ATL 2009 - Instituto Açoriano de Cultura

Transcrição

ATL 2009 - Instituto Açoriano de Cultura
0. revista ATL09_1as págs
8/17/10
9:29 AM
Page 1
vol. LIV 2009
INSTITUTO AÇORIANO DE CULTURA
0. revista ATL09_1as págs
8/17/10
9:29 AM
Page 2
ficha técnica
vol. LIV 2009
Direcção . Paulo Alexandre Vilela Martins Raimundo
Patrocínios
Design Gráfico . Angelina Caixeiro
Tiragem . 1000 exemplares
Depósito legal . 174164/01
ISSN . 1645-6815
Apoios
Esta revista é propriedade de . Instituto Açoriano de Cultura
Alto das Covas - Apartado 67
9700-220 Angra do Heroísmo
T. F. 295 214 442
[email protected]
www.iac-azores.org
Instituição de Utilidade Pública por Resolução nº 45/86,
do Conselho do Governo Regional dos Açores,
de 5 de Março de 1986
Preço. 20,00 euros
Sócios Patronos
Câmara Municipal da Calheta
Câmara Municipal da Praia da Vitória
Junta de Freguesia dos Altares, Angra do Heroísmo
Junta de Freguesia da Conceição, Angra do Heroísmo
Junta de Freguesia da Fajã de Baixo, Ponta Delgada
Junta de Freguesia do Porto Judeu, Angra do Heroísmo
Pedro Bicudo
Teles Travel Agency
0. revista ATL09_1as págs
8/17/10
9:29 AM
Page 3
vol. LIV 2009
0. revista ATL09_1as págs
8/17/10
9:29 AM
Page 4
0. revista ATL09_1as págs
8/17/10
9:29 AM
Page 5
sumário
DOSSIÊ
TEMÁTICO
ESTUDOS E CRIAÇÃO
ARTÍSTICA
ESTUDOS E CRIAÇÃO
LITERÁRIA
7. APROXIMAÇÕES
JORGE BARROS
41. SOLAR DE SÃO JOAQUIM:
PONTA DELGADA,
SÃO MIGUEL, AÇORES
79. QUESTÃO DA ACULTURAÇÃO
E DA LIBERDADE EM
“JÁ NÃO GOSTO DE
CHOCOLATES”
Simetrias
Fernando Dacosta
Rui Miguel Goulart de Almeida
Mar ignoto
As redes tecidas por
Izalino Nunes
53. PROTEGER O PATRIMÓNIO:
INVENTARIAR E
CLASSIFICAR BENS
– UM CASO AÇORIANO –
Victor Rui Dores
Maria Manuel Velásquez Ribeiro
Onésimo Teotónio Almeida
A vida ao ombro
Kiwamu Hamaoka
Geometria Discretiva
61. LAPTOP E A
DEFENESTRAÇÃO DO
IMAGINÁRIO MUSICAL
Vasco Pereira da Costa
Jorge Lima Barreto
Armando Silva Carvalho
A religiosidade (não) é
sensual ou estreita
Manuel Vilas Boas
As casas
Jaime Rocha
Âncora lançada,
âncora levantada
Maria Eduarda Rosa
Penugens
Hélia Correia
Da espiga ao espírito
Norberto Ávila
Flor de laranjeira com alfenim
Álamo Oliveira
A música/a banda
Levi Condinho
Travessia
Alice Vieira
65. AS CISTERNAS DO
MONTE DO BRASIL
– CONTRIBUTO DAS FONTES
CONTABILÍSTICAS PARA A
SUA HISTÓRIA
Joana Balsa de Pinho
83. PELA ILHARGA ESQUERDA
– SOBRE A ESCRITA DE
CRISTÓVÃO DE AGUIAR
A PROPÓSITO DE
“CÃES LETRADOS”
Carlos Alberto Machado
0. revista ATL09_1as págs
8/17/10
9:29 AM
Page 6
sumário (cont.)
CIÊNCIAS
HUMANAS
OUTROS
SABERES
93. ÍNDICES DO CARTÓRIO
DA MITRA DE ANGRA
(ILHA DE SANTA MARIA)
171. UMA COLECÇÃO
AÇORIANA DE MEDALHAS
Filipe Pinheiro de Campos
[6]
149. HISTÓRIA DOS AÇORES:
DO DESCOBRIMENTO
AO SÉCULO XX
Eugénio dos Santos
155. SOBRE MANUEL
GARCIA MONTEIRO NO
TRICINQUENTENÁRIO
DO SEU NASCIMENTO
Luís M. Arruda
vol. LIV ‘09
José Guilherme Reis Leite
1.ECA_Dossier_JorgeBarros
8/17/10
12:14 PM
Page 7
DOSSIÊ TEMÁTICO
Aproximações
Jorge Barros
INSTITUTO AÇORIANO DE CULTURA
1.ECA_Dossier_JorgeBarros
DOSSIÊ TEMÁTICO
JORGE BARROS
Corvo / Trancoso
8/17/10
12:14 PM
Page 8
1.ECA_Dossier_JorgeBarros
8/17/10
12:14 PM
Page 9
Registo de um cruzar de múltiplas vivências
que tenho criado ao longo da minha acção
entre o continente e as ilhas açorianas.
Paisagens luminosas ou de luz difusa,
moldadas pelo homem ao longo dos tempos.
Gestos e olhares do quotidiano em actos culturais
de lugar em lugar, raiz e seiva espiritual
que nos torna grandes como povo.
1.ECA_Dossier_JorgeBarros
8/17/10
12:14 PM
Page 10
[Costa Vicentina, Sagres]
[10]
Simetrias
vol. LIV ‘09
1.ECA_Dossier_JorgeBarros
8/17/10
12:14 PM
Page 11
APROXIMAÇÕES
JORGE BARROS
[11]
[Biscoitos, Terceira]
Quando a Atlântida, o território venturoso de todos os
imaginários, se partiu de nós (ibéricos), e imergiu em nós
(quiméricos), os lados fendidos tornaram-se, sobre a
distância que os apartou, linhas de chamamentos mudos
que só olhares de sensibilidade visionária – como os do
autor destas imagens perturbadoramente subtis – passaram
a detectar.
Um dos rebordos receberia, milhares de anos depois, o
nome de Costa Vicentina, em Sagres; o outro, o de Costa
dos Biscoitos, na Terceira, Açores; e assim ficaram em
imobilidade baça, na espera desesperançada de que quem
os separou os una.
Os seus recortes simétricos indiciam-no, aliciam-no através
da força da ficção que os (nos) dilata, delira para sempre.
Fernando Dacosta
[escritor]
1.ECA_Dossier_JorgeBarros
8/17/10
12:14 PM
Page 12
Mar ignoto
[12]
[Sintra]
vol. LIV ‘09
1.ECA_Dossier_JorgeBarros
8/17/10
12:14 PM
Page 13
APROXIMAÇÕES
[13]
JORGE BARROS
[Pico]
O Cabo da Roca era o finisterra português até os navegadores tropeçarem nas ilhas que vulcões plantaram
continuando a Europa, feitas trampolim a ajudar o salto para as Américas nunca então sonhadas. Emergem
feitas pilares de uma ponte entre continentes como os ilhéus da Madalena o são entre o Pico e o Faial. O
mar é o mesmo, todavia no Cabo da Roca o mistério é mais ignoto e distante, e outros mundos não habitam
facilmente o imaginário de quem dali o contempla. No canal, as ilhas parecem tão familiarizadas com os
segredos do mar que se reclinam nele, como faz o Deitado, sem receio das vagas. Até as baleias e os golfinhos
se passeiam por entre eles como crianças num parque.
Ou, se calhar, nada disso. O Cabo da Roca é o adeus à terra firma, enquanto as ilhas e os ilhéus da
Madalena são a Europa a despedir-se aos soluços, a caminho das Américas.
Onésimo Teotónio Almeida
[escritor]
1.ECA_Dossier_JorgeBarros
8/17/10
12:14 PM
Page 14
[14]
[Sines]
As redes tecidas
por Izalino Nunes
Recordo Izalino Nunes sempre que vejo redes de pesca.
Há redes que são rendas de magia. Filigranas de sonho. Fios de geométrica harmonia. Quietação de linhas. Inquietação de sentimentos.
Interrogações entrelaçadas – talvez as malhas que Portugal tece…
Há redes que são seriedade abstracta, encanto metafórico perante
aquilo que é simples e artesanal. Há redes que têm as gradações imateriais das guelras dos gorazes…
A vida, sabemo-lo, corre caipora, mas ficam as inflexões do tempo,
o ritmo dos costumes que ele impõe. Por detrás das redes estão
sempre as mãos dos pescadores. E eu (que me criei à beira-mar)
vol. LIV ‘09
1.ECA_Dossier_JorgeBarros
8/17/10
12:14 PM
Page 15
APROXIMAÇÕES
JORGE BARROS
estou a vê-los: rudes e tisnados de sol, com camisolas aos quadrados, abeiros de palha encardidos, cozendo as malhas caídas,
segurando nos dentes as agulhas de pau, manejando chumbadas
e cortiças – com os olhos no mar e o pensamento no pescado.
Afinal, por que estou aqui a evocar Izalino Nunes?
[Madalena, Pico]
Era o dia 7 de Novembro de 1967 e foi avistada baleia para as
bandas do Pico Negro, ilha Graciosa. Arriaram dois botes, um
do porto da Calheta de Santa Cruz, e outro do porto da Barra.
A lancha que apoiou as operações foi a Estefânia Correia que na
altura tinha como mestre Manuel José Bettencourt. Quando, já
noite fechada, fazia a sua entrada na baía da Barra, por ter sido
executada uma manobra que não era a mais aconselhada,
aconteceu uma tragédia: o bote, de nome Cristóvão Manuel,
virou-se e seis vidas foram ceifadas. Apenas o trancador Firmino
Rodrigues Picanço conseguiu salvar-se porque teve o discernimento de nadar para fora. Cinco baleeiros nadaram para terra
e espatifaram-se contra as rochas…
A vila da minha infância encheu-se de choros, gritos e lágrimas… Eu estava lá e assisti a tudo.
Só na manhã do dia seguinte encontraram o cadáver de Izalino
Nunes, que jazia no fundo do mar amortalhado nas redes que
ele próprio tecera dias antes.
Victor Rui Dores
[escritor]
[15]
Izalino Nunes era um desses pescadores que labutava em terra
e no mar. Tinha umas mãos enormes e gretadas, mas tecia
redes com enorme delicadeza. E era poeta popular dotado de
uma incomensurável riqueza humana. Escrevia versos como
quem cultivava a terra ou pescava garoupas, expressando-se e
exprimindo-se em quadras e sextilhas. Em terra criava vacas
leiteiras. No mar pescava chicharros, chernes, pargos, bonitos,
bicudas e bocas-negras. Em chegando o Verão arriava à baleia,
porque os tempos eram difíceis e era preciso vencer as contrariedades e sobreviver à miséria, ao subdesenvolvimento, à intolerância e à injustiça dos tempos repressivos e opressivos do
Estado Novo.
1.ECA_Dossier_JorgeBarros
8/17/10
12:14 PM
Page 16
[16]
[Castro Daire]
A vida ao ombro
vol. LIV ‘09
1.ECA_Dossier_JorgeBarros
8/17/10
12:14 PM
Page 17
APROXIMAÇÕES
Estes dois levam vida ao ombro, posso eu escrever e
ficar aqui um verso. São transportadores do pão e do
leite do Senhor, será depois outro verso. Mas este traz
já um desvio às hierarquias das frases inquestionáveis.
Porque em primeiro lugar estará sempre o pão e o vinho
do Senhor. O que é mais sacrificial, mas menos
alimentício. Mais implicado na comunhão, no convívio
salvador, mas menos na essência do sustento da vida.
[Corvo]
Do pão ao corpo, do vinho ao sangue, vai um gesto sagrado, um milagre, vai a formulação dum Deus. Do leite
e da farinha, da pureza implícita do seu branco, retiramos a imagem da alimentação indispensável ao corpo,
não a da alimentação da alma, ou aquilo que ela muitas
vezes pretende significar.
Estes dois nas imagens, valem pelas vagas nódoas de
brancura dispersas no vestuário que os cobre. E pela
vida que levam ao ombro e é alimento para um homem.
Ainda que esse homem seja um Cristo.
Armando Silva Carvalho
[escritor]
[17]
JORGE BARROS
1.ECA_Dossier_JorgeBarros
8/17/10
12:14 PM
Page 18
[18]
[Miranda do Douro]
Geometria
Discretiva
vol. LIV ‘09
1.ECA_Dossier_JorgeBarros
8/23/10
2:07 PM
Page 19
APROXIMAÇÕES
[19]
JORGE BARROS
[São Sebastião, Terceira]
Pedra a pedra se exprime a geometria:
distantes triângulos rudes
apontando
mudos
ao céu e ao chão. Cada qual anuncia
um canto que percorre terra e mar. E quando
calam em todos os lados se pode ler a concreta poesia:
traçam pitágoras de suor dos escultores
dos xistos de Miranda e das lavas dos Açores
Vasco Pereira da Costa
[escritor]
1.ECA_Dossier_JorgeBarros
8/17/10
12:14 PM
Page 20
[20]
[Aveiro]
A religiosidade
(não) é sensual ou estreita
vol. LIV ‘09
1.ECA_Dossier_JorgeBarros
8/17/10
12:14 PM
Page 21
APROXIMAÇÕES
O mar moldou-lhes a alma. Terra do sal, uma.
Mas se o sal se estragar, com que se há-de salgar?
A outra é filha do fogo que se esventrou
e se concentrou em força negra,
modelada pelo cinzel de traço redondo.
Ficou esbelta, dimensionada a rasgar movimento.
[Porto Formoso, São Miguel]
Em Aveiro procuro o tempo que se esvai
como se um relógio de sol ali descesse,
a medir o peão que se agita, gracioso.
São cantos quase do nada,
como o enrugar de caracóis invisíveis,
solidificando apelos.
Em S. Miguel o azul foi tecido de fogo para sempre.
Escuto angústias que se entrelaçam
com barcos (en)calhados de futuro.
Aqui a ostentação não é pueril
nem a religiosidade é sensual ou estreita.
A devoção é sempre um grito de alma.
Aqui é da cor dos céus e do magma.
Manuel Vilas Boas
[jornalista]
[21]
JORGE BARROS
1.ECA_Dossier_JorgeBarros
8/17/10
12:14 PM
Page 22
As Casas
Tudo acontece nas casas, os ângulos, as janelas
caídas, os vidros, os estendais, o choro suspenso.
As telhas encadeiam-se num jogo apocalíptico,
no meio de um confronto de cores que distraem
o olhar dos humanos ao cair da noite.
[22]
Quando a mão do homem desce sobre o cimento,
a sua alma sobe pelos ramos das árvores criando
uma zona vertical. As nuvens tornam-se pequenas,
o sol diminui a sua própria beleza e o mundo
cobre-se de cal e de xisto como se fosse construído
pela primeira vez.
Trata-se de um teatro, de um cenário concebido
para um grande espectáculo, de um cofre repleto
de pequenas aberturas.
Os dramas desaparecem em escassos minutos.
As crianças e os velhos descansam na sombra.
Aparentemente não há aves, nem insectos.
Apenas paredes e uns muros que se desmoronam
aos poucos deixando à vista hortas minúsculas,
pedras e flores.
Tudo acontece nas casas quando elas se viram
para o céu seguindo o caminho das montanhas.
A sua respiração afugenta os animais selvagens
e traz o musgo e algumas plantas para servirem
de escudo às intempéries.
vol. LIV ‘09
[Piódão, Arganil]
1.ECA_Dossier_JorgeBarros
8/17/10
12:14 PM
Page 23
APROXIMAÇÕES
JORGE BARROS
É das casas que sai o fumo da lenha, que sai o pão
e o leite, como é do chão de terra que surge a água
e a areia. Os pés modelam as calçadas, as escadarias
infindas, as escassas varandas. Há uma harmonia
crepuscular, uma tensão súbita no modo como se
apanham os restos de comida.
[Corvo]
Tudo acontece ali como por encanto, como se
houvesse um castelo colado ao espaço entre colinas.
E uma espera, um desejo tranquilo, uma paixão de
sempre. Como se o mar andasse de um lado para o
outro a mostrar as casas, a ligá-las entre si, passando
por cima das grandes cidades.
Há um pedreiro no meio da construção. Há umas mãos
rugosas que refazem os materiais. E um prazer absoluto,
maior do que a morte. Um testemunho, uma dádiva, uma
antevisão da alegria. Uma rebeldia que não pára.
Jaime Rocha
[escritor]
[23]
À sua volta, o mar ou a floresta seguem o seu curso
de vida, deixando à solta os corvos e os lagartos.
Há barcos e pombais, há charruas e lojas. Os homens
dizem que é uma pintura, que houve ali um deus
qualquer que desenhou a paisagem ou que foi o
corpo de uma mulher que um dia se deitou naquele
lugar.
1.ECA_Dossier_JorgeBarros
8/17/10
12:14 PM
Page 24
Âncora
lançada,
âncora
levantada
[24]
Importa que o chão seja líquido ou sólido
doce ou salgado
de xisto ou de basalto
se nas suas entranhas
se ocultam ancestrais tesouros
secretos beijos de sangue
loucos apaixonados
fundeados
petrificados liquidificados
de príncipes e de princesas
a respirar suados e tostados
na pele branca do casario
bordejado por serpentes alvas e sábias?!
A alma dos Fenícios
navegadores homiziados sedutores
impregna a terra
e o seu espírito
evola-se por entre as nuvens.
vol. LIV ‘09
[Mértola]
1.ECA_Dossier_JorgeBarros
8/17/10
12:14 PM
Page 25
APROXIMAÇÕES
[25]
JORGE BARROS
[Angra do Heroísmo]
O tão poderoso Senhor dos Mares
estendia a sua salsa língua
Guadiana acima
até ao porto de abrigo
onde Serpínia
e o seu amor Políbio
rumo à Fenícia
levantaram âncora.
Mas como o amor vincit omnia
tão portentoso Senhor
não pôde impedir
uma bela princesa
de lançar âncora na baía de Angra
para sempre ficar
junto ao seu amado príncipe
feito Monte Brasil.
Maria Eduarda Rosa
[escritora]
1.ECA_Dossier_JorgeBarros
8/17/10
12:14 PM
Page 26
Penugens
[26]
A personalidade social destes meninos, assim como a das mães
que os ataviam, pensam que os fatos os transfiguram no
sentido de os tornar damas, cavaleiros e anjos, isto é, produtos
bons da cristandade. Que, vestidos para a corte celestial, se
elevam sobre as suas vidas medianas.
Porém, é outra a transfiguração. Pois, na verdade, a sua natureza foi chamada pela festa à superfície, resgatada das suas profunduras. O seu diálogo é com o chão que os prende. São aves
aterradas pelo seu peso. Não há aqui elevação, mas queda.
[Imperador. Penedo, Sintra]
Uma queda de belos animais macios e impiedosos, enjaulados
por um instante na fotografia, enjaulados para sempre nesses
ritos de domesticação.
Passam bem por crianças mascaradas, crianças melhoradas
para a função.
Mas, se os olharmos com cuidado, vemos pássaros enlaçados
na armadilha.
Hélia Correia
[escritora]
vol. LIV ‘09
1.ECA_Dossier_JorgeBarros
8/17/10
12:14 PM
Page 27
APROXIMAÇÕES
[27]
JORGE BARROS
[Mordoma. Silveira, Pico]
1.ECA_Dossier_JorgeBarros
8/17/10
12:14 PM
Page 28
Da espiga ao espírito
[28]
Milénios a fio, no rodar dos tempos, o Homem foi-se habituando ao temor e ao patrocínio de outras e outras divindades. E
porque os deuses são de natureza imortal, não me causaria o
mínimo espanto que a Divina Ceres dos Latinos (cujo nome
nitidamente se associa aos cereais), se dignasse receber as oferendas que, na sequência das colheitas, lhe parecem devidas.
Ainda que os rituais assumam os disfarces mais convenientes.
Na cristianíssima região de Tomar, estes festejos de júbilo acabariam por relacionar-se com o culto do Espírito Santo e, com
aqueles sinais de fraternidade que o franciscanismo semeou, passaram ao arquipélago Açoriano.
Tanto nas tradicionais Festas dos Tabuleiros Tomarenses, como
nos cortejos do Espírito Santo na ilha do Pico, as oferendas de
pão (no primeiro caso) e as de massa-doce (no segundo) são
transportadas à cabeça, em açafates. Em Tomar, apenas por
raparigas vestidas de branco. Na ilha do Pico, mulheres de
muito mais idade – e até homens – os podem transportar. Os
pães de Tomar erguem-se muito alto, formando várias colunas
entremeadas de flores, que uma coroa, com sua pomba simbólica, culmina. Na ilha do Pico, sendo os açafates geralmente
maiores, as rosquilhas de massa-doce tomam feição transbordante, igualmente enfeitadas de flores.
Norberto Ávila
[escritor]
vol. LIV ‘09
[Carregueiros, Tomar]
1.ECA_Dossier_JorgeBarros
8/17/10
12:15 PM
Page 29
APROXIMAÇÕES
[29]
JORGE BARROS
[Criação Velha, Pico]
1.ECA_Dossier_JorgeBarros
8/17/10
12:15 PM
Page 30
[30]
[Lousa, Fundão]
Flor de laranjeira
com alfenim
Bando de rolinhas soltas sobre a virgindade da vida, elas são o
deslumbramento de um tempo efémero e poroso. Têm, nos
olhos, o brilho encantatório da primavera, mas ninguém sabe
que nome dar ao seu florir futuro. Crescem sob o signo da
fragilidade, como se fossem musas à procura do poeta. São
bailarinas que coreografam a liberdade, transpondo os muros
num voo solene, pisando o chão sem errar os passos.
Cumprem-se os ritos com evocações aladas:
– Senhora dos Altos Céus – lugar que os ventos tempestuosos não ousam perturbar –, protegei as virgens em seu
ninho diáfano! Fazei que as suas grinaldas floresçam sobre
os penteados da ternura e o seu oiro as torne em noivas
púberes de amor!
vol. LIV ‘09
1.ECA_Dossier_JorgeBarros
8/17/10
12:15 PM
Page 31
APROXIMAÇÕES
[31]
JORGE BARROS
[Terra de Pão, Pico]
– Espírito Santo Divino – alva pomba de alfenim –, vesti as meninas com folhos de nuvem e concedei-lhes a graça do vosso
sorriso inocente. Fazei que a ilha lhes seja casa, altar, bandeira. Ámen!
O horizonte é a linha que o sonho traça sobre uma impressão de espaço. No fundo do fundo Fundão, apreende-se que o tempo é um
privilégio branco pousado nos ombros do entardecer. As virgens sabem como passar os dias, mas ignoram ainda a inquietação de o
serem e que feitiço as espera à esquina da sorte. Depois… depois, há mar e céu e há um aroma a sargaço e a cedro. As meninas vão
coroar-se de prata na sua terra do pão. O seu bodo será farto e doce.
Quando o sol emprestar à terra a sua face oculta, o bando de rolinhas recolhe ao seio do silêncio, adormecendo com o estalar sobre
a virgindade da vida efémera e porosa. A liberdade, porém, continua a abrir-lhes as portas da manhã… até ao dia da Senhora dos
Altos Céus; até ao ciclo do Espírito Santo Divino.
Álamo Oliveira
[escritor]
1.ECA_Dossier_JorgeBarros
8/17/10
12:15 PM
Page 32
A música/a banda
Começa assim um dos poemas mais conhecidos desse tão especial poeta que foi Manuel da Fonseca, “Mataram a tuna!”: “Nos
domingos antigos do bibe e pião / saía a Tuna do Zé Jacinto / tangendo violas e bandolins / tocando a marcha Almadanim”; e o
poema prossegue em tom épico, bravio mas lamentoso dos
dias, dos mundos perdidos, “manhãs submersas” no cinzento
do devir tornado burocrata e embrutecido pela força das coisas
reais, cuja função é devorar esses haustos primordiais/matinais
que trazem no seu seio o segredo que faz do homem um
“outro” homem – o poeta.
[32]
O que atrás fica dito podia – e pode – transportar-me àquele
tempo de infância – da minha infância – em que, naqueles domingos ou dias santos, dias de festa, lá bem fundo dos anos 40
até meados de 50, irrompia pelas ruas da aldeia a banda filarmónica que se deslocava de alguma das terras vizinhas – Vestiaria,
Cela, Valado dos Frades, a mais distante Turquel – para vir
“abrilhantar” (assim se dizia e escrevia) as festas de São Gregório Magno, da Senhora da Missão, ou o Círio de Santa Susana,
que se deslocava do Bárrio ao Landal, com o respectivo regresso, composto por carros de bois “armados”, lindamente engalanados pelos respectivos donos e famílias neles viajantes, cortejo
encabeçado pelos juízes festeiros, a cavalo e com a bandeira da
santa protectora dos animais, mais o inevitável fogueteiro,
seguidos da filarmónica.
Eram dias de euforia, de sobressalto ou de angústia (… ai, se
chovia…), esses dias tão ansiados. Dias de seguir a banda, absorvendo, para além do ritual e da forma, fardas, gestos, desenho
dos instrumentos, todos aqueles sons preciosos; nunca se ouvia
música na aldeia, pois rádio, electricidade, não havia até 1954, ou
por aí… E todo o meu ávido ser se esforçava por fixar os sons
versáteis dos saxofones – os que mais me encantavam –, as
melodias luminosas dos trompetes e dos cornetins, os cantos e
contracantos de trombones e trompas, o recheio fundamental
vol. LIV ‘09
[Marrazes, Leiria]
1.ECA_Dossier_JorgeBarros
8/17/10
12:15 PM
Page 33
APROXIMAÇÕES
JORGE BARROS
Esses preciosos, e de sabor a pouco, dias do ano eram, sim, de
festa, mas não de brincadeira. Após as marchas graves e os hinos
das procissões, as tardes eram de banda no coreto, ali, frente à
Capela de São Gregório, a cujas grades de ferro forjado fincava
as mãos, atento a tudo e sofrendo apenas aquando das pausas
em que os músicos descansavam ou se ausentavam para irem à
taberna mais próxima “molhar a pragana”. E não seriam as
“bailarinas” de tinto ou de branco que os levariam a desatinar
com a música. Talvez o ânimo redobrasse a seguir, talvez o fôlego mais se insuflasse… Passados, muitos, muitos anos, quantos
dos grandes gigantes do Jazz não (ou)vi tocar como só eles o sabem, “incendiados” pelo calor dos álcoois… Dizzie Gillespie,
Dexter Gordon e esse genial Paul Gonsalves da espantosa Orquestra de Duke Ellington que (segundo uma crónica de então,
1973), em pleno Pavilhão de Cascais, clamava por “aguardiente”,
enquanto saía do palco, para se enlouquecer e enlouquecer o
público com o qual se misturava soprando dionisiacamente o seu
saxofone tenor de som sinuoso, torrencial…
[Horta, Faial]
E foi também passados muitos, muitos anos, que aconteceu
apaixonar-me pela música de Gustav Mahler, que na sua totalidade transcendental encaixa, não raras vezes, em várias das suas
sinfonias, momentos de (aparente) trivialidade e prosaísmo, na
citação/reminiscência do som longínquo das fanfarras e das
bandas militares da sua infância.
Por essas aldeias, vilas, cidades, sempre as bandas filarmónicas
foram “lugares” de sólida formação cultural, cívica, humana,
ponto de partida para tantos e tantos que vieram a enriquecer
as fileiras de outros “lugares” – orquestras sinfónicas, grupos de
câmara, formações de Jazz –, todos cintilando, todos irmanando-se na Grande Galáxia da Música.
Levi Condinho
[ouvinte de música]
[33]
dos clarinetes tão ricos nas suas tessituras entre o grave sensual
e o escorregadio dos agudos, o trilar da requinta, a generosidade
simples da marcação/contratempo dos bombardinos, o suporte
poderoso e básico das tubas (contrabaixos), os martelares esfuziantes de pratos, pandeiretas e bombos… De fagotes e oboés
só bastante mais tarde – e isso daria matéria para outras escritas
– tive conhecimento…
1.ECA_Dossier_JorgeBarros
8/17/10
12:15 PM
Page 34
[34]
[Capelinhos, Faial]
Travessia
Das pedras da serra às pedras do vulcão
– o gesto decidido de quem sabe
aonde quer chegar.
Não importam os lobos.
Não importa a lava.
vol. LIV ‘09
1.ECA_Dossier_JorgeBarros
8/17/10
12:15 PM
Page 35
APROXIMAÇÕES
[35]
JORGE BARROS
[Lazarim, Lamego]
Um dia hão-de encontrar-se
– no meio do sonho,
que é o único lugar
que vale a pena conquistar.
Alice Vieira
[escritora]
1.ECA_Dossier_JorgeBarros
8/17/10
12:15 PM
[36]
vol. LIV ‘09
Page 36
1.ECA_Dossier_JorgeBarros
8/17/10
12:15 PM
Page 37
APROXIMAÇÕES
JORGE BARROS
JORGE BARROS
Capelinhos, Faial
Jorge Barros
Nasceu em Alcobaça em 1944.
Sobre os Açores
Um Olhar Português, João de Melo e outros autores (Círculo de Leitores,
1991).
Corvo, a Ilha da Sabedoria, Fernando Dacosta (ed. Etér, 1996).
O Príncipe dos Açores, Fernando Dacosta (ed. do autor, 1996).
Viagens na nossa Terra, (região dos Açores) AAVV (Selecções Reader’s
Digest, 1997).
Notas do Corvo, Padre Lourenço Jorge (ed. do autor/Câmara Municipal
do Corvo, 2001).
Co-responsável pelos Encontros de Fotografia no Mosteiro de
Alcobaça, com a exposição “As Pedras e as Gentes” (1980), apresentou
no I Encontro de Defesa do Património, em Braga (1981), uma
comunicação sobre a importância da preservação da fotografia com a
criação de um museu nacional.
Assessor técnico, em 1983, da XVII Exposição de Arte, Ciência e
Cultura – “Os Descobrimentos Portugueses e a Europa do Renascimento”, do Conselho da Europa.
Na televisão foi produtor executivo de “Camões Esse Emigrante”, da
série Histórias de Cidades, de José Hermano de Saraiva e colaborador da
série Os Descobrimentos Portugueses (1983).
Recebeu, entre outras distinções, o prémio “Ilustração” da Bienal
Internacional de Arte de Vila Nova de Cerveira – Design Gráfico 88.
Vitorino Nemésio – Sem Limite de Idade, António Valdemar (CTT, 2002).
Festas e Tradições (8 volumes - volume III e IV), Soledade Martinho da
Costa (Círculo de Leitores, 2002/2003).
Escrito no Mar – Livro dos Açores, poemas de Manuel Alegre (Sextante
Editora, 2008).
Emissões de selos: as séries “Angra do Heroísmo – Património Mundial”
(2001) e “Património dos Açores” (2003) com Acácio Santos.
Como colaborador fotográfico da revista de bordo ATLANTIS/TAP
diversas reportagens de 1982 a 2007.
Na televisão como produtor executivo da série Histórias de Cidades, de
José Hermano de Saraiva, o programa Angra do Heroísmo (1986).
Exposição itinerante inter-ilhas e continente americano: “Solenidades
dos Açores”, DRAC (1990).
Exposição itinerante Aproximações, IAC (2009).
Outras participações
Sócio fundador da cooperativa de cinema VIRVER (1975), trabalhou
como assistente de realização do filme Bom Povo Português, de Rui
Simões e colaborou em A Confederação, de Luís Galvão Teles e no
documentário Rossio, de Fernando Lopes.
Entre 1993/94 colaborou com Henrique Cayatte nas publicações de
apresentação da EXPO’98 e criou a exposição de fotografia itinerante
sobre a zona de intervenção para apresentação do símbolo e logótipo.
Catálogo de animação de rua da EXPO’98 com intervenção dos
Olharapos (1998).
Além de diversas exposições individuais e representações em exposições colectivas organizadas em vários países, salientando Liens de Famille
no Museu de Artes e Tradições Populares em Paris (1991).
Ilustrações de capas de livros e gravações musicais.
De entre as emissões de selos em que participou, destaca-se «Pelourinhos de Portugal» com Luiz Duran (2001).
Colaborou com os grupos de teatro A Comuna, A Barraca e o Bando.
Colaborador fotográfico da revista de bordo ATLANTIS/TAP de 1982 a
2007 e de jornais e outras revistas – nomeadamente JL, Público, Diário de
Notícias, Expresso, Dirigir, Formar e Tempos Livres, Egoísta, Voz de Alcobaça
entre outras.
Convidado pelo CENJOR deu formação sobre fotojornalismo de 1995 a
1997.
Membro da Direcção da Sociedade Portuguesa de Autores de 2003 –
2006.
[37]
curriculum
1.ECA_Dossier_JorgeBarros
8/17/10
12:15 PM
Page 38
Co-autor dos seguintes livros
Portugal e os seus Cavalos com Jorge Mathias e Carlos Gil (ed. António
Ramos 1980);
À Descoberta de Portugal, AAVV (Selecções Reader’s Digest 1982);
Portugal e o Mar, Rui Rasquilho (Círculo de Leitores em português e
inglês, 1983; em checo, 2000);
O Tempo e a Alma, José Hermano Saraiva (Círculo de Leitores, 1986);
Portugal de A a Z, AAVV (Circulo de Leitores, 1987);
O Comum da Terra, Eugénio de Andrade (ed. ASA, 1992);
Fátima – Lugar da Profecia, Manuel Vilas Boas (Círculo de Leitores,
1993); Portugal o Mediterrâneo e o Atlântico, Orlando Ribeiro (ed. João
Sá da Costa, 1993);
Portugal em Selos, com textos de Miguel Torga (CTT, 1996);
Cartas de Amor Saudação e Sedução, Fernando Dacosta (CTT, 1997);
A Escrita do Mar, Fernando Dacosta (CTT, 1998);
Portugal – O último descobrimento, Helena Vaz da Silva (ed. Valor,
1987); Navegadores, Viajantes e Aventureiros Portugueses, Luís de
Albuquerque (Circulo de Leitores 1987; ed. Caminho, 1989);
A Memória das Cidades, José Hermano Saraiva (CTT, 1999);
Portugal em Conversa de Génios, Francisco Hipólito Raposo (CTT, 1988);
Monumento à Paz – Escultura de José Aurélio (ed. Câmara Municipal de
Almada, 2001);
Mensagem, Fernando Pessoa, (ed. ASA, em línguas latinas, 1988; em
línguas eslavas e cantonês, 1990);
Portugal em Selos, (CTT, 2001);
Mineiros, Fernando Dacosta e João Machado (ed. do autor, 2001);
Viagens no Oriente, Carmo Reis (ed. ASA, 1990);
Gestos e Sinais, catálogo da obra de José Aurélio (ed. Magno, 2001);
Campo Maior – Festas do Povo, Armando Silva Carvalho (ed. do autor,
1990);
Arquitectura Popular Portuguesa, Martins Barata (CTT, 1990);
[38]
Crónica dos Descobrimentos, Antologia de Carmo Reis com aguarelas de
Júlio Resende (ed. ASA, 1991);
Um Olhar Português, Regina Louro, Francisco José Viegas, Mário Cláudio,
Fernando Dacosta, Eugénio de Andrade, Fernando Assis Pacheco, Hélia
Correia, José Cardoso Pires, Mário Ventura, Al Berto, Lídia Jorge, Viale
Moutinho e João de Melo (Círculo de Leitores, 1991);
Touros em Portugal, Fernando Teixeira (CTT, 1992);
vol. LIV ‘09
Aldeias Históricas de Portugal (CTT, 2002);
Patrimónios Mundiais com selo Português, texto de Jorge Martins (CTT,
2002);
Festas e Tradições (8 volumes), Soledade Martinho da Costa (Círculo de
Leitores, 2002/2003);
Lugares Mágicos de Portugal, Paulo Pereira (Círculo de Leitores, 2004/2005);
Sob a Terra – Fernando Dacosta e João Machado (ed. do autor, 2008);
A Serra e a Cidade – Maria Beatriz Rocha-Trindade (ed. Âncora, 2009).
2.ECA_SolarSJoaq_MGoulart
8/17/10
10:24 AM
Page 39
ESTUDOS E CRIAÇÃO ARTÍSTICA
Solar de São Joaquim:
Ponta Delgada, São Miguel,
Açores
Proteger o Património:
inventariar e classificar bens
- um caso açoriano LAPTOP e a defenestração
do imaginário musical
As cisternas do Monte do Brasil
– contributo das fontes
contabilísticas para a sua história
INSTITUTO AÇORIANO DE CULTURA
2.ECA_SolarSJoaq_MGoulart
8/17/10
ESTUDOS E CRIAÇÃO ARTÍSTICA
JORGE BARROS
Fajã dos Cubres, São Jorge /
Serra da Estrela, Gouveia
10:24 AM
Page 40
2.ECA_SolarSJoaq_MGoulart
8/17/10
10:24 AM
Page 41
Rui Miguel Goulart de Almeida
SOLAR DE
SÃO JOAQUIM
O Solar de São Joaquim,
localizado na actual Rua
de São Joaquim, n.º10-16,
ao lado do cemitério principal da urbe micaelense,
que vai pelo mesmo nome, situa-se hoje em zona plenamente
urbana da cidade de Ponta Delgada,
outrora campo verdejante.
Na altura da construção do chamado Solar de São Joaquim, a
cidade de Ponta Delgada, sempre crescente no seu desenvolvimento, mostrando já nos finais do século XV sinais de grandes
potencialidades, era uma pequena localidade de estrutura urbana inicialmente alongada segundo a linha da costa, depois, já
em meados de quinhentos deslocava-se para norte, em lote
perpendicular à primitiva planimetria.
Ponta Delgada é elevada a vila já no início da ocupação da ilha
de São Miguel (primeira metade do século XV, depois de 1439,
data da carta régia de D. Afonso V que concedia licença a seu
tio, o Infante D. Henrique, para proceder à ocupação da ilha),
o que acontece em 1499 por D. Manuel I, resultando no
desmembramento do município de Vila Franca do Campo, que
quer o aumento da população da nova vila quer a sua situação
privilegiada em relação à anterior no que se refere ao seu porto
bem abrigado, quer a sua grande actividade agrícola e comercial, justificaram o seu novo estatuto.
Quarenta e sete anos
depois, em 1546, Ponta
Delgada ascende a cidade
pela mão de D. João III.
Estatuto esse novamente
justificado, em particular, pelo
aumento da sua população e crescente actividade económica. A instalação da alfândega da ilha de São Miguel em
Ponta Delgada e não em Vila Franca do Campo em 1518 e por
fim, o terramoto da madrugada de 1522 que arrasou por
completo a primeira cabeça da ilha, e que vitimou mais de
metade da sua população, determinou o rumo, oposto, de cada
uma das localidades. Nessa altura a nova cidade já possuía
população em número semelhante a outras congéneres do
reino (contava Gaspar Frutuoso, em finais do século XVI, 1564
fogos, 5475 almas de confissão e 4236 de comunhão), entre
outras, Santarém, Beja, Elvas, Coimbra, Lagos, Portalegre e
Setúbal. Apenas Lisboa, Évora e Porto tinham população em
número superior.
Ponta Delgada, em finais do século XVI e XVII consolidava o
território que ocupava e que traçara: o núcleo composto pelo
Convento de Santo André (1567), as casas do Capitão
Donatário, e acima de tudo, o Colégio dos Jesuítas (1590) formavam, entre algum casario anónimo, o último reduto do Norte
da cidade, à excepção do Recolhimento de Sant’ Ana (inícios do
séc. XVI) e respectiva rua que a ele liga, a mais perpendicular de
[41]
PONTA DELGADA
SÃO MIGUEL, AÇORES
2.ECA_SolarSJoaq_MGoulart
8/17/10
10:24 AM
Solar de São Joaquim. Cerca de 1880.
Page 42
Solar de São Joaquim. Cerca de 1930.
[42]
todas da altura, que se estendia à Matriz (construída entre 1530
e 1545) e seu Largo, através da Rua Direita de Sant’ Ana até à
então Rua do Frade (actual Rua Hintze Ribeiro).
As cartas executadas nos inícios do século XIX, em particular a
de 1814 da autoria de José Therezio Michelotti, Tenente Coronel d’Engenheiro, ou a carta de 1831 de António Ferreira Garcia de Andrade, ainda demonstram uma Ponta Delgada
pequena e estendendo-se predominantemente para Nascente
e Poente, deixando o Solar de São Joaquim isolado e ancorado
numa paisagem campestre e rural.
O Solar de São Joaquim surge, assim, a Poente e na mesma via
que o Recolhimento de Sant’ Ana, afastado da zona urbana da
cidade de Ponta Delgada em local então chamado Pinheiros,
nome esse que nos sugere, com expressividade, o contexto de
que falamos.
Casa de residência fixa, que a sua dimensão, volumetria e espacialidade, e que a linha de doações, quase exclusivamente dentro
da mesma família, confirmam. A composição unitária da fachada
principal, de muito interesse, resultou de uma construção que
trespassou quase dois séculos, terminando, curiosamente, numa
imagem completa e de traça simétrica e equilibrada, provavelmente segundo um projecto, cuja existência desconhecemos.
vol. LIV ‘09
Curiosamente, a sua fachada principal pouco ou nada informa
relativamente à complexidade espacial que reside atrás dela.
Possui essa fachada cerca de 49 metros de comprimento, 6
metros de altura (corpo franco) e 9.60 metros de altura nos
torreões laterais (um em cada extremo). O corpo central, da
antiga ermida, até à ponta da cruz, mede 12 metros de altura.
Portanto, um emparamento de apreciáveis dimensões.
É esta a única fachada que possui simetria, ou pelo menos que
se aproxima desse tema composicional clássico. As restantes
avançam e recuam consoante a necessidade de um programa
cuja lógica interior prevalece e se altera ao longo do tempo.
Dois pisos perfazem o seu corpo franco, virado a Sul, que se estende entre dois torreões, perfazendo um terceiro nível, de
telhado de quatro águas, tendo a seu centro o corpo da antiga ermida, de igual altura dos torreões (até ao friso, que antecede o único frontão da casa) de duas águas dispostas perpendiculares à dita
fachada, escondidas por de trás do frontão de volutas quebradas.
Cada parte da fachada principal que se desenvolve entre os
torreões (incluindo os paramentos dos mesmos e excluindo o
corpo central) conta com cinco vãos no piso superior e seis no
térreo. Os vãos superiores, todos portas de duas folhas e com
varandas, assumem um ritmo regular mas desfasado dos do
2.ECA_SolarSJoaq_MGoulart
8/17/10
10:24 AM
Page 43
SOLAR DE
SÃO JOAQUIM
[43]
PONTA DELGADA
SÃO MIGUEL, AÇORES
Planta do Solar de São Joaquim, 1939.
2.ECA_SolarSJoaq_MGoulart
8/17/10
10:24 AM
Page 44
rés-do-chão, estes com lógica própria de distribuição, com
critério diferente, de menor cuidado em relação aos do piso
nobre, e de carácter funcional mais vincado. No piso de
entrada, existem dois portais, de duas folhas, em posição
central em cada corpo lateral (entre torreões e corpo da
ermida, excluindo-os), duas janelas entre eles e o corpo
central, e outras duas e uma porta simples em cada extremo.
O tratamento decorativo é de grande simplicidade, mas digno
e de gosto algo apurado. O único friso que existe está colocado
imediatamente abaixo do beiral, e que se estende além dele,
[44]
Solar de São Joaquim.
Corpo da Capela.
vol. LIV ‘09
perfazendo a única divisão de piso (ou melhor de pisos) em
toda a fachada, visto apenas separar todo o corpo franco dos
torreões. Embasamento de notável simplicidade, resumindo-se
à sua função dupla de, por um lado, “iniciar” o edifício, e, por
outro lado, servir de chaparia. Deste, apenas saem duas
pilastras de altura inteira do edifício (com bases sobrepostas ao
embasamento) e que corresponde ao mencionado corpo
central da antiga capela. As restantes, reportando aos dois portais e porta do piso térreo. Todos os vãos deste piso do rés-do-chão têm cantarias rectilíneas e finas. Os vãos superiores,
incluindo os dos torreões, por sua vez, e porque pertencem ao
2.ECA_SolarSJoaq_MGoulart
8/17/10
10:24 AM
Page 45
SOLAR DE
SÃO JOAQUIM
PONTA DELGADA
SÃO MIGUEL, AÇORES
No cimo um frontão, composto por duas volutas quebradas,
ladeadas por pináculos, um em cada lado. Ao centro e no topo
da junção das volutas, uma cruz simples atestando, sem sombra
de dúvida, a existência de espaço sagrado, neste caso, ermida.
Como anteriormente mencionado, um telhado de duas águas
capeia este corpo, escondido por de trás do frontão.
Um pouco mais baixa do que devia, a fachada principal demonstra pouco “fôlego” para os vãos projectados, no entanto,
toda a fachada possui graciosidade e harmonia que lhe atribui
beleza e encanto.
O seu interior, no entanto, atesta outro comportamento. Além
das fases de construção que adiante trataremos, verificáveis nos
únicos levantamentos arquitectónicos existentes, um de
recente feitura e completo (plantas, cortes e alçados) e outro
de data de 15 de Fevereiro de 1939, este, mandado executar
pelo seu então proprietário, Guilherme Fisher Berquó de
Aguiar, bisavô do actual dono do Solar.
Por curiosidade, aqui abrimos um entre-parêntesis, para
apresentar o que para o actual proprietário é a razão da feitura
do levantamento de 1939, que apenas possui um rosto e as
plantas do Solar. Ao que nos foi contado, e disto não possuímos
quaisquer provas, esse levantamento foi mandado executar
para ser vendido. Quem estaria interessado em tal aquisição e
para que fins? Nem se sabe se uma sequer cópia foi de facto
alienada. De que se saiba, nenhum aumento do Solar estava
previsto que pudesse atribuir outra justificação para o
aparecimento deste levantamento.
As diferenças entre estes dois levantamentos não são muitas,
nem no espaço nem na volumetria, sendo que as alterações ao
Solar pautaram-se por pequenas modificações nas divisões internas e alguns volumes de escadas de importância menor, que se
viram retiradas ou alteradas de posição. O pátio sofreu maiores,
mas insignificantes, remodelações. Hoje, encontrando-se
totalmente empedrado em paralelepípedos de basalto, em 1939
estava subdividido em três partes com passagens a seu Norte
que ligava às alas laterais. O sector no centro era em empedrado
(não sabemos que tipo de material ou se possuía algum desenho), a parte Poente era acimentada e a parte Nascente, jardim.
No que se refere ao programa funcional do Solar no ano de
1939, pouco se sabe para além das cozinhas e casas de banho,
que são os únicos compartimentos que nesse levantamento
possuem legendagem. Pelas suas funções tão específicas, tal
menção expressa seria, contudo, desnecessária, a não ser que
o seu objectivo seria a própria introdução desses espaços. Todo
o resto terá que ser deduzido através de uma leitura planimétrica cruzada com o que se conhece dos programas funcionais
deste tipo de arquitectura e da altura da construção deste Solar.
O início da construção do Solar de São Joaquim é por nós
desconhecido. Um historiador local, já falecido, de nome Hugo
Moreira, em estudo geneológico, efectuado em Dezembro de
1984, referente à família que deteve este Solar ao longo do seu
tempo, estimava, em memória, que se colocava nos finais do
século XVII, segundo ele, “dadas as características arquitectónicas”. Esta data, contudo, não nos parece aceitável. Em 1668,
a 14 de Abril, é aberto testamento de D. Catarina Correia
Botelho ou de Távora, por morte desta, testamento feito em
17 e aprovado a 31 do mês de Dezembro de 1665, quase três
anos antes de seu falecimento. Por ser solteira, seu sobrinho, o
licenciado António Pereira Botelho, filho de sua única irmã, D.
Maria Correia Botelho (1586-1666) e de seu cunhado, o licen-
[45]
piso nobre, possuem tratamento diferenciado e para melhor,
com cantarias rectilíneas com friso simples em cada topo de
vão e varandas, agora de gradeamento de ferro pintado nas
varandas (possivelmente de madeira em épocas anteriores). A
grande excepção surge no corpo central. Sem qualquer divisão
de piso. Este corpo assume uma verticalidade de marcado
contraste com o restante corpo da fachada, de horizontalidade
absoluta. Do embasamento até ao frontão, três vãos são
colocados no seu eixo central. Porta em baixo (acesso à antiga
ermida) seguindo-se de uma porta com varanda, no segundo
piso (o nobre) e separado destes e no seu topo, uma janela de
cantaria mais rica em relação às anteriores, onde, junto do
parapeito, uma concha é colocada com a data de 1787. Data
essa que se estima reportar à conclusão das construções
francas do Solar de São Joaquim. Estes três vãos são os únicos
que apresentam um tratamento dos seus topos diferente dos
restantes, ou seja, curvados.
2.ECA_SolarSJoaq_MGoulart
8/17/10
10:24 AM
Page 46
Solar de São Joaquim. Fachada principal. Vista Nascente.
[46]
ciado Rui Pereira do Amaral (1588-1667), ambos extintos
aquando do falecimento da doadora, recebe todos os seus
haveres terrenos.
Os bens eram muitos, incluindo o Solar de São Joaquim, onde
D. Catarina Correia Botelho vivia, e dos abundantes bens vinculados em morgadio. Atrelava, no entanto, condições em nada
vagas para seu novo detentor cumprir, escrupulosamente.
Além do uso obrigatório do apelido Botelho, a sua instituidora
impôs o seguinte: “se cometessem algum crime de lesa-majestade divina ou humana ou outro qualquer acto de oprobrioso
pelo qual os bens tivessem de ser confiscados, os passassem ao
herdeiro seguinte, vinte dias antes da prática do desacato que
justificasse a aplicação da lei (Hugo Moreira, 1984)”.
O que importa desta descrição é o facto do Solar não poder ter
sido construído nos finais do século XVII se a sua detentora o
tinha doado antes disso, ou seja, na sua morte em 1668, portanto meados desse mesmo século. Não temos documentos
para afirmar que a casa era outra da que se trata, tudo indica
que a casa herdada por António Pereira Botelho era o Solar de
São Joaquim. Assim sendo a data do início deste Solar terá que
recuar para algures nos inícios do século XVII ou mesmo
vol. LIV ‘09
Solar de São Joaquim. Hall principal.
anterior. Outro facto poderá fazer luz sobre o assunto. D.
Catarina Botelho era, como já dito, solteira, e sendo solteira
provavelmente tão grande casa não necessitava, ou sequer teria
a iniciativa de construir. Se essa conjectura possuir fundamento
então esta casa seria iniciada não por si mas sim por seu pai,
António Botelho Ribeiro, natural da Beira Baixa, escrivão da
Câmara Municipal de Ponta Delgada.
Em estudo recente, também sobre genealogia, da autoria do Dr.
Jorge Forjaz, emerge um documento que corrobora a nossa
opinião. A três de Setembro de 1785 “…arrendou também a sua
Casa de S. Joaquim, em Ponta Delgada, a Bernardo Gomes por
escritura lavrada no tabelião Francisco Botelho de Sampaio. Aí se
diz que é administrador do vínculo instituído por D. Catarina
Botelho, que compreende 7 alqueires de terra no Papa-Terra,
nos quais «estão edificadas umas casas altas sobradadas (dois
pisos) com sua Ermida de S. Joaquim numa quinta murada de
árvores de espinho que seu pai havia edificado»”1.
1 Jorge Forjaz, Genealogias da Ilha da Terceira, 2007, p. 70.
2.ECA_SolarSJoaq_MGoulart
8/17/10
10:24 AM
Page 47
SOLAR DE
SÃO JOAQUIM
PONTA DELGADA
SÃO MIGUEL, AÇORES
Tudo isto, contudo, não nos capacita para descrever quer em
planimetria quer em funções exactas qual a extensão, em profundidade ou configuração, da construção que entre o torreão
primeiro, Poente, e a ermida, agora a seu centro, existia.
Utilizando o levantamento de 1939 como base, e através de
uma leitura das paredes-mestras, algo falível, poderíamos
arriscar alguma geometria planimétrica e a atribuição de
algumas funções, isto cruzado com conhecimentos das
tipologias de residências nobres da altura. No entanto, trata-se
de um exercício de grande risco, perante a falta de documentos
quer escritos quer desenhados que o provem. Assim sendo,
podemos apenas afirmar que no rés-do-chão, provavelmente,
à semelhança de muitas outras residências portuguesas nobres
da sua altura, o Solar de São Joaquim possuía lojas para guardar
vários tipos de géneros, produzidos ou não na extensa
propriedade do Solar. Sendo que estas casas tinham uma rígida
separação entre espaços servidos e de serviço, o piso nobre,
por tradição clássica, surge, neste caso, no piso 2, o último,
sendo que nele estariam as salas quer de receber quer de jantar
(a primeira na fachada Poente e junto da cozinha e a outra ao
pé do quintal, no enfiamento da ermida), além dos quartos de
cama e cozinha. O rés-do-chão, no levantamento de 1939,
apresenta um uso já diferente do seu início, ou seja, demonstra
divisão em dois apartamentos completados com cozinha e
casas de banho, provavelmente para aluguer a terceiros. Nele
está a entrada para o piso superior, directamente da rua.
Quer a posição e configuração da sala de estar, no posterior
lateral esquerda (Poente), de rica volumetria e cantaria, além
do seu belo balcão abalaustrado em basalto, quer uma escada
posicionada no pátio, actual escada de acesso interno à parte da
residência do actual proprietário, atestam, possivelmente esta
provável fase e sua configuração.
A família, através de João Manuel do Rego Botelho, obteve
Brazão de Armas dos Regos, Botelho, Bettencourt e Corte Real
por Carta Régia de 21 de Junho de 1783, algo que apenas atesta
a qualidade da família que prestava contas nestas propriedades
de tão antiga estrutura na ilha.
Foi nesta época, ao aceitar a data que se encontra na concha no
corpo central do Solar, entre a janela de sacada, que diz S.M.
JOAQUIM 1787, que o Solar teve seu término, pelo menos no
que se refere à conclusão da parte Nascente, que prefigura a
actual e completa fachada principal, simétrica, como já dissemos.
Toda a ala direita, Nascente, deverá, então, ter sido construída
por volta de meados do século XVIII, até quase ao seu término,
ou seja, 1787. Mesmo assim, tal como na primitiva e primeira
ala esquerda, Poente, não sabemos quantas e quais as fases
intermédias, caso tenham existido. Ao julgar pelo estilo das
cantarias patentes no pátio, quer as do alçado Norte quer as do
alçado Sul, sugerem diferenças. Diferenças essas já enunciadas
mais ou menos a metade da fachada Poente deste pátio, onde
a porta do piso térreo se mostra mais antiga e diferenciada quer
do vão acima de si (primeiro andar) quer os adjacentes. A nível
planimétrico parece haver cisão, ou diferenças de interligações
internas, bem como volumétricas. Podemos estar perante duas
fases? O alçado Nascente do Solar sugere essa possibilidade.
Existe, contudo, uma pequena fonte de parede no alçado Norte do dito pátio que apresenta estilo mais recuado, que poderá,
quanto a nós, tratar-se de uma colocação posterior. O estilo das
pequenas volutas são, no entanto, e curiosamente, do mesmo
estilo das do frontão do corpo central do Solar, o da ermida.
[47]
Mesmo assim, continua vaga a data do início da obra até à data
da construção da ermida, que se estima constituir a primeira
fase de construção do Solar de São Joaquim. Há já algum tempo
profanada ermida particular deste Solar deverá ter sido
construída por volta de 1750, pois em 7 de Junho de 1751 “...o
bispo de Angra, D. Frei Valério do Sacramento, concedia
autorização para “se erigir altar na hermida de são Joaquim...”
(Nestor de Sousa, 1986). Em 31 de Agosto de 1753, foi ela
dotada pelo padre Manuel Raposo do Canto, irmão do então
proprietário, o Capitão António Francisco do Rego Botelho e
Faria, que em 15 de Junho de 1755, ano do terramoto que
assolou Lisboa, casou na sua capela, então acabada, sua filha D.
Maria Luiza do Canto Rego Botelho Corte Real com o morgado
João Soares de Sousa Ferreira Borges de Medeiros. Datas essas
confirmadas por Hugo Moreira (1984) e Nestor de Sousa (“A
Arquitectura Religiosa de Ponta Delgada nos Séculos XVI A
XVII”, Universidade dos Açores, 1986, página 242).
2.ECA_SolarSJoaq_MGoulart
8/17/10
10:24 AM
Page 48
Solar de São Joaquim. Pátio.
Solar de São Joaquim. Fachada posterior
[48]
A fachada posterior do Solar é a que apresenta as maiores reservas, porquanto à sua volumetria, além de muito alterada em
tempos recentes, não apresenta, nem sequer tenta, equilibrar-se com a mais antiga, onde está a excelente fachada da sala de
estar. Esta surge muito pobre e desarticulada, de cantarias muito simples e rectilíneas, de corte e material mais recente.
ros. Contrariamente a isto, o piso nobre desta ala apresentava
ligações internas sugerindo prolongamento da vida da família.
Existe, contudo mais dois fornos de cozinha neste piso superior, um junto das dependências adjacentes à fachada principal
e outro no posterior, com acesso para o então pátio ajardinado
por escadas estreitas e alpendradas.
Se assim for, o Solar possui então mais duas fases até o seu
término geral. Em que datas e com que programas funcionais,
não sabemos. Toda esta parte, habitada pelo seu actual
proprietário, Dr. Francisco Pacheco Rêgo Costa, tem sido
alterada ao longo de sua vigência. A actual porta de acesso ao
piso superior, residência do mesmo, faz-se pelo portal lateral
direito, tendo até há pouco tempo a ala esquerda, a mais antiga,
sido habitada por inquilino, atestando um mau estado de
conservação dessa ala e explicando a razão pela qual o seu
actual proprietário ocupa apenas a parte mais pequena da ala
Nascente, corpo da ermida antiga e sala à sua esquerda.
