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A utilização de equipamento de salvamento aquático em zonas balneares
Desde a introdução de nadadores salvadores no início do seculo XX, estes têm realizado resgates em piscinas, rios e praias oceânicas [1], [4].
No contexto especifico de praia, o equipamento de salvamento aquático foi desenvolvido a partir da experiência dos homens que trabalhavam no mar,
adaptado equipamento de aplicações prévias. Equipamentos militares, de bombeiros, de emergência médica, de pesca e dos desportos náuticos como a vela o
mergulho e o surf evoluíram numa classe de apetrechos tecnológica muito específica, de onde o equipamento de resgate (aquático) se inspirou.
O resgate [5], é definido como sendo uma resposta a um incidente e/ou acidente envolvendo pessoas e/ou bens materiais, salvando-os da iminência do perigo
ou na prevenção de possíveis danos no decorrer de uma situação de risco. Consequentemente o salvamento aquático é uma resposta a uma situação de risco
de vida adaptada ao meio aquático.
Tal ação obriga ao operacional no âmbito das operações de salvamento a uma constante avaliação do meio e das condicionantes, adaptando-se dentro dos
parâmetros de segurança, identificando potenciais riscos, mitigando-os sempre que possível [3]. Para tal deve adequar o método de salvamento para cada
situação, atendendo à disponibilidade do equipamento de salvamento, ao treino das equipas de resgate, e à sustentabilidade, proporcionando à vítima o
melhor resgate possível.
Operações de salvamento, requerem por norma um elevado grau de formação e treino (em contexto operacional), normalmente realizadas por equipes de
resgate genericamente compostas por indivíduos com formação em primeiros socorros (nadadores salvadores, militares, bombeiros).
A criação da Tabela de utilização racional do equipamento de salvamento aquático em contexto operacional é resultado de uma pesquisa de mais de 15 anos
aplicada em contexto de praia e em piscina. Especificamente esta pesquisa envolveu mais de 50 nadadores salvadores em contexto de trabalho, de diferentes
gerações e nacionalidades num ambiente de praia específico. A Praia de Carcavelos é um areal com 1450m virada a sul, na margem norte da foz do rio Tejo,
localizado a 17 km a leste de Lisboa, Portugal.
Esta praia urbana atrai regularmente banhistas e turistas ao longo de todo o ano, durante os dias de verão e em especial nos meses de julho e agosto o areal
pode acumular mais de 50.000 pessoas durante um fim-de-semana, e com boas condições de surf, atrai mais de 400 surfistas e bodyboarders, e até 50
kitesurfistas e windsurfistas quando há vento, consentindo um enorme afluxo de utilizadores e probabilidade de ocorrer acidentes e incidentes. Anualmente
ocorrem mais de 600 incidentes, registados pela ASAMAR – Associação de Salvamento Aquático e reportado ao Instituto de Socorros a Náufragos, durante a
temporada de praia (época balnear), um período de 5 meses (156 dias).
ASAMAR - Associação de Salvamento Aquático geriu o serviço de salvaguarda da vida Humana (nadadores salvadores), desenvolveu o Plano Integrado de
Segurança (PIS) melhorando o serviço, fornecendo também dados entre 2010-2013, que permitiram investigar quais os equipamentos que melhor se adequam
a cada situação e a cada salvamento, de forma a atender à eficácia e eficiência do resgate.
Esta pesquisa considerou o atual equipamento de salvamento num contexto operacional, em condições ambientais adversas, técnicas de resgate de
salvamento diversas, cenários de multi-vítimas, cenários de ocorrências em simultâneo, com nadadores salvadores com formação e experiência de praia, bem
como de outras entidades envolvidos em operações de socorro e resgate.
A experiências cumulativas dos nadadores salvadores, agregam mais de 50 anos no terreno, o que permitiu entender a utilização dos equipamentos de
salvamento, observando a sua utilização, analisando o nadador salvador no decorrer da tarefa, de forma a recomendar a melhor ferramenta para a realização
de um resgate específico, devendo ele estar ciente das propriedades do equipamento e dos potenciais riscos que surgem num cenário de salvamento.
Os equipamentos de salvamento descritos permitem observar a relação do custo/eficácia da utilização desse equipamento. A pesquisa que aqui se apresenta
deve ser considerada como um trabalho contínuo previamente realizado [2], que necessita constante revisão e atualização. Não obstante esta tabela
proporciona respostas sobre a utilização de equipamento de salvamento adequado a cada situação, atendendo não só ao meio envolvente mas também aos
utilizadores e ao custo deste. Um conhecimento que para além de salvar vidas, permite realizar salvamentos de uma forma racional e eficiente.
Palavras chave – nadador salvador, equipamento de salvamento aquático, avaliação do salvamento, eficácia e eficiência no salvamento aquático.
Utilização racional do equipamento de salvamento aquático em contexto operacional
Para calcular o custo operacional dos equipamentos, foi considerado a formação inicial e o treino do operacional de resgate, o custo inicial do equipamento
bem como uma estimativa do desgaste e da manutenção do equipamento e do pessoal. Apenas como referência o custo/hora de um nadador salvador é de
3,5€ em 2013, e o custo/hora do helicóptero AgustaWestland MH101 Merlin era, segundo a Força Aérea Portuguesa, de 7.000€/hora em 2013, sendo estes
últimos frequentemente usados para localizar cadáveres.
