falácias não-formais - História Intelectual
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falácias não-formais - História Intelectual
FALÁCIAS NÃO-FORMAIS As falácias lógicas são erros de raciocínio ou de argumentação, erros que podem ser reconhecidos e corrigidos por pensadores prudentes. O ponto central de um argumento é expor razões que sirvam de suporte para alguma conclusão. Um argumento comete uma falácia quando as razões apresentadas, de fato, não sustentam a conclusão. TIPOS DE FALÁCIAS Apelo a Sentimentos em Vez de Razões Apelo à Força: o ouvinte é persuadido a concordar pela força Apelo à Piedade: apela-se à compaixão ou simpatia do ouvinte Apelo ao Povo: defende-se que uma proposição é verdadeira porque segundo a maioria da população ela é verdadeira Fugir do Assunto Ataques Pessoais: o (1) ataque ao caráter da pessoa o (2) referem-se circunstâncias relativas à pessoa o (3) invoca-se o fato da pessoa não praticar o que diz Apelo à Autoridade: o (1) a autoridade não é um perito no campo em questão o (2) não há acordo entre os peritos do campo em questão o (3) a autoridade não pode, por algum motivo ser levada a sério porque estava brincando, estava bêbada, etc. o (4) Autoridade Anônima: a autoridade em questão não é declarada Apelo à Ignorância: conclui-se que uma proposição é falsa (ou verdadeira) porque não se sabe se é verdadeira (ou falsa) Lógica & Argumentação: Temas Básicos em Epistemologia. Outubro de 2008. Profª. Dra. Sara Albieri – Departamento de História – Universidade de São Paulo. 1 Escondendo o Jogo Petição de Princípio: a verdade da conclusão já estava presumida nas premissas Pergunta Complexa: duas proposições são ligadas no que aparenta ser uma só pergunta. Falácias Indutivas Generalização Precipitada: a amostra é demasiado pequena ou nãorepresentativa para apoiar uma generalização indutiva sobre o domínio em questão Acidente: aplica-se uma generalização a um caso no qual as circunstâncias sugerem que deve tratar-se de uma exceção Falsa Analogia: desprezam-se diferenças relevantes entre os objetos ou acontecimentos comparados Post Hoc: pelo fato de algo acontecer após outra coisa, diz-se que a primeira é causa e a segunda, efeito Falácias da Ambigüidade Equívoco: o mesmo termo é usado em dois sentidos diferentes Anfibologia: a estrutura de uma frase permite duas interpretações diferentes Erros de Categorização Composição: como os atributos das partes de um todo têm certa propriedade, argumenta-se que o todo tem esta propriedade Divisão: como o todo tem uma certa propriedade, argumenta-se que as partes têm essa propriedade Non Sequitur Afirmação do Conseqüente: qualquer argumento na seguinte forma: Se A então B, B, portanto A Negação do Antecedente: qualquer argumento na seguinte forma: Se A então B, Não A, portanto Não B Inconsistência: o argumentador usa premissas que não podem ser simultaneamente verdadeiras Lógica & Argumentação: Temas Básicos em Epistemologia. Outubro de 2008. Profª. Dra. Sara Albieri – Departamento de História – Universidade de São Paulo. 2 DESCRIÇÃO DE FALÁCIAS Apelo a Sentimentos em vez de Razões 1) AD BACULUM (recurso à força): é a falácia que se comete quando se recorre à força, à coação, à ameaça física para convencer alguém da verdade de uma idéia. Exemplos: a) Hoje serei eu o centroavante. Afinal, a bola é minha. B) O senhor deve confessar que cometeu o crime. Às vezes não consigo conter a raiva e o nervosismo dos meus ajudantes nesses interrogatórios. 2) AD MISERICORDIAM (apelo à compaixão): é a falácia que se comete quando se lança mão de afirmações emocionais que apelam para a piedade, forçando, assim, a aceitação de uma conclusão.Afirmações misericordiosas não possuem necessariamente solidez lógica para sustentar algo que se crê verdadeiro. Exemplos: Sim senhor, me considero merecedor de um aumento. Tenho três filhos pequenos em idade pré-escolar, minha esposa trabalha e os deixa sozinhos, sustento minha mãe, e o meu salário mal dá para comprar comida e remédios. 