UMA REVISÃO DAS EVIDÊNCIAS RECENTEMENTE PUBLICADAS
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UMA REVISÃO DAS EVIDÊNCIAS RECENTEMENTE PUBLICADAS
UMA REVISÃO DAS EVIDÊNCIAS RECENTEMENTE PUBLICADAS SOBRE RISCOS À SAÚDE ASSOCIADOS COM OS TIPOS DE FIBRAS DE ASBESTOS Jacques Dunnigan, Ph.D. Na área de saúde ocupacional, com referência especificamente ao amianto, as agências regulamentadoras em todos os países têm a responsabilidade de estabelecer limites de exposição nos locais de trabalho que reduzirão os riscos aos trabalhadores ao nível mais baixo possível. Parece óbvio que este exercício deva ser baseado nas avaliações científicas mais recentes. Entretanto, quando do processo de formulação das assim chamadas "atualizações", alguns países ainda estão usando revisões científicas que estão desatualizadas para os padrões recomendados para o amianto. Isto é particularmente desastroso, uma vez que muitas evidências novas têm sido acumuladas nos últimos anos, resultado de freqüentes publicações, não só de trabalhos científicos, como também de editoriais e comentários inspirados pela necessidade de revisitar a questão dos riscos relacionados com o amianto. Um desses recentes comentários do mês de julho de 1997 (Alleman JE and Mossman BT: "Asbestos Revisited"; Scientific American, July 1997; pp.70-75). Um exemplo de tais obsolescências, remonta dos dados publicados no início dos anos 70 e ainda antes, causados por desenhos experimentais em que unidades de medida gravimétricas foram utilizadas para a dosagem, enquanto que, nos dias de hoje, são usadas unidades em número de fibras. Hoje, isto é reconhecido como a principal razão pelas quais os resultados das experiências relatadas com animais não poderiam ser levados em consideração para as diferenças do potencial patológico dos tipos de fibras de amianto, como era observado nos levantamentos epidemiológicos. Em 1988, cientistas da Agência de Proteção Ambiental Norte Americana (US EPA) publicaram os resultados de um estudo sobre a comparação de massa x número de fibras, como base para dosagem. Foi demonstrado que quando o "número de fibras" era utilizado os resultados experimentais tornaram-se totalmente consistentes com os resultados epidemiológicos (1). O próprio Dr. John C. Wagner, um dos autores desses primeiros trabalhos, afirmou em 1989 “...nós acreditamos entretanto, que a crisotila é a forma menos perigosa de amianto em todos os sentidos e que a grande ênfase deve ser colocada sobre os diferentes efeitos biológicos das várias fibras de anfibólios.” (Wagner, J.C. et al. 1989 no IARC Sci. Pub. No 90, p 448 Lyon). Um outro exemplo de confusão na percepção do risco, e que invariavelmente leva a uma má decisão no gerenciamento do risco relativo ao amianto, é o chamado “simples contato”, ponto de vista que afirma que mesmo que a crisotila venha a se dissolver e desaparecer do pulmão mais rápido do que os anfibólios, pode ainda desencadear o mecanismo que leva ao mesotelioma. Um estudo alemão (Bellman e Muhle, 1995), publicado no Schriftenreihe do Bundesantanstalt für Arbeitsschutz (Escritório Federal para a Proteção do Trabalhador), indica que “a biopersistência de materiais fibrosos inaláveis é um fator crítico na determinação do potencial carcinogênico. Isto foi confirmado, por Bernstein, em 1997, num relatório de pesquisa para o “The Joint Research Center, Environmental Institute, European 1 Chemicals Bureau em ISPRA (Itália). O relatório intitulado “Correlação entre Baixa Biopersistência e Estudos de Toxicidade Crônica”, foi produzido em junho de 1997 “Esta evidência publicada recentemente, deve por abaixo o “fenômeno do simples contato”, usado por alguns autores para implicar a crisotila na causa do mesotelioma. Em outras palavras, a “importância da biopersistência” e o ponto de vista “simples contato”, são termos completamente contraditórios. Não seria conveniente prosseguir numa detalhada avaliação dessa revisão desatualizada de documentos que infelizmente são ainda utilizados nos dias de hoje por algumas agências regulamentadoras nacionais. Sentimos que é melhor fazer um balanço das evidências publicadas mais recentemente. Esta revisão, portanto, concentrar-se-á nas publicações científicas mais recentes, que têm constituído a base do amplo consenso científico internacional. A revisão abordará inicialmente as questões: 1 - da importância dos parâmetros físico-químicos: tamanho e durabilidade; 2 - das diferenças patogênicas entre os tipos de fibras de amianto 3 - das evidências publicadas que apontam para um limite prático de exposição para o amianto crisotila, abaixo do qual não é detectado nenhum efeito prejudicial à saúde; Posteriormente, seguirá uma revisão de evidências sobre a emissão de fibras resultantes do uso moderno de compostos de crisotila de alta densidade: materiais de fricção e o cimento-amianto. 1 - PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS RELATIVOS AOS EFEITOS À SAÚDE: A IMPORTÂNCIA DA DIMENSÃO DAS FIBRAS E DURABILIDADE. Numerosos estudos desenvolvidos durante várias décadas, que ainda hoje são apropriados, relatam a importância da dimensão das fibras (comprimento e diâmetro) como pré-requisitos para a potência biológica, desde que esses dois parâmetros estejam relacionados com a respirabilidade. De um modo geral, reconhece-se que aquelas estruturas fibrosas com um diâmetro ≤ 3µ e comprimento ≥ 5µ são aquelas que poderão penetrar profundamente na árvore respiratória. Existe um consenso quase unânime com relação a este ponto e, assim, não há necessidade de rever as evidências deste aspecto. Entretanto, novas evidências publicadas nos últimos 10 anos, surgiram de investigações que utilizavam técnicas modernas, em particular de análises minerais realizadas no tecido pulmonar, também conhecidas por estudos da carga pulmonar de fibras (“lung burden”). Como resultado, um parâmetro adicional relativo aos materiais fibrosos é hoje universalmente reconhecido como de relevante importância para avaliar o potencial patológico de partículas inaláveis: durabilidade. Durabilidade é esta característica que varia amplamente entre partículas respiráveis diferentes, e que, provavelmente, é relacionada às diferentes estruturas químicas e hábitos cristalinos das partículas minerais. Por sua vez, durabilidade 2 determinará a extensão da chave do fenômeno biológico: biopersistência que pode ser descrito como o período de tempo para que as partículas inaladas persistam no pulmão, afetando desfavoravelmente o tecido circundante, antes de serem eventualmente dissolvidas, ou eliminadas de outra maneira. Têm sido realizados estudos de biopersistência com uma série de partículas respiráveis diferentes e tem ficado claro que existem enormes diferenças entre os vários materiais fibrosos respiráveis utilizados atualmente pela indústria. De fato, parece existir uma série de valores para a biopersistência de materiais respiráveis, desde uma persistência muito pequena (baixa durabilidade) a uma persistência praticamente infinita (durabilidade muito alta). Em 1992, um simpósio sobre “Biopersistência das fibras respiráveis sintéticas e minerais” foi realizado em Lyon, sob a égide da Agencia Internacional para Pesquisa sobre Câncer (IARC). Para as fibras de amianto, foi confirmado, repetidas vezes, que o amianto crisotila exibe uma baixa biopersistência, ao contrário do amianto anfibólio, fibras do tipo crocidolita e amosita, que mostra biopersistência excessivamente longa. Adicionalmente, dados apresentados no simpósio, indicaram que os vários tipos de fibras de vidro também têm diferentes solubilidades e biopersistências características, que podem variar de acordo com os seus respectivos processos de fabricação e composições