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1 MATÉRIA de capa Gemcit é um novo agente que tem demonstrado atividade promissora como agente único ou combinado no tratamento de alguns tumores diferentes, além das indicações já aprovadas. Atualmente, estão em andamento vários ensaios clínicos diferentes de fases II e III ................................................................................................................ 4 EDITORIAL Artigo de revisão A Revista Chymion apresenta um agente conhecido no tratamento de tumores, o cloridrato de gencitabina, que tem demonstrado atividade promissora no tratamento de câncer de mama, ovário e pulmão, entre outros, de acordo com estudos publicados recentemente. Estão em andamento, hoje, ensaios clínicos diferentes de fases II e III. Esta edição, ainda, traz um artigo de revisão que apresenta uma visão abrangente do tratamento do câncer de pulmão de não-pequenas células e mostra que algumas questões ainda precisam ser respondidas. O leitor conhecerá também o uso da cimetidina na prevenção de flebite induzida por vinorelbina. Tratamento do câncer de pulmão de não-pequenas células .............................................................................................................. 14 Espaço Sandoz Uso da cimetidina na prevenção de flebite induzida por vinorelbina .............................................................................................................. 19 Variedades Para entender a ópera .............................................................................................................. 20 Na seção “Variedades”, o tema contemplado é a ópera, uma ótima oportunidade para aqueles que desejam iniciar-se no assunto. Diferentemente do que muitos pensam, esse é um gênero musical de origem popular, que só com o tempo ocupou uma posição na música erudita. É complexa por seus inúmeros elementos e pode ser muito mais prazerosa do que se imagina, como pode-se ver nas páginas a seguir. Os editores Expediente Avenida Vereador José Diniz, 3.300, 15o andar, Campo Belo 04604-006 – São Paulo, SP. Fone: 11 3093-3300 www.segmentofarma.com.br [email protected] Prezado Doutor, Esta edição da Revista Chymion é um oferecimento da Sandoz do Brasil e se destina exclusivamente a profissionais da área de saúde. Os artigos assinados são de inteira responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião da Sandoz do Brasil. Informações de bulas dos produtos encontram-se disponíveis na última página desta edição. Diretor geral: Idelcio D. Patricio Diretor executivo: Jorge Rangel Controller: Antônio Carlos Alves Dias Diretor médico: Dr. Marcello Pedreira (CRM 65-377) Diretor editorial: Maurício Domingues Gerente de negócios: Marcela Crespi Assistente comercial: Karina Cardoso Jornalista responsável: Andrea Polimeno – Mtb 32125 Desenvolvimento de projeto: Cristiana Bravo Coordenadora de projetos internacionais: Valéria dos Santos Silva Coordenador geral: Alexandre Costa Coordenadora editorial: Caline Devèze Assistente editorial: Fabiana Souza Projeto gráfico: Renata Carvalho Variso Revisão: Patrizia Zagni e Renata Del Nero Produção gráfica: Fabio Rangel Cód. da publicação: 2772.08.07 Apoio: Sandoz do Brasil 3 MATÉRIA de capa as in antigas s e õ ç a e c i n d ov Gemcit Norma Graciela Pilnik Ph.D, Córdoba, Argentina Tradução Dra.Vilma Ribeiro de Souza Varga 4 em autora Gemcit é um análogo da desoxicitidina que apresenta atividade antitumoral Gemcit é um novo agente que tem mostrado atividade promissora como agente único ou combinado no tratamento de alguns tumores diferentes, além das indicações já aprovadas em câncer de células germinativas, malignidades hematológicas, entre outras. Tem baixo perfil de toxicidade. Atualmente, estão em andamento vários ensaios clínicos diferentes de fases II e III. Farmacologia clínica Gemcit é um pró-fármaco metabolizado no meio intracelular por nucleosídeos quinases e transformado em difosfato (dFdCDP) e trifosfato (dFdCTP) nucleosídeos. O efeito citotóxico de Gemcit é atribuído a uma combinação das duas ações dos difosfato e trifosfato nucleosídeos, o que leva à inibição da síntese de DNA. O difosfato de gencitabina inibe a enzima ribonucleotídeo redutase, que é responsável por catalisar as reações que geram os trifosfatos de desoxinucleosídeo para a síntese de DNA. O trifosfato de gencitabina compete com dCTP pela incorporação no DNA e, depois que o nucleotídeo gencitabina é incorporado ao DNA, há inibição de posterior síntese de DNA. Gemcit exibe especificidade para fase celular, eliminando primariamente células que passam pela síntese de DNA (fase S) e também bloqueando a progressão das fases por meio do limite de fases G1/S. Farmacocinética A farmacocinética da gencitabina é linear e descrita por um modelo em dois compartimentos. O volume de distribuição da gencitabina foi significantemente influenciado pela duração de infusão e pelo gênero. O clearance foi afetado pela idade e pelo gênero. As diferenças de clearance ou de volume de distribuição, com base nas características do paciente ou na duração da infusão, resultam em alterações da meia-vida e das concentrações plasmáticas. Estudos clínicos sobre as diferentes aplicações e casos clínicos Gemcit em câncer de ovário Em razão de seus sinergismos clínico e pré-clínico com análogos da platina, a gencitabina se combina à carbopla- tina como abordagem convincente no tratamento de pacientes com câncer de ovário recorrente e sensível à platina5, incluindo os pacientes com exposição prévia à platina e/ou ao taxano. Os investigadores de AGO-OVAR8 conduziram um estudo de fase III de Gemcit mais carboplatina em pacientes com câncer de ovário recorrente sensível à platina. As pacientes com câncer de ovário recorrente sensível à platina foram designadas aleatoriamente para receber Gemcit mais carboplatina ou unicamente carboplatina a cada 21 dias (Figura 1). AGO-OVAR 2.5 (GCIG): Gencitabina/Carboplatina versus Carboplatina Estudo randomizado, Fase III Pacientes com câncer de ovário recorrente sensível à platina Seis meses desde a terapia inicial com platina (n = 356) Gencitabina (1.000 mg/m2), nos dias 1 e 8 Carboplatina (ASC = 4), no dia 1 A cada 21 dias x 6 ciclos (n = 178) Carboplatina (ASC = 5), no dia 1 A cada 21 dias x 6 ciclos (n = 178) Pfisterer J et al. J Clin Oncol. 2006; 24:4699-707. Figura 1 Analisou-se a sobrevida isenta de progressão com um seguimento mediano de 17 meses, e esta foi de 8,6 meses para gencitabina mais carboplatina e de 5,8 meses para a carboplatina (p = 0,0031) (Figura 2). A taxa de resposta foi de 47,2% para Gemcit mais carboplatina e de 30,9% para carboplatina (p = 0,0016) (Tabela 1). Foi feita a estimativa da sobrevida total por intermédio da curva de Kaplan-Meier. O índice de risco para a sobrevida no braço com Gemcit e carboplatina, em comparação com o 5 MATÉRIA de capa AGO-OVAR 2.5: Sobrevida livre de progressão (SLP) 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 0 Pacientes 178 em risco 178 Braço carboplatina (n = 178) Mediana de SLP = 5,8 meses (5,2 – 7,1) Braço gencitabina/carboplatina (n = 178) Mediana de SLP = 8,6 meses (7,9 – 9,7) HR = 0,72 (IC 95%: 0,58 – 0,90) p = 0,0031 (log-rank) 6 82 125 12 29 47 18 10 17 24 5 5 30 4 1 36 2 0 42 1 0 Meses carboplatina gen/carbo Pfisterer J et al. ASCO 2004; Abstract 5005. Figura 2 Tabela 1. AGO-OVAR 2.5 (GCIG): Dados da resposta Parâmetros (%) Carboplatina (n = 178) Gemcit, 1.000 mg/m2 (30 min) nos dias 1 e 8. Carboplatina AUC 5 (Tabela 2). 