ATL 2009 - Instituto Açoriano de Cultura
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ATL 2009 - Instituto Açoriano de Cultura
0. revista ATL09_1as págs 8/17/10 9:29 AM Page 1 vol. LIV 2009 INSTITUTO AÇORIANO DE CULTURA 0. revista ATL09_1as págs 8/17/10 9:29 AM Page 2 ficha técnica vol. LIV 2009 Direcção . Paulo Alexandre Vilela Martins Raimundo Patrocínios Design Gráfico . Angelina Caixeiro Tiragem . 1000 exemplares Depósito legal . 174164/01 ISSN . 1645-6815 Apoios Esta revista é propriedade de . Instituto Açoriano de Cultura Alto das Covas - Apartado 67 9700-220 Angra do Heroísmo T. F. 295 214 442 [email protected] www.iac-azores.org Instituição de Utilidade Pública por Resolução nº 45/86, do Conselho do Governo Regional dos Açores, de 5 de Março de 1986 Preço. 20,00 euros Sócios Patronos Câmara Municipal da Calheta Câmara Municipal da Praia da Vitória Junta de Freguesia dos Altares, Angra do Heroísmo Junta de Freguesia da Conceição, Angra do Heroísmo Junta de Freguesia da Fajã de Baixo, Ponta Delgada Junta de Freguesia do Porto Judeu, Angra do Heroísmo Pedro Bicudo Teles Travel Agency 0. revista ATL09_1as págs 8/17/10 9:29 AM Page 3 vol. LIV 2009 0. revista ATL09_1as págs 8/17/10 9:29 AM Page 4 0. revista ATL09_1as págs 8/17/10 9:29 AM Page 5 sumário DOSSIÊ TEMÁTICO ESTUDOS E CRIAÇÃO ARTÍSTICA ESTUDOS E CRIAÇÃO LITERÁRIA 7. APROXIMAÇÕES JORGE BARROS 41. SOLAR DE SÃO JOAQUIM: PONTA DELGADA, SÃO MIGUEL, AÇORES 79. QUESTÃO DA ACULTURAÇÃO E DA LIBERDADE EM “JÁ NÃO GOSTO DE CHOCOLATES” Simetrias Fernando Dacosta Rui Miguel Goulart de Almeida Mar ignoto As redes tecidas por Izalino Nunes 53. PROTEGER O PATRIMÓNIO: INVENTARIAR E CLASSIFICAR BENS – UM CASO AÇORIANO – Victor Rui Dores Maria Manuel Velásquez Ribeiro Onésimo Teotónio Almeida A vida ao ombro Kiwamu Hamaoka Geometria Discretiva 61. LAPTOP E A DEFENESTRAÇÃO DO IMAGINÁRIO MUSICAL Vasco Pereira da Costa Jorge Lima Barreto Armando Silva Carvalho A religiosidade (não) é sensual ou estreita Manuel Vilas Boas As casas Jaime Rocha Âncora lançada, âncora levantada Maria Eduarda Rosa Penugens Hélia Correia Da espiga ao espírito Norberto Ávila Flor de laranjeira com alfenim Álamo Oliveira A música/a banda Levi Condinho Travessia Alice Vieira 65. AS CISTERNAS DO MONTE DO BRASIL – CONTRIBUTO DAS FONTES CONTABILÍSTICAS PARA A SUA HISTÓRIA Joana Balsa de Pinho 83. PELA ILHARGA ESQUERDA – SOBRE A ESCRITA DE CRISTÓVÃO DE AGUIAR A PROPÓSITO DE “CÃES LETRADOS” Carlos Alberto Machado 0. revista ATL09_1as págs 8/17/10 9:29 AM Page 6 sumário (cont.) CIÊNCIAS HUMANAS OUTROS SABERES 93. ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA (ILHA DE SANTA MARIA) 171. UMA COLECÇÃO AÇORIANA DE MEDALHAS Filipe Pinheiro de Campos [6] 149. HISTÓRIA DOS AÇORES: DO DESCOBRIMENTO AO SÉCULO XX Eugénio dos Santos 155. SOBRE MANUEL GARCIA MONTEIRO NO TRICINQUENTENÁRIO DO SEU NASCIMENTO Luís M. Arruda vol. LIV ‘09 José Guilherme Reis Leite 1.ECA_Dossier_JorgeBarros 8/17/10 12:14 PM Page 7 DOSSIÊ TEMÁTICO Aproximações Jorge Barros INSTITUTO AÇORIANO DE CULTURA 1.ECA_Dossier_JorgeBarros DOSSIÊ TEMÁTICO JORGE BARROS Corvo / Trancoso 8/17/10 12:14 PM Page 8 1.ECA_Dossier_JorgeBarros 8/17/10 12:14 PM Page 9 Registo de um cruzar de múltiplas vivências que tenho criado ao longo da minha acção entre o continente e as ilhas açorianas. Paisagens luminosas ou de luz difusa, moldadas pelo homem ao longo dos tempos. Gestos e olhares do quotidiano em actos culturais de lugar em lugar, raiz e seiva espiritual que nos torna grandes como povo. 1.ECA_Dossier_JorgeBarros 8/17/10 12:14 PM Page 10 [Costa Vicentina, Sagres] [10] Simetrias vol. LIV ‘09 1.ECA_Dossier_JorgeBarros 8/17/10 12:14 PM Page 11 APROXIMAÇÕES JORGE BARROS [11] [Biscoitos, Terceira] Quando a Atlântida, o território venturoso de todos os imaginários, se partiu de nós (ibéricos), e imergiu em nós (quiméricos), os lados fendidos tornaram-se, sobre a distância que os apartou, linhas de chamamentos mudos que só olhares de sensibilidade visionária – como os do autor destas imagens perturbadoramente subtis – passaram a detectar. Um dos rebordos receberia, milhares de anos depois, o nome de Costa Vicentina, em Sagres; o outro, o de Costa dos Biscoitos, na Terceira, Açores; e assim ficaram em imobilidade baça, na espera desesperançada de que quem os separou os una. Os seus recortes simétricos indiciam-no, aliciam-no através da força da ficção que os (nos) dilata, delira para sempre. Fernando Dacosta [escritor] 1.ECA_Dossier_JorgeBarros 8/17/10 12:14 PM Page 12 Mar ignoto [12] [Sintra] vol. LIV ‘09 1.ECA_Dossier_JorgeBarros 8/17/10 12:14 PM Page 13 APROXIMAÇÕES [13] JORGE BARROS [Pico] O Cabo da Roca era o finisterra português até os navegadores tropeçarem nas ilhas que vulcões plantaram continuando a Europa, feitas trampolim a ajudar o salto para as Américas nunca então sonhadas. Emergem feitas pilares de uma ponte entre continentes como os ilhéus da Madalena o são entre o Pico e o Faial. O mar é o mesmo, todavia no Cabo da Roca o mistério é mais ignoto e distante, e outros mundos não habitam facilmente o imaginário de quem dali o contempla. No canal, as ilhas parecem tão familiarizadas com os segredos do mar que se reclinam nele, como faz o Deitado, sem receio das vagas. Até as baleias e os golfinhos se passeiam por entre eles como crianças num parque. Ou, se calhar, nada disso. O Cabo da Roca é o adeus à terra firma, enquanto as ilhas e os ilhéus da Madalena são a Europa a despedir-se aos soluços, a caminho das Américas. Onésimo Teotónio Almeida [escritor] 1.ECA_Dossier_JorgeBarros 8/17/10 12:14 PM Page 14 [14] [Sines] As redes tecidas por Izalino Nunes Recordo Izalino Nunes sempre que vejo redes de pesca. Há redes que são rendas de magia. Filigranas de sonho. Fios de geométrica harmonia. Quietação de linhas. Inquietação de sentimentos. Interrogações entrelaçadas – talvez as malhas que Portugal tece… Há redes que são seriedade abstracta, encanto metafórico perante aquilo que é simples e artesanal. Há redes que têm as gradações imateriais das guelras dos gorazes… A vida, sabemo-lo, corre caipora, mas ficam as inflexões do tempo, o ritmo dos costumes que ele impõe. Por detrás das redes estão sempre as mãos dos pescadores. E eu (que me criei à beira-mar) vol. LIV ‘09 1.ECA_Dossier_JorgeBarros 8/17/10 12:14 PM Page 15 APROXIMAÇÕES JORGE BARROS estou a vê-los: rudes e tisnados de sol, com camisolas aos quadrados, abeiros de palha encardidos, cozendo as malhas caídas, segurando nos dentes as agulhas de pau, manejando chumbadas e cortiças – com os olhos no mar e o pensamento no pescado. Afinal, por que estou aqui a evocar Izalino Nunes? [Madalena, Pico] Era o dia 7 de Novembro de 1967 e foi avistada baleia para as bandas do Pico Negro, ilha Graciosa. Arriaram dois botes, um do porto da Calheta de Santa Cruz, e outro do porto da Barra. A lancha que apoiou as operações foi a Estefânia Correia que na altura tinha como mestre Manuel José Bettencourt. Quando, já noite fechada, fazia a sua entrada na baía da Barra, por ter sido executada uma manobra que não era a mais aconselhada, aconteceu uma tragédia: o bote, de nome Cristóvão Manuel, virou-se e seis vidas foram ceifadas. Apenas o trancador Firmino Rodrigues Picanço conseguiu salvar-se porque teve o discernimento de nadar para fora. Cinco baleeiros nadaram para terra e espatifaram-se contra as rochas… A vila da minha infância encheu-se de choros, gritos e lágrimas… Eu estava lá e assisti a tudo. Só na manhã do dia seguinte encontraram o cadáver de Izalino Nunes, que jazia no fundo do mar amortalhado nas redes que ele próprio tecera dias antes. Victor Rui Dores [escritor] [15] Izalino Nunes era um desses pescadores que labutava em terra e no mar. Tinha umas mãos enormes e gretadas, mas tecia redes com enorme delicadeza. E era poeta popular dotado de uma incomensurável riqueza humana. Escrevia versos como quem cultivava a terra ou pescava garoupas, expressando-se e exprimindo-se em quadras e sextilhas. Em terra criava vacas leiteiras. No mar pescava chicharros, chernes, pargos, bonitos, bicudas e bocas-negras. Em chegando o Verão arriava à baleia, porque os tempos eram difíceis e era preciso vencer as contrariedades e sobreviver à miséria, ao subdesenvolvimento, à intolerância e à injustiça dos tempos repressivos e opressivos do Estado Novo. 1.ECA_Dossier_JorgeBarros 8/17/10 12:14 PM Page 16 [16] [Castro Daire] A vida ao ombro vol. LIV ‘09 1.ECA_Dossier_JorgeBarros 8/17/10 12:14 PM Page 17 APROXIMAÇÕES Estes dois levam vida ao ombro, posso eu escrever e ficar aqui um verso. São transportadores do pão e do leite do Senhor, será depois outro verso. Mas este traz já um desvio às hierarquias das frases inquestionáveis. Porque em primeiro lugar estará sempre o pão e o vinho do Senhor. O que é mais sacrificial, mas menos alimentício. Mais implicado na comunhão, no convívio salvador, mas menos na essência do sustento da vida. [Corvo] Do pão ao corpo, do vinho ao sangue, vai um gesto sagrado, um milagre, vai a formulação dum Deus. Do leite e da farinha, da pureza implícita do seu branco, retiramos a imagem da alimentação indispensável ao corpo, não a da alimentação da alma, ou aquilo que ela muitas vezes pretende significar. Estes dois nas imagens, valem pelas vagas nódoas de brancura dispersas no vestuário que os cobre. E pela vida que levam ao ombro e é alimento para um homem. Ainda que esse homem seja um Cristo. Armando Silva Carvalho [escritor] [17] JORGE BARROS 1.ECA_Dossier_JorgeBarros 8/17/10 12:14 PM Page 18 [18] [Miranda do Douro] Geometria Discretiva vol. LIV ‘09 1.ECA_Dossier_JorgeBarros 8/23/10 2:07 PM Page 19 APROXIMAÇÕES [19] JORGE BARROS [São Sebastião, Terceira] Pedra a pedra se exprime a geometria: distantes triângulos rudes apontando mudos ao céu e ao chão. Cada qual anuncia um canto que percorre terra e mar. E quando calam em todos os lados se pode ler a concreta poesia: traçam pitágoras de suor dos escultores dos xistos de Miranda e das lavas dos Açores Vasco Pereira da Costa [escritor] 1.ECA_Dossier_JorgeBarros 8/17/10 12:14 PM Page 20 [20] [Aveiro] A religiosidade (não) é sensual ou estreita vol. LIV ‘09 1.ECA_Dossier_JorgeBarros 8/17/10 12:14 PM Page 21 APROXIMAÇÕES O mar moldou-lhes a alma. Terra do sal, uma. Mas se o sal se estragar, com que se há-de salgar? A outra é filha do fogo que se esventrou e se concentrou em força negra, modelada pelo cinzel de traço redondo. Ficou esbelta, dimensionada a rasgar movimento. [Porto Formoso, São Miguel] Em Aveiro procuro o tempo que se esvai como se um relógio de sol ali descesse, a medir o peão que se agita, gracioso. São cantos quase do nada, como o enrugar de caracóis invisíveis, solidificando apelos. Em S. Miguel o azul foi tecido de fogo para sempre. Escuto angústias que se entrelaçam com barcos (en)calhados de futuro. Aqui a ostentação não é pueril nem a religiosidade é sensual ou estreita. A devoção é sempre um grito de alma. Aqui é da cor dos céus e do magma. Manuel Vilas Boas [jornalista] [21] JORGE BARROS 1.ECA_Dossier_JorgeBarros 8/17/10 12:14 PM Page 22 As Casas Tudo acontece nas casas, os ângulos, as janelas caídas, os vidros, os estendais, o choro suspenso. As telhas encadeiam-se num jogo apocalíptico, no meio de um confronto de cores que distraem o olhar dos humanos ao cair da noite. [22] Quando a mão do homem desce sobre o cimento, a sua alma sobe pelos ramos das árvores criando uma zona vertical. As nuvens tornam-se pequenas, o sol diminui a sua própria beleza e o mundo cobre-se de cal e de xisto como se fosse construído pela primeira vez. Trata-se de um teatro, de um cenário concebido para um grande espectáculo, de um cofre repleto de pequenas aberturas. Os dramas desaparecem em escassos minutos. As crianças e os velhos descansam na sombra. Aparentemente não há aves, nem insectos. Apenas paredes e uns muros que se desmoronam aos poucos deixando à vista hortas minúsculas, pedras e flores. Tudo acontece nas casas quando elas se viram para o céu seguindo o caminho das montanhas. A sua respiração afugenta os animais selvagens e traz o musgo e algumas plantas para servirem de escudo às intempéries. vol. LIV ‘09 [Piódão, Arganil] 1.ECA_Dossier_JorgeBarros 8/17/10 12:14 PM Page 23 APROXIMAÇÕES JORGE BARROS É das casas que sai o fumo da lenha, que sai o pão e o leite, como é do chão de terra que surge a água e a areia. Os pés modelam as calçadas, as escadarias infindas, as escassas varandas. Há uma harmonia crepuscular, uma tensão súbita no modo como se apanham os restos de comida. [Corvo] Tudo acontece ali como por encanto, como se houvesse um castelo colado ao espaço entre colinas. E uma espera, um desejo tranquilo, uma paixão de sempre. Como se o mar andasse de um lado para o outro a mostrar as casas, a ligá-las entre si, passando por cima das grandes cidades. Há um pedreiro no meio da construção. Há umas mãos rugosas que refazem os materiais. E um prazer absoluto, maior do que a morte. Um testemunho, uma dádiva, uma antevisão da alegria. Uma rebeldia que não pára. Jaime Rocha [escritor] [23] À sua volta, o mar ou a floresta seguem o seu curso de vida, deixando à solta os corvos e os lagartos. Há barcos e pombais, há charruas e lojas. Os homens dizem que é uma pintura, que houve ali um deus qualquer que desenhou a paisagem ou que foi o corpo de uma mulher que um dia se deitou naquele lugar. 1.ECA_Dossier_JorgeBarros 8/17/10 12:14 PM Page 24 Âncora lançada, âncora levantada [24] Importa que o chão seja líquido ou sólido doce ou salgado de xisto ou de basalto se nas suas entranhas se ocultam ancestrais tesouros secretos beijos de sangue loucos apaixonados fundeados petrificados liquidificados de príncipes e de princesas a respirar suados e tostados na pele branca do casario bordejado por serpentes alvas e sábias?! A alma dos Fenícios navegadores homiziados sedutores impregna a terra e o seu espírito evola-se por entre as nuvens. vol. LIV ‘09 [Mértola] 1.ECA_Dossier_JorgeBarros 8/17/10 12:14 PM Page 25 APROXIMAÇÕES [25] JORGE BARROS [Angra do Heroísmo] O tão poderoso Senhor dos Mares estendia a sua salsa língua Guadiana acima até ao porto de abrigo onde Serpínia e o seu amor Políbio rumo à Fenícia levantaram âncora. Mas como o amor vincit omnia tão portentoso Senhor não pôde impedir uma bela princesa de lançar âncora na baía de Angra para sempre ficar junto ao seu amado príncipe feito Monte Brasil. Maria Eduarda Rosa [escritora] 1.ECA_Dossier_JorgeBarros 8/17/10 12:14 PM Page 26 Penugens [26] A personalidade social destes meninos, assim como a das mães que os ataviam, pensam que os fatos os transfiguram no sentido de os tornar damas, cavaleiros e anjos, isto é, produtos bons da cristandade. Que, vestidos para a corte celestial, se elevam sobre as suas vidas medianas. Porém, é outra a transfiguração. Pois, na verdade, a sua natureza foi chamada pela festa à superfície, resgatada das suas profunduras. O seu diálogo é com o chão que os prende. São aves aterradas pelo seu peso. Não há aqui elevação, mas queda. [Imperador. Penedo, Sintra] Uma queda de belos animais macios e impiedosos, enjaulados por um instante na fotografia, enjaulados para sempre nesses ritos de domesticação. Passam bem por crianças mascaradas, crianças melhoradas para a função. Mas, se os olharmos com cuidado, vemos pássaros enlaçados na armadilha. Hélia Correia [escritora] vol. LIV ‘09 1.ECA_Dossier_JorgeBarros 8/17/10 12:14 PM Page 27 APROXIMAÇÕES [27] JORGE BARROS [Mordoma. Silveira, Pico] 1.ECA_Dossier_JorgeBarros 8/17/10 12:14 PM Page 28 Da espiga ao espírito [28] Milénios a fio, no rodar dos tempos, o Homem foi-se habituando ao temor e ao patrocínio de outras e outras divindades. E porque os deuses são de natureza imortal, não me causaria o mínimo espanto que a Divina Ceres dos Latinos (cujo nome nitidamente se associa aos cereais), se dignasse receber as oferendas que, na sequência das colheitas, lhe parecem devidas. Ainda que os rituais assumam os disfarces mais convenientes. Na cristianíssima região de Tomar, estes festejos de júbilo acabariam por relacionar-se com o culto do Espírito Santo e, com aqueles sinais de fraternidade que o franciscanismo semeou, passaram ao arquipélago Açoriano. Tanto nas tradicionais Festas dos Tabuleiros Tomarenses, como nos cortejos do Espírito Santo na ilha do Pico, as oferendas de pão (no primeiro caso) e as de massa-doce (no segundo) são transportadas à cabeça, em açafates. Em Tomar, apenas por raparigas vestidas de branco. Na ilha do Pico, mulheres de muito mais idade – e até homens – os podem transportar. Os pães de Tomar erguem-se muito alto, formando várias colunas entremeadas de flores, que uma coroa, com sua pomba simbólica, culmina. Na ilha do Pico, sendo os açafates geralmente maiores, as rosquilhas de massa-doce tomam feição transbordante, igualmente enfeitadas de flores. Norberto Ávila [escritor] vol. LIV ‘09 [Carregueiros, Tomar] 1.ECA_Dossier_JorgeBarros 8/17/10 12:15 PM Page 29 APROXIMAÇÕES [29] JORGE BARROS [Criação Velha, Pico] 1.ECA_Dossier_JorgeBarros 8/17/10 12:15 PM Page 30 [30] [Lousa, Fundão] Flor de laranjeira com alfenim Bando de rolinhas soltas sobre a virgindade da vida, elas são o deslumbramento de um tempo efémero e poroso. Têm, nos olhos, o brilho encantatório da primavera, mas ninguém sabe que nome dar ao seu florir futuro. Crescem sob o signo da fragilidade, como se fossem musas à procura do poeta. São bailarinas que coreografam a liberdade, transpondo os muros num voo solene, pisando o chão sem errar os passos. Cumprem-se os ritos com evocações aladas: – Senhora dos Altos Céus – lugar que os ventos tempestuosos não ousam perturbar –, protegei as virgens em seu ninho diáfano! Fazei que as suas grinaldas floresçam sobre os penteados da ternura e o seu oiro as torne em noivas púberes de amor! vol. LIV ‘09 1.ECA_Dossier_JorgeBarros 8/17/10 12:15 PM Page 31 APROXIMAÇÕES [31] JORGE BARROS [Terra de Pão, Pico] – Espírito Santo Divino – alva pomba de alfenim –, vesti as meninas com folhos de nuvem e concedei-lhes a graça do vosso sorriso inocente. Fazei que a ilha lhes seja casa, altar, bandeira. Ámen! O horizonte é a linha que o sonho traça sobre uma impressão de espaço. No fundo do fundo Fundão, apreende-se que o tempo é um privilégio branco pousado nos ombros do entardecer. As virgens sabem como passar os dias, mas ignoram ainda a inquietação de o serem e que feitiço as espera à esquina da sorte. Depois… depois, há mar e céu e há um aroma a sargaço e a cedro. As meninas vão coroar-se de prata na sua terra do pão. O seu bodo será farto e doce. Quando o sol emprestar à terra a sua face oculta, o bando de rolinhas recolhe ao seio do silêncio, adormecendo com o estalar sobre a virgindade da vida efémera e porosa. A liberdade, porém, continua a abrir-lhes as portas da manhã… até ao dia da Senhora dos Altos Céus; até ao ciclo do Espírito Santo Divino. Álamo Oliveira [escritor] 1.ECA_Dossier_JorgeBarros 8/17/10 12:15 PM Page 32 A música/a banda Começa assim um dos poemas mais conhecidos desse tão especial poeta que foi Manuel da Fonseca, “Mataram a tuna!”: “Nos domingos antigos do bibe e pião / saía a Tuna do Zé Jacinto / tangendo violas e bandolins / tocando a marcha Almadanim”; e o poema prossegue em tom épico, bravio mas lamentoso dos dias, dos mundos perdidos, “manhãs submersas” no cinzento do devir tornado burocrata e embrutecido pela força das coisas reais, cuja função é devorar esses haustos primordiais/matinais que trazem no seu seio o segredo que faz do homem um “outro” homem – o poeta. [32] O que atrás fica dito podia – e pode – transportar-me àquele tempo de infância – da minha infância – em que, naqueles domingos ou dias santos, dias de festa, lá bem fundo dos anos 40 até meados de 50, irrompia pelas ruas da aldeia a banda filarmónica que se deslocava de alguma das terras vizinhas – Vestiaria, Cela, Valado dos Frades, a mais distante Turquel – para vir “abrilhantar” (assim se dizia e escrevia) as festas de São Gregório Magno, da Senhora da Missão, ou o Círio de Santa Susana, que se deslocava do Bárrio ao Landal, com o respectivo regresso, composto por carros de bois “armados”, lindamente engalanados pelos respectivos donos e famílias neles viajantes, cortejo encabeçado pelos juízes festeiros, a cavalo e com a bandeira da santa protectora dos animais, mais o inevitável fogueteiro, seguidos da filarmónica. Eram dias de euforia, de sobressalto ou de angústia (… ai, se chovia…), esses dias tão ansiados. Dias de seguir a banda, absorvendo, para além do ritual e da forma, fardas, gestos, desenho dos instrumentos, todos aqueles sons preciosos; nunca se ouvia música na aldeia, pois rádio, electricidade, não havia até 1954, ou por aí… E todo o meu ávido ser se esforçava por fixar os sons versáteis dos saxofones – os que mais me encantavam –, as melodias luminosas dos trompetes e dos cornetins, os cantos e contracantos de trombones e trompas, o recheio fundamental vol. LIV ‘09 [Marrazes, Leiria] 1.ECA_Dossier_JorgeBarros 8/17/10 12:15 PM Page 33 APROXIMAÇÕES JORGE BARROS Esses preciosos, e de sabor a pouco, dias do ano eram, sim, de festa, mas não de brincadeira. Após as marchas graves e os hinos das procissões, as tardes eram de banda no coreto, ali, frente à Capela de São Gregório, a cujas grades de ferro forjado fincava as mãos, atento a tudo e sofrendo apenas aquando das pausas em que os músicos descansavam ou se ausentavam para irem à taberna mais próxima “molhar a pragana”. E não seriam as “bailarinas” de tinto ou de branco que os levariam a desatinar com a música. Talvez o ânimo redobrasse a seguir, talvez o fôlego mais se insuflasse… Passados, muitos, muitos anos, quantos dos grandes gigantes do Jazz não (ou)vi tocar como só eles o sabem, “incendiados” pelo calor dos álcoois… Dizzie Gillespie, Dexter Gordon e esse genial Paul Gonsalves da espantosa Orquestra de Duke Ellington que (segundo uma crónica de então, 1973), em pleno Pavilhão de Cascais, clamava por “aguardiente”, enquanto saía do palco, para se enlouquecer e enlouquecer o público com o qual se misturava soprando dionisiacamente o seu saxofone tenor de som sinuoso, torrencial… [Horta, Faial] E foi também passados muitos, muitos anos, que aconteceu apaixonar-me pela música de Gustav Mahler, que na sua totalidade transcendental encaixa, não raras vezes, em várias das suas sinfonias, momentos de (aparente) trivialidade e prosaísmo, na citação/reminiscência do som longínquo das fanfarras e das bandas militares da sua infância. Por essas aldeias, vilas, cidades, sempre as bandas filarmónicas foram “lugares” de sólida formação cultural, cívica, humana, ponto de partida para tantos e tantos que vieram a enriquecer as fileiras de outros “lugares” – orquestras sinfónicas, grupos de câmara, formações de Jazz –, todos cintilando, todos irmanando-se na Grande Galáxia da Música. Levi Condinho [ouvinte de música] [33] dos clarinetes tão ricos nas suas tessituras entre o grave sensual e o escorregadio dos agudos, o trilar da requinta, a generosidade simples da marcação/contratempo dos bombardinos, o suporte poderoso e básico das tubas (contrabaixos), os martelares esfuziantes de pratos, pandeiretas e bombos… De fagotes e oboés só bastante mais tarde – e isso daria matéria para outras escritas – tive conhecimento… 1.ECA_Dossier_JorgeBarros 8/17/10 12:15 PM Page 34 [34] [Capelinhos, Faial] Travessia Das pedras da serra às pedras do vulcão – o gesto decidido de quem sabe aonde quer chegar. Não importam os lobos. Não importa a lava. vol. LIV ‘09 1.ECA_Dossier_JorgeBarros 8/17/10 12:15 PM Page 35 APROXIMAÇÕES [35] JORGE BARROS [Lazarim, Lamego] Um dia hão-de encontrar-se – no meio do sonho, que é o único lugar que vale a pena conquistar. Alice Vieira [escritora] 1.ECA_Dossier_JorgeBarros 8/17/10 12:15 PM [36] vol. LIV ‘09 Page 36 1.ECA_Dossier_JorgeBarros 8/17/10 12:15 PM Page 37 APROXIMAÇÕES JORGE BARROS JORGE BARROS Capelinhos, Faial Jorge Barros Nasceu em Alcobaça em 1944. Sobre os Açores Um Olhar Português, João de Melo e outros autores (Círculo de Leitores, 1991). Corvo, a Ilha da Sabedoria, Fernando Dacosta (ed. Etér, 1996). O Príncipe dos Açores, Fernando Dacosta (ed. do autor, 1996). Viagens na nossa Terra, (região dos Açores) AAVV (Selecções Reader’s Digest, 1997). Notas do Corvo, Padre Lourenço Jorge (ed. do autor/Câmara Municipal do Corvo, 2001). Co-responsável pelos Encontros de Fotografia no Mosteiro de Alcobaça, com a exposição “As Pedras e as Gentes” (1980), apresentou no I Encontro de Defesa do Património, em Braga (1981), uma comunicação sobre a importância da preservação da fotografia com a criação de um museu nacional. Assessor técnico, em 1983, da XVII Exposição de Arte, Ciência e Cultura – “Os Descobrimentos Portugueses e a Europa do Renascimento”, do Conselho da Europa. Na televisão foi produtor executivo de “Camões Esse Emigrante”, da série Histórias de Cidades, de José Hermano de Saraiva e colaborador da série Os Descobrimentos Portugueses (1983). Recebeu, entre outras distinções, o prémio “Ilustração” da Bienal Internacional de Arte de Vila Nova de Cerveira – Design Gráfico 88. Vitorino Nemésio – Sem Limite de Idade, António Valdemar (CTT, 2002). Festas e Tradições (8 volumes - volume III e IV), Soledade Martinho da Costa (Círculo de Leitores, 2002/2003). Escrito no Mar – Livro dos Açores, poemas de Manuel Alegre (Sextante Editora, 2008). Emissões de selos: as séries “Angra do Heroísmo – Património Mundial” (2001) e “Património dos Açores” (2003) com Acácio Santos. Como colaborador fotográfico da revista de bordo ATLANTIS/TAP diversas reportagens de 1982 a 2007. Na televisão como produtor executivo da série Histórias de Cidades, de José Hermano de Saraiva, o programa Angra do Heroísmo (1986). Exposição itinerante inter-ilhas e continente americano: “Solenidades dos Açores”, DRAC (1990). Exposição itinerante Aproximações, IAC (2009). Outras participações Sócio fundador da cooperativa de cinema VIRVER (1975), trabalhou como assistente de realização do filme Bom Povo Português, de Rui Simões e colaborou em A Confederação, de Luís Galvão Teles e no documentário Rossio, de Fernando Lopes. Entre 1993/94 colaborou com Henrique Cayatte nas publicações de apresentação da EXPO’98 e criou a exposição de fotografia itinerante sobre a zona de intervenção para apresentação do símbolo e logótipo. Catálogo de animação de rua da EXPO’98 com intervenção dos Olharapos (1998). Além de diversas exposições individuais e representações em exposições colectivas organizadas em vários países, salientando Liens de Famille no Museu de Artes e Tradições Populares em Paris (1991). Ilustrações de capas de livros e gravações musicais. De entre as emissões de selos em que participou, destaca-se «Pelourinhos de Portugal» com Luiz Duran (2001). Colaborou com os grupos de teatro A Comuna, A Barraca e o Bando. Colaborador fotográfico da revista de bordo ATLANTIS/TAP de 1982 a 2007 e de jornais e outras revistas – nomeadamente JL, Público, Diário de Notícias, Expresso, Dirigir, Formar e Tempos Livres, Egoísta, Voz de Alcobaça entre outras. Convidado pelo CENJOR deu formação sobre fotojornalismo de 1995 a 1997. Membro da Direcção da Sociedade Portuguesa de Autores de 2003 – 2006. [37] curriculum 1.ECA_Dossier_JorgeBarros 8/17/10 12:15 PM Page 38 Co-autor dos seguintes livros Portugal e os seus Cavalos com Jorge Mathias e Carlos Gil (ed. António Ramos 1980); À Descoberta de Portugal, AAVV (Selecções Reader’s Digest 1982); Portugal e o Mar, Rui Rasquilho (Círculo de Leitores em português e inglês, 1983; em checo, 2000); O Tempo e a Alma, José Hermano Saraiva (Círculo de Leitores, 1986); Portugal de A a Z, AAVV (Circulo de Leitores, 1987); O Comum da Terra, Eugénio de Andrade (ed. ASA, 1992); Fátima – Lugar da Profecia, Manuel Vilas Boas (Círculo de Leitores, 1993); Portugal o Mediterrâneo e o Atlântico, Orlando Ribeiro (ed. João Sá da Costa, 1993); Portugal em Selos, com textos de Miguel Torga (CTT, 1996); Cartas de Amor Saudação e Sedução, Fernando Dacosta (CTT, 1997); A Escrita do Mar, Fernando Dacosta (CTT, 1998); Portugal – O último descobrimento, Helena Vaz da Silva (ed. Valor, 1987); Navegadores, Viajantes e Aventureiros Portugueses, Luís de Albuquerque (Circulo de Leitores 1987; ed. Caminho, 1989); A Memória das Cidades, José Hermano Saraiva (CTT, 1999); Portugal em Conversa de Génios, Francisco Hipólito Raposo (CTT, 1988); Monumento à Paz – Escultura de José Aurélio (ed. Câmara Municipal de Almada, 2001); Mensagem, Fernando Pessoa, (ed. ASA, em línguas latinas, 1988; em línguas eslavas e cantonês, 1990); Portugal em Selos, (CTT, 2001); Mineiros, Fernando Dacosta e João Machado (ed. do autor, 2001); Viagens no Oriente, Carmo Reis (ed. ASA, 1990); Gestos e Sinais, catálogo da obra de José Aurélio (ed. Magno, 2001); Campo Maior – Festas do Povo, Armando Silva Carvalho (ed. do autor, 1990); Arquitectura Popular Portuguesa, Martins Barata (CTT, 1990); [38] Crónica dos Descobrimentos, Antologia de Carmo Reis com aguarelas de Júlio Resende (ed. ASA, 1991); Um Olhar Português, Regina Louro, Francisco José Viegas, Mário Cláudio, Fernando Dacosta, Eugénio de Andrade, Fernando Assis Pacheco, Hélia Correia, José Cardoso Pires, Mário Ventura, Al Berto, Lídia Jorge, Viale Moutinho e João de Melo (Círculo de Leitores, 1991); Touros em Portugal, Fernando Teixeira (CTT, 1992); vol. LIV ‘09 Aldeias Históricas de Portugal (CTT, 2002); Patrimónios Mundiais com selo Português, texto de Jorge Martins (CTT, 2002); Festas e Tradições (8 volumes), Soledade Martinho da Costa (Círculo de Leitores, 2002/2003); Lugares Mágicos de Portugal, Paulo Pereira (Círculo de Leitores, 2004/2005); Sob a Terra – Fernando Dacosta e João Machado (ed. do autor, 2008); A Serra e a Cidade – Maria Beatriz Rocha-Trindade (ed. Âncora, 2009). 2.ECA_SolarSJoaq_MGoulart 8/17/10 10:24 AM Page 39 ESTUDOS E CRIAÇÃO ARTÍSTICA Solar de São Joaquim: Ponta Delgada, São Miguel, Açores Proteger o Património: inventariar e classificar bens - um caso açoriano LAPTOP e a defenestração do imaginário musical As cisternas do Monte do Brasil – contributo das fontes contabilísticas para a sua história INSTITUTO AÇORIANO DE CULTURA 2.ECA_SolarSJoaq_MGoulart 8/17/10 ESTUDOS E CRIAÇÃO ARTÍSTICA JORGE BARROS Fajã dos Cubres, São Jorge / Serra da Estrela, Gouveia 10:24 AM Page 40 2.ECA_SolarSJoaq_MGoulart 8/17/10 10:24 AM Page 41 Rui Miguel Goulart de Almeida SOLAR DE SÃO JOAQUIM O Solar de São Joaquim, localizado na actual Rua de São Joaquim, n.º10-16, ao lado do cemitério principal da urbe micaelense, que vai pelo mesmo nome, situa-se hoje em zona plenamente urbana da cidade de Ponta Delgada, outrora campo verdejante. Na altura da construção do chamado Solar de São Joaquim, a cidade de Ponta Delgada, sempre crescente no seu desenvolvimento, mostrando já nos finais do século XV sinais de grandes potencialidades, era uma pequena localidade de estrutura urbana inicialmente alongada segundo a linha da costa, depois, já em meados de quinhentos deslocava-se para norte, em lote perpendicular à primitiva planimetria. Ponta Delgada é elevada a vila já no início da ocupação da ilha de São Miguel (primeira metade do século XV, depois de 1439, data da carta régia de D. Afonso V que concedia licença a seu tio, o Infante D. Henrique, para proceder à ocupação da ilha), o que acontece em 1499 por D. Manuel I, resultando no desmembramento do município de Vila Franca do Campo, que quer o aumento da população da nova vila quer a sua situação privilegiada em relação à anterior no que se refere ao seu porto bem abrigado, quer a sua grande actividade agrícola e comercial, justificaram o seu novo estatuto. Quarenta e sete anos depois, em 1546, Ponta Delgada ascende a cidade pela mão de D. João III. Estatuto esse novamente justificado, em particular, pelo aumento da sua população e crescente actividade económica. A instalação da alfândega da ilha de São Miguel em Ponta Delgada e não em Vila Franca do Campo em 1518 e por fim, o terramoto da madrugada de 1522 que arrasou por completo a primeira cabeça da ilha, e que vitimou mais de metade da sua população, determinou o rumo, oposto, de cada uma das localidades. Nessa altura a nova cidade já possuía população em número semelhante a outras congéneres do reino (contava Gaspar Frutuoso, em finais do século XVI, 1564 fogos, 5475 almas de confissão e 4236 de comunhão), entre outras, Santarém, Beja, Elvas, Coimbra, Lagos, Portalegre e Setúbal. Apenas Lisboa, Évora e Porto tinham população em número superior. Ponta Delgada, em finais do século XVI e XVII consolidava o território que ocupava e que traçara: o núcleo composto pelo Convento de Santo André (1567), as casas do Capitão Donatário, e acima de tudo, o Colégio dos Jesuítas (1590) formavam, entre algum casario anónimo, o último reduto do Norte da cidade, à excepção do Recolhimento de Sant’ Ana (inícios do séc. XVI) e respectiva rua que a ele liga, a mais perpendicular de [41] PONTA DELGADA SÃO MIGUEL, AÇORES 2.ECA_SolarSJoaq_MGoulart 8/17/10 10:24 AM Solar de São Joaquim. Cerca de 1880. Page 42 Solar de São Joaquim. Cerca de 1930. [42] todas da altura, que se estendia à Matriz (construída entre 1530 e 1545) e seu Largo, através da Rua Direita de Sant’ Ana até à então Rua do Frade (actual Rua Hintze Ribeiro). As cartas executadas nos inícios do século XIX, em particular a de 1814 da autoria de José Therezio Michelotti, Tenente Coronel d’Engenheiro, ou a carta de 1831 de António Ferreira Garcia de Andrade, ainda demonstram uma Ponta Delgada pequena e estendendo-se predominantemente para Nascente e Poente, deixando o Solar de São Joaquim isolado e ancorado numa paisagem campestre e rural. O Solar de São Joaquim surge, assim, a Poente e na mesma via que o Recolhimento de Sant’ Ana, afastado da zona urbana da cidade de Ponta Delgada em local então chamado Pinheiros, nome esse que nos sugere, com expressividade, o contexto de que falamos. Casa de residência fixa, que a sua dimensão, volumetria e espacialidade, e que a linha de doações, quase exclusivamente dentro da mesma família, confirmam. A composição unitária da fachada principal, de muito interesse, resultou de uma construção que trespassou quase dois séculos, terminando, curiosamente, numa imagem completa e de traça simétrica e equilibrada, provavelmente segundo um projecto, cuja existência desconhecemos. vol. LIV ‘09 Curiosamente, a sua fachada principal pouco ou nada informa relativamente à complexidade espacial que reside atrás dela. Possui essa fachada cerca de 49 metros de comprimento, 6 metros de altura (corpo franco) e 9.60 metros de altura nos torreões laterais (um em cada extremo). O corpo central, da antiga ermida, até à ponta da cruz, mede 12 metros de altura. Portanto, um emparamento de apreciáveis dimensões. É esta a única fachada que possui simetria, ou pelo menos que se aproxima desse tema composicional clássico. As restantes avançam e recuam consoante a necessidade de um programa cuja lógica interior prevalece e se altera ao longo do tempo. Dois pisos perfazem o seu corpo franco, virado a Sul, que se estende entre dois torreões, perfazendo um terceiro nível, de telhado de quatro águas, tendo a seu centro o corpo da antiga ermida, de igual altura dos torreões (até ao friso, que antecede o único frontão da casa) de duas águas dispostas perpendiculares à dita fachada, escondidas por de trás do frontão de volutas quebradas. Cada parte da fachada principal que se desenvolve entre os torreões (incluindo os paramentos dos mesmos e excluindo o corpo central) conta com cinco vãos no piso superior e seis no térreo. Os vãos superiores, todos portas de duas folhas e com varandas, assumem um ritmo regular mas desfasado dos do 2.ECA_SolarSJoaq_MGoulart 8/17/10 10:24 AM Page 43 SOLAR DE SÃO JOAQUIM [43] PONTA DELGADA SÃO MIGUEL, AÇORES Planta do Solar de São Joaquim, 1939. 2.ECA_SolarSJoaq_MGoulart 8/17/10 10:24 AM Page 44 rés-do-chão, estes com lógica própria de distribuição, com critério diferente, de menor cuidado em relação aos do piso nobre, e de carácter funcional mais vincado. No piso de entrada, existem dois portais, de duas folhas, em posição central em cada corpo lateral (entre torreões e corpo da ermida, excluindo-os), duas janelas entre eles e o corpo central, e outras duas e uma porta simples em cada extremo. O tratamento decorativo é de grande simplicidade, mas digno e de gosto algo apurado. O único friso que existe está colocado imediatamente abaixo do beiral, e que se estende além dele, [44] Solar de São Joaquim. Corpo da Capela. vol. LIV ‘09 perfazendo a única divisão de piso (ou melhor de pisos) em toda a fachada, visto apenas separar todo o corpo franco dos torreões. Embasamento de notável simplicidade, resumindo-se à sua função dupla de, por um lado, “iniciar” o edifício, e, por outro lado, servir de chaparia. Deste, apenas saem duas pilastras de altura inteira do edifício (com bases sobrepostas ao embasamento) e que corresponde ao mencionado corpo central da antiga capela. As restantes, reportando aos dois portais e porta do piso térreo. Todos os vãos deste piso do rés-do-chão têm cantarias rectilíneas e finas. Os vãos superiores, incluindo os dos torreões, por sua vez, e porque pertencem ao 2.ECA_SolarSJoaq_MGoulart 8/17/10 10:24 AM Page 45 SOLAR DE SÃO JOAQUIM PONTA DELGADA SÃO MIGUEL, AÇORES No cimo um frontão, composto por duas volutas quebradas, ladeadas por pináculos, um em cada lado. Ao centro e no topo da junção das volutas, uma cruz simples atestando, sem sombra de dúvida, a existência de espaço sagrado, neste caso, ermida. Como anteriormente mencionado, um telhado de duas águas capeia este corpo, escondido por de trás do frontão. Um pouco mais baixa do que devia, a fachada principal demonstra pouco “fôlego” para os vãos projectados, no entanto, toda a fachada possui graciosidade e harmonia que lhe atribui beleza e encanto. O seu interior, no entanto, atesta outro comportamento. Além das fases de construção que adiante trataremos, verificáveis nos únicos levantamentos arquitectónicos existentes, um de recente feitura e completo (plantas, cortes e alçados) e outro de data de 15 de Fevereiro de 1939, este, mandado executar pelo seu então proprietário, Guilherme Fisher Berquó de Aguiar, bisavô do actual dono do Solar. Por curiosidade, aqui abrimos um entre-parêntesis, para apresentar o que para o actual proprietário é a razão da feitura do levantamento de 1939, que apenas possui um rosto e as plantas do Solar. Ao que nos foi contado, e disto não possuímos quaisquer provas, esse levantamento foi mandado executar para ser vendido. Quem estaria interessado em tal aquisição e para que fins? Nem se sabe se uma sequer cópia foi de facto alienada. De que se saiba, nenhum aumento do Solar estava previsto que pudesse atribuir outra justificação para o aparecimento deste levantamento. As diferenças entre estes dois levantamentos não são muitas, nem no espaço nem na volumetria, sendo que as alterações ao Solar pautaram-se por pequenas modificações nas divisões internas e alguns volumes de escadas de importância menor, que se viram retiradas ou alteradas de posição. O pátio sofreu maiores, mas insignificantes, remodelações. Hoje, encontrando-se totalmente empedrado em paralelepípedos de basalto, em 1939 estava subdividido em três partes com passagens a seu Norte que ligava às alas laterais. O sector no centro era em empedrado (não sabemos que tipo de material ou se possuía algum desenho), a parte Poente era acimentada e a parte Nascente, jardim. No que se refere ao programa funcional do Solar no ano de 1939, pouco se sabe para além das cozinhas e casas de banho, que são os únicos compartimentos que nesse levantamento possuem legendagem. Pelas suas funções tão específicas, tal menção expressa seria, contudo, desnecessária, a não ser que o seu objectivo seria a própria introdução desses espaços. Todo o resto terá que ser deduzido através de uma leitura planimétrica cruzada com o que se conhece dos programas funcionais deste tipo de arquitectura e da altura da construção deste Solar. O início da construção do Solar de São Joaquim é por nós desconhecido. Um historiador local, já falecido, de nome Hugo Moreira, em estudo geneológico, efectuado em Dezembro de 1984, referente à família que deteve este Solar ao longo do seu tempo, estimava, em memória, que se colocava nos finais do século XVII, segundo ele, “dadas as características arquitectónicas”. Esta data, contudo, não nos parece aceitável. Em 1668, a 14 de Abril, é aberto testamento de D. Catarina Correia Botelho ou de Távora, por morte desta, testamento feito em 17 e aprovado a 31 do mês de Dezembro de 1665, quase três anos antes de seu falecimento. Por ser solteira, seu sobrinho, o licenciado António Pereira Botelho, filho de sua única irmã, D. Maria Correia Botelho (1586-1666) e de seu cunhado, o licen- [45] piso nobre, possuem tratamento diferenciado e para melhor, com cantarias rectilíneas com friso simples em cada topo de vão e varandas, agora de gradeamento de ferro pintado nas varandas (possivelmente de madeira em épocas anteriores). A grande excepção surge no corpo central. Sem qualquer divisão de piso. Este corpo assume uma verticalidade de marcado contraste com o restante corpo da fachada, de horizontalidade absoluta. Do embasamento até ao frontão, três vãos são colocados no seu eixo central. Porta em baixo (acesso à antiga ermida) seguindo-se de uma porta com varanda, no segundo piso (o nobre) e separado destes e no seu topo, uma janela de cantaria mais rica em relação às anteriores, onde, junto do parapeito, uma concha é colocada com a data de 1787. Data essa que se estima reportar à conclusão das construções francas do Solar de São Joaquim. Estes três vãos são os únicos que apresentam um tratamento dos seus topos diferente dos restantes, ou seja, curvados. 2.ECA_SolarSJoaq_MGoulart 8/17/10 10:24 AM Page 46 Solar de São Joaquim. Fachada principal. Vista Nascente. [46] ciado Rui Pereira do Amaral (1588-1667), ambos extintos aquando do falecimento da doadora, recebe todos os seus haveres terrenos. Os bens eram muitos, incluindo o Solar de São Joaquim, onde D. Catarina Correia Botelho vivia, e dos abundantes bens vinculados em morgadio. Atrelava, no entanto, condições em nada vagas para seu novo detentor cumprir, escrupulosamente. Além do uso obrigatório do apelido Botelho, a sua instituidora impôs o seguinte: “se cometessem algum crime de lesa-majestade divina ou humana ou outro qualquer acto de oprobrioso pelo qual os bens tivessem de ser confiscados, os passassem ao herdeiro seguinte, vinte dias antes da prática do desacato que justificasse a aplicação da lei (Hugo Moreira, 1984)”. O que importa desta descrição é o facto do Solar não poder ter sido construído nos finais do século XVII se a sua detentora o tinha doado antes disso, ou seja, na sua morte em 1668, portanto meados desse mesmo século. Não temos documentos para afirmar que a casa era outra da que se trata, tudo indica que a casa herdada por António Pereira Botelho era o Solar de São Joaquim. Assim sendo a data do início deste Solar terá que recuar para algures nos inícios do século XVII ou mesmo vol. LIV ‘09 Solar de São Joaquim. Hall principal. anterior. Outro facto poderá fazer luz sobre o assunto. D. Catarina Botelho era, como já dito, solteira, e sendo solteira provavelmente tão grande casa não necessitava, ou sequer teria a iniciativa de construir. Se essa conjectura possuir fundamento então esta casa seria iniciada não por si mas sim por seu pai, António Botelho Ribeiro, natural da Beira Baixa, escrivão da Câmara Municipal de Ponta Delgada. Em estudo recente, também sobre genealogia, da autoria do Dr. Jorge Forjaz, emerge um documento que corrobora a nossa opinião. A três de Setembro de 1785 “…arrendou também a sua Casa de S. Joaquim, em Ponta Delgada, a Bernardo Gomes por escritura lavrada no tabelião Francisco Botelho de Sampaio. Aí se diz que é administrador do vínculo instituído por D. Catarina Botelho, que compreende 7 alqueires de terra no Papa-Terra, nos quais «estão edificadas umas casas altas sobradadas (dois pisos) com sua Ermida de S. Joaquim numa quinta murada de árvores de espinho que seu pai havia edificado»”1. 1 Jorge Forjaz, Genealogias da Ilha da Terceira, 2007, p. 70. 2.ECA_SolarSJoaq_MGoulart 8/17/10 10:24 AM Page 47 SOLAR DE SÃO JOAQUIM PONTA DELGADA SÃO MIGUEL, AÇORES Tudo isto, contudo, não nos capacita para descrever quer em planimetria quer em funções exactas qual a extensão, em profundidade ou configuração, da construção que entre o torreão primeiro, Poente, e a ermida, agora a seu centro, existia. Utilizando o levantamento de 1939 como base, e através de uma leitura das paredes-mestras, algo falível, poderíamos arriscar alguma geometria planimétrica e a atribuição de algumas funções, isto cruzado com conhecimentos das tipologias de residências nobres da altura. No entanto, trata-se de um exercício de grande risco, perante a falta de documentos quer escritos quer desenhados que o provem. Assim sendo, podemos apenas afirmar que no rés-do-chão, provavelmente, à semelhança de muitas outras residências portuguesas nobres da sua altura, o Solar de São Joaquim possuía lojas para guardar vários tipos de géneros, produzidos ou não na extensa propriedade do Solar. Sendo que estas casas tinham uma rígida separação entre espaços servidos e de serviço, o piso nobre, por tradição clássica, surge, neste caso, no piso 2, o último, sendo que nele estariam as salas quer de receber quer de jantar (a primeira na fachada Poente e junto da cozinha e a outra ao pé do quintal, no enfiamento da ermida), além dos quartos de cama e cozinha. O rés-do-chão, no levantamento de 1939, apresenta um uso já diferente do seu início, ou seja, demonstra divisão em dois apartamentos completados com cozinha e casas de banho, provavelmente para aluguer a terceiros. Nele está a entrada para o piso superior, directamente da rua. Quer a posição e configuração da sala de estar, no posterior lateral esquerda (Poente), de rica volumetria e cantaria, além do seu belo balcão abalaustrado em basalto, quer uma escada posicionada no pátio, actual escada de acesso interno à parte da residência do actual proprietário, atestam, possivelmente esta provável fase e sua configuração. A família, através de João Manuel do Rego Botelho, obteve Brazão de Armas dos Regos, Botelho, Bettencourt e Corte Real por Carta Régia de 21 de Junho de 1783, algo que apenas atesta a qualidade da família que prestava contas nestas propriedades de tão antiga estrutura na ilha. Foi nesta época, ao aceitar a data que se encontra na concha no corpo central do Solar, entre a janela de sacada, que diz S.M. JOAQUIM 1787, que o Solar teve seu término, pelo menos no que se refere à conclusão da parte Nascente, que prefigura a actual e completa fachada principal, simétrica, como já dissemos. Toda a ala direita, Nascente, deverá, então, ter sido construída por volta de meados do século XVIII, até quase ao seu término, ou seja, 1787. Mesmo assim, tal como na primitiva e primeira ala esquerda, Poente, não sabemos quantas e quais as fases intermédias, caso tenham existido. Ao julgar pelo estilo das cantarias patentes no pátio, quer as do alçado Norte quer as do alçado Sul, sugerem diferenças. Diferenças essas já enunciadas mais ou menos a metade da fachada Poente deste pátio, onde a porta do piso térreo se mostra mais antiga e diferenciada quer do vão acima de si (primeiro andar) quer os adjacentes. A nível planimétrico parece haver cisão, ou diferenças de interligações internas, bem como volumétricas. Podemos estar perante duas fases? O alçado Nascente do Solar sugere essa possibilidade. Existe, contudo, uma pequena fonte de parede no alçado Norte do dito pátio que apresenta estilo mais recuado, que poderá, quanto a nós, tratar-se de uma colocação posterior. O estilo das pequenas volutas são, no entanto, e curiosamente, do mesmo estilo das do frontão do corpo central do Solar, o da ermida. [47] Mesmo assim, continua vaga a data do início da obra até à data da construção da ermida, que se estima constituir a primeira fase de construção do Solar de São Joaquim. Há já algum tempo profanada ermida particular deste Solar deverá ter sido construída por volta de 1750, pois em 7 de Junho de 1751 “...o bispo de Angra, D. Frei Valério do Sacramento, concedia autorização para “se erigir altar na hermida de são Joaquim...” (Nestor de Sousa, 1986). Em 31 de Agosto de 1753, foi ela dotada pelo padre Manuel Raposo do Canto, irmão do então proprietário, o Capitão António Francisco do Rego Botelho e Faria, que em 15 de Junho de 1755, ano do terramoto que assolou Lisboa, casou na sua capela, então acabada, sua filha D. Maria Luiza do Canto Rego Botelho Corte Real com o morgado João Soares de Sousa Ferreira Borges de Medeiros. Datas essas confirmadas por Hugo Moreira (1984) e Nestor de Sousa (“A Arquitectura Religiosa de Ponta Delgada nos Séculos XVI A XVII”, Universidade dos Açores, 1986, página 242). 2.ECA_SolarSJoaq_MGoulart 8/17/10 10:24 AM Page 48 Solar de São Joaquim. Pátio. Solar de São Joaquim. Fachada posterior [48] A fachada posterior do Solar é a que apresenta as maiores reservas, porquanto à sua volumetria, além de muito alterada em tempos recentes, não apresenta, nem sequer tenta, equilibrar-se com a mais antiga, onde está a excelente fachada da sala de estar. Esta surge muito pobre e desarticulada, de cantarias muito simples e rectilíneas, de corte e material mais recente. ros. Contrariamente a isto, o piso nobre desta ala apresentava ligações internas sugerindo prolongamento da vida da família. Existe, contudo mais dois fornos de cozinha neste piso superior, um junto das dependências adjacentes à fachada principal e outro no posterior, com acesso para o então pátio ajardinado por escadas estreitas e alpendradas. Se assim for, o Solar possui então mais duas fases até o seu término geral. Em que datas e com que programas funcionais, não sabemos. Toda esta parte, habitada pelo seu actual proprietário, Dr. Francisco Pacheco Rêgo Costa, tem sido alterada ao longo de sua vigência. A actual porta de acesso ao piso superior, residência do mesmo, faz-se pelo portal lateral direito, tendo até há pouco tempo a ala esquerda, a mais antiga, sido habitada por inquilino, atestando um mau estado de conservação dessa ala e explicando a razão pela qual o seu actual proprietário ocupa apenas a parte mais pequena da ala Nascente, corpo da ermida antiga e sala à sua esquerda. Segundo fotografia, de outra fotografia, em posse do actual proprietário, que se estima ser dos finais do século XIX ou inícios de XX, um cenário interessante está nela sugerido. Além de um contexto ainda de localização de rua perfeitamente campestre (rural) nas janelas do piso superior e na ala esquerda, estão, na quarta e terceira, a contar da esquerda para a direita, algumas mulheres. A mais visível tem um menino ou menina ao colo. Não se trata de pessoa nobre. Não estaria certamente pessoas dessa condição social à janela com criança ao colo. Será a ama de criança da senhora da casa? Ou será simplesmente pessoa de condição social mais baixa que de facto mora nesta ala da casa, alugando-a? Se assim for, onde será que mora a família proprietária do Solar? Não nos vamos alongar com as possíveis interrogações que esta fotografia traz, no entanto, é certamente curioso saber-se que tipo de uso estava este Solar votado nesta altura. Novamente no rés-do-chão, e segundo o levantamento de 1939, é sugerido uma divisão de usos entre este e o piso superior. Este provavelmente e uma vez mais como apartamento independente da restante casa de forma a ser alugado a terceivol. LIV ‘09 2.ECA_SolarSJoaq_MGoulart 8/17/10 10:24 AM Page 49 SOLAR DE SÃO JOAQUIM [49] PONTA DELGADA SÃO MIGUEL, AÇORES Solar de São Joaquim. Alçados de 2002. O facto é que este Solar em finais de setecentos, e mesmo antes do seu suposto término em 1787, mais especificamente em 1785, passaria, a partir desta data, a ser sempre alugado, tendo o seu último inquilino proprietário, João Manuel do Rego Botelho de Faria Corte-Real da Silveira (1732-1800), que passou a viver em Angra do Heroísmo. Quase a meados de oitocentos, a então denominada Casa de São Joaquim vai parar, por arrendamento, às mãos do ilustre micaelense José Jácome Correia, que passou a viver nela a partir de 1841, e que resultaria numa relação conturbada com os donos do Solar, porquanto o Morgado incumpria o contrato, quer na conservação da casa, quer na data em devia sair dela. O con- trato era de 6 anos, e no seu término Jácome Correia recusava-se a abandoná-lo ou aceitar aumento de renda, resultando num pedido de vistoria feito por D. Ana Elvira, a 21 de Março de 1846. A propriedade era, nessa altura, constituída por casa habitável, ermida, jardim, quintal, cocheira, estrebaria, alguns quartos para despejos, granel e duas lojas (uma delas adjacente ao granel). Finalmente, e através de processo litigioso, o Morgado decide sair do Solar de São Joaquim, alegando que o mesmo não se encontrava em condições habitáveis. Não se sabe para onde foi viver, tendo em conta que o mais fabuloso “palácio” de oitocentos, e sua futura residência, o Palácio de Sant’Ana, apenas viria a ser construído a partir de 1851, conjuntamente com o seu belo jardim, as estufas e cavalariças um ano depois, em 1852. 