PRODUÇÃO BIOLÓGICA DE HORTOFRUTÍCOLAS
Transcrição
PRODUÇÃO BIOLÓGICA DE HORTOFRUTÍCOLAS
PRODUÇÃO BIOLÓGICA DE HORTOFRUTÍCOLAS GREENFOOD PROJECT 2010-1-ES1-LEO05-20948 1 Índice 1. Introdução .............................................................................. 3 2. Produção biológica de frutas ..................................................... 4 2.1. Selecção de espécies e variedades ................................................ 4 2.2. Gestão do solo e nutrição das plantas ............................................ 9 2.3. Gestão da entre-linha ............................................................... 15 2.4. Gestão de pragas e doenças ...................................................... 17 2.5. Colheita, armazenamento, conservação e transporte ...................... 25 2.6. Exemplos práticos ................................................................... 30 3. A produção biológica de hortícolas .......................................... 34 3.1. Escolha do local e selecção varietal ............................................. 34 3.2. Gestão da fertilidade do solo ...................................................... 40 3.3 Rotação e Consociação de plantas ................................................ 43 3.4. Pragas, doenças e infestantes .................................................... 49 3.5. Colheita, armazenamento, conservação e transporte ...................... 53 2 4. Bibliografia e documentação ................................................... 64 5. Glossário ............................................................................... 66 6. Auto-avaliação ....................................................................... 68 1. Introdução Na União Europeia, a produção biológica de hortofrutícolas está condicionada à aplicação do Regulamento (CE) n.º 834/2007 do Conselho, e do Regulamento (CE) n.º 889/2008 da Comissão. De um modo geral, a produção biológica exclui a utilização de muitos factores de produção utilizados na agricultura convencional, muito particularmente fertilizantes e pesticidas de síntese química. Os sistemas de produção biológicos assentam em práticas como a rotação de culturas, a utilização de resíduos das culturas, de fertilizantes orgânicos de origem animal, de espécies leguminosas, de siderações ou adubos verdes, de resíduos domésticos orgânicos e de luta biológica no combate a pragas e doenças. Estas práticas mantêm a produtividade do solo, fornecem os nutrientes de que as plantas necessitam e ajudam a combater os insectos e as ervas infestantes. 3 2. Produção biológica de frutas A produção biológica de frutas é uma das mais importantes componentes da produção biológica na Europa. Os principais países produtores de fruta em zonas temperadas são a Itália, a França e a Espanha. A figura abaixo representa a situação actual da produção biológica de fruta na Europa. Figura 1 – Produção biológica de fruta, vinha e bagas em zonas temperadas: principais países em 2007 (inc luindo área em conversão) ; Fonte: F IBL, 2009 2.1. Selecção de espécies e variedades O processo de selecção das espécies e das variedades usadas nos pomar es em Agricultura biológica (AB) deve ter em consideração a finalidade a que se destina o pomar, nomeadamente, se se trata de utilização comercial, doméstica, paisagística, ou agro-florestal. O principal objectivo deste capítulo consiste no estudo da produção de fruta para comercialização. 4 A produção biológica de fruta pode ser obtida a partir de pomares novos ou através da conversão de pomares convencionais, sendo para ambos os casos aplicados os mesmos princípios. Instalação de novos pomares A selecção da espécie e da variedade a plantar é muito importante. O pomar deve estar suficientemente afastado de fontes poluidoras, nomeadamente estradas com elevado volume de tráfego, pólos industriais ou mesmo pomares convencionais. As empresas industriais e agroindustriais devem estar localizadas para além de uma distância de segurança recomendada pelo organismo de controlo e certificação de cada país. É ainda necessário que os níveis de materiais pesados presentes nos solos cultivados respeitem os limites estabelecidos pelas autoridades de protecção ambiental. Os pesticidas e os herbicidas utilizados nos pomares, ou nos terrenos circundantes, não podem contaminar os pomares biológicos. A escolha da variedade deve ser feita de forma a que sejam respeitadas as condições edafoclimáticas locais. Assim, a selecção das variedades deve ter em consideração o clima da região, a localização geográfica e as propriedades do solo. Deve ainda dar-se preferência a variedades resistentes a pragas e doenças, de acordo com as práticas de protecção fitossanitária indicadas na legislação europeia, atrás referenciada. Para obter a certificação biológica, é necessário um período de conversão de três anos. Este período pode ser reduzido, se o organismo de certificação e a autoridade competente reconhecerem que foram utilizados previamente métodos de produção agrícola compatíveis com as exigências da protecção do ambiente e da preservação do espaço natural. O período de conversão do pomar convencional pode ser iniciado após a última aplicação de qualquer tratamento convencional. A eventual autorização para diminuir o período de conversão deverá ser dada pelo organismo de certificação competente. Condições climáticas As condições climáticas determinam a produtividade das variedades utilizadas. Assim, podemos escolher as variedades a implementar em 5 determinado local, em função do conhecimento que temos acerca das suas necessidades em luz, temperatura e água. Condições pedológicas As seguintes espécies toleram solos arenosos: macieira, damasqueiro, pessegueiro, aveleira, framboesa e groselha. Algumas espécies podem crescer em solos pedregosos com uma fina camada fértil: damasqueiro, pessegueiro, amendoeira, nespereira e castanheiro. A maioria das espécies desenvolve -se melhor em solos com uma camada fértil profunda. Algumas delas toleram solos argilosos, como por exemplo a pereira, o marmeleiro, a cerejeira, a ameixeira e a aveleira. A preferência por determinado tipo de solo é influenciada pelo sistema radicular das árvores e pelas suas necessidades nutricionais específicas. A circulação de ar é muito importante para o sistema radicular das árvores. Desta forma, algumas das espécies como o pessegueiro, o damasqueiro, a amendoeira, a cerejeira e a framboesa e os citrinos são particularmente sensíveis à existência de boas condições de circulação de ar no solo. Algumas espécies podem tolerar ou até mesmo necessitar de solos húmidos, com elevada disponibilidade em água. É o caso da macieira, da pereira, do marmeleiro, da ameixeira, da nogueira, da aveleira, da framboesa, do morango, da groselha, da amora. Algumas características do solo, como o pH, podem constituir um factor limitante para algumas espécies. É o caso do castanheiro, da macieira, da aveleira, da framboesa e do morango, do mirtilo, que necessitam de solos ácidos. Por outro lado, elevados níveis de alcalinidade do solo podem ser também um factor limitativo para outras espécies, como o damasqueiro e a amendoeira. Culturas como a macieira, a pereira, o marmeleiro, a nogueira, o morango e a groselha preta, toleram níveis elevados de água no solo. O marmeleiro e vários porta-enxertos de macieira resistem mesmo a algumas semanas de encharcamento durante o período de repouso vegetativo. Localização geográfica e nível de exposição solar A localização geográfica e a situação topográfica desempenham um papel importante na formação do microclima. A altura acima do nível do mar, a exposição solar, a qualidade do solo, a direcção do vento, o nível de águas 6 superficiais e a proximidade de zonas florestais são aspectos determinantes do ponto de vista geográfico. A altura acima do nível do mar influencia a temperatura do ar, dado que em média, a um aumento de 100 m de altitude corresponde uma diminuição da temperatura de 0,5°C. As diferenças em altitude podem ser importantes no caso de danos provocados por geadas. A exposição solar está relacionada com o declive e a direcção da encosta. As exposições a sul e a sudoeste são favoráveis à produção agrícola, enquanto a orientação a norte é menos favorável. Em clima mediterrânico, com cada vez maiores problemas de escaldão da fruta, nas espécies e variedades mais sensíveis, a orientação norte pode ser vantajosa. Os vales podem ser desfavoráveis devido à possibilidade de se verificarem níveis elevados de humidade e nevoeiro, e à existência de geadas nas zonas mais baixas. Selecção de variedades para produção de fruta em AB A escolha das variedades deve ter em conta as características do local de produção, a sua adaptação às condições edafoclimáticas existentes e a procura actual ou potencial do mercado. Devem ser escolhidas variedades resistentes às doenças, bem como variedades que exijam menos intervenção, designadamente ao nível de tratamentos fitofarmacêuticos. Os principais aspectos que determinam o valor e o interesse das variedades na produção de frutas biológicas são: A qualidade externa dos frutos (tamanho, forma, cor, resistência da casca, ausência de defeitos, sintomas de doenças, etc.) A qualidade interna dos frutos (valores nutricionais, nível de fibras, sabor, aroma, aptidão para o processamento, teor de vitaminas e outros factores nutricionais, etc.). O valor de mercado das variedades é determinado pelo grau de receptividade dos consumidores (atractividade, procura, etc.), perecibilidade e a adequação para a transformação (qualidade da epiderme, consistência da polpa, grau de perecibilidade). 7 Ao nível dos factores produtivos, a produtividade, a estabilidade da produção, a susceptibilidade a pragas e doenças, a tendência para a queda dos frutos, o vigor vegetativo, a biologia da floração e as características de fertilização, são aspectos determinantes nas escolhas a efectuar. Polinização por insectos As flores das árvores de fruto são na sua maioria polinizadas por insectos, apesar da polinização pelo vento desempenhar também um papel importante. Assim, dependendo da variedade, devem estar localizadas no pomar, no período de floração, 2 a 10 colmeias de abelhas, por hectare. Porta-enxertos (PE) As características genéticas desempenham um papel fundamental na dimensão das árvores e arbustos. Todavia, no caso de muitas espécies (por exemplo, a macieira e a pereira), esta característica pode ser influenciada também pelos porta-enxertos e pela altura do ponto de enxertia. A utilização de PE bem adaptados é importante na tolerância a condições desfavoráveis de solo, como a má drenagem ou a presença de bactérias ou fungos patogénicos (doenças de solo ou outras que possam atingir o PE, como o fogo bacteriano). Sistemas de produção e condução Na produção biológica devemos criar uma harmonia entre a variedade e o PE, a distância entre as árvores e a forma de condução. Em AB a criação de um bom equilíbrio entre crescimento vegetativo e produção, pode ser alcançado com uma poda mais ligeira. Compasso de plantação A distância entre árvores deve ser adaptada ao crescimento e vigor da combinação variedade e PE. A orientação das linhas deve ser norte -sul. A forma da copa deve respeitar, dentro do possível, a forma natural da árvore, com um tronco central rodeado de diversas pernadas em todo o 8 contorno (eixo central revestido). Nalguns casos de menor vigor e na falta de postes e arames de suporte, pode optar-se por formas mais baixas, em vaso (ou esféricas no caso dos citrinos), de modo a manter a árvore direita. A forma de condução também depende da espécie e do vigor do PE. Linhas duplas não são permitidas em AB, porque este sistema é mais susceptível às doenças. Se forem plantadas culturas consociadas nas entrelinhas do pomar, devem usar-se PE mais vigorosos, sem aramação de suporte. Neste caso as distâncias entre árvores são maiores, com os seguintes compassos: - em árvores de fruto: 5-10m x 4-10m; - em pequenos frutos: 1,2-2,0m x 0,8-1,5m. 2.2. Gestão do solo e nutrição das plantas O terreno a cultivar deve ser adequado à produção de espécies frutíferas. O mais importante no manejo do solo é a conservação e melhoria da sua fertilidade e actividade biológica. Um aspecto fundamental a ter em conta consiste no nível de húmus do solo, que deve ser aumentado ao longo dos anos. Para além da protecção e conservação do solo há ainda a vantagem climática do sequestro de carbono que é transferido da atmosfera ficando retido por muitos anos na matéria orgânica. Melhoramento do solo O melhoramento do solo pode também ser necessário, de acordo com as análises efectuadas. Estas devem ser feitas antes de se iniciar o processo produtivo, com base em amostras obtidas em vários locais do campo de cultura. Em solos ácidos, o valor do pH do solo pode ser modificado através da realização de “calagens”, através da aplicação de correctivos minerais alcalinizantes (calcário moído com ou sem magnésio, algas marinhas 9 calcárias e cal industrial resultante do fabrico de açúcar). A cal viva e a cal apagada estreme, não são autorizadas. Em solos alcalinos, o pH do solo pode ser corrigido com enxofre ou turfa ácida. Em ambos os tipos de solo (ácido e alcalino) a aplicação de matéria orgânica na forma de composto, também corrige o pH. Para contextos pedológicos com baixo teor em húmus (<1%), deve ser adicionada uma grande quantidade de material orgânico (80 a 100 t/ha de estrume ou composto, que não seja proveniente de pecuária intensiva sem terra) antes de iniciar a plantação. Fertilização orgânica Na produção de fruta biológica, é adicionado ao solo matéria orgânica para melhorar a sua estrutura e para favorecer a actividade biológica. Portanto, a composição dos nutrientes presentes no estrume ou composto utilizado deve ser bem conhecida. Os fertilizantes orgânicos usados devem ser provenientes da agricultura biológica certificada, mas, na falta daqueles, podem ser de agricultura convencional, com excepção da pecuária industrial sem terra, em que os animais estão sempre fechados e sem contacto com o terreno agrícola. O fornecimento de fertilizantes deverá ser feito de acordo com a informação do anexo I ao Reg. (UE) n.º 889/2008. Preparação do solo Na preparação do solo devem evitar-se lavouras muito profundas com reviramento da leiva, porque tal procedimento poderá prejudicar a camada superficial mais rica em húmus, trazendo o subsolo à superfície. A profundidade de mobilização do solo não deverá ser superior a 0,90 m e sempre com ripagem em vez de lavoura de charrua. A instalação da cultura deve ser efectuada em condições climáticas adequadas e com um nível de humidade do solo ideal, devendo a profundidade de instalação situar -se entre 0,25m a 0,40 m. Depois da ripagem, o solo deve ser preparado mais finamente, com alfaias combinadas (dentes mais discos e rolo destorroador) ou, na falta destas, com grade de discos seguido de escarificador. 