47,2 30,9 Tabela 2. Modificações da dose de gencitabina no dia 8 14,6 32,6 38,2 7,9 6,2 24,7 38,8 16,3 * p = 0,0016 Pfisterer J et al. J Clin Oncol 2006; 24:4699-707. braço apenas com carboplatina, foi de 0,96 (IC 95% de 0,75 a 1,23; p = 0,7349). O estudo não teve poder estatístico para detectar diferenças significantes na sobrevida total (Figura 3). Além disso, há evidências atuais, provenientes de ensaios clínicos prospectivos randomizados, de que a carboplatina combinada com paclitaxel ou Gemcit confere vantagem na sobrevida 1.0 0,9 Probabilidade de sobrevida Dosagem e administração Gencitabina/ Carboplatina (n = 178) Resposta global (CR = PR)* • CR • PR Doença estável Doença progressiva C GC 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 Contagem absoluta de granulócitos (x 106/L) ≥ 1.500 1.000 – 1.499 < 1.000 e e/ou e Contagem de plaquetas (x 106/L) % da dose total > 100.000 75.000 – 99.999 < 75.000 100 50 manter Perfis de toxicidade Conquanto a mielossupressão fosse significativamente mais comum na combinação, foram incomuns as seqüências como neutropenia febril ou infecções. Não se observaram diferenças estatisticamente significantes para os escores de qualidade de vida entre os braços. A mielossupressão geralmente é a toxicidade limitante da dose na terapia com gencitabina (Tabelas 3 e 4). Além disso, o papel da gencitabina no câncer de ovário avançado como primeira opção terapêutica se tornará mais claro, uma vez que os resultados dos vários ensaios de fase III sejam publicados5. Nossa experiência 0,2 0,1 0 6 12 18 24 30 36 42 Meses Número sob risco C 178 155 120 76 34 14 6 2 GC 178 161 128 83 41 13 4 0 C: carboplatina; GC: Gemcit e carboplatina Pfisterer J, et al. J Clin Oncol 2006; 24:4699-707. Figura 3. Estimativas de Kaplan-Meier de sobrevida global 6 isenta de progressão em relação à monoterapia com platina para pacientes com recidiva de câncer de ovário sensível à platina. Como a eficácia dos esquemas de paclitaxel/platina e gencitabina/carboplatina parece ser comparável, com base na sobrevida isenta de progressão (ambas as combinações conferem vantagem de três meses), devem ser levados em conta os perfis de toxicidade quando se decidir sobre a combinação a ser usada. A combinação gencitabina/carboplatina deve ser preferida pelas pacientes com neuropatia periférica subjacente. Como a alopecia associada ao paclitaxel pode diminuir a qualidade de vida global, a combinação gencitabina mais carboplatina pode ser preferível para as pacientes para quem a alopecia seja uma preocupação maior6. Caso I Paciente de 66 anos, portadora de tumor de ovário com carcinomatose peritoneal e Ca 125 de 189 U/mL diagnosticado em 2002. Foi tratada com carboplatina/ paclitaxel. Após o tratamento, Ca 125 era de 9 U/mL. No ano de 2003, recidivou com ascite e implante no fígado. Tabela 3. AGO-OVAR 2.5 (GCIG): Toxicidade de graus 3/4 e medidas de suporte Parâmetros (%) Qualquer toxicidade hematológica de graus 3/4 • Anemia • Trombocitopenia • Neutropenia • Neutropenia febril Infecções Medidas de suporte • G-CSF ou GM-CSF • Antibióticos parenterais • RBC Gencitabina/Carboplatina (n = 175) 78,3 27,4 34,9 70,3 1,1 0,6 (n = 1/8) 23,6 8,4 27,0 Carboplatina (n = 174) 24,7 8,0 11,4 12,0 0 0 (n = 178) 10,1 5,1 6,7 p < 0,001 < 0,001 < 0,001 < 0,001 NS NS < 0,001 NS < 0,001 NS = Não significativa Pfisterer J et al. J Clin Oncol 2006; 24:4699-707. Tabela 4. AGO-OVAR 2.5 (GCIG): Toxicidade não-hematológica Parâmetros (%) Alopecia (grau 2) Toxicidade graus 3/4 • Vômito • Náusea • Diarréia Gencitabina/ Carboplatina carboplatina p (n = 174) (n = 175) 14,3 2,3 NA Figura 4. Pré-tratamento. 2,9 4,0 1,7 1,7 1,7 0,0 NS NS NS • Neurotoxicidade sensorial* 1,1 1,7 NS • Estomatite • Fadiga • Hipersensibilidade 0,6 2,3 2,3 0 1,7 2,8 NS NS NS * Neurotoxicidade grau 2: 4,0% para gencitabina/ carboplatina versus 3,4% para a gencitabina; p = NS. NA = Não aplicável Pfisterer J et al. J Clin Oncol 2006; 24:4699-4707. Figura 5. Pós-tratamento. imagens nodulares periumbilicais compatíveis com implantes secundários. Ca 125 era de 144 U/mL. Foi tratada com topotecana em dose de 1,5 mg/m2. Ca 125 após o tratamento: 28 U/mL. Em 2005, detectaram-se massas tumorais intraperitoneais e Ca 125 de 98 U/mL. Foi administrada doxorrubicina lipossômica em seis cursos; Ca 125 passou a ser de 11 U/mL. Em janeiro de 2006, apresentou metástases pulmonares e Ca 125 de 187 U/mL. Iniciou-se Gemcit na dose de 1 g/m2 nos dias 1 a 8 e carboplatina AUC 5 a cada 21 dias.TC: desapareceu o nódulo pulmonar. Ca 125: franca diminuição para 50,8 U/mL (Figuras 6 e 7). Após topotecana, houve resposta nas imagens, e o Ca 125 era de 12,2 U/mL. No ano de 2005, apresentou múltiplas imagens pulmonares e Ca 125 de 108 U/mL. Iniciou-se Gemcit em dose de 1 g/m2 nos dias 1, 8 e 15 + carboplatina AUC 5 no dia 1. Após o tratamento, Ca 125 baixou para 12 U/mL. Não havia mais lesões pulmonares (Figuras 4 e 5). Caso II Paciente com 67 anos que, no ano de 2002, apresentou carcinomatose peritoneal. Realizou-se ressecção dos implantes: neoplasia maligna pouco diferenciada e Ca 125 de 75 U/mL. Foi tratada com carboplatina/paclitaxel. Após o tratamento, o Ca 125 era de 9 U/mL. Em dezembro de 2004, apresentou Figura 6. Pré-tratamento. Figura 7. Pós-tratamento. Gemcit em câncer de mama metastático A gencitabina é recomendada para câncer de mama metastático pelas diretrizes do National Comprehensive Cancer Network (NCCN) (Tabela 5). 