Na edição de aniversário do MIC, a revista celebra o primeiro ano
Transcrição
Na edição de aniversário do MIC, a revista celebra o primeiro ano
Um ano decifrando a C&T Na edição de aniversário do MIC, a revista celebra o primeiro ano de existência do site. Ela reúne as reportagens que mais se destacaram desde a sua fundação, em fevereiro de 2002, até fevereiro de 2003 Número 1 – 2002/2003 Núcleo de Mídia Científica Um portfólio do ano I Março de 2003 http://www.mic.ufsc.br EXPEDIENTE .:EDITORIAL Revista do MIC Número 1 – 2002/2003, Março de 2003 Grupo Stela Roberto Pacheco, Dr. Eng. - coordenador científico O Núcleo de Mídia Científica é um laboratório do Departamento de Engenharia de Produção e Sistemas da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina). Seus componentes são mestres e doutores, graduandos, mestrandos e doutorandos Textos neste número: Felipe Zylbersztajn, Imara Stallbaum, Marcelo Tolentino, Mário Prata, Sibyla Goulart e Vinícius Kern MIC / Núcleo de Mídia Científica (Célula de Mídia) Vinícius Kern, Dr. Eng., coordenador Imara Stallbaum, jorn. (MTB/RS - 3847 JP) Marcelo Tolentino, jorn. (MTB/SC - 01506 JP) Rita Paulino, M. Eng., jorn. (SC 00365-DG) Sibyla Goulart, jorn. (DRT/SC - 782 JP) Célula de Webdesign Rita Paulino, M. Eng., coordenadora Daniella Vieira João Paulo da Costa Luiz Otávio Ramos Costa Marcos V. Loureiro Goulart Rafael Motta 2 * Revista do MIC Projeto gráfico e editoração Rita Paulino e Marcelo Tolentino Fotos Antônio Carlos Mafalda Assessoria de Imprensa/ governo estadual (SC) e Arquivo MIC Revisão Célula de Documentação Sandra Regina Martins Isabel Luclktenberg Juliana Herling O casamento da ciência com o jornalismo Abrir um canal entre a comunidade científica do Programa de PósGraduação em Engenharia de Produção e Sistemas da UFSC e a sociedade. Divulgar descobertas importantes e relevantes. Acompanhar projetos em andamento ou já concluídos na área de Ciência e Tecnologia. Transformar as teses e dissertações em notícias assimiláveis dentro e fora da academia. Em vez dos indicadores costumeiros usados pelas instituições de ensino, textos pessoais apresentam a opinião de quem as defendeu e do orientador, bem como o papel de ambos no contexto da pós-graduação. O MIC (Núcleo de Mídia Científica) surgiu com essa missão, publicando seu sítio na web em 8 de fevereiro de 2002. Nas páginas desta Revista do MIC, número 1, reunimos algo do que foi feito até o primeiro aniversário para divulgar teses e dissertações, laboratórios, projetos e produtos. Cinco dos 22 textos falam de teses e dissertações defendidas no PPGEP, incluindo a demonstração de como é possível avaliar a produção científica de forma transparente e nãotendenciosa1, uma técnica que promete anabolizar as buscas na Internet2, a receita para amortizar o custo ambiental das obras de superfície3, a revelação de que mestres não são imunes à crendice4 e, por fim, o mapa do desperdício de alimentos5 que, já em fevereiro, repercutiu a ponto de dobrar a quantidade de acessos ao nosso sítio em relação a dezembro, sem falar nas inserções na mídia comercial. Cobrimos também o trabalho de laboratórios, alunos e professores. A gama de assuntos é vasta, incluindo a formação da Rede SCienTI, os sistemas desenvolvidos pelo Grupo Stela, o trabalho de consultoria empresarial do Grupo de Engenharia e Análise de Valor (GAV), o Banco de Teses e Dissertações (BTD), o sistema Olimpo do Ijuris, as análises de sítios web de universidades e de candidatos à presidência e os desenvolvimentos na área da Educação, com o Laboratório de Ensino a Distância (LED) e a aplicação do sistema de controle de qualidade da ciência – a revisão pelos pares – na aprendizagem. Iniciamos com uma crônica gostosa e muito verdadeira de Mário Prata, cedida gentilmente pelo autor. Em seguida, um artigo aborda o impacto e o futuro do MIC e seu sítio na web. Depois vêm as matérias do ano I. Buscamos, assim, demonstrar que o casamento da ciência com o jornalismo pode dar certo. Esperamos que a leitura seja prazerosa. Núcleo de Mídia Científica 1 2 3 4 5 A C&T brasileira já pode sair do castelo Sistema recupera casos semelhantes para facilitar consultas Geóloga propõe obras no subsolo Método científico versus charlatanismo Banquete jogado fora Crônica Páginas 4 e 5 O MICrofone da CT&I Panorama Páginas 6 e 7 Plataforma aposenta o papel Era digital Páginas 8 e 9 Geóloga propõe obras no subsolo Tese de Doutorado Página 10 Novo perfil da ciência e tecnologia Censo da C&T Página 11 SUMÁRIO Uma tese é uma tese Universidade gaúcha implanta sistema catarinense, que já atrai estrangeiros Plataforma Lattes Página 12 Mundo de novidades é cenário ideal para a Plataforma Lattes Fórum de Inovação Tecnológica Página 14 Segurança por trás das urnas Eleições Página 15 Método científico versus charlatanismo Dissertação de Mestrado Páginas 16, 17 e 18 Educação sob a luz da ciência Revisão pelos pares na aprendizagem Páginas 18 e 19 Brasil ganha batalha tecnológica Na vitrine da ONU Páginas 20 e 21 Site do MIC vira case Divulgação científica Página 21 Ciro Gomes tem a melhor campanha virtual Presidenciáveis na web Página 22 Reconhecimento internacional LED é benchmark em educação a distância Página 23 A C&T brasileira já pode sair do castelo Tese de Doutorado Páginas 24, 25 e 26 Universidades ainda não sabem vender seu peixe pela Internet Nota vermelha na rede Página 27 Banco de Teses e Dissertações completa um ano e meio na rede Democratização do conhecimento Páginas 28 e 29 Corrigir para crescer GAV - Grupo de Engenharia e Análise do Valor Páginas 30 e 31 Banquete jogado fora Dissertação de Mestrado Páginas 32, 33, 34 e 35 Edição de aniversário do MIC , a revista celebra o primeiro ano de existência do site. Ela reúne as reportagens que mais se destacaram desde a sua fundação, em fevereiro de 2002, até fevereiro de 2003 Ilustração de Capa .: Luiz Otávio Ramos Costa Grupo Stela / Design Sistema recupera casos semelhantes para facilitar consultas Dissertação de Mestrado Páginas 36, 37 e 38 Nova equipe assume com promessa de liberação de 1% da arrecadação para a C&T Posse de Diomário de Queiroz, diretor da Funcitec Página 39 Rede SCienTI já é realidade Ciência sem fronteiras Páginas 40 e 41 3 * Revista do MIC Um ano decifrando a C&T NICA Prata faz uma narração bemhumorada sobre o mundo dos trabalhos acadêmicos Uma tese é uma tese Por Mario Prata 4 * Revista do MIC S abe tese, de faculdade? Aquela que defendem com unhas e dentes? É desta tese que eu estou falando. Você deve conhecer pelo menos uma pessoa que já defendeu uma tese. Ou que esteja defendendo. Sim, uma tese é defendida. Ela é feita para ser atacada pela banca, que são aquelas pessoas que gostam de botar banca. As teses são todas maravilhosas. Em tese. Você acompanha uma pessoa meses, anos, séculos, defendendo uma tese. Palpitantes assuntos. Tem tese que não acaba nunca, que acompanha o elemento para a velhice. Tem até teses pós-morte. O mais interessante na tese é que, quando nos contam, são maravilhosas, intrigantes. A gente fica curioso, acompanha o sofrimento do autor anos a fio. Aí ele publica, te dá uma cópia e é sempre, sempre, uma decepção. Em tese. Impossível ler uma tese de cabo a rabo. São chatíssimas. É uma pena que as teses sejam escritas apenas para o julgamento da banca circunspecta, sisuda e compenetrada em si mesma. E nós? Sim, porque os assuntos, já disse, são maravilhosos, cativantes, e as pessoas, inteligentíssimas. Temas do arco-da-velha. Mas toda tese fica no rodapé da história. Pra que tanto sic e tanto apud? Sic me lembra Pasquim e Apud não parece candidato do PFL para vereador? Apud Neto. Escrever uma tese é quase um voto de pobreza que a pessoa se autodecreta. O mundo pára, o dinheiro entra apertado, os filhos são abandonados, o marido que se vire. Estou acabando a tese. Essa frase significa que a pessoa vai sair do mundo. Não por alguns dias, mas anos. Tem gente que nunca mais volta. E, depois de terminada a tese, tem a revisão da tese, depois tem a defesa da tese. E, depois da defesa, tem a publicação. E, é claro, intelectual que se preze, logo em seguida embarca noutra tese. São os profissionais. Em tese. O pior é quando convidam a gente para assistir à defesa. Meu Deus, que sono! Não em tese, na prática mesmo. Arquivo MIC .: C R Ô Revista do MIC - 2002/2003 www.mic.ufsc.br Revista do MIC - 2002/2003 www.mic.ufsc.br Arquivo MIC Copyright © 2002 Mario Prata. Texto reproduzido aqui com autorização do autor. Veja a versão original desta crônica em http://www.geocities.com/Paris/Cafe/2663/TESE.html, ou no MIC em http://www.mic.ufsc.br/index.php?url=conteudo_pri\int_cronica.htm 5 * Revista do MIC Arquivo MIC Orientados e orientandos (que nomes atuais!) são unânimes em afirmar que toda tese tem que ser – tem que ser! - daquele jeito. É para não entender mesmo. Tem que ser formatada assim. Que na Sorbonne é assim, que em Coimbra também. Na Sorbonne, desde 1257. Em Coimbra, mais moderna, desde 1290. Em tese (e na prática) são 700 anos de muita tese e pouca prática. Acho que, nas teses, tinha que ter uma norma onde, além da tese, o elemento teria que fazer um tesão (tese grande). Ou seja, uma versão para nós, pobres teóricos ignorantes que não votamos no Apud Neto. Ou seja, o elemento (ou a elementa) passa a vida a estudar um assunto que não nos interessa em nada. Pra quê? Pra virar mestre, doutor? E daí? Se ele estudou tanto aquilo, acho impossível que ele não queira que a gente saiba a que conclusões chegou. Mas jamais saberemos onde fica o bicho-da-goiaba quando não é tempo de goiaba. No bolso do Apud Neto? Tem gente que vai para os Estados Unidos, para a Europa, para terminar a tese. Vão lá nas fontes. Descobrem maravilhas. E a gente não fica sabendo de nada. Só aqueles sisudos da banca. E o cara dá logo um dez com louvor. Louvor para quem? Que exaltação, que encômio é isso? E tem mais: as bolsas para os que defendem as teses são uma pobreza. Tem viagens, compra de livros caros, horas na Internet da vida, separações, pensão para os filhos que a esposa levou embora. É, defender uma tese é mesmo um voto de pobreza, já diria São Francisco de Assis. Em tese. Tenho um casal de amigos que há uns dez anos prepara suas teses. Cada um, uma. Dia desses, a filha, de dez anos, no café da manhã, ameaçou: - Não vou mais estudar! Não vou mais na escola. Os dois pararam - momentaneamente - de pensar nas teses. - O quê? Pirou? - Quero estudar mais não. Olha vocês dois. Não fazem mais nada na vida. É só a tese, a tese, a tese. Não pode comprar bicicleta por causa da tese. A gente não pode ir para a praia por causa da tese. Tudo é pra quando acabar a tese. Até trocar o pano do sofá. Se eu estudar, vou acabar numa tese. Quero estudar mais não. Não me deixam nem mexer mais no computador. Vocês acham mesmo que eu vou deletar a tese de vocês? Pensando bem, até que não é uma má idéia! Quando é que alguém vai ter a prática idéia de escrever uma tese sobre a tese? Ou uma outra sobre a vida nos rodapés da história? - Acho que seria um tesão. Revista do MIC - 2002/2003 www.mic.ufsc.br .:PANORAMA O MICrofone da CT&I Por Vinícius Kern 6 * Revista do MIC J 1 impacto é característica também de outras grandes universidades brasileiras, como USP, Unicamp, UFRJ e UFRGS. A liderança da UFSM perde toda a cara de coincidência quando lemos nesta revista (“Universidades ainda não sabem vender seu peixe pela Internet”) que tem o melhor site dentre várias universidades estudadas. Melhor homepage, maior impacto, maior índice de arquivos “ricos”... Alguma coisa a UFSM está fazendo de certo, e deveríamos pedir a receita. Isso nos leva a conjeturar sobre dois canais de divulgação da UFSC: o Banco de Teses e Dissertações do PPGEP e o próprio MIC. O quanto contribuem para atrair visitas? Vejamos: a Webometria das universidades latino-americanas: classificação segundo diversos índices Ilustração: Marcos V. Loureiro Goulart á faz um ano que o MIC lançou sua página na web, em 8 de fevereiro de 2002. Na primeira edição da Revista do MIC reunimos uma série de reportagens publicadas no primeiro ano de atividades. É o nosso portfólio que pretende mostrar o que e quanto fizemos para divulgar a Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) a partir de nossa base original – o Programa de PósGraduação em Engenharia de Produção (PPGEP) da UFSC. Qual a importância do que fizemos? Difícil medir, mas há resultados tangíveis e fatos da web que este artigo introdutório pretende discutir. Para responder a essa pergunta, tomamos números de quatro fontes: o impacto na mídia alcançado com o I Workshop da Rede SCienTI1, a quantidade de acessos ao site do MIC, a quantidade de acessos ao site do Banco de Teses e Dissertações (BTD) e um estudo de webometria de páginas de universidades latino-americanas. Em estudo recente, o pesquisador Isidro Aquillo2 analisou o acesso aos sites de universidades latino-americanas na web. É interessante notar a posição da UFSC. Embora bem classificada quanto ao número de páginas (6ª latino-americana e 4ª brasileira), a situação é menos favorável quando se considera o número de visitas (12ª latinoamericana e 6ª brasileira). Ao ponderar-se o número de arquivos “ricos” disponíveis (formatos populares em computadores pessoais, como PDF, RTF, DOC, XLS e PPT), aparece em 7ª numa lista incompleta das universidades latino-americanas. Finalmente, quanto ao índice webIF3, dos mais aceitos para avaliar o impacto de uma homepage, a UFSC nem é listada entre as primeiras 16 latinoamericanas. Esses índices mostram uma tendência: as páginas da UFSC são relativamente pouco atraentes. Aquillo sugere que um fator importante para atrair e cativar visitantes é a presença de arquivos “ricos”. Talvez por coincidência, a universidade com o maior impacto webIF, a Federal de Santa Maria, tem cerca de 42,5% desses arquivos em seus sites, um percentual muito maior do que as demais – a Universidad de Guadalajara, 4º maior impacto, é a próxima na ordem, com 21,7%. A perda de importância da UFSC quando se considera o * não está entre as 20 primeiras ** não está entre as 16 primeiras ? sem informação UFSC mantinha 4.410 arquivos PDF em dezembro de 2002. Ora, só no BTD havia mais de 1.000, ou 24% do total de PDFs da universidade. Se é certo que a presença de arquivos “ricos” (e nesse caso são teses e dissertações em texto completo!) contribui para atrair mais visitantes, então o BTD deve estar puxando para cima o impacto da web ufsquiana. O BTD é um benchmark interessante para o site do MIC. É uma ferramenta consolidada, a primeira biblioteca on-line de teses e dissertações do mundo5. O MIC, embora sem a tradição do BTD, usa linguagem jornalística para falar a um público potencialmente mais vasto. Desde dezembro, quando os números de acessos começaram a ser registrados, vemos uma evolução na popularidade do MIC. Alguns fatos e presunções que nos permitimos relatar e aventar são: Organizado pelo MIC em conjunto com o Grupo Stela. Veja matéria nesta revista. Isidro Aquillo (2003). Indicadores de contenidos para la web académica ibero-americana. II Seminário sobre indicadores para a sociedade da informação. Lisboa, Portugal: CCCM, 27-28/02/2003. 3 webIF é uma medida relativa da visibilidade de uma sede (conjunto de sítios sob um domínio, por exemplo, ufsc.br); é a taxa de enlaces (links) que a sede recebe em relação ao seu tamanho (número de páginas). 4 http://teses.eps.ufsc.br. 5 A Virginia Tech, que colocou sua biblioteca de teses e dissertações no ar em 1996, reclama a primazia. É tarefa do MIC, ainda por completar, a demonstração cabal, urbi et orbi, de que o BTD veio primeiro, em 1995. 2 Revista do MIC - 2002/2003 www.mic.ufsc.br Acessos internacionais ao MIC têm origem mais freqüente em Portugal e Espanha. Explicação para a Espanha? Provavelmente a repercussão da versão espanhola de uma matéria (“Método científico versus charlatanismo”, também nesta revista), com links para o MIC. BTD e MIC seguem sempre atraindo mais visitantes. O MIC deu o maior salto, dobrando seu público entre dezembro e fevereiro. Em 17 de fevereiro, dia mais cheio, tivemos uma média de 4 hits6 por minuto. Acessos ao BTD e ao MIC (fonte: Webalizer v. 2.017) Ilustração: Marcos V. Loureiro Goulart Mesmo em termos relativos, vamos avançando: em dezembro tínhamos o equivalente a 6% dos hits recebidos pelo BTD. Em janeiro passamos a 7% e em fevereiro tivemos quase 14%. A platéia do MIC superará a do BTD? Necessariamente, se atingirmos o público vasto que nos propusemos a alcançar. Talvez não, se tivermos mais sucesso ao falar ao mundo acadêmico – turbinando o interesse pelo BTD, que é fonte acadêmica importante. A dúvida nos assalta 6 Inserções sobre a Rede SCienTI na mídia impressa estadual em 4 e 5/12/2002. Fonte: Apoio Comunicação+Marketing, com base nas tabelas de preços dos veículos – agosto/2002 Ilustração: Marcos V. Loureiro Goulart Pode-se observar que em fevereiro demos um salto. Por quê? Possivelmente a “culpa” é da divulgação de uma dissertação sobre um tema palpitante do momento (veja “Banquete jogado fora”) que ainda reverbera na mídia nãocientífica. e tem a ver com um evento importantíssimo no final de 2002. O I Workshop da Rede SCienTI8, realizado de 4 a 6 de dezembro de 2002, em Florianópolis, formalizou a criação da Rede Internacional de Fontes de Informação e Conhecimento para a Gestão de Ciência, Tecnologia e Inovação, usando como plataforma tecnológica os sistemas Lattes do CNPq, desenvolvidos em Santa Catarina pelo Grupo Stela da UFSC. O MIC participou como organizador e produtor de matérias para divulgação. Um levantamento limitado às inserções na mídia impressa estadual nos dias 4 e 5 de dezembro mostra que um espaço raramente dedicado à CT&I foi conquistado: Como avaliar esse sucesso? Foi bom, mas, dada a importância do evento, queríamos e seguimos querendo mais. Nosso desafio é vencer a inércia: segundo um artigo dos gurus do Google9, a área acadêmica é uma das que não perpetuam o Efeito Mateus (só dar mais a quem já tem muito) na web. Novos sites podem, sim, conquistar espaço. É o que estamos fazendo. A Folha de São Paulo nos inclui entre 110 páginas selecionadas de divulgação científica (edição de 30 de outubro de 2002, pág. F10 do caderno de Informática). Hoje estamos linkados em sites importantes como os da Plataforma Lattes no CNPq, Prossiga, Scientific American brasileira, Observatório da Imprensa, os espanhóis InfoCiencia e El Esceptico Digital, Clipe Ciência da ECA-USP, Revista Nexus e outros10. Nas próximas páginas encontra-se o resultado do primeiro ano de trabalho em que nos propusemos a ser o microfone da CT&I. Para o segundo ano, seguimos aperfeiçoando nossa prática editorial e projetamos novos empreendimentos como o Wiki-mic – a comunidade virtual baseada em wiki pages11, o acompanhamento preciso do impacto de cada matéria, a gerência editorial automatizada com o uso do software StelaPublish, a criação de uma célula de apoio à publicação científica dos pesquisadores, a publicação de um livro biográfico sobre a Plataforma Lattes e a construção de portais verticais12 de divulgação científica e tecnológica. Queremos ter companhia. Hits são as requisições (a maior parte costuma ser de arquivos) recebidas por um servidor. BTD: http://www3.stela.ufsc.br/webstats/teses.eps.ufsc.br; MIC: http://www3.stela.ufsc.br/webstats/www.mic.ufsc.br. http://www.scienti.info/ws, também relatado na matéria “Rede SCienTI já é realidade”. 