File - Tiago Ferrinho da Silva Dias

Transcrição

File - Tiago Ferrinho da Silva Dias
“Eram sete cães atrás de um osso” por Tiago Ferrinho
Dias (Turma 5)
Juliana Rocha, 20 anos, é a menina prodígio do boxe português e não se sente arrependida,
muito menos discriminada, por ter entrado num mundo que é dominado pelo sexo
masculino.
É sabido que tinha como objectivo chegar aos Jogos Olímpicos. Não foi possível. Pode contar
essa experiência?
Não, não consegui ir aos Jogos Olímpicos. Tentei o apuramento em Maio na China mas os
requisitos eram muito específicos e complicados porque só estavam previstas poucas
categorias para o apuramento que eram: menos 51 kg, menos 60kgs a minha categoria e
menos 75 kgs. “Eram sete cães atrás de um osso” como era a primeira vez que havia palco
feminino nos Jogos Olímpicos só essas três é que podiam entrar e só oito atletas do mundo é
que podiam representar essas categorias. Da Europa já iam a Campeã e Vice-Campeã do
Mundo praticamente garantidas, era muito difícil lutar por um lugar. Perdi contra a Campeã de
África, campeã da Tunísia, ela foi aos Jogos Olímpicos, eu não.
Acompanhou os Jogos Olímpicos?
Sim, claro que acompanhei. E a Medalha de Ouro foi para a Campeã do Mundo.
Qual a tua principal referência no Boxe?
No boxe feminino e, no meu peso, a que eu mais admiro é a actual campeã do Mundo – a
Katie Taylor da Irlanda. Gosto dela porque na Irlanda os métodos de trabalho são muito
diferentes em relação a Portugal. Ela é nova, tem 24/ 25 anos e o percurso que fez até agora é
de louvar. Já foi campeã de Futebol, o pai campeão de pesos pesados e a mãe também esteve
envolvida no ramo.
No boxe masculino admiro o David Haye, Manny Pacquiau, Roy Jones Jr., Muhammad Ali – um
histórico. Gosto muito da filha do Ali também.
Depois dos Jogos qual o principal objectivo que tem?
A nível nacional, tenho um combate importante dia 8 de Dezembro e espero ganhar a Taça de
Portugal no final do ano. A nível Internacional, em 2013 tenho o campeonato da Europa e
depois tenho de obter os mínimos para me apurar para o Mundial de 2014.
Está confiante em bons resultados?
Espero que sim! Vou trabalhar para isso e creio que vou conseguir! A nossa pré-época envolve
treinos “levezinhos” às segundas, quartas e sextas. Mas como agora temos a Taça de Portugal
e os combates estão à porta temos de treinar todos os dias e se for preciso reduzir de peso. A
preparação é muito exigente!
Tem muitas raparigas com quem possa combater em Portugal?
Sim existem algumas só que o boxe feminino em Portugal ainda não está muito desenvolvido.
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Começa a ser visto com outros olhos e a ser explorado de maneira diferente mas acho que
ainda tem uns passos valentes para dar.
Como foi ser campeã nacional pela primeira vez?
Entrei para o Boxe com 13/14 anos. Aos 15 pude inscrever-me no campeonato nacional e aos
16 ganhei o primeiro de quatro títulos de campeã nacional. Foi uma emoção muito grande, um
concretizar de um sonho.
Ainda se recorda da rapariga a quem ganhou o título?
Sim mas a que mais me marcou foi a atleta que me proporcionou a conquista do segundo
título de campeã nacional segunda. Foi em Aveiro e foi muito especial pois foi aí que fiz o meu
primeiro KO!
Como foi o seu percurso a nível de clubes?
Comecei no Boavista onde estive cerca de cinco anos, o meu ex-treinador era o Diretor
Desportivo. Mesmo sem treinar no Boavista representava o clube, chegava a altura dos
combates e aí é que “vestia a camisola”, praticamente. Passados esses 5 anos, esse meu extreinador saiu do Boavista e, como ele tinha um ginásio em Nogueira – o Luso Venezuelano, eu
segui-o e fiz o meu último campeonato nacional pelo Luso Venezuelano que representei
durante meio ano. Depois transferi-me para o FC Porto, clube onde ainda me encontro
actualmente.
