baixo - UFMT

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baixo - UFMT
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
INSTITUTO DE LINGUAGENS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
ESTUDOS DE CULTURA CONTEMPORÂNEA
CÉLIO JONAS MONTEIRO
YOUTUBE: CONSTRUÇÃO CULTURAL E CONHECIMENTO
MUSICAL NO INSTITUTO FEDERAL DE CIENCIA, TECNOLOGIA
E EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO CAMPUS CÁCERES.
Cuiabá-MT
2011
CÉLIO JONAS MONTEIRO
YOUTUBE: CONSTRUÇÃO CULTURAL E CONHECIMENTO
MUSICAL NO INSTITUTO FEDERAL DE CIENCIA, TECNOLOGIA
E EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO CAMPUS CÁCERES.
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Estudos de Cultura
Contemporânea da Universidade Federal
de Mato Grosso como requisito para a
obtenção do título de Mestre em Estudos
de Cultura Contemporânea na Área de
Concentração Estudos Interdisciplinares
de Cultura, Linha de Pesquisa Epistemes
Contemporânea.
Orientadora: Profª. Drª. Cássia Virginia Coelho de Souza
Cuiabá-MT
2011
Dados Internacionais de Catalogação na Fonte
M775y Monteiro, Célio Jonas.
Youtube: construção cultural e conhecimento musical no
Instituto Federal de Ciência, Técnologia e Educação de Mato
Grosso Campus Cáceres / Célio Jonas Monteiro. – 2011.
92 f. : il. color. ; 30 cm.
Orientadora: Cássia Virginia Coelho de Souza.
Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Mato
Grosso, Instituto de Linguagens, Programa de Pós-Graduação
em Estudos de Cultura Contemporânea, Cuiabá, 2011.
Inclui bibliografia.
1. Youtube – Ferramenta de aprendizagem. 2. Ciberespaço –
Ensino de música – IFMTCas. 3. Aprendizagem musical –
Internet. 4. Youtube – Aprendizagem musical. I. Título.
CDU 781:378.6.018.43(817.2)
Ficha Catalográfica elaborada pelo Bibliotecário Jordan Antonio de Souza - CRB1/2099
Permitida a reprodução parcial ou total desde que citada a fonte
Dedico esta dissertação a minha família especialmente à meus filhos Maria
Cecília Jonas Gabriel e Lucas Daniel que por muitas vezes cederam dos
momentos de lazer para o papai estudar.
AGRADECIMENTOS
A Deus pela beleza da vida e a oportunidade de recomeçar a cada dia.
A professora Doutora Cássia Virgínia, pela orientação e ensinamentos tão
preciosos.
Agradeço a CAPES pelo patrocínio que viabilizou esta pesquisa.
Aos professores Doutores Cristina Tourinho, Lúcia Helena e José Leite que
contribuíram significativamente para a elaboração desta pesquisa.
Aos alunos que participaram desta pesquisa, os quais me auxiliaram muito.
Ao IFMTCas pelo apoio e oportunidade de pesquisar.
Aos Amigos e colegas Eliane Castilho, Francisco Lopes, Gil Cardoso e Patrícia
Andrade, que direta e indiretamente contribuíram com as discussões e
reflexões.
RESUMO
Este trabalho apresenta resultados de uma pesquisa qualitativa sobre
construção cultural e conhecimento musical de cinco jovens estudantes do
Instituto Federal de Mato Grosso, Campus Cáceres. Foram analisadas
questões pertinentes ao ciberespaço, ao ensino on-line e ao site YouTube,
muito consultado por estes alunos que buscam aprender música por este meio,
o qual tem apontado caminhos contemporâneos e que possibilitam uma nova
episteme. Além disso, foi levada em consideração nesta pesquisa, a
elaboração de critérios para a escolha dos vídeos, feita pelos sujeitos de
pesquisa. A forma de utilização destes vídeos para aprender a tocar seus
instrumentos e a interação com o ciberespaço envolve questões reais e
virtuais. A partir das análises foram propostas discussões que possam gerar
novas metodologias para a transmissão musical em vídeos, já que nossa
sociedade vive uma nova relação de tempo e espaço, onde vídeos de 15
minutos devem fornecer informações adequadas, mesmo de maneira nãolinear condizendo com o tempo presente.
Palavras-chave: Ciberespaço, cultura, Youtube, aprendizagem musical on-line.
ABSTRACT
This paper presents results of a qualitative research about construction cultural
and musical knowledge of five young students of the Instituto Federal de Mato
Grosso, Campus Cáceres. We analyzed issues related to cyberspace, the
online learning and the site YouTube. It was much consulted by students
seeking to learn music with this means, which has pointed contemporary ways
that enable a new episteme. In addition, It was taken into account in this
research, the development of criteria for selection of videos made by research
subjects. The way to use these videos to learn how to play their instruments,
the interaction with the cyberspace issues involves real and virtual situations.
From these analysis have been proposed that discussions could lead to new
methods of dissemination of music in videos, since our society is experiencing a
new relationship to time and space and the videos of 15 minutes should provide
adequate information, even in a non-linear way, according to the present time.
Keywords: Cyberspace, culture, YouTube, music learning online.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Os Criadores do YouTube: Chad Hurley, Steve Chen e Jawed Karim
...........................................................................................................................36
Figura 2: exemplo de página do YouTube onde se encontram várias
possibilidades de vídeo sobre o mesmo tema...................................................40
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Sujeitos de pesquisa..........................................................................51
Tabela 2. Sobre o uso da internet...................................................................55
Tabela 3. Prioridade de uso da internet .......................................................... 56
SUMÁRIO
INTRODUCÃO...................................................................................................10
1 APRENDIZAGEM NA INTERNET..................................................................15
1.1
REAL E VIRTUAL..............................................................................................18
1.2
Educação à Distancia..............................................................................32
1.3
Educação à Distancia em Música......................................................................... 34
2 O YOUTUBE COMO FERRAMENTA DE APRENDIZAGEM..........................35
2.1
Classificação do YouTube ......................................................................35
2.2
Classificação de vídeos...........................................................................41
3 PESQUISA NO CAMPUS DO IFMTCas.........................................................46
3.1 Características do IFMTCas........................................................................48
3.2 Os sujeitos da pesquisa...............................................................................49
4 O YOUTUBE E AS ESCOLHAS DOS CINCO ENTREVISTADOS................54
4.1 O questionário..............................................................................................54
4.2 As entrevistas.............................................................................................56
4.2.1 Sobre os meios de aprendizagem ...........................................................57
4.2.2 Sobre a escolha dos vídeos.....................................................................59
5
OS
VÍDEOS
DO
YT
E
A
APRENDIZAGEM
MUSICAL
DOS
ENTREVISTADOS.............................................................................................64
5.1 Sobre o upload de vídeos no YouTube...................................................... 66
5.2 Teoria da música no YouTube.................................................................... 70
5.3 As Categorias e classificações dos vídeos analisados................................72
5.4 Classificação dos vídeos analisados...........................................................73
5.5 Reflexões sobre os vídeos...........................................................................78
5.5.1 Vídeos feitos exclusivamente para o YouTube ou para outros fins.......79
5.5.2 Vídeos construídos para fins pedagógicos, marketing de empresas.......79
5.5.3 Dos conteúdos específicos de música.....................................................80
5.5.4 Da postura do “instrutor”...........................................................................81
5.5.5 Presença do instrumento musical.............................................................82
5.5.6 Da qualidade sonora e de imagem dos vídeos.........................................82
5.5.7 Do discurso quanto ao ensino de música defendido pelos instrutores.....82
CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................84
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS..................................................................86
APÊNDICE.........................................................................................................90
Apêndice A - Questionário inicial para verificação do uso da internet...............90
Apêndice B - Roteiro para a entrevista..............................................................91
10
INTRODUCÃO
Nos dias atuais é cada vez mais comum encontrar pessoas que, com
frequência, utilizam as mídias digitais disponíveis no mercado, sejam elas,
computadores, chips, equipamentos eletrônicos computadorizados, dos mais
simples aos mais avançados. Esses equipamentos permitem a interação com
diferentes pessoas, em diferentes lugares e também tem favorecido o
surgimento de uma nova maneira de construção social, cultural e de
conhecimento. O avanço e o grande alcance das novas tecnologias têm sido
constantes e facilitados, principalmente, pelo processo de mudanças e rápidas
adequações na era da comunicação. Barbosa (2009) afirma que a expansão e
a utilização das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) podem ser
percebidas no crescimento do telefone fixo, na telefonia móvel, no aumento da
popularização do computador, que hoje abrange mesmo as camadas da
sociedade com menor poder aquisitivo e na nova configuração dos locais de
acesso à internet, que não acontece mais só em domicílio. O acesso acontece
também nas Lanhouses e nos telecentros instalados nos mais diversos lugares
das cidades para atender ao público; no computador portátil e nas atividades
realizadas na internet, com destaque para o crescimento do uso do eCommerce e e-Gov, no uso dos dispositivos móveis e na mudança da
percepção no que se refere à segurança na rede.
Mesmo as pessoas que ainda demonstram certa resistência ao uso
desses tipos de equipamentos ou mídias, estão submetidas a elas em algum
momento no seu cotidiano. Isso acontece pelo fato de que muitos serviços só
estão disponibilizados nas redes de comunicação digital. Essas pessoas que
se consideram “desligadas” do tempo atual, que é considerado como a era da
informática ou que ainda não se adequaram a ela, acabam tendo a
necessidade de usar aparelho de telefone celular, televisão ou radio digital,
bem como a internet. Lévy (2003) afirma que a internet é uma rede mundial
que possibilita ( permite) que qualquer computador seja conectado (conectarse) em qualquer parte do mundo; a internet é um espaço de conexões.
Elas
fazem parte da contemporaneidade e indedendentemente de sua aceitação ou
11
não a essa condição, estão interligadas (por meio) do ciberespaço que,
conforme o ponto de vista de Lévy, que entende o universo das rederes digitais
como um lugar de encontros e de aventuras, terrenos de conflitos mundiais,
nova fronteira econômica e cultural. (LÉVY, 2003, p.104).
Até mesmo o perfil do consumidor e a dinâmica da cultura juvenil
ocidental atual perpassa pelo grande alcance da internet, que por não ser
impedida por fronteiras geográficas a transforma numa cultura global
interligada pela informação digital. É importante acrescentar o pensamento de
Hall (2004) sobre as mudanças na velocidade com que a informação que
conecta o globo o transforma em uma aldeia que ele denomina de “Aldeia
Global”. (HALL, 2006, p. 74 – 75).
A onipresença das características da cultura de consumo que
têm
interligado a cultura juvenil no globo, como ressalta Hall, é, amplamente,
debatida nos momentos atuais.
Faz-se necessário também frisar a relevância dos aspectos que
envolvem atividades no ciberespaço que estão ligadas à produção de
conhecimento, o que foi escolhido como objeto desta investigação. Com muita
intensidade estão disponíveis na internet muitas ferramentas que fazem parte
do cotidiano do jovem que está mais ligado nessa rede de comunicação, em
especial, àqueles que visitam o YouTube1. Leva-se em consideração que os
atuais meios de comunicação servem, não somente para o entretenimento,
mas também como instrumento para atividades que são utilizadas com o fim de
adquirir algum tipo de conhecimento. Existem pessoas que utilizam internet e
televisão, por exemplo, para fazerem cursos técnicos, ensino fundamental,
ensino médio ou graduação e alimentam cada vez mais as estatísticas dos
usos das TIC para fins de formação. Este hábito parece ser comum na
sociedade contemporânea.
O ciberespaço é complexo em suas inúmeras redes interligadas, e em
suas pontas, milhares de usuários o utilizam para inúmeros fins. É possível
verificar que as pessoas buscam neste espaço informações pertinentes à
(talvez possa substituir por aprendizado para não ficar repetitivo) , motivo que
me levou a pesquisar a respeito da aprendizagem em música.
1
Devido a necessidade de repetição desta palavra nesta dissertação doravante utilizarei a abreviatura
YT
12
A partir dessa prática, que para muitos já é familiar, é possível afirmar
que o site YT, por ser o site mais visitado para visualização de vídeos na
internet, é utilizado para a aprendizagem musical. Esta constatação
encaminhou para as seguintes questões: como acontece essa aprendizagem
musical com a
utilização
do computador e a internet? Como acontece a
aprendizagem mediada pelo YT?
Ao iniciar esta pesquisa pude observar que muitos vídeos disponíveis no
YT estão relacionados à música, nos quais os autores se preocupam em
auxiliar outras pessoas a tocarem seus instrumentos. Os vídeos assumem o
papel de modelo de execução, pois as pessoas aprendem observando o que o
autor do vídeo está fazendo.
Como profissional da música, especificamente, do ensino de música,
ocorreu-me buscar a interação com as teorias e pesquisas que têm investigado
as
novas possibilidades de aprendizagem, nas quais estão inclusas as
aprendizagens por meio da internet, onde ocorre também a aprendizagem de
instrumentos musicais. É do entendimento dos pesquisadores da cognição
musical que uma aquisição da aprendizagem em um determinado instrumento
musical, acontece na relação diária entre o aprendiz e o seu instrumento,
independente das abordagens metodológicas apresentadas pelo professor,
presencial ou no ciberespaço, ou se esse aprendiz interage e explora sozinho o
instrumento musical.
No limiar da era da informação e crescente ausência da crença na forma
de aprendizado linear, em tempo e espaço determinados como legítimo de
aquisição de conhecimentos, é pertinente investigar nas situações cotidianas
novas epistemologias. Esta pesquisa e se justifica pelo estudo necessário de
novas formas de construção do conhecimento musical que têm se
desenvolvido com as novas tecnologias, que fazem parte da cultura
contemporânea e na contribuição de mais um ponto de vista sobre a
repercussão ou conseqüências desse aprendizado na formação do músico.
A partir da minha inserção como professor de música no Instituto
Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Mato Grosso2 no Campus
2
Doravante o Instituto será referenciado como IFMTCas.
13
Cáceres, situada na cidade de Cáceres, a 220 km da capital mato-grossense,
fortaleceu-se o interesse em investigar essa temática.
Ao entrar em contato com o contexto desse Instituto foi possível
perceber que existe nele uma fusão de várias culturas e que o laboratório de
informática, assim como toda a estrutura do IFMTCas, forneceria materiais
importantes para a pesquisa. Através de conversas informais e de
observações, ainda nos primeiros contatos, percebi que muitos alunos faziam
uso da internet com a finalidade de aprender algum instrumento musical
utilizando como referência principal, vídeos que estão disponíveis no YT. Por
esta razão direcionei o foco desta investigação para o contexto do IFMTCas
com o objetivo de investigar o processo de construção do aprendizado musical
de alunos daquela instituição que utilizam vídeos do YT.
Foram objetivos específicos da pesquisa: identificar as características de
vídeos disponíveis no YT; localizar aqueles que foram produzidos com fins
educacionais e os que não foram produzidos para esse fim e que são
consultados pelos alunos. Analisar cinco vídeos trazidos pelos alunos
participantes da pesquisa; verificar quais são os critérios de escolha por
determinado vídeo quando estão procurando aprender um instrumento.
A monografia é dividida em cinco capítulos, sendo o primeiro uma
abordagem sobre a aprendizagem na internet, o crescente uso dessa
ferramenta como veículo facilitador da aprendizagem.
Como suporte teórico, busquei (talvez seja interessante mudar o tempo
do verbo porque é um relato) apoio nos pressupostos de Gohn (2005) quanto à
superação de antigos limites de espaço e tempo que permite esse meio
favorecendo a educação a distancia. Bolan (2009), que discute, sobretudo, os
critérios éticos no uso dessa ferramenta dado à sua característica ilimitada,
além de autores que explicam o ciberespaço a forma que se organiza, política
a virtualização do real
como Lévy (1996) e
Castells, também Baudrillard
(1996) que teoriza o virtual em Simulacro e Simulação, Maturana que entende
este espaço como um organismo vivo e os usuário fazem parte deste sistema
que o autor chama de autopoiese.
No segundo capítulo, trato especificamente do YT como ferramenta de
aprendizagem, buscando detalhar desde a criação do site até o modo como é
usado pelos internautas no seu cotidiano. Para debater esse assunto, ressalto
14
além da contribuição dos autores citados no primeiro capítulo, Gasset (2002) e
Castells (1999). No terceiro capítulo, discorro sobre os procedimentos
metodológicos escolhidos para a realização desta pesquisa. Descrevo o
contexto onde se deu a investigação, apresento as informações obtidas com os
alunos que fizeram parte da pesquisa. No quarto capitulo, são relatados e
analisados os dados coletados nos questionários e (é só uma entrevista?). No
quinto capitulo, são discutidas as redes sociais, trocas de informações, além
da apresentação de uma análise de cinco vídeos trazidos pelos sujeitos de
pesquisa, embasada nos pressupostos teóricos dos capítulos anteriores.
Encerrando o trabalho faço as minhas considerações levando em conta
os objetivos propostos e as especificidades da pesquisa. Mostrei que cinco
jovens aprendem música junto ao YT e fazem deste site um espaço de
aprendizagem de violão e viola caipira, verificando as características deste
processo educacional/cultural.
15
1.
APRENDIZAGEM NA INTERNET
Na atualidade, inúmeras pessoas utilizam os meios digitais para diversos
fins e buscam adquirir conhecimentos, mesmo que superficiais; obtêm saberes,
entre eles, teorias, assim como tocar um violão ou uma viola caipira. O Centro
de Estudos sobre o uso das Tecnologias da Informação e Comunicação
(CETIC.br) e Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br)3 realizaram uma
pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação no Brasil
nos domicílios e nas empresas. O resultado apresentado aponta para o
aumento considerável da utilização da internet com objetivos de construção de
conhecimento. Essa pesquisa mostra que 76 % dos moradores da região
Centro-Oeste utilizam a internet e usam para fins educacionais.
Foi
constatado, também, que 97% da população têm o aparelho de Televisão
(TV), 34 % antena parabólica, 6% TV por assinatura, 81% rádio 37% telefone
fixo, 86% celulares e que 34% dos domicílios nesta região dispõem de, pelo
menos, um computador em casa, o que deixa claro que na região Centro-Oeste
as TIC são consumidas, assim como no restante do nosso pais e do mundo
(BARBOSA, 2009). Esse conhecimento se constrói através do fazer e do
pensar e proporciona uma experiência e um tipo de aprendizagem.
Mas aprendizagem obtida através dos meios de comunicação,
ressaltando a comunicação digital, é relacionada quase sempre à educação a
distância. Esta vem sendo utilizada em larga escala, inclusive em
universidades brasileiras como a Universidade Federal de São Carlos
(UFSCar), Universidade Nacional de Brasília (UNB) e a Universidade Federal
do Rio Grande do Sul (UFRGS), que oferecem os cursos de Licenciatura em
Música na modalidade EaD.
Segundo Silva (2003) a atual exigência no que diz respeito ao cenário
comunicacional do ciberespaço a EaD on-line
é exigência da cibercultura, isto é, do conjunto imbricado de
técnicas, práticas, atitudes, modos de pensamento e valores,
que se desenvolvem juntamente com o crescimento do
3
Dados disponíveis no site http://www.cetic.br/tic/2009/index.htm consultado 13 em julho de
2010.
16
ciberespaço, isto é: do novo ambiente comunicacional que
surge com a interconexão mundial de computadores e das
memórias dos computadores; principal suporte de trocas e de
memória da humanidade a partir do início do século 21; novo
espaço de comunicação, de sociabilidade, de organização, de
informação, de conhecimento e, claro, de educação. (SILVA
2003)
O autor entende que a EaD on-line é um contexto cada vez mais
presente
e
a
informação
digitalizada
apresenta-se
como
uma
nova
infraestrutura (tudo junto pela nova ortografia) básica e como modo de
produção criando nova lógica comunicacional. O que surge no ciberespaço é
discutido também no Ministério da Educação, através da portaria do MEC nº.
2.253, de 18 de outubro de 2001 que significa grande incentivo à graduação
on-line. Neste documento há a garantia das instituições de ensino superior de
optar por de oferecerem em até 20% de suas disciplinas regulares na
modalidade a distância,
que tende a transitar dos suportes tradicionais para a internet.
Acelera a sofreguidão dos interesses mercadológicos por lucro
imediato, mas ao mesmo tempo amplia o engajamento em
educação cidadã. (Silva. 2003)
Para Gohn (2005) “esse processo reflete a atual flexibilidade dos
processos de ensino e aprendizagem, obtida ao se colocar professores e
alunos em contato via meios tecnológicos”. Muitos jovens atualmente utilizam
os meios tecnológicos para aprender, só que sem o professor. Gohn acredita
que estes meios tecnológicos permitem que antigos limites de espaço e tempo
sejam superados e resolvidos anunciando algumas vantagens da educação à
distância: a permanência dos indivíduos envolvidos no processo em seus locais
de origem, dando continuidade aos estudos sem a interrupção para viajar para
centros acadêmicos, em horários convenientes e compatíveis com todos os
compromissos da vida cotidiana e a quebra de barreiras geográficas entre
professores e alunos. (GOHN, 2005 p. 616).