10 Sideração ou adubação verde A sideração é um método que permite a melhoria do solo, tanto na fase anterior à plantação, como depois, ao nível da adubação nas entrelinhas. Durante o período de conversão, este método é sobretudo aplicado na preparação do solo para as novas plantações. Sideração antes da plantação. Dependendo do tipo de preparação do solo e das suas características, pode ser usada adubação verde de Inverno ou de Verão, com diferentes tipos de misturas de plantas. Em sementeiras de Primavera, sugere-se a utilização de uma mistura de girassol com as seguintes leguminosas: fava-cavalinha, ervilha e tremoço. Em sementeiras tardias de Verão/Outono (Setembro/Outubro) sugere-se uma mistura de centeio, ervilha e trevo-encarnado. As adubações verdes também protegem o solo da erosão provocada pelas chuvas. Preparação do solo mais prolongada. Em situações em que o solo apresenta características mais desfavoráveis, designadamente com má estrutura, deficiência em nutrientes, ou uso prévio excessivo, é recomendada uma sementeira anual com uma mistura de gramíneas e luzerna (em caso de fadiga de solo), durante 3 a 5 anos. A protecção contra nemátodos apenas pode ser bem sucedida com culturas de cobertura (crucíferas), durante vários anos, permitindo assim a existência de raízes com, pelo menos, 60cm de profundidade. Antes da plantação das árvores, o trabalho mecânico é feito com um cultivador. Plantação A altura ideal para a plantação é usualmente o final de Outono e princípio de Inverno. Para a plantação, é suficiente a abertura manual de uma cova de 0,40x0,40x0,40 m. A abertura de covas através de meios mecânicos não é a melhor solução, particularmente em solos húmidos. É recomendado introduzir 5 a 10 kg de estrume curtido, uniformemente distribuído no fundo da cova da plantação, e posteriormente cobertos com 80 a 100 mm de uma camada de solo. Antes da plantação, a raiz do porta-enxerto é cortada plana, com a superfície de corte virada para baixo. As raízes são imersas numa calda espessa feito com água, argila e micorrizas para inoculação da raiz. As plantas devem ser irrigada s com 10 a 20 litros de água, conforme a capacidade do solo em reter essa a água. 11 Na plantação de Outono, nas regiões mais frias, o tronco pode precisar de ser protegido do frio com um montículo de terra. No caso de plantação de Primavera essa protecção não é necessária. Depois da época das geadas, faz-se a descava ao redor do tronco em círculo com diâmetro até 1m. A cobertura ou empalhamento do solo na linha tem como objectivo preservar a humidade do solo e assegurar o combate às ervas infestantes. Palha, estrume, palha misturada com estrume, casca de pinho, aparas de madeira, pó de cortiça, engaço de uva, bagaço de azeitona, são bons materiais para esta prática. Alguns materiais sintéticos como, filme de polietileno negro, folhas de polipropileno, também podem ser aplicados como cobertura do solo. Protecção do tronco Tanto nas plantações de Primavera como nas de Outono (e, em particular nestas últimas) é importante proteger o tronco de eventuais mordeduras de animais. Para tal, pode ser usado papel, canas, redes ou tubos especiais para proteger troncos, feitas de metal ou de plástico. Vedações Para uma maior protecção contra animais selvagens e eventuais roubos é recomendada instalação de uma vedação no momento da plantação, ou mesmo antes. Sebes naturais e faixa de flores De forma a favorecer o isolamento é necessário envolver a plantação com sebes naturais compostas por várias espécies (árvores, arbustos). Estas devem ser originárias do ecossistema natural da zona. Uma faixa de flores deve também ser implementada, sendo composta por espécies anuais, que permanecerão no pomar durante a fase de floração, abrigando os organismos auxiliares. 12 Após 2003, só pode ser usado na instalação de uma nova plantação material de propagação (e.g. enxertos) sujeito aos requerimentos da produção biológica, produzido por viveiros certificados e fornecido com certificado de produção biológica. No período de transição, pode ainda ser utilizado material de plantação oriundo de viveiros tradicionais. Esta utilização deverá ser efectuada debaixo de um maior nível de supervisão por parte da organização certificadora. Na criação e funcionamento de um viveiro biológico devem ter-se em consideração todas as normas e regulamentos que incidem sobre um viveiro tradicional, completadas com os requerimentos aplicáveis à agricultura biológica (Reg. (EU) 889/2008). Nutrição das plantas A gestão do solo e a nutrição das plantas tem um impacto muito significativo sobre a produtividade global do pomar. Uma boa gestão do solo deve permitir alcançar os seguintes objectivos: Arejamento do solo; Capacidade de retenção da água; Captação de nutrientes; Capacidade de utilização dos estrumes incorporados; Preservação e aumento do nível de matéria orgânica no solo; Protecção contra infestantes; Protecção contra a erosão e a deterioração do solo Fornecimento de nutrientes Na produção biológica o fornecimento de nutrientes às árvores de fruto baseia-se sobretudo na disponibilidade natural em nutrientes e na capacidade do solo em fornecer nutrientes. A capacidade de disponibilização de nutrientes é igualmente influenciada pelo tipo de solo, teor em húmus, estrutura do solo e actividade biológica da camada de solo próximo das raízes (rizosfera). Considerando que a utilização de fertilizantes industriais de síntese não é permitida, tanto antes como depois da plantação, é muito importante assegurar que o solo apresenta uma capacidade constante para fornecer nutrientes às plantas. 13 Os dois principais nutrientes são o Azoto (N) e o Potássio (K). O azoto participa na formação de todos os organismos (como componente proteico). A presença de 1% de húmus no solo equivale a 30-40 Kg/ha de azoto, por ano, o que pode ser quase suficiente para uma produção média, se a mineralização for assegurada por condições pedológicas favoráveis (ar/água). Por esta razão, deve ser seriamente ponderada a decisão de iniciar a produção de fruta em MPB em solos com menos de 1% de teor em húmus. Como boas fontes de azoto podemos referir: sideração com misturas de leguminosas (50 a 150 Kg/ha de azoto no caso de 20 t/ha de massa verde), e plantas leguminosas estremes (ervilha de inverno, tremoço de primavera, favas, etc.). Bitter pit (ou “manchas encortiçadas”) é uma das mais importantes doenças que ocorrem em maçãs e peras, e é causada por uma deficiência em cálcio do fruto. Na base deste problema pode estar o excesso de potássio e de azoto no solo, um desenvolvimento vigoroso e demasiado rápido, devido a um excesso de fertilização azotada, ou uma poda de inverno incorrecta. A forma mais eficaz de evitar esta doença consiste em manter o fornecimento ideal de azoto e potássio, sem excessos, bem como o respectivo equilíbrio nutricional. Os fertilizantes (matérias primas) que podem ser aplicados na produção biológica estão referenciados no Anexo I do Reg. (UE) 889/2008, actualizados através da publicação “Guia de factores de produção permitidos em agricultura biológica”, divulgada pela organização certificadora de cada país, ou por empresas de assistência técnica à produção. Rega A maioria das espécies frutíferas necessita ser irrigada. O nível de irrigação depende das condições de precipitação locais e das necessidades hídricas das espécies/ variedades em causa. A água utilizada na rega não deve conter matérias ou substâncias poluidoras, prejudiciais à árvore e à saúde humana. Preservação da humidade e dos níveis de água no solo A utilização de métodos de cultura que preservam a água no solo e a plantação de vedações naturais que protegem as plantas do vento, 14 diminuindo a desidratação, desempenham um papel determinante. Para além disso, devem ser aplicados sistemas de rega que preservem a estrutura do solo, como por exemplo, microaspersores suspensos, debaixo da copa, ou rega gota-a-gota. Rega com propósitos específicos A irrigação por cima da copa (com aspersores) é recomendada sobretudo como factor preventivo de geadas Figura 2 - Poma r jovem: na linha, o solo está protegido por um sistema de mulching (“empalhame nto”). Na entre linha, o te rre no está plantado. (http://www.orc hardworld.co.uk) 2.3. Gestão da entre-linha Na AB o pomar faz parte do ecossistema. Para que este seja equilibrado, pode recorrer-se à sementeira das entrelinhas com plantas que favorecem a biodiversidade, e ainda através da interligação do pomar aos elementos naturais do ecossistema, no território em que se insere. Em climas secos e áridos é necessário adoptar com muito cuidado as práticas de países do Norte, com maiores índices de precipitação. Em condições de produção áridas, a totalidade da planta pode não exceder 50% da largura total da entrelinha. Na produção de fruta biológica, as entrelinhas são frequentemente cobertas com culturas de cobertura. A vegetação usada nas entrelinhas tem de estar biologicamente conectada com as sebes naturais, 15 as plantas existentes ao redor da plantação e até mesmo comunidade natural de plantas. com a A selecção adequada das culturas de cobertura (arrelvamento) pode ser feita tendo como base as condições edafoclimáticas do local (clima, características do solo, etc.), a disponibilidade em matéria orgânica e a melhoria da estrutura do solo (ou a sua ausência). Existem sobretudo duas versões para implementar um arrelvamento nas entrelinhas: 16 Sementeira anual de uma mistura de gramíneas com leguminosas, estabelecida de acordo com as necessidades previamente definidas. Como requerimento de partida, as plantas utilizadas devem tolerar relativamente bem o pisoteio, a pressão, e que não se expandam de forma agressiva para a linha, onde estão as árvores. Igualmente, devem ser escolhidas as espécies menos exigentes em água. É recomendada a seguinte mistura: festuca rubra, poa pratensis e trevo subterrâneo. O período ideal para esta sementeira é o final do Verão, princípio do Outono. Com cortes regulares da vegetação natural da entrelinha surgirá em alguns anos uma cobertura do solo ecologicamente equilibrada, podendo mesmo, no primeiro ano, fornecer protecção ao solo na entrelinha. É uma solução muito prática e cómoda em climas com tendência para a falta de água. A limpeza na linha de árvores pode ser obtida através do ensombramento do solo (diminuição dos índices de luminosidade). O mais adequado neste caso é a utilização de estrume da exploração já compostado, dado que este é rico em azoto e noutros macro e microelementos, fornecendo-os de forma contínua às árvores de fruto. Esta actuação protege o solo da desidratação e previne o surgimento de ervas infestantes. O espalhamento de uma camada densa de palha pode também ser um método a utilizar, dado que esta possui um nível considerável de potássio. Outras plantas trituradas podem também ser utilizadas para este propósito. As cascas de árvores trituradas são também muito utilizadas como cobertura, sobretudo em solos que perdem rapidamente a humidade, solos leves, pobres em húmus. Figura 3 - Gestão da entrelinha num pomar de maçãs em AB, com aplicação de uma mistura de gramíneas e leguminosas (fotos: Z. Szalai) Figura 4 - Arrelvamento por todo o espaço de implantação do pomar (fotos: Z. Szalai) 2.4. Gestão de pragas e doenças Controlo de ervas infestantes em pomares biológicos Um bom plano de gestão e controlo de infestantes deve representar um risco mínimo de erosão, fornecer uma “plataforma” para o movimento dos equipamentos da exploração, e não ter um impacto negativo no controlo das pragas e das doenças ou na fertilidade do solo. Adicionalmente, deve minimizar a competição das infestantes pela água e pelos nutrientes. Métodos de controlo de infestantes: agrotécnicos e culturais. 17 Os mecanismos de controlo das infestantes são: Culturas de cobertura, empalhamento, e solarização do solo Gestão da entrelinha em pomares Gestão física de infestantes – métodos mecânicos para controlo de infestantes A acção mecânica pode ser suficiente como forma de controlar as infestantes. Em sistemas de produção que incluem a cobertura permanente do solo, a acção mecânica pode ser limitada a uma limpeza ao longo da linha de árvores. O contrário pode também ser verdade em sistemas que empregam o empalhamento para supressão das infestantes debaixo das árvores e a mecanização é utilizada para controlar as infestantes e incorporar as culturas de cobertura no espaço entrelinhas. Em qualquer caso, a acção mecânica deverá ser superficial para minimizar os danos provocados nas raízes das árvores e para evitar trazer mais sementes de infestantes para a proximidade da superfície, permitindo que germinem. O trabalho manual pode ser eficaz numa escala pequena. Mas em pomares ou vinhas de grandes dimensões – onde a mobilização na linha é desejável – os meios mecânicos podem ser muito úteis. A extensão permitida pelos cultivadores montados em tractores permite o trabalho junto do tronco da árvore ou do pé da vinha, sem danificar a planta. 18 Figura 5 - Cortando uma mistura de gramíneas com leguminosas debaixo da linha, num pomar do Research Institute of Weinsberg, Alemanha. (foto: Z. Szalai) Gestão da entrelinha. Aplicação de culturas de cobertura na entrelinha e, se a precipitação o permitir, em toda a superfície da plantação (ver capítulo da gestão da entrelinha). Os cortes são necessários e o seu número é determinado pelo índice de crescimento das plantas, pelo nível de fornecimento de nutrientes pelo solo e pela precipitação, ou sistema de rega. Figura 6 - Utilização de discos especiais num solo coberto por uma mistura de gramíneas com leguminosas, debaixo da linha de árvores no Research Institute of Weinsberg, Alemanha. (foto: Z. Szalai) 19 Monda térmica de infestantes A morte de ervas infestantes pelo calor da queima de gás é o sistema mais conhecido, com uma eficácia de 80 a 80%, mas apresenta elevados custos energéticos. As plantas devem ser sujeitas a temperaturas de 60 a 70ºC, no mínimo. O efeito desta técnica traduz-se pela prostração imediata da planta que acaba por secar ao fim de alguns dias. Este método só é efectivo contra infestantes dicotoledónias anuais, não devendo ser aplicado em cardos ou em infestantes com estolhos ou rizomas. Controlo biológico de infestantes Insectos Doenças Alelopatia Vertebrados Vertebrados: gansos e galinhas. Estas, em particular, têm sido usadas para controlo de infestantes num grande número de culturas. Os animais são abrigados em pequenas estruturas móveis e são mudados periodicamente de espaço. Figura 7 - Exemplo da utilização de galinhas num pomar de aveleiras (Corillus avellana), numa exploração experimental em Heilbron (Alemanha). (foto: Z. Szalai) 20 Insectos auxiliares e controlo de pragas provocadas por ácaros em pomares O facto de as árvores de fruto terem um período de vida significativo pode permitir o desenvolvimento de populações de insectos nocivos ao longo do tempo. Por outro lado, é também possível que estes ambientes agrícolas estáveis permitam o desenvolvimento de populações de organismos auxiliares, favorecendo assim a existência de um equilíbrio biológico, que favorece a saúde das plantas. Luta biológica A luta biológica diz respeito à utilização de organismos vivos para controlar a população de uma determinada praga. Exemplos de artrópodes auxiliares que têm sido