Segundo fotografia, de outra fotografia, em posse do actual
proprietário, que se estima ser dos finais do século XIX ou
inícios de XX, um cenário interessante está nela sugerido. Além
de um contexto ainda de localização de rua perfeitamente
campestre (rural) nas janelas do piso superior e na ala esquerda,
estão, na quarta e terceira, a contar da esquerda para a direita,
algumas mulheres. A mais visível tem um menino ou menina ao
colo. Não se trata de pessoa nobre. Não estaria certamente
pessoas dessa condição social à janela com criança ao colo. Será
a ama de criança da senhora da casa? Ou será simplesmente
pessoa de condição social mais baixa que de facto mora nesta
ala da casa, alugando-a? Se assim for, onde será que mora a
família proprietária do Solar? Não nos vamos alongar com as
possíveis interrogações que esta fotografia traz, no entanto, é
certamente curioso saber-se que tipo de uso estava este Solar
votado nesta altura.
Novamente no rés-do-chão, e segundo o levantamento de
1939, é sugerido uma divisão de usos entre este e o piso superior. Este provavelmente e uma vez mais como apartamento
independente da restante casa de forma a ser alugado a terceivol. LIV ‘09
2.ECA_SolarSJoaq_MGoulart
8/17/10
10:24 AM
Page 49
SOLAR DE
SÃO JOAQUIM
[49]
PONTA DELGADA
SÃO MIGUEL, AÇORES
Solar de São Joaquim. Alçados de 2002.
O facto é que este Solar em finais de setecentos, e mesmo
antes do seu suposto término em 1787, mais especificamente
em 1785, passaria, a partir desta data, a ser sempre alugado,
tendo o seu último inquilino proprietário, João Manuel do Rego
Botelho de Faria Corte-Real da Silveira (1732-1800), que
passou a viver em Angra do Heroísmo.
Quase a meados de oitocentos, a então denominada Casa de São
Joaquim vai parar, por arrendamento, às mãos do ilustre
micaelense José Jácome Correia, que passou a viver nela a partir
de 1841, e que resultaria numa relação conturbada com os donos do Solar, porquanto o Morgado incumpria o contrato, quer
na conservação da casa, quer na data em devia sair dela. O con-
trato era de 6 anos, e no seu término Jácome Correia recusava-se a abandoná-lo ou aceitar aumento de renda, resultando num
pedido de vistoria feito por D. Ana Elvira, a 21 de Março de
1846. A propriedade era, nessa altura, constituída por casa
habitável, ermida, jardim, quintal, cocheira, estrebaria, alguns
quartos para despejos, granel e duas lojas (uma delas adjacente
ao granel). Finalmente, e através de processo litigioso, o Morgado decide sair do Solar de São Joaquim, alegando que o mesmo
não se encontrava em condições habitáveis. Não se sabe para
onde foi viver, tendo em conta que o mais fabuloso “palácio” de
oitocentos, e sua futura residência, o Palácio de Sant’Ana, apenas
viria a ser construído a partir de 1851, conjuntamente com o seu
belo jardim, as estufas e cavalariças um ano depois, em 1852.
2.ECA_SolarSJoaq_MGoulart
8/17/10
10:24 AM
Page 50
Nos inícios de 1800 João Maria do Rego Botelho e Faria (falecido em Lisboa, onde vivia, na Rua da Atalaia, em 19 de
Dezembro de 1844, sem deixar testamento), permutou terras
para aumentar a propriedade de São Joaquim.
Em 1888, o Solar de São Joaquim é vendido, por escritura de
11 de Outubro, pelo seu então proprietário, António Maria
Holtreman do Rego Botelho (agraciado com título de Conde
do Rego Botelho por D. Carlos, por Decreto de 4 de Janeiro
de 1894). Esta venda foi feita a um engenheiro chamado Alípio
Coelho D’Amaral, que para adaptá-lo a moradias (isto poderá
explicar as subdivisões que atrás falávamos aquando da
descrição das planimetrias, nomeadamente no que se refere ao
rés-do-chão), destruiu o interior da ermida.
[50]
O Solar de São Joaquim é novamente vendido, desta por Alípio
Coelho D’Amaral, à Companhia de Jesus em 12 de Agosto de
1892. Ali se estabeleceu um colégio invocando a memória do
Cardeal Fisher, da família Fisher Berquó. O colégio, então
famoso na ilha de São Miguel, funcionou de 1892 a 1907. Este
facto é corroborado pelo símbolo da companhia, um coração
vermelho em cima de um rectângulo azul contendo uma cruz
latina, que ainda existe no conjunto de vidros colocados no arco
do portão que dá acesso ao actual pátio.
O padre Jesuíta, Francisco Xavier Schurrer, vendeu o Solar
através de escritura de 5 de Outubro de 1917, a D. Maria
Tomásia Fisher Berquó, fazendo-o, assim, regressar às mãos da
família que agora detém o Solar. Esta, ao falecer em 1923,
transmitiu-o a seu sobrinho, Guilherme Fisher Berquó
D’Aguiar, o tal que ordenou a feitura do já falado levantamento
arquitectónico de 1939. A eles sucederam, na posse deste
Solar, suas duas filhas, D. Maria Isabel D’Aguiar Serpa, casada
com Olivério Horta Pamplona Serpa, e D. Maria Nohémi da
Conceição D’Aguiar Rêgo Costa, casada com Dr. Francisco
Manuel do Rêgo Costa. Com a morte destas duas irmãs, o Solar
passou então para seus filhos e seus netos.
Em 1978, o Solar de São Joaquim é adquirido em partilhas, por
falecimento dos avós do actual proprietário, o Dr. Francisco
Pacheco Rêgo Costa, filho de D. Clara Maria Vaz Pacheco de
Castro Rêgo Costa e do Dr. Francisco de Aguiar Rêgo Costa.
Desde então muitas intervenções, pequenas e grandes, ao nível
vol. LIV ‘09
da recuperação e remodelação interna tem o Solar recebido,
nem sempre de acordo com a sua essência primitiva, mas não
irreversível. Parte dele, a ala esquerda, só agora libertada de
inquilino, sofre graves e grandes necessidades de premente
recuperação, em muito mau estado de conservação, inclusivé a
sua parte superior da fachada principal que apresenta abaulamento, para fora, que urge resolver. O estado actual dos
interiores não nos assegura uma interpretação fidedigna
relativamente ao seu desenho primitivo, desconhecido. A parte
utilizada pelo actual proprietário, no segundo piso, apresenta
tectos em caixotão, enquanto os tectos da ala mais antiga,
agora visitável, apresenta tectos rasos, sem qualquer
decoração. Alteração do século XIX? Não sabemos. O estilo
indica essa hipótese provável, mas não existem provas, além
das ocupações com moradias que acima mencionamos. Com a
recente saída do inquilino que ocupava a ala Poente, decorrem
obras de recuperação e remodelação, segundo projecto da
autoria do arquitecto Igor França, que mantém e vinca a sua
função de habitação de sempre.
Por fim, salienta-se a questão do estilo do Solar de São Joaquim.
Esta casa senhorial, por influência de outra, certamente, incute
no espaço rural da cidade de Ponta Delgada uma imagem
arquitectónica definidora da época de sua construção. Terá sido
António Botelho Ribeiro, natural da Beira Baixa, o portador da
traça do Solar de São Joaquim? É provável. Tendo visto algo
semelhante em terras continentais, donde era oriundo, terá
encomendado esboço apropriado, construindo, assim, na ilha
de São Miguel tão grandiosa casa senhorial.
Mesmo que não comparável a uma Quinta das Torres em
Setúbal (1560?), no entanto, o Solar de São Joaquim rege-se
pelas características da casa nobre seiscentista, desde a
espacialidade, a volumetria, organização da fachada principal
com torreões e corpo central proeminente, assim como os
seus aspectos decorativos exteriores, fazendo deste singelo
Solar uma casa nobre absolutamente inserida na sua época.
Desde 1983, este antigo Solar, por Resolução do Governo
Regional dos Açores, foi classificado como imóvel de interesse
público regional.
2.ECA_SolarSJoaq_MGoulart
8/17/10
10:24 AM
Page 51
SOLAR DE
SÃO JOAQUIM
[51]
PONTA DELGADA
SÃO MIGUEL, AÇORES
Solar de São Joaquim. Planta de 2002.
2.ECA_SolarSJoaq_MGoulart
8/17/10
10:24 AM
Page 52
BIBLIOGRAFIA:
ALBERGARIA, Isabel Soares de, Quintas, Jardins e
Parques da Ilha de São Miguel, Quetzal
Editores, 2000.
ALBERGARIA, Isabel Soares de e Maria Alexandra
Trindade Gago da Câmara, “A Casa Nobre de
Setecentos em Ponta Delgada – um olhar
sobre tipologias e modelos da arquitectura
civil açoreana”, in Atlântida – Revista de Cultura
2002, Angra de Heroísmo, Instituto Açoriano
de Cultura, pp. 59-70.
ALMEIDA, Rui Miguel Goulart de, Território e
Paisagem na Ilha de São Miguel – Séculos XV a
XVIII, Tese de Mestrado, Faculdade de
Ciências Sociais e Humanas, Universidade
Nova de Lisboa, 2007, aprovada em Janeiro de
2008.
AMARAL, Ilídio do, “Do ‘Solitário Ermo’ à ‘Afamada Cidade’ – reflexões sobre as cidades insulares atlânticas no século XVI”, in Actas do Colóquio Comemorativo dos 450 Anos da Cidade de
Ponta Delgada, Ponta Delgada, 1999, pp. 33-47.
[52]
ARQUIVO DOS AÇORES, Ponta Delgada, 1920
(vários volumes). Nomeadamente: Colecção de
Documentos relativos à Ilha de S. Miguel.
ATAÍDE, Luís Bernardo Leite, Arquitectura Religiosa
e Civil, São Miguel, Açores.
AZEVEDO, Carlos, Solares Portugueses, Livros
Horizonte, 1988.
COSTA, Carreiro da, Esboço Histórico dos Açores,
Ponta Delgada, Instituto Universitário dos
Açores, 1978.
Fotografias da autoria de Rui Miguel Goulart de Almeida
vol. LIV ‘09
FRUTUOSO, Gaspar, Saudades da Terra, Instituto
Cultural de Ponta Delgada, 1978.
KUBLER, George, A Arquitectura Portuguesa Chã.
Entre as Especiarias e os Diamantes: 1521-1706,
Vega Editores, 1988.
MENDONÇA, Luís, História dos Açores: Visão Geral
(Sécs. XV-XX), 2.ª Edição, Nova Gráfica Lda.,
2000.
MOREIRA, Hugo, Solar de São Joaquim (Memória),
Santo André, Dezembro de 1984.
MOREIRA, Rafael, “Arquitectura: Renascimento e
Classicismo”, in História da Arte em Portugal,
Vol. II, Dir. Paulo Pereira, Lisboa, Círculo de
Leitores, 1995, pp. 303-375.
PEREIRA, José Fernandes, Arquitectura Barroca em
Portugal, Biblioteca Breve, 1986.
TELLES, Gonçalo Ribeiro, “A Integração Campo/
Cidade”, in Povos e Culturas, a Cidade em
Portugal: Onde se Vive, n.º 2, Direcção de Artur
Teodoro de Matos e Carlos Laranjo Medeiros,
1987.
SOUSA, Nestor de, “Arquitectura Barroca nos
Açores”, in I Congresso Internacional do
Barroco, Actas, II Volume, Separata, Porto,
1991.
SOUSA, Nestor de, A Arquitectura Religiosa de
Ponta Delgada nos Séculos XVI a XVIII,
Universidade dos Açores, 1986.
3.ECA_MMVelasquez
8/17/10
11:07 AM
Page 53
Maria Manuel Velasquez Ribeiro
PROTEGER
O PATRIMÓNIO:
A partir de breve caracterização da legislação
do património, nacional e regional, referente à
inventariação e classificação de bens patrimoniais,
descrevem-se os procedimentos legais
de protecção que conduziram à classificação
do Arcano Místico de Madre Isabel do Apocalipse,
na Ribeira Grande, primeiro bem móvel regional
distinguido com a categoria de
bem de interesse público.
O móvel do Arcano
antes da colocação das portas.
[53]
INVENTARIAR
E CLASSIFICAR BENS
- UM CASO AÇORIANO -
3.ECA_MMVelasquez
8/17/10
11:07 AM
Page 54
Se bem que em diversos momentos, na Região, se tenha valorizado a protecção legal de bens de interesse patrimonial, até à
actualidade pouquíssimos eram os bens móveis regionais com a
atribuição da classificação como forma jurídica de protecção e
salvaguarda.
De facto, o Registo Nacional de Bens Classificados apenas registava a imagem de N.ª S.ª da Conceição, pertencente a um particular de Angra do Heroísmo, o Sr. Francisco Ernesto Oliveira
Martins, cuja decisão de classificação foi objecto de publicação
no Diário do Governo, II.ª Série, n.º 16, de 20 de Janeiro de
1969.
[54]
A transferência das competências em matéria de coordenação
das funções de museus, bibliotecas e arquivos através do
Decreto-Lei n.º 408/78, de 19 de Dezembro de 1978, para a
Região, porém, indicava competir a esses organismos “a intervenção nos processos de classificação e inventariação de imóveis
e móveis”. Da mesma forma, essa prerrogativa continuou afecta
aos museus regionais em cuja lei orgânica (o Decreto Regulamentar Regional n.º 13/2001/A, de 7 de Novembro) se refere
competir-lhes “promover a classificação de bens museológicos”.
Porém, a mais recente legislação portuguesa sobre o Património, a Lei n.º 107/2001, de 8 de Setembro, ao definir o conceito
e o âmbito do património cultural descrevendo-o como o conjunto dos “testemunhos com valor de civilização ou de cultura
portadores de interesse cultural relevante” (n.º 1 do artigo 2)
esclarecendo que a condição de relevância do seu interesse
cultural – que pode ser histórico, paleontológico, arqueológico,
arquitectónico, linguístico, documental, artístico, etnográfico,
científico, social, industrial ou técnico – lhes é atribuível quando
reflictam valores de memória, antiguidade, autenticidade, originalidade, raridade, singularidade e exemplaridade, veio definir e
tipificar as figuras e as modalidades de protecção de bens
inscrevendo-os em diferentes categorias:
Bem de interesse nacional: aquele cuja protecção e valorização represente um valor cultural de significado para a Nação,
diferentemente designados de:
– “monumento nacional” (quando se trate de bens imóveis);
– “tesouro nacional” (quando se trate de bens móveis).
Bem de interesse público: aquele cuja protecção e valorização represente ainda um valor cultural de importância nacional,
vol. LIV ‘09
mas para o qual o regime de protecção inerente à classificação
como de interesse nacional se mostre desproporcionado.
Bem de interesse municipal: aquele cuja protecção e valorização represente um valor cultural de significado predominante para um determinado município.
A mesma Lei estabelece nos n.ºs 1 e 3 do artigo 59.º que: “As
intervenções físicas ou estruturantes em bens classificados (…)
ou em vias de classificação como tal, são obrigatoriamente asseguradas por técnicos de qualificação legalmente reconhecida”
e, ainda, que as obras e intervenções “serão objecto de autorização e acompanhamento pelo órgão competente para a
decisão final do procedimento de classificação (…)”, pressupostos reconfirmados e amplificados, aliás, com o recentíssimo
Decreto-Lei n.º140/2009, de 15 de Junho, que estabelece o regime jurídico dos estudos, projectos, relatórios, obras ou intervenções sobre bens culturais classificados ou em vias de classificação.
Ora, coadjuvando a lei nacional e adaptando-a à Região Autónoma dos Açores, o Decreto Legislativo Regional n.º 29/2004/A,
de 24 de Agosto, é o normativo orientador dos processos de
protecção legal de bens culturais móveis e imóveis situados na
Região definindo duas formas para o acto de classificação cujo
âmbito repete o da lei nacional:
Bem de interesse público: a instrução do procedimento cabe
à Direcção Regional da Cultura e a decisão de classificação reveste a forma de Resolução do Conselho do Governo Regional.
Bem de interesse municipal: a instrução do procedimento e
a decisão de classificação – que se materializa na emissão de
uma deliberação da respectiva assembleia municipal – incumbe
aos municípios.
Aos bens culturais móveis e imóveis, quando revistam valor
especialmente simbólico para a Região e tenham inequívoco
interesse regional, pode ser atribuída, através de decreto
legislativo regional, a designação de:
– “monumento regional” (caso se trate de bens imóveis);
– “tesouro regional” (caso se trate de bens móveis).
Foi com base nestes preceitos legais que a Câmara Municipal da
Ribeira Grande apresentou, em Janeiro de 2007, o pedido de
classificação do Arcano Místico de Madre Margarida do
3.ECA_MMVelasquez
8/17/10
11:07 AM
Page 55
PROTEGER
O PATRIMÓNIO:
INVENTARIAR
E CLASSIFICAR BENS
- UM CASO AÇORIANO -
imóvel onde viveu Margarida do Apocalipse para aí instalar e
musealizar o Arcano Místico.
O móvel do Arcano depois da colocação das portas.
Apocalipse, tornando-se assim a entidade que, segundo a lei,
deu o primeiro impulso para a respectiva protecção legal.
O bem, propriedade da Confraria do Santíssimo Sacramento
da Matriz de Nossa Senhora da Estrela, resulta do intenso labor,
entre 1835 e 1858, data da sua morte, da egressa Margarida do
Apocalipse, freira clarissa do Convento de Jesus, na Ribeira
Grande, que se dedicou à sua confecção e o expunha à
apreciação pública na sua própria casa de onde só saiu em 1870
para ser depositado no Coro Alto da Matriz da Ribeira Grande,
onde até agora se encontrava. O seu interesse patrimonial já
fora referenciado por Mário Moura, director do Museu
Municipal local, em diversas publicações editadas no final dos
anos 90 e, desde então, a edilidade projectou a recuperação do
A listagem dos materiais envolvidos na execução dos quadros é
diversíssima, todavia, o laboratório do ex-Instituto José de Figueiredo identificava a composição da pasta do corpo das
figuras como sendo constituída por miolo de pão aglutinado
com goma arábica a que se adicionaram pigmentos naturais
para obter as colorações (Ribeiro, 1988). Nos restantes elementos iconográficos identificaram-se materiais orgânicos (madeiras e cascas de árvores – predominando as de pinheiro –
cortiça, líquenes, musgos e algumas plantas hepáticas), papéis e
adesivos (cola animal, gelatina ou goma arábica), e materiais
inorgânicos (vidro, pigmentos naturais – também identificados
pelo laboratório do IJF – ouro, prata e argila). (Romão, 1994).
No que diz respeito ao seu estado de conservação, o relatório
de prospecção elaborado pelo então Centro de Estudo
Conservação e Restauro dos Açores, descrevia-a do seguinte
modo: Trata-se de uma obra extremamente complexa, não só pela
quantidade de figuras e de situações, mas, sobretudo, pela
diversidade de materiais e técnicas de execução utilizadas. (…) a
exiguidade do espaço no interior da vitrina, auxiliada pelo posicionamento contíguo dos quadros e pela sua divisão em três níveis de
altura, dificultam grandemente a leitura do conjunto. (…) Em
termos gerais, o Arcano apresenta-se em bom estado de conservação, apesar da baixa resistência, tanto mecânica, como química,
dos seus materiais constituintes.
O facto de todo o conjunto ter sido mantido num armário fechado
deverá ter contribuído para a sua preservação ao longo do seu
cerca de século e meio de existência.
[55]
Reportando-nos à documentação produzida ao longo do
tempo e que o descreveu e equacionou as condições do seu
eventual restauro, apura-se que o Arcano é constituído por um
armário de grandes dimensões (200x200x200), em madeira de
acácia, ostentando em cada face portas envidraçadas, cada uma
com cerca de 2,40 m de largura. No seu interior, distribuídos
por três prateleiras, noventa e quatro conjuntos e sub-conjuntos de pequenas figuras, cuja altura oscila entre 1 e 20 cm,
representam passagens do Antigo e do Novo Testamento, iconografia católica e vivências do quotidiano da autora.
3.ECA_MMVelasquez
8/17/10
11:07 AM
Page 56
O móvel do Arcano.
Pormenor de figuras do lado 1, piso 3.
[56]
As mudanças a que foi sujeito e, principalmente, o local onde
actualmente se encontra, terão sido os factores mais importantes
para o início de alguma da degradação que se observa.
Efectivamente, na face virada para a grande janela do coro da Igreja
Matriz, são bem visíveis as descolorações dos pigmentos das
roupagens das figuras e das decorações sobre vidro, bem como a
formação de fissuras e os destacamentos superficiais em algumas
figuras. A tudo isto, não será, sem dúvida, alheia a luz proveniente
da janela, na qual só há bem pouco tempo foram colocadas cortinas. É também naquela face (e, sobretudo, no nível intermédio) que
a degradação física é mais notada, com vidros descolados e quebrados, figuras em fragmentos e peças em falta. (Romão, 1994).
Na decorrência da proposta de classificação, e em conformidade com o disposto no artigo 5.º do decreto legislativo de
enquadramento, a Direcção Regional da Cultura procedeu à
notificação dos interessados (neste caso a Câmara Municipal da
Ribeira Grande e a Junta de Freguesia da Matriz) e, através deles
e por Edital, tornou-se público o início do procedimento de
classificação. O mesmo anúncio viria a ser divulgado através de
vol. LIV ‘09
Aviso publicado no Jornal Oficial de 7 de Março de 2007 e repetido na edição do jornal Açoriano Oriental do mesmo dia: a
partir deste momento o Arcano tornava-se um bem em vias de
classificação.
O pedido, que chegara acompanhado de um parecer do Dr.
Nestor de Sousa, e da proposta de classificação como “tesouro
regional” do Arcano Místico da autoria do Professor Doutor Rui
de Sousa Martins, foi posteriormente submetido à apreciação
do Instituto dos Museus e da Conservação (IMC-IP) cuja informação da Dra. Elsa Garrett Pinho salienta: …esta não é uma
obra de escultura erudita, nem as proporções das figuras obedecem
aos parâmetros clássicos, segundo as modernas concepções do
património cultural, este serve fundamentalmente como elemento
aglutinador de uma comunidade que nele se revê e através dele se
identifica, mobilizando esforços colectivos e catalisando vontades
em torno de uma identidade comum e partilhada. Auxiliando-se
dos pareceres técnicos já mencionados, conclui referindo que [a
obra] é merecedora do estatuto de bem classificado, não só porque
se trata de uma importantíssima referência cultural local, mas
também pela originalidade da produção.
8/17/10
11:07 AM
Page 57
PROTEGER
O PATRIMÓNIO:
INVENTARIAR
E CLASSIFICAR BENS
- UM CASO AÇORIANO -
[57]
3.ECA_MMVelasquez
3.ECA_MMVelasquez
8/17/10
11:07 AM
Page 58
[58]
vol. LIV ‘09
3.ECA_MMVelasquez
8/17/10
11:07 AM
Page 59
PROTEGER
O PATRIMÓNIO:
INVENTARIAR
E CLASSIFICAR BENS
- UM CASO AÇORIANO -
O interesse do bem como testemunho simbólico ou religioso –
alínea c);
A extensão do bem e o que nela se reflecte do ponto de vista da
memória colectiva – alínea g);
O génio do respectivo criador – alínea b).
Relativamente a esta alínea entendeu-se que o conceito de genialidade consignado pelo legislador não se extingue na simples explicitação de mestria técnica, na perfeita tradução dos clássicos
cânones estéticos ou mesmo numa demonstração de erudição
conceptual; antes pelo contrário, haverá igualmente lugar a uma
apreciação fundada na simbiose entre o executante e a obra produzida, bem como no valor da obra enquanto veículo transmissor de
uma mensagem – no presente caso do foro catequético e cultual.
Acresce ainda aos critérios acima assinalados a absoluta raridade
e singularidade do Arcano da Ribeira Grande, sobretudo do ponto
de vista da semiótica e enquanto espécime reconhecidamente
único em território nacional e mesmo da Europa, o que justifica
amplamente o recurso à figura jurídica da classificação como
instrumento de protecção e de valorização deste bem cultural.
Assim, ao abrigo do n.º 1 do artigo 6.º do Decreto Legislativo
Regional n.º 29/2004/A, de 24 de Agosto, e por Resolução do
Conselho de Governo datada de 15 de Janeiro de 2009 foi classificado como bem de interesse público o Arcano Místico de
Madre Margarida do Apocalipse passando a constar no Inventário
Geral Nacional e nos Registos Nacional e Regional de Bens
Culturais, em cumprimento dos artigos 12.º e 13.º do diploma
regional de enquadramento.
Todavia, todo o esforço de protecção e valorização do bem
através da classificação não poderia concluir-se sem se promover o incentivo à sua conservação e intervenção de restauro, e
à adequação das condições ambientais do novo espaço para
onde se pretendia transferir o Arcano. De facto, desde o
Relatório de 1994 que se apontava: Para uma análise correcta,
tanto do ponto de vista histórico, como da sua preservação, todos
os conjuntos [ou seja, cada “quadro” suportado pela respectiva
“placa” individual ou cada agrupamento de “quadros” suportados
por uma mesma “placa”] precisam ser retirados dos respectivos
locais, de modo a poderem ser examinados. Tal remoção deverá
efectuar-se apenas uma vez, procedendo-se então a uma análise
global e evitando [manuseamentos e] transportes sucessivos das
peças. (…) Nessa altura, será necessário um espaço para poder
proceder à observação macroscópica e microscópica e à limpeza
superficial de todas as peças; à consolidação dos elementos em
desagregação; à fixação das áreas em destacamento; ao restauro
das peças fragmentadas, descoladas e descoloradas; à desmontagem e montagem de alguns elementos. (…) O trabalho de conservação e restauro a executar será, sem dúvida alguma, complexo e moroso, exigindo uma minúcia e uma precisão que só um
técnico especialista poderá ter.
Por fim, referia-se Haverá que estudar e definir muito bem as
condições ambiente do futuro local de exposição. Dada a natureza
orgânica da maioria dos materiais, a intensidade da iluminação
deverá ser igual ou inferior a 50 lux. A humidade relativa e a
temperatura precisarão de ser ponderadas tomando por base,
nomeadamente: as medidas e registos no local, o comportamento
dos materiais, a presença de bactérias, fungos e insectos. (Romão,
1994).
Por conseguinte, e à luz do previsto no artigo 51.º do Decreto
Legislativo Regional n.º 29/2004/A, a tutela do património garantiu, por um lado, o apoio técnico promovendo a deslocação à
Ribeira Grande de uma especialista no restauro deste tipo de
bens oriunda do Museu Nacional de Etnologia (Dra. Joana
Amaral que acompanhou a intervenção de restauro mas, também, a transferência do Arcano para o seu novo espaço, e a definição das condições ambiente adequadas à sua exposição bem
como a sua monitorização) e, por outro lado, a comparticipação
financeira à intervenção de restauro efectuada no âmbito do
disposto na alínea c) do número 3 do artigo 3.º e do artigo 9.º
do Decreto Regulamentar Regional n.º 16/2000/A, de 30 de
Maio, alterado pelo Decreto Regulamentar Regional n.º
20/2007/A, de 16 de Outubro, que o republicou, e que se consubstanciou na realização de um contrato-programa de atribuição de um apoio no valor de 50% do custo total da intervenção.
É o resultado dessa intervenção, levada a cabo pela equipa do
conservador restaurador Dr. Paulo Brasil que agora, e em boa
hora, podemos apreciar na Casa do Arcano, na Ribeira Grande.
[59]
Assim, de entre os vários critérios genéricos de apreciação definidos no artigo 17.º da Lei n.º 107/2001, foram tidos como
relevantes para a classificação, os seguintes:
3.ECA_MMVelasquez
8/17/10
11:07 AM
Page 60
BIBLIOGRAFIA:
Legislação
Estudos
Decreto Legislativo Regional n.º 29/2004/A, de
24 de Agosto (Regime jurídico de protecção e
valorização do património cultural móvel e imóvel).
Amaral, Joana, Parecer sobre as condições de
conservação preventiva para a instalação do
Arcano Místico da Ribeira Grande no novo
museu, Lisboa, Museu Nacional de Etnologia,
2009 [documento interno].
Decreto-lei n.º 140/2009, de 15 de Junho
(estabelece o regime jurídico dos estudos,
projectos, relatórios, obras ou intervenções sobre
bens culturais classificados ou em vias de
classificação).
Decreto Regulamentar Regional n.º 16/2000/A,
de 30 de Maio (Estabelece o sistema de apoios à
recuperação e conservação do património cultural
arquitectónico e móvel).
Decreto Regulamentar Regional n.º 20/2007/A,
de 16 de Outubro (Introduz uma alteração e
republica o DRR n.º 16/2000/A, de 30 de Maio).
Lei n.º 107/2001, de 8 de Setembro (Estabelece
as bases da política e do regime de protecção e
valorização do património cultural).
[60]
Resolução do Conselho do Governo n.º 5/2009,
de 15 de Janeiro de 2009 (Classifica como de
Interesse Público o Arcano Místico de Madre
Margarida do Apocalipse, propriedade da Confraria
do Santíssimo Sacramento da Matriz de Nossa
Senhora da Estrela, na Ribeira Grande, ilha de São
Miguel).
Agradeço ao Conservador Restaurador Dr. Paulo Brasil,
responsável pela intervenção de conservação e restauro
do Arcano Místico, a cedência das imagens.
vol. LIV ‘09
Moura, Mário, “Arcano Místico de Madre Margarida
Isabel do Apocalipse: percursos de identidade”
in Separata das Actas do Iº Encontro sobre
cultura popular, Ponta Delgada, Universidade
dos Açores, 1999.
Ribeiro, M. Isabel Macedo, Estudo científico do
Arcano Místico, Lisboa, Laboratório Central
/Instituto de José de Figueiredo, 1988
[documento interno].
Romão, Paula, Arcano Místico. Igreja Matriz da
Ribeira Grande. Relatório de prospecção. Angra
do Heroísmo, Centro de Estudo, Conservação
e Restauro dos Açores, 1994 [documento
interno].
4. ECA_Laptop_JBarreto
8/17/10
10:52 AM
Page 61
Jorge Lima Barreto
LAPTOP E A
DEFENESTRAÇÃO
DO IMAGINÁRIO
MUSICAL
[61]
Num momento de anomia, implementação tecnocrática, detectamos a inversão e não apenas a perda de valores estéticos,
taxonómicos e criativos no âmbito da música electrónica e na
sua última expressão informática.
Grave é a delapidação do étimo “improvisação”: afinal qualquer
fuga ao idioma, à gramática, fluxo desprovido de ideia, direcção
ou estrutura, pode ser considerado improvisação, apologia do
gesto efémero, sem imaginário ou conceptualismo como álibi
para as incompetência e impotência composicional, …
A computer music é andróide, não é susceptível de ser executada exclusivamente por um músico e o seu gesto humano; corresponde grosso modo à união de duas inteligências, a natural e
a artificial; assim a improvisação assistida por computador trata
de elementos técnicos e simbióticos, floresta de interconexões
Homem/Máquina.
O computador é uma tecnologia não específica e pode levar a
cabo operações mentais (e.g. armazenagem; opção, estratégia;
utilidade, operacionalidade); a memória computacional consiste
no arquivo de notas, silêncios, ruídos, ritmos, madrigais, cantatas, sonatas, ragas, sinfonias, canções, e.a., e de sintagmas musicais das mais diversas índole e substância; trata-se de um labirinto fonográfico tecido de múltiplas direcções conceptuais e de
inúmeras substantificações sonoras.
O computador substitui o operador musical humano, é, por excelência, um aparato de planificação tecnológica; estabelece co-
Karlheinz Stockhausen com laptop ensemble.
nexões entre tecnopanóplias e instrumentos e programa relações sonoras elementares; o computador funciona de maneira
estatística, recodifica, recolhe, classifica, processa e organiza o
som digitalizado.
Estas máquinas calculadoras podem levar a cabo operações
qualificáveis de mentais. Há um senão: o robot musical não tem
emoções, nem sequer sonha; desconhece a aventura e, principalmente, o amor; e mais, não sabe o que é Música.
A prefiguração dos media como instrumentos deve ser considerada “suplementar”, casos do disco ou do rádio e, “complementar”, na dita “música assistida por computador”; não está
em causa o uso do computador como instrumento musical; o
4. ECA_Laptop_JBarreto
8/17/10
10:52 AM
[62]
vol. LIV ‘09
Page 62
4. ECA_Laptop_JBarreto
8/17/10
10:52 AM
Page 63
LAPTOP
EA
DEFENESTRAÇÃO
DO IMAGINÁRIO
MUSICAL
Desprezando o conceptivo compositor, o executante improvisa sobre matérias prefixadas em vários suportes: gira-discos,
LP, CD, laptop, pode até improvisar-se musicalmente no sector
da video art, ou em interacções on line, estas geralmente pusilânimes e massificadas... entre as inesgotáveis novas classificações
de subtipologias, modas, ideossincrasias, está a corrente alcunhada “pósdigital”, um infradiscurso cuja matéria-prima são erros, defeitos, detritos, sonoridades imperfeitas de ordem técnica digital das próprias máquinas, do hardware e do software, a
serem usadas como fluxo sintáxico.
A teoria do plunderphonic supera com grande aceitação da parte de muitos músicos e intelectuais, as questões éticas da apropriação sobre o argumento do livre arbítrio da criação artística
e legitima o usufruto de todos os materiais musicais ou sonoplásticos disponíveis, indiscriminadamente.
Uma música indiscreta correlativa ao hip hop, ao techno ou ao
house, sonoplastia da dance culture, proclama-se “música electrónica”, e recentemente com diletantismo, tende a vigorar o
termo “acusmática”, qualquer coisa improvisada ou composta
com matérias sonoras fixadas, exibindo muitas vezes o trivial da
cena tecnoinstrumental da pop experimentalista e do scratch;
non nova sed nova, i.e. “coisa que não é nova mas que aparece
como tal”; o músico congemina próteses sonoras, espécie de
artesanato e gestão electrónica, puras funcionalidade e medialidade; como as fotografias de Sherrin Levine sobre os nus de
Edward Western, foto da foto.
Sendo assim qualquer software está inadvertidamente disponível para o desvio; edições cleptofónicas, pirataria sónica sortida, pornofonia, e.a.; afinal trata-se de um lapso terminológico
pusilânime, ideologia da não-ideologia.
Não existe o acto de pura improvisação com os media instrumentalizados musicalmente; há tão somente a possibilidade de
coabitação dos vocalismos e dos instrumentalismos acústicos e
electroacústicos e, da parafernália, dispositivos ou controladores electrónicos, analógicos e digitais.
No seu mais nobre sentido, a performance do músico/intérprete/compositor é o lado humano da computer music improvisada.
O reino dos DJs foi-se dilatando globalmente mas sofreu uma
notória recessão perante a hiperracionalidade operatória do
computador propiciado musicalmente, um jogo empiricista e
popularizado que descambaria na vulgata do laptop.
Impromptu na Era da Informática: expressão musical adjudicada
ao computador, a improvisação entrou no âmbito do imaginário
cyberpunk, e pulverizou-se na sua situação pósmoderna com
clonagens, plágios, sobreposições, colagens, mudanças de estruturas rítmicas, ou de velocidades, ou de âmbitos texturais;
derivas e outras atitudes de instrumentistas ou vocalistas artificiais, simulacros, que já não lidam com partituras escritas e
impressas mas com o próprio material sonoro criado live no
computador, normalmente no portátil (laptop); discursos que
são sinapses instrumentais.
Como na parábola conceptualista: “desmaterialização da cultura material”.
A técnica do drone, figura contínua, com motivos legati, por
vezes repetitivos, vem dos primórdios da música electrónica e
hoje está trivializado no discurso da música de massas para
laptop, à semelhança funcional do basso continuo no barroco e
da rhythm section no jazz; a cronometria quadrada e binária
subentende discursos melódicos fugazes, texturas tímbricas
surgidas ad hoc, num lenocínio despudorado da máquina – a
“música electrónica” das discotecas, a “música acusmática” dos
concertos de jazz e improvisada…
Inicialmente apelidava-se “groove” uma actividade improvisatória com o computador assumido como instrumento: duma
parte o comando e a acção (teclas, rato e écran do computador), da outra, autodeterminação e controlo, liberdade de
expressão estética.
Desenhando os sons ou esculpindo-os, pode-se sucessivamente modificá-los, transformar a sua imagem e obter variedades
acústicas desconhecidas.
Depois, desde os anos 1980, com o sistema midi e a digitalização, a nova improvisação de cariz pop estilhaçou-se num âmbi-
[63]
agente, em processamento do evento sonoro da composição
live electronic, sob muitos aspectos, pode bem ser o próprio improvisador que manipula esse seu aparato.
4. ECA_Laptop_JBarreto
8/17/10
10:52 AM
Page 64
to pósmoderno com divagações poliscópicas, amálgama e concocção de delírios líricos, de variegados subestilo e subgénero
tecnológicos, numa síncrese massificadora do Zeitgeist (avanço
cultural no mundo).
Constelação de propostas de certo modo insólitas donde sairiam
movimentos insulares e progressistas da novíssima música improvisada e da electronic live a culminar na massificação da “música electrónica” (termo usurpador popular e jornalístico para a
música que recorre sobretudo ao laptop, entre outras parafernálias digitais e informáticas, actualizado no epifenómeno tecnocrático duma proclamada música improvisada “acousmatic”).
Nos finais do Século XX e desde o início deste Século XXI,
com a massificação do computador portátil, o regime laptop
surge hegemónico na ciberparafernália da nova improvisação.
[64]
Hoje vulgarizou-se – via um jornalismo acrítico e uma fruição
pública sem valores estéticos – o termo “laptop”, depois, e/ou
“acusmática” (onde se validam todos os sons fixados como musicais, para designar a transformação dos sons em tempo real,
uma atitude híbrida do improvisador e da sonoplastia do computador; ciberartesanato, normalmente debilitado pelo desconhecimento de operações de síntese e de génese do som; apropriando-se de programas prévios, simulação de manobras algorítmicas; todavia conhecendo uma progressiva popularização e
sendo fruto apetecível do comercialismo pop, normalmente ao
serviço da agiotagem de muitos coreógrafos, encenadores, e
outros usurários da música.
Os laptoppers, prosseguindo a saga dos DJs, tornaram-se heróis
da funcionalização no cinema, na dança, no teatro, na performarte e na instalação vídeo e multimediática.
Os termos historicistas “electrónica” e “acusmática” foram delapidados especialmente pelo abuso progressivo do laptop – o
computador fixo tem horizontes de recherche muito mais
vol. LIV ‘09
vastos e está conectado com o conceito de “música electrónica
clássica” – agora, como que em contrapartida, surgem grupos
de índole pop e improvisada que quando recorrem à cenografia
laptop se proclamam como “música acusmática” – da alegada e
massificada “electrónica”, de carácter techno, à profusão de
computadores portáteis que estão omnipresentes ao lado dos
instrumentistas e vocalistas como recurso cosmético, decorativo, desviado da sua veracidade histórica e da própria representação culta do computador na Música.
Um violinista, um contrabaixista e um pianista podem assegurar
um figuralismo rítmico melódico, harmónico e todo um florilégio de experimentos, independentemente da sua qualidade
estética – mas a reunião de laptoppers improvisadores é incondicional pois as matéria, substancialização e discursividade não
são de possível controlo semiológico; es get alles, tudo é válido,
inclusivamente qualquer surpresa agradável num mundo do
disforme.
O fenómeno trivializa-se em jogos infantis psicotecnicamente
regressivos e domina afluentemente os mercados da improvisação pop, agora caucionados pela própria Academia que prepara,
na sua vertente hipertecnológica da electrónica, não mais músicos e criativos, mas técnicos e engenheiros, bricoleurs de rentabilidade económica imediata, sufragada pelas musobrocracia e
meritocracia (protocolos, regimentos, canudos e prémios).
O sonho, o fantástico da intuição musical, os paradigmas da
improvisação, da electrónica, da acusmática, a magia e a inventio,
dissipam-se no artifício das manipulações tecnológicas do computador assumido como instrumento musical.
Porém, e com o maior optimismo, desenvolve-se revolucionariamente um situacionismo crítico e de clariaudiência, associado às viragens da dimensão estética da improvisação; finalmente, uma questão de gosto, pelo prazer de tocar e ouvir a
Música; para ser amada pelo espírito aberto.
5.ECA_Cisternas_JoanaPinho
8/17/10
11:09 AM
Page 65
Joana Balsa de Pinho
AS CISTERNAS
DO MONTE DO BRASIL
CONSIDERAÇÕES INTRODUTÓRIAS
No âmbito do Projecto “Levantamento dos Fortes Açorianos e
das Fontes Açorianas existentes no Archivo General de
Simancas” (POCTI/HAR/49122/2002), promovido pelo Instituto Açoriano de Cultura em colaboração com a Universidade
dos Açores e o Centro de Estudos de História do Além Mar
(FCSH/UNL) e financiado pela Fundação para a Ciência e
Tecnologia, foi possível identificar um conjunto de documentação inédita referente à fortaleza de São João Baptista na ilha
Terceira (Açores – Portugal)1.
Este forte inicialmente designado por Castillo del Monte del Brasil
e desde Dezembro de 1598 por castelo de S. Filipe2, foi a maior
fortaleza edificada no Atlântico durante o reinado de Filipe II.
Optámos por utilizar a designação primitiva, distanciada de conotações políticas.
A documentação a que se refere o nosso estudo, documentação essencialmente de natureza contabilística, reflecte o cuidado posto neste edifício, dando-nos informações sobre diferentes dimensões relacionadas com a sua construção.
Este texto resulta de uma comunicação no VI Congreso Nacional de Historia de la Construcción (Valência, 21 – 24 de Outubro
de 2009), organizado pela Sociedad Española de Historia de la
Construcción em colaboração com a Universidade de Valência
e o Instituto Juan de Herrera, integrada na sessão Fontes Escritas
e publicada nas actas numa tradução em castelhano. Assim, no
nosso estudo privilegiámos o enfoque disciplinar da História da
Construção, demonstrando a importância das fontes escritas
para a história da construção de um monumento específico e
para a História da Construção enquanto ramo do saber, num
dado momento cronológico e geográfico.
1 No âmbito deste projecto estão a ser publicados os sumários dos
documentos e algumas reproduções.
Vide http://www.iac-azores.org/biblioteca-virtual.html
2 A primeira referência a esta designação é “castillo nuevo de Sant Philipe”
e encontra-se numa partida do fl. 149, leg. 941, remetendo para uma
livrança de 19 de Dezembro de 1598; até essa data é designado por
castelo do Monte do Brasil.
[65]
– CONTRIBUTO DAS
FONTES CONTABILÍSTICAS
PARA A SUA HISTÓRIA
5.ECA_Cisternas_JoanaPinho
8/17/10
11:09 AM
Page 66
FONTES ESCRITAS
Este estudo refere-se a um documento do livro II da conta do
pagador Martim Ruiz de Laris3: a Data dos maravedis pagos pelo
pagador Martim Ruiz de Laris, nas obras e fortificações que se
fizeram na ilha Terceira (AGS, CMC – 2.ª época, leg. 941).
A conta de Martim Ruiz integra, para além do livro II, o livro I
(dois exemplares4, AGS, CMC – 2.ª época, legajos 520 e 526)
e o livro III como pagador nas ilhas dos Açores (AGS, CMC –
2.ª época, legajo 515) e dois livros do período em que foi
pagador na ilha de São Miguel (AGS, CMC – 2.ª época, legajos
520 e 1018).
[66]
Toda esta documentação pertence ao fundo Contaduría Mayor
de Cuentas do Archivo General de Simancas. Esta Contaduría
era o organismo máximo de vigilância e fiscalização sobre a
integridade de todas as gestões e actos efectuados com
dinheiros da Fazenda Real. A sua origem remonta, provavelmente, a finais do séc. XIII e em 1401 aparece pela primeira
vez a expressão contadores mayores de cuentas. No século XVI
com a criação e consolidação do Conselho da Fazenda, a
Contaduria Mayor de Cuentas vê o seu campo de acção
alargado ao manter todas as suas funções, mas sujeita às
instruções do Conselho da Fazenda5.
Organizava-se com dois (ou mais) contadores mayores de
cuentas que eram auxiliados pelos seus tenientes; existiam ainda
os contadores menores distribuídos por ofícios: contadores de
livros e contadores de resultas. Os primeiros tinham como
função assentar os despachos e provisões e os segundos
estavam encarregues de ordenar e comprovar as contas e
definir alcançes ou resultas; colaboravam ainda alguns escrivães,
um relator, um procurador fiscal, assessores e outros
funcionários.
Os livros de contas de pagadores e tenedores, e no caso que nos
interessa, os livros de Martim Ruiz de Laris, eram elaborados
pelos contadores de resultas em consequência da sua actividade
de comprovar as contas, ou seja, de um complexo processo de
intervenção, fiscalização, confirmação das contas dos oficiais
que serviam o rei. Para a elaboração destes livros seguia-se um
procedimento específico: cada contador elaborava os livros de
vol. LIV ‘09
cargo e data, glossava um dos livros duplicados, comprovando
as partidas de cargo e data e confrontando a relação jurada e
firmada do pagador com outros documentos6.
O documento em estudo, Data dos maravedis pagos pelo pagador
Martim Ruiz de Laris, nas obras e fortificações que se fizeram na
ilha Terceira, é composto por uma relação em 99 pliegos, organizados por anos e com várias partidas; o âmbito cronológico é
1583-1599. Em cada partida é referido o valor que deve ser
recebido em quenta ao pagador, a quem o pagador pagou esse
valor, o que foi pago, em que data e local foi dada a livrança ou
recaudo para o pagamento, quem a promoveu, quem tomou la
razon e quem señalou a livrança ou recaudo.
Este documento, de cariz administrativo-contabilístico, possibilita um conhecimento mais aprofundado do(s) monumento(s)/
obra(s) a que se refere, sendo relevante para a definição da sua
história; nomeadamente, possibilita definir uma datação, reconstituir a evolução da construção, duração total e parcial, assim
como esclarecer as opções que se foram fazendo, reconstituir o
3 Os vários livros da conta de Martim Ruiz de Laris existentes no Archivo
General de Simancas fornecem alguns elementos para a sua biografia, dos
quais destacamos: foi nomeado pagador da gente de guerra, obras e
fortificações da ilha de S. Miguel logo após a conquista espanhola por uma
patente datada de 12 de Agosto de 1582 e assinada por Álvaro de Bazán,
marquês de Santa Cruz; a 1 de Agosto de 1583, uma outra patente do
marquês de Santa Cruz, nomeia-o para exercer o ofício de pagador da
gente de guerra, obras e fortificações das ilhas dos Açores e passa para a
ilha Terceira (cópia da patente e traslado do titulo em AGS, CMC – 2.ª
ép., leg. 526); a 18 de Abril de 1601, morre na cidade de Angra.
4 A existência de dois exemplares do livro II da conta do pagador Martim
Ruiz de Laris está relacionado com o processo de confirmação das contas
dos oficiais: cada contador de resultas elaborava os livros de cargo e data,
glossando um dos livros duplicados, comprovando as partidas de cargo e
data e confrontando a relação jurada e firmada do pagador com outros
documentos; vide nota 6.
5 Sobre o fundo Contaduría Mayor de Cuentas, sua origem e organização
vide a informação disponibilizada no PARES – Portal de Archivos
Españoles, http://pares.mcu.es/ParesBusquedas/servlets/Control_servlet?
accion=2&txt_id_fondo=117087.
6 Sobre este procedimento e tipologias documentais referidas vide Pinho
2007, pp. 76-77.
5.ECA_Cisternas_JoanaPinho
8/17/10
11:09 AM
Page 67
AS CISTERNAS
DO MONTE DO BRASIL
– CONTRIBUTO DAS
FONTES CONTABILÍSTICAS
PARA A SUA HISTÓRIA
ritmo das obras e possibilitar a identificação de mestres e trabalhadores. Além disso, fornece outros, importantes, credíveis, e
por vezes, surpreendentes elementos para a história da construção; destacamos a origem e utilização de materiais, técnicas e
processos em função da obra, referências a ferramentas e meios
auxiliares para a construção, organização do trabalho, principais
ofícios envolvidos e custos.
Ao longo deste texto citaremos partes do documento; porque
todas as citações se referem ao mesmo documento
indicaremos apenas o fólio, pois os restantes elementos são
comuns:
Arquivo – Archivo General de Simancas (AGS);
Foto 1: Castelo do Monte do Brasil
Legajo (leg.) – 941.
Seguiremos as seguintes regras de transcrição: mantém-se o
idioma original, incluindo para os nomes próprios e também a
ortografia original, respeitando o uso do u/v/b e do j/i; separam-se as enclíticas e as proclíticas; introduz-se esporadicamente
pontuação; actualiza-se a utilização de maiúsculas e minúsculas;
desdobraram-se as abreviaturas sem assinalar letras omissas
mas respeitando a grafia das mesmas.
Este documento permite acompanhar a construção desta fortaleza e destaca, como caso único, a construção da cisterna e
sistema de abastecimento e distribuição de água; obra hidráulica, tratada de modo diferenciado e pormenorizado. Reflecte o
cuidado posto nesta construção, dando-nos informações sobre
os mestres e oficiais, valor parcial e total da obra, duração e
características, materiais e métodos de trabalho utilizados.
AS OBRAS
CISTERNA E SISTEMA
DE ABASTECIMENTO
E DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA
DO CASTELO DO MONTE DO BRASIL
O documento em estudo, Data dos maravedis pagos (...) nas
obras e fortificações que se fizeram na ilha Terceira, refere-se a
todos os gastos realizados pelo pagador em obras de fortificação, readaptação e construção de fortalezas.
De acordo com a informação disponibilizada por este documento, a primeira opção defensiva após a conquista da Terceira
em 1583, foi o reforço do castelo de S. Sebastião, campanha de
obras que se prolongou até início da década de noventa, época
em que se inicia a construção de uma nova fortaleza, o castelo
do Monte do Brasil7 (foto 1).
A obra hidráulica descrita no documento foi composta por três
intervenções diferenciadas, referidas sequencialmente:
– conduzir a água que se levava desde a fonte das Covas da dita cidade à fortificação do Brasil (fls. 91-91 v.); esta obra tinha como
função o serviço da fabrica que se faz na montanha do Brasil e
para que fique nela perpetuamente uma fonte (fls. 72 v.-73) e
como motivação la preçissa necessidad y mucho gasto que se
7 Sobre a origem do nome, antecedentes, história, características,
estratégia militar em que se integra e outras problemáticas do Castelo
do Monte do Brasil, vide Lobo 1996; Melo 1939; Meneses 1987; Vol 1,
pp. 211-235; Meneses 1996; Sousa 1996.
Está publicada documentação sobre a construção do Castelo do Monte
do Brasil, vide Documentação sobre os Açores existente no Archivo General
de Simancas, pp. 1-4.
[67]
Fundo – Contaduría Mayor de Cuentas – 2.ª época (CMC – 2.ª ép.);
5.ECA_Cisternas_JoanaPinho
8/17/10
11:09 AM
Page 68
Foto 2 e 3: Exterior das cisternas
do Castelo do Monte do Brasil
Foto 4: Cobertura das cisternas
do Castelo do Monte do Brasil
haçia en llebar el agua en carros para las dichas obras (fl. 102 v.).
– un estanque o pila grande capaz de mas de ochenta pipas de
agua y otro menor a donde cayese el agua de dos caños para
cojer della para (…) [beber] (fls. 96-96 v.); os dois tanques
deveriam estar juntos um do outro (fl. 102 v.).
[68]
– tres çisternas (fl. 148 v.) (foto 2 a 4).
A primeira e mais completa referência documental à obra do
abastecimento de água encontra-se no fólios 75 v. a 76 v. e vale
a pena transcrever na integra:
(…) Porquanto por ser neçessario lleuar agua desde el chafaris o
fuente que esta en esta dita ciudad en la parte que llaman Las
Cuebas desde adonde esta a la parte y lugar que ha de llegar para
el serujcio ansi delo tocante ala fabrica como para que quede para
siempre para la gente que en ella quedare que ay distançia de
doçientas braças de terreno y en algunas partes y lugares aber de
yr el agua encañada por caños de piedra y arcaduzes dentro dellos
y en otras partes arcaduzes solamente con cal y embetunados con
betun de aceyte, cal y estopas y para la execuçion dello con pareçer
y asistencia de Antón Col a cuyo cargo esta la dita fortificaçion en
presençia del dito contador Hernando Ortiz de Rio se dio la dita
obra a destaxo a Pedro Taroca, veçino desta dita ciudad maestro de
canteria con el qual se hiço preçio de que por cada braça del dito
encañado de canteria se le pagase a rraçon de a treynta rreales
castellanos por las que fuesen y por cada braça de encañado sin
canteria a rraçon de a diez rreales y medio y por diez y seis arcas
vol. LIV ‘09
de piedra y cal beinte escudos por todas, de a diez rreales cada
uno, dando le el conduto abierto y los arcaduzes y veinte moyos de
cal y el dito Pedro Taroca se obligo a poner la canteria neçessaria y
açeyte para el betun y offiçiales y peones hasta ser acauada a
boluntad del dito Anton Col y que se le diesen de presente çiento y
beinte y çinco delos ditos escudos que balen quarenta y dos mill y
quinientos marauedis dela dita moneda para haçer sacar la piedra
y para otras cosas neçessarias para el dito efeto los quales se le
dieron y pagaron al dito Pedro Taroca como pareçio por librança
firmada del dito maestre de campo fecha en esta dita ciudad de
Angra en diez y seis dias de diçiembre de quinientos y nobenta y
tres, senalada del dito Anton Col. Tomada la rraçon por los ditos
contador Hernando Ortiz de Rio y Juan de Bayona dela Cassa que
por ausencia del dito beedor seruia el dito offiçio y ffee del dito
contador como los ditos marauedis se le pagaron con su
interuençion y le quedauan cargados al dito Pedro Taroca a buena
quenta delo que montase el dito conçierto de que dio carta de pago
en diez y siete dias del dito mes y ano (…) (fls. 75 v.-76 v.).
De igual modo, a primeira partida referente à obra das cisternas
descreve pormenorizadamente a obra e as suas condições e
vamos também transcrevê-la: al dicho Pedro Taroca y Luis Mendez
maestros canteros veçinos dela dicha çiudad de Angra duçientos
escudos del dicho valor que montan sesenta y ocho mill marauedis
que se le libraron a buena quenta delo que hubiesen de hauer dela
obligaçion que tenian hecha de haçer las çisternas que les fuessen
señaladas en la fortificaçion del dicho monte del Brassil que se yba
haçiendo del tamaño que les fuesse señaladas por el dicho Anton
5.ECA_Cisternas_JoanaPinho
8/17/10
11:09 AM
Page 69
AS CISTERNAS
DO MONTE DO BRASIL
– CONTRIBUTO DAS
FONTES CONTABILÍSTICAS
PARA A SUA HISTÓRIA
Estas são partidas de grande valor informativo que possibilitam
conhecer vários aspectos da obra que analisaremos em seguida.
OS MESTRES
A documentação indica-nos o nome de dois mestres envolvidos nesta obra.
Pedro Taroca, maestro de canteria ou maestro cantero, foi o
mestre responsável pela obra do abastecimento de água. Na
obra das cisternas a Pedro Taroca junta-se Luis Mendez também maestro cantero ou maestro de canteria; ambos eram
moradores em Angra (fls. 103-103 v. e 148 v.)8.
CONTRATUALIZAÇÃO
Para a obra do abastecimento de água foi realizado um
conçierto com Pedro Taroca em 16 de Dezembro de 1593, do
qual resultou uma obligaçion (fls. 93 v.-94 v.). E para a obra das
cisternas existia também uma obligaçion y contrato com os
mestres canteiros, el qual contrato y los preçios y condiçiones del
se hiçieron en presençia del dicho Antonio de Puebla y delos dichos
contador y veedor y Anton Col (fls. 103-103 v.)9.
Em ambas as intervenções existem condições contratuais a
serem cumpridas pelos mestres e que estão relacionadas com
condições técnicas da obra ou com procedimentos de trabalho;
existem também condições a serem cumpridas por quem promove a obra, nomeadamente os valores a pagar e o fornecimento de materiais.
Na obra do abastecimento de água, o mestre recebia, para além
do pagamento, o conduto aberto, os arcaduzes e a cal e deveria
fornecer a pedra e o azeite para o betum, os trabalhadores,
oficiais e os peões até a obra estar terminada (fls. 75 v.-76 v.).
O pagamento era calculado com base no preço da braça de
encanamento e suas características: encanamento em pedra a
trinta reais castelhanos a braça e encanamento sem pedra a dez
reais e meio a braça; o encanamento incluía também arcas de
pedra e cal a doze reais e meio cada (fls. 75 v.-76 v.).
Relativamente às cisternas, a obligación previa que os mestres
realizassem as três cisternas del tamaño que les fuesse señaladas
por el dicho Anton Col e que trouxessem la piedra de canteria a su
costa y dando la labrada al pie dela dicha obra (fls. 103-103 v.).
Relativamente aos valores a pagar aos mestres: cada vara, de
cinco palmos, correspondia a cinco reais e meio; cada braça de
muralha de cantaria com cal e betum, de dez palmos de
comprimento e de altura e dois e meio de profundidade, a oito
reais e três quartillos (fls. 103-103 v.).
[69]
Col trayendo los suso dichos la piedra de canteria a su costa y dando
la labrada al pie dela dicha obra, cada vara de çinco palmos por
çinco reais y medio, cada braça de muralla de canteria con cal e
vetun de diez palmos de largo y diez de alto y dos y medio de gruesso
a rraçon de a ocho reales y tres quartillos cada braça dando les para
ello los materiales en la dicha obligaçion y contrato con ellos hecho
contenidos, el qual contrato y los preçios y condiçiones del se
hiçieron en presençia del dicho Antonio de Puebla y delos dichos
contador y veedor y Anton Col (fls. 103-103 v.).