2.ECA_SolarSJoaq_MGoulart 8/17/10 10:24 AM Page 50 Nos inícios de 1800 João Maria do Rego Botelho e Faria (falecido em Lisboa, onde vivia, na Rua da Atalaia, em 19 de Dezembro de 1844, sem deixar testamento), permutou terras para aumentar a propriedade de São Joaquim. Em 1888, o Solar de São Joaquim é vendido, por escritura de 11 de Outubro, pelo seu então proprietário, António Maria Holtreman do Rego Botelho (agraciado com título de Conde do Rego Botelho por D. Carlos, por Decreto de 4 de Janeiro de 1894). Esta venda foi feita a um engenheiro chamado Alípio Coelho D’Amaral, que para adaptá-lo a moradias (isto poderá explicar as subdivisões que atrás falávamos aquando da descrição das planimetrias, nomeadamente no que se refere ao rés-do-chão), destruiu o interior da ermida. [50] O Solar de São Joaquim é novamente vendido, desta por Alípio Coelho D’Amaral, à Companhia de Jesus em 12 de Agosto de 1892. Ali se estabeleceu um colégio invocando a memória do Cardeal Fisher, da família Fisher Berquó. O colégio, então famoso na ilha de São Miguel, funcionou de 1892 a 1907. Este facto é corroborado pelo símbolo da companhia, um coração vermelho em cima de um rectângulo azul contendo uma cruz latina, que ainda existe no conjunto de vidros colocados no arco do portão que dá acesso ao actual pátio. O padre Jesuíta, Francisco Xavier Schurrer, vendeu o Solar através de escritura de 5 de Outubro de 1917, a D. Maria Tomásia Fisher Berquó, fazendo-o, assim, regressar às mãos da família que agora detém o Solar. Esta, ao falecer em 1923, transmitiu-o a seu sobrinho, Guilherme Fisher Berquó D’Aguiar, o tal que ordenou a feitura do já falado levantamento arquitectónico de 1939. A eles sucederam, na posse deste Solar, suas duas filhas, D. Maria Isabel D’Aguiar Serpa, casada com Olivério Horta Pamplona Serpa, e D. Maria Nohémi da Conceição D’Aguiar Rêgo Costa, casada com Dr. Francisco Manuel do Rêgo Costa. Com a morte destas duas irmãs, o Solar passou então para seus filhos e seus netos. Em 1978, o Solar de São Joaquim é adquirido em partilhas, por falecimento dos avós do actual proprietário, o Dr. Francisco Pacheco Rêgo Costa, filho de D. Clara Maria Vaz Pacheco de Castro Rêgo Costa e do Dr. Francisco de Aguiar Rêgo Costa. Desde então muitas intervenções, pequenas e grandes, ao nível vol. LIV ‘09 da recuperação e remodelação interna tem o Solar recebido, nem sempre de acordo com a sua essência primitiva, mas não irreversível. Parte dele, a ala esquerda, só agora libertada de inquilino, sofre graves e grandes necessidades de premente recuperação, em muito mau estado de conservação, inclusivé a sua parte superior da fachada principal que apresenta abaulamento, para fora, que urge resolver. O estado actual dos interiores não nos assegura uma interpretação fidedigna relativamente ao seu desenho primitivo, desconhecido. A parte utilizada pelo actual proprietário, no segundo piso, apresenta tectos em caixotão, enquanto os tectos da ala mais antiga, agora visitável, apresenta tectos rasos, sem qualquer decoração. Alteração do século XIX? Não sabemos. O estilo indica essa hipótese provável, mas não existem provas, além das ocupações com moradias que acima mencionamos. Com a recente saída do inquilino que ocupava a ala Poente, decorrem obras de recuperação e remodelação, segundo projecto da autoria do arquitecto Igor França, que mantém e vinca a sua função de habitação de sempre. Por fim, salienta-se a questão do estilo do Solar de São Joaquim. Esta casa senhorial, por influência de outra, certamente, incute no espaço rural da cidade de Ponta Delgada uma imagem arquitectónica definidora da época de sua construção. Terá sido António Botelho Ribeiro, natural da Beira Baixa, o portador da traça do Solar de São Joaquim? É provável. Tendo visto algo semelhante em terras continentais, donde era oriundo, terá encomendado esboço apropriado, construindo, assim, na ilha de São Miguel tão grandiosa casa senhorial. Mesmo que não comparável a uma Quinta das Torres em Setúbal (1560?), no entanto, o Solar de São Joaquim rege-se pelas características da casa nobre seiscentista, desde a espacialidade, a volumetria, organização da fachada principal com torreões e corpo central proeminente, assim como os seus aspectos decorativos exteriores, fazendo deste singelo Solar uma casa nobre absolutamente inserida na sua época. Desde 1983, este antigo Solar, por Resolução do Governo Regional dos Açores, foi classificado como imóvel de interesse público regional. 2.ECA_SolarSJoaq_MGoulart 8/17/10 10:24 AM Page 51 SOLAR DE SÃO JOAQUIM [51] PONTA DELGADA SÃO MIGUEL, AÇORES Solar de São Joaquim. Planta de 2002. 2.ECA_SolarSJoaq_MGoulart 8/17/10 10:24 AM Page 52 BIBLIOGRAFIA: ALBERGARIA, Isabel Soares de, Quintas, Jardins e Parques da Ilha de São Miguel, Quetzal Editores, 2000. ALBERGARIA, Isabel Soares de e Maria Alexandra Trindade Gago da Câmara, “A Casa Nobre de Setecentos em Ponta Delgada – um olhar sobre tipologias e modelos da arquitectura civil açoreana”, in Atlântida – Revista de Cultura 2002, Angra de Heroísmo, Instituto Açoriano de Cultura, pp. 59-70. ALMEIDA, Rui Miguel Goulart de, Território e Paisagem na Ilha de São Miguel – Séculos XV a XVIII, Tese de Mestrado, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, 2007, aprovada em Janeiro de 2008. AMARAL, Ilídio do, “Do ‘Solitário Ermo’ à ‘Afamada Cidade’ – reflexões sobre as cidades insulares atlânticas no século XVI”, in Actas do Colóquio Comemorativo dos 450 Anos da Cidade de Ponta Delgada, Ponta Delgada, 1999, pp. 33-47. [52] ARQUIVO DOS AÇORES, Ponta Delgada, 1920 (vários volumes). Nomeadamente: Colecção de Documentos relativos à Ilha de S. Miguel. ATAÍDE, Luís Bernardo Leite, Arquitectura Religiosa e Civil, São Miguel, Açores. AZEVEDO, Carlos, Solares Portugueses, Livros Horizonte, 1988. COSTA, Carreiro da, Esboço Histórico dos Açores, Ponta Delgada, Instituto Universitário dos Açores, 1978. Fotografias da autoria de Rui Miguel Goulart de Almeida vol. LIV ‘09 FRUTUOSO, Gaspar, Saudades da Terra, Instituto Cultural de Ponta Delgada, 1978. KUBLER, George, A Arquitectura Portuguesa Chã. Entre as Especiarias e os Diamantes: 1521-1706, Vega Editores, 1988. MENDONÇA, Luís, História dos Açores: Visão Geral (Sécs. XV-XX), 2.ª Edição, Nova Gráfica Lda., 2000. MOREIRA, Hugo, Solar de São Joaquim (Memória), Santo André, Dezembro de 1984. MOREIRA, Rafael, “Arquitectura: Renascimento e Classicismo”, in História da Arte em Portugal, Vol. II, Dir. Paulo Pereira, Lisboa, Círculo de Leitores, 1995, pp. 303-375. PEREIRA, José Fernandes, Arquitectura Barroca em Portugal, Biblioteca Breve, 1986. 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[53] INVENTARIAR E CLASSIFICAR BENS - UM CASO AÇORIANO - 3.ECA_MMVelasquez 8/17/10 11:07 AM Page 54 Se bem que em diversos momentos, na Região, se tenha valorizado a protecção legal de bens de interesse patrimonial, até à actualidade pouquíssimos eram os bens móveis regionais com a atribuição da classificação como forma jurídica de protecção e salvaguarda. De facto, o Registo Nacional de Bens Classificados apenas registava a imagem de N.ª S.ª da Conceição, pertencente a um particular de Angra do Heroísmo, o Sr. Francisco Ernesto Oliveira Martins, cuja decisão de classificação foi objecto de publicação no Diário do Governo, II.ª Série, n.º 16, de 20 de Janeiro de 1969. [54] A transferência das competências em matéria de coordenação das funções de museus, bibliotecas e arquivos através do Decreto-Lei n.º 408/78, de 19 de Dezembro de 1978, para a Região, porém, indicava competir a esses organismos “a intervenção nos processos de classificação e inventariação de imóveis e móveis”. Da mesma forma, essa prerrogativa continuou afecta aos museus regionais em cuja lei orgânica (o Decreto Regulamentar Regional n.º 13/2001/A, de 7 de Novembro) se refere competir-lhes “promover a classificação de bens museológicos”. Porém, a mais recente legislação portuguesa sobre o Património, a Lei n.º 107/2001, de 8 de Setembro, ao definir o conceito e o âmbito do património cultural descrevendo-o como o conjunto dos “testemunhos com valor de civilização ou de cultura portadores de interesse cultural relevante” (n.º 1 do artigo 2) esclarecendo que a condição de relevância do seu interesse cultural – que pode ser histórico, paleontológico, arqueológico, arquitectónico, linguístico, documental, artístico, etnográfico, científico, social, industrial ou técnico – lhes é atribuível quando reflictam valores de memória, antiguidade, autenticidade, originalidade, raridade, singularidade e exemplaridade, veio definir e tipificar as figuras e as modalidades de protecção de bens inscrevendo-os em diferentes categorias: Bem de interesse nacional: aquele cuja protecção e valorização represente um valor cultural de significado para a Nação, diferentemente designados de: – “monumento nacional” (quando se trate de bens imóveis); – “tesouro nacional” (quando se trate de bens móveis). Bem de interesse público: aquele cuja protecção e valorização represente ainda um valor cultural de importância nacional, vol. LIV ‘09 mas para o qual o regime de protecção inerente à classificação como de interesse nacional se mostre desproporcionado. Bem de interesse municipal: aquele cuja protecção e valorização represente um valor cultural de significado predominante para um determinado município. A mesma Lei estabelece nos n.ºs 1 e 3 do artigo 59.º que: “As intervenções físicas ou estruturantes em bens classificados (…) ou em vias de classificação como tal, são obrigatoriamente asseguradas por técnicos de qualificação legalmente reconhecida” e, ainda, que as obras e intervenções “serão objecto de autorização e acompanhamento pelo órgão competente para a decisão final do procedimento de classificação (…)”, pressupostos reconfirmados e amplificados, aliás, com o recentíssimo Decreto-Lei n.º140/2009, de 15 de Junho, que estabelece o regime jurídico dos estudos, projectos, relatórios, obras ou intervenções sobre bens culturais classificados ou em vias de classificação. Ora, coadjuvando a lei nacional e adaptando-a à Região Autónoma dos Açores, o Decreto Legislativo Regional n.º 29/2004/A, de 24 de Agosto, é o normativo orientador dos processos de protecção legal de bens culturais móveis e imóveis situados na Região definindo duas formas para o acto de classificação cujo âmbito repete o da lei nacional: Bem de interesse público: a instrução do procedimento cabe à Direcção Regional da Cultura e a decisão de classificação reveste a forma de Resolução do Conselho do Governo Regional. Bem de interesse municipal: a instrução do procedimento e a decisão de classificação – que se materializa na emissão de uma deliberação da respectiva assembleia municipal – incumbe aos municípios. Aos bens culturais móveis e imóveis, quando revistam valor especialmente simbólico para a Região e tenham inequívoco interesse regional, pode ser atribuída, através de decreto legislativo regional, a designação de: – “monumento regional” (caso se trate de bens imóveis); – “tesouro regional” (caso se trate de bens móveis). Foi com base nestes preceitos legais que a Câmara Municipal da Ribeira Grande apresentou, em Janeiro de 2007, o pedido de classificação do Arcano Místico de Madre Margarida do 3.ECA_MMVelasquez 8/17/10 11:07 AM Page 55 PROTEGER O PATRIMÓNIO: INVENTARIAR E CLASSIFICAR BENS - UM CASO AÇORIANO - imóvel onde viveu Margarida do Apocalipse para aí instalar e musealizar o Arcano Místico. O móvel do Arcano depois da colocação das portas. Apocalipse, tornando-se assim a entidade que, segundo a lei, deu o primeiro impulso para a respectiva protecção legal. O bem, propriedade da Confraria do Santíssimo Sacramento da Matriz de Nossa Senhora da Estrela, resulta do intenso labor, entre 1835 e 1858, data da sua morte, da egressa Margarida do Apocalipse, freira clarissa do Convento de Jesus, na Ribeira Grande, que se dedicou à sua confecção e o expunha à apreciação pública na sua própria casa de onde só saiu em 1870 para ser depositado no Coro Alto da Matriz da Ribeira Grande, onde até agora se encontrava. O seu interesse patrimonial já fora referenciado por Mário Moura, director do Museu Municipal local, em diversas publicações editadas no final dos anos 90 e, desde então, a edilidade projectou a recuperação do A listagem dos materiais envolvidos na execução dos quadros é diversíssima, todavia, o laboratório do ex-Instituto José de Figueiredo identificava a composição da pasta do corpo das figuras como sendo constituída por miolo de pão aglutinado com goma arábica a que se adicionaram pigmentos naturais para obter as colorações (Ribeiro, 1988). Nos restantes elementos iconográficos identificaram-se materiais orgânicos (madeiras e cascas de árvores – predominando as de pinheiro – cortiça, líquenes, musgos e algumas plantas hepáticas), papéis e adesivos (cola animal, gelatina ou goma arábica), e materiais inorgânicos (vidro, pigmentos naturais – também identificados pelo laboratório do IJF – ouro, prata e argila). (Romão, 1994). No que diz respeito ao seu estado de conservação, o relatório de prospecção elaborado pelo então Centro de Estudo Conservação e Restauro dos Açores, descrevia-a do seguinte modo: Trata-se de uma obra extremamente complexa, não só pela quantidade de figuras e de situações, mas, sobretudo, pela diversidade de materiais e técnicas de execução utilizadas. (…) a exiguidade do espaço no interior da vitrina, auxiliada pelo posicionamento contíguo dos quadros e pela sua divisão em três níveis de altura, dificultam grandemente a leitura do conjunto. (…) Em termos gerais, o Arcano apresenta-se em bom estado de conservação, apesar da baixa resistência, tanto mecânica, como química, dos seus materiais constituintes. O facto de todo o conjunto ter sido mantido num armário fechado deverá ter contribuído para a sua preservação ao longo do seu cerca de século e meio de existência. [55] Reportando-nos à documentação produzida ao longo do tempo e que o descreveu e equacionou as condições do seu eventual restauro, apura-se que o Arcano é constituído por um armário de grandes dimensões (200x200x200), em madeira de acácia, ostentando em cada face portas envidraçadas, cada uma com cerca de 2,40 m de largura. No seu interior, distribuídos por três prateleiras, noventa e quatro conjuntos e sub-conjuntos de pequenas figuras, cuja altura oscila entre 1 e 20 cm, representam passagens do Antigo e do Novo Testamento, iconografia católica e vivências do quotidiano da autora. 3.ECA_MMVelasquez 8/17/10 11:07 AM Page 56 O móvel do Arcano. Pormenor de figuras do lado 1, piso 3. [56] As mudanças a que foi sujeito e, principalmente, o local onde actualmente se encontra, terão sido os factores mais importantes para o início de alguma da degradação que se observa. Efectivamente, na face virada para a grande janela do coro da Igreja Matriz, são bem visíveis as descolorações dos pigmentos das roupagens das figuras e das decorações sobre vidro, bem como a formação de fissuras e os destacamentos superficiais em algumas figuras. A tudo isto, não será, sem dúvida, alheia a luz proveniente da janela, na qual só há bem pouco tempo foram colocadas cortinas. É também naquela face (e, sobretudo, no nível intermédio) que a degradação física é mais notada, com vidros descolados e quebrados, figuras em fragmentos e peças em falta. (Romão, 1994). Na decorrência da proposta de classificação, e em conformidade com o disposto no artigo 5.º do decreto legislativo de enquadramento, a Direcção Regional da Cultura procedeu à notificação dos interessados (neste caso a Câmara Municipal da Ribeira Grande e a Junta de Freguesia da Matriz) e, através deles e por Edital, tornou-se público o início do procedimento de classificação. O mesmo anúncio viria a ser divulgado através de vol. LIV ‘09 Aviso publicado no Jornal Oficial de 7 de Março de 2007 e repetido na edição do jornal Açoriano Oriental do mesmo dia: a partir deste momento o Arcano tornava-se um bem em vias de classificação. O pedido, que chegara acompanhado de um parecer do Dr. Nestor de Sousa, e da proposta de classificação como “tesouro regional” do Arcano Místico da autoria do Professor Doutor Rui de Sousa Martins, foi posteriormente submetido à apreciação do Instituto dos Museus e da Conservação (IMC-IP) cuja informação da Dra. Elsa Garrett Pinho salienta: …esta não é uma obra de escultura erudita, nem as proporções das figuras obedecem aos parâmetros clássicos, segundo as modernas concepções do património cultural, este serve fundamentalmente como elemento aglutinador de uma comunidade que nele se revê e através dele se identifica, mobilizando esforços colectivos e catalisando vontades em torno de uma identidade comum e partilhada. Auxiliando-se dos pareceres técnicos já mencionados, conclui referindo que [a obra] é merecedora do estatuto de bem classificado, não só porque se trata de uma importantíssima referência cultural local, mas também pela originalidade da produção. 8/17/10 11:07 AM Page 57 PROTEGER O PATRIMÓNIO: INVENTARIAR E CLASSIFICAR BENS - UM CASO AÇORIANO - [57] 3.ECA_MMVelasquez 3.ECA_MMVelasquez 8/17/10 11:07 AM Page 58 [58] vol. LIV ‘09 3.ECA_MMVelasquez 8/17/10 11:07 AM Page 59 PROTEGER O PATRIMÓNIO: INVENTARIAR E CLASSIFICAR BENS - UM CASO AÇORIANO - O interesse do bem como testemunho simbólico ou religioso – alínea c); A extensão do bem e o que nela se reflecte do ponto de vista da memória colectiva – alínea g); O génio do respectivo criador – alínea b). Relativamente a esta alínea entendeu-se que o conceito de genialidade consignado pelo legislador não se extingue na simples explicitação de mestria técnica, na perfeita tradução dos clássicos cânones estéticos ou mesmo numa demonstração de erudição conceptual; antes pelo contrário, haverá igualmente lugar a uma apreciação fundada na simbiose entre o executante e a obra produzida, bem como no valor da obra enquanto veículo transmissor de uma mensagem – no presente caso do foro catequético e cultual. Acresce ainda aos critérios acima assinalados a absoluta raridade e singularidade do Arcano da Ribeira Grande, sobretudo do ponto de vista da semiótica e enquanto espécime reconhecidamente único em território nacional e mesmo da Europa, o que justifica amplamente o recurso à figura jurídica da classificação como instrumento de protecção e de valorização deste bem cultural. Assim, ao abrigo do n.º 1 do artigo 6.º do Decreto Legislativo Regional n.º 29/2004/A, de 24 de Agosto, e por Resolução do Conselho de Governo datada de 15 de Janeiro de 2009 foi classificado como bem de interesse público o Arcano Místico de Madre Margarida do Apocalipse passando a constar no Inventário Geral Nacional e nos Registos Nacional e Regional de Bens Culturais, em cumprimento dos artigos 12.º e 13.º do diploma regional de enquadramento. Todavia, todo o esforço de protecção e valorização do bem através da classificação não poderia concluir-se sem se promover o incentivo à sua conservação e intervenção de restauro, e à adequação das condições ambientais do novo espaço para onde se pretendia transferir o Arcano. De facto, desde o Relatório de 1994 que se apontava: Para uma análise correcta, tanto do ponto de vista histórico, como da sua preservação, todos os conjuntos [ou seja, cada “quadro” suportado pela respectiva “placa” individual ou cada agrupamento de “quadros” suportados por uma mesma “placa”] precisam ser retirados dos respectivos locais, de modo a poderem ser examinados. Tal remoção deverá efectuar-se apenas uma vez, procedendo-se então a uma análise global e evitando [manuseamentos e] transportes sucessivos das peças. (…) Nessa altura, será necessário um espaço para poder proceder à observação macroscópica e microscópica e à limpeza superficial de todas as peças; à consolidação dos elementos em desagregação; à fixação das áreas em destacamento; ao restauro das peças fragmentadas, descoladas e descoloradas; à desmontagem e montagem de alguns elementos. (…) O trabalho de conservação e restauro a executar será, sem dúvida alguma, complexo e moroso, exigindo uma minúcia e uma precisão que só um técnico especialista poderá ter. Por fim, referia-se Haverá que estudar e definir muito bem as condições ambiente do futuro local de exposição. Dada a natureza orgânica da maioria dos materiais, a intensidade da iluminação deverá ser igual ou inferior a 50 lux. A humidade relativa e a temperatura precisarão de ser ponderadas tomando por base, nomeadamente: as medidas e registos no local, o comportamento dos materiais, a presença de bactérias, fungos e insectos. (Romão, 1994). Por conseguinte, e à luz do previsto no artigo 51.º do Decreto Legislativo Regional n.º 29/2004/A, a tutela do património garantiu, por um lado, o apoio técnico promovendo a deslocação à Ribeira Grande de uma especialista no restauro deste tipo de bens oriunda do Museu Nacional de Etnologia (Dra. Joana Amaral que acompanhou a intervenção de restauro mas, também, a transferência do Arcano para o seu novo espaço, e a definição das condições ambiente adequadas à sua exposição bem como a sua monitorização) e, por outro lado, a comparticipação financeira à intervenção de restauro efectuada no âmbito do disposto na alínea c) do número 3 do artigo 3.º e do artigo 9.º do Decreto Regulamentar Regional n.º 16/2000/A, de 30 de Maio, alterado pelo Decreto Regulamentar Regional n.º 20/2007/A, de 16 de Outubro, que o republicou, e que se consubstanciou na realização de um contrato-programa de atribuição de um apoio no valor de 50% do custo total da intervenção. É o resultado dessa intervenção, levada a cabo pela equipa do conservador restaurador Dr. Paulo Brasil que agora, e em boa hora, podemos apreciar na Casa do Arcano, na Ribeira Grande. [59] Assim, de entre os vários critérios genéricos de apreciação definidos no artigo 17.º da Lei n.º 107/2001, foram tidos como relevantes para a classificação, os seguintes: 3.ECA_MMVelasquez 8/17/10 11:07 AM Page 60 BIBLIOGRAFIA: Legislação Estudos Decreto Legislativo Regional n.º 29/2004/A, de 24 de Agosto (Regime jurídico de protecção e valorização do património cultural móvel e imóvel). Amaral, Joana, Parecer sobre as condições de conservação preventiva para a instalação do Arcano Místico da Ribeira Grande no novo museu, Lisboa, Museu Nacional de Etnologia, 2009 [documento interno]. Decreto-lei n.º 140/2009, de 15 de Junho (estabelece o regime jurídico dos estudos, projectos, relatórios, obras ou intervenções sobre bens culturais classificados ou em vias de classificação). Decreto Regulamentar Regional n.º 16/2000/A, de 30 de Maio (Estabelece o sistema de apoios à recuperação e conservação do património cultural arquitectónico e móvel). Decreto Regulamentar Regional n.º 20/2007/A, de 16 de Outubro (Introduz uma alteração e republica o DRR n.º 16/2000/A, de 30 de Maio). Lei n.º 107/2001, de 8 de Setembro (Estabelece as bases da política e do regime de protecção e valorização do património cultural). [60] Resolução do Conselho do Governo n.º 5/2009, de 15 de Janeiro de 2009 (Classifica como de Interesse Público o Arcano Místico de Madre Margarida do Apocalipse, propriedade da Confraria do Santíssimo Sacramento da Matriz de Nossa Senhora da Estrela, na Ribeira Grande, ilha de São Miguel). Agradeço ao Conservador Restaurador Dr. Paulo Brasil, responsável pela intervenção de conservação e restauro do Arcano Místico, a cedência das imagens. vol. LIV ‘09 Moura, Mário, “Arcano Místico de Madre Margarida Isabel do Apocalipse: percursos de identidade” in Separata das Actas do Iº Encontro sobre cultura popular, Ponta Delgada, Universidade dos Açores, 1999. Ribeiro, M. Isabel Macedo, Estudo científico do Arcano Místico, Lisboa, Laboratório Central /Instituto de José de Figueiredo, 1988 [documento interno]. Romão, Paula, Arcano Místico. Igreja Matriz da Ribeira Grande. Relatório de prospecção. Angra do Heroísmo, Centro de Estudo, Conservação e Restauro dos Açores, 1994 [documento interno]. 4. ECA_Laptop_JBarreto 8/17/10 10:52 AM Page 61 Jorge Lima Barreto LAPTOP E A DEFENESTRAÇÃO DO IMAGINÁRIO MUSICAL [61] Num momento de anomia, implementação tecnocrática, detectamos a inversão e não apenas a perda de valores estéticos, taxonómicos e criativos no âmbito da música electrónica e na sua última expressão informática. Grave é a delapidação do étimo “improvisação”: afinal qualquer fuga ao idioma, à gramática, fluxo desprovido de ideia, direcção ou estrutura, pode ser considerado improvisação, apologia do gesto efémero, sem imaginário ou conceptualismo como álibi para as incompetência e impotência composicional, … A computer music é andróide, não é susceptível de ser executada exclusivamente por um músico e o seu gesto humano; corresponde grosso modo à união de duas inteligências, a natural e a artificial; assim a improvisação assistida por computador trata de elementos técnicos e simbióticos, floresta de interconexões Homem/Máquina. O computador é uma tecnologia não específica e pode levar a cabo operações mentais (e.g. armazenagem; opção, estratégia; utilidade, operacionalidade); a memória computacional consiste no arquivo de notas, silêncios, ruídos, ritmos, madrigais, cantatas, sonatas, ragas, sinfonias, canções, e.a., e de sintagmas musicais das mais diversas índole e substância; trata-se de um labirinto fonográfico tecido de múltiplas direcções conceptuais e de inúmeras substantificações sonoras. O computador substitui o operador musical humano, é, por excelência, um aparato de planificação tecnológica; estabelece co- Karlheinz Stockhausen com laptop ensemble. nexões entre tecnopanóplias e instrumentos e programa relações sonoras elementares; o computador funciona de maneira estatística, recodifica, recolhe, classifica, processa e organiza o som digitalizado. Estas máquinas calculadoras podem levar a cabo operações qualificáveis de mentais. Há um senão: o robot musical não tem emoções, nem sequer sonha; desconhece a aventura e, principalmente, o amor; e mais, não sabe o que é Música. A prefiguração dos media como instrumentos deve ser considerada “suplementar”, casos do disco ou do rádio e, “complementar”, na dita “música assistida por computador”; não está em causa o uso do computador como instrumento musical; o 4. ECA_Laptop_JBarreto 8/17/10 10:52 AM [62] vol. LIV ‘09 Page 62 4. ECA_Laptop_JBarreto 8/17/10 10:52 AM Page 63 LAPTOP EA DEFENESTRAÇÃO DO IMAGINÁRIO MUSICAL Desprezando o conceptivo compositor, o executante improvisa sobre matérias prefixadas em vários suportes: gira-discos, LP, CD, laptop, pode até improvisar-se musicalmente no sector da video art, ou em interacções on line, estas geralmente pusilânimes e massificadas... entre as inesgotáveis novas classificações de subtipologias, modas, ideossincrasias, está a corrente alcunhada “pósdigital”, um infradiscurso cuja matéria-prima são erros, defeitos, detritos, sonoridades imperfeitas de ordem técnica digital das próprias máquinas, do hardware e do software, a serem usadas como fluxo sintáxico. A teoria do plunderphonic supera com grande aceitação da parte de muitos músicos e intelectuais, as questões éticas da apropriação sobre o argumento do livre arbítrio da criação artística e legitima o usufruto de todos os materiais musicais ou sonoplásticos disponíveis, indiscriminadamente. Uma música indiscreta correlativa ao hip hop, ao techno ou ao house, sonoplastia da dance culture, proclama-se “música electrónica”, e recentemente com diletantismo, tende a vigorar o termo “acusmática”, qualquer coisa improvisada ou composta com matérias sonoras fixadas, exibindo muitas vezes o trivial da cena tecnoinstrumental da pop experimentalista e do scratch; non nova sed nova, i.e. “coisa que não é nova mas que aparece como tal”; o músico congemina próteses sonoras, espécie de artesanato e gestão electrónica, puras funcionalidade e medialidade; como as fotografias de Sherrin Levine sobre os nus de Edward Western, foto da foto. Sendo assim qualquer software está inadvertidamente disponível para o desvio; edições cleptofónicas, pirataria sónica sortida, pornofonia, e.a.; afinal trata-se de um lapso terminológico pusilânime, ideologia da não-ideologia. Não existe o acto de pura improvisação com os media instrumentalizados musicalmente; há tão somente a possibilidade de coabitação dos vocalismos e dos instrumentalismos acústicos e electroacústicos e, da parafernália, dispositivos ou controladores electrónicos, analógicos e digitais. No seu mais nobre sentido, a performance do músico/intérprete/compositor é o lado humano da computer music improvisada. O reino dos DJs foi-se dilatando globalmente mas sofreu uma notória recessão perante a hiperracionalidade operatória do computador propiciado musicalmente, um jogo empiricista e popularizado que descambaria na vulgata do laptop. Impromptu na Era da Informática: expressão musical adjudicada ao computador, a improvisação entrou no âmbito do imaginário cyberpunk, e pulverizou-se na sua situação pósmoderna com clonagens, plágios, sobreposições, colagens, mudanças de estruturas rítmicas, ou de velocidades, ou de âmbitos texturais; derivas e outras atitudes de instrumentistas ou vocalistas artificiais, simulacros, que já não lidam com partituras escritas e impressas mas com o próprio material sonoro criado live no computador, normalmente no portátil (laptop); discursos que são sinapses instrumentais. Como na parábola conceptualista: “desmaterialização da cultura material”. A técnica do drone, figura contínua, com motivos legati, por vezes repetitivos, vem dos primórdios da música electrónica e hoje está trivializado no discurso da música de massas para laptop, à semelhança funcional do basso continuo no barroco e da rhythm section no jazz; a cronometria quadrada e binária subentende discursos melódicos fugazes, texturas tímbricas surgidas ad hoc, num lenocínio despudorado da máquina – a “música electrónica” das discotecas, a “música acusmática” dos concertos de jazz e improvisada… Inicialmente apelidava-se “groove” uma actividade improvisatória com o computador assumido como instrumento: duma parte o comando e a acção (teclas, rato e écran do computador), da outra, autodeterminação e controlo, liberdade de expressão estética. Desenhando os sons ou esculpindo-os, pode-se sucessivamente modificá-los, transformar a sua imagem e obter variedades acústicas desconhecidas. Depois, desde os anos 1980, com o sistema midi e a digitalização, a nova improvisação de cariz pop estilhaçou-se num âmbi- [63] agente, em processamento do evento sonoro da composição live electronic, sob muitos aspectos, pode bem ser o próprio improvisador que manipula esse seu aparato. 4. ECA_Laptop_JBarreto 8/17/10 10:52 AM Page 64 to pósmoderno com divagações poliscópicas, amálgama e concocção de delírios líricos, de variegados subestilo e subgénero tecnológicos, numa síncrese massificadora do Zeitgeist (avanço cultural no mundo). Constelação de propostas de certo modo insólitas donde sairiam movimentos insulares e progressistas da novíssima música improvisada e da electronic live a culminar na massificação da “música electrónica” (termo usurpador popular e jornalístico para a música que recorre sobretudo ao laptop, entre outras parafernálias digitais e informáticas, actualizado no epifenómeno tecnocrático duma proclamada música improvisada “acousmatic”). Nos finais do Século XX e desde o início deste Século XXI, com a massificação do computador portátil, o regime laptop surge hegemónico na ciberparafernália da nova improvisação. [64] Hoje vulgarizou-se – via um jornalismo acrítico e uma fruição pública sem valores estéticos – o termo “laptop”, depois, e/ou “acusmática” (onde se validam todos os sons fixados como musicais, para designar a transformação dos sons em tempo real, uma atitude híbrida do improvisador e da sonoplastia do computador; ciberartesanato, normalmente debilitado pelo desconhecimento de operações de síntese e de génese do som; apropriando-se de programas prévios, simulação de manobras algorítmicas; todavia conhecendo uma progressiva popularização e sendo fruto apetecível do comercialismo pop, normalmente ao serviço da agiotagem de muitos coreógrafos, encenadores, e outros usurários da música. Os laptoppers, prosseguindo a saga dos DJs, tornaram-se heróis da funcionalização no cinema, na dança, no teatro, na performarte e na instalação vídeo e multimediática. Os termos historicistas “electrónica” e “acusmática” foram delapidados especialmente pelo abuso progressivo do laptop – o computador fixo tem horizontes de recherche muito mais vol. LIV ‘09 vastos e está conectado com o conceito de “música electrónica clássica” – agora, como que em contrapartida, surgem grupos de índole pop e improvisada que quando recorrem à cenografia laptop se proclamam como “música acusmática” – da alegada e massificada “electrónica”, de carácter techno, à profusão de computadores portáteis que estão omnipresentes ao lado dos instrumentistas e vocalistas como recurso cosmético, decorativo, desviado da sua veracidade histórica e da própria representação culta do computador na Música. Um violinista, um contrabaixista e um pianista podem assegurar um figuralismo rítmico melódico, harmónico e todo um florilégio de experimentos, independentemente da sua qualidade estética – mas a reunião de laptoppers improvisadores é incondicional pois as matéria, substancialização e discursividade não são de possível controlo semiológico; es get alles, tudo é válido, inclusivamente qualquer surpresa agradável num mundo do disforme. O fenómeno trivializa-se em jogos infantis psicotecnicamente regressivos e domina afluentemente os mercados da improvisação pop, agora caucionados pela própria Academia que prepara, na sua vertente hipertecnológica da electrónica, não mais músicos e criativos, mas técnicos e engenheiros, bricoleurs de rentabilidade económica imediata, sufragada pelas musobrocracia e meritocracia (protocolos, regimentos, canudos e prémios). O sonho, o fantástico da intuição musical, os paradigmas da improvisação, da electrónica, da acusmática, a magia e a inventio, dissipam-se no artifício das manipulações tecnológicas do computador assumido como instrumento musical. Porém, e com o maior optimismo, desenvolve-se revolucionariamente um situacionismo crítico e de clariaudiência, associado às viragens da dimensão estética da improvisação; finalmente, uma questão de gosto, pelo prazer de tocar e ouvir a Música; para ser amada pelo espírito aberto. 5.ECA_Cisternas_JoanaPinho 8/17/10 11:09 AM Page 65 Joana Balsa de Pinho AS CISTERNAS DO MONTE DO BRASIL CONSIDERAÇÕES INTRODUTÓRIAS No âmbito do Projecto “Levantamento dos Fortes Açorianos e das Fontes Açorianas existentes no Archivo General de Simancas” (POCTI/HAR/49122/2002), promovido pelo Instituto Açoriano de Cultura em colaboração com a Universidade dos Açores e o Centro de Estudos de História do Além Mar (FCSH/UNL) e financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, foi possível identificar um conjunto de documentação inédita referente à fortaleza de São João Baptista na ilha Terceira (Açores – Portugal)1. Este forte inicialmente designado por Castillo del Monte del Brasil e desde Dezembro de 1598 por castelo de S. Filipe2, foi a maior fortaleza edificada no Atlântico durante o reinado de Filipe II. Optámos por utilizar a designação primitiva, distanciada de conotações políticas. A documentação a que se refere o nosso estudo, documentação essencialmente de natureza contabilística, reflecte o cuidado posto neste edifício, dando-nos informações sobre diferentes dimensões relacionadas com a sua construção. Este texto resulta de uma comunicação no VI Congreso Nacional de Historia de la Construcción (Valência, 21 – 24 de Outubro de 2009), organizado pela Sociedad Española de Historia de la Construcción em colaboração com a Universidade de Valência e o Instituto Juan de Herrera, integrada na sessão Fontes Escritas e publicada nas actas numa tradução em castelhano. Assim, no nosso estudo privilegiámos o enfoque disciplinar da História da Construção, demonstrando a importância das fontes escritas para a história da construção de um monumento específico e para a História da Construção enquanto ramo do saber, num dado momento cronológico e geográfico. 1 No âmbito deste projecto estão a ser publicados os sumários dos documentos e algumas reproduções. Vide http://www.iac-azores.org/biblioteca-virtual.html 2 A primeira referência a esta designação é “castillo nuevo de Sant Philipe” e encontra-se numa partida do fl. 149, leg. 941, remetendo para uma livrança de 19 de Dezembro de 1598; até essa data é designado por castelo do Monte do Brasil. [65] – CONTRIBUTO DAS FONTES CONTABILÍSTICAS PARA A SUA HISTÓRIA 5.ECA_Cisternas_JoanaPinho 8/17/10 11:09 AM Page 66 FONTES ESCRITAS Este estudo refere-se a um documento do livro II da conta do pagador Martim Ruiz de Laris3: a Data dos maravedis pagos pelo pagador Martim Ruiz de Laris, nas obras e fortificações que se fizeram na ilha Terceira (AGS, CMC – 2.ª época, leg. 941). A conta de Martim Ruiz integra, para além do livro II, o livro I (dois exemplares4, AGS, CMC – 2.ª época, legajos 520 e 526) e o livro III como pagador nas ilhas dos Açores (AGS, CMC – 2.ª época, legajo 515) e dois livros do período em que foi pagador na ilha de São Miguel (AGS, CMC – 2.ª época, legajos 520 e 1018). [66] Toda esta documentação pertence ao fundo Contaduría Mayor de Cuentas do Archivo General de Simancas. Esta Contaduría era o organismo máximo de vigilância e fiscalização sobre a integridade de todas as gestões e actos efectuados com dinheiros da Fazenda Real. A sua origem remonta, provavelmente, a finais do séc. XIII e em 1401 aparece pela primeira vez a expressão contadores mayores de cuentas. No século XVI com a criação e consolidação do Conselho da Fazenda, a Contaduria Mayor de Cuentas vê o seu campo de acção alargado ao manter todas as suas funções, mas sujeita às instruções do Conselho da Fazenda5. Organizava-se com dois (ou mais) contadores mayores de cuentas que eram auxiliados pelos seus tenientes; existiam ainda os contadores menores distribuídos por ofícios: contadores de livros e contadores de resultas. Os primeiros tinham como função assentar os despachos e provisões e os segundos estavam encarregues de ordenar e comprovar as contas e definir alcançes ou resultas; colaboravam ainda alguns escrivães, um relator, um procurador fiscal, assessores e outros funcionários. Os livros de contas de pagadores e tenedores, e no caso que nos interessa, os livros de Martim Ruiz de Laris, eram elaborados pelos contadores de resultas em consequência da sua actividade de comprovar as contas, ou seja, de um complexo processo de intervenção, fiscalização, confirmação das contas dos oficiais que serviam o rei. Para a elaboração destes livros seguia-se um procedimento específico: cada contador elaborava os livros de vol. LIV ‘09 cargo e data, glossava um dos livros duplicados, comprovando as partidas de cargo e data e confrontando a relação jurada e firmada do pagador com outros documentos6. O documento em estudo, Data dos maravedis pagos pelo pagador Martim Ruiz de Laris, nas obras e fortificações que se fizeram na ilha Terceira, é composto por uma relação em 99 pliegos, organizados por anos e com várias partidas; o âmbito cronológico é 1583-1599. Em cada partida é referido o valor que deve ser recebido em quenta ao pagador, a quem o pagador pagou esse valor, o que foi pago, em que data e local foi dada a livrança ou recaudo para o pagamento, quem a promoveu, quem tomou la razon e quem señalou a livrança ou recaudo. Este documento, de cariz administrativo-contabilístico, possibilita um conhecimento mais aprofundado do(s) monumento(s)/ obra(s) a que se refere, sendo relevante para a definição da sua história; nomeadamente, possibilita definir uma datação, reconstituir a evolução da construção, duração total e parcial, assim como esclarecer as opções que se foram fazendo, reconstituir o 3 Os vários livros da conta de Martim Ruiz de Laris existentes no Archivo General de Simancas fornecem alguns elementos para a sua biografia, dos quais destacamos: foi nomeado pagador da gente de guerra, obras e fortificações da ilha de S. Miguel logo após a conquista espanhola por uma patente datada de 12 de Agosto de 1582 e assinada por Álvaro de Bazán, marquês de Santa Cruz; a 1 de Agosto de 1583, uma outra patente do marquês de Santa Cruz, nomeia-o para exercer o ofício de pagador da gente de guerra, obras e fortificações das ilhas dos Açores e passa para a ilha Terceira (cópia da patente e traslado do titulo em AGS, CMC – 2.ª ép., leg. 526); a 18 de Abril de 1601, morre na cidade de Angra. 4 A existência de dois exemplares do livro II da conta do pagador Martim Ruiz de Laris está relacionado com o processo de confirmação das contas dos oficiais: cada contador de resultas elaborava os livros de cargo e data, glossando um dos livros duplicados, comprovando as partidas de cargo e data e confrontando a relação jurada e firmada do pagador com outros documentos; vide nota 6. 5 Sobre o fundo Contaduría Mayor de Cuentas, sua origem e organização vide a informação disponibilizada no PARES – Portal de Archivos Españoles, http://pares.mcu.es/ParesBusquedas/servlets/Control_servlet? accion=2&txt_id_fondo=117087. 6 Sobre este procedimento e tipologias documentais referidas vide Pinho 2007, pp. 76-77. 5.ECA_Cisternas_JoanaPinho 8/17/10 11:09 AM Page 67 AS CISTERNAS DO MONTE DO BRASIL – CONTRIBUTO DAS FONTES CONTABILÍSTICAS PARA A SUA HISTÓRIA ritmo das obras e possibilitar a identificação de mestres e trabalhadores. Além disso, fornece outros, importantes, credíveis, e por vezes, surpreendentes elementos para a história da construção; destacamos a origem e utilização de materiais, técnicas e processos em função da obra, referências a ferramentas e meios auxiliares para a construção, organização do trabalho, principais ofícios envolvidos e custos. Ao longo deste texto citaremos partes do documento; porque todas as citações se referem ao mesmo documento indicaremos apenas o fólio, pois os restantes elementos são comuns: Arquivo – Archivo General de Simancas (AGS); Foto 1: Castelo do Monte do Brasil Legajo (leg.) – 941. Seguiremos as seguintes regras de transcrição: mantém-se o idioma original, incluindo para os nomes próprios e também a ortografia original, respeitando o uso do u/v/b e do j/i; separam-se as enclíticas e as proclíticas; introduz-se esporadicamente pontuação; actualiza-se a utilização de maiúsculas e minúsculas; desdobraram-se as abreviaturas sem assinalar letras omissas mas respeitando a grafia das mesmas. Este documento permite acompanhar a construção desta fortaleza e destaca, como caso único, a construção da cisterna e sistema de abastecimento e distribuição de água; obra hidráulica, tratada de modo diferenciado e pormenorizado. Reflecte o cuidado posto nesta construção, dando-nos informações sobre os mestres e oficiais, valor parcial e total da obra, duração e características, materiais e métodos de trabalho utilizados. AS OBRAS CISTERNA E SISTEMA DE ABASTECIMENTO E DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA DO CASTELO DO MONTE DO BRASIL O documento em estudo, Data dos maravedis pagos (...) nas obras e fortificações que se fizeram na ilha Terceira, refere-se a todos os gastos realizados pelo pagador em obras de fortificação, readaptação e construção de fortalezas. De acordo com a informação disponibilizada por este documento, a primeira opção defensiva após a conquista da Terceira em 1583, foi o reforço do castelo de S. Sebastião, campanha de obras que se prolongou até início da década de noventa, época em que se inicia a construção de uma nova fortaleza, o castelo do Monte do Brasil7 (foto 1). A obra hidráulica descrita no documento foi composta por três intervenções diferenciadas, referidas sequencialmente: – conduzir a água que se levava desde a fonte das Covas da dita cidade à fortificação do Brasil (fls. 91-91 v.); esta obra tinha como função o serviço da fabrica que se faz na montanha do Brasil e para que fique nela perpetuamente uma fonte (fls. 72 v.-73) e como motivação la preçissa necessidad y mucho gasto que se 7 Sobre a origem do nome, antecedentes, história, características, estratégia militar em que se integra e outras problemáticas do Castelo do Monte do Brasil, vide Lobo 1996; Melo 1939; Meneses 1987; Vol 1, pp. 211-235; Meneses 1996; Sousa 1996. Está publicada documentação sobre a construção do Castelo do Monte do Brasil, vide Documentação sobre os Açores existente no Archivo General de Simancas, pp. 1-4. [67] Fundo – Contaduría Mayor de Cuentas – 2.ª época (CMC – 2.ª ép.); 5.ECA_Cisternas_JoanaPinho 8/17/10 11:09 AM Page 68 Foto 2 e 3: Exterior das cisternas do Castelo do Monte do Brasil Foto 4: Cobertura das cisternas do Castelo do Monte do Brasil haçia en llebar el agua en carros para las dichas obras (fl. 102 v.). – un estanque o pila grande capaz de mas de ochenta pipas de agua y otro menor a donde cayese el agua de dos caños para cojer della para (…) [beber] (fls. 96-96 v.); os dois tanques deveriam estar juntos um do outro (fl. 102 v.). [68] – tres çisternas (fl. 148 v.) (foto 2 a 4). A primeira e mais completa referência documental à obra do abastecimento de água encontra-se no fólios 75 v. a 76 v. e vale a pena transcrever na integra: (…) Porquanto por ser neçessario lleuar agua desde el chafaris o fuente que esta en esta dita ciudad en la parte que llaman Las Cuebas desde adonde esta a la parte y lugar que ha de llegar para el serujcio ansi delo tocante ala fabrica como para que quede para siempre para la gente que en ella quedare que ay distançia de doçientas braças de terreno y en algunas partes y lugares aber de yr el agua encañada por caños de piedra y arcaduzes dentro dellos y en otras partes arcaduzes solamente con cal y embetunados con betun de aceyte, cal y estopas y para la execuçion dello con pareçer y asistencia de Antón Col a cuyo cargo esta la dita fortificaçion en presençia del dito contador Hernando Ortiz de Rio se dio la dita obra a destaxo a Pedro Taroca, veçino desta dita ciudad maestro de canteria con el qual se hiço preçio de que por cada braça del dito encañado de canteria se le pagase a rraçon de a treynta rreales castellanos por las que fuesen y por cada braça de encañado sin canteria a rraçon de a diez rreales y medio y por diez y seis arcas vol. LIV ‘09 de piedra y cal beinte escudos por todas, de a diez rreales cada uno, dando le el conduto abierto y los arcaduzes y veinte moyos de cal y el dito Pedro Taroca se obligo a poner la canteria neçessaria y açeyte para el betun y offiçiales y peones hasta ser acauada a boluntad del dito Anton Col y que se le diesen de presente çiento y beinte y çinco delos ditos escudos que balen quarenta y dos mill y quinientos marauedis dela dita moneda para haçer sacar la piedra y para otras cosas neçessarias para el dito efeto los quales se le dieron y pagaron al dito Pedro Taroca como pareçio por librança firmada del dito maestre de campo fecha en esta dita ciudad de Angra en diez y seis dias de diçiembre de quinientos y nobenta y tres, senalada del dito Anton Col. Tomada la rraçon por los ditos contador Hernando Ortiz de Rio y Juan de Bayona dela Cassa que por ausencia del dito beedor seruia el dito offiçio y ffee del dito contador como los ditos marauedis se le pagaron con su interuençion y le quedauan cargados al dito Pedro Taroca a buena quenta delo que montase el dito conçierto de que dio carta de pago en diez y siete dias del dito mes y ano (…) (fls. 75 v.-76 v.). De igual modo, a primeira partida referente à obra das cisternas descreve pormenorizadamente a obra e as suas condições e vamos também transcrevê-la: al dicho Pedro Taroca y Luis Mendez maestros canteros veçinos dela dicha çiudad de Angra duçientos escudos del dicho valor que montan sesenta y ocho mill marauedis que se le libraron a buena quenta delo que hubiesen de hauer dela obligaçion que tenian hecha de haçer las çisternas que les fuessen señaladas en la fortificaçion del dicho monte del Brassil que se yba haçiendo del tamaño que les fuesse señaladas por el dicho Anton 5.ECA_Cisternas_JoanaPinho 8/17/10 11:09 AM Page 69 AS CISTERNAS DO MONTE DO BRASIL – CONTRIBUTO DAS FONTES CONTABILÍSTICAS PARA A SUA HISTÓRIA Estas são partidas de grande valor informativo que possibilitam conhecer vários aspectos da obra que analisaremos em seguida. OS MESTRES A documentação indica-nos o nome de dois mestres envolvidos nesta obra. Pedro Taroca, maestro de canteria ou maestro cantero, foi o mestre responsável pela obra do abastecimento de água. Na obra das cisternas a Pedro Taroca junta-se Luis Mendez também maestro cantero ou maestro de canteria; ambos eram moradores em Angra (fls. 103-103 v. e 148 v.)8. CONTRATUALIZAÇÃO Para a obra do abastecimento de água foi realizado um conçierto com Pedro Taroca em 16 de Dezembro de 1593, do qual resultou uma obligaçion (fls. 93 v.-94 v.). E para a obra das cisternas existia também uma obligaçion y contrato com os mestres canteiros, el qual contrato y los preçios y condiçiones del se hiçieron en presençia del dicho Antonio de Puebla y delos dichos contador y veedor y Anton Col (fls. 103-103 v.)9. Em ambas as intervenções existem condições contratuais a serem cumpridas pelos mestres e que estão relacionadas com condições técnicas da obra ou com procedimentos de trabalho; existem também condições a serem cumpridas por quem promove a obra, nomeadamente os valores a pagar e o fornecimento de materiais. Na obra do abastecimento de água, o mestre recebia, para além do pagamento, o conduto aberto, os arcaduzes e a cal e deveria fornecer a pedra e o azeite para o betum, os trabalhadores, oficiais e os peões até a obra estar terminada (fls. 75 v.