Considerando o equipamento de salvamento descrito, este requer por parte do operador um conhecimento e treino continuo adequado classificado como:
Avançado (A); Intermédio (I); Básico (B).
Considerando a eficácia (execução correta e célere) e a eficiência do salvamento (custo operacional), a utilização do equipamento de salvamento é:
Possível (+) ; Aceitável (++) ; Adequado (+++) .
Tabela de utilização racional do equipamento de salvamento aquático em contexto operacional
Ambiente
Custo
Tipologia do equipamento de
salvamento
Parâmetro Operacional
Helicóptero médio
Hora
Treino
Compra
Nadador
salvador
Piscina
Condições marítimas
Distancia da linha de costa
Rio,
Águas
brancas
Pontão,
Falésias,
Rochas,
Linha de
Costa
Lagos,
Ondas
Barragem,
altura
Mar
<0,5m
Calmo
Ondas
altura
0,5-1m
Ondas
altura
>2m
até
50m
entre
50-100m
entre
100-200m
mais de
200m
MultiVitima
Vitima
Incons
ciente
€€€€€
A
+
+++
++
+++
+++
++
+++
+++
+++
+++
+
++
€€€€
A
++
+
+
+++
++
** +
+
++
+++
+++
+++
++
€€€
A
+
++
+
+++
+++
** ++
++
+++
+++
++
+++
++
€€€
A
+
+++
++
++
+++
+++
+++
+++
+++
++
+
+++
€€
A
+++
++
+
++
+
+
+
+
+
Sem equipamento de proteção
individual
€
A
+
+
++
++
++
+
++
+
+
+
+
Kayak de mar
€€
I
+
++
+++
++
+
+
++
+++
++
+
Prancha Stand-Up Paddle ≥3 m
€€
I
++
+++
++
+
++
++
++
++
++
++
Prancha de salvamento ≥2,8m
€€
I
+
++
+++
+++
++
++
+++
+++
++
+++
+++
Laça cabos portátil 100m
€€
I
++
++
+
++
+
++
+
Boia torpedo
€
B
++
++
+++
++
++
++
+
+++
++
+
+
++
++
Cinto de salvamento
€
B
++
+
+
++
++
++
+++
+++
++
+
+
Barbatanas
€
B
+
++
+
++
+++
+++
+
++
+++
+++
* boia circular / saco de corda
€
B
++
+++
+++
++
++
+
+
+
€
B
+++
++
+++
+
+
+
FAP – Força Aérea Portuguesa
(EH101 Merlin)
Embarcação Semirrígida ≤8m
(RHIB)
2-4 Operadores apropriadamente
equipados
Embarcação Pneumática ≤4m
(IRB)
2-3 Operadores apropriadamente
equipados
Mota-de-água de salvamento
+ Rescue Sled
1-2 Operadores apropriadamente
equipados
Carretel amovível 200m
Salvamento de ponto fixo
Nadador Salvador
Salvamento de ponto fixo
Salvamento de ponto fixo
* vara de salvamento ≥5m
Salvamento de ponto fixo
+
+
++
+
+
+++
++
+
+
* Equipamento de salvamento disponível para utilização de pessoas não treinadas em salvamento (leigos).
** Perigo extremo, com ondulação acima de 2m e período da onda abaixo de 10", requer uma equipa de nadadores salvadores com conhecimento de correntes oceânicas,
marés e batimetria (fundo do oceano).
Conclusões
Todo o equipamento de salvamento, requer por parte do operador, um constante treino e uma utilização coerente e sustentada. O melhor salvamento será
sempre uma prevenção educada evitando uma resposta que acarreta custos operacionais e eventualmente vidas humanas.
Perante o perigo iminente de um incidente e/ou acidente, a avaliação da ocorrência, bem como um entendimento circunstancial da mesma, é essencial para o
sucesso das operações de salvamento. Devem em todas as circunstancias os operacionais de salvamento e o coordenador, ter sempre presentes os riscos dos
processos envolvidos.
Desta forma, o individuo responsável pelas operações de salvamento, deve considerar todos os equipamentos de salvamento (métodos), operados pelas
equipes de salvamento disponíveis (nadadores salvadores, estação salva-vidas, Força Aérea Portuguesa) de uma forma racional e sustentada do custo,
considerando a eficiência e a eficácia das operações de todas as partes envolvidas, primando pela qualidade do salvamento.
Referência bibliográfica
[1] Springer, Leonardo (2014). “Water rescue equipment evolution within the operational context - Symbiotic design as a stress reduction tool and task facilitator”. Faculty of
Fine Arts - Design Department. Lisbon University.
[2] Aguilar, Jose Placidos (2008). “Socorrismo Acuático Profesional. Formación para la prevención y la intervención ante accidentes en el medio acuático”. 2ª Ed. Edição de
Autor.
[3] American Red Cross (2012) Lifeguarding Manual. Published by Krames StayWell Strategic Partnerships Division. USA.
[4] <http://www.parks.ca.gov/?page_id=23756>
[5] <http://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/resgate>
Leonardo Springer Ph.D. tem mais de 20 anos de experiencia como nadador salvador em praia e em piscina, professor assistente no politécnico ESTAL, investigador no CIEBA –
FBAUL Universidade de Lisboa, presidente da ASAMAR – Associação de Salvamento Aquático <www.asamar.pt>, membro da FENPONS Federação Portuguesa de Nadadores
Salvadores, formador nadador salvador - ISN – Instituto de Socorros a Náufragos – Portugal. <[email protected]>
++