utilizados para controlar pragas em árvores de fruto incluem os ácaros predadores Phytoseiulus persimilis e Metaseiulus occidentalis, os quais atacam os aranhiços vermelhos; joaninhas e crisopas, as quais se alimentam de afídeos (pulgões); e microhimenópteros do género Trichogramma, as quais parasitam os ovos de várias pragas, incluindo o bichado da fruta (Cydia pomonella L.). A existência arrelvamento e de vegetação adjacente, como as sebes naturais, constituem excelentes soluções para atrair e sustentar populações autóctones de insectos auxiliares. A selecção do inimigo natural mais adequado para uma praga específica constitui um aspecto muito importante. Neste contexto, distinguimos entre a utilização de curto prazo de organismos auxiliares e a introdução de longo prazo de insectos auxiliares. O momento exacto para as libertações é muito importante, tendo em consideração o período óptimo para a intervenção. A libertação dos inimigos naturais deve coincidir com um estadio favorável do hospedeiro, e deve ser precocemente, de forma a ter sucesso. Por exemplo, os microhimenópteros do género Trichogramma parasitam os ovos, e, por esse motivo, não controlam directamente os adultos quando estes se encontram já numa fase activa no terreno. Aprovisionamento ambiental. É fundamental ter a certeza de que as “necessidades ambientais”, tais como a disponibilidade em néctar, fontes alimentares alternativas e água, estão disponíveis para os organismos auxiliares adultos. Com efeito, se o ambiente e as condições de vida não forem os mais adequados, os insectos auxiliares podem abandonar a área de produção ou até mesmo morrer. A bactéria Bacillus thuringiensis (Bt) consitui um exemplo de uma forma biológica recorrente no controlo de 21 pragas. Produtos com esporos e toxinas provenientes da bactéria Bacillus thuringiensis, como o Turex, por exemplo, combatem diversas larvas de lepidópteros que se alimentam das folhas das árvores de fruto. Os produtos à base de Bt não são igualmente eficazes contra as pragas de lepidópteros que passam a sua fase larvar alimentando -se dentro de caules, troncos ou frutos, como o bichado da fruta (maçã, pêra, noz) e a zeuzera (broca dos ramos em diversas espécies de árvores de fruto). Outros bioinsecticidas incluem o Bacillus popilliae, o vírus granuloso para ataque ao bichado da fruta, e nemátodos parasitas de insectos para o combate a larvas de insectos. Produtos biológicos, extractos de plantas e biopesticidas Os pesticidas autorizados em AB podem ser extractos de plantas, reguladores do crescimento de insectos, feromonas sintéticas para promover a desregulação na fase acasalamento, sabões, óleos, minerais tal como o enxofre em pó, e biopesticidas à base de microrganismos. O termo “biológico” ou “pesticida bioracional” é utilizado para descrever pesticidas – aceitáveis do ponto de vista da produção biológica” refere-se a produtos com impactos mínimos nos insectos auxiliares e no ambiente. Os insecticidas vegetais são elaborados através da extracção de componentes tóxicos das plantas que têm propriedades repelentes para os insectos. Aqueles insecticidas ocorrem naturalmente, têm um período de actuação curto, e não libertam resíduos prejudiciais. Todavia, muitos insecticidas botânicos são venenos de largo espectro, afectando tanto as pragas e doenças como os organismos auxiliares. Por este motivo não são sempre a escolha bioracional. Alguns dos insecticidas derivados de plantas mais comuns são os piretróides (actualmente apenas permitidos em armazéns), a rotenona (não homologada na EU), a azadiractina (extraída da bagas de Azadirachta indica ou neem) e a quassia (extraída de Quassia amara). Sabões de potássio especialmente formulados, com elevados níveis de ácidos gordos, são eficazes contra vários insectos de estrutura pouco rígida, como é o caso de afídeos, mosca-branca, cigarrinha-verde e aranhiço vermelho. Os sabões insecticidas penetram no corpo do insecto, desregulando o funcionamento celular normal e as suas membranas, permitindo que o seu conteúdo saia. Os sabões são activos apenas no estado líquido e apenas também como pulverização de contacto. Não deve ser esperada qualquer actividade insecticida a partir do momento em que a solução secou. 22 Feromonas de insectos são substâncias químicas produzidas por insectos para a comunicação e.g. para comunicação sexual. Normalmente, estas feromonas são específicas de uma dada espécie ou género de insectos. É largamente utilizado para monitorizar a emergência ou a simples presença de pragas nas culturas. Tecnologia recente permite também a utilização das feromonas no processo de desregulação e confusão da actividade sexual de certas pragas, especialmente em fruticultura e viticultura, desde que a área da cultura seja suficientemente grande ou isolada para evitar a entrada de fêmeas já acasaladas. Controlo de doenças em pomares de fruta biológica Muitas doenças das árvores de fruta são específicas de determinadas espécies ou variedades. Dada a relativamente frágil estrutura dos frutos e o elevado teor em açúcar da maior parte dos frutos maduros, ou quase maduros, os fungos são uma preocupação constante do agricultor. A ocorrência da maior parte das doenças causadas por fungos tem lugar em condições climáticas caracterizadas pelos elevados índices de humidade. A forma ecológica de minimizar as possibilidades de a fruta apodrecer consiste em permitir uma boa circulação de ar e em favorecer a penetração do sol no interior da copa das árvores. No caso de árvores, em particular das de grande porte, isto implica a necessidade de efectuar podas adequadas e de levar a cabo técnicas de condução eficazes. A instalação de pomares de árvores de fruto, qualquer que este seja, deve ser feita em locais com excelentes condições de circulação de ar. Todo o material vegetal resultante das podas deve ser sempre removido do pomar, ou destruído com uma fina trituração. Igualmente, devem removerse as plantas infectadas e os hospedeiros alternativos ou materiais inoculados que possam favorecer o desenvolvimento de organismos prejudiciais. Fungicidas e bactericidas permitidos Embora apresentem inconvenientes, os derivados do cobre e do enxofre são os principais fungicidas e bactericidas usados pelos produtores biológicos. De facto, estes materiais podem causar danos às plantas se aplicados de forma incorrecta. O enxofre é também medianamente tóxico para alguns insectos auxiliares, e tóxico para ácaros predadores, podendo assim 23 provocar outro tipo de problemas. A utilização de fungicidas à base de cobre, por longos períodos, pode também levar à existência de níveis tóxicos de cobre no solo. Igualmente, estes fungicidas são efectivamente menos eficazes que as alternativas sintéticas, e têm de ser utilizados numa base preventiva, requerendo frequentes aplicações. Os produtores devem ter em consideração que a quantidade de cobre metálico aplicado num ano está limitada a 6Kg/ha, de acordo com a legislação comunitária para a agricultura biológica. Biofungicidas Os biofungicidas podem ser obtidos, por exemplo, a partir de várias formulações do fungo Trichoderma harzianium, utilizado no controlo da podridão cinzenta (Botrytis). Embora algumas plantas e extractos compostos tenham propriedades fungicidas, é preferível utilizar técnicas agrícolas correctas e variedades resistentes, aplicando derivados de cobre e enxofre apenas quando necessário. Animais vertebrados Várias espécies de aves, gamos, ratos, ratazanas, coelhos e outros animais vertebrados podem constituir-se como verdadeiras pragas para as árvores de fruto. De uma forma geral, os programas de certificação biológica não permitem a utilização de venenos para controlar este tipo de pragas. Ao contrário, encorajam a utilização de armadilhas não letais, o controlo de movimentos com vedações ou sebes, ou ainda a utilização de sistemas repelentes ou de amedrontamento. 24 Figura 8 - Disponibilização de um local de nidificação para insectos auxiliares e aves, num pomar de macieiras no Research institute of Weinsberg, Alemanha (foto: Z. Szalai) 2.5. Colheita, armazenamento, conservação e transporte A colheita deve ser planeada atempadamente e o momento em que a mesma é efectuada deve ser determinado de acordo com os parâmetros de maturação, em função do destino final da fruta. Para a maior parte das variedades de fruta, a colheita pode ser efectuada com sistemas multirecolha selectivos. O grau de maturação para a colheita depende da variedade, e é sobretudo determinado pelo tamanho e pela coloração do fruto. Outros índices de maturação incluem a análise de lenticelas nos frutos, o seu teor em amido, e a concentração interna de etileno. Tamanho e forma uniformes, ausência de lesões internas, necroses, cicatrizes, escaldão, danos causados por insectos, e outros defeitos, são importantes indicadores de qualidade. A estimativa de produção deverá ser feita antes da colheita, e os seus dados registados. Após a colheita, os frutos devem ser enviados o mais depressa possível para o seu destino final. Tanto na colheita como no circuito de distribuição, só podem ser utilizados os tipos de embalagem permitidos. Durante o transporte, a fruta biológica não deve, mesmo que por acaso, ser misturada com a fruta obtida através dos métodos convencionais. Também não pode ser transportada em estruturas conjuntas de transporte. A fruta 25 deve estar devidamente marcada com uma referência distintiva na embalagem, e com indicação na guia de transporte ou factura de que se trata de fruta de agricultura biológica certificada por um determinado organismo de certificação. As estruturas de acondicionamento e embarque devem estar protegidas da contaminação externa. Dado que se trata de produtos biológicos, a fruta colhida deve estar devidamente referenciada com os documentos de certificação do produto em causa, especialmente para posterior utilização pelo organismo certificador e pelo distribuidor ou retalhista. Armazenamento dos frutos Maçãs, peras Armazenamento em atmosfera normal. As peras devem ser armazenadas a uma temperatura entre -1 e 0ºC e uma humidade relativa de 90 a 95%, sendo para as maçãs uma temperatura um pouco superior (0-2ºC), dependendo também da variedade. O período de armazenamento depende também da variedade. Em climas moderados e frios, a maioria das variedades são de verão ou Outono, as quais amadurecem em Agosto ou Setembro e podem ser armazenadas desde alguns dias a algumas semanas, ou alguns meses em câmara frigorífica, em atmosfera normal ou controlada. Sensibilidade ao etileno: a maior parte das variedades de maçãs e peras é sensível ao etileno. Armazenamento em atmosfera controlada ou modificada. As m açãs de colheita no final do Verão e no Outono e algumas variedades de pêra podem ser armazenadas em atmosfera controlada a -1ºC durante mais de quatro meses. Limites óptimos: 1-2% O2 + 0-1% CO2. A pêra Rocha, por exemplo, pode ser conservada por um período superior a 8 meses. “Frutos de caroço” A temperatura óptima de armazenamento situa-se entre -1 e 0ºC, e a humidade relativa entre 90 e 95%. O período de “vida comercial” varia desde uma a oito semanas e é diferente entre as diversas variedades. Algumas variedades são sensíveis à refrigeração. A fruta mais sensível, 26 armazenada entre 2 a 8ºC, é mais susceptível a este problema. Os maiores benefícios da atmosfera controlada durante o armazenamento/envio dizem respeito à manutenção da firmeza da fruta e à preservação da sua cor. A incidência de podridões não foi reduzida com atmosferas controladas de 12% de O2 e 3-5% de CO2. Bagas ou pequenos frutos É necessário um arrefecimento rápido com ar forçado, seguido de um armazenamento a 0ºC com humidade relativa de 90 a 95%. Este procedimento tem como objectivo diminuir o desenvolvimento da podridão cinzenta, causada pela Botrytis cinerea, a qual é a maior causa das perdas na pós-colheita de morangos. Entre as frutas de baga, a framboesa é aquela que aprese nta um maior índice de perecibilidade. Este fruto pode ser armazenado durante apenas 2 a 5 dias, em temperaturas que variam entre 0 e 0,5ºC e uma HR de 90 a 95%. Para o mirtilo, a temperatura óptima de armazenamento situa -se também entre 0 e 0,5ºC e a HR deverá ser de 90 a 95%. Nestas condições, o período de armazenamento pode prolongar -se por duas semanas. No caso de embalamento para envio, uma atmosfera modificada com 10 a 15% de dióxido de carbono reduz o desenvolvimento da Botrytis cinerea. Processamento da fruta De acordo com a legislação comunitária relativa aos produtos biológicos, a seguinte prescrição deverá ser seguida: os alimentos apenas podem ser considerados como “biológicos” se, pelo menos, 95% dos seus ingredientes forem também biológicos. Ingredientes biológicos em alimentos não biológicos podem ser referenciados como biológicos na lista de ingredientes, desde que aqueles ingredientes tenham sido produzidos de acordo com a legislação da AB. De forma a assegurar um maior grau de transparência, o número de código do organismo certificador deve ser indicado. É proibida a utilização de Organismos Geneticamente Modificados (OGM) ou produtos deles derivados. Os produtos biológicos não podem ser tratados ou sujeitos a processos de radiação ou ionização. Desde 1 de Julho de 2010 que os produtores de alimentos biológicos europeus devem usar o logótipo 27 comunitário da AB. A utilização do logótipo em produtos biológi cos oriundos de países terceiros, todavia, é opcional. No caso de este ser utilizado, a legislação promulgada obriga, desde 1 de Julho de 2010, a que o local de produção dos ingredientes agrícolas utilizados seja indicado. Necessidades de matéria-prima para o processamento de produtos biológicos Maturação. Os frutos atingem o seu estado óptimo quando se obtém, para cada variedade, a melhor relação ácido/açúcar. A excessiva maturação afecta as características do fruto, designadamente o seu sabor. Os frutos devem ter um aspecto saudável, não devendo verificar-se podridão, deterioração ou deformação. Pureza. Os frutos não devem conter materiais ou substâncias estranhas, tais como pó ou poeiras, terra, folhas, etc. Os frutos devem ser lavados com água fresca e limpa, antes do processamento. A matéria-prima deve ser exclusivamente originária de produção biológica certificada, devendo a mesma estar documentada. Na fábrica, a matéria-prima biológica só pode ser processada numa linha de transformação específica, independente das restantes. Cada fase deverá ser acompanhada da devida documentação. As mesmas regras deverão ser seguidas no processamento de produtos “caseiros”. Conservas, compotas, geleias de frutos, sumos Na fase de processamento e conservação só podem ser utilizados métodos físicos (tratamento pelo calor, congelamento, pressão). Igualmente, só podem ser empregues aditivos naturais. O conjunto de aditivos que podem ser utilizados é muito vasto, pelo que é aconselhável obter informação da literatura técnica, antes do processamento do produto. Os aditivos originários de produção não biológica não podem exceder 5%, em peso. Corantes sintéticos, aromatizantes, adoçantes, antioxidantes, potenciadores de sabor e