, 2006, p.452). Os peixes são parte integrante do conceito de alimentação saudável em todas as partes do mundo e servem também como fonte de renda e geração de empregos. A produção desempenha papel muito importante na socieconomia brasileira. Dias Neto e Dornelles (1996 apud DIAS NETO, 2002, p.6) evidenciaram que: a pesca nacional está colocada entre as quatro maiores fontes de fornecimento de proteína animal para o consumo humano. A produção oriunda do mar contribuiu, no período de 1975 a 1994, com um mínimo de 67,7% e um máximo de 85,2% da produção total de pescado do Brasil. Por sua vez, as últimas estimativas apontam que o setor contribui para a geração de 800 mil empregos diretos e é composto por um parque industrial que integra mais de 300 empresas. Esses dois indicadores associados à infra-estrutura de apoio à pequena produção, à comercialização e à distribuição do pescado formam um conjunto de indicadores socioeconômicos da pesca marítima nacional que não é tão expressivo quando comparado com o mesmo conjunto de indicadores da economia nacional no seu todo. 19 Quanto à crítica situação dos estoques, estudos afirmam que se na crise da pesca mundial cerca de 75% dos principais recursos encontram-se plenamente explotados ou sob excesso de explotação ou até esgotados ou se recuperando de tal nível de utilização, no caso da pesca brasileira os principais recursos nessas condições ficam acima dos 80%. Apesar de fornecer todo esse suporte, o não gerenciamento da pesca reflete negativamente na vida dos pescadores e não forma bons indicadores socioeconômicos. Essa atividade como geradora de emprego, renda e alimentos não melhora as condições de brasileiros que vivem no litoral e áreas ribeirinhas. Muitos têm uma vida sofrida e não conseguem estudar, além de estarem sujeitos às condições e particularidades da pescaria, sem dia ou hora para prática do trabalho. A pesca fornece o alimento, atua como única fonte de renda e oportunidade nas comunidades litorâneas, não exige mão de obra qualificada, conta somente com o conhecimento empírico dos pescadores que abraçam talvez a única oportunidade de obter renda e sustento de suas famílias. Em meio às contradições que a evolução da pesca gerou muitos pesquisadores buscam estudar e entender as conseqüências das diferentes estratégias de exploração, sabendo que não é possível a preservação integral devido às dinâmicas da vida econômica e do desenvolvimento, porém chegar a resultados que propiciem um equilíbrio nestas dimensões. 3.2 Atividade pesqueira e a fauna acompanhante As intensas pescarias desenvolvidas nos vários litorais do mundo constituem hoje fator de ameaça também a diferentes populações de peixes que compõem espécies acessórias nas pescarias. O problema da conservação se concentra em diversos tipos de pescarias, pois embora se organizem tecnicamente de forma a capturar determinado recurso, sempre atingem as outras espécies que residem no meio, e a fauna acompanhante representa estas espécies capturadas de forma não intencional em uma pescaria. As artes de pesca são ajustadas ao tamanho corporal e ao comportamento de determinadas espécies-alvo nas pescarias e também ao tipo de hábitat onde essas espécies vivem, porém perdem seu caráter seletivo no momento em que as artes varrem os ambientes e capturam indiscriminadamente. Nos ecossistemas marinhos habitam seres e organismos de natureza muito 20 diversificada, as espécies interagem de modo complexo como parte de comunidades naturais, com funções ecológicas fundamentais e às vezes únicas que este processo de captura ignora. Como conseqüência, tanto o ambiente como os seres que dele fazem parte sofrem, a perda de uma espécie pode ter conseqüências de longo alcance para outras espécies nas comunidades. Dependendo da função que a espécie desempenhe no ambiente o que acontecer com uma espécie pode desestabilizar outras comunidades. As pescarias buscam atingir determinadas espécies através do conhecimento, distribuição espacial-temporal e também comportamento de migrações sazonais destas espécies, mas quando operadas no ambiente incidem sobre “tudo” que lá existe, capturando indivíduos que não se enquadram nas categorias que constituem os alvos das pescarias. As capturas de albatrozes, de tartarugas marinhas e de tubarões na pescaria oceânica de atuns e espardartes com o espinhel pelágico são exemplos bem conhecidos da captura incidental. A captura incidental pode ser descartada no mar ou aproveitada, dependendo do valor econômico dessa captura em relação com a disponibilidade de espaço de armazenamento a bordo do barco de pesca. No caso de uma espécie comum e vulnerável à arte de pesca utilizada, a captura incidental da espécie pode ser um fenômeno habitual na pescaria em questão. No sul do Brasil, exemplos de pescarias com a captura incidental e habitual de elasmobrânquios são a captura de cações-anjo na pescaria do peixe-sapo Lophius gastrophysis com redes de emalhe na plataforma externa, e a captura de neonatos do tubarão-martelo-entalhado Sphyrba lewini na pescaria da corvina Micropogonias furnieri com redes de emalhe de fundo nas águas litorâneas (HAZIN; HAZIN, 2001 apud VOOREN; KLIPPEL, 2005 p.217). Estas pescarias direcionadas podem ter, e a maioria tem, um caráter misto e oportunista, em relação a outras espécies do ambiente, e isto significa lucro para o pescador, mas também gera grandes prejuízos ecológicos para os diversos indivíduos que habitam o ecossistema. Na gestão pesqueira para a conservação de elasmobrânquios, a pescaria mista e a pescaria com captura incidental constituem em conjunto o problema único das pescarias que capturam elasmobrânquios junto com outros peixes que são o alvo principal da pescaria. Porém, esses dois tipos de pescaria diferem com relação às ações necessárias para a conservação da biodiversidade. O impacto das pescarias direcionadas a certas espécies de peixes ou invertebrados e que capturam elasmobrânquios incidentalmente, permanece restrito a uma certa parcela da fauna regional, enquanto o impacto das pescarias mistas incide sobre a fauna regional de peixes como um todo. Este impacto das pescarias mistas de se deve ao uso do arrasto de fundo nessas pescarias (VOOREN; KLIPPEL, 2005 p.218). A captura de fauna acompanhante é sensivelmente observada nos vários tipos de pescarias e todas ressaltam os prejuízos que estas espécies acessórias sofrem. Em qualquer processo o desequilíbrio que leva à falta ou excesso de um componente do ecossistema normalmente desestabiliza as possibilidades desse ecossistema se restaurar ou se auto manter, pois os processos biológicos responsáveis por sua produtividade são afetados. 21 A frota camaroeira do Estado de São Paulo atua sobre áreas de elevada diversidade faunística, atingindo os estratos juvenil e adulto de peixes, crustáceos e moluscos, o que exige que tal atividade seja, no mínimo, alvo de atenção redobrada quanto à sua capacidade de desestabilizar os ecossistemas das áreas de pesca, submetidos permanentemente a uma pressão de captura (LOPES et al., 2002, p.137). Para Hall (1999, p.47): Uma das preocupações da FAO, atestada no seu Código de conduta para a Pesca Responsável (FAO, 1994), prende-se ao enorme desperdício de proteína constituinte da fauna acompanhante rejeitada. As estimativas mundiais indicam que a rejeição de fauna acompanhante é, no mínimo, cerca de cinco vezes a produção de camarão (CLUCAS, 1998), sendo, na atualidade, um dos maiores problemas no uso de recursos do mar. 3.3 Os recursos que compõem uma pescaria: ocorrência, categorias bioecológicas e estratégias reprodutivas Os indivíduos desenvolvem varias estratégias de adaptação para sua sobrevivência ao meio. Utilizam os ambientes de diferentes formas para reprodução, alimentação, crescimento, e em diferentes fases da vida. Buscando representar particularidades inerentes a algumas espécies da pescada amarela e à forma como vivem e exploram o ambiente marinho e suas circunstâncias destacam-se aqui categorias bioecológicas e estratégias reprodutivas utilizadas por algumas espécies marinhas, contemplando ainda espécies participantes da fauna acompanhante da pescada amarela. Com base no comportamento das espécies relacionado ao padrão de distribuição espacial, ciclo reprodutivo e migração, são sugeridos para os peixes estuarinos da Ilha do Maranhão (Brasil) quatro categorias bioecológicas, seguindo uma classificação semelhante adotada por Potter et al. (1997) para peixes estuarinos. 1) Espécies migrantes-marinhas – são as espécies que ocorrem ocasionalmente na região estuarina, apresentando baixa regularidade ao longo do ano e pouca abundância. São constituídas pelas seguintes espécies: Tallassophyrne nattereri (niquim), Ogcocephalus vespertilio (bacacuá), Scomberomorus regalis (serra), Alutera monoceros (cangulo), Chilomycterus antillarum (baiacu de espinho), Rhinoptera bonasus (arraia jaborana), Aspredinichthys tibicen (viola), Aspredo aspredo (viola), Hexanematichthys proops (uritinga), Arius quadriscutis (cangatã), Chloroscombrus chrysurus (favinha), Arius couma (bagre catinga), Notarius grandicassis (cambéu), Trinectes aff pauslistanus (solha verdadeira), Dasyatis guttata (arraia bicuda), Dasyatis geijskesi (arraia morcego), Guavina guavina (muré), Opisthonema oglinum (sardinha peu), Cetengraulis edentulus (sardinha verdadeira), Lycengraulis grossidens (sardinha manjuba), Synodus foetens (jacaré), Symphurus plagusia (linguado), Strongylura marina (peixe agulha), Strongylura timucu (peixe agulha), 22 Diplectrum radiale (papa terra), Sphoeroides greeleyi (baiacu areia), Rypticus randalli (peixe sabão), Hemicaranx amblyrhynchus (xixarro), Trachinotus falcatus (pampo), Lobotes surinamensis (croaçu), Eucinostomus melanopterus (escrivão), Eugerres brasilianus (carapitanga), Orthopristis ruber (cororoca), Polydactilus oligodon (barbudo), Polydactilus virginicus (barbudo), Peprilus paru (canguro), Paralichthys sp (linguado), Trichiurus lepturus (guaravira), Etropus crossotus (solha), Lagocephalus laevigatus (baiacu guará), Pomadasys corvinaeformis (jiquiri branco), Archosargus probatocephalus (sargo). 2) Espécies estuarino oportunistas – são aquelas espécies tipicamente marinhas que entram nos estuários onde completam apenas uma etapa do ciclo de vida, utilizando este como área de alimentação ou de reprodução. São representadas pelas seguintes espécies: Genyatremus luteus (peixe pedra), Macrodon ancylodon (corvina gó), Mugil curema (tainha sajuba), Mugil incilis (tainha urixoca), Achirus achirus (solha verdadeira), Elops saurus (urubarana), Tarpon atlanticus (perapema), Centropomus parallelus (camurim branco), Centropomus undecimalis (camurim preto), Epinephelus itajara (mero), Caranx hippos (xaréu), Caranx latus (xareu), Caranx sp, Oligoplites palometa (tibiro amarelo), Oligoplites saurus (tibiro branco), Selene vomer (peixe galo), Lutjanus jocu (carapitanga), Diapterus olisthostomus (peixe prata), Diapterus rhombeus (peixe prata), Diapterus sp (peixe prata), Eucinostomus argenteus (escrivão), Eucinostomus gula (escrivão), Eucinostomus sp (escrivão), Cynoscion acoupa (pescada amarela), Micropogonias furnieri (cururuca), Chaetodipterus faber (paru), Citharichthys spilopteus (solha urumaçara), Cynoscion leiarchus (curvitinga), Cynoscion microlepidotus (corvina uçu), Cynoscion steindachneri (jurapara), Isopisthus parvipinnis (curvitinga), Menticirrhus americanus (boca de rato), Stellifer brasiliensis (cabeçudo), Stellifer rastrifer (cabeçudo vermelho), Stellifer naso (cabeçudo preto), Stellifer stellifer (cabeçudo vermelho), Mugil trichodon (tricodon), Bagre bagre (bandeirado), Anchoa spinifer (sardinha vermelha), Anchovia clupeoides (sardinha guelelê), Pterengraulis atherinoides (sardinha de gato). 3) Estuarino-residentes – são as espécies que efetuam todo o ciclo de vida nos estuários utilizando a região estuarina como área de alimentação, reprodução e crescimento. São representadas pelas seguintes espécies: Cathorops spixii (bagrinho), Cathorops sp (uriacica), Anableps anableps (tralhoto), Bairdiella ronchus (cororoca), Mugil gaimardianus (tainha pitiu), Arius herzbergii (bagre guribu), Arius rugispinnis (jurupiranga), Pseudauchenipterus nodosus (papista), Batrachoides surinamensis (pacamao), Colomesus psittacus (baiacu açu) e Sphoeroides testudineus (baiacu pininga). 4) Espécies de água doce – são aquelas que se mantém na maior parte do ano próximas às desembocaduras dos rios, mas que ocasionalmente são capturadas em locais com alta salinidade. São representadas pelas seguintes espécies: Pellona flavipinnis (sardinha dourada), rhinosardinia amazonica (sardinha de serra), Serrasalmus nattereri (piranha caju), Agneiosus sp (mandubé), Hypostomus aff verres (acari bodó), Callichthys callichthys (cascudo) (MARTINS-JURAS, 1989, p.22). Com relação à reprodução, os organismos desenvolvem estratégias de vida, e o conhecimento dessas estratégias é muito importante para entender como as perturbações do meio podem interferir no equilíbrio da população. De acordo com a estratégia do organismo, k ou r, ele apresentará características que o torna mais vulnerável à pesca, como: crescimento lento, maturidade sexual tardia, tempo de vida e gestacional longo, baixa fecundidade. Tais características podem implicar na extinção, pois nascem poucos filhotes por gestação e com um amadurecimento lento podem ser capturados antes de terem deixado descendentes. 