Existem, atualmente, muitas discussões a respeito do tema educação
pelos meios digitais e é importante frisar que não há consenso ao debater as
questões que envolvem o aprendizado. Para Bolan (2009) a internet amplia as
possibilidades de comunicação na globalização, era da informação e do
conhecimento e ressalta que “existe uma interação virtual, otimizada em
17
intercâmbios e troca de mensagens que fortalecem o potencial comunicativo
entre as pessoas”. Bolan acredita que ao contrário de um senso comum onde
se pensa que este meio dispersa as relações, Bolan concorda que essa
ferramenta estreita as relações que não são apenas superficiais ou reforça
uma experiência empobrecida, daqueles que vivem relações extremamente
frágeis e superficiais.
A Internet é um bem disponível, compete à liberdade humana
fazer bom uso desse extraordinário meio, que vem prestando,
sim, um grande serviço, em todo o planeta. Requer, sim, limites
quanto aos abusos, daí a importância dos critérios éticos e até
morais do uso da Internet. (BOLAN, 2009).
O uso da internet para a aprendizagem tem sido tema de pesquisas que
se ocupam em debater e questionar a experiência da aprendizagem na
internet. A presente pesquisa tem como foco, o uso dessa ferramenta através
do YT. A aprendizagem musical neste meio, aqui será tratada como uma forma
de aprendizagem peculiar do tempo presente. Ao iniciar a pesquisa
bibliográfica eu pensava que
se tratava de um tipo de aprendizado por
metáfora, porém ao verificar Baudrillard entendi que se tratavam de discussões
contemporâneas e que necessitava de teorias que concorressem para o
entendimento mais amplo deste acontecimento atual. Contudo, é importante
reconstruir este entendimento ressaltando que no pensamento de Lakoff (1985)
a essência de uma metáfora é o fato de ela permitir que se compreenda uma
coisa em termos de uma outra coisa qualquer. Lakoff entende metáfora como
um procedimento da imaginação poética e do ornamento do discurso que
concerne aos usos extraordinários da linguagem. Além disto, a metáfora é
percebida como característica da linguagem, como concernindo às palavras
mais que o pensamento ou a ação.
Nossa representação do mundo tem influência das metáforas que
elaboramos, quase sempre de modo inconsciente. Lakoff e Jonhson (1985)
afirmam ainda que a maior parte dos seres humanos têm conceituado coisas
novas em termos de coisas já conhecidas. Quando se busca nos dicionários
disponíveis na internet a definição de metáfora é encontrado na maioria das
vezes um sentido relacionado à figura de linguagem que consiste na
transferência da significação própria de uma palavra para outra significação, ou
18
uma comparação subentendida. Esta correlação com a lingüística está sempre
presente, o que confirma que este conceito não é suficiente para responder a
especificidade do objeto desta investigação.
Na contemporaneidade, esta compreensão perpassa pela concepção de
Baudrillard sobre a realidade virtual que se dá com o advento do pixel, onde
transforma a imagem em cálculo digital, criando assim,
duas situações
diferentes e teóricas de entender este advento que Baudrillard chama a
primeira de Simulacro e a segunda de Simulação. Para Baudrillard simulacro
"É sempre uma questão de provar o real através do imaginário, de provar a
verdade pelo escândalo, de provar o trabalho por intermédio da greve, de
provar o capital pela revolução" (BAUDRILLARD, 1996).
1.1
REAL E VIRTUAL
É importante compreender que a falta de questionamentos por muitas
vezes permite enganos e formas equivocadas de compreender a realidade
imediata e virtualidade, pois certas atividades, como o advento da internet e
seus meios facilitadores de comunicação e de pesquisa, têm sido utilizados
constantemente, sem uma análise sistemática de seus usuários e até mesmo
sem critério e sem uma preocupação com a origem dos conteúdos disponíveis.
Uma evidência da falta de questionamento quanto aos conteúdos, é o excesso
de informações desencontradas ou com teores duvidosos que vimos,
diariamente, quando se pesquisa utilizando buscador da google, por exemplo.
O questionamento e ponderação são importantes no que concerne ao cuidado
em filtrar as informações no ciberespaço, considerando o pensamento de
Baudrillard que observa que em nossa sociedade atual o virtual e o real se
confundem. O autor afirma que,
Como estamos no quarto estágio da representação, a "hiperrealidade" a tudo falsifica na época pós-moderna. No que tange
a cultura, o simulacro coloca-a como uma esfera de completa
autonomia, e nela são jogados os sujeitos descentrados, os
quais devido ao acúmulo de imagens e simulações possuem
apenas uma experiência a compartilhar, que é "a alucinação
desestabilizada e estilizada da realidade" (BAUDRILLARD,
1996).
19
Possivelmente, o simulacro e a simulação são uma espécie de
desestruturação do real, que aconteceu com o advento das massas e do atual
meio de comunicação. Na era da informática, quase todos os recursos
disponibilizados na internet são passiveis de constituir recursos educacionais,
e, desta forma, são utilizados para fins de aprendizagem.
Segundo Couchot;
O simulacro visa enganar, fazer com que o falso passe por
verdadeiro. A simulação, em seu princípio essencial, não busca
nem o verdadeiro nem o falso: ela estabelece modelos que são
capazes de reproduzir virtualmente o real e de dar conta de
seu funcionamento, mas sem explicá-lo. A simulação simula,
mas não explica. Embora o modelo digital da representação
esteja cada vez mais onipresente, nós não vivemos mais na
era dos simulacros, mas sim na era da simulação. A simulação
põe fim ao simulacro. Por outro lado, isso não nos impede de
fazer novos questionamentos, pois, no caso do simulacro,
sabíamos que era possível tomar o falso por verdadeiro, o que
nos permitia encontrar este último. Já a simulação, que não se
pretende nem verdadeira nem falsa, deixa-nos num estado de
incerteza desconcertante. (COUCHOT, 2003).
Já na opinião de Lemos, simulação não passa de uma redução lógicoformal do real, mas nem por isso ela deixa de exercer influência sobre ele.
O ciberespaço é a encarnação tecnológica do velho sonho de
criação de um mundo paralelo, de uma memória coletiva, do
imaginário, dos mitos e símbolos que perseguem o homem
desde os tempos ancestrais...Hoje, o ciberespaço funciona um
pouco desta forma. Ele coloca em relação, ele incita a abolição
do espaço e do tempo, ele transforma-se em lugar de culto
secular e digital. Este é um espaço imaginal onde as novas
tecnologias mostram, parodoxalmente, todo o seu potencial
como veículo de reliance (Bolle de Bal) isto é, como vetor de
agregação social. (LEMOS, 2004, p. 130).
A internet é uma rede de pequenas redes, que utilizam inúmeras
linguagens, tanto as específicas da área gráfica computacional, como também
as linguagens criadas ou que surgem naturalmente pelos usuários, que
proporcionam assim um ambiente impar Lévy considera que,
A “realidade virtual”, no sentido mais forte do termo, especifica
um tipo particular de simulação interativa, na qual o explorador
tem a sensação física de estar imerso na situação definida por
um banco de dados. O efeito de imersão sensorial é obtido, em
geral, pelo uso de dados. (LÉVY,1996, p.70).
20
Da mesma forma que, na metáfora da teia (a WEB), liga-se todas as
informações disponíveis no planeta e serve como imagem para o sentido de
ciberespaço (LEMOS, 2004, p. 130) é possível pensar, também no processo
semelhante com os grupos que simulam uma sala de estudos (comunidades
digitais) e compartilham conteúdos referentes aos seus respectivos assuntos
ou temas a discutir. Isto por que as mídias digitais disponíveis na internet
possibilitam ou facilitam ao usuário da rede a aprender vendo alguém fazer e
posteriormente tentando fazer da mesma forma, alem de ser incansável no que
se trata da possibilidade de repetir a mesma informação, da mesma maneira,
infinitas vezes. Não é propósito do trabalho, neste momento, criticar a validade
da modalidade de ensino on-line, nem conteúdos e programas de cursos, mas
mostrar a importância da reflexão sobre o assunto, principalmente, entre os
profissionais da educação e da educação musical4.
Segundo Lévy a produção de conhecimento em rede promove a
heterogeneidade na medida em que direciona para a multiplicidade de
conhecimentos e competências, permitindo assim verdadeiros esforços para a
resolução de problemas individuais ou virtualmente comunitários. Isso gera a
reflexão sobre os casos em que se acredita que as TIC servem apenas para
facilitar a clonagem e o plágio de trabalhos já prontos e disponíveis na internet
e deixar alunos mais preguiçosos. Entendo que a internet é um meio facilitador,
por que a busca supõe curiosidade e escolhas, desenvolvendo senso de
direção que pode tornar o navegante um pesquisador por procurar neste meio,
conteúdos apropriados e possíveis caminhos para seus questionamentos e
curiosidades, o que necessita de uma averiguação dos conteúdos disponíveis
para posteriormente desenvolver o seu trabalho.
Para Ortega e Gasset (2002) com o advento da internet e dos meios de
comunicação que a acompanham, permitiu-se existir um movimento que retira
a massa dos subalternos e “eleva” este grupo a certa “promoção” ao primeiro
plano da sociedade. Os autores sustentam que isso difere grupos de minorias,
mas revela aí a crítica que a esta massa não ocupa os lugares que poderiam
fazer mudanças sociais, mas usufrue apenas dos prazeres que antes, apenas
4
Em princípio não haveria nenhuma diferença entre um educador e um educador musical,
mas para maior entendimento do leitor utilizo títulos separados especificando a área de
atuação.
21
uma “minoria” gozava.
Ressaltam que os grupos que antes poderiam ser
entendidos como marginalizados pelo acesso aos meios de comunicação
foram incluídos com os atuais meios da comunicação digital. Que este
processo é entendido como um organismo vivo e que garante o anonimato dos
que participam das redes sociais.
Maturana afirma que as máquinas são instrumentos de projetos
humanos (MATURANA, 2001, p 172). O autor lembra que existem mitos
modernos nas quais se acredita que a máquina ou a tecnologia pode suplantar
a inteligência humana e “tomar nosso lugar” e ressalta que este tipo de
pensamento, aparentemente, assusta. De um lado pessoas com medo da
tecnologia e medo de perder seus espaços profissionais ou serem substituídas,
do outro, as que buscam informações, ou usufruem deste meio para a
comunicação. Muitas buscam informações na rede por diversas vias, incluindo
as menos “favorecidas”, que, com alguns centavos e a disponibilidade de
chegar a uma Lan house podem fazer parte do ciberespaço.
A facilidade para ter acesso à rede aumenta de uma forma ou de outra.
Segundo Gushiken (2008), a comunicação de massa foi estudada durante
algum tempo pela perspectiva do impacto da informação midiática no
comportamento das pessoas, ou melhor, sobre os seus “efeitos a curto prazo”.
Porém, logo esta situação foi invertida e ao invés de “o que os meios faziam
com as pessoas” a questão passou a ser: “o que as pessoas faziam com esses
meios”. Esta afirmação de Gushiken, embora contemple outro tipo de debate
em relação ao acesso da rede, pode se aplicar exatamente no uso que as
pessoas têm feito da internet na medida em que a tem como ferramenta para o
aprendizado.
Questões importantes a serem colocadas hoje se referem aos
usos dos meios de comunicação – não necessariamente pelo
aparelho de Estado ou pelas grandes corporações privadas,
mas por cidadãos comuns e anônimos, atualizando a proposta
de o que importa mesmo é o que as pessoas fazem com os
meios de comunicação. (GUSHIKEN, 2008, p.2).
A partir dos estudos teóricos da área de comunicação social, surgiram
as pesquisas sobre o consumo dos meios massivos de informação que
anteriormente estavam mais relacionadas, segundo Gushiken, a como “trata-se
especificamente dos modos como as audiências são consumidas, de forma
22
receptiva ou não, mensagens dos meios massivos”. Entretanto, hoje ao se falar
em “usos dos meios”, se refere não mais à recepção do conteúdo dos meios de
massa, mas aos novos meios de comunicação a partir do maior acesso de
distintas faixas da população às tecnologias, como se pode observar no nosso
País.
A internet não é apenas um grande local de armazenamento de
informação, é um local que propicia dinâmicas sociais de produção de
conhecimento. A informação inserida neste espaço perde o caráter estático e
adquire uma dinâmica de mudança constante em que várias pessoas adquirem
a todo o momento opiniões, alterando, crescendo numa constante dinâmica
transformadora, tanto do meio como em seus usuários. Talvez esta relação que
Gushiken aponta, da constante reformulação deste meio como seus
movimentos sociais virtuais é o que Maturama chama de Autopoiese5
(MATURANA, 2001, p. 174), quando se forma uma estrutura a relação do uso
dos meios por estes diferentes grupos.
Os sistemas vivos são sistemas determinados estruturalmente,
ou seja, são sistemas tais que tudo o que lhes acontece a
qualquer momento depende de sua estrutura — que é como
eles são feitos a cada instante. Os sistemas determinados
estruturalmente são sistemas tais que qualquer agente que
incida sobre eles apenas desencadeia neles mudanças
estruturais determinadas neles próprios. (MATURANA, 2001,
p.173).
Para Maturana, Autopoiese é uma organização dinâmica e constitutiva
dos seres vivos em sua autoprodução, existindo então uma dinâmica circular
onde todos são participantes.
Os sistemas vivos existem em dois domínios operacionais: O
domínio de sua composição, que é onde a autopoiese existe e
de fato opera como uma rede fechada de produções
moleculares, e o domínio ou meio no qual eles surgem e
existem como totalidade em interações recursivas O primeiro
domínio no qual o observador os distingue como organismo vê
em sua anatomia e fisiologia, e o segundo é onde o observador
os distingue como organismos ou sistemas vivos.
(MATURANA, 2001, p 175).
5
Maturana utiliza esta terminologia pela primeira vez em uma publicação com Francisco
Varela, onde afirma que os organismos dos seres humanos se organizam em um
determinismo estrutural que se auto gera o que eles chamaram de autopoiese.
23
O que Maturana chamou de domínio operacional, a autopoiese é o que
dá este aspecto de continua autoprodução, o que se percebe acontecer com a
utilização dos meios atuais de comunicação. Para o autor,
Resultam em mudanças em sua configuração dinâmica como
uma totalidade, e portanto em mudanças na maneira pela qual
ele interage com o meio, e que as interações dos sistemas
vivos com o meio desencadeiem nele mudanças estruturais em
sua composição que resultam, por sua vez, em mudanças na
configuração dos sistemas vivos como uma totalidade
(MATURANA, 2001, p 175).
Já para Castells a cultura da rede é formada pelos seus próprios
usuários e que estes também constroem um “ambiente simbólico” virtualizando
a realidade.
Talvez a característica mais importante da multimídia seja que
ela capta em seu domínio a maioria das expressões culturais
em toda a sua diversidade. Seu advento é equivalente ao fim
da separação e até da distinção entre mídia audiovisual e mídia
impressa, cultura popular e cultura erudita, entretenimento e
informação, educação e persuasão. Todas as expressões
culturais, da pior à melhor, da mais elitista a mais popular, vêm
juntas nesse universo digital que liga, em um supertexto
histórico gigantesco as manifestações passadas, presentes e
futuras da mente comunicativa. Com isso, elas constroem um
novo ambiente simbólico. Fazem da virtualidade nossa
realidade. (CASTELLS, 1999, p. 58).
Este constante movimento permite com que aquilo que antes era apenas
uma base da pirâmide social, agora, mesmo que virtualmente, ocupe lugares
altos desta pirâmide. Para Lemos a internet é um “vetor de agregação social”
que gera a possibilidade de ampliação do repertório cultural através das
experiências que muitos têm através dos materiais digitais postados na
internet, o que Lemos chama de “rito de passagem”.
A teia é a fronteira entre o individual e o coletivo, entre o
orgânico e o artificial, entre o corpo e o espírito. O ciberespaço
é o espaço simbólico onde se realizam todos os dias ritos de
passagem do espaço físico e analógico ao espaço digital sem
fronteiras. (LEMOS, 2004, p. 132).
Percebemos na cultura, na socialidade e principalmente, no que diz
respeito a questões financeiras que a internet reestrutura e reorganiza os laços
sociais existentes, criando novas possibilidades de organização para o que
conhecemos como virtual.
24
É a era da Cibercultura. Lemos compreende por cibercultura as relações
entre as tecnologias informacionais de comunicação e informação e a cultura,
emergentes a partir da convergência informática/telecomunicações na década
de 1970. Trata-se de uma nova relação entre as tecnologias e a sociabilidade,
configurando a cultura contemporânea (LEMOS, 2004).
Talvez com isso se pudesse entender melhor o que Hall (2006) trata
como “crise de identidade” fazendo com que o sujeito anteriormente tido como
unificado, agora apresente um novo “formato” deslocado por conta destas
transformações e a relação com as diferentes culturas.
Cibercultura é envolver-se na formação de um novo processo social, que
inclui
também,
escalonamentos
naturalmente,
e
uma
reescalonamentos
participação
sociais
e
ativa
e
políticas
coletiva
do
em
mundo
contemporâneo. É a era da globalização que foi intensificada na década de 70,
mas que ganhou força e velocidade no final de 80 devido às novas tecnologias
digitais transformando-se posteriormente em “on-line” com a internet.
Isto
possibilitou o surgimento de novas identidades desfragmentando o indivíduo
moderno, possibilitando a simulação de relacionamentos em quase todos os
âmbitos, e, possibilitando, assim, experiências comuns em ambientes virtuais
tridimensionais como sites, games on-line, chats e outros.
Segundo Lemos o termo Ciberespaço é
um espaço não físico ou territorial composto por um conjunto
de redes de computadores através das quais todas as
informações circulam... Ela será povoada pelas mais diversas
tribos, onde os cowboys do ciberespaços circulam em busca de
informações. (LEMOS, p 127, 2004).
É evidente que as pessoas sempre estiveram organizadas em redes
sociais como afirma Matellart.
Desde o advento da Internet (penso que a
internet se configure também, com os instrumentos ou ferramentas que
possibilitam a interconectividade), mais especificamente da World Wide Web,
entretanto, elas estão cada vez mais organizadas em redes sociais mediadas
por computadores conectados, por tecnologias móveis, pela banda larga, wi-fi,
bluetooth e GPS, pelas interconexões com mídias digitais.
Estes são
dispositivos que permitem a todos atuar, informar, recrutar e organizar. São
25
instrumentos que permitem aos movimentos sociais, artísticos e/ou culturais
transformar-se, intuir-se através desta comunicação pluralista em rede.
Segundo Lemos
O ciberespaço é um ambiente de circulação de discussões
pluralistas
reforçando
competências
diferenciadas
e
aproveitando o caldo de conhecimento que é gerado dos laços
comunitários, podendo potencializar a troca de competências,
gerando a coletivização de saberes. (LEMOS, 2004, p.135).
Ou seja, o desenvolvimento do nível de conhecimento pelos usuários
desse sistema, seria mais uma ferramenta para o auxílio da troca através dos
rizomas culturais que acontecem naturalmente nas micro redes se conectando,
cada vez mais longe, na grande rede mundial de computadores. Poderíamos
talvez, dizer que este sistema vai se tornando vivo, coordenando ou formando
uma Autopoiese, conforme Maturana. Já Lemos entende que é,
Uma estrutura rizomática é um sistema de multiplicidade, um
sistema de bifurcação como um verdadeiro rizoma, uma
extensão ramificada em todos os sentidos, sem centro... um
rizoma pode ser conectado a qualquer outro rizoma. Como
multiplicidade, um rizoma não tem nem sujeito nem objeto e
cresce de acordo com a dinâmica de suas conexões. Os
rizomas se ramificam e se reticulam permitindo estratificações
e territórios, da mesma forma que criam linhas de fugas e de
desterritorialização. (LEMOS, 2004, p. 136)
O rizoma que o contato com a rede proporciona é uma forma híbrida de
aprendizagem como Burke nos exemplifica.
É que devemos ver as formas hibridas como o resultado de
encontros múltiplos e não como o resultado de um único
encontro, quer encontros sucessivos adicionem novos
elementos à mistura quer reforcem os antigos elementos.
(BURKE, 2003, p. 31).
O fato de um aprendiz se propor a iniciar uma pesquisa virtual permite a
ele caminhar num universo diferente, o que possibilita instigar-se cada vez
mais na medida em que se envolve com os links e materiais digitais disponíveis
na rede. O contato com a rede mundial de computadores pode não só trazer
benefícios, como reforçar os bons elementos já existentes, através da troca·
cultural.