ADJUDICAÇÃO
Para a obra de abastecimento de água é referida a forma de
adjudicação; a obra foi dada a destaxo a Pedro Taroca em presença do contador Hernando Ortiz de Rio, ou seja, apresenta-se como uma empreitada, uma obra que se fez segundo
determinadas condições por um preço previamente estipulado
(fls. 75 v.-76 v.).
8 Pedro Taroca e Luis Mendez aparecem referidos na documentação
trabalhando nas obras de fortificação anteriores à construção do Castelo
do Monte do Brasil, vide anexo.
9 Antonio de Puebla foi mestre campo dos Açores de Junho de 1592 a Julho
de 1597 (cópia da provisão do rei em AGS, CMC – 2.ª ep., leg. 526);
quem exercia o cargo de Contador da gente de guerra, fabricas e
fortificações das ilhas dos Açores era Hernando Ortiz (exerceu esse ofício
de 1583 a Outubro de 1600; cópia e traslado do titulo e instruçion para
exercer o ofício em AGS, CMC – 2.ª ep., leg. 526) e quem exercia o
cargo de vedor da gente de guerra, obras e fortificações das ilhas dos
Açores era Gabriel de Ribera (exerceu esse ofício de Janeiro de 1585 a
Abril de 1597; traslado do titulo em AGS, CMC – 2.ª ep., leg. 526); para
Anton Coll, vide a nota 10.
5.ECA_Cisternas_JoanaPinho
8/17/10
11:09 AM
Page 70
CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS DA OBRA
O documento estudado indica algumas das características técnicas da obra de abastecimento de água.
No percurso de c. 200 braças, que mediava entre a fonte
localizada nas Cuevas e a fortaleza, a água deveria ir encanada
por canos de pedra com arcaduzes no interior ou apenas por
arcaduzes com cal e betum (fls. 75 v.-76 v.).
Também os tanques deveriam apresentar características
específicas; o tanque grande deveria ser capaz de mas de
ochenta pipas de agua y otro menor a donde caya el agua de dos
caños para coxer della para beber (fls. 98 v.-99).
No caso das cisternas, as suas muralhas deveriam ser de cantaria com dez palmos de comprimento e dez de altura e dois
palmos e meio de profundidade (fls. 103-103 v.) (foto 2 e 3).
[70]
ACOMPANHAMENTO E SUPERVISÃO
As três intervenções que compõem a obra hidráulica realizada
no castelo do Monte do Brasil tiveram o acompanhamento de
Anton Coll10, o único engenheiro militar documentado na obra
da fortaleza nos livros do pagador Martim Ruiz de Laris.
Na obra do abastecimento de água, o engenheiro era responsável por dar pareçer e asistencia, devendo a obra ser acauada a
boluntad del dito Anton Col (fls. 75 v.-76 v.).
Na obra dos tanques grande e pequeno o engenheiro era
responsável pela orden y traça (fls. 96-96 v.) e no caso das
cisternas, estas deveriam ser del tamaño que les fuesse señaladas
por el dicho Anton Col (fls. 103-103 v.).
Em 15 de Julho de 1594 surge a primeira alusão à obra das
cisternas (fls. 103-103 v.). Esta partida, referindo-se aos mestres
canteiros, indica las çisternas que les fuessen señaladas (fls. 103-103 v.)
e em 2 de Setembo, las çisternas que les fueron señaladas (fl. 107 v.),
indiciando que a obra já estaria iniciada; a partir de Outubro de
1594 refere-se a obra que yban haçiendo en las dichas cisternas
(fls. 112-112 v.).
No mês de Fevereiro de 1595 sabemos concretamente que se
estava a assentar a cantaria nas cisternas que se faziam no Monte
do Brasil (fl. 123 v.), obra que ainda decorria em Junho do
mesmo ano (fls. 136 v.-137).
Um desenho existente no Archivo General de Simancas datado
de 24 de Janeiro de 1595, relacionado com um relatório sobre
a situação da obra, indica que as cisternas se van haziendo,
mostra a sua localização e a sua configuração, com os 3 reservatórios rectangulares para a água.
Em 31 de Janeiro de 1596 o documento regista os pagamentos
a Pedro Taroca e Luis Mendez e justifica-os como valor que se les
debia de tres çisternas que hauian hecho en la fortaleça (fl. 148 v.)
e desde essa data como pagamentos a buena quenta delo que les
debia (fl. 150) ou a buena quenta de mayor suma de marauedis
que auian de hauer por las dichas çisternas (fls. 157-157 v.).
Assim, podemos supor que durante o primeiro trimestre de
1596 a obra já estaria em fase de conclusão ou mesmo
terminada; uma partida de Abril de 1596 reforça esta ideia
referindo-se ao pagamento delo que les debia por la hechura y
canteria delas dichas çisternas de mas de otras sumas de
marauedis que auian resçiuido por la misma quenta y hefeto para
yr las acabando (fls. 151 v.-152).
EVOLUÇÃO DA OBRA
No conjunto da obra hidráulica, primeiramente realiza-se o
sistema de abastecimento de água, que começa em Novembro
de 1593 com a condução da água por canos, da fonte localizada
no Alto das Covas ao local da fortaleza no Monte do Brasil. Esta
obra prolonga-se até finais de Abril de 1594; de finais de Maio
a princípios de Julho do mesmo ano decorre a obra do tanque
grande e do tanque pequeno.
vol. LIV ‘09
10 Anton Coll, era engenheiro por sua majestade das obras e fabricas do
castelo de S. Filipe do Monte do Brasil por cédula do rei datada de 30
de Junho de 1593. Nesta cédula ordena-se a Anton Coll que fosse assitir
na fortificação da ilha Terceira que se mandou fazer no Monte do Brasil,
de acordo com a traça que se haverá de entregar pelo Conde de
Portalegre, capitão general da gente de guerra de Portugal, com um
soldo de 40 escudos por mês; existe uma cópia do titulo datada 1616
em AGS, CMC – 2.ª ép., leg. 515.
5.ECA_Cisternas_JoanaPinho
8/17/10
11:09 AM
Page 71
AS CISTERNAS
DO MONTE DO BRASIL
– CONTRIBUTO DAS
FONTES CONTABILÍSTICAS
PARA A SUA HISTÓRIA
PAGAMENTOS
O documento em análise regista vários pagamentos referentes
à obra hidráulica realizada no castelo do Monte do Brasil
realizados del diñero dela dicha fabrica (fls. 93 v.-94 v.).
Sabemos pela documentação que os pagamentos da obra de
fortificação, e não apenas das cisternas, não foram sempre
regulares, registando o pagador falta de recursos financeiros
que levaram à suspensão dos trabalhos.
Assim foram pagos 433 escudos, 3 reais e 3 quartilhos por 215
braças de encanamento, em vez das previstas 200 braças, e 14
arcas, em vez das previstas 16 (fls. 93 v.-94 v.):
– 291 escudos e meio por noventa e sete braças e meia de
encanamento em pedra;
– 123 escudos, três reais e três quartillos por 117 braças e meia
de encanamento sem pedra;
– 20 escudos por catorze arcas.
Data
Valor
Fonte (AGS, CMC
– 2.ª ép., leg. 941)
16 Novembro 1593
125 escudos
(42.500 maravedis)
fls.75 v.-76 v.
25 Fevereiro 1594
75 escudos
(25.500 maravedis)
8 Abril 1594
40 escudos
(13.600 maravedis)
30 Abril 1594
153 escudos, 3 reais e
fls. 93 v.-94 v.
3 quartilhos
(52.147 maravedis e meio)
TABELA 2 – PAGAMENTO DA OBRA DOS TANQUES
Valor
Fonte (AGS, CMC
– 2.ª ép., leg. 941)
21 Maio 1594
50 escudos
(17.000 maravedis)
fls. 96-96 v.
fls. 88-88 v.
3 Junho 1594
50 escudos
(17.000 maravedis)
fls. 98 v.-99
fls. 91 v.-92
8 Julho 1594
115 escudos
(39.100 maravedis)
fl. 102 v.
A primeira partida corresponde a um adiantamento de 125
escudos para Pedro Taroca poder haçer sacar la piedra y para
otras cosas neçessarias para el dito efeto (fls. 72 v.-73 e 75 v.-76 v.).
Ao valor pago nestas quatro partidas acrescem 40 escudos
equivalente a um quarto de azeite que recebeu do tenedor de
bastimentos (fls. 93 v.-94 v.), pois pela obligación, o mestre
canteiro deveria fornecer o azeite para o betum.
A 30 de Abril, o pagamento final é simultaneamente uma
partida rectificativa, um acerto de contas entre o previsto na
obligación e o realmente construído, que se midio despues de
hechos; nomeadamente o número de braças de encanamento e
o número de arcas (fls. 93 v.-94 v.). Com base nas medições
realizadas é feito o ajuste do preço a pagar ao mestre, pois o
valor acordado na obligación tinha por base um preço por braça
edificada.
Data
Na obra dos tanques, por que asta que estubiese acabado no se
podia ver lo que se le hauia de dar por ello, por hauer de ser
thassado por el dicho Anton Col, foram-se realizando pagamento
por conta (fls. 96-96 v. e 98 v.-99).
A obra acabaria por ser taxada em 215 escudos e, como
aconteceu com a obra do encanamento, o resultado foi
diferente do previsto: o tanque com capacidade para oitenta
pipas de água dá lugar e um outro tanque grande o alberca capaz
de mas de cient pipas de agua (fl. 102 v.).
No início da campanha de obra os pagamentos aos mestres
canteiros eram realizados a buena quenta dela obra que yban
haçiendo en las dichas cisternas (fls. 112-112 v. e 116 v.) e en
consideraçion delo que tenian hecho por la dicha su obligaçion (fls.
112-112 v., 116 v.); as partidas de 13 de Maio e 18 de Agosto de
1595, especificam um pouco mais, justificando o pagamento rea-
[71]
TABELA 1 – PAGAMENTO DA OBRA DO ENCANAMENTO
5.ECA_Cisternas_JoanaPinho
8/17/10
11:09 AM
Page 72
TABELA 3 – PAGAMENTO DA OBRA DAS CISTERNAS
Data
[72]
Valor
Fonte (AGS, CMC
– 2.ª ép., leg. 941)
15 Julho 1594
200 escudos
(68.000 maravedis)
fls. 103-103 v.
2 Setembro 1594
200 escudos
(68.000 maravedis)
fl. 107 v.
15 Outubro 1594
200 escudos
(68.000 maravedis)
fls. 112-112 v.
26 Novembro 1594
200 escudos
(68.000 maravedis)
fl. 116 v.
7 Janeiro 1595
300 escudos
(102.000 maravedis)
fl. 121 v.
17 Fevereiro 1595
200 escudos
(68.000 maravedis)
fl. 124 v.
22 Março 1595
200 escudos
(68.000 maravedis)
fls. 127 v.-128
13 Maio 1595
200 escudos
(68.000 maravedis)
fl. 134
18 Agosto 1595
200 escudos
(68.000 maravedis)
fls. 140-140 v.
7 Outubro 1595
200 escudos
(68.000 maravedis)
fl. 145 v.
3 Novembro 1595
200 escudos
(68.000 maravedis)
fl. 146 v.
22 Janeiro 1596
50 escudos
(17.000 maravedis)
fl. 148
31 Janeiro 1596
40 escudos
(13.600 maravedis)
fl. 148 v.
8 Março 1596
50 escudos
(17.000 maravedis)
fl. 150
7 Abril 1596
25 escudos
(8.500 maravedis)
fls. 151 v.-152
22 Julho 1596
100 escudos
(34.000 maravedis)
fls. 157-157 v.
19 Dezembro 1597
50 escudos
(17.000 maravedis)
fl. 179
27 Junho 1598
20 escudos
(6.800 maravedis)
fls. 186 v.-187
vol. LIV ‘09
lizado por lo que el dicho Anton Col, a cuyo cargo estaban las dichas
obras, dijo tenian hecho y se les podia librar (fls. 134 e 140-140 v.).
Aproximando-se o final da construção e já depois de terminada,
os pagamentos era feitos a buena quenta delo que se les debia por
la obra delas dichas çisternas para descontar-se-lo delo que
hubiessen de auer (fl. 148) ou a buena quenta de mayor suma que
se les debia de tres çisternas que hauian hecho en la fortaleça del
Monte del Brasil (fl. 148 v.).
Os pagamentos regulares terminaram em 22 de Julho de 1596,
data em que a obra já estaria concluída; mais de um ano depois,
em Dezembro de 1597 realiza-se novo pagamento: A Pedro
Taroca y Luis Mendez maestros canteros que por obligacion hicieron
las cisternas que estan en la fortaleça del monte del Brasil cinquenta
escudos del dicho valor que monta diez y siette mill marauedis que
se les libraron y los hubieron de haber con mayor suma de marauedis
de lo que hubieron de hauer por las dichas çisternas (…) (fl. 179) e
seis meses depois nova partida: A Pedro Taroca y Luis Mendez
maestros canteros obligados que fueron a haçer las çisternas en la
dicha fortaleça del monte del Brasil veynte escudos del dicho valor
que montan seis mill y ocho çientos marauedis que se le libraron a
buena quenta de mayor suma que se les quedo debiendo por la
hechura delas dichas çisternas (…) (fls. 186 v.-187).
PROCEDIMENTO PARA O PAGAMENTO
O processo de pagamento aos mestres canteiros estava bem
definido: o mestre de campo fazia uma livrança que era tomada
la razon pelo contador e pelo vedor. Pedro Taroca e Luiz Mendez
recebiam a quantia indicada na livrança, em presença do
contador, e davam uma carta de pago (fl. 107 v.); o contador e
vedor cargavam a quantia recebida en la quenta que con ellos
[mestres canteiros] se tenia, quer da obra realizada (fls. 88-88 v.)
quer do que recebiam por conta da obra a realizar (fl. 124 v.).
MATERIAIS
O documento em estudo fornece também algumas informações sobre os materiais usados na obra hidráulica do castelo do
Monte do Brasil, nomeadamente a sua identificação, características, fornecedores e modo de aquisição.
5.ECA_Cisternas_JoanaPinho
8/17/10
11:09 AM
Page 73
AS CISTERNAS
DO MONTE DO BRASIL
– CONTRIBUTO DAS
FONTES CONTABILÍSTICAS
PARA A SUA HISTÓRIA
Blas Diaz, Luís Nuñez, Domingos Martinez e Juan Luis Limpio
eram os fornecedores de azeite; o local de compra era a cidade
de Angra, onde residiam todos os fornecedores. Apenas Luis
Nuñez é identificado como mercador (fls. 119 v.-120)
Em duas partidas regista-se também a compra de 1340 arcaduzes de barro para com eles conduzir a água desde a fonte da cidade de Angra à fortificação do Brasil para serviço dela (fls. 84 v.-85).
A compra foi feita a Domingos Gonçalvez e Melchior Rodriguez,
maestres de hacer hollas de barro (fls. 91-91 v.), tendo sido acordado o preço a pagar e o tamanho que deveriam ter os arcaduzes
(fls. 84 v.-85). Foi realizada em duas vezes, primeiro 1100 unidades, em 2 de Janeiro de 1594, e depois mais 240, em 8 Abril do
mesmo ano, para acabar de conduzir a água (fls. 91-91 v.)11.
Regista-se ainda a compra de estopa que juntamente com o
azeite e a cal permitia fazer o betum (fl. 123 v.), o fornecedor
de estopa era Diego Lopes.
TÉCNICAS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No contexto de uma construção militar as cisternas assumem
uma extrema importância; no caso concreto do castelo do
Monte do Brasil essa importância encontra-se reflectida na
documentação referente à construção da fortaleza. É a única
campanha de obras onde estão identificados os mestres, o
tracista, os requisitos técnicos, entre outros.
Os documentos remanescentes existentes no Archivo General
de Simancas, essencialmente de natureza contabilística, podem
desempenhar um papel fundamental para o conhecimento mais
aprofundado do conjunto edificado que é o castelo do Monte
do Brasil, como demonstra esta investigação para o caso das
cisternas.
Esta tipologia de fonte escrita fornece um conjunto de informações e contributos, grau de aprofundamento e especificidade,
determinantes para a definição da história, evolução e características do edifício.
Ou seja, a documentação contabilística, que pode parecer limitativa, repetitiva e monótona vai lentamente deixando transparecer uma riqueza e especificidade informativa que pode ser
um importante recurso para a história da construção; é necessário ter consciência das suas particularidades para maximizar o
seu potencial informativo.
Mais raramente aparece no documento a identificação de
técnicas construtivas ou de preparação de materiais.
Destacamos o betum que era utilizado, nomeadamente, para
assentar cantaria (fl. 123 v.) e para o encanamento da água juntamente com arcaduzes de barro e a cal (fls. 72 v.-73); o betum
era preparado utilizando aceyte, cal y estopa (fls. 75 v.-76 v.).
Quanto a técnicas, a descrita com mais pormenor está relacionada com o abastecimento de água ao castelo do Monte do Brasil.
O documento refere que existiam dois modos de encanamento
da água encañado con losas de canteria y dentro del arcaduzes
embetunados y entupidos con cal y piedra e arcaduzes metidos en la
piedra de tufo o tierra y embatunados y entupidos con cal y piedra.
O encanamento era intercalado por arcas de piedra que en las ccxv
braças de uno y otro encañado fueron de en trecho en trecho a donde
parecio que eran neçessarias se pussieron (fls. 93 v.-94 v.).
11 Esta situação pode estar relacionada com o número de braças de
encanamento realmente realizadas; a obligación com o mestre Pedro
Taroca previa a execução de 200 braças mas na realidade foram 215, o
que poderá ter levado a uma necessidade acrescida de arcaduzes.
[73]
Um dos materiais cuja compra aparece mais vezes registada,
associada à obra, é o azeite; este era utilizado, com outros
materiais para hacer betun que foi utilizado na obra do
encanamento (fls. 72 v.-73) e das cisternas (fls. 119 v.-120).
5.ECA_Cisternas_JoanaPinho
8/17/10
11:09 AM
Page 74
ANEXO
Outras partidas referindo Pedro Tarouca no mesmo documento, mas anteriores à obra do castelo do Monte do Brasil.
Descrição
[74]
Data do Recaudo
Fl. Pagamentos
Pagamento a Pedro Taroca, aparejador e cauo maestro e aos
restantes mestres canteiros, muradores, carpinteiros, serradores,
peones, carreros, cabuqueros e maestros de sacar das pedreiras
que trabalharam nas obras e reparos que se fizeram no castelo
de S. Sebastião da cidade de Angra, desde 19 de Setembro até
29 de Outubro de 1583.
31 Out. 1583
1 v.
Valor total: 385 escudos, 8 reais, 29 maravedis
(131.201 maravedis).
Mestres canteiros e muradores: 2 reais e
meio/dia/mestre.
Pedro Taroca: 3.376 maravedis/33 dias; 3 reais/dia12.
Pagamento a Pedro Taroca, aparejador e cauo maestro e aos
restantes mestres canteiros, muradores, carpinteiros, serradores,
peones, carreros, cabuqueros, maestros de sacar das pedreiras e
ferreiros que trabalharam nas obras e reparos que se fizeram
no castelo de S. Sebastião da cidade de Angra, desde
19 de Setembro até 29 de Dezembro de 1583.
25 Dez. 1583
2-2 v.
Valor total: 331 escudos, 9 reais, 17 maravedis
(112.863 maravedis).
Mestres canteiros e muradores: 2 reais e
meio/dia/mestre.
Pedro Taroca: 84 reais castelhanos (2.856
maravedis)/28 dias; 3 reais/dia13.
Pagamento a Pedro Taroca, aparejador e aos restantes mestres
canteiros, pedreiros, carpinteiros, peones, cabuqueros, diversos
carreros que trabalharam nas fabricas e reparos que se faziam
nos três castelos de S. Sebastião, castelo velho e Sto. António,
desde 17 de Janeiro até 22 de Abril de 1584.
22 Abr. 1584
3-3 v.
Valor total: 266 escudos, 6 reais, 14 maravedis e
meio (90.758 maravedis e meio).
Pedreiros ou mestres canteiros: 2 reais e meio
castelhanos/dia/mestre.
Pedro Taroca: 102 reais castelhanos (3.468
maravedis)/34 dias; 3 reais /dia14.
Pagamento a Pedro Taroca, aparejador e cauo maestro e aos
restantes mestres canteiros ou muradores, carpinteiros, serradores,
peones, carreros que trazem pedra de alvenaria e de tufo para fazer
abóbadas e chaminés, cal, areia, barro, água e outras coisas para
serviço das obras e reparos que se faziam nos castelos
de S. Sebastião, castelo velho dos moinhos e Sto. António,
por 26 dias de trabalho, desde 23 de Abril até 26 de Maio de 1584.
26 Mai. 1584
4 v.-5 v.
Pagamento total: 435 escudos, 29
maravedis e meio (147.929 maravedis e meio).
12 Neste recaudo e na mesma rubrica de pagamentos a mestres canteiros
e muradores, referido também Pablo Taroca a quem se pagou 2.465 por
vinte e nove dias de trabalho a razon de dois reais e meio cada dia e Luis
Mendez que recebeu 850 maravedis por 10 dias de trabalho.
13 Neste recaudo e na mesma rubrica de pagamentos a mestres canteiros e
muradores, referido também Pablo Taroca, que durante o tempo
indicado, trabalhou 19 dias e recebeu 47 reais e meio (1.615 maravedis),
a razon de 2 reais e meio cada dia e Luis Mendez que recebeu 42 reais e
meio (1.445 maravedis) por 17 dias de trabalho.
14 Neste recaudo e na mesma rubrica de pagamentos a mestres canteiros
e muradores, aparece referido logo a seguir a Pedro Taroca, Paulo
Taroca, mestre canteiro, que trabalhou 24 dias e meio e recebeu 61
reais e 1 quartilho castelhanos (2.082 maravedis e meio) e Luis Mendez,
mestre canteiro, que recebeu 42 reais e meio (1.445 maravedis).
vol. LIV ‘09
5.ECA_Cisternas_JoanaPinho
8/17/10
11:09 AM
Page 75
AS CISTERNAS
DO MONTE DO BRASIL
– CONTRIBUTO DAS
FONTES CONTABILÍSTICAS
PARA A SUA HISTÓRIA
Descrição
Fl. Pagamentos
23 Jun. 1584
6-6 v.
Pagamento total: 219 escudos, 1 real, 33 maravedis
(74.527 maravedis).
Pagamento a Pedro Taroca, aparejador e cauo maestro e aos restantes
mestres canteiros e muradores, carpinteiros, serradores, peones,
carreros, cabuqueros e mestres de sacar pedra das pedreiras, que
trabalharam nas obras e reparos das fortalezas da cidade de Angra,
desde 24 de Junho até 29 de Julho de 1584.
29 Jul. 1584
6 v.-7
Pagamento total: 206 escudos, 7 reais, 8 maravedis
e meio (70.286 maravedis e meio).
Pagamento a Pedro Taroca, aparejador e cauo maestro e aos restantes
mestres ou muradores, canteiros, carpinteiros, serradores, cabuqueros,
peones e carreros, que trabalharam nas obras e reparos das fortalezas
da cidade de Angra, desde 30 de Julho até 30 de Setembro de 1584.
30 Set. 1584
8-8 v.
Pagamento total: 126 escudos, 3 reais e meio
(42.959 maravedis).
Pagamento a Pedro Taroca, aparejador e cauo maestro e aos restantes
mestres canteiros, muradores, carpinteiros e carreros que trabalharam
nas obras do castelo de S. Sebastião, desde 1 de Outubro até 31
de Dezembro de 1584.
31 Dez. 1584
9 v.-10
Pagamento total: 73 escudos, 7 reais e 13
maradevis (25.071 maravedis).
Pagamento a Pedro Taroca por dois fornos de cozer pão que fez,
um no castelo de S. Sebastião e outro no de S. Cristóvão e foram
concertados no dito preço com os materiais.
2 Set. 1586
15
Pagamento total: 8 escudos.
Pagamento a Pedro Taroca, mestre canteiro e enparejador, e aos
restantes mestres canteiros, carpinteiros, serradores, cabuqueros,
peões, carreteiros e outras pessoas, os quais oficiais se ocuparam
desde 16 de Março até último de Maio de 1587 em fazer uma casa
da pólvora no castelo de S. Sebastião e outras coisas de
serviço do castelo.
6 Jun. 1587
20
Pagamento total: 256 escudos, 4 reais e 1 quartilho
(87.184,5 maravedis).
Mestres canteiros: 2 reais e meio/dia/mestre
Enparejador: 3 reais/dia.
Pedro Taroca: 27dias a 3 reais/dia.
[Recaudo] Pagamento pelas telhas e adereço de trastejar as casas
dos três castelos da cidade de Angra e dos armazéns onde estão
o trigo e outras munições.
22 Nov. 1587
Pedro Taroca, António Fernandez, Juan Gonçalez,
Domingo Fernandez, mestres canteiros:
7 escudos/7 dias, 2 reais e meio/dia/mestre.
[Recaudo] Pagamento por cindo dias que trabalharam no dito castelo
e Casa da Misericórdia.
15 Out. 1589
Pagamento total: 40 reais/5 dias.
Pedro da Roca (Taroca?), pedreiro: 3 reais/dia.
Juan Fernandez e António Gonçalez, pedreiros:
1 tostão/dia/mestre.
[75]
Data do Recaudo
Pagamento a Pedro Taroca, aparejador e cauo maestro e aos restantes
mestres canteiros e muradores, carpinteiros, serradores, peones,
carreros, cabuqueros e mestres de sacar pedra das pedreiras, que
trabalharam nas obras e reparos das fortalezas da cidade de Angra,
desde 27 de Maio até 23 de Junho de 1584.
5.ECA_Cisternas_JoanaPinho
8/17/10
11:09 AM
Page 76
BIBLIOGRAFIA:
Dias, Francisco Maduro, “Angra do Heroísmo e
o Castelo do Monte Brasil”, Monumentos,
5: 42-49, Lisboa, 1966, Direcção Geral dos
Edifícios e Monumentos Nacionais.
Documentação sobre os Açores existente no Archivo
General de Simancas. 2004-2007, 1-4, Angra
do Heroísmo: Instituto Açoriano de Cultura.
http://www.iac-azores.org/biblioteca-virtual.html
Fernandes, José Manuel, “Angra e o seu ‘castelo’:
imagens, percursos e diálogos”, Monumentos.
5: 36-41, Lisboa, 1996, Direcção Geral dos
Edifícios e Monumentos Nacionais.
Lobo, Francisco de Sousa, “Um olhar militar sobre
o forte”, Monumentos, 5: 16-27, Lisboa, 1996,
Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos
Nacionais.
Neves, Carlos; Carvalho, Filipe Manuel, Documentação sobre fortificações dos Açores, Boletim
do Instituto Histórico da Ilha Terceira, L: 365-426,
Angra do Heroísmo, 1992, Instituto Histórico
da Ilha Terceira.
Pinho, Joana Balsa de, “Fontes escritas e história da
construção – contributos da documentação
contabilística”, V Congreso Nacional de Historia
de la Construcción, 1: 75-81, 2007, Instituto Juan
de Herrera.
Sousa, Nestor de, “São João Baptista de Angra do
Heroísmo: um programa italiano de fortaleza
filipina e a sua ermida da Restauração”,
Monumentos, 5: 28-35, Lisboa, 1996, Direcção
Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais.
[76]
Melo, Spinola de, O castelo de S. João Baptista da
ilha Terceira e a Restauração de 1640, Angra do
Heroísmo, 1939, Livraria Andrade.
Vieira, Alberto, “Da Poliorcética à fortificação nos
Açores – Introdução ao estudo do sistema
defensivo nos Açores nos séc. XVI – XIX”,
Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira,
XLV: 1526-1565, Angra, 1987.
Menezes, Avelino de Freitas, Os Açores e o domínio
filipino (1580-1590), Angra do Heroísmo, 1987,
Instituto Histórico da Ilha Terceira.
Fontes documentais
Menezes, Avelino de Freitas, A fortaleza do Monte
Brasil: os propósitos da construção de uma
atalaia no Atlântico, Monumentos, 5: 8-13,
Lisboa, 1996, Direcção Geral dos Edifícios e
Monumentos Nacionais.
Moreira, Rafael (dir.), História das Fortificações
Portuguesas no Mundo. Lisboa, 1989, Alfa.
Mota, Valdemar, “Fortificações da ilha Terceira (entre as ruínas e a revitalização)”, Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, LI – LII: 239-238,
Angra do Heroísmo, 1993-1994, Instituto
Histórico da Ilha Terceira
vol. LIV ‘09
Archivo General de Simancas, Contaduría Mayor de
Cuentas – 2.ª época:
Legajo 515;
Legajo 520;
Legajo 526;
Legajo 941.
6.ECL_Literatura Americana_Kiwamu Hamaoka
8/17/10
9:34 AM
Page 77
ESTUDOS E CRIAÇÃO LITERÁRIA
Questão da aculturação
e da liberdade em
“Já não gosto de chocolates”
Pela ilharga esquerda
– sobre a escrita de
Cristóvão de Aguiar, a propósito
de “Cães letrados”
INSTITUTO AÇORIANO DE CULTURA
6.ECL_Literatura Americana_Kiwamu Hamaoka
8/17/10
ESTUDOS E CRIAÇÃO LITERÁRIA
JORGE BARROS
Boca do Inferno, Cascais / São Roque, Pico
9:34 AM
Page 78
6.ECL_Literatura Americana_Kiwamu Hamaoka
8/17/10
9:34 AM
Page 79
Kiwamu Hamaoka
QUESTÃO
DA ACULTURAÇÃO E
DA LIBERDADE EM
José Henrique do Álamo Oliveira nasceu na Freguesia do
Raminho da Ilha Terceira dos Açores em Maio de 1945.
Estudou Filosofia no Seminário Episcopal de Angra do Heroísmo. Cumpriu o serviço militar obrigatório, entre 1967 e 1969,
na ex-colónia portuguesa, actual Guiné-Bissau. Foi catalogador
na Biblioteca Pública e Arquivo de Angra do Heroísmo,
passando para funcionário administrativo da Comissão
Regional de Estudos e Planeamento. Em 1982, foi transferido
para a Direcção Regional dos Assuntos Culturais, onde
exerceu funções de técnico-especialista nas áreas das Letras,
Teatro e Artes Plásticas. Aposentou-se em 2001. É sócio-fundador do Alpendre Grupo de Teatro (1976), onde tem
sido director artístico e encenador, tendo escrito para este
grupo (o mais consistente e conceituado grupo de teatro dos
Açores), os seus melhores textos da modalidade. Em 1999,
recebeu o prémio “Almeida Garrett/Teatro”, com a peça A
Solidão da Casa do Regalo. Tem publicados 33 livros com poesia,
romance, conto, teatro e ensaio. Está representado em mais
de uma dezena de antologias de poesia e de ficção narrativa.
O seu romance Até Hoje – Memória de Cão1, recebeu, em
1985, o prémio “Maré Viva”, da Câmara Municipal do Seixal,
no continente português. Foi homenageado pela Câmara
Municipal de Angra do Heroísmo, que lhe editou uma
antologia de textos (poesia e prosa) sob o título O Meu Coração
é Assim. Com algumas incursões na área das artes plásticas
(exposições individuais e colectivas), executou mais de uma
centena de capas para livros. Tem poesia e prosa traduzidas
para inglês, francês, espanhol e croata. O seu romance Já não
gosto de chocolates2 foi traduzido para inglês3 e japonês4.
Como escritor, tem sido convidado a participar em diversos
congressos, simpósios e encontros, promovidos por universidades e associações culturais dos Açores e continente português, bem como do Brasil, Estados Unidos da América e Canadá. Em Abril de 2002, a Portuguese Studies Program, da Universidade da Califórnia em Berkley, convidou-o, na qualidade
de “escritor do semestre”, para leccionar a sua própria obra,
durante um mês, aos estudantes de Língua Portuguesa, sendo
o primeiro português a receber tal distinção.
Álamo Oliveira descreveu como tema da sua obra Já não gosto
de chocolates, um motivo literário que não é rigorosamente
novo, isto é, tão ortodoxo. Desenvolve uma narrativa sobre a
emigração, uma história familiar para o novo mundo, evidentemente entre muitas conhecidas algures. A novidade é, claramente, como ele expressa a história da emigração. Inevitavelmente parece ser tão genérica: um casal e os seus filhos
1 Álamo Oliveira, Até Hoje – Memória de Cão, Ulmeiro, Lisboa, 1998.
2 Ibidem, Já não gosto de chocolates, Salamandra, Lisboa,1999.
3 Diniz Borges e Katharine F. Baker traduziram para inglês: I no longer
like chocolates, Portuguese Heritege Publications of California, USA,
2006.
4 O autor destas linhas traduziu para japonês e foi publicado no Japão
pela Random House Kodansha em Tokyo em 2008.
[79]
JÁ NÃO GOSTO
DE CHOCOLATES
6.ECL_Literatura Americana_Kiwamu Hamaoka
8/17/10
9:34 AM
emigram para a América, sentem, naturalmente, imensas saudades, brigam entre si, amam-se, tornam-se ricos e morrem.
Porém, a obra é, nitidamente, única e inconfundível5. Apesar da
cena perpassar, nomeadamente, na América, a excentricidade
e a singularidade são extremamente iminentes6.
O idoso Joe Silvia é metamorfoseado no nome de Joe Sylvia,
que, num asilo opulento, e dependente duma cadeira de rodas,
contempla, retroactivamente, a sua vida toda tão cheia de
saudosas recordações. Por vezes, chora. Então, encontramos,
como é óbvio, as dificuldades de viver na sua Ilha: “Viver na ilha
era apenas melhor do que estar morto”7. O desejo de ultrapassar o “Rio Atlântico”8, a fixação nos “chocolates americanos”9,
considerados como símbolo do luxo e da abundância, obrigou-o, finalmente, a sair dolorosamente da ilha. Anteriormente na
época da baleação, a partida dos Açores era, geralmente,
motivada pela fuga à fome e ao recrutamento militar10. Desta
vez, as lágrimas familiares, também, caem sem razão ou com
razão, talvez cheias de sonhos futuros e da sua miséria insular:
[80]
E pouco mais disseram durante os vinte e três
quilómetros, preenchidos de curvas e de buracos, que os separavam do aeroporto. Por isso,
choravam por causa de nada ou por causa de
tudo, revestidos duma camada de musgos, húmida e corrosiva, ferrugenta, pestífera11.
Em Tulare, Joe Sylvia percorre o fatalismo e o neo-realismo dos
seus compatriotas trabalhando imensamente12, “comendo o
pão que o diabo amassou”, triste e irresistivelmente, cheio de
dificuldades e dúvidas acerca da sociedade americana. Como
todos desejavam, os bens começam a materializar-se em
automóveis, frigoríficos, casa ampla, festas ao estilo americano.
Lamentavelmente, os filhos integram-se na nova sociedade
americana, adoptam nomes a condizer: John, Maggie, Lucy,
Tony, Mary e Joe. Como seguem o curso dos rios, eles vivem as
suas vidas, naturalmente, com afectos, paz, tudo acumulado
com raivas e desencontros13.
Já não gosto de chocolates vai estabelecendo um contraponto
entre o presente estoicamente desiludido de Joe Sylvia e o esperançoso passado de José Silva. Ao contrário dos filhos que são
novos, o pai e a mãe que são velhos e “não pode estrangeirar-se”, “no fundo, ficou o que era”, tal como disse Vitorino Nevol. LIV ‘09
Page 80
mésio14. No presente, os filhos, nas suas distraídas visitas
semanais ao asilo, trazem-lhe chocolates que ele já não quer
nem gosta, e pede à enfermeira Rosemary que os deite fora.
Existe, inevitavelmente, a metáfora do desencanto simbolizada
nessas caixas belas de chocolates, que Joe Sylvia deseja que
embolorem e se cubram de formigas. Ele já viveu dissabores e
tragédias, nada mais restando do que a espera da morte. No
asilo, o mundo que agora vive é tristemente limitado àquele
quarto e à janela em frente, para além do ritual do banho e do
pó de talco que são as suas únicas actividades. E pouco mais lhe
resta senão deixar que os dias passem, porque os anos já estão
fora de seu horizonte15. Álamo Oliveira descreve, nitidamente,
o tema universal que é o envelhecimento e pergunta-se onde se
deve morrer.
5 Luiz António de Assis Brasil, Escritos Açorianos, Salamandra, 2003, p. 54.
6 Leia-se Onésimo Teotónio Almeida, “Portuguese-Américam Literature –
Some Thoughts and Questions”, in Hispania, volume 88, Number 4,
USA, December, 2005.
7 Essa frase suscita a de Daniel de Sá em Ilha Grande Fechada: ”Sair da Ilha
é a pior maneira de ficar nela”.
8 Onésimo Teotónio Almeida, Rio Atlântico, Salamandra, Lisboa, 1997.
9 Os chocolates americanos são, nesta obra, um símbolo da liberdade
económica e do luxo. De acordo com Onésimo Teotónio Almeida, isto é
L(usa)lândia – a Décima Ilha. Veja-se, por exemplo, o seu livro
L(usa)lândia – a Décima Ilha, Secretaria Regional dos Assuntos Sociais,
Angra do Heroísmo, 1987. A Décima Ilha seria, a meu ver, uma ilha que
deve existir fora dos Açores mas tão mítica e nunca mais descoberta.
10 Dias de Melo, Pedras Negras, Salamandra, Lisboa, 2003. A edição
americana em 1988. A edição japonesa pelo autor destas linhas em
2005. Quando morreu Dias de Melo, o autor destas linhas publicou os
artigos sobre Dias de Melo nos jornais e revistas, por exemplo, O
Correio dos Açores, nos Açores, O Luso Press, no Canadá, Portuguese
Times, Portuguese Tribune, Comunidade USA, nos Estados Unidos.
11 Álamo Oliveira, Já não gosto de chocolates, Salamandra, Lisboa, 1999, p. 38.
12 Leia-se Onésimo Teotónio Almeida, “Azorean Dreams”, in Portuguese
Spinner – An American Story. Spinner Publications, Inc. New Bedford,
Massachusetts, s.d..
13 Luiz António de Assis Brasil, Escritos Açorianos, Salamandra, 2003, p. 55.
14 Vitorino Nemésio, O Açoriano e os Açores, Renascença Portuguesa,
Porto, 1929.
15 Luiz António de Assis Brasil, Escritos Açorianos, Salamandra, 2003, p. 55.
6.ECL_Literatura Americana_Kiwamu Hamaoka
8/17/10
9:34 AM
Page 81
QUESTÃO
DA ACULTURAÇÃO E
DA LIBERDADE EM
JÁ NÃO GOSTO
DE CHOCOLATES
Na segunda viagem, isto é, quinze anos mais tarde, houve o
choque da inadaptação à terra de onde tinham partido. Nada
mais havia, nada mais lhes dizia respeito, e pior, sentiram que
não eram de terra nenhuma19. Da América, ficava-lhes apenas a
segurança da sua casa, transformada em ilha. Voltavam, não
para Tulare, mas para o pequeno mundo que tinham construído
com tanto sacrifício. Ali é que era o seu refúgio, a sua única
cidadania20. O processo de aquisição de cultura é variável, porém, no caso dos emigrantes relativamente idosos, a dificuldade é sempre maior21.
Os perigos da civilização, entretanto, esperavam-nos: o filho
John inesperadamente morre de SIDA, envergonhando a
todos. A narração da sua morte, pela sua limpidez e brevidade,
é, autenticamente, impressionante22:
E anime, outra vez, a terra... Bastava que o
aflorasse a vontade de um pequeno sopro...”
A ironia é sobre o fim de queda do Império Português a que
chegam a certa altura: como no Portugal salazarista apenas
sabiam obedecer e trabalhar, na terra da liberdade não imaginam
outra atitude possível, e assim se realizam trabalhando, cumprindo as leis, pagando os seus impostos e baixando a cabeça
aos mandatários. O antigo regime não ficou para trás, incrustado que está nas suas peles e ossos. O 25 de Abril é somente
uma sombra longínqua17.
sussurrou John. Danny recolheu as flores e
voltou a colocá-las na jarra. Estava possesso de
ansiedade. A recuperação de John angustiava-o.
Disfarçava mal. Queria telefonar ao médico.
Estava sozinho e nunca assistira à morte de
ninguém. Ainda não sabia se queria vomitar e,
no entanto, estava encharcado de suor. John
chamou-o: “Senta-te aqui. Ao pé de mim.” Rolaram duas lágrimas. “Está a ficar escuro. Dá-me a
O mesmo medo político acontece quanto às coisas nacionais, e
o assassínio de Kennedy não lhe diz respeito, é coisa para eles,
os wasp, os bossa. Os emigrantes não têm interesse no destino
social e político. Eles vivem apenas trabalhando, obedecendo
aos mandantes. O patético está nas viagens de recreio à Ilha.
São duas, e cada qual possui o seu próprio tom. A primeira
realiza-se apenas cinco anos depois de emigrados, e levam do
bom e do melhor, para mostrar, suavemente, aos vizinhos, que
a América é mesmo bela e rica. Na ilha, encontram, fatalmente,
tudo na mesma. Só que, desta vez, tudo parece mais triste e
vazio. As lembranças ainda estão bem vivas e até chegam a
sentir uma certa nostalgia daquele passado outrora tão pobre.
As despedidas são, inevitavelmente, agónicas, trespassadas de
sentimento e juras de pronto retorno18.
16 Luiz António de Assis Brasil, Escritos Açorianos, Salamandra, 2003, p. 56.
17 Idem, p. 57.
18 Idem.
19 Álamo Oliveira, Já não gosto de chocolates, Salamandra, Lisboa, 1999, p. 63.
20 Luiz António de Assis Brasil, Escritos Açorianos, Salamandra, 2003, p. 57.
21 Sobre esse tema, Onésimo Teotónio Almeida abordou tão
magistralmente no texto “Estruturas Culturais Profundas – a propósito
do duplo regresso dos emigrantes”, na Revista da Semana Cultural de
Velas, São Jorge, 1992. Leia-se, também, Onésimo Teotónio Almeida,
“Açores – A Aculturação entre a Europa e a América”, in 4.º Congresso
de Comunidades Açorianos, Horta, 1995.
22 Luiz António de Assis Brasil, Escritos Açorianos, Salamandra, 2003, p. 57.
[81]
Rosemary é a figura que desempenha a função intrínseca de
interlocutora muda de Joe, ouvindo-lhe, paciente e simpaticamente, as queixas e impertinências, os comentários vazios, e
assiste à lenta degradação daquelas carnes que lhe confiaram
para zelar. As conversas entre eles, permeadas de banalidades,
escondem, nesse momento, o grande tema que é a morte, que
Álamo Oliveira na juventude experimentou, duramente, na
guerra colonial em Guiné-Bissau. Ali estão, contrariamente,
relatos do mais puro humor, como o capítulo V, dedicado a
Tony e a sua mulher Maria de Lurdes (Milu), uma rapariga da
ilha, e que, apenas chegada à América, revela o seu talento
consumista e propenso à bajulação das autoridades, temperado
por uma ponta de vulgaridade e ostentação. Na cena em que
tem um jantar com o Presidente do Governo Regional dos
Açores em visita a Tulare, ela procura ficar, por via de regra, à
frente do homem do governo, sempre começando cada frase
com um inevitável “Uel!”16.
6.ECL_Literatura Americana_Kiwamu Hamaoka
8/17/10
9:34 AM
tua mão”. Danny obedeceu e sentiu um breve
aperto nos dedos. Foi só. Olhou para John.
Estava morto23.
No céu de Tulare, um bando de pássaros voava
na direcção norte/sul. E também a sua vida
voava, mas na direcção do fim24.
A morte da sua mulher, Mary, com cancro de mama, paralelamente à morte de John com a SIDA, mostram-nos algo
diferente e, ao mesmo tempo, as mesmas tristeza e solidão
absolutas perante os que estavam ainda vivos. A morte é inevitável e universal, porém, Álamo Oliveira captou e interceptou
tão bela e dolorosamente, que seria, como é óbvio, mérito de
ser poeta e experiente da dura guerra colonial na Guiné-Bissau.
Em Já não gosto de chocolates, a organização do tempo e do
espaço ficcional é, realmente, singular. Nas suas páginas, existe o
Page 82
percurso de uma vida inteira de Joe Sylvia, e ainda a narração das
peripécias da família desde 1955 até ao final do romance, talvez
em 1995; o espaço é multiplicado. Com tudo isso, não fica
comprometido o entendimento da história. Com a lente de saudade, o autor estabelece uma dialética subtil em que privilegia,
com igual medida, o tempo actual e o pretérito, o que gera a
ideia de que passado e presente são um único tempo, impregnado da epopeia burguesa de um homem comum, na qual nos
deixou a questão da identidade cultural dos emigrados. A América é um grande chocolate deixado para ser mordido25. O
símbolo da liberdade e da abundância na América é o chocolate.
O chocolate causou todos os problemas tão nitidamente
tratados em Já não gosto de chocolates, e legou-nos ainda, de
forma tenaz, a importância da identidade de continuar a ser
açoriano e da comunidade de coração26. Talvez isto seja a
utópica Décima Ilha que todos, de uma maneira ou de outra,
procuram ainda e sempre.
[82]
23 Álamo Oliveira, Já não gosto de chocolates, Salamandra, Lisboa, 1999,
pp. 180-181.
24 Idem, p. 181.
25 Luiz António de Assis Brasil, Escritos Açorianos, Salamandra, 2003,
pp. 58-59.
26 Onésimo Teotónio Almeida, “Portugal and the concern with National
Identity”, in Bulletin of Hispanic Studies, 1994.
vol. LIV ‘09
7.ECL_Cães letrados_CarlosAMachado
8/17/10
9:33 AM
Page 83
Carlos Alberto Machado
PELA ILHARGA
ESQUERDA
[83]
– SOBRE A ESCRITA DE
CRISTÓVÃO DE AGUIAR,
A PROPÓSITO DE
CÃES LETRADOS*
[EMBARAÇO]
AS PALAVRAS
As palavras armazenam-se como ladrões maduros
São flexíveis à memória são marinheiros em terra
Acontece dizer: levantem-se e caminhem
Mas quem somos e que hábito envergamos?
As palavras entontecem
Quando dispersas levantam rumos vários.
Zeca Afonso, Poemas e Canções.
Falar de alguém. Falar sobre o que alguém escreveu. Em público. “Sempre que alguém me faz essa intimação fico sem saber
aonde pôr as palavras. (…) Não sei onde as pôr. Rodo-as,
camponesamente, entre as mãos, como o aldeão ao chapéu em
casa de gente de cerimónia”1. Mas avanço. Fecho os olhos e
avanço com uma voz inventada, “em punhal, de encontro ao
lugar comum do peito, a ilharga esquerda”2. Nossas debilidades
– ou fortalezas.
* Este texto, com poucas alterações, serviu de apresentação a Cães
Letrados (Editora Calendário, 2008), no Centro de Artes e de Ciências
do Mar, Lajes do Pico, 17 de Dezembro de 2008.
I shall never get you put together entirely,
Pieced, glued, and properly jointed.
(Nunca conseguirei juntar-te todo,
compor-te, colar-te e unir-te devidamente.)
Sylvia Plath, The Colossus (trad. Maria de Lourdes Guimarães).
1 M/CS: 168-169.
Aconselho os leitores a não se preocuparem em seguir as origens das
chamadas para notas de rodapé, pois apenas distraem a leitura, que se
quer proveitosa – a esmagadora maioria delas são, como se explicará,
de Cristóvão de Aguiar.
2 M/CS: 164.
7.ECL_Cães letrados_CarlosAMachado
8/17/10
9:33 AM
Page 84
[INQUIRIÇÃO]
Não irei “inquirir acerca das [suas] origens, das raízes que [o]
fascicularam pela vida fora. De como foi possível arrancá-las e
carregá-las depois na carroça de outro destino. Se houve ou
não! uma raiz literária que [lhe] deslavou a vida com metáforas…”3. Não. Escolhi o fascínio de viajar pelas palavras de
Cristóvão de Aguiar – e é esse fascínio que desde logo afasta
qualquer intento bisbilhoteiro. Empreendo a viagem, humildemente, com a esperança de poder sentir o que de outro modo
seria impossível sentir: os encontrões inadvertidos das suas
palavras, as suas lâminas ainda demasiado afiadas e a sua dureza
rude – as suas palavras ainda antes de serem matéria narrativa,
as palavras antes de (aparentemente) estabilizarem no devir das
linhas paralelas de um texto.
[IDEIAS]
[84]
Sinto que neste preciso momento devo partilhar convosco umas
poucas ideias que hão-de evoluir por aí abaixo e, a modos de
jangada, nos manterem à tona do entendimento: – a escrita não é
encarada como “distracção”, “divertimento” ou “habilidade circense”, para isso, procure-se na Internet um qualquer “professor Marcelo”; – “Por trás de cada linha ou verso escrito, muita
dor sublimada se encontra latente. E sacrifício. E sofrimento”4.
A escrita de Cristóvão de Aguiar exige dele, então, dor e sacrifício – mas não necessariamente do leitor, pergunto? “Quem
escreve, disse alguém, escreve-se. (…) Recria-se a partir do intimamente vivido. Ou do revivido, ainda com mais intensidade, na
arena de desforço onde a memória aguça e esgrime as suas
armas de ataque e de defesa…”5; a memória, ainda: mesmo
para haver algo de novo a dizer, é preciso “que se desça aos
infernos do íntimo e se escarafunche o que lá possa haver (e há)
de original, no sentido de que é só nosso”6; – e, tão importante,
o esforço persistente à procura da perfeição inalcançável,
demanda sem descanso, polindo “cada palavra ou frase que
consert[a] na bigorna da perseverança. E da paciência”7.
a coisa divina, de considerar a escrita como matéria exclusiva de
eleitos ou de iluminados. Não. Cristóvão de Aguiar sabe, como
poucos, do que se trata: de uma procura daquilo que sabemos,
tragicamente, não se poder alcançar – é o que nos diz, por
palavras semelhantes, Eduardo Lourenço, a propósito de uma
possível definição de poesia e da sua inevitável tragicidade.
Cristóvão de Aguiar, artesão honesto e honrado do dizer
escrito, não pode deixar de o saber e de o sentir, e de o dizer
descarnadamente: “Penélope desfazia para enganar os
pretendentes. Eu para iludir o tempo e procurar uma perfeição
que nunca se deixa apanhar. Situa-se sempre um pouco mais
além”9. Marca maior da sua escrita é a que releva da sua consciência aguda de ser uma nova “Penélope de pacotilha”10, nesse
interminável fazer e desfazer os fios da vida e da escrita, em
“constante dobadoira a remendar e a estraçoar os livros que
componho com muito trabalho e suor” – palavras suas11. Uma
luta “agónica para atingir a perfeição da escrita”, como acentua
Eloísa Alvarez, na apresentação de A Tabuada do Tempo.
[AFECTOS]
É agora o momento de dizer que Cristóvão de Aguiar, ao mesmo
tempo que expõe e se expõe no labor miudinho de entrelaçar
vida e literatura, demarca-se com clareza dos “marajás da crítica”12: “só eu é quem sabe as linhas com que coso ou cozo a
3 PT: 171.
4 T: 15.
5 Idem.
6 Idem.
7 TT: 97.
8 TT: 318.
9 TT: 97-98.
10 CL, Nota prévia: 9.
11 Idem.
[A PROCURA DA PERFEIÇÃO]
Retomo: Cristóvão de Aguiar diz-nos quase até à exaustão: a escrita é coisa de causar “instantes de um prazer rasante à dor”8.
Não se trata aqui, obviamente, de querer elevar o acto criativo
vol. LIV ‘09
12 Eduardo Lourenço, “Ficção e realidade da crítica literária”, in Eduardo
Lourenço, O canto do signo. Existência e literatura (1957-1993), Lisboa,
Presença, 1994: 15 [A situação do crítico pareceu-se durante séculos à
do marajá caçando o tigre real do alto da torre confortável e segura de
um elefante.]
7.ECL_Cães letrados_CarlosAMachado
8/17/10
9:33 AM
Page 85
PELA ILHARGA
ESQUERDA
– SOBRE A ESCRITA DE
CRISTÓVÃO DE AGUIAR,
A PROPÓSITO DE
minha escrita…”13. Por vezes é preciso dizer as coisas com os
nomes certos: “Os escritores passam a vida, por via da
inspiração, a roer em público o plástico traseiro da esferográfica.
Os críticos fazem os seus biscates semióticos e acabam por
publicar autênticas peças sinfónicas em si maior – a chamada
crítica em si”14.
Num pequeno texto da década de cinquenta, Maurice
Blanchot15 reflecte sobre a necessária impureza da crítica e em
como nessa impureza se revela justamente a sua razão de ser.
Seguimo-lo: se as obras são de uma infinita solidão, como dizia
Rilke, nada há de pior para elas do que a crítica ao chamar a
atenção sobre as obras, ao fazê-las sair desse ponto de fascinante discrição onde elas se formaram e onde gostariam de se
fechar, ao abrigo de toda a curiosidade pública. Mas a crítica é
uma força que passa rápida e na força da sua soberania introduz, sem precauções, as obras nas mãos do mundo. A essência
do crítico moderno é ele estar ligado ao instante, à acção, ao
quotidiano fugitivo, à instantaneidade. O crítico não deve ter
arte própria nem talento pessoal, ele não deve ser o centro. É
certamente um olhar, mas um olhar anónimo, impessoal, vagabundo. A obra, na sua intimidade fechada, é ciumenta, desejosa
de negar o exterior: a tarefa da crítica não pode deixar de ser
a de seu antagonista. Mas para contrariar a obra de arte, a
crítica deve ao mesmo tempo aproximar-se dela, de a compreender, de a trair, não porque não a compreenda, mas exactamente porque ela é um esforço muito grande de compreensão.
Mas a interpretação mais fiel é também a mais infiel, porque ele
expõe completamente a obra à verdade do dia banal quando a
natureza da obra é a de escapar à verdade16.
No fundo, aquilo que é a verdade da obra é inalcançável ou não
existe. Como sublinha Eduardo Lourenço, o “(…) discurso dos
outros só se aproximará da verdade da obra se tomar consciência da sua impossível formulação da verdade, ou da sua não-verdade essencial”17.
Isto ajuda-me a dizer que nesta “apresentação”, como já se deverá ter percebido, não assumo o papel do crítico todo-poderoso, do crítico dono-da-verdade. Contudo, falar de alguém ou
de uma obra é sempre um falar-sobre. Ora, este falar-sobre
assume também ele o risco da interpretação, o risco de dizer,
mesmo sem o dizer: isto quer dizer aquilo. Como a ultrapassagem ou a fuga a este estigma será improvável, há quem
escolha, como eu, dizer claramente duas coisas: a primeira, é a
de que se está a falar de uma obra ou de um autor de quem se
gosta – o que desde logo afasta qualquer máscara de “imparcialidade”; portanto, já fui, e serei, “parcial”, é, pois, uma
questão de afecto; a segunda, é que este falar, mesmo a “favor”
do autor e da obra, é sempre um falar de um indivíduo que,
como defende António Pinto Ribeiro, está historicamente
situado, porque “toda a escrita sobre arte (…) é sempre determinada pelo local e pela época precisos em que é produzida, ou
seja, deriva do ‘estado do sítio’ em que historicamente aconteceu”18. “O que transportará consigo (…) o escritor que
escreve sobre objectos ou situações de arte? Tudo o que ele
próprio é e tudo o que sabe. Transporta consigo um conjunto
de dados, determinados pontos de vista, um número limitado
de preconceitos, algumas estratégias de análise, o sexo, a sua
sexualidade, algumas crenças (…)”19. Portanto, este escriba
que aqui hoje vos fala da obra de Cristóvão de Aguiar é um ser,
como todos nós, sujeito às mesmas boas e más consequências
de estar vivo e estar vivo num determinado local e numa
determinada época. Por isso… Então, o que para trás ficou dito
e o que se seguirá é, tão só, um testemunho de leitura – valha
13 CL, Nota prévia: 9.
14 PT: 162.
15 Maurice Blanchot, «La condition critique», in Trafic, Revue de Cinéma,
Paris, nº 2, Printemps, 1992: 140-142. O texto foi originalmente
publicado em L’Observateur, n.º 6, de 18 de Maio de 1950.
16 Extracto do meu livro Teatro da Cornucópia. As Regras do Jogo, Prefácio
de Alexandre Melo, Lisboa, frenesi, 1999.
17 José Gil, “O ensaísmo trágico”, in José Gil e Fernando Catroga, O
ensaísmo trágico de Eduardo Lourenço, Lisboa, Relógio D’Água, 1996: 14.
18 António Pinto Ribeiro, «Novas lógicas, novos sentidos», in Maria de
Lourdes Lima dos Santos (coord.), Cultura e economia - Actas do
Colóquio realizado em Lisboa, 9-11 de Novembro de 1994, Lisboa,
Instituto de Ciências Sociais, col. Estudos e Investigações, nº 4, 1995:
91-96.
19 Idem, 91.
[85]
CÃES LETRADOS
7.ECL_Cães letrados_CarlosAMachado
8/17/10
9:33 AM
Page 86
isto o que valer – e um desafio de partilha: muito de que aqui
vos digo é dito através das palavras concretas de Cristóvão de
Aguiar. Como alguém disse, a melhor crítica de um texto é o
mesmo texto dito em voz alta.
[MARAVILHAMENTO]
[86]
As obras de Cristóvão de Aguiar são de uma enorme riqueza
vocabular – que não se restringe ou deixa armadilhar em
regionalismos, tenham eles deitado raízes atrás dos séculos ou
não –, de muito variadas fontes, e passadas pelo filtro finíssimo
do homem que sempre considerou “a escrita [como] a única
maneira válida de [s]e apresentar documentado na vida”20.
