cor e forma - Ronaldo Hirata

Transcrição

cor e forma - Ronaldo Hirata
ESTÉTICA
COR E FORMA
Conceito aplicado com resina composta
em dentes posteriores
RONALDO HIRATA
JOÃO FELIPE MOTA PACHECO*
Ronaldo Hirata,
Professor do Curso de
Especialização em
Dentística
Restauradora da
Universidade Federal
do Paraná.
estaurações posteriores em resinas compostas passaram a compor e representar uma parcela significativa dos procedimentos clínicos diários, confirmando a necessidade e tendência de restaurações estéticas.
Uma seqüência de aplicação de materiais é desejável,
otimizando resultados e desenvolvendo uma técnica mais
previsível e dinâmica. O presente trabalho visa expor uma
seqüência operatória de aplicação de resinas em
dentes posteriores com cores e comportamentos
dinâmicos de luz diferentes, objetivando um
melhor resultado estético final.
R
Com a maior utilização de resinas compostas na região posterior, se
fez presente uma necessidade de melhorias técnicas na execução pois percebe-se uma evolução natural de execução das restaurações em resinas,
como reflexo da grande disponibilidade de materiais com propriedades
ópticas diferentes2.
O objetivo deste trabalho é discutir alguns aspectos dos dentes posteriores naturais e de resinas compostas, transferindo para a técnica de restauração posterior características de
comportamento óptico que otimizem
o resultado estético.
COR EM RESINAS
COMPOSTAS
A cor pode ser fisicamente dividida em três dimensões ou conceitos:
matiz, croma/saturação e valor/brilho.
Define-se matiz como sendo a família da cor ou grandes grupos de cor,
podendo existir matizes referentes a
qualquer das existentes no espectro.
Em resinas compostas convencionalmente definiu-se a existência de quatro matizes: A(marrom), B(amarelo),
C(cinza) e D (vermelho). Os matizes,
portanto, são descritos nas bisnagas
de resinas compostas sendo facilmente identificadas e se sabe que raramente o dente possui matiz real rosa,
correspondendo talvez a cerca de 5%
dos casos, pois o matiz avermelhado
(rosa) é utilizado mais para modificação e caracterização de efeitos e determinação de nuances. Raramente também o dente possuirá matiz cinza,
ainda que não possa corresponder a
um matiz verdadeiro, mas somente
em dentes com tratamento endodôntico ou que incorporaram pigmentos
metálicos. A maioria dos pacientes
possuem matiz marrom (A), principalmente pacientes mais morenos
como os brasileiros, e uma porção
pouco menor matiz amarelo (B),
numa proporção de 7 para 3 (70%
marrom e 30% amarelo). Percebe-se
que o conceito de matiz possui uma
identificação simples, principalmente
visualizando-se a porção cervical 6.
O croma é definido como a saturação de um determinado matiz, ou o
quanto de pigmento foi incorporado a
este matiz; representando a intensidade da cor (o quanto uma cor é forte ou
fraca dentro da sua família. Simplificando, seria o quão forte ou fraca é
uma determinada cor sendo identificado em resinas compostas pela numeração gradual, seguindo a escala
VITA (Vident), de 1 a 4, possuindo variações podendo abranger faixas até
6,5 e 7; traduz-se em uma escala gradual de saturação. Croma representa a
intensidade de uma cor, também chamada de saturação; o quanto é forte ou
fraca uma cor dentro da sua família.
Valor, no entanto, é uma propriedade de difícil compreensão, se referindo a quantidade de branco ou de
preto em um objeto. O valor, ou brilho, representa a dimensão mais dinâmica dos corpos, sendo conceituada como a quantidade de preto e
branco em um objeto, ou seja, a escala dos vários tons de cinza; explicase assim o por quê da inexistência de
um matiz verdadeiro cinza. Este fenômeno define a vitalidade de um
corpo, provocando sensações de profundidade ou aproximação; erros de
valor comumente resultam em restaurações esbranquiçadas ou acinzentadas (os erros mais comuns da
clínica restauradora)6.
Em termos práticos, o valor se
refere, em restaurações, a quantidade
de opacidade (mais branco) e translucidez (mais cinza) nas resinas compostas. O maior problema se encontra
no fato deste valor não estar descriminado nas bisnagas dos materiais, o
que nos obriga a conhecer o comportamento dinâmico de cada marca e
tipo de resina restauradora.
Erros de valor resultam em em
restaurações esbranquiçadas ou acinzentadas e o uso de resinas corretas
com relação à reflexão da luz (opacidade/translucidez) tornará a restauração mais natural 4.
