A INSERÇÃO DE FANFICTIONS NO AMBIENTE ESCOLAR: UMA

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A INSERÇÃO DE FANFICTIONS NO AMBIENTE ESCOLAR: UMA
IV CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação
Múltiplos Olhares
05, 06 e 07 de junho de 2013
ISSN: 1981-8211
A INSERÇÃO DE FANFICTIONS NO AMBIENTE ESCOLAR: UMA PROPOSTA
DE SEQÜÊNCIA DIDÁTICA
Gisleine de Oliveira TENÓRIO (UEL)
Introdução
Recorte da monografia “De fãs a produtores de textos: sequência didática com
fanfictions”, este artigo apresenta a pesquisa que se propôs levar para o ambiente escolar
uma prática de letramento digital ao desenvolver uma sequência didática a partir do gênero
fanfiction. Apresenta-se também as reflexões os resultados obtidos com a aplicação desta
sequência didática visando a inserção dos alunos no letramento digital.
Com a evolução tecnológica, vários meios de comunicação surgiram e fazem parte
das nossas relações cotidianas. As tecnologias da informação transformam as formas de as
pessoas se socializarem, trabalharem, e também geram novos recursos e novas formas de
aprendizagem.
Cada vez mais cresce o número de pessoas que as utilizam e esse constante
compartilhamento e, principalmente, produção de conteúdos on-line. Facebook, blogs,
twitter, wikipédia, entre outros trazem diversas possibilidades de usos que apontam a
necessidade da reflexão a respeito de como a linguagem vem sendo utilizada nesses meios.
Desta forma é papel fundamental do professor, como pesquisador de conteúdos,
que ele se adapte a esta nova forma de interação e a valorize inserindo-a em seu conteúdo
didático. O aluno deve ser competente ao participar das práticas discursivas às quais for
inserido, por isso, as atividades de Língua Portuguesa feitas pelo professor devem
desenvolver e aprimorar, no aluno, a capacidade de utilizar os conhecimentos linguísticos e
interagir por meio de diversos gêneros textuais e discursivos.
O ambiente virtual possibilita que as pessoas se expressem e se interajam,
conectando-se, muitas vezes, por interesses em comum. Pode-se citar como exemplo a
facilidade atual em se encontrar fãs de determinados livros em ambientes digitais como o
facebook, partir de uma página ou um grupo criado ocorre a interação entre eles. Antes,
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essa interação era feita por meio de cartas, reuniões entre fã-clubes e produções de fanzines.
Agora, basta um clique para que essa interação ocorra.
Um dos “passatempos” desses fãs é o fanfiction, definido como uma ficção criada
por fãs com base na obra original, que hoje pode ser facilmente encontrado em sites
destinados à publicação desses textos. Este gênero digital que está em crescente produção e
que desperta nos leitores a vontade de participar produzindo seu próprio texto a respeito da
obra. Desta forma, a fanfiction se torna uma ótima ferramenta para se trabalhar os
conteúdos de Língua Portuguesa, despertando no aluno a vontade de ler e se tornar produtor
de textos.
Este trabalho intenta demonstra uma opção de trabalho com a fanfiction no
ambiente escolar, apresentando aspectos relacionados ao cotidiano do aluno e que possam
servir como ferramenta pedagógica no ensino de Língua Portuguesa ao incentivar a
produção textual dos alunos, tendo em vista que no ambiente escolar vários alunos
apresentam dificuldade em produzir textos, principalmente nas propostas de redação.
Os professores devem ser atentos às novas práticas de interação sociais para que os
alunos se sintam atraídos a aprender e vejam a aplicabilidade daquele conteúdo em seu
cotidiano. Isto resulta m um melhor desempenho tanto do profissional em relação aos
conteúdos didáticos apresentados nos documentos que fundamentam a educação e também
dos alunos em suas práticas textuais.
Foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre gêneros textuais, enfatizando o
gênero digital, ressaltou-se a importância do letramento para o desenvolvimento das
atividades em sala de aula, enfocando o letramento digital, realizou-se a elaboração de uma
sequência didática que envolve o gênero digital fanfiction e demonstrou-se a aplicação da
sequência didática e os resultados deste experimento. Visou-se atingir os eguintes
objetivos:demonstrar a importância de utilizar gêneros textuais digitais em sala de aula
como ferramenta de produção textual; apresentar uma proposta de sequência didática que
englobe o letramento digital por meio do gênero fanfiction e verificar a receptividade e a
capacidade de desenvolvimento desta proposta por parte dos professores e dos alunos.
