Revista HUGV 2009 - Hospital Universitário Getúlio Vargas

Transcrição

Revista HUGV 2009 - Hospital Universitário Getúlio Vargas
revistahugv
Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
The Journal of Getulio Vargas University Hospital
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO GETÚLIO VARGAS
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Lourivaldo Rodrigues de Souza
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Rosane Dias da Rosa
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Wilson Bulbol
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revistahugv
Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
The Journal of Getulio Vargas University Hospital
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA
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HOSPITAL UNIVERSITÁRIO GETÚLIO VARGAS
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R454 Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas.
Revista do Hospital Getúlio Vargas. V. 8, n. 1-2 (2009) / Manaus: Editora da Universidade
Federal do Amazonas, 2009.
178 p.
Semestral
Título da revista em português inglês
ISSN – 1677-9169
1. Medicina-Periódico I. Hospital Universitário Getúlio Vargas II. Universidade Federal do
Amazonas.
CDU 61(051)
Sumário
Editorial
09
Prof. Dr. Lourivaldo Rodrigues de Souza – Diretor do HUGV
Artigos Originais
1. Ocorrência de complicações respiratórias no pós-operatório de cirurgias
abdominais
11
2. Detecção de hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus e obesidade em
pessoas da 3ª idade de um município do alto Solimões
20
3. Empiema pleural no adulto e adolescente: Prevalência, tratamento e evolução
no período de janeiro 1995 a janeiro de 2005.
30
4. Correção da deformidade de parede torácica anterior pela técnica de Nuss – A
experiência inicial em Manaus
40
Artigo de Revisão
5. Indicações atuais da cirurgia poupadora de néfrons nos tumores renais. Um
artigo de revisão.
47
Relato de Caso
6. Abordagem cirúrgica extra-oral no tratamento de rânula mergulhante - relato
de caso
55
7. Comprometimento da coluna cervical na artrite reumatóide grave: melhora
com tratamento clínico
62
8. Neoplasia de células germinativas em crianças: relato de caso e revisão de
literatura
72
9. Ingestão inadvertida de chumbo em animal caçado como causa de apendicite
aguda
79
10. Adenoma de vesícula biliar: relato de caso
83
11. Tamponamento cardíaco traumático tardio: relato de caso
87
12. Síndrome do Lobo médio: relato de caso
94
Anais da V Jornada de Saúde da Amazônia Ocidental
101
Contents
Editorial
09
Prof. Dr. Lourivaldo Rodrigues de Souza – Diretor do HUGV
Original Articles
1. Occurrence of respiratory complications in the postoperative period of
abdominal surgeries
11
2. Systemic hypertension, diabetes mellitus and obesity in participants of third
age’s group in a city of the high Solimões river
20
3. Pleural Empyema in the adult and adolescent: Prevalence, treatment and
evolution in the period of January 1995 the January of 2005
30
4. Anterior chest wall deformity correction by Nuss technic – Initial experience
of Manaus
40
Article Review
5. Current indications of nephron-sparing surgery in renal tumors. A review
article.
47
Case Report
6. Surgical management extra-oral in treatment of plunging ranula – case report
55
7. Impairment of the cervical spine in severe rheumatoid arthritis: clinical
treatment with improvement of symptoms
62
8. Germ cell neoplasia in children: case report and literature review
72
9. Inadvertent consumption of leads in animal hunted as causes of sharp
appendicitis
79
10. Gallblader adenoma: case report
83
11. Late traumatic cardiac tamponade: case report
87
12. Middle lobe syndrome: case report
94
Annals
101
Editorial
O convite para prefaciar esta revista levou-me a experimentar dois sentimentos
agradáveis. De um lado, reconhecendo que o processo de escrever significa algo mais do
que a simples ação de registrar fatos e experiências vivenciadas, manifesto alegria sincera
pela contribuição destes jovens autores à produção, à sistematização e à socialização de
mais conhecimentos na área da Saúde. Por outro lado, ciente de que a responsabilidade
de prefaciar uma revista constitui uma honra conferida pelo editor para opinar sobre esta
obra, não poderia deixar de expressar também o orgulho que sinto ao ter acompanhado,
há quase dez anos, o seu nascimento e, nos últimos anos, o desenvolvimento profissional
destes talentosos investigadores que publicam suas experiências científicas.
Manter a qualidade do conteúdo da revista do HUGV é sem dúvida uma característica
peculiar do seu editor. Portanto, as qualidades requeridas para o trabalho científico, como,
por exemplo, rigor, seriedade, lógica do pensamento, busca da prova, etc., indispensáveis
ao pesquisador, são aqui observadas. Cada artigo tem sempre, de forma implícita ou
explícita, as marcas do caráter de quem o escreve. O ato de escrever um artigo é, além
de tudo, uma iniciativa para despertar o interesse pela pesquisa e a paciência na busca
da verdade. Os autores a fazem de forma bastante determinada e também corajosa, ao
articularem os conhecimentos básicos de estatística para ler e interpretar evidências do
cotidiano profissional.
Esta revista constitui uma obra indispensável à formação inicial e continuada
daqueles que interagem com o Hospital Universitário Getúlio Vargas, não tão somente no
campo da medicina, mas nas demais áreas da saúde, para que as pessoas possam aprender
a investigar por meio da prática de pesquisa, enfrentando problemas difíceis e aprendendo
com os erros, porque ninguém está isento de cometer erros. Há, ao longo da revista,
uma ambição de conhecimento e demonstração clara de que os autores são participantes
efetivos do campo que estudam. Evidentemente, há um longo caminho a trilhar, onde
muitos superaram o desafio inicial e apresentam suas contribuições na tentativa de reduzir
a demanda reprimida de obras desta natureza. Gostaria de ressaltar o empenho que o
editor está fazendo ao longo desses anos para manter o padrão da revista. Como membro
do Conselho Editorial e como diretor do HUGV, sinto-me honrado ao poder descrever esses
sentimentos a respeito da qualidade da revista, dos seus autores e do seu editor.
Por fim, devo enfatizar que nossa memória ficará nos registros oficiais que um
dia decidimos fazer, pois as palavras voam e o que escrevemos ficará para as futuras
gerações.
Lourivaldo Rodrigues de Souza
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Edson de O. Andrade, Elaine Cristina M. Fonseca, Ângela Maria M. Silva,
Fábio A. Bindá, Diego Carvalho, Cristiane de Brito Vieira
OCORRÊNCIA DE COMPLICAÇÕES
RESPIRATÓRIAS NO PÓS-OPERATÓRIO DE
CIRURGIAS ABDOMINAIS*
OCCURRENCE OF RESPIRATORY COMPLICATIONS IN THE
POSTOPERATIVE PERIOD OF ABDOMINAL SURGERIES
Edson de Oliveira Andrade,* Elaine Cristina Marinho da Fonseca,**
Ângela Maria Melo da Silva,*** Fábio Arruda Bindá,**
Diego Carvalho,****Cristiane de Brito Vieira****
RESUMO
As complicações pulmonares no pós-operatório (CPP) devem ser consideradas como uma
segunda doença, que ocorrem até trinta dias após o procedimento, ou a exacerbação de uma
mesma doença preexistente em decorrência da cirurgia. A incidência de CPP está relacionada
ao tipo de cirurgia, à alteração da mecânica respiratória do diafragma e padrão respiratório
apical e superficial, à custa de um volume respiratório baixo. As cirurgias de tórax e abdome
superior foram as grandes responsáveis pelas complicações pulmonares. As principais
CPPs encontradas são atelectasia, infecção traqueobrônquica, pneumonia, insuficiência
respiratória aguda, ventilação mecânica e/ou intubação orotraqueal prolongadas, e
broncoespasmo. OBJETIVO: verificar a incidência e tipos de complicações pulmonares em
pacientes no pós-operatório de laparotomias eletivas na Fundação Hospital Adriano Jorge.
MÉTODOS: Trata-se de um estudo de coorte, prospectivo, que investigou 54 pacientes
submetidos a cirurgias abdominais, nos quais se investigou fatores de risco relacionados aos
pacientes, ao ato anestésico-cirúrgico, bem como a função pulmonar pré e pós-operatória.
Os pacientes foram classificados pela escala de Torrington-Henderson. RESULTADOS: Todos
os pacientes foram classificados como baixo risco pela escala de Torrington e Henderson.
Foi verificada a ocorrência de um caso CPP (atelectasia sintomática), de diminuição do VEF1
*Professor-adjunto da Universidade Federal do Amazonas e ex-professor de Clínica Médica da UEA; TECMSBCM e TEPT-SBPT
**Médica (o) bolsista de iniciação científica da Fapeam
***Médica residente de Anestesiologista do Hospital Universitário Getúlio Vargas – Ufam
****Acadêmicos de Medicina – UEA
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OCORRÊNCIA DE COMPLICAÇÕES RESPIRATÓRIAS NO
PÓS-OPERATÓRIO DE CIRURGIAS ABDOMINAIS
e da VEF6 no pós-operatório quando comparado com as medidas no pré-operatório, sendo
essas diminuições mais intensas nas cirurgias supraumbilicais. CONCLUSÃO: Foi observada
uma baixa incidência de CPP em nosso estudo, que provavelmente está relacionada ao baixo
risco apresentado na escala de Torrington-Henderson pela população estudada.
Palavras-chave: Complicações, Pós-Operatório, Pulmonares, Espirometria.
ABSTRACT
Pulmonary complications in the postoperative period (CPP) should be considered as a
second disease, which occur up to thirty days after the procedure, or the exacerbation of a
preexisting disease that due to surgery. The incidence of CPP is related to the type of surgery,
the change of respiratory mechanics and diaphragm breathing pattern and apical surface,
the cost of a low volume breathing. The surgery of the chest and upper abdomen were
the major responsible for pulmonary complications. The main CPP are found atelectasis,
tracheobronchial infection, pneumonia, respiratory failure, mechanical ventilation and
/ or prolonged tracheal intubation and bronchospasm. OBJECTIVE: To determine the
incidence and types of pulmonary complications in patients in the postoperative period
of elective laparotomies in Hospital Adriano Jorge Foundation. METHODS: This was a
cohort study, prospective, who investigated 54 patients undergoing abdominal surgery,
which investigated risk factors related to patients, the anesthesia, surgical and pulmonary
function pre-and postoperative. Patients were classified by the scale of TorringtonHenderson. RESULTS: All patients were classified as low risk by the scale of Torrington and
Henderson. It was verified the occurrence of an event PPCs (atelectasis symptomatic), the
decrease in FEV1 and VEF6 in postoperative compared with preoperative measures, these
being more severe decreases in the supra-umbilical surgery. CONCLUSION: There was a
low incidence of CPP in our study, which is probably related to low risk presented in the
scale of the Torrington-Henderson population.
Keywords: Complications, Postoperative, Pulmonary, Spirometry.
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Edson de O. Andrade, Elaine Cristina M. Fonseca, Ângela Maria M. Silva,
Fábio A. Bindá, Diego Carvalho, Cristiane de Brito Vieira
INTRODUÇÃO
no pós-operatório de cirurgia abdominal
alta ocorrem alterações da mecânica
O
conceito
pulmonares
diverge
no
muito
de
pós-operatório
na
respiratória, do padrão respiratório, das
complicações
literatura;
trocas gasosas e dos mecanismos de defesa
(CPP)
pulmonar, propiciando o aparecimento de
contudo,
CPP.4 Acredita-se que a incidência dessas
deve-se considerar que as complicações
complicações possa estar associada à
pós-operatórias são uma segunda doença,
presença de fatores de risco como obesidade,
inesperada, que ocorre até trinta dias após
fumo, doença pulmonar obstrutiva crônica,
o procedimento cirúrgico, ou a exacerbação
etilismo, doença cardíaca, idade avançada,
de uma mesma doença preexistente em
caquexia, baixo status clínico, tempo de
decorrência da cirurgia. Assim, as verdadeiras
cirurgia,
complicações constituem-se em uma doença
capacidade
de permanência no pós-operatório.1; 2
de
CPP
empregada,
anestésico, intubação, tempo de intubação,
paciente e prolonga, principalmente, o tempo
incidência
cirúrgica
valores espirométricos anormais, escolha do
inesperada que traz repercussão clínica para o
A
técnica
tempo
de
diminuída
ao
internação
exercício
e
pré-operatório
está
prolongado. Em suma, a ocorrência da CPP
relacionada ao tipo de cirurgia, à alteração
está associada à existência de fatores de
da mecânica respiratória do diafragma e do
risco
padrão respiratório, à custa de um volume
e pós-operatórios. Um estudo recente
respiratório baixo, bem como a outros
atribuiu a ocorrência da CPP à combinação
fatores que contribuem para a atelectasia
de três fatores: quantidade e tipo de
(redução da capacidade residual funcional
contaminação do sítio cirúrgico, técnicas
(CRF), perda do surfactante pulmonar ou
cirúrgicas e anestésicas empregadas, e
obstrução). Qualquer tipo de cirurgia pode
resistência individual do paciente para
evoluir com tais complicações; contudo, as
o
cirurgias de tórax e do abdome superior são
pulmonares.2
3
as grandes responsáveis pelas complicações
pré-operatórios,
desenvolvimento
trans-operatórios
de
complicações
As principais CPPs encontradas no
pulmonares, estimando-se que há uma
pós-operatório são atelectasia, infecção
redução de 50 a 60% da capacidade vital
traqueobrônquica, pneumonia, insuficiência
e de 30% da CRF, causadas por disfunção
respiratória aguda, ventilação mecânica e/
do diafragma, dor pós-operatória e colapso
ou intubação orotraqueal prolongadas, e
alveolar nessas cirurgias.2 Sabe-se que
broncoespasmo.
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OCORRÊNCIA DE COMPLICAÇÕES RESPIRATÓRIAS NO
PÓS-OPERATÓRIO DE CIRURGIAS ABDOMINAIS
Uma vez que as CPPs em cirurgias
para realização de cirurgia abdominal
de abdome superior são causas importantes
eletiva. A coleta de dados foi realizada
do
é
entre janeiro e julho de 2008. Os fatores
necessário determinar a incidência dessas
de risco referentes aos pacientes estudados
complicações respiratórias em nosso meio,
foram: idade, obesidade (IMC superior
a fim de que se possam realizar medidas
a 30), desnutrição; tabagismo; etilismo;
visando à redução tanto da frequência quanto
doenças
de sua intensidade, assim determinando
atuais; cardiopatias e dados espirométricos
decréscimo da morbimortalidade no pós-
prévios. Os fatores de risco associados aos
operatório e no ônus do tratamento e,
procedimentos estudados foram: a anestesia
principalmente,
(tipo, intercorrências), tempo de cirurgia
aumento
de
morbimortalidade,
proporcionar
melhor
qualidade de vida ao paciente.
pulmonares
preexistentes
e
e intercorrências no ato operatório. Os
pacientes candidatos à laparotomia eletiva
foram submetidos à avaliação clínica pré-
METODOLOGIA
operatória e pós-operatória, consistindo de
história clínica, exame físico, radiografia de
Tratou-se de um estudo de coorte
tórax, espirometria e avaliação pela escala
prospectivo que investigou as CPPs ocorridas
de Torrington e Henderson.
no pós-operatório de cirurgias abdominais.
Esta pesquisa foi desenvolvida na Fundação
A mensuração da função pulmonar
Hospital Adriano Jorge, na cidade de
foi realizada por meio da espirometria,
Manaus, sendo aprovado pelo Comitê de
utilizando o aparelho portátil (Koko Peak
Ensino e Pesquisa ( CAAE-0010.0.252.133-
Pro6 – Ferraris), que analisa o volume
05). A inclusão dos pacientes foi realizada
expiratório no 1.º segundo (VEF1), o
mediante prévia anuência do termo de
volume expiratório no 6.º segundo (VEF6)
consentimento informado e esclarecido.
dos pacientes nos períodos pré e pósoperatório (24h de PO após as herniorrafias
Não houve conflito de interesse
e 48h de PO nas demais cirurgias), sendo
durante toda a fase de desenvolvimento do
que cada paciente executou pelo menos
projeto de pesquisa.
Foram
de
ambos
os
três manobras aceitáveis, sem uso de
avaliados
sexos,
54
pacientes
sem
alterações
broncodilatador, cujo melhor resultado foi
utilizado para efeito deste estudo.
neuromusculares e ortopédicas conhecidas,
Após o procedimento cirúrgico, o
com idade entre 18 a 80 anos, internados
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Edson de O. Andrade, Elaine Cristina M. Fonseca, Ângela Maria M. Silva,
Fábio A. Bindá, Diego Carvalho, Cristiane de Brito Vieira
paciente foi acompanhado diariamente
apresentavam fatores de risco.
desde o pós-operatório imediato até a alta
Dos pacientes que apresentavam
ou ocorrência de óbito hospitalar.
doença pulmonar prévia, 11% relataram asma,
Para efeito deste estudo, foram
7% pneumonia e 2% outras pneumopatias
consideradas complicações pulmonares pós-
prévias, todos assintomáticos.
operatórias: pneumonia; traqueobronquite,
Ascirurgiasrealizadasforamigualmente
broncoespasmo, atelectasias pulmonares
divididas em cirurgias no abdome superior e o
com sintomas respiratórios; insuficiência
respiratória
aguda
com
no abdome inferior. O tempo cirúrgico médio
alteração
foi de 94,62 minutos (DP±4,3).
gasométrica e a intubação orotraqueal
Dos
prolongada (> 48 h no PO).
34%
Os dados coletados foram analisados
(18)
procedimentos
foram
realizados,
colecistectomias
convencionais, 28% (15) herniorrafias, 9%
pelo programa SPSS 13.0, sendo os dados
(5) colecistectomias videolaparoscópicas,
quantitativos submetidos ao teste T de
7% (4) prostatectomias transvesicais e 22%
Student e os qualitativos pela estatística
(12) outras, totalizando 54 cirurgias.
exata de Fisher. O alfa adotado foi de 5%,
Quanto ao tipo de anestesia utilizado,
com um intervalo de confiança de 95%.
50% foram de raquianestesia, 41% anestesia
geral e 9% anestesia peridural. O agente
RESULTADOS
anestésico mais utilizado bupivacaina 0,5%
(61%). Também foram utilizados o isoflurano
Foram avaliados 54 pacientes de
(30%) e o sevoflurano (9%).
ambos os sexos, sendo 32 (59%) do sexo
O tempo de internação hospitalar variou
feminino e 22 (41%) masculino, com a idade
entre 2 e 8 dias com média de 3 dias e DP± 1,37.
variando entre 18 a 79 anos, com média de
O risco de complicações quantificado
47 anos; IMC médio de 25, 47 (DP±).
pela escala de Torrington e Henderson5
Dos fatores de risco apresentados
classificou os 54 pacientes como de baixo
pelo paciente, constatou-se que o etilismo
risco. Dos pacientes pesquisados, apenas 1
foi a principal variável encontrada (37,03%),
seguida
de
doença
pulmonar
(2%) evoluiu com complicações pulmonares,
(20%),
sendo a atelectasia sintomática única
doença cardíaca (14,81%) e tabagismo
afecção pulmonar registrada.
(12,96)%. Perto de 14% dos pacientes não
As Tabelas 1 e 2 referem-se às
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OCORRÊNCIA DE COMPLICAÇÕES RESPIRATÓRIAS NO
PÓS-OPERATÓRIO DE CIRURGIAS ABDOMINAIS
diferenças entre os valores espirométricos
Local de
incisão
N.º
Média
(L)
Desvio
Supraumbilical
27
0,86
0,65
Infraumbilical
27
0,46
0,36
pré e pós-operatórios no VEF1 e VEF6
respectivamente, observando-se, no geral,
VEF6
diminuição no pós-operatório.
N.º
Média (L)
Desvio
padrão
VEF1 Pré-op.
2,12
2,12
0,64
VEF1 Pós-op.
1,44
1,44
0,56
Tabela 4 – Comparação da diferença pré e pósoperatória do VEF6 em relação ao local da incisão.
p<0, 001
DISCUSSÃO
Tabela 1 – Diferenças entre os valores espirométricos
pré e pós-operatórios do VEF1
p<0,001
A
idade
média
dos
pacientes
estudados foi de 47 anos, sendo que a
N.º
Média (L)
Desvio padrão
complicação pulmonar registrada ocorreu
VEF6 Pré-op.
54
2,17
0,68
em um paciente com 31 anos de idade, o
VEF6 Pós-op.
54
1,50
0,60
que difere dos resultados da literatura, que
relatam a ocorrência de CPPs em indivíduos
Tabela 2 – Diferenças entre os valores espirométricos
pré e pós-operatório do VEF6
p<0,001
mais idosos, geralmente acima dos 50
anos.6; 7
O tempo médio de cirurgia foi de
As Tabela 3 e 4 mostram que o
94,6 min., estando abaixo do tempo (>210
local da incisão cirúrgica é determinante
min.) mais relacionado ao desenvolvimento
na diminuição dos valores do VEF1 e VEF.
de
As cirurgias supraumbilicais proporcionam
complicações
Onze dos 54 pacientes tinham
e VEF6 medidos no pós-operatório.
história
VEF1
pós-
operatórias.
uma maior diminuição nos valores do VEF1
Média
(L)
pulmonares
no
Desvio
de
entanto,
pneumopatia
não
foi
prévia
relacionada
que,
ao
Local de
incisão
N.º
Supraumbilical
27
0,76
0,54
porque a maioria de tais doenças ocorreu
Infraumbilical
27
0,45
0,32
durante a infância, ou quando se tratou
aparecimento de CPP, muito provavelmente
de asma, apresentava-se há mais de um
Tabela 3 – Comparação da diferença pré e pósoperatória do VEF1 em relação ao local da incisão.
p<0,05
ano sem exacerbação. Dos 54 pacientes,
sete referiram tabagismo sem, contudo,
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Edson de O. Andrade, Elaine Cristina M. Fonseca, Ângela Maria M. Silva,
Fábio A. Bindá, Diego Carvalho, Cristiane de Brito Vieira
apresentarem CPPs. Esse comportamento
interferência na dinâmica respiratória, logo
difere do encontrado na literatura, onde
não desenvolveriam CPPs.2
os pacientes com pneumopatias prévias
O tempo de internação médio foi de
apresentam mais complicações (36%) que
três dias, sendo que as cirurgias de abdome
os não pneumopatas (6%).1 Ainda que em
inferior tiveram um tempo médio menor
nosso estudo o tabagismo não tenha sido
de internação (dois dias). O maior tempo
associado às CPPs, deve-se salientar que
de internação foi de oito dias e deveu-se à
existe uma associação importante entre o
complicação não pulmonar – infecção no sítio
tabagismo e as complicações respiratórias
operatório – de cirurgia abdominal alta.
pós-operatórias. Alguns autores acreditam
A escala de Torrington e Henderson
que essa relação seja indireta, uma vez que
os sintomas respiratórios são três a quatro
mostra-se
vezes maiores nos fumantes que nos não
operatória da ocorrência de CPP. Nessa
fumantes. Assim, a abstinência do cigarro no
classificação os pacientes são separados em
período pré-operatório, principalmente por
três grupos: baixo, moderado e alto risco.
mais de oito semanas, reduz a frequência
Sendo que a probabilidade de ocorrência de
e a intensidade dos sintomas e leva a uma
CPP nesses grupos é da ordem de 6,1%, 23,
menor incidência de CPP.6
3%, 35%, respectivamente.5 Neste estudo,
A técnica
cirúrgica
confiável
na
previsão
pré-
todos os pacientes foram classificados como
empregada
baixo risco.
guarda associação com a ocorrência de
CPPs. A anestesia geral é a que proporciona
Foi realizado o mesmo número de
maior número de complicações. A única
cirurgias no abdome superior e inferior.
CPP observada nesta pesquisa ocorreu em
Quando se compara a perda de função
paciente submetido à anestesia geral. A
pulmonar no pós-operatório entre os dois
relação entre anestesia geral e CPP deve-
locais de cirurgia, nota-se que há uma maior
se intubação orotraqueal, ao relaxamento
perda da função pulmonar (VEF1; VEF6 e
muscular e depressão do sistema nervoso
VEF1/VEF6) nas cirurgias do abdome superior,
central, que diminui o reflexo da tosse
como também é relatado na literatura. Esse
bem como predispõe a broncoaspiração e
fato é considerado como predisponente para
a utilização de ventilação mecânica. Os
o aparecimento de CPPS.
pacientes anestesiados pelos bloqueios
Neste estudo, a mensuração da
regionais não sofrem influência desses
função pulmonar foi realizada por meio da
fatores, e, a priori, portanto, não sofrem
espirometria simplificada, isto é, utilizando
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OCORRÊNCIA DE COMPLICAÇÕES RESPIRATÓRIAS NO
PÓS-OPERATÓRIO DE CIRURGIAS ABDOMINAIS
as medidas do VEF1, do VEF6 e da VEF1/
se a ocorrência de apenas um caso (2%) de
VEF6, as quais têm forte correlação com
CPP, sendo uma atelectasia sintomática,
os dados da espirometria convencional, ou
a única complicação encontrada. Esse
seja, o VEF1, a capacidade vital forçada
paciente apresentava uma incisão cirúrgica
(CVF) e a VEF1/CVF8-11 para determinação
supraumbilical, uso de anestesia geral,
de alterações na função pulmonar.
tempo cirúrgico de 200 min. sem, entretanto,
apresentar história de etilismo, tabagismo
Foi observada diminuição nas três
ou pneumopatia prévia.
medidas estudadas, quando comparamos
os
valores
obtidos
durante
o
pré-
REFERÊNCIAS
operatório e pós-operatório, ocorrendo
uma
diminuição
média
de
49,05%
e
31,29% do VEF1, respectivamente, para as
1.Pereira ED, Farensin SM, Fernandes AL. Morbidade
cirurgias de abdome superior e inferior. A
respiratória nos pacientes com e sem síndrome
diminuição do VEF6 foi em média de 52,19%
pulmonar obstrutiva submetidos à cirurgia abdominal
e 33,27%, nas incisões supraumbilicais
alta. Rev Assoc Med Bras 2000 Jan;46(1):15-22.
e
infraumbilicais,
respectivamente.
2.Thomson GC, Jóia Neto L, Cardoso JR. Complicações
Revisando-se a literatura, constatou-se que
Respiratórias no Pós-operatório de Cirurgias Eletivas
alguns procedimentos cirúrgicos interferem
e de Urgência e Emergência em um Hospital
na mecânica respiratória com tendência ao
Universitário. J Bras Pneumol 2005;31(1):41-7.
desenvolvimento de alterações pulmonares
3.Rossi L, M.S.F. Papel da Fisioterapia Intensiva nas
restritivas (diminuição do VEF6 e na CVF).
complicações pulmonares em pacientes submetidos
Essas alterações atingem seu pico máximo
à cirurgia abdominal. Disponível em: http://www.
no primeiro dia de pós-operatório, momento
sobrati.com.br/trabalho25.htm. 2008. Acesso em:
em que o sistema respiratório se torna mais
12-8-2008.
vulnerável a complicações pulmonares pós-
4. Paisani DM, Chiavegato LD, Farensi SM. Volumes,
operatórias, ocorrendo, especialmente, em
capacidades
cirurgias em abdome superior por conta da
respiratória no pós-operatório de gastroplastia. J
disfunção diafragmática, desencadeada pelo
Bras Pneumol 2005;31(2):125-32.
estímulo cirúrgico, bem como a duração
pulmonares
e
força
muscular
5.Faresin SM, de Barros JA, Beppu OS, Peres CA, Atallah
do ato anestésico e o tamanho da incisão
AN. Aplicabilidade da escala de Torrington e Henderson.
cirúrgica.
Rev Assoc Med Bras 2000 Apr;46(2):159-65.
12
Por fim, neste estudo, encontrou-
6. Barreto Neto J. Avaliação prospectiva do risco
cardiopulmonar em cirurgia abdominal alta eletiva
18
revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
Edson de O. Andrade, Elaine Cristina M. Fonseca, Ângela Maria M. Silva,
Fábio A. Bindá, Diego Carvalho, Cristiane de Brito Vieira
(Tese). Universidade Federal de São Paulo; 2000.
Cirurgiões 2007;(34):326-30.
7. Oliveira PG, Vianna AL, Silva SP, Rodrigues FRA,
Martins RLM. Influência do tabagismo, obesidade,
AGRADECIMENTOS
idade e gênero na função pulmonar de pacientes
submetidos à colecistectomia videolaparoscópica.
Revista
do
Colégio
Brasileiro
de
À
Cirurgiões
Fundação
Hospital
Adriano
2000;27:19-22.
Jorge, que nos autorizou a realização
8.Lundgren FL, Cabral MM, Climaco DC, de Macedo
deste trabalho em suas dependências; à
LG, Coelho MA, Dias AL. Determinação da eficiência
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
do VEF6 como substituto para a CVF na triagem
do Amazonas – Fapeam, pelo financiamento
diagnóstica da doença pulmonar obstrutiva crônica
da pesquisa, bem como a todos aqueles que,
através da comparação entre as relações VEF1/CVF
direta e indiretamente, contribuíram para
e VEF1/VEF6. J Bras Pneumol 2007 Apr;33(2):14851.
o êxito desta pesquisa e, principalmente,
9. Vandevoorde J, Verbanck S, Schuermans D,
aos pacientes, sem a colaboração dos quais
Kartounian J, Vincken W. FEV1/FEV6 and FEV6 as an
seria impossível a conclusão do estudo.
alternative for FEV1/FVC and FVC in the spirometric
Projeto
detection of airway obstruction and restriction.
de
pesquisa
financiado
pela
Fundação da Amparo à Pesquisa do Estado
Chest 2005 May;127(5):1560-4.
do Amazonas – Fapeam.
10. Vandevoorde J, Swanney M. Is forced expiratory
Instituição
volume in six seconds a valid alternative to forced
de
origem
do
trabalho:
Universidade do Estado do Amazonas.
vital capacity? Eur Respir J 2006 Dec;28(6):1288-9.
11. Hankinson JL, Crapo RO, Jensen RL. Spirometric
Endereço do autor principal: Rua Paraíba,
reference values for the 6-s FVC maneuver. Chest
Conj. Abílio Nery, quadra H, casa 2 –
2003 Nov;124(5):1805-11.
Adrianópolis, Manaus-AM
12. Ramos GC, Pereira E. Avaliação da função
Fone: (92) 3642-3864
pulmonar após colecistectomias laparoscópicas
E-mail: [email protected]
e convencionais. Revista do Colégio Brasileiro de
19
revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
Pietro P. Alves, Cristiano C. Cândido da Silva, Fernando R. Máximo, Heliana N. F. Leite, Sérgio Victor
Gomes Wanderley, Ricardo César Simões Chaves
HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA,
DIABETES MELLITUS E OBESIDADE EM
PARTICIPANTES DO GRUPO DA TERCEIRA
IDADE EM UM MUNICÍPIO DA REGIÃO DO ALTO
SOLIMÕES
SYSTEMIC HYPERTENSION, DIABETES MELLITUS AND OBESITY IN
PARTICIPANTS OF THIRD AGE’S GROUP IN A CITY
OF THE HIGH SOLIMÕES RIVER
Pietro Pinheiro Alves,* Cristiano Castanheiras Cândido da Silva,**
Fernando Rodrigues Máximo,*** Heliana Nunes Feijó Leite,****
Sérgio Victor Gomes Wanderley,***** Ricardo César Simões Chaves******
Resumo
A Hipertensão Arterial Sistêmica, o Diabetes Mellitus e a Obesidade são condições patológicas
importantes nas populações mais idosas e são determinantes de doenças cardiovasculares,
importantes causas de mortalidade no mundo. Sendo assim, o presente trabalho teve
como objetivo avaliar a ocorrência dessas afecções em participantes do grupo da terceira
idade de Benjamin Constant – AM. Durante o mês de janeiro de 2003 foi realizada a coleta
de dados a partir de uma campanha de detecção precoce fomentada pela Secretaria
Municipal de Saúde, onde a equipe responsável pela coleta realizou atividades de: (a)
aferição de Pressão Arterial; (b) solicitação de exame de Glicemia em jejum; (c) cálculo
do Índice de Massa Corporal (IMC) para identificação e classificação de eventuais obesos;
(d) preenchimento do formulário de entrevista com os dados pessoais, antecedentes,
hábitos de vida e os valores aferidos; (e) orientação aos idosos quanto aos seus hábitos
de vida, fatores de risco, educação em saúde e esclarecimento de dúvidas a respeito
das doenças crônico-degenerativas. Neste estudo observacional descritivo, dentre os 130
indivíduos do grupo, 106 foram analisados quanto à prevalência de HAS e obesidade, mas
*Ex-residente de Clínica Médica do Hospital Universitário Getúlio Vargas. Especialista em Clínica Médica.
Autor principal do estudo
**Pediatra do Hospital Santa Júlia. Autor
***Cirurgião Geral da Fundação Hospitalar do Acre. Autor
****Preceptora do Internato Rural. Colaboradora
*****Acadêmico de Medicina 10.º período – Universidade Federal do Amazonas. Autor
******Cardiologista e plantonista da Clínica Médica – HUGV. Revisor
20
revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA, DIABETES MELLITUS E OBESIDADE EM PARTICIPANTES DO
GRUPO DA TERCEIRA IDADE EM UM MUNICÍPIO DA REGIÃO DO ALTO SOLIMÕES
apenas 85 realizaram a dosagem de glicemia de jejum. RESULTADOS: Foram detectados
42 pessoas com HAS (39,62%), 8 com DM2 (9,41%) e 21 obesos (19,81%). O tabagismo foi
um fator de risco importante encontrado em quase metade dos entrevistados. O grupo da
terceira idade de Benjamin Constant possui fatores de risco acima da média nacional para
doenças cardiovasculares. Há a necessidade de um acompanhamento médico e nutricional
adequados, além de programas educacionais a fim de informar às pessoas sobre hábitos e
comportamentos de risco, promovendo a saúde.
PALAVRAS-CHAVE: Hipertensão Arterial Sistêmica; Diabetes Mellitus; Obesidade; Idosos.
ABSTRACT Systemic hypertension, Diabetes Mellitus and obesity are relevant pathological
conditions in older population and determinants of cardiovascular diseases, major causes
of mortality in the world. This study aimed to evaluate the occurrence of these disorders
in participants of third age’s group of Benjamin Constant-AM. On January 2003, data were
collected from the 3rd age group during a campaign for early detection, fomented by the
health´s department of the city, in which the responsible team did the following activities:
(a) blood pressure measurement (BP), (b) fasting plasma glucose measurement; (c) Body
Mass Index calculation (BMI) for identification and classification of eventual obese; (d)
filling in the interview´s form with personal data, past medical history, living habits and
values of BP, BMI and fasting plasma glucose (e) Orientation for the elderly about their
living habits, risk factors, health education and answering doubts related to the chronic
degenerative diseases. In this descriptive observational study, among 130 individuals of
the group, 106 were analyzed in relation to the prevalence of hypertension and obesity,
but only 85 measured fasting plasma glucose. RESULTS: 42 people were detected with
systemic hypertension (39.62%), 8 with DM2 (9.41%) and 21 obese (19.81%). Smoking was
an important risk factor found in almost half of those interviewed; The group of seniors
from Benjamin Constant presents risk factors above the national average for cardiovascular
disease. Therefore, there is a need for medical care and adequate nutrition, besides
educational programs in order to inform people about risk factors, promoting health.
KEYWORDS: Systemic Hypertension; Diabetes Mellitus; Obesity; Elderly.
21
revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
Pietro P. Alves, Cristiano C. Cândido da Silva, Fernando R. Máximo, Heliana N. F. Leite, Sérgio Victor
Gomes Wanderley, Ricardo César Simões Chaves
INTRODUÇÃO
hipertrigliceridemia, baixos níveis de HDL,
hipofibrinólise, microalbuminúria e uma
predominância de LDL de baixa densidade
A Hipertensão Arterial Sistêmica
e obesidade central.6
(HAS), a Obesidade e a Diabete (DM)
são
condições
importantes
A hipertensão arterial também está
nas populações mais idosas, pois estão
implicada na gênese da diabete, assim
implicadas
doenças
como fatores genéticos, história familiar e
principais
dislipidemias, dentre outros. Modificações
causas de morte no mundo. A incidência
no estilo de vida são importantes no
de Hipertensão Arterial atinge cerca de
tratamento e na prevenção primária desses
10% dos indivíduos até 30 anos de idade,
agravos e estão indicadas, inclusive, nos
aumentando para 30% aos 60 anos, o que
idosos. Aliado a isto, há a oportunidade de
comprova a prevalência aumentada na
detecção precoce por meio de exames de
população mais idosa.1, 2, 3, 4 É válido lembrar
rastreio simples e de baixo custo, como
que o Diabetes Mellitus também assume
a realização da glicemia de jejum (DM2),
importância epidemiológica significativa,
cálculo do Índice de massa corpórea
haja vista que se prevê para 2025 cerca
(Obesidade) e aferições da pressão arterial
de 300 milhões de diabéticos no mundo.
(HAS), possibilitando, então, a realização
Tanto a obesidade quanto a hipertensão
de investigação com grupos comunitários
e a diabete possuem uma relação íntima
bem definidos, como o proposto para
entre si, atuando como comorbidades
este trabalho. Não se pode, contudo,
importantes umas das outras. A obesidade,
negligenciar a importância de se identificar
por exemplo, está diretamente implicada
todas as comorbidades e fatores de risco
na gênese do Diabetes Mellitus tipo 2 como
na população escolhida, tais como o
principal fator extrínseco (ambiental) pelo
tabagismo, que depois da idade avançada
fato de aumentar a resistência periférica
é o principal fator de risco para doença
à insulina, podendo ser responsável por 20
arterial
a 30% dos casos de hipertensão arterial e,
positiva, dieta inadequada e sedentarismo,
também, como componente da conhecida
principalmente, para que, pela educação em
síndrome
síndrome,
saúde, se proponha uma maior possibilidade
que não se limita à elevação das cifras
de se controlar doenças que, de forma
tensionais arteriais, compreende ainda
silenciosa e crônica, são responsáveis por
intolerância à glicose e hiperinsulinemia,
um grande número de vítimas em todo o
na
cardiovasculares,
patológicas
gênese
atuais
metabólica.5
das
e
Tal
22
coronariana,
revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
história
familiar
HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA, DIABETES MELLITUS E OBESIDADE EM PARTICIPANTES DO
GRUPO DA TERCEIRA IDADE EM UM MUNICÍPIO DA REGIÃO DO ALTO SOLIMÕES
mundo.6 Como, no Brasil, faltam estudos
106 cidadãos remanescentes preencheram
representativos de todo o país, torna-se
os critérios de inclusão do formulário
necessário avaliar um número variado de
de entrevista: duas aferições de PA em
comunidades brasileiras a fim de se traçar
ocasiões distintas e cálculo do IMC a
perfis regionais.
partir das medidas da massa corpórea e
Benjamin
Constant,
altura; contudo, apenas 85 desses foram
município
submetidos ao exame de Glicemia de jejum
do interior do Estado do Amazonas, foi
em dois momentos distintos para rastreio
escolhido e, por exames simples aplicados
do Diabetes Mellitus.
ao único grupo da terceira idade lá
existente, serve de mais um novo parâmetro
Osencarregadosdecoletaremosdados
para o estudo de prevalência das doenças
foram pesquisadores, então acadêmicos do
crônico-degenerativas no Estado e no país.
internato (6.º ano) da Faculdade de Medicina
Por meio de um delineamento descritivo
da Universidade Federal do Amazonas, que
e
intervencionista,
estavam em internato rural obrigatório na
identificação
cidade de Benjamin Constant-AM, tendo
fomentada
como orientadora direta uma enfermeira com
observacional,
numa
campanha
precoce
pela
não
daquelas
Secretaria
de
doenças
Municipal
de
Saúde,
especialização em Saúde da Família e sob a
objetivamos traçar o perfil epidemiológico,
supervisão de uma preceptora do internato
no tocante à hipertensão arterial, diabete
rural. Este estudo foi aprovado pelo Comitê
e obesidade, relacionando aos fatores de
de Ética do Hospital Universitário Getúlio
risco identificáveis na população estudada.
Vargas.
MATERIAIS E MÉTODOS
Material
Amostra
O material utilizado constituiuse de: 1 – Instrumentos diagnósticos:
Benjamin
Constant
possui
uma
Esfigmomanômetro
(Tensiômetro
com
população de 24.729 habitantes sendo 130
Manômetro Aneroide novo e calibrado)
pessoas cadastradas no grupo da Terceira
e Estetoscópio Littman Classic II, a fim
Idade, 24 participantes tiveram de ser
de realizar a medida pressórica em duas
excluídos da pesquisa por não estarem
ocasiões diferentes; 2 – Balança com
presentes no dia da coleta de dados.7 Os
régua métrica para aferição de altura e
23
revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
Pietro P. Alves, Cristiano C. Cândido da Silva, Fernando R. Máximo, Heliana N. F. Leite, Sérgio Victor
Gomes Wanderley, Ricardo César Simões Chaves
calculadora científica para a efetuação do
No dia 4/1/2003 tiveram início às atividades
cálculo de IMC – Índice de Massa Corporal;
de aferição de Pressão Arterial (PA) segundo
3 – Kits In Vitro-Human® para detecção da
as normas preconizadas pelo Ministério da
Glicemia de jejum com o Espectrofotômetro
Saúde para a identificação de prováveis
CELM E-250 no laboratório da UMBC; 4 –
hipertensos, confirmados mais tarde, e
Formulários para cadastros e avaliação dos
em outra ocasião com uma nova aferição
hábitos e fatores de risco da população
pressórica. As pessoas foram avaliadas
analisada.
pelo método auscultatório e encontravamse sentadas, em repouso por, pelo menos,
duas horas, com o braço despido de roupas
Procedimentos
e levemente fletido, antebraço apoiado,
deixando o cotovelo ao nível do coração
No período de 4/1 a 1.º/2/2003,
e a palma da mão voltada para cima.1
durante os sábados em período vespertino
Por motivos técnicos, não foi possível
(13 às 18h), foram realizadas visitas ao
reclassificar a diabetes pela utilização das
centro de reuniões do grupo da terceira
diretrizes atuais sendo realizada segundo
idade, onde pessoas, idosas em sua grande
Atualização Terapêutica – 2005. O diagnóstico
maioria, praticavam atividades laborativas
para a hipertensão foi baseado no consenso
de lazer, cultura e saúde, como iniciativa
da
Secretaria
Municipal
do
utilizado durante a época da pesquisa, o III
Bem-Estar
Consenso Brasileiro de Hipertensão Arterial
Social em parceria com a Secretaria de
Sistêmica 1998, e a obesidade segundo
Saúde de Benjamin Constant-AM. Para uma
Consenso de Síndrome Metabólica – 2005.
avaliação cuidadosa e bem direcionada dos
Foram realizados os cadastros dos pacientes
integrantes daquele grupo, e subsequente
e estes repassados para as autoridades
diagnóstico de saúde, foi necessária revisão
bibliográfica
doenças
pertinente
às
crônico-degenerativas
locais de saúde e organizadores do grupo
principais
da terceira idade, para o seguimento mais
incluindo
adequado e continuidade do trabalho com
Hipertensão Arterial Sistêmica, Diabetes
outras equipes de internos. Ainda, procedeu-
Mellitus tipo II e Obesidade. Anterior à
se com a orientação dos idosos quanto aos
realização dos trabalhos, foram adquiridos
seus hábitos de vida, atividades de risco,
os materiais e disponibilizada a cooperação
educação em saúde e esclarecimento de
do Laboratório Central da Unidade Mista de
dúvidas a respeito das doenças crônico-
Benjamin Constant (Lacen – UMBC) para a
degenerativas,
realização de exames de Glicemia de jejum.
24
principalmente
revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
para
HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA, DIABETES MELLITUS E OBESIDADE EM PARTICIPANTES DO
GRUPO DA TERCEIRA IDADE EM UM MUNICÍPIO DA REGIÃO DO ALTO SOLIMÕES
aqueles em que fora evidenciada alguma
Em relação ao tabagismo, 32,07%
alteração segundo os métodos diagnósticos
das pessoas que contribuíram para a
empregados.
pesquisa fumavam, 37,73% já haviam
Finalizando
o
trabalho,
procedeu-se com a análise dos dados.
fumado e apenas 30,18% nunca fumaram.
Outro
RESULTADOS
fator
reconhecidamente
implicado na gênese da HAS e da obesidade
é a falta de atividades físicas regulares. Do
Da amostra inicial, 130 pessoas do grupo
total, 34,9% dos entrevistados se declararam
da terceira idade foram entrevistadas, mas
sedentários.
apenas 106 destes puderam ser avaliados.
Dentre as pessoas entrevistadas,
TOTAL = 130
aproximadamente
17,92%,
não
tinham
DESISTENTES = 24
nenhuma preocupação com a sua dieta,
N = 106
alimentando-se de comida rica em sal,
frituras e carboidratos.
A idade foi distribuída em 2 faixas
etárias, 27 pessoas (25,48%) tinham menos de
De 85 pacientes para os quais foi
60 anos de idade e 79 (74,52%) mais de 60 anos,
solicitada Glicemia de jejum, 88,23%,
representando 5,67% dos idosos do município.7
obtiveram resultado dentro dos padrões da
Sendo 74,52% mulheres e 25,47% homens.
normalidade, 9,41% o resultado confirmou
Os resultados do IMC do grupo
DM e 2,35% se mostraram numa faixa na
estudado foram: baixo peso (13,2%), peso
qual a glicemia está alterada, mas ainda
normal (37,73%), acima do peso (29,24%),
não é considerada como suficiente para se
obesidade Grau I (18,86%), obesidade Grau
considerar DM (Quadro 2).
II (0,94%). Aproximadamente metade dos
avaliados estava acima do peso (Quadro 1).
SITUAÇÃO
TOTAL
Baixo Peso
14 (13,2 %)
Peso Normal
40 (37,73 %)
Acima do Peso
31 (29,24 %)
Obesidade Grau I
20 (18,86 %)
Obesidade Grau II
1 (0,94 %)
Total
Glicemia de Jejum
Normal (<110)
75 (88,23 %)
Alterada (110-126)
2 (2,35 %)
Diabetes (>126)
8 (9,41 %)
Total
85 (100 %)
Quadro 2
Fonte: Detecção de Hipertensão Arterial Sistêmica,
Diabetes e Obesidade em grupo de idosos de
Benjamin Constant – AM (jan., 2003).
Quadro 1
Fonte: Detecção de Hipertensão Arterial Sistêmica,
Diabetes e Obesidade em grupo de idosos de
Benjamin Constant – AM (jan., 2003).
25
revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
Pietro P. Alves, Cristiano C. Cândido da Silva, Fernando R. Máximo, Heliana N. F. Leite, Sérgio Victor
Gomes Wanderley, Ricardo César Simões Chaves
Quando
avaliados
os
níveis
doenças cardiovasculares.6, 8, 9
tensionais, de acordo com o III Consenso
Neste trabalho, 49% dos entrevistados
Brasileiro de Hipertensão Arterial, teve-se
tinham sobrepeso e 19,8% eram obesos,
o seguinte resultado:
ambos os valores acima da média nacional.
Pressão normal 49,05%, normal
Tal resultado nos faz questionar o grau de
limítrofe 9,66%, hipertensão leve 4,71%,
comprometimento dos participantes com as
hipertensão moderada 4,71%, hipertensão
atividades para saúde ou o tipo de orientação
grave 9,66% e hipertensão sistólica isolada
que foi dada, pois o grupo estudado é
18,6%.
considerado privilegiado, já que possui um
programa voltado para o entretenimento e
orientações para a saúde.