Como é que vê o actual estado do boxe do Boavista?
Continuo a dar-me bem com os atletas do Boavista e tento sempre acompanhar. Encontram-se
bem, na minha opinião. O Boavista sempre foi e será um clube com grande tradição no Boxe.
Para quando ser campeã nacional pelo FC Porto?
Já ganhei o título de campeã tanto pelo Boavista como pelo Luso. Ser Campeã pelo FC Porto é
algo que desejo muito. Estou a trabalhar para isso e espero conseguir brevemente.
Qual o sentimento de vestir a camisola do FC Porto?
Já fiz alguns combates pelo FC Porto e é uma sensação espectacular! A minha família é toda
portista e eu também por isso, é um orgulho. Ainda não fui campeã nacional pelo FC Porto mas
já consegui o título de Campeã Ibérica de “azul e branco” no final do ano passado. Tenho um
carinho muito especial pelo FC Porto.
Qual o principal adversário do FC Porto no boxe?
O Boavista sempre foi muito conceituado no Boxe, tal como o FC Porto. Talvez o Algarve. Já
joguei várias vezes com atletas do Benfica mas acho que estão um pouco apagados. O PortoBoavista no boxe corresponde a um FC Porto-SL Benfica no Futebol.
Entrou no boxe por influência do seu pai?
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Antes do boxe entrei no karaté com 5 anos, onde andei 9 anos. Depois fui Campeã da Europa
de kick boxing na Grécia. Mas quando comecei a treinar no Luso Venezuelano (representando
o Boavista), o Sr. Pinto, o meu ex-treinador, empurrou-me para o boxe. Ajudou o facto de o
meu pai sempre ter tido o sonho de ser pugilista, portanto foi quase uma “obrigação” minha.
Já na entrada para o karaté e para o kick boxing o meu pai teve muita influência, é como se
estivesse a realizar o seu sonho. Sinto-me muito honrada.
Tem irmãos com quem treine? Algum deles também foi “empurrado”?
Sim, tenho dois irmãos mais novos mas nenhum pratica boxe. Um anda no futebol mas a
minha irmã anda no taekwondo por influência do meu pai também. Pode ser que um dia nos
encontremos no ringue!
O seu pai costuma acompanhá-la nos combates?
Claro, o meu pai só não assiste aos meus treinos no Porto porque não pode mas está sempre
presente tal como a minha mãe.
Tem algum tipo de ritual no antes, durante e pós combate?
Ao contrário do que observo no ténis ou no futebol julgo que não tenho. Só se for a música
que anda sempre comigo mas não considero um ritual. Costumo estar sempre com o meu pai
antes de entrar para o ringue. Ele tem sempre duas ou três palavras para me dar o que me faz
sentir mais confiante.
Quantos treinadores já teve?
Tive o Sr. Pinto Lopes que considero o meu único e verdadeiro treinador. Embora tenha tido
outros o principal foi sempre o Sr. Pinto Lopes, considerado o Papa do boxe nacional. Continuo
a falar com ele todos os dias, é como se fosse um pai para mim. Ele perdeu o filho e agarroume como filha.
O Sr. Pinto Lopes impôs que só poderia ter namorado a partir dos 21 anos?
Ele avisou-me que se tivesse algum namorado antes dos 21 anos que me abandonaria. Ele
queria-me 100% concentrada no boxe e, em tom de brincadeira, dizia que eu tinha de ser feia
até aos 21 anos. É um excelente treinador!
Quais são as principais características na sua forma de combater?
É complicado. No Boavista tinha um tipo de boxe mais agressivo, era mais “fruta” como se
costuma dizer. Agora no FC Porto é um bocadinho diferente, é mais à base da pontuação, é
jogar, entrar e sair com o objectivo de marcar pontos. Não existe tanto contacto físico entre os
adversários, é mais tranquilo. Jogamos à distância como no boxe Olímpico, no “entra e sai” e
tentar marcar o maior número de pontos.
Há quem diga que a sua melhor manobra é a “esquiva”. Concorda?
