Na edição de aniversário do MIC, a revista celebra o primeiro ano

Transcrição

Na edição de aniversário do MIC, a revista celebra o primeiro ano
Um ano
decifrando
a C&T
Na edição de aniversário do MIC,
a revista celebra o primeiro ano de
existência do site. Ela reúne as
reportagens que mais se
destacaram desde a sua
fundação, em fevereiro
de 2002, até
fevereiro de
2003
Número 1 – 2002/2003
Núcleo de Mídia Científica
Um portfólio do ano I
Março de 2003
http://www.mic.ufsc.br
EXPEDIENTE
.:EDITORIAL
Revista do MIC
Número 1 – 2002/2003,
Março de 2003
Grupo Stela
Roberto Pacheco,
Dr. Eng. - coordenador científico
O Núcleo de Mídia Científica é um
laboratório do Departamento de
Engenharia de Produção e
Sistemas da UFSC (Universidade
Federal de Santa Catarina). Seus
componentes são mestres e
doutores, graduandos,
mestrandos e doutorandos
Textos neste número:
Felipe Zylbersztajn,
Imara Stallbaum,
Marcelo Tolentino,
Mário Prata,
Sibyla Goulart e
Vinícius Kern
MIC / Núcleo de Mídia
Científica (Célula de Mídia)
Vinícius Kern, Dr. Eng.,
coordenador
Imara Stallbaum,
jorn. (MTB/RS - 3847 JP)
Marcelo Tolentino,
jorn. (MTB/SC - 01506 JP)
Rita Paulino, M. Eng.,
jorn. (SC 00365-DG)
Sibyla Goulart,
jorn. (DRT/SC - 782 JP)
Célula de Webdesign
Rita Paulino, M. Eng.,
coordenadora
Daniella Vieira
João Paulo da Costa
Luiz Otávio Ramos Costa
Marcos V. Loureiro Goulart
Rafael Motta
2 * Revista do MIC
Projeto gráfico e editoração
Rita Paulino e Marcelo Tolentino
Fotos
Antônio Carlos Mafalda
Assessoria de Imprensa/
governo estadual (SC) e
Arquivo MIC
Revisão
Célula de Documentação
Sandra Regina Martins
Isabel Luclktenberg
Juliana Herling
O casamento da ciência com o jornalismo
Abrir um canal entre a comunidade científica do Programa de PósGraduação em Engenharia de Produção e Sistemas da UFSC e a sociedade.
Divulgar descobertas importantes e relevantes. Acompanhar projetos em
andamento ou já concluídos na área de Ciência e Tecnologia. Transformar
as teses e dissertações em notícias assimiláveis dentro e fora da academia.
Em vez dos indicadores costumeiros usados pelas instituições de ensino,
textos pessoais apresentam a opinião de quem as defendeu e do orientador,
bem como o papel de ambos no contexto da pós-graduação. O MIC (Núcleo
de Mídia Científica) surgiu com essa missão, publicando seu sítio na web
em 8 de fevereiro de 2002.
Nas páginas desta Revista do MIC, número 1, reunimos algo do que foi
feito até o primeiro aniversário para divulgar teses e dissertações,
laboratórios, projetos e produtos. Cinco dos 22 textos falam de teses e
dissertações defendidas no PPGEP, incluindo a demonstração de como é
possível avaliar a produção científica de forma transparente e nãotendenciosa1, uma técnica que promete anabolizar as buscas na Internet2,
a receita para amortizar o custo ambiental das obras de superfície3, a
revelação de que mestres não são imunes à crendice4 e, por fim, o mapa
do desperdício de alimentos5 que, já em fevereiro, repercutiu a ponto de
dobrar a quantidade de acessos ao nosso sítio em relação a dezembro,
sem falar nas inserções na mídia comercial.
Cobrimos também o trabalho de laboratórios, alunos e professores.
A gama de assuntos é vasta, incluindo a formação da Rede SCienTI, os
sistemas desenvolvidos pelo Grupo Stela, o trabalho de consultoria
empresarial do Grupo de Engenharia e Análise de Valor (GAV), o Banco de
Teses e Dissertações (BTD), o sistema Olimpo do Ijuris, as análises de
sítios web de universidades e de candidatos à presidência e os
desenvolvimentos na área da Educação, com o Laboratório de Ensino a
Distância (LED) e a aplicação do sistema de controle de qualidade da ciência
– a revisão pelos pares – na aprendizagem.
Iniciamos com uma crônica gostosa e muito verdadeira de Mário Prata,
cedida gentilmente pelo autor. Em seguida, um artigo aborda o impacto e
o futuro do MIC e seu sítio na web. Depois vêm as matérias do ano I.
Buscamos, assim, demonstrar que o casamento da ciência com o jornalismo
pode dar certo. Esperamos que a leitura seja prazerosa.
Núcleo de Mídia Científica
1
2
3
4
5
A C&T brasileira já pode sair do castelo
Sistema recupera casos semelhantes para facilitar consultas
Geóloga propõe obras no subsolo
Método científico versus charlatanismo
Banquete jogado fora
Crônica
Páginas 4 e 5
O MICrofone da CT&I
Panorama
Páginas 6 e 7
Plataforma aposenta o papel
Era digital
Páginas 8 e 9
Geóloga propõe obras no subsolo
Tese de Doutorado
Página 10
Novo perfil da ciência e tecnologia
Censo da C&T
Página 11
SUMÁRIO
Uma tese é uma tese
Universidade gaúcha implanta sistema catarinense, que já atrai estrangeiros
Plataforma Lattes
Página 12
Mundo de novidades é cenário ideal para a Plataforma Lattes
Fórum de Inovação Tecnológica
Página 14
Segurança por trás das urnas
Eleições
Página 15
Método científico versus charlatanismo
Dissertação de Mestrado
Páginas 16, 17 e 18
Educação sob a luz da ciência
Revisão pelos pares na aprendizagem
Páginas 18 e 19
Brasil ganha batalha tecnológica
Na vitrine da ONU
Páginas 20 e 21
Site do MIC vira case
Divulgação científica
Página 21
Ciro Gomes tem a melhor campanha virtual
Presidenciáveis na web
Página 22
Reconhecimento internacional
LED é benchmark em educação a distância
Página 23
A C&T brasileira já pode sair do castelo
Tese de Doutorado
Páginas 24, 25 e 26
Universidades ainda não sabem vender seu peixe pela Internet
Nota vermelha na rede
Página 27
Banco de Teses e Dissertações completa um ano e meio na rede
Democratização do conhecimento
Páginas 28 e 29
Corrigir para crescer
GAV - Grupo de Engenharia e Análise do Valor
Páginas 30 e 31
Banquete jogado fora
Dissertação de Mestrado
Páginas 32, 33, 34 e 35
Edição de aniversário do MIC ,
a revista celebra o primeiro ano
de existência do site.
Ela reúne as reportagens que mais
se destacaram desde a sua
fundação, em fevereiro
de 2002, até
fevereiro de
2003
Ilustração de Capa .:
Luiz Otávio Ramos Costa
Grupo Stela / Design
Sistema recupera casos semelhantes para facilitar consultas
Dissertação de Mestrado
Páginas 36, 37 e 38
Nova equipe assume com promessa de liberação de 1% da arrecadação para a C&T
Posse de Diomário de Queiroz, diretor da Funcitec
Página 39
Rede SCienTI já é realidade
Ciência sem fronteiras
Páginas 40 e 41
3 * Revista do MIC
Um ano
decifrando
a C&T
NICA
Prata faz uma
narração bemhumorada sobre o
mundo dos trabalhos
acadêmicos
Uma tese é uma tese
Por Mario Prata
4 * Revista do MIC
S
abe tese, de faculdade? Aquela que defendem com unhas e dentes? É desta tese que eu estou
falando. Você deve conhecer pelo menos uma pessoa que já defendeu uma tese. Ou que
esteja defendendo. Sim, uma tese é defendida. Ela é feita para ser atacada pela banca,
que são aquelas pessoas que gostam de botar banca. As teses são todas maravilhosas. Em
tese. Você acompanha uma pessoa meses, anos, séculos, defendendo uma tese. Palpitantes
assuntos. Tem tese que não acaba nunca, que acompanha o elemento para a velhice. Tem até
teses pós-morte. O mais interessante na tese é que, quando nos contam, são maravilhosas, intrigantes.
A gente fica curioso, acompanha o sofrimento do autor anos a fio. Aí ele publica, te dá uma cópia e é
sempre, sempre, uma decepção. Em tese. Impossível ler uma tese de cabo a rabo. São chatíssimas.
É uma pena que as teses sejam escritas apenas para o julgamento da banca circunspecta, sisuda e
compenetrada em si mesma. E nós? Sim, porque os assuntos, já disse, são maravilhosos, cativantes,
e as pessoas, inteligentíssimas. Temas do arco-da-velha. Mas toda tese fica no rodapé da história.
Pra que tanto sic e tanto apud? Sic me lembra Pasquim e Apud não parece candidato do PFL para
vereador? Apud Neto.
Escrever uma tese é quase um voto de pobreza que a pessoa se autodecreta. O mundo pára, o
dinheiro entra apertado, os filhos são abandonados, o marido que se vire. Estou acabando a tese.
Essa frase significa que a pessoa vai sair do mundo. Não por alguns dias, mas anos. Tem gente que
nunca mais volta. E, depois de terminada a tese, tem a revisão da tese, depois tem a defesa da tese.
E, depois da defesa, tem a publicação. E, é claro, intelectual que se preze, logo em seguida embarca
noutra tese. São os profissionais. Em tese. O pior é quando convidam a gente para assistir à defesa.
Meu Deus, que sono! Não em tese, na prática mesmo.
Arquivo MIC
.:
C
R
Ô
Revista do MIC - 2002/2003
www.mic.ufsc.br
Revista do MIC - 2002/2003
www.mic.ufsc.br
Arquivo MIC
Copyright © 2002 Mario Prata. Texto reproduzido aqui com autorização do autor. Veja a versão original desta crônica em
http://www.geocities.com/Paris/Cafe/2663/TESE.html, ou no MIC em http://www.mic.ufsc.br/index.php?url=conteudo_pri\int_cronica.htm
5 * Revista do MIC
Arquivo MIC
Orientados e orientandos (que nomes atuais!) são unânimes em afirmar que toda tese tem que ser
– tem que ser! - daquele jeito. É para não entender mesmo. Tem que ser formatada assim. Que na
Sorbonne é assim, que em Coimbra também. Na Sorbonne, desde 1257. Em
Coimbra, mais moderna, desde 1290.
Em tese (e na prática) são 700 anos de muita tese e pouca prática.
Acho que, nas teses, tinha que ter uma norma onde, além da tese, o
elemento teria que fazer um tesão (tese grande). Ou seja, uma versão para
nós, pobres teóricos ignorantes que não votamos no Apud Neto.
Ou seja, o elemento (ou a elementa) passa a vida a estudar um assunto
que não nos interessa em nada. Pra quê?
Pra virar mestre, doutor? E daí? Se ele estudou tanto aquilo, acho
impossível que ele não queira que a gente saiba a que conclusões chegou.
Mas jamais saberemos onde fica o bicho-da-goiaba quando não é tempo de
goiaba. No bolso do Apud Neto?
Tem gente que vai para os Estados Unidos, para a Europa, para terminar
a tese. Vão lá nas fontes. Descobrem maravilhas. E a gente não fica sabendo
de nada. Só aqueles sisudos da banca.
E o cara dá logo um dez com louvor. Louvor para quem? Que exaltação,
que encômio é isso?
E tem mais: as bolsas para os que defendem as teses são uma pobreza.
Tem viagens, compra de livros caros, horas na Internet da vida, separações,
pensão para os filhos que a esposa levou embora. É, defender uma tese é mesmo um voto de pobreza,
já diria São Francisco de Assis. Em tese.
Tenho um casal de amigos que há uns dez anos prepara suas teses.
Cada um, uma. Dia desses, a filha, de dez
anos, no café da manhã, ameaçou:
- Não vou mais estudar! Não vou mais na
escola. Os dois pararam - momentaneamente
- de pensar nas teses.
- O quê? Pirou?
- Quero estudar mais não. Olha vocês dois.
Não fazem mais nada na vida. É só a tese, a
tese, a tese. Não pode comprar bicicleta por
causa da tese. A gente não pode ir para a
praia por causa da tese. Tudo é pra quando
acabar a tese. Até trocar o pano do sofá. Se
eu estudar, vou acabar numa tese. Quero
estudar mais não. Não me deixam nem mexer
mais no computador.
Vocês acham mesmo que eu vou deletar a
tese de vocês? Pensando bem, até que não é
uma má idéia!
Quando é que alguém vai ter a prática
idéia de escrever uma tese sobre a tese?
Ou uma outra sobre a vida nos rodapés da
história?
- Acho que seria um tesão.
Revista do MIC - 2002/2003
www.mic.ufsc.br
.:PANORAMA
O MICrofone da CT&I
Por Vinícius Kern
6 * Revista do MIC
J
1
impacto é característica também de outras grandes
universidades brasileiras, como USP, Unicamp, UFRJ e UFRGS.
A liderança da UFSM perde toda a cara de coincidência quando
lemos nesta revista (“Universidades ainda não sabem vender
seu peixe pela Internet”) que tem o melhor site dentre várias
universidades estudadas. Melhor homepage, maior impacto,
maior índice de arquivos “ricos”... Alguma coisa a UFSM
está fazendo de certo, e deveríamos pedir a receita. Isso
nos leva a conjeturar sobre dois canais de divulgação da
UFSC: o Banco de Teses e Dissertações do PPGEP e o próprio
MIC. O quanto contribuem para atrair visitas? Vejamos: a
Webometria das universidades
latino-americanas:
classificação segundo diversos índices
Ilustração: Marcos V. Loureiro Goulart
á faz um ano que o MIC lançou sua página na
web, em 8 de fevereiro de 2002. Na primeira
edição da Revista do MIC reunimos uma série
de reportagens publicadas no primeiro ano
de atividades. É o nosso portfólio que pretende
mostrar o que e quanto fizemos para divulgar a
Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) a partir de
nossa base original – o Programa de PósGraduação em Engenharia de Produção (PPGEP)
da UFSC. Qual a importância do que fizemos? Difícil
medir, mas há resultados tangíveis e fatos da web
que este artigo introdutório pretende discutir. Para
responder a essa pergunta, tomamos números de
quatro fontes: o impacto na mídia alcançado com
o I Workshop da Rede SCienTI1, a quantidade de
acessos ao site do MIC, a quantidade de acessos
ao site do Banco de Teses e Dissertações (BTD) e
um estudo de webometria de páginas de
universidades latino-americanas.
Em estudo recente, o pesquisador Isidro Aquillo2
analisou o acesso aos sites de universidades
latino-americanas na web. É interessante notar a
posição da UFSC. Embora bem classificada quanto
ao número de páginas (6ª latino-americana e 4ª
brasileira), a situação é menos favorável quando
se considera o número de visitas (12ª latinoamericana e 6ª brasileira). Ao ponderar-se o
número de arquivos “ricos” disponíveis (formatos
populares em computadores pessoais, como PDF,
RTF, DOC, XLS e PPT), aparece em 7ª numa lista
incompleta das universidades latino-americanas.
Finalmente, quanto ao índice webIF3, dos mais
aceitos para avaliar o impacto de uma homepage,
a UFSC nem é listada entre as primeiras 16 latinoamericanas. Esses índices mostram uma
tendência: as páginas da UFSC são relativamente
pouco atraentes. Aquillo sugere que um fator
importante para atrair e cativar visitantes é a
presença de arquivos “ricos”.
Talvez por coincidência, a universidade com o
maior impacto webIF, a Federal de Santa Maria,
tem cerca de 42,5% desses arquivos em seus sites,
um percentual muito maior do que as demais – a
Universidad de Guadalajara, 4º maior impacto, é
a próxima na ordem, com 21,7%. A perda de
importância da UFSC quando se considera o
* não está entre as 20 primeiras
** não está entre as 16 primeiras
? sem informação
UFSC mantinha 4.410 arquivos PDF em dezembro de 2002.
Ora, só no BTD havia mais de 1.000, ou 24% do total de PDFs
da universidade. Se é certo que a presença de arquivos
“ricos” (e nesse caso são teses e dissertações em texto
completo!) contribui para atrair mais visitantes, então o BTD
deve estar puxando para cima o impacto da web ufsquiana.
O BTD é um benchmark interessante para o site do MIC.
É uma ferramenta consolidada, a primeira biblioteca on-line
de teses e dissertações do mundo5. O MIC, embora sem a
tradição do BTD, usa linguagem jornalística para falar a um
público potencialmente mais vasto. Desde dezembro, quando
os números de acessos começaram a ser registrados, vemos
uma evolução na popularidade do MIC. Alguns fatos e
presunções que nos permitimos relatar e aventar são:
Organizado pelo MIC em conjunto com o Grupo Stela. Veja matéria nesta revista.
Isidro Aquillo (2003). Indicadores de contenidos para la web académica ibero-americana. II Seminário sobre indicadores para a
sociedade da informação. Lisboa, Portugal: CCCM, 27-28/02/2003.
3
webIF é uma medida relativa da visibilidade de uma sede (conjunto de sítios sob um domínio, por exemplo, ufsc.br); é a taxa
de enlaces (links) que a sede recebe em relação ao seu tamanho (número de páginas).
4
http://teses.eps.ufsc.br.
5
A Virginia Tech, que colocou sua biblioteca de teses e dissertações no ar em 1996, reclama a primazia. É tarefa do MIC, ainda
por completar, a demonstração cabal, urbi et orbi, de que o BTD veio primeiro, em 1995.
2
Revista do MIC - 2002/2003
www.mic.ufsc.br
Acessos internacionais ao MIC têm origem mais
freqüente em Portugal e Espanha. Explicação para
a Espanha? Provavelmente a repercussão da versão
espanhola de uma matéria (“Método científico
versus charlatanismo”, também nesta revista),
com links para o MIC.
BTD e MIC seguem sempre atraindo mais
visitantes. O MIC deu o maior salto, dobrando seu
público entre dezembro e fevereiro. Em 17 de
fevereiro, dia mais cheio, tivemos uma média de
4 hits6 por minuto.
Acessos ao BTD e ao MIC
(fonte: Webalizer v. 2.017)
Ilustração: Marcos V. Loureiro Goulart
Mesmo em termos relativos, vamos avançando: em
dezembro tínhamos o equivalente a 6% dos hits recebidos
pelo BTD. Em janeiro passamos a 7% e em fevereiro tivemos
quase 14%. A platéia do MIC superará a do BTD?
Necessariamente, se atingirmos o público vasto que nos
propusemos a alcançar. Talvez não, se tivermos mais sucesso
ao falar ao mundo acadêmico – turbinando o interesse pelo
BTD, que é fonte acadêmica importante. A dúvida nos assalta
6
Inserções sobre a Rede SCienTI na mídia impressa
estadual em 4 e 5/12/2002.
Fonte: Apoio Comunicação+Marketing, com base nas
tabelas de preços dos veículos – agosto/2002
Ilustração: Marcos V. Loureiro Goulart
Pode-se observar que em fevereiro demos um
salto. Por quê? Possivelmente a “culpa” é da
divulgação de uma dissertação sobre um tema
palpitante do momento (veja “Banquete jogado
fora”) que ainda reverbera na mídia nãocientífica.
e tem a ver com um evento importantíssimo no
final de 2002. O I Workshop da Rede SCienTI8,
realizado de 4 a 6 de dezembro de 2002, em
Florianópolis, formalizou a criação da Rede
Internacional de Fontes de Informação e
Conhecimento para a Gestão de Ciência,
Tecnologia e Inovação, usando como plataforma
tecnológica os sistemas Lattes do CNPq,
desenvolvidos em Santa Catarina pelo Grupo Stela
da UFSC. O MIC participou como organizador e
produtor de matérias para divulgação. Um
levantamento limitado às inserções na mídia
impressa estadual nos dias 4 e 5 de dezembro
mostra que um espaço raramente dedicado à CT&I
foi conquistado:
Como avaliar esse sucesso? Foi bom, mas, dada a
importância do evento, queríamos e seguimos querendo mais.
