O Alto Ribatejo Revisitado - Centro de Pré-História

Transcrição

O Alto Ribatejo Revisitado - Centro de Pré-História
O Alto Ribatejo Revisitado
N.º 0 // Dezembro 2013 // www.cph.ipt.pt
www.cph.ipt.pt
N. 0 // Dezembro 2013 // Instituto Politécnico de Tomar
PROPRIETÁRIO
Centro de Pré-História, Instituto Politécnico de Tomar
Edifício M - Campus da Quinta do Contador, Estrada da Serra, 2300 -313 Tomar
NIPC 503 767 549
DIRETORA
Ana Cruz, Centro de Pré-História
SUB-DIRETORA
Ana Graça, Centro de Pré-História
DESIGN GRÁFICO
Gabinete de Comunicação e Imagem
Instituto Politécnico de Tomar
EDIÇÃO
ISSN
Centro de Pré-História
2183-1386
PERIODICIDADE
SEDE DE REDACÇÃO
Anual
Centro de Pré-História
CONSELHO DE REDAÇÃO
Professora Doutora Primitiva Bueno Ramirez, Universidad de Alcalá de Henares
Professor Doutor Rodrígo Balbín Behrmann, Universidad de Alcalá de Henares
Doutor Enrique Cerrillo-Cuenca, Instituto de Arqueología de Mérida – CSIC – Governo de
Extremadura
Doutor António Gonzalez Cordero, IES Zurbarán de Navalmoral de la Mata (Cáceres)
ANOTADA NA ERC
Índice
EDITORIAL ......................................................................................................................................................................7
O SÍTIO ARQUEOLÓGICO ANTA I DO REGO DA MURTA
ALEXANDRA FIGUEIREDO................................................................................................................................................9
APLICAÇÕES INFORMÁTICAS À PRÉ-HISTÓRIA – CASO TOMAR
ANTÓNIO CASIMIRO T EIXEIRA BAPTISTA ...................................................................................................................... 18
VESTÍGIOS ARQUEOLÓGICOS NA FREGUESIA DE RIO DE MOINHOS – ABRANTES
ÁLVARO BATISTA ........................................................................................................................................................ 29
O SÍTIO ARQUEOLÓGICO PRÉ-HISTÓRICO DA FARROEIRA (ALVAIÁZERE): RESULTADOS DE UMA
INTERVENÇÃO NÃO INTRUSIVA.
ALEXANDRA FIGUEIREDO............................................................................................................................................. 52
LAPA COMPRIDA DO CASTELEJO – ESTUDO LABORATORIAL DOS RESTOS ÓSSEOS HUMANOS
EXUMADOS DE UMA GRUTA-NECRÓPOLE (ALVADOS – PORTO DE MÓS)
TIAGO TOMÉ .............................................................................................................................................................. 59
LAPA RASTEIRA DO CASTELEJO (ALVADOS, PORTO DE MÓS) – RELATÓRIO DO ESTUDO LABORATORIAL
DOS RESTOS ÓSSEOS HUMANOS EXUMADOS NA CAMPANHA DE ESCAVAÇÃO DE OUTUBRO DE 2009
TIAGO TOMÉ .............................................................................................................................................................. 81
DADOS ARQUEOLÓGICOS INÉDITOS A NORTE DO CONCELHO DE ABRANTES
ÁLVARO BATISTA E FILOMENA GASPAR ........................................................................................................................ 97
LAPA RASTEIRA DO CASTELEJO (ALVADOS, PORTO DE MÓS) – RELATÓRIO DO ESTUDO DO ESPÓLIO
OSTEOLÓGICO HUMANO EXUMADO NAS CAMPANHAS DE 2009 E 2010
TIAGO TOMÉ ............................................................................................................................................................ 117
APLICAÇÕES INFORMÁTICAS À ARQUEOLOGIA. OS EXEMPLOS DA GRUTA DO CADAVAL E DA ANTA 1
DE VAL DA LAJE (TOMAR, PORTUGAL)
ANA CRUZ ................................................................................................................................................................ 133
ESCAVAÇÃO DO CASTELO VELHO DA ZIMBREIRA (2011)
DAVIDE DELFINO ...................................................................................................................................................... 154
IDENTIFYING MIGRANTS IN THE LATE NEOLITHIC BURIALS OF THE ANTAS OF REGO DA MURTA
(ALVAIÁZERE, PORTUGAL) USING STRONTIUM ISOTOPES
ANNA J. W ATERMAN, ALEXANDRA FIGUEIREDO, JONATHAN T. THOMAS & D AVID W. PEATE ..................................... 190
CONTRIBUTO PARA A ANÁLISE DO MEGALITISMO NO ALTO RIBATEJO (1998-2001)
ALEXANDRA FIGUEIREDO........................................................................................................................................... 198
OS MENIRES DO COMPLEXO MEGALÍTICO DE REGO DA MURTA (ALVAIÁZERE, LEIRIA): RESULTADOS
DAS INTERVENÇÕES DO MENIR I E II DE REGO DA MURTA.
ALEXANDRA FIGUEIREDO........................................................................................................................................... 213
A PRE-HISTORIC ART DATABASE AND ITS RELATIONSHIP WITH A GIS EXPERIMENT
ALEXANDRA FIGUEIREDO........................................................................................................................................... 226
ANÁLISIS NO DESTRUCTIVO DE LA MATERIA COLORANTE MEDIANTE INSTRUMENTACIÓN RAMAN
PORTÁTIL EN EL ARTE PARIETAL DE LA CUEVA DE LA PEÑA (SAN ROMÁN DE CANDAMO, ASTURIAS)
M. O LIVARESA, X. MURELAGAB, K. CASTROA , D. GARATEC Y M.S. CORCHÓN ........................................................... 245
THE UNDERWATER HERITAGE OF SANTA CATARINA ISLAND (PRAIA DOS INGLESES), BRAZIL: A DIGITAL
PEDAGOGICAL GAME
ALEXANDRA FIGUEIREDO, CLÁUDIO MONTEIRO, ALEXANDRE VIANA, MARCELO MOURA E FRANCISCO NOELLI ............ 254
GROTA SA OMU ’E TZIU GIOVANNI MURGIA: INTERVENTO ARCHEOLOGICO
ALEXANDRA FIGUEIREDO, GIUSI GRADOLI, ROSALBA FLORES E CLÁUDIO MONTEIRO ................................................... 263
PROJECTO EBO: ARQUEOLOGIA E PATRIMÓNIO COMO FACTORES DE SUSTENTABILIDADE
EDESENVOLVIMENTO LOCAL
LUIZ O OSTERBEEK E CRISTINA POMBARES MARTINS ................................................................................................... 303
THE MOMENT PAST PROJECT
ALEXANDRA FIGUEIREDO, LUIZ O OSTERBEEK, G. GUIZI, MARTA AZARELLO, S. W ESTENGAARD, SARA CURA, G.
BURENHULT, A. MINELLI, U. THUNHOHENSTEIN E C ARLO PERETTO ........................................................................... 315
O ESTUDO DA CERÂMICA: UM QUADRO REFERENTE AOS TRÊS GRUPOS INDÍGENAS DO SUL DO BRASIL
SAMIR ALEXANDRE ROCHA E MIRIAN BAPTISTA CARLE ............................................................................................... 337
THE END OF THE NATUFIAN CULTURES AND THE ORIGINS OF AGRICULTURE. A "SOCIETAL" RESPONSE
TO CLIMATE-CHANGING IN THE EASTERN MEDITERRANEAN REGION.
MATTEO CANTISANI.................................................................................................................................................. 358
ARCHAEOLOGY OF THE PRESENT
COMPARING EXPERIENCES AND PROPOSAL FOR A MODEL OF SOCIAL DEVELOPMENT
FRANCESCO GARBASI E M ATTEO CANTISANI .............................................................................................................. 376
EDITORIAL
Editorial
“Antrope” tem como objectivo oferecer um fórum de investigação, colocado numa óptica
interdisciplinar, ao longo do tempo, centrado na História e Arqueologia. Pretendemos
contribuir para alicerçar temáticas, que transcendem paradigmas específicos e estanques das
várias épocas, nas Ciências Sociais e Humanas e nas Ciências da Terra e da Vida. Desta forma,
será proporcionada uma visão mais ampla e completa sobre os processos de evolução ou
ruptura das sociedades.
“Antrope” enquanto publicação pretende cumprir todos os requisitos de qualidade
estabelecidos para as revistas científicas em formato electrónico, nomeadamente através dos
elementos do Conselho de Redacção e dos elementos do Comité de Leitura.
“Antrope” proporciona a divulgação dos seus conteúdos em meio académico, entre
especialistas, estudantes e profissionais, funcionando como plataforma entre o meio
profissional e o académico, bem como, de ligação, nas temáticas abrangidas, entre a região do
Médio Tejo Português, onde se insere, e as outras regiões, quer a nível nacional, quer a nível
internacional.
Este número é composto por uma secção uniforme à qual foi dado o título de “O Alto Ribatejo
Revisitado” e uma outra, a Sectio, onde se publica informação que está na esfera
internacional.
A vertente principal fala-nos dos resultados arqueológicos de trabalhos desenvolvidos nesta
região do Médio Tejo Português mais precisamente em Alvaiázere, Mação, Abrantes e Tomar e
ainda, o trabalho desenvolvido sobre a base de dados do Centro de Pré -História do Instituto
Politécnico de Tomar.
O bloco apelidado de Sectio apresenta versões variadas de outros trabalhos também eles
desenvolvidos no âmbito da Arqueologia como os trabalhos implementados em Angola, em
Itália, no Brasil, em Espanha e em Portugal.
Com este número 0 pretendemos preencher um espaço que faltava na literatura arqueológica
e que, estamos certos, dará os seus frutos a curto prazo.
A informação arqueográfica agora apresentada surge como o facto primário sobre o qual se
poderão fazer sínteses no futuro.
Aos leitores e colaboradores caberá dar força a este novo projecto.
Tomar, 2 de Dezembro de 2013
07 |
O SÍTIO ARQUEOLÓGICO ANTA I DO REGO DA MURTA
Alexandra Figueiredo
Instituto Politécnico de Tomar ([email protected])
O Sítio Arqueológico Anta I do Rego da Murta
Alexandra Figueiredo
Resumo
O monumento em estudo implanta-se numa vasta plataforma de depósito fluvial a cerca de 20
metros da ribeira do Rego da Murta e do lado esquerdo da estrada municipal (Tomar –
Alvaiázere).
Este monumento integra-se num complexo megalítico de onde se destacam pelo menos mais
12 monumentos, tendo sido este o primeiro a ser identificado e estudado.
A câmara é constituída por sete esteios, sendo, desta forma, um monumento heptagonal, com
cerca de 4 metros de diâmetro maior. O corredor, virado a SE, tem uma extensão de 3 metros
de comprimento e 1 metro de largura.
Palavras-chave: Megalitismo; Alvaiázere; Pré-História; Anta; Intervenção Arqueológica.
1.
DESCRIÇÃO
A Anta I do Rego da Murta localiza-se no lugar do Ramalhal, freguesia São Pedro do Rego da
Murta, concelho de Alvaiázere, distrito de Leiria.
Cartograficamente localiza-se no meridiano 554,300 e no paralelo 4401,900, na carta militar
1/25 000, nº 287.
O monumento em estudo implanta-se numa vasta plataforma de depósito fluvial a cerca de 20
metros da ribeira do Rego da Murta e do lado esquerdo da estrada municipal (Tomar –
Alvaiázere) (figura 1).
Este sítio foi intervencionado de 1998 a 2003, tendo sido restaurado em 2004.
Todo o monumento foi escavado em profundidade até à 4 camada, completamente estéril
(também ela proveniente de depósito fluvial).
No final foram levantados todos os esteios, à excepção dos esteios da cabeceira (únicos in
situ), e recolocados no seu local de origem, dando início ao restauro do monumento (figura 4).
Também todas as estruturas internas, bem como o corredor foi levantado e escavado até à 4
camada, numa lógica da percepção das diferentes fases de construção e remodelação do
monumento.
09 |
Figura 1: Perfil topográfico da Paisagem W-E. Destaca-se mais a Sul a Anta I do Rego da Murta.
Durante este processo fomos retirando amostras de sedimentos e de carvões para análise e
datação.
Em termos teórico-artefactuais nota-se a presença de uma grande variedade de materiais com
semelhanças com a Beira Litoral, Sul e com toda a zona fronteira ao local.
A metodologia aplicada foi desenvolvida tendo em conta os mais recentes meios de
informação e técnicas de investigação.
2.
ESTRUTURAS
Trata-se de um dólmen de corredor médio diferenciado, possuindo uma câmara de planta sub poligonal, com cerca de 4 metros de diâmetro maior composta por oito esteios (figura 2),
registando-se dois deles na zona de cabeceira, onde se pode registar umas manchas
indeterminadas pintadas a vermelho (Figueiredo, 2006). Para além das manchas de pintura
nos esteios da cabeceira observou-se uma gravura a zigue-zague na parede esquerda da
câmara.
Figura 2: Vista Este da Anta I do Rego da Murta, Agosto 2003.
O corredor encontra-se orientado a SE, com uma extensão de 3 metros de comprimento e 1
metro de largura (figura 3). À exceção de um esteio que o integra é composto por um conjunto
de pedras colocadas umas sobre as outras sem grande cuidado de monumentalidade,
normalmente compostas por duas ou três fileiras de pedras de duas a três camadas
sobrepostas. Contudo podemos dizer que se encontra em relativo bom estado de conservação.
Figura 3: Apresentação da quadriculagem e de todas as estruturas da Anta I do Rego da Murta por níveis artificiais. Desenvolvido
em Arqmap 8.2, ESRI.
Na parede do lado esquerdo do corredor observa-se uma pequena estrutura circular com uma
profundidade de 30 cm. Na análise de sedimentos podemos observar a quase inexistência de
carvões (na análise efectuada a 838,73 gramas só foram recolhidos 2 micro-carvões de 0,02
gramas, recolhidos do crivo 0,750 mm) e não foi observado nenhum tipo de fragmento
011 |
artefactual. Os sedimentos registaram o seu peso na seguinte percentagem – crivo de 2mm –
53,28%; 1.40 mm – 11,71%; 1mm – 9,45%; 0,71mm – 8,37%; 0,5mm – 6,17%; 0,25mm –
6,97%; 0,125mm – 2,53%; 0,063mm – 1,09%; Argilas – 0,32%; Tornando-se notório pela sua
homogeneidade no tipo de matéria e cor, bem como pela forma em que se apresentavam. Só
o crivo de 2 mm se apresentava mais heterogéneo e com sedimentos mais vari ados.
Durante a escavação, também não foi recolhido nenhum artefacto do interior desta estrutura.
Só se encontrou um fragmento de cerâmica e um fragmento de lâmina em sílex à superfície do
buraco de poste, junto às pedras que o circundavam.
No interior do monumento (corredor e câmara) observa-se um conjunto de pedras de
pequenas dimensões que se distribui pelas várias camadas. Para estas estruturas apontamos
dois tipos de soluções: parte delas parecem-nos ter sido provocadas pelo deslizamento de
estruturas de assentamento dos esteios ou serem contrafortes de estruturas, como é o caso
da estrutura circular central da câmara.
Figura 4: Anta I de Rego da Murta, após o restauro.
3.
ESTRATIGRAFIA
Considera-se a presença de 4 camadas, sendo a camada 2 o nível de ocupação pré-histórico.
1.
Camada de superfície humosa de tonalidade castanha. Contêm diversos fragmentos de
cerâmica recente e poucos vestígios de cultura material pré-histórica.
2.
A) Camada argilosa castanha escura, compacta, com presença de uma grande
quantidade de materiais pré-históricos e alguns fragmentos de cerâmicas mais recentes.
B) Camada argilosa castanha escura, humosa, de granulometria fina com presença de
carvões (enviados para datação/ circunscrita a parte da escavação)
3.
Camada sem argilas avermelhada, com uma elevada densidade de grânulometria,
proveniente de depósitos fluviais temporários da ribeira do Rego da Murta, com presença de
alguns materiais pré-históricos.
As escavações de 2003 permitiram-nos ampliar o desenho estratigráfico até à 4 camada:
4. Camada sem argilas de tom avermelhado de granulometria inferior à 3 camada proveniente
de depósitos mais contínuos e rápidos, completamente virgem.
Torna-se notório que a zona mais bem preservada se encontra no interior do corredor.
4.
MATERIAIS
Os artefactos observados revelam uma grande diversidade morfotecnológica, verificando -se
no caso das cerâmicas, sete tipos de vasos e quatro formas decorativas distintas, entre elas
destacam-se: dois vasos com incisões de ziguezagues; um fragmento de bordo com um
mamilo; um pequeno fragmento com um cordão com impressões a dedadas; e um outro
recipiente aberto com impressões de dedadas sobre o bordo. Alguns dos fragmentos
apresentam vestígios de adição de soluções aquosas avermelhadas ou alaranjadas, com
parecenças aos vasos recuperados nas grutas da mesma região. Pela análise do diâmetro da
boca (de 23 fragmentos) foi possível concluir que, no mínimo, estamos na presença de 12
vasos distintos, que variam entre os diâmetros registados nos monumentos megalíticos a sul,
como a Anta I de Val da Laje (Oosterbeek, 1994a) e os vasos de diâmetros largos observados
nas grutas, como Cadaval (Oosterbeek, 1985; idem, 1986; idem, 1987a).
Quanto aos líticos foi exumado um grande número de artefactos em pedra lascada
nomeadamente: mais de uma centena de lascas simples; nove objectos com uma ligeira
carena; dois com um afeiçoamento a buril; duas poderão ser consideradas como pontas;
quatro como furadores; três objectos apresentam ligeiros levantamentos que os incluem no
grupo dos denticulados; dezasseis foram considerados como elementos de foice; nove
raspadeiras; vinte e cinco raspadores; treze compósitos, sendo que cinco possuem a dupla
função raspadeira / raspador e dez micrólitos.
Quanto às lâminas e lamelas foram inventariadas cento e trinta e sete peças e no caso das
pontas de seta foram exumadas trinta e três artefactos, correspondendo a doze tipos distintos.
A maioria destes elementos, à excepção das pontas de seta, foi construída em sílex do tipo
chert, de possível proveniência da serra de Sicó, localizada a norte. O número de artefactos
polidos é relativamente reduzido contando-se somente com uma goiva e um machado com
gume macerado, em anfibolito.
Dos objectos de adorno, simbólicos ou em osso destacamos a presença de dois pendentes, um
em esteatite e outro em quartzito; quarenta contas de colar, na maioria em xisto talcoso,
seguidas das variscites; três dentes de javali; um botão, em osso, esférico, com perfuração em
V, típico dos contextos do campaniforme; um disco e uma placa em micaxisto; três fragmentos
de placa do tipo alentejano, em xisto, sem decoração; e um cossoiro ou peso de rede, em
quartzito.
Os macrolíticos observados apresentam-se pontualmente e foram essencialmente recolhidos
da câmara.
013 |
Todos estes materiais, ainda que analisados em conjunto, poderão corresponder a duas fases
de ocupação do monumento, observadas pelas datações absolutas obtidas sob AMS, em osso.
Um primeiro período, que datará a altura da construção e as primeiras deposições,
corresponde ao Neolítico final / Calcolítico inicial que, atendendo aos erros de calibração, se
poderá prolongar entre 3360 a 2900 a.C., com as datações:
•
Beta – 190001 Cal BC 3360 a 3090 (Cal BP 5310 a 5040); 4520 +/- 40 BP
•
Beta – 189998 Cal BC 3360 a 2930 (Cal BP 5310 a 4880); 4490+/-60 BP
•
Beta - 190003 Cal BC 3270 a 3240 (Cal BP 5220 a 5190); 4400 +/- 40 BP
•
Beta – 190002 Cal BC 3090 a 2900 (Cal BP 5040 a 4850); 4370 +/- 40 BP
E um outro período mais tardio, correspondente ao Calcolítico final / Idade do Bronze inicial,
com as datações:
•
Beta – 190000 Cal BC 2130 a 1900 (Cal BP 4080 a 3850); 3640 +/- 40 BP
•
Beta – 189999 Cal BC 1940 a 1730 (Cal BP 3880 a 3680); 3510 +/- 40 BP
Da mesma forma esta variedade é revelada pelos diferentes contactos e mundos que se
cruzam no Alto Ribatejo.
5.
VESTÍGIOS OSTEOLÓGICOS
A análise dos ossos humanos recuperados mostra-nos alguns sinais da manipulação do
homem, tendo sido alguns incinerados.
Alguns apresentavam também marcas de corte ou outro tipo de manipulação idêntica.
A análise de dispersão dos fragmentos permitiu verificar uma maior concentração na
passagem do corredor para a câmara.
As alterações morfológicas nos dentes denunciaram uma dieta composta na sua quase
totalidade por alimentos duros e abrasivos.
Os diferentes achados osteológicos foram encontrados desconectados anatomicamente, fruto
de possíveis enterramentos secundários e das constantes violações ao monumento.
As conclusões obtidas pelas antropólogas de laboratório permitiram identificar um número
mínimo de cinquenta indivíduos, sendo trinta e seis adultos e catorze não adultos (com idades
inferior a quinze anos). A diagnose sexual registou pelo menos seis indivíduos do sexo
feminino e quatro do sexo masculino (Silva e Ferreira, 2005). “As patologias não são muito
significativas observando-se algumas espigas laminares, entesopatias de grau 1 e artroses
fracas” (Ferreira e Silva, 2003, 9). Também o estudo odontológico manifestou uma baixa
densidade de lesões cariogénicas e as hipoplasias do estalte dentário só foram observadas em
sete dentes, demonstrando níveis de stress alimentar muito baixos (Silva, Ferreira, 2005, 1115).
Estes vestígios estavam associados a uma fauna muito diversificada que perfazem um número
mínimo de dezanove deposições, sendo que a maioria pertence a coelhos ou lebres,
registando-se também animais associados à domesticação como o porco, cabra/ovelha e o cão
(Detry, 2004, 3-4; idem, 2005, 3). Foi ainda identificada a presença de raposa e corça.
6.
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
As construções tumulares não são muito conhecidas na região de Alvaiázere, poder-se-á
mesmo dizer que existe uma espécie de hiato entre a zona da Figueira da Foz e a zona sul do
Distrito de Leiria, provavelmente derivada do desconhecimento, dos poucos estudos
desenvolvidos nesta zona ou ainda de outro tipo de hábitos de culto presente nas ocupações
de grutas com enterramentos.
O Complexo Megalítico de Rego da Murta integra ainda mais 12 monumentos, entre eles a
Anta II de Rego da Murta.
A Anta 1 e 2 do Rego da Murta distam uma da outra de cerca de 250 metros.
Morfologicamente, as duas antas são muito semelhantes, ambas são munidas de uma câmara
sub-circular de grandes dimensões (com cerca de 4 metros de diâmetro) com corredor
orientado para SE.
A matéria-prima utilizada na sua construção é distinta das outras zonas de necrópole do Alto
Ribatejo, havendo um aproveitamento da matéria-prima local (calcário).
O material recolhido aponta-nos para uma possível aproximação com o megalitismo da Beira
Litoral, havendo em alguns casos uma semelhança artefactual com as grutas do Nabão e com o
Sul de Portugal.
BIBLIOGRAFIA
Detry, C. (2004) – Relatório Arqueozoológico da Anta I e II do Rego da Murta. Lisboa: IPA;
Detry, C. (2005) – Relatório Arqueozoológico da Anta I e II de Rego da Murta. Lisboa: IPA;
Ferreira, M.T.; Silva, A.M. (2003) – Anta de Rego da Murta I: relatório antropológico.
Coimbra/Lisboa: Departamento de Antropologia da Universidade de Coimbra / IPA, (Relatório
Técnico-científico);
Figueiredo, A. (2004) – A Anta I do Rego da Murta - Descrição sumária dos trabalhos
efectuados em 2003. Techne. Tomar: Arqueojovem, vol. 9, pp. 115-126;
Figueiredo, A. (2005) – Contributo para a análise do megalitismo no Alto Ribatejo. O complexo
megalítico do Rego da Murta, Alvaiázere. AL-MADAN. Almada:Centro de Arqueologia de
Almada, 2ª série, 13, pp. 134-136;
015 |
Figueiredo, A. (2006) – Complexo megalítico de Rego da Murta. Pré-história Recente do Alto
Ribatejo (Vº-IIº milénio a.C.): Problemáticas e Interrogações. Porto: Tese de doutoramento
apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto (policopiado);
Silva, A. M.; Ferreira, M.T. (2005) – Anta I do Rego da Murta:relatório antropológico dos restos
dentários da Campanha de 2003. Coimbra: Departamento de Antropologia da Universidade de
Coimbra, (Relatório Técnico-científico).
APLICAÇÕES INFORMÁTICAS À PRÉ-HISTÓRIA – CASO
TOMAR
António Casimiro Teixeira Baptista
Docente da Unidade Departamental das Engenharias – Escola
Superior de Tecnologia de Tomar – Instituto Politécnico de Tomar
017 |
Aplicações Informáticas à Pré-História – caso Tomar
António Casimiro Teixeira Baptista
Nota Prévia
A construção um modelo de base de dados específico para os registos arqueográficos à guarda
do Centro de Pré-História do Instituto Politécnico de Tomar, radicou na dinâmica gerada pelos
projectos de investigação aprovados pela tutela desde 1983, da ampliação destes graças aos
apoios comunitários nas três últimas décadas, e ainda, da ausência de aplicações no mercado
que dessem resposta aos quatro itens gerados na execução das múltiplas tarefas:
1.
Inventariar os dados do património pré-histórico e etnográfico do Alto Ribatejo;
2.
Apoiar a investigação sensu lato;
3.
Alargar o espectro de utentes a partir da internet;
4.
Ser ligada a um sistema de informação geográfica.
Pretende-se que esta ferramenta forneça uma rede metodológica e analítica de consulta,
integrando o máximo de dados relevantes e estabelecendo estudos comparativos de natureza
pluridisciplinar.
A renovação do plano nacional de trabalhos arqueológicos em 2007 sob o tema “Sistemas de
Subsistência e Povoamento – sequências culturais na transição do mesolítico para o calcolítico
no Ribatejo”, também ele aprovado pela tutela, proporcionou um novo fôlego nesta parcela
do projecto, cujos resultados preliminares são agora levados à estampa.
Historial
Enquadrado no projecto SIPOSU_MC e por solicitação da responsável do Centro de Pré História do Instituto Politécnico de Tomar, doravante e por acrónimo CPH, foi efectuada uma
análise das bases de dados utilizadas pelos investigadores do Centro na recolha e manipulação
de informação. São elas, Arcaz (base de dados de registos arqueográficos), Dikaia (base de
dados de registos etnográficos) e Fractione (base de dados de imagens – desenhos, fotografias,
registo vídeo).
Estas bases de dados, ou melhor, aplicações de bases de dados, uma vez que ao terem sido
desenvolvidas em Microsoft Access contêm não só as estruturas necessárias à classificação
como bases de dados (dicionário de dados, tabelas, chaves primárias e forasteiras, índices, etc)
mas também código tendente a estabelecer um “interface” com o utilizador e a suportar
determinadas funções de manipulação dos dados.
Dados os crescentes problemas que os investigadores do CPH vinham sentido na utilização das
bases de dados, solicitaram apoio ao membro da equipa de investigação do SIPOSU_MC
(docente do Departamento de Engenharia Electrotécnica (DEE) António Casimiro Bati sta) no
sentido de proceder à sua análise, implementando uma solução que permitisse a sua correcta
e confortável utilização.
Metodologia
Este trabalho foi dividido em três fases:
1.
Análise das bases de dados existentes e obtenção de uma solução normalizada.
2.
Criação da camada aplicacional de utilização e de manutenção.
3.
Migração dos dados e validação das soluções obtidas.
Em Janeiro de 2008, encontra-se concluída a 1ª fase, de que aqui se apresenta relatório
sucinto, dando-se início à 2ª fase.
Para a realização da 1ª fase foi escolhido o Sistema de Gestão de Bases de Dados (SGBD)
MySQL, que para além de software de código aberto apresenta ainda a vantagem de estar
bastante difundido. De notar que a utilização do SGBD MySQL não compromete qualquer
alteração de suporte que se pretenda no futuro, uma vez que as soluções obtidas são
facilmente transponíveis para qualquer outro SGBD.
Modelação
Arcaz, Dikaia e Fractione
Ao iniciar-se a tentativa de modelação da base de dados ARCAZ surgiu a necessidade de
compreender o seu funcionamento interno e o porquê de algumas opções tomadas por quem
criou a base de dados. Verificou-se então uma grande dificuldade em conseguir compreender
a natureza da informação o que adicionada à inconsistência e redundância de muitos dados
nos fez optar por tentar simultaneamente intervir na estrutura e ao mesmo tempo migrar os
dados numa tentativa de ir validando as opções tomadas. De notar que por norma, esta não
seria a abordagem indicada, uma vez que deveria iniciar-se o trabalho pela recolha de
informação seguida da subsequente tentativa de abstracção, modelação e só em último
estágio construção do dicionário de dados. Não se seguiu esta metodologia, dado o gigantismo
das bases de dados e para se conseguirem resultados mais rapidamente. Além disso foi
sugerido aos alunos de Bases de Dados II, disciplina do curso de Engenharia Informática e da
qual o docente é responsável, que como trabalho final da disci plina modelassem as bases de
dados enviadas pelo CPH.
Na base de dados Arcaz, que inicialmente tinha mais de 100 tabelas, verificou-se que existe
uma multiplicidade de estruturas utilizadas apenas para obter garantias de que o utilizador
que insere dados na base de dados não o faça para além das opções disponíveis. Em termo de
normalização de uma base de dados esta situação não concorre para uma boa solução. Assim
ponderou-se a substituição das tabelas dedicadas a esse efeito por atributos que em MySQL
019 |
têm a denominação SET, ou conjuntos de valores. No entanto alguma da informação existente
nesses atributos não é estática, devendo ser prevista a possibilidade de ser editada, motivo
pelo qual se considerou que para os atributos mais dinâmicos a existência de uma tabela com
a designação CABULAS em que são inseridas todos os valores necessários para estes atributos.
Da análise dos dados resultou que toda a base de dados ARCAZ gira em torno de duas tabelas
charneira que são a tabela SITIOS e a tabela ACHADOS. Na modelação efectuada considerou-se
de novo esta solução, com a ressalva de que eventuais clarificações possam permitir uma
outra solução.
Embora alguns dados estivessem colocados na mesma tabela, ao proceder-se à sua análise
percebeu-se que alguns atributos faziam parte de entidades completamente distintas da
estrutura em que se encontravam. Dado esse facto, foi necessário criar algumas novas
entidades. Casos mais relevantes: na tabela das ANALISES existiam dados que diziam respeito
ao laboratório e não às análises e por isso foi necessário criar uma nova entidade para
normalizar esses dados; a tabela PROTECCAO continha dados de outras entidades como era o
caso dos proprietários e dos arrendatários.
Na análise que se fez dos dados foi obrigatório criar muitos campos de valor múltiplo como é o
caso do nome do responsável pela protecção que impediam a normalização das tabelas.
Nalguns casos, optou-se por relaxar as regras de normalização de forma a obterem-se ganhos
de desempenho. Está neste caso a tabela dos responsáveis dos laboratórios em que se passou
de uma chave concatenada para uma chave artificial.
Na normalização da base de dados verificou-se que existiam vários tipos de achados como é o
caso de METAIS, ADORNOS e CERAMICA entre outros e por isso foram classificadas como
subclasses e colocaram-se essas entidades como fazendo parte de uma disjunção da tabela
ACHADOS.
Foi ainda necessário colocar duas tabelas que não têm qualquer ligação com as restantes, mas
que existindo na anterior solução não foram por isso eliminadas, e para as quais se espera
clarificação quanto ao seu papel. As tabelas referidas são: SIPOSU_MC e ARCA_ONLINE.
Na figura 1 apresenta-se o diagrama de entidade-relacionamento (E-R) da base de dados Arcaz
Figura 1: Diagrama E. R. - (ARCAZ)
Na figura 2 apresenta-se o diagrama E-R da base de dados Dikaia
021 |
Figura 2: Diagrama E. R. – (DIKAIA)
Na figura 3 apresenta-se o diagrama E-R da base de dados Dikaia
Figura 3: Diagrama E. R. – (FRACTIONE)
Para testar os dados nas novas soluções utilizou-se uma vulgar folha de cálculo, para onde
foram exportados os dados e utilizando uma fórmula do tipo:
F(x)="INSERT
INTO
arcaz.localizacao(NUM_AGRICULTURA,
NUM_IMATERIAL,
NUM_AMBIENTE, NUM_INVENTARIO, ETNOSITIO, CONCELHO, LUGAR, FREGUESIA, DISTRITO,
NCARTA, ESCALA_CARTA, UTM_MER, UTM_PAR, ALTITUDE, LATITUDE, LONGITUDE, ACESSOS,
TOPONIMO, EXCERTODECARTA," OBSERVACOES) VALUES ('"&B2&"', '"&C2&"', '"&D2&"',
'"&E2&"', '"&F2&"', '"&G2&"', '"&H2&"', '"&I2&"', '"&J2&"', '"&K2&"', '"&L2&"', '"&M2&"',
'"&N2&"', '"&O2&"', '"&P2&"', '"&Q2&"', '"&R2&"', '"&S2&"', '"&T2&"', '"&U2&"');"
para a sua inserção nas novas estruturas.
Para as tabelas PATRIMONIO (note-se que PATRIMONIO é uma superclasse com diversas
subclasses) facilmente se conseguiu referenciar as novas chaves primárias. No entanto para as
tabelas LOCALIZACAO e BIBLIOGRAFIA, as chaves primárias diferiam, motivo pelo qual essas
tabelas não se encontram referenciadas. Este ponto mantém-se em aberto, apesar da base de
dados se encontrar funcional existem alguns riscos na sua utilização mas apenas nas entidades
do lado N o que apesar de tudo minora eventuais efeitos nefastos. Existe no entanto produzida
uma folha de cálculo com as ligações dos dados, o que permitirá no futuro refazer as
referenciações que foram quebradas nas tabelas referidas.
Constatou-se que alguns dos dados sofrem de problemas de integridade de domínio o u de
domínio mal definido. Competirá aos utilizadores da base de dados definirem melhor as regras
de inserção de informação. Apesar disso, houve intervenções pontuais nalgumas onde existem
valores, baseados em abreviaturas pouco consistentes, como exemplo: ‘séc; sec; séc ; Séc., etc.
Como esses atributos foram identificados como enumerações, optou-se por adicionar esses
valores aos atributos e permitir que mais tarde as listas de valores sejam alteradas ou
corrigidas. No campo CRONOLOGIA, os dados não estão completamente normalizados e
existem valores iguais, que apenas diferem nas maiúsculas usadas. Também estes valores
foram usados na enumeração para que no futuro se possam corrigir.
Na base de dados FRATIONE, que consistia nas tabelas SIPOSU_MC_DESENHO,
SIPOSU_MC__FOTO, SIPOSU_MC__GIS, SIPOSU_MC__SITIO e SIPOSU_MC__VIDEO. A maioria
das tabelas encontram-se vazias, e a base de dados tem um tamanho de cerca de 15MB visto
que contém algumas fotos inseridas. Ao analisar os dados da tabela SIPOSU_MC__SITIO,
verificou-se que os dados existentes correspondem aos dados existentes na tabela SITIOS da
ARCAZ e que as outras tabelas descrevem a mesma entidade apenas diferindo no tipo de
média: foto, desenho, vídeo etc. Assim sendo, agregaram-se todas essas tabelas de diferente
média numa só, utilizando um campo TIPO que identifica o tipo de média, e também uma
chave forasteira que vai efectuar a ligação á base de dados ARCAZ. Deste modo evita-se a
redundância e incrementa-se o nível de normalização das bases de dados no seu conjunto, ao
mesmo tempo que em termos de manipulação se simplifica o trabalho. Apresenta-se na figura
4 o diagrama E-R completo.
023 |
Figura 4: Diagrama E. R. – Solução completa.
Tabelas
Dada a complexidade do sistema de gestão de base de dados inicial e após uma refinação do
mesmo, optou-se por desnormalizar algumas tabelas, isto porque estas apresentavam um
campo de texto como chave primária. Esta situação pode causar alguns problemas de
operação devido à frequência com que os utilizadores introduzem dados com erros (exemplo:
Abrantes e Arantes podem ser dados diferentes, mas podem ser o mesmo dado. Como
distinguir as duas situações?) e que são de difícil detecção neste tipo de atributos. Assim,
criou-se para cada uma delas um identificador como chave primária e outro atributo que será
também chave primária na tabela desnormalizada e chave forasteira na outra tabela de
relação.
As seguintes tabelas ilustram esta aplicação:
Tipo_utiliz_solo
Classe
Id_utiliz_solo {PK} Id_fisiografia
{PK} {FK} …
Id_classe {PK} Id_fisiografia {PK}
{FK} …
Responsavel_protec
Responsavel_intervencao
Id_resp {PK} Id_proteccao {PK} {FK}
…
Id_resp {PK} Id_intervencao {PK}
{FK} …
Num_codigo_quad
Biblio_Autor
Id_cod {PK} Id_ intervencao {PK}
{FK} …
Id_biblio_autor {PK} Id_bibliografia
{PK} {FK} …
Responsavel_achado
Responsavel_lab
Id_responsavel {PK} Id_sitio {PK}
{FK} …
Id_responsavel {PK} Id_lab {PK}
{FK} …
Tabela 1: Tabelas representativas da criação de chaves primárias.
Migração dos dados
Apesar da migração definitiva dos dados estar prevista para a terceira fase, tentou-se efectuar
um teste de migração para que se aquilatassem eventuais problemas. A base de dados ARCAZ
não apresentou problemas de maior, mas as bases de dados DIKAIA e FRACTIONE, devido a
maiores alterações estruturais, causaram alguns problemas.
Problemas de migração
Encontraram-se vários problemas durante esta fase:
025 |
•
Chaves primárias repetidas com valores repetidos, mas grafias distintas (“PECA” e
“PEÇA” por exemplo);
•
Caracteres especiais;
•
Chaves primárias com caracteres especiais.
Integridade dos dados
O Mysql usa o charset UTF-8 por defeito para os scripts SQL. Para além dessa funcionalidade,
também é utilizado para exportações e importações de dados, o que implica que qualquer
aplicação utilizada para manipular os dados deve suportar esse charset, como por exemplo:
Mysql Query Browser, Navicat, etc. Desde modo, conseguiu-se manter a integridade dos dados
principalmente em relação à sua acentuação.
Conclusões e trabalho futuro
Da análise já efectuada pode verificar-se que as três bases de dados que funcionalmente se
encontram separadas são na realidade uma única BD com quatro entidades muito
importantes:
•
Sito/Local
•
Achado
•
Património
•
Bibliografia
Apesar de termos apenas quatro entidades, de notar que a existência de diversos atributos
multivalor obriga à extracção de um número mais elevado de tabel as, a quantidade de
informação é extremamente extensa, complicada de gerir e a utilização de um novo modelo de
dados agrava a dificuldade de migração da informação do anterior suporte (MS ACCESS) para o
novo (MySQL). Estabelecendo relacionamentos entre estas tabelas, verifica-se que um
ACHADO ou PATRIMONIO, pode ser encontrado num único SITIO; mas um SITIO pode ter mais
do que um ACHADO ou PATRIMONIO. Do que observámos na base de dados ARCAZ, não há
uma relação entre BIBLIOGRAFIA e ACHADO mas sim entre BIBLIOGRAFIA e SITIO,
considerando um relacionamento em que um SITIO e um PATRIMONIO podem surgir em várias
BIBLIOGRAFIAS; assim como uma BIBLIOGRAFIA pode descrever vários SITIOS e PATRIMONIOS
(relação muitos para muitos o que o uma terceira tabela). De tudo o que foi dito nos
parágrafos anteriores, devido ao elevado risco que se corria ao considerar apenas uma única
bases de dados, considerando apenas a questão de gestão física, decidiu -se que nesta fase
continuaria a existir uma base de dados para cada uma das originais. O risco referido reportase ao facto de que seria necessário manipular cerca de 30 mil registos apenas numa tabela
(ACHADOS) de forma a manter a integridade dos dados. Como foi referido na introdução, a
primeira fase do trabalho, encontra-se concluída. Existe um modelo de dados normalizado
para as bases de dados ARCAZ, DIKAIA e FRACTIONE e que se encontra preparado para as fases
dois e três do projecto, ou seja a construção da camada de aplicação e a migração definitiva
dos dados e sua posterior validação.
Bibliografia
CRUZ, A. (1998) – ArqSoft: Base de dados geo-referenciada do Alto Ribatejo. In CRUZ A.;
OOSTERBEEK, L.; REIS, R. coord. (1998) -Quaternário e Pré-História do Alto Ribatejo (Portugal).
ARKEOS. Tomar: Centro Europeu de Investigação da Pré-História do Alto Ribatejo, nº 4, p. 251259;
CRUZ, A.; OOSTERBEEK, L (1998) -A Pré-História Recente do Alto Ribatejo: ponto da situação
em Janeiro de 1998. In CRUZ A.; OOSTERBEEK, L.; REIS, R. coord. (1998) -Quaternário e PréHistória do Alto Ribatejo (Portugal). ARKEOS. Tomar: Centro Europeu de Investigação da PréHistória do Alto Ribatejo, nº 4, p. 11-20;
CRUZ, A. (2007) – Sistemas de Povoamento e Subsistência – sequências culturais na transição
entre o Mesolítico e o Calcolítico no Ribatejo (SIPOSU_MC). Tomar/Lisboa: Centro de PréHistória do Instituto Politécnico de Tomar/DGPC, (Projecto Nacional de Trabalhos
Arqueológicos);
DATE, C. J. (2003) – An Introduction to Database Systems. 8th Edition).
027 |
VESTIGIOS ARQUEOLÓGICOS
NA FREGUESIA DE RIO DE MOINHOS – ABRANTES
Álvaro Batista
Gabinete de Arqueologia do Município de Abrantes
Vestígios Arqueológicos na Freguesia de Rio de
Moinhos – Abrantes
Álvaro Batista
INTRODUÇÃO
O objectivo inicial deste trabalho era apenas o de inventariar os vestígios arqueológicos
conhecidos à data na freguesia. Excedemos esse objectivo, não só por fazermos referência a
três sítios já fora da área em causa, mas também ao incluirmos outras menções, embora sem
intuito de um inventário exaustivo e descritivo (mapa 1). No tocante aos dados arqueológicos
das áreas urbanas a seu tempo lhes faremos referência.
Mapa 1: Carta Militar de Portugal, Escala 1: 25000, folha 331, 1980
METODOLOGIA APLICADA
A metodologia descritiva empregue é a mais sintética possível, sendo aplicável, no seu todo ou
em parte, quer se trate de estação ou ocorrência.
029 |
A ordem do registo é a assinalada no mapa, acrescido do nome do local. Seguem-se quatro
alíneas, contendo a A: a localização e coordenada UTM extraída da carta militar, a B: tipo de
espólio recolhido, a C: tipo e cronologia do sítio ou vestígio e a D: notas ou referências
bibliográficas. Em termos geológicos toda a área em causa é enquadrável em depósitos de
terraços fluviais do Plistocénico constituídos por areias, saibros e cascalheiras, sendo excepção
as estações 25 e 26 por se encontrarem em formações da “série negra” do Sudoeste
Peninsular, do Pré-Câmbrico, com alguns filões de aplito-pegmatitos e a 4 por se tratar de
terrenos referidos do Siciliano I.
OS DIVERSOS DADOS
1 – Quinta da Légua I
A - No limite de concelho, tendo sido praticamente arrasada pela construção da A23,
coordenada: 29SND623712;
B - Ímbrices, tégulas e estruturas;
C - Tratar-se-ia de um provável casal tardo-romano ou já visigótico;
D - Ver bibliografia BATISTA, 2004, 75-76.
2 – Quinta da Légua II
A - No terreno a Sul do cemitério da Amoreira, tendo sido arrasada pela A23, coordenada:
29SND626712;
B - Ímbrices, ¼ de tijolo de coluna, fragmentos de vidros do século IV/ V d.C. e estruturas
tendo-se observado um lastro em seixos de quartzite (foto 1);
C - Tratar-se-ia de um casal já provavelmente visigótico;
D - Ver bibliografia da estação 1. Em Candeias, Batista, Gaspar (no prelo) é referida como
estação 92 – Quinta da Légua II (Amoreira).
Foto 1: Quinta da Légua II – Lastro dos Edifícios Visigóticos
3 – Quinta da Légua III
A - No terreno contíguo ao cemitério de Amoreira, coordenada: 29SND626713;
B e C – Materiais, do Paleolítico inferior/ médio, constituídos por seixos truncados uni e
bifacial, núcleos, raspador lateral, massas nucleares reduzidas a duas faces secantes, lascas e
povoado sazonal com indústria tagana e do Neolítico médio-final/ Calcolítico inicial, com
ocorrência de indústria cerâmica (almagre, hemisféricos e carenados lisos), sílex, pesos de rede
(TS, TSO, TA e TB), rara indústria de pedra polida, mó plana, estruturas de combustão e
habitats com buracos de poste. Uma datação C14 para a camada C aponta para 7460 -+ 120
B.P. / 6706 – 6157 Cal. B. C. 2 Sigma;
D - Em Candeias, Batista, Gaspar (no prelo) é referido como estação 91 – Quinta da Légua I
(Amoreira). Sobre a técnica de talhe dos pesos de rede (vide Batista, 2004, 25, nota 3). A TB é
definida apenas por um finíssimo lascamento superficial. O espólio Paleolítico é todo ele em
seixos de quartzito. Os pesos de rede são maioritariamente de xisto, embora alguns sejam de
quartzito.
4 – Quinta de Stª. Sofia
A - Nos terrenos por detrás da Quinta, há cota de cerca de 100 metros em terrenos do Siciliano
I;
B - Uniface parcial;
031 |
C - O espólio foi recolhido por Hipólito Cabaço tendo sido publicado por Horta Pereira (1971),
referindo tratar-se de uma jazida e apontando o Acheulense Supe rior; D - Em Candeias,
Batista, Gaspar (no prelo) é referido como estação 94 – Quinta de Santa Sofia (Amoreira).
5 – Quinta do Vale de Zebro
A - Do interior do pátio, coordenada: 29SND636711;
B - Foice em bronze (foto 2), já bastante gasta, de tipo Rocanes; com 12,1 cm de comprimento
por 4,6 cm de largura e 5 mm de espessura. Análises realizadas por espectrografia destrutiva
revelaram tratar-se de um bronze binário de óptima qualidade, sendo constituído por 88,5 %
de cobre e 10,9 % de estanho;
C - Achado isolado do Bronze final;
Foto 2: Quinta do Vale de Zebro - Foice de Bronze
D - Agradecemos a José António Batista Bexiga de Rio de Moinhos a recolha desta peça, única
até à data no Concelho e a sua oferta ao autor (Batista, 2004, 165). Em Candeias, Batista,
Gaspar (no prelo) é referida como estação 95 – Quinta do Vale de Zebro. Entre a Quinta do
Vale de Zebro e a Quinta da Pedreira na base da encosta e a Norte da A23, observa-se um
tanque-represa do Vale de Zebro que segundo Cunha (2000, 24), dispõe «...parede de
alvenaria de 60 metros de comprido e 11de altura e capacidade de cerca de 20 000 m 3....».
6 – Quinta da Pedreira I
A - Da parte envolvente e intramuros da Quinta, chegando mesmo até à EN3, coordenada:
29SND645710 Parte da estação foi destruída pela A23 tendo a área da necrópole sido
escavada e preservada, ficando debaixo da A23;
B – Materiais, do Paleolítico inferior/ médio, constituídos por seixos truncados e raspador,
Tagano constituído por disco e pesos de rede (TS, TSO e TA) e do Neolítico um machado de
pedra polida de secção circular.
Da Idade do Bronze e Ferro, cerâmicas lisas e decoradas (figuras 1 e 2), cossoiros (foto 3),
fragmento de punhal tipo “Porto de Mós” (foto 5), um fragmento de machado plano
provavelmente do tipo “Bujões/ Barcelos” (foto 6), um cravo de escudo, um provável
fragmento de bastão de mando, peso de rede (TA) com furação central bicónica e uma con ta
de colar de pasta vítrea preta oculada a branco, fenícia, talvez ainda da I Idade do Ferro (foto
7). Da época Romana, cerâmicas comuns e sigillatas hispânicas e clara D, pesos de tear em
cerâmica indiciando fabrico local, fragmentos de vidros pertencentes a taças do século IV/ V
d.C., contas de colar (foto 8), braceletes, pedra de anel em vidro ou pasta vítrea, moedas do
século I a.C. ao IV d.C. (fotos 9, 10, 11), árula anepígrafe de provável fabrico local, estruturas e
necrópole Tardo-Romana e Visigótica do século V – VIII d.C. (foto 12), com algumas fivelas de
cinturão tipicamente Visigóticas do século VI/ VII d.C. O aproveitamento como material de
construção nos sepulcros de colunas de meia cana e placas emolduradas de riolite, denota ter
existido um edifício de certa importância, público ou não. Por outro lado, também a inclusão
num dos sepulcros de uma árula (inscrição) já muito gasta e mutilada denota o cariz Visigótico
sepulcral aliado certamente a uma carga simbólica de deposição de antigos rituais, embora se
possa ver apenas nesse facto a utilização de materiais avulsos existente s. (Batista, 2004, 164,
168, 195);
Figura 1: Pedreira I – Cerâmicas do Bronze Final
Figura 2: Pedreira I – Cerâmicas do Bronze Final
C - Talvez um acampamento ou jazida no Paleolítico e Tagano e Aldeia no Bronze e Vicus na
época Romana;
033 |
D - (ver Batista, 2004, 164, 168, 195). Em Candeias, Batista, Gaspar (no prelo) é referida como
estação 89 – Pedreira.
7 - Quinta da Pedreira II
A - No interior do olival em frente à etar a cerca de 150 metros da EN3, coordenada:
29SND647708;
C - Pequena fonte, sendo notória as suas paredes e a bica em metal;
D - De cronologia indeterminada. Não deixa de ser interessante a sua localização junto d a
estação anterior e da via Luso-Romana de Constância – Abrantes.
8 – Fonte da Carantonha
A - A Norte do tanque do Azinhal virada para a barroca, coordenada: 29SND650713;
C e D - Esta pequena fonte, ainda visível e com uma bica actual em metal, conteve aplicada,
uma escultura de uma cabeça humana em mármore (?), saindo-lhe a água pela boca, talvez da
época romana? Embora de cronologia indeterminada, esta fonte pode eventualmente ter
alguma relação com a construção do tanque do Azinhal. A sua origem mais antiga não pode ser
posta totalmente de lado. O tanque-represa do Azinhal (segundo Cunha, 2000, 33) é «...uma
boa barragem em alvenaria, com encosto parcial de terra no paramento de jusante. Tem cerca
de 60 metros de comprimento, 1,50 de largura e 10 de altura e capacidade para armazenar 50
000 m3. ...»
9 – Courela do Barroquinho I
A - Entre o campo da bola e a EN3, coordenada: 29SND649706;
B - Seixos talhados uni e bifaciais, raspadores, disco, pico, lascas residuais, núcleos com
levantamentos de lascas, pesos de rede (TS, TSO, TA) e lâmina retocada e lasca simples em
sílex, C: acampamento ou oficina de talhe do Tagano ou Neolítico;
D - Em Candeias, Batista, Gaspar (no prelo) é referido como estação 88 – Courela do
Barroquinho.
10 - Courela do Barroquinho II
A - No terreno a Este do anterior entre a casa rural e o caminho alcatroado que conduz à Celbi
e povoação, coordenada: 29SND649705;
B - Reduzidos vestígios de tégulas,
C - Os vestígios de função indeterminada apontam para um Tardo-Romano ou Visigótico,
D - Em Candeias, Batista, Gaspar (no prelo) é referido na estação 88 – Courela do Barroquinho.
11 – Carrascal
A - A Norte do campo da bola, ficando praticamente debaixo da A23, coordenada:
29SND649709;
B - Ocorrem materiais Taganos como disco, núcleos e pesos de rede (TA) e materiais do Bronze
final/ Idade do Ferro como cerâmicas (figura 3) e uma urna cinerária de perfil em S e Romano,
mós manuárias;
C - Indeterminado para o Tagano e para o restante povoado com conotação à aldeia e vicus da
Pedreira;
D - Em Candeias, Batista, Gaspar (no prelo) é a estação 87 – Carrascal.
Figura 3: Carrascal – Cerâmicas do Bronze Final
12 – Azinhal I
A - Próximo da anterior e perto da passagem metálica sob a A23, coordenada: 29SND653707;
B e C - Uniface e raspador lateral do Paleolítico médio e lascas simples, disco e pesos de rede
(TS) do Tagano; apontando talvez para a existência de algum acampamento ou oficina de talhe
em ambas as épocas;
D - Em Candeias, Batista, Gaspar (no prelo) é a estação 84 – Azinhal.
13 – Rio de Moinhos I
A - No terreno contíguo a cerca de 100 metros a Sul do cemitério, coordenada: 29SND655704;
B - Ocorrência de escassos fragmentos de tégulas;
C - Local com função indeterminada, apontando para um Tardo-Romano ou Visigótico.
14 – Rio de Moinhos II
035 |
A - Na parte baixa da aldeia virada para a margem direita da ribeira de Rio de Moinhos, numa
zona a que localmente denominam de conheiras, coordenada: 29SND655702;
C - O nome de conheiras é um indicativo de exploração mineira do ouro a céu aberto. Embora
não se registe os amontoados de conhos/ seixos resultantes da actividade mineira, que até
poderão estar debaixo da área urbana, o facto é que o nome aponta para antiga existência de
actividade mineira na área;
D - Ao mesmo assunto se alude em “nota final” na bibliografia Candeias, Batista, Gaspar (no
prelo), estação 95 – Quinta do Vale de Zebro. Sobre este tipo de exploração mine ira e
cronologia ver Batista, 2004: 26, nota 7.
15 – Barroca da Aranha
A - Na plataforma plana sobranceira à margem esquerda da ribeira de Rio de Moinhos, acima
do viaduto da A23, coordenada: 29SND663707;
B e C - Seixo truncado do Paleolítico inferior/ médio e seixo raspador, lasca e peso de rede,
Tagano. Talvez local de oficina de talhe;
D - Em Candeias, Batista, Gaspar (no prelo) é a estação 85 – Barroca da Aranha.
16 – Alto da Portela I
A - Ao km 106,300 da EN3 a cerca de 100 metros para Norte, na encosta virada para a
povoação de Rio de Moinhos, coordenada: 29S ND 660702;
Foto 3: Pedreira I – Cossoiros
C e D - Observam-se abertas no terreno argiloso e cascalhento do mio-pliocénico (?) quatro
galerias (foto 4), com orientação Este. Observa-se um poço vertical circular e afunilado, com 4
metros de diâmetro e 6 de profundidade. Esta abertura circular sobre a galeria principal com
direcção NO-SE com mais de vinte metros de comprimento visível, permitiria a entrada de ar e
o retirar para a superfície do material extractivo. Deste poço ainda sai três outras derivações,
duas de outras prováveis entradas a No e uma derivação do poço para SE. A abertura, talvez
principal, inicialmente seria um pouco mais abaixo, devido observar-se o que parece ser um
antigo e extenso abatimento para jusante (embora também as haja a montante), das actuais
aberturas. Na aparente e contígua linha de água a Norte observa-se outra entrada entulhada
de uma galeria. O que parece ser uma linha de água normal, na qual se observam alguns
socalcos com parede de seixos para a agricultura, na realidade foi o resultado do alargamento
do vale aquando da exploração mineira. Estamos perante antigas galerias de exploração
mineira (com 1,30/1,50 metro de altura actual por 70 cm de largura máxima na base), de
cronologia difícil de precisar, embora possamos apontar uma data de 1874, como iremos ver
de seguida. Todavia uma moeda, ao que parece recolhida no seu interior, aponta para a sua
existência já em 1800. Não deixa de ser curioso (embora o método de exploração fosse
diferente), que do lado oposto da ribeira o nome do local na povoação seja as conheiras. Uma
outra mina, esta ao que nos parece ser de água (e da qual não fornecemos coordenada, mas
efectuamos desde já o seu registo), encontra-se a cerca de 100/ 150 metros mais a NE perto
da casa em ruínas servindo certamente para o seu abastecimento.
A largura e o afunilamento do tecto, apesar de redondo, difere das minas em causa que são de
dimensões um pouco maiores e de tecto mais circular e não afunilado, embora arredondado.
No Arquivo Histórico de Abrantes (AHA) o Livro 1, intitulado Abrantes – Registo de Minas,
desde 13 de Dezembro de 1869 a 26 de Agosto de 1874, refere o seguinte registo de mina,
cujo teor transcrevemos quase na íntegra.
Registo
“Aos vinte e quatro de Março de mil oitocentos setenta e quatro pelas onze horas da manhã
nesta notável villa d`Abrantes nos Paços do Concelho na secretaria da Camara compareceu
perante mim escrivão da mesma Carlos Marnay pedindome que lhe registasse uma Mina,
segundo a nota que me apresentava, o que fiz, cuja nota é do teor seguinte: Nota de
manifestação de mina. = Na Camara Municipal do Concelho d`Abrantes se apresenta Carlos
Marnay, solteiro de idade de quarenta e seis anos de naturalidade francesa, negociante
residente em Madrid (Hespanha) Rua da Espada numero doze primeiro andar para declarar em
conformidade da legislação sobre pesquisas e lavra de minas, que manifesta uma mina de
fosfato de cálcio no citio denominada. digo no citio denominado = Monte de Caldeiras, ao
levante do Povo de Rio de Moinhos, Concelho d`Abrantes em terrenos do Senhor Manoel
Joaquim Morgado de Rio de Moinhos Concelho d`Abrantes, Francisco Rodrigues de Abreu
d`Abrantes e outros; aqueles terrenos limitrofes com o Rio Tejo e com as propriedades do
Visconde D`Abrançalha. Esta mina descoberta pelo senhor Marnay por simples trabalho de
pesquisa e investigação, confina com duas minas manifestadas hoje pelo mesmo Marnay.
huma ao levante e a outra ao poente. O interessado requer o registo de uma manifestação na
forma legal, desejando que lhe seja reservado por este registo uma superfície d`um rectangulo
de um Kilómetro de comprido, do meio dia ao norte, por quinhentos metros do levante ao
poente...”
Não nos deixa dúvidas de que se trata efectivamente das minas em causa que Carlos Marnay
regista assim em 1874 por simples trabalho de pesquisa e investigação, indiciando assim a sua
anterior existência.
Mas no registo anterior são referidas mais duas minas. Uma delas ao levante (que de seguida
transcrevemos parte desse registo), e outra ao poente, correspondente há nossa estação 19 e
certamente também resultado da mesma exploração pelo Senhor Marnay a estação seguinte
17.
“Efectivamente o mesmo Marnay regista no mesmo dia e hora uma mina de fosfato de calcio
no sitio denominado Val das Escavos ou Val dos Escavos e d`Abrançalha ao levante do povo de
Rio de Moinhos em terrenos da propriedade do Senhor Visconde d`Abrançalha de Lisboa e
limitadas ao meio dia pelo Rio Tejo. Esta mina descoberta pelo Senhor Marnay por simples
trabalho de pesquisa e investigação não confina com mina alguma demarcada, porem confina
com huma manifestada hoje pelo mesmo Marnay. O interessado requer o registo de sua
manifestação na forma legal desejando que lhe seja reservado por este registo huma
037 |
superfície d`um rectangulo de um Kilómetro de comprido, do meio dia ao norte, por
quinhentos metros de largo do poente ao levante...”
Foto 4: Alto da Portela I – Uma das Galerias
Para SE destas minas e já no sopé do mesmo monte virado para Abrançalha, freguesia de S.
Vicente observam-se o que pode bem ser o início de duas galerias na direcção NO. Uma delas
de menores proporções oferece duvidas se estamos perante uma galeria de expl oração
mineira, devido à sua pequena dimensão e por dispor a tapa-la actualmente uma parede em
alvenaria com uma bica para aproveitamento de água, talvez para rega dos hortados próximos
existentes (coordenada 29S ND 662699). A outra, próxima da anterior não oferece dúvidas,
mesmo com a galeria tapada por um abatimento. Dispõe a jusante um corredor largo e de
profundidade apreciável (coordenada 29S ND 662700).
Foto 5: Pedreira I – Fragmento de Punhal
Sendo esta a mina registada por Marnay do lado de Abrançalha, coloca-se duas hipóteses: ou
estamos perante uma galeria sem ligação alguma às minas do lado de Rio de Moinhos ou esta
é a galeria principal vinda da área do poço e cuja orientação para SE parece assim indicar.
Assim sendo, essa galeria atravessa totalmente o cabeço de um lado ao outro e terá cerca de
200 metros de comprimento. A prospecção no topo e declives do cabeço não revelou qualquer
outra abertura tipo poço, o que de certo modo pode inviabilizar esta última hipótese. Estamos
perante um tipo de vestígio merecedor de protecção e até com algum potencial de
aproveitamento a nível turístico. Todavia é importante referir a necessidade de desobstrução
das galerias e da dificuldade daí resultante e do perigo de abatimentos. Actualmente o
proprietário das minas com o poço, do lado de Rio de Moinhos, é o nosso conterrâneo
Zeferino Gama.
17 – Alto da Portela II
A - Ao km 106,280 da EN3 a cerca de 200 metros, mas para Sul a meia encosta da linha de
água, coordenada: 29SND660698;
Foto 6: Pedreira I – Fragmento de Machado
C e D - Observam-se, embora ao que parece com abatimento, duas prováveis galerias mineiras
(?) e a montante alguns abatimentos na direcção do topo do monte. Passa-lhe rente e
evidente de quem vem do lado de Rio de Moinhos para o Alto da Portela, contornando a
dificuldade da linha de água e bem marcado o seu encaixe escavado no alto da portela, o que
certamente seria o que resta do antigo caminho medieval que ligava Abrantes a Punhete
(Batista, 2004, 183, nota 40). Este mais não seria que o antigo traçado romano, por nós
proposto de Via 1 (Batista, 2004, 183-184) e que ao vencer a portela na direcção de Abrantes
ou seguiria pelo Vale de Roubam ou subiria pelo Vale de Santa Catarina, entroncando aí na via
que de Abrantes pela cumeada desceria pela Ladeira do Marchão em direcção à Sr.ª da Luz,
prosseguindo pelo Vale dos Beirins até entroncar na Via 2 vinda de Constância direita a
Martinchel, Carvalhal, S. Domingos... (Batista, 2004, 186). Esta Via 2 actualmente não nos
merece dúvidas. A recente e importante descoberta ao longo da cumeada entre Martinchel e
Carvalhal de vários montículos artificiais de provável cariz funerário, tipo mamoas ou tumuli
provavelmente da Idade do Bronze, estariam dispostas ao l ongo de um antigo caminho (de
que registamos alguns troços), apontando assim para a existência de uma via antiga fosse ela
de transumância ou mais provavelmente rota mineira, provavelmente já desde a Idade do
Bronze. Montículos similares e arte rupestre encontrámo-las associadas a antigas vias no
Concelho de Oleiros (Caninas, Henriques, Batata, Batista, 2004). Embora não existindo registo
de Marnay ou outro destas minas, temos de colocar a hipótese de terem sido por ele
efectuadas.
18 – Quinta da Capela I
A - A 100 metros para Sul do Km 106 da EN3 no contacto exterior dos muros da Quinta,
coordenada: 29SND658698;
B - Fragmento de cerâmica lisa e lâmina de sílex simples;
C - A funcionalidade do local não é clara, como o não é o da “Cabreira” ou o de outra estação
na base do monte, já lado de Abrançalha. A explicação para estas ocorrências, pode decorrer
do simples facto de estarmos numa área de contacto directo com o povoado existente no topo
do monte, em termos cronológicos poderemos estar perante achados do Neolítico/ Calcolítico;
D - Em Candeias, Batista, Gaspar (no prelo) é a estação 90 – Quinta da Capela.
Foto 7: Pedreira I – Conta de Colar oculada
039 |
19 – Quinta da Capela II
A - Perto do local anterior, mas a cerca de 50 metros para Norte do muro, na orla do
eucaliptal, coordenada: 29SND658698;
C e D – Actualmente tapada a sua entrada pela plantação de eucaliptos, existe uma galeria
mineira com uma orientação aproximada Este-Oeste. Embora sem qualquer precisão, era uma
galeria escavada no terreno argiloso com seixos do mio-pliocénico (?) talvez com 10 metros de
comprimento, tendo de largura entre 80 cm a 1 metro e uma altura a rondar o 1,50 metro com
o tecto formando uma curvatura convexa. No livro de Registo de Minas mencionado,
encontramos o registo desta mina pelo Senhor Marnay aos 24 de Março de 1874, pelas 11
horas da manhã, do qual transcrevemos o seguinte: «...manifesta uma mina de fosfato de
calcio no citio denominado Monte de Capela, ao levante e perto do povo de Rio de Moinhos,
concelho d`Abrantes em terrenos de Francisco Rodrigues de Abreu, Raimundo José Soares
Mendes os dois d`Abrantes, Manuel Joaquim Morgado de Rio de Moinhos e outros. Esta mina
descoberta pelo Senhor Marnay por simples trabalho de pesquisa e investigação, confina ao
levante com uma mina manifestada hoje pelo mesmo Marnay. O interessado requer o registo
de uma manifestação na forma legal, desejando que lhe seja reservado por este registo uma
superfície dum rectangulo de um kilómetro de comprido do meio dia ao norte, por quinhentos
metros de largo do levante ao poente...».
Quanto às diversas aplicações do fosfato de cálcio referimos que poderia ser utilizado em
implantes e próteses, em drogas anticancerígenas e no tratamento de tumores ósseos, sendo
também eficiente no tratamento de remoção de metais pesados em águas e solos poluídos,
para além de ser uma das maiores fontes do mundo de fornecimento de fósforo para
indústrias químicas e de fertilizantes.
Manuel Joaquim Morgado residia na Rua Direita em Rio de Moinhos, tendo casado certamente
em 1850 (dado não se encontrar o registo deste casal no Rol dos Confessados de 1849), com
Joaquina Vicente Inácia ou Joaquina Inácia Vicente, dado aparecer nos registos os nomes
Joaquina Inácia e Joaquina Vicente embora sendo ambos referente à mesma pessoa. A sua
filha Joaquina nasce a 1.12.1853, Maria a 24.6.1856 e a Narciza a 10.5.1859. No Rol dos
Confessados de 1862 surge um outro filho de nome Francisco como estando ausente e no de
1863 um outro filho de nome Rafael. Manuel Joaquim Morgado faleceu a 12.1.1897 tendo sido
sepultado no cemitério público. Sua mulher ainda vivia em 1885. Terá certamente falecido
entre 1907 e 1910, dado não se encontrar nos Registos de Óbitos de 1880 a 1906 e de 1911 a
1933 (Documentos do Arquivo da Igreja Paroquial de Santa Eufémia – Rio de Moinhos).
Ao actual Sr. Padre José Manuel Cardoso desde já agradecemos a pronta autorização e
facilidades concedidas no acesso aos arquivos da Igreja.