Mas este rico e variado universo vocabular nunca por si só faria
literatura. O que seguramente aí nos atrai e maravilha é a desconcertante variedade de danças com que esse mundo imenso
de palavras nos brinda, um aluvião de combinatórias que têm
também o condão de evitar mostrar-nos os seus modos de
fazer, os seus esqueletos ou ossaturas – mas não evita, para
nosso prazer, de mostrar a sua presença como distanciamento
irónico, como, por exemplo, naquela que é para mim uma obra
notável de inventividade, Passageiro em Trânsito: “(…) Afrânio
(…) esgueira-se com certeza para as linhas desta escrita.” (33);
“(…) tenciono ainda apanhá-lo no alto mar, se o tempo e a
prosa estiverem de ficção.” (102). “(…) Agora vou puxar o
senhor Afrânio padrinho para dentro do rego desta história.”
(103) Resistindo, então, à vaidade de nos mostrar as suas
habilidades construtivas, Cristóvão de Aguiar dá-nos em
oferenda fluxos de palavras sem sobressaltos, dorsos nem
sempre dóceis de sons e sentidos que nos impelem a viajar para
espaços de ser até aí sequer imaginados. Mas surge sempre
uma ocasião em que um pequeno escolho interrompe a marcha e então voltamos atrás para refazer caminho – que nunca
se repete. E a cada regresso os trilhos aparentemente
conhecidos fazem-se outros. E depois de muito caminhar cada
palavra torna-se uma pedra em que nos refazemos e refazemos
o mundo. E depois ainda deixamos de saber afinal que
“história” ele estava a contar-nos e é então quando se dá em
toda a sua magnificência o “alumbramento” da palavra, quando
ela tem o atrevimento de querer ser, na qual e pela qual a vida
se dá a partilhar.
vol. LIV ‘09
[A CONSTRUÇÃO DE SI]
Cristóvão de Aguiar desce “aos seus infernos do íntimo” e lá
“escarafuncha o que lá é mais original”, no sentido do que possa
ser apenas seu. Tal como Dom Quixote desce à caverna de
Montesinos e de lá sai, vitorioso, com uma “história” que é só
sua, assim faz Cristóvão de Aguiar quando desce ao seu “inferno
íntimo”21. Embora aos olhos dos incrédulos “sanchos” estas
“histórias” possam ser alucinações ou mentiras, o que é certo é
que as “histórias” de ambos são na verdade absolutamente
verdadeiras. E são-no porque pertencem a um outro patamar, a
outra natureza, aquela que advém de uma paciente, e tantas
vezes dolorosa, fabricação de si mesmo. Um homem – Miguel
de Cervantes ou Cristóvão de Aguiar – elabora milhares de
páginas escritas que mais não são que um processo de criação e
de união de pontos que apenas no fim da obra justificam um
nome. Cervantes no Dom Quixote não criou a figura, “Dom
Quixote”, mas sim a figura “Miguel de Cervantes”, tal como
Cristóvão de Aguiar faz desde a primeira Relação de Bordo até a
A Tabuada do Tempo – apenas para referir a sua escrita diarística,
mas que a ela não se restringe. Com todos os livros que
escreveu, não é apenas o trabalho laborioso da escrita em busca
de uma impossível perfeição – de escrita e de literatura. O que
sempre demandou, e ainda demanda, creio, é a sua própria (impossível) perfeição como ser humano, como homem. Mas isto
não no sentido de algum dia vir a descobrir quem (na verdade)
é, como se se tratasse de um tesouro ciosamente escondido por
Deus, não. Não é um “procura-te e encontra-te”, ou um
encantatório jogo infantil de “escondidas”, não. Trata-se, pelo
contrário, de um processo de construção, no qual são usadas
matérias bem à mão de semear: as palavras e a memória, mas
uma memória que não se limita a rondar escaninhos mais ou
menos obscuros do passado e a reavivá-los, mas uma memória
que opera processos recombinatórios do vivido, os escolhe e
monta e remonta sob um prisma que não é apenas devedor de
uma hipotética verdade pessoal (e, no caso de Cristóvão de
Aguiar, familiar). Imaginemos que a nossa vida certo dia se frag-
20 RL-I: 304.
21 Creio que Cristóvão de Aguiar é, aliás, leitor assíduo de Cervantes e
do seu Quixote: ver por exemplo: TT: 73.
7.ECL_Cães letrados_CarlosAMachado
8/17/10
9:33 AM
Page 87
PELA ILHARGA
ESQUERDA
– SOBRE A ESCRITA DE
CRISTÓVÃO DE AGUIAR,
A PROPÓSITO DE
CÃES LETRADOS
[OBSESSÕES]
Não gostaria de lhe chamar obsessões, mas por vezes parecem-se com isso. Algumas delas foram já afloradas, tais como a busca
da perfeição, a busca da sua própria construção (ou a sua identidade, se se quiser), e a sua relação com a crítica. Acrescento à
digressão uma espécie de montagem com as palavras do autor –
as suas obsessões ou inquietações –, extraídas daquela espécie
de oficina de escrita que é toda a sua produção diarística: o escrever-se com a plasmação da sua memória (de elefante); o incansável labor sobre a matéria palavra (rigor, precisão, esforço, dor,
angústia, depressão, júbilo…).
Permitam-me chamar aqui uma voz que o próprio Cristóvão de
Aguiar convoca para o seu primeiro Relação de Bordo: o poeta
Joaquim Manuel Magalhães. É, para mim, este belíssimo poeta
que, de tudo o que li sobre o nosso autor, aquele que, precisamente como poeta, isto é, como cúmplice da escrita, mais luz
nos oferece para ler Cristóvão de Aguiar ainda com mais prazer.
Diz ele – e desculpem-me a citação longa: “Um romance que
parta da ligação entre um local de comportamentos e um
contínuo fluxo verbal, desenfreado de memória, enternecido de
situações e carregado de um ritmo transbordante não podia
deixar de agradar mesmo a quem não lê um romance a não ser
com uma certa distância. Fascinou-me muito mais o seu romance
que Casas Pardas da Velho da Costa ou Directa de Nuno Bragança. A sua “istora” (termo sedutor) de reminiscências é muito importante. Deixe-me acentuar três pontos: – lembrou-me o António Manuel Pires Cabral a sua “matança” açoriana. Lembrou-me porque gostei muito de ambas; a emigração, dada sem
demagogia nem complacências, antes como ir-se embora, com a
consciência dos limites económicos duma colectividade; – a
poesia narrativa dos corpos, dos desejos, das células familiares; –
o processo: um encadeamento, menos narrativo que designativo
da situação; quero dizer, o que conduz a istora não é um enredo,
mas impulsos organizados a partir de momentos da memória,
ligado sempre a situações sociais e comportamentais”22.
“Sinto pavor à morte”23, diz Cristóvão de Aguiar. E quando a sua
avó Hermínia ainda em vida se despede dele como se estivesse
morta, ele fica “sem saber onde pôr as palavras (…)”24. Toda a
sua escrita está marcada desde muito cedo, aliás, por este pavor,
como ele próprio regista em nota de diário datada de 7 de Abril
de 1965, quando escreve sobre a sua intenção de publicar o seu
primeiro livro, de poemas: “(…) se morrer na guerra fico com
descendência”25. (o livro, entenda-se). “Sempre tiveste um
medo pânico da morte”26, diz, mais tarde, de si para si.
O sofrimento de Cristóvão de Aguiar não é, seguramente,
motivo de auto-comiseração ou de exibição gratuita, mas não
pode nunca deixar de gritar quando a dor lhe dói, e, quando
alguma vez deixou de a passar a escrito, vem o inevitável
queixume: “(…) talvez tivesse ficado com menos agrafos no
corpo e decerto menos agravos na alma”27.
22 RL-I.
23 RL: 310.
24 RL-I: 38.
25RL-I: 39.
26 T: 17.
27 TT: 195, sobre o dever de ter escrito há mais tempo acerca da sua
dor pela ausência do filho mais moço.
[87]
mentava em milhares de minúsculos pedaços e que nos era oferecida uma derradeira possibilidade de voltar a fazer deles um
ser – de preferência cada um de nós mesmos em “versão
aperfeiçoada...” – isto é, algo que de alguma forma voltasse de
novo a fazer sentido. Sem livro de instruções – apenas Deus tem
o seu e usou-o para fazer o mundo – que ou quem nos guiaria
nesse empreendimento? Juntar às cegas os pedaços? Ao acaso?
Cristóvão de Aguiar resolveu seguir outra “instrução”: a cada
pedaço colou um nome, uma palavra; depois, foi experimentando juntar cada destes pedaços uns a seguir a outros, experimentou sequências curtas e longas; repetições; retornos; alguns pedaços foram abandonados ou desperdiçados, outros alcandorados a chaves-mestras das sequências de nomes e palavras, algumas delas novas, outras com novos usos que as posições relativas lhes ofereciam. Muito tempo demorou ele a fazer nova configuração dos fragmentos estilhaçados da sua vida – provavelmente ainda e sempre incompleta. Ou com tantas faces quantas
lhe pode oferecer cada volta completa da roda de oleiro.
7.ECL_Cães letrados_CarlosAMachado
8/17/10
9:33 AM
Page 88
Para Cristóvão de Aguiar, escrever é na verdade um modo de
se resolver28, e é deste modo que ele o exprime: “(…) o
modo de te resolveres por escrito (…)”. Que é como quem
diz, uma espécie de renascimento. Como creio que já vos
disse, em Cristóvão de Aguiar trata-se sempre, ou quase
sempre (é preciso ter cuidado com as certezas), de uma eterna
renovação: “É urgente reconstruíres-te. Trasfegares-te como
teu avô fazia ao vinho novo. Desentulha-te dos montes de
destroços e ruínas que te impedem o acesso à unidade original,
à clarividência dos gestos, à limpidez da entrega. O melhor é
escreveres-te. Necessitas de palavras. De muitas palavras em
brasa, amadurecidas, capazes de te limpar de uma vida que se
te azedou. Colhe o fruto sazonado que o tempo põe todos os
dias ao teu alcance…”29.
[88]
O seu ofício é um “ofício de trevas”30. E a divisa de Goethe
poderia ser a sua: “Se tens um monstro, escreve-o”31. Para ele,
“Escrever é um acto solitário, de introspecção profunda (…)
não se compadece com o sol brilhante da chamada felicidade.
Exige, sim, um estado psíquico de penumbra, situado entre a
saúde e a doença, entre a mágoa e uma alegria meio triste. Era
este o estado tranquilo que eu gostava de alcançar”32, um
“(…) estado de doce tensão interior (…)”33.
Apesar da sua persistência, não são poucos os momentos de
desânimo, na sua procura incessante de perfeição: “O que tenho
andado escrevinhando neste caderno mete-me nojo. Aliás, tudo
quanto tenho feito ultimamente em matéria de escrita me
desgosta”34. E nos piores momentos “Cresce-[lh]e a alma de
um só lado”35. “Já não tenho que escrever. Fui esgotando o que
julgava haver em mim depositado, à espera de uma inteligência
que lhe desse uma ordem, um rumo, um vazão. Mas, também
ela, me tem sido curta e madrasta – não lhe soube dar o uso e
o óleo que ela requereria. E as coisas, como se sabe, embotam
e embrutam por falta de serventia”36. E desabafa: “(…) nunca
acerto com a justa medida”37. “O ofício da palavra rende pouco
e dá suores de aflição. Trabalhar. Trabalhar”38.
Não será estranho ouvir dizer a alguém tão perfeccionista:
“(…) tenho pavor às palavras. Não sei se sabes que elas têm o
condão de transfigurar coisas e criaturas. Bafeja-as de um sopro
vol. LIV ‘09
de vida verdadeira, transformando-as em seres de um outro
mundo mais real e plausível do que este. Só de íntimo lavado e
de ânimo aquecido consigo abeirar-me da palavra, quer para
lhe rasgar o ventre, arredondar-lhe o corpo, afiar-lhe os gumes
e os cumes, quer ainda para com ela travar uma luta, a que, não
raro, só os alvores da madrugada vêm pôr ponto final. Nunca
para adulá-la, porque, se o silêncio é de ouro, de mais valioso
ouro será ainda a palavra gerada, amadurecida e parida na
maternidade do verbo”39.
Cristóvão de Aguiar sabe que “(…) não po[de] negar que, por
vezes, encontr[a] na escrita uma certa paz interina. Mas dá-[lh]e
também muita guerra…”40. “Por trás de cada linha ou verso
escrito, muita dor sublimada se encontra latente. E sacrifício. E
sofrimento. Claro que já sofreste. E a maduridade e a distanciação? Quem escreve, disse alguém, escreve-se. (…) Recria-se a
partir do intimamente vivido. Ou do revivido, ainda com mais
intensidade, na arena de desforço onde a memória aguça e
esgrime as suas armas de ataque e de defesa… (…) Exageras…
Há sempre alguma coisa nova a dizer. É mister que se desça aos
infernos do íntimo e se escarafunche o que lá possa haver (e há)
de original, no sentido de que é só nosso. Tudo isto leva tempo,
muito tempo. Tens de atravessar vastos desertos, sofrer muitas
angústias, derramar suor em abundância. (…) Nada te detém
28 RL-I: 308.
29 T: 23-24.
30 RL-II: 110.
31 RL-II: 150.
32 TT: 88.
33 TT: 78.
34 RL-I: 325.
35 RL-II: 106.
36 RL-II: 72-73.
37 TT: 37.
38 TT: 304.
39 RL-I: 340.
40 TT: 195.
7.ECL_Cães letrados_CarlosAMachado
8/17/10
9:33 AM
Page 89
PELA ILHARGA
ESQUERDA
– SOBRE A ESCRITA DE
CRISTÓVÃO DE AGUIAR,
A PROPÓSITO DE
CÃES LETRADOS
Pacientemente, embora às vezes se sinta “(…) enjoado do mar
encapelado em que a escrita se transforma (…)”43, Cristóvão
de Aguiar persiste no seu trabalho interminável “de coligir,
podar e limar centenas de páginas (…)”44, de as “ir colocando,
obedientes, dentro do sistema nervoso da frase”45, labor que
noutras ocasiões parece descoroçoante: “(…) seis magras
páginas em sete horas e picos de severa aplicação (…)”46;
“Aqui em frente do ecrã do computador há não sei quanto
tempo e sem conseguir pescar uma palavra das muitas que
sinto correr pela ribeira que nasce e desagua em mim”47; “[um
dia em que] (…) só escutei as minhas vozes de dentro, quase
sempre muito exigentes e duras comigo, não têm a mínima
condescendência nem transigem um cisquinho no que diz
respeito ao trabalho de escrita e a outros pontos da gramática
de viver”48.
[ESTE LIVRINHO]
“Os textos que compõem este livrinho, que ora vos apresento,
foram extraídos, com ligeiras alterações, de vários livros meus
[boa parte deles, por exemplo, d’A Tabuada do Tempo e de
Ciclone de Setembro] onde essas histórias sobre cães e cadelas
se encontram – os inseparáveis e afectuosos companheiros da
minha infância e juventude”49.
autobiográfica como derradeira possibilidade. Esta perspectiva,
sobreleva e arrasta outra questão, que é a da tendencial anulação de fronteiras entre o real e o ficcional, isto é, de fazer
derivar a diferença para outro patamar, onde são bem distintos
os valores em causa, como seja, por exemplo, a possibilidade de
considerar igualmente o real sensível como algo que se constrói
autoralmente, e, assim, ser possível modelar o experienciado e
o imaginado com as mesmas regras que a ficção utiliza.
Isto que parece apenas teoria é absolutamente claro na prosa de
Cristóvão de Aguiar. Hei-de dar-vos um exemplo no final destas
notas quando vos ler um trecho de um dos seus livros e vos
convidar a reflectir a que tipo de obra do autor ele pertence.
E acrescento ainda isto, que é claro e público: o primeiro Relação de Bordo, livro em jeito de diário que relata os anos 19641988, foi pacientemente escrito nos finais da década de 1990,
com o auxílio da sua prodigiosa memória, de notas de época,
cartas e, acrescento eu como óbvio corolário, do uso da mesma
oficina em que se fabrica toda e qualquer ficção. “A minha escrita
tem de ser coada pela memória afectiva”50. “Tenho de facto facilidade em me transportar a outras épocas da minha vida e
revivê-las quase com a mesma intensidade com que as vivi.
Basta-me um incentivo que incendeie a memória”51, diz-nos o
autor com toda esta clareza. Os diários ou quase-diários Relação
de Bordo I e II, Nova Relação de Bordo e A Tabuada do Tempo são
exemplares e eloquentes. Tal como as ficções Passageiro em
41 T: 15.
42 TT: 17.
Esta pequena declaração de Cristóvão de Aguiar pode servir-nos como guia de leitura de toda a sua obra. Em poucas
palavras direi que se trata do complexo entrelaçar, quase
promiscuidade, entre a escrita dita diarística e a escrita de ficção.
É sempre Cristóvão de Aguiar homem/escritor que nesses dois
registos se encontra e desencontra. De tal maneira e tão
radicalmente o faz que diria que, com essa atitude, é a própria
fronteira de géneros que se esbate, ou, num certo sentido, se
clarifica e aprofunda aquela que para muitos é a mais forte
possibilidade (ou validade) da narrativa ficcional: a implicação
43 M/CS: 171.
44 TT: 74.
45 RL-I: 262
46 TT: 111.
47 TT: 72.
48 CL, Nota prévia: 10.
49 RL-II: 42.
50 TT: 74-75.
51 T: 77.
[89]
quando galopas à garupa da imaginação e da fantasia. Desde que
te fervilha um poema ou uma história, pedindo forja, grosa e o
demais ferramental com que a escrita se afeiçoa (…)”41. Mas é
“Caprichosa, a escrita. Deleita-se em vingar-se de quem dela se
abeira de coração inseguro e de mãos limpas”42.
7.ECL_Cães letrados_CarlosAMachado
8/17/10
9:33 AM
Page 90
Trânsito, Trasfega e Ciclone em Setembro. Podemos talvez dizer
isto: Cristóvão de Aguiar é tão verdadeiro nuns como noutros
livros. E a literatura ficcional é excelente tanto nuns como
noutros. Ele sabe que as suas razões são “(…) razões que, por
serem imaginadas, correm o risco de se tornar verídicas…”52.
Os contos de Cães Letrados são, como disse, extraídos de
vários livros do autor: e não errarei muito se afirmar que mais
de metade destas pequenas ficções pertencem… aos seus
livros ditos não ficcionais – os diários.
Quem leu os livros anteriores só tem a ganhar em ler esta
sequência – como nova. Aos leitores que só agora chegam ao
mundo de Cristóvão de Aguiar, Cães Letrados é um saboroso
aperitivo, recheado de bons sabores e bem nutrientes!
[90]
Os contos podem agrupar-se em dois latos conjuntos: um, integra as estórias que o autor nos diz que vivenciou (mas só ele saberá a verdade – ou não…); outros, em que os cães são vestidos com um pêlo mais alegórico e por aí ironizam com figuras
(supostamente não caninas) – cães polícias e polícias cães, cães
universitários… – que todos podemos facilmente reconhecer
no nosso quotidiano. Para Cristóvão de Aguiar, os cães têm sido
“(…) povoadores de solidões acumuladas”53. Boa companhia,
portanto.
E agora, peço a vossa atenção para o trecho de que vos falei.
[PRAZER RASANTE À DOR]
“A vontade de escrever sentida não me é bissexta como a
escrita; só quando, nos anos do rei, executa a dança do ventre
me caem todas as defesas: deixo então de lhe resistir e fico nela
enleado como aranhiço em sua própria teia; nesses instantes de
um prazer rasante à dor, sinto-me mais rente a mim e acareado
por ela (…), atraindo-me para jogos preliminares do banquete
dos sentidos que se vai seguir; não sei deslindar qual deles será
o mais cativante, talvez ambos, assim como se torna impossível
delimitar as fronteiras dos moldes em que será vazada a massa
ígnea com que vou lavourando as palavras para se transfigurarem em magma e escrita, ou escrita de magma, cada extrema
crescendo para a vizinha, invadindo-se reciprocamente, derriçando-se ou eriçando-se, acasalando-se por amor raramente
espúrio, rumo a uma nebulosa cada vez mais espapaçada de
sombra na qual só cabe a morte total de todas as balizas entre
suas terras comarcãs. Cuidado, porém: a morte traz no peito
uma carta de alforria, no sítio exacto da cicatriz ficada do
recontro; nessa sintonia vai originar-se uma ressurreição seguida
de outro aniquilamento, e assim por diante, até a nebulosa se
tornar no cerne de toda a escrita, sem castas nem marcos, sem
sentinelas nem espias”.
ABREVIATURAS DA OBRAS DE CRISTÓVÃO DE AGUIAR UTILIZADAS:
CL
M/CS
NRL
PT
RL I
RL II
T
TT
=
=
=
=
=
=
=
=
Cães Letrados, s/ l., Calendário, 2008
Marilha (Ciclone de Setembro), Lisboa, Dom Quixote, 2003
Nova Relação de Bordo, Lisboa, Dom Quixote, 2004
Passageiro em Trânsito, Lisboa, Salamandra, 1994
Relação de Bordo (1964-1988), Porto, Campo das Letras, 1999
Relação de Bordo II (1989-1992), Porto, Campo das Letras, 2000
Trasfega, Lisboa, Dom Quixote, 2005
Tabuada do Tempo, Coimbra, Almedina, 2007
52 NRL: 211.
53 TT: 318.
vol. LIV ‘09
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
9:52 AM
Page 91
CIÊNCIAS HUMANAS
Índices do Cartório da Mitra
de Angra (ilha de Santa Maria)
História dos Açores:
do descobrimento ao século XX
Sobre Manuel Garcia Monteiro
no tricinquentenário do
seu nascimento
INSTITUTO AÇORIANO DE CULTURA
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
9:52 AM
Page 92
CIÊNCIAS HUMANAS
JORGE BARROS
Capelinhos, Faial / Ponta da Piedade, Lagos
vol. LIV ‘09
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
9:52 AM
Page 93
Filipe Pinheiro de Campos
ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
Os fundos documentais de natureza eclesiástica têm-se
revelado como uma grande fonte de informações para os mais
diversos estudos de natureza histórica e sócio-económica.
Muitos desses documentos têm sido verdadeiros achados que
permitiram novas abordagens e a abertura de novos caminhos
de investigação.
Para além de tempo, os investigadores e pesquisadores nestas
áreas carecem também de uma organização sistemática da
documentação salvaguardada nos diferentes arquivos de modo
a obviar o seu trabalho e a permitir uma localização mais célere.
Felizmente alguns trabalhos na temática da indexação e
inventariação1 têm vindo a ser publicados o que tem permitido
não apenas uma melhor gestão do tempo de investigação mas
também uma maior eficácia nas metodologias a desenvolver.
Tal situação reflecte o papel cada vez mais activo que a sociedade civil tem vindo a desenvolver em prole da maior facilidade
de acesso e disseminação da informação, papel que estamos
certos, incumbindo ao Estado como fiel depositário do nosso
património comum tem vindo a ser muito secundarizado e
mesmo esquecido por parte das instituições. É neste sentido de
auxílio e em paralelo de organizar um instrumento simples para
um melhor conhecimento dos diferentes fundos documentais
que damos início a um conjunto de artigos que esperamos
possam contemplar a documentação relativa às diferentes ilhas.
Após o descobrimento das ilhas, foi necessária a criação de uma
jurisdição de natureza espiritual para toda a região. Nesse
sentido sabe-se que já anteriormente a 1528, D. João III pensou
na criação de um Bispado nas ilhas dos Açores o que se começou a concretizar com a missão encabeçada por D. Martinho
de Portugal em Maio de 1532. Essa embaixada régia junto do
Vaticano solicitou a criação de vários Bispados, entre os quais
um nos Açores, escolhendo-se para sede do mesmo a ilha de
São Miguel por ser a de maiores dimensões e já então a mais
populosa. Clemente II cedeu às pretensões do monarca português e em 31 de Janeiro de 1533 cria o Bispado de São Miguel
com sede na ilha do mesmo nome. Falecendo o pontífice em
26 de Setembro de 1534 sem ter expedido a respectiva bula de
criação foi seu sucessor, Paulo III, que pela Bula Aequum
reputamus de 3 de Novembro de 15342, erigiu o Bispado de São
Salvador dando-lhe por catedral a Igreja da mesma invocação
em Angra, sufragânea do Arcebispo do Funchal. Em 1650 a Sé
do Funchal perde a sua dignidade metropolitana e a Diocese
passa a ser sufragânea do Arcebispo de Lisboa. Foi seu primeiro
Bispo D. Agostinho Ribeiro, com jurisdição em todas as ilhas dos
Açores.
1 Entre eles destacam-se os trabalhos de Luís Amaral no seu Inventário dos
Registos Paroquiais de Lisboa (Casamentos) em publicação desde 2006 e
muitos artigos dispersos que têm vindo a sistematizar alguma da
informação arquivística.
2 Fortunato de Almeida – História da Igreja em Portugal. Volume II, Porto,
1968, p.22.
[93]
(ILHA DE SANTA MARIA)
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
9:52 AM
Page 94
O fundo da Mitra de Angra no Arquivo Regional de Angra do
Heroísmo3 é composto por 988 maços distribuídos de acordo
com a origem dos diferentes processos e documentos:
Série
Maços
Documentos
Terceira
1 a 293
13975
São Miguel
294 a 570
7379
Faial
571 a 643
1643
Graciosa
644 a 751
3034
Pico
752 a 823
1469
São Jorge
824 a 877
1153
Santa Maria
878 a 923
560
Flores
924 a 963
890
Corvo
964 a 973
136
Estrangeiros4
974 a 975
27
Deteriorados
976 a 988
-
Neste primeiro conjunto de índices procedemos à inventariação
dos documentos referentes à Ilha de Santa Maria5, com datas
extremas situadas entre 1658 e 1923. Entre as diferentes tipologias de documentação, optámos pela sua divisão em quatro
categorias para mais fácil indexação, mantendo no entanto a
numeração dada no respectivo inventário6:
• Habilitações de Genere e Ordenações Sacerdotais
(1658-1848) compreendendo todos os processos de diligências para Inquirição de genere relativos a indivíduos que se
pretendem habilitar nas ordens sacras, processos de vita et
moribus, de ordenação e tomada de ordens assim como colações e nomeações em diferentes benefícios eclesiásticos;
• Patrimónios Eclesiásticos (1697-1839) nos quais se incluem todos os processos destinados à constituição de património temporal para os ordinandos e respectivos dotes e
dotadores;
[94]
• Dispensas Matrimoniais (1721-1910) que incluem alvarás
matrimoniais, licenças para casamentos e atestados de fé de
pobreza, destinados à obtenção de dispensa por razões de
consanguinidade, afinidade ou por qualquer outro impedimento canónico;
• Documentação Diversa (1687-1923) onde se incluem
requerimentos, inventários, licenças para oratório, autos de
redução de legados e reunião de vínculos, atestados e certidões várias.
3 Para além deste fundo existe o fundo designado por Cabido composto
por 84 livros, 7 maços e 13 pastas.
4 Corresponde a documentos de indivíduos oriundos de outras Dioceses.
5 Por equívoco de leitura ou de organização existem alguns documentos
referentes a outras ilhas que não Santa Maria mantendo-se neste artigo a
numeração original e ressalvando tais situações para futuras correcções.
6 No Maço 920 não se encontram os documentos 1, 2 e 3 e procedemos
à inscrição do número 24A.
vol. LIV ‘09
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
9:52 AM
Page 95
ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
[95]
(ILHA DE SANTA MARIA)
Autuação para Ordens Sacras e Menores
de Francisco Cabral Teixeira
(29 de Março de 1672)
Diligências para Inquirição de Genere
de Manuel da Câmara Canto Albuquerque
(26 de Agosto de 1848)
Doc. 1 Maço 921
Doc. 12 Maço 917
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
9:52 AM
Page 96
[96]
Mandato para Comutação de Penitências
a favor de Diniz Maria dos Reis e Maria Jacinta
(26 de Fevereiro de 1875)
Dispensa Matrimonial a favor de Victorino Monteiro
de Bettencourt e D. Ana Isabel Monteiro
(2 de Julho de 1834)
Doc. 35 Maço 923
Doc. 9 Maço 914
vol. LIV ‘09
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
9:52 AM
Page 97
ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
[97]
(ILHA DE SANTA MARIA)
Indulto Apostólico e Beneplácito Régio para Oratório
Privado sendo requerente o Capitão Bento Soares de
Albergaria e outros
(29 de Maio de 1816)
Doc. 4 Maço 921
Provisão para Tesoureiro para a Igreja de Nossa Senhora da
Assunção de Vila do Porto a favor de Manuel Soares Ferreira
(22 de Junho de 1876)
Doc. 36 Maço 923
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
9:52 AM
[98]
Matriz de Nossa Senhora da Assunção,
Vila do Porto
vol. LIV ‘09
Page 98
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
9:52 AM
Page 99
ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
(ILHA DE SANTA MARIA)
Nome
Documento ( Sumário)
Data
Maço
Doc.
André Soares Cabral7
Inquirição de genere - Natural de Santo Espírito, filho de André Soares Garcia,
da Matriz e de Maria de Resendes, de Santo Espírito, n.p. de Francisco Soares
Garcia e Catarina Ferreira e n.m. de Manuel Cabral de Melo e Emerenciana
de Resendes.
12.09.1724
903
11
António de Andrade
Inquirição de genere - Natural de Santa Maria.
10.02.1722
903
10
António de Melo
Inquirição de genere - Filho do Alferes Gaspar de Andrade, de Santo Espírito
e de Cristina de Melo, da Matriz, n.p. de António Velho de Fontes e Inês de
Andrade e n.m. de Sebastião de Fontes, da Matriz e Catarina Velho de Melo,
de São Pedro.
22.08.1722
903
9
António de Melo
Inquirição de genere - Filho do Alferes Gaspar de Andrade, de Santo Espírito
e de Cristina de Melo, da Matriz, n.p. de António Velho de Fontes e Inês de
Andrade e n.m. de Sebastião de Fontes, da Matriz e Catarina Velho de Melo,
de São Pedro.
31.07.1722
903
8
António de Melo8
Inquirição de genere - Natural da Matriz, filho de Baltazar de Andrade e de
Cristina de Sousa, n.p. de Nicolau Folgado e Maria Pacheco e n.m. de
Francisco de Freitas e Maria de Sousa.
18.03.1706
903
2
António de Moura Chaves9 Inquirição de genere - Natural da Matriz, filho de Francisco de Moura Chaves e
de Francisca Quitéria de Sousa, n.p. de Manuel de Moura Chaves e Catarina de
Magalhães e n.m. de Francisco de Andrade e Silva e Margarida de Sousa.
03.03.1746
903
14
António de Paiva
Inquirição de genere - Natural da Matriz, filho de Matias de Sousa e Maria de
Paiva, n.p. de Francisco de Freitas e Maria de Sousa e n.m. de António de Paiva
Ponte e Ana de Morais.
27.08.1727
903
12
António Soares Ferreira10
Inquirição de genere - Filho de Manuel Soares Garcia e de Maria Ferreira, n.p.
de André Garcia e Maria Soares e n.m. de Duarte Velho e Inês Ferreira.
20.06.1692
902
4
7 Rodrigo Rodrigues – Genealogias de São Miguel e Santa Maria, p.810.
8 Idem, p.3106.
9 Idem, p.2187.
10 Idem, p.809.
[99]
ARQUIVO REGIONAL DE ANGRA DO HEROÍSMO
CARTÓRIO DA MITRA E CABIDO DE ANGRA
ILHA DE SANTA MARIA
HABILITAÇÕES DE GENERE
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
Nome
9:52 AM
Page 100
[100]
Documento ( Sumário)
Data
Maço
Doc.
Baltazar Ferreira11
Inquirição de genere - Filho de Manuel Soares Garcia e Maria Ferreira de Andrade,
n.p. de André Garcia e Maria Soares e n.m. de Duarte Velho e Inês Ferreira.
16.10.1704
879
4
Brás Soares de Sousa12
Inquirição de genere - Filho de Pedro Soares Coelho e de D. Isabel de Macedo,
da Matriz, n.p. de Manuel Coelho de Melo, de São Pedro e D. Inês de Sousa,
da Matriz e n.m. de Cristóvão Fernandes de Fontes e Maria Pereira, da Matriz.
20.06.1715
903
4
Caetano de Sousa
Inquirição de genere - Filho de Baltazar de Andrade e de Catarina de São Miguel,
n.p. de Gaspar Furtado e Maria de Fontes e n.m. de Martinho de Sousa e
Maria de Mesquita, todos da Matriz.
20.04.1716
903
5
Cosme de Azevedo
Inquirição de genere - Natural da Matriz, filho de Domingos de Azevedo,
natural de Savariz, Castro Daire e de Vitória de Andrade, da Matriz, n.p.
de Francisco de Azevedo e Maria João, de Chãos de Paiva e n.m. de
Manuel Curvelo, de Santa Bárbara e Guiomar Gomes, da Matriz.
20.05.1717
903
6
Cristóvão de Andrade13
Inquirição de genere - Filho de Matias Nunes de Andrade e de Maria de Matos,
n.p. de Gabriel de Sousa e Melo e Isabel de Andrade Puim14 e n.m. de António
de Matos Faleiro e Catarina Gonçalves.
02.04.1698
902
6
Domingos de Fontes
Inquirição de genere - Natural de São Pedro, filho de Manuel de Fontes de
Morais15, de São Pedro e de Antónia de Resendes, da Matriz, n.p. de Francisco
Fernandes Távora e Brites de Morais e n.m. de Félix de Resendes de Carvalho
e Inês de Fontes.
11.09.1705
903
1
Duarte Tavares Correia16
Inquirição de genere - Natural da Matriz, filho do Capitão Inácio de Sousa Falcão
e D. Isabel de Bulhões, n.p. do Capitão Duarte Tavares Correia e D. Maria Velho
de Melo, de Santo Espírito e n.m. de Domingos de Melo e Isabel de Alpoim.
19.02.1720
903
7
Francisco Cabral Teixeira17 Autuação para Ordens Menores e Sacras - Filho de Bartolomeu Cabral e Catarina
Teixeira, n.p. de Manuel Francisco Cabral e Catarina Velho e n.m. de António
Pires Figueira e Ana da Costa.
29.03.1672
921
1
Francisco de Andrade
Correia
07.07.1712
902
10
Inquirição de genere - Filho de Bartolomeu Pacheco Bertão e de Maria Correia.
11 Idem, p.809.
15 Genealogias de São Miguel e Santa Maria, p.3613.
12 Idem, p.854.
16 Idem, p.869.
13 Idem, p.767.
17 Idem, p.2701.
14 O apelido Puim que ainda subsiste em Santa Maria surge com diferentes
grafias como Poim e Alpoim sendo este que certamente corresponderá
à origem do mesmo.
vol. LIV ‘09
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
9:52 AM
Page 101
ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
(ILHA DE SANTA MARIA)
Documento ( Sumário)
Data
Maço
Doc.
Francisco José Cabral
Inquirição de genere - Natural de Nossa Senhora dos Anjos da Fajã (São Miguel),
filho de José Francisco Cabral e de Victorina Jacinta, n.p. de Mateus Lourenço e
de Maria do Nascimento, naturais da Fajã e n.m. de Jerónimo de Andrade e de
Maria de Jesus, da Matriz de Vila do Porto.
15.05.1820
921
5
Gaspar de Braga
Inquirição de genere - Filho de Gaspar de Braga e Inês de Andrade de Alvelos e
irmão do Padre António Curvelo de Braga.
06.09.1700
902
9
Jerónimo de Paiva Ponte
Inquirição de genere - Filho do Alferes António Velho Cabral e de Ana de
Paiva Ponte, n.p. de Manuel Velho e Bárbara de Fontes e n.m. de António de
Paiva Ponte e Ana de Morais de Lemos, da Matriz.
29.08.1708
903
3
João de Melo Coutinho
Inquirição de genere - Filho do Capitão António Coelho de Sousa e de
D. Maria de Bettencourt.
20.10.1670
902
2
João de Resendes
Inquirição de genere - Natural de São Pedro, filho de João de Resendes Moura,
de São Pedro e Antónia de Resendes, da Matriz, n.p. do Capitão António de Melo
Cabral e Ana de Resendes de Moura18 e n.m. de Manuel Cabral de Melo e
Maria de Melo.
05.09.1736
903
13
João Monteiro Tavares
Bettencourt
Colação na Igreja de Nossa Senhora da Purificação de Santo Espírito - Filho de João
Bernardo Tavares, natural de Santo Espírito e de D. Eulália Rita19, natural da
Matriz de Vila do Porto, n.p. de José de Moura Tavares e de Ana Rosa e n.m.
de João Bento da Câmara e de D. Ana Margarida Monteiro.
22.05.1840
921
6
José Jácome20
Inquirição de genere - Filho de Jácome Tomé Faleiro e de Ana da Costa, n.p. de
Domingos Gonçalves da Ponte e de Catarina Gonçalves, de Santa Maria e n.m.
de João da Costa Barbosa, de Angeja e de Maria Velho, de Santa Maria.
02.06.1703
902
11
Manuel António dos Reis
Inquirição de genere - Natural da Matriz, filho de António Ventura de Melo e de
Bárbara Eufrázia21, n.p. de Manuel Francisco de Melo e Francisca Inácia e n.m.
de António José dos Reis e Francisca Inácia, da Matriz de Vila do Porto.
21.06.1842
921
8
Manuel da Câmara
Canto Albuquerque22
Inquirição de genere - Morador no Rio de Janeiro e filho de Manuel da Câmara
Soares e Albuquerque, natural de São Pedro, e de D. Ana Querubina de
Figueiredo, natural de Vila do Porto, n.p. de Bernardo do Canto Soares Sousa
Albuquerque e de D. Umbelina Micaela da Câmara Medeiros, ambos de Vila do
Porto e n.m. de Luís Manuel de Figueiredo Sousa Coutinho, natural de
São Pedro e D. Úrsula Rosa da Câmara, natural de Vila do Porto.
26.08.1848
917
12
18 Idem, p.3615.
20 Idem, p.3086.
19 Idem, p.2654.
21 Idem, p.1776.
22 Idem, p.786.
[101]
Nome
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
Nome
9:52 AM
Page 102
[102]
Documento ( Sumário)
Data
Maço
Doc.
Manuel de Andrade23
Autuação para Ordens Menores - Filho de Manuel de Melo Chaves e de Maria
de Magalhães, n.p. de Manuel Pires Chaves, da Matriz de Vila do Porto e
Helena Fernandes, de Santo Espírito e n.m. do Capitão Bernardo de Resendes
e Ana de Andrade, ambos da Matriz de Vila do Porto.
22.06.1705
921
2
Manuel Delgado Fragoso
Breve de Dispensa Apostólica para Ordenação - Filho de Manuel Fragoso Salgado
e de D. Mariana de Carvalho24.
17.10.1693
898
1
Manuel Ferreira
Inquirição de genere e Processo de Vita et Moribus - Filho de Francisco Fernandes
de Almada e de Beatriz Ferreira25, n.p. de Manuel Fernandes Jorge e de Maria
de Freitas e n.m. de Antão da Fonte e Maria de Andrade.
30.04.1697
902
5
Manuel Jácome da Costa26
Inquirição de genere - Para ser colado na Matriz. Filho de Jácome Tomé Faleiro e
de Ana da Costa, n.p. de Domingos Gonçalves da Ponte e de Catarina Gonçalves,
de Santa Maria e n.m. de João da Costa Barbosa, de Angeja e de Maria Velho,
de Santa Maria.
16.05.1699
902
8
Manuel José Jácome
Inquirições de vita et moribus - Filho do Capitão Melchior de Resendes de Sousa
e Maria de Melo.
28.09.1743
889
3
Manuel Raposo
Inquirição de genere - Filho de António Raposo e de Isabel Gonçalves, n.p. de
Manuel Fernandes Bertão e Catarina Gonçalves e n.m. de Simão Vaz Madeira e
Maria Soares.
02.03.1692
902
3
Manuel Soares de Figueiredo Colação como Vigário apresentado na Igreja de São Pedro.
04.12.1847
917
9
Manuel Soares de Figueiredo Inquirições de vita et moribus - Natural da Matriz de Vila do Porto, filho de
António José de Figueiredo, da Matriz e de Bernardina Rosa, natural de
São Pedro, n.p. de João Inácio de Figueiredo e Maria Francisca e n.m. de
Simão Correia e Maria Francisca.
11.12.1840
921
7
Manuel Tavares Coutinho27 Inquirição de genere - Filho de Pedro Soares Coutinho e de D. Antónia de
Resendes, n.p. de Manuel de Sousa Falcão, de Santa Maria e D. Margarida
Coutinho, da Ribeira Grande e n.m. de Gonçalo Velho de Carvalho e Isabel
Jácome, de Santa Maria.
21.06.1698
902
7
23 Idem, p.854.
26 Idem, p.3086.
24 Idem, p.784.
27 Idem, p.866.
25 Idem, p.2656.
vol. LIV ‘09
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
9:52 AM
Page 103
ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
(ILHA DE SANTA MARIA)
Nome
Documento ( Sumário)
Data
Maço
Doc.
Manuel Tavares do Rego28
Inquirição de genere - Natural de Santo Espírito, filho de Bernardo Tavares do
Amaral e de D. Maria do Rego Sousa Coutinho, n.p. de José Francisco Tavares,
da Matriz e de Francisca do Rosário Chaves, de Santo Espírito e n.m. de
António José Ferreira e D. Ana Úrsula do Rego Coutinho.
22.05.1846
921
9
Melchior Barreto
de Macedo29
Inquirição de genere - Filho de Jácome Tomé Faleiro e de Ana da Costa, n.p. de
Domingos Gonçalves da Ponte e de Catarina Gonçalves, de Santa Maria e n.m.
de João da Costa Barbosa, de Angeja e de Maria Velho, de Santa Maria.
13.10.1658
902
1
Documento ( Sumário)
Data
Maço
Doc.
Agostinho José30
Património Eclesiástico - Morador na Praia (Terceira), foi dotado por seu irmão
o Padre João Inácio Pereira por escritura de 03.07.1754.
14.08.1754
891
7
Agostinho José de
Figueiredo31
Património Eclesiástico - Filho do Capitão Luís de Figueiredo e Sousa e de
D. Maria Margarida de Menezes. Foi dotado por escritura de sua mãe com os
bens que sua tia D. Maria de Santo António, recolhida no Recolhimento de
Santo António, deixou em seu testamento conjunto com sua irmã Rosa Margarida
de São José e que os haviam herdado de seus pais, o Alferes André Fernandes
de Almada e Leonor de Andrade, por escritura de 14.07.1749.
28.06.1750
895
2
Alexandre Duarte
Património Eclesiástico - Filho de Domingos Velho de Sousa. Foi dotado por
escritura de 26.04.1724 pelo Padre António Soares Ferreira32, Cura da Igreja
de Santa Bárbara, seu tio.
12.09.1724
883
7
André Soares Cabral
Património Eclesiástico - Filho de André Soares Garcia e de Maria de Resendes33, 12.09.1724
moradores em Santo Espírito. Foi dotado por seus pais por escritura de 30.09.1723.
883
5
Nome
[103]
PATRIMÓNIOS ECLESIÁSTICOS
28 Idem, p.852.
31 Genealogias de São Miguel e Santa Maria, p.2644.
29 Idem, p.3086.
32 Idem, p.809.
30 Este processo encontra-se erradamente inserido no maço relativo a
33 Idem, p.810.
Santa Maria quando se refere a um patrimoniado da Ilha Terceira.
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
Nome
9:52 AM
Page 104
Documento ( Sumário)
Maço
Doc.
António Álvares Monteiro34 Património Eclesiástico - Filho do Capitão Manuel Monteiro de Gamboa e
Teresa de Andrade. Foi dotado por seus pais por escritura de 29.09.1722.
06.10.1724
883
9
António Correia da Costa35 Património Eclesiástico - Filho do Capitão Constantino Velho de Carvalho e
de Margarida da Costa. Foi dotado pelo Capitão Mór Inácio de Sousa Coutinho
e mulher D. Francisca de Macedo, por escritura de 24.01.1724.
15.06.1728
885
3
António Correia Pacheco
Património Eclesiástico - Filho de Matias Curvelo de Mendonça e Margarida de
Fontes. Justificou em 16.02.1720 que seu tio, o Padre Licenciado João Lopes
Correia, Vigário de São Pedro lhe deixou o seu património em testamento.
22.07.1720
882
3
António Curvelo
Património Eclesiástico - Filho de Gaspar de Braga Curvelo e de Inês de Andrade
e morador na Flor da Rosa Baixa. Foram doadores a referida sua mãe e suas
irmãs Helena de Jesus e Serapia das Chagas, filhas do Capitão Matias Curvelo de
Braga e de Maria Velho de Melo e também Pedro de Magalhães Velho e mulher
Maria Dornelas, por escritura de 26.07.1697.
02.06.1697
878
1
António Curvelo36
Património Eclesiástico - António Curvelo, filho do Capitão António Curvelo de
Resendes e de D. Helena da Cruz. Foi dotado pelo Padre Manuel Delgado
Fragoso, clérigo presbítero do Hábito de São Pedro, Beneficiado da Matriz de
Nossa Senhora da Assunção, seu tio, por escritura de 06.04.1709.
26.09.1710
880
6
António da Câmara
Bettencourt37
Património Eclesiástico - Filho de Manuel de Sousa da Câmara e Francisca de
Magalhães Bettencourt. Foi dotado por seus pais por escritura de 03.09.1729.
17.07.1730
885
7
António da Cunha
Património Eclesiástico - Filho de António de Braga e Francisca da Cunha.
Foi dotado por seus pais por escritura de 31.05.1734.
12.07.1734
887
1
António de Andrade do
Rego Coutinho38
Património Eclesiástico - Filho do Tenente Laureano Francisco da Câmara Falcão
e de D. Joana Jacinta de Bettencourt. Foi dotado por seu tio, o Capitão Manuel
José da Câmara Coutinho e suas tias Tomázia Josefa do Prado, Antónia Madalena
Jacinta e Margarida Inácia dos Querubins, por escritura de 05.10.1795.
04.07.1796
896
4
António de Carvalho
Património Eclesiástico - Filho de Apolinário Gonçalves Sá e Mariana Carvalho de
Resendes. Foi dotado pelo Reverendo António de Miranda, por escritura
de 23.12.1746.
06.07.1748
889
10
António de Melo39
Património Eclesiástico - Filho de Baltazar de Andrade e de Cristina de Sousa. Foi
dotado por sua mãe e por Serapia Maria Pacheco, viúva de Manuel Teixeira.
21.12.1706
879
9
[104]
Data
34 Idem, p.2602.
37 Idem, p.2189.
35 Idem, p.752.
38 Idem, p.918.
36 Idem, p.748.
39 Idem, p.3106.
vol. LIV ‘09
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
9:52 AM
Page 105
ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
Nome
Documento ( Sumário)
Data
Maço
Doc.
António de Melo
Património Eclesiástico - Filho de Gaspar de Andrade de Moura e de Cristina de
Melo. Foi dotado em 28.06.1723 por seus pais.
23.05.1724
883
2
António de Miranda
Património Eclesiástico - Filho do Capitão João de Miranda e de D. Maria Pacheco
Leandres40. Foi dotado por sua mãe por escritura de 29.08.1729.
07.04.1731
886
2
António de Moura Chaves41 Património Eclesiástico - Filho de Domingos de Moura Chaves e mulher
Francisca Quitéria. Foi dotado por seus pais por escritura de 05.08.1745.
05.08.1745
889
5
António de Paiva
Património Eclesiástico - Filho do Alferes António de Melo Velho e de Francisca
de Paiva, moradores em Santo Espírito. Foi dotado pelo Vigário Licenciado
António Ferreira Soares por escritura de 06.02.1709.
15.10.1709
880
3
António de Paiva
Património Eclesiástico - Filho de Matias de Sousa e Maria de Paiva. Foi dotado
por Francisco da Câmara de Menezes e mulher D. Leonor Coutinho, por
escritura de 02.08.1724.
15.09.1727
885
2
António de Resendes
Património Eclesiástico - Filho de André de Moura Velho e de sua primeira
mulher, Inês de Resendes. Foi dotado por seus pais por escritura de 26.04.1750.
12.05.1752
890
5
António do Canto
Lacerda e Albuquerque42
Património Eclesiástico - Natural de São Pedro, filho de Bernardo do Canto
04.08.1817
Soares de Sousa e Albuquerque e de D. Umbelina Micaela da Câmara e Medeiros.
Foi dotado por escritura de 16.05.1817, feita em Ponta Delgada pelo Capitão
João Soares de Sousa Canto e Albuquerque e mulher D. Isabel Maria Rodovalho
de Melo Cabral, seu irmão e cunhada.
904
5
António do Rego43
Património Eclesiástico - Filho do Capitão Francisco da Câmara de Menezes e de
D. Rosa Leonor Coutinho. Foi dotado por seu tio, o Reverendo Manuel de Sousa
Soares, morador na Almagreira, por escritura de 23.08.1752.
09.02.1753
891
1
António do Rego
Coutinho44
Património Eclesiástico - Estudante Filósofo em São Miguel, filho de Inácio
de Sousa Falcão e de D. Francisca de Macedo. Foi dotado por sua tia D. Mariana
Margarida Coutinho, filha do Sargento Mór Manuel de Sousa Falcão, por escritura
de 05.12.1729.
07.02.1731
886
1
António Francisco
Património Eclesiástico - Filho de Sebastião de Fontes Velho e Francisca de Moura, 23.09.1749
moradores na Almagreira. Foi dotado por sua mãe por escritura de 02.05.1749.
890
3
40 Idem, p.2702.
43 Idem, p.917.
41 Idem, p.2187.
44 Idem, p.867.
42 Idem, p.785.
[105]
(ILHA DE SANTA MARIA)
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
9:52 AM
Page 106
[106]
Nome
Documento ( Sumário)
Data
Maço
Doc.
António Francisco Coelho
Património Eclesiástico - Filho do Capitão Melchior de Resendes de Sousa e
D. Maria de Melo. Foi dotado pelo Beneficiado José de Andrade Braga por
escritura de 26.09.1746.
04.07.1748
889
8
António Francisco da Costa Património Eclesiástico - Filho de Estácio Ferreira da Costa e Maria do Anjo
Carvalho. Foi dotado pelo Vigário de Santa Bárbara, o Licenciado Lourenço
de Frias Coutinho por escritura de 20.03.1753.
05.05.1753
891
3
António Francisco
de Bettencourt
Património Eclesiástico - Familiar da Casa do Bispo, filho de António de Moura
e Margarida de São José. Foi dotado por seus pais por escritura de 02.051.
06.06.1739
888
3
António Joaquim
da Câmara45
Património Eclesiástico - Filho do Tenente Mateus Duarte da Câmara, escudeiro
e Cavaleiro Fidalgo da Casa Real, e de D. Rita Quitéria de Menezes. Foi dotado
por seus pais por escritura de 11.02.1769.
20.04.1769
893
6
António José
Património Eclesiástico - Filho de João Soares Ferreira e Rosa Pacheco. Foi dotado 18.09.1741
pelos pais por escritura de 02.10.1739.
888
6
António José
Património Eclesiástico - Filho de João Soares Ferreira e Rosa Pacheco. Foi dotado 10.06.1741
por seus pais.
888
4
António José
Património Eclesiástico - Filho de António da Costa e Teresa de Andrade.
20.06.1747
Foi dotado pelo Padre António da Cunha, seu primo, por escritura de 14.05.1747.
889
6
António José
de Sousa Coutinho
Património Eclesiástico - Filho de António do Rego Coutinho e Sá e de D. Quitéria 13.01.1773
da Conceição. Foi dotado por seus pais e sua tia, D. Mariana Coutinho, por
escritura de 12.11.1771.
894
3
António José Tavares46
Património Eclesiástico - Filho de José Francisco Tavares e de Francisca do Rosário. 09.10.1797
897
1
António Soares
de Menezes47
Património Eclesiástico - Filho do Capitão António Soares de Menezes e de
D. Ana de Melo. Foi dotado por seus pais por escritura de 01.04.1717.
09.08.1718
881
6
António Soares de
Sousa e Albuquerque48
Património Eclesiástico - Filho do Capitão e Sargento Mór João Soares de Sousa
e Albuquerque e de D. Bernardina Margarida da Conceição. Foi dotado pelo
Alferes Francisco de Andrade Puim, morador na Rosa Alta, seu primo, por
escritura de 04.05.1762
18.05.1765
892
3
45 Idem, p.329.
47 Idem, p.1732.
46 Idem, p.852.
48 Idem, p.784.
vol. LIV ‘09
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
9:52 AM
Page 107
ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
(ILHA DE SANTA MARIA)
Documento ( Sumário)
Data
Maço
Doc.
Baltazar Ferreira49
Património Eclesiástico - Filho de Manuel Soares Garcia, morador na Flor da
Rosa Baixa que foi doador por escritura de 22.10.1703.
15.10.1703
879
3
Bernardino José Soares
Património Eclesiástico - Filho de André de Moura e de D. Ana de Menezes.
Foi dotado pelo Padre Agostinho José de Figueiredo, seu tio, por
escritura de 11.02.1766.
04.03.1766
892
6
Bernardo José50
Património Eclesiástico - Filho do Capitão Inácio de Resendes Carvalho e mulher
26.09.1767
D. Catarina Isabel Monteiro. Foi dotado por seus pais por escritura de 06.09.1765.
893
1
Bernardo José Toledo
Património Eclesiástico - Filho de Francisco Bernardino de Sousa, Escrivão e
Tabelião Público, e de Inácia Rosa de Frias51. Foi dotado pelo Padre Vigário Inácio
José Toledo, Confirmado na Paroquial de São Pedro, seu tio, por
escritura de 22.06.1797.
10.05.1798
897
2
Caetano de Sousa
Património Eclesiástico - Filho de Baltazar Velho de Andrade e Catarina de
São Miguel. Foi dotado pelo Alferes Baltazar Velho Cabral e D. Isabel Joana
Baptista, seus tios, por escritura de 06.10.1724.
19.09.1725
884
4
Cosme de Azevedo
Património Eclesiástico - Filho de Domingos de Azevedo e de Vitória de Andrade.
Foi dotado pelo Licenciado Melchior Barreto de Macedo, Vigário da Igreja
de Santa Bárbara.
10.06.1717
881
4
Cristóvão de Andrade52
Património Eclesiástico - Filho de Matias Nunes de Andrade e de D. Maria de
Matos, moradores em Santo Espírito. Foi doado por seus pais e tios Fernão Velho
e mulher Catarina de Menezes.
04.12.1699
878
6
Domingos de Freitas
Património Eclesiástico - Filho de Manuel de Freitas de Morais e de Antónia de
Resendes, moradores em São Pedro. Foi dotado por escritura de 29.05.1705
de seus pais.
17.03.1706
879
6
Duarte Tavares Correia53
Património Eclesiástico - Filho do Capitão Inácio de Sousa Falcão e de D. Isabel
de Bulhões. Foi dotado por seu pai por escritura de 13.03.1720 com os bens que
haviam sido deixados ao patrimoniado pelo tio, o Padre Bartolomeu de Bulhões,
Cura da Matriz.
22.07.1720
882
4
Filipe Baptista Coelho
Património Eclesiástico - Filho do Capitão Matias de Andrade Velho e D. Inês
de Menezes54. Foi dotado por seus pais por escritura de 18.03.1743.
30.07.1743
889
2
49 Idem, p.809.
52 Idem, p.767.
50 Idem, p.3613.
53 Idem, p.869.
51 Idem, p.2645.
54 Idem, p.854.
[107]
Nome
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
Nome
9:52 AM
Page 108
Documento ( Sumário)
[108]
Data
Maço
Doc.
Francisco António de Avelar Património Eclesiástico - Filho do Mestre António da Costa e de Josefa de
Andrade. Foi dotado pelo Padre Francisco José Dias, Cura da Igreja de São Pedro,
por escritura de 08.05.1758.
30.07.1759
892
2
Francisco António
de Medeiros55
11.09.1781
894
5
Francisco Cabral da Fonseca Património Eclesiástico - Filho de Manuel Cabral Teixeira e de Maria de Alpoim.
03.04.1716
Foi dotado pelo Padre Francisco Cabral Teixeira e seu sobrinho, o Padre Manuel
Cabral Teixeira, Confirmado da Matriz clérigo presbítero do Hábito de São Pedro,
Beneficiado na Paroquial de Nossa Senhora da Assunção por escritura de 13.05.1715.
881
3
Francisco Cabral Teixeira56 Património Eclesiástico - O Padre Francisco Cabral Teixeira, Beneficiado
Francisco Cabral da Fonseca Confirmado na Matriz de Vila do Porto alegando que seu sobrinho Francisco
Cabral da Fonseca se deseja ordenar quer concorrer com o seu património e
pede sub-rogação e licença para o fazer.
02.05.1698
878
2
Francisco Cabral Teixeira57 Património Eclesiástico - O Padre Francisco Cabral Teixeira pede para subrogar
17.11.1707
o seu património na Matriz de Vila do Porto e o dotar no sobrinho Francisco
Cabral da Fonseca, morador em Lisboa, estudante, filho de Manuel Cabral Teixeira
e Maria de Alpoim.
879
10
Francisco da Câmara
Património Eclesiástico - Filho do Licenciado Francisco da Câmara Carreiro e
Catarina Rosa. Foi dotado pelo Reverendo Dr. José António de Sousa e Bulhões,
Vigário da Matriz e pelo Reverendo José de Bulhões, Beneficiado Confirmado na
Matriz, seus tios, por escritura de 18.02.1766.
27.02.1766
892
5
Francisco da Costa Xavier
Património Eclesiástico - Morador em São Miguel, estudante de Teologia
Especulativa, Filho do Capitão Pedro da Costa de Sousa e de sua primeira mulher
Catarina do Espírito Santo. Foi dotado por seu pai e segunda mulher, Serafina de
Andrade por escritura de 27.10.1730.
25.06.1731
886
3
Francisco de Almada
Património Eclesiástico - Filho de Francisco Fernandes de Almada e Beatriz
Ferreira58. Foi doado por seus tios, o Alferes André Fernandes de Almada e
mulher Leonor de Andrade, por escritura de 16.09.1697.