Nosso desafio é vencer a inércia: segundo um artigo dos
gurus do Google9, a área acadêmica é uma das que não
perpetuam o Efeito Mateus (só dar mais a quem já tem muito)
na web. Novos sites podem, sim, conquistar espaço. É o que
estamos fazendo. A Folha de São Paulo nos inclui entre 110
páginas selecionadas de divulgação científica (edição de 30
de outubro de 2002, pág. F10 do caderno de Informática).
Hoje estamos linkados em sites importantes como os da
Plataforma Lattes no CNPq, Prossiga, Scientific American
brasileira, Observatório da Imprensa, os espanhóis InfoCiencia
e El Esceptico Digital, Clipe Ciência da ECA-USP, Revista
Nexus e outros10.
Nas próximas páginas encontra-se o resultado do primeiro
ano de trabalho em que nos propusemos a ser o microfone da
CT&I. Para o segundo ano, seguimos aperfeiçoando nossa
prática editorial e projetamos novos empreendimentos como
o Wiki-mic – a comunidade virtual baseada em wiki pages11,
o acompanhamento preciso do impacto de cada matéria, a
gerência editorial automatizada com o uso do software
StelaPublish, a criação de uma célula de apoio à publicação
científica dos pesquisadores, a publicação de um livro
biográfico sobre a Plataforma Lattes e a construção de portais
verticais12 de divulgação científica e tecnológica. Queremos
ter companhia.
Hits são as requisições (a maior parte costuma ser de arquivos) recebidas por um servidor.
BTD: http://www3.stela.ufsc.br/webstats/teses.eps.ufsc.br; MIC: http://www3.stela.ufsc.br/webstats/www.mic.ufsc.br.
http://www.scienti.info/ws, também relatado na matéria “Rede SCienTI já é realidade”.
9
D.M. Pennnock, G.W. Flake, S. Lawrence, E.J. Glover, and C.L. Giles (2002). Winners don’t take all: Characterizing the competition for links on the web.
PNAS 99 (8), 5207-5211.
10
Veja a lista atualizada em “Quem linka o MIC”, em http://www.mic.ufsc.br.
11
http://c2.com/cgi/wiki?WikiPage.
12
Portais verticais são portais voltados para as necessidades de um tipo específico de usuário.
7
8
7 * Revista do MIC
Os acessos do estrangeiro ao BTD vêm
principalmente de Portugal, EUA, França e
Argentina – natural, se levarmos em conta as
afinidades: língua, proximidade ou residência
temporária de muitos acadêmicos brasileiros.
Revista do MIC - 2002/2003
www.mic.ufsc.br
.:ERA DIGITAL
Plataforma aposenta o papel
Fevereiro de 2002
Por Imara Stallbaum e Sibyla Goulart
ome que homenageia o físico brasileiro
Cesare Mansueto Giulio Lattes, a
Plataforma Lattes (http://lattes.cnpq.br)
é considerada o divisor de águas da Ciência e
Tecnologia (C&T) brasileira. Seu surgimento,
em 1999, representou a mudança da realidade
arcaica do cadastro de informações em C&T do
país. Antes da adoção do sistema, os
pesquisadores, em pleno final do século 20,
ainda não podiam se valer da Internet para
repassar seus dados curriculares ao CNPq
(Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico).
Em meio ao boom da era digital no Brasil,em
1997, os formulários eram preenchidos tanto
em papel como em disquetes, gerados em
sistema DOS e importados em Brasília na sede
do CNPq. A multiplicidade de instrumentos de
captura e a falta de uniformidade no
gerenciamento de dados resultavam na baixa
cobertura do universo da pesquisa nacional. O
fato ameaçava a transparência almejada pelo
CNPq nos processos de planejamento,
julgamento e fomento da agência.
No âmbito nacional, a mesma falta de
uniformidade causava revolta dos
pesquisadores, que se viam obrigados a manter
múltiplos arquivos de suas atividades
científicas. Sem contar o volume de papel que se
acumulava nas dependências do CNPq e o
desperdício de disquetes que se amontoavam em
caixas sem nenhuma utilidade futura. Para se ter
uma idéia de seu impacto, basta notar que a
cobertura de sete anos de coleta de dados
curriculares pelo CNPq saltou de 35 mil para cerca
de 103 mil currículos. Isso significa um aumento
de quase 300% na cobertura de CVs (currículos)
em C&T do país.
A racionalização nos processos de captura de
informações contribuiu, também, para o aumento
de quase 40% na cobertura do censo dos Grupos
de Pesquisa no Brasil, que saltou de cerca de
8.600, em 1997, para 11.700, em 2000. Também
foi possível, com base nas informações desse
diretório e dos currículos Lattes, apontar o
número de doutores ativos em pesquisa no país
no ano de 2000. O levantamento mostrou que
Plataforma Lattes aumentou a oferta
de informação, mas diminuiu
o consumo de papel
existem 32.500 doutores em atividade e que o índice de
profissionais que se doutoraram numa instituição estrangeira
caiu de 40%, até 1985, para menos de 10% em 1999. A
pesquisa apontou ainda que o Estado de São Paulo é o
principal celeiro de pesquisadores no Brasil. Outro bom
exemplo aconteceu na maior universidade federal do país,
a UFRJ, do Rio de Janeiro. Em meio a uma crise interna,
que culminou com o pedido de afastamento do reitor José
Henrique Vilhena de Paiva, no ano passado, a situação acabou
se agravando depois de uma entrevista concedida por Paiva
ao jornal O Globo. Na matéria, o reitor alegou fazer parte
de um seleto grupo de excelência acadêmica, fato contestado
por um dos professores, o biólogo Antônio Solé, em carta
publicada na edição de 19 de novembro de 2001 do jornal da
Adufrj. Desconfiado, o pesquisador se valeu do Currículo
Lattes para tirar suas dúvidas sobre o passado acadêmico
de Paiva. Na consulta, Solé descobriu que o reitor, apesar
de mestre e doutor, acumulava uma baixa produção
científica.
Veja esta matéria no endereço – http://www.mic.ufsc.br/index.php?url=conteudo_pri/int_plataforma2.htm.
O box “O valor ecológico do Lattes” foi incluído adicionalmente nesta matéria para a Revista do MIC.
Ilustração: Luiz Otávio Costa
8 * Revista do MIC
N
Revista do MIC - 2002/2003
www.mic.ufsc.br
SOLUÇÃO DE PROBLEMAS
A Plataforma Lattes, no qual os professores/
pesquisadores e estudantes brasileiros depositam seus
currículos com a produção técnica, científica e cultural, é
uma fonte praticamente inesgotável de informações. Uma
simples consulta pode tirar do sufoco, por exemplo, os
jornalistas que estiverem procurando o maior especialista
de uma determinada área.
Além de um fantástico banco de fontes, eles também
encontram dados que podem ser usados comparativamente.
Já os empresários que procuram soluções para seus negócios
dispõem na Plataforma de um imenso cadastro de
profissionais altamente qualificados. De parte dos
pesquisadores, o sistema é indispensável para quem quiser
concorrer a bolsas e recursos para o desenvolvimento de
projetos lançados pelas agências de fomento.
Atualmente, a Plataforma Lattes é integrada pelo Diretório
de Grupos de Pesquisa do Brasil, Currículo Lattes, Diretório
de Instituições, além de ferramentas de buscas, do Sistema
Gerencial de Fomento e dos formulários Lattes de propostas.
Até o final do mês de janeiro, o CV-Lattes registrava a marca
de quase 120 mil currículos.
A última façanha do Grupo Stela em parceria com o CNPq
é o Lattes Institucional, que se vale do Lattes Extrator, outra
novidade para atender às necessidades de cada universidade.
O valor ecológico
do Lattes
lém de combater o desperdício de tempo
e a redundância de informações, a
Plataforma Lattes também contribuiu
para o meio ambiente. Na verdade,
seu uso resultou, em 1999, numa economia de
papel estimada em 4 toneladas apenas no trâmite
de papel entre professores e coordenadores
brasileiros de pós“A Plataforma
graduação. Na época, a Capes (CoordeLattes
nação de Aperfeiçoagerou uma
mento de Pessoal de
Nível Superior) traconseqüência
balhava com um
universo de 136 positiva para a
instituições, 1.445
preservação da
programas de pósnatureza!”
graduação e um total
de 25.123 docentes.
Ao preencher seus
Sebastião R. Soares
dados curriculares
Departamento de
para os formulários
Engenharia
da Capes, cada Sanitária e Ambiental
docente usava de
da UFSC
cinco a 30 páginas de papel por ano, ou até mais para os mais
produtivos.
O professor doutor Sebastião Roberto Soares, do
Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFSC,
um especialista em resíduos sólidos, diz que existem vários
tipos de papel, mas, em média, para se obter 1 tonelada do
material, são derrubadas de 15 a 20 árvores de médio porte
e utilizados em torno de 100 mil litros de água. Isso sem
falar nos demais efeitos ambientais associados à atividade,
como a produção de resíduos e todos os encargos de sua
gestão, como custos de transporte, eliminação e controles.
Uma vez perpetuada tal prática, a cada ano o procedimento
A
Ilustração: Luiz Otávio Costa
burocrático da Capes seria responsável pela derrubada
de algo em torno de 60 a 80 árvores, o que podia chegar
ao sacrifício de uma floresta variando entre 600 e 800
árvores a cada década.
Por tudo isso, o professor apregoa: “Apesar de a
preocupação ambiental não ter sido o elemento
norteador da Plataforma Lattes, percebe-se que sua
implantação gerou uma conseqüência positiva para a
preservação da natureza”.
9 * Revista do MIC
Para se obter 1 tonelada de papel são
derrubadas até 20 árvores de médio porte
Revista do MIC - 2002/2003
www.mic.ufsc.br
.:TESE DE DOUTORADO
Geóloga propõe
obras no subsolo
O BTD (Banco de Teses e Dissertações) é uma biblioteca digital que
permite o acesso sem custo às teses e dissertações defendidas
no PPGEP (Programa de Pós-Graduação
em Engenharia de Produção). O MIC não é
responsável, no entanto, pela inclusão
dos trabalhos acadêmicos nesse banco.
A TESE DE DOUTORADO de Efigênia
Soares Almeida pode ser encontrada no endereço
http://teses.eps.ufsc.br
Fevereiro de 2002
Por Sibyla Goulart
D
10 * Revista do MIC
Arquivo MIC
epois de ostentar o título de Capital da
Apenas um, segundo a geóloga, contém 5 mil litros. “A
Qualidade de Vida, Florianópolis vem caixa d’água subterrânea poderia resolver o problema de
sofrendo um crescente processo de abastecimento das praias no verão”, destaca. “Trata-se de
urbanização. A cada temporada de verão, uma um trabalho polêmico e futurista. Afinal, a geóloga está
verdadeira avalanche de turistas invade a Ilha onde propondo abrir buracos nas montanhas”, comentou o
muitos se tornam hóspedes permanentes. E não é professor e geógrafo Paulo Fernando Lago, integrante da
para menos. Com jeito de cidade de interior, a banca de doutores que assistiu à defesa da aluna do Programa
Capital de Santa Catarina tem mais de 42 praias, de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da UFSC. Ao
farta gastronomia, natureza exuberante e ainda é elogiar a coragem na escolha do tema e pedir cautela na
berço do tenista Gustavo Kuerten, ilhéu que hora de mexer com a natureza, Paulo Lago lembrou que os
eternizou os “manezinhos” no mundo inteiro. Para governantes precisam achar alternativas para a expansão
resolver o problema da falta de espaço, a geóloga natural de Florianópolis. “Não podemos sempre direcionar o
Efigênia Soares Almeida, 43, propõe a construção destino da população florianopolitana para São José, como
de obras subterrâneas como alternativa de aconteceu anos atrás com a construção do bairro Kobrasol”,
preservação do meio ambiente. O projeto foi tema emendou. “Também não dá para colocar uma porteira na
de sua tese de doutorado defendida em Florianópolis ponte e proibir a entrada de turistas”, completou o professor
- dia 13 de dezembro – no Anfiteatro da Engenharia e geólogo Nelson Infanti Júnior, orientador da doutoranda
de Produção e Sistemas da
Efigênia Soares Almeida.
Universidade Federal de Santa
Catarina. O trabalho, que se estendeu
O PREÇO
por quatro anos, foi realizado com base
no grande número de maciços rochosos
Apesar de ressaltar o aumento no custo
existentes na Ilha.
das obras subterrâneas, Efigênia sustenta
Segundo Efigênia, as pesquisas
que os investimentos podem ser
mostraram que a cidade de
minimizados pela preservação do meio
Florianópolis é formada por 48% de
ambiente, ausência de desapropriações e
montanhas e 52% de planície. A partir
pouca manutenção. Além de o Brasil já
do levantamento, a geóloga estudou o
possuir tecnologia própria para obras dessa
comportamento do material e chegou
natureza, ao contrário de anos anteriores,
à conclusão de que as rochas de granito
quando se buscava mão-de-obra
Efigênia: “Ganharíamos
são de boa qualidade e podem ser
estrangeira,
o alto custo também pode ser
espaço e o verde seria
utilizadas em várias obras. Entre elas, a
compensado com a utilização da exploração
preservado!”
construção de túneis para melhorar o
mineral.
transporte viário, as estações de tratamento de Ou seja: o material retirado de dentro das rochas poderá ser
esgoto e os reservatórios de água. “Ao invés de encaminhado para empresas do segmento de corte de pedras
utilizar o lugar plano, o poder público poderia e aproveitado para construção de casas. “Com isto, teríamos
construir obras de infra-estrutura dentro das pedreiras subterrâneas e poderíamos evitar a degradação
montanhas. Além de ganhar espaço, o verde seria ambiental”.
Outra vantagem com relação aos reservatórios de água
preservado”, explica Efigênia. Como sugestão, ela
diz que, em vez de Florianópolis ter apenas uma construídos no subsolo é a segurança. De acordo com o
estação de tratamento de esgotos, na Baía Sul, a professor e orientador Nelson Infanti, o produto estaria
cidade poderia manter pequenas estações nas praias protegido de ataques bacteriológicos, por exemplo.
Na pesquisa de doutorado, Efigênia sugere a construção de
de Canasvieiras e do Campeche, por exemplo.
Quanto aos locais para armazenar água, ela seis túneis na Ilha: Ingleses e Praia Brava; morro da Lagoa
defende a utilização do espaço subterrâneo devido da Conceição; entre a Carvoeira e a UFSC; e da Caieira ao
à capacidade. Cita a cidade de Santos, em São Paulo, Pântano do Sul.
Conforme ela, o assunto ainda pode render outras teses
que mantém um reservatório contendo 20 mil litros
de água. Em Florianópolis, ao contrário, a Casan de doutorado. Uma delas é o estabelecimento de uma
possui espalhados pela Capital 20 reservatórios legislação para uso do espaço subterrâneo, e a outra é a
pequenos com capacidade para 2 mil litros de água. parte de hidrogeologia.
Veja esta matéria no endereço http://www.mic.ufsc.br/index.php?url=conteudo_pri/int_plataforma2.htm.
Revista do MIC - 2002/2003
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.:CENSO DA C&T
Novo perfil da ciência e tecnologia
Março de 2002
Por Sibyla Goulart e Felipe Zylbersztajn
EUROPA E AMÉRICA LATINA
O Diretório de Grupos de Pesquisa no Brasil é um dos
integrantes da Plataforma Lattes, um conjunto de sistemas
Ar
qu
iv
o
MI
C
Versão 4.0 do
Diretório conseguiu
alcançar uma
cobertura de
até 80% dos
grupos de pesquisa
em atividade no país
de informações, bases
de dados e portais web
voltados para a gestão da
Ciência e Tecnologia (C&T) brasileira. Além do
Diretório, a Plataforma reúne outros componentes
como o Currículo Lattes – que já tem depositado 130
mil currículos de pesquisadores e estudantes – Lattes
Institucional e o Lattes Extrator. Desenvolvida pelo
Grupo Stela, em parceria com o CNPq, a Plataforma
Lattes (http://lattes.cnpq.br/) acaba de atravessar
fronteiras e chega também à Europa e à América
Latina. A expansão faz parte de uma rede internacional
de informações em Ciência e Tecnologia, resultado de
um convênio, assinado em fevereiro de 2001, entre
OPAS (Organização Pan-americana de Saúde), BIREME
(Centro Latino-Americano e do Caribe de Informações
em Ciências da Saúde), o CNPq (Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e o Grupo
Stela.
A rede é formada por seis países – Brasil, Chile,
Colômbia, México, Venezuela e Cuba. Ela envolverá
todas as áreas do conhecimento, ao contrário do
projeto inicial, que previa apenas informações ligadas
ao segmento da saúde. A mudança se deu em função
da generalidade de seus instrumentos e do interesse
despertado nos conselhos nacionais de pesquisa dos
países da América Latina e do Caribe.
Na Europa, Portugal foi o primeiro país a integrar
o programa.Para gerenciar o seu patrimônio
intelectual, representantes das universidades do Minho
e de Trás-os-Montes estiveram, em fevereiro, na UFSC
(Universidade Federal de Santa Catarina) a fim de
iniciar o processo de intercâmbio internacional.
Veja esta matéria no endereço http://www.mic.ufsc.br/index.php?url=conteudo_seg/int_diretorio5.htm.
11 * Revista do MIC
O
CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico) deu início no dia 12 de
março, na USP, em São Paulo, ao novo censo da Ciência
e Tecnologia do país. Até o final de maio, as 345
instituições convidadas a participarem do levantamento
poderão cadastrar suas informações no Diretório de
Grupos de Pesquisa no Brasil, disponível no endereço
www.cnpq.br. A previsão do Grupo Stela, laboratório
catarinense responsável pelo desenvolvimento do
sistema de coleta de dados, é que na primeira quinzena
de julho seja divulgado o mais recente perfil da pesquisa
brasileira.
Lançado na sua quinta versão e completando 10 anos
de atividade em 2002, o Diretório pretende levantar,
entre outros dados, quais as linhas de pesquisas existentes
no país, o número de pesquisadores (por sexo, idade e
instituição), onde estão sendo desenvolvidos os estudos,
em quais áreas, quantos pesquisadores são doutores e
quantos são estrangeiros.
Entre as novidades apresentadas este ano, o destaque
fica por conta da atualização contínua. Até a quarta versão,
a renovação dos dados era feita a cada dois anos, fato que
ameaçava a transparência almejada pelo CNPq. O
pesquisador, por exemplo, não podia fiscalizar sua
participação nos grupos de pesquisa. “A partir de agora, ele
vai saber onde está cadastrado, antes mesmo da divulgação
do censo. Se não concordar, poderá solicitar a exclusão de
seu nome”, comemora o bacharel em Ciências da Computação
Fabiano Duarte Beppler, 25 anos, um dos mentores do software criado pelo Grupo Stela.
Também será possível levantar informações sobre a
relação entre os grupos de pesquisa das universidades e o
setor empresarial, bem como visualizar a evolução dos
grupos, em comparação com os outros censos. Na quarta
versão, 225 instituições enviaram informações ao banco de
dados, registrando a presença de 11.760 grupos de pesquisa
e cerca de 47 mil pesquisadores. O censo 2000 mostrou ainda
que 80% dos estudos eram desenvolvidos em universidades
públicas.
A versão 4.0 do Diretório conseguiu alcançar uma
cobertura de até 80% dos grupos de pesquisa em atividade
no país. Para este ano, o CNPq calcula o mapeamento de 15
mil grupos, contabilizando o universo de 67 mil pesquisadores
brasileiros. “A expectativa do novo censo é atingir 100% dos
grupos de pesquisa brasileiros”, completa o coordenador do
Grupo Stela, Roberto Pacheco.
Revista do MIC - 2002/2003
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.:PLATAFORMA LATTES
Universidade gaúcha implanta sistema
catarinense, que já atrai estrangeiros
Fevereiro de 2002
Por Imara Stallbaum
A
12 * Revista do MIC
conferir a produção de artigos do
corpo docente – número de livros e
capítulos publicados, softwares
desenvolvidos e obras de arte
concebidas. Possibilita ainda localizar,
por áreas de conhecimento e até
departamentos, os bolsões de maior
carência da produção bibliográfica,
entre outras opções.