-76 v.). O pagamento era calculado com base no preço da braça de encanamento e suas características: encanamento em pedra a trinta reais castelhanos a braça e encanamento sem pedra a dez reais e meio a braça; o encanamento incluía também arcas de pedra e cal a doze reais e meio cada (fls. 75 v.-76 v.). Relativamente às cisternas, a obligación previa que os mestres realizassem as três cisternas del tamaño que les fuesse señaladas por el dicho Anton Col e que trouxessem la piedra de canteria a su costa y dando la labrada al pie dela dicha obra (fls. 103-103 v.). Relativamente aos valores a pagar aos mestres: cada vara, de cinco palmos, correspondia a cinco reais e meio; cada braça de muralha de cantaria com cal e betum, de dez palmos de comprimento e de altura e dois e meio de profundidade, a oito reais e três quartillos (fls. 103-103 v.). [69] Col trayendo los suso dichos la piedra de canteria a su costa y dando la labrada al pie dela dicha obra, cada vara de çinco palmos por çinco reais y medio, cada braça de muralla de canteria con cal e vetun de diez palmos de largo y diez de alto y dos y medio de gruesso a rraçon de a ocho reales y tres quartillos cada braça dando les para ello los materiales en la dicha obligaçion y contrato con ellos hecho contenidos, el qual contrato y los preçios y condiçiones del se hiçieron en presençia del dicho Antonio de Puebla y delos dichos contador y veedor y Anton Col (fls. 103-103 v.). ADJUDICAÇÃO Para a obra de abastecimento de água é referida a forma de adjudicação; a obra foi dada a destaxo a Pedro Taroca em presença do contador Hernando Ortiz de Rio, ou seja, apresenta-se como uma empreitada, uma obra que se fez segundo determinadas condições por um preço previamente estipulado (fls. 75 v.-76 v.). 8 Pedro Taroca e Luis Mendez aparecem referidos na documentação trabalhando nas obras de fortificação anteriores à construção do Castelo do Monte do Brasil, vide anexo. 9 Antonio de Puebla foi mestre campo dos Açores de Junho de 1592 a Julho de 1597 (cópia da provisão do rei em AGS, CMC – 2.ª ep., leg. 526); quem exercia o cargo de Contador da gente de guerra, fabricas e fortificações das ilhas dos Açores era Hernando Ortiz (exerceu esse ofício de 1583 a Outubro de 1600; cópia e traslado do titulo e instruçion para exercer o ofício em AGS, CMC – 2.ª ep., leg. 526) e quem exercia o cargo de vedor da gente de guerra, obras e fortificações das ilhas dos Açores era Gabriel de Ribera (exerceu esse ofício de Janeiro de 1585 a Abril de 1597; traslado do titulo em AGS, CMC – 2.ª ep., leg. 526); para Anton Coll, vide a nota 10. 5.ECA_Cisternas_JoanaPinho 8/17/10 11:09 AM Page 70 CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS DA OBRA O documento estudado indica algumas das características técnicas da obra de abastecimento de água. No percurso de c. 200 braças, que mediava entre a fonte localizada nas Cuevas e a fortaleza, a água deveria ir encanada por canos de pedra com arcaduzes no interior ou apenas por arcaduzes com cal e betum (fls. 75 v.-76 v.). Também os tanques deveriam apresentar características específicas; o tanque grande deveria ser capaz de mas de ochenta pipas de agua y otro menor a donde caya el agua de dos caños para coxer della para beber (fls. 98 v.-99). No caso das cisternas, as suas muralhas deveriam ser de cantaria com dez palmos de comprimento e dez de altura e dois palmos e meio de profundidade (fls. 103-103 v.) (foto 2 e 3). [70] ACOMPANHAMENTO E SUPERVISÃO As três intervenções que compõem a obra hidráulica realizada no castelo do Monte do Brasil tiveram o acompanhamento de Anton Coll10, o único engenheiro militar documentado na obra da fortaleza nos livros do pagador Martim Ruiz de Laris. Na obra do abastecimento de água, o engenheiro era responsável por dar pareçer e asistencia, devendo a obra ser acauada a boluntad del dito Anton Col (fls. 75 v.-76 v.). Na obra dos tanques grande e pequeno o engenheiro era responsável pela orden y traça (fls. 96-96 v.) e no caso das cisternas, estas deveriam ser del tamaño que les fuesse señaladas por el dicho Anton Col (fls. 103-103 v.). Em 15 de Julho de 1594 surge a primeira alusão à obra das cisternas (fls. 103-103 v.). Esta partida, referindo-se aos mestres canteiros, indica las çisternas que les fuessen señaladas (fls. 103-103 v.) e em 2 de Setembo, las çisternas que les fueron señaladas (fl. 107 v.), indiciando que a obra já estaria iniciada; a partir de Outubro de 1594 refere-se a obra que yban haçiendo en las dichas cisternas (fls. 112-112 v.). No mês de Fevereiro de 1595 sabemos concretamente que se estava a assentar a cantaria nas cisternas que se faziam no Monte do Brasil (fl. 123 v.), obra que ainda decorria em Junho do mesmo ano (fls. 136 v.-137). Um desenho existente no Archivo General de Simancas datado de 24 de Janeiro de 1595, relacionado com um relatório sobre a situação da obra, indica que as cisternas se van haziendo, mostra a sua localização e a sua configuração, com os 3 reservatórios rectangulares para a água. Em 31 de Janeiro de 1596 o documento regista os pagamentos a Pedro Taroca e Luis Mendez e justifica-os como valor que se les debia de tres çisternas que hauian hecho en la fortaleça (fl. 148 v.) e desde essa data como pagamentos a buena quenta delo que les debia (fl. 150) ou a buena quenta de mayor suma de marauedis que auian de hauer por las dichas çisternas (fls. 157-157 v.). Assim, podemos supor que durante o primeiro trimestre de 1596 a obra já estaria em fase de conclusão ou mesmo terminada; uma partida de Abril de 1596 reforça esta ideia referindo-se ao pagamento delo que les debia por la hechura y canteria delas dichas çisternas de mas de otras sumas de marauedis que auian resçiuido por la misma quenta y hefeto para yr las acabando (fls. 151 v.-152). EVOLUÇÃO DA OBRA No conjunto da obra hidráulica, primeiramente realiza-se o sistema de abastecimento de água, que começa em Novembro de 1593 com a condução da água por canos, da fonte localizada no Alto das Covas ao local da fortaleza no Monte do Brasil. Esta obra prolonga-se até finais de Abril de 1594; de finais de Maio a princípios de Julho do mesmo ano decorre a obra do tanque grande e do tanque pequeno. vol. LIV ‘09 10 Anton Coll, era engenheiro por sua majestade das obras e fabricas do castelo de S. Filipe do Monte do Brasil por cédula do rei datada de 30 de Junho de 1593. Nesta cédula ordena-se a Anton Coll que fosse assitir na fortificação da ilha Terceira que se mandou fazer no Monte do Brasil, de acordo com a traça que se haverá de entregar pelo Conde de Portalegre, capitão general da gente de guerra de Portugal, com um soldo de 40 escudos por mês; existe uma cópia do titulo datada 1616 em AGS, CMC – 2.ª ép., leg. 515. 5.ECA_Cisternas_JoanaPinho 8/17/10 11:09 AM Page 71 AS CISTERNAS DO MONTE DO BRASIL – CONTRIBUTO DAS FONTES CONTABILÍSTICAS PARA A SUA HISTÓRIA PAGAMENTOS O documento em análise regista vários pagamentos referentes à obra hidráulica realizada no castelo do Monte do Brasil realizados del diñero dela dicha fabrica (fls. 93 v.-94 v.). Sabemos pela documentação que os pagamentos da obra de fortificação, e não apenas das cisternas, não foram sempre regulares, registando o pagador falta de recursos financeiros que levaram à suspensão dos trabalhos. Assim foram pagos 433 escudos, 3 reais e 3 quartilhos por 215 braças de encanamento, em vez das previstas 200 braças, e 14 arcas, em vez das previstas 16 (fls. 93 v.-94 v.): – 291 escudos e meio por noventa e sete braças e meia de encanamento em pedra; – 123 escudos, três reais e três quartillos por 117 braças e meia de encanamento sem pedra; – 20 escudos por catorze arcas. Data Valor Fonte (AGS, CMC – 2.ª ép., leg. 941) 16 Novembro 1593 125 escudos (42.500 maravedis) fls.75 v.-76 v. 25 Fevereiro 1594 75 escudos (25.500 maravedis) 8 Abril 1594 40 escudos (13.600 maravedis) 30 Abril 1594 153 escudos, 3 reais e fls. 93 v.-94 v. 3 quartilhos (52.147 maravedis e meio) TABELA 2 – PAGAMENTO DA OBRA DOS TANQUES Valor Fonte (AGS, CMC – 2.ª ép., leg. 941) 21 Maio 1594 50 escudos (17.000 maravedis) fls. 96-96 v. fls. 88-88 v. 3 Junho 1594 50 escudos (17.000 maravedis) fls. 98 v.-99 fls. 91 v.-92 8 Julho 1594 115 escudos (39.100 maravedis) fl. 102 v. A primeira partida corresponde a um adiantamento de 125 escudos para Pedro Taroca poder haçer sacar la piedra y para otras cosas neçessarias para el dito efeto (fls. 72 v.-73 e 75 v.-76 v.). Ao valor pago nestas quatro partidas acrescem 40 escudos equivalente a um quarto de azeite que recebeu do tenedor de bastimentos (fls. 93 v.-94 v.), pois pela obligación, o mestre canteiro deveria fornecer o azeite para o betum. A 30 de Abril, o pagamento final é simultaneamente uma partida rectificativa, um acerto de contas entre o previsto na obligación e o realmente construído, que se midio despues de hechos; nomeadamente o número de braças de encanamento e o número de arcas (fls. 93 v.-94 v.). Com base nas medições realizadas é feito o ajuste do preço a pagar ao mestre, pois o valor acordado na obligación tinha por base um preço por braça edificada. Data Na obra dos tanques, por que asta que estubiese acabado no se podia ver lo que se le hauia de dar por ello, por hauer de ser thassado por el dicho Anton Col, foram-se realizando pagamento por conta (fls. 96-96 v. e 98 v.-99). A obra acabaria por ser taxada em 215 escudos e, como aconteceu com a obra do encanamento, o resultado foi diferente do previsto: o tanque com capacidade para oitenta pipas de água dá lugar e um outro tanque grande o alberca capaz de mas de cient pipas de agua (fl. 102 v.). No início da campanha de obra os pagamentos aos mestres canteiros eram realizados a buena quenta dela obra que yban haçiendo en las dichas cisternas (fls. 112-112 v. e 116 v.) e en consideraçion delo que tenian hecho por la dicha su obligaçion (fls. 112-112 v., 116 v.); as partidas de 13 de Maio e 18 de Agosto de 1595, especificam um pouco mais, justificando o pagamento rea- [71] TABELA 1 – PAGAMENTO DA OBRA DO ENCANAMENTO 5.ECA_Cisternas_JoanaPinho 8/17/10 11:09 AM Page 72 TABELA 3 – PAGAMENTO DA OBRA DAS CISTERNAS Data [72] Valor Fonte (AGS, CMC – 2.ª ép., leg. 941) 15 Julho 1594 200 escudos (68.000 maravedis) fls. 103-103 v. 2 Setembro 1594 200 escudos (68.000 maravedis) fl. 107 v. 15 Outubro 1594 200 escudos (68.000 maravedis) fls. 112-112 v. 26 Novembro 1594 200 escudos (68.000 maravedis) fl. 116 v. 7 Janeiro 1595 300 escudos (102.000 maravedis) fl. 121 v. 17 Fevereiro 1595 200 escudos (68.000 maravedis) fl. 124 v. 22 Março 1595 200 escudos (68.000 maravedis) fls. 127 v.-128 13 Maio 1595 200 escudos (68.000 maravedis) fl. 134 18 Agosto 1595 200 escudos (68.000 maravedis) fls. 140-140 v. 7 Outubro 1595 200 escudos (68.000 maravedis) fl. 145 v. 3 Novembro 1595 200 escudos (68.000 maravedis) fl. 146 v. 22 Janeiro 1596 50 escudos (17.000 maravedis) fl. 148 31 Janeiro 1596 40 escudos (13.600 maravedis) fl. 148 v. 8 Março 1596 50 escudos (17.000 maravedis) fl. 150 7 Abril 1596 25 escudos (8.500 maravedis) fls. 151 v.-152 22 Julho 1596 100 escudos (34.000 maravedis) fls. 157-157 v. 19 Dezembro 1597 50 escudos (17.000 maravedis) fl. 179 27 Junho 1598 20 escudos (6.800 maravedis) fls. 186 v.-187 vol. LIV ‘09 lizado por lo que el dicho Anton Col, a cuyo cargo estaban las dichas obras, dijo tenian hecho y se les podia librar (fls. 134 e 140-140 v.). Aproximando-se o final da construção e já depois de terminada, os pagamentos era feitos a buena quenta delo que se les debia por la obra delas dichas çisternas para descontar-se-lo delo que hubiessen de auer (fl. 148) ou a buena quenta de mayor suma que se les debia de tres çisternas que hauian hecho en la fortaleça del Monte del Brasil (fl. 148 v.). Os pagamentos regulares terminaram em 22 de Julho de 1596, data em que a obra já estaria concluída; mais de um ano depois, em Dezembro de 1597 realiza-se novo pagamento: A Pedro Taroca y Luis Mendez maestros canteros que por obligacion hicieron las cisternas que estan en la fortaleça del monte del Brasil cinquenta escudos del dicho valor que monta diez y siette mill marauedis que se les libraron y los hubieron de haber con mayor suma de marauedis de lo que hubieron de hauer por las dichas çisternas (…) (fl. 179) e seis meses depois nova partida: A Pedro Taroca y Luis Mendez maestros canteros obligados que fueron a haçer las çisternas en la dicha fortaleça del monte del Brasil veynte escudos del dicho valor que montan seis mill y ocho çientos marauedis que se le libraron a buena quenta de mayor suma que se les quedo debiendo por la hechura delas dichas çisternas (…) (fls. 186 v.-187). PROCEDIMENTO PARA O PAGAMENTO O processo de pagamento aos mestres canteiros estava bem definido: o mestre de campo fazia uma livrança que era tomada la razon pelo contador e pelo vedor. Pedro Taroca e Luiz Mendez recebiam a quantia indicada na livrança, em presença do contador, e davam uma carta de pago (fl. 107 v.); o contador e vedor cargavam a quantia recebida en la quenta que con ellos [mestres canteiros] se tenia, quer da obra realizada (fls. 88-88 v.) quer do que recebiam por conta da obra a realizar (fl. 124 v.). MATERIAIS O documento em estudo fornece também algumas informações sobre os materiais usados na obra hidráulica do castelo do Monte do Brasil, nomeadamente a sua identificação, características, fornecedores e modo de aquisição. 5.ECA_Cisternas_JoanaPinho 8/17/10 11:09 AM Page 73 AS CISTERNAS DO MONTE DO BRASIL – CONTRIBUTO DAS FONTES CONTABILÍSTICAS PARA A SUA HISTÓRIA Blas Diaz, Luís Nuñez, Domingos Martinez e Juan Luis Limpio eram os fornecedores de azeite; o local de compra era a cidade de Angra, onde residiam todos os fornecedores. Apenas Luis Nuñez é identificado como mercador (fls. 119 v.-120) Em duas partidas regista-se também a compra de 1340 arcaduzes de barro para com eles conduzir a água desde a fonte da cidade de Angra à fortificação do Brasil para serviço dela (fls. 84 v.-85). A compra foi feita a Domingos Gonçalvez e Melchior Rodriguez, maestres de hacer hollas de barro (fls. 91-91 v.), tendo sido acordado o preço a pagar e o tamanho que deveriam ter os arcaduzes (fls. 84 v.-85). Foi realizada em duas vezes, primeiro 1100 unidades, em 2 de Janeiro de 1594, e depois mais 240, em 8 Abril do mesmo ano, para acabar de conduzir a água (fls. 91-91 v.)11. Regista-se ainda a compra de estopa que juntamente com o azeite e a cal permitia fazer o betum (fl. 123 v.), o fornecedor de estopa era Diego Lopes. TÉCNICAS CONSIDERAÇÕES FINAIS No contexto de uma construção militar as cisternas assumem uma extrema importância; no caso concreto do castelo do Monte do Brasil essa importância encontra-se reflectida na documentação referente à construção da fortaleza. É a única campanha de obras onde estão identificados os mestres, o tracista, os requisitos técnicos, entre outros. Os documentos remanescentes existentes no Archivo General de Simancas, essencialmente de natureza contabilística, podem desempenhar um papel fundamental para o conhecimento mais aprofundado do conjunto edificado que é o castelo do Monte do Brasil, como demonstra esta investigação para o caso das cisternas. Esta tipologia de fonte escrita fornece um conjunto de informações e contributos, grau de aprofundamento e especificidade, determinantes para a definição da história, evolução e características do edifício. Ou seja, a documentação contabilística, que pode parecer limitativa, repetitiva e monótona vai lentamente deixando transparecer uma riqueza e especificidade informativa que pode ser um importante recurso para a história da construção; é necessário ter consciência das suas particularidades para maximizar o seu potencial informativo. Mais raramente aparece no documento a identificação de técnicas construtivas ou de preparação de materiais. Destacamos o betum que era utilizado, nomeadamente, para assentar cantaria (fl. 123 v.) e para o encanamento da água juntamente com arcaduzes de barro e a cal (fls. 72 v.-73); o betum era preparado utilizando aceyte, cal y estopa (fls. 75 v.-76 v.). Quanto a técnicas, a descrita com mais pormenor está relacionada com o abastecimento de água ao castelo do Monte do Brasil. O documento refere que existiam dois modos de encanamento da água encañado con losas de canteria y dentro del arcaduzes embetunados y entupidos con cal y piedra e arcaduzes metidos en la piedra de tufo o tierra y embatunados y entupidos con cal y piedra. O encanamento era intercalado por arcas de piedra que en las ccxv braças de uno y otro encañado fueron de en trecho en trecho a donde parecio que eran neçessarias se pussieron (fls. 93 v.-94 v.). 11 Esta situação pode estar relacionada com o número de braças de encanamento realmente realizadas; a obligación com o mestre Pedro Taroca previa a execução de 200 braças mas na realidade foram 215, o que poderá ter levado a uma necessidade acrescida de arcaduzes. [73] Um dos materiais cuja compra aparece mais vezes registada, associada à obra, é o azeite; este era utilizado, com outros materiais para hacer betun que foi utilizado na obra do encanamento (fls. 72 v.-73) e das cisternas (fls. 119 v.-120). 5.ECA_Cisternas_JoanaPinho 8/17/10 11:09 AM Page 74 ANEXO Outras partidas referindo Pedro Tarouca no mesmo documento, mas anteriores à obra do castelo do Monte do Brasil. Descrição [74] Data do Recaudo Fl. Pagamentos Pagamento a Pedro Taroca, aparejador e cauo maestro e aos restantes mestres canteiros, muradores, carpinteiros, serradores, peones, carreros, cabuqueros e maestros de sacar das pedreiras que trabalharam nas obras e reparos que se fizeram no castelo de S. Sebastião da cidade de Angra, desde 19 de Setembro até 29 de Outubro de 1583. 31 Out. 1583 1 v. Valor total: 385 escudos, 8 reais, 29 maravedis (131.201 maravedis). Mestres canteiros e muradores: 2 reais e meio/dia/mestre. Pedro Taroca: 3.376 maravedis/33 dias; 3 reais/dia12. Pagamento a Pedro Taroca, aparejador e cauo maestro e aos restantes mestres canteiros, muradores, carpinteiros, serradores, peones, carreros, cabuqueros, maestros de sacar das pedreiras e ferreiros que trabalharam nas obras e reparos que se fizeram no castelo de S. Sebastião da cidade de Angra, desde 19 de Setembro até 29 de Dezembro de 1583. 25 Dez. 1583 2-2 v. Valor total: 331 escudos, 9 reais, 17 maravedis (112.863 maravedis). Mestres canteiros e muradores: 2 reais e meio/dia/mestre. Pedro Taroca: 84 reais castelhanos (2.856 maravedis)/28 dias; 3 reais/dia13. Pagamento a Pedro Taroca, aparejador e aos restantes mestres canteiros, pedreiros, carpinteiros, peones, cabuqueros, diversos carreros que trabalharam nas fabricas e reparos que se faziam nos três castelos de S. Sebastião, castelo velho e Sto. António, desde 17 de Janeiro até 22 de Abril de 1584. 22 Abr. 1584 3-3 v. Valor total: 266 escudos, 6 reais, 14 maravedis e meio (90.758 maravedis e meio). Pedreiros ou mestres canteiros: 2 reais e meio castelhanos/dia/mestre. Pedro Taroca: 102 reais castelhanos (3.468 maravedis)/34 dias; 3 reais /dia14. Pagamento a Pedro Taroca, aparejador e cauo maestro e aos restantes mestres canteiros ou muradores, carpinteiros, serradores, peones, carreros que trazem pedra de alvenaria e de tufo para fazer abóbadas e chaminés, cal, areia, barro, água e outras coisas para serviço das obras e reparos que se faziam nos castelos de S. Sebastião, castelo velho dos moinhos e Sto. António, por 26 dias de trabalho, desde 23 de Abril até 26 de Maio de 1584. 26 Mai. 1584 4 v.-5 v. Pagamento total: 435 escudos, 29 maravedis e meio (147.929 maravedis e meio). 12 Neste recaudo e na mesma rubrica de pagamentos a mestres canteiros e muradores, referido também Pablo Taroca a quem se pagou 2.465 por vinte e nove dias de trabalho a razon de dois reais e meio cada dia e Luis Mendez que recebeu 850 maravedis por 10 dias de trabalho. 13 Neste recaudo e na mesma rubrica de pagamentos a mestres canteiros e muradores, referido também Pablo Taroca, que durante o tempo indicado, trabalhou 19 dias e recebeu 47 reais e meio (1.615 maravedis), a razon de 2 reais e meio cada dia e Luis Mendez que recebeu 42 reais e meio (1.445 maravedis) por 17 dias de trabalho. 14 Neste recaudo e na mesma rubrica de pagamentos a mestres canteiros e muradores, aparece referido logo a seguir a Pedro Taroca, Paulo Taroca, mestre canteiro, que trabalhou 24 dias e meio e recebeu 61 reais e 1 quartilho castelhanos (2.082 maravedis e meio) e Luis Mendez, mestre canteiro, que recebeu 42 reais e meio (1.445 maravedis). vol. LIV ‘09 5.ECA_Cisternas_JoanaPinho 8/17/10 11:09 AM Page 75 AS CISTERNAS DO MONTE DO BRASIL – CONTRIBUTO DAS FONTES CONTABILÍSTICAS PARA A SUA HISTÓRIA Descrição Fl. Pagamentos 23 Jun. 1584 6-6 v. Pagamento total: 219 escudos, 1 real, 33 maravedis (74.527 maravedis). Pagamento a Pedro Taroca, aparejador e cauo maestro e aos restantes mestres canteiros e muradores, carpinteiros, serradores, peones, carreros, cabuqueros e mestres de sacar pedra das pedreiras, que trabalharam nas obras e reparos das fortalezas da cidade de Angra, desde 24 de Junho até 29 de Julho de 1584. 29 Jul. 1584 6 v.-7 Pagamento total: 206 escudos, 7 reais, 8 maravedis e meio (70.286 maravedis e meio). Pagamento a Pedro Taroca, aparejador e cauo maestro e aos restantes mestres ou muradores, canteiros, carpinteiros, serradores, cabuqueros, peones e carreros, que trabalharam nas obras e reparos das fortalezas da cidade de Angra, desde 30 de Julho até 30 de Setembro de 1584. 30 Set. 1584 8-8 v. Pagamento total: 126 escudos, 3 reais e meio (42.959 maravedis). Pagamento a Pedro Taroca, aparejador e cauo maestro e aos restantes mestres canteiros, muradores, carpinteiros e carreros que trabalharam nas obras do castelo de S. Sebastião, desde 1 de Outubro até 31 de Dezembro de 1584. 31 Dez. 1584 9 v.-10 Pagamento total: 73 escudos, 7 reais e 13 maradevis (25.071 maravedis). Pagamento a Pedro Taroca por dois fornos de cozer pão que fez, um no castelo de S. Sebastião e outro no de S. Cristóvão e foram concertados no dito preço com os materiais. 2 Set. 1586 15 Pagamento total: 8 escudos. Pagamento a Pedro Taroca, mestre canteiro e enparejador, e aos restantes mestres canteiros, carpinteiros, serradores, cabuqueros, peões, carreteiros e outras pessoas, os quais oficiais se ocuparam desde 16 de Março até último de Maio de 1587 em fazer uma casa da pólvora no castelo de S. Sebastião e outras coisas de serviço do castelo. 6 Jun. 1587 20 Pagamento total: 256 escudos, 4 reais e 1 quartilho (87.184,5 maravedis). Mestres canteiros: 2 reais e meio/dia/mestre Enparejador: 3 reais/dia. Pedro Taroca: 27dias a 3 reais/dia. [Recaudo] Pagamento pelas telhas e adereço de trastejar as casas dos três castelos da cidade de Angra e dos armazéns onde estão o trigo e outras munições. 22 Nov. 1587 Pedro Taroca, António Fernandez, Juan Gonçalez, Domingo Fernandez, mestres canteiros: 7 escudos/7 dias, 2 reais e meio/dia/mestre. [Recaudo] Pagamento por cindo dias que trabalharam no dito castelo e Casa da Misericórdia. 15 Out. 1589 Pagamento total: 40 reais/5 dias. Pedro da Roca (Taroca?), pedreiro: 3 reais/dia. Juan Fernandez e António Gonçalez, pedreiros: 1 tostão/dia/mestre. [75] Data do Recaudo Pagamento a Pedro Taroca, aparejador e cauo maestro e aos restantes mestres canteiros e muradores, carpinteiros, serradores, peones, carreros, cabuqueros e mestres de sacar pedra das pedreiras, que trabalharam nas obras e reparos das fortalezas da cidade de Angra, desde 27 de Maio até 23 de Junho de 1584. 5.ECA_Cisternas_JoanaPinho 8/17/10 11:09 AM Page 76 BIBLIOGRAFIA: Dias, Francisco Maduro, “Angra do Heroísmo e o Castelo do Monte Brasil”, Monumentos, 5: 42-49, Lisboa, 1966, Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais. Documentação sobre os Açores existente no Archivo General de Simancas. 2004-2007, 1-4, Angra do Heroísmo: Instituto Açoriano de Cultura. http://www.iac-azores.org/biblioteca-virtual.html Fernandes, José Manuel, “Angra e o seu ‘castelo’: imagens, percursos e diálogos”, Monumentos. 5: 36-41, Lisboa, 1996, Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais. 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Vieira, Alberto, “Da Poliorcética à fortificação nos Açores – Introdução ao estudo do sistema defensivo nos Açores nos séc. XVI – XIX”, Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, XLV: 1526-1565, Angra, 1987. Menezes, Avelino de Freitas, Os Açores e o domínio filipino (1580-1590), Angra do Heroísmo, 1987, Instituto Histórico da Ilha Terceira. Fontes documentais Menezes, Avelino de Freitas, A fortaleza do Monte Brasil: os propósitos da construção de uma atalaia no Atlântico, Monumentos, 5: 8-13, Lisboa, 1996, Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais. Moreira, Rafael (dir.), História das Fortificações Portuguesas no Mundo. Lisboa, 1989, Alfa. Mota, Valdemar, “Fortificações da ilha Terceira (entre as ruínas e a revitalização)”, Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, LI – LII: 239-238, Angra do Heroísmo, 1993-1994, Instituto Histórico da Ilha Terceira vol. LIV ‘09 Archivo General de Simancas, Contaduría Mayor de Cuentas – 2.ª época: Legajo 515; Legajo 520; Legajo 526; Legajo 941. 6.ECL_Literatura Americana_Kiwamu Hamaoka 8/17/10 9:34 AM Page 77 ESTUDOS E CRIAÇÃO LITERÁRIA Questão da aculturação e da liberdade em “Já não gosto de chocolates” Pela ilharga esquerda – sobre a escrita de Cristóvão de Aguiar, a propósito de “Cães letrados” INSTITUTO AÇORIANO DE CULTURA 6.ECL_Literatura Americana_Kiwamu Hamaoka 8/17/10 ESTUDOS E CRIAÇÃO LITERÁRIA JORGE BARROS Boca do Inferno, Cascais / São Roque, Pico 9:34 AM Page 78 6.ECL_Literatura Americana_Kiwamu Hamaoka 8/17/10 9:34 AM Page 79 Kiwamu Hamaoka QUESTÃO DA ACULTURAÇÃO E DA LIBERDADE EM José Henrique do Álamo Oliveira nasceu na Freguesia do Raminho da Ilha Terceira dos Açores em Maio de 1945. Estudou Filosofia no Seminário Episcopal de Angra do Heroísmo. Cumpriu o serviço militar obrigatório, entre 1967 e 1969, na ex-colónia portuguesa, actual Guiné-Bissau. Foi catalogador na Biblioteca Pública e Arquivo de Angra do Heroísmo, passando para funcionário administrativo da Comissão Regional de Estudos e Planeamento. Em 1982, foi transferido para a Direcção Regional dos Assuntos Culturais, onde exerceu funções de técnico-especialista nas áreas das Letras, Teatro e Artes Plásticas. Aposentou-se em 2001. É sócio-fundador do Alpendre Grupo de Teatro (1976), onde tem sido director artístico e encenador, tendo escrito para este grupo (o mais consistente e conceituado grupo de teatro dos Açores), os seus melhores textos da modalidade. Em 1999, recebeu o prémio “Almeida Garrett/Teatro”, com a peça A Solidão da Casa do Regalo. Tem publicados 33 livros com poesia, romance, conto, teatro e ensaio. Está representado em mais de uma dezena de antologias de poesia e de ficção narrativa. O seu romance Até Hoje – Memória de Cão1, recebeu, em 1985, o prémio “Maré Viva”, da Câmara Municipal do Seixal, no continente português. Foi homenageado pela Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, que lhe editou uma antologia de textos (poesia e prosa) sob o título O Meu Coração é Assim. Com algumas incursões na área das artes plásticas (exposições individuais e colectivas), executou mais de uma centena de capas para livros. Tem poesia e prosa traduzidas para inglês, francês, espanhol e croata. O seu romance Já não gosto de chocolates2 foi traduzido para inglês3 e japonês4. Como escritor, tem sido convidado a participar em diversos congressos, simpósios e encontros, promovidos por universidades e associações culturais dos Açores e continente português, bem como do Brasil, Estados Unidos da América e Canadá. Em Abril de 2002, a Portuguese Studies Program, da Universidade da Califórnia em Berkley, convidou-o, na qualidade de “escritor do semestre”, para leccionar a sua própria obra, durante um mês, aos estudantes de Língua Portuguesa, sendo o primeiro português a receber tal distinção. Álamo Oliveira descreveu como tema da sua obra Já não gosto de chocolates, um motivo literário que não é rigorosamente novo, isto é, tão ortodoxo. Desenvolve uma narrativa sobre a emigração, uma história familiar para o novo mundo, evidentemente entre muitas conhecidas algures. A novidade é, claramente, como ele expressa a história da emigração. Inevitavelmente parece ser tão genérica: um casal e os seus filhos 1 Álamo Oliveira, Até Hoje – Memória de Cão, Ulmeiro, Lisboa, 1998. 2 Ibidem, Já não gosto de chocolates, Salamandra, Lisboa,1999. 3 Diniz Borges e Katharine F. Baker traduziram para inglês: I no longer like chocolates, Portuguese Heritege Publications of California, USA, 2006. 4 O autor destas linhas traduziu para japonês e foi publicado no Japão pela Random House Kodansha em Tokyo em 2008. [79] JÁ NÃO GOSTO DE CHOCOLATES 6.ECL_Literatura Americana_Kiwamu Hamaoka 8/17/10 9:34 AM emigram para a América, sentem, naturalmente, imensas saudades, brigam entre si, amam-se, tornam-se ricos e morrem. Porém, a obra é, nitidamente, única e inconfundível5. Apesar da cena perpassar, nomeadamente, na América, a excentricidade e a singularidade são extremamente iminentes6. O idoso Joe Silvia é metamorfoseado no nome de Joe Sylvia, que, num asilo opulento, e dependente duma cadeira de rodas, contempla, retroactivamente, a sua vida toda tão cheia de saudosas recordações. Por vezes, chora. Então, encontramos, como é óbvio, as dificuldades de viver na sua Ilha: “Viver na ilha era apenas melhor do que estar morto”7. O desejo de ultrapassar o “Rio Atlântico”8, a fixação nos “chocolates americanos”9, considerados como símbolo do luxo e da abundância, obrigou-o, finalmente, a sair dolorosamente da ilha. Anteriormente na época da baleação, a partida dos Açores era, geralmente, motivada pela fuga à fome e ao recrutamento militar10. Desta vez, as lágrimas familiares, também, caem sem razão ou com razão, talvez cheias de sonhos futuros e da sua miséria insular: [80] E pouco mais disseram durante os vinte e três quilómetros, preenchidos de curvas e de buracos, que os separavam do aeroporto. Por isso, choravam por causa de nada ou por causa de tudo, revestidos duma camada de musgos, húmida e corrosiva, ferrugenta, pestífera11. Em Tulare, Joe Sylvia percorre o fatalismo e o neo-realismo dos seus compatriotas trabalhando imensamente12, “comendo o pão que o diabo amassou”, triste e irresistivelmente, cheio de dificuldades e dúvidas acerca da sociedade americana. Como todos desejavam, os bens começam a materializar-se em automóveis, frigoríficos, casa ampla, festas ao estilo americano. Lamentavelmente, os filhos integram-se na nova sociedade americana, adoptam nomes a condizer: John, Maggie, Lucy, Tony, Mary e Joe. Como seguem o curso dos rios, eles vivem as suas vidas, naturalmente, com afectos, paz, tudo acumulado com raivas e desencontros13. Já não gosto de chocolates vai estabelecendo um contraponto entre o presente estoicamente desiludido de Joe Sylvia e o esperançoso passado de José Silva. Ao contrário dos filhos que são novos, o pai e a mãe que são velhos e “não pode estrangeirar-se”, “no fundo, ficou o que era”, tal como disse Vitorino Nevol. LIV ‘09 Page 80 mésio14. No presente, os filhos, nas suas distraídas visitas semanais ao asilo, trazem-lhe chocolates que ele já não quer nem gosta, e pede à enfermeira Rosemary que os deite fora. Existe, inevitavelmente, a metáfora do desencanto simbolizada nessas caixas belas de chocolates, que Joe Sylvia deseja que embolorem e se cubram de formigas. Ele já viveu dissabores e tragédias, nada mais restando do que a espera da morte. No asilo, o mundo que agora vive é tristemente limitado àquele quarto e à janela em frente, para além do ritual do banho e do pó de talco que são as suas únicas actividades. E pouco mais lhe resta senão deixar que os dias passem, porque os anos já estão fora de seu horizonte15. Álamo Oliveira descreve, nitidamente, o tema universal que é o envelhecimento e pergunta-se onde se deve morrer. 5 Luiz António de Assis Brasil, Escritos Açorianos, Salamandra, 2003, p. 54. 6 Leia-se Onésimo Teotónio Almeida, “Portuguese-Américam Literature – Some Thoughts and Questions”, in Hispania, volume 88, Number 4, USA, December, 2005. 7 Essa frase suscita a de Daniel de Sá em Ilha Grande Fechada: ”Sair da Ilha é a pior maneira de ficar nela”. 8 Onésimo Teotónio Almeida, Rio Atlântico, Salamandra, Lisboa, 1997. 9 Os chocolates americanos são, nesta obra, um símbolo da liberdade económica e do luxo. De acordo com Onésimo Teotónio Almeida, isto é L(usa)lândia – a Décima Ilha. Veja-se, por exemplo, o seu livro L(usa)lândia – a Décima Ilha, Secretaria Regional dos Assuntos Sociais, Angra do Heroísmo, 1987. A Décima Ilha seria, a meu ver, uma ilha que deve existir fora dos Açores mas tão mítica e nunca mais descoberta. 10 Dias de Melo, Pedras Negras, Salamandra, Lisboa, 2003. A edição americana em 1988. A edição japonesa pelo autor destas linhas em 2005. Quando morreu Dias de Melo, o autor destas linhas publicou os artigos sobre Dias de Melo nos jornais e revistas, por exemplo, O Correio dos Açores, nos Açores, O Luso Press, no Canadá, Portuguese Times, Portuguese Tribune, Comunidade USA, nos Estados Unidos. 11 Álamo Oliveira, Já não gosto de chocolates, Salamandra, Lisboa, 1999, p. 38. 12 Leia-se Onésimo Teotónio Almeida, “Azorean Dreams”, in Portuguese Spinner – An American Story. Spinner Publications, Inc. New Bedford, Massachusetts, s.d.. 13 Luiz António de Assis Brasil, Escritos Açorianos, Salamandra, 2003, p. 55. 14 Vitorino Nemésio, O Açoriano e os Açores, Renascença Portuguesa, Porto, 1929. 15 Luiz António de Assis Brasil, Escritos Açorianos, Salamandra, 2003, p. 55. 6.ECL_Literatura Americana_Kiwamu Hamaoka 8/17/10 9:34 AM Page 81 QUESTÃO DA ACULTURAÇÃO E DA LIBERDADE EM JÁ NÃO GOSTO DE CHOCOLATES Na segunda viagem, isto é, quinze anos mais tarde, houve o choque da inadaptação à terra de onde tinham partido. Nada mais havia, nada mais lhes dizia respeito, e pior, sentiram que não eram de terra nenhuma19. Da América, ficava-lhes apenas a segurança da sua casa, transformada em ilha. Voltavam, não para Tulare, mas para o pequeno mundo que tinham construído com tanto sacrifício. Ali é que era o seu refúgio, a sua única cidadania20. O processo de aquisição de cultura é variável, porém, no caso dos emigrantes relativamente idosos, a dificuldade é sempre maior21. Os perigos da civilização, entretanto, esperavam-nos: o filho John inesperadamente morre de SIDA, envergonhando a todos. A narração da sua morte, pela sua limpidez e brevidade, é, autenticamente, impressionante22: E anime, outra vez, a terra... Bastava que o aflorasse a vontade de um pequeno sopro...” A ironia é sobre o fim de queda do Império Português a que chegam a certa altura: como no Portugal salazarista apenas sabiam obedecer e trabalhar, na terra da liberdade não imaginam outra atitude possível, e assim se realizam trabalhando, cumprindo as leis, pagando os seus impostos e baixando a cabeça aos mandatários. O antigo regime não ficou para trás, incrustado que está nas suas peles e ossos. O 25 de Abril é somente uma sombra longínqua17. sussurrou John. Danny recolheu as flores e voltou a colocá-las na jarra. Estava possesso de ansiedade. A recuperação de John angustiava-o. Disfarçava mal. Queria telefonar ao médico. Estava sozinho e nunca assistira à morte de ninguém. Ainda não sabia se queria vomitar e, no entanto, estava encharcado de suor. John chamou-o: “Senta-te aqui. Ao pé de mim.” Rolaram duas lágrimas. “Está a ficar escuro. Dá-me a O mesmo medo político acontece quanto às coisas nacionais, e o assassínio de Kennedy não lhe diz respeito, é coisa para eles, os wasp, os bossa. Os emigrantes não têm interesse no destino social e político. Eles vivem apenas trabalhando, obedecendo aos mandantes. O patético está nas viagens de recreio à Ilha. São duas, e cada qual possui o seu próprio tom. A primeira realiza-se apenas cinco anos depois de emigrados, e levam do bom e do melhor, para mostrar, suavemente, aos vizinhos, que a América é mesmo bela e rica. Na ilha, encontram, fatalmente, tudo na mesma. Só que, desta vez, tudo parece mais triste e vazio. As lembranças ainda estão bem vivas e até chegam a sentir uma certa nostalgia daquele passado outrora tão pobre. As despedidas são, inevitavelmente, agónicas, trespassadas de sentimento e juras de pronto retorno18. 16 Luiz António de Assis Brasil, Escritos Açorianos, Salamandra, 2003, p. 56. 17 Idem, p. 57. 18 Idem. 19 Álamo Oliveira, Já não gosto de chocolates, Salamandra, Lisboa, 1999, p. 63. 20 Luiz António de Assis Brasil, Escritos Açorianos, Salamandra, 2003, p. 57. 21 Sobre esse tema, Onésimo Teotónio Almeida abordou tão magistralmente no texto “Estruturas Culturais Profundas – a propósito do duplo regresso dos emigrantes”, na Revista da Semana Cultural de Velas, São Jorge, 1992. Leia-se, também, Onésimo Teotónio Almeida, “Açores – A Aculturação entre a Europa e a América”, in 4.º Congresso de Comunidades Açorianos, Horta, 1995. 22 Luiz António de Assis Brasil, Escritos Açorianos, Salamandra, 2003, p. 57. [81] Rosemary é a figura que desempenha a função intrínseca de interlocutora muda de Joe, ouvindo-lhe, paciente e simpaticamente, as queixas e impertinências, os comentários vazios, e assiste à lenta degradação daquelas carnes que lhe confiaram para zelar. As conversas entre eles, permeadas de banalidades, escondem, nesse momento, o grande tema que é a morte, que Álamo Oliveira na juventude experimentou, duramente, na guerra colonial em Guiné-Bissau. Ali estão, contrariamente, relatos do mais puro humor, como o capítulo V, dedicado a Tony e a sua mulher Maria de Lurdes (Milu), uma rapariga da ilha, e que, apenas chegada à América, revela o seu talento consumista e propenso à bajulação das autoridades, temperado por uma ponta de vulgaridade e ostentação. Na cena em que tem um jantar com o Presidente do Governo Regional dos Açores em visita a Tulare, ela procura ficar, por via de regra, à frente do homem do governo, sempre começando cada frase com um inevitável “Uel!”16. 6.ECL_Literatura Americana_Kiwamu Hamaoka 8/17/10 9:34 AM tua mão”. Danny obedeceu e sentiu um breve aperto nos dedos. Foi só. Olhou para John. Estava morto23. No céu de Tulare, um bando de pássaros voava na direcção norte/sul. E também a sua vida voava, mas na direcção do fim24. A morte da sua mulher, Mary, com cancro de mama, paralelamente à morte de John com a SIDA, mostram-nos algo diferente e, ao mesmo tempo, as mesmas tristeza e solidão absolutas perante os que estavam ainda vivos. A morte é inevitável e universal, porém, Álamo Oliveira captou e interceptou tão bela e dolorosamente, que seria, como é óbvio, mérito de ser poeta e experiente da dura guerra colonial na Guiné-Bissau. Em Já não gosto de chocolates, a organização do tempo e do espaço ficcional é, realmente, singular. Nas suas páginas, existe o Page 82 percurso de uma vida inteira de Joe Sylvia, e ainda a narração das peripécias da família desde 1955 até ao final do romance, talvez em 1995; o espaço é multiplicado. Com tudo isso, não fica comprometido o entendimento da história. Com a lente de saudade, o autor estabelece uma dialética subtil em que privilegia, com igual medida, o tempo actual e o pretérito, o que gera a ideia de que passado e presente são um único tempo, impregnado da epopeia burguesa de um homem comum, na qual nos deixou a questão da identidade cultural dos emigrados. A América é um grande chocolate deixado para ser mordido25. O símbolo da liberdade e da abundância na América é o chocolate. O chocolate causou todos os problemas tão nitidamente tratados em Já não gosto de chocolates, e legou-nos ainda, de forma tenaz, a importância da identidade de continuar a ser açoriano e da comunidade de coração26. Talvez isto seja a utópica Décima Ilha que todos, de uma maneira ou de outra, procuram ainda e sempre. [82] 23 Álamo Oliveira, Já não gosto de chocolates, Salamandra, Lisboa, 1999, pp. 180-181. 24 Idem, p. 181. 25 Luiz António de Assis Brasil, Escritos Açorianos, Salamandra, 2003, pp. 58-59. 26 Onésimo Teotónio Almeida, “Portugal and the concern with National Identity”, in Bulletin of Hispanic Studies, 1994. vol. LIV ‘09 7.ECL_Cães letrados_CarlosAMachado 8/17/10 9:33 AM Page 83 Carlos Alberto Machado PELA ILHARGA ESQUERDA [83] – SOBRE A ESCRITA DE CRISTÓVÃO DE AGUIAR, A PROPÓSITO DE CÃES LETRADOS* [EMBARAÇO] AS PALAVRAS As palavras armazenam-se como ladrões maduros São flexíveis à memória são marinheiros em terra Acontece dizer: levantem-se e caminhem Mas quem somos e que hábito envergamos? As palavras entontecem Quando dispersas levantam rumos vários. Zeca Afonso, Poemas e Canções. Falar de alguém. Falar sobre o que alguém escreveu. Em público. “Sempre que alguém me faz essa intimação fico sem saber aonde pôr as palavras. (…) Não sei onde as pôr. Rodo-as, camponesamente, entre as mãos, como o aldeão ao chapéu em casa de gente de cerimónia”1. Mas avanço. Fecho os olhos e avanço com uma voz inventada, “em punhal, de encontro ao lugar comum do peito, a ilharga esquerda”2. Nossas debilidades – ou fortalezas. * Este texto, com poucas alterações, serviu de apresentação a Cães Letrados (Editora Calendário, 2008), no Centro de Artes e de Ciências do Mar, Lajes do Pico, 17 de Dezembro de 2008. I shall never get you put together entirely, Pieced, glued, and properly jointed. (Nunca conseguirei juntar-te todo, compor-te, colar-te e unir-te devidamente.) Sylvia Plath, The Colossus (trad. Maria de Lourdes Guimarães). 1 M/CS: 168-169. Aconselho os leitores a não se preocuparem em seguir as origens das chamadas para notas de rodapé, pois apenas distraem a leitura, que se quer proveitosa – a esmagadora maioria delas são, como se explicará, de Cristóvão de Aguiar. 2 M/CS: 164. 7.ECL_Cães letrados_CarlosAMachado 8/17/10 9:33 AM Page 84 [INQUIRIÇÃO] Não irei “inquirir acerca das [suas] origens, das raízes que [o] fascicularam pela vida fora. De como foi possível arrancá-las e carregá-las depois na carroça de outro destino. Se houve ou não! uma raiz literária que [lhe] deslavou a vida com metáforas…”3. Não. Escolhi o fascínio de viajar pelas palavras de Cristóvão de Aguiar – e é esse fascínio que desde logo afasta qualquer intento bisbilhoteiro. Empreendo a viagem, humildemente, com a esperança de poder sentir o que de outro modo seria impossível sentir: os encontrões inadvertidos das suas palavras, as suas lâminas ainda demasiado afiadas e a sua dureza rude – as suas palavras ainda antes de serem matéria narrativa, as palavras antes de (aparentemente) estabilizarem no devir das linhas paralelas de um texto. [IDEIAS] [84] Sinto que neste preciso momento devo partilhar convosco umas poucas ideias que hão-de evoluir por aí abaixo e, a modos de jangada, nos manterem à tona do entendimento: – a escrita não é encarada como “distracção”, “divertimento” ou “habilidade circense”, para isso, procure-se na Internet um qualquer “professor Marcelo”; – “Por trás de cada linha ou verso escrito, muita dor sublimada se encontra latente. E sacrifício. E sofrimento”4. A escrita de Cristóvão de Aguiar exige dele, então, dor e sacrifício – mas não necessariamente do leitor, pergunto? “Quem escreve, disse alguém, escreve-se. (…) Recria-se a partir do intimamente vivido. Ou do revivido, ainda com mais intensidade, na arena de desforço onde a memória aguça e esgrime as suas armas de ataque e de defesa…”5; a memória, ainda: mesmo para haver algo de novo a dizer, é preciso “que se desça aos infernos do íntimo e se escarafunche o que lá possa haver (e há) de original, no sentido de que é só nosso”6; – e, tão importante, o esforço persistente à procura da perfeição inalcançável, demanda sem descanso, polindo “cada palavra ou frase que consert[a] na bigorna da perseverança. E da paciência”7. a coisa divina, de considerar a escrita como matéria exclusiva de eleitos ou de iluminados. Não. Cristóvão de Aguiar sabe, como poucos, do que se trata: de uma procura daquilo que sabemos, tragicamente, não se poder alcançar – é o que nos diz, por palavras semelhantes, Eduardo Lourenço, a propósito de uma possível definição de poesia e da sua inevitável tragicidade. Cristóvão de Aguiar, artesão honesto e honrado do dizer escrito, não pode deixar de o saber e de o sentir, e de o dizer descarnadamente: “Penélope desfazia para enganar os pretendentes. Eu para iludir o tempo e procurar uma perfeição que nunca se deixa apanhar. Situa-se sempre um pouco mais além”9. Marca maior da sua escrita é a que releva da sua consciência aguda de ser uma nova “Penélope de pacotilha”10, nesse interminável fazer e desfazer os fios da vida e da escrita, em “constante dobadoira a remendar e a estraçoar os livros que componho com muito trabalho e suor” – palavras suas11. Uma luta “agónica para atingir a perfeição da escrita”, como acentua Eloísa Alvarez, na apresentação de A Tabuada do Tempo. [AFECTOS] É agora o momento de dizer que Cristóvão de Aguiar, ao mesmo tempo que expõe e se expõe no labor miudinho de entrelaçar vida e literatura, demarca-se com clareza dos “marajás da crítica”12: “só eu é quem sabe as linhas com que coso ou cozo a 3 PT: 171. 4 T: 15. 5 Idem. 6 Idem. 7 TT: 97. 8 TT: 318. 9 TT: 97-98. 10 CL, Nota prévia: 9. 11 Idem. [A PROCURA DA PERFEIÇÃO] Retomo: Cristóvão de Aguiar diz-nos quase até à exaustão: a escrita é coisa de causar “instantes de um prazer rasante à dor”8. Não se trata aqui, obviamente, de querer elevar o acto criativo vol. LIV ‘09 12 Eduardo Lourenço, “Ficção e realidade da crítica literária”, in Eduardo Lourenço, O canto do signo. Existência e literatura (1957-1993), Lisboa, Presença, 1994: 15 [A situação do crítico pareceu-se durante séculos à do marajá caçando o tigre real do alto da torre confortável e segura de um elefante.] 7.ECL_Cães letrados_CarlosAMachado 8/17/10 9:33 AM Page 85 PELA ILHARGA ESQUERDA – SOBRE A ESCRITA DE CRISTÓVÃO DE AGUIAR, A PROPÓSITO DE minha escrita…”13. Por vezes é preciso dizer as coisas com os nomes certos: “Os escritores passam a vida, por via da inspiração, a roer em público o plástico traseiro da esferográfica. Os críticos fazem os seus biscates semióticos e acabam por publicar autênticas peças sinfónicas em si maior – a chamada crítica em si”14. Num pequeno texto da década de cinquenta, Maurice Blanchot15 reflecte sobre a necessária impureza da crítica e em como nessa impureza se revela justamente a sua razão de ser. Seguimo-lo: se as obras são de uma infinita solidão, como dizia Rilke, nada há de pior para elas do que a crítica ao chamar a atenção sobre as obras, ao fazê-las sair desse ponto de fascinante discrição onde elas se formaram e onde gostariam de se fechar, ao abrigo de toda a curiosidade pública. Mas a crítica é uma força que passa rápida e na força da sua soberania introduz, sem precauções, as obras nas mãos do mundo. A essência do crítico moderno é ele estar ligado ao instante, à acção, ao quotidiano fugitivo, à instantaneidade. O crítico não deve ter arte própria nem talento pessoal, ele não deve ser o centro. É certamente um olhar, mas um olhar anónimo, impessoal, vagabundo. A obra, na sua intimidade fechada, é ciumenta, desejosa de negar o exterior: a tarefa da crítica não pode deixar de ser a de seu antagonista. Mas para contrariar a obra de arte, a crítica deve ao mesmo tempo aproximar-se dela, de a compreender, de a trair, não porque não a compreenda, mas exactamente porque ela é um esforço muito grande de compreensão. Mas a interpretação mais fiel é também a mais infiel, porque ele expõe completamente a obra à verdade do dia banal quando a natureza da obra é a de escapar à verdade16. No fundo, aquilo que é a verdade da obra é inalcançável ou não existe. Como sublinha Eduardo Lourenço, o “(…) discurso dos outros só se aproximará da verdade da obra se tomar consciência da sua impossível formulação da verdade, ou da sua não-verdade essencial”17. Isto ajuda-me a dizer que nesta “apresentação”, como já se deverá ter percebido, não assumo o papel do crítico todo-poderoso, do crítico dono-da-verdade. Contudo, falar de alguém ou de uma obra é sempre um falar-sobre. Ora, este falar-sobre assume também ele o risco da interpretação, o risco de dizer, mesmo sem o dizer: isto quer dizer aquilo. Como a ultrapassagem ou a fuga a este estigma será improvável, há quem escolha, como eu, dizer claramente duas coisas: a primeira, é a de que se está a falar de uma obra ou de um autor de quem se gosta – o que desde logo afasta qualquer máscara de “imparcialidade”; portanto, já fui, e serei, “parcial”, é, pois, uma questão de afecto; a segunda, é que este falar, mesmo a “favor” do autor e da obra, é sempre um falar de um indivíduo que, como defende António Pinto Ribeiro, está historicamente situado, porque “toda a escrita sobre arte (…) é sempre determinada pelo local e pela época precisos em que é produzida, ou seja, deriva do ‘estado do sítio’ em que historicamente aconteceu”18. “O que transportará consigo (…) o escritor que escreve sobre objectos ou situações de arte? Tudo o que ele próprio é e tudo o que sabe. Transporta consigo um conjunto de dados, determinados pontos de vista, um número limitado de preconceitos, algumas estratégias de análise, o sexo, a sua sexualidade, algumas crenças (…)”19. Portanto, este escriba que aqui hoje vos fala da obra de Cristóvão de Aguiar é um ser, como todos nós, sujeito às mesmas boas e más consequências de estar vivo e estar vivo num determinado local e numa determinada época. Por isso… Então, o que para trás ficou dito e o que se seguirá é, tão só, um testemunho de leitura – valha 13 CL, Nota prévia: 9. 14 PT: 162. 15 Maurice Blanchot, «La condition critique», in Trafic, Revue de Cinéma, Paris, nº 2, Printemps, 1992: 140-142. O texto foi originalmente publicado em L’Observateur, n.º 6, de 18 de Maio de 1950. 16 Extracto do meu livro Teatro da Cornucópia. As Regras do Jogo, Prefácio de Alexandre Melo, Lisboa, frenesi, 1999. 17 José Gil, “O ensaísmo trágico”, in José Gil e Fernando Catroga, O ensaísmo trágico de Eduardo Lourenço, Lisboa, Relógio D’Água, 1996: 14. 18 António Pinto Ribeiro, «Novas lógicas, novos sentidos», in Maria de Lourdes Lima dos Santos (coord.), Cultura e economia - Actas do Colóquio realizado em Lisboa, 9-11 de Novembro de 1994, Lisboa, Instituto de Ciências Sociais, col. Estudos e Investigações, nº 4, 1995: 91-96. 