31.08.1699
878
4
Património Eclesiástico - Filho de Mateus Duarte da Câmara e de D. Rita
Quitéria de Menezes. Foi dotado por Luís Duarte da Câmara, seu tio, por
escritura de 20.11.1780. Em anexo o processo de vita et moribus de 22.07.1783.
55 Idem, p.329.
57 Idem, p.2701.
56 Idem, p.2701.
58 Idem, p.2656.
vol. LIV ‘09
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
9:52 AM
Page 109
ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
Nome
Documento ( Sumário)
Data
Maço
Doc.
Francisco de Almada
João de Freitas
Património Eclesiástico - Filhos de João da Costa Freitas e de Maria de Almada.
Foram dotados por Fernando de Loura Bettencourt e mulher D. Mariana
Margarida Coutinho por escritura de 19.06.1719.
21.02.1720
881
9
Francisco de Almada
Património Eclesiástico - Filho de João da Costa Freitas e Maria de Almada.
Foi dotado por Fernando de Loura Bettencourt e mulher D. Mariana Margarida
Coutinho por escritura de 09.03.1720.
20.06.1720
881
10
Francisco de Andrade Puim Património Eclesiástico - Filho do Capitão Pedro de Magalhães e de Bárbara da
Conceição59. Foi dotado por Francisco de Andrade Puim, seu tio, por escritura
de 13.05.1756.
06.04.1757
892
1
Francisco de Miranda
Património Eclesiástico - Filho do Capitão Mór João de Miranda e Maria Pacheco60.
Foi dotado por Maria do Desterro, recolhida no Recolhimento de Santo António,
filha de Francisco de Andrade Curvelo e de Catarina Pacheco, por escritura
de 10.09.1722.
27.04.1727
885
1
Francisco Fragoso
Património Eclesiástico - Filho de Manuel Fragoso, Capitão Mór da ilha de Santa
Maria e de D. Mariana Carvalho61 que foram seus dotadores por escritura
de 12.07.1705.
12.09.1706
879
8
Francisco José
Património Eclesiástico - Filho de António Furtado e Mariana de Andrade.
Foi dotado por seus pais por escritura de 08.03.1735 com os bens que
herdaram de Lourenço Dias Lemos, irmão do mesmo António Furtado.
29.07.1738
888
1
Francisco Monteiro Puim
Património Eclesiástico - Estudante de coroa aberta, filho de António de Andrade
Puim e de D. Catarina Maria, n.p. de Pedro de Magalhães Puim e Bárbara da
Conceição62 e n.m. de Manuel Inácio Monteiro e D. Joana Francisca. Dotou-se
17.10.1822
904
6
Francisco Pacheco
Património Eclesiástico - Morador em Angra, filho de Baltazar de Andrade e de
21.07.1710
Cristina de Sousa63. Foi dotado pelo Padre Manuel Delgado Fragoso por escritura
de 28.04.1710.
880
5
Francisco Pacheco
Património Eclesiástico - Filho de António de Bulhões e Maria de Andrade.
Foi dotado por escritura de 22.07.1723 pelo Padre Francisco Cabral Teixeira,
Beneficiado Confirmado na Matriz de Nossa Senhora da Assunção, seu tio.
883
3
com bens próprios.
59 Idem, p.1159.
62 Idem, p.1159.
60 Idem, p.2702.
63 Idem, p.3106.
61 Idem, p.784.
24.05.1724
[109]
(ILHA DE SANTA MARIA)
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
Nome
9:52 AM
Page 110
[110]
Documento ( Sumário)
Data
Maço
Doc.
Francisco Ventura
da Câmara
Património Eclesiástico - Filho do Sargento Mór João Soares de Sousa e
Albuquerque e D. Bernardina Margarida da Conceição64. Foi dotado por
seus pais por escritura de 24.03.1752.
17.06.1752
890
7
Francisco Xavier Puim
Património Eclesiástico - Filho do Alferes António de Andrade Puim e de Ana
Maria de São João. Foi dotado por seus pais e seu tio o Alferes Francisco
de Andrade Puim por escritura de 05.12.1767.
22.03.1768
893
2
Gaspar de Braga
Património Eclesiástico - Filho de Gaspar de Braga Curvelo e de Inês de Andrade,
moradores na Flor da Rosa Alta. Foi dotado pelo Capitão José de Resendes
de Bairos e mulher Margarida de Andrade por escritura de 03.11.1707.
02.08.1708
879
12
Inácio Coelho
Património Eclesiástico - Filho do Capitão Pedro Soares Coelho65. Foi dotado
por escritura de 23.12.1707.
15.10.1709
880
2
Inácio de Sousa
Património Eclesiástico - Filho de Brás Soares e Bárbara Cabral. Foi dotado
por seu primo Brás de Frias Afonso, seu primo, por escritura de 02.10.1736.
13.05.1737
887
6
Inácio de Sousa Falcão
Património Eclesiástico - Filho de Manuel de Sousa Falcão, Capitão e Sargento
Mór e de D. Margarida Coutinho (ou Margarida de Menezes)66. Foi doado por
seu com a administração que instituiu o Padre Manuel Fernandes Velho de que
era constituinte.
26.09.1699
878
5
Inácio José Toledo
Património Eclesiástico - Filho do Ajudante Manuel de Moura Leandres e de sua
primeira mulher Maria Martela. Foi dotado por seu pai e segunda mulher, Eugénia
de Jesus por escritura de 21.04.1741.
28.06.1741
888
5
Inácio Manuel
Património Eclesiástico - Filho de Manuel de Magalhães e Ana de Andrade. Foi
dotado por José de Magalhães e sua mulher Esperança dos Anjos, seus tios, por
escritura de 26.01.1751.
15.09.1752
890
9
Inácio Manuel de Melo
Património Eclesiástico - Filho de Pedro da Costa Melo e de Teresa de Jesus.
Foi dotado por Manuel Soares e irmão Francisco Soares, oficiais de sapateiro,
seus tios, por escritura de 15.05.1771.
24.05.1771
894
1
Inácio Pedro Jácome
Património Eclesiástico - Filho do Alferes Sebastião Jácome de Resendes e de
Branca de Magalhães67. Foi dotado por seus pais, por escritura de 06.07.1748.
08.05.1749
890
1
64 Idem, p.784.
66 Idem, p.867.
65 Idem, p.854.
67 Idem, p.748.
vol. LIV ‘09
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
9:52 AM
Page 111
ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
Nome
Documento ( Sumário)
Data
Maço
Doc.
Jerónimo de Paiva
Património Eclesiástico - Foi dotado pelo Capitão António Velho Cabral e mulher
Ana dos Anjos, por escritura de 02.01.1710.
16.08.1711
880
8
João Baptista
Património Eclesiástico - Filho de Inácio de Sousa de Menezes, oficial de sapateiro, 06.09.1792
e de Antónia do Sacramento, moradores na Almagreira, n.p. de Matias de Sousa
de Menezes e de Victória da Trindade e n.m. de Manuel de Almada e Maria da
Encarnação. Foi dotado por seus pais por escritura de 04.05.1790.
896
2
João Baptista Monteiro
Património Eclesiástico - Filho do Capitão Bartolomeu Machado de Melo e de
D. Semiana Francisca de Menezes. Foi dotado por seus pais por escritura
de 04.05.1754.
10.06.1754
891
6
João Bernardo de Resendes Património Eclesiástico - Filho de João de Paiva de Moura e Margarida de Resendes. 08.05.1749
Foi dotado por Ana de Melo, sua tia, casada com o Capitão Manuel de Resendes
Carvalho, moradores no Paúl, por escritura de 08.07.1748
890
2
João Coelho
Património Eclesiástico - Filho de António Francisco Coelho e de Margarida Josefa
dos Prazeres. Foi dotado com bens de João Coelho, Beneficiado acrescentado na
Colegial Matriz de Nossa Senhora da Assunção e Tesoureiro da mesma,
por escritura de 30.09.1797.
11.05.1798
897
3
João de Freitas
Património Eclesiástico - Filho de João da Costa Freitas e de Maria de Almada.
Foi dotado por Fernão de Loura Bettencourt e mulher D. Mariana Margarida
Coutinho por escritura de 12.03.1720.
25.06.1720
882
2
João de Medeiros Silveira68 Património Eclesiástico - Filho de Mateus Duarte da Câmara e de D. Rita
Quitéria de Menezes. Foi dotado por Luís Duarte da Câmara, seu tio, por
escritura de 20.10.1780.
11.09.1781
894
4
João de Resendes
Património Eclesiástico - Filho do Capitão João de Resendes de Moura e
Antónia de Resendes. Foi dotado por seus pais por escritura de 23.01.1736.
13.08.1736
887
3
João de Resendes
de Carvalho
Património Eclesiástico - Filho de Manuel de Resendes de Carvalho e Helena
de Magalhães. Foi dotado por escritura de 26.05.1723 por seus pais.
25.09.1725
884
6
João de Sousa
Património Eclesiástico - Filho de Pedro da Cunha de Sousa69. Foi dotado
por seu pai por escritura de 23.01.1731.
07.11.1732
886
6
68 Idem, p.329.
69 Idem, p.864.
[111]
(ILHA DE SANTA MARIA)
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
Nome
9:52 AM
Page 112
[112]
Documento ( Sumário)
Data
Maço
Doc.
João Inácio
Património Eclesiástico - Filho do Capitão Pedro da Costa Sousa e Serafina de
Andrade Moura. Foi dotado por seus primos o Alferes Manuel de Moura Sousa
e mulher Catarina de Andrade por escritura de 26.09.1749.
27.11.1749
890
4
João Inácio Puim
Património Eclesiástico - Filho de António Soares de Sousa e D. Antónia do
Espírito Santo70, moradores em São Pedro. Foi dotado pelo Padre José de
Bairos e Alpoim, morador em Santana, por escritura de 23.04.170.
15.05.1750
890
6
João Inácio Puim
Património Eclesiástico - Filho do Capitão Gabriel de Sousa Puim e de Úrsula
de Jesus. Foi dotado por seu tio Francisco de Andrade Puim por escritura
de 11.10.1755.
23.01.1756
891
9
João Lopes Correia
Património Eclesiástico - Morador em Ponta Delgada, foi dotado pelo Padre
Ouvidor Eclesiástico, Licenciado João Lopes Correia por escritura de 18.02.1710.
22.03.1710
880
4
João Monteiro Cabral
Património Eclesiástico - Filho do Capitão Manuel Monteiro de Gamboa e
Teresa de Andrade. Foi dotado por escritura de 16.04.1737 por seus pais.
15.05.1737
887
7
João Monteiro
de Azevedo71
Património Eclesiástico - Filho do Alferes Joaquim Monteiro de Bettencourt
e de D. Ana Jacinta do Amor Divino. Foi dotado por escritura de 16.06.1824
por sua mãe.
23.09.1824
904
9
João Monteiro Tavares
de Bettencourt
Património Eclesiástico - Natural da Matriz, filho de João Bernardo Tavares,
da Matriz e de D. Eulália Rita, também da Matriz72, n.p. de José Maria Tavares e
Ana da Rosa e n.m. de João Bento da Câmara e D. Ana Margarida Monteiro, esta
de São Pedro e os restantes da Matriz. Foi dotado por Francisco António Raposo
e mulher D. Laureana Joaquina Monteiro, moradores na Flor da Rosa Baixa e
por Joaquim Fernandes Monteiro, por escritura de 04.05.1803.
16.03.1812
904
3
João Monteiro Tavares
de Bettencourt
Património Eclesiástico - Natural da Matriz, filho de João Bernardo Tavares,
da Matriz e de D. Eulália Rita73, também da Matriz, n.p. de José Maria Tavares e
Ana da Rosa e n.m. de João Bento da Câmara e D. Ana Margarida Monteiro, esta
de São Pedro e os restantes da Matriz. Foi dotado por Francisco António Raposo
e mulher D. Laureana Joaquina Monteiro, moradores na Flor da Rosa Baixa e por
Joaquim Fernandes Monteiro, por escritura de 04.05.1803.
06.07.180374 904
2
Joaquim António da
Câmara e Albuquerque
Património Eclesiástico - Clérigo de Prima Tonsura, filho do Sargento Mór João
Soares de Sousa e Albuquerque e de D. Bernardina Margarida da Conceição75.
Foi dotado por seus pais por escritura de 11.05.1748.
26.06.1748
7
889
70 Idem, p.788.
73 Idem, p.2654.
71 Idem, p.2190.
74 Novas diligências por se terem desencaminhado as anteriores.
72 Idem, p.2654.
75 Genealogias de São Miguel e Santa Maria, p.784.
vol. LIV ‘09
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
9:52 AM
Page 113
ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
Nome
Documento ( Sumário)
Data
Maço
Doc.
Joaquim António Jácome
Património Eclesiástico - Filho de José Jácome de Moura e de Mariana de Jesus.
Foi dotado por seu tio, o Padre José Inácio Bairos, Presbítero do Hábito de São
Pedro, por escritura de 02.06.1767.
09.05.1768
983
3
Joaquim de Resendes
Património Eclesiástico - Filho do Alferes Sebastião Jácome de Resendes e primeira 16.07.1742
mulher, Margarida Coelho. Foi dotado por escritura de 15.10.1739 pelo
Cura Francisco de Miranda, seu primo.
888
7
Joaquim de Sousa Cabral
Património Eclesiástico - Filho do Alferes Baltazar Velho e de Catarina de Sousa.
Foi dotado pelo Padre Melchior Barreto de Macedo, Vigário de Santa Bárbara,
seu tio, por escritura de 02.08.1713.
04.12.1719
881
8
Joaquim Francisco
Património Eclesiástico - Filho do Alferes Manuel de Sousa Resendes e
Maria Pacheco. Foi dotado pelo Padre José de Bulhões, Beneficiado Confirmado
da Matriz, seu tio, por escritura de 05.06.1743.
07.12.1743
889
4
Joaquim Francisco
de Morais e Lemos
Património Eclesiástico - Morador na Terceira, filho do Capitão António Velho
Cabral. Foi dotado por seu pai por escritura de 20.04.1729.
15.06.1729
885
5
Joaquim Monteiro
de Bettencourt
Património Eclesiástico - Filho de João Bento da Câmara e de D. Ana
Margarida Monteiro76. Foi dotado com bens que herdou de seu pai e de Rosa de
São Francisco, sua tia, por escritura de 02.07.1789.
07.08.1790
896
1
José Alves Cabral
Património Eclesiástico - Filho de Bartolomeu de Moura e Catarina Rosa Fireira
(sic). Foi dotado por seus pais por escritura de 18.02.1756.
06.09.1756
891
10
José António
Património Eclesiástico - Filho do Alferes Manuel de Sousa Resendes e Maria
Pacheco. Foi dotado pelo Padre José de Bulhões, seu tio, por escritura
de 18.05.1737.
29.05.1737
887
8
José António do
Rego Coutinho
Património Eclesiástico - Filho do Alferes António do Rego Coutinho. Foi
patrimoniado com os bens que herdou a título de terça de sua avó D. Mariana
de Paiva Ponte.
27.06.1786
895
5
José António Monteiro
Património Eclesiástico - Filho do Capitão João Pedro de Andrade e de
D. Catarina Teresa Monteiro77. Foi dotado com bens de partilha pelo falecimento
de seu pai, morador em Santo Espírito, por escritura de 06.07.1783.
15.03.1799
897
4
76 Idem, p.2654.
77 Idem, p.810.
[113]
(ILHA DE SANTA MARIA)
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
Nome
9:52 AM
Page 114
Data
Maço
Doc.
José Barreto de Macedo
Património Eclesiástico - Estudante Teólogo, filho do Capitão Melchior de
Resendes de Sousa e de D. Maria de Melo, moradores em Santo Espírito.
Foi dotado por seus pais por escritura de 18.07.1731.
01.09.1731
886
4
José Bernardo do Rego
Património Eclesiástico - Filho do Capitão Luís António de Figueiredo e Lemos
e de D. Antónia do Rego Coutinho78. Foi dotado com os bens que foram
herdados de sua tia Maria de Santo António, recolhida no Recolhimento
de Santo António, por escritura de 29.04.1784.
10.05.1784
895
2
José Coelho de Bairos
Património Eclesiástico - Filho de Francisco Coelho de Bairos e mulher Francisca
de Andrade79. Foi dotado por seus pais por escritura de 19.06.1724.
10.02.1725
884
1
José de Andrade de Braga
Património Eclesiástico - Filho de Gaspar de Braga Curvelo e de Inês de Andrade,
moradores na Flor da Rosa Baixa. Foi dotado com os bens trocados com Manuel
Pacheco de Andrade e mulher Ana de Bairos, havidos os mesmos bens de seus
pais e sogros o Alferes António Curvelo de Bairos e Joana de Melo, por escritura
de 05.04.1715.
29.07.1715
881
1
José de Bairos Puim
Património Eclesiástico - Filho do Capitão Manuel Curvelo Pereira e de Margarida
de Sousa de Melo80, moradores em Santana. Foi dotado por escritura de
18.12.1724 por Nuno Curvelo de Matos, seu padrinho e mulher Beatriz da Costa.
25.09.1725
884
5
José de Bulhões
Património Eclesiástico - O Padre José de Bulhões pede licença para subrogação
de propriedades do seu património para o benefício da Matriz de Nossa Senhora
da Assunção onde foi colado por falecimento do Padre João Ferreira de Andrade
em 20.08.1733, tomando posse a 30.11.
29.01.1737
887
5
José de Miranda
Património Eclesiástico - Filho do Capitão João de Miranda e Maria Pacheco81.
Foi dotado por escritura de 16.10.1707.
29.11.1707
879
11
José de Resendes
Património Eclesiástico - Morador na Terceira, filho de Manuel de Fontes de
Morais e de Antónia de Resendes. Foi dotado pelo Licenciado Padre André de
Andrade, Cura de Nossa Senhora da Purificação de Santo Espírito, por escritura
de 06.04.1709.
15.07.1709
880
1
José do Lado e Bulhões
Património Eclesiástico - Filho de António de Bulhões e de Maria de Andrade,
moradores em Vila do Porto. Foi dotado pelo Ouvidor Eclesiástico, o Licenciado
João Lopes Correia, seu padrinho de Crisma, por escritura de 22.06.1715.
14.12.1715
881
2
[114]
Documento ( Sumário)
78 Idem, p.2645.
80 Idem, p.1154.
79 Idem, p.1154.
81 Idem, p.2702.
vol. LIV ‘09
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
9:52 AM
Page 115
ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
Nome
Documento ( Sumário)
Data
Maço
Doc.
José Francisco da Costa
Património Eclesiástico - Filho de Pedro da Costa e Teresa de Jesus.
Foi dotado pelo Padre José Soares por escritura de 11.11.1750.
03.08.1752
890
8
José Francisco de Távora
Património Eclesiástico - Filho de José Pereira de Moura e Francisca de Resendes.
Foi dotado pelo Sargento Mór João Soares de Sousa e Albuquerque e
D. Bernardina Margarida da Conceição por escritura de 29.06.1747.
04.07.1748
889
9
José Francisco do Rego
Património Eclesiástico - Sobrinho do Alferes José de Andrade de Moura que
o dotou.
02.05.1753
891
2
José Inácio da Câmara82
Património Eclesiástico - Filho do Tenente Mateus Duarte da Câmara e de
D. Rita Quitéria de Menezes e Macedo. Foi dotado por seu irmão Luís
Duarte da Câmara por escritura de 20.10.1782.
23.04.1784
895
1
José Inácio de Bairos
Património Eclesiástico - Filho de Manuel Pacheco de Andrade e Ana de
Bairos83. Foi dotado por Inês Joana da Glória, recolhida no Recolhimento
de Santo António, sua prima, por escritura de 06.07.1753.
17.05.1755
891
8
José Jácome da Costa
Património Eclesiástico - Filho de Jácome Tomé e de Ana da Costa84.
Foi dotado por João de Fontes Álvares e mulher Guiomar Gomes por escritura
de 09.08.1700.
18.10.1702
879
2
José Monteiro de Figueiredo Património Eclesiástico - Filho do Capitão António Fernandes de Andrade e
de sua primeira mulher Catarina de Figueiredo de Sousa85. Foi dotado por
escritura de 21.04.1723 por seu pai e sua segunda mulher, D. Antónia de
Menezes e suas irmãs Maria de Santo António e Rosa Margarida de São José,
regente do Recolhimento de Santo António.
12.09.1724
883
6
José Soares
Património Eclesiástico - Filho de Brás Soares e de Bárbara Cabral. Foi dotado
pelo Licenciado Padre Francisco Cabral Teixeira por escritura de 28.04.1721.
15.09.1723
882
8
José Teixeira Pacheco
Património Eclesiástico - Filho de Francisco Pacheco Borges e de Margarida da
Costa86. Foi dotado por escritura de 10.03.1723 pelo Padre Manuel Cabral
Teixeira, Beneficiado Confirmado na Paroquial de Nossa Senhora da Assunção,
seu tio.
04.07.1724
883
4
José Velho Cabral
Património Eclesiástico - Morador em Angra, filho do Alferes Baltazar Velho
Cabral e de sua primeira mulher. Foi dotado por seu pai e por sua segunda
mulher D. Isabel Joana Baptista, por escritura de 15.05.1725.
13.07.1725
884
3
82 Idem, p.329.
85 Idem, p.2644.
83 Idem, p.767.
86 Idem, p.805.
84 Idem, p.16.
[115]
(ILHA DE SANTA MARIA)
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
Nome
9:52 AM
Page 116
Documento ( Sumário)
Data
Maço
Doc.
04.06.1754
891
5
Lourenço José de Frias
Património Eclesiástico - Filho do Alferes Bartolomeu Correia de Bettencourt e
16.06.1768
de D. Antónia de Frias87. Foi dotado pelo Licenciado Lourenço de Frias Coutinho,
Vigário de São Pedro, seu tio, por escritura de 05.06.1768.
893
4
Luís António de Menezes
Património Eclesiástico - Teólogo, filho de Matias de Andrade Velho e de D. Inês
de Menezes88. Foi dotado por seus pais por escritura de 21.09.1735.
30.11.1735
887
2
Luís Caetano de Figueiredo Património Eclesiástico - Filho do Alferes Baltazar Coelho Cabral e de Teresa
de Jesus Maria. Foi dotado por seu primo, o Vice Vigário Francisco José Dias,
morador em São Pedro, por escritura de 15.02.1754.
02.05.1754
891
4
Manuel António dos Reis
Património Eclesiástico - Natural da Matriz, filho de António Ventura de Melo e
de Bárbara Eufrázia89, n.p. de Manuel Francisco de Melo e Francisca Inácia e
n.m. de António José dos Reis e Francisca Inácia, da Matriz de Vila do Porto.
17.06.1847
921
8
Manuel Carvalho
Património Eclesiástico - Filho do Capitão Constantino Velho de Carvalho e
Margarida da Costa90. Foi dotado por seus pais por escritura de 20.02.1728.
05.06.1730
885
6
Manuel Coelho de Braga
Património Eclesiástico - Filho de Pedro Soares Coelho e de D. Isabel de
Macedo91. Foi dotado pelo Padre Vigário da Igreja de Santa Bárbara do lugar
de São Lourenço, Melchior Barreto de Macedo, por escritura de 08.07.1713.
28.07.1714
880
9
Manuel da Costa Lobo
Património Eclesiástico - Filho de Gaspar da Costa e de Mariana de Melo.
Foi dotado por Manuel Lobo de Melo, seu tio, morador em Ponta Delgada,
por escritura de 11.06.1720.
30.01.1721
882
6
Manuel de Andrade
Património Eclesiástico - Filho de Matias de Andrade de Moura e de Ana de
Andrade. Foi dotado por escritura de 14.06.1723 por Gaspar de Andrade de
Moura e irmãos, António de Andrade de Moura e Maria de Andrade de Moura,
seus tios.
16.09.1724
883
8
Manuel de Andrade
de Melo
Património Eclesiástico - Filho de João de Melo Cabral e Maria de Andrade.
Foi dotado por seus pais por escritura de 19.10.1724.
07.07.1725
884
2
Lourenço de Frias Coutinho Património Eclesiástico - Vigário da Igreja de Santa Bárbara onde foi colado em
04.12.1737, por permuta com o Padre Manuel Jácome da Costa para a Matriz
de Nossa Senhora da Assunção, em 09.12.1736.
[116]
87 Idem, p.876.
90 Idem, p.752.
88 Idem, p.854.
91 Idem, p.854.
89 Idem, p.1776.
vol. LIV ‘09
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
9:52 AM
Page 117
ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
(ILHA DE SANTA MARIA)
Documento ( Sumário)
Data
Maço
Doc.
Manuel de Paiva Ponte
Património Eclesiástico - Filho de Domingos de Fontes Velho e de sua primeira
mulher Francisca de Paiva. Foi dotado pelo Padre Manuel de Macedo, Cura de
Santa Bárbara, por ser o mesmo Manuel de Paiva Ponte enteado de sua irmã
Maria de Macedo.
20.10.1720
882
5
Manuel de Pimentel
Património Eclesiástico - Filho de Bartolomeu Fernandes de Alpoim e de Maria
de Resendes de Carvalho. Foi dotado por escritura de 22.09.1705 pelo Capitão
Inácio Godinho do Porto e mulher Maria Jácome de Macedo, seus tios.
22.05.1806
879
7
Manuel de Resendes
Coelho e Bettencourt
e
António Caetano Monteiro
Património Eclesiástico - Filhos do Alferes João Monteiro de Bettencourt
e de D. Ana Jacinta do Amor Divino92, n.p.s. de João Bento da Câmara,
da Matriz e de D. Ana Margarida Monteiro, de São Pedro e n.m.s de
Manuel de Resendes de Carvalho e Antónia Margarida de Melo, da Matriz.
Foi dotado com bens de seus pais por escritura de 24.01.1816.
20.03.1816
904
4
Manuel de Resendes
de Carvalho
Património Eclesiástico - Filho de Manuel de Resende de Carvalho e Helena
de Magalhães, moradores no Paúl. Foi dotado por seus pais por escritura
de 04.06.1723.
17.6.1729
885
4
Manuel de Sousa
Património Eclesiástico - Filho do Capitão João Soares de Sousa e mulher
D. Maria de Andrade93 que lhe fizeram doação de património por escritura
de 25.10.1722.
24.04.1723
882
7
Manuel de Sousa Tavares
Património Eclesiástico - Filho de Manuel de Sousa Falcão e de D. Margarida
Coutinho94. Foi dotado pelo Padre Vigário Licenciado Belchior Barreto de
Macedo, por escritura de 04.07.1711.
16.08.1711
880
7
Manuel Fernandes
Património Eclesiástico - Filho de Manuel Fernandes e de Inês de Melo.
Foi dotado pelo Vigário de Nossa Senhora da Assunção, o Licenciado Manuel
Delgado Fragoso por escritura de 05.08.1719.
25.06.1720
882
1
Manuel Jácome Coelho
Património Eclesiástico - Filho do Alferes Sebastião Jácome de Resendes e
Margarida Velho95. Foi dotado por uma escritura de bens de seus pais e tios
em 30.09.1732.
03.06.1733
886
7
Manuel José Coelho
Velho de Bettencourt
Património Eclesiástico - Filho de Joaquim Francisco Coelho de Bettencourt e
de Antónia Margarida Chaves96, n.p. de Manuel José Coelho de Bettencourt e
Margarida do Sacramento e n.m. de Matias de Andrade e Margarida de Chaves.
Foi dotado por sua mãe, por escritura de 30.08.1822.
17.10.1822
904
7
92 Idem, p.2190.
95 Idem, p.748.
93 Idem, p.772.
96 Idem, p.929.
94 Idem, p.62.
[117]
Nome
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
Nome
9:52 AM
Page 118
Documento ( Sumário)
Maço
Doc.
Manuel José da Costa Pereira Património Eclesiástico - Filho do Capitão Pedro da Costa Sousa e Serafina de
Andrade de Moura. Foi dotado por seus pais por escritura de 27.01.1742.
14.09.1742
888
8
Manuel José de Resendes
Património Eclesiástico - Filho de Inácio José de Magalhães e de Antónia do
Espírito Santo. Foi dotado com bens que comprou e herdou de que fez escritura
em 31.05.1794.
25.09.1794
896
3
Manuel José do
Rego Coutinho97
Património Eclesiástico - Natural da Matriz, filho de Bernardo José do Rego e
D. Aurélia Jacinta, n.p. de António do Rego Coutinho e D. Inácia Rosa Coutinho,
esta de Vila Franca do Campo e n.m. de Gabriel de Sousa Ferreira e Rosa Maria
Baptista. Foi dotado com bens próprios por escritura de 23.08.1822.
07.12.1822
904
8
Manuel José Jácome
Património Eclesiástico - Filho do Capitão Melchior de Resendes de Sousa e Maria
de Melo. Foi dotado por seu tio, o Padre Brás Soares de Macedo, por escritura
de 10.09.1742.
16.06.1743
889
1
Manuel Machado
Património Eclesiástico - Morador em São Miguel, filho de Pedro da Costa Galvão 30.07.1699
e Joana de Melo98. Foi dotado pelo Padre Manuel Jácome da Costa, Vigário da
Matriz de Vila do Porto. Inclui a apelação cível na qual foi apelante o Licenciado
Manuel Jácome da Costa e apelado o Dr. Inácio Pereira de Medeiros em 26.08.1689
por este tomar posse de casas doadas por Maria Jácome de Macedo, tia do
mesmo apelante.
878
3
Manuel Martins Leite
Património Eclesiástico - Filho de Sebastião de Fontes Velho e de Catarina Furtado 02.07.1701
Leite, moradores na Ribeira de São Domingos no termo de Vila do Porto.
Foi dotado por escritura de 18.09.1700 pelo Reverendo Matias Furtado Leite,
morador em Flor da Rosa Baixa, seu tio.
879
1
[118]
Data
Manuel Pacheco de Carvalho Património Eclesiástico - Filho de António José Cabral e Genoveva Francisca da
Conceição, da Matriz, n.p. de Francisco Cabral Velho e Antónia da Cunha e n.m.
de Bartolomeu Pacheco e Maria de Jesus. Foi dotado por Amaro José Pacheco
e mulher Helena da Conceição, João Baptista Pacheco e irmãs Ana Margarida e
Rosa Úrsula e pelo irmão Manuel Pacheco, seus tios, moradores na Flor da
Rosa Baixa, por escritura de 16.11.1801.
20.05.1802
904
1
Manuel Rebelo da Câmara99 Património Eclesiástico - Filho do Tenente Mateus Duarte da Câmara e de D. Rita
Quitéria de Menezes. Foi dotado por seus pais por escritura de 30.09.1771.
05.04.1772
894
2
97 Idem, p.870.
98 Idem, p.3086.
99 Idem, p.329.
vol. LIV ‘09
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
9:52 AM
Page 119
ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
Nome
Documento ( Sumário)
Data
Maço
Doc.
Manuel Salgado Chaves
Património Eclesiástico - Filho de Manuel de Moura Chaves e Mariana de
Andrade Leandres100. Foi dotado por seu tio Francisco de Moura Chaves por
escritura de 08.02.1737.
14.08.1738
888
2
Manuel Soares
de Figueiredo
Património Eclesiástico - Natural da Matriz, filho de António José de Figueiredo,
da Matriz e de Bernardina Rosa Soares, de São Pedro, n.p. de João Inácio de
Figueiredo e Maria Francisca e n.m. de Simão Correia e Maria Joaquina Soares.
Foi dotado com bens que comprou a D. Jacinta Tomázia de Medeiros Bettencourt
e a D. Maria Guilhermina Coutinho, Dionísio Teles, Pedro Jacinto, José Luciano
dos Reis e mulher Felícia Maria de Nazaré.
01.07.1839
904
10
Martinho de Almada
Património Eclesiástico - Filho de Mateus de Almada e de Catarina de Fontes.
Foi dotado por sua mãe por escritura de 17.09.1718.
06.11.1719
881
7
Mateus da Cunha
Património Eclesiástico - Filho de Pedro da Cunha e de Isabel de Bairos.
Foi dotado por seus pais por escritura de 30.01.1716.
20.06.1718
881
5
Mateus da Cunha Bairos
Património Eclesiástico - Pediu licença para sub-rogação de património.
Foi apresentado num benefício da Matriz por falecimento do Padre Manuel
Jácome da Costa em 30.04.1736 tendo tomado posse em 19.08 e feito
o seu património em 30.01.1716.
23.06.1768
893
5
Mateus de Melo
Património Eclesiástico - Estudante Teólogo, filho de Gaspar de Melo e Maria
de Melo, moradores na Praia, termo de Vila do Porto. Foi dotado pelo Padre
António Soares Ferreira por escritura de 12.07.1731.
17.06.1732
886
5
Melchior António Coelho
Património Eclesiástico - Filho de Joaquim de Andrade e de Rosa Maria Coelho,
n.p. de Manuel de Magalhães e Ana de Andrade dos Anjos e n.m. de Manuel
de Andrade Melo e de Teresa Coelho. Foi dotado pelo Reverendo Vice Vigário
Inácio Manuel de Andrade, seu tio, por escritura de 07.07.1784.
29.03.1787
895
6
Melchior António Coelho
Património Eclesiástico - Filho de Joaquim de Andrade e de Rosa Maria Coelho.
Foi dotado com os bens que lhe deixou seu tio, o Vigário Inácio Manuel de
Andrade de que fez escritura em 07.07.1784.
04.09.1784
895
3
Pedro Baptista
Património Eclesiástico - Filho do Mestre Pedro da Costa e de Teresa de Jesus.
Foi dotado por seu tio Manuel Soares, por escritura de 25.06.1765.
26.08.1765
892
4
100 Idem, p.2187.
[119]
(ILHA DE SANTA MARIA)
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
Nome
9:52 AM
Page 120
Documento ( Sumário)
Data
Maço
Doc.
Património Eclesiástico - Filho do Capitão Pedro da Costa Sousa e de sua primeira 05.10.1736
mulher Catarina do Espírito Santo. Foi dotado por seu pai e sua segunda mulher,
Serafina de Andrade por escritura de 05.07.1736 por ter sido herdeiro de seu irmão,
o Cónego Francisco da Costa Xavier.
887
4
Pedro de Freitas
Património Eclesiástico - Filho de João de Freitas e de Maria de Matos. Foi dotado
por escritura de 13.05.1705 por Filipe de Freitas, mestre pedreiro e mulher
Inês Velho.
12.12.1705
879
5
Pedro Jácome Soares
Património Eclesiástico - Filho do Capitão Pedro Soares Coelho e de D. Isabel de
Macedo101. Foi dotado por escritura de 12.06.1722 pelo Capitão Inácio Godinho
do Porto, seu tio.
05.05.1724
883
1
Valeriano José
da Câmara Coutinho
Património Eclesiástico - Filho do Alferes Manuel José da Câmara Bettencourt e de 07.07.1786
D. Francisca Antónia Leonor102, n.p. do Capitão Francisco da Câmara de Menezes
e de D. Rosa Leonor Coutinho e n.m. de Francisco Nunes de Melo e de D. Maria
Clara da Silveira. Foi dotado com os bens comprados ao Alferes Bartolomeu
Correia de Bettencourt e mulher D. Antónia Margarida e a D. Margarida das
Mercês e irmão Francisco António de Frias, filhos do Alferes Bartolomeu
Monteiro de Melo, por escritura de 13.02.1785.
895
4
[120]
Pedro da Costa
DISPENSAS MATRIMONIAIS
Nome
Documento ( Sumário)
Data
Maço
Doc.
Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade por diferentes linhas)
- Ele filho de António José de Chaves e Maria do Rosário e ela de Francisco
Andrade de Chaves e Mariana das Candeias, de Santo Espírito.
09.08.1809
906
4
Alexandre Francisco Mourato Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santo Espírito. 28.08.1822
Bernardina Rosa de Braga
911
5
Agostinho José de Chaves
Antónia Jacinta de Chaves
101 Idem, p.854.
102 Idem, p.918.
vol. LIV ‘09
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
9:52 AM
Page 121
ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
Nome
Documento ( Sumário)
Data
Maço
Doc.
André de Fontes
Catarina de Melo
Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Bartolomeu de
Fontes e Mariana de Resendes e ela de Cosme de Morais e de Catarina de Melo,
da Matriz.
08.10.1728
898
4
Anselmo Francisco
de Resendes
Antónia Jacinta de Chaves
Autuação de uma Diligência para Fé de Pobreza (2ºgrau de afinidade)
- O nubente viúvo de Umbelina Rosa e moradores em Santo Espírito.
21.05.1833
913
14
António Bento de Andrade
Maria Pacheco de Sousa
Dispensa de Proclamas - O nubente viúvo e ambos moradores em Santa Bárbara.
05.03.1917
920
51
António Bernardo
Úrsula Rosa
Dispensa Matrimonial (2ºgrau de afinidade).
19.05.1818
909
3
António Cabral
Rosa Bernarda
Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Francisco
Cabral e Maria de Melo e ela de Manuel Moreno e Maria da Trindade.
12.07.1760
898
16
António Cabral
Ana Jacinta
Dispensa Matrimonial (2ºgrau de afinidade) - Moradores em Santa Bárbara.
15.05.1854
919
3
António Caetano
Úrsula Jacinta
Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Moradores em São Pedro.
11.10.1826
912
11
António Caetano
da Câmara
D. Francisca Rosa
Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de João Manuel
da Câmara e ela filha de Carlos António da Silva, da Matriz.
21.05.1807
905
9
António Caetano
de Figueiredo
Ana Flora de Figueiredo
Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Moradores em São Pedro.
15.04.1828
913
4
António Caetano
Monteiro Bettencourt
D. Justina da Câmara
Albuquerque
Dispensa Matrimonial (2º e 3ºgrau misto de consanguinidade) - Moradores
na Matriz de Nossa Senhora da Assunção de Vila do Porto.
30.08.1826
912
9
António Coelho
de Resendes
Ana Bernardina Coelho
Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Francisco
Coelho de Resendes e Mariana Francisca e ela de Manuel José Coelho e Francisca
Rosa do Livramento, de São Pedro.
09.06.1808
906
2
António de Andrade
de Carvalho
Maria dos Anjos
Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade duplicado) - Moradores
em Santo Espírito.
11.05.1835
916
6
[121]
(ILHA DE SANTA MARIA)
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
Nome
9:52 AM
Page 122
[122]
Documento ( Sumário)
Data
Maço
Doc.
António de Andrade Puim
Antónia Margarida
Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Francisco de
Andrade Puim e Isabel de Sousa e ela de Eusébio de Andrade de Melo e
Catarina Velho de Melo, de Santo Espírito.
23.11.1755
898
13
António de Freitas
Maria de Braga
Alvará Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade) - Ambos naturais
de Santo Espírito.
26.10.1910
920
39
António de Magalhães
Maria das Candeias
Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele de São Pedro
e ela da Matriz.
01.04.1726
898
3
António de Resendes
Antónia Joaquina
Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade por duas linhas)
- Moradores em Santo Espírito.
19.07.1834
914
11
António de Resendes
de Carvalho
Margarida Francisca
de Barros
Dispensa Matrimonial - Ele filho do Alferes José de Resendes de Carvalho
e Inês de Andrade e viúvo de Jerónima da Conceição, ela filha de
José de Moura Leandres e Isabel de Bairos, moradores em Almagreira.
11.05.1765
899
2
António de Resendes Luz
Maria José de Carvalho
Alvará Matrimonial - O nubente viúvo de Francisca Soares de Figueiredo
e ambos naturais de Vila do Porto.
05.11.1910
920
37
António de Sousa Leandres
Angelina Amélia de Braga
Alvará Matrimonial (1ºgrau de afinidade) - A nubente viúva de Manuel
de Sousa Leandres e ambos naturais de Vila do Porto.
30.04.1904
920
19
António Francisco
Margarida Josefa
Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade) - Moradores na Matriz.
12.05.1755
898
10
António Francisco de Braga Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Manuel
Rosa Maria
de Braga e Margarida de Resende e ela filha de Manuel Cabral e
Luzia da Conceição, de Santa Bárbara.
20.07.1767
899
6
António Francisco
de Resendes
Mariana do Rosário
Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Gaspar
Pacheco e Mariana de Jesus e ela filha de José Pereira de Moura
e Francisca de Resendes, de São Pedro.
02.06.1763
899
1
António Furtado
Antónia Virgínia Pacheco
Alvará Matrimonial - O nubente natural da Ribeira Grande e a nubente
de Vila do Porto.
12.11.1904
920
13
António Joaquim Cabral
Balbina Jacinta
Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - Moradores em São Pedro.
10.10.1835
916
11
26.03.1851
918
6
António Joaquim de Carvalho Dispensa Matrimonial (2º e 3ºgrau de consanguinidade) - Moradores
Maria de Jesus de Chaves
em Santo Espírito.
vol. LIV ‘09
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
9:52 AM
Page 123
ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
Nome
Documento ( Sumário)
Data
Maço
Doc.
António Joaquim de Freitas Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santa Bárbara. 02.07.1849
Maria Bárbara da Conceição
918
2
António Joaquim de Moura
Bernardina Jacinta
Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade) - Moradores
em Santo Espírito.
10.09.1824
912
2
António Joaquim de Moura
Rosa Joaquina
Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santo Espírito. 11.03.1835
916
2
António Joaquim de Resendes Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade) - Moradores
Jacinta Isabel
em Vila do Porto.
15.04.1828
913
3
António Joaquim de Sousa
Maria Joaquina de Sousa
Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de João
de Sousa Pereira e Rita Inácia e ela de Manuel de Sousa Curvelo e Mariana
de Jesus, de Santo Espírito.
29.11.1816
905
14
António José
Rosa Úrsula
Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Moradores na Matriz.
28.06.1759
898
15
António José Bairos
Catarina Rosa
Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de José de Barros
e Antónia do Rosário e ela de Manuel de Sousa Curvelo e Mariana de Jesus,
de Santo Espírito.
21.08.1806
905
6
António José Coelho
Inês do Sacramento
Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade) - Naturais de São Pedro.
07.06.1817
908
4
António José de Chaves
Maria da Conceição
de Chaves
Dispensa Matrimonial (2º e 4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Pascoal de
Andrade Melo e Rosa Maria de Chaves e ela de Agostinho José de
Chaves e Joana Francisca de Chaves, de Santo Espírito.
08.11.1819
910
8
António José de Chaves
Maria da Conceição
de Chaves
Autuação para Fé de Pobreza (2º e 4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho
de Pascoal de Andrade Melo e Rosa Maria de Chaves e ela de Agostinho
José de Chaves e Joana Francisca de Chaves, de Santo Espírito.
19.10.1818
910
2
António José de Melo
Rosa Jacinta de Chaves
Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Naturais de Santo Espírito.
20.10.1817
908
10
António José de Moura
Dispensa Matrimonial (2º e 3ºgrau de consanguinidade por diferentes linhas)
Victória Jacinta de Figueiredo - Moradores em Santa Bárbara.
07.08.1835
916
9
António José
de Sousa Cabral
Maria Isabel
31.05.1818
909
4
Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de António
José de Sousa e Vicência Joaquina e ele de António de Braga Sousa e
D. Antónia Jacinta, de Santo Espírito.
[123]
(ILHA DE SANTA MARIA)
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
Nome
9:52 AM
Page 124
Documento ( Sumário)
Data
Maço
Doc.
[124]
António José Pereira
Ana Maria do Coração
de Jesus
Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santo Espírito. 18.04.1849
918
1
António Lúcio de Morais
D. Joaquina Augusta da
Câmara
Dispensa Matrimonial (1ºgrau misto de 2ºgrau de consanguinidade) - Moradores
em Vila do Porto.
17.11.1859
920
5
António Manuel de Melo
Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santo Espírito. 20.03.1851
Umbelina Jacinta de Chaves
918
4
António Soares
Ana Jacinta
Dispensa Matrimonial (2º e 4ºgrau de consanguinidade duplicado) - O nubente
natural de Vila do Porto e a nubente de Santa Bárbara.
14.05.1858
919
13
António Soares
de Figueiredo103
Bernardina Laurência
Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Ele filho do Capitão Luís
de Figueiredo de Sousa e D. Margarida de Menezes e ela filha de André
de Moura Velho e D. Ana de Andrade.
03.09.1765
899
4
António Soares de Moura
Alvará Matrimonial - O nubente natural de Santa Bárbara e a nubente
Maria da Conceição Travassos natural de Vila do Porto.
21.10.1907
920
30
António Ventura de Freitas
Floriana Rosa de Chaves
Dispensa Matrimonial (2ºgrau de afinidade por duas linhas) - Ele de Santo
Espírito e a nubente de Vila do Porto.
19.07.1834
914
12
António Ventura do Rego
Francisca Joaquina
Dispensa Matrimonial (2ºgrau de afinidade) - Moradores na Matriz.
21.08.1805
905
1
Bartolomeu de Andrade
Ana do Rosário
Dispensa Matrimonial (4ºgrau de afinidade) - Ele filho de Domingos de Melo
e Antónia Pereira e ela de Miguel Fernandes e Maria de Resendes e viúva de
António Francisco de Chaves, de Santo Espírito.
15.07.1777
900
8
Bento Joaquim Bettencourt Dispensa Matrimonial (2º e 3ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de João Bento
D. Antónia Caetana Angélica da Câmara Bettencourt e de D. Ana Margarida Monteiro104, da Matriz e ela
do Alferes Custódio José Monteiro e Catarina Rosa do Anjo, de São Pedro.
10.12.1776
900
4
Bento Soares de Albergaria
D. Margarida Soares
de Albergaria
07.10.1815
905
11
Dispensa Matrimonial (1ºgrau de afinidade) - Ele filho de João Soares Sousa
Ferreira de Albergaria e de D. Francisca Tomásia Brum da Silveira105,
viúvo de D. Francisca Soares da Câmara Albergaria e ela de Laureano
Francisco da Câmara Falcão e D. Joana Jacinta de Bettencourt, da Matriz.
103 Idem, p.2645.
105 Idem, p.1525.
104 Idem, p.2654.
vol. LIV ‘09
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
9:52 AM
Page 125
ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
Nome
Documento ( Sumário)
Data
Maço
Doc.
Bernardino Cabral
Victorina Soares
Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santo Espírito. 13.05.1853
919
2
Bernardino de Braga
Bernardina Jacinta
Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santo Espírito. 09.01.1835
915
11
Bernardino de Figueiredo
Rosa Jacinta de Braga
Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade por duas linhas)
- Moradores em Santa Bárbara.
25.09.1833
914
2
Bernardino de Moura
Rosa Jacinta
Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - Moradores em São Pedro.
05.02.1855
919
5
Bernardino de Resendes
Soares
Jacinta Umbelina de Fontes
Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Moradores em São Pedro.
15.04.1828
913
2
Bernardino de Sousa
Maria Jacinta
Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade duplicado e 4ºgrau por outra
linha) - Moradores em Santo Espírito.
11.05.1835
916
3
Bernardino de Sousa Viegas
Maria de Sousa Chaves
Alvará Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade) - Ambos naturais de
Santo Espírito.
19.07.1910
920
41
Bernardino Joaquim Cabral
Antónia Cândida
de Resendes
Dispensa Matrimonial (2º e 4ºgrau de consanguinidade) - Moradores em
Santa Bárbara.
17.07.1846
917
7
Bernardino Joaquim
de Andrade
Filomena Jacinta de Chaves
Alvará Matrimonial - Ambos naturais de Vila do Porto.
10.01.1910
920
33
Bernardino Joaquim de Sousa Autuação de uma Petição para Atestado de Pobreza (2º e 4ºgrau de
Joaquina Ricarda de Sousa
consanguinidade) - Moradores em Santa Bárbara.
14.05.1847
917
8
Bernardino Joaquim Moreira Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade duplicado) - Moradores
D. Antónia Emília Moreira em Santa Bárbara.
03.09.1834
915
5
Bernardino José de Braga
Maria Jacinta de Lima
24.10.1810
905
6
10.06.1807
905
16
Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Bernardino
José de Braga e de D. Antónia Laurência e ela de António de Braga Sousa e
de D. Antónia Jacinta, de Santo Espírito.
Bernardino José de Carvalho Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de António
Antónia Jacinta
Carvalho e Maria da Trindade, de Santo Espírito e ela de Pascoal de Andrade
Melo e Rosa Maria, de Santo Espírito.
[125]
(ILHA DE SANTA MARIA)
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
Nome
9:52 AM
Page 126
Documento ( Sumário)
Data
Maço
Doc.
[126]
Bernardino José de Moura
Antónia Carvalho
Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de António de Moura 16.07.1819
e Maria Joaquina, sua segunda mulher e ela de António de Braga e D. Perpétua
de Bettencourt, de Santo Espírito.
910
7
Bernardino José Soares
Maria de Jesus
Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade) - Moradores em
Santo Espírito.
14.06.1831
913
9
Bernardino José Soares
Maria Jacinta
Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade por diferentes linhas)
- Moradores em Santo Espírito.
19.07.1834
915
1
Bernardino Soares
de Resendes
Jacinta Umbelina
Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Moradores em São Pedro.
15.12.1830
913
6
Bernardo José
Inácia da Conceição
Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Francisca Rosa,
de Santa Bárbara e ela de Francisco de Almada e Úrsula Rosa, da Matriz.
07.11.1809
906
6
Caetano Joaquim
Ana Jacinta
Dispensa Matrimonial (2º e 3ºgrau de consanguinidade e 4ºgrau de afinidade)
- O nubente viúvo e natural de São Pedro e a nubente natural de Santa Bárbara.
11.05.1835
916
4
Custódio José Coelho
Antónia Jacinta
Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade e 2º e 4ºgrau de afinidade)
- Ele viúvo de Francisca Rosa e ela filha de Francisco António Pacheco e
D. Rosa Jacinta, da Matriz.
29.08.1805
905
2
Custódio José de Freitas
Laurência Clara
Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Francisco de
Freitas e Esperança de Andrade e ela de João da Cunha e Leonor de Andrade.
25.09.1771
899
11
Diniz Maria dos Reis
Maria Jacinta
Mandato para Comutação de Penitências (4ºgrau de consanguinidade)
- Moradores em Santa Bárbara.
26.02.1875
923
35
Domingos Joaquim de Freitas Alvará Matrimonial - Ambos naturais de Vila do Porto.
Maria da Anunciação Pereira
11.07.1904
920
22
Elias Joaquim de Melo
Francisca Jacinta
Dispensa Matrimonial (2ºgrau de afinidade) - O nubente viúvo e moradores em
Vila do Porto.
25.04.1835
915
12
Floriano Joaquim
Bernardina Joaquina
Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Moradores em São Pedro
sendo o nubente viúvo.
18.11.1825
912
6
Floriano Joaquim Ferreira
Maria Ermelinda Ferreira
Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Vila do Porto.
22.10.1844
917
3
Floriano José Nunes
Umbelina Úrsula
da Conceição
Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho Manuel José Nunes
e Rosa Maria e ela de Mateus José de Sousa e Felícia Rosa, da Matriz.
20.07.1817
908
5
vol. LIV ‘09
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
9:52 AM
Page 127
ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
Nome
Documento ( Sumário)
Data
Maço
Doc.
Francisco António
de Carvalho
Antónia Margarida
de Bettencourt
Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santo Espírito. 11.10.1826
912
10
Francisco António
de Figueiredo
Maria Cândida
Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade).
30.10.1809
906
5
Francisco António
de Figueiredo
Mariana Luísa
Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade) - Ele viúvo de D. Antónia
Laurência, da Matriz e ela filha de Tomé de Resendes e de D. Rosa de Figueiredo,
de Santa Bárbara.
30.07.1817
908
7
Francisco António
Dispensa Matrimonial (4ºgrau de afinidade) - Ele filho de José Diogo de Andrade e
de Sousa Puim
Ana Úrsula das Onze Mil Virgens e ela viúva de António de Andrade Magalhães,
D. Catarina Maria Monteiro de Santo Espírito.
17.08.1806
905
3
Francisco Borges de Sousa
Maria Ricarda Pacheco
Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Francisco
Bernardino de Sousa e Inácia Rosa de Medeiros e ela de João Pacheco e Francisca
Rita Xavier, ele da Matriz de Vila do Porto e ela da Matriz de Ponta Delgada.
08.11.1810
905
8
Francisco Borges de Sousa
Maria Ricarda Pacheco
Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade).
15.10.1806
905
7
Francisco de Andrade
Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Matias de
Ana Maria de Santo António Andrade e Francisca de Andrade, moradores em Almagreira e ela de Manuel de
Resendes e Maria de Andrade, também moradores em Almagreira.
14.09.1770
899
9
Francisco de Barros
Francisca dos Anjos
Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Manuel de
Fontes e Ana de Barros e ela de Francisco de Almada e Isabel de Andrade,
de São Pedro.
15.03.1747
898
5
Francisco Inácio de Morais
Jacinta Tomázia
Dispensa Matrimonial (3ºgrau de afinidade) - Moradores em São Pedro.
A nubente viúva de Manuel José de Morais.
14.10.1826
912
13
Francisco Joaquim Cabral
Bernarda Joaquina
Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Naturais da Matriz.
31.05.1818
909
6
Francisco José
D. Rosa Leonor
Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de António de
Magalhães Velho e Maria das Candeias, moradores em Santana e ela de José de
Resendes e D. Antónia de Jesus, moradores na Rosa Alta.
09.06.1773
900
1
Francisco José Cabral
Antónia Umbelina
Dispensa Matrimonial (2º e 3ºgrau de consanguinidade e 4ºgrau de afinidade)
- O nubente viúvo de Bernardina Ricarda e ambos moradores em Vila do Porto.
11.05.1835
916
1
[127]
(ILHA DE SANTA MARIA)
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
Nome
9:52 AM
Page 128
[128]
Documento ( Sumário)
Data
Maço
Doc.
Francisco José de Andrade
Matilde Flora da Câmara
Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Vila do Porto.
16.06.1834
914
10
Francisco José de Melo
Luísa Joaquina de Sousa
Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade e 1º grau de afinidade) - Ele 02.03.1816
filho de Manuel de Jesus e Ana Maria e ela de Mateus José de Sousa e Felícia Rosa,
da Matriz.
905
13
Francisco José de Melo
Luísa Joaquina de Sousa
Autuação para Fé de Pobreza (2º, 3º e 4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de
14.10.1812
Manuel de Jesus e Ana Maria e ela de Mateus José de Sousa e Felícia Rosa, da Matriz.
905
9
Francisco Manuel Coelho
Rosa Jacinta
Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele viúvo de Francisca
Tomázia e moradores em São Pedro.
28.12.1817
909
1
Francisco Pacheco
Catarina de Andrade
Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de João Pacheco e
Catarina de Andrade e ela de Rodrigo Gonçalves e Feliciana de Andrade, naturais
da Matriz.
16.03.1721
898
18
Francisco Soares
Luzia da Conceição
Dispensa Matrimonial (2º e 3ºgrau de consanguinidade) - Ele viúvo de Maria da
Assunção e ela filha de José de Andrade e Maria de Fontes, da Matriz.
27.07.1750
898
6
Francisco Soares
Isabel de Jesus
Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Francisco Soares 08.08.1756
e Esperança de Braga e ela de Manuel de Freitas e Maria de Sousa, de Santo Espírito.
898
14
Francisco Tavares do Rego
Maria Júlia Tavares do Rego
Dispensa Matrimonial (1ºgrau misto de 2ºgrau de consanguinidade) - Moradores
em Santo Espírito.
30.07.1845
917
6
Geraldo José Falcão
D. Mariana Laurência
e Albergaria
Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho do Capitão Antão
de Avelar Falcão e de D. Margarida de Menezes, de Vila do Porto e ela do
Capitão Manuel de Sousa Soares de Albergaria e D. Isabel de São Pedro,
de São Pedro106.
04.05.1776
900
3
Inácio Joaquim Carvalho
Joaquina Tomázia
Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de José Francisco
Curvelo e Joaquina Rosa e ela de José Caetano e Maurícia Rosa, da Matriz.
03.06.1824
911
10
Inácio Joaquim
da Câmara107
Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade por diferentes linhas)
- Ele filho de Laureano Francisco da Câmara Falcão e D. Joana Jacinta de
Bettencourt e ela de Francisco Bernardo de Resendes e D. Ana Rita
do Rego Coutinho, da Matriz.
24.10.1810
905
3
D. Antónia Laurência
de Sousa Coutinho
106 Idem, p.862.
107 Idem, p.919.
vol. LIV ‘09
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
9:52 AM
Page 129
ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
(ILHA DE SANTA MARIA)
Documento ( Sumário)
Data
Maço
Doc.
Inácio Joaquim de Figueiredo Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de José Soares de
Figueiredo e Rosa Jacinta do Céu, de São Pedro e ela filha de José Custódio de
Mariana Flora
Andrade e D. Isabel Flora de Figueiredo, da Matriz.
20.06.1822
911
3
Inácio Joaquim de Melo
Francisca Umbelina
Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Moradores na Matriz.
25.08.1823
911
9
Inácio Joaquim de Moura
Jacinta Rosa
Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de António Francisco 25.10.1810
de Moura e Catarina Rosa, de São Pedro e ela de António José Coelho e
Maria Josefa, de São Pedro.
905
7
Inácio Joaquim Resendes
Ana Joaquina
Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade) - Moradores em
São Pedro.
07.01.1831
913
7
Inácio José
Mariana Francisca
Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de João Inácio e
02.11.1801
Mariana Francisca, da Matriz e ela de Laureano Francisco Madeira e Ana dos Anjos,
de Santo Espírito.
905
17
Inácio José
Maria Jacinta
Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de José Inácio dos
Santos e Francisca Rosa, da Matriz e ela de Francisco José de Andrade e Rosa
Jacinta, de São Pedro.
03.08.1817
908
8
Inácio José Coelho
Ana Jacinta Coelho
Autuação de uma Diligência para Fé de Pobreza (4ºgrau de consanguinidade)
- Moradores em Vila do Porto.
30.04.1833
913
13
Inácio José de Figueiredo
Maria Luísa
Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de António José de
Resendes e Jacinta Rosa de Figueiredo e ela de André Inácio e Inácia Margarida,
da Matriz.