Este reforço também pode ser entendido como “negociação” ou
26
“acomodação” (BURKER, 2003, p 48) das práticas, ou como já disse
anteriormente, uma oportunidade de repensar, aprender e fazer.
Porém, neste momento, é importante também refletir a respeito dos
dados que circulam no espaço da cibercultura que, segundo Castells,
apresenta a rede mundial de computadores como uma ida sem volta. Isto por
que ela é um meio que alterou o cenário de transmissão cultural, em todas as
classes sociais ou no nosso dia a dia. A cada dia parece que torna-se mais
difícil não encontrarmos em nossa “vida real” um chip, câmera filmadora, em
uma praça publica, alguém conectado a rede por um celular ou um computador
portátil em zonas hi-fi, o que nos assegura não podemos percorrer caminhos
contrários a estes, mas sim proporcionar a todos condições intelectuais de
aprenderem a respeito da utilização deste meio com responsabilidade e
democracia.
Percebe-se que, atualmente, a internet é procurada por pessoas que
buscam conhecimentos específicos como, por exemplo, aprender como se
conserta uma geladeira, um micro-ondas ou um veículo. Ou ainda buscam na
rede formações específicas, como um curso superior on-line ou cursos
técnicos, o que torna a internet um espaço para aprendizagem. Este evento
configura-se numa forma mais simples de interação com o novo saber, talvez
pela própria herança cultural de que o ambiente escolar por muitas vezes não e
atrativo, e não propõe uma liberdade na interação; em contrapartida devemos
analisar qual a qualidade das informações disponíveis na rede.
Para Lévy (1999, p.167) uma das pulsões mais fortes da cibercultura é a
interconexão, já Castells (2003, p. 98) adverte que os debates disponíveis são
superficiais e algumas vezes estéreis. O real e o virtual muitas vezes são
confundidos e percebo que muitos pensam que o virtual pode substituir o real,
principalmente, quando se trata em relacionamentos sociais e reais. Lévy
acredita que o ciberespaço não substitui o relacionamento real, lembrando que
a mesma crítica existe quando a invenção do telefone, mas hoje as pessoas
ainda
usam
o
relacionamentos
aparelho
reais
para
acabam
marcar
seus
utilizando-se
encontros.
dos
meios
Mesmo
virtuais
os
para
acontecerem; cotidianamente o ciberespaço reconfigura nossas vidas. Lévy
afirma que uma leitura na tela ou num papel não se diferenciam.
27
As paginas da WEB exprimem idéias, desejos, saberes,
ofertas de transação de pessoas e grupos humanos. Por trás
do grande hipertexto fervilham a multiplicidade e suas
relações. (LÉVY, 1999, p.162).
Importa entender que a internet tem sua própria identidade e impõe suas
próprias
regras
formuladores
e
de
comportamentos.
usuários,
porém
São
estas
reflexos
redes
não
diretos
são
dos
seus
organizadas
sistematicamente. A política de expansão do uso da rede está ligada
diretamente em números de participantes inseridos nela, ou seja, quanto maior
a diversidade de participantes, mais alta será a massa critica da rede e mais
altos os níveis de informação, mensagem, documentos digitais e assim, mais
que automaticamente, seu valor comercial também é expandido.
O Ciberespaço é efetivamente um potente fator de
desconcentração e de deslocalização, mas nem por isso
elimina os “centros”. Espontaneamente, seu principal efeito
seria antes o de tornar os intermediários obsoletos e de
aumentar as capacidades de controle e de mobilização direta
dos nós de poder sobre os recursos, as competências e os
mercados onde quer que se encontrem.
Formulo a hipótese de um encorajamento voluntarista das
iniciativas e das dinâmicas regionais que sejam ao mesmo
tempo endógenas e abertas para o mundo. De novo, a
condição necessária é a de valorizar e criar uma sinergia entre
as competências, os recursos e os projetos locais em vez de
submetê-los unilateralmente aos critérios, às necessidades e
às estratégias dos centros geopolíticos e geoeconômicos
dominantes. (CASTELLS, 1999, p. 190).
Segundo Castells a sociabilidade entre as redes no ciberespaço se dá
entre laços fracos que são os virtuais, ao contrário dos laços fortes que
possivelmente, Castells considera os que são presenciais. Já que as procuras
por informações são amplas e multidimensionais, pessoas comuns acabam
inserindo no ciberespaço verdadeiros portifólios pessoais nas comunidades
virtuais, como por exemplos ORKUT6 ou FACEBOOK7. Os laços fracos são
6
Orkut é uma rede social filiada ao Google, criada em 24 de janeiro de 2004 com o objetivo de ajudar
seus membros a conhecer pessoas e manter relacionamentos. Foi desenvolvido pelo projetista turco
Orkut Büyükkorten. É possível publicar fotos e vídeos pessoais, criar comunidades em formato de fórum
de discussão enviar e ler scraps de sua rede de contatos.
7
Facebook é uma rede social lançada em 4 de fevereiro de 2004, por Mark Zuckerberg e Eduardo
Saverin. Inicialmente, a adesão ao Facebook era restrita apenas aos estudantes da Universidade
Harvard. Ela foi expandida ao Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), à Universidade de Boston,
ao Boston College e a todas as escolas Ivy League em pouco tempo. Muitas universidades individuais
foram adicionadas. Posteriormente pessoas com endereços de e-mail de universidades (por
exemplo, .edu, .ac.uk) ao redor do mundo eram eleitas para ingressar na rede, que passou a aceitar
também estudantes secundaristas e algumas empresas. Hoje o Facebook possui mais de 500 milhões de
28
úteis no fornecimento de informações já que os usuários ingressam nestas
comunidades com um interesse comum. A rede é formada por múltiplos laços
fracos, que favorece aberturas de oportunidade de baixo custo. (CASTELLS,
1999, p. 445).
Lévy comenta que esta sociabilidade esta marcada por novos
ordenadores e fatores tratando-se do ciberespaço.
O ciberespaço (que também chamarei de “rede”) é o novo meio
de comunicação que surge da interconexão mundial dos
computadores. O termo especifica não apenas a infra-estrutura
material da comunicação digital, mas também o universo
oceânico de informações que ela abriga, assim como os seres
humanos que navegam e alimentam esse universo. Quanto ao
neologismo “cibercultura”, específica aqui o conjunto de
técnicas (materiais e intelectuais) de praticas, de atitudes, de
modos de pensamento e de valores que se desenvolvem
juntamente com o crescimento do ciberespaço. (LÉVY, 1999, p.
17).
O autor aponta duas características distintas do mundo virtual. Quando
as pessoas possuem uma imagem de si mesmo e de sua situação ele chama
de imersão. A navegação por proximidade acontece quando cada ato do
indivíduo ou do grupo modifica o mundo virtual e a sua imagem no mundo
virtual.
Na navegação por proximidade, o mundo virtual orienta os atos
do individuo ou do grupo, além dos instrumentos de pesquisa e
endereçamento clássicos (índices, links hipertextuais, pesquisa
por palavras chaves etc.), as demarcações, pesquisas e
comunicações são feitas por proximidade em um espaço
continuo. Um mundo do virtual, mesmo não “realista”, é,
portanto fundamental organizado de acordo com uma
modalidade “táctil” e proprioceptiva (real ou transposta). (LÉVY,
1999, p. 72).
Na circulação de pessoas no campo virtual são criadas redes de
relações e comunicação, mas de acordo com autores como Castells, essas
relações ou laços são considerados frágeis e passivos de questionamentos no
que se refere às interações sociais, porém, podem facilitar a ligação entre
pessoas de diferentes características socioculturais. Castells ressalta que,
usuários ativos e segundo o ALEXA, que monitora o trafego de visitantes na internet, ele ocupa o sexto
lugar no ranking. É ainda o maior site de fotografias dos Estados Unidos, com mais de 60 milhões de
novas fotos publicadas por semana, ultrapassando inclusive sites voltados à fotografia.
29
A vantagem da rede é que ela permite a criação de laços
fracos com desconhecidos, num modelo igualitário de
interação, no qual as características sociais são menos
influentes na estruturação, ou mesmo no bloqueio, da
comunicação. De fato, tanto off-line como on-line, os laços
fracos facilitam a ligação de pessoas com diversas
características sociais numa sociedade que parece estar
passando por uma rápida individualização e uma ruptura cívica.
Parece que as comunidades virtuais são mais fortes do que os
observadores em geral acreditam. Existem indícios
substanciais de solidariedade recíproca na rede, mesmo entre
usuários como laços fracos entre si. De fato a comunicação
on-line incentiva discussões desinibidas, permitindo assim a
sinceridade. O preço porem é o alto índice de mortalidade das
amizades on-line, pois um palpite infeliz pode ser sancionado
pelo clique na desconexão - eterna. (CASTELLS, 1999, p.445).
A cultura cibernética seria então um local onde as pessoas experiênciam
uma nova realidade espaço-tempo. Lévy (1996) utiliza a mesma analogia da
“rede” para indicar a formação de uma “inteligência coletiva”. Mesmo que as
linhas de análise dos autores abordados sigam caminhos diferentes, sendo a
linha de pensamento de Castells com fundamentos marxistas da sociedade
capitalista e a de Lévy fundados em pensamentos antropológicos é importante
registrar que seus pensamentos e teorias concorrem para o mesmo rumo
quando tratam das questões relacionadas a identidades.
Castells argumenta afirmando que,
No entanto, a identidade está se tornando a principal e, às
vezes, únicas fontes de significado em um período histórico
caracterizado pela ampla desestruturação das organizações,
deslegitimação
das
instituições,
enfraquecimento
de
importantes movimentos sociais e expressões culturais
efêmeras. Cada vez mais, as pessoas organizam seus
significados não em torno do que fazem, mas com base no que
elas são ou acreditam que são. Enquanto isso, as redes
globais
de
intercâmbios
instrumentais conectam
e
desconectam indivíduos, grupos, regiões e ate paises, de
acordo com sua pertinência na realização dos objetivos
processados na rede, em fluxo contínuo de decisões
estratégicas. Segue-se uma divisão fundamental entre o
instrumentalismo universal abstrato e as identidades
particularistas historicamente enraizadas. Nossas sociedades
estão cada vez mais estruturadas em uma oposição bipolar
entre Rede e Ser. (CASTELLS, 1999, p.41).
O autor entende que a rede não é imitação de outras formas de vida, a
rede tem sua própria dinâmica e a cibercultura ultrapassa com facilidade os
30
limites geográficos, políticos e sociais existentes fora dela. Conseguindo
combinar a rápida disseminação da comunicação de massa com penetração da
comunicação pessoal.
Ademais, não existe no isolamento de outras formas de
sociabilidade. Reforçam a tendência de “privatização da
sociabilidade” – isto é, a reconstrução das redes sociais ao
redor do individuo, o desenvolvimento de comunidades
pessoais, tanto fisicamente quanto on-line. Os vínculos
cibernéticos oferecem a oportunidade de vinculo sociais para
pessoas que, caso contrario, viveriam sociais mais limitadas,
pois seus vínculos estão cada vez mais espacialmente
dispersos. (CASTELLS, 1999, p.446).
Para Lévy o computador e a WEB nos auxiliam a simular com mais
eficiência e riqueza de detalhes devido o estímulo audiovisual,
Os saberes encontram-se a partir de agora, codificados em
bases de dados acessíveis on-line, em mapas alimentados em
tempo real pelos fenômenos do mundo e em simulações
interativas. A eficiência, a fecundidade heurística, a potência
da mutação e de bifurcação, a pertinência temporal e
contextual dos modelos suplantam os antigos critérios de
objetividade e de universalidade abstrata. Mas reencontramos
uma forma de universalidade mais concreta com as
capacidades de conexão, o respeito a padrões ou formatos, a
compatibilidade ou interoperabilidade. (LÉVY, 1999, p.166).
Lévy também acrescenta que é importante ressaltar a existência de
certo “caotecismo” característico na rede levando em consideração o saber
“destotalizado” que flutua na WEB, de onde resulta um violento sentimento de
desorientação (LÉVY, 1999). É neste momento que se percebe a intersecção
dos pensamentos de Castells e Lévy, que demonstram preocupação com o
nível de aprendizagem pela WEB.
Segundo Castells a esterilidade de tal debate, foi prejudicada em três
instâncias: precedeu de muito à difusão generalizada da Internet, desdobrou-se
na ausência de um corpo substancial de pesquisa empírica confiável e, em
terceiro, foi construído em torno de questões bastante simplistas e, em última
análise, enganosas como a oposição ideológica entre a comunidade local
harmoniosa de um passado idealizado e a existência alienada do “cidadão da
internet” solitário.
31
Castells faz uma diferenciação entre “informação” e “informacionalismo”,
sendo para ele a questão da informação um elemento inerente a todas as
sociedades em qualquer modo de produção vivenciada, ou seja, a informação
sempre exerceu um papel importante na composição sócio-econômica.
Entretanto, na sociedade em rede8, a informação passa a ser uma força
produtiva direta dentro do processo capitalista, o que para o autor caracteriza o
informacionalismo.
A WEB permite uma conexão mundial dos computadores possibilitanto,
assim, a pluralidade e a participação efetiva dos usuários desta rede em
construções de diversas tarefas e até mesmo aprendizagem, mesmo que de
certa forma neste meio também exista a reprodução de padrões já existentes.
A ressignificação que ocorre em tempo real, das constantes experiências
das mudanças de identidades e quebras de fronteiras juntamente com as
incertezas que são superadas com os resultados das experiências permite a
construção de conhecimento muitas vezes profundo. Contudo o sujeito ainda é
o principal articulador dos conteúdos disponíveis e também é a partir deste
sujeito que se organizam os devidos locais para eles.
Esta participação ativa é chamada por Castells de interatividade,
O Termo “interatividade” em geral ressalta a participação ativa
do beneficiário de uma transação de informação. De fato, seria
trivial mostrar que um receptor de informações a menos que
esteja morto nunca é passivo. Mesmo sentado na frente de
uma televisão sem controle remoto, o destinatário decodifica,
interpreta, participa, mobiliza seu sistema nervoso de muitas
maneiras, e sempre de forma diferente de seu vizinho. Além
disso, como os satélites e o cabo dão acesso a centenas de
canais diferentes, conectados a um videocassete permite a
criação de uma videoteca e define um dispositivo televisual
evidentemente mais “interativo” que aquele da emissora única
sem videocassete. A possibilidade de reapropriação e de
recombinação material da mensagem por seu receptor é um
parâmetro fundamental para avaliar o grau de interatividade do
produto. Encontramos esse parâmetro também em outras
mídias: podemos acrescentar o links a um hiperdocumento?
Podemos conectar esse hiperdocumento a outro? No caso da
televisão, a digitalização poderia aumentar ainda mais as
possibilidades de reapropriação e personalização da
mensagem ao permitir; por exemplo, uma descentralização da
emissora do lado do receptor; escolha da câmera que filma um
evento, possibilidade de ampliar imagem, alternância
8
Para Lévy é cibercultura e para Castells, Sociedade em rede.
32
personalizada entre imagem e comentários, seleção dos
comentaristas etc. (CASTELLS, 1999, p. 79).
Para Castells, na metade da década de 1990, surge um sistema de
comunicação eletrônica a partir da fusão da mídia de massa personalizada
globalizada mediada por computadores. O sistema era caracterizado pela
integração de diferentes veículos de comunicação e seu potencial interativo.
Conhecido posteriormente como multimídia, e já em 1994, o Brasil estaria
organizando-se para fazer parte desta supervia global emergente, seguindo
exemplo de outras grandes nações (CASTELLS, 1999, p. 450).
1.2
Educação à Distancia.
Inúmeras são as possibilidades de buscar conhecimento na internet; as
principais vias já atingiram a educação formal e se expressam pela modalidade
de ensino a distancia (EaD). Segundo Silva (2009B)
Atualmente constata-se a existência de uma enorme quantidade de
cursos, oferecidos na modalidade on-line, com diferentes modelos e
variados níveis de interatividade. Observa-se com muita frequência
que, mesmo na comunidade acadêmica, um número expressivo de
pessoas tende a associar a Educação a Distância (EAD) como sendo
aquela educação que é disponibilizada por meio da rede mundial de
computadores. (SILVA,. 2009B, p. 239).
No entanto, esta modalidade EaD percorreu um longo caminho, tendo sido
considerada por muito tempo uma modalidade inferior de educação, até conseguir
conquistar hoje maior aceitação no cenário educacional.
Provavelmente,
por ser uma modalidade de ensino que no Brasil
passou a existir há pouco tempo, tem sido vista como um instrumento de
formação educacional duvidoso. Segundo Silva (2009B) estamos vivendo a
terceira9 geração de EaD, que se baseia na aplicação das TIC, integrando
Internet, computador, televisão, rádio, salas virtuais, sistemas de áudio e vídeo
9
A primeira geração de EaD, chamada de ensino por correspondência começou a ser
oferecida a partir da penúltima década do século XIX e, utiliza material impresso enviado ao
aluno via correio. A segunda iniciou por volta de 1920 e caracteriza-se pelo uso de textos e de
meios audiovisuais como o rádio e, posteriormente, a televisão e o vídeo. Ainda nessa
geração, verifica-se a introdução da informática, com o uso de programas desenvolvidos
segundo a abordagem de instrução programada, em que o computador tinha a função de
‘máquina de ensinar.
33
conferência. Nessa geração surgem modelos de EaD interativos com possibilidade
de comunicação síncrona e assíncrona. (SILVA. 2009B, p. 240). Atualmente fala-se
também em Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA), que trazem ferramentas
computacionais capazes de atender às mais variadas necessidades de comunicação,
informação, armazenamento e interação (SILVA, 2009B).
Porém, ainda é perceptível que estas ferramentas são verdadeiros labirintos,
que muitos não se atrevem conhecer. Por outro lado, a simples presença de
tecnologias de ponta não garante que os AVA sejam realmente interativos (SILVA,
2009B, p. 246).
Para Silva (2009)
A tecnologia impera e passa a ditar os princípios dos setores e dos
valores formativos das sociedades. A política, a religião, a economia
encontram-se correlacionadas sobre a influência das ondas da
revolução em curso. (SILVA. 2009B, p.93).
É importante ressaltar que a busca por um bom conteúdo na internet é
independe de se participar ou freqüentar uma instituição de ensino. Até por que
para Silva (2009B), a educação não teria como fugir da influência tecnológica,
mas devido a um não acompanhamento das instituições, o uso das TIC em
sala de aula em cursos presenciais não é real, demanda investimentos que
nem sempre as instituições fazem.
De alguma forma as pessoas percebem este descompasso e
passaram a fazer, em todas as rodas e setores, continuas
referencias mais ou menos diretas, à necessidade de atualizála aos tempos vigentes. Atualizar, renovar e inovar são termos
que ouvimos e que frequentemente, aparecem nos textos e
documentos educacionais. (SILVA, 2009, p. 95).
Os sistemas educativos encontram-se esgotados diante desta busca
pela informação e conhecimento. Percebe-se também que nos dias atuais a
sociedade impulsiona ainda mais esta busca, quando o mercado de trabalho,
por exemplo, passa a exigir formação tecnológica das pessoas que pleiteiam
novas vagas dos serviços. Outra situação que se observa é que os estudantes
cada vez mais, exigem cursos que correspondam às suas necessidades
profissionais e de vida, rejeitando os que se apresentam curricularmente
inflexíveis. (SILVA. 2009B, p.96)
34
1.3
EaD em Música.
Neste sentido muitos iniciantes em música buscam na internet um “ambiente”
propício para aprender esta arte, já que os modelos da internet estimulam a autoavaliação e a percepção. Como afirma Gohn, o caminho da auto-aprendizagem em
música na rede impulsiona a maioria dos internautas que buscam este conhecimento.
Percebo enormes possibilidades nos processos de autoaprendizagem da música. As novas mediações tecnológicas podem
atuar como “professor” incansável para os aprendizes, dando
oportunidade de progresso àqueles que não tem um tutor para corrigir
seus erros. Os processos de aprendizagem musical frequentemente
dependem da repetição continua de exercícios, e a tecnologia pode
servir como “espelho” necessário para que correções sejam feitas.