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1. Meios virtuais e a interação social
Com o surgimento do ciberespaço, que é definido por Lévy (1999, p. 92) como “o
espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das
memórias dos computadores”, novas ferramentas de comunicação e troca de informações
foram surgindo.
Abriu-se mais um meio de comunicação para que as pessoas pudessem interagir
com as outras sobre seus interesses comuns. Como afirma Lévy (1999, p. 100) o
ciberespaço torna-se uma forma de contatar pessoas não mais em função do seu nome, ou
de sua disposição geográfica, mas a partir dos seus centros de interesses.
Este ambiente virtual possibilita uma interação mais aberta entre produtor e
consumidor, onde as pessoas podem emitir informações e batalham para participar
ativamente de sua cultura. Para Jenkins (2009), os produtores e consumidores não ocupam
papéis separados, são todos participantes em interação.
Isso faz parte de uma transformação cultural a que Jenkins (2009, p.29) chama de
cultura da convergência, sendo esta o “fluxo de conteúdos através de múltiplos suportes
midiáticos, à cooperação entre múltiplos mercados midiáticos e ao comportamento
migratório dos públicos dos meios de comunicação, que vão a quase qualquer parte em
busca das experiências de entretenimento que desejam”.
Desta maneira, entende-se que o ciberespaço é um ambiente onde as pessoas
interagem por interesse, facilitando assim a interação entre os fãs de determinado livro /
produto. Antigamente, havia um meio específico para que os fãs pudessem trocar
informações a respeito sobre suas obras ou seriados favoritos que foi denominado fanzine
palavra formada pela contração dos termos ingleses fanatic e magazine, que em português
pode ser traduzido como revista de fã. Mas, esse meio de divulgação era restrito, poucos fãs
conseguiam ter acesso pelo custo e pelo trabalho de se fazer fanzines com grande tiragem.
Os fanzines tinham como principal foco a divulgação de informações e a
criação de espaços para debates sobre aspectos da ficção científica (e,
posteriormente, outros temas, como histórias em quadrinhos, seriados,
livros, etc.). O principal aspecto de um fanzine, contudo, era o fato de ser
feito de fãs para fãs, sem que ninguém ganhasse nada com isso. Por essa
razão, era comum que os fanzines fossem distribuídos gratuitamente ou a
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preço de custo e que seus colaboradores não recebessem nada por artigos,
textos ou ilustrações. (LUIZ, 2009, p.3)
Nos fanzines existiam um espaço dedicado às pessoas poderem escrever suas
próprias histórias baseadas nos textos originais, as chamadas fanfictions. A fanfiction surgiu
da necessidade dos leitores/espectadores de uma obra, seja ela literária, cinematográfica,
televisiva, história em quadrinhos, animes, entre outras obras de ficção, desenvolverem um
enredo que tenha relação com a obra original, mas que possa ter o olhar deste leitor, ou
seja, que ele possa modificá-lo e interagir com aquilo que o autor da obra original já tenha
escrito.
A partir do ciberespaço estes fãs puderam divulgar suas produções através de sites
específicos. Muitas fanzines saíram do papel e foram para o ambiente digital, diminuindo
custos de publicação, facilitando o acesso ao seu conteúdo e, consequentemente, ampliando
o número de leitores.
Dentro desse ambiente digital, as fanfictions ganharam seu espaço, começaram a ser
publicadas em sites específicos. Esses sites, como por exemplo o Nyah! Fanfiction, um dos
principais portais sobre o tema no Brasil, oportuniza a interação entre outros fãs que podem
opinar sobre o texto publicado, dialogando com o autor.
Desta forma, o escritor de fanfiction demonstra-se participar do ciberespaço
utilizando o computador para realizar práticas de leitura e, primordialmente, a escrita em
meio virtual. Aqueles que comentam sobre o enredo e a forma como a fanfiction foi escrita
ou estruturada, também se apresenta um sujeito ativo, pois é participante desta interação
cibernética.