químicas. Entretanto, fibras de vidro com teor alto de alumínio (Al), mostraram ser mais duráveis do que aquelas com baixo conteúdo de alumínio. Uma observação semelhante foi referida para as fibras cerâmicas refratárias (RCF), isto é, teores elevados de óxido de alumínio têm influência negativa na biosolubilidade, enquanto que concentrações mais baixas de óxidos de alumínio têm efeito oposto. Um estudo importante realizado por cientistas alemães do Instituto Fraunhofer, de Hanover, comparou a durabilidade in vivo de uma série de fibras minerais artificiais (MMMF), desde as fibras de vidro às RCFs e as fibras naturais. O tempo médio para a eliminação da fibra do pulmão, variou na faixa de 10 a 500 dias. Um estudo americano também refere que as RCFs não mostraram alterações químicas nos 2 anos seguintes ao fim da exposição, enquanto que as fibras de vidro mostraram que alguns componentes haviam-se lixiviado. Um outro estudo do Instituto de Medicina Ocupacional, de Edimburgo, mostrou que, em experimentos que utilizavam ratos, a crisotila e a fibra de vidro foram eliminadas do pulmão aproximadamente no mesmo tempo, enquanto que foi muito difícil qualquer eliminação do amianto crocidolita. A conclusão geral deste simpósio internacional é que as RCFs certamente não são eliminadas rapidamente do pulmão, que algumas MMMFs são eliminadas mais demoradamente que outras; e que o mesmo é verdade para o amianto, onde o tipo anfibólio tem um tempo médio de eliminação na faixa de várias décadas, enquanto que o amianto crisotila é eliminado dentro de semanas, ou poucos meses. A relevância patológica deste fenômeno é importante. Em 1986, os cientistas britânicos J.C. Wagner e F.D. Pooley colocaram isso nos seguintes termos: “...a importância da retenção seletiva das fibras foi discutida em uma recente publicação. Nós estamos convencidos que aquelas doenças associadas com a exposição a fibras minerais são devidas às fibras retidas nos pulmões”. (1) 3 Realmente, em um estudo mais recente sobre os padrões de retenção de fibras em trabalhadores do cimento-amianto na Suécia, os autores chegaram à conclusão de que: “...efeitos adversos estão mais propriamente associados com a fibras que estão retidas (anfibólios) do que com aquelas que estão sendo eliminadas (crisotila, na maior parte)”. (2) Assim, hoje está muito claro que a biopersistência deve ser levada em consideração quando se avalia o risco associado com o uso de materiais respiráveis. Em 1995, os cientistas do Instituto Fraunhofer reiteraram seu ponto de vista nas seguintes palavras: “a biopersistência dos materiais fibrosos inaláveis é um fator crítico na determinação (3) do potencial carcinogênico”. Isto foi confirmado em 1997, por Bernstein em um relatório de pesquisa para o "The (4) Joint Research Center, Environmental Institute, European Chemicals Bureau" . Conseqüentemente, pode-se colocar de lado o fenômeno do “simples contato” usado pelos autores para implicar a crisotila como causador do mesotelioma, Em outras palavras, “biopersistência” e o “simples contato” são termos completamente contraditórios. CONCLUSÃO: A avaliação e o gerenciamento do risco dos materiais fibrosos respiráveis devem levar em consideração, não somente as dimensões, como também as características de durabilidade e biopersistência de todos os materiais em suspensão no ar usados pela indústria. Isto deve ser aplicado não só aos diferentes tipos de fibras de amianto, como também a todos os materiais fibrosos, quer naturais ou artificiais. 2 - AS DIFERENÇAS PATOGÊNICAS ENTRE OS TIPOS DE FIBRAS DE AMIANTO. A revisão das evidências publicadas depois de 1976, aponta para diferenças marcantes nos efeitos e potenciais biológicos do amianto crisotila e das variedades de anfibólios. Existem, pelo menos, 25 relatórios, somente sobre estudos humanos, que estão aqui apresentados em dois subtítulos separados: A - Dados de morbidade e mortalidade em usuários “apenas de crisotila”; B - Análise do conteúdo mineral pulmonar (somente dados humanos). A - DADOS DE MORTALIDADE E DE MORBIDADE Wagner, J.C., Newhouse, M.L., Corrin, B., Rossiter, C.E. and Griffiths, D.M. (1988). Correlation between fibre content of the lung and disease in East London asbestos factory workers. 4 British Journal of Industrial Medicine 45 (5):305-308. "Por essa razão, nós acreditamos que a crisotila, em todos os aspectos, é a forma menos prejudicial de amianto e que maior ênfase deve recair sobre os diferentes efeitos biológicos das fibras de amianto anfibólio e serpentinas". Kleinerman, J. (1988). The pathology of asbestos related lung disease. Proceedings, The Fleischner Society, Eighteenth Annual Symposium on Chest Disease, Montréal, Canada, 16-18 May, pp. 33-46. "A maioria dos trabalhadores do amianto que desenvolveram mesotelioma foi exposta ao amianto anfibólio. Poucos mesoteliomas foram encontrados em trabalhadores expostos à crisotila...A exposição à tremolita é considerada por desempenhar um papel importante no desenvolvimento do mesotelioma nestes casos". Dunnigan, J. (1988). Commentary: Linking chrysotile mesothelioma. American Journal of Industrial Medicine 14:205-209. asbestos with Uma revisão das evidências que mostram a ausência de probabilidade na ligação do mesotelioma com a exposição à crisotila. São analisados estudos epidemiológicos dos EUA (Weiss, McDonald e Fry, Dement), da Grã Bretanha (Newhouse, Thomas, Acheson), e são citados, também, estudos sobre o conteúdo pulmonar de fibras (Pooley, Wagner, Jones, A.D. McDonald). Hughes, J.M., Weill, H. And Hammad, Y.Y. (1987). Mortality of workers employed in two asbestos cement manufacturing plants. British Journal of Industrial Medicine 44 (3):161-174. Foi estudada a mortalidade de 6.931 empregados de duas fábricas de cimento. Em uma delas (fábrica 2), a crocidolita foi usada juntamente com a crisotila. Neste estudo ocorreram 10 casos de mesotelioma, 8 dos quais na fábrica 2. A análise caso-controle mostrou uma relação significativa entre o risco de mesotelioma e a proporção de tempo despendido na área de fabricação de tubos A/C, em que a crocidolita foi utilizada. Gardner, M.J. and Powell, C.A. (1986). Mortality of asbestos cement workers using almost exclusively chrysotile fibre. Journal of the Society of Occupational Medicine 36 (4)124-126. Foram revisados três estudos com trabalhadores do cimento-amianto utilizando quase que somente a crisotila, realizados na. Grã Bretanha e na Suécia. Nenhum excesso significativo de mortalidade relacionada ao amianto foi encontrado, em relação ao esperado. Os autores afirmam: "Isto é diferente da maioria dos estudos 5 de trabalhadores fabricando produtos semelhantes com fibras mistas contendo não só essencialmente crisotila, mas também anfibólios, crocidolita e amosita". Berry, G. and Newhouse, M.L. (1983). Mortality of workers manufacturing fricction materials using asbestos. British Journal of Industrial Medicine 40 (1):1-7. Estudo de 13.400 trabalhadores (materiais de fricção) não mostrando nenhum caso de mesotelioma quando somente a crisotila foi utilizada, mas 10 casos de mesotelioma quando a crocidolita foi também utilizada. Thomas, H.F., Benjamin, I.T., Elwood, P.C. e Sweetnam, P.M. (1982). Further follow-up study of workers from an asbestos cement factory. British Journal of Industrial Medicine 39 (3):273-276. Estudo de 1.970 trabalhadores do cimento-amianto, durante o período de 40 anos, em que somente a crisotila foi utilizada, não mostra nenhum caso de mesotelioma, mas, quando a crocidolita foi usada durante o período de 2 anos, 2 casos de mesotelioma. McDonald, A.D. and Fry, J. (1982). Mesothelioma and fibre type in three american asbestos factories - Preliminary report. Scandinavian Journal of Work, Environment