Pressão Arterial
Total
Normal
52 (49,05 %)
Normal Limítrofe
12 (9,66 %)
que uma dieta que inclui alta densidade
Hipertensão Leve
5 (4,71%)
de micronutrientes e fibra, quantidades
Hipertensão Moderada
5 (4,71 %)
moderadas de gordura insaturada e um
Hipertensão Grave
12 (9,66%)
baixo conteúdo de gordura trans, gordura
Hipertensão Sistólica Isolada
20 (18,6 %)
saturada, açucares e amido está associado
Estudos
observacionais
indicam
com uma redução em 30% ou mais em riscos
Quadro 3
Fonte: Detecção de Hipertensão Arterial Sistêmica,
Diabetes e Obesidade em grupo de idosos de
Benjamin Constant – AM (jan., 2003).
para doenças cardiovasculares.10 Quando os
participantes do grupo da terceira idade
foram questionados sobre a alimentação
e a atividade física, 17,92% tinham dieta
DISCUSSÃO
inadequada. Número talvez subestimado, já
que as perguntas foram feitas diretamente
Calcula-se que 8% da população
para os participantes sem a confirmação
brasileira seja obesa e 32% esteja acima
por parte dos familiares.
do peso (IMC >25). Estudos demonstram
No
que o risco de intolerância à glicose e
grupo
avaliado,
34,9%
Diabetes Mellitus tipo 2 está relacionado
declararam-se sedentários. Sabe-se que a
ao maior índice de massa corpórea e que
prática de exercícios físicos está relacionada
a obesidade, mesmo se única como fator
a vários fatores benéficos. Dentre eles
de risco, está associada a um alto grau de
há melhora do controle glicêmico, da
sensibilidade à insulina e há evidências de
26
revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA, DIABETES MELLITUS E OBESIDADE EM PARTICIPANTES DO
GRUPO DA TERCEIRA IDADE EM UM MUNICÍPIO DA REGIÃO DO ALTO SOLIMÕES
que o Diabetes Mellitus tipo 2 pode ser
morte cardiovasculares.18,
prevenido em grupos de alto risco para a
os fumantes de longa data há evidências
doença.11 Reduz o estresse, a ansiedade e
de que programas agressivos de controle
a depressão.12 Quando associada à dieta,
ao tabagismo se associam à diminuição de
acelera a perda de peso e a perda de tecido
mortes cardiovasculares em curto prazo.20
adiposo.13 Existe ainda a possibilidade de
Devendo a cessação do tabagismo sempre
que o exercício regular previna ou atrase
ser incentivada em qualquer idade.
o declínio cognitivo no idoso e diminua a
vezes mais chance de desenvolver eventos
O tabagismo acelera as doenças
reduz
cardiovasculares quando comparado com
suprimento
indivíduos não diabéticos.6 Dos participantes,
de oxigênio do miocárdio, causa efeitos
2,35% tiveram Glicemia de jejum alterada e
deletérios na pressão sanguínea, no tônus
9,41% receberam o diagnóstico de Diabetes
simpático e aumenta o risco de doenças
Mellitus tipo 2. Por situações técnicas e
cardiovasculares que em Benjamin Constant
financeiras, não foi possível continuar a
representaram 21,95% das causas de morte
investigação diagnóstica dos pacientes de
no ano de 2003.6,
glicemia alterada.
7
o
Mesmo para
Pacientes com diabetes têm 2 a 8
incidência de hipertensão.14, 15
aterotrombóticas,
19
Afeta diretamente o
pulmão causando várias doenças, entre as
Estima-se
quais a doença pulmonar obstrutiva crônica
brasileiros
e o câncer de pulmão sendo as principais
avaliadas
(47,16%)
apresentou
de ser a principal e mais comum causa de
acidente vascular cerebral.22
Quando avaliados os níveis tensionais,
que é uma questão de grande relevância,
de acordo com o III Consenso Brasileiro
já que a cessação do tabagismo constitui
prevenção
primária
e
e
Essa
tabagismo, a dislipidemia e diabetes.21 Além
32,07% ainda continuavam fumando. O
fundamental
hipertensão.1
idosos
prematura, sendo mais comum que o
tabagismo como fator de risco e, do total,
medida
dos
fator de risco para doença cardiovascular
16, 17
Neste trabalho, quase metade das
pessoas
tenham
65%
condição é quantitativamente o principal
e ainda aumenta o risco de desenvolver
Diabetes Mellitus tipo 2.
que
prioritária
na
secundária
da
de
Hipertensão
Arterial,
37,68%
foram
diagnosticados como hipertensos, dentre
estes 37,03% eram portadores de Hipertensão
aterosclerose e o fumo é o único fator
Sistólica Isolada. Essa é o tipo de hipertensão
de risco totalmente evitável de doença e
predominante na população idosa e recomenda27
revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
Pietro P. Alves, Cristiano C. Cândido da Silva, Fernando R. Máximo, Heliana N. F. Leite, Sérgio Victor
Gomes Wanderley, Ricardo César Simões Chaves
se que o seu controle seja o principal alvo no
idade, além das peculiaridades do hábito
tratamento dessa faixa etária.
de vida do amazonense. Adquirindo-se
cada vez mais conhecimento para prover a
Não foi possível estudar outros fatores
melhor assistência possível à população do
de risco para doenças cardiovasculares,
Amazonas.
como história familiar, perfil lipídico e
uricemia por motivos técnicos e financeiros.
REFERÊNCIAS
Nem todos os integrantes da pesquisa
tinham mais de 60 anos, impossibilitando o
1. III Consenso Brasileiro de Hipertensão Arterial.
estudo de um grupo homogêneo de idosos.
Rev Bras Clin Terap 1998; 24:231-72.
Este trabalho não pôde confrontar os dados
2. Controle da hipertensão arterial, 1. ed. Rio de
obtidos com os de outros estudos da mesma
Janeiro-RJ: Ministério da Saúde, 1993.
população, pela inexistência deles.
3. Rouquayrol, Zélia M. Epidemiologia & Saúde. 5.
ed. Rio de Janeiro: Medsi; 1999.
CONCLUSÕES
4. Vilar L, Castellar E, Moura E, Leal E, Machado AC,
Teixeira L, Campos R. Endocrinologia clínica. 2. ed.
Rio de Janeiro: Medsi; 2001.
O grupo da terceira idade de Benjamin
5. World Health Organization. Obesity. Preventing
Constant possui fatores de risco acima da média
and managing the global epidemic. WHO/NUT/NCD
nacional para doenças cardiovasculares. Há a
98.1. Genebra; jun 1997.
necessidade de um acompanhamento médico
6. Ridker PM, Libby P. Risk Factors forAtherothrombotic
e nutricional adequados, além de programas
Disease. In: Libby P, Bonow RO, Mann DL, Zipes DP
educacionais a fim de informar às pessoas
editors. Braunwald’s Heart Disease: A Textbook of
Cardiovascular Medicine, 8th ed. Philadelphia, (PA):
sobre hábitos e comportamentos de risco,
Copyright © 2007 Saunders, An Imprint of Elsevier;
promovendo a saúde.
2007. Chapter 39.
A abrangência do trabalho foi
significativa
tendo
como
estudado
um
uma
estudo
7. Datasus, Informações de Saúde [On-line] 2003
[acesso em 16 dez 2008]; Disponível em: URL:http://
piloto,
população
tabnet.datasus.gov.br
do
8. Sposito, CA et al. IV Diretriz Brasileira sobre
interior do Estado do Amazonas, pobre
Dislipidemias
em estudos dessa natureza. Sendo assim,
Departamento
e
Prevenção
da
de Aterosclerose
Aterosclerose.
da
Sociedade
mais trabalhos necessitam ser realizados
Brasileira de Cardiologia. Arq Bras Cardiol 2007;
na região amazônica, a fim de se obter
88(S1): 2-18.
dados específicos sobre a população de
9. Helmrich, SP, Ragland, DR, Leung, RW, et al.
idosos e dos fatores de risco da terceira
Physical activity and reduced occurrence of non-
28
revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA, DIABETES MELLITUS E OBESIDADE EM PARTICIPANTES DO
GRUPO DA TERCEIRA IDADE EM UM MUNICÍPIO DA REGIÃO DO ALTO SOLIMÕES
insulin-dependent diabetes mellitus. N Engl J Med
pressure elevation: a possible cause of established
1991; 325:147.
hypertension? J Hypertens 2005;23:261-3.
10. Trichopoulou A, Costacou T, Bamia C, Trichopoulos
21. Wilson, PW. Established risk factors and
D: Adherence to a Mediterranean diet and survival in
coronary artery disease: The Framingham Study. Am
a Greek population. N Engl J Med 2003; 348:2599.
J Hypertens 1994; 7:7S.
11. Tuomilehto, J, Lindstrom, J, Eriksson, JG, et al.
21. Staessen, JA, Fagard, R, Thijs, L, et al. Randomised
Prevention of type 2 diabetes by changes in lifestyle
double-blind comparison of placebo and active
among subjects with impaired glucose tolerance. N
treatment for older patients with isolated systolic
Engl J Med 2001; 344:1343.
hypertension. The Systolic Hypertension in Europe
(Syst-Eur) Trial Investigators. Lancet 1997; 350:757.
12. Warburton, DE, Gledhill, N, Quinney, A.
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22. Décourt LV, Assis RVC, Pileggi F. Alterações
Physiol 2001; 26:217.
estruturais no coração do idoso. Arq Bras Cardiol
1988,51:7-22.
13. Kraemer, WJ, Volek, JS, Clark, KL, et al.
Influence of exercise training on physiological and
23. Zieman SJ, Gertenblith G. Normal cardiovascular
performance changes with weight loss in men. Med
function in the octogenarian: rest and exercise”.
Sci Sports Exerc 1999; 31:1320.
In: Wenger NK. Cardiovascular disease in the
octagenarian and beyond. Londres: Martin Dunitz,
14. Whelton, SP, Chin, A, Xin, X, He, J. Effect of
1999; pp. 31-41.
aerobic exercise on blood pressure: A meta-analysis
of randomized, controlled trials. Ann Intern Med
2002; 136:493.
AGRADECIMENTOS
15. Barnes, DE, Yaffe, K, Satariano, WA, Tager, IB.
A longitudinal study of cardiorespiratory fitness and
Enfermeira Maria Dolores de S. Braga (Susam
de Benjamin Constant);
cognitive function in healthy older adults. J Am
Geriatr Soc 2003; 51:459.
Professora Heliana N. Feijó Leite (professora
do Departamento de Saúde Coletiva/Ufam);
16. U.S. Department of Health and Human Services.
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the Surgeon General. Washington: Center for Disease
online: www.cdc.gov/tobacco/sgr/sgr_2004/index.
Amanda Pinto, Ana Paula Prola e Estevão
Cavalcanti – farmacêuticos).
htm (Accessed 3/7/05).
Correspondência para:
17. Willi, C, Bodenmann, P, Ghali, WA, et al. Active
Pietro Pinheiro Alves
Control, 2004. CDC Publication No. 7829. Available
smoking and the risk of type 2 diabetes: a systematic
Rua Presidente Kennedy, 119 – Santo
Antônio
review and meta-analysis. JAMA 2007; 298:2654.
18. IV Diretriz Brasileira Sobre Dislipidemias e Prevenção
da Aterosclerose. Departamento de Aterosclerose da
Manaus-AM. CEP: 69.029-340
Sociedade Brasileira de Cardiologia.
e-mail: [email protected]
19. Viegas CAA, Araújo AJ, Menezes AMB, Dórea AJP,
•
Impossibilidade de avaliar outras
comorbidades
cardiovasculares
como
história familiar, perfil lipídico, uricemia.
Torres BS. Diretrizes para cessação do tabagismo. J
Bras Pneumol 2004;30(Supl2):S1-S76.
20. Unger T, Parati G.Acute stress and long-lasting blood
29
revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
Luiz Carlos de Lima, Higino Felipe Figueiredo, Fernando Luiz Westphal,
José Correa Lima Netto, Isy Lima Peixoto
EMPIEMA PLEURAL NO ADULTO E
ADOLESCENTE: PREVALÊNCIA, TRATAMENTO E
EVOLUÇÃO NO PERÍODO DE JANEIRO 1995 A
JANEIRO DE 2005
PLEURAL EMPYEMA IN THE ADULT AND ADOLESCENT: PREVALENCE,
TREATMENT AND EVOLUTION IN THE PERIOD OF JANUARY 1995
THE JANUARY OF 2005
Luiz Carlos de Lima;* Higino Felipe Figueiredo**,Fernando Luiz Westphal***,
José Correa Lima Netto****, Isy Lima Peixoto*****
RESUMO
O empiema é uma infecção piogênica ou supurativa do espaço pleural. Hipócrates a
reconheceu em 500 a.C. como uma doença grave, cuja drenagem era o único tratamento
adequado. E, apesar do uso disseminado de antibióticos, o empiema continua a ser causa
de grande morbidade em pacientes com pneumonia. Portanto, seu reconhecimento
precoce deve ser enfatizado para uma menor morbi-mortalidade. Visando definir o perfil
epidemiológico dos pacientes com empiema pleural na cidade de Manaus, realizou-se
uma análise retrospectiva observacional dos pacientes maiores de 12 anos internados no
Hospital Universitário Getúlio Vargas e Hospital e Pronto-Socorro 28 de Agosto no período
de janeiro de 1995 a janeiro de 2005. Então, utilizou-se uma amostra de 109 pacientes
contidos no setor de arquivo médico e estatística (Same) dos hospitais, sendo estabelecidas
possíveis associações do empiema pleural com as variáveis mais significativas contidas
nos prontuários, tais como: idade, sexo, causas, exames complementares, patologias
associadas, tratamentos empregados, complicações e a mortalidade. O software utilizado
na análise foi o programa Epi-Info 3.3 for Windows desenvolvido e distribuído pelo CDC
(www.cdc.org/epiinfo) e o nível de significância utilizado nos testes foi de 5%. Observouse significância estatística na associação do empiema pleural com o sexo masculino na
faixa etária de adulto jovem e a principal causa que foi secundário a trauma torácico
Orientador e pesquisador doutor / chefe do Serviço de Cirurgia Torácica do Hospital Universitário Getúlio
Vargas (HUGV).
**
Médico residente do Serviço de Cirurgia Geral do Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV).
***
Professor doutor / cirurgião torácico do Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV).
****
Cirurgião torácico do Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV).
*****
Acadêmica de Medicina da Universidade do Estado do Amazonas (UEA).
*
30
revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
EMPIEMA PLEURAL NO ADULTO E ADOLESCENTE: PREVALÊNCIA, TRATAMENTO E
EVOLUÇÃO NO PERÍODO DE JANEIRO 1995 A JANEIRO DE 2005
penetrante. Isto demonstra a crescente violência na sociedade e suas conseqüências,
gerando custos para o sistema de saúde e seqüelas muitas vezes irreversíveis para os
indivíduos acometidos, sendo em sua maior parte adultos jovens e do sexo masculino. A
principal complicação diagnosticada foi encarceramento pulmonar e do total de pacientes
com empiema pleural apenas quatro evoluíram para óbito.
Palavras chave: Empiema Pleural, Trauma Torácico, Derrame Pleural.
ABSTRACT
Empyema is a piogenic or supurativa infection of the pleural space. It recognized it to
Hippocrates in 500 AC as a serious illness, whose draining was the only adequate treatment.
Thus, although the spread antibiotic use, empyema continues to be cause of great disease
in patients with pneumonia. Therefore, its precocious recognition must be emphasized
for a lesser morbidity and mortality. Aiming at to define the profile epidemiologist of the
patients with empyema pleural in the city of Manaus, an analysis was become fullfilled
retrospect of the patients biggest of 12 years interned in the University Hospital Getúlio
Vargas and Hospital Ready Assistance 28 of August in the period of January of 1995 the
January of 2005. Then, a sample of 109 patients contained in the SAME of the hospitals
was used, being established possible associations of empyema pleural with the contained
variable most significant in handbooks, such as: complementary age, sex, causes,
examinations, used pathologies associates, treatments, complications and mortality. The
software used in the analysis was the program Epi-Info 3,3 will be Windows developed and
distributed for the CDC (www.cdc.org/epiinfo) and the level of significance used in the
tests was of 5%. Statistics significance was observed in association of empyema pleural
with the masculine sex in the age band of adult young e the main cause that was the
wound for secondary thoracic trauma. This demonstrates to the increasing violence in the
society and its consequences, generating costs for the health system and sequels many
irreversible times for the displayed individuals, being in its bigger young part adult e of
the masculine sex. The main diagnoses complication was pulmonary imprisonment and of
the pleural total of patients with empyema only four they had evolved for death.
Key-words: Empyema Pleural, Thoracic Trauma, Pleural Effusion.
31
revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
Luiz Carlos de Lima, Higino Felipe Figueiredo, Fernando Luiz Westphal,
José Correa Lima Netto, Isy Lima Peixoto
INTRODUÇÃO
para prolongar o tempo de internação.
Nesse
introduziu
a
pleurais.
Derrames
importância
as
principalmente, pelo emprego de drogas
toracocentese,
antimicrobianas que vêm servindo de base
pouco havia mudado na abordagem das
infecções
ganha
terapêuticas coadjuvantes, representadas,
Até meados do século 19, quando
Trousseau
sentido,
para debates quanto às vantagens de sua
pleurais
administração.4
ocorrem freqüentemente em pacientes com
pneumonia comunitária e nosocomial, não
O estudo teve como objetivo realizar
necessitando de abordagem diagnóstica ou
uma análise epidemiológica do empiema
terapêutica específica na maioria dos casos.
pleural em pacientes adultos atendidos no
Dos derrames parapneumônicos, apenas
Hospital Geral e Pronto-Socorro na cidade
5 a 10% tornam-se complicados, podendo
de Manaus.
evoluir
para
uma
coleção
purulenta
intrapleural.1,2
MÉTODOS
O quadro clínico é variável, ora
representado por sinais e sintomas mais
Trata-se de um estudo retrospectivo
agudos ora com pouca repercussão e
observacional, realizado por meio da análise
achados não específicos. Os sintomas
de prontuários de pacientes maiores de 12
mais
tosse
anos com o diagnóstico de empiema pleural
produtiva, dor torácica, perda de peso
internados no Hospital Universitário Getúlio
e
mais
Vargas (HUGV) e Hospital e Pronto-Socorro
comumente envolvidos são Staphylococcus
28 de Agosto no período de janeiro de 1995
aureus,
a janeiro de 2005, no município de Manaus,
freqüentes
dispnéia.
Os
são
febre,
microorganismos
Staphylococcus
epidermidis,
anaeróbios, enterobactérias, Pseudomonas
sp.,
Streptococcus
e
pneumoniae
Estado do Amazonas.
e
A amostra utilizada foi obtida
frequentemente múltiplos agentes estão
com base em 109 prontuários, retidos
presentes.3
As
no setor de arquivo médico e estatística
complicações
de
natureza
(Same) dos hospitais, cujos pacientes
infecciosas continuam como a maior causa
tinham o diagnóstico de empiema pleural
de morbidade e mortalidade tardias, as
e foram acompanhados nessas instituições
quais dependem diretamente da gravidade
no referente período. Os dados foram
da lesão e contribuem significativamente
apresentados por tabelas de frequências,
32
revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
EMPIEMA PLEURAL NO ADULTO E ADOLESCENTE: PREVALÊNCIA, TRATAMENTO E
EVOLUÇÃO NO PERÍODO DE JANEIRO 1995 A JANEIRO DE 2005
onde se calculou as frequências absolutas
simples
e
relativas
para
os
Variáveis (n = 109)
dados
n
%
Sexo
qualitativos; e médias, mediana e desvio-
Masculino
98
89,9
padrão (DP) para os dados quantitativos.
Feminino
11
10,1
Na análise de associação, utilizou o teste
Idade (anos)
do qui-quadrado de Pearson, quando não
12 ---| 21
33
30,3
satisfeitas às condições para aplicação do
21 ---| 40
47
43,1
teste de Pearson, utilizou-se a correção de
40 ---| 65
25
22,9
3,7
Mediana
4
32,8 ±
15,4
30,0
Intervalo
13 - 78
>65
Yates. Na comparação das médias de idade
Média ± DP
foi utilizado o teste T de Student, quando
os dados encontravam-se normalmente
distribuídos ou o teste de Mann-Whitney,
Tempo de Internação (dias)
quando não satisfeita a hipótese de
Média ± DP
normalidade. O software utilizado na análise
Mediana
14,8 ±
10,6
12,0
foi o programa Epi-Info 3.3 for Windows
Intervalo
2 – 54
desenvolvido e distribuído pelo CDC (www.
Procedência
cdc.org/epiinfo) e o nível de significância
Manaus
85
78,0
utilizado nos testes foi de 5%.
Interior do Estado
23
21,1
1
0,9
Outros Estados
Este estudo foi aprovado pelo Comitê
Tabela 1. Distribuição segundo sexo, idade, tempo
de internação e procedência dos pacientes com
empiema pleural no período de 1995-2005.
de Ética em Pesquisa da Fundação Hospital
Adriano Jorge em setembro de 2006.
Conforme Gráfico 1, pode-se observar
RESULTADOS
que a principal causa de empiema pleural, após
a análise de 97 prontuários, foi o trauma torácico
A partir da análise dos prontuários
com lesão penetrante por arma branca em 42
contidos no Hospital Universitário Getúlio
(43,3%) do total de casos, seguida de pneumonia,
Vargas e Hospital e Pronto-Socorro 28 de
com 24 (24,7%) casos, e trauma torácico com lesão
Agosto, gerou-se um total de 109 prontuários
penetrante por arma de fogo em 7 (7,2%) casos do
analisados. Os dados epidemiológicos, o
total. Os sintomas mais apresentados, registrados
tempo de internação e a procedência dos
em 81 prontuários dos analisados, foram: dor
pacientes estão discriminados na Tabela 1.
torácica (82,7%), febre (77,8%), dispneia (51,9%),
tosse (39,5%) e outros sintomas (18,5%).
33
revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
Luiz Carlos de Lima, Higino Felipe Figueiredo, Fernando Luiz Westphal,
José Correa Lima Netto, Isy Lima Peixoto
50,0%
43,3%
40,0%
30,0%
24,7%
20,0%
13,4%
7,2%
10,0%
0,0%
Ferimento por
arma branca
Pneumonia
6,2%
5,2%
Ferimento por Tuberculose
arma de fogo
Abscesso
hepático
Outros
Gráfico 1. Distribuição segundo causas de empiema pleural atendidos no HUGV e Pronto-Socorro
28 de Agosto do Município de Manaus – AM, no período de 1995-2005.
Quanto
à
evolução
clínica,
30 (27,5%) evoluíram com complicações,
79 (72,5%) do total de pacientes não
as quais estão contidas na Tabela 2.
evoluíram com complicações, enquanto
Tipos de complicações (n = 30)
n
%
Encarceramento pulmonar
8
26,7
Empiema septado
5
16,7
Fístula
5
16,7
Atelectasia
4
13,3
Coleções císticas
2
6,7
Outros
9
30,0
Tabela 2. Distribuição segundo os tipos de complicações
dos pacientes com empiema pleural no período de 1995-2005.
O tratamento clínico mais empregado
demonstrados no Gráfico 2 e a fase do
foi a antibioticoterapia com cefalotina, com
empiema pleural no Gráfico 3.
27 (28,4%) do total de casos. Os tratamentos
cirúrgicos que foram empregados estão
34
revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
EMPIEMA PLEURAL NO ADULTO E ADOLESCENTE: PREVALÊNCIA, TRATAMENTO E
EVOLUÇÃO NO PERÍODO DE JANEIRO 1995 A JANEIRO DE 2005
47,6%
Drenagem fechada de tórax
28,6%
Toracocentese
22,9%
Pleurotomia aberta
Drenagem aberta de tórax
Decorticação
0,0%
21,0%
3,8%
10,0%
20,0%
30,0%
40,0%
50,0%
60,0%
Gráfico 2. Distribuição segundo tipo de tratamento cirúrgico empregado nos pacientes com
empiema pleural no período de 1995-2005.
Gráfico 3. Distribuição das fases do empiema pleural nos pacientes com empiema pleural no
período de 1995-2005.
Conforme demonstrado na Tabela
3,
observou-se
significância
branca e sexo masculino (p < 0,005), não
estatística
apresentando a mesma associação quando
na associação da idade com empiema
comparado com sexo feminino.
secundário a trauma com lesão por arma
35
revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
Luiz Carlos de Lima, Higino Felipe Figueiredo, Fernando Luiz Westphal,
José Correa Lima Netto, Isy Lima Peixoto
Ferimento por arma branca
Sexo
Sim
p-valor
Não
Média
DP
Mediana Média
Masculino
26,1
8,8
23,0
Feminino
23,0
0,0
23,0
DP
Mediana
40,4
18,2
38,0
0,0002
28,9
10,4
29,5
0,6961
Tabela 3 - Distribuição segundo ferimento por arma branca em relação ao sexo e média de idade dos
pacientes com empiema pleural no período de 1995-2005.
Teste de Mann-Whitney
p-valor em negrito itálico indica diferença estatisticamente significante ao nível de 5%.
DISCUSSÃO
no
estudo
realizado
por
Fontelles
e
Mantovani,10 que observou maior incidência
No
prevalência
estudo
do
observou-se
sexo
masculino
dessa complicação em homens (93,3% dos
maior
casos), com uma média de idade de 26,8±8,9
entre
anos, variando de 13 a 53 anos, e quanto
os pacientes internados com empiema
à frequência dos tipos de trauma, verificou
pleural, cuja principal causa foi secundária
que 92,8% apresentaram lesão penetrante.
a trauma torácico. As principais causas de
A contaminação pode ocorrer não só pelo
empiema pleural descritas na literatura
próprio mecanismo do trauma, mas também
são: condição pós-pneumonia (comunitária
pela não observância dos princípios técnicos,
ou hospitalar), pós-operatório, iatrogenia,
quando da inserção do dreno.10
empiema secundário a trauma torácico, e
obstrução brônquica por conta da neoplasia
O quadro clínico de empiema pleural
central ou por corpo estranho.6, 7, 9 Observa-
é variável, podendo apresentar sinais e
se então que, diferindo da literatura atual,
sintomas mais agudos ou mesmo ter pouca
o trauma torácico foi a principal causa
repercussão e achados inespecíficos. Os
entre os indivíduos deste estudo, esse fato
sintomas mais frequentes, de acordo com
talvez deva-se ao registro deficiente nos
a literatura, são febre, tosse produtiva,
prontuários.
dor torácica, perda de peso e dispneia,1114
Quando se avalia, no entanto,
compatíveis com os encontrados nessa
casuística: dor torácica seguida de febre,
o empiema pleural secundário a trauma
dispneia, tosse e outros sintomas.
torácico, os dados obtidos são compatíveis
com a literatura atual, conforme observado
A
36
evolução
revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
fisiopatológica
do
EMPIEMA PLEURAL NO ADULTO E ADOLESCENTE: PREVALÊNCIA, TRATAMENTO E
EVOLUÇÃO NO PERÍODO DE JANEIRO 1995 A JANEIRO DE 2005
empiema pleural apresenta três estágios:
traumáticos, alguns estudos demonstraram
fase exsudativa, caracterizada pelo líquido
redução da evolução para empiema com
pleural fino, com baixo conteúdo celular
o uso de antibiótico a partir da drenagem
e expansibilidade pulmonar preservada;
fechada de tórax, porém sem significância
fase fibrinopurulenta, com acúmulo de pus,
estatística.10, 15
celularidade aumentada (grande número de
A toracocentese é a forma menos
polimorfonucleares neutrófilos), presença
invasiva de tratamento. Embora alguns
de fibrina e tendência à formação de
estudos indiquem sucesso em 25 a 94%
loculações com expansão pulmonar limitada;
dos casos no tratamento do empiema, a
e fase de organização, representada por
tendência é seguir a recomendação de se
líquido espesso, com importante deposição
considerar a toracocentese somente nos
de fibrina ou tecido fibrinoso levando a
encarceramento pulmonar.2,
3
pacientes com derrames menores que a
Conforme
metade do hemitórax, com Gram e cultura
descrito na seção dos resultados, 30 (27,5%)
negativos e pH > 7,2. A drenagem pleural
pacientes evoluíram com complicações:
encarceramento
pulmonar,
empiema
septado,
atelectasia,
coleções
fístula,
deve ser, portanto, o tratamento de escolha
para os casos volumosos (maiores que a
metade do hemitórax) ou que se apresentem
císticas e outras.
O
com Gram ou cultura positivos ou pH < 7,2,
tratamento
do
empiema
e no empiema franco. O empiema pode
pleural abrange o suporte respiratório e
evoluir com a formação de loculações que
hemodinâmico, associados à introdução
dificultam a penetração de antibióticos no
de
O
líquido e a adequada expansão pulmonar.
tratamento clínico mais empregado foi
Para a lise das loculações, podem ser
antibioticoterapia
utilizados
antibioticoterapia
adequada.
com
cefalotina
com
os
trombolíticos.
Tanto
a
27 (28,4%) do total de casos, seguido do
estreptoquinase como a uroquinase ou o
esquema
metronidazol,
fator ativador de plasminogênio podem
em 10 (10,5%) dos pacientes. Em casos
auxiliar na dissolução da malha de fibrina.
de empiema secundário à pneumonia,
O efeito dos trombolíticos na literatura é
os
controverso.6 A pleuroscopia é considerada
ceftriaxona
antibióticos
e
escolhidos
devem
ser
associados a um agente para anaeróbios,
uma
cefalosporina de 3.ª geração associado ao
loculados
metronidazol ou uma quinolona respiratória
com óbvias vantagens de menor custo e
associada ao metronidazol.6 Em casos pós-
menor agressão quando comparada com a
37
alternativa
se
eficaz
indicada
revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
nos
processos
precocemente,
Luiz Carlos de Lima, Higino Felipe Figueiredo, Fernando Luiz Westphal,
José Correa Lima Netto, Isy Lima Peixoto
decorticação pulmonar. Estudos indicam que
tórax com um total de 50 (47,6%), 30 (28,6%)
a videotoracoscopia higiênica no empiema
dos pacientes realizaram toracocentese, 24
foi mais eficaz, com hospitalização mais
(22,9%) realizaram pleurotomia aberta, 22
curta e menor custo, quando comparada
(21%) realizaram drenagem aberta de tórax
à drenagem com uso de fibrinolítico.8 A
e 4 (3,8%) necessitaram de decorticação
decorticação por toracotomia aberta está
pulmonar.
indicada no empiema com inadequada
expansão pulmonar, em especial nos casos
CONCLUSÃO
de fístula persistente do parênquima ou
quando há coleções encistadas residuais
pós-tratamento
com
fibrinolíticos
Em conclusão, a partir da análise
ou
dos 109 casos de empiema pleural, notamos
pleuroscopia. A antibioticoterapia adequada
precoce
associada
a
métodos
a maior prevalência da enfermidade no sexo
menos
masculino, na faixa etária de adulto jovem
agressivos, tem diminuído a frequência da
entre 21 e 40 anos, sendo a principal causa
utilização da decorticação. A drenagem
trauma torácico penetrante. Isto demonstra
aberta, sem selo d’água, está indicada
a crescente violência na sociedade e suas
nos casos de pacientes muito debilitados
consequências, gerando custos para o
e com empiemas crônicos (sem resolução
sistema de saúde e sequelas muitas vezes
após 30 dias de tratamento) que não
irreversíveis para os indivíduos acometidos.
suportam procedimentos mais agressivos.6
A principal complicação diagnosticada foi
O tratamento cirúrgico do empiema pleural
encarceramento pulmonar e do total de
deve ser orientado de acordo com a fase
pacientes com empiema pleural apenas
anatomopatológica da doença, para se optar
quatro evoluíram para óbito.
pelo melhor momento de intervenção e o tipo
de proposição cirúrgica adotada. Utilizando
REFERÊNCIAS
a classificação anatomopatológica como
uma maneira de racionalizar as condutas,
indica-se na fase aguda toracocentese ou
1. Salluh JIF. Abordagem diagnóstica do empiema
drenagem fechada sob selo d’água. Os
pleural – a utilização racional de antigos e novos
empiemas
métodos. Disponível em: <http://www.medstudents.
pleurais
crônicos
requerem
toracotomia para decorticação cirúrgica.5
com.br>. Acesso em nov. 2005.
2. Light RW. Parapneumonic Effusions and Empyema.
O tratamento cirúrgico mais utilizado
Proc Am Thorac Soc. 2006; 3:75-80.
nessa casuística foi a drenagem fechada de
38
revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
EMPIEMA PLEURAL NO ADULTO E ADOLESCENTE: PREVALÊNCIA, TRATAMENTO E
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1432.
39
revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
Fernando Luiz Westphal, José Ribas Milanez de Campos, Luiz Carlos de Lima, José Correa Lima Netto,
George A. M. Lins de Albuquerque, Ingrid Loureiro de Queiroz Lima, Priscilla Rodrigues Cerqueira
CORREÇÃO DA DEFORMIDADE DE PAREDE
TORÁCICA ANTERIOR PELA TÉCNICA DE NUSS
– A EXPERIÊNCIA INICIAL EM MANAUS
ANTERIOR CHEST WALL DEFORMITY CORRECTION BY NUSS TECHNIC –
INITIAL EXPERIENCE OF MANAUS.
Fernando Luiz Westphal*,José Ribas Milanez de Campos**, Luiz Carlos de Lima***,
José Correa Lima Netto****, George A. M. Lins de Albuquerque*****,
Ingrid Loureiro de Queiroz Lima******, Priscilla Rodrigues Cerqueira*******
RESUMO
Introdução: O pectus excavatum é a deformidade da parede anterior do tórax mais comum,
com uma prevalência em Manaus de 1,95%, observada entre escolares de 11 a 14 anos.
A correção da deformidade pode ser realizada cirurgicamente e a técnica de Ravich é a
mais utilizada, porém apresenta resultados satisfatórios quanto a correção do Pectus,
entretanto necessita de uma grande cicatriz cirúrgica e a ressecção de múltiplas cartilagens
costoesternais levando a um pior resultado estético. Em 1997 Donald Nuss propôs uma
técnica minimamente invasiva, com resultado estético melhor que as técnicas anteriores.
Método: Avaliação retrospectiva dos casos de correção do Pextus Excavatum pela Técnica
de Nuss realizados no Hospital Beneficente Português de Manaus. Resultados: Seis pacientes
com pectus excavatum foram operados, a idade média foi de 15,3 anos e cinco pacientes
eram do sexo masculino. Quatro pacientes apresentaram um resultado estético ótimo, um
paciente um bom resultado e um paciente a barra foi removida devido ao deslocamento da
barra de Nuss. As complicações observadas foram o deslocamento da placa em um paciente
e a infecção da ferida operatória em outro. Conclusão: A técnica minimamente invasiva
para correção do Pectus Excavatum apresentou um número maior de complicações que as
técnicas tradicionais, porém é menos agressiva e apresenta um resultado estético excelente,
principalmente em adolescentes que tem uma maior complacência da caixa torácica.
PALAVRAS-CHAVE: Pectus Excavatum, Deformidade na Parede Torácica, Técnica de Nuss
technic.
* Doutor em Cirurgia Torácica, professor da Universidade Federal e do Estado do Amazonas;
**Professsor Livre Docente FM - USP;
***Doutor em Medicina, chefe do Serviço de Cirurgia Torácica do Hospital Universitário Getúlio Vargas,
Universidade Federal do Amazonas;
****Especialista em Cirurgia Torácica, médico assistencial do serviço de Cirurgia Torácica da Universidade
Federal do Amazonas;
*****Médico residente de Cirurgia Geral do Hospital Universitário Getúlio Vargas;
******Acadêmica de Medicina da Universidade Federal do Amazonas;
*******Acadêmica de Medicina da Universidade do Estado do Amazonas.
40
revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
CORREÇÃO DA DEFORMIDADE DE PAREDE TORÁCICA ANTERIOR
PELA TÉCNICA DE NUSS – A EXPERIÊNCIA INICIAL EM MANAUS
ABSTRACT
Introduction: Pectus excavatum is the most common deformity of the anterior chest wall,
with a prevalence in Manaus by 1.95%, observed among schoolchildren aged 11 to 14 years.
The correction of the deformity may be done surgically and Ravich technique is frequently
used, and it shows satisfactory results regarding the correction of Pectus, however need a
large scar and surgical resection of multiple cartilages of the costoesternals leading to a
worse cosmetic result. In 1997 Donald Nuss proposed a minimally invasive approach, with
cosmetic result better than previous techniques. Method: Retrospective chart review of
cases of correction of the Pectus Excavatum using Nuss technique performed in Portuguese
Beneficent Hospital of Manaus. Results: Six patients with pectus excavatum were operated,
the average age was 15.3 years and five patients were male. Four patients had an excellent
cosmetic result, one patient a good result and one patient the bar was removed due to
the displacement of the Nuss bar. Complications included the displacement of the plate
in one patient and wound infection in another one. Conclusion: The minimally invasive
technique for correction of pectus excavatum had more complications than traditional
techniques, however, is less aggressive and has an excellent cosmetic result, especially in
adolescents who have a greater thoracic cage tolerance and flexibility.
Key-words: Pectus excavatum; Chest wall deformity; Nuss technic
INTRODUÇÃO
as técnicas convencionais disponíveis para
o tratamento cirúrgico do PE. Embora os
Dentre as deformidades da parede
resultados fossem geralmente satisfatórios,
torácica anterior, o Pectus excavatum (PE),
a
também chamado de “tórax em funil”, é a
da
parede
torácica
pela ressecção das costelas e extensa
deformidade mais comum, representando
cicatriz cirúrgica são fatores negativos
perto de 85% dos casos. Na cidade de
1
dessas técnicas. Em 1997, uma técnica
Manaus, foi constatada uma prevalência de
1,95% entre escolares de 11 a 14 anos.
instabilidade
minimamente invasiva para o tratamento
2
de PE foi introduzida por Donald Nuss,
o
um procedimento que remodela a parede
procedimento de rotação do esterno são
torácica empregando uma barra de metal
A
técnica
de
Ravitch
e
41
revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
Fernando Luiz Westphal, José Ribas Milanez de Campos, Luiz Carlos de Lima, José Correa Lima Netto,
George A. M. Lins de Albuquerque, Ingrid Loureiro de Queiroz Lima, Priscilla Rodrigues Cerqueira
retroesternal sem ressecção das costelas.3
O
subsequente
curva de aprendizado da nova técnica.7
desenvolvimento
O objetivo deste trabalho é relatar
do reparo minimamente invasivo do Pectus
a experiência inicial com a técnica de Nuss
ajudou a evitar: 1) uma incisão anterior
na correção do Pectus excavatum no Serviço
na parede torácica; 2) a necessidade de
de Cirurgia Torácica do Hospital Beneficente
ressecar cartilagens costais, ou 3) realizar
Português de Manaus.
uma esternotomia. A técnica de Nuss
também está associada a um menor tempo
MÉTODO
de cirurgia com perdas sanguíneas mínimas
e retorno rápido às atividades quotidianas.
Estudo retrospectivo dos casos de PE,
Resulta também em força, expansibilidade,
submetidos à correção cirúrgica pela técnica
flexibilidade e elasticidade normais a longo
de Nuss, no Hospital Beneficente Português
prazo da parede torácica quando comparado
de Manaus, no período de fevereiro de 2008
à técnica tradicional aberta.4
a junho de 2009. Os dados foram coletados
O procedimento ganhou grande
dos prontuários dos pacientes e os itens
aceitação para a correção de PE em
pesquisados foram: dados antropométricos,
pacientes pré-púberes e adolescentes,
sintomas, tipo do Pectus, tempo operatório,
cujo tórax é complacente e ainda possui
utilização de reposição sanguínea, tempo
capacidade
de hospitalização, complicações e resultado
de
remodelamento
pelo
crescimento. Seu uso em adultos, cujo
estético.
tórax é menos complacente, permanece
A técnica de Nuss consiste na
incerto.5
introdução de uma barra metálica, introduzida
Desde sua introdução, experiências
em posição restroesternal (Figura 1), por
com a técnica e resultados foram descritos
meio da videotoracoscopia para visualizar a
por diversos centros. Uma das complicações
passagem dela entre o pericárdio e a tábua
mais comuns envolve o deslocamento da
posterior do esterno. Essa barra tem a
placa resultando em recorrências, a qual
extensão compatível com o tórax do paciente,
foi relatada em 9,2% dos pacientes.6
mas deve transpassar ambos os hemitoraces
Comparando-se a técnica de Ravitch
e ser firmemente fixada à parede costal por
com a de Nuss, a segunda apresentou um
intermédio de estabilizadores e pontos junto
percentual maior de complicações quando
aos arcos costais. A permanência da placa
comparado à primeira, provavelmente pela
deve ser por um período mínimo de 3 anos,
42
revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
CORREÇÃO DA DEFORMIDADE DE PAREDE TORÁCICA ANTERIOR
PELA TÉCNICA DE NUSS – A EXPERIÊNCIA INICIAL EM MANAUS
visto que sua retirada precoce é associada à
intervenção cirúrgica em um deles. Três
recidiva do PE.
pacientes não apresentaram complicações
pós-operatórias e um ainda cursou com
infecção da ferida operatória, recebendo
RESULTADOS
cuidados
locais
e
antibioticoterapia
com evolução favorável (Tabela I). Um
A média de idade dos pacientes foi
(16,6%) paciente necessitou transfusão
de 15,33 anos, sendo 5 (83,3%) pacientes
sanguínea no pós-operatório. A média do
do sexo masculino.
tempo operatório foi de 2h e 35 minutos,
A principal queixa clínica dos
observando-se uma redução desse tempo
pacientes atendidos foi relacionada ao
nos últimos casos.
aspecto estético do Pectus, com apenas
Em sua totalidade, os pacientes
dois dos seis pacientes queixando-se de
evoluíram satisfatoriamente, recebendo
dispneia. Observou-se, ainda, que dois
alta hospitalar em bom estado geral e com
dos seis pacientes evoluíram no pós-
bom aspecto da parede torácica. O tempo
operatório com deslocamento da placa de
médio de internação foi de 8 dias.
Nuss, necessitando a posteriori de nova
n
Sexo
Id
Sintoma
Principal
Tipo do
Pectus
Complicações
Pós-Oper.
Resultado
Estético
1
Masc
16
Estética
Simétrico
Discreto
Deslocamento da
Placa de Nuss
Bom
2
Masc
16
Estética
Assimétrico
Moderado
Não houve
Ótimo
3
Masc
14
Estética
Assimétrico
Moderado
Não houve
Ótimo
4
Masc
15
Dispnéia
aos grandes
esforços
Simétrico
Discreto
Não houve
Ótimo
5
Fem
15
Estética
Simétrico
Acentuado
Deslocamento da
Placa de Nuss
Insatisfatório
6
Masc
16
Dispnéia
aos médios
esforços
Assimétrico
Discreto
Infecção de
Ferida Operatória
Ótimo
Tabela 1 – Dados epidemiológicos, sintomas, tipo de Pectus, complicações e resultado estético
dos pacientes submetidos à correção pela técnica de Nuss.
43
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v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
Fernando Luiz Westphal, José Ribas Milanez de Campos, Luiz Carlos de Lima, José Correa Lima Netto,
George A. M. Lins de Albuquerque, Ingrid Loureiro de Queiroz Lima, Priscilla Rodrigues Cerqueira
DISCUSSÃO
pacientes em questão. O procedimento de
Nuss é indicado primariamente por estética
nos pacientes pediátricos acometidos por
A cirurgia torácica avança cada
PE, mas em determinados casos no qual o
vez mais para técnicas minimamente
defeito é muito pronunciado, ocorre uma
invasivas, seguindo uma tendência mundial
melhora do funcionamento do sistema
observada em todas as especialidades. A
cardiorrespiratório.8
técnica de Nuss para a correção de PE é
outro avanço observado na especialidade,
As vantagens desse procedimento
visto que, por meio de pequenas incisões
incluem o menor tempo de internação
laterais, consegue-se introduzir uma placa
hospitalar e cirurgia minimamente invasiva
em posição retroesternal.
que permite o crescimento do esqueleto,
ao
A média de idade dos pacientes
contrário
realizadas
nesta série de casos foi de 15,3 anos,
das
osteocondrectomias
anteriormente.
Entretanto,
além do custo da toracoscopia, da barra de
um pouco maior do que a descrita na
Nuss e dos equipamentos especializados, a
literatura.1 Quanto à razão sexo masculino/
técnica não é isenta de complicações.8, 9
feminino, esta foi de 5:1, corroborando
com a literatura disponível, na qual o sexo
Dentre as complicações apresentadas
masculino é mais prevalente.7
pelos pacientes do estudo, observamos dois
casos de deslocamento da placa de Nuss, no
A idade ideal para a indicação da
qual houve necessidade de reintervenção
cirurgia para a correção do PE ainda é muito
em um caso e em outro caso de infecção
debatida na literatura em geral. Prefere-se
observou-se infecção do sítio cirúrgico.
normalmente, e de acordo com a técnica
inicialmente descrita, a abordagem em
Deslocamento
da
placa
é
a
crianças de 3 a 6 anos para maximizar a
complicação mais frequente descrita na
expansibilidade da caixa torácica e respostas
literatura, variando de 3 a 33% dos casos.
à
adolescentes
Geralmente ocorre nas primeiras semanas
também foram tratados com essa cirurgia
após a implantação.9 A recomendação do uso
e apresentaram bons resultados, embora
de estabilizadores laterais não provou ser
tenham
sempre efetiva. O procedimento promove
cirurgia.
a
Entretanto,
expansibilidade
da
parede
torácica diminuída.3
maior fixação, entretanto não previne sua
rotação e também está associada à dissecção
Dentre as queixas principais, a
mais extensa e processo inflamatório mais
estética prevaleceu, englobando 66,7% dos
44
revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
CORREÇÃO DA DEFORMIDADE DE PAREDE TORÁCICA ANTERIOR
PELA TÉCNICA DE NUSS – A EXPERIÊNCIA INICIAL EM MANAUS
intenso nos limites da placa.10
resultado estético. A técnica de Nuss
utilizada para correção de PE se mostra
Alguns autores descreveram sua
eficiente, principalmente quando utilizada
experiência com a utilização de fios de
em adolescentes, e que apesar de ser
aço fixando a barra ao arco costal em
uma técnica recente, ainda em curva
ambas as extremidades, o que, segundo
de aprendizado na maioria dos serviços,
descrição dos autores, pareceu prevenir
apresenta-se como uma alternativa com
a rotação da barra nos casos estudados.
resultados promissores.
Essa técnica é recomendada para pacientes
com menos de dez anos de idade, nos
REFERÊNCIAS
quais o uso de fixadores laterais pode ser
evitado.6 Entretanto, a correção do PE em
adolescentes com deformidade acentuada
1. Williams AM, Crabbe DC. Pectus Deformities
deve ser realizada com duas barras para
of the Anterior Chest Wall. Paediatr Respir Rev.
evitar
2003;4(3):237-42.
deslocamentos
e
ainda
obter
melhor resultado estético. Nos casos em
2. Westphal FL, Lima LC, Lima Netto JC, Chaves
que se utiliza apenas uma barra, o uso de
AR, Santos Júnior, VL, Ferreira, BLC. Prevalência de
estabilizadores laterais deve ser obrigatório
pectus carinatum e pectus excavatum em escolares
de Manaus. Jor Bras Pneumol. 2009, 35:221-226.
para prevenir a rotação.
Outras
complicações
3. Park HJ, Lee SY, Lee CS, Youn W, Lee KL. The
também
Nuss Procedure for Pectus Excavatum: Evolution of
foram descritas em quase todas as séries
Techniques and Early Results on 322 Patients. Ann
de casos utilizando essa técnica, como
Thorac Surg. 2004; 77:289-95.
infecção da placa, com reversão pelo uso de
4. Engum S, Rescoria F, West K, Rouse T, Grosfeld
antibioticoterapia sem indicação de retirar a
J. Is the Grass Greener? Early Results of the Nuss
barra de ferro; redução dos movimentos da
Procedure. J Pediatr Surg 2000; 35:246-251.
parede torácica resultando em atelectasia e
5. Coln D, Gunning T, Ramsay M, Swygert T, Vera R.
complicações mais graves, porém incomuns,
Early Experience with the Nuss Minimally Invasive
como a lesão cardíaca e hepática.9
Em
conclusão:
atualmente
Correction of Pectus Excavatum in Adults. World J
Surg 2002; 26:1217-1221.
as
6. Uemura S, Nakagawa Y, Yoshida A, Choda Y.
técnicas minimamente invasivas utilizadas
Experience in 100 cases with the Nuss Procedure
em cirurgia de tórax ganham grande
Using a Technique for Stabilization of the Pectus Bar.
destaque, principalmente pela diminuição
Pediatr Surg Int 2003; 19:186-189.
do tempo de internação e excelente
7. Protopapas A, Athanasiou T. Peri-operative Data
45
revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
Fernando Luiz Westphal, José Ribas Milanez de Campos, Luiz Carlos de Lima, José Correa Lima Netto,
George A. M. Lins de Albuquerque, Ingrid Loureiro de Queiroz Lima, Priscilla Rodrigues Cerqueira
Endereço para correspondência:
on the Nuss Procedure in Children with Pectus
Excavatum: Independent Survey of the First 20 years’
Fernando Luiz Westphal
data. Journal of Cardiothoracic Surgery 2008; 3:80.