7 MATÉRIA de capa Tabela 5. Câncer de mama invasivo – Regimes preferidos de quimioterapia para câncer de mama recorrente ou metastático Agentes isolados preferidos * Doxorrubicina * Epirrubicina * Doxorrubicina lipossomal peguilada * Paclitaxel * Docetaxel * Capecitabina * Vinorrelbina * Gencitabina * Paclitaxel ligado à albumina Combinações preferidas * CAF/FAC (ciclofosfamida/doxorrubicina/fluorouracila) * FEC (fluorouracila/epirrubicina/ciclofosfamida) * AC (doxorrubicina/ciclofosfamida) * EC (epirrubicina/ciclofosfamida) * AT (doxorrubicina/docetaxel; doxorrubicina/paclitaxel) * CMF (ciclofosfamida/metotrexato/fluorouracila) * Docetaxel/capecitabina * GT (gencitabina/paclitaxel) Agentes preferidos com bevacizumabe * Paclitaxel Outros agentes ativos * Cisplatina * Carboplatina * Etoposídeo (VO) * Vimblastina * Infusão contínua de fluorouracila Diretrizes práticas em Oncologia – v.2.2006. A gencitabina combinada ao paclitaxel está indicada como tratamento de primeira escolha para pacientes com câncer de mama metastático depois de falha de quimioterapia complementar prévia contendo antraciclina em pacientes com câncer de mama não-ressecável, com recorrência local ou metastático. Veja o desenho do ensaio clínico de fase III randomizado e multinacional na figura 8. Desenho do estudo pivotal: Estudo de fase III, randomizado e multinacional (n = 529) RANDOMIZAÇÃO Gencitabina/Paclitaxel (n = 267) Dia 1: Paclitaxel 175 mg/m2 (3 horas) Gencitabina 1.250 mg/m2 Dia 8: Gencitabina 1.250 mg/m2 Paclitaxel (n = 262) Dia 1: Paclitaxel 175 mg/m2 (3 horas) (ciclo de 21 dias) Tratar até a progressão da doença ser documentada Figura 8. Desenho do estudo pivotal De acordo com os ensaios clínicos, Gemcit mais paclitaxel seriam considerados para pessoas com menos idade e mais bem condicionadas fisicamente que a população geral de pacientes com câncer de mama metastático e que sejam consideradas adequadas para terapia à base de taxanos. 8 As pacientes para quem Gemcit mais paclitaxel seriam considerados também precisam de um nível mais alto de eficácia do que seria obtido com um esquema de monoterapia, sem a toxicidade geralmente associada a um esquema combinado, por exemplo, em razão de metástase visceral12. Gencitabina mais vinorelbina, administradas numa programação a cada duas semanas, é um esquema ativo em câncer de mama avançado. Essa combinação pode ser uma opção quando as antraciclinas e os taxanos não forem preferidos. A taxa de resposta global foi de 52% (IC 95% de 38% a 66%), e duas pacientes obtiveram CR (4%). A sobrevida global mediana foi de 24,6 meses3. Dosagem e administração de Gemcit em câncer de mama metastático A gencitabina deve ser administrada por via intravenosa numa dose de 1.250 mg/m2 ao longo de 30 minutos, nos dias 1 e 8 de cada ciclo de 21 dias. O paclitaxel deve ser administrado numa dose de 175 mg/m2 no dia 1, em infusão intravenosa, por três horas antes da administração de gencitabina. Casos clínicos em câncer de mama metastático Caso I Paciente de 34 anos, portadora de carcinoma de mama E III no ano de 2003. Foi tratada com antraciclinas – taxanos + Figura 9. Pré-tratamento. Figura 10. Pós-tratamento. çado ou metastático11. Desse grupo, as pacientes foram aleatoriamente assim designadas: 203 para o braço de GC e 202 para o braço de MVAC. Esse estudo mostrou eficácia semelhante com referência à sobrevida global (GC: 13,8 meses; MVAC: 14,8 meses) e ao tempo até a doença progressiva (GC: 7,4 meses; MVAC: 7,4 meses) (Figura 13). Proporção de sobrevida radioterapia + TAM. Em 2005, apresentou recidiva local, ou seja, linfonodos em partes moles. Iniciou-se capecitabina. A doença estabilizou-se. Em janeiro de 2006, evoluiu nos níveis local e pulmonar. Iniciou-se Gemcit em dose de 1,2 mg/m2 nos dias 1, 8 e 15 com boa resposta pulmonar e das partes moles (Figuras 9 e 10). 0 Paciente de 56 anos, portadora de câncer de mama EII e diagnosticada em 2002, tendo sido tratada com cirurgia + AC + radioterapia + TAM. Em outubro de 2003, apresentou metástases ósseas: anastrazol, 1 mg/dia. Em novembro de 2004, evoluiu para linfonodos e aumentou a doença óssea, sendo iniciado paclitaxel em dose de 175 mg/m 2 mais radioterapia nas regiões com dor óssea intensa. Em julho de 2005, continuava com dores cada vez mais intensas e surgiram metástases pulmonares. Iniciou-se Gemcit nos dias 1, 8 e 15 em dose de 1.200 mg/m2. Atualmente, apresenta melhora das imagens pulmonares e diminuição das dores ósseas. Abandonou os opióides e começou a deambular (Figuras 11 e 12). Figura 11. Pré-tratamento. Figura 12. Pós-tratamento. Quimioterapia combinada é o tratamento de escolha para pacientes com câncer de bexiga inoperável localmente avançado ou metastático. Atualizaram-se os dados de eficácia de um grande estudo randomizado de fase III de GC versus MVAC (Tabelas 6, 7 e 8). Realizou-se um estudo de fase III internacional, multicêntrico e randomizado com 405 pacientes para comparar a sobrevida global entre aquelas tratadas com GC e MVAC que apresentavam carcinoma de células de transição (CCT) do urotélio localmente avan- 12 24 36 48 60 72 84 Meses 38 40 30 34 23 29 7 9 0 1 GC MVAC Curvas de Kaplan-Meier para sobrevida global. GC: gencitabina/cisplatina; MVAC: metotrexato/vimblastina/doxorrubicina/cisplatina; HR: hazard ratio. Figura 13. Sobrevida global em longo prazo O aumento da aceitação e do uso de GC em pacientes com câncer de bexiga localmente avançado e metastático é apoiado por sua eficácia clínica semelhante à de MVAC. Os dados de sobrevida em cinco anos, com o melhor perfil de tolerabilidade e de segurança da combinação com GC, continuam a respaldar e fortalecer a conclusão de que o esquema com GC seja alternativa segura e eficaz à terapia com MVAC a essa população de pacientes11 (Figura 14). 1.0 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0 Gemcit em câncer de bexiga GC MVAC Número de pacientes em risco 203 118 50 202 125 62 Proporção de sobrevida Caso II GC: mediana = 14,0 m (12,3 – 15,5 m); 13,3% de verificação MVAC: mediana = 15,2 m (13,2 – 17,3 m); 15,4% de verificação HR = 1,09 (0,88 – 1,34) p log-rank = 0,44; p Wald = 0,66 1.0 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 GC: mediana = 7,7 m (6,8 – 8,8 m); 9,4% de verificação MVAC: mediana = 8,3 m (7,3 – 9,7 m); 11,9% de verificação HR = 1,09 (0,89 – 1,34) p log-rank = 0,41; p Wald = 0,63 GC MVAC 12 24 Número de pacientes em risco 203 60 28 202 69 37 36 48 60 72 84 Meses 25 28 19 25 18 21 7 7 0 0 GC MVAC Curvas de Kaplan-Meier para sobrevida livre de progressão. GC: gencitabina/cisplatina; MVAC: metotrexato/vimblastina/doxorrubicina/cisplatina; HR: hazard ratio. Figura 14. Sobrevida livre de progressão em longo prazo Gemcit no câncer de pulmão A gencitabina está indicada em combinação com a cisplatina como tratamento de primeira escolha de pacientes com câncer de pulmão de células não-pequenas inoperável, localmente avançado (estágio IIIA ou IIIB) ou metastático (estágio IV). 