19 Idem, 91. [85] CÃES LETRADOS 7.ECL_Cães letrados_CarlosAMachado 8/17/10 9:33 AM Page 86 isto o que valer – e um desafio de partilha: muito de que aqui vos digo é dito através das palavras concretas de Cristóvão de Aguiar. Como alguém disse, a melhor crítica de um texto é o mesmo texto dito em voz alta. [MARAVILHAMENTO] [86] As obras de Cristóvão de Aguiar são de uma enorme riqueza vocabular – que não se restringe ou deixa armadilhar em regionalismos, tenham eles deitado raízes atrás dos séculos ou não –, de muito variadas fontes, e passadas pelo filtro finíssimo do homem que sempre considerou “a escrita [como] a única maneira válida de [s]e apresentar documentado na vida”20. Mas este rico e variado universo vocabular nunca por si só faria literatura. O que seguramente aí nos atrai e maravilha é a desconcertante variedade de danças com que esse mundo imenso de palavras nos brinda, um aluvião de combinatórias que têm também o condão de evitar mostrar-nos os seus modos de fazer, os seus esqueletos ou ossaturas – mas não evita, para nosso prazer, de mostrar a sua presença como distanciamento irónico, como, por exemplo, naquela que é para mim uma obra notável de inventividade, Passageiro em Trânsito: “(…) Afrânio (…) esgueira-se com certeza para as linhas desta escrita.” (33); “(…) tenciono ainda apanhá-lo no alto mar, se o tempo e a prosa estiverem de ficção.” (102). “(…) Agora vou puxar o senhor Afrânio padrinho para dentro do rego desta história.” (103) Resistindo, então, à vaidade de nos mostrar as suas habilidades construtivas, Cristóvão de Aguiar dá-nos em oferenda fluxos de palavras sem sobressaltos, dorsos nem sempre dóceis de sons e sentidos que nos impelem a viajar para espaços de ser até aí sequer imaginados. Mas surge sempre uma ocasião em que um pequeno escolho interrompe a marcha e então voltamos atrás para refazer caminho – que nunca se repete. E a cada regresso os trilhos aparentemente conhecidos fazem-se outros. E depois de muito caminhar cada palavra torna-se uma pedra em que nos refazemos e refazemos o mundo. E depois ainda deixamos de saber afinal que “história” ele estava a contar-nos e é então quando se dá em toda a sua magnificência o “alumbramento” da palavra, quando ela tem o atrevimento de querer ser, na qual e pela qual a vida se dá a partilhar. vol. LIV ‘09 [A CONSTRUÇÃO DE SI] Cristóvão de Aguiar desce “aos seus infernos do íntimo” e lá “escarafuncha o que lá é mais original”, no sentido do que possa ser apenas seu. Tal como Dom Quixote desce à caverna de Montesinos e de lá sai, vitorioso, com uma “história” que é só sua, assim faz Cristóvão de Aguiar quando desce ao seu “inferno íntimo”21. Embora aos olhos dos incrédulos “sanchos” estas “histórias” possam ser alucinações ou mentiras, o que é certo é que as “histórias” de ambos são na verdade absolutamente verdadeiras. E são-no porque pertencem a um outro patamar, a outra natureza, aquela que advém de uma paciente, e tantas vezes dolorosa, fabricação de si mesmo. Um homem – Miguel de Cervantes ou Cristóvão de Aguiar – elabora milhares de páginas escritas que mais não são que um processo de criação e de união de pontos que apenas no fim da obra justificam um nome. Cervantes no Dom Quixote não criou a figura, “Dom Quixote”, mas sim a figura “Miguel de Cervantes”, tal como Cristóvão de Aguiar faz desde a primeira Relação de Bordo até a A Tabuada do Tempo – apenas para referir a sua escrita diarística, mas que a ela não se restringe. Com todos os livros que escreveu, não é apenas o trabalho laborioso da escrita em busca de uma impossível perfeição – de escrita e de literatura. O que sempre demandou, e ainda demanda, creio, é a sua própria (impossível) perfeição como ser humano, como homem. Mas isto não no sentido de algum dia vir a descobrir quem (na verdade) é, como se se tratasse de um tesouro ciosamente escondido por Deus, não. Não é um “procura-te e encontra-te”, ou um encantatório jogo infantil de “escondidas”, não. Trata-se, pelo contrário, de um processo de construção, no qual são usadas matérias bem à mão de semear: as palavras e a memória, mas uma memória que não se limita a rondar escaninhos mais ou menos obscuros do passado e a reavivá-los, mas uma memória que opera processos recombinatórios do vivido, os escolhe e monta e remonta sob um prisma que não é apenas devedor de uma hipotética verdade pessoal (e, no caso de Cristóvão de Aguiar, familiar). Imaginemos que a nossa vida certo dia se frag- 20 RL-I: 304. 21 Creio que Cristóvão de Aguiar é, aliás, leitor assíduo de Cervantes e do seu Quixote: ver por exemplo: TT: 73. 7.ECL_Cães letrados_CarlosAMachado 8/17/10 9:33 AM Page 87 PELA ILHARGA ESQUERDA – SOBRE A ESCRITA DE CRISTÓVÃO DE AGUIAR, A PROPÓSITO DE CÃES LETRADOS [OBSESSÕES] Não gostaria de lhe chamar obsessões, mas por vezes parecem-se com isso. Algumas delas foram já afloradas, tais como a busca da perfeição, a busca da sua própria construção (ou a sua identidade, se se quiser), e a sua relação com a crítica. Acrescento à digressão uma espécie de montagem com as palavras do autor – as suas obsessões ou inquietações –, extraídas daquela espécie de oficina de escrita que é toda a sua produção diarística: o escrever-se com a plasmação da sua memória (de elefante); o incansável labor sobre a matéria palavra (rigor, precisão, esforço, dor, angústia, depressão, júbilo…). Permitam-me chamar aqui uma voz que o próprio Cristóvão de Aguiar convoca para o seu primeiro Relação de Bordo: o poeta Joaquim Manuel Magalhães. É, para mim, este belíssimo poeta que, de tudo o que li sobre o nosso autor, aquele que, precisamente como poeta, isto é, como cúmplice da escrita, mais luz nos oferece para ler Cristóvão de Aguiar ainda com mais prazer. Diz ele – e desculpem-me a citação longa: “Um romance que parta da ligação entre um local de comportamentos e um contínuo fluxo verbal, desenfreado de memória, enternecido de situações e carregado de um ritmo transbordante não podia deixar de agradar mesmo a quem não lê um romance a não ser com uma certa distância. Fascinou-me muito mais o seu romance que Casas Pardas da Velho da Costa ou Directa de Nuno Bragança. A sua “istora” (termo sedutor) de reminiscências é muito importante. Deixe-me acentuar três pontos: – lembrou-me o António Manuel Pires Cabral a sua “matança” açoriana. Lembrou-me porque gostei muito de ambas; a emigração, dada sem demagogia nem complacências, antes como ir-se embora, com a consciência dos limites económicos duma colectividade; – a poesia narrativa dos corpos, dos desejos, das células familiares; – o processo: um encadeamento, menos narrativo que designativo da situação; quero dizer, o que conduz a istora não é um enredo, mas impulsos organizados a partir de momentos da memória, ligado sempre a situações sociais e comportamentais”22. “Sinto pavor à morte”23, diz Cristóvão de Aguiar. E quando a sua avó Hermínia ainda em vida se despede dele como se estivesse morta, ele fica “sem saber onde pôr as palavras (…)”24. Toda a sua escrita está marcada desde muito cedo, aliás, por este pavor, como ele próprio regista em nota de diário datada de 7 de Abril de 1965, quando escreve sobre a sua intenção de publicar o seu primeiro livro, de poemas: “(…) se morrer na guerra fico com descendência”25. (o livro, entenda-se). “Sempre tiveste um medo pânico da morte”26, diz, mais tarde, de si para si. O sofrimento de Cristóvão de Aguiar não é, seguramente, motivo de auto-comiseração ou de exibição gratuita, mas não pode nunca deixar de gritar quando a dor lhe dói, e, quando alguma vez deixou de a passar a escrito, vem o inevitável queixume: “(…) talvez tivesse ficado com menos agrafos no corpo e decerto menos agravos na alma”27. 22 RL-I. 23 RL: 310. 24 RL-I: 38. 25RL-I: 39. 26 T: 17. 27 TT: 195, sobre o dever de ter escrito há mais tempo acerca da sua dor pela ausência do filho mais moço. [87] mentava em milhares de minúsculos pedaços e que nos era oferecida uma derradeira possibilidade de voltar a fazer deles um ser – de preferência cada um de nós mesmos em “versão aperfeiçoada...” – isto é, algo que de alguma forma voltasse de novo a fazer sentido. Sem livro de instruções – apenas Deus tem o seu e usou-o para fazer o mundo – que ou quem nos guiaria nesse empreendimento? Juntar às cegas os pedaços? Ao acaso? Cristóvão de Aguiar resolveu seguir outra “instrução”: a cada pedaço colou um nome, uma palavra; depois, foi experimentando juntar cada destes pedaços uns a seguir a outros, experimentou sequências curtas e longas; repetições; retornos; alguns pedaços foram abandonados ou desperdiçados, outros alcandorados a chaves-mestras das sequências de nomes e palavras, algumas delas novas, outras com novos usos que as posições relativas lhes ofereciam. Muito tempo demorou ele a fazer nova configuração dos fragmentos estilhaçados da sua vida – provavelmente ainda e sempre incompleta. Ou com tantas faces quantas lhe pode oferecer cada volta completa da roda de oleiro. 7.ECL_Cães letrados_CarlosAMachado 8/17/10 9:33 AM Page 88 Para Cristóvão de Aguiar, escrever é na verdade um modo de se resolver28, e é deste modo que ele o exprime: “(…) o modo de te resolveres por escrito (…)”. Que é como quem diz, uma espécie de renascimento. Como creio que já vos disse, em Cristóvão de Aguiar trata-se sempre, ou quase sempre (é preciso ter cuidado com as certezas), de uma eterna renovação: “É urgente reconstruíres-te. Trasfegares-te como teu avô fazia ao vinho novo. Desentulha-te dos montes de destroços e ruínas que te impedem o acesso à unidade original, à clarividência dos gestos, à limpidez da entrega. O melhor é escreveres-te. Necessitas de palavras. De muitas palavras em brasa, amadurecidas, capazes de te limpar de uma vida que se te azedou. Colhe o fruto sazonado que o tempo põe todos os dias ao teu alcance…”29. [88] O seu ofício é um “ofício de trevas”30. E a divisa de Goethe poderia ser a sua: “Se tens um monstro, escreve-o”31. Para ele, “Escrever é um acto solitário, de introspecção profunda (…) não se compadece com o sol brilhante da chamada felicidade. Exige, sim, um estado psíquico de penumbra, situado entre a saúde e a doença, entre a mágoa e uma alegria meio triste. Era este o estado tranquilo que eu gostava de alcançar”32, um “(…) estado de doce tensão interior (…)”33. Apesar da sua persistência, não são poucos os momentos de desânimo, na sua procura incessante de perfeição: “O que tenho andado escrevinhando neste caderno mete-me nojo. Aliás, tudo quanto tenho feito ultimamente em matéria de escrita me desgosta”34. E nos piores momentos “Cresce-[lh]e a alma de um só lado”35. “Já não tenho que escrever. Fui esgotando o que julgava haver em mim depositado, à espera de uma inteligência que lhe desse uma ordem, um rumo, um vazão. Mas, também ela, me tem sido curta e madrasta – não lhe soube dar o uso e o óleo que ela requereria. E as coisas, como se sabe, embotam e embrutam por falta de serventia”36. E desabafa: “(…) nunca acerto com a justa medida”37. “O ofício da palavra rende pouco e dá suores de aflição. Trabalhar. Trabalhar”38. Não será estranho ouvir dizer a alguém tão perfeccionista: “(…) tenho pavor às palavras. Não sei se sabes que elas têm o condão de transfigurar coisas e criaturas. Bafeja-as de um sopro vol. LIV ‘09 de vida verdadeira, transformando-as em seres de um outro mundo mais real e plausível do que este. Só de íntimo lavado e de ânimo aquecido consigo abeirar-me da palavra, quer para lhe rasgar o ventre, arredondar-lhe o corpo, afiar-lhe os gumes e os cumes, quer ainda para com ela travar uma luta, a que, não raro, só os alvores da madrugada vêm pôr ponto final. Nunca para adulá-la, porque, se o silêncio é de ouro, de mais valioso ouro será ainda a palavra gerada, amadurecida e parida na maternidade do verbo”39. Cristóvão de Aguiar sabe que “(…) não po[de] negar que, por vezes, encontr[a] na escrita uma certa paz interina. Mas dá-[lh]e também muita guerra…”40. “Por trás de cada linha ou verso escrito, muita dor sublimada se encontra latente. E sacrifício. E sofrimento. Claro que já sofreste. E a maduridade e a distanciação? Quem escreve, disse alguém, escreve-se. (…) Recria-se a partir do intimamente vivido. Ou do revivido, ainda com mais intensidade, na arena de desforço onde a memória aguça e esgrime as suas armas de ataque e de defesa… (…) Exageras… Há sempre alguma coisa nova a dizer. É mister que se desça aos infernos do íntimo e se escarafunche o que lá possa haver (e há) de original, no sentido de que é só nosso. Tudo isto leva tempo, muito tempo. Tens de atravessar vastos desertos, sofrer muitas angústias, derramar suor em abundância. (…) Nada te detém 28 RL-I: 308. 29 T: 23-24. 30 RL-II: 110. 31 RL-II: 150. 32 TT: 88. 33 TT: 78. 34 RL-I: 325. 35 RL-II: 106. 36 RL-II: 72-73. 37 TT: 37. 38 TT: 304. 39 RL-I: 340. 40 TT: 195. 7.ECL_Cães letrados_CarlosAMachado 8/17/10 9:33 AM Page 89 PELA ILHARGA ESQUERDA – SOBRE A ESCRITA DE CRISTÓVÃO DE AGUIAR, A PROPÓSITO DE CÃES LETRADOS Pacientemente, embora às vezes se sinta “(…) enjoado do mar encapelado em que a escrita se transforma (…)”43, Cristóvão de Aguiar persiste no seu trabalho interminável “de coligir, podar e limar centenas de páginas (…)”44, de as “ir colocando, obedientes, dentro do sistema nervoso da frase”45, labor que noutras ocasiões parece descoroçoante: “(…) seis magras páginas em sete horas e picos de severa aplicação (…)”46; “Aqui em frente do ecrã do computador há não sei quanto tempo e sem conseguir pescar uma palavra das muitas que sinto correr pela ribeira que nasce e desagua em mim”47; “[um dia em que] (…) só escutei as minhas vozes de dentro, quase sempre muito exigentes e duras comigo, não têm a mínima condescendência nem transigem um cisquinho no que diz respeito ao trabalho de escrita e a outros pontos da gramática de viver”48. [ESTE LIVRINHO] “Os textos que compõem este livrinho, que ora vos apresento, foram extraídos, com ligeiras alterações, de vários livros meus [boa parte deles, por exemplo, d’A Tabuada do Tempo e de Ciclone de Setembro] onde essas histórias sobre cães e cadelas se encontram – os inseparáveis e afectuosos companheiros da minha infância e juventude”49. autobiográfica como derradeira possibilidade. Esta perspectiva, sobreleva e arrasta outra questão, que é a da tendencial anulação de fronteiras entre o real e o ficcional, isto é, de fazer derivar a diferença para outro patamar, onde são bem distintos os valores em causa, como seja, por exemplo, a possibilidade de considerar igualmente o real sensível como algo que se constrói autoralmente, e, assim, ser possível modelar o experienciado e o imaginado com as mesmas regras que a ficção utiliza. Isto que parece apenas teoria é absolutamente claro na prosa de Cristóvão de Aguiar. Hei-de dar-vos um exemplo no final destas notas quando vos ler um trecho de um dos seus livros e vos convidar a reflectir a que tipo de obra do autor ele pertence. E acrescento ainda isto, que é claro e público: o primeiro Relação de Bordo, livro em jeito de diário que relata os anos 19641988, foi pacientemente escrito nos finais da década de 1990, com o auxílio da sua prodigiosa memória, de notas de época, cartas e, acrescento eu como óbvio corolário, do uso da mesma oficina em que se fabrica toda e qualquer ficção. “A minha escrita tem de ser coada pela memória afectiva”50. “Tenho de facto facilidade em me transportar a outras épocas da minha vida e revivê-las quase com a mesma intensidade com que as vivi. Basta-me um incentivo que incendeie a memória”51, diz-nos o autor com toda esta clareza. Os diários ou quase-diários Relação de Bordo I e II, Nova Relação de Bordo e A Tabuada do Tempo são exemplares e eloquentes. Tal como as ficções Passageiro em 41 T: 15. 42 TT: 17. Esta pequena declaração de Cristóvão de Aguiar pode servir-nos como guia de leitura de toda a sua obra. Em poucas palavras direi que se trata do complexo entrelaçar, quase promiscuidade, entre a escrita dita diarística e a escrita de ficção. É sempre Cristóvão de Aguiar homem/escritor que nesses dois registos se encontra e desencontra. De tal maneira e tão radicalmente o faz que diria que, com essa atitude, é a própria fronteira de géneros que se esbate, ou, num certo sentido, se clarifica e aprofunda aquela que para muitos é a mais forte possibilidade (ou validade) da narrativa ficcional: a implicação 43 M/CS: 171. 44 TT: 74. 45 RL-I: 262 46 TT: 111. 47 TT: 72. 48 CL, Nota prévia: 10. 49 RL-II: 42. 50 TT: 74-75. 51 T: 77. [89] quando galopas à garupa da imaginação e da fantasia. Desde que te fervilha um poema ou uma história, pedindo forja, grosa e o demais ferramental com que a escrita se afeiçoa (…)”41. Mas é “Caprichosa, a escrita. Deleita-se em vingar-se de quem dela se abeira de coração inseguro e de mãos limpas”42. 7.ECL_Cães letrados_CarlosAMachado 8/17/10 9:33 AM Page 90 Trânsito, Trasfega e Ciclone em Setembro. Podemos talvez dizer isto: Cristóvão de Aguiar é tão verdadeiro nuns como noutros livros. E a literatura ficcional é excelente tanto nuns como noutros. Ele sabe que as suas razões são “(…) razões que, por serem imaginadas, correm o risco de se tornar verídicas…”52. Os contos de Cães Letrados são, como disse, extraídos de vários livros do autor: e não errarei muito se afirmar que mais de metade destas pequenas ficções pertencem… aos seus livros ditos não ficcionais – os diários. Quem leu os livros anteriores só tem a ganhar em ler esta sequência – como nova. Aos leitores que só agora chegam ao mundo de Cristóvão de Aguiar, Cães Letrados é um saboroso aperitivo, recheado de bons sabores e bem nutrientes! [90] Os contos podem agrupar-se em dois latos conjuntos: um, integra as estórias que o autor nos diz que vivenciou (mas só ele saberá a verdade – ou não…); outros, em que os cães são vestidos com um pêlo mais alegórico e por aí ironizam com figuras (supostamente não caninas) – cães polícias e polícias cães, cães universitários… – que todos podemos facilmente reconhecer no nosso quotidiano. Para Cristóvão de Aguiar, os cães têm sido “(…) povoadores de solidões acumuladas”53. Boa companhia, portanto. E agora, peço a vossa atenção para o trecho de que vos falei. [PRAZER RASANTE À DOR] “A vontade de escrever sentida não me é bissexta como a escrita; só quando, nos anos do rei, executa a dança do ventre me caem todas as defesas: deixo então de lhe resistir e fico nela enleado como aranhiço em sua própria teia; nesses instantes de um prazer rasante à dor, sinto-me mais rente a mim e acareado por ela (…), atraindo-me para jogos preliminares do banquete dos sentidos que se vai seguir; não sei deslindar qual deles será o mais cativante, talvez ambos, assim como se torna impossível delimitar as fronteiras dos moldes em que será vazada a massa ígnea com que vou lavourando as palavras para se transfigurarem em magma e escrita, ou escrita de magma, cada extrema crescendo para a vizinha, invadindo-se reciprocamente, derriçando-se ou eriçando-se, acasalando-se por amor raramente espúrio, rumo a uma nebulosa cada vez mais espapaçada de sombra na qual só cabe a morte total de todas as balizas entre suas terras comarcãs. Cuidado, porém: a morte traz no peito uma carta de alforria, no sítio exacto da cicatriz ficada do recontro; nessa sintonia vai originar-se uma ressurreição seguida de outro aniquilamento, e assim por diante, até a nebulosa se tornar no cerne de toda a escrita, sem castas nem marcos, sem sentinelas nem espias”. ABREVIATURAS DA OBRAS DE CRISTÓVÃO DE AGUIAR UTILIZADAS: CL M/CS NRL PT RL I RL II T TT = = = = = = = = Cães Letrados, s/ l., Calendário, 2008 Marilha (Ciclone de Setembro), Lisboa, Dom Quixote, 2003 Nova Relação de Bordo, Lisboa, Dom Quixote, 2004 Passageiro em Trânsito, Lisboa, Salamandra, 1994 Relação de Bordo (1964-1988), Porto, Campo das Letras, 1999 Relação de Bordo II (1989-1992), Porto, Campo das Letras, 2000 Trasfega, Lisboa, Dom Quixote, 2005 Tabuada do Tempo, Coimbra, Almedina, 2007 52 NRL: 211. 53 TT: 318. vol. LIV ‘09 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 9:52 AM Page 91 CIÊNCIAS HUMANAS Índices do Cartório da Mitra de Angra (ilha de Santa Maria) História dos Açores: do descobrimento ao século XX Sobre Manuel Garcia Monteiro no tricinquentenário do seu nascimento INSTITUTO AÇORIANO DE CULTURA 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 9:52 AM Page 92 CIÊNCIAS HUMANAS JORGE BARROS Capelinhos, Faial / Ponta da Piedade, Lagos vol. LIV ‘09 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 9:52 AM Page 93 Filipe Pinheiro de Campos ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA Os fundos documentais de natureza eclesiástica têm-se revelado como uma grande fonte de informações para os mais diversos estudos de natureza histórica e sócio-económica. Muitos desses documentos têm sido verdadeiros achados que permitiram novas abordagens e a abertura de novos caminhos de investigação. Para além de tempo, os investigadores e pesquisadores nestas áreas carecem também de uma organização sistemática da documentação salvaguardada nos diferentes arquivos de modo a obviar o seu trabalho e a permitir uma localização mais célere. Felizmente alguns trabalhos na temática da indexação e inventariação1 têm vindo a ser publicados o que tem permitido não apenas uma melhor gestão do tempo de investigação mas também uma maior eficácia nas metodologias a desenvolver. Tal situação reflecte o papel cada vez mais activo que a sociedade civil tem vindo a desenvolver em prole da maior facilidade de acesso e disseminação da informação, papel que estamos certos, incumbindo ao Estado como fiel depositário do nosso património comum tem vindo a ser muito secundarizado e mesmo esquecido por parte das instituições. É neste sentido de auxílio e em paralelo de organizar um instrumento simples para um melhor conhecimento dos diferentes fundos documentais que damos início a um conjunto de artigos que esperamos possam contemplar a documentação relativa às diferentes ilhas. Após o descobrimento das ilhas, foi necessária a criação de uma jurisdição de natureza espiritual para toda a região. Nesse sentido sabe-se que já anteriormente a 1528, D. João III pensou na criação de um Bispado nas ilhas dos Açores o que se começou a concretizar com a missão encabeçada por D. Martinho de Portugal em Maio de 1532. Essa embaixada régia junto do Vaticano solicitou a criação de vários Bispados, entre os quais um nos Açores, escolhendo-se para sede do mesmo a ilha de São Miguel por ser a de maiores dimensões e já então a mais populosa. Clemente II cedeu às pretensões do monarca português e em 31 de Janeiro de 1533 cria o Bispado de São Miguel com sede na ilha do mesmo nome. Falecendo o pontífice em 26 de Setembro de 1534 sem ter expedido a respectiva bula de criação foi seu sucessor, Paulo III, que pela Bula Aequum reputamus de 3 de Novembro de 15342, erigiu o Bispado de São Salvador dando-lhe por catedral a Igreja da mesma invocação em Angra, sufragânea do Arcebispo do Funchal. Em 1650 a Sé do Funchal perde a sua dignidade metropolitana e a Diocese passa a ser sufragânea do Arcebispo de Lisboa. Foi seu primeiro Bispo D. Agostinho Ribeiro, com jurisdição em todas as ilhas dos Açores. 1 Entre eles destacam-se os trabalhos de Luís Amaral no seu Inventário dos Registos Paroquiais de Lisboa (Casamentos) em publicação desde 2006 e muitos artigos dispersos que têm vindo a sistematizar alguma da informação arquivística. 2 Fortunato de Almeida – História da Igreja em Portugal. Volume II, Porto, 1968, p.22. [93] (ILHA DE SANTA MARIA) 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 9:52 AM Page 94 O fundo da Mitra de Angra no Arquivo Regional de Angra do Heroísmo3 é composto por 988 maços distribuídos de acordo com a origem dos diferentes processos e documentos: Série Maços Documentos Terceira 1 a 293 13975 São Miguel 294 a 570 7379 Faial 571 a 643 1643 Graciosa 644 a 751 3034 Pico 752 a 823 1469 São Jorge 824 a 877 1153 Santa Maria 878 a 923 560 Flores 924 a 963 890 Corvo 964 a 973 136 Estrangeiros4 974 a 975 27 Deteriorados 976 a 988 - Neste primeiro conjunto de índices procedemos à inventariação dos documentos referentes à Ilha de Santa Maria5, com datas extremas situadas entre 1658 e 1923. Entre as diferentes tipologias de documentação, optámos pela sua divisão em quatro categorias para mais fácil indexação, mantendo no entanto a numeração dada no respectivo inventário6: • Habilitações de Genere e Ordenações Sacerdotais (1658-1848) compreendendo todos os processos de diligências para Inquirição de genere relativos a indivíduos que se pretendem habilitar nas ordens sacras, processos de vita et moribus, de ordenação e tomada de ordens assim como colações e nomeações em diferentes benefícios eclesiásticos; • Patrimónios Eclesiásticos (1697-1839) nos quais se incluem todos os processos destinados à constituição de património temporal para os ordinandos e respectivos dotes e dotadores; [94] • Dispensas Matrimoniais (1721-1910) que incluem alvarás matrimoniais, licenças para casamentos e atestados de fé de pobreza, destinados à obtenção de dispensa por razões de consanguinidade, afinidade ou por qualquer outro impedimento canónico; • Documentação Diversa (1687-1923) onde se incluem requerimentos, inventários, licenças para oratório, autos de redução de legados e reunião de vínculos, atestados e certidões várias. 3 Para além deste fundo existe o fundo designado por Cabido composto por 84 livros, 7 maços e 13 pastas. 4 Corresponde a documentos de indivíduos oriundos de outras Dioceses. 5 Por equívoco de leitura ou de organização existem alguns documentos referentes a outras ilhas que não Santa Maria mantendo-se neste artigo a numeração original e ressalvando tais situações para futuras correcções. 6 No Maço 920 não se encontram os documentos 1, 2 e 3 e procedemos à inscrição do número 24A. vol. LIV ‘09 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 9:52 AM Page 95 ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA [95] (ILHA DE SANTA MARIA) Autuação para Ordens Sacras e Menores de Francisco Cabral Teixeira (29 de Março de 1672) Diligências para Inquirição de Genere de Manuel da Câmara Canto Albuquerque (26 de Agosto de 1848) Doc. 1 Maço 921 Doc. 12 Maço 917 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 9:52 AM Page 96 [96] Mandato para Comutação de Penitências a favor de Diniz Maria dos Reis e Maria Jacinta (26 de Fevereiro de 1875) Dispensa Matrimonial a favor de Victorino Monteiro de Bettencourt e D. Ana Isabel Monteiro (2 de Julho de 1834) Doc. 35 Maço 923 Doc. 9 Maço 914 vol. LIV ‘09 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 9:52 AM Page 97 ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA [97] (ILHA DE SANTA MARIA) Indulto Apostólico e Beneplácito Régio para Oratório Privado sendo requerente o Capitão Bento Soares de Albergaria e outros (29 de Maio de 1816) Doc. 4 Maço 921 Provisão para Tesoureiro para a Igreja de Nossa Senhora da Assunção de Vila do Porto a favor de Manuel Soares Ferreira (22 de Junho de 1876) Doc. 36 Maço 923 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 9:52 AM [98] Matriz de Nossa Senhora da Assunção, Vila do Porto vol. LIV ‘09 Page 98 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 9:52 AM Page 99 ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA (ILHA DE SANTA MARIA) Nome Documento ( Sumário) Data Maço Doc. André Soares Cabral7 Inquirição de genere - Natural de Santo Espírito, filho de André Soares Garcia, da Matriz e de Maria de Resendes, de Santo Espírito, n.p. de Francisco Soares Garcia e Catarina Ferreira e n.m. de Manuel Cabral de Melo e Emerenciana de Resendes. 12.09.1724 903 11 António de Andrade Inquirição de genere - Natural de Santa Maria. 10.02.1722 903 10 António de Melo Inquirição de genere - Filho do Alferes Gaspar de Andrade, de Santo Espírito e de Cristina de Melo, da Matriz, n.p. de António Velho de Fontes e Inês de Andrade e n.m. de Sebastião de Fontes, da Matriz e Catarina Velho de Melo, de São Pedro. 22.08.1722 903 9 António de Melo Inquirição de genere - Filho do Alferes Gaspar de Andrade, de Santo Espírito e de Cristina de Melo, da Matriz, n.p. de António Velho de Fontes e Inês de Andrade e n.m. de Sebastião de Fontes, da Matriz e Catarina Velho de Melo, de São Pedro. 31.07.1722 903 8 António de Melo8 Inquirição de genere - Natural da Matriz, filho de Baltazar de Andrade e de Cristina de Sousa, n.p. de Nicolau Folgado e Maria Pacheco e n.m. de Francisco de Freitas e Maria de Sousa. 18.03.1706 903 2 António de Moura Chaves9 Inquirição de genere - Natural da Matriz, filho de Francisco de Moura Chaves e de Francisca Quitéria de Sousa, n.p. de Manuel de Moura Chaves e Catarina de Magalhães e n.m. de Francisco de Andrade e Silva e Margarida de Sousa. 03.03.1746 903 14 António de Paiva Inquirição de genere - Natural da Matriz, filho de Matias de Sousa e Maria de Paiva, n.p. de Francisco de Freitas e Maria de Sousa e n.m. de António de Paiva Ponte e Ana de Morais. 27.08.1727 903 12 António Soares Ferreira10 Inquirição de genere - Filho de Manuel Soares Garcia e de Maria Ferreira, n.p. de André Garcia e Maria Soares e n.m. de Duarte Velho e Inês Ferreira. 20.06.1692 902 4 7 Rodrigo Rodrigues – Genealogias de São Miguel e Santa Maria, p.810. 8 Idem, p.3106. 9 Idem, p.2187. 10 Idem, p.809. [99] ARQUIVO REGIONAL DE ANGRA DO HEROÍSMO CARTÓRIO DA MITRA E CABIDO DE ANGRA ILHA DE SANTA MARIA HABILITAÇÕES DE GENERE 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 Nome 9:52 AM Page 100 [100] Documento ( Sumário) Data Maço Doc. Baltazar Ferreira11 Inquirição de genere - Filho de Manuel Soares Garcia e Maria Ferreira de Andrade, n.p. de André Garcia e Maria Soares e n.m. de Duarte Velho e Inês Ferreira. 16.10.1704 879 4 Brás Soares de Sousa12 Inquirição de genere - Filho de Pedro Soares Coelho e de D. Isabel de Macedo, da Matriz, n.p. de Manuel Coelho de Melo, de São Pedro e D. Inês de Sousa, da Matriz e n.m. de Cristóvão Fernandes de Fontes e Maria Pereira, da Matriz. 20.06.1715 903 4 Caetano de Sousa Inquirição de genere - Filho de Baltazar de Andrade e de Catarina de São Miguel, n.p. de Gaspar Furtado e Maria de Fontes e n.m. de Martinho de Sousa e Maria de Mesquita, todos da Matriz. 20.04.1716 903 5 Cosme de Azevedo Inquirição de genere - Natural da Matriz, filho de Domingos de Azevedo, natural de Savariz, Castro Daire e de Vitória de Andrade, da Matriz, n.p. de Francisco de Azevedo e Maria João, de Chãos de Paiva e n.m. de Manuel Curvelo, de Santa Bárbara e Guiomar Gomes, da Matriz. 20.05.1717 903 6 Cristóvão de Andrade13 Inquirição de genere - Filho de Matias Nunes de Andrade e de Maria de Matos, n.p. de Gabriel de Sousa e Melo e Isabel de Andrade Puim14 e n.m. de António de Matos Faleiro e Catarina Gonçalves. 02.04.1698 902 6 Domingos de Fontes Inquirição de genere - Natural de São Pedro, filho de Manuel de Fontes de Morais15, de São Pedro e de Antónia de Resendes, da Matriz, n.p. de Francisco Fernandes Távora e Brites de Morais e n.m. de Félix de Resendes de Carvalho e Inês de Fontes. 11.09.1705 903 1 Duarte Tavares Correia16 Inquirição de genere - Natural da Matriz, filho do Capitão Inácio de Sousa Falcão e D. Isabel de Bulhões, n.p. do Capitão Duarte Tavares Correia e D. Maria Velho de Melo, de Santo Espírito e n.m. de Domingos de Melo e Isabel de Alpoim. 19.02.1720 903 7 Francisco Cabral Teixeira17 Autuação para Ordens Menores e Sacras - Filho de Bartolomeu Cabral e Catarina Teixeira, n.p. de Manuel Francisco Cabral e Catarina Velho e n.m. de António Pires Figueira e Ana da Costa. 29.03.1672 921 1 Francisco de Andrade Correia 07.07.1712 902 10 Inquirição de genere - Filho de Bartolomeu Pacheco Bertão e de Maria Correia. 11 Idem, p.809. 15 Genealogias de São Miguel e Santa Maria, p.3613. 12 Idem, p.854. 16 Idem, p.869. 13 Idem, p.767. 17 Idem, p.2701. 14 O apelido Puim que ainda subsiste em Santa Maria surge com diferentes grafias como Poim e Alpoim sendo este que certamente corresponderá à origem do mesmo. vol. LIV ‘09 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 9:52 AM Page 101 ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA (ILHA DE SANTA MARIA) Documento ( Sumário) Data Maço Doc. Francisco José Cabral Inquirição de genere - Natural de Nossa Senhora dos Anjos da Fajã (São Miguel), filho de José Francisco Cabral e de Victorina Jacinta, n.p. de Mateus Lourenço e de Maria do Nascimento, naturais da Fajã e n.m. de Jerónimo de Andrade e de Maria de Jesus, da Matriz de Vila do Porto. 15.05.1820 921 5 Gaspar de Braga Inquirição de genere - Filho de Gaspar de Braga e Inês de Andrade de Alvelos e irmão do Padre António Curvelo de Braga. 06.09.1700 902 9 Jerónimo de Paiva Ponte Inquirição de genere - Filho do Alferes António Velho Cabral e de Ana de Paiva Ponte, n.p. de Manuel Velho e Bárbara de Fontes e n.m. de António de Paiva Ponte e Ana de Morais de Lemos, da Matriz. 29.08.1708 903 3 João de Melo Coutinho Inquirição de genere - Filho do Capitão António Coelho de Sousa e de D. Maria de Bettencourt. 20.10.1670 902 2 João de Resendes Inquirição de genere - Natural de São Pedro, filho de João de Resendes Moura, de São Pedro e Antónia de Resendes, da Matriz, n.p. do Capitão António de Melo Cabral e Ana de Resendes de Moura18 e n.m. de Manuel Cabral de Melo e Maria de Melo. 05.09.1736 903 13 João Monteiro Tavares Bettencourt Colação na Igreja de Nossa Senhora da Purificação de Santo Espírito - Filho de João Bernardo Tavares, natural de Santo Espírito e de D. Eulália Rita19, natural da Matriz de Vila do Porto, n.p. de José de Moura Tavares e de Ana Rosa e n.m. de João Bento da Câmara e de D. Ana Margarida Monteiro. 22.05.1840 921 6 José Jácome20 Inquirição de genere - Filho de Jácome Tomé Faleiro e de Ana da Costa, n.p. de Domingos Gonçalves da Ponte e de Catarina Gonçalves, de Santa Maria e n.m. de João da Costa Barbosa, de Angeja e de Maria Velho, de Santa Maria. 02.06.1703 902 11 Manuel António dos Reis Inquirição de genere - Natural da Matriz, filho de António Ventura de Melo e de Bárbara Eufrázia21, n.p. de Manuel Francisco de Melo e Francisca Inácia e n.m. de António José dos Reis e Francisca Inácia, da Matriz de Vila do Porto. 21.06.1842 921 8 Manuel da Câmara Canto Albuquerque22 Inquirição de genere - Morador no Rio de Janeiro e filho de Manuel da Câmara Soares e Albuquerque, natural de São Pedro, e de D. Ana Querubina de Figueiredo, natural de Vila do Porto, n.p. de Bernardo do Canto Soares Sousa Albuquerque e de D. Umbelina Micaela da Câmara Medeiros, ambos de Vila do Porto e n.m. de Luís Manuel de Figueiredo Sousa Coutinho, natural de São Pedro e D. Úrsula Rosa da Câmara, natural de Vila do Porto. 26.08.1848 917 12 18 Idem, p.3615. 20 Idem, p.3086. 19 Idem, p.2654. 21 Idem, p.1776. 22 Idem, p.786. [101] Nome 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 Nome 9:52 AM Page 102 [102] Documento ( Sumário) Data Maço Doc. Manuel de Andrade23 Autuação para Ordens Menores - Filho de Manuel de Melo Chaves e de Maria de Magalhães, n.p. de Manuel Pires Chaves, da Matriz de Vila do Porto e Helena Fernandes, de Santo Espírito e n.m. do Capitão Bernardo de Resendes e Ana de Andrade, ambos da Matriz de Vila do Porto. 22.06.1705 921 2 Manuel Delgado Fragoso Breve de Dispensa Apostólica para Ordenação - Filho de Manuel Fragoso Salgado e de D. Mariana de Carvalho24. 17.10.1693 898 1 Manuel Ferreira Inquirição de genere e Processo de Vita et Moribus - Filho de Francisco Fernandes de Almada e de Beatriz Ferreira25, n.p. de Manuel Fernandes Jorge e de Maria de Freitas e n.m. de Antão da Fonte e Maria de Andrade. 30.04.1697 902 5 Manuel Jácome da Costa26 Inquirição de genere - Para ser colado na Matriz. Filho de Jácome Tomé Faleiro e de Ana da Costa, n.p. de Domingos Gonçalves da Ponte e de Catarina Gonçalves, de Santa Maria e n.m. de João da Costa Barbosa, de Angeja e de Maria Velho, de Santa Maria. 16.05.1699 902 8 Manuel José Jácome Inquirições de vita et moribus - Filho do Capitão Melchior de Resendes de Sousa e Maria de Melo. 28.09.1743 889 3 Manuel Raposo Inquirição de genere - Filho de António Raposo e de Isabel Gonçalves, n.p. de Manuel Fernandes Bertão e Catarina Gonçalves e n.m. de Simão Vaz Madeira e Maria Soares. 02.03.1692 902 3 Manuel Soares de Figueiredo Colação como Vigário apresentado na Igreja de São Pedro. 04.12.1847 917 9 Manuel Soares de Figueiredo Inquirições de vita et moribus - Natural da Matriz de Vila do Porto, filho de António José de Figueiredo, da Matriz e de Bernardina Rosa, natural de São Pedro, n.p. de João Inácio de Figueiredo e Maria Francisca e n.m. de Simão Correia e Maria Francisca. 11.12.1840 921 7 Manuel Tavares Coutinho27 Inquirição de genere - Filho de Pedro Soares Coutinho e de D. Antónia de Resendes, n.p. de Manuel de Sousa Falcão, de Santa Maria e D. Margarida Coutinho, da Ribeira Grande e n.m. de Gonçalo Velho de Carvalho e Isabel Jácome, de Santa Maria. 21.06.1698 902 7 23 Idem, p.854. 26 Idem, p.3086. 24 Idem, p.784. 27 Idem, p.866. 25 Idem, p.2656. vol. LIV ‘09 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 9:52 AM Page 103 ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA (ILHA DE SANTA MARIA) Nome Documento ( Sumário) Data Maço Doc. Manuel Tavares do Rego28 Inquirição de genere - Natural de Santo Espírito, filho de Bernardo Tavares do Amaral e de D. Maria do Rego Sousa Coutinho, n.p. de José Francisco Tavares, da Matriz e de Francisca do Rosário Chaves, de Santo Espírito e n.m. de António José Ferreira e D. Ana Úrsula do Rego Coutinho. 22.05.1846 921 9 Melchior Barreto de Macedo29 Inquirição de genere - Filho de Jácome Tomé Faleiro e de Ana da Costa, n.p. de Domingos Gonçalves da Ponte e de Catarina Gonçalves, de Santa Maria e n.m. de João da Costa Barbosa, de Angeja e de Maria Velho, de Santa Maria. 13.10.1658 902 1 Documento ( Sumário) Data Maço Doc. Agostinho José30 Património Eclesiástico - Morador na Praia (Terceira), foi dotado por seu irmão o Padre João Inácio Pereira por escritura de 03.07.1754. 14.08.1754 891 7 Agostinho José de Figueiredo31 Património Eclesiástico - Filho do Capitão Luís de Figueiredo e Sousa e de D. Maria Margarida de Menezes. Foi dotado por escritura de sua mãe com os bens que sua tia D. Maria de Santo António, recolhida no Recolhimento de Santo António, deixou em seu testamento conjunto com sua irmã Rosa Margarida de São José e que os haviam herdado de seus pais, o Alferes André Fernandes de Almada e Leonor de Andrade, por escritura de 14.07.1749. 28.06.1750 895 2 Alexandre Duarte Património Eclesiástico - Filho de Domingos Velho de Sousa. Foi dotado por escritura de 26.04.1724 pelo Padre António Soares Ferreira32, Cura da Igreja de Santa Bárbara, seu tio. 12.09.1724 883 7 André Soares Cabral Património Eclesiástico - Filho de André Soares Garcia e de Maria de Resendes33, 12.09.1724 moradores em Santo Espírito. Foi dotado por seus pais por escritura de 30.09.1723. 883 5 Nome [103] PATRIMÓNIOS ECLESIÁSTICOS 28 Idem, p.852. 31 Genealogias de São Miguel e Santa Maria, p.2644. 29 Idem, p.3086. 32 Idem, p.809. 30 Este processo encontra-se erradamente inserido no maço relativo a 33 Idem, p.810. Santa Maria quando se refere a um patrimoniado da Ilha Terceira. 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 Nome 9:52 AM Page 104 Documento ( Sumário) Maço Doc. António Álvares Monteiro34 Património Eclesiástico - Filho do Capitão Manuel Monteiro de Gamboa e Teresa de Andrade. Foi dotado por seus pais por escritura de 29.09.1722. 06.10.1724 883 9 António Correia da Costa35 Património Eclesiástico - Filho do Capitão Constantino Velho de Carvalho e de Margarida da Costa. Foi dotado pelo Capitão Mór Inácio de Sousa Coutinho e mulher D. Francisca de Macedo, por escritura de 24.01.1724. 15.06.1728 885 3 António Correia Pacheco Património Eclesiástico - Filho de Matias Curvelo de Mendonça e Margarida de Fontes. Justificou em 16.02.1720 que seu tio, o Padre Licenciado João Lopes Correia, Vigário de São Pedro lhe deixou o seu património em testamento. 22.07.1720 882 3 António Curvelo Património Eclesiástico - Filho de Gaspar de Braga Curvelo e de Inês de Andrade e morador na Flor da Rosa Baixa. Foram doadores a referida sua mãe e suas irmãs Helena de Jesus e Serapia das Chagas, filhas do Capitão Matias Curvelo de Braga e de Maria Velho de Melo e também Pedro de Magalhães Velho e mulher Maria Dornelas, por escritura de 26.07.1697. 02.06.1697 878 1 António Curvelo36 Património Eclesiástico - António Curvelo, filho do Capitão António Curvelo de Resendes e de D. Helena da Cruz. Foi dotado pelo Padre Manuel Delgado Fragoso, clérigo presbítero do Hábito de São Pedro, Beneficiado da Matriz de Nossa Senhora da Assunção, seu tio, por escritura de 06.04.1709. 26.09.1710 880 6 António da Câmara Bettencourt37 Património Eclesiástico - Filho de Manuel de Sousa da Câmara e Francisca de Magalhães Bettencourt. Foi dotado por seus pais por escritura de 03.09.1729. 17.07.1730 885 7 António da Cunha Património Eclesiástico - Filho de António de Braga e Francisca da Cunha. Foi dotado por seus pais por escritura de 31.05.1734. 12.07.1734 887 1 António de Andrade do Rego Coutinho38 Património Eclesiástico - Filho do Tenente Laureano Francisco da Câmara Falcão e de D. Joana Jacinta de Bettencourt. Foi dotado por seu tio, o Capitão Manuel José da Câmara Coutinho e suas tias Tomázia Josefa do Prado, Antónia Madalena Jacinta e Margarida Inácia dos Querubins, por escritura de 05.10.1795. 04.07.1796 896 4 António de Carvalho Património Eclesiástico - Filho de Apolinário Gonçalves Sá e Mariana Carvalho de Resendes. Foi dotado pelo Reverendo António de Miranda, por escritura de 23.12.1746. 06.07.1748 889 10 António de Melo39 Património Eclesiástico - Filho de Baltazar de Andrade e de Cristina de Sousa. Foi dotado por sua mãe e por Serapia Maria Pacheco, viúva de Manuel Teixeira. 21.12.1706 879 9 [104] Data 34 Idem, p.2602. 37 Idem, p.2189. 35 Idem, p.752. 38 Idem, p.918. 36 Idem, p.748. 39 Idem, p.3106. vol. LIV ‘09 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 9:52 AM Page 105 ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA Nome Documento ( Sumário) Data Maço Doc. António de Melo Património Eclesiástico - Filho de Gaspar de Andrade de Moura e de Cristina de Melo. Foi dotado em 28.06.1723 por seus pais. 23.05.1724 883 2 António de Miranda Património Eclesiástico - Filho do Capitão João de Miranda e de D. Maria Pacheco Leandres40. Foi dotado por sua mãe por escritura de 29.08.1729. 07.04.1731 886 2 António de Moura Chaves41 Património Eclesiástico - Filho de Domingos de Moura Chaves e mulher Francisca Quitéria. Foi dotado por seus pais por escritura de 05.08.1745. 05.08.1745 889 5 António de Paiva Património Eclesiástico - Filho do Alferes António de Melo Velho e de Francisca de Paiva, moradores em Santo Espírito. Foi dotado pelo Vigário Licenciado António Ferreira Soares por escritura de 06.02.1709. 15.10.1709 880 3 António de Paiva Património Eclesiástico - Filho de Matias de Sousa e Maria de Paiva. Foi dotado por Francisco da Câmara de Menezes e mulher D. Leonor Coutinho, por escritura de 02.08.1724. 15.09.1727 885 2 António de Resendes Património Eclesiástico - Filho de André de Moura Velho e de sua primeira mulher, Inês de Resendes. Foi dotado por seus pais por escritura de 26.04.1750. 12.05.1752 890 5 António do Canto Lacerda e Albuquerque42 Património Eclesiástico - Natural de São Pedro, filho de Bernardo do Canto 04.08.1817 Soares de Sousa e Albuquerque e de D. Umbelina Micaela da Câmara e Medeiros. Foi dotado por escritura de 16.05.1817, feita em Ponta Delgada pelo Capitão João Soares de Sousa Canto e Albuquerque e mulher D. Isabel Maria Rodovalho de Melo Cabral, seu irmão e cunhada. 904 5 António do Rego43 Património Eclesiástico - Filho do Capitão Francisco da Câmara de Menezes e de D. Rosa Leonor Coutinho. Foi dotado por seu tio, o Reverendo Manuel de Sousa Soares, morador na Almagreira, por escritura de 23.08.1752. 09.02.1753 891 1 António do Rego Coutinho44 Património Eclesiástico - Estudante Filósofo em São Miguel, filho de Inácio de Sousa Falcão e de D. Francisca de Macedo. Foi dotado por sua tia D. Mariana Margarida Coutinho, filha do Sargento Mór Manuel de Sousa Falcão, por escritura de 05.12.1729. 07.02.1731 886 1 António Francisco Património Eclesiástico - Filho de Sebastião de Fontes Velho e Francisca de Moura, 23.09.1749 moradores na Almagreira. Foi dotado por sua mãe por escritura de 02.05.1749. 890 3 40 Idem, p.2702. 43 Idem, p.917. 41 Idem, p.2187. 44 Idem, p.867. 42 Idem, p.785. [105] (ILHA DE SANTA MARIA) 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 9:52 AM Page 106 [106] Nome Documento ( Sumário) Data Maço Doc. António Francisco Coelho Património Eclesiástico - Filho do Capitão Melchior de Resendes de Sousa e D. Maria de Melo. Foi dotado pelo Beneficiado José de Andrade Braga por escritura de 26.09.1746. 04.07.1748 889 8 António Francisco da Costa Património Eclesiástico - Filho de Estácio Ferreira da Costa e Maria do Anjo Carvalho. Foi dotado pelo Vigário de Santa Bárbara, o Licenciado Lourenço de Frias Coutinho por escritura de 20.03.1753. 05.05.1753 891 3 António Francisco de Bettencourt Património Eclesiástico - Familiar da Casa do Bispo, filho de António de Moura e Margarida de São José. Foi dotado por seus pais por escritura de 02.051. 06.06.1739 888 3 António Joaquim da Câmara45 Património Eclesiástico - Filho do Tenente Mateus Duarte da Câmara, escudeiro e Cavaleiro Fidalgo da Casa Real, e de D. Rita Quitéria de Menezes. Foi dotado por seus pais por escritura de 11.02.1769. 20.04.1769 893 6 António José Património Eclesiástico - Filho de João Soares Ferreira e Rosa Pacheco. Foi dotado 18.09.1741 pelos pais por escritura de 02.10.1739. 888 6 António José Património Eclesiástico - Filho de João Soares Ferreira e Rosa Pacheco. Foi dotado 10.06.1741 por seus pais. 888 4 António José Património Eclesiástico - Filho de António da Costa e Teresa de Andrade. 20.06.1747 Foi dotado pelo Padre António da Cunha, seu primo, por escritura de 14.05.1747. 889 6 António José de Sousa Coutinho Património Eclesiástico - Filho de António do Rego Coutinho e Sá e de D. Quitéria 13.01.1773 da Conceição. Foi dotado por seus pais e sua tia, D. Mariana Coutinho, por escritura de 12.11.1771. 894 3 António José Tavares46 Património Eclesiástico - Filho de José Francisco Tavares e de Francisca do Rosário. 09.10.1797 897 1 António Soares de Menezes47 Património Eclesiástico - Filho do Capitão António Soares de Menezes e de D. Ana de Melo. Foi dotado por seus pais por escritura de 01.04.1717. 09.08.1718 881 6 António Soares de Sousa e Albuquerque48 Património Eclesiástico - Filho do Capitão e Sargento Mór João Soares de Sousa e Albuquerque e de D. Bernardina Margarida da Conceição. Foi dotado pelo Alferes Francisco de Andrade Puim, morador na Rosa Alta, seu primo, por escritura de 04.05.1762 18.05.1765 892 3 45 Idem, p.329. 47 Idem, p.1732. 46 Idem, p.852. 48 Idem, p.784. vol. LIV ‘09 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 9:52 AM Page 107 ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA (ILHA DE SANTA MARIA) Documento ( Sumário) Data Maço Doc. Baltazar Ferreira49 Património Eclesiástico - Filho de Manuel Soares Garcia, morador na Flor da Rosa Baixa que foi doador por escritura de 22.10.1703. 15.10.1703 879 3 Bernardino José Soares Património Eclesiástico - Filho de André de Moura e de D. Ana de Menezes. Foi dotado pelo Padre Agostinho José de Figueiredo, seu tio, por escritura de 11.02.1766. 04.03.1766 892 6 Bernardo José50 Património Eclesiástico - Filho do Capitão Inácio de Resendes Carvalho e mulher 26.09.1767 D. Catarina Isabel Monteiro. Foi dotado por seus pais por escritura de 06.09.1765. 893 1 Bernardo José Toledo Património Eclesiástico - Filho de Francisco Bernardino de Sousa, Escrivão e Tabelião Público, e de Inácia Rosa de Frias51. Foi dotado pelo Padre Vigário Inácio José Toledo, Confirmado na Paroquial de São Pedro, seu tio, por escritura de 22.06.1797. 10.05.1798 897 2 Caetano de Sousa Património Eclesiástico - Filho de Baltazar Velho de Andrade e Catarina de São Miguel. Foi dotado pelo Alferes Baltazar Velho Cabral e D. Isabel Joana Baptista, seus tios, por escritura de 06.10.1724. 19.09.1725 884 4 Cosme de Azevedo Património Eclesiástico - Filho de Domingos de Azevedo e de Vitória de Andrade. Foi dotado pelo Licenciado Melchior Barreto de Macedo, Vigário da Igreja de Santa Bárbara. 10.06.1717 881 4 Cristóvão de Andrade52 Património Eclesiástico - Filho de Matias Nunes de Andrade e de D. Maria de Matos, moradores em Santo Espírito. Foi doado por seus pais e tios Fernão Velho e mulher Catarina de Menezes. 04.12.1699 878 6 Domingos de Freitas Património Eclesiástico - Filho de Manuel de Freitas de Morais e de Antónia de Resendes, moradores em São Pedro. Foi dotado por escritura de 29.05.1705 de seus pais. 17.03.1706 879 6 Duarte Tavares Correia53 Património Eclesiástico - Filho do Capitão Inácio de Sousa Falcão e de D. Isabel de Bulhões. Foi dotado por seu pai por escritura de 13.03.1720 com os bens que haviam sido deixados ao patrimoniado pelo tio, o Padre Bartolomeu de Bulhões, Cura da Matriz. 22.07.1720 882 4 Filipe Baptista Coelho Património Eclesiástico - Filho do Capitão Matias de Andrade Velho e D. Inês de Menezes54. Foi dotado por seus pais por escritura de 18.03.1743. 30.07.1743 889 2 49 Idem, p.809. 52 Idem, p.767. 50 Idem, p.3613. 53 Idem, p.869. 51 Idem, p.2645. 54 Idem, p.854. [107] Nome 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 Nome 9:52 AM Page 108 Documento ( Sumário) [108] Data Maço Doc. Francisco António de Avelar Património Eclesiástico - Filho do Mestre António da Costa e de Josefa de Andrade. Foi dotado pelo Padre Francisco José Dias, Cura da Igreja de São Pedro, por escritura de 08.05.1758. 30.07.1759 892 2 Francisco António de Medeiros55 11.09.1781 894 5 Francisco Cabral da Fonseca Património Eclesiástico - Filho de Manuel Cabral Teixeira e de Maria de Alpoim. 03.04.1716 Foi dotado pelo Padre Francisco Cabral Teixeira e seu sobrinho, o Padre Manuel Cabral Teixeira, Confirmado da Matriz clérigo presbítero do Hábito de São Pedro, Beneficiado na Paroquial de Nossa Senhora da Assunção por escritura de 13.05.1715. 881 3 Francisco Cabral Teixeira56 Património Eclesiástico - O Padre Francisco Cabral Teixeira, Beneficiado Francisco Cabral da Fonseca Confirmado na Matriz de Vila do Porto alegando que seu sobrinho Francisco Cabral da Fonseca se deseja ordenar quer concorrer com o seu património e pede sub-rogação e licença para o fazer. 02.05.1698 878 2 Francisco Cabral Teixeira57 Património Eclesiástico - O Padre Francisco Cabral Teixeira pede para subrogar 17.11.1707 o seu património na Matriz de Vila do Porto e o dotar no sobrinho Francisco Cabral da Fonseca, morador em Lisboa, estudante, filho de Manuel Cabral Teixeira e Maria de Alpoim. 879 10 Francisco da Câmara Património Eclesiástico - Filho do Licenciado Francisco da Câmara Carreiro e Catarina Rosa. Foi dotado pelo Reverendo Dr. José António de Sousa e Bulhões, Vigário da Matriz e pelo Reverendo José de Bulhões, Beneficiado Confirmado na Matriz, seus tios, por escritura de 18.02.1766. 27.02.1766 892 5 Francisco da Costa Xavier Património Eclesiástico - Morador em São Miguel, estudante de Teologia Especulativa, Filho do Capitão Pedro da Costa de Sousa e de sua primeira mulher Catarina do Espírito Santo. Foi dotado por seu pai e segunda mulher, Serafina de Andrade por escritura de 27.10.1730. 25.06.1731 886 3 Francisco de Almada Património Eclesiástico - Filho de Francisco Fernandes de Almada e Beatriz Ferreira58. Foi doado por seus tios, o Alferes André Fernandes de Almada e mulher Leonor de Andrade, por escritura de 16.09.1697. 31.08.1699 878 4 Património Eclesiástico - Filho de Mateus Duarte da Câmara e de D. Rita Quitéria de Menezes. Foi dotado por Luís Duarte da Câmara, seu tio, por escritura de 20.11.1780. Em anexo o processo de vita et moribus de 22.07.1783. 55 Idem, p.329. 