03.06.1817
908
3
Inácio Soares
Antónia Laurência
Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de José Inácio
Perinho e Ana Teresa, da Matriz e ela de Valério de Andrade e Bárbara Laurência,
de Santo Espírito.
31.05.1821
911
2
Jacinto José de Fontes
Ana Emília Baptista
Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Vila do Porto.
30.08.1859
920
4
João Baptista de Loura
Rosa Jacinta
Dispensa Matrimonial (2º e 3ºgrau de consanguinidade) - Moradores em
Santo Espírito.
17.05.1819
910
4
João Bernardo Coelho
Maria Ricarda
Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Moradores em São Pedro.
09.08.1824
912
1
[129]
Nome
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
Nome
9:52 AM
Page 130
Documento ( Sumário)
Data
Maço
Doc.
[130]
João Bernardo Falcão
Rosa Joaquina de Resendes
Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Francisco
28.08.1822
de Moura Jácome e de D. Maria Rosa108 e ela viúva de Manuel Inácio de Figueiredo,
de São Pedro.
911
4
João Bernardo Farpeilha
Eufrázia Joaquina
Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de António José
Farpeilha e de sua segunda mulher, Ana Margarida e ela de António de Bairos
e Francisca dos Anjos, da Matriz.
08.04.1818
910
1
João Coelho
Luísa Joaquina
Dispensa Matrimonial (1º e 3ºgrau de afinidade) - Moradores em Vila do Porto.
03.09.1834
915
8
João da Cunha Pacheco
Antónia Margarida
Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade duplicado) - Ele viúvo de
Esperança do Nascimento e ela viúva de José Baptista submergido nas ondas do mar.
25.04.1771
899
12
João de Andrade
Jacinta Umbelina
Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santa Bárbara. 24.05.1860
920
8
João de Bairos
Maria Júlia
Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Vila do Porto.
22.04.1853
919
1
João de Bairos
Ana Maria de Chaves
Alvará Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Ambos naturais de Santo Espírito. 11.07.1910
920
43
João de Moura
Isabel Francisca
Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade por diferentes linhas)
- Moradores em Santa Bárbara.
12.01.1808
906
1
João de Moura
Maria Jacinta
Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Moradores em São Pedro.
23.11.1833
914
6
João de Moura
Umbelina Tomázia
Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Vila do Porto.
13.07.1858
919
14
João de Moura Cabral
Catarina Rosa
Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Jacinto Cabral e
Josefa Gonçalves e ela de José de Andrade Pereira e Francisca de São José,
de São Lourenço.
06.02.1770
899
8
24.10.1810
905
5
João de Resendes de Bairos Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele de São Pedro e ela
Bernarda Isabel Monteiro
da Matriz.
108 Idem, p.789.
vol. LIV ‘09
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
9:52 AM
Page 131
ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
Nome
Documento ( Sumário)
Data
Maço
Doc.
João Figueiredo Reis
D. Maria Soares
da Conceição
Alvará Matrimonial (3º e 4ºgrau triplicado de consanguinidade) - Naturais de
Vila do Porto.
26.10.1904
920
12
João Francisco do Rego
Maria Luísa
Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade).
25.04.1820
911
1
João Francisco dos Reis
Maria Luísa
Autuação para Fé de Pobreza (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de António
João dos Reis e Francisca Rosa e ela de Francisco José de Melo e Antónia Jacinta,
da Matriz.
19.10.1818
909
9
João Inácio de Chaves
Ana Jacinta
Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de João Inácio de
31.05.1818
Chaves e Ana Rita de Figueiredo e ela de José António de Chaves e Rita Margarida,
de Santo Espírito.
909
5
João Inácio Ferreira
Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Vila do Porto.
Maria Teodora Soares Ferreira
21.10.1850
918
3
João Jacinto da Graça
Maria Isabel
Dispensa Matrimonial (3ºgrau de afinidade) - Ele viúvo de Lucrécia Rosa e
ela filha de Manuel Pacheco e Rita Inácia, da Matriz.
03.06.1824
911
11
João Jacinto de Freitas
Laurência Maria
Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santo Espírito. 02.07.1835
916
8
João Jacinto Teixeira
Mariana Júlia Bettencourt
Dispensa Matrimonial (1ºgrau de afinidade) - O nubente viúvo e natural de Vila
do Porto e a nubente de Santo Espírito.
27.03.1860
920
6
João José de Fontes
Antónia Umbelina
Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade) - O nubente viúvo e
ambos moradores em Santo Espírito.
20.08.1835
916
10
João José de Melo
Luísa Isabel Pacheco
Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Vila do Porto.
20.11.1844
917
4
João Severino Gago
da Câmara109
D. Rosa Matilde
Dispensa Matrimonial (1ºgrau de afinidade) - O nubente viúvo de D. Luísa
Ermelinda Gago e ambos moradores em Vila do Porto.
29.05.1857
919
11
João Severino Gago
da Câmara110
D. Rosa Matilde
Dispensa Matrimonial (1ºgrau de afinidade) - O nubente viúvo de D. Luísa
Ermelinda Gago e ambos moradores em Vila do Porto.
17.05.1856
919
7
109 Idem, p.1082.
110 Idem, p.1082.
[131]
(ILHA DE SANTA MARIA)
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
Nome
9:52 AM
Page 132
Documento ( Sumário)
Data
Maço
Doc.
Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade e 3ºgrau duplicado)
- Moradores em Vila do Porto.
27.07.1844
917
2
João Soares Moreira
Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santa Bárbara. 14.04.1852
Antónia Jacinta de Figueiredo
918
9
Joaquim António
de Figueiredo
Antónia Jacinta
Dispensa Matrimonial (1º grau de afinidade e 4ºgrau de consanguinidade)
- Moradores em Santa Bárbara.
25.05.1835
916
7
Joaquim de Andrade
de Magalhães
Rosa Maria
Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Manuel
de Magalhães e Ana de Andrade e ela de Manuel de Andrade de Melo e
Teresa Coelho, da Matriz.
12.12.1751
898
7
Joaquim de Carvalho
Maria José de Carvalho
Alvará Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade) - Ambos naturais
de Vila do Porto.
27.01.1910
920
35
Joaquim de Resendes Paiva
Rosa Jacinta de Chaves
Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Moradores
em Santa Bárbara.
12.12.1833
914
8
Joaquim Fernandes
Monteiro Tavares
D. Isabel Júlia Monteiro
Autuação para Fé de Pobreza (2ºgrau de consanguinidade) - Naturais da Matriz,
ele filho de João Bernardo Tavares e de D. Eulália Rita111 e ela de Joaquim
Monteiro de Bettencourt e D. Ana Jacinta do Amor Divino112.
18.08.1818
909
8
Joaquim Fernandes
Monteiro Tavares
Isabel Júlia Monteiro
Dispensa Matrimonial (para continuação das diligências) - Naturais da Matriz,
ele filho de João Bernardo Tavares e de D. Eulália Rita113 e ela de Joaquim
Monteiro de Bettencourt e D. Ana Jacinta do Amor Divino114.
06.12.1819
910
9
Joaquim José Cabral
Antónia Umbelina
Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santo Espírito.
28.04.1836
916
12
Joaquim José de Sousa
Lucinda Jacinta
Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Naturais da Matriz.
03.08.1817
908
9
Joaquim José Pereira
Maria Ricarda
Mandato Apostólico (4ºgrau de afinidade) - Ele viúvo de Francisca Ricarda e ela
filha de João de Deus Cabral e Antónia Jacinta, da Matriz.
21.07.1817
908
6
João Soares de Sousa
Canto e Albuquerque
D. Maria Isabel
do Canto Corte Real
[132]
111Idem, p.2654.
113 Idem, p.2654.
112 Idem, p.2190.
114 Idem, p.2190.
vol. LIV ‘09
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
9:52 AM
Page 133
ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
(ILHA DE SANTA MARIA)
Documento ( Sumário)
Data
Maço
Doc.
Dispensa Matrimonial (4ºgrau de afinidade) - Ele viúvo de Francisca Ricarda e ela
filha de João de Deus Cabral e Antónia Jacinta, da Matriz.
18.05.1817
908
1
15.01.1904
920
17
Joaquim Soares
Bernardina Jacinta
Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santa Bárbara. 03.09.1834
915
7
José António de Andrade
Bernarda Rosa
Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Francisco José
de Andrade e D. Ana Rita de Chaves e ela de Manuel de Jesus e
Esperança do Nascimento, de Santa Bárbara.
18.09.1810
905
1
José António de Chaves
Maria Francisca de Chaves
Dispensa Matrimonial (2º, 3º e 4ºgrau de consanguinidade por diferentes linhas)
- Moradores em Santo Espírito.
19.07.1834
915
2
José António Monteiro
Ana Rita de Bettencourt
Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de João Pedro de
23.10.1810
Andrade e D. Catarina Teresa Monteiro, de São Pedro115, e ela de Joaquim
Francisco Coelho de Bettencourt e Antónia Margarida de Chaves, de Santo Espírito.
905
2
José Cabral
Umbelina Micaela
Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Naturais de Santa Bárbara.
24.05.1817
908
2
José de Andrade
Antónia Maria
Autuação de uma Diligência para Fé de Pobreza (4ºgrau de consanguinidade)
- Moradores em Santo Espírito.
31.08.1832
913
10
José de Andrade Chaves
Mariana Francisca
Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Gonçalo de
Andrade e Antónia Margarida e ela de José de Andrade e Maria da Câmara,
de Santo Espírito.
10.03.1770
899
10
José de Andrade Melo
Jerónima da Conceição
Dispensa Matrimonial - Ele viúvo de Margarida Pereira e moradores na Malbusca.
14.04.1765
899
3
José de Bairos
Maria Rosa Nordelo
Alvará Matrimonial - Ambos naturais de Santo Espírito.
24.10.1910
920
40
José de Bairos
Maria Pereira de Chaves
Alvará Matrimonial (3º e 4ºgrau de afinidade) - O nubente viúvo de Joaquina
Umbelina de Chaves e ela de António Pereira e ambos de Santo Espírito.
02.07.1910
920
46
José de Bairos Teixeira
Margarida de Magalhães
Dispensa Matrimonial (4ºgrau de afinidade) - Ele viúvo de Francisca de Rezendes
e ela filha de Gaspar de Melo e Francisca de Magalhães, da Matriz.
12.05.1755
898
9
Joaquim José Pereira
Maria Ricarda
Joaquim Maria Pacheco
Alvará Matrimonial - Ambos naturais de Vila do Porto.
Virgínia da Purificação Santo
115 Idem, p.810.
[133]
Nome
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
Nome
9:52 AM
Page 134
Documento ( Sumário)
Data
Maço
Doc.
[134]
José de Braga
Maria Joaquina
Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santo Espírito. 16.07.1855
919
9
José de Braga
Maria da Conceição Costa
Alvará Matrimonial - Ambos naturais de Vila do Porto.
09.07.1904
920
21
José de Braga de Carvalho
Rita Maria
Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santo Espírito. 25.04.1828
913
5
José de Carvalho Braga
Maria Angelina de Chaves
Alvará Matrimonial - Ambos naturais de Santo Espírito.
13.04.1910
920
50
José de Resendes
Madalena de Andrade
Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade).
19.11.1723
898
2
José de Resendes
Maria Júlia
Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - O nubente natural de
São Pedro e a nubente de Vila do Porto.
25.04.1860
920
7
José de Resendes Cabral
Emília de Jesus Cabral
Alvará Matrimonial (2º e 3ºgrau de consanguinidade) - Ambos naturais de
Vila do Porto.
02.11.1910
920
38
José de Resendes de Melo
Maria Jacinta de Chaves
Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - Moradores em
Santo Espírito.
05.05.1852
918
10
José de Sousa Viegas
Maria Jacinta de Chaves
Alvará matrimonial - Ambos naturais de Santo Espírito.
19.04.1910
920
49
José Francisco
Margarida do Espírito Santo
Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Miguel da
Fonseca e Maria de Matos e ela filha de Gaspar de Sousa e Maria do Rosário,
moradores na Praia.
28.07.1766
899
5
José Francisco Curvelo
Úrsula Teresa
Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santa Bárbara.
01.02.1831
913
8
José Francisco de Andrade
Antónia Margarida
Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Cosme de
Andrade e Maria das Candeias e ela de Domingos Carvalho e Maria Cabral.
20.05.1768
899
7
José Francisco de Morais
D. Bernardina Rosa
Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Manuel
05.03.1776
de Morais e Teresa de Moura e ela de Inácio de Sousa de Menezes e D. Esperança
de Figueiredo, de Santa Bárbara.
900
2
José Inácio
Francisca Rosa
Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade por duas linhas) - Naturais
da Matriz.
905
5
vol. LIV ‘09
21.08.1806
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
9:52 AM
Page 135
ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
Nome
Documento ( Sumário)
Data
Maço
Doc.
José Inácio Coelho
Maria Catarina
Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de António de
Andrade Coelho e Inocência Margarida e ela de Manuel de Sousa e Úrsula Rosa,
de Santo Espírito.
18.05.1819
910
5
José Inácio Coelho
Lucrécia Rosa
Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Moradores na Matriz de
Nossa Senhora da Assunção de Vila do Porto.
14.10.1826
912
12
José Inácio de Bairos
Francisca Jacinta
Autuação de uma Diligência para Fé de Pobreza (4ºgrau de consanguinidade)
- Moradores em Santa Bárbara.
29.04.1833
913
11
José Inácio de Resendes
Laurência Jacinta
Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade por duas linhas)
- Moradores em Santa Bárbara.
12.12.1833
914
7
José Inácio Monteiro
Umbelina Teresa Monteiro
Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Custódio José
Monteiro e Catarina Rosa do Anjo, de Santo Espírito, ela de João Pedro de
Andrade e D. Catarina Teresa Monteiro, de São Pedro116.
20.06.1818
909
7
José Inácio Monteiro
de Carvalho117
Dispensa Matrimonial (2º e 3ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de António de
Andrade de Magalhães e D. Catarina Maria Monteiro e ela de João Pedro de
Andrade e D. Catarina Teresa Monteiro, de Santo Espírito118.
18.11.1817
908
11
José Inácio Pacheco
Antónia Jacinta Leonor
Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Francisco
António Pacheco e Floriana Rosa de Chaves e ela viúva de Vicente José Ferreira,
da Matriz.
16.08.1809
905
15
José Jacinto de Figueiredo
Ana Luísa
Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santa Bárbara. 11.11.1861
920
9
José Joaquim
Bárbara Jacinta
Dispensa Matrimonial (4ºgrau de afinidade) - Ele viúvo de Francisca Rosa e ela
filha de José Francisco de Morais e Antónia Jacinta, da Matriz.
14.05.1807
905
8
José Joaquim de Andrade
Maria da Trindade
Alvará Matrimonial - Ambos naturais de Vila do Porto.
03.05.1906
920
26
José Joaquim de Braga
Maria Angelina Baptista
Alvará Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ambos naturais de Santo Espírito. 18.07.1910
920
42
José Joaquim de Lima
Maria Jacinta de Chaves
Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade) - O nubente de Santo
Espírito e a nubente de Vila do Porto.
914
1
D. Antónia Maria Monteiro
116 Idem, p.810.
117 Idem, p.3614.
118 Idem, p.810.
15.06.1833
[135]
(ILHA DE SANTA MARIA)
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
Nome
9:52 AM
Page 136
[136]
Documento ( Sumário)
Data
Maço
Doc.
José Joaquim de Sousa
Maria Joaquina
Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santo Espírito.
03.08.1825
912
4
José Joaquim dos Santos
Luísa Jacinta
Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade) - Moradores em
Santa Bárbara.
19.07.1834
915
3
José Lopes de Figueiredo
Maria Eugénia
Alvará Matrimonial - Ambos naturais de Vila do Porto.
10.10.1904
920
23
José Manuel de Carvalho
Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santo
Bernardina Joaquina Carvalho Espírito.
18.07.1825
912
3
José Manuel de Sousa
Antónia Caetana
Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Ele da Matriz e ela de
São Pedro.
28.12.1817
909
2
José Maria Coelho
Catarina Júlia do Coração
de Jesus
Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade) - Moradores em
São Pedro.
08.11.1833
914
4
José Maria de Braga
Victorina Rosa de Resendes
Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade) - O nubente viúvo e
ambos moradores em Santo Espírito.
28.04.1836
916
13
José Maria de Carvalho
Antónia Jacinta
Dispensa Matrimonial (2º e 4ºgrau de consanguinidade) - Moradores em
Santo Espírito.
26.01.1856
919
4
José Pedro de Chaves
Lucrécia Rosa Miquelina
de Bettencourt119
Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santo Espírito. 15.09.1810
906
7
José Pereira
Maria Jacinta
Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade e 1ºgrau de afinidade)
- Moradores em Santo Espírito.
23.04.1856
919
6
José Soares
Rita Maria
Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de afinidade duplicado) - O nubente viúvo de
Rosa Jacinta e a nubente de António Ventura Tavares. Moradores em São Pedro.
02.08.1834
915
4
José Soares de Figueiredo
Maria Isabel de Braga
Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santo Espírito. 17.02.1845
917
5
Laureano Francisco
Ana dos Anjos
Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de António de Sousa
Madeira e Ana dos Anjos, da Matriz e ela de Matias de Andrade e Maria de Sousa,
de Santo Espírito.
900
5
119 Idem, p.929.
vol. LIV ‘09
25.07.1776
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
9:52 AM
Page 137
ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
(ILHA DE SANTA MARIA)
Documento ( Sumário)
Data
Maço
Doc.
Lauriano Monteiro
Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Vila do Porto.
de Bettencourt
D. Maria Brísida Monteiro120
08.01.1844
917
1
Leandro Joaquim Ferreira
Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - A nubente viúva de António
D. Maria Emília de Menezes Caetano da Câmara e ambos moradores em Vila do Porto.
11.05.1835
916
5
Lourenço Joaquim de Sousa Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Moradores em
Ana Jacinta de Resendes
Santo Espírito.
08.11.1833
914
5
Lourenço José de Resendes Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Vila do Porto.
Ana Jacinta Tavares do Rego
17.08.1825
912
5
Luís Duarte Rebelo
da Câmara121
D. Maria da Assunção
Figueiredo Canto
Dispensa Matrimonial (2º e 3ºgrau de consanguinidade) - Moradores em
Vila do Porto.
15.04.1851
918
7
Luís Jacinto de Figueiredo
Maria Luísa
Dispensa Matrimonial (3ºgrau de afinidade duplicado) - Ele filho de João Inácio de 15.05.1819
Figueiredo e Maria Francisca, da Matriz e ela viúva de Francisco Inácio de Resende,
de São Pedro.
910
3
Manuel António Farpeilha
Maria Ricarda
Dispensa Matrimonial (2ºgrau de afinidade) - Moradores em Vila do Porto e a
nubente viúva de António Baptista Farpeilha.
26.03.1851
918
5
Manuel Augusto Tavares
Maria Puim Monteiro
Alvará Matrimonial - Ambos naturais de Santo Espírito.
23.04.1910
920
47
Manuel Cabral
Alvará Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ambos naturais de Vila do Porto.
Antónia da Purificação Sousa
26.07.1907
920
32
Manuel Coelho Cabral
Ana Emília Farpeilha
Alvará Matrimonial - O nubente viúvo de Emília Joana e ela de Manuel Joaquim
de Melo, moradores em Almagreira.
19.08.1879
920
11
Manuel de Almada Chaves
Maria José do Rego
Alvará Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ambos naturais de Santo
Espírito.
08.07.1910
920
45
Manuel de Andrade
Mariana da Encarnação
Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de José de Andrade
e Mariana Cabral e ela de José de Mendonça e Maria de Braga, da Matriz.
04.05.1753
898
8
[137]
Nome
120 Idem, p.2190.
121 Idem, p.330.
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
Nome
9:52 AM
Page 138
[138]
Documento ( Sumário)
Data
Maço
Doc.
Manuel de Chaves Loura
Ana de Chaves Figueiredo
Alvará Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade) - Ambos naturais de
Vila do Porto.
13.01.1910
920
34
Manuel de Resendes
Antónia Margarida
Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de André de Melo
e Jerónima de Resendes e ela de Manuel Curvelo e Maria Pacheco, de São Pedro.
23.08.1755
898
12
Manuel de Sousa
Maria Jacinta de Chaves
Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santo Espírito.
03.09.1834
915
6
Manuel de Sousa
Bernardina Isabel de Sousa
Dispensa Matrimonial (2º e 4ºgrau de consanguinidade) - Moradores em
Santa Bárbara.
11.10.1858
919
15
Manuel de Sousa
Justina de Jesus Cabral
Alvará Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ambos de Santo Espírito.
06.04.1910
920
36
Manuel de Sousa
Virgínia Soares
Alvará Matrimonial - Ambos naturais de Santo Espírito.
25.04.1910
920
48
Manuel Fernandes
Maria Jacinta Pereira
Alvará Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - O nubente natural de Santa
Bárbara e a nubente natural de Santo Espírito.
12.07.1910
920
44
08.04.1904
920
18
Manuel Jacinto Cabral
Antónia Jacinta
Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santo Espírito. 19.08.1826
912
8
Manuel Joaquim Cabral
Jacinta Tomázia
Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade) - Ele natural de
São Pedro e ela da Matriz.
18.11.1822
911
7
Manuel Joaquim Cabral
Laurência Jacinta
Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santa Bárbara.
01.07.1852
918
11
Manuel Joaquim da Cunha
Maria José
Alvará Matrimonial - O nubente viúvo de Bernardina Soares e ambos naturais
de Vila do Porto.
26.04.1906
920
25
Manuel Joaquim
de Figueiredo
Teresa Umbelina do
Coração de Jesus
Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santa Bárbara. 06.09.1836
916
14
Manuel Joaquim de Morais
Maria Ricarda
Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Moradores na Matriz de
Nossa Senhora da Assunção de Vila do Porto.
912
14
Manuel Inácio de Melo
Alvará Matrimonial - O nubente natural dos Arrifes e a nubente natural
Alexandrina Ricarda de Jesus de São Pedro de Ponta Delgada.
vol. LIV ‘09
05.12.1826
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
9:52 AM
Page 139
ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
Nome
Documento ( Sumário)
Data
Maço
Doc.
Manuel Joaquim de Morais
Florência Júlia
Autuação de uma Petição para Atestado de Pobreza (2ºgrau de afinidade)
- Moradores em Vila do Porto.
23.03.1848
916
10
Manuel Joaquim Ferreira
Umbelina Micaela
Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de João Inácio Ferreira
e Francisca Rosa do Livramento e ela de Custódio Francisco e Rita Inácia, da Matriz.
24.10.1810
905
4
Manuel Joaquim Lopes
Maria Rosa de Melo
Alvará Matrimonial - Ambos naturais de Vila do Porto.
20.11.1904
920
14
Manuel José de Bairos
Ana Úrsula de Chaves
Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de José António
de Bairos e Joana Francisca de Chaves e ela de João Inácio de Chaves e Ana Rita
de Figueiredo, de Santo Espírito.
28.09.1808
906
3
Manuel José de Braga
Maria Jacinta
Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de António de Braga e 12.06.1824
Mariana Rosa e ela de António da Fonte Falcão e Aurélia Margarida, de Santo Espírito.
911
12
Manuel José de Chaves
Bernardina de Jesus
de Chaves
Dispensa Matrimonial (2º e 4ºgrau de consanguinidade duplicado)
- O nubente viúvo e moradores em Santo Espírito.
23.09.1834
915
9
Manuel José de Menezes
Maria Eufrázia de Loura
Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santo Espírito. 23.04.1858
919
12
Manuel José de Moura
Maria Joaquina
Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade por duas linhas)
- Moradores em Santo Espírito.
08.11.1833
914
3
Manuel José de Resendes
Antónia Margarida
de Figueiredo
Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Francisco de
Resendes Soares e Gertrudes do Rosário e ela de Francisco Soares Figueiredo
e Francisca Rosa, de Santa Bárbara.
12.04.1777
900
6
Manuel Monteiro
Bettencourt Gamboa
Maria José Monteiro
Dispensa Matrimonial (1ºgrau misto de 2º de afinidade, 3º misto de 4º e 4ºgrau
de consanguinidade) - O nubente viúvo e morador em Vila do Porto e a nubente
moradora em São Pedro.
20.02.1852
918
8
Manuel Monteiro
de Bettencourt
Lucrécia Rosa Miquelina
Bettencourt
Autuação de Diligências para Fé de Pobreza (4ºgrau de afinidade) - Ele de Vila do
Porto, ela de Santo Espírito, viúva de José Pedro.
05.06.1826
912
7
Manuel Pacheco
Inácia Joaquina
Autuação para Fé de Pobreza (2ºgrau de afinidade) - Ele viúvo de Bernardina Rosa,
naturais de Santo Espírito e moradores em Ponta Delgada (São Sebastião).
17.10.1822
911
6
Manuel Pacheco Cabral
Maria Juliana Cabral
Dispensa Matrimonial (2º e 3ºgrau de consanguinidade) - Moradores em
Vila do Porto.
23.09.1834
915
10
[139]
(ILHA DE SANTA MARIA)
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
Nome
9:52 AM
Page 140
[140]
Documento ( Sumário)
Data
Maço
Doc.
Mateus Duarte da
Câmara Rebelo122
D. Ana Isabel da
Câmara Rebelo
Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Bernardo do
Canto Soares de Sousa e Albuquerque e D. Umbelina Micaela da Câmara e
Medeiros e ela de Luís Duarte Rebelo da Câmara e D. Ana Madalena Coutinho,
da Matriz.
07.02.1816
905
12
Mateus Duarte
da Câmara Rebelo123
D. Ana Isabel da Câmara
Rebelo
Autuação para fé de pobreza (2ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Bernardo
do Canto Soares de Sousa e Albuquerque e D. Umbelina Micaela da Câmara e
Medeiros e ela de Luís Duarte Rebelo da Câmara e D. Ana Madalena Coutinho,
da Matriz.
01.10.1815
905
10
Matias de Andrade
Margarida Bernardina
de São José
Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Francisco de
Andrade e Bárbara Velho e ela de Félix de Resendes e Margarida de Resendes,
de Santo Espírito.
01.11.1760
898
17
Narciso Jacinto
Teresa Maria
Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Manuel Furtado
e Clara Maria e ela de Henrique José de Sousa e Rosa Jacinta, da Matriz.
21.08.1806
905
4
Pascoal de Andrade
Catarina de Jesus
Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de João de
Andrade e Mariana de Resende e ela de Miguel Fernandes e Maria de Braga,
de Santo Espírito.
14.05.1755
898
11
Pascoal José
Ana da Victória
Dispensa Matrimonial (4ºgrau duplicado de consanguinidade) - Ele filho de
Francisco Velho e Antónia de Sousa e ela de Pascoal de Sousa e Catarina de
Andrade, de Santo Espírito.
21.05.1777
900
7
Pedro Constantino Terra
Angelina das Mercês
Alvará Matrimonial - Ambos naturais de Vila do Porto.
16.08.1907
920
29
Saturnino António Puim
Josefa Cândida
Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de José Inácio Puim
e Ana Rita do Céu e ela de João de Deus Cabral e Antónia Jacinta.
03.06.1824
911
10
Valeriano Joaquim Cabral
Jacinta Cândida
Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Moradores na Matriz.
21.04.1823
911
8
30.04.1833
913
12
Victorino António de Chaves Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santo Espírito. 15.04.1828
Mariana Francisca de Chaves
913
1
Ventura José de Braga
Autuação de uma Diligência para Fé de Pobreza (3º e 4ºgrau de consanguinidade)
Maria Jacinta do Amor Divino Moradores em Santa Bárbara.
122 Idem, p.786.
123 Idem, p.786.
vol. LIV ‘09
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
9:52 AM
Page 141
ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
Nome
Documento ( Sumário)
Data
Maço
Doc.
Victorino António
de Resendes
Maria Jacinta de Jesus
Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santo Espírito. 05.11.1855
919
10
Victorino António
de Resendes
Maria Jacinta de Jesus
Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santo Espírito. 10.07.1856
919
8
Victorino José de Carvalho
Tomázia Joaquina
Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de José Carvalho e
Ana Francisca e ela de Tomé de Resendes e D. Rosa de Resendes, sua segunda
mulher, de Santa Bárbara.
04.11.1807
905
10
Victorino Monteiro
de Bettencourt
D. Ana Isabel Monteiro
Dispensa Matrimonial (2º e 3ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Vila
do Porto.
02.07.1834
914
9
Victorino Monteiro
de Bettencourt
D. Helena Augusta
Taveira Miranda Galvão
Alvará Matrimonial (2ºgrau de afinidade) - Ambos os nubentes viúvos e moradores 22.10.1862
em Vila do Porto.
920
10
Victorino Monteiro
Soares Bettencourt
D. Mariana Guilhermina
Taveira Galvão
Bettencourt124
Alvará Matrimonial (2º e 3ºgrau de afinidade) - O nubente viúvo de D. Inês
Benedita da Câmara Monteiro e ela de José Monteiro Bettencourt.
13.04.1907
920
28
02.07.1904
920
20
Virgínio Augusto de Chaves Alvará Matrimonial - Ambos naturais de Vila do Porto.
Maria Isaura de Freitas
124 Genealogias de São Miguel e Santa Maria, p.2655.
[141]
(ILHA DE SANTA MARIA)
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
9:52 AM
Page 142
DIVERSOS
Documento (Sumário)
[142]
Data
Maço
Doc.
Licença para Oratório requerida por D. Antónia Laurência e seus irmãos, D. Isabel, D. Maria e Francisco
Barbosa de Sousa Coutinho125 e sua mãe, D. Maria Josefa do Canto Medeiros que obtiveram licença para ter
oratório das suas casas de morada no campo e desejam aprovar outro nas suas casas de Vila do Porto e como
tal requerem visita no mesmo oratório para obterem licença para celebrar no mesmo.
02.05.1819
910
6
Editais de concurso para provimento nas Igrejas de Nossa Senhora da Assunção de Vila do Porto, Nossa
Senhora da Purificação de Santo Espírito e de Santa Bárbara, vagas pelo falecimento dos respectivos párocos,
ordenado abrir por D. Frei Estêvão de Jesus Maria, Bispo de Angra.
25.06.1848
917
11
Certidão de Óbito de D. Rita Júlia Cabral, mulher de Joaquim Soares Monteiro de Bettencourt, falecida em
Santo Espírito (12.02.1895).
10.01.1907
920
27
Procuração que faz Eugénio Rosa Montes Ferreira a Manuel Teófilo Correia, morador em Vila do Porto.
23.07.1907
920
31
Procuração que faz Francisco Pacheco Cabral a António de Andrade Canejo, no Consulado Português de Boston.
15.12.1903
920
15
Procuração que faz Manuel Soares de Resendes a Manuel Joaquim de Resendes, morador em Santana.
19.09.1903
920
16
Procuração que faz o Comendador Luís de Figueiredo Lemos do Canto Corte Real126 a José Augusto Pereira,
morador em Vila do Porto.
01.12.1904
920
24
Procuração que fazem João Baptista da Câmara e mulher D. Maria do Espírito Santo Correia Baptista da
Câmara a Francisco Correia Sarmento e mulher D. Maria Elpídia Tavares Sarmento.
01.02.1904
920
24A
Autuação de um Indulto Apostólico e Beneplácito Régio para Oratório Privado sendo requerentes o Capitão
Bento Soares de Albergaria e mulher D. Margarida Soares de Albergaria e seus filhos, D. Emília, D. Francisca
e Bento127.
29.05.1816
921
4
Autuação de um Indulto Apostólico e Beneplácito Régio para Oratório Privado sendo requerentes Francisco
Barbosa de Sousa Coutinho e mãe, D. Maria Josefa do Canto Medeiros e suas filhas, D. Antónia Laurência,
D. Isabel e D. Maria128.
20.08.1802
921
3
07.11.1793
922
4
Autuação de uma petição para redução de legados que fez José Inácio de Sousa Coutinho129, Capitão Mór,
morador em Vila do Porto pelos grandes encargos que representam e o seu baixo rendimento. Refere-se aos
vínculos instituídos pelo Padre Belchior Homem Barreto, Estevinha Alves, Maria Jácome de Macedo, Maria de
Matos, D. Isabel de São João, Inês Fernandes, Paulo Ferreira, Jerónima Tomé, D. Francisca de Sousa Coutinho,
D. Margarida de Sousa, Pedro de Sousa, Fernão Lourenço, Duarte Nunes Velho, Padre Melchior Barreto de
Macedo, Madalena Afonso, Isabel de Andrade, Capitão João Soares de Sousa, D. Francisca de Menezes Pereira,
mulher do Capitão Lourenço de Frias Coutinho, Vigário Manuel Fernandes, José dos Reis e por Maria Velho.
125 Idem, p.868.
128 Idem
126 Idem, p.2646.
129 Idem, p.868.
127 Idem, p.780.
vol. LIV ‘09
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
9:52 AM
Page 143
ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
Documento (Sumário)
Data
Maço
Doc.
09.08.1796
922
5
Autuação de uma petição para redução de legados que fez João Manuel da Câmara, morador em Vila do Porto
12.09.1793
pelos grandes encargos que representam e o seu baixo rendimento. Refere-se aos vínculos instituídos por Gaspar
Alves e mulher Francisca Gonçalves e de Ângela Velho.
922
3
Autuação de uma petição para redução de legados que fez António Francisco Coelho, representado por sua
mulher D. Antónia Margarida de Medeiros, pelos grandes encargos que representam e o seu baixo rendimento.
Refere-se ao vínculo instituído por Bento Dias Velho, Almoxarife do Reino em 1620.
01.08.1791
922
2
Autuação de uma petição para redução de legados que Luís Francisco Rebelo Borges de Castro131, morador
na Ilha de São Miguel pelos grandes encargos que representam e o seu baixo rendimento.
25.06.1790
922
1
Requerimento para Provisão de Leandro Joaquim Ferreira que terminando em 01.10.1870 o provimento
como Escrivão do Juízo Eclesiástico da Ouvidoria da Ilha de Santa Maria pede para continuar no exercício
por mais um ano.
28.09.1870
923
29
Requerimento para Provisão de Manuel de Braga Carvalho, Tesoureiro da Igreja de Nossa Senhora da
Purificação de Santo Espírito terminou o provimento em 01.07.1870 pedindo para continuar no exercício
por mais um ano.
21.10.1870
923
30
Requerimento para Provisão de Ângelo Soares da Câmara, Vice Vigário da Paroquial de Santa Bárbara, tendo
terminado o provimento pede renovação para mais um ano no exercício.
25.11.1872
923
33
Requerimento para Provisão de Francisco Joaquim de Andrade. Tesoureiro da Paroquial de Santa Bárbara
pedindo provimento para mais um ano no mesmo benefício.
25.11.1872
923
32
Requerimento para Provisão de José Jacinto Ferreira Pimentel, Cura da Igreja de Santa Bárbara pedindo para
continuar no mesmo benefício e nova Provisão.
23.11.1872
923
31
Requerimento para Provisão de Leandro Joaquim Ferreira, Escrivão do Juízo Eclesiástico da Ilha de Santa Maria
pedindo para continuar no exercício do cargo.
15.09.1872
923
30
Provisão de Manuel Soares Ferreira provido como Tesoureiro da Igreja de Nossa Senhora da Assunção de
Vila do Porto até 31.12.1876.
22.06.1876
923
36
Procuração que faz Ermelinda Amélia de Medeiros Ferreira, moradora em Vila do Porto a Jacinto Ferreira,
morador em Ponta Delgada.
23.11.1879
923
37
Requerimento para Provisão de José Inácio Ferreira, Cura de São Pedro requerendo que o Bispo da Diocese
tome conhecimento do seu Provimento.
23.06.1883
923
46
Autuação de uma petição para redução de legados que fez o Capitão Luís Manuel de Figueiredo Sousa
Coutinho130, morador em Vila do Porto pelos grandes encargos que representam e o seu baixo rendimento.
130 Idem, p.2645.
131 Idem, p.324.
[143]
(ILHA DE SANTA MARIA)
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
9:52 AM
Page 144
Documento (Sumário)
[144]
Data
Maço
Doc.
Atestado de cumprimento de deveres do Padre José Inácio Ferreira, emitido pelo Vigário de São Pedro,
José Inácio de Viveiros Melo.
21.06.1883
923
45
Requerimento do Padre José Inácio Ferreira pedindo certidão do anúncio em que passou a usar da sua
primitiva firma José Inácio Ferreira.
21.06.1883
923
44
Requerimento para Provisão do Padre José António dos Santos Casanova pedindo nova Provisão para continuar
a exercer como Vice Vigário da Matriz de Nossa Senhora da Assunção.
28.06.1883
923
43
Requerimento para Provisão do Padre Manuel António dos Reis, Cura da Matriz de Nossa Senhora da
Assunção pedindo nova Provisão para continuar a exercer o mesmo benefício.
28.06.1883
923
42
Atestado emitido a favor do Cura Manuel António dos Reis, passado pelo Vice Vigário José António dos
Santos Casanova, sobre o cumprimento de deveres e obrigações.
24.06.1883
923
41
Requerimento para Provisão do Padre Ângelo Soares da Câmara132, Vice Vigário da Paroquial de Santa
Bárbara pedindo Provisão para continuar a exercer no mesmo benefício.
28.06.1883
923
40
Requerimento para Provisão de José Jacinto Ferreira Pimentel, Cura Coadjutor da Paroquial de Nossa Senhora
da Purificação de Santo Espírito pedindo nova Provisão para continuar no exercício do mesmo benefício.
23.06.1883
923
39
Atestado de cumprimento de deveres e obrigações de José Jacinto Freira Pimentel, passado por Manuel
Borges Diniz, Vigário da Paroquial de Nossa Senhora da Purificação de Santo Espírito.
23.06.1883
923
38
Requerimento do Padre José Maria de Melo, Cura Coadjutor da Paroquial de Santa Bárbara pedindo
transferência para a Paroquial de São Pedro pelas más condições que a freguesia oferece à sua saúde.
23.04.1883
923
37
Requerimento para Provisão do Padre Manuel António dos Reis, Cura Coadjutor da Matriz pedindo provisão
para continuar no exercício do mesmo benefício por mais um ano.
30.06.1884
923
53
Requerimento para Provisão do Padre Ângelo Soares da Câmara, Vice Vigário da Paroquial de Santa Bárbara
pedindo nova Provisão para continuar no exercício do mesmo benefício.
28.06.1884
923
52
Requerimento para Provisão do Padre José Inácio Ferreira, Cura de São Pedro pedindo nova Provisão para
continuar no exercício do mesmo benefício.
05.06.1884
923
50
Certidão de cumprimento de obrigações passada ao Padre José Inácio Ferreira pelo Vigário José Inácio de
Viveiros Melo.
04.06.1884
923
51
Requerimento do Padre José Inácio Ferreira já habilitado para Pregador (20.09.1875) em que requer
provimento para tal.
24.05.1884
923
48
132 Idem, p.851.
vol. LIV ‘09
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
9:52 AM
Page 145
ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
Documento (Sumário)
Data
Maço
Doc.
Requerimento do Padre José Inácio Ferreira pedindo certidão do anúncio em que passou a usar da sua
primitiva firma José Inácio Ferreira publicado no periódico A Civilização, n.295.
21.05.1884
923
47
Requerimento para Provisão do Padre Manuel Alfredo Leal Gularte, Cura de Nossa Senhora da Purificação,
tendo feito os exames de confessor e pregador requerendo Provisão para exercer os mesmos ministérios.
25.01.1887
923
54
Procuração feita no Vice-Consulado da Nação Portuguesa em Boston de Victorino Resendes de Chaves e irmã,
Ana Jacinta de Chaves, moradores em Hudson aos pais, Caetano Resendes de Chaves e Bernardina Jacinta
Borges, moradores em Santo Espírito.
09.11.1893
923
55
O Padre José Xavier Moreira da Câmara envia ao Escrivão da Câmara Eclesiástica da Diocese de Angra a
nota de reconhecimento de José, nascido em 1877.
23.12.1893
923
56
O Escrivão Eclesiástico, Padre Bernardino Coelho de Bettencourt envia ao Bispo de Angra o mapa do
movimento de casamentos relativo ao mês de Maio.
15.06.1897
923
57
Requerimento para Provisão do Padre Alfredo de Sousa Caloura, Cura Coadjutor de Santo Espírito
requerendo Provisão para continuar no mesmo benefício.
27.06.1896
923
61
Atestado passado pelo Vigário Manuel Borges Diniz atestando a boa conduta do Padre Alfredo de Sousa
Caloura, Cura Coadjutor de Santo Espírito.
19.06.1896
923
60
Requerimento para Provisão do Padre José Xavier Moreira da Câmara, Vice Vigário da Matriz requerendo
Provisão para continuar no mesmo benefício.
03.06.1896
923
59
Atestado passado pelo Ouvidor Eclesiástico, Ângelo Soares da Câmara sobre o bom cumprimento e
comportamento do Padre José Xavier Moreira da Câmara, Vice Vigário da Matriz.
19.05.1896
923
58
Requerimento para Provisão do Padre Manuel de Sousa e Silva, morador na Rua Nova em Santa Cruz da
Graciosa e Cura Coadjutor da Matriz requerendo Provisão para se manter no mesmo benefício.
??.06.1896
923
63133
Atestado passado pelo Vigário Teotónio Martins Pamplona atesta o bom cumprimento e comportamento do
Padre Manuel de Sousa e Silva, Cura Coadjutor na Matriz.
27.05.1896
923
62134
O Escrivão do Juízo Eclesiástico, Padre Bernardino Coelho de Bettencourt procede ao envio ao Bispo da
Diocese da relação de casamentos efectuados em Fevereiro.
23.03.1897
923
64
O Escrivão do Juízo Eclesiástico, Padre Bernardino Coelho de Bettencourt procede ao envio ao Bispo da
Diocese da relação de casamentos efectuados em Outubro.
24.11.1898
923
65
O Ouvidor Eclesiástico Ângelo Soares da Câmara procede ao envio ao Secretário da Câmara Eclesiástica do
duplicado do registo paroquial de Santa Bárbara do ano de 1903.
15.05.1905
923
66
Requerimento do Padre José do Egipto Benevides, Cura de Nossa Senhora da Purificação pedindo licença para
confessar e pregar.
27.11.1905
923
67
[145]
(ILHA DE SANTA MARIA)
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
9:52 AM
Page 146
Documento (Sumário)
Data
Maço
Doc.
03.04.1907
923
68 / 69
O Padre Manuel de Melo de Sousa envia ao Escrivão da Câmara Eclesiástica de Angra três livros do Registo
Paroquial da freguesia de Nossa Senhora do Bom Despacho de Santa Maria e respectivos alvarás de casamento
e procurações de baptismo.
20.10.1908
923
72
O Vice-Vigário José Xavier Moreira da Câmara informa o Secretário da Câmara Eclesiástica que afixou no
portão da Igreja edital que acompanha o ofício de 09.09.
11.10.1908
923
71
O Ouvidor Eclesiástico, Padre Ângelo Soares da Câmara envia ao Vigário Geral do Bispado os livros do
Registo Paroquial de Santa Bárbara relativos ao ano de 1907.
18.05.1908
923
70
Procuração que faz no Consulado Geral de Portugal em São Francisco, Manuel Cabral de Loura, morador em
Oakland a seu pai, António Cabral de Loura, morador em Santo Espírito.
09.11.1909
923
73
O Padre Joaquim de Chaves Cabral, Pároco de Nossa Senhora da Purificação requer para ser transferido
para a paróquia de Nossa Senhora da Assunção por motivos de saúde.
18.04.1923
923
74
O Padre Frederico Vieira Fernandes, pároco de Santa Bárbara, requer para continuar no mesmo benefício.
31.05.1923
923
76
O Padre Virgínio Lopes Tavares, pároco de São Pedro, para exercer munus de pregação, requer a
necessária jurisdição.
05.05.1923
923
75
Edital para concurso pelo prazo de quatro meses para a Vigararia de Santa Bárbara por óbito do Padre Inácio
Manuel de Andrade.
20.09.1815
923
7
Autos para naturalização de Manuel António Teixeira Pinto Garcia de Medeiros, natural de São Julião de Setúbal
e morador em Vila do Porto para onde veio com a idade de quatro anos com seus pais, o Dr. António Duarte
de Medeiros e D. Maria Inocência Teixeira Pinto.
18.11.1819
923
8
Cópia dos autos de sumário sobre o arrombamento de uns ralos aramados da janela do Recolhimento de
Santa Maria Madalena a que procedeu o Ouvidor Eclesiástico da Ilha.
07.12.1824
923
12
Cópia dos autos de inventário a que o Ouvidor da Ilha de Santa Maria mandou proceder no Convento
suprimido de Nossa Senhora da Vitória de que é guardião o Padre Mestre Frei João Evangelista.
22.10.1833
923
13
Relação das Paróquias da Ouvidoria da Ilha de Santa Maria e de suas respectivas circunstâncias assinada pelo
Ouvidor Eclesiástico Bernardino José Toledo.
22.05.1837
923
14
Relação das freguesias da Ouvidoria, dos empregados eclesiásticos delas, do rendimento anual e outros dados,
assinada pelo Ouvidor Eclesiástico Bernardino José Toledo.
03.06.1836
923
15
Relação dos Egressos na Ouvidoria da Ilha de Santa Maria assinada pelo Ouvidor Eclesiástico Bernardino
José Toledo.
08.08.1838
923
13
Instrumento de procuração especial que fez José Figueiredo dos Reis, morador em Taunton, a Victorino
Augusto de Carvalho, no Consulado de Fall River.
[146]
vol. LIV ‘09
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
9:52 AM
Page 147
ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
Documento (Sumário)
Data
Maço
Doc.
Tabela de Emolumentos dos Empregados da Matriz assinada pelo Ouvidor Bernardino José Toledo.
23.09.1839
923
17
Tabela de Emolumentos dos Empregados da Matriz assinada pelo Ouvidor Bernardino José Toledo.
24.09.1839
923
16
Relação dos Emolumentos que levam os empregados eclesiásticos da Igreja Paroquial de São Pedro, assinada
pelo Ouvidor Bernardino José Toledo.
03.10.1839
923
19
Relação dos Eclesiásticos Seculares residentes na Ouvidoria Eclesiástica da Ilha.
02.01.1844
923
20
Requerimento de Constância Tomázia, filha de Inácio Joaquim Cabral e Florinda Jacinta Teodora, para entrar
como noviça no Mosteiro de Nossa Senhora da Conceição de Ponta Delgada.
28.06.1820
923
9
Relação dos Emolumentos que percebem os empregados eclesiásticos na paróquia de Santa Bárbara, assinada
pelo Vigário José António Soares Coutinho.
s.d
923
10
Cópia da Escritura Patrimonial do Reverendo José António do Rego Coutinho (30.05.1786), filho de António
do Rego Sousa Coutinho e D. Inácia Rosa Coutinho que o dotaram.
24.12.1823
923
11
O Padre Raulino Soares Monteiro, requer provisão para continuar como Cura de São Pedro.
18.02.1870
923
28
O Padre António Silveira Ávila Furtado, Vigário da Matriz requer para ser substituído por motivos de saúde.
04.03.1893
923
58
António Coelho de Melo e Jacinta da Encarnação Cabral, da Matriz, requerem para ser passado alvará matrimonial. 18.03.1893
923
59
O Cura José Xavier Moreira da Câmara atesta não haver impedimento para o casamento de António Coelho
de Melo e Jacinta da Encarnação Cabral.
18.03.1893
923
60
O Padre João Bento Sampaio, Cura Coadjutor da Matriz por Provisão de 11.03.1893, pede licença para
benzer objectos de culto particular e faculdade para habilitar ao tribunal da penitência os cônjuges incestuosos.
15.03.1893
923
61
Homilia e respostas do Padre Manuel Soares de Figueiredo por ocasião do concurso à Igreja de São Pedro,
feito em Ponta Delgada.
23.11.1846
923
21
Exposição de Luís Jacinto de Andrade sobre o Recolhimento de Santa Maria Madalena pela denúncia do
escândalo cometido por António Lúcio Pinto por ter amizade ilícita no mesmo com uma das recolhidas.
04.06.1851
923
26
Homilia e respostas do Padre Manuel de Santa Rita por ocasião do concurso à Matriz de Vila do Porto, realizado 04.02.1881
em Ponta Delgada.
923
22 a 26
Requerimento para alvará de erecção de Altar e Irmandade feito por António Caetano do Rego, Presbítero
Secular e outros devotos que obtiveram licença para fazer e construir o altar de Nossa Senhora das
Dores na Igreja do recolhimento de Santa Maria Madalena ou erigir a Irmandade das Sete Dores da Senhora.
23.08.1794
923
6
Auto da petição que faz Francisca das Candeias, viúva de Manuel de Andrade e seus filhos, José de Andrade e
Manuel de Andrade ao Reverendo António Soares de Sousa, da freguesia de São Pedro, relativo a uma
propriedade na Trevina na mesma freguesia.
10.10.1767
923
5
[147]
(ILHA DE SANTA MARIA)
8.CH_Mitra_FilipeCampos
8/17/10
9:52 AM
Page 148
Documento (Sumário)
Data
Maço
Doc.
Autuação inquisitória que mandou fazer o Reverendo Ouvidor João Lopes Correia contra as recolhidas de
Santa Maria Madalena por lançarem fora por terra dele Isabel de Jesus.
20.12.1698
923
3
Autos de sumário contra as recolhidas de Santa Maria Madalena feitos por ordem do Bispo D. António Vieira
Leitão, para observância dos estatutos do Recolhimento.
07.10.1698
923
2
Petição para levantar a Ermida de Nossa Senhora da Saúde a requerimento do Capitão Donatário Brás Luís de
Sousa, Fidalgo da Casa de Sua Majestade, no sítio do Paúl onde tinha seus aposentos que assistia de Verão e
que se situavam muito distantes da Igreja Paroquial.
13.06.1687
923
1
Auto de perguntas feitas a Francisco Martins, oficial de ferreiro, preso nas cadeias da vila, filho de Manuel Faleiro 20.09.1723
e de Maria dos Remédios por ter prometido casamento a Maria dos Remédios, filha de Manuel Vieira Carreiro.
923
4
[148]
vol. LIV ‘09
9.CH_Hist. Açores_EugénioSantos
8/17/10
9:44 AM
Page 149
Eugénio dos Santos
Graciosa
Flores
São Jorge
Terceira
Faial
Pico
São Miguel
Santa Maria
Em Dezembro de 2008, fui contactado pelo ilustre açoriano,
meu colega e amigo de longa data, Artur Teodoro de Matos, para
saber da minha disponibilidade em aceitar um convite, que em
caso afirmativo, se oficializaria. O desafio consistia em apresentar
especialmente a eruditos, mas também ao público interessado,
em geral, uma História dos Açores, que, então, ainda se
encontrava no prelo. À surpresa do convite e após alguns
esclarecimentos, seguiu-se a aceitação da minha parte, motivada
por uma enorme estima e ligação que me aproxima do Teodoro
de Matos e dos Açores, há precisamente 30 anos. A minha
anuência abriu caminho ao convite formal por parte do Instituto
Açoriano de Cultura, na pessoa do ilustre presidente da sua
direcção Jorge Paulus Bruno. Tudo, a partir de então, se conjugou para que hoje me fosse oferecida a subida honra e o privilégio de partilhar convosco estes momentos de alegre convívio
intelectual, de sã fraternidade lusitana, assentes no cultivo
metódico e rigoroso da fruição da ciência e na constatação
eufórica de que, havendo projectos, de largo espectro e inegável
valor, se transpõem obstáculos e se conseguem os meios materiais indispensáveis à sua execução. Parabéns a quem teve a ideia
de executar tal obra e louvores acrescidos a quem a concretizou.
Eis-me aqui no desempenho dessa incumbência. Procuremos,
então, desvendar-lhes os conteúdos.
[149]
Corvo
9.CH_Hist. Açores_EugénioSantos
8/17/10
9:44 AM
Page 150
[150]
A História dos Açores, do descobrimento ao século XX é
composta por dois grossos volumes. O 1.º alarga-se a 670 páginas, nestas se incluindo, além da apresentação e do prefácio,
textos dos vários autores, uma lista destes e um índice geral. O
livro compõe-se de três partes, sendo cada uma destas dividida
em capítulos. A 1.ª abarca o tempo decorrido entre 1450 e
1642; a 2.ª, aquele que se alargou de 1642 a 1766 e a 3.ª, de
1766 a 1836. Como se intui pela cronologia, a 1.ª parte contempla quase os dois primeiros séculos do arranque da vida açoriana
(192 anos); a 2.ª, cerca de um século e um quarto (124 anos
precisamente) e a 3.ª apenas 70 anos. Além desta diferença de
durações históricas assumidas, há ainda que atender aos subtítulos de cada parte. Tudo se inicia, como seria de esperar, pela
génese e afirmação de uma nova sociedade, continua pela constatação de um período de estagnação e desinteresse, culminando
na tentativa de provar que o poder político português tentou
unir para dominar, criando uma forte centralidade administrativa
entre o despotismo esclarecido pombalino e o triunfo do liberalismo.
vol. LIV ‘09
O 2.º volume alarga-se a 766 páginas, nestas se incluindo também três partes, além de um conjunto de dados relevantíssimos
para o leitor, sobretudo se ele estiver menos familiarizado com
a história açoriana. Nestes se incluem a lista dos governantes dos
Açores, desde o infante D. Henrique até ao VIII governo regional,
liderado por Carlos César e empossado em 2004, uma bibliografia extensíssima e específica, utilíssima a quem pretender avançar mais num ponto ou noutro, uma lista das abreviaturas usadas,
um índice analítico e, finalmente, uma lista dos autores, bem
como um índice geral.
Este 2.º volume compõe-se igualmente de três partes, a saber:
a 1.ª, que aborda o período compreendido entre 1836 e 1895;
a 2.ª, que se espraia de 1895 a 1976; a 3.ª, que cobre os anos
de 1976 a 2000, precisamente o final do século XX. Em termos
de cronologia, constata-se que a 1.ª parte deste volume se
reduz a 59 anos de duração, a 2.ª já se alarga a 81 e a última não
vai além dos 24 anos de abrangência. Como sucedeu em
relação ao 1.º volume, também aqui cada parte se apresenta
9.CH_Hist. Açores_EugénioSantos
8/17/10
9:44 AM
Page 151
HISTÓRIA
DOS AÇORES
DO DESCOBRIMENTO
AO SÉCULO XX
Passemos a outro patamar de análise, também importante. Na
apresentação ao leitor, o presidente da direcção do IAC refere
que o objectivo desta obra é “abordar e problematizar o tempo
contemporâneo, e fixar sínteses em relação a determinadas
áreas da cultura açoriana”. Se esse foi o escopo final do empreendimento, ele parece ter sido completamente atingido, por
duas razões essenciais:
A 1.ª é que qualquer história, seja de que época for, se deve
considerar sempre contemporânea porque cada autor coloca
sempre ao passado, que analisa, a sua própria problemática,
verte-a na sua linguagem, escolhe os seus meios de observação,
deixa transparecer os seus valores e as questões que o
preocupam; a 2.ª, porque, mesmo tendo em conta que o
conceito de cultura é vasto e cada vez mais discutível, não há
dúvida de que a cultura açoriana, através desta notabilíssima
síntese, sai enriquecida, clarificada, dir-se-ia que mais
dignificada, se tal se pode afirmar. O autor do prefácio escreveu
que “Porventura, a partir de agora torna-se mais fácil escrever
uma síntese histórica dos Açores” para aqueles aos quais
costumamos chamar o grande público. Permito-me duvidar
num ponto: quem se atreverá a tentar uma síntese séria, curta
e científica a partir desta notabilíssima análise, subscrita por
tantos e tão ilustres autores, sem que se não perca a riqueza
dessa análise e a sua força provativa? É que não vejo nela um
único fio condutor, mas múltiplos e até métodos diversos de
abordagem. Sobre os mesmos assuntos, há leituras diversas e,
às vezes, quase divergentes. Isso até enriquece o trabalho. Mas
possibilitará tal síntese, a curto prazo? O tempo o dirá.
Após a apresentação, há um prefácio e este subscrito por três
nomes que, pelo seu perfil humano regional e científico, merecem o maior respeito e atenção. São eles os rostos da direcção
científica desta obra. Creio que ninguém ousaria discutir a sua
craveira e a sua legitimidade para, numa rápida síntese, enquadrarem este empreendimento intelectual como uma espécie de
coroamento de várias tentativas anteriores, todas elas insuficientes e distantes daquilo que se exige hoje a autores rigorosos
e obedecendo a métodos modernos, seja pela sua óptica
demasiado regionalista e acrítica, seja pela sua incapacidade para
abarcar, com segurança, domínios múltiplos e de grande
especialização, seja pelo tempo em que se situaram. A que
distância incomensurável nos encontramos da História Insulana
do Padre Cordeiro e das Saudades da Terra de Gaspar
Frutuoso! Teodoro de Matos, Avelino Meneses e Reis Leite
tiveram claramente consciência de que a identidade açoriana só
pode ser explicável e entendida num contexto mais vasto e
ambicioso, tanto local, como nacional atlântico e ainda universal,
embora este na óptica da chamada cultura ocidental, incluindo,
pelo menos, as Américas. A proximidade e, inversamente, a
distância de outros mundos fizeram dos Açores um universo
próximo e simultaneamente distante dos que lhe são referência,
tanto pela positiva, como pela negativa. Ademais, os directores
científicos tiveram ainda a coragem de afirmarem que “O
presente plano de trabalho foi concebido na óptica de um ilhéu,
que, sem ressentimento ou revolta, mas também sem ufanismos
distorcidos, ou patriotismos exacerbados, analisa, de uma
perspectiva local, a evolução histórica das ilhas… sem esquecer
o seu enquadramento”. Ora esta postura parece-me fundamental para se poder seguir os textos de cada autor, entendendo a
sua fundamentação última, trate-se de naturais das ilhas ou
daqueles que se interessaram por perscrutar as características, o
pensamento e a sensibilidade dos ilhéus, olhando-os a partir de
fora, como é, por exemplo, o meu caso. Registo, com particular
agrado, o que todos os directores subscreveram, a propósito dos
materiais que os autores usaram: “Por eles perpassam os nossos
teres e haveres, as carências e misérias, os contentamentos e
prazeres, mas também as mágoas e ansiedades, as liberdades, as
tiranias e os vexames, e ainda a coragem, a ousadia, o
[151]
com um sub-título. Ei-los: A liberdade e os proveitos, entre 1836
e 1895; Monarquia, República e Estado Novo… de 1895 a 1976
e, finalmente, O triunfo da autonomia (1976-2000). Com uma
quantidade e também variedade muito maior de informação e
de opções de escolha não surpreende que, para muito menor
período de tempo, se dediquem a este período ainda mais
páginas. Como balanço da distribuição das matérias abordadas
e da sua envolvência, em termos de extensão e profundidade
de análise, a obra afigura-se-nos equilibrada e de aspecto visual
atraente, sendo a sua mancha gráfica perfeitamente aceitável,
ficando, pois, a coberto das críticas tão frequentes, que sobre
essa matéria abundam. Fica, deste modo, descrita, no plano da
concepção e da execução, esta História dos Açores, que exibe
a data de 2008.