Foto 8: Pedreira I – Contas de Colar
20 – Alto da Portela III
A - Precisamente no topo do cabeço por onde passa o limite de freguesia, a Sul da EN3,
coordenada: 29SND660695;
B e C - Bifaces e unifaces, seixos truncados do Paleolítico inferior/ médio e mó plana e
machados de pedra polida do Neolítico/ Calcolítico. Em relação ao Paleolítico aponta para um
acampamento ou oficina de talhe. Os vestígios posteriores e área de dispersão apontam para a
existência de um povoado;
D - Em Candeias, Batista, Gaspar (no prelo) é a estação 81 – Alto da Portela I.
21 – Cabreira
A - Na plataforma sensivelmente plana, abaixo da estação anterior virada para o Tejo,
coordenada: 29SND658694;
B - Pico, seixos raspadores e truncados unifaciais, lascas, pesos de rede (TS), fragmento de
seixo rolado em xisto com covinha, realizada através de picotado fino, enxó, mó plana e
cerâmicas lisas, tendo uma delas pega de apreensão junto ao bordo (figura 4);
C - Estaremos provavelmente perante um pequeno habitat ou a resultante a vestígios
inerentes ao contacto directo com o povoado no topo do cabeço, dado ser um local de
permanência assídua. O que não deixa dúvidas é estarmos perante vestígios do Neolítico f inal/
Calcolítico inicial de uma comunidade Tagana, já portadora de uma economia agrícola, embora
não quantificável em termos de importância na economia do povoado, dado revelar pelos
pesos de rede o recurso a uma economia de largo espectro ou de aproveitamento dos recursos
directos e próximos que a localização do povoado permitia;
D - Em Candeias, Batista, Gaspar (no prelo) é a estação 86 – Cabreira.
Figura 4: Cabreira - Cerâmica
22 – Caldelas
A - Entre a estrada da barca e o nateiro perto da casa rural de Caldelas, coordenada:
29SND656689;
C e D - Trata-se de uma pequena fonte, denominada Fonte do Piolho, praticamente tapada na
parte frontal, com pequena bica. Trata-se talvez de alguma mina de água oriunda do cabeço
fronteiro. De cronologia incerta, abasteceria certamente as casas de Caldelas.
041 |
Em Caldelas já morava em 1835 António Alves a esposa Maria Luísa e os filhos Ana e Manuel.
De 1836 a 1867 os moradores eram Joaquim Pombo a esposa Helena da Conceição e os filhos
Leonor, Bento, Joaquim e Josefa. Em 1867 apenas se registam os três últimos filhos. De 1868 a
1873 já se regista Bento Pombo e a esposa Maria Cristina. Bento Pombo, natural da freguesia
de Rio de Moinhos, segundo filho de Joaquim Pombo, de profissão feitor, faleceu a 18.1.1917
(registo nº 1), com 82 anos de idade nas casas de sua residência no lugar chamado Capella.
Deixou filhos e foi sepultado no cemitério público das Freguesias de S. Vicente e S. João da
cidade de Abrantes. A partir de Bento Pombo não existe registo sobre este local. (Rol do
Confessados de 1835 a 1875, documentos do Arquivo da Igreja Paroquial de Santa Eufémia –
Rio de Moinhos).
23 – Alto da Portela IV
A - No seguimento do topo do cabeço de quem vem da estação 20 para o lado da Barca, numa
pequena elevação virada para o Tejo à cota de 80/ 90 metros, coordenada 29SND658688;
B e C - Seixo raspador e truncado do Paleolítico inferior/ médio e peso de rede (TS) do Tagano.
Estaremos perante alguma área de talhe Paleolítico e o Tagano insere-se no que explanamos
na interpretação da estação 21 da Cabreira,
D - Em Candeias, Batista, Gaspar (no prelo) é a estação 82 – Alto da Portela II.
24 – Alto da Portela V
A - No seguimento da anterior também numa plataforma virada para a o Tejo e próximo da
estrada que da Barca passa pelo Casal da Preta e segue para Abrançalha de Baixo, coordenada:
29SND659685;
B - Biface, uniface seixo raspador lateral/ uniface, lascas si mples e espessa retocada; C:
estaremos perante um local de oficina de talhe do Paleolítico inferior/ médio, apontando
eventualmente algumas das lascas para um Tagano;
D - Em Candeias, Batista, Gaspar (no prelo) é a estação 83 – Alto da Portela III.
Foto 9: Pedreira I – Denário Forrado da Família MARCIA, 88 a.C.
25 – Barca de Rio de Moinhos I (Abrançalha)
A - Na pequena elevação sobranceira à foz da ribeira de Abrançalha, coordenada:
29SND660679;
C e D - No topo da elevação existem alguns afloramentos, nos quais se observam cerca de 40
covinhas gravadas. A interpretação funcional sobre este tipo de ocorrência não é clara.
Estamos perante um antigo santuário, uma delimitação territorial ou ambos ou pretenderão
estas covinhas anunciar um outro espaço sagrado tal como o observado no complexo de arte
rupestre do Vale do Tejo? É que, e passo a citar, «...algumas rochas decoradas, somente com
covinhas, ocupando posições limítrofes em relação às áreas de maior concentração de
gravuras, como a da Ribeira da Pracana, as dos arredores de Nisa, Chão da Velha e Fratel, ou a
da Ribeira da Ferradura, parecem anunciar o santuário e fazerem a introdução, ou a iniciação,
ao seu espaço, como acontece em outros locais sagrados...» (Gomes, 1987, 28). Mas a
inexistência de arte rupestre ao longo do Tejo para jusante e para montante não confirma
pois, o anunciar de um espaço sagrado de arte rupestre. As hipóteses de interpretação mais
plausíveis (na ocorrência em causa), é o de estarmos em simultâneo perante um espaço
sagrado e de delimitação territorial. Nesta última hipótese é que se estaria a entrar em
determinado domínio/ território não necessariamente restrito, mas próximo e que no caso
mais não seria que a localização do povoado do Alto da Portela III?
Em S. Facundo (Abrantes) um afloramento contendo 6 covinhas situa-se perto de um pequeno
povoado Calcolítico, onde não existe arte rupestre similar à da arte rupestre do V ale do Tejo
(Candeias, Batista, Gaspar, no prelo). Não poderá a rocha móvel com covinha da Cabreira,
reforçar a ideia de uma relação sagrada destas com o povoado? Mas as covinhas também se
encontram gravadas em esteios de diversas antas no país, ou mesmo no nosso concelho, em
afloramentos na área megalítica da Jogada em Martinchel e uma delas na periferia das duas
necrópoles, caso da Verjeira (Medroa). As covinhas já por si contêm uma carga simbólica de
sagrado, cuja representação ou significado continua a não ser claro. Agora elas não só
parecem marcar ou fazer introdução a um determinado espaço sepulcral, surgindo como
síntese, como são parte integrante desse espaço sagrado. E o sagrado está onde existe o
homem e a necessidade que ele sentiu em expressar o seu agradecimento ao ser divino (na
forma solar), ou abstracta. É a simbiose constante entre o homem e o divino representado em
forma de pedido/ oferta/ agradecimento e protecção quer para os seus mortos, quer para eles
próprios, por tudo quanto usufruíam e necessitavam, por tudo quanto os rodeava e lh es dava
alimento e vida. Mas mais pensamentos poderão estar aqui subjacentes. O sol a divindade
(talvez feminina), bem representada na arte rupestre do Vale do Tejo, seria o elemento
relativo ao dia, luz, vida, como a própria água tão preciosa seria o elemento natural, parte
integrante do todo, a luz, a antítese da escuridão e do medo. Se o sol permitia a continuidade
da vida, o elemento feminino no seio da comunidade permitia a continuidade da espécie. Daí
talvez a associação do sol ao feminino. Nesta óptica então o que representariam as covinhas?
As palmas das mãos? Poderíamos estender essa análise a outros campos e falar acerca de
ídolos de cornos, fálicos e seus hipotéticos significados. Questionar até o facto do sentimento
de perda e a razão de pedirem a protecção para os locais sepulcrais e do porquê de aí já estar
implícito a união na morte quanto o estavam em vida.
E sendo as comunidades dos concheiros taganas, qual a razão ou o porquê de eventualmente
terem iniciado a construção megalítica, a partir de determinada altura, retirando assim o
espaço dos mortos do contacto directo com os vivos? Já nos alargamos nestas simples
análises, mas existe um propósito. Apesar de estes vestígios se situarem fora da freguesia, o
facto é que a sua proximidade com o povoado, não poderia ser aqui ignorado. Por outro, o que
aparenta ser apenas um simples rochedo com covas e sem mera importância, no fundo
encerra bem mais do que o que a vista e o entendimento alcança. Daí a importância de se
salvaguardar valores aparentemente pobres, mas para os quais ainda tentamos apreender o
seu significado, que o mesmo é o de tentar compreender as mentes da altura. A
consciencialização de que a salvaguarda deste como de quaisquer outros valores patrimoniais/
culturais, quando possível, é um dever que diz respeito a todos nós, enquanto cidadãos deste
país, quer estejamos ou não incluídos na qualidade de proprietários em que esses vestígios
ocorram. Só a acção dos arqueólogos não basta. Podemos e temos o dever de legar às
043 |
gerações futuras valores histórico-arqueológicos, para isso basta a colaboração de todos nessa
defesa e salvaguarda. Não nos podemos esquecer que basta um minuto para que um “rico”
património irremediavelmente desapareça. A cronologia para este tipo de arte rupestre pode
ir desde o Neo-Calcolítico à Idade do Ferro. Em Candeias, Batista, Gaspar (no prelo) é a estação
120 – Barca de Rio de Moinhos (Abrançalha).
Foto 10: Pedreira I – Sestércio de Augusto, 12 a.C. – 14 d.C.
26 – Barca de Rio de Moinhos II (Abrançalha)
A - Na encosta entre o registo anterior 25 e o Tejo, coordenada: 29SND659679;
B - Cerâmicas constituídas por fragmentos de tégulas, imbrices, tijolos, doliuns e ânforas.
Pedaços de estuque, vidros, chumbeira, restos ósseos de alimentação e estruturas;
C e D - Tratam-se de vestígios romanos talvez correspondentes a um antigo cais e barca de
passagem do Tejo para o lado do Tramagal. A esta estação já fizemos referência ao tratarmos
das vias romanas a Sul do Tejo (Batista, 2004: 192-196). Em Candeias, Batista, Gaspar (no
prelo) é referida na estação 120 – Barca de Rio de Moinhos (Abrançalha).
27 – Barca de Rio de Moinhos
A - No declive virado para o Tejo, tendo sido provavelmente soterradas pelo alargamento do
caminho de terra batida que leva ao areal, coordenada: 29SND656685;
C e D - Seriam duas pequenas estruturas circulares em pedra seca (?) com um diâmetro não
excedendo os dois metros, estando as paredes interiores vitrificadas por acção de altas
temperaturas. Seriam provavelmente dois fornos de cal, de cronologia indeterminada.
28 – Azinhal II
A - Entre a estação anterior e a Rua do Canto (Rio de Moinhos), tendo sido destruído aquando
da terraplanagem para a construção dos viveiros da Celbi, coordenada: 29SND652705;
C: tratava-se de um forno de telha, pertencente à Quinta do Azinhal (em tempos da família
Ataíde e hoje propriedade da CELBI), em bom estado de conservação, colocado à beira do
caminho rural (actualmente inexistente), que da estrada do azinhal (junto da casa da Sr.ª
Clemência), saía em direcção ao mato, inicialmente ladeado por muros de taipa até ao forno.
Forno similar é o existente junto da Quinta da Feia;
D - De cronologia difícil de precisar o facto é que poderia apontar já para o século XVIII.
Foto 11: Pedreira I – Moeda de Constantino I, 307 – 337 d.C.
OS DIVERSOS VESTIGIOS
O espaço físico da freguesia, com 20.06 Km 2 e com uma população de 1388 habitantes, é
praticamente limitado a Oeste pela ribeira da Amoreira e a Este pela ribeira de Rio de
Moinhos, ou melhor pela língua de planalto que separa a ribeira de Rio de Moinhos e o vale da
Abrançalha e a sua ribeira, ribeiras todas elas desaguando no Tejo, correndo de Norte para Sul.
A Norte é ocupada pelo planalto florestado recortado por linhas de água paralelas às ribeiras
anteriores ou desaguando nelas. A Sul é limitado pelo Tejo em cerca de 3,5 km de largura. Aqui
as cotas são mais baixas e com o melhor terreno de cultivo, progredindo suavemente desde os
26 - 28 metros até às cotas de 60 - 70 metros da base do planalto, que dos cento e poucos
metros vai progressivamente aumentando de altura à medida que nos deslocamos para Norte,
ultrapassando raramente os 200 metros. Era pois nos terrenos baixos ou nos planaltos
contíguos ao Tejo que a fixação humana era mais promissora. O Tejo constituiria uma receita
alimentar inesgotável, aliado certamente à abundante caça que por aqui deambularia entre o
planalto e a rica planície aluvial do Tejo.
As condições do local teriam desde sempre constituído um excelente meio atractivo para a
diversa actividade humana. Isso constata-se desde o Paleolítico continuando no Holocénico
com as diversas comunidades Taganas que ao longo do Tejo deixaram os importantes vestígios
de cabanas na Amoreira. Com a progressiva neolitização assiste -se para o Neolítico Final/
Calcolítico Inicial ao surgimento de povoados de altura, como no caso do Alto da Portela III,
embora pouco expressivo se comparado com os povoados de Stª Margarida da Coutada e Cova
dos Castanheiros (Constância). A rocha com as covinhas da Barca de Rio de Moinhos pode já
apontar para a existência de um culto a par das Antas, Recinto Megalítico do Alqueidão e
Menir da área de Martinchel e do amplamente representado na Arte Rupestre do Vale do Tejo
e até da arte do Pinhal Interior.
Para o início da Idade do Bronze nova mutação surge ao nível de povoamento com a
implantação do povoamento em áreas baixas como na Pedreira e Carrascal, onde localizámos
a antiga “Tubucci” (?). O que teria estado na origem desta nova implantação? Um controle
mais próximo e efectivo do Tejo, no âmbito dos seus recursos auríferos e dos seus férteis
terrenos aluviais? Ao Tejo, vindos por via terrestre pelo interior do território Nort e ou Sul
poderiam chegar populações com interesses económicos e influências culturais distintas. Mas
também ele era uma excelente rota e corredor natural de progressão, um excelente meio de
comunicação entre o litoral e o interior, por onde também facilmente chegariam essas
diversas influências culturais, trocas comerciais, como se constata pela conta de colar Fenícia
da Pedreira. Mas também era uma excelente via fluvial de escoamento de produtos do interior
para o litoral. A riqueza das areias auríferas (e de outras metais) das conheiras do Tejo e a dos
seus afluentes como o Zêzere e Ribeira de Codes poderiam ter estado na origem da nova
implantação dos povoados da Idade do Bronze.
045 |
Mas também se constata uma mudança em termos rituais de enterramento, do colectivo das
antas para o individual a partir da Idade do Bronze com o surgimento de enterramentos em
urnas, campos de urnas, cistas ou possivelmente em mamoas ou tumuli, como as vinte
recentemente descobertas (pelo autor) sobre a via 2 de Martinchel, Carvalhal, S. Domingos e
Codes. Haverá certamente outros diversos factores que teriam conduzido ao colapso desses
povoados de altura Calcolíticos. Talvez entre eles a existência de uma crescente mutação e
hierarquização social, política, económica, senão mesmo problemática, conflituosa e violenta
em termos sociais entre as diversas famílias existentes e ali representadas. Talvez se deva
também acrescentar um novo factor de instabilidade social advindo ou do contacto ou da
introdução no próprio seio comunitário de uma nova elite de comunidades metalúrgicas e até
o do surgir de uma classe guerreira dominadora e controladora do território. Não era só a
revolução que a introdução do metal suscitava no seio comunitário, a sua apropriação, mas
também as diversas correntes ideológicas de que essas comunidades eram portadoras e que
se iriam introduzir progressivamente no novo seio comunitário que os recebeu. Talvez toda
essa conjuntura tivesse conduzido a uma progressiva instabilidade, desagregação comunitária
e abandono por parte de alguns dos seus elementos preponderantes (procura de outros
territórios?) em benefício de famílias mais bem posicionadas económica e politicamente e por
conseguinte dominantes.
Faltaria, no entanto, aqui acrescentar outros factores decorrentes que poderiam ter tido
obviamente peso relevante ao nível do povoamento. Como sejam, a taxa de natalidade e
mortalidade, período médio de vida e algumas doenças epidémicas mortais, para além de anos
de más colheitas, mortandades nos rebanhos ou a acção de predadores. Parece-nos que o
período que medeia entre o Calcolítico e o Bronze Final é uma fase de diversa mutação a nível
de, reestruturação social, económica e religiosa. Os povoados Calcolíticos como Stª Margarida,
Cova dos Castanheiros, Souto, Maxial não denotam terem ido muito além do Bronze Inicial/
Médio. O único que até ao momento revelou ter tido metalurgia foi o de Stª Margarida. Qual a
razão de estes povoados não irem para além de um Bronze Inicial/ Médio? Sendo a sua
localização sobre cursos de água importantes, que controlariam e posicionados sobre áreas de
terrenos agrícolas férteis e de amplos recursos mineiros.
A reestruturação social pode ter ocorrido com a chegada das novas elites portadoras do metal
e do conhecimento metalúrgico. Talvez sejam essas as figuras da rocha 72 do Cachão do
Algarve. Essa circunstância poderia ter iniciado e conduzido a um longo e gradual processo de
rotura em termos comunitários, devido à possibilidade de essas elites emblemáticas terem
progressivamente ascendido ao controle e assumido o poder e a directiva económica e
supremacia social nos povoados. Talvez esse facto tivesse ocasionado o enfraquecimento
progressivo da importância das restantes famílias, em prol das novas elites, originando assim
um abandono progressivo de alguns dos seus membros, conduzindo ao enfraquecimento
económico do povoado. Por outro lado, as novas elites ao assumirem esse controle teriam
levado à sua rotura e ao novo modelo de povoamento de casais agrícolas da Idade do Bronze,
tipo Casal do Carvalhal, Olival Comprido, Casa Branca (Alvega), Pedreira e Carrascal.
O que indica essa fragmentação? Diversas elites dominantes que assumiram um determinado
espaço territorial? Ou essa configuração se deveu pelo contrário a uma organização de um
único chefe dominante (centrado em algum lugar central tipo «oppidum» de Abrantes), bem
posicionado política, economicamente e com poder administrativo e organizativo de
determinado espaço territorial, que abrangeria as áreas de ambas as margens ribeirinhas do
Tejo a jusante até Constância, a montante até Alvega, até ao Codes a Norte e a Oeste até ao
Zêzere, controlando assim as conheiras?
Essa mutação gradual em termos sociais e até religiosos pode até ser compreendido pela
mudança do enterramento colectivo para o individual, mas é bem ilustrativo na grandiosidade
da Arte Rupestre do Vale do Tejo. Basta para isso retermos o olhar nas duas primeiras figuras
do estilizado-dinâmico da fase plena Neolítica, a figura humana sustentando um veado morto
da rocha 158 de S. Simão e na associação da figura humana com braços erguidos sustentando
o Sol da rocha 126 de Fratel e na, da figura conotada com a Idade do Bronze da rocha 1 de
Fratel, um antropomorfo com os braços erguidos e pernas cruzadas, na «posição de orante»,
detendo uma espada atravessada à cintura. Retendo o olhar nos braços levantados desta
última figura, poderemos não ver só a representação das mãos, mas algo ainda que elas
seguram. Para além das figuras emblemáticas da rocha 72 do Cachão do Algarve e a da
«segunda vaga», conotada com uma «…declarada intransigência religiosa…», o facto é que
estas representações antropomórficas denotam um largo período cronológico do Neolítico ao
Bronze Final/ Ferro e são reveladoras dessa mutação social, económica e religios a, durante
alguns milénios e certamente não só nesta área de contacto do Vale do Tejo. Mas, apesar de
toda essa mutação, continua a manter-se uma mesma unidade cultural ao longo do tempo. Ela
é reveladora através da posição de oferta ou agradecimento a um ente supremo, imaginário
ou invisível, criador do cosmos, do todo, de que o Sol é um dos elementos integrantes.
O que muda é o tipo de oferta e a posição do ofertante, que no Bronze se torna com o objecto
ele próprio figura central individual, em oposição a um agradecimento (talvez até colectivo)
pela caça ou pelo Sol, fonte de vida, em que o ofertante é secundário, embora activo e
presente.
Independentemente da razão que originou o colapso dos povoados de altura Calcolíticos, o
facto é que a nova estratégia de implantação é agora realizada na base de casais agrícolas ou
de aldeias como a Pedreira e o Carrascal. Locais implantados em cotas baixas, próximo do Tejo
e dos seus bons terrenos agrícolas. São estes casais e aldeias que irão definitivamente marcar,
até à chegada do invasor romano, o tipo de povoamento nesta área do Vale do Tejo, excepção
para o «oppidum» do Castelo de Abrantes e do povoado fortificado do Cabeço das Mós.
Estes casais agrários seriam certamente auto suficientes e voltados para uma economia
cerealífera (testemunhado pela foice de bronze do Vale de Zebro) e uma pastorícia onde os
lacticínios e a tecelagem seriam também importantes.
As escavações de Paulo Félix, na Pedreira, revelaram várias lareiras de argila batida e uma
estrutura pétrea arqueada indefinida com mós planas e cerâmicas associadas do Bronze Final,
testemunhando um tipo de habitat simples e até pobre, relativamente ao poder aquisitivo de
utensílagem de Bronze presente no local, caso do machado plano tipo “Bujões-Barcelos” e do
fragmento de punhal tipo “Porto de Mós”. Que moeda de troca teriam estes casais e aldeias
para adquirirem esses utensílios? Seria dos excedentes agrícolas ou do recurso à exploração
mineira das areias do Tejo e das conheiras? O simples metal fundido e m bruto poderia
constituir essa troca? Na Pedreira e Carrascal, assim como nos restantes locais anteriormente
mencionados, não se constata moldes ou a fundição de cobre/ bronze. Não seria de supor que
os detentores do conhecimento da metalurgia do cobre/ bronze dos povoados Calcolíticos
continuassem a realizar, nos casais e nas aldeias, essa mesma prática? O que realmente nos
parece é que essa aquisição se deve a um comércio implantado e controlado por comunidades
metalúrgicas que o fundiam e eventualmente vendiam o produto acabado. E isto parece ser
claro face aos esconderijos de fundidor de Barreiras do Tejo – Abrantes e Porto do Concelho –
Mação. Mas será que se tratam efectivamente de esconderijos ou de deposições rituais, como
a de Garvão?
Também toda a arte rupestre do Pinhal Interior da zona da Pampilhosa da Serra, Sertã e
Oleiros, com círculos, pedomorfos e as imensas mamoas ou tumuli dessas áreas e as nossas já
referidas associadas a vias, marcam a existência, provavelmente de rotas mineiras que ligariam
o interior até esta grande área do Vale do Tejo, reflectindo uma intensa actividade mineira,
047 |
metalúrgica e comercial. Em Maxial do Além – Abrantes, na conheira do Sobral foi
recentemente descoberto várias estruturas circulares de argila batida implantadas no interior
da conheira e que bem podem revelar estarmos perante importantes fornos de fundição, ou
da primeira redução do metal, cuja cronologia ainda se desconhece, por ausência de
escavações, prometendo trazer algumas achegas.
Mas a leitura anteriormente efectuada pode bem não ser assim tão simples. Embora pudesse
existir um comércio de cobre, estanho e de utensílios, a exploração mineira em torno do Tejo e
do Codes até poderia ter sido realizada por todas estas comunidades próximas do Vale do
Tejo, através dos seus elementos experientes na exploração mineira. Essa união poderia ter
originado a eleição de um respeitado chefe dominante, representativo de todas elas e
regulador dos seus interesses. O resultante dessa exploração poderia servir apenas como
troca, ser fundido ou até ser transformado em utensílios, revertendo qualquer deles para o
todo comunitário. A repartição do ouro ou da prata obtida conduziria a um determinado poder
aquisitivo por parte de cada grupo distinto e assim a possibilidade de aquisição de diversa
manufactura acabada. A crescente riqueza, importância do chefe, e até a premente
necessidade de defesa teria talvez originado, cada vez mais, uma crescente classe guerreira e
talvez uma sociedade mais hierarquizada se não mesmo ritualista e o surgir talvez até de
alguma casta sacerdotal, embora o chefe pudesse assumir posição relevante entre a classe
guerreira e sacerdotal.
A chegada da Idade do Ferro não parece ter criado nova mutação ao nível de povoamento mas
sim o de uma mesma continuidade nos locais anteriores do Bronze Final e é testemunhado
pela presença material e práticas de enterramento e até é marcada pela chegada de
mercadores Fenícios a estas paragens, como se atesta pela conta de colar da aldeia da
Pedreira, a antiga “Tubucci” (?). Mudanças talvez as possamos encontrar ao nível de alguma
fortificação («oppidum» de Abrantes e Cabeço das Mós) ou ao nível do controle da exploração
mineira (Batista, 2004, 168).
Embora durante a Idade do Ferro possamos estar perante uma crescente sociedade proto estatal que dominaria determinado espaço territorial em termos políticos, económicos, sociais
e religiosos, o facto é, que talvez esse princípio já se tivesse iniciado no período anterior,
embora a génese dessa mutação se adivinhe já no Calcolítico. Se o bastão de mando do Casal
do Carvalhal e os prováveis fragmentos da Pedreira marcam o prevalecer de uma mesma
unidade e identidade cultural, a sua representação como símbolos de poder, talvez indique
estarmos perante casais e aldeias autónomas, embora sob essa crescente sociedade proto estatal.
Embora, se aponte a tese de uma invasão para o início do Bronze Final (Caninas, et alli, 2004,
27), assim como no Ferro, advindo daí novas influências culturais e ideológicas, o facto é que a
base desse modelo proto-estatal parece já existir numa construção e modelação interna.
Sobre a romanização desta área ribeirinha já tratamos em Batista (2004, 169 e sgs.). Perante o
que escrevemos não se nos afigura neste momento uma outra interpretação.
O importante vicus da Pedreira/ Carrascal, servido pela via da foz do Zêzere ao Castelo de
Abrantes, persistiu mesmo após a queda do império romano. Testemunho é a sua necrópole
visigótica desde o século IV/ V d.C. ao VIII d.C (foto 12). Um típico casal agrícola visigótico seria
o existente na Quinta da Légua, destruído pela construção da A23 (foto1), é mais um elemento
indicativo dessa continuidade de ocupação nesta área do Vale do Tejo até certamente à
invasão árabe da Península em 711 d.C.
A ordem do registo é a assinalada no mapa, acrescido do nome do local. Segue m-se quatro
alíneas, contendo:
A: a localização e coordenada UTM extraída da carta militar;
B: tipo de espólio recolhido;
C: tipo e cronologia do sítio ou vestígio;
D: notas ou referências bibliográficas.
Em termos geológicos toda a área em causa é enquadrável em depósitos de terraços fluviais
do Plistocénico constituídos por areias, saibros e cascalheiras, sendo excepção as estações 25 e
26 por se encontrarem em formações da “série negra” do Sudoeste Peninsular, do Pré Câmbrico, com alguns filões de aplito-pegmatitos e a 4 por se tratar de terrenos referidos do
Siciliano I.
Foto 12: Pedreira I – Necrópole Visigótica
Nota Final
Para clarificação do conceito de Taganas por nós empregue ao longo do artigo, passo a citar na
íntegra o que então escrevemos, agora rectificado «…Entendemos assim doravante chamar às
comunidades autóctenes Languedocenses comunidades taganas. Este termo de taganas não
deve ser conotado com o Tejo, mas sim com a água, porque era nela e em torno dela que eles
se moviam, se reviam, dependiam em termos de sobrevivência e de certo modo expressavam
o seu simbolismo. Mas a estas comunidades taganas estão implícitas outras características
próprias que passam pela utilização de uma indústria macrolítica de características tecno morfológicas específicas virada para o utilitário, tipo de povoamento e sua implantação,
mobilidade territorial, sazonalidade, recolecção, caça, pesca. Comunidades pacíficas mas
resistentes e conservadoras a novas inovações por parte de outros grupos culturais distintos,
nomeadamente as comunidades detentoras de novos conhecimentos e tecnologias como os
portadores de cerâmica cardial. E acima de tudo o de se reverem na construção megalítica que
adoptaram e impulsionaram na área. São estas características muito próprias que definem
estas comunidades taganas e as elevam à categoria de cultura tagana…» (Batista, 2004, 163).
049 |
BIBLIOGRAFIA
BATISTA, Á. (2004) – Carta Arqueológica do Concelho de Constância. Constância: Câmara
Municipal.
BATISTA, Á. (2006a) – “Vestígios arqueológicos – Rio de Moinhos I. O Riomoinhense. Março, nº
8.
BATISTA, Á. (2006b) – “Vestígios arqueológicos – Rio de Moinhos II. O Riomoinhense. Junho, nº
9.
BATISTA, Á. (2006c) – “Vestígios arqueológicos – Rio de Moinhos III. O Riomoinhense.
Dezembro, nº 10.
BATISTA, Á. (2007a) – “Vestígios arqueológicos – Rio de Moinhos IV. O Riomoinhense. Maio, nº
11.
BATISTA, Á. (2007b) – “Vestígios arqueológicos – Rio de Moinhos V. O Riomoinhense.
Setembro, nº 12.
CANDEIAS, J.; BATISTA, Á.; GASPAR, F. (no prelo) – Carta Arqueológica do Concelho de
Abrantes (CD-ROM).
CANINAS, J.C.; HENRIQUES, F.; BATATA, C.; BATISTA, Á. (2004) – “Novos Dados Sobre a PréHistória Recente da Beira Interior Sul. Megalitismo e Arte Rupestre no Concelho de Oleiros”,
Separata da Revista – Estudos de Castelo Branco. Julho, Nova Série nº 3.
CUNHA, J.C. (2000) – Concelho de Abrantes – A Economia Agrária em Meados do Século XX.
GOMES, M.V. (1987) – Arte Rupestre do Vale do Tejo. Arqueologia no Vale do Tejo. IPPC.
PEREIRA, M.A.H. (1971) – Algumas Jazidas Paleolíticas do Concelho de Abrantes. Actas do II
Congresso Nacional de Arqueologia.
O SÍTIO ARQUEOLÓGICO PRÉ-HISTÓRICO DA FARROEIRA
(ALVAIÁZERE): RESULTADOS DE UMA INTERVENÇÃO NÃO
INTRUSIVA.
Alexandra Figueiredo
Instituto Politécnico de Tomar ([email protected])
051 |
O Sítio Arqueológico Pré-Histórico da Farroeira
(Alvaiázere): Resultados de uma Intervenção Não
Intrusiva.
Alexandra Figueiredo
Resumo
Este artigo, estruturado mais como uma notícia, serve essencialmente o propósito de revelar
alguns dados registados em prospecção na zona da ribeira do Rego da Murta, a leste do
Complexo Megalítico de Rego da Murta.
Esta informação torna-se essencialmente relevante para a compreensão dos vestígios pré históricos, favorecendo uma percepção mais extensa do núcleo megalítico, integrando a
presença de uma ocupação em ambas as margens.
Palavras-chave: Prospeção, Alto Ribatejo, Pré-história, Megalitismo; Vestígios Osteológicos.
1.
INTRODUÇÃO
O sítio arqueológico da Farroeira foi descoberto em prospeção (ficha de prospeção), durante o
período de campanha de escavações arqueológicas realizadas, no ano de 2008, na Anta II do
Rego da Murta, Alvaiázere.
A Anta II de Rego da Murta faz parte de um conjunto de treze monumentos a que designamos
de Complexo Megalítico de Rego da Murta (Figueiredo, 2006).
Até ao momento todos os monumentos tinham sido registados no lado direito da ribeira do
Rego da Murta, havendo também um lapso de intervenções de prospeção realizados do outro
lado do curso fluvial.
A margem esquerda da ribeira do Rego da Murta é a mais antropizada, sendo os seus terrenos
intensivamente cultivados, bem como ocupados por arquitetura recente. Já a margem direita,
onde se localiza o conjunto de monumentos megalíticos, encerra uma plantação de eucaliptos
e carvalhos que, sendo menos antropizada, terá permitido uma melhor preservação deste
fenómeno.
Assim, decorrendo o ano de 2008 e a par das intervenções na Anta II foram empreendidas
prospeções intensivas na outra margem da ribeira, na zona fronteira ao Complexo Megalítico
de Rego da Murta.
053 |
2.
VESTÍGIOS ARQUEOLÓGICOS
Segundo a Carta Geológica de Portugal de 1982, de escala de 1/1000000, o lugar de Farroeira
assenta no ciclo orogénico do Jurássico médio e é uma zona que apresenta uma capacidade do
uso do solo para fins agrícolas.
Nesta zona, num pequeno olival, junto a terrenos de cultivo e a casas de habitação foi
registado a existência de alguns amontoados de pedras de grandes dimensões.
Em redor destes elementos verificamos no solo, na zona mais e levada e dispersos por uma
zona de cerca de 300m2, junto a uma pequena arrecadação agrícola (figura 1), artefactos
líticos, em sílex e quartzito, bem como alguns fragmentos de cerâmica pré -histórica sem
decoração e um fragmento de osso humano (fragmento de pélvis).
Estes vestígios foram registados nas coordenadas UTM com o valor de 554 389 para o
meridiano e 4401 804 para o paralelo, e a uma altitude de 220 metros.
Este sítio, atendendo ao seu contexto ocupacional presente do outro lado da pequena ribeira
foi designado de Farroeira e integrado como sítio/monumento pré -histórico megalítico na
base de dados Arqsoft (base de dados do Alto Ribatejo).
Trata-se de um possível monumento megalítico já destruído, uma vez que os vestígios
arqueológicos integram também a presença de ossos humanos.
Os grandes blocos, em calcário, observados no amontoado (figura 2) junto à arrecadação têm
paralelos com a morfologia dos esteios presenciados nos monumentos megalíticos de Rego da
Murta, no outro lado da margem, pelo que poderão provir da antiga estrutura megalítica.
Os vestígios pouco mais nos podem dizer, deixando-nos, no entanto o alerta para o
prolongamento do núcleo megalítico e sua extensão à outra margem, até então não
considerada.
Figura 1: Casa agrícola com telhado de chapa situada á entrada do olival onde foram encontrados os vestígios arqueológicos pré históricos.
Figura 2: Trabalhos de prospeção e um dos amontoados de rochas verificado.
055 |
3.
ACESSOS
Pela Nacional 110 Tomar - Coimbra, chegando ao cruzamento que nos liga a Alvaiázere vira-se
à esquerda, após a passagem da ponte da ribeira da Murta entramos à nossa direita por um
caminho de terra batida que nos conduzirá a um antigo lagar. Seguimos em direção a Oeste,
passando a Ribeira do Rego da Murta, o sítio arqueológico localiza-se a 30 metros para este,
do outro lado da margem, numa pequena elevação.
4.
NOTAS FINAIS
São vários e de diferentes tipologias os monumentos megalíticos que se registam no núcleo de
Rego da Murta, podendo destacar a Anta I e II de Rego da Murta, estruturas escavadas e
musealizadas; o monumento III, provável Anta em mau estado de conservação; a Anta IV,
atualmente em estudo; sete Menires, dois deles sondados, nomeadamente o Menir I e II; e
duas estruturas atípicas.
Todos estes monumentos estão confinados a cerca de 1 km2. Existem ainda relatos de outros
monumentos que existiriam próximo à estrada nacional, que liga Tomar-Alvaiázere e que terão
sido destruídos aquando da construção desta.
Os menires, pelas suas dimensões (cerca de um metro) e morfologia (em barriga, com um lado
recortado), poderão também ter existido em muito maior número, tendo com os processos
pós-deposicionais de longo curso sido enterrados, desviados ou servido noutras construções,
incluindo na construção das próprias antas, como é defendido para a Anta I de Rego da Murta
(Figueiredo, 2006).
A existência de vestígios na outra margem permite-nos prolongar a área de dispersão do
núcleo e desperta em nós a atenção para o desenvolvimento de novas prospeções e
continuidade de trabalhos.
Olhando para o Alto Ribatejo e para todas as proposições já defendidas em artigos anteriores
(Cruz, 1997; Oosterbeek, 1997; Figueiredo, 2005, 2006 e 2007), o Complexo Megalítico de
Rego da Murta, pelas suas dimensões e localização teria um extraordinário impacto na
paisagem, centralizando-se na área ótima de acesso a esta região para quem a ela lhe chegava
por rio ou terra e conferindo-lhe um significado simbólico-ritual, para além de culto e ato de
fé, associado à vida quotidiana e à estrutura socio-económica da comunidade residente.
BIBLIOGRAFIA
CRUZ, A. R. (1997) – Vale do Nabão: do Neolítico à Idade do Bronze. ARKEOS 3, Perspectivas
em diálogo. Tomar: CEIPHAR;
Figueiredo, A. (2005) – Contributo para a análise do megalitismo no Alto Ribatejo. O complexo
megalítico do Rego da Murta, Alvaiázere. AL-MADAN. Almada: Centro de Arqueologia de
Almada, 2ª série, nº 13, pp. 134-136;
Figueiredo, A. (2006) – Complexo megalítico de Rego da Murta. Pré-história Recente do Alto
Ribatejo (Vº-IIº milénio a.C.): Problemáticas e Interrogações. Porto: Tese de doutoramento
apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto (policopiado);
Figueiredo, A. (2007) - Entre as grutas e os monumentos megalíticos: Problemáticas e
interrogações na pré-história recente do Alto Ribatejo. AL-MADAN. Almada: Centro de
Arqueologia de Almada, versão digital, pp. 134-136;
Oosterbeek, L. (1997) – Echoes from the East: The western network. North Ribatejo (Portugal):
an insight to unequal and combined development, 7000 – 2000 B.C. ARKEOS. Tomar: CEIPHAR,
2.
057 |
LAPA COMPRIDA DO CASTELEJO – ESTUDO LABORATORIAL
DOS RESTOS ÓSSEOS HUMANOS EXUMADOS DE UMA
GRUTA-NECRÓPOLE (ALVADOS – PORTO DE MÓS)
Tiago Tomé
[email protected]
Investigador associado do "Instituto Terra e Memória – Grupo
“Quaternário e Pré-História” do Centro de Geociências (uID73 –
Fundação para a Ciência e Tecnologia)" Projecto FCT
PTDC/HAH/71361/2006; Investigador associado do projecto SIPOSUMC.
Lapa Comprida do Castelejo – Estudo laboratorial
dos restos ósseos humanos exumados de uma
gruta-necrópole (Alvados – Porto de Mós)
Tiago Tomé
RESUMO
Uma campanha de escavação realizada na Lapa Comprida do Castelejo (Alvados, Porto de
Mós) revelou a presença de um contexto sepulcral contendo os restos de vários indivíduos.
Apresentam-se aqui os resultados do estudo bioantropológico desta necrópole, incidindo
sobre aspectos demográficos, morfológicos e paleopatológicos, bem como sobre as práticas
funerárias aqui desenvolvidas.
Palavras-chave: Alto Ribatejo, Pré-História Recente, Gruta-necrópole.
ABSTRACT
An excavation campaign took place at Lapa Comprida do Castelejo (Alvados, Porto de Mós),
revealing the existence of a burial context, containing the remains of several individuals. We
present here the resultados of a bioanthropological assessment of this burial site, focusing on
demography, morphology, palaeopathology, as well as on the funerary practices performed
here.
Keywords: North Ribatejo, Late Prehistory, Burial cave.
1.1
Introdução
Após contacto do proprietário dos terrenos onde se insere a Lapa Comprida do Castelejo, Sr.
António do Rosário, reportando a existência de cavidades cársicas nos seus terrenos com
vestígios arqueológicos, realizou-se uma visita de avaliação do potencial arqueológico da
mesma. Implantada em pleno Parque Natural da Serra de Aire e Candeeiros, na freguesia de
Alvados, concelho de Porto de Mós, distrito de Leiria, esta cavidade cársica situa-se na face
virada a Nordeste da elevação designada por Castelejo, que delimita a Sul a povoação de
Alvados. Esta visita viria a permitir a identificação de vestígios compatíveis – ossos humanos e
fragmentos cerâmicos – com um contexto funerário de inumação, eventualmente colectiva,
059 |
associável a comunidades agro-pastoris. Os dados fornecidos pelo proprietário apontavam já
para um cenário semelhante, indicando a existência de, pelo menos, um crânio e outros ossos
visíveis à superfície. Este crânio tinha entretanto desaparecido, facto que estaria na origem do
contacto original feito pelo Sr. António do Rosário. Confirmado o risco iminente de destruição
total desta necrópole, decidiu-se proceder a uma intervenção de emergência, que se viria a
desenrolar ao longo de Novembro de 2008.
1.2
Materiais e Métodos
O desenrolar dos trabalhos viria a revelar um contexto arqueológico de pequena potência
estratigráfica e, sobretudo, já profundamente perturbado. Os 116 restos ósseos e dentários
restantes, recuperados principalmente em recantos de mais difícil acesso junto às paredes da
gruta, encontravam-se bastante fragmentados, dificultando tanto a correcta identificação dos
mesmos quanto a profundidade da análise desenvolvida a posteriori, apesar da tentativa de
maximização de recolha de dados antropológicos a partir da própria escavação.
Apesar destas limitações, a análise laboratorial da totalidade destes restos permite uma mais
profunda caracterização dos indivíduos ali inumados, além de possibilitar um vislumbre da
complexidade de ritos e gestos funerários dessa comunidade. Assim, após a identificação e
inventariação destes restos osteológicos humanos, procedeu-se à determinação do Número
Mínimo de Indivíduos (NMI), tanto adultos como não-adultos. No decorrer do processo de
inventário, todos os restos ósseos foram pesados e o seu peso relativo comparado com os
valores de referência de Silva et al (2008), de modo a analisar a representatividade óssea dos
diversos elementos esqueléticos nesta colecção, bem como a inferir do tipo de contexto
funerário presente na Lapa Comprida do Castelejo. A pesagem foi feita com recurso a uma
balança modelo Kern 440-53. Em termos paleodemográficos, a não preservação de elementos
diagnosticantes para uma análise de diagnose sexual foi um dos principais constrangimentos, o
mesmo se verificando, ainda que com menor impacto, relativamente à estimativa de idade à
morte. No único caso em que tal foi possível, recorreu-se à erupção e calcificação dentárias, de
acordo com o esquema de Ubelaker (1989) para a estimativa da idade à morte dos indivíduos
não-adultos, não tendo sido possível avançar com uma estimativa fiável de idade à morte para
os indivíduos adultos .
Finalmente, desenvolveu-se uma análise paleopatológica, que incidiu sobretudo sobre os
restos dentários recuperados, na qual se registou a frequência de cáries relativamente à sua
dimensão (Lukacs, 1989 apud Cunha, 1994) e localização (Moore e Colbert, 1971 apud Cunha,
1994), a incidência do desgaste oclusal do esmalte dentário, de acordo com a metodologia de
Smith (1984), após modificações de Silva (1996) e a frequência de depósitos de calculus
dentário (Martin e Saller, 1956 apud Cunha, 1994). Registou-se ainda a presença ou ausência
de hipoplasias lineares do esmalte dentário, de modo a aferir do grau de stress sistémico a que
estes indivíduos teriam sido sujeitos, na medida em que factores como uma deficiente
nutrição ou episódios infecciosos de maior impacto durante a infância podem afectar o
processo de formação do esmalte dentário (Hillson, 2000). Foi também possível identificar em
alguns restos ósseos vestígios de artrose, cuja frequência foi registada de acordo com a
metodologia de Crubézy, Morlock e Zammit (1985, apud Cunha, 1994).
1.3
Resultados
1.3.1 Preservação e representatividade ósseas e Número Mínimo de Indivíduos
Conforme já referimos, a amostra osteológica humana recuperada na Lapa Comprida do
Castelejo encontrava-se profundamente perturbada, tantos em termos contextuais como da
própria fragmentação dos restos ósseos que ainda permaneciam na gruta. Ex ceptuando os
restos dentários e algumas peças ósseas de menores dimensões (como falanges, por exemplo),
todos os restantes elementos ósseos se encontravam fragmentados, com cerca de 46% da
colecção a apresentar um grau de preservação mínimo, que permitiu apenas a identificação da
peça óssea em questão, mesmo que incompleta.
Em termos da representatividade de cada região óssea, os valores obtidos através da pesagem
de todos os fragmentos ósseos recuperados foram somados por região óssea, de modo a
poderem ser comparados com os valores de referência definidos por Silva et al (2008) –
Imagem 1.
Coluna vertebral
Costelas
Região óssea
Coxal
Clavícula
Ossos longos
Pé
Mão
Mandíbula
Crânio
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
%
% Peso LCC
% Peso Ref (Silva, Crubézy e Cunha, 2008)
Imagem 1: Valores de peso relativo por região óssea, comparados com os valores de referência (Silva et al, 2008).
O gráfico ilustra claramente os desvios verificados em termos de representatividade óssea
nesta gruta-necrópole. Em todas as categorias os valores obtidos ostentam discrepâncias em
relação aos valores de referência de peso esquelético. Apesar de, fruto da distribuição espacial
dos diferentes restos ósseos recuperados, estarmos provavelmente perante um contexto de
inumação secundária ou de redução (Silva, 2000), o perfil obtido pode mais facilmente ser
explicado pelas recolhas clandestinas que se terão verificado na Lapa Comprida do Castelejo.
Categorias que incluem ossos considerados mais “importantes” ou cuja identificação é mais
evidente, como os coxais, ossos longos ou crânios exibem uma sub-representação que parece
reflectir uma selecção intencional de quais os ossos a recolher primeiro, facto que parece ser
corroborado pela sobre-representação dos elementos ósseos da mão, costelas e coluna
vertebral, cuja recolha, exigindo maior minúcia, terá sido negligenciada pelos responsáveis por
esta pilhagem. Mesmo em termos da representação dos restos dentários ne sta série esta
hipótese parece sair reforçada – dos 26 dentes recuperados, apenas três se tratam de molares,
o que faz sentido, na medida em que, fruto da morfologia das suas raízes, estes serão os
dentes que mais dificilmente se irão soltar dos seus alvéolos post-mortem, tendo portanto
sido levados juntamente com as peças maiores, maxilares e mandíbulas.
061 |
Quanto ao Número Mínimo de Indivíduos representados nesta amostra, foi possível identificar
a presença de, pelo menos, cinco indivíduos, dos quais quatro são adultos (representados pelo
2º pré-molar superior direito) e um não-adulto, representado pelo 1º molar superior esquerdo
(Imagens 2 e 3).
Trapézio E
Trapézio D
Talus
Navicular
5º metacarpo E
3º metacarpo D
1º metacarpo E
Mandíbula
1ª falange distal (mão) E
Escafóide D
Crânio
1ª costela E
1ª costela D
Cóccix
Clavícula E
Calcâneo E
Bacia
0
1
2
3
NMI
Imagem 2: Número Mínimo de Indivíduos adultos com base nos restos ósseos.
5
4
3
NMI
2
1
0
11
14
15
18
21
23
26
28
31
32
33
35
41
43
44
45
Dentes
Imagem 3: Número Mínimo de Indivíduos adultos com base nos restos dentários (notação FDI).
1.3.2 Aspectos paleodemográficos
Tendo em conta a escassez da amostra disponível, foi apenas possível proceder a uma
estimativa da idade à morte mais precisa no caso do indivíduo não-adulto, que se verificou
tratar-se de uma criança entre os 2 e os 3 anos de idade (Imagem 4), de acordo com o
esquema de calcificação e erupção dentárias de Ubelaker (1989).
Imagem 4: 1º molar superior direito não erupcionado, pertencente a um indivíduo com cerca de 2 a 3 anos de idade (espécime
LCC F19.SC53).
No caso dos indivíduos adultos, é possível presumir que pelo menos um deles se trataria de
um indivíduo com cerca de 18 a 20 anos, pela presença de dois 3ºs molares que aparentam
pertencer ao mesmo indivíduo, cujos graus de desgaste são, respectivamente, 0 para o molar
superior direito e 1 para o molar superior esquerdo. Tendo em conta que a erupção do 3º
molar costuma ocorrer em torno dos 18 anos, bem como os graus de desgaste oclusal
referidos, é possível que este indivíduo se trate de um adulto jovem, eventualmente na faixa
entre os 18 e os 20 anos. No entanto, a falta dos restantes molares, como referência
comparativa em termos do desgaste, impede uma estimativa mais fiável.
Relativamente à diagnose sexual, conforme já referimos, não nos foi possível realizar qualquer
análise, devido à não preservação de elementos diagnosticantes nos restos ósseos
recuperados.
1.3.3 Análise paleopatológica
1.3.3.1 Patologias orais
A análise da frequência de lesões carigénicas apresentadas pelos 26 dentes recuperados nesta
gruta revelou a presença de 4 dentes afectados por esta patologia, três pré -molares e um
molar. Em termos das suas dimensões, todas as cáries identificadas são de pequenas
dimensões; já em termos da sua localização, três encontram-se na linha cervical e uma na zona
interproximal. Quanto ao desgaste oclusal do esmalte dentário, predominam os graus de
desgaste moderados, havendo também uma importante frequência de graus baixos de
desgaste oclusal. Registou-se pelo menos um caso de desgaste assimétrico. Já em relação às
deposições de tártaro, identificaram-se vestígios apenas em quatro dentes, tratando-se na sua
maioria de acumulações de pequenas dimensões (Imagens 5 a 7).
No decorrer da nossa análise não foram identificadas quaisquer hipoplasias lineares do
esmalte dentário, parecendo apontar para um cenário em que estes indivíduos não teriam
estado sujeitos a elevados graus de stress sistémico, em particular durante a fase de
desenvolvimento dentário.
063 |
Imagem 5: Pré-molar superior direito (2º), com uma cárie de pequenas dimensões na zona interproximal (espécime LCC F20.8).
Imagem 6: Pré-molar superior direito (2º), onde se pode observar um elevado grau de desgaste oclusal. Ostenta ainda uma área
com um padrão assimétrico de desgaste (espécime LCC F19.SC71).
Imagem 7: Incisivo central inferior direito (espécime LCC F19.10) apresentando uma grande acumulação de tártaro (grau 3).
1.3.3.2 Patologias degenerativas
Conforme referimos acima, foram identificados traços de patologias degenerativas, em
particular de artroses, numa vértebra torácica e numa vértebra lombar. Ambos os casos
apresentam o grau mais baixo na escala de registo de artroses de Crubézy, Morlock e Zammit
(1985, apud Cunha, 1994), com osteofitoses abaixo dos 2 mm de comprimento.
1.4
Considerações finais, acompanhadas de algumas notas relativas à
Antropologia Funerária da Lapa Comprida do Castelejo
A revisão dos dados obtidos com a análise laboratorial dos restos humanos exumados da Lapa
Comprida do Castelejo aponta para uma necrópole profundamente perturbada, devido ao que
parecem tratar-se de recolhas clandestinas ocorridas ao longo dos últimos tempos. De
qualquer forma, os restos osteológicos humanos que sobrevieram a estes episódios de
pilhagem permitem-nos concluir estarmos perante uma necrópole de inumação colectiva,
tendo sido identificados pelo menos quatro indivíduos adultos e um não-adulto (uma criança
de 2-3 anos). Apesar da perturbação verificada neste contexto, a distribuição dos restos ósseos
humanos recuperados, associada ao facto de se terem recuperado elementos anatómicos de
pequenas dimensões, pertencentes a articulações lábeis (como as falanges) e o não registo de
quaisquer conexões anatómicas neste contexto funerário, sugere que não estamos perante
uma inumação secundária, mas antes um cenário de redução de corpos, conforme o descrito
por Silva (1996, 2000), em que os restos esqueléticos dos indivíduos previamente depositados
são deslocados da sua posição original e reagrupados, para junto das paredes da gruta, à
medida que novos indivíduos são incorporados na sepultura colectiva.
A análise paleopatológica incidiu particularmente sobre as patologias orais, verificando -se a
existência de poucas lesões cariogénicas, todas de pequenas dimensões e situadas, sobretudo,
na linha cervical. Em termos de desgaste oclusal do esmalte dentário, predominam graus
moderados de desgaste, registando-se também uma importante frequência de graus baixos.
Em termos das acumulações de tártaro, estas foram identificadas apenas em quatro dentes,
predominando as deposições de pequenas dimensões. No plano paleopatológico registaram se ainda vestígios de patologias degenerativas – artrose – em duas vértebras, uma torácica e
uma lombar.
Futuramente, pretendemos aprofundar a análise agora desenvolvida, integrando aspectos
como a análise morfológica dentária, particularmente em termos de caracteres discretos, por
forma a comparar os resultados obtidos com os de outros contextos funerários coevos cujo
estudo se encontra actualmente a ser realizado.
A existência nas proximidades da Lapa Comprida do Castelejo de outras cavidades cársicas
com indícios de utilização para fins funerários por parte destas comunidades pré -históricas
deixa em aberto a possibilidade de se virem a encontrar contextos que ainda não tenham sido
alvo de depredação, que permitam um mais aprofundado estudo das populações que neste
período utilizavam este vale, também como local de repouso final dos seus membros falecidos.
065 |
1.5
Agradecimentos
A análise aqui apresentada contou com os úteis comentários e correcções feitos pela Doutora
Ana Maria Silva (Departamento de Antropologia da Faculdade de Ciência e Tecnologia da
Universidade de Coimbra).
1.6
Referências
CUNHA, E. (1994) – Paleobiologia das populações medievais portuguesas: os casos de Fão e
São João de Almedina. Dissertação para a obtenção do grau de Doutor em Antropologia.
Coimbra: Departamento de Antropologia da Universidade (policopiado).
HILLSON, S. (2000) – Dental pathology. In KATZENBERG, M e SAUNDERS, S (eds). Biological
Anthropology of the Human Skeleton. New York: Wiley-Liss, pp. 249-286.
SILVA, A. M. (1996) – O Hipogeu de Monte Canelas I (IV-III milénios a. C.): Estudo
paleobiológico da população humana exumada. Trabalho de síntese. Provas de Aptidão
Pedagógica e Capacidade Científica. Coimbra, Departamento de Antropologia, Faculdade de
Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (policopiado).
SILVA, A. M. (2000) – Inumações colectivas: Algumas considerações sobre a respectiva análise
paleobiológica. In ABREU, M S, ALONSO, F, BADAL, E, CUNHA, E, ETXEBERRIA, F, FIGUEIRAL, I,
TRESSERAS, J J, RIVERO, P e RUBINOS, A (coords). Actas do 3º Congresso de Arqueologia
Peninsular – Contributos das Ciências e das Tecnologias para a Arqueologia da Península
Ibérica. vol. IX. Porto: ADECAP, pp. 321-329.
SILVA, A. M.; CRUBÉZY, E.; CUNHA, E. (2008) - Bone Weight: New Reference Values Based on a
Modern Portuguese Identified Skeletal Collection. International Journal of Osteoarchaeology.
(Documento Digital) doi:http://dx.doi.org/10.1002/oa.998
SMITH, B. (1984) – Patterns of molar wear in Hunter-Gatherers and Agriculturalists. American
Journal of Physical Anthropology. New York. 63, pp. 39-84.
UBELAKER, D. (1989) - Human Skeletal Remains: Excavation, Analysis, Interpretation (2nd
Edition). Washington: Taraxacum.
TUMULUS 1 DO SOUTO (ABRANTES) – ANÁLISE PRELIMINAR
DOS RESTOS HUMANOS DE UM DEPÓSITO DE CREMAÇÃO
EM URNA DA IDADE DO BRONZE
Tiago Tomé
[email protected]
Investigador associado do "Instituto Terra e Memória – Grupo
“Quaternário e Pré-História” do Centro de Geociências (uID73 –
Fundação para a Ciência e Tecnologia)" Projecto FCT
PTDC/HAH/71361/2006; Investigador associado do projecto SIPOSUMC.
067 |
Tumulus 1 do Souto (Abrantes) – Análise preliminar
dos restos humanos de um depósito de cremação
em urna da Idade do Bronze
Tiago Tomé
RESUMO
Apresentam-se aqui os resultados da análise preliminar realizada sobre os restos osteológicos
humanos do depósito de cremação da Idade do Bronze do Tumulus 1 do Souto (Abrantes).
Este contexto representa o primeiro caso conhecido de cremação pré -histórica na região do
Alto Ribatejo. Caracterizam-se aspectos relativos ao ritual funerário desenvolvido, bem como
questões relacionadas com o perfil biológico do indivíduo aqui depositado.
Palavras-chave: Alto Ribatejo, Idade do Bronze, Cremação.
ABSTRACT
We present here the results of a preliminary analysis of the human skeletal remains recovered
from the cremation burial of Tumulus 1 of Souto (Abrantes). This represents the first known
case of prehistoric cremation on the North Ribatejo. Issues related to the funerary ritual, as
well as on the biological profile of the concerned individual, are addressed.
Keywords: North Ribatejo, Bronze Age, Cremation.
1.1
Introdução
No dia 21 de Outubro de 2008 fomos informados pela equipa do projecto SIPOSU do achado,
no âmbito da intervenção numa pequena mamoa situada no lugar de Bioucas, freguesia do
Souto, concelho de Abrantes, de uma urna cerâmica de grandes dimensões com morfologia
tronco-cónica, contendo os restos de uma cremação. O aspecto inesperado do achado, na
medida em que a preservação de restos ósseos humanos pré -históricos nesta região é quase
nula, associado ao risco iminente de destruição a partir do momento em que foram expostos
os primeiros restos ósseos humanos no campo, levou a que fosse efectuado o levantamento
imediato da urna cerâmica e do seu conteúdo, tendo a análise antropológica sido desenvolvida
integralmente em laboratório.
Ainda no terreno, a decapagem do interior da urna revelou a presença de um segundo vaso
cerâmico, de menores dimensões, morfologicamente carenado, de base côncava e com uma
asa, contendo também restos ósseos humanos cremados. Ambos os recipientes apresentam
decoração brunida.
Os aspectos morfológicos de ambos os vasos cerâmicos, bem como o facto dos restos ósseos
humanos estarem acompanhados de restos metálicos, do que poderia ser algum tipo de
elemento de adorno, apontam para que estejamos perante um depósito de cremação da Idade
do Bronze.
1.2
Materiais e Métodos
Os restos ósseos recuperados no Tumulus 1 do Souto apresentavam-se extremamente
fragmentados e alterados, fruto das alterações induzidas pela acção do fogo. Este factor foi já
reconhecido por outros autores como responsável pelas dificuldades encontradas na análise
de restos resultantes de cremações (Ubelaker, 2009; Silva, 2007). Ainda assim, vários aspectos
têm sido apontados como merecedores de uma maior atenção no estudo dest e tipo de
amostras osteológicas humanas, como a distinção entre uma cremação sobre ossos secos
(esqueleto) e uma cremação sobre ossos frescos (cadáver) ou a identificação das temperaturas
a que os ossos terão sido sujeitos durante a cremação (Etxeberria, 1994; Shipman et al, 1984;
Silva, 2007). Naturalmente, aspectos comuns em estudos de contextos funerários, como a
determinação do Número Mínimo de Indivíduos representados, diagnose sexual, estimativa de
idade à morte ou a análise paleopatológica são também passíveis de serem observados sobre
os restos de uma cremação, se bem que com muito maior dificuldade (Ubelaker, 2009).
Tendo em conta que a análise por nós realizada se iniciou após a chegada desta amostra ao
laboratório do Centro de Pré-História do Instituto Politécnico de Tomar, não nos é possível
abordar a distribuição dos restos ósseos pelo interior da urna, numa perspectiva da micro estratigrafia da mesma, de modo a determinar se teria havido algum tipo de cuidado especial
presidindo à disposição dos vestígios remanescentes da cremação no interior da urna
cerâmica. Assim, optámos por analisar comparativamente os restos ósseos recuperados na
urna cerâmica de grandes dimensões (vaso 16) com aqueles que foram recuperados do
interior da urna de pequenas dimensões (vaso 17), por forma a tentar discernir de quaisquer
padrões na distribuição dos restos ósseos cremados pelos dois vasos que nos permitisse de
algum modo interpretar mais profundamente os gestos funerários envolvidos nesta sepultura.
Os restos provenientes de ambos os vasos foram cuidadosamente separados, de acordo com a
região óssea. Após esta fase de triagem inicial, todos os fragmentos foram inventariados,
procedendo-se à sua identificação completa sempre que possível e à sua pesagem, com
recurso a uma balança Kern 440-53. Aqueles fragmentos cujas dimensões tornavam impossível
a identificação da região óssea a que pertenceriam foram classificados como fragmentos não
identificados e pesados em conjunto. A pesagem dos restos ósseos teve como object ivo
analisar a representatividade das várias regiões do esqueleto humano, comparando -se os
valores obtidos com os valores de referência para peso esquelético determinados por Silva et
al (2008). Registaram-se os padrões de fractura sobre os restos ósseos, de modo a tentar
determinar se esta cremação teria sido realizada sobre os ossos secos ou frescos, de acordo
com as tipologias de fracturas definidas por Herrmann e Bennett (1999). Analisaram -se
também as alterações cromáticas sofridas pelos vários fragmentos, de acordo com os graus de
069 |
alteração definidos por Shipman et al (1984), após alterações de Silva (2007), de modo a tentar
determinar as temperaturas a que estes restos ósseos teriam sido sujeitos.
Em consequência da identificação e inventariação dos e lementos ósseos recuperados,
procedeu-se à determinação do Número Mínimo de Indivíduos. Em termos
paleodemográficos, foi impossível proceder a qualquer análise de diagnose sexual, devido à
não preservação de quaisquer elementos diagnosticantes. Noutro plan o, apesar dos
constrangimentos já referidos, prestou-se particular atenção a todos os possíveis traços que
permitissem estabelecer uma estimativa de idade à morte para o(s) indivíduo(s) aqui
depositado(s).
O estado profundamente alterado da generalidade dos restos ósseos e dentários recuperados
impossibilitaria ainda a identificação e análise de vestígios de quaisquer patologias.
1.3
Resultados
1.3.1 Representatividade óssea e Número Mínimo de Indivíduos
A fragmentação e alteração ósseas registadas nesta colecção foram, conforme referimos
acima, factores fundamentais nas limitações impostas ao estudo laboratorial. A pesagem de
todos os fragmentos ósseos recuperados permite-nos tentar determinar se todas as regiões
ósseas se encontram representadas em proporções semelhantes aquelas que se encontram no
esqueleto humano completo. Para tal, tomámos como valores de referência aqueles
avançados por Silva et al (2008), obtidos com base na Colecção de Esqueletos Identificados do
Museu Antropológico da Universidade de Coimbra, comparando-os com os valores de cada
vaso e com os totais dos dois vasos agrupados (Imagem 1).
60.00
50.00
40.00
% 30.00
20.00
10.00
0.00
Crânio
Mandíbula
Mão
Pé
Ossos
longos
Patela
Coxal
Costelas
Coluna
vertebral
Região óssea
% Peso M1ST
% Peso Vaso 16
% Peso Vaso 17
% Peso Ref (Silva, Crubézy e Cunha, 2008)
Imagem 1: Peso relativo por região óssea, comparados com os valores de referência (Silva et al, 2008). Analisam -se os valores
agrupados por vaso e também na totalidade de ambas as urnas (% Peso M1ST).
A análise comparativa dos valores relativos do peso das diversas regiões do esqueleto mostra
algumas discrepâncias em relação aos valores de referência adoptados. No entanto, antes de
ponderarmos um cenário de recolha selectiva de algumas áreas do esqueleto para posterior
deposição nas urnas cerâmicas, chamamos a atenção para as dificuldades encontradas na
identificação da maior parte do material ósseo recuperado. Para termos noção da dimensão
deste constrangimento a uma análise paleobiológica, basta-nos ter em consideração que o
peso total da amostra é de 1772g, das quais 890g (50,22% do total da amostra) correspondem
a conjuntos de fragmentos não identificáveis, pelo que muito provavelmente os desvios
verificados na representatividade das diversas regiões ósseas podem ser explicados por este
factor. Aliás, a recolha cuidadosa dos restos após a cremação parece ser atestada pela
recuperação dos elementos mais pequenos do esqueleto, como as falanges ou os ossos do
carpo. Por outro lado, chamamos também a atenção para a diminuta amostra pertencente ao
vaso 17, cujo peso total é de apenas 42g, na medida em que tal dimensão de amostra torna
inviável uma análise comparativa válida entre o conteúdo das duas urnas (Imagem 2).
Imagem 2: Conjunto dos fragmentos ósseos não identificados do vaso 16, que representam metade da amostra total do Tumulus 1
do Souto.
Mesmo tendo em conta os constrangimentos acima referidos, os elementos recuperados de
ambas as urnas não nos permitem discernir qualquer padrão de selecção dos elementos
depositados nas urnas cerâmicas – tanto no conjunto dos dois vasos, como em termos da
distribuição por cada um deles. Antes parece ter-se verificado uma recolha cuidadosa dos
restos da cremação, que não impediu a existência de uma aparente aleatoriedade na
distribuição dos fragmentos ósseos pelas duas urnas utilizadas na deposição final.
Em termos do Número Mínimo de Indivíduos, todos os indícios sugerem que estaremos
perante os restos de um único indivíduo. Não se registaram repetições de peças ósseas, nem a
presença de elementos incompatíveis entre si.
1.3.2 Paleodemografia
Apesar da impossibilidade de procedermos à diagnose sexual do indivíduo depositado no
Tumulus 1 do Souto, alguns indícios permitem-nos apontar uma estimativa da idade à morte
071 |
deste indivíduo. Na verdade, apenas foi possível identificar um vestígio claro do aspecto etário,
um molar cujas raízes se encontram na fase final de calcificação (Imagem 3). É de salientar que
as alterações verificadas também nos restos dentários dificultaram profundamente a própria
identificação dentária, pelo que, mesmo neste caso, a identificação deste dente como sendo
humano não é totalmente segura. No entanto, se admitirmos que se trata de um dente
humano, então os aspectos morfológicos preservados apontam para que se trate de um 3º
molar superior esquerdo, cujo grau de desenvolvimento é compatível com uma idade à morte
entre os 16 e os 20 anos, de acordo com o esquema de calcificação e erupção dentárias de
Ubelaker (1989). Além deste molar, os poucos fragmentos cranianos com secções suturais
preservadas apontam também para um indivíduo cuja idade não seria muito elevada, visto não
se registarem quaisquer traços de sinostose das suturas cranianas. Ainda assim, salientamos
que a análise deste processo não pode ser feita sobre fragmentos destas dimensões e que a
própria fiabilidade desta metodologia para uma correcta estimativa da idade à morte é
relativa, com grandes margens de erro associadas (Masset, 1989).
Imagem 3: Dente que parece tratar-se de um 3º molar superior esquerdo cujas raízes se encontram na fase final de calcificação,
correspondendo nesse caso a um indivíduo com cerca de 16 a 20 anos.