conservantes alimentares, não deverão ser usados. Condições ideais de conservação passam pela esterilização com calor, enchimento a quente, e posterior pasteurização (vapor ou água quente). As fases seguintes dizem respeito ao processamento dos produtos à base de frutas. Conservas. Frutos inteiros maduros, juntamente com um líquido de preenchimento arrefecido (eventualmente suplementado com sumo de 28 limão) são introduzidos em recipientes fechados e posteriormente sujeitos a tratamento com calor. Os doces de frutas têm açúcar adicionado e são sujeitos a preparação culinária, contendo também alguns pedaços de fruta. Na maior parte dos casos, podem ser feitos a partir de fruta não totalmente madura. As geleias são elaboradas a partir de fruta totalmente madura, mesmo amassada, com açúcar adicionado e preparação culinária (que promove a esterilização). Pode ter um aspecto mole ou pode mesmo ter uma consistência rígida e ser cortada. O seu adoçamento é feito de acordo com as necessidades; é adicionado um aditivo alimentar natural (pectina). O teor em pectina dos frutos é diverso, pelo que a adição atrás referida só deverá ser feita em frutos com baixo teor em pectina. Frutos com um elevado teor em pectina são a groselha, o marmelo e a maçã. De entre aqueles que têm baixo teor em pectina destacam-se o morango, a framboesa e a cereja Frutos secos No processo de secagem, é reduzido em cerca de 80 a 90% o conteúdo em água natural dos frutos. O período de vida dos frutos secos é determinado pelo seu teor em água residual. Excelentes frutos secos são obtidos essencialmente a partir das maçãs, das ameixas e dos damascos, existindo variedades com maior aptidão para a secagem, como é o caso das ameixas, Rainha Cláudia, Stanley, e Prune d’Agen. O sumo de limão pode ser utilizado para o “embranquecimento”, prevenindo a oxidação. Tanto o simples e tradicional método de secagem no forno, como a secagem em bandejas, são métodos comuns de secagem de frutos. Enquanto a secagem se inicia a uma temperatura alta, mas não demasiadamente elevada, na segunda parte do processo a utilização de uma temperatura mais baixa é mais favorável à obtenção de um produto de qualidade. O vinagre de fruta biológico é produzido exclusivamente através do método de fermentação. Marketing Os produtos comercializados devem ser etiquetados de acordo com as suas características de produção e processamento biológicos, contendo o número de código do organismo certificador. O produto certificado é acompanhado pelo respectivo documento de certificação, emitido pela entidade certificadora. Igualmente, devem também ser indicados o nome do produto, 29 o endereço do produtor, o peso líquido escorrido, a data de validade, ingredientes e aditivos incorporados e as recomendaçõe s de armazenamento (ambiente frio ou seco, etc.). A fruta biológica pode ser comercializada do seguinte modo: 1) venda directa pelo produtor na exploração agrícola; 2) venda em mercados locais; 3) entrega em casa na sequência de pedido expresso; 4) venda do quadro do agro-turismo; 5) abastecimento de restaurantes, hotéis, e através da rede de mercados grossistas. 2.6. Exemplos práticos Damasco (Armeniaca vulgaris L.) A espécie Armeniaca pertence ao subgénero Prunus, o qual se insere na grande família das Rosáceas. Esta, inclui numerosas espécies selvagens e domésticas. O damasco cresceu primeiro na Ásia Central e Ocidental, tendo-se espalhado a partir daí para a Grécia, a Itália, França, Espanha e Califórnia. Morfologia e necessidades biológicas do damasco. O damasco é uma árvore de raízes profundas com um tronco de cor castanho -avermelhado. Os ramos e a copa são avermelhados, com numerosas lenticelas. A produção de damascos tem sempre lugar em “ramos produtivos”, nos quais as partes produtivas têm sempre um ano. A árvore torna-se produtiva aos cinco ou seis anos de idade e o volume máximo da copa é atingido entre os seis a dez anos. Devido à precoce floração na Primavera, o damasqueiro sofre frequentemente com as baixas temperaturas de algumas noites primaveris. Necessidades Ecológicas. Necessidades em termos de temperatura. Uma exigência fundamental do damasco é a existência de uma temperatura anual média de 10ºC e uma temperatura média no mês de Julho de 18ºC. O damasco necessita de 1900 horas de sol no período vegetativo (i.e. do 30 quarto ao nono mês), e a temperatura acumulada deve ser superior a 3200ºC. As temperaturas baixas são importantes para o seu desenvolvimento e o vingamento dos frutos: 40 dias com 3ºC a 4ºC são suficientes para a floração, mas mais do que isto e os frutos sofrerão lesões provocadas pelo frio. Portanto, estas árvores não devem ser plantadas nas vertentes orientadas a Sul. Algumas variedades seleccionadas já são menos exigentes em frio invernal. Necessidades de água. Os frutos necessitam 550-600 mm de precipitação anual, se uniformemente distribuída. As necessidades hídricas são maiores durante a fase da diferenciação das gemas vegetativas, em Agosto, e durante o desenvolvimento dos botões florais, em Setembro/Outubro. Necessidades pedológicas. O damasqueiro necessita de um solo com uma estrutura “solta” e uma camada inferior de argila. Devido às elevadíssimas necessidades em arejamento no solo, esta árvore sofre de asfixia radicular em solos mais “pesados”. Uso de porta-enxertos. O porta-enxertos com base no damasqueiro selvagem caracteriza-se sobretudo pelo seu crescimento vigoroso; os portaenxertos de ameixeira selvagem apresentam também um crescimento vigoroso, embora tenha sido registado um efeito de nanismo na ameixa vermelha. Algumas ameixeiras nobres podem proporcionar excelentes porta-enxertos, como é o caso dos clones de Besztercei. Em algumas áreas, a os enxertos obtidos a partir da Prunus domestica ssp. institia podem também ser adequados. No caso de colheita mecâni ca deve usar-se o porta-enxerto mirabolano. Crescimento. O damasqueiro atinge o volume máximo de copa entre os seis e os 10 anos de idade. A fase de máxima floração acontece normalmente em Março. É importante sublinhar que devido às condições específicas de polinização do damasqueiro, devem ser plantadas várias variedades. 31 Fornecimento de nutrientes. Tal como sucede com outras culturas, é fundamental efectuar análises de solos e de folhas antes da a dubação. Para assegurar um volume médio de produção (i.e. 20 a 25 toneladas /ha), o suplemento anual em nutrientes recome ndado deverá situar-se entre 1000 a 1500 Kg/ha de estrume curtido ou composto. Em termos de fornecimento de nutrientes, o estrume e o composto desempenham um papel fundamental. Protecção das plantas. Para garantir que as árvores de fruto estejam em boas condições, o melhor método preventivo consiste em efectuar uma boa plantação, com plantas fortes e saudáveis. De seguida, é também importante a monitorização do pomar, designadamente, efectuando as podas nas alturas adequadas, mantendo o pomar limpo e arrumado, fazendo cortes regulares no espaço das entrelinhas, mobilizando o solo mecanicamente nas linhas, ou então recorrendo ao empalhamen to nas mesmas. Igualmente, devem destruir -se os ramos infectados e retirar-se do pomar as folhas e os frutos infectados. Desta forma, removem -se ou afastam-se do pomar os focos de pragas e doenças. A seguinte tabela simplificada apresenta alguns métodos aplicáveis na protecção de plantas, relativamente ao damasco. Protecção de plantas em AB: damasco e peras. Pra ga Aranhiço vermelho europeu (Panonychus ulm i) Método de protecção biológicos Fonte: Biocont Hungaria Kht Aplicação Typhlodromus Pyri ácaro fitoseídeo Em cada uma das árvores: 1-3 doses de Typhlodromus. Devem ser colocadas entre Dezembro e Fevereiro (em geral não é preciso aplicar, pois a limitação natural com os auxiliares autóctones é suficiente) Afídeos Garbol óleo de Verão a 856g/l Pulverização com uma concentração de 2-3% no período de repouso vegetativo, e com uma concentração de 0,5-1%, durante o período de crescimento Anarsia (Anarsia lineatella) Isonet A 1000 difusores de feromona/ha, especialmente para pomares com mais de 3ha. Aplicação entre 5 a 10 de Maio. Traça Oriental do pessegueiro (Cydia molesta) Dipel, Turex Bacillus thuringiensis var. kurstaki: 1,5 a 2 litros, ou kg/ha, diluído em 800 a 1000 litros de água de acordo com os resultados de monitorização das armadilhas de feromonas, no estádio larvar da praga. Aranhiço amarelo (Tetranychus urticae) 32 Traça Oriental da fruta (Grapholita molesta) Isomate 600 difusores de feromona/ha especialmente para pomares com mais de 3 ha, e aplicação antes do início do voo Oídio Thiovit com 80% de enxofre Antes da floração: 7,5 kg/ha; Após a floração: 3 a 4 kg/ha Coryneum beijerinckii (crivado) Monilia (moniliose) Kocide 2000 53% de cobre Aplicável até à fase de botão vermelho da flor do damasco em concentrações de 1,75-2,0 kg/ha, com 1000-1500 litros de água Calda sulfo-cálcica com 23 % de polisulfureto de cálcio, contra doenças provocadas por fungos e insectos. É necessária autorização por parte da entidade certificadora Não está homologada e m Portugal No estadio de dormência: 8-10% concentração. No início do desenvolvimento botão: 3-5%; No estadio vegetativo: 1-2% laxa Oídio Monilia laxa, Apiognomia erythrostoma Afídeos e ácaros de Monitorização do desenvolvimento da população das pragas de insectos: Armadilhas com feromonas; Armadilhas cromotrópicas amarelas pegajosas; Armadilhas brancas para microhimenópteros da fruta Colheita. A colheita manual é efectuada em duas ou três fases (70-80 Kg/hora). A maturidade é definida pela cor da pele, firmeza da polpa, e pelo conteúdo em ácido. A colheita mecânica pode ser feita, sobretudo se está em causa o posterior processamento pela indústria alimentar. Após a colheita, os frutos devem ser pré-arrefecidos o mais rapidamente possível. O damasco não tolera bem o armazenamento em frio: poderá assim ser guardado por um período máximo de duas semanas. Consumo e processamento. O damasco é recomendado sobretudo para consumo em fresco, mas também é excelente processado sob a forma de compotas, geleias e sumos. A desidratação é uma excelente oportunidade para os damascos. 33 3. A produção biológica de hortícolas Os métodos usados na produção biológica reproduzem os ciclos naturais da vida, incluindo a senescência e a renovação. Com a produção em agricultura biológica, o solo recupera os seus nutrientes e o material orgânico, criando assim um solo de elevada qualidade para o produtor biológico. Igualmente, obtêm-se melhores plantas e uma utilização eficiente do solo e dos desperdícios, neste caso, através da reciclagem. 3.1. Escolha do local e selecção varietal O sucesso da produção de hortícolas em AB pode estar muito dependente da escolha do local. Para além de todas as razões óbvias relacionadas com a escolha de um local (clima e solo adequados, correcto fornecimento de água, transporte e mercados), o local deve estar relativamente livre das pragas e doenças que incidem nas culturas que o agricultor pretende cultivar. A presença de algumas espécies de ervas infestantes, como a grama e a junça, são em geral ainda mais problemáticas, dada a impossibilidade de aplicar herbicidas. O sucesso da produção vegetal em AB assenta no estabelecimento de um correcto plano de rotações. Isto poderá significar uma redução da área de produção destinada ao mercado e a implementação de zonas com plantas que se destinam a posterior sideração. Estes terrenos serão colocados em produção comercial na rotação seguinte. 34 Os produtos hortícolas podem ser cultivados com sucesso sobretudo em zonas “baixas”, planas e com clima temperado. As elevadas altitudes diminuem o período vegetativo, o que reduz o leque de espécies e variedades a utilizar. O microclima do local é crucial na medida em que cada planta tem necessidades específicas em termos climáticos. Locais com frequentes geadas nocturnas na Primavera e no Outono contribuem para tornar o êxito da produção mais aleatório. O período vegetativo pode ser prolongado utilizando estruturas de cobertura, tais como estufas e túneis de plástico, ou cobrindo as culturas com manta térmica. A precipitação é muito importante, sobretudo para culturas mais exigentes em água, que apresentam maior área foliar. No caso de os períodos de precipitação serem curtos e insuficientes, devem ser instalados sistemas de irrigação. Características das espécies de acordo com as condições climáticas e a luminosidade As plantas com maiores necessidades de calor ou que vivem em zonas com dias mais curtos necessitam de um número mais elevado de horas sem luz para iniciarem a floração. As plantas com menores exigências de calor ou que crescem em zonas com dias mais longos necessitam de um menor número de horas de escuridão, em cada 24 horas, para induzir a floração. Descrição de temperaturas óptimas para produtos hortícolas segundo Markov-Haev 25 22 18 16 13 C° C° C° C° C° – – – – – melão, melancia tomate, beringela, pimento cebola, alho cenoura, ervilha, feijão couve, rabanete, hortícolas de folha larga Variedades e selecção de culturas Desde 31 de Dezembro de 2003 que constitui um requerimento da produção biológica a necessidade de as variedades escolhidas deverem ser obtidas a partir de sementes ou plântulas certificadas. A variedade escolhida deve também ser reconhecida no mercado, apresentar produções significativas, ter uma resistência a pragas e doenças, e ter um bom vigor vegetativo e desenvolvimento da parte aérea de forma a conter as infestantes. Algumas variedades têm características específicas, como por exemplo, pêlos ou superfícies rugosas, que as tornam pouco “atractivas” para as pragas. 