23 Assim, tais estratégias demonstram que os organismos respondem de forma bastante diferenciadas às pressões de explotação. Segundo a teoria da dinâmica populacional como fator de seleção natural dos animais, existem dois tipos de estratégia de vida: a estratégia-r e a estratégia-K. A estratégia-r é aquela das espécies com a capacidade de rápido crescimento populacional. Quando um fator ambiental reduz a abundância da população de uma espécie restrategista, a população mobiliza imediatamente sua elevada capacidade de crescimento e com isto, repõe rapidamente a perda populacional que ocorreu. Correlatos típicos da estratégia-r são: pequeno tamanho corporal, alta taxa de mortalidade natural e, portanto curta duração de vida, maturidade sexual cedo na vida, e alta fecundidade da fêmea reprodutora. A estratégia-K é aquela das espécies cuja taxa de crescimento populacional é baixa em qualquer nível da abundância da população, sem a capacidade de uma forte e rápida resposta a variações da abundância da população. Quando um fator ambiental reduz a abundância da população de uma espécie K-estrategista, a população precisa de um longo tempo para voltar a sua abundância anterior, porque ela não possui a capacidade para repor rapidamente a perda populacional que ocorreu. Se aquele fator continuar atuando, a população continua declinando até a extinção. Correlatos típicos da estratégia-K são: grande tamanho corporal, baixa taxa de mortalidade natural e, portanto elevada longevidade, maturidade sexual tarde na vida, e baixa fecundidade da fêmea reprodutora. Na evolução das espécies, a seleção natural favorece uma ou outra dessas duas estratégias de vida, dependendo das características gerais do ambiente e das relações ecológicas dentro do ecossistema (MURRAY, 1979 apud VOOREN; KIPPEL, 2005). À luz da teoria dessas duas estratégias de vida, constata-se que os elasmobrânquios em geral são K-estrategistas (HOENING; GRUBER, 1990). Fica assim explicado porque na intensiva pesca mista, peixes elasmobrânquios tendem a declinar até a extinção enquanto certas espécies de peixes ósseos permanecem abundantes e sustentam a pescaria (CAMHI et al., 1998; MUSICK et al., 2000). Porém, entre os peixes ósseos existem também espécies que respondem à pesca intensiva da mesma maneira como o fazem os elasmobrânquios. Nos mares da Europa, a pesca foi o fator causal da extinção de três espécies de esturjão do gênero Acipenser e da garoupa Epinephelus marginatus. No Brasil o cherne Polyprion americanus se tornou escasso após 10 anos de pesca intensiva. Pelo seu grande tamanho corporal e pelas características da sua dinâmica populacional, essas espécies são Kestrategistas (PERES; KLIPPEL, 2003). 24 3.4 A conservação dos recursos naturais Vários registros sobre a pesca informam que muitos estoques pesqueiros vêm sofrendo uma diminuição em suas populações, sendo considerados vulneráveis. Relatos de pescadores em diversos tipos de pescarias apontam para este decréscimo e ressaltam também as muitas modificações que já sofreram os ambientes devido às extensas e variadas modalidades de pescaria. As atividades humanas causam extinção em proporções que excedem a taxa natural de reposição dos cardumes caracterizando a pesca como uma atividade insustentável de onde somente há extração e nada se repõe. Um objetivo básico da conservação é evitar que as espécies sejam extintas, regional ou globalmente e estabelece critérios para medir quando uma espécie apresenta probabilidades de extinção como segue: Vulnerável: se existe uma probabilidade de 10% de que ela será extinta nos próximos cem anos, Em perigo: se a probabilidade é de 20% nos próximos 20 anos ou em dez gerações, considerando-se a de maior duração, e Criticamente em perigo: se o risco de extinção for igual ou superior a 50% nos próximos 5 anos ou nas duas próximas gerações (TOWNSEND; BEGON; HARPER, 2006, p.518). A exploração dos recursos naturais é necessária e é exigência de uma população que cresce a cada dia, é através disso que se gera desenvolvimento, mas se não houver um adequado gerenciamento aos recursos as gerações futuras terão que pagar o preço em termos de um padrão inferior de qualidade de vida, como já acontece em muitos setores pesqueiros de nosso país. Os recursos devem ser utilizados de maneira sustentável para que não danifiquem as espécies e comunidades, pois as conseqüências atingem todos que do Planeta fazem parte. Isto pode ser possível somente colocando o sustento de nossa população em equilíbrio com a conservação das outras espécies e dos processos ecológicos que nutrem a todos. 25 4 METODOLOGIA 4.1 Área de estudo A costa maranhense apresenta uma vasta extensão de aproximadamente 640 km, que se divide em duas zonas com características fisiográficas distintas: uma parte Leste, a zona dos Lençóis, que é caracteristicamente mais árida com grandes extensões de dunas; e uma porção Oeste denominada Zona de Reentrâncias, caracterizada por uma série de baías, com uma grande quantidade de rios e de manguezais. Entre estas duas áreas encontra-se uma terceira, o Golfão Maranhense, separado em duas grandes baías (São Marcos e São José) pela Ilha de São Luís. Os contrastes entre as duas porções do litoral maranhense seriam atribuídos aos contrastes nas condições climáticas de drenagem e circulação oceânica (PALMA, 1979). A área de realização do presente trabalho é a localidade da praia do Araçagy/Mangue Seco, Baía de São Marcos, situada entre a Latitude -2.452780° e Longitude44.159322° (Figura 1). Fonte: Adaptado do Google Earth. Figura 1 – Mapa da localização geográfica da praia do Araçagy/Mangue Seco, Ilha do Maranhão, Brasil 26 A área de abrangência da pesca amostrada compreendeu a região da baía de São Marcos até o município da Raposa, com desembarque na praia do Araçagy no munícípio da Raposa, incluíndo a baía de São Marcos, da desembocadura a drenagem do sistema Mearim/Pindaré/Grajaú, um estuário ativo, com um canal central bem desenvolvido e dominado por correntes de vazante, onde se sucedem bancos arenosos, desde a boca da baía até dezenas de quilômetros para o interior. Essa região é caracterizada como de alta energia dominada por processos físicos diários e permanentes, de intensidade moderada a alta (PALMA, 1979). O clima é tropical, com temperatura e umidade altas. Com exceção do índice pluviométrico, as variações sazonais são pequenas. A média da temperatura máxima é de 31ºC, ocorrendo nos meses de estiagem, de agosto a dezembro, enquanto a média da temperatura mínima é de 29ºC, ocorrendo durante os meses mais chuvosos, março a maio. A estação chuvosa é bem definida, observando-se períodos de maior precipitação pluviométrica entre março e maio. A grande oscilação das marés com de cerca de 8 metros, associada à fraca declividade dos rios, favorece a penetração do corpo de águas até dezenas de quilômetros nos vales dos rios. A ação das marés se faz sentir também na diminuição da velocidade da corrente fluvial que, perdendo a capacidade de transporte, deposita uma parte de sua carga sólida, formando bancos de sedimentos, planícies aluviais e ilhas de pequena altitude, como a Ilha dos Caranguejos, esboçando-se na formação de deltas internos (IBGE, 1984). Pode ser dividido em duas porções cujas características físicas são bem distintas: zona das reentrâncias parte a Oeste da Baía de Tubarão, e Lençóis Maranhenses, parte a leste. O litoral apresenta feição mais homogênea, caracterizado por dunas de areia brancas, praias largas e pouco inclinadas, sendo o relevo influenciado por processos eólicos e por correntes litorâneas (ISAAC, 2006). No centro da costa encontra-se o Golfo do Maranhão, no qual a Ilha está situada, separando-o em duas grandes baías. A Oeste da Ilha, a baía de São Marcos é um estuário ativo, onde os rios Mearim e Pindaré escoam. As marés mais fortes da costa são encontradas na boca desta baía. A baía de São José, à Leste da Ilha, é uma região de pouca profundidade, com características típicas de um estuário, recebendo a contribuição fluvial dos rios Itapecuru e Munim (STRIDE, 1992). Quanto à salinidade mostra uma variação significativa. No mar varia de 36,8 UPS (Unidade padrão de salinidade) em águas oceânicas e 33,8 UPS em águas costeiras. No período de chuvas, tende a ser mais alta na preamar e diminui na baixamar. Durante a pesquisa foi possível registrar alguns pontos da área de pesca, 27 compreende uma parte no Golfão maranhense estando situada entre a latitude de 2°27’09.60”S e longitude 44° 09’38.54”O (Figura 2). Fonte: Google Earth (2008). Figura 2 – Alguns pontos da área de pesca, onde ocorre captura da Cynoscion acoupa (pescada amarela) e da fauna acompanhante do Sistema de Produção Pesqueira Pescada Amarela no litoral maranhense As coordenadas registradas dos pontos da área de pesca são: Ponto A – 2° 22’ 01” 90° latitude Sul; 44° 08’ 42” 26° longitude Oeste; Ponto B – 2° 25’ 00” 52° latitude Sul; 44° 07’ 75” 66° longitude Oeste; Ponto C – 2° 26’ 48” 11° latitude Sul; 44° 12’ 39” 15° longitude Oeste; Ponto D – 2° 23’ 21” 48° latitude Sul; 44° 13’ 21” 36° longitude Oeste; 4.2 Coleta e análise dos dados 4.2.1 Caracterização da pesca do sistema de produção pesqueira Pescada Amarela Para o levantamento e caracterização da pesca da fauna acompanhante do Sistema 28 de Produção Pesqueiro Pescada Amarela foi realizado acompanhamento de desembarques diários da pescaria, na localidade da praia do Araçagy/Mangue Seco, no período de janeiro a setembro de 2008. As espécies foram registradas uma a uma em ficha estatística com seus respectivos pesos e comprimentos totais (APÊNDICE A). Os pescadores e mestres de pescaria responderam a um questionário que constava questionamentos sobre: a pesca em geral, arte de pesca, locas de captura, dias de mar, numero e duração de lances ao mar, comprimento de panos e redes, espécie-alvo, composição de pesca, etc. (APÊNDICE B). 4.2.2 Composição da pesca do SPPPA e sua biodiversidade A composição da pesca, recurso alvo e sua fauna acompanhante, foi descrita e sua classificação taxonômica foi baseada em Figueiredo e Menezes (1977, 1978 e 1980). No apêndice B foi realizada a descrição das espécies que compõem a pescaria da pescada amarela e algumas características que possibilitam conhecer mais aspectos da ecologia e biologia dos indivíduos pesquisados, com seus respectivos nomes científicos. 4.2.2.1 Análises estatísticas para aferir a fauna acompanhante da Cynoscion acoupa (pescada amarela) na praia do Araçagy/Mangue Seco - grau de dependência e associação de ocorrência nas pescarias do SPPPA a) Correlação A correlação analisa uma coleção de dados amostrais emparelhados (às vezes, chamados dados bivariados) e determina se há relação entre as duas variáveis. Considera-se apenas relações lineares, o que significa que, quando colocadas em gráficos, os pontos se aproximam do padrão de uma reta. Também consideram-se apenas dados quantitativos. A correlação faz inferência baseada em dados que aparecem aos pares. No presente trabalho a correlação foi utilizada no par: (Pescada 29 amarela/Cynoscion acoupa; Arraia bicuda/Dasyatis guttata) a fim de comparar a distribuição e ocorrência destas duas espécies na pescaria. Em estatística, existe uma correlação entre duas variáveis quando uma delas está relacionada com a outra de alguma maneira (TRIOLA, 2005). Para estudar a correlação usa-se um diagrama de dispersão (um gráfico) e o coeficiente de correlação linear (uma medida da direção e intensidade da associação linear entre duas variáveis). Um diagrama de dispersão é um gráfico no qual os dados amostrais emparelhados são plotados com um eixo horizontal x e um eixo vertical y. Cada par individual (x, y) é plotado como um único ponto. Como o exame visual de diagramas de dispersão é altamente subjetivo, necessitamos de medidas mais precisas e objetivas. Usamos o coeficiente de correlação linear r, que é útil para detectar padrões lineares. O coeficiente de correlação linear r mede a intensidade da relação linear entre os valores quantitativos emparelhados x e y em uma amostra. O valor de r deve estar sempre entre -1 e +1. Se r estiver muito próximo de 0, concluímos que não há correlação linear significante entre x e y, mas se r estiver próximo de 1 ou de +1 concluímos que há uma relação linear significante entre x e y. Se concluímos que há uma correlação linear significativa entre x e y, podemos encontrar uma equação linear que expresse y em termos de x, e essa equação pode ser usada para predizer valores de y para valores dados de x. b) Teste do Qui-Quadrado Para este trabalho a hipótese principal é a de que as espécies que atuam como fauna acompanhante da Cynoscion acoupa (pescada amarela), em termos de composição de pesca, está sofrendo impacto em seus estoques por meio das capturas na mesma proporção da “pescada amarela” através de uma relação de ocorrência na pescaria. A prova do QuiQuadrado decidiu se os dados observados ajustam-se bem a tal expectativa. Foi utilizado o Teste de Independência, que serve para ajudar a decidir se duas variáveis estão ou não “amarradas” uma à outra por uma relação de dependência. Neste trabalho a variável principal de comparação é a Cynoscion acoupa (pescada amarela), com ela foram relacionadas todas as outras espécies que ocorreram na pescaria durante o período de janeiro a setembro de 2008. c) Para estimar os índices de abundância, participação por desembarque, e a frequência de ocorrência dos indivíduos por espécie foi registrado - a cada desembarque - 30 os indivíduos e a quantidade destes, capturados por espécie. Os dados foram trabalhados em Excel 2007. 