57 Idem, p.2701. 56 Idem, p.2701. 58 Idem, p.2656. vol. LIV ‘09 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 9:52 AM Page 109 ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA Nome Documento ( Sumário) Data Maço Doc. Francisco de Almada João de Freitas Património Eclesiástico - Filhos de João da Costa Freitas e de Maria de Almada. Foram dotados por Fernando de Loura Bettencourt e mulher D. Mariana Margarida Coutinho por escritura de 19.06.1719. 21.02.1720 881 9 Francisco de Almada Património Eclesiástico - Filho de João da Costa Freitas e Maria de Almada. Foi dotado por Fernando de Loura Bettencourt e mulher D. Mariana Margarida Coutinho por escritura de 09.03.1720. 20.06.1720 881 10 Francisco de Andrade Puim Património Eclesiástico - Filho do Capitão Pedro de Magalhães e de Bárbara da Conceição59. Foi dotado por Francisco de Andrade Puim, seu tio, por escritura de 13.05.1756. 06.04.1757 892 1 Francisco de Miranda Património Eclesiástico - Filho do Capitão Mór João de Miranda e Maria Pacheco60. Foi dotado por Maria do Desterro, recolhida no Recolhimento de Santo António, filha de Francisco de Andrade Curvelo e de Catarina Pacheco, por escritura de 10.09.1722. 27.04.1727 885 1 Francisco Fragoso Património Eclesiástico - Filho de Manuel Fragoso, Capitão Mór da ilha de Santa Maria e de D. Mariana Carvalho61 que foram seus dotadores por escritura de 12.07.1705. 12.09.1706 879 8 Francisco José Património Eclesiástico - Filho de António Furtado e Mariana de Andrade. Foi dotado por seus pais por escritura de 08.03.1735 com os bens que herdaram de Lourenço Dias Lemos, irmão do mesmo António Furtado. 29.07.1738 888 1 Francisco Monteiro Puim Património Eclesiástico - Estudante de coroa aberta, filho de António de Andrade Puim e de D. Catarina Maria, n.p. de Pedro de Magalhães Puim e Bárbara da Conceição62 e n.m. de Manuel Inácio Monteiro e D. Joana Francisca. Dotou-se 17.10.1822 904 6 Francisco Pacheco Património Eclesiástico - Morador em Angra, filho de Baltazar de Andrade e de 21.07.1710 Cristina de Sousa63. Foi dotado pelo Padre Manuel Delgado Fragoso por escritura de 28.04.1710. 880 5 Francisco Pacheco Património Eclesiástico - Filho de António de Bulhões e Maria de Andrade. Foi dotado por escritura de 22.07.1723 pelo Padre Francisco Cabral Teixeira, Beneficiado Confirmado na Matriz de Nossa Senhora da Assunção, seu tio. 883 3 com bens próprios. 59 Idem, p.1159. 62 Idem, p.1159. 60 Idem, p.2702. 63 Idem, p.3106. 61 Idem, p.784. 24.05.1724 [109] (ILHA DE SANTA MARIA) 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 Nome 9:52 AM Page 110 [110] Documento ( Sumário) Data Maço Doc. Francisco Ventura da Câmara Património Eclesiástico - Filho do Sargento Mór João Soares de Sousa e Albuquerque e D. Bernardina Margarida da Conceição64. Foi dotado por seus pais por escritura de 24.03.1752. 17.06.1752 890 7 Francisco Xavier Puim Património Eclesiástico - Filho do Alferes António de Andrade Puim e de Ana Maria de São João. Foi dotado por seus pais e seu tio o Alferes Francisco de Andrade Puim por escritura de 05.12.1767. 22.03.1768 893 2 Gaspar de Braga Património Eclesiástico - Filho de Gaspar de Braga Curvelo e de Inês de Andrade, moradores na Flor da Rosa Alta. Foi dotado pelo Capitão José de Resendes de Bairos e mulher Margarida de Andrade por escritura de 03.11.1707. 02.08.1708 879 12 Inácio Coelho Património Eclesiástico - Filho do Capitão Pedro Soares Coelho65. Foi dotado por escritura de 23.12.1707. 15.10.1709 880 2 Inácio de Sousa Património Eclesiástico - Filho de Brás Soares e Bárbara Cabral. Foi dotado por seu primo Brás de Frias Afonso, seu primo, por escritura de 02.10.1736. 13.05.1737 887 6 Inácio de Sousa Falcão Património Eclesiástico - Filho de Manuel de Sousa Falcão, Capitão e Sargento Mór e de D. Margarida Coutinho (ou Margarida de Menezes)66. Foi doado por seu com a administração que instituiu o Padre Manuel Fernandes Velho de que era constituinte. 26.09.1699 878 5 Inácio José Toledo Património Eclesiástico - Filho do Ajudante Manuel de Moura Leandres e de sua primeira mulher Maria Martela. Foi dotado por seu pai e segunda mulher, Eugénia de Jesus por escritura de 21.04.1741. 28.06.1741 888 5 Inácio Manuel Património Eclesiástico - Filho de Manuel de Magalhães e Ana de Andrade. Foi dotado por José de Magalhães e sua mulher Esperança dos Anjos, seus tios, por escritura de 26.01.1751. 15.09.1752 890 9 Inácio Manuel de Melo Património Eclesiástico - Filho de Pedro da Costa Melo e de Teresa de Jesus. Foi dotado por Manuel Soares e irmão Francisco Soares, oficiais de sapateiro, seus tios, por escritura de 15.05.1771. 24.05.1771 894 1 Inácio Pedro Jácome Património Eclesiástico - Filho do Alferes Sebastião Jácome de Resendes e de Branca de Magalhães67. Foi dotado por seus pais, por escritura de 06.07.1748. 08.05.1749 890 1 64 Idem, p.784. 66 Idem, p.867. 65 Idem, p.854. 67 Idem, p.748. vol. LIV ‘09 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 9:52 AM Page 111 ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA Nome Documento ( Sumário) Data Maço Doc. Jerónimo de Paiva Património Eclesiástico - Foi dotado pelo Capitão António Velho Cabral e mulher Ana dos Anjos, por escritura de 02.01.1710. 16.08.1711 880 8 João Baptista Património Eclesiástico - Filho de Inácio de Sousa de Menezes, oficial de sapateiro, 06.09.1792 e de Antónia do Sacramento, moradores na Almagreira, n.p. de Matias de Sousa de Menezes e de Victória da Trindade e n.m. de Manuel de Almada e Maria da Encarnação. Foi dotado por seus pais por escritura de 04.05.1790. 896 2 João Baptista Monteiro Património Eclesiástico - Filho do Capitão Bartolomeu Machado de Melo e de D. Semiana Francisca de Menezes. Foi dotado por seus pais por escritura de 04.05.1754. 10.06.1754 891 6 João Bernardo de Resendes Património Eclesiástico - Filho de João de Paiva de Moura e Margarida de Resendes. 08.05.1749 Foi dotado por Ana de Melo, sua tia, casada com o Capitão Manuel de Resendes Carvalho, moradores no Paúl, por escritura de 08.07.1748 890 2 João Coelho Património Eclesiástico - Filho de António Francisco Coelho e de Margarida Josefa dos Prazeres. Foi dotado com bens de João Coelho, Beneficiado acrescentado na Colegial Matriz de Nossa Senhora da Assunção e Tesoureiro da mesma, por escritura de 30.09.1797. 11.05.1798 897 3 João de Freitas Património Eclesiástico - Filho de João da Costa Freitas e de Maria de Almada. Foi dotado por Fernão de Loura Bettencourt e mulher D. Mariana Margarida Coutinho por escritura de 12.03.1720. 25.06.1720 882 2 João de Medeiros Silveira68 Património Eclesiástico - Filho de Mateus Duarte da Câmara e de D. Rita Quitéria de Menezes. Foi dotado por Luís Duarte da Câmara, seu tio, por escritura de 20.10.1780. 11.09.1781 894 4 João de Resendes Património Eclesiástico - Filho do Capitão João de Resendes de Moura e Antónia de Resendes. Foi dotado por seus pais por escritura de 23.01.1736. 13.08.1736 887 3 João de Resendes de Carvalho Património Eclesiástico - Filho de Manuel de Resendes de Carvalho e Helena de Magalhães. Foi dotado por escritura de 26.05.1723 por seus pais. 25.09.1725 884 6 João de Sousa Património Eclesiástico - Filho de Pedro da Cunha de Sousa69. Foi dotado por seu pai por escritura de 23.01.1731. 07.11.1732 886 6 68 Idem, p.329. 69 Idem, p.864. [111] (ILHA DE SANTA MARIA) 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 Nome 9:52 AM Page 112 [112] Documento ( Sumário) Data Maço Doc. João Inácio Património Eclesiástico - Filho do Capitão Pedro da Costa Sousa e Serafina de Andrade Moura. Foi dotado por seus primos o Alferes Manuel de Moura Sousa e mulher Catarina de Andrade por escritura de 26.09.1749. 27.11.1749 890 4 João Inácio Puim Património Eclesiástico - Filho de António Soares de Sousa e D. Antónia do Espírito Santo70, moradores em São Pedro. Foi dotado pelo Padre José de Bairos e Alpoim, morador em Santana, por escritura de 23.04.170. 15.05.1750 890 6 João Inácio Puim Património Eclesiástico - Filho do Capitão Gabriel de Sousa Puim e de Úrsula de Jesus. Foi dotado por seu tio Francisco de Andrade Puim por escritura de 11.10.1755. 23.01.1756 891 9 João Lopes Correia Património Eclesiástico - Morador em Ponta Delgada, foi dotado pelo Padre Ouvidor Eclesiástico, Licenciado João Lopes Correia por escritura de 18.02.1710. 22.03.1710 880 4 João Monteiro Cabral Património Eclesiástico - Filho do Capitão Manuel Monteiro de Gamboa e Teresa de Andrade. Foi dotado por escritura de 16.04.1737 por seus pais. 15.05.1737 887 7 João Monteiro de Azevedo71 Património Eclesiástico - Filho do Alferes Joaquim Monteiro de Bettencourt e de D. Ana Jacinta do Amor Divino. Foi dotado por escritura de 16.06.1824 por sua mãe. 23.09.1824 904 9 João Monteiro Tavares de Bettencourt Património Eclesiástico - Natural da Matriz, filho de João Bernardo Tavares, da Matriz e de D. Eulália Rita, também da Matriz72, n.p. de José Maria Tavares e Ana da Rosa e n.m. de João Bento da Câmara e D. Ana Margarida Monteiro, esta de São Pedro e os restantes da Matriz. Foi dotado por Francisco António Raposo e mulher D. Laureana Joaquina Monteiro, moradores na Flor da Rosa Baixa e por Joaquim Fernandes Monteiro, por escritura de 04.05.1803. 16.03.1812 904 3 João Monteiro Tavares de Bettencourt Património Eclesiástico - Natural da Matriz, filho de João Bernardo Tavares, da Matriz e de D. Eulália Rita73, também da Matriz, n.p. de José Maria Tavares e Ana da Rosa e n.m. de João Bento da Câmara e D. Ana Margarida Monteiro, esta de São Pedro e os restantes da Matriz. Foi dotado por Francisco António Raposo e mulher D. Laureana Joaquina Monteiro, moradores na Flor da Rosa Baixa e por Joaquim Fernandes Monteiro, por escritura de 04.05.1803. 06.07.180374 904 2 Joaquim António da Câmara e Albuquerque Património Eclesiástico - Clérigo de Prima Tonsura, filho do Sargento Mór João Soares de Sousa e Albuquerque e de D. Bernardina Margarida da Conceição75. Foi dotado por seus pais por escritura de 11.05.1748. 26.06.1748 7 889 70 Idem, p.788. 73 Idem, p.2654. 71 Idem, p.2190. 74 Novas diligências por se terem desencaminhado as anteriores. 72 Idem, p.2654. 75 Genealogias de São Miguel e Santa Maria, p.784. vol. LIV ‘09 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 9:52 AM Page 113 ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA Nome Documento ( Sumário) Data Maço Doc. Joaquim António Jácome Património Eclesiástico - Filho de José Jácome de Moura e de Mariana de Jesus. Foi dotado por seu tio, o Padre José Inácio Bairos, Presbítero do Hábito de São Pedro, por escritura de 02.06.1767. 09.05.1768 983 3 Joaquim de Resendes Património Eclesiástico - Filho do Alferes Sebastião Jácome de Resendes e primeira 16.07.1742 mulher, Margarida Coelho. Foi dotado por escritura de 15.10.1739 pelo Cura Francisco de Miranda, seu primo. 888 7 Joaquim de Sousa Cabral Património Eclesiástico - Filho do Alferes Baltazar Velho e de Catarina de Sousa. Foi dotado pelo Padre Melchior Barreto de Macedo, Vigário de Santa Bárbara, seu tio, por escritura de 02.08.1713. 04.12.1719 881 8 Joaquim Francisco Património Eclesiástico - Filho do Alferes Manuel de Sousa Resendes e Maria Pacheco. Foi dotado pelo Padre José de Bulhões, Beneficiado Confirmado da Matriz, seu tio, por escritura de 05.06.1743. 07.12.1743 889 4 Joaquim Francisco de Morais e Lemos Património Eclesiástico - Morador na Terceira, filho do Capitão António Velho Cabral. Foi dotado por seu pai por escritura de 20.04.1729. 15.06.1729 885 5 Joaquim Monteiro de Bettencourt Património Eclesiástico - Filho de João Bento da Câmara e de D. Ana Margarida Monteiro76. Foi dotado com bens que herdou de seu pai e de Rosa de São Francisco, sua tia, por escritura de 02.07.1789. 07.08.1790 896 1 José Alves Cabral Património Eclesiástico - Filho de Bartolomeu de Moura e Catarina Rosa Fireira (sic). Foi dotado por seus pais por escritura de 18.02.1756. 06.09.1756 891 10 José António Património Eclesiástico - Filho do Alferes Manuel de Sousa Resendes e Maria Pacheco. Foi dotado pelo Padre José de Bulhões, seu tio, por escritura de 18.05.1737. 29.05.1737 887 8 José António do Rego Coutinho Património Eclesiástico - Filho do Alferes António do Rego Coutinho. Foi patrimoniado com os bens que herdou a título de terça de sua avó D. Mariana de Paiva Ponte. 27.06.1786 895 5 José António Monteiro Património Eclesiástico - Filho do Capitão João Pedro de Andrade e de D. Catarina Teresa Monteiro77. Foi dotado com bens de partilha pelo falecimento de seu pai, morador em Santo Espírito, por escritura de 06.07.1783. 15.03.1799 897 4 76 Idem, p.2654. 77 Idem, p.810. [113] (ILHA DE SANTA MARIA) 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 Nome 9:52 AM Page 114 Data Maço Doc. José Barreto de Macedo Património Eclesiástico - Estudante Teólogo, filho do Capitão Melchior de Resendes de Sousa e de D. Maria de Melo, moradores em Santo Espírito. Foi dotado por seus pais por escritura de 18.07.1731. 01.09.1731 886 4 José Bernardo do Rego Património Eclesiástico - Filho do Capitão Luís António de Figueiredo e Lemos e de D. Antónia do Rego Coutinho78. Foi dotado com os bens que foram herdados de sua tia Maria de Santo António, recolhida no Recolhimento de Santo António, por escritura de 29.04.1784. 10.05.1784 895 2 José Coelho de Bairos Património Eclesiástico - Filho de Francisco Coelho de Bairos e mulher Francisca de Andrade79. Foi dotado por seus pais por escritura de 19.06.1724. 10.02.1725 884 1 José de Andrade de Braga Património Eclesiástico - Filho de Gaspar de Braga Curvelo e de Inês de Andrade, moradores na Flor da Rosa Baixa. Foi dotado com os bens trocados com Manuel Pacheco de Andrade e mulher Ana de Bairos, havidos os mesmos bens de seus pais e sogros o Alferes António Curvelo de Bairos e Joana de Melo, por escritura de 05.04.1715. 29.07.1715 881 1 José de Bairos Puim Património Eclesiástico - Filho do Capitão Manuel Curvelo Pereira e de Margarida de Sousa de Melo80, moradores em Santana. Foi dotado por escritura de 18.12.1724 por Nuno Curvelo de Matos, seu padrinho e mulher Beatriz da Costa. 25.09.1725 884 5 José de Bulhões Património Eclesiástico - O Padre José de Bulhões pede licença para subrogação de propriedades do seu património para o benefício da Matriz de Nossa Senhora da Assunção onde foi colado por falecimento do Padre João Ferreira de Andrade em 20.08.1733, tomando posse a 30.11. 29.01.1737 887 5 José de Miranda Património Eclesiástico - Filho do Capitão João de Miranda e Maria Pacheco81. Foi dotado por escritura de 16.10.1707. 29.11.1707 879 11 José de Resendes Património Eclesiástico - Morador na Terceira, filho de Manuel de Fontes de Morais e de Antónia de Resendes. Foi dotado pelo Licenciado Padre André de Andrade, Cura de Nossa Senhora da Purificação de Santo Espírito, por escritura de 06.04.1709. 15.07.1709 880 1 José do Lado e Bulhões Património Eclesiástico - Filho de António de Bulhões e de Maria de Andrade, moradores em Vila do Porto. Foi dotado pelo Ouvidor Eclesiástico, o Licenciado João Lopes Correia, seu padrinho de Crisma, por escritura de 22.06.1715. 14.12.1715 881 2 [114] Documento ( Sumário) 78 Idem, p.2645. 80 Idem, p.1154. 79 Idem, p.1154. 81 Idem, p.2702. vol. LIV ‘09 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 9:52 AM Page 115 ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA Nome Documento ( Sumário) Data Maço Doc. José Francisco da Costa Património Eclesiástico - Filho de Pedro da Costa e Teresa de Jesus. Foi dotado pelo Padre José Soares por escritura de 11.11.1750. 03.08.1752 890 8 José Francisco de Távora Património Eclesiástico - Filho de José Pereira de Moura e Francisca de Resendes. Foi dotado pelo Sargento Mór João Soares de Sousa e Albuquerque e D. Bernardina Margarida da Conceição por escritura de 29.06.1747. 04.07.1748 889 9 José Francisco do Rego Património Eclesiástico - Sobrinho do Alferes José de Andrade de Moura que o dotou. 02.05.1753 891 2 José Inácio da Câmara82 Património Eclesiástico - Filho do Tenente Mateus Duarte da Câmara e de D. Rita Quitéria de Menezes e Macedo. Foi dotado por seu irmão Luís Duarte da Câmara por escritura de 20.10.1782. 23.04.1784 895 1 José Inácio de Bairos Património Eclesiástico - Filho de Manuel Pacheco de Andrade e Ana de Bairos83. Foi dotado por Inês Joana da Glória, recolhida no Recolhimento de Santo António, sua prima, por escritura de 06.07.1753. 17.05.1755 891 8 José Jácome da Costa Património Eclesiástico - Filho de Jácome Tomé e de Ana da Costa84. Foi dotado por João de Fontes Álvares e mulher Guiomar Gomes por escritura de 09.08.1700. 18.10.1702 879 2 José Monteiro de Figueiredo Património Eclesiástico - Filho do Capitão António Fernandes de Andrade e de sua primeira mulher Catarina de Figueiredo de Sousa85. Foi dotado por escritura de 21.04.1723 por seu pai e sua segunda mulher, D. Antónia de Menezes e suas irmãs Maria de Santo António e Rosa Margarida de São José, regente do Recolhimento de Santo António. 12.09.1724 883 6 José Soares Património Eclesiástico - Filho de Brás Soares e de Bárbara Cabral. Foi dotado pelo Licenciado Padre Francisco Cabral Teixeira por escritura de 28.04.1721. 15.09.1723 882 8 José Teixeira Pacheco Património Eclesiástico - Filho de Francisco Pacheco Borges e de Margarida da Costa86. Foi dotado por escritura de 10.03.1723 pelo Padre Manuel Cabral Teixeira, Beneficiado Confirmado na Paroquial de Nossa Senhora da Assunção, seu tio. 04.07.1724 883 4 José Velho Cabral Património Eclesiástico - Morador em Angra, filho do Alferes Baltazar Velho Cabral e de sua primeira mulher. Foi dotado por seu pai e por sua segunda mulher D. Isabel Joana Baptista, por escritura de 15.05.1725. 13.07.1725 884 3 82 Idem, p.329. 85 Idem, p.2644. 83 Idem, p.767. 86 Idem, p.805. 84 Idem, p.16. [115] (ILHA DE SANTA MARIA) 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 Nome 9:52 AM Page 116 Documento ( Sumário) Data Maço Doc. 04.06.1754 891 5 Lourenço José de Frias Património Eclesiástico - Filho do Alferes Bartolomeu Correia de Bettencourt e 16.06.1768 de D. Antónia de Frias87. Foi dotado pelo Licenciado Lourenço de Frias Coutinho, Vigário de São Pedro, seu tio, por escritura de 05.06.1768. 893 4 Luís António de Menezes Património Eclesiástico - Teólogo, filho de Matias de Andrade Velho e de D. Inês de Menezes88. Foi dotado por seus pais por escritura de 21.09.1735. 30.11.1735 887 2 Luís Caetano de Figueiredo Património Eclesiástico - Filho do Alferes Baltazar Coelho Cabral e de Teresa de Jesus Maria. Foi dotado por seu primo, o Vice Vigário Francisco José Dias, morador em São Pedro, por escritura de 15.02.1754. 02.05.1754 891 4 Manuel António dos Reis Património Eclesiástico - Natural da Matriz, filho de António Ventura de Melo e de Bárbara Eufrázia89, n.p. de Manuel Francisco de Melo e Francisca Inácia e n.m. de António José dos Reis e Francisca Inácia, da Matriz de Vila do Porto. 17.06.1847 921 8 Manuel Carvalho Património Eclesiástico - Filho do Capitão Constantino Velho de Carvalho e Margarida da Costa90. Foi dotado por seus pais por escritura de 20.02.1728. 05.06.1730 885 6 Manuel Coelho de Braga Património Eclesiástico - Filho de Pedro Soares Coelho e de D. Isabel de Macedo91. Foi dotado pelo Padre Vigário da Igreja de Santa Bárbara do lugar de São Lourenço, Melchior Barreto de Macedo, por escritura de 08.07.1713. 28.07.1714 880 9 Manuel da Costa Lobo Património Eclesiástico - Filho de Gaspar da Costa e de Mariana de Melo. Foi dotado por Manuel Lobo de Melo, seu tio, morador em Ponta Delgada, por escritura de 11.06.1720. 30.01.1721 882 6 Manuel de Andrade Património Eclesiástico - Filho de Matias de Andrade de Moura e de Ana de Andrade. Foi dotado por escritura de 14.06.1723 por Gaspar de Andrade de Moura e irmãos, António de Andrade de Moura e Maria de Andrade de Moura, seus tios. 16.09.1724 883 8 Manuel de Andrade de Melo Património Eclesiástico - Filho de João de Melo Cabral e Maria de Andrade. Foi dotado por seus pais por escritura de 19.10.1724. 07.07.1725 884 2 Lourenço de Frias Coutinho Património Eclesiástico - Vigário da Igreja de Santa Bárbara onde foi colado em 04.12.1737, por permuta com o Padre Manuel Jácome da Costa para a Matriz de Nossa Senhora da Assunção, em 09.12.1736. [116] 87 Idem, p.876. 90 Idem, p.752. 88 Idem, p.854. 91 Idem, p.854. 89 Idem, p.1776. vol. LIV ‘09 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 9:52 AM Page 117 ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA (ILHA DE SANTA MARIA) Documento ( Sumário) Data Maço Doc. Manuel de Paiva Ponte Património Eclesiástico - Filho de Domingos de Fontes Velho e de sua primeira mulher Francisca de Paiva. Foi dotado pelo Padre Manuel de Macedo, Cura de Santa Bárbara, por ser o mesmo Manuel de Paiva Ponte enteado de sua irmã Maria de Macedo. 20.10.1720 882 5 Manuel de Pimentel Património Eclesiástico - Filho de Bartolomeu Fernandes de Alpoim e de Maria de Resendes de Carvalho. Foi dotado por escritura de 22.09.1705 pelo Capitão Inácio Godinho do Porto e mulher Maria Jácome de Macedo, seus tios. 22.05.1806 879 7 Manuel de Resendes Coelho e Bettencourt e António Caetano Monteiro Património Eclesiástico - Filhos do Alferes João Monteiro de Bettencourt e de D. Ana Jacinta do Amor Divino92, n.p.s. de João Bento da Câmara, da Matriz e de D. Ana Margarida Monteiro, de São Pedro e n.m.s de Manuel de Resendes de Carvalho e Antónia Margarida de Melo, da Matriz. Foi dotado com bens de seus pais por escritura de 24.01.1816. 20.03.1816 904 4 Manuel de Resendes de Carvalho Património Eclesiástico - Filho de Manuel de Resende de Carvalho e Helena de Magalhães, moradores no Paúl. Foi dotado por seus pais por escritura de 04.06.1723. 17.6.1729 885 4 Manuel de Sousa Património Eclesiástico - Filho do Capitão João Soares de Sousa e mulher D. Maria de Andrade93 que lhe fizeram doação de património por escritura de 25.10.1722. 24.04.1723 882 7 Manuel de Sousa Tavares Património Eclesiástico - Filho de Manuel de Sousa Falcão e de D. Margarida Coutinho94. Foi dotado pelo Padre Vigário Licenciado Belchior Barreto de Macedo, por escritura de 04.07.1711. 16.08.1711 880 7 Manuel Fernandes Património Eclesiástico - Filho de Manuel Fernandes e de Inês de Melo. Foi dotado pelo Vigário de Nossa Senhora da Assunção, o Licenciado Manuel Delgado Fragoso por escritura de 05.08.1719. 25.06.1720 882 1 Manuel Jácome Coelho Património Eclesiástico - Filho do Alferes Sebastião Jácome de Resendes e Margarida Velho95. Foi dotado por uma escritura de bens de seus pais e tios em 30.09.1732. 03.06.1733 886 7 Manuel José Coelho Velho de Bettencourt Património Eclesiástico - Filho de Joaquim Francisco Coelho de Bettencourt e de Antónia Margarida Chaves96, n.p. de Manuel José Coelho de Bettencourt e Margarida do Sacramento e n.m. de Matias de Andrade e Margarida de Chaves. Foi dotado por sua mãe, por escritura de 30.08.1822. 17.10.1822 904 7 92 Idem, p.2190. 95 Idem, p.748. 93 Idem, p.772. 96 Idem, p.929. 94 Idem, p.62. [117] Nome 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 Nome 9:52 AM Page 118 Documento ( Sumário) Maço Doc. Manuel José da Costa Pereira Património Eclesiástico - Filho do Capitão Pedro da Costa Sousa e Serafina de Andrade de Moura. Foi dotado por seus pais por escritura de 27.01.1742. 14.09.1742 888 8 Manuel José de Resendes Património Eclesiástico - Filho de Inácio José de Magalhães e de Antónia do Espírito Santo. Foi dotado com bens que comprou e herdou de que fez escritura em 31.05.1794. 25.09.1794 896 3 Manuel José do Rego Coutinho97 Património Eclesiástico - Natural da Matriz, filho de Bernardo José do Rego e D. Aurélia Jacinta, n.p. de António do Rego Coutinho e D. Inácia Rosa Coutinho, esta de Vila Franca do Campo e n.m. de Gabriel de Sousa Ferreira e Rosa Maria Baptista. Foi dotado com bens próprios por escritura de 23.08.1822. 07.12.1822 904 8 Manuel José Jácome Património Eclesiástico - Filho do Capitão Melchior de Resendes de Sousa e Maria de Melo. Foi dotado por seu tio, o Padre Brás Soares de Macedo, por escritura de 10.09.1742. 16.06.1743 889 1 Manuel Machado Património Eclesiástico - Morador em São Miguel, filho de Pedro da Costa Galvão 30.07.1699 e Joana de Melo98. Foi dotado pelo Padre Manuel Jácome da Costa, Vigário da Matriz de Vila do Porto. Inclui a apelação cível na qual foi apelante o Licenciado Manuel Jácome da Costa e apelado o Dr. Inácio Pereira de Medeiros em 26.08.1689 por este tomar posse de casas doadas por Maria Jácome de Macedo, tia do mesmo apelante. 878 3 Manuel Martins Leite Património Eclesiástico - Filho de Sebastião de Fontes Velho e de Catarina Furtado 02.07.1701 Leite, moradores na Ribeira de São Domingos no termo de Vila do Porto. Foi dotado por escritura de 18.09.1700 pelo Reverendo Matias Furtado Leite, morador em Flor da Rosa Baixa, seu tio. 879 1 [118] Data Manuel Pacheco de Carvalho Património Eclesiástico - Filho de António José Cabral e Genoveva Francisca da Conceição, da Matriz, n.p. de Francisco Cabral Velho e Antónia da Cunha e n.m. de Bartolomeu Pacheco e Maria de Jesus. Foi dotado por Amaro José Pacheco e mulher Helena da Conceição, João Baptista Pacheco e irmãs Ana Margarida e Rosa Úrsula e pelo irmão Manuel Pacheco, seus tios, moradores na Flor da Rosa Baixa, por escritura de 16.11.1801. 20.05.1802 904 1 Manuel Rebelo da Câmara99 Património Eclesiástico - Filho do Tenente Mateus Duarte da Câmara e de D. Rita Quitéria de Menezes. Foi dotado por seus pais por escritura de 30.09.1771. 05.04.1772 894 2 97 Idem, p.870. 98 Idem, p.3086. 99 Idem, p.329. vol. LIV ‘09 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 9:52 AM Page 119 ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA Nome Documento ( Sumário) Data Maço Doc. Manuel Salgado Chaves Património Eclesiástico - Filho de Manuel de Moura Chaves e Mariana de Andrade Leandres100. Foi dotado por seu tio Francisco de Moura Chaves por escritura de 08.02.1737. 14.08.1738 888 2 Manuel Soares de Figueiredo Património Eclesiástico - Natural da Matriz, filho de António José de Figueiredo, da Matriz e de Bernardina Rosa Soares, de São Pedro, n.p. de João Inácio de Figueiredo e Maria Francisca e n.m. de Simão Correia e Maria Joaquina Soares. Foi dotado com bens que comprou a D. Jacinta Tomázia de Medeiros Bettencourt e a D. Maria Guilhermina Coutinho, Dionísio Teles, Pedro Jacinto, José Luciano dos Reis e mulher Felícia Maria de Nazaré. 01.07.1839 904 10 Martinho de Almada Património Eclesiástico - Filho de Mateus de Almada e de Catarina de Fontes. Foi dotado por sua mãe por escritura de 17.09.1718. 06.11.1719 881 7 Mateus da Cunha Património Eclesiástico - Filho de Pedro da Cunha e de Isabel de Bairos. Foi dotado por seus pais por escritura de 30.01.1716. 20.06.1718 881 5 Mateus da Cunha Bairos Património Eclesiástico - Pediu licença para sub-rogação de património. Foi apresentado num benefício da Matriz por falecimento do Padre Manuel Jácome da Costa em 30.04.1736 tendo tomado posse em 19.08 e feito o seu património em 30.01.1716. 23.06.1768 893 5 Mateus de Melo Património Eclesiástico - Estudante Teólogo, filho de Gaspar de Melo e Maria de Melo, moradores na Praia, termo de Vila do Porto. Foi dotado pelo Padre António Soares Ferreira por escritura de 12.07.1731. 17.06.1732 886 5 Melchior António Coelho Património Eclesiástico - Filho de Joaquim de Andrade e de Rosa Maria Coelho, n.p. de Manuel de Magalhães e Ana de Andrade dos Anjos e n.m. de Manuel de Andrade Melo e de Teresa Coelho. Foi dotado pelo Reverendo Vice Vigário Inácio Manuel de Andrade, seu tio, por escritura de 07.07.1784. 29.03.1787 895 6 Melchior António Coelho Património Eclesiástico - Filho de Joaquim de Andrade e de Rosa Maria Coelho. Foi dotado com os bens que lhe deixou seu tio, o Vigário Inácio Manuel de Andrade de que fez escritura em 07.07.1784. 04.09.1784 895 3 Pedro Baptista Património Eclesiástico - Filho do Mestre Pedro da Costa e de Teresa de Jesus. Foi dotado por seu tio Manuel Soares, por escritura de 25.06.1765. 26.08.1765 892 4 100 Idem, p.2187. [119] (ILHA DE SANTA MARIA) 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 Nome 9:52 AM Page 120 Documento ( Sumário) Data Maço Doc. Património Eclesiástico - Filho do Capitão Pedro da Costa Sousa e de sua primeira 05.10.1736 mulher Catarina do Espírito Santo. Foi dotado por seu pai e sua segunda mulher, Serafina de Andrade por escritura de 05.07.1736 por ter sido herdeiro de seu irmão, o Cónego Francisco da Costa Xavier. 887 4 Pedro de Freitas Património Eclesiástico - Filho de João de Freitas e de Maria de Matos. Foi dotado por escritura de 13.05.1705 por Filipe de Freitas, mestre pedreiro e mulher Inês Velho. 12.12.1705 879 5 Pedro Jácome Soares Património Eclesiástico - Filho do Capitão Pedro Soares Coelho e de D. Isabel de Macedo101. Foi dotado por escritura de 12.06.1722 pelo Capitão Inácio Godinho do Porto, seu tio. 05.05.1724 883 1 Valeriano José da Câmara Coutinho Património Eclesiástico - Filho do Alferes Manuel José da Câmara Bettencourt e de 07.07.1786 D. Francisca Antónia Leonor102, n.p. do Capitão Francisco da Câmara de Menezes e de D. Rosa Leonor Coutinho e n.m. de Francisco Nunes de Melo e de D. Maria Clara da Silveira. Foi dotado com os bens comprados ao Alferes Bartolomeu Correia de Bettencourt e mulher D. Antónia Margarida e a D. Margarida das Mercês e irmão Francisco António de Frias, filhos do Alferes Bartolomeu Monteiro de Melo, por escritura de 13.02.1785. 895 4 [120] Pedro da Costa DISPENSAS MATRIMONIAIS Nome Documento ( Sumário) Data Maço Doc. Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade por diferentes linhas) - Ele filho de António José de Chaves e Maria do Rosário e ela de Francisco Andrade de Chaves e Mariana das Candeias, de Santo Espírito. 09.08.1809 906 4 Alexandre Francisco Mourato Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santo Espírito. 28.08.1822 Bernardina Rosa de Braga 911 5 Agostinho José de Chaves Antónia Jacinta de Chaves 101 Idem, p.854. 102 Idem, p.918. vol. LIV ‘09 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 9:52 AM Page 121 ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA Nome Documento ( Sumário) Data Maço Doc. André de Fontes Catarina de Melo Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Bartolomeu de Fontes e Mariana de Resendes e ela de Cosme de Morais e de Catarina de Melo, da Matriz. 08.10.1728 898 4 Anselmo Francisco de Resendes Antónia Jacinta de Chaves Autuação de uma Diligência para Fé de Pobreza (2ºgrau de afinidade) - O nubente viúvo de Umbelina Rosa e moradores em Santo Espírito. 21.05.1833 913 14 António Bento de Andrade Maria Pacheco de Sousa Dispensa de Proclamas - O nubente viúvo e ambos moradores em Santa Bárbara. 05.03.1917 920 51 António Bernardo Úrsula Rosa Dispensa Matrimonial (2ºgrau de afinidade). 19.05.1818 909 3 António Cabral Rosa Bernarda Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Francisco Cabral e Maria de Melo e ela de Manuel Moreno e Maria da Trindade. 12.07.1760 898 16 António Cabral Ana Jacinta Dispensa Matrimonial (2ºgrau de afinidade) - Moradores em Santa Bárbara. 15.05.1854 919 3 António Caetano Úrsula Jacinta Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Moradores em São Pedro. 11.10.1826 912 11 António Caetano da Câmara D. Francisca Rosa Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de João Manuel da Câmara e ela filha de Carlos António da Silva, da Matriz. 21.05.1807 905 9 António Caetano de Figueiredo Ana Flora de Figueiredo Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Moradores em São Pedro. 15.04.1828 913 4 António Caetano Monteiro Bettencourt D. Justina da Câmara Albuquerque Dispensa Matrimonial (2º e 3ºgrau misto de consanguinidade) - Moradores na Matriz de Nossa Senhora da Assunção de Vila do Porto. 30.08.1826 912 9 António Coelho de Resendes Ana Bernardina Coelho Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Francisco Coelho de Resendes e Mariana Francisca e ela de Manuel José Coelho e Francisca Rosa do Livramento, de São Pedro. 09.06.1808 906 2 António de Andrade de Carvalho Maria dos Anjos Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade duplicado) - Moradores em Santo Espírito. 11.05.1835 916 6 [121] (ILHA DE SANTA MARIA) 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 Nome 9:52 AM Page 122 [122] Documento ( Sumário) Data Maço Doc. António de Andrade Puim Antónia Margarida Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Francisco de Andrade Puim e Isabel de Sousa e ela de Eusébio de Andrade de Melo e Catarina Velho de Melo, de Santo Espírito. 23.11.1755 898 13 António de Freitas Maria de Braga Alvará Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade) - Ambos naturais de Santo Espírito. 26.10.1910 920 39 António de Magalhães Maria das Candeias Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele de São Pedro e ela da Matriz. 01.04.1726 898 3 António de Resendes Antónia Joaquina Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade por duas linhas) - Moradores em Santo Espírito. 19.07.1834 914 11 António de Resendes de Carvalho Margarida Francisca de Barros Dispensa Matrimonial - Ele filho do Alferes José de Resendes de Carvalho e Inês de Andrade e viúvo de Jerónima da Conceição, ela filha de José de Moura Leandres e Isabel de Bairos, moradores em Almagreira. 11.05.1765 899 2 António de Resendes Luz Maria José de Carvalho Alvará Matrimonial - O nubente viúvo de Francisca Soares de Figueiredo e ambos naturais de Vila do Porto. 05.11.1910 920 37 António de Sousa Leandres Angelina Amélia de Braga Alvará Matrimonial (1ºgrau de afinidade) - A nubente viúva de Manuel de Sousa Leandres e ambos naturais de Vila do Porto. 30.04.1904 920 19 António Francisco Margarida Josefa Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade) - Moradores na Matriz. 12.05.1755 898 10 António Francisco de Braga Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Manuel Rosa Maria de Braga e Margarida de Resende e ela filha de Manuel Cabral e Luzia da Conceição, de Santa Bárbara. 20.07.1767 899 6 António Francisco de Resendes Mariana do Rosário Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Gaspar Pacheco e Mariana de Jesus e ela filha de José Pereira de Moura e Francisca de Resendes, de São Pedro. 02.06.1763 899 1 António Furtado Antónia Virgínia Pacheco Alvará Matrimonial - O nubente natural da Ribeira Grande e a nubente de Vila do Porto. 12.11.1904 920 13 António Joaquim Cabral Balbina Jacinta Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - Moradores em São Pedro. 10.10.1835 916 11 26.03.1851 918 6 António Joaquim de Carvalho Dispensa Matrimonial (2º e 3ºgrau de consanguinidade) - Moradores Maria de Jesus de Chaves em Santo Espírito. vol. LIV ‘09 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 9:52 AM Page 123 ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA Nome Documento ( Sumário) Data Maço Doc. António Joaquim de Freitas Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santa Bárbara. 02.07.1849 Maria Bárbara da Conceição 918 2 António Joaquim de Moura Bernardina Jacinta Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santo Espírito. 10.09.1824 912 2 António Joaquim de Moura Rosa Joaquina Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santo Espírito. 11.03.1835 916 2 António Joaquim de Resendes Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade) - Moradores Jacinta Isabel em Vila do Porto. 15.04.1828 913 3 António Joaquim de Sousa Maria Joaquina de Sousa Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de João de Sousa Pereira e Rita Inácia e ela de Manuel de Sousa Curvelo e Mariana de Jesus, de Santo Espírito. 29.11.1816 905 14 António José Rosa Úrsula Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Moradores na Matriz. 28.06.1759 898 15 António José Bairos Catarina Rosa Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de José de Barros e Antónia do Rosário e ela de Manuel de Sousa Curvelo e Mariana de Jesus, de Santo Espírito. 21.08.1806 905 6 António José Coelho Inês do Sacramento Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade) - Naturais de São Pedro. 07.06.1817 908 4 António José de Chaves Maria da Conceição de Chaves Dispensa Matrimonial (2º e 4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Pascoal de Andrade Melo e Rosa Maria de Chaves e ela de Agostinho José de Chaves e Joana Francisca de Chaves, de Santo Espírito. 08.11.1819 910 8 António José de Chaves Maria da Conceição de Chaves Autuação para Fé de Pobreza (2º e 4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Pascoal de Andrade Melo e Rosa Maria de Chaves e ela de Agostinho José de Chaves e Joana Francisca de Chaves, de Santo Espírito. 19.10.1818 910 2 António José de Melo Rosa Jacinta de Chaves Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Naturais de Santo Espírito. 20.10.1817 908 10 António José de Moura Dispensa Matrimonial (2º e 3ºgrau de consanguinidade por diferentes linhas) Victória Jacinta de Figueiredo - Moradores em Santa Bárbara. 07.08.1835 916 9 António José de Sousa Cabral Maria Isabel 31.05.1818 909 4 Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de António José de Sousa e Vicência Joaquina e ele de António de Braga Sousa e D. Antónia Jacinta, de Santo Espírito. [123] (ILHA DE SANTA MARIA) 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 Nome 9:52 AM Page 124 Documento ( Sumário) Data Maço Doc. [124] António José Pereira Ana Maria do Coração de Jesus Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santo Espírito. 18.04.1849 918 1 António Lúcio de Morais D. Joaquina Augusta da Câmara Dispensa Matrimonial (1ºgrau misto de 2ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Vila do Porto. 17.11.1859 920 5 António Manuel de Melo Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santo Espírito. 20.03.1851 Umbelina Jacinta de Chaves 918 4 António Soares Ana Jacinta Dispensa Matrimonial (2º e 4ºgrau de consanguinidade duplicado) - O nubente natural de Vila do Porto e a nubente de Santa Bárbara. 14.05.1858 919 13 António Soares de Figueiredo103 Bernardina Laurência Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Ele filho do Capitão Luís de Figueiredo de Sousa e D. Margarida de Menezes e ela filha de André de Moura Velho e D. Ana de Andrade. 03.09.1765 899 4 António Soares de Moura Alvará Matrimonial - O nubente natural de Santa Bárbara e a nubente Maria da Conceição Travassos natural de Vila do Porto. 21.10.1907 920 30 António Ventura de Freitas Floriana Rosa de Chaves Dispensa Matrimonial (2ºgrau de afinidade por duas linhas) - Ele de Santo Espírito e a nubente de Vila do Porto. 19.07.1834 914 12 António Ventura do Rego Francisca Joaquina Dispensa Matrimonial (2ºgrau de afinidade) - Moradores na Matriz. 21.08.1805 905 1 Bartolomeu de Andrade Ana do Rosário Dispensa Matrimonial (4ºgrau de afinidade) - Ele filho de Domingos de Melo e Antónia Pereira e ela de Miguel Fernandes e Maria de Resendes e viúva de António Francisco de Chaves, de Santo Espírito. 15.07.1777 900 8 Bento Joaquim Bettencourt Dispensa Matrimonial (2º e 3ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de João Bento D. Antónia Caetana Angélica da Câmara Bettencourt e de D. Ana Margarida Monteiro104, da Matriz e ela do Alferes Custódio José Monteiro e Catarina Rosa do Anjo, de São Pedro. 10.12.1776 900 4 Bento Soares de Albergaria D. Margarida Soares de Albergaria 07.10.1815 905 11 Dispensa Matrimonial (1ºgrau de afinidade) - Ele filho de João Soares Sousa Ferreira de Albergaria e de D. Francisca Tomásia Brum da Silveira105, viúvo de D. Francisca Soares da Câmara Albergaria e ela de Laureano Francisco da Câmara Falcão e D. Joana Jacinta de Bettencourt, da Matriz. 103 Idem, p.2645. 105 Idem, p.1525. 104 Idem, p.2654. vol. LIV ‘09 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 9:52 AM Page 125 ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA Nome Documento ( Sumário) Data Maço Doc. Bernardino Cabral Victorina Soares Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santo Espírito. 13.05.1853 919 2 Bernardino de Braga Bernardina Jacinta Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santo Espírito. 09.01.1835 915 11 Bernardino de Figueiredo Rosa Jacinta de Braga Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade por duas linhas) - Moradores em Santa Bárbara. 25.09.1833 914 2 Bernardino de Moura Rosa Jacinta Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - Moradores em São Pedro. 05.02.1855 919 5 Bernardino de Resendes Soares Jacinta Umbelina de Fontes Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Moradores em São Pedro. 15.04.1828 913 2 Bernardino de Sousa Maria Jacinta Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade duplicado e 4ºgrau por outra linha) - Moradores em Santo Espírito. 11.05.1835 916 3 Bernardino de Sousa Viegas Maria de Sousa Chaves Alvará Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade) - Ambos naturais de Santo Espírito. 19.07.1910 920 41 Bernardino Joaquim Cabral Antónia Cândida de Resendes Dispensa Matrimonial (2º e 4ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santa Bárbara. 17.07.1846 917 7 Bernardino Joaquim de Andrade Filomena Jacinta de Chaves Alvará Matrimonial - Ambos naturais de Vila do Porto. 10.01.1910 920 33 Bernardino Joaquim de Sousa Autuação de uma Petição para Atestado de Pobreza (2º e 4ºgrau de Joaquina Ricarda de Sousa consanguinidade) - Moradores em Santa Bárbara. 14.05.1847 917 8 Bernardino Joaquim Moreira Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade duplicado) - Moradores D. Antónia Emília Moreira em Santa Bárbara. 03.09.1834 915 5 Bernardino José de Braga Maria Jacinta de Lima 24.10.1810 905 6 10.06.1807 905 16 Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Bernardino José de Braga e de D. Antónia Laurência e ela de António de Braga Sousa e de D. Antónia Jacinta, de Santo Espírito. Bernardino José de Carvalho Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de António Antónia Jacinta Carvalho e Maria da Trindade, de Santo Espírito e ela de Pascoal de Andrade Melo e Rosa Maria, de Santo Espírito. [125] (ILHA DE SANTA MARIA) 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 Nome 9:52 AM Page 126 Documento ( Sumário) Data Maço Doc. [126] Bernardino José de Moura Antónia Carvalho Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de António de Moura 16.07.1819 e Maria Joaquina, sua segunda mulher e ela de António de Braga e D. Perpétua de Bettencourt, de Santo Espírito. 910 7 Bernardino José Soares Maria de Jesus Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santo Espírito. 14.06.1831 913 9 Bernardino José Soares Maria Jacinta Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade por diferentes linhas) - Moradores em Santo Espírito. 19.07.1834 915 1 Bernardino Soares de Resendes Jacinta Umbelina Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Moradores em São Pedro. 15.12.1830 913 6 Bernardo José Inácia da Conceição Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Francisca Rosa, de Santa Bárbara e ela de Francisco de Almada e Úrsula Rosa, da Matriz. 07.11.1809 906 6 Caetano Joaquim Ana Jacinta Dispensa Matrimonial (2º e 3ºgrau de consanguinidade e 4ºgrau de afinidade) - O nubente viúvo e natural de São Pedro e a nubente natural de Santa Bárbara. 11.05.1835 916 4 Custódio José Coelho Antónia Jacinta Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade e 2º e 4ºgrau de afinidade) - Ele viúvo de Francisca Rosa e ela filha de Francisco António Pacheco e D. Rosa Jacinta, da Matriz. 29.08.1805 905 2 Custódio José de Freitas Laurência Clara Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Francisco de Freitas e Esperança de Andrade e ela de João da Cunha e Leonor de Andrade. 25.09.1771 899 11 Diniz Maria dos Reis Maria Jacinta Mandato para Comutação de Penitências (4ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santa Bárbara. 26.02.1875 923 35 Domingos Joaquim de Freitas Alvará Matrimonial - Ambos naturais de Vila do Porto. Maria da Anunciação Pereira 11.07.1904 920 22 Elias Joaquim de Melo Francisca Jacinta Dispensa Matrimonial (2ºgrau de afinidade) - O nubente viúvo e moradores em Vila do Porto. 25.04.1835 915 12 Floriano Joaquim Bernardina Joaquina Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Moradores em São Pedro sendo o nubente viúvo. 18.11.1825 912 6 Floriano Joaquim Ferreira Maria Ermelinda Ferreira Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Vila do Porto. 22.10.1844 917 3 Floriano José Nunes Umbelina Úrsula da Conceição Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho Manuel José Nunes e Rosa Maria e ela de Mateus José de Sousa e Felícia Rosa, da Matriz. 20.07.1817 908 5 vol. LIV ‘09 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 9:52 AM Page 127 ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA Nome Documento ( Sumário) Data Maço Doc. Francisco António de Carvalho Antónia Margarida de Bettencourt Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santo Espírito. 11.10.1826 912 10 Francisco António de Figueiredo Maria Cândida Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade). 30.10.1809 906 5 Francisco António de Figueiredo Mariana Luísa Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade) - Ele viúvo de D. Antónia Laurência, da Matriz e ela filha de Tomé de Resendes e de D. Rosa de Figueiredo, de Santa Bárbara. 30.07.1817 908 7 Francisco António Dispensa Matrimonial (4ºgrau de afinidade) - Ele filho de José Diogo de Andrade e de Sousa Puim Ana Úrsula das Onze Mil Virgens e ela viúva de António de Andrade Magalhães, D. Catarina Maria Monteiro de Santo Espírito. 17.08.1806 905 3 Francisco Borges de Sousa Maria Ricarda Pacheco Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Francisco Bernardino de Sousa e Inácia Rosa de Medeiros e ela de João Pacheco e Francisca Rita Xavier, ele da Matriz de Vila do Porto e ela da Matriz de Ponta Delgada. 08.11.1810 905 8 Francisco Borges de Sousa Maria Ricarda Pacheco Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade). 15.10.1806 905 7 Francisco de Andrade Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Matias de Ana Maria de Santo António Andrade e Francisca de Andrade, moradores em Almagreira e ela de Manuel de Resendes e Maria de Andrade, também moradores em Almagreira. 14.09.1770 899 9 Francisco de Barros Francisca dos Anjos Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Manuel de Fontes e Ana de Barros e ela de Francisco de Almada e Isabel de Andrade, de São Pedro. 15.03.1747 898 5 Francisco Inácio de Morais Jacinta Tomázia Dispensa Matrimonial (3ºgrau de afinidade) - Moradores em São Pedro. A nubente viúva de Manuel José de Morais. 14.10.1826 912 13 Francisco Joaquim Cabral Bernarda Joaquina Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Naturais da Matriz. 31.05.1818 909 6 Francisco José D. Rosa Leonor Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de António de Magalhães Velho e Maria das Candeias, moradores em Santana e ela de José de Resendes e D. Antónia de Jesus, moradores na Rosa Alta. 09.06.1773 900 1 Francisco José Cabral Antónia Umbelina Dispensa Matrimonial (2º e 3ºgrau de consanguinidade e 4ºgrau de afinidade) - O nubente viúvo de Bernardina Ricarda e ambos moradores em Vila do Porto. 11.05.1835 916 1 [127] (ILHA DE SANTA MARIA) 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 Nome 9:52 AM Page 128 [128] Documento ( Sumário) Data Maço Doc. Francisco José de Andrade Matilde Flora da Câmara Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Vila do Porto. 16.06.1834 914 10 Francisco José de Melo Luísa Joaquina de Sousa Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade e 1º grau de afinidade) - Ele 02.03.1816 filho de Manuel de Jesus e Ana Maria e ela de Mateus José de Sousa e Felícia Rosa, da Matriz. 905 13 Francisco José de Melo Luísa Joaquina de Sousa Autuação para Fé de Pobreza (2º, 3º e 4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de 14.10.1812 Manuel de Jesus e Ana Maria e ela de Mateus José de Sousa e Felícia Rosa, da Matriz. 905 9 Francisco Manuel Coelho Rosa Jacinta Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele viúvo de Francisca Tomázia e moradores em São Pedro. 28.12.1817 909 1 Francisco Pacheco Catarina de Andrade Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de João Pacheco e Catarina de Andrade e ela de Rodrigo Gonçalves e Feliciana de Andrade, naturais da Matriz. 16.03.1721 898 18 Francisco Soares Luzia da Conceição Dispensa Matrimonial (2º e 3ºgrau de consanguinidade) - Ele viúvo de Maria da Assunção e ela filha de José de Andrade e Maria de Fontes, da Matriz. 27.07.1750 898 6 Francisco Soares Isabel de Jesus Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Francisco Soares 08.08.1756 e Esperança de Braga e ela de Manuel de Freitas e Maria de Sousa, de Santo Espírito. 898 14 Francisco Tavares do Rego Maria Júlia Tavares do Rego Dispensa Matrimonial (1ºgrau misto de 2ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santo Espírito. 30.07.1845 917 6 Geraldo José Falcão D. Mariana Laurência e Albergaria Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho do Capitão Antão de Avelar Falcão e de D. Margarida de Menezes, de Vila do Porto e ela do Capitão Manuel de Sousa Soares de Albergaria e D. Isabel de São Pedro, de São Pedro106. 04.05.1776 900 3 Inácio Joaquim Carvalho Joaquina Tomázia Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de José Francisco Curvelo e Joaquina Rosa e ela de José Caetano e Maurícia Rosa, da Matriz. 03.06.1824 911 10 Inácio Joaquim da Câmara107 Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade por diferentes linhas) - Ele filho de Laureano Francisco da Câmara Falcão e D. Joana Jacinta de Bettencourt e ela de Francisco Bernardo de Resendes e D. Ana Rita do Rego Coutinho, da Matriz. 24.10.1810 905 3 D. Antónia Laurência de Sousa Coutinho 106 Idem, p.862. 107 Idem, p.919. vol. LIV ‘09 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 9:52 AM Page 129 ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA (ILHA DE SANTA MARIA) Documento ( Sumário) Data Maço Doc. Inácio Joaquim de Figueiredo Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de José Soares de Figueiredo e Rosa Jacinta do Céu, de São Pedro e ela filha de José Custódio de Mariana Flora Andrade e D. Isabel Flora de Figueiredo, da Matriz. 20.06.1822 911 3 Inácio Joaquim de Melo Francisca Umbelina Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Moradores na Matriz. 25.08.1823 911 9 Inácio Joaquim de Moura Jacinta Rosa Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de António Francisco 25.10.1810 de Moura e Catarina Rosa, de São Pedro e ela de António José Coelho e Maria Josefa, de São Pedro. 905 7 Inácio Joaquim Resendes Ana Joaquina Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade) - Moradores em São Pedro. 07.01.1831 913 7 Inácio José Mariana Francisca Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de João Inácio e 02.11.1801 Mariana Francisca, da Matriz e ela de Laureano Francisco Madeira e Ana dos Anjos, de Santo Espírito. 905 17 Inácio José Maria Jacinta Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de José Inácio dos Santos e Francisca Rosa, da Matriz e ela de Francisco José de Andrade e Rosa Jacinta, de São Pedro. 03.08.1817 908 8 Inácio José Coelho Ana Jacinta Coelho Autuação de uma Diligência para Fé de Pobreza (4ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Vila do Porto. 