and Health 8 (Supplement 1):5358. Estudo na fabricação de fios, tecidos, embalagens, inclusive gaxetas, mostrando apenas 1 caso de mesotelioma / 2.341 trabalhadores quando foi utilizada, quase que exclusivamente, a crisotila e 18 casos / 1.429 trabalhadores quando foram usados tipos de fibras misturados. Acheson, M.D., Gardner, M.J., Pippard, E.C. and Grime, L.P. (1982). Mortality of two groups of women who manufactured gas masks from chrysotile and crocidolite asbestos: a 40-year follow-up. British Journal of Industrial Medicine 39 (4):344-348. Estudo de trabalhadores que fabricavam máscaras contra gás não mostra nenhum caso de mesotelioma quando apenas a crisotila era utilizada, e 5 casos / 757 trabalhadores utilizando crocidolita. McDonald, A.D. and McDonald, J.C. (1978). Mesothelioma after crocidolite exposure during gas mask manufacture. Environmental Research 17 (3):340-346. No Québec, durante o tempo de guerra, a exposição à crocidolita na fabricação de máscaras militares contra gás, levou ao acúmulo de 9 casos de mesotelioma em 56 6 mortes (16%). Foram encontradas grandes quantidades de crocidolita (e poucas de crisotila) nos seus pulmões. Compare com a incidência de mesotelioma de 0,26% nas mortes no Quebec, nas minas de crisotila. Weis, W. (1977). Mortality cohort exposed to chrysotile asbestos. Journal of Occupational Medicine 19 (11):737-740. O estudo não mostra nenhum caso de mesotelioma na fabricação de papéis e papelões, quando apenas a crisotila é utilizada. B - ANÁLISE DO CONTEÚDO MINERAL PULMONAR Wagner, J.C., Newhouse, M.L., Corrin, B., Rossiter, C.E. and Griffiths, D.M. (1988). Correlation between fibre content of the lung and disease in East London asbestos factory workers. British Journal of Industrial Medicine 45 (5):305-308. Foram examinados os pulmões de 36 antigos trabalhadores de uma fábrica de amianto usando crisotila, crocidolita e amosita. O conteúdo pulmonar de crocidolita e amosita foi fortemente associado com asbestose e com mesotelioma, enquanto que nenhuma correlação foi evidente com crisotila e mullita. Wagner, J.C.,Moncrieff, C.B., Coles, R., Griffiths, D.M. and Munday, D.E. (1986). Correlation between fibre content of the lungs and disease in naval dockyard workers. British Journal of Industrial Medicine 43 (6):391-395. Estudo que mostra aumento na quantidade de anfibólios no tecido pulmonar, com o aumento da severidade da asbestose, mas nenhum aumento na quantidade de crisotila. Churg, A. (1985) Malignant mesothelioma in British Columbia in 1982. Cancer 55 (3):672-674. Estudo mostrando um aumento de 300 vezes dos anfibólios no tecido pulmonar nos casos de mesoteliomas, mas nenhuma diferença com a população em geral, com relação ao conteúdo pulmonar de crisotila. Churg, A. (1988). Chrysotile, Tremolite and malignant mesothelioma in man. Chest 93 (3):621-628. Churg sustenta que dos 53 casos de mesotelioma, então reportados como causados pela crisotila, 51 devem ser, de fato, atribuídos à contaminação por tremolita, crocidolita e/ou amosita. 7 Jones J.S.P., Roberts, G.H., Pooley F.D., Clark, N.J., Smith, P.G., Owen, W.G., Wagner, J.C., Berry, G. and Pollock, D.J. (1980). The pathology and mineral content of lungs in cases of mesothelioma in the United Kingdom in 1976. In Biological Effects of Mineral Fibres, J.C. Wagner Editor, vol 1, International Agency for Research on Cancer, IARC Scientific Publications No. 30, Lyon:187199. O estudo realizado no Reino Unido mostra que pacientes com mesotelioma têm um número muito maior de anfibólios nos seus pulmões, mas quantidades semelhantes de crisotila, quando comparados aos controles. McDonald A.D. (1980). Mineral fibre content of lung in mesothelial tumours:Preliminary report. Biological Effects of Mineral Fibres, J.C. Wagner Editor, vol 2, International Agency for Research on Cancer, IARC Scientific Publications No. 30, Lyon:681685. A mesma observação como a de cima para pacientes com mesotelioma na América do Norte. Churg, A. (1982). Asbestos fibres and pleural plaques in a general autopsy population. American Journal of Pathology 109 (1):88-96. O estudo mostra que pacientes com placas pleurais têm um aumento de 50 vezes mais anfibólios se comparado com a crisotila. Wagner, J.C., Berry, G. and Pooley, F.D. (1982). Mesothelioma and asbestos type in asbestos textile workers: a study or lung contents. British Medical Journal 285:603-606. Em uma tecelagem de asbestos que utilizava principalmente crisotila com pequena quantidade de crocidolita, nos pulmões de 12 pessoas que morreram por mesotelioma foram encontradas poucas fibras de crisotila e muitas de crocidolita, em comparação com os pulmões dos controles sem mesotelioma. Wagner, J.C., Pooley, F.D., Berry, G., Seal, R.M.E., Munday, D.E., Morgan, J. and Clark, N.J. (1982). A pathological and mineralogical study of asbestosrelated deaths in United Kingdom in 1977. The Annals of Occupational Hygiene, Inhaled Particles V, 26 (1-4):423-431. O estudo mostra, em pacientes com pneumoconiose diagnosticada, um aumento no número de anfibólios no tecido pulmonar de 100 vezes, mas quantidades semelhantes de crisotila, quando comparados aos controles. 8 Gylseth, B., Mowe, G. and Wannag, A. (1983). Fibre type and concentration in the lungs of workers in an asbestos cement factory. British Journal of Industrial Medicine 40 (4):375-379. Em uma fábrica de cimento-amianto norueguesa, de 1942 a 1980, o tipo predominante de amianto utilizado foi crisotila (91,7%), com pequena quantidade de mistura com amosita(3,1%), crocidolita (4,1%) e antofilita (1,1%). Nos pulmões de trabalhadores que morreram com mesotelioma (4), ou com câncer de pulmão (3), a porcentagem de fibras de crisotila era de 0% a 9%, enquanto que a proporção correspondente para os anfibólios era de 76% a 99%. Rowlands, N., Gibbs, G.W. and McDonald, A.D. (1982). Asbestos fibres in lungs of chrysotile miners and millers - A preliminary report. The Annals of Occupational Hygiene, Inhaled Particles V, 26 (1-4):411-415. Foram estudadas as amostras de pulmão de 47 trabalhadores das minas de crisotila do Quebec que morreram por várias causas não relacionadas com o amianto. Foram encontradas quantidades semelhantes de crisotila e tremolita, muito embora a mistura da tremolita no minério de crisotila seja extremamente pequena. Isso indica que a tremolita persiste nos pulmões, enquanto que a crisotila foi dissolvida. McDonald, A.D., McDonald, J.C. and Pooley, F.D. (1982). Mineral fibre content of lung mesothelial tumours in North America. The Annals of Occupational Hygiene, Inhaled Particles V, 26 (1-4):417-422. Foi examinado o tecido pulmonar de 99 pares caso-controle de pessoas que morreram por mesotelioma na América do Norte. Grande quantidade de amosita foi encontrada em 26 casos e 8 controles; grande quantidade de crocidolita em 15 casos e 5 controles, enquanto que a quantidade de crisotila era igual nos casos e nos controles. Gibbs, A.R., Jones, J.S.P., Pooley, F.D., Griffiths, D.M. and Wagner, J.C. (1989). Non-occupational malignant mesotheliomas. In Non-Occupational Exposure to Mineral Fibres, Eds. J. Bignon, J. Peto and R. Saracci. WHO/IARC Scientific Publications, No. 90, Lyon:219-228. Foi estimado, por microscopia eletrônica e análise da energia dispersiva de raios-X, o conteúdo mineral nos pulmões de 84 casos de mesotelioma pleural maligno. Estes casos foram escolhidos porque a história de exposição ao amianto era ausente, indireta, ou mal definida. A contagem de crisotila nos pulmões desses casos de mesotelioma foi similar àquela dos controles de uma série anterior de mesoteliomas, nos quais a maioria tinha tido exposição direta ao amianto. Estes achados confirmam aqueles de estudos anteriores indicando que