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Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014
V Enebio e II Erebio Regional 1
EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO DISCIPLINA CURRICULAR:
POSSIBILIDADES FORMATIVAS
Ana Gardênia Sampaio Foeppel (Universidade Estadual do Ceará – UECE, Colégio Santa
Cecília e Rede Estadual de Ensino) e Francisco Marcôncio Targino de Moura
(Universidade Estadual do Ceará – UECE, Colégio Santa Cecília e Rede Municipal de
Ensino).
RESUMO
A pesquisa deste trabalho suscitou da questão norteadora: o que diz a legislação sobre a
educação ambiental no âmbito escolar? Nosso objetivo foi investigar como a inserção da
disciplina de educação ambiental no currículo escolar atua de forma significativa na formação
de uma conscientização discente quanto às questões ambientais de forma a provocar
mudanças em suas práticas cotidianas. A pesquisa realizada foi predominantemente
qualitativa, escolhendo-se como método a pesquisa bibliográfica. Ao ser inserida como uma
disciplina curricular a Educação Ambiental passa a ter materiais didáticos e ganha espaço para
um trabalho mais sistemático e efetivo quanto a formação crítica, atitudinal e de consciência
para as questões ambientais.
Palavras Chaves: Currículo, Disciplina e Educação Ambiental.
INTRODUÇÃO
Os problemas ambientais pelos quais vem passando o nosso planeta, trouxe à tona
a necessidade de revermos nossas atitudes para com o meio ambiente. Efeito estufa, chuva
ácida, desertificação e muitas outras situações interferem na vida em nosso planeta.
A exploração dos recursos naturais para abastecer as indústrias e o mercado
consumidor que tem cada vez mais adeptos prejudica a manutenção da vida na Terra. Para
conseguir solucionar os diversos problemas ambientais que afetam o mundo atualmente se faz
necessário a participação de todos em estabelecer mudanças de concepções e atitudes.
Silva 2011, citando Noal e Barcelos 2012, afirma que “o descontentamento e a
não aceitação passiva do que está acontecendo no mundo é o que pode suscitar nossa criação
imaginativa na construção de uma teoria crítica do que existe, e viabilizar sua recuperação”.
(p.35)
O exercício da cidadania deve começar por cada um de nós, em nossas atitudes
cotidianas, nos simples momentos em que agimos para com o meio ambiente.
Reconhecer-se a si mesmo, como sujeito da história comunitária pode ser mais
complicado e penoso do que tentar reconhecer o outro sob o mesmo aspecto.
Reconhecer o outro não significa necessariamente apreciá-lo, mas sim, respeitar
sua história e individualidade. (SILVA, 2011, p. 35 APUD REIGOTA, 2003).
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Para exercer a cidadania se faz necessário não apenas o reconhecimento da
própria importância na construção da história da nossa terra, mas também a intervenção e
ação de cada um na construção de planeta digno de ser habitado. Esse desafio exige uma nova
postura frente às questões ambientais para que possamos atuar como protagonistas do
desenvolvimento de um planeta sustentável e não como um espectador de sua destruição.
Partindo do exposto anteriormente, suscitamos como questões norteadoras deste
trabalho os seguintes questionamentos: a) O que diz a legislação sobre a educação ambiental
(EA) no âmbito escolar?; b) Que relação as abordagens sugeridas para educação ambiental
mantêm com o trabalho formativo desenvolvido no contexto escolar? e c) Em que a inserção
da disciplina de Educação Ambiental no currículo escolar modifica hábitos, valores e atitudes
dos discentes quanto a uma melhor conscientização ambiental?
Ao longo de nossa pesquisa de especialização, procuramos responder esses
questionamentos, visando suscitar contribuições para a melhoria do trabalho formativo da
Educação Ambiental.
Nosso objetivo geral nesta pesquisa foi investigar como a inserção da disciplina
de Educação Ambiental no currículo escolar atua de forma significativa na formação de uma
conscientização discente quanto às questões ambientais de forma a provocar mudanças em
suas práticas cotidianas. Mais especificamente trilhamos em nosso caminho a busca de: a)
Analisar a legislação pertinente a educação ambiental quanto a sua inserção no contexto
escolar; b) Observar a relação entre as abordagens sugeridas para educação ambiental e o
trabalho docente desenvolvido na disciplina de educação ambiental no currículo do ensino
fundamental e c) Investigar em que a inserção da disciplina de Educação Ambiental no
currículo escolar modificou hábitos, valores e atitudes dos discentes quanto a uma melhor
conscientização ambiental.