30.04.1833 913 13 Inácio José de Figueiredo Maria Luísa Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de António José de Resendes e Jacinta Rosa de Figueiredo e ela de André Inácio e Inácia Margarida, da Matriz. 03.06.1817 908 3 Inácio Soares Antónia Laurência Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de José Inácio Perinho e Ana Teresa, da Matriz e ela de Valério de Andrade e Bárbara Laurência, de Santo Espírito. 31.05.1821 911 2 Jacinto José de Fontes Ana Emília Baptista Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Vila do Porto. 30.08.1859 920 4 João Baptista de Loura Rosa Jacinta Dispensa Matrimonial (2º e 3ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santo Espírito. 17.05.1819 910 4 João Bernardo Coelho Maria Ricarda Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Moradores em São Pedro. 09.08.1824 912 1 [129] Nome 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 Nome 9:52 AM Page 130 Documento ( Sumário) Data Maço Doc. [130] João Bernardo Falcão Rosa Joaquina de Resendes Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Francisco 28.08.1822 de Moura Jácome e de D. Maria Rosa108 e ela viúva de Manuel Inácio de Figueiredo, de São Pedro. 911 4 João Bernardo Farpeilha Eufrázia Joaquina Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de António José Farpeilha e de sua segunda mulher, Ana Margarida e ela de António de Bairos e Francisca dos Anjos, da Matriz. 08.04.1818 910 1 João Coelho Luísa Joaquina Dispensa Matrimonial (1º e 3ºgrau de afinidade) - Moradores em Vila do Porto. 03.09.1834 915 8 João da Cunha Pacheco Antónia Margarida Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade duplicado) - Ele viúvo de Esperança do Nascimento e ela viúva de José Baptista submergido nas ondas do mar. 25.04.1771 899 12 João de Andrade Jacinta Umbelina Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santa Bárbara. 24.05.1860 920 8 João de Bairos Maria Júlia Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Vila do Porto. 22.04.1853 919 1 João de Bairos Ana Maria de Chaves Alvará Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Ambos naturais de Santo Espírito. 11.07.1910 920 43 João de Moura Isabel Francisca Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade por diferentes linhas) - Moradores em Santa Bárbara. 12.01.1808 906 1 João de Moura Maria Jacinta Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Moradores em São Pedro. 23.11.1833 914 6 João de Moura Umbelina Tomázia Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Vila do Porto. 13.07.1858 919 14 João de Moura Cabral Catarina Rosa Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Jacinto Cabral e Josefa Gonçalves e ela de José de Andrade Pereira e Francisca de São José, de São Lourenço. 06.02.1770 899 8 24.10.1810 905 5 João de Resendes de Bairos Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele de São Pedro e ela Bernarda Isabel Monteiro da Matriz. 108 Idem, p.789. vol. LIV ‘09 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 9:52 AM Page 131 ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA Nome Documento ( Sumário) Data Maço Doc. João Figueiredo Reis D. Maria Soares da Conceição Alvará Matrimonial (3º e 4ºgrau triplicado de consanguinidade) - Naturais de Vila do Porto. 26.10.1904 920 12 João Francisco do Rego Maria Luísa Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade). 25.04.1820 911 1 João Francisco dos Reis Maria Luísa Autuação para Fé de Pobreza (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de António João dos Reis e Francisca Rosa e ela de Francisco José de Melo e Antónia Jacinta, da Matriz. 19.10.1818 909 9 João Inácio de Chaves Ana Jacinta Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de João Inácio de 31.05.1818 Chaves e Ana Rita de Figueiredo e ela de José António de Chaves e Rita Margarida, de Santo Espírito. 909 5 João Inácio Ferreira Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Vila do Porto. Maria Teodora Soares Ferreira 21.10.1850 918 3 João Jacinto da Graça Maria Isabel Dispensa Matrimonial (3ºgrau de afinidade) - Ele viúvo de Lucrécia Rosa e ela filha de Manuel Pacheco e Rita Inácia, da Matriz. 03.06.1824 911 11 João Jacinto de Freitas Laurência Maria Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santo Espírito. 02.07.1835 916 8 João Jacinto Teixeira Mariana Júlia Bettencourt Dispensa Matrimonial (1ºgrau de afinidade) - O nubente viúvo e natural de Vila do Porto e a nubente de Santo Espírito. 27.03.1860 920 6 João José de Fontes Antónia Umbelina Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade) - O nubente viúvo e ambos moradores em Santo Espírito. 20.08.1835 916 10 João José de Melo Luísa Isabel Pacheco Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Vila do Porto. 20.11.1844 917 4 João Severino Gago da Câmara109 D. Rosa Matilde Dispensa Matrimonial (1ºgrau de afinidade) - O nubente viúvo de D. Luísa Ermelinda Gago e ambos moradores em Vila do Porto. 29.05.1857 919 11 João Severino Gago da Câmara110 D. Rosa Matilde Dispensa Matrimonial (1ºgrau de afinidade) - O nubente viúvo de D. Luísa Ermelinda Gago e ambos moradores em Vila do Porto. 17.05.1856 919 7 109 Idem, p.1082. 110 Idem, p.1082. [131] (ILHA DE SANTA MARIA) 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 Nome 9:52 AM Page 132 Documento ( Sumário) Data Maço Doc. Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade e 3ºgrau duplicado) - Moradores em Vila do Porto. 27.07.1844 917 2 João Soares Moreira Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santa Bárbara. 14.04.1852 Antónia Jacinta de Figueiredo 918 9 Joaquim António de Figueiredo Antónia Jacinta Dispensa Matrimonial (1º grau de afinidade e 4ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santa Bárbara. 25.05.1835 916 7 Joaquim de Andrade de Magalhães Rosa Maria Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Manuel de Magalhães e Ana de Andrade e ela de Manuel de Andrade de Melo e Teresa Coelho, da Matriz. 12.12.1751 898 7 Joaquim de Carvalho Maria José de Carvalho Alvará Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade) - Ambos naturais de Vila do Porto. 27.01.1910 920 35 Joaquim de Resendes Paiva Rosa Jacinta de Chaves Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santa Bárbara. 12.12.1833 914 8 Joaquim Fernandes Monteiro Tavares D. Isabel Júlia Monteiro Autuação para Fé de Pobreza (2ºgrau de consanguinidade) - Naturais da Matriz, ele filho de João Bernardo Tavares e de D. Eulália Rita111 e ela de Joaquim Monteiro de Bettencourt e D. Ana Jacinta do Amor Divino112. 18.08.1818 909 8 Joaquim Fernandes Monteiro Tavares Isabel Júlia Monteiro Dispensa Matrimonial (para continuação das diligências) - Naturais da Matriz, ele filho de João Bernardo Tavares e de D. Eulália Rita113 e ela de Joaquim Monteiro de Bettencourt e D. Ana Jacinta do Amor Divino114. 06.12.1819 910 9 Joaquim José Cabral Antónia Umbelina Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santo Espírito. 28.04.1836 916 12 Joaquim José de Sousa Lucinda Jacinta Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Naturais da Matriz. 03.08.1817 908 9 Joaquim José Pereira Maria Ricarda Mandato Apostólico (4ºgrau de afinidade) - Ele viúvo de Francisca Ricarda e ela filha de João de Deus Cabral e Antónia Jacinta, da Matriz. 21.07.1817 908 6 João Soares de Sousa Canto e Albuquerque D. Maria Isabel do Canto Corte Real [132] 111Idem, p.2654. 113 Idem, p.2654. 112 Idem, p.2190. 114 Idem, p.2190. vol. LIV ‘09 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 9:52 AM Page 133 ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA (ILHA DE SANTA MARIA) Documento ( Sumário) Data Maço Doc. Dispensa Matrimonial (4ºgrau de afinidade) - Ele viúvo de Francisca Ricarda e ela filha de João de Deus Cabral e Antónia Jacinta, da Matriz. 18.05.1817 908 1 15.01.1904 920 17 Joaquim Soares Bernardina Jacinta Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santa Bárbara. 03.09.1834 915 7 José António de Andrade Bernarda Rosa Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Francisco José de Andrade e D. Ana Rita de Chaves e ela de Manuel de Jesus e Esperança do Nascimento, de Santa Bárbara. 18.09.1810 905 1 José António de Chaves Maria Francisca de Chaves Dispensa Matrimonial (2º, 3º e 4ºgrau de consanguinidade por diferentes linhas) - Moradores em Santo Espírito. 19.07.1834 915 2 José António Monteiro Ana Rita de Bettencourt Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de João Pedro de 23.10.1810 Andrade e D. Catarina Teresa Monteiro, de São Pedro115, e ela de Joaquim Francisco Coelho de Bettencourt e Antónia Margarida de Chaves, de Santo Espírito. 905 2 José Cabral Umbelina Micaela Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Naturais de Santa Bárbara. 24.05.1817 908 2 José de Andrade Antónia Maria Autuação de uma Diligência para Fé de Pobreza (4ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santo Espírito. 31.08.1832 913 10 José de Andrade Chaves Mariana Francisca Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Gonçalo de Andrade e Antónia Margarida e ela de José de Andrade e Maria da Câmara, de Santo Espírito. 10.03.1770 899 10 José de Andrade Melo Jerónima da Conceição Dispensa Matrimonial - Ele viúvo de Margarida Pereira e moradores na Malbusca. 14.04.1765 899 3 José de Bairos Maria Rosa Nordelo Alvará Matrimonial - Ambos naturais de Santo Espírito. 24.10.1910 920 40 José de Bairos Maria Pereira de Chaves Alvará Matrimonial (3º e 4ºgrau de afinidade) - O nubente viúvo de Joaquina Umbelina de Chaves e ela de António Pereira e ambos de Santo Espírito. 02.07.1910 920 46 José de Bairos Teixeira Margarida de Magalhães Dispensa Matrimonial (4ºgrau de afinidade) - Ele viúvo de Francisca de Rezendes e ela filha de Gaspar de Melo e Francisca de Magalhães, da Matriz. 12.05.1755 898 9 Joaquim José Pereira Maria Ricarda Joaquim Maria Pacheco Alvará Matrimonial - Ambos naturais de Vila do Porto. Virgínia da Purificação Santo 115 Idem, p.810. [133] Nome 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 Nome 9:52 AM Page 134 Documento ( Sumário) Data Maço Doc. [134] José de Braga Maria Joaquina Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santo Espírito. 16.07.1855 919 9 José de Braga Maria da Conceição Costa Alvará Matrimonial - Ambos naturais de Vila do Porto. 09.07.1904 920 21 José de Braga de Carvalho Rita Maria Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santo Espírito. 25.04.1828 913 5 José de Carvalho Braga Maria Angelina de Chaves Alvará Matrimonial - Ambos naturais de Santo Espírito. 13.04.1910 920 50 José de Resendes Madalena de Andrade Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade). 19.11.1723 898 2 José de Resendes Maria Júlia Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - O nubente natural de São Pedro e a nubente de Vila do Porto. 25.04.1860 920 7 José de Resendes Cabral Emília de Jesus Cabral Alvará Matrimonial (2º e 3ºgrau de consanguinidade) - Ambos naturais de Vila do Porto. 02.11.1910 920 38 José de Resendes de Melo Maria Jacinta de Chaves Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santo Espírito. 05.05.1852 918 10 José de Sousa Viegas Maria Jacinta de Chaves Alvará matrimonial - Ambos naturais de Santo Espírito. 19.04.1910 920 49 José Francisco Margarida do Espírito Santo Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Miguel da Fonseca e Maria de Matos e ela filha de Gaspar de Sousa e Maria do Rosário, moradores na Praia. 28.07.1766 899 5 José Francisco Curvelo Úrsula Teresa Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santa Bárbara. 01.02.1831 913 8 José Francisco de Andrade Antónia Margarida Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Cosme de Andrade e Maria das Candeias e ela de Domingos Carvalho e Maria Cabral. 20.05.1768 899 7 José Francisco de Morais D. Bernardina Rosa Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Manuel 05.03.1776 de Morais e Teresa de Moura e ela de Inácio de Sousa de Menezes e D. Esperança de Figueiredo, de Santa Bárbara. 900 2 José Inácio Francisca Rosa Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade por duas linhas) - Naturais da Matriz. 905 5 vol. LIV ‘09 21.08.1806 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 9:52 AM Page 135 ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA Nome Documento ( Sumário) Data Maço Doc. José Inácio Coelho Maria Catarina Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de António de Andrade Coelho e Inocência Margarida e ela de Manuel de Sousa e Úrsula Rosa, de Santo Espírito. 18.05.1819 910 5 José Inácio Coelho Lucrécia Rosa Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Moradores na Matriz de Nossa Senhora da Assunção de Vila do Porto. 14.10.1826 912 12 José Inácio de Bairos Francisca Jacinta Autuação de uma Diligência para Fé de Pobreza (4ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santa Bárbara. 29.04.1833 913 11 José Inácio de Resendes Laurência Jacinta Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade por duas linhas) - Moradores em Santa Bárbara. 12.12.1833 914 7 José Inácio Monteiro Umbelina Teresa Monteiro Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Custódio José Monteiro e Catarina Rosa do Anjo, de Santo Espírito, ela de João Pedro de Andrade e D. Catarina Teresa Monteiro, de São Pedro116. 20.06.1818 909 7 José Inácio Monteiro de Carvalho117 Dispensa Matrimonial (2º e 3ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de António de Andrade de Magalhães e D. Catarina Maria Monteiro e ela de João Pedro de Andrade e D. Catarina Teresa Monteiro, de Santo Espírito118. 18.11.1817 908 11 José Inácio Pacheco Antónia Jacinta Leonor Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Francisco António Pacheco e Floriana Rosa de Chaves e ela viúva de Vicente José Ferreira, da Matriz. 16.08.1809 905 15 José Jacinto de Figueiredo Ana Luísa Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santa Bárbara. 11.11.1861 920 9 José Joaquim Bárbara Jacinta Dispensa Matrimonial (4ºgrau de afinidade) - Ele viúvo de Francisca Rosa e ela filha de José Francisco de Morais e Antónia Jacinta, da Matriz. 14.05.1807 905 8 José Joaquim de Andrade Maria da Trindade Alvará Matrimonial - Ambos naturais de Vila do Porto. 03.05.1906 920 26 José Joaquim de Braga Maria Angelina Baptista Alvará Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ambos naturais de Santo Espírito. 18.07.1910 920 42 José Joaquim de Lima Maria Jacinta de Chaves Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade) - O nubente de Santo Espírito e a nubente de Vila do Porto. 914 1 D. Antónia Maria Monteiro 116 Idem, p.810. 117 Idem, p.3614. 118 Idem, p.810. 15.06.1833 [135] (ILHA DE SANTA MARIA) 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 Nome 9:52 AM Page 136 [136] Documento ( Sumário) Data Maço Doc. José Joaquim de Sousa Maria Joaquina Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santo Espírito. 03.08.1825 912 4 José Joaquim dos Santos Luísa Jacinta Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santa Bárbara. 19.07.1834 915 3 José Lopes de Figueiredo Maria Eugénia Alvará Matrimonial - Ambos naturais de Vila do Porto. 10.10.1904 920 23 José Manuel de Carvalho Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santo Bernardina Joaquina Carvalho Espírito. 18.07.1825 912 3 José Manuel de Sousa Antónia Caetana Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Ele da Matriz e ela de São Pedro. 28.12.1817 909 2 José Maria Coelho Catarina Júlia do Coração de Jesus Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade) - Moradores em São Pedro. 08.11.1833 914 4 José Maria de Braga Victorina Rosa de Resendes Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade) - O nubente viúvo e ambos moradores em Santo Espírito. 28.04.1836 916 13 José Maria de Carvalho Antónia Jacinta Dispensa Matrimonial (2º e 4ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santo Espírito. 26.01.1856 919 4 José Pedro de Chaves Lucrécia Rosa Miquelina de Bettencourt119 Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santo Espírito. 15.09.1810 906 7 José Pereira Maria Jacinta Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade e 1ºgrau de afinidade) - Moradores em Santo Espírito. 23.04.1856 919 6 José Soares Rita Maria Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de afinidade duplicado) - O nubente viúvo de Rosa Jacinta e a nubente de António Ventura Tavares. Moradores em São Pedro. 02.08.1834 915 4 José Soares de Figueiredo Maria Isabel de Braga Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santo Espírito. 17.02.1845 917 5 Laureano Francisco Ana dos Anjos Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de António de Sousa Madeira e Ana dos Anjos, da Matriz e ela de Matias de Andrade e Maria de Sousa, de Santo Espírito. 900 5 119 Idem, p.929. vol. LIV ‘09 25.07.1776 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 9:52 AM Page 137 ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA (ILHA DE SANTA MARIA) Documento ( Sumário) Data Maço Doc. Lauriano Monteiro Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Vila do Porto. de Bettencourt D. Maria Brísida Monteiro120 08.01.1844 917 1 Leandro Joaquim Ferreira Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - A nubente viúva de António D. Maria Emília de Menezes Caetano da Câmara e ambos moradores em Vila do Porto. 11.05.1835 916 5 Lourenço Joaquim de Sousa Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Ana Jacinta de Resendes Santo Espírito. 08.11.1833 914 5 Lourenço José de Resendes Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Vila do Porto. Ana Jacinta Tavares do Rego 17.08.1825 912 5 Luís Duarte Rebelo da Câmara121 D. Maria da Assunção Figueiredo Canto Dispensa Matrimonial (2º e 3ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Vila do Porto. 15.04.1851 918 7 Luís Jacinto de Figueiredo Maria Luísa Dispensa Matrimonial (3ºgrau de afinidade duplicado) - Ele filho de João Inácio de 15.05.1819 Figueiredo e Maria Francisca, da Matriz e ela viúva de Francisco Inácio de Resende, de São Pedro. 910 3 Manuel António Farpeilha Maria Ricarda Dispensa Matrimonial (2ºgrau de afinidade) - Moradores em Vila do Porto e a nubente viúva de António Baptista Farpeilha. 26.03.1851 918 5 Manuel Augusto Tavares Maria Puim Monteiro Alvará Matrimonial - Ambos naturais de Santo Espírito. 23.04.1910 920 47 Manuel Cabral Alvará Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ambos naturais de Vila do Porto. Antónia da Purificação Sousa 26.07.1907 920 32 Manuel Coelho Cabral Ana Emília Farpeilha Alvará Matrimonial - O nubente viúvo de Emília Joana e ela de Manuel Joaquim de Melo, moradores em Almagreira. 19.08.1879 920 11 Manuel de Almada Chaves Maria José do Rego Alvará Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ambos naturais de Santo Espírito. 08.07.1910 920 45 Manuel de Andrade Mariana da Encarnação Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de José de Andrade e Mariana Cabral e ela de José de Mendonça e Maria de Braga, da Matriz. 04.05.1753 898 8 [137] Nome 120 Idem, p.2190. 121 Idem, p.330. 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 Nome 9:52 AM Page 138 [138] Documento ( Sumário) Data Maço Doc. Manuel de Chaves Loura Ana de Chaves Figueiredo Alvará Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade) - Ambos naturais de Vila do Porto. 13.01.1910 920 34 Manuel de Resendes Antónia Margarida Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de André de Melo e Jerónima de Resendes e ela de Manuel Curvelo e Maria Pacheco, de São Pedro. 23.08.1755 898 12 Manuel de Sousa Maria Jacinta de Chaves Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santo Espírito. 03.09.1834 915 6 Manuel de Sousa Bernardina Isabel de Sousa Dispensa Matrimonial (2º e 4ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santa Bárbara. 11.10.1858 919 15 Manuel de Sousa Justina de Jesus Cabral Alvará Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ambos de Santo Espírito. 06.04.1910 920 36 Manuel de Sousa Virgínia Soares Alvará Matrimonial - Ambos naturais de Santo Espírito. 25.04.1910 920 48 Manuel Fernandes Maria Jacinta Pereira Alvará Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - O nubente natural de Santa Bárbara e a nubente natural de Santo Espírito. 12.07.1910 920 44 08.04.1904 920 18 Manuel Jacinto Cabral Antónia Jacinta Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santo Espírito. 19.08.1826 912 8 Manuel Joaquim Cabral Jacinta Tomázia Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade) - Ele natural de São Pedro e ela da Matriz. 18.11.1822 911 7 Manuel Joaquim Cabral Laurência Jacinta Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santa Bárbara. 01.07.1852 918 11 Manuel Joaquim da Cunha Maria José Alvará Matrimonial - O nubente viúvo de Bernardina Soares e ambos naturais de Vila do Porto. 26.04.1906 920 25 Manuel Joaquim de Figueiredo Teresa Umbelina do Coração de Jesus Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santa Bárbara. 06.09.1836 916 14 Manuel Joaquim de Morais Maria Ricarda Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Moradores na Matriz de Nossa Senhora da Assunção de Vila do Porto. 912 14 Manuel Inácio de Melo Alvará Matrimonial - O nubente natural dos Arrifes e a nubente natural Alexandrina Ricarda de Jesus de São Pedro de Ponta Delgada. vol. LIV ‘09 05.12.1826 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 9:52 AM Page 139 ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA Nome Documento ( Sumário) Data Maço Doc. Manuel Joaquim de Morais Florência Júlia Autuação de uma Petição para Atestado de Pobreza (2ºgrau de afinidade) - Moradores em Vila do Porto. 23.03.1848 916 10 Manuel Joaquim Ferreira Umbelina Micaela Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de João Inácio Ferreira e Francisca Rosa do Livramento e ela de Custódio Francisco e Rita Inácia, da Matriz. 24.10.1810 905 4 Manuel Joaquim Lopes Maria Rosa de Melo Alvará Matrimonial - Ambos naturais de Vila do Porto. 20.11.1904 920 14 Manuel José de Bairos Ana Úrsula de Chaves Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de José António de Bairos e Joana Francisca de Chaves e ela de João Inácio de Chaves e Ana Rita de Figueiredo, de Santo Espírito. 28.09.1808 906 3 Manuel José de Braga Maria Jacinta Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de António de Braga e 12.06.1824 Mariana Rosa e ela de António da Fonte Falcão e Aurélia Margarida, de Santo Espírito. 911 12 Manuel José de Chaves Bernardina de Jesus de Chaves Dispensa Matrimonial (2º e 4ºgrau de consanguinidade duplicado) - O nubente viúvo e moradores em Santo Espírito. 23.09.1834 915 9 Manuel José de Menezes Maria Eufrázia de Loura Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santo Espírito. 23.04.1858 919 12 Manuel José de Moura Maria Joaquina Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade por duas linhas) - Moradores em Santo Espírito. 08.11.1833 914 3 Manuel José de Resendes Antónia Margarida de Figueiredo Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Francisco de Resendes Soares e Gertrudes do Rosário e ela de Francisco Soares Figueiredo e Francisca Rosa, de Santa Bárbara. 12.04.1777 900 6 Manuel Monteiro Bettencourt Gamboa Maria José Monteiro Dispensa Matrimonial (1ºgrau misto de 2º de afinidade, 3º misto de 4º e 4ºgrau de consanguinidade) - O nubente viúvo e morador em Vila do Porto e a nubente moradora em São Pedro. 20.02.1852 918 8 Manuel Monteiro de Bettencourt Lucrécia Rosa Miquelina Bettencourt Autuação de Diligências para Fé de Pobreza (4ºgrau de afinidade) - Ele de Vila do Porto, ela de Santo Espírito, viúva de José Pedro. 05.06.1826 912 7 Manuel Pacheco Inácia Joaquina Autuação para Fé de Pobreza (2ºgrau de afinidade) - Ele viúvo de Bernardina Rosa, naturais de Santo Espírito e moradores em Ponta Delgada (São Sebastião). 17.10.1822 911 6 Manuel Pacheco Cabral Maria Juliana Cabral Dispensa Matrimonial (2º e 3ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Vila do Porto. 23.09.1834 915 10 [139] (ILHA DE SANTA MARIA) 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 Nome 9:52 AM Page 140 [140] Documento ( Sumário) Data Maço Doc. Mateus Duarte da Câmara Rebelo122 D. Ana Isabel da Câmara Rebelo Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Bernardo do Canto Soares de Sousa e Albuquerque e D. Umbelina Micaela da Câmara e Medeiros e ela de Luís Duarte Rebelo da Câmara e D. Ana Madalena Coutinho, da Matriz. 07.02.1816 905 12 Mateus Duarte da Câmara Rebelo123 D. Ana Isabel da Câmara Rebelo Autuação para fé de pobreza (2ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Bernardo do Canto Soares de Sousa e Albuquerque e D. Umbelina Micaela da Câmara e Medeiros e ela de Luís Duarte Rebelo da Câmara e D. Ana Madalena Coutinho, da Matriz. 01.10.1815 905 10 Matias de Andrade Margarida Bernardina de São José Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Francisco de Andrade e Bárbara Velho e ela de Félix de Resendes e Margarida de Resendes, de Santo Espírito. 01.11.1760 898 17 Narciso Jacinto Teresa Maria Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de Manuel Furtado e Clara Maria e ela de Henrique José de Sousa e Rosa Jacinta, da Matriz. 21.08.1806 905 4 Pascoal de Andrade Catarina de Jesus Dispensa Matrimonial (3º e 4ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de João de Andrade e Mariana de Resende e ela de Miguel Fernandes e Maria de Braga, de Santo Espírito. 14.05.1755 898 11 Pascoal José Ana da Victória Dispensa Matrimonial (4ºgrau duplicado de consanguinidade) - Ele filho de Francisco Velho e Antónia de Sousa e ela de Pascoal de Sousa e Catarina de Andrade, de Santo Espírito. 21.05.1777 900 7 Pedro Constantino Terra Angelina das Mercês Alvará Matrimonial - Ambos naturais de Vila do Porto. 16.08.1907 920 29 Saturnino António Puim Josefa Cândida Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de José Inácio Puim e Ana Rita do Céu e ela de João de Deus Cabral e Antónia Jacinta. 03.06.1824 911 10 Valeriano Joaquim Cabral Jacinta Cândida Dispensa Matrimonial (4ºgrau de consanguinidade) - Moradores na Matriz. 21.04.1823 911 8 30.04.1833 913 12 Victorino António de Chaves Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santo Espírito. 15.04.1828 Mariana Francisca de Chaves 913 1 Ventura José de Braga Autuação de uma Diligência para Fé de Pobreza (3º e 4ºgrau de consanguinidade) Maria Jacinta do Amor Divino Moradores em Santa Bárbara. 122 Idem, p.786. 123 Idem, p.786. vol. LIV ‘09 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 9:52 AM Page 141 ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA Nome Documento ( Sumário) Data Maço Doc. Victorino António de Resendes Maria Jacinta de Jesus Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santo Espírito. 05.11.1855 919 10 Victorino António de Resendes Maria Jacinta de Jesus Dispensa Matrimonial (2ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Santo Espírito. 10.07.1856 919 8 Victorino José de Carvalho Tomázia Joaquina Dispensa Matrimonial (3ºgrau de consanguinidade) - Ele filho de José Carvalho e Ana Francisca e ela de Tomé de Resendes e D. Rosa de Resendes, sua segunda mulher, de Santa Bárbara. 04.11.1807 905 10 Victorino Monteiro de Bettencourt D. Ana Isabel Monteiro Dispensa Matrimonial (2º e 3ºgrau de consanguinidade) - Moradores em Vila do Porto. 02.07.1834 914 9 Victorino Monteiro de Bettencourt D. Helena Augusta Taveira Miranda Galvão Alvará Matrimonial (2ºgrau de afinidade) - Ambos os nubentes viúvos e moradores 22.10.1862 em Vila do Porto. 920 10 Victorino Monteiro Soares Bettencourt D. Mariana Guilhermina Taveira Galvão Bettencourt124 Alvará Matrimonial (2º e 3ºgrau de afinidade) - O nubente viúvo de D. Inês Benedita da Câmara Monteiro e ela de José Monteiro Bettencourt. 13.04.1907 920 28 02.07.1904 920 20 Virgínio Augusto de Chaves Alvará Matrimonial - Ambos naturais de Vila do Porto. Maria Isaura de Freitas 124 Genealogias de São Miguel e Santa Maria, p.2655. [141] (ILHA DE SANTA MARIA) 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 9:52 AM Page 142 DIVERSOS Documento (Sumário) [142] Data Maço Doc. Licença para Oratório requerida por D. Antónia Laurência e seus irmãos, D. Isabel, D. Maria e Francisco Barbosa de Sousa Coutinho125 e sua mãe, D. Maria Josefa do Canto Medeiros que obtiveram licença para ter oratório das suas casas de morada no campo e desejam aprovar outro nas suas casas de Vila do Porto e como tal requerem visita no mesmo oratório para obterem licença para celebrar no mesmo. 02.05.1819 910 6 Editais de concurso para provimento nas Igrejas de Nossa Senhora da Assunção de Vila do Porto, Nossa Senhora da Purificação de Santo Espírito e de Santa Bárbara, vagas pelo falecimento dos respectivos párocos, ordenado abrir por D. Frei Estêvão de Jesus Maria, Bispo de Angra. 25.06.1848 917 11 Certidão de Óbito de D. Rita Júlia Cabral, mulher de Joaquim Soares Monteiro de Bettencourt, falecida em Santo Espírito (12.02.1895). 10.01.1907 920 27 Procuração que faz Eugénio Rosa Montes Ferreira a Manuel Teófilo Correia, morador em Vila do Porto. 23.07.1907 920 31 Procuração que faz Francisco Pacheco Cabral a António de Andrade Canejo, no Consulado Português de Boston. 15.12.1903 920 15 Procuração que faz Manuel Soares de Resendes a Manuel Joaquim de Resendes, morador em Santana. 19.09.1903 920 16 Procuração que faz o Comendador Luís de Figueiredo Lemos do Canto Corte Real126 a José Augusto Pereira, morador em Vila do Porto. 01.12.1904 920 24 Procuração que fazem João Baptista da Câmara e mulher D. Maria do Espírito Santo Correia Baptista da Câmara a Francisco Correia Sarmento e mulher D. Maria Elpídia Tavares Sarmento. 01.02.1904 920 24A Autuação de um Indulto Apostólico e Beneplácito Régio para Oratório Privado sendo requerentes o Capitão Bento Soares de Albergaria e mulher D. Margarida Soares de Albergaria e seus filhos, D. Emília, D. Francisca e Bento127. 29.05.1816 921 4 Autuação de um Indulto Apostólico e Beneplácito Régio para Oratório Privado sendo requerentes Francisco Barbosa de Sousa Coutinho e mãe, D. Maria Josefa do Canto Medeiros e suas filhas, D. Antónia Laurência, D. Isabel e D. Maria128. 20.08.1802 921 3 07.11.1793 922 4 Autuação de uma petição para redução de legados que fez José Inácio de Sousa Coutinho129, Capitão Mór, morador em Vila do Porto pelos grandes encargos que representam e o seu baixo rendimento. Refere-se aos vínculos instituídos pelo Padre Belchior Homem Barreto, Estevinha Alves, Maria Jácome de Macedo, Maria de Matos, D. Isabel de São João, Inês Fernandes, Paulo Ferreira, Jerónima Tomé, D. Francisca de Sousa Coutinho, D. Margarida de Sousa, Pedro de Sousa, Fernão Lourenço, Duarte Nunes Velho, Padre Melchior Barreto de Macedo, Madalena Afonso, Isabel de Andrade, Capitão João Soares de Sousa, D. Francisca de Menezes Pereira, mulher do Capitão Lourenço de Frias Coutinho, Vigário Manuel Fernandes, José dos Reis e por Maria Velho. 125 Idem, p.868. 128 Idem 126 Idem, p.2646. 129 Idem, p.868. 127 Idem, p.780. vol. LIV ‘09 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 9:52 AM Page 143 ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA Documento (Sumário) Data Maço Doc. 09.08.1796 922 5 Autuação de uma petição para redução de legados que fez João Manuel da Câmara, morador em Vila do Porto 12.09.1793 pelos grandes encargos que representam e o seu baixo rendimento. Refere-se aos vínculos instituídos por Gaspar Alves e mulher Francisca Gonçalves e de Ângela Velho. 922 3 Autuação de uma petição para redução de legados que fez António Francisco Coelho, representado por sua mulher D. Antónia Margarida de Medeiros, pelos grandes encargos que representam e o seu baixo rendimento. Refere-se ao vínculo instituído por Bento Dias Velho, Almoxarife do Reino em 1620. 01.08.1791 922 2 Autuação de uma petição para redução de legados que Luís Francisco Rebelo Borges de Castro131, morador na Ilha de São Miguel pelos grandes encargos que representam e o seu baixo rendimento. 25.06.1790 922 1 Requerimento para Provisão de Leandro Joaquim Ferreira que terminando em 01.10.1870 o provimento como Escrivão do Juízo Eclesiástico da Ouvidoria da Ilha de Santa Maria pede para continuar no exercício por mais um ano. 28.09.1870 923 29 Requerimento para Provisão de Manuel de Braga Carvalho, Tesoureiro da Igreja de Nossa Senhora da Purificação de Santo Espírito terminou o provimento em 01.07.1870 pedindo para continuar no exercício por mais um ano. 21.10.1870 923 30 Requerimento para Provisão de Ângelo Soares da Câmara, Vice Vigário da Paroquial de Santa Bárbara, tendo terminado o provimento pede renovação para mais um ano no exercício. 25.11.1872 923 33 Requerimento para Provisão de Francisco Joaquim de Andrade. Tesoureiro da Paroquial de Santa Bárbara pedindo provimento para mais um ano no mesmo benefício. 25.11.1872 923 32 Requerimento para Provisão de José Jacinto Ferreira Pimentel, Cura da Igreja de Santa Bárbara pedindo para continuar no mesmo benefício e nova Provisão. 23.11.1872 923 31 Requerimento para Provisão de Leandro Joaquim Ferreira, Escrivão do Juízo Eclesiástico da Ilha de Santa Maria pedindo para continuar no exercício do cargo. 15.09.1872 923 30 Provisão de Manuel Soares Ferreira provido como Tesoureiro da Igreja de Nossa Senhora da Assunção de Vila do Porto até 31.12.1876. 22.06.1876 923 36 Procuração que faz Ermelinda Amélia de Medeiros Ferreira, moradora em Vila do Porto a Jacinto Ferreira, morador em Ponta Delgada. 23.11.1879 923 37 Requerimento para Provisão de José Inácio Ferreira, Cura de São Pedro requerendo que o Bispo da Diocese tome conhecimento do seu Provimento. 23.06.1883 923 46 Autuação de uma petição para redução de legados que fez o Capitão Luís Manuel de Figueiredo Sousa Coutinho130, morador em Vila do Porto pelos grandes encargos que representam e o seu baixo rendimento. 130 Idem, p.2645. 131 Idem, p.324. [143] (ILHA DE SANTA MARIA) 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 9:52 AM Page 144 Documento (Sumário) [144] Data Maço Doc. Atestado de cumprimento de deveres do Padre José Inácio Ferreira, emitido pelo Vigário de São Pedro, José Inácio de Viveiros Melo. 21.06.1883 923 45 Requerimento do Padre José Inácio Ferreira pedindo certidão do anúncio em que passou a usar da sua primitiva firma José Inácio Ferreira. 21.06.1883 923 44 Requerimento para Provisão do Padre José António dos Santos Casanova pedindo nova Provisão para continuar a exercer como Vice Vigário da Matriz de Nossa Senhora da Assunção. 28.06.1883 923 43 Requerimento para Provisão do Padre Manuel António dos Reis, Cura da Matriz de Nossa Senhora da Assunção pedindo nova Provisão para continuar a exercer o mesmo benefício. 28.06.1883 923 42 Atestado emitido a favor do Cura Manuel António dos Reis, passado pelo Vice Vigário José António dos Santos Casanova, sobre o cumprimento de deveres e obrigações. 24.06.1883 923 41 Requerimento para Provisão do Padre Ângelo Soares da Câmara132, Vice Vigário da Paroquial de Santa Bárbara pedindo Provisão para continuar a exercer no mesmo benefício. 28.06.1883 923 40 Requerimento para Provisão de José Jacinto Ferreira Pimentel, Cura Coadjutor da Paroquial de Nossa Senhora da Purificação de Santo Espírito pedindo nova Provisão para continuar no exercício do mesmo benefício. 23.06.1883 923 39 Atestado de cumprimento de deveres e obrigações de José Jacinto Freira Pimentel, passado por Manuel Borges Diniz, Vigário da Paroquial de Nossa Senhora da Purificação de Santo Espírito. 23.06.1883 923 38 Requerimento do Padre José Maria de Melo, Cura Coadjutor da Paroquial de Santa Bárbara pedindo transferência para a Paroquial de São Pedro pelas más condições que a freguesia oferece à sua saúde. 23.04.1883 923 37 Requerimento para Provisão do Padre Manuel António dos Reis, Cura Coadjutor da Matriz pedindo provisão para continuar no exercício do mesmo benefício por mais um ano. 30.06.1884 923 53 Requerimento para Provisão do Padre Ângelo Soares da Câmara, Vice Vigário da Paroquial de Santa Bárbara pedindo nova Provisão para continuar no exercício do mesmo benefício. 28.06.1884 923 52 Requerimento para Provisão do Padre José Inácio Ferreira, Cura de São Pedro pedindo nova Provisão para continuar no exercício do mesmo benefício. 05.06.1884 923 50 Certidão de cumprimento de obrigações passada ao Padre José Inácio Ferreira pelo Vigário José Inácio de Viveiros Melo. 04.06.1884 923 51 Requerimento do Padre José Inácio Ferreira já habilitado para Pregador (20.09.1875) em que requer provimento para tal. 24.05.1884 923 48 132 Idem, p.851. vol. LIV ‘09 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 9:52 AM Page 145 ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA Documento (Sumário) Data Maço Doc. Requerimento do Padre José Inácio Ferreira pedindo certidão do anúncio em que passou a usar da sua primitiva firma José Inácio Ferreira publicado no periódico A Civilização, n.295. 21.05.1884 923 47 Requerimento para Provisão do Padre Manuel Alfredo Leal Gularte, Cura de Nossa Senhora da Purificação, tendo feito os exames de confessor e pregador requerendo Provisão para exercer os mesmos ministérios. 25.01.1887 923 54 Procuração feita no Vice-Consulado da Nação Portuguesa em Boston de Victorino Resendes de Chaves e irmã, Ana Jacinta de Chaves, moradores em Hudson aos pais, Caetano Resendes de Chaves e Bernardina Jacinta Borges, moradores em Santo Espírito. 09.11.1893 923 55 O Padre José Xavier Moreira da Câmara envia ao Escrivão da Câmara Eclesiástica da Diocese de Angra a nota de reconhecimento de José, nascido em 1877. 23.12.1893 923 56 O Escrivão Eclesiástico, Padre Bernardino Coelho de Bettencourt envia ao Bispo de Angra o mapa do movimento de casamentos relativo ao mês de Maio. 15.06.1897 923 57 Requerimento para Provisão do Padre Alfredo de Sousa Caloura, Cura Coadjutor de Santo Espírito requerendo Provisão para continuar no mesmo benefício. 27.06.1896 923 61 Atestado passado pelo Vigário Manuel Borges Diniz atestando a boa conduta do Padre Alfredo de Sousa Caloura, Cura Coadjutor de Santo Espírito. 19.06.1896 923 60 Requerimento para Provisão do Padre José Xavier Moreira da Câmara, Vice Vigário da Matriz requerendo Provisão para continuar no mesmo benefício. 03.06.1896 923 59 Atestado passado pelo Ouvidor Eclesiástico, Ângelo Soares da Câmara sobre o bom cumprimento e comportamento do Padre José Xavier Moreira da Câmara, Vice Vigário da Matriz. 19.05.1896 923 58 Requerimento para Provisão do Padre Manuel de Sousa e Silva, morador na Rua Nova em Santa Cruz da Graciosa e Cura Coadjutor da Matriz requerendo Provisão para se manter no mesmo benefício. ??.06.1896 923 63133 Atestado passado pelo Vigário Teotónio Martins Pamplona atesta o bom cumprimento e comportamento do Padre Manuel de Sousa e Silva, Cura Coadjutor na Matriz. 27.05.1896 923 62134 O Escrivão do Juízo Eclesiástico, Padre Bernardino Coelho de Bettencourt procede ao envio ao Bispo da Diocese da relação de casamentos efectuados em Fevereiro. 23.03.1897 923 64 O Escrivão do Juízo Eclesiástico, Padre Bernardino Coelho de Bettencourt procede ao envio ao Bispo da Diocese da relação de casamentos efectuados em Outubro. 24.11.1898 923 65 O Ouvidor Eclesiástico Ângelo Soares da Câmara procede ao envio ao Secretário da Câmara Eclesiástica do duplicado do registo paroquial de Santa Bárbara do ano de 1903. 15.05.1905 923 66 Requerimento do Padre José do Egipto Benevides, Cura de Nossa Senhora da Purificação pedindo licença para confessar e pregar. 27.11.1905 923 67 [145] (ILHA DE SANTA MARIA) 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 9:52 AM Page 146 Documento (Sumário) Data Maço Doc. 03.04.1907 923 68 / 69 O Padre Manuel de Melo de Sousa envia ao Escrivão da Câmara Eclesiástica de Angra três livros do Registo Paroquial da freguesia de Nossa Senhora do Bom Despacho de Santa Maria e respectivos alvarás de casamento e procurações de baptismo. 20.10.1908 923 72 O Vice-Vigário José Xavier Moreira da Câmara informa o Secretário da Câmara Eclesiástica que afixou no portão da Igreja edital que acompanha o ofício de 09.09. 11.10.1908 923 71 O Ouvidor Eclesiástico, Padre Ângelo Soares da Câmara envia ao Vigário Geral do Bispado os livros do Registo Paroquial de Santa Bárbara relativos ao ano de 1907. 18.05.1908 923 70 Procuração que faz no Consulado Geral de Portugal em São Francisco, Manuel Cabral de Loura, morador em Oakland a seu pai, António Cabral de Loura, morador em Santo Espírito. 09.11.1909 923 73 O Padre Joaquim de Chaves Cabral, Pároco de Nossa Senhora da Purificação requer para ser transferido para a paróquia de Nossa Senhora da Assunção por motivos de saúde. 18.04.1923 923 74 O Padre Frederico Vieira Fernandes, pároco de Santa Bárbara, requer para continuar no mesmo benefício. 31.05.1923 923 76 O Padre Virgínio Lopes Tavares, pároco de São Pedro, para exercer munus de pregação, requer a necessária jurisdição. 05.05.1923 923 75 Edital para concurso pelo prazo de quatro meses para a Vigararia de Santa Bárbara por óbito do Padre Inácio Manuel de Andrade. 20.09.1815 923 7 Autos para naturalização de Manuel António Teixeira Pinto Garcia de Medeiros, natural de São Julião de Setúbal e morador em Vila do Porto para onde veio com a idade de quatro anos com seus pais, o Dr. António Duarte de Medeiros e D. Maria Inocência Teixeira Pinto. 18.11.1819 923 8 Cópia dos autos de sumário sobre o arrombamento de uns ralos aramados da janela do Recolhimento de Santa Maria Madalena a que procedeu o Ouvidor Eclesiástico da Ilha. 07.12.1824 923 12 Cópia dos autos de inventário a que o Ouvidor da Ilha de Santa Maria mandou proceder no Convento suprimido de Nossa Senhora da Vitória de que é guardião o Padre Mestre Frei João Evangelista. 22.10.1833 923 13 Relação das Paróquias da Ouvidoria da Ilha de Santa Maria e de suas respectivas circunstâncias assinada pelo Ouvidor Eclesiástico Bernardino José Toledo. 22.05.1837 923 14 Relação das freguesias da Ouvidoria, dos empregados eclesiásticos delas, do rendimento anual e outros dados, assinada pelo Ouvidor Eclesiástico Bernardino José Toledo. 03.06.1836 923 15 Relação dos Egressos na Ouvidoria da Ilha de Santa Maria assinada pelo Ouvidor Eclesiástico Bernardino José Toledo. 08.08.1838 923 13 Instrumento de procuração especial que fez José Figueiredo dos Reis, morador em Taunton, a Victorino Augusto de Carvalho, no Consulado de Fall River. [146] vol. LIV ‘09 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 9:52 AM Page 147 ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA Documento (Sumário) Data Maço Doc. Tabela de Emolumentos dos Empregados da Matriz assinada pelo Ouvidor Bernardino José Toledo. 23.09.1839 923 17 Tabela de Emolumentos dos Empregados da Matriz assinada pelo Ouvidor Bernardino José Toledo. 24.09.1839 923 16 Relação dos Emolumentos que levam os empregados eclesiásticos da Igreja Paroquial de São Pedro, assinada pelo Ouvidor Bernardino José Toledo. 03.10.1839 923 19 Relação dos Eclesiásticos Seculares residentes na Ouvidoria Eclesiástica da Ilha. 02.01.1844 923 20 Requerimento de Constância Tomázia, filha de Inácio Joaquim Cabral e Florinda Jacinta Teodora, para entrar como noviça no Mosteiro de Nossa Senhora da Conceição de Ponta Delgada. 28.06.1820 923 9 Relação dos Emolumentos que percebem os empregados eclesiásticos na paróquia de Santa Bárbara, assinada pelo Vigário José António Soares Coutinho. s.d 923 10 Cópia da Escritura Patrimonial do Reverendo José António do Rego Coutinho (30.05.1786), filho de António do Rego Sousa Coutinho e D. Inácia Rosa Coutinho que o dotaram. 24.12.1823 923 11 O Padre Raulino Soares Monteiro, requer provisão para continuar como Cura de São Pedro. 18.02.1870 923 28 O Padre António Silveira Ávila Furtado, Vigário da Matriz requer para ser substituído por motivos de saúde. 04.03.1893 923 58 António Coelho de Melo e Jacinta da Encarnação Cabral, da Matriz, requerem para ser passado alvará matrimonial. 18.03.1893 923 59 O Cura José Xavier Moreira da Câmara atesta não haver impedimento para o casamento de António Coelho de Melo e Jacinta da Encarnação Cabral. 18.03.1893 923 60 O Padre João Bento Sampaio, Cura Coadjutor da Matriz por Provisão de 11.03.1893, pede licença para benzer objectos de culto particular e faculdade para habilitar ao tribunal da penitência os cônjuges incestuosos. 15.03.1893 923 61 Homilia e respostas do Padre Manuel Soares de Figueiredo por ocasião do concurso à Igreja de São Pedro, feito em Ponta Delgada. 23.11.1846 923 21 Exposição de Luís Jacinto de Andrade sobre o Recolhimento de Santa Maria Madalena pela denúncia do escândalo cometido por António Lúcio Pinto por ter amizade ilícita no mesmo com uma das recolhidas. 04.06.1851 923 26 Homilia e respostas do Padre Manuel de Santa Rita por ocasião do concurso à Matriz de Vila do Porto, realizado 04.02.1881 em Ponta Delgada. 923 22 a 26 Requerimento para alvará de erecção de Altar e Irmandade feito por António Caetano do Rego, Presbítero Secular e outros devotos que obtiveram licença para fazer e construir o altar de Nossa Senhora das Dores na Igreja do recolhimento de Santa Maria Madalena ou erigir a Irmandade das Sete Dores da Senhora. 23.08.1794 923 6 Auto da petição que faz Francisca das Candeias, viúva de Manuel de Andrade e seus filhos, José de Andrade e Manuel de Andrade ao Reverendo António Soares de Sousa, da freguesia de São Pedro, relativo a uma propriedade na Trevina na mesma freguesia. 10.10.1767 923 5 [147] (ILHA DE SANTA MARIA) 8.CH_Mitra_FilipeCampos 8/17/10 9:52 AM Page 148 Documento (Sumário) Data Maço Doc. Autuação inquisitória que mandou fazer o Reverendo Ouvidor João Lopes Correia contra as recolhidas de Santa Maria Madalena por lançarem fora por terra dele Isabel de Jesus. 20.12.1698 923 3 Autos de sumário contra as recolhidas de Santa Maria Madalena feitos por ordem do Bispo D. António Vieira Leitão, para observância dos estatutos do Recolhimento. 07.10.1698 923 2 Petição para levantar a Ermida de Nossa Senhora da Saúde a requerimento do Capitão Donatário Brás Luís de Sousa, Fidalgo da Casa de Sua Majestade, no sítio do Paúl onde tinha seus aposentos que assistia de Verão e que se situavam muito distantes da Igreja Paroquial. 13.06.1687 923 1 Auto de perguntas feitas a Francisco Martins, oficial de ferreiro, preso nas cadeias da vila, filho de Manuel Faleiro 20.09.1723 e de Maria dos Remédios por ter prometido casamento a Maria dos Remédios, filha de Manuel Vieira Carreiro. 923 4 [148] vol. LIV ‘09 9.CH_Hist. Açores_EugénioSantos 8/17/10 9:44 AM Page 149 Eugénio dos Santos Graciosa Flores São Jorge Terceira Faial Pico São Miguel Santa Maria Em Dezembro de 2008, fui contactado pelo ilustre açoriano, meu colega e amigo de longa data, Artur Teodoro de Matos, para saber da minha disponibilidade em aceitar um convite, que em caso afirmativo, se oficializaria. O desafio consistia em apresentar especialmente a eruditos, mas também ao público interessado, em geral, uma História dos Açores, que, então, ainda se encontrava no prelo. À surpresa do convite e após alguns esclarecimentos, seguiu-se a aceitação da minha parte, motivada por uma enorme estima e ligação que me aproxima do Teodoro de Matos e dos Açores, há precisamente 30 anos. A minha anuência abriu caminho ao convite formal por parte do Instituto Açoriano de Cultura, na pessoa do ilustre presidente da sua direcção Jorge Paulus Bruno. Tudo, a partir de então, se conjugou para que hoje me fosse oferecida a subida honra e o privilégio de partilhar convosco estes momentos de alegre convívio intelectual, de sã fraternidade lusitana, assentes no cultivo metódico e rigoroso da fruição da ciência e na constatação eufórica de que, havendo projectos, de largo espectro e inegável valor, se transpõem obstáculos e se conseguem os meios materiais indispensáveis à sua execução. Parabéns a quem teve a ideia de executar tal obra e louvores acrescidos a quem a concretizou. Eis-me aqui no desempenho dessa incumbência. Procuremos, então, desvendar-lhes os conteúdos. [149] Corvo 9.CH_Hist. Açores_EugénioSantos 8/17/10 9:44 AM Page 150 [150] A História dos Açores, do descobrimento ao século XX é composta por dois grossos volumes. O 1.º alarga-se a 670 páginas, nestas se incluindo, além da apresentação e do prefácio, textos dos vários autores, uma lista destes e um índice geral. O livro compõe-se de três partes, sendo cada uma destas dividida em capítulos. A 1.ª abarca o tempo decorrido entre 1450 e 1642; a 2.ª, aquele que se alargou de 1642 a 1766 e a 3.ª, de 1766 a 1836. Como se intui pela cronologia, a 1.ª parte contempla quase os dois primeiros séculos do arranque da vida açoriana (192 anos); a 2.ª, cerca de um século e um quarto (124 anos precisamente) e a 3.ª apenas 70 anos. Além desta diferença de durações históricas assumidas, há ainda que atender aos subtítulos de cada parte. Tudo se inicia, como seria de esperar, pela génese e afirmação de uma nova sociedade, continua pela constatação de um período de estagnação e desinteresse, culminando na tentativa de provar que o poder político português tentou unir para dominar, criando uma forte centralidade administrativa entre o despotismo esclarecido pombalino e o triunfo do liberalismo. vol. LIV ‘09 O 2.º volume alarga-se a 766 páginas, nestas se incluindo também três partes, além de um conjunto de dados relevantíssimos para o leitor, sobretudo se ele estiver menos familiarizado com a história açoriana. Nestes se incluem a lista dos governantes dos Açores, desde o infante D. Henrique até ao VIII governo regional, liderado por Carlos César e empossado em 2004, uma bibliografia extensíssima e específica, utilíssima a quem pretender avançar mais num ponto ou noutro, uma lista das abreviaturas usadas, um índice analítico e, finalmente, uma lista dos autores, bem como um índice geral. Este 2.º volume compõe-se igualmente de três partes, a saber: a 1.ª, que aborda o período compreendido entre 1836 e 1895; a 2.ª, que se espraia de 1895 a 1976; a 3.ª, que cobre os anos de 1976 a 2000, precisamente o final do século XX. Em termos de cronologia, constata-se que a 1.ª parte deste volume se reduz a 59 anos de duração, a 2.ª já se alarga a 81 e a última não vai além dos 24 anos de abrangência. Como sucedeu em relação ao 1.º volume, também aqui cada parte se apresenta 9.CH_Hist. Açores_EugénioSantos 8/17/10 9:44 AM Page 151 HISTÓRIA DOS AÇORES DO DESCOBRIMENTO AO SÉCULO XX Passemos a outro patamar de análise, também importante. Na apresentação ao leitor, o presidente da direcção do IAC refere que o objectivo desta obra é “abordar e problematizar o tempo contemporâneo, e fixar sínteses em relação a determinadas áreas da cultura açoriana”. Se esse foi o escopo final do empreendimento, ele parece ter sido completamente atingido, por duas razões essenciais: A 1.ª é que qualquer história, seja de que época for, se deve considerar sempre contemporânea porque cada autor coloca sempre ao passado, que analisa, a sua própria problemática, verte-a na sua linguagem, escolhe os seus meios de observação, deixa transparecer os seus valores e as questões que o preocupam; a 2.