Grifes investem em ligas de metal e em lapidações exclusivas para

Transcrição

Grifes investem em ligas de metal e em lapidações exclusivas para
joias
Marca
registrada
Grifes investem em ligas de metal e em lapidações
exclusivas para hipnotizar a clientela e garantir lugar
privilegiado nas caixas de joias silvana holzmeister
fernanda tricoli
Bracelete da linha 1837, que
comemora os 175 anos da
Tiffany & Co: liga de ouro
amarelo, cobre e prata batizada
de Rubedo e quatro assinaturas
na borda, inclusive a manuscrita
do fundador, Charles Tiffany
(R$ 26 000,00)
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Broche Cocinelle, da nova coleção
de peças únicas Palais de la Chance:
asas de rubis com incrustração Mystery
Setting, técnica desenvolvida pela
Van Cleef & Arpels nos anos 30
diz Luciano Rodembusch, vice-presidente da
marca para a América Latina. Na loja do shopping Iguatemi, em São Paulo, assim como na da
Quinta Avenida, as consumidoras se guiaram
pelo quase irresistível apelo de metal único, empregado numa coleção de vinte itens de edição limitada, com preços variando entre 850 reais e 35
000 reais. O senso de exclusividade é reforçado
pela gravação em baixo relevo de uma sequência
de palavras mágicas: “NY”, “T&Co”, “1837” e, por
fim, manuscrita, “Tiffany”, um decalque da assinatura do fundador Charles Lewis Tiffany.
Há um século, a joalheria já havia experimentado uma estratégia semelhante com o Tiffany Setting, no qual o brilhante é incrustado nas garras de
platina de forma que pareça estar num pedestal.
Deu tão certo que dita até hoje a cara do anel de
noivado. Em 1999, foi a vez de patentear o Lucida, o diamante quadrado. “A marca registrada de
uma joalheria pesa cada vez mais na decisão de
divulgação
E
m março, a Tiffany & Co.
anunciou uma estratégia
inédita para celebrar seus
175 anos de existência. No
lugar de peças assinadas
por um designer — a história é traçada por nomes como Jean Schlumberger, Elsa Peretti, Paloma Picasso e pelo arquiteto
Frank Gehry —, levou às vitrines a coleção “1837”,
ano de abertura da primeira loja, em Nova York.
Braceletes, colares, brincos e pingentes são, por
assim dizer, anônimos. Não ostentam nenhum
diamante amarelo, a gema que deu fama a essa
marca norte-americana, esmeralda, espinélio ou
qualquer outra pedra preciosa. Não há sequer
sinal do selo k de quilates, a medida do peso de
uma pedra ou da pureza do ouro (24k é o ouro
puro; 18k leva 75% do metal na composição com
cobre e prata). Seu apelo é de outro gênero. Ele
vem de uma liga de metal alardeada como inédita, com cor de ouro rosa, batizada (e patenteada)
de Rubedo, latim para “vermelho”.
Foram dois anos de laboratório de química e
metalurgia para chegar à mistura ideal. O jornal
The New York Times divulgou o resultado de um
raio X fluorescente do Rubedo, conduzido pela
Empiregoldbuyers.com, refinaria de Manhattan: 31% de ouro, quase 55% de cobre, um tanto
de prata e um tantinho de zinco (ou ouro 7,5k).
“Combinamos o brilho da prata ao calor do ouro”,
divulgação
Brincos Louis Vuitton:
destaque para
os diamantes Star Cut,
a estrela pontiaguda do
monograma das bolsas
da marca francesa
compra”, afirma Maria Regina Machado Soares,
autora do livro A Joia do Rio. É um jeito de ter algo
único sem depender, por exemplo, que a natureza
produza o tal diamante amarelo de 128,54 k que
celebrizou a joalheria norte-americana.
Na H. Stern, o chamado “ouro nobre” — liga
com tom entre o ouro amarelo e o branco conquistada depois de 180 combinações — responde
por 30% das peças em produção. A joalheria brasileira também tem uma lapidação própria: Stern
Star, diamante cujo corte em forma de estrela
consumiu três anos de pesquisa. A primeira leva
tinha 35 peças, vendidas em 48 horas, nas lojas
de São Paulo e Rio de Janeiro.
Grifar uma peça não é só um jeito de dar status
extra a ela, mas implica também em encontrar
uma técnica própria de tirar o melhor da pedra.
Ao fazer as flores do monograma das bolsas Louis
Vuitton reluzirem na forma dos diamantes flower
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Anel de “ouro nobre”, iolita
e diamantes da H.Stern
(R$ 12 200,00): tom entre o ouro
amarelo e o branco. Abaixo,
bracelete com quartzo fumê
Clos d’H, lapidação da Hermès
fotos divulgação
cut, de pétalas arredondadas, e star cut, pontiagudas, Lorenz Bäumer criou um corte mais brilhante,
literalmente. Têm 65 e 77 facetas, respectivamente
(o brilhante tem 56), lapidadas por quinze artesãos
de Tel Aviv. É a mesma inteligência aplicada no
Clou d’H, técnica da Hermès que renova a clássica
cabochon, criando nuances no que é arredondado,
como se fosse um casco de tartaruga. O formato realça o brilho profundo da pedra.
Criar uma marca registrada pode dar tão certo a
ponto de, enfim, virar uma espécie de monograma
da joalheria. Em 1933, a Van Cleef & Arpels lançou
o Mystery Setting, um jeito de incrustrar as pedras
sem que a estrutura de metal fique visível — as
emendas simplesmente desaparecem —, dando a
ilusão de que elas flutuam. Um broche pode levar
até 300 horas de trabalho de um único artesão e
por isso a empresa francesa reserva a técnica para
as coleções de peças únicas. Em busca de melhorar o que já é reconhecido (e copiado) à distância,
a Van Cleef agora usa pedras no formato marquesa para unificar a superfície e deixá-la ainda mais
reluzente. Diz a lenda que a lapidação, conhecida
como navete, reproduz o formato do sorriso da
Madame de Pompadour — uma encomenda do Rei
Luís XV para que a marca registrada de sua amante
reluzisse sempre no seu dedo. n
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