Após a escolha do percurso metodológico demos início a uma ampla revisão da
literatura buscando fundamentar nosso objeto de pesquisa. Nesse trabalho nos deparamos com
periódicos, resoluções, pareceres e livros que abordavam a temática escolhida por nós.
UM MERGULHO NA LITERATURA
Diretrizes Curriculares para a Educação Ambiental
É de grande importância a disseminação dos documentos que legitimam a
Educação Ambiental no Brasil, principalmente a Lei No 9795/99 que instituiu a Educação
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Ambiental no Brasil e que serviu de base para a resolução Nº. 2, de 15 de junho de 2012, que
estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental, para que os
docentes possam direcionar suas práticas na Educação Ambiental em todos os níveis de
ensino, desde a Educação Básica ao Ensino Superior.
O Capítulo I das Diretrizes Nacionais Curriculares da Educação Ambiental
define os princípios que a norteiam a partir do que dispõe a Lei Nº. 9.795, de 1999, são eles:
I - totalidade como categoria de análise fundamental em formação, análises,
estudos e produção de conhecimento sobre o meio ambiente;
II - interdependência entre o meio natural, o socioeconômico e o cultural, sob o
enfoque humanista, democrático e participativo;
III - pluralismo de ideias e concepções pedagógicas;
IV - vinculação entre ética, educação, trabalho e práticas sociais na garantia de
continuidade dos estudos e da qualidade social da educação;
V - articulação na abordagem de uma perspectiva crítica e transformadora dos
desafios ambientais a serem enfrentados pelas atuais e futuras gerações, nas
dimensões locais, regionais, nacionais e globais. (BRASIL, 2012, p. 70)
Ao observarmos cada um destes princípios norteadores da Educação Ambiental,
percebemos algumas palavras chaves que nos servem como conceitos guias: totalidade,
interdependência, pluralismo, ética, articulação, perspectiva crítica, transformadora, respeito,
pluralidade, multiculturalidade, plurietnicidade, cidadania planetária. São conceitos que
devem ser incorporados por todo corpo docente no desenvolvimento da Educação Ambiental.
O Capítulo II das Diretrizes Nacionais Curriculares da Educação Ambiental
define os objetivos da Educação Ambiental a serem concretizados conforme cada fase, etapa,
modalidade e nível de ensino. São eles:
I - desenvolver a compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas e
complexas relações para fomentar novas práticas sociais e de produção e
consumo;
II - garantir a democratização e o acesso às informações referentes à área
socioambiental;
III - estimular a mobilização social e política e o fortalecimento da consciência
crítica sobre a dimensão socioambiental;
IV - incentivar a participação individual e coletiva, permanente e responsável, na
preservação do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-se a defesa da
qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania;
V - estimular a cooperação entre as diversas regiões do País, em diferentes
formas de arranjos territoriais, visando à construção de uma sociedade
ambientalmente justa e sustentável;
VI - fomentar e fortalecer a integração entre ciência e tecnologia, visando à
sustentabilidade socioambiental;
VII - fortalecer a cidadania, a autodeterminação dos povos e a solidariedade, a
igualdade e o respeito aos direitos humanos, valendo-se de estratégias
democráticas e da interação entre as culturas, como fundamentos para o futuro da
humanidade;
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VIII - promover o cuidado com a comunidade de vida, a integridade dos
ecossistemas, a justiça econômica, a equidade social, étnica, racial e de gênero, e
o diálogo para a convivência e a paz;
IX - promover os conhecimentos dos diversos grupos sociais formativos do País
que utilizam e preservam a biodiversidade. (BRASIL, 2012, p. 70).
Os objetivos listados acima são amplos e representam uma visão sistêmica,
buscando o desenvolvimento de uma postura cidadã crítica em relação ao meio ambiente em
que vivemos contemplando diversos aspectos: culturais, socioeconômicos, entre outros para
as práticas em Educação Ambiental.