35 Adequação ao mercado É importante contactar os grossistas, os retalhistas e os exportadores de produtos biológicos para saber o que o mercado procura e quando o necessita. Alguns tipos de produtos hortícolas podem escassear em algumas alturas do ano, e pode ser possível preencher essa lacuna sazonal no mercado. Certos restaurantes e operadores de catering podem desejar espécies específicas de hortícolas, como por exemplo, de pequena dimensão, tipo “baby”. Mercados locais ou comércio na exploração podem constituir uma possibilidade interessante, sendo neste caso aconselhável a produção da uma vasta gama de produtos reconhecido s. Uma empresa de processamento pode ser também outro destino possível: alimentos biológicos tipo “baby”, têm uma procura crescente em vários países europeus. De uma forma geral, as espécies destinadas ao processamento são diferentes daquelas destinadas ao consumo em fresco, e este aspecto deve ser analisado com cuidado. Provavelmente, os industriais terão as suas próprias necessidades, que podem incluir variedades específicas, quantidade e momento do fornecimento, forma, ou composição, como por exemplo a percentagem da componente de sólidos solúveis no produto. Adequação às condições ambientais de cultura Uma vez tomada a decisão quanto ao que produzir, o próximo passo consiste em escolher uma variedade adequada. É importante fazer alguma pesquisa “local”: contactar o departamento de agricultura mais próximo, outros produtores, e alguns viveiristas, para saber que variedades se desenvolvem melhor na zona em causa. O tipo de solo e características sazonais, como a duração do dia e a amplitude térmica podem determinar as variedades a cultivar e quando cultivar. Pode também ser possível modificar alguns factores ambientais para proteger as culturas ou alterar o período de maturação das mesmas, usando, por exemplo, coberturas de culturas (ou na linha), ou mesmo produção em estufa. Pragas, doenças e resistência a infestantes Entre as características varietais que podem dar à produção biológica uma vantagem significativa estão a resistência intrínseca a pragas e doenças, o vigor vegetativo, a existência de folhas largas, bem desenvolvidas (provocando ensombramento nas infestantes) e a existência de frutos com pêlos (como acontece em alguns tipos de cucurbitáceas). Podem ser 36 plantadas variedades em função do seu período de maturação de forma a evitar a elevada incidência de pragas e doenças em períodos determinados. Disponibilidade de sementes e de plântulas De acordo com os critérios de certificação biológica, deve ser dada preferência à utilização de sementes e plântulas oriundas de AB. Desde 01 de Janeiro de 2001 que tal procedimento está inscrito no Regulamento Europeu da Produção Biológica. A partir de então, foi desenvolvida uma base de dados com as características dos produtores e fornecedores de sementes e plântulas biológicas. Variedades de polinização aberta ou não híbridas são também preferíveis, mas não obrigatórias. As variedades geneticamente modificadas (transgénicas) não são permitidas em AB. Deve ter-se todo o cuidado no sentido de a semente ter uma correcta germinação. Antes da introdução no solo, pode ser aconselhável semear algumas sementes num recipiente e analisar a percentagem de germinação. As sementes não podem ser tratadas com pesticidas químicos de présementeira. Considerações sobre a utilização do espaço No momento do planeamento da cultura alguns aspectos relacionados com a utilização do espaço podem ser o tipo de linhas e o espaço entrelinhas, o número de linhas por cama, e a eventual consociação com outras espécies, as quais poderão funcionar como planta hospedeira ou armadilha. Solo e nutrição das culturas A maior parte dos produtos hortícolas desenvolve-se melhor em solos argilosos, bem drenados, com um pH situado entre 6 a 6,5. É fundamental uma análise prévia dos solos para identificar eventuais necessidades de intervenção ao nível da sua estrutura ou da sua capacidade de fornecimento de nutrientes. Provavelmente, antes da plantação/sementeira, serão necessários alguns “ajustamentos” no solo para que este disponibilize os nutrientes necessários à cultura em causa. O solo deve também ser analisado de forma a despistar eventuais resíduos de pesti cidas ou contaminação provocada por metais pesados. Neste caso, níveis inaceitáveis podem excluir a produção da certificação biológica ou podem 37 excluir a produção de determinadas culturas, como os hortícolas de raiz. O composto constitui um input nutricional essencial numa exploração agrícola em AB, constituindo assim uma vantagem a possibilidade de facilmente se poder ter acesso a uma fonte local de compostagem. O composto pode incluir estrume animal e desperdícios de culturas efectuadas noutras empresas agrícolas, mas, neste caso, os materiais utilizados deverão estar livres (ou ter uma baixa incidência) de resíduos de pesticidas e de metais pesados. Muitos organismos certificadores preferem o desenvolvimento de sistemas que permitam que a compostagem numa determinada exploração utilize apenas materiais obtidos nessa mesma exploração. O produtor biológico deve destinar uma área da exploração para a produção de composto, longe de depósitos e cursos de água, e com os cuidados devidos para evitar a poluição. Água Deve existir uma fonte de água de qualidade e em quantidade, sendo essencial assegurar o seu acesso, nomeadamente, confirmando esta possibilidade junto das autoridades competentes. A água disponível deve ser testada com vista a determinar a sua adequação para a irrigação; também deve ser testada quanto a uma eventual contaminação química, em particular, se essa água atravessa terrenos que não estão em AB, como por exemplo, canais de rega e cursos de água naturais. O conteúdo em sais da água deve também ser analisado antes da sua utilização. Proximidade de explorações agrícolas que não estão em AB Se existe um potencial de contaminação, os produtores biológicos devem introduzir “zonas-tampão”, não certificadas, entre as áreas certificadas e as propriedades adjacentes. As “zonas-tampão” podem ser constituídas por “quebra-ventos”, corredores para vida selvagem, áreas com culturas não certificadas, ou outras infra-estruturas ecológicas. Quando adequadamente seleccionadas e instaladas, as zonas de vegetação complementar favorecem a biodiversidade na exploração e atraem aves e outras espécies benignas que auxiliam no controlo de pragas. 38 Transporte É fundamental dispor de transporte de qualidade para escoar os produtos frescos para o mercado. O transporte em causa poderá ter de ser refrigerado se transportar produtos altamente perecíveis, e os operadores logísticos devem estar conscientes de que o produto transportado é biológico pelo que deverá ser isolado dos produtos convencionais, para minimizar o risco de contaminação. Equipamento e maquinaria Muitas empresas de sucesso, com grande dimensão, vocacionadas para a produção biológica de hortícolas utilizam uma larga gama de máquinas e utensílios nas operações culturais. O equipamento necessário depende largamente de cada situação. Alguns produtores cultivam vegetais em canteiros (1,5 metros é uma largura comum), pelo que os tractores devem ter elevada precisão e uma distância entre rodas adequada ao tamanho da cama. Existe no mercado uma larga gama de equipamento agrícola para viveiristas e produtores, designadamente para controlo de ervas infestantes. Monitorização de desempenho A manutenção de registos da actividade agrícola é essencial e constitui mesmo um requerimento do processo de certificação. Idealmente, todos os canteiros devem estar numerados, e devem ser mantidos registos relativos ao desenvolvimento das plantas, infestantes, incidência de pragas e doenças e medidas de controlo usadas, sucessos e fracassos, resultados de análises de solos, siderações, fertilizantes e outros inputs aplicados, e dados climáticos. A informação deve ser guardada imediatamente após o fim da operação a que reporta. 39 3.2. Gestão da fertilidade do solo O fornecimento adequado de nutrientes pode ser realizado através do sistema global de gestão do solo, o qual inclui a rotação de culturas, a preparação do solo e o fornecimento de nutrientes (matéria orgânica). É muito importante alcançar um nível elevado de actividade biológica no solo através dos microrganismos vivos que o mesmo contém. A planta utilizará assim os nutrientes resultantes da actividade dos microrganismos do solo Fertilizantes Na produção de hortícolas biológicos o composto da própria exploração constitui a base da nutrição das plantas. A utilização de fertilizantes artificiais de síntese e de fácil solubilidade é estritamente proibida (Reg. U E 889/2008, Anexo I). De acordo com este Regulamento, fertilizantes minerais com menor grau de solubilida de podem ser utilizados, apenas se não for possível implementar um plano de nutrição adequado, baseado na rotação de culturas e no fornecimento de nutrientes pelo solo. Adicionalmente, a sideração é uma solução a utilizar, funcionando no quadro da rotação de culturas. A matéria orgânica com origem na exploração é fundamental e constitui o princípio básico da agricultura biológica, que assenta na existência de um ciclo fechado de operações e intervenções agrícolas. O aspecto mais importante no crescimento de produtos hortícolas em MPB é o estrume de bovinos ou suínos, ou de outros animais da exploração, e o composto obtido a partir desses estrumes e dos resíduos de plantas da exploração. Antes de ser utilizado, o estrume da exploração deve ser decomposto em condições aeróbias (curtido) para que o azoto existente se torne mais estável e disponível numa perspectiva de fertilização de longo prazo, e para que os organismos patogénicos sejam eliminados. Se necessário, e com a autorização da entidade certificadora, podem também ser aplicados fertilizantes minerais. A lista dos fertilizantes minerais permitidos e de outros melhoradores da fertilidade do solo e da microflora, está disponível no Reg. (UE) 889/2008, no seu Anexo 2. Exemplo: carbonato de cálcio natural, sulfato de potássio, sulfato de cálcio, sulfato de magnésio. 40 A Sideração é outro importante melhorador da estrutura e da composição do solo, com forte impacto na produção de hortícolas biológicos. Sideração significa produzir espécies adequadas ao terreno e enterrá-las no solo quando o teor em nutrientes, definido em função do seu estado fenológico, for o melhor. A sideração apresenta vários aspectos positivos, tanto ao nível do solo como das culturas subsequentes. Permite o aumento de teor em azoto do solo (através das espécies leguminosas) e favorece igualmente a melhoria da sua estrutura. De igual modo, a sideração permite a cobertura do solo, antes ou depois da cultura principal, e favorece o combate às infestantes. Algumas das espécies utilizadas são importantes para quebrar o ciclo de desenvolvimento de pragas e doenças no terreno, apresentando forte capacidade nematodicida, como por exemplo algumas espécies Crucíferas (de que é exemplo a mostarda). No processo de sideração, as plantas são incorporadas no solo na fase de floração, quando as leguminosas atingem o pico da fixação biológica de azoto. Uma vantagem deste método consiste na possibilidade de reduzir a lixiviação mineral, e de dificultar a conversão de elementos minerais em formas não disponíveis; em simultâneo, a sideração pode fazer aumentar o teor em húmus e enriquecer o solo com azoto. Em terrenos sujeitos a erosão, a sideração protege o solo através de uma maior retenção da água. Com o ensombramento do solo, as infestantes podem ser controladas e a diminuição da evaporação pode favorecer a retenção da água. A sideração melhora a estrutura do solo, na medida em que as raízes criam uma estrutura fragmentada na camada mais elevada do solo, e pode ter um efeito de drenagem que compense a redução de nutrientes que tem lugar na actividade agrícola intensiva. A sideração pode ser efectuada como sendo a cultura principal da rotação, utilizando leguminosas anuais, beterrabas forrageiras ou pousios verdes. A sideração pode também constituir a cultura secundária na rotação, sendo implantada através de sementeira na entrelinha da cultura já instalada, ou sobre o restolho da última cultura. Esta sementeira pode fazer-se através de sementes compradas ou a partir duma parte do adubo verde que se deixa produzir semente. Se as plantas se encontrarem no seu estadio óptimo de desenvolvimento, serão enterradas cortadas, ou não cortadas, ou deixadas sobre o terreno, como cobertura morta (mulching). O valor da sideração é fortemente determinado pela profundidade que atingem as raízes das espécies utilizadas, bem como pelo tempo que medeia entre a sementeira e a incorporação no solo. No primeiro caso, o volume de raízes existentes nos primeiros vinte centímetros do solo é particularmente importante. 41 Compostagem Durante o processo de compostagem os materiais orgânicos grosseiros são transformados em húmus, sendo este constituído por macromoléculas orgânicas. Os resultados variam de acordo com as condições de maturação e do tipo de material utilizado. Dado que se podem obter compostos com diferentes capacidades de fornecimento de nutrientes, o agricultor poderá utilizá-los, como fertilizantes, em diferentes culturas. Todos os tipos de resíduos de plantas (excepto os infectados) podem ser convertidos em fontes benéficas de nutrientes, refazendo a estrutura do solo e revitalizando a actividade biológica. A reciclagem de materiais orgânicos assume uma importante função de protecção ambiental, enquanto o composto, quando bem produzido, tem vantagens adicionais. O calor desenvolvido na pilha durante o processo de compostagem melhora as condições de sanidade e evita as infestantes, quando não mesmo elimina todas as sementes de infestantes, e destrói os fungos causadores de doenças e outros esporos. Se o processo de compostagem for devidamente controlado obtém -se um fertilizante com um valor nutricional mais elevado que os materiais grosseiros iniciais. O elevado número de microrganismos favorece a vida no solo e melhora a gestão natural de nutrientes do sol. As perdas mínimas de nutrientes, o baixo investimento, e as reduzidas necessidades energéticas, tornam este processo numa forma economicamente vantajosa de fornecimento de nutrientes. A compostagem superficial é uma espécie de mulching nutritivo que requer um baixo investimento; todavia, é um método pouco eficiente e pode ser acompanhado por elevadas perdas de nutrientes. No processo de maturação em pilha é efectuada a mistura dos materiais grosseiros triturados, tendo o cuidado de manter uma estrutura que permita o fácil arejamento. Durante o processo de maturação, deve ser garantido o arejamento e o teor adequado de humidade. Durante a maturação do composto o arejamento deve ser assegurado porque, ao contrário da maturação do estrume líquido (chorume) da exploração, o composto é formado através de um processo aeróbico, mesmo que parte da matéria-prima seja estrume. O composto é aplicado em menores quantidades no terreno (em comparação com correctivos orgânicos não compostados), no Outono e na Primavera, sendo incorporado perto da zona das raízes e, ocasionalmente, directamente à volta das plantas. 42 A importância da cobertura do solo na produção de hortícolas Mulching A cobertura do solo protege os terrenos contra o impacto das chuvas e os efeitos de desidratação do sol e do vento. Esta protecção incrementa a vida no solo e constitui também uma fonte de nutrientes para os microrganismos. A cobertura do solo evita a concentração anual de infestantes, quando não mesmo eliminando -as completamente, e favorece o desenvolvimento de frutos saudáveis (por exemplo, morangos e melões). Esta técnica é especialmente apropriada para regiões onde o Verão é quente e seco. Podem referir-se os seguintes tipos de mulching: Palhas ou relva cortada, usados em culturas de ciclo longo que requerem elevadas quantidades de matéria orgânica e que crescem em grandes espaços abertos: tomate; beringela; pimento; melão, couve, alho, abóbora, pepino e alho-francês; Filme biodegradável, que impede a proliferação de pragas e doenças quando o solo é aquecido, permite a circulação do ar e da água, enquanto impede o desenvolvimento de infestantes; Materiais à base de papel, para morangos e outras culturas hortícolas. 