4.2.4 Frequência de ocorrência das espécies no ambiente O estudo da frequência de ocorrência das espécies no ambiente baseou-se na proporção entre o numero de coletas contendo uma dada espécie e o numero total de coletas efetuadas, obedecendo a nomenclatura empregada por Batista e Rego (1996), com a seguinte classificação: Altamente constantes – espécies presentes entre 70 e 100% das amostras Constantes – 50 e 75% Moderadas –30 e 45% Pouco constantes – 10 e 29% Raras – em menos de 10% 4.2.5 CPUE (Captura por Unidade de Esforço), maturidade sexual e características das espécies que demonstraram maior grau de associação com o recurso alvo do SPPPA Para análise de CPUE foi utilizado como unidade de esforço registros dos números de desembarques, dias de pesca e capturas por desembarque do recurso alvo e das espécies mais representativas da fauna acompanhante. Para estimar maturidade sexual, durante os desembarques, foi avaliado peso e os exemplares foram medidos do focinho até o final da nadadeira caudal (comprimento total – CT) com um ictiômetro para comparar com dados de maturidade da literatura cientifica e de outros trabalhos realizados, das espécies em questão, e verificar a época de desenvolvimento em que estão sendo capturados. Para a amostra foi considerado o registro dos comprimentos e pesos de 10 exemplares do recurso alvo e de algumas espécies da fauna acompanhante: (Cynoscion acoupa – pescada amarela; Dasyatis guttata – arraia bicuda; Hexanematichthys parkerii – gurijuba; Hexanematichthys proops – uritinga; Notarius grandicassis – cambéu; 31 Cynoscion microlepidotus – corvina uçu; Caranx latus – xaréu; Centropumus undecimalis – camurim preto; Aetobatus narinari – arraia pintada; Rhinoptera bonasus – arraia jaborana). Generalidades sobre índices de maturidade sexual encontradas sobre as espécies do SPPPA foram descritas a fim de corroborar com informações existentes, bem como gerar conhecimento e dados comparativos para esta pesquisa. 4.2.6 Estratégias reprodutivas das espécies envolvidas no SPPPA Os aspectos reprodutivos das espécies do sistema foram expostos a fim de se observar características das populações das espécies (expectativa de vida) e presumir quais estão mais expostas às pressões de pesca. As características distintas quanto às táticas que compõem o ciclo de vida das espécies r e K foi baseada em Vazzoler (1996). 4.2.7 Cadeia de comercialização do SPPPA Para caracterizar o uso da fauna acompanhante como recurso comercial e participante na renda do pescador, comercialização e aspectos da pescaria, a principal técnica de coleta de dados utilizada foi entrevista com perguntas abertas, junto aos pescadores e comerciantes do pescado (Apêndice C). Neste levantamento utilizou-se o método de amostragem não probabilística denominado cadeia de informantes (chain of informers), também conhecido como a técnica da bola de neve (snowball sampling), segundo a qual alguns informantes são previamente identificados e, estes após serem entrevistados são solicitados a indicar novos possíveis informantes para a pesquisa (BERNARD, 1995). O número de informantes que formaram a bola de neve, entre pescadores e mestres de pescaria, foi de quarenta e dois. 32 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1 Caracterização da pesca A pescaria da “pescada amarela” (Cynoscion acoupa) é realizada em todo o litoral maranhense. No Mangue Seco é a modalidade predominante. Foram registrados 885 desembarques, no período de janeiro a setembro de 2008. Na rotina dos desembarques, os pescadores dão prioridade ao recurso alvo do Sistema que possui maior valor econômico nessa pescaria. As embarcações utilizadas abrangem uma frota de 16 barcos, onde apenas 12,5% são embarcações motorizadas de 11/13HP e 87,5% são embarcações a vela (bianas) de até 7,5m de comprimento. Estas embarcações têm autonomia de até três dias no mar e suportam uma tripulação com 2 ou 3 pescadores. A estrutura é de madeira e capacidade de carga é em média de 500 kg. A arte de pesca utilizada nas capturas é a rede de emalhar (pescadeira), confeccionada com fio de seda nº 33, 36 e 46 (sedão) ou grilon nº100 (nylon). O tamanho de abertura das malhas varia de 12 a 20cm, entre os nós opostos e de 500 a 800 braças (750 a 1.200 m) de comprimento e 3 a 3,5 braças (4,5 a 5,25 m) de altura (fig. 3 e 4). Figura 3 – A Arte de pesca, malhadeira, utilizada pelos pescadores da praia do Araçagy/ Mangue Seco 33 Figura 4 – Malhadeira, com destaque para a abertura de malha, tamanho nó a nó A rede no mar opera à deriva capturando em meia água e fundo, ficando suspensa a uma profundidade de 10 braças (15-20 m) por meio de bóias quadradas chamadas de “filames”. Pesos de chumbo são dispostos na parte inferior para manter a rede no sentido vertical (Figura 5). Figura 5 – Modelo da rede de emalhar “malhadeira”, disposição da rede no ambiente de pesca, é utilizada por pescadores da praia do Araçagy/Mangue Seco do Sistema de Produção Pesqueira Pescada Amarela São efetuados até três lances com uma duração de 6 horas para cada lance, esta rede deriva livremente à mercê das correntes, sempre no fundo e em conjunto com a embarcação a que se encontra amarrada através de um cabo de nylon no entalhe superior da rede. São armadas de maneira que se mantenham na água, formando uma barreira perpendicular ao sentido de deslocamento dos cardumes. É presa em uma das extremidades por um cabo e fixada ao barco. O recolhimento da rede é feito manualmente por dois ou três pescadores, cada um em uma extremidade da rede; um dos pescadores fica responsável pela 34 retirada dos peixes que ficam entre as malhas. O peixe é retirado da malha e acondicionado em caixa de isopor com gelo. Se ao primeiro lance vem pescada os pescadores já retornam para casa. Caso não haja captura eles permanecem em busca de outras tentativas. Esta arte de pesca é responsável por 20% da produção total do Estado do Maranhão, tendo como principais municípios produtores Cedral e Raposa, que representam respectivamente cerca de 10% e 5% da produção maranhense de pescado (ALMEIDA, 2009) (Gráfico 1). Fonte: Boletim Estatístico da Pesca Marítima e Estuarina do Nordeste do Brasil (2007) Gráfico 1 – Produção do malhão no Estado, Cedral e Raposa 5.2 O recurso alvo (Cynoscion acoupa – pescada amarela) A pescada amarela ocorre em todo litoral do Brasil; comum em águas salobras dos estuários (SZPILMAN, 2000). É um peixe demersal e pelágico, forma cardumes nos poços e regiões profundas e se alimenta preferencialmente de crustáceos, como camarões, e de pequenos peixes. Costuma entrar nos manguezais a procura de alimentos, é também muito apreciada como alimento, sendo importante na pesca comercial, sendo capturada em todo litoral maranhense (Figura 6). 35 Figura 6 – Pescada-amarela – Cynoscion ocoupa Tem um grande valor comercial não somente porque sua carne é considerada excelente, mas também porque fornece um produto conhecido como “grude” (bexiga natatória), usado para se obter uma gelatina utilizada na indústria de bebidas como emulsificante e clarificante, na indústria vinícola (CHAO, 1978; FIGUEIREDO; MENEZES, 1980; CERVIGÓN et al., 1992; CERVIGÓN, 1993; CARVALHO FILHO, 1999; BARLETTA et al., 1998; CAMARGO-ZORRO, 1999; TORRES, 1999; WOLF et al., 2000 apud MATOS; LUCENA, 2006). Este valor agregado, é importante ressaltar, atua como complemento de renda e não impera sobre o comércio da carne da pescada. Os produtos (carne e grude) são 36 independentes e a comercialização da carne é bastante importante. A espécie pertence a Ordem: Perciformes; Família: Scianidae; Classe: Actinopterygii (peixes com raios nas barbatanas); Tamanho máximo: 110cm; Peso máx. publicado: 17kg; Ambiente: demersal; Estuarina; Marinhas; intervalo de profundidade ? – 50 m; Resiliência: médio, tempo mínimo de duplicação da população 1,4 - 4,4 anos (K=0.27). Distribuição: ocorre em águas tropicais e subtropicais da costa atlântica da América do sul. No Brasil, ocorre em todo o litoral. Esta espécie é nectônica, demersal e costeira de águas rasas; comum nas águas salobras dos estuários, lagoas estuarinas, desembocaduras dos rios e podem penetrar na água doce. Os espécimes juvenis são restritos às águas salobras e doces, e encontrados em pequenos e grandes cardumes nadando próximo ao fundo. Alimenta-se principalmente de peixes e crustáceos (SPILMAN, 2000). A pescada amarela (Cynoscion acoupa) habita áreas de lodo, areia ou cascalho, entre 1 a 35 metros. Penetra rios de água doce e é a maior espécie do gênero no Brasil. Ela se aproxima de águas mais rasas à noite para se alimentar de peixes e crustáceos, e durante o dia é pouco ativa. Reproduz-se na primavera e verão e as larvas se desenvolvem em águas rasas e de baixa salinidade (CARVALHO FILHO, 1999). O comprimento médio é correlacionado com a profundidade: maiores indivíduos são encontrados mais afastados da costa. Esta espécie se alimenta principalmente de peixes e ocasionalmente de crustáceos, independente da estação do ano (SANYO TECHNO MARINE, 1998). 5.3 Composição e biodiversidade de espécies na fauna acompanhante do Sistema Pesqueiro Pescada Amarela A composição da fauna acompanhante do Sistema de Produção Pesqueira Pescada Amarela desembarcada na praia do Araçagy/Mangue Seco consistiu de 24 espécies distribuídas em nove ordens, 21 gêneros e 17 famílias. No apêndice C, podem-se conferir alguns aspectos destas espécies como classificação e distribuição. A Tabela 1 contém a classificação até o nível taxonômico possível e os respectivos nomes vulgares dos peixes desembarcados e que fazem parte da composição desta pesca. Os nomes das ordens e família estão sequenciados em ordem alfabética. 37 Tabela 1 – Classificação das espécies capturadas na pescaria da Cynoscion acoupa (pescada amarela) na praia do Araçagy/Mangue Seco, Ilha do Maranhão, durante o período de janeiro a setembro de 2008 AUTOR NOME COMUM REGIONAL Bloch e Schneider (1801) Pacamão Ranzani (1839) Cação Valenciennes (1847) Camurupim Bonnaterre (1988) Tubarao urumaru/lixa Agassiz (1831) Xaréu Block (1792) Camurim preto Broussonet (1782) Paru Cuvier (1830) Carapitanga Bloch (1790) Croaçu Cuvier (1830) Jordan (1888) Desmarest (1823) Corvina uçu Jurapara Cururuca Lichtenstein (1822) Mero ORDEM PLEURONECTIFORMES Família Paralichthyidae Etropus crossotus Jordan e Gilbert (1882) Solha ORDEM PRISTIFORMES Família pristidae Pristis perotteti Müller e Henle (1841) Espadarte Bloch e Schneider (1801) Arraia bicuda Mitchill (1815) Arraia jaborana Bloch e Schneider (1801) Arraia baté TAXONOMIA ORDEM BATRACHOIDIDAE Família Batrachoididae Batrachoides surinamensis ORDEM CARCHARHINIFORMES Família Carcharhinidae Carcharhinus porosus ORDEM ELOPIFORMES Família Megalopidae Megalopus atlanticus ORDEM ORESCTOLOBIFORMES Familia Ginglymostomatidae Ginglymostona Cirratum ORDEM PERCIFORMES Familia Carangidae Caranx latus Família Centropomidae Centropumus undecimalis Família Ephippidae Chaetodipterus faber Família Gerreidae Eugerres brasilianus Família Lobotidae Lobotes surinamensis Família Scianidae Cynoscion microlepidotus Cynoscion steindachneri Micropogonias furnieri Família Serranidae Epineçhelus itajara ORDEM RAJIFORME Família Dasyatidae Dasyatis guttata Rhinoptera bonasus Família Gymnuridae Gymnura micrura Família Myliobatidae 38 Aetobatus narinari Euphrasen (1790) Arraia pintada Família Ariidae Bagre bagre Hexanematichthys parkerii Linnaeus (1766) Traill (1832) Bandeirado Gurijuba Hexanematichthys proops Notarius grandicassis Linnaeus (1766) Valenciennes (1840) Uritinga Cambéu ORDEM SILURIFORMES Fonte: Organização de dados de taxonomia em tabela do programa Word 2003 Durante os vários desembarques acompanhados, registrou-se um total de 3.263 indivíduos, no período de janeiro a setembro de 2008. O recurso alvo do Sistema – Cynoscion acoupa (pescada amarela) – foi a espécie mais abundante nas capturas, compreendendo 69,39% das capturas. No entanto, com respeito à fauna acompanhante a espécie mais abundante foi a Dasyatis guttata (arraia bicuda) contemplando 17,50% das capturas. As outras espécies envolvidas na pescaria compreenderam 13,12% das capturas. Nesta pescaria direcionada a pescada amarela pôde-se observar que as várias espécies de peixes estão vulneráveis à arte de pesca utilizada, seja por padrões morfológicos ou por coincidência de nicho, hábitos, hábitat, variação nas condições ambientais presentes nos estuários. A frequência de ocorrência absoluta nos desembarques mensais para cada espécie durante o período estudado é apresentada na Tabela 2. Tabela 2 – Frequência de ocorrência absoluta dos desembarques para cada espécie nos diferentes meses de pesquisa ESPÉCIE Cynoscion acoupa_pescada amarela Bagre bagre_bandeirado Dasyatis guttata_bicuda Notarius grandicassis_cambeu Centropomus undecimalis_camurim preto Eugerres brasilianus_carapitanga Cynoscion microlepidotus_corvina uçu Lobotes surinamensis_croaçu Micropogonias furnieri_cururuca Hexanematichthys parkeri_gurijuba Etropus crossotus_solha Jan F ev Mar Abr Mai Jun Jul Ag o Set Total 18 53 79 52 76 69 68 47 44 506 2 12 16 24 14 12 6 16 4 1 5 3 109 1 3 1 1 1 1 8 2 3 2 4 2 1 25 7 4 1 1 2 4 4 2 5 6 10 1 4 2 5 2 2 3 1 1 5 20 1 2 1 2 39 1 3 1 9 7 9 7 5 3 47 2 39 Ginglymostoma cirratum_tubarao urumaru Hexanematichthys proops_uritinga Caranx latus_xareu arraia lixão? Carcharhinus porosus_cação Rhinoptera bonasus_arraia jaborana Aetobatus narinari_arraia pintada Cynoscion steindachneri_jurapara Megalops atlanticus_camurupim Pristis perotteti_espardarte Chaetodipterus faber_paru Gymnura micrura_arraia bate Epinephelus itajara_mero Batrachoides surinamensis_pacamão Total de desembarques ao mês 1 2 1 4 2 3 4 9 1 10 4 3 5 42 3 1 1 1 2 8 3 1 1 3 3 3 5 3 3 4 4 2 2 1 10 1 1 1 2 1 17 1 1 1 1 16 2 15 1 5 3 6 1 1 1 2 2 2 1 49 89 135 103 128 1 4 121 1 120 67 1 1 73 885 Neste universo, a ocorrência das espécies nos desembarques revelou a dominância de “pescada amarela” (Cynoscion acoupa) nas capturas, participando em 57,17% dos desembarques, sugerindo que esta modalidade de pesca, na praia do Araçagy, poderia ser de caráter altamente seletivo no que tange a seu objetivo de captura. Entretanto, é importante observar que as correlações de captura permanecem muito parecidas entre as espécies como um todo, sugerindo um comportamento de pesca muito parecido sobre as espécies mais ocorrentes dentre as “acompanhantes” da “pescada amarela”. As perturbações ou impactos que vierem atingir o recurso alvo poderão, de forma acidental (não intencional), propagar-se sobre muitas espécies da fauna acompanhante (Gráfico 2). 