os anfibólios são mais importantes do que a crisotila na causa do mesotelioma maligno. Os resultados confirmam que alguns mesoteliomas se desenvolvem na ausência da exposição ao amianto. "É possível que a crisotila possa potencializar os efeitos dos anfibólios, 9 mas nós acreditamos que a crisotila não tenha potencial (ou, se tiver, um potencial muito baixo) para indução do mesotelioma por si próprio. Albin, A., Pooley, F.D., Strömberg, U., Attewell, R., Mitha, R. And Welinder, H. (1994). Retention patterns of asbestos fibres in lung tissue among asbestos cement workers. Um estudo que mostra as cinéticas diferentes para fibras de anfibólio e de crisotila no tecido pulmonar humano. As concentrações de fibras de anfibólios aumentam com a duração da exposição, enquanto que as concentrações da crisotila não. Os autores indicam que seus estudos sustentam um achado anterior de uma possível capacidade de limpeza da crisotila, e concluem que seus achados "sustentam a hipótese de que efeitos desfavoráveis estão associados muito mais com as fibras que estão retidas (anfibólios), do que com aquelas que estão sendo removidas (crisotila, em grande escala)". 3 - EVIDÊNCIAS PUBLICADAS INDICANDO UM LIMITE DE EXPOSIÇÃO PRÁTICO PARA O AMIANTO CRISOTILA, ABAIXO DO QUAL NÃO É DETECTADO NENHUM EFEITO ADVERSO À SAÚDE. O relatório preliminar do Grupo de Trabalho da OMS para o Amianto Crisotila de 1996, concluiu que “a exposição ao amianto crisotila possui risco aumentado de asbestose, câncer de pulmão mesotelioma de maneira dose-dependente. Nenhum limite foi identificado para riscos carcinogênicos”. Esta afirmação faz sentido para aqueles que consideram “epidemiologia” como o único instrumento para avaliar riscos e para se chegar à uma conclusão, observando a existência, ou a ausência, de limites para substâncias tóxicas. Isto deve ser esperado para aproximações epidemiológicas para níveis de exposição muito baixos para substâncias tóxicas. Aplicar, simplesmente, a aproximação epidemiológica não é o instrumento mais apropriado para estabelecer a existência, ou ausência, de limites, quando são considerados níveis de exposição muito baixos. É por esta razão que se diz freqüentemente que nenhum limite foi “identificado” para riscos carcinogênicos. Mais precisamente, isso significa que nenhum limite foi identificado usando os dados e a metodologia analítica disponíveis para os epidemiologistas. Isso não significa que não existe um limite; simplesmente significa que se existir um, ele não pode ser identificado. Por esta razão, alguns epidemiologistas sentem que é necessário um número maior de dados epidemiológicos, relativos ao risco de câncer para populações expostas a níveis inferiores a 1 fibra/ml. Mas, na realidade, isto é uma meta praticamente impossível, uma vez que dados de centenas de milhares de pessoas seriam necessários e vários fatores complicadores complexos (étnicos, sociais e econômicos) teriam que ser considerados de modo a satisfazer as exigências de uma análise estatística cientificamente confiável. Se, entretanto, alguém considera a evidência toxicológica, a maior parte dos pesquisadores estão prontos a reconhecer que, na realidade, existem limites para as doenças induzidas pelo amianto. Mais 10 prudentemente, talvez, os toxicologistas preferem usar termos tais como “abaixo dos limites de detecção”. Este, certamente, seria o caso para o amianto crisotila: está sustentado por evidências de um grande número de estudos humanos publicados em vários lugares e em diferentes países, mostrando que, a níveis baixos de exposição ocupacional à crisotila (semelhante a 1 f/ml), não existe aumento estatisticamente significativo na incidência de doenças relacionadas com amianto nos trabalhadores. As referências a esses estudos que seguem, ilustram esse ponto: EXPERIÊNCIA COM A SAÚDE DOS TRABALHADORES EM NÍVEIS MUITO BAIXOS DE EXPOSIÇÃO SOMENTE À CRISOTILA Berry, G. and Newhouse, M.L. ( 1983). Mortality of workers manufacturing friction materials using asbestos. British Journal of Industrial Medicine 40 (1):1-7. Um estudo de mortalidade (1942-1980) realizado em uma fábrica que produz materiais de fricção usando quase que exclusivamente crisotila. Comparadas com as taxas nacionais de mortes, não houve excesso de mortes detectáveis relativo a câncer do pulmão, câncer gastrointestinal, ou outros cânceres. Os níveis de exposição eram baixos, com apenas 5% dos homens acumulando 100 fibras/ano/ml. Os autores afirmam: "A experiência nesta fábrica, por um período maior que 40 anos, mostrou que o amianto crisotila foi processado sem nenhum excesso de mortalidade detectado". Newhouse. M.L. and Sullivan, K.R. (1989). A mortality study of workers manufacturing friction materials: 1941-86. British Journal of Industrial Medicine 46 (3):176-179. O estudo refere-se a 5.898 trabalhadores e foi prolongado por sete anos. Os autores confirmam que não houve excesso de mortes por câncer de pulmão, ou outros tumores relacionados com o amianto, ou de doenças respiratórias crônicas. Após 1950, os controles de higiene foram progressivamente melhorados nessa fábrica e, desde 1970, os níveis de amianto não excederam 0,5 a 1,0 f/ml. Os autores concluem: "Concluí-se que, com bom controle do ambiente, o amianto crisotila pode ser usado na fabricação sem causar excesso de mortalidade". Thomas, H.F., Benjamin, I.T., Elwood, P.C. and Sweetnam, P.M. (1982). Further follow-up study of workers from an asbestos cement factory. British Journal of Industrial Medicine 39 (3):273-276. Em uma fábrica de cimento-amianto que usava apenas crisotila, 1.970 trabalhadores foram seguidos e a sua mortalidade foi analisada. Não houve nenhum aumento apreciável da razão de mortalidade padronizada (SMR) para as causas de morte investigadas, incluindo todas as causas, todos os tumores, cânceres do pulmão e pleura e cânceres do trato gastrointestinal. Os autores indicam: "Desse 11 modo, os resultados gerais dessa pesquisa de mortalidade sugerem que a população da fábrica de cimento-amianto crisotila estudada não apresenta qualquer excesso de risco, em termos de mortalidade total, mortalidade por câncer, cânceres de pulmão e brônquios, ou cânceres gastrointestinais". Weil, H., Hughes, J. and Waggenspack, C. (1979). Influence of dose and fibre type on respiratory malignancy risk in asbestos cement manufacturing. American Review of Respiratory Diseases 120 (2):345-354. Uma investigação de 5.645 trabalhadores na produção de cimento amianto não mostra nenhum aumento na mortalidade, resultante da exposição durante 20 anos ao amianto crisotila em níveis de exposição igual a, ou menor que 100 mpcf.anos cem milhões de partículas por pé cúbico x anos - (correspondente aproximadamente a 15 fibras/ml.anos). Os autores declaram: "Entretanto, a demonstração de que exposições de acúmulo baixo e de curta duração não produziram excesso de risco detectável para malignidade respiratória, podem servir de auxílio no desenvolvimento da política de regulamentação, porque, com base nestes dados, uma posição cientificamente defensável é que existem baixos graus de exposição não associada com risco excessivo demonstrável". Ohlson, C.G. and Hogstedt, C. (19850. Lung cancer among asbestos cement workers. A Swedish cohort study and a review. British Journal of Industrial Medicine 42 (6):397-402. Um estudo de coorte de 1.176 trabalhadores do cimento-amianto, numa fábrica sueca, utilizando amianto crisotila, não mostra nenhum excesso de mortalidade em exposições entre 10-20 fibras/ml.anos. Gardner, M.J., Winter, P.D., Pannett, B. and Powell, C.A. (1986). Follow up study of workers manufacturing chrysotile asbestos cement products. British Journal of Industrial Medicine 43:726-732. Um estudo de