3.3 Rotação e Consociação de plantas A importância da rotação cultural A rotação de culturas é a base da produção biológica, na medida em que a sua complexidade e diversidade asseguram a estabilidade do ecossistema agrícola. As principais funções da rotação de culturas são: 43 Assegurar o suficiente fornecimento de nutrientes; Assegurar o auto-abastecimento de azoto através da introdução de plantas leguminosas; Minimização dos danos causados por ervas infestantes, pragas e doenças e protecção contra essas mesmas infestantes, pragas e doenças; Manutenção da estrutura do solo e do teor adequado em matéria orgânica Deve ter-se em linha de conta que não existe um sistema de rotação de culturas que possa ser utilizado em qualquer sistema de produção agrícola. A produção biológica tem quase tantos sistemas de produção como a agricultura tradicional e a rotação de culturas é utilizada de diferentes formas para dar uma resposta a cada caso específico. Em alguns casos, como por exemplo, na gestão de pastage ns ou produção de plantas perenes, não existe qualquer tipo de rotação, e assim, a diversidade temporal é substituída pela utilização de diferentes espécies. Definição de rotação de culturas A rotação de culturas assume uma relevância determinante na agricultura biológica. De facto, este método holístico permite a construção de um adequado sistema de fornecimento de nutrientes, favorece a protecção das plantas e facilita o uso do solo. A rotação de cultura constitui igualmente a forma mais eficiente de alterar os impactos de longo prazo para que seja possível a adequação das actividades da exploração aos requisitos da ecologia e da sustentabilidade. A interacção planta/solo, bem como a actividade de organismos auxiliares presentes no solo, são importantes factores de melhoria da fertilidade dos solos e, por essa via, promotores de um melhor contexto de desenvolvimento das plantas. Os quatro elementos-base de um sistema de rotação de culturas são: a composição das plantas; a proporção das plantas; a sequência das plantas ao longo do ano agrícola ou de um conjunto de anos, e a rotação ao longo da totalidade dos anos. Normalmente, ao conjunto das espécies produzidas na exploração, ou nas suas áreas adjacentes, designa -se composição das plantas. Recentemente, as explorações agrícolas têm vindo a produzir um número cada vez menor de espécies, e desta forma, simplificando a designada composição das plantas. Esta prática deve ser alterada na produção biológica, dado que se pretende obter um nível bastante mais elevado de biodiversidade. A proporção das plantas diz respeito à percentagem de área ocupada com determinadas espécies de plantas. 44 A sequência de plantas tem a ver com a composição e proporção das mesmas, e a forma como se sucedem numa determinada área, num determinado conjunto de anos. Rotação significa o período durante o qual todas as plantas na rotação foram cultivadas, em todas as secções, de acordo com uma determinada sequência e que, no final da rotação, a formação inicial é de novo retomada. Objectivos da rotação de culturas A rotação tem vários objectivos. Os mais importantes são: Manutenção e incremento da fertilidade do solo; Manutenção e melhoria da estrutura do solo; Uso mais versátil e adequado do solo; Protecção do solo contra a erosão e o esgotamento; Controlo de ervas infestantes; Acção preventiva contra pragas e doenças; Prevenção contra contaminações desnecessárias do ambiente Manutenção e melhoria da fertilidade do solo A fertilidade do solo só pode ser alcançada através de um sistema de produção baseado na rotação de culturas. O impacto desfavorável de certas plantas ou grupos de plantas deve ser compensado com o impacto favorável de outras plantas. A ervilha, a ervilhaca e o feijão deixam mais raízes no solo e o seu restolho permanece nos terrenos mais tempo do que o trigo de inverno ou milho; as leguminosas anuais, e algumas gramíneas, deixam no solo uma massa de resíduos orgânicos ainda mais elevada. Manutenção e melhoria da estrutura do solo As plantas de folha larga podem reduzir a erosão provocada pela forte pluviosidade ou os efeitos de desidratação resultantes do excesso de sol e vento. O sistema radicular das plantas cultivadas tem um efeito positivo na 45 estrutura do solo. As plantas da família Papilionacea (Fabaceae), também conhecidas como leguminosas, são as que asseguram um melhor efeito de ensombramento, tendo os cereais um impacto positivo menor. A consociação de leguminosas com gramíneas é ainda melhor. Protecção do solo contra a erosão e o esgotamento Uma das formas mais eficientes para proteger o solo contra a erosão e o esgotamento consiste no mulching ou cobertura do solo. O objectivo consiste assim em utilizar, designadamente, plantas que cubram o solo durante o maior período possível, em particular, durante os períodos críticos. Controlo de infestantes Um sistema de produção sem rotação de culturas “abre as portas” à rápida proliferação de certas espécies infestantes. A rotação de culturas é de facto o sistema de controlo de infestantes mais económico e eficaz. Desenho da rotação de culturas na produção de hortícolas Na produção hortícola podemos definir três tipos de rotações de culturas: De acordo com as necessidades em nutrientes das espécies Rotação de culturas irrigada Rotação de culturas combinada – desenhadas sobretudo para culturas arvenses, nas quais os produtos hortícolas ocupam apenas 20-30% do território Rotação definida de acordo com as necessidades nutritivas É uma forma tradicional de desenhar uma rotação de culturas na produção biológica de hortícolas. O primeiro grupo a entrar na rotação, após a estrumação, são as Brássicas (em especial as couves), as Solanáceas, as Cucurbitáceas, o milho doce, o alho-francês e, por vezes, o aipo. 46 O segundo grupo, menos exigente em termos de nutrientes, é composto por hortícolas de raiz, cebola e hortícolas de folha larga (com excepção do aipo). O terceiro grupo congrega espécies leguminosas anuais: ervilhas; feijões. O quarto grupo inclui as plurianuais: espargos; ruibardo A rotação permite que o solo possa descansar e, em simultâneo, quebra o ciclo biológico de desenvolvimento de muitas pragas e doenças. Consiste de facto no método natural de controlo de pragas e de manutenção da estrutura do solo. No momento da planificação de uma rotação de culturas devem ter-se em consideração os seguintes aspectos: Os hortícolas de folha para salada têm idêntica posição na rotação que as culturas de raiz. Um intervalo mínimo no cultivo de uma mesma espécie, significa quatro anos para a maior parte das hortícolas. A sideração ou a introdução de culturas intercalares melhoradoras permitem obter boas condições de produção para todos os hortícolas (com excepção dos que pertencem à mesma família). Para sistemas de produção de hortícolas ao ar livre, a rotação de culturas deverá reservar 20% para as culturas leguminosas. A sequência na rotação O desenho da rotação deve ter em consideração o tipo de hortícolas a escolher e a relação que se estabelece entre si. Igualmente, é importante considerar a sua importância no âmbito da fertilização e da quebra dos ciclos de algumas pragas e doenças, como é o caso das pastagens e da sideração. Algumas considerações suplementares a ter em conta são as características do mercado para as espécies escolhidas, os recursos disponíveis (mão-de-obra e equipamento), a economia da rotação, e o papel dos animais (bovinos e ovinos), se estes fizerem parte do sistema produtivo da exploração. 47 Regras da rotação – desenho temporal Evitar repetir culturas da mesma espécie e da mesma família botânica – existirá um potencial para o desenvolvimento de pragas e doenças Considerar a relação entre o tipo de rotação cultural e o controlo de infestantes Preceder culturas esgotantes do solo por culturas melhoradoras. As leguminosas podem fornecer o azoto necessário para as culturas subsequentes. Culturas com raízes profundas são capazes de explorar uma área maior da reserva de nutrientes do solo. Utilização de consociações A consociação de culturas foi desenvolvida há já muito tempo, baseada nas experiências dos produtores que misturaram espécies hortícolas entre elas e com outras espécies. Esta prática é vantajosa e tem hoje em dia um forte suporte científico. Vantagens das consociações Melhor utilização da área disponível Maiores produções Cobertura do solo Interacções entre plantas Desvantagens das consociações Maiores exigências ambientais O produtor deve conhecer bem as necessidades das plantas utilizadas No processo de definição e implementação da consociação, o produtor poderá utilizar as interacções positivas que se desenvolvem entre as plantas para influenciar a germinação, o crescimento, a fertilização e a formação de 48 frutos, e influenciar (negativamente) o surgimento e desenvolvimento de pragas e doenças. Existem diversas formas de promover o cultivo de consociações. Frequentemente este processo é usado em pequena escala, em hortas e pequenas explorações agrícolas, mas pode ser implementado em média e larga escala, mesmo em explorações fortemente orientadas para o mercado. A questão fundamental consiste em seleccionar o método apropriado tendo em consideração a dimensão da exploração e os objectivos que pretende alcançar. Tipos de consociações Plantação na linha de acordo com o método de Gertrud Frank (adequado para hortas caseiras e produções hortícolas de ar livre, com pequena a média dimensão) Canteiros sobrelevados Cultivo em forma de faixa (nas explorações de grande dimensão os faixas são tão largas quanto o possibilitarem as alfaias e as máquinas utilizadas) Culturas em linha intercaladas (utiliza-se em produções de pequena a média dimensão e implica mecanização) 3.4. Pragas, doenças e infestantes Método Prevenção Métodos de Livre de produção infecções Selecção do local Material de propagação Viroses Cultivo do solo Solo Bactéria Gestão de nutrientes Água de irrigação Fungos Ferramen Rotação de culturas ta Sementeira Período vegetativo Densidade da cultura Selecção das variedades 49 Biológico Artrópodes Vertebrados Anfíbios Répteis Aves Mamíferos Protecção Uso de produtos químicos autorizados Recolha Bactericidas e Produtos fungicidas ligeiros de protecção de plantas Atracção Insecticidas Extractos de plantas Alerta Acaric idas Óleos de plantas Tratamento com Óleos voláteis calor Mudança de agente Físico Inibição com ferramenta Destruição de plantas infectadas Eliminação de vectores Método de luta autocida Os métodos de protecção de plantas aplicados na agricultura biológica são sobretudos orientados no sentido da prevenção. As ferramentas para prevenção são sensivelmente as mesmas que as utilizadas na protecção convencional de plantas, mas a sua importância, neste caso, é múltipla e determinante, na medida em que muitas das falhas registadas na agricultura biológica não podem ser remediadas mais tarde, com outras técnicas de protecção. Na tabela acima são apresentados os mais significativos métodos e ferramentas de prevenção e protecção. Todavia, é preciso sublinhar que na agricultura biológica, não podem existir produtos para a protecção das plantas com tratamentos previamente calendarizados, tal como não há tecnologias de produção de plantas esta ndardizadas. Assim sendo, é necessário encontrar uma solução adequada para cada caso, definindo as espécies e as variedades mais ajustadas, os melhores locais e as tecnologias mais correctas e adaptadas. As soluções podem ser encontradas e construídas usando os diferentes métodos e ferramentas aplicáveis na protecção de plantas em AB. Os métodos de protecção física são os seguintes: 1) alterar a composição do meio ambiente, por exemplo em zonas de armazenamento, substituindo o oxigénio (por CO2 ou Azoto); 2) isolamento das áreas de armazenamento (montagem de grades e redes mosquiteiras); 3) cobertura individual dos frutos (evitando moscas, traças, etc.); 4) o uso de redes ou manta térmica sobre as plantas, evitando a maior parte das pragas (lagartas das couves, pulgões ou piolhos das plantas, traças, etc.) pode mantê-los afastados das plantas cultivadas; 5) proteger fisicamente os caules das árvores para evitar danos mecânicos. Protecção química: se a protecção biológica, preventiva ou física não for suficiente para garantir a segurança da produção, poderão ser usados certas substâncias químicas de protecção. Os produtos destinados à protecção das plantas na agricultura biológica estão referencia dos numa “lista positiva”. Os produtos químicos registados em “listas positivas” podem ser aplicados, mas, neste caso, apenas com a permissão da entidade certificadora (Reg. UE 889/2008, Anexo II). 50 Soluções práticas na protecção de hortícolas Controlo biológico natural. No caso de produtos hortícolas de ar livre, é fundamental uma gestão atenta e cuidada do sistema agro-ecológico. Quanto mais diversificado este for maior será o equilíbrio entre as pragas e os respectivos inimigos naturais, presentes no local de produção. Os mais importantes organismos e insectos auxiliares na protecção natural das plantas são: ácaros predadores (fitoseídeos); insectos predadores como as joaninhas e os sirfídeos, e; insectos himenópteros parasitóides. Na produção hortícola, assume particular importância o isolamento de fontes passíveis de provocar pragas, o que pode ser conseguido utilizando diferentes tipos de redes de insectos, em particular, durante os transplantes de plantas jovens da família das Crucíferas. No caso das couves, a mosca da couve (Phorbia brassicae) pode provocar sérios prejuízos na Primavera, sendo a cobertura do solo com filme plástico uma solução. Outra praga importante é a áltica ou pulga das couves (Phyllotreta spp), sendo aconselhável o uso de redes adequadas para proteger as plantas jovens. Controlo biológico activo. Consiste em libertar e introduzir insectos auxiliares ou microrganismos ou seus derivados como o Bacillus thuringiensis (Bt). Este último pode ajudar prevenindo e evitando os prejuízos causados pelas larvas das borboletas, e o Bt. var. tenebrionis pode ser utilizado contra o escaravelho-da-batateira. Substâncias autorizadas, como preparações à base de óleos, são utilizadas contra afídeos, moscas brancas, e o aranhiço vermelho. Produção em estufas. Existe no mercado um largo conjunto de insectos e ácaros auxiliares para utilização em culturas de estufa como meio de luta biológica. Por exemplo, Encarsia formosa contra a mosca-branca, e o ácaro predador Phytoseulus persimilis contra o aranhiço-vermelho. Contra os afídeos, podem ser usadas os himenópteros predadores Aphidius colemani e o díptero predador Amphibolites aphidomyza. Doenças provocadas por fungos. A ocorrência de doenças provocadas por fungos depende sobretudo das condições micro-climáticas do local, e da susceptibilidade ou capacidade de resistência da variedade seleccionada. A 51 importância da rotação de culturas na protecção das plantas já foi atrás enfatizada, devendo esta técnica ser tida em especial atenção. Método biológico. Preparados de microrganismos de solo com espécies antagonistas (Trichoderma harzianum, Coniothirum minitrans, Steptomices griesoviridis bacterium) dos fungos e nemátodos patogénicos, desempenham também um importante papel contra as doenças e os nemátodos que se desenvolvem no solo. A relevância das culturas de cobertura e da sideração decorre fundamentalmente da sua capacidade em quebrar o