3) AD POPULUM (apelo ao povo): é a falácia que se comete ao dirigir um apelo “à maioria” para conquistar a sua anuência a uma conclusão que não é sustentada por boas provas. É uma tentativa de ganhar a concordância popular para uma conclusão, despertando as paixões e o entusiasmo da multidão. É o recurso favorito do propagandista, do demagogo e do publicitário. O político em campanha eleitoral ‘argumenta’ que merece nossos votos porque “todo mundo” vai votar nele. Dizem-nos que ‘tal marca’ de comestíveis, ou de cigarros, ou de automóveis é a ‘melhor’, porque é a mais vendida. Certa opinião deve ser verdadeira porque “todo mundo sabe disso”. Em nosso tempo tal falácia tem quase o status de uma arte superior. Fugir do Assunto 3) AD HOMINEM (ao homem; envenenar o poço): é a falácia que se comete quando, no lugar de se tentar refutar a pretensa verdade do que é afirmado, ataca-se o homem que fez a afirmação. O caráter pessoal de um homem é logicamente irrelevante para determinar a verdade ou falsidade do que ele diz ou a correção de seu argumento. Exemplos: a) A Lógica & Argumentação: Temas Básicos em Epistemologia. Outubro de 2008. Profª. Dra. Sara Albieri – Departamento de História – Universidade de São Paulo. 3 filosofia de Bacon é inadequada e medíocre, pois ele foi demitido de seu cargo de Chanceler por desonestidade. B) A afirmação do deputado não é verdadeira. Como membro do partido comunista, suas opiniões não são confiáveis. 4) AD VERICUNDIAM (apelo à autoridade): é a falácia que se comete quando se utiliza a afirmação de um grande expoente de uma área de conhecimento para se tentar reforçar a conclusão de um argumento cujo assunto não pertence à área de conhecimento desse grande expoente. Diante da extrema especialização das áreas que estamos presenciando no mundo intelectual contemporâneo, uma autoridade num ramo não pode jamais ser confundida com uma autoridade de outro ramo fora de sua especialidade. Exemplo: Deus deve existir. pois grandes cérebros do ocidente acreditaram nisso, como Newton, Kepler e outros. 5) AD IGNORANTIAM (por ignorância): é a falácia que se comete quando se tenta provar a verdade de uma afirmação na base, simplesmente, de que não foi provada sua falsidade ou, em contrapartida, quando se tenta provar a falsidade de uma afirmação na base de que não foi provada sua verdade. Nossa ignorância para provar ou refutar uma proposição não basta, evidentemente, para estabelecer a sua verdade ou falsidade. Exemplos: a) Os fantasmas existem, visto que ninguém foi capaz de provar que não existem. B) Jamais qualquer espécie de escândalo foi feito em torno da pessoa do governador: logo, ele deve ser um homem incorruptível. Escondendo o Jogo 6) PETITIO PRINCIPII (petição de princípio): é a falácia que se comete quando se adota como premissa a própria conclusão que a pessoa tenciona provar. Exemplo: Aquele aluno afirmou que sou seu professor favorito. Ele deve estar dizendo a verdade, pois não mentiria ao seu professor favorito. 7) PERGUNTA COMPLEXA: É óbvio que existe algo de ardiloso em perguntas do tipo: "Você já abandonou seus maus hábitos?" ou "Você deixou de bater em sua esposa"? Não se trata de perguntas que podem ser respondidas com Sim ou Não. Perguntas deste tipo pressupõem uma resposta oferecida a uma pergunta anterior, que nem sequer foi Lógica & Argumentação: Temas Básicos em Epistemologia. Outubro de 2008. Profª. Dra. Sara Albieri – Departamento de História – Universidade de São Paulo. 