9 D.M. Pennnock, G.W. Flake, S. Lawrence, E.J. Glover, and C.L. Giles (2002). Winners don’t take all: Characterizing the competition for links on the web. PNAS 99 (8), 5207-5211. 10 Veja a lista atualizada em “Quem linka o MIC”, em http://www.mic.ufsc.br. 11 http://c2.com/cgi/wiki?WikiPage. 12 Portais verticais são portais voltados para as necessidades de um tipo específico de usuário. 7 8 7 * Revista do MIC Os acessos do estrangeiro ao BTD vêm principalmente de Portugal, EUA, França e Argentina – natural, se levarmos em conta as afinidades: língua, proximidade ou residência temporária de muitos acadêmicos brasileiros. Revista do MIC - 2002/2003 www.mic.ufsc.br .:ERA DIGITAL Plataforma aposenta o papel Fevereiro de 2002 Por Imara Stallbaum e Sibyla Goulart ome que homenageia o físico brasileiro Cesare Mansueto Giulio Lattes, a Plataforma Lattes (http://lattes.cnpq.br) é considerada o divisor de águas da Ciência e Tecnologia (C&T) brasileira. Seu surgimento, em 1999, representou a mudança da realidade arcaica do cadastro de informações em C&T do país. Antes da adoção do sistema, os pesquisadores, em pleno final do século 20, ainda não podiam se valer da Internet para repassar seus dados curriculares ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Em meio ao boom da era digital no Brasil,em 1997, os formulários eram preenchidos tanto em papel como em disquetes, gerados em sistema DOS e importados em Brasília na sede do CNPq. A multiplicidade de instrumentos de captura e a falta de uniformidade no gerenciamento de dados resultavam na baixa cobertura do universo da pesquisa nacional. O fato ameaçava a transparência almejada pelo CNPq nos processos de planejamento, julgamento e fomento da agência. No âmbito nacional, a mesma falta de uniformidade causava revolta dos pesquisadores, que se viam obrigados a manter múltiplos arquivos de suas atividades científicas. Sem contar o volume de papel que se acumulava nas dependências do CNPq e o desperdício de disquetes que se amontoavam em caixas sem nenhuma utilidade futura. Para se ter uma idéia de seu impacto, basta notar que a cobertura de sete anos de coleta de dados curriculares pelo CNPq saltou de 35 mil para cerca de 103 mil currículos. Isso significa um aumento de quase 300% na cobertura de CVs (currículos) em C&T do país. A racionalização nos processos de captura de informações contribuiu, também, para o aumento de quase 40% na cobertura do censo dos Grupos de Pesquisa no Brasil, que saltou de cerca de 8.600, em 1997, para 11.700, em 2000. Também foi possível, com base nas informações desse diretório e dos currículos Lattes, apontar o número de doutores ativos em pesquisa no país no ano de 2000. O levantamento mostrou que Plataforma Lattes aumentou a oferta de informação, mas diminuiu o consumo de papel existem 32.500 doutores em atividade e que o índice de profissionais que se doutoraram numa instituição estrangeira caiu de 40%, até 1985, para menos de 10% em 1999. A pesquisa apontou ainda que o Estado de São Paulo é o principal celeiro de pesquisadores no Brasil. Outro bom exemplo aconteceu na maior universidade federal do país, a UFRJ, do Rio de Janeiro. Em meio a uma crise interna, que culminou com o pedido de afastamento do reitor José Henrique Vilhena de Paiva, no ano passado, a situação acabou se agravando depois de uma entrevista concedida por Paiva ao jornal O Globo. Na matéria, o reitor alegou fazer parte de um seleto grupo de excelência acadêmica, fato contestado por um dos professores, o biólogo Antônio Solé, em carta publicada na edição de 19 de novembro de 2001 do jornal da Adufrj. Desconfiado, o pesquisador se valeu do Currículo Lattes para tirar suas dúvidas sobre o passado acadêmico de Paiva. Na consulta, Solé descobriu que o reitor, apesar de mestre e doutor, acumulava uma baixa produção científica. Veja esta matéria no endereço – http://www.mic.ufsc.br/index.php?url=conteudo_pri/int_plataforma2.htm. O box “O valor ecológico do Lattes” foi incluído adicionalmente nesta matéria para a Revista do MIC. Ilustração: Luiz Otávio Costa 8 * Revista do MIC N Revista do MIC - 2002/2003 www.mic.ufsc.br SOLUÇÃO DE PROBLEMAS A Plataforma Lattes, no qual os professores/ pesquisadores e estudantes brasileiros depositam seus currículos com a produção técnica, científica e cultural, é uma fonte praticamente inesgotável de informações. Uma simples consulta pode tirar do sufoco, por exemplo, os jornalistas que estiverem procurando o maior especialista de uma determinada área. Além de um fantástico banco de fontes, eles também encontram dados que podem ser usados comparativamente. Já os empresários que procuram soluções para seus negócios dispõem na Plataforma de um imenso cadastro de profissionais altamente qualificados. De parte dos pesquisadores, o sistema é indispensável para quem quiser concorrer a bolsas e recursos para o desenvolvimento de projetos lançados pelas agências de fomento. Atualmente, a Plataforma Lattes é integrada pelo Diretório de Grupos de Pesquisa do Brasil, Currículo Lattes, Diretório de Instituições, além de ferramentas de buscas, do Sistema Gerencial de Fomento e dos formulários Lattes de propostas. Até o final do mês de janeiro, o CV-Lattes registrava a marca de quase 120 mil currículos. A última façanha do Grupo Stela em parceria com o CNPq é o Lattes Institucional, que se vale do Lattes Extrator, outra novidade para atender às necessidades de cada universidade. O valor ecológico do Lattes lém de combater o desperdício de tempo e a redundância de informações, a Plataforma Lattes também contribuiu para o meio ambiente. Na verdade, seu uso resultou, em 1999, numa economia de papel estimada em 4 toneladas apenas no trâmite de papel entre professores e coordenadores brasileiros de pós“A Plataforma graduação. Na época, a Capes (CoordeLattes nação de Aperfeiçoagerou uma mento de Pessoal de Nível Superior) traconseqüência balhava com um universo de 136 positiva para a instituições, 1.445 preservação da programas de pósnatureza!” graduação e um total de 25.123 docentes. Ao preencher seus Sebastião R. Soares dados curriculares Departamento de para os formulários Engenharia da Capes, cada Sanitária e Ambiental docente usava de da UFSC cinco a 30 páginas de papel por ano, ou até mais para os mais produtivos. O professor doutor Sebastião Roberto Soares, do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFSC, um especialista em resíduos sólidos, diz que existem vários tipos de papel, mas, em média, para se obter 1 tonelada do material, são derrubadas de 15 a 20 árvores de médio porte e utilizados em torno de 100 mil litros de água. Isso sem falar nos demais efeitos ambientais associados à atividade, como a produção de resíduos e todos os encargos de sua gestão, como custos de transporte, eliminação e controles. Uma vez perpetuada tal prática, a cada ano o procedimento A Ilustração: Luiz Otávio Costa burocrático da Capes seria responsável pela derrubada de algo em torno de 60 a 80 árvores, o que podia chegar ao sacrifício de uma floresta variando entre 600 e 800 árvores a cada década. Por tudo isso, o professor apregoa: “Apesar de a preocupação ambiental não ter sido o elemento norteador da Plataforma Lattes, percebe-se que sua implantação gerou uma conseqüência positiva para a preservação da natureza”. 9 * Revista do MIC Para se obter 1 tonelada de papel são derrubadas até 20 árvores de médio porte Revista do MIC - 2002/2003 www.mic.ufsc.br .:TESE DE DOUTORADO Geóloga propõe obras no subsolo O BTD (Banco de Teses e Dissertações) é uma biblioteca digital que permite o acesso sem custo às teses e dissertações defendidas no PPGEP (Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção). O MIC não é responsável, no entanto, pela inclusão dos trabalhos acadêmicos nesse banco. A TESE DE DOUTORADO de Efigênia Soares Almeida pode ser encontrada no endereço http://teses.eps.ufsc.br Fevereiro de 2002 Por Sibyla Goulart D 10 * Revista do MIC Arquivo MIC epois de ostentar o título de Capital da Apenas um, segundo a geóloga, contém 5 mil litros. “A Qualidade de Vida, Florianópolis vem caixa d’água subterrânea poderia resolver o problema de sofrendo um crescente processo de abastecimento das praias no verão”, destaca. “Trata-se de urbanização. A cada temporada de verão, uma um trabalho polêmico e futurista. Afinal, a geóloga está verdadeira avalanche de turistas invade a Ilha onde propondo abrir buracos nas montanhas”, comentou o muitos se tornam hóspedes permanentes. E não é professor e geógrafo Paulo Fernando Lago, integrante da para menos. Com jeito de cidade de interior, a banca de doutores que assistiu à defesa da aluna do Programa Capital de Santa Catarina tem mais de 42 praias, de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da UFSC. Ao farta gastronomia, natureza exuberante e ainda é elogiar a coragem na escolha do tema e pedir cautela na berço do tenista Gustavo Kuerten, ilhéu que hora de mexer com a natureza, Paulo Lago lembrou que os eternizou os “manezinhos” no mundo inteiro. Para governantes precisam achar alternativas para a expansão resolver o problema da falta de espaço, a geóloga natural de Florianópolis. “Não podemos sempre direcionar o Efigênia Soares Almeida, 43, propõe a construção destino da população florianopolitana para São José, como de obras subterrâneas como alternativa de aconteceu anos atrás com a construção do bairro Kobrasol”, preservação do meio ambiente. O projeto foi tema emendou. “Também não dá para colocar uma porteira na de sua tese de doutorado defendida em Florianópolis ponte e proibir a entrada de turistas”, completou o professor - dia 13 de dezembro – no Anfiteatro da Engenharia e geólogo Nelson Infanti Júnior, orientador da doutoranda de Produção e Sistemas da Efigênia Soares Almeida. Universidade Federal de Santa Catarina. O trabalho, que se estendeu O PREÇO por quatro anos, foi realizado com base no grande número de maciços rochosos Apesar de ressaltar o aumento no custo existentes na Ilha. das obras subterrâneas, Efigênia sustenta Segundo Efigênia, as pesquisas que os investimentos podem ser mostraram que a cidade de minimizados pela preservação do meio Florianópolis é formada por 48% de ambiente, ausência de desapropriações e montanhas e 52% de planície. A partir pouca manutenção. Além de o Brasil já do levantamento, a geóloga estudou o possuir tecnologia própria para obras dessa comportamento do material e chegou natureza, ao contrário de anos anteriores, à conclusão de que as rochas de granito quando se buscava mão-de-obra Efigênia: “Ganharíamos são de boa qualidade e podem ser estrangeira, o alto custo também pode ser espaço e o verde seria utilizadas em várias obras. Entre elas, a compensado com a utilização da exploração preservado!” construção de túneis para melhorar o mineral. transporte viário, as estações de tratamento de Ou seja: o material retirado de dentro das rochas poderá ser esgoto e os reservatórios de água. “Ao invés de encaminhado para empresas do segmento de corte de pedras utilizar o lugar plano, o poder público poderia e aproveitado para construção de casas. “Com isto, teríamos construir obras de infra-estrutura dentro das pedreiras subterrâneas e poderíamos evitar a degradação montanhas. Além de ganhar espaço, o verde seria ambiental”. Outra vantagem com relação aos reservatórios de água preservado”, explica Efigênia. Como sugestão, ela diz que, em vez de Florianópolis ter apenas uma construídos no subsolo é a segurança. De acordo com o estação de tratamento de esgotos, na Baía Sul, a professor e orientador Nelson Infanti, o produto estaria cidade poderia manter pequenas estações nas praias protegido de ataques bacteriológicos, por exemplo. Na pesquisa de doutorado, Efigênia sugere a construção de de Canasvieiras e do Campeche, por exemplo. Quanto aos locais para armazenar água, ela seis túneis na Ilha: Ingleses e Praia Brava; morro da Lagoa defende a utilização do espaço subterrâneo devido da Conceição; entre a Carvoeira e a UFSC; e da Caieira ao à capacidade. Cita a cidade de Santos, em São Paulo, Pântano do Sul. Conforme ela, o assunto ainda pode render outras teses que mantém um reservatório contendo 20 mil litros de água. Em Florianópolis, ao contrário, a Casan de doutorado. Uma delas é o estabelecimento de uma possui espalhados pela Capital 20 reservatórios legislação para uso do espaço subterrâneo, e a outra é a pequenos com capacidade para 2 mil litros de água. parte de hidrogeologia. Veja esta matéria no endereço http://www.mic.ufsc.br/index.php?url=conteudo_pri/int_plataforma2.htm. Revista do MIC - 2002/2003 www.mic.ufsc.br .:CENSO DA C&T Novo perfil da ciência e tecnologia Março de 2002 Por Sibyla Goulart e Felipe Zylbersztajn EUROPA E AMÉRICA LATINA O Diretório de Grupos de Pesquisa no Brasil é um dos integrantes da Plataforma Lattes, um conjunto de sistemas Ar qu iv o MI C Versão 4.0 do Diretório conseguiu alcançar uma cobertura de até 80% dos grupos de pesquisa em atividade no país de informações, bases de dados e portais web voltados para a gestão da Ciência e Tecnologia (C&T) brasileira. Além do Diretório, a Plataforma reúne outros componentes como o Currículo Lattes – que já tem depositado 130 mil currículos de pesquisadores e estudantes – Lattes Institucional e o Lattes Extrator. Desenvolvida pelo Grupo Stela, em parceria com o CNPq, a Plataforma Lattes (http://lattes.cnpq.br/) acaba de atravessar fronteiras e chega também à Europa e à América Latina. A expansão faz parte de uma rede internacional de informações em Ciência e Tecnologia, resultado de um convênio, assinado em fevereiro de 2001, entre OPAS (Organização Pan-americana de Saúde), BIREME (Centro Latino-Americano e do Caribe de Informações em Ciências da Saúde), o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e o Grupo Stela. A rede é formada por seis países – Brasil, Chile, Colômbia, México, Venezuela e Cuba. Ela envolverá todas as áreas do conhecimento, ao contrário do projeto inicial, que previa apenas informações ligadas ao segmento da saúde. A mudança se deu em função da generalidade de seus instrumentos e do interesse despertado nos conselhos nacionais de pesquisa dos países da América Latina e do Caribe. Na Europa, Portugal foi o primeiro país a integrar o programa.Para gerenciar o seu patrimônio intelectual, representantes das universidades do Minho e de Trás-os-Montes estiveram, em fevereiro, na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) a fim de iniciar o processo de intercâmbio internacional. Veja esta matéria no endereço http://www.mic.ufsc.br/index.php?url=conteudo_seg/int_diretorio5.htm. 11 * Revista do MIC O CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) deu início no dia 12 de março, na USP, em São Paulo, ao novo censo da Ciência e Tecnologia do país. Até o final de maio, as 345 instituições convidadas a participarem do levantamento poderão cadastrar suas informações no Diretório de Grupos de Pesquisa no Brasil, disponível no endereço www.cnpq.br. A previsão do Grupo Stela, laboratório catarinense responsável pelo desenvolvimento do sistema de coleta de dados, é que na primeira quinzena de julho seja divulgado o mais recente perfil da pesquisa brasileira. Lançado na sua quinta versão e completando 10 anos de atividade em 2002, o Diretório pretende levantar, entre outros dados, quais as linhas de pesquisas existentes no país, o número de pesquisadores (por sexo, idade e instituição), onde estão sendo desenvolvidos os estudos, em quais áreas, quantos pesquisadores são doutores e quantos são estrangeiros. Entre as novidades apresentadas este ano, o destaque fica por conta da atualização contínua. Até a quarta versão, a renovação dos dados era feita a cada dois anos, fato que ameaçava a transparência almejada pelo CNPq. O pesquisador, por exemplo, não podia fiscalizar sua participação nos grupos de pesquisa. “A partir de agora, ele vai saber onde está cadastrado, antes mesmo da divulgação do censo. Se não concordar, poderá solicitar a exclusão de seu nome”, comemora o bacharel em Ciências da Computação Fabiano Duarte Beppler, 25 anos, um dos mentores do software criado pelo Grupo Stela. Também será possível levantar informações sobre a relação entre os grupos de pesquisa das universidades e o setor empresarial, bem como visualizar a evolução dos grupos, em comparação com os outros censos. Na quarta versão, 225 instituições enviaram informações ao banco de dados, registrando a presença de 11.760 grupos de pesquisa e cerca de 47 mil pesquisadores. O censo 2000 mostrou ainda que 80% dos estudos eram desenvolvidos em universidades públicas. A versão 4.0 do Diretório conseguiu alcançar uma cobertura de até 80% dos grupos de pesquisa em atividade no país. Para este ano, o CNPq calcula o mapeamento de 15 mil grupos, contabilizando o universo de 67 mil pesquisadores brasileiros. “A expectativa do novo censo é atingir 100% dos grupos de pesquisa brasileiros”, completa o coordenador do Grupo Stela, Roberto Pacheco. Revista do MIC - 2002/2003 www.mic.ufsc.br .:PLATAFORMA LATTES Universidade gaúcha implanta sistema catarinense, que já atrai estrangeiros Fevereiro de 2002 Por Imara Stallbaum A 12 * Revista do MIC conferir a produção de artigos do corpo docente – número de livros e capítulos publicados, softwares desenvolvidos e obras de arte concebidas. Possibilita ainda localizar, por áreas de conhecimento e até departamentos, os bolsões de maior carência da produção bibliográfica, entre outras opções. “Vamos supor que haja um projeto governamental concedendo incentivos para o desenvolvimento de trabalhos científicos relacionados à exploração do petróleo. O Lattes Institucional permite, rapidamente, chegar ao nome das pessoas e a seus currículos buscando aqueles que teriam condições de se candidatar ao benefício”, assegura o analista de negócios em Tecnologia de Informação Marcos Luiz Marchezan, 28 anos, coordenador geral de projetos do Grupo Stela, acrescentando: “Vários próreitores disseram que atualmente podem levar até três semanas fazendo um relatório para saber quem é quem em determinada linha de pesquisa interna. Já com a Plataforma Lattes poderão produzi-lo em questão de minutos”. Felizmente para a Unisinos e seus 1.059 professores, 