1.3.3 Alterações ósseas por acção do fogo e sua interpretação em termos de Antropologia
Funerária
1.3.3.1 Padrões de fractura óssea
Um dos efeitos mecânicos associados à acção do fogo sobre os ossos durante o processo de
cremação é a fractura óssea. A análise dos padrões de fractura exibidos pelos restos ósseos
cremados pode permitir discernir alguns aspectos do ritual funerário que conduziu à
constituição do contexto arqueológico em questão, nomeadamente a determinação do estado
dos restos mortais aquando da cremação – cremação sobre ossos secos versus cremação com
tecidos moles associados. Para tal, classificou-se o padrão de fractura exibido por cada
fragmento ósseo, de acordo com as categorias definidas por Herrmann e Bennett (1999),
comparando-se depois os resultados por região óssea para cada vaso (Imagens 4 e 5).
250
Peso (g)
200
150
100
50
0
Crânio
Mandíbula
Mão
Pé
Ossos
longos
Patela
Coxal
Costelas
Patina
Laminação
Coluna
vertebral
Total
Região óssea
Longitudinal
Transversal encurvada
Transversal direita
Indeterminado
Imagem 4: Frequência dos diversos padrões de fractura registados nos fragmentos recolhidos do interior do Vaso 16 por região
óssea – representadas em peso absoluto.
20
18
16
14
Peso (g)
12
10
8
6
4
2
0
Crânio
Mandíbula
Mão
Pé
Ossos longos
Costelas
Total
Região óssea
Longitudinal
Transversal encurvada
Transversal direita
Patina
Laminação
Indeterminado
Imagem 5: Frequência dos diversos padrões de fractura registados nos fragmentos recolhidos do interior do Vaso 17 por região
óssea – representadas em peso absoluto.
Conforme se pode verificar pelos dois gráficos acima apresentados, ambos os vasos incluíam
restos ósseos exibindo padrões de fractura heterogéneos. Saliente -se, no entanto, a presença
de fracturas transversais encurvadas, em particular sobre os ossos longos. Este tipo específico
de fractura é associado a cremações com tecidos moles associados. Apesar do registo de
outros padrões de fractura nesta amostra, a presença destas fracturas transversais encurvadas
sugere que o corpo não se encontrava esqueletizado aquando da cremação, tendo sid o
colocado na pira funerária sob a forma de cadáver (Imagem 6).
073 |
Imagem 6: Fragmento de osso longo proveniente do vaso 16 do Tumulus 1 do Souto, evidenciando fracturas do tipo transversal
encurvada.
1.3.3.2 Alterações cromáticas
O estudo das alterações cromáticas em ossos cremados e sua correlação com as temperaturas
a que teriam sido sujeitos foi já alvo do interesse de diversos autores, com o actual estado do
conhecimento desta matéria a resultar sobretudo de abordagens experimentais (Botella et al,
2000; Thompson, 2004; Shipman et al, 1984). Apesar desta relação temperatura-cor ser
reconhecida, outros factores intervêm no aspecto exibido pelos fragmentos ósseos, como o
tempo de exposição à temperatura. Considerando-se estes aspectos, o registo dos padrões de
alteração cromática dos restos de cremação pode ser extremamente útil na compreensão da
distribuição dos diversos elementos ósseos pela pira funerária e sua posição relativamente à
fonte de calor. As alterações cromáticas exibidas pelos fragmentos analisados foram
classificadas de acordo com os graus definidos por Shipman et al (1984, alterado por Silva,
2007) e comparadas por região óssea em cada uma das urnas (Imagens 7 e 8).
Grau
1
Coloração
Intervalo de
tem peraturas (°C)
20-285
Branco pálido, amarelo claro e amarelo
Castanho avermelhado, castanho e cinzento escuro, cinzento escuro,
2
285-525
amarelo avermelhado
3
Preto, com presença de azul intermédio e algum amarelo avermelhado
525-645
4
Predomínio do branco com presença de cinzento azulado e cinzento claro
645-940
5
Branco com algum cinzento intermédio e amarelo avermelhado
> 940
Tabela 1: Graus de alterações cromáticas exibidas pelos ossos sujeitos à acção do fogo, de acordo com Shipman et al (1984).
250
200
Peso (g)
150
100
50
0
Crânio
Mandíbula
Mão
Pé
Ossos
longos
Patela
Coxal
Costelas
Coluna
vertebral
Total
Região óssea
Grau 1
Grau 2
Grau 3
Grau 4
Grau 5
Imagem 7: Análise das alterações cromáticas sofridas pelos restos osteológicos depositados no Vaso 16.
25
Peso (g)
20
15
10
5
0
Crânio
Mandíbula
Mão
Pé
Ossos
longos
Patela
Coxal
Costelas
Coluna
vertebral
Total
Região óssea
Grau 1
Grau 2
Grau 3
Grau 4
Grau 5
Imagem 8: Análise das alterações cromáticas sofridas pelos restos osteológicos depositados no Vaso 17.
Observa-se uma predominância das alterações cromáticas associadas ao intervalo mais baixo
de temperaturas (20°-285°C), apesar de todos os outros intervalos de temperaturas se
encontrarem representados, mesmo os mais elevados, facto que indicia uma distribuição
desigual da temperatura pela pira funerária, afectando assim de forma diversa os vários
elementos esqueléticos recuperados (Imagem 9). Saliente-se, no entanto, a ausência do grau 1
075 |
de alteração cromática sobre os restos recolhidos no interior do Vaso 17, o que pode reflectir
uma qualquer lógica interna na recolha e distribuição deste ossilegium pelos dois recipientes
cerâmicos, ainda que não nos seja neste momento possível discernir qual seria exactamente o
factor determinante dessa selecção, a existir.
Imagem 9: Fragmentos de ossos longos provenientes do vaso 16, exibindo diferentes graus de alteração cromática.
1.3.3.3 Gestos funerários implicados na composição do contexto funerário do
Tumulus 1 do Souto
A análise desta amostra osteológica humana permite-nos avançar com uma tentativa de
modelo explicativo da sequência de gestos na génese do contexto arqueológico agora
recuperado. O registo dos padrões de fractura exibidos pelos restos ósseos aponta para que
esta cremação se tenha dado sobre um cadáver, ou seja, com a presença de tecidos moles
associados. Um provável elemento de adorno em bronze acompanhava os restos mortais.
Após esta etapa, foi realizada uma recolha cuidadosa dos restos ósseos e dentários restantes,
que seriam depositados em ambas as urnas cerâmicas, sendo o vaso 17, de menores
dimensões, colocado no interior da urna de maiores dimensões (vaso 16). O conjunto foi
depositado numa fossa escavada no centro do tumulus, apoiado numa pequena laje de xisto
virada a Nordeste e, finalmente, recoberto com uma discreta mamoa constituída por seixos
(Imagens 10 a 12).
Imagem 10: Esquema proposto da sequência de gestos funerários associados ao depósito de cremação do Tumulus 1 do Souto.
Imagem 11: Levantamento do depósito de cremação do Tumulus 1 do Souto. É possível observar o conjunto das duas urnas
cerâmicas e a laje de xisto contra a qual foi colocada a urna exterior (Fotografia CPH).
077 |
Imagem 12: Falanges e osso do carpo (semilunar), recuperados do vaso 16, atestando a cuidadosa recolha dos restos ósseos
cremados aquando da trasladação para as urnas cerâmicas.
1.4
Considerações finais
Apesar de reflectir apenas uma análise preliminar, o presente relatório aponta já alguns
aspectos importantes para uma mais profunda caracterização do Tumulus 1 do Souto. Os
resultados obtidos apontam para que estejamos em presença dos restos resultantes da
cremação de um único indivíduo, de sexo indeterminado. Trata-se de um indivíduo jovem, um
adolescente ou um adulto jovem (16-20 anos), cujo ritual funerário parece ter envolvido uma
complexa sequência de gestos, desde a cremação propriamente dita, realizada sobre o cadáver
completo, ou seja, com tecidos moles associados. As alterações cromáticas exibidas por estes
restos osteológicos humanos são de cariz heterogéneo, sinal de uma desigual distribuição da
temperatura na pira funerária, resultando em exposições também elas desiguais dos ossos a
essa mesma temperatura, que teria atingido valores superiores a 940°C.
A distribuição dos restos ósseos por dois recipientes cerâmicos, colocados um dentro do outro,
reflecte também a complexidade socio-ideológica que terá presidido às cerimónias fúnebres
dedicadas a este indivíduo. De um ponto de vista do espólio votivo, verifica-se a presença de
elementos metálicos, eventualmente provenientes de um qualquer elemento de adorno
pessoal, de natureza desconhecida e um conjunto de sementes carbonizadas de espécie ainda
não identificada, presumindo-se que tivessem estado na pira funerária, junto com o corpo ou
como parte da própria pira.
A selagem após a deposição das urnas funerárias com recurso a uma couraça pétrea
constituída principalmente por seixos de quartzito reforça o cariz individual deste contexto
funerário. A identificação na mesma região de outras estruturas semelhantes, de conteúdo
ainda desconhecido, deixa em aberto a possibilidade de achados futuros ampliarem
exponencialmente os dados disponíveis sobre estes contextos funerários integráveis na Idade
do Bronze.
1.5
Agradecimentos
A análise aqui apresentada não seria possível sem as indicações dadas pela Doutora Ana Maria
Silva (Departamento de Antropologia da Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade de
Coimbra), bem como as suas correcções e conselhos no que concerne à interpretação dos
dados.
1.6
Referências
ETXEBERRIA, F. (1994) – Aspectos macroscópicos del hueso sometido al fuego. Revisión de las
cremaciones descritas en el País Vasco desde la Arqueología. Munibe. 46, pp. 111-116.
HERRMANN, N.; BENNETT, J. (1999) – The differentiation of traumatic and heat-related
fractures in burned bone. Journal of Forensic Sciences. 44 (3), pp. 461-469.
MASSET, C. (1989) – Age estimation on the basis of cranial sutures. In Age markers in the
human skeleton. Iscan, M Y (ed). Charles C. Thomas: Springfield; pp. 71-103.
SHIPMAN, P.; FOSTER, G.; SCHOENINGER, M. (1984) – Burnt bones and teeth: An experimental
study of color, morphology, crystal structure and shrinkage. Journal of Archaeological Science.
11, pp. 307-325.
SILVA, A. M.; CRUBÉZY, E.; CUNHA, E. (2008) - Bone Weight: New Reference Values Based on a
Modern Portuguese Identified Skeletal Collection. International Journal of Osteoarchaeology.
(Documento Digital) doi:http://dx.doi.org/10.1002/oa.998
SILVA, F. C. (2007) – Abordagem ao ritual funerário da cremação através da análise dos restos
ósseos. Al-Madan. IIª série. 15, pp. 40-48.
THOMPSON, T. (2004) – Recent advances in the study of burned bone and their implications
for forensic anthropology. Forensic Science Internacional. 146, pp. 203-205.
Ubelaker, D. (1989) - Human Skeletal Remains: Excavation, Analysis, Interpretation (2nd
Edition). Washington: Taraxacum.
UBELAKER, D. (2009) - The forensic evaluation of burned skeletal remains: A synthesis.
Forensic Science International. 183. 1-3, pp. 1-5.
079 |
LAPA RASTEIRA DO CASTELEJO (ALVADOS, PORTO DE MÓS)
– RELATÓRIO DO ESTUDO LABORATORIAL DOS RESTOS
ÓSSEOS HUMANOS EXUMADOS NA CAMPANHA DE
ESCAVAÇÃO DE OUTUBRO DE 2009
Tiago Tomé
[email protected]
Investigador associado do "Instituto Terra e Memória – Grupo
“Quaternário e Pré-História” do Centro de Geociências (uID73 –
Fundação para a Ciência e Tecnologia)" Projecto FCT
PTDC/HAH/71361/2006; Investigador associado do projecto SIPOSUMC.
Lapa Rasteira do Castelejo (Alvados, Porto de Mós)
– Relatório do estudo laboratorial dos restos ósseos
humanos exumados na campanha de escavação de
Outubro de 2009
Tiago Tomé
RESUMO
A Lapa Rasteira do Castelejo (Alvados, Porto de Mós) fora inicialmente explorada durante a
campanha realizada na Lapa Comprida do Castelejo, levando à identificação de novo contexto
sepulcral cársico nesta região. A escavação realizada em 2009 permitiu confirmar a presença
de restos osteológicos humanos pertencentes a diversos indivíduos. Apresentam -se aqui os
resultados da análise bioantropológica deste contexto, focando aspectos funerários, além do
perfil biológico da amostra exumada.
Palavras-chave: Alto Ribatejo, Pré-História Recente, Gruta-necrópole.
ABSTRACT
Lapa Rasteira do Castelejo (Alvados, Porto de Mós) was initially explored during the excavation
held at Lapa Comprida do Castelejo. This lead to the identificação of a new karstic burial
environment in this region. The excavation performed in 2009 allowed us to confirm the
presence of human skeletal remains belonging to several individuals. We present here the
results of our bioanthropological assessment of this sample, focusing on funerary rituals, as
well as on the biological profile of the exhumed sample .
Keywords: North Ribatejo, Late Prehistory, Burial cave.
1. Introdução
Na sequência dos trabalhos efectuados em Novembro de 2008 na Lapa Comprida do Castelejo
(Cruz, 2008-2009; Tomé, 2008-2009), identificara-se a pouca distância desta uma segunda
cavidade cársica, designada pela população como Lapa Rasteira. Esta cavidade apresenta-se
como de mais difícil acesso que a Lapa Comprida, na medida em que as dimensões do corredor
081 |
de entrada obrigam a que se rasteje ao longo de cerca de 8 m, até se atingir a primeira sala,
designada de Sala 1. Ainda assim, logo numa primeira visita i dentificaram-se sinais de presença
humana recente, que o início dos trabalhos arqueológicos viria a confirmar tratarem -se de
recolhas clandestinas de material arqueológico, atestadas pelo elevado remeximento
superficial de algumas zonas do depósito. Na parede Sul desta sala abre-se uma chaminé subvertical, que dá acesso a uma outra sala, de menores dimensões (Sala 2), onde também se
identificaram vestígios superficiais da sua utilização como espaço funerário e da presença
humana recente.
2. Materiais e Métodos
Esta campanha centrou-se sobre a Sala 1, visto esta ser de mais fácil acesso e apresentar mais
vestígios arqueológicos e osteológicos à superfície, com sinais claros de perturbação recente.
O desenrolar dos trabalhos revelou a presença de um depósito superficial (camada A) com
espessura variável (60-100 cm), altamente remexido devido à actividade animal e também à
acção humana (O grau de perturbação antrópica recente destes depósitos tornar-se-ia ainda
mais evidente aquando da descoberta, a cerca de 1m de profundidade, dos restos de um maço
de tabaco), no que parecem ter sido recolhas clandestinas do espólio arqueológico aí contido.
Neste nível superficial, encontravam-se numerosos restos osteológicos humanos, bem como
um espólio muito variado, em termos crono-culturais, atestando os sucessivos episódios de
frequentação humana desta gruta, de maior ou menor distensão temporal. Devido às
dificuldades impostas pela topografia da gruta, nomeadamente no transporte dos sedimentos
e materiais para o exterior, durante esta campanha de trabalho foi apenas possível escavar o
depósito superficial em parte da área da sala, tendo-se identificado a presença de uma outra
camada subjacente, se bem que ainda não tenha sido possível determinar se esta integra
algum tipo de espólio arqueológico. Assim, incluímos no presente relatório o estudo do espólio
osteológico humano recolhido na Sala 1, bem como alguns elementos ósseos recolhidos à
superfície da Sala 2. Por estes motivos, sublinhamos os cuidados a ter com os dados a qui
apresentados, na medida em que são apenas de cariz parcial, devendo obter-se uma imagem
mais clara com o desenvolvimento de trabalhos posteriores na Lapa Rasteira do Castelejo.
Após a identificação e inventário destes restos osteológicos humanos, proce deu-se à
determinação do Número Mínimo de Indivíduos (NMI), tanto adultos como não-adultos. No
decorrer do processo de inventário, todos os restos ósseos de adultos foram pesados e o seu
peso relativo comparado com os valores de referência de Silva et al. (2009), analisando-se
assim a representatividade óssea dos diversos elementos ósseos desta série, numa tentativa
de identificar potenciais padrões de preservação diferencial das diversas peças ósseas.
Paralelamente, analisou-se a presença de traços de alterações tafonómicas.
Em termos paleodemográficos, a não preservação de alguns elementos diagnosticantes para
uma análise de diagnose sexual foi um dos principais constrangimentos. Ainda assim, foi
possível realizar diagnósticos de sexo com base em várias pe ças ósseas, como a bacia (Bruzek
2002), mandíbula (Buikstra e Ubelaker, 1994), úmero (Wasterlain e Cunha, 2000), talus e
calcâneo (Silva, 1995).
Relativamente à estimativa de idade à morte foi possível recorrer à erupção e calcificação
dentárias, de acordo com o esquema de Ubelaker (1989). Para as restantes peças ósseas
aplicaram-se métodos como a fusão das epífises ou métodos osteométricos, como o
comprimento dos ossos longos, para a estimativa da idade à morte dos indivíduos não -adultos,
utilizando-se de um modo geral os valores apresentados no volume de referência de Schaefer
et al. (2009). Quanto aos indivíduos adultos, poucos foram os fragmentos recuperados que
permitiram a realização de uma estimativa da idade à morte. Ainda assim, foi possível aplicar a
metodologia de Lovejoy et al. (1985) sobre a superfície auricular e o método de Todd (1920, in
White, 2000) sobre a sínfise púbica de um ilíaco.
Foi também possível realizar uma pequena análise morfológica do esqueleto pós -craniano,
nomeadamente em termos da estimativa da estatura com base no calcâneo e no talus (de
acordo com a metodologia de Holland, 1995).
Finalmente, desenvolveu-se uma análise paleopatológica, que incidiu sobretudo sobre os
restos dentários recuperados, na qual se registou a frequência de cáries relativamente à sua
dimensão (Lukacs, 1989) e localização (Moore e Corbett, 1971), a incidência do desgaste
oclusal do esmalte dentário, de acordo com a metodologia de Smith (1984), após modificações
de Silva (1996) e a frequência de depósitos de calculus dentário (Martin e Saller, 1956 apud
Cunha, 1994). Registou-se também a incidência de perda de dentes ante-mortem.
A análise paleopatológica possibilitou ainda a identificação de patologias degenerativas
articulares, infecciosas e traumáticas.
Registou-se ainda a presença ou ausência de hipoplasias lineares do esmalte dentário, de
modo a aferir do grau de stress sistémico a que estes indivíduos teriam sido sujeitos, na
medida em que factores como uma deficiente nutrição ou episódios infecciosos de maior
impacto durante a infância podem afectar o processo de formação do esmalte dentário
(Hillson, 2000).
3. Resultados
3.1. Composição da amostra
3.1.1. Preservação e alterações ósseas
Conforme já referimos, a amostra osteológica humana recuperada na Lapa Rasteira do
Castelejo apresentava sinais de se encontrar extremamente perturbada, tanto em termos
contextuais como da própria fragmentação dos restos ósseos exumados. Tal como na vizinha
Lapa Comprida do Castelejo (Tomé, 2008-2009), cerca de 46% da série osteológica humana
recuperada nesta campanha de escavação na Lapa Rasteira do Castelejo apresentava um grau
de preservação mínimo, permitindo apenas a identificação da peça óssea em questão, muitas
vezes de forma incompleta.
Relativamente às alterações tafonómicas, praticamente não se registaram alterações da
superfície óssea associáveis a actividades faunísticas – à excepção de um fragmento de úmero
com marcas da acção de um carnívoro – o que não deixa de ser curioso, tendo em
consideração os evidentes sinais de acção animal no interior da gruta, testemunhados pelas
várias galerias e tocas identificadas na camada A. Em termos das alterações tafonómicas de
origem vegetal, nomeadamente as derivadas da segregação de ácidos pelas raízes, também
não foram identificados quaisquer fragmentos ósseos afectados, o que pode ser explicado pela
aparente ausência de actividade vegetal no interior da gruta. De facto, os abundantes restos
vegetais identificados durante a escavação da camada A parecem corresponder a alguns
carvões dispersos e elementos vegetais utilizados por alguma da microfauna nas suas tocas. As
083 |
alterações da superfície óssea mais registadas na amostra analisada são aquelas relacionadas
com a acção do fogo. Num total de 373 fragmentos ósseos inventariados, oito (2,14%)
apresentam alterações compatíveis com a acção do fogo, pertencendo uma destas peças a um
indivíduo não-adulto. Em termos das regiões ósseas afectadas, não parece existir uma zona
preferencial, visto incluírem-se peças cranianas, vértebras, costelas e ossos longos, algumas
evidenciando terem sido expostas a temperaturas bastante elevadas. Também foram
recolhidos vários restos de fauna evidenciando sinais semelhantes. O significado destas peças
ósseas afectadas pela acção do fogo não é, para já, claro. No entanto, a baixa frequência de
ossos afectados parece sugerir que estaríamos perante um caso de natureza acidental, em que
algumas peças teriam sido afectadas, eventualmente por fogueiras acesas no interior da gruta.
Se bem que não seja para já possível excluir por completo a possibilidade de se encontrarem
aqui em acção sequências complexas de gestos funerários, envolvendo rituais de cremação, a
presença de abundantes carvões no interior da camada A, associada às evidências das
sucessivas utilizações desta cavidade, parecem neste momento apontar no sentido da primeira
hipótese.
3.1.2. Representatividade óssea
Em termos da representatividade de cada região óssea, os valores obtidos através da pesagem
de todos os fragmentos ósseos pertencentes a indivíduos adultos foram somados por região
óssea, de modo a poderem ser comparados com os valores de referência definidos por Silva et
al. (2009).
Coluna
Esterno
Região óssea
Costelas
Patela
Osso coxal
Omoplata
Clavícula
Mão/Pé
Ossos longos
Mandíbula
Crânio
0
10
20
30
40
50
%
Ref Silva et al. 2009
LRC09
Figura 1: Valores de peso relativo por região óssea, comparados com os valores de referênci a de Silva et al. (2009).
A análise do gráfico de representatividade do peso ósseo (Figura 1) revela alguns desvios
relativamente aos valores de referência. No entanto, pensamos que estes desvios são reflexo
das recolhas clandestinas de material ocorridas previamente à nossa intervenção. De facto, o
crânio é a única região óssea que se encontra claramente sub-representada, o que não
constitui uma surpresa, visto ser precisamente o crânio a peça óssea mais facilmente
reconhecível e, simultaneamente, de cariz mais emblemático, podendo assim justificar-se a
sua recolha preferencial num contexto que não o de uma intervenção arqueológica
devidamente autorizada.
Nas restantes regiões ósseas, verifica-se uma tendência para valores próximos dos valores de
referência, sugerindo uma representatividade homogénea das várias zonas do esqueleto.
Ainda assim, regiões como a coluna, os ossos longos e a mandíbula surgem algo sobre representadas, possivelmente como reflexo do cariz parcial da amostra analisada.
3.1.3. Número Mínimo de Indivíduos
3.1.3.1. Adultos
Quanto ao Número Mínimo de Indivíduos adultos representados nesta amostra, a análise dos
restos osteológicos permitiu identificar a presença de, pelo menos quatro indivíduos adultos,
representados pelo 5º metatarsiano esquerdo. Com base nos restos odontológicos, o NMI
registado foi de cinco, com base no 1º molar inferior esquerdo.
6
5
4
N3
2
1
0
11 12 13 14 15 16 17 18 21 22 23 24 25 26 27 28 31 32 33 34 35 36 37 38 41 42 43 44 45 46 47 48
Dente
Figura 2: Número Mínimo de Indivíduos adultos com base nos dentes (notação FDI).
3.1.3.2. Não-adultos
Relativamente aos indivíduos não-adultos, a determinação do NMI é um pouco mais complexa,
visto ser necessário combinar os dados da estimativa da idade à morte com os resultantes da
simples repetição de peças. No caso desta amostra, tal foi determinante, conforme
descrevemos na secção dedicada especificamente aos resultados obtidos para a estimativa da
idade à morte de não-adultos, onde se apresentam os dados de forma mais detalhada. Assim,
nesta amostra foi possível identificar a presença de, pelo menos, sete indivíduos não -adultos.
Somadas as parcelas de adultos (5) e não-adultos (7), obtemos um Número Mínimo de
Indivíduos representados, para já, nesta gruta-necrópole de 12.
085 |
3.2. Paleodemografia
3.2.1. Estimativa da idade à morte
3.2.1.1. Não-adultos
Desde o início dos trabalhos de campo que se tornou clara a presença de vários elementos
ósseos pertencentes a indivíduos não-adultos no conjunto funerário da Lapa Rasteira do
Castelejo, sugerindo também os seus graus de desenvolvimento que estaríamos perante
diversos indivíduos. Se bem que problemática, na medida em que se baseia em peças isoladas,
com recurso a diversas metodologias (fruto do contexto de desconexão anatómica verificado),
a estimativa da idade à morte realizada em laboratório confirmou esta evidência, tanto de um
ponto de vista osteológico como odontológico. Relativamente aos restos ósseos, foi possível
estimar intervalos etários sobretudo com base nos estádios de desenvolvimento ósseo e fusão
das epífises. Foi também possível realizar algumas estimativas com base em critérios
osteométricos, tendo-se seguido em ambos os casos os valores de referência contidos no
volume de Schaefer et al. (2009), conforme a peça óssea em apreciação. Com base nesses
resultados, foi possível identificar a presença de quatro indivíduos não-adultos; um indivíduo
recém-nascido (máximo de 3 meses), duas crianças (uma entre 18 e 36 meses e outra com 4 a
6 anos de idade) e um adolescente (indivíduo entre 11 e 15 anos). Enquanto para os indivíduos
mais jovens estas estimativas de idade à morte foram simpli ficadas pela existência em cada
um deles de, pelo menos, uma peça passível de ser analisada com base em critérios
osteométricos, no caso deste indivíduo adolescente apenas dispomos de estimativas baseadas
em aspectos morfológicos, nem sempre de tão fácil aferição, pelo que uma mais adequada
estimativa da sua idade à morte não foi possível.
Esta imagem foi complementada com a estimativa da idade com base na erupção e
calcificação dentárias, de maior fiabilidade, permitindo a aferição de alguns dos resultados
obtidos sobre a amostra osteológica. Analisadas as mandíbulas e maxilares de não -adultos
preservados, estimou-se a idade, com base na metodologia de Ubelaker (1989), de quatro
crianças (Tabela 1). Não se identificou qualquer correspondência com o indivídu o recémnascido. No caso do indivíduo representado pelo maxilar IM10.1A.3, este pode corresponder à
criança estimada entre 18 e 36 meses de idade. Relativamente à outra criança (4 a 6 anos de
idade), no limite esta pode estar representada por qualquer um dos restantes elementos
analisados (IL10.5A.43, IM10.3A.43 ou IN10.1A.6+7). No entanto, seja qual for a peça que lhe
corresponde, as restantes duas peças representam seguramente outros dois indivíduos.
Quando analisados os dentes soltos de não-adultos, verificou-se a mesma tendência – o
registo de três 2ºs molares decíduos inferiores direitos atesta a presença de vários indivíduos
num intervalo entre os 3 e os 6 anos de idade; adicionalmente, registou -se um 2º molar
permanente compatível com um indivíduo em torno dos 9 anos de idade que parece sugerir a
existência de uma criança abaixo dos 10 anos de idade que ainda não tinha sido seguramente
identificada com base nos restos osteológicos (apesar de pelo menos uma peça nos sugerir
essa presença, se bem que sem possibilidade de constatação empírica segura).
Peça
IL10.5A.43
IM10.3A.43
IN10.1A.6+7
IM10.1A.3
Osso
Mandíbula
Maxilar
Mandíbula
Maxilar
Lado
D
E
Idade (anos)
5+/-1.5
6+/-2
4+/-1
3+/-1
Tabela 1: Estimativa da idade à morte de não-adultos, com base na erupção e calcificação dentárias.
Combinando os dados resultantes das várias metodologias aplicadas, é -nos possível assim
avançar com a seguinte distribuição etária dos indivíduos não-adultos identificados nesta
primeira campanha de escavação na Lapa Rasteira do Castelejo:
a)
0-4 anos: um indivíduo recém-nascido, um indivíduo em torno de 3 anos de idade e
outro em torno de 4;
b)
5-9 anos: três indivíduos, com cerca de 5, 6 e 9 anos de idade;
c)
10-14 anos: um indivíduo, ao qual não é possível atribuir um intervalo etário mais
restrito.
3.2.1.2. Adultos
A estimativa da idade à morte nos adultos é significativamente menos fiável que no caso dos
indivíduos não-adultos. Simultaneamente, a variedade de métodos disponíveis é também
muito mais reduzida. A análise dos restos pertencentes a indivíduos adultos desta amostra é,
nesse aspecto, elucidativa, em face da exiguidade de diagnósticos obtidos, apenas possíveis
para três indivíduos.
a) Indivíduo entre 15 e 21 anos de idade, de acordo com o esquema de erupção dentária, mas
que seguramente se encontra no espectro mais baixo do intervalo, fruto da inexistência de
desgaste oclusal do esmalte dentário;
b) Adulto jovem, com idade compreendida entre 20 e 25 anos, representado pelo ilíaco
esquerdo (que se viria a identificar como sendo um indivíduo do sexo masculino);
c) Indivíduo adulto, com mais de 30 anos, representado por uma clavícula esquerda
apresentando a extremidade esternal fundida, de acordo com MacLaughlin (1990).
Por uma questão metodológica, quando se considera o desenvolvimento dentário na
estimativa da idade à morte, são tomados como adultos os indivíduos a partir dos 15 anos.
Desta forma se explica que o indivíduo identificado com base num 3º molar superior esquerdo,
apesar de seguramente se encontrar entre os 15 e os 18 anos de idade, seja considerado como
um indivíduo adulto.
3.2.2. Diagnose sexual
Relativamente à diagnose sexual, foi possível realizar diagnósticos sobre algumas peças,
obtendo-se os seguintes resultados:
Osso
Mandíbula
Bacia
Úmero D
Talus D
Calcâneo E
Masculino
1
1
1
2
1
Feminino
0
0
0
1
0
Indeterminado
0
0
0
0
0
Tabela 2: Resultados obtidos para a diagnose sexual.
087 |
Conforme podemos verificar, o maior número de resultados foi obtido através do talus direito.
Apesar de se tratar de uma peça óssea com menor grau de fiabilidade na atribuição do sexo, a
sua utilidade nestes contextos, em que frequentemente as peças maiore s se encontram
preservadas em piores condições, é clara, permitindo neste caso identificar a presença de dois
indivíduos do sexo masculino e um do sexo feminino. Refira-se que todos os outros
diagnósticos efectuados permitiram sempre a identificação de ape nas um indivíduo, do sexo
masculino, não se tendo identificado quaisquer indivíduos de sexo indeterminado.
3.3. Morfologia
A amostra osteológica humana recolhida possibilitou a realização de uma análise morfológica
métrica, ainda que limitada. Em termos da estimativa da estatura, foi possível calcular este
parâmetro apenas com base em ossos do tarso, nomeadamente o calcâneo e o talus. Os
resultados apontam para valores acima de 1.65 m para os indivíduos do sexo masculino, com o
único indivíduo do sexo feminino analisado a apresentar uma estatura inferior a 1.60 m.
Osso
Peça
IL11.1A.SC14c
IL11.2A.SC1
IL10.3A.38
IL10.8A.63
Talus
Calcâneo
Lado
E
E
E
E
Sexo
M
M
F
M
Estatura estimada (cm)
169.23
166.09
158.49
170.16
Margem de erro (cm)
6.07
6.07
5.89
5.75
Tabela 3: Resultados da estimativa da estatura com base no calcâneo e no talus.
3.4. Análise paleopatológica
3.4.1. Patologia oral
A análise das patologias orais incidiu sobre uma amostra de 51 dentes permanentes
recuperados durante esta campanha de escavação. Em termos da frequência de lesões
carigénicas, registaram-se 7 dentes afectados (13.7%), com predominância das lesões de
menores dimensões. Os pré-molares e molares são os únicos dentes afectados, localizando-se
a maioria das lesões na zona interproximal.
3
2
N
1
0
Incisivo
central
Incisivo
lateral
Canino
1º prémolar
2º prémolar
1º molar
2º molar
Dente
Carie_D1
Carie_D2
Imagem 3: Distribuição das cáries, com base nas suas dimensões.
3º molar
3
2
N
1
0
Incisivo
central
Incisivo
lateral
Canino
1º prémolar
2º prémolar
1º molar
2º molar
3º molar
Dente
Carie_L1
Carie_L2
Carie_L3
Imagem 4: Distribuição das cáries, com base na sua localização.
No que concerne ao desgaste oclusal do esmalte dentário, predominam os graus de desgaste
baixos a moderados, registando-se apenas 4 casos de desgaste acima do nível 5 da escala de
Smith (1984). O cálculo do valor médio de desgaste por tipo de dente mostrou uma variação
entre 1.33 para os 3ºs molares e 3.89, sobre os 1ºs molares. Visto não termos identificado
indivíduos idosos, seria de esperar que os 3ºs molares, sendo os últimos dentes permanentes a
erupcionar, apresentassem um valor de desgaste oclusal mais baixo que os restantes. No
entanto, pensamos que as reduzidas dimensões da amostra disponível podem também
influenciar estes valores, na medida em que os 3ºs molares se encontram representados em
número muito reduzido (3). Assim preferimos, enquanto não for possível avaliar o real
significado dos valores obtidos para cada tipo de dente, considerar apenas o val or médio de
desgaste oclusal de toda a amostra (51 dentes permanentes). Este valor corresponde a 3.02.
6
5
4
N3
2
1
0
Incisivo
central
Incisivo
lateral
Canino
1º prémolar
2º prémolar
1º molar
2º molar
3º molar
Dente
Desg1
Desg2
Desg3
Desg4
Desg5
Desg6
Desg7
Imagem 5: Desgaste oclusal do esmalte dentário por tipo de dente.
Relativamente às deposições de tártaro, identificaram-se vestígios em 20 dentes (39.22%).
Apesar da maioria se tratar de deposições de dimensões mínimas, regista-se um número
importante de dentes com deposições cobrindo pelo menos 1/3 das superfícies lingual ou
vestibular (15.7% do total de dentes analisados).
089 |
7
6
5
N4
3
2
1
0
Incisivo
central
Incisivo
lateral
Canino
1º prémolar
2º prémolar
1º molar
2º molar
3º molar
Dente
Tart0
Tart1
Tart2
Tart3
Imagem 6: Distribuição das deposições de calculus dentário por tipo de dente (Tart0 corresponde a dentes sem quaisquer traços
de acumulações de tártaro).
Em termos da perda de dentes ante-mortem, foram analisados 55 alvéolos dentários. Destes,
6 (10.9%) apresentavam sinais de perda do dente correspondente em vida do indivíduo, com a
consequente reabsorção alveolar. Esta condição afectava dois dos indivíduos adultos
registados.
3.4.2. Patologias degenerativas articulares
Conforme referimos acima, registaram-se alguns traços de patologias degenerativas
articulares. Estes foram registados de acordo com a metodologia de Crubézy et al. (1985),
verificando-se apenas 7 casos em toda a amostra, dos quais 6 se situam sobre a coluna
vertebral.
3.4.3. Patologias infecciosas
Foram identificadas alterações do periósteo compatíveis com a remodelação óssea associada à
acção de patologias infecciosas não específicas em apenas duas peças – um osso longo de um
indivíduo não-adulto e um 4º metatarsiano esquerdo de um adulto.
3.4.4. Lesões traumáticas
Ao nível das lesões traumáticas, o seu registo revelou uma baixa frequência sobre esta
amostra. Não se registaram lesões sobre o esqueleto craniano, muito provavelmente também
em consequência da sua pouca representação na amostra analisada. Em termos do esqueleto
pós-craniano, registaram-se algumas lesões de natureza traumática, nomeadamente sobre um
rádio esquerdo e uma falange proximal do pé, ambos pertencentes a indivíduos adultos.
Adicionalmente, foram registados nódulos de Schmorl sobre quatro vértebras de indivíduos
adultos, sem que se consiga estimar o número de indivíduos afectados. Estas lesões, causadas
pela pressão dos discos intervertebrais sobre as superfícies dos corpos vertebrais, tomam a
forma de depressões de forma geralmente circular. Apesar da sua etiologia não ser clara,
particularmente em contextos arqueológicos, a sua incidência em grupos que submetem a
coluna vertebral a grandes esforços, nomeadamente entre os atletas de alta competição,
sugere que as situações de natureza traumática podem desempenhar um papel importante na
origem destas lesões (Roberts e Manchester, 2005; Waldron, 2009).
Imagem 7: Vértebra lombar apresentando um nódulo de Schmorl (IN10.1A.11).
3.5. Indicadores de stress fisiológico – hipoplasias lineares do esmalte dentário
Durante o processo de calcificação dentária, episódios de stress fisiológico podem alterar ou
interromper o processo de formação do esmalte dentário. Estas perturbações ficam registadas
nas coroas dentárias de várias formas, sendo mais facilmente identificáveis
macroscopicamente aquelas que apresentam uma morfologia li near. No decorrer da nossa
análise identificaram-se hipoplasias lineares do esmalte dentário em 10 dentes (19.6%), com
os caninos a apresentarem a maior prevalência de dentes afectados (50%). Se bem que estes
valores possam ser considerados como elevados, consideramos que a amostra odontológica
disponível até este momento é ainda demasiado limitada para nos permitir interpretar com
segurança este resultado como indicativo de que estes indivíduos estariam sujeitos durante a
fase de calcificação dentária a elevados níveis de stress fisiológico.
12
10
8
N 6
N
Hiplopasia
4
2
0
Incisivo
central
Incisivo
lateral
Canino
1º pré-molar 1º molar
Dente
Imagem 8: Dentes com hipoplasias lineares do esmalte dentário, comparados com os valores totais por tipo de dente.
091 |
4. Notas sobre a Antropologia Funerária da Lapa Rasteira do Castelejo
Apesar do carácter preliminar deste relatório não nos possibilitar, de momento, avançar com
uma proposta de interpretação mais completa desta necrópole, consideramos que a pequena
amostra estudada nos fornece ainda assim alguns dados relativos aos gestos funerários
envolvidos nesta gruta que merecem, pelo menos, que aqui os sistematizemos.
Ao longo da escavação não foram identificados quaisquer ossos em conexão anatómica, se
bem que fosse possível perceber que algumas peças tinham tendência para se encontrarem
agrupadas, como no caso do quadrado IL10, em que vários ossos longos se encontravam
bastante próximos, aparentemente reunidos. Ao analisarmos a representatividade do peso
ósseo, verificamos uma tendência para que as várias regiões ósseas se encontrem
representadas de acordo com os valores de referência, à excepção do crânio, que se encontra
claramente sub-representado. Conforme referimos acima, pensamos que esta aparente
ausência dos elementos cranianos poderá ser explicada pelas violações do espólio desta
necrópole. Em termos das chamadas articulações secundárias, não nos foi possível até ao
momento identificar em laboratório quaisquer peças que possam constituir uma articulação;
no máximo, em algumas situações, foi possível identificar a compatibilidade entre peças de
lateralidades opostas.
Considerando estes aspectos, não nos parece possível, de momento, avançar com uma
proposta definitiva do tipo de inumação desenvolvida na Lapa Rasteira do Castelejo. No
entanto, o aparente equilíbrio na representatividade do peso ósseo parece sug erir que
possamos estar perante um contexto de inumação primária, visto que as peças de menores
dimensões, pertencentes às chamadas articulações lábeis, seriam muito mais facilmente
perdidas numa situação de inumação secundária, em que estes restos ósseos fossem
transportados após decomposição dos tecidos moles para o interior da necrópole. Tratando -se
de uma inumação primária, muito provavelmente estaremos perante uma situação de redução
de corpos, na medida em que, caso se tratassem de inumações primárias com os corpos em
conexão anatómica, mesmo com as profundas perturbações pós-deposicionais identificadas,
seria de esperar que essa conexão se mantivesse, pelo menos, em algumas peças, o que até ao
momento não se verifica. Em relação aos ossos que apresentam alterações por acção do fogo
pensamos que, por ora, estes podem ser explicados por contacto acidental (fogueiras, por
exemplo), provavelmente associado a frequentações posteriores da gruta. Não nos parece
que, dadas as circunstâncias, seja possível considerar que os rituais funerários em acção nesta
gruta incluíssem aspectos como a cremação. Ainda assim, reforçamos que tanto o cariz
preliminar da intervenção realizada como as importantes perturbações pós -deposicionais
registadas levam a que estas propostas sejam meramente tentativas.
Todavia, subsiste ainda um aspecto fundamental na caracterização desta necrópole, o da sua
inserção crono-cultural. A escavação deste depósito superficial revelou a presença de
elementos materiais pertencentes a diversos períodos cronológicos, desde a Pré-História
Recente até, pelo menos, à Idade Média. Se bem que a eventual realização de datações
radiométricas sobre o espólio recolhido possa ajudar a clarificar a questão da cronologia desta
necrópole, isso não é um dado adquirido, na medida em que, ao datar um osso humano,
estaríamos apenas a obter uma data relativa à morte daquele indivíduo, o que poderia induzirnos em erro relativamente à real dimensão do período de constituição e utilização da
necrópole. Apesar destas limitações, parece-nos credível pensar que estes restos humanos
sejam de cronologia pré-histórica. Por um lado, caso se confirme a continuidade do depósito
funerário nos níveis seguintes, este terá, naturalmente, que ser mais antigo, sugerindo uma
utilização prévia aos momentos de ocupação mais recentes atestados por alguns elementos
cerâmicos e metálicos. Por outro, caso se confirme a natureza primária do contexto funerário,
envolvendo a redução de corpos na sequência de gestos funerários, este estará de acordo com
aquilo que se conhece de algumas necrópoles colectivas da Pré -História recente da região,
como as grutas-necrópole do vale do Nabão (Tomé e Oosterbeek, 2010).
Esperamos que o avançar dos trabalhos, particularmente a escavação dos depósitos
subjacentes à camada A, forneça dados que nos permitam avançar com interpretações mais
completas dos gestos funerários e da inserção crono-cultural desta necrópole.
5. Considerações finais
A revisão dos dados obtidos com a análise laboratorial dos restos humanos exumados da Lapa
Rasteira do Castelejo aponta para uma necrópole profundamente perturbada, devido a uma
série de factores – ocupações sucessivas em períodos posteriores, actividade animal no seu
interior e aparentes recolhas clandestinas mais recentes. Ainda assim, a amostra analisada
revelou-nos estarmos perante uma necrópole de inumação colectiva, tendo sido para já
identificados 5 indivíduos adultos, dos quais dois são do sexo masculino e um do sexo
feminino. O indivíduo do sexo masculino representado pe lo ilíaco esquerdo é um adulto
jovem, provavelmente com menos de 25 anos. Foi ainda possível identificar a presença de um
indivíduo acima dos 30 anos. Adicionalmente, identificaram-se sete indivíduos não-adultos,
nomeadamente um recém-nascido, duas crianças até aos 4 anos de idade, três crianças entre
os 5 e os 9 anos de idade e um adolescente com menos de 15 anos.
Em termos morfológicos, foi possível estimar a estatura para um mínimo de três indivíduos
adultos, parecendo existir um ligeiro dimorfismo sexual deste parâmetro osteométrico, se bem
que a exiguidade da amostra não permita validá-lo.
A análise paleopatológica incidiu particularmente sobre as patologias orais, verificando-se uma
prevalência de 13.7% de lesões cariogénicas sobre os dentes permanente s (7/51),
predominando as lesões de menores dimensões, situadas maioritariamente na zona
interproximal. Em termos de desgaste oclusal do esmalte dentário, predominam graus
moderados de desgaste, registando-se também uma importante frequência de graus baixos
(valor médio de 3.02). Quanto às acumulações de tártaro, estas foram identificadas em cerca
de 40% da amostra dentária analisada, predominando as deposições de pequenas dimensões.
Já relativamente à perda de dentes ante-mortem, verificou-se uma prevalência de 10.9%,
afectando dois indivíduos.
No plano paleopatológico registaram-se ainda vestígios de patologias degenerativas articulares
em duas vértebras, uma torácica e uma lombar, bem como de patologias traumáticas em duas
peças do esqueleto apendicular. Adicionalmente, identificaram-se nódulos de Schmorl em
quatro vértebras, não sendo possível determinar quantos indivíduos se encontram afectados.
Esperamos que o desenrolar futuro dos trabalhos na Lapa Rasteira do Castelejo nos permita
uma melhor caracterização desta gruta-necrópole, bem como dos indivíduos aí inumados.
093 |
6. Bibliografia
BRUZEK, J. (2002) – A method for visual determination of sex, using the hip bone. American
Journal of Physical Anthropology. 117, pp. 157-168.
BUIKSTRA, J.; UBELAKER, D. (1994) – Standards for Data Collection from Human Skeletal
Remains. Proceedings of a Seminar at The Field Museum of Natural History. Arkansas:
Arkansas Archaeological Survey Research Series No. 44.
CRUBÉZY, E.; MORLOCK, G.; ZAMMIT, J. (1985) – Diffuse idiopathic skeletal hyperostosis and
enthesopathy in mediaeval skeleton. Clinical Rheumatology. 5, 2: 17.
CRUZ, A. (2008-2009) – Relatório da escavação da Lapa do Covão do Geão ⁄ Lapa Comprida do
Castelejo – 2008. Ângulo.
http://www.cph.ipt.pt/angulo2006/img/08-09/rel_LCC08.pdf
CUNHA, E. (1994) – Paleobiologia das populações medievais portuguesas: os casos de Fão e
São João de Almedina. Dissertação para a obtenção do grau de Doutor em Antropologia.
Coimbra: Departamento de Antropologia da Universidade (policopiado).
HILLSON, S. (2000) – “Dental pathology”. In KATZENBERG, M e SAUNDERS, S (eds). Biological
Anthropology of the Human Skeleton. New York: Wiley-Liss, pp. 249-286.
HOLLAND, T. (1995) – Brief communication: Estimation of adult stature from the calcaneus and
talus. American Journal of Physical Anthropology. 96, p. 315-320.
LOVEJOY, C. O.; MEINDL, R. S.; PRYZBECK, T. R.; MENSFORTH, R. P. (1985) – Chronological
metamorphosis of the auricular surface of the ilium: A new method for the determination of
adult skeletal age at death. American Journal of Physical Anthropology. 68, pp. 15-28.
LUKACS, J. R. (1989) – “Dental paleopathology: methods for reconstructing health status and
dietary patterns in prehistory”. In M. İşcan and K. Kennedy (eds.): Reconstructing Life from the
Skeleton. Alan R. Liss. New York: 261-286.
MACLAUGHLIN, S. (1990) – Epiphyseal fusion at the sternal end of the clavicle in a modern
Portuguese skeletal sample. Antropologia Portuguesa. 8, pp. 59-68.
MOORE, W.; CORBETT, M. (1971) – The distribution of dental caries in ancient British
populations-I. Anglo-Saxon period. Caries Research, 5: 151-168.
ROBERTS, C.; MANCHESTER, K. (2005) – The Archaeology of Disease (Third Edition). Sutton
Publishing.
SCHAEFER, M.; BLACK, S.; SCHEUER, L. (2009) – Juvenile Osteology: A Laboratory and Field
Manual. San Diego: Academic Press.
SILVA, A. M. (1995) – Sex assessment using the calcaneus and talus. Antropologia Portuguesa.
Coimbra. 13, pp. 107-119.
SILVA, A. M. (1996) – O Hipogeu de Monte Canelas I (IV-III milénios a. C.): Estudo
paleobiológico da população humana exumada. Trabalho de síntese. Provas de Aptidão
Pedagógica e Capacidade Científica. Coimbra, Departamento de Antropologia, Faculdade de
Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (policopiado).
SILVA, A. M. (2000) – “Inumações colectivas: Algumas considerações sobre a respectiva análise
paleobiológica”. In ABREU, M S, ALONSO, F, BADAL, E, CUNHA, E, ETXEBERRIA, F, FIGUEIRAL, I,
TRESSERAS, J J, RIVERO, P e RUBINOS, A (coords). Actas do 3º Congresso de Arqueologia
Peninsular – Contributos das Ciências e das Tecnologias para a Arqueologia da Península
Ibérica. vol. IX. Porto: ADECAP, pp. 321-329.
SILVA, A. M.; CRUBÉZY, E.; CUNHA, E. (2009) - Bone Weight: New reference values based on a
modern Portuguese identified skeletal collection. International Journal of Osteoarchaeology.
19. 5, pp. 628-641.
SMITH, B. (1984) – Patterns of molar wear in Hunter-Gatherers and Agriculturalists. American
Journal of Physical Anthropology. New York. 63, pp. 39-84.
TOMÉ, T. (2008-2009) – Lapa Comprida do Castelejo – Relatório do estudo laboratorial dos
restos ósseos humanos exumados de uma gruta-necrópole (Alvados – Porto de Mós). Ângulo.
http://www.cph.ipt.pt/angulo2006/img/08-09/anexo4_rel_LCC08.pdf
TOMÉ, T.; OOSTERBEEK, L. (2010) – “One Region, Two Systems? A paleobiological reading of
cultural continuity over the agro-pastoralist transition in the North Ribatejo”. In CERRILLO
CUENCA, E. (ed.), From the origins: the Prehistory of Inner Drainage of Tagus. No prelo.
UBELAKER, D. (1989) – Human Skeletal Remains: Excavation, Analysis, Interpretation (2nd
Edition). Washington: Taraxacum.
WALDRON, T. (2009) – Palaeopathology. Cambridge Manuals in Archaeology. Cambridge:
University Press.
WASTERLAIN, R. S.; CUNHA, E. (2000) – Comparative performance of femur and humerus
epiphysis for sex diagnosis. Biométrie Humaine et Anthropologie. 18. 1-2, pp. 9-13.
WHITE, T. (2000) – Human osteology. San Diego: Academic Press.
095 |
DADOS ARQUEOLÓGICOS INÉDITOS A NORTE DO
CONCELHO DE ABRANTES
Álvaro Batista e Filomena Gaspar
Assistente de Arqueólogo – Gabinete de arqueologia do Município de
Abrantes
Arqueóloga – Gabinete de arqueologia do Município de Abrantes
Dados Arqueológicos Inéditos a Norte do Concelho
de Abrantes
Álvaro Batista e Filomena Gaspar
1 – INTRODUÇÃO
Após os incêndios de 2005 na área a Norte do concelho de Abrantes o gabinete de arqueolo gia
da autarquia de Abrantes encetou prospecções de campo nas áreas ardidas com o objectivo de
efectuar um maior e melhor reconhecimento do terreno no intuito de uma melhor definição
de sítios já inventariados e localização de outros inéditos. O trabalho desenvolvido limitou-se
única e exclusivamente à imensa área ardida, englobando as freguesias de Aldeia do Mato,
Carvalhal, Fontes, Martinchel, Souto, mas não de maneira sistemática (excepção nas áreas
envolventes dos tumuli e área megalítica), mas essencialmente dirigida, face a alguns
contextos já conhecidos e até já na sua grande maioria por nós inventariados ( Candeias,
Batista, Gaspar, no prelo). As áreas eleitas foram a da necrópole megalítica da Jogada e Vale
Chãos, cabeços sobranceiros sobre Água das Casas, onde já anteriormente tínhamos
inventariado dois tumuli ou pequenos montículos eventualmente funerários (Batista, 2004,
167), Maxial, Souto, e as conheiras do Zêzere e Codes. Também alguns vales envolventes aos
tumuli com ocorrência de xistos foram prospectados no intuito de se apurar da existência de
arte rupestre como a que ocorre a Norte nos concelhos vizinhos da Sertã (Batata, 1998) e
Oleiros (Caninas, Henriques, Batata, Batista, 2004), dada a relação existente entre tumulis, vias
e arte rupestre, mas sem êxito. É precisamente o resultado desse trabalho de campo que se irá
dar a conhecer.
2 – CONTEXTOS GEOMORFOLÓGICOS DA ÁREA EM CAUSA
Toda esta área Norte dispõe de formações do Pré-Câmbrico constituídas por gneisses, xistos,
grauvaques, anfibolitos, micaxistos, quartzitos e areais de aluviões, areias e argilas de terraços
com seixos. Podemos sistematizar de maneira simples esta imensa área em três tipos de solos
distintos. Uma mancha de granitos entre Aldeia do Mato e ao redor de Martinchel. Outra
essencialmente com xisto grauvaques e quartzitos em torno do Zêzere e Codes e demais linhas
de água para o interior e praticamente sobre todos estes e a coroar os relevos mais elevados
praticamente em toda a área argilas e seixos de quartzite.
3 – CONTEXTOS ARQUEOLÓGICOS DA ÁREA
Todo este contexto geológico, pelas suas características, permite individualizar alguns tipos de
monumentos e sítios arqueológicos distintos e bem diferenciados. Na área de granitos na qual
ocorrem a necrópole megalítica da Jogada e Vale Chãos (Cruz, 1997, 271 – 278) e o
097 |
monumento megalítico do Alqueidão do Neo-Calcolítico (Batista, 2004: 159). Uma de
conheiras em torno do Codes e Zêzere, nas suas vertentes ou mesmo a coroar os relevos mais
altos sobranceiros, assim como duas galerias mineiras, uma na conheira do Casal da Serra,
Martinchel e outra na Matagoza. As conheiras podem deter cronologias desde o Calcolítico ao
Romano e até posterior. Implantados nos terrenos de cumeada, sobre o Zêzere os dois
importantes povoados do Neo-Calcolítico ao Bronze inicial/ médio da Horta Grande, Maxial
(Cruz, 1997, 258; Candeias, Batista, Gaspar, no prelo) e Souto. No mesmo tipo de terreno os
diversos tumuli provavelmente do Bronze ou Ferro e três prováveis mamoas de carácter
megalítico. Outros vestígios posteriores são também referenciados na área. São eles os
reduzidos vestígios Romanos no interior da conheira da Matagoza e tardo romano ou alto
medievais desta área Norte (Batista, 2004, 187, 201, 202; Candeias, Batista, Gaspar, no prelo).
4 – MEDIDAS PREVENTIVAS DE PROTECÇÃO
Exceptuando-se alguns casos isolados, praticamente todos os sítios e monumentos agora
inventariados se encontram em excelente estado de conservação. Como estamos perante uma
área susceptível de reflorestação, caso da Zona de Intervenção Florestal da Aldeia do Mato,
iniciou-se o contacto directo com os diversos proprietários no sentido de se nsibiliza-los para a
necessidade de protecção e receptividade a vedação e escavação futura dos monumentos,
mostrando na maioria uma excelente cooperação. Dada essa ZIF ser da responsabilidade da
Junta de Freguesia foi contactado o Sr. Presidente Sr. Antóni o da Cruz com o propósito de
obtenção de sua colaboração também no processo de protecção dos diversos monumentos
nela inseridos. Expressou do interesse que esses diversos locais têm na criação de um roteiro
turístico para esta área, envolvendo o parque náutico de Aldeia do Mato, acrescido ainda, se
possível de uma vertente etnográfica. Semelhante opinião tinha já sido vinculada pela Sr.ª
Vereadora Dr.ª Isilda Jana da CMA, no sentido da mesma protecção e vedação dos diversos
monumentos e a criação de roteiro turístico futuro, importante para uma área a Norte do
Concelho, fortemente carenciada a esse nível. E foi essa sequência de ideias que levou ao
contactado com os diversos proprietários, e se iniciou em Fevereiro de 2006 a escavação de
emergência em torno do menir e povoado da Medroa “Jogada”, Aldeia do Mato, para além da
obtenção de autorização de escavação do INAG para a conheira do “Sobral”, Maxial do Além e
autorização de escavação e vedação do tumulus do “Porto Escuro”, Aldeia do Mato e de
outros.
5 – METODOLOGIA APLICADA
Os diversos vestígios inventariados inéditos irão ser precedidos de um número de ordem
crescente, seguindo-se o topónimo local quando conhecido ou o mais próximo, freguesia
respectiva e coordenada UTM obtida por GPS. No final apresenta-se um mapa com a
localização desses locais inventariados. Seguem-se diversas alíneas, a saber:
A – Tipo de vestígio e sua descrição.
B – Provável cronologia.
C – Cobertura geológica e flora da sua implantação e localização.
D – Condições de preservação e situações de risco do monumento ou sítio.
INVENTÁRIO
1 – Jogada, Aldeia do Mato, coordenada 0561385/ 4376907.
A – Menir de granito, derrubado, posicionado a Sul do povoado anexo que se estende na
direcção Este – Oeste e que engloba as coordenadas entre 0561477/ 4377026 e 0561355/
4376903.
B – Do Neo-Calcolítico.
C – Perto da EM 358, no interior de pinhal ardido, nos terrenos argilosos sobranceiros à
necrópole megalítica de Vale Chãos a uma cota de 246 metros.
D – O Menir, cujo alvéolo foi encontrado a cerca de 2 metros para Norte, encontra-se em
razoável estado de conservação, embora se encontrando deitado e removido do sítio.
As escavações iniciadas em Fevereiro de 2006 tem revelado estruturas em excelente estado de
conservação. Os resultados desta, actualmente ainda não concluída irão ser revelados
oportunamente. O maior risco existente é precisamente a reflorestação do local (Foto 1).
“O facto do proprietário da “Jogada” pretender reflorestar a área a nível particular, levou à
urgente intervenção no local e definição de duas áreas de protecção. Aproveitamos a
oportunidade para agradecer à Sr.ª Luz da Conceição Gaspar Serrano e a seu filho Sr. Jorge
Manuel Gaspar Esteves a colaboração prestada. De igual modo agradecemos ao INAG pela
autorização de escavação para a conheira do Sobral, ao Sr. Pelágio Manuel de Abreu Castelo
Branco, proprietário do terreno do tumulus do “Porto Escuro”, assim como ao seu
representante Sr. Fernando Manuel Pires Pereira e a todos os restantes proprietários que
permitiram ou não a vedação das áreas dos tumuli em causa, já contactados, respectivamente:
Sr. António Pedro da Carreira do Mato, Sr.ª Hermínia Cristina Mateus de Alferrarede, Sr.ª
Zulmira Maria Antunes Brás da Carreira do Mato, Sr. Joaquim Maria Ernesto de Água das
Casas, Sr. Vicente Luís Ernesto de S. Domingos e Srs. José Alves de Água das Casas e João Pires
Fontinha de Vale de Açor. Também se agradece ao Sr. Manuel Florindo da Carreira do Mato a
informação prestada sobre o topónimo Maxial onde se situa o tumulus 1, embora a
propriedade seja de sua irmã Maria do Carmo Florindo Guilherme.”
099 |
Foto 1: Menir da Jogada
2 – Zambujeira, Aldeia do Mato, coordenada 0561840/ 4377335
A – Povoado. No seguimento do anterior com indústria cerâmica lisa e lítica de sílex e tagana.
B – Do Neo-Calcolítico.
C – No declive virado para o vale a uma cota de 238 metros nos terrenos graníticos com
alguma cobertura de argila e seixos e cobertura arbustiva de pinheiro e diverso mato ardido.
D – Provável reflorestação. Também no local, mas já mais no declive, observa-se esculpido na
rocha o que deveria ser posteriormente uma pedra de lagar para cereais ou azeitona com 1,67
metros de diâmetro e espessura máxima esculpida de 11 cm. Coordenada 0561899/ 4377327.
3 – Vale Chãos 3, Aldeia do Mato, coordenada 0560945/ 4377029
A – Anta, arrasada ainda com prováveis três esteios in situ, embora totalmente partidos na sua
base.
B – Neo-Calcolítico.
C – Na linha de água e à beira do caminho que leva à Aldeia do Mato. Na orla de eucaliptal e
mato diverso em terreno de granito.
D – Perigo de reflorestação.
4 – Medroa, Aldeia do Mato, coordenada 0561298/ 4376698
A – Mamoa? Trata-se de uma provável grande mamoa de carácter megalítico notório pela
colina artificial de terra com um diâmetro de cerca de 40 metros por 2 metros de altura na
parte menor, posicionada sobre o vale que leva ao povoado da Quinta da Légua, Amoreira.
B – Neo-Calcolítico?
C – Área reflorestada com eucaliptos de terreno argiloso e situada entre a EM 358 e a estrada
para a Medroa com uma cota de 240 metros.
D – Bem preservada embora disponha de eucaliptal e de um corte a Oeste provocado pela
abertura de um caminho (Foto 2).
Foto 2: Mamoa (?) da Medroa
5 – Vale dos Tourizes, Aldeia do Mato, coordenadas 0562327/ 4376367
A – Mamoa? Trata-se de outra grande provável mamoa de carácter megalítico notório pela sua
grande colina artificial de terra com cerca de 40 a 50 metros de diâmetro com cerca de 6
metros de altura, posicionada sobre o vale que leva ao povoado da Quinta da Légua, Amoreira.
B – Neo-Calcolítico?
C – Cobertura argilosa. No interior de eucaliptal a cerca de 300 metros da EM 358 e com uma
cota de 230 metros.
D – Bem preservado embora o sítio esteja reflorestado.
0101 |
6 – Amarela, Aldeia do Mato, coordenada 0564422/ 4374912
A – Mamoa? Trata-se de outra provável grande mamoa de carácter megalítico, notório
também pela sua colina artificial de terra com cerca de 40 metros de diâmetro por 2 metros de
altura na parte menor, posicionada sobre o vale dos Casais da Pucariça.
B – Neo-Calcolítico?
C – Área reflorestada de pinhal ardido de terreno argiloso e sobranceira à EM 544 com uma
cota de 211 metros.
D – Bem conservada, apesar de reflorestado (Foto 3).
Foto 3: Mamoa (?) da Amarela
7 – Pedra Encavalada, Aldeia do Mato, coordenada 0561310/ 4377775
A – Covinhas. Três covinhas com cerca de 3 cm de diâmetro e 5 mm de profundidade,
efectuadas num afloramento granítico ao nível do solo e ligeiramente inclinado com cerca de
4,20 por 2,40. As duas primeiras covas orientadas a Norte distanciam-se 45 cm entre si. Para
Oeste e a 1,33 a outra cova.
B – Do Neo-Calcolítico à Idade do Ferro.
C – Área de pinhal ardido com afloramentos graníticos, à cota de 245 metros e a 50 metros a
Este do Marco Geodésico da Jogada.
D – Painel bem preservado, sendo o maior perigo a reflorestação da área (Foto 4).
Foto 4: Covinhas da Pedra Encavalada
8 – Verjeira, Aldeia do Mato, Coordenada 0560734/ 4376141
A – Covinha. Covinha com 4 cm de diâmetro por 1 cm de fundo efectuada num afloramento
granítico elevado do solo.
B – Do Neo-Calcolítico à Idade do Ferro.
C – Afloramentos graníticos com cobertura de seixos e argilas, localizado a Oeste do posto de
observação florestal da Medroa no interior de um eucaliptal à cota de 260 metros e no sopé
do cabeço com vestígios tardo romano ou visigóticos.
D – Em bom estado de conservação embora seja necessário cuidado com plantações futuras
(Foto 5).
Foto 5: Covinha da Verjeira
0103 |
9 – Maxial, Aldeia do Mato, Coordenadas 0562905/ 4376503
A – Tumulus 1 ou pequeno montículo circular, talvez funerário, com diâmetro provável de 4
metros e altura central indefinida, constituído por seixos de quartzite de médias (entre 10-20
cm) e pequenas dimensões (<10cm), afectado a Sul pela abertura de um cami nho florestal.
Afectada também na quase totalidade do seu interior por alguma máquina florestal.
B – Idade do Bronze ou Ferro?
C – Implantada no interior de pinhal ardido em terreno argiloso a cerca de 80 metros da actual
EM 358, à cota de 230 metros.
D – Em mau estado de conservação, sendo o maior perigo a reflorestação da área.
10 – Porto Escuro, Aldeia do Mato, coordenadas 0563423/ 4376948
A – Tumulus 2 ou pequeno montículo circular, talvez funerário, com diâmetro de 5,80 metros e
10 a 20 cm de altura máxima no centro do montículo, constituído por seixos de quartzite de
pequenas dimensões (<10cm). Para Oeste, a cerca de 2 metros observa-se uma outra pequena
concentração de seixos com cerca de 1,5 de diâmetro indefinido e que pode ser a resultante
de um outro pequeno montículo ou material de sobra.
B – Idade do Bronze ou Ferro?
C – Implantada no interior de pinhal ardido em terreno argiloso a cerca de 30 metros da actual
EM 358 e praticamente no contacto da que leva a Aldeia do Mato, à cota de 226 metros.
D – Em bom estado de conservação. Monumento para o qual se obteve autorização de
escavação e vedação do local do proprietário Sr. Pelágio Manuel de Abreu Castelo Branco. Este
local também é conhecido pela existência da lenda das três caldeiras, pe ste, ouro e prata. Esta
lenda pode indicar que outrora no local poderia ter existido eventualmente três tumuli, tal
como os existentes nas Sete Sobreiras que mais à frente trataremos.
11 – Fojo, Aldeia do Mato, coordenadas 0564999/ 4377993
A – Tumulus 3 ou pequeno montículo circular mal definido, talvez funerário, com diâmetro de
6,40 metros e montículo central ausente, constituído por seixos de quartzite de pequenas
dimensões e ligeiramente afectado pelo alargamento da EM 358.
B – Idade do Bronze ou Ferro?
C – Implantada no interior de eucaliptal de terreno argiloso em contacto com a actual EM 358,
à cota de 264 metros.
D – Em razoável estado de conservação. Para Este e a cerca de 6 metros, talvez uma outra
existisse, notório pela existência de alguns seixos, não sendo possível definir com o mínimo de
rigor as suas dimensões. O proprietário do terreno Sr. António Maria Pedro permite a vedação
do monumento.
12 – Volta do Carregal 1, Souto, coordenadas 0565907/ 4378441
A – Tumulus 4 ou pequeno montículo circular, talvez funerário, com diâmetro de 4,00 metros e
10 a 20 cm de altura máxima no centro do montículo, constituído por seixos de quartzite de
pequenas e médias dimensões.
B – Idade do Bronze ou Ferro?
C – Implantada no interior de pinhal ardido em terreno argiloso a cerca de 40 metros da actual
EM 358, à cota de 271 metros.
D – Em bom estado de conservação. Monumento em risco de reflorestação.
13 – Volta do Carregal 2, Souto, coordenadas 0565907/ 4378437
A – Tumulus 5 ou pequeno montículo circular, talvez funerário, com diâmetro de 5,00 metros e
10 a 20 cm de altura máxima no centro do montículo, constituído por seixos de quartzite de
pequenas e médias dimensões.
B – Idade do Bronze ou Ferro?
C – Implantada no interior de pinhal ardido em terreno argiloso a cerca de 40 metros da actual
EM 358, à cota de 271 metros e distanciada da anterior cerca de 1,5 metro.
D – Em bom estado de conservação. Perigo de reflorestação. Para Sudoeste deste tumuli e a
cerca de 2 metros observa-se uma outra pequena concentração de seixos com cerca de 2
metros de diâmetro e que pode indiciar um outro pequeno montículo ou material de sobra.
14 – Volta do Carregal 3, Souto, coordenadas 0565945/ 4378499 e 0565886/ 4378429
A – Via. Observa-se, entre a EM 358 e os tumuli anteriores, sulcado no terreno duas vias
antigas, com rodados entre eixos de 1,20/ 1,30 paralelas à EM358.
B – Cronologia indeterminada, embora antiga.