O Capítulo III das Diretrizes Nacionais Curriculares da Educação Ambiental
propõe a organização curricular, onde se destaca que todos os compromissos da instituição de
ensino, inclusive os ambientais, devem está presentes nos projetos institucionais e
pedagógicos da Educação Básica e Superior. Deve se considerar os níveis do curso, idades e
especificidades dos estudantes, inclusive no que se diz respeito ao ambiente em que estes
estudantes estão inseridos. O currículo deve ser diversificado, valorizando-se as diversidades
sociais, éticas e culturais dos estudantes, estimulando-os à incorporarem valores de pertence,
respeito e cooperação em relação ao meio ambiente.
O planejamento curricular deve estimular uma visão integrada e multidimensional
do ambiente, o pensamento crítico para a visão de sustentabilidade ambiental e cooperação, o
reconhecimento e valorização das diferentes formas de saberes e olhares para questão
ambiental, vivências que possibilitem a formação de um sentimento no qual o discente se
sinta parte do meio ambiente, reflexões sobre os diferentes tipos de desigualdades e seus
impactos ambientais, linguagens múltiplas para a execução de ações éticas em relação ao
meio ambiente.
A Educação Ambiental como disciplina do currículo.
Conforme a Lei 9795/99, a Educação Ambiental não deve estar presente no
currículo escolar como uma disciplina, porque ela não se destina a isso, mas sim como um
tema que permeia todas as relações e atividades escolares. Com o objetivo de inserir os temas
ambientais no fazer diário da escola, dentro das salas de aula, a Educação Ambiental foi
inserida no currículo escolar como tema transversal.
Segundo as orientações dos PCN, a Educação Ambiental deve ser trabalhada de
forma interdisciplinar. Na teoria, vemos isso nos planos de curso de muitas disciplinas de
escolas, mas na prática não acontece. Segundo Bizerril e Faria 2001, para os professores os
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PCN não estão totalmente claros e eles sentem dificuldades na compreensão da proposta em si
ou então na forma de executá-la e que muitos tendem a fugir do aprofundamento do tema por
desinteresse ou despreparo. Isso porque o trabalho interdisciplinar ainda traz angústia e medo,
principalmente porque na sua formação não foram preparados para esta prática, e por isso
sentem muita dificuldade em executá-lo; outra dificuldade é o excesso de conteúdos que os
professores ministram em sua disciplina curricular.
Assim, a falta de preparo na formação dos professores e a grande quantidade de
conteúdos em cada disciplina, fazem com que o tema Meio Ambiente seja abordado de uma
forma simples e reducionista apenas por disciplinas consideradas mais intimamente ligadas,
como ciências e geografia.
O relato de uma professora do Distrito Federal descreve exatamente essa situação
A gente vê muita resistência. Matérias academicamente mais importantes têm
sempre um espaço muito limitado para tentar uma discussão coletiva na escola.
Sinto um certo bloqueio para me inserir no contexto escolar, com esta hierarquia.
Eu acho que os professores não estão preparados para a interdisciplinaridade,
estão muito fechados. (BIZERRIL E FARIA, 2001, p. 61).
Enquanto esse modelo de educação existir, onde as disciplinas curriculares
estiverem sobrecarregadas de conteúdos e não houver uma melhor formação para os cursos de
licenciaturas ou pelos menos formações continuadas nas instituições de ensino, os temas
transversais ficarão de lado e com isso a formação de cidadãos críticos e participativos sobre
as questões ambientais também. Para modificar a escola será imprescindível modificar, antes
de tudo, a formação de seus professores.
Apesar da Lei 9795/99 indicar que a inclusão da Educação Ambiental no currículo
escolar não deve ocorrer na forma de uma disciplina específica do currículo, muitos
argumentam que diante de toda problemática ambiental que vivemos hoje, a EA deveria ser
inserida na grade curricular como disciplina para produzir resultados mais eficazes para a
tomada de consciência e cooperação efetiva para o desenvolvimento sustentável.