9.CH_Hist. Açores_EugénioSantos
8/17/10
9:44 AM
Page 152
[152]
acatamento e a sujeição. Neles se inscreveram os poderes que
nos governam e de como o fizeram, mas também as querelas e
queixas locais, regionais ou nacionais. Nos registos de contabilidade procurou-se o quanto se arrecadava nos almoxarifados
e o escasso proveito dos insulares, mas também a sua generosidade para com os outros ou para quem os socorreu em ocasião
de desespero. Neles está ainda contida a bondade, persistência e
arrojo dos nossos antigos, para amparar os munícipes atirados ao
infortúnio da vida”. A citação é longa, reconheço, mas sintetiza,
de modo perfeito, tudo o que perpassa nas páginas, ora quentes
e apaixonadas, ora frias e quase esquemáticas, ou predominantemente narrativas, dos vários autores. Sem que tudo fique
clarificado daqui em diante, (essa veleidade seria uma estultícia)
esta História transformou-se já num marco inquestionável. Tudo
o que vier a seguir-se, projectando luz sobre o passado açoriano,
terá que ancorar-se naquilo que aqui fica escrito, seja para o
aceitar e prosseguir, seja para o discutir e tentar avançar ainda
para mais longe. Com saudade, lembro e homenageio aqui o
perfil da Dr.ª Maria Olímpia Rocha Gil que exultaria de alegria se
aqui estivesse hoje. Tenho a certeza de que estes directores
científicos serão recordados pelos tempos fora, dentro e fora das
suas fronteiras, sejam estas, das ilhas, do país, da Europa e do
Mundo, por terem encabeçado uma realização que não tem
paralelo, que eu saiba, a nível nacional. Com efeito, que outra
região natural do país se pode orgulhar de possuir uma história
que se alargue desde os fundamentos mais remotos, iniciando-se
pela geografia física e o primitivo povoamento, até ao balanço
sobre o que já conseguiu propor às suas gentes a novíssima e já
prestigiada Universidade dos Açores? Desconheço outra
qualquer. E os promotores não se satisfazem em ficar por aqui.
Como afirmam, ao parafrasear José de Torres, querem continuar
a mostrar o “grau de interessante originalidade” dos Açores.
Enfatizei a direcção técnica da obra. Os seus membros
incluem-se também nos autores, fornecendo, todos eles, aliás,
contributos de inegável originalidade. Mas refiramo-nos
também aos demais, os verdadeiros construtores desta obra
colectiva. Contam-se eles todos, em conjunto, em número de
trinta. E, com enorme agrado, constato que a maioria é
originária, ou vive há tempos, nos Açores, que se tornam, neste
caso, a sua terra de adopção, definitiva ou temporal. Como
muitos dos que me ouvem saberão, fui um daqueles professovol. LIV ‘09
res do continente que, por ter vindo regularmente à Universidade dos Açores, a Ponta Delgada, a partir dos finais dos anos
70, pude assistir ao seu crescimento, lento, mas seguro, desde
os primeiros tempos. Recordo as condições em que
trabalhávamos, a seriedade com que os responsáveis do
departamento (não cito sequer os nomes) encaravam o futuro,
apelando constantemente à investigação e à actualização, a
alegria com que a esmagadora maioria dos então alunos nos
ouvia, acompanhava, questionava, seguia as nossas sugestões.
Foi, a partir de então, que percebi que havia uma sistemática
recolha de dados e de fontes da história açoriana, muitas das
quais eu desconhecia por completo. Para algumas, confesso,
nem sequer me encontrava sensibilizado. Dou, como exemplo,
as fontes autárquicas dos aglomerados mais pequenos e
remotos ou, mesmo, as notariais, às quais, até então, poucos
haviam atendido correctamente. O resultado desse entusiasmo
e desse labor, está aqui fortemente representado. Como
professor de tantos e tão ilustres alunos, sinto-me hoje também em festa, compartilhando com eles a certeza de que cumprimos o nosso dever, cada um a seu modo (permitam-me que
homenageie as pessoas dos primeiros cursos, cumprimentando-as a todas na pessoa de uma das mais ilustres, o actual
Reitor da Universidade – Prof. Doutor Avelino Meneses). Sem
um aturado e minucioso levantamento e tratamento de fontes,
ditas primárias, esta História não podia ter sido escrita. E nisto
a Universidade dos Açores forneceu a âncora indispensável a
seguir nesta viagem ao longo do tempo. É justo lembrá-lo.
Referir-me a todos os autores, um a um, avaliando o que me
parece ter sido o seu contributo mais marcante, mesmo para
aqueles que escreveram vários ensaios (e não são poucos),
torna-se impossível, em espaço tão curto. Talvez nem sequer
fosse desejável. Perdoar-me-á algum que se sinta frustrado na
sua expectativa. Genericamente (e todas as generalizações na
historiografia se tornam inadequadas, injustas e até perigosas)
referirei que salta à vista e à mente de qualquer leitor o
elevadíssimo nível da esmagadora maioria dos trabalhos. Todos
diferentes, todos iguais, na óptica de procurar trazer ao leitor a
última palavra (ou juízo) sobre o tema em análise. As idades de
uns e de outros condicionaram, como não poderia deixar de
suceder, as suas perspectivas e realizações. Há aqui trabalhos
de investigadores maduros, com largas provas dadas e outros
9.CH_Hist. Açores_EugénioSantos
8/17/10
9:44 AM
Page 153
HISTÓRIA
DOS AÇORES
DO DESCOBRIMENTO
AO SÉCULO XX
Porém, ser-me-á permitido ir um pouco mais longe quanto a
este aspecto. Para um leitor não especializado em matérias
como a geografia, por cuja área (e muito bem) começa esta
História, é impossível emitir qualquer juízo fundado e credível,
embora o ensaio inicial me pareça muito esclarecedor. Porém,
ao avançar para a parte I, do 1.º volume, já me é quase exigido
um apontamento crítico. Faço-o com gosto e convicção.
Há um domínio sobre o qual ainda paira alguma nebulosidade:
aquele que se refere ao descobrimento, encontro ou achamento das várias ilhas. Apesar de todo o esforço e aparato
crítico, as nuvens não se dissiparam ainda totalmente. E esta
obra ajuda a problematizar continuamente. Porém, no que
tange ao povoamento, às formas de organização do espaço, aos
recursos materiais disponíveis, à organização da Igreja e à sua
acção, diríamos que será difícil (e arriscado), ao menos a curto
prazo, ir mais além: erudição, convicção, dados encadeados e
discursos escorreitos, nada foi negligenciado, nem deixado ao
acaso. O leitor sente que não seria possível, ao menos por
agora, ir mais longe.
Ao contemplar-se a posição geográfica dos Açores, desde logo
se intui a sua posição estratégica, como lugar de escalas oceânicas, como fortaleza e como guarda avançada, que tantos
proventos e prestígio trouxeram à Coroa, tantas vezes à custa
dos sacrifícios dos naturais, o que o estudo aqui inserido prova
à sociedade. Reforça-se esse papel de impacto quando se
analisa o período à roda de 1580 e se atende ao olhar da coroa
espanhola sobre o arquipélago.
E não deixa de ser esclarecedor que o tempo que se alargou
entre 1642 e 1766 possa e deva ser considerado como uma
época de algum abandono e desinteresse por parte dos poderes públicos, exactamente após a recuperação da independência face a Espanha (ao menos, de facto), coincidindo isso
mesmo com a progressiva subida da importância política, económica e até estratégica do espaço brasileiro. Nem o recurso a
novas culturas conseguiu dinamizar suficientemente os fluxos
açorianos, internos e externos, contribuindo para a persistência
de formas arcaizantes de poder, como aqui se prova
inequivocamente. Asseguram-no os estudos que abordam as
representações sociais dos ilhéus e a respectiva organização
autárquica e militar, face aos poderes régios. As manifestações
de cultura, bem como a forma como a Igreja conseguiu ir-se
impondo, influenciando sensibilidades, práticas e
comportamentos, colocam, em paralelo, continente e ilhas,
mostrando como ambos podem seguir rumos idênticos, ou
divergentes, tendo em conta espaços que a natureza e os
homens tornaram mais fechados ou mais vulneráveis aos
contactos vindos do exterior.
Os vários estudos contidos na parte III, do 1.º volume, referentes ao período de 1766-1836, parecem-me demonstrar que
foi então que, verdadeiramente, apesar de algumas violências,
as ilhas açóricas arrancaram para a consciência de uma modernidade assumida e plena de pujança. Não quero deixar de
mencionar aqui o valiosíssimo contributo de alguns historiadores muito jovens que, como quase todos os demais autores,
olharam minuciosamente para o espaço de cada ilha, a estudaram por si, inserindo-a, depois, num conjunto mais amplo de
que ela fazia parte. Refiro-me à persistência e aos arrojos das
novas estruturas do poder, aos novos rumos da economia,
sempre pronta a inventar soluções diferentes, bem como às
respectivas finanças e moeda, aos comportamentos e movimentos da população, às movimentações das elites sociais, à
emergência de novas formas de mentalidade e às rupturas, que
sempre daí derivam e que marcariam os inícios de uma nova
era nas margens e também no coração do Atlântico.
Uma outra perspectiva se abriu aos açorianos e ao seu território na sequência da revolução liberal e do papel primordial
que nela assumiu o arquipélago, na sua fase crucial. Refiro-me
ao tempo imediatamente antes, durante e depois da estadia do
Duque de Bragança, o Rei D. Pedro IV, no seu território. A
monarquia constitucional, que se lhe seguiu, parece ter ficado
com a consciência pesada quanto à menor atenção que os seus
antepassados monarcas votaram ao povo ilhéu. Por isso tentou
novas formas de enquadramento político-institucional, quase
sempre mal sucedidas, por desconhecimento da realidade
concreta a que se destinavam. Mas tentou-se, ao menos.
[153]
de jovens com menos experiência e ainda em formação.
Contudo, nunca se desceu a níveis menos aconselháveis. Pelo
contrário, regra geral, ele é bom, óptimo e até chega a atingir
o excelente, aqui e ali.
9.CH_Hist. Açores_EugénioSantos
8/17/10
9:44 AM
Page 154
E, de facto, o século XIX lançou os Açores para outros e mais
proveitosos rumos, como mostram eloquentemente estudos a
tal dedicados. Ora isso ajudou a dinamizar rotas e fluxos
humanos e económicos, a agitar rotinas demográficas e
modificar-lhes comportamentos, a criar uma progressiva
consciência de identidade própria, balanceada por uma maior e
crescente circulação de ideias, de livros, de publicações, de
associações, de artes, ficando-se cada vez mais longe da
tradicional cultura afunilada de base eclesiástica.
[154]
Ao aproximar-se o fim da monarquia constitucional as aspirações dos açorianos haviam-se guindado a exigências cada vez
maiores, às quais o governo central raríssimamente conseguia
responder, tanto por ignorância, quanto por incapacidade de
assumir medidas de fundo. Desse modo, foram-se transmitindo
ilusões, foi-se procurando remediar situações herdadas, mas
nenhuma alteração verdadeiramente global ocorreu. Persistiam
a pobreza, o divisionismo, a miragem, através da adopção de
soluções apenas paliativas, jamais verdadeiramente inovadoras.
Novos rumos desafiavam os descontentes que olhavam o
Oceano como o único caminho para um futuro risonho e
seguro. Por isso, eles continuavam a emigrar. Chegaria, porém,
o tempo em que o arquipélago se haveria de tornar também
em zona de atracção de homens. De emigrar se passou a
constatar a imigração em solo açoriano. No horizonte, mais
atenta e desperta para o seu ministério, desde os meados do
século XX, se empenhava a Igreja em encontrar saídas mais
conscientes e eticamente mais fraternas. As grandes mudanças
ocorridas, designadamente a nível político-institucional, implementar-se-ão apenas a partir de 1976, como mostram os
clarificadores estudos insertos na parte VI, do 2º volume.
Quem a não ler, dificilmente poderá entender os Açores de
hoje.
vol. LIV ‘09
Concluindo… A História que hoje se apresenta constitui um
notabilíssimo trabalho, sem paralelo, a nível nacional. Para
entender os Açores de ontem, de hoje e, quiçá, de amanhã é
indispensável lê-la, reflectir sobre ela, entendê-la. Fruto de um
constante, metódico e bem direccionado trabalho do núcleo
forte da sua universidade, de outrora e de hoje, ela enriquece
pela sua diversidade e pelo seu paralelismo, a cultura nacional.
Se ainda fosse necessário provar que existe uma elite jovem,
bem preparada, científica e tecnicamente, para tomar o futuro
conscientemente nas suas mãos para o bem dos Açores, a
leitura desta História seria o argumento decisivo e dissipador de
dúvidas. Nem todos os autores são açorianos, é certo. Mas
todos, que aqui constam, reflectiram sobre a matéria, problematizaram temas, foram aduzindo respostas. Todos exibem
qualidade, embora em graus diferenciados, como seria
inevitável em obra colectiva, atingindo a esmagadora maioria um
alto grau de cientificidade e de rigor a toda a prova. As instituições açorianas podem (e devem) orgulhar-se dos quadros
que foram conseguindo formar e de que se vão servindo quando
os entendem úteis e necessários. Se a açorianidade é um traço
marcante de quem nasceu nas ilhas húmidas e enevoadas do
Atlântico Norte, entre a Europa, a África e a Terra Nova, ela
espelha-se aqui, sente-se na escrita e também nos silêncios da
maioria dos autores. Traduz-se numa espécie de consciência de
que ser apenas português não basta. Faltam a dimensão da sua
ilha, o seu odor, o seu horizonte, o seu mar…
10.CH_MGMonteiro_LArruda
8/17/10
9:59 AM
Page 155
Luís M. Arruda
SOBRE MANUEL
GARCIA MONTEIRO
Em 2009 cumprem-se 150 anos sobre o nascimento de Garcia
Monteiro e sobre a publicação da obra de Charles Darwin
(1809-1882) On the origin of species by means of natural selection,
or the preservation of favoured races in the struggle for life tida,
geralmente, como fundamento da denominada Teoria da Evolução ou Evolucionismo que inspirou a escola literária naturalista.
Estas efemérides proporcionaram o aparecimento deste artigo
geralmente monográfico e de divulgação, onde a biografia de
Monteiro é abordada de modo sucinto e são recolhidas opiniões
de vários autores sobre a sua obra, aqui também vista na
perspectiva daquela escola literária.
BIOGRAFIA SUCINTA
Manuel Garcia Monteiro
[foto de autor desconhecido]
INTRODUÇÃO
Na Horta, na segunda metade do século XIX, mas de modo
ainda mais evidenciado nas duas décadas terminais, aconteceu
conviver um grupo de personalidades (novelistas, historiógrafos, dramaturgos, ensaístas, polemistas e poetas) que deixou
obra feita nessas diferentes áreas da literatura. Em geral
viveram naquela cidade e aí formaram o seu espírito. Porém,
algumas delas tiveram possibilidade de contactar individualidades destacadas das letras portuguesas fora daquela, entre as
quais se conta Manuel Garcia Monteiro que foi poeta, jornalista
e um dos receptores da Teoria da Evolução naquela cidade.
Segundo o Registo de baptismos da Matriz da Horta, Manuel
Garcia Monteiro nasceu nesta freguesia a 29 de Junho de 1859,
no n.º 39 da então denominada Rua do Mercado, hoje Serpa
Pinto, filho de José Leal Monteiro e de Maria Joaquina da Piedade. Viria a morrer em Boston, Estados Unidos da América, a 7
de Fevereiro de 1913.
Terminados os estudos no Liceu da Horta, onde foi matriculado
no ano 1871, impedido de continuar devido a dificuldades
financeiras, foi funcionário público, amanuense da Câmara1, e
1 Em carta a Henrique das Neves, publicada em O Açoriano, n.º 44,
9.5.1886, Garcia Monteiro escreveu: «[...] pouco mais tinha que fazer do
que o Deus Guarde e dobrar a espinha perante os vereadores.».
[155]
NO TRICINQUENTENÁRIO
DO SEU NASCIMENTO
10.CH_MGMonteiro_LArruda
8/17/10
9:59 AM
Page 156
também jornalista, pelo menos como redactor do semanário
satírico, burlesco, crítico e noticioso O Passatempo2. O desejo
de continuar a estudar na Escola Politécnica e a obtenção de
um lugar de prefeito no Colégio Luso-Germânico3, em Lisboa,
fizeram-no seguir para esta cidade, em 1882.
Em Lisboa, Garcia Monteiro relacionou-se com vários intelectuais, entre eles Fialho de Almeida4 que, no Diário da Manhã,
de 4 de Maio de 1885, o descreveu como «um açoriano dos
mais vivos, e um dos mais delicados espíritos que temos conhecido» [...] «uma compleição de linfático, contemplativa,
branca, cheia de finuras inéditas, e graças juvenis».
«O sarcasmo, que era uma das suas feições de mais relevo,
ocultava-o ele, como a lâmina de um estilete florentino, em
bainhas ou frases de cinzelura surpreendente.».
[156]
«Nunca dizia a um tolo que detestasse, a cruel palavra desdenhosa, eriçada de nervosismo, que nos cria um inimigo para a
vida e para a morte. E a comiseração ante as crianças rotas que
nos vinham pedir esmola ao Martinho, noite feita, era tão boa,
que jamais pudemos convencê-lo da perfeita inutilidade dele
socorrer aqueles jovens desgraçados, que a família enviava à
exploração da nossa fé.».
Ainda segundo Fialho de Almeida: «A cidade [de Lisboa],
porém, não logrou inspirar-lhe simpatias; as ruas entonteciam-no pelo tohu bohu constante das carruagens e dos transeuntes;
os altos prédios da baixa, em cujas águas-furtadas ele se via
forçado a residir, mercê dos seus recursos parcos de estudante,
faziam-lhe vertigens e enchiam-lhe as noites de pesadelos.»5.
No ano seguinte Garcia Monteiro regressou à Horta, onde se fez
tipógrafo, montou e editou O Açoriano6 (1883), impresso num
Marinoni, o primeiro prelo rotativo que houve nesta cidade. Era
na redacção deste jornal sita no n.º 35 da Rua do Mercado, onde
funcionava também a Tipografia Guttenberg, que, à noite, se
reunia com os amigos Florêncio Terra (1858-1941), Manuel
Joaquim Dias (1852-1930) e Manuel Zerbone Júnior (1856-1905)
e ainda, por cerca de seis meses, com Henrique das Neves
(1841-1915)7, com quem mais tarde se havia de cartear8.
Em Julho de 1884, a bordo da barca Verónica, Garcia Monteiro
partiu para os Estados Unidos da América, desembarcando em
vol. LIV ‘09
New Bedford, após 40 dias de viagem. Foi convidado a redigir
um novo periódico de língua portuguesa, o Luso - Americano,
que chegou a adquirir, mas, tendo verificado a inviabilidade
daquele projecto, tornou-se empregado, como tipógrafo, do
2 Jornal de que foi publicado o primeiro número em 27.4.1874, na cidade
da Horta. Foi impresso na Typ. Fayalense.
3 Segundo anúncio publicado no jornal hortense A Regeneração, este colégio
instalado no palácio do conde de Cabral, irmão de Costa Cabral, num
vasto edifício, situado num dos lugares mais higiénicos e agradáveis de
Lisboa, na rua do Prior [do Crato], a Buenos Aires [zona da Lapa], tinha
como directores Francisco Pedro Brou e Mont’Alverne de Sequeira.
Estava organizado segundo os então novos planos de ensino adoptados
em Portugal e no estrangeiro. Mais, acompanhava o movimento
intelectual moderno e empenhava-se no completo desenvolvimento
mental e físico dos alunos. Dispunha de salas para diferentes aulas,
camaratas e enfermarias, e as melhores acomodações para pensionistas.
Gil Mont’Alverne Sequeira (1859-1931) estudou no Liceu da Horta em
1878/1879. Nesta ocasião iniciou-se como publicista, fazendo sair nos
periódicos locais O Balão e O Civilizador diversos artigos. Depois mudou-se
para o Porto e, mais tarde, para Lisboa. Assim, deverá ter-se relacionado
com Garcia Monteiro, primeiro, na Horta, e depois em Lisboa.
4 Escritor pós-romântico, o seu estilo literário, irregular, foi pautado pelo
Naturalismo, procurando sensações fortes no real. Os seus temas foram
principalmente a cidade e o campo.
5 Almeida, F. (1885), Garcia Monteiro. Diário da Manhã, Lisboa, 4.5. In
Neves, H. (1910), Individualidades: traços caracteristicos, episodios e
anedoctas authenticas de individuos que se evidenciaram. Lisboa, Parceria A.
M. Pereira, 57.
6 Jornal semanário noticioso que começou a ser publicado em 09.09.1883.
No primeiro número, Manuel Garcia Monteiro explica porque o edita. «Este
jornal publica-se afinal por uma razão muito simples: muitos gostam de
possuir a sua casa, como muita gente que escreve gosta de ter o seu jornal».
7 Henrique José das Neves, militar do Exército, adepto da Teoria da
Evolução, foi, em 1886, comandante militar, interino, do Comando
Ocidental dos Açores, na Horta. Antes, entre 1883 e 1884, havia estado
nesta cidade tendo então oportunidade de publicar n’O Açoriano um
conjunto de 6 textos, com o título genérico «Notas cómicas», cujo
humor, em prosa, faz lembrar aquele da poesia de Garcia Monteiro (cf.
Enciclopédia Açoriana, Neves, Henrique José das). Difundiu na Horta o
culto pela poesia de Cesário Verde (cf. Silveira, P. (1998), Sobre a Horta
como centro literário: uma proposta de estudo. In O Faial e a periferia
açoriana nos séculos XV a XX, Actas do II colóquio, Horta, Núcleo Cultural
da Horta, 597-602).
8 Neves, H. (1910), op. cit..
8/17/10
9:59 AM
Page 157
SOBRE MANUEL
GARCIA MONTEIRO
NO TRICINQUENTENÁRIO
DO SEU NASCIMENTO
[157]
10.CH_MGMonteiro_LArruda
Primeira página
do primeiro
número de
O Açoriano
10.CH_MGMonteiro_LArruda
8/17/10
9:59 AM
Page 158
Boston Herald. Trabalhando de noite e estudando de dia,
formou-se em Medicina, grau que lhe foi conferido em 16 de
Abril de 1890, na Union Hall, perante os professores do Colégio
de Médicos e Cirurgiões de Boston e numerosos amigos. A
actividade médica exerceu-a em East Boston e em Cambridge.
Entre as colónias açorianas destas localidades desenvolveu
grande actividade na propaganda dos ideais republicanos e
maçónicos para o que, seguindo o compromisso assumido na
Horta pelo menos com a Loja Luz e Caridade, fundou em
Boston, com João Francisco Escobar9, uma organização maçónica de que foi venerável. Cidadão benquisto nesta cidade,
quando ali vagou o lugar de cônsul português, dez mil pessoas
pediram esse lugar para ele, mas não foram atendidas.
Colaborou com o jornal Açores-América, editado em Cambridge
por Eugénio Vaz Pacheco do Canto e Castro10. Dali enviou para
a Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro, a partir de 1886, uma
série de escritos com o título genérico «Cartas da América» e
continuou a colaborar com O Atlântico e O Fayalense.
[158]
Ainda dos Estados Unidos, continuando interessado pelos problemas da sociedade faialense, em particular, e pelos da açoriana, em geral, Garcia Monteiro, como nota Vamberto de Freitas,
«avisou-nos da América que não nos iludíssemos com a suposta
bondade americana ou com qualquer estatuto supostamente
privilegiado, se para aí nos levasse qualquer desvio histórico. E
fê-lo com inteiro conhecimento do modo como se sentiam os
açorianos perante o poder central de então, e com o conhecimento directo e bem informado sobre com que linhas se cosiam
os interesses americanos dentro e fora das suas fronteiras.»11.
Assim, em «Carta aos conterrâneos», com data de 25.8.1902,
Monteiro escreveu: «Caros conterrâneos, isso por aí vai mal,
mas dêem graças a Deus que não estão nas unhas dos
monopolistas americanos. A águia que era o símbolo de altivez
e liberdade desta nação trabalhadora passou a ser uma simples
ave de rapina [...]. É o cada um por si. Nunca a frase struggle for
life teve uma significação tão exacta como no tempo presente.».
E mais adiante: «E não é já sem tempo que eu lhes faço aqui uma
declaração para que o sentido das minhas palavras não seja
desvirtuado. Não é o vivo “sentimento patriótico”, essa linda
capa de intrujice, que me instigou a escrever esta carta. A pátria
vol. LIV ‘09
do homem de hoje é o mundo. Isto não significa que o cosmopolita não tenha amor ao lugar onde nasceu e criou amigos. É o
que se dá comigo: tenho amor à minha terra; mas isto não
significa que eu, pelo facto da minha terra pertencer a Portugal,
que a tem explorado e sugado, como um parasita importuno, vá
quebrar lanças por uma bandeira que serve hoje apenas para
formar toldo, debaixo do qual comem à barba longa os patriotas
cujo ofício único é trazer essa querida pátria bem guardada no
aparelho digestivo.»12.
Chamava à América, em que vivia, a “Costa de África do Espírito”. «É uma frase extravagante, porém dá-me a impressão
deste degredo. Estou quase inutilizado intelectualmente,
porque esta atmosfera envenena a pouco e pouco as intelectualidades como a minha; porém, uma cousa me tem dado
coragem para ir resistindo a uma atrofia completa; essa cousa,
que aliás nada tem em que se baseie, é a esperança de viver uns
anos em Lisboa», transcreve Greaves de uma carta que lhe foi
enviada por Monteiro, escrita em 190713.
Para Marcelino Lima, Monteiro foi para a América impulsionado pelo desejo de um «futuro mais desafogado, glorioso,
9 Natural dos Cedros, ilha do Faial, morreu em Fairhaven, Estados Unidos
da América, para onde havia emigrado. Foi jornalista de fama e
republicano. Fundou e dirigiu vários jornais na cidade da Horta, nas vilas
da Madalena e de S. Roque, na ilha do Pico, e das Velas, na ilha de S.
Jorge (cf. Enciclopédia Açoriana, Escobar, João Francisco).
10 Natural de Ponta Delgada, depois de formado em Filosofia Natural na
Universidade de Coimbra e de um estágio em França, regressou à sua
terra natal onde foi professor e reitor do Liceu, jornalista e político. Foi
aos Estados Unidos da América estudar laboratórios de línguas na
Universidade de Harvard e foi nessa ocasião que teve oportunidade de
publicar, em Cambridge, o jornal Açores-América (cf. Enciclopédia
Açoriana, Canto e Castro, Eugénio Vaz Pacheco do).
11 Freitas, V. (2007), Garcia Monteiro: das margens à centralidade canónica
açoriana e luso-americana. In O Faial e a periferia açoriana nos séculos XV
a XX, Actas do IV colóquio, Horta, Núcleo Cultural da Horta: 421-430.
12 Monteiro, G. (1902), Carta aos conterrâneos. O Fayalense, Horta, 2.ª
série, n.º 153, 5.10.
13 Greaves, M. (1931), Garcia Monteiro – O poeta das Rimas da ironia
alegre. Correio da Horta, Horta, n.º 27, 7.2.
10.CH_MGMonteiro_LArruda
8/17/10
9:59 AM
Page 159
SOBRE MANUEL
GARCIA MONTEIRO
NO TRICINQUENTENÁRIO
DO SEU NASCIMENTO
Em 19 de Junho de 1913, numa missiva enviada de Lisboa a
Marcelino Lima (1868-1961), Rodrigo Guerra (1861-1924)
escreve: «Esta carta escrita a um intelectual como tu, tem o fim
de despertar em ti e nos teus conterrâneos a ideia de uma
comemoração, por mais simples que ela seja, e que terá, além
de tudo um significado de alto valor: homenagear-se uma
criatura que não foi nem titular, nem conselheiro, nem regenerador, nem progressista, nem funcionário público, nem deputado, nem tudo o mais que se costuma ser para honra e proveito da Pátria! [...]. Uma lápide na casa onde ele viveu, e onde
montou O Açoriano não seria o bastante para o tornar
conhecido dos novos e recordado daqueles que há muito
andam afastados do seu convívio? [...]. Garcia Monteiro era há
trinta e tantos anos, quando ainda na sociedade faialense havia
preconceitos de raça, e o caciquismo imperava com mão de
ferro, um espírito tão liberal e tão independente, que as suas
sátiras castigando os ridículos de então, criaram essa figura
típica e genial do comendador, como Eça de Queirós criou o
conselheiro Acácio.»16.
Todavia, só em 7 de Julho de 1989 a Câmara Municipal da Horta deliberou dar o nome «Manuel Garcia Monteiro» a um dos
arruamentos da Canada das Dutras17. Em Agosto seguinte, a
Câmara descerrou a sua fotografia no salão nobre e editou um
pequeno volume com o título A trança que inclui algumas das
suas produções.
De Garcia Monteiro ficou obra dispersa pelos jornais como cronista, como contista18 e como comediógrafo (deixou inéditas as
comédias, Sem cerimónia, representada no Teatro União
Faialense a 29. 4.1880 e 5.5.1881, e Um presente de anos, ambas
em um acto) que ultrapassa aquela publicada em livro19.
SOBRE A SUA POESIA
Ainda muito novo Garcia Monteiro começou a publicar poesias
nos jornais faialenses, revelando, desde logo, apreciáveis dotes
de escritor, especialmente no género satírico. Tinha 16 anos, o
jornal O Pensamento,20 em 12 de Junho de 1875, anunciava o
seu livro Poesias e satyras a 400 rs. por assinatura e a 500 rs.
avulso.
Em 1896 editou, em Boston, Rimas de ironia alegre21 que o jornal hortense O Occidente dos Açores, no ano seguinte, anuncia
para venda a 600 rs. Neste anúncio pode ser lido: «O motivo
que levou o autor a substituir o primeiro título Rimas d’um im[159]
confortável»14. Mas, para Silva Peixoto não deve ter sido só
esta circunstância a pesar na sua determinação. «Com os seus
versos satíricos, inconformistas, com o seu jornalismo irrequieto e mordaz, o seu espírito desempoeirado, Garcia Monteiro
criara, evidentemente, muitas inimizades, ao criticar, impiedosamente, a política eleiçoeira, os burlescos de uma sociedade
com os seus comendadores e os seus fumos de nobreza, apegada aos seus títulos de fidalguia. E não deve ainda ser estranha
à sua decisão uns amores contrariados, com repercussões no
ambiente familiar, por se ter atrevido a erguer os olhos para
uma sécia de família a que ele não pertencia, facto que o poeta
alude na poesia “Plebeu” do seu livro de estreia [...].»15.
14 Lima, M. (1943), Anais do Município da Horta. Vila Nova De Famalicão,
Oficinas Gráficas Minerva: 566-567.
15 Peixoto, J. S. (1963), Notas para um estudo sobre a vida e obra de
Garcia Monteiro. Correio da Horta, Horta, n.º 9182, 9.2.
16 Guerra, R. (1913), Dr. Garcia Monteiro. O Telegrapho, Horta, n.º 5772,
21.6.
17 Câmara Municipal da Horta, Livro de Actas, 125, 188v.
18 O conto «A Surpresa», In O Açoriano, Horta, n.ºs 29-30, 27.11.18874.12.1887, está incluído na antologia organizada por Lobão, C. (1988),
Às lapas, contos e narrativas faialenses. Horta, Direcção Regional da
Cultura e Câmara Municipal da Horta, 91-99.
19 Cf. Rebelo, E. (1907), Garcia Monteiro. O Fayalense, Horta, n.º 282, 7.7.
Id. (1982), Notas açorianas, escriptores e homens de lettras. In Archivo
dos Açores, 9, 35.
20 Com a epígrafe «Semanário – Açoriano», começou a ser publicado na
cidade da Horta em 12 de Dezembro de 1874.
21 (1896), Rimas de Ironia Alegre, Boston, Ed. do A. (36 poemas, escritos ao
longo de cerca de 20 anos, na Horta, em Lisboa e em Boston). Esta obra
viria a aparecer publicada em folhetim, entre o n.º 5, de 10.4.1905, e o
n.º 18, de 20.8.1905, no jornal Movimento da vila das Velas, ilha de S.
Jorge. Em 1997, as editoras Civilização, do Porto, e Contexto, de Lisboa,
publicaram conjuntamente, Rimas de ironia alegre, antologia organizada e
apresentada por Carlos Jorge Pereira (Colecção Brevíssima n.º 23).
10.CH_MGMonteiro_LArruda
8/17/10
9:59 AM
Page 160
pressionista, por este Rimas de ironia alegre, foi o ter sido modificado o carácter do livro, adicionando-lhe o seu autor versos
alheios ao título primitivo e eliminando os que, pela seriedade
do assunto e número diminuto, se achavam isolados entre outros, de feitio diferente. O novo título explica inteiramente o
livro.». Os pedidos deviam ser dirigidos directamente a Garcia
Monteiro, Bay State House, Hanover street, Boston, Mass..
Fialho de Almeida terá sido o único nome grado da literatura
portuguesa a referir Garcia Monteiro na imprensa da época,
naquele artigo do Diário da Manhã. Segundo este escritor, «Lisboa já conhece este fantasista hilariante por pequenas composições publicadas nos jornais. É ele o autor de um volume Versos22, impresso no Faial, onde, a par de uma correcção aristocrática e de uma factura amorosa, há a distinguir levantados
ideais e nobilíssimos impulsos de um coração gentil homem.»23.
[160]
Manuel Greaves, em 1901, em O meu tempo, considera Garcia
Monteiro «muito talentoso e amante das letras portuguesas» e ao
seu volume de versos Rimas de ironia alegre, «livro admirável no
género, e quiçá único feito em português há um quarto de século»24. E no ano seguinte (1902), o mesmo Greaves em «Poetas insulares», publicado n’O Telégrapho, escreveu: «Garcia Monteiro é um esteta. O seu verso é de um rigorismo admirável, que
iguala a precisão de Gonçalves Crespo25 na métrica latina. [...].
Por isso muito sobressaem na literatura nacional as Rimas, além
de que o género é muito bem cultivado – e quiçá unicamente
bem»26. Alguns anos mais tarde, em 1913, Greaves em «Um
morto ilustre – O poeta Manuel Garcia Monteiro», a propósito
do poema «A eleição», uma comédia eleitoral onde lutam o
regedor e o juiz de paz, escreveu: «As suas figuras são perfeitas
caricaturas do seu tempo, e de todos os tempos. O dia da
eleição, em que Antoino André do Vale, um campónio, se reveste
de importância e solenidade para ir cumprir o dever sagrado à
igreja da freguesia, são versos do mais polido ironismo.»27.
Para relevar as figuras caricaturadas nesta poesia respigam-se
os versos:
[...]
Que fossem bugiar os santos e o vigário.
Não obstante, rezava as suas orações.
«Sempre era bom». E até lá uma ou outra vez
Prometia alumiar uma semana, um mês,
Algum santo sagaz que fosse do partido.
Isto era um caso grave, em eleição de risco.
O último ganhara e fora S. Francisco.
Ora o triunfo agora estava decidido,
Porém o regedor pensara na promessa.
Há santo espertalhão que prega a sua peça,
Uns intrigam até, ocupam-se de enredos;
Querem todos porém que se lhes unte os dedos.
Não é coisa que custe aí o sacrifício,
Mas António do Vale pagava com mãos largas;
Deixar-se-ia despir para vencer o Vargas,
Batê-lo, derrotá-lo, expô-lo num suplício.
O Vargas era um «rato», um hábil adversário,
De olhinho vivo, a rir, amigo da sua trica,
Demais juiz de paz e grande proprietário E «estava p’ra casar c’uma carcaça rica».
[...]
22 (1884), Versos, Horta, Tip. Gutemberg [19 poesias, 62 páginas].
23 Quando em Lisboa, a direcção do Colégio Luso-Germânico publicou de
Garcia Monteiro, com o pseudónimo Álvaro Newton, cerca de 8.5.1882,
data do primeiro centenário da morte do Marquês de Pombal, um
opúsculo com o poema O Marquês de Pombal. São 44 quadras, que
tecnicamente podem ser consideradas o seu primeiro livro, também
impressas, quase em simultâneo, no jornal A Lucta, editado na cidade da
Horta (ano 1, n.ºs 29 e 30, de 23 e 27.5.1882) (cf. Pereira, 1997, 16).
24 Greaves, M. (1901), O Meu Tempo. Horta, Almanach Açoreano.
25 Garcia Monteiro, enquanto redactor de O Açoriano, transcreveu neste
jornal as poesias de Gonçalves Crespo seguintes: «O velhinho» (23.9.1883),
«O gato e o macaco» (7.10.1883), «Odor di femina» (16.12.1883),
«A venda dos bois» (16.3.1884) e «A desdichada» (4.5.1884).
26 Greaves, M. (1902), Poetas insulares. O Telégrapho, Horta, n.º 2495, 21.3.
Ele era homem de fé e usava o seu rosário,
Mas em tempo de luta, em tempo de eleições,
vol. LIV ‘09
27 Greaves, M. (1913), Um morto ilustre – O poeta Manuel Garcia Monteiro.
O Telégrapho, Horta, n.º 5783, 5.6.
10.CH_MGMonteiro_LArruda
8/17/10
9:59 AM
Page 161
SOBRE MANUEL
GARCIA MONTEIRO
NO TRICINQUENTENÁRIO
[161]
DO SEU NASCIMENTO
Frontispício do volume
de poesias Rimas de Ironia Alegre
Frontispício do volume Versos
«A avó»
António do Vale, vencido pelo Vargas, chegando a casa de mau
humor, viu a mulher invocar Sto. António que tinha no oratório
e em quem ele também confiara. Então,
A noiva uma flor, sorrindo de contente,
Mas quis que a avó a visse, a pobre avó, coitada,
Uma boa velhinha, há anos entrevada,
Que tinha um doce olhar profundo e transparente.
[...]
Ele pulou, rugindo a praga mais medonha,
Correu ao oratório, esmorraçou-lhe a porta,
Alucinado, cego, a arfar, de olhos em brasa,
E, agarrando o santinho e indo atirá-lo à horta,
Berrou: “não quero mais este maldito em casa!”.
De modo diferente, ainda citando “Um morto ilustre” de
Greaves, «sonetos como “A avó”, traçam um sentimento tão
suave e tão vivido que faz palpitar em nós toda a psicologia
do artista.».
Chegou a neta a si, olhou-a ternamente,
Abraçou-a, beijou-a e disse-lhe magoada:
- Deus te faça feliz! Na face descarnada
Uma lágrima então rolava docemente.
Ah! Naquela fina alma abrira uma saudade!
E recordou, tão velha a sua mocidade!
A olhar para a neta, a vista imóvel, fita...
Fora num dia assim... Como ela se lembrava!
E ao lado do seu noivo, um moço que adorava,
Ela ia assim também, tão fresca e tão bonita!...
10.CH_MGMonteiro_LArruda
8/17/10
9:59 AM
Page 162
Ainda de acordo com Greaves: «A métrica, usa-a correctíssima
e admirável, dando-nos, por exemplo, aquele sabor de precisão e naturalidade com que o nosso Gonçalves Crespo compunha os seus belíssimos versos, que tanto o tornaram notável».
Em 1924, Urbano de Mendonça Dias, a propósito de Garcia
Monteiro, em Literatos dos Açores, considera que «o seu género
era o satírico, estava-lhe no sangue o dom do crítico, do que
troça e faz encavacar»28.
[162]
Manuel Joaquim Dias, em 1928, em «Um poeta açoriano – Dr.
Manuel Garcia Monteiro», considera-o «um talento autêntico
num género raro em que ainda pontifica como mestre Nicolau
Tolentino»29. Dias, que neste artigo também se refere à comédia eleitoral como «tão cheia de ódios, interesses e vaidades»,
defende que «No seu livro [Rimas de ironia alegre] ficou-lhe o
espírito. O conceito surge incisivo e brilhante como relâmpago
de ironia que ilumina as figuras num fundo de verdade. Garcia
Monteiro não impressiona pela emoção nem pelo voo do
pensamento: não é um lírico; mas pela graça, pela espirituosa
ironia reagindo sobre a banalidade.». E quase a terminar:
«Monteiro tinha polido a arte com o tempo, como o ouro velho
dos frisos das catedrais que toma aspecto solene»30.
Para Osório Goulart (1931), «As Miniaturas e Nocturnos de
Gonçalves Crespo, a Musa em férias e A morte de D. João de
Guerra Junqueiro, e os sonetos de João Penha, que eram então
leitura predilecta, foram porventura as obras portuguesas que
avigoraram as faculdades estéticas de Garcia Monteiro e orientaram a sua idealização artística.»31.
«O sensibilismo irónico do poeta predomina nas suas poesias,
onde, a par do madrigal delicioso, ressalta frequente a sátira
mordaz, cáustica e, por vezes, sangrenta como uma punhalada.»32.
prová-lo um artigo que publicou no jornal O Grémio Literário)
muito admirava. São quadros realistas de costumes e ideias do
meio e da época. A composição denominada “A eleição”, e
outra “A viúva Boim”, publicada avulso, são perfeitos modelos
tolentineanos. A par deles algumas belas flores de lirismo em
que palpitam dolências do coração – saudades, sonhos... Em
companhia dele, poeta genuinamente nosso, vibramos.
Acaricia-se a alma, lendo-o».
Para José Carlos Vieira Simplício, em «Esboço evocativo duma
personalidade açoriana, Garcia Monteiro – Um notável poeta
faialense»34, 2.º prémio dos Jogos Florais da Câmara Municipal
da Horta, realizados em 1955, «Na poesia de Garcia Monteiro
transparece a graça esfuziante a causticar os vícios e os ridículos
da época, não significando propriamente um protesto contra o
clima social, porque o Poeta aspira sobretudo a rir-se com ele
e a decorá-lo de vivas cores.».
Ainda de acordo com Simplício, «Garcia Monteiro, além do seu
parnasianismo formal onde há vislumbres de Gonçalves Crespo, sofre influências de João Penha e Nicolau Tolentino, o que
é bastante diferente, porém, do dizer-se que os imita, pois
como escreve Fernando Pessoa “um facto é a influência que só
não suporta quem não vive de outro a subordinação”».
«Deste modo encontramos considerável originalidade em
Garcia Monteiro que nada tem a ver com a caricatura da
28 Dias, U. M. (2005), Literatos dos Açores. 2.ª ed., s. l., Editorial Ilha Nova.
29 De Nicolau Tolentino foram transcritas n’ O Açoriano, enquanto Garcia
Monteiro foi seu redactor, as poesias seguintes: «Ao conde de Vila
Verde» e «Nas Caldas», na edição de 11.11.1883, e «Aos toucados altos»
e «Numa botica», na de 3.2.1884.
30 Dias, M. J. (1928), Um poeta açoriano – Dr. Manuel Garcia Monteiro.
Os Açores, Ponta Delgada, 2.ª série, n.º 9.
31 Sobre poesia de Gonçalves Crespo transcrita n’ O Açoriano, ver nota 25.
Marcelino Lima (1943), em Anais do Município da Horta33,
considera «jóias literárias essas suas duas minúsculas obras. À
elegância do verso, gracioso e límpido, perfeitíssimo e fácil, alia
o cintilar da ideia, nascida da observação, colorida pela viveza
do seu espírito crítico, ora zombeteiro como João Penha, ora
rindo à maneira bonacheirona de Tolentino, que ele (e está a
vol. LIV ‘09
32 Goulart, O. (1931), Garcia Monteiro. Correio da Horta, Horta, n.º 27, 7.2.
33 Lima, M. (1943), op. cit..
34 Simplício, J. C. V. (1956), Esboço evocativo duma personalidade açoriana,
Garcia Monteiro – Um notável poeta faialense. O Telégrafo, Horta,
n.º 16833, 12.1.
10.CH_MGMonteiro_LArruda
8/17/10
9:59 AM
Page 163
SOBRE MANUEL
GARCIA MONTEIRO
NO TRICINQUENTENÁRIO
DO SEU NASCIMENTO
Segundo Eduíno de Jesus (1956): «A ajuizar pela estética dos
seus versos, é possível que Garcia Monteiro preferisse, entre
todos os poetas, Gonçalves Crespo. Como os deste poeta, os
seus versos são sólidos, matematicamente construídos, e ao
mesmo tempo harmoniosos, naturais, límpidos. [...]. Se o seu
estilo literário e a sua ironia se parecem com o estilo literário e
a ironia de algum escritor, esse escritor é Eça de Queirós, um
prosador, cuja obra coincide, no tempo, com a de Garcia
Monteiro. Encontramos, nas breves histórias em verso de
Garcia Monteiro, uma galeria de personagens (políticos, curas,
comendadores, poetas, amanuenses, esposas românticas) e
situações (namoros serôdios, serões intelectuais, o Passeio
Público onde um casquilha, vindo de Paris, faz a sua crítica de
poda, etc.) de um ridículo verdadeiramente digno da ironia de
Eça. A sátira de Garcia Monteiro, apesar de escrita em verso –
e na mais rigorosa observância do cânone parnasiano, – está
mais próxima de Eça, pelo processo literário e pelo saboroso
inquérito a uma burguesia decadente e inútil, do que, por
exemplo de Bocage ou de Tolentino, um e outro mais
caricaturistas. Garcia Monteiro é mais realista e ao mesmo
tempo mais subtil.»35.
Pedro da Silveira (1977), em Antologia de poesia açoriana36,
considera Garcia Monteiro lírico, mas bem melhor satírico ou
humorista, um dos mais destacados parnasianos de língua portuguesa, incontestavelmente o primeiro na literatura açoriana.
Segundo Ruy Galvão de Carvalho (1979), «[...] os poemas
satíricos de Garcia Monteiro não ferem cruelmente. Embora
maliciosos, não são cínicos e sarcásticos. O poeta sabe ironizar
com graça, humoristicamente. Aqui está o seu enorme talento,
a originalidade da sua poesia, vazada em verso rigorosamente
parnasiano, e até com um certo cunho de modernidade.»37.
satírico, como o contraste, de que se servia para sublinhar a
comicidade de uma situação. Sentia-se à vontade na caricatura,
sem recurso ao grotesco excessivo, à maneira de Camilo ou
Junqueiro.»
[...]
«Quanto à forma, este poeta consegue uma fluência, uma
naturalidade, uma perfeição parnasiana, que o tornam artista
invulgar do verso.»
«Os seus alexandrinos não se sentiriam envergonhados ao lado
dos de Junqueiro e muitas composições não parecem inferiores
às do espirituoso João Penha. É de notar que João Penha e o
parnasianismo influíram bastante em Garcia Monteiro.»
«Como exemplo da sua mestria de crítico, apresentamos uma
sátira, em que nos sugere o ridículo duma aspiração ambiciosa,
elegante e impossível, opondo-lhe o contraste da realidade
vulgar, sem brilho e pouco atraente. É o soneto “Decepção”.».
«Decepção»39
E ficou com as mãos pousadas no teclado,
– Esquecida, a cismar num mundo de riquezas
– Supunha-se num baile e um conde apaixonado
Segredava-lhe: «Amo-a!... Eu mato-me marquesa».
– Ah! se fosse fidalga! Ao menos baronesa...
Que baile! Que esplendor na noite do noivado!...
– Estremeceu, nervosa, achou-se na pobreza,
E o piano soltou um grito arrepiado.
35 Jesus, E. (1956), Garcia Monteiro – Poeta da ironia alegre. Correio da
Horta, Horta, n.º 7268, 11.10 [transcrito de O Primeiro de Janeiro].
36 Silveira, P. (1977), Antologia de poesia açoriana do século XVIII a 1975.
Lisboa, Sá da Costa, 169-176.
37 Carvalho, R. G. (1979), Antologia poética dos Açores. Angra do
Para Tomás da Rosa (1990), em Evocação de um período áureo
da cultura no Faial, Alguns estudos38, Garcia Monteiro era
«dotado dum humorismo fino e delicado, umas vezes manifestamente jocoso, outras irónico, de uma ironia branda, não
descia ao grosseirismo inconveniente, nem ao sarcasmo
virulento. Dominava bem os processos tradicionais do género
Heroísmo, Secretaria Regional da Educação e Cultura, Colecção Gaivota
3, vol. I, 142-149.
38 Rosa, T. (1990), Evocação de um período áureo da cultura no Faial. Alguns
estudos, Horta, Câmara Municipal da Horta, 92-94.
39 Que também aparece com o título «Cair do alto» e algo diferente.
[163]
frialdade e da monotonia do processo de João Penha nem com
o cómico da desproporção exageradora de Tolentino.».
10.CH_MGMonteiro_LArruda
8/17/10
9:59 AM
Page 164
Porém a pouco e pouco atou-se-lhe o sentido
À mesma ideia – o luxo. Ia comprar cautelas...
E imaginou de novo o conde enternecido...
Um palácio, um coupé, magníficos cavalos...
Mas o marido entrou, d’óculos e chinelas,
E disse-lhe fanhoso: – «Anda aparar-me os calos».
[164]
No Suplemento Açoriano de Cultura do jornal Correio dos
Açores, Carlos Jorge Pereira (1997) escreveu sobre Garcia
Monteiro: «As características dominantes são: a ironia, narratividade, dramatismo, visualidade. Um estilo plástico, fluente,
de estruturas estrábicas e rítmicas variadas mas sempre apropriadas a cada tema e situação, um estilo recheado de linguagem coloquial, de diálogos, de moralidade e objectividade normalmente mais implícitas que explícitas, faz desdobrar e desenrolar perante os nossos olhos e ouvidos cenas em que fantasia
e realismo bruscamente se sucedem, se sobrepõem ou subtilmente se permeiam [...]. Convém não esquecer que também
uma visão e fundo ideológico comuns ajudam a fazer deste uma
espécie de Eça de Queirós em verso.»40.
No ensaio de Vamberto de Freitas, «Garcia Monteiro: das margens à centralidade canónica açoriana e luso-americana»41,
pode ser lido: «Desde a política e literatos locais a amanuenses
incompetentes e à vida social “aristocrática”, nada escapava ao
seu olhar sabedor e hipercrítico, deixando-nos Garcia Monteiro uma espécie de poesia documental de toda a época [...]».
Segundo Silva Peixoto (1963), «A obra de Garcia Monteiro
compreendia mais um volume, irremediavelmente perdido: a
sua colecção de poesias líricas relegadas para melhor ocasião
quando juntou as composições das Rimas e que, prometidas,
nunca chegaram a ser impressas. [...] Tudo leva a crer que se
perderam algumas notáveis composições. A mão que traçou
essa pequena jóia literária que é o formoso soneto “A avó”,
admirável de sentimento e beleza, é natural que tivesse deixado
outros poemas de real mérito»42.
nobreza, / para crescer o amor da humanidade», e em carta
enviada da América, com data de 12.10.1884, diz mostrar
«predilecção pela história boémia, por alguns poetas e pela
escola naturalista»44. Aqueles que com ele haviam dado vida ao
primeiro ano de O Açoriano não desconheciam esta realidade.
Em carta de Henrique das Neves a Garcia Monteiro, ao relatar
conversa com os amigos comuns sobre o fundador de O
Açoriano, aquele escreveu: «[...]. O assunto interessou, porque a
conversação generalizou-se e ia empenhando as pessoas que
entravam. Enfim, o Garcia Monteiro, como um documento
humano (no dizer dos escritores naturalistas) foi ali estudado
sobre os diversos aspectos e por uma boa hora.»45.
Aquela escola literária, conhecida por ser a radicalização do
Realismo, baseada na observação da realidade e na experiência,
mostrando que o indivíduo é determinado pelo ambiente e pela
hereditariedade, esboçou o que pode ser considerado como os
primeiros passos do pensamento teórico evolucionista de
Darwin. A perspectiva evolucionista deste inspirou os naturalistas que acreditavam ser a Selecção Natural impulsionadora da
transformação das espécies, que o indivíduo era mero produto
da hereditariedade e que o seu comportamento era fruto do
meio em que vivia e sobre o qual agia. Cabia ao escritor criar
na sua obra uma situação experimental e agir como um cientista no seu laboratório, descrevendo as reacções sem qualquer
interferência de ordem pessoal ou moral. Assim, predomina na
obra naturalista o instinto, o fisiológico e o natural, retratando
a agressividade, a violência, o erotismo como elementos que
compõem a personalidade humana.
40 Pereira, C. J. (1997), Nos cem anos de Rimas de ironia alegre: o livro de
Garcia Monteiro na Literatura Portuguesa e Luso-Americana.
Suplemento Açoriano de Cultura, n.º 46, Correio dos Açores, Ponta
Delgada, 9.1.
41 Freitas, V. (2007), op. cit..
42 Peixoto, J. S. (1963), op. cit..
43 Newton, A. (1882), op. cit.. Ver nota 23.
GARCIA MONTEIRO E O NATURALISMO
Manuel Garcia Monteiro, no poema «O Marquês de Pombal»43,
2.ª quadra, escreveu «Quando a ciência arrancava à Natureza /
Mais um fundo segredo, uma verdade, / E morria o prestígio da
vol. LIV ‘09
44 Cf. Monteiro, G. (1884), Cartas da América. O Açoriano, Horta, n.º 15,
16.11.
45 In O Açoriano, Horta, n.º 34, 28.2.1886.
10.CH_MGMonteiro_LArruda
8/17/10
9:59 AM
Page 165
SOBRE MANUEL
GARCIA MONTEIRO
NO TRICINQUENTENÁRIO
DO SEU NASCIMENTO
Na obra de Garcia Monteiro, encarada numa perspectiva naturalista, muito embora Naturalismo e Realismo acabem por se
confundir, está:
(b) enfatizado o aspecto materialista da existência humana como
no soneto:
(a) presente o seu espírito anticlerical, antimonárquico e antiburguês como em:
Quando o velho, à luz fraca do candeeiro,
Viu lá num canto a espreitá-lo a morte,
Uma chave extraiu do travesseiro
E deu-a ao Péga, um triste de má sorte.
[...]
Em Portugal o rei era um devasso;
A instrução e o amor, eram pecados!
E enquanto, à noite, foliava o Paço,
Os herejes sem dó eram queimados!
[...]
Os fidalgos viviam na preguiça,
Ignorantes, banais, cheios de vícios;
Abaixavam a fronte mui submissa
Aos padres, com receio de suplícios
Do inferno; e iam-lhes dando os rendimentos,
Para livrar a alma desse horror.
E metiam-se à noite nos conventos
Com as santas esposas do Senhor!
O bom do Péga trabalhara forte,
Velando-o; fora um óptimo enfermeiro;
Mas tocava-lhe mais que o juste importe...
Caramba! Ia fartar-se de dinheiro!
Passou-se o velho. O Péga, com risinhos,
Disse pra si: «Não tardam os sobrinhos...
Pois que venham, que façam e que aleguem...»
Abriu a burra, inquieto, a mão nervosa...
Vazia! Então na casa silenciosa
Deu um urro: «Diabos o carreguem»
(c) o narrador imperturbável como em:
«Um clube»48
[...]
O rei alimentava as irmandades:
Salvava-se de todas as maneiras...
Beijava comovido a mão aos frades
E ia também depois beijar as freiras.
Pôs-se então um a ler em tom cantado
O belo artigo «A Evolução na Horta».
Caldeira, que escutava embasbacado,
Deu como um salto e foi até à porta.
Era a devassidão e a impostura.
E essa religião, «nobre», «sublime»,
Negociava perdões, dava a tortura,
Permitia o deboche, o roubo, o crime!
Vira a mulher passar com o pequeno,
Um garotito, tipo inglês;
Fez logo para dentro um vivo aceno
E, vaidoso, apontando: «Olhem vocês!
Enquanto o vício, à solta, tripudiava
Nos sagrados bordéis, nas sacristias,
O povo lentamente agonizava
No auto da fé, nas fundas enxovias.
[...]
46 Newton, A. (1882), op. cit.. Ver nota 23.
47 Simplício, J. C. V. (1956), op. cit..
48 Silveira, P. (1977), op. cit..
[165]
«O Marquês de Pombal»46
«A herança»47
10.CH_MGMonteiro_LArruda
8/17/10
9:59 AM
Page 166
E o pequeno, hã? É lindo! E presunçoso!
Sai cá ao pai – saudável... Uma rocha!»
Silvestre, sempre amável e curioso,
Viera também ver, trazendo a brocha.
O admirador do falecido papá
Disse: «É mesmo uma jóia! Ora se sai!...»
Piscou o olho e, rindo-se à socapa:
«É muito parecido com o pai.»
(d) a descrição precisa e minuciosa como no poema:
«A uma inglesa»49
[166]
Oh! Lady, quanto és formosa!
Sai de ti, mesmo a distância
um perfume de elegância,
como um aroma de rosa...
Eu creio que uma princesa
será mais rica e orgulhosa
porém não é com certeza mais graciosa.
Mas também... que pena imensa!
Escuta... dás-me licença?