4 formulada. Assim, a primeira pressupõe que a resposta SIM tenha sido dada à pergunta não formulada: "Você tinha antes maus hábitos'?" E a segunda pressupõe uma resposta afirmativa à seguinte pergunta, igualmente não formulada: "Você já bateu alguma vez na sua esposa?” Outro tipo de falácia de pergunta complexa é a seguinte. Uma mãe pode perguntar ao seu filho pequeno: "Quer ser um bom menino e ir pra cama?” Trata-se claramente de duas perguntas: uma delas não pressupõe uma determinada resposta à outra. O que está errado é a suposição de que deve ser dada uma única resposta a ambas as perguntas. Finalmente, um terceiro tipo de pergunta complexa envolve certas ligações suspeitas entre termos classificatórios, por exemplo: "João é um radical fanático" ou “Luís é um conservador irracional". Neste caso, como nos demais, é preciso dividir a pergunta complexa. As respostas poderiam ser: radical sim, mas não fanático; e conservador sim, mas não irracional. Falácias Indutivas 8) GENERALIZAÇÃO APRESSADA: é a falácia que se comete quando se parte da observação de alguns casos particulares- em número reduzido – e se afirma que em todos os casos possíveis ocorre o que foi observado. Exemplo: Pedro é rico, Luís é rico, Otávio é rico. Logo todos os alunos da USP são ricos. 9) DICTO SIMPLICITER (acidente ou generalização não-qualificada): é a falácia que se comete quando se parte de uma generalização irrestrita ou não qualificada para dela retirar uma conclusão qualquer. Quando se afirma uma generalização, deve-se sempre recorrer a algum tipo de restrição, isto é, deve-se sempre procurar limitar o campo no qual essa generalização possa fazer sentido. Assim, diante da generalização “todos os corpos caem” somos levados a concluir erroneamente que, dado que o sol é um corpo (celeste), ele também cai. O problema dessa conclusão não está nela mesma, mas sim na premissa (no caso a generalização) utilizada, pois, tal como é formulada, ela se aplica irrestritamente a todos os corpos do universo. Precisamos então impor-lhe uma restrição, um limite, para que ela possa ser válida apenas para certo tipo de corpos. Se a ela adicionarmos, então, a restrição “corpos que estão na biosfera da terra caem”, não mais poderemos nos referir ao sol, pois este corpo não se encontra na biosfera da terra. Assim, quando nos deparamos Lógica & Argumentação: Temas Básicos em Epistemologia. Outubro de 2008. Profª. Dra. Sara Albieri – Departamento de História – Universidade de São Paulo. 5 com uma generalização sem restrições na explicação de uma idéia, estaremos diante desta falácia. Exemplo: As leis são justas, portanto vamos todos aceitá-las. 10) FALSA ANALOGIA: é a falácia que se comete quando se compara duas situações diversas entre si e se tenta provar que uma conclusão implicada por uma delas vale para a outra, por considerá-las situações análogas. No exemplo "A democracia é um malefício para o Brasil atual, pois Hitler dela se utilizou para chegar ao poder", temos argumento falacioso clássico desse tipo. Do fato de Hitler ter chegado ao poder através de dispositivos democráticos, conclui-se que a democracia é prejudicial e se utiliza erroneamente essa conclusão em referência a outra situação (o Brasil atual) que não guarda semelhança relevante com a primeira (a Alemanha de Hitler em 1933). 11) POST HOC (depois disso, falsa causa): é a falácia que se comete quando se afirma que um acontecimento é CAUSA de outro simplesmente na base de que ocorreu primeiro. Exemplo: Sempre que os planetas se alinham, ocorrem desastres terríveis. Falácias de Ambigüidade 12) EQUÍVOCO: A maioria das palavras tem mais de um significado literal, como a palavra “pena”, que tanto se refere à cobertura que reveste o corpo das aves, como a um instrumento de escrita, ou, ainda, uma sanção ou punição. Se distinguirmos estes diferentes sentidos, nenhuma dificuldade surgirá. Mas, se confundirmos os diferentes significados que uma palavra ou frase pode ter, usando-a no mesmo contexto com diversos sentidos, sem disso nos apercebermos, então estaremos empregando-a de maneira equívoca. Um exemplo tradicional é o seguinte: “O fim de uma coisa é a sua perfeição; a morte é o fim da vida; logo, a morte é a perfeição da vida”. Este argumento é falacioso porque nele se confundem dois sentidos diferentes da palavra FIM. A palavra FIM pode significar META ou ÚLTIMO ACONTECIMENTO. Ambos os significados são, é claro, legítimos. Mas o que é ilegítimo é confundí-los, como no raciocínio já citado. 