APLICAÇÃO CLÍNICA
(ESCOLHA DE CORES E
MARCAS COMERCIAIS)
Sabendo-se que dentes posteriores apresentam espessuras grandes de
esmalte e as cavidades em dentes posteriores convencionais (Fig. 1) envolvem essencialmente esta camada de
esmalte perdida (componente dentinário de forma menos visível), deveríamos utilizar resinas com características de alta translucidez visando transparência e alta quantidade de carga visando resistência mecânica. O valor
para restaurações em dentes posteriores se mostra mais importante que
matiz e croma, explicando o porquê
de não ser necessária a tomada de cor
em cavidades convencionais. Em restaurações posteriores, acertar espessuras de camadas e translucidez das
mesmas se mostra fundamental.
O corpo dos dentes posteriores
apresenta comumente alto grau de saturação ou cromatização e uma opacidade relativa. Entende-se aqui que as
porções mais profundas do corpo deverão ser realizadas com materiais
que apresentem uma saturação compatível com esta área, o que corresponde a resinas A3, A3,5 ou B3. Cores
que oferecem mais vitalidade (como o
B3) resultam em restaurações mais interessantes.
CUIDADOS PARA
PERMITIR UMA
LUMINOSIDADE NATURAL
A camada intermediária corresponderá a cromas referentes à própria
cor base do dente como A2 ou A1, na
grande maioria das situações. Estas
resinas devem permitir transmissão
apropriada da luz, de forma semelhante ao esmalte dentário. Resinas
translúcidas como a Tetric Ceram (Vivadent), Point 4 (Kerr), Charisma
(Kulzer) e Z-250 (3M) seriam apropriadas.
Corantes podem ser utilizados
no momento adequado, com grande
sucesso durante o processo restaurador, antes das camadas finais; sabendo-se que estas camadas finais são de
resinas translúcidas, estes corantes
transparecerão com sutileza. Algumas
cores são comumente usadas em dentes posteriores, principalmente em
regiões de sulco como o ocre, marrom
escuro e claro, mel. Outras cores utilizadas em cristas e vertentes são o
branco, o cinza e o azul/violeta. Marcas comerciais de bons corantes internos são a série Tetric Colors (Vivadent) e Kolor+Plus (Kerr).
Percebe-se que certas regiões dos
dentes posteriores possuem translucidez exagerada, como vértices e pontas
de cúspides, bem como as cristas marginais e transversas. Algumas resinas
apresentam-se num grau de transpaARQUIVO DENTAL GAUCHO 25
ESTÉTICA
DESCRIÇÃO DE CASO CLÍNICO
Fig. 1
Dente natural em corte e a visão da
grande espessura de esmalte em
comparação a dentes anteriores,
explicando a razão para o uso de
maiores volumes de resinas com alta
translucidez.
Fig. 4
Realizou-se posteriormente a
remoção do material de proteção
existente e dentina cariada
remanescente; a profilaxia foi
feita com clorexidina em bolinhas
de algodão.
Fig. 2
Fig. 5
Dada a relativa preservação do
elemento dental, a indicação de uma
restauração em resina composta se
mostrou ponderada, visto a
localização e distribuição dos
contatos oclusais; poucos contatos
em restauração favorecem o
comportamento longitudinal das
restaurações. A remoção da
restauração antiga foi executada
com brocas diamantadas cilíndricas
de ponta arredondada (KG
Sorensen), o que já sugere a
mudança parcial da cavidade inicial
para uma forma mais arredondada,
o que facilita a adaptação das
resinas compostas e diminui o stress
de contração, diminuindo também as
possibilidades de sensibilidade
pós-operatória9.
Fig. 7
Utilizou-se o sistema Excite
(Vivadent), que possui
monômeros hidrofílicos ácido
fosfônicos resistentes a
hidrólise, oferecendo um
processo adesivo estável.
Possui também partículas de
carga nanométricas, resultando
em menor contração de
polimerização e melhores
características de resiliência
(efeito elástico). Pode-se
visualizar facilmente a camada
polimerizada os adesivo devido
a esta presença de partículas
de carga.
Fig. 8
O condicionamento ácido foi
realizado em esmalte e
dentina, por 20 segundos,
visto a dificuldade de
condicionamento de estruturas
de forma diferenciada neste
procedimento, principalmente
em ácidos com espessamento
por polímeros na forma de
semi-gel como no caso clínico.
Ainda se faz uso de ácidos
fortes como fosfórico, em
concentrações acima de 30%.
Posicionamento de matrizes
parciais pré-conformadas (3M)
e aplicação de uma fina camada
cervical de uma resina flow
(Tetric Flow) A3 sem a
instalação de cunhas ou anéis,
facilitando o molhamento e
contato desta resina à parede
cervical.