C – Existente no interior de pinhal ardido em terreno argiloso a cerca de 40 metros da actual
EM 358, à cota de 270 metros.
D – Em médio estado de preservação. Perigo de reflorestação.
15 – Várzea onde Mataram o Homem 1, Souto, coordenadas 0566111/ 4378602,
0566104/ 4378589 e 0566077/ 4378597
A – Via. Observa-se a Sul da EM 358 uma via antiga bem sulcada no solo, com rodados entre
eixos de 1,20/ 1,30 e a descrever uma curva para debaixo da actual EM 358 passando a Sul do
tumuli 6 e continuando bem funda no solo (cerca de 80 cm), na direcção de Carvalhal nas
coordenadas 0566205/ 4378649, 0566235/ 4378664 e 0566256/ 4378668 no contacto com a
EM 358.
B – Cronologia indeterminada, embora antiga.
0105 |
C – Existente no interior de pinhal ardido em terreno argiloso a cerca de em contacto com a
actual EM 358, à cota de 268 metros.
D – Em bom estado de preservação. Perigo de reflorestação.
16 – Várzea onde Mataram o Homem 2, Souto, coordenadas 0566180/ 4378659
A – Tumulus 6 ou pequeno montículo circular, talvez funerário, com diâmetro de 7,00/ 7,50
metros e 10 a 20 cm de altura máxima no centro do montículo, constituído por seixos de
quartzite de pequenas e médias dimensões.
B – Idade do Bronze ou Ferro?
C – Implantada no interior de pinhal ardido e ligeiramente afectada por eucaliptal, em terreno
argiloso a cerca de 10 metros da actual EM 358, à cota de 271 metros e sobranceira sobre a via
que lhe passava a Sul.
D – Em bom estado de conservação. Perigo de reflorestação ou inserida na área de 10 metros
a não reflorestar como medida preventiva de protecção à floresta segundo o decreto-lei.
17 – Vale da Vila ou Vale das Mós 1, Souto, coordenadas 0566635/ 4378959,
0566652/ 4378978 e 0566670/ 4378980
A – Via. Observa-se a Norte da EM 358 uma via antiga bem funda no solo, chegando a atingir 1
metro de profundidade com rodados entre eixos de 1,20/ 1,30 e a descrever uma curva para
debaixo da actual EM 358.
B – Cronologia indeterminada, embora antiga.
C – Existente no interior de eucaliptal, em terreno argiloso e a cerca de 3 metros e em
contacto com a actual EM 358, à cota de 270 metros.
D – Em bom estado de preservação. Perigo de reflorestação ou inserida na área de 10 metros a
não reflorestar como medida preventiva de protecção à floresta.
18 – Vale da Vila ou Vale das Mós 2, Souto, coordenadas 0566746/ 4379085
A – Tumulus 7 ou pequeno montículo circular, talvez funerário, com diâmetro de 5,50 metros e
10 a 20 cm de altura máxima no centro do montículo, constituído por seixos de quartzite de
pequenas e médias dimensões.
B – Idade do Bronze ou Ferro?
C – Implantada no interior de pinhal ardido, em terreno argiloso e a cerca de 40 metros para
Norte da actual EM 358, à cota de 271 metros.
D – Em bom estado de conservação. Perigo de reflorestação (Foto 6).
Foto 6: Tumulus 7 de Vale da Vila ou Vale das Mós 2
19 – Vale da Vila ou Vale das Mós 3, Souto, coordenadas 0567073/ 4379410
A – Tumulus 8 ou pequeno montículo circular, talvez funerário, destruído e espraiado pela
lavra com diâmetro provável de 7/ 7,50, com seixos de quartzite de médias e grandes (>20 cm)
dimensões e lajes de xisto estranhas ao local e ao sistema geológico circundante, embora
existentes para Norte no vale da Ribeira da Brunheta.
B – Idade do Bronze ou Ferro?
C – Implantada no interior de eucaliptal, em terreno argiloso e a cerca de 10 metros para
Norte da actual EM 358, à cota de 271 metros.
D – Destruída pela plantação de eucaliptos.
20 – Vale da Vila ou Vale das Mós 4, Souto, coordenadas 0567066/ 4379407
A – Tumulus 9 ou pequeno montículo circular, talvez funerário, destruído e espraiado, com
diâmetro de 5,50 metros, constituído por seixos de quartzite de médias e grandes dimensões.
B – Idade do Bronze ou Ferro?
C – Implantada no interior eucaliptal em terreno argiloso a cerca de 3 metros para Norte da
anterior e a 13 metros da actual EM 358, à cota de 271 metros.
D – Destruída pela plantação de eucaliptos. O proprietário do terreno, Sr. Vicente Luís Ernesto
de S. Domingos, permite a escavação no local.
21 – Alagoa, Carvalhal, coordenadas 0566522/ 4384806
A – Tumulus 10 ou pequeno montículo circular, talvez funerário, com diâmetro de 6,00 a 6,50
metros e 30 cm de altura máxima no centro do montículo, constituído por seixos de quartzite
de pequenas e médias dimensões e raros gneisses.
0107 |
B – Idade do Bronze ou Ferro?
C – Implantada no interior de pinhal e mato ardido, em terreno argiloso e a cerca de 10 metros
para Oeste da actual EM 548, à cota de 310 metros, perto do cruzamento para a Matagoza.
D – Em bom estado de conservação. Perigo de reflorestação ou inserida na área de 10 metros
a não reflorestar como medida preventiva de protecção à floresta.
22 – S. Domingos, Carvalhal, coordenadas 0570784/ 4384735
A – Tumulus 11 ou pequeno montículo circular, talvez funerário, com diâmetro de 5,50 e 30
cm de altura máxima no centro do montículo, constituído por seixos de quartzite de pequenas,
médias e grandes dimensões, destruída na periferia pela plantação de eucaliptos.
B – Idade do Bronze ou Ferro?
C – Implantada no interior de eucaliptal, em terreno argiloso e a cerca de 20 metros para Este
da actual EM 548, à cota de 300 metros.
D – Em bom estado de conservação, excepto na periferia devido à existente plantação de
eucaliptos. Os proprietários do terreno o Sr. Alfredo Reis e a Sr.ª Paula Madaíl da Matagoza
após deslocação ao local apoiam a protecção do monumento (Foto 7).
Foto 7: Tumulus 11 de S. Domingos
23 – Sete Sobreiras 1, Fontes, coordenadas 0568948/ 4385313
A – Tumuli 12 ou pequeno montículo circular, talvez funerário, com diâmetro de 5,50 e 20 cm
de altura máxima no centro do montículo, constituído por seixos de quartzite de pequenas e
médias dimensões.
B – Idade do Bronze ou Ferro?
C – Implantada no interior de pinhal ardido em terreno argiloso e a cerca de 40 metros para
Este da actual EM 548, à cota de 304 metros.
D – Em bom estado de conservação. Perigo de reflorestação. A proprietária do terreno é a Sr.ª
Maria da Conceição Mendes da Portela (Foto 8).
Foto 8: Tumulus 12 das Sete Sobreiras 1
24 – Sete Sobreiras 2, Fontes, coordenadas 0569052/ 4385401
A – Tumulus 13 ou pequeno montículo circular, talvez funerário, parcialmente destruído
restando cerca de 3,5 de comprimento por 2,5 de largura, sem montículo e constituído por
seixos de quartzite de médias dimensões e algum xisto certamente proveniente dos vales para
Norte na direcção do Codes.
B – Idade do Bronze ou Ferro?
C – Implantada na orla de eucaliptal, junto do cruzamento das Fontes, em terreno argiloso,
junto da actual EM 548, à cota de 305 metros.
D – Parcialmente destruída. Os proprietários são os mesmos do tumuli 11.
25 – Sete Sobreiras 3, Fontes, coordenadas 0569057/ 4385395
A – Tumulus 14 ou pequeno montículo circular, talvez funerário, a 5 metros do anterior e
totalmente destruído pela plantação de eucaliptos, não sendo possível verificar as suas
dimensões, observando-se seixos de quartzite de médias dimensões e algum xisto certamente
proveniente dos vales para Norte na direcção do Codes.
B – Idade do Bronze ou Ferro?
C – Junto do cruzamento das Fontes, no eucaliptal em terreno argiloso, junto da actual EM
548, à cota de 305 metros.
D – Totalmente destruída. Os proprietários são os mesmos do tumuli 11.
0109 |
26 – Sete Sobreiras 4, Fontes, coordenadas 0568682/ 4385555
A – Tumulus 15 ou pequeno montículo circular, talvez funerário, parcialmente destruído com
cerca de 4,50 metros de diâmetro e altura máxima de 10 cm no centro do montículo, e
constituído por seixos de quartzite de pequenas e médias dimensões.
B – Idade do Bronze ou Ferro?
C – Implantada em eucaliptal, no seguimento e a cerca de 20 metros da EM 1208 para o
Maxial, em terreno argiloso, à cota de 304 metros.
D – Parcialmente destruída. Perigo de reflorestação futura.
27 – Sete Sobreiras 5, Fontes, coordenadas 0568675/ 4385560
A – Tumulus 16 ou pequeno montículo circular, talvez funerário, parcialmente destruído, com
empedrado mais notório a Oeste com cerca de 2,5 metros de diâmetro sem montículo e
constituído por seixos de quartzite de pequenas e médias dimensões.
B – Idade do Bronze ou Ferro?
C – Implantada em eucaliptal, a 5 metros a Oeste da anterior, em terreno argiloso, à cota de
304 metros.
D – Mau estado de conservação. Perigo de reflorestação futura. Entre a EM 1208 e os
montículos observam-se restos indefinidos do que parece ter sido a antiga estrada.
28 – Água das Casas 1, Fontes, coordenadas 0568652/ 4386613
A – Tumulus 17 ou pequeno montículo circular, talvez funerário, mal definido e parcialmente
destruída, com diâmetro de 4,90 e sem montículo e praticamente sem seixos na sua parte
central. Constituído por seixos de quartzite de médias e grandes dimensões.
B – Idade do Bronze ou Ferro?
C – Implantada no interior de pinhal ardido em terreno argiloso, praticamente sobranceira a
Água das Casas, 100 metros no cabeço à direita do caminho de terra batida à cota de 294
metros.
D – Em médio estado de conservação. Perigo de reflorestação.
29 – Água das Casas 2, Fontes, coordenadas 0568655/ 4386608
A – Tumulus 18 ou pequeno montículo circular, talvez funerário, melhor conservado, com
diâmetro de 6,10 e reduzido montículo central, constituído por seixos de quartzite de
pequenas, médias e grandes dimensões.
B – Idade do Bronze ou Ferro?
C – Implantada no interior de pinhal ardido em terreno argiloso, praticamente sobranceira a
Água das Casas, 100 metros no cabeço à direita do caminho de terra batida à cota de 294
metros.
D – Em razoável estado de conservação. Perigo de reflorestação. Para Este a cerca de 120
metros, perto do caminho de terra batida, à cota dos 260 metros, com as coordenadas
0568768/ 4386653 e 0568760/ 4386645 dois outros tumulus nº21e22, já inventari ados e
referidos (Batista, 2004, 167; Candeias, Batista, Gaspar, no prelo) e em tudo similares aos já
descritos, em bom estado de conservação, com diâmetros de 6,60 e 5,80 e em área sujeita a
reflorestação, sendo os proprietários do terreno os Srs. José Alves e João Pires Fontinha (Foto
9).
Foto 9: Um dos Tumulus de Água das Casas
30 – Matagosinha, Carvalhal, coordenadas 0570111/ 4386856
A – Tumulus 19? Provável montículo circular violado e destruído, com cerca de 7,00 metros de
diâmetro e 60 cm de profundidade, com alguns grandes seixos de quartzite a Norte.
B – Idade do Bronze ou Ferro?
C – Implantada no início do declive sobre o cemitério da Matagosa e no início da conheira em
área de mato e eucaliptal, à cota de 210 metros.
D – Totalmente destruída e violada. Perigo de reflorestação futura.
31 – Sobral, Fontes, coordenadas 0564199/ 4386413
A – Conheira. Exploração mineira a céu aberto. No interior da conheira observaram-se duas
estruturas circulares de argila batida com 1,23 e 1,04 de diâmetro com imenso carvão no seu
interior de função e cronologia indeterminada. No seu topo também ocorrem algumas
cerâmicas e provável estrutura habitacional talvez tardo-romano, visigótico ou alto medieval.
B – Do Calcolítico ao Romano e posterior.
0111 |
C – Implantada sobre o Zêzere em terrenos argilosos e totalmente debaixo da albufeira do
Castelo do Bode, à cota de 131 metros.
D – Face há situação de submersão e perante o tipo de vestígios, foi solicitado ao INAG
autorização de escavação no local. O rápido enchimento da barragem adiou a escavação e com
ela a obtenção de dados interpretativos, funcionais e de datação para além da recuperação de
algumas das estruturas de argila ali existentes (Foto 10).
Nota: Outras conheiras inéditas também se detectaram na área da Matagosa nas
coordenadas: 0570320/ 4385875; 0569946/ 4386723; 0570130/ 4386882; 056718/ 4387321.
Na área de Martinchel nas seguintes coordenadas: 0558412/ 4374062; 0558540/ 4375110;
0558777/ 4375097; 0558182/ 4376667; 0558058/ 4375732; 0557870/ 4375047.
Foto 10: Estrutura de Argila da Conheira do Sobral
32 – Vale do Jalome 1, Fontes, coordenadas 0566050/ 4385858 e 0566076/ 4385839
A – Casas rurais habitacionais, notório por duas prováveis estruturas de 15 por 13 metros.com
ímbrices grossos.
B – Tardo-romano/ visigótico ou alto medieval.
C – Junto de caminho antigo no alto do Maxial à cota de 299 metros em área de mato e em
terreno argiloso.
D – Perigo de reflorestação futura.
NOTA: Recentemente foi descoberto um outro Tumulus, com cerca de 4/ 5 metros de
diâmetro, parcialmente destruído na sua periferia pela abertura ou alargamento de um
caminho e afectado na sua parte central através de arrastamento dos seixos por meio
mecânico. A sua localização a cerca de 20 metros da estrada entre Carvalhal e S. Domingos e
junto do cruzamento para Vale de Tábuas e Sobral Basto (coordenadas 0570064/ 4381968) ,
vem confirmar assim a continuidade da nossa via 2 até Água das Casas. Importa todavia referir
o seguinte. Embora essa via pudesse descer o Codes até à sua foz no Zêzere, como
aparentemente indica os Tumuli sobre Água das Casas, a possibilidade de outra paralela existir
pelo planalto, passando pelo povoado do Maxial e descer à conheira passando junto da capela
e casario ali existente em ruínas, não pode ser posta de lado. Esse caminho era bem mais
antigo que o simples carreiro existente ao longo do Codes, que maior serventia tinha para os
hortados ali existentes antes do enchimento da barragem. Tem que se deixar em aberto a
possibilidade de que a não detecção de Tumuli na restante parte do planalto na direcção do
Maxial pode ser antes o resultado da pouca visibilidade do terreno, aquando da prospecção,
do que à sua ausência.
Mapa 1: Localização dos Sítios e Monumentos Inventariados
0113 |
ANÁLISE INTERPRETATIVA SUMÁRIA
Perante o inventário realizado ressalta uma área megalítica (certamente interligada à
necrópole de Vale da Laje, Tomar), com os diversos monumentos funerários, agora
complementados por um povoado sobranceiro à necrópole de Vale Chãos, um menir,
covinhas, uma nova anta e três grandes prováveis mamoas estrategicamente posicionadas
face aos vales inferiores, corredores naturais para o Tejo, por Amoreira e Rio de Moinhos.
É toda uma área do sagrado e do ritual em que as covinhas da Verjeira e Jogada se integram
num contexto claramente definido do Neo-Calcolítico em que predominam duas correntes
culturais distintas, uma Alentejana e outra da Estremadura, presente esta última nas cerâmicas
decoradas caneladas e em espinha de peixe/ “horizonte de folha de acácia”, do Calcolítico
inicial e médio da Estremadura, associado claramente a toda uma indústria Tagana de
quartzite e de sílex do povoado 1 da Medroa “Jogada” com menir associado.
Ao longo do Codes e Zêzere as conheiras predominam, assim como povoados
estrategicamente implantados sobre este último rio. Foi precisamente na conheira do Sobral
que a descoberta de estruturas circulares de argila batida, claramente a ela associada poderá
trazer alguns dados cronológicos mais precisos sobre este tipo de exploração min eira a céu
aberto, embora este tipo exploração mineira possa dispor de um vasto leque cronológico.
Por último, a descoberta do único e importante conjunto de prováveis tumuli funerários
individuais, claramente de carácter não megalítico, com cronologias prováveis do Bronze ou
Ferro e que apesar da sua característica regional se assemelha em termos morfológicos aos
existentes mais a Norte no concelho de Oleiros, estes ali associados a vias e arte rupestre. São
monumentos bem individualizados na paisagem, embora imperceptíveis e claramente
posicionadas junto a duas importantes vias. Uma que da foz do Codes ascendia ao planalto das
Sete Sobreiras continuando para S. Domingos e aí bifurcando para Abrantes (por Carvalhal) e
Alvega, já definida por Mário Saa nas Grandes Vias da Lusitânia, (Itinerário de Antonino Pio,
Vol II, p. 113 e Vol. III, p. 267) como romana e uma outra que vinha de Constância por Vilelas,
Medroa e ao longo da actual EM 358 até ao Carvalhal, S. Domingos e Água das Casas, a nossa
via 2 romana, considerada na Carta Arqueológica de Constância, (Batista, 2004, p. 186). A
recente descoberta do Tumulus entre Carvalhal e S. Domingos define claramente essa via. A
comprovarem-se a funcionalidade e cronologia dos tumuli estamos assim perante vias
bastante antigas que mais do que rotas de transumância seriam certamente vias mineiras para
exploração e escoamento do minério (não só certamente o ouro, mas prata, ferro, cobre,
chumbo, como se atestam nalguns registos mineiros de 1930), com ligações bem para o
interior do território.
A ausência de arte rupestre na área, é marcante e talvez se possa explicar, não pela ausência
de afloramentos (embora existentes nos vales e não nas cumeadas), mas provavelmente como
resultante da deslocação para Norte das populações criadoras da Arte Rupestre do Vale do
Tejo da área de Ródão, razão dos conjuntos descobertos nos Concelhos da Sertã, Oleiros e
Pampilhosa da Serra e isto face não só ao final da Arte Rupestre do Tejo por alturas do Bronze,
como aos grandes povoados de altura como o da Charneca do Fratel não ir além dessas
cronologias. Embora não pondo de lado a tese de Alarcão “…que defende a tese de origem
transpirenaica dos Lusitani e de uma invasão ocorrida no início do Bronze Final…” (Caninas, et
alli, 2004, 27), o facto é que todos estes dados, no actual momento de conhecimento, não
podem ser totalmente ignorados. E a tudo isto à que acrescentar a presença fenícia e
cartaginesa na área do Tejo (Batista, 2004, 167, 168).
BIBLIOGRAFIA
BATATA, C. (1998) – Carta arqueológica do Concelho da Sertã. Sertã: Câmara Municipal.
BATISTA, Á. (2004) – Carta Arqueológica do Concelho de Constância. Constância: Câmara
Municipal.
CANDEIAS, J.; BATISTA, Á.; GASPAR, F. (no prelo) – Carta Arqueológica do Concelho de
Abrantes (CD-ROM).
CANINAS, J.C.; HENRIQUES, F.; BATATA, C.; BATISTA, Á. (2004) – “Novos Dados Sobre a PréHistória Recente da Beira Interior Sul. Megalitismo e Arte Rupestre no Concelho de Oleiros”,
Separata da Revista – Estudos de Castelo Branco. Julho, Nova Série nº 3.
CRUZ, A. R. (1997) – Vale do Nabão: do Neolítico à Idade do Bronze. ARKEOS 3, Perspectivas
em diálogo. Tomar: CEIPHAR;
0115 |
LAPA RASTEIRA DO CASTELEJO (ALVADOS, PORTO DE MÓS)
– RELATÓRIO DO ESTUDO DO ESPÓLIO OSTEOLÓGICO
HUMANO EXUMADO NAS CAMPANHAS DE 2009 E 2010
Tiago Tomé
[email protected]
Investigador associado do "Instituto Terra e Memória – Grupo
“Quaternário e Pré-História” do Centro de Geociências (uID73 –
Fundação para a Ciência e Tecnologia)" Projecto FCT FCOMP-010124-FEDER-007366 (Referência anterior PTDC/HAH/71361/2006);
Investigador associado do projecto SIPOSU-MC.
Lapa Rasteira do Castelejo (Alvados, Porto de Mós)
– Relatório do estudo do espólio osteológico
humano exumado nas campanhas de 2009 e 2010
Tiago Tomé
RESUMO
A continuação dos trabalhos de escavação na Lapa Rasteira do Castelejo (Alvados, Porto de
Mós) tem permitido a recolha de numeroso espólio osteológico humano. Os dados
apresentados em texto dedicado à primeira campanha de escavação são aqui actualizados,
integrando-se os materiais exumados em 2010.
Palavras-chave: Alto Ribatejo, Pré-História Recente, Gruta-necrópole.
ABSTRACT
The continuation of the excavation of Lapa Rasteira do Castelejo (Alvados, Porto de Mós)
allowed the recovery of a numerous sample of human skeletal remains. Data presented on the
article dedicated to the first excavation campaign are updated here, integrating the material
exhumed in 2010.
Keywords: North Ribatejo, Late Prehistory, Burial cave.
1. Introdução
A Lapa Rasteira do Castelejo situa-se na povoação de Alvados (Porto de Mós), tendo sido
utilizada com fins funerários. Foram já realizadas duas campanhas de escavação na primeira
sala desta cavidade cársica (Graça, 2009; 2010), que permitiram confirmar o profundo
remeximento do depósito sedimentar superficial (camada A), intuído logo desde as primeiras
visitas. No presente relatório apresentam-se os resultados obtidos após estudo do espólio
osteológico humano entretanto exumado em ambas as campanhas.
0117 |
2. Materiais e Métodos
Analisam-se aqui todos os restos osteológicos exumados até este momento da Lapa Rasteira
do Castelejo, incluindo os espólios das campanhas de 2009 e de 2010. Os dados apresentados
no anterior relatório antropológico (Tomé, 2010) são, portanto, substituídos pelo presente
relatório, visto que foram aqui considerados. O inventário desta amostra resultou até ao
momento em 639 registos em base de dados, dos quais 521 correspondem a fragm entos
ósseos e 118 a fragmentos dentários.
As condições de preservação desta amostra são relativamente boas – recolheram-se, por
exemplo, ossos longos de não-adultos totalmente preservados (Figura 1). No entanto, além de
se registar uma fragmentação óssea elevada (levando à recolha no crivo de inúmeros
pequenos fragmentos de difícil identificação), observam-se diferenças de preservação entre
algumas zonas da sala 1 desta gruta. De facto, o elevado grau de humidade que se registava no
interior da mesma leva a que o sedimento se apresente bastante húmido em algumas zonas,
nomeadamente junto às paredes. Nas zonas mais severamente afectadas revelou -se
particularmente difícil a recolha de elementos osteológicos, visto que alguns deles,
extremamente fragilizados, se desagregavam ao mínimo contacto.
Figura 1: Ulna direita de não-adulto (18-30 meses de idade, IL9.A.SC42d).
Após a recolha, identificação e inventário destes restos osteológicos humanos, procedeu -se à
determinação do Número Mínimo de Indivíduos, tanto adultos como não-adultos, com base
nas metodologias de Herrmann et al. (1990, adaptado por Silva, 1996) para os ossos longos e
de Ubelaker (1974) para os restantes elementos do esqueleto, analisando-se tanto os
indivíduos adultos como os não-adultos. A partir destes dados, analisou-se a
representatividade óssea. No decorrer do processo de inventário, todos os restos ósseos de
adultos foram pesados e o seu peso relativo comparado com os valores de referência de Silva
et al. (2009), analisando-se assim também a representatividade das diversas regiões
esqueléticas nesta série, numa tentativa de identificar potenciais padrões de preservação
diferencial.
Em termos paleodemográficos, a baixa preservação de alguns elementos diagnosticantes para
uma análise de diagnose sexual foi um dos principais constrangimentos. Ainda assim, foi
possível realizar diagnósticos de sexo com base em várias peças ósseas, como o coxal (Bruzek
2002), a mandíbula (Buikstra e Ubelaker, 1994), o úmero (Wasterlain e Cunha, 2000), o talus e
o calcâneo (Silva, 1995).
Relativamente à estimativa de idade à morte de não-adultos, foi possível recorrer à erupção e
calcificação dentárias, de acordo com o esquema de Ubelaker (1989). Para as restantes peças
ósseas aplicaram-se métodos como a fusão das epífises (aplicando-se os métodos necessários
para cada osso, compilados por Schaefer et al. (2009), ou o comprimento dos ossos longos, de
acordo com os intervalos de Maresh (1970). Quanto aos indivíduos adultos, poucos foram os
fragmentos recuperados que permitiram a realização de uma estimativa da idade à morte.
Ainda assim, foi possível aplicar a metodologia de Lovejoy et al. (1985) sobre a superfície
auricular de um ilíaco e o método de MacLaughlin (1990) sobre a extremidade esternal da
clavícula.
Foi também possível realizar uma análise morfológica do esqueleto pós-craniano,
nomeadamente em termos da estimativa da estatura com base no calcâneo e no talus (de
acordo com a metodologia de Holland, 1995) e do cálculo dos Índices de Platibraquia e
Platimeria (Martin e Saller, 1956; Olivier e Demoulin, 1990).
Desenvolveu-se uma análise paleopatológica, que incidiu sobretudo sobre os restos dentários
recuperados, na qual se registou a frequência de cáries relativamente à sua dimensão (Lukacs,
1989) e localização (Moore e Corbett, 1971), a incidência do desgaste oclusal do esmalte
dentário, de acordo com a metodologia de Smith (1984), após modificações de Silva (1996) e a
frequência de depósitos de calculus dentário (Martin e Saller, 1956 in Cunha, 1994). Regis touse também a incidência de perda de dentes ante-mortem.
A análise paleopatológica possibilitou ainda a identificação de patologias degenerativas
articulares, e traumáticas. No caso das artroses, estas foram analisadas de acordo com a escala
de Crubézy, Morlock e Zammit (1985, in Cunha, 1994).
Finalmente, registou-se a presença ou ausência de hipoplasias lineares do esmalte dentário, de
modo a aferir do grau de stress sistémico a que estes indivíduos teriam sido sujeitos, na
medida em que factores como uma deficiente nutrição ou episódios infecciosos de maior
impacto durante a infância podem afectar o processo de formação do esmalte dentário
(Hillson, 2000).
Todos os aspectos relevantes foram tidos em consideração numa tentativa de analisar os
gestos funerários aplicados nesta gruta-necrópole, nomeadamente a representatividade e o
peso ósseos, mas também alguns dados contextuais, como a dispersão espacial dos materiais.
0119 |
3. Resultados
3.1. Representatividade óssea e análise do peso ósseo de indivíduos adultos
A análise da representatividade óssea revela a presença entre os elementos mais bem
representados de metatarsianos, ossos do tarso, ulnas, omoplatas, mandíbulas e o atlas.
Sublinhe-se, porém, o cariz parcial e as reduzidas dimensões desta amostra, que impõem
grandes cautelas numa análise da mesma.
Osso
NMI
%
Osso
NMI
%
Osso
NMI
%
Osso
NMI
%
1º Metatarso E
5
100
Crânio
3
60
1º Metacarpo D
1
20
Fíbula E
1
20
5º Metatarso E
5
100
Navicular D
3
60
1º Metacarpo E
1
20
Unciforme D
1
20
Talus E
5
100
Patela D
3
60
2º Metatarso D
1
20
Unciforme E
1
20
Ulna D
5
100
Patela E
3
60
2º Metatarso E
1
20
Ilium D
1
20
4º Metatarso E
4
80
Talus D
3
60
3º Cuneiforme E
1
20
Sacro
1
20
Calcâneo E
4
80
Úmero D
3
60
4º Metacarpo D
1
20
Tíbia D
1
20
Mandíbula
4
80
1º Metatarso D
2
40
4º Metatarso D
1
20
Tíbia E
1
20
Omoplata D
4
80
Clavícula E
2
40
5º Metacarpo D
1
20
Cubóide E
1
20
Omoplata E
4
80
Ilium E
2
40
5º Metatarso D
1
20
1º Cuneiforme E
1
20
Ulna E
4
80
Navicular E
2
40
Capitato E
1
20
1º Cuneiforme D
1
20
Atlas
4
80
Rádio E
2
40
Clavícula D
1
20
Escafóide E
1
20
3º Cuneiforme D
3
60
Úmero E
2
40
Fémur D
1
20
Esterno
1
20
Calcâneo D
3
60
Tabela 1: Representatividade óssea de indivíduos adultos da Lapa Rasteira do Castelejo.
O estudo do peso ósseo de indivíduos adultos sugere valores situados nos intervalos de
referência ou bastante próximos dos mesmos para praticamente todas as regiões ósseas
consideradas, com algumas das mesmas a apresentarem-se bastante bem representadas,
como a mandíbula, a patela e a coluna. A única região óssea claramente sub-representada
nesta amostra parcial é o crânio, que apresenta um valor muito baixo, quando comparado com
os valores de referência. Esta sub-representação de elementos cranianos poderá estar
relacionada quer com o cariz preliminar do presente estudo (podendo ainda vir a recuperar-se
elementos cranianos nesta gruta-necrópole que alterem os valores actuais), quer com as
recolhas clandestinas de material que presumivelmente terão afectado este depósito
superficial, que provavelmente teriam incidido sobretudo nos elementos a que é atribuída
maior importância, um verdadeiro estigma associado aos crânios, que tem levado a que vários
contextos funerários sejam irreparavelmente danificados pela recolha selectiva de resto s
osteológicos.
É de sublinhar que mesmo elementos cuja constituição inclui mais osso trabecular, como o
osso coxal, as costelas e as vértebras, ou cuja morfologia é mais frágil como a omoplata, por
esses motivos mais sujeitos à fragmentação, se encontram bem representados nesta subamostra, o mesmo se podendo dizer de elementos de pequenas dimensões, como as falanges.
Estes dados sugerem que estaríamos perante um contexto funerário cuja perturbação decorre,
sobretudo, da actividade animal relativamente recente identificada no depósito superficial
(onde se identificaram várias galerias escavadas por micro-fauna) e dos remeximentos
provocados pelos responsáveis pelas recolhas clandestinas. A recolha de vários ossos longos
de não-adultos totalmente preservados sugere igualmente um baixo nível de perturbação em
algumas zonas desta sala.
Região óssea
LRC
Referência
Silva et al., 2009
Intervalo de confiança a 95%
Crânio
5,72
17,75
17.14 - 18.36
Mandíbula
3,96
1,79
1.70 - 1.88
Ossos longos
46,51
42,12
41.28 - 42.97
Mão/Pé
9,55
8,31
8.11 - 8.52
Clavícula
0,86
0,98
0.96 - 1.01
Omoplata
2,80
2,82
2.75 - 2.88
Coxal
7,10
8,40
8.20 - 8.60
Patela
1,27
0,59
0.57 - 0.61
Costelas
6,30
5,85
5.64 - 6.05
Esterno
0,22
0,41
0.37 - 0.44
Coluna
15,74
10,31
10.08 - 10.55
Tabela 2: Análise do peso ósseo de indivíduos adultos da Lapa Rasteira do Castelejo, comparado com os valores de referência d e
Silva et al. (2009).
3.2. Número Mínimo de Indivíduos
A estimativa do Número Mínimo de Indivíduos adultos com base nos restos ósseos sugere a
presença de pelo menos 5 indivíduos, representados pelo 1º e 5º metatarsianos esquerdos, o
talus esquerdo e a ulna direita. A análise dos restos dentários sugere um val or mais elevado,
de 8 indivíduos, representados pelo 2º molar inferior esquerdo.
No que concerne aos não-adultos, a análise dos restos ósseos e dentários sugere, à primeira
vista, um número mínimo de 4 indivíduos, representados pela mandíbula. No entanto, quando
considerados os dados da estimativa da idade à morte (ver abaixo), é possível discernir a
presença de, pelo menos, 6 indivíduos não-adultos. Este valor é o mesmo que fora já estimado
no anterior relatório (Tomé, 2010). Apesar de na campanha de 2010 se terem recolhido novos
elementos ósseos pertencentes a indivíduos não-adultos, o cruzamento dos dados da
estimativa da idade à morte não permitiu identificar a presença de mais não-adultos nesta
amostra. Admitimos, porém, que esta análise poderia eventualmente considerar a existência
de mais indivíduos juvenis, mas será mais sensato manter, por ora, este valor.
Somados os valores de indivíduos adultos e não-adultos, obtemos um NMI global de 14
indivíduos.
3.3. Demografia
Estimativa da idade
Os resultados obtidos na estimativa da idade à morte dos indivíduos não-adultos permitiram
identificar indivíduos pertencentes a diferentes grupos etários. Destaque -se a presença de um
recém-nascido, representado pela primeira costela e pela púbis esquerdas. Abaixo dos 5 anos
de idade foi ainda possível identificar um outro indivíduo, que teria entre 18 e 36 meses de
idade. O grupo etário mais representado, até ao momento, é o dos indivíduos entre 5 e 9 anos
de idade – de facto, identificaram-se dois indivíduos em torno dos 6 anos e um outro, com 8 a
9 anos. Finalmente, regista-se ainda um adolescente, em relação ao qual apenas podemos
afirmar que se deverá situar entre os 12 e os 15 anos. À excepção do indivíduo mais jovem até
agora identificado (<6 meses de idade), dispomos de estimativas da idade à morte com base
na erupção dentária para todos os indivíduos descritos, o que oferece maior facilidade de
correlação destes dados (Figura 2).
0121 |
Figura 2: Mandíbula de não-adulto (6±2 anos, IL9.A.9).
No que concerne aos indivíduos adultos, apenas foi possível determinar a presença de um
indivíduo jovem, com base na análise das alterações da superfície auricular do coxal esquerdo
e estimar a idade de um indivíduo acima dos 30 anos, com base na análise da extremidade
esternal da clavícula esquerda.
Diagnose sexual
Foi possível realizar diagnósticos de sexo com base na mandíbula, no osso coxal, na largura bi epicondilar do úmero e através do comprimento do talus e do calcâneo. Na maioria dos casos,
foi apenas possível determinar o sexo para um indivíduo. De facto, tanto a análise da
mandíbula, como do osso coxal, do úmero direito e do calcâneo esquerdo resultaram na
identificação de apenas um indivíduo do sexo masculino. Já no que concerne ao talus direito,
foi apenas identificado um indivíduo do sexo feminino. Tanto o talus esquerdo como o
calcâneo direito permitiram a identificação de indivíduos de ambos os sexos. No primeiro caso,
dois indivíduos do sexo masculino e um do sexo feminino, enquanto no segundo caso se
identificou um indivíduo de cada sexo.
Osso
Masculino
Feminino
Mandíbula
1
0
Coxal
1
0
Úmero D
1
0
Talus D
0
1
Talus E
2
1
Calcâneo D
1
1
Calcâneo E
1
0
Tabela 3: Resultados da diagnose sexual.
3.4. Morfologia
Não foi possível realizar estimativas da estatura com base nos ossos longos. Os únicos
resultados foram obtidos com base no talus e no calcâneo. Foi possível realizar estimativas
sobre indivíduos de ambos os sexos. Os indivíduos do sexo masculino apresentam valores
situados entre os 166 e os 170 cm, enquanto que as estimativas realizadas sobre peças
pertencentes a indivíduos do sexo feminino se situam entre 155 e 158 cm.
Osso
Talus
Calcâneo
Peça
Lado
Sexo
Estatura (cm)
±
IL11.1A.SC14c
E
M
169,23
6,07
IL11.2A.SC1
E
M
166,09
6,07
IL10.3A.38
E
F
158,49
5,89
IM9.A.SC110
D
F
156,59
5,89
IL10.8A.63
E
M
170,16
5,75
IL9.A.1
E
M
168,14
5,75
IN10.A.42
D
F
155,72
5,46
Tabela 4: Resultados da estimativa da estatura com base no talus e no calcâneo.
Em termos da morfologia dos ossos longos, foi apenas possível estimar o Índice de Platibraquia
sobre um úmero direito (80.95 – euribráquico) e o Índice de Platimeria sobre um fémur direito
(72.73 – hiperplatimérico).
3.5. Paleopatologia
Os principais resultados obtidos são, naturalmente, relativos às patologias orais. De um total
de 90 dentes permanentes analisados, 7 (7.78%) apresentavam lesões cariogénicas, afectando
apenas os pré-molares e os primeiros e segundos molares. Predominam as lesões de menores
dimensões, localizadas sobretudo sobre a zona interproximal.
Em termos do desgaste dentário, os valores médios registados são baixos a moderados, com
um valor médio global de 2.67 (N=90). Os incisivos laterais são os dentes menos afectados
(desgaste médio=2), enquanto os primeiros molares são os dentes mais severamente
afectados (desgaste médio=3.4).
Já no que concerne aos depósitos de calculus dentário, registou-se uma frequência relativa de
38.9% dos dentes permanentes afectados (35/90). Em termos da severidade dessas
acumulações de tártaro, predominam claramente os graus menos severos da escala aplicada
(Figura 3).
0123 |
Figura 3: Canino superior esquerdo (IL10.3A.SC25e) com depósitos de tártaro na superfície bucal.
O registo da perda dentária ante-mortem revelou 6 casos, num total de 60 alvéolos
observados (10%). Esta condição afecta dois indivíduos, cada um deles com a perda de três
dentes. Um deles apresenta a perda do segundo pré -molar e dois primeiros molares
superiores esquerdos, enquanto que o outro indivíduo, do sexo masculino, apresenta a perda
ante-mortem de ambos os incisivos centrais inferiores e do primeiro molar esquerdo inferior
(Figura 4).
Figura 4: Mandíbula pertencente a um indivíduo do sexo masculino (IM10.2A.20) evidenciando perda ante-mortem de ambos os
incisivos centrais e do primeiro molar esquerdo.
Ainda assim, esta pequena amostra osteológica humana apresenta vestígios de outras
condições além das patologias orais. O registo de patologias degenerativas articulares foi
apenas possível sobre a coluna vertebral e na epífise distal de um 1º metatarsiano esquerdo.
Na coluna vertebral, registaram-se 8 vértebras afectadas em 69 observadas (11.6%), com
maior incidência sobre as vértebras torácicas e lombares. Predominam as lesões do grau
intermédio de severidade da escala aplicada (Figura 5).
Vértebras
N
Art
%
Cervicais
11
0/1/0
9,09
Torácicas
18
2/1/0
16,67
Lombares
19
0/2/0
10,53
Indeterminadas
21
1/1/0
9,52
Total
69
8
11,59
Tabela 5: Frequência de patologias degenerativas articulares sobre a coluna vertebral (N-total de vértebras analisadas; Art-número
de vértebras com sinais de artrose).
Figura 5: Vértebra lombar (IN11.A.3) com osteófitos marginais.
Em termos da patologia traumática, além de calos ósseos identificados na diáfise de um rádio
esquerdo e de uma falange proximal do pé, registaram-se 5 vértebras com nódulos de
Schmorl, num total de 69 vértebras analisadas (7.25%). As vértebras lombares parecem ser as
mais afectadas, não se registando qualquer caso sobre a regi ão cervical (Figuras 6 e 7).
Vértebras
N
Schmorl
%
Cervicais
11
0
0,00
Torácicas
18
1
5,56
Lombares
19
2
10,53
Indeterminadas
21
2
9,52
Total
69
5
7,25
Tabela 6: Frequência de nódulos de Schmorl (N-total de vértebras analisadas; Schmorl -número de vértebras afectadas).
Figura 6: Vértebra (IM10.3A.SC23b) com nódulo de Schmorl.
0125 |
Figura 7: Vértebra lombar (IN10.1A.11) com nódulo de Schmorl na superfície superior.
3.6. Indicadores de Stress
A pouca representação de elementos cranianos verificada neste conjunto osteológico impede
uma análise de indicadores de stress como a hiperostose porótica ou a cribra orbitalia. Assim,
registou-se apenas a incidência de hipoplasias lineares do esmalte dentário.
Os resultados sugerem uma frequência relativa de 21.1% de dentes permanentes afectados
(19/90). Todos os dentes parecem afectados, se bem que os incisivos centrais e os caninos
apresentem uma frequência relativa mais elevada. Os segundos molares parecem ser os
dentes menos afectados. Parece verificar-se uma incidência ligeiramente superior sobre a
dentição mandibular.
Dente
Superior
Inferior
Total
N
HP
N
HP
N
HP
Incisivo central
3
1
5
3
8
4
Incisivo lateral
5
1
5
1
10
2
Canino
5
2
7
4
12
6
1º pré-molar
8
1
3
0
11
1
2º pré-molar
3
1
6
1
9
2
1º molar
4
0
13
2
17
2
2º molar
3
0
11
1
14
1
3º molar
5
1
4
0
9
1
Total
36
7
54
12
90
19
Tabela 7: Incidência de hipoplasias lineares do esmalte dentário sobre a dentição permanente (N-número de dentes analisados;
HP-dentes com hipoplasias).
18
16
14
12
N 10
8
6
4
2
0
Incisivo
central
Incisivo
lateral
Canino
1º prémolar
N
2º prémolar
1º molar
2º molar
3º molar
HP
Figura 8: Frequência absoluta de hipoplasias lineares por tipo de dente na amostra da Lapa Rasteira do Castelejo (N-número de
dentes analisados; HP-dentes com hipoplasias).
3.7. Antropologia funerária
Tal como no relatório relativo à campanha de 2009 (Tomé, 2010), mantemos as devidas
cautelas na análise de possíveis gestos funerários discerníveis no contexto da Lapa Rasteira do
Castelejo, visto que ainda dispomos apenas de dados bastante parciais desta gruta-necrópole.
Os resultados obtidos demonstram a deposição de mais de uma dezena de indivíduos nesta
cavidade cársica, se bem que não possamos assegurar ainda com absoluta certeza de que este
se trate de um contexto de inumação colectiva. De facto, apenas com uma clara definição
crono-cultural deste contexto funerário e sua definição estratigráfica poderemos
eventualmente dispor de dados mais concretos. Por outro lado, quanto ao tipo de inumação,
podemos até este momento indicar que os dados da representatividade óssea e do peso ósseo
de indivíduos adultos indicam a boa representação de diversas regiões do esqueleto, incluindo
elementos pertencentes a articulações lábeis e de pequenas dimensões. Estes dados parecem
sugerir que estejamos perante um contexto de inumação primária. Em termos do peso ósseo,
regista-se um único desvio assinalável em relação aos valores de referência, relativo ao crânio.
Este parece assim ser o único elemento claramente sub-representado nesta amostra. Para tal
podem concorrer dois factores, de ordem distinta; por um lado, poderia dar-se o caso de, no
âmbito dos gestos funerários aplicados neste contexto, se tivesse procedido à remoção dos
crânios para utilização noutros locais; por outro, as recolhas clandestinas que se terão
verificado em época recente nas grutas-necrópole de Alvados, poderiam afectar
particularmente os crânios, em face do interesse gerado por esses elementos. Esta hipótese
estará, provavelmente, mais próxima da realidade.
Uma outra análise, a da dispersão espacial, poderá ser importante para iniciarmos uma
tentativa de clarificação deste contexto. Para tal, contabilizaram-se os restos ósseos e
dentários recolhidos até ao momento em cada quadrícula, distinguindo-se entre os restos
cranianos, dentários, ossos do esqueleto axial e do esqueleto apendicular. Esta distinção
poderia permitir, por exemplo, a identificação de uma zona preferencial de dispersão de
determinados elementos anatómicos. Os resultados obtidos, se bem que não sejam
conclusivos, parecem definir um padrão. De facto, ainda que se deva ter em consideração a
pequena área escavada até ao momento e os diferentes volumes escavados em cada
quadrícula, parece observar-se uma tendência semelhante entre as fiadas 9, 10 e 11. Em
todas, parecem ser as quadrículas situadas na fiada IL, ou seja, aquelas situadas junto à parede
Norte, que contêm mais restos humanos. Isto poderá sugerir que se privilegiaria a deposição
dos indivíduos junto à parede Norte, em detrimento da parede Sul. No entanto, apenas a
0127 |
continuação da escavação na restante área da necrópole poderá permitir determinar se esta
tendência se verifica de facto, até porque as diferenças de restos humanos recuperados junto
a cada parede não são, por ora, significativas.
140
120
100
80
Apendicular
N
Axial
60
Dentes
40
Crânio
20
0
IL9
IM9
IN9
IL10
IM10 IN10
IL11
IM11 IN11 IM12 Sala 1 Sala 2
Quadrículas
Figura 9: Dispersão espacial dos restos osteológicos humanos recuperados na Lapa Rasteira do Castelejo, por região anatómica.
O espólio material recuperado até ao momento sugere um contexto com sucessivas
ocupações, que parecem prolongar-se, pelo menos, do Neolítico final/Calcolítico até à Idade
Média. No relatório prévio, levantávamos a hipótese de que estas deposições funerárias
correspondessem a cronologias pré-históricas, em face das semelhanças com outros contextos
regionais (Tomé, 2010). Porém, a datação por AMS entretanto realizada (Graça, 2010) sobre
um talus esquerdo pertencente a um indivíduo adulto do sexo feminino, resultou num
intervalo bastante mais recente (210-390 Cal AD 2 sigma). Este dado sugere várias explicações
alternativas. Num argumento extremo, poderíamos admitir que todos os indivíduos até agora
identificados na camada A corresponderiam a este período. Isto implicaria que a elevada
dispersão óssea e total desarticulação observadas seriam resultantes das perturbações pós deposicionais do registo sedimentar, na medida em que a realização de deposições colectivas
em gruta, de cariz primário e envolvendo a realização de reduções não é, que tenhamos
conhecimento, uma prática descrita para o período Romano em Portugal.
Por oposição, poderíamos considerar que o indivíduo que resultou nesta datação
corresponderia a uma deposição mais tardia, isolada ou não, num contexto funerário mais
antigo. A propósito desta hipótese, já se verificou uma situação semelhante no Abrigo da
Carrasca (Torres Vedras), em que a realização de datações radiométricas permitiu a
identificação de dois momentos distintos de utilização funerária, um deles na transição IVº/IIIº
milénio a.C. e o outro na primeira metade do Iº milénio d.C. (Silva, 2002). Consideramos ain da
credível a proposta de que a utilização pré-histórica da Lapa Rasteira do Castelejo se tenha
revestido de um cariz funerário. Caso venha a ser possível a datação de mais amostras
osteológicas humanas desta cavidade, poderá clarificar-se esta situação.
A confirmar-se na Lapa Rasteira do Castelejo uma situação semelhante ao Abrigo da Carrasca,
valerá então a pena interrogarmo-nos sobre se isto poderá representar um padrão, até agora
algo sub-valorizado pela sua discrição, de deposição em período Romano de indivíduos no
interior de grutas-necrópole pré-históricas e sobre o seu significado.
Infelizmente, o facto de não podermos assegurar que estejamos perante um depósito
funerário único, claramente balizado no tempo, leva a que não seja possível fazer inferên cias
claras sobre o conjunto da amostra, nomeadamente se a presença nesta amostra daquilo que
poderá representar uma população natural – visto incluir não só indivíduos de ambos os sexos
como de diferentes idades – é uma realidade ou apenas uma aparência, resultante de uma
sucessão de diferentes momentos de utilização funerária, cada um com seus preceitos.
4. Considerações finais
O presente estudo permite aprofundar a caracterização do depósito funerário da Lapa Rasteira
do Castelejo e dos indivíduos nele incluídos. Até ao momento, foi possível identificar um
mínimo de 14 indivíduos, 8 adultos e 6 não-adultos. Este contingente de não-adultos inclui
desde recém-nascidos a adolescentes. Os dados etários relativos aos adultos são mais
fragmentários, permitindo apenas a identificação de um indivíduo jovem (20 a 35 anos de
idade) e um indivíduo acima dos 30 anos de idade. Em termos da diagnose sexual, ambos os
sexos parecem encontrar-se representados, em números semelhantes, se bem que apenas se
possa estimar este parâmetro para um número reduzido de indivíduos.
A análise morfológica foi muito limitada, com a estimativa da estatura a apontar para
resultados em torno dos 166-170 cm para os indivíduos do sexo masculino e 155-158 cm para
os indivíduos do sexo feminino, obtidos com base no talus e no calcâneo.
Em termos paleopatológicos, regista-se uma incidência baixa de lesões cariogénicas (7.78%),
um grau geral de desgaste dentário baixo a moderado (média global de 2.67), além de uma
incidência de 38.9% de dentes com deposições de tártaro e uma frequência relativa de perda
dentária ante-mortem de 10% (afectando, aparentemente, dois indivíduos, com perda de
vários dentes em cada um). O registo de patologias degenerativas articulares efectuou -se
sobretudo sobre a coluna vertebral, afectando todas as regiões, com predomínio das lesões de
grau intermédio. A análise de patologias traumáticas revelou a presença de 5 vértebras com
nódulos de Schmorl, sem que se registem vértebras cervicais afectadas.
O estudo de indicadores de stress limitou-se às hipoplasias do esmalte dentário, cuja análise
revelou uma frequência relativa de 21.1% de dentes permanentes afectados (19/90).
Os dados da Antropologia Funerária são, para já, inconclusivos. Desde logo, uma adequada
caracterização crono-cultural desta necrópole é, como vimos, difícil. Por outro lado, a própria
definição do contexto também não nos é por enquanto possível, visto que não é claro se
estamos de facto perante um contexto de inumação colectiva. O único aspecto que, de
momento, parece mais evidente é a questão do tipo de inumação, visto que os dados do peso
ósseo parecem poder suportar a ideia de que estejamos perante um contexto primário. A ser
assim, a sub-representatividade dos elementos cranianos, que não se verifica sobre a
mandíbula, deverá reflectir recolhas clandestinas recentes do espólio desta gruta. A dispersão
espacial dos restos osteológicos humanos sugere uma maior concentração de materiais junto à
parede Norte da sala 1 da Lapa Rasteira do Castelejo, ainda que apenas a escavação do
restante espaço funerário possa vir a confirmar este aspecto. Não nos é por ora possível
assegurar, por exemplo, que a deposição de indivíduos de ambos os sexos e de diferentes
idades corresponda a um conjunto de gestos coeso do ponto de vista crono-cultural.
A Lapa Rasteira do Castelejo representa, para já, um contexto pouco claro. Se vários aspectos
sugerem um contexto funerário de cronologia pré-histórica, com semelhanças com as
necrópoles da transição para o agro-pastoralismo a nível regional, a única datação
0129 |
radiométrica realizada até ao momento situa um dos indivíduos depositados na camada A no
período Romano. Caso se confirme uma utilização funerária pré -histórica desta gruta, poderá
verificar-se aqui uma situação com paralelos não muito distantes, em contexto litoral, de
reutilização em período romano de grutas-necrópole pré-históricas do Centro de Portugal.
Esperamos que o futuro desenrolar dos trabalhos na Lapa Rasteira do Castelejo permita vir a
clarificar esta e outras situações que, de momento, permanecem pouco definidas.
Bibliografia
BRUZEK, J. (2002). A method for visual determination of sex, using the hip bone. American
Journal of Physical Anthropology. 117, pp. 157-168.
BUIKSTRA, J.; UBELAKER, D. (1994). Standards for Data Collection from Human Skeletal
Remains. Proceedings of a Seminar at The Field Museum of Natural History. Arkansas:
Arkansas Archaeological Survey Research Series No. 44.
CUNHA, E. (1994). Paleobiologia das populações medievais portuguesas: os casos de Fão e São
João de Almedina. Dissertação para a obtenção do grau de Doutor em Antropologia. Coimbra:
Departamento de Antropologia da Universidade (policopiado).
GRAÇA, A. (2009). Relatório de escavação da Lapa Rasteira do Castelejo. In CRUZ, A. (ed.)
(2009/2010) – Ângulo (edição electrónica). Tomar: Centro de Pré-História do Instituto
Politécnico de Tomar. http://www.cph.ipt.pt/angulo2006/img/09-10/rel_LRC09.pdf
GRAÇA, A. (2010). Relatório da escavação da Lapa Rasteira do Castelejo. In CRUZ, A. (ed.)
(2010/2011) – Ângulo (edição electrónica). Tomar: Centro de Pré-História do Instituto
Politécnico de Tomar. http://www.cph.ipt.pt/angulo2006/img/10-11/relatorio_LRC10.pdf
HERRMANN, B.; GRUPE, G.; HUMMEL, S.; PIEPENBRINK, H.; SCHUTKOWSKI, H. (1990).
Praehistorische Anthropologie. Leitfaden der Fels und Labormethoden. Berlin: Springer Verlag.
HILLSON, S. (2000). Dental pathology. In KATZENBERG, M e SAUNDERS, S (eds). Biological
Anthropology of the Human Skeleton. New York: Wiley-Liss, pp. 249-286.
HOLLAND, T. (1995). Brief communication: Estimation of adult stature from the calcaneus and
talus. American Journal of Physical Anthropology. 96, p. 315-320.
LOVEJOY, C. O.; MEINDL, R. S.; PRYZBECK, T. R.; MENSFORTH, R. P. (1985). Chronological
metamorphosis of the auricular surface of the ilium: A new method for the determination of
adult skeletal age at death. American Journal of Physical Anthropology. 68, pp. 15-28.
LUKACS, J. R. (1989). Dental paleopathology: methods for reconstructing health status and
dietary patterns in prehistory. In M. İşcan and K. Kennedy (eds.): Reconstructing Life from the
Skeleton. Alan R. Liss. New York: 261-286.
MACLAUGHLIN, S. (1990). Epiphyseal fusion at the sternal end of the clavicle in a modern
Portuguese skeletal sample. Antropologia Portuguesa. 8, pp. 59-68.
MARTIN, R.; SALLER, K. (1956). Lehrbuch der Anthropologie. Stuttgart: Gustav Fischer Verlag.
MOORE, W.; CORBETT, M. (1971). The distribution of dental caries in ancient British
populations-I. Anglo-Saxon period. Caries Research, 5: 151-168.
SCHAEFER, M.; BLACK, S.; SCHEUER, L. (2009). Juvenile Osteology: A Laboratory and Field
Manual. San Diego: Academic Press.
SILVA, A. M. (1995). Sex assessment using the calcaneus and talus. Antropologia Portuguesa.
Coimbra. 13, pp. 107-119.
SILVA, A. M. (1996). O Hipogeu de Monte Canelas I (IV-III milénios a. C.): Estudo paleobiológico
da população humana exumada. Trabalho de síntese. Provas de Aptidão Pedagógica e
Capacidade Científica. Coimbra, Departamento de Antropologia, Faculdade de Ciências e
Tecnologia da Universidade de Coimbra (policopiado).
SILVA, A. M. (2002). Antropologia funerária e paleobiologia das populações portuguesas
(litorais) do Neolítico final/Calcolítico. Dissertação para a obtenção do grau de Doutor em
Antropologia. Coimbra: Departamento de Antropologia da Universidade (policopiado).
SILVA, A. M.; CRUBÉZY, E.; CUNHA, E. (2009). Bone Weight: New reference values based on a
modern Portuguese identified skeletal collection. International Journal of Osteoarchaeology.
19. 5, pp. 628-641.
SMITH, B. (1984). Patterns of molar wear in Hunter-Gatherers and Agriculturalists. American
Journal of Physical Anthropology. New York. 63, pp. 39-84.
TOMÉ, T. (2010). Lapa Rasteira do Castelejo (Alvados, Porto de Mós) – Relatório do estudo
laboratorial dos restos ósseos humanos exumados na campanha de escavação de Outubro de
2009. In CRUZ, A. (ed.) (2009/2010) – Ângulo (edição electrónica). Tomar: Centro de PréHistória do Instituto Politécnico de Tomar. http://www.cph.ipt.pt/angulo2006/img/0910/AMSrelLRC.pdf
UBELAKER, D. (1974). Reconstruction of demographic profiles from ossuary skeletal samples: a
case from the Tidewater Potomac. Smithsonian Contributions to Anthropology 18.
Washington.
UBELAKER, D. (1989). Human Skeletal Remains: Excavation, Analysis, Interpretation.
Washington: Taraxacum (2nd Edition).
WASTERLAIN, R. S.; CUNHA, E. (2000). Comparative performance of femur and humerus
epiphysis for sex diagnosis. Biométrie Humaine et Anthropologie. Paris. 18. 1-2, pp. 9-13.
Nunc eget euismod nibh. Donec at nulla eros. Integer nec mollis risus, at rhoncus felis. Donec
0131 |
Aplicações Informáticas à Arqueologia. Os exemplos da
Gruta do Cadaval e da Anta 1 de Val da Laje (Tomar,
Portugal)
Ana Cruz
Centro de Pré-História do Instituto Politécnico de Tomar
Aplicações Informáticas à Arqueologia. Os exemplos
da Gruta do Cadaval e da Anta 1 de Val da Laje
(Tomar, Portugal)
Ana Cruz
INTRODUÇÃO
Actualmente todos os investigadores são unânimes em considerar que os sistemas de
informação geográfica têm um papel importante a desempenhar no estudo e interpretação na
área da Arqueologia.
Uma das aplicações à qual se recorre com mais frequência é a re construção virtual de
ambiente históricos ou pré-históricos. Neste âmbito o tipo de visualização destes ambientes
reflecte-se na correcta interpretação dos espaços arqueológicos, que está relacionada com o
tipo de tecnologia usada para a visualização. Em grande medida a matéria na qual os
investigadores se focam para tais reconstruções do passado é a Arqueologia da Paisagem, que
em definição, é o método que tenta extrair informação sobre os grupos humanos que se
aculturaram ao meio ambiente através do estudo das suas evidências materiais.
Conhecer a distribuição de todas as manifestações presentes no espaço é portanto de
importância vital para que se compreenda como se originaram os territórios de influência e
como se geriu a organização social de um determinado momento histórico.
SISTEMAS DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA – A FERRAMENTA
É nos Sistemas de Informação Geográfica (SIG/GIS) que vamos encontrar a ferramenta óptima
e fundamental de apoio devido à facilidade de manipulação espacial georreferenciada que
permite efectuar análises mais amplas e complexas. Regra geral, esta implementação permite
aproximações ao território sendo possível proceder à delimitação de povoados dos territórios
de captação de recursos.
A partir da informação geográfica de origem podem elaborar-se análises de variado tipo:
altitudes relativas, visibilidades, controlo sobre corredores naturais, controlo territorial,
pesquisas a atributos, intersecções, áreas de influência (buffers), cortes, bacias de visão e
distâncias-custo, modelação da probabilidade de existência de património arqueológico,
modelação do território e simulação dinâmica de teorias, entre um variado manancial de
possibilidade de pesquisa.
Esta ferramenta permite a melhoria da programação da prospecção de campo uma vez que se
dispõe de uma estimativa aproximada do espaço necessário para a executar. Permite ainda
contrastar a amostra estatística de sítios utilizados para criar uma variável dependente e
observar as tendências em cada padrão de localização em função das re ferências cronológicas.
0133 |
A disponibilização de dados arqueológicos permite estabelecer uma selecção dos espaços que
os SIGs constroem articulando os variados elementos informativos e gerando nova informação
que pode potenciar o entendimento do conhecimento.
Enquanto sistema computacional que realiza mapas em diferentes escalas, diversas projecções
e cores, torna-se num utensílio analítico permitindo relações espaciais. A modelagem do
mundo real pode ser concretizada nas necessidades do arqueólogo que preten de interpretar
os restos fósseis que exuma.
Este conjunto de componentes que se relacionam internamente de forma a recolher dados,
recuperá¬los, processá-los, armazená-los e distribuí-los, tem como objectivo melhorar o
planeamento e a coordenação da informação recolhida.
O SIG permite modelar, manipular, corrigir, analisar e apresentar dados georreferenciados
(Worboys, 1995), sendo a informação trabalhada sob a forma de base de dados
georreferenciados através da associação de grafismos como os pontos, as linhas e os
polígonos.
Estruturalmente, o SIG comporta um conjunto de tecnologias que como já atrás dissemos
armazenam, permitem a visualização, a manipulação e a análise de dados propostos de forma
espacial (Campbel, 1995).
A representação e a análise tornam-se em representações simplificadas de uma determinada
realidade. Essa análise pode ser feita quer em diacronia, quer em sincronia, a uma escala
micro-regional ou a uma escala mais ampla. Simultaneamente proporciona uma maior
acessibilidade á informação através da realização de querys, onde é possível envolver várias
características das muitas entidades observadas.
“É um sistema (...) que envolve a integração de dados georeferenciados, num ambiente
orientado para a resolução de problemas” (Cowen, 1988, p. 1551).
De forma a serem correctamente estruturados os dados é fundamental proceder à definição
de conceitos como por exemplo: unidades espaciais, atributos ou relacionamentos
As entidades espaciais tornam-se em grupos de elementos gráficos, ou seja, são entidades
comuns que se relacionam espacialmente. Os atributos representam as características dessas
mesmas entidades e são correntemente apelidados de dados alfanuméricos. Os
relacionamentos resumem-se a relações e associações entre várias tabelas de uma base de
dados, podendo ser quer entidades quer atributos. Os relacionamentos tornam-se possíveis
através dos designados campos das tabelas cujas características sejam semelhantes e que
devem ser chaves primárias ou externas.
SISTEMAS DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA – A APLICAÇÃO
A aplicação software ARCGIS está organizada em três módulos funcionais: o ArcCatalog,
ArcMap e ArcToolbox.
O ArcCatalog dá acesso á navegação através do sistema operativo permitindo a gestão dos
dados geográficos. Neles é possível construir shapefiles de cada entidade que se pretende
vectorizar, por exemplo, tocas colmatadas, blocos de abatimento, topografia ge ral da
cavidade, etc.
O ArcMap é no fundo um conjunto de camadas de informação, essas camadas representam
um grupo de entidades geográficas a partir de uma fonte, por exemplo poderem ter um
conjunto de camadas diversas como o contorno do levantamento topográfico de uma gruta, a
distribuição das cotas dos nove pontos equidestantes no quadrado, os grandes blocos de
abatimento do tecto, as manchas de chão estalagmítico, etc. Estas listas de camadas estão
incluídas na sessão de trabalho.
O ArcToolbox dá acesso às ferramentas de geoprocessamento e ajudam nas análises espaciais
ou na transformação de coordenadas. Estas sub-aplicações permitem gerir dados geográficos,
construir cartografia, proceder a análise espacial e editar dados.
Existem ainda três produtos: o ARCGIS ArcMap que possui ferramentas que permitem a
construção e a análise de cartas, o ARCGIS ArcEditor que permite capacidades complexa de
edição de dados e o ARCGIS ArcInfo que permite o geoprocessameno avançado.
SISTEMAS DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA – OS DADOS ARQUEOLÓGICOS
Quer os trabalhos de prospecção quer os de escavação são complementados através do
registo dos artefactos e de estruturas que vão sendo exumados.
Dos vários tipos de registos possíveis em escavação importa referir os levantamentos gráficos
planimétricos e altimétricos não só das estruturas arqueológicas, mas também dos artefactos
e dos pontos referenciados a que vulgarmente chamamos de microtopografia.
Nas escavações da Gruta do Cadaval e da Anta 1 de Val da Laje procedeu-se a quadriculagem
da superfície orientada pelo Norte magnético da bússola, obedecendo ao seguinte critério:
a) Eixo Norte-Sul correspondendo ao eixo Y;
b) Eixo Este-Oeste correspondendo ao eixo X.
Foi ainda fixado um ponto 0, a partir do qual se obtiveram os valores em profundidade.
A decapagem dos sedimentos foi realizada por níveis artificiais de cinco centímetros, sendo os
mesmos crivados em malha fina de 2 mm. Aos níveis artificiais sucederam-se as camadas
arqueológicas distintas entre si fundamentalmente, através da sua coloração, da sua textura e
da embalagem de artefactos.
Os achados foram coordenados tridimensionalmente, segundo os seguintes critérios (ainda
que no universo teórico e previamente estipulado nem todas as categorias exumadas tenham
sido coordenadas):
1.
Indústria lítica (independentemente da sua matéria-prima) – indústria sobre seixo;
indústria sobre lasca; lascas inteiras; lâminas, lamelas (mesmo que fragmentadas),
geométricos; indústria polida; pontas de seta;
0135 |
2.
Recipientes cerâmicos – bordos, bojos, bases, elementos de preensão e suspensão,
fragmentos atípicos de cerâmica decorados e recipientes parcialmente fragmentados e
completos;
3.
Fragmentos de xisto com incisões, artefactos ideotécnicos.
4.
Adornos, indústria óssea, fauna e ossos humanos foram considerados individualmente
enquanto categorias nos cadernos de campo.
Os achados não coordenados, ou recolhidos no crivo, foram numerados enquanto material
sem coordenação, em gabinete, sendo individualizados por quadrículas e por camadas. Muito
embora não possuam as coordenadas X e Y, é possível obter a sua cota real a partir dos dados
da microtopografia dos níveis artificiais, estabelecendo assim um intervalo de confiança dado
pelas cotas desses mesmos níveis.
Foram elaborados os desenhos em planta geral, à escala 1:20, da base da sondagem com as
respectivas estruturas postas a descoberto e dos perfis estratigráficos obtidos. Procedeu -se
ainda ao registo fotográfico, sempre que se entendeu necessário.
O caderno de registo dos achados individualizados por quadrado contemplou os mesmos
descritores que foram tidos em conta em todas as intervenções que constam neste trabalho:
1.
Uma área para o número de achado, para cada quadrado, organizando-se a
numeração dos achados do número um (1) até ao infinito;
2.
Uma área referindo o nível artificial e a camada arqueológica correspondente (no caso
de já se ter definido previamente quais os níveis artificiais que coincidem com as camadas
antropizadas ou geológicas), individualizando assim a peça no contexto estratigráfico;
3.
Uma pequena área com colunas reservadas para a designação dos vários tipos de
categorias que são passíveis de serem exumados: indústria lítica, cerâmica, fauna, ossos
humanos, indústria óssea, metal, adorno e outros;
4.
Uma pequena coluna para uma descrição sumária e tipificada;
5.
Uma última área reservada para a informação tridimensional do achado, x, y, z,
orientação e inclinação.
O caderno de registo de nível artificial possui uma composição tripartida.
A primeira grande área é composta por um pequeno formulário que pretende ser descritivo a
nível macroscópico, ao nível da textura do sedimento de cada nível artificial (que se
convencionou serem de sensivelmente cinco centímetros de profundidade). Contém os
seguintes descritores:
1. Código do Sítio;
2. Data;
3. Responsável;
4. Nível Artificial;
5. Camada; Código do Quadrado;
6. Cor (registada com o apoio do código de solos);
7. Cor (a olho nu);
8. Espessura do Nível (designada em centímetros);
9. Inclinação do Nível Artificial (designada em graus);
10. Limites (que são definidos pela malha quadriculada, que neste caso é de 1 m de lado ou
por qualquer alteração a nível sedimentar);
11. Textura;
12. Grau Relativo de Humificação;
13. Macro-restos Vegetais (presença ou ausência);
14. Dimensões da Fracção Grosseira;
15. Natureza dos Seixos;
16. Natureza dos Calhaus;
17. Frequência (dos mesmos);
18. Materiais Arqueológicos (presença ou ausência);
19. Estruturas (presença ou ausência);
20. Amostras (tipo de recolha);
21. Observações.
A segunda grande área é composta por uma grelha de papel milimétrico onde se procede, à
escala 1:20, ao desenho dos vestígios encontrados desde os meros blocos, seixos ou
estruturas, e onde simultaneamente se registam os nove pontos altimétricos, em zonas
equidistantes no quadrado, sendo desta forma possível elaborar posteriormente curvas de
nível e observar as várias diferenças de altimetria quando o sedimento não se apresenta
sensivelmente na horizontal ou a cotas muito semelhantes.