coorte realizado com 2.167 pessoas empregadas entre 1941 e 1983. Nenhum excesso de cânceres de pulmão, ou mortes excessivas por outras doenças relacionadas com amianto, é relatada a uma concentração média de fibras abaixo de 1 f/ml, embora níveis mais elevados provavelmente ocorreram em algumas áreas da fábrica de cimento-amianto. EVIDÊNCIAS MAIS RECENTEMENTE DISPONÍVEIS McDonald, J.C., Liddell, D.K., Dufresne, A. E Mc.Donald, A.D. (1993). The 18911920 birth cohort of Quebec chrysotile miners and millers: mortality 1976-88. British Journal of Industrial Medicine 50 : 1.073-1.081. Este estudo se refere a mineiros e trabalhadores de usinas das minas de crisotila, no Quebec e é, indubitavelmente, a maior coorte de trabalhadores do amianto até 12 hoje estudada e seguida pelo mais longo período. A coorte, que foi estabelecida em 1966, compreende cerca de 11.000 trabalhadores nascidos entre 1891-1920, tem sido seguida desde então. Foi feito uso otimizado de todas as medições de poeira disponíveis, para avaliar, para cada elemento da coorte, sua exposição em termos de duração, intensidade e distribuição. Achados sobre mortalidade foram publicados em cinco ocasiões, e este relatório mais recente apresenta uma atualização dos resultados de análises de mortalidade para o período de 1976-1988 inclusive. Um dos achados principais desta última atualização diz respeito a várias categorias estreitas de exposição até 300 mpcf x anos, os SMRs para câncer de pulmão flutuaram em torno da unidade, com nenhuma evidência de tendência e aumento abrupto acima daquele nível de exposição. Ainda mais recentemente, os mesmos autores atualizaram mais uma vez seu estudo, com 9.780 homens, investigados até 1992. Resultados de exposições abaixo de 300 mpcf x anos, a grosso modo equivalente a 900 fibras/ml x anos, ou ainda, 45 fibras/ml por 20 anos, levaram os autores a concluir: "Desse modo, do ponto de vista da mortalidade, concluiu-se que, nessa indústria, a exposição a menos do que 300 mpcf.anos foi essencialmente inócua." Os resultados foram publicados em 1997.(5) Nos dias de hoje, níveis designados, ou recomendados, de exposição para a crisotila, embora existam dúvidas na conversão de mpcf em f/ml, mesmo pela aplicação de um fator de conversão conservador de 1 mpcf ~ 3 f/ml., as referências acima mencionadas, incluindo estas atualizações, dão um forte apoio para a recomendação do "Grupo de Especialistas" convocado pela OMS (Oxford, 1989), de um TLV (Limite de Tolerância) de 1 f/ml para o amianto crisotila. RISCO ASSOCIADO COM BAIXOS NÍVEIS DE AMIANTO NO AR AMBIENTE Com relação à exposição da população em geral, repetidos estudos falham, de modo consistente, em encontrar um aumento na incidência de doença respiratória nos moradores que viveram a vida toda nas cidades mineiras de crisotila de Quebec, que nunca estiveram empregados na indústria. Estas populações foram expostas a níveis menores do que os trabalhadores das minas, mas maiores do que aquelas populações em geral de quaisquer outros lugares. Seguem as referências sobre esses estudos: Churg, A. (1986). Lung asbestos content in long-term residents of a chrysotile mining town. American Review of Respiratory Disease, 134 (1):125-127. Estudo que compara os efeitos à saúde dos residentes nas cidades mineiras de crisotila, onde os níveis são de 200 a 500 vezes mais elevados do que os observados para os residentes urbanos da maior parte das cidades Norte Americanas. Apesar de níveis maiores nessas cidades mineiras, não foi encontrada nenhuma evidência de um maior número de doenças relacionadas com o amianto. O autor conclui: 13 "Estas observações dão a tranqüilidade de que exposição ao amianto crisotila no ar urbano, ou nas construções públicas, não produzem doença detectável". Isto está de acordo com outros relatórios sobre os residentes das cidades mineiras de crisotila do Quebec, que são insuficientes para demonstrar excesso de incidência de doenças respiratórias. Estes são: McDonald, A.D. e McDonald, J.C. (1980). Malignant mesothelioma in North America. Cancer 46 (7):1.650-1.656. Siemiatycki, J. (1982). Health effects on the general population (mortality in the general population in asbestos mining areas). Proceedings, World Symposium on Asbestos, Montréal, 25-27 May, pp. 337348. Pampalon, R., Siemiatycki, J. et Blanchet, M. (1982). Pollution environmental par l'amiante et santé publique au Québec. Union Médicale du Canada 111 (5):475-489. McDonald, J.C. (1985). Health implications of environmental exposure to asbestos. Environmental Health Perspectives 62:319-328. Camus, M., Siemiatycki, J.and Meek, B. (1998). Nonoccupational Exposure to Chrysotile Asbestos and the risk of Lung cancer. New Engl. J. Med. 338 (22):1566-1571. 4 - EVIDÊNCIAS SOBRE A EMISSÃO DE FIBRAS DE AMIANTO RESULTANTE DO USO DE COMPOSTOS DE CRISOTILA DE ALTA DENSIDADE: MATERIAIS DE FRICÇÃO E CIMENTO-AMIANTO. AMIANTO NOS MATERIAIS DE FRICÇÃO A questão do grau de contribuição para o meio ambiente em geral das fibras de amianto resultantes do uso do amianto em materiais de fricção, também recebeu muita atenção. Por mais de 70 anos, o amianto, onde a maior parte é de crisotila (de 25% a 65% em peso), foi o principal constituinte dos materiais de fricção automotivos, conferindo resistência mecânica, flexibilidade e resistência ao calor às guarnições de freios, além das propriedades de fricção e desgaste. Investigações abrangentes conduzidas com a assistência da EPA americana, mostraram que, na média, mais do que 99,7% do amianto emitido como resultado do desgaste e da abrasão, foi convertido em outros produtos como a forsterita, um material que não foi caracterizado como carcinogênico para animais. Alem disso, foi determinado que esse amianto (menos que 1%), pode estar presente nos resíduos de desgaste, que 14 consistem predominantemente de fibras muito pequenas (0,3µ), que não são consideradas patologicamente importantes. Desse modo, a emissão de fibras livres, resultantes do desgaste das guarnições de freios, é um fator de risco à saúde desprezível na poluição do ar urbano. De fato, as concentrações de amianto no ar, resultantes dos freios dos veículos nas grandes cidades norte americanas, são avaliadas na faixa de 0,051 ng/m3 (Rochester, NY) a 3 0,258 ng/m (Los Angeles, CA). Se for utilizado um fator de conversão de 30 fibras por nanogramo (ng), medidas por microscopia óptica, os valores para Los Angeles seriam de 7,74 f/m3, ou 0,000007 f/ml. As publicações relativas às considerações acima, são apresentadas nas seguintes referências , agrupadas em dois sub-títulos: A - Decomposição do amianto resultante do uso dos freios; B - Concentrações de amianto medidas no ar urbano, resultantes dos freios dos veículos. A - Decomposição do amianto resultante do uso dos freios; Lynch, J.R. (1968). Brake lining decomposition products. Journal of the Air Pollution Control Association 18 (12):824-826. Este estudo, realizado por pesquisadores do Departamento de Saúde, Educação e Bem-estar, do Serviço de Saúde Pública americano (Cincinnati), mostra a análise da poeira obtida no interior do tambor de freio, durante a troca da guarnição e também de experimentos de laboratório projetados para permitir a amostragem dos produtos de decomposição do freio em condições de operação. Nos testes realizados, apesar de poucos, os tambores de freios dos automóveis mostraram menos de 1% de fibras livres nos resíduos de decomposição, comparados com cerca de 50% existentes na composição do freio. Nesses testes de laboratório, em que uma massa significativa de fibras livres foi liberada, a temperatura aplicada esteve em uma faixa extremamente alta para o freio em questão; se esses freios fossem submetidos a condições semelhantes em um automóvel, os freios falhariam. Os autores concluem "Apenas uma pequena proporção de amianto das guarnições de freios desgastadas são fibras livres; o restante é convertido em alguns outros minerais como resultado das temperaturas muito altas geradas em pequenos pontos na superfície do freio. Além disso, apesar do ar urbano conter poucas fibras livres como resultado do desgaste do freio, elas representam uma proporção muito pequena da quantidade total do amianto usado na fabricação do freios". Jacko, M.G., DuCharme, R.T. e Somers, J.H. (1973). Brake and Clutch emissions generated during vehicle operation. Society of Automotive Engineers, Reprint #730548:1.813-1.831. Neste relatório elaborado por cientistas da Bendix Corporation e da EPA americana, os autores afirmam que na média, durante a operação do veículo, mais do que 99,7% do amianto fica aglomerado a outras partículas, ou são liberadas como partículas de olivina ou forsterita. 