9 MATÉRIA de capa Tabela 6. Princípios da aplicação da quimioterapia de acordo com as Diretrizes Práticas da NCCN de 2006 Tabela 8. Princípios da aplicação da quimioterapia de acordo com as Diretrizes Práticas da NCCN de 2006 Câncer de bexiga – Princípios da aplicação da quimioterapia Quimioterapia de primeira linha: • Embora a toxicidade com o MVAC limite seu uso, ele representa o padrão histórico de cuidados baseado no aumento da sobrevivência e nos índices de resposta, quando comparado aos regimes mais antigos. Câncer de bexiga – Princípios da aplicação da quimioterapia • Gencitabina e cisplatina. Um grande estudo randomizado comparando esse regime ao MVAC demonstrou que a gencitabina/cisplatina não foi inferior ao MVAC em termos de sobrevida, embora não demonstrasse um perfil de toxicidade mais favorável. Essa combinação é considerada um padrão de escolha de primeira linha para a maioria dos pacientes. Regimes alternativos: Apesar de demonstrarem atividade no câncer de bexiga, esses regimes ainda permanecem em investigação: • Cisplatina/paclitaxel • Gencitabina/paclitaxel • Carboplatina/paclitaxel Regimes combinados: Considerados para pacientes com doença localmente avançada ou recorrência metastática limitada, em que a cirurgia de consolidação pode ser uma opção. Diretrizes Práticas em Oncologia – v.1.2006. Tabela 7. Princípios da aplicação da quimioterapia de acordo com as Diretrizes Práticas da NCCN de 2006 Câncer de bexiga – Princípios da aplicação da quimioterapia Regimes combinados de quimioterapia Regimes Doses M-VAC 30 mg/m2 nos dias 1, 15, 22 Metotrexato 3 mg/m2 nos dias 2, 15, 22 Vimblastina 30 mg/m2 no dia 2 Doxorrubicina 70 mg/m2 no dia 2 Cisplatina MCV 30 mg/m2 nos dias 1, 8 Metotrexato 3-4 mg/m2 nos dias 1, 8 Vimblastina 100 mg/m2 no dia 2 Cisplatina Gencitabina/cisplatina 1.000 mg/m2 nos dias 1, 8, Gencitabina * 15 de um ciclo de 28 dias. 70 mg/m2 no dia 2 Cisplatina * Essa dose não deve ser combinada com radiação. Diretrizes Práticas em Oncologia – v.1.2006: 10 Recidiva ou resposta incompleta Quimioterapia de segunda linha Ifosfamida Gencitabina Paclitaxel (se não tiver sido utilizado previamente) Diretrizes Práticas em Oncologia – v.1.2006 O perfil de segurança em geral controlável e tolerável do Gemcit inclui baixa incidência de febre neutropênica, alopecia importante, edema e neuropatia graus 3 e 4. Estudos de fase III sobre terapia com gencitabina em tratamento de primeira escolha de NSCLC (câncer de pulmão de células não-pequenas) avançado geraram dois grandes ensaios de registro que foram revistos pela US Food and Drug Administration (FDA) e levaram à aprovação da gencitabina com a cisplatina como terapia de primeira escolha para pacientes com NSCLC avançado9,2. A combinação gencitabina/cisplatina foi comparada a outras duplas padronizadas no ensaio clínico ECOG 15947. Para confirmar a validade desses resultados, realizou-se uma meta-análise de sobrevida4. A gencitabina combinada à platina produziu progressão significativamente mais longa, sendo a sobrevida comparada a qualquer comparador à base de platina. Os resultados acumulados de sobrevida global com gencitabina/platina mostraram melhora absoluta da sobrevida em um ano de 3,9%, o que se traduz como 11% de chances melhores de sobrevida de um ano no braço da gencitabina/platina. A gencitabina demonstrou sobrevida comprovada, tempo mais longo até a progressão da doença e benefícios na taxa de respostas entre ensaios clínicos comparativos. Monitorização e modificações de posologia A mielossupressão geralmente é o fator de toxicidade limitante da dose. Podem ser necessários ajustes de dosagem para a gencitabina e a cisplatina. Os pacientes devem ser avaliados com hemograma, incluindo contagem de plaquetas, antes de cada dose de gencitabina.As concentrações de creatinina, potássio, cálcio e magnésio devem ser monitorizadas no sangue durante a terapia combinada com cisplatina. As funções hepática e renal devem ser avaliadas antes da terapia com gencitabina e periodicamente daí em diante. Caso clínico Paciente de 53 anos que, em março de 2006, recebeu o diagnóstico de adenocarcinoma pouco diferenciado, apresentando massa sólida no lobo inferior esquerdo e que se estendia e se introduzia no átrio esquerdo, gerando extensão da lesão sólida vegetante com 55 mm de diâmetro aproximadamente. Havia adenomegalias no hilo esquerdo. Líquido pleural era abundante no pulmão esquerdo. Tratamento: platina/Gemcit (Figuras 15 e 16). Figura 15. Pré-tratamento Figura 16. Pós-tratamento Em agosto de 2006, realizou-se TC de tórax após o tratamento, verificando-se ausência de invasão do pericárdio, redução do tamanho da massa no pulmão esquerdo e importante diminuição do derrame pleural. Excelente resposta clínica: PS 2 inicial passou a PS 0 (Figura 17). Figura 17. Pós-tratamento Gemcit em câncer do pâncreas A gencitabina está indicada como tratamento de primeira escolha a pacientes com adenocarcinoma do pâncreas localmente avançado (não-ressecável em estágio II ou III) ou metastático (estágio IV). Também é indicada a pacientes previamente tratados com 5-FU. A FDA aprovou a gencitabina para uso em câncer do pâncreas com base em estudos clínicos que examinaram sobrevida, resposta clínica benéfica e tempo até a progressão da doença. A resposta clínica benéfica se baseou em medidas quantitativas de nível de dor, consumo de medicação para dor, capacidade de realizar atividades do dia-a-dia e alteração de peso. Um ensaio clínico randomizado, simples-cego e multicêntrico de fase III, comparou gencitabina à 5-fluoruracila (5-FU) em pacientes que não tinham recebido quimioterapia previamente (Tabela 9). Tabela 9. Eficácia da gencitabina versus 5-FU segundo um estudo pivotal de fase III em câncer de pâncreas Sobrevida média (meses) Probabilidade de sobrevida em seis meses Probabilidade de sobrevida em um ano Gencitabina 5-FU (n = 63) (n = 63) 56,7 (p = 0,0009) 4,2 46% 29% 18% 2% Em relação à terapia complementar para o paciente com câncer do pâncreas no pós-operatório, o tópico tem sido altamente controverso. Os resultados1 de CONKO-001, um ensaio clínico randomizado e bem desenhado para determinar os benefícios da gencitabina para pacientes com câncer do pâncreas ressecado, mostraram vantagem estatisticamente significante na estimativa de sobrevida mediana isenta de doença para aqueles indivíduos que receberam gencitabina no pós-operatório, em comparação com os em observação (13,4 meses versus 6,9 meses, respectivamente; p < 0,001). Além disso, a gencitabina pareceu conferir benefício nos anos 1, 2, 3 e 5, sendo avaliada por estimativas das taxas de sobrevida isenta de doença (no ano 5, 23,5% versus 5,5%, respectivamente). Embora não houvesse diferença significante de sobrevida mediana global [22,1 meses para a gencitabina versus 20,2 meses para observação em análise por intenção de tratar (IDT)], as estimativas das taxas de sobrevida global sugerem que possam emergir diferenças nos anos 3 (34% versus 20,5%, respectivamente) e 5 (22,5% versus 11%, respectivamente). Caso clínico Paciente de 65 anos com diagnóstico de adenocacinoma do pâncreas em outubro de 2005. Tumor com 35 x 62 mm e metástase de 67 mm no rim; Ca 19,9 > 10.000 U/mL. Após seis meses de tratamento, Ca 19,9 baixa para 134 U/mL. Atualmente, está realizando o curso de no 14 e não apresenta dor nem perda de peso, PS 0. Há persistência de imagens, porém reduzidas e Ca 19,9 é de 45 U/mL (Figuras 18 e 19;Tabelas 10 e 11). Figura 18 Figura 19 11 MATÉRIA de capa Tabela 10. Toxicidade hematológica e medidas de suporte – nossa experiência Parâmetros/ Grau de toxicidade Número de ciclos Anemia Trombocitopenia Neutropenia Neutropenia febril Infecções G-CSF ou GM-CSF Antibióticos parenterais RB Cs Pulmões Mamas Ovários Bexiga Pâncreas 348 G2 G0 G1 Não Não 252 G2 G1 G1 Não Não 214 G2 G0 G1 Não Não 54 G2 G0 G2 Não Sim 142 G2 G1 G2 Não Não Não Não Sim Não Não Sim Não Não Sim Medidas de suporte Não Não Sim Não Não Sim Critérios comuns de toxicidade. Tabela 11. Toxicidade não hematológica – nossa experiência Parâmetros/ Grau de toxicidade Número de ciclos Vômitos Náuseas Diarréia Neurotoxicidade sensorial Estomatite Fadiga Hipersensibilidade Pulmões Mamas Ovários Bexiga Pâncreas 348 G1 G1 G0 G1 Não G1 Não 252 G0 G1-G2 G0 G0 Não G1 Não 214 G1 G1 G0 G1 Não G2 Sim 54 G1 G2 G0 G1 G0 G2 Não 142 G2 G2 G2 G0 G0 G2 G2 Critérios comuns de toxicidade. cancer previously treated with anthracyclines and taxanes: final results of the phase III Spanish Breast Cancer Research Group (GEICAM) trial. Lancet Oncol 2007; 8(3):219-25. Referências bibliográficas 1. Al B, Benson III MD. Adjuvant therapy for pancreatic cancer. JAMA 2007; 297:311-3. 