A terceira grande área é composta também por uma grelha de desenho onde se procede à
distribuição espacial dos achados em cada nível artificial, também à escala 1:20.
RESULTADOS DOS SIG APLICADOS À ARQUEOLOGIA
Gruta do Cadaval
As imagens que se apresentam têm como exemplo a utilização do ARCGIS 9.0 na
reconstituição da Gruta do Cadaval a partir dos registos de campo elaborados em milimétrico .
0137 |
Figura 1: Carta Administrativa Oficial de Portugal, www.igeopt/produtos/cadastro/caop.
Figura 2: Localização do arqueossítio. Vectorização em ArcGis 9.0 de excerto da C.M.P. 310 .
Figura 3: Localização do arqueosítio em 3D. Vectorização em ArcGis 9.0 de excerto da C.M.P. 310.
Figura 4: Planta da Superfície da cavidade com base no levantamento de 1984. Vectorização em ArcGis 9.0 a partir dos registos em
milimétrico.
A fossa registada na sala 1 verificar-se-ia corresponder a uma sepultura individual do Neolítico
Antigo / Médio.
0139 |
Figura 5: Planta da Superfície da sala 1. Vectorização em ArcGis 9.0 a partir dos registos em milimétrico .
Figura 6: Perfil em 3D da topografia da Superfície da sala 1. Vectorização em ArcGis 9 a partir dos registos em milimétrico .
Figura 7: Planta do Nível Artificial 13. Vectorização em ArcGis 9.0 a partir dos registos em milimétrico.
Figura 8: Perfil em 3D do Nível Artificial 13. Vectorização em ArcGis 9 a partir dos registos em milimétrico.
0141 |
Figura 9: Planta em 2D e cotas dos nove pontos equidestantes de cada quadrado da Camada B. Vectorização em ArcGis 9.0 a partir
dos registos em milimétrico.
Figura 10: Planta da Camada C. Vectorização em ArcGis 9.0 a partir dos registos em milimétrico.
É muito clara na figura acima a concentração dos vestígios a NE da sala 1.
Figura 11: Planta da Camada D. Vectorização em ArcGis 9.0 a partir dos registos em milimétrico.
Na figura anterior é muito clara a concentração dos vestígios a W da sala 1.
Figura 12: Planta da Camada F. Vectorização em ArcGis 9.0 a partir dos registos em milimétrico.
A escassez de vestígios corresponde de facto a uma limitada migração de peças para esta
camada (F, figura 12), que corresponde a um momento sem ocupação no início do Holocénico.
0143 |
Figura 13: Dispersão de artefactos em planta. Vectorização em ArcGis 9.0 a partir dos registos em milimétrico.
Figura 14: Dispersão de artefactos em perfil. Vectorização em ArcGis 9.0 a partir dos registos em milimétrico.
Anta 1 do Val da Laje
As imagens que se seguem exemplificam a utilização do ARCGIS 9.0 na reconstituição da Anta
1 de Val da Laje a partir dos registos milimétricos de campo.
Figura 15: Carta Administrativa Oficial de Portugal, www.igeopt/produtos/cadastro/caop.
Figura 16: Localização dos arqueosítios: Alqueidão, Vale Chãos, Jogada, Pedras Negras e Monumento 5 da Jogada. Vectorização
em ArcGis 9.0 de excerto da C.M.P. 321.
0145 |
Figura 17: Localização dos vários sítios megalíticos em 3D: Alqueidão, Vale Chãos, Jogada, Pedras Negras e Monumento 5 da
Jogada. Vectorização em ArcGis 9.0 de excerto da C.M.P. 320. Verifica-se a diferente posição altimétrica dos monumentos.
Figura 18: Localização do arqueossítio. Vectorização em ArcGis 9.0 de excerto da C.M.P. 320.
Figura 19: Planta dos ortostatos. Vectorização em ArcGis 9.0 a partir dos registos em milimétrico .
0147 |
Figura 20: Planta de superfície. Vectorização em ArcGis 9.0 a partir dos registos em milimétrico
Figura 21: Perfil em 3D da superfície. Vectorização em ArcGis 9.0 a partir dos registos em milimétrico.
Figura 22: Planta Geral da Escavação. Vectorização em ArcGis 9.0 a partir dos registos em milimétrico.
0149 |
Figura 23: Planta Geral da Escavação. Vectorização em ArcGis 9.0 a partir dos registos em milimétrico.
BIBLIOGRAFIA
CRUZ, A. R. (1997) – Vale do Nabão: do Neolítico à Idade do Bronze. ARKEOS 3, Perspectivas
em diálogo. Tomar: CEIPHAR;
CRUZ, A. (2000) – Necrópoles de Gruta no Contexto da Neolitização do Alto Ribatejo. In
SANCHES, M.; ARIAS, P. (coord.) – Neolitização e Megalitismo da Península Ibérica – Actas do
3º Congresso de Arqueologia Peninsular. Porto: ADECAP, III, p. 61-79;
CRUZ, A.; OOSTERBEEK, L. (1983, 23 de Setembro) – A primeira campanha de escavações
realizada na Gruta do Cadaval. In Jornal “Cidade de Tomar”;
CRUZ, A.; OOSTERBEEK, L (1985a) – A Gruta do Cadaval: Elementos Para a Pré-História do Vale
do Nabão. Arqueologia na Região de Tomar. Nº 1, p. 61-76;
CRUZ, A.; OOSTERBEEK, L. (1985b) – Gruta do Cadaval – 1983. Informação arqueológica. Nº 5,
p. 117-118;
CRUZ, A.; OOSTERBEEK, L., coord. (1988) – Neolitização do Vale do Nabão. Tomar: Escola
Superior de Tecnologia de Tomar, (Catálogo de Exposição);
CRUZ, A.; OOSTERBEEK, L. (1993) – Artes Tradicionais: a cerâmica. Contributo para uma
metodologia de análise tecnomorfológica. Boletim Cultural da Câmara Municipal de Tomar.
Tomar: Câmara Municipal, nº 19;
OOSTERBEEK, L. (1985a) – Elementos para o estudo da Estratigrafia da Gruta do Cadaval
(Tomar). Almadan. Almada: Centro de Arqueologia de Almada, nº 4-5, p. 7-12;
OOSTERBEEK, L. (1985b) – A Facies Megalítica da Gruta do Cadaval (Tomar). Actas da 1ª
Reunião do Quaternáro Ibérico. Lisboa: Instituto Nacional de Investigação Científica, nº II;
OOSTERBEEK, L. (1987a) – Gruta do Cadaval. Informação Arqueológica. Nº 8, p. 79-80;
OOSTERBEEK, L. (1987b) – Projecto de Estudo da Neolitização do Vale do Nabão. A Gestão dos
Espaços e os Métodos de Abordagem. In MANIQUE, A.P. – Temas de História do Distrito de
Santarém. Santarém: Escola Superior de Educação de Santarém;
OOSTERBEEK, L. (1991) – Carta Arqueológica de Tomar. Revista de Ciências Históricas. Porto:
Universidade Portucalense Infante D. Henrique, volume VI, p. 77-89;
OOSTERBEEK, L. (1992) – Habitat et territoires dans la Préhistoire récente dans l e HautRibatejo (Portugal). Mediterrâneo. Nº 1, p. 79-93;
OOSTERBEEK, L. (1993) – O Alto Ribatejo e o Mediterrâneo. Espaço contínuo ou hierarquizado?
Trabalhos de Antropologia e Etnologia. Porto: Sociedade de Antropologia e Etnologia, volume
34, nº 1-2, p. 119-132;
OOSTERBEEK, L. (1994a) – Echoes from the East: the western network. An insight to unequal
and combined development, 7000–2000 BC. Londres: University of London. (PhD dissertation,
volume 1-2, policopiado);
OOSTERBEEK, L. (1994b) – O Neolítico e o Calcolítico na região do Vale do Nabão (Tomar). In
KUNST, M., coord. – Origens, Estruturas e Relações das Culturas Calcolíticas da Península
Ibérica. Lisboa: IPPAR, Trabalhos de Arqueologia, nº 7, p. 101-111;
OOSTERBEEK, L. (1995a) – O Neolítico e o Calcolítico da Região do vale do Nabão. In KUNST, M.
coord. – Origens, Estruturas e Relações das Culturas Calcolíticas da Península Ibérica. Actas das
I Jornadas Arqueológicas de Torres Vedras. 3– 5 Abril 1987. Lisboa: IPPAR, p. 101-111;
OOSTERBEEK, L. (1995b) – Tecnologia, Economia e Simbolismo no Neolítico Antigo do Alto
Ribatejo – aspectos de renovação, interacção e convergência. Techne. Tomar: Arqueojovem, nº
1, p. 50-59;
OOSTERBEEK, L. (1997a) – Echoes from the East: late prehistory of the North Ribatejo. Arkeos.
Tomar: CEIPHAR, nº 2;
OOSTERBEEK, L. (1997b) – Back Home! Neolithic Life and the Rituals of Death in the
Portuguese Ribatejo. In BONSALL, C.; TOLAN-SMITH, C., eds. – The Human Use of Caves.
Oxford: Archeopress (BAR International Series, 667), p. 70-78;
OOSTERBEEK, L. (1999; reedição 2003) – Continuidade e descontinuidade na Pré-História –
estatuto epistemológico da Arqueologia e da Pré-História. Tomar: Instituto Politécnico de
Tomar, p. 1-30.
0151 |
OOSTERBEEK, L. (1999a) – Alto Ribatejo: Património Arqueológico e Desenvolvimento
Regional. Boletim do Rotary Club de Tomar. Tomar: Rotary Club de Tomar, nº 41, p. 18-21;
OOSTERBEEK, L. (1999b) – The Alto Ribatejo and the Neolithisation. Journal of Iberian
Archaeology, nº 1, p. 69-82;
OOSTERBEEK, L. (2003) – Megaliths in Portugal: the western network revisited. In BURENHULT,
G. ed. – Stones and Bones. Formal disposal of the dead in Atlantic Europe during the
Mesolithic–Neolithic interface 6000–3000 BC. Oxford: BAR International Series, nº 1201, p. 2737;
OOSTERBEEK, L.; CRUZ, A. (1990) – Gruta do Cadaval – Gruta dos Ossos – Anta 1 de Val da Laje.
In VELOSO, C.; PONTE, S. – Imagens de Tomar. Roteiro Histórico. Tomar: Secretariado do VIII
Encontro de Professores de História da Zona Centro, p. 15-20;
OOSTERBEEK, L.; CRUZ, A. (1991) – A Arqueologia da Morte: considerações a propósito da
interpretação dos contextos sepulcrais na região de Tomar. Boletim Cultural da Câmara
Municipal de Tomar. Tomar: Câmara Municipal, nº 15, p. 267-291;
OOSTERBEEK, L.; CRUZ, A.; FÉLIX, P. (1992) – Anta 1 de Val da Laje: notícia de 3 anos de
escavações (1989-91). Boletim Cultural da Câmara Municipal de Tomar. Tomar: Câmara
Municipal, nº 16, p. 31-49;
OSÓRIO, M. e SALGADO, T. (2007) -Um Sistema de Informação Geográfica aplicado na
Arqueologia do Município do Sabugal. Praxis Archaeologica. Porto: Associação Profissional de
Arqueólogos, nº 2, p. 9-12.
Documentos electrónicos:
Consultados em 2011,
http://www4.fct.unesp.br/pos/cartografia/docs/teses/d_tsuchiya_i.pdf ;
http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/10384/1/SISTEMAS%20DE%20INFORMA
% C3%87%C3%83O%20EM%20ARQUEOLOGIA.pdf;
http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/10384/1/SISTEMAS%20DE%20INFORMA
% C3%87%C3%83O%20EM%20ARQUEOLOGIA.pdf;
http://www.praxisarchaeologica.org/issues/PDF/2007_0922.pdf;
http://www.igespar.pt/media/uploads/trabalhosdearqueologia/36/3.pdf ;
http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/191/1/tesepb_vers_final.pdf;
http://www.igeo.pt/servicos/CDI/biblioteca/PublicacoesIGP/esig_2002/papers/p010.pdf ;
ESCAVAÇÃO DO CASTELO VELHO DA ZIMBREIRA (2011)
Davide Delfino
Instituto Terra e Memória
Câmara Municipal de Abrantes – projecto M.I.A.A.
Grupo do “Quaternário e Pré-História” do Centro de Geociências da
Universidade de Coimbra (uID73- F.C.T.)
0153 |
Escavação do Castelo Velho da Zimbreira (2011)
Davide Delfino
PREÂMBULO EXPLICATIVO
Com o presente trabalho pretende-se ilustrar a intervenção arqueológica efectuada no sítio de
interesse arqueológico, com um povoado amuralhado supostamente proto-histórico, do
castelo Velho da Zimbreira. O sítio é localizado no Concelho de Mação, Freguesia de Envendos,
a sul-leste da aldeia de Zimbreira (Folha 323 C.M.P. 1:25.000; Coordenadas UTM latitude N 39º
34’, longitude W (Greenwich) 7º 49’ 30”, Altitude m. 432). Os trabalhos foram feitos em
consequência do interesse do sítio já evidenciado no curso de uma intervenção de emergência
acompanhando as obras de implantação duma pala eólica em 2004-2005 (Oosterbeek, et al,
2005) e inseridos no âmbito do projecto “RupTejo” (aprovado pela Fundação Ciência e
Tecnologia-projecto PTDC/HAH/71361/2006), dado que o povoado ocupa um cabeço no limite
da cordilheira onde se registou a arte rupestre pintada do Pego da Rainha, sobranceiro ao vale
do Ocreza, onde ocorrem gravuras rupestres. O presente re latório inclui: enquadramento
geográfico, geo-morfológico, enquadramento arqueológico, descrição dos trabalhos, catálogo
dos materiais achados e documentação gráfica e fotográfica da área de intervenção, do
enquadramento do sítio no território e do material achado.
1. ENQUADRAMENTO GEOGRÁFICO E GEO-MORFOLÓGICO
1.1 Território
O Povoado da Zimbreira conhecido como “Castelo Velho da Zimbreira” é um habitat situado
no esporão sobranceiro à confluência da ribeira da Zimbreira (onde ocorrem pinturas
rupestres, nos abrigos do Pego da Rainha) com o rio Ocreza, na proximidade da confluência
dos rios Pracana e Ocreza, hoje coincidente com a albufeira da barragem do Pracana, a cerca
de 3,5 quilómetros a Norte da desembocadura do rio Ocreza no rio Tejo (Figura 1). O sito é um
cabeço no extremo de uma crista quartzitica (Fotografia 1), de onde é possível dominar a
paisagem quer para Oeste (Fotografia 2), quer para Norte e Nordeste (Fotografia 3)
dominando visualmente os caminhos de terra do rota Bando dos Santos-Castelo Velho do
Caratão- Castelo de Vale de Grou- Castelo Velho da Zimbreira- Serra do Carvoeiro, bem como
os cursos dos rios Ocreza e Pracana.
Figura 1: Localização da área de intervenção: cerco vermelho (Castelo Velho da Zimbreira) (excerto da C.M.P. n.º 323 e ?,
1:25.000)
1.2 Geomorfologia (por H. Gomes)
Para o contexto geo-morfológico (Figura 2), a região em que se situa o povoado, encontra-se
no Alto Ribatejo, Portugal Central, na margem direita do Te jo, é marcada por um relevo de
baixa a média altitude; delimitada a Sul e Sudeste pelo Tejo, a Este pela crista quartzítica em
Vila Velha de Ródão. Para Norte elevam-se acidentes orográficos, integrados na Cordilheira
Central e destacam-se as elevações montanhosas associadas aos afloramentos quartzíticos do
sinforma Amêndoa -Carvoeiro, proporcionando litossolos esqueléticos (Azevedo, et al., 2008) e
acentuada exposição aos Ventos.
O Maciço Hespérico é a unidade estrutural, representando mais de dois terços da superfície do
território. Constitui a extremidade ocidental da cadeia hercínica europeia, sendo uma antiga
formação pré-câmbrica. O maciço é composto por rochas metamórficas, sedimentares e
magmáticas deformadas pela orogenia hercínica, com idades compreendidas entre o PréCâmbrico e o Paleozóico superior, nomeadamente: xistos, argilo-xistos e mica-xistos,
quartzitos, anfibolitos, gnaísses, granitos, granitóides e rochas carbonatadas.
Morfologicamente, apresenta alguns elementos marcantes, como a presença de cristas
quartzíticas, a presença de vales de fractura ou ainda a existência de um modelado de
características diferentes entre as áreas graníticas e as áreas xistosas (Ribeiro, et al., 1979).
Relativamente à geologia do povoado do Castelo Velho da Zi mbreira (Figura 2), a análise da
Carta Geológica, na área que integra a Zona Centro-Ibérica do Maciço Hespérico caracterizada
pela sua diversidade geológica, permite distinguir:
0155 |
•
A formação mais antiga corresponde aos metassedimentos do Complexo-XistoGauváquico (Câmbrico); sobre esta formação assenta em discordância angular uma unidade
formada por conglomerados, arenitos conglomeráticos e alternâncias arenito - quartzíticas,
interpretadas como depósitos fluvio-lacustres Paleozóicos (Ordovícico); O Devónico e o Silúrico
estão representados numa sucessão de unidades quartzíticas e areniticas intercalados de
conjuntos pelíticos fossilíferos (Romão, et al., 2000).
•
Sobre as unidades litológicas que constituem o substrato Paleozóico, assentam os
depósitos de cobertura Cenozóica e Quaternária, compostos por aluviões actuais, depósitos de
vertente na proximidade das cristas quartzíticas, cascalheiras com intercalações argilo arenosas, escalonadas a diversas alturas, acima do leito do Tejo (Martins, et al., 2009).
•
Os depósitos de vertente, numerosos perto das cristas quartzíticas, são constituídos
por fragmentos de quartzito envolvidos por materiais finos e argilosos, cobrindo áreas
consideráveis da região (Gomes, et al., 2010).
Figura 2: Carta Geológica de Portugal (1/50000), Instituto Geográfico de Portugal (Folha Nº 28 -A - Mação).
A área do povoado do Castelo Velho da Zimbreira
Localiza-se próximo á confluência da Ribeira da Pracana com o rio Ocreza, e deste com o rio
Tejo, elevado a cota de 434 metros de altitude.
Em torno do povoado as altitudes médias não ultrapassam os 300 metros, e a Sul destaca-se o
Tejo e a imensa planície alentejana.
O Povoado (Figura 3) está implantado na área (verde escuro) correspondente a formações do
quartzito Armoricano, compreendendo quartzitos, siltitos e conglomerados, do Ordovícico
Inferior. Nas margens da Pracana, do Ocreza até ao Tejo (verde claro), ocorrem
metagrauvaques grosseiros, intercalados de filitos listrados e conglomerados (Câmbrico
Médio). No interior das formações do quartzito Armoricano, destacam-se a cinzento, uma faixa
de xistos e siltitos, a azul estando representados quartzitos cinzentos com intercalações de
xistos negros (Silúrico) (Romão, et al., 2000).
Figura 3: Geologia da área do Castelo Velho da Zimbreira – marcada com X vermelha; extrapolação da Carta Geológica de Portugal
(1/50000), Instituto Geográfico de Portugal (Folha Nº 28 -A - Mação).
2. ENQUADRAMENTO ARQUEOLÓGICO
O sítio do Castelo Velho da Zimbreira já assinalado como sitio calcolítico há várias décadas
(Horta Pereira, 1971, 100-101; Martins, 1974, 12-14), foi objecto de prospecção em 1992 por
M. A. Horta Pereira, então directora do Museu de Mação, que recolheu fragmentos de
cerâmica permitindo poucos diagnósticos na vertente SE. Mais tarde, foi objecto de outra
prospecção por C. Batata, no curso da qual este recolheu uma dezena de fragmentos
cerâmicos (Batata, 2006, 190). Nos meses de Maio e Dezembro do 2004 e de Janeiro e
Fevereiro do 2005 foi conduzido, pelo CE.I.H.P.AR., o acompanhamento das obras de
implantação de um aerogerador, no curso do qual foi escavado o sector a SE do marco
geodésico, abrindo três áreas onde furam achados fragmentos de cerâmica e parte de uma
muralha de pedras seca (Oosterbeek, et al., 2005; Ribeiro, 2006-2007). Nesta ocasião foram
identificadas, na vertente NO, pelo menos duas linhas de muralha a seco, possivelmente já
mencionadas por M.A. Horta Pereira, e identificáveis como antigas. A presença deste potencial
povoado proto-histórico no Concelho de Mação, onde já desde a década de 40 era conhecido
o Castelo Velho do Caratão (Horta Pereira, 1971, pp. 44, 46-50, 102-131), igualmente escavado
por M.A. Horta Pereira e T. Bubner em 1983 e 1984, levados a fazer trabalhos neste sítio,
também para avaliar a relação existente entre o povoado e as evidências de arte rupestre
pintada no Pego da Rainha e gravada no Vale de Ocreza. A nível de importância para a protohistória, é de destacar a interessante posição entre a Beira Interior, onde se conhecem pelo
menos 5 povoados do Bronze Final (Vilaça, 1995; Vilaça, 1999), a Beira Alta com o Grupo
cultural “Baiões/Santa Luzia” (Cardoso, 2002; 356-357), e o Ribatejo, que conta com os
achados que caracterizam o Grupo cultural de Alpiarça (Kalb, 1995; Cardoso, 2002, 384-385).
A área de implantação do povoado sofreu vários incêndios nas últimas décadas,
particularmente em 2003: isso causou o desaparecimento da vegetação arbórea e a
proliferação de mato arbustivo, que não permite ver bem as evidências no terreno.
0157 |
3. FASES DE ACÇÃO
3.1 Estratégia de intervenção
Depois de ter conduzido em Março do 2011 algumas prospecções no campo sem remoção de
terra, no âmbito do Projecto RupTejo, foram observadas com maior atenção as estruturas já
assinaladas por M.A. Horta Pereira e pelos trabalhos de acompanhamento da obra em 20042005: nesta ocasião reparou-se que havia duas muralhas derrubadas, uma próxima do marco
geodésico e uma cerca de 30 metros mais abaixo. A primeira (muralha 1) está mais arruinada,
com comprimento menor e colocada quase no topo do cabeço (Fotografia 4), enquanto a
segunda (muralha 2) está melhor conservada, tem maior cumprimento e tem maior
potencialidade estratigráfica na parte interna, vários metros mais abaixo do topo do cabeço
(Fotografia 5). Sucessivamente, no curso da anual obra de manutenção e conservação dos
sítios arqueológicos do Concelho de Mação, com o apoio técnico dos Serviços Florestais da
Câmara Municipal de Mação, em Abril do 2011, procedeu-se a uma limpeza do mato nos
arredores da muralha 2 (Fotografia 6), sob a orientação dos arqueólogos Davide Delfino e
Pedro Cura do Museu de Arte Pré-Histórica e do Sagrado no Vale do Tejo. A limpeza permitiu,
também, obter uma melhor visibilidade da muralha (Fotografia 7): foi assim que se decidiu
avançar com um projecto de sondagens, no âmbito do Projecto Ruptejo, sendo que
apareceram também áreas planas nos imediatos arredores da muralha 2 (Fotografia 8). Os
objectivos destas sondagens foram:
1) Cartografar o perímetro das muralhas do habitat;
2) Averiguar a potência estratigráfica junto às muralhas;
3) Datar em termos relativos e, se possível, absolutos, a cronologia das fases de construção do
povoado.
No planeamento da abertura das sondagens furam considerados os seguintes parâmetros:
1)
Trata-se dum sítio amuralhado de altura, com forte exposição aos agentes
atmosféricos e gravitacionais. Consequentemente os antigos níveis arqueológicos vão ser mais
erodidos no topo do cabeço (como já averiguado nos trabalhos de acompanhamento a
implantação do Gerador Eólico em 2004-2005) e, no deslavamento, os materiais que lhe estão
associados são travados em proximidade do primeiro obstáculo que encontrem,
ultrapassando-o eventualmente e, neste caso, formando camadas com estratigrafia invertida
logo ao pé do obstáculo; normalmente, em caso de terraços de encosta, a parte no interior
conserva uma estratigrafia mais virgem e menos sujeita ao deslavamento (Mannoni 1970).
Neste caso a muralha 2 pareceu ser um obstáculo interessante e decidiu se, então, abrir uma
sondagem logo no lado interior e uma logo no lado exterior a muralha (Figura 4): esta escolha
foi também sugerida para perceber melhor as dinâmicas e as técnicas de implantação da
muralha
2)
Sendo a equipa de trabalho pequena e os tempos pela escavação reduzidos (duas
semanas), as sondagens furam planeadas inicialmente de pequenas dimensões, o seja, de 4
quadrículas de 1 m X 1 m, cada uma.
Pela documentação de campo procedeu-se à constituição dum sistema de qualidade de registo
(Anexo IV); foram criados:
a.
Elencos de Documentação Gráfica (Plano e Cortes); de Documentação Fotográfica; de
Amostras Sedimentológicas; de fichas de U.E.; dos Materiais;
b.
Fichas de U.E. (Unidade Estratigráfica).
O Elenco das fichas de U.E. foi pensado para facilitar o acesso a cada uma das fichas, para
serem consultadas durante ou depois a escavação e para dificultar a confusão na numeração
de novas fichas ou de novas U.E. O Elenco dos Materiais está relacionado com cada um dos
sacos usados para guardar os materiais, assim de facilitar o acesso a cada um depois a
escavação na fase de tratamento em laboratório.
Finalmente, no dia 20 de Julho de 2011 foi feita uma reunião logístico-organizativa na sede do
C.I.A.A.R. em Vila Nova de Barquinha, com a equipa envolvida nos trabalhos.
Figura 4: Planta geral da escavação, com indicação das duas sondagens abertas. (Relevo e Desenho Pedro Cura) .
3.2 INTERVENÇÃO NAS SONDAGENS A E B
No dia 4 de Julho do 2011 iniciou-se a intervenção no Castelo Velho da Zimbreira; na primeira
semana dos trabalhos (dia 04- dia 08 de Julho) a equipa foi formada por Davide Delfino e
Fernando Augusto Coimbra, na qualidade de Arqueologos de campo, Pedro Cura na qualidade
de Técnico Arqueólogo, Andreia Lopes na qualidade de Responsável pela Higiene e Segurança,
e os Izabela Rezende Baia, André Moura e Jefferson Crescencio Neri na qualidade de
estudantes de Mestrado (Mestrados “Erasmus Mundus”em “Arqueologia Pré -Histórica e Arte
Rupestre” e em “Técnicas de Arqueologia” do Instituto Politécnico de Tomar/U.T.A.D.) em
apoio aos trabalhos.
Na segunda semana de trabalhos, a equipa contou com Davide Delfino na qualidade de
Arqueologo de campo, Pedro Cura na qualidade de Técnico Arqueólogo, Izabela Rezende Baia,
0159 |
André Moura, Jefferson Crescencio Neri, Laura Centi e Francesco Valletta na qualidade de
estudantes de Mestrado (Mestrados “Erasmus Mundus”em “Arqueologia Pré -Histórica e Arte
Rupestre”, em “Técnicas de Arqueologia” do Instituto Politécnico de Tomar/U.T.A.D. e em
“Scienze del Quaternario” da Universitá di Ferrara- Itália) em apoio aos trabalhos.
As sondagens furam estabelecidas junto da muralha 2, uma na parte interior e uma na parte
exterior, com orientação N/E-S/W de modo de serem perpendiculares à linha de muralha, para
uma maior comodidade de inclusão desta nas quadrículas. As sondagens furam construídas
tendo os lados externos inscritos nas mesmas linhas rectas (Figura 5). Foram inicialmente
construídas em cada área 4 quadrículas de 1 m X 1 m, denominadas com letras na direcção
N/E- S/W e números na direcção N/W-S/E. escolhendo números e letras em função de futuros
alargamentos das áreas.
Figura 5: Planta geral do sector N/W, com indicação das duas sondagens abertas (A e B) e com as quadrículas construídas.
Desenho actualizado no final da escavação (levantamento e Desenho Pedro Cura).
A equipa foi dividida da seguinte maneira:
Área A: (primeira semana) Davide Delfino, Izabela Rezende Baia e Andreia Lopes; (segunda
semana) Davide Delfino, Izabela Rezende Baia, Laura Centi
Área B: (primeira semana) Fernando Augusto Coimbra e Jefferson Crescencio Neri; (segunda
semana) Jefferson Crescencio Neri e Francesco Valletta
Topografia e levantamentos: Pedro Cura e André Moura
Para a definição das Unidades Estratigráficas (U.E.) foi decidido nomear as da Área A partindo
de 101 e as da Área B partindo de 201, para ter uma ordem melhor na nomeação e não
sobrepor as numerações entre as duas Áreas de intervenção.
3.3 Área A
U.E. 101
Depois de ter limpo a área da vegetação, apareceu em toda a área, a S/E da muralha 2 (depois
U.E. 102), o tecto de um estrado de cor escuro, com evidentes marcas de combustão devidas
aos incêndios recentes. Este estrado foi denominado U.E. 101. (Fotografia 9).
A sua extensão é nas quadrículas P 16 e Q 16 e nas metades das quadrículas P15 e Q 15,
aparecendo também nas metades das quadrículas O 15 e N 15 depois o alargamento da Área A
para N/W
Depois de ter procedido à sua remoção, a U.E. 101 apresenta-se como uma camada de fraca
potência (cm. 3), de cor castanha muito escura (códice Munsell 7.5YR2.5/1), muito humosa,
com inclusões orgânicas (raízes, musgo) e de consistência muito solta. Foi i nterpretada como
solo contemporâneo de formação natural. Relações estratigráficas: apoia-se na U.E. 102;
cobre U.E. 103.
U.E. 102
Foi denominada U.E. 102 a muralha derrubada a Norte da Área A, nomeada na planta geral da
Muralha 2, sendo em parte coberta, na parte sul, pelo solo contemporâneo U.E. 101. Compõe
se de pedras quartziticas de grandes dimensões (média cm. 34 X 25), com algumas intrusões
de terra humosa entre as pedras. A muralha é feita a seco, sem qualquer tipo de argamassa. O
estado de conservação é muito mau. Como dimensões, na Área A, o cumprimento apanha
toda a Área (4 metros), a largura é de 75 cm., sendo que boa parta da muralha é externa à
Área A . Relações estratigráficas: depende das U.E. 101, U.E. 103 e U.E. 104.
U.E. 103 (Fotografia 10)
Aparece debaixo da U.E. 101, a S/E da muralha 2 (U.E. 102) nas quadrículas P 16, Q 16, P 17, Q
17 (estes depois o alargamento da Área a S/E – Fotografia 11) e parcialmente nas quadrículas
P15 e Q 15. Depois de ter procedido a sua remoção, a U.E. 103 apre senta-se como uma
camada de espessura variável entre os 15 e os 25 cm. (é mais profunda nas quadrículas Q 16 e
P 17), de consistência compacta variável, cor castanha clara (códice Munsell 7.5YR 4/3), com
composição de muitas raízes e pedras de pequenas dimensões (média cm. 7 X 4). Na base da
camada foram achados nas quadrículas Q 17 e P 17 alguns fragmentos de cerâmica de
impaste, possivelmente proto-históricas, de dimensões reduzidas, não diagnósticas e com um
alto índice de arredondamento das fracturas: isso indica que sofreram bastante acção de
transporte por causa dos agentes atmosféricos (água).
No curso da remoção da U.E. 103, reparou-se que ela cobria parcialmente a muralha U.E. 102
na metade Sul das quadrículas P 15 e Q 15: a parte da muralha U.E. 102 coberta é
parcialmente formada por pedras de dimensões médio-grandes (média cm. 26 X 20),
possivelmente quer de derrube da muralha na parte interna, quer de erosão de cima na
direcção da muralha (Fotografia 12). Relações estratigráficas: é coberta pela U.E. 101; apoia-se
na U.E. 012; cobre as U.E. 104 e U.E. 105
Depois de ter removido a U.E. 103, apareceu debaixo dela uma camada de derrube de pedras,
que foi denominada U.E. 104, em quase toda as quadrículas P 15 e P 16 e parcialmente na
parte N/W da Q 16; apareceu, na parte Leste da quadrícula Q 16, o tecto de uma suposta
camada mais arenosa sem pedras denominada U.E. 105 (Fotografia 13).
0161 |
CARACTERIZAÇÃO GEOMORFOLÓGICA
(por Hugo Gomes)
Para a análise das camadas, a metodologia adoptada na caracterização de sedimentos foi
baseada em métodos técnicos e expeditos de laboratório (Bllot, Pye, 2001; Cunha, 2002;
Gomes, 2010; Rosina, et al., 2009).
A camada A (U.E. 103) é de potência reduzida (~15cm) compreendendo, sedimento siltoso não
compacto de cor negra (contem cinzas, carvões e raizes), com alguma componente eólica e
matéria-organica carbonizada, resultado provavelmente de incêndios da última década na
região.
MATERIAIS ENCONTRADOS NA U.E. 103 (Fotografia 28 e Tabela 1)
Material
Descrição
Cerâmica
4 Fragmentos de
paredes de
cerâmica
Cerâmica
11 Fragmentos
de paredes de
cerâmica
Estado de
conservação
Quadrículas
Dimensões
Médias
Mau, com
fracturas muito
arredondadas
P 17
cm. 1,5 X 1
Mau, com
fracturas muito
arredondadas
cm. 2,6 X 1,9
Q 17
Tabela 1: Elenco dos materiais da U.E. 103.
A U.E. 103 foi interpretada como camada de derrube de formação natural, com base
sobretudo no arredondamento dos poucos fragmentos de cerâmica, na natureza eólica dos
seus sedimentos siltosos e na sua consistência pouco compacta.
U.E. 104
Aparece debaixo da U.E. 103, a S/E da muralha 2 (U.E. 102) nas quadrículas P 15, P 16, Q 16
(parcialmente), P17, Q17. Depois de ter procedido à sua remoção, a U.E. apresenta-se como
derrube de pedras de médias dimensões (medidas médias cm. 19 X 20), de potência variável
entre os 25 e os 30 cm. (é mais profunda nas quadrículas Q 16 e Q 17), com raízes e terra de
deslavamento. A terra de erosão, de cor castanha clara (código Munsell 7.5YR 4/3), com
consistência ligeiramente arenosa, continha numerosos fragmentos de paredes de cerâmica,
com índice de arredondamento das fracturas variável, mas na maioria bastante elevado.
No curso da sua remoção foi evidente que ela pertencia ao mesmo momento de derrube da
U.E. 105 (Fotografia 14 e 15), pelo que se juntaram as duas U.E. na mesma E.U. 104.
Depois, a sua remoção evidenciou-se que ela cobria uma camada mais arenosa e amarelada
(U.E. 106) e o enchimento em pedras (U.E. 107) dum corte, possivelmente o alicerce da
muralha U.E. 102 (Fotografia 16).
Relaçoes estratigráficas: é coberta pela U.E. 103; apoia-se na U.E. 102; cobre as U.E. 106 e U.E.
107.
CARACTERIZAÇÃO GEOMORFOLÓGICA
(por Hugo Gomes)
Camada B (U.E. 104), de ~25 cm de espessura; de sedimento siltoso semi -compacto de cor
alaranjada com algum cascalho (resultado da desagregação dos blocos quartziticos) sendo
identificadas algumas dezenas de cerâmicas
MATERIAIS ENCONTRADOS NA U.E. 104 (Fotografia 29 e Tabela 2)
Material
Descrição
Cerâmica
Cerâmica
Cerâmica
Cerâmica
Cerâmica
Cerâmica
Cerâmica
Cerâmica
Cerâmica
0163 |
Estado de
conservação
Quadrículas
Dimensões
médias
11 Fragmentos de
parede de
cerâmica
Mau
Q 16
cm. 3 X 2,6
45 Fragmentos de
parede de
cerâmica
Mau
Q 17
cm. 3,5 X 2,3
1 Fragmento de
bojo com pescoço
de cerâmica
Mau
Q17
cm. 7,1 X 6,1
Mau
P17
cm. 2,5 X 3
Mau
Q 17
cm. 7,2 X 6,3
Mau
Q17
cm. 5,7 X 3,7
1 Fragmento de
parede com
orifício de
cerâmica
Mau
Q 17
cm. 3,3 X 2,5
1 Fragmento de
fundo com base de
parede de
cerâmica
Mau
Q 17
cm. 6,2 X 4,9
Mau
P 17
cm. 3,5 X 2,9
1 Fragmento de
possível molde
1 Fragmento de
parede curva de
pote de grandes
dimensões de
cerâmica
1 Fragmento de
carena com pega
furada de cerâmica
27 Fragmentos de
parede de
cerâmica
Cerâmica
5 Fragmentos de
parede de
cerâmica
Mau
P 16
cm. 3,7 X 2,6
Cerâmica
1 Fragmento de
fundo com pé de
anel
Mau
P 16
cm. 5,8 X 5,6
Cerâmica
1 Pega
Mau
P 16
cm. 3,2 X 2,3
Cerâmica
1 Fragmento de
parede com
impressão circular
Mau
P 16
cm. 3,4 X 1,9
Tabela 2: Elenco dos materiais da U.E. 104.
Foi interpretada como erosão de pedras e de material proveniente do terraço da muralha A, a
cotas mais altas que a da área A, baseando-se sobre a suposta mistura de materiais achados:
há peças mais características da Primeira Idade do Ferro (Anexo VI, 1 e 2) e mais características
do Bronze Final Anexo VI, 5 e 6), sendo visível o arredondamento de muitas fracturas do
material; a geomorfologia que é idêntica à da U.E. 103.
U. E. 105
Aparece debaixo da U.E. 103, nas quadrículas Q 16 (Fotografia 12), Q 17 e P 17, a S/E da
muralha 2 (U.E. 102), formada por poucas pedras de dimensões médias (medidas médias cm.
19 X 20) e de cor castanha clara (código Munsell 7.5YR 4/3), com consistência ligeiramente
arenosa, contendo vários fragmentos de paredes de cerâmica, com índice de arredondamento
das fracturas variável, mas na maioria bastante elevado. No curso da sua remoção foi
verificado que não teria quase diferencia entre ela e a U.E. 104: foi portanto decidido
considerar todas U.E. 104. Neste relatório trata-se dela para maior coerência com o
andamento dos trabalhos.
MATERIAIS ENCONTRADOS NA U.E. 105 (Fotografia 30 e Tabela 3)
Material
Descrição
Cerâmica
6 Fragmentos de
paredes de
cerâmica
Cerâmica
7 Fragmentos de
paredes de
cerâmica
Estado de
conservação
Quadrícula
Medidas médias
cm. 2,5 X 2,3
Mau
P 17
Mau
Q 17
cm. 2,2 X 1,8
Tabela 3: Elenco dos materiais da U.E. 105.
U. E. 106
Aparece debaixo da U.E. 104, a S/E da muralha 2 (U.E. 102) nas quadrículas P 17, Q e P 17 e
parcialmente, com espessura de poucos centímetros, nas quadrículas P16 e Q 16. Não se
procedeu à sua remoção, mas encontraram-se no seu tecto alguns fragmentos cerâmicos
(Fotografia 17) que foram recolhidos, fazendo uma pequena decapagem da camada na
proximidade deles, sendo arriscado deixá-los expostos até uma eventual escavação. Na acção
de decapagem a camada revelou-se de composição arenosa, sem pedras, de cor castanha
amarelada (códice Munsell 7.5YR5/4).
Relações estratigráficas (preliminares): é coberta pela U.E. 104, é cortada pelas U.E. 108
(negativa).
CARACTERIZAÇÃO GEOMORFOLÓGICA
(por Hugo Gomes)
Camada C (U.E. 106) de ~2cm, (ainda não foi escavada a mais profundidade); Sedimento
areno-siltoso semi-compacto com pequena variação de cor da camada B, provavelmente
derivado de processos de Iluviação. Esta camada deverá estender-se até ao nível do susbtrato.
MATERIAIS ENCONTRADOS NA U.E. 106 (Fotografia 31 e Tabela 4)
Material
Descrição
Cerâmica
7 Fragmentos de
paredes de
cerâmica com
tratamento
brunido
Cerâmica
1 Fragmento de
carena com bojo
e pescoço
Estado de
conservação
Quadrículas
Medidas médias
Mau
Q 17
Cm. 2,4 X 1,8
Mau
Q 17
Cm. 4,8 X 4,6
Tabela 4: Elenco dos materiais da U.E. 106.
A U.E. 106 é potencialmente uma camada que não sofreu fortes coluviões ou alterações como
as precedentes, sendo que é mais rica em óxidos de ferro (indicado pe la o cor) provavelmente
devido a processos de Iluviação (indicado pela geomorfologia). Também as primeiras
cerâmicas que se acharam, são indicativas do mesmo período cronológico (Idade do Bronze
Final) e não sofreram muito arredondamento nas fracturas.
U.E. 107
Aparece debaixo da U.E. 104, a S/E da muralha 2 (U.E. 102) e a N/W da U.E. 106, nas
quadrículas P16 e Q 16 (Fotogr. 16 e 18). Ainda não foi escavada. Parece um enchimento de
pedras de médio-pequeno tamanho (medidas médias cm. 10 X 5), tendo uma espessura média
de 20-30 cm. (o corte não é regular) e ocupando em comprimento os 2 metros da área nas
quadrículas P16 e Q 16. Na acção de reconhecimento da U.E. 107, foi decapada para 2 cm na
parte S/E (o contacto com a U.E. 106), e a camada resultou de consistência muito mais solta
que a U.E. 106: isso deu a indicação que pudesse ser o enchimento dum corte artificial,
funcionando de alicerce da muralha 2 (U.E. 102).
0165 |
Relações estratigráficas (preliminares): é coberta pela U. E 104; enche a U.E 108; apoia-se na
U. E. 102.
U.E. 108
Posicionada na mesma posição da U.E. 107 (S/E da muralha 2 (U.E. 102) e a N/W da U.E. 106,
nas quadrículas P16 e Q 16) é uma Unidade Estratigráfica negativa, sendo o corte efectuado
em U.E. 106 para colocar o alicerce da muralha 2 (U.E. 102). A sua identificação precisará de
melhor definiçao, depois de ter efectuado a remoção da U.E. 107.
Relações estratigráficas (preliminares): é enchida por U.E. 107; corta U.E. 106.
3.4 AREA B (Figura 19)
O objectivo da escavação na área B foi perceber onde podia ser o limite externo da muralha 2
(U.E. 102), debaixo do seu derrube. Depois de ter desenhado a área com dimensões de 4
quadrículas de 1m X 1 m, decidiu-se não delimitar as quadrículas por serem um impedimento
para os escavadores e mesmo não necessárias nesta primeira fase, onde se tratava só de
remover as pedras de derrube (U.E. 201).
U.E. 201 (Figura 20)
Posicionada imediatamente a N/W da muralha 2 (U.E. 201), é um derrube de pedras de
dimensões médio- grandes (medidas médias cm 34 X 25) postas por cima de outras pedras
derrubadas de dimensões médias (medidas médias cm 28 X 12) (Fotografia 21). As pedras
encontraram-se soltas. A camada é estéril. Interpretada como derrube natural da muralha 2
(U.E. 102). Debaixo aparece uma camada de terra solta escura definida U.E. 201a.
Relações estratigráficas: cobre a U.E. 201a; cobre parcialmente a U.E. 102.
U.E. 201a (Fotografia 22)
Posicionada a S/W da muralha 2 (U.E. 102), é uma camada, estéril, de terra solta de cor
castanho muito escuro (códice Munsell 7.5YR2.5/1), com marcas de incêndio e várias inclusões
de raízes, húmus e pedras pequenas. Tem uma potência de 3 a 4 centímetros. É interpretável
como erosão do mesmo solo da U.E. 101 a jusante da muralha 2 (U.E. 102). Depois ter
procedido à sua remoção, apareceu debaixo dela o tecto duma camada de terra muito mais
clara e pedras pequenas (U.E. 202).
Relações estratigráficas: é coberta pela U.E. 201; cobre a U.E. 202.
U.E. 202 (Fotografia 23 e 24)
Posicionada a S/W da muralha 2 (U.E. 102), é uma camada, estéril, de terra castanha clara
(código Munsell 7.5 YR7/8), com pedras pequenas (dimensões médias cm 15 X 10) e algumas
raízes. Tem potência de 20-25 cm. É interpretada como um primeiro pequeno derrube da
muralha 2 (U.E. 102). Depois de ter removido, revelou- se directamente por cima do nível da
rocha-mãe (U.E. 203).
Relações estratigráficas: é coberta pela U.E. 201; cobre a U.E. 203.
U.E. 203 (Fotografia 25)
Posicionada a S/W da muralha 2 (U.E. 102), corresponde à rocha mãe, sobre a qual foi
colocada provavelmente a muralha. Não se encontrou o seu limite exterior, que tem que ser
mais por dentro das pedras de derrube, ou seja, ligeiramente mais a S/E da área B. Trata se de
afloramentos de quartzito orientados perpendicularmente à linha da muralha 2 (U.E. 102) e
sendo também em desfazimento, talvez tenha havido equívoco entre a rocha mãe com pedras
supostamente de derrube.
Relaçãoes estratigráficas: é coberta pela U.E. 202; depende da U.E. 102 (supostamente).
3.5 CONCLUSÃO DA ESCAVAÇÃO
Depois de duas semanas de intervenção, as duas áreas abertas foram objectos das seguintes
acções:
- Área A: depois de ter procedido à recolha de três amostras geomorfológicas das camadas no
perfil A-D, procedeu-se ao encerramento da área em função de uma próxima campanha de
escavação em 2012. A cobertura foi feita com geotextil aderente ao tecto da U.E. 106 e aos
perfis nas margens da área, fixando-o com pedras.
- Área B: estando exaurido o depósito da área resolveu-se enche-la com as pedras que furam
retiradas no curso da escavação, assim se reforçando a base do derrube a jusante da muralha
2 e a montante da área B, evitando mais erosão de pedras, e reconstituindo o derrube solto na
área B no curso da escavação.
O material cerâmico encontrado foi levado para o Laboratório de Tecnologia Cerâmica do
Museu de Arte Pré-Histórica de Mação, onde foi lavado, marcado e arrumado.
4. OBSERVAÇÕES FINAIS
Depois os trabalhos desenvolvidos em duas semanas,
- Relativamente à muralha 2 foi possível perceber que foi implantada para criar um terraço
plano quer em sentido perpendicular (fotografia 26), quer em sentido paralelo à muralha e,
consequentemente, à isoipsa onde a muralha é implantada. Em função da finalidade de criar
um terraço em sentido só paralelo à muralha 2, é explicativo o feito de a muralha ter sida mais
alta nos extremos do seu comprimento (fotografia 27), para aplanar a diferença de andamento
da isoipsa: o feito é também explicativo de os derrubes da muralha terem sido mais maciços
aos extremos, onde esta era mais alta. A muralha 2 foi, também, implantada explorando os
blocos de quartzito orientados perpendicularmente a direcção da muralha, funcionando como
suportes naturais.
- Relativamente à cronologia da frequentação da muralha 2, há vários factores: nesta primeira
campanha só foram encontrados o alicerce (U.E. 107 enchimento e U.E. 108 corte) e o nível
onde foi implantado (U.E. 106), mas ainda não foram escavados. Mas na decapagem da U.E.
106 foi retirado um fragmento de cerâmica com carena arredondada, juntamente com 7
fragmentos de parede com tratamento brunido: este material, associável pelo menos à Idade
do Bronze Final, torna possível uma frequentação do terraço pelo menos nesta época e,
0167 |
portanto, a implantação da muralha supostamente, ou na mesma época, ou num período
anterior.
- Relativamente às dinâmicas deposicionais da vertente onde ocorreram as sondagens, é
possível dizer que os sedimentos de erosão de proveniência cotas mais altas (entre a muralha
1 e a muralha 2), pararam no interior da muralha 2, ultrapassando-a só por causa da acção dos
agentes atmosféricos (agua), sendo que, de facto, no exterior da muralha (área B) não se
encontrou material arqueológico e só foi achado um nível formado por terra (U.E. 201a) que
era solta, humosa e com marcas de incêndio (portanto de deslavamento bastante recente).
Baseando-se sobre esta avaliação, é possível propor a hipótese de que o derrube da muralha 2
não é muito antigo, sendo que os materiais arqueológicos só se encontram no terraço interno
da muralha (área A).
Para acções futuras recomenda-se:
- Avaliar a potencialidade da camada U.E. 106, que é relativa a possível frequentação antiga
(possivelmente da Idade do Bronze Final),
-Analisar o alicerce formado pelo corte U.E. 108 e pelo enchimento da U.E. 107, assim se
verificando a natureza, e possivelmente, a cronologia da implantação da muralha,
-Continuar a investigação ao longo da muralha B, na parte interna do terraço, em direcção S/W
(sendo que a parte do terraço a N/E da área A é possivelmente erosionado juntamente com a
muralha), assim se podendo ter uma visão da frequentação antiga do povoado, seja de escala
maior que a reduzida sondagem efectuada nesta campanha.
ANEXO FOTOS
Foto 1
Foto 2
Foto 3
0169 |
Foto 4
Foto 5
0171 |
Foto 6
Foto 7
Foto 8
Foto 9
0173 |
Foto 10
Foto 11
Foto 12
Foto 13
0175 |
Foto 14
Foto 15
Foto 16
Foto 17
0177 |
Foto 18
Foto 19
Foto 20
Foto 21
0179 |
Foto 22
Foto 23
Foto 24
Foto 25
0181 |
Foto 26
Foto 27
Foto 28
Foto 29
0183 |
Foto 30
Foto 31
ANEXO GRÁFICO
Desenho 1: Castelo Velho da Zimbreira – 2011, sector NW implantação áreas.
Desenho 2: Castelo Velho da Zimbreira – 2011, plano final area A.
0185 |
Desenho 3: Castelo Velho da Zimbreira – 2011, Area A_Corte NE.
. Desenho 4: Castelo Velho da Zimbreira – 2011, desenho do espólio cerâmico.
BIBLIOGRAFIA
AZEVÊDO, M. T. M. (2008) – Solos - A Pele Da Terra. In MATEUS, A. (Coord.): Solo: A Pele Da
Terra. 6-11; Lisbon (Department Of Geology FCUL). Available On-Line At
Http://Geologia.Fc.Ul.Pt/Documents/163.Pdf (Accessed In September 2011);
BATATA, C. (2006) – Idade do Ferro e Romanização entre os rios Zêzere, Tejo e Ocreza,
Trabalhos deArqueologia. Lisboa: Instituto Português de Arqueologia, nº 46;
BLLOT, S. J. & PYE, K. (2001) – Gradistat: A Grain Size Distribution And Statistics Package For
The Analysis Of Unconsolidated Sediments. Earth Surface Processes And Landforms. 26, pp.
1237-1248;
CARDOSO, J.L. (2002) – Pré-História de Portugal. Lisboa: Verbo;
GOMES, H; ROSINA, P; CURA, S; OOSTERBEEK, L. (2010) – Breve Síntese Do Estudo Do Registo
Sedimentar Associado A Contextos Arqueológicos Do Alto Ribatejo. Arkeos – VI Jornadas De
Arqueologia Ibero-Americana. Mação: CEIPHAR, nº 28, p. 33-38;
KALB, P. (1995) – Alpiarça. In OLIVEIRA JORGE, S. – A Idade do Bronze em Portugal: discursos
de poder. Lisboa: Museu Nacional de Arqueologia, (catálogo da exposição), p. 90-93;
MANNONI, T. (1970) – Sui metodi dello scavo archeologico nella Liguria montana (applicazioni
di geopedologia e geomorfologia). Bollettino Ligustico. Vol. 22, nº 1/2, p. 49‑64;
MARTINS, M.S: (1974) – Monografia de Envendos. Santarém: Junta Distrital;
MARTINS, A. A., CUNHA, P. P., HUOT, S., MURRAY, A. & BUYLAERT, J. P. (2009) –
Geomorphological Correlation Of The Tectonically Displaced Tejo River Terraces (Gavião Chamusca Area, Portugal). Supported By Luminescence Dating – Quaternary International. 199,
p. 75-91;
OOSTERBEEK, L.; CURA, P.; GRAÇA, A.; CURA, S.; NOBRE, L.; PAIS, S. (2005) – Estudo de impacte
ambiental do Gerador Eólico de Castelo Velho (Zimbreira, Mação) . Relatório sobre a avaliação
do Descritor Património Arqueológico, Arquitectónico e Etnológico. Tomar: Centro Europeu de
Investigação da Pré-História do Alto Ribatejo;
PEREIRA, M.A.H. (1970) – Monumentos Históricos do Concelho de Mação. Coimbra;
RIBEIRO, C.M. (2006-2007) – Contribuição para a compreensão do significado do povoado do
Castelo Velho da Zimbreira (Envendos, Mação). Instituto Politécnico de Tomar/Universidade
de Trás-os-Montes e Alto Douro: Mestrado em Arqueologia Pré-histórica e Arte Rupestre,
(dissertação policopiada);
RIBEIRO, A., ANTUNES, M.T., FERREIRA, M.P., ROCHA, R., SOARES, A.F.,ZBYSZEWSKI, G.,
MOITINHO DE ALMEIDA, F., CARVALHO, D. & MONTEIRO, J.H., (1979) – Introduction à la
géologie générale du Portugal. Lisboa: Serviços Geológicos de Portugal, p. 3-114;
ROMÃO, et al., (2000) – Carta Geológica De Portugal (1/50000). Lisboa: Instituto Geográfico De
Portugal (Folha Nº 28-A – Mação);
ROSINA P; OOSTERBEEK, L; CURA, S; GOMES, H; CARRONDO, J; CURA, P; GOMES, J; (2009) –
Análise Sedimentológica Dos Depósitos Coluvionares Do Sítio Arqueológico Da Ribeira Da
Atalaia, Contribuição Para Uma Interpretação Geo-Arqueológica. «VII REUNIÃO DO
0187 |
QUATERNÁRIO IBÉRICO- O FUTURO DO AMBIENTE DA PENÍNSULA IBÉRICA - AS LIÇÕES DO
PASSADO GEOLÓGICO RECENTE» Faro, p. 215-218;
VILAÇA, R. (1995) – Aspectos do povoamento da Beira Interior (Centro e Sul) nos finais da
Idade do Bronze. Lisboa: IGESPAR, (Trabalhos de Arqueologia, nº 9, volumes 1 e 2);
VILAÇA, R. (1999) – Resultados de uma sondagem arqueológica realizada em S. Gens (Idanhaa-Nova). Estudos Pré-Históricos. Nº 9, p. 271-281.
IDENTIFYING MIGRANTS IN THE LATE NEOLITHIC BURIALS
OF THE ANTAS OF REGO DA MURTA (ALVAIÁZERE,
PORTUGAL) USING STRONTIUM ISOTOPES
Anna J. Waterman
University of Yowa
Alexandra Figueiredo
Instituto Politécnico de Tomar
Jonathan T. Thomas
University of Yowa
David W. Peate
University of Yowa
0189 |
Identifying migrants in the Late Neolithic burials of
the Antas of Rego da Murta (Alvaiázere, Portugal)
using Strontium Isotopes
Anna J. Waterman, Alexandra Figueiredo, Jonathan T. Thomas &
David W. Peate
ABSTRACT
This study uses strontium isotope ratios (87Sr/86Sr) in dental enamel to distinguish migrant
individuals from Late Neolithic populations interred at the burial sites of Anta da Rego da
Murta I and Anta da Rego da Murta 2 (Alvaiázere, Portugal). Strontium isotopes are absorbed
into local plants and incorporated into the hard tissues of animals and humans through water
and food intake. The isotopic composition of the bioavailable strontium depends on the local
geology and the types of rocks and sediments in the subsurf ace. As dental enamel is formed
during childhood and not subsequently remodeled, its 87Sr/86Sr ratio records the geologic
signature of one’s childhood landscape. By comparing the 87Sr/86Sr in the dental enamel of
interred individuals with the local range of the burial environment determined from local
fauna it is possible to identify individuals who spent at least part of their childhoods in a
different location (Price, et al, 1994; Price, et al, 2002).
Keywords: Archaeology; Megalitism; Strontium isotopes ratios; Alvaiázere; Human Osteology.
RESUMO
Este artigo pretende apresentar um estudo utilizando isótopos de estrôncio (87Sr/86Sr) no
esmalte dental para distinguir indivíduos migrantes de populações neolíticas tardias
enterrados nos cemitérios da Anta I de Rego da Murta e Anta II da Rego da Murta (Alvaiázere,
Portugal). Isótopos de estrôncio são absorvidos pelas plantas locais e incorporados nos tecidos
duros de animais e de seres humanos através da ingestão de água e alimentos. A composição
isotópica do estrôncio biodisponível depende da geologia local e os tipos de rochas e
sedimentos no subsolo. Como o esmalte dental é formado durante a infância e não
posteriormente remodelada, a sua relação 87Sr/86Sr registra a assinatura geológica de uma
paisagem de infância. Ao comparar a 87Sr/86Sr no esmalte dentário de indivíduos enterrados
com o intervalo do meio ambiente local, determinado a partir da fauna locais, é possível
identificar os indivíduos que passaram, pelo menos, parte da sua infância num local dife rente
(Price, et al, 1994; Price, et al, 2002).
Palavras-chave: Arqueologia; Megalitismo; Isótopos de estrôncio; Alvaiázere; Vestígios
osteológicos.
1.
SITES
Anta da Rego da Murta I and II are part of the Rego da Murta Late Neolithic/Copper Age
megalithic complex located in the Ribatejo region of Portugal near the municipality of
Alvaiázere. This complex consists of more than a dozen monuments, including four dolmens
(antas). In the area around this complex, several late prehistoric settlements h ave been
identified. In the natural caves surrounding the complex, Late Neolithic/Copper Age burials
have also been discovered in which the types of grave goods and the treatment of the human
remains are very similar to the ones observed at the megalithic burial monuments. However,
in the domens, if is more common to find objects of personal adornment manufactured from
exotic raw materials, suggesting that some of the individuals in these burials may have been
migrants or associated with long distance trade. Other megalithic complexes, like the Rego da
Murta complex, have not been found in the region surrounding Alvaiázere, however isolated
dolmens, usually ones that have been previously disturbed or destroyed, have been noted
(Figueiredo, 2006).
2.
MATERIALS
For the site of Anta da Rego da Murta I enamel was sampled from 10 adults (Table 1). For Anta
da Rego da Murta II enamel was sampled from 11 adults, 3 adolescents and 1 child (Table 2).
Bone or enamel samples were taken from the remains of 8 animals recovered from the burial
sites as well in order to establish local baseline 87Sr/86Sr ratios. These faunal samples included
3 rodents, 2 rabbits, a horse, a cow and a pig.
Site
Sample
Age estimate
Individual
Rego da Murta I
RMI 110
Adult
Adult 1
Rego da Murta I
RMI 299
Adult
Adult 2
Rego da Murta I
RMI 26
Adult
Adult 3
Rego da Murta I
RM1 279
Adult
Adult 4
Rego da Murta I
RM1 267
Adult
Adult 5
Rego da Murta I
RM1 405
Adult
Adult 6
Rego da Murta I
RM1 674
Adult
Adult 7
Rego da Murta I
RM1 384
Adult
Adult 8
Rego da Murta I
RM1 325
Adult
Adult 9
Rego da Murta I
RM1 305
Adult
Adult 10
Table 1: Samples taken from Rego da Murta I.
Age
0191 |
Site
Sample
Rego da Murta II
RM2 163
estimate
Young adult
Individual
Adult 1
Rego da Murta II
RM2 1000
Young adult
Adult 2
Rego da Murta II
RM2 823
Adult
Adult 3
Rego da Murta II
RM2 802
Adult
Adult 4
Rego da Murta II
RM2 631
Adult
Adult 5
Rego da Murta II
RM2 1003
Adult
Adult 6
Rego da Murta II
RMII 668
Adult
Adult 7
Rego da Murta II
RM2 624
Adult
Adult 8
Rego da Murta II
RM2 5
Adult
Adult 9
Rego da Murta II
RM2 1005
Adult
Adult 10
Rego da Murta II
RM2 807
Adult
Adult 11
Rego da Murta II
RM2 685
10-15 yr
Adol 1
Rego da Murta II
RM2 690
10-15 yr
Adol 2
Rego da Murta II
RM2 1001
10-20 yr
Adol 3
Rego da Murta II
RM2 640
6-9 yr
Child 1
Table 2: Samples taken from Rego da Murta II.
3.
METHODS
Enamel surfaces were cleaned with acetone and the top layer of enamel was removed. Next a
small amount of enamel (4-10 mg) was removed with a Dremel drill for analysis. Third molars
were preferentially selected as the crowns generally form between the ages of seven and
sixteen and therefore represent a post weaning time period stretching into adolescence. When
not available, 2nd and 1st molars were used instead. Strontium was extracted from aciddigested enamel samples using Sr spec ion-exchange resins in the University of Iowa
Department of Geoscience clean lab. 87Sr/86Sr ratios were measured using a Nu Plasma HR
multicollector inductively-coupled-plasma mass-spectrometer (MC-ICP-MS) in the Department
of Geology at the University of Illinois at Urbana-Champaign. All ratios were normalized to a
NISB 987 international standard value of 0.710268 which had a reproducibility of ± 0.000034 (2
s.d., n= 46). The local bioavailable Sr composition is defined by 2 standard deviations from the
mean of the small fauna’s (rabbit and rodent) 87Sr/86Sr ratios.
4.
RESULTS AND DISCUSSION
The 87Sr/86Sr ratios for the 10 sampled humans from Rego da Murta I were fairly
heterogenous with a high of 0.719810 and a low of 0.711012. The average for the human
samples from this burial was 0.713867± 0.0032 (Table 3). For Rego da Murta II the 87Sr/86Sr
ratio data for the 15 sampled humans were similarly variable with a hi gh of 0.717985, a low of
0.710757, and an average of 0.713491 ± 0.0020(Table 4). The 87Sr/86Sr ratios for the sampled
fauna were more homogenous than the sampled humans at either burial site with a high of
0.713955 a low of 0.711062 and an average of 0.712378 ±0.001019 (Table 5).
For the Rego da Murta burials, the sampled microfauna (rodents and rabbits) were used to
define the local 87Sr/86Sr ratio range. For the microfauna, the 87Sr/86Sr ratios clustered very
closely together with a high of 0.712423 a low of 0.711062 an average of 0.711723 ±0.000502.
Using the standard practice of estimating local range as 2sd from the average of the sampled
small fauna, the local range for the Rego da Murta burials is defined as 0.71272 - 0.71071
(Table 6).
Site
Sample
Age estimate
Individual
Sr
RMI
Rego da Murta I
110
0.713935
Adult
Adult 1
3
RMI
Rego da Murta I
299
Sr corr
0.7139159
0.719688
Adult
Adult 2
1
Adult
Adult 3
8
0.7196509
0.711931
Rego da Murta I
RMI 26
RM1
Rego da Murta I
279
0.711608
Adult
Adult 4
2
RM1
Rego da Murta I
267
Rego da Murta I
405
Adult
Adult 5
3
Adult
Adult 6
0
384
Rego da Murta I
325
Rego da Murta I
305
0.7124848
0.711649
Adult
Adult 7
8
RM1
Rego da Murta I
0.7136331
0.712522
RM1
674
0.7115710
0.713670
RM1
Rego da Murta I
0.7118946
0.7116126
0.711050
Adult
Adult 8
1
Adult
Adult 9
7
Adult
Adult 10
1
RM1
0.7110129
0.713125
RM1
0.7130885
0.719848
0.7198109
ave
0.7138675
sd
0.003227
Table 3: Results – Rego da Murta I. Migrants in green. Humans that fall just outside of the fauna local ratio range in yellow.
Site
Sample
Age estimate
Individual
Sr
Sr corr
Rego da Murta II
RM2 163
young adult
Adult 1
0.7164659
0.7164287
Rego da Murta II
RM2 1000
young adult
Adult 2
0.7117497
0.7117125
Rego da Murta II
RM2 823
adult
Adult 3
0.7134327
0.7133955
Rego da Murta II
RM2 802
adult
Adult 4
0.7120697
0.7120325
Rego da Murta II
RM2 631
adult
Adult 5
0.7159651
0.7159279
Rego da Murta II
RM2 1003
adult
Adult 6
0.7121590
0.7121218
Rego da Murta II
RMII 668
adult
adult 7
0.7141416
0.7141044
Rego da Murta II
RM2 624
adult
Adult 8
0.7180224
0.7179852
Rego da Murta II
RM2 5
adult
Adult 9
0.7123815
0.7123443
Rego da Murta II
RM2 1005
adult
Adult 10
0.7107951
0.7107579
0193 |
Rego da Murta II
RM2 807
adult
Adult 11
0.7152145
0.7151773
Rego da Murta II
RM2 685
10-15 yr
Adol 1
0.7132916
0.7132544
Rego da Murta II
RM2 690
10-15 yr
Adol 2
0.7136308
0.7135936
Rego da Murta II
RM2 1001
10-20 yr
Adol 3
0.7120585
0.7120213
Rego da Murta II
RM2 640
6-9 yr
Child 1
0.7115563
0.7115191
ave
0.7134918
sd
0.0020712
Table 4: Results – Rego da Murta II. Migrants in green. Humans that fall just outside of the fauna local ratio range in yellow.
Site
Sample
Age estimate
Individual
Sr
Sr corr
Rego da Murta II
RM2 163
young adult
Adult 1
0.7164659
0.7164287
Rego da Murta II
RM2 1000
young adult
Adult 2
0.7117497
0.7117125
Rego da Murta II
RM2 823
adult
Adult 3
0.7134327
0.7133955
Rego da Murta II
RM2 802
adult
Adult 4
0.7120697
0.7120325
Rego da Murta II
RM2 631
adult
Adult 5
0.7159651
0.7159279
Rego da Murta II
RM2 1003
adult
Adult 6
0.7121590
0.7121218
Rego da Murta II
RMII 668
adult
adult 7
0.7141416
0.7141044
Rego da Murta II
RM2 624
adult
Adult 8
0.7180224
0.7179852
Rego da Murta II
RM2 5
adult
Adult 9
0.7123815
0.7123443
Rego da Murta II
RM2 1005
adult
Adult 10
0.7107951
0.7107579
Rego da Murta II
RM2 807
adult
Adult 11
0.7152145
0.7151773
Rego da Murta II
RM2 685
10-15 yr
Adol 1
0.7132916
0.7132544
Rego da Murta II
RM2 690
10-15 yr
Adol 2
0.7136308
0.7135936
Rego da Murta II
RM2 1001
10-20 yr
Adol 3
0.7120585
0.7120213
Rego da Murta II
RM2 640
6-9 yr
Child 1
0.7115563
0.7115191
ave
0.7134918
sd
0.0020712
Table 4: Results, Rego da Murta II. Migrants in green. Humans that fall just outside of the fauna local ratio range in yellow.