Segundo Bernardes e Prieto os principais argumentos usados para a introdução da
Educação Ambiental como disciplina curricular são:
- A transversalidade não funciona na prática, nem há garantias de que ela seja
praticada nas escolas e instituições de ensino;
- Como uma disciplina, a Educação Ambiental ganharia espaço na grade
curricular e com isso visibilidade e materiais didáticos específicos;
- Há diversos Educadores Ambientais, muitos formados em cursos de extensão e
de especialização, mas que tem, muitas vezes como obrigação, que ministrar
aulas de português, geografia, Ciências e Química para desenvolver atividades
de Educação Ambiental nas Escolas. (2010, p. 178)
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Diante desta situação, enquanto a Educação Ambiental não se tornar uma
disciplina específica do currículo, ela não terá o seu merecido espaço na escola e os cidadãos
desse país continuarão a exercer práticas não efetivas quanto a conscientização ambiental.
As abordagens da Educação Ambiental na sua relação com a escola.
O trabalho em Educação Ambiental, assim como qualquer trabalho educativo, que
envolva a formação de cidadãos, não pode ser constituído de práticas descontextualizadas. A
Educação Ambiental crítica deve possibilitar aos estudantes uma sensibilização com as
questões relativas ao meio e a aquisição de conhecimentos geradores de ações, jamais poderá
ser usada para alienar pessoas para aceitar o sistema socioeconômico vigente. Assim, a
concretização dos objetivos da Educação Ambiental, irá depender da forma como são
encaminhadas as diferentes fases de trabalho em EA.
Segundo Dias,
Os novos métodos para a E.A dão prioridade a problemas concretos, à utilização
do meio ambiente imediato como recurso pedagógico, à colaboração entre o
pessoal docente de diferentes disciplinas e à necessidade que a escola esteja
aberta à comunidade. (2004, p.212).
Utilizar o meio ambiente que o aluno está inserido é a melhor formar de
conscientizá-lo dos problemas locais para que ele possa ter uma dimensão dos problemas
globais, e assim, conduzir este aluno a mudanças de atitudes. Seria interessante que os alunos
não estivessem alheios aos problemas que fazem parte das comunidades em que eles estão
inseridos, pois “a ação educativa não consegue sair do marco escolar para interessar-se pela
comunidade e fazer como que os alunos participem de suas atividades.” (DIAS, 2004, p. 212).
Segundo Dias 2004 alguns princípios básicos servem como norteadores das
abordagens que devem estar presentes no contexto escolar. São eles:
1) Considerar o meio ambiente em sua totalidade, isto é, em seus aspectos naturais
e criados pelo homem (político, social, econômico, científico-tecnológico e histórico).
O ambiente deve ser estudado numa abordagem holística, do todo, considerandose todos os aspectos que afetam direta ou indiretamente a vida, buscando a compreensão da
teia de relações ecológicas, políticas, socioculturais e econômicas que fazem parte da
constituição deste meio.
2) Construir um processo contínuo e permanente, através de todas as fases do
ensino formal e não formal. A EA deve ter apenas início, mas não deve ter meio nem fim,
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visto que é um processo que deve começar em casa, antes mesmo de a criança ingressar à
escola e perdurar para o resto da vida.
3) Aplicar um enfoque interdisciplinar, aproveitando o conteúdo específico de
cada disciplina, de modo que se adquira uma perspectiva global e equilibrada.
O ambiente tem uma natureza complexa e que é possível a abordagem
interdisciplinar, no entanto, na prática os professores em sua maioria não se sentem
confortáveis com este tipo de trabalho e, assim, a EA vai ficando de lado nas escolas.
OS PASSOS DA CAMINHADA
A pesquisa realizada neste trabalho foi predominantemente qualitativa, uma vez
que, “compreende um conjunto de diferentes técnicas interpretativas que visam a descrever e
a decodificar os componentes de um sistema complexo de significados” (NEVES, 1996, p.1),
escolhendo-se como método a pesquisa bibliográfica.
A pesquisa bibliográfica representa a “coleta e armazenagem de dados de entrada
para a revisão, processando-se mediante levantamento das publicações existentes sobre o
assunto ou problema em estudo, seleção, leitura e fichamento das informações relevantes”
(MOREIRA 2004, P.25, APUD CALDAS, 1986).