ª, porque, mesmo tendo em conta que o conceito de cultura é vasto e cada vez mais discutível, não há dúvida de que a cultura açoriana, através desta notabilíssima síntese, sai enriquecida, clarificada, dir-se-ia que mais dignificada, se tal se pode afirmar. O autor do prefácio escreveu que “Porventura, a partir de agora torna-se mais fácil escrever uma síntese histórica dos Açores” para aqueles aos quais costumamos chamar o grande público. Permito-me duvidar num ponto: quem se atreverá a tentar uma síntese séria, curta e científica a partir desta notabilíssima análise, subscrita por tantos e tão ilustres autores, sem que se não perca a riqueza dessa análise e a sua força provativa? É que não vejo nela um único fio condutor, mas múltiplos e até métodos diversos de abordagem. Sobre os mesmos assuntos, há leituras diversas e, às vezes, quase divergentes. Isso até enriquece o trabalho. Mas possibilitará tal síntese, a curto prazo? O tempo o dirá. Após a apresentação, há um prefácio e este subscrito por três nomes que, pelo seu perfil humano regional e científico, merecem o maior respeito e atenção. São eles os rostos da direcção científica desta obra. Creio que ninguém ousaria discutir a sua craveira e a sua legitimidade para, numa rápida síntese, enquadrarem este empreendimento intelectual como uma espécie de coroamento de várias tentativas anteriores, todas elas insuficientes e distantes daquilo que se exige hoje a autores rigorosos e obedecendo a métodos modernos, seja pela sua óptica demasiado regionalista e acrítica, seja pela sua incapacidade para abarcar, com segurança, domínios múltiplos e de grande especialização, seja pelo tempo em que se situaram. A que distância incomensurável nos encontramos da História Insulana do Padre Cordeiro e das Saudades da Terra de Gaspar Frutuoso! Teodoro de Matos, Avelino Meneses e Reis Leite tiveram claramente consciência de que a identidade açoriana só pode ser explicável e entendida num contexto mais vasto e ambicioso, tanto local, como nacional atlântico e ainda universal, embora este na óptica da chamada cultura ocidental, incluindo, pelo menos, as Américas. A proximidade e, inversamente, a distância de outros mundos fizeram dos Açores um universo próximo e simultaneamente distante dos que lhe são referência, tanto pela positiva, como pela negativa. Ademais, os directores científicos tiveram ainda a coragem de afirmarem que “O presente plano de trabalho foi concebido na óptica de um ilhéu, que, sem ressentimento ou revolta, mas também sem ufanismos distorcidos, ou patriotismos exacerbados, analisa, de uma perspectiva local, a evolução histórica das ilhas… sem esquecer o seu enquadramento”. Ora esta postura parece-me fundamental para se poder seguir os textos de cada autor, entendendo a sua fundamentação última, trate-se de naturais das ilhas ou daqueles que se interessaram por perscrutar as características, o pensamento e a sensibilidade dos ilhéus, olhando-os a partir de fora, como é, por exemplo, o meu caso. Registo, com particular agrado, o que todos os directores subscreveram, a propósito dos materiais que os autores usaram: “Por eles perpassam os nossos teres e haveres, as carências e misérias, os contentamentos e prazeres, mas também as mágoas e ansiedades, as liberdades, as tiranias e os vexames, e ainda a coragem, a ousadia, o [151] com um sub-título. Ei-los: A liberdade e os proveitos, entre 1836 e 1895; Monarquia, República e Estado Novo… de 1895 a 1976 e, finalmente, O triunfo da autonomia (1976-2000). Com uma quantidade e também variedade muito maior de informação e de opções de escolha não surpreende que, para muito menor período de tempo, se dediquem a este período ainda mais páginas. Como balanço da distribuição das matérias abordadas e da sua envolvência, em termos de extensão e profundidade de análise, a obra afigura-se-nos equilibrada e de aspecto visual atraente, sendo a sua mancha gráfica perfeitamente aceitável, ficando, pois, a coberto das críticas tão frequentes, que sobre essa matéria abundam. Fica, deste modo, descrita, no plano da concepção e da execução, esta História dos Açores, que exibe a data de 2008. 9.CH_Hist. Açores_EugénioSantos 8/17/10 9:44 AM Page 152 [152] acatamento e a sujeição. Neles se inscreveram os poderes que nos governam e de como o fizeram, mas também as querelas e queixas locais, regionais ou nacionais. Nos registos de contabilidade procurou-se o quanto se arrecadava nos almoxarifados e o escasso proveito dos insulares, mas também a sua generosidade para com os outros ou para quem os socorreu em ocasião de desespero. Neles está ainda contida a bondade, persistência e arrojo dos nossos antigos, para amparar os munícipes atirados ao infortúnio da vida”. A citação é longa, reconheço, mas sintetiza, de modo perfeito, tudo o que perpassa nas páginas, ora quentes e apaixonadas, ora frias e quase esquemáticas, ou predominantemente narrativas, dos vários autores. Sem que tudo fique clarificado daqui em diante, (essa veleidade seria uma estultícia) esta História transformou-se já num marco inquestionável. Tudo o que vier a seguir-se, projectando luz sobre o passado açoriano, terá que ancorar-se naquilo que aqui fica escrito, seja para o aceitar e prosseguir, seja para o discutir e tentar avançar ainda para mais longe. Com saudade, lembro e homenageio aqui o perfil da Dr.ª Maria Olímpia Rocha Gil que exultaria de alegria se aqui estivesse hoje. Tenho a certeza de que estes directores científicos serão recordados pelos tempos fora, dentro e fora das suas fronteiras, sejam estas, das ilhas, do país, da Europa e do Mundo, por terem encabeçado uma realização que não tem paralelo, que eu saiba, a nível nacional. Com efeito, que outra região natural do país se pode orgulhar de possuir uma história que se alargue desde os fundamentos mais remotos, iniciando-se pela geografia física e o primitivo povoamento, até ao balanço sobre o que já conseguiu propor às suas gentes a novíssima e já prestigiada Universidade dos Açores? Desconheço outra qualquer. E os promotores não se satisfazem em ficar por aqui. Como afirmam, ao parafrasear José de Torres, querem continuar a mostrar o “grau de interessante originalidade” dos Açores. Enfatizei a direcção técnica da obra. Os seus membros incluem-se também nos autores, fornecendo, todos eles, aliás, contributos de inegável originalidade. Mas refiramo-nos também aos demais, os verdadeiros construtores desta obra colectiva. Contam-se eles todos, em conjunto, em número de trinta. E, com enorme agrado, constato que a maioria é originária, ou vive há tempos, nos Açores, que se tornam, neste caso, a sua terra de adopção, definitiva ou temporal. Como muitos dos que me ouvem saberão, fui um daqueles professovol. LIV ‘09 res do continente que, por ter vindo regularmente à Universidade dos Açores, a Ponta Delgada, a partir dos finais dos anos 70, pude assistir ao seu crescimento, lento, mas seguro, desde os primeiros tempos. Recordo as condições em que trabalhávamos, a seriedade com que os responsáveis do departamento (não cito sequer os nomes) encaravam o futuro, apelando constantemente à investigação e à actualização, a alegria com que a esmagadora maioria dos então alunos nos ouvia, acompanhava, questionava, seguia as nossas sugestões. Foi, a partir de então, que percebi que havia uma sistemática recolha de dados e de fontes da história açoriana, muitas das quais eu desconhecia por completo. Para algumas, confesso, nem sequer me encontrava sensibilizado. Dou, como exemplo, as fontes autárquicas dos aglomerados mais pequenos e remotos ou, mesmo, as notariais, às quais, até então, poucos haviam atendido correctamente. O resultado desse entusiasmo e desse labor, está aqui fortemente representado. Como professor de tantos e tão ilustres alunos, sinto-me hoje também em festa, compartilhando com eles a certeza de que cumprimos o nosso dever, cada um a seu modo (permitam-me que homenageie as pessoas dos primeiros cursos, cumprimentando-as a todas na pessoa de uma das mais ilustres, o actual Reitor da Universidade – Prof. Doutor Avelino Meneses). Sem um aturado e minucioso levantamento e tratamento de fontes, ditas primárias, esta História não podia ter sido escrita. E nisto a Universidade dos Açores forneceu a âncora indispensável a seguir nesta viagem ao longo do tempo. É justo lembrá-lo. Referir-me a todos os autores, um a um, avaliando o que me parece ter sido o seu contributo mais marcante, mesmo para aqueles que escreveram vários ensaios (e não são poucos), torna-se impossível, em espaço tão curto. Talvez nem sequer fosse desejável. Perdoar-me-á algum que se sinta frustrado na sua expectativa. Genericamente (e todas as generalizações na historiografia se tornam inadequadas, injustas e até perigosas) referirei que salta à vista e à mente de qualquer leitor o elevadíssimo nível da esmagadora maioria dos trabalhos. Todos diferentes, todos iguais, na óptica de procurar trazer ao leitor a última palavra (ou juízo) sobre o tema em análise. As idades de uns e de outros condicionaram, como não poderia deixar de suceder, as suas perspectivas e realizações. Há aqui trabalhos de investigadores maduros, com largas provas dadas e outros 9.CH_Hist. Açores_EugénioSantos 8/17/10 9:44 AM Page 153 HISTÓRIA DOS AÇORES DO DESCOBRIMENTO AO SÉCULO XX Porém, ser-me-á permitido ir um pouco mais longe quanto a este aspecto. Para um leitor não especializado em matérias como a geografia, por cuja área (e muito bem) começa esta História, é impossível emitir qualquer juízo fundado e credível, embora o ensaio inicial me pareça muito esclarecedor. Porém, ao avançar para a parte I, do 1.º volume, já me é quase exigido um apontamento crítico. Faço-o com gosto e convicção. Há um domínio sobre o qual ainda paira alguma nebulosidade: aquele que se refere ao descobrimento, encontro ou achamento das várias ilhas. Apesar de todo o esforço e aparato crítico, as nuvens não se dissiparam ainda totalmente. E esta obra ajuda a problematizar continuamente. Porém, no que tange ao povoamento, às formas de organização do espaço, aos recursos materiais disponíveis, à organização da Igreja e à sua acção, diríamos que será difícil (e arriscado), ao menos a curto prazo, ir mais além: erudição, convicção, dados encadeados e discursos escorreitos, nada foi negligenciado, nem deixado ao acaso. O leitor sente que não seria possível, ao menos por agora, ir mais longe. Ao contemplar-se a posição geográfica dos Açores, desde logo se intui a sua posição estratégica, como lugar de escalas oceânicas, como fortaleza e como guarda avançada, que tantos proventos e prestígio trouxeram à Coroa, tantas vezes à custa dos sacrifícios dos naturais, o que o estudo aqui inserido prova à sociedade. Reforça-se esse papel de impacto quando se analisa o período à roda de 1580 e se atende ao olhar da coroa espanhola sobre o arquipélago. E não deixa de ser esclarecedor que o tempo que se alargou entre 1642 e 1766 possa e deva ser considerado como uma época de algum abandono e desinteresse por parte dos poderes públicos, exactamente após a recuperação da independência face a Espanha (ao menos, de facto), coincidindo isso mesmo com a progressiva subida da importância política, económica e até estratégica do espaço brasileiro. Nem o recurso a novas culturas conseguiu dinamizar suficientemente os fluxos açorianos, internos e externos, contribuindo para a persistência de formas arcaizantes de poder, como aqui se prova inequivocamente. Asseguram-no os estudos que abordam as representações sociais dos ilhéus e a respectiva organização autárquica e militar, face aos poderes régios. As manifestações de cultura, bem como a forma como a Igreja conseguiu ir-se impondo, influenciando sensibilidades, práticas e comportamentos, colocam, em paralelo, continente e ilhas, mostrando como ambos podem seguir rumos idênticos, ou divergentes, tendo em conta espaços que a natureza e os homens tornaram mais fechados ou mais vulneráveis aos contactos vindos do exterior. Os vários estudos contidos na parte III, do 1.º volume, referentes ao período de 1766-1836, parecem-me demonstrar que foi então que, verdadeiramente, apesar de algumas violências, as ilhas açóricas arrancaram para a consciência de uma modernidade assumida e plena de pujança. Não quero deixar de mencionar aqui o valiosíssimo contributo de alguns historiadores muito jovens que, como quase todos os demais autores, olharam minuciosamente para o espaço de cada ilha, a estudaram por si, inserindo-a, depois, num conjunto mais amplo de que ela fazia parte. Refiro-me à persistência e aos arrojos das novas estruturas do poder, aos novos rumos da economia, sempre pronta a inventar soluções diferentes, bem como às respectivas finanças e moeda, aos comportamentos e movimentos da população, às movimentações das elites sociais, à emergência de novas formas de mentalidade e às rupturas, que sempre daí derivam e que marcariam os inícios de uma nova era nas margens e também no coração do Atlântico. Uma outra perspectiva se abriu aos açorianos e ao seu território na sequência da revolução liberal e do papel primordial que nela assumiu o arquipélago, na sua fase crucial. Refiro-me ao tempo imediatamente antes, durante e depois da estadia do Duque de Bragança, o Rei D. Pedro IV, no seu território. A monarquia constitucional, que se lhe seguiu, parece ter ficado com a consciência pesada quanto à menor atenção que os seus antepassados monarcas votaram ao povo ilhéu. Por isso tentou novas formas de enquadramento político-institucional, quase sempre mal sucedidas, por desconhecimento da realidade concreta a que se destinavam. Mas tentou-se, ao menos. [153] de jovens com menos experiência e ainda em formação. Contudo, nunca se desceu a níveis menos aconselháveis. Pelo contrário, regra geral, ele é bom, óptimo e até chega a atingir o excelente, aqui e ali. 9.CH_Hist. Açores_EugénioSantos 8/17/10 9:44 AM Page 154 E, de facto, o século XIX lançou os Açores para outros e mais proveitosos rumos, como mostram eloquentemente estudos a tal dedicados. Ora isso ajudou a dinamizar rotas e fluxos humanos e económicos, a agitar rotinas demográficas e modificar-lhes comportamentos, a criar uma progressiva consciência de identidade própria, balanceada por uma maior e crescente circulação de ideias, de livros, de publicações, de associações, de artes, ficando-se cada vez mais longe da tradicional cultura afunilada de base eclesiástica. [154] Ao aproximar-se o fim da monarquia constitucional as aspirações dos açorianos haviam-se guindado a exigências cada vez maiores, às quais o governo central raríssimamente conseguia responder, tanto por ignorância, quanto por incapacidade de assumir medidas de fundo. Desse modo, foram-se transmitindo ilusões, foi-se procurando remediar situações herdadas, mas nenhuma alteração verdadeiramente global ocorreu. Persistiam a pobreza, o divisionismo, a miragem, através da adopção de soluções apenas paliativas, jamais verdadeiramente inovadoras. Novos rumos desafiavam os descontentes que olhavam o Oceano como o único caminho para um futuro risonho e seguro. Por isso, eles continuavam a emigrar. Chegaria, porém, o tempo em que o arquipélago se haveria de tornar também em zona de atracção de homens. De emigrar se passou a constatar a imigração em solo açoriano. No horizonte, mais atenta e desperta para o seu ministério, desde os meados do século XX, se empenhava a Igreja em encontrar saídas mais conscientes e eticamente mais fraternas. As grandes mudanças ocorridas, designadamente a nível político-institucional, implementar-se-ão apenas a partir de 1976, como mostram os clarificadores estudos insertos na parte VI, do 2º volume. Quem a não ler, dificilmente poderá entender os Açores de hoje. vol. LIV ‘09 Concluindo… A História que hoje se apresenta constitui um notabilíssimo trabalho, sem paralelo, a nível nacional. Para entender os Açores de ontem, de hoje e, quiçá, de amanhã é indispensável lê-la, reflectir sobre ela, entendê-la. Fruto de um constante, metódico e bem direccionado trabalho do núcleo forte da sua universidade, de outrora e de hoje, ela enriquece pela sua diversidade e pelo seu paralelismo, a cultura nacional. Se ainda fosse necessário provar que existe uma elite jovem, bem preparada, científica e tecnicamente, para tomar o futuro conscientemente nas suas mãos para o bem dos Açores, a leitura desta História seria o argumento decisivo e dissipador de dúvidas. Nem todos os autores são açorianos, é certo. Mas todos, que aqui constam, reflectiram sobre a matéria, problematizaram temas, foram aduzindo respostas. Todos exibem qualidade, embora em graus diferenciados, como seria inevitável em obra colectiva, atingindo a esmagadora maioria um alto grau de cientificidade e de rigor a toda a prova. As instituições açorianas podem (e devem) orgulhar-se dos quadros que foram conseguindo formar e de que se vão servindo quando os entendem úteis e necessários. Se a açorianidade é um traço marcante de quem nasceu nas ilhas húmidas e enevoadas do Atlântico Norte, entre a Europa, a África e a Terra Nova, ela espelha-se aqui, sente-se na escrita e também nos silêncios da maioria dos autores. Traduz-se numa espécie de consciência de que ser apenas português não basta. Faltam a dimensão da sua ilha, o seu odor, o seu horizonte, o seu mar… 10.CH_MGMonteiro_LArruda 8/17/10 9:59 AM Page 155 Luís M. Arruda SOBRE MANUEL GARCIA MONTEIRO Em 2009 cumprem-se 150 anos sobre o nascimento de Garcia Monteiro e sobre a publicação da obra de Charles Darwin (1809-1882) On the origin of species by means of natural selection, or the preservation of favoured races in the struggle for life tida, geralmente, como fundamento da denominada Teoria da Evolução ou Evolucionismo que inspirou a escola literária naturalista. Estas efemérides proporcionaram o aparecimento deste artigo geralmente monográfico e de divulgação, onde a biografia de Monteiro é abordada de modo sucinto e são recolhidas opiniões de vários autores sobre a sua obra, aqui também vista na perspectiva daquela escola literária. BIOGRAFIA SUCINTA Manuel Garcia Monteiro [foto de autor desconhecido] INTRODUÇÃO Na Horta, na segunda metade do século XIX, mas de modo ainda mais evidenciado nas duas décadas terminais, aconteceu conviver um grupo de personalidades (novelistas, historiógrafos, dramaturgos, ensaístas, polemistas e poetas) que deixou obra feita nessas diferentes áreas da literatura. Em geral viveram naquela cidade e aí formaram o seu espírito. Porém, algumas delas tiveram possibilidade de contactar individualidades destacadas das letras portuguesas fora daquela, entre as quais se conta Manuel Garcia Monteiro que foi poeta, jornalista e um dos receptores da Teoria da Evolução naquela cidade. Segundo o Registo de baptismos da Matriz da Horta, Manuel Garcia Monteiro nasceu nesta freguesia a 29 de Junho de 1859, no n.º 39 da então denominada Rua do Mercado, hoje Serpa Pinto, filho de José Leal Monteiro e de Maria Joaquina da Piedade. Viria a morrer em Boston, Estados Unidos da América, a 7 de Fevereiro de 1913. Terminados os estudos no Liceu da Horta, onde foi matriculado no ano 1871, impedido de continuar devido a dificuldades financeiras, foi funcionário público, amanuense da Câmara1, e 1 Em carta a Henrique das Neves, publicada em O Açoriano, n.º 44, 9.5.1886, Garcia Monteiro escreveu: «[...] pouco mais tinha que fazer do que o Deus Guarde e dobrar a espinha perante os vereadores.». [155] NO TRICINQUENTENÁRIO DO SEU NASCIMENTO 10.CH_MGMonteiro_LArruda 8/17/10 9:59 AM Page 156 também jornalista, pelo menos como redactor do semanário satírico, burlesco, crítico e noticioso O Passatempo2. O desejo de continuar a estudar na Escola Politécnica e a obtenção de um lugar de prefeito no Colégio Luso-Germânico3, em Lisboa, fizeram-no seguir para esta cidade, em 1882. Em Lisboa, Garcia Monteiro relacionou-se com vários intelectuais, entre eles Fialho de Almeida4 que, no Diário da Manhã, de 4 de Maio de 1885, o descreveu como «um açoriano dos mais vivos, e um dos mais delicados espíritos que temos conhecido» [...] «uma compleição de linfático, contemplativa, branca, cheia de finuras inéditas, e graças juvenis». «O sarcasmo, que era uma das suas feições de mais relevo, ocultava-o ele, como a lâmina de um estilete florentino, em bainhas ou frases de cinzelura surpreendente.». [156] «Nunca dizia a um tolo que detestasse, a cruel palavra desdenhosa, eriçada de nervosismo, que nos cria um inimigo para a vida e para a morte. E a comiseração ante as crianças rotas que nos vinham pedir esmola ao Martinho, noite feita, era tão boa, que jamais pudemos convencê-lo da perfeita inutilidade dele socorrer aqueles jovens desgraçados, que a família enviava à exploração da nossa fé.». Ainda segundo Fialho de Almeida: «A cidade [de Lisboa], porém, não logrou inspirar-lhe simpatias; as ruas entonteciam-no pelo tohu bohu constante das carruagens e dos transeuntes; os altos prédios da baixa, em cujas águas-furtadas ele se via forçado a residir, mercê dos seus recursos parcos de estudante, faziam-lhe vertigens e enchiam-lhe as noites de pesadelos.»5. No ano seguinte Garcia Monteiro regressou à Horta, onde se fez tipógrafo, montou e editou O Açoriano6 (1883), impresso num Marinoni, o primeiro prelo rotativo que houve nesta cidade. Era na redacção deste jornal sita no n.º 35 da Rua do Mercado, onde funcionava também a Tipografia Guttenberg, que, à noite, se reunia com os amigos Florêncio Terra (1858-1941), Manuel Joaquim Dias (1852-1930) e Manuel Zerbone Júnior (1856-1905) e ainda, por cerca de seis meses, com Henrique das Neves (1841-1915)7, com quem mais tarde se havia de cartear8. Em Julho de 1884, a bordo da barca Verónica, Garcia Monteiro partiu para os Estados Unidos da América, desembarcando em vol. LIV ‘09 New Bedford, após 40 dias de viagem. Foi convidado a redigir um novo periódico de língua portuguesa, o Luso - Americano, que chegou a adquirir, mas, tendo verificado a inviabilidade daquele projecto, tornou-se empregado, como tipógrafo, do 2 Jornal de que foi publicado o primeiro número em 27.4.1874, na cidade da Horta. Foi impresso na Typ. Fayalense. 3 Segundo anúncio publicado no jornal hortense A Regeneração, este colégio instalado no palácio do conde de Cabral, irmão de Costa Cabral, num vasto edifício, situado num dos lugares mais higiénicos e agradáveis de Lisboa, na rua do Prior [do Crato], a Buenos Aires [zona da Lapa], tinha como directores Francisco Pedro Brou e Mont’Alverne de Sequeira. Estava organizado segundo os então novos planos de ensino adoptados em Portugal e no estrangeiro. Mais, acompanhava o movimento intelectual moderno e empenhava-se no completo desenvolvimento mental e físico dos alunos. Dispunha de salas para diferentes aulas, camaratas e enfermarias, e as melhores acomodações para pensionistas. Gil Mont’Alverne Sequeira (1859-1931) estudou no Liceu da Horta em 1878/1879. Nesta ocasião iniciou-se como publicista, fazendo sair nos periódicos locais O Balão e O Civilizador diversos artigos. Depois mudou-se para o Porto e, mais tarde, para Lisboa. Assim, deverá ter-se relacionado com Garcia Monteiro, primeiro, na Horta, e depois em Lisboa. 4 Escritor pós-romântico, o seu estilo literário, irregular, foi pautado pelo Naturalismo, procurando sensações fortes no real. Os seus temas foram principalmente a cidade e o campo. 5 Almeida, F. (1885), Garcia Monteiro. Diário da Manhã, Lisboa, 4.5. In Neves, H. (1910), Individualidades: traços caracteristicos, episodios e anedoctas authenticas de individuos que se evidenciaram. Lisboa, Parceria A. M. Pereira, 57. 6 Jornal semanário noticioso que começou a ser publicado em 09.09.1883. No primeiro número, Manuel Garcia Monteiro explica porque o edita. «Este jornal publica-se afinal por uma razão muito simples: muitos gostam de possuir a sua casa, como muita gente que escreve gosta de ter o seu jornal». 7 Henrique José das Neves, militar do Exército, adepto da Teoria da Evolução, foi, em 1886, comandante militar, interino, do Comando Ocidental dos Açores, na Horta. Antes, entre 1883 e 1884, havia estado nesta cidade tendo então oportunidade de publicar n’O Açoriano um conjunto de 6 textos, com o título genérico «Notas cómicas», cujo humor, em prosa, faz lembrar aquele da poesia de Garcia Monteiro (cf. Enciclopédia Açoriana, Neves, Henrique José das). Difundiu na Horta o culto pela poesia de Cesário Verde (cf. Silveira, P. (1998), Sobre a Horta como centro literário: uma proposta de estudo. In O Faial e a periferia açoriana nos séculos XV a XX, Actas do II colóquio, Horta, Núcleo Cultural da Horta, 597-602). 8 Neves, H. (1910), op. cit.. 8/17/10 9:59 AM Page 157 SOBRE MANUEL GARCIA MONTEIRO NO TRICINQUENTENÁRIO DO SEU NASCIMENTO [157] 10.CH_MGMonteiro_LArruda Primeira página do primeiro número de O Açoriano 10.CH_MGMonteiro_LArruda 8/17/10 9:59 AM Page 158 Boston Herald. Trabalhando de noite e estudando de dia, formou-se em Medicina, grau que lhe foi conferido em 16 de Abril de 1890, na Union Hall, perante os professores do Colégio de Médicos e Cirurgiões de Boston e numerosos amigos. A actividade médica exerceu-a em East Boston e em Cambridge. Entre as colónias açorianas destas localidades desenvolveu grande actividade na propaganda dos ideais republicanos e maçónicos para o que, seguindo o compromisso assumido na Horta pelo menos com a Loja Luz e Caridade, fundou em Boston, com João Francisco Escobar9, uma organização maçónica de que foi venerável. Cidadão benquisto nesta cidade, quando ali vagou o lugar de cônsul português, dez mil pessoas pediram esse lugar para ele, mas não foram atendidas. Colaborou com o jornal Açores-América, editado em Cambridge por Eugénio Vaz Pacheco do Canto e Castro10. Dali enviou para a Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro, a partir de 1886, uma série de escritos com o título genérico «Cartas da América» e continuou a colaborar com O Atlântico e O Fayalense. [158] Ainda dos Estados Unidos, continuando interessado pelos problemas da sociedade faialense, em particular, e pelos da açoriana, em geral, Garcia Monteiro, como nota Vamberto de Freitas, «avisou-nos da América que não nos iludíssemos com a suposta bondade americana ou com qualquer estatuto supostamente privilegiado, se para aí nos levasse qualquer desvio histórico. E fê-lo com inteiro conhecimento do modo como se sentiam os açorianos perante o poder central de então, e com o conhecimento directo e bem informado sobre com que linhas se cosiam os interesses americanos dentro e fora das suas fronteiras.»11. Assim, em «Carta aos conterrâneos», com data de 25.8.1902, Monteiro escreveu: «Caros conterrâneos, isso por aí vai mal, mas dêem graças a Deus que não estão nas unhas dos monopolistas americanos. A águia que era o símbolo de altivez e liberdade desta nação trabalhadora passou a ser uma simples ave de rapina [...]. É o cada um por si. Nunca a frase struggle for life teve uma significação tão exacta como no tempo presente.». E mais adiante: «E não é já sem tempo que eu lhes faço aqui uma declaração para que o sentido das minhas palavras não seja desvirtuado. Não é o vivo “sentimento patriótico”, essa linda capa de intrujice, que me instigou a escrever esta carta. A pátria vol. LIV ‘09 do homem de hoje é o mundo. Isto não significa que o cosmopolita não tenha amor ao lugar onde nasceu e criou amigos. É o que se dá comigo: tenho amor à minha terra; mas isto não significa que eu, pelo facto da minha terra pertencer a Portugal, que a tem explorado e sugado, como um parasita importuno, vá quebrar lanças por uma bandeira que serve hoje apenas para formar toldo, debaixo do qual comem à barba longa os patriotas cujo ofício único é trazer essa querida pátria bem guardada no aparelho digestivo.»12. Chamava à América, em que vivia, a “Costa de África do Espírito”. «É uma frase extravagante, porém dá-me a impressão deste degredo. Estou quase inutilizado intelectualmente, porque esta atmosfera envenena a pouco e pouco as intelectualidades como a minha; porém, uma cousa me tem dado coragem para ir resistindo a uma atrofia completa; essa cousa, que aliás nada tem em que se baseie, é a esperança de viver uns anos em Lisboa», transcreve Greaves de uma carta que lhe foi enviada por Monteiro, escrita em 190713. Para Marcelino Lima, Monteiro foi para a América impulsionado pelo desejo de um «futuro mais desafogado, glorioso, 9 Natural dos Cedros, ilha do Faial, morreu em Fairhaven, Estados Unidos da América, para onde havia emigrado. Foi jornalista de fama e republicano. Fundou e dirigiu vários jornais na cidade da Horta, nas vilas da Madalena e de S. Roque, na ilha do Pico, e das Velas, na ilha de S. Jorge (cf. Enciclopédia Açoriana, Escobar, João Francisco). 10 Natural de Ponta Delgada, depois de formado em Filosofia Natural na Universidade de Coimbra e de um estágio em França, regressou à sua terra natal onde foi professor e reitor do Liceu, jornalista e político. Foi aos Estados Unidos da América estudar laboratórios de línguas na Universidade de Harvard e foi nessa ocasião que teve oportunidade de publicar, em Cambridge, o jornal Açores-América (cf. Enciclopédia Açoriana, Canto e Castro, Eugénio Vaz Pacheco do). 11 Freitas, V. (2007), Garcia Monteiro: das margens à centralidade canónica açoriana e luso-americana. In O Faial e a periferia açoriana nos séculos XV a XX, Actas do IV colóquio, Horta, Núcleo Cultural da Horta: 421-430. 12 Monteiro, G. (1902), Carta aos conterrâneos. O Fayalense, Horta, 2.ª série, n.º 153, 5.10. 13 Greaves, M. (1931), Garcia Monteiro – O poeta das Rimas da ironia alegre. Correio da Horta, Horta, n.º 27, 7.2. 10.CH_MGMonteiro_LArruda 8/17/10 9:59 AM Page 159 SOBRE MANUEL GARCIA MONTEIRO NO TRICINQUENTENÁRIO DO SEU NASCIMENTO Em 19 de Junho de 1913, numa missiva enviada de Lisboa a Marcelino Lima (1868-1961), Rodrigo Guerra (1861-1924) escreve: «Esta carta escrita a um intelectual como tu, tem o fim de despertar em ti e nos teus conterrâneos a ideia de uma comemoração, por mais simples que ela seja, e que terá, além de tudo um significado de alto valor: homenagear-se uma criatura que não foi nem titular, nem conselheiro, nem regenerador, nem progressista, nem funcionário público, nem deputado, nem tudo o mais que se costuma ser para honra e proveito da Pátria! [...]. Uma lápide na casa onde ele viveu, e onde montou O Açoriano não seria o bastante para o tornar conhecido dos novos e recordado daqueles que há muito andam afastados do seu convívio? [...]. Garcia Monteiro era há trinta e tantos anos, quando ainda na sociedade faialense havia preconceitos de raça, e o caciquismo imperava com mão de ferro, um espírito tão liberal e tão independente, que as suas sátiras castigando os ridículos de então, criaram essa figura típica e genial do comendador, como Eça de Queirós criou o conselheiro Acácio.»16. Todavia, só em 7 de Julho de 1989 a Câmara Municipal da Horta deliberou dar o nome «Manuel Garcia Monteiro» a um dos arruamentos da Canada das Dutras17. Em Agosto seguinte, a Câmara descerrou a sua fotografia no salão nobre e editou um pequeno volume com o título A trança que inclui algumas das suas produções. De Garcia Monteiro ficou obra dispersa pelos jornais como cronista, como contista18 e como comediógrafo (deixou inéditas as comédias, Sem cerimónia, representada no Teatro União Faialense a 29. 4.1880 e 5.5.1881, e Um presente de anos, ambas em um acto) que ultrapassa aquela publicada em livro19. SOBRE A SUA POESIA Ainda muito novo Garcia Monteiro começou a publicar poesias nos jornais faialenses, revelando, desde logo, apreciáveis dotes de escritor, especialmente no género satírico. Tinha 16 anos, o jornal O Pensamento,20 em 12 de Junho de 1875, anunciava o seu livro Poesias e satyras a 400 rs. por assinatura e a 500 rs. avulso. Em 1896 editou, em Boston, Rimas de ironia alegre21 que o jornal hortense O Occidente dos Açores, no ano seguinte, anuncia para venda a 600 rs. Neste anúncio pode ser lido: «O motivo que levou o autor a substituir o primeiro título Rimas d’um im[159] confortável»14. Mas, para Silva Peixoto não deve ter sido só esta circunstância a pesar na sua determinação. «Com os seus versos satíricos, inconformistas, com o seu jornalismo irrequieto e mordaz, o seu espírito desempoeirado, Garcia Monteiro criara, evidentemente, muitas inimizades, ao criticar, impiedosamente, a política eleiçoeira, os burlescos de uma sociedade com os seus comendadores e os seus fumos de nobreza, apegada aos seus títulos de fidalguia. E não deve ainda ser estranha à sua decisão uns amores contrariados, com repercussões no ambiente familiar, por se ter atrevido a erguer os olhos para uma sécia de família a que ele não pertencia, facto que o poeta alude na poesia “Plebeu” do seu livro de estreia [...].»15. 14 Lima, M. (1943), Anais do Município da Horta. Vila Nova De Famalicão, Oficinas Gráficas Minerva: 566-567. 15 Peixoto, J. S. (1963), Notas para um estudo sobre a vida e obra de Garcia Monteiro. Correio da Horta, Horta, n.º 9182, 9.2. 16 Guerra, R. (1913), Dr. Garcia Monteiro. O Telegrapho, Horta, n.º 5772, 21.6. 17 Câmara Municipal da Horta, Livro de Actas, 125, 188v. 18 O conto «A Surpresa», In O Açoriano, Horta, n.ºs 29-30, 27.11.18874.12.1887, está incluído na antologia organizada por Lobão, C. (1988), Às lapas, contos e narrativas faialenses. Horta, Direcção Regional da Cultura e Câmara Municipal da Horta, 91-99. 19 Cf. Rebelo, E. (1907), Garcia Monteiro. O Fayalense, Horta, n.º 282, 7.7. Id. (1982), Notas açorianas, escriptores e homens de lettras. In Archivo dos Açores, 9, 35. 20 Com a epígrafe «Semanário – Açoriano», começou a ser publicado na cidade da Horta em 12 de Dezembro de 1874. 21 (1896), Rimas de Ironia Alegre, Boston, Ed. do A. (36 poemas, escritos ao longo de cerca de 20 anos, na Horta, em Lisboa e em Boston). Esta obra viria a aparecer publicada em folhetim, entre o n.º 5, de 10.4.1905, e o n.º 18, de 20.8.1905, no jornal Movimento da vila das Velas, ilha de S. Jorge. Em 1997, as editoras Civilização, do Porto, e Contexto, de Lisboa, publicaram conjuntamente, Rimas de ironia alegre, antologia organizada e apresentada por Carlos Jorge Pereira (Colecção Brevíssima n.º 23). 10.CH_MGMonteiro_LArruda 8/17/10 9:59 AM Page 160 pressionista, por este Rimas de ironia alegre, foi o ter sido modificado o carácter do livro, adicionando-lhe o seu autor versos alheios ao título primitivo e eliminando os que, pela seriedade do assunto e número diminuto, se achavam isolados entre outros, de feitio diferente. O novo título explica inteiramente o livro.». Os pedidos deviam ser dirigidos directamente a Garcia Monteiro, Bay State House, Hanover street, Boston, Mass.. Fialho de Almeida terá sido o único nome grado da literatura portuguesa a referir Garcia Monteiro na imprensa da época, naquele artigo do Diário da Manhã. Segundo este escritor, «Lisboa já conhece este fantasista hilariante por pequenas composições publicadas nos jornais. É ele o autor de um volume Versos22, impresso no Faial, onde, a par de uma correcção aristocrática e de uma factura amorosa, há a distinguir levantados ideais e nobilíssimos impulsos de um coração gentil homem.»23. [160] Manuel Greaves, em 1901, em O meu tempo, considera Garcia Monteiro «muito talentoso e amante das letras portuguesas» e ao seu volume de versos Rimas de ironia alegre, «livro admirável no género, e quiçá único feito em português há um quarto de século»24. E no ano seguinte (1902), o mesmo Greaves em «Poetas insulares», publicado n’O Telégrapho, escreveu: «Garcia Monteiro é um esteta. O seu verso é de um rigorismo admirável, que iguala a precisão de Gonçalves Crespo25 na métrica latina. [...]. Por isso muito sobressaem na literatura nacional as Rimas, além de que o género é muito bem cultivado – e quiçá unicamente bem»26. Alguns anos mais tarde, em 1913, Greaves em «Um morto ilustre – O poeta Manuel Garcia Monteiro», a propósito do poema «A eleição», uma comédia eleitoral onde lutam o regedor e o juiz de paz, escreveu: «As suas figuras são perfeitas caricaturas do seu tempo, e de todos os tempos. O dia da eleição, em que Antoino André do Vale, um campónio, se reveste de importância e solenidade para ir cumprir o dever sagrado à igreja da freguesia, são versos do mais polido ironismo.»27. Para relevar as figuras caricaturadas nesta poesia respigam-se os versos: [...] Que fossem bugiar os santos e o vigário. Não obstante, rezava as suas orações. «Sempre era bom». E até lá uma ou outra vez Prometia alumiar uma semana, um mês, Algum santo sagaz que fosse do partido. Isto era um caso grave, em eleição de risco. O último ganhara e fora S. Francisco. Ora o triunfo agora estava decidido, Porém o regedor pensara na promessa. Há santo espertalhão que prega a sua peça, Uns intrigam até, ocupam-se de enredos; Querem todos porém que se lhes unte os dedos. Não é coisa que custe aí o sacrifício, Mas António do Vale pagava com mãos largas; Deixar-se-ia despir para vencer o Vargas, Batê-lo, derrotá-lo, expô-lo num suplício. O Vargas era um «rato», um hábil adversário, De olhinho vivo, a rir, amigo da sua trica, Demais juiz de paz e grande proprietário E «estava p’ra casar c’uma carcaça rica». [...] 22 (1884), Versos, Horta, Tip. Gutemberg [19 poesias, 62 páginas]. 23 Quando em Lisboa, a direcção do Colégio Luso-Germânico publicou de Garcia Monteiro, com o pseudónimo Álvaro Newton, cerca de 8.5.1882, data do primeiro centenário da morte do Marquês de Pombal, um opúsculo com o poema O Marquês de Pombal. São 44 quadras, que tecnicamente podem ser consideradas o seu primeiro livro, também impressas, quase em simultâneo, no jornal A Lucta, editado na cidade da Horta (ano 1, n.ºs 29 e 30, de 23 e 27.5.1882) (cf. Pereira, 1997, 16). 24 Greaves, M. (1901), O Meu Tempo. Horta, Almanach Açoreano. 25 Garcia Monteiro, enquanto redactor de O Açoriano, transcreveu neste jornal as poesias de Gonçalves Crespo seguintes: «O velhinho» (23.9.1883), «O gato e o macaco» (7.10.1883), «Odor di femina» (16.12.1883), «A venda dos bois» (16.3.1884) e «A desdichada» (4.5.1884). 26 Greaves, M. (1902), Poetas insulares. O Telégrapho, Horta, n.º 2495, 21.3. Ele era homem de fé e usava o seu rosário, Mas em tempo de luta, em tempo de eleições, vol. LIV ‘09 27 Greaves, M. (1913), Um morto ilustre – O poeta Manuel Garcia Monteiro. O Telégrapho, Horta, n.º 5783, 5.6. 10.CH_MGMonteiro_LArruda 8/17/10 9:59 AM Page 161 SOBRE MANUEL GARCIA MONTEIRO NO TRICINQUENTENÁRIO [161] DO SEU NASCIMENTO Frontispício do volume de poesias Rimas de Ironia Alegre Frontispício do volume Versos «A avó» António do Vale, vencido pelo Vargas, chegando a casa de mau humor, viu a mulher invocar Sto. António que tinha no oratório e em quem ele também confiara. Então, A noiva uma flor, sorrindo de contente, Mas quis que a avó a visse, a pobre avó, coitada, Uma boa velhinha, há anos entrevada, Que tinha um doce olhar profundo e transparente. [...] Ele pulou, rugindo a praga mais medonha, Correu ao oratório, esmorraçou-lhe a porta, Alucinado, cego, a arfar, de olhos em brasa, E, agarrando o santinho e indo atirá-lo à horta, Berrou: “não quero mais este maldito em casa!”. De modo diferente, ainda citando “Um morto ilustre” de Greaves, «sonetos como “A avó”, traçam um sentimento tão suave e tão vivido que faz palpitar em nós toda a psicologia do artista.». Chegou a neta a si, olhou-a ternamente, Abraçou-a, beijou-a e disse-lhe magoada: - Deus te faça feliz! Na face descarnada Uma lágrima então rolava docemente. Ah! Naquela fina alma abrira uma saudade! E recordou, tão velha a sua mocidade! A olhar para a neta, a vista imóvel, fita... Fora num dia assim... Como ela se lembrava! E ao lado do seu noivo, um moço que adorava, Ela ia assim também, tão fresca e tão bonita!... 10.CH_MGMonteiro_LArruda 8/17/10 9:59 AM Page 162 Ainda de acordo com Greaves: «A métrica, usa-a correctíssima e admirável, dando-nos, por exemplo, aquele sabor de precisão e naturalidade com que o nosso Gonçalves Crespo compunha os seus belíssimos versos, que tanto o tornaram notável». Em 1924, Urbano de Mendonça Dias, a propósito de Garcia Monteiro, em Literatos dos Açores, considera que «o seu género era o satírico, estava-lhe no sangue o dom do crítico, do que troça e faz encavacar»28. [162] Manuel Joaquim Dias, em 1928, em «Um poeta açoriano – Dr. Manuel Garcia Monteiro», considera-o «um talento autêntico num género raro em que ainda pontifica como mestre Nicolau Tolentino»29. Dias, que neste artigo também se refere à comédia eleitoral como «tão cheia de ódios, interesses e vaidades», defende que «No seu livro [Rimas de ironia alegre] ficou-lhe o espírito. O conceito surge incisivo e brilhante como relâmpago de ironia que ilumina as figuras num fundo de verdade. Garcia Monteiro não impressiona pela emoção nem pelo voo do pensamento: não é um lírico; mas pela graça, pela espirituosa ironia reagindo sobre a banalidade.». E quase a terminar: «Monteiro tinha polido a arte com o tempo, como o ouro velho dos frisos das catedrais que toma aspecto solene»30. Para Osório Goulart (1931), «As Miniaturas e Nocturnos de Gonçalves Crespo, a Musa em férias e A morte de D. João de Guerra Junqueiro, e os sonetos de João Penha, que eram então leitura predilecta, foram porventura as obras portuguesas que avigoraram as faculdades estéticas de Garcia Monteiro e orientaram a sua idealização artística.»31. «O sensibilismo irónico do poeta predomina nas suas poesias, onde, a par do madrigal delicioso, ressalta frequente a sátira mordaz, cáustica e, por vezes, sangrenta como uma punhalada.»32. prová-lo um artigo que publicou no jornal O Grémio Literário) muito admirava. São quadros realistas de costumes e ideias do meio e da época. A composição denominada “A eleição”, e outra “A viúva Boim”, publicada avulso, são perfeitos modelos tolentineanos. A par deles algumas belas flores de lirismo em que palpitam dolências do coração – saudades, sonhos... Em companhia dele, poeta genuinamente nosso, vibramos. Acaricia-se a alma, lendo-o». Para José Carlos Vieira Simplício, em «Esboço evocativo duma personalidade açoriana, Garcia Monteiro – Um notável poeta faialense»34, 2.º prémio dos Jogos Florais da Câmara Municipal da Horta, realizados em 1955, «Na poesia de Garcia Monteiro transparece a graça esfuziante a causticar os vícios e os ridículos da época, não significando propriamente um protesto contra o clima social, porque o Poeta aspira sobretudo a rir-se com ele e a decorá-lo de vivas cores.». Ainda de acordo com Simplício, «Garcia Monteiro, além do seu parnasianismo formal onde há vislumbres de Gonçalves Crespo, sofre influências de João Penha e Nicolau Tolentino, o que é bastante diferente, porém, do dizer-se que os imita, pois como escreve Fernando Pessoa “um facto é a influência que só não suporta quem não vive de outro a subordinação”». «Deste modo encontramos considerável originalidade em Garcia Monteiro que nada tem a ver com a caricatura da 28 Dias, U. M. (2005), Literatos dos Açores. 2.ª ed., s. l., Editorial Ilha Nova. 29 De Nicolau Tolentino foram transcritas n’ O Açoriano, enquanto Garcia Monteiro foi seu redactor, as poesias seguintes: «Ao conde de Vila Verde» e «Nas Caldas», na edição de 11.11.1883, e «Aos toucados altos» e «Numa botica», na de 3.2.1884. 30 Dias, M. J. (1928), Um poeta açoriano – Dr. Manuel Garcia Monteiro. Os Açores, Ponta Delgada, 2.ª série, n.º 9. 31 Sobre poesia de Gonçalves Crespo transcrita n’ O Açoriano, ver nota 25. Marcelino Lima (1943), em Anais do Município da Horta33, considera «jóias literárias essas suas duas minúsculas obras. À elegância do verso, gracioso e límpido, perfeitíssimo e fácil, alia o cintilar da ideia, nascida da observação, colorida pela viveza do seu espírito crítico, ora zombeteiro como João Penha, ora rindo à maneira bonacheirona de Tolentino, que ele (e está a vol. LIV ‘09 32 Goulart, O. (1931), Garcia Monteiro. Correio da Horta, Horta, n.º 27, 7.2. 33 Lima, M. (1943), op. cit.. 34 Simplício, J. C. V. (1956), Esboço evocativo duma personalidade açoriana, Garcia Monteiro – Um notável poeta faialense. O Telégrafo, Horta, n.º 16833, 12.1. 10.CH_MGMonteiro_LArruda 8/17/10 9:59 AM Page 163 SOBRE MANUEL GARCIA MONTEIRO NO TRICINQUENTENÁRIO DO SEU NASCIMENTO Segundo Eduíno de Jesus (1956): «A ajuizar pela estética dos seus versos, é possível que Garcia Monteiro preferisse, entre todos os poetas, Gonçalves Crespo. Como os deste poeta, os seus versos são sólidos, matematicamente construídos, e ao mesmo tempo harmoniosos, naturais, límpidos. [...]. Se o seu estilo literário e a sua ironia se parecem com o estilo literário e a ironia de algum escritor, esse escritor é Eça de Queirós, um prosador, cuja obra coincide, no tempo, com a de Garcia Monteiro. Encontramos, nas breves histórias em verso de Garcia Monteiro, uma galeria de personagens (políticos, curas, comendadores, poetas, amanuenses, esposas românticas) e situações (namoros serôdios, serões intelectuais, o Passeio Público onde um casquilha, vindo de Paris, faz a sua crítica de poda, etc.) de um ridículo verdadeiramente digno da ironia de Eça. A sátira de Garcia Monteiro, apesar de escrita em verso – e na mais rigorosa observância do cânone parnasiano, – está mais próxima de Eça, pelo processo literário e pelo saboroso inquérito a uma burguesia decadente e inútil, do que, por exemplo de Bocage ou de Tolentino, um e outro mais caricaturistas. Garcia Monteiro é mais realista e ao mesmo tempo mais subtil.»35. Pedro da Silveira (1977), em Antologia de poesia açoriana36, considera Garcia Monteiro lírico, mas bem melhor satírico ou humorista, um dos mais destacados parnasianos de língua portuguesa, incontestavelmente o primeiro na literatura açoriana. Segundo Ruy Galvão de Carvalho (1979), «[...] os poemas satíricos de Garcia Monteiro não ferem cruelmente. Embora maliciosos, não são cínicos e sarcásticos. O poeta sabe ironizar com graça, humoristicamente. Aqui está o seu enorme talento, a originalidade da sua poesia, vazada em verso rigorosamente parnasiano, e até com um certo cunho de modernidade.»37. satírico, como o contraste, de que se servia para sublinhar a comicidade de uma situação. Sentia-se à vontade na caricatura, sem recurso ao grotesco excessivo, à maneira de Camilo ou Junqueiro.» [...] «Quanto à forma, este poeta consegue uma fluência, uma naturalidade, uma perfeição parnasiana, que o tornam artista invulgar do verso.» «Os seus alexandrinos não se sentiriam envergonhados ao lado dos de Junqueiro e muitas composições não parecem inferiores às do espirituoso João Penha. É de notar que João Penha e o parnasianismo influíram bastante em Garcia Monteiro.» «Como exemplo da sua mestria de crítico, apresentamos uma sátira, em que nos sugere o ridículo duma aspiração ambiciosa, elegante e impossível, opondo-lhe o contraste da realidade vulgar, sem brilho e pouco atraente. É o soneto “Decepção”.». «Decepção»39 E ficou com as mãos pousadas no teclado, – Esquecida, a cismar num mundo de riquezas – Supunha-se num baile e um conde apaixonado Segredava-lhe: «Amo-a!... Eu mato-me marquesa». – Ah! se fosse fidalga! Ao menos baronesa... Que baile! Que esplendor na noite do noivado!... – Estremeceu, nervosa, achou-se na pobreza, E o piano soltou um grito arrepiado. 35 Jesus, E. (1956), Garcia Monteiro – Poeta da ironia alegre. Correio da Horta, Horta, n.º 7268, 11.10 [transcrito de O Primeiro de Janeiro]. 36 Silveira, P. (1977), Antologia de poesia açoriana do século XVIII a 1975. Lisboa, Sá da Costa, 169-176. 37 Carvalho, R. G. (1979), Antologia poética dos Açores. Angra do Para Tomás da Rosa (1990), em Evocação de um período áureo da cultura no Faial, Alguns estudos38, Garcia Monteiro era «dotado dum humorismo fino e delicado, umas vezes manifestamente jocoso, outras irónico, de uma ironia branda, não descia ao grosseirismo inconveniente, nem ao sarcasmo virulento. Dominava bem os processos tradicionais do género Heroísmo, Secretaria Regional da Educação e Cultura, Colecção Gaivota 3, vol. I, 142-149. 38 Rosa, T. (1990), Evocação de um período áureo da cultura no Faial. Alguns estudos, Horta, Câmara Municipal da Horta, 92-94. 39 Que também aparece com o título «Cair do alto» e algo diferente. [163] frialdade e da monotonia do processo de João Penha nem com o cómico da desproporção exageradora de Tolentino.». 10.CH_MGMonteiro_LArruda 8/17/10 9:59 AM Page 164 Porém a pouco e pouco atou-se-lhe o sentido À mesma ideia – o luxo. Ia comprar cautelas... E imaginou de novo o conde enternecido... Um palácio, um coupé, magníficos cavalos... Mas o marido entrou, d’óculos e chinelas, E disse-lhe fanhoso: – «Anda aparar-me os calos». [164] No Suplemento Açoriano de Cultura do jornal Correio dos Açores, Carlos Jorge Pereira (1997) escreveu sobre Garcia Monteiro: «As características dominantes são: a ironia, narratividade, dramatismo, visualidade. Um estilo plástico, fluente, de estruturas estrábicas e rítmicas variadas mas sempre apropriadas a cada tema e situação, um estilo recheado de linguagem coloquial, de diálogos, de moralidade e objectividade normalmente mais implícitas que explícitas, faz desdobrar e desenrolar perante os nossos olhos e ouvidos cenas em que fantasia e realismo bruscamente se sucedem, se sobrepõem ou subtilmente se permeiam [...]. Convém não esquecer que também uma visão e fundo ideológico comuns ajudam a fazer deste uma espécie de Eça de Queirós em verso.»40. No ensaio de Vamberto de Freitas, «Garcia Monteiro: das margens à centralidade canónica açoriana e luso-americana»41, pode ser lido: «Desde a política e literatos locais a amanuenses incompetentes e à vida social “aristocrática”, nada escapava ao seu olhar sabedor e hipercrítico, deixando-nos Garcia Monteiro uma espécie de poesia documental de toda a época [...]». Segundo Silva Peixoto (1963), «A obra de Garcia Monteiro compreendia mais um volume, irremediavelmente perdido: a sua colecção de poesias líricas relegadas para melhor ocasião quando juntou as composições das Rimas e que, prometidas, nunca chegaram a ser impressas. [...] Tudo leva a crer que se perderam algumas notáveis composições. A mão que traçou essa pequena jóia literária que é o formoso soneto “A avó”, admirável de sentimento e beleza, é natural que tivesse deixado outros poemas de real mérito»42. nobreza, / para crescer o amor da humanidade», e em carta enviada da América, com data de 12.10.1884, diz mostrar «predilecção pela história boémia, por alguns poetas e pela escola naturalista»44. Aqueles que com ele haviam dado vida ao primeiro ano de O Açoriano não desconheciam esta realidade. Em carta de Henrique das Neves a Garcia Monteiro, ao relatar conversa com os amigos comuns sobre o fundador de O Açoriano, aquele escreveu: «[...]. O assunto interessou, porque a conversação generalizou-se e ia empenhando as pessoas que entravam. Enfim, o Garcia Monteiro, como um documento humano (no dizer dos escritores naturalistas) foi ali estudado sobre os diversos aspectos e por uma boa hora.»45. Aquela escola literária, conhecida por ser a radicalização do Realismo, baseada na observação da realidade e na experiência, mostrando que o indivíduo é determinado pelo ambiente e pela hereditariedade, esboçou o que pode ser considerado como os primeiros passos do pensamento teórico evolucionista de Darwin. A perspectiva evolucionista deste inspirou os naturalistas que acreditavam ser a Selecção Natural impulsionadora da transformação das espécies, que o indivíduo era mero produto da hereditariedade e que o seu comportamento era fruto do meio em que vivia e sobre o qual agia. Cabia ao escritor criar na sua obra uma situação experimental e agir como um cientista no seu laboratório, descrevendo as reacções sem qualquer interferência de ordem pessoal ou moral. Assim, predomina na obra naturalista o instinto, o fisiológico e o natural, retratando a agressividade, a violência, o erotismo como elementos que compõem a personalidade humana. 