(GOHN. 2003 p.17)
Gonh considera a busca pela informação específica na internet como educação
não-formal onde o aprendiz, a partir da experiência prática tem uma intencionalidade na
ação, o que significa querer, decidir e aprender. De acordo com as palavras de Gohn,
Por muito tempo o ensino de música mostrou-se insensível ao
emprego de novas tecnologias como ferramentas auxiliares na prática
didática. Só muito recentemente o uso de programas de computador,
vídeo-aulas, além dos recursos disponíveis na internet, começaram a
ser explorados, especialmente no ensino da música popular. Vídeos,
CD-ROMs e hipertexto aliam uma ação mais interativa do aluno com o
material didático a uma apresentação de informação que ocorre de
modo mais estimulante do que se pode observar nos tradicionais
métodos de instrumentos e livros de teoria musical. (GOHN., 2003,
p.10)
Percebe-se, então, que os aprendizes que utilizam esse espaço em busca de
aprendizagem têm sido favorecidos pelo caráter mais dinâmico do que as aulas que,
geralmente, são características das escolas específicas de música. O YT tem sido uma
das ferramentas que os jovens tem investigado com o intuito de adquirir aprendizado
em instrumentos musicais e por conta do caráter informal do processo educativo
proporcionado, encontram formas diversas de aprendizado.
35
2.
O YOUTUBE COMO FERRAMENTA DE APRENDIZAGEM
2.1 Características do YouTube
O surgimento da internet para a sociedade mundial em 1996, data que
Castells afirma ser a data em que foi apresentada para toda a população
mundial, trouxe novas possibilidades de socialização e mudanças profundas na
sociedade o que reflete nas várias atividades, incluindo a educacional.
É nesse ambiente que surgiu, em 2005, o site YouTube (YT), que,
segundo Mota e Pedrinho, é o maior aglutinador de mídias de massa da
internet no inicio do século 21 (MOTA e PEDRINHO apud BURGESS
e
GREEN, 2009, p.9).
Fundado por Chad Hurley, Steve Chen e Jawed Karim, exfuncionarios do site de comercio on-line PayPal, o site Youtube
foi lançado oficialmente sem muito alarde em junho de 2005. A
inovação original era de ordem tecnológica (mas não
exclusiva): o Youtube era um entre os vários serviços
concorrentes que tentavam eliminar as barreiras técnicas para
maior compartilhamento de vídeos na internet. Esse site
disponibilizava uma interface bastante simples e integrada,
dentro da qual o usuário podia fazer o upload, publicar e
assistir vídeos em streaming sem necessidade de altos níveis
de conhecimentos técnicos e dentro das restrições
tecnológicas dos programas de navegação padrão e da
relativamente modesta largura de banda. O Youtube não
estabeleceu limites para o numero de vídeos que cada usuário
poderia colocar on-line via upload, ofereceu funções básicas de
comunidade, tais como a possibilidade de se conectar a outros
usuários como amigos, e gerava URLS e códigos HTML que
permitiam que os vídeos pudessem ser facilmente
incorporados em outros sites, um diferencial que se aproveitam
da recente introdução de tecnologias de blogging acessíveis ao
grande público. Exceto pelo limite de duração dos vídeos que
podiam ser transferidos para o servidor, o que o Youtube
oferecia era similar a outras iniciativas de vídeos on-line da
época. (BURGESS e GREEN, 2009, p.17 - 18).
O YT, assim como quase todo o ciberespaço, informa além
de
proporcionar entretenimento. Com ele foi instaurada uma estrutura midiática
ímpar na história da humanidade, pois qualquer indivíduo pode emitir e receber
informação em tempo real, sob diversos formatos para qualquer lugar do
36
planeta e alterar, adicionar e colaborar com pedaços de informação criados por
outros e assim construir conhecimentos e apreender novas habilidades.
YT é um site de troca de vídeos que teve início em uma garagem de San
Francisco (Califórnia, EUA), em fevereiro de 2005. Quando Chad Hurley, Steve
Chen e Jawed Karim perceberam o inconveniente de compartilhar arquivos de
vídeo pela Internet iniciaram a criação de um programa de computador para
dividir vídeos com os amigos, que hoje é conhecido mundialmente e que exibe
cerca de 100 milhões de arquivos por dia e mais de 65 mil upload de novos
vídeos. Líder no setor de vídeos on-line e o principal destino dos internautas
para assistir e compartilhar vídeos com todo o mundo pela web, no Brasil, o YT
é muito visitado. Atualmente os brasileiros ocupam segundo lugar entre os
países que mais acessam o YT.
Segundo a empresa Hitwise, que monitora o tráfego de vídeos na
Internet, o YT tem 46% de participação de mercado dos vídeos on-line, contra
23% do MySpace10 e 10% do Google Vídeo11.
Este site possibilita que os usuários enviem e compartilhem clipes de
vídeo com facilidade e oferece condições de enviarem convites a amigos assim
como deixar links que conduzam ao site, compartilhando seus vídeos em toda
a internet.
Figura 1: Os Criadores do YouTube: Chad Hurley, Steve Chen e Jawed Karim
10
MySpace é um serviço de rede social que utiliza a internet para comunicação online através
de uma rede interativa de fotos, blogs e perfis de usuário. Foi criada em 2003. Inclui um
sistema interno de e-mail, fóruns e grupos. A crescente popularidade do site e sua habilidade
de hospedar vídeos e MP3 faz que muitos usuários utilizem de suas páginas de perfil como o
seu site oficial.
11
O Google vídeo é uma página WEB de vídeos que permite encontrar quaisquer vídeos
alojados, não somente no Google Vídeo, mas também no YouTube e outros websites de
vídeos.
37
Alguns dos recursos do YT divulgados em seu site são:
• A incorporação de vídeos, que permite a inserção de um vídeo do YT
em contas do MySpace, Orkut, blogs ou outros sites em que qualquer pessoa
pode assisti-lo.
• O usuário é quem escolhe se seu vídeo será público ou privado e se
deseja enviar e divulgar seus vídeos publicamente ou compartilhá-los apenas
com os amigos e familiares em suas comunidades ou em contas do Orkut por
exemplo.
• O Site disponibiliza instantaneamente uma lista com os novos vídeos
destacando os mais acessados e também vídeos com os links de seus
patrocinadores.
• As avaliações dos vídeos ou comentários podem ser postados
imediatamente em formato de texto ou em vídeos.
• Alguns clientes são selecionados para auxiliarem no desenvolvimento
do site o que é chamado de TestTube: trata-se de um espaço do site em que
os engenheiros e desenvolvedores do YT realizam testes chamados de “teste
alfa” para novos recursos em desenvolvimento. O site incentiva a participação
dos usuários no processo de desenvolvimento e na avaliação desses
recursos.12
Atualmente, o site disponibiliza também contas para usuários que
querem montar pequenas comunidades. Estando dentro do site podem enviar,
compartilhar, comentar, avaliar e promover produtos gratuitamente aos
usuários comuns.13
O YT é um espaço de saberes. Torna-se necessário neste momento
discutirmos a aprendizagem de música através desta ferramenta virtual, sendo
que este site é considerado o maior aglutinador de mídias de massa da internet
no início do século XXI (BURGESS e GREEN, 2009, p. 9).
O advento da internet permite que pessoas simples tornem-se sujeitos
de maior importância no ciberespaço pois são anônimos que utilizam o YT
para diversos fins, até mesmo para promoção de empresas, promoção pessoal,
12
Disponível em http://br.youtube.com/t/about consultado em 04/07/2010
Atualmente o YT pertence a Google que disponibiliza espaço no site para clientes e
empresas que querem divulgar seus serviços e produtos gerando assim verdadeiras fortunas
aos proprietários desta empresa.
13
38
eventos, ou simplesmente mostra de vídeos que são tidos como interessantes
pelos que fazem a postagem. Normalmente são vídeos de curta duração, na
média de nove minutos, tal como nos vídeos que serão analisados no capítulo
seguinte. O que nos chama a atenção nestes vídeos é a forma de condensar o
assunto proposto
em um pequeno
espaço de tempo e a quantidade de
pessoas que se unem através das escolhas dos mesmos vídeos para serem
observados.
Lévy (1999) e Lemos (2004) acreditam que a internet é um espaço de
realiance, uma ligação de pessoas de diferentes grupos sociais e diferentes
graus de conhecimento, que podem interagir em qualquer lugar com qualquer
pessoa ou comunidade no ciberespaço ao mesmo tempo. Já Gasset explica
que
De repente a multidão tornou-se visível, instalou-se nos
lugares preferenciais da sociedade. Antes, se existia, passava
despercebida, ocupava o fundo o cenário social; agora
antecipou-se às baterias, tornou-se o personagem principal. Já
não há protagonista: só há coro. (GASSET 2002, p. 37).
Hoje ao se falar em “usos dos meios”, refere-se não mais à recepção do
conteúdo dos meios de comunicação de massa pela massa, mas aos novos
meios de comunicação mais acessados por faixas distintas da população e
também ao acesso a tecnologias digitais. Para o melhor entendimento
podemos ser auxiliados pela definição de massa e minoria, minuciosamente
demonstrado por Gasset (2002).
O conceito de multidão é quantitativo e visual. Se o traduzirmos
para a terminologia sociológica, sem alterá-lo, encontraremos a
idéia de massa social. A sociedade é sempre uma unidade
dinâmica de dois fatores: minorias e massas. As minorias são
indivíduos ou grupos de indivíduos especialmente qualificados.
A massa é o conjunto de pessoas não especialmente
qualificadas. Portanto não se deve entender por massa, nem
apenas, nem principalmente "as massas operárias". Massa é o
"homem médio". Desse modo converte-se o que era apenas
quantidade - a multidão – em uma determinação qualitativa; é a
qualidade - comum, é o monstrengo social, é o homem
enquanto não diferenciado dos outros homens, mas que
representa um tipo genérico. Mas onde chegamos com essa
conversão de quantidade em qualidade? Muito simples: por
meio desta compreendemos a gêneses daquela. É evidente,
até óbvio demais, que a formação normal de uma multidão
implica a coincidência de desejos, de idéias de modo de ser
dos indivíduos que a integram. Pode-se objetar que isso é o
39
que acontece com qualquer grupo social, por mais seleto que
pretenda ser. De fato; mas há uma diferença essencial.
(GASSET, 2002, p.37 e 38).
Gasset chama de classe de homens, o que permite entender a massa
social como um aglomeramento de grupos sem distinção social; massa e
minoria diferem-se do que conhecemos como classes sociais, que são
encontradas fora do ciberespaço. A internet, segundo Gasset, mostra que
existe um movimento que retira a massa dos subalternos e “eleva” este grupo a
certa “promoção” no ciberespaço porque neste não existem as diferenças
sociais; uma minoria da massa ocupa os lugares que poderiam fazer mudanças
sociais e a maioria usufrue dos prazeres que antes apenas uma outra minoria
gozava.
Nos vídeos disponibilizados no YT, massa e minoria se encontram sem
estas diferenças, o que faz muitos autores entenderem que o ciberespaço é um
vetor de agregação social ou um veiculo de “realiance”.
O ciberespaço é, em conseqüência, uma casa da imaginação,
o lugar onde se encontram racionalidade tecnológica, vitalismo
social e pensamento mágico... e uma fronteira entre o
industrialismo para o pós-industrial. Ele é também (como
espelho de Alice) um espaço de passagem do individuo
austero ao individuo religado (do individualismo ao tribalismo)
participante do fluxo de informação do mundo contemporâneo.
(LEMOS, 2004, p. 129).
O ciberespaço deve ser compreendido como um rito de passagem da
era industrial à pós-industrial, da modernidade dos átomos à pós-modernidade
dos bits. (LEMOS, 2004 p. 132). Lemos entende o ciberespaço em duas
perspectivas: Como ambiente simulado e como o conjunto de rede de
computadores interligados ou não, que permitem a interação por mundos
virtuais e que não se desvincula do real. É um complexificador que aumenta a
realidade num ambiente fechado, chamado pelo autor de realidade aumentada,
ou um espaço sem dimensões, um “não” lugar, um vetor de agregação social.
A massa faz sucumbir tudo que é diferente, egrégio, individual,
qualificado e especial. Quem não for como todo mundo correrá
o risco de ser eliminado. E é claro que este "todo mundo" não é
"todo mundo". "Todo mundo" era, normalmente, a unidade
complexa de massa e minoria discrepantes, especiais. Agora
todo mundo é apenas a massa. (GASSET, 2002, p 41).
40
Para Gasset, as diferenças são diminuídas com o advento da massa, o
que nos leva a entender que o ciberespaço seria o local com um teor de
igualdade onde qualquer indivíduo pode participar, visitar, cooperar, associar,
colaborar, falar e ser ouvido, e aprender; o YT é um local ideal dentro do
ciberespaço para esta ultima atividade. A participação das diversas
comunidades, a facilidade de postar vídeos, o número elevado de visitantes
diários em todo o mundo faz que o YT seja procurado por diferentes pessoas e
com diferentes aptidões, que aproveitam para estudar, aprender e ensinar.
Percebo que o movimento em que a massa ocupa lugares novos dentro
e fora do ciberespaço, reorganiza os sistemas, que Gasset (2002) chama de
rebelião, e as divisões anteriores existentes na sociedade e todo o processo
atual gerado a partir dos atuais meios de comunicação provocam mudanças
nas formas de ensino e de aprendizagem, promovendo a partir destes
processos, novos saberes.
No espaço virtual, o conhecimento e a informação estão em vários
lugares e sob diferentes formas. O YT tornou-se um importante espaço onde se
integram diferentes ferramentas que aguçam os mais diferentes "paladares", à
procura da informação, havendo informações escritas, em vídeos, alguns com
requintes e detalhes, por vezes bem minuciosas, e áudio, o que no meu
entendimento necessita ainda de melhora de qualidade.
Figura 2: exemplo de página do YouTube onde se encontram várias possibilidades de
vídeo sobre o mesmo tema
41
Diariamente milhares de pessoas fazem visitas virtuais a inúmeros sites
e o YT encabeça a lista de um dos sites mais visitados em todo o mundo. Uma
grande maioria dos vídeos disponibilizados neste site está relacionado direta
ou indiretamente com música, inúmeras pessoas buscam neste espaço
democrático a possibilidade de aprender música, pesquisam, observam, ouvem
e vêem. Entusiasmam-se e talvez até se decepcionem com os vídeos, mas não
podemos negar que um número significativo de pessoas fazem do YT um local
de aprendizagem em música.
2.2
Classificação de vídeos.
Ferrés (1996) e Moran (1998) não apontaram exclusivamente situações
voltadas para os vídeos do YT, mas desenvolveram alguns conceitos que
servem para situar o
usuário da tecnologia do vídeo. Segundo esses
autores, existem várias maneiras de utilização do meio em questão e,
guardadas as pequenas diferenças entre o que concebe um e outro autor,
podem ser definidas por uma tipologia específica, sendo mais semelhantes do
que distintas. Dividiram nas seguintes nomenclaturas : Videolição: segundo
Ferrés (1996), nessa modalidade, o vídeo é utilizado como uma ferramenta de
aula expositiva, na qual, a tecnologia substitui o professor;
Videoapoio: o
sentido reside na utilização de imagens veiculadas pelo vídeo para
reforçar o discurso do professor ou dos alunos.
Uma característica dessa modalidade é a utilização das imagens sem
som. A esta forma de uso, Moran (1998) denomina vídeo como ilustração. Para
o autor, a utilização desse recurso auxilia o professor e o aluno, ilustrando o
que se fala; Programa motivador: essa modalidade, de acordo com Ferres
(1996), proporciona a motivação inicial sobre um tema ou assunto com
fins objetivados. Em geral, trabalha-se com vídeos acabados. Moran (1998)
desenvolve um conceito semelhante, no qual o vídeo é utilizado como
recurso
de
sensibilização,
motivando,
introduzindo
e
despertando
curiosidade para novos temas ou assuntos; Videoprocesso:
a
também
denominado vídeo como produção por Moran (1998). Ambos os conceitos
propõem que o aluno
se
sinta
responsável pelo processo de produção,
42
fazendo com que o vídeo se converta em um incentivo à criatividade, como
ocorre
com
o
pincel
e
o
abrangeria, segundo, Moran
lápis
(FERRÉS, 1996).
(1998),
o
Essa modalidade
vídeo como documentação,
intervenção ou ainda como expressão. Inclui-se no conceito de videoprocesso,
a modalidade de vídeo como avaliação e, dentro desta, o vídeo espelho;
Programa monoconceitual: a utilização do vídeo gira em torno de um tema
específico, ou seja, uma forma intermediária entre o programa motivador e o
videoapoio (FERRÉS, 1996). O conceito de Moran (1998) que mais se
aproxima desta modalidade é o denominado vídeo como conteúdo de ensino.
E por fim, Vídeo interativo: é o vídeo associado à outra mídia, como informática
interativa, por exemplo. Esse conceito é semelhante ao que Moran (1998)
denomina vídeo como integração e suporte, cuja interação se daria com mídias
de computador, videodisco, CD-ROM etc.
O site YT exige dos usuários que fazem um upload, isto é, que
adicionam um vídeo para ser disponibilizado no site, uma categorização de
seus vídeos no momento da publicação. O site também disponibiliza além das
várias ferramentas para o usuário, explicações que facilitam, o já conhecido
passo-a-passo para realizar esta tarefa. O YT recebe vídeos numa plataforma
multiformato, vídeos de até 2 gigabytes de espaço e que durem
até 15
minutos, e atualmente conta com a ferramenta que disponibiliza o vídeo em
alta definição (HD).
Com a popularidade do YT verifica-se que existe uma facilidade maior
atualmente para fazer adições de vídeos na rede, um exemplo claro disso e
que hoje pode ser feito um
upload de vídeo direto do celular sem a
necessidade de um computador, ou seja, do celular se conecta direto para o
YT.
Segundo o site, simplesmente, deve-se conectar ao navegador do
celular direcionar para o site www.youtube.com e enviar por e-mail do próprio
celular para o endereço [email protected]. O usuário que
conecta à internet pelo celular também pode assistir ao vídeos do YT pelo
próprio aparelho.
Em vários momentos, o site alerta que não deve ser enviado nenhum
programa de televisão, videoclipes, shows musicais ou comerciais sem
permissão, a não ser que o conteúdo seja totalmente da autoria de quem esta
43
postando. Também fornece uma página com informações sobre direitos
autorais além das diretrizes da comunidade, onde o usuário pode ler e
consultar se o vídeo que pretende postar infringe ou não os direitos autorais de
alguém. Mesmo assim, ao clicar no campo que é para enviar o vídeo o autor do
upload deve acionar o campo que declara não estar violando os termos de uso
do YT e que possui todos os direitos autorais do vídeo e que tem a autorização
para enviá-lo
O site YT disponibiliza um vídeo explicativo para auxiliar o usuário a
enviar o vídeo. Assim que realizar o upload o autor poderá compartilhar
automaticamente o feed14 das suas atividades (seus envios, favoritos,
avaliações etc.) em seu perfil de outros sites como por exemplo:
Facebook,
Twitter, Reader, Orkut e MySpace. Os vídeos postados devem ter uma
categoria escolhida, que facilita a pesquisa de outros usuários. Não há uma
explicação do site para cada categoria e são disponibilizadas as seguintes:
Animais, Ciência e Tecnologia, Educação, Entretenimento, Esportes, Filmes e
Desenhos, Humor, Instruções e Estilos, Música, Noticia e Política, Pessoas e
Blogs, Veículos, Viagens e Eventos. É necessário também escolher uma
palavras-chave para orientar a busca do sistema de pesquisa que fica
disponível tanto nas ferramentas do Google como em toda a internet; seria uma
forma de endereçar onde estão os vídeos específicos
A escolha de palavras-chaves ou tags não é definida pelos
desenvolvedores do site, portanto depende exclusivamente do
bom senso dos usuários. Na hora de escolher as palavras que
serão referencias para a localização do vídeos alguns usuários
costumam acrescentar palavras sem relação
com seus
conteúdos, com o objetivo de atrair mais visualizações
tornando mais complicado a busca e a seleção do material.
Da mesma forma a descrição dos vídeos que em alguns casos
não especifica verdadeiramente o seu conteúdo. Essas
praticas são comuns em redes sociais, usuários estão sempre
em busca de visibilidade e buscam os mais variados recursos
para consegui-la.
O caos ou a astúcia dos usuários no uso
dos sistemas é tratado por André Lemos como uma ruptura dos
paradigmas da modernidade, ocorrendo o que ele chama de
apropriação tecnológica. (SERRANO e PAIVA. p. 6 2008)
14
Um formato de dados usado em formas de comunicação com conteúdo atualizado
frequentemente, como sites de notícias ou blogs, o termo Feed vem do verbo em inglês
“alimentar”. Recurso do site YT que, aliado a um software específico, permite alertar os
visitantes quando há conteúdo novo. Também conhecido como feed RSS.
44
Para Serrano e Paiva essa divisão foi oferecida ao público de acordo
com a semelhança das propriedades dos vídeos. Elas são mutuamente
exclusivas, ou seja, determinado vídeo deve pertencer a apenas uma das
categorias propostas. Porém, pode-se encontrar vídeos que diferem das
categorias em que foram ordenadas, um exemplo claro é que os vídeos que
contem aulas de música não são colocadas na categoria de “instrução” e
algumas vezes nem mesmo em “música”, para ampliar o numero de
visualizações o autor pode escolher uma categoria “mais atraente” tal como
humor ou pessoas e blogs. Mas a possibilidade de vincular o link dos vídeos
em outros sites como Orkut facilita a busca ou a divulgação do material
postado.