8. Castellani C, Schalamon J, Saxena A, Hoellwarth
Avenida Grande Otelo, 100 – Residencial Jardim
M. Early Complications of the Nuss Procedure for
Itália, Ed. Turin, apto. 401, Parque Dez.
Pectus Excavatum: a Prospective Study. Pediatr Surg
CEP: 69055-021
Int 2008; 24:659-666.
Manaus – AM, Brasil.
9. Dzielicki J, Korlacki W, Janicka I, Dzielika E.
Difficulties and Limitations in Minimally Invasive
Tel.: 55 92 3234-6334
Repair of Pectus Excavatum – 6 years Experience
with Nuss Technique. European Journal of CardioThoracic Surgery 2006; 30:801-804.
Figura 1 – Raio X de tórax demonstrando o posicionamento adequado da placa com
a retificação adequada dela.
46
revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
André Luiz Campos Mancini, Jonas Rodrigues de Menezes Filho,
Giuseppe Figliuolo, Cristiano Silveira Paiva
INDICAÇÕES ATUAIS DA CIRURGIA
POUPADORA DE NÉFRONS NOS TUMORES
RENAIS. UM ARTIGO DE REVISÃO
CURRENT INDICATIONS OF NEPHRON-SPARING SURGERY IN RENAL TUMORS.
A REVIEW ARTICLE
André Luiz Campos Mancini*, Jonas Rodrigues de Menezes Filho*,
Giuseppe Figliuolo**, Cristiano Silveira Paiva**
Resumo
Atualmente, com a popularização dos exames de imagem, houve um aumento expressivo do
diagnóstico de tumores renais assintomáticos e de pequeno tamanho, os incidentalomas. Com
a evolução das técnicas cirúrgicas e melhor entendimento da fisiologia renal, os tratamentos
oncológicos puderam ser feitos com a preservação do órgão, em detrimento da cirurgia radical,
com extirpação de todo o rim, evitando assim nos pacientes com importante déficit na função
renal ou possuidores de rim único a evolução para doença renal crônica e início de terapias de
substituição renal. O acompanhamento desses pacientes demonstrou ainda que as complicações
operatórias, a recorrência local e a sobrevida são iguais aos da nefrectomia radical.
Palavras-chave: Rim, nefrectomia poupadora de néfrons, nefrectomia parcial, tumor
renal, carcinoma de células renais.
Abstract: Currently with the popularization of image examinations, there was a significant
increase of asymptomatic renal tumours diagnosis and small size, the incidentalomas. With
the evolution of surgical techniques and better understanding of renal physiology, the
cancer treatments could be made with the preservation of the organ, rather than radical
surgery, with removal of the entire kidney, avoiding in patients with important deficit in
renal function or single kidney owners for chronic renal disease development and early renal
replacement therapy. The monitoring of these patients also demonstrated that postoperative
complications, local recurrence and survival are equal to those of radical nephrectomy.
Key-words: Kidney, nephron sparing surgery, partial nephrectomy, renal tumor, renal carcinoma cell.
* Residentes de Urologia do HUGV
**Professor da Disciplina de Urologia da Universidade Estadual do Amazonas
***Doutor em urologia pela Escola Paulista de Medicina – EPM/Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP
47
revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
INDICAÇÕES ATUAIS DA CIRURGIA POUPADORA DE NÉFRONS
NOS TUMORES RENAIS. UM ARTIGO DE REVISÃO
INTRODUÇÃO
para tratamento de um CCR, foi descrita
pela primeira vez por Czerny, em 1887,
mas pelas dificuldades técnicas da época,
O carcinoma de células renais (CCR)
não obtiveram resultados satisfatórios.
representa 3% de todos os cânceres, com
Vermoteen, em 1950, desenvolveu as
mortalidade maior que 40%. Nos EUA, 57.760
técnicas modernas para a realização da
novos casos são esperados no ano de 2009,
NSS, mas não conseguiu obter as mesmas
com uma estimativa de 12.980 mortes.1 A
taxas de sobrevida que a NR, caindo em
predominância é maior no sexo masculino
desuso novamente.
(3:2), e é mais comum na população da 6.ª
e 7.ª décadas da vida. São mais comuns
Atualmente, com o avanço dos
nos pacientes da raça negra em 10 a 20%. A
exames de imagem, das técnicas de
maioria dos casos é esporádica, tendo como
prevenção de dano renal e escolha adequada
causa familiar somente 4% dos casos.
dos pacientes, a NSS tornou-se procedimento
seguro com baixas morbidade e taxa de
O diagnóstico e tratamento dos
recorrência local e alta satisfação dos
CCR aumentaram de modo significativo
nos
últimos
15
anos
pela
pacientes, com custo semelhante à NR.3
detecção
precoce de massas renais assintomáticas
(incidentalomas),
pela
popularização
dos exames de imagem abdominais como
ultrassom (US), a tomografia (TC) (Figura
1)
e
a
ressonância
magnética
(RM),
suplantando assim a tríade clássica de
dor lombar, hematúria e massa palpável,
correspondendo aos casos mais avançados.
A nefrectomia radical (NR) foi o
Figura 1 – Tumor renal direito exofítico de 4 cm.
primeiro tratamento preconizado para os
pacientes portadores de CCR, com a retirada
INDICAÇÕES ATUAIS DA NSS
de todo o rim, de sua gordura perirrenal e
a fáscia de Gerota, assim como a glândula
suprarrenal
ipsilateral.2 A nefrectomia
Indica-se a NSS quando a preservação
poupadora de néfrons (Nephron Sparing
de tecido renal não comprometer os
Surgery – NSS) ou nefrectomia parcial (NP),
princípios oncológicos e objetivando a
48
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v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
André Luiz Campos Mancini, Jonas Rodrigues de Menezes Filho,
Giuseppe Figliuolo, Cristiano Silveira Paiva
manutenção da função renal do paciente.
pequenos e simples (<4 cm e classificação
Divide-se em três categorias: absolutas,
T1aN0M0)
relativas e eletivas (Quadro 1). Indicações
curativa que a NR. Tumores maiores (>4
controversas são referentes aos tumores
cm), ou múltiplos, não são bons candidatos,
com estágio clínico T2, localização central,
devendo ser submetidos à NR.4
multifocais e tumor não-familiar.
Na
possuem
a
suspeita
mesma
de
eficácia
linfonodos
Um importante fator na decisão
comprometidos, deve-se fazer a biópsia
pela nefrectomia parcial é o tamanho do
destes antes de iniciar a ressecção tumoral.2
tumor. Estudos demonstram que tumores
Indicações para NSS
Condição associada
Absoluta
Risco de o paciente tornar-se anéfrico
e diálise iminente.
Rim único, rim contralateral hipoplásico, tumor
bilateral, Doença de Von Hippel-Lindau
Relativa
Tumor unilateral com doença renal
benigna contralateral ou doença
sistêmica.
Litíase, pielonefrite crônica, refluxo vésicoureteral, estenose artéria renal; HAS, diabetes.
Eletiva
Tumor unilateral com rim contralateral
normal.
Não há patologias que prejudiquem a função
renal no momento.
Quadro 1 – Indicações para Nefrectomia Parcial.
PAPEL DA BIÓPSIA RENAL NA NSS
contraindicada em coagulopatias ou quando
há dificuldade em acessar o rim.5
Indica-se a biópsia renal quando
A biópsia torna-se um procedimento
se necessita de um diagnóstico da massa
importante
encontrada pelos exames de imagem (TC,
idosos, com comorbidades e apresentam
RM) que não demonstram tumor renal
incidentalomas (<4 cm), pois esses tumores
com certeza. Algumas patologias podem
podem apresentar grau nuclear baixo e a
ter tratamento clínico, como nos casos
progressão da doença não é usual se estiver
de linfoma, metástases de outros sítios,
limitado ao rim, com uma sobrevida aos
angiomiolipomas, oncocitomas e processos
cinco anos entre 82 a 95%.6
nos
casos
infecciosos. Também é importante nos
pacientes que apresentam contraindicação
relativa à cirurgia de NSS. A biópsia é
49
revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
de
pacientes
INDICAÇÕES ATUAIS DA CIRURGIA POUPADORA DE NÉFRONS
NOS TUMORES RENAIS. UM ARTIGO DE REVISÃO
CUIDADOS PRÉ-OPERATÓRIOS NA
a 11.ª e a 12.ª costela (Figura 2A), dissecção
NSS
cuidadosa do rim preservando a gordura
perirrenal adjacente ao tumor (Figura 2B),
exposição do hilo renal com isolamento da
A avaliação pré-operatória deve ser
artéria e veia renais para controle vascular
completa, com anamnese e exame físico
(isquemia), visando reduzir o sangramento
completos, avaliação laboratorial completa
durante a NP (Figura 2C).
(hemograma, testes de coagulabilidade,
eletrólitos, função renal, urina tipo I, albumina
sérica), radiografia de tórax, podendo ainda
em determinados casos TC Abdome, TC Tórax
e cintilografia óssea para avaliação de possível
doença metastática.2, 4
A avaliação da função renal deve
ser realizada de forma sistemática, e não
quantificar somente pela dosagem da
creatinina sérica, mas também pela taxa
de filtração glomerular (GFR), pois é mais
fidedigna e pode predizer no pós-operatório
Figura 2A – Posição cirúrgica, Figura 2B – Rim
dissecado. Figura 2C – Tumor exofítico. Figura
2D – Resfriamento com gelo.
a necessidade de diálise renal. A diminuição
da função renal está relacionada com o
tempo de isquemia de ressecção tumoral, a
2. Medidas de proteção da função
idade do paciente e rim único.7, 8
renal
DETALHES TÉCNICOS NA NSS
Importantes medidas devem ser
tomadas para minimizar a perda de função
1. Vias de acesso
renal decorrente do tempo de isquemia
pelo clampeamento temporário do hilo
Aimportância do seguimento metódico
renal. O primeiro passo é a manutenção
do cirurgião aos detalhes técnicos elevou esta
de hidratação vigorosa no intra e pós-
cirurgia à mesma eficácia da NR.
2
operatório com pressão sistólica acima de
O acesso preferencialmente é feito
120 mmHg, melhorando assim a perfusão
por lombotomia, extraperitonealmente entre
renal. O segundo passo é a administração
50
revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
André Luiz Campos Mancini, Jonas Rodrigues de Menezes Filho,
Giuseppe Figliuolo, Cristiano Silveira Paiva
intravenosa de manitol (12,5 g) 5 a 10
furosemida deve ser feita após a liberação
minutos antes do clampeamento, pois essa
do clampeamento vascular renal, para
medida visa diminuir o edema intracelular.
promover melhor reperfusão, diminuindo o
O terceiro passo é o resfriamento do
efeito do estresse oxidativo e estimular a
rim com gelo picado (Figura 2D) após o
diurese.
clampeamento, por um período médio de
10 minutos, atingindo uma temperatura
3. Nefrectomia parcial
entre 15 a 20°C, diminuindo assim o gasto
Preparado
energético das células renais corticais.7
mais
realização
NSS,
da
importante
pois
diminui
órgão,
procede-
se a realização de enucleação do tumor
A isquemia renal é o procedimento
intraoperatório
o
(Figura 3A), nefrectomia polar (superior
na
ou inferior) ou a retirada em cunha nos
o
casos de tumores da região medial. Detalhe
sangramento e facilita a visualização das
importante da ressecção tumoral é de não
estruturas anatômicas.
violar a pseudocápsula, mantendo uma
O clampeamento pode ser apenas
margem de segurança.9
da artéria renal ou da artéria e veia
Hemostasia do leito renal é de
conjuntamente, e não se recomenda a sua
fundamental
utilização de forma intermitente no hilo
importância,
evitando
os
riscos de sangramento pós-operatório e
renal, como nas cirurgias hepáticas. Quando
de reoperação (Figura 3B). A realização de
não se utiliza o resfriamento renal com
biópsias do leito de ressecção pode ser feita
gelo na nefrectomia parcial, o tempo de
para confirmação de margens cirúrgicas livres
enucleação tumoral é chamado de tempo de
de neoplasia, mas os estudos demonstram
isquemia quente e não deve ultrapassar 30
que para tumores menores de 4 cm basta
minutos, sob o risco de deterioração renal
uma mínima margem de segurança de 0,2
irreversível. A utilização do gelo (isquemia
cm, não comprometendo os resultados
fria) é benéfica, pois permite proteção
oncológicos e promovendo tempo livre
renal por período isquêmico médio de até
de doença e sobrevida câncer específica
60 minutos, devendo ser utilizada nos casos
semelhante à nefrectomia radical.10, 11, 12
onde há a possibilidade de tempo operatório
Realizada a enucleação tumoral,
alargado ou nos pacientes com risco de
inicia-se a sutura do sistema coletor com
progressão para doença renal crônica.8
fio absorvível, e a rafia do parênquima
Nova administração de manitol e
renal com interposição de tecido para
51
revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
INDICAÇÕES ATUAIS DA CIRURGIA POUPADORA DE NÉFRONS
NOS TUMORES RENAIS. UM ARTIGO DE REVISÃO
a sustentação da sutura, como gordura
As complicações pós-operatórias
perirrenal (Figura 3C), fáscia de Gerota
não decaíram com os avanços da técnica
ou esponja de gelatina. Alguns autores
cirúrgica, dos cuidados perioperatórios e a
recomendam
complementar
experiência da equipe cirúrgica. Destaca-se
com selantes à base de fibrina (solução de
a fístula urinária (1,4 – 17,4%), insuficiência
fibrinogênio humano em alta concentração
renal aguda (0,7 – 7,3%), hemorragia pós-
associado
operatória (2,4%) e infecção (0,6 – 6,0%). A
à
hemostasia
trombina
e
um
agente
antifibrinolítico),13 sendo aplicada sobre
taxa de reoperação é baixa (0 – 3,1%).
a superfície do parênquima renal, com
A taxa de sobrevida câncer específica
excelentes resultados em NSS convencional
é similar à nefrectomia radical (88 – 97,5%),
e laparoscópica, sem reintervenções por
para estudos com tempo médio de follow-
hemorragia ou fístula urinária.14
up de 3 a 6 anos, assim como a taxa de
recorrência local (0 – 7,3%).2
Os
NSS
pacientes
necessitam
de
submetidos
à
acompanhamento
ambulatorial com avaliação laboratorial
da função renal, função hepática, cálcio
sérico e fosfatase alcalina, radiografia de
tórax, US abdominal e TC de Abdome a cada
3 meses durante o primeiro ano; a cada 6
meses no 2.º e 3.º anos e anualmente após
o 4.º ano.2, 9
Nos casos de recorrência tumoral,
pode-se realizar nova NSS ou NR, dependendo
Figura 3A – Enucleação tumoral. Figura 3B – Retirada
do tumor. Figura 3C – Rafia do rim. Figura 3D Tumor
renal.
do estadiamento oncológico ou da condição
do rim.
5.
4. Seguimento dos pacientes por NSS
Comparação
entre
NSS
convencional x laparoscópica
No
pós-operatório,
indica-se
Com
hidratação vigorosa ao paciente, com
o
estabelecimento
das
bases da NSS, introduziu-se a abordagem
intuito de evitar a necrose tubular aguda e
laparoscópica (LNSS) com a finalidade
assim manutenção da função renal.
52
revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
André Luiz Campos Mancini, Jonas Rodrigues de Menezes Filho,
Giuseppe Figliuolo, Cristiano Silveira Paiva
de associar suas vantagens como menor
como tempo de sobrevida e tempo livre
morbidade, menores tempo de hospitalização
de doença, semelhantes à NR, tido como
e de convalescência à técnica original.15
procedimento padrão-ouro no tratamento
Os
trabalhos
dos tumores renais. A NSS evita, portanto,
subsequentes
que pacientes com déficit parcial na
compararam os resultados da NSS e da LNSS,
função renal evoluam para a insuficiência
em relação aos resultados oncológicos e
renal crônica, se submetidos à NR. A LNSS
complicações operatórias.
Um
dos
também demonstrou ser eficaz nos tumores
trabalhos
localizados e menores de 4 cm, mas ainda
200
concentrada a centros de excelência em
cirurgias (100 NSS e 100 LNSS), e a
laparoscopia, sendo uma alternativa viável
cirurgia laparoscópica estava associada
a NSS.
comparativos,
primeiros
relacionaram
com uma maior taxa de complicações
intraoperatórias (5% vs 0, p<0.03) e um
REFERÊNCIAS
aumento da taxa de complicações renais e
urológicas (11% vs 2%, p<0,01). Dentre essas
1. Jemal A, Siegel R, Ward E, Hao Y, Xu J, Thun MJ.
complicações são relatadas as hemorragias
Cancer statistics. CA Cancer J Clin. 2009; 59(4):225-49.
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2. Novick AC, Derweesh I. Open partial nephrectomy
hematúria.16
for renal tumours: current status. BJU Int. 2005;
95:35-40.
Com o avanço da tecnologia e o
aumento da curva de aprendizagem, os
3. Uzzo RG, Novick AC. Nephron sparing surgery for
grandes centros de laparoscopia urológica,
renal tumors: Indications, techniques and outcomes.
com seleção criteriosa de pacientes (estádio
J Urol. 2001; 166: 6-18.
T1a), obtêm resultados semelhantes à NSS.15
4. Heldwein FL, McCullough TC, Souto CA, Galiano M,
Barret E. Localized renal cell carcinoma management:
An update. Int Braz J Urol. 2008;34(6):676-89.
CONCLUSÃO
5. Krebs RK, Paiva C, Khalil, W, Andreoni C, Ortiz V.
Tumor renal menor de 4 cm. Há lugar para biópsia
Os
permitem
renais
atuais
o
exames
diagnóstico
assintomáticos
e
de
imagem
por agulha? Sinopse Urol. 2007;2:47-49.
de
tumores
6. Dall’oglio MF, Srougi M, Gonçalves PD, Leite
em
estádio
KM, Hering F. Morphologic features of incidentally
identified renal tumors. Int Braz J Urol. 2002;
inicial. A NSS demonstrou ser eficaz,
28:102-108.
com resultados oncológicos expressivos
7. Yossepowitch O, Eggener SE, Serio A, Huang WC,
53
revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
INDICAÇÕES ATUAIS DA CIRURGIA POUPADORA DE NÉFRONS
NOS TUMORES RENAIS. UM ARTIGO DE REVISÃO
Snyder ME, Vickers AJ, Russo P. Temporary renal
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isquemia during nephron sparing surgery is associated
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for renal cell carcinoma of 4 cm or less. Chin Med J
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sealant in urologic surgery. Int Braz J Urol., v. 32, p.
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15. Permpongkosol S, Bagga HS, Romero FR, Sroka
10.Sutherland SE, Resnick MI, Maclennan GT,
M, Jarrett TW, Kavoussi LR. Laparoscopic versus
Goldman HB. Does the size of the surgical margin
open partial nephrectomy for the treatment of
in partial nephrectomy for renal cell câncer really
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11.Li QL, Guan HW, Song XS, Wu HC. Long term
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54
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v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
Jefferson do Rêgo Corrêa, Giorge Pessoa de Jesus
ABORDAGEM CIRÚRGICA EXTRAORAL NO
TRATAMENTO DE RÂNULA MERGULHANTE –
RELATO DE CASO
SURGICAL MANAGEMENT EXTRAORAL IN TREATMENT OF PLUNGING
RANULA – REPORT CASE
Jefferson do Rêgo Corrêa,* Giorge Pessoa de Jesus**
RESUMO
O fenômeno de extravasamento de muco, que pode estar associado a anomalias congênitas,
traumas e doenças da glândula sublingual, é conhecido como rânula. Uma variante clínica
incomum, a rânula mergulhante, ocorre quando o extravasamento de mucina consegue
dissecar e romper barreiras atingindo espaços mais profundos, ocasionando na maioria das
vezes uma tumefação no pescoço. O presente trabalho relata uma paciente diagnosticada
com a lesão após ter sofrido trauma na região de assoalho bucal e submetida a tratamento
cirúrgico com a remoção extraoral da glândula envolvida.
Palavras-chave: Rânula Mergulhante; Glândula Sublingual; Acesso Extraoral.
ABSTRACT
The phenomenon of mucus leaking that can be associated to congenital anomalies, trauma
and illnesses of sublingual gland, is known as Ranula. An uncommon clinical variant, the
plunging ranula, occurs when the leak of mucin breaches barriers and reaches deeper
spaces, causing most of times a neck swelling. The present study reports a patient who has
got this injury after traumatizing the mouth floor area, and was submitted to a surgical
treatment with extraoral removal of the affected gland.
Keywords: Plunging ranula; Sublingual gland; Extraoral approach.
*Acadêmico finalista da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Amazonas – Ufam.
** Professor titular da disciplina de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial da Faculdade de Odontologia
da Universidade Federal do Amazonas – Ufam.
E-mail: [email protected] Endereço: Av. Tókio, quadra 20, n.º 2 – Conj. Campos Elíseos, bairro:
Planalto – CEP: 69045-200. Manaus – AM, fone: (92) 3238-8421, CEL: (92) 9625-6202
55
revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
ABORDAGEM CIRÚRGICA EXTRAORAL NO TRATAMENTO DE
RÂNULA MERGULHANTE – RELATO DE CASO
INTRODUÇÃO
permite uma boa avaliação da extensão da
lesão.6,
10, 11
Existem inúmeras abordagens
para o tratamento da rânula mergulhante,
Rânula, nome derivado do latim
sendo as cirúrgicas com a drenagem da
rana, que significa rã, foi dado por conta da
lesão e ressecção da glândula sublingual as
lesão lembrar o aspecto translúcido do baixo-
mais eficazes.5, 7, 8, 10, 12, 13, 14, 15
ventre de uma rã, e é um termo utilizado
para os fenômenos de extravasamento de
Este trabalho tem por objetivo
mucina que ocorrem no assoalho bucal.1, 2, 3
descrever o relato de caso de uma
Têm sido descritas associadas com anomalias
paciente portadora de rânula mergulhante
congênitas, traumas, doenças da glândula
diagnosticada no Serviço de Cirurgia e
sublingual
relatam,
Traumatologia Bucomaxilofacial – CTBMF
ainda, que essa lesão pode surgir em
da Faculdade de Odontologia – FAO da
consequência de cirurgias para a colocação
Universidade Federal do Amazonas – Ufam
de implantes dentais.3, 4, 5, 6 Uma variante
e tratado no Hospital Universitário Getúlio
clínica incomum, a rânula mergulhante,
Vargas (HUGV).
ocorre
mucina
e
alguns
quando
o
consegue
autores
extravasamento
dissecar
e
de
romper
RELATO DE CASO
barreiras como o músculo miloioide e
atinge espaços mais profundos, como os
A paciente do gênero feminino,
espaços submandibulares e parafaringeanos
feoderma, 27 anos de idade, do interior
inferiores, ocasionando na maioria das
vezes uma tumefação do pescoço.3,
7, 8
do Estado do Amazonas – Brasil, procurou
O
o ambulatório do Serviço de CTBMF da
diagnóstico está diretamente relacionado
FAO/Ufam, queixando-se de um “aumento
com a história do desenvolvimento da lesão,
de volume” no lado esquerdo do pescoço
que pode ter aparecido após um trauma
(Figura 1). Na anamnese foi constatado
na região de assoalho bucal envolvendo a
que, após injúria por uma “espinha de
glândula sublingual ou por obstrução de seu
peixe” no assoalho bucal, iniciou-se o
ducto, ocasionando em um extravasamento
do conteúdo salivar.6,
9, 10
desenvolvimento de uma vesícula que
Junto com a
regrediu espontaneamente. Após alguns
história clínica, exames complementares
meses, a paciente observou um aumento
de imagem, como a ressonância magnética
de volume na região submandibular do
(RM), garantem um maior estreitamento
lado esquerdo, que evoluiu causando uma
das possibilidades diagnósticas, e ainda
56
revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
Jefferson do Rêgo Corrêa, Giorge Pessoa de Jesus
assimetria facial. Ao exame físico não foi
um dreno e em seguida buscou-se uma
constatado nenhum envolvimento intraoral,
sutura por planos (Figura 6) o qual foi
verificando-se apenas o abaulamento na
removido no segundo dia pós-operatório
região anteriormente mencionada. Com
depois da confirmação de não haver
base na história da doença e no exame
mais conteúdo salivar que pudesse ser
clínico, onde foi realizada punção aspirativa
removido por sucção. A peça foi enviada
positiva
mucoso,
para o Serviço de Patologia da Ufam, e foi
levantou-se a hipótese diagnóstica de
submetida a exame histopatológico que
rânula mergulhante (Figura 2). Para auxiliar
revelou tecido de glândula salivar maior
no diagnóstico foi solicitado o exame de
com ductos rompidos e extravasamento de
ressonância magnética que revelou uma
muco para o tecido conjuntivo, bem como
lesão multilocular estendendo-se do espaço
infiltrado inflamatório crônico inespecífico,
sublingual até o parafaringeano inferior
característico de rânula. A paciente evoluiu
esquerdo, envolvendo estruturas anatômicas
de forma satisfatória não apresentando
nobres como nervos e vasos sanguíneos
sinais de infecção ou quadros de xerostomia.
calibrosos (Figura 3). O tratamento proposto
Portanto, não havendo comprometimento
pela equipe cirúrgica foi a drenagem da lesão
significativo da lubrificação bucal pela
associada à exérese da glândula envolvida.
exérese
Por não haver tumefação intraoral e por
encontra-se com dois anos de proservação
promover melhor campo operatório, optou-
sem sinais de recidiva (Figura 7).
obtendo-se
conteúdo
das
glândulas.
Atualmente
se por fazer uma incisão submandibular
(Hisdon)
possibilitando
uma
melhor
DISCUSSÃO
visualização das estruturas anatômicas
que estavam intimamente envolvidas pela
Por
cápsula cística (Figura 4). Foi realizada
submandibular
submandibular pela cápsula da rânula,
número
e
parafaringeanos,
o
diagnóstico de rânula / rânula mergulhante
fato este que levou os cirurgiões a optar
é
pela remoção tanto da glândula sublingual
submandibular,
grande
de assoalho bucal, espaço sublingual,
também, o envolvimento da glândula
da
do
de doenças relacionadas com a região
dissecção por planos quando se observou,
quanto
conta
geralmente
determinado
por
uma
combinação da história, achados clínicos e
eliminando
estudos de imagens.6, 7 A rânula mergulhante
qualquer possibilidade de recidiva (Figura
pode se apresentar como um aumento de
5). Após exérese das glândulas foi adaptado
volume da área submandibular com ou sem
57
revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
ABORDAGEM CIRÚRGICA EXTRAORAL NO TRATAMENTO DE
RÂNULA MERGULHANTE – RELATO DE CASO
o envolvimento intraoral.12, 16
Exames
a
tomografia
de
Dentre os tratamentos existentes,
imagens,
computadorizada
a excisão da rânula associada à remoção
como
e
da glândula sublingual tem sido o de
a
primeira escolha por muitos autores. Em
ressonância magnética, têm ajudado com
dados estatísticos é o que apresenta baixo
grande eficácia no diagnóstico dessa lesão,
ou nenhum índice de recidiva da lesão.
pois mostram um sinal patognomônico
Pelo fato, porém, de ser uma abordagem
conhecido como “cauda”, que é uma
bem invasiva, é necessária uma grande
evidenciação do percurso realizado pelo
experiência por parte do cirurgião e de sua
fluido salivar quando da sua disseminação
equipe.10, 17, 18
para os espaços fasciais mais profundos do
pescoço.1, 4, 9
Por causa da rânula mergulhante ser
uma variante incomum da rânula confinada
Pela ressonância magnética tem-se,
ao assoalho bucal, seu tratamento é
ainda, uma maior precisão na localização de
basicamente
estruturas anatômicas nobres, como nervos
mesmo.
Com
exceção
de alguns casos em que sua drenagem e
e vasos, que precisam ser preservadas
excisão são feitas por uma abordagem
durante o ato cirúrgico para a remoção da
glândula salivar.
o
submandibular, geralmente quando essa
4, 11
lesão não mostra um crescimento em
O diagnóstico da lesão do caso
assoalho bucal.10
relatado em nosso serviço foi feito com base
Em busca de um tratamento eficaz,
nas evidências descritas no meio científico,
que apresentasse a menor possibilidade de
ou seja, por meio da correlação entre a
recidiva, juntamente com a característica
história da doença, os achados clínicos e os
clínica de não envolvimento intraoral da
achados da ressonância magnética.
lesão, foi decidido por se utilizar a técnica
Há diversas formas de abordagem no
de excisão da rânula associada à remoção
tratamento de rânula/rânula mergulhante,
da glândula sublingual e submandibular via
como
lesão,
transcervical, tratamento que se mostrou
marsupialização com ou sem cauterização da
bastante satisfatório, sem complicações no
parede da lesão, crioterapia, tapizamento
trans nem no pós-operatório tardio.
excisão
completa
da
com gaze, excisão a laser, escleroterapia, e
Histologicamente todas as lesões
até mesmo injeção intralesão de material
de rânula são similares, apresentando
de moldagem e utilização de hidrossecção
um
como auxiliar na dissecção.5, 7, 8, 10, 12, 13, 14, 15
58
espaço
cístico
revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
central
contendo
Jefferson do Rêgo Corrêa, Giorge Pessoa de Jesus
extravasamento de mucina para os tecidos
F, Kiris M. Pediatric intraoral ranulas: An analysis of
circunjacentes,
nine cases. Tohoku J. exp. Med; 2005; 205; 151-55.
região
vascularizada
e
presença de infiltrado inflamatório.1, 13, 18
Essas
foram
6. Loney jr WW, Termini S, Sisto J. Plunging ranula
formation as a complication of dental implant
características
surgery: a case report. J oral maxillofac surg; 2006;
histopatológicas presentes na lâmina do
64; 1204-8.
fragmento cirúrgico retirado da paciente e
7. Coit WE, Harnsberger HR, Osborn AG, Smoker
enviado ao laboratório de Anatomopatologia
WRK, Stevens MH, Lufkin RB. Ranulas and their
da Universidade Federal do Amazonas,
mimics: CT evaluation. J radio; 1987; 163; 211-16.
e que confirmou o diagnóstico de rânula
8 – Rho MH, Kim DH, Kwon JS, Lee SW, Sung YS, Song
mergulhante.
YK et al. Ok-432 sclerotherapy of plunging ranula in
21 patients: It can be a substitute for surgery. AJRN
É necessário que o profissional faça o correto
am J Neuroradiol; 2006; 27; 1090-95.
diagnóstico da lesão, associando sempre os
9. Charnoff SK, Carter BL. Plunging ranula: CT
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IMAGENS
Figura 1 – Aumento de volume da região
submandibular do lado esquerdo do
pescoço.
Figura 3 – Imagem RM evidenciando
o envolvimento de espaços
profundo do pescoço
Figura 2 – Conteúdo mucoviscoso aspirado da lesão.
Figura 4 – Incisão submandibular (Hisdon) para
Figura à4lesão.
– Incisão
acesso
ok submandibular (Hisdon) para
acesso à lesão. ok
60
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v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
Jefferson do Rêgo Corrêa, Giorge Pessoa de Jesus
Figura 5.a – Evidenciação do envolvimento
da glândula sublingual pela cápsula da
lesão.
Figura 5.b – Exérese das glândulas envolvidas
pela lesão.
Figura 5.c – Glândulas sublingual e submandibular
Figura 6 – Tubo dreno suturado no local das
Figura
6 – removidas.
Tubo dreno suturado no local das
glândulas
glândulas removidas.
Figura 6 – Pós-operatório de 2 anos.
61
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Aryádine Allinne Machado de Miranda, Elisângela Canterle Sedlacek,
Simora Souza de Moraes, Sandra Lúcia Euzébio Ribeiro
COMPROMETIMENTO DA COLUNA CERVICAL
NA ARTRITE REUMATOIDE GRAVE: MELHORA
COM TRATAMENTO CLÍNICO
IMPAIRMENT OF THE CERVICAL SPINE IN SEVERE RHEUMATOID ARTHRITIS:
TREATMENT WITH CLINICAL IMPROVEMENT
Aryádine Allinne Machado de Miranda,* Elisângela Canterle Sedlacek,**
Simora Souza de Moraes,** Sandra Lúcia Euzébio Ribeiro***
Resumo
A artrite reumatoide (AR), doença inflamatória multissistêmica, pode acometer a coluna
cervical em vários estágios de sua evolução, principalmente a junção crânio vertebral.
A subluxação atlanto-axial (SAA) é o acometimento mais frequente, e apresenta
complicações como compressão neurológica e morte súbita. Pode ser assintomática,
sendo necessários exames de imagem, principalmente nos pacientes com dor e alteração
no exame físico da coluna cervical. A radiografia simples sugere o diagnóstico de SAA; a
Tomografia Computadorizada (TC) avalia fraturas vertebrais, erosões ósseas e articulações
interapofisárias; e a Ressonância Magnética (RM) é o exame que avalia a sinovite. Geralmente
o diagnóstico é realizado em estágios avançados da doença; além disso, os procedimentos
cirúrgicos não apresentam bons resultados, o que aumenta a morbimortalidade nesses
casos. Descreve-se o caso clínico de um paciente do sexo masculino com AR grave e demora
no diagnóstico, que apresentou complicações neurológicas por conta da SAA, com melhora
após tratamento com drogas antirreumáticas modificadoras da doença (DMARD).
Palavras-chave: Artrite reumatóide; Coluna cervical, Subluxação atlanto-axial.
Abstract
The rheumatoid arthritis (AR), multiple system inflammatory illness, can affect the
cervical column in some periods of its evolution, mainly the vertebral skull junction. The
atlantoaxial subluxations (AAS) is the most frequent manifestation and with bigger risk
of complications, for example, neurological compression and sudden death. It can be
symptomless, many times it is necessary many examinations of images of patients with
pain in the cervical column. The simple x-ray suggests the AAS diagnosis; the computerized
tomography evaluates vertebral breakings, bones erosions and interapophysary joints;
62
revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
COMPROMETIMENTO DA COLUNA CERVICAL NA ARTRITE REUMATOIDE GRAVE:
MELHORA COM TRATAMENTO CLÍNICO
and Magnetic Resonance is the examination which evaluates the synovial membrane
inflammation. Generally, the diagnosis is carried through in advanced periods of the
illness, moreover, the surgical procedures does not present good results, which increases
the mortality in these cases. We describe clinical case of a man with RA and neurological
compression caused by AAS, showed improvement after treatment with disease-modifying
antirheumatic drugs (DMARD).
Keywords : Rheumatoid arthritis; Cervical column, Atlantoaxial subluxation.
Introdução
e o processo odontoide maior que 3 mm,
conhecido como subluxação atlanto-axial
(SAA), e quando essa distância for igual
A artrite reumatoide (AR) é uma
ou superior a 9 mm há elevado risco de
doença autoimune multissistêmica de caráter
compressão neurológica.3,
inflamatório, de etiologia desconhecida,
caracterizada
por
instabilidade
comprometimento
do
4, 5, 15
segmento
Ocorre
vertebral,
alterando as suas funções relacionadas ao
das articulações periféricas. O dano à
suporte do peso, movimentos e proteção
cartilagem e erosões ósseas, com as
de estruturas nervosas no interior do canal
mudanças subsequentes na integridade
vertebral.2, 3, 6
articular determinadas pela inflamação,
são características da doença. Afeta três
Objetivo deste relato é descrever o
vezes mais mulheres do que homem e com
caso de um paciente com diagnóstico tardio
maior incidência entre 35-65 anos.1, 2 A AR
e complicações graves de AR como SAA,
compromete a coluna cervical em 60-80%
apresentando outros sinais e sintomas de
dos casos,1 sendo a região mais acometida
gravidade da doença, que obteve melhora
do
o
após terapêutica com drogas antirreumáticas
Na articulação
modificadoras da doença (DMARD), redução
esqueleto
axial,
seguimento C1-C2.3,
atlanto-axial,
o
principalmente
4, 14, 15
processo
inflamatório
da sinovite de coluna cervical, não sendo
na membrana sinovial e nos ligamentos
promove
enfraquecimento
e
necessário procedimento cirúrgico.
frouxidão
no ligamento transverso, ocasionando um
aumento entre o arco anterior do atlas
63
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v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
Aryádine Allinne Machado de Miranda, Elisângela Canterle Sedlacek,
Simora Souza de Moraes, Sandra Lúcia Euzébio Ribeiro
Relato de Caso
consulta com reumatologista, diagnosticado
AR
Paciente
masculino,
70
de
anti-inflamatórios
American
pequenas
articulações
das
mãos,
rigidez matinal maior uma hora e nódulos
em joelhos e tornozelos, obtendo melhora
de
do
clínicos (artrite simétrica e cumulativa
Em 2001 iniciou artrite simétrica cumulativa
uso
critérios
College of Rheumatology (ACR), 1987:(1)
anos,
diabético desde 2005 em uso glibenclamida.
com
segundo
reumatoides), radiológicos (diminuição do
não
espaço articular do carpo, cistos ósseos
hormonais (Aines). Em março de 2006,
subcondrais, erosões ósseas) e sorológico
evoluiu com poliartrite em interfalangeanas
(Fator Reumatoide título 1:32). Iniciado
proximais (IFPs) e metacarpofalangeanas
tratamento com metotrexate (MTX) 15 mg/
(MCFs), punhos, cotovelos, acompanhado
semana, difosfato de cloroquina 150 mg/
de rigidez matinal com duração de três
dia, prednisona 20 mg/dia e ácido fólico 5
horas, exacerbação da artrite em joelhos
mg/semana.
e nódulos de consistência fibroelástica em
face extensora dos cotovelos e anterior da
Internado em fevereiro de 2007 por
tíbia esquerda (E). Maio de 2006 apresentou
exacerbação do quadro álgico na coluna
piora do quadro articular com dor na
cervical e irradiação para MMSS. Relatava
região cervical de forte intensidade com
também tosse seca, associada à dispneia
irradiação para membros superiores (MMSS),
progressiva aos esforços. Ao exame físico,
parestesia e diminuição da força muscular
apresentava-se em regular estado geral,
em membros inferiores (MMII). Procurou
dispnéico, afebril; aparelho cardiovascular
vários serviços de urgência/neurocirurgia
e
prescrito Aines e solicitados exames, entre
respiratório
eles RM de coluna cervical evidenciando
velcro em 2/3 inferiores bilateral; pele
tecido com intensidade de sinal de partes
com nódulos de consistência fibroelástica,
moles, compatível com pannus, envolvendo
móveis, indolores, cerca de 2 cm de diâmetro
a transição craniocervical, determinando
em superfície extensora dos cotovelos, face
erosão e destruição de C1 e do processo
anterior da tíbia esquerda; osteoarticular
odontoide de C2. Indicado cirurgia, porém
com desvio ulnar dos dedos, dedo em
não realizada por recusa do paciente.
martelo 2.º e 4.º quirodáctilos (QRD) (à E),
abdome
sem
alterações;
estertores
aparelho
crepitantes
em
atrofia de interósseos (Figura 1), sinovite
Novembro de 2006: com progressão
em punhos com incapacidade para flexão
do déficit neurológico, sem deambular, em
e extensão, instabilidade e crepitação em
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COMPROMETIMENTO DA COLUNA CERVICAL NA ARTRITE REUMATOIDE GRAVE:
MELHORA COM TRATAMENTO CLÍNICO
DISCUSSÃO
joelhos, limitação acentuada da flexão e
extensão do pescoço com perda da lordose
fisiológica; neurológico força muscular grau
Nos pacientes portadores de AR
4/5 em MMSS e 3/5 em MMII. Realizado RX
os elementos estabilizadores da coluna
de tórax mostrando infiltrado intersticial
cervical, como articulações, ligamentos e
difuso, com área de maior confluência na
tecidos ósseos, podem ser afetados pelo
base direita, obliterando seio costo-frênico
tecido sinovial patológico levando a SAA.4, 11,
(Figura 3), TC de tórax evidenciando
14, 15
fibrose pulmonar bilateral (Figura 4); RM
pacientes com evidência mínima de doença,
de coluna cervical sinais de instabilidade
1 em 15 pacientes com doença clínica e 1
cervical, com subluxação anterior de C1-
em cada 5 pacientes hospitalizados por AR.
C2, ântero-listese de C3 sobre C4 e de C4
A insuficiência do ligamento transverso,
sobre C5; erosão e destruição do Atlas e
causada pela inflamação, variando desde
do processo odontoide do Axis; redução
atrofia até completa destruição pelo tecido
na amplitude do canal vertebral cervical,
de granulação reumatoide, é responsável
tecido com intensidade de sinal de partes
pela subluxação.7
moles compatível com pannus, envolvendo
a
transição
O
serviço
craniocervical
(Figura
Essa patologia ocorre em 1 em cada 30
Fatores
5).
relacionados
à
própria
indicou
evolução da AR podem condicionar um
procedimento cirúrgico para estabilização
maior risco de acometimento da doença na
de coluna cervical, por conta do risco
coluna cervical, tais como o uso prolongado
aumentado de compressão do canal medular
de
e de estruturas vasculares, além de morte
FR,
súbita, porém houve recusa do paciente,
acometimento de nervos cervicais, presença
utilizando somente colar cervical.
de nódulos reumatoides e longo tempo de
de
neurocirurgia
corticosteroides,
destruição
articular
evolução da doença.2,
Em maio de 2007 apresentava
altos
8
títulos
de
periférica,
Desses fatores o
tempo prolongado de doença é o que mais
redução do quadro álgico, parestesia e da
contribui para o aumento da incidência
sinovite da coluna cervical, visualizado
de SAA.15 No caso clínico descreve-se
na RM (Figura 6). Mantendo-se estável
um paciente portador de AR com graves
clinicamente nas reavaliações ambulatoriais,
deformidades de articulações, nódulos
a última em maio/2009.
reumatoides,
acometimento
pulmonar,
sintomas neurológicos, condições estas
65
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v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
Aryádine Allinne Machado de Miranda, Elisângela Canterle Sedlacek,
Simora Souza de Moraes, Sandra Lúcia Euzébio Ribeiro
predisponentes de SAA.
ser, porém, assintomática durante grande
parte da sua evolução ou provocar sintomas
A SAA pode ser classificada em
vagos.2,
anterior, vertical, lateral e posterior.
de
Anterior representa 46% dos casos, ocorre
e
o
ligamento
intensidade
A cefaleia suboccipital
variável
pode
estar
relacionada com SAA vertical. Os sintomas
infiltração do pannus entre o processo
odontoide
10, 11, 12
neurológicos (parestesia, paresia, hiper-
transverso,
reflexia, clonus e espasticidade) podem ser
ocasionando separação maior de 2,5 cm
causados por compressão das estruturas
entre o arco anterior do atlas e o processo
nervosas contidas no canal vertebral, seja
odontoide do áxis. Vertical corresponde a
pelo pannus, elementos ósseos ou por
5-22% dos casos, o colapso ósseo e articular
insuficiência do sistema vertebrobasilar
entre o osso occipital, atlas e áxis resultam
(síncope,
de erosões e desabamento das articulações
incontinência
esfincteriana,
nistagmo, disfagia).5, 9 No exame físico pode-
sinoviais existentes entre os ossos na
se suspeitar de SAA quando há diminuição
junção craniocervical, levando a migração
da lordose occiptocervical, resistência à
do dente do áxis verticalmente além da
movimentação cervical passiva ou protrusão
linha de McGregor (une a margem posterior
anterior do arco anterior do atlas na parede
do palato duro ao ponto mais caudal do
posterior da faringe.4
osso occipital). Lateral representa 10-20%
dos casos, ocorre comprometimento das
Os estudos clínicos e radiográficos
articulações interfacetárias deslocando as
da
coluna
cervical
massas laterais do atlas mais que 2 mm em
importância, por conta da proporção de
relação ao áxis. Posterior representa 6% dos
pacientes portadores de AR que apresentam
casos, existe anteriorização do processo
alterações
odontoide sobre o arco anterior do atlas
especialmente naqueles com maior risco
geralmente causado por erosões.3, 4
para SAA.3, 6, 10, 12, 14 O diagnóstico por imagem
na
junção
são
de
grande
craniovertebral,
pode ser realizado por meio da Rx perfil
A dor na região posterior do
com o pescoço em flexão revelando mais
pescoço é a manifestação mais precoce
que 3 mm de separação entre o processo
e comum, seguida de rigidez e limitação
odontoide e o arco anterior do atlas. A TC é
dos movimentos de flexão, extensão e
útil para demonstrar compressão do cordão
rotação, sendo que o conjunto occipito-
espinhal por perda do espaço subaracnoide
atlanto-axial é responsável por metade da
posterior em pacientes com subluxação de
realização desses movimentos.9 A SAA pode
C1 e C2.4, 10 A RM tem papel significativo na
66
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v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
COMPROMETIMENTO DA COLUNA CERVICAL NA ARTRITE REUMATOIDE GRAVE:
MELHORA COM TRATAMENTO CLÍNICO
avaliação da coluna cervical e da transição
cervical
craniocervical, permitindo realizar corte
descompressão
sagitais, tornando-se o melhor método para
deixando a indicação cirúrgica apenas para
avaliar a relação entre o dente do áxis e a
os casos que apresentam deteriorização
medula cervical.6, 7
neurológica associada à dor intratável.
acompanhados
isquêmicos
transitórios,
diminuição
do
convulsão, hemiplegia, nistagmo, dor não
acompanhadas ou não de corticoides, pode
controlada pelo tratamento clínico e, nesses
impedir ou retardar o desenvolvimento de
casos, o tratamento cirúrgico apresenta
distúrbios na articulação atlanto-axial.16
alta morbidade.3, 4, 7, 10, 14
Ince et al utilizaram MTX em pacientes
portadores de ARJ que apresentavam
articulação
neurais,
controle esfincteriano, disfagia, vertigem,
a combinação terapêutica dessas drogas,
na
elementos
e
mudança no nível de consciência, ataque
durante
cinco anos; nesse trabalho concluíram que
alterações
de
espinhal
que demandam intervenção cirúrgica são:
distúrbios da coluna cervical tratados com
foram
alinhamento
Os sintomas de compressão neurológica
Pacientes comAR, que apresentavam
DMARD,
para
Nesse
relato
enfatizamos
a
temporo-
importância do estudo coluna cervical
mandibular, a terapêutica foi eficaz em
em pacientes portadores de AR. SAA deve
minimizar a destruição da articulação.13
sempre ser lembrada em pacientes com
sinais e sintomas neurológicos, como no
No relato de um caso, a criança
caso apresentado, principalmente associado
portadora de Artrite Idiopática Juvenil
AR grave. Investigação ativa, diagnóstico
(AIJ), com SAA, respondeu ao tratamento
precoce e o início de tratamento com
com MTX e repouso com tração da coluna
DMARD são fundamentais para o controle
cervical, promovendo controle da doença
da atividade da doença, prevenção de
e prevenção de sequelas neurológicas.5
incapacidade funcional e lesão articular
Outro caso relatado de SAA em paciente
irreversível.
portador de AIJ utilizou corticoide e antiTNF
(Infliximab),
após
nove
infusões
REFERÊNCIAS
de Infliximab houve normalização dos
marcadores de atividade inflamatória e da
articulação atlanto-axial.9
Alguns
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v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
COMPROMETIMENTO DA COLUNA CERVICAL NA ARTRITE REUMATOIDE GRAVE:
MELHORA COM TRATAMENTO CLÍNICO
Figura 1 – Desvio ulnar dos dedos, dedos em
martelo 2.º e 4.º quirodáctilos (QRD) (à E),
atrofia de interósseos, sinovite em punho.
Nódulo reumatoide em cotovelo.
Figura 2 – Rx de mãos: redução da densidade óssea, diminuição do espaço
articular de interfalangeanas, com subluxação de falanges mediais e distais;
cistos ósseos subcondrais e erosões ósseas. Anquilose dos ossos dos punhos.
69
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Aryádine Allinne Machado de Miranda, Elisângela Canterle Sedlacek,
Simora Souza de Moraes, Sandra Lúcia Euzébio Ribeiro
Figura 3 – Rx de Tórax: infiltrado intersticial difuso, com área de maior
confluência na base direita, obliterando seio costo-frênico.
Figura 4 – TC de Tórax: espessamento dos septos inter e intralobulares com
estrias densas associadas na periferia de ambos os pulmões, distorcendo a sua
arquitetura normal; espessamento pleural bilateral.