40 700 Quantidade de Peixes 600 500 400 300 200 Outras espécies Dasyatis Guttata Cynocion acoupa 100 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Fonte: Programa STATISTIC Gráfico 2 – Cenário da quantidade de peixes capturados e “proporção” visual das capturas entre o recurso alvo da pescaria, a espécie mais abundante da fauna acompanhante (arraia bicuda) e as outras espécies envolvidas na pescaria no período de janeiro a setembro de 2008 A captura incidental de espécies que não são alvo da pescaria é cada vez mais objeto de preocupação por parte de ambientalistas e pesquisadores devido às diversas interações que existem no ambiente. Conforme ressaltou Primack e Rodrigues (2001) as espécies são interdependentes e interagem de modo complexo como parte de comunidades naturais. A perda de uma espécie pode ter conseqüências de longo alcance para outros membros da comunidade. Do ponto de vista ecológico, a captura de fauna acompanhante pode representar um risco potencial ao equilíbrio ambiental (LOPES et al., 2002). A participação mensal das diferentes espécies na pescaria segue um padrão muito particular. Apesar da riqueza e biodiversidade das espécies envolvidas na composição desta pesca, ao longo dos meses de pesquisa, a participação de cada uma revela que algumas espécies são de ocorrência constante enquanto outras acontecem ocasionalmente; esta sazonalidade pode ser visualizada no Gráfico 3. 41 1000 100 10 Set Ago Jul Jun Mai Abr Mar Fev Jan Cynoscion acoupa Dasyatis guttata Hexanematichthys parkeri Hexanematichthys proops Cynoscion microlepidotus Caranx latus Rhinoptera bonasus_raia Lobotes surinamensis Centropomus undecimalis Notarius grandicassis Carcharhinus porosus Aetobatus narinari Chaetodipterus faber raia lixao Cynoscion steindachneri Megalops atlanticus Micropogonias furnieri Bagre bagre Etropus crossotus Gymnura micrura Ginglymostoma cirratum Pristis perotteti Eugerres brasilianus Epinephelus itajara Batrachoides surinamensis 1 Gráfico 3 – Ocorrência das espécies envolvidas na pescaria da pescada amarela no período de janeiro a setembro de 2008. A altura das colunas é proporcional ao número de participação das espécies por mês nos desembarques A fauna ictiológica é composta por uma grande quantidade de espécies, o que torna o ecossistema marinho rico em diversidade. Essa riqueza, segundo Day Jr. et al. (1989) se deve à dinâmica entre as populações que fazem parte do estuário ou que utilizam o ambiente em algum estágio do seu ciclo de vida. As estratégias do ciclo de vida e a grande variação das condições ambientais presentes nos estuários, faz com que a ictiofauna presente nestes ambientes apresente grande flutuação, maiores do que as encontradas em ambientes mais estáveis como a das regiões litorâneas ou recifes de coral (LOWE-MCCONNELL, 1999). Na Tabela 3 pode-se observar a classificação ecológica das espécies envolvidas na pescaria da C. acoupa. Tabela 3 – Representação de categorias bioecológicas das espécies do Sistema de Produção Pesqueira Pescada Amarela desembarcadas na praia do Araçagy/Mangue Seco, Ilha do Maranhão-Brasil Categoria bioecológica Migrantes-marinhas Espécies Dasyatis guttata (arraia bicuda), Hexanematichthys proops (uritinga), Rhinoptera bonasus (arraia jaborana), 42 Estuarino-oportunistas Estuarino-residente Lobotes surinamensis (croaçu), Etropus crossotus (solha), Notarius grandicassis (cambéu), Eugerres brasilianus (carapitanga). Cynoscion acoupa (pescada amarela), Cynoscion microlepidotus (corvina uçu), Caranx latus (xareu), Centropomus undecimalis (camurim preto), Chaetodipterus faber (paru), Cynoscion steindachneri (jurapara), Micropogonias furnieri (cururuca), Epinephelus itajara (mero), Bagre bagre (bandeirado) Batrachoides surinamensis (pacamão) Dentre o grupo capturado pôde-se observar que algumas espécies, como: Dasyatis guttata, Caranx latus, Cynoscion microlepidopus, Hexanematichthys proops, Chaetodipterus faber, dominantes na pescaria juntamente com o recurso alvo (Cynoscion acoupa), possuem estratégias de utilização do estuário diferentes. As espécies estuarino-oportunistas apareceram com mais frequência nos desembarques, foi o caso do recurso alvo. Demonstraram participação contínua nos desembarques como fauna acompanhante e foram, as mais encontradas na pescaria, em termos de diversidade de espécies. Foi encontrada somente uma espécie estuarino-residente. De acordo com Vazzoler (1996) durante o ciclo de vida de um teleósteo – que se estende desde o momento da fecundação, com o desenvolvimento do embrião dentro da membrana do ovo, ate a senilidade, fase em que a função sexual é decrescente e o crescimento do indivíduo quase nulo, culminando com a sua morte, paralelamente a outros – ocorrem três eventos básicos: a alimentação, o crescimento e a reprodução, que estão intimamente ligados entre si e relacionados às condições ambientais. As espécies estão no estuário em busca de recursos e condições para realização de funções vitais de suas existências, a grande variedade de estratégias e táticas de ciclo de vida possibilitam tal adaptação. Diante das condições bióticas e abióticas em busca de garantir sua perpetuação estão sujeitas ainda, indiscriminadamente, às pressões das pescarias sejam como espécies alvo ou espécies acompanhantes na composição das pescarias. 5.4 Análises estatísticas - Fauna acompanhante da Cynoscion acoupa (pescada amarela) espécies da fauna acompanhante da pescada amarela e grau de dependência e associação 43 de ocorrência nas pescarias do SPPPA A análise de composição da pesca revelou a existência de 7 espécies da fauna acompanhante na pescaria da pescada amarela cujas relações de dependência de ocorrência com o recurso alvo nos desembarques foram confirmadas com mais de 95% da probabilidade (Tabela 4). Tabela 4 – Valores do grau de associação (probabilidade p) entre a espécie alvo e a Cynoscion acoupa e as espécies que compuseram sua fauna acompanhante, em termos de composição de pescaria no Sistema durante o período de janeiro a setembro de 2008 Espécies Cynoscion acoupa (pescada amarela) x Dasyastis guttata (arraia bicuda) Cynoscion acoupa x Caranx latus (xaréu) Cynoscion acoupa x Cynoscion microlepidotus (corvina uçu) Cynoscion acoupa x Aetobatus narinari (arraia pintada) Cynoscion acoupa x Hexanematichthys parkerii (gurijuba) Cynoscion acoupa x Hexanematichthys proops (uritinga) Cynoscion acoupa x Centropumus undecimalis (camurim preto) Cynoscion acoupa x Rhinoptera bonasus (arraia jaborana) Cynoscion acoupa x Chaetodipterus faber (paru) Cynoscion acoupa x Notarius grandicassis (cambéu) Cynoscion acoupa x Lobotes surinamensis (Croaçu) Cynoscion acoupa x Bagre bagre (bandeirado) Cynoscion acoupa x Etropus crossotus (solha) Cynoscion acoupa x Micropogonias furnieri (cururuca) Cynoscion acoupa x Gymnura micrura (arraia baté) Cynoscion acoupa x Carcharhinus porosus (cação) Cynoscion acoupa x Cynoscion steindachneri (jurapara) Cynoscion acoupa x Batrachoides surinamensis (pacamão) Cynoscion acoupa x (arraia lixão) Cynoscion acoupa x Pristis perotteti (espadarte) Cynoscion acoupa x Epineçhelus itajara (mero) Cynoscion acoupa x Eugerres brasilianus (carapitanga) Cynoscion acoupa x Megalopus atlanticus (camurupim) Cynoscion acoupa x Ginglymostona Cirratum (tubarão urumaru) (p) Qu i quadrado < 0,0001 0,0038 0,0072 0,0126 0,0215 0,0412 0,0461 0,1229 0,3253 0,4938 0,6401 0,6986 0,8099 0,8146 0,8542 0,9179 0,9226 0,9237 0,9309 0,9399 0,9460 0,9493 0,9627 184.237 22.648 20.979 19.464 17.965 16.086 15.751 12.692 9.205 7.404 6.064 5.540 4.495 4.449 4.032 3.247 3.179 3.163 3.055 2.910 2.806 2.746 2.480 0,9712 2.281 44 Estas sete espécies mostraram um forte grau de associação e dependência, em termos de ocorrência nos desembarques, com o recurso alvo do Sistema. Existe assim uma probabilidade de 95% que leva a atribuir às espécies a categoria de fauna acompanhante potencial da Cynoscion acoupa (pescada amarela) nesta pescaria (Figuras 7, 8, 9 10 e 11). Figura 7 – Dasyatis guttata (arraia bicuda) Figura 8 - Xaréu – Caranx latus 45 Figura 9 - Gurijuba – Hexanematichthys parkerii Figura 10 - Uritinga – Hexanematichthys proops Figura 11 - Camurim preto – Centropomus undecimalis 46 Quando uma espécie é considerada acompanhante de um recurso alvo em uma pescaria supõe-se que a cada desembarque obtenha-se não somente a espécie que atue como recurso alvo, mas também as demais espécies que compõem a pescaria como fauna acompanhante. Ao longo dos desembarques neste trabalho foi observado que, o que levou a determinar a fauna acompanhante da Cynoscion acoupa (pescada amarela) não foi a frequência de ocorrência absoluta das espécies nas pescarias (número de indivíduos das espécies) a cada desembarque registrado, mas sim se a distribuição desta freqüência de ocorrência dos indivíduos da fauna acompanhante esteve diretamente associada a do recurso alvo. Para efeito de comparações pode-se observar a freqüência de ocorrência absoluta das espécies nas pescarias ao longo do período de estudo (Tabela 5). Tabela 5 – Espécies que apresentaram as maiores frequências de ocorrência na pescaria do SPPPA na praia do Araçagy/Mangue Seco, Ilha do Maranhão, Brasil, no período de janeiro a setembro de 2008 C. acoupa D. guttata H. parkerii Pescada Bicuda Gurijuba Ordem Perciformes Raji-forme Jan 172 Fev Nome C. micro- H. R. lepidotus proops bonasus Corvina Uritinga Jaborana C. latus Xareu Siluri- Perci- Siluri- Raji- Perci- forme formes forme forme formes 97 5 3 5 0 269 123 2 4 4 Mar 408 155 6 5 Abr 248 78 12 Mai 216 34 Jun 261 Jul C. undecimalis Camurim A. narinari Pintada Perciformes Rajiforme 0 9 0 0 13 2 0 3 10 0 3 1 2 8 10 0 0 12 8 6 13 9 0 2 2 11 11 6 10 9 11 4 0 294 44 20 12 4 4 11 4 0 Ago 175 15 9 1 3 0 1 2 1 Set 221 14 4 17 6 1 2 1 2 Total 2264 571 77 56 56 43 38 27 18 % 71.87% 18.13% 2.44% 1.78% 1.78% 1.37% 1.21% 0.86% 0.57% As outras espécies envolvidas nesta pescaria representaram juntas 3,46% de freqüência relativa e 113 de freqüência absoluta, são elas: Lobotes surinamensis - Croaçú; Carcharhinus porosus - Cação: Notarius grandicassis - Cambéu; Chaetodipterus faber Paru; Arraia lixão; Cynoscion steindachneri - Jurapara; Megalops atlanticus - Camurupim; Micropogonias furnieri - Cururuca; Bagre bagre - Bandeirado; Etropus crossotus - Solha; Ginglymostoma cirratum - Urumaru; Gymnura micrura - Baté; Eugerres brasilianus - 47 Carapitanga; Pristis perotteti - Espardarte; Epinephelus itajara - Mero; Batrachoides surinamensis - Pacamão. 5.5 Frequência de ocorrências das espécies no ambiente No total dos desembarques a espécie alvo esteve presente em 57,18% que segundo a metodologia de Batista e Rego (1996) corresponde a uma espécie de ocorrência constante no ambiente, sendo esta espécie alvo das capturas. Em segundo lugar com 12,32% encontrou-se a principal espécie da fauna acompanhante conforme os valores de constância a arraia bicuda (D. guttata), por esta proporção encontrada e também segundo a metodologia foi classificada como sendo pouco constante no ambiente. Todas as outras espécies registradas nos desembarques apresentaram frequência de ocorrência menor que 10% o que a metodologia categoriza como espécies de ocorrência rara. Esta classificação não está direcionada ao poder de pesca do petrecho, o caráter de ocorrência que diz se são constante, pouco constante e raras esta relacionado à presença das espécies no ecossistema. Este resultado, porém, não conflitou com os resultados do teste de associação ou das pescarias que trazem como maiores participantes nos desembarques a pescada amarela (C. acoupa) e a arraia bicuda (D. guttata), ou seja, as espécies mais presentes no ambiente foram as mais capturadas. 