13) ANFIBOLOGIA: A falácia em questão ocorre quando se argumenta a partir de premissas cujas formulações são ambíguas em virtude, geralmente, de sua construção gramatical. Um enunciado é anfibológico quando seu significado não é claro, pelo modo confuso ou imperfeito como as suas palavras são combinadas O exemplo clássico de anfibologia relaciona-se com Creso e o Oráculo de Delfos. As declarações anfibológicas constituíam, é claro, a moeda corrente dos oráculos da Antiguidade. Creso, rei da Lídia, Lógica & Argumentação: Temas Básicos em Epistemologia. Outubro de 2008. Profª. Dra. Sara Albieri – Departamento de História – Universidade de São Paulo. 6 estava planejando uma guerra contra o reino da Pérsia. Como era um homem prudente, não desejava envolver-se numa guerra sem ter a certeza dc que a ganharia. Consultou o Oráculo de Delfos sobre o assunto c obteve a seguinte resposta: "Se Creso declarar guerra contra a Pérsia, destruirá um reino poderoso". Deliciado com tal predição, Creso iniciou a guerra e foi derrotado por Ciro, rei dos persas. Mais tarde, tendo-lhe sido perdoada a vida, Creso escreveu uma carta ao Oráculo, em que se queixava amargamente. Sua carta foi respondida pelos sacerdotes de Delfos, os quais afirmaram que o Oráculo fizera uma predição correta. Ao desencadear a guerra, Creso destruiu um reino poderoso: o seu próprio! Erros de Categorização 14) COMPOSIÇÃO: Existem dois tipos de falácias de composição. O primeiro pode ser descrito como raciocinar falaciosamente a partir das propriedades das partes de um todo para delas inferir as propriedades do próprio todo. Um exemplo particularmente flagrante desta falácia consistiria em argumentar que, se todas as partes de certa máquina são leves no peso, a máquina COMO UM TODO é também leve no peso. O segundo é bem semelhante ao primeiro. Neste caso, o raciocínio falacioso é a partir das propriedades possuídas por elementos ou membros individuais de uma coleção, para as propriedades possuídas pela coleção ou totalidade desses elementos. Por exemplo, seria falacioso argumentar que, se um ônibus utiliza mais gasolina do que um automóvel, então todos os ônibus utilizam mais gasolina do que todos os automóveis. Assim, uma simples coleção de peças não é uma máquina; uma simples coleção de tijolos não é uma casa, nem um muro. Um todo, como uma máquina, uma casa ou um muro, tem suas partes organizadas ou dispostas de um determinado modo definido. E, como as totalidades organizadas e as simples coleções se distinguem, também são diferentes as duas versões da falácia de composição, visto que uma procede, invalidamente, das partes para o todo, e a outra, dos membros componentes ou elementos para as coleções. 15) DIVISÃO : a falácia de divisão é, simplesmente, o inverso da falácia da composição. Apresenta-se nela a mesma confusão, mas a inferência desenvolve-se na direção oposta. Como no caso da composição, podem ser distinguidas duas variedades da falácia da divisão. Exemplo do primeiro tipo: "Se a Ford é unia empresa muito importante, então cada um de seus funcionários é muito importante". Exemplo do segundo tipo: "Se os estudantes Lógica & Argumentação: Temas Básicos em Epistemologia. Outubro de 2008. Profª. Dra. Sara Albieri – Departamento de História – Universidade de São Paulo. 7 estudam medicina, direito, engenharia, odontologia, etc., então, cada estudante, universitário estuda medicina, direito, engenharia, odontologia, etc.. Non Sequitur 16) PREMISSAS CONTRADITÓRIAS: é a falácia que se comete quando se recorre a idéias que se contradizem entre si para defender uma dada conclusão. Exemplo: Se Deus tudo pode, então ele pode fazer uma pedra que não possa carregar. 