Yvan MullEr: uMa lEnda viva

Transcrição

Yvan MullEr: uMa lEnda viva
Yvan Muller:
Uma Lenda
Viva
Peter Mills, da Autosport, falou com um dos mais conceituados pilotos do Campeonato do Mundo de Carros de Turismo da FIA
(WTCC-FIA) sobre os desafios do Circuito da Guia, as batalhas em pista e a sorte e o sucesso na vida e na carreira.
entrevista dada em Setembro, tinha menos 60
pontos que o argentino]. “Em segundo lugar, a
Citroën tem um simulador muito preciso. ‘Pechito’
vai fazer muitas milhas no simulador, o que o
ajudará bastante. Assim, em Macau, a diferença
entre nós não será assim tão pequena como se
pode pensar. “
Além do acidente em Marrocos, o actual
campeão contou ainda com um outro acidente
aparatoso, em Salzburgring, e uma penalização
na Eslováquia.
s comentários de Yvan Muller são
o reconhecimento de que está
nas suas mãos a forma como o
exigente circuito de Macau, onde
cada canto é aparentemente
preparado para apanhar o piloto desprevenido nas
barreiras implacáveis, poderá ser determinante
nesta temporada.
O tetracampeão do WTCC-FIA tem estado numa
posição desfavorável na corrida pelo título desde
que em Abril, em Marraquexe, primeira volta no
campeonato, um acidente na grelha de partida
destruiu o seu Citroën C-Elysée. A vantagem
na qualificação por pilotos do campeonato foi
garantida pelo companheiro de equipa José
María ´Pechito´ López.
“Podemos comparar à final do Grande Prémio
de Formula 1, em Abu Dhabi, onde se conquista
o dobro dos pontos. Em Macau, é quase como
se houvesse mais do que o dobro de pontos “,
continua Muller. “Para lutar por um título aqui,
há realmente uma pressão enorme. Podemos
perder tudo por ser um circuito muito imprevisível.
Já assistimos a coisas incríveis nesta pista.”
A temporada do WTCC 2014 talvez se tenha
desenrolado de uma forma que não se previa.
A nova equipa francesa da Citroën Racing
transferiu o domínio absoluto que tinha no
Campeonato do Mundo de Ralis da FIA, com
Sébastien Loeb ao volante, para um novo palco.
Embora o desempenho do Citroën C-Elysée
tenha provavelmente superado as expectativas,
o estatuto de Muller como o homem mais rápido
do FIA WTCC tem sido ameaçado por López,
tricampeão da série argentina de carros de
turismo TC2000. Curiosamente, Muller afirmou
que o seu conhecimento do circuito de Macau
será talvez de somenos importância contra o
estreante López.
“Primeiro que tudo ‘Pechito’ tem pontos
suficientes para, potencialmente, ser campeão
antes de Macau”, disse Muller [que, aquando da
“Acho que este ano não é o melhor da minha
carreira no FIA WTCC”, revelou Muller, detentor
de quatro brilhantes vitórias. “Tenho três
desistências, o que me custou muito em termos
de pontos no campeonato. Além disso, ‘Pechito’
é muito rápido e a sorte tem estado ao seu lado.
Na segunda corrida da Argentina, eu corria na
frente, a rodar tão rápido como ele, mas tive um
contacto com o piloto da Zeng Honda, Michelisz,
e ‘Pechito’ aproveitou a oportunidade para nos
ultrapassar aos dois. Foi aí que a minha corrida
terminou. Ele estava à nossa frente e eu não tinha
hipótese nenhuma de o apanhar. Neste momento,
é quase impossível vencê-lo, porque tudo o que
tenta, alcança, apesar de termos o carro igual.
Vamos ver, as coisas podem mudar, mas é quase
impossível porque não tem desistências.”