5.6 CPUE (Captura por Unidade de Esforço), maturidades sexual e características e particularidades observadas com as espécies que demonstraram maior relação de dependência e associação de ocorrência com o recurso alvo (Cynoscion acoupa, “pescada”) do Sistema a) CPUE (Captura por unidade de esforço) O esforço de pesca é uma unidade de medida que traduz a capacidade de pesca 48 (numero de barcos, pescadores, anzóis, metros de rede, etc.) por unidade de tempo (normalmente anual) (DIAS NETO, 2002). Para este trabalho foi escolhido para a unidade de esforço “número de desembarques” (Tabela 6). Tabela 6 – Dados de produção, números de desembarques, dias de pesca por mês, e captura por desembarques do recurso e das espécies mais representativas da fauna acompanhante, na praia do Araçagy/Mangue Seco, Ilha do Maranhão, durante o período de janeiro a setembro de 2008 Mês Desemb. Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set 22 54 81 58 82 75 74 49 46 Média N. Dias Pesca 9 17 23 16 20 19 19 17 19 159 CPUE CPUE C. D. guttata acoupa Bicuda Pescada Kg/ Kg/ Desemb Desemb 56.92 33.29 36.27 17.20 36.67 14.45 31.13 10.15 19.18 3.13 25.44 1.11 28.92 4.49 26.00 2.31 34.98 2.30 32.83 9.82 CPUE C. latus Xaréu Kg/ Desemb 0.00 0.67 0.00 0.00 0.00 0.41 0.41 0.06 0.12 0.19 CPUE CPUE CPUE CPUE C. H. parkerii H. proops C. undecimalis microlepidotus Gurijuba Uritinga Camurim Corvina Kg/ Kg/ Kg/Desemb Kg/Desemb Desemb Desemb 0.40 1.43 0.65 2.86 0.22 0.23 0.21 0.26 0.18 0.47 0.11 0.26 0.10 1.31 0.40 0.00 0.22 0.62 0.46 0.17 0.24 0.93 0.38 0.37 0.48 1.71 0.16 0.38 0.06 1.16 0.18 0.29 1.09 0.55 0.37 0.15 0.33 0.93 0.32 0.53 É possível verificar a grande amplitude de variação da CPUEs mensais das espécies, o que demonstra pouca uniformidade de captura entre os dias de pesca e também um padrão inespecífico de coincidência na relação de ocorrência das espécies com o recurso alvo nos desembarques. Este fato chama atenção e pode estar relacionado à grande mobilidade das espécies no ambiente (Gráfico 4). 49 Pescada Bicuda Outros 100 90 CPUE (kg/Desembarque) 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Jan Fev Mar Abr Mai Meses Jun Jul Ago Set Gráfico 4 – Captura por unidade de esforço de pesca (CPUE), da “pescada amarela”, da “bicuda” e “outros peixes” da fauna acompanhante do sistema “pescada amarela” (Cynoscion acoupa), durante o período janeiro a setembro de 2008, no pesqueiro de “mangue seco” na praia de Araçagy, Ilha de São Luís-MA A predominância do recurso alvo do Sistema prevalece na mensuração do esforço de pesca; é a espécie que contribui com maior biomassa. Como recurso alvo do sistema mais uma vez confirma a seletividade do petrecho. Comparando as CPUEs do recurso alvo (Cynoscion acoupa) com a Dasyatis guttata (arraia bicuda), que é a espécie da fauna acompanhante mais abundante nos desembarques, verifica-se, porém uma forte correlação (Gráfico 5). Correlação do Esforço de Pesca - Cynoscion acoupa ; Dasyatis guttata 35.00 y = 0.8936x - 19.513 R2 = 0.8239 30.00 D. guttata 25.00 20.00 15.00 10.00 5.00 0.00 0.00 10.00 20.00 30.00 40.00 50.00 60.00 C. acoupa Gráfico 5 – Correlação do esforço de pesca da C. acoupa e D. guttata O esforço pesqueiro demonstra a forte correlação, em termos de ocorrência nas 50 capturas, que há entre o recurso alvo do Sistema e a espécie principal da fauna acompanhante na pescaria. b) Maturidade sexual e características gerais do recurso alvo e de espécies da fauna acompanhante do SPPPA Através do acompanhamento dos 885 desembarques foi possível mensurar o peso e comprimento total de exemplares da espécie alvo e da fauna acompanhante (n=10), ao longo do período de janeiro a setembro de 2008. Os dados foram agrupados e analisados no programa Microsoft Excel 97. Tabela 7 – Índices biométricos das espécies de peixes estuarinos do Sistema de Produção Pesqueira “pescada amarela” (Cynoscion acoupa) desembarcados na praia do Araçagy/Mangue Seco, Ilha do Maranhão-Brasil no período de janeiro a setembro de 2008 Num 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Média DP Num 1 2 3 4 5 6 C. acoupa D. guttata H. parkerii Pescada Bicuda Gurijuba Peso Comp Peso Comp Peso Comp (kg) (cm) (kg) (cm) (kg) (cm) 4.00 69.00 0.73 70.00 6.50 90.00 10.00 106.00 1.93 90.25 7.00 90.00 8.50 92.00 4.17 108.25 4.00 50.00 7.00 86.00 5.76 163.60 8.00 96.00 12.00 113.00 3.98 128.75 6.00 89.00 9.00 100.00 7.97 155.40 5.00 57.00 4.00 80.00 0.73 70.00 6.40 73.00 9.00 100.00 1.93 90.25 7.50 91.00 4.30 81.00 4.17 108.25 5.70 86.00 5.00 88.00 5.76 163.60 7.00 90.00 7.28 91.50 3.71 114.84 6.31 81.20 2.84 13.37 2.38 36.38 1.19 15.84 H. proops N. grandicassis Uritinga Cambeu Peso Comp Peso Comp (kg) (cm) (kg) (cm) 3.00 70.00 5.00 39.00 3.00 71.00 6.00 43.00 2.80 66.00 4.00 37.00 2.50 67.00 5.00 40.00 3.00 69.00 5.00 41.00 3.00 70.00 3.00 33.00 3.20 70.00 6.00 45.00 2.50 60.00 6.00 44.00 3.00 70.00 3.50 42.00 2.70 64.00 4.00 42.00 2.87 67.70 4.75 40.60 0.24 3.50 1.09 3.57 C. microlepidotus Corvina Uçú Peso Comp (kg) (cm) 3.00 74.00 3.00 75.00 2.80 73.00 3.20 75.00 3.00 75.00 2.50 69.00 A. narinari Arraia pintada Peso Comp (kg) (cm) 2.00 101.04 2.50 109.69 12.00 170.54 13.00 173.64 6.00 143.65 7.00 149.63 C. latus C. undecimalis Xaréu Camurim Peso Comp Peso Comp (kg) (cm) (kg) (cm) 3.00 70.00 8.00 70.00 2.70 68.00 7.00 61.25 3.00 71.00 10.00 87.50 2.50 63.00 2.50 21.87 3.00 71.00 8.00 67.90 2.80 67.00 7.00 60.30 R. bonasus Jaborana Peso Comp (kg) (cm) 20.00 124.09 25.00 130.79 30.00 136.27 3.00 67.10 7.00 92.55 8.00 96.56 51 7 8 9 10 Média DP 2.80 3.20 3.00 3.00 2.95 0.21 70.00 76.00 74.00 77.00 73.80 2.53 3.00 2.70 2.50 2.70 2.79 0.20 70.00 39.00 64.00 66.00 64.90 9.53 10.00 2.50 8.00 7.00 7.00 2.61 86.90 21.30 69.00 61.25 60.73 22.79 8.00 6.00 4.50 3.00 6.40 3.77 154.81 143.65 132.49 116.76 139.59 24.57 12.00 4.00 3.50 8.80 12.13 9.58 108.74 75.74 71.73 99.43 100.30 24.62 c) Cynoscion acoupa (“pescada-amarela”) Segundo Espinosa (1972), o tamanho de primeira maturidade da pescada-amarela é de 53,0cm (CT). Na praia de Araçagy/Mangue Seco foram capturados exemplares de maior comprimento, envolvendo indivíduos das classes de 76 - 84 cm a 108 cm CT, todos indivíduos adultos, maior freqüência de indivíduos maduros entre machos e fêmeas. Durante os desembarques neste trabalho o maior exemplar foi uma pescadaamarela fêmea, mediu 113 cm de comprimento total e pesou 12kg. Segundo estudo de Matos (2003) realizado com registros do banco de dados do Programa REVIZEE – SCORE/NO da Cynoscion acoupa, no Maranhão, no período de 1997 a 2000 uma maior proporção de indivíduos menores foram capturados nos anos de 1999 e 2000 enquanto que, um maior número de indivíduos de grande porte foi capturado no ano de 1997. A média de comprimento diminuiu de 90cm no ano de 1997 para 73,6cm CT no ano de 2000 (p < 0,05). O percentual da captura dos indivíduos maduros decresceu ao longo dos anos. Para os estudos de comprimento, o trabalho de Almeida (2004) realizado com espécies capturadas em Cedral-MA, Raposa e Estiva, a distribuição de frequência de classes de comprimento mostra que os comprimentos dos 243 exemplares variaram entre 20 e 107 cm de comprimento total, com valores mais freqüentes na classe de 28 a 36 cm, e o menor número de indivíduos na classe 100 e 108 cm. Quando da analise de distribuição de freqüência por sexo, constata-se maior frequência de machos na classe de comprimento 20 28 cm e de fêmeas na classe 28 - 36 cm CT. Menor número de exemplares machos e fêmeas foram registrados na classe 68 - 76 cm CT. Por outro lado, na comunidade da Raposa as pescadas desembarcadas apresentaram comprimentos maiores envolvendo exemplares com tamanho a partir de 68 cm até 100 cm CT, em estágio de desenvolvimento predominantemente maduro em 100% das fêmeas e 68% dos machos. 52 d) Dasyatis guttata (arraia bicuda) A espécie Dasyatis guttata (arraia bicuda) tem um formato achatado e largo, o que possibilita sua captura pelo petrecho. É um elasmobrânquio com nadadeiras peitorais expandidas e unidas ao corpo. Os olhos localizam-se no dorso, sem pálpebras e unidos ao espiráculo. Sua locomoção é feita por meio de ondulações das nadadeiras peitorais alargadas. Esta espécie não atinge comercialização; os indivíduos capturados são doados para a comunidade na praia ou dividida entre os próprios pescadores. Esta espécie foi objeto de estudo de Araújo e Almeida (2001). Foram estudados 104 exemplares, sendo 53 machos e 51 fêmeas; o comprimento total variou de 7,6 cm a 221,20 cm. O peso total variou de 0,063kg e 14,44kg. O tamanho da largura do disco variou entre 16,7 a 80 cm. É considerada de médio porte, com maior número de exemplares na classe de comprimento entre 100 a 150 cm. O dimorfismo sexual mais proeminente na espécie ocorre através de variações na distância do focinho à boca, largura da boca e largura do disco. Deve atingir grande tamanho; um macho de 40 cm de largura ainda é imaturo. O menor exemplar examinado tem 19 cm de largura (FIGUEIREDO; MENEZES, 1977). A análise da dieta de Dasyatis guttata foi realizada por Carvalho Neta e Almeida (2002) com uma amostra de 70 juvenis e 34 adultos, que alimentaram-se de um total de 186 organismos entre braquiúros (Callinectes sp.), poliquetas, peixes teleósteos, larvas de decápodos e priapulidas. Embora o número de juvenis tenha sido consideravelmente maior que o de adultos, os mesmos itens alimentares foram encontrados em ambos os estágios de desenvolvimento, ocorrendo diferenças representativas apenas para o item priapulida, encontrado somente em indivíduos adultos. Através dos índices de precipitação pluviométrica ao longo do período foi possível realizar uma análise sazonal para demonstrar a variação na ocorrência da espécie mais capturada com a variação dos índices pluviométricos. No gráfico pode-se constatar que existe uma variação na composição da fauna acompanhante de acordo com a mudança nos índices de precipitação no período de janeiro a setembro de 1998, e é mais evidente para a espécie Dasyatis guttata, “arraia bicuda” (Gráfico 6). 53 Fonte: Dados do Laboratório de Meteorologia da Universidade Estadual do Maranhão Gráfico 6 – Comparação da ocorrência de D. guttata e outras espécies da fauna acompanhante com o índice pluviométrico do período de janeiro a setembro de 2008 Analisando as mudanças na ocorrência da Dasyatis guttata (arraia bicuda) ao longo dos meses nas capturas, levando em consideração também sua categoria bioecológica (migrante-marinha), podemos sugerir que sua frequência nas capturas pode estar relacionada à variação da salinidade da água do mar. Na distribuição dos meses a espécie mostrou maior participação no período chuvoso, quando a salinidade no estuário é menor devido aos elevados índices pluviométricos. Com a redução dos índices pluviométricos, a partir do mês de maio, percebese uma diminuição na ocorrência da espécie nas capturas, é quando começa sobressair a ocorrência de outras espécies da fauna acompanhante. Esta alteração no ambiente reflete na participação da espécie nas pescarias, à medida que ela percebe mudança na ambiente ela se desloca, este comportamento influenciou então na participação da espécie ao longo da pescaria, mas não foi determinante para diminuir sua participação nas capturas. Os fortes gradientes de salinidade, no espaço e no tempo, são refletidos em uma fauna estuarina especializada; alguns animais os enfrentam utilizando mecanismos fisiológicos particulares, enquanto muitos evitam as concentrações salinas variáveis se entocando, utilizando conchas protetoras ou se deslocando para longe (TOWNSEND; BEGON; HARPER, 2006, p.175). 