1.295 funcionários e 30.796 alunos matriculados (até início de fevereiro), as dificuldades citadas por Marchezan já pertencem ao passado. “Para nós, o UniLattes funciona como uma vitrine digital interativa e ao mesmo tempo como um espelho através do qual tomamos consciência de quem somos”, define Luiz Inácio Germany Gaiger, diretor de Pesquisa da instituição na qual o investimento na capacitação de professores chega a R$ 5,5 milhões por ano. Nesse contexto, como um gigantesco banco de dados, o UniLattes também servirá para alimentar o plano de progressão na carreira. Marchezan: competências mapeadas com rapidez CURRÍCULO LATTES Considerado o carro-chefe da Plataforma Lattes, o Currículo Lattes armazena informações sobre os pesquisadores brasileiros. Sua criação significou um impacto para os dirigentes das universidades brasileiras. “Desde o lançamento do CVLattes, em 1999, as instituições de ensino perguntavam ao Stela quando o CNPq abriria a base curricular para elas usarem os registros referentes a seus pesquisadores, professores e alunos”, conta Marchezan. A abertura da Plataforma Lattes às universidades representava um quebracabeça para o CNPq. Mas o formato universal XML, criado com o objetivo de fazer o intercâmbio de informações entre bases de dados com formatos diferentes, foi a solução que viabilizou a Plataforma Institucional, atualmente oferecida em quatro versões. A Unisinos, por exemplo, optou pela configurável. Ela inclui um módulo de preenchimento adicional ao Currículo Lattes. O módulo consegue detalhar dados adicionais solicitados pela universidade gaúcha para implementação do plano de progressão na carreira. Veja esta matéria no endereço http://www.mic.ufsc.br/index.php?url=primeira_edicao/conteudo/int_plataforma1.htm. Arquivo MIC qualidade do ensino nas universidades brasileiras, hoje conferida pelo Provão do MEC, ganhou em fevereiro um novo aliado. A Unisinos (Universidade do Vale do Rio dos Sinos) acaba de implantar em seu campus, em São Leopoldo, distante 30 quilômetros de Porto Alegre (RS), um sistema de informação curricular capaz de mapear o perfil e a produção bibliográfica, artística e tecnológica de professores, alunos e funcionários. Depois da Unisinos, que recebe o título de primeira instituição de curso superior do país a adotar o sistema, mais sete universidades devem implementar a novidade acadêmica. Entre elas estão a USP, a Unicamp, a PUC do Paraná, a Universidade da Bahia, a UFRGS e a UFSC. Além das brasileiras, as portuguesas também já sinalizaram interesse em gerenciar seu patrimônio intelectual. Para isso, um grupo de representantes da Universidade do Minho desembarca nesta sexta-feira, dia 15, em Santa Catarina para conhecer o produto. O cadastro com informações dos pesquisadores, estudantes e trabalhos acadêmicos foi viabilizado pela Plataforma Lattes Institucional, um conjunto de sistemas desenvolvido pelo Grupo Stela (Laboratório de Desenvolvimento de Sistemas) do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da UFSC, em parceria com o CNPq. Batizado de UniLattes pela Unisinos, a plataforma permite saber qual é efetivamente a qualificação dos seus professores, quantos mestres e doutores possui, onde eles se formaram e os cursos de especialização que fizeram. O pró-reitor de Pesquisa da entidade, além disso, consegue 13 * Revista do MIC Revista do MIC - 2002/2003 www.mic.ufsc.br .:FÓRUM DE INOVAÇÃO TECNOLÓGICA Mundo de novidades é cenário ideal para a Plataforma Lattes Maio de 2002 Por Felipe Zylbersztajn 14 * Revista do MIC B Veja esta matéria no endereço http://www.mic.ufsc.br/index.php?url=int_forum.htm. Arquivo MIC ancos de automóveis confeccionados com fibras de coco; diagnósticos médicos mais precisos através de softwares que visualizam artérias em três dimensões; cultivo controlado de moluscos marinhos do pacífico em águas brasileiras; biofábrica de bromélias; satélites e foguetes de sondagem. APlataforma Lattes(http://lattes.cnpq.br) não poderia estar mais confortável do que no Salão e Fórum de Inovação Tecnológica & Tecnologias Aplicadas nas Cadeias Produtivas. O evento, realizado de 30 de julho a 3 de agosto, no Expo Center Norte, em São Paulo, reuniu alguns dos mais extraordinários exemplos de avanço em Ciência e TecEstande da UFSC foi um dos ambientes nologia. Num mundo de novidades, a Plataforma Lattes não no qual a Plataforma Lattes pode ser Na Região Sul, por exemplo, os apresentada ao público deixou de atrair os visitantes. O indicadores mostram que a Universidade conjunto de sistemas de i n f o r m a ç õ e s , Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) lidera o ranking de bancos de dados e portais web que revolucionaram a pesquisadores, com 2.226, seguida pela Universidade Federal C&T no Brasil foi apresentado em dois estandes da de Santa Catarina, com 1.309. feira. No espaço da Universidade Federal de Santa A UFSC participa ainda com 219 grupos de pesquisa, 1.890 Catarina (UFSC, http://www.ufsc.br), destacava-se estudantes e 193 técnicos envolvidos na atividade de como o amplo conjunto de sistemas computacionais pesquisa, ocupando o primeiro lugar das instituições de desenvolvido pelo Grupo Stela (http://www.stela.info); ensino superior do Estado. no do CNPq, despontava como o moderno ambiente Uma prova da adesão da comunidade científica brasileira que permite à agência compatibilizar e integrar ao conjunto de sistemas Lattes é o número de acessos ao informações com seus usuários. site (http://lattes.cnpq.br). Desde sua criação, em setembro O ministro da Ciência e Tecnologia, Ronaldo de 2001, a Plataforma contabilizou mais de 1 milhão e 50 Sardenberg, acompanhado do reitor da UFSC, Rodolfo mil visitas às páginas. A cada dia, cerca de 100 novos Pinto da Luz, em visita ao estande da universidade currículos são acrescentados ao Sistema de Currículos Lattes, catarinense, cumprimentou os representantes do Grupo um dos elementos da Plataforma no CNPq. Estão depositados Stela pelo projeto. “Esta inovação tecnológica dispensa mais de 225 mil cadastros na base da agência, 11.760 grupos apresentações”, elogiou o reitor, referindo-se ao de pesquisa, com 48 mil pesquisadores docentes e 60 mil produto que destacou a UFSC como desenvolvedora de estudantes, provenientes de 224 instituições distintas. Esse sistemas de gestão de C&T. verdadeiro celeiro científico faz do Brasil o único país a Graças à Plataforma Lattes é possível conhecer em conhecer com precisão as atividades realizadas em ciência detalhe o mapa da ciência brasileira. e tecnologia, tanto em nível individual como coletivo. Revista do MIC - 2002/2003 www.mic.ufsc.br .:ELEIÇÕES Segurança por trás das urnas Setembro de 2002 Por Felipe Zylbersztajn eleitor catarinense pode comemorar este ano um resultado positivo antes mesmo do primeiro turno da eleição para a Presidência da República: a existência de mesários mais capacitados para atendê-los durante a votação. Um manual desenvolvido pelo TRE (Tribunal Regional Eleitoral), em parceria com o LED (Laboratório de Ensino a Distância) da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), está sendo implantado em caráter experimental nas eleições de 2002, complementando o corriqueiro treinamento presencial. Foram Manual indica como os mesários devem produzidos 30 mil CD-ROMs e 30 mil manuais, que indicam proceder antes, durante e depois da votação como os mesários devem proceder antes, durante e depois da votação, de acordo com as determinações do Tribunal mesários, que não dispõem de microcomputador com recursos multimídias. Superior Eleitoral. O TRE-SC também solicitou que o conteúdo didático do É a primeira vez que um estado brasileiro usa a educação a distância para o treinamento de pessoal em eleições. Cerca CD-ROM combinasse diferentes mídias, como animação, de 30 mil mesários foram capacitados com a nova tecnologia texto descritivo e narração, possibilitando diversos canais no estado, e praticamente todos os 293 municípios de Santa para a assimilação da informação, adotando uma linguagem e elementos visuais neutros. “Utilizamos Catarina utilizaram o conteúdo do CDa linguagem-padrão nacional. O material ROM como apoio pedagógico, além dos poderia atender a um mesário de manuais e de transparências. Segundo Pernambuco, por exemplo”, explica a Carlos Rogério Camargo, secretário de coordenadora executiva do projeto, informática do TRE-SC, o tribunal já Rosangela Schwarz Rodrigues. vinha buscando alternativas para a O projeto chegou a ser avaliado pelo disseminação de informações, tendo em Tribunal Superior Eleitoral, neste ano, vista a grandeza desse tipo de mas, em razão dos curtos prazos, não treinamento. “Concluímos que a chegou a ser ampliado para outros produção de uma mídia CD-ROM estados. “Entretanto, temos a concontendo material auto-instrucional era vicção de que Santa Catarina, mais a forma mais adequada para alcançar uma vez, desenvolveu um projeto esses objetivos. O LED tem diversas pioneiro que deverá ser adotado pela outras experiências bem-sucedidas com maioria dos estados brasileiros a os atributos que estávamos buscando. Carlos Rogério Camargo, partir de 2004”, prevê Carlos O resultado confirma a nossa Camargo. expectativa de obter material muito útil secretário de Informática Com o treinamento, os mesários para os nossos eventos”, avalia. do TRE-SC recebem instruções específicas de O projeto do LED teve de atender a uma série de requisitos, principalmente em decorrência da como ajudar, por exemplo, deficientes visuais e analfaextensão de seu público. O primeiro deles, de natureza betos na hora do voto, sem interferir na escolha deles. técnica, foi o de que o manual fosse acessível em “O projeto contribui claramente com a sociedade e com microcomputadores com poucos recursos, ou seja, baixa a democracia, o que é papel da universidade, além de velocidade e pouca memória, com interação simples para o posicionar o LED como uma instituição pública capaz de usuário final. Os laboratórios de informática de todas as realizar um trabalho dessa envergadura com qualidade, escolas da rede estadual de ensino foram oferecidos aos dentro do prazo”, comemora Rosangela Rodrigues. Arquivo - MIC O Veja esta matéria no endereço http://www.mic.ufsc.br/index.php?url=int_eleicao.htm. 15 * Revista do MIC “O LED tem diversas outras experiências bem-sucedidas com os atributos que estávamos buscando!” Revista do MIC - 2002/2003 www.mic.ufsc.br .:DISSERTAÇÃO DE MESTRADO O BTD (Banco de Teses e Dissertações) é uma biblioteca digital que permite o acesso sem custo às teses e dissertações defendidas no PPGEP (Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção). O MIC não é responsável, no entanto, pela inclusão dos trabalhos acadêmicos nesse banco. A DISSERTAÇÃO DE MESTRADO de Paulo Sen Lee pode ser encontrada no endereço http://teses.eps.ufsc.br Método científico versus Ilustração: Luiz Otávio Costa Segundo Paulo, inúmeros professores das ciências naturais vestem o “guarda-pó” racional, mas crêem em muitas alegações irracionais charlatanismo Setembro de 2002 16 * Revista do MIC Por Felipe Zylbersztajn Extraterrestres já visitaram a terra, paranormais movem objetos com a força da mente e doentes são curados com a energia das cores. Nenhum desses fenômenos foi comprovado cientificamente, porém, professores de disciplinas naturais de uma escola de ensino médio de Curitiba crêem na veracidade desses fatos. É o que aponta a dissertação de mestrado do professor de Física Paulo Sen Lee, que detectou uma significativa falta de ceticismo entre educadores e seus alunos. Revista do MIC - 2002/2003 www.mic.ufsc.br Q VOCÊ ACREDITA? Os questionários de Paulo, distribuídos a 40 professores de cinco escolas – duas públicas e três particulares –, eram compostos de duas partes: a primeira, acerca da prática pedagógica dos professores; a segunda, referente ao posicionamento adotado por eles em relação às pseudociências. A segunda parte do questionário possuía 10 perguntas do tipo “Você acredita em algum tipo de horóscopo?”; “Você acredita em premonição?”; “Você acredita em curas mediúnicas?”. Paulo realizou pesquisa apenas com professores de ciências naturais (Física, Química e Biologia), que, por terem maior contato com a ciência e com a lógica da pesquisa científica, deveriam apresentar maior ceticismo perante os temas pseudocientíficos. Entretanto, o percentual encontrado de professores crédulos em determinadas pseudociências foi considerado surpreendente por Paulo. Por exemplo, em média, 32% dos professores pesquisados acreditam em telecinesia (capacidade de mover objetos com o poder da mente) e 28% CONVIVENDO EM PAZ oda a experiência realizada por Paulo visou uma melhor compreensão da ciência e o desenvolvimento de um pensamento crítico nos alunos de ensino médio. No entanto, Paulo Lee salientava aos alunos a importância de não se tornar um arrogante científico, usando os conhecimentos científicos adquiridos e o pensamento crítico como uma forma de discriminação ou intolerância perante aqueles que crêem nas pseudociências. Para ele, “a convivência pacífica entre as pessoas mesmo que tenham crenças diferentes, ou mesmo conflitantes, deveria ser uma das principais idéias da humanidade”. Porém, o que Paulo percebe é que, com a fachada de tolerância, muitos professores incentivam o pensamento holístico e até mesmo a intolerância perante as ciências, como se o pensamento racional fosse o principal culpado pelos males dos produtos da ciência. T acreditam em premonição (capacidade de conhecer fatos que vão acontecer). Além disso, o mestrando percebeu que vários professores que afirmavam não acreditar em astrologia tendiam a achar que o signo da pessoa poderia ter, de alguma forma, algo a ver com a personalidade. “Isso mostra que muitos professores possuem certas crenças latentes, ou seja, podem estar afirmando que não crêem em determinada pseudociência, mas no fundo têm dúvidas ou acreditam em certas situações por forças culturais, pouca reflexão ou pouca compreensão das críticas com embasamentos científicos”, conclui. PROJETO CIÊNCIA E PSEUDOCIÊNCIAS Em 2001, Paulo desenvolveu, em conjunto com um professor de História, um projeto com duas turmas de estudantes da segunda série de ensino médio de uma escola particular. O projeto estimulava os estudantes a confrontarem as pseudociências com as críticas da ciência. Primeiramente, os alunos responderam a um questionário com as mesmas questões da segunda série de perguntas feitas aos professores. Os resultados revelaram um grau elevado de credulidade em pseudociências nos estudantes. Então, os alunos das duas turmas foram divididos em grupos e pesquisaram sobre um tema pseudocientífico escolhido pela equipe, durante um mês. No mês seguinte, os estudantes assistiram a vídeos em sala de aula com temas relacionados a pseudociências, e alguns desses vídeos apresentavam pontos de vista céticos, que procuravam dar explicações científicas ou criticar os fundamentos analisados. Depois de cada sessão, eles respondiam novamente a algumas perguntas dos questionários. continua 17 * Revista do MIC uando o professor de Física Paulo Sen Lee resolveu investigar a credulidade de seus alunos do ensino médio quanto às chamadas pseudociências – de extraterrestres à cromoterapia – levou um susto. Não poderia imaginar que a falta de ceticismo atingia de forma significativa não apenas os estudantes como também os docentes de ciências naturais. A pesquisa, feita em cinco conceituadas escolas de Curitiba (PR), fez parte da dissertação de mestrado que Paulo defendeu em 30 de agosto, através de videoconferência. O trabalho “Ciências naturais e pseudociências em confronto: uma forma prática de destacar a ciência como atividade crítica e diminuir a credulidade em estudantes de ensino médio” foi defendido na capital paranaense e avaliado com a banca reunida em Florianópolis, no Laboratório de Ensino a Distância (LED) da Universidade Federal de Santa Catarina. Em sua dissertação, Paulo Sen Lee promoveu o confronto das ciências naturais com as pseudociências dentro da sala de aula. A experiência procurou destacar a ciência como atividade crítica, diminuir a credulidade e conseqüentemente aumentar o ceticismo em estudantes do ensino médio. O trabalho ainda contou com questionários distribuídos aos alunos e a seus professores de Física, Química e Biologia, além de uma avaliação do material didático utilizado por eles. Paulo conta que não pretende fazer afirmações categóricas e definitivas com sua dissertação - “mesmo porque minha pesquisa teve amostragem pequena” -, mas, sim, estimular discussões e reflexões que possam provocar determinadas mudanças nos materiais didáticos, nos cursos de licenciatura e na prática educacional. “Procuro demonstrar a necessidade dos professores de ciências naturais compreenderem melhor a filosofia da ciência, a ciência como atividade crítica, reavaliando suas posturas crédulas em pseudociências”, explica ele. “Acredito que grande parte dos professores de ciências naturais ensina os produtos e leis cientificas, mas não pensa e nem ensina seus alunos a pensarem cientificamente”. Revista do MIC - 2002/2003 www.mic.ufsc.br 18 * Revista do MIC RESULTADOS Ao final, os estudantes responderam às mesmas 10 perguntas do questionário inicial, a fim de comparar suas respostas com as do início do projeto. Os resultados mostraram que houve uma diminuição da credulidade e um aumento de ceticismo em relação às perguntas e aos temas pseudocientíficos apresentados. Nas duas turmas o elevado percentual de credulidade entre os estudantes foi substituído por um elevado percentual de ceticismo. “Constatei que é possível desenvolver nos estudantes um posicionamento crítico que os habilite a se tornarem cidadãos menos suscetíveis às fraudes e ao charlatanismo quando estimulados ao confronto amigável entre a postura crítica científica e as pseudociências”, conclui Paulo. Veja esta matéria no endereço http://www.mic.ufsc.index.php?url=int_pseudo.htm. Há reproduções em espanhol, com o título “El método científico versus la charlatenería”, por Infociencia.net em http://216.185.133.103/infociencia/fijo/infoficha.cfm?id=110 e por “El Esceptico Digital” em http://www.mega-cosmos.com/ files/2002-09-Elescepticodigital.pdf. .:REVISÃO PELOS PARES NA APRENDIZAGEM Educação sob a luz da ciência Julho de 2002 Por Marcelo Tolentino Arquivo MIC Em suas respostas, os alunos revelaram-se influenciados pelas idéias apresentadas nos vídeos, mudando de opinião em relação ao questionário inicial após algumas apresentações. Segundo Paulo Lee, essa característica é intrigante e ao mesmo tempo preocupante, pois demonstra como os estudantes são suscetíveis aos produtos da mídia, ao charlatanismo e à manipulação de opinião, principalmente quando possuem um pensamento crítico pouco desenvolvido e fundamentado. “Há muito espaço na mídia para as pseudociências e pouco espaço para a divulgação do pensamento científico”, reclama. O professor de jornalismo da UFSC Orlando Tambosi, que foi membro da banca de Paulo Lee, acredita que, confundindo ciência e pseudociência, a mídia presta-se à difusão do charlatanismo e das crendices. “De forma absolutamente acrítica e irresponsável, os meios de comunicação transformaram em normal o paranormal”, reflete. Ele lembra que “há pouco tempo, revistas e jornais que se pretendem sérios escancararam suas páginas para um assunto como o Chupa-cabras. O mesmo fizeram alguns telejornais e os impagáveis programas dominicais”. Para Tambosi, quando trata realmente de ciência, a mídia se fixa apenas nos resultados, ora considerados espetaculares e maravilhosos, ora apocalípticos e maléficos – “a mídia jamais vê a ciência como processo de conhecimento”, avalia o professor da UFSC. Após o processo inicial comandado por Paulo Lee, os estudantes leram sobre o método crítico científico, o que permitiu que refletissem a respeito da importância da ciência e analisassem as diferenças básicas entre a ciência e as pseudociências. “É difícil opinar sobre aquilo que desconhecemos. Só é possível desenvolver o pensamento crítico quando se dominam os assuntos, seja aquele que se quer defender, seja aquele que se quer criticar”, acredita o mestre. Ao término da pesquisa, os alunos elaboraram artigos em forma de discurso de divulgação científica, tendo como idéia principal a divulgação isenta para fornecer o maior número de informações com qualidade. Cada equipe fez uma apresentação descrevendo as características principais da pseudociência estudada, além de explicar por que o tema era considerado pseudocientífico. Para Paulo, veículos sérios de divulgação científica são imprescindíveis para se alcançar um pensamento crítico e embasado. revisão pelos pares Revisão pelos pares inseriu deixou de ser exclusiem cursos vidade do meio cientícomo o de fico. Régua e compasso dos Computação a projetos de pesquisa e da exigência própria produção científica, o do texto processo alcança as carteiras da qualificado, graduação para instigar a veia desenvolvendo do pesquisador e comunicador a persuasão crítico no campo das Exatas. O professor da disciplina Bancos de Dados na Univali (Universidade do Vale do Itajaí), Vinícius Medina Kern, inspirado em experiência vivida nos Estados Unidos, decidiu estimular a redação de artigos entre os alunos de Computação.