“Vamos supor que haja um projeto
governamental concedendo incentivos
para o desenvolvimento de trabalhos
científicos relacionados à exploração
do petróleo. O Lattes Institucional
permite, rapidamente, chegar ao
nome das pessoas e a seus currículos
buscando aqueles que teriam
condições de se candidatar ao
benefício”, assegura o analista de
negócios em Tecnologia de Informação
Marcos Luiz Marchezan, 28 anos,
coordenador geral de projetos do Grupo
Stela, acrescentando: “Vários próreitores disseram que atualmente
podem levar até três semanas fazendo
um relatório para saber quem é quem
em determinada linha de pesquisa
interna. Já com a Plataforma Lattes
poderão produzi-lo em questão de
minutos”.
Felizmente para a Unisinos e seus
1.059 professores, 1.295 funcionários
e 30.796 alunos matriculados (até início
de fevereiro), as dificuldades citadas
por Marchezan já pertencem ao
passado. “Para nós, o UniLattes
funciona como uma vitrine digital
interativa e ao mesmo tempo como um
espelho através do qual tomamos
consciência de quem somos”, define
Luiz Inácio Germany Gaiger, diretor de
Pesquisa da instituição na qual o
investimento na capacitação de
professores chega a R$ 5,5 milhões por
ano. Nesse contexto, como um
gigantesco banco de dados, o UniLattes
também servirá para alimentar o plano
de progressão na carreira.
Marchezan: competências
mapeadas com rapidez
CURRÍCULO LATTES
Considerado o carro-chefe da
Plataforma Lattes, o Currículo Lattes
armazena informações sobre os
pesquisadores brasileiros. Sua criação
significou um impacto para os
dirigentes
das
universidades
brasileiras. “Desde o lançamento do CVLattes, em 1999, as instituições de
ensino perguntavam ao Stela quando o
CNPq abriria a base curricular para elas
usarem os registros referentes a seus
pesquisadores, professores e alunos”,
conta Marchezan.
A abertura da Plataforma Lattes às
universidades representava um quebracabeça para o CNPq. Mas o formato
universal XML, criado com o objetivo
de fazer o intercâmbio de informações
entre bases de dados com formatos
diferentes, foi a solução que viabilizou
a Plataforma Institucional, atualmente
oferecida em quatro versões. A
Unisinos, por exemplo, optou pela
configurável. Ela inclui um módulo de
preenchimento adicional ao Currículo
Lattes. O módulo consegue detalhar
dados adicionais solicitados pela
universidade gaúcha para implementação do plano de progressão na
carreira.
Veja esta matéria no endereço http://www.mic.ufsc.br/index.php?url=primeira_edicao/conteudo/int_plataforma1.htm.
Arquivo MIC
qualidade do ensino nas universidades brasileiras, hoje conferida
pelo Provão do MEC, ganhou em
fevereiro um novo aliado. A Unisinos
(Universidade do Vale do Rio dos Sinos)
acaba de implantar em seu campus, em
São Leopoldo, distante 30 quilômetros
de Porto Alegre (RS), um sistema de
informação curricular capaz de mapear
o perfil e a produção bibliográfica,
artística e tecnológica de professores,
alunos e funcionários. Depois da
Unisinos, que recebe o título de
primeira instituição de curso superior
do país a adotar o sistema, mais sete
universidades devem implementar a
novidade acadêmica. Entre elas estão
a USP, a Unicamp, a PUC do Paraná, a
Universidade da Bahia, a UFRGS e a
UFSC.
Além das brasileiras, as portuguesas
também já sinalizaram interesse em
gerenciar seu patrimônio intelectual.
Para isso, um grupo de representantes
da Universidade do Minho desembarca
nesta sexta-feira, dia 15, em Santa
Catarina para conhecer o produto.
O cadastro com informações dos
pesquisadores, estudantes e trabalhos
acadêmicos foi viabilizado pela
Plataforma Lattes Institucional,
um conjunto de sistemas
desenvolvido pelo Grupo Stela
(Laboratório de Desenvolvimento
de Sistemas) do Programa de
Pós-Graduação em Engenharia de
Produção da UFSC, em parceria
com o CNPq.
Batizado de UniLattes pela
Unisinos, a plataforma permite
saber qual é efetivamente a
qualificação
dos
seus
professores, quantos mestres e
doutores possui, onde eles se
formaram e os cursos de
especialização que fizeram. O
pró-reitor de Pesquisa da
entidade, além disso, consegue
13 * Revista do MIC
Revista do MIC - 2002/2003
www.mic.ufsc.br
.:FÓRUM DE INOVAÇÃO TECNOLÓGICA
Mundo de novidades é cenário ideal
para a Plataforma Lattes
Maio de 2002
Por Felipe Zylbersztajn
14 * Revista do MIC
B
Veja esta matéria no endereço http://www.mic.ufsc.br/index.php?url=int_forum.htm.
Arquivo MIC
ancos de automóveis
confeccionados com fibras
de coco; diagnósticos
médicos mais precisos através
de softwares que visualizam
artérias em três dimensões;
cultivo controlado de moluscos
marinhos do pacífico em águas
brasileiras; biofábrica de
bromélias; satélites e foguetes
de sondagem. APlataforma
Lattes(http://lattes.cnpq.br)
não poderia estar mais
confortável do que no Salão e
Fórum de Inovação Tecnológica
& Tecnologias Aplicadas nas
Cadeias Produtivas.
O evento, realizado de 30 de
julho a 3 de agosto, no Expo
Center Norte, em São Paulo,
reuniu alguns dos
mais extraordinários exemplos
de avanço em Ciência e TecEstande da UFSC foi um dos ambientes
nologia. Num mundo de
novidades, a Plataforma Lattes não no qual a Plataforma Lattes pode ser
Na Região Sul, por exemplo, os
apresentada ao público
deixou de atrair os visitantes. O
indicadores mostram que a Universidade
conjunto
de
sistemas
de i n f o r m a ç õ e s , Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) lidera o ranking de
bancos de dados e portais web que revolucionaram a pesquisadores, com 2.226, seguida pela Universidade Federal
C&T no Brasil foi apresentado em dois estandes da de Santa Catarina, com 1.309.
feira. No espaço da Universidade Federal de Santa
A UFSC participa ainda com 219 grupos de pesquisa, 1.890
Catarina (UFSC, http://www.ufsc.br), destacava-se estudantes e 193 técnicos envolvidos na atividade de
como o amplo conjunto de sistemas computacionais pesquisa, ocupando o primeiro lugar das instituições de
desenvolvido pelo Grupo Stela (http://www.stela.info); ensino superior do Estado.
no do CNPq, despontava como o moderno ambiente
Uma prova da adesão da comunidade científica brasileira
que permite à agência compatibilizar e integrar ao conjunto de sistemas Lattes é o número de acessos ao
informações com seus usuários.
site (http://lattes.cnpq.br). Desde sua criação, em setembro
O ministro da Ciência e Tecnologia, Ronaldo de 2001, a Plataforma contabilizou mais de 1 milhão e 50
Sardenberg, acompanhado do reitor da UFSC, Rodolfo mil visitas às páginas. A cada dia, cerca de 100 novos
Pinto da Luz, em visita ao estande da universidade currículos são acrescentados ao Sistema de Currículos Lattes,
catarinense, cumprimentou os representantes do Grupo um dos elementos da Plataforma no CNPq. Estão depositados
Stela pelo projeto. “Esta inovação tecnológica dispensa mais de 225 mil cadastros na base da agência, 11.760 grupos
apresentações”, elogiou o reitor, referindo-se ao de pesquisa, com 48 mil pesquisadores docentes e 60 mil
produto que destacou a UFSC como desenvolvedora de estudantes, provenientes de 224 instituições distintas. Esse
sistemas de gestão de C&T.
verdadeiro celeiro científico faz do Brasil o único país a
Graças à Plataforma Lattes é possível conhecer em conhecer com precisão as atividades realizadas em ciência
detalhe o mapa da ciência brasileira.
e tecnologia, tanto em nível individual como coletivo.
Revista do MIC - 2002/2003
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.:ELEIÇÕES
Segurança por trás das urnas
Setembro de 2002
Por Felipe Zylbersztajn
eleitor catarinense pode
comemorar este ano um
resultado positivo antes mesmo
do primeiro turno da eleição para a
Presidência da República: a existência
de mesários mais capacitados para
atendê-los durante a votação. Um
manual desenvolvido pelo TRE (Tribunal
Regional Eleitoral), em parceria com o
LED (Laboratório de Ensino a Distância)
da UFSC (Universidade Federal de Santa
Catarina), está sendo implantado em
caráter experimental nas eleições de
2002, complementando o corriqueiro
treinamento presencial. Foram
Manual indica como os mesários devem
produzidos 30 mil CD-ROMs e 30 mil manuais, que indicam
proceder antes, durante e depois da votação
como os mesários devem proceder antes, durante e depois
da votação, de acordo com as determinações do Tribunal mesários, que não dispõem de microcomputador com recursos
multimídias.
Superior Eleitoral.
O TRE-SC também solicitou que o conteúdo didático do
É a primeira vez que um estado brasileiro usa a educação
a distância para o treinamento de pessoal em eleições. Cerca CD-ROM combinasse diferentes mídias, como animação,
de 30 mil mesários foram capacitados com a nova tecnologia texto descritivo e narração, possibilitando diversos canais
no estado, e praticamente todos os 293 municípios de Santa para a assimilação da informação, adotando uma linguagem
e elementos visuais neutros. “Utilizamos
Catarina utilizaram o conteúdo do CDa linguagem-padrão nacional. O material
ROM como apoio pedagógico, além dos
poderia atender a um mesário de
manuais e de transparências. Segundo
Pernambuco, por exemplo”, explica a
Carlos Rogério Camargo, secretário de
coordenadora executiva do projeto,
informática do TRE-SC, o tribunal já
Rosangela Schwarz Rodrigues.
vinha buscando alternativas para a
O projeto chegou a ser avaliado pelo
disseminação de informações, tendo em
Tribunal Superior Eleitoral, neste ano,
vista a grandeza desse tipo de
mas, em razão dos curtos prazos, não
treinamento. “Concluímos que a
chegou a ser ampliado para outros
produção de uma mídia CD-ROM
estados. “Entretanto, temos a concontendo material auto-instrucional era
vicção de que Santa Catarina, mais
a forma mais adequada para alcançar
uma vez, desenvolveu um projeto
esses objetivos. O LED tem diversas
pioneiro que deverá ser adotado pela
outras experiências bem-sucedidas com
maioria dos estados brasileiros a
os atributos que estávamos buscando.
Carlos Rogério Camargo,
partir de 2004”, prevê Carlos
O resultado confirma a nossa
Camargo.
expectativa de obter material muito útil
secretário de Informática
Com o treinamento, os mesários
para os nossos eventos”, avalia.
do TRE-SC
recebem instruções específicas de
O projeto do LED teve de atender a
uma série de requisitos, principalmente em decorrência da como ajudar, por exemplo, deficientes visuais e analfaextensão de seu público. O primeiro deles, de natureza betos na hora do voto, sem interferir na escolha deles.
técnica, foi o de que o manual fosse acessível em “O projeto contribui claramente com a sociedade e com
microcomputadores com poucos recursos, ou seja, baixa a democracia, o que é papel da universidade, além de
velocidade e pouca memória, com interação simples para o posicionar o LED como uma instituição pública capaz de
usuário final. Os laboratórios de informática de todas as realizar um trabalho dessa envergadura com qualidade,
escolas da rede estadual de ensino foram oferecidos aos dentro do prazo”, comemora Rosangela Rodrigues.
Arquivo - MIC
O
Veja esta matéria no endereço http://www.mic.ufsc.br/index.php?url=int_eleicao.htm.
15 * Revista do MIC
“O LED tem
diversas outras
experiências
bem-sucedidas
com os atributos
que estávamos
buscando!”
Revista do MIC - 2002/2003
www.mic.ufsc.br
.:DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
O BTD (Banco de Teses e Dissertações) é uma biblioteca digital que permite
o acesso sem custo às teses e dissertações defendidas no PPGEP
(Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção). O MIC não é responsável,
no entanto, pela inclusão dos trabalhos acadêmicos nesse banco.
A DISSERTAÇÃO DE MESTRADO de Paulo Sen Lee pode ser
encontrada no endereço http://teses.eps.ufsc.br
Método científico
versus
Ilustração: Luiz Otávio Costa
Segundo Paulo, inúmeros professores das ciências naturais vestem o “guarda-pó” racional, mas crêem em muitas alegações irracionais
charlatanismo
Setembro de 2002
16 * Revista do MIC
Por Felipe Zylbersztajn
Extraterrestres já visitaram a terra, paranormais movem objetos com a
força da mente e doentes são curados com a energia das cores. Nenhum
desses fenômenos foi comprovado cientificamente, porém, professores
de disciplinas naturais de uma escola de ensino médio de Curitiba crêem
na veracidade desses fatos. É o que aponta a dissertação de mestrado do
professor de Física Paulo Sen Lee, que detectou uma significativa falta
de ceticismo entre educadores e seus alunos.
Revista do MIC - 2002/2003
www.mic.ufsc.br
Q
VOCÊ ACREDITA?
Os questionários de Paulo, distribuídos a 40 professores
de cinco escolas – duas públicas e três particulares –, eram
compostos de duas partes: a primeira, acerca da prática
pedagógica dos professores; a segunda, referente ao
posicionamento adotado por eles em relação às
pseudociências. A segunda parte do questionário possuía 10
perguntas do tipo “Você acredita em algum tipo de
horóscopo?”; “Você acredita em premonição?”; “Você
acredita em curas mediúnicas?”. Paulo realizou pesquisa
apenas com professores de ciências naturais (Física, Química
e Biologia), que, por terem maior contato com a ciência e
com a lógica da pesquisa científica, deveriam apresentar
maior ceticismo perante os temas pseudocientíficos.
Entretanto, o percentual encontrado de professores crédulos
em determinadas pseudociências foi considerado
surpreendente por Paulo. Por exemplo, em média, 32% dos
professores pesquisados acreditam em telecinesia
(capacidade de mover objetos com o poder da mente) e 28%
CONVIVENDO EM PAZ
oda a experiência realizada por Paulo visou uma
melhor compreensão da ciência e o desenvolvimento de um pensamento crítico nos alunos de ensino
médio. No entanto, Paulo Lee salientava aos alunos a
importância de não se tornar um arrogante científico,
usando os conhecimentos científicos adquiridos e o
pensamento crítico como uma forma de discriminação
ou intolerância perante aqueles que crêem nas
pseudociências.
Para ele, “a convivência pacífica entre as pessoas
mesmo que tenham crenças diferentes, ou mesmo
conflitantes, deveria ser uma das principais idéias da
humanidade”. Porém, o que Paulo percebe é que, com
a fachada de tolerância, muitos professores incentivam
o pensamento holístico e até mesmo a intolerância
perante as ciências, como se o pensamento racional
fosse o principal culpado pelos males dos produtos da
ciência.
T
acreditam em premonição (capacidade de conhecer fatos
que vão acontecer).
Além disso, o mestrando percebeu que vários professores
que afirmavam não acreditar em astrologia tendiam a achar
que o signo da pessoa poderia ter, de alguma forma, algo a
ver com a personalidade. “Isso mostra que muitos
professores possuem certas crenças latentes, ou seja, podem
estar afirmando que não crêem em determinada
pseudociência, mas no fundo têm dúvidas ou acreditam em
certas situações por forças culturais, pouca reflexão ou pouca
compreensão das críticas com embasamentos científicos”,
conclui.
PROJETO CIÊNCIA E PSEUDOCIÊNCIAS
Em 2001, Paulo desenvolveu, em conjunto com um
professor de História, um projeto com duas turmas de
estudantes da segunda série de ensino médio de uma
escola particular. O projeto estimulava os estudantes a
confrontarem as pseudociências com as críticas da
ciência.
Primeiramente, os alunos responderam a um
questionário com as mesmas questões da segunda série
de perguntas feitas aos professores. Os resultados
revelaram um grau elevado de credulidade em
pseudociências nos estudantes.
Então, os alunos das duas turmas foram divididos
em grupos e pesquisaram sobre um tema
pseudocientífico escolhido pela equipe, durante um
mês.
No mês seguinte, os estudantes assistiram a vídeos
em sala de aula com temas relacionados a
pseudociências, e alguns desses vídeos apresentavam
pontos de vista céticos, que procuravam dar explicações
científicas ou criticar os fundamentos analisados.
Depois de cada sessão, eles respondiam novamente
a algumas perguntas dos questionários.
continua
17 * Revista do MIC
uando o professor de Física Paulo Sen Lee resolveu
investigar a credulidade de seus alunos do ensino
médio quanto às chamadas pseudociências – de
extraterrestres à cromoterapia – levou um susto.
Não poderia imaginar que a falta de ceticismo atingia de
forma significativa não apenas os estudantes como também
os docentes de ciências naturais. A pesquisa, feita em cinco
conceituadas escolas de Curitiba (PR), fez parte da
dissertação de mestrado que Paulo defendeu em 30 de agosto,
através de videoconferência. O trabalho “Ciências naturais
e pseudociências em confronto: uma forma prática de
destacar a ciência como atividade crítica e diminuir a
credulidade em estudantes de ensino médio” foi defendido
na capital paranaense e avaliado com a banca reunida em
Florianópolis, no Laboratório de Ensino a Distância (LED) da
Universidade Federal de Santa Catarina.
Em sua dissertação, Paulo Sen Lee promoveu o confronto
das ciências naturais com as pseudociências dentro da sala
de aula. A experiência procurou destacar a ciência como
atividade crítica, diminuir a credulidade e conseqüentemente
aumentar o ceticismo em estudantes do ensino médio. O
trabalho ainda contou com questionários distribuídos aos
alunos e a seus professores de Física, Química e Biologia,
além de uma avaliação do material didático utilizado por
eles.
Paulo conta que não pretende fazer afirmações categóricas
e definitivas com sua dissertação - “mesmo porque minha
pesquisa teve amostragem pequena” -, mas, sim, estimular
discussões e reflexões que possam provocar determinadas
mudanças nos materiais didáticos, nos cursos de licenciatura
e na prática educacional. “Procuro demonstrar a necessidade
dos professores de ciências naturais compreenderem melhor
a filosofia da ciência, a ciência como atividade crítica,
reavaliando suas posturas crédulas em pseudociências”,
explica ele. “Acredito que grande parte dos professores de
ciências naturais ensina os produtos e leis cientificas, mas
não pensa e nem ensina seus alunos a pensarem
cientificamente”.
Revista do MIC - 2002/2003
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18 * Revista do MIC
RESULTADOS
Ao final, os estudantes responderam às mesmas 10
perguntas do questionário inicial, a fim de comparar suas
respostas com as do início do projeto. Os resultados
mostraram que houve uma diminuição da credulidade e um
aumento de ceticismo em relação às perguntas e aos temas
pseudocientíficos apresentados.
Nas duas turmas o elevado percentual de credulidade
entre os estudantes foi substituído por um elevado
percentual de ceticismo. “Constatei que é possível
desenvolver nos estudantes um posicionamento crítico que
os habilite a se tornarem cidadãos menos suscetíveis às
fraudes e ao charlatanismo quando estimulados ao confronto
amigável entre a postura crítica científica e as
pseudociências”, conclui Paulo.
Veja esta matéria no endereço http://www.mic.ufsc.index.php?url=int_pseudo.htm.
Há reproduções em espanhol, com o título “El método científico versus la
charlatenería”, por Infociencia.net em http://216.185.133.103/infociencia/fijo/infoficha.cfm?id=110 e por “El Esceptico Digital” em http://www.mega-cosmos.com/
files/2002-09-Elescepticodigital.pdf.