2. Multiletramentos na escola: novos recursos para a prática docente
Diversas foram as transformações sociais e históricas, como o advento da imprensa,
a criação do telefone, a invenção do computador, surgimento da internet e das novas
tecnologias de comunicação entre elas: telefone celular, MP3, Ipad, tablet. Todos esses
exemplos trouxeram para a sociedade novas formas de comunicação e interação e exigiram
da sociedade novas adaptações.
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Bakhtin (1982) afirma que os gêneros são “formas relativamente estáveis de
enunciados”, por estar em constante modificação as quais são fruto das transformações das
atividades sociais. Os gêneros sofrem adaptações a partir das mudanças culturais, sociais e
históricas que suprem as novas necessidades de comunicação dos sujeitos. Assim, com a
evolução da sociedade, muitos dos gêneros textuais antigos se transformaram e novos
gêneros surgem.
Marcuschi (2008, p. 155) corrobora que “os gêneros textuais são os textos que
encontramos em nossa vida diária e que apresentam padrões sociocomunicativos
característicos definidos por composições funcionais são formas textuais escritas ou orais
bastante estáveis, histórica e socialmente situadas”.
O professor dever estar atento às práticas pedagógicas que desenvolvam ações
coerentes com a sociedade em que vivem, contextualizando o ensino, este profissional
deve, também, cultivar a reflexão e a criatividade do aluno e que utilizem os instrumentos
de comunicação para a educação.
Sabe-se que os alunos estão em constante interação social por meio dos gêneros
textuais advindos das novas tecnologias, por isso é interessante o professor inserir esses
gêneros digitais em sala de aula. Silva e Mercado (2011, p. 2) sintetizam o pensamento de
Marcuschi, afirmando que
o gênero digital possibilita o trabalho da oralidade e da escrita bem como
os gêneros textuais tradicionais utilizados na escola, pois se apresentam
como uma evolução destes. E define, ainda, como gênero digital todo o
aparato textual em que é possível, eletronicamente, utilizar-se da escrita
de forma interativa ou dinamizada.
Para isso, os professores devem desenvolver novas posturas dentro de sala de aula a
fim de que esses gêneros digitais sejam utilizados como aliados no ensino e aprendizagem.
Cabe especificamente aos professores de Língua Portuguesa que eles conheçam essas
tecnologias e que possam utilizá-las no ambiente escolar a fim de desenvolver no aluno
capacidades que visem o ler e o escrever, seja ele dentro ou fora do ambiente digital.
Isso tudo se resume ao processo de letramento. Para Kleiman (1995, p. 21) “as
práticas de letramento, no plural, são social e culturalmente determinadas e como tal, os
significados específicos que a escrita assume para um grupo social dependem dos contextos
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e instituições em que ela foi adquirida”, ou seja, o indivíduo é capaz de internalizar as
práticas de leitura e escrita que permeiam o ambiente em que ele vive por participar de
eventos de letramento de determinado(s) gênero(s).
Nota-se que ao utilizar a palavra letramento, a autora diz que ele é plural, entendese, então que existem diversas práticas de letramento as quais são aprendidas de acordo
com as necessidades sociais e culturais do sujeito.
Rojo complementa a definição de Kleiman trazendo a concepção de
multiletramentos e define:
„multiletramento‟, aqui, significa que compreender e produzir textos não
se restringe ao trato do verbal oral e escrito, mas à capacidade de colocarse em relação às diversas modalidades de linguagens – oral, escrita,
imagem, imagem em movimento, gráficos, infográficos etc. – para delas
tirar sentido”(2004, p. 31).
Esta visão engloba os textos que são híbridos, muitas vezes provenientes do meio
digital, os quais podem se relacionar com imagens, sons e a linguagem escrita/falada. Por
isso é de suma importância que o professor possa letrar seus alunos para as interações
sociais e de comunicação que ocorrem no ambiente digital, ou seja, é preciso desenvolver
nos alunos o letramento digital.
Para Soares (2002, p. 153) “letramento digital é um certo estado ou condição que
adquirem os que se apropriam da nova tecnologia digital e exercem práticas de leitura e de
escrita na tela, diferente do estado ou condição – do letramento – dos que exercem práticas
de leitura e de escrita no papel”.