2. Cardenal F, López-Cabrezioet MP, Antón A et al. Randomized phase III study of gemcitabine-cisplatin in the treatment of locally advanced or metastatic non-small-cel lung cancer. J Clin Oncol 1999; 17(1):12-8. 3. Colomer R, Llombart-Cussac A, Tusquets I et al. 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National Institute for Health and Clinical Excellence NIH Gemcitabine for the treatment of metastatic breast cancer. Disponível em: www. nice.org.uk/TA116. Acesso em: 11 de junho de 2007. ARTIGO de revisão Tratamento do CÂNCER DE PULMÃO DE NÃO-PEQUENAS CÉLULAS Igor A. Protzner Morbeck Oncologista clínico da Onco-Vida, Instituto Especializado de Oncologia e Hematologia, Brasília (DF) Mestre em Oncologia pela Fundação Antonio Prudente – Hospital A.C. Camargo, São Paulo (SP) O câncer de pulmão é a causa mais comum de morte por neoplasia em todo o mundo. Estão previstos, para o ano de 2007, 213.380 novos casos nos Estados Unidos com 160.390 óbitos (SEER, 2007). No Brasil, as estimativas de incidência e mortalidade em 2006 do Inca revelam que essa neoplasia deve atingir 27.170 pessoas, sendo 17.850 do sexo masculino e 9.320 do sexo feminino (Ministério da Saúde, 2007). Aproximadamente 40% dos pacientes com carcinoma pulmonar de não-pequenas células (CPNPC) apresentamse com doença avançada e, não obstante os avanços no tratamento multidisciplinar, a taxa de sobrevida global em 10 anos permanece entre 8% e 10% (De Vitta et al., 2005). Revisão da literatura Ao diagnóstico, os pacientes com CPNPC podem ser divididos em três grupos que refletem a extensão da doença e a abordagem de tratamento. O primeiro grupo compreende aqueles tumores que são cirurgicamente ressecáveis [em geral, estádios clínicos (ECs) I e II)] Este é o grupo de melhor prognóstico, com taxas de sobrevida a 5 anos de 67% para EC IA, de 37% para EC IIA e 24% para EC IIB (Mountain, 1997). Segundo Younes (2001), a taxa de recidiva sistêmica após ressecção cirúrgica é de 19,6% no EC I e 30,9% no EC II. Os princípios da cirurgia em CPNPC são (Ginsberg e Rubinstein, 1995): a) lobectomia ou pneumectomia se fisiologicamente factível; b) ressecção limitada (segmentectomia) se fisiologicamente comprometido; c) linfadenectomia mediastinal. 14 Nos ECs I e II, o prognóstico é influenciado adversamente pela presença de sintomas pulmonares, tamanho do tumor (> 3 cm), acometimento linfonodal, sexo masculino, idade superior a 60 anos e positividade da oncoproteína c-erbB2 (NCI PDQ® 2007). A radioterapia pode ser uma opção para aqueles pacientes com contraindicação médica à cirurgia, tais como: baixo performance status, idade avançada, doença cardiovascular, baixa reserva pulmonar e recusa do paciente. Um estudo envolvendo uma análise retrospectiva de 347 pacientes com CPNPC EC I mostrou sobrevida global de 27% aos cinco anos com sobrevida média de 27,9 meses nos pacientes tratados com radioterapia exclusiva (Gauden et al., 1995). No entanto, nenhum estudo clínico randomizado comparou a indicação de radioterapia imediata versus radioterapia à época do surgimento dos sintomas. Rowell e Williams (2001) demonstraram, em uma meta-análise, que a radioterapia hiperfracionada obteve melhor sobrevida aos dois anos quando comparada à radioterapia convencional, 37% versus 24%, respectivamente. As metástases a distância representam um padrão comum de falha após a ressecção curativa de CPNPC. O tratamento adjuvante sistêmico é uma estratégia racional que visa a diminuir o risco de recidiva e aumentar a sobrevida. Em 1995, uma meta-análise de um grupo colaborativo em câncer de pulmão falhou em demonstrar ganho de sobrevida no subgrupo de pacientes submetidos à quimioterapia adjuvante baseada em platina (Anonymus, 1995). Um estudo do ECOG, publicado por Keller et al. (2000), randomizou 488 pacientes ECs II e IIIA, após cirurgia, para receberem radioterapia isolada ou radioterapia associada à quimioterapia (cisplatina e etoposido). Na análise de resultados, não se observaram diminuição do risco de recorrência locorregional nem aumento de sobrevida com o tratamento combinado (quimioterapia e radioterapia). Scagliotti et al. (2005) randomizaram os pacientes para quimioterapia adjuvante com o regime MVP versus observação. Nesse estudo, houve um ganho absoluto de 3% de sobrevida, o qual não alcançou significância estatística. Recentemente, Le Chevalier et al. (2004) apresentaram os resultados do IALT, um estudo multicêntrico, prospectivo e randomizado, em que foram examinados os benefícios de quimioterapia adjuvante em portadores de CPNPC completamente ressecados ECs I, II e IIIA. Foram randomizados 1.867 pacientes para observação ou três a quatro ciclos de quimioterapia baseada em platina. As sobrevidas global e livre de doença foram significativamente maiores, em 2 e 5 anos, no grupo que recebeu quimioterapia (4,1% e 5,1%, de benefício absoluto, respectivamente). Após a publicação do IALT, a quimioterapia Tabela 1. Correlação da sobrevida em cinco anos e nível do envolvimento linfonodal do mediastino Envolvimento linfonodal N2 microscópico, um nível comprometido N2 microscópico, múltiplos níveis comprometidos N2 clínico, um nível comprometido N2 microscópico, múltiplos níveis comprometidos Sobrevida em cinco anos 34% 11% 8% 3% N2 microscópico: Linfonodo mediastinal clinicamente normal (achado incidental ou linfonodo de diâmetro normal, porém positivo no PET) N2 clínico: Linfonodo mediastinal de diâmetro aumentado, perceptível em tomografia computadorizada adjuvante baseada em platina tornouse padrão após a cirurgia em pacientes com CPNPC ECs II e III. Em 2006, uma atualização dos dados do estudo do CALGB 9633, apresentados na ASCO, falhou em demonstrar ganho de sobrevida no EC IB. Dois outros grandes estudos realizados em CPNPC (o JBR10 e o ANITA), que tinham o objetivo de verificar o benefício da adjuvância após a cirurgia em CPNPC, mostraram ganho de sobrevida global apenas para os ECs II e IIIA, e de novo o EC IB não atingiu o benefício esperado. O segundo grupo de pacientes com CPNPC inclui tumores avançados local ou regionalmente. Segundo