“Ao passar pela Universidade Virginia Tech, em 1994, durante o doutorado, fiz uma disciplina que utilizava o método. Percebi o potencial da abordagem e a adaptei para meus alunos em 1997", lembra Vinícius, que acabou dando uma nova “cara” para suas aulas. “Em vez de apenas corrigir os artigos, sugeriu que a classe se transformasse em uma verdadeira conferência científica. Como nos domínios da C&T (Ciência e Tecnologia), a sistemática funciona através da revisão A Revista do MIC - 2002/2003 www.mic.ufsc.br ARGUMENTOS NEGATIVOS qu ivo MI Acima, acadêmicos que já participaram da experiência de revisão pelos pares em classe. Aqui, “jogam” controle de concorrência em bancos de dados, em outra abordagem pedagógica inovadora. No destaque, o professor Vinícius Medina Kern C Na palestra sobre revisão pelos pares em junho passado, Kern mostrou que tem bala na agulha ao sustentar a importância do método, citando alguns dados do PISA 2000 (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), divulgado em 2001 pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). O estudo, baseado no uso do conhecimento vindo da leitura, da matemática e da ciência, avaliou estudantes de 15 anos em 32 países e colocou o Brasil na lanterna em todos os quesitos. Conquistaram os melhores lugares a Finlândia, que possui exemplares estudantes leitores, o Japão, com os melhores matemáticos, e a Coréia, que já revela seus cientistas de ponta. “Já há base científica para afirmar que o estudante nacional não pode ser comparado ao dos países industrializados”, lamenta Kern, que recentemente participou da “Conferência de Trabalho da IFIP” – sobre educação e ciência – e teve seu artigo sobre revisão pelos pares selecionado para compor um livro, o produto final do evento. Metodologia exercita o lado comunicador do aluno de ciências exatas Ar qu ivo MI C Veja esta matéria na íntegra, incluindo as seções “Doutoranda emprega revisão pelos pares na educação ambiental” e “O que é e como surgiu a revisão pelos pares?”, no endereço http://www.mic.ufsc.br/index.php?url=int_revisaopelospares.htm. 19 * Revista do MIC Ar Arquivo MIC duplamente cega pelos pares. Ou seja, os trabalhos trocados pelos acadêmicos não são assinados, e somente o professor, que atua como editor, conhece os autores. “São avaliações e valem nota. Se o aluno faz uma crítica ao artigo do colega, o trabalho terá uma melhor qualidade”, explica o professor. Segundo Kern, que é doutor em Engenharia de Produção pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), a sistemática respeita a inteligência e a individualidade do aluno. “Não se pode ignorar as experiências pessoais. Eles sabem de coisas que os professores não conhecem. Temos de criar outras possibilidades de educação”, frisou, durante seminário promovido pelo PPGECT (Programa de Pós-Graduação em Educação Científica e Tecnológica), em junho, no qual compartilhou suas pesquisas baseadas na revisão pelos pares como ferramenta pedagógica alternativa. No evento, Vinícius revelou ainda que as facilidades de comunicação já agregadas ao cotidiano acadêmico e profissional fazem de sua proposta um modelo pronto para o ensino a distância. “Venho aplicando o método na sala de aula, mas já trocamos documentos pela internet”. A abordagem é empregada no PPGEP (Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção) da UFSC desde 2000. Os resultados (anais) estão publicados no endereço – (http://www.eps.ufsc.br/~kern/ infmod2k/infmod2k.html). A inexistência de disciplinas que ensinem a expressão escrita, vocal e corporal em cursos como o de Computação ou de Engenharia pode ser suprida através da revisão pelos pares. A habilidade de falar e m público ou redigir textos nunca foi prioridade no currículo das ciências exatas. Contudo, as exigências atuais revelam um mercado sedento por profissionais mais articulados sob esse prisma. De acordo com o acadêmico de Computação Willian Savi, 28 anos, o processo de avaliação proporciona um clima de exigência e responsabilidade profissional. “Já que não é apenas o professor que checa o trabalho, caprichamos para que o colega leia um artigo de qualidade. Através desse mecanismo treinamos nossa capacidade de persuasão”, relata. Revista do MIC - 2002/2003 www.mic.ufsc.br .:NA VITRINE DA ONU Brasil ganha batalha tecnológica Outubro de 2002 Por Marcelo Tolentino U 20 * Revista do MIC Primeira interface do Olimpo. Parte do grupo que integra o instituto Webis/Ijuris: a partir da esquerda – Felipe Costa, André Bortolon, Eduardo Mattos e Marcelo Ribeiro. E, por fim, Hoeschl defendendo a tese sobre o Olimpo, em 2001 Arquivo MIC ma inovadora tecnologia concebida no Brasil poderá assumir um papel decisivo em conflitos como os atuais episódios que dividem os Estados Unidos e o Iraque. Um dos melhores mecanismos de recuperação de informações até hoje feito no mundo – o Olimpo – é catarinense e está prestes a ser doado pelo Brasil à ONU (Organização das Nações Unidas). Tendo em vista a recente manifestação do Conselho de Segurança e suas resoluções, o software poderá atuar como se fosse um eficiente bibliotecário, sempre disposto a reunir em menos de 30 segundos seus documentos eletrônicos, hoje espalhados pela web. “A única forma de saber qual país está dizendo a verdade é através dos julgamentos disponibilizados na página da ONU”, argumenta o professor Hugo César Hoeschl, um dos integrantes do Ijuris (Instituto Jurídico de Inteligência e Sistemas), composto de pós-graduandos da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina). Segundo ele, a ONU utiliza a mesma safra de banco de dados empregada pelos conhecidos Yahoo, Cadê e Google, limitados aos poucos 255 caracteres. Essa deficiência torna a pesquisa lenta – arriscada a durar cerca de 15 minutos - imprecisa e frustrante para quem deseja resultados instantâneos. Com o Olimpo, o internauta tem a chance de contextualizar o assunto através da procura por blocos de texto, podendo utilizar até 15 mil caracteres, o equivalente a 2.500 palavras. A máquina deve essa capacidade à Inteligência Artificial, ferramenta que permite ao software interpretar o contexto da busca, ou seja, concede o poder do raciocínio. “Trata-se de um sistema baseado em conhecimento que faz uma procura inteligente de documentos, comparando-os entre si e retornando ao usuário uma lista hierárquica por graus de semelhança”, explica Hoeschl, que em 2001 conquistou o título de doutor ao defender a primeira versão do sistema. O aplicativo, construído para ser implantado em qualquer segmento da sociedade, foi eleito por dois anos – 1999 e 2001 – um dos 20 melhores trabalhos científicos pela ICAIL (Conferência Internacional de Inteligência Artificial). “É uma lista que relaciona o que tem de melhor no mundo nesse setor”, valoriza o mestrando da UFSC Marcelo Ribeiro, outro integrante do Ijuris – (http://www.ijuris.org). VITÓRIA FORA DE CASA Ao contrário do que ocorre com a indústria do futebol, para a qual são canalizados grandes investimentos e a divulgação é ampla, a tecnologia brasileira não costuma ter a atenção e os patrocínios necessários. É por essa dificuldade que o Olimpo representa um gol de placa fora das quatro linhas, com direito a drible habilidoso em velhos craques da área tecnológica. “Vamos aproveitar o momento para colocar a bandeira verde-amarela no topo”, comemora o mestrando da UFSC Eduardo Mattos, também membro do grupo catarinense. Na últ i m a conferência internacional realizada em Saint Louis (EUA), o Olimpo era o único aplicativo que funcionava na base da experimentação. “Não era um trabalho teórico, mas um projeto de implantação real, prático”, lembra Mattos, orgulhoso por ter projetado o país na vitrine internacional da C&T (Ciência e Tecnologia). Além do mérito de automatizar o “campo de batalha virtual”, possibilitando o acesso irrestrito às resoluções da ONU, o sucesso do sistema prova que o Brasil tem tecnologia de ponta para concorrer lado a lado com o produto externo. Revista do MIC - 2002/2003 www.mic.ufsc.br .:DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA Descrédito aqui e aplausos longe de casa Outubro de 2002 Por Felipe Zylbersztajn “N C Veja esta matéria no endereço http://www.mic.ufsc.br index.php?url=int_olimpo.htm. Veja esta matéria no endereço http://www.mic.ufsc.br/ index.php?url=conteudo_seg/int_apresentamicfuncitec.htm. 21 * Revista do MIC Arquivo - MIC “... o político nos convidou a trabalhar no exterior” om pouco mais de um mês de exisJornalista tência, o site do Imara MIC (Núcleo de Mídia Stallbaum Científica) transformou-se participou do em história de sucesso nascimento apresentada pela jornado MIC lista Imara Stallbaum numa mesa-redonda sobre o papel da imprensa no apoio à Ciência, Tecnologia e Inovação. O encontro ocorreu em 5 de abril, no encerramento do evento “CT&I - arranjos produtivos locais”, aberto pela Fundação de Ciência e Tecnologia do Estado, no Parque Tecnológico Alfa, Saco Grande, em Florianópolis, no dia anterior. Também participaram do workshop os jornalistas Mário Xavier, diretor da Redactor - Consultoria em Comunicação e Marketing e assessor de imprensa da Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia, Jorge Görgen (Revista Expressão), Alexsandro Vanin (Revista Nexus) e Rodolfo Decker, assessor de imprensa da Funcitec. O evento discutiu a cobertura e a divulgação científica, tecnológica e de inovações feitas por veículos catarinenses especializados. Imara citou, por exemplo, palavras do ministro Ronaldo Sardenberg, da Ciência e Tecnologia, para quem a divulgação científica é um meio de garantir a continuidade da reforma pela qual passa hoje a política científica brasileira. A reforma, segundo o ministro, “pode dobrar o ritmo de crescimento da ciência no país, que já é três vezes maior que a média mundial, formando atualmente 6 mil doutores por ano, mesmo nível registrado na Itália”. Para a jornalista, que também é mestranda do PPGEP, não há dúvidas de que a divulgação científica promovida através de iniciativas como o MIC tem significado estratégico para o Brasil, o que só aumenta a responsabilidade do jornalista. Nesse sentido, Mário Xavier observou que o verdadeiro papel do profissional de imprensa é fazer a ligação entre a sociedade e o que é produzido em CT&I nos setores acadêmico, privado e governamental. Salientou que a missão do jornalista que cobre esse campo é informativa, formativa e reflexiva. Em sua opinião, o jornalismo científico deve extrapolar os questionamentos básicos do jornalismo diário. O “case” da revista Nexus foi apresentado pelo jornalista Alexsandro Vanin. Única publicação do gênero em Santa Catarina, a revista tem a CT&I como tema. Com periodicidade trimestral e tiragem de 5 mil exemplares, a Nexus surgiu como trabalho de conclusão de curso de alunos de jornalismo da UFSC. Alexsandro ainda destacou o “Projeto Alfabetização Científica: um papo sobre a ciência”, uma série de nove encontros que pretendem integrar cientistas, jornalistas e estudantes interessados na área. O Prêmio Finep de Inovação Tecnológica criado em 1998 pela Revista Expressão, em parceria com a Financiadora de Estudos e Projetos, foi abordado por Jorge Görgen, diretor de marketing da Revista Expressão, durante sua palestra. A premiação incentiva as empresas que investem no desenvolvimento e na inovação tecnológica. Arquivo - MIC inguém acredita que o Olimpo tenha sido feito aqui!”, revela a mestranda da UFSC Tânia Cristina D’Agostini Bueno que, junto com o professor Hugo César Hoeschl, costuma representar o Ijuris em conferências. No último evento, realizado em Saint Louis (EUA), a dupla foi assediada por uma autoridade norteamericana encantada pelo poder do aplicaTânia afirma que a tivo. Porém, o político não sabia falta de apoio que o núcleo de estudos do governamental e Olimpo se situava em empresarial “trava a Florianópolis. Levou um susto! evolução da ciência e “Só lembrou da cidade quando tecnologia nativa” falamos do tenista Gustavo Kuerten, o Guga. Diante da distância, o político nos convidou a trabalhar no exterior”, lembra Hoeschl. O fato, apesar de engraçado, descreve a distância cultural entre Brasil e Estados Unidos quando o assunto é Ciência e Tecnologia. Segundo Tânia, grande parte dos custos das conferências acaba sendo bancada pelos pesquisadores, sem qualquer tipo de subsídio. “Economizamos meses para não perder a viagem. Essa é a situação de todo pesquisador brasileiro”, desabafa Tânia. O sacrifício vale a pena porque é nessas vitrines que o produto nacional é reconhecido. “Quando você inscreve trabalhos, a presença é fundamental. Se os representantes não aparecem, perde-se a credibilidade”, explica a pesquisadora. Site do MIC vira case Revista do MIC - 2002/2003 www.mic.ufsc.br .:PRESIDENCIÁVEIS NA WEB Ciro Gomes tem a melhor campanha virtual Outubro de 2002 Por Marcelo Tolentino Rita Paulino: “Jornalista deve participar mais do processo de criação de sites” Arquivo - MIC 22 * Revista do MIC O Ciro: vários espaços para interagir Garotinho: ignora a interatividade Lula: sem últimas notícias no site Serra: não utiliza multimídia Arquivo - MIC site do presidenciável cearense foi o que melhor passou pela malha fina dos alunos de Jornalismo On-line do PPGEP, seguido da página de José Serra. Através dos quesitos avaliados – abrangência e propósito, conteúdo, w e b d e s i g n , funcionalidade, interatividade e ferramentas de colaboração e, por fim, recursos avançados – os mestrandos puderam descobrir se os webdesigners dos candidatos fizeram ou não a lição de casa. Na “armadilha” articulada pela mestre em Engenharia de Produção, a professora Rita Paulino, nenhum site saiu ileso. “A turma usou uma grade que mostra critérios de avaliação de sites definidos e estudados. Nada passou despercebido pela peneira”, explica. A varredura nos espaços virtuais dos presidenciáveis foi feita pelo estudante Flávio Targino da Silva, que identificou erros graves como a ausência de um endereço de contato e espaços para críticas ou sugestões na homepage de Garotinho. “Isso é ignorar a vontade de interagir do eleitorado conectado”, observa Targino. Segundo a pesquisa, todos apresentaram conteúdo e design de qualidade, porém, dois deles ignoraram as vantagens de um espaço para as últimas notícias e a necessidade de um sistema de busca. É o caso dos sites de Lula e do ex-governador do Rio de Janeiro - o único com expediente (equipe desenvolvedora). “Mesmo assim, Garotinho é o lanterna das minhas análises”, ironiza o aluno, baseando-se nas inúmeras imperfeições do website, que apesar dos problemas, ganha votos por disponibilizar recursos de multimídia, assim como o de Ciro. Enquanto a página do petista aparece em terceiro lugar por não ter sido aprovada em alguns pontos vitais, como interatividade e navegação, Ciro e Serra iriam para o segundo turno se houvesse eleição para a melhor campanha on-line. Além de superar a maioria em quase todos os critérios, o site do exgovernador do Ceará é superior porque deseja muito falar com o eleitor. “Ele oferece mais que um e-mail para trocar as idéias”, salienta Targino, ao destacar os fóruns temáticos e as enquetes. Já o candidato do presidente FHC, apesar de deixar claro seu objetivo na página inicial, perdeu pontos no quesito interação citando apenas um endereço de contato. Para Targino, o site de Serra supera os de Lula e Garotinho, mas ainda precisa de reformulações. “Economizaram nos efeitos multimídia”, critica, situação que se repete na homepage da estrela vermelha. A pesquisa completa de Flávio Targino pode ser acessada na página da disciplina (http:// w w w. s t e l a . u f s c . b r / d i s c i p l i n a s / Jornalismoonline2002). Veja esta matéria no endereço http://www.mic.ufsc.br/index.php?url=int_analisesites.htm. PPGEP prepara comunicador para atuar na web m dos primeiros espaços da UFSC a proporcionar conhecimentos sobre a construção de páginas na rede mundial está no PPGEP (Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção). É o que afirma a professora de Jornalismo Online Rita Paulino, webdesigner que em 2000 passou a ministrar a disciplina. Segundo Rita, o programa apresenta a mídia on-line a jornalistas sedentos por informações sobre a área. São aulas que, de acordo com ela, possibilitam entender melhor o processo e as vantagens da divulgação pela rede. “Esse profissional deve participar mais do processo de criação