Fig. 6
Fig. 3
Fez-se uso do jateamento realizado
com partículas de óxido de alumínio,
com aparelhos simplificados como o
microetcher (Danville), favorece
aspectos mecânicos de retenção,
principalmente em casos de dentina
hipermineralizada 8.
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ARQUIVO DENTAL GAUCHO
Fig. 9
O sistema adesivo influencia
de forma fundamental o
resultado final e longitudinal
do procedimento restaurador;
a correta saturação da
superfície dentinária pelo
primer representa uma chave
do sucesso adesivo, deve se
aplicar várias camadas, de
preferência com aplicações
ativas, visando a infiltração
dos monômeros resinosos no
enfibrilamento colágeno.
Instalação da cunhas proximais de
madeira (Hawe-Neos)
(RUBINSTEIN & NIDETZ7,
1995). objetivando o afastamento e
posterior ponto de contato.
Fig. 10
A primeira camada da caixa
proximal foi realizada com
resinas flow (Tetric Flow
A3/Vivadent) visando melhor
adaptação da camada inicial à
parede cervical, uma vez que a
desadaptação macroscópica
advinda da deficiência técnica é
um dos principais problemas de
resinas relacionadas a infiltração
marginal. Prefere-se, neste
momento, não se realizar a
cunhagem ou mesmo instalação
do anel de afastamento, o que
poderá facilitar o contato desta
primeira camada e o
molhamento a parede cervical.A
resina utilizada em caixa
proximal, foi o Tetric Ceram
(Vivadent), cores A2 fundo e A1
em crista marginal.
Fig. 12
A segunda camada foi executada
visando uma translucidez parcial,
sabendo-se que, a partir deste
momento o objetivo é a
substituição do esmalte natural.
No caso clínico foi utilizado a
resina A1 Tetric Ceram
(Vivadent), refazendo
relativamente as cúspides, sem dar,
no entanto, o detalhamento das
características oclusais; a
preocupação neste momento é a
correta divisão de cúspides, que
servirá como referência para as
camadas finais.
Fig. 15
Início dos ajustes. Como opção,
realizou-se o acabamento da
restauração com pontas
diamantadas de granulação fina
(Série dourada- KG Sorensen)
Percebe-se aqui que quando a
técnica de inserção e escultura
distribui corretamente volumes para
áreas de lóbulos e não em direção à
ponta de cúspide, poucos ajustes
serão necessários.
Fig. 16
Fig. 13
Ajustes realizados
Fig. 11
Sabendo-se que camadas
iniciais devem prover saturação
elevada, a primeira camada foi
realizada com uma resina A3
Tetric Ceram (Vivadent). Esta
camada se restringe
aproximadamente ao nível ou
ligeiramente abaixo do limite
amelo-dentinário.
O uso de corantes pode se tornar
interessante, pois serve como um
diferencial e auxilia na perda da
homogeneidade. Devem ser
utilizados, porém, no momento
correto, antecedendo a última
camada. Foi utilizado os corantes
branco (Tetric Color / Vivadent) em
algumas localidades das cúspides.
Posteriormente utilizou-se também
o corante marrom visando
cromatização central da face
oclusal, o que resulta em vitalidade.
Fig. 17
Seguiu-se um polimento com
pastas diamantadas (Crystar
Past/Kota) e óleo mineral
(Nujol/Jonhson & Jonhson) com
escovas brancas macias de
Robinson, finalizando o caso.
Fig. 14
Fig. 18
A última camada visa explorar a
translucidez pura, com resinas
incisais e transparentes,
considerando que existem
características diferentes de esmalte
assim como a correlação para as
diferentes resinas. Foi usada a resina
Transparente (Vivadent),
trabalhando a profundidade óptica
da restauração e executando a
polimerização cúspide a cúspide.
Restauração após 3 anos de
avaliação clínica.
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ESTÉTICA
rência esbranquiçada que é mais comumente utilizado, como o Transparente Tetric Ceram (Vivadent) e
T1 Point 4 (Kerr). Outras apresentam um aspecto transparente acinzentado, como o Incisal Médio do
Herculite XRV (Kerr) ou azulado
como o Incisal Light do Herculite
XRV (Kerr). As camadas finais devem abusar das várias formas de
translucidez.
CONCLUSÃO
A análise de dimensões de cor
em dentes posteriores, principalmente em áreas oclusais exigem uma
adaptação e uma mudança de enfoque
em execuções de resinas compostas
em região posterior.
Baseando-se em conhecimento
dos aspectos ópticos dos dentes natu-
rais, bem como o comportamento visual das atuais resinas restauradoras e
observando as diferentes características, correlacionado-os, é possível atingir-se o crescimento profissional com
relação aos resultados estéticos das
resinas em dentes posteriores.
*Coordenador do Curso de Mestrado em Materiais
Dentários da Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul
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