Sample
Animal
Sr
Sr corr
RM F2
horse
0.7129479
0.7129107
RM F3
Cow
0.7135797
0.7135425
RM F5
Pig
0.7139925
0.7139553
RM F6
rodent
0.7124607
0.7124235
RM F7
rodent
0.7115183
0.7114811
RM F1
rodent
0.7118380
0.7118008
RM F9
rabbit
0.7118886
0.7118514
RM F10
rabbit
0.7110994
0.7110622
ave
0.7123785
sd
0.0010195
Table 5: Faunal results. Animals that fall just outside of the fauna local ratio range in yellow.
Sample
Animal
Sr
Sr corr
RM F6
rodent
0.7124607
0.7124235
RM F7
rodent
0.7115183
0.7114811
RM F1
rodent
0.7118380
0.7118008
RM F9
rabbit
0.7118886
0.7118514
RM F10
rabbit
0.7110994
0.7110622
ave
0.7117238
sd
0.0005020
2sd
0.0010041
range high
0.7127280
range low
0.7107196
Table 6: Small fauna results and calculated local range.
Figure 1: Scatter plot of results. Original local range in dark yellow. Adjusted local range in light yellow.
The standard deviation for the combined human samples was four times greater than the
standard deviation for the rodents and rabbits, suggesting that the human population was
occupying more diverse landscapes. Based on the data from the microfauna, 5/10 (50%) of the
sampled humans from Rego da Murta I can be classified as migrants and 8/15 (53%) of the
Rego da Murta II burial are migrants, as well as two of the sampled fauna. Of these 14
individuals and two animals, 7 humans and the 2 animals have 87Sr/86Sr ratios that (at 0.7145
or below) are close to the greater end of the local range as defined by the small fauna. The
greater variability of the human 87Sr/86Sr isotope data when compared to the small fauna,
the clustering of humans in the 0.7145- 0.710 87Sr/86Sr ratio range, and the fact that two of
the three larger animals also exhibited 87Sr/86Sr ratios slightly higher than the local range,
suggests that the sampled small fauna may present too narrow of an 87Sr/86Sr isotope range
to accurately describe the local human populations. The difference could be due to the fact
that the rabbits and rodent used in this study may have inhabited too limited of a geologic
area to represent the lithographic diversity of this geographic region. To compensate for this
finding, in this study the local range has been expanded to 0.7145- 0.710. With this
adjustment, 2/10 (20%) of the humans from Rego da Murta I and 4/15 (27%) of the humans at
0195 |
Rego da Murta II continue to be classified as migrants (Figure 1). All of these individuals have
87Sr/86Sr isotope ratios that exceed the local range, from 0.7151- 0.7198. Recent work by
Boaventura et al. (2010) found the local strontium isotope range for the large settlement site
of Perdigões in the Alentejo region of Portugal to be f rom 0.714 -0.718. We know that raw
materials from the Alentejo commonly made their way into the Ribatejo and it may be that the
non-local individuals from Anta da Rego da Murta 1 and Anta da Rego da Murta 2 came from
this region as well. However, because of the geologic diversity of the Ribatejo and the
surrounding regions of Portugal more information about 87Sr/86Sr isotope ratios in small
fauna across the landscapes is needed to clarify these results.
CONCLUSION
In sum, dental enamel was sampled from 25 humans and 8 animals from the burials of Anta da
Rego da Murta I and Anta da Rego da Murta II and 87Sr/86Sr strontium isotope ratios were
obtained in order to identify migrant individuals in these burials. Based upon the resulting data
2/10 (20%) of the humans from Rego da Murta I and 4/15 (27%) of the humans at Rego da
Murta II can be classified as having had migrated into the region after childhood. Additional
strontium isotope mapping in the region is needed to clarify possible places of origin.
REFERENCES
Boaventura R, Hillier M, Grimes V. 2010. Moving around? Testing mobility with strontium
isotopes (86Sr/87Sr) in the Late Neolithic of South-Central Portugal. . 8th Encontro de
Arqueologia do Algarve: A Arqueologia e as outras Ciências, October 21st-23rd. Silves.
Portugal.
Figueiredo, 2006. Figueiredo, A. (2006) – Complexo Megalítico de Rego da Murta. Pré-História
recente do Alto Ribatejo (IV-IIº milénio a.C.): Problemáticas e Interrogações, publicação de
dissertação. Revista ângulo. Centro de Pré-História, Instituto Politécnico de Tomar, Vol. I,
Vol.IIa e Vol.IIb.
Price TD, Burton JH, Bentley RA. 2002. The characterization of biologically available strontium
isotope ratios for the study of prehistoric migration. Archaeometry 44:117-135.
Price TD, Grupe G, Schrotter P. 1994. Reconstruction of migration patterns in the Bell Beaker
period by stable strontium isotope analysis. Applied Geochemistry 9(4):413-417.
CONTRIBUTO PARA A ANÁLISE DO MEGALITISMO NO
ALTO RIBATEJO (1998-2001)
Alexandra Figueiredo
Instituto Politécnico de Tomar ([email protected])
0197 |
Contributo para a Análise do Megalitismo no Alto
Ribatejo (1998-2001)
Alexandra Figueiredo
Resumo:
Pretende-se apresentar as conclusões registadas com o estudo do fenómeno megalítico, de
1998 a 2001, no interior do projeto TEMPOAR I.
Neste sentido são apresentados dois sítios intervencionados, a Anta I de Rego da Murta,
Alvaiázere e o Monumento 5 da Jogada, Abrantes, bem como alguns dados comparativos
entre os dois núcleos.
Palavras-chave: Megalitismo, TEMPOAR, Alto Ribatejo, Pré-história, Cultos e Rituais
INTRODUÇÃO
Este artigo reporta-se aos trabalhos realizados entre 1998 e 2001 relativos ao megalitismo
da zona do Alto Ribatejo e às conclusões retiradas do estudo que se registaram no projeto
TEMPOAR I (Territórios e Mobilidade no Alto Ribatejo).
Nos termos deste projeto foram intervencionados, entre 1998 e 2001, dois monumentos
megalíticos: A Anta 1 do Rego da Murta e o Monumento 5 da Jogada.
Os trabalhos de escavação desenvolvidos, sobretudo auxiliados por apoios logísticos de
algumas instituições públicas, pelas parcerias com outras instituições europeias e pelo
voluntarismo dos alunos do curso de Conservação e Restauro e Gestão do Território do
Instituto Politécnico de Tomar, possibilitou-nos chegar a um conjunto de dados mais
fiáveis para a interpretação deste fenómeno, ainda que consideremos insuficiente para
colher conclusões que nos permitam compreender na totalidade o megalitismo desta
região.
Este artigo será dividido em duas partes:
•
A primeira referir-se-á aos monumentos megalíticos intervencionados entre 1998
e 2001, nomeadamente a Anta 1 do Rego da Murta e o Monumento 5 da Jogada.
•
A segunda explicitará algumas das conclusões consideradas no final deste periodo
de intervenção para o megalitismo do Alto Ribatejo.
ANTA I DO REGO DA MURTA (Alvaiázere)
Contexto Arqueológico
As construções tumulares não são muito conhecidas na região de Alvaiázere. Poder-se-á
mesmo dizer que existe uma espécie de hiato entre a zona da Figueira da Foz e a zona sul
do Distrito de Leiria (Leisner, 1998), talvez um pouco por falta de estudos sistemáticos
direcionados. Este pressuposto tem levado alguns investigadores a considerar que nesta
zona são praticados rituais e utilizados espaços diferentes do tipo de hábitos registados
nas regiões vizinhas (Oosterbeek, 1987), nomeadamente o uso de grutas. Mesmo as
posteriores descobertas e inventários realizados, após os estudos dos Leisner, pouco
adiantaram neste tipo de contexto.
Foi sobretudo pelo interesse e dedicação de alguns curiosos e pela realização de trabalhos
de prospecção de alunos de arqueologia do Instituto Politécnico de Tomar que se deram as
primeiras descobertas, tendo sido reconhecidos dois monumentos megalíticos, na
freguesia de Ramalhal, tendo sido designados por Anta I e II de Rego da Murta.
Estes dois monumentos distam um do outro cerca de 250 metros, não tendo sido
descoberto até 2001, mais nenhum outro monumento, à excepção de um menir observado
aquando do acompanhamento da variante de Tomar, IC3, junto ao limite da formação dos
Grés de Silves.
Em termos cientifico-metodológicos considerou-se necessário a realização novas
campanhas de prospecções sistemáticas em toda esta zona para uma melhor percepção do
espaço e dos actos simbólicos que ali ocorreram, tendo sido estes trabalhos, bem como as
intervenções arqueológicas nos dois monumentos sido propostos em novo projeto no
PNTA TEMPOAR II, aprovados pelo Instituto Português de Arqueologia.
Atualmente, com a continuação dos estudos no interior dos projetos SIPOSU-MC e
ANTROPE são contabilizados treze monumentos no núcleo de Rego da Murta, designado
por nós de Complexo Megalítico de Rego da Murta (Figueiredo, 2006).
Localização
O monumento em estudo implanta-se numa vasta plataforma de depósito fluvial a cerca de
20 metros da ribeira do Rego da Murta e do lado esquerdo da estrada municipal (Tomar Alvaiázere).
Geograficamente, a Anta 1 do Rego da Murta localiza-se nas coordenadas UTM, carta
militar 287 (Alvaiázere), com escala 1:25.000, no Meridiano: 554,300 e no Paralelo:
4401,900.
Metodologia de escavação
Durante este primeiro período de trabalhos, integrado no projeto TEMPOAR I, foi nosso
objectivo aplicar uma metodologia que se mantivesse a par das novas inovações e da
utilização das novas tecnologias. Foi neste sentido que foi desenvolvido um sistema de
informação geográfica com georreferenciação dos materiais encontrados e com a
vectorização de todas as estruturas postas a descoberto.
0199 |
Durante os dois primeiros anos (1998 e 1999) optou-se por dividir o monumento em 4
quadrantes, tendo sido iniciado a escavação do quadrante B e D, ainda com orientação e
sub-direção de investigadores da Universidade de Gotland. Só os materiais mais
importantes eram registados com um X, Y e Z.
A partir de 2000, já sob a total direcção da signatária e com a intensificação da escavação,
delimitou-se a área em estudo, materializada por dois eixos ortogonais, definido pelo
norte magnético e subdividido em quadrados de 1m lado.
Assim, realizou-se o levantamento topográfico com distâncias de ½ m de lado. O
levantamento foi realizado com o apoio da estação total Eica.
Todos os vestígios materiais foram devidamente etiquetados e coordenados pela estação
total, à excepção dos vestígios ósseos que foram exclusivamente etiquetados.
Relativamente à área de escavação, esta foi alargada no sentido SE acompanhando a
direção do corredor, continuando, contudo, a decapagem no centro do monumento no
sentido de chegar ao bed-rock e de registar toda a camada estratigráfica existente.
Após as diferentes decapagens em área procedeu-se ao desenho, tendo sido os diferentes
pontos registados pela estação total e integrados no sistema de informação geográfica.
Toda a terra retirada foi crivada, para um rastreio de presença de vestígios mais pequenos.
Nas principais zonas de escavação ou quando o estado do solo não permitia uma
observação mais cuidada, a terra foi levada para o laboratório para ser crivada com água.
A conservação do monumento foi garantida, durante estes anos, pela cobertura com telas e
terra, tendo sido no ano de 2003/2004 restaurada.
Esta mesma metodologia foi continuada em 2001, onde se ampliou o levantamento
topográfico a áreas adjacentes, tendo em vista proporcionar graficamente uma leitura
mais correcta da implantação do monumento.
Para além dos diferentes levantamentos de desenhos, as estruturas foram fotografadas na
vertical para posteriores vectorizações e integração no sistema de informação geográfica.
Em gabinete, os vestígios materiais foram devidamente lavados, consolidados, marcados e
desenhados.
Posteriormente, procedeu-se à vectorização das diferentes estruturas e à localização
espacial e integração contextual dos materiais encontrados. Para este efeito foi
desenvolvida uma base de dados em Access, que permitia o registo pormenorizado dos
achados. As fichas integravam sobretudo campos relacionados com o contexto e com as
características particulares de cada tipo de material encontrado.
No que diz respeito à vectorização e localização espacial foi desenvolvido um SIG (sistema
de informação geográfica) em ArcInfo 8.1 que permitiu dispor e relacionar a localização do
objecto com as suas diferentes características particulares.
Resultados
Estruturas
A câmara é constituída por oito esteios, sendo, desta forma, um monumento octogonal,
com cerca de 5 metros de diâmetro maior (Figura 1).
A passagem para o corredor é processado entre o esteio nono e décimo, encontrando-se o
monumento orientado a SE.
Figura 1: Anta 1 do Rego da Murta, após restauro, Alvaiázere. Vista de S-W.
Na delimitação da área do corredor foi observado uma estrutura de calcetamento do
esteio nono, bem como um conjunto de pedras que de alguma forma delineavam o limite
lateral Oeste do corredor (Figura 2).
O esteio a pertencente ao corredor encontra-se tombado para Oeste.
Destaca-se, também, a descoberta de um buraco de poste no lado esquerdo do corredor,
bem delimitado por pedras. Foi recolhida uma amostra desta terra para análise. O interior
desta estrutura não continha nenhum material (Figura 2).
0201 |
Figura 2: Imagem vectorizada dos desenhos de planta das estruturas escavadas na Anta 1 do Rego da Murta.
Estratigrafia
A estratigrafia registada permitiu chegar à conclusão da existência de 4 níveis
estratigráficos:
1. Camada de superfície humosa de tonalidade castanha. Contêm diversos fragmentos de
cerâmica recente e poucos vestígios de cultura material pré-histórica.
2. Camada argilosa castanha escura, compacta, com presença de uma grande quantidade
de materiais pré-históricos e alguns fragmentos de cerâmicas mais recentes.
3. Camada argilosa avermelhada, com uma elevada densidade de granulometria,
proveniente de depósitos fluviais da ribeira do Rego da Murta, com presença de alguns
materiais pré-históricos.
4. Camada argilosa avermelhada, com uma densidade granulometria inferior à camada C3,
sem presença de material antrópico.
Vestígios Materiais
Foram recolhidos vários fragmentos cerâmicos na sua maioria da camada C2, camada de
ocupação pré-histórica.
À excepção de um fragmento de cerâmica com decoração incisa arrastada, encontrada no
ano de 2001, podemos descrever a quase totalidade como cerâmica lisa, de formas
fechadas, esféricas e base recta, com uma espessura entre 6 a 14 mm (Figura 3).
Figura 3: Desenho de alguns fragmentos dos vasos cerâmicos da Anta 1 do Rego da Murta, Alvaiázere.
Os líticos, em maior número, contam-se sobretudo por elementos talhados, à excepção de
uma goiva em anfibolito polida e uma placa de xisto lisa com perfuração também ela
polida e sem decoração. Dos elementos talhados observa-se por ordem decrescente a
presença de lascas (na sua maioria retocadas e em sílex), lâminas (trapezoidais e
triangulares em sílex e uma em quartzo hialino completa) pontas de seta, micrólitos
(trapezoidais e crescentes), contas de colar (cor verde, talco e em xisto), alguns núcleos e
um pendente (variscite) (Figura 4 e 5).
0203 |
Figura 4: Desenho de algumas das pontas de seta provenientes da Anta 1 do Rego da Murta, Alvaiázere.
É ainda de assinalar a recuperação de instrumentos em osso (Figura 5).
a)
b)
f)
c)
d)
e)
g)
Figura 5: Desenho de material lítico e ósseo proveniente da Anta 1 do Rego da Murta, Alvaiázere. A) Adorno zoomorfo; b)
pendente de dente em javali; c) fragmento de placa de xisto; d) pendente de dente em javali; e) botão em quartzito com 3
perfurações; f) cossoiro em quartzito; g) pendente em quartzito.
Vestígios Osteológicos
Foram recuperados cerca de cento e cinquenta e oito dentes, tendo revelado até 2001 a
existência de dezoito enterramentos, sendo sete de crianças e três de adolescentes. Este
valor viria a se estender a um número mínimo de 50 indivíduos, no final dos trabalhos, em
2003.
As alterações morfológicas nos dentes denunciaram uma dieta composta quase na sua
totalidade por alimentos duros e abrasivos.
A diagnose sexual e etária permitiu concluir a presença de ambos os sexos e de várias
idades.
Amostras e análises
Devido à falta de recursos financeiros não foram realizadas até 2001 nenhumas análises
ou datações absolutas.
O MONUMENTO 5 DA JOGADA (Abrantes)
Contexto Arqueológico
A Anta 5 da Jogada integra-se num conjunto com mais 4 antas, localizado a Este do Rio
Zêzere.
Morfologicamente não se enquadra em nenhum tipo de monumento até então
inventariado nesta zona, tratando-se de um desvio claro à norma da necrópole que a
integra.
O estado de degradação deste monumento levanta-nos sérios problemas na sua
compreensão.
Contudo, a configuração do monumento leva-nos a considerar a sua inserção numa nova
tipologia e a separá-la em termos teóricos da funcionalidade e talvez do significado
simbólico que teriam os outros monumentos dolménicos que compõem a necrópole da
Jogada, Val da Laje ou Vale do Chãos.
Localização
O monumento 5 da Jogada encontra-se implantada na margem esquerda de um dos
afluentes do rio Zêzere, numa vertente virada para o rio e com visibilidade para a Anta do
Val da Lage.
Integra-se numa necrópole mais extensa composta por onze monumentos que se
implantam em chãs elevadas, com boa visibilidade.
Geograficamente, o monumento 5 da Jogada, localiza-se a 230 m de Altitude com
Meridiano: 561,24 e Paralelo: 4377,65 (coordenadas UTM) (Cruz e Oosterbeek 1998; Cruz
e Oosterbeek 1999).
Metodologia
Tratando-se de um local em situação de ser destruído, toda a metodologia foi
direccionada, pela responsável da escavação, para a minimização e protecção do local em
questão.
0205 |
Assim, ao longo dos 4 anos, foi realizado um registo fotográfico bastante intensivo a par da
escavação, em algumas áreas mais atingidas.
Todos os anos se procedia à limpeza, à remontagem dos eixos da escavação e à sua
consequente subdivisão em quadrados de 2 m de lado.
Durante estes anos também se desenvolveu um levantamento microtopográfico da zona a
intervencionar. Durante a escavação, as terras retiradas iam sendo peneiradas com uma
malha de 5 mm e todas as estruturas e perfis devidamente desenhados.
Os materiais recuperados foram coordenados e posteriormente tratados em laboratório,
tendo sido devidamente conservados, registados e em alguns casos reconstruídos.
Para a protecção do monumento foi utilizado “tela verde” e grandes blocos rochosos de
fixação.
Resultados
Estruturas
O monumento apresenta planta sub-circular, envolvida numa mamoa com cerca de 2m de
altura, 18 m de eixo maior (Norte-Sul) e 15m de eixo menor (Este-Oeste) (Figura 6).
Figura 6: Monumento 5 da Jogada, foto Ana Rosa Cruz.
Os esteios que compõem a câmara encontram-se adoçados ao afloramento.
Segundo Ana Rosa Cruz (2001), provavelmente este aglomerado poderá ser propositado
para a definição da estrutura e aproveitamento do espaço.
A laje de cobertura, também presente, encontra-se fracturada em dois blocos.
À semelhança da Anta 1 do Val da Laje, a mamoa encontra-se delimitada por um anel
periférico composto por um conjunto de pequenos blocos verticais, exposto no quadrante
Leste aquando da abertura de um caminho florestal. (Cruz e Oosterbeek 1998). Contudo a
maior parte das estruturas têm sido destruídas em função da plantação dos eucaliptos.
Estratigrafia
O estudo desenvolvido permitiu observar 3 unidades estratigráficas (Figura 7).
“Solo actual de textura pulverulenta e castanha-parda, com grande quantidade de matéria
orgânica em decomposição. Encontraram-se alguns fragmentos de cerâmica vidrados.
Camada composta por sedimentos areno-siltosos de côr amarelada, com presença de
artefactos e ecofactos pré-históricos.
Camada estéril com algum material pré-histórico que aparecem sem excepção por baixo
de blocos médios de gneiss.” (Cruz e Oosterbeek 1999).
Figura 7: Corte estratigráfico do Monumento 5 da Jogada, foto Ana Rosa Cruz.
Vestígios Materiais
Foram observados alguns fragmentos cerâmicos de cariz votivo (pequenas dimensões) e
outros rudimentares e de diâmetros alargados provavelmente de cariz mais funcional. Foi
possível recuperar 2 vasos quase completos de morfologia esférica (Cruz, 2001).
Os materiais líticos são na sua maioria talhados, entre eles destacam-se lascas de quartzo e
quartzito retocadas, fragmentos de lâmina e lamelas, pontas de seta (uma inacabada) em
sílex, um elemento de foice, raspadores, raspadeiras e um seixo rolado com entalhes
laterais de secção ovalada.
0207 |
Em anfibolito destacam-se 2 fragmentos de machado.
Amostras e análises
Devido à falta de recursos financeiros não foram realizadas até 2001 nenhum tipo de
análise contudo foram recolhidas diversas amostras para posteriores estudos.
ANÁLISE GENÉRICA DOS DOIS NÚCLEOS
Dos 13 monumentos conhecidos, em 2001, destes dois núcleos, foram intervencionados
totalmente a Anta 1 do Val da Laje (Abrantes); realizados trabalhos parciais nos
monumentos 5 da Jogada (Abrantes) e Anta 1 do Rego da Murta (Alvaiázere); realizadas
sondagens de verificação nas Antas 1, 2, 3 e 4 da Jogada (Abrantes), nas Antas 1 e 2 de Vale
dos Chãos (Abrantes); bem como prospectadas os monumentos 2, 3, 4 e 5 de Val da Laje
(Tomar), restando a Anta 2 do Rego da Murta (Alvaiázere) sem intervenções assinaláveis.
A grande destruição e alteração na sua estrutura que foram alvo algumas antas (2, 3 e 4 da
Jogada e 2, 3, 4 e 5 de Val da Laje) impossibilitaram-nos de retirar conclusões
pormenorizadas, sobretudo sobre a arquitetura estrutural que as constituía.
Do Complexo Megalítico de Rego da Murta eram conhecidos somente a Anta I e II de Rego
da Murta. Morfologicamente, estes dois monumentos são muito semelhantes, sendo ambos
munidos de uma câmara sub-circular de grandes dimensões (entre 3 a 5 metros de
diâmetro) com corredor orientado para a Ribeira da Murta.
A matéria-prima utilizada na sua construção é muito distinta das outras zonas analisadas,
havendo um aproveitamento da matéria-prima local (calcário).
O material recolhido aponta-nos para uma possível aproximação com o megalitismo da
Beira Litoral, havendo em alguns casos uma semelhança artefactual com as grutas do
Nabão.
Entretanto, os trabalhos de investigação mais recentes elevaram o número de
monumentos para treze: composto por antas, menires e estruturas atípicas.
Mais a sul, no núcleo que integra o Monumento 5 da Jogada, podemos considerar os
monumentos de Val da Lage (5 monumentos), a necrópole da Jogada (5 monumentos) e a
necrópole de Vale dos Chãos (2 monumentos), como um possível único núcleo.
Este conjunto de necrópoles poderá ser dividido em dois se atendermos ao rio como
fronteira divisória. Assim poderíamos considerar as estações do Val da Laje num conjunto
e as da Jogada e Vale do Chãos num outro diferente. Contudo os objectos encontrados nos
dois locais, a inter-visibilidade entre alguns monumentos com o lado oposto do rio, bem
como as estruturas e a morfologia arquitectónica apontam-nos para a existência de um,
possível, único grupo.
Este último conjunto, composto por 12 monumentos, localiza-se entre o concelho de
Abrantes e Tomar, nas duas margens do Rio Zêzere.
À excepção do monumento 5 da Jogada, que se localiza numa vertente direccionada para o
Rio (figura 10), todos os outros monumentos encontram-se mais próximos de ribeiras e
afluentes, implantando-se contudo em zonas elevadas de grande visibilidade.
Morfologicamente, também o monumento 5 da Jogada se destaca em relação aos outros
monumentos que estruturalmente poderão ser descritos como monumentos dolménicos
com câmara simples de pequenas dimensões, corredor curto e laje de cobertura única.
Em termos cronológicos não podemos apontar dados seguros sobre o processo evolutivo
deste tipo de culto ao longo dos tempos, sobretudo devido à falta de datações radiocarbónicas e destruição de alguns destes monumentos dos quais não contemos
informações significativas. A datação relativa do material encontrado e a possível
existência de enterramentos de fossa aponta-nos, à primeira vista, para uma ocupação
mais tardia do monumento 5 da Jogada em comparação com os monumentos de câmara e
corredor implantados nas suas imediações e de uma provável antiguidade dos
monumentos do Vale do Chãos em relação aos da Jogada e do Val da Laje.
Em alguns monumentos (Anta 1 do Val da Laje) observa-se uma ocupação contínua ou
faseada do Neolítico à Idade do Bronze, um pouco semelhante ao registado na Anta I e II
de Rego da Murta.
CONCLUSÃO
Num primeiro balanço muito genérico podemos apontar a seguinte tipologia para estes
dois núcleos:

Estruturas de dólmen com corredor e câmara de grandes dimensões localizados
em zonas planas (Anta 1 e 2 do Rego da Murta, Alvaiázere).

Estruturas de fossa (figura 8), sob mamoa em terra, com associação de alguns
monólitos a afloramentos e com visibilidade directa para grandes cursos fluviais (figura 9)
(o monumento 5 da Jogada).

Estruturas de dólmen com corredor localizados em zonas elevadas sem
visibilidade directa para cursos fluviais (Anta 1 do Vale da Laje, Anta 1 e 2 de Vale do
Chãos, Anta 1, 2, 3 e 4 da Jogada).
A anta 2, 3, 4 e 5 do Val da Laje localizam-se em cotas inferiores aos outros monumentos,
mas mantendo alguma visibilidade apesar de não terem uma relação directa com o Rio
Zêzere, contudo por se encontrarem completamente destruídas, não nos permitem retirar
ilações sobre a sua estrutura arquitectónica.
A implantação dos monumentos apesar de diversificada em alguns casos, sobretudo pelas
diferenças de relevo, encontra-se a uma cota entre os 130 e os 230 metros de altitude e na
sua maioria relacionadas ou muito próximas de cursos fluviais.
0209 |
Figura 8: Pormenor da fossa do monumento 5 da Jogada, foto Ana Rosa Cruz.
Figura 9: Vista para o Rio Zezere do Monumento 5 da Jogada.
BIBLIOGRAFIA
CRUZ, A. R.; OOSTERBEEK, l. (1998) – Anta 1 do Rego da Murta. Techne. Tomar:
Arqueojovem, vol. 4, 92-102;
CRUZ, A. R.; OOSTERBEEK, l. (1998) – Relatório da Campanha Arqueológica de 1997.
Techne. Tomar: Arqueojovem, vol. 4, 61-78;
CRUZ, A. R., OOSTERBEEK, L. (1998) – Relatório da Campanha Arqueológica de 1997.
Techne. Tomar: Arqueojovem, nº 6, 75-8;
FIGUEIREDO, A. (2006) – Complexo megalítico de Rego da Murta. Pré-história Recente do
Alto Ribatejo (Vº-IIº milénio a.C.): Problemáticas e Interrogações. Porto: Tese de
doutoramento apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto,
(policopiado);
LEISNER, V. (1998) – Die Megalithgraber der Iberischen Halbinse/ von Vera Leisner/
Deutsches Archaologisches Institut, Abteilung Madrid. Berlin: Walter de Gruyter,
(Madrider Forschungen, 1). Der Westen/ Aus dem NachlaB zsgest. Von Phililine Kalb.
0211 |
OS MENIRES DO COMPLEXO MEGALÍTICO DE REGO DA
MURTA (ALVAIÁZERE, LEIRIA): RESULTADOS DAS
INTERVENÇÕES DO MENIR I E II DE REGO DA MURTA.
Alexandra Figueiredo
Instituto Politécnico de Tomar ([email protected])
Os Menires do Complexo Megalítico de Rego da
Murta (Alvaiázere, Leiria): Resultados das
Intervenções do Menir I e II de Rego da Murta.
Alexandra Figueiredo
RESUMO
O Menir I e II de Rego da Murta localizam-se em Ramalhal, no concelho de Alvaiázere, distrito
de Leiria.
Integram-se num conjunto de mais onze monumentos que perfazem o Complexo Megalítico
de Rego da Murta.
Durante o ano de 2004 e 2005, no sentido de percecionar a estrutura e as deposições
associadas, foram desenvolvidas escavações parciais nestes monumentos.
Neste artigo pretendemos apresentar os dados exumados e as conclusões registadas.
Palavras-Chave: Menir; Megalitismo; Pré-História; Alvaiázere; Alto Ribatejo.
1. INTRODUÇÃO
O estudo dos menires sempre foram relegados para segundo plano se comparados com os
trabalhos de investigação relacionados com os monumentos dolménicos. Mesmo os trabalhos
de Leisner não lhe deram grande destaque (Leisner, 1944; Leisner, Leisner, V., 1943).
De facto “estes monumentos sempre foram considerados mais problemáticos do que os
dólmens, quanto ao seu potencial informativo global e, em parte por isso mesmo muito mais
difíceis de “arrumar” em termos cronológicos e funcionais (Calado, 2006, 15). A par disto, a
associação quase sistemática a uma ausência de mobiliário e a sua desproporção numérica em
comparação com os dólmens terão sido os fatores fundamentais para o seu desinteresse.
A mais antiga alusão à função destes monumentos é referida por Aristóteles, em que
menciona que “iberos ou hispanos elevaram em volta do túmulo tantos monólitos como os
inimigos mortos pelo indivíduo nele sepultado (Alves, 1934, 557-558, Apud Calado, 2006, 48).
No entanto, no nosso território, as primeiras tentativas de interpretação ocorreram no séc.
XIX, um pouco relacionadas com os pensamentos que iam surgindo no estudo dos
monumentos megalíticos do centro-europeu. Estas referências associam estes monólitos a
atos de práticas solenes (Pereira, 1880), demarcações de territórios com funções memoriais de
atos e zonas de reuniões sociais (Veiga, 1891, 235).
0213 |
Ao longo do século XX e a par destes pressupostos vão-se salientando novas aportações,
adicionando-lhes novos conceitos, tais como: marcos de áreas ou fronteiras (Leisner, 1944);
representações de antropomorfos, designados em alguns casos como e státuas-menir (Pina,
1971, 151-161; Bueno-Ramírez, Balbín-Behrmann, 1996, 41-64; Calado, 1997, 296; Jorge,
Oliveira Jorge, 1991, 341-384; Gomes, 1997, 255-288); santuários de adoração a divindades ou
estruturas fálicas relacionadas com complexos conceitos sociológicos de fertilidade (Jorge,
Almeida, 1980; Gomes, 1986; Gonçalves, 1970, 157-176), apresentando, em alguns casos, a
própria glande (Gomes, 1997, 256).
O sítio de Rego da Murta compõe um conjunto de treze monumentos, destacando -se, entre
eles quatro dolmens e vários menires. Estes organizam-se em torno da Anta II de Rego da
Murta, formando uma espécie de semicírculo, ainda que sem grande estruturação aparente.
Em média os menires distanciam-se da Anta II em cerca de 150 metros. Entre os menires
registados destacam-se o Menir I e II de Rego da Murta, localizando-se o primeiro a cerca de
87 metros para oés-sudoeste e o menir II a 177 metros para nordeste. Entre os menires
observou-se a distância de 159 metros.
Figura 1: Relação espacial entre os menires e a Anta II de Rego da Murta.
A opção pela escavação destes dois menires em detrimento dos outros prendeu -se pela sua
localização in situ, todos os outros aparecem tombados à superfície.
Não se registou nenhum menir associado aos doutros dolmens que integram o Complexo.
Os materiais registados encontram-se em arquivo no Museu Municipal de Alvaiázere.
2. MENIR I e II DE REGO DA MURTA
2.1 Arquitetura e Deposições
Morfologicamente os menires I e II são muito semelhantes, contendo somente uma das faces
polida (a face virada a sul – direcionada para a ribeira do Rego da Murta), que lhes dá uma
secção em forma de crescente. A orientação dos menires é idêntica aos monum entos
funerários. No entanto, os outros menires pertencentes a este núcleo apresentam
características diferentes (alguns não têm faces polidas e são de diferentes dimensões (desde
os 50 cm a quase 2 metros de altura), com seções semi -circulares, sub-retangulares ou
trapezoidais.
O Menir I possui de comprimentos 1,46 metros por 50 cm de largura máxima, localizado na
zona superior e 26,5 cm, junto à base.
Figura 2: Vista lateral do Menir I de Rego da Murta. Esquerda – Fotografia; Direita – Desenho de corte. A seta indica o norte.
A escavação do Menir I permitiu diferenciar três camadas, apresentando-se a camada C3 sem
vestígios de deposição.
Na base do menir registamos duas pedras que serviriam de calcetagem do menir. Se
considerarmos estas como a base de assentamento do menir verificamos que o mesmo teria
sido erguido na camada C2, podendo ter migrado, ao ser puxado por trabalhos agrícolas para a
camada C1. Também a maior parte dos vestígios materiais registam-se na Camada C2.
Os trabalhos de campo consistiram no levantamento de perfis geológicos, com observações
geomorfológicas e estratigráficas das seções expostas, acompanhadas da coleta de amostras
para análises sedimentológicas.
As camadas estratigráficas podem ser descritas da seguinte forma (figura 2):
C1 – Camada de superfície, parcialmente pedogenizada, humosa, de tonalidade creme.
Corresponde à camada onde é exercida a ação biológica e antrópica local e atual. Foram
encontrados, em ambos os menires, alguns núcleos e em maior número lascas. Os objetos
inseridos na camada 1 referem-se, para além dos objetos desta camada provenientes pela
escavação, aos objetos encontrados à superfície, durante a prospeção.
C2 – Camada composta por areias grosseiras, avermelhada e semi-compata. Com presença de
materiais. É a camada de ocupação do Menir I.
C3 – Camada castanha avermelhada escura, muito compacta. Com a presença de artefactos,
sobretudo no topo, no caso do Menir I, onde possui algumas pedras de calçamento na
passagem para a camada 2. No caso do Menir II é notório a sua real integração, como camada
de ocupação. É de constituição grosseira no Menir I e apresenta maior quantidade de silts e
argilas no Menir II.
0215 |
O menir II de Rego da Murta possui cerca de 0,97 m de comprimento, por 0,53 cm de largura
máxima, que é atingida na zona central.
Durante os trabalhos de escavação e, à semelhança do Menir I, foi possível registar as mesmas
três camadas já descritas, estando o Menir II assente na camada C3, sendo que na camada 3
integramos uma outra unidade estratigráfica a que designamos de 3b. A C3b circunscreve -se a
uma pequena área integrada dentro da camada 3 onde foi observado uma concentração de
objetos (lascas e núcleos) e um grande conjunto de sementes. É de cor castanha escura
avermelhada e de granulometria média. No que diz respeito à camada C2, ao contrário do
Menir I, ela ocupa no perfil do Menir II uma dimensão relativamente reduzida. No entanto,
também nela se observaram a deposição de artefactos.
É ainda importante registar que o menir II encontra-se fragmentado, talvez provocado pelo
mesmo motivo da descontextualização estratigráfica do menir I.
Por baixo do fragmento menor, localizado absolutamente in situ observa-se um conjunto de
pedras, mais estruturadas, semelhante à morfologia das pedras de calçamento do menir I.
Figura 3: Esquerda – Imagem do corte do Menir II do Rego da Murta; Direita – Corte do Menir II do Rego da Murta. a) Fragmento
do menir II; b) fragmento maior do menir, que se manteve à superfície. A seta indica o norte.
A fossa apresenta uma morfologia subcircular e encontra-se a norte do menir, do lado
recortado do menir, iniciando-se exatamente na base de assentamento das pedras que calçam
o menir. Apresenta uma profundidade de cerca de 27 cm.
Figura 4: Desenho da delimitação e interpretação da fossa de deposição dos vestígios materiais observada frente ao Menir II de
Rego da Murta.
2.2. Análises Sedimentológicas
Para comprovação estratigráfica e verificação da origem das camadas analisadas nos menires,
foram recolhidas seis amostras (três de cada monumento).
As análises sedimentológicas foram realizadas atendendo aos métodos convencionais,
adotando-se o peneiramento das partículas à escala granulométrica de 2,00 mm / 1,4 mm /
1,00mm / 0,71mm / 0,5mm / 0,25mm / 0,125mm / 0,063mm e restante (composto por silts e
argilas). Estas análises foram realizadas no Laboratório do Centro de Pré -História, do Instituto
Politécnico de Tomar.
100,00
90,00
80,00
Frequência %
70,00
60,00
50,00
40,00
30,00
20,00
10,00
0,00
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Valor de Phi
Menir I - Camada 1
Menir I - Camada 2
Menir I - Camada 3
Menir II - Camada 2
Menir II - Camada 2/3
Menir II - Camada 3
Quadro 1: Gráfico com as curvas da % comulativa e o valor de Phi observado nas análises efectuadas às amostras provenientes do
Menir I e II do Rego da Murta.
Percentagem do valor de sedimentos
crivados
100,00
90,00
80,00
70,00
60,00
50,00
40,00
30,00
20,00
10,00
0,00
0
0,063
0,125
0,25
0,5
0,71
1
1,4
Abertura dos crivos
0217 |
Menir I - Camada 1
Menir I - Camada 2
Menir I - Camada 3
Menir II - Camada 2
Menir II - Camada 2/3
Menir II - Camada 3
2,00
Quadro 2: Gráfico de análise entre o valor percentual dos sedimentos crivados e a abertura dos crivos (mm).
Silts e Argilas
Areias
0.063<
Gravilha
Grão fino
Medio
Grosseiro
0.063<0.2
0.2<0.6
0.6<2.0
<2.0
Quadro 3: Quadro de interpretação do gráfico.
Menir I
Zona de recolha
das amostras
Menir II
Camada 1
Camada
Camada 2
Camada 3
de
Camada de ocupação,
remeximento junto
zona de assentamento
ao menir
do Menir
Camada 1
Camada 2
retirada
exactamente
por baixo do menir
Zona de recolha
à
base
sondagem
Por baixo do resto do
esteio fracturado do
menir,
local
de
assentamento
Camada
das amostras
da
Camada 3
Camada de ocupação,
-
Junto
2/3
reconhecida no corte
-
-
oeste. Possui artefactos,
assemelha-se à camada
por baixo do menir.
Quadro 4: Distribuição das amostras pelas camadas correspondentes .
Os resultados obtidos permitem concluir o seguinte:
Os gráficos apresentam três grupos de pares. Um par mais argiloso que corresponde a duas
amostras retiradas do Menir II, ambas da camada C31, um par correspondente à camada C2 do
Menir I e II e, por fim, um par correspondendo à camada C1 e C3 do Menir I.
As seis amostras analisadas não parecem ter uma correlação clara, à excepção da camada C2.
O Menir I apresenta valores inferiores, na percentagem de siltes e argilas aos do Menir II,
encontrando as amostras calibradas no tipo das areias grosseiras.
1
O nome camada C2/3 está relacionado com a indicação aquando da recolha, que não
apresentava claramente uma tonalidade idêntica à camada C3, mas parecia-se integrar nela.
As análises permitiram confirmar que se trata da mesma camada. No entanto, optamos por
designá-la de 2/3 para se distinguir da amostra retirada da camada C3
Menir I
Amostras
Menir II
Amostras
Camada
Descrição
C1
Areias grosseiras
C2
Areias grosseiras / média
C3
Areias grosseiras
Camada
Descrição
C2
Areias grosseiras / média
C2/3
Argilo-siltoso
C3
Argilo-siltoso
Quadro 5: Interpretação das amostras sedimentológicas.
A concentração máxima de sedimentos argilo-siltosos é observada na camada C3 do Menir II.
Esta mesma camada, apesar de idêntica, macroscopicamente, quer no Menir I e II é
sedimentologicamente muito dispare, devido provavelmente à origem da sua formação (fluvial
ou eluvial). Esta camada alberga, no Menir II, a base de assentamento do monólito e também
integra artefactos (a par com a C2). Ao contrário, no Menir I, a camada designada por C3, é
estéril, sendo por isso anterior à ocupação.
A camada C3, do Menir I, será do mesmo tipo de origem da camada C1, que se observa ao
longo da área de implantação destes monumentos.
A camada C2 (camada de ocupação) é muito semelhante nos dois menires, comportando-se de
forma idêntica nos gráficos analisados. Os resultados obtidos confirmam a presença da mesma
camada nos dois monumentos. Apresenta uma origem, possivelmente, coluvial. Esta origem
não está clara, pois apresenta distúrbios resultantes de processos de remeximento durante a
ocupação que colocam a sua interpretação um pouco imprecisa.
No Menir I a camada C1 e C3, apesar de terem sido formadas em alturas diferentes
apresentam o mesmo tipo de origem.
Menir I
Origem
Camada C1
Coluviais
Camada C2
Coluviais
Camada C3
Coluviais
Menir II
Origem
Camada C2
Coluviais
Camada C 2/3
e3
Fluvial ou Eluvial
Quadro 6: Relação entre as camadas observadas e o tipo de origem com que estão relacionadas.
0219 |
A espessura e as diferenças tonalidades observadas nos depósitos coluviais do Menir I sugere
que a deposição tenha ocorrido em diversas etapas.
2.3. Materiais
No que diz respeito aos artefactos, na totalidade, no menir I foram registados 251 utensílios
(172 lascas e 79 núcleos) distribuídos pelas camadas C1 e C2.
Dos materiais observa-se uma grande percentagem de núcleos que se distribuem
equitativamente pelas camadas, encontrando-se em maior quantidade na camada C2. As
lascas observam-se em maioria na passagem para a camada c3.
Se analisarmos o material, tendo em conta a existência de córtex, verificamos que uma grande
percentagem das lascas, cerca de 48% é cortical, tendo sido usados pequenos nódulos de chert
para o fabrico destes instrumentos. Também registamos uma exploração intensiva da matériaprima. Os próprios núcleos rondam os 4 cm de comprimento máximo, por 3cm de largura e
1,5cm de espessura. As lascas são relativamente estreitas e abatidas, apresentando pouca
robustez e os núcleos são pequenos e intensivamente explorados, com uma robustez média.
A análise aos retoques e traços de uso permitiu chegar à conclusão que só uma pequena
percentagem, cerca de 26%, teria sido utilizada como artefacto. No entanto, o tipo de sílex,
muito poroso, que facilmente se desgasta, dificultou esta interpretação, não a tornando exata,
podendo esta percentagem alterar-se para valores inferiores.
Interessante, no entanto, verificar que a maioria dos objetos que possuem valores de
alongamento médio ou próximo da média são os objetos que apresentam traços de uso e
retoques sobretudo no que diz respeito aos núcleos.
No caso do Menir II os valores aproximam-se muito dos apurados para o Menir I. Na totalidade
recuperaram-se 197 objetos líticos, sendo que 73% são lascas e 25% são núcleos distribuídos
pelas camadas C1, C2 e C3. Dos materiais observa-se que a grande maioria concentra-se na
camada C3 e essencialmente, na C3b (53%), mesmo juntando a camada C1 e C2, não
ultrapassa os valores obtidos para a terceira camada.
No que diz respeito à matéria-prima observa-se uma predominância do sílex, tipo chert, com
91% sobre o quartzo leitoso, com 5% e o quartzito, com 3%. Resta ainda 1% de material
fabricado em sílex, de boa qualidade.
Quanto ao córtex, à semelhança do Menir I de Rego da Murta verifica-se que a grande maioria
é cortical. Também, neste conjunto, se observou o talhe sobre pequenos nódulos e uma
intensa exploração. No entanto é importante salientar a obtenção de um grande núcleo na
base do monólito, integrado na camada C3b, apresentando um comprimento máximo de 20
cm, uma largura de 12 cm e uma espessura de 9,8 cm.
Registamos ainda na análise efetuada aos materiais recuperados que as lascas são estreitas e
menos abatidas que o Menir I, bem como muito pouco robustas. Os núcleos são relativamente
pequenos, espessos e com uma resistência bastante reduzida. A maior parte apresenta-se,
ainda, informe e poliédrico, com levantamentos alternados e bifaciais. Os núcleos em quartzo
e quartzito tendem a ser unifaciais.
Junto ao menir foi ainda possível recuperar um polidor em quartzito, idêntico aos observados
em contextos funerários (Anta II do Rego da Murta) e domésticos (Castelo da Loureira), bem
como dois fragmentos cerâmicos de fabrico redutor, com um tratamento alisado, textura
compacta e homogénea e com desengordurante de calibre inferior a <0,5mm. Um dos
fragmentos corresponde a um bordo, de colo estrangulado e com diâmetro indeterminado.
Figura 5: Desenho do fragmento de bordo recuperado do Menir II de Rego da Murta.
3. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
À semelhança do que se passa com os outros monumentos megalíticos do Alto Ribatejo (Cruz,
1997, 276; Figueiredo, 2006), estes monólitos terão sido retirados de afloramentos calcários
localizados, a poucos metros, para norte. Neste sentido, após o corte efetivo das rochas, eles
terão sido facilmente arrastados, sob troncos de madeira ou ainda revirados até à zona de
exposição.
A opção pela exposição da zona polida ou da barriga do monólito para o rio parece -nos de
todo evidente e obedeceria a algum critério simbólico-ritual. A sua disposição em redor da
Anta II é também um indício claro de um jogo de significância espacial. Cada objeto era
devidamente planeado e inscrito na paisagem.
Não se descarta a possibilidade da deposição constante, ainda que faseada, de materiais junto
a estas estruturas. Esta ilação é tida em conta pela presença de artefactos na camada C2 e C3
do Menir II. A estratigrafia deste monumento apresenta-se muito estável, não se tendo
verificado grandes alterações pos-deposicionais. Também o facto de se ponderar o Menir I
como posterior ao Menir II confirma o uso desta pratica e ritual durante um longo período de
tempo.
Quanto aos rituais de deposição não se observam grandes diferenças entre os vestígios
verificados na camada C2 (última camada de ocupação do Menir II e única do Menir I) e a
camada C3 (primeira camada de ocupação do menir II). Em ambas se associam artefactos
líticos e sementes. A única diferença reside na estrutura de fossa do Menir II, camada C3b,
onde a percentagem de material em carbono aumentou consideravelmente.
Os materiais observados nas escavações dos monólitos não apresentam grandes diferenças. A
quase totalidade dos artefactos é composta por pequenas lascas e núcleos corticais, em sílex,
do tipo chert, talhados ocasionalmente e quase até à exaustão, num processo de debitagem
aleatória, com vista à extração de lascas relativamente grosseiras.
Na totalidade foram recolhidos duzentos e cinquenta e um artefactos (sendo que 69% são
lascas e 31% são núcleos) no Menir I e cento e noventa e sete objetos no Menir II (registando se 73% de lascas e 25% de núcleos). Só uma pequena percentagem apresenta traços de uso
0221 |
(26% no caso do Menir I e 16% no Menir II) e somente um conjunto muito reduzido evidência
retoques (inferior a 5%).
Associado à indústria lítica, na camada C2 do Menir II, foram, também, recuperados dois
fragmentos, muito pequenos, de cerâmica alisada, com tex tura relativamente friável e
homogénea, apresentando um desengordurante de calibre inferior a <0,5 mm. Um dos
fragmentos é de um bordo, possivelmente de colo estrangulado e com diâmetro
indeterminado. Macroscopicamente, as cerâmicas são idênticas às observadas na Anta II e
encontram-se carbonizadas, o que confirma o uso do fogo.
BIBLIOGRAFIA
UENO RAMÍREZ, P.; BALBÍN-BEHRMANN, R. (1996) – El papel del elemento antropomorfo en el
arte megalítico ibérico. Révue Archéologique de l’Ouest. Sup. 8, pp.41-64;
CALADO, M. (1997) – Cromlechs alentejanos e arte megalítica. Atas do III Colóquio
Internacional de Arte Megalítico. A Coruña: Museo Arqueolóxico e Histórico, pp. 289-297;
CALADO, M. (2006) – Menires no Alentejo Central, GEMA, Grupo de Estudos do Megalitismo
Alentejano. Almansor: (http://www.crookscape.org), 1º volume, Montemor-o-Novo, Évora, p.
7-42;
CRUZ, A. R. (1997) – Vale do Nabão: do Neolítico à Idade do Bronze. ArKeos 3, Perspectivas em
diálogo. Tomar: CEIPHAR;
FIGUEIREDO, A. (2006) – Complexo megalítico de Rego da Murta. Pré-história Recente do
Alto Ribatejo (Vº-IIº milénio a.C.): Problemáticas e Interrogações. Porto: Tese de
doutoramento apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto,
(policopiado);
GOMES, M. V. (1997) – Estátuas-menires antropomórficas do Alto Alentejo, descobertas
recentes e problemática. Atas do III Colóquio Internacional de Arte Megalítico. La Coruña:
Museu Arqueolóxico e Histórico, p. 255-288;
GONÇALVES, J. P. (1970) – Menires de Monsaraz. Arqueologia e História. [s.l.]. IX s.: II, p. 157176,
JORGE, V. O.; ALMEIDA, C. A. (1980) – A estátua-menir fálica de Chaves. Porto: Grupo de
Estudos Arqueológicos do Porto;
JORGE, V. O.; OLIVEIRA JORGE, S. (1991) – Figurations humaines préhistoriques du Portugal:
dolmens ornés, abris peints, rochers gravés, statues-menhirs. Porto: Revista da Faculdade de
Letras, IIª série, vol. III, p. 341-384;
LEISNER, G. (1938) – Verbreitung und Typologie der Galizisch – nordportugiesischen
Megalithgräber. Marburg;
LEISNER, G. (1944) – O dolmen de falsa cúpula de Vale-de-Rodrigo. Biblos. Vol.XX, p.1-30;
LEISNER, G.; LEISNER, V. (1943) – Die Megalithgräber der Iberischen Halbinsel. Der Süden;
Berlim: Römisch-Germanische Forschungen, nº 17.
PEREIRA, G. (1880) – Antiguidades Prehistoricas. Dolmens d’Évora. O Universo Ilustrado.
Lisboa, nº 4 (32), p. 252-255;
PINA, H. (1971) – Novos Monumentos Megalíticos do Distrito de Évora. Atas do II Congresso
Nacional de Arqueologia. Coimbra, volume I, p. 151-161;
VEIGA, E. (1891) – Antiguidades Monumentais do Algarve. Lisboa: Imprensa Nacional, volume
IV.
0223 |
SECTIO
A PRE-HISTORIC ART DATABASE AND ITS RELATIONSHIP
WITH A GIS EXPERIMENTNOME
Alexandra Figueiredo
Instituto Politécnico de Tomar ([email protected])
0225 |
A Pre-Historic Art Database and its Relationship
with a GIS Experiment
Alexandra Figueiredo
RESUMO
Este artigo tem como objetivo apresentar um breve resumo das opções tecnológicas
consideradas e desenvolvidas para o estudo e catalogação da arte pré -histórica europeia. Este
trabalho foi realizado no âmbito da tese de Mestrado Europeu defendido, na Universidade de
Gotland, em 2001.
Este estudo permitiu também o desenvolvimento de um pensamento teórico e uma discussão
prática no sentido de propor soluções para a análise e inventário de arte pré-histórica
integrado no projeto EuroPreArt – co-financiado pela União Europeia, através do programa
Cultura 2000. O inventário e os resultados finais podem ser encontrados na página
www.europreart.net.
Palavras-chave: Euporeu; Arte; Pré-História; SIG; Base de Dados.
ABSTRACT
This article aims to present a short summary of the options considered and technological
developments made to the study and cataloging of prehistoric art in Europe. This work was
performed under the thesis of European Masters defended in Gotland University, in 2001.
This work was also carried out as theoretical thinking and practical discussion to propose
solutions for the study and inventory of prehistoric art EuroPreArt integrated into the proje ct
EuroPreArt, co-financed by the European Union, through the Culture 2000 program. The
inventory and final results can be found on page www.europreart.net.
Keywords: European; Art; Pre-Historic; GIS; Database.
1.
INTRODUCTION
The “Past Signs and Present Memories. European Prehistoric Art: inventory, contextualisation,
preservation and accessibility. – EuroPreArt” project was approved and co-financed by the
European Union through the Culture 2000 program.
Its aims were to establish a data-base of European prehistoric art documentation, that
included information’s about the art, images, maps and bibliography, to publish a guide of
good practice and to present the results to the wider public, by building a web -site.
As a further aim, it was intended to contribute to the awareness, among European population,
of the diversity and richness of European Prehistoric Art, as the oldest artistic expression of
Humankind.
It also aimed to the improvement of methodologies on techniques of inventory, storing dat a,
interdisciplinary, networking and accessibility/diffusion, namely using new information
technologies. It was intended the creation of a structure that may easy the introduction and
permanent actualisation of a large amount of data, coming from different sources and dates.
The project focused on selected clusters, examples of the diversity of sources, from rock art to
mobile art, from Palaeolithic to the Bronze Age, from old stored records to modern field work
studies.
Several European partners contributed for it’s accomplish, namely Portugal (coordinator of the
project by the Institute Polytechnic of Tomar), Sweden, Spain, Italy and Belgium.
After some weeks of discussion, the first guiding lines were established for a experimental
database that would support all the information regarding the surveying of pre -historic art
that were available in the participant institutions.
It was so created a database that was composed by 5 tables (Bibliography, Eurodb, Institutions,
Keywords and Links) and 6 forms (Bibliography, EuroPreArt, Institutions, Keywords, Links and
Pixnotes).
With the introduction of data, some little changes were made for the overall improvement of
the database, as it’s data complexity assumed as relational database with characteristics that
decreased to the minimum the entropy and reduction phenomena.
It was also thought that one of the next aims was the relationship of this database with a
Geographical Information System.
Fruit of this collaboration and the natural change of ideas, new goals have been established, in
a way that a all new project could be designed.
When the new Culture 2000 call for proposals opened, we wished the development of the
Europreart project with a new proposal with the title: “Memories looking into the future:
inventory, contextualization, preservation and accessibility”.
The aims of this new project is in few words: to promote new guidelines and a guide of good
practice about the application of information technologies to this kind of heritage; use the
socio-economic potential of prehistoric art to develop the regions in witch it is found, the
majority of witch is needed; to construct new kinds of web based contents, didactic and
scientific; to create a GIS that will be related with the database.
It was purposed to us, the improvement of the database and a development of an experience
of the connection of it with a GIS, using a restricted area, as a example of the analytical
potentialities that we can achieve with the use of a GIS and its relationship with the
information inserted in the database.
0227 |
The chosen area was the Spanish side of the Guadiana Valley, from where several hundreds of
carved rocks, from different periods, were recorded.
With this information we tried to make a set of thematic maps and spatial analysis with the
relation of the carved rocks and the kind of landscape were they are inserted.
In the same way, we tried to developed a 3D landscape representation to better understand
the space were the carved rocks are.
So, this work will be divided in three parts: the EuroPreArt database, the GIS connection and
the importance of using news technologies in archaeology, and the analysis of Rock Art in the
Cheles Zone.
2.
AIMS AND METHODOLOGY
The purpose of this work is mainly centred in the resolution of a set of problems that arose as
the EuroPreArt 2001 project was being accomplished.
These problems were related with the management of the database, the existence or not of
certain field, the relationship between the tables and the data, specific questions regarding the
preservation of findings manly those related with questions of informing the exact location of
sites, as others.
The principal aim is to create a user-friendly system that serves two different categories: The
researches archaeologists and the common people that have interest for the pre -historic art.
The first, can benefit from a powerful tool for their researches; the seconds, benefit in the
access to a simple information, in easy and optimised way, because of the inexistence of a
demanding for a highly sophisticated support system.
This information can be downloaded to the computer or seen online, having the user the
possibility of combine several layers.
Although, the access to some information is forbidden to the general public by a password that
is only of the knowledge of the researchers.
Having in account the problems arise from the needs of surveying, analysing, understanding,
summarize, manage, store and publish the data regarding to pre-historic art, as well as
problems related with the chronological and geographical borders of the project and all that it
is bound in it (different stiles, cultures, languages, etc), it has been defined as primordial
objectives:
1) The development and the improving of the informatics tools for data storing, in way that
makes possible its relationship with a GIS, through the:
•
Construction of a conceptual model.
•
Creation of new relational tables so redundancy could be minimized.
•
Construction of a relationship system between tables that coordinates all the
information regarding the same archaeological site, through the creation of key fields that
allowed the reduction of entropy.
•
Introduction of new necessary attribute and change the structure of others, through
the introduction of entry masks, validation rules, query’s or other relational mechanisms, etc.
•
Change of the views structure.
•
Elaboration of helps forms for the comprehension of the data introduction and one
guide of data entering (Appendix C).
2) The conceptualisation of a archaeological information management geo-referenced system,
that served for the research and divulgation of the pre-history artistic heritage, serving as an
demonstration example and that could be permanently actualised.
This should be realized through the:
•
Gathering and systemisation of all the archaeological data existing for the chosen
region – the Guadiana Valley Cheles Zone.
•
Treatment of all digital cartography, aerial photo, and other documents, data.
•
Introduction of all the carved rocks and its relationship with each chronological
moment.
•
Natural resources evaluation and relation to local art.
•
Crossing of scattered information through overlaying.
•
Elaboration of vectorial or raster theme maps.
•
Development of spatial analysis maps (visibility, buffers, etc)
The achievement of the first goal assumed the creation of a geo-referenced database so it
could allow a easy organization and query of information in a GIS. However, not all the data in
the database would be integrated in the GIS, as it is intended that this generates information
that answer to a set of practical questions in a rational, easy and fast way.
The second target required the creation of all an archaeological and geographical information
base structure supported in a raster and vector format.
The hardware and software choice ad in account the informatics infra-structure already
existent in the Institute Polytechnic of Tomar and the easiness in access to all the project
partners. In that way, all the applications were developed in a Microsoft Windows platform,
the Data Management System was developed in Microsoft Access 2000 , and the GIS in ESRI
ArcView 3.2 and ArcInfo 8.1.
The data gathered was the result of surveys done by the Colectivo Barbaron team in the Cheles
zone.
The digital cartography used is the result of the digitalisation and vectorisation of the
Portuguese Military chart in a 1:25000 scale and a Spanish Military chart in a 1:10000 scale and
a topographical survey at a 1:2000 scale.
0229 |
3.
DATABASE
EuroPreArt, just as the majority of the databases has objects, like tables, reports, queries,
forms, macros and modules.
This type of relational database management system (RDBMS) allows the user to address a
group of complex questions to the tables, being the answers described in a pleasant interface
like forms and or reports.
The modelling structure of the data base had in account the area intended to be applied, the
types of data and its relevance.
The types of relationships can be created so redundancy can be minimized and the integrity,
data validation and safety procedures as well as users types and recovery of data ca n be
assured.
The database EuroPreArt is composed by 141 attributes disposed in 10 tables that link
amongst themselves in situations of 1 for 1, 1 to many or many to many, being the second
situation the most common.
It was had in account, for the accomplishment of the database, the difficult unification task of
such a great variety of records, in terms of type, space, time, artistic objects (ceramic,
sculptures, idols, etc.) and archaeological sites with art (Megaliths, Caves, etc.).
This way we intended to divide the database in to two bigger groups:
Rock Art – For all the art represented in rocks, like caves, shelters, megalithic monuments or
open-air sites.
Others Finds – To the movable objects with presence or representation of artistic phenomena
(sculptures, decorated ceramic vessels, idols, etc.)
The most difficult task to overcome was the field choice as well as the information selection
attached to each record. The subjectivity of the concept of art leads us to the difficulty of its
definition.
Maybe the first acquaintance of the artistic phenomena is art, in whatever support, author’s
idea or period.
A word seems to be always associated: feeling.
For the majority of the artists, like Pablo Picasso and Edward Munch, the final result is what
the artist creates, but the purpose of his creation is a feeling or a mood. Once an artist creates
something, this will represents an emotional state of mind and so, becomes precious to him.
All the concepts that are related with art are so vague and arbitrary, that we would fall in error
if we tried to define or simple explain it.
Art as a phenomena that involves the disturbing complexity in its most basic form (its
definition), worse when we associate it to archaeology, mainly in the case of pre -history. It is
difficult to define what is pre-historic art.
So the EuroPreArt had to obey to a pattern that accepted subjectivity. There is the reason to
the creation of a set of subjective memo fields as for example: description, characteristics,
observations, etc.
•
The tables are organized in way to integrate the whole information regarding the rising
of the European Prehistoric Art.
These tables are materialized in views, through the database management system (DBMS) to
which it relates, that are not more than forms where in an organized way it is more easily able
to introduce, to modify or to query the data, that will be stored as records in the respective
attributes of the tables.
Most of the information in a form is coming from underlying records.
The other information is stored in the structure of the form, such as the graphic elements and
the support texts.
Like so, the present attributes in the tables are represented in corresponding Views, existing
still some forms with help information for the filling of the different fields (Important
Instructions and Pictures Notes), a small Start Menu, with connection the all of Views and a
subform.
To each attribute of each table there are determined characteristics associated as well as rules,
that allow above all the referential integrity of the database.
The main characteristics are:
•
The field in the primary table possesses an corresponding primary key that works as a
exclusive index.
•
The value of each attribute in a tuplo (record) is atomic; that is, it counts only one
value.
•
We cannot introduce a value in the key field in the related table that doesn't exist in
the primary key of the primary table.
•
The related fields have the same type of data.
•
Some determined fields contain introduction and validation rul es that allow the
maintenance of the database integrity.
4.
CONNECTION TO GEOGRAPHYC INFORMATION SYSTEM
4.1. The importance of a GIS in Archaeology
The explosion of interest in GIS over the last 15 years reflects the importance of these
applications to the study of space.
This type of archaeological data analysis allows us to achieve important conclusions on men
past life, thoughts and activities.
The proceedings of the annual Computers Applications in Archaeology conference (CAA),
which saw its first GIS paper in 1986, provides a considerable range of case -studies and
theoretical discussions about the importance of the application of GIS in archaeology.
(Castleford, 1992; Gaffney, Stancic, 1992; Gaffney, Ostir, Podobnikar, Stancic, 1996; Harris,
0231 |
Lock, 1996; Kvamme, 1993; Lang, Stead, 1992; Murray, 1995; Robinson, 1993; Roorda,
Wiemer, 1992; Ruggles, 1992; Van Leusen, 1993; Verhagen, 1996; Wheatley, 1996; ParceroOubiña 1999; Johnson, 1999; Leusen, 1999; Daly, Lock, 1999; Symonds, 1999; Konnie,
Westcott, Brandon, 2000).
The archaeological theories that are forming, based in these new mechanisms, contribute for
the explanation of determined events and assist to the human being inquiry, such as, for
instance, viewshed or cost surface analysis, predictive models, 3D and virtual reality, or the
application of more complex data management systems, contributing for a new space
perspective metaphor (Wheatley, D.W., 1993, 133-138).
The GIS studies spatial application for the reconstruction of past landscapes and archaeological
sites understanding, have two significant contributions: The ancient mind (Renfrew and
Zubrow 1994) and Semiotics of Landscape: Archaeology of Mind (Ash, G., 1997), they try to
understand what techniques can be used appropriately on archaeological data, and how to
implement them efficiently. According to economic theories and their experimental practice,
through the understanding of landscape patterns, we can also try to understand mental maps
of those who have lived there.
The GIS “is information that describes the distribution of things upon the surface of the earth”
(Gillings, M. and Wise, A., 1999, 10), it can explore layers, that with traditional methods could
not be explore, and then create economic, political or social models for the archaeological
facts explanation, in more than a simple monographical description.
The GIS, will be able, to help the archaeologist to find and understand other paths for the
study of the past.
As so, the EuroPreArt database connection to a geographic information system, could leave us
to theoretical conclusions, in a more simple, easy and fast way, being able to reach slight
knowledge that through simple traditional comment would pass unobserved.
a.
The connection to the database EuroPreArt
The GIS is a powerful functionality to visualize, explore, query and analyze spatial data. It is a
program that integrates spatial and graphical data with tabular data.
Data can be extracted from documents and typed manually into a GIS table, or a whole report
can be captured as scanned text transformed into digital characters, which then can be saved
into a variety of word processor formats.
The ArcView possess a Access Database extension, that can use the ODBC (open database
connectivity) or SDE specification (new connection dialog), that let us create database themes
and see spatial and non-spatial data. The non-spatial data, that is stored in EuroPreArt, has the
described spatial data characteristics.
After the extension has been load, we can connect the EuroPreArt database and analyse its
data in the GIS.
b.
Publishing a GIS on the web
One of the main aims of this project was the intention to reach other people as for example
the publication of the data in the web.
This would permit a offering to all, not only of the data that is associated and analysed in the
GIS, but also the possibility of interaction in the information association, and its visualization,
through downloadable GIS coverages, with added restrictions.
Our first approach to this mater, based on the integration of GIS into the WWW (World Wide
Web) in connection with the EuroPreArt database, intends to be the most basic possible
launching, the first theoretical strings for the development of a European Rock Art GIS project.
The first prompt would go for the consolidation of a system that unified culturally and
informaticaly the European prehistoric art data. This first data unification is carried through
the European Pre-historic Rock Art – “EUROPREART” Database.
This database, besides other information, should contain data to be used in a GIS spatial
analysis.
A second look, is going in to the technical factor. The system should be able to support a
geographic information system. The used software should be cheap and efficient. That is the
reason for the choice of Microsoft Access.
This option was seen as best choice taken in account the users to which it is destined. The easy
access of this software (integrated in the Microsoft Office suite), the relationship
effectiveness/low-cost and the easiness of its use, allows its embrace by a larger audience.
The user needs only a norm commercial browser to access data. They can get dimamical HTML
pages with maps included in them as GIF files, and with information about the site, or sites.
This information is saved in the EuroPreArt database, being selected by the search engine and
presented in an .Asp format. The links are based also on the "Back" and "Forward" browser
buttons. This allows flawless and speed in the navigation without having to request research in
the search motor.
The GIS information can be presented in the web, using the ArcIMS extension (for ESRI
software like ArcView or ArcInfo), or downloaded and viewed later to save on modem time.
The website can have maps, aerial photographs, geographical data, reports, tabular data and
computer applications. All of the information can be scaled and zoomed in and out. Several
themes can be shown at one time. The ArcIMS have some functionality that can proportionate
us measuring, colour tools, coded information, printed out or to put into a presentation
application, like PowerPoint. We also have the possibility to construct animated flyovers.
C.
Protection problem
When making available the data of a GIS, on the web, we enter a contradictory problem: To be
useful, an archaeological data set, must precisely record the location and contents of sites for
analyses to work. But can all access this information?
Clandestine approaches can serially harm the integrity of these sites. So we have to consider
on one side the space analysis and for other the protection of the carved rocks. Like this, the
0233 |
only form of over passing this problem is to supply the public space data, through GIS images,
without identifying the archaeological places precisely.