54 Análise de correlação temporal entre a Cynoscion acoupa (“pescada) e Dasyatis guttata (bicuda) Uma análise de correlação entre o recurso alvo do sistema e a espécie dominante na fauna acompanhante sugere que não há coincidência temporal entre a espécie alvo e a D. guttata. Através do gráfico de dispersão podemos constatar que não há uma relação de dependência na ocorrência (R2 = 0,0018) (Gráfico 7). Dasyatis gutatta (Qtde/Desembarque) 35 30 R2 = 0.0018 25 20 15 10 5 0 0 5 10 15 20 25 30 35 Cynoscion acoupa (Qtde/Desembarque) Gráfico 7 – Correlação da Cynoscion acoupa “pescada amarela” e Dasyates gutatta “bicuda” capturadas com “malhadeira” na praia do Araçagy /Mangue Seco Ilha do Maranhão-Brasil no período de janeiro a setembro de 2008 As espécies não ocorrem de forma simultânea no ambiente, pode-se observar que em muitos desembarques ocorreram “pescada” para nenhum registro de “bicuda”, e o mesmo ocorreu em desembarques onde só ocorreu “bicuda” e nenhuma pescada. As espécies ocupam o mesmo hábitat, mas em tempos diferentes, a coincidência nas capturas é mais característico do poder de pesca do petrecho que varre o ambiente oceânico. Há variação espacial e esta parece estar relacionada com a sazonalidade já que a espécie D. guttata apresenta mudanças em resposta à sazonalidade. Apresentam-se aqui informações científicas referentes às características, hábitos, distribuição geográfica da espécie retirada das obras de CARVALHO-FILHO (1999) e do site www.fishbase.org. que irão complementar o estudo. A espécie pertence a ordem: Rajiformes (Arraias); Família: Dasyatidae; Classe: Elasmobranchii (tubarões e arraias); Tamanho máximo: 200 cm, largura do disco, 110cm comprimento total; Ambiente: demersal; Marinhas; 55 intervalo de profundidade ? – 36 m; Resiliência: Baixo, tempo mínimo de duplicação da população 4,5 - 14 anos; Distribuição: águas costeiras desde o Golfo do México até o litoral do estado de São Paulo; Biologia: Habita águas rasas. Ovovivípara. Pelo menos entre 1995 e 2000, foram comercializados 5 espécimes como peixe de aquário no Ceará, Brasil. e) Caranx latus (AGASSIZ, 1831) – xareu Esta espécie cresce até cerca de 80cm de comprimento e forma pequenos cardumes. Os jovens são comuns em águas de baixa salinidade. Alimenta-se de peixes e, em menor proporção de camarões e outros invertebrados (FIGUEIREDO; MENEZES, 1980). A média do comprimento da espécie nos desembarques foi de 64.90 cm e o peso de 2.79kg. A espécie pertence a ordem: Perciformes (Percas); Família: Carangidae; Classe: Actinopterygii (peixes com raios nas barbatanas); Tamanho máximo: 101 cm; Peso máx. publicado: 13,4 kg; Ambiente: espécies associadas a recifes, oceano-estuarina, água doce; estuarina; marinhas, intervalo de profundidade 0 – 140 m; Resiliência: Baixo, tempo mínimo de duplicação da população 4,5 - 14 anos; Distribuição: Atlântico ocidental: Nova Jersey (EUA), Ilhas Bermudas, e Golfo do norte do México até São Paulo, Brasil. Atlântico Oriental: St. as Pedras de Paul (Ref. 13121), Ilha de Ascensão, e dois registros confirmados do Golfo de Guiné; Biologia: pelágica, normalmente espécies achadas em recifes perto da praia. São encontrados Jovens ao longo de costas de praias arenosas, também em cima de fundos barrentos. Penetra em água salgada e ascende rios. Alimenta-se de peixes, camarões, e outros invertebrados. Ovos são pelágicos (www.fishbase.org). f) Cynoscion microlepidotus (CUVIER, 1830) – corvina uçu Entre as espécies que possuem escamas ctenóides é a única que possui mais de 20 rastros (21 a 26) no primeiro arco branquial. Encontrada mais comumente em fundos de areia e lama. De porte médio, os maiores exemplares alcançando pouco mais de 50 cm. O maior da coleção mede 46,5cm (FIGUEIREDO; MENEZES, 1980). A média de comprimento da espécie nos desembarques foi de 73.80cm e peso de 2.95kg. A espécie pertence a ordem: Perciformes (Percas); Família: Sciaenidae; Classe: Actinopterygii (peixes com raios nas barbatanas); Tamanho máximo: 92cm; Peso máx. 56 publicado: 3,000g; Ambiente: demersal; Estuarina; Marinhas; intervalo de profundidade ? – 30 m; Resiliência: Médio, tempo mínimo de duplicação da população 1,4 - 4,4 anos; Distribuição: Atlântico ocidental: Venezuela até Santos, Brasil; Biologia: Normalmente encontrada em áreas de lama e fundos arenosos, em estuários de rio e em áreas marinhas do litoral, aproximadamente 30m de profundidade. Comercializado principalmente fresco. g) Aetobatus narinari (EUPHRASEN, 1790) – arraia pintada Facilmente reconhecida entre as outras espécies da família pelo corpo escuro com grandes manchas brancas arredondadas. Quatro embriões são produzidos de cada vez, nascendo com tamanho muito variável, de 17 a 36 cm de largura. Atinge 2mde largura e 200 kg. Alimenta-se de moluscos bivalvados, triturados nas fortes placas dentárias; somente a parte mole é ingerida. A carne é considerada de baixa qualidade (FIGUEIREDO; MENEZES, 1977). A média de comprimento da espécie nos desembarques foi de 139.59 cm e peso de 6.40 kg (fig. 12). Figura 12 – Arraia pintada A espécie pertence a ordem: Rajiformes; Família: Myliobatidae; Classe: Elasmobranchii; Tamanho máximo: 330 cm; Peso máx. publicado: 230.0 kg; Ambiente: recifes, estuarina, marinhas, intervalo de profundidade 1 – 80 m; Resiliência: muito baixo, tempo mínimo de duplicação da população maior que 14 anos; Distribuição: Atlântico ocidental: Carolina do Norte (verão) e a Flórida, EUA e Ilhas Bermudas, Brasil. Ao longo de Golfo de México e Caribe, inclusive Antilhas. O Atlântico Oriental: Mauritânia para Angola. 57 Indo-oeste, Pacífico: Mar vermelho e África do Sul para o Havaí, norte do Japão, sul à Austrália. O Pacífico Oriental: Golfo de Califórnia para Puerto Pizarro, Peru e as Ilhas de Galápagos; Biologia: comumente encontrada em águas rasas como baías e recifes de coral, mas pode cruzar bacias oceânicas. Bentopelágica, 1-60m. Às vezes entra em estuários. Nada perto da superfície, saltando ocasionalmente fora da água, ou perto do fundo. Frequentemente formando escolas grandes durante a estação de não-procriação. Alimenta-se principalmente de bivalves, mas também come camarões, caranguejos, polvo e lombrigas, búzios, e pequenos peixes. Ovovivípara. Carne comestível. Mais de 3 m disco largura e até 880 cm comprimento total, se o rabo longo é não estiver danificado. Captura comum por rede de arrasto de fundo (www.fishbase.org). h) Hexanematichthys parkeri (TRAILL, 1832) – gurijuba A partir de maio, quando as demais espécies componentes da fauna começam a sobressair-se em detrimento da D. guttata devido às condições ambientais impostas na pescaria, a espécie Hexanematichthys parkerii (gurijuba) dentre as outras espécies ocorrentes alcança um índice de participação mais representativo dentro da composição da fauna acompanhante. Pertencentes à família Ariidae, bagres, ocorrem na zona litorânea, em água pouco profunda, em fundo lodoso ou arenoso e em geral procuram a desembocadura dos rios e regiões lagunares na época da desova. Realizada a desova, os machos, e mais raramente as fêmeas, incubam os ovos na cavidade bucal até o que se complete todo o desenvolvimento. O gênero Hexanematichthys apresenta placas de dentes palatinos reduzidas, sem uma expansão posterior (FIGUEIREDO; MENEZES, 1978). Para a espécie Hexanematichthys parkerii (gurijuba) a média de comprimento foi 81,20 cm e 6,31 kg de peso. O desvio padrão para o comprimento foi de 21,19 e 1,70 para o peso. A análise da dieta de Hexanematichthys parkerii realizada por Almeida e Santos (2006) capturados pela pesca artesanal da Raposa com uma amostra de 28 exemplares, onde 17 continham alimento e 11 estavam sem alimento demonstrou que a espécie apresentou uma pequena variação no seu hábito alimentar com a presença principal de teleósteos (22), seguido de moluscos (nove), crustáceos (quatro), observando ainda matéria orgânica não identificada. No referido trabalho a variação do comprimento total da espécie foi de 0,38 – 0,48 m. A espécie pertence a ordem: Siluriformes (Peixes-gato); Família: Ariidae; 58 Classe: Actinopterygii (peixes com raios nas barbatanas); Tamanho máximo: 150 cm SL; Peso ax. publicado: 50.0kg; Idade máxima registrada: 4 anos; Ambiente: demersal; Estuarina; Marinhas; Resiliência: Elevada, tempo mínimo de duplicação da população menor que 15 meses; Distribuição: Atlântico ocidental: Rios litorais da Guiana até o norte do Brasil; Biologia: encontrada principalmente em águas turvas, sobre fundos barrentos em áreas litorais, estuários e partes mais baixas de rios. Sexualmente maduro depois dos dois anos de idade. Ao chocar, os alevinos são relativamente grandes, aproximadamente 6.0-6.5 cm. Comercializado fresco e salgado (www.fishbase.org). r) Hexanematichthys proops (VALENCIENNES, 1840) – uritinga Registros sobre estas espécies relatam que são pertencentes à família Ariidae. Bagres, ocorrem na zona litorânea, em água pouco profunda, em fundo lodoso ou arenoso e em geral procuram a desembocadura dos rios e regiões lagunares na época da desova. Realizada a desova, os machos, e mais raramente as fêmeas, incubam os ovos na cavidade bucal até o que se complete todo o desenvolvimento. O gênero Hexanematichthys apresenta placas de dentes palatinos reduzidas, sem uma expansão posterior (FIGUEIREDO; MENEZES, 1978). A média de comprimento da espécie nos desembarques foi de 67.70 cm e peso de 2.87kg. A espécie pertence a Ordem: Siluriformes (Peixes-gato); Família: Ariidae; Classe: Actinopterygii (peixes com raios nas barbatanas); Tamanho máximo: 100.0cm TL; Peso máximo publicado: 9,000g; Idade máxima registrada: 4 anos; Ambiente: demersal; Água doce; Estuarina; Marinhas; Resiliência: Elevada, tempo mínimo de duplicação da população menor que 15 meses; Distribuição: Atlântico ocidental: Caribe e rios de drenagem Atlânticos e estuários da Colômbia até o Brasil; Biologia: habita estuários principalmente salgados e lagunas. Também acontece em água doce. Encontrada em fundos barrentos rasos. Alimenta-se de peixes e camarões. Dois ciclos anuais de crescimento mais lento acontecem durante as estações secas (março e agosto a novembro). Longevidade de três a quatro anos. Sexualmente madura entre 1.5 a 2 anos de idade. Reprodução acontece de novembro a abril. Comercializado fresco. j) Estratégias reprodutivas das espécies do Sistema de Produção Pesqueira Pescada Amarela (SPPPA) 59 Um dos problemas que os organismos vivos tiveram que resolver ao longo do processo evolutivo para tentarem “perpetuar” a espécie foi a sobrevivência de um número suficiente de descendentes. As formas como os organismos resolveram esses problemas chamam-se estratégias reprodutivas. Através da reprodução as espécies produzem novos indivíduos e a variabilidade das táticas que modelam a estratégia adotada pelas diferentes espécies é essencial para o sucesso da suas proles. A estratégia k é característica de prole pequena, mas o cuidado dispensado a esta é extremamente elevado. Já na estratégia r, o número de filhotes é alto, mas não há cuidado parental. Deste modo, a taxa de sobrevivência é pequena. Os teleósteos, como grupo, alcançaram sucesso em ambientes distintos por apresentarem varias estratégias reprodutivas que englobam táticas extremas. Ocorrem espécies que apresentam desenvolvimento indireto, com larval, e metamorfose total, e outras que têm desenvolvimento direto, sem a fase larval. Do mesmo modo, ocorrem casos em que machos e fêmeas são indistinguíveis externamente, não exibindo comportamento de acasalamento, até outros em que indivíduos dos dois sexos desempenham papéis distintos, em comportamentos sexuais elaborados, como corte e acasalamento. Sua fecundidade apresenta uma amplitude de variação enorme (VAZZOLER, 1996). A alocação de maior quantidade de energia para a produção reprodutiva é característica das espécies r-estrategistas, enquanto para o investimento somático Kestrategistas. De acordo com a estratégia adotada pela espécie pode-se analisar pelo menos o grau de vulnerabilidade a que estão submetidas, pois irão responder de forma muito diferentes às pressões de explotação, estando mais suscetíveis ao declínio as estrategistas k, um organismo r-estrategista pode reproduzir-se rapidamente quando as pressões seletivas tornamse limitantes para a sua sobrevivência. De acordo com Vazzoler (1996) apresentam-se aqui as características distintas quanto às táticas que compõem o ciclo de vida das espécies r e K. Tabela 8 – Características distintas quanto às táticas que compõem o ciclo de vida das espécies r e K CARACTERÍSTICA Comprimento máximo Período de vida Taxa de crescimento Primeira maturação K-ESTRATEGISTAS Grande Longo Baixa Tardia r-ESTRATEGISTAS Pequeno Curto Elevada Precoce 60 Mortalidade natural Fecundidade Baixa Baixa Cuidado parental bem desenvolvido; período reprodutivo prolongado: Atributos (teleósteos de desovas repetidas; classes de água doce das várzeas tamanhos uniformemente venezuelanas) distribuídas ao longo do ano; (WINEMILLER, 1989 longo período de procriação; apud VAZZOLER, ovócitos grandes; tamanho do 1996) corpo grande; pequenas flutuações populacionais ao longo do ano (“bagres siluriformes”) Elevada Elevada Pequeno ou nenhum cuidado parental; período de desova prolongado; repetidos surtos reprodutivos; distribuição de tamanhos uniforme durante a estação chuvosa (para algumas espécies também durante a seca); curtos tempos de procriação; lotes relativamente pequenos; ovócitos pequenos; tamanho do corpo pequeno; flutuações populacionais intermediárias (caraciformes) Fonte: Vazzoler (1996) Na fauna acompanhante da pescada amarela foi possível encontrar muitas espécies K-estrategistas. Na ordem dos Siluriformes a fauna apresenta os seguintes componentes: Bagre bagre (bandeirado), Hexanematichthys parkeri (gurijuba), Hexanematichthys proops (uritinga) e Notarius grandicassis (cambéu). A Dasyatis guttata (bicuda), elasmobrânquio, também é uma espécie K-estrategista. A pescaria direcionada a Cynoscion acoupa (pescada amarela) acontece quase que diariamente, em curtos intervalos de tempo, interrompida apenas em dias de muita ventania (mais característico no mês de setembro) ou dias de muito mau tempo. Dessa forma, as capturas contemplam indiscriminadamente indivíduos que exibem baixa taxa de reprodução, comprometendo assim o equilíbrio dessas populações. 