Por considerar pouco eficiente estas alternativas de classificação
Serrano e Paiva (2008) defendem que existem apenas três categorias de
vídeos desenvolvidos especificamente para o YT, são elas:
1
Pessoais: Videoblogs, acidentes, auto-promoção e opiniões.
2
Independentes: Paródias, videoclipes, políticos e animações.
3
Publicidade: Marketing Viral.
A utilização da busca de acordo com o número de
visualizações, de votos, de avaliações, de comentários e de
respostas, o interesse coletivo pode simplesmente não refletir
como algo que convém a todos os visitantes, já que a
diversidade e a quantidade de vídeos é enorme. (SERRANO e
PAIVA. p. 7 2008)
Porém além destas três categorias de vídeos de desenvolvidas
especificamente para o YT existem outras seis categorias que Serrano e Paiva
(p.10, 2008) chamam de vídeos adaptados de outras mídias para inserção no
YT.
1
Televisão: Seriados, novelas, propagandas, programas transmissões
esportivas.
2
Cinema: Documentários, trailers, animações filmes de curtametragem.
3
Teatro:
Apresentações
performances.
4
Música: Shows, videoclipes.
de
dança,
esquetes
humorísticas,
45
5
Games: Demonstrações, tutoriais.
6
Artes plásticas: Slideshow de pinturas e esculturas.
46
3.
A PESQUISA NO CAMPUS DO IFMTCas
Para alcançar o objetivo desta pesquisa, fiz a escolha pela pesquisa
qualitativa que, conforme Chizzotti (2003), “implica uma partilha densa com
pessoas, fatos e locais que constituem objetos de pesquisa, para extrair desse
convívio os significados visíveis e latentes que somente são perceptíveis a uma
atenção sensível” (CHIZZOTTI, 2003. p 221). Assim, a pesquisa é também
descritiva e exploratória guardando características etnográficas, pois suas
técnicas devem contemplar a elucidação da problemática desta pesquisa.
Trata-se de um tipo de investigação que valoriza o ecletismo, que segundo
Cardoso (1985) ajuda a atender algumas questões mais ligadas à
contemporaneidade, em que as escolhas de vários caminhos metodológicos
favorecem a análise do objeto dando-lhe suporte que não seria possível com o
perfil cartesiano disciplinar.
Gil (2006) considera que a pesquisa descritiva tem como objetivo
principal o aprimoramento de idéias e procura proporcionar maior familiaridade
com o problema envolvendo três processos para a construção da pesquisa: (a)
levantamento
bibliográfico;
(b)
entrevistas
com
pessoas
que
tiveram
experiências práticas com o problema pesquisado; e (c) análise de exemplos.
O autor afirma que,
A pesquisa descritiva usa padrões textuais como, por exemplo,
questionários, para identificação do conhecimento e tem por
finalidade observar, registrar e analisar os fenômenos. Na
pesquisa descritiva não há interferência do investigador, que
apenas procura perceber, com o necessário cuidado, a
freqüência com que o fenômeno acontece como a descrição de
um processo numa organização. (GIL, 2006, p.57).
A pesquisa exploratória foi necessária, tendo em vista a aproximação
maior com as características do objeto de pesquisa, por ser amplo e variado e
pelo fato do YT pertencer ao campo virtual. Por haver a necessidade de um
recorte mais específico para abordar o YT como ferramenta para o
aprendizado, procurei recorrer a visão de Révillion (2003) que afirma que “a
pesquisa exploratória procura conhecer as características de um fenômeno
para procurar explicações das causas e conseqüências de dito fenômeno”
47
(RÉVILLION, 2003, p. 22). A autora ainda cita Mattar (1994) que considera que
a pesquisa exploratória provê o pesquisador de um conhecimento mais
aprofundado do objeto de pesquisa em perspectiva, é apropriada para os
primeiros estágios da investigação.
Conforme foi descrito, de caráter qualitativo, esta pesquisa buscou
conhecer como o site YT auxilia a aprendizagem musical de jovens estudantes,
e amplia a sua cultura tendo em vista a apreciação de peças diversificadas e
análises de vídeos de autores diferentes ensinando algo ou fazendo
performance musical em show ao vivo.
A pesquisa foi realizada com um grupo de cinco alunos, selecionados a
partir dos seguintes critérios: não ter participado em data anterior à pesquisa,
de cursos de música; tocar violão ou viola caipira; ter utilizado a internet no
processo de aprendizagem; ser aluno do IFMTcas e, por fim, aceitar participar
desta pesquisa autorizando gravações em formato de áudio e vídeo.
A pesquisa tem caráter etnográfico, pois na vivência cotidiana com os
alunos, compartilhei as experiências que registrei para posterior análise. O
convívio diário com os participantes da pesquisa forneceu informações
fundamentais para considerar as subjetividades e especificidades do contexto,
isto em conformidade com os pressupostos de Geertz que defende a pesquisa
antropológica e explica que ela deve ser considerada como uma ciência
interpretativa. Para Mattos (2001) a etnografia é um processo guiado
preponderantemente pelo senso questionador do etnógrafo, favorecendo esta
pesquisa pois
a utilização de técnicas e procedimentos etnográficos, não
segue padrões rígidos ou pré-determinados, mas sim, o senso
que o etnógrafo desenvolve a partir do trabalho de campo no
contexto social da pesquisa. Estas técnicas, muitas vezes, têm
que ser formuladas ou criadas para atenderem à realidade do
trabalho de campo. (MATTOS 2001)
As ferramentas desta metodologia
entende
o “objeto” de pesquisa
como “sujeito” tornando imprescindível analisar as contradições sociais. Mattos
(2001) entende que na pesquisa etnográfica “a cultura não é vista como um
mero reflexo de forças estruturais da sociedade”, mas como um sistema de
significados mediadores entre as estruturas sociais e a ação humana
48
introduzindo os atores sociais com uma participação ativa e dinâmica no
processo modificador destas estruturas.
Etnografia é também conhecida como: observação
participante,. Compreende o estudo, pela observação direta e
por um período de tempo, das formas costumeiras de viver de
um grupo particular de pessoas: um grupo de pessoas
associadas de alguma maneira, uma unidade social
representativa para estudo, seja ela formada por poucos ou
muitos elementos. (MATTOS 2001)
3.1
Características do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
de Mato Grosso.
No final do ano de 2009, tive a oportunidade de conhecer o Instituto
Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Mato Grosso uma nova
instituição de ensino, que conta atualmente com onze campi distribuídos pelo
Estado de Mato Grosso. A unidade que despertou o interesse foi o Campus
Cáceres, situada na cidade de Cáceres, uma importante cidade para o turismo
e pesca esportiva, a 220 km da capital de Mato Grosso. Atualmente a
instituição conta com mais de 1200 alunos distribuídos entre ensino médio e
integrado, cursos de tecnólogos em agroindústria, agropecuária
e também
graduações. O público que frequenta esta escola vem de diferentes cidades de
todo o estado, tornando-a um verdadeiro laboratório de pesquisa em que
encontramos diferentes culturas de diferentes regiões sendo representadas
pelos alunos.
O IFMTcas é oriundo da fusão, no ano de 2008, pela Lei 11982, de 29
de dezembro, que uniu três importantes instituições federais de educação, o
Centro Federal de Ciência e Tecnologia de Mato Grosso que era conhecido
como CEFET Cuiabá, o Centro Federal de Ciência e Tecnologia de Cuiabá que
era conhecido como CEFET São Vicente e a Escola Agrotécnica Federal de
Cáceres.
Em Cáceres, a instituição forma profissionais para todo o Estado (esse é
maiúsculo) há mais de 30 anos, se tornando um importante órgão de ensino
para pessoas que encontram cursos relacionados ao campo e agropecuária,
49
entre outros. Este percurso histórico permite que hoje a escola seja referência
em todo o estado atraindo assim, alunos dos mais diferentes e distantes
municípios.
Os alunos se inscrevem no IFMTcas e podem escolher, além das
diferentes formações que são disponibilizadas, o regime de estudos. No
regime de residentes, os alunos permanecem integralmente na instituição, no
regime de não residentes os alunos apenas estudam no Instituto, num período,
e no de semi-residentes os alunos estudam os dois períodos e usufruem de
parte da estrutura como centro de convivência e laboratórios.
Quanto à
estrutura, o instituto conta com alojamentos masculinos e femininos
devidamente
equipados,
restaurantes,
ambulatório
farmacêutico
e
odontológico, quadras esportivas, alem dos diversos laboratórios incluindo o de
informática. É oferecido também transporte escolar, pois a escola esta situada
a 10 km do centro de Cáceres.
3.2 Os sujeitos da pesquisa
Foi estabelecido também como critério, realizar a pesquisa apenas com
alunos no regime residente, visto que se teria mais tempo para a convivência
com eles. Porém, este critério foi abandonado tendo como um dos motivos, as
obrigações que este grupo de alunos desempenhava, ao que tudo indica, por
serem solicitados pela instituição de forma a ocupar sobremaneira o tempo
livre, não havendo disponibilidade para o trabalho com música. Outro motivo
foi o fato destes alunos evitarem se envolver em projetos que acontecessem
nos períodos extra-classe. Desta forma, os alunos que participaram da
pesquisa foram integrantes de outros regimes de estudo.
Com as aulas de violão, oferecidas a partir do primeiro semestre, para a
comunidade do IFMTCas, enquanto professor ministrante, deparei-me com
uma sala cheia de interessados. Entre os alunos que compareceram,
inicialmente, oito eram residentes, dez semi-residentes e doze eram alunos não
residentes. Nas primeiras aulas quando foram propostos os conteúdos, bem
como o repertório que seria trabalhado no primeiro semestre, percebi que pelo
menos 20% destes alunos desinteressaram pelo curso. Portanto, procurei
50
saber o motivo da desistência destes alunos e indentifiquei como principal o
fato de minhas aulas apresentarem músicas fora da expectativa dos
interessados. Ainda antes do início desta pesquisa, percebi que a renúncia
estava relacionada diretamente com o estilo musical proposto por mim,
enquanto professor, que fiz um planejamento baseado em estudos de violão de
Carulli, Aguado, Tarrega, Sor, entre outros, sendo mantido até o final deste
curso, e também em músicas de compositores nacionais, privilegiando a
música instrumental.
Percebi, imediatamente, que o outro motivo que levou alguns estudantes
à desistência, além do repertório, estava na preferência em se aprender a
“tocar” seus instrumentos de uma forma “mais rápida”, que eles chamam de
uma “forma mais prática”, quando utilizam a internet, especificamente o site YT.
Diante desta realidade, mantendo o objetivo de conhecer como acontece a
aprendizagem musical busquei pesquisar o uso do YT na aprendizagem
desses dois instrumentos, violão e viola caipira. Tornou-se então necessário
escolher na imensidão de internautas um grupo menor para que pudesse ser
feito um levantamento de dados mais específicos para a pesquisa.
Ao retomar as atividades no mês de julho, percebi que dos 30 alunos
iniciais apenas quinze alunos retornaram para as aulas. Havia quatro alunos
novos, dos quais permaneceu apenas um, demonstrando um nível acentuado
de rotatividade. Decidi então procurar os alunos desistentes e verificar o
possível retorno deles. Em conversas informais percebi que eles preferiam
tocar apenas as músicas do momento que tocavam nas emissoras de rádio e
televisão comerciais e que preferiam utilizar o violão como instrumento para
acompanhar o canto. Normalmente, o gênero escolhido era o “sertanejo”, mais
especificamente o intitulado como “universitário”, que aparentemente trata-se
da tradicional música sertaneja porém com esta adjetivação para uma
adaptação no cenário atual de jovens, que a meu ver não aceitariam dizer
gostar de música caipira ou sertaneja. Demonstravam se contentar com esta
possibilidade de uso do instrumento e consideravam complexa a forma de
tocar, quando se referiam ao uso da partitura. Outros desistiram por motivos
alheios e não quiseram informar esses motivos.
No momento em que estava realizando este levantamento com os
alunos desistentes, no segundo semestre, aproveitando a oportunidade, os
51
convidei a participarem como sujeitos da pesquisa. Obtive cinco respostas
positivas e entre eles estavam dois alunos que frequentaram poucas aulas no
inicio do curso, em março de 2010. Um deles participou apenas no mês de
junho, e, segundo a lista de presença participou de três aulas. Um aluno que foi
convidado compareceu à primeira aula, faltou às aulas seguintes e retornou,
permanecendo até o fim. Convidei também um aluno que não fez parte do
grupo que frequentou o curso, mas que toca viola caipira e já havia até gravado
um CD. O quarto estudante já tocava violão, mas não conhecia o grupo que
estava estudando o instrumento, e a partir do convite para participar da
pesquisa ele demonstrou interesse também em estudar com o grupo. O quinto
aluno foi convidado na medida em que observei o interesse que o mesmo
apresentou pela aprendizagem do violão, e por várias vezes, ter anunciado em
sala de aula o uso da internet para este fim.
TABELA 1. SUJEITOS DE PESQUISA
N°
NOME
1
Carlos
2
Carioca
3
Eduarda
4
Joaquina
5
Sebastião
PERFIL INICIAL
Não havia frequentado aula de violão em escola específica de
música, mas tocava violão há 6 meses. Tocava algumas
músicas que aprendeu por vídeos na internet e conversas
informais com amigos na escola. Sabe ler cifras e apresenta
certa facilidade em cadenciar acordes,e também em fazer
ritmos. Participou do início do curso de violão do IFMTCas.
Assim como Carlos não participou de estudos em escola
específica de música, trocava informações na escola e
aprendia pela internet. Participou das primeiras aulas do curso
de violão no IFMTCas, desistindo e retornando no segundo
Semestre. Apresenta facilidade em fazer ritmo mas dificuldade
em fazer acordes.
Não frequentou aula em escola específica de música, aprende
pela internet e troca de informações com colegas, entrou no
curso de violão do IFMTCas após ver Carlos se apresentando.
Não frequentou aula em escola específica de música, aprende
pela internet, participou apenas de 3 aulas do curso de violão
do IFMTCas
Aprendeu pela internet, estuda viola caipira. Troca informações
com colegas, não participou do curso de violão do IFMTCas.
Gravou CD em 2009.
Participaram da pesquisa os alunos Carlos15, Carioca, Joaquina e
Eduarda, alunos da 3ª série do curso técnico em agropecuária integrado ao
15
Utilizo nomes fictícios para manter o anonimato dos alunos.
52
ensino médio, e Sebastião, aluno do Curso Superior de Engenharia Florestal.
Destes pesquisados Sebastião e Joaquina não fazem parte do grupo de alunos
que tentaram iniciar os estudos de violão no IFMTCas, em março de 2010.
Eduarda e Carioca passaram a participar depois das observações e conversas
que tivemos no mês de agosto. É importante ressaltar que estes dois alunos
pediram para participar das aulas de violão, após terem assistido algumas
aulas. Eles interessaram pela aula porque, conforme relataram, perceberam
que a forma como Carlos tocava em relação ao início do curso havia
melhorado significativamente.
É importante ressaltar que os cinco alunos que participaram da pesquisa
tinham idade entre 16 a 20 anos. Outra observação importante é que dos cinco
alunos que fazem parte desta pesquisa apenas Sebastião estudou viola caipira,
e segundo foi constatado, sem a interferência de nenhum professor, apenas
participou de um curso de uma semana na modalidade de master class
realizado em São Paulo, no final de 2009, que será mencionado no relato na
entrevista.
Houve também a preocupação que os alunos Eduarda, Carlos e Carioca
poderiam ser influenciados por mim, pelo fato de participarem do estudo de
violão. Esta inquietação ficou menos intensa ao perceber que o contato com
este processo em que estudamos o violão formalmente, não impede a
pesquisa individual na Internet, pois os jovens continuam a fazer suas buscas,
além das aulas formais, tendo a internet como ferramenta, fazer parte da
cultura num contexto mais amplo. Os cinco alunos demonstram, de fato, fazer
uso da internet no seu cotidiano para aprender música, conforme foi
observado.
É importante ressaltar neste momento que as análises e as reflexões
construídas nesta pesquisa tratam do resultado do estudo realizado com cinco
alunos do IFMTcas. Demo (2001) adverte que o resultado de estudos com
pequenos grupos não devem ser generalizados,
Entre os principais desafios metodológicos da pesquisa
qualitativa está o problema da generalização. Até que ponto é
possível partindo de alguns casos, embora analisado em
profundidade, inferir para algum universo similar? (DEMO,
2001, p. 116)
53
Entendo que posso afirmar que esta pesquisa auxilia a entender como
que estes cinco alunos pesquisam e aprendem música, já que estes alunos
têm a cultura de aprender violão ou viola caipira desta forma observando
discursos
e
práticas
de
diferentes
músicos.
Demo
chama
isso
de
“exemplaridade”
Não podemos falar desse tipo de representatividade na
pesquisa qualitativa, por que as dimensões intensas, sobretudo
aquelas mais individuais, só podem representar a historia
própria de cada qual, não a história de todos. (DEMO, 2001, p.
117).
Acredito que estes exemplos podem ser observados e comparados a
outros usuários da internet que também fazem uso desta ferramenta, mas não
proponho a generalização. Busco através das entrevistas e observações
entender como acontece este processo, observando os cinco exemplos de
aprendizagem de instrumentos pelo YT. Com isso tenho claro como alunos que
se encontram longe de grandes centros, residem em cidades que não têm
opções para aprender música ou optam em aprender por esta via, acabam
utilizando esta ferramenta atual para fins que muitas vezes não eram o objetivo
principal quando o YT foi criado. Segundo Burgess e Green (2009) o propósito
maior do YT era apenas compartilhar vídeos, o que mostra que a utilização
desta ferramenta para outro fim é uma adaptação dos próprios usuários. É
possível verificar neste procedimento, o que aponta Maturana (2001), que
entende o ambiente virtual disponível pela internet como um organismo vivo, ou
Castells (1999) , que entende que a política da rede é formada pelos próprios
usuários reconfigurando a rede e a sociedade e estabelecendo padrões
contemporâneos.
54
4.
O
YOUTUBE
E
AS
ESCOLHAS
DOS
CINCO
ENTREVISTADOS
A pesquisa de campo teve início no segundo semestre a partir das
observações, realizadas enquanto lecionava aula de violão no IFMTCas.
Após o período de observação, passei a me aproximar dos alunos e em
conversas informais houve a seleção de cinco alunos conforme critério descrito
no capitulo 3, dando início a
encontros onde foram feitas anotações que
culminaram com a elaboração de
um questionário com questões objetivas
sobre como usam a internet para aprender tocar violão e viola caipira. Após
análise das respostas do questionário percebi que foi necessário elaborar desta
vez uma entrevista com questões abordando as formas de uso da internet e o
uso do YT, como fazem as seleções dos vídeos, como se articulam para ter
conhecimento destes vídeos, e como utilizam os vídeos e análise do seu
próprio aprendizado.
4.1. O questionário 16
Após o aceite dos sujeitos da pesquisa foi elaborado um questionário e
aplicado individualmente em momentos diferentes, entre os dias nove e treze
de agosto. Este instrumento se baseava em quatro questões para verificar se
realmente os cinco alunos teriam as características a serem observadas. Além
do nome, curso que estavam matriculados, assim como a modalidade de
vinculo com o IFMTcas, se residente, semi-residente ou não-residente foram
questionados sobre a utilização da internet, no que concerne à periodicidade e
prioridades de uso e o local onde costumam conectar-se. Apesar do IFMTcas
disponibilizar aos alunos uma sala de informática conhecida como “Virtual”,
neste questionário ficou evidente que apenas um dos sujeitos da pesquisa
utiliza
um ou dois dias por semana deste espaço. Os demais sujeitos
afirmaram que não utilizam a sala virtual, preferem acessar
16
Questionário em anexo pagina 84.
em suas
55
respectivas residências. Quanto à frequência dos acessos ao site do YT,
Carlos e Eduarda navegam todos os dias por até duas horas, Carioca,
Sebastião e Joaquina mantêm uma média de acesso de cinco dias por
semana, entre três a quatro horas cada.