A explicação não é uma indicação de derrota e
mede-se mais pelo pragmatismo. Já em anos
anteriores, Muller afirmou que ganhar outro
título do WTCC não iria mudar a sua vida. Mas a
vontade indomável de ganhar encontra exemplo
na reacção acesa e sem rodeios com que falou
na responsabilidade de Lopez no seu acidente
ocorrido em Maio, na Áustria. O que significaria
ganhar o quinto título WTCC ao volante de um
Citroën, este ano ou em 2015?
“A minha resposta é a mesma”, disse prontamente
Muller. “Eu fui quatro vezes campeão mundial e
isso não alterou a minha vida. Conquistar mais
um título não vai mudar nada. É apenas um jogo
Em cima: Muller, em 2013 (Foto: CGPM); A face
de um campeão (Foto: WTCC – FIA)
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e nós não valorizamos a nossa vida por isso. Se
nem sempre estou feliz, não é por não ganhar.
Por mim está tudo bem se terminar em 2º, desde
que tenha dado o meu melhor. Fico aborrecido
quando sei que o carro é bom o suficiente para
vencer e não me empenhei tanto quanto devia
para alcançar a vitória.
“A minha motivação e satisfação vêm de dar
sempre o máximo. Eu quero ganhar corridas só
porque isso me dá a oportunidade de assinar um
contrato para o ano seguinte. Pessoalmente, não
preciso de vencer. Só preciso de ganhar para
ter emprego.”
Além dos compromissos com a Citroën e as
funções de gerência com a Yvan Muller Racing,
que coloca carros da marca Porche e Mitjet em
provas francesas, Muller, de 45 anos, teve de
dividir responsabilidades com o nascimento da
sua filha em Dezembro de 2013.
“Tenho que admitir que durante seis ou sete
meses, desde o Inverno até Junho, passei por um
período bastante complicado”, afirmou. “Estava
envolvido em demasiados projectos. Desde
Marraquexe até ao final de Junho nunca passei
um fim-de-semana em casa. Foram 14 ou 15 finsde-semana seguidos em que ou estava com a
Citroën ou com a minha equipa. A culpa foi minha.
Quis fazer tudo ao mesmo tempo e isso foi um
erro. Daqui para a frente vou organizar a minha
vida de outra forma”.
A queda na performance de Muller não foi óbvia.
No entanto, houve um período de adaptação
ao novo Citroën ‘TC1’, depois de quatro anos
a correr num Chevrolet Cruze ‘S2000’. Para a
corrida de Macau, Muller revelou que a sua maior
preocupação é habituar-se às dimensões da sua
nova máquina.
“Uma das novidades do TC1 é perceber a
dimensão dos arcos das rodas, porque são mais
largos do que o normal. No início da temporada
tive alguns problemas e cheguei a bater em
alguns pilares em Paul Ricard, França. Em Macau,
a corrida obriga a estarmos muito próximos dos
muros o que se pode tornar bastante difícil!”
Relembrando as peripécias, Muller fez questão
de dissipar qualquer ideia de que o seu objectivo
para 2015 é diferente.
Em cima, em sentido contrário ao dos ponteiros de relógio: José María López, companheiro
de equipa e rival no título (Foto: CGPM); Momento de descontração com Tiago Monteiro (Foto:
CGPM); Alinhamento da Citroën no WTCC da FIA, 2014: (da esquerda para a direita) Ma Qing Hua,
Sébastien Loeb, Yvan Muller e José María López (Foto: WTCC – FIA); Muller em acção no novo
Citroën C-Elysée (Foto: WTCC – FIA)
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“Este ano levei-me até ao limite, não apenas
devido à velocidade de López mas, também,
porque coloquei alguns problemas no caminho,
por exemplo, no que diz respeito ao que contei
sobre a Yvan Muller Racing e o calendário
preenchido. Não penso que tivesse sido
presunçoso por acreditar que era possível fazer
tudo, mas coloquei demasiada carga sobre os
meus ombros. Contudo, nem tudo está perdido.
Estou aqui para lutar até ao fim.”