Antonio Carlos Xavier complementa que
O letramento digital implica realizar práticas de leitura e escrita diferentes
das formas tradicionais de letramento e alfabetização. Ser letrado digital
pressupõe assumir mudanças nos modos de ler e escrever os códigos e
sinais verbais e não-verbais, como imagens e desenhos, se compararmos
às formas de leitura e escrita feitas no livro, até porque o suporte sobre o
qual estão os textos digitais é a tela, também digital. (XAVIER, 2007, p.
2)
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Estar letrado digitalmente é incorporar as práticas desenvolvidas por meio do
computador no cotidiano e desenvolver habilidades e competências próprias do ambiente
digital, se tornar sujeito ativo e, inclusive, crítico sobre os conteúdos e maneiras de
utilização dos instrumentos disponibilizados pelo ciberespaço.
A elaboração de um currículo educacional que proporcione uma interação entre o
sujeito da aprendizagem e seu contexto social, visando priorizar demandas a serem
atendidas, bem como as dificuldades cotidianas – que muitas vezes se relaciona com a
utilização de computadores, problemas a serem solucionados, objetivos e ações sociais para
serem desenvolvidos, permite à educação como um todo formar cidadãos reflexivos e
engajados para com o seu contexto social.
Se o docente conseguir desenvolver as capacidades cognitivas dos alunos através
de métodos de ensino que são determinados por meio da combinação de objetivos e
conteúdos, sendo estes relacionados à realidade dos alunos e visando priorizar demandas a
serem atendidas, bem como as dificuldades cotidianas – que muitas vezes se relaciona com
a utilização de computadores, problemas a serem solucionados, objetivos e ações sociais
para serem desenvolvidos, ele poderá capacitar os alunos a serem cidadãos reflexivos e
ativos na sociedade a qual pertencem.
3. O gênero fanfiction como ferramenta didática
Os Parâmetros que regem a Educação brasileira, escrito na década de 90, afirma que
o trabalho em sala de aula deve ser pautado nos gêneros textuais. Este documento também
fundamenta a prática docente afirmando que os professores devem
organizar atividades que procurem recriar na sala de aula situações
enunciativas de outros espaços que não o escolar, considerando-se
sua especificidade e a inevitável transposição didática que o
conteúdo sofrerá; saber que a escola é um espaço de interação social
onde práticas sociais de linguagem acontecem e se circunstanciam,
assumindo características bastante específicas em função de sua
finalidade: o ensino. (BRASIL, 1998, p.22)
Baseando-se nisto, o gênero fanfiction foi escolhido para que se pudesse aproximar
da realidade do aluno, pois trata-se de uma prática de leitura e escrita no ambiente virtual,
ambiente muito utilizado pela faixa-etária dos alunos, sabe-se que este ambiente possibilita
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grande interação e pode ampliar a capacidade de aprendizagem dos alunos. Os Parâmetros
Curriculares Naional complementam que
Um outro aspecto interessante é a possibilidade de, estando
conectado com alguma rede, poder ensinar os textos produzidos a
leitores reais, ou interagir com outros colegas, também via rede
ampliando as possibilidades de interlocução por meio da escrita e
permitindo acesso online ao conhecimento acumulado pela
sociedade (BRASIL, 1998, p. 91).
Desta forma, propicia-se aos alunos o contato com o meio digital, e
consequentemente, essas atividades geram indivíduos letrados digitalmente. Esta foi a
intenção ao criar uma sequencia didática que englobasse o universo da rede mundial de
computadores e o conteúdo curricular de Língua Portuguesa dos anos referentes aos
sujeitos que se refere à sequência narrativa, respeitando os anos referentes aos sujeitos
participantes desta pesquisa (alunos do 6º e 7º ano do ensino fundamental).
O estudo foi realizado em uma escola particular do município de Londrina – PR que
atende alunos das séries iniciais e Ensino Fundamental I e II, funcionando nos dois turnos:
manhã e tarde. Nesta escola a pesquisadora desempenha a função de Auxiliar de Biblioteca.
Para realizar o estudo, foi solicitada autorização da Direção da escola, bem como da
professora regente.