70
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COMPROMETIMENTO DA COLUNA CERVICAL NA ARTRITE REUMATOIDE GRAVE:
MELHORA COM TRATAMENTO CLÍNICO
Figura 6 – RM de coluna cervical (póstratamento com DMARD): fusão dos corpos
vertebrais de C5-C6 e parcial posterior
de C6-C7, retrolistese do bloco de C5-C6,
discoartrose de C3-C4, C4-C5, redução da
amplitude do canal vertebral. Melhora da
sinovite.
Figura 5 – RM de coluna cervical:
sinais de instabilidade cervical, com
subluxação anterior de C1-C2, ânterolistese de C3 sobre C4 e de C4 sobre
C5; erosão e destruição do atlas e do
processo odontoide do Axis; redução na
amplitude do canal vertebral cervical,
tecido com intensidade de sinal de
partes moles, compatível com pannus,
envolvendo a transição craniocervical.
Universidade Federal do Amazonas – Ufam
Hospital Universitário Getúlio Vargas – HUGV
Correspondência: Aryádine Allinne Machado de Miranda. Rua 32, quadra 42, número 21
– Conjunto Jardim Versalles. CEP 69044-210 – Manaus/AM, fone: (092) 3238-6918. E-mail:
[email protected]
71
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v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
Jonas Rodrigues de Menezes Filho, Victor Alfonso Vasquez,
André Mancini, Cristiano Paiva, Flávio Antunes, Edson Sarkis
NEOPLASIA DE CÉLULAS GERMINATIVAS
EM CRIANÇAS: RELATO DE CASO E REVISÃO
DE LITERATURA
GERM CELL TUMORS IN CHILDREN: CASE REPORT AND LITERATURE REVIEW
Jonas Rodrigues de Menezes Filho,* Victor Alfonso Vasquez,*
André Mancini,* Cristiano Paiva,** Flávio Antunes,*** Edson Sarkis****
RESUMO
Os tumores testiculares são raros entre crianças e adolescentes representam apenas 1%
de todos os tumores pediátricos sólidos, sendo os de células germinativas os mais comuns.
Na infância há maior incidência de tumores não-seminomatosos, sendo os tumores do
seio endodérmico os mais freqüentes. O tratamento padrão para o câncer testicular é a
orquiectomia radical. Relatamos um caso de tumor do seio endodérmico em criança.
Palavras-chave: Câncer de testículo, crianças, não-seminoma
ABSTRACT
Testicular tumors are rare among children and adolescents account for only 1% of all
pediatric solid tumors, and the germ cells tumors are the most common. In childhood
there is a higher incidence of malignant non-seminomas, and the yolk sac tumors are the
most frequent. The standard treatment for testicular cancer is radical orchiectomy. We
report a case of yolk sac tumor in children and its follow-up.
Keywords: Testicular cancer, children, non-seminoma
* Residentes de Urologia do HUGV
** Doutor em urologia pela Escola Paulista de Medicina – EPM/Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP
***Urologista do HUGV
**** Professor Titular de Urologia da Universidade Federal do amazonas
72
revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
NEOPLASIA DE CÉLULAS GERMINATIVAS EM CRIANÇAS: RELATO DE CASO E REVISÃO DE LITERATURA
INTRODUÇÃO
1), foi acompanhado por médicos da sua
cidade quando foi enviado a um serviço
ambulatorial da cidade de Manaus com
De acordo com a literatura, tumores
diagnóstico de hidrocele. Já em nosso
testiculares são raros com a incidência de
serviço,
0,5 a 2/100.000 crianças e adolescentes¹.
os
tumores
de
heterogêneo com pequenas áreas anecoicas
células
de permeio, bem delimitadas, medindo 5,0 x
germinativas são aneuploides, nos casos
pediátricos
são
usualmente
3,3 x 4,4 cm, sugerindo processo expansivo.
diploides,
Alfa-fetoproteína 994 ng/ml e DHL 546
especialmente os teratomas. Todavia, os
U/L. Radiografia de tórax sem alterações
tumores do seio endodérmico (Yolk sac
e TC de abdome total não identificou
tumors) podem ser aneuploides.³
Aproximadamente,
60%
linfonodomegalias retroperitoneais.
dos
Realizado
tumores testiculares em adultos contêm
esquerda
histologia mista, enquanto a maioria dos
representam
uma
3)
com
sem
alta
radical
nenhuma
hospitalar
no
primeiro dia de pós-operatório. O laudo
único tipo histológico.4 As lesões benignas
crianças
orquiectomia
(Figura
complicação
tumores testiculares prepuberais possui um
nas
ultrassonografia
volume do testículo esquerdo, difusamente
sólidos são de origem testicular.² Enquanto
adultos
realizado
(USG) da bolsa escrotal com aumento de
Apenas 1% de todos os tumores pediátricos
em
foi
histopatológico demonstrou ser um tumor
maior
de células germinativas, tipo Tumor de
porcentagem de casos do que nos adultos,
Seio Endodérmico (“Yolk Sac Tumor”),
onde as lesões malignas prevalecem. Um
comprometendo o epidídimo, atingindo
estudo multicêntrico recente demonstrou
focalmente a albugínea sem ultrapassá-
que 74% dos tumores primários de testículos
la, presença de invasão vascular, margens
na fase prepuberal eram benignos.5
cirúrgicas
livres
de
comprometimento
neoplásico, classificado como pT2, pNx,
RELATO DE CASO
pMx. No trigésimo dia de pós-operatório
os exames de controle revelaram a alfa-
Paciente
masculino
com
dois
fetoproteína 9ng/ml, Beta hCG 0,5 ng/ml
anos e cinco meses, natural e procedente
e DHL 536 U/L. Encontra-se em evolução
de Boa Vista do Ramos-AM apresentou
satisfatória.
aumento do volume testicular esquerdo
com início do quadro há dois anos (Figura
73
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v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
Jonas Rodrigues de Menezes Filho, Victor Alfonso Vasquez,
André Mancini, Cristiano Paiva, Flávio Antunes, Edson Sarkis
DISCUSSÃO
Poucos
apresentaram
campos
avanços
da
oncologia
terapêuticos
tão significativos quanto o dos tumores
germinativos do testículo. Tais resultados
foram obtidos graças a vários fatores,
entre os quais se destacam a identificação
Figura 1: Massa testicular esquerda
dos marcadores séricos (alfa-fetoproteína
e
beta-hCG),
tomografia
ultrassonografia
computadorizada
(USG),
(TC)
e
ressonância magnética (RNM) que permitiram
estabelecer o diagnóstico e melhorar a
acurácia do estadiamento tumoral, além
do advento de agentes quimioterápicos
efetivos, destacando-se a cisplatina.6
A
combinação
dos
métodos
terapêuticos – cirurgia, radioterapia e
Figura 2: USG de testículo esquerdo com aumento
de volume, difusamente heterogêneo com
pequenas áreas anecóicas de permeio.
quimioterapia – permitiu que a sobrevida
média (cinco anos) dos portadores desses
tumores, que era de aproximadamente 40 a
50% na década de 1950, passasse a 85 a 95%
nos dias atuais.6
Embora a causa de câncer testicular
seja desconhecida, tanto fatores congênitos
como adquiridos foram associados ao
desenvolvimento tumoral. A associação
mais forte tem sido com o testículo
criptorquídico. Aproximadamente
7-10%
dos tumores testiculares formam-se em
Figura 3: Orquiectomia radical
controle dos vasos espermáticos.
demonstrando
pacientes com história de criptorquidismo;
seminoma é a forma mais comum de
74
revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
NEOPLASIA DE CÉLULAS GERMINATIVAS EM CRIANÇAS: RELATO DE CASO E REVISÃO DE LITERATURA
tumor nesses pacientes. Contudo, 5 a
idade média de apresentação para tumores
10% dos tumores testiculares ocorrem
do seio endodérmico e teratomas é de 16
no testículo contralateral, sem história
e 13 meses, respectivamente, baseado em
de
dados dos tumores prepuberais11.
criptorquidismo.
O
posicionamento
do testículo criptórquico no escroto não
Quase
altera o potencial maligno do testículo não
90%
dos
pacientes
pediátricos se apresentam com massa
descíduo; entretanto, esse procedimento
testicular indolor¹². Um recente estudo
facilita de fato o exame e a detecção do
confirmou que massa testicular indolor foi
tumor7.
o sintoma mais comum seguido por trauma/
Outros fatores de risco importantes
contusão e hidrocele/hérnia (85, 8 e 6%,
são: o traumatismo e a atrofia testicular, a
respectivamente).¹³ Ao exame a massa
disgenesia gonodal, os estados intersexuais,
tende a ser firme. O exame físico deve ser o
o uso materno de estrogênios durante
suficiente para excluir outras patologias que
o período gestacional, os traumatismos
compreendem o diagnóstico diferencial,
e o histórico familiar. A relação entre
tais como torção testicular, hidrocele,
microlitíase testicular e o desenvolvimento
epididimites, hérnia inguinal e orquite. A
tumoral é controversa6.
hidrocele está presente entre 15 a 20% dos
pacientes com tumores testiculares.9
Uma revisão de dados de trinta
anos em um hospital na Turquia revelou
A ultrassonografia com duplex e
que tumores do seio endodérmico (Yolk Sac
doppler colorido (USG) pode ajudar a distinguir
Tumors) são os mais comuns entre tumores
massas intratesticulares de extratesticulares
testiculares prepuberais8.
e outras patologias escrotais dos tumores
testiculares. A sensibilidade da USG para
Teratomas e Yolk Sac Tumors são
detecção de tumores testiculares aproxima-
os mais comuns em crianças prepúberes.
se de 100% 14.
Após a puberdade, o mais comum é o
carcinoma embrionário. O tamanho do
Os marcadores tumorais podem
tumor não é indicativo de benignidade ou
ajudar
a
identificar
diferentes
tipos
malignidade, no entanto tumores malignos
histológicos antes da cirurgia e podem
são frequentemente grandes10.
ser usados para detectar recorrência ou
persistência tumoral após orquiectomia
A idade da apresentação é de
radical.
dois anos, mas 60% das lesões podem se
É
essencial
a
medida
da
alfafetoproteína (AFP) como parte inicial
apresentar antes dessa idade9. De fato, a
75
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v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
Jonas Rodrigues de Menezes Filho, Victor Alfonso Vasquez,
André Mancini, Cristiano Paiva, Flávio Antunes, Edson Sarkis
de qualquer investigação para neoplasia
retroperitoneal ≤ 2cm e aumento dos
testicular em que se nota aumento em 90%
marcadores tumorais; estádio III como
dos tumores do seio endodérmico e em
linfonodomegalia retroperitoneal ≥ 2cm;
recém-natos pelo menos nos seis primeiros
estádio IV como metástases à distância,
meses de vida. A vida média da AFP é de
incluindo fígado17.
cinco dias. Níveis que não diminuem após
Tumores
cinco dias sugerem persistência ou doença
do
seio
endodérmico
são raros em adultos e muito comuns em
metastática.15 Os tumores produtores de
crianças sendo responsáveis por mais de
β-hCG não fazem parte dessa faixa etária e
70% dos tumores de células germinativas
usualmente não são produzidos por tumores
nesta faixa etária. Microscopicamente o
testiculares na infância.16
encontro dos corpos de Schiller-Duval é
O ponto crucial da exploração de
patognomônico desta doença. O manejo
um possível tumor testicular é a abordagem
destes tumores é mais agressivo nos
inguinal com clampeamento da vasculatura
adultos e mais conservador nas crianças
do cordão espermático e retirada do testículo.
por alguns motivos como: 1) Nas crianças
Se a possibilidade de câncer não puder ser
85% estão no estádio I; 2) Geralmente de
excluída pelo exame do testículo, justifica-
uma única linhagem nas crianças; 3) AFP
se a orquiectomia radical. Deve-se evitar a
está aumentada em mais de 90% dos casos,
prática de abordagens escrotais e biópsias
que torna o seguimento pós-orquiectomia
testiculares abertas. A terapia adjuvante
mais fácil; 4) Nos adultos a disseminação
depende das características histológicas do
é linfática, ao contrário das crianças
tumor, além do seu estadio clínico7.
que
4 a 6% dos casos. Portanto, a rotina de
tumor limitado ao testículo, completamente
linfadenectomia retroperitoneal (RPLND)
ressecado, sem evidência de doença fora dos
não é tão difundida, pois a disseminação
testículos e normalização de marcadores
é hematogênica e as complicações deste
tumorais; estádio II como tumor removido
procedimento são maiores nas crianças,
de
tais como obstrução vesical, infecção de
tumor extra testicular, tumoração residual
microscopicamente,
hematogênica.
para retroperitôneo presentes em apenas
Pediátrica que define estádio I como um
evidência
é
torno de 20% comparadas as metástases
baseado segundo o Grupo de Oncologia
com
disseminação
As metástases nos pulmões ocorrem em
O estadiamento dos tumores é
trans-escrotalmente
a
sítio cirúrgico, ascite quilosa e disfunção
linfonodomegalia
ejaculatória. No entanto, a RPLDN está
76
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NEOPLASIA DE CÉLULAS GERMINATIVAS EM CRIANÇAS: RELATO DE CASO E REVISÃO DE LITERATURA
REFERÊNCIAS
limitada às crianças com linfadenopatia
retroperitoneal persistente ou aumento dos
marcadores tumorais após orquiectomia ou
quimioterapia.
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15
Urol. 1993; 150: 671-4.
O estadiamento é feito por meio
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de radiografia de tórax, TC de abdome
masses. Pediatric Clin North Am. 1997; 44: 1229-50.
e pelve e exame histopatológico da
3. Reuter VE. Origins and molecular biology of
peça cirúrgica (orquiectomia, que é o
testicular germ cell tumors. Mod Pathol. 2005; 18:
tratamento padrão para estes tumores). Se
S51.
os achados histopatológicos e de imagem
4. Mostofi FK and Price EB. Tumors of the male
confirmarem estádio I o paciente pode ser
genital system. In: Atlas of Tumor Pathology, 2nd
seguido em observação sem necessidade
Series. Washington, D.C.: Armed Forces Institute of
de quimioterapia adjuvante. Deve ser
Pathology, fasc. 8, 1973.
solicitado AFP mensalmente por dois anos,
5. Ritchey ML and Shamberger RC. Pediatric urologic
radiografia de tórax a cada 2 meses por dois
oncology, testicular tumors. In: Kavoussi LR, Novick
anos e TC a cada 3 meses por um ano e
AC, Partin AW, Peters CA, editors. Campbell-Walsh
semestralmente no segundo ano. Após os
Urology 9th Edition. Philadelphia, USA. Saunders
dois anos de observação sem recorrência
Elsevier; 2007. p. 3900-5.
pode ser estendido para cada 6 meses ou
6. Pompeo ACL, Wroclawski ML, Pompeo ASFL.
anualmente pelo baixo risco de recidiva.
Tumores Germinativos do Testículo. In: Netto Jr NR,
O risco de recidiva é de aproximadamente
editor. Urologia Prática 5ª Edição. São Paulo, Brasil.
20% e é identificada pelo aumento sérico de
Editora Rocca. 2007; 27; p. 298-309.
AFP ou evidência de doença nos exames de
7. Presti Jr JC. Tumores Genitais. In: Tanagho EA,
imagem. Quase todas as recorrências podem
McAninch JW, editors. Urologia Geral de Smith, 16ª
ser resgatadas através de quimioterapia. O
Edição. Barueri, SP, Brasil. Manole, 2007. p. 429-
estádio II ou doença metastática deve ser
439.
tratado com quimioterapia. A sobrevida
8. Ciftci AO, Bingol-Kologlu M, Senocak ME, Tanyel
para todos os estadios da doença aproxima-
FC, Buyukpamukcu M, Buyukpamukcu, N. Testicular
se dos 100% .
15
tumors in children. J Pediatr Surg. 2001; 36: 1796.
9. Kramer SA and Kelalis PP. Testicular tumors in
children. Principles and Management of Testicular
Cancer. Edited by N. Javadpour. New York: Thieme,
1986.
77
revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
Jonas Rodrigues de Menezes Filho, Victor Alfonso Vasquez,
André Mancini, Cristiano Paiva, Flávio Antunes, Edson Sarkis
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153: 705.
adolescents. J Pediatric Urol. 2008; 4: 134-137.
15. Agarwal PK and Palmer JS. Testicular and
11. Ross JH, Rybicki L, Kay R. Clinical behavior and a
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contemporary management algorithm for prepuberal
Urol. 2006; 176: 875-881.
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Comprehensive Textbook of Genitourinary Oncology,
tumors. Urologic Oncology. Edited by J. P. Richie
2nd ed. Edited by Vogrlzang NJ, Scardino PT, Shipley
and A. D’Amico. Philadelphia: Elsevier Saunders,
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78
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v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
Thiago Patta, Ricardo Estevam, Rubem A. Júnior
George A. Lins, Higino F. Figueiredo, Márcio Neves Stefani
INGESTÃO INADVERTIDA DE CHUMBO EM ANIMAL CAÇADO
COMO CAUSA DE APENDICITE AGUDA
INADVERTENT CONSUMPTION OF LEADS IN ANIMAL HUNTED
AS CAUSES OF SHARP APPENDICITIS
Thiago Patta,* Ricardo Estevam,** Rubem A. Júnior***
George A. Lins,* Higino F. Figueiredo,* Márcio Neves Stefani*
RESUMO
A presença de corpos estranhos (CE) no trato digestório representa uma incidência mesmo
que subestimada de cerca de 1 para 1.000 a 1.500 laparotomias exploradoras, ocorre
principalmente em crianças, idosos e pacientes psiquiátricos por conta da ingesta ou
introdução via anal de CE. As apresentações clínicas vão desde quadros assintomáticos
com eliminação espontânea até casos de abdômen agudo cirúrgico por peritonites, como
consequência de perfurações, obstruções do trato digestório. Relataremos um caso de
apendicite aguda supurada em morador de zona rural por ingesta inadvertida de CE de
chumbo em carne de animal caçado, onde evoluiu com impactação no apêndice cecal com
perfuração e instalação de um quadro de abdômen agudo por apendicite aguda supurada,
necessitando de tratamento cirúrgico. Concluímos então que é de suma importância o
questionamento de possível ingesta inadvertida de CE, assim como os hábitos alimentares
de pacientes com abdômen agudo, principalmente crianças, idosos e paciente psiquiátricos,
como possível causa de apendicite aguda, assim como acompanhar e investigar casos de
CE no trato digestório e prevenir suas possíveis complicações, como perfurações, fístulas,
obstruções, ou até a sua eliminação seja espontânea ou terapêutica.
ABSTRACT
The presence of foreign bodies (CE) in I try digestive represents an incidence even though
underestimated of around 1 for 1000 to 1500 laparotomias explorers, occurs mainly in
infants, elderly and psychiatric patients due to the ingest or introduction saw anal of CE.
*Residentes de Cirurgia Geral do HUGV
**Preceptor doPRM em Cirurgia Geral do HUGV
***Chefe da Divisão de Cirurgia Geral do HUGV
79
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v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
INGESTÃO INADVERTIDA DE CHUMBO EM ANIMAL CAÇADO COMO CAUSA DE APENDICITE AGUDA
The clinical presentations go since charts asymptomatic with spontaneous elimination to
cases of surgical sharp abdomen by peritonitis, as consequence of drillings, obstructions
of him I try digestive. We will relate a case of sharp appendicitis festered in inhabitant of
rural zone by ingest inadvertent of CE of leads in meat of animal hunted, where evolved
with impactação in the appendix cecal with drilling and installation of a chart of sharp
abdomen by sharp appendicitis festered, needing surgical handling. We conclude then
that is of sum importance the questioning of possible ingest inadvertent of CE, as well
as the habits you will feed of patients with sharp abdomen, mainly infants, elderly and
psychiatric, as possible patient causes of sharp appendicitis, as well as accompany and
investigate cases of CE in I try digestive and prevent your possible complications, like
drillings, fistulas, obstructions, or up to your elimination be spontaneous or therapeutic.
INTRODUÇÃO
O objetivo deste artigo é relatar um caso
de impactação de CE em Apêndice Cecal,
chumbo de espingarda, como causa de
Os corpos estranhos (CE) intra-
Pelviperitonite
abdominais ou no trato digestório, são
por
Apendicite
Aguda
Supurada, demonstrando uma causa não
oriundos geralmente de ingesta inadvertida
rara de apendicite.
via oral ou introdução via anal de objetos.1
Clinicamente, a grande maioria pode ser
eliminada
espontaneamente
ou
RELATO DO CASO
serem
causas de obstruções, perfurações e até
mesmo fístulas intestinais.2 O diagnóstico
Paciente do sexo masculino, 49 anos, natural e
nem sempre é fácil, necessitando de
procedente de Autazes interior do Amazonas,
exames
complementares
imagens,
o paciente refere que constantemente se
como
radiografias
Tomografias
alimenta de carne de caça, iniciou quadro
como
de
clínico de dor abdominal difusa com posterior
endoscopias e colonoscopias, sendo estes
localização em fossa ilíaca direita (FID),
dois últimos tanto diagnósticos quanto
associado
terapêuticos, por vezes o diagnóstico é
adinamia, constipação intestinal evoluindo há
dado apenas com Laparotomia Exploradora.
quatro dias. Deu entrada no pronto-socorro
Computadorizadas,
e
assim
de
80
à
febre,
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v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
náuseas,
hiporexia,
Thiago Patta, Ricardo Estevam, Rubem A. Júnior
George A. Lins, Higino F. Figueiredo, Márcio Neves Stefani
(PS) em regular estado geral, hipocorado
Definido então quadro de abdômen
leve, desidratado moderado, taquipneico,
agudo inflamatório por possível Apendicite
acianótico,
Aguda Supurada.
anictérico
e
sem
edemas.
Ausculta cardíaca e pulmonar sem alterações.
O
Abdômen: Distendido, tenso, sem cicatrizes ou
paciente
Laparotomia
abaulamentos, com dor à palpação profunda e
superficial, mais eminente em FID e hipogástrio,
com sinais de irritação peritoneal e Blumberg
submetido
Exploradora
infraumbilical,
onde
intraoperatório
foi:
purulenta
presente. Solicitado hemograma e radiografia
foi
por
o
à
mediana
achado
Pelviperitonite
apendicite
aguda
supurada, e identificação de corpo
de abdômen, que evidenciaram Leucocitose
estranho
com desvio à esquerda, e na radiografia
em
loja
apendicular
compatível com chumbo de espingarda,
corpo estranho com densidade de metal em
que
topografia de Apêndice Cecal, além de sinais
provavelmente
inadvertidamente
sugestivos de apendicite como: borramento da
pelo
foi
ingerido
paciente
ao
comer a carne da caça (Figura 2).
sombra do Músculo Psoas, escoliose antálgica
e alça sentinela (Figura 1).
Figura 2 – Chumbo encontrado no intraoperatório.
Procedido então a apendicectomia
e limpeza exaustiva da cavidade abdominal
com soro fisiológico a 9% e drenagem da
cavidade com dreno de Penrose número 4.
O paciente foi encaminhado à enfermaria
no pós-operatório imediato onde evolui
Figura 1 – Imagem sugestiva de chumbo metálico na
radiografia simples de abdômen.
satisfatoriamente, recebendo alta no 8.º
dia pós-operatório.
81
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INGESTÃO INADVERTIDA DE CHUMBO EM ANIMAL CAÇADO COMO CAUSA DE APENDICITE AGUDA
DISCUSSÃO
um paciente de 55 anos. Concluímos então
que a presença de CE no trato digestório
Os
CEs
no
trato
pode evoluir distintamente, desde um
digestório
quadro
continuam sendo bastante incidente na
de
eliminação
espontânea
e
assintomático, até mesmo um quadro de
população, representando uma incidência
abdômen agudo cirúrgico por apendicite e
de 1 para 1.000 a 1.500 laparotomias, mas
peritonite purulenta, sendo extremamente
estima-se que sua incidência seja maior e
importante acompanhar e investigar casos
não muito relatada até mesmo por questões
de CE no trato digestório para prevenir
legais.3 Os pacientes mais suscetíveis são
suas complicações como em casos de
crianças, idosos e pacientes psiquiátricos.
abdômen agudo por apendicite questionar
Charles e cols4 relataram o caso de ingesta
a possibilidade de CE no trato digestório.
de um clip metálico como causa de
apendicite em criança de três anos. Como
REFERÊNCIAS
se pode observar, apendicite aguda pode
ser também uma complicação de ingesta
inadvertida de corpo estranho, sendo de
1. Cavichiniqn S, Soares GP. Corpo estranho no
apêndice. Rev Brás Colo-Proct. 1996;16(2):74–76.
relevante importância conhecer os hábitos
Carvalho JB; Vinhaes JC. Corpo estranho retido na
cavidade abdominal durante onze anos. Rev Col Bras
Cir. 2004; 31(1):68-70.
alimentares de pacientes com abdômen
agudo, como, por exemplo: hábitos de
comer carne de caça, pescados e distúrbios
2. Charles W. Hartin Jr, Stanley T. Lau, Michael
G. Caty. Metallic foreign body in the appendix of
3-year-old boy. J Ped Surg. 2008;43: 2106-2108.
psiquiátricos com ingesta de alimentos
inapropriados. Rubem et al5 relataram o
3. Sukhotnik B. Klin, and L, Siplovich, A fula,
Israel. Foreign-Body Appendicitis, J Ped Surg. 1995;
30(10):1515-1516.
caso de apendicite aguda por impactação
de CE, anzol de pesca, em apêndice cecal
4. Silva Junior RA, Brandão HM, Paiva TS, Flores JFA,
Camelo D.Corpo estranho como causa de apendicite.
Rev Hosp Univers Get Vargas, 2003;2(1):95-98
após ingesta de pescado por ribeirinho.5 Foi
relatado também um caso de apendicite
crônica por ingesta inadvertida de CE,
5. Lopes RI, Sant’anna AC, Dias AR, Lopes RN,
Barbosa Filho CM. Abscesso perineal por ingestão
acidental de palito de dente. Rev bras coloproct,
2006;26(2):193-196.
haste de rebite, por paciente psiquiátrico.1
Lopes et al6 relataram um caso de abscesso
perineal por ingesta de palito de dente em
82
revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
Rubem Alves da Silva Júnior, George Augusto Monteiro Lins de Albuquerque, Thiago Patta,
Higino Felipe Figueiredo, Elysson Abinader, Carlos Alberto Morais Menezes Júnior
ADENOMA DE VESÍCULA BILIAR:
RELATO DE CASO
GALLBLADER ADENOMA: A CASE REPORT
Rubem Alves da Silva Júnior,* George Augusto Monteiro Lins de Albuquerque,**
Thiago Patta,** Higino Felipe Figueiredo,** Elysson Abinader,** Carlos Alberto Morais Menezes Júnior***
RESUMO
Lesões polipoides de vesícula biliar afetam aproximadamente 5% da população adulta.
Apesar de a grande maioria das lesões ser benigna, a transformação maligna é sempre
uma preocupação. A maioria dos pólipos é detectada durante ultrassonografia abdominal.
Adenomas são lesões epiteliais benignas com elevado potencial de malignidade que podem
ocorrer ao longo de todo o trato gastrintestinal. Relatamos um caso de paciente investigada
por sintomas gastrintestinais inespecíficos com diagnóstico de colelitíase havia dois anos.
Ultrassonografia revelou imagens sugestivas de cálculo biliar e outra imagem hiperecoica,
polipoide e séssil. Colecistectomia aberta foi realizada e constatou-se presença da lesão
cujo laudo histológico confirma tratar-se de adenoma.
Palavras-chave: Pólipo, Adenoma, Vesícula Biliar, Colecistectomia.
ABSTRACT
Polypoid lesions of the gallblader affect approximately 5% of the adult population.
Although the majority of gallbladder polyps are benign, malignant transformation is a
concern. Most polyps are detected during abdominal ultrasonography. Villous adenomas
are benign epithelial lesions with malignant potential that can occur in any part of the
gastrointestinal tract. We present a case of a pacient who was investigated for nonspecific
gastrointestinal complaints with a concurrent diagnosis of cholelithiasis for two years.
Ultrasonography diagnosed images suggestive of gallstones and a hyperechoic and sessile
polyp. An open cholecystectomy was performed and revelead an adenoma.
Key words: Polyps, Adenoma, Gallbladder, Cholecystectomy.
* Chefe da Cirurgia do Aparelho Digestório. Coordenador da Preceptória de Residência Médica da Cirurgia
Geral do Hospital Universitário Getúlio Vargas
**Residentes em Cirurgia Geral da Universidade Federal do Amazonas – Ufam
*** Acadêmico do curso de Medicina da Universidade Federal do Amazonas – Ufam
83
revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
ADENOMA DE VESÍCULA BILIAR: RELATO DE CASO
INTRODUÇÃO
RELATO DE CASO
Lesões polipoides da vesícula biliar
Paciente do sexo feminino, 36 anos,
correspondem a qualquer lesão elevada
encaminhada com diagnóstico de litíase
da superfície mucosa da parede do órgão,
biliar; apresentando quadro de epigastralgia
as quais são usualmente não-neoplásicas
acompanhada de náuseas e vômitos com uma
(>95%). A maioria dessas lesões polipoides de
frequência em um ano de dois episódios.
vesícula biliar é encontrada incidentalmente
Em sua história familiar, observa-se caso de
em 3-7% das colecistectomias.1, 3
colelitíase em parente de primeiro grau. Ao
exame físico: dor à palpação profunda em
Christensen and Ishak estabeleceram
hipocôndrio direito, sem demais alterações.
a classificação para os tumores benignos
A ultrassonografia de abdome superior
de vesícula biliar: tumores epiteliais ou
revelou pequenas imagens hiperecogênicas
adenoma (tubular, papilar ou tipos mistos),
tumores
mesenquimais
leiomioma,
lipoma)
e
em vesícula biliar, móveis à mudança de
(hemangioma,
decúbito e produzindo sombra acústica
pseudotumores
posterior; e outra imagem hiperecogênica
(pólipos de colesterol, pólipos inflamatórios,
de contornos irregulares, aderida à parede
adenomioma e hiperplasia adenomatosa).2
posterior da vesícula medindo 3,1 cm x
Com o uso da ultrassonografia na prática
clínica
moderna,
cada
vez
mais
2,3 cm em seu maior diâmetro. A paciente
as
foi submetida à colecistectomia, sendo
lesões polipoides de vesícula biliar são
solicitada a avaliação histopatológica da
detectadas.3
peça cirúrgica. A paciente evoluiu sem
Relatamos o caso de uma paciente
intercorrências, recebendo alta no terceiro
investigada por sintomas não-específicos
dia pós-operatório. A análise histopatológica
do trato gastrintestinal havia dois anos. Na
confirmou o diagnóstico de colecistite
ultrassonografia de abdome total observou-
crônica e adenoma de vesícula biliar.
se imagens sugestivas de litíase biliar e
outra imagem hiperecoica, polipoide e
DISCUSSÃO
séssil, cujo diagnóstico histopatológico foi
adenoma de vesícula biliar.
É difícil predizer a importância ou
o significado dos pólipos de vesícula biliar
no pré-operatório, outrora sendo a maioria
84
revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
Rubem Alves da Silva Júnior, George Augusto Monteiro Lins de Albuquerque, Thiago Patta,
Higino Felipe Figueiredo, Elysson Abinader, Carlos Alberto Morais Menezes Júnior
de linhagem benigna; a possibilidade de ele
diâmetro e em pacientes que apresentam
ser um carcinoma não pode ser descartada.
fatores que aumentam o risco de malignidade
Apesar de ser uma doença relativamente
(idade superior a 50 anos e coexistência de
rara, o carcinoma de vesícula biliar ainda
cálculos biliares). Todos os outros pacientes
compreende 3% de todas as doenças
devem ser acompanhados periodicamente
malignas gastrointestinais.4
com exames ultrassonográficos seriados a
cada três a seis meses.6
Os sintomas de pólipos de vesícula
biliar não são específicos, sendo a maioria
No caso relatado, a colecistectomia
sugestivos de colelitíase.4 Sintomas como dor
foi
o
procedimento
indicado,
em
em quadrante superior direito, dispepsia,
concordância com a literatura, já que ela
náuseas e vômitos foram relatados. A
preenchia os critérios para tratamento
proporção de pacientes sintomáticos é de 78
cirúrgico. A colecistectomia também tem
a 93%. A proporção de pacientes portadores
demonstrado melhora da sintomatologia
de cálculo de vesícula biliar e pólipos é de
apresentada pela paciente.3 Quanto à forma
27 a 66%, sugerindo que a sintomatologia
de tratamento cirúrgico, técnica aberta ou
não pode ser atribuída exclusivamente à
videolaparoscópica, a última é considerada
presença dos cálculos.3, 5
o padrão áureo no tratamento de colelitíase,
entretanto sua eficácia no tratamento
Os fatores de riscos identificados
de lesões polipoides é questionável: pela
para malignidade dos pólipos de vesícula
possibilidade de aumentar o número de
biliar são o tamanho do pólipo superior a 10
sítios de metástases e associar-se a pior
mm, idade do paciente superior a 50 anos,
prognóstico em carcinomas de vesícula biliar
pólipos solitários, presença de cálculos e
não suspeitados.3,
pacientes sintomáticos.3, 5, 6
6
Sendo este o motivo
pelo qual a técnica aberta foi realizada em
Em contraste com os pólipos de
nossa paciente.
cólon, a inspeção pré-operatória direta da
Os adenomas vilosos são lesões
mucosa da vesícula biliar e biópsia não é
epiteliais benignas que podem ocorrer em
viável, obrigando os médicos a adotar sua
qualquer local do trato gastrointestinal. Esses
conduta baseada em informações obtidas a
tumores são frequentemente encontrados
partir de exames de imagem.1
em reto e cólon, menos frequentes em
O tratamento cirúrgico está indicado
intestino delgado, e raramente encontrados
em todos os pacientes sintomáticos, em
na árvore biliar.7
portadores de lesões maiores que 10 mm de
85
revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
ADENOMA DE VESÍCULA BILIAR: RELATO DE CASO
Adenomas
do
trato
biliar
são
atualmente em bom estado.
incomuns. A grande maioria dos adenomas
de vesícula biliar tem estrutura tubular,
enquanto
adenomas
extremamente
tubulovilosos
REFERÊNCIAS
são
raros. A incidência
de
1. Dutta U, Poornachandra PKS. Gallblader polyps:
adenomas puramente vilosos de vesícula é
de apenas 0,08% em séries de autópsias.
How to pick up the sinister ones. J Gastroenetrol
8
Hepatol. 2009; 24:219-222.
2. Csendes A, Burgos AM, Csendes P, Smok G, Rojas J.
Em estudo realizado por Terzi
Late Follow-up of polypoid lesions of the gallblader
e colaboradores, uma revisão de cem
smaller than 10 mm. Ann Surg. 2001; 234(5):657-
casos de pólipos de vesícula biliar, os
660.
adenomas foram relatados como lesões
3. Lee KF, Wong J, Man Li JC. San Lai, P.B. Polypoid
predominantemente solitárias ou associadas
lesions of the gallbladder. Am J Surg. 2004; 188:186-
à colelitíase. O potencial pré-maligno dos
190.
adenomas e a evolução deles à carcinoma
4. Terzi C, Sökmen S, Seçkin S, Albayrak L, Ugurlu
são inquestionáveis, estando assim indicada
M. Polypoid lesions of the gallbladder: Report
a remoção cirúrgica de todos os adenomas
of 100 cases with special reference to operative
encontrados.2, 4
indications. Surgery 2000, 127:622-7.
5. Boulton RA, Adams DH. Gallblader polyps: when
Pólipos de vesícula biliar permanecem como
to wait and when to act. Lancet 1997; 349:817.
grande preocupação tanto para médicos
6. Myers MP, Shaffer EA, Beck PL. Gallblader polyps:
como para pacientes. Apesar de a maioria das
Epidemiology, natural history and management. Can
lesões polipoides ser benigna, é necessário
J Gastronenterol 2002; 16 (3): 187-194.
avaliação cuidadosa e acompanhamento
7. Chae BW, Chung JP, Park YN, Yoon DS, Yu JS, Lee
adequado observando-se os critérios para
SJ, et al. Vilous adenoma of the bile ducts: a case
indicação cirúrgica. No presente caso, a lesão
report and a review of the reported cases in Korea.
polipoide era um adenoma, e por conta do
Yonsei Med J 1999; 40: 84-89.
grande potencial de malignidade associado
8. Kimura W, Muto T, Esaki Y. Incidence and
aos adenomas, o tratamento instituído foi
pathogenesis of villous tumors of the gallblader, and
a colecistectomia. A paciente se encontra
their relation to cancer. J. Gastroenterol 1994, 29:
61-65.
86
revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
Fernando Luiz Westphal, Luís Carlos de Lima, José Corrêa Lima Netto,
Márcia dos Santos da Silva, Alessandra Bastos Alves
TAMPONAMENTO CARDÍACO
TRAUMÁTICO TARDIO
LATE TRAUMATIC CARDIAC TAMPONADE: CASE REPORT
Fernando Luiz Westphal,*Luís Carlos de Lima,**José Corrêa Lima Netto,
***Márcia dos Santos da Silva,****Alessandra Bastos Alves,****
RESUMO
A maioria dos pacientes vítimas de lesão cardíaca penetrante morre antes de receber o
suporte avançado de vida. Dentre os que chegam ao hospital, uma pequena parte pode se
apresentar hemodinamicamente estável e sem sinais clínicos sugestivos de lesão cardíaca.
Neste trabalho, relatamos um caso de lesão cardíaca penetrante por arma branca em que
a paciente foi admitida sem sinais de instabilidade hemodinâmica e, após 48h, evoluiu com
piora significativa do quadro clínico e sinais de tamponamento cardíaco. Foi submetida à
janela pericárdica subxifoidea para drenagem pericárdica, com evolução satisfatória. O
tamponamento cardíaco tardio é uma entidade rara, que ocorre por sangramento tardio
ou pelo desenvolvimento de pericardite constritiva com derrame tardio. A abordagem
cirúrgica precoce de ferimentos penetrantes localizados na área de Ziedler poderia evitar
complicações tardias como a que foi relatada. Assim, a janela pericárdica subxifoidea
é um método fácil e seguro para exploração de pacientes estáveis com possível lesão
cardíaca, pois permite a visualização direta do pericárdio e a possibilidade de ampliação
da incisão para toracotomia.
PALAVRAS-CHAVE: Tamponamento cardíaco, ferimento penetrante, traumatismos
torácicos.
ABSTRACT
The most of victims of penetrating cardiac injury dies before receiving advanced life
support. Among those who arrive the hospital, a small part can present hemodynamically
stable and without clinical signs suggestive of cardiac injury. In this paper, we report a
case of a penetrating cardiac stab wounds in which the patient was admitted with no signs
* Professor-adjunto e coordenador da disciplina de Cirurgia Torácica da Universidade Federal do Amazonas
** Chefe do Serviço de Cirurgia Torácica do Hospital Universitário Getúlio Vargas
*** Médico assistente do Serviço de Cirurgia Torácica do Hospital Universitário Getúlio Vargas
****Acadêmicas do curso de Medicina da Universidade Federal do Amazonas
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v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
TAMPONAMENTO CARDÍACO TRAUMÁTICO TARDIO
of hemodynamic instability and after 48 hours developed a significant clinical worsening
and signs of cardiac tamponade. She was submitted to subxiphoid pericardial window
for pericardial drainage with satisfactory evolution. Traumatic late cardiac tamponade is
a rare condition that occurs due to delayed bleeding or to development of constrictive
pericarditis with delayed effusion. Early surgical approach to penetrating injuries
located in the Ziedler area could be prevent late complications such as that reported.
Thus, subxiphoid pericardial window is an easy and secure method for exploration of
stable patients with possible cardiac injury because it allows direct visualization of the
pericardium and the possibility of extending the incision to thoracotomy.
KEYWORDS: Cardiac tamponade, penetrating wound, thoracic injuries.
INTRODUÇÃO
diagnóstica de ferimentos cardíacos e a
janela pericárdica é considerada uma das
melhores opções, pois permite a visualização
O traumatismo torácico é uma
direta do pericárdio e, quando necessário,
importante causa de mortalidade por
trauma,
especialmente
em
a incisão pode ser convertida rapidamente
adultos
em uma toracotomia.5, 6
jovens, vítimas de violência urbana.1 No
Brasil, perto de 65% dos óbitos por causas
O objetivo deste trabalho é relatar
externas ocorrem em pacientes com lesão
um caso de lesão cardíaca associada a
torácica penetrante e, dentre estes, 22,9%
tamponamento cardíaco tardio tratado com
apresentam lesão cardíaca associada.2
drenagem pericárdica por meio de janela
A
maioria
dos
pacientes
pericárdica subxifoidea.
com
traumatismo cardíaco penetrante morre
RELATO DO CASO
antes de receber o suporte avançado de vida1,
3
e dentre os pacientes que são admitidos
no serviço de pronto atendimento, cerca
Paciente do sexo feminino, 24 anos,
de 20% não apresentam sinais ou sintomas
vítima de múltiplos ferimentos por arma
sugestivos de lesão cardíaca.4
branca, recebeu primeiro atendimento em
A abordagem cirúrgica de urgência
Urucará, interior do Amazonas, onde foram
é o método mais seguro para confirmação
realizados limpeza e rafia das lesões. Após
88
revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
Fernando Luiz Westphal, Luís Carlos de Lima, José Corrêa Lima Netto,
Márcia dos Santos da Silva, Alessandra Bastos Alves
DISCUSSÃO
48h, evoluiu com dispneia, dor torácica e
confusão mental, sendo transferida para
Manaus. Deu entrada no Hospital e Pronto-
O
Socorro 28 de Agosto, hipocorada (+++/+4),
dispneica,
com
murmúrio
associado
vesicular
grande
ao
número
traumatismo
de
óbitos
cardíaco
perfurante está relacionado aos ferimentos
diminuído em bases. FC 110 bpm, FR 30 mrm
causados por arma de fogo, pois estes
e PA de 90/60 mmHg. Foram observadas
causam grandes lacerações nas câmaras
múltiplas lesões suturadas distribuídas em
cardíacas e abertura do saco pericárdico
face, membros superiores e tórax, sendo
que evoluem com hemotórax maciço e
três em região subaxilar esquerda e duas
choque hemorrágico, geralmente com
em precórdio. O hemograma realizado
morte no local do acidente. De forma
no momento da admissão demonstrou
oposta, as lesões causadas por arma branca
uma anemia com hematócrito 17,7% e
possuem um melhor prognóstico, com
hemoglobina de 5,98 g/dl.
pouca perda sanguínea e a possibilidade
Foram transfundidas três bolsas
de tamponamento cardíaco, condição que
de concentrado de hemácias e realizada
atua como protetor da lesão cardíaca,
drenagem fechada de hemitórax esquerdo sob
pois evita o extravasamento de sangue e o
selo d’água. Após 3h, a paciente permaneceu
choque hemorrágico.5, 7, 8
com dispneia e dor torácica, e evoluiu com
A lesão cardíaca é suspeitada a
enfisema subcutâneo em tórax, turgência
partir da história do trauma e localização
jugular (Figuras 1A e 1B) e atrito pericárdico.
das lesões. A apresentação clínica do
O ultrassom rápido de tórax (Fast) evidenciou
paciente é de fundamental importância
a presença de líquido em pericárdio. Foi
para a decisão quanto à exploração
indicada a cirurgia de emergência e realizada
cirúrgica ou apenas observação. Hipotensão
a janela pericárdica, com incisão mediana
arterial severa, aumento da pressão venosa
subxifoidea (Figura 2) e aspiração de 200 ml
central e abafamento das bulhas cardíacas
de secreção serossanguinolenta, tipo água
são fortes indícios de lesão cardíaca
de carne, que confirmou o diagnóstico de
penetrante A tríade de Beck, característica
hemopericárdio. Foi colocado dreno de tórax
do tamponamento cardíaco, está presente
número 22 e realizada drenagem fechada do
em apenas uma minoria dos pacientes. Em
pericárdio sob selo d’água. A paciente evoluiu
alguns casos, o diagnóstico nem sempre
sem complicações e recebeu alta hospitalar
é evidente, pois o paciente pode se
após dez dias.
89
revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
TAMPONAMENTO CARDÍACO TRAUMÁTICO TARDIO
apresentar hemodinamicamente estável,
cardíaco. Isso ocorre por conta de um
sem indícios clínicos de lesão cardíaca.9, 10
sangramento cardíaco tardio com pericárdio
Ferimentos localizados na área de Ziedler
já cicatrizado após uma lesão aguda ou
devem sempre ser investigados, pois a
pelo desenvolvimento de pericardite com
projeção do coração e dos grandes vasos
derrame tardio.11,
nessa região aumenta o risco de lesão
paciente não apresentava sinais sugestivos
cardíaca e sangramento.11
de lesão cardíaca e tamponamento cardíaco
As
duas
apresentação
principais
das
formas
lesões
tratada de forma conservadora. Somente
cardíacas
após 48 horas houve piora significativa do
quadro clínico com rebaixamento do nível
rápida evolução para o choque hemorrágico
de consciência, dispneia e dor torácica.
e o tamponamento cardíaco. Os ferimentos
Após transferência para uma unidade de
por arma de fogo se associam a grandes
nas
câmaras
cardíacas
No caso relatado, a
durante sua primeira admissão, sendo
de
penetrantes são a hemorragia profusa com
lacerações
12
referência em urgência e emergência, a
e
paciente apresentou nova piora clínica em
tecidos adjacentes, causando hemorragia
3h de evolução, dessa vez com turgência
constante que não pode ser contida
jugular e atrito pericárdico, sendo levantada
pelo saco pericárdico aberto. De forma
a hipótese de tamponamento cardíaco
oposta, os ferimentos por arma branca
tardio.
se comportam como feridas cirúrgicas,
permitindo a aposição dos tecidos lesados
Diante da suspeita de derrame
e dos tecidos mediastinais adjacentes, com
pericárdico traumático, o ecocardiograma
rápido fechamento do orifício e pouca perda
transesofágico é considerado o método
sanguínea para a cavidade torácica e meio
de escolha para a investigação inicial do
externo.2,
Nos pacientes com ferimento
paciente, pois se trata de um método não
por arma branca, o tamponamento cardíaco
invasivo, rápido e de fácil aplicabilidade.
exerce efeito protetor, pois evita a perda de
O diagnóstico é feito pela visualização
sangue e reduz a chance de hipovolemia.5
de uma região anecoica entre o coração
4
e o pericárdio, com possível restrição
Em um pequeno número de casos,
diastólica.
o paciente pode se apresentar estável no
sinais
de
ecocardiograma
exame pode ser realizado com o mesmo
de lesão cardíaca e, após horas ou dias,
com
o
transesofágico não estiver disponível, o
momento da admissão, sem evidências
evoluir
Quando
aparelho de ultrassom utilizado para o
tamponamento
exame de abdômen em vítimas de trauma
90
revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
Fernando Luiz Westphal, Luís Carlos de Lima, José Corrêa Lima Netto,
Márcia dos Santos da Silva, Alessandra Bastos Alves
(Fast). Em mãos experientes, esse método
profundo, o método de escolha para
pode apresentar acurácia de 90% para a
o diagnóstico de ferimento cardíaco é
presença de líquido no pericárdio.10, 13 No
a janela pericárdica subxifoidea. Essa
caso apresentado, não havia equipamento
técnica possui como principais vantagens
para
ecocardiograma
a sua fácil execução e rápida identificação
transesofágico nem cardiologista disponível
da presença ou não de lesão cardíaca com
na unidade de emergência para a qual a
alta sensibilidade e especificidade, além
paciente foi transferida. O equipamento
de mínima morbidade. A exposição obtida
ultrassonográfico disponível era o Fast,
por esse método permite a exploração do
que confirmou a presença de líquido no
pericárdio para detecção de sangramento ou
pericárdio. O quadro clínico e a evidência
coágulos. Se a lesão for confirmada, a incisão
ultrassonográfica de derrame pericárdico
pode ser facilmente ampliada para uma
foram fatores indicativos para a abordagem
toracotomia mediana ou lateral.6, 11 Outra
cirúrgica da paciente.
vantagem da janela pericárdica subxifoidea
a
realização
Pacientes
do
com
é a realização de pericardiocentese para
tamponamento
descompressão cardíaca nos casos em
cardíaco agudo ou sinais de choque sem
que houver tamponamento cardíaco.15 No
resposta à infusão de cristaloides devem
presente relato, a escolha pela realização
ser submetidos ao procedimento cirúrgico
da janela pericárdica foi feita a partir da
imediatamente. A escolha da técnica
história de tamponamento cardíaco tardio
depende da preferência e experiência de
sem sinais de choque profundo. Durante
cada cirurgião. Enquanto alguns centros
o procedimento, não foram observadas
adotam a toracotomia esquerda como
lesões cardíacas, pois ela já deveria estar
procedimento inicial nos casos de lesão
cicatrizada, nem sinais de sangramento
cardíaca penetrante, com a possibilidade de
ativo, sendo realizada apenas a drenagem
ampliação da incisão por meio do mediastino
pericárdica.
nos casos em que houver lesão cardíaca à
direita,10 outros preferem a esternotomia
mediana,
reservando
a
Diante do exposto, observamos
toracotomia
a necessidade da exploração sistemática
esquerda para as lesões posteriores.14
dos pacientes com suspeita de lesão
cardíaca. Apesar de a abordagem cirúrgica
Em pacientes hemodinamicamente
estáveis
ou
tamponamento
com
sinais
cardíaco
clínicos
sem
precoce
de
estar
indicada
apenas
em
pacientes hemodinamicamente instáveis,
choque
a possibilidade de lesão cardíaca deve ser
91
revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
TAMPONAMENTO CARDÍACO TRAUMÁTICO TARDIO
suspeitada mesmo em pacientes estáveis,
of 66 cases. Journal of Islamic Academy of Sciences.
pois a detecção precoce do hemopericárdio
1990; 3(1): 62-5.
evita complicações tardias, tal como foi
5. Arreola-Risa C, Rhee P, Boyle EM, Maier RV,
observado neste trabalho.