Mountain (1997), esse grupo compreende o EC III, o qual é subdividido em IIIA e IIIB. O EC IIIA é classificado pela presença de linfonodo mediastinal ipsilateral acometido (N2) ou com lesão T3 com linfonodo hilar positivo (N1). O EC IIIB é caracterizado pela presença de envolvimento de linfonodo mediastinal contralateral ou supraclavicular (N3) ou tumor T4. No EC IIIA, os pacientes são estratificados clinicamente em aqueles com envolvimento extenso do mediastino e sem envolvimento extenso do mediastino. Essa distinção é importante por razões de prognóstico, além de determinar diferentes abordagens terapêuticas. A taxa de sobrevida global em cinco anos para pacientes com IIIA N2 varia de 10% a 15%, ao passo que em pacientes com comprometimento extenso do mediastino a sobrevida é de 2% a 5% (Andre et al., 2000) (Tabela 1). O melhor tratamento para o EC III ainda não está claro e muitos aspectos são controversos. Embora existam muitas abordagens, nenhum tratamento leva a um alto potencial de cura. Em virtude da heterogeneidade clínica desse grupo, nenhuma abordagem de tratamento isolada deve ser recomendada (Albain et al., 2006). 15 ARTIGO de revisão Historicamente, a cirurgia era indicada para o tratamento do EC IIIA sem envolvimento extenso do mediastino. No entanto, em virtude dos altos índices de recorrência local e a distância, além da melhora do estadiamento patológico do mediastino (por meio da mediastinoscopia), a cirurgia não é mais considerada padrão para esse subgrupo de pacientes (NCI PDQ®, 2007). Um grupo cooperativo de estudos em radioterapia, coordenado por Sause et al. (1995), avaliou a influência da dose de radioterapia no tratamento dos CPNPCs avançados localmente. Os pacientes foram randomizados para receber doses de 40, 50 ou 60 Gy com frações diárias de 2 Gy. As taxas de controle local foram significativamente melhores com doses mais elevadas de radioterapia (52%, 62% e 73%, respectivamente). Esse estudo estabeleceu a dose de 60 Gy, divididos em 30 frações, como a mais adequada. O uso de quimioterapia neo-adjuvante seguida de cirurgia mostrou ser efetivo em dois estudos clínicos randomizados em CPNPC EC IIIA, ambos publicados em 1994 (Rosell et al., 1994; Roth et al., 1994). Esses estudos mostraram sobrevida média maior no grupo que foi submetido a tratamento combinado. Depierre et al. (2002) publicaram um estudo fase III, randomizado e multicêntrico, com 355 pacientes, ECs I (exceto T1N0), II e IIIA que foram submetidos à cirurgia ou a dois ciclos neo-adjuvantes de quimioterapia; nos pacientes que responderam a esse regime, administraram-se mais dois ciclos adjuvantes. A taxa de resposta no braço submetido a tratamento neo-adjuvante foi de 64%. Esse estudo mostrou ganho significativo de sobrevida livre de doença e sobrevida global a 4 anos nos ECs I e II no grupo de pacientes submetidos a tratamento quimioterápico seguido de cirurgia. Entretanto, diante do pequeno 16 número de pacientes na maioria dos estudos realizados em neo-adjuvância, essa prática não tem sido considerada universalmente aceita. A radioterapia combinada à quimioterapia (baseada em platina) é o tratamento-padrão no EC III (NCCN, 2007). A administração concomitante dessas duas abordagens leva ao tratamento precoce das micrometástases, além de explorar o efeito sinérgico da combinação da quimioterapia com a radioterapia. Contudo, o regime considerado ótimo para o tratamento concomitante ainda não é conhecido. O grupo do SWOG estudou, em um ensaio multicêntrico fase II, a combinação de EP com radioterapia, seguida de consolidação com o docetaxel. As taxas de sobrevida alcançadas foram de 17% em três anos e de 15% em cinco anos (Gandara et al., 2003). No entanto, estudos fase III, recentemente apresentados no Congresso da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) mostraram não haver benefício da consolidação com quimioterapia após o tratamento concomitante (Hanna et al. Proceedings ASCO 2007). Os pacientes com EC IIIB não se beneficiam de cirurgia isolada e são mais bem manejados com quimioterapia inicial, quimioterapia associada à radioterapia ou radioterapia isolada. Pacientes com bom performance status podem ser considerados para o tratamento combinado e aqueles com derrame pleural maligno devem ser tratados como estádio clínico IV (NCCN, 2007). O último grupo de pacientes apresenta metástase (M1) ao diagnóstico. Esse grupo pode ser tratado com quimioterapia exclusiva ou radioterapia (casos especiais) para paliação dos sintomas,além de cuidados paliativos.Nesse estágio, o prognóstico é pior em pacientes com baixo performance status e perda de peso superior a 10% (NCI PDQ®, 2007). Em 2002, o ECOG publicou o mais importante estudo de quimioterapia em CPNPC (Schiller et al., 2002). Esse estudo randomizou 1.155 pacientes para quatro regimes diferentes de quimioterapia baseados em platina, utilizando drogas de terceira geração, entre elas paclitaxel, docetaxel e gencitabina. Nenhum dos quatro esquemas mostrou vantagem significativa sobre o outro em termos de sobrevida global. Na última década, grande avanço ocorreu nas estratégias de tratamento multidisciplinar em CPNPC, levando a melhor controle locorregional e melhora do intervalo livre de doença. No entanto, houve pouco incremento na sobrevida global. Recentemente, com o advento das drogas alvo-moleculares, entre elas os anticorpos monoclonais e as pequenas moléculas inibidoras da tirosino-quinase, novas perspectivas surgiram no tratamento do CPNPC avançado. Sheperd et al. (2005) publicaram o estudo BR21, que randomizou 731 pacientes com CPNPC avançado, já tratados com quimioterapia em segunda ou terceira linha, para uso do erlotinib. Nesse estudo, houve um ganho significativo de sobrevida global, favorecendo o grupo que fez uso dessa droga. Em uma análise de subgrupos, as pacientes de sexo feminino, não-fumantes, portadoras do subtipo bronquíolo-alveolar e de origem asiática obtiveram maior ganho em termos de sobrevida global. O grupo do ECOG, conduzido por Sandler et al. (2005), apresentou os resultados do maior estudo fase III em CPNPC (tumores não escamosos) que utilizou a associação de quimioterapia com um anticorpo monoclonal (bevacizumabe). O braço tratado com a combinação de quimioterapia e bevacizumabe foi melhor que o controle (quimioterapia) em termos de resposta objetiva, tempo para progressão e sobrevida global. No entanto, outros estudos e com diferentes regimes de quimioterapia são necessários para validar esses resultados. Conclusão Atualmente nos pacientes com CPNPC, algumas questões precisam ser respondidas: qual o subgrupo que melhor se beneficiaria com o tratamento adjuvante? Aquele com doença linfonodal, o qual teria maior risco de micrometástase? Qual o melhor regime de tratamento a ser indicado? Os regimes baseados em platina devem ser sempre a primeira escolha? Qual a melhor dose? Existe diferença de resultado entre os subtipos histológicos? Algum fator a ser preditivo de resposta? Potencialmente, alguns subgrupos de pacientes poderão apresentar diferentes resultados, tomando-se por base os perfis moleculares de suas neoplasias, identificando pacientes de alto risco para recidiva locorregional ou doença metastática. Existem, assim, no tratamento do CPNPC, perguntas a serem respondidas, em que se tem tentado, por meio da análise da expressão gênica dessas células, encontrar algumas respostas com o intuito de melhores perspectivas futuras. Referências bibliográficas 1. [Anonymus] Chemotherapy in non-small cell lung cancer: a meta-analysis using updated data on individual patients from 52 randomised clinical trials. Non-small Cell Lung Cancer Collaborative Group. BMJ 1995 Oct 7;311(7010):899-909. PMID: 7580546 [PubMed – indexed for MEDLINE]. 