A seleção dos alunos foi feita por meio de questionários. Foi necessário aplicar
dois questionários. O primeiro tratou-se de uma pesquisa a fim de constatar se os alunos já
conheciam o gênero fanfiction constatou-se que os alunos tem pouco conhecimento sobre o
tema. Apesar de dizerem que conhecem o termo fanfiction, poucos deles afirmam terem
tido algum contato com esse gênero textual, sendo este contato feito majoritariamente
através da internet. Há pouca produção deste gênero pelos alunos entrevistados, mas a
maioria demonstrou interesse em ler este gênero
No segundo questionário abordou-se questões a respeito das produções literárias
de que os alunos se consideravam fãs e descobriu-se a diversidade de obras literárias as
quais os alunos se consideravam fãs.
Optou-se por desenvolver atividades com os alunos utilizando o modelo da
sequência didática proposta por Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004) a qual tem uma
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estrutura específica que engloba a apresentação da situação, a primeira produção, os
módulos e a produção final.
Os módulos puderam se organizar da seguinte forma:
a) Quanto à dificuldade de escrita dos elementos da narrativa: descrição física e
psicológica de personagem, descrição de ambiente físico; tempo, espaço, clímax e
desfecho; discurso direto e indireto.
b) Quanto à dificuldade de escrita dos elementos pré-textuais: notas iniciais, finais;
sinopse.
O quadro abaixo sintetiza a organização da sequência didática, a partir da teoria
apresentada por Dolz, Noverraz e Schnnewly (2004, p. 98). Este quadro serve de parâmetro
para a construção da sequência didática que será realizada neste estudo.
Apresentação
da situação
Produção
Inicial
Módulo
1
Módulo
Módulo n
Produção
final
2
...
Quadro1: Organização da sequência didática.
A sequência didática relatada abaixo foi elaborada de acordo com o nível escolar
dos participantes da oficina e também com a intenção de apresentar a eles um gênero
digital, inserindo-os em uma prática de letramento digital e teve a intenção de realizar
atividades que desenvolvessem competências discursivas, linguísticas e linguísticodiscursivas.
Pensando na estrutura da fanfiction, foram elaborados módulos que apresentaram
as seguintes características do gênero: conhecendo o gênero sinopse, elementos da
fanfiction, elementos da narrativa, produção final. Decidiu-se iniciar com um gênero que
faz parte das notas (a sinopse) e depois trabalhou-se o elemento que os alunos tinham
menos familiaridade (as notas). Assim, os alunos poderiam perceber as diferenças das notas
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presentes no gênero em questão de outras notas existentes, já que esse foi a parte do gênero
mais questionada ao longo da apresentação inicial do gênero. Depois partimos para a
sequência narrativa, já que na primeira produção os alunos demonstraram ter um bom
conhecimento sobre ela e seria necessário abordar poucos aspectos.
Para uma melhor aprendizagem, os alunos desenvolveram atividades em conjunto,
Dillenbourg apud Torres e Irala (2007, p.70) define a aprendizagem colaborativa como a
“situação de aprendizagem na qual duas ou mais pessoas aprendem ou tentam aprender
algo juntas”. No caso da fanfiction, além dos alunos poderem ler os textos dos alunos,
comentarem e opinarem durante o processo de escrita nos módulos, houve também a
criação de um blog.
Essa atividade colaborativa foi muito interessante, cada aluno escolheu um detalhe:
cor, fonte, barras, gadgets. Eles tiveram que entrar em um consenso diversas vezes, alguns
queriam cores mais sóbrias, outros mais alegres e as dúvidas em como editar as partes do
blog surgiam: “professora, pode modificar o tamanho das colunas?” “professora como faz
para mudar a cor da letra?” “professora, a fonte pode ser essa?”... Queriam saber como
modificava o formato, posição e tamanho das colunas, se era possível colocar imagens de
fundo etc.
A cada visualização daquilo que eles haviam modificado, existia também o medo de
estragar ou deletar o blog. Por isso, a todo momento eles nos chamavam e faziam as
seguintes perguntas: “professora, pode apertar salvar?”, “se a gente clicar aqui (botão
editar), deleta o que a gente já fez antes?”, perguntavam também se podiam apertar os
botões salvar e visualizar sem estragar nada do layout.