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revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
Fernando Luiz Westphal, Luís Carlos de Lima, José Corrêa Lima Netto,
Márcia dos Santos da Silva, Alessandra Bastos Alves
FIGURAS
Figura 1A) Turgência jugular antes da drenagem pericárdica e B) evolução sete dias após o procedimento
cirúrgico.
Figura 2 – Incisão mediana subxifoidea com drenagem de secreção serossanguinolenta.
Instituição em que o trabalho foi realizado:
Universidade Federal do Amazonas – Departamento de Clínica Cirúrgica
Endereço para correspondência:
Fernando Luiz Westphal – Hospital Universitário Getúlio Vargas, Coordenação de Ensino e
Pesquisa. Av. Aripuanã, 4 – Praça 14 de Janeiro, Manaus – AM, Brasil. CEP: 69020-170
E-mail: [email protected]
93
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v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
Fernando Luiz Westphal, Luís Carlos de Lima, José Corrêa Lima Netto,
Márcia dos Santos da Silva, Caio Ferreira Soares, Danielle Cristine Westphal
SÍNDROME DO LOBO MÉDIO:
RELATO DE CASO
Middle lobe syndrome: case report
Fernando Luiz Westphal,* Luís Carlos de Lima,**José Corrêa Lima Netto,***
Márcia dos Santos da Silva,****Caio Ferreira Soares,*****Danielle Cristine Westphal****
RESUMO
A Síndrome do Lobo Médio é caracterizada por colapsos recorrentes do lobo médio do
pulmão direito que levam à atelectasia crônica e predisposição a infecções de vias
aéreas inferiores. Neste trabalho, apresentamos um caso de Síndrome do Lobo Médio,
no qual o paciente possuía um histórico clínico de pneumonias de repetição e exames de
imagem que evidenciaram a presença de atelectasias e bronquiectasias no lobo médio
pulmonar. Durante a broncoscopia foi observada a compressão extrínseca do brônquio por
lifonodomegalias. Diante da confirmação diagnóstica, optou-se por realizar a lobectomia.
Apesar do tratamento da Síndrome do Lobo Médio em crianças ser preferencialmente
conservador, casos como o que foi relatado, em que há presença de atelectasias,
bronquiectasias, infecções recorrentes ou obstrução brônquica, é necessária a adoção de
condutas mais agressivas, com ressecção cirúrgica da região acometida, a fim de evitar
disseminação da infecção para outras áreas do pulmão.
DESCRITORES: Atelectasia pulmonar, bronquiectasia, pneumonia.
ABSTRACT
The Middle Lobe Syndrome is characterized by recurrent collapse of the middle lobe of the
right lung leading to atelectasis and predisposition to chronic infections of the lower airways.
We present a case of Middle Lobe Syndrome, in which the patient had a clinical history
of recurrent pneumonia and imaging studies demonstrating the presence of atelectasis
and bronchiectasis in the middle lobe lung. During bronchoscopy was observed extrinsic
*Professor-adjunto e coordenador da disciplina de Cirurgia Torácica da Universidade Federal do Amazonas.
**Chefe do Serviço de Cirurgia Torácica do Hospital Universitário Getúlio Vargas.
***Médico assistente do Serviço de Cirurgia Torácica do Hospital Universitário Getúlio Vargas.
****Acadêmicas do Curso de Medicina da Universidade Federal do Amazonas.
*****Acadêmico do Curso de Medicina da Universidade do Estado do Amazonas.
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SÍNDROME DO LOBO MÉDIO: RELATO DE CASO
compression of the bronchus by lymphonodomegaliy. Given the diagnostic confirmation, it
was decided to perform lobectomy. Despite treatment of Middle Lobe Syndrome in children
preferably be conservative, cases such as that reported, in which there is presence of
atelectasis, bronchiectasis, recurrent infections or bronchial obstruction, it is necessary
to adopt more aggressive behavior, with surgical resection of the region affected, in order
to avoid dissemination of infection to another parts of lung.
KEYDOWRDS: Pulmonary Atelectasis, bronchiectasis, pneumonia.
INTRODUÇÃO
RELATO DO CASO
A Síndrome do Lobo Médio (SLM)
D.G.S., dez anos e oito meses,
caracteriza-se por colapsos recorrentes do
foi encaminhado ao Serviço de Cirurgia
lobo médio, levando a um quadro clínico
Torácica do Hospital Sociedade Beneficente
que envolve bronquiectasias, pneumonias
Portuguesa
por
de repetição e atelectasias desse lobo
recorrentes
de
pulmonar.1
desde o primeiro mês de vida. Ao exame
Em
pacientes
pediátricos,
apresentar
vias
aéreas
infecções
inferiores
físico, apresentou como única alteração
os
a presença de roncos em terços médio e
sintomas têm início principalmente ao
inferior do hemitórax direito. Os exames
redor dos três anos de idade e comumente
complementares apresentaram os seguintes
está associado à asma.2 O sintoma mais
resultados:
frequente é a tosse persistente, que pode
estar associada à hemoptise, dor torácica,
a) Radiografia de tórax: sinais de
dispneia e febre.3
atelectasia em terço médio do pulmão
direito (Figuras 1A e B);
O objetivo deste trabalho é descrever
um caso de Síndrome do Lobo Médio em
b)
Tomografia
computadorizada
de
um paciente pediátrico que apresentava
tórax: presença de broncogramas aéreos
infecções pulmonares recorrentes, além de
envolvendo lobo médio, principalmente em
realizar uma revisão da literatura.
segmento medial, com redução volumétrica
dele (Figura 2);
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Fernando Luiz Westphal, Luís Carlos de Lima, José Corrêa Lima Netto,
Márcia dos Santos da Silva, Caio Ferreira Soares, Danielle Cristine Westphal
c) Broncoscopia: compressão extrínseca
presença de gânglios linfáticos ao redor
do lobo médio por provável aumento
desse ramo brônquico também contribui
linfonodal.
para a fisiopatogenia da síndrome, pois,
O
paciente
foi
submetido
na vigência de processos infecciosos, os
à
gânglios podem aumentar de tamanho e
toracotomia lateral direita, com acesso à
comprimir o brônquio, aumentando ainda
cavidade torácica pelo 5.º espaço intercostal
mais o acúmulo de secreções. Episódios
direito. Foram observados atelectasia e
repetidos de inflamação induzem a fibrose
hepatização do segmento medial do lobo
e o estreitamento do brônquio, fator
médio pulmonar. O tratamento instituído
determinante para completar o ciclo vicioso
foi a ressecção do lobo médio (Figura 3).
de infecção e inflamação que determinam
O paciente evoluiu sem complicações
a formação de atelectasia e bronquiectasia
recebendo alta hospitalar no 5.º dia de pós-
crônicas, com colapso total ou parcial do
operatório.
lobo médio.4
As causas da SLM se dividem em
DISCUSSÃO
obstrutivas e não-obstrutivas. As principais
causas
A SLM, entidade clínica e radiológica,
comprimento
de pneumonia e sintomas respiratórios
compressão
brônquico,
secundárias
a
aspiração de corpo estranho, edema de
crônicos ou recorrentes, podendo ser apenas
mucosas ou presença de tumores. Já as causas
um achado radiológico com antecedentes
não-obstrutivas envolvem basicamente os
clínicos pouco expressivos1.
distúrbios de ventilação colateral e processos
A fisiopatogenia da SLM envolve
anatômicos.
a
anormalidades no diâmetro, estrutura ou
lobo médio do pulmão direito com episódios
fatores
são
extrínseca por linfonodos ou tumores e
é caracterizada por atelectasia crônica do
principalmente
obstrutivas
inflamatórios primários.5, 6
O
A síndrome ocorre em indivíduos de
ramo brônquico que se dirige ao lobo médio
qualquer idade; no entanto, o diagnóstico
forma um ângulo agudo com o brônquio
em pacientes pediátricos tende a ser mais
fonte que o origina e geralmente é menos
difícil por causa da apresentação clínica
calibroso e mais longo que os demais.
inespecífica.3, 7 A maioria dos casos de SLM
Esses três fatores contribuem para a
em crianças ocorre de forma secundária
retenção crônica de secreções brônquicas
à asma e o paciente pode se recuperar
e episódios recorrentes de infecção. A
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SÍNDROME DO LOBO MÉDIO: RELATO DE CASO
espontaneamente. No entanto, a resolução
que houver atelectasia crônica ou recorrente,
dos
é
evidências de bronquiectasia ou obstrução
acompanhada de reexpansão do parênquima
brônquica, o tratamento preconizado é a
pulmonar atelectasiado e esse acaba não
ressecção precoce do lobo médio a fim de evitar
sendo prontamente identificado.2,
o envolvimento dos outros lobos pulmonares.8,
sintomas
agudos
nem
sempre
8
Neste
trabalho, o paciente não tinha história de
10
asma e apresentava como único dado clínico
brônquica foi fator determinante para a
relevante o histórico de pneumonias de
abordagem cirúrgica do paciente.
repetição, associado ao achado radiológico
Neste trabalho, a presença de obstrução
Em
de colapso do lobo médio pulmonar.
conclusão,
ressaltamos
a
importância do diagnóstico precoce da
A presença de atelectasia do lobo
SLM em pacientes pediátricos. Apesar de
médio na radiografia de tórax em crianças
a apresentação clínica ser inespecífica, a
com sintomas respiratórios recorrentes
realização de uma simples radiografia de
é suficiente para a suspeita diagnóstica
tórax em crianças com sintomas respiratórios
de SLM. A tomografia computadorizada
recorrentes e inespecíficos é suficiente para
de tórax também auxilia no diagnóstico,
guiar o diagnóstico de SLM, antes que o
pois, além de evidenciar atelectasias e
processo evolua para complicações crônicas
bronquiectasias no lobo médio, identifica
que necessitem de um tratamento cirúrgico
possíveis
mais amplo que a lobectomia média.
obstruções
e
estreitamentos
brônquicos. Quando a SLM for de origem
obstrutiva, a broncoscopia é suficiente
para confirmar o diagnóstico.
3, 9
REFERÊNCIAS
No caso
relatado, a atelectasia do lobo médio foi
1. Barreto
SM,
Palombini
DV, Tovar
RB.
observada tanto na radiografia de tórax
Considerações sobre a síndrome do lobo médio.
quanto na tomografia computadorizada
AMRIGS. 1982; 26(3): 196-201.
e o diagnóstico foi confirmado após a
2. Springer C, Avital A, Noviski N, Maayan C,
visualização da obstrução brônquica por
Ariel I, Mogel P et al. Role of infection in the middle
meio da broncoscopia.
lobe syndrome in asthma. Arch Dis Child. 1992;
67(5): 592-4.
O tratamento da SLM em pacientes
3. Boloorsaz MR, Khalilzadeh S, Khodayari
pediátricos é preferencialmente conservador
AA, Farhoodfar N, Mir S, Sadeghi M. Middle Lobe
por intermédio de antibioticoterapia, drenagem
Syndrome in Children. Tanaffos. 2009; 8(1): 50-5.
postural e broncodilatadores.3, 7 Nos casos em
4. Albo RJ, Grimes OF. The Middle Lobe
97
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Fernando Luiz Westphal, Luís Carlos de Lima, José Corrêa Lima Netto,
Márcia dos Santos da Silva, Caio Ferreira Soares, Danielle Cristine Westphal
Syndrome: A Clinical Study. Dis Chest. 1966; 50(5):
8. De Boeck K, Willems T, Van Gysel D, Corbeel
509-18.
L, Eeckels R. Outcome after right middle lobe
syndrome. Chest. 1995; 108(1): 150-2.
5. Wagner RB, Johnston MR. Middle lobe
syndrome. Ann Thor Surg. 1983; 35(6): 679-86.
9. Priftis KN, Mermiri D, Papadopoulou A,
Anthracopoulos MB, Vaos G, Nicolaidou P. The role
6. Culiner MM. The right middle lobe syndrome:
of timely intervention in middle lobe syndrome in
A non-obstructive complex. Dis Chest. 1966; 50(1):
children. Chest. 2005; 128(4): 2504-10.
57-66.
10. Ayed AK. Resection of the right middle
7. Livingston GL, Holinger LD, Luck SR. Right
lobe and lingula in children for middle lobe/lingula
middle lobe syndrome in children. Int J Pediatr
syndrome. Chest. 2004; 125(1): 38-42.
Otorhinolaryngol. 1987; 13(1): 11–23.
FIGURAS
Figura 1 – Radiografia de tórax nas incidências PA (A) e perfil (B) mostrando atelectasia
do terço médio do pulmão direito.
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SÍNDROME DO LOBO MÉDIO: RELATO DE CASO
Figura 2 – Tomografia computadorizada de tórax mostrando
bronquiectasias e redução volumétrica do lobo médio.
Figura 3: Lobo médio com sinais de hepatização consequente ao processo inflamatório
crônico.
Instituição em que o trabalho foi realizado:
Universidade Federal do Amazonas – Departamento de Clínica Cirúrgica.
Endereço para correspondência:
Fernando Luiz Westphal – Hospital Universitário Getúlio Vargas, Coordenação de Ensino e
Pesquisa. Av. Aripuanã, 4 – Praça 14 de Janeiro, Manaus – AM, Brasil. CEP: 69020-170
E-mail: [email protected]
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ANAIS JORNADA
Palestra de Abertura da V Jornada de Saúde da
Amazônia Ocidental
TRABALHO EM EQUIPE: UM DESAFIO POSSÍVEL
Prof. Dr. Edson de Oliveira Andrade
Caros amigos
O professor Fernando Westphal pediu-me, em uma grande deferência, que falasse na
abertura deste evento, sobre a importância do trabalho em conjunto.
De início, esta incumbência, para quem não acredita em trabalho efetivo senão aquele
realizado coletivamente, pareceu ser extremamente fácil.
Ledo engano!
Ao tentar colocar as ideias em ordem a fim de fazer desta conversa entre amigos
e companheiros algo útil e agradável, as dificuldades de explicar e defender o óbvio
começaram aparecer de forma muito intensa.
Como então resolver tal problema? Como arrumar uma saída de forma a atender o solicitado
pelo Fernando?
Confesso que ao procurar uma saída tudo pareceu muito difícil. E por que estava assim?
Logo percebi que o problema do encaminhamento desta tarefa estava na metodologia por
mim escolhida para resolvê-lo: a individualidade.
Tudo tinha de ser resolvido por mim. Era Eu e só Eu a buscar a solução para o sucesso
desejado para a palestra.
Esqueci nas minhas preocupações do próprio tema da palestra: O trabalho coletivo.
Uma palestra, como todas as atividades humanas, depende de múltiplos fatores, sejam
eles conjunturais, estruturais, mas principalmente humanos.
O primeiro destes fatores, o conjuntural, tem a ver porque estamos aqui. O que nos
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mobilizou a vir para cá? Conhecimento, curiosidade, sentimento de obrigação ou mesmo
falta do que fazer?
Cada um de nós sabe o que nos trouxe até aqui, nesta noite de muito calor.
Para este evento, talvez não seja importante sabermos o motivo da mobilização de cada
um. Mas quando se trata do ambiente de trabalho, saber o que motiva o colega ao lado é
uma questão capital.
Mas vamos parar um pouco e pensarmos juntos. Esta reunião não é uma extensão do nosso
local de trabalho? Então pergunto: por que o Fernando Westphal está aqui? Ou o professor
Duarte? Ou mais importante ainda, por que aquele colega tão querido e competente NÃO
está aqui?
Como podemos entender o macro da nossa conjuntura quando desconhecemos o micro, ou
seja, ou que nos move individualmente?
Quando estamos a fim de uma pessoa queremos saber tudo a seu respeito. O que ela gosta.
O que lhe agrada. Tudo para satisfazê-la. Enfim, para conquistá-la.
Agora raciocinem comigo, e vejam se não estou correto. Muitas vezes iremos conviver
menos com esta pessoa que com nossos companheiros de trabalho.
Vejam no meu caso. Eu aguento o Bulbol há 36 anos; o Duarte há 38 anos e o Eucides há
44 anos.
Bem como nem todos têm a graça de ter a mesma namorada, sempre a conquistar, como eu
e o Duarte, vemos logo a importância que um colega de trabalho tem em nossas vidas.
Em qualquer campo da atividade humana, as coisas só dão certo se houver interesse. E
nenhum interesse é tão importante quanto o interpessoal.
Se eu gosto de ti, eu cuido de ti!
Vamos agora fazer uma brincadeira. Escrevam no papel que receberam, sem que ninguém
veja, o nome de um colega de trabalho com que vocês se preocupam. Dobrem e entreguem
aos nossos monitores.
O segundo passo para o sucesso desta palestra é a estrutura de que dispomos para o evento
(APAGAR AS LUZES E DESLIGAR O MICROFONE).
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Vejam só. Vocês estão aí e eu continuo aqui, mas a nossa conversa ficou prejudicada.
Com resolver este impasse? Penso que existem dois caminhos: um correto e outro o
brasileiro. O correto chama-se planejamento. O brasileiro chama-se jeitinho e é mais ou
menos assim: Ei! Seu Almir. Vê se tem um fusível emprestado e faz uma gambiarra para
luz voltar. Pronto, às vezes dá certo, mas na maioria das vezes, não.
Com planejamento a regra é dar certo.
Agora podem ligar as luzes.
Vocês viram que em todas as oportunidades aqui apresentadas, apesar de falarmos em
estruturas, sempre nos referimos às pessoas. Isto ocorre porque as estruturas são reflexos
das ações das pessoas; e num sistema de vasos comunicantes, como no qual vivemos, as
pessoas são reflexos das estruturas.
Agora eu pergunto: Quantas vezes vocês já pararam para planejar o seu trabalho?
Vamos agora para a segunda tarefa da noite.
Escrevam na folha de papel restante um aspecto da estrutura do HUGV que vocês gostaria
de ver melhorar para que vocês possam se sentir mais feliz em seu trabalho. Não deixe
ninguém olhar o que você escreveu. Isto é uma tarefa solitária. Este é o SEU desejo.
Entreguem aos monitores.
Por fim, vamos falar de nós, as pessoas. Vamos falar do nosso papel nesta palestra.
Como vocês já perceberam, uma palestra não existe sem pessoas. Não existe sem um
palestrante – uma pessoa –; nem sem plateia – também pessoas –. Conjunturas e estruturas
são importantes, mas o que dá consistência às coisas são as pessoas. Conjuntura e estrutura
são as formas; as pessoas são as substâncias.
Se eu e vocês não estivéssemos aqui, ainda que o evento estivesse programado e o local
à disposição, não teríamos a palestra, pois faltaria a substância. Mas é preciso que haja
uma interação profunda e intensa entre as pessoas, a conjuntura e a estrutura, para que
o sucesso da palestra seja alcançado.
Como disse o filósofo espanhol Ortega y Gasset; “Eu sou eu e as minhas circunstâncias. Se
não as salvo, não me salvo”.
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Isto parece que funciona bem quando se trata de uma palestra, mas em um hospital, como
se dá?
Eu respondo sem um tiquinho de dúvida: da mesma forma.
Um hospital é conjuntura; é estrutura é gente.
Mas para ter sucesso, seja na palestra, seja no hospital, falta um ponto crucial que omiti
até agora: OBJETIVO.
Sem objetivo somos que nem cachorro correndo atrás de uma roda de carro, que quando
o carro para não sabe o que fazer.
O meu objetivo é conquistá-los para a ideia de que o trabalho conjunto é o único eficaz
para se alcançar os nossos objetivos e que os nossos objetivos precisam ser construídos
coletivamente para que todos se sintam partícipes e construtores de seus destinos.
Para encerrar, vou projetar três breves filmes que têm muito a ver com esta nossa
conversa.
Vejamos.
Formigas: http://www.youtube.com/watch?v=OxI_IGS9xtQ
Gansos: http://www.youtube.com/watch?v=lEplEOyGVbw
Basquete: http://www.youtube.com/watch?v=mG3o1vG_dEc
Estes três filmes possuem uma característica comum: o trabalho em equipe. As pequenas
formigas trabalhando juntas são capazes de transportar uma barata com um peso muitas
vezes superior aos seus. Já os gansos voam por longas distâncias alternando posições e
distribuindo entre os membros do grupo os esforços da jornada. Mas eles apenas seguem
os seus instintos e nada mais. Já o terceiro filme, além do trabalho em conjunto, agrega
o processo criativo planejado, transfigurado em beleza sublime. Os sons obtidos não sons
comuns. Eles nascem não de um impulso mecânico e automático. Eles são a expressão
do sentimento, da sensibilidade, da interação, do enlevo e até mesmo do trabalho
conjunto.
Isto é uma das coisas que nos diferencia dos outros animais. O nosso trabalho, quando
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planejado (sonhado), quando realizado em conjunto com outras pessoas (compartilhado),
tem a capacidade de ser transformador e transcendental (tocar a alma da pessoa). A
música é o exemplo perfeito desse fato. Numa orquestra, nenhum instrumento é capaz
de, isoladamente, executar uma sinfonia em sua totalidade, mas juntos tornam uma
9.ª, de Beethoven, ou o Poema Sinfônico “Floresta Amazônica”, de Villas-Lobo, algo
maravilhoso.
Meus amigos, outro engenho humano que só funciona bem com um trabalho conjunto e
harmônico é a assistência à saúde.
Por isso, faço um convite para que venhamos juntos executar diariamente, para o bem dos
nossos pacientes e de nós mesmos, a música que trazemos em nossos corações.
Antes de sairmos, apenas duas coisinhas a mais. Em primeiro lugar, vamos entregar ao
professor Lourivaldo, diretor do HUGV, as nossas contribuições para a melhoria do nosso
hospital. Lembre-se, meu caro Lourivaldo, de que elas foram escritas com o melhor dos
nossos corações. E, por último, mas ainda assim não de menor importância, peço que cada
um de nós retire no saco um pedaço de papel onde escrevemos o nome de uma pessoa que
consideramos importante em nosso trabalho e afazeres; e quando estivermos no merecido
coffee break busquemos encontrá-la para que ela saiba que uma pessoa nesta sala a
considera muito especial.
Obrigado
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RESUMO - CATEGORIA ORAL
1. RELATO DE EXPERIÊNCIA DE
ATIVIDADES REALIZADAS NA ONG ANJOS DA
ENFERMAGEM E NO PROJETO O BRINCAR
NO HOSPITAL
ESTEVES,1 Arinete Véras Fontes, MOTTA,1Gisele Aparecida Emílio de Araújo, SOARES,2 Anne Caroline
Sampaio, ROCHA,2 Deise Auxiliadora de Freitas, BARBOSA,2 Jacqueline Paula Silva, BINDÁ,2 Josias Mota,
DIAS,2 Raissa Simões
INTRODUÇÃO: Desenvolver atividades recreativas com as crianças em ambiente hospitalar
é, hoje, considerada uma atividade indispensável ao atendimento à saúde, reconhecida
pela Lei Federal n.º 11.104/05, onde determina que todos os hospitais pediátricos devam
possuir, em suas instalações, um espaço para a criança doente e hospitalizada brincar.
Diante dessa possibilidade de favorecer atividades recreativas às crianças acometidas por
algum tipo de câncer, hospitalizadas na Fundação Hematologia e Hemoterapia do Amazonas
(FHemoam), a ONG Anjos da Enfermagem e o projeto O Brincar no Hospital podem realizar
atividades lúdicas com as crianças, procurando por meio da brincadeira minimizar o estresse
ocasionado pela doença, seu tratamento e da longa hospitalização à qual a criança com
câncer é submetida. OBJETIVO: Realização de atividades de brincadeiras na ONG Anjos da
Enfermagem e no projeto O Brincar no Hospital com crianças acometidas por algum tipo de
câncer e doenças no sangue, incentivando o riso da criança doente. METODOLOGIA: Tratase de um estudo descritivo exploratório de um relato da experiência vivenciada pelos alunos
do curso de graduação de enfermagem da Universidade Federal do Amazonas pelo brincar
com crianças com câncer em ambiente intra‐hospitalar, tendo como participantes todas as
crianças hospitalizadas na FHemoam no período de atividade do projeto, aproximadamente
Enf.ª docente da Universidade Federal do Amazonas.
Discente da Universidade Federal do Amazonas. Contatos: [email protected], [email protected],
[email protected]
1
2
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48 crianças. Foi feito uma avaliação por meio dos relatos das mães e/ou acompanhantes legais
das crianças ali hospitalizadas e também das próprias crianças, os quais registraram de forma
escrita de próprio punho os seus relatos. RESULTADOS: Mostram que estes projetos, por meio
da brincadeira, auxiliam a criança a enfrentar de forma mais segura seus medos e ansiedade
nesse ambiente que se apresenta de forma ambígua para elas, como um ambiente que cuida e
cura, mas também que agride por serem necessários a realização de procedimentos invasivos
e tratamentos agressivos. CONCLUSÃO: Diante disso, evidencia-se que o brinquedo auxilia
a criança a enfrentar o desconhecido durante sua permanência no hospital, minimizando o
estresse ocasionado pela doença e hospitalização por meio da brincadeira.
2. ASSISTÊNCIA FISIOTERAPÊUTICA NA
PORFIRIA INTERMITENTE AGUDA
RAMALHO,1 Anilda Nogueira, PALHARES,2 Flávia Ferreira M, ALBUQUERQUE,2 Maria Déborah, FREITAS,3
Caio Guimarães de, SUSUKI,3 Ingrid de Fátima Aquino.
INTRODUÇÃO: A Porfiria Intermitente Aguda (PIA) é um distúrbio hereditário raro de origem
hepática, causada por deficiência enzimática. Geralmente se manifesta após a puberdade e o
sintoma mais comum é a dor abdominal intensa em 80% dos casos e, em situações extremas,
paralisia respiratória e morte. O tratamento da PIA é interdisciplinar, necessitando de
atendimento médico, fisioterapêutico, nutricional, psicológico, entre outros. OBJETIVO: O
objetivo deste trabalho é demonstrar que a atuação da fisioterapia na PIA ajuda a prevenir os
efeitos deletérios da hipoatividade no leito, evitando complicações respiratórias e auxiliando
no bem-estar do paciente. MÉTODOS: Este relatado de caso é de uma senhora de 48 anos,
admitida no Hospital Universitário Getúlio Vargas – HUGV com histórico de epigastralgia,
mioartralgia, febre, infecção do trato urinário, hipertensão arterial sistêmica, neuropatia
periférica e fraqueza muscular progressiva, episódio de perda da consciência e histórico social
Fisioterapeuta do Hospital Universitário Getúlio Vargas – HUGV/Ufam e da Fundação de Hematologia e
Hemoterapia do Amazonas.
2
Fisioterapeuta do Hospital Universitário Getúlio Vargas – HUGV/Ufam. 3 Estagiários do Serviço de Fisioterapia
e acadêmicos de Fisioterapia da Universidade Federal do Amazonas, Campus Manaus – Ufam.
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de etilismo. Foram realizadas condutas fisioterapêuticas respiratórias e motoras de manhã
e à tarde, totalizando aproximadamente 500 atendimentos. RESULTADOS: Os resultados
obtidos com a assistência fisioterapêutica foram o aumento da força muscular e da endurance
da musculatura respiratória, os quais contribuíram no desmame da prótese ventilatória e
no restabelecimento do padrão respiratório, além da preservação da biomecânica articular,
ganho de força muscular de proximal para distal, melhora do equilíbrio e do controle de
tronco, permitindo a paciente ficar na postura de sedestação, sem apoio e na ortostática
com o uso de auxiliares de locomoção bilateral. Quanto à independência funcional para as
atividades de vida diária e profissional, ainda estavam parciais no momento da alta, por conta
da limitação dos movimentos finos das mãos e da deambulação. CONCLUSÃO: Conclui-se que
a assistência fisioterapêutica foi fundamental para a recuperação e o melhor prognóstico
funcional, percebendo a contribuição no tratamento ambulatorial, nos casos residuais de
distúrbio neuro‐cinético‐funcional. Verifica-se, também, a necessidade de mais estudos sobre
as condutas fisioterapêuticas na PIA, contribuindo para a saúde baseada em evidências.
PALAVRAS‐CHAVE: Porfiria Intermitente Aguda – PIA, Fisioterapia em Hematologia.
Agradecimentos: à equipe do Serviço de Fisioterapia, do CTI, CEP e direção do HUGV/Ufam
3. ESTUDO ANATÔMICO DA ORELHA HUMANA
POR DESCALCIFICAÇÃO DO OSSO TEMPORAL
CARLOS,1 Denny da Silva, DANILOW,2 Juliana Leal, BARCELAR,2 Bruno Rainer, BARCELLOS,3 José Fernando
Marques, CARNEIRO,3 Ana Basílio, FURTADO,3 Silvânia Conceição
INTRODUÇÃO: O osso temporal, por sua complexidade anatômica, é de difícil compreensão em
face do grande número de estruturas e funções agrupadas nesse espaço ósseo. Compreender sua
anatomia é extremamente importante para entendimento de fenômenos patológicos, bem como
Acadêmico do Curso de Medicina (Ufam); presidente da Liga Universitária de Diabetes e Obesidade (LUDO/
HUGV) e integrante do Projeto Teleclin (sessões para o internato).
2
Acadêmico do Curso de Medicina (Ufam).
3
Professor do Departamento de Morfologia – ICB Correspondências: Universidade Federal do Amazonas –
Ufam, Departamento de Morfologia, Instituto de Ciências Biológicas, Campus Universitário, avenida Rodrigo
Otávio Jordão Ramos, 3.000, Coroado, CEP: 69077-040, Manaus, AM, Brasil. [email protected]
1
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para a realização de cirurgias otológicas e neurológicas. OBJETIVO: Realizar o estudo topográfico
da orelha média e interna após descalcificação por acidificação do osso temporal. MÉTODOS:
Foram dissecados seis ossos temporais de três cadáveres adultos, do sexo masculino, e fixados
em formol a 10% do Laboratório de Anatomia da Universidade Federal do Amazonas. Os seis ossos
temporais, sem lesão macroscópica, foram imersos em solução de ácido nítrico a 15% por dois dias.
Posteriormente, foram feitas secções transversais e longitudinais completas e incompletas com
lâminas de micrótomo tendo como referência o meatus acusticus interno até a orelha externa.
Utilizou-se uma lâmina de bisturi para escavar a orelha média e interna e uma lupa para melhor
visualização das estruturas. RESULTADOS: Por meio de uma “janela” aberta na escama do osso
temporal direito e com a retirada da eminentia arcuata, foi possível identificar cochlea, canalis
semicircularis e outras estruturas relevantes ao estudo proposto: cellulae mastoideae, nervus
facialis, corpus incudis, capuz mallei e a articulatio incudomallearis. CONCLUSÃO: Esta técnica
de descalcificação por acidificação proporcionou expor uma melhor topografia da orelha humana,
particularmente de estruturas nobres da orelha média e interna, além de continuar sendo um
método bastante eficiente, podendo ele apresentar baixo custo, sendo de fácil execução e acesso
aos acadêmicos e profissionais da área da saúde, tornando-se clara a identificação das estruturas
internas do osso temporal, normalmente estudadas pelos atlas de Anatomia Humana.
PALAVRAS-CHAVE: Dissecação; Cadáver; Anatomia Humana.
4. POLÍTICA DE SAÚDE E A IMPORTÂNCIA DA
ATENÇÃO BÁSICA PARA OS DEMAIS NÍVEIS DE
SAÚDE: UM ESTUDO COM OS IDOSOS USUÁRIOS DAS
UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE E CAIMIS DE MANAUS
SASSAKI,1 Yoshiko, MAIA,2 Danielle Bezerra, PONCE DE LEÃO,3 Alice Alves Menezes, MELO,3 Nathalie
Santana de
INTRODUÇÃO: A maior expectativa de vida já experimentada pela população brasileira vem
Prof. Dr. Ufam, Manaus‐AM. 2 Acadêmica de Serviço Social, Ufam, Manaus‐AM. Contato: daniellebmaia@uol.
com.br, [email protected], [email protected], [email protected]
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desafiando setores públicos e privados, e afetando todas as esferas da vida em sociedade. No
que tange à política de saúde, a base dos serviços está na atenção primária desenvolvida nas
Unidades Básicas de Saúde (UBSs), onde 85% dos agravos de saúde poderiam ser resolvidos nesse
nível (BRASIL/MS, 2006). Suas ações objetivam a identificação de fatores de risco, a promoção
da saúde, ações de prevenção e tratamentos simples de doenças, configurando-se como porta
de entrada do sistema. OBJETIVO: Desse modo, objetivamos analisar a condição de saúde e os
serviços de assistência à saúde disponibilizados nas UBSs e Caimis (Centro de Atenção Integral
à Melhor Idade), de Manaus, visando à compreensão do bom funcionamento do sistema.
Foram selecionadas cinco UBSs de cada zona (Leste e Sul) e três Caimis existentes, e aplicados
formulários semiestruturados a cento cinquenta idosos. RESULTADOS: As análises sobre as
políticas de saúde revelam os reflexos da influência neoliberal, contrário aos investimentos nas
políticas sociais. Por conseguinte, os níveis de eficiência e a qualidade dos serviços prestados
em saúde podem não alcançar os índices esperados. A municipalização de saúde ocorrida
na atenção básica em 2003 na cidade de Manaus, de fato, ainda é precária e parcial. Pois,
demagogicamente, o Governo do Estado mantém os Centros de Atenção Integral à Melhor
Idade – Caimis concorrendo paralelamente com as UBSs e Saúde da Família do Município,
realizando os mesmos serviços. A pesquisa apontou que os idosos, usuários das UBSs, procuram
majoritariamente os serviços clínicos por meio de consultas, encaminhamentos e remédios,
centralizando a figura do médico e do enfermeiro, haja vista que os serviços oferecidos nas
UBSs restringem-se a esses atendimentos rotineiros, não existindo um trabalho em educação
em saúde nas esferas de promoção e prevenção, como prescreve a Política de Atenção
Básica. Nos Caimis, a maioria dos idosos procura as atividades que oferecem a ampliação
de seu círculo social, ocupando a mente ociosa. Essa capacidade de interagir socialmente é
fundamental para o idoso, a fim de que ele possa conquistar e manter as redes de apoio social e
garantir maior qualidade de vida. Verificou-se nas dez Unidades Básicas de Saúde selecionadas
e nos três Caimis que cerca de 60% dos idosos entrevistados manifestam Hipertensão, 21%
são portadores de Diabetes, 29% têm Reumatismo, 12% Colesterol e 24% apresentam outras
doenças. Nos Caimis, embora não seja instituído o Programa de Hiperdia como nas UBSs, a
rotina de atendimento ao hipertenso e diabético é similar, com um diferencial de oferecer
serviços de atividade física, médicos especializados nas principais doenças que afetam os
idosos, bem como apoio psicológico e social. CONCLUSÃO: O estudo revelou que a atenção
básica de saúde se configura fundamental para o tratamento e manutenção da saúde do estrato
populacional que mais demanda serviços de saúde: os idosos. Apontando que quanto maior
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for o investimento em ações preventivas e promoção em saúde, menores serão os gastos nos
demais níveis do sistema.
PALAVRAS-CHAVE: Política de Saúde, Atenção Básica, Envelhecimento.
5. PREVALÊNCIA DAS INTERNAÇÕES POR
PNEUMONIAS EM MANAUS
CARVALHO,1 Maria Auxiliadora Neves de, CARVALHO,2 Bruna Cecília Neves de, PADILLA,2 Rodrigo,
FONSECA,2 Igor Gióia, CARDOSO,2 Marcelo Viana Carlos
INTRODUÇÃO: A pneumonia é a complicação mais temida das Infecções Respiratórias
Agudas (IRAs), as quais constituem a principal causa de hospitalizações e consultas médicas
em crianças de 0 a 18 anos, tanto nos países ricos quanto nas regiões em desenvolvimento,
sendo mais prevalentes em áreas urbanas. Em Manaus, a prevalência de IRAs é de 53,9%
em menores de 5 anos (SEMSA, 1996). A magnitude da pneumonia é corroborada por
diversos fatores, como nível socioeconômico, vulnerabilidade da faixa etária, desnutrição,
aleitamento materno, baixo peso ao nascer, aglomerações e condições climáticas, como
poluição e períodos de chuva. OBJETIVO: O estudo tem como objetivo avaliar a prevalência
das internações por Pneumonias em crianças na cidade de Manaus. METODOLOGIA: Trata-se
de um estudo descritivo transversal de caráter retrospectivo que visa mensurar a prevalência
das internações por Pneumonias na cidade de Manaus. Foram analisadas internações de
crianças de 0 a 18 anos no Hospital Infantil Dr. Fajardo (referência clínica e cirúrgica em
pediatria em Manaus), no período de outubro de 2003 a outubro de 2008. Foram analisados
15.352 pacientes. Os dados coletados foram organizados e subdivididos em internações
por pneumonias e outras internações para então serem analisados. RESULTADOS: O total
de internações por pneumonias foi de 4.725 pacientes em cinco anos, a média mensal de
internações foi de 252 crianças e destas 77 internações foram por pneumonia. Observou-
Professora da disciplina de Pediatria, professora orientadora da Residência de Pediatria e Cirurgia Geral do
Hospital Universitário Getúlio Vargas, mestra em Patologias Tropical – Ufam – Manaus-AM. 2 Estudante do 4.º
ano de Medicina – Ufam – Manaus-AM. Contato: e-mail: [email protected]
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se uma prevalência de 30,75% de crianças internadas com pneumonia. A maior prevalência
foi observada nos meses de outubro de 2004, abril dos anos de 2005, 2006, 2007 e maio
de 2008. DISCUSSÃO: A prevalência de internações por PNM observada no Hospital Infantil
Dr. Fajardo mostrou-se superior a outros trabalhos que também analisaram a prevalência
das internações por pneumonia no Brasil e restante do mundo. De acordo com o Serviço de
Vigilância Epidemiológica da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), no Brasil somente 2,5%
das internações pelo SUS em 2002 foram por Pneumonia. Outro estudo realizado no Rio de
Janeiro as internações de crianças de 6 a 14 anos por problemas respiratórios representaram
11,6%, sendo 6,3% por pneumonias. Também foram observados estudos que compartilham
uma semelhança entre a prevalência encontrada. Um estudo realizado no Rio Grande do
Sul mostrou que as pneumonias são responsáveis por até 29,8% das internações pelo SUS
e 19% das internações gerais. Quando isoladas, as internações pediátricas por doenças
respiratórias satisfazem 51,6% das internações pelo SUS (GODOY, 2001). Acredita-se que
as maiores prevalências nos meses de abril e maio são pelo clima de Manaus, que nessa
época é marcado por muitas chuvas, embora não se possa afirmar, pois não há evidências
confiáveis para a comparação. CONCLUSÃO: A prevalência das internações por pneumonia
na cidade de Manaus mostrou-se superior à literatura mundial, quando se comparou com
os dados da Funasa. Não se atribuiu uma causa para tal diferença, sendo necessários mais
estudos epidemiológicos para uma possível explicação.
PALAVRAS-CHAVE: Prevalência, Hospitalização, Pneumonia.
Professora da disciplina de Pediatria e professora orientadora da Residência de Pediatria e Cirurgia Geral,
mestrando em Patologia Tropical – Ufam – Manaus-AM. 2 Estudante do 4.º ano de Medicina – Ufam – ManausAM. Contato: e-mail: [email protected]
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6. CISTOS BRONCOGÊNICOS – IMPORTÂNCIA
DO DIAGNÓSTICO PRECOCE E
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
CARVALHO,1 Maria Auxiliadora Neves de, CARVALHO,2 Bruna Cecília Neves de, PADILLA,2 Rodrigo,
WESTPHAL,2 Danielle Cristine
INTRODUÇÃO: Os cistos broncogênicos são originários de um defeito na embriogênese da
árvore brônquica primitiva durante a terceira semana de gestação e representam entre
6 e 15% das massas mediastinais. Quanto à localização, são divididos em cinco grupos:
paratraqueal, carinal, hilar, paraesofagiano e miscelânea, sendo a localização paratraqueal
a mais frequente. Caso ocorram precocemente, essas malformações tendem a localizarse no mediastino e, quando mais tardiamente, localizam-se no parênquima pulmonar.
OBJETIVO: Descrever a importância do diagnóstico diferencial de cistos broncogênicos
com abscessos pulmonares assim como com pneumatocelese e a importância de se fazer
diagnóstico e tratamento precoce para se evitar pneumonias de repetição e óbitos por
sepse. SÉRIE DE CASOS: PSL, 1 mês de vida, nascido de parto cesariano, segundo gemelar,
evoluiu logo após o nascimento com taquipneia. O RX de tórax evidenciou imagem de
hipertransparência arredonda e com nível líquido em lobo inferior direto, a tomografia
de tórax evidenciou uma lesão cística de conteúdo aerado e líquido, sugestiva de cisto
broncogênico, essa lesão envolvia todo o lobo inferior desviando e comprimindo o lobo
médio e superior do pulmão direito, assim como o mediastino e o pulmão contralateral. O
paciente foi submetido à toracotomia com lobectomia de lobo inferior direito, evoluindo
com melhora da dispneia e da expansibilidade direita e esquerda. O laudo histopatológico
revelou tratar-se de um cisto broncogênico. MSL, 9 anos de idade, sexo masculino, natural
de Tefé, possuía história de episódios pneumônicos, com um, quatro e oito anos de idade,
respectivamente. Foi submetido à pleurostomia com drenagem fechada no segundo episódio
pneumônico com a suspeita de abscesso pulmonar. O RX de tórax do paciente mostrava uma
imagem arredondada volumosa de conteúdo líquido localizada em lobo inferior de pulmão
direito que comprimia os lobos pulmonares adjacentes. A tomografia de tórax evidenciou
a presença de lesão cística aerada em lobo inferior de pulmão direto sugestiva de cisto
broncogênico, o menor foi submetido à toracotomia com lobectomia inferior direita e
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o exame histopatológico mostrou tratar-se de um cisto broncogênico, evoluiu bem no
pós-operatório com re-expanção pulmonar bilateral. DISCUSSÃO: Os cistos broncogênicos
mediastinais representam a malformação mais comum como causa de massa mediastinal,
acometem com mais frequência o lobo inferior do pulmão direito. Geralmente são
assintomáticos, constituindo achado radiológico acidental, porém podem apresentar dor
torácica, tosse, dispneia, febre, hemoptise e disfagia por conta da compressão, infecção
ou irritação de estruturas adjacentes. Uma vez diagnosticados, está indicada a ressecção
cirúrgica na presença ou ausência de sintomas, pela alta incidência de complicações. A
importância do diagnóstico diferencial com abscesso ou pneumatolceles se faz necessário,
pois o tratamento é diferente entre essas patologias. A abordagem cirúrgica preconizada
na literatura médica envolve a ressecção completa do cisto ou lobectomia por toracotomia
ou por videotoracoscopia. CONCLUSÃO: Lesões císticas aeradas pulmonares não traduzem
somente empiemas, abscessos pulmonares ou pneumatoceles, mas podem tratar-se de
cistos broncogênicos, que exigem tratamento cirúrgico por meio de toracotomias ou
toracoscopias e a pleurostomia com drenagem fechada não resolve, podendo até retardar
ou piorar o tratamento dessas patologias.
PALAVRAS-CHAVE: Cisto Broncogênico/Diagnóstico, Cisto Broncogênico/Cirurgia, Pulmão.
7. TERATOMA CERVICAL GIGANTE –
UMA EMERGÊNCIA NEONATAL/ IMPORTÂNCIA
DO DIAGNÓSTICO PRÉ-NATAL
CARVALHO,1 Maria Auxiliadora Neves de, CARVALHO,2 Bruna Cecília Neves de, PADILLA,2 Rodrigo,
WESTPHAL,2 Danielle Cristine
INTRODUÇÃO: Os teratomas correspondem a tumores derivados das células germinativas
contendo os três folhetos: ectoderma, endoderma e mesoderma. Apenas 181 casos de
teratoma cervical foram descritos na literatura até o ano de 2002. Os de localização cervical
compreendem 3 a 5% dos teratomas e apresentam uma incidência de 1: 20.000 a 40.000
nascidos vivos. Não há relação com idade, sexo ou raça. O comprometimento das vias aéreas
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é a complicação mais importante (obstrução) pelo tumor cervical. O polidrâmnio sugere a
ocorrência de obstrução traqueo‐esofágica, pois o tumor pode dificultar a deglutição do
feto. Os teratomas cervicais são tumores geralmente volumosos, variando de 5 a 12 cm nos
seus maiores diâmetros, podendo causar hipoplasia mandibular. Seu diagnóstico diferencial
deve ser realizado com outras massas cervicais, como o higroma cístico, o bócio fetal e o
linfangioma. OBJETIVO: Enfatizar a importância do diagnóstico pré-natal dessas tumorações
para que medidas sejam tomadas por ocasião do nascimento para salvaguardar a vida desses
RN e revisão da literatura sobre o tema. SÉRIE DE CASOS: JBN e MAS, ambos recém‐nascidos
do sexo masculino, diagnosticados intraútero como portadores de tumoração cervical a
esclarecer, nascidos de parto cesariano com 38 e 39 semanas de gravidez, respectivamente,
apresentaram imediatamente, após o parto, síndrome do desconforto respiratório progressivo
provocada pela volumosa tumoração cervical que comprimia e desviava a traqueia dificultando
a respiração. Ambos foram intubados e receberam assistência ventilatória mecânica nas
primeiras horas de vida tendo sido submetidos à ressecção da tumoração cervical no 7.º
e 10.º dias de vida, respectivamente, tendo evolução satisfatória com recuperação da
respiração normal, fonação e mobilização cervical. O diagnóstico histopatológico de ambos
os casos detectou que se tratava de teratoma cervical maduro, tendo sido ambos submetidos
à quimioterapia no pós-operatório, ambos encontram-se assintomáticos após 2 e 3 anos,
respectivamente, do término do tratamento cirúrgico e quimioterápico. DISCUSSÃO: Os
teratomas são os tumores mais comuns na primeira e segunda infâncias e localizam-se,
preferencialmente, nas gônadas, raramente apresentando-se em outros locais. Apesar
de serem neoplasias benignas em sua maioria, quando não tratadas evoluem para óbito
em até 80% dos casos. O diagnóstico pré-natal é de fundamental importância no preparo
da equipe para procedimentos de emergência, já na sala de parto. A obstrução de vias
aéreas impõe, muitas vezes, intubação ou intervenção imediata pela traqueostomia. A
ultrassonografia tem sido utilizada desde 1977 no diagnóstico dos teratomas cérvico-faciais,
tendo como vantagens facilidade de acesso, confiabilidade e capacidade de detectar outras
malformações fetais associadas. A imagem da ultrassonografia revela uma massa sólidocística localizada em região cervical do feto. O tratamento por meio de ressecção cirúrgica
precoce de todo o tumor constitui-se na abordagem mais adequada dessa patologia, pois a
degeneração maligna ocorre em até 90% dos casos não tratados até a adolescência ou vida
adulta, e a excisão cirúrgica geralmente é curativa. CONCLUSÃO: Apesar da raridade dos
teratomas cérvico-faciais (3%), o diagnóstico pré-natal é de fundamental importância para
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o estabelecimento precoce de terapêutica cirúrgica com melhoria do prognóstico.