- Com esses olhos lindíssimos
uns olhos grandes, puríssimos,
sempre húmidos de ternura;
com essa cor branca e suave
com essa voz, que é duma ave...
com toda essa formosura,
toda essa fascinação,
com esse ar altivo e fino,
fazes-me lembrar um pavão
vaidoso dos seus matizes,
porém não te escandalizes
- És um pavão pequenino,
um pavãozinho famoso
e não sabes porque o és?
É porque eu vi-te surpreendido,
erguendo um pouco o vestido
medir com olhar choroso
o... o comprido dos pés.
(e) a personagem vista de fora para dentro como acontece em:
«O novo amanuense»50
Nunca emprego mais bem dado
Que esse que está exercendo
O gentil Marcos Machado;
Homem que ia envelhecendo
Sem ter sido aproveitado
Meteram-no de ajudante
Lá onde tudo se arruma.
Colecção interessante:
Um coça-se a todo o instante,
Outro boceja, outro fuma...
Outro até, mais engenhoso,
Apanha moscas; enfim,
Goza-se um certo repouso,
E um homem torna-se, assim,
Pacato, inda que manhoso.
Marcos ali resplandece;
Picantes histórias conta.
Tudo o festeja, o estremece;
É ele hoje quem fornece
Ora o fósforo, ora a ponta.
[...]
49 Dias, U. M. (2005), op. cit..
50 Silveira, P. (1977), op. cit..
vol. LIV ‘09
10.CH_MGMonteiro_LArruda
8/17/10
9:59 AM
Page 167
SOBRE MANUEL
GARCIA MONTEIRO
NO TRICINQUENTENÁRIO
DO SEU NASCIMENTO
(f) o uso, destacado, da linguagem falada resultando num diálogo vivo e verdadeiro como em:
Que as damas têm à mão para inventar alcunhas;
Mas sempre triste em verso... Um luto! Não conheço
Luto mais negro, passa ao colarinho e às unhas.
«Depois da Ceia»51
[...]
Já ia a noite um pouco adiantada,
Meditava o compadre sentencioso;
Até que o pai por fim disse gostoso,
Aproveitando o resto da pitada:
– Eu cá por mim... lembrou-me hoje ao almoço
Que a vida de doutor talvez lhe quadre...
Hein? Que diz? – concluiu com alvoroço.
- Isso não rende nada! Ora o compadre!
E voltando-se logo para o moço:
- Sabes que mais? Faz-te padre!
e (g) a narrativa marcada pela vigorosa análise social como no
poema «Um salão»52 de que se transcrevem apenas alguns
versos para relevar as figuras caricaturadas:
Ali vai o senhor Mateus do Nascimento
Depositário fiel, seguro, de tal brio,
Que deram-lhe a guardar um certo testamento
E ele fê-lo tão bem que ninguém mais o viu.
Ali vai o major Espadas, um valente
Homem cujo valor tem suscitado invejas.
Pronto sempre a bater-se. E ao chá? Façam-lhe frente.
Que bravura! É um herói no assalto às bandejas...
Entre as damas então há D. Endóxia Lemos,
Grande em doce de chula e em armações de altares;
A Florinda Perdiz, que é o que nós sabemos...
Uma voz! Até chega a erguer os calcanhares.
[...].
No conto «A surpresa»53, onde a figura de Ana Morcega é
descrita envolvida pelo meio ambiente, um cenário de miséria
insalubre, pode ser vista a face completa do Naturalismo.
Enfim, tia Ana como um documento humano.
«Um salão»
[...]
Ali vai, por exemplo, o senhor João Proença,
Que é barão e será visconde qualquer dia;
Homem que às vezes sente uma tristeza imensa
Por ter sido alfaiate – um erro que ele espia.
Ali vai o Liró de esplêndidas maneiras,
Cuja profundidade de ciência de minuete
Iguala vastidão das suas algibeiras,
Que levam de ordinário os restos do bufete.
Ali vai o Câncio Rosa, um vate de alto apreço,
«[...]. Fora passando por uma série de privações e ultimamente
vivia numa absoluta miséria. Pedia pouco, um bocadinho de
bolo contentava-a. Morava numa loja que o Filipe lhe ofereceu
para ela ter onde dormir enquanto vivesse. Era um buraco
escuro e frio, com as paredes em osso, revendo humidade, o
chão térreo aos altos e baixos. Respirava-se ali dentro um
cheiro a terra cavada de fresco e a pasto apodrecido. A casa
51 In O Grémio Literário, Horta, 1.12.1880.
52 Carvalho, R. G. (1979), op. cit.. [In Rimas de ironia alegre].
53 Op. cit.. Ver nota 18.
[167]
Tinham falado em muita trapalhada;
Quando o sábio compadre escrupuloso
Foi perguntando ao pai, meio curioso,
Qual a vida ao pequeno apropriada.
10.CH_MGMonteiro_LArruda
8/17/10
9:59 AM
Page 168
servia mesmo só para guardar comida de gado; era pequena,
de construção ligeira, coberta de telha vã, segura nas beiras por
umas pedras. Era situada longe das outras casas no extremo da
freguesia, perto duma canada que dá para a costa.»
«Aquele abrigo era uma perfeita enxovia, e não se compreendia
bem como é que uma criatura tão franzina e definhada como a
tia Ana pudesse ter resistido ali tantos anos. Todavia, em
atenção à pobreza geral do lugar, consideravam todos uma
grande esmola a que o Filipe fizera à velhinha, emprestando-lhe
aquele buraco, onde ela se recolhia ao cair da noite, como um
animal errante e triste que se mete na toca.»
«A entrada era muito baixa e estreita, única abertura por onde
passava a luz. A portinha, que guinchava ao abrir-se, tinha no
alto um buraco por onde a velha respirava o romper do dia
para erguer-se. Madrugava muito por hábito antigo de boa
[168]
vol. LIV ‘09
dona de casa que havia sido. O Filipe armara-lhe um leito, no
canto mais abrigado com uma porta velha desconjuntada, em
descanso sobre dois toros de laranjeira fincados na parede e
um caixão no extremo oposto. Arranjou depois um grande
saco cheio de palha e uma manta velha esburacada, cheirando
a ratos, que por milagre – observava ele – tinha descoberto no
sótão. Naquele canto, deitada sobre o saco e enrolada na
manta, é que a tia Ana Morcega costumava dormir.»
«Nas noites de Inverno muito frias ela tiritava, toda encolhida,
feita num nó. O uivar do vento fora, sacudindo raivoso o bardo
de canas duma terra próxima, gelava de susto. No alto da porta
o buraco luzia às vezes como se fosse o olho de um animal
sinistro e disforme que espreitasse.».
[…].
11.OS_Medalhas_ReisLeite
8/17/10
11:37 AM
Page 169
OUTROS SABERES
Uma colecção açoriana
de medalhas
INSTITUTO AÇORIANO DE CULTURA
11.OS_Medalhas_ReisLeite
8/17/10
11:37 AM
OUTROS SABERES
JORGE BARROS
Lagoa de Óbidos / Cabrito, Pico
Page 170
8/17/10
11:37 AM
Page 171
José Guilherme Reis Leite
UMA COLECÇÃO
AÇORIANA
DE MEDALHAS
Os autores apresentam um catálogo de
inventariação de um conjunto de medalhas
pertencentes à colecção de Francisco Ernesto
Oliveira Martins, unidas pela temática das
campanhas de libertação de Portugal do jugo
francês, das campanhas para a implantação do
liberalismo e do memorialismo liberal. São 12
exemplares que abrangem o século XIX e uma
do século XX, quase todas medalhas
comemorativas, duas de galardão e uma placa
de uma ordem militar.
Ora, a classificação das medalhas é matéria
controversa e por isso nem sempre é fácil
incluir um qualquer exemplar nesta ou naquela
categoria. Contudo, seguiremos os mestres
consagrados, tanto Manuel Bernardo Lopes
Fernandes (1), como Artur Lamas (2), numa
sequência cronológica.
[171]
11.OS_Medalhas_ReisLeite
11.OS_Medalhas_ReisLeite
8/17/10
11:37 AM
Page 172
ASSIM, A PRIMEIRA MEDALHA, ESTA
MANIFESTAMENTE COMEMORATIVA, CELEBRA
A REVOLTA DO PORTO, EM 18 DE JUNHO DE
1808, CONTRA AS TROPAS DE JUNOT, QUE
RESTAUROU O GOVERNO NACIONAL, ACLAMOU
O PRÍNCIPE REGENTE E FORMOU UMA JUNTA
DO SUPREMO GOVERNO. ERA O INÍCIO DA
GUERRA DA NAÇÃO PORTUGUESA CONTRA O
INVASOR FRANCÊS (3).
Este exemplar corresponde ao descrito no número 81 da obra
de Artur Lamas (4). Contudo, conhecem-se variantes com o
mesmo intuito mas adaptados a outras revoltas.
É uma medalha de estanho (havendo dúvidas se foram cunhadas algumas em prata) (5) feita em Inglaterra e distribuída por
todo o reino para alimentar o fervor patriótico da população e
incitá-la a pegar nas armas. O povo usava-a pendurada ao
pescoço, presa a uma fita pelo orifício que todas apresentam.
[172]
Exemplar da colecção de Francisco Ernesto Oliveira Martins.
Anverso
Reverso
DESCRIÇÃO DA MEDALHA
1808 – Comemorativa da Restauração do legítimo Governo,
no Porto. No arco superior da orla, em duas linhas, a legenda: 18
DE JUNHO DE 1808 || ESPECTACTA D(I)ES ADERAT. Em baixo,
mais a seguinte legenda, escrita em três linhas horizontais: DON
JOÃO VI || PRINCIPE REGENTE || RESTAURADO. O exergo,
que está limitado por dois traços é liso. Ao centro, dois medalhões
ovais, contornados de granitos, em posições oblíquas, tangentes em
baixo e separados em cima por uma coroa. No do lado esquerdo,
está gravado o escudo das armas portuguesas e no do lado direito o
busto do Príncipe Regente, voltado a três quartos para a esquerda,
em cabelo, fardado, com uma comenda no peito e uma banda a
tiracolo. Aos lados dos medalhões há dois ramos de louro, cujos pés
estão fixados em dois florõezinhos que ladeiam a primeira linha da
legenda de baixo.
Rv. – Na orla, a legenda, assim dividia: no arco superior: 18 DE
JUNHO DE 1808 || EXPECTATA DIES ADERAT, e no arco
inferior, sobre uma fita: DON JOÃO VI || PRINCIPE REGENTE
|| RESTAURADO. Ao centro, um escudo oval com as armas
portuguesas, encimado por uma coroa real e por um dragão
(timbre da Casa de Bragança), e colocado numa panóplia, na qual
figuram quatro estandartes, uma peça e respectiva carreta, tambor,
balas, barrica de pólvora, etc.
Em cima tem um orifício que lhe compete.
PB. Diâmetro: 41 milímetros.
Bibl.: Lopes Fernandes, n.º 76 (estampa); Lamas, n.º 81; J. Leite de
Vasconcelos: Sete Medalhas da Guerra Peninsular, n.º 2 (estampa).
A legenda EXPECTACTA DIES ADERAT, é extraída de Vergilio,
Eneida, v. 104.
vol. LIV ‘09
11.OS_Medalhas_ReisLeite
8/17/10
11:37 AM
Page 173
UMA COLECÇÃO
AÇORIANA
DE MEDALHAS
A SEGUNDA MEDALHA DA COLECÇÃO É UMA
DAS VÁRIAS QUE FORAM DEDICADAS A
SIR ARTHUR WELLESLEY (1769-1852), CONDE,
MARQUÊS, DUQUE E LORD WELLINGTON,
PRÍNCIPE DE WATERLOO E GALARDOADO COM
MUITOS OUTROS TÍTULOS.
Anverso
Reverso
O interesse deste exemplar está na circunstância de ser uma
variante de uma das medalhas dedicadas ao herói, descritas por
Lamas (6) e por Leite de Vanconcelos (7), que aqueles autores
parecem não ter conhecido.
DESCRIÇÃO DA MEDALHA
A diferença está no anverso, onde não figura a legenda
HISPANIAM ET LUSITANIAM RESTITUIT WELLINGTON,
que foi substituída simplesmente por FIELD MARSHAL
WELLINGTON.
Rv. – Na orla, entre duas circunferências de traço liso, a legenda,
que começa em baixo, do lado esquerdo do observador, e não tem
nenhuma interrupção: VIMIERA AUG.21.1808. TALAVERA JULY
28.1809. ALMEIDA MAY 5.1811. No campo, em oito linhas
horizontais, a inscrição: CUIDAD (sic)|| RODRIGO ||
JAN.19.1812 || BADAJOZ || APRIL 2.1812 || SALAMANCA ||
JULY 22.1812 &c. &c. &c.
Lamas descreve cinco medalhas ou variantes dedicadas a
Wellington e Leite de Vasconcelos três dessas. Aquela que
integra a colecção de Oliveira Martins é uma variante da
descrita sob o n.º 98 (com duas variantes assinaladas, n.º 99 e
n.º 100), por Lamas e sob o n.º 4 por Leite Vasconcelos.
Exemplar da colecção de Francisco Ernesto Oliveira Martins.
1812 – Dedicada a Lord Wellington. Na orla, a legenda que
começa a três quartos, da esquerda para a direita do observador e
não tem interrupção: FIELD MARSHAL WELLINGTON, laureado,
com farda e voltado à esquerda do observador.
No bordo tem serrilha de traço oblíquo.
AE. Diâmetro: 27 milímetros.
[173]
Foi um brilhante cabo de guerra e talvez o mais célebre adversário de Napoleão Bonaparte, a quem conseguiu vencer. Foi
nomeado comandante das forças ditas auxiliares inglesas que no
ano de 1808 e sucessivamente em 1809 e 1810 vieram a Portugal
e Espanha combater os franceses e que os derrotaram. Ficou por
isso conhecido pelo Libertador de Portugal e de Espanha.
11.OS_Medalhas_ReisLeite
8/17/10
11:37 AM
Page 174
A TERCEIRA MEDALHA É UM EXEMPLAR
DAQUELAS QUE A CIDADE DE CADIZ, ONDE SE
REALIZOU O CASAMENTO, MANDOU CUNHAR
PARA COMEMORAR O ENLACE MATRIMONIAL DE
FERNANDO VII DE ESPANHA COM A SOBRINHA,
A PRINCESA MARIA ISABEL, FILHA DE D. JOÃO VI
E DE D. CARLOTA JOAQUINA, SUA IRMÃ.
Este casamento, que se inscrevia na política externa portuguesa
(8) e na qual Carlota Joaquina jogava tudo por tudo na aproximação das coroas ibéricas e na sua ambição interventiva na
política espanhola, realizava-se concomitantemente com outro
da irmã de Maria Isabel, a princesa Maria Francisca, com um irmão do rei Fernando VII e de Carlota Joaquina, o infante Carlos
Maria Isidro.
Anverso
Reverso
DESCRIÇÃO DA MEDALHA
[174]
Assim, as duas princesas irmãs viajaram do Rio de Janeiro na nau
S. Sebastião e passados 62 dias aportaram, a 4 de Setembro de
1816, a Cadiz, no Sul de Espanha. O arcebispo de Laudicêa
celebrou os casamentos por procuração ainda a bordo da nau
seguindo-se o desembarque com grande pompa e um Te Duem
na catedral. Foram conduzidas, a agora rainha de Espanha e a
irmã, num coche puxado por populares, numa manifestação de
alegria. Só a 28 de Setembro entraram em Madrid, também numa carruagem puxada por gente do povo, como era hábito na
época. Friso esta circunstância porque ela se repetirá em Portugal durante a vilafrancada, como mais adiante se especifica.
A infeliz rainha veio a morrer dois anos depois, a 26 de Dezembro de 1816, gorando os planos de sua mãe, apostada numa
união ibérica.
Diga-se a título de curiosidade, que na continuação destas
alianças quase incestuosas, a princesa D. Maria Francisca viria a
morrer em Setembro de 1834, em Portsmouth e o seu tio
viúvo casaria, dois anos passados, com outra sobrinha e neste
caso cunhada, a filha primogénita de D. João VI, Maria Teresa,
que por sua vez era já viúva de um sobrinho, o infante D. Pedro
Carlos António, filho este de seu tio paterno, o infante D.
Gabriel António de Bourbon (9).
Voltando à medalha comemorativa em causa, na colecção de
Francisco Ernesto Oliveira Martins está representada por um
exemplar em ouro (prata dourada), outro em prata e outro em
bronze.
Exemplares da colecção de Francisco Ernesto Oliveira Martins.
vol. LIV ‘09
1816 – Comemorativa do Casamento da Infanta D. Maria
Isabel com Fernando VII. Na orla, a legenda, cujas extremidades
estão separadas, em baixo, por uma estrelinha: REG.
FERDINANDVS ET ELISABET AVGVSTI CATHOLICI. Bustos
conjugados dos dois Soberanos, voltados à direita. O busto do Rei,
que figura no primeiro plano, tem farda com gola alta, coroa de
louro que se prende junto da nuca com laço, manto e insígnia da
Ordem do Tosão de Ouro. O busto da Rainha tem um vestido
decotado.
Rv. – No arco superior da orla, a legenda: SVPER MVROS TVOS
CONSTITVI CVSTODES.ISAI.62. No exergo, que está separado
por friso, em quatro linhas horizontais, a legenda: HISPAN.ET
LVSITAN.FOEDVS || PERPET.AVGVSTO COM || NVBIO
GADIBVS || MDCCCXVI. Emblema das armas da cidade de
Cadiz: Hercules, apenas coberto com um pano, de pé entre duas
colunas, e a segurar, pelas cabeças, dois leões rompantes. Nas
colunas há duas fitas enroladas em S, nas quais se lêem as seguintes
legendas: NUN PLUS == ULTRA.
AU. AR. BR. Diâmetro: 34 milímetros.
Bibl.: Lopes Fernandes, n.º 89; Lamas, n.º 103.
11.OS_Medalhas_ReisLeite
8/17/10
11:37 AM
Page 175
UMA COLECÇÃO
AÇORIANA
DE MEDALHAS
A QUARTA MEDALHA É UM EXEMPLAR DE UMA
PLACA DE COMENDADOR DA ORDEM MILITAR
DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO DE VILA
VIÇOSA OU ORDEM DA CONCEIÇÃO, COMO É
CONHECIDA NA GÍRIA.
Por alvará (11) de 10 de Setembro de 1819 aprovaram-se os
estatutos, estabelecendo-se que a ordem teria 12 Grã-Cruzes,
40 Comendadores e 100 Cavaleiros.
A insígnia, uma só, variava em dimensões conforme o grau, sendo usada em fita de chamalote azul orlada de branco, as grã-cruzes numa fita larga traçada do ombro direito para o esquerdo,
os comendadores de uma fita ao pescoço e os cavaleiros ao
peito, do lado esquerdo. Foi desenhada pelo artista francês, Jean
Baptista Debret (1768-1848), discípulo de David, o qual fez
parte da missão artística que em 1815 foi ao Rio de Janeiro e
permaneceu nessa cidade até 1831.
A ordem era simplesmente honorífica e dispensava habilitação,
conforme a regra geral das ordens militares honoríficas. Durou
até ao fim do regime monárquico e tornou-se na mais comum
das condecorações da Monarquia Constitucional, para galardoar
serviços à Pátria e ao Rei.
Exemplar da colecção de Francisco Ernesto Oliveira Martins.
DESCRIÇÃO DA INSÍGNIA
1819 – Estrela grande de nove pontas. Esmaltadas de branco
e arraiadas de ouro, com nove estrelas pequenas do mesmo esmalte, colocadas sobre os raios de ouro entre cada uma das suas
pontas, e coroada com a coroa real sobre a ponta superior. No
centro, em campo de ouro fosco a saudação angélica (Ave Maria)
em cifra de ouro polido e em circunferência. Sobre faixa esmaltada
de azul claro tem escrito: PADROEIRA DO REINO.
[175]
Neste caso trata-se não de uma medalha comemorativa mas sim
de uma insígnia. A Ordem Militar de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa (10) foi instituída por D. João VI em Decreto
de 6 de Fevereiro de 1818 para celebrar o acto da sua aclamação como rei, no Rio de Janeiro, em reconhecimento da protecção divina a Portugal e como testemunho da devoção régia a
Nossa Senhora da Conceição, invocada por Padroeira do Reino
desde D. João IV. A cabeça da ordem era a Capela Real de Vila
Viçosa, consagrada à Virgem da Conceição e tinha três graus, a
Grã-Cruz, o Comendador e os Cavaleiros.
11.OS_Medalhas_ReisLeite
8/17/10
11:37 AM
Page 176
A QUINTA MEDALHA PODE-SE AFIRMAR QUE É
O EXPOENTE MÁXIMO DESTA COLECÇÃO.
TRATA-SE DA MEDALHA COMEMORATIVA DE
RESTAURAÇÃO DO REGIME ABSOLUTO, LEVADA
A CABO PELO GOLPE DE ESTADO CONHECIDO
COMO VILAFRANCADA (12) POR SE TER
DESENVOLVIDO NESSA LOCALIDADE.
[176]
O golpe de vilafrancada, na sequência de uma revolta em Trás-os-Montes, chefiado pelo Marquês de Chaves, desenvolveu-se
entre 27 de Maio e 3 de Junho de 1823, pelo Exército e pelo
Infante D. Miguel, pondo fim à primeira experiência liberal
portuguesa. Joel Serrão (13) interpreta-o como uma manobra
política que passou por várias fases e acabou por ser controlada
pelo rei D. João VI e seus apaniguados, que manobraram no
sentido de uma plataforma de entendimento entre as partes
envolvidas, com um projecto de carta constitucional e formação de um governo com ministros absolutistas e outros liberais
moderados, entre eles, Manuel Inácio Martins Pamplona,
Palmela e Mouzinho da Silveira.
A medalha comemorativa destes acontecimentos é considerada uma das mais notáveis e curiosas das referentes a Portugal,
tanto como documento histórico como obra de arte (14).
Lamas, no seu catálogo, apresenta um exemplar de reprodução
galvanoplática e um outro em bronze fundido, mas fala da
existência de uma raridade em prata, com um espigão para se
adaptar uma argola, que começou por considerar peça única e
depois admitiu que se conheciam poucos exemplares fundidos
com grande imperfeição. É uma destas raridades, um ensaio
fundido em prata, que pertence ao coleccionador açoriano.
Transcreve-se, a título de curiosidade, o que diz Lamas acerca
da simbologia do reverso desta medalha (15):
“No reverso desta medalha reproduz-se uma scena passada
com Jesus Cristo, narrada do cap. IV, vers. 36-39, do Evangelho
de S. Marcos, citado, e em parte transcrito, na legenda da orla.
Diz o referido Evangelista que um dia Jesus Cristo foi para a
beira-mar contar aos seus discípulos a parábola do semeador e
que, tendo-se juntado muita genta para o ouvir, teve de se
retirar para dentro de uma barca, de onde continuou, próximo
da terra, a narrativa. Terminada a parábola, sendo já tarde, ordevol. LIV ‘09
nou que a barca passasse para a margem oposta, deitando-se a
dormir, com a cabeça apoiada num travesseiro. A meio caminho, porém, levantou-se grande tempestade; mas Cristo, despertado pelos discípulos, logo a fez cessar.
Inspirando-se neste trecho bíblico, o autor da medalha comparou o estado com uma nau, prestes a naufragar, em consequência da revolução de 1820, o que se evitou devido à prudente
intervenção de D. João VI”.
Exemplar da colecção de Francisco Ernesto Oliveira Martins.
Anverso
Reverso
DESCRIÇÃO DA MEDALHA
1823 – Comemorativa da Restauração do Regime Absoluto
(Vilafrancada). No arco superior da orla, a legenda: DATAE SUNT
MULIERI ALAE DUAE AQUILAE MAGNAE, UT VOLARET IN
DESERTUM IN LOCUM SUUM. Ap. 12. (Apocalipse, XII, 14). Em
cima, sobre um fundo completamente coberto de folhas e ramos de
carvalho, paira uma águia grande, de asas abertas, com uma palma
atravessada no bico, no qual está também suspenso um medalhão
oval ornamentado com duas grinaldas de flores, que contém o busto
de D. Carlota Joaquina, a três quartos para a esquerda, laureado e
rodeado da legenda: JUDITH LUSITANA MULIER FORTIS.
11.OS_Medalhas_ReisLeite
8/17/10
11:37 AM
Page 177
UMA COLECÇÃO
AÇORIANA
DE MEDALHAS
Na parte de baixo, há um muro, curvo em cima, que parece prolongar-se para os lados em balaustrada e que é ladeado por dois pilares em
que assentam, sobre bolas, duas pirâmides. Nesse muro, que é
encimado pelas Armas Reais da época (as quinas sobre a esfera),
ornamentadas com uma palma e um ramo de carvalho, lê-se a seguinte
legenda, em quinze linhas horizontais: A SENHORA ||D. CARLOTA
JOAQUINA || POR ESTA GRANDE, || E IMMORT RAINHA,
HONRA E || GLORIA DO SEU SEXO E DO ALTO || LOGAR, QUE
OCUPA || INFLAMMADOS JUSTAMENTE || O SR. INFANTE D.
MIGUEL SEU FILHO || E O HONRADO MARQUEZ MANOEL DA
|| SILVEIRA PINTO DA FONSECA TEIXEIRA, E || OUTROS, SEOS
PARENTES E AMIGOS FIRMES || NA LEALDADE À PATRIA, AO
THRONO, E A DE || OS, E NA VONTADE DEL REI O SR. D. JOÃO
VI || RESTAURÁRÃO A MONARCHIA EM || 1823 CONTRA A
REVOL. DE 1820.
Junto do pilar do lado esquerdo, está o Tempo, personificado num
velho de barbas, sentado no chão, descalço e com leve vestuário, o
qual olha e aponta com a mão esquerda para a 2.ª linha da legenda
gravada no muro, e tem a mão direita estendida para trás, para
mergulhar uma pena num tinteiro; sobre os joelhos tem um livro
aberto, em cujas páginas se lê: Reclu || sa || no || RAMA || LHÃO
|| Venceo || poisque.
No outro pilar está encostado o Arcanjo S. Miguel, de pé, a pisar, com
o pé direito um papel que tem inscrito: 24 || D’AGOS || TO || DE
|| 1820, e a desenrolar um pano que contêm a seguinte legenda, em
quatro linhas: MICHAEL, ET ANGELI EJUS || PRAELIABANTUR
CUM DRACONE || ET PROJECTUS EST DRACO (1) ET ||
ANGELI ESUS CUM ILLO. Ap. 12 (Apocalipse, XII, 7 e 9) (2).
PATRIAM, IN PARENTES AMORE, PIETATE, FIDE OMNIUM
SPECULUM, EXEMPLAR. No outro medalhão está gravado o busto do
Marquês de Chaves, com farda e voltado à esquerda, e na fita que o
suspende lê-se o seguinte: M.S.P.F.T. (iniciais do nome do Marquês:
Manuel da Silveira Pinto da Fonseca Teixeira) || MARQ. DE CHAVES
|| AMICUS FIDELIS PROTECTIO FORTIS. Todas estas legendas são
cavadas excepto a da orla, que é saliente.
Rv. – Na orla , a legenda que começa em cima, do lado esquerdo e é
precedida de um florãozinho: TRANSEAMUS CONTRA ET ||
ASSUMUNT EUM ITA UT ERAT IN NAVI || ET FACTA EST
PROCELLA MAGNA || ET FLUCTUS MITTEBAT IN NAVIM ITA UT
IMPLERETUR || ET ERAT IPSE IN PUPPI SUPER CERVICAL
DORMIENS ET EXCITANT EUM || ET EXURGENS || DIXIT MARI
TACE || ET FACTA EST TRANQUILLITAS MAGNA. marc. 4 (3).
No exergo há uma espécie de muralha, ornamentada, na qual está
inscrita, ao centro, a seguinte legenda, em quatro linhas horizontais: O
SNR. REI D. JOÃO VI || PELLA SUA PRUDENCIA || VERD.RO
IMITADOR DE JESU C. || E MODELO DOS LEGISLADORES.
Sobre o mar, extremamente revoltoso, vagueia, à mercê das ondas,
uma nau, cujos mastros e velas estão desmantelados e é tripulada
pelo Rei e por sete ministros, que estão todos fardados. Um dos
ministros, que estava ao leme, abandonou este e pôs as mãos ao
peito, em atitude de terror: quatro procuram, atarefadamente,
reparar as avarias nas cordas e nas velas e os outros dois acordam
apressadamente D. João VI, que está deitado na popa, com a cabeça
apoiada num travesseiro. Na proa do barco está suspensa uma
âncora e num dos mastros está fixada uma flâmula, muito comprida,
na qual se lê a seguinte legenda: IESUM IMITATI LETHIFERA
TEMPESTATE PATRIAM LIBERTABINUS COORTA NONO K.
SEPT. 1820.
As legendas da orla e do exergo são salientes. A da flâmula é incusa.
O Arcanjo tem junto de si a competente lança, onde se suspende
uma balança.
Cada uma das pirâmides está ornamentada, do lado que fica mais
próximo da orla, com dois estandartes, e tem na frente um medalhão
oval, envolvido por uma coroa de louro, assente sobre uma palma e
suspenso na terceira espira de uma fita, que se enrola na pirâmide de
cima para baixo, até certa altura, e que depois fica caída para o lado. O
medalhão do lado esquerdo tem gravado o busto de D. Miguel, fardado
voltado a três quartos para a direita, e por baixo dele lê-se a seguinte
legenda: REGIBUS || NATUS || D. JOANNE VI || ET D. CARLOTA
JOAQUINA || VII CALENDAS NOVEMB 180(2). Na fita que
suspende este medalhão, lê-se: INFANS || D. MICHAEL. || IN
AR. Diâmetro: 0,1135 m.
Bibl.: Lamas: Uma Medalha Portuguesa inédita.
(1) Em sentido figurado, no caso presente, o Dragão derrotado era a
revolução de 1820, como se depreende do facto de S. Miguel estar
pisando o papel que tem escrito: 24 de Agosto de 1820.
(2) Tanto nesta como noutras legendas extraídas da Bíblia o gravador
omitiu algumas palavras.
(3) Esta legenda é extraída do Evangelho de S. Marcos, IV, 35-39. O
gravador omitiu muitas palavras mas teve o cuidado de colocar traços
nos pontos cortados.
[177]
Do lado esquerdo há uma fita, que também se prende no bico da
águia e que tem inscrito: REGIAE STIRPIS HONOR ET GLORIA
D.C.J.R.F. (D. Carlota Joaquina, Rainha Fidelíssima).
11.OS_Medalhas_ReisLeite
8/17/10
11:37 AM
Page 178
A SEXTA MEDALHA É TAMBÉM RELACIONADA
COM O GOLPE DE ESTADO DE VILAFRANCADA,
MAS CLASSIFICADA DE GALARDÃO E
RECOMPENSA, SE BEM QUE ALGUMAS VEZES
APAREÇA COMO CONDECORATIVA (16).
Com a vitória do golpe de Estado, a 5 de Junho, o rei regressou
a Lisboa acompanhado de um cortejo triunfal e já na capital um
grupo de súbditos desatrelou os cavalos da carruagem real para
a puxarem eles próprios, que, como sabemos, não era um acto
inédito, pois acontecia como manifestação de júbilo em
cerimónias, como por exemplo no casamento da princesa D.
Maria Isabel, filha de D. João VI, com Fernando VII. Contudo,
neste caso, foi ridicularizado pelos liberais derrotados e passou
à historia como uma demonstração de fanatismo.
Seja como for, os nomes desses “heróis”, participantes do cortejo
triunfal, foram publicados na Gazeta de Lisboa, o jornal oficial de
então, para que ficasse memória do seu patriotismo (17).
[178]
O rei, por sua vez, para dar testemunho a todos os que o acompanharam e ao seu filho, o infante D. Miguel, por Decreto de 24
de Junho de 1823, concedeu uma medalha que foi cunhada na
Casa da Moeda (18), conhecendo-se contudo variantes com
outros cunhos (19), de ouro para os oficiais, de prata, para os
oficiais inferiores, cadetes e soldados, com a legenda FIDELIDADE AO REI E A PATRIA, que se usava no peito ao lado direito,
pendente em fita azul com duas listas laterais escarlates. Logo a
gíria trocista dos derrotados e a ironia popular passou a chamá-la a Medalha da Poeira, alegando que os destemidos militares,
o único incómodo que haviam sofrido era a poeira da jornada.
Contudo, essa medalha foi muito cobiçada e acabou por ser
profusamente distribuída, brilhando no peito de muitos liberais
moderados que haviam, eles também, acompanhado a
Majestade nesses dias de 1823.
Foi-se, aliás, ampliando o âmbito das pessoas a quem a medalha
foi atribuída. Por Decreto da mesma data, 24 de Junho de 1823,
estendeu-se àqueles militares que haviam feito guarda à Rainha
D. Carlota Joaquina e à infanta D. Maria Francisca. De seguida,
por Decreto de 28 de Junho, concedeu-se a medalha aos
oficiais e mais indivíduos do corpo da divisão do Conde de
vol. LIV ‘09
11.OS_Medalhas_ReisLeite
8/17/10
11:37 AM
Page 179
UMA COLECÇÃO
AÇORIANA
DE MEDALHAS
A 29 de Setembro de 1823, novo Decreto compensava todos
aqueles que haviam partido dos lugares onde se achavam para se
juntarem ao rei e ao infante, alargando assim o número de galardoados. Para que houvesse contudo distinção entre cada grupo,
determinou-se que os oficiais que a 27 de Maio se uniram a D.
Miguel ou que partiram dos lugares onde se achavam, para o
mesmo fim, usavam o distintivo na sua versão primitiva. Os que
se uniram ao infante, de 28 a 30 de Maio, usavam vivo escarlate
no meio da lista branca e as listas verdes dos lados. Aqueles que
desde 30 de Maio até 5 de Junho se uniram ao rei deviam ter no
meio da fita verde e branca, um vivo amarelo e por fim aqueles
outros que nas províncias, não sabendo da retirada de D. João
VI da capital, mesmo assim haviam aclamado os seus direitos,
passariam também a usar a medalha, mas com um vivo azul ferrete no meio da lista branca e as verdes dos lados.
Ficavam assim diferenciados os vários grupos que haviam
contribuído para o golpe vitorioso de vilafrancada (20).
Anverso
Reverso
DESCRIÇÃO DA MEDALHA
1823 – Medalha intitulada de Fidelidade ao Rei, vulgo,
Medalha da Poeira. Na orla uma circunferência decorativa e no
campo o busto de D. João VI coroado de louros com manto,
virado à direita do observador entre uma coroa aberta de dois
ramos, uma palma e um ramo de louro, unidos na base.
O exemplar desta colecção é uma miniatura de prata correspondente ao modelo regular 1, mas pendente de uma fita azul
com listas laterais brancas, o que não corresponde a nenhum
dos figurinos dos decretos conhecidos.
Rv. – Na orla a mesma circunferência e no campo a legenda em
quatro linhas: FIDELIDADE || AO REI || E A PATRIA || 1823.
Exemplar da colecção de Francisco Ernesto Oliveira Martins.
AR. miniatura.
Na parte superior tem um espigão decorado ligado a uma argola
que a prende à fita.
Bibl.: Lopes Fernandes n.º 93 e Estrela p. 204 e seg..
[179]
Amarante, que tinham iniciado o grito de fidelidade ao rei, e
ainda a todos os outros que a eles se juntaram. A diferença
dessa medalha, agora concedida, que também havia de ouro e
de prata, é que no reverso tinha a legenda HEROICA
FIDELIDADE TRANSMONTANA. A fita da qual pendia era
neste caso branca, com duas listas verdes.
11.OS_Medalhas_ReisLeite
8/17/10
11:38 AM
Page 180
A SÉTIMA MEDALHA É DEDICADA À RAINHA
D. MARIA II E LAMAS (21) INCLUIU-A NAS
MEDALHAS COMEMORATIVAS. FOI MANDADA
CUNHAR EM PARIS, QUANDO A RAINHA VIVIA
NESSA CIDADE, EM 1833, MAS DESCONHECE-SE
QUEM A MANDOU FAZER. FOI, CONTUDO,
GRAVADA POR JEAN JACQUES BARRE.
Os exemplares eram de estanho, cobre, prata e ouro, sendo
raros os últimos dois e muito abundantes os primeiros (22).
Eram possivelmente medalhas que se destinavam à propaganda
da causa da Rainha e para serem usadas pelos seus apoiantes ao
peito ou ao pescoço, penduradas numa fita, sendo por isso
algumas delas, como esta da colecção, furadas e acrescidas de
uma argola.
Anverso
Reverso
DESCRIÇÃO DA MEDALHA
[180]
Contudo, não chegaram a cumprir a sua missão pois acabaram
por vir para Portugal praticamente ao mesmo tempo que D.
Maria II desembarcou em Lisboa, a 22 de Setembro de 1833,
quando a guerra civil estava decidida a favor dos liberais.
O mais interessante do exemplar desta colecção é ser uma
variante que não consta das descrições nem de Lopes Fernandes nem de Lamas, pois nas descritas por aqueles autores (n.os
103 e 125 respectivamente) as legendas são diferentes. No anverso está inscrito D. MARIA II RAINHA DE PORTUGAL e no
reverso GLORIA SALUS || PATRIA LIBERTAS.
Exemplar da colecção de Francisco Ernesto Oliveira Martins.
vol. LIV ‘09
1833 – Medalha dedicada à Rainha D. Maria II. Na orla a legenda, que começa do lado esquerdo e é interrompida em cima e
no exergo: RAINHA PATRIA || LIBERDADE. No campo cabeça da
Rainha D. Maria II, com uma trança do cabelo enrolada no alto e
com três espessos caracóis caídos sobre as orelhas. No exergo, por
baixo do corte do busto, numa linha curva, a assinatura: BARRE.
Rv. – A legenda que começa do lado esquerdo, em baixo e é
interrompida em cima e no exergo: AO VALOR || E LEALDADE.
No campo, as Armas Reais Portuguesas ornamentadas.
AR. Diâmetro: 36 milímetros.
11.OS_Medalhas_ReisLeite
8/17/10
11:38 AM
Page 181
UMA COLECÇÃO
AÇORIANA
DE MEDALHAS
A OITAVA MEDALHA É DE GALARDÃO OU
RECOMPENSA POR SERVIÇOS HUMANITÁRIOS,
CRIADA POR DECRETO DE 3 DE NOVEMBRO DE
1852, PUBLICADO NO DIÁRIO DO GOVERNO DE
29 DESSE MÊS, PELA RAINHA D. MARIA II PARA
PREMIAR CIDADÃOS NACIONAIS E
ESTRANGEIROS QUE POR OCASIÃO DE
NAUFRÁGIOS TIVESSEM SALVADO VIDAS, ASSIM
COMO OUTROS ACTOS DE FILANTROPIA (23).
Cunharam-se medalhas de ouro e de prata, gravadas por
Gerard. Os galardoados usavam-na pendente de uma fita bipartida azul e branca, no lado direito do peito, quando fosse de
prata e pendente ao pescoço sendo de ouro.
Reverso
DESCRIÇÃO DA MEDALHA
1854 – Medalha de Filantropia. Na orla, a legenda que começa
do lado esquerdo: D. MARIA II RAINHA DE PORTUGAL, é interrompida no exergo. No campo, busto da Rainha de lado virada à
esquerda do observador, com teara e penteado apanhado na nuca
em trança grossa e uma fita.
O exemplar desta colecção é de prata e corresponde precisamente ao 2.º cunho.
Rv. – Na orla a legenda PHILANTROPIA • GENEROSIDADE e no
exergo, em duas linhas INSTITUIDA POR S.M.F. || A RAINHA A
SENHORA D. MARIA II. No campo uma coroa de louros circular
e no meio a legenda em duas linhas AO || MÉRITO.
Exemplar da colecção de Francisco Ernesto Oliveira Martins.
AR.
Bibl.: Lopes Fernandes n.º 115.
[181]
Falecida a rainha, a 15 de Novembro de 1853, o novo rei, D.
Pedro V, conservou a medalha de filantropia que sua mãe havia
criado, mas mandou abrir novos cunhos em que se alterava o
reverso passando a dizer-se não AO MERITO A RAINHA DE
PORTUGAL, mas AO MERITO INSTITUIDA POR S.M.F. A
RAINHA A SRª D. MARIA II. Neste segundo cunho não aparece
o nome do gravador, GERARD FT.
Anverso
11.OS_Medalhas_ReisLeite
8/17/10
11:38 AM
Page 182
A NONA MEDALHA É A MUITO FALADA, MAS
POUCO CONHECIDA MEDALHA DE GALARDÃO
OU RECOMPENSA DOS SERVIÇOS PRESTADOS À
CAUSA DA LIBERDADE DURANTE OS ANOS DA
IMPLANTAÇÃO DO REGIME LIBERAL OU DA
MONARQUIA CONSTITUCIONAL (1826-1834). É
TAMBÉM CONHECIDA POR MEDALHA DAS
CAMPANHAS DA LIBERDADE E COMO MEDALHA
DE D. PEDRO E D. MARIA, SENDO ESTA, ALIÁS,
A DENOMINAÇÃO OFICIAL.
Foi instituída por D. Pedro V para galardoar aqueles que fizeram serviços militares e civis em defesa do Trono Legítimo
desde 31 de Julho de 1826 até 27 de Maio de 1834, ou seja, do
juramento da Carta Constitucional à convenção de Évora
Monte. O Decreto (24) de 16 de Outubro de 1861, que a
instituiu, foi publicado no Diário de Lisboa, no dia 19 e na
Ordem do Exército n.º 24.
[182]
A descrição da medalha no artigo 1.º do Decreto é a seguinte:
“Esta distinção consistirá em uma medalha de cobre de três
centímetros de diâmetro, a qual terá de um lado, e em torno,
a legenda – D PEDRO IV – D MARIA II – no meio as efígies
destes soberanos e na parte inferior os milésimos – 1826 –
vol. LIV ‘09
1834 – sobreposto o primeiro ao segundo. No verso, em torno, a legenda – CAMPANHAS DA LIBERDADE – ou a legenda
– SERVIÇOS CIVIS – e no centro um dos algarismos 1 – 2 – 3
– 4 – 5 – 6 – 7 – 8 ou 9”.
A medalha foi gravada na Casa da Moeda pelo célebre José
Osvaldo Nogueira Molarinho (1828-1907) o melhor gravador
português (25).
Usava-se este galardão no lado esquerdo do peito pendente de
uma fita azul ferrete, com um filete branco longitudinal no
meio, para a medalha militar e com orlas brancas para a
medalha civil. O algarismo do reverso designava os anos que o
agraciado tinha servido, o ano inicial e o final contavam como
completos. Aqueles cidadãos que tivessem serviços militares e
civis atribuía-se-lhes a medalha militar ou a civil conforme o
maior número de anos num ou noutro serviço. Estabelecia-se
ainda uma comissão, composta por sete membros, quatro
militares e três civis, escolhidos entre funcionários que tinham
direito à medalha, para classificar as pessoas segundo os seus
serviços e os nomes dos distinguidos foram publicados na
Ordem do Exército para os serviços militares e no Diário de
Lisboa, para os civis. Um Decreto de 20 de Novembro de 1861
nomeou a comissão (26) e deu-lhe as instruções que devia
seguir.
11.OS_Medalhas_ReisLeite
8/17/10
11:38 AM
Page 183
UMA COLECÇÃO
AÇORIANA
DE MEDALHAS
Como acontece sempre nestas coisas, a distribuição das medalhas, a classificação dos serviços e a contagem dos anos não
foram pacíficas e levantaram uma tempestade de protestos e
críticas ao ponto de na inauguração da estátua de D. Pedro IV,
no Rossio, a 29 de Abril de 1870, muitos militares condecorados com esta medalha, que tinham uma tribuna especial
para assistirem, não compareceram por estarem escandalizados com as irregularidades havidas na sua concessão (27).
Curiosamente conhecem-se exemplares de medalhas douradas
e prateadas, por exemplo na colecção do Museu de Angra do
Heroísmo, outras com uma travessa de metal na fita, com o
algarismo correspondente à medalha e ainda miniaturas, tudo
coisas que a legislação não contemplava.
Os dois exemplares da colecção de Oliveira Martins são da
medalha militar, uma n.º 3, prateada e uma miniatura de uma
n.º 9.
Exemplares da colecção de Francisco Ernesto Oliveira Martins.
Medalha militar n.º 3
e
Miniatura da medalha militar n.º 9.
[183]
Para dar um exemplo caseiro, na lista da atribuição da medalha
militar de 1862, Teotónio de Ornelas, Visconde de Bruges (28)
recebeu a medalha n.º 7, certamente por não se lhe terem
contado como anos de serviço aqueles de 1832 e 1833 em que
ficara na retaguarda, nos Açores. Só no ano seguinte se
emendou a contagem dos serviços e lhe foi atribuída a medalha
n.º 9 (29). Devem ter sido situações como esta e outras parecidas que feriram as vaidades.
Anverso
Reverso
DESCRIÇÃO DA MEDALHA
1861 – Medalha D. Pedro e D. Maria. Na orla a legenda, que
começa do lado esquerdo, a três quartos, e é interrompida em
cima: D. PEDRO IV D. MARIA II. No campo os bustos configurados dos dois soberanos, de perfil e voltados à esquerda do observador. A rainha, de tiara e com túnica e o rei coroados de louros e
de pescoço nu.
Rv. – A legenda que começa do lado esquerdo, sem interrupção:
CAMPANHAS DA LIBERDADE e no exergo, sobrepostas as duas
datas: 1826 || 1834. No campo, num círculo de traço contínuo o
algarismo correspondente aos anos de serviço militar: nestes casos
3 e 9.
AE. Diâmetro: 30 milímetros.
Bibl.: Relação Geral das Concedorações…, s.d..
11.OS_Medalhas_ReisLeite
8/17/10
11:38 AM
Page 184
A DÉCIMA MEDALHA É UM EXEMPLAR EM
COBRE DA MEDALHA COMEMORATIVA DA
INAUGURAÇÃO, A 29 DE ABRIL DE 1870, DO
MONUMENTO A D. PEDRO IV, ERIGIDO EM
LISBOA. FOI GRAVADA POR MOLARINHO,
CONHECENDO-SE EXEMPLARES EM PRATA,
COBRE E ESTANHO.
Foi mandada fazer pela comissão encarregada de executar o
monumento no Rossio da capital e Lamas (30), no seu livro,
especifica as condições em que a medalha foi elaborada e
distribuída, afirmando que em 1870 se cunharam unicamente
aquelas que foram oferecidas ao rei D. Luis, na cerimónia e só
no ano seguinte se distribuíram os outros exemplares, cujo número foi limitado a 25 de prata e 200 de cobre, mas é possível,
afirma, que posteriormente se tenham cunhado outras.
Existem exemplares, talvez os primeiros a saírem, que tem data
de inauguração a 28 de Abril que depois se corrigiu para 29.
[184]
Exemplar da colecção de Francisco Ernesto Oliveira Martins.
Anverso
Reverso
DESCRIÇÃO DA MEDALHA
1870 – Comemorativa da inauguração do monumento de
El-Rei D. Pedro IV, erigido em Lisboa. Na orla, a legenda, que
começa ao lado esquerdo e é interrompida em cima e no exergo:
D. PEDRO IV – REI DE PORTUGAL. Busto do Soberano, com
barbas compridas, voltado à direita, com coroa de louro, que se
prende, junto da nuca com uma fita enlaçada cujas pontas estão
caídas sobre as costas, fardado de grande uniforme, e
condecorado com o colar e respectiva insígnia da Ordem da Torre
e Espada. Do lado direito do peito, pendem dois cordões com
borlas nas extremidades. No exergo, que não está separado por
friso, junto do corte do busto, a assinatura: MOLARINHO.
Rv. – No arco superior da orla, a legenda: MONUMENTO
LEVANTADO A MEMORIA DE D. PEDRO IV, e no arco inferior,
que daquele está separado por duas estrelinhas: INAUGURADO
EM LISBOA. Ao centro , a data: 29 || DE || ABRIL || 1870,
escrita em quatro linhas horizontais, entre duas palmas cujos pés
estão unidos por um nó, tudo envolvido por uma coroa de folhas
de carvalho e louro, completamente fechada, e ligada com uma fita
que se cruza em cima, em baixo e aos lados.
AE. Diâmetro: 50 milímetros.
Bibl.: Lamas, n.os 169 e 170.
vol. LIV ‘09
11.OS_Medalhas_ReisLeite
8/17/10
11:38 AM
Page 185
UMA COLECÇÃO
AÇORIANA
DE MEDALHAS
A DÉCIMA PRIMEIRA MEDALHA É UM
EXEMPLAR MUITO CURIOSO DE UMA MEDALHA
DE GALARDÃO DE UM COLÉGIO PARTICULAR DA
ILHA TERCEIRA.
Em 1844, Dr. Roberto Luis de Mesquita Pimentel (31) fundou,
na sua casa na Terra Chã, nos arredores de Angra, na quinta de
N.ª Senhora da Guia, um colégio particular com essa invocação
da Virgem. Fundava-se tal instituição por ser reconhecido publicamente que as escolas oficiais de primeiras letras eram de ensino muito deficiente e por isso várias famílias desejaram um
estabelecimento de qualidade onde os filhos pudessem ser
educados (32).
Usava-se do lado esquerdo do peito, pendente de um laço de
fita verde, mas sendo algum aluno premiado mais de uma vez,
as medalhas que ganhavam iam sendo ornadas com laços de fita
de cores diferentes.
Na colecção de Oliveira Martins existe uma dessas medalhas,
que foi atribuída a Jácome de Bruges (1833-1889) (34), filho
primogénito de Teotónio de Ornelas Bruges, em 1846 como
prémio da sua distinção no estudo de língua francesa, 1.ª subdivisão.
Exemplar da colecção de Francisco Ernesto Oliveira Martins.
Anverso
Reverso
DESCRIÇÃO DA MEDALHA
Na orla, a legenda, que começa do lado esquerdo e é interrompida
pelo exergo: 1ª SUBDIVISÃO DA LINGUA FRANCESA. No
exergo a data 1846. No campo o nome do premiado JACOME ||
DE BRUGE (sic).
Rv. – Em seis linhas COLLEGIO || DE || NOSSA SENHORA ||
DA GUIA || DA ILHA || TERCEIRA.
Rebordo – Saliente com um espigão ornamentado, suportando
uma argola para prender a fita.
AR. Diâmetro: 30 milímetros.
[185]
Nesse novo colégio recebiam-se meninos entre os sete e os
doze anos comprometendo-se o director a educá-los e a ensiná-los. Os estatutos, que são assinados por uma comissão e
datados de 1843, especificam as condições de admissão e de
ensino e regulam a vida do colégio. O seu art.º 4.º, que trata
dos prémios e dos castigos instituía oito medalhas de distinção
para aqueles alunos que mais se distinguissem nas oito classes
de estudo. O n.º 53 do referido artigo descreve-a assim (33):
“Essas medalhas são de prata, com peso de quatro oitavas, e
em uma das faces terão o nome do Discípulo, com declaração
da classe, a que pertence, e o ano em que foi premiado, e no
reverso haverá esta legenda – COLLEGIO DE NOSSA
SENHORA DA GUIA DA ILHA TERCEIRA.
11.OS_Medalhas_ReisLeite
8/17/10
11:38 AM
Page 186
A DÉCIMA SEGUNDA É UMA MEDALHA
COMEMORATIVA DO 150.º ANIVERSÁRIO DA
INDEPENDÊNCIA DO BRASIL E ANO EM QUE
PORTUGAL ENTREGOU AO PAÍS IRMÃO OS
RESTOS MORTAIS DE D. PEDRO DE BRAGANÇA,
O PRIMEIRO IMPERADOR DO BRASIL E
PATRONO DA SUA INDEPENDÊNCIA, EM 1822.
A medalha foi gravada pelo escultor e medalhista açoriano,
Numídio Bessone (1913-1985) (35) um dos grandes artistas
portugueses, que estudou em Roma e nessa cidade se especializou em medalhística na Escola de Artes da Medalha.
É uma medalha comercial executada pela Gravarte, de Lisboa e
dela se cunharam 500 exemplares, sendo a da colecção de
Oliveira Martins o número 425.
Exemplar da colecção de Francisco Ernesto Oliveira Martins.
Anverso
Reverso
DESCRIÇÃO DA MEDALHA
[186]
1972 – Medalha Comemorativa do 150.º aniversário da
independência do Brasil. Na orla, a legenda, que começa no
exergo do lado esquerdo, sem interrupção: DOM – PEDRO –
PRIMEIRO – IMPERADOR – DO – BRASIL. Do campo busto de
D. Pedro a três quartos, fardado e com condecorações. Por baixo
do busto, à esquerda, a assinatura: NUMIDICO – 72.
Rv. – Coroa aberta de dois ramos de carvalho unidos no exergo e
em três linhas a legenda: HOMENAGEM || LUSO-BRASILEIRA
|| 1972, que na primeira e segunda linha se sobrepõe à coroa.
Rebordo – 425/500 – Gravarte. Lisboa. Portugal.
BR.
vol. LIV ‘09
8/17/10
11:38 AM
Page 187
UMA COLECÇÃO
AÇORIANA
DE MEDALHAS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
(1) Fernandes (1865)
(2) Lamas (1916)
(3) Serrão (1984), pp. 56 e seg.
(4) Lamas (1916), p. 109
(5) Fernandes (1865), p. 63
(6) Lamas (1916), p. 125
(7) Vasconcelos (1911), p. 12 da separata
(8) Serrão (1984), pp. 129 e seg.
(9) Lamas (1916), pp. 129-130
(10) Fonseca (1955), pp. XXXI e seg. e Estrela (2009), pp. 63 e seg.
(11) Fonseca (1955), p. 278
(12) Lamas (1916), pp. 152 e seg.
(13) Serrão (1971)
(14) Lamas (1916), p. 155
(15) Lamas (1916), p. 155
(16) Estrela (2009), pp. 204-208
(17) Fenandes (1865), pp. 82-84
(18) Aragão (s.d.) II, p. 128
(19) Estrela (2009), p. 206
(20) Estrela (2009), p. 211
(21) Lamas (1916), p. 190
(22) Fernandes (1865), p. 95
(23) Fernandes (1865), p. 101
(24) Relação Geral (s.d.), pp. 3-5
(25) Sobre Molarinho, vide Lamas (1916), p. XXXVI
(26) Relação Geral (s.d.), pp. 5-7
(27) Lamas (1916), p. 257
(28) Relação Geral (s.d.), p. 17
(29) Leite (2007), p. 16
(30) Lamas (1916), pp. 254-257
(31) Enciclopédia Açoriana - PIMENTEL
(32) Estatutos (1844) e Enciclopédia Açoriana - COLEGIOS
(33) Estatutos (1844), p. 14
(34) Enciclopédia Açoriana. BRUGES, Jácome
(35) Enciclopédia Açoriana. BESSONE, Numídico
[187]
11.OS_Medalhas_ReisLeite
11.OS_Medalhas_ReisLeite
8/17/10
11:38 AM
Page 188
BIBLIOGRAFIA:
ARAGÃO, AC. Teixeira (s.d.).
Descrição Geral e Histórica das Moedas cunhadas em
nome dos Reis, Regentes e Governadores de
Portugal, 2.º volume, Porto, Liv. Fernando
Machado, 2.ª ed..
Enciclopédia Açoriana
http://pg.azores.gov.pt/drac/cca/enciclopedia/index.aspx
DIAS, Teixeira – Colégios
ENES, Carlos – Numídico Bessona
LEITE, José Guilherme Reis – Jácome de Ornelas
Bruges, Roberto Luis de Mesquita Pimentel.
Estatutos do Collegio de N.ª Sr.ª da Guia sito na
Freguesia de Belém da Ilha Terceira (1844),
A.H., na Officina do Terceirense, 20 p. +
mapa.
ESTRELA, Paulo Jorge (2009), Ordens e Condecorações Portuguesas, 1793-1824, Lisboa, Tribuna
da História.
[188]
FERNANDES, Manuel Bernardo Lopes, (1865),
“Memória das Medalhas e Condecorações
Portuguesas e das Estrangeiras com relação a
Portugal” In Memórias da Academia Real das
Sciencias de Lisboa, Classe de Sciencias Moraes,
Politicas e Bellas Letras, nova série, tomo III,
parte 2.ª, Lisboa, pp. 1-144.
vol. LIV ‘09
FONSECA, Belard da (1955), A Ordem de N.ª Sr.ª
da Conceição, Lisboa, Fundação da Casa de
Bragança.
LAMAS, Arthur (1916), Medalhas Portuguesas e
Estrangeiras referentes a Portugal. Memória
Histórica e Descriptiva baseada na colecção
iniciadas por José Lamas, Vol I – Parte I:
Medalhas Comemorativas, Lisboa, Tip. de
Adolpho de Mendonça.
LAMAS, Arthur (1905), Uma Medalha Portuguesa
inédita, Lisboa, sep. do Archeologo Português.
LEITE, José Guilherme Reis (2007), Teotónio de
Ornelas, A.H., ed. I.A.C.
Relação Geral dos Condecorados com a Medalha de D.
Pedro e D. Maria e Precedida do decreto da sua
criação – do que nomeia a comissão
classificadora – das instruções respectivas e dos
modelos da medalha, s.d., Porto, Imp. Popular
de J. L. de Sousa Bomjardim.
SERRÃO, Joel (1971), “VilaFrancada”, in Dicionário
da História de Portugal, Lisboa, Iniciativas
Editoriais, vol IV, pp. 306-309.
SERRÃO, Joaquim Verissimo (1984), História de
Portugal, vol VII. “A instauração do Liberalismo” (1808-1832), Lisboa, Ed. Verbo.
11.OS_Medalhas_ReisLeite
JORGE BARROS
Aveiro
8/17/10
11:38 AM
Page 189
11.OS_Medalhas_ReisLeite
8/17/10
11:38 AM
Page 190
11.OS_Medalhas_ReisLeite
JORGE BARROS
Horta, Faial
8/17/10
11:38 AM
Page 191
11.OS_Medalhas_ReisLeite
8/17/10
11:38 AM
Page 192