15 Le Bouffant, L., Bruyère, S., Daniel, H., Martin, J.C., Henin, J.P., Tichoux, G. et Nattier, P. (1983). Influence d'un traitement Thermique des fibres de chrysotile sur leur comportement dans le poumon. Pollution Atmosphérique, Janvier-Mars:44-49 Neste estudo, amostras de amianto crisotila foram aquecidas a várias temperaturas o acima de 1.300 C. Análises por microscopia de difração eletrônica mostram que a o 700 C, a estrutura da crisotila é modificada e que a difração dos raios-x mostra que está transformada em forsterita. Injeção de uma dose de 20 mg deste material na cavidade pleural de ratos, não produziu um único tumor. Rohl, A.N., Langer, A.M., Wolff, M.S. and Weisman, I. (1976). Asbestos exposure during brake lining maintenance and repair. Environmental Research 12:110-128. Neste estudo da Escola de Medicina de Mount Sinai, os autores analisaram a composição dos resíduos do tambor de automóveis, oriundos do desgaste de freios e encontraram, em geral, apenas de 3 a 6% do peso foi reconhecido como amianto (que implica em 94 a 97% de outro material). Além disso, os autores determinaram que 80% da pequena fração do amianto encontrado nos resíduos, eram menores que 0,37µ de comprimento, que significa que talvez apenas 1% das fibras poderiam ser maiores que 5µ. ORCA (1984). Report of the Royal Commission on Matters of Health and Safety Arising from the Use of Asbestos in Ontario, pages 571 and 574. No volume 2 do Relatório, os membros da comissão indicam que de acordo com Sébastien, que conduziu um grande número de medições, 2 f/ml. medidas opticamente, equivalem aproximadamente a 100.000 nanogramas/m3, com base na análise por TEM (microscopia de transmissão eletrônica). Esta conversão poderia significar que 1 nanogramo de amianto contém 20 fibras. Entretanto, os autores indicam no seu relatório que usaram o fator de conversão de 30 fibras = 1 nanogramo que é o sugerido pela EPA. B - Concentrações de amianto medidas no ar urbano, resultantes dos freios dos veículos. Anderson, A.E., Gealer, R.L., McCune, R.C. and Sprys, J.W. (1973). Asbestos emissions from brake dynamometer tests. Society of Automotive Engineers, Reprint #730549:1.832-1.841. Este relatório, elaborado pelo Grupo de Pesquisadores Científicos da Ford Motor Corporation, indica que a análise de amianto por TEM (Microscopia de Transmissão Eletrônica), de uma amostra de ar durante a frenagem, em condições normais e a altas temperaturas, em testes de dinamômetro da produção de guarnições de embreagens, mostra que a maior parte amianto se converte em um material não 16 fibroso, devido as altas temperaturas na superfície do freio, e que menos do que 0,02% dos resíduos de desgaste são fibras de amianto. A concentração das fibras de amianto na atmosfera urbana devido ao uso dos freios foi estimada em um valor menor que 0,07 nanograma/m3. Usando o fator de conversão mencionado na referência ORCA (1 ng = 30 fibras), este valor torna-se 0,0000021 f/ml. Versar, Inc. (1987). Revised Draft Report / Nonoccupational Asbestos exposure. EPA Contract no. 68-02-4254, Task no. 31, September 25. Neste relatório preparado pela EPA americana ( páginas 2-1 a 2-27), os autores estimam que a concentração de amianto no ambiente nacional, oriunda dos freios dos veículos, é de 0,057 nanogramos/m3 (0,0000017 f/ml), com Los Angeles mostrando o mais alto valor estimado de 0,258 ng/m3 (0,0000077 f/ml). CIMENTO-AMIANTO Deve ser mencionado, de início, que o risco de qualquer efeito à saúde, relativo a amianto não friável nas construções públicas, é considerado pela maioria dos autores como sendo inexistente, ou extremamente baixo, e o custo da remoção não (6) é garantido. Com relação à contribuição para o ambiente que resulta do uso dos materiais de construção contendo amianto de alta densidade, são apropriadas as seguintes observações: Teichert, U. (1986). Immissionen dufch Asbestzement-Produkte, Teil 1 Staub Reinhaltung der Luft, vol. 46, no. 10, pp. 432-434. "...O estudo sobre emissão, desenvolvido com materiais revestidos e não revestidos de cobertura, mostraram baixas concentrações de fibras de amianto, mesmo quando foi observada severa corrosão em telhados de cimento-amianto, revestidos ou não, e uma quantidade considerável de material contendo amianto pode ser removida por sopro ou sucção. As concentrações de fibras de amianto, que foram medidas em áreas habitadas, encontram-se bem abaixo do nível considerado aceitável pelas Autoridades de Saúde da República Federal da Alemanha (5), isto é, claramente abaixo de 1.000 f/m3 (comprimento ≥ 5µ)." (1.000 fibras/m3 = 0.001 fibras/ml). Felbermayer, W. and Ussar, M.B. (1980). Report: "Airborne Asbestos Fibres Eroded from Asbestos Cement sheets". Summary Institut für Umweltschutz und Emissionsfragen, Loeben, Austria. "...Uma comparação das concentrações de fibras de amianto nessas áreas com, ou sem, telhados A/C, leva à conclusão que não existe conexão estatisticamente 17 significativa entre o uso de materiais de cimento-amianto e concentrações de fibras de amianto, observado nas várias áreas avaliadas." Fibras de amianto em suspensão no ar (l>5µ; d<3µ) medidas em: Área urbana com alta densidade de tráfego: Área de ocorrência natural de amianto: Área urbana com telhados A/C: Área urbana sem telhados A/C: 4,6 f/L (0,0046 f/ml) 0,2 f/L (0,0002 f/ml) <0,1 f/L (0,0001 f/ml) <0,1 f/L (0,0001 f/ml) A - CIMENTO-AMIANTO NAS ESCOLAS O público e a mídia noticiosa tem manifestado preocupação em face dos possíveis efeitos adversos sobre a saúde das crianças (em particular), causados pelas fibras de amianto liberadas pela ação do clima, dos produtos de cimento-amianto nas escolas e outras construções. Na Austrália, um "Grupo de Trabalho sobre Produtos de Cimento-Amianto", foi estabelecido pelo Comitê Consultivo sobre Substâncias Perigosas da Austrália Ocidental (WA). Em dezembro de 1989, foi apresentado para o Ministro da Educação um relatório preliminar relativo à questão acima. O relatório final para o Comitê Consultivo sobre Substâncias Perigosas foi publicado em agosto de 1990. Notas importantes do relatório: O relatório contém diferentes seções: descrição dos produtos de cimento-amianto; produção e uso; efeitos à saúde; levantamento nas escolas e outras medidas importantes da concentração de amianto. Adicionalmente às recomendações apropriadas, o relatório também contém vários apêndices, incluindo um sobre "Os efeitos dos Produtos de Cimento-Amianto - Uma revisão da Literatura" e outro sobre "Concentrações Aceitáveis de Fibras de Amianto no Ar no Meio Ambiente em Geral", ambos preparados pelo Dr. Nicholas de Klerk, do Conselho de Pesquisa Médica, Unidade de Epidemiologia, UWA. A impressão global do relatório, provavelmente pode ser melhor resumida pela própria conclusão de Klerk