PALAVRAS-CHAVE: Teratoma, Cérvico-Facial, Obstrução das Vias Respiratórias.
8. A INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA EM
PACIENTES PORTADORES DE LESÃO MEDULAR
ANDRADE,1 Andréa Costa de, MATSDORFF,2 Karen Dalila Karl, FRANCO,2 Kelly Silva, MACÊDO,1 Maria
Geórgia Duarte de
INTRODUÇÃO: A lesão medular pode implicar em perda de movimentos voluntários e
sensibilidade dos membros superiores e/ou inferiores, e em alterações no funcionamento
do sistema urinário, intestinal, respiratório, circulatório, sexual e reprodutivo. Nesse
contexto, diversos outros fatores (social, emocional, familiar, profissional) são afetados
comprometendo a saúde psicológica do paciente. Assim, a intervenção da clínica
psicológica é elemento complementar e integrador no processo de reabilitação do lesado
medular. OBJETIVOS: Auxiliar o paciente na identificação e compreensão de suas reações
emocionais diante da hospitalização e das limitações ocasionadas pela lesão medular, e
de demais fatores implicados no processo de tratamento, contribuindo para seu progresso
na reabilitação. MÉTODOS: A intervenção psicológica a tais pacientes ocorre em dois
momentos dentro do HUGV: o primeiro na Clínica de Neurologia, pelo Paps (Programa de
Atenção ao Paciente Sequelado) em ocasião da hospitalização, e o segundo no Ambulatório
Araújo Lima, como parte do Programa de Atividades Motoras Para Deficientes – Proamde,
voltado para o indivíduo deficiente não hospitalizado. Tanto em nível de internação
hospitalar quanto na pós-internação, os atendimentos são realizados individualmente,
porém trabalhando-se em equipe interdisciplinar junto a nutricionistas, educadores físicos,
pedagogos, fisioterapeutas, assistentes sociais, enfermeiros e terapeuta ocupacional.
Utilizam-se as abordagens Psicanalítica e Cognitivo-Comportamental, como estratégias
terapêuticas de intervenção clínica. Além do acompanhamento dado ao paciente lesado
Psicólogas
Estagiárias de Psicologia Clínica
Contato:[email protected]; [email protected], [email protected]
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medular, também é feito aos acompanhantes. RESULTADOS: Observa-se que no período
de internação, os aspectos psicológicos mais prementes nesses pacientes são: angústia,
ansiedade, humor deprimido, irritabilidade, medo de invalidez, e geralmente estão
relacionados ao distanciamento de suas atividades sociais, profissionais e da família. Além
disso, a difícil adaptação à rotina hospitalar (realização de exames, espera pela cirurgia,
intervenção de muitos profissionais, não aceitação da dieta oferecida) e outros fatores
como os efeitos secundários dos medicamentos e o total ou parcial desconhecimento
do diagnóstico, prognóstico e do tratamento clínico podem acometer o paciente lesado
medular de algum sofrimento psíquico. No caso dos pacientes não hospitalizados atendidos
pelo Proamde, nota-se que as vivências psicológicas estão mais associadas à diminuição das
funcionalidades fisiológicas e motoras, à perda da autonomia e consequente dependência
dos familiares para realização de tarefas cotidianas, afastamento das atividades sociais/
profissionais, e rompimento ou limitações na vida sentimental/sexual. CONCLUSÃO: A
partir da compreensão dos diversos fatores desencadeadores dos aspectos psicológicos
vivenciados pelo indivíduo deficiente motor, é possível planejar e organizar um trabalho
de intervenção interdisciplinar focado nas necessidades específicas de cada pessoa. Este
trabalho envolve a escuta e orientações psicoeducativas aos familiares cuidadores do
deficiente para melhor compreensão da dinâmica pessoal de enfrentamento à dificuldade
física, e execução de atividades planejadas, contribuindo para o progresso no processo de
reabilitação.
REFERÊNCIAS
RIBEIRO, Andréia Carolina L. Reações emocionais frente à lesão medular e algumas
implicações no processo de reabilitação. In: Romano, Bellkiss Wilma (Org.). A Prática da
Psicologia nos Hospitais. São Paulo: Pioneira, 1994.
ROMANO, Bellkiss W. Princípios Para a Prática da Psicologia Clínica nos Hospitais. 2. ed.
São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003.
SIMONETTI, Alfredo. Manual de Psicologia Hospitalar: o mapa da doença. São Paulo: Casa
do Psicólogo, 2004.
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9. RELATO DE CASO: SARCOMA DE KAPOSI EM
TRANSPLANTADO RENAL EM USO DEFK-506
MATOS. J. C,1 ARAÚJO, R. I., AZEVEDO. J. A.
INTRODUÇÃO: O aumento da incidência de certas neoplasias é uma das maiores complicações
da terapia imunossupressora introduzida depois do transplante renal. Dentre estas, o
sarcoma de Kaposi apresenta incidência de 5,6% em recipientes de órgão transplantado.
O SK é neoplasia multicêntrica cutânea e extracutânea primeiramente descrita por Moritz
Kaposi em 1872. Existem quatro subtipos de sarcoma de Kaposi descritos na literatura,
sendo o terceiro subtipo relacionado à instituição de imunossupressão iatrogênica,
principalmente em transplantados. A administração de novos imunossupressores, entre
eles o FK‐506, está relacionada com diversos efeitos colaterais. Entre os efeitos colaterais
de maior incidência em transplantados recebendo terapia imunossupressores encontram‐se
as verrugas virais e os carcinomas cutâneos, como o carcinoma epidermoide e o carcinoma
basocelular. OBJETIVO: Relatar o caso de transplantado renal evoluindo com SK sete meses
após o transplante renal. MÉTODOS: RELATO DO CASO: Paciente do sexo masculino, de 24
anos, pardo, submetido a transplante renal doador vivo em 29 de agosto de 2007 por conta
de insuficiência renal crônica de causa indeterminada. Sete meses após o transplante,
iniciou quadro de ascite volumosa com necessidade de paracenteses de repetição,
astenia, inapetência e surgimento de linfonodomegalias inguinais disseminadas. A terapia
imunossupressora estava sendo realizada com FK‐506 (10 mg/dia), MMF (1,5 g/dia) e
prednisona (7,5 mg/dia). Ao exame, apresentava ascite volumosa e linfonodomegalias
inguinais disseminadas, não dolorosa. A biópsia de ambas as lesões confirmou o diagnóstico
de sarcoma de Kaposi (SK). Paciente foi encaminhado ao serviço de oncologia (Fcecon)
sendo decidido pela suspensão dos imunossupressores. Atualmente, o paciente encontra
se em remissão da doença e programa dialítico três vezes por semana em clínica de
hemodiálise. RESULTADOS: Remissão do SK após suspensão da terapia imunossupressora
e início quimioterapia. CONCLUSÃO: Na medida em que se verifica o elevado número de
transplantes que vêm sendo realizados e com o uso de novos agentes imunossupressores,
entre eles o FK-506, é provável que nos próximos anos venha a ocorrer elevação na
frequência de SK em pacientes transplantados.
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E-mail: [email protected]
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10. IMUNO-HISTOQUÍMICA DO PÂNCREAS
E EXPRESSÃO DAS PROTEÍNAS DA VIA DE
SINALIZAÇÃO DA INSULINA NO MÚSCULO E
FÍGADO DE RATOS DIABÉTICOS TRATADOS
COM O EXTRATO DA VATAIREA MACROCARPA
BAVILONI, P. D, SANTOS, M. P., AIKO, G. M, SOUSA JR, P. T., COLODEL, E. M., KAWASHITA, N. H. Instituto
de Ciências Exatas e da Terra, Departamento de Química, UFMT, Cuiabá/MT
INTRODUÇÃO: Muitas espécies de plantas são conhecidas na medicina popular por
suas propriedades hipoglicemiantes. A Vatairea macrocarpa é uma espécie do cerrado
brasileiro, popularmente conhecida como amargoso, maleiteira e angelim-do-cerrado,
cuja preparação na forma de chá é utilizada pela população no tratamento do diabetes.
Estudos iniciais em nosso laboratório constataram atividade antidiabética do extrato
etanólico da V. macrocarpa na dose de 500 mg/kg (Journal of Ethnopharmacology, vol.
115:515–519), quando administrado subcronicamente. OBJETIVO: O presente trabalho
teve como objetivo investigar o efeito do extrato em nível pancreático e sobre a
expressão proteica do IR, IRS1 e AKT, que fazem parte da via de sinalização da insulina.
METODOLOGIA: Ratos Wistar machos, diabéticos (estreptozotocina 42 mg/kg, iv), com
peso aproximado de 200 g, foram tratados com extrato bruto etanólico da V. macrocarpa
na dose de 500 mg/kg ( DT500) ou veículo (DC). Após 21 dias de tratamento, os animais
foram eutanasiados e retirados o fígado e músculo para determinação do conteúdo de IR,
IRS1 e AKT (Western‐blot) nesses tecidos e o pâncreas para avaliar o conteúdo de insulina
(Elisa). A dosagem de proteínas foi realizada pelo método de Lowry. Secções do pâncreas
foram imunocoradas para insulina, utilizando a técnica de imunoperoxidase. Os dados são
apresentados como média ± erro padrão, a intensidade das bandas foi determinada por
meio de leitura das autorradiografias reveladas por densiometria ótica, sendo considerada
diferença estatística p < 0,05 (T‐Student). RESULTADO E CONCLUSÃO: O tratamento não
alterou a expressão de IR e AKT no fígado e músculo. Houve um aumento na expressão
proteica (µg/µL) de IRS1 somente no fígado dos animais DT500, quando comparado ao grupo
DC (DC=80,9 ± 4,5 e DT500 = 97,4 ± 3,8). O conteúdo de insulina pancreática (µg/pâncreas)
não diferiu entre os grupos avaliados (DC-21° dia = 0,67 ± 0,02 e DT500 ‐21°dia = 0,58
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± 0,13). Corroborando esses achados, não foram observadas alterações significativas na
imuno-histoquímica do pâncreas dos animais DT500. Esses achados sugerem uma possível
melhora na ação periférica da insulina, o que pode contribuir para o efeito antidiabético
do extrato.
PALAVRAS-CHAVE: Diabetes, Insulina, Vatairea macrocarpa.
11. SORO PREVALÊNCIA DO HTLVI-II EM
PACIENTES HIV POSITIVOS ATENDIDOS
NA FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL
DOAMAZONAS – FMT-AM
LINS,1 Ruth Milagros Vasquez Delgado, SILVA,2 Sabrina Silva da, BACELAR,3 Bruno Rainer Borges;
SARDINHA,1 José Felipe Jardim; SOUZA,1 Luciana Orêncio de; CÂMARA,1 Julita do Nascimento; LUCENA,4
Noaldo de Oliveira
INTRODUÇÃO: O HTLV‐I (Vírus Linfotrópico de Células T Humanas tipo I) foi o primeiro
retrovírus humano descrito apresentando tropismo por linfócitos T CD4+ e CD8+.
Inicialmente foi associado com a Leucemia de Células T do Adulto e posteriormente foi
associado a doenças neurológicas, como a Paraparesia Espática Tropical e Mielopatia. O
HTLV‐II apresenta diferenças antigênicas em relação ao HTLV‐I e encontra‐se em raros
casos neurológicos. Existem quatro subtipos moleculares do HTLV‐II (IIa, IIb, IIc e IId). No
Brasil, doadores de sangue, populações indígenas, usuários de drogas injetáveis e gestantes
constituem as principais fontes de informações sobre esse vírus. O país possui ainda o
maior número absoluto de indivíduos soropositivos para HTLV‐I, sendo Bahia, Pernambuco
e Pará os Estados com maior prevalência. O HTLV‐I/II e HIV apresentam características
biológicas distintas, embora compartilhem os mesmos aspectos epidemiológicos, por isso
é comum a detecção de dois ou mais desses vírus infectando o mesmo hospedeiro. O
HTLV caracteriza‐se pela alta taxa de replicação ativa e apresenta significativa atividade
Farmacêutico-bioquímico da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas – FMTAM. 2 Acadêmica do curso
de Farmácia-Bioquímica da Universidade Paulista (Unip). 3 Acadêmico do curso de Medicina da Universidade
Federal do Amazonas (Ufam). 4 Médico da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas – FMTAM
Contato: e‐mail: [email protected]
1
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citopática, reduzindo as populações de células CD4+. O HIV apresenta baixa taxa de
replicação, com multiplicação predominante clonal, apresentando estímulo à proliferação
linfocitária, ocorrendo o desenvolvimento de doença clínica em uma minoria de indivíduos
infectados. Uma possível coinfecção desses vírus ocasiona mudanças significativas no
padrão da evolução clínica e laboratorial dessas infecções, dificultando a interpretação
do quadro apresentado pelo indivíduo. OBJETIVOS: Estimar a soroprevalência da infecção
pelo HTLV-I/II, em pacientes HIV positivos atendidos na FMT‐AM. METODOLOGIA: O projeto
realizou o estudo da soroprevalência do vírus HTLV‐I/II, em amostras de sangue total
de pacientes HIV positivos, atendidos na FMT‐AM com idade maior ou igual a 18 anos.
Pretendia-se uma amostra de 200 voluntários em um período de dez meses. O diagnóstico
sorológico foi realizado por meio do Elisa. Os soros que apresentavam reatividade inicial
no teste de Elisa foram testados pelo método complementar Western Blot. As amostras de
soros que apresentavam reação positiva ou indeterminada no método Western Blot foram
submetidas a PCR. RESULTADOS: Foram analisados 200 soros de pacientes HIV positivos
atendidos na FMT-AM. Desse total, 121 (60,5%) do sexo masculino e 79 (39,5%) do sexo
feminino, apresentando idade que variaram de 18 a 62 anos. Na análise de HTLV-I/II,
cento e noventa e oito (99%) amostras sorológicas apresentaram a não reatividade e dois
(1%) apresentaram a reatividade para o teste. Todas as 200 amostras foram testadas pela
técnica de Elisa. CONCLUSÃO: A soroprevalência do HTLV-I/II em pacientes HIV positivos, no
total de 200 amostras sorológicas que foram submetidas e analisadas mediante a técnicas
laboratoriais, apresentou 1% (2/200) de positividade para o teste. O presente estudo
fornece evidências de coinfecção de HTLV-I/II e HIV, podendo ocasionar mudanças clínicas
e laboratoriais, dificultando a interpretação do quadro. A distribuição do vírus presentes
em áreas urbanas propicia uma situação única na busca de respostas para patogenicidade
do vírus e possíveis associações etiológicas, em coinfecção ou não.
124
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12. PREVALÊNCIA DE FATORES DE RISCOS
CARDIOVASCULARES EM PACIENTES
CARDIOPATAS DO INSTITUTO DO CORAÇÃO NO
AMAZONAS
ALMEIDA,1 Rosemary Alves de, ELAMIDE,1 Bruno Corrêa, PEDROSA,1 Christine Rondon, SILVA,1 Ana
Carolina Santos, MAIA,1 Tiago Azevedo, TERRAZAS,2 Mariano Brasil
INTRODUÇÃO: No Brasil, em 2008, as doenças cardiovasculares (DCVs) foram responsáveis
por mais de 30% dos óbitos. Considerando a doença estabelecida, a permanência de
exposição a seus fatores de risco, que em sua grande maioria são fatores modificáveis,
está associada à maior número de hospitalizações e a um pior prognóstico. OBJETIVO:
Conhecer a prevalência de fatores de riscos associados às DCVs em pacientes cardiopatas
diagnosticados há pelo menos um ano. MÉTODOS: Foi realizado um estudo de coorte
transversal em um centro de referência no tratamento de DCVs considerando a demanda
espontânea do serviço. Participaram do estudo um total de 110 indivíduos, a participação
no estudo se deu mediante a leitura do TCLE e consequente aceitação dos procedimentos
a serem realizados. Foi aplicado questionário padronizado e realizada a mensuração do
Índice de Massa Corpórea (IMC) e da circunferência abdominal (CA), de acordo com as
diretrizes estabelecidas pela Associação Brasileira de Hipertensão, 2006. RESULTADOS:
Dos 110 indivíduos que comporam a amostra, 45,5% eram do sexo feminino e 54,5% do sexo
masculino. Quanto aos hábitos considerados de risco: 65,5% afirmaram ser sedentários,
42,7% consideram-se estressados, 35,5% afirmaram ser tabagistas e 26,4% relataram
consumir álcool periodicamente. Quanto ao IMC, 41,8% apresentavam-se dentro dos índices
de normalidade; 23,6% foram classificados apresentando sobrepeso; 25,5%, obesidade
grau I e 9,1% obesidade grau II; neste estudo não foram encontrados pacientes portadores
de obesidade grau III. A média da circunferência abdominal constou de 88,9 cm no sexo
feminino e 104,9 cm no sexo masculino. Quanto à co-morbidades associadas: 41,8% dos
pacientes eram hipertensos, 12,7% diabéticos e 36,4% apresentavam alterações nos lípides
sanguíneos. CONCLUSÕES: Os resultados deste estudo demonstraram que os fatores de
Alunos da Graduação do Curso de Medicina da Ufam. 2 Professor titular do Departamento de Clínica Cirúrgica
da Ufam
1
125
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risco associados às DCVs apresentam prevalência significativa em indivíduos cardiopatas
diagnosticados. Assim, os dados apresentados assumem caráter de alerta, pois mudanças
no estilo de vida destes são fundamentais para um melhor prognóstico.
13. EFEITO HIPOGLICEMIANTE DO EXTRATO
BRUTO ALCOÓLICO DAS FOLHAS DA DAVILLA
ELLIPTICA ST. HILL
SANTOS, M. P, BAVILONI, P. D, AIKO, G. M, BAVIERA, A. M, KAWASHITA. N. H. Instituto de Ciências Exatas
e da Terra – Departamento de Química, UFMT‐MT
INTRODUÇÃO: A Davilla elliptica é uma planta do cerrado conhecida como lixeirinha, cipócaboclo e pau-de-bugre; utilizada popularmente no tratamento da hemorroida, diarreia e
ferimentos. Estudos relatam a presença de substâncias antioxidantes em sua composição
e a contribuição de substâncias com essa propriedade na melhoria do diabetes. Pesquisas
mostram a relação benéfica de substâncias antioxidantes com o diabetes. A constatação da
presença de substâncias antioxidantes na D. elliptica (Phytochem Anal. 19 (1):17‐24, 2008)
motivou a investigação dos efeitos antidiabéticos do extrato dessa planta, que, no entanto,
não foram confirmados em experimentos subcrônicos. OBJETIVOS: Complementando estes
estudos anteriores, foi nosso objetivo avaliar uma possível atividade hipoglicemiante aguda
do extrato que pudesse contribuir no controle do diabetes. METODOLOGIA: Ratos Wistar
machos (±200 g), diabéticos (estreptozotocina 42 mg/kg) e não diabéticos, foram tratados
(v.o) com extrato bruto alcoólico (70%) das folhas da D. ellipitica nas doses de 250 e 500
mg/kg (DT250, DT500, NT250 e NT500) ou veículo (DC e NC). O efeito hipoglicemiante
foi investigado no teste de tolerância a glicose (TTG) e sobre a glicemia de jejum e pósprandial, determinada no tempo 0, e em intervalos de 30 até completar 240 minutos.
No TTGO, os animais receberam glicose (25 g/kg) pós-jejum de 15h. Foi determinada
a glicemia antes (t=0) e após (15, 30, 45, 60, 75 e 90 min) a administração da glicose
ou glicose+extrato. A determinação da glicose plasmática foi realizada utilizando o kit
Labtest e os resultados expressos como média da área sob a curva ± EPM. Estatística-
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v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
Anova uma via (p< 0,05). RESULTADO/CONCLUSÃO: Apesar de uma pequena redução da
glicemia pós-prandial aos 60 minutos no grupo DT500 em relação à DC, nenhuma das
doses do extrato apresentou efeito sobre as glicemias de jejum e pós-prandial quando
avaliado pela área sob a curva. No grupo DT500, o extrato impediu a elevação da glicemia
dos animais ao nível dos DC no período de 15-30 min. atingindo o pico de glicemia 30
minutos após os animais DC. A área sob a curva da glicemia dos animais diabéticos (DC=
29338 ±2883; DT250=30594±3692; DT500=28234±2753) e não diabéticos (NC=14878±335;
NT250=14407±728; NT500=13616±618 mg/dL.240 min) não foi alterada pelo tratamento. A
administração do extrato na dose de 500 mg/kg causou uma menor elevação da glicemia
nos primeiros 15‐30 minutos no TTGO, que sugere retardo na absorção intestinal da glicose,
o que pode contribuir para o controle da glicemia pós-prandial.
14. MEDENSINA E CTA, UMA GRANDE
MEDIDA NO COMBATE CONTRA AS DOENÇAS
SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS NA
POPULAÇÃO DA CAPITAL DO ESTADO DO
AMAZONAS
BINDÁ, A.G.L;1 ROGRIGUES, A.B.O;1 LIMA, A. A. de;1 CARDOSO, M.V.C;1 OLIVEIRA, G.F;1 NOGUEIRA, R.W;1
SILVA, M.A.F1
INTRODUÇÃO: Apesar do grande número de atividades tanto informativas quanto
educacionais no controle das doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) existentes na
capital do Estado do Amazonas, sabe-se que, segundo a literatura, ainda é grande o número
de pacientes acometidos por essas doenças em todo o Estado. É nesse contexto que o
projeto MedEnsina e o programa CTA, vinculado ao Hospital Universitário Getúlio Vargas
(HUGV), uniram forças para mais uma grande causa: levar informação, fazer triagem e
tratamento do pacientes portadores de DSTs. OBJETIVO: Combater a proliferação de
doenças sexualmente transmissíveis no sangue por meio de atividades educativas e coletas
de sangue nos serviços públicos de saúde existentes na capital do Estado do Amazonas.
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METODOLOGIA: Semanalmente, acadêmicos dos cursos de psicologia, serviço social e
medicina se dividem, respectivamente, na segunda, quarta e sexta-feiras, para palestrarem
sobre as DSTs e suas formas de prevenção. A palestra é realizada na sala de marcação de
exame do HUGV. A rotina dos integrantes do projeto consiste na convocação e explicação
aos pacientes sobre o projeto e a importância da pesquisa de DSTs. Vale ressaltar que são
convocados principalmente os acompanhantes de pacientes internados no HUGV. Após isso,
é realizada a palestra sobre as DSTs e as principais formas de prevenção. Para finalizar, é
feito a triagem, para a avaliação dos fatores de risco, e o encaminhamento dos pacientes
ao laboratório do HUGV para a coleta do sangue. Após vinte dias, é marcado o retorno dos
pacientes para a entrega de resultados. Quando existe positividade para alguma das DSTs
pesquisadas, sejam elas hepatite B, hepatite C, sífilis ou HIV, o paciente é encaminhado para
acompanhamento e tratamento dessa(s) DST(s). Eventualmente, os membros do projeto
se organizam para levar a atividade para determinados eventos ou outros serviços públicos
de saúde. Além disso, são distribuídos cartazer e folderes pela cidade com informações
sobre as DSTs e as principais formas de prevenção, além da divulgação do programa CTA
com o objetivo de esclarecer a população sobre as DSTs e atrair um maior número de
expectadores para realização dos exames no HUGV. RESULTADO: Entre os anos de 2006 a
2008, o total de pessoas que realizaram as coletas foi de 3.200; 2006 (1.479), 2007 (535),
2008 (1.186); desse total, 2% (38) apresentam positividade para HIV. Com dados de 2007
e 2008, os paciente com hepatite B correspondem a 0,81% (14); hepatite C, 0,93% (16)
e sífilis 0,05% (1). CONCLUSÃO: Com base nos dados obtidos, percebe-se que, apesar de
todos os esforços, somente a minoria da população, isto é, poucas são as pessoas que
procuram o serviço público de saúde para fazerem o diagnóstico, o tratamento e controle
dessas doenças. Dessa forma, acabam não se prevenindo, se infectando e disseminando
essas doenças na população. Além disso, o diagnóstico acaba sendo feito nas fases tardias
e, assim, as DSTs continuam sendo um grande problema na saúde pública.
Acadêmicos do Curso de Medicina, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Amazonas, Manaus,
Amazonas. Contato: [email protected], [email protected], gabizinha_oliveira@hotmail.
com, [email protected], [email protected], [email protected],
[email protected], [email protected]
1
128
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15. CARACTERIZAÇÃO DAS INTOXICAÇÕES
EM IDOSOS NOTIFICADAS PELO CENTRO
DE INFORMAÇÕES TOXICOLÓGICAS DO
AMAZONAS
SILVA,1 M.A.F.; BINDÁ,1 A.G.L.; ABREU,1 R.L.C.; RIBEIRO,1 T.A.; GALVÃO,2 T.F
INTRODUÇÃO: O Centro de Informações Toxicológicas do Amazonas (CIT/AM) é um serviço
do Hospital Universitário Getúlio Vargas da Universidade Federal do Amazonas, que presta
informações toxicológicas gratuitamente via telefone, a qualquer pessoa em período integral.
O CIT/AM faz parte da Rede Nacional de Centros de Informação e Assistência Toxicológica e
possui equipe treinada em prestar informações e orientações sobre prevenção, diagnóstico,
tratamento e prognóstico de intoxicações. Também realiza atividades na área de educação
sobre toxicologia de substâncias químicas e biológicas e seus riscos à saúde. OBJETIVOS:
Caracterizar quantitativa e qualitativamente os casos de envenenamento em idosos atendidos
pelo CIT/AM entre os anos de 2003 e 2007. MÉTODOS: Foram incluídas no estudo todas as
notificações de intoxicações em indivíduos com idade≥ 65 anos, obtidas da base de dados do
CIT/AM. Os casos de envenenamento foram analisados segundo as variáveis: período do dia
de ocorrência; solicitante; circunstância; número de agentes; tipo de agente; evolução e
avaliação. Foi realizado crosstabulation para se fazer a correlação entre local de ocorrência
dos envenenamentos e local de solicitação de ajuda. RESULTADOS: No período de 2003 a
2007, houve 32 casos de envenenamento, com média de idade dos idosos envolvidos de 73,5
anos. A maioria das chamadas ocorreu pela manhã (37,5%) sendo um parente o solicitante em
50% delas. Em 34% dos casos, o acidente foi individual. Com relação à circunstância, 71,8%
do total dos envenenamentos foi não-intencional. Esteve envolvido mais frequentemente
um agente tóxico (84,3%) e foram os medicamentos (33,3%) os principais responsáveis. A
maioria dos envenenamentos foi classificada como leve (56,6%) evoluindo com cura total
em 78,1% das vezes. CONCLUSÃO: O padrão de intoxicação nessa faixa etária tende a ser
de acidentes individuais envolvendo medicamentos e com resolução favorável. Esse tipo de
estudo é importante para que possamos aperfeiçoar as estratégias de prevenção, redução e
tratamento das intoxicações em idosos.
Acadêmico de Medicina da Ufam, Manaus-AM.
[email protected]
1
2
Farmacêutica, Ufam, Manaus-AM.
129
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2
Farmacêutica,
16. ESTUDO EXPERIMENTAL DOS EFEITOS
DO ÓLEO-RESINA DE COPAÍBA E DO TALCO
(SILICATO DE MAGNÉSIO HIDRATADO) NA
PLEURA E PARÊNQUIMA PULMONAR DE RATOS
REICHL,1 Alfredo Coimbra; WESTPHAL,2 Fernando Luiz; LIMA,1 Luiz Carlos; SOUZA,3 Risonilce; LIMA
NETTO,4 José Correa; ROMERO,1 Tatiana Cortez; BRASIL,1 Saulo Couto
INTRODUÇÃO: A introdução de um agente químico no espaço pleural, a fim de induzir um
processo inflamatório, denominado pleurodese, tem o objetivo de conduzir à formação de
colágeno e a fusão das pleuras visceral e parietal. Esse procedimento beneficia pacientes que
desenvolvem pneumotórax recorrente e derrame pleural. A Amazônia é a maior reserva de
produtos naturais do planeta e óleo de copaíba tem na população local um amplo emprego
para os mais diversos fins. A escassez de estudos atualizados sobre os efeitos medicinais
das plantas amazônicas e a necessidade de um agente indutor de pleurodese eficaz e com
poucos efeitos colaterais tornou essencial a realização deste trabalho científico. OBJETIVO:
Identificar as alterações macroscópicas desencadeadas na pleura e parênquima pulmonar,
após a injeção de óleo-resina de copaíba e talco no espaço pleural de ratos. MÉTODO: Foram
utilizados 72 ratos da raça Rattus novergicus var. wistar da mesma linhagem, machos, adultos,
com peso médio de 191,6 g, randomizados em três grupos: copaíba, talco e simulação. As
substâncias foram injetadas no espaço pleural direito dos animais, os quais foram mortos
em 24h, 48h, 72h e 504h para análise macroscópica da pleura visceral e pulmão direito.
RESULTADOS: Os animais tratados com copaíba apresentaram média de reação inflamatória
de grau 1,4±0,27 no grupo de 24h; 2,66±0,68 no grupo de 48h; 3,5±0,42 no grupo de 72h e
3,66±0,28 no grupo de 504h. Aqueles que receberam o talco apresentaram grau 1±0,44 no
grupo de 24h; 0,66±0,26 no grupo de 48h; 1,16±0,20 no grupo de 72h e 1,83±0,49 no grupo
de 504h. Durante a realização do experimento, cinco animais morreram, todos tratados com
copaíba e pertencentes ao tempo de 504h. No período compreendido entre a cirurgia e o
sacrifício, 51,4% dos animais apresentaram perda ponderal, principalmente aqueles tratados
pelo fitoterápico. Não houve relação significativa entre a perda ponderal e o óbito dos
roedores. CONCLUSÃO: Constatou-se uma maior mortalidade no grupo tratado com óleoresina de copaíba, que se mostrou muito irritante para a pleura e parênquima pulmonar de
ratos e o talco, levemente irritante. Novos estudos devem ser realizados a fim de aprimorar
o uso do fitoterápico como agente esclerosante.
PALAVRAS‐CHAVE: Plantas medicinais; Fitoterapia; Pulmão; Pleura.
Acadêmico de Medicina da Universidade Federal do Amazonas/Ufam. 2 Médico cirurgião com especialização
4
e doutorado na área de Cirurgia Torácica. E-mail: [email protected] 3 Biotécnica do Inpa. Médico
cirurgião com especialização na área de Cirurgia Torácica.
1
130
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RESUMO - CATEGORIA POSTER
1. PERFIL DA UTILIZAÇÃO DE MEDICAMENTOS
E HÁBITOS DE VIDA DE HIPERTENSOS EM
ÁREA URBANA DE MANAUS
MENDES,1 Cirlane, FERREIRA,2 Júnia Raquel Dutra, VASCONCELLOS,2 Marne; MATHIAS,2 Jéssica; LIZARDO,2
Lucília; GOMES,2 Juliane, COSTA,2 Ísis; TAVARES,2 Chanderlei; SIMPSON,2 Daniel; FARIAS,2 Lorena;
NOGUEIRA,2 Jéssica; OLIVEIRA,2 Mônica
INTRODUÇÃO: A tendência ao uso dos medicamentos aumenta desde a quarta década de
vida por conta da prevalência de doenças crônico-degenerativas. Os idosos constituem o
grupo etário mais medicalizado na sociedade. Dentre as doenças crônico-degenerativas,
a hipertensão arterial é a mais comum em todo o mundo, responsável por altos índices
de morbimortalidade, sobretudo entre os idosos, com uma dificuldade frequente: a falta
de adesão ao tratamento. OBJETIVOS: Avaliar o perfil de utilização de medicamentos
e hábitos de vida de hipertensos em área urbana de Manaus. MÉTODOS: Foi realizado
um estudo descritivo com abordagem quantitativa. Realizou-se visitas a 275 casas dos
moradores do bairro de Aparecida, cidade de Manaus. Para a coleta dos dados, aplicou-se
um questionário com as seguintes características: gênero, idade, uso de medicamentos com
e sem prescrição médica, presença de hipertensão, hábitos de vida e utilização de plantas
medicinais. Inicialmente, foram explicados os objetivos e a importância da pesquisa,
procurando estabelecer um ambiente de relacionamento agradável e, após as entrevistas,
foram entregues informativos sobre o uso racional de medicamentos e hipertensão,
além de orientações para melhorias na terapia e controle das doenças. RESULTADOS:
A população participante foi composta por 275 moradores, na faixa etária entre 18 a 89
anos. Dentre os entrevistados, 76,71% eram do sexo feminino. Dos idosos, 67,12% eram
portadores de hipertensão arterial, dado superior ao observado para a população idosa
1
2
Discente do Curso de Ciências Farmacêuticas da Ufam. Manaus, AM. [email protected].
Professora do Curso de Ciências Farmacêuticas da Ufam. Manaus, AM. [email protected]
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revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
brasileira num estudo domiciliar, cujo resultado foi de 43,9%. As mulheres apresentaram
maior frequência de hipertensão arterial que os homens, assim como verificado em outros
estudos. Entre os hipertensos, 58,90% revelaram ter patologia associada à hipertensão,
principalmente doenças cardiovasculares, diabetes, insuficiência renal e osteoporose.
No grupo de hipertensos, verificou-se que 38,35% relataram consumir exclusivamente
medicamentos prescritos. Contudo, 43,83% fazem consumo de medicamentos prescritos e
não prescritos simultaneamente, que representa um índice expressivo de automedicação
e consequente uso não racional de medicamentos, com riscos à saúde, com aumento da
probabilidade de ocorrência de reações adversas e interações medicamentosas. Quanto
aos hábitos de vida desses hipertensos, observou-se que 8,2% são fumantes, 9,5% fazem
uso de bebida alcoólica casualmente, 64,38% não praticam nenhum tipo de atividade física
e 60,27% hipertensos relataram fazer consumo de plantas medicinais. Tal prática, barata
e difundida, é encarada como uma opção na busca de soluções terapêuticas. CONCLUSÃO
Evidenciou-se um índice de automedicação expressivo nos indivíduos hipertensos associado
ao consumo simultâneo de medicamentos prescritos, o que representa riscos à saúde.
A prática da assistência farmacêutica pode auxiliar na orientação quanto à patologia e
tratamento dos pacientes hipertensos, contribuindo para uma melhor qualidade de vida.
2. ESTUDO RETROSPECTIVO DE NEOPLASIAS
DE FOSSA POSTERIOR TRATADOS
CIRURGICAMENTE NO HUGV, MANAUS-AM,
2003-2009
MATOS,2 Cleomir Silva, RAID,2 Denis Esteves, REIS,2 Franklin, BRITO,2 Arcelino, GRANGEIRO,2 Cecília
Rondon Pedrosa, COLLADO,2 Rusdany Fuentes
INTRODUÇÃO: A fossa posterior corresponde ao compartimento encefálico localizado abaixo
da tenda cerebelar, no qual se encontram os nervos cranianos, o tronco cerebral, cerebelo
e o sistema vascular vertebrobasilar. Os tumores dessa localização representam 60% de
todas as neoplasias do sistema nervoso central, apresentando sinais e sintomas compatíveis
com a síndrome de hipertensão intracraniana, síndrome cerebelar e/ou decorrentes do
Neurologia e Neurocirurgia; chefe do Serviço de Neurocirurgia do Hospital Universitário Getúlio Vargas –
HUGV.
2
Residente do Serviço de Neurocirurgia do HUGV. [email protected]
1
132
revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
acometimento direto do tronco encefálico. O diagnóstico é realizado por meio de exames
de imagem – TC e RNM de crânio, sendo a cintilografia e a espectroscopia de fundamental
importância no diagnóstico diferencial da patopatia em questão com processos inflamatórioinfecciosos. O tratamento clínico resume-se a corticoterapia, enquanto o tratamento
neurocirúrgico visa à ressecção total da massa tumoral e correção da hidrocefalia. Nas
últimas décadas houve importante avanço no tratamento neurocirúrgico do TFP (tumor de
fossa posterior), a partir do uso do potencial evocado, do laser e assim como do microscópio
cirúrgico; no entanto, ainda há muito a ser feito em prol da terapêutica desses tumores, os
quais representam desafios pela alta incidência, morbidade e mortalidade. Pelo presente
estudo será possível um melhor conhecimento sobre a incidência e prevalência desses
tumores no Serviço de Neurocirurgia do Hospital Universitário Getúlio Vargas, em Manaus.
OBJETIVO: Demonstrar os tipos histológicos mais frequentes de tumor de fossa posterior
nos pacientes tratados cirurgicamente no Serviço de Neurocirurgia do HUGV, evidenciando,
dessa forma, a distribuição desses tumores no Estado do Amazonas, assim como sua relação
com sexo e idade. METODOLOGIA: Realizou-se um estudo retrospectivo, avaliando-se o
resultado do exame histopatológico dos pacientes diagnosticados e tratados no Serviço
de Neurocirurgia do HUGV em Manaus-AM num período compreendido entre janeiro de
2003 e julho de 2009, cujo diagnóstico foi de tumor de fossa posterior. Obedecemos como
critério de inclusão os pacientes com tumor de fossa posterior, os quais foram submetidos
à exérese da lesão, com resultado de histopatológico. RESULTADOS: Os tipos histológicos
encontrados após ressecção cirúrgica no Serviço de Neurocirurgia do HUGV, em ordem
decrescente, foram: Astrocitoma (28,2%), Schwanoma (25,64%), meduloblastoma (23,0%),
Hemangioblastoma (10,2%), Meningioma (5,1%), papiloma de plexo coroide (2,56%), Cisto
Epidermoide (2,56%) e tumor descrito apenas como anaplásico (2,56%). Verificou-se ainda
uma maior frequência da neoplasia estudada no sexo masculino, representando 74,35% dos
casos. CONCLUSÃO: Verificou-se que em nosso Serviço de Neurocirurgia o tipo histológico
de TFP mais frequente foi o astrocitoma, sendo encontrado na literatura como o segundo
em prevalência. Em seguida, encontramos o Schwanoma, e o meduloblastoma. A cirurgia
é a principal forma de tratamento para a maioria dos TFPs. Por meio da craniectomia
suboccipital com ressecção da lesão. A grande maioria atualmente é passível de remoção
cirúrgica, principalmente pelo advento do Cavitron,® laser e potencial evocado sem o
risco de lesão de estruturas vitais.
133
revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
3. A PERCEPÇÃO DOS ATORES SOCIAIS
ENVOLVIDOS NO ATENDIMENTO
DO AMBULATÓRIO ARAÚJO LIMA EM 2009
FERNANDEZ,3 Cristiane Bonfim, TUPINAMBÁ,2 Guaracema Siqueira, RODRIGUES,3 Valéria Soares
INTRODUÇÃO: O objetivo deste trabalho é conhecer a percepção dos atores sociais
envolvidos no atendimento do HUGV considerando as limitações e conquistas em relação
ao uso dos serviços de saúde pública em Manaus. Partindo do pressuposto do que está
assegurado na Constituição de 1988 e na Lei Orgânica de Saúde, que assegurou a saúde
como um direito de todos e dever do Estado (LOS; Lei n.º 8.080/09 e Lei n.º 8.142/90).
Para tanto, toma-se como lócus de pesquisa o Hospital Universitário Getúlio Vargas
(HUGV) e seu setor de referência no nível de atendimento secundário e terciário: o
Ambulatório Araújo Lima. Procura-se abordar a política de atendimento oferecido pela
Instituição e seu vínculo com o Sistema Único de Saúde (SUS). Para isso, definiram-se
como objetivos específicos: caracterizar a política de atendimento do Ambulatório Araújo
Lima, identificar a percepção da Equipe Técnica e dos usuários do serviço e investigar
o modo de implementação dessa política de atendimento. OBJETIVOS: Caracterizar a
política de atendimento do Ambulatório Araújo Lima (AAL), identificar a percepção da
equipe técnica e usuários acerca dos serviços oferecidos e investigar de que forma essa
política de atendimento está sendo implementada. MÉTODOS: Num primeiro momento,
foi realizada uma pesquisa de campo exploratória, entretanto caracterizou-se, ao final,
como uma pesquisa qualitativa, uma vez que investigou e interpretou fenômenos,
atribuindo-lhes significados. Quanto aos meios de investigação, realizou-se uma revisão
bibliográfica para construção do referencial teórico, consideraram-se ainda a legislação
do SUS, a Constituição Federal e documentos internos do HUGV, como o Plano de Trabalho
do Serviço Social (2009) e Regimento Interno do HUGV (1995). Em relação aos sujeitos
da pesquisa, o universo pesquisado foi de 12 servidores, sendo 6 de nível médio e 6 de
nível superior. Da parte dos usuários, foram entrevistados 4 inseridos nos programas do
Ambulatório e 9 usuários não partícipes dos programas. RESULTADOS: De acordo com
Orientadora. Universidade Federal do Amazonas – Ufam.
Assistente social.
3
Graduanda de Serviço Social.
1
2
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revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
o Serviço de Atendimento Médico Estatístico (Same), de janeiro a junho de 2009 foram
realizados 57.107 atendimentos, destes 43.809 correspondem a consultas (76,71%). Desse
total, 6.229 (14,22%) foram atendidos pelo Serviço Social. A especialidade que ofereceu
o maior número de atendimentos foi a Ortopedia, que somou 5.153 (11,76%). Quando
questionados sobre os motivos que levaram esses usuários a procurar o AAL, 42,86% citaram
a falta de acesso aos serviços de saúde na rede pública de Manaus. A descontinuidade do
tratamento foi referida por 35,71% dos usuários e a não resolutividade dos casos resultou
em 21,43% afirmativas. A equipe técnica destacou em primeiro lugar o número de vagas
insuficientes, 50%, e em seguida o espaço físico com 33,3% e, por fim, a organização interna
do serviço com 8,33%. CONCLUSÕES: Com ressalvas, o Atendimento do AAL foi considerado
bom pela maioria dos entrevistados. O número de vagas é insuficiente, mas é necessário
reconhecer a sua especificidade como hospital-escola. A maioria dos usuários desconhece
essa característica da Instituição ou não sabem diferenciá-la dos outros serviços públicos
de saúde oferecidos na cidade de Manaus. É evidente a sobrecarga desse Atendimento,
consequência direta da falta de acesso dos usuários aos demais serviços da rede pública
que não dispõe de vagas suficientes para as especialidades oferecidas pelo HUGV/AAL,
gerando assim uma grande demanda reprimida. Tanto a equipe técnica quanto os usuários
veem a necessidade de expansão do espaço físico como solução para o segundo maior
problema enfrentado pela instituição pesquisada. Foram sugeridas melhorias para a rede
pública de saúde, assim como para a organização interna do serviço. Para o AAL, sugeriram
a realização de cursos de capacitação profissional para os servidores e um fluxograma de
atendimento conhecido pelos usuários e equipe técnica.
135
revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas
v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
4. PERFIL DO CONSUMO DE
ANTIMICROBIANOS DO HOSPITAL
UNIVERSITÁRIO GETÚLIO VARGAS – HUGV
PEREIRA,4 V. N.,1 SANTOS, V. A.,2 COSTA, L. M.,2 SILVA SOBRINHO,1 A. GRIMM,2 D. S., MENDONÇA JÚNIOR,2 F. G
INTRODUÇÃO: O uso racional de antimicrobianos é uma ação primordial da Farmácia
Hospitalar e da Assistência Farmacêutica. Sendo assim, a análise do perfil de
antimicrobianos é importante para fornecer indicadores para a análise da comissão de
controle de infecção hospitalar (CCIH) e consequentemente promover o uso racional e
reduzir custos hospitalares. A Farmácia Hospitalar é o setor que está envolvido nas etapas
de seleção até a distribuição dessas drogas. O uso irracional de antimicrobianos é relatado
em várias partes do mundo, sendo um problema bastante atual. A utilização correta dos
antimicrobianos é essencial à racionalização do seu emprego para uma melhor terapêutica
aos pacientes. No HUGV há uma CCIH atuante, multidisciplinar e um Serviço de Farmácia
que contribui para o bom desempenho das ações do controle das infecções; porém, por ser
um hospital-escola, periodicamente há novos prescritores e observou-se a necessidade da
avaliação do perfil do consumo de antimicrobianos nessa Instituição. OBJETIVOS: Analisar
o perfil de antimicrobianos prescritos em todas as clínicas (clínica médica, cirúrgica,
nefrologia, ortopedia, neurologia e unidade de terapia intensiva) do HUGV e avaliar se
há um uso racional nessa Instituição, contribuindo, também, para o controle de infecção
hospitalar. MÉTODOS: Realizou-se um estudo retrospectivo observacional das fichas de
antimicrobianos oriundas de todas as clínicas do HUGV no período compreendido de junho
a outubro de 2008. A coleta de dados foi realizada verificando os seguintes parâmetros:
fichas completas, incompletas, sexo, local da infecção, classes dos agentes antimicrobianos
e clínicas. As informações coletadas foram analisadas por meio de cálculos de média,
proporções, porcentagens e plotagem de gráficos no software Excel® 2007. RESULTADOS:
Foram analisadas 2.905 fichas de antibiótico oriundas de todas as clínicas, sendo: 49%
clínica cirúrgica, 18% ortopedia, 10% clínica médica, 8% nefrologia, 8% neurologia e 7%
Farmacêuticos.
Alunos de Farmácia- estagiários do HUGV.
e-mail: [email protected] e [email protected]
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unidade de terapia intensiva. A maioria das fichas analisadas encontrava-se devidamente
preenchidas (84%) e nas incompletas (16%) não constavam dados como sexo; número do
leito e localização da infecção. Observou-se certa equivalência na quantidade de internos
do sexo feminino (48%) e masculino (50%), sendo 2% sem sexo discriminado. Quanto à
localização das infecções, as de maior prevalência foram: broncopulmonar (8%) e infecção
do trato urinário (8%), seguidas da gastrointestinal (5%); osteoarticular (2%); peritonial
(2%); sepse (2%); cutâneo cirúrgica (1,5%); cutâneo não cirúrgica (1,5%); sistema nervoso
central (1%); outros (13%). Porém, a profilaxia cirúrgica (56%) teve prevalência sobre
as demais localizações. A classe dos agentes antibacterianos mais prescritos foram as
cefalosporinas de 1.ª geração (64%), seguida das fluorquinolonas (7%), cefalosporinas de
3.ª geração (6%), glicopeptídeos (3,5%), aminoglicosídeos (2%), carbapenêmicos (2%),
penicilinas (2%), cefalosporina de 4.ª geração (2%), sulfonamidas (1,5%), antifúngicos (1%)
e outros (5%). CONCLUSÃO: A análise dos dados demonstrou que o HUGV possui maior
consumo de antimicrobianos de primeira escolha, cefalosporinas de 1.ª geração, por ter,
em grande parte, pacientes cirúrgicos. Concluímos, também, que há um baixo consumo
de antimicrobianos de reserva, mesmo sendo um hospital de média e alta complexidade,
demonstrando o resultado do comprometimento da Farmácia Hospitalar juntamente com
a CCIH em promover uma terapêutica antimicrobiana segura e racional.
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5. ESTUDO DO PERFIL FARMACOTERAPÊUTICO
DOS ANTIMICROBIANOS DE UM HOSPITAL
INFANTIL DA CIDADE DE MANAUS
PEREIRA5, V. N, SANTOS,2 V. A., COSTA,2 L. M., SILVA SOBRINHO,1 A., GRIMM,2 D. S., MENDONÇA JÚNIOR,2 F. G
INTRODUÇÃO: O uso racional de medicamentos é a principal diretriz de um programa de
assistência farmacêutica e também contribui para o controle das infecções hospitalares.
Medidas de prevenção e controle de infecção hospitalar, e a utilização racional de
medicamentos otimizam o equilíbrio entre efetividade, segurança e custo da assistência
hospitalar. O controle de antimicrobianos é uma ação primordial da Farmácia Hospitalar.