.:REVISÃO PELOS PARES NA APRENDIZAGEM
Educação sob a
luz da ciência
Julho de 2002
Por Marcelo Tolentino
Arquivo MIC
Em suas respostas, os alunos revelaram-se influenciados pelas
idéias apresentadas nos vídeos, mudando de opinião em relação
ao questionário inicial após algumas apresentações. Segundo Paulo
Lee, essa característica é intrigante e ao mesmo tempo
preocupante, pois demonstra como os estudantes são suscetíveis
aos produtos da mídia, ao charlatanismo e à manipulação de
opinião, principalmente quando possuem um pensamento crítico
pouco desenvolvido e fundamentado. “Há muito espaço na mídia
para as pseudociências e pouco espaço para a divulgação do
pensamento científico”, reclama.
O professor de jornalismo da UFSC Orlando Tambosi, que foi
membro da banca de Paulo Lee, acredita que, confundindo ciência
e pseudociência, a mídia presta-se à difusão do charlatanismo e
das crendices. “De forma absolutamente acrítica e irresponsável,
os meios de comunicação transformaram em normal o
paranormal”, reflete. Ele lembra que “há pouco tempo, revistas
e jornais que se pretendem sérios escancararam suas páginas
para um assunto como o Chupa-cabras. O mesmo fizeram alguns
telejornais e os impagáveis programas dominicais”. Para Tambosi,
quando trata realmente de ciência, a mídia se fixa apenas nos
resultados, ora considerados espetaculares e maravilhosos, ora
apocalípticos e maléficos – “a mídia jamais vê a ciência como
processo de conhecimento”, avalia o professor da UFSC.
Após o processo inicial comandado por Paulo Lee, os estudantes
leram sobre o método crítico científico, o que permitiu que
refletissem a respeito da importância da ciência e analisassem
as diferenças básicas entre a ciência e as pseudociências. “É
difícil opinar sobre aquilo que desconhecemos. Só é possível
desenvolver o pensamento crítico quando se dominam os assuntos,
seja aquele que se quer defender, seja aquele que se quer criticar”,
acredita o mestre.
Ao término da pesquisa, os alunos elaboraram artigos em forma
de discurso de divulgação científica, tendo como idéia principal a
divulgação isenta para fornecer o maior número de informações
com qualidade. Cada equipe fez uma apresentação descrevendo
as características principais da pseudociência estudada, além de
explicar por que o tema era considerado pseudocientífico. Para
Paulo, veículos sérios de divulgação científica são imprescindíveis
para se alcançar um pensamento crítico e embasado.
revisão pelos pares Revisão pelos
pares inseriu
deixou de ser exclusiem cursos
vidade do meio cientícomo
o de
fico. Régua e compasso dos
Computação a
projetos de pesquisa e da
exigência
própria produção científica, o
do texto
processo alcança as carteiras da
qualificado,
graduação para instigar a veia
desenvolvendo
do pesquisador e comunicador
a persuasão
crítico no campo das Exatas.
O professor da disciplina Bancos de Dados na
Univali (Universidade do Vale do Itajaí), Vinícius
Medina Kern, inspirado em experiência vivida nos
Estados Unidos, decidiu estimular a redação de artigos
entre os alunos de Computação.“Ao passar pela
Universidade Virginia Tech, em 1994, durante o
doutorado, fiz uma disciplina que utilizava o método.
Percebi o potencial da abordagem e a adaptei para
meus alunos em 1997", lembra Vinícius, que acabou
dando uma nova “cara” para suas aulas. “Em vez de
apenas corrigir os artigos, sugeriu que a classe se
transformasse em uma verdadeira conferência
científica. Como nos domínios da C&T (Ciência e
Tecnologia), a sistemática funciona através da revisão
A
Revista do MIC - 2002/2003
www.mic.ufsc.br
ARGUMENTOS NEGATIVOS
qu
ivo
MI
Acima, acadêmicos que já
participaram da experiência de
revisão pelos pares em classe.
Aqui, “jogam” controle de
concorrência em bancos de
dados, em outra
abordagem
pedagógica
inovadora. No
destaque, o
professor Vinícius
Medina Kern
C
Na palestra sobre revisão pelos pares em junho passado, Kern mostrou
que tem bala na agulha ao sustentar a importância do método, citando
alguns dados do PISA 2000 (Programa Internacional de Avaliação de
Alunos), divulgado em 2001 pela OCDE (Organização para a Cooperação
e Desenvolvimento Econômico).
O estudo, baseado no uso do conhecimento vindo da leitura, da
matemática e da ciência, avaliou estudantes de 15 anos em 32 países e
colocou o Brasil na lanterna em todos os quesitos.
Conquistaram os melhores lugares a Finlândia, que possui exemplares
estudantes leitores, o Japão, com os melhores matemáticos, e a Coréia,
que já revela seus cientistas de ponta. “Já há base científica para afirmar
que o estudante nacional não pode ser comparado ao dos países
industrializados”, lamenta Kern, que recentemente participou da
“Conferência de Trabalho da IFIP” – sobre educação e ciência – e teve
seu artigo sobre revisão pelos pares selecionado para compor um livro,
o produto final do evento.
Metodologia exercita o
lado comunicador do
aluno de ciências
exatas
Ar
qu
ivo
MI
C
Veja esta matéria na íntegra, incluindo as seções “Doutoranda emprega revisão pelos pares na educação ambiental” e “O que é e como surgiu a revisão pelos
pares?”, no endereço http://www.mic.ufsc.br/index.php?url=int_revisaopelospares.htm.
19 * Revista do MIC
Ar
Arquivo MIC
duplamente cega pelos pares. Ou seja, os trabalhos trocados
pelos acadêmicos não são assinados, e somente o professor,
que atua como editor, conhece os autores. “São avaliações e
valem nota. Se o aluno faz uma crítica ao artigo do colega, o
trabalho terá uma melhor qualidade”, explica o professor.
Segundo Kern, que é doutor em Engenharia de Produção pela
UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), a sistemática
respeita a inteligência e a individualidade do aluno. “Não se
pode ignorar as experiências pessoais. Eles sabem de coisas
que os professores não conhecem. Temos de criar outras
possibilidades de educação”, frisou, durante seminário
promovido pelo PPGECT (Programa de Pós-Graduação em
Educação Científica e Tecnológica), em junho, no qual
compartilhou suas pesquisas baseadas na revisão pelos pares
como ferramenta pedagógica alternativa. No evento, Vinícius
revelou ainda que as facilidades de comunicação já agregadas
ao cotidiano acadêmico e profissional fazem de sua proposta
um modelo pronto para o ensino a distância. “Venho aplicando
o método na sala de aula, mas já trocamos documentos pela
internet”.
A abordagem é empregada no PPGEP (Programa de Pós-Graduação
em Engenharia de Produção) da UFSC desde 2000. Os resultados (anais)
estão publicados no endereço – (http://www.eps.ufsc.br/~kern/
infmod2k/infmod2k.html).
A inexistência de disciplinas que ensinem a expressão escrita, vocal
e corporal em cursos como o de Computação ou de Engenharia pode ser
suprida através da revisão pelos pares. A habilidade de falar e m
público ou redigir textos nunca foi prioridade no currículo das
ciências exatas. Contudo, as exigências atuais revelam um
mercado sedento por profissionais mais articulados sob
esse prisma. De acordo com o acadêmico de Computação
Willian Savi, 28 anos, o processo de avaliação
proporciona um clima de exigência e responsabilidade
profissional. “Já que não é apenas o professor que
checa o trabalho, caprichamos para que o colega
leia um artigo de qualidade. Através desse mecanismo
treinamos nossa capacidade de persuasão”, relata.
Revista do MIC - 2002/2003
www.mic.ufsc.br
.:NA VITRINE DA ONU
Brasil ganha batalha tecnológica
Outubro de 2002
Por Marcelo Tolentino
U
20 * Revista do MIC
Primeira interface
do Olimpo.
Parte do grupo que
integra o instituto
Webis/Ijuris: a partir
da esquerda – Felipe
Costa, André Bortolon,
Eduardo Mattos e
Marcelo Ribeiro.
E, por fim, Hoeschl
defendendo a tese
sobre o Olimpo,
em 2001
Arquivo MIC
ma inovadora tecnologia
concebida no Brasil poderá
assumir um papel decisivo em
conflitos como os atuais episódios que
dividem os Estados Unidos e o Iraque.
Um dos melhores mecanismos de
recuperação de informações até hoje
feito no mundo – o Olimpo – é
catarinense e está prestes a ser doado
pelo Brasil à ONU (Organização das
Nações Unidas).
Tendo em vista a recente manifestação do Conselho de Segurança e suas
resoluções, o software poderá atuar
como se fosse um eficiente
bibliotecário, sempre disposto a reunir
em menos de 30 segundos seus documentos eletrônicos, hoje espalhados
pela web. “A única forma de saber qual
país está dizendo a verdade é através
dos julgamentos disponibilizados na
página da ONU”, argumenta o professor
Hugo César Hoeschl, um dos integrantes
do Ijuris (Instituto Jurídico de
Inteligência e Sistemas), composto de
pós-graduandos da UFSC (Universidade
Federal de Santa Catarina).
Segundo ele, a ONU utiliza a mesma
safra de banco de dados empregada pelos conhecidos Yahoo, Cadê e Google,
limitados aos poucos 255 caracteres.
Essa deficiência torna a pesquisa lenta
– arriscada a durar cerca de 15
minutos - imprecisa e frustrante
para quem deseja resultados
instantâneos.
Com o Olimpo, o internauta tem
a chance de contextualizar o
assunto através da procura por
blocos de texto, podendo utilizar
até 15 mil caracteres, o
equivalente a 2.500 palavras.
A máquina deve essa capacidade
à
Inteligência
Artificial,
ferramenta que permite ao
software interpretar o contexto da
busca, ou seja, concede o poder
do raciocínio. “Trata-se de um
sistema baseado em conhecimento
que faz uma procura inteligente de
documentos, comparando-os entre
si e retornando ao usuário uma
lista hierárquica por graus
de semelhança”, explica
Hoeschl, que em 2001
conquistou o título de
doutor ao defender a
primeira versão do
sistema. O aplicativo,
construído para ser
implantado em qualquer
segmento da sociedade,
foi eleito por dois anos –
1999 e 2001 – um dos 20 melhores
trabalhos científicos pela ICAIL
(Conferência Internacional de
Inteligência Artificial). “É uma lista que
relaciona o que tem de melhor no mundo
nesse setor”, valoriza o mestrando da
UFSC Marcelo Ribeiro, outro integrante
do Ijuris – (http://www.ijuris.org).
VITÓRIA FORA DE CASA
Ao contrário do que ocorre com a
indústria do futebol, para a qual são
canalizados grandes investimentos e a
divulgação é ampla, a tecnologia
brasileira não costuma ter a atenção e
os patrocínios necessários. É por essa
dificuldade que o Olimpo representa um
gol de placa fora das quatro linhas, com
direito a drible habilidoso em velhos
craques da área tecnológica. “Vamos
aproveitar o momento para colocar a
bandeira verde-amarela no topo”, comemora o mestrando da UFSC Eduardo
Mattos,
também
membro
do grupo
catarinense.
Na últ i m a
conferência
internacional realizada em Saint Louis (EUA),
o Olimpo era o único aplicativo que
funcionava na base da experimentação.
“Não era um trabalho teórico, mas um
projeto de implantação real, prático”,
lembra Mattos, orgulhoso por ter
projetado o país na vitrine internacional
da C&T (Ciência e Tecnologia). Além do
mérito de automatizar o “campo de
batalha virtual”, possibilitando o
acesso irrestrito às resoluções da ONU,
o sucesso do sistema prova que o Brasil
tem tecnologia de ponta para concorrer
lado a lado com o produto externo.
Revista do MIC - 2002/2003
www.mic.ufsc.br
.:DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA
Descrédito aqui e
aplausos longe de casa
Outubro de 2002
Por Felipe Zylbersztajn
“N
C
Veja esta matéria no endereço http://www.mic.ufsc.br index.php?url=int_olimpo.htm.
Veja esta matéria no endereço http://www.mic.ufsc.br/
index.php?url=conteudo_seg/int_apresentamicfuncitec.htm.
21 * Revista do MIC
Arquivo - MIC
“... o político
nos convidou a
trabalhar no
exterior”
om pouco mais de
um mês de exisJornalista
tência, o site do
Imara
MIC (Núcleo de Mídia
Stallbaum
Científica) transformou-se
participou do
em história de sucesso
nascimento
apresentada pela jornado MIC
lista Imara Stallbaum
numa mesa-redonda sobre
o papel da imprensa no
apoio à Ciência, Tecnologia e Inovação. O encontro ocorreu em 5 de
abril, no encerramento do evento “CT&I - arranjos produtivos locais”,
aberto pela Fundação de Ciência e Tecnologia do Estado, no Parque
Tecnológico Alfa, Saco Grande, em Florianópolis, no dia anterior. Também
participaram do workshop os jornalistas Mário Xavier, diretor da Redactor - Consultoria em Comunicação e Marketing e assessor de imprensa
da Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia, Jorge Görgen
(Revista Expressão), Alexsandro Vanin (Revista Nexus) e Rodolfo Decker,
assessor de imprensa da Funcitec.
O evento discutiu a cobertura e a divulgação científica, tecnológica
e de inovações feitas por veículos catarinenses especializados. Imara
citou, por exemplo, palavras do ministro Ronaldo Sardenberg, da Ciência
e Tecnologia, para quem a divulgação científica é um meio de garantir
a continuidade da reforma pela qual passa hoje a política científica
brasileira. A reforma, segundo o ministro, “pode dobrar o ritmo de
crescimento da ciência no país, que já é três vezes maior que a média
mundial, formando atualmente 6 mil doutores por ano, mesmo nível
registrado na Itália”.
Para a jornalista, que também é mestranda do PPGEP, não há dúvidas
de que a divulgação científica promovida através de iniciativas como o
MIC tem significado estratégico para o Brasil, o que só aumenta a
responsabilidade do jornalista.
Nesse sentido, Mário Xavier observou que o verdadeiro papel do
profissional de imprensa é fazer a ligação entre a sociedade e o que é
produzido em CT&I nos setores acadêmico, privado e governamental.
Salientou que a missão do jornalista que cobre esse campo é
informativa, formativa e reflexiva. Em sua opinião, o jornalismo
científico deve extrapolar os questionamentos básicos do
jornalismo diário.
O “case” da revista Nexus foi apresentado pelo jornalista
Alexsandro Vanin. Única publicação do gênero em Santa Catarina,
a revista tem a CT&I como tema. Com periodicidade trimestral e
tiragem de 5 mil exemplares, a Nexus surgiu como trabalho de
conclusão de curso de alunos de jornalismo da UFSC. Alexsandro
ainda destacou o “Projeto Alfabetização Científica: um papo sobre
a ciência”, uma série de nove encontros que pretendem integrar
cientistas, jornalistas e estudantes interessados na área.
O Prêmio Finep de Inovação Tecnológica criado em 1998 pela
Revista Expressão, em parceria com a Financiadora de Estudos e
Projetos, foi abordado por Jorge Görgen, diretor de marketing da
Revista Expressão, durante sua palestra. A premiação incentiva as
empresas que investem no desenvolvimento e na inovação
tecnológica.
Arquivo - MIC
inguém
acredita
que o Olimpo tenha sido feito
aqui!”, revela a mestranda da UFSC Tânia
Cristina D’Agostini
Bueno que, junto com
o professor Hugo César
Hoeschl, costuma representar o Ijuris em
conferências. No último
evento, realizado em
Saint Louis (EUA), a
dupla foi assediada por
uma autoridade norteamericana encantada
pelo poder do aplicaTânia afirma que a
tivo. Porém, o político não sabia
falta de apoio
que o núcleo de estudos do governamental e
Olimpo se situava em empresarial “trava a
Florianópolis. Levou um susto! evolução da ciência e
“Só lembrou da cidade quando tecnologia nativa”
falamos do tenista Gustavo
Kuerten, o Guga. Diante da distância, o político nos convidou
a trabalhar no exterior”, lembra Hoeschl. O fato, apesar de
engraçado, descreve a distância cultural entre Brasil e
Estados Unidos quando o assunto é Ciência e Tecnologia.
Segundo Tânia, grande parte dos custos das conferências
acaba sendo bancada pelos pesquisadores, sem qualquer tipo
de subsídio. “Economizamos meses para não perder a
viagem. Essa é a situação de todo pesquisador brasileiro”,
desabafa Tânia. O sacrifício vale a pena porque é nessas
vitrines que o produto nacional é reconhecido. “Quando você
inscreve trabalhos, a presença é fundamental. Se os
representantes não aparecem, perde-se a credibilidade”,
explica a pesquisadora.
Site do MIC vira case
Revista do MIC - 2002/2003
www.mic.ufsc.br
.:PRESIDENCIÁVEIS NA WEB
Ciro Gomes tem a melhor campanha virtual
Outubro de 2002
Por Marcelo Tolentino
Rita Paulino:
“Jornalista deve
participar mais
do processo de
criação de
sites”
Arquivo - MIC
22 * Revista do MIC
O
Ciro: vários espaços para interagir
Garotinho: ignora a interatividade
Lula: sem últimas notícias no site
Serra: não utiliza multimídia
Arquivo - MIC
site do presidenciável cearense
foi o que melhor passou pela
malha fina dos alunos de
Jornalismo On-line do PPGEP, seguido
da página de José
Serra.
Através dos quesitos avaliados –
abrangência e propósito, conteúdo,
w e b d e s i g n ,
funcionalidade,
interatividade e
ferramentas de
colaboração e, por fim, recursos
avançados – os mestrandos puderam
descobrir se os webdesigners dos
candidatos fizeram ou não a lição de
casa. Na “armadilha” articulada pela
mestre em Engenharia de Produção,
a professora Rita Paulino, nenhum site
saiu ileso. “A turma usou uma grade
que mostra critérios de avaliação de
sites definidos e estudados. Nada
passou despercebido pela peneira”,
explica.
A varredura nos espaços virtuais dos
presidenciáveis foi feita pelo estudante
Flávio Targino da Silva, que identificou
erros graves como a ausência de um
endereço de contato e espaços para
críticas ou sugestões na homepage de
Garotinho. “Isso é ignorar a vontade
de interagir do eleitorado conectado”,
observa Targino.
Segundo a pesquisa, todos
apresentaram conteúdo e design de
qualidade, porém, dois deles
ignoraram as vantagens de um
espaço para as últimas notícias e
a necessidade de um sistema de
busca. É o caso dos sites de Lula e
do ex-governador do Rio de Janeiro
- o único com expediente (equipe
desenvolvedora). “Mesmo assim,
Garotinho é o lanterna das minhas
análises”, ironiza o aluno, baseando-se nas inúmeras imperfeições do website, que apesar dos
problemas, ganha votos por
disponibilizar recursos de
multimídia, assim como o de Ciro.
Enquanto a página do petista
aparece em terceiro lugar por não ter
sido aprovada em alguns pontos vitais,
como interatividade e navegação, Ciro
e Serra iriam para o segundo turno se
houvesse eleição para a melhor
campanha on-line.
Além de superar a maioria em quase
todos os critérios, o site do exgovernador do Ceará é superior porque
deseja muito falar com o eleitor. “Ele
oferece mais que um e-mail para trocar
as idéias”, salienta Targino, ao
destacar os fóruns temáticos e as
enquetes.
Já o candidato do presidente FHC,
apesar de deixar claro seu objetivo na
página inicial, perdeu pontos no
quesito interação citando apenas um
endereço de contato.
Para Targino, o site de Serra supera
os de Lula e Garotinho, mas ainda
precisa de reformulações. “Economizaram nos efeitos multimídia”,
critica, situação que se repete na
homepage da estrela vermelha.
A pesquisa completa de Flávio
Targino pode ser acessada na página
da
disciplina
(http://
w w w. s t e l a . u f s c . b r / d i s c i p l i n a s /
Jornalismoonline2002).
Veja esta matéria no endereço http://www.mic.ufsc.br/index.php?url=int_analisesites.htm.
PPGEP prepara
comunicador para
atuar na web
m dos primeiros espaços da UFSC
a proporcionar conhecimentos
sobre a construção de páginas na
rede mundial está no PPGEP
(Programa de Pós-Graduação em
Engenharia de Produção). É o que
afirma a professora de Jornalismo Online Rita Paulino, webdesigner que em
2000 passou a ministrar a disciplina.