NOME
TABELA 2. SOBRE O USO DA INTERNET
QUANTIDADE DE DIAS TEMPO DE NAVEGAÇÃO DIARIA
POR SEMANA
CÁRIOCA
CINCO DIAS
DUAS HORAS
SEBASTIÃO
CINCO DIAS
QUATRO HORAS
EDUARDA
TODOS OS DIAS
DUAS HORAS
CARLOS
TODOS OS DIAS
DUAS HORAS
JOAQUINA
QUATRO DIAS
QUATRO HORAS
Nas respostas concedidas pelos sujeitos sobre as prioridades de uso da
internet, pode-se perceber que existe uma hierarquia semelhante nas
prioridades estabelecidas por Sebastião e por Carlos. Os dois responderam
que utilizam a internet, em termos de prioridade, da seguinte maneira: em 1º
lugar, para se comunicarem com amigos e familiares, em 2º lugar para ver
vídeos, em 3º para estudar assuntos gerais, e para fazer pesquisas, em 4º
para estudar música, em 5º para fazer novas amizades e em 6º lugar para
jogar on-line.
Joaquina estabeleceu como prioridade no uso da internet, a seguinte
ordem: em primeiro lugar, os estudos gerais, em 2º lugar a comunicação com
amigos e familiares e em 3º lugar, para estudar música e assistir a vídeos e
afirma que não tem o costume de fazer amizades na WEB nem jogar
conectada a internet. Carioca prioriza o estudo em geral, a pesquisa e o estudo
de música, seguido pela comunicação com amigos e familiares e afirma que a
procura por comunicação, novas amizades e assistir a vídeos fica em último
plano. Eduarda também afirmou priorizar o uso da internet para o estudo em
geral e a pesquisa. Em 2º lugar utiliza para assistir vídeos, em 3º para o estudo
de música, em 4º comunicar com amigos e familiares e por ultimo para fazer
novas amizades.
56
PRIO. 1
TABELA 3. PRIORIDADE DE USO DA INTERNET
PRIO. 2
PRIO. 3
PRIO. 4
PRIO. 5
OUTRAS
PRIORIDADES
Sebastião Comunicar
Ver vídeos
Estudar
assuntos
gerais
Estudar
música
Fazer
novas
amizades
Jogar
line
Carlos
Ver vídeos
Estudar
assuntos
gerais
Estudar
música
Fazer
novas
amizades
--
Comunicar
com
amigos e
familiares
Estudar
música
E
Ver
vídeos
Estudar
assuntos
gerais
--
--
--
Fazer
novas
amizades
Ver
vídeos
--
Estudar
música
Comunicar
com
amigos e
familiares
Fazer
novas
amizades
--
Joaquina
com
amigos e
familiares
Comunicar
com
amigos e
familiares
Estudar
assuntos
gerais
Carioca
Estudar
música
Eduarda
Estudar
assuntos
gerais
Comunicar
com
amigos e
familiares
Ver vídeos
on-
No que se refere à preferência por algum site quando buscam aprender
música, a resposta unânime entre os cinco estudantes foi que para esse fim
acessam o site YT. Por estas respostas, ficou claro que todos os sujeitos
utilizam e internet para estudar música.
4.2 As entrevistas17.
Ao verificar as respostas do questionário aplicado, percebi que as
respostas eram breves, demasiadamente reduzidas, o que dificultaria uma
análise mais profunda sobre as questões que responderiam com mais clareza
as especificidades da pesquisa. Foi necessário então, formular perguntas para
que respondessem verbalmente. Percebi nesse momento que uma entrevista
semiestruturada (reforma) seria o caminho para obter respostas melhores e
mais completas. A situação da entrevista foi marcada, onde, a cada pergunta
os sujeitos puderam discorrer de forma mais livre sobre as questões
apresentadas, tocaram, citaram exemplos, gesticularam, enfim se mostraram
mais desinibidos enquanto relatavam. Para garantir repostas isentas da
17
Perguntas em anexo pagina 85
57
influência do grupo e deixar fluir as subjetividades de cada sujeito, a entrevista
foi realizada de forma individual e sem a presença dos demais. Foi marcada
reunião que aconteceria no dia 29 de Agosto para que todos pudessem ser
entrevistados um de cada vez. As entrevistas foram gravadas e posteriormente
transcritas como registro para a análise. Foi também estabelecida uma ordem
para que ocorressem as entrevistas de forma que à medida que fossem
chegando ao auditório do IFMTcas - local marcado para a entrevista, seriam
então entrevistados um a um . O primeiro a ser entrevistado foi Sebastião,
seguido de Eduarda, Joaquina Carlos e Carioca. É importante destacar que no
momento da entrevista foi disponibilizado um violão para que, se fosse preciso
demonstrar trechos de peças ou estudos musicais dos instrumentos os sujeitos
pudessem recorrer ao instrumento.
É importante relatar que ao entrar na sala, os entrevistados
imediatamente empunhavam o violão, antes mesmo de iniciar a entrevista.
Experimentavam o instrumento, tocavam alguns acordes, interagiam primeiro
com o instrumento. Um deles perguntou se poderia continuar com o violão
durante a entrevista após a resposta positiva, segurou o violão até terminar a
entrevista. Penso que esta situação, se deve muito provavelmente, porque
esse instrumento musical foi um elo entre pesquisador e pesquisados, uma vez
que as conversas giravam em torno do violão e da música. Outra possibilidade
é que os sujeitos pareceram se sentir mais à vontade quando ao falar sobre o
instrumento possam também manuseá-lo.
4.2.1. Sobre os meios de aprendizagem
Sobre os meios de aprendizagem os sujeitos responderam que a
internet realmente fez parte de suas formações. Sebastião respondeu a
questão sobre o instrumento que estava aprendendo afirmando que nos
últimos dois anos dedicava-se à viola caipira e
que havia aprendido,
praticamente, sozinho.
“Aprendendo? Ainda to aprendendo a viola, faz dois anos que eu toco, e
aprendi sozinho praticamente, apostila internet e... Mas ainda tem muito pra
aprender”.(SEBASTIÃO. Entrevista 18/09/2010)
58
Sebastião relata que no início da aprendizagem, em 2008, ficava
conectado horas seguidas, como um “fanático” e isso o levou a tocar muito
rápido, porem hoje já não estuda com a mesma frequência, mas ainda
consulta a internet.
Juntamente com essa flexibilidade espacial e temporal, o
computador conectado à internet permite ao aprendiz a
interatividade, isto é, diálogo, criação e controle dos processos
de aprendizagem mediante ferramentas de gestão e autoria.
Diferindo-se profundamente da tv enquanto máquina rígida,
restritiva, centralizadora porque baseada na transmissão de
informações elaboradas por um centro de produção, o
computador conectado apresenta-se como sistema aberto aos
interagentes, permitindo participação e intervenção na troca de
informações e na construção do conhecimento. (SILVA 2003)
Eduarda, Joaquina Carlos e Carioca informaram que o instrumento que
aprendem através do YT é o violão, e Carlos ressaltou que também tentou
tocar a flauta doce também utilizando a internet.
Verifiquei também que as declarações sobre o tempo diário e semanal
que todos se conectam
coincidiram com os tempos respondidos no
questionário. Eduarda afirmou dedicar dois dias, terças e quintas feiras e nos
finais de semanas, especificamente, aos domingos para estudar o violão
utilizando a internet e após a aula de violão no IFMTcas. Já Carlos não tem um
dia definido, mas como conecta a internet diariamente, visita o site YT todos os
dias. Sempre que encontra algo interessante ele faz o download do vídeo para
estudar ou estuda imediatamente. Joaquina não tem uma rotina para estudar,
afirmando que em alguns dias, a procura por vídeos no YT é mais intenso, e
menos intenso, quando
quase não tem tempo para estudar violão, talvez
devido as obrigações com estudos e família. Mas, quando encontra um vídeo
que considere interessante ela faz o download do vídeo para eventuais
consultas off-line, porém a prática e fazer o download em seu computador para
eventuais pesquisas posteriores é mínima devido dar preferência em estudar
on-line.
Aparentemente os sujeitos
obrigação do tempo imposta pelo ensino
tradicional que padroniza o tempo as disciplinas e conteúdos. Sendo que na
internet o uso em suas residências não segue tais padrões.
59
Quando questionados sobre o uso de vídeos foi verificado que quatro
dos cinco entrevistados nunca visitaram outro site que disponibiliza vídeos na
internet. Apenas Carlos afirmou buscar também vídeos no MSN Vídeos18.
É importante ressaltar que os sujeitos organizam seu tempo quando
estão conectados nas seguintes prioridades: Joaquina, Carlos, Carioca e
Eduarda priorizam o estudo em geral e para realizar pesquisas. Já Sebastião
prioriza comunica-se com amigos e família. Carlos e Carioca colocam o estudo
de música em segundo lugar nesta escala de prioridades, Joaquina e Eduarda
em terceiro lugar, e Sebastião em quarto depois do estudo gerais e de assistir
vídeos. Para Burgess e Green
O YT é um site potencial para a cidadania cultural cosmopolita
um espaço no qual indivíduos podem representar suas
identidades e perspectivas, envolver-se com as representações
pessoais de outros e encontrar diferença culturais. Mas o
acesso a todos os níveis possíveis de participação é limitado a
determinado segmento da população aqueles com motivações,
competências tecnológicas e capital cultural específico do site
suficiente para participar em todos os níveis de envolvimento
que a rede comporta.(BURGESS e GREEN. 2009 p. 112)
4.2.2. Sobre a escolha dos vídeos
No que refere aos critérios de escolha dos vídeos percebi que os
sujeitos usam
critérios diferentes. Eduarda afirma que escolhe vídeos
interessantes, por que
“A gente pode vê a maneira que a pessoa esta tocando e tentar
reproduzir da mesma maneira junto com os acordes e tudo mais, no seu
instrumento; então facilita o seu aprendizado”. (EDUARDA. Entrevista
18/09/2010)
18
MSN Vídeo é um serviço da Microsoft pelo portal MSN. É similar ao serviço de partilha de
vídeos YouTube. Inicialmente era acessível apenas para usuários com convite. Posteriormente
transformou-se aberta a todos os usuários. Esta vinculada ao Hotmail e ao Myspace.
60
Sebastião afirmou que utilizava a internet para aprender música, ele
disse que é o meio de comunicação mais fácil que se tem e informou que
pesquisava solos de viola, demonstrando no violão os acordes que conhecia, o
que chamou de algumas “notas” (acordes).
“Eu tinha umas apostilas. . . os solos que eu não pego de ouvido, eu
procuro na internet”. (SEBASTIÃO. Entrevista 18/09/2010)
Sebastião procura por vídeos pela facilidade de ver o instrumentista
solando sendo mais fácil que estudar em uma tablatura. Recorre a livros, cifras
e tablaturas apenas quando não encontra o vídeo sobre a música que
pesquisa.
Carioca afirmou não conseguir aprender completamente com os vídeos,
mas que se esforça para terminar a peça que estuda. Muitas vezes encontra
vídeos de músicos que não ajudam muito pela forma de tocar determinada
música, pois facilitando e simplificando a harmonia tiram a originalidade da
música parecendo outra. Ele evita ver estes vídeos
já que busca arranjos
originais.
Dos cinco entrevistados Sebastião, Eduarda, Joaquina e Carioca
disseram que utilizam vídeos e outros materiais digitais que facilitam a
aprendizagem como cifras e tablaturas. Carioca, Eduarda e Carlos afirmam
procurar por partituras, mas que recorrem com maior freqüência ao vídeo para
auxiliar a pesquisa.
Carioca disse que antes de procurar uma música no YT realiza uma
pesquisa sobre o que irá aprender e somente depois busca um vídeo,
“Tendo interesse por este estilo musical a gente procura vídeos sobre
ele e músicas pra gente tentar fazer”. (CARIOCA. Entrevista 18/09/2010)
Sebastião afirmou ter acessado vários vídeos de um determinado autor
e ter aprendido com ele
“Eu creio que ele me ensinou assim de fato, mas, é, por
que o que eu mais busquei foi esse cara, o Cleber Viana,
o cara que eu mais pesquisei assim pra aprender estes
solos foi ele, por que ele tem os passo a passo lá no YT e
61
ele ficava mais fácil pra mim”. (SEBASTIÃO. Entrevista
18/09/2010)
Ao ser questionado se este autor teria um site ou vídeos aulas
disponíveis, ele não soube informar. Ao que tudo indica, a pesquisa que fizera
sobre este autor permaneceu apenas no âmbito do YT e nos vídeos
disponíveis.
Carlos afirmou que não tem um autor escolhido, mas estabelece
critérios para decidir qual vídeo vai optar para estudar. Isso permite entender
que nesta seleção existe uma apreciação prévia destes vídeos, aparentemente
pautada em seleção por comparação entre os vídeos, por qualidade de áudio
e vídeo e pelo arranjo que mais se aproxime do original. Joaquina e Eduarda
relataram que não têm critérios para fazer a seleção dos vídeos que servirão
como auxilio na aprendizagem de uma música. Joaquina comentou que tem
vídeos que ela abandona logo no inicio, quando julga que aparentemente não é
o que procura.
A partir da entrevista percebi que os critérios para o abandono são:
qualidade insatisfatória do áudio ou do vídeo, postura em manusear o violão,
mudança no arranjo original da música. É importante observar que estes
critérios foram observados também nas falas de Carlos e Eduarda. Carlos
comentou que após a seleção dos vídeos são feitos os downloads e os vídeos
permanecem em seu computador até o termino do processo; quando acredita
ter “aprendido o suficiente” ele exclui tais vídeos.
“Abri uma pasta para guardar os vídeos, quando fui ver já tinha mais de
vinte gigabytes, minha mãe pediu para que eu excluísse”. (CARLOS. Entrevista
18/09/2010)
Aparentemente o conceito de “aprender o suficiente” é ser capaz de
reproduzir a peça estudada conforme indicação do autor do vídeo. Ou sentir-se
satisfeito com o resultado sonoro de sua aprendizagem.
Sebastião afirmou também fazer o processo de download, mas prefere
estudar on-line repetindo o mesmo vídeo até chegar um momento em que
considere que aprendeu. Afirmando também que armazena os vídeos só como
62
arquivo para uma posterior consulta por determinado tempo. Após um tempo,
ou quando percebe que o computador está com excesso de dados exclui os
menos usados ou os que não precisa mais. Aparentemente não há diferença
entre apreciar estes vídeos on-line ou off-line, porém verifiquei que muitas
ferramentas
do
YT
são
disponibilizadas
apenas
quando
conectado.
Normalmente estas ferramentas são pequenas notas de texto que auxiliam
para o entendimento do vídeo.
Joaquina e Eduarda preferem estudar apenas on-line já que elas têm
computadores conectados à internet em seus quartos. Carioca mescla estudo
on-line e off-line.
Quando os respondentes foram questionados sobre o tipo de vídeos de
suas preferências, foi perceptível que eles optam pelos vídeos de artistas que
tocam as músicas que eles querem aprender no momento. Como exemplo,
ressalto o depoimento de Eduarda que diz:
“Assisto os vídeos, dependendo do assunto, às vezes são os vídeos
com as músicas sendo tocadas mesmo, eu procuro músicas tocadas ao vivo,
pra eu poder ver como... a mão se movimenta”. (EDUARDA. Entrevista
18/09/2010)
Nos depoimentos de uma forma geral, os entrevistados afirmaram que
quando têm dificuldades em aprender assistindo aos vídeos dos artistas, eles
procuram por vídeos de autores que ensinam a tocar passo a passo. Eduarda
confirmou sua experiência ainda respondendo que utiliza os vídeos que
propõem instrução de como tocar.
“Tem alguns vídeos também que ensinam passo a passo, como tocar
música. Ai eu utilizo o vídeo com meu instrumento tentando acompanhar”.
(EDUARDA. Entrevista 18/09/2010)
Esta afirmação com respeito ao uso de YT deixa evidente a
consideração dos autores no que concerne a interação e aprendizagem na
internet. Para Castells isso é chamado de “interatividade” mesmo não havendo
a participação ativa do beneficiário, pois “de fato, seria trivial mostrar que um
63
receptor de informações a menos que esteja morto nunca é passivo”
(CASTELLS, 1999, p. 79). Já para Lévy, que acredita que o computador e o
ciberespaço nos auxiliam a simular com mais eficiência e riqueza de detalhes
devido o estímulo audiovisual,
Os saberes encontram-se a partir de agora, codificados em
bases de dados acessíveis on-line, em mapas alimentados em
tempo real pelos fenômenos do mundo e em simulações
interativas. A eficiência, a fecundidade heurística, a potência
da mutação e de bifurcação, a pertinência temporal e
contextual dos modelos suplantam os antigos critérios de
objetividade e de universalidade abstrata. Mas reencontramos
uma forma de universalidade mais concreta com as
capacidades de conexão, o respeito a padrões ou formatos, a
compatibilidade ou interoperabilidade. (LÉVY, 1999, p.166).
64
5.
OS VÍDEOS DO YT E A APRENDIZAGEM MUSICAL DOS
ENTREVISTADOS
No processo metodológico para realização desta
pesquisa foi
constatado que existe um grupo no IFMTCas que faz o uso do YT, e que há
uma troca de informação entre eles sobre os vídeos estudados. Os cinco
sujeitos desta pesquisa, dialogam com outros estudantes e trocam informações
com estes sujeitos. Eduarda afirma ter ajuda de amigos,
“A gente toca junto e eles me ensinam também, me
ajudam bastante, eles trocam essas informações também,
e passam as pesquisas e eu pergunto pra eu poder
acompanhá-los melhor, eu pergunto onde que eles
pesquisam pra eu poder pesquisar também”. (EDUARDA.
Entrevista 18/09/2010)
Carioca afirma que existe uma troca de informações que facilita a
aprendizagem,
“Bom, na maioria das vezes a gente discute sim. Mas
também é uma troca de conhecimento, às vezes o colega
sabe um pouco mais, ai a gente tenta trocar, né? É muito
mais interessante e facilita a aprender”. (CARIOCA.
Entrevista 18/09/2010)
Carlos confirmou este fato relatando que nos intervalos do almoço ou
entre as aulas eles sentam nos bancos dos corredores do IFMTcas e fazem
esta troca de informação. Já Sebastião diz ter encontrado dificuldade para
encontrar um grupo por tratar de viola caipira e que somente ao final do ano de
2009 que encontrou dois meninos da escola que tocavam e começaram a
trocar estas informações.
“Eles me perguntavam direto algumas coisas, assim, e eu
passava pra eles uns macetes, e eles me passavam,
assim, uma maneira diferente da pegada, era uma troca
de informações, né? Um ensina o outro. E assim você
aprende
mais
rápido”.
(SEBASTIÃO.
Entrevista
18/09/2010)
65
Para Silva com o advento da era da informação na era digital promovida
pelo surgimento do computador, o termo interatividade foi crescentemente
utilizado, algumas vezes até mesmo de forma equivocada, porém o que
percebe-se é quem a interatividade
vem
alterando a antiga forma de
transmissão da TV e de outras formas de mídias, fato o que ele chama de
distribuição de informação. Essa transição da distribuição para a interatividade
é um divisor de águas extremamente oportuno. Ela exige novas estratégias de
organização e funcionamento da mídia clássica e redimensionamento do papel
de todos os agentes envolvidos com os processos de informação e
comunicação. O autor acredita que
Um novo cenário comunicacional ganha centralidade. Ocorre a
transição da lógica da distribuição (transmissão) para a lógica
da comunicação (interatividade). Isso significa modificação
radical no esquema clássico da informação baseado na ligação
unilateral emissor-mensagem-receptor: O emissor não emite
mais no sentido que se entende habitualmente, uma
mensagem fechada, ele oferece um leque de elementos e
possibilidades à manipulação do receptor. A mensagem não é
mais "emitida", não é mais um mundo fechado, paralisado,
imutável, intocável, sagrado, ela é um mundo aberto,
modificável na medida em que responde às solicitações
daquele que a consulta. O receptor não está mais em posição
de recepção clássica, ele é convidado à livre criação, e a
mensagem ganha sentido sob sua intervenção. (SILVA, 2000)
Esta interação e intercâmbio de conhecimentos que se articula entre os
sujeitos pesquisados contraria a noção de que o ciberespaço pressupõe o
distanciamento das relações humanas, como afirma Lemos,
O ciberespaço é um ambiente de circulação de discussões
pluralistas
reforçando
competências
diferenciadas
e
aproveitando o caldo de conhecimento que é gerado dos laços
comunitários, podendo potencializar a troca de competências,
gerando a coletivização de saberes. (LEMOS, 2004, p.135).
Sebastião também afirmou:
“O pessoal que começa a aprender viola procura primeiro Tião Carreiro.
Se inspiram. Eu também me inspirei no Tião Carreiro, alguns solos do Almir
Sater”. (SEBASTIÃO. Entrevista 18/09/2010)
66
Os meninos que Sebastião conhecera também utilizam vídeos para
aprender a tocar a viola caipira, já que na escola especifica de música em
Cáceres, não existe aula de viola caipira. Os vídeos fornecem materiais para
que eles toquem algumas músicas para estes instrumentos, e, pelos exemplos
citados, vê-se que Sebastião tem uma disposição para a busca por arranjos
mais complexos e também interesse por instrumentistas que exploram mais o
instrumento, demonstrando assim que tem uma acuidade auditiva apurada.