2. Albain K, Jablons D, Gandara D et al. Stage III non-small cell lung cancer: tailored therapies for a complex disease. The American Society of Clinical Oncology. Educational Book, 2006. p. 453-61. 3. 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Johnson et al. mostraram que existiam frações alcalóides ativas contra neoplasia linfocitária aguda em camundongos. 18 Desse estudo, produziram-se quatro alcalóides diméricos ativos: vimblastina, vincristina, vinleurosina e vinrosidina. A vimblastina e a vincristina são importantes agentes antineoplásicos utilizados em quimioterapia. A vinorelbina, nossa droga em estudo, é um derivado semi-sintético da vimblastina e tem papel importante na inibição da mitose, mais propriamente na metáfase. Age nos microtúbulos inibindo a polimerização da tubulina e, conseqüentemente, a mitose na fase da metáfase, ocasionando morte celular6. Ocorrem interações medicamentosas com aspirina (efeitos leucopênicos podem ser aumentados), cisplatina e mitomicina (reações pulmonares agudas)8. Indicada para o tratamento de várias neoplasias malignas, incluindo câncer de pulmão de não-pequenas células, mama, colo de útero, nas modalidades de neo-adjuvân cia, adjuvância ou paliativa e como monoterapia ou associada a ou tros quimioterápicos (antraciclinas e platinas) ou terapias biológicas (trastuzumabe)1,4,5,7,10. As principais toxicidades da vinorelbina incluem mielossupressão, constipação, diarréia, náuseas, neuropatia periférica leve, adinamia e dor ao longo da veia periférica utilizada para infusão (flebite). Experiência efetuada em células de rato tem demonstrado que a vinorelbina induz a ativação e liberação de histamina por meio dos receptores H2, que resulta em irritação venosa e flebite3. A flebite causada por vinorelbina pode ocorrer em um terço dos pacientes, dependendo do tempo de infusão da droga, podendo variar de 11% em infusão de seis a dez minutos a 18% a 50% em infusão de 20 a 30 minutos9. A dor causada pela flebite pode ser de forte intensidade, sendo necessário, em algumas situações, o uso de opióides fortes para seu controle, os quais são muito importantes na tomada de decisão da continuidade do tratamento por parte do paciente. Entre as opções existentes para se evitar a flebite com o uso de vinorelbina, dispõe-se da infusão rápida ou a utilização de cateter venoso central para a infusão da droga. O uso de cateter venoso central, além do custo, apresenta ainda o inconveniente do ato de implantação do cateter e seus riscos imediatos e tardios, tais como sangramento, obstrução, fenômenos tromboembólicos, infecção, entre outros. Estudos têm demonstrado que vários tipos de vasculites em humanos podem ser revertidos com o uso de cimetidina, conhecida como antagonista ou bloqueador do receptor H2, sendo ainda desconhecido seu exato mecanismo de ação2.Vassilomanolakis et al. relataram a experiência com 25 pacientes tratados profilaticamente com cimetidina utilizando a Escala de Rittenberg (Tabela 1) para a prevenção de flebite causada por infusão de vinorelbina e observaram prevenções completa e parcial de flebite em 76% e 20% dos pacientes, respectivamente11. Em nosso centro, tem-se utilizado comumente o emprego de uma ampola de 150 mg/mL de cimetidina para a prevenção da flebite induzida pela infusão de vinorelbina em acesso venoso periférico e os resultados observados nos permitem afirmar que se trata de um método eficaz e de baixo custo, contribuindo assim com a maior aderência do paciente ao tratamento, sem o inconveniente do implante do cateter venoso central com o objetivo exclusivo de evitar o evento adverso em questão. Tabela 1. Critérios de Rittenberg para as flebites Grau I (leve): Sensibilidade ou dor no local da injeção, não há necessidade de analgesia; sem disfunção das extremidades Grau II (moderado): Inchaço local, avermelhamento ou dor e sensibilidade, necessitando de acetaminofen ou analgésicos; sem disfunção das extremidades Grau III (intermediário): Reação além do local da infusão ou dor, necessitando da administração de analgésicos fortes; possível disfunção das extremidades Grau IV (severo): Presença de reações além do local da infusão, dor, necessitando de administração de analgésicos potentes; disfunção das extremidades impossibilitando a utilização do local para outras infusões Referências bibliográficas 1. 2. 3. 4. Depierre A, Lemaire E, Dabois G et al. A phase II study of navelbine (vinorelbine) in the treatment of non-small-cell lung cancer. Am J Clin Oncol 1991; 14:115-9. Efremidis AP, Gianopoulos Z,Tourcantonis A. Cimetidine in common variable hypo-gammaglobulinemia. N Engl J Med 1985; 313:265. cancer chemotherapy. J Clin Oncol 1993; 11:1245-52. 5. 6. Estevez MD, Vietyes MR, LOuzano MC et al.The antineoplastic drug vinorelbine activates non-immunological histamine release from rat mast cells. Inflamm Res 1997; 46:119-24. 7. Fumoleau P, Delgado FM, Delozier T et al. Phase II trial of weekly intravenous vinorelbine in first line advanced breast 8. Garcia-Conte J, Lluch A, Martin M et al. Phase II trial of weekly IV vinorelbine in first-line advanced breast cancer chemotherapy. Ann Oncol 1994; 5:854-7. Gilman AG, Goodman LS, Rall TW, Murad F. Goodman e Gilman: as bases farmacológicas da terapêutica. 7. ed. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 1987. Lacava JA, Leone BA, Machiavelli M et al. Vinorelbine as neoadjuvant chemotherapy in advanced cervical carcinoma. J Clin Oncol 1997; 15:604-9. Monografia publicada na Internet, no site <www.ff.up.pt/toxicologia/monografias/ ano0506/alcvinca_ficheiros/page0001. htm> da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto. 9. Rittenberg CN, Gralla RJ, Rehmeyer TA et al. Assessing and managing venous irritation associated with vinorelbine tartrate (Navelbine). Oncol Nurs Forum 1995; 22:707-10. 10. Vogel CL, Nabholtz JM. Monotherapy of metastatic breast cancer: a review of newer agents. The Oncologist 1999; 4:17-33. 11. Vassilomanilakis M,Koumakis G,Barbounis V et al. Prevention of vinorelbine phelibitis with cimetidine. Support Care Cancer 2001; 9:108-11. 