Ainda continua a ser mas se calhar já não é tanto. A minha alcunha no boxe é “Pitão” e teve
origem nessa minha qualidade, nas esquivas.
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Já fez muitos KO’s?
Não, fiz apenas um mas foi duplamente especial. Porque para além de o conseguir ter feito
pela primeira vez, este garantiu-me o segundo título de campeã nacional! Eu tinha vindo de
um campeonato importante e estava com “a pica toda”, gostei muito!
Está a estudar Criminologia com o objectivo de entrar para a PJ. Acha que a sua carreira no
boxe é uma vantagem valiosa no currículo?
Eu penso que sim. Eu sempre gostei de trabalho de campo e acho que o boxe pode ser uma
mais-valia pois é sinal que estou psicológica e fisicamente bem preparada para encarar todo o
tipo de situações.
Sente mais dificuldades quando tem de se deslocar ao estrangeiro para combater?
Não. Felizmente o boxe tem-me permitido viajar muito. É algo que gosto de fazer e fico ainda
mais motivada, só tenho a agradecer!
A sua família acompanha-a ao estrangeiro?
Depende, para a França o meu pai acompanhou-me mas para a Grécia, Húngria e China não.
Depende muito dos sítios e da disponibilidade física e financeira. No estrangeiro é diferente,
compreendo que não possam estar presentes e o facto de estar a representar a selecção
nacional costuma compensar. Normalmente só vai o meu treinador. Mas em Portugal estão
presentes em todos os combates, preciso do apoio deles.
Como é representar a Selecção Nacional de Boxe?
Só podemos representar a Selecção depois de ganharmos o título nacional. O meu primeiro
título de campeã nacional foi em 2009 e a minha primeira representação pela Selecção
Nacional de Boxe foi em Gibraltar num torneio internacional onde adquiri a alcunha de
“Pitão”. Joguei contra a minha primeira adversária internacional, do País de Gales, e trouxe
uma medalha de prata. Na véspera, o vice-presidente da federação, disse que eu tinha de
jogar como uma pitão e esquivar-me tal como os movimentos da pitão. A pitão estrangula mas
não é venenosa e isso aplica-se a mim. Estrangular no sentido de dar tudo, dar “fruta” e não
sou venenosa pois sou muito humilde.
Qual foi o ginásio onde gostou mais de treinar?
Eu sempre treinei no Luso Venezuelano, mesmo quando combatia pelo Boavista. Fora esse tive
passagens curtas por outros ginásios tais como o Virgin Active até que cheguei ao ginásio do FC
Porto. Tenho um carinho especial pelo Luso Venezuelano: foi onde comecei, onde passei mais
tempo, é o mais familiar.
Acha que no boxe também existe a ideia de que o material faz a diferença?
Sim, as minhas luvas são da Leon e não as troco por outra marca porque gosto mesmo da
qualidade. Quanto à roupa, as mulheres usam o mesmo que os homens: calções e camisola de
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manga caviada. Mas no Campeonato do Mundo na China descobri uns chineses que vendiam
saias como as que as tenistas usam e eu trouxe uma azul e branca. E espero ser a primeira
pugilista portuguesa a usar saia.
Tem alguma divisão que utilize como sala de troféus e recordações?
Sim, está tudo no meu quarto que está cheio! A minha mãe costuma organizar as fotografias e
recortes de jornais, essas coisas...tenho muitos dossiês! E espero continuar a encher o meu
quarto cada vez mais com novas conquistas.
Para isso tenciona continuar muitos anos no boxe?
Não, não tenciono. Não quero fazer do boxe a minha vida ou o principal. Estou a estudar
criminologia e à partida é a minha primeira opção. Já o boxe, tenciono seguir no máximo até
aos meus 26/27 anos.
É verdade que, no boxe, “para dar é preciso saber levar”?
É verdade. O meu ex-treinador, o Sr. Pinto Lopes sempre me ensinou essa máxima. Porque há
muitos atletas com capacidade física para triunfar mas que depois entram no ringue e quando
“levam” não lidam bem com a situação e acabam por não conseguir ripostar da melhor forma.
Ficam quase como petrificados e sem reacção.