e produção de sites”, estimula Rita, lembrando: “A interação com o usuário ainda é muito pouco explorada. É preciso estudar e analisar melhor esse nicho”. A cadeira já gerou dois sites recheados de informações sobre jornalismo on-line. “Também há trabalhos e projetos de alunos disponibilizados”, acrescenta a professora. O conteúdo encontra-se nas páginas da disciplina de 2000 (http:// www.stela.ufsc.br/disciplinas/ Jornalismoonline2000) e 2002 (http:/ /www.stela.ufsc.br/disciplinas/ Jornalismoonline2002), já que em 2001 Rita não lecionou a matéria. U Revista do MIC - 2002/2003 www.mic.ufsc.br .:LED É BENCHMARK EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Reconhecimento internacional Outubro de 2002 Por Sibyla Goulart Arquivo - MIC Hoje, existem no mundo cerca de 650 mil cursos a distância, desde pequena duração até pós-graduação AVALIAÇÃO Apesar de destacar o papel fundamental dos órgãos reguladores, como o Ministério da Educação e Cultura-MEC, Andrea diz que as próprias universidades precisam ter seus mecanismos internos de garantia da qualidade. Um dos principais itens, segundo ela, é apontar os motivos que levaram a instituição a trabalhar com ensino a distância. No caso da UFSC, desde 1985 ficou definido que o papel da universidade seria aumentar o acesso ao conhecimento e não confiná-lo em alguns centros de excelência. Dez anos depois o LED abriu as portas e hoje já contabiliza a formação de 175 mil profissionais em vários programas, desde qualificação de pequena duração, programas de capacitação de 40 a 60 horas, cursos realizados para empresas ou para órgãos governamentais e cursos de pós-graduação lato sensu e stricto sensu. A Universidade Federal de Santa Catarina e o LED, especificamente, são considerados benchmarks internacionais na área de educação a distância. No Brasil, entre vários destaques, o LED foi considerado uma experiência notória em educação a distância no Livro Verde da Veja esta matéria no endereço http://www.mic.ufsc.br/index.php?url=segunda_edicao/conteudo/int_andrea.htm. Andrea: “As próprias universidades precisam ter seus mecanismos internos de garantia da qualidade” Sociedade de Informação, lançado ano passado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. O reconhecimento internacional vem, principalmente, da idoneidade de parceiros como MIT, Universidade do Sul da Flórida e Universidade das Nações Unidas. “Um ponto da garantia da qualidade que também foi discutido no encontro se refere à avaliação não só dos órgãos reguladores, das agências de qualidade e dos ministérios da educação, mas também do usuário, que é o elemento fundamental de todo o processo”, completou Andrea, destacando que o LED realiza um processo intenso de qualificação interna de seus programas, com a avaliação processual e contínua dos alunos, professores e conteúdos oferecidos, assim como do modelo pedagógico que orienta as ações do LED. Para manter o padrão acadêmico dos cursos a distância, a Agência de Garantia de Qualidade na Educação Superior do Reino Unido, cujo presidente é o professor Peter Williams, sugeriu a normatização oficial dos procedimentos em fluxo e a existência de um grupo examinador externo que analise e aponte possíveis falhas do programa. Peter Williams foi um dos palestrantes convidados pela coordenadora do evento, Ann Floyd, professora da maior instituição de ensino a distância do mundo, a Open University, localizada na cidade de Milton Keynes, Inglaterra. 23 * Revista do MIC À exemplificar, existem hoje no mundo cerca de 650 mil cursos a distância, desde pequena duração até pós-graduação. Apenas nos Estados Unidos estão sendo projetados para este ano investimentos na ordem de 10 bilhões de dólares no segmento. “Na medida em que várias instituições privadas estão ingressando na área, a educação está correndo sério risco de se tornar um negócio. E isso é perigoso, porque não se pretende que a educação a distância caia no descrédito e sirva apenas para gerar lucros”, explicou Andréa, acrescentando: “Se a educação for considerada simplesmente um serviço, ela será regulada pelas leis do comércio como um parafuso, uma televisão, e será muito difícil controlar a qualidade dessas iniciativas”. A afirmação se baseia na compreensão de 21 países, que em 2001 aderiram ao Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio - GATT. Para essas nações, educação é “serviço”. Arquivo - MIC s vésperas de conquistar o certificado de qualidade ISO 9001, o Laboratório de Ensino a Distância da UFSC também comemora outra façanha. O LED foi a única instituição de ensino superior da América Latina a participar do evento Quality Assurance in Open and Distance Learning, promovido pelo Conselho Britânico e realizado entre os dias 10 e 15 de fevereiro, na cidade de Birmingham, Inglaterra. Estavam presentes no encontro nada menos do que 22 profissionais representando 17 países. Entre eles, Estados Unidos, Japão, Lituânia, Namíbia, Arábia Saudita, Suíça, Turquia e Zimbábue. “Como era um curso de garantia da qualidade dos programas de educação aberta e a distância, acreditamos que o convite partiu do reconhecimento no país e em toda a América Latina dos trabalhos desenvolvidos nessa área pelo Laboratório de Ensino a Distância da UFSC”, explica Andrea Valéria Steil, gerente de Processos do LED. Representando o diretor geral do laboratório, professor Ricardo Miranda Barcia, Ph.D, Andrea diz que o evento serviu para confirmar a política de qualidade estabelecida pelo LED e para compartilhar as experiências e os procedimentos adotados pelos demais países. Os dois pontos, inclusive, estão sendo abordados pelo LED na carta de agradecimento ao Conselho Britânico. “É claro que sempre temos algo a aprender. Nesse caso, eu diria que trouxe como meta uma maior divulgação dos nossos trabalhos”, acrescenta Andrea. Para a gerente de Processos do laboratório, iniciativas dessa natureza, que visam discutir padrões globais de qualidade na educação superior a distância, só trazem benefícios às instituições sérias e aos alunos. Só para Revista do MIC - 2002/2003 www.mic.ufsc.br .:TESE DE DOUTORADO A C&T brasileira já pode sair do castelo Março de 2002 Por Imara Stallbaum 24 * Revista do MIC E Tribunal da Igreja Católica instituído no século XIII para perseguir, julgar e punir os acusados de heresia, a Santa Inquisição foi fundada pelo papa Gregório IX (1170-1241) em 1231 Arquivo - MIC m tempos de cruzada pela moralidade pública, o engenheiro mecânico Carlos Pittaluga Niederauer, 44 anos, acaba de produzir um verdadeiro achado, pelo menos para o universo da Ciência e Tecnologia. Técnico do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), ele obteve o título de doutor, no início de fevereiro, defendendo uma tese que cria uma ferramenta capaz de medir o desempenho dos candidatos à Bolsa de Produtividade em Pesquisa do próprio CNPq. Tradicionalmente, a análise do mérito dos candidatos ao benefício acadêmico fica a cargo de consultores ad hoc (pesquisadores designados para avaliar seus pares). Eles fazem as avaliações e emitem os pareceres que subsidiarão os julgamentos dos comitês de assessoramento do CNPq. Algumas vezes comparada à Santa Inquisição, a sistemática, que leva o nome de Avaliação pelos Pares, merece muitas críticas. É vulnerável a convicções pessoais, está sujeita a pressões políticas e sociais, e trabalha com informação incompleta a respeito do objeto avaliado. Os critérios de avaliação, por outro lado, variam de comitê para comitê. “Geralmente são subjetivos e nem sempre divulgados. Se a produtividade do candidato é julgada insuficiente, a proposta está praticamente inviabilizada, ainda que o projeto proposto tenha mérito e como tal seja relevante para a C&T”, observa Pittaluga. As bolsas de Produtividade em Pesquisa sustentam boa parte da C&T do país. São consideradas estratégicas para a pesquisa e pósgraduação brasileiras, além de ser um benefício que dá reconhecimento e status a quem as recebe. Através delas a comunidade ainda distingue os pesquisadores ativos e produtivos dos demais. O BTD (Banco de Teses e Dissertações) é uma biblioteca digital que permite o acesso sem custo às teses e dissertações defendidas no PPGEP (Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção). O MIC não é responsável, no entanto, pela inclusão dos trabalhos acadêmicos nesse banco. A TESE DE DOUTORADO de Carlos Pittaluga Niederauer pode ser encontrada no endereço http://teses.eps.ufsc.br BOA CIÊNCIA Batizado de Ethos, ética em grego, o modelo desenvolvido por Pittaluga baseia-se no DEA (Data Envelopment Analisys ou Análise por Envoltória de Dados), método quantitativo e não paramétrico de medição de desempenho. Alimentado pelos dados disponíveis no Sistema de Currículos Lattes, do próprio CNPq, deixa a critério do pesquisador a escolha dos indicadores de C&T com os quais deseja ser avaliado.“Em tese, não posso comparar os pesquisadores da Física com os de Letras ou com os de Música porque eles têm perfis diferentes”, adverte Pittaluga, para quem o papel dos comitês, além de julgar, é propor a boa ciência. Por isso, o Ethos é aplicado a pesquisadores atuando em um mesmo ramo do saber. Seus usuários terão a liberdade de selecionar os indicadores de C&T que melhor lhes convierem. Nesse sentido, o Ethos difere das métricas dos comitês, que idealizam um desempenho-padrão, fixando os indicadores e seus respectivos pesos. Segundo Pittaluga, no DEA, todos competem entre si, tendo como objetivo maximizar seu desempenho. O modelo matemático também preserva as características individuais dos pesquisadores à medida que o conjunto de pesos ótimos da auto-avaliação é único para cada pesquisador. Além do mais, ao agregar a variante DEA Cruzado, o modelo permite corrigir distorções tais como um pesquisador que pondera excessivamente um indicador de pouca importância para os demais. Por fim, simula um processo avaliativo, mas de forma mais democrática, em que todos têm a oportunidade de se posicionarem na qualidade de avaliadores. “Não dá para comparar pesquisadores com jogadores de futebol”, ironiza Pittaluga. Enquanto os físicos são autores de várias publicações em periódicos estrangeiros Revista do MIC - 2002/2003 www.mic.ufsc.br – item medido na avaliação pelos pares –, alguns pesquisadores, como os engenheiros, dão ênfase, por exemplo, ao desenvolvimento de patentes industriais, pouco consideradas no sistema de avaliação vigente. Assim, hoje, a pontuação de um engenheiro responsável pelo desenvolvimento de 20 patentes ao longo de 25 anos acaba sendo semelhante à de um pesquisador de outra área que jamais desenvolveu uma patente durante a vida acadêmica. MENINA-DOS-OLHOS Longe de tentar torpedear a avaliação pelos pares, uma tradição no universo da ciência em todo o mundo, Pittaluga cria um instrumento, em princípio destinado a auxiliar os candidatos à bolsa. Para isso, é claro, o CNPq deverá disponibilizar o Ethos em seu site, sugestão feita pelo engenheiro. De qualquer forma, ele acredita que o m o d e l o desenvolvido também deverá nortear as decisões dos avaliadores. “Mesmo que seja apenas usado pelos candidatos, o Ethos vai fazer com que haja mais cuidado na hora de o comitê emitir pareceres. Acredito, inclusive, que os comitês passarão a divulgar mais seus critérios de julgamento”, prevê, referindo-se a um universo Método de do qual é um velho freqüentador. Pittaluga simula Como engenheiro, um processo durante 12 anos ÉTICA - do grego ethos significa originalmente avaliativo, mas atuou como técnico morada, seja o hábitat dos animais, seja a morada de forma mais em comitês assessodemocrática, em do homem, lugar onde ele se sente acolhido e res do CNPq. Como que todos têm a abrigado. O segundo sentido, proveniente deste, é funcionário do órgão, oportunidade de costume, modo ou estilo habitual de ser. A morada, sabe o significado da se posicionarem vista metaforicamente, indica justamente que, a Bolsa de Produtivina qualidade de avaliadores dade em Pesquisa partir do ethos, o espaço do mundo torna-se para a C&T brasileihabitável para o homem. Assim, o espaço do ethos ra. “Ela é a meninacomo espaço humano não é dado ao homem, mas -dos-olhos da agênpor ele construído ou incessantemente reconstruído. cia. Não tem no mundo algo igual. É específica do Brasil e, grosso modo, o único instrumento que porque o Ethos pode ser generalizado e aplicado a diferencia o joio do trigo na universidade. Aliás, são duas outras modalidades de fomento da agência sempre meninas dos olhos. A Bolsa de Iniciação Científica do CNPq que um dos requisitos for o desempenho científico também só existe no Brasil. Ela e acadêmico dos é o diferencial. Sem ela, um ETHOS - em grego significa a toca do animal ou a candidatos. ótimo pesquisador pode ganhar casa humana; conjunto de princípios que regem, No fundo, é um método menos do que um sujeito que transculturamente, o comportamento humano para que pode ter utilidade está há 20 anos só dando aula tanto para os pesna graduação e que não se que seja realmente humano no sentido de ser quisadores que solicitam envolve com pesquisa e consciente, livre e responsável; o ethos constrói benefícios ao CNPq como formação de recursos pessoal e socialmente o hábitat humano. também para os funciohumanos”, elogia. De um modo nários do CNPq e demais geral, a ferramenta comparativa de desempenho proposta, ou profissionais que atuem na gestão de C&T. Graças à seja, a nova aplicação do DEA, poderá ser útil à gestão e aos novidade, garante o engenheiro, “a C&T brasileira procedimentos de acompanhamento e avaliação do CNPq. Isso já pode sair do castelo”. continua “Não dá para comparar pesquisadores com jogadores de futebol” 25 * Revista do MIC Arquivo MIC Revista do MIC - 2002/2003 www.mic.ufsc.br .:ENTREVISTA PERFIL Quanto mais transparente, melhor Nome: Carlos Alberto Pittaluga Niederauer Área de atuação: Pesquisa Operacional, Medição de Desempenho Área de Origem: Engenharia Mecânica (graduação), Gestão de C&T (área de atuação no CNPq) Profissão: Engenheiro Mecânico Idade: 44 anos Naturalidade: São Borja, RS Dados pessoais: casado, dois filhos Hobby: música brasileira, rock e blues; dedica-se ainda à pintura, especialmente a óleo Titulação: Mestrado (1997-1998) em Engenharia de Produção/Pesquisa Operacional versando sobre produtividade de pesquisadores Tipo de defesa: Tese de doutorado Orientador: Ricardo Miranda Barcia, Ph.D. Título da tese: “Ethos: um modelo para medir a produtividade relativa de pesquisadores baseado na Análise por Envoltória de Dados” Pittaluga deseja auxiliar na otimização dos recursos públicos. O modelo proposto pode servir como referencial entre o que o indivíduo pensa ser o perfil ótimo de um pesquisador e aquele traçado pelos comitês assessores conhecido – o Data Envelopment Analysis – em um tema de grande importância para o CNPq e para a comunidade científica brasileira: a Bolsa de Produtividade em Pesquisa, só que a partir da perspectiva do pesquisador, ao contrário da visão tradicional, a dos avaliadores. MIC - Qual foi o fator inspirador que gerou seu tema de tese? Pittaluga- O fato de a distribuição da Bolsa ser um instrumento de poder nas mãos dos comitês assessores do CNPq, aliado à pouca transparência no processo decisório. Em última instância, esse processo envolve a distribuição de recursos públicos, em que a transparência é fundamental, até como forma de prestar contas à sociedade. 26 * Revista do MIC MIC - Quais seriam as contribuições de destaque de sua tese? Por quê? Pittaluga - Pelo lado do método, geralmente aplicado na avaliação de organizações ou unidades organizacionais, representa um novo campo de pesquisa – a medição de desempenho de pesquisadores. No tocante à gestão de C&T, a tese abre um espaço importante no uso de métricas quantitativas aplicadas à C&T. Contudo, a principal contribuição está na possibilidade real de auxiliar na otimização dos recursos públicos, pois o modelo proposto pode servir como referencial entre o que o indivíduo pensa ser o perfil ótimo de um pesquisador e aquele traçado pelos comitês assessores. MIC - Quais foram os passos que definiram sua metodologia de trabalho? Pittaluga - Primeiro, a escolha do tema. O fundamental foi trabalhar com algo que eu já conhecia e de que gostava (uso de ferramentas quantitativas na gestão de C&T). Em segundo lugar, definir o objeto de análise (pesquisadores e a Bolsa de Produtividade em Pesquisa). Em terceiro lugar, escolher a ferramenta, no caso o DEA. A escolha do objeto de análise permitiu definir o problema de pesquisa; com o método, foi possível delinear os objetivos. Depois, vieram os passos seguintes, tradicionais em uma tese, como a revisão da literatura, escolha do modelo apropriado e os testes para validação do modelo. É importante salientar que a revisão da literatura foi em muito facilitada pelo conhecimento prévio do tema. Arquivo MIC MIC - Por que sua tese é um trabalho de doutorado? Pittaluga- Porque aplica uma variante pouco utilizada de um método MIC - Em termos percentuais, quanto você teve de inspiração e de transpiração para fazer esta tese? Pittaluga - À primeira vista, parece que a transpiração sobrepõe-se à inspiração. Mas, pensando friamente, a inspiração é a que toma mais tempo, não sei precisar quanto. A cada leitura surgem novas idéias, que exigem reflexão e abrem novas perspectivas quer para a tese quer para outras pesquisas. MIC - Qual é o fator de ineditismo crucial ao seu trabalho? Pittaluga - Pela primeira vez, o pesquisador que se candidata à Bolsa de Produtividade em Pesquisa tem condições, via Internet, de obter sua produtividade segundo sua ótica particular do que é a boa ciência e ter seu desempenho comparado com o dos demais candidatos. MIC - Qual foi o maior fator de dificuldade para a conclusão de sua tese? Por quê? Pittaluga - Esse é um ponto importante, pois a maior dificuldade, na realidade, foi a maior oportunidade. Paralelamente ao desenvolvimento da tese, foi organizado um grupo de pesquisa em torno da avaliação quantitativa, que resultou na criação do Laboratório de Avaliação Institucional. Então, o tempo passou a ser dividido entre a tese e o Laboratório. As perspectivas abertas pelo último transformaram a dificuldade de conciliar o tempo entre ambos em oportunidades de futuros trabalhos. MIC - Que temas de mestrado citaria como pesquisas futuras plausíveis sobre sua tese? Pittaluga - Há campo para temas em duas vertentes: (i) na gestão de C&T, há um bom campo para utilização de ferramentas de medição de desempenho, não só de pesquisadores como também de grupos ou redes de pesquisa, pois a base de dados, a Plataforma Lattes, além de confiável e robusta, é pública; e (ii) no caso específico do método utilizado, este pode ser depurado e adaptado a outras situações específicas, como, por exemplo, na medição de desempenho de outros