17) HIPÓTESE CONTRÁRIA AO FATO: é a falácia que se comete quando se nega hipoteticamente um fato e se tenta extrair conclusões verdadeiras a respeito de outro fato cuja conexão causal com o primeiro não pode ser afirmada com segurança. Exemplo: Se Jânio não tivesse renunciado, os militares não teriam tomado o poder. Essa falácia é talvez a mais simples de ser detectada. pois obedece sempre a mesma estrutura a saber: se A não ocorresse, B não ocorreria. 18) IGNORATIO ELENCHI: é a falácia que se comete quando as premissas de um argumento que servem para estabelecer uma determinada conclusão são dirigidas para provar uma conclusão diferente. Assim, num tribunal, tentando provar que o réu é culpado de homicídio, o promotor público poderá argumentar longamente que o homicídio é um crime horrível. Talvez seja capaz de provar, com êxito, essa conclusão. Mas, quando infere a culpa do réu a partir das considerações sobre o horror do crime de homicídio, ele está se desviando da questão central, que é a de provar que o réu é realmente culpado desse crime. Lógica & Argumentação: Temas Básicos em Epistemologia. Outubro de 2008. Profª. Dra. Sara Albieri – Departamento de História – Universidade de São Paulo. 8 EXERCÍCIOS Identifique as falácias nas seguintes passagens e explique como cada passagem envolve esta falácia: 1. ...devemos aceitar a tradição dos antigos que afirmavam serem filhos dos deuses – isto é o que diziam - e eles certamente conheceram seus ancestrais. Como podemos duvidar da palavra dos filhos dos deuses? Platão, Timeu 2. Claro que o socialismo é desejável. Veja os fatos. Houve um tempo em que todos os bens eram privados; agora, mais e mais pertencem ao governo. As leis de seguro social incluem muitos dos princípios que os socialistas sempre sustentaram. Estamos a caminho do socialismo, e seu triunfo completo é inevitável! 3. Nietzsche era mais filosófico pessoalmente que em sua filosofia. Sua fala sobre poder, arrogância e soberba imoralidade era a ocupação de um jovem professor inofensivo e de um inválido. G. Santayana, Egotismo na Filosofia Alemã. 4. – “Por que as ovelhas brancas comem mais que as negras?” - “Porque elas são em maior número”. 5. A assistência médica certamente é muito cara, e portanto, por essa única razão, não é acessível a todos igualmente. Leon Kass, The Public Interest. 6. Os psiquiatras disseram que, em sua opinião, Bartee não se lembra dos ataques depois de ter abusado do álcool, e, portanto não é responsável por seus crimes. 7. Os narcóticos geram a formação de um hábito. Portanto, se permitir que seu médico lhe alivie as dores com um narcótico, você se converterá, irremediavelmente, num viciado. Lógica & Argumentação: Temas Básicos em Epistemologia. Outubro de 2008. Profª. Dra. Sara Albieri – Departamento de História – Universidade de São Paulo. 9 8. Eu também admito que haja pessoas para quem mesmo a realidade do mundo exterior e as evidências levando a ele constituem um grave problema. Minha resposta é que não estou me dirigindo a eles, mas que eu pressuponho um mínimo de razão nos meus leitores. 9. Depois da praga e do Grande Incêndio de Londres, um comitê do Parlamento investigou as causas dos infortúnios. O comitê decidiu que o que mais havia desagradado o Senhor, uma vez que esses infortúnios eram devidos ao Céu, tinham sido os trabalhos do filósofo Thomas Hobbes. Foi decretado que todos os trabalhos de Hobbes fossem queimados, e que nenhuma obra sua deveria ser publicada na Inglaterra. Esta medida foi considerada pelos membros do Parlamento como tendo sido eficaz, uma vez que nunca mais houve uma praga ou Grande Incêndio em Londres. 10. Promotor: - Suas rendas aumentaram como resultado de propaganda enganosa? Testemunha: - Não. Promotor: - Aha! Então o senhor admite que a sua propaganda foi enganosa. O senhor sabe que esta conduta antiética pode lhe trazer problemas? 