Em nossa revisão da literatura foram realizadas consultas às leis, pareceres,
resoluções, livros e artigos científicos. Nessa garimpagem pudemos fundamentar melhor
nosso objeto de pesquisa, bem como investigar trabalhos e pesquisas que utilizaram o tema.
A pesquisa foi desenvolvida no primeiro semestre de 2013, tendo como lócus de
pesquisa uma Escola Particular de Fortaleza.
Os critérios para escolha do lócus de pesquisa foram: a) Boa receptividade para
realização da pesquisa e b) possuir a disciplina de EA como componente curricular.
O instrumento usado para coleta de dados foi o questionário aberto com perguntas
que procuravam coletar os dados empíricos que fundamentassem nosso objeto de pesquisa.
Os sujeitos da pesquisa foram 10 alunos do 9º ano do ensino fundamental que no
ano de 2012, ao cursarem o 8º ano tinham em seu currículo a disciplina de Educação
Ambiental e o docente que ministrou a disciplina de EA. A análise se deu confrontando os
dados empíricos com a revisão da literatura já realizada, e que apresentaremos a seguir.
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AS EVIDÊNCIAS DO PERCURSO
A seguir apresentaremos a análise das principais respostas alcançadas com a
aplicação dos questionários investigativos. Assim, poderemos através dos resultados elaborar
um cenário que possibilite uma melhor compreensão sobre como a inserção da disciplina de
Educação Ambiental no currículo escolar atua de forma significativa na formação de uma
conscientização discente quanto às questões ambientais de forma a provocar mudanças em
suas práticas cotidianas.
 Análises e Discussões do questionário investigativo aplicado a docente.
PERGUNTA 1 - Quais os Objetivos da Disciplina de Educação Ambiental?
Segundo a professora investigada, a Educação Ambiental como disciplina
curricular tem como objetivos:
•
•
•
Promover a conscientização dos educandos acerca do drama dos problemas
ambientais que clamam por soluções imediatas.
Promover conhecimento para que os educandos possam discutir sobre projetos
ambientais dentro de suas casas, escolas, comunidades, etc.
Conscientizar os estudantes quanto à importância e à responsabilidade de suas
participações como agentes transformadores que lutam por uma melhor
qualidade de vida coletiva e individual; despertando o amor, o respeito e a
sensibilidade pelo ambiente equilibrado.
Observa-se que a resposta da professora explicita a Educação Ambiental como um
meio de conscientização crítica para as questões relacionadas ao Meio Ambiente.
Os objetivos citados pela professora também expressam coerência com o V
princípio das Diretrizes Nacionais Curriculares da Educação Ambiental que diz ser necessária
a “articulação na abordagem de uma perspectiva crítica e transformadora dos desafios
ambientais a serem enfrentados pelas atuais e futuras gerações, nas dimensões locais,
regionais, nacionais e globais”. (BRASIL, 2012, p. 70).
PERGUNTA 2 – Como são desenvolvidas as aulas de Educação Ambiental?
Segundo a professora, as aulas são:
Contextualizadas e estimuladoras da participação do aluno, trabalhando de forma
coerente os conteúdos conceituais, atitudinais e procedimentais. O conhecimento
tem sempre uma abordagem reflexiva, em que se busca dar sentido a este no
cotidiano do educando. Nas aulas usamos recursos como: análise de músicas, de
filmes e de vídeos; multimídia, aula de campo; e projetos como o Empresa
Sustentável.
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Como o objetivo da EA é sensibilizar para a atuação participativa, ela precisa
atingir os sentimentos, despertar indignações com a realidade, levar a autocrítica para que os
estudantes, saiam da situação de expectadores para agentes transformadores.
Segundo Berna 2001, as atividades de EA na educação formal devem colocar os
estudantes em situações que sejam formadoras, estejam dentro de suas realidades e os façam
compreender a visão física, cultural, político-econômica e ética do ambiente no qual eles
fazem parte.
 Análises e Discussões do questionário investigativo aplicado aos discentes.
A análise das respostas do questionário destinado aos alunos será apresentada e
discutida a seguir. Como havia uma semelhança muito grande entre algumas das respostas,
diferindo apenas em palavras, tomamos a liberdade de sintetizá-las de forma a representar um
grupo de alunos quando necessário.