ciclo de desenvolvimento das doenças. Os biopesticidas autorizados na agricultura biológica estão definidos de acordo com o Regulamento da Comissão 889/2008, Anexo II. Uma das mais importantes doenças provocadas por fungos é o míldio do tomate e da batata; presentemente, podem ser aplicados produtos à base de cobre para combater esta doença. Em agricultura biológica na UE, as quantidades máximas de cobre aplicáveis ao solo não excedem os 6 Kg/ha e alguns países tem valores mais baixos para a agricultura em geral. Tabela 1 - Produtos usados contra patogéneos na produção hortícola Produto Koni Mycostop Trichodex WP Organismo auxiliar Coniothyrium minitans (fungo) Streptomyces griseoviridis (bactéria) Trichoderma harzianum (fungo) Organismo-alvo; local de aplicação míldio fusário Antracnose, alternariose Tabela 2 - Produtos utilizados contra as pragas em horticultura Produto Bactucid P Dipel e Dipel ES Eco-Bio Encarsia-sheet En-Strip Novodor FC Thuricid HP 52 Organismo benéfico Bacillus thuringiensis var. kurstaki (bactéria) Bacillus thuringiensis var. kurstaki (bactéria) Bacillus thuringiensis var. kurstaki (bactéria) Encarsia formosa (himenópteros da superfamília Chalcidoidea) Encarsia formosa (himenópteros da superfamília Chalcidoidea) Bacillus thuringiensis var. tenebrionis (bactéria) Bacillus thuringiensis var. kurstaki (bactéria) Organismo-alvo; local de aplicação Larvas de borboletas (lagartas) Larvas de borboletas (lagartas) Larvas de borboletas (lagartas) Mosca-branca das estufas Mosca-branca das estufas Escaravelho-da-batateira, esc aravelho-das-folhas Larvas de borboletas (lagartas) 3.5. Colheita, armazenamento, conservação e transporte Alfaces Armazenamento em atmosfera normal Temperaturas de 0ºC e humidade relativa superior a 95% são condições ambientais necessárias para optimizar o período de armazenamento das alfaces. Nestas condições, é possível que as alfaces possam ter um período de vida útil de 21 a 28 dias. Com temperaturas de 5ºC pode esperar-se um período de vida útil de 14 dias, desde que não exista etileno no ambiente. O arrefecimento em vácuo é frequentemente utilizado para a alface iceberg, mas o método de arrefecimento com ar forçado pode também ser usado com sucesso. O arrefecimento em vácuo, com aspersão do produto, ou o método de hidroarrefecimento, são frequentemente usados na alface romana, mas o arrefecimento com ar forçado pode também ser utilizado. Armazenamento em atmosfera controlada ou modificada Podem ser alcançados alguns benefícios ao nível do período de conservação quando se registam baixos níveis de oxigénio na atmosfera (1-3%) e temperaturas de 0-5ºC. Baixos índices de oxigénio reduzem os níveis de respiração e diminuem os efeitos prejudiciais do etileno. Com percentagens de O2 inferiores a 2%, pode verificar-se a presença de CO2 e a ocorrência de lesões (alterações fisiológicas, manchas escuras). Todavia, a alface cortada para produtos de quarta gama, por exemplo, é normalmente embalada em atmosferas com baixo teor em O 2 (inferior a 1%) e elevados níveis de CO2 (10%), porque estas condições evitam o acastanhamento nas superfícies cortadas. Em porções de alface, o acastanhamento das superfícies de corte ocorre de forma mais rápida e extensiva do que o surgimento das manchas castanhas provocadas pelo CO 2. Couve-flor e brócolo Armazenamento em atmosfera normal A couve-flor e o brócolo podem ser armazenados a 0ºC e 95-98% de humidade relativa durante três semanas, e a 5ºC durante duas semanas. 53 Após estes períodos, é possível o surgimento na couve-flor de manchas acastanhadas e o amarelecimento e queda das folhas. O amarelecimento, é o principal problema dos brócolos. Lesões provocadas pelo frio podem iniciar-se a –0,8ºC na couve-flor e a –1ºC no brócolo. Armazenamento em atmosfera controlada ou modificada Para a couve-flor, a permanência em atmosferas controladas ou modificadas apresenta benefícios reduzidos ou médios. As lesões provocadas por baixos níveis de O 2 (inferiores a 2%) ou elevados teores de CO2 (superiores a 5%) podem não ser visíveis a olho nu, e surgirem apenas após a preparação culinária. Quando a parte branca da couve-flor se torna acinzentada e extremamente macia, emite um forte odor. Níveis elevados de CO2 (superiores a 10%) poderão provocar este tipo de lesão, a qual acontecerá num espaço de 48 horas. A conjugação de baixos níveis de O 2 e de níveis ligeiramente elevados de CO 2 (3-5%), atrasa o amarelecimento das folhas e o surgimento de zonas acastanhadas na parte branca da couve-flor (os primórdios florais), por alguns dias. Em consequência, é recomendada uma taxa elevada de arejamento em transportes convencionais de brócolos (sobretudo se em longas distâncias). A maior parte das embalagens em atmosfera modificada de brócolo é definida de forma a manter, tanto os níveis de O2, como de CO2, em cerca de 10%, para evitar o desenvolvimento destes voláteis indesejados. Pepino Armazenamento em atmosfera normal Os pepinos são sensíveis ao frio e devem ser armazenados a 10 –12,5ºC, com uma humidade relativa de 95%. O ciclo de armazenamento do pepino é geralmente inferior a 14 dias, período a partir do qual o seu aspecto e a sua qualidade sensorial se deterioram rapidamente. O emurchecimento e o amarelecimento aumentam normalmente após períodos de armazenamento de duas semanas, especialmente depois da sua introdução nas condições típicas de retalho. São normalmente utilizados curtos períodos de armazenamento, ou baixas temperaturas de transporte (por exemplo, 7,2ºC), mas, normalmente, estes procedimentos resultam em lesões provocadas pelo frio, após dois ou três dias. Estas lesões podem traduzir -se no aparecimento de manchas aquosas nos frutos, surgimento de sulcos e rápida senescência. Armazenamento em atmosfera controlada ou modificada 54 O transporte ou o armazenamento em atmosfera controlada ou modificada constitui um benefício reduzido ou médio para a manutenção da qualidade do pepino. Baixos níveis de oxigénio (3-5%) atrasam o amarelecimento dos frutos e o processo de senescência, em apenas alguns dias. O pepino tolera níveis elevados de CO2 (em atmosfera controlada), acima de 10%, mas o seu período de vida útil não se prolonga para além daquele que resulta dos benefícios inerentes à incidência de baixos níveis de O2. Tomate Armazenamento em atmosfera normal Tomates com um estado de maturação adequado podem ser armazenados até 10 dias, com temperaturas de 10 a 12ºC e uma humidade relativa de 90 a 95%. O tomate é sensível a temperaturas baixas, situadas abaixo de 10ºC, se manuseados para além de duas semanas, ou a 5ºC, para períodos superiores a 6-8 dias. Podem considerar-se lesões provocadas pelas baixas temperaturas o deficiente amadurecimento e a incapacidade em desenvolver todo o potencial de sabor e cor, o aparecimento de manchas com diferente coloração, o amolecimento precoce, o surgimento de pequenos sulcos na superfície dos frutos (pitting), e crescente senescência (especialmente por bolores negros causados por Alternaria spp.). As lesões provocadas pelas baixas temperaturas são cumulativas e podem iniciar -se antes da colheita dos frutos. Armazenamento em atmosfera controlada ou modificada O transporte e o armazenamento do tomate em atmosfera controlada oferecem um nível moderado de benefícios. Baixos níveis de oxigénio (35%) atrasam a maturação e o desenvolvimento de fungos na superfície dos frutos e nos pedúnculos, sem no entanto apresentarem um impacto significativo em termos sensoriais para a maior parte dos consumidores. Níveis de CO2 elevados, acima de 3 a 5%, não são tolerados pela maior parte das variedades, causando lesões evidentes. Reduzidos níveis de O2 (1%) podem causar sabores inesperados, odores desagradáveis, e outros defeitos, como por exemplo o surgimento de manchas internas acastanhadas. 55 Pimento Armazenamento em atmosfera normal O pimento deve ser arrefecido o mais depressa possível para reduzir as perdas de água. Quando armazenado a temperaturas superiores a 7,5ºC , o pimento perde água e o fenómeno de emurchecimento acentua -se. O armazenamento a 7,5ºC é o indicado para um período de vida útil máximo (3 a 5 semanas); o pimento pode ser guardado a 5ºC durante duas semanas, e, embora este procedimento reduza as perdas de água, as lesões provocadas por frio iniciar-se-ão após aquele período. Podem considerar-se como sintomas provocados pelas baixas temperaturas o surgimento de sulcos nos frutos (pitting), senescência, descoloração da cavidade que contém as sementes e amolecimento sem perda de água. Os pimentos coloridos ou num bom estado de maturação, são menos sensíveis ao frio do que os pimentos verdes. O armazenamento em atmosfera controlada não apresenta efeitos benéficos significativos na fase de póscolheita dos pimentos. Métodos simples e económicos de armazenamento Quantidades mais pequenas de produtos hortícolas podem ser armazenadas em caves (suficientemente frias e húmidas), em espaços frios adequados, e em covas. Nas regiões mais frias, as hortícolas de raiz e as pertencentes ao género Brassica podem ser agrupados aos molhos e armazenados em covas, ou no chão, cobertos por uma camada de solo. Os vegetais permanecem sobre a areia ou palhas. Depois são cobertos por uma camada de solo. As culturas podem ser da nificadas por geadas severas durante o Inverno. Transporte de produtos hortícolas Enquanto normalmente os produtos hortícolas crescem nas zonas rurais, os consumidores desses produtos vivem em cidades ou nas grandes metrópoles. O transporte destes produtos necessita assim, em muitos casos, de logística e rigor nos prazos a cumprir. Quando se trata de pequenas distâncias, carrinhas ou veículos com ar condicionado são suficientes. Para distâncias mais longas e maiores quantidades, é necessária a utilização de camiões com estruturas de refrigeração mais eficazes. 56 3.6. Exemplos práticos (Solanáceas) Exemplo de Solanáceas O tomate de mesa típico é sobretudo produzido em estufas, especialmente nas regiões mais chuvosas, devido à sua elevada susceptibilidade ao míldio das solanáceas (Phytophthora infestans). O tomate para indústria também se desenvolve bem em estufas, mas normalmente é produzido ao ar livre devido à sua baixa densidade de plantação. O cultivo com recurso a sistemas de produção controlada é mais caro e apenas justificável no caso de vendas na própria exploração ou produção em zonas desfavoráveis, como é o caso das regiões com elevada pluviosidade, que favorecem o desenvolvimento de Phytophthora infestans. Em oposição a esta situação, muitos agricultores conseguem continuar a produzir tomate em áreas com altas temperaturas, mesmo no Inverno, como é o caso da ilha de Creta. Tanto o pimento como a beringela podem ser produzidos em estufas ou ao ar livre, dependendo das especificidades do mercado. Todavia, nas áreas fortemente infestadas com a variante europeia da broca do milho (Ostrinia nubilalis), o pimento é frequentemente produzido em estufas. Necessariamente, nas aberturas existentes são instaladas redes à prova de insectos. Ao ar livre, devem ser escolhidas variedades de pimento capazes de tolerar o sol (sobretudo, as queimaduras solares). Os abelhões (Bombus terrestris) são muito utilizados na polinização do tomate para consumo em fresco. No final do Inverno, princípio da Primavera, é frequentemente aconselhável proteger as plântulas contra as baixas temperaturas nas estufas através de pequenos túneis de polietileno ou de outros materiais protectores até que as plantas atinjam um maior estadio de desenvolvimento e que o risco de geadas termine. Ao ar livre, as Solanáceas beneficiam muito da cobertura das linhas (possível através do emprego de filmes de celulose ou de amido de milho biodegradável), combinado com palhas. A rega gota-a-gota deve ser sempre adoptada. A rega por aspersão deve ser evitada, porque a aspersão favorece a infecção por patogéneos como por exemplo os fungos e as bactérias (ver Tabela 2), particularmente a Phytophthora infestans, no caso do tomate. Frequentemente, o controlo da humidade no solo é mais fácil através da rega gota-a-gota, prevenindo assim o stress hídrico. Este, favorece o emurchecimento, prejudica a coloração dos frutos e atrasa o crescimento 57 dos mesmos, especialmente no tomate e no pimento. A beringela é a cultura que menos afectada é com a irrigação por aspersão. Tabela 3 – Organismos do solo que atacam as Solanáceas Fusarium spp., Pyrenochaeta Iycopersici Thielaviopsis Phytophthora basicola capsici Nematoda Verticillium spp. Rhizoctonia solani Pimento X X X X X Tomate X X X X Beringela X X X X Batata X X X X X X X Tabela 4 - Patogéneos das Solanáceas favorecidos pela irrigação por aspersão Phytophthora infestans Cladosporium fulvum Alternaria spp. Bactérias (várias espécies) Tomate X X X X Pimento Beringela Batata X X X X X X X Exemplo da cultura do tomate i. Valor Nutricional do tomate O tomate constitui a fonte de muitos minerais essenciais (potássio, cálcio, fósforo), vitaminas (vitamina A e C, sobretudo), ácidos orgânicos, açúcar, e proteínas. O seu teor em energia é de apenas 80 J (19 cal) por 100 gramas de produto fresco. ii. Importância económica do tomate No ano de 2009, a cultura do tomate ocupou uma área global de 4,5 milhões de hectares, o que significa cerca de 9% da área total dedicada à produção de hortícolas. 125 Milhões de toneladas de tomate foram produzidos nesta área, ou seja, 14% de todos os produtos hortícolas. China, EUA, Espanha, Itália, Egipto, Turquia, Brasil e Grécia são os maiores 58 produtores de tomate. México, Turquia, Espanha e Holanda são os maiores exportadores mundiais de tomate fresco. Os EUA, a Rússia, a UE e o Canadá são os responsáveis pela maior parte das exportações. 40% da produção obtida é transformada. iii. Taxonomia do tomate O tomate pertence à família das Solanáceas e o seu nome científico mudou várias vezes no passado. Actualmente, o seu nome oficial é Lycopersicon lycopersicum (L.) KARSTEN. O género Lycopersicon pode ser dividido em dois subgéneros: o de fruto vermelho Eulycopersicon e o de baga verde Eriopercicon. iv. A morfologia, a botânica e a biologia da floração do tomate Raízes: o tomate apresenta fortes raízes perpendiculares no início do seu crescimento, desenvolvendo-se posteriormente fortes raízes laterais. Na família das Solanáceas apenas o tomate desenvolve raízes adventícias. Caule: O tomateiro é uma espécie anual. Consoante as diferentes variedades também poderemos encontrar distintas disposições e características ao nível da quantidade, tipo e posição dos pêlos, extensão dos entre-nós, e na própria posição do caule. Em função do desenvolvimento do caule podem distinguir-se dois tipos fundamentais: variedades de crescimento indeterminado ou indefinido, e; variedades de crescimento determinado ou definido. Actualmente, a utilização de variedades de crescimento indeterminado ou indefinido está em franco desenvolvimento. Nestas variedades, o caule principal está em constante crescimento devido à existência permanente de um meristema no seu ápice. Entre duas inflorescências (grupadas) desenvolvem-se normalmente três folhas. Em variedades específicas, cresce uma flor no final do rebento principal. Estas variedades podem ser divididas em três subgrupos, dependendo do número de inflorescências que terminam o rebento final e do número de folhas que se desenvolvem entre as inflorescências. 