40 Pereira, C. J. (1997), Nos cem anos de Rimas de ironia alegre: o livro de Garcia Monteiro na Literatura Portuguesa e Luso-Americana. Suplemento Açoriano de Cultura, n.º 46, Correio dos Açores, Ponta Delgada, 9.1. 41 Freitas, V. (2007), op. cit.. 42 Peixoto, J. S. (1963), op. cit.. 43 Newton, A. (1882), op. cit.. Ver nota 23. GARCIA MONTEIRO E O NATURALISMO Manuel Garcia Monteiro, no poema «O Marquês de Pombal»43, 2.ª quadra, escreveu «Quando a ciência arrancava à Natureza / Mais um fundo segredo, uma verdade, / E morria o prestígio da vol. LIV ‘09 44 Cf. Monteiro, G. (1884), Cartas da América. O Açoriano, Horta, n.º 15, 16.11. 45 In O Açoriano, Horta, n.º 34, 28.2.1886. 10.CH_MGMonteiro_LArruda 8/17/10 9:59 AM Page 165 SOBRE MANUEL GARCIA MONTEIRO NO TRICINQUENTENÁRIO DO SEU NASCIMENTO Na obra de Garcia Monteiro, encarada numa perspectiva naturalista, muito embora Naturalismo e Realismo acabem por se confundir, está: (b) enfatizado o aspecto materialista da existência humana como no soneto: (a) presente o seu espírito anticlerical, antimonárquico e antiburguês como em: Quando o velho, à luz fraca do candeeiro, Viu lá num canto a espreitá-lo a morte, Uma chave extraiu do travesseiro E deu-a ao Péga, um triste de má sorte. [...] Em Portugal o rei era um devasso; A instrução e o amor, eram pecados! E enquanto, à noite, foliava o Paço, Os herejes sem dó eram queimados! [...] Os fidalgos viviam na preguiça, Ignorantes, banais, cheios de vícios; Abaixavam a fronte mui submissa Aos padres, com receio de suplícios Do inferno; e iam-lhes dando os rendimentos, Para livrar a alma desse horror. E metiam-se à noite nos conventos Com as santas esposas do Senhor! O bom do Péga trabalhara forte, Velando-o; fora um óptimo enfermeiro; Mas tocava-lhe mais que o juste importe... Caramba! Ia fartar-se de dinheiro! Passou-se o velho. O Péga, com risinhos, Disse pra si: «Não tardam os sobrinhos... Pois que venham, que façam e que aleguem...» Abriu a burra, inquieto, a mão nervosa... Vazia! Então na casa silenciosa Deu um urro: «Diabos o carreguem» (c) o narrador imperturbável como em: «Um clube»48 [...] O rei alimentava as irmandades: Salvava-se de todas as maneiras... Beijava comovido a mão aos frades E ia também depois beijar as freiras. Pôs-se então um a ler em tom cantado O belo artigo «A Evolução na Horta». Caldeira, que escutava embasbacado, Deu como um salto e foi até à porta. Era a devassidão e a impostura. E essa religião, «nobre», «sublime», Negociava perdões, dava a tortura, Permitia o deboche, o roubo, o crime! Vira a mulher passar com o pequeno, Um garotito, tipo inglês; Fez logo para dentro um vivo aceno E, vaidoso, apontando: «Olhem vocês! Enquanto o vício, à solta, tripudiava Nos sagrados bordéis, nas sacristias, O povo lentamente agonizava No auto da fé, nas fundas enxovias. [...] 46 Newton, A. (1882), op. cit.. Ver nota 23. 47 Simplício, J. C. V. (1956), op. cit.. 48 Silveira, P. (1977), op. cit.. [165] «O Marquês de Pombal»46 «A herança»47 10.CH_MGMonteiro_LArruda 8/17/10 9:59 AM Page 166 E o pequeno, hã? É lindo! E presunçoso! Sai cá ao pai – saudável... Uma rocha!» Silvestre, sempre amável e curioso, Viera também ver, trazendo a brocha. O admirador do falecido papá Disse: «É mesmo uma jóia! Ora se sai!...» Piscou o olho e, rindo-se à socapa: «É muito parecido com o pai.» (d) a descrição precisa e minuciosa como no poema: «A uma inglesa»49 [166] Oh! Lady, quanto és formosa! Sai de ti, mesmo a distância um perfume de elegância, como um aroma de rosa... Eu creio que uma princesa será mais rica e orgulhosa porém não é com certeza mais graciosa. Mas também... que pena imensa! Escuta... dás-me licença? - Com esses olhos lindíssimos uns olhos grandes, puríssimos, sempre húmidos de ternura; com essa cor branca e suave com essa voz, que é duma ave... com toda essa formosura, toda essa fascinação, com esse ar altivo e fino, fazes-me lembrar um pavão vaidoso dos seus matizes, porém não te escandalizes - És um pavão pequenino, um pavãozinho famoso e não sabes porque o és? É porque eu vi-te surpreendido, erguendo um pouco o vestido medir com olhar choroso o... o comprido dos pés. (e) a personagem vista de fora para dentro como acontece em: «O novo amanuense»50 Nunca emprego mais bem dado Que esse que está exercendo O gentil Marcos Machado; Homem que ia envelhecendo Sem ter sido aproveitado Meteram-no de ajudante Lá onde tudo se arruma. Colecção interessante: Um coça-se a todo o instante, Outro boceja, outro fuma... Outro até, mais engenhoso, Apanha moscas; enfim, Goza-se um certo repouso, E um homem torna-se, assim, Pacato, inda que manhoso. Marcos ali resplandece; Picantes histórias conta. Tudo o festeja, o estremece; É ele hoje quem fornece Ora o fósforo, ora a ponta. [...] 49 Dias, U. M. (2005), op. cit.. 50 Silveira, P. (1977), op. cit.. vol. LIV ‘09 10.CH_MGMonteiro_LArruda 8/17/10 9:59 AM Page 167 SOBRE MANUEL GARCIA MONTEIRO NO TRICINQUENTENÁRIO DO SEU NASCIMENTO (f) o uso, destacado, da linguagem falada resultando num diálogo vivo e verdadeiro como em: Que as damas têm à mão para inventar alcunhas; Mas sempre triste em verso... Um luto! Não conheço Luto mais negro, passa ao colarinho e às unhas. «Depois da Ceia»51 [...] Já ia a noite um pouco adiantada, Meditava o compadre sentencioso; Até que o pai por fim disse gostoso, Aproveitando o resto da pitada: – Eu cá por mim... lembrou-me hoje ao almoço Que a vida de doutor talvez lhe quadre... Hein? Que diz? – concluiu com alvoroço. - Isso não rende nada! Ora o compadre! E voltando-se logo para o moço: - Sabes que mais? Faz-te padre! e (g) a narrativa marcada pela vigorosa análise social como no poema «Um salão»52 de que se transcrevem apenas alguns versos para relevar as figuras caricaturadas: Ali vai o senhor Mateus do Nascimento Depositário fiel, seguro, de tal brio, Que deram-lhe a guardar um certo testamento E ele fê-lo tão bem que ninguém mais o viu. Ali vai o major Espadas, um valente Homem cujo valor tem suscitado invejas. Pronto sempre a bater-se. E ao chá? Façam-lhe frente. Que bravura! É um herói no assalto às bandejas... Entre as damas então há D. Endóxia Lemos, Grande em doce de chula e em armações de altares; A Florinda Perdiz, que é o que nós sabemos... Uma voz! Até chega a erguer os calcanhares. [...]. No conto «A surpresa»53, onde a figura de Ana Morcega é descrita envolvida pelo meio ambiente, um cenário de miséria insalubre, pode ser vista a face completa do Naturalismo. Enfim, tia Ana como um documento humano. «Um salão» [...] Ali vai, por exemplo, o senhor João Proença, Que é barão e será visconde qualquer dia; Homem que às vezes sente uma tristeza imensa Por ter sido alfaiate – um erro que ele espia. Ali vai o Liró de esplêndidas maneiras, Cuja profundidade de ciência de minuete Iguala vastidão das suas algibeiras, Que levam de ordinário os restos do bufete. Ali vai o Câncio Rosa, um vate de alto apreço, «[...]. Fora passando por uma série de privações e ultimamente vivia numa absoluta miséria. Pedia pouco, um bocadinho de bolo contentava-a. Morava numa loja que o Filipe lhe ofereceu para ela ter onde dormir enquanto vivesse. Era um buraco escuro e frio, com as paredes em osso, revendo humidade, o chão térreo aos altos e baixos. Respirava-se ali dentro um cheiro a terra cavada de fresco e a pasto apodrecido. A casa 51 In O Grémio Literário, Horta, 1.12.1880. 52 Carvalho, R. G. (1979), op. cit.. [In Rimas de ironia alegre]. 53 Op. cit.. Ver nota 18. [167] Tinham falado em muita trapalhada; Quando o sábio compadre escrupuloso Foi perguntando ao pai, meio curioso, Qual a vida ao pequeno apropriada. 10.CH_MGMonteiro_LArruda 8/17/10 9:59 AM Page 168 servia mesmo só para guardar comida de gado; era pequena, de construção ligeira, coberta de telha vã, segura nas beiras por umas pedras. Era situada longe das outras casas no extremo da freguesia, perto duma canada que dá para a costa.» «Aquele abrigo era uma perfeita enxovia, e não se compreendia bem como é que uma criatura tão franzina e definhada como a tia Ana pudesse ter resistido ali tantos anos. Todavia, em atenção à pobreza geral do lugar, consideravam todos uma grande esmola a que o Filipe fizera à velhinha, emprestando-lhe aquele buraco, onde ela se recolhia ao cair da noite, como um animal errante e triste que se mete na toca.» «A entrada era muito baixa e estreita, única abertura por onde passava a luz. A portinha, que guinchava ao abrir-se, tinha no alto um buraco por onde a velha respirava o romper do dia para erguer-se. Madrugava muito por hábito antigo de boa [168] vol. LIV ‘09 dona de casa que havia sido. O Filipe armara-lhe um leito, no canto mais abrigado com uma porta velha desconjuntada, em descanso sobre dois toros de laranjeira fincados na parede e um caixão no extremo oposto. Arranjou depois um grande saco cheio de palha e uma manta velha esburacada, cheirando a ratos, que por milagre – observava ele – tinha descoberto no sótão. Naquele canto, deitada sobre o saco e enrolada na manta, é que a tia Ana Morcega costumava dormir.» «Nas noites de Inverno muito frias ela tiritava, toda encolhida, feita num nó. O uivar do vento fora, sacudindo raivoso o bardo de canas duma terra próxima, gelava de susto. No alto da porta o buraco luzia às vezes como se fosse o olho de um animal sinistro e disforme que espreitasse.». […]. 11.OS_Medalhas_ReisLeite 8/17/10 11:37 AM Page 169 OUTROS SABERES Uma colecção açoriana de medalhas INSTITUTO AÇORIANO DE CULTURA 11.OS_Medalhas_ReisLeite 8/17/10 11:37 AM OUTROS SABERES JORGE BARROS Lagoa de Óbidos / Cabrito, Pico Page 170 8/17/10 11:37 AM Page 171 José Guilherme Reis Leite UMA COLECÇÃO AÇORIANA DE MEDALHAS Os autores apresentam um catálogo de inventariação de um conjunto de medalhas pertencentes à colecção de Francisco Ernesto Oliveira Martins, unidas pela temática das campanhas de libertação de Portugal do jugo francês, das campanhas para a implantação do liberalismo e do memorialismo liberal. São 12 exemplares que abrangem o século XIX e uma do século XX, quase todas medalhas comemorativas, duas de galardão e uma placa de uma ordem militar. Ora, a classificação das medalhas é matéria controversa e por isso nem sempre é fácil incluir um qualquer exemplar nesta ou naquela categoria. Contudo, seguiremos os mestres consagrados, tanto Manuel Bernardo Lopes Fernandes (1), como Artur Lamas (2), numa sequência cronológica. [171] 11.OS_Medalhas_ReisLeite 11.OS_Medalhas_ReisLeite 8/17/10 11:37 AM Page 172 ASSIM, A PRIMEIRA MEDALHA, ESTA MANIFESTAMENTE COMEMORATIVA, CELEBRA A REVOLTA DO PORTO, EM 18 DE JUNHO DE 1808, CONTRA AS TROPAS DE JUNOT, QUE RESTAUROU O GOVERNO NACIONAL, ACLAMOU O PRÍNCIPE REGENTE E FORMOU UMA JUNTA DO SUPREMO GOVERNO. ERA O INÍCIO DA GUERRA DA NAÇÃO PORTUGUESA CONTRA O INVASOR FRANCÊS (3). Este exemplar corresponde ao descrito no número 81 da obra de Artur Lamas (4). Contudo, conhecem-se variantes com o mesmo intuito mas adaptados a outras revoltas. É uma medalha de estanho (havendo dúvidas se foram cunhadas algumas em prata) (5) feita em Inglaterra e distribuída por todo o reino para alimentar o fervor patriótico da população e incitá-la a pegar nas armas. O povo usava-a pendurada ao pescoço, presa a uma fita pelo orifício que todas apresentam. [172] Exemplar da colecção de Francisco Ernesto Oliveira Martins. Anverso Reverso DESCRIÇÃO DA MEDALHA 1808 – Comemorativa da Restauração do legítimo Governo, no Porto. No arco superior da orla, em duas linhas, a legenda: 18 DE JUNHO DE 1808 || ESPECTACTA D(I)ES ADERAT. Em baixo, mais a seguinte legenda, escrita em três linhas horizontais: DON JOÃO VI || PRINCIPE REGENTE || RESTAURADO. O exergo, que está limitado por dois traços é liso. Ao centro, dois medalhões ovais, contornados de granitos, em posições oblíquas, tangentes em baixo e separados em cima por uma coroa. No do lado esquerdo, está gravado o escudo das armas portuguesas e no do lado direito o busto do Príncipe Regente, voltado a três quartos para a esquerda, em cabelo, fardado, com uma comenda no peito e uma banda a tiracolo. Aos lados dos medalhões há dois ramos de louro, cujos pés estão fixados em dois florõezinhos que ladeiam a primeira linha da legenda de baixo. Rv. – Na orla, a legenda, assim dividia: no arco superior: 18 DE JUNHO DE 1808 || EXPECTATA DIES ADERAT, e no arco inferior, sobre uma fita: DON JOÃO VI || PRINCIPE REGENTE || RESTAURADO. Ao centro, um escudo oval com as armas portuguesas, encimado por uma coroa real e por um dragão (timbre da Casa de Bragança), e colocado numa panóplia, na qual figuram quatro estandartes, uma peça e respectiva carreta, tambor, balas, barrica de pólvora, etc. Em cima tem um orifício que lhe compete. PB. Diâmetro: 41 milímetros. Bibl.: Lopes Fernandes, n.º 76 (estampa); Lamas, n.º 81; J. Leite de Vasconcelos: Sete Medalhas da Guerra Peninsular, n.º 2 (estampa). A legenda EXPECTACTA DIES ADERAT, é extraída de Vergilio, Eneida, v. 104. vol. LIV ‘09 11.OS_Medalhas_ReisLeite 8/17/10 11:37 AM Page 173 UMA COLECÇÃO AÇORIANA DE MEDALHAS A SEGUNDA MEDALHA DA COLECÇÃO É UMA DAS VÁRIAS QUE FORAM DEDICADAS A SIR ARTHUR WELLESLEY (1769-1852), CONDE, MARQUÊS, DUQUE E LORD WELLINGTON, PRÍNCIPE DE WATERLOO E GALARDOADO COM MUITOS OUTROS TÍTULOS. Anverso Reverso O interesse deste exemplar está na circunstância de ser uma variante de uma das medalhas dedicadas ao herói, descritas por Lamas (6) e por Leite de Vanconcelos (7), que aqueles autores parecem não ter conhecido. DESCRIÇÃO DA MEDALHA A diferença está no anverso, onde não figura a legenda HISPANIAM ET LUSITANIAM RESTITUIT WELLINGTON, que foi substituída simplesmente por FIELD MARSHAL WELLINGTON. Rv. – Na orla, entre duas circunferências de traço liso, a legenda, que começa em baixo, do lado esquerdo do observador, e não tem nenhuma interrupção: VIMIERA AUG.21.1808. TALAVERA JULY 28.1809. ALMEIDA MAY 5.1811. No campo, em oito linhas horizontais, a inscrição: CUIDAD (sic)|| RODRIGO || JAN.19.1812 || BADAJOZ || APRIL 2.1812 || SALAMANCA || JULY 22.1812 &c. &c. &c. Lamas descreve cinco medalhas ou variantes dedicadas a Wellington e Leite de Vasconcelos três dessas. Aquela que integra a colecção de Oliveira Martins é uma variante da descrita sob o n.º 98 (com duas variantes assinaladas, n.º 99 e n.º 100), por Lamas e sob o n.º 4 por Leite Vasconcelos. Exemplar da colecção de Francisco Ernesto Oliveira Martins. 1812 – Dedicada a Lord Wellington. Na orla, a legenda que começa a três quartos, da esquerda para a direita do observador e não tem interrupção: FIELD MARSHAL WELLINGTON, laureado, com farda e voltado à esquerda do observador. No bordo tem serrilha de traço oblíquo. AE. Diâmetro: 27 milímetros. [173] Foi um brilhante cabo de guerra e talvez o mais célebre adversário de Napoleão Bonaparte, a quem conseguiu vencer. Foi nomeado comandante das forças ditas auxiliares inglesas que no ano de 1808 e sucessivamente em 1809 e 1810 vieram a Portugal e Espanha combater os franceses e que os derrotaram. Ficou por isso conhecido pelo Libertador de Portugal e de Espanha. 11.OS_Medalhas_ReisLeite 8/17/10 11:37 AM Page 174 A TERCEIRA MEDALHA É UM EXEMPLAR DAQUELAS QUE A CIDADE DE CADIZ, ONDE SE REALIZOU O CASAMENTO, MANDOU CUNHAR PARA COMEMORAR O ENLACE MATRIMONIAL DE FERNANDO VII DE ESPANHA COM A SOBRINHA, A PRINCESA MARIA ISABEL, FILHA DE D. JOÃO VI E DE D. CARLOTA JOAQUINA, SUA IRMÃ. Este casamento, que se inscrevia na política externa portuguesa (8) e na qual Carlota Joaquina jogava tudo por tudo na aproximação das coroas ibéricas e na sua ambição interventiva na política espanhola, realizava-se concomitantemente com outro da irmã de Maria Isabel, a princesa Maria Francisca, com um irmão do rei Fernando VII e de Carlota Joaquina, o infante Carlos Maria Isidro. Anverso Reverso DESCRIÇÃO DA MEDALHA [174] Assim, as duas princesas irmãs viajaram do Rio de Janeiro na nau S. Sebastião e passados 62 dias aportaram, a 4 de Setembro de 1816, a Cadiz, no Sul de Espanha. O arcebispo de Laudicêa celebrou os casamentos por procuração ainda a bordo da nau seguindo-se o desembarque com grande pompa e um Te Duem na catedral. Foram conduzidas, a agora rainha de Espanha e a irmã, num coche puxado por populares, numa manifestação de alegria. Só a 28 de Setembro entraram em Madrid, também numa carruagem puxada por gente do povo, como era hábito na época. Friso esta circunstância porque ela se repetirá em Portugal durante a vilafrancada, como mais adiante se especifica. A infeliz rainha veio a morrer dois anos depois, a 26 de Dezembro de 1816, gorando os planos de sua mãe, apostada numa união ibérica. Diga-se a título de curiosidade, que na continuação destas alianças quase incestuosas, a princesa D. Maria Francisca viria a morrer em Setembro de 1834, em Portsmouth e o seu tio viúvo casaria, dois anos passados, com outra sobrinha e neste caso cunhada, a filha primogénita de D. João VI, Maria Teresa, que por sua vez era já viúva de um sobrinho, o infante D. Pedro Carlos António, filho este de seu tio paterno, o infante D. Gabriel António de Bourbon (9). Voltando à medalha comemorativa em causa, na colecção de Francisco Ernesto Oliveira Martins está representada por um exemplar em ouro (prata dourada), outro em prata e outro em bronze. Exemplares da colecção de Francisco Ernesto Oliveira Martins. vol. LIV ‘09 1816 – Comemorativa do Casamento da Infanta D. Maria Isabel com Fernando VII. Na orla, a legenda, cujas extremidades estão separadas, em baixo, por uma estrelinha: REG. FERDINANDVS ET ELISABET AVGVSTI CATHOLICI. Bustos conjugados dos dois Soberanos, voltados à direita. O busto do Rei, que figura no primeiro plano, tem farda com gola alta, coroa de louro que se prende junto da nuca com laço, manto e insígnia da Ordem do Tosão de Ouro. O busto da Rainha tem um vestido decotado. Rv. – No arco superior da orla, a legenda: SVPER MVROS TVOS CONSTITVI CVSTODES.ISAI.62. No exergo, que está separado por friso, em quatro linhas horizontais, a legenda: HISPAN.ET LVSITAN.FOEDVS || PERPET.AVGVSTO COM || NVBIO GADIBVS || MDCCCXVI. Emblema das armas da cidade de Cadiz: Hercules, apenas coberto com um pano, de pé entre duas colunas, e a segurar, pelas cabeças, dois leões rompantes. Nas colunas há duas fitas enroladas em S, nas quais se lêem as seguintes legendas: NUN PLUS == ULTRA. AU. AR. BR. Diâmetro: 34 milímetros. Bibl.: Lopes Fernandes, n.º 89; Lamas, n.º 103. 11.OS_Medalhas_ReisLeite 8/17/10 11:37 AM Page 175 UMA COLECÇÃO AÇORIANA DE MEDALHAS A QUARTA MEDALHA É UM EXEMPLAR DE UMA PLACA DE COMENDADOR DA ORDEM MILITAR DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO DE VILA VIÇOSA OU ORDEM DA CONCEIÇÃO, COMO É CONHECIDA NA GÍRIA. Por alvará (11) de 10 de Setembro de 1819 aprovaram-se os estatutos, estabelecendo-se que a ordem teria 12 Grã-Cruzes, 40 Comendadores e 100 Cavaleiros. A insígnia, uma só, variava em dimensões conforme o grau, sendo usada em fita de chamalote azul orlada de branco, as grã-cruzes numa fita larga traçada do ombro direito para o esquerdo, os comendadores de uma fita ao pescoço e os cavaleiros ao peito, do lado esquerdo. Foi desenhada pelo artista francês, Jean Baptista Debret (1768-1848), discípulo de David, o qual fez parte da missão artística que em 1815 foi ao Rio de Janeiro e permaneceu nessa cidade até 1831. A ordem era simplesmente honorífica e dispensava habilitação, conforme a regra geral das ordens militares honoríficas. Durou até ao fim do regime monárquico e tornou-se na mais comum das condecorações da Monarquia Constitucional, para galardoar serviços à Pátria e ao Rei. Exemplar da colecção de Francisco Ernesto Oliveira Martins. DESCRIÇÃO DA INSÍGNIA 1819 – Estrela grande de nove pontas. Esmaltadas de branco e arraiadas de ouro, com nove estrelas pequenas do mesmo esmalte, colocadas sobre os raios de ouro entre cada uma das suas pontas, e coroada com a coroa real sobre a ponta superior. No centro, em campo de ouro fosco a saudação angélica (Ave Maria) em cifra de ouro polido e em circunferência. Sobre faixa esmaltada de azul claro tem escrito: PADROEIRA DO REINO. [175] Neste caso trata-se não de uma medalha comemorativa mas sim de uma insígnia. A Ordem Militar de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa (10) foi instituída por D. João VI em Decreto de 6 de Fevereiro de 1818 para celebrar o acto da sua aclamação como rei, no Rio de Janeiro, em reconhecimento da protecção divina a Portugal e como testemunho da devoção régia a Nossa Senhora da Conceição, invocada por Padroeira do Reino desde D. João IV. A cabeça da ordem era a Capela Real de Vila Viçosa, consagrada à Virgem da Conceição e tinha três graus, a Grã-Cruz, o Comendador e os Cavaleiros. 11.OS_Medalhas_ReisLeite 8/17/10 11:37 AM Page 176 A QUINTA MEDALHA PODE-SE AFIRMAR QUE É O EXPOENTE MÁXIMO DESTA COLECÇÃO. TRATA-SE DA MEDALHA COMEMORATIVA DE RESTAURAÇÃO DO REGIME ABSOLUTO, LEVADA A CABO PELO GOLPE DE ESTADO CONHECIDO COMO VILAFRANCADA (12) POR SE TER DESENVOLVIDO NESSA LOCALIDADE. [176] O golpe de vilafrancada, na sequência de uma revolta em Trás-os-Montes, chefiado pelo Marquês de Chaves, desenvolveu-se entre 27 de Maio e 3 de Junho de 1823, pelo Exército e pelo Infante D. Miguel, pondo fim à primeira experiência liberal portuguesa. Joel Serrão (13) interpreta-o como uma manobra política que passou por várias fases e acabou por ser controlada pelo rei D. João VI e seus apaniguados, que manobraram no sentido de uma plataforma de entendimento entre as partes envolvidas, com um projecto de carta constitucional e formação de um governo com ministros absolutistas e outros liberais moderados, entre eles, Manuel Inácio Martins Pamplona, Palmela e Mouzinho da Silveira. A medalha comemorativa destes acontecimentos é considerada uma das mais notáveis e curiosas das referentes a Portugal, tanto como documento histórico como obra de arte (14). Lamas, no seu catálogo, apresenta um exemplar de reprodução galvanoplática e um outro em bronze fundido, mas fala da existência de uma raridade em prata, com um espigão para se adaptar uma argola, que começou por considerar peça única e depois admitiu que se conheciam poucos exemplares fundidos com grande imperfeição. É uma destas raridades, um ensaio fundido em prata, que pertence ao coleccionador açoriano. Transcreve-se, a título de curiosidade, o que diz Lamas acerca da simbologia do reverso desta medalha (15): “No reverso desta medalha reproduz-se uma scena passada com Jesus Cristo, narrada do cap. IV, vers. 36-39, do Evangelho de S. Marcos, citado, e em parte transcrito, na legenda da orla. Diz o referido Evangelista que um dia Jesus Cristo foi para a beira-mar contar aos seus discípulos a parábola do semeador e que, tendo-se juntado muita genta para o ouvir, teve de se retirar para dentro de uma barca, de onde continuou, próximo da terra, a narrativa. Terminada a parábola, sendo já tarde, ordevol. LIV ‘09 nou que a barca passasse para a margem oposta, deitando-se a dormir, com a cabeça apoiada num travesseiro. A meio caminho, porém, levantou-se grande tempestade; mas Cristo, despertado pelos discípulos, logo a fez cessar. Inspirando-se neste trecho bíblico, o autor da medalha comparou o estado com uma nau, prestes a naufragar, em consequência da revolução de 1820, o que se evitou devido à prudente intervenção de D. João VI”. Exemplar da colecção de Francisco Ernesto Oliveira Martins. Anverso Reverso DESCRIÇÃO DA MEDALHA 1823 – Comemorativa da Restauração do Regime Absoluto (Vilafrancada). No arco superior da orla, a legenda: DATAE SUNT MULIERI ALAE DUAE AQUILAE MAGNAE, UT VOLARET IN DESERTUM IN LOCUM SUUM. Ap. 12. (Apocalipse, XII, 14). Em cima, sobre um fundo completamente coberto de folhas e ramos de carvalho, paira uma águia grande, de asas abertas, com uma palma atravessada no bico, no qual está também suspenso um medalhão oval ornamentado com duas grinaldas de flores, que contém o busto de D. Carlota Joaquina, a três quartos para a esquerda, laureado e rodeado da legenda: JUDITH LUSITANA MULIER FORTIS. 11.OS_Medalhas_ReisLeite 8/17/10 11:37 AM Page 177 UMA COLECÇÃO AÇORIANA DE MEDALHAS Na parte de baixo, há um muro, curvo em cima, que parece prolongar-se para os lados em balaustrada e que é ladeado por dois pilares em que assentam, sobre bolas, duas pirâmides. Nesse muro, que é encimado pelas Armas Reais da época (as quinas sobre a esfera), ornamentadas com uma palma e um ramo de carvalho, lê-se a seguinte legenda, em quinze linhas horizontais: A SENHORA ||D. CARLOTA JOAQUINA || POR ESTA GRANDE, || E IMMORT RAINHA, HONRA E || GLORIA DO SEU SEXO E DO ALTO || LOGAR, QUE OCUPA || INFLAMMADOS JUSTAMENTE || O SR. INFANTE D. MIGUEL SEU FILHO || E O HONRADO MARQUEZ MANOEL DA || SILVEIRA PINTO DA FONSECA TEIXEIRA, E || OUTROS, SEOS PARENTES E AMIGOS FIRMES || NA LEALDADE À PATRIA, AO THRONO, E A DE || OS, E NA VONTADE DEL REI O SR. D. JOÃO VI || RESTAURÁRÃO A MONARCHIA EM || 1823 CONTRA A REVOL. DE 1820. Junto do pilar do lado esquerdo, está o Tempo, personificado num velho de barbas, sentado no chão, descalço e com leve vestuário, o qual olha e aponta com a mão esquerda para a 2.ª linha da legenda gravada no muro, e tem a mão direita estendida para trás, para mergulhar uma pena num tinteiro; sobre os joelhos tem um livro aberto, em cujas páginas se lê: Reclu || sa || no || RAMA || LHÃO || Venceo || poisque. No outro pilar está encostado o Arcanjo S. Miguel, de pé, a pisar, com o pé direito um papel que tem inscrito: 24 || D’AGOS || TO || DE || 1820, e a desenrolar um pano que contêm a seguinte legenda, em quatro linhas: MICHAEL, ET ANGELI EJUS || PRAELIABANTUR CUM DRACONE || ET PROJECTUS EST DRACO (1) ET || ANGELI ESUS CUM ILLO. Ap. 12 (Apocalipse, XII, 7 e 9) (2). PATRIAM, IN PARENTES AMORE, PIETATE, FIDE OMNIUM SPECULUM, EXEMPLAR. No outro medalhão está gravado o busto do Marquês de Chaves, com farda e voltado à esquerda, e na fita que o suspende lê-se o seguinte: M.S.P.F.T. (iniciais do nome do Marquês: Manuel da Silveira Pinto da Fonseca Teixeira) || MARQ. DE CHAVES || AMICUS FIDELIS PROTECTIO FORTIS. Todas estas legendas são cavadas excepto a da orla, que é saliente. Rv. – Na orla , a legenda que começa em cima, do lado esquerdo e é precedida de um florãozinho: TRANSEAMUS CONTRA ET || ASSUMUNT EUM ITA UT ERAT IN NAVI || ET FACTA EST PROCELLA MAGNA || ET FLUCTUS MITTEBAT IN NAVIM ITA UT IMPLERETUR || ET ERAT IPSE IN PUPPI SUPER CERVICAL DORMIENS ET EXCITANT EUM || ET EXURGENS || DIXIT MARI TACE || ET FACTA EST TRANQUILLITAS MAGNA. marc. 4 (3). No exergo há uma espécie de muralha, ornamentada, na qual está inscrita, ao centro, a seguinte legenda, em quatro linhas horizontais: O SNR. REI D. JOÃO VI || PELLA SUA PRUDENCIA || VERD.RO IMITADOR DE JESU C. || E MODELO DOS LEGISLADORES. Sobre o mar, extremamente revoltoso, vagueia, à mercê das ondas, uma nau, cujos mastros e velas estão desmantelados e é tripulada pelo Rei e por sete ministros, que estão todos fardados. Um dos ministros, que estava ao leme, abandonou este e pôs as mãos ao peito, em atitude de terror: quatro procuram, atarefadamente, reparar as avarias nas cordas e nas velas e os outros dois acordam apressadamente D. João VI, que está deitado na popa, com a cabeça apoiada num travesseiro. Na proa do barco está suspensa uma âncora e num dos mastros está fixada uma flâmula, muito comprida, na qual se lê a seguinte legenda: IESUM IMITATI LETHIFERA TEMPESTATE PATRIAM LIBERTABINUS COORTA NONO K. SEPT. 1820. As legendas da orla e do exergo são salientes. A da flâmula é incusa. O Arcanjo tem junto de si a competente lança, onde se suspende uma balança. Cada uma das pirâmides está ornamentada, do lado que fica mais próximo da orla, com dois estandartes, e tem na frente um medalhão oval, envolvido por uma coroa de louro, assente sobre uma palma e suspenso na terceira espira de uma fita, que se enrola na pirâmide de cima para baixo, até certa altura, e que depois fica caída para o lado. O medalhão do lado esquerdo tem gravado o busto de D. Miguel, fardado voltado a três quartos para a direita, e por baixo dele lê-se a seguinte legenda: REGIBUS || NATUS || D. JOANNE VI || ET D. CARLOTA JOAQUINA || VII CALENDAS NOVEMB 180(2). Na fita que suspende este medalhão, lê-se: INFANS || D. MICHAEL. || IN AR. Diâmetro: 0,1135 m. Bibl.: Lamas: Uma Medalha Portuguesa inédita. (1) Em sentido figurado, no caso presente, o Dragão derrotado era a revolução de 1820, como se depreende do facto de S. Miguel estar pisando o papel que tem escrito: 24 de Agosto de 1820. (2) Tanto nesta como noutras legendas extraídas da Bíblia o gravador omitiu algumas palavras. (3) Esta legenda é extraída do Evangelho de S. Marcos, IV, 35-39. O gravador omitiu muitas palavras mas teve o cuidado de colocar traços nos pontos cortados. [177] Do lado esquerdo há uma fita, que também se prende no bico da águia e que tem inscrito: REGIAE STIRPIS HONOR ET GLORIA D.C.J.R.F. (D. Carlota Joaquina, Rainha Fidelíssima). 11.OS_Medalhas_ReisLeite 8/17/10 11:37 AM Page 178 A SEXTA MEDALHA É TAMBÉM RELACIONADA COM O GOLPE DE ESTADO DE VILAFRANCADA, MAS CLASSIFICADA DE GALARDÃO E RECOMPENSA, SE BEM QUE ALGUMAS VEZES APAREÇA COMO CONDECORATIVA (16). Com a vitória do golpe de Estado, a 5 de Junho, o rei regressou a Lisboa acompanhado de um cortejo triunfal e já na capital um grupo de súbditos desatrelou os cavalos da carruagem real para a puxarem eles próprios, que, como sabemos, não era um acto inédito, pois acontecia como manifestação de júbilo em cerimónias, como por exemplo no casamento da princesa D. Maria Isabel, filha de D. João VI, com Fernando VII. Contudo, neste caso, foi ridicularizado pelos liberais derrotados e passou à historia como uma demonstração de fanatismo. Seja como for, os nomes desses “heróis”, participantes do cortejo triunfal, foram publicados na Gazeta de Lisboa, o jornal oficial de então, para que ficasse memória do seu patriotismo (17). [178] O rei, por sua vez, para dar testemunho a todos os que o acompanharam e ao seu filho, o infante D. Miguel, por Decreto de 24 de Junho de 1823, concedeu uma medalha que foi cunhada na Casa da Moeda (18), conhecendo-se contudo variantes com outros cunhos (19), de ouro para os oficiais, de prata, para os oficiais inferiores, cadetes e soldados, com a legenda FIDELIDADE AO REI E A PATRIA, que se usava no peito ao lado direito, pendente em fita azul com duas listas laterais escarlates. Logo a gíria trocista dos derrotados e a ironia popular passou a chamá-la a Medalha da Poeira, alegando que os destemidos militares, o único incómodo que haviam sofrido era a poeira da jornada. Contudo, essa medalha foi muito cobiçada e acabou por ser profusamente distribuída, brilhando no peito de muitos liberais moderados que haviam, eles também, acompanhado a Majestade nesses dias de 1823. Foi-se, aliás, ampliando o âmbito das pessoas a quem a medalha foi atribuída. Por Decreto da mesma data, 24 de Junho de 1823, estendeu-se àqueles militares que haviam feito guarda à Rainha D. Carlota Joaquina e à infanta D. Maria Francisca. De seguida, por Decreto de 28 de Junho, concedeu-se a medalha aos oficiais e mais indivíduos do corpo da divisão do Conde de vol. LIV ‘09 11.OS_Medalhas_ReisLeite 8/17/10 11:37 AM Page 179 UMA COLECÇÃO AÇORIANA DE MEDALHAS A 29 de Setembro de 1823, novo Decreto compensava todos aqueles que haviam partido dos lugares onde se achavam para se juntarem ao rei e ao infante, alargando assim o número de galardoados. Para que houvesse contudo distinção entre cada grupo, determinou-se que os oficiais que a 27 de Maio se uniram a D. Miguel ou que partiram dos lugares onde se achavam, para o mesmo fim, usavam o distintivo na sua versão primitiva. Os que se uniram ao infante, de 28 a 30 de Maio, usavam vivo escarlate no meio da lista branca e as listas verdes dos lados. Aqueles que desde 30 de Maio até 5 de Junho se uniram ao rei deviam ter no meio da fita verde e branca, um vivo amarelo e por fim aqueles outros que nas províncias, não sabendo da retirada de D. João VI da capital, mesmo assim haviam aclamado os seus direitos, passariam também a usar a medalha, mas com um vivo azul ferrete no meio da lista branca e as verdes dos lados. Ficavam assim diferenciados os vários grupos que haviam contribuído para o golpe vitorioso de vilafrancada (20). Anverso Reverso DESCRIÇÃO DA MEDALHA 1823 – Medalha intitulada de Fidelidade ao Rei, vulgo, Medalha da Poeira. Na orla uma circunferência decorativa e no campo o busto de D. João VI coroado de louros com manto, virado à direita do observador entre uma coroa aberta de dois ramos, uma palma e um ramo de louro, unidos na base. O exemplar desta colecção é uma miniatura de prata correspondente ao modelo regular 1, mas pendente de uma fita azul com listas laterais brancas, o que não corresponde a nenhum dos figurinos dos decretos conhecidos. Rv. – Na orla a mesma circunferência e no campo a legenda em quatro linhas: FIDELIDADE || AO REI || E A PATRIA || 1823. Exemplar da colecção de Francisco Ernesto Oliveira Martins. AR. miniatura. Na parte superior tem um espigão decorado ligado a uma argola que a prende à fita. Bibl.: Lopes Fernandes n.º 93 e Estrela p. 204 e seg.. [179] Amarante, que tinham iniciado o grito de fidelidade ao rei, e ainda a todos os outros que a eles se juntaram. A diferença dessa medalha, agora concedida, que também havia de ouro e de prata, é que no reverso tinha a legenda HEROICA FIDELIDADE TRANSMONTANA. A fita da qual pendia era neste caso branca, com duas listas verdes. 11.OS_Medalhas_ReisLeite 8/17/10 11:38 AM Page 180 A SÉTIMA MEDALHA É DEDICADA À RAINHA D. MARIA II E LAMAS (21) INCLUIU-A NAS MEDALHAS COMEMORATIVAS. FOI MANDADA CUNHAR EM PARIS, QUANDO A RAINHA VIVIA NESSA CIDADE, EM 1833, MAS DESCONHECE-SE QUEM A MANDOU FAZER. FOI, CONTUDO, GRAVADA POR JEAN JACQUES BARRE. Os exemplares eram de estanho, cobre, prata e ouro, sendo raros os últimos dois e muito abundantes os primeiros (22). Eram possivelmente medalhas que se destinavam à propaganda da causa da Rainha e para serem usadas pelos seus apoiantes ao peito ou ao pescoço, penduradas numa fita, sendo por isso algumas delas, como esta da colecção, furadas e acrescidas de uma argola. Anverso Reverso DESCRIÇÃO DA MEDALHA [180] Contudo, não chegaram a cumprir a sua missão pois acabaram por vir para Portugal praticamente ao mesmo tempo que D. Maria II desembarcou em Lisboa, a 22 de Setembro de 1833, quando a guerra civil estava decidida a favor dos liberais. O mais interessante do exemplar desta colecção é ser uma variante que não consta das descrições nem de Lopes Fernandes nem de Lamas, pois nas descritas por aqueles autores (n.os 103 e 125 respectivamente) as legendas são diferentes. No anverso está inscrito D. MARIA II RAINHA DE PORTUGAL e no reverso GLORIA SALUS || PATRIA LIBERTAS. Exemplar da colecção de Francisco Ernesto Oliveira Martins. vol. LIV ‘09 1833 – Medalha dedicada à Rainha D. Maria II. Na orla a legenda, que começa do lado esquerdo e é interrompida em cima e no exergo: RAINHA PATRIA || LIBERDADE. No campo cabeça da Rainha D. Maria II, com uma trança do cabelo enrolada no alto e com três espessos caracóis caídos sobre as orelhas. No exergo, por baixo do corte do busto, numa linha curva, a assinatura: BARRE. Rv. – A legenda que começa do lado esquerdo, em baixo e é interrompida em cima e no exergo: AO VALOR || E LEALDADE. No campo, as Armas Reais Portuguesas ornamentadas. AR. Diâmetro: 36 milímetros. 11.OS_Medalhas_ReisLeite 8/17/10 11:38 AM Page 181 UMA COLECÇÃO AÇORIANA DE MEDALHAS A OITAVA MEDALHA É DE GALARDÃO OU RECOMPENSA POR SERVIÇOS HUMANITÁRIOS, CRIADA POR DECRETO DE 3 DE NOVEMBRO DE 1852, PUBLICADO NO DIÁRIO DO GOVERNO DE 29 DESSE MÊS, PELA RAINHA D. MARIA II PARA PREMIAR CIDADÃOS NACIONAIS E ESTRANGEIROS QUE POR OCASIÃO DE NAUFRÁGIOS TIVESSEM SALVADO VIDAS, ASSIM COMO OUTROS ACTOS DE FILANTROPIA (23). Cunharam-se medalhas de ouro e de prata, gravadas por Gerard. Os galardoados usavam-na pendente de uma fita bipartida azul e branca, no lado direito do peito, quando fosse de prata e pendente ao pescoço sendo de ouro. Reverso DESCRIÇÃO DA MEDALHA 1854 – Medalha de Filantropia. Na orla, a legenda que começa do lado esquerdo: D. MARIA II RAINHA DE PORTUGAL, é interrompida no exergo. No campo, busto da Rainha de lado virada à esquerda do observador, com teara e penteado apanhado na nuca em trança grossa e uma fita. O exemplar desta colecção é de prata e corresponde precisamente ao 2.º cunho. Rv. – Na orla a legenda PHILANTROPIA • GENEROSIDADE e no exergo, em duas linhas INSTITUIDA POR S.M.F. || A RAINHA A SENHORA D. MARIA II. No campo uma coroa de louros circular e no meio a legenda em duas linhas AO || MÉRITO. Exemplar da colecção de Francisco Ernesto Oliveira Martins. AR. Bibl.: Lopes Fernandes n.º 115. [181] Falecida a rainha, a 15 de Novembro de 1853, o novo rei, D. Pedro V, conservou a medalha de filantropia que sua mãe havia criado, mas mandou abrir novos cunhos em que se alterava o reverso passando a dizer-se não AO MERITO A RAINHA DE PORTUGAL, mas AO MERITO INSTITUIDA POR S.M.F. A RAINHA A SRª D. MARIA II. Neste segundo cunho não aparece o nome do gravador, GERARD FT. Anverso 11.OS_Medalhas_ReisLeite 8/17/10 11:38 AM Page 182 A NONA MEDALHA É A MUITO FALADA, MAS POUCO CONHECIDA MEDALHA DE GALARDÃO OU RECOMPENSA DOS SERVIÇOS PRESTADOS À CAUSA DA LIBERDADE DURANTE OS ANOS DA IMPLANTAÇÃO DO REGIME LIBERAL OU DA MONARQUIA CONSTITUCIONAL (1826-1834). É TAMBÉM CONHECIDA POR MEDALHA DAS CAMPANHAS DA LIBERDADE E COMO MEDALHA DE D. PEDRO E D. MARIA, SENDO ESTA, ALIÁS, A DENOMINAÇÃO OFICIAL. Foi instituída por D. Pedro V para galardoar aqueles que fizeram serviços militares e civis em defesa do Trono Legítimo desde 31 de Julho de 1826 até 27 de Maio de 1834, ou seja, do juramento da Carta Constitucional à convenção de Évora Monte. O Decreto (24) de 16 de Outubro de 1861, que a instituiu, foi publicado no Diário de Lisboa, no dia 19 e na Ordem do Exército n.º 24. [182] A descrição da medalha no artigo 1.º do Decreto é a seguinte: “Esta distinção consistirá em uma medalha de cobre de três centímetros de diâmetro, a qual terá de um lado, e em torno, a legenda – D PEDRO IV – D MARIA II – no meio as efígies destes soberanos e na parte inferior os milésimos – 1826 – vol. LIV ‘09 1834 – sobreposto o primeiro ao segundo. No verso, em torno, a legenda – CAMPANHAS DA LIBERDADE – ou a legenda – SERVIÇOS CIVIS – e no centro um dos algarismos 1 – 2 – 3 – 4 – 5 – 6 – 7 – 8 ou 9”. A medalha foi gravada na Casa da Moeda pelo célebre José Osvaldo Nogueira Molarinho (1828-1907) o melhor gravador português (25). Usava-se este galardão no lado esquerdo do peito pendente de uma fita azul ferrete, com um filete branco longitudinal no meio, para a medalha militar e com orlas brancas para a medalha civil. O algarismo do reverso designava os anos que o agraciado tinha servido, o ano inicial e o final contavam como completos. Aqueles cidadãos que tivessem serviços militares e civis atribuía-se-lhes a medalha militar ou a civil conforme o maior número de anos num ou noutro serviço. Estabelecia-se ainda uma comissão, composta por sete membros, quatro militares e três civis, escolhidos entre funcionários que tinham direito à medalha, para classificar as pessoas segundo os seus serviços e os nomes dos distinguidos foram publicados na Ordem do Exército para os serviços militares e no Diário de Lisboa, para os civis. Um Decreto de 20 de Novembro de 1861 nomeou a comissão (26) e deu-lhe as instruções que devia seguir. 11.OS_Medalhas_ReisLeite 8/17/10 11:38 AM Page 183 UMA COLECÇÃO AÇORIANA DE MEDALHAS Como acontece sempre nestas coisas, a distribuição das medalhas, a classificação dos serviços e a contagem dos anos não foram pacíficas e levantaram uma tempestade de protestos e críticas ao ponto de na inauguração da estátua de D. Pedro IV, no Rossio, a 29 de Abril de 1870, muitos militares condecorados com esta medalha, que tinham uma tribuna especial para assistirem, não compareceram por estarem escandalizados com as irregularidades havidas na sua concessão (27). Curiosamente conhecem-se exemplares de medalhas douradas e prateadas, por exemplo na colecção do Museu de Angra do Heroísmo, outras com uma travessa de metal na fita, com o algarismo correspondente à medalha e ainda miniaturas, tudo coisas que a legislação não contemplava. Os dois exemplares da colecção de Oliveira Martins são da medalha militar, uma n.º 3, prateada e uma miniatura de uma n.º 9. Exemplares da colecção de Francisco Ernesto Oliveira Martins. Medalha militar n.º 3 e Miniatura da medalha militar n.º 9. [183] Para dar um exemplo caseiro, na lista da atribuição da medalha militar de 1862, Teotónio de Ornelas, Visconde de Bruges (28) recebeu a medalha n.º 7, certamente por não se lhe terem contado como anos de serviço aqueles de 1832 e 1833 em que ficara na retaguarda, nos Açores. Só no ano seguinte se emendou a contagem dos serviços e lhe foi atribuída a medalha n.º 9 (29). Devem ter sido situações como esta e outras parecidas que feriram as vaidades. Anverso Reverso DESCRIÇÃO DA MEDALHA 1861 – Medalha D. Pedro e D. Maria. Na orla a legenda, que começa do lado esquerdo, a três quartos, e é interrompida em cima: D. PEDRO IV D. MARIA II. No campo os bustos configurados dos dois soberanos, de perfil e voltados à esquerda do observador. A rainha, de tiara e com túnica e o rei coroados de louros e de pescoço nu. Rv. – A legenda que começa do lado esquerdo, sem interrupção: CAMPANHAS DA LIBERDADE e no exergo, sobrepostas as duas datas: 1826 || 1834. No campo, num círculo de traço contínuo o algarismo correspondente aos anos de serviço militar: nestes casos 3 e 9. AE. Diâmetro: 30 milímetros. Bibl.: Relação Geral das Concedorações…, s.d.. 11.OS_Medalhas_ReisLeite 8/17/10 11:38 AM Page 184 A DÉCIMA MEDALHA É UM EXEMPLAR EM COBRE DA MEDALHA COMEMORATIVA DA INAUGURAÇÃO, A 29 DE ABRIL DE 1870, DO MONUMENTO A D. PEDRO IV, ERIGIDO EM LISBOA. FOI GRAVADA POR MOLARINHO, CONHECENDO-SE EXEMPLARES EM PRATA, COBRE E ESTANHO. Foi mandada fazer pela comissão encarregada de executar o monumento no Rossio da capital e Lamas (30), no seu livro, especifica as condições em que a medalha foi elaborada e distribuída, afirmando que em 1870 se cunharam unicamente aquelas que foram oferecidas ao rei D. Luis, na cerimónia e só no ano seguinte se distribuíram os outros exemplares, cujo número foi limitado a 25 de prata e 200 de cobre, mas é possível, afirma, que posteriormente se tenham cunhado outras. Existem exemplares, talvez os primeiros a saírem, que tem data de inauguração a 28 de Abril que depois se corrigiu para 29. [184] Exemplar da colecção de Francisco Ernesto Oliveira Martins. Anverso Reverso DESCRIÇÃO DA MEDALHA 1870 – Comemorativa da inauguração do monumento de El-Rei D. Pedro IV, erigido em Lisboa. Na orla, a legenda, que começa ao lado esquerdo e é interrompida em cima e no exergo: D. PEDRO IV – REI DE PORTUGAL. Busto do Soberano, com barbas compridas, voltado à direita, com coroa de louro, que se prende, junto da nuca com uma fita enlaçada cujas pontas estão caídas sobre as costas, fardado de grande uniforme, e condecorado com o colar e respectiva insígnia da Ordem da Torre e Espada. Do lado direito do peito, pendem dois cordões com borlas nas extremidades. No exergo, que não está separado por friso, junto do corte do busto, a assinatura: MOLARINHO. Rv. – No arco superior da orla, a legenda: MONUMENTO LEVANTADO A MEMORIA DE D. PEDRO IV, e no arco inferior, que daquele está separado por duas estrelinhas: INAUGURADO EM LISBOA. Ao centro , a data: 29 || DE || ABRIL || 1870, escrita em quatro linhas horizontais, entre duas palmas cujos pés estão unidos por um nó, tudo envolvido por uma coroa de folhas de carvalho e louro, completamente fechada, e ligada com uma fita que se cruza em cima, em baixo e aos lados. AE. Diâmetro: 50 milímetros. Bibl.: Lamas, n.os 169 e 170. vol. LIV ‘09 11.OS_Medalhas_ReisLeite 8/17/10 11:38 AM Page 185 UMA COLECÇÃO AÇORIANA DE MEDALHAS A DÉCIMA PRIMEIRA MEDALHA É UM EXEMPLAR MUITO CURIOSO DE UMA MEDALHA DE GALARDÃO DE UM COLÉGIO PARTICULAR DA ILHA TERCEIRA. Em 1844, Dr. Roberto Luis de Mesquita Pimentel (31) fundou, na sua casa na Terra Chã, nos arredores de Angra, na quinta de N.ª Senhora da Guia, um colégio particular com essa invocação da Virgem. Fundava-se tal instituição por ser reconhecido publicamente que as escolas oficiais de primeiras letras eram de ensino muito deficiente e por isso várias famílias desejaram um estabelecimento de qualidade onde os filhos pudessem ser educados (32). Usava-se do lado esquerdo do peito, pendente de um laço de fita verde, mas sendo algum aluno premiado mais de uma vez, as medalhas que ganhavam iam sendo ornadas com laços de fita de cores diferentes. Na colecção de Oliveira Martins existe uma dessas medalhas, que foi atribuída a Jácome de Bruges (1833-1889) (34), filho primogénito de Teotónio de Ornelas Bruges, em 1846 como prémio da sua distinção no estudo de língua francesa, 1.ª subdivisão. Exemplar da colecção de Francisco Ernesto Oliveira Martins. Anverso Reverso DESCRIÇÃO DA MEDALHA Na orla, a legenda, que começa do lado esquerdo e é interrompida pelo exergo: 1ª SUBDIVISÃO DA LINGUA FRANCESA. No exergo a data 1846. No campo o nome do premiado JACOME || DE BRUGE (sic). Rv. – Em seis linhas COLLEGIO || DE || NOSSA SENHORA || DA GUIA || DA ILHA || TERCEIRA. Rebordo – Saliente com um espigão ornamentado, suportando uma argola para prender a fita. AR. Diâmetro: 30 milímetros. [185] Nesse novo colégio recebiam-se meninos entre os sete e os doze anos comprometendo-se o director a educá-los e a ensiná-los. Os estatutos, que são assinados por uma comissão e datados de 1843, especificam as condições de admissão e de ensino e regulam a vida do colégio. O seu art.º 4.º, que trata dos prémios e dos castigos instituía oito medalhas de distinção para aqueles alunos que mais se distinguissem nas oito classes de estudo. O n.º 53 do referido artigo descreve-a assim (33): “Essas medalhas são de prata, com peso de quatro oitavas, e em uma das faces terão o nome do Discípulo, com declaração da classe, a que pertence, e o ano em que foi premiado, e no reverso haverá esta legenda – COLLEGIO DE NOSSA SENHORA DA GUIA DA ILHA TERCEIRA. 11.OS_Medalhas_ReisLeite 8/17/10 11:38 AM Page 186 A DÉCIMA SEGUNDA É UMA MEDALHA COMEMORATIVA DO 150.º ANIVERSÁRIO DA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL E ANO EM QUE PORTUGAL ENTREGOU AO PAÍS IRMÃO OS RESTOS MORTAIS DE D. PEDRO DE BRAGANÇA, O PRIMEIRO IMPERADOR DO BRASIL E PATRONO DA SUA INDEPENDÊNCIA, EM 1822. A medalha foi gravada pelo escultor e medalhista açoriano, Numídio Bessone (1913-1985) (35) um dos grandes artistas portugueses, que estudou em Roma e nessa cidade se especializou em medalhística na Escola de Artes da Medalha. É uma medalha comercial executada pela Gravarte, de Lisboa e dela se cunharam 500 exemplares, sendo a da colecção de Oliveira Martins o número 425. Exemplar da colecção de Francisco Ernesto Oliveira Martins. Anverso Reverso DESCRIÇÃO DA MEDALHA [186] 1972 – Medalha Comemorativa do 150.º aniversário da independência do Brasil. Na orla, a legenda, que começa no exergo do lado esquerdo, sem interrupção: DOM – PEDRO – PRIMEIRO – IMPERADOR – DO – BRASIL. Do campo busto de D. Pedro a três quartos, fardado e com condecorações. Por baixo do busto, à esquerda, a assinatura: NUMIDICO – 72. Rv. – Coroa aberta de dois ramos de carvalho unidos no exergo e em três linhas a legenda: HOMENAGEM || LUSO-BRASILEIRA || 1972, que na primeira e segunda linha se sobrepõe à coroa. Rebordo – 425/500 – Gravarte. Lisboa. Portugal. BR. vol. LIV ‘09 8/17/10 11:38 AM Page 187 UMA COLECÇÃO AÇORIANA DE MEDALHAS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS (1) Fernandes (1865) (2) Lamas (1916) (3) Serrão (1984), pp. 56 e seg. (4) Lamas (1916), p. 109 (5) Fernandes (1865), p. 63 (6) Lamas (1916), p. 125 (7) Vasconcelos (1911), p. 12 da separata (8) Serrão (1984), pp. 129 e seg. (9) Lamas (1916), pp. 129-130 (10) Fonseca (1955), pp. XXXI e seg. e Estrela (2009), pp. 63 e seg. (11) Fonseca (1955), p. 278 (12) Lamas (1916), pp. 152 e seg. (13) Serrão (1971) (14) Lamas (1916), p. 155 (15) Lamas (1916), p. 155 (16) Estrela (2009), pp. 204-208 (17) Fenandes (1865), pp. 82-84 (18) Aragão (s.d.) II, p. 128 (19) Estrela (2009), p. 206 (20) Estrela (2009), p. 211 (21) Lamas (1916), p. 190 (22) Fernandes (1865), p. 95 (23) Fernandes (1865), p. 101 (24) Relação Geral (s.d.), pp. 3-5 (25) Sobre Molarinho, vide Lamas (1916), p. XXXVI (26) Relação Geral (s.d.), pp. 5-7 (27) Lamas (1916), p. 257 (28) Relação Geral (s.d.), p. 17 (29) Leite (2007), p. 16 (30) Lamas (1916), pp. 254-257 (31) Enciclopédia Açoriana - PIMENTEL (32) Estatutos (1844) e Enciclopédia Açoriana - COLEGIOS (33) Estatutos (1844), p. 14 (34) Enciclopédia Açoriana. BRUGES, Jácome (35) Enciclopédia Açoriana. BESSONE, Numídico [187] 11.OS_Medalhas_ReisLeite 11.OS_Medalhas_ReisLeite 8/17/10 11:38 AM Page 188 BIBLIOGRAFIA: ARAGÃO, AC. Teixeira (s.d.). Descrição Geral e Histórica das Moedas cunhadas em nome dos Reis, Regentes e Governadores de Portugal, 2.º volume, Porto, Liv. Fernando Machado, 2.ª ed.. Enciclopédia Açoriana http://pg.azores.gov.pt/drac/cca/enciclopedia/index.aspx DIAS, Teixeira – Colégios ENES, Carlos – Numídico Bessona LEITE, José Guilherme Reis – Jácome de Ornelas Bruges, Roberto Luis de Mesquita Pimentel. Estatutos do Collegio de N.ª Sr.ª da Guia sito na Freguesia de Belém da Ilha Terceira (1844), A.H., na Officina do Terceirense, 20 p. + mapa. ESTRELA, Paulo Jorge (2009), Ordens e Condecorações Portuguesas, 1793-1824, Lisboa, Tribuna da História. [188] FERNANDES, Manuel Bernardo Lopes, (1865), “Memória das Medalhas e Condecorações Portuguesas e das Estrangeiras com relação a Portugal” In Memórias da Academia Real das Sciencias de Lisboa, Classe de Sciencias Moraes, Politicas e Bellas Letras, nova série, tomo III, parte 2.ª, Lisboa, pp. 1-144. vol. LIV ‘09 FONSECA, Belard da (1955), A Ordem de N.ª Sr.ª da Conceição, Lisboa, Fundação da Casa de Bragança. LAMAS, Arthur (1916), Medalhas Portuguesas e Estrangeiras referentes a Portugal. Memória Histórica e Descriptiva baseada na colecção iniciadas por José Lamas, Vol I – Parte I: Medalhas Comemorativas, Lisboa, Tip. de Adolpho de Mendonça. LAMAS, Arthur (1905), Uma Medalha Portuguesa inédita, Lisboa, sep. do Archeologo Português. LEITE, José Guilherme Reis (2007), Teotónio de Ornelas, A.H., ed. I.A.C. Relação Geral dos Condecorados com a Medalha de D. Pedro e D. Maria e Precedida do decreto da sua criação – do que nomeia a comissão classificadora – das instruções respectivas e dos modelos da medalha, s.d., Porto, Imp. Popular de J. L. de Sousa Bomjardim. SERRÃO, Joel (1971), “VilaFrancada”, in Dicionário da História de Portugal, Lisboa, Iniciativas Editoriais, vol IV, pp. 306-309. SERRÃO, Joaquim Verissimo (1984), História de Portugal, vol VII. “A instauração do Liberalismo” (1808-1832), Lisboa, Ed. Verbo. 11.OS_Medalhas_ReisLeite JORGE BARROS Aveiro 8/17/10 11:38 AM Page 189 11.OS_Medalhas_ReisLeite 8/17/10 11:38 AM Page 190 11.OS_Medalhas_ReisLeite JORGE BARROS Horta, Faial 8/17/10 11:38 AM Page 191 11.OS_Medalhas_ReisLeite 8/17/10 11:38 AM Page 192