PERGUNTA 1 - Você gostava da disciplina de Educação Ambiental? Por quê?
Observa-se na primeira pergunta que 2 dos sujeitos não gostavam da disciplina
EA, enquanto que 8 gostavam da disciplina.
Os que não gostavam da disciplina justificam sua resposta dizendo que:
Porque aquela disciplina falava de assuntos já vistos em relação à preservação do
meio ambiente, fato que tornava as aulas bem entediantes. E eu prefiro ver
assuntos relacionados a preservação do meio ambiente em outras matérias.
(ALUNO 5).
Porque não era legal. Mas eu acho que a disciplina de educação ambiental é
muito importante, porque a população precisa ter consciência ambiental. A
preservação do meio ambiente é muito importante para a nossa sobrevivência.
(ALUNO 7).
Nota-se na fala do aluno 5 que o mesmo prefere que as questões ambientais sejam
trabalhadas de forma transversal, perpassando por várias disciplinas como preconizam os
PCN. Já o aluno 7 não gostava da disciplina, mas reconhece sua importância na formação
crítica dos alunos.
A maioria dos alunos gostava da disciplina de EA, afirmando que:
Porque a natureza e o meio ambiente nos fornecem uma quantidade enorme de
matérias primas, que muitas vezes são exploradas em excesso pelo ser humano.
Por isso devemos ter o mínimo de respeito por ela e a disciplina de educação
ambiental serve para conscientizar os alunos da importância de preservar o
ecossistema e a natureza, nos ensinando métodos práticos de seguir no dia a
dia. (ALUNOS 1, 2, 6, 8 e 9, grifo nosso).
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Porque me ensinava coisas úteis e deixava-me sempre atento com a natureza,
para cuidá-la já que é o nosso lar. Ensinava-nos a preservação ambiental e
projetos que não prejudicava a natureza. (ALUNOS 3, 4 e 10).
Observamos que o pensamento dos alunos expressa conforme Dias, as finalidades
da Educação Ambiental que são:
Proporcionar a todas as pessoas a possibilidade de adquirir conhecimentos, o
sentido dos valores, o interesse ativo e as atitudes necessárias para protegerem e
melhorarem o meio ambiente; Induzir novas formas de conduta, nos indivíduos e
na sociedade, a respeito do meio ambiente. (2004, p. 109 e 110)
Os objetivos da Educação Ambiental têm a finalidade de desenvolver certas
atitudes e competências que ajudem os indivíduos e os grupos sociais na tomada de
consciência, nos conhecimentos, nas atitudes e na participação efetiva.
PERGUNTA 2 - A disciplina de educação ambiental trabalhava temas que buscavam
desenvolver senso crítico para uma consciência de preservação? Quais?
Observamos que 100% dos alunos afirmam que a disciplina de EA forma senso
crítico para as questões ligadas a preservação ambiental. Isso denota que um dos objetivos
colocados pela professora, como também os apresentados em nossa revisão da literatura para
a disciplina estão sendo alcançados.
Sobre quais temas eram trabalhados na disciplina de EA, para desenvolver senso
crítico na perspectiva de uma consciência de preservação, os alunos dizem que:
Aprendíamos através de trabalhos a importância de respeitar a natureza, e
incentivarmos os outros a fazer isso também. Fizemos um trabalho muito
interessante de criar uma empresa que produzisse produtos sustentáveis, ou seja,
de forma dinâmica fomos aprendendo a cuidar do meio ambiente. Estudamos o
desenvolvimento sustentável, reutilização de materiais e preservação da água.
(ALUNOS 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10).
Os temas escolhidos para serem trabalhados em EA devem está dentro da
realidade dos sujeitos a quem se deseja a formação, para que eles fiquem motivados, já que
através das atividades propostas eles adquirem conhecimentos e não ficam alheios aos
problemas que interferem diretamente nas suas qualidades de vida.
PERGUNTA 3 - Você mudou algumas de suas atitudes e valores com relação ao meio
ambiente, depois de cursar a disciplina de Educação Ambiental? Quais?
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Novamente vê-se que 100% dos alunos afirmam que mudaram suas atitudes e
valores com relação ao meio ambiente, depois de cursar a disciplina de Educação Ambiental.