The database already counts a process for location data safety. This data type only will be
made available for the professional audience and will be obstructed to the general public.
In the GIS, these data is also hidden, being only visible the space analysis images.
5.
CASE STUDY: THE CHELES ZONE
All the analysis reports to a total of 574 rocks.
As example of the EuroPreArt connection to a GIS, we choose to consider the Cheles area, in
the Guadiana valley, and to develop some thematic maps for the data analysis.
Cheles is located at the Spanish Southwest, close to the Portuguese border. The carve d rocks
area is bathed by the Guadiana River at West, being prolonged to until the elevations of Cerro
del Colmenar, Cerro Miguel and Galacho, to the North and East and to the Friegamuñoz brook
(a tributary of the Guadiana) to the South. This whole area occupies 9 hectares approximately.
The closest population is located to North, at about 4,8 Km, being denominated by Cheles.
Geologically, this area represents a part of the penny-plain of Solid Hesperic, where devonic,
syllabic and ordovicic materials are observed.
The carved rocks were accomplished on the banks of "pizarras silicuas" developed by the
devonic sedimentation. The soils are mainly xerorthents with scarce organic material. The
poverty of the soil and the climate type generated in this zone gave place to esclerofil
vegetation.
Figure 1: The vectorial map of Cheles zone with the location of archaeological rock sites after dam filling.
A.
Support informative and digital
The data to integrate the GIS was obtained by the Colectivo Barbaron prehistoric art specialist
teams, when of the Guadiana valley rock art surveying and recording, made at request of the
Junta de Extremadura.
All the resulting data of this rising was then introduced in EuroPreArt and later transported for
ArcView 3.2. and ArcInfo 8.1
The organization of the information, inside of this system, is done by the selection and
identification of a group of necessary fields in the conceptual structure of the GIS. Those
entities were classified in function of its information and analysis value.
As support of the information base, the area corresponding to the rising of the prehistoric art
of Cheles was digitalized, starting from the scale of 1:25 000, leaf no. 474 Monsaraz of the
military chart of Portugal, done by the cartographic service of the army.
The selected area is integrated, in the map 1:25000, among the coordinates UTM, datum
ED50, area 29, of PC460620 PC490590.
This process had in account 3 different aspects:
•
The nature of the entity and the form in which it is made.
•
The observation mode, standing out the observation scale, resolution, perspective,
among other characteristics.
•
And, finally, the objective to which it is meant.
The coverings considered in the digitalisation were, above all: the altimetry - that include 10
meters interleaved lines and the hydrography, with the main courses of water and tributaries
in a scale 1:25000, 1:10000 and 1:2000.
For every scale the area is the same.
B.
The Technique used in the Rock Art
The observed techniques are the pecked carving, used in the majority of the findings, and the
filiform incision. The same techniques that we found in Tejo Valley (Gomes, 1987), at the
Zêzere River hydrographical basin (Batata, Gaspar, 2000, 575) and Ocreza, the three sites with
open air art in Portugal, closer to the Guadiana River Valley.
There are also some resemblances between the Côa Valley and the Guadiana Rock art, having
Foz Côa more variances as the case of scraping and scorch technique (Zilhão, 1997, 22), but
mainly by support and localization characteristics (Baptista, 1999, 197).
The filiforme technic can appear in isolated rock as well as associated to the pecked carving,
however this association should not be considered as intentional, that is part of a same
iconographic message, being due more to the use of the same support type.
0235 |
This factor demonstrates us the inexistence of a space organization in function of the
engraving type, being randomly put upon the images.
On the other hand, it was not observed, until today, any associati on of the two techniques to
the same image.
It becomes well known that, in diachronic terms, all the rocks with juxtaposition of the two
techniques, the pecked technique is made upon the filiforme technique.
The pecked carving technique, obtained by a indirect vertical or oblique percussion, delimits
the illustration recorded and can also fill out internal spaces, drawing other geometric
illustrations most of the time circles, or even zoomorphic.
Collado, (2001) considers two evolution phases, for each type of recording technique, of the
art in the area of Cheles.
Filiforme Technique
In the first phase the filiforme technique is characterized by an incision practically invisible,
where geometric illustrations are represented with a single continuous line or multiple small
lines that repeat in the same sense.
In a second phase, a stronger and visible interruption line is observed from the previous,
representing geometric illustrations or representing zoomorphs, these last endowed with
great naturalism.
Pecked Carving Technique
The pecked carving oldest phase is characterized by a little deep, done with a circular
instrument in an uniform way, vertical and indirect.
The second phase is the most common, it is treated of a pecked carving one deeper,
accomplished in a taken care less way, indirect and oblique, adopting a more ellipsoidal
morphology.
It is well-known that none these different ways of working the same technique is associate to
the other in the same image.
C.
The represented motives
The motives in the Guadiana River are very diversified, but maintaining stylistic similarities. We
can observe different types of anthropomorphs, zoomorphics, meanders, fossetes, circles and
others schematic representation.
In is generality they are post-holocenic, having, however, some filiformes that can be
attributed to Palaeolithic.
In the different studied areas of the Guadiana river, we observed nuclei that differ amongst
themselves for the type of represented motives.
In Cheles it is visible:
•
A great amount of zoomorphs (essentially bovid and schematic animals), sometimes
the representation of the sex is observed or its association with another circular illustration
representing a possible pregnancy.
•
Most of these zoomorphs, accomplished by peeked carving, are attributed to the
Neolithic or Chalcolithic. However we can consider a zoomorph, accomplished in filiforme, as
belonging to the period of Palaeolithic and some, accomplished in the second phase of the
filiforme, as belonging to the Age of the Iron.
•
The anthropomorphs represented schematcaly by the peeked technique on the
Portuguese side, either in horizontal or vertical surfaces, are rare in the area of Cheles.
•
Circles, serpentiformes and others geometrics motives, are representations a lot more
common, associated sometimes to other reasons and accomplished in the two present
techniques in the area of Cheles.
D.
Analysis
Being the Cheles rock art surveying and recording works still in development, our efforts have
been orientated to the construction a multilayerd models and 3d representation working with
the available data.
At a research first phase and model conceptualisation we have created several phases in way
of reaching our final objectives.
Phases of the project development:
The first phase was exclusively devoted to the EuroPreArt database.
After its execution we proceeded to the data introduction, data from the archaeological sites,
compiling spatial data, descriptive and characterizing of each site. With the information
organized in the EuropreArt database we made its connection with the EuroPreArt GIS through
the data transportation by ArcInfo SQL Server.
0237 |
Schema 1 – 1st Project Phase
The second phase is centred in the vectorisation and digitising of a set of spatial data and in
the finishing of the connection of the spatial data held in the database (corresponding to the
archaeological sites) with the base spatial data (maps, aerial photos, etc).
Vector and Raster
Digitalisation
Cartographic maps,
contour level 10 mt, 1:25
000 and
1:10 000 UTM
Archaeological Sites with
spatial and non spatial
data
Topographical and
Hidrographical data
Spacial Data –
Localization in UTM
Non Spatial Data –
EuroPreArt Data
(description of the site)
Scheme 2 - 2th project phase
The next phase is the coverage overlaying, the creation and relation of analysis that are not
involved with the complete finalization of the fieldworks.
Scheme 3 - 3rd project phase
As in the third phase this phase relates more with the development of 3d applications, and
cannot demand the ending of the research being made at the field.
3D Applications and
Navigation
Animations
3D archaeological
landscape
navigation, using Kinetix
3D Studio Max
3D reconstruction of
landscape,
Using Metacreation
Brice 4
Scheme 4 - 4th stage of the projects
We created an animation of the reconstruction of the landscape of the Cheles zone. For that
we used the program Metacreation Brice 4 and the Kinetix 3D Studio Max 4.
The final stage would be devoted to the data analysis and interpretation, conjugating it,
grouping and relating it in way to get a major amount of possible conclusions.
GIS - Spatial
Analyses 2D3D
Visibility
analyses
Thematical
maps
Cost-Distance
Analyses
Rock
Orientation
analyses
Relational
analyses
Buffers
Scheme 5 - 5th step of the project
Each draped layer can represent different types of data (interpreted or not). The combination
of all these 2D information can provide new interpretations of archaeological evidence.
With the combination of 2D and 3D information, we can realize different cognitive levels, not
only to understand the landscape, but also understanding the inherent information to each
archaeological sites and that was acquired during fieldwork.
0239 |
6.
CONCLUSION
This project, which is still in progress, based in a European co-operative research, was
conceived to serve two different categories: The research and the divulgation.
The research - made by those that for a certain way, try to find answers about the
past. These can use the EuroPreArt as an inventory and analyse tool.
The divulgation - Directed to the public, with a protection and information aim.
This way the main characteristic should be the simple and fast learning of its use, as well as a
easier understanding of the presented information.
Combining with the database, a GIS construction would lead in a sense of benefiting these two
objectives. For one turn it would allow the construction of a stronger and stable analysis
system, by other side it would make easier the information visualisation in a user-friendly
interface.
The easiness of overlaying 2D analysis through different layers with different information
allows us to reach some answers to our questions at a simple mouse gesture.
Also the 3D reconstruction of archaeological landscape can provide a fundamental
contribution to this project in order that it can help us with the cognitive models.
The presentation of archaeological researches using three dimensions can create the most
approximate possible atmosphere to the visual world in its more original form. The objective
of the virtual reconstruction of archaeological remaining is to obtain a realistic reproduction in
way to get an approach to the real.
This technologies can produce a serial of pedagogical or scientifically benefits, by the appealing
and real way that they present themselves and by the possibilities of obtaining a better global
understanding of the site and expansion in terms of data visualisation. (Velho, A. e Velho, G.
2000, pp. 489)
In relation to the GIS experimental at the rupestrian art of Cheles, since the fieldwork didn’t
stopped yet, the four phases have been developed being still in progression the last one.
To the future we pretend not only to do what we planed but also to go further, including to
this studies others layers, like geomorphologic and pedagogical analyses, the
contemporaneous sites and habitats of this zone, others relational archaeological sites, soil
maps, etc.
Also with this work we could measure the difficulties involved in the construction either of a
database, either of a GIS, when it concerns pre-history, or in this case, pre-historic art.
What is the relevant information and what are the data that can be discarded?
This simple question, with several consequences in the final work conclusions, doesn’t have a
definitive and objective answer.
In our case we still cannot say that the approach that we have chosen is the ultimate right one.
It is transitory proposal that at this time as much to do with the practical study case zone.
Some doubts that have aroused in this project are still to be answered:
 What is the best approach: the site, the rock, the artefact, the figure, the technique, or the
decorative theme?
 Can we do spatial analysis with art?
 At what level and with which consequences?
This is our suggestion, that an approach that goes as particular as possible, like to a figure
level, is the one that can have the more enriching results.
It is more coherent for the fulfilling of the database, it is more concise for registration, it has
better research possibilities, especially in terms of detecting the connection between figures
and space, between figures in a panel or artefact, between figures in different sites.
Mainly this work served to show the potentiality of the database drawn here , and the
resources that are opened with its connection to a GIS.
As always, future work means development even if these can somehow not mean progress.
BIBLIOGRAPHY
ANDRESEN, J.; MADSEN, T. and SCOLLAR, I. (eds) (1993) – Computing the Past. Computer
Applications and Quantative Methods in Archaeology. Aarhus: Aarhus University Press, CAA92;
ASH, G., (1997) – Semiotics of Landscape: Archaeology of Mind. Oxford;
BAPTISTA, A. M. (1983/1984) – Arte rupestre do Norte de Portugal: uma perspectiva. Actas do
Colóquio Inter-Universitário de Arqueologia do Noroeste. Porto: Portugalia, Nova Série, vol. IV
e V;
BAPTISTA, A. M. (1999a) – O ciclo artístico Quaternário do Vale do Côa. Arkeos, perspectivas
em diálogo, Tomar: CEIPHAR, Tomo II, 197-277;
BAPTISTA, A. M. (1999b) – No tempo sem tempo. A arte dos caçadores paleolíticos do Vale do
Côa. Vila Nova de Foz Côa: Parque Arqueológico do Vale do Côa;
BATATA, C.; Gaspar, F. (2000) – Arte Rupestre da Bacia Hidrográfica do Rio Zêzere. Actas do 3º
Congresso de Arqueologia Peninsular. Porto: ADECAP, Vol. IV, 575-581;
CASTLEFORD, J. (1992) – Archaeology, GIS and the time dimension: an overview. In LOCK, G.;
MOFFETT, J. (eds) – Computer Applications and Quantative Methods in Archaeology.. Oxford:
Tempus Reparatum, British Archaeological Reports International Series S577, CAA91, 95-106;
COLLADO GIRALDO, H. (2001) – New group of rock art sites in Spain: the petroglyphs of
Mazanez Mill (Alconchel, Badajoz). Rock Art Research. Vol. 18, number 1, 59-61;
DALY, P.T.; LOCK, G., (1999) – Timing is everything: Commentary on Managing Temporal
Variables in Geographic Information Systems. In BARCELÓ, J.A.; BRIZ, I.; VILA, A. (eds) – New
Techniques for Old Times: Computer Applications and Quantitative Methods in Archaeology.
CAA98, 287-295;
0241 |
GAFFNEY, V.; STANCIC, Z. (1992) – Diodorus Siculus and the Island of Hvar, Dalmatia: testing
the text with GIS. In LOCK, G.; MOFFETT, J. (eds) – Computer Applications and Quantative
Methods in Archaeology, CAA91. Oxford: Tempus Reparatum, British Archaeological Reports
International Series S577, 113-125;
GAFFNEY, V.; OSTIR, K.; PODOBNIKAR, T.; STANCIC, Z. (1996) – Satellite imagery and GIS
applications in Mediterranean landscapes. In KAMERSMANS, H.; FENNEMA, K. (eds) –
Interfacing the Past. Computer Applications and Quantative Methods in Archaeology, CAA95.
Leiden: University of Leiden, Analecta Praehistorica Leidensia 28, 337-342;
GILLINGS, M.; WISE, A. (1999) – GIS Guide to Good Practice. Archaeology Data Service. Exeter:
Short Run Press;
GOMES, M. V. (1987) – Arte Rupestre do Vale do Tejo. Arqueologia no Vale do Tejo. Lisboa:
IPPC;
HARRIS, T.M.; LOCK, G.R. (1996) – Multi-dimensional GIS: exploratory approaches to spatial
and temporal relationships within archaeological stratigraphy. In KAMERSMANS, H.;
FENNEMA, K. (eds) – Interfacing the Past. Computer Applications and Quantative Methods in
Archaeology, CAA95. Leiden: University of Leiden, Analecta Praehistorica Leidensia 28, 307316;
JOHNSON, I. (1999) – Mapping the Fourth Dimension: the TimeMap Project. . In DINGWALL, L.;
et alli (eds) – Archaeology in the Age of the Internet: Computer Applications and Quantitative
Methods in Archaeology, CAA97. Birmingham: University of Birmingham, BAR International
Series 750;
KONNIE, L.; WESTCOTT, R.; BRANDON, J. (2000) – Practical Applications of GIS for
archaeologists. A Predictive Modeling Kit. Taylor & Francis;
KVAMME, K.L. (1993) – Spatial statistics and GIS: an integrated approach. In ANDRESEN, J.;
MADSEN, T.; Scollar, I. (eds) – Computing the Past. Computer Applications and Quantative
Methods in Archaeology, CAA92. Aarhus: Aarhus University Press, 91-103;
LANG, N.; Stead, S. (1992) – Sites and Monuments Records in England – theory and practice. In
LOCK, G.; MOFFETT, J. (eds) – Computer Applications and Quantative Methods in Archaeology,
CAA91. Oxford: Tempus Reparatum, British Archaeological Reports International Series S577,
69-76;
LEROI-GOURHAN, A. (1988) – Réflexions sur l’art des caverns. «André Leroi-Gourhan ou les
Voices de l’homme». Paris: Albin Michel, Actes du Colloque du CNRS, Mars 1987, 207-225;
LEUSEN, M.V. (1999) – Viewshed and Cost Surface Analysis Using GIS (Cartographic Modelling
in a Cell-Based GIS II). In BARCELÓ, J.A.; BRIZ, I.; VILA, A. (eds) – New Techniques for Old Times:
Computer Applications and Quantitative Methods in Archaeology, CAA98. 213-215;
MURRAY, D.M. (1995) – The management of archaeological information – a strategy. In
WILCOCK, J.; LOCKYEAR, K. (eds) – Computer Applications and Quantitative Methods in
Archaeology, CAA93. Oxford: Tempus Reparatum, British Archaeological Reports International
Series S598, 83-87;
PARCERO-OUBIÑA, C. (1999) – Deconstruction the Land: The Archaeology of Sacred
Geographies. In DINGWALL, L.; et alli (eds) – Archaeology in the Age of the Internet: Computer
Applications and Quantitative Methods in Archaeology, CAA97. Birmingham: University of
Birmingham, BAR International Series 750, 73-81;
PEREIRA, J. L. (1998) – Tecnologia de Bases de Dados. Lisboa: FCA – Editora de Informática, 2ª
Edição;
PRAGUE, C. N.; IRWIN, M. R. (1999) – Microsoft Access 2000 Bible, IDG Books Worldwide, Inc.;
RENFREW, C.; ZUBROW, E. (eds.) (1994) – The Ancient Mind: elements of cognitive archaeoly.
Cambridge: UP;
ROBINSON, H. (1993) – The archaeological implications of a computerised integrated National
Heritage Information System. In ANDRESEN, J.; MADSEN, T.; SCOLLAR, I. (eds) – Computing the
Past. Computer Applications and Quantative Methods in Archaeology, CAA92. Aarhus: Aarhus
University Press, 139-150;
ROORDA, I.M.; WIEMER, R. (1992) – Towards a new archaeological information system in the
Netherlands. In LOCK, G.; MOFFETT, J. (eds) – Computer Applications and Quantative Methods
in Archaeology, CAA91. Oxford: Tempus Reparatum, British Archaeological Reports
International Series S577, 85-88;
RUGGLES, C. (1992) – Abstract Data Structures for GIS Applications in Archaeology. In LOCK, G.;
MOFFETT, J. (eds) – Computer Applications and Quantative Methods in Archaeology, CAA91.
Oxford: Tempus Reparatum, British Archaeological Reports International Series S577, 107-112;
SYMONDS, L. (1999) – Virtual Constructs: Traveling the Tenth Century. In BARCELÓ, J.A.; BRIZ,
I.; VILA, A. (eds) – New Techniques for Old Times: Computer Applications and Quantitative
Methods in Archaeology, CAA98. 283-286;
VAN LEUSEN, M. (1993) – Cartographic modelling in a cell-based GIS. In ANDRESEN, J.;
MADSEN, T.; Scollar, I. (eds) – Computing the Past. Computer Applications and Quantative
Methods in Archaeology, CAA92. Aarhus: Aarhus University Press, 91-103;
VELHO, A.; VELHO, G. (2000) – Arqueologia do Amanhã. Soluções para os Jovens de Hoje.
Arqueologia Peninsular, História, Teoria e Práctica. Porto: ADECAP, Actas do 3º Congresso de
Arqueologia Peninsular. Vol I, 481-490;
VERHAGEN, P. (1996) – The used of GIS as a tool for modelling ecological change and human
occupation in the middle Aguas Valley (S.E. Spain). In KAMERSMANS, H.; FENNEMA, K. (eds) –
Interfacing the Past. Computer Applications and Quantative Methods in Archaeology, CAA95.
Leiden: University of Leiden, Analecta Praehistorica Leidensia 28, 317-324;
WHEATLEY, D.W. (1993) – Going over old ground: GIS, archaeological theory and the act of
perception. In ANDRESEN, J.; MADSEN, T.; Scollar, I. (eds) – Computing the Past. Computer
Applications and Quantative Methods in Archaeology, CAA92. Aarhus: Aarhus University Press,
133-138;
WHEATLEY, D.W. (1996) – Between the lines: the role of GIS-based predictive modelling in the
interpretation of extensive survey data. In KAMERSMANS, H.; FENNEMA, K. (eds) – Interfacing
the Past. Computer Applications and Quantative Methods in Archaeology, CAA95. Leiden:
University of Leiden, Analecta Praehistorica Leidensia 28, 275-292;
ZILHÃO, J. (1997) – Arte Rupestre e Pré-História no Vale do Côa, Trabalhos de 1995 a 1996.
Lisboa: Ministério da Cultura, (relatório científico);
0243 |
ANÁLISIS NO DESTRUCTIVO DE LA MATERIA COLORANTE
MEDIANTE INSTRUMENTACIÓN RAMAN PORTÁTIL EN EL
ARTE PARIETAL DE LA CUEVA DE LA PEÑA (SAN ROMÁN DE
CANDAMO, ASTURIAS)
M. Olivares
Dpto. Química Analítica, Facultad de Ciencia y Tecnología,
Universidad del País Vasco, 48940, Leioa, Vizcaya.
Email: [email protected]
X. Murelaga
Dpto. Estratigrafía y Paleontología, Facultad de Ciencia y Tecnología,
Universidad del País Vasco, 48940, Leioa, Vizcaya.
K. Castro
Dpto. Química Analítica, Facultad de Ciencia y Tecnología,
Universidad del País Vasco, 48940, Leioa, Vizcaya.
D. Garate
CREAP Cartailhac-TRACES-UMR 5608, Maison de la Recherche,
Université de Toulouse-Le Mirail, 5, allées Antonio Machado, 31058
Toulouse CEDEX 9.
M.S. Corchón
Dpto. de Prehistoria, Historia Antigua y Arqueología, Universidad de
Salamanca c/ Cervantes s/n, 37002, Salamanca.
Análisis no destructivo de la materia colorante
mediante instrumentación Raman portátil en el arte
parietal de la cueva de La Peña (San Román de
Candamo, Asturias)
M. Olivaresa, X. Murelagab, K. Castroa, D. Garatec y M.S. Corchón
Introducción
Estudio realizado dentro del Proyecto DIGICYT, Ref. HUM 2007- 66057. Investigadora principal:
Mª Soledad Corchón.
En las últimas décadas, pero sobre todo en los últimos años, la colaboración interdisciplinar se
ha intensificado notablemente. Esta colaboración ha sido necesaria ante los retos, cada vez
más complejos, a los que se han tenido que enfrentar estudiosos de todas las ramas del saber.
Esta colaboración no ha sido ajena a los trabajos realizados en el campo de la Arqueología, la
Prehistoria y la Paleontología, y en los últimos años son cada vez más abundantes las
publicaciones donde se han realizado ensayos y análisis aplicando métodos provenientes de
otros campos. Un breve repaso de la documentación bibliográfica de los últimos años, en est e
campo, muestra la relevancia de los resultados multidisciplinares. En este trabajo los autores
presentan el estudio químico realizado sobre algunas pinturas parietales de la cueva de La
Peña (San Román de Candamo, Asturias) mediante el empleo de técnicas no destructivas,
pudiéndose realizar todos los análisis en el interior de la cueva.
Geología de la cueva
En el entorno de San Román de Candamo principalmente afloran rocas paleozoicas, y más
concretamente de edades comprendidas entre el Silúrico y el Carbonífero. La cueva de La Peña
es una cavidad cárstica formada sobre todo durante el Plioceno (Martínez-Álvarez; et al, 1972)
en unas calizas grisáceas o gris blanquecinas (Calizas de Montaña) formadas en el Carbonífero
Superior (Namureniense) (Hoyos; et al, 1993). Las capas de calizas en las que se ha formado la
cavidad presentan una dirección de Nº 42 E y un buzamiento de 43º al SE. La orientación
general de la cavidad (Nº 30) coincide con la de las fallas que se observan en superficie en la
Peña de Candamo y la orientación de las salas que salen del eje principal (Sala Baja de los
signos y El Hornito) con la de la dirección de las capas. Con todo se puede afirmar que la
formación de la cavidad esta controlada principalmente por la disposición de las capas y las
estructuras tectónicas.
0245 |
La necesidad de instrumentación no destructiva y portátil
En la actualidad existen numerosos trabajos centrados en el estudio de la fragilidad y los
problemas de conservación del arte parietal paleolítico (Chadefaux, et al, 2008; Prinsloo, 2007;
Chalmin, et al, 2006), así como en el estudio de las afecciones de las propias cuevas y abrigos
que le sirven de soporte (Canaveras, et al, 2001; Portillo, et al, 2009). Todos ellos son
proyectos que precisan la utilización de equipos de laboratorio a partir de un proceso de toma
de muestra previo, que implica la destrucción parcial del objeto muestreado. Sin embargo, en
el caso de las actuales investigaciones que se realizan en la cueva de La Peña, para llevar a
cabo los objetivos iniciales se empleó instrumentación portátil que permitiera realizar todo el
trabajo dentro de la misma cueva, es decir, sin tener que realizar ningún tipo de muestreo que
pudiera deteriorar, alterar o afectar la integridad no solo de la obra (pinturas parietales) sino
del propio soporte, las paredes de la cueva.
En el momento actual, existe multitud de instrumentación analítica de altas prestaciones que
podemos considerar portátil. Las últimas implementaciones tanto informáticas (uso de
ordenadores portátiles) como electrónicas (miniaturización de componentes, circuitos, chips,
etc) en la ingeniería, diseño y desarrollo de equipamiento analítico han permitido miniaturizar
muchos instrumentos hasta tamaños impensables hace solo dos o tres años.
Por su pequeño tamaño, la instrumentación portátil permite desplazarlos y realizar los análisis
directamente en los lugares donde se encuentran las muestras u objetos bajo estudio. En
algunos casos bastará la participación de un solo operario para manejar el equipo (el quipo
incorpora todo el software de control instalado en una PDA). En muchas ocasiones, los equipos
llevan incorporadas baterías que les proporcionan una gran autonomía sin necesidad de tener
que hacer uso de fuentes externas de alimentación. Es precisamente este pequeño tamaño y
su autonomía lo que hace atractivo esta instrumentación para ser empleado en el interior de
las cuevas, donde el acceso a las pinturas, grabados, etc. suelen ser bastante dificultoso.
Pero si por algo destaca este tipo de instrumentación es por la posibilidad de poder realizar
análisis totalmente no destructivos ni invasivos. Frente a la toma de muestra puntual y el
posterior análisis en el laboratorio, la instrumentación portátil permite realizar cuantos análisis
se requieran sin dañar la muestra, ya sea pintura, resto arqueológico o paleográfico o la propia
cueva.
Quizás por su utilidad y versatilidad analítica, así como por el gran desarrollo alcanzado por su
miniaturización, destaca la espectroscopia Raman. Esta última es, actualmente, la técnica más
empleada y con mayor proyección de cuantas técnicas analíticas existen. Los resultados
obtenidos pueden ser empleados como la huella dactilar de lo que se analiza, ya q ue el
espectro que se obtiene de cada compuesto es único y se identifica unívocamente. Con la
espectroscopia Raman es posible saber si la existencia de hierro en una pintura es debida a
hematite (óxido de hierro rojo) o a goethita (óxido de hierro amarillo ). Por lo tanto, esta
técnica es ideal para conocer, de primera mano, la naturaleza de los materiales originales
utilizados para la creación de las pinturas.
En los análisis químicos que actualmente se llevan a cabo en la cueva de La Peña, se decidió
hacer uso de la espectroscopia Raman, por lo que se trasladaron al interior de la cueva dos
equipos Raman, uno portátil (Renishaw, UK) y otro equipo de los denominados ultramóviles
(BWTEK, EE.UU). (Figura 1).
Figura 1: Equipos portátiles trabajando en el interior de la cueva. Arriba: Muro de los Grabados. Abajo: Sala de los Signos rojos .
Ambos equipos incorporan láseres de 785 nm que disminuyen notablemente los fenómenos
de fluorescencia, y que suelen ser los causantes del fracaso de algunos análisis en comparación
con otros láseres (514 nm, etc). La potencia del láser se modula vía software para evitar
quemar la muestra (fotodegradación). En el equipo Renishaw el haz del láser es enviado a
través de fibra óptica y una sonda, que dispone de una microcámara de video para facilitar el
enfoque y va dispuesta sobre un trípode. En el caso del equipo BWTEK, el haz del láser es
enviado a la muestra a través de una microsonda, sencilla y sin cámara de video que es
sujetada y manejada por uno de los operarios.
A pesar de la abundante bibliografía existente sobre análisis de campo en obras de arte
(frescos en iglesias, piezas en museos, etc) con instrumentos Raman portátiles, existen pocos
trabajos en los que se haya empleado la misma instrumentación Raman portátil dentro de
cuevas (Prinsloo, et al, 2008), lo cual revela las dificultades que presentan este tipo de análisis.
Por el contrario, existen muchos más trabajos sobre análisis de pinturas rupestres con
equipación Raman pero en los que se ha realizado un muestreo, tomando muestra y
analizándola posteriormente en el laboratorio (Hernanz, et al, 2008; Prinsloo, 2007).
0247 |
Objetivos
Los objetivos del presente análisis fueron por una parte testar la eficacia de la instrumentación
portátil Raman, así como determinar la naturaleza de los pigmentos empleados para la
realización de las pinturas y restos pictóricos presentes en varias zonas de la cueva. El objetivo
principal del análisis fue obtener la “huella dactilar” de los pigmentos de las pinturas rupestres
mediante la espectroscopia Raman. En este sentido, el interés arqueológico residía, sobre
todo, en el estudio de la composic ión de las diferentes coloraciones rojas, amarillas y negras
de las pinturas presentes existentes en diversas zonas de la cueva.
Resultados preliminares
A continuación se muestran los resultados preliminares de los análisis químicos llevados a cabo
en esta primera campaña en el interior de la cueva de Candamo. Todos los resultados se
recogen a modo de resumen en la Tabla 1, y en la Figura 2 se detallan las localizaciones sobre
las que se realizaron las medidas mediante la espectroscopia Raman.
Como se puede apreciar (Tabla 1), en todas las localizaciones se ha determinado carbonato de
calcio (bandas Raman principales a 1085, 710 y 280 cm-1), que corresponde al soporte pétreo
de la cueva. En algunas localizaciones únicamente se ha podido detectar la banda principal del
carbonato de calcio (1085 cm-1), bien por el hecho de que en esos puntos la capa de pintura
era un poco más gruesa o bien porque algunas de sus bandas están solapadas por la presencia
de una mayor cantidad de pigmento (en algunas localizaciones donde se ha detectado el
hematite, que tiene una banda a 290 cm-1 que interfiere en la banda del carbonato de calcio a
280 cm-1). El hecho de que aparezcan las bandas del soporte junto a la de los pigmentos da
una idea del estado de las pinturas, bien por el hecho de que se han ido deteriorando con el
paso del tiempo o bien indican que están realizadas con una fina capa de pigmento.
Punto
M1
Localización
Pilar 2 (Salón Grabados)
M9
Disco rojo (Salón Grabados)
M16
Caballo rojo (Talud)
M25
Cuernos amarillos (Talud)
M27
Caballo rojo (Talud)
M38
Triángulo rojo (Sala Signos)
M61
Ciervo rojo (Muro
Grabados)
Punto negro (Muro
Grabados)
Bandas Raman (cm-1)
1085, 280, 709
608, 495, 407, 289
1085
409, 290 1085, 709
1085, 709, 279 545,
477, 384, 297
1085, 280, 709 607,
407, 290
609, 409, 292 1085,
710
1085, 709, 280 408
Compuesto
Calcita
Hematite Calcita
1085 1600, 1300
Calcita Negro de carbón
Hematite Calcita
Calcita Goethita
Calcita Hematite
Hematite Calcita
Calcita Hematite
Tabla 1: Compuestos observados mediante espectroscopia Raman en pinturas rupestres localizadas en la Cueva de La Peña .
Con respecto a las coloraciones encontradas en distintos lugares de la cueva, rojos, ocres
amarillos y negros principalmente, se ha podido comprobar la masiva presencia de hematites
rojos (Fe2O3). En este sentido, en una de las grandes columnas estalagmítíticas existentes en
el salón principal, son muy visibles los restos de discos rojos aplicados digitalmente. Los
espectros Raman de estos grandes discos (Figura 2B) muestran las bandas características de la
presencia de hematite rojo (289, 407, 495, 608 cm-1). El mismo pigmento fue encontrado en
algunas figuras animale s rojas del Muro de los Grabados, así como en varios signos de color
rojo localizados en una estancia alejada de la sala principal: La Sala de los Signos rojos (Figura
2C). A pesar de la masiva presencia de hematite (óxido de hierro rojo), en una de las
localizaciones se pudo detectar la presencia de óxido de hierro amarillo (ocre amarillo o
goethita a-FeO(OH)), con bandas Raman localizadas a 545, 477, 384 y 297 cm-1 (Figura 4).
En algunas de las pinturas del Muro de los Grabados, en el salón principal de la cueva, se
realizaron numerosos espectros de trazos y puntos negros. A pesar de la cantidad de medidas
tomadas, la detección del pigmento fue bastante laboriosa, determinándose finalmente la
presencia de un negro de carbón (carbono amorfo, C) cuyas señales principales son dos
características bandas anchas localizadas aproximadamente a 1300 y 1600 cm-1.
Figura 2: Localizaciones en las que se realizaron las medidas analíticas empleando espectroscopia Raman. a) caballo situado en el
Talud, b) discos rojos del Gran Salón, c) triángulo rojo situado en la Sala de los Signos.
0249 |
Figura 3: Espectro Raman de uno de los puntos del disco rojo en el que se observa principalmente hematite así como trazas de
calcita.
Figura 4A: Espectro Raman de una cornamenta en rojo en el que se observan bandas Raman características de la goethita junto
con la calcita correspondiente al soporte.
Figura 4B: Sector izquierdo del Muro de los Grabados: cornamenta en siena.
Conclusiones y trabajos futuros
A la vista de los resultados obtenidos, podemos calificar la primera campaña de análisis
químicos realizados in situ como exitosa. En una breve actuación puntual, se pudieron
determinar una parte considerable de los pigmentos presentes en varias localizaci ones. En
próximas campañas se completarán estos trabajos con la realización de nuevos análisis en las
restantes localizaciones dentro de la cueva, con el fin de comprobar si los resultados obtenidos
son similares a los aquí presentados.
Además, se da la circunstancia de que, a escasa distancia de la cueva, se ha localizado un
depósito natural de hematite que en tiempos modernos se ha explotado incluso como mina.
Queda pendiente, para un futuro próximo, determinar si geológica y químicamente el
hematite de la mina y el hematite de las pinturas tienen el mismo origen. En estos momentos
se están llevando a cabo los exámenes en el laboratorio encaminados a dicho fin. Igualmente,
queda pendiente el estudio geoquímico de la cueva y del soporte sobre el que se asi entan las
pinturas. Este estudio, más laborioso y que requerirá una campaña de análisis sobre el terreno
más extensa, es sumamente importante para determinar la salud de las pinturas. Actualmente
es muy visible la descalcificación que están sufriendo algunas de las paredes de la cueva en la
zona de la entrada, por lo que es necesario comprobar mediante un estudio geoquímico que
esta descalcificación no está afectando también a los sectores decorados. Todos estos estudios
pueden ser realizados mediante la espectroscopia Raman in situ (Martinez-Arkarazo, et al,
2007).
0251 |
Los autores tienen el convencimiento que los resultados obtenidos y aquí expuestos
demuestran la utilidad y el gran beneficio que tienen los análisis químicos in situ, no invasivos
y no destructivos, y que gracias a la instrumentación ultraportátil abren las puertas a futuros
estudios.
Agradecimientos
Nuestro agradecimiento a la Consejería de Cultura y Turismo, EPO (Entre Promotor
Observador) del Proyecto DGICYT en cuyo marco se desarrollan estos estudios, y
particularmente a D. Ignacio Alonso. Igualmente, sin el apoyo y colaboración prestados por la
Concejalía de Cultura del Ayuntamiento de Grullos, y el personal del Centro de Interpretación
de la cueva en San Roman de Candamo, no hubiera sido posible realizar los trabajos de
campo.
Referencias
MARTÍNEZ-ÁLVAREZ, J.A.; et al (1972) – Mapa geológico de España, hoja 28, Grado, E. 1:50000.
Madrid: Instituto Geológico y Minero de España;
HOYOS, M.; SOLER, V. (1993) – La cueva de Nerja (Malaga): Ejemplo de degradación
microambiental. In: FORTEA, J. (ed) – La protección y conservación del arte rupestre
paleolítico. Oviedo: Consejería de Educación, Cultura, Deportes y Juventud del Principado de
Asturias, Ministerio de Cultura, pp 77–85;
CHADEFAUX, C.; et al. (2008) – Archaeometry. 50 (3), 516-534;
PRINSLOO, L.C. (2007) – Journal of Raman Spectroscopy. 38 (5), 496-503;
CHALMIN, E.; et al. (2006) – Applied Physics A. 83(2), 213-218;
CANAVERAS, J. C.; et al. (2001) – Geomicrobiology Journal. 18(3), 223-240;
PORTILLO, M.C.; et al. (2009) – The Science of the total environment. 407(3), 1114-22;
PRINSLOO, L.C.; et al. (2008) – Journal of Raman Spectroscopy. 39(5), 646-654;
HERNANZ, A.; et al. (2008) – Journal of Raman Spectroscopy. 39(8), 972-984;
PRINSLOO, L.C. (2007) – Journal of Raman Spectroscopy.38(5), 496-503;
MARTINEZ-ARKARAZO, I.; et al. (2007) – Spectrochimica Acta A. 68A(4), 1058-1064.
THE UNDERWATER HERITAGE OF SANTA CATARINA ISLAND
(PRAIA DOS INGLESES), BRAZIL: A DIGITAL PEDAGOGICAL
GAME
Alexandra Figueiredo
Instituto Politécnico de Tomar ([email protected])
Cláudio Monteiro
Alexandre Viana
PAS (ONG Projecto de Arqueologia Subaquática) [email protected]
Marcelo Moura
PAS (ONG Projecto de Arqueologia Subaquática) [email protected]
Francisco Noelli
PAS (ONG Projecto de Arqueologia Subaquática) [email protected]
0253 |
The underwater heritage of Santa Catarina Island
(Praia dos Ingleses), Brazil: A digital pedagogical
game
Alexandra Figueiredo, Cláudio Monteiro, Alexandre Viana, Marcelo
Moura e Francisco Noelli
RESUMO
Com este artigo pretendemos apresentar o projeto de arqueologia subaquática projetado para
estudar e analisar o património submerso na Ilha de Santa Catarina (Florianópolis, Brasil), seus
objetivos, as metodologias e os resultados esperados.
Arqueologia subaquática é uma disciplina muito recente havendo muito para estudar se
considerarmos a dimensão do solo submerso. Apesar dos esforços das autoridades
competentes, ainda há muito a descobrir sobre a história oculta nos oceanos e rios. No Brasil,
o cenário é ainda mais crítico, especialmente no que diz respeito ao entendimento da
colonização, os diferentes ac-ontecimentos históricos e a ocupação dos povos europeus.
O Instituto Politécnico de Tomar, numa óptica de colaboração, vem agora contribuir com a
ONGPAS (Projeto de Arqueologia Subaquática da Praia dos Ingleses), que desde 2004, vem
real-izando pesquisas submarinas nesta região, no sentido de desenvolver trabalhos
arqueológicos.
O principal objetivo deste projeto é reconhecer os vestígios arqueológicos submersos nessa
região, contribuindo assim para uma melhor compreensão da história naval, cultura material,
con-servação artefatual, tecnologia náutica, economia marítima em pré e pós-colonial e acima
de tudo o desenvolvimento de uma base de dados digital associada a um sistema de
informação geográfi-ca, que permitirá um mapeamento do património identificado durante o
levantamento e os tra-balhos de escavação. O projeto também pretende desenvolver
estratégias de gestão, preservação e valorização turística. Para o efeito de Educação
Patrimonial têm-se desenvolvido conteúdos 3D e audiovisuais, desenvolvendo agora no caso
em qestão a construção de um jogo pedagogico.
Palavras-chave: Arqueologia Subaquática; Projeto; Jogo pedagogico; Educação Patrimonial;
Brasil.
ABSTRACT
With this paper we intend to present the underwater archaeology project designed to study
and examine the heritage submerged in Santa Catarina Island (Florianopolis, Brazil), its aims,
methodologies and expected outcomes.
Underwater archaeology is a very recent discipline in which there still are a lot of gaps to be
filled as far as the study and understanding of submerged property is concerned.
Despite the competent authorities’ efforts, there is still a lot to discover about the hidden history in oceans and rivers.
In Brazil, the scenario is even more critical especially in what concerns the understanding of
colonization, the different historical events and settlements by European peoples.
The Instituto Politécnico de Tomar and PAS, which since 2004, has been undertaking underwater surveys in this region in collaboration with other renowned organizations, are joining
efforts to develop an archaeological/historical project in this area. The project will cover
investigations in the frontal area of Praia dos Ingleses, located in the Northeastern part of
Santa Catarina Island, Florianopolis, Brasil, but in a further stage it may extend to the whole
coast.
The primary goal of this project is to recognise the archaeological remains submerged in this
region, thus contributing to a better understanding of naval history, material culture, artefact
con-servation, nautical technology, the maritime economy in pre- and post-colonial times and
above all the development of a digital database associated to a GIS system, which will allow
effective record and mapping of the heritage identified in the course of surveying and
excavation works. As well as these scientific aims, the project is also intended to develop
strategies of management, preservation and tourist enhancement. For the purpose of Heritage
Education we have developed 3D content and media, presenting at this moment the ideas to
build a pedagogical game.
Keywords: Underwater archaeology; Project; Pedagogical game; Heritage Education; Brasil.
1.
INTRODUCTION
Underwater archaeology is a very recent discipline in which there still are a lot of gaps to be
filled as far as the study and understanding of submerged property is concerned. Sought after
for its natural wealths, Brazil has been the stage for many attacks and explorations by the
Portuguese and foreign peoples in their quest for raw materials and exotic products. Historical
unawareness seems to be critical in the South where Praia dos Ingleses is located
(Florianópolis).
In the framework of a partnership with Instituto Polithecnico de Tomar (IPT) and Projecto de
Arqueologia Subaquática (PAS), an archaeological-historical survey project of the area is
proposed (Figueiredo, et al., 2010). The contribution of Portuguese team was presented to the
Fundação Ciencias e Tecnologia (FCT) to be financed, but part of the works are carried out with
own funding involved institutions.
0255 |
In this region (Figure 1) a wrecked vessel has been discovered which is not yet identified, but
the artifacts found inside allows it to be dated to 1687 (Figure 2 and 3). It was right around this
time that Portuguese settlements occurred in this region; these remains may well have a
connection with their activities in this location.
So far archaeological survey in the cove has found no more remains from the colonial period.
Thus, the study of this wrecked is essential to understanding this area during this period.
Figure 1: Image of Praia dos Ingleses were was found the wreck.
2.
STATE OF ART
Although some general bibliographic references on Brazilian settlements are known, references to Santa Catarina Island and Praia dos Ingleses are very scarce; So the data obtained are
more related with the field evidences. The following remarks can be made:
•
The coastline of the island offered shelter and food to several maritime routes; this
vessel may therefore be connected with a variety of historic contexts.
•
Vessel construction techniques suggest a Spanish origin, probably a Brigantine.
From international bibliography, there is evidence that, during this period, at least 262 boats
harboured or sailed off the Island’s shore and 5 wrecked between Parana and Buenos Aires but
none of them occurred in the vicinity of the island (Noelli, et al., 2009). Despite the scarce
biblio-graphic references the PAS team are making some advances to identify the wrecked.
One of the first clues was made in Coelho publications (1856:184) in it says that “this beach is
called Praia dos Ingleses because an English ship wrecked off this coast in ancient times of
which some vestiges or even remains have been found during the storm of March 1838". This
is the only reference to it in the historic records of the island.
The historian Amilcar D'Avila de Mello (2005), one of the foremost experts in the colonial history of Santa Catarina suggested the hypothesis that the vessel belongs to Thomas Frinz,
possibly sunk in 1687. The main source of information is the Nobiliarquia Paulistana, of 1980,
when Pedro de Almeida Taques, transcribed parts of the Frins log book, made by the
Portuguese courts in Santos on 1688, hypothesis that is also confirm by two English pirates
chroniclers William Dampier, in 1702 and Raveneau de Lussan, in 1689 (NOELLI et al. 2009),
that says that Thomaz Frins was an English pirate, sailing with seven Englishmen, in a
Brigantine (that is the founded vessel type); It was from England to Porto Belo, Panama;
Belonged to the fleet of small ships of nine undred men, commanded by "Samoloy" (probably
the captains Swan and Townley, crew of Edward Davis pirate force); "They went as pirates,
plundering the lands of the Spanish crown: Panama, Callao, Porto Santo, Peru, Chile; The Frins
boat separated from the fleet in the vicinity of Callao; Was "six months" looking for the rest of
the fleet; Carrying wine (the remains allowed to recovered a several ceramic bowls for one
bushel); In Porto Santo have a battle war with spanish and the boat was very damage,
surviving Frins and seven men; In need of repairs and water, cliffs in Nª Srª do Desterro, that is
today Florianópolis; and were prisoner of Francisco Dias Velho, in 1687, that was the governor
of this Portuguese colony, exactly in the time of the wreck dated.
One more coincidence was reported by Lussan, in 1689, that in one meeting of a French
group, in April 1687, near Sta Helena, with a big Spanish ship commanded by the British,
indicates that the boat had been captured by English pirates at the time of Nazca, carrying
wine and corn and was piloted by a small crew of eight men. Also he says that they were
looking for the others ships.
The recovered rudder has 6.7 m in height which is possible to estimate a large Spanish brig antine stolen by Frins group, with more than 22 m in length (Figure 2).
Figure 2 and 3: Drawing of tiller recovered and photomosaic of the wreck remains
So we start to be some assurance that is the Thomas Frins Pirate Brigantine.
0257 |
3.
METHODOLOGY
According to the summary presented, different activities will be carried out in the framework
of institutional partnerships by the interdisciplinary team. In summary, the workplan for this
project includes execution of three basic components of the underwater archaeological study:
1.
Survey and record of all documental data and bibliographic references related with
Santa Catarina Island allowing understanding the dynamics, contacts and influences in this
region across history.
2.
Intensive surveying around the island and GIS mapping of all structures and anoma-lies
detected:
3.
Survey and excavation (Figure 4 and 5) of the known vessel in an endeavour to identify
and recover the greater amount of data. This stage will comprise computer pro -cessing,
preservation and restoration of recovered materials and a detailed study of exhumed remains.
Figure 4: Diver in an excavation work
Figure 5: Image of excavation work
These three components will lead to further generation of didactic and pedagogic contents
which, in conjunction with recovered artefacts and structures, will be duly exhibited at the
local Mu-seum. Some of this contents have the aim to sensitize the public for the protection of
underwater heritage and create a better understand of the archaeological works and the
found remains. So movies, 3d reconstructions (Figure 6) and games are made to try to make a
shorter links with the layman public.
Figure 6: Two different 3D reconstruction objects: a sundial and a tin fountain.
4.
THE PEDAGOGICAL GAME
One of the contents that we are working one leads us directly with the possible wreck identi fication and the history of vessel life. To try to pass it to the public and taking consideration the
younger one, we start to work in a pedagogical game connecting all the information’s knowed
until now. Our aim was try to justify the presence of some recovered objects and give them
some histo-ry life. Like this all the objects get some importance in the game and are the
connection inter-scenes. The first step was to select the objects recovered to use in the game.
So, from the history of the Thomas Frinz and the archaeological finds we have some interesting
material that can lead us to some places of passage trip and are essential to understand the
remains.
4.1. The real history: What we know?
In the archaeological works was found “material evidence from the Pacific coast of north western, South and Central America, with coincide with the pirates routes in question”(Noelli,
et al., 2009) also was recollected some important object that could date the vessel.
One of the artefacts is a english Gunter scale, dated from 1683, the time of the depart of
English crew. Another object is a “metate” that is used in Central America to produce corn
flour (one of the type products that the chronics documents says that Thomas Frinz
transported) and a clue from the passage for this sites. Another interesting thing is a fossil
shell fragment (Con-cholepas concholepas Martyn) that is a mollusc of the family Muricidae
0259 |
appreciated as food, from the southern Peru to southern Chile, and could be part of crew food
when they pass to this location. Moreover was recovered some coral beads that was related
with this indigenous features. About the ceramic material were recovered more than 11 000
pieces of bottles of one bushel, of type Form 1 (James 1988), used to transport and store wine,
oil, water, grains etc. For the PAS team the wide variety of sizes and type of clay matches with
the information that the strength pirate looted bottles of wine and water in various locations
and boats in Central and South American coasts. Among the objects recovered account is still a
thimble, an ink cartridge in with the coat of tin Habsburgs; a knife, a bell and a sundial. The
sundial displays the coordinates pointing to the Canary Islands to the north and the River Plate
to the south, be the possible route of the vessel (PAS, 2006). From the remains it was also
found different human bones and the rudder presented partly carbonized, with could indicate
some fire episode.
4.1. The fiction and the connection with the history data
Our aim was construct a three level game. The first dedicate to the possibly history of Thom-as
Frinz pirate, represented the history that the documents present and explain the wreck,
making some fiction scenes about some recovered objects; the second l evel is dedicate to the
archaeolog-ical underwater works, the public will be related with archaeological methodology
problems, recov-ering the objects, the same that we take to inside of the vessel in the first
level; the third level deals with the lab works to preserving and restoration the artefacts, give
them is original appearance. Like this, with this pedagogical content we can explain the objects
history life that the younger people can see in the museum, understanding for what was the
objects used, the transformation of the material after the wreck, with the time passage and
what was the process to recovered until the appearance that they have in the exposition (ex.
Figure 7).
Figure 7: Cannonball before and after the restoration intervention.
We know that Thomas Frinz was English, so the game's story starts in England in the infancy of
this character. In a meeting with his grandfather, also dedicated to the art of sailing and piracy,
in a scene who would dictate his fate as a pirate, Thomas's grandfather gives him a treasure
map and some objects.
Thomas grows with the intention of following his grandfather footsteps and when adult be came part of Samoloy crew. With others depart for Spanish colonies, in Central America. Along
the way several challenges will happen, making add to his bag some objects, that will after
subse-quently be recovered by the archaeological team. In these challenges is created a
history for the sundial, to the Gunter scale, to the wine bottles etc.
However he also becomes counter-master and after a few failed attacks, as in a situation
where the boat suffer some damage, start looking for his companion and heads in Nª Srª do
Desterro, the place were his grandfather told him that he hide the treasure. In that site was
prisoner by Francisco Dias Velho and his vessel wrecked.
This will link to the second level were the wrek was found and start the archaeological works.
In this we will ask to the player to dig the wreck and extract the object to the surfer, of course
using all king of archaeological techniques and taking in account the diver equipment. Each
time that they found something we will remember the Thomas Frinz history and reconstruct
by the present to the past, all the data, and get more clues about the treasure. In th e third
level the player will enter in a lab and will work on the objects recovered with the aim to get
the real appearance. With this level he will understand the difficulty and the methodology
need to conserve an object, will join products, making the de salinization, taking x-ray, etc. until
the final stage, in some of them they will collect more and more data that lead the player until
the treasure chest. To open it have to answer some questions and remember all the scenes.
CONCLUSION
At this moment we are working in the first level, trying to leave open as much as possible the
story to add new information that however may be collected. For better generalization of the
game is being developed in Flash CS4, allowing it to be played on any computer, easil y
downloaded, not occupy much space and brief to be used in any classroom or be exposed in a
museum.
The research and study will continue towards a precise identification of the vessel and they
may even come to change the history of this script.
REFERENCES
COELHO, M. J. A. (1856) – Memória histórica da Província de Santa Catharina. Florianópolis:
Typographia Desterrense;
FIGUEIREDO, A; NOELLI, F. (2010) – Estudo e análise do património subaquático da ilha de
Santa Catarina (Florianópolis), Brasil: Projecto Arqueológico. Almadan. Almada: Centro de
Arqueologia de Almada;
JAMES JR, S. (1988) – A reassessment of chronological and typological framework of the
Spanish olive jar. Historical Archaeology. 22(1);
MELLO, A.D. (2005) – Expedições e Crônicas das Origens – Santa Catarina na era dos descobrimentos geográficos. Florianópolis: Expressão, 3 vols;
NOELLI, F.S.; VIANA, A.; MOURA, M.L. (2009) – Praia dos Ingleses 1: Arqueologia subaquática
na Ilha de Santa Catarina Brasil (2004/2005/2009). Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia. São Paulo: Museu de Arqueologia e Etnoologia, 19;
PAS (Equipa do projecto de Arqueologia Subaquática) (2006) – Raridades Submersas. Revista
nossa História. Editora Vera Cruz, Ano 3, nº 27, p. 32-36.
0261 |
GROTA SA OMU ’E TZIU GIOVANNI MURGIA: INTERVENTO
ARCHEOLOGICO
Alexandra Figueiredo
Instituto Politécnico de Tomar ([email protected])
Giusi Gradoli
Rosalba Flores
Cláudio Monteiro
Grota Sa Omu ’e Tziu Giovanni Murgia: Intervento
Archeologico
Alexandra Figueiredo, Giusi Gradoli, Rosalba Flores e Cláudio
Monteiro
RESUMO
A gruta de Sa Omu e Tziu Giovanni Murcia foi ocupada durante a pré -história recente para a
realização de enterramentos. Estes foram realizados mediante o desenvolvimento de um ritual
que implicava a separação do cranio do restante corpo e sua colocação simbólica nas fendas
mais profundas da cavidade. As restantes partes do esqueleto foram enterradas junto à
entrada da gruta juntamente com a deposição de recipientes cerâmicos, artefatos líticos,
objetos de adorno e alimentos.
Neste artigo são apresentados, em jeito de relatório, os trabalhos realizados e os resultados
obtidos.
Palavras-Chave: Gruta; Rituais de enterramento; Sardenha; Pré-História; Intervenção
Arqueológica.
ABSTRACT
La grotta di Sa Omu e Tziu Giovanni Murcia fu occupata durante la recente preistoria per
condurre sepolture. Questi sono stati raggiunti da sviluppare un rituale coinvolge la
separazione del corpo restante del cranio e sistemazione simbolici fessure più profonde della
cavità. Le restanti parti dello scheletro sono stati sepolti vicino all'ingresso della grotta insieme
con la deposizione di vasi in ceramica, manufatti litici, oggetti decorativi e cibo.
In questo articolo vengono presentate per mezzo di relazione, il lavoro svolto ei risultati
ottenuti.
Keywords: Grota; rituali di sepoltura, Sardegna, Preistoria, Intervento Archeologico.
0263 |
1.
IDENTIFICAZIONE GENERALE
Direzione: Alexandra Águeda de Figueiredo; Archeologa, Dottorato di Rice rca in Archeologia
Preistorica. Instituto Politécnico de Tomar. Autorizzazione Ministero per i Beni e le Attività
Culturali: DG 1466, Class. 34.31.07/284.1 – Nurallao, Grotta in località Funtana Arrubia.
Nome del Sito: grotta Sa Omu ‘e Tziu Giovanni Murgia
Distretto: Sarcidano
Città: Nurallao
C.M.P. 1:25.000
UTM P – 4407 225
Comune di: Nurallao
Località: località Funtana Arrubia
UTM M – 511 204
Tipo di Sito: Grotta
Periodo Cronologico: Preistoria recente
Figura 1: Località Nurallao: contesto amministrativo e archeologico.
Figura 2: Località Nurallao: modello digitale di elevazione e sito in studio .
2.
BREVE DESCRIZIONE
La grotta ‘Sa omu de Tziu Giovanni Murgia’ è stato riconosciuta come potenziale sito
d’importanza archeologica dalla Dott. Maria Giuseppina Gradoli nel 2010, ed è stata subito
informata la competente Soprintendenza Archeologica di Sassari sui resti antropologici
ritrovati.
Nel mese di ottobre dello stesso anno, la Prof. Alexandra Figueiredo dell'Istituto Politecnico di
Tomar (Portogallo) ha presentato, in qualità di Direttore dello scavo, un progetto di intervento
per l'anno 2011. La Concessione di scavo è stata rilasciata dal Ministero per i Beni e le Attività
Culturali, in data 16 Febraio 2011, prot. DG 1466, Class. 34.31.07/284.1 – Grotta in località
Funtana Arrubia, Nurallao.
L'intervento archeologico è stato condotto dal 1 al 5 di Agosto 2011. I dati qui presentati sono
il risultato di questo lavoro.
La grotta si apre sull’altopiano carbonatico del Tacco di Nurallao, in prossimità del confine con
il Tacco di Santa Sofia in territorio di Isili (località ‘Funtana Arrubia’, distinta catastalmente al
Foglio 10, particella 1 del Comune di Nurallao). Si trova all’interno di un terreno di proprietà
del Signor Giovanni Murgia di Nurallao che, in passato, ha usato il luogo per la sua attività
pastorale e agricola.
La piccola grotta si apre ai piedi di una formazione di travertino, ricca di reperti organici tra cui
ossa animali, a circa 7,5 metri dalla parte più alta dell’altopiano e formatasi per ri deposizione
carbonatica dovuta a scorrimento d’acqua. Il Sig. Murgia testimonia, infatti, che sino all’anno
1958 un corso d’acqua proveniente dal territorio di Isili, proprio in quel punto e data la
0265 |
presenza del salto su citato, formava una cascata naturale. In seguito alla messa in posto dei
tralicci della linea elettrica, il corso d’acqua subì una deviazione e il luogo restò secco. La cavità
originariamente presentava una sporgenza naturale (una sorta di riparo sottoroccia), in seguito
franata come testimoniato dai grossi massi rinvenuti intorno all’apertura che avrebbe protetto
le sepolture e la cavità con i crani dall’acqua corrente.
Dal punto di vista morfologico, si tratta di una cavità di circa 4 metri di lunghezza per 2 metri di
larghezza, di forma semi-ovoidale, orientata a ovest, nel cui ingresso si trovano diverse
sepolture risalenti alla preistoria recente. La zona più profonda della cavità si trova a circa 50
cm in posizione planimetrica relativa al piano dell'ingresso. Questa zona continua con una
stretta galleria di circa 30 cm di larghezza che, date le dimensioni ridotte, non è stata
ulteriormente investigata .
Gli stessi record sono stati verificati più a ovest, vicino all'ingresso, dov e sono stati rimossi tre
crani umani, frutto di una deposizione rituale.
Per quanto è stato possibile verificare la piccola galleria nella sua parte più profonda contiene
ossi animali, appartenenti ad individui in essa entrati spontaneamente, simili a quel li
riscontrati nella zona d'accesso (definita nella planimetria con la lettera a).
Tuttavia, anche se sono state riscontrate ossa umane nella zona più profonda della grotta,
riteniamo che la sepoltura abbia avuto luogo presso l'ingresso della cavità, mentre solo i crani
umani sono stati selezionati e deposti nella galleria 2 (vedi pianta d), anche questa molto
stretta e priva di accesso umano al suo interno.
Di fronte all'ingresso del monumento c'è un muro a secco, con grossi blocchi di calcare,
realizzato dal proprietario del suolo che ha utilizzato la grotta come riparo per la notte.
Tra i materiali preistorici rinvenuti, sono presenti un gran numero di vaghi di collana in
conchiglia, a forma di anello, diversi pendenti per collana di vario tipo sia in con chiglia sia in
osso lavorato, diversi frammenti di ceramica preistorica, due dei quali decorati, appartenenti a
uno stesso vaso. La decorazione è per impressione a spina di pesce con tre linee parallele
incise lungo il bordo; tra ciascun segmento verticale si registra una stampa punteggiata con
l'incisione ultima lineare. E’ stata trovata anche ossidiana, tra cui due lame e un elemento
piatto e una scheggia di selce.
Tra i reperti figurano anche oggetti dei periodi successivi a testimonianza del fatto che i l sito è
stato oggetto di un uso continuo anche nell’età classica e Medievale. Tra questi si segnala un
oggetto piatto metallico (forse dell’età del Ferro) e un bordo e una piccola ansa di un bicchiere
di probabile età romana.
Per quanto riguarda i resti umani si tratta di un deposito disturbato nella parte superficiale a
causa dei movimenti del terreno causati da occupazioni tardive della grotta (anche da parte
dell'attuale proprietario) e dalle radici di due alberi di agrifoglio che sono cresciuti in
corrispondenza delle sepolture. Tuttavia, è evidente la presenza di ossa molto piccole e di
alcuni elementi completi e in prossimità delle parti del corpo stesso che ci permettono di
ipotizzare precedenti sepolture primarie.
La fauna selvatica messa in evidenza dallo studio preliminare, comprende selvaggina
(cinghiale) in associazione con animali domestici (suini, ovini).
2.1.
Accesso:
Arrivati al cancello della proprietà del Sig. Giovanni Murgia, si lascia la baracca attuale del
proprietario sulla destra e si prosegue verso sinistra. Si supera il ruscello e si sale per circa 10
minuti lungo un sentiero naturale sino alla parte più alta dell’area (il cui promontorio risulta
essere il punto più alto di tutto il territorio di Nurallao).
2.2.
Proprietario del terreno:
Giovanni Murcia.
2.3.
Stato di conservazione del sito:
Buono.
2.4.
Deposito temporaneo dei materiali:
Presso la camera blindata della scuola media di Nurallao.
Figura 3: Pianta da grotta.
3.
LAVORO SVOLTO NEL 2011
• Predisposizione nell'area di scavo dei quadranti come riportato nella mappa su riportata;
• Trattamento e analisi dei materiali raccolti;
0267 |
• Sviluppo di un inventario di tutti gli oggetti recuperati e la loro relazione spaziale con la
pianta GIS della grotta;
• Elaborazione e analisi dei resti osteologici raccolti;
• Integrazione nel GIS dei resti osteologici e loro relazioni reciproche;
3.1. Lavoro sul campo
Lo scavo della grotta in esame è stato eseguito dal 1 al 05 agosto 2011, finalizzato alla
comprensione del sito archeologico. Prima dell'intervento, si è proceduto alla ripulitura
dell'intera area del sito, e alla suddivisione in griglie quadrangolari pari a 1 m ² del sito
archeologico, come indicato nella figura 3.
Figura 3: Pianta della grotta e quadrati scavati nel 2011 .
Il punto di riferimento di valore zero (alfa), X e Y è la più orientale della Grotta nel punto di
intersezione della griglia, A1 e A2. Questo stesso punto è stato definito come B (beta) con
valore di riferimento di quota zero.
Figura 4: Riferimento del punto di quota zero.
Durante lo scavo ci si è spostati verso ovest, sempre prendendo questo punto come
riferimento: ciò ha permesso il controllo delle quote con maggiore sicurezza. Il profilo della
grotta è stato registrato sulla stessa linea.
La metodologia utilizzata considera l'apertura di un spazio contrassegnato dalle quadrature ...
..., con tagli artificiali di 10 cm, dando particolare importanza al contesto circostante e ai
rapporti reciproci delle deposizioni.
Il conteggio dei livelli artificiali è stato considerato solo dopo la pulizia della zona (un sacco di
foglie superficiali, la presenza degli alberi, diverse colate di calce e l’aggiunta di suolo da parte
del proprietario per livellare il terreno) e la raccolta dei blocchi de rivanti dalla rottura del
soffitto del riparo. Tutto il materiale raccolto durante questa fase è stato mappato come
‘raccolta di superficie’.
I materiali rinvenuti nei successivi livelli hanno ricevuto le coordinate del sistema GIS
precedentemente progettato come pure i reperti osteologici mentre non sono state osservate
strutture associate in tutto l'intervento.
Durante gli scavi, i materiali raccolti sono stati collocati all'interno di un sacchetto di plastica
con etichetta d’identificazione della loro posizione e contesto associato. Una volta ritornati al
laboratorio hanno ricevuto lo stesso numero d'inventario dell’etichetta (allegato 2). Nel caso di
materiali osteologici sono stati ripuliti, disegnati e fotografati, permettendo un'analisi
approfondita. Quelli di grandi dimensioni, compresi i crani, sono stati allocati in contenitori
individuali. Accanto a ogni set di ossa associate è stata inclusa l’ etichetta di contesto.
0269 |
Figura 5: Pianta della grotta con l'altitudine di riferimento del punto zero, c he indica le gallerie, le aree più estese e le altre
dimensioni.
In laboratorio lo stato di conservazione di tutti i materiali è stato analizzato in dettaglio al fine
di poter decidere quale metodo usare per la pulizia e la stabilizzazione. I reperti sono stati
lavati con un filo acqua e strofinati con una spazzola morbida per rimuovere le incrostazioni;
sono stati poi etichettati, incollati, fotografati, inventariati e conservati. In particolare il
disegno ha mostrato come i frammenti di ceramica, chip e l ame di ossidiana e ornamenti,
siano stati adeguatamente progettati (allegato 3).
Le ossa umane recuperate sono state studiate dall'antropologo in carica, Dott. Rosalba Floris
ed è stato fatto un controllo incrociato con le unità stratigrafiche già registrate.
4.
UNITA’ STRATIGRAFICHE
L'area di maggior potenza stratigrafica si trova all'ingresso della cavità in corrispondenza delle
quadrature E3, E4, F1, F2, F3 ed F4. Tuttavia, non sembra superare i 50 cm di profondità.
Non è stata individuata alcuna differenziazione stratigrafica, sia in termini di colore o
granulometria. L'intera area è ben delimitata, sia dai cambiamenti strutturali fatti dal
proprietario o da parte delle profonde radici degli alberi, o anche dalla possibile deposizione di
sepolture durante la preistoria.
Così, si è considerato una singola unità stratigrafica, di colore marrone scuro, con una
dimensione media delle particelle, dove riposano le spoglie antropiche recuperate. Questo
strato corrisponde allo stesso livello in cui si svolge l'azione biologica e artificiale locale e
attuale.
Per una migliore comprensione delle fasi di deposizione l'intervento di scavo è stato eseguito
in base ai livelli artificiali, scavati ogni 15 cm. Il primo livello artificiale corrispondente ai primi
ritrovamenti osservati presentava molte perline di collana e frammenti di ceramica di data
successiva alla preistoria. In alcune zone della grotta ed in particolare all’interno della cavità,
questo livello, una volta esaurito, ha permesso di mettere in luce la roccia calcarea in posto. Il
2 ° livello artificiale appare meglio conservato, anche se non ha permesso un riconoscimento
certo delle sepolture primarie.
Figura 6: Rilievo del sito archeologico prima di iniziare l'intervento. I punti verdi sono i punti del primo livello.
4.1 Strutture:
Morfologicamente, come già accennato, la grotta è constuída da una piccola camera, rialzata
rispetto al corridoio di circa 30 cm, e ha una piccola galleria con un buco al centro, come si può
vedere nel piano topografico.
Il corridoio di circa due metri, orientato a ovest, ha sul suo lato destro una piccola galleria di
circa 25 cm di diametro massimo, in cui sono stati raccolti i 3 crani.
Nella zona d’ingresso, di circa quattro metri, si apre in una piccola anticamera nella quale è
stato registrato il maggior numero di resti archeologici.
0271 |
I resti umani sono stati studiati dall’antropologa fiisca Dott. Rosalba Floris e presentati
nell’allegato 4.
Figura 7: Pianta della grotta con la rappresentazione dei blocchi di abbattimento, 1º livello.
Gli scavi del 2011 hanno portato alla raccolta dei resti osteologici, che sono presentati qui di
seguito. Lo studio è stato condotto dall’Antropologa Dr. Rosalba Floris, Allegato 4.