Esses comportamentos demonstram que os alunos parecem não estar acostumados
com esse suporte digital, que o acesso a blogs não é algo cotidiano e sim, totalmente novo
para eles. Percebemos que, no ambiente escolar, o acesso a blogs e outros sites que não
dispõem de ferramentas de pesquisa como o google, não são do conhecimento dos alunos.
Para que os alunos pudessem conhecer esse suporte, decidimos que eles explorariam as
abas do blog sozinhos.
Kleiman afirma que a escola deve propiciar formas de aprendizado de forma
colaborativa, desta maneira o aluno poderá trocar conhecimentos com os colegas,
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transferindo e adaptando os conhecimentos adquiridos fora da escola para a prática dentro
do ambiente escolar participando de um evento de letramento, isto é, um momento no qual
se dá a compreensão de textos escritos, essa compreensão é manifestada pela fala.
Um evento de letramento inclui atividades que têm as características de
outras atividades da vida social: envolve mais de um participante e os
envolvidos têm diferentes saberes, que são mobilizados na medida
adequada, no momento necessário, em prol de interesses, intenções e
objetivos individuais e de metas comuns. Daí ser um evento
essencialmente colaborativo. (KLEIMAN, 2005, p.23)
Os alunos pediram ajuda para inserir a imagem e os vídeos em seus textos porque
eles nunca haviam feito. Instruiu-se os alunos a inserirem os complementos como imagens
e vídeos, para que eles incrementassem o texto. Os resultados podem ser observados no
endereço: criandofanfictions.blogspot.com.
Considerações finais
Existe, ainda dificuldades dos professores laborarem atividades que envolvam o
cotidiano dos alunos, muitas vezes, não se sabe por onde iniciar o trabalho e até
subestimam a sua capacidade dizendo que não conseguem ou que os alunos já sabem tudo
do ciberespaço e que não há nada de novo para acrescentar para eles.
Mas, ao analisar os gêneros digitais, no caso específico o fanfiction, percebe-se que
ainda há muito o que demonstrar e ensinar para os alunos e que estes não são letrados
digitalmente, apesar de serem considerados a “geração da internet”. Com o primeiro
questionário, isto ficou nítido, pois apesar do fanfiction ser um gênero com grande
produção on-line, poucos entrevistados o conheciam.
Um trabalho que apresenta novas possibilidades de escrita e interação na internet,
permite que os alunos se aproximem e conheçam novos gêneros, assim ao desenvolver a
oficina de fanfiction, os alunos demonstraram gostar da oficina ministrada, pois tiveram
contato com outro tipo de literatura, textos escritos por pessoas diversas que tem um
interesse em comum e o transformam em um texto, muitas vezes, criativo. Também
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visitavam sites sobre fanfiction fora do horário da oficina e comentavam depois com o
professor e com os outros alunos da escola.
Quanto aos textos produzidos pelos alunos, constatou-se grande facilidade em
produzir os elementos narrativos inseridos nos textos de cada momento da oficina, bem
como os elementos específicos do gênero fanfiction como as notas do autor e da história.
Houve uma internalização do conceito de fanfiction – produção de fã para fã -, pois alguns
alunos mudaram o tema da produção inicial alegando que eram “mais fãs” de determinado
livro, cantor, novela, do que o que havia escrito anteriormente.
Eles se mostraram muito interessados com a possiblidade de criar um blog, onde
eles puderam utilizar os recursos disponíveis de formatação de plano de fundo, colunas,
texto, entre outros, modificar as características, publicar seus textos e inserir músicas,
vídeos e imagens. Os participantes da oficina foram receptivos à proposta apresentada e a
desenvolveram com êxito, deixando a desejar somente no momento da divulgação do blog.
Essa dificuldade em divulgação do blog, pode ter ocorrido por vergonha de expor
seus textos entre os amigos, ou também porque os alunos não incorporaram o blog como
algo do cotidiano deles, um elemento necessário para a divulgação e por isso a prática de
letramento não foi eficaz. Seria interessante que os próprios pesquisadores interferissem
neste momento e divulgassem o blog a todos os alunos da escola, prática que não ocorreu.
Se essa divulgação tivesse ocorrido, poderíamos identificar a interação entre leitor e autor
do texto.
Referências
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