19 VARIEDades Para entender a Ópera A o contrário do senso comum, que entende a ópera como um gênero musical de nariz empinado, esta é, em suas origens primitivas, uma manifestação artística que nasceu nas camadas sociais menos privilegiadas. Depois, sim, tornou-se restrita ao grand monde e foi então que ocupou uma posição como música erudita. É complexa por seus inúmeros elementos, porém pode ser muito mais prazerosa do que se imagina. Classicamente, a ópera é um gênero artístico que consiste em um drama, tragédia ou comédia, encenado com música. O drama é apresentado com elementos típicos do teatro, tais como cenografia, figurino e atuação. No entanto, a letra da ópera (conhecida como libreto) é cantada em vez de ser falada. Os cantores são acompanhados por um grupo musical, que, em geral, é uma orquestra sinfônica completa. Os cantores e seus personagens são classificados de acordo com seus timbres vocais. Os cantores masculinos classificam-se em baixo, baixo-barítono (ou baixo-cantor), barítono, tenor e contratenor. As cantoras femininas classificam-se em contralto, meiosoprano e soprano. Cada uma dessas classificações tem subdivisões, por exemplo, um barítono pode ser um barítono lírico, um barítono de caráter ou um barítono bufo, os quais associam a voz do cantor com os personagens mais apropriados para a qualidade e o timbre de sua voz. Origens do gênero A palavra ópera significa “obra” em latim e italiano, relacionada com opus, sugerindo a combina20 ção das artes de cantos coral e solo, recitativo e balé, em um espetáculo encenado. A primeira apresentação que foi considerada uma ópera, como a conhecemos hoje, data de 1597. Foi chamada Dafne, atualmente desaparecida, escrita por Jacopo Peri para um círculo elitista de humoristas florentinos letrados, cujo grupo era conhecido como a Camerata. Dafne foi uma tentativa de reviver a tragédia grega clássica, como parte de uma ampla reaparição da Antigüidade que caracterizou o Renascimento. Um trabalho posterior de Peri, Eurídice, de 1600, foi a primeira ópera que sobreviveu até a atualidade. O termo ópera começou a ser utilizado a partir de meados do século XVII para definir as peças de teatro musical, às quais se referia, até então, com formulações universais como dramma per musica (drama musical) ou favola in musica (fábula musical). Diálogo falado ou declamado – chamado recitativo em ópera –, acompanhado por uma orquestra, é a característica fundamental do melodrama em seu sentido original. Tradição musical alemã Por ser o berço de inúmeros compositores da música clássica, as regiões da Alemanha e Áustria são os paradeiros favoritos dos amantes de ópera. A tradição musical sólida é o grande atrativo. Vem desde Bach, passando por Mozart, Schubert, Brahms e, obviamente, Wagner e Strauss. Wagner, apesar da fama de ter péssimo caráter, conseguiu algo fantástico que ele chamou de “arte total”. Trata-se da integração da voz humana com os instrumentos da orquestra. Nessa concepção, o cantor de ópera passa a ser um instrumento a mais da orquestra, tão importante quanto um fagote, um violino, uma tuba ou um clarinete. A diferença, obviamente, é que a voz humana se destaca por representar. Por tudo isso, Wagner não chamou a ópera de “ópera”, mas de “drama musical”. Evolução dos estilos de ópera Bel canto O bel canto era um estilo presente na ópera italiana que se caracterizava pelo virtuosismo e adorno que demonstrava o solista em sua representação. Na primeira metade do século XIX, o bel canto alcançou seu nível mais alto, por meio das óperas de Gioacchino Rossini, Vincenzo Bellini e Gaetano Donizetti. Ópera francesa Produções italianas chegaram à França e foram revitalizadas nessa fase, incorporando a tradição francesa. Cantado em francês, esse estilo de ópera foi criado pelo compositor italiano Jean-Baptiste Lully, que monopolizou a ópera francesa a partir de 1672. A ópera na França permaneceu, incluindo interlúdios de balé e uma elaborada maquinaria cenográfica. A ópera francesa foi influenciada pelo bel canto de Rossini e outros compositores italianos. Ópera-cômica A ópera francesa com diálogos falados é conhecida como ópera-cômica, independentemente de seu conteúdo. O seu auge foi entre os anos de 1770 e 1880 e uma de suas representantes mais reconhecidas foi Carmen, de Bizet, em 1875. A ópera-cômica serviu como modelo para o desenvolvimento do singspiel alemão, podendo assemelhar-se à opereta, conforme a relevância de seu conteúdo temático. 21 VARIEDades Grand Ópera Por onde começar Os elementos da grand ópera francesa apareceram pela primeira vez nas obras Guillaume Tell, de Rossini, em 1829, e Robert le Diable, de Meyerbeer, em 1831. A grand ópera caracterizou-se por ter decorações luxuosas e elaboradas, um grande coro, grande orquestra, balés obrigatórios e um número elevado de personagens. O ápice da grand ópera na Itália se deu com Verdi, com Les Vespres Siciliennes e Don Carlos e, na Alemanha, com Rienzi, de Wagner. Uma boa idéia é A Flauta Mágica, de Mozart, que não é só para crianças. Trata-se de uma fábula belíssima. Também João e Maria, de Engelbert Humperdinck, La Bohème, de Giacomo Puccini, e Carmen, de Georges Bizet. Ópera alemã O singspiel alemão A Flauta Mágica, de Mozart, se encontra à frente da tradição da ópera alemã que foi desenvolvida no século XIX por nomes como Carl Maria von Weber, Heinrich Marschner e Wagner. Este último introduziu o conceito do drama musical, em que a ópera deixa de ser composta por “números” e a música passa a ter um fluxo contínuo, sem divisões em árias, duetos etc. A ópera Tristão e Isolda foi a primeira a ser estruturada dessa forma. De uma forma geral, a ópera alemã tem a característica de abordar temas mitológicos e fantásticos, de alta dramaticidade, mas que não se enquadram em comédias nem tragédias, como ocorre com as óperas italiana e francesa. Que elementos observar A ópera é um gênero artístico que consiste em um drama, tragédia ou comédia, encenado com música. O drama é apresentado com elementos típicos do teatro, tais como cenografia, figurino e atuação. No entanto, a letra da ópera (conhecida como libreto) é cantada em vez de ser falada. Os cantores são acompanhados por um grupo musical, que, em geral, é uma orquestra sinfônica completa. Hierarquia Os cantores e seus personagens são classificados de acordo com seus timbres vocais. Os cantores masculinos classificam-se em baixo, baixo-barítono (ou baixo-cantor), barítono, tenor e contratenor. As cantoras femininas classificam-se em contralto, meio-soprano e soprano. Cada uma dessas classificações tem subdivisões, por exemplo: um barítono pode ser um barítono lírico, um barítono de caráter ou um barítono bufo, os quais associam a voz do cantor com os personagens mais apropriados para a qualidade e o timbre de sua voz. Onde encontrar bons CDs de ópera Laserland, na Avenida Rebouças, em São Paulo (www.laserland.com.br). FNAC, nas principais capitais do País (www.fnac.com.br). 22