grupos de pesquisadores, que têm forte envolvimento com geração de tecnologia. Veja esta matéria na íntegra, incluindo as seções “Bolsa de produtividade em pesquisa”, “Avaliação pelos pares” e “DEA: o que é?”, no endereço http://www.mic.ufsc.br/index.php?url=segunda_edicao/conteudo/int_pitareportagem.htm. Revista do MIC - 2002/2003 www.mic.ufsc.br .:NOTA VERMELHA NA REDE Universidades ainda não sabem vender seu peixe pela Internet UFSM - o melhor do Sul do Brasil UFRGS - site sem estrutura de portal UFSC - agrupamento de páginas UFPR - necessidade do uso acentuado de rolagem Novembro de 2002 Por Felipe Zylbersztajn s websites não são uma boa opção se você pretende conhecer um pouco melhor as universidades federais do Sul do Brasil. Segundo a análise do mestrando em Engenharia de Produção José Roberto dos Santos, essas instituições ainda não atingem o público de maneira apropriada quando se apresentam pela rede. O trabalho avaliou os websites das universidades federais do Paraná, de Santa Catarina, do Rio Grande do Sul e de Santa Maria. Os alunos da disciplina de Jornalismo On-line do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) analisaram vários segmentos da web usando critérios como conteúdo, webdesign, funcionalidade e interatividade. “Optei por estudar o segmento das universidades, pois é um ambiente com o qual me identifico”, explica José Roberto. Ele conta que sua filha, Simone Mara Pereira dos Santos, de 18 anos, foi quem chamou a sua atenção para a situação desses sites ao pesquisar as páginas de universidades para o vestibular. De acordo com o estudo, o site da Universidade Federal de Santa Maria é o melhor das universidades federais do Sul do Brasil, o único que utiliza a web de maneira adequada. “Os outros três são, em essência, um agrupamento de diversas páginas, sem estrutura de portal web”, argumenta José Roberto. A falta de estrutura torna a navegação complicada e enfadonha, afugentando os internautas. “A maioria das universidades enfocadas não sabem ‘se vender’ aos alunos em potencial”, argumenta ele. Muitos dos problemas encontrados contrariam as regras básicas da web. A falta de um endereço para contato (UFPR, UFSC), de links para retorno à primeira página (UFPR, UFSC, UFRGS) e de ícones sempre no mesmo lugar (UFPR, UFSC, UFRGS) ilustra o pouco cuidado das instituições com suas representações on-line. “Encontrei notícias com três dias O 27 * Revista do MIC Veja esta matéria no endereço http://www.mic.ufsc.br/index.php?url=int_analisesites2.htm. Site da UFSM - http://www.ufsm.br/ Site da UFPR - http://www.ufpr.br/ Site da UFRGS - http://www.ufrgs.br/ufrgs/ Site da UFSC - http://www.ufsc.br Arquivo MIC de atraso no site da UFSC e textos cortados por falta de espaço no site da UFPR”, reprova o mestrando. Conforme o ranking feito por José Roberto, a UFSC aparece em segundo lugar, seguida pela UFRGS e UFPR, respectivamente. “Acho que as universidades investem muito pouco na web, contratando estagiários que não dão continuidade ao processo”, considera. Segundo a professora Rita Paulino, é inadmissível que instituições que possuem cursos como Comunicação Social, Design e Computação não formem equipes para desenvolver seus sites. “O desenvolvimento de um site requer uma equipe multidisciplinar, uma equipe que saiba trabalhar design, informação e tecnologia”, considera. José Roberto concorda que esse tipo de trabalho deveria ser feito por uma só equipe que padronizasse todo o conteúdo, como ocorre na UFSM. “Não se pode desprezar um instrumento com tamanho potencial, como é a Internet. O jovem estudante procura uma página mais dinâmica quando pesquisa o seu futuro na Internet”, observa. Revista do MIC - 2002/2003 www.mic.ufsc.br .:DEMOCRATIZAÇÃO DO CONHECIMENTO Banco de Teses e Dissertações completa um ano e meio na rede Maio de 2002 Por Felipe Zylbersztajn E 28 * Revista do MIC Versão original da biblioteca virtual data de 1995. Esta é a interface atual do BTD Arquivo MIC m junho de 2002, o Banco de Teses e Dissertações (BTD) do Programa de PósGraduação em Engenharia de Produção (PPGEP) da UFSC completa um ano e meio de disponibilidade pela Internet. No endereço http:// teses.eps.ufsc.br é possível ler, na íntegra, mais de 900 trabalhos, 605 deles em PDF (dados de abril de 2002), de mestrandos e doutorandos do Programa. Desde o seu surgimento até abril de 2002, a biblioteca digital já recebeu 95 mil acessos, comprovando sua pertinência. Já que a formação de mestres e doutores depende em grande parte de recursos públicos, nada mais justo que a universidade apresente o resultado desses investimentos à sociedade. Um pensamento simples que vem rendendo bons frutos aos alunos do PPGEP. “Várias pessoas já me procuraram depois de terem acessado minha dissertação no BTD”, conta o engenheiro de alimentos Cassiano Bringhenti, autor do quinto trabalho mais procurado do site, intitulado “Fundamentos para implementação de pequenas e microempresas de alimentos”. “Cheguei até a receber, em casa, uma monografia em que a pessoa usou um dos testes desenvolvidos na minha dissertação. Esse intercâmbio foi possível através do BTD”, explica Bringhenti. “A idéia é fazer do site uma fonte de consultas para empresários, instituições financeiras e formadores de opinião, além da própria comunidade acadêmica”, conceitua Cid Raulino de Andrade Jr., da equipe de desenvolvimento do BTD. Ao todo, o banco reúne informações sobre as 2.985 teses e dissertações defendidas no PPGEP desde 1970. Os dados disponíveis estão divididos em sete áreas: informações gerais, defesas marcadas ou recentemente realizadas, acesso aos documentos e às informações sobre trabalhos defendidos, serviço de marcação de defesas, estatísticas sobre os trabalhos, links relacionados ao BTD e indicadores de trabalhos mais acessados. O link mais procurado é o que permite o acesso aos documentos completos disponibilizados no site. A combinação de parâmetros permite buscas temáticas nos trabalhos. O termo “centrais de frete”, por exemplo, aponta seis dissertações defendidas no PPGEP entre 1988 e 1993. Além da busca por termos, o usuário pode filtrar sua consulta por orientador, examinador, tutor de orientação (doutorando que co-orienta trabalho de mestrado), área de concentração, nível (mestrado, qualificação e doutorado) e ano de defesa do trabalho. Na seção de rankings, pode-se descobrir, por exemplo, que a tese de Macul Chraim “Aliança empresarial no setor de transportes: estratégia para dinamizar o transporte de encomendas em ônibus” é a mais pesquisada do Programa, com 1.829 visitas. O autor do trabalho se vê com surpresa no topo do ranking. “Não imaginava tamanha procura. Se fizermos as contas, constataremos que minha tese recebe mais de dois acessos diários”, nota Chraim. A área de Gestão da Qualidade e Produtividade é a mais pesquisada, com 23,6% do total das consultas, seguida pela área de Mídia e Conhecimento, com 16,7%. “O segundo link mais visitado do site é o que divulga as defesas marcadas e defendidas recentemente”, conta Cid de Andrade. A principal novidade do BTD tem sido a possibilidade de procura por palavras-chave no resumo dos trabalhos disponíveis. “Até o final de 2001, a procura era limitada ao título da tese ou dissertação”, esclarece Cid de Andrade. Outra novidade é a implantação do link para o currículo Lattes do pós-graduando, na página de sua tese ou dissertação. Até maio deste ano, a equipe do Grupo Stela havia disponibilizado o currículo de mais de 1.020 alunos. O aluno do PPGEP que desejar disponibilizar seu trabalho no BTD não precisa se preocupar. A digitalização dos trabalhos é feita a partir dos arquivos entregues pelos pós-graduandos para a obtenção do título de mestre ou doutor à secretaria do Programa. Revista do MIC - 2002/2003 www.mic.ufsc.br que atualmente é bolsista de mestrado no Laboratório Stela. O trabalho de Elaine começou em junho de 2001 na O BTD (Banco de Teses e Dissertações) do PPGEP da UFSC secretaria do Programa. Durante um mês, ela recolheu dados nasceu em 1995 (cerca de um ano após o surgimento dos referentes aos 25 primeiros anos do PPGEP. Todas as defesas navegadores Netscape e Mosaic), com a finalidade de ocorridas entre 1970 e 1995 no PPGEP foram conferidas disponibilizar esses trabalhos a todos os seus alunos, através das atas arquivadas na secretaria. Com uma planilha Excel, Elaine fez uma Quando as prateleiras eram o único destino lista de todas as teses e dissertações dos trabalhos acadêmicos, grandes idéias não defendidas no PPGEP até 1995. alcançavam toda a sociedade. Hoje, além de O próximo passo foi ir atrás das encadernadas, as teses e dissertações também estão defesas nas estantes da Biblioteca disponíveis em formato digital. Universitária. Com a lista em mãos, A ação popularizou a pesquisa e Elaine Bianchini procurava o número de aproximou cientistas e público cada um dos trabalhos para poder cadastrá-los devidamente. “Fiz isso até novembro”, lembra. De cada trabalho, Elaine copiou o resumo com o seu scanner de mão. Muitas das defesas haviam se perdido com as enchentes, mas as que puderam ser pesquisadas tiveram o seu resumo salvo e cadastrado no laptop. Os dados resgatados na Biblioteca Universitária foram posteriormente cadastrados por Elaine no Laboratório Stela. “Recebi muita ajuda da Rosângela Della Vechia nesses tempos”, recorda Elaine. Para o responsável por teses, orientadores, pesquisadores e gestores, destacando a dissertações, audiovisuais e auditórios da Biblioteca transparência no processo de produção do Programa. Para a Universitária, Élson Mattos, esse tipo de iniciativa é louvável. digitalização das dissertações, foi constituída uma equipe “Temos falta de espaço e de pessoal. Se todas as teses e de digitalizadores que transformou os arquivos em formato dissertações fossem disponibilizadas pela Internet, facilitaria binário DOC (próprio de editores de texto como Word e muitas coisas aqui na biblioteca”, opina o funcionário. StarOffice) para o formato HTML. A primeira dissertação do Para ele, a iniciativa do BTD do PPGEP significa um avanço. “Além de tudo, é uma atitude ecologicamente correta”, PPGEP foi colocada no site do programa no início de 1996. Em 2000, o Grupo Stela reuniu o conjunto de arquivos lembra Élson. digitalizados no BTD unindo-os à Plataforma de Gestão Acadêmica do PPGEP/UFSC através de links entre os arquivos e os correspondentes registros administrativos das teses e dissertações defendidas no Programa. O site foi lançado em dezembro do mesmo ano. Em maio de 2001, completaram-se 23 mil acessos. Em menos de um ano de funcionamento, já eram 59 mil. Até abril de 2002, mais de 92 mil pessoas pesquisaram na página do Programa. A bolsista do PPGEP Elaine Bianchini desempenhou um papel muito importante para que o BTD do PPGEP fosse o mais completo possível. Como o BTD foi ao ar em 1995, todas as defesas anteriores a esse período tiveram de ser “resgatadas” das Cid Raulino de Andrade Jr. prateleiras da Biblioteca Universitária para equipe de desenvolvimento que seus dados fossem inseridos no banco. do BTD “Foram quase seis meses de trabalho com um laptop e um scanner de mão”, recorda Elaine, HISTÓRIA Arquivo MIC Veja esta matéria no endereço http://www.mic.ufsc.br/index.php?url=int_bancodeteses.htm. 29 * Revista do MIC Arquivo MIC “A idéia é fazer do site uma fonte de consultas para empresários, instituições financeiras e formadores de opinião” Revista do MIC - 2002/2003 www.mic.ufsc.br .:GAV - GRUPO DE ENGENHARIA E ANÁLISE DO VALOR Corrigir para crescer Março de 2002 Por Felipe Zylbersztajn que faz uma pequena empresa de velas sem capital de giro, matéria-prima ou dinheiro para novos investimentos reformular sua estrutura a ponto de receber o Prêmio Talento Empreendedor num período de um ano e meio a partir das primeiras mudanças? A resposta é encontrada no Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção (PPGEP) da UFSC, mais especificamente, no laboratório do Grupo de Engenharia e Análise do Valor (GAV). Por indicação do Sebrae, a empresa de velas Hocus-Pocus (http:// w w w. v e l a s h o c u s p o c u s . c o m . b r ) procurou a consultoria prestada pelo GAV Empresarial, parte do grupo especializada no atendimento às pequenas e microempresas, e virou destaque nacional em pouco tempo. Há oito anos, o GAV ampliou seu foco de atuação, e as ferramentas utilizadas na melhoria das tecnologias e nos problemas de gestão passaram a ser adaptadas para as pequenas e microempresas. Assim, surgiu o GAV Empresarial, hoje um dos núcleos do GAV. “Desde então, foram mais de cem empresas atendidas, e estamos obtendo ótimos retornos”, explica o engenheiro Dante Juliatto, coordenador e consultor do GAV Empresarial. “Estávamos em uma situação desesperadora quando procuramos o GAV”, conta Ulisses Nunes, gerente de produção da HocusPocus. O caso foi avaliado pelos consultores do GAV, que enxergaram um potencial criativo na empresa, apesar de constatar erros de foco de mercado, de foco de produtos e ineficiência na gestão de negócios. O GAV montou um projeto de organização do processo produtivo, com uma nova concepção da linha de produção de velas. Com as mudanças, a HocusPocus ganhou mercado, tendo de duplicar a sua área de produção. Arquivo MIC 30 * Revista do MIC O Time do GAV: consultoria Para Ulisses Nunes, o resultado foi excelente. “O GAV trouxe uma organização, uma didática para nossa empresa. Quando não se tem alguém para nos indicar uma direção, perdese muito tempo experimentando coisas novas”. O número de pedidos não parava de crescer, obrigando a organização, que tinha três funcionários, a aumentar o quadro para 15. A Hocus-Pocus passou a enfrentar um problema que todo empresário gostaria de ter: uma demanda altíssima de produtos. “Nossa empresa havia crescido muito e tivemos que chamar o grupo novamente”, recorda Ulisses. Segundo o consultor do GAV Empresarial Alexandre Hering de Queiroz, trata-se de um processo natural. “As empresas, quando são muito pequenas, não têm condições de assimilar todas as ferramentas que temos a oferecer. Então ocorre a condição de crescimento em que utilizamos processos mais simples até que elas comecem a entrar num esquema de produção industrial. Depois que elas evoluem a esse ponto e atingem um certo nível de maturidade, podemos entrar com ferramentas mais aprimoradas em seu processo”. Um novo projeto foi criado junto ao Sebrae através do PATME, programa que consiste no subsídio de consultorias tecnológicas para as empresas de pequeno porte, através de recursos a fundo perdido. O novo projeto incluía a mudança da empresa para um galpão industrial, a reorganização de todo o processo produtivo de trabalho e a aquisição de novos equipamentos. MULTIDISCIPLINAR Em muitos casos, o GAV Empresarial recorre a outros cursos e laboratórios da UFSC para que a consultoria possa ser a mais adequada. Com a HocusPocus, por exemplo, a equipe teve de entrar em contato com outros setores da universidade para estudar a química das velas. “A multidisciplinaridade do GAV é um diferencial muito importante na hora de nossas indicações”, revela o coordenador do PATME, Sérgio Henrique Pereira. Segundo Sérgio, o PATME conta com 25 instituições cadastradas para prestar os serviços de assessoria aos pequenos empresários, entre eles o GAV, que já tem uma parceria de cerca de sete anos com o Sebrae. “O GAV nos dá a segurança de um bom trabalho, já que a equipe domina as metodologias que aplica e vai direto ao ponto principal do problema. É um trabalho focado em resultados”, garante ele. “A Engenharia de Produção trabalha com o processo produtivo. Varia o Revista do MIC - 2002/2003 www.mic.ufsc.br produto, mas não a lógica”, explica Alexandre Hering de Queiroz. Segundo os consultores do GAV Empresarial, os problemas que as pequenas e microempresas apresentam são muito parecidos. “Muitas vezes aquele problema que o pequeno empresário reclama é só a ponta de um iceberg. Em 90% dos casos o que ele aponta é aquilo que está aparente, mas existem problemas mais profundos a serem resolvidos”, conta Dante Juliatto. Para ele, o grande desafio dos consultores do GAV Empresarial é tratar de todos os aspectos de uma empresa ao mesmo tempo. “Na pequena empresa, temos que entender de marketing, de custos, de programação e produção, de gerenciamento. O empresário quando nos chama está carente em todos esses aspectos”. O que mais chega ao GAV são problemas de gestão. “Cerca de 90% das empresas que nos procuram estão com aquele problema básico de não ter controle de caixa, de não saber quanto custa a fabricação de um produto, de não saber de quanto é o faturamento, como está o aproveitamento da mãode-obra, os níveis de produtividade e os problemas de processo de fabricação. Todos eles relacionados à gestão. Nas pequenas empresas fica difícil distinguir o que é o processo de gestão do processo de fabricação. As coisas estão relacionadas e ligadas apenas à figura do empresário. A maioria deles cria suas empresas a partir de alguma habilidade. Porém, precisam de estrutura para manter o negócio, divulgá-lo e organizá-lo. Então, fornecemos as ferramentas para suprir as falhas adjacentes e imprescindíveis ao bom funcionamento da empresa”, explica Dante Juliatto. Ulisses, da Hocus-Pocus, lembra que o GAV Empresarial trouxe a noção de planejamento para sua empresa. “Muitas vezes vendíamos nossas velas tendo prejuízo, pois a gente não conseguia saber o preço real de nosso produto. Não basta simplesmente ter o know-how de fazer velas; não adianta dizer: vou abrir uma empresa, se você não tiver a noção de que não está apenas produzindo e vendendo”. RESULTADOS Com o estudo feito sobre a empresa assessorada, o GAV Empresarial procura atacar os pontos estratégicos que dão resultados. A Hocus-Pocus é um exemplo disso. Segundo os consultores do GAV, a empresa aumentou seus rendimentos em cerca de 100 vezes, recrutou mais de 30 novos empregados (a empresa agora trabalha em dois turnos), melhorou a qualidade dos seus produtos e reduziu as falhas gerenciais. “Além do retorno ao microempresário há o retorno para a comunidade, através da geração de empregos e do oferecimento de melhores produtos”, lembra Dante Juliatto. As mudanças renderam o Prêmio Talento Empreendedor à empresa no Perfil do laboratório O Grupo de Engenharia e Análise do Valor (GAV) foi fundado no final de 1988 a partir da estrutura do Laboratório de Projeto de Produto, com o objetivo de desenvolver atividades de extensão, uma vez que seus integrantes trabalhavam com pesquisas que poderiam ser postas em prática junto às empresas. Foi criado e estruturado dando ênfase ao conceito de valor. Na verdade, é um conceito aplicado no cotidiano. Qualquer análise que se faça da relação custo x benefício – que benefícios vou ter diante dos esforços que vou ter de empreender? – é uma configuração do conceito de valor. Isso é aplicado nas empresas, não só para fazer a negociação com elas como para apresentar saídas para seus problemas. Hoje, o GAV conta com aproximadamente 50 integrantes, entre orientandos e professores (dentro da área de qualidade e produtividade), além de alunos de graduação. O laboratório está dividido em três núcleos: GAV Projetos – atua no atendimento às empresas de grande porte; GAV Ambiental – cuida da área ambiental; e GAV Empresarial – atua no atendimento às pequenas e microempresas. Veja “Corrigir para crescer” e “Perfil do Laboratório” na íntegra, respectivamente, em http://www.mic.ufsc.br/index.php?url=conteudo_seg/int_gav.htm e http://www.mic.ufsc.br/index.php?url=conteudo_seg/int_gaperfil.htm, mais as retrancas “O GAV é um anjo que apareceu em nossa empresa” e “Redes de empresas”. 