Segundo Rita, o programa
apresenta a mídia on-line a jornalistas
sedentos por informações sobre a
área. São aulas que, de acordo com
ela, possibilitam entender melhor o
processo e as vantagens da divulgação
pela rede. “Esse profissional deve
participar mais do processo de criação
e produção de sites”, estimula Rita,
lembrando: “A interação com o usuário
ainda é muito pouco explorada. É
preciso estudar e analisar melhor esse
nicho”.
A cadeira já gerou dois sites
recheados de informações sobre
jornalismo on-line. “Também há trabalhos e projetos de alunos disponibilizados”, acrescenta a professora.
O conteúdo encontra-se nas páginas
da disciplina de 2000 (http://
www.stela.ufsc.br/disciplinas/
Jornalismoonline2000) e 2002 (http:/
/www.stela.ufsc.br/disciplinas/
Jornalismoonline2002), já que em
2001 Rita não lecionou a matéria.
U
Revista do MIC - 2002/2003
www.mic.ufsc.br
.:LED É BENCHMARK EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Reconhecimento internacional
Outubro de 2002
Por Sibyla Goulart
Arquivo - MIC
Hoje, existem no
mundo cerca de 650
mil cursos a
distância, desde
pequena duração até
pós-graduação
AVALIAÇÃO
Apesar de destacar o papel fundamental
dos órgãos reguladores, como o Ministério da
Educação e Cultura-MEC, Andrea diz que as
próprias universidades precisam ter seus
mecanismos internos de garantia da qualidade.
Um dos principais itens, segundo ela, é apontar
os motivos que levaram a instituição a trabalhar
com ensino a distância. No caso da UFSC, desde
1985 ficou definido que o papel da universidade
seria aumentar o acesso ao conhecimento e
não confiná-lo em alguns centros de excelência.
Dez anos depois o LED abriu as portas e hoje já
contabiliza a formação de 175 mil profissionais
em vários programas, desde qualificação de
pequena duração, programas de capacitação
de 40 a 60 horas, cursos realizados para
empresas ou para órgãos governamentais e
cursos de pós-graduação lato sensu e stricto
sensu.
A Universidade Federal de Santa Catarina
e o LED, especificamente, são considerados
benchmarks internacionais na área de educação
a distância.
No Brasil, entre vários destaques, o LED foi
considerado uma experiência notória em
educação a distância no Livro Verde da
Veja esta matéria no endereço http://www.mic.ufsc.br/index.php?url=segunda_edicao/conteudo/int_andrea.htm.
Andrea: “As próprias
universidades
precisam ter seus
mecanismos internos
de garantia da
qualidade”
Sociedade de Informação, lançado ano passado
pelo Ministério da Ciência e Tecnologia.
O reconhecimento internacional vem,
principalmente, da idoneidade de parceiros
como MIT, Universidade do Sul da Flórida e
Universidade das Nações Unidas. “Um ponto da
garantia da qualidade que também foi discutido
no encontro se refere à avaliação não só dos
órgãos reguladores, das agências de qualidade
e dos ministérios da educação, mas também do
usuário, que é o elemento fundamental de todo
o processo”, completou Andrea, destacando
que o LED realiza um processo intenso de
qualificação interna de seus programas, com a
avaliação processual e contínua dos alunos,
professores e conteúdos oferecidos, assim
como do modelo pedagógico que orienta
as ações do LED.
Para manter o padrão acadêmico dos
cursos a distância, a Agência de Garantia
de Qualidade na Educação Superior do
Reino Unido, cujo presidente é o professor
Peter Williams, sugeriu a normatização
oficial dos procedimentos em fluxo e a
existência de um grupo examinador
externo que analise e aponte possíveis
falhas do programa.
Peter Williams foi um dos palestrantes
convidados pela coordenadora do evento,
Ann Floyd, professora da maior instituição
de ensino a distância do mundo, a Open
University, localizada na cidade de Milton
Keynes, Inglaterra.
23 * Revista do MIC
À
exemplificar, existem hoje no mundo cerca
de 650 mil cursos a distância, desde pequena
duração até pós-graduação. Apenas nos
Estados Unidos estão sendo projetados para
este ano investimentos na ordem de 10
bilhões de dólares no segmento. “Na medida
em que várias instituições privadas estão
ingressando na área, a educação está
correndo sério risco de se tornar um
negócio. E isso é perigoso, porque não se
pretende que a educação a distância caia
no descrédito e sirva apenas para gerar
lucros”, explicou Andréa, acrescentando:
“Se a educação for considerada
simplesmente um serviço, ela será regulada
pelas leis do comércio como um parafuso,
uma televisão, e será muito difícil controlar
a qualidade dessas iniciativas”. A afirmação
se baseia na compreensão de 21 países, que
em 2001 aderiram ao Acordo Geral sobre Tarifas
e Comércio - GATT. Para essas nações, educação
é “serviço”.
Arquivo - MIC
s vésperas de conquistar o certificado
de qualidade ISO 9001, o Laboratório
de Ensino a Distância da UFSC também
comemora outra façanha. O LED foi a única
instituição de ensino superior da América Latina
a participar do evento Quality Assurance in Open
and Distance Learning, promovido pelo
Conselho Britânico e realizado entre os dias 10
e 15 de fevereiro, na cidade de Birmingham,
Inglaterra. Estavam presentes no encontro nada
menos do que 22 profissionais representando
17 países. Entre eles, Estados Unidos, Japão,
Lituânia, Namíbia, Arábia Saudita, Suíça,
Turquia e Zimbábue. “Como era um curso de
garantia da qualidade dos programas de
educação aberta e a distância, acreditamos que
o convite partiu do reconhecimento no país e
em toda a América Latina dos trabalhos
desenvolvidos nessa área pelo Laboratório de
Ensino a Distância da UFSC”, explica Andrea
Valéria Steil, gerente de Processos do LED.
Representando o diretor geral do
laboratório, professor Ricardo Miranda Barcia,
Ph.D, Andrea diz que o evento serviu para
confirmar a política de qualidade estabelecida
pelo LED e para compartilhar as experiências e
os procedimentos adotados pelos demais países.
Os dois pontos, inclusive, estão sendo abordados
pelo LED na carta de agradecimento ao Conselho
Britânico. “É claro que sempre temos algo a
aprender. Nesse caso, eu diria que trouxe como
meta uma maior divulgação dos nossos
trabalhos”, acrescenta Andrea.
Para a gerente de Processos do laboratório,
iniciativas dessa natureza, que visam discutir
padrões globais de qualidade na educação
superior a distância, só trazem benefícios às
instituições sérias e aos alunos. Só para
Revista do MIC - 2002/2003
www.mic.ufsc.br
.:TESE DE DOUTORADO
A C&T brasileira já pode
sair do castelo
Março de 2002
Por Imara Stallbaum
24 * Revista do MIC
E
Tribunal da Igreja Católica instituído no século
XIII para perseguir, julgar e punir os acusados de
heresia, a Santa Inquisição foi fundada pelo papa
Gregório IX (1170-1241) em 1231
Arquivo - MIC
m tempos de cruzada pela
moralidade pública, o engenheiro
mecânico Carlos Pittaluga
Niederauer, 44 anos, acaba de produzir
um verdadeiro achado, pelo menos para
o universo da Ciência e Tecnologia.
Técnico do CNPq (Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico), ele obteve o título de doutor,
no início de fevereiro, defendendo uma
tese que cria uma ferramenta capaz de
medir o desempenho dos candidatos à
Bolsa de Produtividade em Pesquisa do
próprio CNPq.
Tradicionalmente, a análise do
mérito dos candidatos ao benefício
acadêmico fica a cargo de consultores
ad hoc (pesquisadores designados para
avaliar seus pares). Eles fazem as
avaliações e emitem os pareceres que
subsidiarão os julgamentos dos comitês
de assessoramento do CNPq. Algumas
vezes comparada à Santa Inquisição, a
sistemática, que leva o nome de
Avaliação pelos Pares, merece muitas
críticas. É vulnerável a convicções
pessoais, está sujeita a pressões
políticas e sociais, e trabalha com
informação incompleta a respeito do
objeto avaliado.
Os critérios de avaliação, por
outro lado, variam de comitê para
comitê. “Geralmente são subjetivos e nem sempre divulgados. Se
a produtividade do candidato é
julgada insuficiente, a proposta
está praticamente inviabilizada,
ainda que o projeto proposto tenha
mérito e como tal seja relevante
para a C&T”, observa Pittaluga.
As bolsas de Produtividade em
Pesquisa sustentam boa parte da
C&T do país. São consideradas
estratégicas para a pesquisa e pósgraduação brasileiras, além de ser
um benefício que dá reconhecimento e status a quem as recebe.
Através delas a comunidade ainda
distingue os pesquisadores ativos
e produtivos dos demais.
O BTD (Banco de Teses e Dissertações) é uma
biblioteca digital que permite o acesso sem custo
às teses e dissertações defendidas
no PPGEP (Programa de Pós-Graduação
em Engenharia de Produção). O MIC não é
responsável, no entanto, pela inclusão
dos trabalhos acadêmicos nesse banco.
A TESE DE DOUTORADO de
Carlos Pittaluga Niederauer
pode ser encontrada no endereço
http://teses.eps.ufsc.br
BOA CIÊNCIA
Batizado de Ethos, ética em grego,
o modelo desenvolvido por Pittaluga
baseia-se no DEA (Data Envelopment
Analisys ou Análise por Envoltória de
Dados), método quantitativo e não
paramétrico de medição de
desempenho. Alimentado pelos dados
disponíveis no Sistema de Currículos
Lattes, do próprio CNPq, deixa a
critério do pesquisador a escolha dos
indicadores de C&T com os quais deseja
ser avaliado.“Em tese, não posso
comparar os pesquisadores da Física
com os de Letras ou com os de Música
porque eles têm perfis diferentes”,
adverte Pittaluga, para quem o papel
dos comitês, além de julgar, é propor a
boa ciência.
Por isso, o Ethos é aplicado a
pesquisadores atuando em um mesmo
ramo do saber. Seus usuários terão a
liberdade de selecionar os indicadores
de C&T que melhor lhes convierem.
Nesse sentido, o Ethos difere das
métricas dos comitês, que idealizam um
desempenho-padrão, fixando os
indicadores e seus respectivos pesos.
Segundo Pittaluga, no DEA, todos
competem entre si, tendo como objetivo
maximizar seu desempenho. O modelo
matemático também preserva as
características individuais dos
pesquisadores à medida que o conjunto
de pesos ótimos da auto-avaliação é
único para cada pesquisador. Além do
mais, ao agregar a variante DEA
Cruzado, o modelo permite corrigir
distorções tais como um pesquisador
que pondera excessivamente um
indicador de pouca importância para os
demais. Por fim, simula um processo
avaliativo, mas de forma mais
democrática, em que todos têm a
oportunidade de se posicionarem na
qualidade de avaliadores.
“Não
dá
para
comparar
pesquisadores com jogadores de
futebol”, ironiza Pittaluga. Enquanto os
físicos são autores de várias
publicações em periódicos estrangeiros
Revista do MIC - 2002/2003
www.mic.ufsc.br
– item medido na avaliação pelos pares –, alguns pesquisadores,
como os engenheiros, dão ênfase, por exemplo, ao
desenvolvimento de patentes industriais, pouco consideradas
no sistema de avaliação vigente. Assim, hoje, a pontuação de
um engenheiro responsável pelo desenvolvimento de 20 patentes
ao longo de 25 anos acaba sendo semelhante à de um pesquisador
de outra área que jamais desenvolveu uma patente durante a
vida acadêmica.
MENINA-DOS-OLHOS
Longe de tentar torpedear a avaliação pelos pares, uma
tradição no universo da ciência em todo o mundo, Pittaluga cria
um instrumento,
em
princípio
destinado a
auxiliar os
candidatos à
bolsa. Para
isso, é claro, o
CNPq deverá
disponibilizar o
Ethos em seu
site, sugestão
feita
pelo
engenheiro. De
qualquer
forma,
ele
acredita que o
m o d e l o
desenvolvido
também deverá
nortear as
decisões dos
avaliadores.
“Mesmo que
seja apenas usado pelos candidatos, o Ethos vai fazer com que
haja mais cuidado na hora de o comitê emitir pareceres.
Acredito, inclusive, que os comitês passarão a divulgar mais
seus critérios de julgamento”, prevê, referindo-se a um universo
Método de
do qual é um velho freqüentador.
Pittaluga
simula
Como engenheiro,
um
processo
durante 12 anos
ÉTICA - do grego ethos significa originalmente
avaliativo, mas
atuou como técnico
morada, seja o hábitat dos animais, seja a morada
de forma mais
em comitês assessodemocrática,
em
do homem, lugar onde ele se sente acolhido e
res do CNPq. Como
que todos têm a
abrigado. O segundo sentido, proveniente deste, é
funcionário do órgão,
oportunidade de
costume, modo ou estilo habitual de ser. A morada,
sabe o significado da
se posicionarem
vista metaforicamente, indica justamente que, a
Bolsa de Produtivina qualidade de
avaliadores
dade em Pesquisa
partir do ethos, o espaço do mundo torna-se
para a C&T brasileihabitável para o homem. Assim, o espaço do ethos
ra. “Ela é a meninacomo espaço humano não é dado ao homem, mas
-dos-olhos da agênpor ele construído ou incessantemente reconstruído.
cia. Não tem no
mundo algo igual. É
específica do Brasil e, grosso modo, o único instrumento que porque o Ethos pode ser generalizado e aplicado a
diferencia o joio do trigo na universidade. Aliás, são duas outras modalidades de fomento da agência sempre
meninas dos olhos. A Bolsa de Iniciação Científica do CNPq que um dos requisitos for o desempenho científico
também só existe no Brasil. Ela
e acadêmico dos
é o diferencial. Sem ela, um ETHOS - em grego significa a toca do animal ou a candidatos.
ótimo pesquisador pode ganhar
casa humana; conjunto de princípios que regem, No fundo, é um método
menos do que um sujeito que
transculturamente, o comportamento humano para que pode ter utilidade
está há 20 anos só dando aula
tanto para os pesna graduação e que não se que seja realmente humano no sentido de ser quisadores que solicitam
envolve com pesquisa e consciente, livre e responsável; o ethos constrói benefícios ao CNPq como
formação
de
recursos pessoal e socialmente o hábitat humano.
também para os funciohumanos”, elogia. De um modo
nários do CNPq e demais
geral, a ferramenta comparativa de desempenho proposta, ou profissionais que atuem na gestão de C&T. Graças à
seja, a nova aplicação do DEA, poderá ser útil à gestão e aos novidade, garante o engenheiro, “a C&T brasileira
procedimentos de acompanhamento e avaliação do CNPq. Isso já pode sair do castelo”.
continua
“Não dá para
comparar
pesquisadores
com jogadores
de futebol”
25 * Revista do MIC
Arquivo MIC
Revista do MIC - 2002/2003
www.mic.ufsc.br
.:ENTREVISTA
PERFIL
Quanto mais transparente, melhor
Nome: Carlos Alberto Pittaluga Niederauer
Área de atuação: Pesquisa Operacional,
Medição de Desempenho
Área de Origem: Engenharia Mecânica (graduação),
Gestão de C&T (área de atuação no CNPq)
Profissão: Engenheiro Mecânico Idade: 44 anos
Naturalidade: São Borja, RS
Dados pessoais: casado, dois filhos
Hobby: música brasileira, rock e blues;
dedica-se ainda à pintura, especialmente a óleo
Titulação: Mestrado (1997-1998) em Engenharia de
Produção/Pesquisa Operacional versando sobre
produtividade de pesquisadores
Tipo de defesa: Tese de doutorado
Orientador: Ricardo Miranda Barcia, Ph.D.
Título da tese: “Ethos: um modelo para medir a
produtividade relativa de pesquisadores baseado
na Análise por Envoltória de Dados”
Pittaluga deseja auxiliar
na otimização dos recursos públicos.
O modelo proposto pode
servir como referencial
entre o que o indivíduo
pensa ser o perfil ótimo
de um pesquisador e
aquele traçado pelos
comitês assessores
conhecido – o Data Envelopment Analysis – em um tema de grande
importância para o CNPq e para a comunidade científica brasileira: a
Bolsa de Produtividade em Pesquisa, só que a partir da perspectiva do
pesquisador, ao contrário da visão tradicional, a dos avaliadores.
MIC - Qual foi o fator inspirador que gerou seu tema de tese?
Pittaluga- O fato de a distribuição da Bolsa ser um instrumento de poder
nas mãos dos comitês assessores do CNPq, aliado à pouca transparência
no processo decisório. Em última instância, esse processo envolve a
distribuição de recursos públicos, em que a transparência é fundamental,
até como forma de prestar contas à sociedade.
26 * Revista do MIC
MIC - Quais seriam as contribuições de destaque de sua tese? Por quê?
Pittaluga - Pelo lado do método, geralmente aplicado na avaliação de
organizações ou unidades organizacionais, representa um novo campo
de pesquisa – a medição de desempenho de pesquisadores. No
tocante à gestão de C&T, a tese abre um espaço importante no uso
de métricas quantitativas aplicadas à C&T. Contudo, a principal
contribuição está na possibilidade real de auxiliar na otimização
dos recursos públicos, pois o modelo proposto pode servir como
referencial entre o que o indivíduo pensa ser o perfil ótimo de um
pesquisador e aquele traçado pelos comitês assessores.
MIC - Quais foram os passos que definiram sua metodologia de
trabalho?
Pittaluga - Primeiro, a escolha do tema. O fundamental foi
trabalhar com algo que eu já conhecia e de que gostava (uso de
ferramentas quantitativas na gestão de C&T). Em segundo lugar,
definir o objeto de análise (pesquisadores e a Bolsa de
Produtividade em Pesquisa). Em terceiro lugar, escolher a
ferramenta, no caso o DEA. A escolha do objeto de análise permitiu
definir o problema de pesquisa; com o método, foi possível delinear
os objetivos. Depois, vieram os passos seguintes, tradicionais em
uma tese, como a revisão da literatura, escolha do modelo
apropriado e os testes para validação do modelo. É importante
salientar que a revisão da literatura foi em muito facilitada pelo
conhecimento prévio do tema.
Arquivo MIC
MIC - Por que sua tese é um trabalho de doutorado?
Pittaluga- Porque aplica uma variante pouco utilizada de um método
MIC - Em termos percentuais, quanto você teve de inspiração e de
transpiração para fazer esta tese?
Pittaluga - À primeira vista, parece que a transpiração sobrepõe-se à
inspiração. Mas, pensando friamente, a inspiração é a que toma mais
tempo, não sei precisar quanto. A cada leitura surgem novas idéias, que
exigem reflexão e abrem novas perspectivas quer para a tese quer para
outras pesquisas.
MIC - Qual é o fator de ineditismo crucial ao seu trabalho?
Pittaluga - Pela primeira vez, o pesquisador que se candidata à Bolsa de
Produtividade em Pesquisa tem condições, via Internet, de obter sua
produtividade segundo sua ótica particular do que é a boa ciência e ter
seu desempenho comparado com o dos demais candidatos.
MIC - Qual foi o maior fator de dificuldade para
a conclusão de sua tese? Por quê?
Pittaluga - Esse é um ponto importante, pois a maior dificuldade, na
realidade, foi a maior oportunidade. Paralelamente ao desenvolvimento
da tese, foi organizado um grupo de pesquisa em torno da avaliação
quantitativa, que resultou na criação do Laboratório de Avaliação
Institucional. Então, o tempo passou a ser dividido entre a tese e o
Laboratório. As perspectivas abertas pelo último transformaram a
dificuldade de conciliar o tempo entre ambos em oportunidades de futuros
trabalhos.
MIC - Que temas de mestrado citaria como pesquisas futuras plausíveis
sobre sua tese?
Pittaluga - Há campo para temas em duas vertentes: (i) na gestão de C&T,
há um bom campo para utilização de ferramentas de medição de
desempenho, não só de pesquisadores como também de grupos ou redes
de pesquisa, pois a base de dados, a Plataforma Lattes, além de confiável
e robusta, é pública; e (ii) no caso específico do método utilizado, este
pode ser depurado e adaptado a outras situações específicas, como, por
exemplo, na medição de desempenho de outros grupos de pesquisadores,
que têm forte envolvimento com geração de tecnologia.