sobre a estimativa do risco a baixas concentrações de amianto no ar: "A maior parte destas estimativas encontram-se no limite que a Sociedade Real (Royal Society) considera aceitável, ou abaixo dele. Existem, entretanto, níveis mais elevados aceitos pelos EUA. O relatório do IPCS de 1986, não tiveram a mesma preocupação para estimar tais riscos e resumiu o risco relacionado com a exposição não ocupacional como indetectavelmente baixo. De fato, o Sumário Executivo indica: "1.7 - Para escolares, o risco estimado, extrapolado das situações ocupacionais, indicam que, mesmo no "pior caso" de desgaste do cimento amianto em situações climáticas adversas, é provável resultar em menos de uma morte adicional por um milhão de pessoas, por ano. Isto corresponde a um valor 100 vezes menor do que os riscos normais aceitos para tais crianças no processo de crescimento. Também pode ser comparado ao risco de morte 18 por todas as causas, para um homem aos 40 anos de idade que é de 2.000 por um milhão de pessoas, por ano. O nível do risco é baixo o suficiente para ser considerado desprezível em comparação com outros riscos na nossa sociedade. O Sumário Executivo também menciona que, com base nos resultados da monitoração do ar, “...estimativas da concentração de fibras de amianto no ar, ao redor das escolas com telhados de cimento-amianto na Austrália Ocidental sugerem que as concentrações não excedem a 0,002 fibras/ml. e é mais provável que seja menor que 0,0002 fibras/ml. Estas observações, com as que são conhecidas de outras experiências (veja apêndice 2), podem sugerir que os produtos de cimentoamianto nas escolas representam um risco desprezível à saúde.” Com relação ao controle da liberação de fibras de amianto dos produtos de cimentoamianto instalados, o relatório indica que: “Os resultados finais das pesquisas desenvolvidas pelo Comitê Consultivo sobre Substâncias Perigosas da Austrália Ocidental indica risco desprezível à saúde dos produtos de cimento-amianto. O Comitê conclui, por isso, que não é necessário, no âmbito da saúde, exigir o uso de revestimentos, ou de sistemas similares de contenção, nos produtos de cimentoamianto. O Comitê expressa a preocupação de que algumas pessoas possam ser induzidas a tratar os telhados, como resultado de propaganda baseada em afirmações, sem fundamento, de riscos à saúde associados com os telhados de cimento-amianto. O relatório menciona (7) “Um telhado de cimento-amianto que não tem deterioração, onde a segurança física, ou a integridade estrutural, estão fora de preocupação, não deve ser substituído. Adicionalmente, um telhado de cimento-amianto não deve ser tratado com revestimento, tendo por base o risco à saúde. Outros produtos de cimento-amianto geralmente são menos propensos à deterioração e não requerem atenção para os propósitos de saúde”. (Recomendação 2.1). B - TUBOS DE CIMENTO-AMIANTO O uso de tubos de cimento-amianto (A/C) é muito antigo, do começo dos anos 20, e estima-se que até o final dos anos 90, de 3 a 4 milhões de quilômetros de tubos estarão instalados no mundo todo para o transporte de água potável. Águas altamente agressivas podem atacar a matriz de cimento e, conseqüentemente, levar à liberação de fibras na água que circula no interior dos tubos e os tubos de cimento-amianto não são recomendados para uso sob tais condições altamente corrosivas, a menos que sejam protegidos com revestimentos internos especialmente desenvolvidos para essa finalidade. Há muito tempo, o resultado da maioria dos estudos publicados indicam que as fontes de água já contém fibras de amianto (quase sempre muito menores que 1µ de comprimento), antes de passar através dos sistemas de tubos A/C e, freqüentemente, em números que alcançam vários milhões por litro. É de consenso geral que os tubos A/C não são causadores do conteúdo de fibras de amianto na água e que as quantidades encontradas estão dentro das previstas pela ocorrência natural. Quanto ao risco para a saúde conseqüente da presença de amianto na água potável, resultados de vários anos de investigações laboratoriais realizadas em 19 animais alimentados, durante toda sua vida, com quantidade muito grande de amianto incorporado em sua dieta (vários bilhões de fibras por dia), falharam consistentemente em indicar qualquer aumento na incidência de tumores gastrointestinais, ou de quaisquer outras alterações patológicas no trato gastrointestinal. Estudos epidemiológicos sobre os efeitos na saúde humana dos níveis de amianto na água potável, não indicam qualquer aumento no risco de tumores do trato alimentar, conseqüentes à ingestão direta de fibras de amianto. As evidências publicadas para sustentar as afirmações acima, encontram-se nas referências dos 3 sub-itens seguintes: a - presença de amianto no suprimento público de água potável b - ingestão de amianto: resultados de estudos com animais c - ingestão de amianto: resultados de estudos humanos. a - presença de amianto no suprimento público de água potável Hallenbeck, W.H., Chen, E.H., Hesse, C.S., Patel-Mandlik, K. and Wolff, A.H. (1978). Is chrysotile asbestos released from asbestos cement pipe into drinking water. Journal of American Water Works Association 70 (2):97-102. Um estudo de 15 sistemas de suprimento de água no estado de Illinois (EUA), onde alguns tubos de cimento-amianto têm mais do que 50 anos de idade e onde a agressividade da água era, de nula, a moderada, não mostra diferenças significativas nas quantidades de amianto antes e depois de passar pela rede de tubos de cimento-amianto. Commins, B.T. (1983). Asbestos fibres in drinking water. Scientific and Technical Report - STR1, Commins Associates, Maidenhead, U.K.:1-73. Este relatório contém uma tabela (páginas 38 a 44) onde as concentrações de fibras de amianto na água potável, em várias localidades no Canadá, EUA, U.K. e Suécia, foram tabuladas e relacionadas com as referências aos estudos. A tabela indica que as concentrações de fibras de amianto na água potável variam na faixa de zero a 1,8 bilhões por litro. b - ingestão de amianto: resultados de estudos com animais Truhaut, R. and Chouroulinkov, I. (1989). Effect of long-term ingestion of asbestos fibres in rats. In Non-Occupational Exposure to Mineral Fibres, Eds. J. Bignon, J. Peto and R. Saracci. WHO/IARC Scientific Publications No. 90, Lyon:127-133. Um estudo no qual ratos foram alimentados com misturas de amianto incorporado em óleo vegetal. Os animais foram alimentados diariamente, por 24 meses, e 20 mantidos sob observação por um período adicional de 6 meses. Os resultados levaram os autores a concluir: "Em conclusão, a ingestão de crisotila, ou de uma mistura de crisotila/crocidolita (75%/25%), em várias doses e, mesmo nas mais altas, não comprometeu a saúde dos ratos e não houve nenhuma evidência de aumento na freqüência de tumores do trato alimentar, ou de tumores em geral". Bolton, R.E., Davis, J.M.G. and Lamb, D. (1982). The pathological effects of porlonged asbestos ingestion in rats. Environmental Research 29:134-150. Um estudo no qual os autores confirmam os resultados das duas investigações anteriores, não encontrando aumento de tumores malígnos e nenhuma anormalidade na mucosa gastrointestinal, nos animais de laboratório, após ingestão prolongada (acima de 25 meses) de fibras de amianto. Os autores afirmam que o trabalho "...sugere que o aparelho gastrointestinal, normal e saudável, mantém uma barreira efetiva contra o efeito potencialmente danoso da ingestão de amianto...". c - ingestão de amianto: resultados de estudos humanos. Toft, P., Wigle, D., Meranger, J.C. and Mao, Y. (1981). Asbestos and drinking water in Canada. The Science of the Total Environment 18:77-89. Depois de revisar os estudos epidemiológicos