31 * Revista do MIC Arquivo MIC Modelos de velas produzidas pela empresa Hocus-Pocus, cliente do GAV ano 2000. “Fizemos o case da HocusPocus e o inscrevemos na categoria indústria”, conta Alexandre. A empresa que havia pouco tempo estava endividada, disputou com indústrias de todo o estado e teve o seu trabalho reconhecido e admirado. “Foi um momento de grande satisfação para a empresa”, revela Ulisses Nunes. Os consultores do GAV Empresarial, porém, são categóricos: o GAV não faz nada sozinho. “É importante ressaltar que é um trabalho de parceria e que o mérito é da empresa. Nosso trabalho só funcionou porque eles estavam abertos às nossas orientações e têm o espírito empreendedor”. Revista do MIC - 2002/2003 www.mic.ufsc.br .:DISSERTAÇÃO DE MESTRADO O BTD (Banco de Teses e Dissertações) é uma biblioteca digital que permite o acesso sem custo às teses e dissertações defendidas no PPGEP (Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção). O MIC não é responsável, no entanto, pela inclusão dos trabalhos acadêmicos nesse banco. A DISSERTAÇÃO DE MESTRADO de Maria Benedita da Silva Prim pode ser encontrada no endereço http://teses.eps.ufsc.br Banquete jogado fora Fevereiro de 2003 Por Marcelo Tolentino Ilustração: Luiz Otávio Costa O BICHO Manuel Bandeira Vi ontem um bicho Na imundice do pátio Catando comida entre os detritos. Quando achava alguma coisa, Não examinava nem cheirava, Engolia com voracidade. Paradoxo brasileiro: de um lado, a abundância de um país cujo povo é campeão de O bicho não era um cão, desperdício. De outro, a angústia dos 50 milhões de famintos estimados pelo IBGE Não era um gato, Não era um rato, olo e suco de cascas de maçã, torta fria e pizza que nos produtos O bicho, meu Deus, era um colorida de legumes. De quebra, pão integral tradicionalmente homem... de talos e cascas de banana à milanesa. Eis c o n s u m i d o s ” , algumas receitas baratas e nutritivas que garante Benedita, que seguiu os rastros das toneladas podem ajudar a combater o desperdício e a fome no perdidas desde a fase de colheita até a comercialização na Brasil. É o que afirma a mestre da UFSC, professora Ceasa (Central de Abastecimento) de São José, em Santa Maria Benedita da Silva Prim, 40 anos, responsável por Catarina. Como estudo de caso foram analisadas a beterraba, pesquisa que é literalmente um prato cheio para o a cenoura e a couve-flor. Além da aplicação de questionários programa “Fome Zero” de Lula (http:// em 50 comerciantes locais e 80 agricultores de Florianópolis e cidades vizinhas. Os resultados assustam. www.fomezero.gov.br). Embora as estimativas da Fundação Getúlio Vargas Segundo Benedita, que também é bióloga, cada pessoa produz, em média, 800 gramas de lixo por dia. apontem que 30% dos 176 milhões de habitantes sofrem com Do total, 60% desse material é orgânico e, portanto, a falta de comida, “o desperdício ainda reina em diversos consumível. Baseando-se em dados como esses e cantos do Brasil”, adverte Benedita. Após pesar as partes convencida de ter em mãos uma arma contra a escassez utilizadas e desprezadas dos legumes estudados, ela de comida, ela decidiu provar que nem só a despensa descobriu que somente os estabelecimentos atendidos pela guarda matéria-prima para pratos saborosos. Começou Ceasa de São José desperdiçam R$ 70 mil todos os anos. Um comendo o lixo doméstico de sua casa. É isso mesmo! valor referente ao que não é utilizado no consumo humano e A família da pesquisadora, vinda do interior de São considerando o preço médio de R$ 0,47. No campo, o descaso é ainda maior. Perde-se cerca de Paulo, já tinha o hábito de consumir partes de verduras tradicionalmente não utilizadas, como talos, cascas e 21,1% da produção, ou seja, a quantia de R$ 600 mil por folhas. “Podemos encontrar mais nutrientes no lixo do ano, incluindo nesse caso partes comercializadas e não- 32 * Revista do MIC B Revista do MIC - 2002/2003 www.mic.ufsc.br Arquivo MIC comercializadas. São várias as causas do extravio indiscriminado de alimentos. Na esfera comercial estão principalmente o transporte inadequado e a falta de preparo dos vendedores na hora do armazenamento. Dentro da central estudada, Benedita teve ainda acesso às “notas vermelhas” de outras fontes de abastecimento de Santa Catarina. Somando o desperdício de beterraba, cenoura e couve-flor das centrais de Blumenau, Tubarão e São José, a perda revelada foi de 15 toneladas por ano, o equivalente a R$ 4 milhões. O retrato do desperdício fica mais palpável quando Benedita coloca na ponta do lápis quantas cestas básicas poderiam ter sido compradas com o dinheiro jogado fora na zona rural, comercial e pelo Ceasa de São José. Levando-se em consideração valores de 2001, o cálculo revelou que, se a quantia fosse gasta em comida, cerca de 542 mil carentes teriam a chance de levar para casa 86 mil cestas. Os alimentos seriam suficientes para garantir as refeições durante um ano. É nas feiras e nos supermercados que Benedita coloca em prática as idéias da dissertação. Ela nunca rejeita as pequenas hortaliças ou os produtos com leves cortes NOVO RUMO FÉ NA OBSESSÃO DE LULA O projeto de garantir o café, o almoço e a janta aos 50 milhões de famintos apontados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), cuja renda diária não chega a um dólar, pode não passar de um fast food, previne Benedita. Apesar de todo o barulho causado pelo discurso de posse do presidente, Benedita acredita que o “Fome Zero” pode falhar se não tiver os contornos de um programa educacional. Com a postura de quem tem experiência no assunto, a pesquisadora se preocupa com o velho e preconceituoso significado do lixo. Se as sobras de mercados e restaurantes forem realmente reutilizadas, como pensa o ministro José Graziano, da Segurança Alimentar, “será necessário convencer o povo de que lixo orgânico não é comida de pobre, mas de todo mundo”, salienta Maria Benedita, acrescentando: “Campanhas publicitárias, trabalhos em escolas e localidades serão estratégicos”. TAMANHO NÃO É DOCUMENTO! cena é corriqueira. Donas-de-casa disputam nas seções de vegetais as batatas maiores e descartam as menores, que acabam tendo o destino cruel das lixeiras do supermercado. O exemplo ilustra a temida padronização de alimentos, afirma Maria Benedita, preocupada com o hábito que consumidoras têm de escolher os hortigranjeiros maiores – cheios de agrotóxicos – e desprezar os menores. Durante os dois anos de produção de seu trabalho, Benedita observou o “Batatas comportamento de pequenas mulheres na hora também de selecionar a precisam matéria-prima ter vez!” das saladas. “Ela apalpa, Arquivo MIC vasculha, mede e não perdoa furos, manchas, cortes leves ou hortaliças pequenas”, critica. A mania agrava ainda mais o quadro da fome no país, sendo que os comerciantes poderiam estabelecer preços mais acessíveis para os produtos descartados pela maioria. Assim, as famílias menos favorecidas teriam acesso a mais alimentos. “É outro ponto que Lula deverá enfocar em uma suposta campanha contra a fome”, sugere Benedita. continua A 33 * Revista do MIC Do total de beterraba, cenoura e couve-flor desconsiderado pelos comerciantes (ramas, folhas, entre outros), apenas 35% são reaproveitados para consumo humano. Sofrendo com o encalhe de produtos fora do tamanho-padrão ou com machucados causados por enxadas – problemas que as donas-de-casa não perdoam – agricultores costumam consumir somente 32,2% da sobra das vendas. O restante, tanto na zona rural quanto urbana, vira alimento de animais, é levado pelos caminhões da prefeitura e, em último caso, enterrado como adubo. “Não sei como tanta gente morre de fome num país tão rico”, questiona Maria Benedita, cujos ensinamentos dariam inveja à equipe de Segurança Alimentar do governo Lula. A vontade de oferecer outro destino aos resíduos além dos sacos plásticos nasceu na Escola Básica Professora Claudete Maria Hoffmann Domingos, em Palhoça (SC), a 11 quilômetros de Florianópolis (veja matéria na página 34). Desde 1995, sua disciplina de Ciências ajuda a reaproveitar os resíduos da merenda escolar e o lixo da comunidade local. Junto aos alunos, Benedita descobriu as diferentes vantagens dos dois “erres” – reduzir e reaproveitar –, como ela mesma faz questão de expressar. “A mídia dá muita ênfase para a reciclagem, que é o terceiro ‘r’. Mas ninguém fala que esse processo é caro, envolve gasto de energia e de água. É por isso que os restos orgânicos devem ter preferência”, observa a professora. Revista do MIC - 2002/2003 www.mic.ufsc.br .:DISSERTAÇÃO DE MESTRADO O pontapé inicial na cruzada contra a fome e o desperdício epois que a professora e bióloga Maria Benedita da Silva Prim passou a reaproveitar as sobras do recreio, nunca mais a barriga dos alunos roncou durante as aulas. O trabalho de reutilização do lixo, promovido há sete anos na escola Professora Claudete Hall Domingos, matou vários coelhos com uma só cajadada. Saciou a fome de alunos, evitou a degradação ambiental e tornou mais divertida a aula de Ciências. “Como a maioria era carente e não se alimentava direito em casa, muitos acabavam faltando às aulas devido a problemas como subnutrição”, relata Benedita, responsável também por oficinas ministradas à comunidade. As merendeiras desperdiçavam produtos como frutas, verduras e legumes muitas vezes em bom estado. As maçãs, por exemplo, não eram consumidas na merenda por exibirem pequenas manchas ou furos. Assustada com o quadro, o primeiro passo Receitas de de Benedita foi transformar a classe em um Benedita verdadeiro laboratório de pesquisa. motivam a Começaram a buscar bibliografia e a relacionar dona-de-casa a o desperdício com a questão ambiental, a falta reaproveitar, de saúde e a economia doméstica. “Minhas por exemplo, aulas ganharam perfil multidisciplinar”, cascas de frutas e todas comemora a professora, referindo-se ao fato as folhas das de ter despertado o interesse por matérias verduras como ecologia e matemática. O sucesso das receitas exclusivas da disciplina de Ciências ampliou os horizontes da proposta. Surgiu então a idéia de uma feira para difundir ainda o reaproveitamento do lixo. Entre os painéis, pratos como bolos, sucos, pizzas e até mesmo cosméticos feitos com matéria orgânica. D O combate ferrenho de Maria Benedita ao desperdício de comida culminou na dissertação “Análise do desperdício de partes vegetais consumíveis”, um produto final que, segundo Benedita, será entregue ao governo federal por sua orientadora, a doutora Edis Mafra Lapolli. “Tenho certeza de que o trabalho poderá ajudar o governo federal a travar uma luta mais justa contra a fome”, torce a mestre, enquanto articula o doutorado e pensa na elaboração de um livro de dicas e receitas, que podem ser acessadas no endereço (http://www.mic.ufsc.br/ index.php?url=int_dicasereceitas.html). Ilustrações: Arquivo MIC 34 * Revista do MIC COLHENDO OS FRUTOS Revista do MIC - 2002/2003 www.mic.ufsc.br .:ENTREVISTA Núcleo de Mídia Científica - Qual foi o principal fator de inspiração de seu trabalho? Benedita – Achei que com essa pesquisa eu poderia ajudar o faminto ou aquela pessoa muito carente. Esse foi o principal fator de inspiração, porque a maioria das pessoas não sabe como usar folhas, talos ou cascas. Então pensei em aprender a reaproveitar o lixo para depois repassar tudo à sociedade. MIC - Quem será o principal beneficiado com os resultados alcançados? Benedita – Todos. Desde o mais rico até o mais carente, além do meio ambiente. MIC - Quais são as principais contribuições que você destacaria em seu trabalho? Benedita – Acho que a economia doméstica, porque a pessoa economiza não jogando tudo fora. E também o melhoramento da saúde, porque ela terá uma alimentação diversificada e nutritiva. MIC - Seu trabalho está inserido em que linha de pesquisa do PPGEP? Por quê? Benedita – Gestão Ambiental. Porque, reduzindo o desperdício, damos vida útil aos aterros sanitários. Grande parte do lixo é produto orgânico e não precisaria ser levado pelos caminhões. Eu poderia usar na alimentação ou adubar meu quintal. Além do mais, o preço desse serviço é muito elevado. O município e o estado ganhariam muito financeiramente. MIC – Quais foram as principais dificuldades na produção da dissertação? Benedita – Além da falta de referências bibliográficas, a ausência de uma bolsa. Como trabalho muito dando muitas aulas o dia inteiro, nos dois anos em que produzi o trabalho não tive folga nenhuma. Passei noites em claro. MIC – O que recomendaria a outros mestrandos que desejassem utilizar seu trabalho como ponto de partida? Benedita – Recomendo pesquisas que ajudem o próximo e que tenham resultados práticos mais imediatos. Existem Veja esta matéria no endereço http://www.mic.ufsc.br/index.php?url=int_fome.html. Em meio aos legumes, verduras e frutas, Benedita assegura que o “milagre da multiplicação dos alimentos” é possível muitas pesquisas que só servem pra ficar na prateleira, em vez de provocarem transformações. Acho que um trabalho muito interessante poderia ser em cima de hortas caseiras, especialmente em apartamentos. MIC - Agora que o trabalho está concluído, o que pretende fazer em termos profissionais? Benedita – Minha visão mudou bastante. Hoje eu gostaria de trabalhar numa ONG, ou então em algum projeto do governo. Não num gabinete, envolvida com trabalhos burocráticos, mas movimentando uma comunidade. MIC - Você pretende fazer doutorado? Será na mesma área do mestrado? Benedita – A orientadora sugeriu que eu continuasse o trabalho na Ceasa. Mas analisando 20 ou 30 produtos para poder retratar melhor o desperdício. MIC - O que faria diferente se tivesse a chance de ter começado sabendo o que sabe agora? Benedita – Continuaria a avaliação na Ceasa. Porém, também ajudaria uma comunidade próxima ensinando como reaproveitar o lixo, incluindo os resultados na dissertação. MIC - O que o PPGEP fez por você e o que você fez pelo PPGEP nesse período de mestrado? Benedita – O programa fez muito por mim. Deu oportunidade de viabilizar um trabalho desses no campo da gestão ambiental. Ele deve dar espaço para projetos sociais, e isso aconteceu comigo. Fui muito bem recebida. Sobre o que fiz para o PPGEP, posso dizer que ensinei algumas receitas para o pessoal da minha sala e dei início a um trabalho pioneiro. MIC - Você citaria algum trabalho (dissertação, tese ou projeto) que foi decisivo para sua dissertação? Quem foram os autores e onde foi desenvolvido esse trabalho? Benedita – Infelizmente, não achei nenhum trabalho que falasse sobre desperdício de alimentos. 35 * Revista do MIC Nome: Maria Benedita da Silva Prim Área de atuação: Gestão ambiental Área de origem: Biologia Profissão: Professora Idade: 40 anos Hobby: Ler e assistir a filmes Naturalidade: Paulista Tipo de defesa: Dissertação Título do projeto: Análise do desperdício de partes vegetais consumíveis Orientador: Professora Edis Mafra Lapolli, Dra. Sinopse: Trata do desperdício como gerador de resíduos orgânicos e da possibilidade de seu aproveitamento na alimentação humana. Discute sobre a fome e resíduos, sua geração e tratamento. Quantifica partes não utilizáveis de amostra de verdura para determinação de resíduos gerados. Apresenta resultado de pesquisa de campo com comerciantes e agricultores. Finalmente apresenta discussão sobre dados coletados. Arquivo MIC PERFIL “Podemos encontrar muitos nutrientes no lixo!” Revista do MIC - 2002/2003 www.mic.ufsc.br .:DISSERTAÇÃO DE MESTRADO Sistema recupera casos semelhantes para facilitar consultas O BTD (Banco de Teses e Dissertações) é uma biblioteca digital que permite o acesso sem custo às teses e dissertações defendidas no PPGEP (Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção). O MIC não é responsável, no entanto, pela inclusão dos trabalhos acadêmicos nesse banco. A DISSERTAÇÃO DE MESTRADO de Fabiano Duarte Beppler pode ser encontrada no endereço http://teses.eps.ufsc.br Outubro de 2002 Por Felipe Zylbersztajn 36 * Revista do MIC A Pacheco, lembra que é comum os sites indicarem milhares ou milhões de hits de procura. “Porém, há de se perguntar de que forma o usuário que recém chegou nesse site pode se valer dessas consultas para Ferramenta acumula encontrar mais rapidamente o que o conhecimento de procura. A questão sempre me buscas anteriores e intrigou”, revela. facilita a vida de Para tanto, a dissertação de usuário, como se fosse Fabiano empregou a metodologia um “experiente balconista” que de Raciocínio Baseado em Casos conhece (RBC). Ela se baseia na muito bem a “loja” característica de se valer de experiências passadas para a resolução de problemas futuros. O método utiliza uma base de casos – equivalente à experiência do segundo balconista de nossa história – contendo a relação de todas as pesquisas realizadas no site e o perfil de cada uma delas. “Se juntamente com os parâmetros e ações de buscas guardássemos os links visitados, poderíamos recuperar os acessos a qualquer momento”, conceitua Roberto Pacheco. Quando uma nova pesquisa for feita, além dos resultados da busca tradicional, o usuário receberá uma relação de buscas similares já realizadas. A relação é apresentada em ordem de similaridade com a expressão digitada. À medida que o usuário desprezar as buscas similares, por serem muito genéricas, e fizer uma consulta tradicional, o RBNet vai continuamente aplicar funções de similaridade, trazendo uma nova lista de casos com usuários que fizeram consultas dirigidas ao assunto procurado. Se o RBNet for aplicado ao site do Google, por exemplo, e estivermos procurando artigos na Internet sobre “combate à fome”, o resultado bruto passa dos 4 mil itens. Imagine que o usuário dessa busca selecione o terceiro link e a partir daí trabalhe até encontrar o que desejava. Quando em outro dia outro usuário escrever a mesma expressão de busca, o RBNet dirá que há 4 mil itens e que houve uma consulta Arquivo MIC posto como já aconteceu com você. O balconista da loja simplesmente não consegue encontrar o item que você está procurando. Para poupar tempo, ele