Veja esta matéria na íntegra, incluindo as seções “Bolsa de produtividade em pesquisa”, “Avaliação pelos pares” e “DEA: o que é?”,
no endereço http://www.mic.ufsc.br/index.php?url=segunda_edicao/conteudo/int_pitareportagem.htm.
Revista do MIC - 2002/2003
www.mic.ufsc.br
.:NOTA VERMELHA NA REDE
Universidades ainda não
sabem vender seu
peixe pela
Internet
UFSM - o melhor do Sul do Brasil
UFRGS - site sem estrutura de portal
UFSC - agrupamento de páginas
UFPR - necessidade do uso acentuado de rolagem
Novembro de 2002
Por Felipe Zylbersztajn
s websites não são uma boa opção se
você pretende conhecer um pouco
melhor as universidades federais do Sul
do Brasil. Segundo a análise do mestrando em
Engenharia de Produção José Roberto dos
Santos, essas instituições ainda
não atingem o público de maneira
apropriada quando se apresentam pela rede. O trabalho avaliou
os websites das universidades
federais do Paraná, de Santa
Catarina, do Rio Grande do Sul e
de Santa Maria.
Os alunos da disciplina de
Jornalismo On-line do Programa
de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da UFSC
(Universidade Federal de Santa
Catarina) analisaram vários
segmentos da web usando
critérios como conteúdo, webdesign, funcionalidade e
interatividade. “Optei por estudar o segmento das
universidades, pois é um ambiente com o qual me identifico”,
explica José Roberto. Ele conta que sua filha, Simone Mara
Pereira dos Santos, de 18 anos, foi quem chamou a sua
atenção para a situação desses sites ao pesquisar as páginas
de universidades para o vestibular.
De acordo com o estudo, o site da Universidade Federal
de Santa Maria é o melhor das universidades federais do Sul
do Brasil, o único que utiliza a web de maneira adequada.
“Os outros três são, em essência, um agrupamento de
diversas páginas, sem estrutura de portal web”, argumenta
José Roberto. A falta de estrutura torna a navegação
complicada e enfadonha, afugentando os internautas. “A
maioria das universidades enfocadas não sabem ‘se vender’
aos alunos em potencial”, argumenta ele.
Muitos dos problemas encontrados contrariam as regras
básicas da web. A falta de um endereço para contato (UFPR,
UFSC), de links para retorno à primeira página (UFPR, UFSC,
UFRGS) e de ícones sempre no mesmo lugar (UFPR, UFSC,
UFRGS) ilustra o pouco cuidado das instituições com suas
representações on-line. “Encontrei notícias com três dias
O
27 * Revista do MIC
Veja esta matéria no endereço http://www.mic.ufsc.br/index.php?url=int_analisesites2.htm.
Site da UFSM - http://www.ufsm.br/ Site da UFPR - http://www.ufpr.br/
Site da UFRGS - http://www.ufrgs.br/ufrgs/ Site da UFSC - http://www.ufsc.br
Arquivo MIC
de atraso no
site da UFSC e
textos cortados por falta de espaço no site da UFPR”,
reprova o mestrando. Conforme o ranking feito por José
Roberto, a UFSC aparece em segundo lugar, seguida
pela UFRGS e UFPR, respectivamente. “Acho que as
universidades investem muito pouco na web,
contratando estagiários que não dão continuidade ao
processo”, considera.
Segundo a professora Rita Paulino, é inadmissível
que instituições que possuem cursos como Comunicação
Social, Design e Computação não formem equipes para
desenvolver seus sites. “O desenvolvimento de um site
requer uma equipe multidisciplinar, uma equipe que
saiba trabalhar design, informação e tecnologia”,
considera. José Roberto concorda que esse tipo de
trabalho deveria ser feito por uma só equipe que
padronizasse todo o conteúdo, como ocorre na UFSM.
“Não se pode desprezar um instrumento com tamanho
potencial, como é a Internet. O jovem estudante
procura uma página mais dinâmica quando pesquisa o
seu futuro na Internet”, observa.
Revista do MIC - 2002/2003
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.:DEMOCRATIZAÇÃO DO CONHECIMENTO
Banco de Teses e Dissertações
completa um ano e meio na rede
Maio de 2002
Por Felipe Zylbersztajn
E
28 * Revista do MIC
Versão original da biblioteca
virtual data de 1995. Esta é a
interface atual do BTD
Arquivo MIC
m junho de 2002, o Banco de Teses e
Dissertações (BTD) do Programa de PósGraduação em Engenharia de Produção
(PPGEP) da UFSC completa um ano e meio de
disponibilidade pela Internet. No endereço http://
teses.eps.ufsc.br é possível ler, na íntegra, mais de
900 trabalhos, 605 deles em PDF (dados de abril de
2002), de mestrandos e doutorandos do Programa.
Desde o seu surgimento até abril de 2002, a biblioteca
digital já recebeu 95 mil acessos, comprovando sua
pertinência.
Já que a formação de mestres e doutores depende
em grande parte de recursos públicos, nada mais
justo que a universidade apresente o resultado desses
investimentos à sociedade. Um pensamento simples
que vem rendendo bons frutos aos alunos do PPGEP.
“Várias pessoas já me procuraram depois de terem
acessado minha dissertação no BTD”, conta o
engenheiro de alimentos Cassiano Bringhenti, autor
do quinto trabalho mais procurado do site, intitulado
“Fundamentos para implementação de pequenas e
microempresas de alimentos”. “Cheguei até a receber, em
casa, uma monografia em que a pessoa usou um dos testes
desenvolvidos na minha dissertação. Esse intercâmbio foi
possível através do BTD”, explica Bringhenti.
“A idéia é fazer do site uma fonte de consultas para
empresários, instituições financeiras e formadores de
opinião, além da própria comunidade acadêmica”, conceitua
Cid Raulino de Andrade Jr., da equipe de
desenvolvimento do BTD. Ao todo, o banco reúne
informações sobre as 2.985 teses e dissertações
defendidas no PPGEP desde 1970. Os dados disponíveis
estão divididos em sete áreas: informações gerais,
defesas marcadas ou recentemente realizadas, acesso
aos documentos e às informações sobre trabalhos
defendidos, serviço de marcação de defesas,
estatísticas sobre os trabalhos, links relacionados ao
BTD e indicadores de trabalhos mais acessados.
O link mais procurado é o que permite o acesso aos
documentos completos disponibilizados no site. A
combinação de parâmetros permite buscas temáticas
nos trabalhos. O termo “centrais de frete”, por
exemplo, aponta seis dissertações defendidas no PPGEP
entre 1988 e 1993. Além da busca por termos, o usuário
pode filtrar sua consulta por orientador, examinador,
tutor de orientação (doutorando que co-orienta trabalho
de mestrado), área de concentração, nível (mestrado,
qualificação e doutorado) e ano de defesa do trabalho.
Na seção de rankings, pode-se descobrir, por exemplo,
que a tese de Macul Chraim “Aliança empresarial no setor
de transportes: estratégia para dinamizar o transporte de
encomendas em ônibus” é a mais pesquisada do Programa,
com 1.829 visitas. O autor do trabalho se vê com surpresa
no topo do ranking. “Não imaginava tamanha procura. Se
fizermos as contas, constataremos que minha tese recebe
mais de dois acessos diários”, nota Chraim.
A área de Gestão da Qualidade e Produtividade é a mais
pesquisada, com 23,6% do total das consultas, seguida pela
área de Mídia e Conhecimento, com 16,7%. “O segundo link
mais visitado do site é o que divulga as defesas marcadas e
defendidas recentemente”, conta Cid de Andrade.
A principal novidade do BTD tem sido a possibilidade de
procura por palavras-chave no resumo dos trabalhos
disponíveis. “Até o final de 2001, a procura era limitada ao
título da tese ou dissertação”, esclarece Cid de Andrade.
Outra novidade é a implantação do link para o currículo Lattes
do pós-graduando, na página de sua tese ou dissertação.
Até maio deste ano, a equipe do Grupo Stela havia
disponibilizado o currículo de mais de 1.020 alunos.
O aluno do PPGEP que desejar disponibilizar seu trabalho
no BTD não precisa se preocupar. A digitalização dos trabalhos
é feita a partir dos arquivos entregues pelos pós-graduandos
para a obtenção do título de mestre ou doutor à secretaria
do Programa.
Revista do MIC - 2002/2003
www.mic.ufsc.br
que atualmente é bolsista de mestrado no Laboratório Stela.
O trabalho de Elaine começou em junho de 2001 na
O BTD (Banco de Teses e Dissertações) do PPGEP da UFSC secretaria do Programa. Durante um mês, ela recolheu dados
nasceu em 1995 (cerca de um ano após o surgimento dos referentes aos 25 primeiros anos do PPGEP. Todas as defesas
navegadores Netscape e Mosaic), com a finalidade de ocorridas entre 1970 e 1995 no PPGEP foram conferidas
disponibilizar esses trabalhos a todos os seus alunos, através das atas arquivadas na secretaria.
Com uma planilha Excel, Elaine fez uma
Quando as prateleiras eram o único destino
lista de todas as teses e dissertações
dos trabalhos acadêmicos, grandes idéias não
defendidas no PPGEP até 1995.
alcançavam toda a sociedade. Hoje, além de
O próximo passo foi ir atrás das
encadernadas, as teses e dissertações também estão
defesas
nas estantes da Biblioteca
disponíveis em formato digital.
Universitária.
Com a lista em mãos,
A ação popularizou a pesquisa e
Elaine Bianchini procurava o número de
aproximou cientistas
e público
cada um dos trabalhos para poder
cadastrá-los devidamente. “Fiz isso até
novembro”, lembra.
De cada trabalho, Elaine copiou o
resumo com o seu scanner de mão.
Muitas das defesas haviam se perdido
com as enchentes, mas as que puderam
ser pesquisadas tiveram o seu resumo
salvo e cadastrado no laptop.
Os dados resgatados na Biblioteca
Universitária foram posteriormente
cadastrados por Elaine no Laboratório
Stela. “Recebi muita ajuda da Rosângela
Della Vechia nesses tempos”, recorda
Elaine.
Para o responsável por teses,
orientadores, pesquisadores e gestores, destacando a dissertações, audiovisuais e auditórios da Biblioteca
transparência no processo de produção do Programa. Para a Universitária, Élson Mattos, esse tipo de iniciativa é louvável.
digitalização das dissertações, foi constituída uma equipe “Temos falta de espaço e de pessoal. Se todas as teses e
de digitalizadores que transformou os arquivos em formato dissertações fossem disponibilizadas pela Internet, facilitaria
binário DOC (próprio de editores de texto como Word e muitas coisas aqui na biblioteca”, opina o funcionário.
StarOffice) para o formato HTML. A primeira dissertação do Para ele, a iniciativa do BTD do PPGEP significa um avanço.
“Além de tudo, é uma atitude ecologicamente correta”,
PPGEP foi colocada no site do programa no início de 1996.
Em 2000, o Grupo Stela reuniu o conjunto de arquivos lembra Élson.
digitalizados no BTD unindo-os à Plataforma de
Gestão Acadêmica do PPGEP/UFSC através de
links entre os arquivos e os correspondentes
registros administrativos das teses e
dissertações defendidas no Programa. O site foi
lançado em dezembro do mesmo ano. Em maio de
2001, completaram-se 23 mil acessos. Em menos de
um ano de funcionamento, já eram 59 mil. Até abril
de 2002, mais de 92 mil pessoas pesquisaram
na página do Programa.
A bolsista do PPGEP Elaine Bianchini
desempenhou um papel muito importante
para que o BTD do PPGEP fosse o mais
completo possível. Como o BTD foi ao ar em
1995, todas as defesas anteriores a esse
período tiveram de ser “resgatadas” das
Cid Raulino de Andrade Jr.
prateleiras da Biblioteca Universitária para
equipe de desenvolvimento
que seus dados fossem inseridos no banco.
do BTD
“Foram quase seis meses de trabalho com um
laptop e um scanner de mão”, recorda Elaine,
HISTÓRIA
Arquivo MIC
Veja esta matéria no endereço http://www.mic.ufsc.br/index.php?url=int_bancodeteses.htm.
29 * Revista do MIC
Arquivo MIC
“A idéia é fazer do site
uma fonte de consultas
para empresários,
instituições
financeiras e
formadores de
opinião”
Revista do MIC - 2002/2003
www.mic.ufsc.br
.:GAV - GRUPO DE ENGENHARIA E ANÁLISE DO VALOR
Corrigir para crescer
Março de 2002
Por Felipe Zylbersztajn
que faz uma pequena empresa
de velas sem capital de giro,
matéria-prima ou dinheiro para
novos investimentos reformular sua
estrutura a ponto de receber o Prêmio
Talento Empreendedor num período de
um ano e meio a partir das primeiras
mudanças? A resposta é encontrada no
Programa de Pós-Graduação em
Engenharia de Produção (PPGEP) da
UFSC, mais especificamente, no
laboratório do Grupo de Engenharia e
Análise do Valor (GAV).
Por indicação do Sebrae, a empresa
de velas Hocus-Pocus (http://
w w w. v e l a s h o c u s p o c u s . c o m . b r )
procurou a consultoria prestada pelo
GAV Empresarial, parte do grupo
especializada no atendimento às
pequenas e microempresas, e virou
destaque nacional em pouco tempo.
Há oito anos, o GAV ampliou seu
foco de atuação, e as ferramentas
utilizadas na melhoria das tecnologias
e nos problemas de gestão passaram a
ser adaptadas para as pequenas e
microempresas. Assim, surgiu o GAV
Empresarial, hoje um dos núcleos do
GAV. “Desde então, foram mais de cem
empresas atendidas, e estamos
obtendo ótimos retornos”, explica o
engenheiro Dante Juliatto, coordenador
e consultor do GAV Empresarial.
“Estávamos em uma situação
desesperadora quando procuramos o GAV”, conta Ulisses Nunes,
gerente de produção da HocusPocus. O caso foi avaliado pelos
consultores do GAV, que
enxergaram um potencial criativo
na empresa, apesar de constatar
erros de foco de mercado, de foco
de produtos e ineficiência na
gestão de negócios. O GAV
montou
um
projeto
de
organização
do
processo
produtivo, com uma nova
concepção da linha de produção
de velas.
Com as mudanças, a HocusPocus ganhou mercado, tendo de
duplicar a sua área de produção.
Arquivo MIC
30 * Revista do MIC
O
Time do GAV:
consultoria
Para Ulisses Nunes, o resultado foi
excelente. “O GAV trouxe uma
organização, uma didática para nossa
empresa. Quando não se tem alguém
para nos indicar uma direção, perdese muito tempo experimentando coisas
novas”. O número de pedidos não
parava de crescer, obrigando a
organização,
que
tinha
três
funcionários, a aumentar o quadro para
15. A Hocus-Pocus passou a enfrentar
um problema que todo empresário
gostaria de ter: uma demanda altíssima
de produtos. “Nossa empresa havia
crescido muito e tivemos que chamar
o grupo novamente”, recorda Ulisses.
Segundo o consultor do GAV
Empresarial Alexandre Hering de
Queiroz, trata-se de um processo
natural. “As empresas, quando são
muito pequenas, não têm condições de
assimilar todas as ferramentas que
temos a oferecer. Então ocorre a
condição de crescimento em que
utilizamos processos mais simples até
que elas comecem a entrar num
esquema de produção industrial. Depois
que elas evoluem a esse ponto e atingem
um certo nível de maturidade, podemos
entrar com ferramentas mais
aprimoradas em seu processo”.
Um novo projeto foi criado junto ao
Sebrae através do PATME, programa
que consiste no subsídio de
consultorias tecnológicas para as
empresas de pequeno porte, através de
recursos a fundo perdido. O novo
projeto incluía a mudança da empresa
para um galpão industrial, a
reorganização de todo o processo
produtivo de trabalho e a aquisição de
novos equipamentos.
MULTIDISCIPLINAR
Em muitos casos, o GAV Empresarial
recorre a outros cursos e laboratórios
da UFSC para que a consultoria possa
ser a mais adequada. Com a HocusPocus, por exemplo, a equipe teve de
entrar em contato com outros setores
da universidade para estudar a química
das velas. “A multidisciplinaridade do
GAV é um diferencial muito importante
na hora de nossas indicações”, revela
o coordenador do PATME, Sérgio
Henrique Pereira. Segundo Sérgio, o
PATME conta com 25 instituições
cadastradas para prestar os serviços de
assessoria aos pequenos empresários,
entre eles o GAV, que já tem uma
parceria de cerca de sete anos com o
Sebrae. “O GAV nos dá a segurança de
um bom trabalho, já que a equipe
domina as metodologias que aplica e
vai direto ao ponto principal do
problema. É um trabalho focado em
resultados”, garante ele.
“A Engenharia de Produção trabalha
com o processo produtivo. Varia o
Revista do MIC - 2002/2003
www.mic.ufsc.br
produto, mas não a lógica”, explica
Alexandre Hering de Queiroz. Segundo
os consultores do GAV Empresarial, os
problemas que as pequenas e
microempresas apresentam são muito
parecidos. “Muitas vezes aquele
problema que o pequeno empresário
reclama é só a ponta de um iceberg.
Em 90% dos casos o que ele aponta é
aquilo que está aparente, mas existem
problemas mais profundos a serem
resolvidos”, conta Dante Juliatto. Para
ele, o grande desafio dos consultores
do GAV Empresarial é tratar de todos
os aspectos de uma empresa ao mesmo
tempo. “Na pequena empresa, temos
que entender de marketing, de custos,
de programação e produção, de
gerenciamento. O empresário quando
nos chama está carente em todos esses
aspectos”.
O que mais chega ao GAV são
problemas de gestão. “Cerca de 90%
das empresas que nos procuram estão
com aquele problema básico de não ter
controle de caixa, de não saber quanto
custa a fabricação de um produto, de
não saber de quanto é o faturamento,
como está o aproveitamento da mãode-obra, os níveis de produtividade e
os problemas de processo de
fabricação. Todos eles relacionados à
gestão. Nas pequenas empresas fica
difícil distinguir o que é o processo de
gestão do processo de fabricação. As
coisas estão relacionadas e ligadas
apenas à figura do empresário. A
maioria deles cria suas empresas a
partir de alguma habilidade. Porém,
precisam de estrutura para manter o
negócio, divulgá-lo e organizá-lo.
Então, fornecemos as ferramentas
para suprir as falhas adjacentes e
imprescindíveis ao bom funcionamento
da empresa”, explica Dante Juliatto.
Ulisses, da Hocus-Pocus, lembra que o
GAV Empresarial trouxe a noção de
planejamento para sua empresa.
“Muitas vezes vendíamos nossas velas
tendo prejuízo, pois a gente não
conseguia saber o preço real de nosso
produto. Não basta simplesmente ter
o know-how de fazer velas; não adianta
dizer: vou abrir uma empresa, se você
não tiver a noção de que não está
apenas produzindo e vendendo”.
RESULTADOS
Com o estudo feito sobre a empresa
assessorada, o GAV Empresarial procura
atacar os pontos estratégicos que dão
resultados. A Hocus-Pocus é um
exemplo disso. Segundo os consultores
do GAV, a empresa aumentou seus
rendimentos em cerca de 100 vezes,
recrutou mais de 30 novos empregados
(a empresa agora trabalha em dois
turnos), melhorou a qualidade dos seus
produtos e reduziu as falhas gerenciais.
“Além do retorno ao microempresário
há o retorno para a comunidade,
através da geração de empregos e do
oferecimento de melhores produtos”,
lembra Dante Juliatto.
As mudanças renderam o Prêmio
Talento Empreendedor à empresa no
Perfil do
laboratório
O
Grupo de Engenharia e Análise
do Valor (GAV) foi fundado no
final de 1988 a partir da estrutura do
Laboratório de Projeto de Produto, com
o objetivo de desenvolver atividades
de extensão, uma vez que seus
integrantes trabalhavam com
pesquisas que poderiam ser postas em
prática junto às empresas. Foi criado
e estruturado dando ênfase ao conceito
de valor. Na verdade, é um conceito
aplicado no cotidiano. Qualquer análise
que se faça da relação custo x benefício
– que benefícios vou ter diante dos
esforços que vou ter de empreender?