Através de pequenas ações eu tento fazer a minha parte e quando possível,
incentivo o outro a fazer também algo pela natureza. (ALUNOS 1, 7 e 8).
Eu passei a usar a água de forma mais controlada, passei a usar somente o
necessário e comecei a pensar duas vezes antes de utilizar uma folha branca, por
exemplo. (ALUNOS 2, 5, 6 e 10 ).
Me ensinou a ter cuidado com o planeta, com a poluição, me ensinou a reciclar, a
ter cuidado com a fauna e a flora, além de também ter cuidado com os gases
poluentes e com a vida marinha e fluvial. (ALUNOS 3 e 10).
Convenci a minha mãe a comprar lixeiras para coleta seletiva e comprar folhas já
recicláveis, ou reutilizar folhas impressas e usar a parte de trás. (ALUNO 4 ).
Para o exercício da cidadania deve-se começar uma mudança pessoal em nossas
atitudes cotidianas, nos simples momentos em que agimos para com o meio ambiente, pois
“reconhecer-se a si mesmo, como sujeito da história comunitária pode ser mais complicado e
penoso do que tentar reconhecer o outro sob o mesmo aspecto. Reconhecer o outro não
significa necessariamente apreciá-lo, mas sim, respeitar sua história e individualidade.”
(SILVA, 2011, p. 35 APUD REIGOTA, 2003).
Para exercer a cidadania se faz necessário não apenas o reconhecimento da
própria importância na construção da história da nossa terra, mas também a intervenção e
ação de cada um na construção de planeta digno de ser habitado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Educação Ambiental ganhou expressividade a partir de reflexões feitas sobre os
impactos ambientais consequentes da ação humana sobre a natureza. Esse fato deu origem à
elaboração de uma série de documentos e criação de órgãos que tinham como objetivo refletir
sobre as condições ambientais, sugerindo ações que viessem a evitar a degradação ambiental e
consequentes prejuízos à vida humana.
A Lei 9795/99 na seção II, que trata da EA no ensino formal, em seu artigo 10º,
inciso 1º, afirma que a EA não deve ser implantada como disciplina no currículo de ensino,
talvez por isso as questões ambientais passaram a ser tratadas como tema transversal.
Contrária a posição da Lei 9795/99 e dos PCN que coloca o meio ambiente como
um tema transversal, autores como Bernardes e Prieto 2010, defendem a inserção da
disciplina de EA como um componente curricular, uma vez que a transversalidade não
funciona na prática. Ao ser inserida como uma disciplina curricular a EA passa a ter materiais
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didáticos e ganha espaço para um trabalho mais sistemático e efetivo quanto a formação
crítica, atitudinal e de consciência para com as questões ambientais.
Concluindo o estudo, gostaríamos de enfatizar as seguintes considerações:
1. A disciplina de EA como componente curricular tem seus objetivos em consonância com o
que preconizam os vários documentos que tratam da temática;
2. A EA é melhor desenvolvida como disciplina do currículo da Educação Básica, do que
como tema transversal, pois alcança de forma mais efetiva seus objetivos e garante seu
trabalho de forma mais segura na formação dos alunos;
3. A disciplina promove uma real mudança de postura dos alunos quanto as questões
ambientais cotidianas, regionais e mundiais, formando senso crítico e participativo quanto a
preservação do meio ambiente.
A maneira mais prática para incentivar os jovens estudantes de hoje, é integrando
o conteúdo sobre a preservação do meio ambiente ao seu cotidiano.
A inserção da EA como um componente curricular na educação básica, mostra-se
como uma possibilidade efetiva para um trabalho de formação crítica dos alunos como
agentes ativos na preservação do planeta.
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Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014
V Enebio e II Erebio Regional 1
NEVES, J. L. Pesquisa Qualitativa. Características, usos e possibilidades. Caderno de
pesquisas em administração. São Paulo, V.1 n. 3,2 Sem. 1996. Disponível em
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SILVA, Raffael Coutinho Novaes da. Impactos socioambientais do Lixo Hospitalar.
Monografia de Especialização. 82f. Rio de Janeiro: Universidade Candido Mendes, Curso de
Especialização em Gestão Ambiental, 2011.
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