nas cidades canadenses, a conclusão foi que estes estudos não mostram evidências consistentes e convincentes do aumento do risco de câncer atribuível à ingestão de água de consumo, contaminada por amianto, mesmo quando as concentrações de amianto foram relativamente alta em várias comunidades. Uma nota merecedora de destaque, é a taxa de mortalidade extremamente baixa para todos os cânceres gastrointestinais, na área de Sherbrooke (Québec), onde existe uma alta concentração de fibras de amianto no suprimento de água potável (aproximadamente, 150 milhões de fibras por litro), quando comparada com cidades com concentrações mais baixas. Conforti, P.M., Kanarek, M.S., Jackson, L.A., Cooper, R.C. e Murchio, J.C. (1981). Asbestos in drinking water and cancer in the San Francisco Bay area: 1969-1974 incidence. Journal of Chronic Diseases 34 (5):211-224. O único relatório, entre os diversos estudos sobre saúde e água potável, que sugere uma relação com o câncer gastrointestinal, mas mesmo assim, essa relação é fraca, porque apenas uma fração das várias análises realizadas por Conforti e seus colaboradores apontavam para tal relação, e também porque os próprios autores reconheceram que fatores complicativos importantes, tais como tabagismo, história ocupacional e consumo alcoólico, não foram considerados nos seus estudos. 21 Meigs, J.W., Walter, S.D., Heston, J.F., Millette, J.R., Craun, G.F., Woodhull, R.S. e Flannery, J.T. (1980). Asbestos-cement pipe is no danger in Connecticut. The state needn't change its distribution network. Water and Sewage Works 127 (6):66-93. O principal autor deste relatório, D. J. Walter Meigs, Diretor da Unidade de Epidemiologia do Câncer de Connecticut e Professor de Epidemiologia Clínica da Escola de Medicina da Universidade de Yale, afirma: "Está reafirmada a falta de evidência para os riscos de câncer pelo uso de tubos A/C. É consistente com a maioria dos estudos de outras áreas dos EUA. Os resultados não evidenciaram nenhum motivo para a mudança das políticas vigentes de distribuição de água, devido ao uso de tubos A/C para o suprimento de água de Connecticut". Polissar, L., Severson, R.K., Boatman, E.S. and Thomas, D.B. (1982). Cancer incidence in relation to asbestos in drinking water in the Puget Sound region. American Journal of Epidemiology 116 (2):314-328. O local do estudo foi Puget Sound na região oriental de Washington e foram utilizadas para comparação as três maiores áreas metropolitanas (Everett, Seattle e Tacoma). Everett foi a "municipalidade com alta exposição", onde os níveis de amianto variaram de 37,2 a 556 milhões de fibras por litro. Seattle e Tacoma tinham concentrações relativamente baixas, em média de 7,3 milhões de fibras por litro. As três áreas metropolitanas foram subdivididas de acordo com o censo regional, agrupadas pela concentração de amianto. Dados sobre a incidência de câncer foram obtidos dos registros nacionais e a informação sobre a mortalidade por câncer através dos certificados de óbito. A duração da exposição ao amianto na água potável foi estimada e subdividida em dois grupos: maior que 30 anos versus menor que 30 anos. Após os resultados das análises, o principal pesquisador, Dr. Lincoln Polissar, do Centro de Pesquisa em Câncer Fred Hutchinson, concluiu que: "Os resultados deste estudo, e dos estudos anteriores sobre câncer relacionado com a presença de amianto na água, são inconsistentes e fornecem poucas evidências de que o amianto no suprimento de água da comunidade, tenha alterado o risco de qualquer câncer". MacRae, K.D. (1988). Asbestos in drinking water and cancer. Journal of the Royal College of Physicians of London 22 (1):7-10. Neste artigo de revisão, o autor conclui: "assim, poderia parecer altamente improvável que o sistema de distribuição que utilizam tubos de cimento-amianto represente qualquer contribuição biologicamente significativa para o conteúdo de amianto na água que passa através dos mesmos". "...É altamente improvável que a liberação de amianto dos tubos de cimento-amianto seja relevante no desenvolvimento do câncer". Millette, J.R., Craun, G.F., Stober, J.A., Kraemer, D.F., Tousignant, H.G., Hidalgo, E., Duboise, R.L. e Benedict, J. (1983). Epidemiology study of the use 22 of asbestos-cement pipe for the distribution of dirinking water in Escambia County, Florida. Environmental Health Perspectives 53:91-98. Algumas áreas na Flórida estão sendo abastecidas com água potável através de tubos de cimento-amianto de 30 a 40 anos. Os autores mencionam: "Neste estudo, não foi encontrada nenhuma evidência para uma associação entre o uso de tubos A/C para transporte de água potável e mortes devidas ao câncer, ou qualquer outra patologia do sistema gastrointestinal". 5 - CONCLUSÕES GERAIS Para todos os materiais fibrosos respiráveis, naturais, ou artificiais, as dimensões das fibras (comprimento e diâmetro) e o tempo de retenção seletiva (biopersistência) devem ser considerados na avaliação do perigo e risco à saúde. Efeitos adversos estão associados com as fibras que são retidas no pulmão, ao contrário daquelas que são eliminadas. A crisotila é eliminada rapidamente do pulmão, enquanto que os anfibólios (crocidolita e amosita) estão caracterizados por biopersistência extremamente longa. A hipótese do "simples contato" é contraditória com a evidência dos estudos de biopersistência. A evidência dos estudos de morbidade, mortalidade e de conteúdo de fibras no pulmão, dão respaldo ao conceito de um potencial patogênico muito mais baixo para a crisotila, se comparada com os anfibólios. Estas diferenças devem ser consideradas quando vão ser estabelecidos os valores dos limites de tolerância nos locais de trabalho (TLV). Recentes atualizações de estudos epidemiológicos são consistentes com um limite de exposição, abaixo do qual não é detectado nenhum efeito adverso. Os riscos à saúde associados com a exposição à crisotila dizem respeito ao ambiente de trabalho; os riscos para a população em geral, se existirem, estão "abaixo do limite de detecção". Com o uso e manutenção normais, a emissão de fibras dos atuais compostos de amianto de alta densidade, como materiais de fricção e de cimento-amianto, é mínima e não constitui um risco mensurável para a população em geral, nem para o meio ambiente. 23 Os riscos são associados com a inalação e não com a ingestão. Desse modo, os materiais dos tubos de cimento-amianto são seguros, porque os estudos epidemiológicos são insuficientes para demonstrar os riscos. Bibliografia: 1 - Wagner JC and Pooley FD (1986) Thorax 41:161-166). 2 - Albin M., Pooley FD, Strömberg U, Attewel R, Mitha R. Johansson L., Welinder H (1994) Occup Environ Med 51: 205-211. 3 - Bellman and Muhle (1995) Um relatório apresentado ao Schriftenreihe (Secretário) do Bundesanstalt für Arbeitsschutz (Escritório Federal para a Proteção do Trabalhador). 4 - Bernstein, D. (1997) Correlation between short term biopersistence and chronic toxicity studies. A report to the Joint Research Center, European Chemicals Bureau, ISPRA, Italy. 5 - Liddell, F.D.K., McDonald, A.D. and McDonald, J.C.. The 1891-1920 Birth Cohort of Quebec Chrysotile Miners and Millers: Development from 1904 and Mortality to 1992. Ann. Occup. Hyg. 41:13-35 (1997). 6 - Whysner, J., Covello, V.T, Kuschner, M., Rifkind, A.B., Rozman, K.K., Trichopoulos, Williams, G.M. (1994) Asbestos in the air of public buildings: A public health debate? Prev. Med. 23:119-125. 7 - Cópia do Relatório pode ser obtida junto ao Chief Scientific Officer (Hygiene), Department of Occupational Health, Safety and Welfare of Western Australia, Westcentre, 1.260 Hay Street, P.O. Box 294, West Perth (WA), 600 AUSTRALIA. 24
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