– é uma configuração do conceito de valor.
Isso é aplicado nas empresas, não
só para fazer a negociação com elas
como para apresentar saídas para
seus problemas.
Hoje, o GAV conta com
aproximadamente 50 integrantes,
entre orientandos e professores
(dentro da área de qualidade e
produtividade), além de alunos de
graduação. O laboratório está
dividido em três núcleos: GAV
Projetos – atua no atendimento às
empresas de grande porte; GAV
Ambiental – cuida da área
ambiental; e GAV Empresarial –
atua no atendimento às pequenas
e microempresas.
Veja “Corrigir para crescer” e “Perfil do Laboratório” na íntegra, respectivamente, em http://www.mic.ufsc.br/index.php?url=conteudo_seg/int_gav.htm
e http://www.mic.ufsc.br/index.php?url=conteudo_seg/int_gaperfil.htm, mais as retrancas “O GAV é um anjo que apareceu em nossa empresa” e
“Redes de empresas”.
31 * Revista do MIC
Arquivo MIC
Modelos de velas produzidas
pela empresa Hocus-Pocus,
cliente do GAV
ano 2000. “Fizemos o case da HocusPocus e o inscrevemos na categoria
indústria”, conta Alexandre. A empresa
que havia pouco tempo estava endividada, disputou com indústrias de
todo o estado e teve o seu trabalho
reconhecido e admirado. “Foi um
momento de grande satisfação para a
empresa”, revela Ulisses Nunes.
Os consultores do GAV Empresarial,
porém, são categóricos: o GAV não faz
nada sozinho. “É importante ressaltar
que é um trabalho de parceria e que o
mérito é da empresa. Nosso trabalho
só funcionou porque eles estavam
abertos às nossas orientações e têm o
espírito empreendedor”.
Revista do MIC - 2002/2003
www.mic.ufsc.br
.:DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
O BTD (Banco de Teses e Dissertações) é uma biblioteca digital que permite
o acesso sem custo às teses e dissertações defendidas no PPGEP
(Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção). O MIC não é responsável,
no entanto, pela inclusão dos trabalhos acadêmicos nesse banco.
A DISSERTAÇÃO DE MESTRADO de Maria Benedita da Silva Prim pode ser
encontrada no endereço http://teses.eps.ufsc.br
Banquete jogado fora
Fevereiro de 2003
Por Marcelo Tolentino
Ilustração: Luiz Otávio Costa
O BICHO
Manuel Bandeira
Vi ontem um bicho
Na imundice do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava,
Engolia com voracidade.
Paradoxo brasileiro: de um lado, a abundância de um país cujo povo é campeão de O bicho não era um cão,
desperdício. De outro, a angústia dos 50 milhões de famintos estimados pelo IBGE
Não era um gato,
Não era um rato,
olo e suco de cascas de maçã, torta fria e pizza que nos produtos
O bicho, meu Deus, era um
colorida de legumes. De quebra, pão integral tradicionalmente
homem...
de talos e cascas de banana à milanesa. Eis c o n s u m i d o s ” ,
algumas receitas baratas e nutritivas que garante Benedita, que seguiu os rastros das toneladas
podem ajudar a combater o desperdício e a fome no perdidas desde a fase de colheita até a comercialização na
Brasil. É o que afirma a mestre da UFSC, professora Ceasa (Central de Abastecimento) de São José, em Santa
Maria Benedita da Silva Prim, 40 anos, responsável por Catarina. Como estudo de caso foram analisadas a beterraba,
pesquisa que é literalmente um prato cheio para o a cenoura e a couve-flor. Além da aplicação de questionários
programa “Fome Zero” de Lula (http:// em 50 comerciantes locais e 80 agricultores de Florianópolis
e cidades vizinhas. Os resultados assustam.
www.fomezero.gov.br).
Embora as estimativas da Fundação Getúlio Vargas
Segundo Benedita, que também é bióloga, cada
pessoa produz, em média, 800 gramas de lixo por dia. apontem que 30% dos 176 milhões de habitantes sofrem com
Do total, 60% desse material é orgânico e, portanto, a falta de comida, “o desperdício ainda reina em diversos
consumível. Baseando-se em dados como esses e cantos do Brasil”, adverte Benedita. Após pesar as partes
convencida de ter em mãos uma arma contra a escassez utilizadas e desprezadas dos legumes estudados, ela
de comida, ela decidiu provar que nem só a despensa descobriu que somente os estabelecimentos atendidos pela
guarda matéria-prima para pratos saborosos. Começou Ceasa de São José desperdiçam R$ 70 mil todos os anos. Um
comendo o lixo doméstico de sua casa. É isso mesmo! valor referente ao que não é utilizado no consumo humano e
A família da pesquisadora, vinda do interior de São considerando o preço médio de R$ 0,47.
No campo, o descaso é ainda maior. Perde-se cerca de
Paulo, já tinha o hábito de consumir partes de verduras
tradicionalmente não utilizadas, como talos, cascas e 21,1% da produção, ou seja, a quantia de R$ 600 mil por
folhas. “Podemos encontrar mais nutrientes no lixo do ano, incluindo nesse caso partes comercializadas e não-
32 * Revista do MIC
B
Revista do MIC - 2002/2003
www.mic.ufsc.br
Arquivo MIC
comercializadas. São várias as causas do extravio
indiscriminado de alimentos. Na esfera comercial estão
principalmente o transporte inadequado e a falta de preparo
dos vendedores na hora do armazenamento.
Dentro da central estudada, Benedita teve ainda acesso
às “notas vermelhas” de outras fontes de abastecimento de
Santa Catarina. Somando o desperdício de beterraba, cenoura
e couve-flor das centrais de Blumenau, Tubarão e São José,
a perda revelada foi de 15 toneladas por ano, o equivalente
a R$ 4 milhões.
O retrato do desperdício fica mais palpável quando
Benedita coloca na ponta do lápis quantas cestas básicas
poderiam ter sido compradas com o dinheiro jogado fora na
zona rural, comercial e pelo Ceasa de São José. Levando-se
em consideração valores de 2001, o cálculo revelou que, se
a quantia fosse gasta em comida, cerca de 542 mil carentes
teriam a chance de levar para casa 86 mil cestas. Os
alimentos seriam suficientes para garantir as refeições
durante um ano.
É nas feiras e nos
supermercados que
Benedita coloca em
prática as idéias da
dissertação. Ela
nunca rejeita as
pequenas hortaliças
ou os produtos com
leves cortes
NOVO RUMO
FÉ NA OBSESSÃO DE LULA
O projeto de garantir o café, o almoço e a janta aos 50
milhões de famintos apontados pelo IBGE (Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística), cuja renda diária não chega a
um dólar, pode não passar de um fast food, previne Benedita.
Apesar de todo o barulho causado pelo discurso de posse do
presidente, Benedita acredita que o “Fome Zero” pode falhar
se não tiver os contornos de um programa educacional. Com
a postura de quem tem experiência no assunto, a
pesquisadora se preocupa com o velho e preconceituoso
significado do lixo. Se as sobras de mercados e restaurantes
forem realmente reutilizadas, como pensa o ministro José
Graziano, da Segurança Alimentar, “será necessário
convencer o povo de que lixo orgânico não é comida de pobre,
mas de todo mundo”, salienta Maria Benedita, acrescentando:
“Campanhas publicitárias, trabalhos em escolas e localidades
serão estratégicos”.
TAMANHO NÃO É DOCUMENTO!
cena é corriqueira. Donas-de-casa disputam nas
seções de vegetais as batatas maiores e
descartam as menores, que acabam tendo o
destino cruel das lixeiras do supermercado. O exemplo
ilustra a temida padronização de alimentos, afirma
Maria Benedita, preocupada com o hábito que
consumidoras têm de escolher os hortigranjeiros
maiores – cheios de agrotóxicos – e desprezar os
menores.
Durante os dois anos de produção de seu trabalho,
Benedita observou o
“Batatas
comportamento de
pequenas
mulheres na hora
também
de selecionar a
precisam
matéria-prima
ter vez!”
das saladas.
“Ela apalpa,
Arquivo MIC
vasculha, mede e
não perdoa furos, manchas, cortes leves ou hortaliças
pequenas”, critica. A mania agrava ainda mais o quadro
da fome no país, sendo que os comerciantes poderiam
estabelecer preços mais acessíveis para os produtos
descartados pela maioria. Assim, as famílias menos
favorecidas teriam acesso a mais alimentos. “É outro
ponto que Lula deverá enfocar em uma suposta
campanha contra a fome”, sugere Benedita. continua
A
33 * Revista do MIC
Do total de beterraba, cenoura e couve-flor
desconsiderado pelos comerciantes (ramas, folhas, entre
outros), apenas 35% são reaproveitados para consumo
humano. Sofrendo com o encalhe de produtos fora do
tamanho-padrão ou com machucados causados por enxadas
– problemas que as donas-de-casa não perdoam – agricultores
costumam consumir somente 32,2% da sobra das vendas. O
restante, tanto na zona rural quanto urbana, vira alimento
de animais, é levado pelos caminhões da prefeitura e, em
último caso, enterrado como adubo. “Não sei como tanta
gente morre de fome num país tão rico”, questiona Maria
Benedita, cujos ensinamentos dariam inveja à equipe de
Segurança Alimentar do governo Lula. A vontade de oferecer
outro destino aos resíduos além dos sacos plásticos nasceu
na Escola Básica Professora Claudete Maria Hoffmann
Domingos, em Palhoça (SC), a 11 quilômetros de Florianópolis
(veja matéria na página 34). Desde 1995, sua disciplina de
Ciências ajuda a reaproveitar os resíduos da merenda escolar
e o lixo da comunidade local.
Junto aos alunos, Benedita descobriu as diferentes
vantagens dos dois “erres” – reduzir e reaproveitar –, como
ela mesma faz questão de expressar. “A mídia dá muita ênfase
para a reciclagem, que é o terceiro ‘r’. Mas ninguém fala
que esse processo é caro, envolve gasto de energia e de
água. É por isso que os restos orgânicos devem ter
preferência”, observa a professora.
Revista do MIC - 2002/2003
www.mic.ufsc.br
.:DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
O pontapé inicial na cruzada
contra a fome e o
desperdício
epois que a professora e bióloga Maria Benedita da Silva Prim passou a
reaproveitar as sobras do recreio, nunca mais a barriga dos alunos roncou durante
as aulas. O trabalho de reutilização do lixo, promovido há sete anos na escola
Professora Claudete Hall Domingos, matou vários coelhos com uma só cajadada.
Saciou a fome de alunos, evitou a degradação ambiental e tornou mais divertida a aula
de Ciências. “Como a maioria era carente e não se alimentava direito em casa, muitos
acabavam faltando às aulas devido a problemas como subnutrição”, relata Benedita,
responsável também por oficinas ministradas à comunidade.
As merendeiras desperdiçavam produtos como frutas, verduras e legumes muitas
vezes em bom estado. As maçãs, por exemplo,
não eram consumidas na merenda por exibirem
pequenas manchas ou furos.
Assustada com o quadro, o primeiro passo
Receitas de
de Benedita foi transformar a classe em um
Benedita
verdadeiro laboratório de pesquisa.
motivam a
Começaram a buscar bibliografia e a relacionar
dona-de-casa a
o desperdício com a questão ambiental, a falta
reaproveitar,
de saúde e a economia doméstica. “Minhas
por exemplo,
aulas ganharam perfil multidisciplinar”,
cascas de
frutas e todas
comemora a professora, referindo-se ao fato
as folhas das
de ter despertado o interesse por matérias
verduras
como ecologia e matemática.
O sucesso das receitas exclusivas da
disciplina de Ciências ampliou os horizontes
da proposta. Surgiu então a idéia de uma feira
para difundir ainda o reaproveitamento do lixo.
Entre os painéis, pratos como bolos, sucos, pizzas e até mesmo cosméticos feitos com
matéria orgânica.
D
O combate ferrenho de Maria Benedita ao desperdício de comida
culminou na dissertação “Análise do desperdício de partes vegetais
consumíveis”, um produto final que, segundo Benedita, será entregue
ao governo federal por sua orientadora, a doutora Edis Mafra
Lapolli. “Tenho certeza de que o trabalho poderá ajudar o
governo federal a travar uma luta mais justa contra a fome”,
torce a mestre, enquanto articula o doutorado e pensa na
elaboração de um livro de dicas e receitas, que podem ser
acessadas no endereço (http://www.mic.ufsc.br/
index.php?url=int_dicasereceitas.html).
Ilustrações: Arquivo MIC
34 * Revista do MIC
COLHENDO OS FRUTOS
Revista do MIC - 2002/2003
www.mic.ufsc.br
.:ENTREVISTA
Núcleo de Mídia Científica - Qual foi o principal fator de
inspiração de seu trabalho?
Benedita – Achei que com essa pesquisa eu poderia ajudar o
faminto ou aquela pessoa muito carente. Esse foi o principal
fator de inspiração, porque a maioria das pessoas não sabe
como usar folhas, talos ou cascas. Então pensei em aprender
a reaproveitar o lixo para depois repassar tudo à sociedade.
MIC - Quem será o principal beneficiado com os resultados
alcançados?
Benedita – Todos. Desde o mais rico até o mais carente,
além do meio ambiente.
MIC - Quais são as principais contribuições que você
destacaria em seu trabalho?
Benedita – Acho que a economia doméstica, porque a pessoa
economiza não jogando tudo fora. E também o melhoramento
da saúde, porque ela terá uma alimentação diversificada e
nutritiva.
MIC - Seu trabalho está inserido em que linha de pesquisa
do PPGEP? Por quê?
Benedita – Gestão Ambiental. Porque, reduzindo o
desperdício, damos vida útil aos aterros sanitários. Grande
parte do lixo é produto orgânico e não precisaria ser levado
pelos caminhões. Eu poderia usar na alimentação ou adubar
meu quintal. Além do mais, o preço desse serviço é muito
elevado. O município e o estado ganhariam muito
financeiramente.
MIC – Quais foram as principais dificuldades na produção
da dissertação?
Benedita – Além da falta de referências bibliográficas, a
ausência de uma bolsa. Como trabalho muito dando muitas
aulas o dia inteiro, nos dois anos em que produzi o trabalho
não tive folga nenhuma. Passei noites em claro.
MIC – O que recomendaria a outros mestrandos que
desejassem utilizar seu trabalho como ponto de partida?
Benedita – Recomendo pesquisas que ajudem o próximo e
que tenham resultados práticos mais imediatos. Existem
Veja esta matéria no endereço http://www.mic.ufsc.br/index.php?url=int_fome.html.
Em meio aos
legumes, verduras
e frutas, Benedita
assegura que o
“milagre da
multiplicação dos
alimentos” é
possível
muitas pesquisas que só servem pra ficar na prateleira, em
vez de provocarem transformações. Acho que um trabalho
muito interessante poderia ser em cima de hortas caseiras,
especialmente em apartamentos.
MIC - Agora que o trabalho está concluído, o que pretende
fazer em termos profissionais?
Benedita – Minha visão mudou bastante. Hoje eu gostaria
de trabalhar numa ONG, ou então em algum projeto do
governo. Não num gabinete, envolvida com trabalhos
burocráticos, mas movimentando uma comunidade.
MIC - Você pretende fazer doutorado? Será na mesma área
do mestrado?
Benedita – A orientadora sugeriu que eu continuasse o
trabalho na Ceasa. Mas analisando 20 ou 30 produtos para
poder retratar melhor o desperdício.
MIC - O que faria diferente se tivesse a chance de ter
começado sabendo o que sabe agora?
Benedita – Continuaria a avaliação na Ceasa. Porém,
também ajudaria uma comunidade próxima ensinando
como reaproveitar o lixo, incluindo os resultados na
dissertação.
MIC - O que o PPGEP fez por você e o que você fez
pelo PPGEP nesse período de mestrado?
Benedita – O programa fez muito por mim. Deu
oportunidade de viabilizar um trabalho desses no campo
da gestão ambiental. Ele deve dar espaço para projetos
sociais, e isso aconteceu comigo.
Fui muito bem recebida. Sobre o que fiz para o PPGEP,
posso dizer que ensinei algumas receitas para o pessoal
da minha sala e dei início a um trabalho pioneiro.
MIC - Você citaria algum trabalho (dissertação, tese
ou projeto) que foi decisivo para sua dissertação?
Quem foram os autores e onde foi desenvolvido esse
trabalho?
Benedita – Infelizmente, não achei nenhum trabalho que
falasse sobre desperdício de alimentos.
35 * Revista do MIC
Nome: Maria Benedita da Silva Prim
Área de atuação: Gestão ambiental
Área de origem: Biologia
Profissão: Professora Idade: 40 anos
Hobby: Ler e assistir a filmes Naturalidade: Paulista
Tipo de defesa: Dissertação
Título do projeto: Análise do desperdício de partes
vegetais consumíveis
Orientador: Professora Edis Mafra Lapolli, Dra.
Sinopse: Trata do desperdício como gerador de resíduos
orgânicos e da possibilidade de seu aproveitamento na
alimentação humana. Discute sobre a fome e resíduos, sua
geração e tratamento. Quantifica partes não utilizáveis de
amostra de verdura para determinação de resíduos gerados.
Apresenta resultado de pesquisa de campo com comerciantes
e agricultores. Finalmente apresenta discussão sobre dados
coletados.
Arquivo MIC
PERFIL
“Podemos encontrar muitos nutrientes no lixo!”
Revista do MIC - 2002/2003
www.mic.ufsc.br
.:DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Sistema recupera casos
semelhantes para
facilitar consultas
O BTD (Banco de Teses e Dissertações) é uma
biblioteca digital que permite o acesso sem custo
às teses e dissertações defendidas
no PPGEP (Programa de Pós-Graduação
em Engenharia de Produção). O MIC não é
responsável, no entanto, pela inclusão
dos trabalhos acadêmicos nesse banco.
A DISSERTAÇÃO DE MESTRADO de
Fabiano Duarte Beppler
pode ser encontrada no endereço
http://teses.eps.ufsc.br
Outubro de 2002
Por Felipe Zylbersztajn
36 * Revista do MIC
A
Pacheco, lembra que é comum os sites indicarem milhares ou
milhões de hits de procura. “Porém, há de se perguntar de
que forma o usuário que recém chegou nesse site pode se
valer dessas consultas para
Ferramenta acumula
encontrar mais rapidamente o que
o conhecimento de
procura. A questão sempre me
buscas anteriores e
intrigou”, revela.
facilita a vida de
Para tanto, a dissertação de
usuário, como se fosse
Fabiano empregou a metodologia
um “experiente
balconista” que
de Raciocínio Baseado em Casos
conhece
(RBC). Ela se baseia na
muito bem a “loja”
característica de se valer de
experiências passadas para a
resolução de problemas futuros. O
método utiliza uma base de casos
– equivalente à experiência do
segundo balconista de nossa
história – contendo a relação de
todas as pesquisas realizadas no
site e o perfil de cada uma delas.
“Se juntamente com os parâmetros
e ações de buscas guardássemos
os links visitados, poderíamos
recuperar os acessos a qualquer
momento”, conceitua Roberto
Pacheco.
Quando uma nova pesquisa for
feita, além dos resultados da busca
tradicional, o usuário receberá
uma relação de buscas similares já
realizadas. A relação é apresentada
em ordem de similaridade com a
expressão digitada. À medida que
o usuário desprezar as buscas
similares, por serem muito
genéricas, e fizer uma consulta
tradicional, o RBNet vai
continuamente aplicar funções de
similaridade, trazendo uma nova
lista de casos com usuários que
fizeram consultas dirigidas ao assunto procurado.