Sebastião destacou que teve apenas uma semana de aula em São
Paulo com um professor de viola caipira, no final do ano de 2009; o professor
com quem iria estudar é professor de viola caipira na Universidade de São
Paulo. Percebi que ele demonstra dificuldade em identificar nomes de acordes
e também não estuda teoria musical, apesar de tocar a viola bem e considerarse profissional. Quando questionado se os vídeos do YT poderiam auxiliar a
compreender questões voltadas a grafia musical, teoria e harmonia, ele afirmou
que sim, mas que as pessoas que irão fazer esse tipo de pesquisa devem
estar entusiasmados para esta
aprendizagem,
o
que parece
deixar
subentendido que ele não se interessa por estas situações.
5.1
Sobre o upload de vídeos no YT.
Dos cinco alunos apenas Sebastião19 tem vídeos pessoais postados no
YT. São três vídeos de uma antiga dupla de música sertaneja, que ele fazia
parte até no inicio de 2010. No vídeo que é apresentado a música “Meu Ipê
Florido”, a filmagem é simples sem nenhum recurso tecnológico e com
iluminação natural, e por este fato o filme ficou escuro. É observado que este
vídeo é feito para ser postado no YT e a pessoa que está filmando destaca
muito mais a viola caipira mostrando a mão de Sebastião tocando assim como
o violão de seu companheiro. Aparentemente esta técnica segue padrões
encontrados em outros vídeos produzidos para o YT. A cena demonstra que
o vídeo foi gravado em casa, de forma “amadora”, com a preocupação de filmar
um resultado instrumental, que é maior do que o fato de mostrar o rosto dos
19
Para manter o anonimato do Sebastião não disponibilizo os endereços eletrônicos dos seus
vídeos pessoais.
67
músicos, que também são cantores, que por muitas vezes não fazem parte da
cena principal que fica por conta do violão e da viola caipira. Esta situação
permite também, um questionamento a respeito da originalidade e a ausência
da edição do vídeo. A dupla está vestida de forma simples com camiseta e
bermuda, o que novamente sugere que o foco está mais na forma natural de
tocar e em mostrar um resultado, quase que apenas sonoro, ou que os sujeitos
filmados não se vestem formalmente parecendo não importar se que certos
pontos de suas intimidades sejam mostrados no ciberespaço. Mesmo se
tratando de uma filmagem simples e amadora percebe-se que o áudio e o
vídeo têm boa resolução.
Burgess e Green entende que esta categoria de vídeo é considerada
comumente como amadora
Os vídeos populares do YT são contribuições de uma
diversidade de profissionais, semiprofissionais, amadores e
participantes pró-amadores, alguns dos quais produzem
conteúdos que não se adéqua confortavelmente às categorias
disponíveis – seja de mídia “tradicional” ou de formas
vernaculares geralmente associadas ao conceito de conteúdo
“amador”. (BURGESS e GREEN. 2009 p. 80)
Os autores acreditam que o YT é um organismo em que participantes
amadores e profissionais, dividem o mesmo espaço no ciberespaço, na troca
de informações se beneficiando
para suas intenções mercadológicas, ou
simplesmente para “engrossar o caldo cultural”, como já dito por Lévy. Burgess
e Green esclarecem que isso exige
que entendamos que todos aqueles que fazem upload
assistem, comentam ou criam conteúdo para o YT como
participantes, sejam eles empresas, organizações ou
indivíduos. Antes de mais nada, o conteúdo circula e é usado
no YT sem preocupações quanto a sua origem - ele é
valorizado e gera envolvimento de modos específicos, de
acordo com seu gênero e seus usos dentro do site, assim
como sua relevância na vida cotidiana de outros usuários, e
não pelo fato do upload ter sido feito por um estúdio em
Hollywood, uma empresa de web TV ou por um videoblogueiro
amador. Todos os fornecedores de conteúdo no YT são
participantes potenciais de um espaço em comum; um espaço
que comporta uma gama diversificada de usos e motivações,
mas que tem uma lógica cultural coerente - o que chamamos
de Youtubidade do YT. De maneira similar, esse modelo exige
nossa compreensão das atividades não somente dos criadores
68
de conteúdo, mas também das audiências e suas práticas de
participação, porque as práticas de audiência – citado,
adicionado
aos
favoritos,
comentado,
respondendo,
compartilhando e assistindo – deixa rastros e, portanto, todas
têm impacto na cultura em comum do YT à medida que o site
evolui. Aqueles que insistem em tratar o YT como se fosse uma
plataforma de radiodifusão têm menos probabilidade de atingir
os objetivos de suas participações, sejam elas quais forem.
(BURGESS e GRENN 2009 p. 83)
Eduarda afirmou querer postar um vídeo
mas somente quando ela
“tocar bem”,
“As pessoas postam assim os vídeos na internet quando elas sabem
tocar muito bem, né? Quando eu souber tocar muito bem pode ser que eu
poste, sim”. (EDUARDA. Entrevista 18/09/2010)
O YT
não foi planejado para ser uma sala virtual de aprendizagem
musical, porém, percebe-se que existe grande número de vídeos que podem
ser adaptados para este fim. Um fator importante que entusiasma jovens a
postarem vídeos é justamente a promoção pessoal que pode surgir como
consequência de visitações dos vídeos postados. Buergess e Green (2009)
observa-se que dos vídeos vinculados pelo YT , mais de 61% dos vídeos são
produzidos pelos próprios usuários. (BURGESS e GREEN 2009 p.68) O autor
detaca que os
Os usuários gastam tempo no site contribuindo com o
conteúdo, criando referencias, construindo e criticando vídeos
reciprocamente, assim colaborando uns com os outros
conforme constroem o “núcleo social” do YT, e em termos de
teoria inovadora, um grupo de “usuários líderes” que
indentificam e exploram oportunidades de maneira coletiva
para aprimorar o modo de funcionamento do YT por meio das
suas próprias práticas. (BURGESS e GREEN 2009 p. 80)
Carioca e Carlos afirmaram que têm a mesma idéia (reforma) de postar
um vídeo quando estiverem mais “desenvolvidos” no violão, pois consideram
que alguns autores de vídeos que eles escolhem tocam muito bem.
Já Joaquina prefere selecionar os vídeos e afirmam que a maioria deles
é ruim, que os autores só pensam em uma promoção pessoal quando postam
estes vídeos no YT. Eduarda relatou que é necessário também fazer uma boa
69
seleção e uma busca, pois que muitos autores não estariam preparados para
postar esses vídeos. Estas afirmações deixam transparecer que a culminância
do aprendizado está em postar o seu próprio vídeo no YT, como resultado de
um processo de aprendizagem. Como afirma Gohn,
Percebo enormes possibilidades nos processos de autoaprendizagem da música. As novas mediações tecnológicas podem
atuar como “professor” incansável para os aprendizes, dando
oportunidade de progresso àqueles que não tem um tutor para corrigir
seus erros. (GOHN. 2003 p.17)
Burgess e Green (2009) entende que o YT atualmente faz parte da
mídia de massa, mesmo que relutantemente. Ele representa claramente uma
ruptura com o modelo de negócio da mídia existente e está surgindo como um
novo ambiente do poder midiático, tornando assim uma forma clara de
promoção pessoal no ciberespaço. Assim como para Castells (2003) a internet
tem sua política própria formado pelos usuários, isso não seria diferente no YT.
Burgess e Green (2009) acreditam que existam dois YTs, um com os vídeos
“amadores” e outro contendo vídeos profissionais, de marketing de grandes
empresas e canais de televisão. Porém, é evidente que este grande público
que usa este espaço para ter acesso às informações, relacionamentos sociais
e diversão cria padrões, promovendo regras
intrínsecas; e aparentemente,
postar um vídeo pessoal é uma delas.
“A gente vê, encontra muitos vídeos na internet muito bom, mas às
vezes tem vídeos muito ruins, de algumas pessoas que não tocam tanto assim
e postam vídeos”. (CARLOS. Entrevista 18/09/2010)
Carlos explicou que seleciona os vídeos
observando daqueles
que
mais se aproximam do arranjo original de determinada música. Quando iniciou
suas buscas, o vídeo era muito mais importante para Carlos, pois era possível
perceber pequenos detalhes, como os movimentos das mão. atualmente, com
o desenvolvimento da acuidade auditiva e a sua percepção ele consegue
estudar apreciando apenas o áudio.
“Antes o vídeo era muito importante, até o sentido da
mão, a forma da batida, eu me atentava mais aos
70
movimentos o resultado era uma consequência. Agora se
eu estou aprendendo uma música eu uso o vídeo só para
conhecer o ritmo, por exemplo”. (CARLOS. Entrevista
18/09/2010)
Carioca acredita que deve existir o mesmo padrão de qualidade entre
áudio e imagem e que além da seleção deve ter resolução de qualidade em
áudio e vídeo. O que vem ao encontro à afirmação de Eduarda,
“Por que ao mesmo tempo em que eu vejo o movimento e
eu ouço o que este movimento faz com o instrumento, fica
muito mais fácil de aprender do que só lendo a cifra ou a
partitura, é diferente né? Por que na cifra o acorde é
seco, só tem o acorde, agora vendo tocar e ouvindo você
sabe como este acorde é tocado e como soa”.
(EDUARDA. Entrevista 18/09/2010)
5.2
Teoria da música no YT
Na entrevista voltei a perguntar sobre o conteúdo teórico musical que se
desenvolve na sua aprendizagem e verifiquei o que os entrevistados
comentaram sobre os vídeos, se preocupam com o nível de informação do
autor, ou ficam atentos aos vídeo que mostram apenas como tocar,
aprendendo por imitação. Percebi que a resposta girou em torno do discurso
anterior, a respeito dos vídeos que demonstram a música passo-a-passo.
Sebastião ao ser questionado sobre como identifica a tonalidade da música
que ele tocava, no momento da entrevista explicitou:
“Não! Inclusive eu não tenho conhecimento de... é
partitura, de escalas musicais, de arpejos escalas de
notas eu não tenho conhecimento nenhum, eu não sei
qual nota, assim, como é que fala, por exemplo, numa
corda aperta uma casa eu não sei que nota que é,
qualquer corda que eu aperto aqui [mostra no violão] não
sei qual nota eu estou fazendo e qual casa. Eu sei a nota
inteira [toca um acorde] Dó, Ré [faz o acorde de ré maior
no violão como exemplo], mas se eu apertar numa casa
qualquer, eu não sei a nota. E os solos eu vou pelo
ouvido. Eu não sei qual nota que eu estou apertando em
cada corda”. (SEBASTIÃO. Entrevista 18/09/2010)
71
Contudo, esta prática de aprender pelo YT desenvolveu em Sebastião
uma prática de tocar música de ouvido, comum nos músicos práticos. Mas
entendo que o resultado é um passo muito importante do aprendizado e que
isso é um resultado comum dos cinco sujeitos desta pesquisa.
Eduarda disse que acredita que é um jeito muito simples de aprender.
“Tem algumas pessoas que dizem que é errado, que
atrapalha, [referindo-se à aprendizagem pela internet] por
que às vezes num vídeo, na cifra eles ensinam errado,
mas tocando e ouvindo a música, você percebe se ta
errado ou não. Mas na maioria das vezes, as informações
estão corretas e é mais cômodo aprender pela internet,
que você aprende em casa, que você tem esta
possibilidade de voltar os vídeos e apressar o tempo pra
ver as cifras como que elas são, e você têm várias fontes
pra saber a mesma informação”. (EDUARDA. Entrevista
18/09/2010)
O parâmetro de verificação de certo e errado para Eduarda é a gravação
original da música. Já no que concerne à facilidade Sebastião tem a mesma
perspectiva afirmando, ser um
“Meio fácil, né! de você conseguir, uma coisa que você
tem que aprender rápido, é uma coisa prática, pra
aprender, eu acho que é uma facilidade assim pra quem
não tem alguém pra ensinar, sentar lá e ensinar, mostrar
como é que age [referindo ao modo de tocar], o vídeo
ajuda bastante. (EDUARDA. Entrevista 18/09/2010)
Conforme o pensamento de Bolan (2009) pode se entender através da
resposta dos sujeitos da pesquisa que a Internet é um bem disponível a todos e
que compete à liberdade humana fazer bom uso desse extraordinário meio.
5.3
As Categorias e classificações dos vídeos analisados.
No processo de pesquisa foi pedido aos alunos que trouxesse cada um
pelo menos um vídeo que eles utilizaram para aprender uma música. e
verifiquei que as três categorias apontadas por Serrano e Paiva - pessoais,
72
independentes e de publicidade descritas no capítulo “Youtube como
ferramenta de aprendizagem”, desenvolvidas especificamente para observar
vídeos do YT, não contemplariam isoladamente as produções selecionadas
para análise nesta investigação. Porque dos cinco vídeos,
três são
explicativos, ou seja, relatam como determinadas músicas são tocadas,
postados por autores diferentes em dois sites específicos para aprendizagem
de violão, mas que utilizam o site YT para hospedar e ofertar seus vídeos. Um
mostra uma apresentação de um programa de auditório em que o violeiro é
filmado em sua
performance, e outro apresenta uma performance de um
violonista em um auditório. O fato é que nesta situação os cinco filmes seriam
pessoais e independentes, isto porque são inseridos no site por pessoas que
pretendem divulgar uma empresa ou a si próprios. Três dos cinco seriam
específicos de publicidade por estarem vinculados a um site que tem lucros
com vendas on-line.
Percebo, porém, que não haveria dificuldade em classificar os cinco
vídeos nas seis categorias para vídeos adaptados de outras mídias para
inserção no YT, também desenvolvidas por Serrano e Paiva devido aos dois
vídeos que não teriam um sentido baseado em publicidade. Um é trecho de
programa de televisão de 1980 -Viola Minha Viola - realizado pela TV Cultura, e
outro é uma apresentação em um auditório. Ao mesmo tempo os usuários do
YT que fizeram o upload destes vídeos ganham prestigio de outros usuários e
visitas em seus “Canais” (comunidade virtual no próprio site YT). Observando
estas seis ultimas classificações os vídeos analisados teriam a seguinte nova
classificação: Televisão, Performance e Música.
5.4
Classificação dos vídeos analisados
Vídeo 1.
Categoria escolhida pelo usuário que postou: Música.
Duração: 04:16
Palavras Chave: Daniel ,Viola, Caipira, Música, Raiz, Bambico, Tião Carreiro,
Pardinho,
João Mulato, Goiano, Paranaense, Brasil Sertanejo, Ponteio,
Ronaldo, Carvalho, Camões, Camargo, Vieira, Vieirinha, Carreirinho, Zé,
73
Matão,
Liu, Léu, do, Carro, Violeiro, Craveiro, Cravinho, Marcos, Cleiton,
Torres, Tonico Tinoco.
O
vídeo
“Brincando
com
a
viola”,
disponível
em
http://www.youtube.com/watch?v=69mO2gbjPIA é uma apresentação feita para
o programa “Viola minha viola” apresentado por Moraes Sarmento, onde
Bambico faz sua performance como Violeiro. Como foi anunciado, ele era
integrante da dupla “João Mulato e Douradinho”, porém quando se apresentava
como instrumentista utilizava do
nome artístico de “Bambico”. Em sua
apresentação ele foi acompanhado pelo violonista “Tiãozinho”. Os dois trajam
roupas adequadas para esta apresentação sendo que Bambico está com terno
azul.
O cenário do programa, voltado ao tema rural, mostra dois “troncos” de
arvores que são utilizados pelos músicos para sentarem e apoiarem os pés. Os
instrumentos foram captados por microfone. Bambico demonstra habilidade na
viola explorando todo o braço de seu instrumento, porém, percebe-se que o
mesmo utiliza somente o polegar da mão direita para ferir as cordas com uma
dedeira. “Tiãozinho” acompanhou com um violão de cordas de aço utilizando
uma seqüência de três acordes simples, tradicionais deste estilo. As cenas
deste vídeo mostram claramente as mãos dos instrumentistas focando por
várias vezes somente os instrumentos.
Este vídeo foi utilizado pelo Sebastião para aprender a tocar esta peça.
O vídeo foi postado por Danielviola (nome YT) que no espaço reservado para
comentários apresentou o vídeo falando sobre o Violeiro Bambico e sua
admiração pelo artista, resumindo suas produções musicais artísticas e
discografia
Sem sombra de dúvidas, O MAIOR VIOLEIRO QUE JÁ
EXISTIU! Não nasce outro desse! Domingos Miguel dos
Santos, meu mestre de viola e responsável pela evolução no
meu aprendizado! EXECUÇÃO PERFEITA DE SOLOS E
BASES, CRIATIVIDADE E DESTREZA PRA TOCAR...São
algumas de suas qualidades...Gravou e criou inúmeros
arranjos para muitas duplas como: Tião Carreiro e Pardinho, Zé
Mineiro e Mirandinha, Rei da Mata e Tião do Gado, Cambuci e
Cambuizinho, Rolando Boldrin, Zico e Zeca, Abel e Caim,
Taviano e Tavares, etc, etc...Gravou dois discos com Bambuê
(Bambico e Bambuê), e foi o primeiro Douradinho, em parceria
74
com o João Mulato. Muitos contam que ele criava os arranjos
na hora no estúdio, minutos antes de entrar pra gravar. Eis aqui
alguns pagodes gravados por Tião Carreiro em que o Bambico
tocou a viola: "FACA QUE NÃO CORTA, FALOU E DISSE,
FILHO
DA
LIBERDADE,
FURACÃO,
EMPREITADA
PERIGOSA, NA BARBA DO LEÃO, SETE FLEXAS, entre
outros. Basta ouvir bem e reparar na diferenciada "pegada" de
pagode e firmeza pra tocar! Quem nunca ouviu falar dele,
procure se informar pra depois vir aqui deixar qualquer tipo de
comentário, ok?! (DANIELVIOLA 2009)
A inserção de palavras-chaves que aparentemente são desconexas,
intencionam ampliar a visibilidade do material postado no YT.
Ao pesquisar no buscador do
YT pela palavra
“Zé” por exemplo
encontraríamos o link deste vídeo, entre os milhares que apareceriam junto
também, observo que o numero demasiado de palavras chaves dificulta a
busca pelo vídeo específico a partir de uma pesquisa sem o endereçamento
direto.
Vídeo 2.
Categoria escolhida pelo usuário que postou: Música
Duração: 03:26
Palavra Chave: Aquarela do Brasil, Guitarra, Violão.
O vídeo “Aquarela do Brasil - Violão” esta postado no endereço YT
http://www.youtube.com/watch?v=h2ZlRBhIePE. Foi indicado por Eduarda que
está estudando o mesmo arranjo apresentado no vídeo.
Foi gravado por uma câmera amadora fixa que utiliza do recurso de
aproximação de foco algumas vezes no decorrer do vídeo. O violonista Luiz
Rodrigo Mazera está vestido para a apresentação com camisa e calça social,
sentado da forma tradicional dos violonistas eruditos com o violão sobre a
perna esquerda suspensa por apoio. O instrumento que utiliza tem cordas de
nylon foi captado por microfone, é percebido que o instrumentista tem uma
execução apropriada para a peça explorando bem o braço do violão.
O comentário deste vídeo feito por MAZZAGUIGO é bem mais objetivo
que o anterior, trata da identificação do violonista o nome da peça e a data e
local da apresentação:
75
Violonista - Luiz Rodrigo Mazera música - Aquarela do Brasil,
arranjo para violão. noite violonística de 2006, na fundação
Cultural de Rio do Sul. (MAZZAGUIGO 2009)
Vídeo 3
Categoria escolhida pelo usuário que postou: Pessoas e Blogs.
Duração: 09:47
Palavras Chaves: More Than Words, Extreme, Violão, Guitarra, Como Tocar,
How to play, cifras, Tvcifras.
O vídeo “More Than Words - Extreme - Como Tocar no TV Cifras”,
disponível
em http://www.youtube.com/watch?v=2S8C1VSfyhE foi indicado
por Carioca que aprendeu tocar esta peça com auxilio deste vídeo. inicia com
uma abertura onde é anunciado o nome da empresa que produz os vídeos,
“TVCIFRAS”.