Já teve alguma lesão grave?
Não. Só me lesionei uma vez. Foi no braço, no Campeonato da Europa de 2010 da França. Tive
uma recuperação rápida. Felizmente as lesões não têm afectado a minha carreira.
Considera-se uma pugilista mentalmente forte?
Sim. Aliás, nos treinos trabalhamos muito a parte psicológica para evoluir nesse sentido.
Muitos dos treinos são exclusivamente psicológicos. É preciso motivar o “Eu” para sempre
vencer e não desistir quando dói ou quando estamos aleijados. Quando o corpo já não
consegue, é a mente que nos segura.
Qual é o seu maior sonho no boxe?
Era conseguir o apuramento para os Jogos Olímpicos, sem dúvida. Espero um dia conseguir!
Quero estar no Rio de Janeiro em 2016! Nem que tenha de mudar de categoria. Em menos 60
kgs não jogo mais, não me sinto bem nesse peso. Espero que até lá abram novas categorias
como fazem nos Campeonatos do Mundo e da Europa.
Considera que o melhor para evoluir é treinar com atletas com capacidades superiores?
Sim, por isso também treino quase sempre com homens que, à partida, são fisicamente
superiores. O que me permite chegar ao ringue com outra preparação
Nota que os rapazes se retraem quando treinam consigo?
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Não, não noto nada. Nos treinos não fazemos muito a separação homem/mulher, somos todos
iguais. Todos somos atletas do mesmo clube e queremos ser os melhores! Não existe qualquer
descriminação.
Tem colegas no boxe por quem sofra?
Nós trabalhamos em equipa, sofremos sempre uns pelos outros, sempre em prol da equipa.
Tem algum filme de boxe que a inspire?
O Million Dollar Baby claro. Já vi imensas vezes.
Imagina a sua vida sem o Boxe?
Se me tirassem o boxe de certeza que estaria noutra arte marcial, talvez voltasse ao kick ou ao
karaté. O ju jitsu seria outra hipótese. Tenho é de estar em constante competição, sou uma
competidora nata!
Acha que a experiência adquirida nas outras modalidades a ajudou no boxe?
Com certeza. Comecei no karaté aos 5 anos mas a competição só apareceu aos 10. O facto de
ter tido esse contacto com a competição foi uma mais-valia porque deu para averiguar se eu
tinha aquele instinto de lutadora. Há pessoas que dão tudo no treino e quando chegam ao
ringue bloqueiam. Foi muito importante.
Teve receio de entrar no boxe?
Não, eu até achei engraçado. Não admirava muito o boxe, sempre tive intuito para o kick mas
o Sr. Pinto Lopes viu que eu tinha potencial e fez questão de apostar logo em mim e treinarme. No início não me desenrascava muito, tinha o vício de querer recorrer às pernas mas com
o tempo fui-me adaptando.
Tem alguma mensagem para as pessoas que afirmam que o boxe não é um desporto?
Eu tenho vindo a desmistificar esse conceito de agressividade e violência que reconhecem no
Boxe. Felizmente, cada vez mais é difundida a ideia de que o Boxe é uma arte nobre, um
desporto que até as modelos praticam para cuidar do físico. Aprendemos técnicas de defesa e
a ter outras atitudes na vida como ser mais calmo relativamente a situações em que outras
pessoas são mais explosivas. O boxe não se resume ao ringue, é um modo de estar na vida.
A Telma Monteiro é um bom exemplo?
Sim, o judo feminino evoluiu muito com ela. Creio que foi uma atleta importante na luta
contra o preconceito pelos desportos de combate, femininos principalmente.
A vida académica não prejudica o seu boxe?
Tenho de saber conciliar. São duas coisas muito importantes na minha vida, a faculdade
consome-me muito tempo e desgasta-me. Mas eu não conseguia viver só do boxe ou só da
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faculdade. Preciso mesmo das duas coisas para me equilibrar.
Gosta de combater Outdoor?
Sim, o Vitor Sá organizou uma gala de despedida Outdoor em Espinho da qual gostei muito.