59 v. Necessidades ambientais do tomate Necessidades de luz: Tanto a intensidade luminosa, como a sua duração e qualidade influenciam o desenvolvimento do tomateiro. Normalmente, é necessário um mínimo de 5000 lux para um adequado desenvolvimento desta espécie. Pelo menos, são necessárias 10 horas para uma adequada floração. O tipo de luminosidade também afecta o crescimento do tomateiro. Por exemplo, a luz vermelha favorece o alongamento da planta, enquanto a luz azul, dificulta esse processo. Necessidades de temperatura: O tomate pertence ao conjunto de plantas que apreciam o calor, situando-se a temperatura óptima para o seu desenvolvimento entre 22±7ºC. O tomate necessita de diferentes temperaturas em função do seu estado fenológico. Embora apresente, apesar de tudo, uma boa tolerância ao frio, sofre ligeiras lesões com temperaturas de -1 e -2ºC, e lesões graves, com temperaturas iguais ou inferiores a -3ºC. Necessidades de água: Devido ao elevado número de folhas e à intensa transpiração, o tomateiro utiliza elevadas quantidades de água durante a sua longa estação de crescimento. Embora as suas necessidades hídricas sejam elevadas, dado que possui um sistema radicular profundo e bem desenvolvido, utiliza efectivamente a água que consome. Necessidades em nutrientes: O tomateiro é muito exigente em termos de nutrientes e, no caso da agricultura biológica, os nutrientes deverão ter uma origem igualmente biológica. (estrume e composto) Azoto: um excesso de fornecimento neste mineral conduz a um desenvolvimento exuberante da planta e a uma produção insuficiente; a deficiência em azoto tem como consequência um menor crescimento do sistema foliar. É muito exigente em potássio e cálcio. vi. Produção ao ar livre de tomate Aspectos relacionados com a escolha da variedade: Mais do que qualquer outra espécie hortícola, o tomate apresenta múltiplas variedades cultiváveis (por exemplo, na Hungria, há cerca de 200 variedades). Na produção de ar livre, em particular para a indústria transformadora, são usadas variedades de desenvolvimento determinado ou definido (nestes casos, a existência de uma inflorescência terminal bloqueia o crescimento do caule principal). Os frutos destas variedades pesam entre 80 a 100 gramas, são consistentes e alongados, e a sua superfície é macia. Em 60 termos gerais, hoje em dia, todas as variedades desenvolvidas para a colheita mecânica permitem a recolha dos frutos sem os respectivos pedúnculos. Igualmente, é também importante que estas variedades apresentem boa coloração, elevado teor em matéria seca e capacidade de resistência a doenças. No caso de a produção recorrer a sistemas de tutoragem, o desenvolvimento da planta deve terminar quando a mesma apresentar 8 a 10 inflorescências. As variedades a utilizar devem ser do tipo determinado ou definido e apresentarem forte vigor. A apresentação de um elevado índice de fecundidade é também um aspecto muito importante a ter em conta, bem como a necessidade de os frutos não apresentarem fissuras. Preparação do solo e fornecimento de nutrientes: O cultivo do tomate inicia-se com uma lavoura profunda de Outono e a preparação termina na Primavera. O tomate necessita de estrume orgânico, o qual deverá ser introduzido no solo com a lavoura de Outono. No que diz respeito aos minerais, o tomate necessita aproximadamente das mesmas quantidades de fósforo, azoto e potássio. Todavia, antes da sua aplicação, devem ser feitas análises ao solo. Para o fornecimento de nutrientes, o estrume orgânico e o composto, ambos produzidos na exploração, constituem a melhor solução. Propagação: Em muitos casos, o tomate é cultivado por sementeira ou por transplante de plântulas de viveiro (mudas). Actualmente, as duas tecnologias são usadas de forma equivalente. Cultivo do solo: É necessária a constante mobilização do solo para o tornar mais “solto”, para manter o seu teor em humidade e também para favorecer a mistura dos nutrientes. Cobertura do solo: em produção de ar livre, constitui um método muito eficiente para poupar água e para suprimir as infestantes (ver capítulo sobre Mulching). Os materiais mais eficazes a utilizar são palhas, telas plásticas, restos de madeiras, cascas de árvores, e alguns tipos de papel. Irrigação: A produção de tomate pode registar um incremento de 10 a 15% através de uma simples irrigação. No caso de irrigação contínua e regular, o fornecimento de água pode fazer aumentar a produção em cerca de 40 a 50%. Cerca de 100 mm de água são necessários para que se processe um desenvolvimento continuado do tomateiro. A rega regular aumenta a percentagem dos frutos de primeira categoria. 61 Colheita: Após a floração, os frutos necessitam de 30 a 40 dias para atingirem a sua dimensão final. Este período varia necessariamente em função da variedade utilizada e das condições específicas de produção. Posteriormente, deverão decorrer mais 21 a 28 dias até ao amadurecimento. A colheita manual do tomate em fresco deve iniciar-se quando cerca de 50% dos frutos estão maduros. No caso da colheita mecânica, aquela percentagem sobe para 80%. As máquinas recolhem todos os frutos, pelo que será necessário que trabalhadores seleccionados ou máquinas específicas que removem os frutos verdes. No caso de uma única colheita, os frutos devem ser recolhidos sem pedúnculos. vii. Forçagem da produção de tomate Aspectos relacionados com a escolha da variedade: Um importante objectivo de investigadores e viveiristas consiste em melhorar o sabor dos frutos, e isto significa sobretudo o incremento dos teores em açúcar e ácido. Forçagem precoce: O tomate é plantado algures entre a segunda metade de Janeiro e o princípio de Fevereiro, e colhido a partir da primeira metade de Abril. Forçagem semi-precoce: a plantação é feita nos finais de Fevereiro, e a colheita a partir de meados de Abril. Os tomateiros devem ser plantados com uma temperatura entre os 20 e os 25ºC em ambientes controlados. A produtividade poderá alcançar os 30 kg/m2. Cultura longa: neste caso, a produção não é interrompida no Verão, e poderá prolongar -se por 10 a 11 meses, dependendo do momento da plantação. A produtividade pode alcançar 40 a 60 kg/m 2. Dupla utilização: o tomate pode ser plantado após espécies hortícolas de colheita precoce (alface, rabanete, cebolinho, salsa e sálvia). Problemas com a protecção das plantas : Uma doença comum no tomate é o vírus do mosaico do tabaco. Várias formas de míldio e oídio são também comuns no tomate. As doenças mais comuns são assim, o míldio, o oídio, a verticiliose, a fusariose, a alternariose, e o vírus do mosaico do tabaco. Pragas importantes: nemátodos. Outras doenças importantes são o vírus curly top, provocado pela cigarrinha da beterraba sacarina. Algumas pragas comuns no tomateiro são: aranhiço vermelho; mosca-branca; afídeos (pulgões); lagarta-do-tomate; lagarta-mineira-do tomate. Investigação recente detectou alguns mecanismos de auto-defesa do tomateiro. Assim, quando as plantas são atacadas produzem sistemina, 62 uma hormona peptídica, que activa mecanismos defensivos, tais como a produção de inibidores de protease, que atrasam o crescimento dos insectos. Colheita e preparação para o Mercado. Após a colheita, a maturação continua devido à libertação de etileno. O período de vida útil do tomate é usualmente de 7 a 10 dias, dependendo sobretudo da temperatura. As caixas e superfícies destinadas ao acondicionamento do tomate devem ser construídas com materiais leves. 63 4. Bibliografia e documentação Basile, S., Radics, L., Szalai, Z., Pusztai, P., Kormány, A., Moudry, J., Kovalina, P., Bavec, M., Globernik Mlakar, S., Toth, P., Tothova, M., Luik, A., Vetema, A., Selegovka, E. (2008): “Ecologica EU Project - Development of central data bank on European level for education of organic farming advisers”, Proceedings of the16th IFOAM Organic World Congress, 18 - 20 June 2008 in Modena, Italy, 391 p. Gyúros, J. (2007): “Paradicsomtermesztés. Tomato in organic farming”. Study materials for distance education. Luik, A. (2207): “Post harvest and storage of organic fruits and vegetables”, Study materials for distance education. Pusztai, P. (2010): “Evaluation of mulching methods in organic farming” Radics, L. (2006): “Organic farming course book for post secondary education”, Szaktudás kiadó Ház Budapest. ISBN 9639553 91 3 Radics, L., Szalai, Z., Gál, I., Vörös, L. & Csambalik (2011): “Role of novel methods in Organic Weed Management”, 4th Workshop of the EWRS working group Weeds and Biodiversity, 28 February - 2 March 2011, Dijon, France Sarapatka, J. Urban (2009): Organic agriculture. Prague. ISBN 978-8086671-69-7 Szalai Z. et al. (2006): “Organic farming in Horticulture” In: Radics L., “Organic farming course book for post secondary education ”. Szaktudás kiadó Ház Budapest. http://www.greenplantprotection.eu http://eurlex.europa.eu/LexUriServ/site/en/oj/2007/l_189/l_18920070720en0001002 3.pdf http://eurlex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=OJ:L:2008:250:0001:0084:EN :PDF 64 http://europa.eu.int/ http://www.fao.org/organicag/ http://www.ifoam.org/ http://www.fibl.org/en/ http://portal.organic-edunet.eu/ http://orgprints.org/ http://www.channel.uni-corvinus.hu http://www.nysipm.cornell.edu/organic_guide/ 65 5. Glossário BACILLUS THURINGIENSIS. Em agricultura biológica, é a preparação bacteriana mais utilizada (é eficiente contra muitas espécies das ordens Lepidoptera e Coleoptera, Diptera, etc.). LUTA BIOLÓGICA. Significa a utilização de organismos vivos, ou seus derivados, contra outros organismos vivos. Os designados “inimigos naturais” ou “auxiliares” servem para manter as populações de pragas fitófagas dentro de limites aceitáveis, e, consequentemente, aumentar o número de espécies existentes no sistema agroecológico. Desta forma, este torna-se mais complexo, diverso e estável. Os organismos auxiliares podem ser mantidos ou introduzidos no sistema agrícola pelo agricultor. COMPOSTAGEM. Reciclagem de biomassa efectuada na própria exploração. Durante a compostagem, os resíduos orgânicos grosseiros são transformados em húmus, o qual é genericamente composto por moléculas de grande dimensão. CULTURAS DE COBERTURA (EM ARRELVAMENTO OU EM SIDERAÇÃO). Consiste em plantar uma cultura, não necessariamente para ser colhida, durante os meses em que o solo usualmente está descoberto. Desta forma, é impedida a proliferação e a disseminação de infestantes. INSECTOS ENTOMÓFAGOS. São os principais agentes usados na luta biológica. Podem ser classificados tanto como predadores como parasitóides, sendo as suas características específicas condicionadoras da sua eficácia. Predadores são organismos que atacam e se alimentam de um número determinado de exemplares da praga. Alguns deles são predadores durante todo o seu ciclo de vida (fitoseídeos, mirídeos, coccinelídeos e antocorídeos), enquanto outros apenas o são na sua fase larval (sirfídeos, cecidomídeos). Os parasitóides são parasitas durante os seus estados imaturos, quando as larvas se desenvolvem dentro (endoparasitas) ou sobre (ectoparasitas) o seu hospedeiro, provocando sempre a morte deste. MONDA TÉRMICA. Consiste num método de luta contra ervas infestantes; a exposição de plantas indesejáveis a altas temperaturas provoca um choque térmico nos tecidos vegetais e uma deterioração irreversível da funcionalidade da planta, a qual morre em dois ou três dias, sem que seja incinerada. Neste método, recorre-se com frequência a queimadores alimentados a GPL. 66 SIDERAÇÃO. Prática que consiste em semear uma espécie estreme, ou uma mistura de espécies herbáceas, não tendo como objectivo final a colheita mas sim a incorporação no solo da biomassa verde obtida. HÚMUS. Matéria orgânica bem decomposta que é resistente a posteriores decomposições e que pode manter-se por centenas de anos. O húmus armazena alguns nutrientes, podendo libertá-los lentamente para as plantas. CONSOCIAÇÃO. Produção de duas ou mais culturas em simultâneo, no mesmo terreno a uma distância que permita que as raízes de ambas explorem o mesmo solo. COBERTURA DO SOLO ou EMPALHAMENTO (MULCHING). Método que consiste em espalhar materiais orgânico s – tais como palhas, composto, ou aparas de madeira – sobre o solo, nas linhas e nas entrelinhas das culturas. Este método ajuda a conservar a humidade do solo, combate as infestantes e favorece a produção de matéria orgânica no solo. ROTAÇÃO. Sistema agrícola em que as culturas se sucedem no tempo, utilizando o mesmo espaço, de acordo com uma sequência pré-definida. 67 6. Auto-avaliação 1. Escolha as espécies com maiores necessidades de água Maçã, pêra Amêndoa, nêspera Abrunho, ameixa 2. Escolha o nível mínimo de húmus (H%) adequado para a instalação de um pomar de fruta em MPB H%<1% H%<0,5% H%<2% 3. Seleccione as causas mais importantes que provocam o desenvolvimento das “manchas amargas” (bitter pit) nas maçãs e peras Deficiência em Cálcio e excesso de fornecimento de Azoto e Potássio Fertilização em excesso de Azoto e Cálcio Fornecimento de água insuficiente 4. Seleccione o método adequado para determinar o nível de nutrientes adequado em pomares Análise das plantas Análise do solo 68 Análise das folhas e do solo 5. Seleccione a praga à qual deverá ser aplicado o Bacillus thuringiensis var. kustraky Afídeos Lagarta-do-tomate (Lépidopteros) Escaravelho 6. Escolha a definição/descrição que se adequa à compostagem Durante a compostagem, materiais orgânicos grosseiros transformam-se numa camada de solo fértil Compostagem é a transformação de húmus em matérias-primas Durante a compostagem, matérias-primas orgânicas são transformadas em húmus composto por grandes moléculas de elevada estabilidade 7. Os aspectos que tornam importante a aplicação da cobertura do solo (mulching) são: Retenção de água, protecção contra a erosão, compostagem superficial, supressão de infestantes, desenvolvimento de frutos saudáveis. Retenção de água, supressão de infestantes, amadurecimento dos frutos Retenção da água, protecção do vento, abrigo para insectos 8. Os quatro componentes básicos de um sistema de rotação de culturas são: Percentagem relativa de cada planta, sequência das plantas, rotação, selecção das plantas 69 Composição das plantas, território ocupado, sequência das plantas, rotação Composição das plantas, percentagem relativa de cada planta, sequência das plantas, rotação 9. Escolha os métodos adequados à protecção física das plantas Recolha, Vigilância, Tratamento térmico, Alteração acondicionamento intermédio, Recolha de insectos do tipo de Recolha, Isolamento, Atracção, Armadilhas com feromonas, Tratamento térmico, Alteração do tipo de acondicionamento intermédio Recolha, Destruição, Isolamento, Atracção, Vigilância, térmico, Alteração do tipo de acondicionamento intermédio Tratamento 10. Seleccione a praga à qual deverá ser aplicado o Bacillus thuringiensis var. tenebrionis Afídeos Lagarta-do-tomate (Lépidopteros) Escaravelhos 70