pede auxílio a um funcionário mais experiente que localiza o pedido em pouquíssimo tempo. Parece mágica, mas não é difícil perceber o que havia por baixo da manga do segundo funcionário – a experiência com clientes anteriores. Agora, imagine o tempo poupado na Internet se suas buscas utilizassem o conhecimento das consultas similares feitas anteriormente. Pois um “balconista mais experiente” pode estar aparecendo em breve nos sites de busca para auxiliar suas pesquisas virtuais. Fruto da dissertação de mestrado de Fabiano Duarte Beppler, o RBNet promete revolucionar a maneira de se achar alguma informação na rede utilizando funções de similaridade. Atualmente, o usuário que pesquisa uma informação num site de busca tradicional (Yahoo, Altavista, Google, etc.) recebe uma relação de links cujos conteúdos podem abrigar o dado que ele procura. A partir dos detalhamentos de cada link, ele visita os sites que mais lhe interessarem até encontrar o que deseja. Entretanto, todo conhecimento adquirido na busca não é utilizado nas próximas consultas. Ou seja, alguém que deseja obter a mesma informação terá tanto trabalho quanto o primeiro usuário. A ferramenta desenvolvida por Fabiano aplica técnicas de inteligência artificial sobre as buscas, fazendo com que buscas anteriores ajudem novos usuários. O orientador da dissertação, professor Roberto Revista do MIC - 2002/2003 www.mic.ufsc.br semelhante (informando o grau de acordo com a expressão de busca). Se o segundo usuário escolher também o terceiro item, verá que a consulta do primeiro usuário aumenta em similaridade. A partir daí, em vez de repetir as tentativas do primeiro usuário, ele pode acionar os resultados e rapidamente obter a mesma informação que o primeiro usuário conseguiu após suas próprias tentativas. Para demonstração de sua viabilidade, o RBNet foi aplicado ao site de busca do “Diretório de Grupos de Pesquisa no Brasil”, projeto do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), durante a sua fase de desenvolvimento. No diretório do CNPq, além do campo de expressão para busca, ainda foram utilizados três tipos de filtros – Instituição, Grande Área e Área – nas buscas auxiliadas pelo RBNet. Segundo Fabiano Beppler, os resultados foram muito satisfatórios. Para o orientador Roberto Pacheco, a dissertação, além de uma idéia inovadora, possui a pesquisa e a tecnologia necessárias para torná-la realidade e uma aplicação real para comprovar sua viabilidade. “Essas características nos levaram a registrar o RBNet no INPI e garantir que esta ferramenta possa servir a outros sites de consulta no futuro”. A dissertação possui um capítulo que informa sobre o processo de patenteamento e adverte sobre possíveis cópias. .:ENTREVISTA Instrumento arquiva dados de buscas e aprimora a arte de achar na Internet Fabiano propõe a construção da memória das buscas nos sites MIC - Quem será o principal beneficiado dos resultados alcançados? Beppler - Qualquer usuário que utilizar um site de busca que possui a ferramenta RBNet. MIC - Quais são as principais contribuições que você destacaria? Beppler - Destaco: - auxílio para buscas de informações na Internet; - maior velocidade na recuperação de informações relevantes e visão mais abrangente do que se está buscando relacionada à área da busca; - como o RBNet utiliza conceitos de similaridade entre buscas, há a possibilidade de visualização das buscas similares em função do grau de semelhança. continua 37 * Revista do MIC PERFIL Núcleo de Mídia Científica - Qual foi o principal fator de inspiração de seu trabalho? Beppler - A dificuldade em encontrar a informação necessária de forma rápida e eficiente, sem necessitar visitar muitos sites recuperados de um site de busca. E a utilização das informações das buscas de usuários, desperdiçadas pelos sites de busca atuais, que podem servir de subsídios para buscas de novos usuários. Arquivo MIC Nome: Fabiano Duarte Beppler Área de atuação: Inteligência Artificial Área de origem: Ciência da Computação Profissão: Analista de sistemas Idade: 26 anos Hobby: Gosto de ler revistas e livros, principalmente. Curto ficar horas navegando na Internet, jogar vôlei, futebol e assistir a filmes, de preferência àqueles do gênero ação. Naturalidade: Brasileiro Tipo de defesa: Mestrado Título do projeto: Emprego de RBC para recuperação inteligente de informações Sinopse: A dimensão do volume de informações disponíveis na Internet e as taxas diárias de crescimento tornam cada vez mais presentes mecanismos eficientes e eficazes de recuperação de informações. A maioria dos métodos pesquisados e aplicados tem por base o tratamento das informações disponíveis nos repositórios associados aos sites. Nessa abordagem, um elemento de conhecimento é normalmente negligenciado: a memória das interações efetuadas pelos usuários que utilizaram o site antes do usuário atual. A construção dessa memória viabiliza o emprego de interações de busca do passado na apresentação de informações desejadas no momento das consultas. A presente dissertação propõe a construção da memória das buscas aos sites na forma de casos de consulta e a aplicação de Raciocínio Baseado em Casos para utilização dessas interações passadas como subsídio para novos processos de consulta. O método proposto deu origem à ferramenta RBNet. Para demonstração de sua viabilidade, RBNet foi aplicada ao site de busca do “Diretório de Grupos de Pesquisa no Brasil”, projeto do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). RBNet permite que usuários interessados em grupos de pesquisa possam encontrar rapidamente o que desejam, quando se valem das interações semelhantes registradas na base de casos do RBNet. Revista do MIC - 2002/2003 www.mic.ufsc.br MIC - Seu trabalho está inserido em que área de concentração do PPGEP? Por quê? Beppler - Inteligência aplicada, porque utiliza conceitos dessa área, pois o RBNet se caracteriza por fornecer auxílio a novas buscas através de similaridade com buscas já efetuadas. Para realizar essa tarefa, isto é, calcular a similaridade, utiliza-se a técnica de Raciocínio Baseado em Casos (RBC), da área de inteligência artificial. MIC - Como você definiu as etapas necessárias da concepção à conclusão de hoje? Beppler - Com reuniões com meu orientador Roberto Pacheco, busca de informações relevantes para o tema desenvolvido, estudo do material encontrado, definição concreta da ferramenta, implementação de um protótipo e, por fim, união de todas essas coisas escrevendo a dissertação. MIC - Agora que você concluiu, o que mais recomendaria a outros mestrandos que tomassem seu trabalho como ponto de partida? Beppler - Tentar generalizar ao máximo o RBNet para depender cada vez menos de um especialista para o domínio que será aplicado. MIC - Agora que o trabalho está concluído, o que pretende fazer em termos profissionais? Beppler - Continuar com os projetos no Grupo Stela e trabalhar para poder encaixar a ferramenta RBNet em futuros projetos. MIC - Você pretende fazer doutorado? Será na mesma área do mestrado? Beppler - Pretendo fazer doutorado na mesma área – Inteligência Artificial. MIC - O que você faria diferente se tivesse a chance de ter começado sabendo o que sabe agora? Beppler - Para fazer pesquisa científica, a leitura do que se deseja buscar é fundamental. Leria muito mais do que li. MIC - O que o PPGEP fez por você e o que você fez pelo PPGEP nesse período de mestrado? Beppler - O PPGEP me ofereceu as condições necessárias para efetuar a pesquisa que desejava, porque, além de me oferecer condições para o desenvolvimento da pesquisa (sala de aula, professores capacitados, etc.), tive a oportunidade de participar do laboratório de pesquisa vinculado ao PPGEP – Grupo Stela, que foi fundamental para a execução do trabalho e principalmente para meu crescimento profissional. Ferramenta de Fabiano melhora a arte de achar na Internet porque não desperdiça o histórico das buscas, que podem ser usadas como base para futuras consultas. O resultado é uma visão mais abrangente do que se procura na rede Veja esta matéria no endereço http://www.mic.ufsc.br/index.php?url=int_fabiano.htm. Arquivo MIC 38 * Revista do MIC MIC - Você citaria algum trabalho (dissertação, tese ou projeto) que foi decisivo para sua dissertação? Quem foram os autores e onde foi desenvolvido esse trabalho? Beppler - O trabalho será divulgado no site de teses e dissertações do PPGEP e nele se encontra uma bibliografia vasta de todo o material utilizado para concretização da dissertação. Revista do MIC - 2002/2003 www.mic.ufsc.br .:POSSE DE DIOMÁRIO DE QUEIROZ, DIRETOR DA FUNCITEC Nova equipe assume com promessa de liberação de 1% da arrecadação para a C&T Fevereiro de 2003 Por Sibyla Goulart Assessoria de Imprensa/Governo Estadual de SC O Diomário de Queiroz (esq.), novo diretor da Funcitec, Luiz Henrique (centro), governador de Santa Catarina, e Jacó Anderle (dir.), secretário da Educação meses de gestão: lançamento de um edital universal de pesquisas para atender à demanda em todas as áreas de conhecimento; ampliação do número de escolas atendidas pela Rede Catarinense de Ciência e Tecnologia (RCT); lançamento do plano de implantação de dois parques de inovação para promoção do desenvolvimento regional; lançamento de um programa de apoio à pesquisa e desenvolvimento em arranjos e cadeias produtivas de áreas estratégicas, além de outros programas e ações articuladas com as demais áreas de governo e instituições. A principal missão da Funcitec, agora subordinada à Secretaria de Educação e Inovação, é a de promover o desenvolvimento científico e tecnológico no Estado de Santa Catarina através do fomento à pesquisa e da interação, em todos os níveis das instituições científicas, dos complexos produtivos, do governo e da sociedade. “A ligação não significará menos importância para a área de C&T”, garantiu o governador Luiz Henrique. Ele fez questão de lembrar que espera da Funcitec o papel de promotora do desenvolvimento regional no Estado, vindo a contribuir de forma decisiva na melhoria de vida do catarinense. Veja esta matéria no endereço http://www.mic.ufsc.br/index.php?url=conteudo_seg/int_apresentamicfuncitec.htm. 39 * Revista do MIC ex-reitor da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) Antônio Diomário de Queiroz é o novo diretor da Funcitec (Fundação de Ciência e Tecnologia de Santa Catarina). Doutor em Economia do Desenvolvimento pelo Instituto IEDES da França, o substituto de Paulo de Tarso Luna foi empossado em concorrida cerimônia realizada dia 6 de fevereiro, no auditório da entidade. Estiveram presentes autoridades estaduais e federais, diretores de instituições de pesquisas, reitores e diretores de universidades, professores e pesquisadores, além de funcionários e outros convidados. A senadora Ideli Salvati (PT-SC) também prestigiou o evento. Na ocasião, tomaram posse o diretor técnicocientífico, professor Edgar Augusto Lanzer, engenheiro agrônomo (Ph.D.) e pesquisador da Unisul (Universidade do Sul de Santa Catarina), e o diretor administrativo-financeiro, professor Vladimir Álvaro Piacentini, engenheiro eletricista e administrador. Ao ser empossado pelo governador Luiz Henrique da Silveira e pelo secretário estadual de Educação e Inovação, Jacó Anderle, o novo diretor da Funcitec disse acreditar que o novo governo estadual será o primeiro a honrar o compromisso constitucional de liberar os recursos previstos no artigo 193, que destina 1% da arrecadação do Estado para a Ciência e Tecnologia. “A vinda de Diomário de Queiroz para a estrutura do Governo do Estado simboliza a convocação de toda a comunidade científica para trabalharmos juntos”, assegurou Luiz Henrique. “É preciso somar esforços. Dinamizar o valioso patrimônio humano de mais de mil doutores e 3 mil mestres trabalhando em Santa Catarina, racionalizar a utilização dos recursos disponíveis e criar condições para a ação integrada e multidisciplinar. Promover a utilização das novas tecnologias da comunicação e da informação na modernização do Estado e no aprimoramento de processos que agreguem valor aos produtos. Todas as universidades, por definição, e pelo princípio da indissociabilidade de ensino, pesquisa e extensão, merecem ser apoiadas para que atinjam a plenitude dessas funções e para que cumpram sua vocação regional”, afirmou Diomário de Queiroz. O plano de Ciência e Tecnologia do atual governo, de acordo com Diomário de Queiroz, prevê algumas ações motivadoras que serão implementadas desde os primeiros Revista do MIC - 2002/2003 www.mic.ufsc.br .:CIÊNCIA SEM FRONTEIRAS Rede SCienTI já é realidade Dezembro de 2002 Por Imara Stallbaum 40 * Revista do MIC M observou, “apenas uma parte das pesquisas aparece, pois muitas delas acabam sendo consideradas importantes apenas do ponto de vista nacional, não recebendo, portanto, a divulgação necessária”. Para Paulo Henrique Santana, do CNPq, com seus componentes CvLAC e GrupLAC, a proposta da Rede SCienTI é criar um espaço internacional de C&T. E constitui-se numa rede de informação, e não de tecnologia. “Ela é uma iniciativa regional e tem a missão de Todas as ferramentas da brasileira Plataforma Lattes, gênese da Rede ScienTI, serão disponibilizadas aos países participantes Ilus traç ão: Luiz Otá vio Cos ta ãos trêmulas e voz embargada, o coordenador geral de Informática do CNPq, Paulo Henrique de Assis Santana, exibiu uma espécie de trunfo aos participantes do I Workshop da Rede SCienTI (www.scienti.info), na tarde de quarta-feira, 4 de dezembro, no Hotel Maria do Mar, em Florianópolis. “Essa é a prova viva da existência da Rede na Colômbia”, assegurou Santana, empunhando um CD-ROM contendo os programas de instalação do CvLAC e GrupLAC, bem como um manual eletrônico de instalação dos sistemas para ser distribuído às universidades daquele país. Um dos maiores entusiastas da Rede SCienTI, Paulo Henrique Santana teve uma participação apaixonada no primeiro painel do evento na manhã de quarta-feira, 4 de dezembro. Ainda participaram do painel Alberto Pellegrini Filho, da OPS, Abel Laerte Packer, diretor da Bireme/OPS e Roberto Pacheco, coordenador geral do Grupo Stela, da UFSC. Durante o painel, Pellegrini encarregou-se de fazer um inventário sobre as tendências de gestão em Ciência e Tecnologia nos últimos 50 anos. Ele assegurou que a proposta de criação de espaços nacionais de ciência e tecnologia na América Latina data dos anos 70, exceção feita à Argentina e ao Brasil, que se anteciparam em cerca de 20 anos em relação à iniciativa. Esta apresentava algumas características comuns: “Em geral, o planejamento do setor consistia em investir 1% do PIB (Produto Interno Bruto) em C&T, e a principal preocupação era a de escrever artigos”, definiu. A partir de meados dos anos 80, segundo Pellegrini, a área passou a ser analisada sob outro prisma, ou seja, criaram-se os grupos e as redes de investigação para o desenvolvimento da atividade científica. Os grupos começaram a criar patentes, produtos e serviços que passaram a ser utilizados pela sociedade. Abel Packer, da Bireme, lembrou que a Rede SciELO, da instituição, organiza-se num modelo de comunicação científica para países em desenvolvimento, especialmente na América Latina e no Caribe. Ele vê a Rede ScienTI como uma iniciativa que ajudará a consolidar a filosofia presente no SciELO. Afinal, nos fazer s e n t i r orgulho de ser o que somos enquanto latinoamericanos e ibero-americanos”, observou. Já são seis países que assinaram acordos com o Brasil e têm tecnologia brasileira adotada: Colômbia, Equador, Chile, Argentina, Peru e Portugal. Além desses, também deverão seguir os mesmos passos Venezuela e Panamá. México, Cuba e Uruguai já demonstraram interesse em utilizar a tecnologia SCienTI. Esta, além disso, está a um passo de entrar na Ásia (Timor), na África (Moçambique) e na Europa. Pelo menos foi o que assegurou o professor da Universidade do Minho, Carlos Bernardo, um dos integrantes da comitiva portuguesa presente no I Workshop: “Penso que Portugal pode e deve atuar como ‘embaixador’ do Brasil no âmbito da investigação e do desenvolvimento tecnológico, incentivando a participação brasileira em projetos, o que facilitará a sua cooperação científica com outros países”. Diante de tais perspectivas, Paulo Henrique Santana assegurou aos participantes do encontro: “A Rede é uma Revista do MIC - 2002/2003 www.mic.ufsc.br Roberto Pacheco (esq.), coordenador geral do Grupo Stela, Gerson Galvão (centro), diretor de Administração do CNPq e Abel Packer (dir.), diretor da Bireme Fotos: Antonio Carlos Mafalda Paulo Henrique Santana, do CNPq, destaca os resultados alcançados já no lançamento da Rede SCienTI Portugal, parceiro estratégico para a expansão da Rede na Europa, Ásia e África, esteve representado por Leonel Duarte dos Santos (esq.), Luís Amaral (centro) e Carlos Bernardo (dir.), da Universidade do Minho e da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) Veja o texto desta matéria no endereço http://www.mic.ufsc.br/index.php?url=int_scienti.htm. O texto original saiu em http://www.cnpq.br/noticias/041202c.htm. A inclusão de fotos foi feita especialmente nesta edição para o sítio e a Revista do MIC. 41 * Revista do MIC realidade, já existe. É nossa e nos tornará visíveis e conhecidos por nós mesmos”. Compartilhando do raciocínio, Margarita Garrido, diretora geral do Colciências da Colômbia, previu que a Rede poderá inclusive mudar as atuais relações internacionais. “Ter a informação em várias línguas e não apenas na língua do país muda os pesos relativos da ciência”. De acordo com o coordenador de Informática do CNPq, os vários portais da SCienTI permitirão realizar fantásticas buscas nas bases de dados de cada país participante, lançados numa base comum a todos: “Você pode localizar instantaneamente quantos egressos foram diplomados pela USP, ou por uma universidade colombiana, por exemplo, e cruzar dados e fazer políticas”, avisou, informando que todas as ferramentas da brasileira Plataforma Lattes estarão disponíveis na Rede SCienTI. Para se ter uma idéia, o número de acessos à página da Plataforma chega a 1,5 milhão por ano. O crescimento de currículos nela cadastrados aumenta numa proporção de 100 mil por ano. Atualmente são 248.272 currículos e 15 mil grupos de pesquisa em 240 instituições de ensino. Não é à toa que Alberto Pellegrini, da OPS, define a Rede ScienTI como “um instrumento de mudanças. Como tal, ela acabará com os falsos dilemas que limitam a pesquisa e a divulgação do conhecimento científico”. Em sua opinião, além do método científico, a avaliação em C&T deve levar em conta a relevância social da pesquisa. E isso se concretiza quando a informação deixa de se destinar apenas aos pesquisadores, passando a estar disponível em redes de conhecimento e espaços de interação como a Rede SCienTI. 42 * Revista do MIC