Também já combati Outdoor na Ribeira. Mas em Outdoor não sinto tanto o público, a entrada
é livre e aparecem muitos curiosos mas que não apreciam. Quando é indoor existe a cobrança
de bilhete e aí é onde se encontram os verdadeiros adeptos. No pavilhão sente-se mais o calor
das emoções.
Como é que acompanhou o acidente ocorrido na gala de Espinho?
Foi complicado. A minha mãe disse logo que tinha de abandonar o boxe. No 3º assalto o atleta
do Porto faz o KO ao do Braga, o combate terminou logo e o atleta do Braga teve de ser
assistido, tive muito medo, assisti a tudo. Foi um cross do atleta do Porto que apanhou o
maxilar do atleta do Braga que já não estava bem tratado, foi um toque que o derrubou logo.
Maior susto no boxe?
Não me envolveu directamente mas tenho de dizer que foi o acidente da Gala de Espinho em
que o atleta do Braga entrou em coma.
Já jogou em Casinos?
Sim. Em Espinho, Montegordo, Vila Moura. Não senti nada de especial, é a mesma coisa que
jogar no Pavilhão dos Congressos ou no Pavilhão de Esmoriz.
Costuma lidar com fases menos boas?
Quando isso acontece os meus pais ajudam-me muito. As pessoas de fora dizem-me que é
muito fixe estar no boxe, que posso viajar, que tenho sorte... mas não sabem a pressão que
está por trás, o esforço, o sacrifício horrível que se faz para conseguir. No campeonato do
Mundo da China, lembro-me que no último dia antes de partir chorei por não poder beber
água nem comer por causa do peso, nunca dei tanto valor à comida e à água como nesses dias.
Tirar peso é o primeiro combate, depois de vencer o combate contra a balança torna-se tudo
mais fácil.
Sente a tentação de quebrar a dieta quando está diariamente com os seus colegas?
Sim, sinto. Mas eu tento seguir a dieta não deixando de comer o que gosto por completo.
Já teve que fazer alterações à sua vida em prol do boxe?
Sim. Eu sou de Santa Maria da Feira mas mudei-me para o Porto para poder conciliar a
faculdade com os treinos, era impossível ir e vir todos os dias. Outra alteração, é que parte da
minha adolescência não foi passada como gostaria porque tive algumas limitações no sair à
noite ou estar com os amigos pois tinha treinos e torneios.
Sente que já tem muitos fans?
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Eu tenho uma página de atleta no Facebook onde sinto o carinho das pessoas. Fora isso,
quando tenho combate procuram-me e dão uma palavra de incentivo. O facto de ser rapariga
e estudar criminologia suscita algum interesse também. Muitos estudantes do ensino
secundário perguntam-me o que é preciso para entrar para o Boxe e qual a média de entrada
em Criminologia. Desde o ringue já identifico rostos familiares na plateia.
A sua imagem foi muito promovida. Consegues abstrair-se disso?
Sim, graças a Deus acho que sim. Os meus combates já foram transmitidos na TV e isso é
engraçado.
Tem alguém que para seu bem lhe diga que combateu mal?
Sim. Eu sei quais são as pessoas que me dizem a verdade e quais as que me dizem que estive
bem só para eu ficar contente. O meu pai diz logo quando estou mal, no fim dos assaltos olho
sempre para ele para que me indique com um aceno se estou bem ou não. Os meus pais estão
dentro do contexto e dizem-me logo quando estive mal e o que tenho de melhorar. Os meus
amigos dizem me para não ligar muito às adversidades.
Que faz quando se sente em baixo?
Faço uma recordação. Fecho-me no meu quarto a relembrar os meus melhores momentos e o
meu pai ajuda me sempre com as suas palavras. Não gosto de ter a confiança no pico, não
quero subestimar ninguém. Já me aconteceu subestimar a adversária e correu mal, devo
sempre entrar um pouco nervosa.
Se recebesse agora uma notícia em relação ao boxe de que gostava que fosse?
Gostava de receber a notícia de que o estado passaria a apoiar e investir nas modalidades
amadoras e não só no futebol profissional. Nós damos muito mais frutos. Gostava também de
saber que iria aos Jogos Olímpicos, seria o culminar da minha carreira!
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Juliana Rocha
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