Sendo assim, a análise do perfil de antimicrobianos é importante para fornecer indicadores
para a análise da comissão de controle de infecção hospitalar (CCIH) e consequentemente
promover o uso racional dessa classe terapêutica. OBJETIVO: Analisar o perfil de
antimicrobianos prescritos em todas as clínicas (pediatrias, isolamento, alto risco, UTI
e clínica cirúrgica) do Hospital Infantil Dr. Fajardo e avaliar se há um uso racional nessa
instituição, contribuindo, também, para o controle de infecção hospitalar e evitar a
resistência microbiana. MÉTODO: Realizou-se um estudo retrospectivo observacional das
fichas de antibióticos: completas, incompletas, sexo, idade, origem da infecção, local
da infecção, classes dos agentes antimicrobianos e clínicas. As informações coletadas
foram analisadas por meio de cálculos de média, proporções, porcentagens e plotagem
de gráficos no software Excel® 2007. RESULTADOS: Foram analisadas 995 fichas de
antibióticos dos quais obtivemos 59% da fichas completas e 41% incompletas (idade 14%,
local da infecção 2% e origem da infecção 25%). Quanto ao sexo, tivemos 39% feminino,
55% masculino e 6% não informado. Quanto à origem da infecção, obtivemos 9% hospitalar,
63% comunitária e 18% não informado. As faixas etárias correspondem de 0 a 6 meses
19%, 7 m a 1 ano 19%, 1 a 2 anos 25%, 3-4anos 8%, 5-6 anos 3%, 7-8anos 2%, 9-10 anos 4%
e acima de 11anos 5%, não informados 15%. Os grupos terapêuticos prescritos foram: 47%
penicilinas, 14% cefalosporinas de terceira geração, 9% cefalosporinas de primeira geração,
Farmacêuticos.
Alunos de Farmácia- estagiários do HUGV.
e-mail: [email protected] e [email protected]
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7% aminoglicosídeos, 6% macrolídeos, 6% glicopeptídeos, outros 11%. As localizações
das infecções são: broncopulmonar 65%, gastrointestinal 9%, cutânea não cirúrgica 7%,
cutânea cirúrgica 6%, sepse 5% e outros 8%. CONCLUSÃO: A análise dos dados demonstrou
que o hospital possui maior consumo de antimicrobianos de primeira escolha – penicilinas,
por ter, em grande parte, pacientes com broncopulmonares, porém poderia haver mais
reserva quanto ao uso de cefalosporinas de terceira geração. Concluímos, também, que
há um baixo consumo de antimicrobianos de reserva, mesmo sendo um hospital de média
complexidade, demonstrando o resultado do comprometimento da Farmácia Hospitalar
em promover uma terapêutica antimicrobiana segura e racional.
6. ESTUDO DOS MEDICAMENTOS
ADMINISTRADOS VIA SONDA ENTERAL NA
UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA DE UM
GRANDE HOSPITAL E PRONTO-SOCORRO DA
CIDADE DE MANAUS
PEREIRA,6 V. N., SANTOS,2 V. A., COSTA,2 L. M., SILVA SOBRINHO,1 A., GRIMM,2 D. S., MENDONÇA JÚNIOR,2 F. G
INTRODUÇÃO: O objetivo do uso de sistemas de administração de substâncias dotadas de
atividade terapêutica é promover a sua liberação em quantidade adequada no organismo
para conseguir rapidamente efeito terapêutico e que permaneçam durante o tempo
desejado. Para que isso ocorra em pacientes com cateter na via oral, deve-se levar em conta
a correta utilização da sonda enteral ou nasogástrica e verificar como os medicamentos
são manipulados e administrados, pois a seleção adequada da forma farmacêutica a
ser administrada pelo cateter enteral é essencial para evitar inativação do fármaco e/
ou alteração da biodisponibilidade. OBJETIVO: Avaliar a frequência dos medicamentos
prescritos por sonda e suas formas farmacêuticas, e determinar grupos de medicamentos
mais prescritos na UTI do HPS João Lúcio no período de março a maio de 2009. MÉTODO:
Farmacêuticos.
Alunos de Farmácia- estagiários do HUGV.
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Estudo retrospectivo e observacional da farmacoterapia aplicada a pacientes internados
na UTI, por meio das prescrições oriundas do Serviço de Farmácia dos pacientes internados
nesse período. RESULTADOS: Foram analisadas 1.086 prescrições médicas, com um total
de 13.834 medicamentos prescritos, média de 13 medicamentos/prescrição, dos quais
8% são por via sonda enteral. Dentre as formas farmacêuticas, foram prescritos 89% de
comprimidos, 7% formas líquidas, 3% drágeas e 1% cápsulas. Os grupos terapêuticos mais
prescritos foram: anti-hipertensivos 25%, anticonvulsivantes, 22%, anticonvulsivante,
antiplaquetário7%, gastroprotetores 5%, antidepressivos 5%, diuréticos 4%, antilipêmicos
4% e outros 28%. Os dados obtidos mostram que muitos desses fármacos poderiam ser
substituídos por suas formas farmacêuticas injetáveis ou líquidas para evitar manipulação
de formas orais sólidas. CONCLUSÃO: Percebemos que ainda não se contempla uma
efetiva atenção farmacêutica no controle da terapêutica dos pacientes; porém, havendo
uma maior interação entre a Clínica e o Serviço de Farmácia, conseguiremos melhorar os
procedimentos envolvidos na manipulação e administração dos medicamentos por sonda
e, assim, buscar alternativas para redução de contaminação e interação de medicamentos
prescritos e promover o uso racional de medicamentos.
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7. A QUESTÃO INDÍGENA E A INTERNAÇÃO
HOSPITALAR NA FUNDAÇÃO HOSPITAL
ADRIANO JORGE EM MANAUS-AM NO BIÊNIO
2007/2008: UMA ANÁLISE DOCUMENTAL DO
SERVIÇO SOCIAL
COSTA,7 Roberta Justina da, PALHETA,2 Rosiane Pinheiro, SANTOS,3 Sandra Alice Ayres dos,
ALMEIDA,3 Diana da Silva
INTRODUÇÃO: No Brasil, a política de saúde indígena é um desafio para os profissionais
da área que devem estar adequando suas ações e serviços à diversidade sociocultural dos
povos indígenas, de modo que facilitem o acesso aos serviços de saúde no plano linguístico,
geográfico e social. O Texto Constitucional de 1988 e a Lei n.º 8.080/90 enfocam o respeito
às dimensões políticas, sociais e culturais ligadas à produção da saúde e da doença da
população brasileira. O presente estudo caracteriza-se como um trabalho de iniciação
científica desenvolvido na Fundação Hospital Adriano Jorge – FHAJ. OBJETIVO: Analisar a
atenção hospitalar aos pacientes indígenas atendidos nessa fundação no período de 2007
e 2008. METODOLOGIA: Os procedimentos para a coleta de dados destacam-se: a pesquisa
documental nas fichas sociais arquivados no setor do Serviço Social da fundação; a pesquisa
de campo envolveu visitas institucionais à Fundação Nacional de Saúde – Funasa, Casa de
Saúde do Índio – Casai e Secretaria Municipal de Saúde, buscando informações sobre o
atendimento prestado por essas instituições às populações indígenas. Para a análise e
interpretação dos dados o uso de tabelas, mapas e a análise de conteúdo. RESULTADOS:
Os resultados apontaram para uma realidade plural do ponto de vista cultural e étnico. Nos
documentos havia ausência de informações singulares, mas que de extrema relevância para
o atendimento aos usuários indígenas. Apesar de um número pequeno de casos encontrados
(32), entre os anos de 2007 e 2008, o impacto nas ações de saúde é considerável, haja vista
a diversidade de etnias e modos de vida, cultura e origem de cada paciente identificado.
Identificado de oito etnias diferentes, correspondendo à etnia Tikuna 15,62% dos casos
entre os anos de 2007 e 2008, seguido dos Mura 12,5%. A maioria absoluta dos pacientes
Assistente social da Fundação Hospital Adriano Jorge e professora da Faculdade Salesiana Dom Bosco,
Manaus/AM.
2
Assistente social da Fundação Hospital Adriano Jorge, Manaus/AM.
3
Aluna da Faculdade Salesiana Dom Bosco, Manaus/AM.
Contato: [email protected]
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indígenas, porém, não teve a etnia identificada perfazendo o total de 53,1%, mais da
metade, o que é bastante significativo, evidenciando a necessidade de um olhar mais
atento aos indígenas que passam pela Instituição. Os dados da pesquisa revelam que uma
recorrência de 34,38% dos casos atendidos são oriundos de São Gabriel da Cachoeira-AM,
vivendo em áreas longínquas por conta da grande extensão territorial e as formas de
acesso aos municípios que compõem a região, onde o transporte se faz por via fluvial,
cujo tempo de deslocamento dificulta ainda mais a viabilização do tratamento necessário
que, na maioria das vezes, é de urgência e emergência. CONCLUSÃO: É necessário que os
profissionais de saúde estejam adequando suas práticas à realidade complexa dos povos
indígenas para que seja garantido o direito à saúde. A diversidade cultural existente no
Estado do Amazonas nos coloca um desafio: o de estar atento para essa realidade e saber
intervir de forma adequada às suas diferenças e às suas especificidades.
PALAVRAS-CHAVE: Saúde, Etnicidade, Hospitalização.
8. ANÁLISE DA ORGANIZAÇÃO E
ESTRUTURAÇÃO DA ASSISTÊNCIA
FARMACÊUTICA BÁSICA NO ESTADO DO
AMAZONAS
MOURA, Ana Célia da Silva, SÁ, Ricardo C. de Azevedo e
INTRODUÇÃO: Um dos principais objetivos da Gestão da Assistência Farmacêutica Básica,
cuja implementação necessita de pessoal qualificado e estrutura adequada, é a melhoria
do acesso e o uso racional do medicamento em uma população. OBJETIVOS: Analisar a
organização e a estruturação da Assistência Farmacêutica Básica no Estado do Amazonas
pelo seu ciclo. METODOLOGIA: Foram analisados 87,1% (n=54) dos municípios do Estado
do Amazonas, por meio de questionário semiestruturado, adaptado de pesquisa telefônica
realizada pelo Departamento de Atenção Básica do Ministério da Saúde, versando sobre
a organização, estruturação e operacionalização do Ciclo da Assistência Farmacêutica,
no período de março a dezembro de 2007. Os resultados obtidos foram organizados e
apresentados por meio de estatística descritiva. RESULTADOS: Aproximadamente 61,2%
do total dos municípios analisados possuem um responsável pela Assistência Farmacêutica.
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Desse percentual, 85% são farmacêuticos. Apenas em 63% (n=52) a AF é contemplada
no Plano Municipal de Saúde. Observou-se uma fragmentação das etapas do Ciclo da
Assistência Farmacêutica, que compromete o desempenho do processo. Não existe
Comissão de Farmácia e Terapêutica nos municípios. No item seleção de medicamentos,
apenas 57% (n=47) dos municípios utilizam, como critério, o perfil epidemiológico e no
item programação, somente 44% (n=43) utilizam esse método. A forma de aquisição
de medicamentos mais utilizada (50%) é a compra direta (n=54). Apenas 43,4% (n=54)
consideram boas as condições de armazenamento e somente 25,5% (n=47) possuem controle
de estoque informatizado. Em todos os municípios ocorre dispensação e em 72% (n=54)
somente mediante receituário. Do universo analisado, 13% afirmam não fazer nenhum
tipo de orientação que promova o uso racional de medicamentos no ato da dispensação.
Entretanto, nos municípios que o fazem, as orientações quanto à dosagem e período do
tratamento foram prioritárias (78 e 74%, respectivamente), seguidas das orientações da
melhor forma de como guardar os medicamentos (52%) e das ações educativas de uso
racional de medicamentos em geral (37%). Entre os principais obstáculos para a organização
da Assistência Farmacêutica nos municípios do Estado do Amazonas citados, observa-se a
predominância da reclamação referente à insuficiência de recursos financeiros e/ou humanos
(63%). DISCUSSÃO/CONCLUSÃO: Esse primeiro diagnóstico aponta para a necessidade de
investimentos na estrutura física, bem como em recursos humanos, materiais e gerenciais,
visando contemplar os municípios do Estado do Amazonas de uma Assistência Farmacêutica
integral, capaz de promover o acesso e o uso racional de medicamentos. As estatísticas
deste trabalho constituem-se em um marco para a gestão das Secretarias de Saúde, uma
vez que os resultados apresentados poderão proporcionar importantes subsídios para o
fortalecimento da gestão municipal da Assistência Farmacêutica no Estado do Amazonas.
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9. SAÚDE E SERVIÇO SOCIAL: UMA
ABORDAGEM DA AÇÃO PROFISSIONAL NO
PROGRAMA DE SAÚDE DO LESIONADO
MEDULAR NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO
GETÚLIO VARGAS – HUGV EM MANAUS
LIMA1, Priscila Fernandes Farias Campos, VALLINA,8 Kátia de Araújo Lima
INTRODUÇÃO: O Serviço Social é uma profissão que tem como fundamento a defesa dos
direitos humanos, ampliação e consolidação da cidadania e garantia do acesso aos bens
e serviços, pautando-se no Projeto de Formação Profissional, Lei n.º 8.662, de 7 de junho
de 1993 – de Regulamentação da Profissão, além do Código de Ética. A transgressão dos
direitos e o não exercício da cidadania, em consequência da falta de acesso aos bens e
serviços, caracterizam-se como questões que devem sofrer a ação do assistente social,
um dos profissionais capacitados a trabalhar tais situações, expressões da questão social.
Um dos maiores desafios da área consiste em identificar as demandas emergentes em
seu cotidiano, desvelar a realidade e construir propostas criativas para sua intervenção,
visando contribuir para a efetivação de direitos e o exercício pleno da cidadania de seus
usuários. No que tange ao Serviço Social na área da saúde, percebe-se a necessidade do
trabalho do assistente social como um dos agentes defensores das diretrizes do projeto do
Sistema Único de Saúde, que concebe a saúde como direito de todos e dever do Estado,
partindo dos princípios da universalidade, da equidade e da integralidade. OBJETIVOS:
Refletir a Política de Saúde neste artigo é fundamental, para que se entenda a prática do
assistente social em programas como o Programa de Atividades Motoras para Deficiente –
Proamde, buscando a promoção da saúde dos lesionados medulares para além do âmbito
do HUGV junto às redes de apoio social. MÉTODOS: Em termos metodológicos, foram
realizadas análises documentais de cada candidato ao programa, com visitas domiciliares
aos selecionados. Priorizamos a pesquisa qualitativa, acrescida da observação participante,
com base no projeto de atuação do Serviço Social no programa supracitado, bem como
realizações de entrevistas por meio de questionários com questões abertas e fechadas
8
Professora da Ufam/ Manaus-AM. Mestre formada pela UFRJ.
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visando às perspectivas dos seis participantes, para que pudéssemos levantar propostas
que aprimorassem as atividades. RESULTADOS: Após a investigação realizada, verificou-se
que a ação do assistente social, em parceria com a equipe multidisciplinar do Proamde,
possui êxitos no que se refere à melhoria na qualidade de vida do lesionado medular, bem
como a sua família pelas ações socioeducativas. CONCLUSÃO: Apesar de ser um programa
que visa à reabilitação motora das pessoas com sequelas de lesão medular, abre ele um
espaço de atuação psicossocial e pedagógica por meio de um atendimento multidisciplinar.
Dentro desse contexto, o assistente social exerce um papel de extrema importância com
ações articuladas aos três eixos da Seguridade Social (saúde, previdência e assistência
social). Articulações estas que, junto a redes de apoio social, buscam proporcionar uma
melhor qualidade de vida e autonomia aos sujeitos. O que, na concepção deles, tem
servido para a efetivação dos direitos que antes desconheciam.
PALAVRAS-CHAVE: Saúde, Prática Profissional do Serviço Social, Lesionado Medular.
10. GRUPO DE APOIO A FAMILIARES – GAF
ANDRADE,9 Andréa Costa de Andrade, COSTA,1 Maria Clevanilce Rodrigues da, FRANCO,10 Kelly Silva,
LIMA, Perla Alves Martins, MACEDO,1 Maria Geórgia Duarte de, MATSDORFF,2 Karen Dalila Karl
INTRODUÇÃO: A pessoa que se submete a um atendimento hospitalar leva não só seu corpo
para ser tratado, mas vai por inteiro e, por extensão, atinge sua família, que participa
de seu adoecer, suas internações e seu restabelecimento. Por todos esses aspectos, os
grupos terapêuticos com os familiares são muito ricos, uma vez que neles podem dividir
seu sofrimento e se ajudarem mutuamente, pois no período da doença os familiares
desempenham papel importantíssimo, e suas reações muito contribuem para a própria
reação do paciente no seu processo de cura. Assim, o Hospital Universitário Getúlio Vargas
– HUGV, em Manaus, instituiu programas que visam beneficiar essa população, como o
Grupo de Acolhimento a Familiares – GAF, que funciona desde janeiro de 2008. OBJETIVO
GERAL: Proporcionar um momento de reflexão, para que os acompanhantes dos pacientes
9
Psicóloga do HUGV/Ufam.
Acadêmica de Psicologia (Fapsi-Ufam) e estagiária (HUGV).
10
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internados possam falar sobre a situação que estão vivenciando e receber informações da
equipe de saúde sobre o funcionamento e a dinâmica hospitalar. OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
Escutar as necessidades, história de vida, condições emocionais e sociais, trabalhando as
potencialidades dos familiares que acompanham os pacientes hospitalizados; enfatizar
as vantagens proporcionadas pelas atividades executadas em grupo, sobretudo quanto
às instruções da dinâmica hospitalar e socialização; proporcionar apoio psicossocial
aos familiares. MÉTODOS: Realização de reuniões quinzenais, onde há orientação
sobre o funcionamento, dinâmica e regras do HUGV. Após isso, é proporcionado um
espaço para os familiares externalizarem o momento vivenciado e, consequentemente,
ajudar-se mutuamente. O setor de Psicologia coordena o Grupo Operativo, utilizando
técnica terapêutico-metodológica qualitativa por meio da abordagem fenomenológicotransdisciplinar. O trabalho desenvolvido no grupo foca a construção de conhecimento
do acompanhante pelas informações e vivências compartilhadas. As temáticas são
preestabelecidas relacionando-as à saúde, à hospitalização e à participação do
acompanhante. Dentre os recursos didáticos, incluem-se dinâmicas, textos e músicas
reflexivos, folders explicativos e apresentação de slides. RESULTADOS: Após 42 encontros
quinzenais, observou-se a importância do acompanhante no processo de cura e recuperação
do paciente, pois pelas escutas realizadas em grupo puderam falar das suas necessidades e
condições emocionais compartilhando a experiência vivenciada. Nota-se que trabalhando
as emoções dos acompanhantes proporcionamos uma melhor compreensão da situação e
dos cuidados dispensados ao doente, possibilitando a aprendizagem de novos métodos de
adaptação e, consequentemente, reduzindo o grau de ansiedade destes. CONCLUSÃO:
Portanto, aos acompanhantes é esclarecido que, durante a hospitalização de um paciente,
ele é essencial nesse processo, visto que sua atuação ocorre em conjunto com o corpo
clínico. Um aspecto que propicia a troca de experiências no grupo é que cada participante,
ao se apresentar, também fala sobre a história clínica do paciente. As práticas educativas
suscitam questões profundas e essenciais – vida, morte, sofrimento, tristeza, perda. Por
meio da situação grupoterápica, o GAF amplia a visão da equipe de saúde, que passa a
perceber a relação médico-paciente-acompanhante de forma multifocal, privilegiando o
trabalho humanizado e transdisciplinar.
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REFERÊNCIAS
GONÇALVES, Ana Maria, PERPÉTUO, Susan Chio de. Dinâmica de Grupos na Formação
de Lideranças. Artigo publicado na edição 309, agosto de 2000. Belo Horizonte: Editora
DPeA.
ALAMY, Susana. Ensaios de Psicologia Hospitalar. Minas Gerais: Copyright, 2003.
BAPTISTA, Makilim Nunes. Psicologia Hospitalar: teoria, aplicações e casos clínicos. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2003.
BLEGER, José. Temas de Psicologia: Entrevista e Grupos. São Paulo: Martins Fontes,
1993.
CAMPOS, Terezinha Calil Padis. Psicologia Hospitalar: A atuação do psicólogo em hospitais.
São Paulo: EPU, 2006.
ROMANO, Bellkiss W. E a família vem ao hospital. In: Princípios para a Prática da Psicologia
Clínica em Hospitais. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.
11. FAMÍLIAS E SUAS DEMANDAS POR
POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE NO BAIRRO
COMPLEXO ANTÔNIO ALEIXO DA ZONA LESTE
DE MANAUS
ABECASSIS,11 Bianca Ladislau, SASSAKI,12 Yoshiko
INTRODUÇÃO: A família é considerada pela sociedade a mais importante instituição,
firmando entre si uma rede de solidariedade fortalecida por laços de consanguinidade ou
não. Carvalho (1993) esclarece que a proteção e a promoção das famílias foram perdidas
no tempo, e que pessoas portadoras de deficiência e com problemas crônicos de saúde
ficam sem receber dos poderes públicos a devida atenção. Essa responsabilidade que
a família assume sem o apoio do poder público a sobrecarrega. OBJETIVO: ObjetivouMestranda no Programa de Serviço Social e Sustentabilidade na Amazônia – Ufam.
E-mail: [email protected]
12
Professor, doutor, docente do Curso de Serviço Social da Ufam. E-mail: [email protected].
11
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se analisar e refletir as relações familiares e intergeracionais em suas demandas por
serviços de saúde e o grau de sua resolutividade no bairro Complexo Antônio Aleixo de
Manaus. METODOLOGIA: Aplicou-se formulários semiabertos às 30 famílias e entrevista
semiestruturada a profissional de saúde de uma unidade básica de saúde do bairro sobre
a demanda da população pelos serviços de saúde. O bairro foi escolhido porque possui um
diferencial em relação aos outros, por abrigar somente pessoas doentes de hanseníase,
em sua criação, e após desativação em 1979, o lócus deixa de ser hospital Colônia Antônio
Aleixo e se transforma em bairro, em que antigos moradores passam a conviver com a
população em geral. RESULTADO: Apontam que das 30 famílias selecionadas, 67% são
do sexo feminino e 33% do masculino, sendo 50% pertencentes na faixa etária de 60 a
90 anos, portanto idosos que demandam mais serviços de saúde. No que se refere às
formas de configuração dessas famílias, identificou-se que 40% são monoparentais, 23%
intergeracionais, 20% casal e a minoria 17% são nucleares. Na contemporaneidade as duas
primeiras têm maior relevância, por isso foram destacadas para análise. Nas famílias
monoparentais, constituídas por um dos progenitores (pai ou mãe), o relacionamento com
os filhos fica fragilizado, pois não garantem o sustento da casa e nem dão assistência integral
aos doentes, recorrendo ao apoio dos parentes e vizinhos. Já nas famílias intergeracionais,
constituída por três gerações, os idosos estão cuidando em sua maioria de outros idosos,
além de se responsabilizar pelo sustento dos netos, com o pouco do provento que recebem
de aposentadorias, pensões e/ou benefícios de assistência social, demandando por cuidados
de saúde e proteção do Estado, pois alguns estão retornando ao trabalho informal para
ajudar nas despesas da família, por conta da situação de vulnerabilidade social em que se
encontram. CONCLUSÃO: Constatou-se sobre a demanda por saúde no bairro, nas famílias
monoparentais, nem sempre têm com quem contar para levar os filhos/netos ao médico.
Já nas famílias intergeracionais, os idosos doentes contam com seus parceiros também
idosos, em que um doente cuida de outro doente na própria casa, e quando estes não
podem contar com seus companheiros, são os netos, mesmo crianças que os acompanham
até o médico, os filhos não assumem essas responsabilidades.
PALAVRAS-CHAVE: Política de Saúde, Atenção Básica, Envelhecimento.
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12. CONSUMO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS POR
MULHERES GRÁVIDAS USUÁRIAS DO SISTEMA
ÚNICO DE SAÚDE (SUS) DE MANAUS.
PREVALÊNCIA / COMO PREVENIR
CARVALHO,13 Maria Auxiliadora Neves de, TOMAZ,14 Geísa Cruz e Silva, MERCHAK JÚNIOR,2 Paulo Sérgio
Lopes, MARTINS,2 Michelle Soares, CARVALHO,2 Bruna Cecília Neves de, PADILLA,2 Rodrigo
INTRODUÇÃO: O álcool tem sido consumido por homens e mulheres de forma indiscriminada
ao longo dos tempos, porém atualmente as mulheres aumentaram esse consumo talvez
por conta da maior independência financeira e intelectual. É pouco o conhecimento em
Manaus quanto à prevalência desse hábito, principalmente durante a gravidez, condição
na qual são comprometidas tanto a mãe quanto o filho. A condição mais temida é a
síndrome alcoólica fetal, que se acompanha de malformações congênitas, retardo no
desenvolvimento psicomotor e outras alterações, além de levar também ao baixo QI,
irritabilidade e hiperatividade. OBJETIVOS: Apontar a prevalência do consumo de bebida
alcoólica pelas grávidas atendidas no Sistema Único de Saúde da cidade de Manaus-AM é o
objetivo principal do trabalho. Há também os objetivos secundários a serem alcançados,
tais como verificar a principal faixa etária consumidora de bebida alcoólica entre as
grávidas, identificar o nível socioeconômico dessas gestantes por meio da escolaridade
e renda familiar, além de mensurar o grau de conhecimento delas a respeito dos efeitos
maléficos do álcool. MÉTODOS: Trata-se de um estudo epidemiológico descritivo do tipo
transversal realizado em mulheres grávidas e puérperas, usuárias do Sistema Único de Saúde
da cidade de Manaus-AM, atendidas em três maternidades da rede estadual e municipal.
RESULTADOS: Do total de 471 grávidas entrevistadas, encontrou-se o número de 154
(32,7%) mulheres que faziam consumo regular de álcool, dentre elas 66 (42,9%) usaram
bebida alcoólica durante a gravidez, esse índice foi maior entre as mulheres mais jovens,
33 (50%) na faixa dos 13 aos 23 anos. Quanto à renda familiar, 29 (44%) recebiam apenas
um salário mínimo, e a respeito da escolaridade, mais da metade, 34 (51,5%) gestantes
Professora da Disciplina de Pediatria e professora orientadora da Residência de Pediatria e Cirurgia Geral, mestre em Patologia Tropical – Ufam – Manaus-AM.
14
Acadêmicos de Medicina da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Manaus-AM.
E-mail: [email protected]
13
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não possuíam o ensino fundamental completo, o que mostra o baixo nível educacional
dessas mulheres. Quanto ao conhecimento dos efeitos teratogênicos do álcool, apenas
112 (23,8%) haviam sido orientadas por um profissional de saúde, o restante se dividia
entre as que nunca tinham ouvido falar e as que souberam pela imprensa ou conhecidos.
CONCLUSÃO: O nível de consumo de bebida alcoólica entre grávidas em Manaus é alto,
isto se deve provavelmente à falta de conhecimento sobre os efeitos maléficos no feto,
uma vez que somente 23,8% receberam aconselhamento médico sobre o risco existente
nesse comportamento. Diante do que foi observado nos resultados, pode-se concluir como
grupo de risco: as mulheres com baixo nível socioeconômico, na faixa dos 13 aos 23 anos
e que não tinham um conhecimento prévio sobre os efeitos teratogênicos do álcool. Em
vista desses dados, é urgente e necessário que se realize um programa de prevenção e
ensinamentos quanto ao consumo de álcool na gravidez.
PALAVRAS-CHAVE: Gravidez Abdominal, Etanol, Prevalência.
13. CARACTERES EPIDEMIOLÓGICOS DE
NEONATOS COM GASTROESQUISE NO ESTADO
DO AMAZONAS E A CONDUTA TERAPÊUTICA
EMPREGADA
CARVALHO,15 Maria Auxiliadora Neves de, CARVALHO,16 Bruna Cecília Neves de, PADILLA,2 Rodrigo,
ARAÚJO,17 Katiúscia Karla Lêdo
INTRODUÇÃO: Gastroesquise é uma malformação congênita caracterizada por um defeito
na parede abdominal anterior por conta de um fechamento incompleto dela por volta da
6.ª semana de gestação, que permite a extrusão das vísceras abdominais para a cavidade
amniótica. OBJETIVO: O objetivo deste trabalho foi conhecer o perfil epidemiológico
dos recém-nascidos acometidos por gastroesquise no Estado do Amazonas e relacionar a
Professora da Disciplina de Pediatria, professora orientadora da Residência de Pediatria e Cirurgia Geral
do Hospital Universitário Getúlio Vargas, mestre em Patologias Tropical – Ufam – Manaus-AM, e-mail: [email protected]
16
Estudante do 4.º ano de Medicina – Ufam – Manaus-AM.
17
Estudante do 5.º ano de Medicina – UEA – Manaus-AM.
15
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incidência de gastroesquise com o perfil materno dos neonatos e com as características
da gravidez para tentarmos encontrar os fatores de risco para o desenvolvimento dessa
doença. METODOLOGIA: Trata-se de um estudo retrospectivo, observacional do tipo coorte
que avaliou 139 casos de gastroesquise submetidos à correção cirúrgica no Instituto da
Criança do Amazonas (Icam), no período de 1998 a 2008. Tendo como base um formulário
para coleta dos dados, se identificou a incidência dos casos de gastroesquise anualmente, o
perfil epidemiológico dos neonatos, fatores maternos, familiares, obstétricos e perinatais
associados, outras malformações congênitas associadas, fatores pré-operatórios,
evolução pós-operatória e sobrevida relacionada aos fatores prognósticos relacionados.
RESULTADOS: Foram analisados 139 recém-nascidos portadores de gastroesquise, os
quais foram internados para a realização de tratamento cirúrgico, destes, 137 (98,6%)
são oriundos do Amazonas e 2 (1,4%) de outros Estados. A média da idade em horas de
vida foi de 19,8 (± 20,2), da idade gestacional em semanas foi de 37 semanas (± 1,98),
o peso ao nascer em quilogramas foi de 2,372 Kg (± 0,38), a estatura em centímetros foi
de 44,7 (±2,76) e a idade da mãe em anos foi de 19,2 (± 4,7). Em relação ao tempo de
internação médio em horas foi de 19,8 (± 20,2), enquanto o tempo médio entre o parto e a
intervenção cirúrgica foi de 13,2 horas (± 14,77). Verificou-se uma prevalência de 16,02 por
100.000 nascidos vivos. Houve maior prevalência no sexo masculino (56%) contra apenas
44% do sexo feminino. Em 29 recém-nascidos (34%) foi realizada correção cirúrgica em
tempo único (fechamento primário) e em 57 (66%) se fez correção em estágios com silos.
Quanto à evolução, 58% dos pacientes evoluíram para óbito e 42% tiveram alta hospitalar
em boas condições clínicas. DISCUSSÃO: Grande parte dos resultados aqui apresentados
se diferencia da frequência descrita na literatura internacional, uma vez que quase todas
as casuísticas estudadas referem-se a países desenvolvidos nos quais existem ótimas
condições sociais e de saúde pública, assim como diagnóstico pré-natal e protocolos de
atendimento a esses RNs. CONCLUSÃO: É importante a elaboração de programas de saúde
pública com protocolos específicos de atendimento que visem à identificação no pré-natal
dessas crianças, assim como a identificação e a instituição terapêutica precoce, o que com
certeza iria contribuir muito para a melhoria dos índices de sobrevida desses RNs.
PALAVRAS-CHAVE: Gastroesquise; Anomalias Congênitas; Amazonas; Epidemiologia.
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14. PERFIL ANTROPOMÉTRICO DOS
ESTUDANTES DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE
FEDERAL DO AMAZONAS – UFAM
CARVALHO,18 Maria Auxiliadora Neves de, CARVALHO,19 Bruna Cecília Neves de, PADILLA,2 Rodrigo,
ARAÚJO,20 Katiúscia Karla Lêdo, TOMAZ,2 Geísa Cruz e Silva, Diego da Costa MATOS2
INTRODUÇÃO: O rastreamento de excesso de peso em jovens tem sido amplamente
recomendado, uma vez que nas últimas décadas tem sido observado um aumento
considerável nesses valores, fato que é preocupante, visto que o sobrepeso e a obesidade
são fatores de risco para várias doenças endócrinas e cardiovasculares. Em 1995 a OMS
propôs o Índice de Massa Corporal (IMC) para definir diferentes graus de excesso de peso
e obesidade. Entre os fatores relacionados ao aumento do IMC podem-se citar estresse,
dieta inadequada e predisposição genética. OBJETIVO: O presente estudo tem por objetivo
avaliar o perfil antropométrico dos estudantes de medicina da Ufam. METODOLOGIA:
Trata-se de um estudo transversal descritivo e de caráter prospectivo que visa à avaliação
do perfil antropométrico dos alunos de Medicina. A coleta de dados foi realizada entre
janeiro e abril de 2009, por uma equipe de 3 pesquisadores previamente treinados. As
medidas de peso e estatura foram efetuadas sempre pelo mesmo pesquisador, o peso foi
aferido com a utilização de uma balança eletrônica e a altura por uma fita métrica nãoelástica fixada à parede. Foram analisados um total de 293 alunos cursando 8 períodos
diferentes. RESULTADOS: A amostra foi composta por 43,3% (127) indivíduos do sexo
masculino e 56,7% (166) do sexo feminino, sendo 45 do primeiro período, 43 do segundo
período, 43 do terceiro período, 41 do quarto período, 40 do quinto período, 39 do sexto
período, 42 dos alunos do sétimo período. A faixa etária entre os alunos variou de 16 a 46
anos, com uma média de 21,3 anos. O peso variou de 41 a 110 kg com uma média de 63,4
kg e a estatura variou de 1,50 a 1,95 m com uma média de 1,70 m. A média do IMC foi
igual a 22,7, sendo 21,48 para o sexo feminino e 24,20 para o masculino. De acordo com a
classificação proposta pela OMS, as prevalências de baixo peso, peso normal, sobrepeso e
Professora da Disciplina de Pediatria, professora orientadora da Residência de Pediatria e Cirurgia Geral
do Hospital Universitário Getúlio Vargas, mestre em Patologias Tropical – Ufam – Manaus-AM.
19
Estudante do 4.º ano de Medicina – Ufam – Manaus-AM.
20
Estudante do 5.º ano de Medicina – UEA – Manaus-AM.
18
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obesidade foram respectivamente, 21,5%, 59,0%, 14,3% e 5%. CONCLUSÃO: Os resultados
encontrados no nosso estudo indicam uma prevalência de obesidade e sobrepeso inferior
à encontrada na literatura (Gigante DP et al, 2007), no entanto encontrou-se sobrepeso
maior em homens, todos nós sabemos os riscos que acompanham as pessoas com sobrepeso.
É importante que comecemos a pensar na elaboração de um programa de esclarecimento,
consciência e profilaxia de sobrepeso entre os alunos do curso de Medicina da Ufam.
PALAVRAS-CHAVE: Obesidade, Índice de Massa Corporal, Prevalência, Estudantes.
15. HIPERIDROSE X ESTRESSE ENTRE OS
ESTUDANTES DE MEDICINA DA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS –
ANÁLISE DE 293 CASOS
CARVALHO,21 Maria Auxiliadora Neves de, WESTPHAL,22 Fernando Luiz, CARVALHO,23 Bruna Cecília Neves de,
PADILLA,3 Rodrigo, ARAÚJO,24 Katiúscia Karla Lêdo, TOMAZ,3 Geísa Cruz e Silva, Diego da Costa MATOS3
INTRODUÇÃO: A hiperidrose primária é uma doença benigna com prevalência de 1%
no mundo ocidental, caracterizada pela excessiva produção de suor em uma ou mais
regiões anatômicas do organismo como palmar, plantar, axilar ou facial; com uma
incidência hereditária em 13 a 57% dos casos tanto quanto como uma reação às alterações
climáticas. Apesar de muitas pesquisas, na Região Norte do Brasil não existe nenhum
trabalho sobre a prevalência dessa doença. OBJETIVOS: Identificar a prevalência de
hiperidrose em estudantes de Medicina, avaliar a hereditariedade da hiperidrose e o perfil
antropométrico dos acometidos, analisar os fatores desencadeantes e a qualidade de vida
da população em estudo, assim proporcionar conhecimento estatístico desse distúrbio
e oportunizar diagnóstico precoce, minimizando as repercussões psicossociais a ele
atreladas. MÉTODOS: Trata-se de um estudo prospectivo observacional do tipo coorte que
Professora da Disciplina de Pediatria, professora orientadora da Residência de Pediatria e Cirurgia Geral
do Hospital Universitário Getúlio Vargas, mestrado em Patologia Tropical – Ufam – Manaus-AM, e-mail: [email protected]
22
Doutor em Cirurgia Torácica; coordenador de Ensino e Pesquisa do Hospital Universitário Getúlio Vargas –
Ufam – Manaus-AM.
23
Estudante do 4.º ano de Medicina – Ufam – Manaus-AM.
24
Estudante do 5.º ano de Medicina – UEA – Manaus-AM.
21
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v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
analisou a incidência de hiperidrose entre os alunos de Medicina da Universidade Federal
do Amazonas, visto que essa patologia está relacionada com o estresse. Para isso, foram
utilizados questionários, com perguntas relacionadas à hiperidrose, preconizadas pela
International Hyperhidrosis Society, que visam relacionar a hiperidrose com as atividades
diárias de cada pessoa. Os alunos responderam a um questionário objetivo, capaz de
identificar a presença dessa alteração contendo perguntas relacionadas à presença ou
não de hiperidrose. Esse questionário foi avaliado pelos pesquisadores, que identificaram
os indivíduos com hiperidrose, também foram colhidas medidas do peso e de altura para
se calcular o Índice de Massa Corporal (IMC). Os alunos, que, de acordo com o primeiro
questionário, foram diagnosticados portadores de hiperidrose, passaram por uma entrevista
com pesquisadores devidamente treinados, que fizeram a diferenciação entre hiperidrose
primária e secundária. Nessa entrevista foi utilizado outro questionário-padrão, sendo
realizado, também, um exame físico completo. Os exames físicos foram realizados por
estudantes devidamente treinados, sob a supervisão de um coordenador, e os dados foram
analisados para se verificar se existia alguma relação entre a doença e as características
dos pacientes acometidos. RESULTADOS: Foram incluídos no estudo 293 estudantes,
os quais foram submetidos ao questionário sobre a presença ou não de hiperidrose e à
medição de peso e altura. Ao se avaliar a prevalência de hiperidrose, verificou-se um total
de 16 estudantes (5,5%) que se considerou ter sudorese excessiva dificilmente tolerável
ou intolerável, interferindo assim na suas atividades diárias. Destes, 16 (100%) não
apresentaram causas conhecidas de hiperidrose, oito (50%) tinham história familiar e oito
(50%) também apresentavam hiperidrose noturna. Em 100% o acometimento foi bilateral,
sendo os locais mais afetados: mãos (35,7%), pés (21,4%), axila (17,9), rosto (10,7%),
costas (7,1%), tórax (3,6%) e barriga (3,6%). Pelo questionário sobre qualidade de vida,
observamos que os estudantes afetados pela hiperidrose têm sua vida afetada em todos os
aspectos, tais como relacionamentos pessoais, interpessoais e profissionais. CONCLUSÃO:
No estudo proposto, foi verificada uma incidência de hiperidrose em estudantes superior à
incidência relatada na população geral (0,6 a 1%). Apesar de não se tratar de uma doença
grave, a hiperidrose afeta negativamente a vida rotineira dos indivíduos.
PALAVRAS-CHAVE: Hiperidrose; Prevalência; Estudantes; Amazonas.
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v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
16. ESTUDO EXPERIMENTAL DOS EFEITOS DO
ÓLEO DE RESINA DE COPAÍBA E DO NITRATO
DE PRATA NA PLEURA E PARÊNQUIMA
PULMONAR DE RATOS
REICHL,25 Alfredo Coimbra, WESTPHAL,26 Fernando Luiz, ROMERO,27 Tatiana Cortez, GALATI,3 Danilo,
CARVALHO,3 Carmen Oliveira, CANZIAM,28 Mauro, PÊGO-FERNANDES,29 Paulo
INTRODUÇÃO: Apesar de escassos, estudos anteriores com o óleo de copaíba demonstraram
que ele possui a propriedade de iniciar extenso processo inflamatório em mesotélios.
Aliando-se a isso se encontra a necessidade atual em encontrar uma substância que possua
maior eficácia e menos efeitos colaterais à realização de pleurodese. Ao realizar a fusão
das pleuras parietal e visceral por meio da pleurodese, é possível evitar recidivas de uma
efusão gasosa ou derrame pleural, procedimento este que pode beneficiar pacientes com
pneumotórax recorrente e derrame pleural crônico. OBJETIVOS: Análise experimental
comparativa do óleo-resina de copaíba da espécie Copaifera multijuga e o nitrato de
prata a 0,5% para a indução de pleurodese em ratos. MÉTODO: O estudo experimental,
prospectivo e randomizado foi realizado com a instilação de óleo de resina de copaíba
na cavidade pleural de ratos da raça Rattus norvegicus var. wistar, machos, adultos, com
peso médio de 200 g. As reações pleurais macro e microscópicas provocadas pelo óleo de
resina de copaíba foram comparadas com as reações provocadas pelo nitrato de prata –
substância de uso difundido atualmente na realização de pleurodese, com consequentes
alterações macro e microscópicas bem conhecidas – e com o grupo controle, que em cuja
cavidade pleural foi instalada soro fisiológico a 0,9%. Foram utilizados 96 ratos divididos
em três grupos, cada grupo corresponderia uma substância a ser instilada: óleo de copaíba,
nitrato de prata ou soro fisiológico. Cada grupo foi então subdividido em outros 4 grupos,
que corresponderam à análise macroscópica que ocorreu após o sacrifício em 24, 48, 72
ou 504 horas (21 dias) à instilação do agente esclerosante. RESULTADOS: A média do grau
das alterações macroscópicas foi maior (p=0,015) no grupo Copaíba 24h (2,50 ± 0,53) em
Acadêmico de Medicina da Universidade Federal de Medicina.
Prof. Dr. médico cirurgião torácico.
27
Acadêmico de Medicina da Universidade Federal de Medicina.
28
Professor de Patologia do Incor.
29
Professor associado da FMUSP.
25
26
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v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
relação ao Nitrato de Prata (1,88 ± 0,35). A média dos graus da reação inflamatória aguda
da pleura parietal foi maior (p=0,01) no grupo Copaíba 24h (1,63 ± 1,06) em relação ao
grupo Nitrato de Prata (0,38 ± 0,52), o mesmo ocorrendo no grupo 72h (1,38 ± 0,92 e 0,25
± 0,46; p=0,008). A média do grau fibrose na pleura visceral foi maior (p=0,017) no grupo
Copaíba no tempo 504h (1,38 ± 0,74) em relação ao grupo Nitrato (0,50 ± 0,54). A média
do grau de neovascularização da pleura visceral foi maior (p=0,018) no grupo Copaíba 504h
(1,50 ± 1,07) em relação ao grupo Nitrato (0,34 ± 0,52). A média do grau do edema alveolar
foi maior (p=0.003) no grupo Nitrato (1,50 ± 1,20) em relação ao grupo Copaíba, no qual
não foi observada essa alteração. A presença de broncopneumonia foi maior (p=0,038) no
grupo Nitrato 24h (n=4) em relação ao grupo Copaíba (n=0). CONCLUSÕES: Os animais
do grupo Copaíba demonstraram maior reação pleural macroscópica e maior inflamação
aguda na pleura parietal. A fibrose e a neovascularização da pleura visceral foram mais
evidentes no grupo Copaíba, porém foram observados edema alveolar e broncopneumonia
no grupo Nitrato. Os dois grupos promovem a pleurodese, sendo que o grupo Nitrato
demonstrou uma maior agressão ao parênquima pulmonar.
17. HEMOGLOBINÚRIA PAROXÍSTICA NOTURNA
E INSUFICIÊNCIA RENAL AGUDA
ARAÚJO, IR; AGUIAR, JA; MATOS, JC
INTRODUÇÃO: A Hemoglobinúria Paroxística Noturna (HPN) é uma doença caracterizada
por um defeito na fixação de GPI (Glicosilfosfatidilinositol) por conta de anormalidades
no gene do PIG-A. Isto leva à ausência completa ou parcial de proteínas ligadas ao
GPI, particularmente CD-59 e CD-55. As manifestações clínicas relacionadas à HPN
são relacionadas à função hematopoiética, incluindo anemia hemolítica, estado de
hipercoagulação, e diminuição da hematopoiese. O diagnóstico pode ser confirmado pelo
teste de Ham. OBJETIVO: Relatar um caso de paciente de 30 anos com diagnóstico de
Hemoglobinúria Paroxística. METODOLOGIA: Relato de caso. RELATO DO CASO: Paciente
do sexo masculino, 30 anos, pardo, natural e procedente de São Sebastião do Uatumã-AM.
156
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Paciente refere que desde 2006 apresentava episódios de dispneia aos esforços, mialgia em
membros inferiores e dorso, astenia intensa; tendo procurado atendimento médico sem
diagnóstico. Em março de 2008 evolui com tosse produtiva com expectoração amarelada,
dor torácica ventilatório-dependente evoluindo com vômitos, diarreia pastosa sem muco
ou sangue, cólicas abdominais. Procurou facultativo sendo internado para exames, tendo
evoluído com disúria, dor em baixo-ventre, oligúria e urina escurecida. Após dois dias, inicia
quadro de edema de membros inferiores. Evidenciado aumento de escórias e encaminhado
para o Centro Integrado de Nefrologia – HUGV para investigação. Paciente relatou quadro
de anemia sem causa conhecida desde 2005, tendo recebido transfusão de concentrado de
hemácias em duas ocasiões. A história familiar não apresentava fatos dignos de nota. Ao
exame físico, apresentava-se hipocorado, desidratado, com edema de membros inferiores
e sem outras alterações. Os exames hematológicos demonstravam anemia normocítica
e hipocrômica; com níveis de ferro normais; desidrogenase lática, bilirrubina indireta
e contagem de reticulócitos normais. A bioquímica demonstrou aumento de escórias
nitrogenadas, evoluindo o paciente com necessidade dialítica. A sedimentoscopia urinária
demonstrou 25 leucócitos/campo, 15 hemácias/campo, cilindros granulosos e hialinos;
proteinúria de 24h: 212 mg. Urinocultura negativa. Sorologias virais e FAN (Fator antinuclear)
negativos. Realizado biópsia renal que demonstrou maciça deposição de pigmento
hemossiderótico em células tubulares, discreto grau de edema e fibrose intersticial e
alterações degenerativas tubulares. Paciente evolui com recuperação da função renal,
permanecendo em uso de prednisona, ácido fólico, sulfato ferroso e acompanhamento
com a Nefrologia e Hematologia. CONCLUSÃO: A Hemoglobinúria Paroxística Noturna é
uma doença crônica com alta morbidade e mortalidade. Progressão para anemia aplásica,
mielodisplasia e leucemia aguda também podem ocorrer. A HPN pode levar a duas formas
de disfunção renal. Primeiro, uma forma aguda, espontânea ou precipitada por transfusão
sanguínea, com hemoglobinúria maciça causando insuficiência renal aguda. Segundo, uma
forma crônica, onde a hemólise crônica leva a um depósito de ferro nos túbulos renais. O
excesso de ferro pode ser visualizado por imagens na ressonância e, em alguns casos, por
detectores de metal em aeroportos. O depósito de ferro pode levar à disfunção do túbulo
proximal e a hemossiderose pode levar à insuficiência renal crônica.