5.7 Cadeia de comercialização A pesca é uma importante atividade econômica e social no Estado do Maranhão. A C. acoupa é um recurso muito importante para o estado do Maranhão, é de grande aceitação por parte dos consumidores e possui a maior participação nos desembarques registrados no Estado. A forma de comercialização do pescado na praia do Araçagy/ Mangue Seco é a venda direta ao consumidor, muitas vezes comerciantes de feiras ou donos de restaurantes em São Luís. Não há, pois, uma estimativa mensal ou anual de produção entre os pescadores. Os 61 peixes envolvidos nesta pescaria têm seu destino para comerciantes ou pessoas que vão ao local para realizar a compra (Figura 13). Figura 13 – Venda direta de peixes ao consumidor (comercialização da “pescada”) A carne da pescada-amarela (C. acoupa) é a mais comercializada. É muito apreciada, considerada nobre, alcançando valores de R$ 8,50 a 10,00 o quilo, sobrepõe o comércio da grude-bexiga natatória. Geralmente, a grude é vendida fresca, pelos próprios donos de embarcações, o quilo custa em média R$ 60,00 (geralmente fresca) a 90,00 (seca), atinge valores maiores quando vendida seca. O produto é encaminhado para outros comerciantes na Raposa (MA) que os destina às cidades do nordeste do Brasil, de onde é exportado para o Japão, China e outros países asiáticos (Figura 14). 62 Origem pescado Mangue Seco São Luís Produto Comercializado Carne: R$ 8,50 a 10,00 Grude: R$ 60,00 a 90,00 Atravessador Grude Carne São Luís Local Ceará; Pernambuco Nacional Internacional São Luís, Raposa Natal Japão; China Figura 14 – Esquema ilustrativo da cadeia de comercialização da pescada amarela na praia do Araçagy/Mangue Seco, São Luís MA De acordo com os pescadores: “a pescada fêmea é maior, pesa mais, devido à grude, quando o peixe vem pequeno é preferível nem tirar para não cair o preço” (Miguel, pescador). Os custos advindos da pescaria da pescada-amarela (C. acoupa) estão relacionados com os custos dos barcos, redes, utensílios, depreciação, e outros. Com relação ao rendimento, cerca de 1.832 kg de pescada-amarela e proximadamente 21,57 kg de grude, em média (mensal) são obtidos em viagens que podem durar até 3 dias. Deste montante, cerca de R$ 15.573,00 são rendimentos advindos da carne e R$ 1. 294,00 do grude. Os volumes de captura também variam de acordo com a época do ano. As pescarias mais rentáveis acontecem no período chuvoso. Os pescadores designados à captura do recurso são geralmente escolhidos pelo dono “patrão” ou o mestre da embarcação. A divisão dos lucros é através do sistema de partilha onde a metade do lucro fica com o dono da embarcação e a outra metade é dividida em partes. Durante o período do presente estudo no Araçagy, o SPPPA, malhão apresentou 1.832kg desembarcada ao mês, gerando um lucro bruto de R$ 7.786,00 para essa comunidade. 63 Cynoscion acoupa representou 69,31% das capturas (Figura 15). Frota de Mangue Seco RENDIMENTOS Produção 1.832 kg/pescada/mês Grude 21,57 kg/mês Rendimento Pescada - R$ 15.573,00 Grude - R$ 1.294,00 Total - R$ 16.867,00 50% Dono do barco ou “patrão” 50% Tripulantes 2 – mestre; 1 - pescador Lucro bruto R$ 7.786,50 Figura 15 – Esquema ilustrativo dos rendimentos econômicos da “pescada amarela” (Cynoscion acoupa) A Fauna acompanhante é mais preferida, para compra, pela comunidade devido o valor inferior à pescada. A grude da fauna acompanhante segue o mesmo destino da grude da pescada. O grude de outras espécies como a corvina (C. microlepidotus), gurijuba (H. parkerii) e uritinga (Arius proops) também são comercializadas, mas em escala bem inferior. 64 Os pescadores não souberam informar sobre a utilidade das grudes. As espécies da fauna acompanhante do Sistema, considerada menos atraentes, em detrimento do recurso alvo do Sistema, têm sua comercialização na própria localidade e abrangem baixa representatividade. No quadro abaixo pode ser observado o valor de primeira comercialização para as espécies do Sistema na praia do Araçagy/Mangue Seco (Tabela 9). Tabela 9 – Preço médio de primeira comercialização das espécies do Sistema de Produção Pesqueira Pescada Amarela capturadas na praia do Araçagy/Mangue Seco Nome científico Cynoscion acoupa_pescada amarela Dasyastis guttata_arraia bicuda Caranx latus_xaréu Cynoscion microlepidotus_corvina uçu Aetobatus narinari_arraia pintada Hexanematichthys parkerii_gurijuba Hexanematichthys proops_uritinga Centropumus undecimalis_camurim preto Rhinoptera bonasus_arraia jaborana Preço local por kg/2008 Pele R$ 8,50 Escama R$ 0,0 Cartilaginoso R$ 2,50 – 3,0 Escama R$ 6,0 – 7,0 Escama R$ 0,060 Cartilaginoso R$ 6,0 – 7,0 Couro R$ 5,0 Escama R$ 10,0 – 14,0 R$ 0,060 Escama Cartilaginoso R$ 0,0 – 2,0 Couro Notarius grandicassis (cambéu) R$ 2,50 Couro Lobotes surinamensis (Croaçu) R$ 3,50 Escama Bagre bagre (bandeirado) R$ 6,0 Couro Etropus crossotus (solha) R$ 0,0 Escama R$ 2,50 Escama Gymnura micrura (arraia baté) R$ 0,0 Cartilaginoso Carcharhinus porosus (cação) R$ 4,0 Cartilaginoso Chaetodipterus faber (paru) Micropogonias furnieri (cururuca) R$ 8,0 – 9,0 Escama Batrachoides surinamensis (pacamão) R$ 0,0 Couro arraia lixão? R$ 0,0 Cartilaginoso Cynoscion steindachneri (jurapara) 65 6 CONCLUSÃO Dentre os aspectos comuns na pescaria da Cynoscion acoupa (“pescada”) na praia do Araçagy/Mangue Seco, Ilha do Maranhão destaca-se a importância de se observar que a frota incide sobre diferentes espécies ao acaso no ambiente, mas o petrecho é altamente seletivo no que diz respeito ao recurso alvo. A ocorrência das espécies nas pescarias além de estar relacionada ao poder de pesca do petrecho no ambiente está relacionada também a fatores que envolvem a morfologia do recurso alvo e coincidências de categorias ecológicas, ou seja, a ocupação diferenciada do ambiente de pesca pelas espécies vulneráveis ao petrecho. Mas, a fauna acompanhante do SPPPA não ultrapassa o volume do recurso alvo (Cynoscion acoupa) nas capturas. A espécie considerada potencialmente como fauna acompanhante da pescada é a arraia bicuda (Dasyatis guttata), pois participou em maior número de desembarques como também em freqüência de ocorrência. Dessa forma, parte da fauna acompanhante do SSPPA está sendo impedida de realizar o recrutamento, (Dasyatis guttata) e o formato do corpo deste animal favorece a captura pelo malhão. Em termos de abundância relativa nas pescarias a espécie alvo apresentou maior índice. As espécies mais representativas como fauna acompanhante no SPPPA depois da arraia bicuda foram: Caranx latus (xareu); Cynoscion microlepidotus (corvina uçu); Aetobatus narinari (arraia pintada); Hexanematichthys parkerii (gurijuba); Hexanematichthys proops (uritinga) e Centropumus undecimalis (camurim preto). O consumo principal dos pescadores no SSPPA é a fauna acompanhante. Sua considerável importância econômica para a comunidade tende a dificultar a busca por soluções que visem evitar sua captura. Na pesquisa realizada na praia do Araçagy/Mangue Seco observa-se a produção do recurso alvo durante todo o ano, e aumenta na estação chuvosa, entre os meses de novembro a fevereiro. Durante as estações ocorre uma mudança na composição da fauna acompanhante, na estação chuvosa o recurso da fauna acompanhante mais capturado passa da Dasyatis guttata para o Hexanematichthys parkerii (gurijuba). A frequência de ocorrência absoluta da Cynoscion acoupa foi superior aos outros indivíduos da pescaria. A principal espécie da fauna acompanhante, em ocorrência absoluta, Dasyatis guttata, tem um valor social perante a comunidade, são doadas pelos pescadores, já que não atingem comercialização. As outras espécies têm mais um papel nutricional que 66 comercial na vida dos pescadores. O lucro gerado nas capturas da pescada amarela não se reflete na condição financeira dos pescadores, que possuem baixas rendas e contínua dependência dos atravessadores, com permanência dos créditos indiretos e conseqüente compromisso de venda do pescado com os donos de embarcações. Os pescadores não conseguem acumular recursos ao longo do tempo para adquirirem seus próprios instrumentos de trabalho e assim, supostamente, aumentarem sua condição de renda. 67 REFERÊNCIAS ALMEIDA, Z. S. 2009. Os recursos pesqueiros marinhos e estuarinos do Maranhão: biologia, tecnologia, socioeconomia, estado da arte e manejo. Tese (Programa de PósGraduação em Zoologia) – Universidade Federal do Pará/Museu Emílio Goeldi, Belém. ALMEIDA, Z. S.; SANTOS, N. Alimentação de peixes teleotei de valor comercial capturados na área de proteção ambiental das reentrâncias maranhenses. In: Projetos e ações em Biologia e Química. São Luís: EDUMA, 2006. ALMEIDA, Z. S. et al. Diagnóstico da pesca artesanal no litoral do Estado do Maranhão. In: VITORIA, J. et al. (org.). A pesca marinha e estuarina do Brasil no inicio do século XXI: recursos, tecnologias, aspectos socioeconômicos e institucionais. Belém: Universidade Federal do Pará – UFPA, 2006. ALVERSON, D. L. et al. 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Diretrizes para conservação de espécies ameaçadas de elasmobrânquios (capítulo 13) in: Ações para a conservação de tubarões e arraias no sul do Brasil. Porto Alegre: Igaré, 2005. 262p. 71 APÊNDICES APÊNDICE A – Estatística pesqueira ESPÉCIE PESO (Kg) COMPRIMENTO (cm) PREÇO (R$) 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 COLETOR: ___________________________________ DATA_____/______/_____ APÊNDICE B – Entrevista 1. Como acontecem as pescarias da pescada amarela ()? 2. Que tipo de rede pega a pescada amarela, qual o tamanho? 3. Na pescaria, quais as outras espécies de peixes que acompanham a pescada amarela? 4. As espécies de peixes que vêm com a pescada atingem comercialização, dentre elas qual a mais apreciada para o consumo? 5. Estas espécies acompanhantes da pescada funcionam como recurso alvo em outras pescarias? 6. Quais os produtos que comercializa (carne/grude) origem do produto? 7. Quais as formas de comercialização? 8. Existe algum controle de quanto movimenta (kg)? 9. Para onde direciona a produção? 10. Sempre vende para os mesmos compradores? Por quê? 11. Como negocia a pescada (a compra do produto)? 12. A quantidade de grude e de carne da pescada amarela comercializada está diminuindo? A que atribui a mudança? Tem muita gente comercializando esse produto? O que acha dessa situação? 13. O tamanho médio da pescada comercializada está diminuindo? A que atribui a mudança? 14. Escolaridade? (tentar justificar por que “parou” em determinado nível). Número de filhos? São estudantes? Trabalham? Com o que? 15. O que acha do valor pago em reais para o pescador? Acha justo (compensa pela quantidade de trabalho?). 16. Como você avalia as medidas de manejo (tamanho mínimo, captura de fêmeas na época da reprodução)? Ou ausência delas? 17. Qual a renda média movimentada, semana, mês? APÊNDICE C - Descrição das demais espécies que compõem a pescaria da pescada amarela e características da ecologia e biologia dos indivíduos pesquisados com os nomes científicos. Batrachoides surinamensis (BLOCH; SCHNEIDER, 1801) – pacamão Ordem: Batrachoidiformes (Charrocos); Família: Batrachoididae; Classe: Actinopterygii (peixes com raios nas barbatanas); Tamanho máximo: 57.0 cm TL (macho/indeterminado) Peso máx. publicado: 2,300g; Ambiente: demersal; Marinhas; intervalo de profundidade? – 36 m; Resiliência: Baixo, tempo mínimo de duplicação da população 4,5 - 14 anos; Distribuição: Atlântico Central Ocidental: Honduras a Salvador (Bahia) no Brasil. Norte e Nordeste do Brasil; Biologia: Principalmente de água salgada. Encontrado em fundos arenoso-barrentos em água morna rasa. Não tão ativo, demora em cima do substrato disfarçado. Alimenta-se de moluscos, de gastrópode pequenos, crustáceos como caranguejos (Calappidae, Portunidae, Xanthidae, etc.), camarões (Penaeidae, Palaemonidae, Alphaeidae, etc.) e peixes. As fêmeas estão maduras ao redor de 20 cm comprimento, machos 25 cm. Gera 400 a 500 ovos, com um tamanho de 4 a 5 mm. Comercializado fresco. Carcharhinus porosus (RANZANI, 1839) – cação Ordem: Carcharhiniformes (Tubarões); Família: Carcharhinidae; Classe: Elasmobranchii (tubarões e arraias); Tamanho máximo: 150cm; Ambiente: demersal, estuarina, marinhas, intervalo de profundidade ? – 36 m Resiliência: muito baixa, tempo mínimo de duplicação da população maior que 14 anos; Distribuição: Atlântico Ocidental: Golfo do México ao sul do Brasil (excluindo as ilhas caribenhas) e Uruguai. Pacífico Oriental: Golfo de Califórnia até Peru; Biologia: encontrada em cima de fundos barrentos, especialmente em estuários. Alimenta-se principalmente de pequenos peixes, tubarões e camarões. Vivíparo, é a menor espécie do gênero que ocorre no Brasil, atingindo no máximo 1,30m de comprimento. Tornase madura com 80cm. Fêmeas grávidas são encontradas praticamente durante todo o ano. Estas produzem de 2 a 7 embriões que nascem com um tamanho ao redor de até 40cm de comprimento. Megalops atlanticus (VALENCIENNES, 1847) – camurupim Ordem: Elopiformes (Tarpões); Família: Megalopidae; Classe: Actinopterygii (peixes com raios nas barbatanas); Tamanho máximo: 250cm; Peso máx. publicado: 161.0kg; Ambiente: associadas (os) a recifes; anfídromos; Água doce; Estuarina; Marinhas; intervalo de profundidade 0 – 30 m.; Resiliência: Baixo, tempo mínimo de duplicação da população 4,5 - 14 anos; Distribuição: Atlântico oriental: Senegal até Angola, com ocorrências excepcionais em Portugal, Azores e costa Atlântica do Sul da França. Atlântico ocidental: Carolina do Norte, E.U.A. até a Bahia, Brasil, com ocorrências ocasionais fora da costa americana em direção ao norte até Nova Escócia, Canadá e o sul para Cananéia, Brasil e Argentina. Ao longo de Golfo de México e Caribe. Pacífico Central Oriental: Ilha de Cobia no Panamá pelo Canal de Panamá; Biologia: habita águas litorais, baías, estuários, lagunas mangues e rios. Freqüentemente encontrada em bocas de rio e baías, entrando em água fresca. Escolas Grandes podem freqüentar manchas particulares durante anos. Alimenta-se de peixes como sardinhas, anchovas, Mugilidae, Centropomus, Cichlidae (principalmente) e caranguejos. A bexiga natatória, fixa ao esôfago, pode ser enchido diretamente de ar e habilita o peixe para viver em águas oxigênio-pobres. Tem fecundidade alta, uns 203 cm fêmea é calculada para produzir mais de 12 milhões de ovos. Gere em águas que podem ser isoladas temporariamente do mar aberto. Famoso para seus pulos espetaculares quando curvo. Comercializado fresco ou salgado. Altamente apreciada por pescadores desportivos. A carne também é apreciada, apesar de ser ósseo. Ginglymostoma cirratum (BONNATERRE, 1788) – tubarão uru maru Ordem: Orectolobiformes (Tubarões-zebra); Família: Ginglymostomatidae ; Classe: Elasmobranchii (tubarões e arraias); Tamanho máximo: 430 cm TL; Peso máximo: 109,6kg; Idade máxima registrada: 25 anos; Ambiente: demersal; oceanódromos; Estuarina; Marinhas; intervalo de profundidade 0 – 65 m; Resiliência: Baixo, tempo mínimo de duplicação da população 4,5 - 14 anos; Distribuição: Atlântico ocidental: Rhode Island, E.U.A. até Brasil Sul, inclusive o Golfo de México e Caribe, Antilhas. Atlântico oriental: Cabo Verde até o Gabão; Ocidental à França. Pacífico oriental: Golfo de Califórnia e a Baja Califórnia sulista, México até o Peru. Já foram encontradas espécies próximo ao Oceano Índico; Biologia: encontrada em estantes continentais e insulares. Peixe solitário e lento, freqüentemente encontrado enterrado no fundo. Noturno, alimenta-se de invertebrados de fundo como lagostas espinhosas, camarões, caranguejos, moleques de mar, lulas, polvos, caracóis e bivalve, e peixes como peixe-gatos, mullets, puffers e arraias. Ovovivíparo. Sobrevive em cativeiro para pesquisas. Pode atacar os humanos se eles são molestados ou pisarem-no acidentalmente. Comestível, mas principalmente avaliado por sua pele que fornece couro extremamente duro e durável. Comum em cima de areia rasa achata, em canais, e ao redor de recifes de coral; jovem pode ser achado entre raízes de suporte de mangue vermelho. Centropomus undecimalis (BLOCH, 1792) – camurim preto Ordem: Perciformes (Percas); Família: Centropomidae; Classe: Actinopterygii (peixes com raios nas barbatanas); Tamanho máximo: 140 cm; Peso máx. publicado: 24,3 kg; Ambiente: associadas(os) a recifes; anfídromos; Água doce; Estuarina; Marinhas; intervalo de profundidade ? – 22 m; Resiliência: Médio, tempo mínimo de duplicação da população 1,4 - 4,4 anos; Distribuição: Atlântico ocidental: Flórida sulista (EUA), costa do sudeste do Golfo de México, Antilhas, costa do Caribe, América Central e América do Sul que estende para o sul do Rio de Janeiro, Brasil, também Carolina do Norte e Texas, EUA. Chaetodipterus faber (BROUSSONET, 1782) – paru Ordem: Perciformes (Percas); Família: Ephippidae; Classe: Actinopterygii (peixes com raios nas barbatanas); Tamanho máximo: 91.0 cm; Peso máx. publicado: 9,000 g; Ambiente: associadas (os) a recifes; oceanódromos; Estuarina; Marinhas; intervalo de profundidade 3 – 35 m; Resiliência: Médio, tempo mínimo de duplicação da população 1,4 4,4 anos; Distribuição: Atlântico ocidental: Massachusetts, EUA e Golfo do norte do México até o Rio Grande do Sul, Brasil; Biologia: Abundante em águas litorais rasas, de mangues e praias arenosas para destruições e portos. Jovens são comuns em estuários e freqüentemente encontrados em águas muito rasas. Adultos acontecem freqüentemente em cardumes muito grandes de até 500 indivíduos. Alimentam-se de invertebrados bentônicos como crustáceos, moluscos, anelídeos, cnidários como também de plâncton. Peixe de carne boa, comercializado fresco. No sudeste do Brasil são encontrados entre 23 e 45m. Criado em cativeiro. Eugerres brasilianus (CUVIER, 1830) – carapitanga Ordem: Perciformes (Percas); Família: Gerreidae; Classe: Actinopterygii (peixes com raios nas barbatanas); Tamanho máximo: 50.0 cm; Ambiente: demersal; Marinhas; Resiliência: Médio, tempo mínimo de duplicação da população 1,4 - 4,4 anos; Distribuição: Atlântico Central ocidental: Carolina do Sul, E.U.A. até Santa Catarina, Brasil. Provavelmente ocorre em Trinidad e Tobago e outras ilhas dos Antilhas; Biologia: ocorre em água rasas, sobre fundos macios. Lobotes surinamensis (BLOCH, 1790) – croaçu Ordem: Perciformes (Percas); Família: Lobotidae; Classe: Actinopterygii (peixes com raios nas barbatanas); Tamanho máximo: 110cm; Peso máx. publicado: 19,2kg; Ambiente: bentopelágico; oceanódromos; Estuarina; Marinhas; Resiliência: Elevada, tempo mínimo de duplicação da população menor que 15 meses; Distribuição: águas tropicais e subtropicais de todos os oceanos. Atlântico ocidental: Canadá até Massachusetts, EUA e Ilhas Bermudas até Argentina. Atlântico Oriental: Mar mediterrâneo; Madeira para o Golfo de Guiné; África do Sul. Pacífico ocidental: Japão, Fiji e Tuvalu; Biologia: adulto habita baías, estuários barrentos e mais baixos alcances de rios grandes. Bentopelágico. Vive perto da praia, lento, freqüentemente flutua perto da superfície na companhia de objetos flutuantes. Ocasionalmente ventos em cima de recifes. Jovem pode acontecer em Sargassum flutuante e pode imitar uma folha flutuante (Ref. 37816). Alimenta-se de crustáceos, de bénton e peixes pequenos. Comercializado fresco, congelado, ou salgado. Cynoscion steindachneri (JORDAN, 1889) – jurapara Ordem: Perciformes (Percas); Família: Sciaenidae; Classe: Actinopterygii (peixes com raios nas barbatanas); Tamanho máximo: 110cm; Ambiente: demersal; Água doce; Estuarina; Marinha; intervalo de profundidade 10 –? m; Resiliência: Baixo, tempo mínimo de duplicação da população 4,5 - 14 anos; Distribuição: Atlântico ocidental: Guiana até Belém, Brasil; Biologia: principalmente em pântanos de água salgada ao longo das costas. Alimentase de peixes, camarões e às vezes plantas. Peixe de valor comestível importante. Micropogonias furnieri (DESMAREST, 1823) – cururuca Ordem: Perciformes (Percas); Família: Sciaenidae; Classe: Actinopterygii (peixes com raios nas barbatanas); Tamanho máximo: 60.0 cm; Idade máxima registrada: 7 anos; Ambiente: demersal; oceanódromos; Estuarina; Marinhas; intervalo de profundidade ? – 60 m; Resiliência: Médio, tempo mínimo de duplicação da população 1,4 - 4,4 anos; Distribuição: Atlântico ocidental: e da Costa Rica até a Argentina. Também registrada na Nicarágua; Biologia: encontrada sobre fundos barrentos e arenosos em águas litorais e em estuários que servem como berçário e locais de alimento. Hábitos alimentares variam com desenvolvimento ontogenético e estação; jovens alimentam-se de crustáceos bentônicos e migratórios e moluscos sésseis. Sofre migração sazonal. Um peixe de valor nutricional importante que normalmente é comercializado fresco e salgado. Epinephelus itajara (LICHTENSTEIN, 1822) – mero Ordem: Perciformes (Percas); Família: Serranidae; Classe: Actinopterygii (peixes com raios nas barbatanas); Tamanho máximo: 250 cm; Peso máximo publicado: 455.0 kg; Idade máxima registrada: 37 anos; Ambiente: associadas (os) a recifes; Estuarina; Marinhas; intervalo de profundidade? – 100 m; Resiliência: Baixo, tempo mínimo de duplicação da população 4,5 - 14 anos; Distribuição: Atlântico ocidental: Flórida, EUA até o sul do Brasil, inclusive o Golfo de México e o Caribe. Atlântico oriental: Senegal até o Congo; raro nas Ilhas Canário. Pacífico Oriental: Golfo de Califórnia até o Peru; Biologia: espécies solitárias, encontradas no raso. Encontradas em pedra, coral, ou lama. Jovens são encontradas em áreas de mangue e estuários salgados. Quando adultos podem ser encontrados em estuários. Os Adultos parecem ocupar gamas de casa limitadas com pequeno movimento de enterrar-recife. Alimentam-se principalmente de crustáceos, lagostas particularmente espinhosas como também tartarugas e peixes, inclusive arraias. Territorial próximo é caverna de refúgio ou destruição onde pode mostrar para uma exibição de ameaça com boca aberta e corpo tremendo. Comercializado fresco e salgado. A Carne é de excelente qualidade. Alcança pesos de mais de 315 kg. Etropus crossotus (JORDAN; GILBERT, 1882) – solha Ordem: Pleuronectiformes (Peixes-chatos); Família: Paralichthyidae (Paralictiídeos. Alabotes-de-dentes-grandes); Classe: Actinopterygii (peixes com raios nas barbatanas); Tamanho máximo: 20.0 cm TL; Idade máxima registrada: 1 ano; Ambiente: demersal; oceanódromos; Estuarina; Marinhas; intervalo de profundidade 0 – 65 m; Resiliência: Elevada, tempo mínimo de duplicação da população menor que 15 meses; Distribuição: Atlântico ocidental: Canadá até Baía de Chesapeake, EUA. Até as Antilhas e o Sul do Brasil. Pacífico oriental: Baixa Califórnia para o Peru; Biologia: habita fundos arenosos e barrentos. Comum em estuários. Alimenta-se em grande parte de invertebrados bentônicos e pequenos peixes. Pristis perotteti (MÜLLER; HENLE, 1841) – Espadarte Ordem: Pristiformes (Peixes-serra); Família: Pristidae; Classe: Elasmobranchii (tubarões e arraias); Tamanho máximo: 650cm (macho/indeterminado); Peso máximo publicado: 591.0 kg; Ambiente: bentopelágico; anfídromos; Água doce; Estuarina; Marinhas; intervalo de profundidade ? – 122 m; Resiliência: Baixo, tempo mínimo de duplicação da população 4,5 14 anos; Distribuição: Atlântico noroeste: Texas, Flórida. Atlântico nordeste: África ocidental. Pacífico Central oriental e Ocidental: fora a Austrália do norte. Indo-China: Indies oriental. América do Sul: Amazona perto de Santárem, Brasil. Biologia: habita águas rasas da costa estuarina, particularmente lagunas. Geralmente pensamento para raramente descer debaixo de 10m mas foi achado às 122m em Lago a Nicarágua. Tende a correr mais longe rio acima em rios grandes. Encontrada em temperaturas mais altas que 20-30°C. Ovovivípara. Rhinoptera bonasus (MITCHILL, 1815) – arraia jaborana Ordem: Rajiformes; Família: Myliobatidae; Classe: Elasmobranchii (tubarões e arraias); Tamanho máximo: 213cm largura do disco; Ambiente: bentopelágico; oceanódromos; Estuarina; Marinhas; intervalo de profundidade 0 – 22 m; Resiliência: Baixo, tempo mínimo de duplicação da população 4,5 - 14 anos; Distribuição: Atlântico Oriental: A Mauritânia, Senegal e Guiné. Atlântico ocidental: New England sulista até a Flórida do norte (EUA) e ao longo do Golfo de México, migrando para Trinidad, Venezuela, Brasil e Uruguai. Biologia: espécies oceânicas às vezes são encontradas perto da costa. Salta ocasionalmente, provavelmente como uma exibição territorial. Migra para o sul em escolas grandes que desaparecem fora a Flórida do norte, EUA. População no Golfo de México migra à direita; escolas de até 10,000 raios deixam costa ocidental de Flórida para Yucatan, México pelo outono. Ovovivíparo. Gymnura micrura (BLOCH; SCHNEIDER, 1801) – arraia bate Ordem: Rajiformes (Arraias); Família: Gymnuridae; Classe: Elasmobranchii (tubarões e arraias); Tamanho máximo: 137 cm, largura do disco; Ambiente: demersal; Estuarina; Marinhas; intervalo de profundidade ? – 40 m. Resiliência: Muito baixo, tempo mínimo de duplicação da população maior que 14 anos; Distribuição: Atlântico ocidental: Maryland, EUA até o Brasil. Também Golfo do México e a América do Sul, ao norte, até o Brasil. Atlântico Oriental: Senegal, Gâmbia, Sierra Leone, Camarões e República Democrática do Congo (até a boca de Rio de Congo). Mauritânia. Registros nominais de fora o Sri Lanka, Índia, Malásia, Cingapura, Vietnã, Borneo e Sumatra na Indonésia, e Filipinas, precisa ser verificado se realmente são as mesmas espécies que acontecem no Atlântico. Biologia: Prefere águas da plataforma continental nerítica e normalmente encontradas em fundos macios. Podem entrar em estuários salgados ou lagunas muito salinas. Alimenta-se de peixes e camarões. Ovovivíparo. Geralmente comercializada salgado. Notarius grandicassis (VALENCIENNES, 1840) – cambéu Ordem: Siluriformes (Peixes-gato); Família: Ariidae; Classe: Actinopterygii (peixes com raios nas barbatanas); Tamanho máximo: 63.0 cm TL; Ambiente: demersal; Estuarina; Marinhas; intervalo de profundidade ? – 20m. Resiliência: Baixo, tempo mínimo de duplicação da população 4,5 - 14 anos; Distribuição: América do Sul: Rios e estuários de Golfo de Venezuela até rio Amazonas; Biologia: encontrada em fundos barrentos de águas salgadas rasas; também em águas marinhas. Reprodução parece acontecer entre maio e junho. As posições femininas abaixo 20-30 ovos que têm um diâmetro de 10-12 mm, aglutinado em muco. O macho vigia os ovos durante 10-12 dias até chocar. Comercializado fresco. Bagre bagre (LINNAEUS, 1766) – Bandeirado Ordem: Siluriformes; Família: Ariidae; Classe: Actinopterygii (peixes com raios nas barbatanas); Tamanho máximo: 55.0 cm; Peso máx. publicado: ? kg; Ambiente: demersal; Estuarina; Marinhas; intervalo de profundidade ? – 50 m; Resiliência: Médio, tempo mínimo de duplicação da população 1,4 – 4,4 anos; Distribuição: América Central e América do Sul: Colômbia. Rio Amazonas. Atlântico; Biologia: espécie principalmente marinha, comum em rio, também entra em estuários de rio. Alimenta-se de pequenos peixes e invertebrados, como crustáceos. Comercializado fresco.