11. João: - Shakespeare é melhor escritor que Racine, porque as pessoas de bom gosto literário preferem Shakespeare. José: - E como decidir quem tem bom gosto literário? João: - É simples! São facilmente identificáveis por preferirem Shakespeare a Racine. 12. Em 1950, Joe McCarthy anunciou ter descoberto 81 casos de pessoas que considerava Comunistas no Departamento de Estado. Sobre o caso nº 40 ele disse: “não tenho muita informação sobre este caso, exceto a declaração da agência de que nada há nos arquivos contra suas conexões comunistas.” Richard H. Rovere, Senator Joe McCarthy 13. Defendendo um jovem, acusado de assassinar mãe e pai, seu advogado pediu clemência ao júri, apoiado no fato de que se tratava de um órfão. 1. Estabelecer o mais rapidamente possível uma estrutura salarial adequada em cada indústria é a primeira condição para controlar uma disputa competitiva; mas não há motivo Lógica & Argumentação: Temas Básicos em Epistemologia. Outubro de 2008. Profª. Dra. Sara Albieri – Departamento de História – Universidade de São Paulo. 10 para que esse processo fique por aí. O que é bom para cada indústria dificilmente pode ser mau para a economia como um todo. Twentieth Century Sociatism 2. As ameaças do terrorismo não têm sido notícias. Portanto, as ameaças do terrorismo são boas notícias, pois as más notícias chegam rápido. 3. Os acidentes de trânsito estão aumentando. As colisões entre Corsas e Celtas são acidentes de trânsito. Logo, as colisões entre Corsas e Celtas estão aumentando. 4. ... a felicidade de cada pessoa é um bem para essa pessoa e a felicidade geral, portanto, um bem para o conjunto de todas as pessoas. JOHN STUART MILL, Utilitarismo 5. Durante a guerra as conexões de espionagem inimigas foram descobertas pondo escutas nos telefones dos suspeitos. Portanto, as autoridades deveriam sempre grampear todos os telefones de pessoas suspeitas. 6. Como, de cada três crianças nascidas em Nova York a terceira é católica, as famílias protestantes aí residentes não deviam ter mais do que dois filhos. 7. É necessário confinar os criminosos e internar os lunáticos perigosos. Portanto, nada há de errado em privar pessoas de sua liberdade. 8. Os testes psicológicos estabeleceram que a preocupação do Sr. Jones com o dinheiro era acima do normal, e que a preocupação da Sra. Jones com o dinheiro era abaixo do normal. Segue-se que o Sr. Jones aprecia o dinheiro mais do que sua mulher. O casamento deles não tem muitas probabilidades de durar, pois como pode um homem suportar uma mulher se ele prefere mais o dinheiro que ela? 9. Cada fabricante está perfeitamente livre para fixar seu próprio preço do artigo que produz; então, nada há de errado se todos os fabricantes se reunirem para fixar os preços dos artigos produzidos por todos eles. Lógica & Argumentação: Temas Básicos em Epistemologia. Outubro de 2008. Profª. Dra. Sara Albieri – Departamento de História – Universidade de São Paulo. 11 10. O búfalo americano está praticamente extinto. Este animal é um búfalo americano, portanto, deve estar praticamente extinto. 11. A -- Não vejo qualquer boa razão para fazer a viagem De modo que abandonei minha intenção de ir. B -- Ah! Você admite “boas razões” para fazer a viagem Essas palavras são suas! Estou satisfeito por ouvir da sua "intenção de ir". 12. Acontecimentos improváveis dão-se quase todos os dias. Mas o que acontece quase todos os dias é um acontecimento muito provável. Portanto, os acontecimentos improváveis são acontecimentos muito prováveis. 