Se o RBNet for aplicado ao site do Google, por exemplo,
e estivermos procurando artigos na Internet sobre “combate
à fome”, o resultado bruto passa dos 4 mil itens. Imagine
que o usuário dessa busca selecione o terceiro link e a partir
daí trabalhe até encontrar o que desejava. Quando em outro
dia outro usuário escrever a mesma expressão de busca, o
RBNet dirá que há 4 mil itens e que houve uma consulta
Arquivo MIC
posto como já aconteceu com você. O balconista
da loja simplesmente não consegue encontrar o
item que você está procurando. Para poupar
tempo, ele pede
auxílio
a
um
funcionário mais experiente que
localiza o pedido em
pouquíssimo tempo. Parece
mágica, mas não é difícil
perceber o que havia por baixo
da manga do segundo
funcionário – a experiência com
clientes anteriores. Agora,
imagine o tempo poupado na
Internet se suas buscas
utilizassem o conhecimento das
consultas similares feitas
anteriormente. Pois um
“balconista mais experiente”
pode estar aparecendo em breve
nos sites de busca para auxiliar
suas pesquisas virtuais. Fruto
da dissertação de mestrado de
Fabiano Duarte Beppler, o RBNet
promete revolucionar a maneira
de se achar alguma informação
na rede utilizando funções de
similaridade.
Atualmente, o usuário
que
pesquisa
uma
informação num site de
busca tradicional (Yahoo,
Altavista, Google, etc.)
recebe uma relação de
links cujos conteúdos
podem abrigar o dado que
ele procura. A partir dos
detalhamentos de cada
link, ele visita os sites que
mais lhe interessarem até
encontrar o que deseja. Entretanto, todo conhecimento
adquirido na busca não é utilizado nas próximas
consultas. Ou seja, alguém que deseja obter a mesma
informação terá tanto trabalho quanto o primeiro
usuário. A ferramenta desenvolvida por Fabiano aplica
técnicas de inteligência artificial sobre as buscas,
fazendo com que buscas anteriores ajudem novos
usuários. O orientador da dissertação, professor Roberto
Revista do MIC - 2002/2003
www.mic.ufsc.br
semelhante (informando o grau de acordo com a expressão
de busca). Se o segundo usuário escolher também o terceiro
item, verá que a consulta do primeiro usuário aumenta em
similaridade. A partir daí, em vez de repetir as tentativas
do primeiro usuário, ele pode acionar os resultados e
rapidamente obter a mesma informação que o primeiro
usuário conseguiu após suas próprias tentativas.
Para demonstração de sua viabilidade, o RBNet foi
aplicado ao site de busca do “Diretório de Grupos de Pesquisa
no Brasil”, projeto do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq), durante a sua fase de
desenvolvimento. No diretório do CNPq, além do campo de
expressão para busca, ainda foram utilizados três tipos de
filtros – Instituição, Grande Área e Área – nas buscas
auxiliadas pelo RBNet. Segundo Fabiano Beppler, os resultados
foram muito satisfatórios.
Para o orientador Roberto Pacheco, a dissertação, além
de uma idéia inovadora, possui a pesquisa e a tecnologia
necessárias para torná-la realidade e uma aplicação real para
comprovar sua viabilidade. “Essas características nos levaram
a registrar o RBNet no INPI e garantir que esta ferramenta
possa servir a outros sites de consulta no futuro”. A
dissertação possui um capítulo que informa sobre o processo
de patenteamento e adverte sobre possíveis cópias.
.:ENTREVISTA
Instrumento arquiva dados de buscas
e aprimora a arte de achar na Internet
Fabiano propõe a construção da memória
das buscas nos sites
MIC - Quem será o principal beneficiado dos
resultados alcançados?
Beppler - Qualquer usuário que utilizar um site de
busca que possui a ferramenta RBNet.
MIC - Quais são as principais contribuições que
você destacaria?
Beppler - Destaco:
- auxílio para buscas de informações na Internet;
- maior velocidade na recuperação de informações
relevantes e visão mais abrangente do que se está
buscando relacionada à área da busca;
- como o RBNet utiliza conceitos de similaridade entre
buscas, há a possibilidade de visualização das buscas
similares em função do grau de semelhança. continua
37 * Revista do MIC
PERFIL
Núcleo de Mídia Científica - Qual foi o principal fator
de inspiração de seu trabalho?
Beppler - A dificuldade em encontrar a informação
necessária de forma rápida e eficiente, sem necessitar
visitar muitos sites recuperados de um site de busca. E a
utilização das informações das buscas de usuários,
desperdiçadas pelos sites de busca atuais, que podem
servir de subsídios para buscas de novos usuários.
Arquivo MIC
Nome: Fabiano Duarte Beppler
Área de atuação: Inteligência Artificial
Área de origem: Ciência da Computação
Profissão: Analista de sistemas
Idade: 26 anos
Hobby: Gosto de ler revistas e livros, principalmente.
Curto ficar horas navegando na Internet, jogar vôlei,
futebol e assistir a filmes, de preferência àqueles
do gênero ação.
Naturalidade: Brasileiro
Tipo de defesa: Mestrado
Título do projeto: Emprego de RBC para recuperação
inteligente de informações
Sinopse: A dimensão do volume de informações disponíveis
na Internet e as taxas diárias de crescimento tornam cada
vez mais presentes mecanismos eficientes e eficazes de
recuperação de informações. A maioria dos métodos
pesquisados e aplicados tem por base o tratamento das
informações disponíveis nos repositórios associados aos
sites. Nessa abordagem, um elemento de conhecimento é
normalmente negligenciado: a memória das interações
efetuadas pelos usuários que utilizaram o site antes do
usuário atual. A construção dessa memória viabiliza o
emprego de interações de busca do passado na apresentação
de informações desejadas no momento das consultas. A
presente dissertação propõe a construção da memória das
buscas aos sites na forma de casos de consulta e a aplicação
de Raciocínio Baseado em Casos para utilização dessas
interações passadas como subsídio para novos processos de
consulta. O método proposto deu origem à ferramenta RBNet.
Para demonstração de sua viabilidade, RBNet foi aplicada ao
site de busca do “Diretório de Grupos de Pesquisa no Brasil”,
projeto do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (CNPq). RBNet permite que usuários
interessados em grupos de pesquisa possam encontrar
rapidamente o que desejam, quando se valem das interações
semelhantes registradas na base de casos do RBNet.
Revista do MIC - 2002/2003
www.mic.ufsc.br
MIC - Seu trabalho está inserido em que área de concentração do PPGEP? Por quê?
Beppler - Inteligência aplicada, porque utiliza conceitos dessa área, pois o RBNet se caracteriza por
fornecer auxílio a novas buscas através de similaridade com buscas já efetuadas. Para realizar essa tarefa,
isto é, calcular a similaridade, utiliza-se a técnica de Raciocínio Baseado em Casos (RBC), da área de
inteligência artificial.
MIC - Como você definiu as etapas necessárias da concepção à conclusão de hoje?
Beppler - Com reuniões com meu orientador Roberto Pacheco, busca de informações relevantes para o
tema desenvolvido, estudo do material encontrado, definição concreta da ferramenta, implementação de
um protótipo e, por fim, união de todas essas coisas escrevendo a dissertação.
MIC - Agora que você concluiu, o que mais recomendaria a outros mestrandos que tomassem seu
trabalho como ponto de partida?
Beppler - Tentar generalizar ao máximo o RBNet para depender cada vez menos de um especialista para o
domínio que será aplicado.
MIC - Agora que o trabalho está concluído, o que pretende fazer em termos profissionais?
Beppler - Continuar com os projetos no Grupo Stela e trabalhar para poder encaixar a ferramenta RBNet
em futuros projetos.
MIC - Você pretende fazer doutorado? Será na mesma área do mestrado?
Beppler - Pretendo fazer doutorado na mesma área – Inteligência Artificial.
MIC - O que você faria diferente se tivesse a chance de ter começado sabendo o que sabe agora?
Beppler - Para fazer pesquisa científica, a leitura do que se deseja buscar é fundamental. Leria muito
mais do que li.
MIC - O que o PPGEP fez por você e o que você fez pelo PPGEP nesse período de mestrado?
Beppler - O PPGEP me ofereceu as condições necessárias para efetuar a pesquisa que desejava, porque,
além de me oferecer condições para o desenvolvimento da pesquisa (sala de aula, professores capacitados,
etc.), tive a oportunidade de participar do
laboratório de pesquisa vinculado ao PPGEP –
Grupo Stela, que foi fundamental para a execução
do trabalho e principalmente para meu
crescimento profissional.
Ferramenta de Fabiano melhora a arte de achar na
Internet porque não desperdiça o histórico das buscas,
que podem ser usadas como base para futuras
consultas. O resultado é uma visão mais abrangente
do que se procura na rede
Veja esta matéria no endereço http://www.mic.ufsc.br/index.php?url=int_fabiano.htm.
Arquivo MIC
38 * Revista do MIC
MIC - Você citaria algum trabalho (dissertação,
tese ou projeto) que foi decisivo para sua
dissertação? Quem foram os autores e onde foi
desenvolvido esse trabalho?
Beppler - O trabalho será divulgado no site de
teses e dissertações do PPGEP e nele se encontra
uma bibliografia vasta de todo o material
utilizado para concretização da dissertação.
Revista do MIC - 2002/2003
www.mic.ufsc.br
.:POSSE DE DIOMÁRIO DE QUEIROZ, DIRETOR DA FUNCITEC
Nova equipe assume com promessa de
liberação de 1% da arrecadação para a C&T
Fevereiro de 2003
Por Sibyla Goulart
Assessoria de Imprensa/Governo Estadual de SC
O
Diomário de Queiroz (esq.), novo diretor da Funcitec,
Luiz Henrique (centro), governador de Santa Catarina, e
Jacó Anderle (dir.), secretário da Educação
meses de gestão: lançamento de um edital universal de
pesquisas para atender à demanda em todas as áreas de
conhecimento; ampliação do número de escolas atendidas
pela Rede Catarinense de Ciência e Tecnologia (RCT);
lançamento do plano de implantação de dois parques de
inovação para promoção do desenvolvimento regional;
lançamento de um programa de apoio à pesquisa e
desenvolvimento em arranjos e cadeias produtivas de
áreas estratégicas, além de outros programas e ações
articuladas com as demais áreas de governo e
instituições. A principal missão da Funcitec, agora
subordinada à Secretaria de Educação e Inovação, é a
de promover o desenvolvimento científico e tecnológico
no Estado de Santa Catarina através do fomento à
pesquisa e da interação, em todos os níveis das
instituições científicas, dos complexos produtivos, do
governo e da sociedade. “A ligação não significará
menos importância para a área de C&T”, garantiu o
governador Luiz Henrique.
Ele fez questão de lembrar que espera da Funcitec o
papel de promotora do desenvolvimento regional no
Estado, vindo a contribuir de forma decisiva na melhoria
de vida do catarinense.
Veja esta matéria no endereço http://www.mic.ufsc.br/index.php?url=conteudo_seg/int_apresentamicfuncitec.htm.
39 * Revista do MIC
ex-reitor da UFSC (Universidade Federal de
Santa Catarina) Antônio Diomário de Queiroz
é o novo diretor da Funcitec (Fundação de
Ciência e Tecnologia de Santa Catarina). Doutor em
Economia do Desenvolvimento pelo Instituto IEDES
da França, o substituto de Paulo de Tarso Luna foi
empossado em concorrida cerimônia realizada dia 6
de fevereiro, no auditório da entidade. Estiveram
presentes autoridades estaduais e federais, diretores
de instituições de pesquisas, reitores e diretores de
universidades, professores e pesquisadores, além de
funcionários e outros convidados. A senadora Ideli
Salvati (PT-SC) também prestigiou o evento.
Na ocasião, tomaram posse o diretor técnicocientífico, professor Edgar Augusto Lanzer,
engenheiro agrônomo (Ph.D.) e pesquisador da Unisul
(Universidade do Sul de Santa Catarina), e o diretor
administrativo-financeiro, professor Vladimir Álvaro
Piacentini, engenheiro eletricista e administrador.
Ao ser empossado pelo governador Luiz Henrique
da Silveira e pelo secretário estadual de Educação e Inovação,
Jacó Anderle, o novo diretor da Funcitec disse acreditar que
o novo governo estadual será o primeiro a honrar o
compromisso constitucional de liberar os recursos previstos
no artigo 193, que destina 1% da arrecadação do Estado para
a Ciência e Tecnologia.
“A vinda de Diomário de Queiroz para a estrutura do
Governo do Estado simboliza a convocação de toda a
comunidade científica para trabalharmos juntos”, assegurou
Luiz Henrique.
“É preciso somar esforços. Dinamizar o valioso patrimônio
humano de mais de mil doutores e 3 mil mestres trabalhando
em Santa Catarina, racionalizar a utilização dos recursos
disponíveis e criar condições para a ação integrada e
multidisciplinar. Promover a utilização das novas tecnologias
da comunicação e da informação na modernização do Estado
e no aprimoramento de processos que agreguem valor aos
produtos. Todas as universidades, por definição, e pelo
princípio da indissociabilidade de ensino, pesquisa e
extensão, merecem ser apoiadas para que atinjam a
plenitude dessas funções e para que cumpram sua vocação
regional”, afirmou Diomário de Queiroz.
O plano de Ciência e Tecnologia do atual governo, de
acordo com Diomário de Queiroz, prevê algumas ações
motivadoras que serão implementadas desde os primeiros
Revista do MIC - 2002/2003
www.mic.ufsc.br
.:CIÊNCIA SEM FRONTEIRAS
Rede SCienTI já é realidade
Dezembro de 2002
Por Imara Stallbaum
40 * Revista do MIC
M
observou, “apenas uma parte das pesquisas aparece, pois
muitas delas acabam sendo consideradas importantes apenas
do ponto de vista nacional, não recebendo, portanto, a
divulgação necessária”.
Para Paulo Henrique Santana, do CNPq, com seus
componentes CvLAC e GrupLAC, a proposta da Rede SCienTI
é criar um espaço internacional de C&T. E constitui-se
numa rede de informação, e não de
tecnologia. “Ela é uma iniciativa
regional e tem a
missão de
Todas as ferramentas
da brasileira Plataforma
Lattes, gênese da Rede
ScienTI, serão
disponibilizadas aos países
participantes
Ilus
traç
ão:
Luiz
Otá
vio
Cos
ta
ãos trêmulas e voz embargada, o coordenador geral
de Informática do CNPq, Paulo Henrique de Assis
Santana, exibiu uma espécie de trunfo aos
participantes do I Workshop da Rede SCienTI
(www.scienti.info), na tarde de quarta-feira, 4 de dezembro,
no Hotel Maria do Mar, em Florianópolis. “Essa é a prova
viva da existência da Rede na Colômbia”, assegurou Santana,
empunhando um CD-ROM contendo os programas de
instalação do CvLAC e GrupLAC, bem como um manual
eletrônico de instalação dos sistemas para ser distribuído
às universidades daquele país.
Um dos maiores entusiastas da Rede SCienTI, Paulo
Henrique Santana teve uma participação
apaixonada no primeiro painel do evento na
manhã de quarta-feira, 4 de
dezembro. Ainda participaram do
painel Alberto Pellegrini Filho, da OPS,
Abel Laerte Packer, diretor da Bireme/OPS
e Roberto Pacheco, coordenador geral do
Grupo Stela, da UFSC.
Durante o painel, Pellegrini encarregou-se de fazer
um inventário sobre as tendências de gestão em Ciência
e Tecnologia nos últimos 50 anos. Ele assegurou que a
proposta de criação de espaços nacionais de
ciência e tecnologia na América Latina data
dos anos 70, exceção feita à Argentina e
ao Brasil, que se
anteciparam em cerca
de 20 anos em relação
à iniciativa. Esta apresentava algumas características comuns: “Em
geral, o planejamento do
setor consistia em investir 1%
do PIB (Produto Interno Bruto)
em C&T, e a principal
preocupação era a de escrever
artigos”, definiu.
A partir de meados dos
anos
80,
segundo
Pellegrini, a área passou a ser analisada sob outro
prisma, ou seja, criaram-se os grupos e as redes de
investigação para o desenvolvimento da atividade
científica. Os grupos começaram a criar patentes,
produtos e serviços que passaram a ser utilizados pela
sociedade.
Abel Packer, da Bireme, lembrou que a Rede SciELO,
da instituição, organiza-se num modelo de comunicação
científica para países em desenvolvimento,
especialmente na América Latina e no Caribe. Ele vê a
Rede ScienTI como uma iniciativa que ajudará a
consolidar a filosofia presente no SciELO. Afinal,
nos fazer
s e n t i r
orgulho de
ser o que
somos
enquanto latinoamericanos e
ibero-americanos”, observou.
Já são seis países
que assinaram acordos
com o Brasil e têm
tecnologia brasileira
adotada: Colômbia, Equador, Chile, Argentina, Peru e
Portugal. Além desses, também
deverão seguir os mesmos passos
Venezuela e Panamá. México, Cuba e
Uruguai já demonstraram interesse em utilizar a tecnologia
SCienTI. Esta, além disso, está a um passo de entrar na
Ásia (Timor), na África (Moçambique) e na Europa. Pelo
menos foi o que assegurou o professor da Universidade do
Minho, Carlos Bernardo, um dos integrantes da comitiva
portuguesa presente no I Workshop: “Penso que Portugal
pode e deve atuar como ‘embaixador’ do Brasil no âmbito
da investigação e do desenvolvimento tecnológico,
incentivando a participação brasileira em projetos, o que
facilitará a sua cooperação científica com outros países”.
Diante de tais perspectivas, Paulo Henrique Santana
assegurou aos participantes do encontro: “A Rede é uma
Revista do MIC - 2002/2003
www.mic.ufsc.br
Roberto Pacheco (esq.), coordenador
geral do Grupo Stela, Gerson Galvão
(centro), diretor de Administração do
CNPq e Abel Packer (dir.), diretor
da Bireme
Fotos: Antonio Carlos Mafalda
Paulo Henrique
Santana, do
CNPq, destaca
os resultados
alcançados
já no lançamento
da Rede SCienTI
Portugal, parceiro
estratégico para a expansão
da Rede na Europa, Ásia e
África, esteve representado
por Leonel Duarte dos
Santos (esq.), Luís Amaral
(centro) e Carlos Bernardo
(dir.), da Universidade do
Minho e da Fundação para
a Ciência e a Tecnologia
(FCT)
Veja o texto desta matéria no endereço http://www.mic.ufsc.br/index.php?url=int_scienti.htm. O texto original saiu
em http://www.cnpq.br/noticias/041202c.htm. A inclusão de fotos foi feita especialmente nesta edição para o sítio e a Revista do MIC.
41 * Revista do MIC
realidade, já existe. É nossa e nos tornará visíveis e
conhecidos por nós mesmos”. Compartilhando
do raciocínio, Margarita Garrido, diretora geral
do Colciências da Colômbia, previu que a Rede
poderá inclusive mudar as atuais relações
internacionais. “Ter a informação em várias
línguas e não apenas na língua do país muda
os pesos relativos da ciência”.
De acordo com o coordenador de
Informática do CNPq, os vários portais da
SCienTI permitirão realizar fantásticas buscas
nas bases de dados de cada país participante,
lançados numa base comum a todos: “Você pode
localizar instantaneamente quantos egressos
foram diplomados pela USP, ou por uma
universidade colombiana, por exemplo, e
cruzar dados e fazer políticas”, avisou,
informando que todas as ferramentas da
brasileira Plataforma Lattes estarão
disponíveis na Rede SCienTI. Para se ter uma
idéia, o número de acessos à página da
Plataforma chega a 1,5 milhão por ano. O
crescimento de currículos nela
cadastrados aumenta numa
proporção de 100 mil por ano.
Atualmente são 248.272
currículos e 15 mil grupos de
pesquisa em 240 instituições
de ensino.
Não é à toa que Alberto
Pellegrini, da OPS, define a
Rede ScienTI como “um
instrumento de mudanças.
Como tal, ela acabará com os
falsos dilemas que limitam a
pesquisa e a divulgação do
conhecimento científico”. Em
sua opinião, além do método
científico, a avaliação em C&T
deve levar em conta a
relevância
social da pesquisa. E isso se
concretiza
quando a informação deixa
de se destinar
apenas
aos
pesquisadores,
passando
a
estar disponível em redes
de conhecimento e espaços de interação como a
Rede SCienTI.
42 * Revista do MIC

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