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v.8. n. 1-2 jan./dez. – 2009
18. GRAU DE IMPORTÂNCIA DA APARÊNCIA
PESSOAL E ATITUDE DOS MÉDICOS NO
ATENDIMENTO HOSPITALAR E
AMBULATORIAL PELOS PACIENTES
MONTEIRO,30 Bianca Macedo, BARBOSA,31 Adriana Cristina Soares, MEDEIROS,2 Leonardo Junio da Silva,
LIMA,2 Thaiza Maria Oliveira da Câmara, CUNHA,2 Keite Ivi Moura da, AMARAL,2 Aline Oliveira do
INTRODUÇÃO: A relação médico-paciente é estabelecida no primeiro atendimento e,
muitas vezes, pode sofrer interferências por conta da aparência e atitude do médico diante
do paciente. Como parte da sociedade, nossos costumes culturais são manifestados no
cotidiano interferindo nessa relação de forma suficiente ou não satisfatória. OBJETIVOS:
Conhecer a opinião dos pacientes sobre a aparência e atitude médicas caracterizadoras
das interferências desfavoráveis na relação médico-paciente. Além disso, permitir aos
discentes futuramente, como médicos, melhor conduzir o atendimento, estabelecendo
adequada relação médico-paciente. MÉTODOS: Aplicou-se um questionário a cem pacientes
do Hospital Universitário Getúlio Vargas e do Ambulatório Araújo Lima, de ambos sexos
e com idade de 15 a 72 anos. Constavam no questionário questões diversas sobre formas
de aparência e atitudes do médico: profissionais com ou sem jaleco, com jaleco sujo ou
amassado, uso de gravata, maquiagem, decote, saia, cabelo solto ou preso, compridos ou
mal cortados, piercing e tatuagens, utilização de palavrões, uso de eletrônicos durante o
atendimento, mal-humorados e que não sorriem. Foi atribuído a cada item três opções:
indiferente, aceitável e inaceitável. RESULTADOS: As características que mais interferem
negativamente foram: médicos sem jaleco 60%, com jaleco sujo ou amassado 87%, com
decote ou saia 59%, barba por fazer 52%, com piercing 61%, cabelos compridos ou mal
cortados 62%, faz piadinhas 55%, fala palavrões 96%, sisudo 71%, autoritário 70%, que usa
notebook durante a consulta 66%, que fala ao telefone durante o atendimento 83% e malhumorado 93%. As condutas mais aceitas foram: cabelos presos 78%, com maquiagem 71%
e sem gravata 64%. CONCLUSÃO: Condutas como o uso de jaleco limpo e cabelos presos
demonstraram ser desejáveis e atitudes como falar palavrões ou falar ao telefone durante
30
31
Autora.
Coautora.
158
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o atendimento e estar com mau humor inaceitáveis. O estabelecimento da confiança na
relação médico-paciente é imprescindível para o atendimento restabelecer o paciente,
devendo o aluno ter desde já conduta apropriada para a profissão médica.
19. ANÁLISE DO CONHECIMENTO DOS
ESTUDANTES DE MEDICINA ACERCA DO
DIAGNÓSTICO DE MORTE ENCEFÁLICA
ALMEIDA,32 Rosemary Alves de, ELAMIDE,1 Bruno Corrêa, TUPINAMBÁ,1 Luís Felipe, OLIVEIRA,1 Michele
Cristina Lima de, PRIANTE,1 Felipe Carvalho, PEREIRA,1 Renata Escher
INTRODUÇÃO: O conceito de morte encefálica (ME) parece estar bem estabelecido na maior
parte dos países do mundo. Estudos indicam maior correlação positiva quanto à doação
de órgãos entre populações devidamente esclarecidas quanto a conceitos diagnósticos de
cessação da vida. Desse modo, estudantes de Medicina apresentam papel de destaque
nesse contexto, considerando-os como futuros profissionais da saúde. OBJETIVO: Avaliar o
conhecimento de estudantes de Medicina acerca do protocolo diagnóstico de ME (Resolução
n.º 1.480/97, do CFM). MÉTODOS: Foi realizado um estudo de coorte transversal na
Universidade Federal do Amazonas, com o intuito de avaliar o conhecimento dos estudantes
de Medicina acerca do protocolo de ME. Os indivíduos participantes da pesquisa foram
randomizados a partir do número de acadêmicos matriculados do sexto ao décimo segundo
períodos do referido curso no semestre 2009-1, sendo um total de 120 indivíduos préselecionados. A participação no estudo se deu por meio de preenchimento de questionário
fechado padronizado e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os
resultados foram analisados por meio do software Epi-info e expressos em porcentagem.
RESULTADOS: Participaram da pesquisa 112 alunos, sendo 58% do sexo feminino e 42%
do sexo masculino. Quando questionados quanto à realização dos testes propedêuticos
a serem realizados para confirmação do diagnóstico de ME, 68,7% consideram pupilas
arreativas, 78,5% coma aperceptivo, 62,5% reflexo córneo-palpebral, 77,6% reflexo óculo32
Alunos da Graduação em Medicina da Ufam.
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cefálico, 53,5% reflexo da tosse e 89,2% apneia. Quanto aos exames diagnósticos a serem
realizados para confirmação de ME, 57,1% correlacionaram positivamente à realização de
arteriografia, 82,1% eletroencefalograma e 43,5% Doppler trasncraniano. Foi questionada,
ainda, a segurança com a qual o indivíduo realizaria o diagnóstico de ME: 32,1% relataram
não apresentar segurança e 23,2% pouca segurança. CONCLUSÕES: O atual conhecimento
dos estudantes de Medicina relacionado a conceitos diagnósticos de ME é limitado,
necessitando, assim, de maior abordagem teórico-prática relacionada ao tema.
20. ESTUDO DO PERFIL SOCIOECONÔMICO
E ASPECTOS DO PRÉ-NATAL DE PACIENTES
ATENDIDAS EM MATERNIDADE DE
REFERÊNCIA DE MANAUS, AMAZONAS, BRASIL
BACELAR33, Bruno Rainer Borges, SALES,1 Drielle Nogueira, COSTA,1 Elmo Pontes da, MENEZES JÚNIOR,1
Carlos Alberto Morais, CARVALHO,1 Otávio Augusto Oliveira de, OLIVEIRA,1 Luana Araújo de, DIAS,1
Nayara de Alencar, CRUZ,1 Clarissa Santana, CARMINÉ,1 Tainan Monteconrado
INTRODUÇÃO: A Ana Braga é a maior maternidade pública do Amazonas realizando 800
partos/mês sendo referência em Manaus para atendimento de gravidez de alto risco. A
maternidade registra a maior demanda da capital sendo os serviços de partos, tratamentos
clínicos e procedimentos como curetagem os mais solicitados. O reconhecimento do
perfil socioeconômico aliado a aspectos do pré-natal da população atendida permite por
meio da detecção de focos prioritários a formulação de ações que condicionem melhoria
da qualidade dos serviços prestados pela maternidade. OBJETIVOS: Traçar o perfil
socioeconômico e avaliar aspectos do pré-natal de mulheres atendidas na Maternidade
Ana Braga. MÉTODOS: Trata-se de um estudo transversal com aplicação de questionário
contendo 35 perguntas. A amostra conta com 307 mulheres grávidas ou puérperas atendidas
na maternidade, seja para consulta médica, recebimentos de exames de rotina ou trabalho
de parto. Foram excluídas do estudo pacientes que não poderiam responder às perguntas,
Autor, acadêmico do curso de Medicina da Universidade Federal do Amazonas, Manaus-AM.
Contato: e-mail: [email protected]
33
160
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uma vez que não tinham vivenciado o acontecimento da indagação. Utilizou-se o método
de tabulação de banco de dados, cálculo de frequências e construção de gráficos e tabelas
para análise dos dados. RESULTADOS: A maior faixa etária encontrada foi entre 20 a 29
anos (56%), seguida de 13 a 19 anos (27%), 16% com idade entre 30 e 39 anos e 1% entre
40 e 49 anos. Das 307 pacientes, 260 (84,7%) eram do Amazonas, 9,7% do Pará, 2% do
Maranhão, 1,3% do Ceará e 1% de Roraima. Cerca de 40% das mulheres são donas de casa,
26% são estudantes, 15% autônomas, 10% desempregadas. Quanto à escolaridade, a grande
maioria era com nível médio completo 106 (34%), 104 (34%) com fundamental incompleto,
94 (31%) com fundamental completo. Apenas 1% tinha o nível superior completo. Perto de
65% afirmaram residir em outro bairro que não o São José I. A quantidade de pacientes
provenientes de outros municípios do Amazonas foi de 13,5%. Das atendidas, 21% residem
no mesmo bairro da maternidade. Setenta e três por cento procuraram o serviço por
decisão própria, 26% chegaram à maternidade por meio de encaminhamento médico e 1%
foi encaminhado por algum outro motivo. Oitenta por cento pretendiam a realização de
atendimento de urgência/emergência, principalmente relacionado ao trabalho de parto.
O segundo serviço mais procurado é o de consultas médicas especializadas (8%). Setenta
e seis por cento tinham intenção em continuar o acompanhamento da sua condição de
saúde. Das entrevistadas, 49,5% realizaram pré-natal de forma insuficiente. Quanto ao
início da realização do pré-natal, 51,5% iniciaram no primeiro trimestre de gravidez, 35,5%
no segundo semestre e 8% não realizaram pré-natal. O local de escolha para a realização
do pré-natal foram as Unidades Básicas de Saúde, seguido de hospitais secundários (9%) e
rede privada com (7%). CONCLUSÃO: A maternidade é uma instituição que atende grande
demanda dos partos da cidade, atendendo inclusive a de municípios do Amazonas e de
outros Estados. A grande maioria dos que chegam à maternidade visa o atendimento de
urgência/emergência. Muitas pacientes não realizam pré-natal, o que pode despertar
campanhas que visem à conscientização sobre o tema.
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21. ESPECIALIZAÇÃO PRECOCE EM
ACADÊMICOS DE MEDICINA:
UMA REALIDADE NA UFAM?
MEDEIROS,34 Leonarto Junio da Silva, OLIVEIRA,1 Seiarameri Lana Viola, PEREIRA,1 Vinicius Leon, MARON,1
Suzi Marla Carvalho, AMARAL,1 Aline Oliveira do, OLIVEIRA,1 Talita Souza de
INTRODUÇÃO: A especialização precoce é uma opção por uma especialidade durante ou
mesmo antes da graduação, que restringe a formação holística do médico. As diretrizes
curriculares estabelecidas pelo Ministério da Educação e Cultura preveem que o médico deve
ter uma formação generalista, humanista, crítica e reflexiva na graduação. A especialização
precoce prejudica tal formação médica e verifica-se que esse processo tem se disseminado
entre os alunos de Medicina. OBJETIVOS: Analisar e discutir a presença da especialização
precoce entre os acadêmicos de Medicina da Universidade Federal do Amazonas e o seu
impacto na formação médica. MÉTODOS: Foi aplicado questionário semiestruturado em
137 acadêmicos de Medicina do primeiro ao terceiro anos, contendo 11 questões que
abrangiam aspectos quanto à escolha da residência, influência familiar e participação em
ligas acadêmicas. Os dados foram avaliados no programa Microsoft® Excel por meio de
análise cruzada das informações obtidas. RESULTADOS: A pesquisa evidenciou que 98% dos
acadêmicos pretendem cursar residência médica e que já na primeira metade do curso
38% escolheram uma especialidade ou estão em dúvida entre duas ou três especialidades.
Daqueles que já optaram por uma especialidade (18% do total): 59% o fizeram antes
mesmo de ingressar na Universidade, 21% sofreram algum tipo de influência familiar, 33%
já deixaram de participar de alguns eventos científicos (congressos, workshops, cursos)
porque não eram da área médica visada, 42% dos acadêmicos do 3.º ano não se dedicaram
a nenhuma matéria ou módulo por pensar não ser importante na área que pretende seguir.
Quanto às ligas acadêmicas, a maioria (86%) as considera ser uma forma de incentivo à
especialização precoce, sendo que 26% dos acadêmicos questionados são ligantes. Entre
aqueles que não escolheram uma especialidade, a metade (51%) não pretende escolhê-la
ao término do curso quando se espera que possuirá conhecimento prático de todas as áreas.
Acadêmicos de Medicina da Universidade Federal do Amazonas e integrantes do Programa de Educação
Tutorial.
Contato: e-mail: [email protected]
34
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O próprio meio científico desvaloriza o médico generalista e também no meio educacional
médico, professores inadvertidamente estimulam a escolha precoce. O treinamento dos
graduandos não deve ocorrer apenas em hospitais universitários de alta complexidade,
comprometendo assim a formação médica generalista ideal. Esta se concretizaria
expandindo a atuação prática para postos de saúde e comunidades. Além disso, hospitais
como o Hospital Universitário Getúlio Vargas, que deveriam ser voltados à graduação
com procedimentos gerais, precisam realizar procedimentos de alta complexidade para
se manter e assim também dão sua contribuição para esse direcionamento precoce dos
acadêmicos. CONCLUSÃO: A ocorrência da especialização precoce na primeira metade do
curso de Medicina da Ufam é frequente e pode prejudicar a formação médica generalista.
Logo, medidas educacionais devem ser implementadas para reverter essa situação e é
necessária a inserção dos acadêmicos em ambientes e situações compatíveis com uma
formação conforme as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em
Medicina.
22. CLASSIFICAÇÃO DA CLIENTELA
INTERNADA NA UNIDADE CLÍNICA MÉDICA:
PRIMEIRO PASSO PARA O DIMENSIONAMENTO
DA EQUIPE DE ENFERMAGEM
BENEVIDES,35 Zeivânia Amud, BECKER,36 Sandra Greice, PENHA,37 Anderson da Paz
INTRODUÇÃO: Dimensionar adequadamente a equipe de Enfermagem se torna
imprescindível para evitar problemas ocupacionais (estresse psíquico, físico e iatrogenias),
além de contemplar às exigências do cuidado de Enfermagem, partindo da visão do respeito
ao próximo, valorizando um cuidado humanizado e digno aos nossos clientes. OBJETIVO:
Professora assistente da Universidade Federal do Amazonas. orientadora de Programa Institucional de
Bolsas de Iniciação Científica. Líder do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa em Enfermagem e Saúde – Nipes/
EEM/Ufam/CNPq. Doutoranda em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC.
36
Enfermeira. Ex-bolsista de Iniciação Científica Pibic/Ufam/Fapeam, membro do Núcleo Interdisciplinar de
Pesquisa em Enfermagem e Saúde – Nipes/EEM/Ufam.
37
Colaborador. Acadêmico de Medicina da Ufam. Membro discente do Nipes/EEM/Ufam.
Contato: e-mail: [email protected]
35
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Trata-se de uma pesquisa exploratório-descritiva, empregando os recursos técnicos de
abordagem quantitativa. Realizada no Hospital Universitário Getúlio Vargas, em ManausAM, teve como objetivo classificar pacientes internados no Serviço de Clínica Médica,
de acordo com o seu grau de dependência dos cuidados de enfermagem, a partir da
Escala de Perroca, o qual apresenta 13 indicadores críticos relacionados às necessidades
individualizadas de assistência ao paciente, classificando o cuidado de enfermagem em 5
categorias: mínimos, intermediários, semi-intensivos, intensivos ou total. RESULTADOS:
No período de 22/12/2005 a 26/3/2006, foram realizadas 984 avaliações, numa unidade
de 40 leitos. Por meio do software Epi-info, obteve-se como resultado: 63% dos pacientes
classificados como necessitando de cuidados mínimos, 36% cuidados intermediários
e 1% cuidados semi-intensivos. CONCLUSÃO: A Escala de Perroca é um instrumento de
classificação de pacientes que apresenta confiabilidade para ser utilizado na prática
gerencial do enfermeiro como instrumento diagnóstico de categoria de cuidado a que o
paciente pertence, bem como da carga de trabalho da equipe de enfermagem.
PALAVRAS-CHAVE: Classificação; Dimensionamento; Cuidado de Enfermagem.
23. DETECÇÃO DE REAÇÃO ADVERSA
À CEFALOTINA POR MEIO DA
FARMACOVIGILÂNCIA: RELATO DE CASO
ARAÚJO,38 Maria Elizete, BEZERRA,39 Nádia Maria S., BORGES,40 Kelly Patrícia, COSTA,2 Herbert Theury
Souza da; CRUZ,2 Ana Patrícia Inácio da; MAGALHÃES,41 Mary Joyce T. L, PENHA,42 Anderson da Paz
INTRODUÇÃO: A cefalotina é uma cefalosporina de primeira geração amplamente utilizada
em âmbito hospitalar, tanto para tratamento clínico quanto para profilaxia cirúrgica,
que age de forma a inibir a síntese da membrana celular de bactérias Gram positivas.
Farmacêutica. Gerente de Risco Sanitário Hospitalar do Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV).
Avenida Apurinã, 4 – Praça 14 de Janeiro – CEP: 69020-170 – Manaus/AM.
39
Acadêmico de Farmácia da Ufam. Bolsista da GRSH/HUGV.
40
Acadêmico de Enfermagem da Ufam. Bolsista da GRSH/HUGV.
41
Acadêmica de Farmácia e Bioquímica da Ufam.
42
Acadêmico de Medicina da Ufam.
Contato: (92) 3305-4741/ [email protected]
38
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Dentre as principais reações adversas já relatadas desse agente antimicrobiano, estão as
reações de hipersensibilidade, incluindo rash cutâneo, tromboflebite, eosinofilia, febre,
anafilaxia, náuseas, disfunção renal e a ocorrência de sangramento por hipotrombinemia.
O serviço de farmacovigilância auxilia na prevenção e detecção dessas reações. OBJETIVO:
Relatar a ocorrência de um caso de reação adversa pelo uso de cefalotina no Hospital
Universitário Getúlio Vargas (HUGV) demonstrando a importância da farmacovigilância
na identificação desta. MÉTODOS: Acompanhamento do Serviço de Farmacovigilância por
busca ativa realizada pela Gerência de Risco Sanitário Hospitalar do HUGV. Foi utilizado
formulário semiestruturado preconizado pela Anvisa para investigação e notificação da
suspeita de Reações Adversas a Medicamentos, bem como o Algoritmo de Naranjo para
sua classificação. RESULTADOS: Acompanhamento da paciente A.P.C.G., sexo feminino,
19 anos, vítima de acidente automobilístico, encaminhada do Pronto-Socorro 28 de
Agosto para o HUGV em 31/8/2008, com diagnóstico principal de múltiplas fraturas em
membros inferiores. No primeiro dia da internação foi iniciada antibioticoterapia com
cefalotina 2 g IV de 6/6h e no oitavo dia de tratamento a paciente relatou mal-estar geral,
náuseas e um episódio emético. No nono dia, a paciente realizou cirurgia para reparo
das fraturas. No dia 25/9/2008, após 21 dias de uso de cefalotina sódica (2 g, EV, 6/6
horas), apresentou hipersensibilidade, febre, prurido e sangramento gengival. A reação
adversa foi evidenciada pela equipe médica, que suspendeu a cefalotina. A Gerência
de Riscos Sanitários Hospitalar do HUGV confirmou a reação e classificou-a como grave
por meio da busca ativa com coleta de dados no prontuário médico e entrevista com
a paciente. Essa intervenção contribuiu no procedimento das terapêuticas posteriores
resultando na melhora do quadro clínico da paciente e alta hospitalar, sem queixas, no
dia 8/11/2008. CONCLUSÕES: Com a realização da busca ativa no prontuário e entrevista
com a paciente, foi possível identificar maiores parâmetros referentes a suspeita da
reação. Assim, a par das informações necessárias, pôde-se estabelecer a correlação do
aparecimento de complicações e reações adversas com o uso do medicamento, resultando
em um acompanhamento mais atencioso da terapia medicamentosa e auxiliando na troca
ou suspensão de medicamentos potencialmente prejudiciais.
PALAVRAS-CHAVE: Farmacovigilância; Cefalotina; Reação Adversa a Medicamento.
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REFERÊNCIAS
WALTER, T., Manual de Antibióticos e Quimioterápicos Anti-infecciosos. 3. ed. São Paulo:
Editora Atheneu, 2001.
KATZUNG, B. G. Farmacologia Básica & Clínica. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan;
2009. p. 663-7.
SEWEETMAN, S. C. Martindale. Guia Completa de Consulta Farmacoterapêutica. 1. edição.
Barcelona: PharmaEditores, 2003.
24. RE-SIMPATECTOMIA PARA TRATAMENTO
DE RECIDIVA DE HIPERIDROSE – RELATO DE
TRÊS CASOS
WESTPHAL,43 Fernando, LIMA,1 Luís Carlos, LIMA NETTO,1 José Corrêa, SILVA,1 Iuri Costa, VALÉRIO,1
Adriana, ANDRADE,44 Thiago, BACELAR,2 Bruno Rainer Borges, WESTPHAL,2 Danielle Cristine
INTRODUÇÃO: A Simpatectomia videotoracoscópica constitui hoje no tratamento cirúrgico
para a hiperidrose facial, palmar e axilar, com um alto grau de satisfação pós-operatório.
Apesar de ser amplamente utilizada para esse fim em vários serviços de cirurgia torácica,
é passível de complicações pós-operatórias que incluem a sudorese compensatória,
pneumotórax residual, hemotórax, dor e recidiva dos sintomas. A recidiva da sudorese é
uma complicação mais rara, com relatos de acometer até 6% dos pacientes submetidos à
cirurgia. OBJETIVO: Relatar três casos de pacientes submetidos à re-simpatectomia por
conta da recidiva da hiperidrose após tratamento cirúrgico. MÉTODOS: Estudo retrospectivo
de 204 pacientes submetidos à simpatectomia bilateral por videotoracoscopia e três casos
de re-simpatectomia. RESULTADOS: Foram analisados 204 pacientes, com média de idade
de 26 anos, e 78% do sexo feminino. Em 3 casos após a recidiva da hiperidrose, os pacientes
foram submetidos à re-simpatectomia, em todos os casos após a primeira cirurgia houve
43
44
Hospital Universitário Getúlio Vargas.
Universidade Federal do Amazonas.
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melhora da hiperidrose. Apresentaram recidiva dos sintomas em média após 3,6 meses.
Todos tiveram a recidiva da hiperidrose na axila, sendo que um caso esta foi bilateral.
Um paciente foi submetido à re-simpatectomia bilateral e dois à unilateral, nos 3 casos os
pacientes apresentavam aderências pleurais, em dois casos a cadeia simpática se apresentava
ressecada parcialmente em nível de T3, sendo realizado a clipagem desse cadeia; em um
caso não se verificou a causa da recidiva sendo realizada então a simpaticotomia por ablação
em nível de T2 e T5. CONCLUSÃO: A recidiva da hiperidrose se apresenta geralmente de 3
a 6 meses após a primeira cirurgia e na maioria dos casos se deve a uma cadeia simpática
parcialmente íntegra. A re-simpatectomia deve ser indicada nesses casos sendo que esta
apresenta um maior número de complicações, por causa das aderências pleuropulmonares
e em nossos casos uma sudorese compensatória mais intensa.
PALAVRAS-CHAVE: Hiperidrose, Tratamento Cirúrgico, Simpatectomia.
25. QUALIDADE DE VIDA EM PACIENTES NO
PÓS-OPERATÓRIO DE REVASCULARIZAÇÃO
DO MIOCÁRDIO POR INFARTO AGUDO
DO MIOCÁRDIO, QUE REALIZARAM PRÉOPERATÓRIO E QUE NÃO REALIZARAM PRÉOPERATÓRIO DE FISIOTERAPIA
MALEZAN,45 William Rafael, BAHIA,46 Bárbara Lira, MENDONÇA,2 Débora, BARBOSA,2 Helena Nogueira,
LOPES,2 Kamilly Eduarda Frazão, ROCHA,2 Patrícia Maria do Nascimento
INTRODUÇÃO: A qualidade de vida na expectativa de manter a longevidade torna-se cada
vez mais almejada por aqueles que irão se submeter à cirurgia de revascularização do
miocárdio, Tendo em vista que o infarto agudo do miocárdio vem acompanhado de alto
índice de morbidade e mortalidade, sendo considerada a principal causa de morte nos
países industrializados, pois geralmente acomete o indivíduo em sua fase de vida mais
produtiva, podendo levar a grandes comprometimentos psicossociais e econômicos. Sendo
Professor do Centro Universitário do Norte – Uninorte, Manaus, AM – [email protected]
Acadêmica do Uninorte – [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected].
45
46
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assim, a fisioterapia aplicada no pré-operatório de cirurgia proporciona a esses pacientes
uma recuperação significativa, propiciado uma melhor qualidade de vida e a manutenção
das suas atividades de vida diária. OBJETIVOS: Demonstrar que, com a realização do
pré-operatório de fisioterapia, o paciente terá melhor qualidade de vida. Ressaltar a
necessidade da aplicabilidade da fisioterapia no pré-operatório da revascularização do
miocárdio. MÉTODOS: Neste trabalho, foi realizada a revisão bibliográfica da qualidade
de vida em pacientes que realizaram e os que não realizaram o pré-operatório em
fisioterapia em cirurgia de revascularização do miocárdio em portais de busca como Scielo
e PubMed, com termos descritores de qualidade de vida. Revascularização do miocárdio e
fisioterapia. RESULTADOS: Observou-se em 18 (dezoito) referências que o pré-operatório
de fisioterapia em pacientes que realizaram a cirurgia de revascularização do miocárdio foi
bastante satisfatório na melhora da qualidade de vida. CONCLUSÃO: Dessa forma, sendo
o infarto agudo do miocárdio um dos grandes indicadores de sofrimento na população, a
intervenção fisioterapêutica no pré-operatório é de inevitável importância, pois com ela
iremos proporcionar uma melhora na qualidade de vida do paciente demonstrando assim a
fundamental importância de um tratamento específico, analisando, por fim, um resultado
comparativo com o paciente que não teve acesso à fisioterapia pré-operatória.
PALAVRAS – CHAVE: Qualidade de Vida, Fisioterapia, Revascularização do Miocárdio.
26. AMILOIDOSE SISTÊMICA PRIMÁRIA:
RELATO DE CASO E CONSIDERAÇÕES
PETRUCCELLI,47 Karla, WESTPHAL,48 Danielle Cristine, SILVA,2 Ana Carolina Santos
INTRODUÇÃO: Amiloidose constitui um grupo heterogêneo de doenças resultantes de uma
sequência de alterações no desdobramento de proteínas, que induz o depósito de fibrilas
amiloides insolúveis, principalmente nos espaços extracelulares de órgãos e tecidos,
como coração, fígado e rins. Na amiloidose primária, os locais típicos de acúmulo de
amiloide são o coração, a pele, a língua, a tireoide, os intestinos, o fígado, os rins e os
47
48
Autor, nefrologista.
Acadêmica de Medicina da Universidade Federal do Amazonas.
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vasos sanguíneos. Esse acúmulo pode acarretar insuficiência cardíaca, arritmias cardíacas,
dificuldade respiratória, espessamento da língua, hipoatividade da tireoide, má absorção
dos alimentos, ocasionando inclusive diarreia crônica, insuficiência hepática, insuficiência
renal e equimoses faciais ou outros sangramentos anormais decorrentes do efeito
do amiloide sobre a coagulação sanguínea. OBJETIVO: Relatar um caso de amiloidose
sistêmica primária baseado em evidência científica. RELATO DE CASO: J.T.D., 65 anos, sexo
masculino, hiperuricêmico há aproximadamente quinze anos, em uso de beta-bloqueador
desde os vinte e cinco anos de idade, procurou o Serviço de Nefrologia apresentando na
ocasião ureia e creatinina discretamente elevadas, albuminúria e eletroforese normal.
Passados dois anos, paciente retornou ao serviço apresentando alterações na ureia,
creatinina e proteinúria, e relatando quadro diarreico crônico sem causa conhecida.
À ultrassonografia foi constatada redução da espessura cortical renal e observou-se no
ecocardiograma hipertrofia ventricular esquerda moderada (292 g). Foi iniciada pesquisa
etiológica da insuficiência renal crônica e após dois meses ocorreu agudização do quadro
geral, manifesto por hipotensão severa e importante edema de membros superiores e
inferiores, optando-se pela internação na unidade de medicina intensiva que teve duração
final de dez dias. O ecocardiograma realizado nessa ocasião apontou discreto derrame
pericárdico. A evolução do paciente foi favorável e este obteve alta após dez dias. A
eletroforese de proteínas demonstrou altas dosagens de alfa 1 globulina e alfa 2 globulina
e, predominantemente, beta 2-microglobulina, confirmando o diagnóstico de amiloidose
primária sistêmica. Realizou-se biópsia de medula óssea com laudo de hipoplasia leve
de medula e atrofia serosa gordurosa também compatível com amiloidose sistêmica.
Durante sessão de hemodiálise, o paciente apresentou hipotensão severa não responsiva à
reposição volêmica em decorrência de choque cardiogênico. Na ecocardiografia observouse hipertrofia ventricular esquerda importante (345 g) e disfunção diastólica de VE associado
a discreto derrame pericárdico e pleural. Não houve resposta à terapêutica adotada
culminando em óbito após vinte e um dias de internação. CONCLUSÃO: Amiloidose sistêmica
é muitas vezes uma doença inevitavelmente progressiva e incurável, sendo a maioria das
mortes relacionadas a complicações cardíacas e renais. O tratamento dos pacientes com
amiloidose sistêmica é insatisfatório e o prognóstico reservado, apresentando sobrevida
média de 20 meses. Terapias mais eficazes são necessárias para o manejo dessa doença.
PALAVRAS-CHAVE: Amiloidose, Depósito, Proteína Amiloide.
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27. CORREÇÃO DE LESÃO TRAUMÁTICA
AGUDA DA AORTA TORÁCICA
POR STENT: RELATO DE CASO
LIMA,49 Luiz Carlos de, AVELAR,50 Silas Fernandes, WESTPHAL,1 Fernando Luiz, SANTOS,2 Fausto Vieira
dos, SOEIRO,2 Álvaro Bernardo, PERDOMO,2 Javier Cruz; LIMA,1 Ingrid Loureiro de Queiroz; WESTPHAL,1
Danielle Cristina, MELO,1 Naira, CARVALHO,1 Bruna Cecília, PADILLA,1 Rodrigo
INTRODUÇÃO: Lesão da aorta torácica por trauma contuso constitui verdadeiro desafio
para cirurgiões, visto a dificuldade de diagnóstico por conta da ausência de exames
complementares adequados em muitos Serviços de Emergência. Outro importante aspecto
é o fato de que lesões podem ocorrer até trinta dias após o trauma, sendo necessário,
portanto, alto grau de suspeição para seu correto diagnóstico, além de que, frequentemente,
não há sinais ou sintomas característicos em paciente com trauma fechado do tórax que
indiquem a presença de rotura da aorta torácica. Lesões traumáticas na aorta torácica,
ainda que com tratamento adequado, possuem alta morbidade e uma mortalidade de 15
a 28%. O tratamento endovascular por meio do uso de stents é uma técnica relativamente
nova, que tem demonstrado grande vantagem sobre as demais, além de segura e com
bons resultados quando bem indicada. OBJETIVO: Relatar um caso do uso de stent para
tratamento de lesão traumática aguda da aorta torácica. METODOLOGIA: Relato de caso.
RELATO DE CASO: Paciente J.P.C., 55 anos, sexo feminino, sofreu traumatismo de tórax
e evoluiu com dor no tórax e no abdome superior acompanhado de dispneia. O estudo
radiológico do tórax mostrou áreas de hipotransparência em lobo superior esquerdo com
discreto alargamento mediastinal. Foi realizada ultrassonografia abdominal a qual mostrou
áreas de hematoma hepático. A angiotomografia do tórax revelou área de hematoma
periaórtico logo abaixo da artéria subclávia esquerda. Havia também sinais de lesão da
íntima. A paciente foi submetida a implante de stent em aorta descendente. A tomografia
de controle antes da alta hospitalar mostrou resultado satisfatório, com cobertura total
da lesão e sem sinais de vazamento. CONCLUSÃO: O tratamento endovascular de lesões
traumáticas arteriais tem se desenvolvido com novos tipos de endoprótese autoexpansível
49
50
Ufam.
Hospital Português Beneficente de Manaus.
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(stents) que permitem a sua colocação por técnicas minimamente invasivas diminuindo
substancialmente a resposta inflamatória ao trauma, além de permitir um menor tempo
de internação ao paciente.
PALAVRAS-CHAVE: Aorta Lesões, Aorta Cirurgia, Trauma.
28. COMPLICAÇÕES TORÁCICAS DE SONDA DE
DOBB-HOFF. RELATO DE CINCO CASOS
WESTPHAL,51 Fernando Luiz, LIMA,52 Luiz Carlos de, NETTO,1 José Corrêa Lima, WESTPHAL,1 Danielle,
LIMA,1 Ingrid, CARVALHO,2 Bruna Cecília Neves de, PADILLA,2 Rodrigo
INTRODUÇÃO: Um grande problema de pacientes crônicos em terapia intensiva é o
suporte nutricional enteral por meio de sondagem, pois consiste em procedimento que
na maioria das vezes é eficiente, porém sendo possível ocorrerem complicações que vão
desde pequenas lacerações esofágicas, sangramentos, até perfurações. OBJETIVO: Relato
de cinco casos de complicações torácicas por sonda de nutrição enteral. METODOLOGIA:
Estudo retrospectivo, realizado no período de 1997 a 2008, em pacientes com complicações
torácicas decorrentes da introdução de sonda para alimentação enteral. RESULTADOS: A
idade média dos pacientes foi de 74 anos, sendo dois do sexo feminino e três do sexo
masculino. Dois pacientes encontravam-se em prótese respiratória e sedados, um estava
no isolamento da UTI e dois estavam em unidade intermediária submetidos à sondagem
para a alimentação enteral para melhora do aporte calórico desses pacientes. Em todos
os pacientes houve dificuldade na sondagem, sendo essa manobra tentada por mais de
uma pessoa em mais de uma ocasião. O diagnóstico da lesão foi em média 24 horas após
a introdução da sonda. No tratamento desses pacientes houve cinco tipos de abordagens
e foram levados em consideração nessa abordagem o tipo de complicação e as condições
clínicas deles: pleuroscopia com desbridamento da cavidade e drenagem torácica, exclusão
esofágica e abdominal com drenagem de tórax, exclusão esofágica cervical e abdominal
com toracotomia com desbridamento pleural, somente drenagem pleural e broncospia
51
52
Hospital Universitário Getúlio Vargas
Ufam.
171
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com lavado. Os pacientes com lesão pleural ou esofágica evoluíram para o óbito em 48
horas quando não foram submetidos à toracotomia com desbridamento e o paciente que
apresentou pneumonia aspirativa por conta da introdução de alimentação enteral no pulmão
evoluiu com sepse grave. CONCLUSÃO: Os pacientes em prótese respiratória, sedados ou
com comprometimento do sensório são mais passíveis de apresentarem complicações,
visto a dificuldade e a ausência de reflexo ou dor durante a sondagem.
PALAVRAS-CHAVE: Esôfago/Lesões; Ferimentos e Lesões; Perfuração Esofágica.
29. DESPIGMENTAÇÃO DA PELE – UMA NOVA
COMPLICAÇÃO DA SIMPATECTOMIA?
WESTPHAL,53 Fernando Luiz; FERREIRA,54 Luiz Carlos de Lima; LIMA NETTO,2 José Correa, SILVA,55 Márcia
dos Santos da, BALLUT,56 Priscila Cavalcanti, WESTPHAL,3 Danielle Cristine, LIMA,3 Ingrid Loureiro,
CARVALHO,57 Diogo Monteiro de, CARVALHO,3 Bruna Cecília Neves de
INTRODUÇÃO: A hiperidrose primária é um distúrbio idiopático, caracterizado pela
sudorese excessiva e incontrolável em determinadas regiões do corpo. Sua incidência varia
de 0,3 a 4,5%. O manejo clínico é difícil e nem sempre eficaz. O tratamento definitivo é
obtido cirurgicamente por meio da simpatectomia torácica por videotoracoscopia. Apesar
da grande eficácia e baixa morbidade, a técnica não está isenta de complicações e a
sudorese compensatória é o principal inconveniente descrito. OBJETIVO: Descrever dois
casos de discromia localizada em região superior do tórax em pacientes submetidos à
simpatectomia torácica por videotoracoscopia para tratamento de hiperidrose. RELATO
DO CASO: Os pacientes, ambos do sexo masculino, com idade média de 29,5 anos,
foram submetidos à simpatectomia torácica, o primeiro por clipagem em T3 e T4 para
tratamento de hiperidrose palmar e axilar, e o segundo por ablação de T2, T3 e T4
para tratamento de hiperidrose craniofacial, axilar e palmar. A evolução pós-operatória
foi excelente com regressão dos sintomas de hiperidrose. Entretanto, após cerca de 8
53
54
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UEA/Ufam/Nilton Lins.
UEA/Nilton Lins.
Ufam.
Nilton Lins.
UEA.
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meses os pacientes perceberam uma despigmentação da região correspondente à área
de anidrose, seguindo a linha do dermátomo correspondente ao bloqueio do estímulo
simpático, em toda circunferência do terço superior do tronco. A região adjacente com
inervação simpática preservada não apresentou nenhuma alteração de cor. Atualmente a
discromia encontra-se bem evidente, com piora após exposição solar. Relatam que essa
alteração determina um novo constrangimento, pois evitam ficar expostos sem roupa na
presença de outras pessoas. CONCLUSÃO: Essa alteração foi detectada em dois pacientes
de cor parda. Esse fato poderia ser explicado por duas hipóteses: a origem embrionária em
comum do melanócito e do sistema nervoso, pois ambos se originam de células da crista
neural, ou pela possível presença de contato direto entre terminações nervosas cutâneas
e melanócitos epidérmicos, por um mecanismo semelhante à sinapse nervosa. Ambas as
situações tornam possível que o estímulo à produção da melanina seja influenciada pela
interrupção do estímulo nervoso. Assim, o bloqueio na transmissão do estímulo nervoso
simpático poderia alterar a produção local de melanina.
PALAVRAS-CHAVE: Hiperidrose; Simpatectomia; Discromia.
30. UTILIZAÇÃO DO TUBO DE MONTGOMERY
PARA TRATAMENTO DE DEISCÊNCIA DE
ANASTOMOSE ESOFAGOGÁSTRICA CERVICAL
WESTPHAL,1 F. L.; LIMA,58 L. C.; NETTO,1 J. C.; ABINADER,2 E.; VASQUES,3 V. C.
INTRODUÇÃO: A correção das fístulas consequentes a anastomoses esofagogástricas
cervicais é um desafio para o cirurgião, visto que o enxerto pode ser inutilizado no
caso de uma estenose após a deiscência da sutura. Várias técnicas têm sido descritas
para minimizar esse problema, entre elas a sutura da anastomose em dois planos, a
utilização de sutura mecânica, porém ainda se mantém um nível elevado de fístulas
no pós-operatório. Em fístulas de alto débito a utilização do tubo de Montgomery é
Cirurgião torácico do HUGV.
Residente de Cirurgia Geral do HUGV.
3
Acadêmico de Medicina da Ufam.
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uma opção para o seu manejo para evitar esse desfecho. OBJETIVO: Relatar um caso
de deiscência de anastomose esofagogástrica para reconstrução do trânsito intestinal.
RELATO DO CASO: Paciente masculino, portador de fenda palatina, ingeriu durante
refeição um pedaço de osso de galhinha que perfurou o esôfago torácico e induziu a um
quadro de mediastinite. O tratamento instituído foi toracotomia com desbridamento da
cavidade pleural e descompressão do mediastino e pericárdio que apresentava secreção
purulenta. Associado àquela foi submetido à esofagostomia cervical com cerclagem do
esôfago superior e abdominal, além da gastrostomia para alimentação. Após perto de
11 meses, foi submetido à reconstrução do trânsito alimentar por meio da técnica de
Graviliu retrógrado, realizado por meio de tubo confeccionado pela grande curvatura do
estômago, mantendo a vascularização pela artéria gastroepiploica direita. A transposição
do enxerto foi realizada pela região retroesternal e a sutura realizada manualmente em
dois planos com fio absorvível. No pós-operatório apresentou deiscência total da parede
anterior da anastomose esofagogástrica com uma fístula de alto débito que foi tratada com
a colocação do tubo de Montgomery. Após 12 meses o tubo foi retirado e a esofagoscopia
revelou bom trânsito alimentar pelo local da anastomose. CONCLUSÃO: Um dos grandes
problemas encontrados na cirurgia de reconstrução do trânsito esofágico é a deiscência da
anastomose, que pode determinar a perda permanente do enxerto. Nesse caso, o tubo de
Montgomery permitiu a conexão entre as duas extremidades – estômago e esôfago – sem o
desenvolvimento de estenose.
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31. O PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS
PACIENTES COM FRATURAS ATENDIDOS NO
PRONTO-SOCORRO
28 DE AGOSTO, MANAUS-AM
ROSA,59 Gilmar Garcias, SOUSA,1 José Viana de, DOURADO,1 Roberto Campos, BENTES,1 Adria Simone
Ferreira
INTRODUÇÃO: O trauma é um grave problema de saúde pública e as lesões do sistema
músculo-esquelético contribuem com 85% dos casos. No Brasil, em 2001, 120.819 mortes
estavam diretamente relacionadas ao trauma, sendo 80% desses pacientes foram atendidos
em hospital de emergência. Morrem 11/100.000 pessoas após lesões provocadas por queda
e o prognóstico desses pacientes está diretamente relacionado à qualidade da assistência
médica prestada, Na fase de envelhecimento, quedas são frequentes, influenciadas por
fatores biológicos, doenças e causas externas. OBJETIVOS: Estudar as características e
fatores ligados a gênese de fraturas em pacientes atendidos na emergência, correlacionar
características das vítimas com a etiologia das fraturas, apontar os principais mecanismos
responsáveis pela gênese das fraturas, avaliar a relação entre o tempo decorrido até o
recebimento dos primeiros atendimentos hospitalares e evolução clínica dos pacientes,
listar as complicações inerentes ao trauma. METODOLOGIA: No período de agosto de
2006 a junho de 2007, foram analisados prospectivamente pacientes com fratura única
ou polifraturado no Hospital e Pronto-Socorro Municipal 28 de Agosto, em Manaus-AM.
RESULTADOS: Avaliados 129 pacientes, entre 13 a 82 anos (média de 47,5 anos), 80 (62%)
eram masculinos. Quarenta e nove (39,98%) tiveram como fator etiológico queda da própria
altura, 23 (17,82%) acidentes com motocicletas, 19 (14,72%) em prática de esporte e
15 (11,62%) em trauma direto sem queda. O diagnóstico foi clínico e radiológico, e o
tratamento foi conservador em 80 (62,01%) e cirúrgico em 17 (13,17%). O membro superior
foi mais acometido e o rádio o mais fraturado (28,68%). A faixa etária predominante de
pacientes fraturados foi entre 21 a 30 anos (22,48%), dor esta presente em 100%, limitação
dos movimentos (86,82%), edema (69,76%) e deformidade (60,46%). CONCLUSÕES: Existe
grande relação entre a etiologia da fratura e a idade dos pacientes. Nos pacientes mais
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HUGV.
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velhos a principal causa de fratura é queda da própria altura, nos mais jovens o trauma
esportivo. A maioria apresentava boa condição hemodinâmica. O tratamento incruento
com gesso prevalece ao cirúrgico.
PALAVRAS-CHAVE: Fraturas, Etiologia, Hospital e Pronto-Socorro 28 de Agosto.
32. ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO DE FRATURAS
DA EXTREMIDADE DE RÁDIO DISTAL,
MANAUS-AM
ROSA,60 Gilmar Garcias, SOUSA,1 José Viana de, DOURADO,1 Roberto Campos, MAGALHÃES,1 Telmo
Moreira, SOUZA,61 José Raposo da Câmara Viana de
INTRODUÇÃO: As fraturas da extremidade distal do rádio são consideradas as mais
frequentes do membro superior, representam 1/6 das fraturas tratadas na emergência,
são reconhecidas como lesões complexas de prognóstico variável que depende do grau
de comprometimento e do tipo de tratamento instituído. No Estado do Amazonas é
notória, para os que convivem no dia a dia dos prontos-socorros da capital do Estado,
a grande incidência de casos de fraturas, entretanto não há estudos estatísticos sobre
essa patologia, sua avaliação, manejo e conduta, esta última muitas vezes limitada pela
disponibilidade escassa de material de síntese presente nos prontos-socorros de Manaus.
OBJETIVOS GERAIS: Avaliação epidemiológica dos pacientes atendidos na emergência com
fratura da extremidade distal do rádio estudando as características e fatores ligados à sua
gênese, correlacionar esse tipo de fratura com o sexo e idade dos pacientes, avaliar as
condições clínicas no momento de admissão no pronto-socorro, demonstrar o tratamento
inicial estabelecido. METODOLOGIA: No período de agosto de 2006 a junho de 2007,
foram estudados prospectivamente esses pacientes que foram atendidos na emergência
do Hospital e Pronto-Socorro Municipal 28 de Agosto, em Manaus-AM. RESULTADOS: Vinte
e oito pacientes, 14 (50%) masculino, sete (25%) menores de 18 anos, 18 (64,28%) entre
18 e 60 anos, 5 (17,85%) com mais de 60 anos. Todos apresentavam dor, 24 (85,71%)
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limitação de movimento, 22 (78,57%) edema, 20 (71,42%) apresentava deformidade, e seis
(21,42%) crepitações. 19 (67,85%) pacientes tiveram fraturas no lado esquerdo, a queda
da própria altura foi responsável por 25 (89,28%) fraturas, oito (28,57%) eram estudantes.
Todos tiveram diagnóstico confirmado por radiografia, 23 (82,14%) receberam tratamento
definitivo com aparelho gessado, três (10,71%) receberam tratamento provisório com
calha gessa enquanto aguardava cirurgia eletiva, e dois (7,14%) foram encaminhados para
o centro cirúrgico do hospital em caráter de emergência. CONCLUSÕES: As fraturas da
extremidade distal do rádio têm como principal etiologia queda da própria altura, acomete
principalmente população economicamente ativa, pelo Sistema Único de Saúde a maioria
dos pacientes recebe tratamento inicial conservador.
PALAVRAS-CHAVE: Fraturas de Extremidade Distal do Rádio, Emergência, Manaus.
33. AVALIAÇÃO PRÉ-OPERATÓRIA DOS
PACIENTES COM FRATURA PROXIMAL DO
FÊMUR SUBMETIDOS OU NÃO À TRAÇÃO
TRANSESQUELÉTICA
OLIVEIRA,62 Medre Henrique Araújo de, ROSA,2 Gilmar Garcias, LIMA,2 Júlio Mário de Melo e; BENTES,2
Adria Simone Ferreira, MARTINS,2 Marcos Gassen
INTRODUÇÃO: As fraturas de fêmur proximal estão entre as mais frequentemente
encontradas pelo cirurgião ortopédico, onde são mais frequentes nas mulheres com
uma média de idade de 77 anos. O uso de tração prévia ao tratamento cirúrgico envolve
hospitalização prolongada, acarreta custos e desgaste para o paciente. Mais recentemente,
Rosen et al mostraram que essa tração não trazia benefícios para o paciente e recomendam
colocar apenas um travesseiro sob a coxa fraturada. OBJETIVOS GERAIS: Avaliar o custobenefício referente utilização de tração transesquelética em pacientes com fratura de
fêmur proximal. METODOLOGIA: Trabalho prospectivo, visando pacientes internados
com fraturas de fêmur proximal, serão analisadas as radiografias dos respectivos
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pacientes investigados com o intuito de confirmar e classificar as fraturas. As fraturas
transtrocanteriana serão classificadas pela classificação de Tronzo, utilizaremos, ainda,
a classificação de Garden para classificação das fraturas de colo femoral. Em seguida,
responderam questionário individual, o qual continha a escala de dor de EVA. A dor foi
graduada em: leve, moderada e intensa. Pacientes divididos em três grupos: Grupo I,
paciente sem tração. Grupo II, em uso de tração. Grupo III, tração retirada no hospital
onde seriam operados. Os resultados foram comparados entre os grupos. RESULTADOS:
Estudados 43 pacientes, média de idade 74,6 anos, no grupo I tivemos 16 pacientes, destes,
10 (62,5%) referindo dor de intensidade moderada, nesse grupo, 11 (68,75%) pacientes não
apresentavam nenhum coxim alinhando ou membro fraturado. No grupo II, constituído
por 12 pacientes, seis (50%) referiram dor intensa, oito (66,6%) mencionaram uma piora
na mobilidade no leito. No grupo III, formado por 15 pacientes, seis (40%) referiram dor
moderada. Nesse último grupo, nove (60%) relataram diminuição da dor após a retirada
da tração. Nesse grupo, 14 (93,3%) relataram maior praticidade no momento da higiene
pessoal depois de ter retirado a tração, e oito (53,3%) informaram melhores condições no
momento da elevação do dorso para as refeições e 11 (73,33) relataram uma melhora na
mobilidade no leito. CONCLUSÃO: A não utilização da tração transesquelética traz maior
conforto no pré-operatório para o paciente com fratura de fêmur proximal.
PALAVRAS-CHAVE: Fraturas do Quadril, Pré-Operatório, Tração Transesquelética.
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