13. Diz-se que Robert Toombs teria afirmado, pouco antes da Guerra Civil, "Nós poderíamos derrotar aqueles ianques com pés de milho". Quando perguntado, depois da guerra, o que teria saído errado, ele teria respondido, "Muito simples. Aqueles malditos ianques recusaram-se a lutar com pés de miIho.” S. J. KAHN, Jr. "Profiles (Georgia)", The New Yorher, 1978 14. Se as partes do universo não são acidentais, como pode o universo inteiro ser considerado o resultado do acaso? Portanto a existência do universo não é devida ao acaso. MOISES MAIMONIDES, The Guide for the Perplexed 15. Fallaci escreveu a ela: "Você é uma má jornalista, porque você é uma mulher má." ELIZABETH PEER, "The FaIlaci Papers” Newsweek, 1980 16. Deve haver uma porção de ofertas de emprego para formados em educação física, pois o boletim anuncia que o Diretor fará uma palestra aos formandos sobre as oportunidades de emprego esta noite na quadra de esportes. 17. Freqüentemente são encontrados cães nas ruas. Bassets Hounds são cães. Portanto bassets hounds são freqüentemente encontrados nas ruas Lógica & Argumentação: Temas Básicos em Epistemologia. Outubro de 2008. Profª. Dra. Sara Albieri – Departamento de História – Universidade de São Paulo. 12 18. O universo tem forma esférica... porque todas as partes constituintes do universo, isto é, o sol, a lua, e os planetas, aparecem desta forma. Copérnico, "A nova Idéia do Universo" 19. Sr. Brown - Não darei mais dinheiro para a sua instituição no ano que vem. Solicitante - Está bem, senhor, vamos esperar a mesma quantia que o senhor doou este ano. 20. Os Estados Unidos são a nação mais rica na história do mundo, portanto é absurdo dizer que a pobreza é um problema para os Estados Unidos. 21. A ordem é indispensável para a justiça, porque a justiça só pode ser realizada por meio da ordem legal e social. Ernest van den Haag, Punishing Criminals 22. Mais jovens estão freqüentando colégios e universidades do que em qualquer outra época em nosso país. Porém há mais delinqüência juvenil agora do que antes. Isto torna claro que, para eliminar a delinqüência entre jovens, precisamos abolir as escolas. 23. Você que discutir se devemos ou não comprar um carro novo. Eu concordo. Vamos discutir o assunto. Qual compraremos, Ford ou Chevrolet? 24.Senhores, tenho certeza de que, se refletirem melhor, verão que minha sugestão tem valor. É claro que é apenas uma sugestão, não uma ordem. Como já disse em nossa reunião passada, estou planejando reestruturar toda a empresa. Espero, contudo, que não seja necessário cortar operações em nosso departamento. 25. O Rolls-Royce é um carro inglês que faz poucos quilômetros com um litro de gasolina. Portanto, todos os carros fabricados na Inglaterra são pouco econômicos. BIBLIOGRAFIA BLANCHÉ, R. & DUBUCS, J.P. História da Lógica. Lisboa: Ed.70, 2001 Lógica & Argumentação: Temas Básicos em Epistemologia. Outubro de 2008. Profª. Dra. Sara Albieri – Departamento de História – Universidade de São Paulo. 13 COPI, I. Introduction to Logic. New York: Macmillan, 1982. _______. Introdução à Lógica. São Paulo: Mestre Jou. EPSTEIN, R.L. Critical Thinking. Belmont,Ca: Wadsworth, 1999. FISCHER, A. A Lógica dos verdadeiros argumentos. Lisboa: Ed. Novo Conceito, 2008. FLEW, A. Pensar Direito. São Paulo: Cultrix. FRANKFURT, H. Sobre Falar Merda. Ed. Intrínseca. HAACK, S. Philosophy of Logics. Cambridge: University Press, 1978. Há tradução brasileira. MORTARI, C. Introdução à Lógica. São Paulo: Ed. UNESP. SALMON, M.H. Introduction to Logic and Critical Thinking. US: Thomson Learning. SALMON, W. C. Logic. Third Edition. Prentice-Hall, 1983. _____. Lógica. LTC, 1993. SCHOPENHAUER,A. Como vencer um debate sem precisar ter razão; em 38 estratagemas (dialética erística). Rio de Janeiro: Topbooks. Há outras traduções para o português com títulos similares. WESTON, A. A Rulebook for Arguments. Hackett, 1987. _____. A Arte de Argumentar. Lisboa: Gradiva, 1996. Lógica & Argumentação: Temas Básicos em Epistemologia. Outubro de 2008. Profª. Dra. Sara Albieri – Departamento de História – Universidade de São Paulo. 14
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