O instrutor “Rafael Bazano”
anuncia o vídeo como aula de violão,
quando inicia sua fala no vídeo, fazendo explicações simples durante todo o
tempo, com termos usuais para iniciantes do violão. Quando comenta sobre
ritmo, por exemplo, o instrutor utiliza a palavra “batida”, até mesmo usando
palavras no diminutivo, como mãozinha, palhetinha, entre outras. Utiliza além
do violão um notebook que reproduz a música tocando simultaneamente para
exemplificar a forma dos encadeamentos dos acordes. Uma ferramenta visual
importante é a divisão da tela em duas partes onde são focalizadas as duas
mãos simultaneamente permitindo que o usuário do YT veja os movimentos
com mais clareza tem ainda um desenho do acorde que é tocado a cada troca
seguindo a harmonia da música. O cenário é simples e confeccionado para fins
de marketing com a logomarca da “TVCIFRAS”, que permanece em uma tarja
na parte inferior esquerda da tela. O violão com cordas de aço é amplificado
por cabo e usa um efeito para aproximar com o som da gravação original da
banda Extreme. É importante verificar que a categoria escolhida deste vídeo
não condiz com a categoria correta, transparecendo assim o interesse
mercadológico desta empresa, reafirmado no comentário disponível deste
vídeo:
76
Aprenda a tocar no violão o clássico More Than Words do
Extreme. Contamos com sua inscrição: (TVCIFRAS 2010)
Vídeo 4
Categoria escolhida pelo usuário que postou: Música
Duração: 08:43
Palavras Chave: como, fotos na estante, skank, tocar, violão, cifra, club,
vídeo aula, cifraclub, tv, adriano ferreira, leo evmard, gustavo fofão, patrick
blanco, philippe lobo.
Este
vídeo
que
está
disponível
no
http://www.youtube.com/watch?v=WrjBw7hs91g&feature=fvst e
endereço
foi indicado
por Joaquina postado pela empresa Cifraclub. Assim como o vídeo anterior,
tem uma abertura que apresenta o nome da empresa e anuncia que
é
necessário inscrever para receber novas aulas, e disponibilizam acesso ao site
da empresa se clicar neste link. No início do vídeo é anunciado o nome do
instrutor Patrick Blanco que canta a música inteira tocando o violão com cordas
de nylon tocadas com uma palheta na mão direita. Durante a execução
aparece na parte esquerda superior do vídeo o desenho do braço do violão e
do acorde que está sendo tocado. Na parte inferior da tela, aparece uma tarja
com a cifra que muda de cor de acordo com o acorde tocado. O instrutor é
tímido, não olha para a câmera permanecendo tocando e olhando em direção
ao chão.
Na segunda parte do vídeo, ele instrui sobre o ritmo da música através
de um gráfico com setas para cima e para baixo demonstrando o movimento da
sua mão. Ao final do vídeo aparece em uma tarja a pergunta “Curtiu essa
vídeo-aula?” e convidando também a assistir a “aula” “Balada do amor
inabalável”. Percebi que o critério da categoria escolhida para estes dois
últimos vídeos é a mesma porém quando trata da palavra chave são usados
padrões diferentes, o que me surpreendeu, pois a empresa deveria dar aos
dois vídeos o mesmo tratamento destacando pequenas diferenças no que diz
77
respeito ao nome da peça compositor e interprete, será isso proposital? ou
amadorismo?. O comentário da empresa que é o postador dos vídeos:
Aula + cifra em http://cifraclub.tv/v595 - Aula de violão da
música "Fotos na Estante", do Skank. Apresentada por Patrick
Blancos. (CIFRACLUB, 2010)
Vídeo 5
Categoria escolhida pelo usuário que postou: Música
Duração: 09:52
Palavras-chave: Cifraclub, cifra, club, tv, garotos, leoni, aula, vídeo, aprenda,
tocar, tocando, violão, guitarra.
Este
vídeo
está
disponível
no
endereço
http://www.youtube.com/watch?v=0u1PY8gH0ww. Foi sugerido por Carlos que
declarou ter sido a primeira música que aprendeu utilizando os vídeos do YT.
Por tratar da mesma empresa do vídeo anterior “CIFRASCLUB” a abertura da
“vídeo-aula” é
a mesma com os mesmos dizeres, CifraclubTV apresenta,
Garotos II Completa Leoni, acompanhada de fundo musical e animação
computadorizada de um violão e uma guitarra sendo tocada quando é utilizada
a ferramenta da divisão da tela, no vídeo anterior a divisão é horizontal e neste
vídeo a tela é divida na vertical demonstrando apenas as mãos do instrutor
diminuindo a visão do braço e parte do violão. O instrutor está bem agitado e
fala muito rápido, instrui sobre a tonalidade da música demonstrando os
acordes, que são desenhados na parte superior esquerda da tela. Quando
inicia o canto, aparentemente o instrutor apresenta muita dificuldade para
cantar na altura exata da tonalidade que toca, Tenho percebido em minha
prática que este é um problema comum aos instrumentistas, que não afinam o
canto preferindo manter o tom que estão acostumados a tocar, subestimando o
papel e o resultado do solo na voz. Quando se refere ao ritmo ele utiliza
também do mesmo recurso das setas que demonstram o movimento das mãos
em uma tarja na parte inferior da tela. Porém, quando explica que este ritmo
necessita ser abafado com a mão direita, ele bate nas cordas próximo ao
cavalete (que apóia as cordas do violão) com muita força, evidentemente um
iniciante ao tentar fazer da mesma forma, provavelmente se machucaria. Ao
78
final do vídeo o instrutor anuncia outras vídeo-aulas. A empresa que posta
este vídeo faz o comentário,
Visite http://cifraclub.tv Adriano Ferreira ensina como tocar a
versão completa da música "Garotos II" do Leoni. Para mais
aulas acesse http://cifraclub.tv e confira os recursos exclusivos
do nosso player.
Vídeo Aula: http://cifraclub.terra.com.br/tv/vide... (CIFRACLUB,
2008)
Verifiquei também que todos os sujeitos tocam as músicas que
aprenderam por estes vídeos, sendo que apenas Eduarda que ainda está no
processo de aprendizagem da peça Aquarela Brasileira.
5.5
REFLEXÕES SOBRE OS VÍDEOS.
Entendo que apenas por título de “aula de violão” o usuário que está
tentando aprender violão ou viola pelo YT teria que despender muito tempo
para uma pesquisa, mas percebo, por outro lado que nesta busca, nestas
audições, independentes de serem aulas ou não, nestas apreciações já
acontece a aprendizagem em música. Silva e Oliveira (2010) acreditam que a
apreciação musical é um dos pilares que sustentam e permeiam o processo da
educação musical. Com a criação e popularização da internet e a consequente
cultura do ciberespaço que permite acesso, troca de informações e
arquivamento de dados de forma tão natural hoje em dia, o YT deu à música
um universo ilimitado de difusão. Acredito que nunca o homem ouviu tanta
música, nem muito menos teve tão amplo acesso às culturas musicais de todo
o globo se não por meio desta importante ferramenta.
Dos cinco vídeos que foram analisados dois são de interpretações ao
vivo, o que favorece o campo da performance e reflete a busca dos jovens
entrevistados por referências artísticas instrumentais. A ênfase na performance
pode facilitar a aquisição da técnica, ampliando assim o vocabulário de
técnicas e repertório, permitindo também que o aprendiz construa sua
identidade musical, ao momento em que passa a trocar informação em Canais
YT ou em comunidades especificas como Orkut e outros.
79
Dos vídeos analisados, quatro músicas são nacionais: “Garotos”, do
compositor Leone,
“Fotos na Estante”, de Alex e Caio,
interpretada pela
banda Skank. Sendo que, duas peças são gravações instrumentais sendo uma
para viola caipira, de Bambico – “Brincando com a Viola” e outra, “Aquarela do
Brasil”, de Ari Barroso, que no vídeo é interpretado por Luiz Rodrigo Mazzeira.
Somente uma música é internacional, “More Than Words”, da banda norte
americana chamada Extreme.
5.5.1 Vídeos feitos exclusivamente para o YT ou para outros fins.
Dos cinco vídeos apresentados, três foram feitos especialmente para o
YT. São eles “Garotos” trazido por Carlos , “Fotos na Estante” indicado por
Joaquina. Estes dois vídeos são feitos pelo site CifraClubTV , que pertence ao
provedor TERRA. Esta empresa já disponibilizava cifras e letras de música
antes do surgimento do YT
e agregou mais o serviço de vídeo com o
crescimento e popularização do site. A terceira “More Than Words”,
disponibilizado por Carioca é do site TVCIFRAS que também explorou vídeos
depois do advento do YT. Os vídeos têm padrões de abertura, introdução e
encerramento apresentados de forma semelhante nos vídeos disponibilizados
pelo site CifraClubTV, têm sua logomarca, patrocinadores e no encerramento
disponibiliza a ficha técnica.
Da mesma forma, o vídeo da TVCIFRA segue este padrão. Percebe-se
que na edição destes três vídeos são utilizados
os mesmos recursos que
favorecem a melhor apreciação da mão do instrutor que informa os passos
para tocar a música. Trata-se de uma técnica que, aparentemente, é padrão
nas vídeo- aulas disponíveis no mercado, desde as gravadas em vídeos VHS,
com pequenas adições da tecnologia digital que permite cortes e closes.
5.5.2 Vídeos construídos para fins pedagógicos, marketing de empresas.
Aparentemente todos os vídeos foram feitos como função principal de
divulgação pessoal e marketing, tendo como segundo plano fins educacionais.
80
O vídeo que Sebastião disponibilizou é uma performance de Bambico,
mas no próprio vídeo a todo momento é inserido em formato de texto o nome
do autor da postagem do vídeo no YT , com a seguinte escrita “by danielviola”
e com pouco mais de vinte mil exibições deixa claro que o interesse não era
apenas e nem o primeiro da divulgação do artista e de seu trabalho.
Da mesma forma, o vídeo Aquarela do Brasil é postado pelo próprio
intérprete. O vídeo é disponibilizado no YT com link para o canal do
instrumentista onde estão disponibilizados outros vídeos, e endereços para
possíveis contratações.
Já os vídeos do CifraClubTV e da TVCIFRAS têm características de
produto que é vendido pelo provedor e pelo site para o consumo deliberado de
iniciantes em música. Em vários momentos nos vídeos do CifraClubTV,
aparece um tarja na tela anunciando que para receber novos vídeos é
necessário
cadastrar-se.
Neste
momento,
fica
evidente
o
caráter
mercadológico das aulas.
5.5.3
Dos conteúdos específicos de música.
Dos vídeos analisados, percebe-se que os que estão disponíveis pelo
site CifraClubTV têm o padrão de edição tecnológica de vídeos, com recortes
específicos, que auxiliam a visão de vários ângulos das mãos do
instrumentista, e quadro que mostra a cifra do acorde que está sendo
executado. Porém, percebe-se que em vários momentos o desenho do acorde
disponível neste quadro não condiz com o que esta sendo executado. Isso
fica mais evidente no vídeo “Garotos” quando é anunciado um acorde de Ré
maior na cifra escrita em uma tarja horizontal na parte inferior da tela, e no
desenho do braço do violão, porém o instrutor esta executando o acorde na
primeira inversão, o que é bastante perceptível devido a nota mais grave estar
alterada.
As informações são frágeis em pontos importantes. Um exemplo claro
é quando o instrutor do vídeo “More Than Words”, (que Carioca trouxe para
ser analisado) anuncia que o violão está com a afinação um semitom abaixo.
Numa pequena tarja que é disponível apenas on-line, a corda que deveria ser
81
“MI” está em “MI bemol” e as demais, proporcionalmente, devido às
ferramentas on-line que o próprio YT oferece, que são carregadas apenas
quando conectado ao site.
Quando feito o download deste vídeo estas ferramentas não aparecem
faltando informações importantes. Dentre os três vídeos feitos especificamente
para o YT, este é o que utiliza mais recursos tecnológicos. No instante que o
instrutor toca a música, ele aciona o player em um Notebook com a música
original gravada pela banda Extreme sendo tocada ao mesmo tempo em que
ele executa e orienta.
Os dois outros vídeos que são de performance e não foram produzidos
especificamente para o YT
têm clareza nos movimentos das mãos dos
instrumentistas, já que tratam de apresentações instrumentais,
tanto no
auditório de TV quando as câmeras fixam por vários momentos diferentes nas
mãos do instrumentista, quanto no vídeo Aquarela do Brasil onde também fica
claro estes movimentos e a ênfase nas mãos do instrumentista.
5.5.4 Da postura do “instrutor”.
Nesta parte darei ênfase apenas aos três vídeos específicos que são
para o YT. Os instrutores aparentemente preparam-se para as gravações.
Percebe-se que no vídeo “Garotos” o instrumentista está bastante agitado,
inclusive quando fala sobre o ritmo da música, ele ensina que se deve “bater
nas cordas” e “abafá-las” mas é perceptível que a potência com que bate nas
cordas não é usual na prática de outros violonistas.
Os instrutores são jovens, o que demonstra que o site opta por um grupo
específico de consumidores, também, jovens.
O Cenário das duas aulas do CifraClubTV é permanente sem nenhum
destaque, tratando de uma parede lisa e despido de informações que
caracterizam uma vídeo aula, permanecendo um cenário limpo, mas anunciado
como vídeo aula pelo instrutor e pelos textos inseridos nas tarjas na parte
inferior da tela. O instrutor do vídeo “Fotos na Estante”, (trazido pela Joaquina)
veste uma camiseta com a logomarca da empresa CifraClubTV. Já o cenário
do vídeo “More Than Words” tem a logo da empresa TVCIFRAS.
82
5.5.5 Presença do instrumento musical.
Em todos os vídeos, os instrumentos são focados de maneira que se
pode perceber a exploração em áudio pelo fato de serem amplificados por cabo
e microfone. No vídeo “More than words” é utilizado o violão com processador
de efeitos para simular o som parecido ao da gravação original. Na imagem
isso aparece quando focalizam melhor as mãos dos instrutores ou dividem a
tela para ampliar a visão das mãos, principalmente nos vídeos elaborados
especificamente para o YT. Observei também que nos vídeos específicos para
o YT o nome do fabricante do instrumento é evidenciado.
5.5.6 Da qualidade sonora e de imagem dos vídeos.
E perceptível que existem em pelo menos dois dos cinco vídeos
(Garotos e Fotos na estante) uma defasagem do áudio em relação ao vídeo.
No vídeo “Garotos” a qualidade da imagem é boa, assim como os demais.
Existe uma pequena diferença na performance de Bambico, talvez por conta da
data do vídeo, que é do início da década de 1980 e pelo processo de
digitalização.
5.5.7 Do discurso quanto ao ensino de música defendido pelos instrutores.
A instrução é clara nos pontos que foram planejados para a
demonstração de como se toca a música, mas não foi observada uma
preocupação com questões relativas ao “ensino” de música. Aparentemente
temos uma “revista” de cifras com movimentos no que diz respeito ao ritmo,
que permanece oferecendo informações, mas não informando muito. As falas
são simplificadas nivelando em uma linguagem iniciante, fazendo parecer uma
situação presencial de trocas de informações. Quando se refere ao ritmo, por
exemplo, é utilizado o termo “batida”, até mesmo transparecendo um caráter
infantilizado, quando se fala em dedinho, mãozinha e palhetinha.
Os
instrutores destes vídeos aparentemente não estão acostumados com a
83
situação de gravarem vídeos deixando transparecer uma certa “aflição”,
principalmente nos dois vídeos da “Cifraclub”.
84
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao iniciar esta pesquisa, existia a dúvida se o site do YT era um espaço
onde as pessoas apenas reproduziam músicas comerciais das mídias mais
comuns, rádio ou televisão, ou se pensavam num processo de conhecimento a
longo prazo, com resultados eficazes no que diz respeito a aprendizagem
musical. Nele poderiam explorar a maior gama possível de repertórios musicais
ampliando o conhecimento cultural e a aprendizagem em música.
Ao término desta investigação, longe de esgotar o assunto, considero
que a aprendizagem dos jovens estudantes do IFMTCas
especificamente, utilizando o
no ciberespaço,
YT, acontece mesmo diante das ações
mercadológicas impostas pelo atual sistema social; isso deve favorecer a todos
que por vários motivos não podem uma escola de música.
Percebi que a utilização de vídeos para a aprendizagem foi válida no
início dos estudos dos sujeitos, auxiliando, não só no discurso a respeito do
repertório que foi construído, mas também na técnica musical e no repertório
cultural. Porém, ao terem contato com materiais didáticos organizados para um
acompanhamento de aprendizagem em música através do violão, certamente,
que há mudança de posição, pois através do YT não houve a desmistificação
do “mito” de que a música em sua teoria é complexa, ou que existe para
apenas uns privilegiados ou com “dons” especiais.
Isso reafirma a validade desta prática de ver vídeos no YT e exercitar
no instrumento como uma forma de conhecer através da prática para obter
resultados mais imediatos, o que parece ser uma característica do tempo
presente. Também não se pode esquecer que houve um processo de interação
com colegas e alguns entrevistados iniciaram estudos de música de maneira
formal. Não há um processo com acompanhamento no YT e o tipo de material
consultado parece não favorecer uma aprendizagem reflexiva sobre os
conteúdos apreendidos. A formação oferecida pelo YT necessita ser
examinada, refletida e apreciada por especialistas, pois como afirma Lévy
existem materiais com conteúdos frágeis no ciberespaço, situação que se
85
confirmou no que concerne à realidade dos sujeitos que fizeram parte desta
pesquisa.
O objetivo proposto de verificar o uso da internet com a finalidade de
aprender algum instrumento musical, foi contemplado pois percebi que os cinco
sujeitos consultam o YT em busca de informações que os auxiliem neste
processo. No que diz respeito às características dos vídeos analisados percebi
que houve uma atualização das já existentes vídeos aulas, agora com recursos
atuais das mídias digitais e a amplitude de interação, o que facilita a
aprendizagem no cotidiano daqueles jovens. É importante ressaltar também
que as análises discutidas nesta pesquisa estão
relacionadas apenas aos
cinco vídeos indicados pelos entrevistados.
Estas considerações foram favorecidas pela construção dos caminhos
metodológicos elaborados para esta investigação, que procuram atender às
características das relações entre pesquisados e pesquisador, das relações
virtuais e a grande utilização das mídias digitais.
A partir deste cenário apresentado nesta investigação é importante
empreender discussões que gerem novas técnicas metodológicas para a
transmissão musical em vídeos, já que nossa sociedade vive uma nova relação
de tempo e espaço, na qual vídeos de 15 minutos devem fornecer informações
adequadas para formar, mesmo que não linearmente. Acredito também que a
pesquisa com o YT num aspecto educacional possa ser um investimento por
parte dos profissionais da música e da educação, pois se apropriar desta
ferramenta para promover o ensino, representa novas formas de construção de
aprendizagem e de relacionamentos peculiares à contemporaneidade. Tal
como afirma Silva,
86
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90
APÊNDICE
APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO INICIAL PARA VERIFICAÇÃO DO USO DA
INTERNET.
Nome
Curso
Modalidade: ( ) Residente ( ) Semi-residente ( ) Não-residente
Utiliza os laboratórios de informática da escola?
( ) Utilizo o computador no laboratório da escola
( ) Não utilizo computador da escola, mas trago meu computador
( ) Utilizo o computador apenas na minha residência
Quais sites visita para aprender música?
Utiliza o Youtube?
( ) Sim
( ) Não
Se sim quais foram os dois últimos vídeos que vídeos que você utilizou para
aprender a tocar?
Utiliza a Internet todos os dias? Quantos dias por semana você se conecta a
Internet?
( ) 7, ( ) 6, ( )5, ( ) 4, ( ) 3, ( ) 2, ( ) 1.
Normalmente quando conectado a internet, qual o tempo que permanece
navegando por dia?
Numa escala de prioridade, em que o numero 1 representa o mais frequente, e
o número 5 menos frequente organize a lista abaixo segundo sua utilização da
internet.
( ) Para comunicar com amigos e família.
( ) Para estudar e fazer pesquisas
( ) Para relacionamentos e conhecer pessoas
( ) Para estudar música
( ) Para ver vídeos
Se a prioridade não for nenhuma das alternativas acima, descreva qual a
prioridade de seu uso da internet.____________________________________.
91
APÊNDICE B - ROTEIRO PARA A ENTREVISTA
Esta aprendendo a tocar que instrumento?
Utiliza a internet para aprender música?
Com que frequência?
Como você aprende com a internet?
Pesquisa vídeos para aprender musica? Por quê?
Utiliza site específicos de vídeos para aprender música? Quais?
Como você utiliza os vídeos?
Como escolhe os vídeos na internet? Pesquisa? Referência de amigos?
Normalmente você conversa sobre estes vídeos com alguns colegas que estão
aprendendo música? Como acontecem estas conversas?
Algum vídeo em particular chamou mais a sua atenção? Por quê?
Participa de alguma comunidade virtual que estude música?
Faz algum curso de música On-line?
Realiza algum tipo de estudo de música fora das atividades com os vídeos?
Já postou algum vídeo de sua autoria sobre música?
O que você acha da sua aprendizagem de música utilizando a internet?
92
O que você pensa sobre a utilização de vídeos da internet para aprender a
tocar um instrumento?

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