I materiali osteologici erano stati adeguatamente raccolti e consolidati, alcuni direttamente in
situ, in modo che potessero essere più facilmente preservati.
In Laboratorio le ossa sono state pulite con una spazzola e liberate dai detriti. Dopo questo
lavoro, ogni sacchetto è stato inventariato, è stato compilato un modulo di registrazione per
l'analisi dei resti. I campioni più interessanti sono stati fotografati e sono stati studiati e
identificati.
4.2. Campioni richiesti per le analisi specialistiche:
•
Un campione di carbone dall'interno del cranionumero 2, per la datazione.
•
Due campioni di frammenti ceramici porvenienti da rifiuti domestici, per l’analisi micro
contestuale.
•
Due campioni di mandibola e tre animali del secondo livello artificiale per l'analisi della
paleodieta.
Nunc eget euismod nibh. Donec at nulla eros. Integer nec mollis risus, at rhoncus felis. Donec
et placerat diam. Donec aliquet nunc ac mi aliquam sollicitudin. Praesent ullamcorper purus
massa, et placerat sem commodo at. Sed volutpat non nisl in volutpat. Aliquam sit amet
suscipit est. Mauris ut magna dolor. Integer vel dui nec turpis consequat tristique. Proin dolor
tortor, mollis non libero vitae, ornare interdum velit. Pellentesque porta interdum nisl, quis
euismod eros fermentum nec. Mauris nec orci erat. Aenean tristique ultrices accumsan.
Aliquam erat volutpat.
4.3. Chiusura dello scavo
Una volta terminato lo scavo per l’anno 2011, l’area interessata è stata coperta con
Geotessuto al quale è stato sovrapposto un telone in polietilene antistrappo, puntellato al
suolo.
5.
LABORATORIO DI LAVORO E STUDIO DEI REPERTI DI CULTURA MATERIALE
Il materiale raccolto è stato identificato e studiato giorno dopo giorno all o scopo di andare
avanti di pari passo con l’identificazione dei materiali di un livello prima dello scavo del livello
successivo.
5.1. Condizioni di trattamento dei materiali
I materiali raccolti sono stati lavati o spazzolati. I frammenti combacianti sono stati tenuti
insieme con PVA, e, infine, i pezzi sono stati marcati con penna sottile ad inchiostro su un
sottile strato di vernice.
Sono stati poi deposti in sacchi puliti con le loro etichette di identificazione e successivamente
analizzati in ufficio.
I materiali osteologici sono stati puliti e consolidati.
5.2. Analisi materiale
Dopo la pulizia, il legame e l'etichettatura, i campioni sono stati analizzati secondo criteri di
numero d'inventario, descrizione, tipo di materiale, materie prime utilizzate, identificazione
del contesto e delle coordinate di ciascun reperto e sono stati inseriti in un geodatabase con le
loro relazioni spaziali nel GIS. Nell’allegato 1 è illustrato l'inventario totale dei reperti
recuperati.
Per l'analisi di materiali standard si è utilizzata la combinazione della tipologia
morfodescrittiva con la tipologia morfotecnica al fine di recuperare tutte le informazioni
relative ad ogni singolo pezzo. Infine, i pezzi sono stati fotografati e gli esemplari più
importanti sono stati disegnati. Nell'allegato 2 sono riportati i disegni dei pezzi più significativi
registrati nel 2011.
0273 |
In tutto sono stati rinvenuti:
Tipo di materiali
Numero totale di oggetti rinvenuti
57 voci di inventario di ceramica
Oggetti ceramica
preistorica, di cui quattro basi e 8 bordi. Dei
56 frammenti, nove sono cronologicamente
più recenti.
Oggetti litici (comprende lame e
lamelle)
24 chip (di cui 23 in ossidiana e selce).
Tra loro ci sono due lame e un coprioggetto
in ossidiana). 10 mostrano tracce di utilizzo.
Ornamenti (vaghi di collana, pendenti
o altre funzionalità non meglio specificate)
5 in materiale organico (shell o ossa),
37 perline di collana in conchiglia, una
rappresenta un vago di collana in pietra.
Figura 10: Quadro rappresentativo del numero totale di oggetti / tipo recuperato .
Figura 11: Grafico che rappresenta il numero di oggetti recuperati per tipo di artefatto .
Figura 12: Dispersione spaziale dei reperti archeologici registrati .
Figura 13: Particolare della associazione degli oggetti e delle ossa recuperate .
0275 |
Allegato I – Dossier Fotografico
Figura 14: Inquadramento della grotta nel paesaggio, vista de NW.
Figura 15: Vista della grotta da WNW.
0277 |
Figura 16: Immagine della grotta,da Nord-Ovest. Si vede il muro costruito dal proprietario dell'edificio.
Figura 17: Imagine della zona di fronte all’entrata della grotta, prima della pulitura e dell’inizio dei lavori.
Figura 18: Immagine dell’interno della grotta prima dell’inizio dei lavori
Figura 19: Immagine del quadrato C2, dove è possibile osservare lo spazio nella roccia dove sono stati depositati i crani. La freccia
bianca indica la posizione dei crani.
0279 |
Figura 20: Immagine DDO all'interno della grotta, dopo lo scavo del 1 ° livello.
Figura 21: Immagine dell'interno e dell'ingresso della grotta dopo la pulizia iniziale della zona da scavare. Inizio di un livello
artificiale.
Figura 22: Quadratura e localizzazione del punto zero e linea di riferimen to X e Z zero (in rosso) .
Figura 23: Immagine della seconda galleria, situata nella zona di accesso alla seconda sala, dove è possibile verificare la presenza di
teschi sepolti.
0281 |
Figura 24: Particolare dei crani nella zona del cunicolo 2.
Figura 25: Particolare della griglia E2, dove è possibile vedere la presenza di 3mascelle di 3 tre individui diversi.
Figura 26: Recupero dei crani.
Figura 27: Particolare dello scavo della grotta.
0283 |
Figura 28: Particolare del recupero del primo cranio.
Figura 29: Particolare del recupero del secondo cranio.
Figura 30: Cranio numero 2 dopo lo scavo e la sua totale esposizione.
Figura 31: Trattamento e preparazione al trasporto del cranio.
0285 |
Figura 32: Primi interventi di pulitura dei crani.
Figura 33: Immagine della grotta dopo la pulitura del primo livello artificiale.
Figura 34: Esposizione di ossa nella zona d’ingresso della grotta.
Figura 35: Particolare dello scavo e dell’espossizione dei resti osteologici. A destra Rosalba Floris (antropóloga); a sinistra
Alexandra Figueiredo (Arrcheologa e Direttore dello scavo).
0287 |
Figura 36: Immagine mostrante il terzo livello artificiale con le ossa ancora in posto.
Figura 37: Fine dei lavori archeologici per il 2011.
Figura 38: Fine dei lavori archeologici per il 2011
Figura 39: Chiusura dei lavori e protezione del sito con geotextile e polietilene, puntellato al suolo.
0289 |
Allegato II – INVENTARIO DEI MATERIALI ARCHEOLOGICI RINVENUTI
Nº
Descrizione
Tipo
Data
Q
L
1
Vago di collana, a coppa, con una perforazione centrale biconica
Ornamento / Vago
01-Ago
E0
RS
-1,00
2
Conto di un collare, a coppa, con una perforazione centrale biconica
Ornamento / Vago
01-Ago
E0
RS
-1,00
3
Conto di un collare, a coppa, con una perforazione centrale biconica
Ornamento / Vago
01-Ago
E0
RS
-1,00
4
Conto di un collare, a coppa, con una perforazione centrale biconica
Ornamento / Vago
01-Ago
E0
RS
4,04
2,10
-1,07
5
Conto di un collare, a coppa, con una perforazione centrale biconica
Ornamento / Vago
01-Ago
E0
RS
4,10
2,32
-1,05
6
Conto di un collare, a coppa, con una perforazione centrale biconica
Ornamento / Vago
01-Ago
D4
1
4,20
-1,84
-1,06
7
Conto di un collare, a coppa, con una perforazione centrale biconica
Ornamento / Vago
01-Ago
F5
RS
-0,80
8
Conto di un collare, a coppa, con una perforazione centrale biconica
Ornamento / Vago
01-Ago
F5
RS
-0,80
9
Conto di un collare, a coppa, con una perforazione centrale biconica
Ornamento / Vago
01-Ago
F5
RS
-0,80
10
Conto di un collare, a coppa, con una perforazione centrale biconica
Ornamento / Vago
01-Ago
F5
RS
-0,80
11
Conto di un collare, a coppa, con una perforazione centrale biconica
Ornamento / Vago
01-Ago
F5
RS
-0,80
12
Concha, com perfuração, possível uso.
Ornamento / Pendente
01-Ago
G1
1
13
Conto di un collare, a coppa, con una perforazione centrale biconica
Ornamento / Vago
01-Ago
G1
1
14
Conto di un collare, a coppa, con una perforazione centrale biconica
Ornamento / Vago
01-Ago
D3
1
3,40
-0,70
-1,05
15
Frammento curvilíneo di Ceramica, senza decoro.
Ceramica / Preistoria (Corpo)
01-Ago
A2
1
0,70
-0,40
-1,05
16
Scheggia in ossidiana.
Lítico / Ossidiana
01-Ago
E0
1
4,05
2,15
-1,05
17
Scheggia in ossidiana.
Lítico / Ossidiana
01-Ago
E0
1
4,05
2,15
-1,05
18
Chips sinistra, con tracce d’uso, in ossidiana, sezione triangolare
Lítico / Ossidiana
01-Ago
E0
1
4,05
2,15
-1,05
19
Scheggia in ossidiana.
Lítico / Ossidiana
01-Ago
E0
1
4,05
2,15
-1,05
20
Scheggia in ossidiana.
Lítico / Ossidiana
01-Ago
E0
1
4,05
2,15
-1,05
21
Scheggia in ossidiana.
Lítico / Ossidiana
01-Ago
E0
1
4,05
2,15
-1,05
Lítico / Ossidiana
01-Ago
E0
1
4,05
2,15
-1,05
22
Chips in ossidiana, a sezione trapezoidale, con tracce di ritocco e
d'uso delle labbra.
X
Y
Z
23
24
25
26
Chips in ossidiana, sub triangolare, con il 20% di corteccia, con tracce
di utilizzo sulla sinistra, liscio tallone
Lamela in ossidiana, sezione triangolare, senza tracce d’uso.
Frammento di bordo e ansa in cerâmica di una tazza miniaturistica
(probabilmente clássica).
Frammento di bordo decorado in ceramica, con impressioni
(Preistoria).
Lítico / Ossidiana
01-Ago
D4
1
4,20
-1,52
-1,08
Lítico / Ossidiana
01-Ago
E5
1
4,40
-1,30
-1,08
Ceramica / Clássica
01-Ago
E1
1
4,10
2,00
-1,10
Ceramica / Preistorica (Bordo)
01-Ago
E1
1
4,11
2,10/S
-1,10
27
Frammento di corpo in ceramica, senza decoro (Preistorica).
Ceramica / Preistorica (Corpo)
01-Ago
E1
1
4,10
2/S
-1,10
28
Frammento di corpo in ceramica, senza decoro (Preistorica).
Ceramica / Preistorica (Corpo)
01-Ago
E1
1
4,10
2/S
-1,10
29
Frammento di corpo in ceramica, senza decoro (Preistorica).
Ceramica / Preistorica (Corpo)
01-Ago
RS
1
30
Frammento di corpo in ceramica, senza decoro (Preistorica).
Ceramica / Preistorica (Corpo)
01-Ago
E1
1
-4,10
2/S
-1,10
31
Frammento di corpo in ceramica, senza decoro (Preistorica).
Ceramica / Preistoria (Corpo)
01-Ago
E1
1
-4,10
2/S
-1,10
32
Frammento di corpo in ceramica, senza decoro (Preistorica).
Ceramica / Preistoria (Corpo)
01-Ago
E1
1
-4,10
2/S
-1,10
Ceramica / Preistorica (Bordo)
01-Ago
G1
1
33
Bordo con bugna in ceramica prveniente da un piccolo vaso preistorico
(diametro 28 cm).
34
Frammento di corpo in ceramica, senza decoro (Preistorica).
Ceramica / Preistoria (Corpo)
01-Ago
G1
1
35
Frammento di bordo/corpo di vaso recente (5 pezzi)
Ceramica / Recente
01-Ago
F5
RS
-0,80
36
Frammenti di ceramica senza decoro (Classici).
Ceramica / Clássica
01-Ago
F5
RS
-0,80
37
Frammento di corpo in ceramica, senza decoro (Preistorica).
Ceramica / Preistorica (Corpo)
01-Ago
F5
RS
-0,80
38
Frammento di corpo in ceramica, senza decoro (Preistorica).
Ceramica / Preistorica (Corpo)
01-Ago
F5
RS
-0,80
39
Frammento di corpo in ceramica, senza decoro (Preistorica).
Ceramica / Preistorica (Corpo)
01-Ago
F5
RS
-0,80
40
Frammento di corpo in ceramica, senza decoro (Preistorica).
Ceramica / Preistorica (Corpo)
01-Ago
F5
RS
-0,80
41
Frammento di corpo in ceramica, senza decoro (Preistorica).
Ceramica / Preistorica (Corpo)
01-Ago
F5
RS
-0,80
42
Frammento di corpo in ceramica, senza decoro (Preistorica).
Ceramica / Preistorica (Corpo)
01-Ago
F5
RS
-0,80
43
Frammento di corpo in ceramica, senza decoro (Preistorica).
Ceramica / Preistorica (Corpo)
01-Ago
F5
RS
-0,80
44
Frammento di corpo in ceramica, senza decoro (Preistorica).
Ceramica / Preistorica (Corpo)
01-Ago
F5
RS
-0,80
0291 |
45
Frammento di corpo in ceramica, senza decoro (Preistorica).
Ceramica / Preistorica (Corpo)
01-Ago
F5
RS
46
Frammento di corpo in ceramica, senza decoro (Preistorica).
Ceramica / Preistorica (Bordo)
01-Ago
F5
Rs
47
Frammento di corpo in ceramica, senza decoro (Preistorica).
Ceramica / Preistoria (Corpo)
01-Ago
C2
1
2,10
-0,40
-0,63
48
Bordo curvilíneo di ceramica (Preistorica).
Ceramica / Preistoria (Bordo)
01-Ago
C2
1
2,10
-0,40
-0,63
49
Frammento liscio di base plana in cerâmica (Preistorica).
Ceramica / Preistoria (Base)
01-Ago
D1
2
3,10
0,70
-0,98
50
Frammento liscio di base plana in cerâmica (Preistorica).
Ceramica / Preistoria (Base)
01-Ago
D1
2
3,10
0,70
-0,98
51
Frammento di corpo di vaso in ceramica, senza decoro (Preistorica).
Ceramica / Preistoria (Corpo)
01-Ago
D1
2
3,15
0,24
-0,95
52
Frammento di bordo curvilíneo in ceramica (Preistorica).
Ceramica / Preistoria (Bordo)
01-Ago
D1
2
3,25
0,30
-0,95
53
Vago di collana, a coppa, con una perforazione centrale bi conica
Ornamento/Vago
02-Ago
D3
2
3,10
-0,52
-1,28
54
Vago di collana, a coppa, con una perforazione centrale bi conica
Ornamento/Vago
02-Ago
D3
2
3,10
-0,52
-1,28
55
Vago di collana, a coppa, con una perforazione centrale bi conica
Ornamento/Vago
02-Ago
D3
2
3,10
-0,52
-1,28
56
Vago di collana, a coppa, con una perforazione centrale bi conica
Ornamento/Vago
02-Ago
D3
2
3,10
-0,52
-1,28
57
Vago di collana, a coppa, con una perforazione centrale bi conica
Ornamento/Vago
02-Ago
D3
2
3,10
-0,52
-1,28
58
Vago di collana, a coppa, con una perforazione centrale bi conica
Ornamento/Vago
02-Ago
D3
2
3,10
-0,52
-1,28
59
Vago di collana, con una perforazione centrale bi conica
Ornamento/Vago
02-Ago
D3
2
3,10
-0,52
-1,28
Ornamento / Pendente
02-Ago
E5
2
4,70
-2,07
-1,23
Ornamento / Pendente
02-Ago
E5
2
4,73
-2,20
-1,27
60
61
Pendente, in guscio di conchiglia, con perforazione centrale distale e
possibile frattura della zona prossimale.
Ciondolo per collana, con foratura biconica in forma estrinseca a
losanga e foro di origine antropica.
-0,80
62
Vago di collana, a coppa, con una perforazione centrale biconica
Ornamento/Vago
02-Ago
E5
2
4,75
-2,50
-1,25
63
Vago di collana, a coppa, con una perforazione centrale biconica
Ornamento/Vago
02-Ago
E5
2
4,75
-2,50
-1,25
64
Vago di collana, a coppa, con una perforazione centrale biconica
Ornamento/Vago
02-Ago
E5
2
4,75
-2,50
-1,25
65
Vago di collana, a coppa, con una perforazione centrale biconica
Ornamento/Vago
02-Ago
E5
2
4,75
-2,50
-1,25
66
Vago di collana, a coppa, con una perforazione centrale biconica
Ornamento/Vago
02-Ago
E5
2
4,75
-2,50
-1,25
67
Vago di collana, a coppa, con una perforazione centrale biconica
Ornamento/Vago
02-Ago
E5
2
4,75
-2,50
-1,25
68
Vago di collana, a coppa, con una perforazione centrale biconica
Ornamento/Vago
02-Ago
E5
2
4,75
-2,50
-1,25
69
70
71
72
73
Vago di collana, a coppa, con una perforazione centrale biconica
Chips in ossidiana, sezione triangolare, con ritocchi e tracce d’uso
lungo i bordi; presenza del 5% di corteccia.
Chips in ossidiana, sezione triangolare, con ritocchi corti e descontinui
parzialmente a destra, e tracce d’uso.
Chips, con taglio perpendicolare, senza tracce d’uso, sezione sub trapezoidale.
Chips in ossidiana, sezione sub-triangolare con tracce d’uso nel bordo
destro,
Ornamento/Vago
02-Ago
E5
2
4,75
-2,50
-1,25
Lítico / Ossidiana
02-Ago
E5
2
4,70
-2,07
-1,23
Lítico / Ossidiana
02-Ago
E5
2
4,73
-2,00
-1,25
Lítico / Ossidiana
02-Ago
E5
2
4,23
-2,53
-1,20
Lítico / Ossidiana
02-Ago
E5
2
4,50
-2,62
-1,23
74
Frammento di corpo di Ceramica , senza decoro (Preistorica).
Ceramica / Preistoria (Corpo)
02-Ago
E5
2
4,30
-2,82
-1,20
75
Frammento di corpo di Ceramica , senza decoro (Preistorica).
Ceramica / Preistoria (Corpo)
02-Ago
E5
2
4,30
-2,82
-1,20
76
Frammento di corpo di Ceramica , senza decoro (Preistorica).
Ceramica / Preistoria (Corpo)
02-Ago
E5
2
4,30
-2,82
-1,20
77
Frammento di corpo di Ceramica , senza decoro (Preistorica).
Ceramica / Preistoria (Corpo)
02-Ago
E5
2
4,30
-2,82
-1,20
78
Frammento di corpo di Ceramica , senza decoro (Preistorica).
Ceramica / Preistoria (Corpo)
02-Ago
E5
2
4,30
-2,82
-1,20
79
Frammento di corpo di Ceramica , senza decoro (Preistorica).
Ceramica / Preistoria (Corpo)
02-Ago
E5
2
4,30
-2,82
-1,20
80
Frammento di corpo di Ceramica di vaso di recente
Ceramica / Recente (Corpo)
02-Ago
E5
2
4,70
-2,97
-1,23
81
Frammento di bordo aperto in Cerâmica (Preistorica).
Ceramica / Preistorica (Bordo)
02-Ago
E5
2
4,20
-2,23
-1,20
82
Frammento di base piana in Ceramica (Preistorica).
Ceramica / Preistorica (Base)
02-Ago
E5
2
4,10
-2,52
-1,25
Ceramica / Preistorica (Bordo)
02-Ago
E3
1
4,55
-0,71
-1,12
Frammento di bordo di ceramica, forma aperta, compatto, con
83
impressione di 3 linee orizzontali e sotto motivo a spina di pesce
verticale con intercalazioni puntiformi. Caratteristica della Sardegna
Età del Bronzo e molto simile al tipo Cogotas Cogeces iberica.
84
Frammento di bordo curvo di Ceramica senza decoro (Preistorica).
Ceramica / Preistoria (Bordo)
02-Ago
D3
2
3,80
-0,75
-1,25
85
Due frammenti di corpo di Ceramica (Preistorica).
Ceramica / Preistoria (Corpo)
02-Ago
D3
2
3,80
-0,85
-1,25
86
Due frammenti di corpo di Ceramica (Preistorica).
Ceramica / Preistoria (Corpo)
02-Ago
D3
2
3,80
-0,85
-1,25
87
Frammento di piede di tripode in Cerâmica, senza decoro (Preistorica).
Ceramica / Preistoria (Corpo)
03-Ago
G4
1
5,62
-0,52
-0,90
0293 |
88
Frammento di Ceramica senza decoro (Preistorica).
Ceramica / Preistoria (Corpo)
03-Ago
E4
2
4,20
-1,80
-1,28
89
Frammento di corpo di Ceramica, senza decoro (Preistorica).
Ceramica / Preistoria (Corpo)
03-Ago
E4
2
5,00
-1,70
-1,28
90
Frammento di corpo di Ceramica, senza decoro (Preistorica).
Ceramica / Preistoria (Corpo)
03-Ago
F4
2
-1,10
91
Frammento di corpo di Ceramica, senza decoro (Preistorica) .
Ceramica / Preistoria (Corpo)
03-Ago
F4
2
-1,10
92
Frammento di corpo di Ceramica, senza decoro (Preistorica).
Ceramica / Preistoria (Corpo)
03-Ago
E1
2
4,90
1,70
-1,30
93
Chips in selce, con 25% di corteccia laterale, senza tracce d’uso.
Lítico / Selce
03-Ago
E1
2
4,80
1,50
-1,30
94
Vago di collana, a coppa, con una perforazione centrale biconica.
Ornamento / Conto
03-Ago
F4
2
5,25
-1,53
-1,10
95
Vago di collana, a coppa, con una perforazione centrale biconica.
Ornamento / Conto
03-Ago
E2
2
4,80
-0,42
-0,95
96
Vago di collana, a coppa, con una perforazione centrale biconica.
Ornamento / Conto
03-Ago
E4
2
4,30
-1,37
1,35
97
Vago di collana, a coppa, con una perforazione centrale biconica.
Ornamento / Conto
03-Ago
F4
2
5,90
-0,45
-1,03
Ornamento / Pendente
03-Ago
F4
2
5,45
-1,70
-1,00
Ornamento/ Pendente
03-Ago
E4
2
4,80
-1,97
-1,24
98
99
Pendente in osso, con perforazione bi conica distale, di forma
rettangolare.
Pendente in osso, con perforazione biconica distale, di forma
rettangolare.
100
Vago di collana, a coppa, con una perforazione centrale biconica
Ornamento / Conto
03-Ago
E4
2
4,60
-1,82
-1,25
101
Chips in ossidiana, senza tracce d’uso.
Lítico / Ossidiana
03-Ago
E2
2
4,55
-8,12
-1,07
102
Chips in ossidiana, senza tracce d’uso.
Lítico / Ossidiana
03-Ago
F4
1
103
Chips in ossidiana, senza tracce d’uso.
Lítico / Ossidiana
03-Ago
F4
1
104
Chips in ossidiana, senza tracce d’uso.
Lítico / Ossidiana
03-Ago
F4
1
105
Chips in ossidiana, senza tracce d’uso.
Lítico / Ossidiana
03-Ago
F4
1
106
Vago di collana, a coppa, con una perforazione centrale
Ornamento / Conto
03-Ago
E3
2
4,10
-0,37
-1,18
107
Frammento di corpo di vaso recente
Ceramica / Recente
03-Ago
E3
2
4,12
-0,52
-1,19
108
Frammento di corpo di Ceramica Preistorica senza decoro.
Ceramica / Preistoria (Corpo)
03-Ago
F5
2
109
Frammento di corpo di Ceramica, senza decoro (Recente).
Ceramica /Recente
03-Ago
E3
2
4,20
-0,82
-1,20
Lítico / ossidiana
04-Ago
G2
1
6,10
-0,10
-1,10
110
Chips in ossidiana, sezione trapezoidale, 15% corteccia, mostra tracce
di uso a sinistra.
111
Frammento di vaso in ceramica (Preistorica).
Ceramica / Preistoria (Corpo)
04-Ago
G2
112
Scheggia In ossidiana con tracce d'uso
Lítico / Ossidiana
04-Ago
113
Vago di collana, a coppa, con una perforazione centrale biconica
Ornamento / Vago
04-Ago
E2
114
Vago di collana, a coppa, con una perforazione centrale biconica
Ornamento / Vago
04-Ago
Ornamento / Vago
2
6,20
-0,60
-1,20
2
4,72
-0,55
-1,34
G2
2
6,24
-0,40
-1,15
04-Ago
G2
2
6,28
-0,52
-1,16
Lítico / Ossidiana
04-Ago
E3
2
4,80
-1,85
-1,42
2
Perle di collana, tubolare a forma di pietra (calcare), con una
115
perforazione biconica, lato - dorsale. È un tentativo di praticare i fori
laterali.
116
Lama in ossidiana, con corteccia laterale, sezione trapezoidale, e con
tracce d'uso sul bordo destro. Presenta piano di percussione.
117
Frammento basale di corpo di vaso di ceramica senza decoro.
Ceramica / Preistoria (Corpo)
04-Ago
E3
2
4,70
-1,15
1,42
118
Frammento basale di corpo di vaso di ceramica senza decoro.
Ceramica / Preistorica (Base)
04-Ago
E2
2
4,32
-0,90
-1,38
119
Frammento di corpo di vaso di recente
Ceramica / Recente
04-Ago
G3
2
6,92
-1,70
-1,32
120
Frammento di corpo di vaso di recente
Ceramica / Recente
04-Ago
G3
2
6,92
-1,70
-1,32
121
Frammento di corpo di vaso di recente
Ceramica / Recente
04-Ago
G3
2
6,92
-1,70
-1,32
122
Frammento di corpo di vaso di recente
Ceramica / Recente
04-Ago
G3
2
6,92
-1,70
-1,32
123
Vago di collana, a coppa, con una perforazione centrale biconica
Ornamento / Conto
04-Ago
G3
2
6,96
-1,75
-1,32
124
Crosta in ossidiana
Lítico / Ossidiana
04-Ago
G3
2
6,90
-1,60
-1,30
Lítico / Ossidiana
04-Ago
G3
2
6,30
-1,38
-1,38
Lame di ossidiana, con corteccia laterale, sezione trapezoidale,
125
fratturato zona distale con bordo piccolo; mostra tracce di utilizzo su
entrambi i lati. Litiche / Obsidian G3 04-2 agosto -1,38 6,30 -1,38
0295 |
Allegato III – DISEGNO DEI MATERIALI ARCHEOLOGICI
Ornamenti in conchiglia e osso.
Oggetti lítici, in ossidiana o selce.
Vasi in Ceramica
0297 |
Allegato IV – Primi dati sui reperti scheletrici umani
I reperti scheletrici umani a cui si fa riferimento in questa nota sono quelli che, per il momento,
ritengo maggiormente rappresentativi. Considerando che lo scavo e le prime operazioni sui
reperti sono stati effettuati in soli quattro giorni i dati che seguono sono da considerarsi
indicativi.
Non vengono presentati per il momenti dati relativi ai reperti rinvenuti nello strato
superficiale, visibilmente riferibile a epoche recenti e sconvolto, e quelli presenti all’esterno
del riparo. Dobbiamo considerare che la piccola grotta/riparo sotto roccia fu utilizzata sino a
pochi anni fa come ricovero temporaneo per uomini e animali.
Le operazioni di scavo sono risultate piuttosto complesse a causa della presenza di numerose e
robuste radici delle piante di leccio e di pietre di crollo.
Per i reperti umani é stato predisposto un inventario separato da quello dei reperti culturali. La
sigla, uguale per tutti i reperti del sito, è GTG (Grotta Tziu Giuanni) in riferimento al
proprietario del sito Signor Giovanni Murgia. In questa nota i numeri di inventario vengono
indicati in grassetto.
I reperti umani che per ora sono stati puliti, siglati e inventariati sono in totale 46 e sono
quelli riferibili al quadrato E3/E4 L2, i tre crani del quadrato C0 L2 e alle ossa ritrovate al loro
interno.
Sono stati inoltre selezionati e conteggiati i reperti rinvenuti nei quadrati E3 L2, E4 L2, G5 L2,
F3 L2.
I resti animali sono stati separati e saranno esaminati da un esperto.
Ritengo inoltre necessario specificare che due crani privi di mandibola (calvaria), raccolti fuori
dal sito dalla dottoressa Maria Giuseppina Gradoli durante il primo sopralluogo effettuato nel
mese di luglio del 2010, furono consegnati alla Soprintendenza di Sassari e sono attualmente
custoditi presso il museo Sanna della stessa città. Ho già fatto richiesta formale e spero di
poterne effettuare lo studio a breve.
I primi reperti ad essere individuati e recuperati sono tre calvaria rinvenuti in una piccola
nicchia situata sulla parete destra della grotticella (Q C1) . Si trovavano praticamente sullo
stesso piano, nella Foto 1.
Foto 1.
Durante le operazioni di pulizia i crani sono stati accuratamente svuotati dalla terra di
riempimento e, al loro interno, sono stati ritrovati vari reperti sia umani che animali. Si può
supporre che per la maggior parte siano finiti casualmente all’interno dei crani mentre nutro
forti dubbi per la grande clavicola n. 11 ritrovata all’interno del cranio n.1. In questo caso
ipotizzo una volontaria azione antropica.
Cranio 1 ( GTG 2011, Q C0 L2 , 1)
E’ riferibile ad un maschio adulto, di circa 30 anni. Le caratteristiche peculiari di questo reperto
sono le alterazioni artrosiche dei condili occipitali e le particolari spicole ossee presenti sul
frontale, sulla linea fronto-temporale di entrambi i lati. Questo quadro suggerisce un’attività,
presumibilmente lavorativa, che poteva consistere nel traino di carichi pesanti/trascinamento
mediante una cinghia che passava attorno alla fronte.
Simili metodi sono adottati presso popolazioni attualmente viventi
Cranio 2 ( GTG 2011, Q C0 L2 , 2)
E’riferibile ad una femmina molto giovane, di circa 20 anni. La caratteristica più importante di
questo reperto è la presenza di un grande foro (circa 3 cm di diametro) sul frontale, nella
regione sopraorbitaria sinistra: si tratta di trapanazione cranica eseguita sul vivente. Un
sommario esame macroscopico della lesione sembra indicare una breve sopravvivenza
all’intervento. Sono inoltre da segnalare alterazioni di tipo artrosico dei condili occipitali,
attribuibili verosimilmente all’abitudine di portare sulla testa carichi pesanti.
Cranio 3 ( GTG 2011, , Q C0 L2 , 3)
0299 |
E’ riferibile ad un maschio adulto, di circa 35 anni. Rispetto agli altri due crani si presenta
maggiormente lesionato, in particolare alla base, a causa di una radice che si è insinuata nei
fori, allargandoli e modificandone i contorni. Il foro più grande, vicino al foro occipitale, merita
ulteriori indagini perché ritengo possa trattarsi di una lesione riportata in vita. Inoltre sono
presenti due lesioni di probabile origine traumatica: una sul frontale sopra l’orbita destra,
l’altra fra lo sfenoide ed il temporale a sinistra.
Nel “Burraco” (buco) sono state rinvenute numerose ossa di animali.
Ossa dello scheletro postcraniale.
Nel quadrato
E3/E4 L2
sono state ritrovate ossa di individui adulti e subadulti
rappresentative di tutto lo scheletro. La posizione relativa dei vari segmenti scheletrici
suggerisce delle deposizioni primarie con i corpi in posizione rannicchiata. Il ritrovamen to di
numerosi reperti culturali di corredo personale (elementi di collana) nella stessa area
suggeriscono che qualche cranio possa ancora trovarsi tra le radici del grande leccio che
occupa l’ingresso della grotticella. Frammenti di neurocranio di individui adulti e in età
evolutiva concordano con quanto suggerito dai frammenti postcraniali.
Le deposizioni furono pesantemente disturbate dall’azione delle radici degli alberi , dai crolli
della volta del riparo e dall’azione dell’acqua stessa. (Il proprietario del terreno, signor
Giovanni Murgia, testimonia che l’acqua scendeva in una piccola cascata sopra l’anfratto sino
al 1948, anno in cui il corso d’acqua venne incanalato durante i lavori per la realizzazione
dall’acquedotto). L’ipotesi che si tratti di deposizioni primarie disturbate è avvalorata dalla
presenza di numerosissimi elementi scheletrici di piccole dimensioni, come ossa carpali,
metacarpali e falangi a breve distanza tra loro, unitamente a numerosi denti isolati. Sono
presenti anche ossa dei piedi e addirittura ossa sesamoidi. Questi piccoli segmenti dello
scheletro molto raramente vengono recuperati in contesti di sepolture secondarie. Le ossa
sono riferibili ad almeno 4 individui adulti (Numero Minimo di Individui ricavato da 4 calcagni
sinistri, nn.17,18,19 e 20) e 2 bambini (NMI ricavato da due frammenti di mandibola, regione
del mento, nn. 24 e 42). Per uno dei due bambini ho calcolato, in base alla situazione della
dentatura, un’età di circa 4 anni. Per il momento non abbiamo le prove che le ossa postcraniali
siano da attribuirsi ai tre crani rinvenuti nella nicchia
(Quadrato C1) ma non possiamo neppure escluderlo. Sono presenti ossa grandi e robuste
riferibili ad almeno due maschi adulti e, in base alla lunghezza massima dell’omero sini stro
n.14 , è stato possibile calcolare per uno di loro la statura di circa 165 cm. La clavicola n.22 ,
gracile e sottile, è riferibile ad una femmina .
Le caratteristiche morfologiche dei due omeri, dell’ulna e di molte falangi suggeriscono la
presenza di individui dediti a pesanti lavori manuali. Le alterazioni presenti all’inserzione del
tendine di Achille nel calcagno n.20 (entesopatia) suggeriscono per un individuo maschio
adulto l’abitudine a camminare, con grande sforzo del polpaccio, su terreni accidentati.
Dal conteggio dei reperti rinvenuti nei quadrati E3 L2, E4 L2, G5 L2, F3 L2 sono risultati in
totale 515 frammenti ed è interessante notare come i denti e le ossa di mani e piedi sono
distribuiti all’interno dei quadrati, come risulta nel grafico 1. I denti abbondanti nel quadrato
F3 suggeriscono la presenza di crani, mentre nel quadrato E3 sono presenti moltieossa delle
mani.
GRAFICO 1: Distribuzione dei reperti di piccole dimensioni.
0301 |
PROJECTO EBO: ARQUEOLOGIA E PATRIMÓNIO COMO
FACTORES DE SUSTENTABILIDADE EDESENVOLVIMENTO
LOCAL
Luiz Oosterbeek
Instituto Politécnico de Tomar/Grupo “Quaternário e Pré-Histórica”
do Centro de Geociências (uID73 – Fundação para a Ciência e
Tecnologia) – [email protected]
Cristina Pombares Martins
Grupo “Quaternário e Pré-Histórica” do Centro de Geociências (uID73
– Fundação para a Ciência e Tecnologia) / Doutoranda em
Quaternário, Materiais e Culturas (UTAD) – [email protected]
Projecto Ebo: arqueologia e património como
factores de sustentabilidade edesenvolvimento
local
Luiz Oosterbeek e Cristina Pombares Martins
Resumo:
Angola apresenta inúmeros contextos arqueológicos, de inegável complexidade e riqueza. A
região do Ebo, no Kuanza-Sul, não é excepção, encerrando diversos abrigos com pinturas e
variados testemunhos materiais sobre as raízes culturais no território. O “Projecto EBO” nasce
visando aceder a três dimensões distintas mas interligadas: a evidência arqueológica para
entendimento do povoamento humano, numa perspectiva sincrónica e diacróni ca; as
respectivas evidências antropológicas; e a Arte Rupestre. O projecto estabelece objectivos
limitados mas realistas, proporcionando novas perspectivas sobre as questões mencionadas,
registo pormenorizado e contextualização da área. No entanto, o proj ecto não se esgota na
investigação arqueológica; pretende envolver a comunidade, contribuindo para o
desenvolvimento local e a criação de estratégias de sustentabilidade, pela interacção das
diferentes instituições envolvidas, formando recursos humanos capazes de gerir, proteger,
conservar e rentabilizar o património local.
Palavras-chave: Arqueologia – Arte Rupestre – Povoamento – Etnoarqueologia – Gestão do
Território.
NOTA
Texto apresentado na 1ª Conferência em prol do Desenvolvimento das Províncias de Benguela
e Kuanza-Sul «A Universidade Katyavala Bwila e o desenvolvimento regional», realizada em
Benguela (Angola) de 16 a 18 de Junho de 2010.
Introdução
O Centro-Sul de África é a região em que a arqueologia tem sido menos estudada no
continente. Durante muito tempo, os investigadores consideraram o Leste Africano e em
particular o Vale do Rift, como o foco das origens da Humanidade. No entanto, novas
descobertas de fósseis dos primeiros hominídeos noutros pontos do Continente Africano,
sobretudo, no Tchad, levam hoje à re-consideração desse modelo, sendo essencial esperar
pelos próximos anos e descobertas, que seguramente terão lugar na faixa Ocidental de África.
0303 |
Também o conhecimento e compreensão dasmanifestações de arte rupestre no Continente
são melhor conhecidas na África setentrional e na África do Sul, com escassas referências à
área Central. Conflitos e dificuldades económicas dificultaram essa pesquisa nas últimas
décadas, mas é hoje prioritário retomá-las, e é nesse sentido que organizações africanas (como
o Congresso Pan-Africano de Arqueologia) e mundiais (como a UISPP, de que aquele faz parte)
se orientam actualmente. Angola não foi excepção neste aspecto, e tendo agora encontrado o
caminho da paz e do desenvolvimento pode aprofundar as pesquisas que façam o resgate do
seu património arqueológico e rupestre. No presente contributo, focamos a região do Ebo,
reconhecida pela importância do seu acervo de arte rupestre.
Arqueologia Angolana: Revisão da Literatura
Angola é um país de grande riqueza histórico-cultural, com marcas indeléveis por todo o
território. A pesquisa arqueológica em Angola começou no séc. XIX, embora, desde essa altura
até aos nossos dias, não tenha nunca existido um programa de pesquisa contínuo e
sistemático.
O primeiro registo de Arte Rupestre em Angola data de 1816, por Tuckey. Posteriormente, em
1886, na travessia de Luanda (Angola) a Tête (Moçambique), viagem conhecida como “De
Angola à Contra-Costa”, Hermenegildo Capelo e Roberto Yvens mencionam também as
pegadas de Pungo Andongo.
Em 1890, Ricardo Severo publica “Os primeiros vestígios do período Neolítico no Estado de
Angola” e Nery Delgado "Quelques mots sur les collections des Roches de la province d´Angola
par le Rev. Pe. Antunes", marcando o início do estudo do Paleolítico em Angola, seguido, em
1913, por Leite Vasconcelos e nos anos 30 por Rui Serpa Pinto, Santos Júnior e outros (Santos
Júnior, 1974).
Nos anos 40, a pesquisa arqueológica avança muito, graças aos estudos levados a cabo por
arqueólogos e geólogos como Janmart, Breuil, Leakey, F. Mouta, J. Martins, S. C. Neto e
Mascarenhas e Clark, os quais, sob o patrocínio da Companhia dos Diamantes de Angola,
realizaram inúmeras publicações (Ervedosa, 1980).
Em 1948, José Redinha publica um estudo sobre três estações de arte rupestre: Bambala,
Capelo, Calola, no Alto Zambeze (Redinha, 1948) e, alguns anos mais tarde, em 1953, C. França
publica no “Mensário Administrativo” um estudo sobre cento e cinquenta gravuras no
Tchitundo¬hulo, no deserto de Moçâmedes (actual Namibe).
Em 1961, Eduardo dos Santos publica uma “Contribuição para o estudo dos ictogramas e
ideogramas dos Quiocos” – desenhos na areia feitos pelos Tshokwe, designados “sona”,
significando “desenho”, “letras”, “figuras” que representam animais, objectos, histórias ou
valores a ser transmitidos (Santos, 1961).
Henry Breuil e António de Almeida, em 1962, fazem uma comunicação oral e apresentam um
filme, no IV Congresso Panafricano de Pré-História e de estudo do Quaternário, mencionando
as pinturas e gravuras do Sudoeste de Angola, mostrando os sítios com pinturas e gravuras de
Tchitundo-hulo e Brutei.
Na década de 60, D. Clark publica “"Prehistoric culture of Northeast Angola and their
significance in tropical Africa"(1963), “The distribution of prehistoric cultures in Angola"(1966)
e "Further Pala-anthropological studies in Northern Lunda"(1967).
Em 1967, Joaquim Martins publica uma obra consagrada às gravuras de Cabinda. Para ele, esta
criação artística típica do Norte de Angola, trata-se de uma “escrita sem alfabeto”, gravada nas
cabaças, nas esteiras, nas tampas das panelas, nos túmulos, nos pentes, por exemplo, expressa
pela utilização de vários símbolos que podem compor uma mensagem, transmitir leis ou
conceitos da comunidade.
Ainda no fim da década de 60, Santos Júnior e Carlos Ervedosa iniciam uma série de trabalhos
em vários sítios: Caninguiri; Quissádi; Quinhengo; Galanga; Cambambi e Uaco Cun go;
Tchitundo-hulo, Macahama (Ervedosa, 1980).
O Arqt.º Fernando Batalha, em 1971, chega aos abrigos com pinturas do Ebo, depois também
visitados por Santos Júnior e Ervedosa, numa curta visita de três dias (Santos Júnior, 1974).
Em 1979, Miguel Ramos publica a descrição das gravuras de Monte Negro, situadas margem
direita do rio Cunene, embora sete anos antes, tivesse publicado uma nota sob o título
“Algumas descobertas recentes no Sudoeste de Angola”.
Carlos Ervedosa, em 1980, publica “Arqueologia Angolana”. Nesta obra, o autor apresenta,
numa primeira parte, as culturas pré-históricas de Angola, tendo por base as zonas ecológicas
propostas por Clark em 1966 e, numa segunda parte, descreve a arte rupestre do país. A partir
daí os estudos tornam-se raros.
Em 1996, Manuel Gutierrez publica “ L`Art Pariétal de l`Angola”. Ao estudo no local, seguindo
uma metodologia rigorosa, associa a tradição oral, comparando figuras e aspectos da
actualidade das comunidades locais e nisso baseia o seu ensaio de interpre tação para algumas
das obras que surgem na arte rupestre do país. Em 2008, este autor contribuiu de novo para o
avanço da pesquisa arqueológica, publicando "Les recherches Archéologiques in Angola,
Préhistoire, rock art, archéologie funéraire".
Em 2008, Cristina Pombares Martins conclui a tese de Mestrado “Arte Rupestre de Angola, um
contributo para o seu estudo, numa abordagem à arqueologia do território”, na sequência da
qual se estruturou o presente projecto.
Arqueologia do Território
Angola apresenta, como percebemos, múltiplos contextos e indícios que atestam a remota
ocupação do seu território, fazendo deste país uma área-chave para o entendimento das
conexões entre o Norte, o Leste, o Oeste e o Sul de África; compreender a Arqueologia do
Território é um elemento crucial neste processo.
Ainda que desenvolvidas de acordo com as metodologias da época, as pesquisas referenciadas
permitem-nos, hoje, estabelecer o panorama geral da Arqueologia num tão vasto quanto rico
território, repleto de vestígios do passado, de elementos patrimoniais e culturais.
O estudo da Arqueologia de um território implica a compreensão e a incorporação de todas as
dimensões e aspectos de que se reveste a cultura material (as industrias líticas, a cerâmica,
construções diversas, etc.), intrinsecamente ligados à cultural imaterial, onde a História e a
Antropologia desempenham papéis fundamentais. Nesse sentido, e porque é tarefa quase
impossível um só investigador dominar todas as áreas do saber, a análise científica de um
território só pode ser efectuada por uma equipa multidisciplinar, com estratégias e
metodologias adequadas, desenhadas e constantemente adaptadas ao objecto de estudo. É
0305 |
nessa lógica que a equipa de que fazemos parte integra elementos de diferentes instituições e
nacionalidades (Angola, Portugal e Namíbia).
De relevância para a Arqueologia do Território contam-se em primeiro lugar as referências a
fósseis. Em 1940 foram recolhidos três crânios e alguns restos de ossos, numa exploração de
cal, na região da Leba, planalto da Humpata. Aquele material foi depois enviado para C.
Arambourg, do Museu de História Natural de Paris, concluindo tratarem-se de crânios de
pequenos primatas muito semelhantes aos Dinopithecus ingens Broom encontrados nas grutas
de Schurserberg na África do Sul e associados a Australopitecínios (Mouta, 1953:12).
Já na década de 90 do século passado, Pickford alertou para a importância de retomar os
estudos da fauna encontrada na Leba dado que esta se assemelha à do Noroeste do Botswana
e das grutas do Transvaal com Australopitecus (Gutierrez, 1996:20), pois há uma grande
quantidade de grutas na região por eestudar (foram encontrados mais três jazigos fósseis
semelhantes ao de Tchiua, mas nenhum foi estudado), podendo a investigação muito
contribuir para a Paleontologia.
As pesquisas relativas às indústrias líticas em Angola remontam ao fim do séc. XIX, com algum
rigor, embora os estudos assentassem sobre peças e colecções recolhidas sem base
estratigráfica, descontextualizadas, numa abordagem que privilegiava excessivamente a
tipologia.
Desmond Clark é um dos investigadores que, sob o patrocínio do Museu do Dundo, criado pela
Companhia dos Diamantes, procurou estudar a distribuição cultural das indústrias líticas no
território angolano, classificando-as, em 1963, segundo o esquema cronológico tripartido:
Early Stone Age (ESA), Middle Stone Age (MSA) e Later Stone Age (LSA). À ESA, que inclui as
indústrias do tipo Olduvaense e Acheulense, à qual se segue o Primeiro Período Intermédio,
Clark associou as indústrias Fauresmith, Sangoense e Lupembense Inferior. Ao MSA associou a
indústria Lupembense, à qual se segue o Segundo Período Intermédio, com o Magosiense e a
transição Lupembo-Tshitolense. À LSA atribuiu, principalmente, micrólitos e, a Este, a indústria
Tshitolense. Clark considerou ainda que as indústrias líticas evoluíram no território de
diferentes modos, de acordo com condicionalismos ecológicos, pelo que dividiu o país em três
zonas ecológicas (Fig. 1): Congo, Sudoeste e Zambeze (Clark, 1966: 64).
As pesquisas daquele investigador, embora tenham permitido estabelecer um quadro geral
para as indústrias líticas angolanas, padecem de inúmeras incongruências, desde logo
assentando em peças provenientes de recolhas de superfície, sem contextualização
arqueológica ou referência à sua origem. Por outro lado, também não possuímos dados que
permitam aferir das alterações climatéricas e que relações podem estas, a terem existido, ter
tido com as diferentes indústrias.
Precisamos, portanto, de definir uma metodologia rigorosa, que contemple to das as fases
desde a prospecção, escavação, registo e estudo do material lítico, nas pesquisas que venham
a desenvolver-se no futuro.
No que respeita à cerâmica, há também um longo caminho a percorrer em termos de
investigação, pois os poucos estudos efectuados revelaram-se muito fraccionados e sem
grandes bases científicas, em termos metodológicos.
D. Clark estudou também alguns fragmentos de cerâmica recolhidos por José Redinha na
Estação do Dundo. R. Martins, por sua vez, dedicou parte do seu estudo à cerâmica de Quibaxe
(Ervedosa, 1980: 200), mas estes estudos revelaram-se limitados, pois aquelas recolhas não
permitiram aferir com segurança a origem das peças.
Manuel Gutierrez (1996:34) faz referência a achados cerâmicos ao sul de Luanda, em Benfica fragmentos de cerâmica e de um cachimbo de argila que foram datados por Carbono14,
apontando para uma data próxima a 140 d.C. Menciona ainda os únicos objectos em terracota
encontrados, até ao momento, em Angola – cinco estatuetas descobertas em Chilunda, a
sudeste de Benguela, em 1967/68 (Gutierrez, 1996:33).
Assim, também no capítulo da cerâmica, a criação de uma metodologia específica e
sistemática é crucial, permitindo levar a cabo estudos que permitam identificar a
morfotipologia das cerâmicas, conhecer a cadeia operatória de produção, no seu contexto
sociocultural.
No que respeita à metalurgia, foram desenvolvidos alguns trabalhos no passado. Vítor Oliveira
Jorge afirma que as origens da Idade do Ferro, em Angola estão estreitamente ligadas às
migrações de povos para Angola no início da nossa era, embora as vias de penetração ainda
estejam por comprovar (Jorge, 1974: 167). Será indispensável, pois, definir metodologias
adequadas que também permitam avançar no estudo da metalurgia, enquanto actividade que
assumiu uma importância vital na expansão económica, social e cultural de diversos grupos,
tentando compreender a organização da actividade em si, aquisição de minérios, rota de
trocas, etc., e sobretudo a emergência de processos de complexificação social que precederam
a colonização.
Em Angola, a cultura material de interesse arqueológico, não se esgota nos itens
referenciados. Encontrámo-la ainda em peculiares construções em pedra, umas de cariz
funerário (túmulos, salientando-se os de Quibaxe e da Quibala – Fig.2), outras defensivas
(morros fortificados e recintos amuralhados), outras ainda com finalidade habitacional (fundos
de cabana), todas de arquitectura muito própria (Ervedosa, 1980: 165). Seria essencial fazer
um inventário preciso de todas aquelas estruturas, bem como estudar mais
aprofundadamente as suas arquitectura, finalidade e autores/grupos étnicos que lhes estão
associados, sem esquecer a relação daquelas construções com a própria paisagem.
No que respeita à Arte Rupestre, como referido, data do final do séc. XIX a primeira referência
à Arte Rupestre com preocupação de registo, feita por Tuckey, sobre a Pedra do Feitiço. O
inventário elaborado por Gutierrez (1996:159) mostrou que as tonalidades mais usadas nas
pinturas são o branco, o vermelho, o negro, o laranja e o cinzento. As cores são utilizadas
sozinhas ou em combinações diversa, mas de notar que em Chitandalucua, por exemplo, todas
as figuras estão pintadas a branco.
Nos sítios de gravuras, encontramos um grande número de composições à base de formas
geométricas. No entanto, em Monte Negro, apesar do elevado número de formas
geométricas, são os zoomorfos que parecem desempenhar o papel central na composição dos
painéis.
Muitas vezes as figurações aparentam ser reconhecíveis, mas a sua significação pode ser
complexa. Veja-se o caso dos palanquins que surgem na Pedra do Feitiço (Fig.3); estes
objectos, além da função que lhes é inerente (de transporte), podem estar relacionados com o
poder, o prestígio, a autoridade (Gutierrez, 1996:233), aparecendo figurações deste tipo
também nas tampas gravadas de Cabinda (Serrano, 1993: 137) e nos desenhos na areia
(Fontinha, 1983:55).
No Nordeste de Angola, os sítios de Bambala, Capelo e Calola (Fig.4) apresentam figurações
gravadas predominantemente geométricas – os entrançados, círculos isolados ou ligados por
linhas, formas circulares e lineares (Redinha, 1948: 74).
0307 |
No Centro-Oeste encontra-se um dos sítios mais ricos em termos de arte rupestre – Caninguiri
(Fig.5) - quer pela sua extensão, quer pela qualidade e quantidade de figuras. No entanto, não
existe um levantamento total deste sítio (Quadro 1).
Ainda nesta zona Centro-Oeste, à excepção do sítio anterior, é de notar a constante presença
de armas de fogo em situações diversas, associadas a armas africanas (ex. Pedra Quinhengo),
em cenas de caça (ex. Pedra Quissanga e Galanga) ou representando conflitos armados entre
indivíduos (ex. Cambambi).
No Sudoeste angolano existe uma predominante representação de formas geométricas e de
figuras não decifradas, de zoomorfos e de peculiares antropomorfos, com destaque para o
complexo de Tchitundo-hulo, com pinturas e gravuras. As gravuras apresentam figurações
circulares ligadas por traços ou formas “soltas”; as pinturas são também na sua maioria formas
geométricas ou de interpretação difícil, mas também existem algumas representações de
zoomorfos e numa percentagem muito reduzida, alguns prováveis antropomorfos e de armas
africanas (Tchitundo-hulo Mulume).
Esta sumária referência a algumas das estações de arte rupestre, espalhadas por diversas
zonas do território angolano, demonstra a diversidade de contextos a elas associados, cujos
autores são também eles distintos, provavelmente de diferentes grupos étnicos.
Um dos aspectos interessantes no estudo da Arte Rupestre Angolana, como de toda a África
em geral, é que existe ainda uma relação profunda entre os autores de muitas das
pinturas/gravuras e as populações actuais, pois a memória daqueles mantém-se não apenas na
sua obra artística, mas na história local/regional, que passa de geração em geração, pela
oralidade, sejam essas populações descendentes directas dos autores de arte rupestre ou de
outros grupos étnicos que com eles interagiram.
Outro aspecto a considerar, valorizado (e problemático) quando se fala de arte rupestre é o da
cronologia. Até ao momento, com os dados disponíveis, não existem, em Angola, elementos
sólidos que permitam ligar as pinturas aos dados obtidos em níveis arqueológicos, por
escavação, nesses mesmos locais, pelo que a questão da cronologia se mantém por apurar.
Tentando reunir elementos que possam contribuir para aquela questão, M. Gutierrez
(1996:92) realizou as primeiras análises a pigmentos de pinturas que permitiram uma datação
directa por Carbono 14, indicando uma idade próxima de 1980±100 BP, no sítio de Opeleva
(Complexo Rupestre do Tchitundo-hulo). Partindo dessa base, o autor construiu um primeiro
quadro de cronologia relativa para a Arte Rupestre Angolana (Quadro 2).
As metodologias utilizadas para o registo de arte rupestre, nem sempre foram as mais
adequadas, mas próprias de uma determinada época. Na maior parte dos casos é marcante a
falta de visão de conjunto, isto é, procede-se à descrição e registo parciais de figuras ou painéis
individualizados, sem considerar a posição do painel no abrigo, a localização em relação aos
outros painéis, a relação das figuras entre si, ou ainda, a relação do abrigo com o meio
envolvente, perdendo-se assim todo um conjunto de informações que hoje sabemos
fundamentais para a compreensão e interpretação da Arte Rupestre.
Ainda assim, graças a esses primeiros pesquisadores, foram reconhecidos cerca de meia
centena de sítios de arte rupestre em Angola, muito embora haja ainda inúmeras áreas por
pesquisar, em grande parte devido às difíceis ou inexistentes vias de acesso (Fig 6).
A verdade é que a acumulação de dados sobre a arte rupestre angolana suscita mais questões
do que permite retirar conclusões. Os métodos de registo são demasiados díspares, a
contextualização arqueológica não é sistemática e faltam elementos de compreensão
cronológica relativa e absoluta, daí a justificada necessidade de avançar com um projecto de
investigação. Começa assim a delinear-se o “Projecto EBO”.
O Projecto
Os estudos de Arte Rupestre em Angola remontam a várias décadas, permitindo identificar
vários grupos (associados a padrões de povoamento) no país. No entanto, não há um registo
sistemático actualizado de Arte Rupestre, sendo este essencial para aceder a três dimensões
distintas mas interligadas: a evidência arqueológica para entendimento do povoamento
humano, numa perspectiva sincrónica e diacrónica; as respectivas evidências antropológicas; e
a própria Arte Rupestre. Novas técnicas de pesquisa e levantamento, incluindo a geo referenciação dos sítios, são necessárias e constituem o núcleo do projecto.
Com esse intuito, e conscientes de que existem diversos contextos de Arte Rupestre, foi
seleccionada região do Ebo (Fig. 7), tomada como amostra para testar as novas abordagens
metodológicas, mas também para formar outros recursos humanos em Angola. O projecto
decorre também do apelo da União Internacional das Ciências Pré -Históricas e Proto-Históricas
(membro do CIPSH da UNESCO, e de que faz parte o Congresso PanAfricano de Arqueologia)
para o apoio à formação de novas gerações de pesquisadores africanos, conhecedores das
mais modernas técnicas de registo e inventário.
A área definida para estudo está localizada na província do Kuanza-Sul e faz parte de uma
extensa planície. Nesta área existem vários abrigos, localizados nas áreas de inselbergs, em
redor da aldeia do Ebo, com pinturas peculiares. Um dos abrigos (Ndalambi ri – Figs. 8 e 9) está
classificado como monumento nacional (pelo Decreto n º 110 - Boletim Oficial n º 256, de 4 de
Novembro de 1974). No entanto, nenhum desses abrigos foi estudado exaustivamente ou tem
qualquer plano de conservação/protecção. O governo Angolano tem a intenção de estruturar
as pesquisas de arte rupestre de forma articulada, e o “Projecto Ebo” visa poder contribuir
para esse objectivo.
Alguns resultados de estudos anteriores parecem discutíveis no que respeita aos métodos
utilizados (por exemplo na escavação de abrigos pintados, que não eram suficientemente
minuciosos para recuperar eventuais restos de pigmentos que possam ter ficado no solo Gutierrez, 1996).
Estão agora reunidas as condições científicas e culturais para retomar a inves tigação
sistemática sobre a Arte Rupestre e Pré-História Angola, em estreita colaboração com as
instituições nacionais e regionais. O projecto estabelece objectivos limitados mas realistas e
adequados, proporcionando novas perspectivas sobre as questões me ncionadas, registo
pormenorizado e contextualização numa região bem delimitada.
Os sítios conhecidos do Ebo serão visitados, visando uma descrição pormenorizada, detalhados
inventários gráfico e fotográfico, com a ajuda de fichas de registo preparadas para o efeito e
com recurso à geo-referenciação. Será igualmente feito o registo do contexto etnográfico de
cada sítio, visando entender as relações de eventual apropriação dos complexos rupestres
pelas actuais populações, incluindo a memória preservada pela tradição oral, fonte histórica e
cultural por excelência.
O projecto visa também desenvolver um plano para a sua protecção, conservação e promoção.
0309 |
Problemática e metodologia
Baseado nos dados disponíveis, inúmeras questões se levantam relativamente aos abrigos do
Ebo: terão sido estes abrigos oficinas ferreiro? Esta hipótese vem da grande quantidade de
escória que lá foi encontrada, bem como parece ter sido prática comum a uti lização destes
abrigos para a instalação de fornos de ferro nesta região de Angola. E em caso afirmativo,
terão sido os ferreiros os autores das pinturas? Será que existe uma relação entre as pinturas
dos abrigos e a actividade metalúrgica? Quais as semelhanças/diferenças entre estes e outros
abrigos na área do Centro-Oeste de Angola? Procurando responder a estas perguntas,
analisando a relação das evidências antropológicas e arqueológicas, aproximar-nos-emos da
compreensão da dinâmica cultural da região.
Num primeiro momento, todos os dados básicos (nomeadamente cartográficos) serão
recolhidos. Seguir-se-á uma segunda campanha, bem como um seminário científico, onde se
discutirá o projecto dentro do contexto do Centro-Sul Africano. A análise e o relatório finais
ficarão concluídos no final do segundo ano.
A metodologia a utilizar no levantamento de arte rupestre pautar-se-á pelas recomendações
da Federação Internacional de Organismos de Arte Rupestre (IFRAO). Será usado o decalque
indirecto para o levantamento das pinturas, sem qualquer contacto directo com a rocha,
evitando qualquer alteração da pintura na rocha (o decalque directo será apenas usado nas
gravuras, caso seja encontrada alguma na área de estudo).
As eventuais sondagens arqueológicas seguirão um método de registo 3D. Todos os sítios
serão geo-referenciados. Os resultados serão disponibilizados para académicos e ao público
em geral, nos termos das normas legais em vigor em Angola e das recomendações do INPC.
Perto dos painéis dos abrigos de Ndalambiri e Cumbira realizar-se-ão sondagens que poderão
ser alargadas a escavações, se a estratigrafia o justificar. Os decalques e as fotografias serão
tratados em Portugal, mas uma cópia completa será deixada com as autoridades de Angola.
Depois disso, todas as figuras e painéis, fases e sobreposições serão exaustivamente
examinados e comparados com casos semelhantes.
A publicação dos dados (registos, fotos) e do estudo crono-interpretativo será o passo final.
Os materiais da sondagem/escavação (material lítico, metal, cerâmica, osso ou outros) serão
processados em laboratório, analisados e descritos de forma padronizada, a fim de alcançar
uma compreensão o mais completa possível de cada sítio, em particular, e da conexão entre
todos os sítios, em geral, e com a arte rupestre.
Também o registo do contexto antropológico cultural da região irá ser feito (recolha de
elementos através da informação oral sobre a região, os abrigos, a arte rupestre e outras
manifestações artísticas, cujo estudos era coordenado pelas Drªs Lívia Ferrão e Ana Roque, do
Instituto de Investigação Científica Tropical), inclusive em suporte audiovisual.
A combinação de todas essas abordagens permitirá uma compreensão diacrónica e sincrónica
do povoamento humano na região do Ebo. Os resultados esperados são os seguintes:
1.Registo completo da arte rupestre da área do Ebo;
2.Elaboração de monografias detalhadas dos sítios do Ebo (nomeadamente, Quingumba,
Cumbira, Delambira e Caiombo);
3.Difusão dos dados obtidos em eventos nacionais e internacionais (seminários, conferências);
4.Criação de um site sobre a Arqueologia e Arte Rupestre de Angola;
5.Responder às questões interpretativas antes mencionadas;
6.Aumento do Capital Humano nestes domínios (1 tese de doutoramento e fo rmação de
técnicos e quadros superiores, eventualmente de Mestres em Arte Rupestre e Arqueologia
Pré-Histórica);
7.Estudo, registo, mapeamento e publicação do património arqueológico do Ebo;
8. Consolidação da pesquisa arqueológica científica em Angol a, nomeadamente, de uma rede
envolvendo Instituições Portuguesas e Angolanas;
9. Apoio técnico à possível candidatura a Património Mundial da UNESCO.
Desenvolvimento territorial
O planeta encontra-se num momento de viragem, marcado pela emergência de novos Países
no hemisfério Sul, de que Angola é um exemplo de primeira importância. Na nova
configuração geo-estratégica decorrente da globalização, agudizam-se contradições e é
essencial criar espaço para a afirmação da diversidade cultural, das diferentes identidades,
num quadro que sublinhe a unidade radical da espécie humana. A arqueologia pré -histórica, e
a arte rupestre em particular, sublinham esta unidade da diversidade, e devolvem a Angola a
dignidade de um passado profundo, complexo e crucial para a Humanidade.
Neste quadro, é essencial que os cidadãos que vivem nas proximidades dos sítios estudados
possam assumir como seu esse património, e possam beneficiar com ele, em termos culturais
mas, também, sócio-económicos. Nestes termos, o projecto Ebo inclui uma dimensão de apoio
à gestão e desenvolvimento que inclui:
1
A organização de acções de difusão da importância do local junto da população local;
2
A organização de um possível itinerário turístico-cultural e apoio à formação de
agentes locais;
3
A proposta de um plano de gestão integrada dos locais arqueológicos, articulada coma
dinâmica sócio-económica da região.
Referências Bibliográficas
ABREU, M.S.; JAFFE, L. (1996) – Propostas e métodos para o levantamento, catálogo,
documentação, estudo e divulgação das gravuras rupestres do Parque Arqueológico do Côa .
Oeiras : Pre-Art Publications;
0311 |
ABREU, M.S.; JAFFE, L. (1995) – Projecto Gravado no Tempo, Portugal : inventário total da arte
rupestre : 1991-1993. Trabalhos de Antropologia e Etnologia. Porto: Sociedade Portuguesa de
Antropologia e Etnologia, 35: 2, p. 417-431;
ABREU, M. S.; Martins, C. (2008); ESTEVES, E. (8.8.1945 – 14.6.2008) – Recordações de um
investigador e o estudo da arte rupestre em Angola. In: oosterbeek, L; Buco, C. (ed.) – Arkeos.
Arte Rupestre do Vale do Tejo e outros estudos de arte pré-histórica. Tomar: CEIPHAR, Nº 24;
BREUIL, H.; ALMEIDA, A. (1964) – Introdução à Pré-história de Angola. Lisboa: Memórias da
Junta de Investigações Científicas do Ultramar;
CLARK, D. (1963) – Prehistoric Cultures of Northeast Angola and their significance in tropical
Africa. Subsídios para a História, Arqueologia e Etnografia dos Povos da Lunda. Lisboa:
Diamang;
CLARK, D. (1966) – The distribuition of prehistoric culture in Angola. Subsídios para a História,
Arqueologia e Etnografia dos Povos da Lunda. Lisboa: Diamang.
CLARK, D. (1973) – Pré-história da África. Lisboa: Verbo;
ERVEDOSA, C. (1980) – Arqueologia Angolana. Lisboa: Edições 70;
ESPINDOLA, H. S.; Oosterbeek, L. (2008) – Os desafios da Gestão Integrada do território. Área
Domeniu. Tomar: CEIPHAR, vol. 3, pp. 19-36;
Estermann, C. (1983) – Etnografia de Angola (Sudoeste e Centro). Colectânea de artigos
dispersos. Lisboa: Instituto de investigação Científica e Tropical, 2 volumes;
FONTINHA, M. (1983) – Desenho na Areia dos Quiocos. Lisboa: Instituto de Investigação
Científica e Tropical;
FRANÇA, J.C. (1953) – As gravuras do Tchitundo-hulo (Deserto de Moçâmedes). Separata do
Mensário Administrativo. Luanda;
GUTIERREZ, M. (1996) – L`Art Pariétal de l`Angola. Paris: L`Harmattan. Gutierrez, M. (1996) Subsaharan Africa: The Rock Art of Angola. Rock Art Studies.[S.I.], 1996, p. 85-93;
GUTIERREZ, M. (1998) – L`Art Parietal au sud de l`Angola. Archéologia. [S.I.], 1998. 348, p.6066;
GUTIERREZ, M. (1999) – Archéologie et Anthropologie de la Nécropole de Kapanda. Paris:
L`Harmattan;
GUTIERREZ, M. (2008) – Recherches Archéologiques en Angola. Préhistoire, art rupestre,
archéologie funéraire. Paris: L`Harmattan;
JORGE, V.O. (1974) – Breve introdução à Pré-história de Angola. Revista de Guimarães.
Guimarães: Sociedade Martins Sarmento, 84, p. 149-170;
JORGE, V.O. (1975) – Novas estações arqueológicas do sudoeste de Angola. Revista de
Guimarães. Guimarães: Sociedade Martins Sarmento, 85, p.109-126;
LEAKEY, L.S.B. (1949) – Tentative study of Pleistocene climatic changes and Stone-age culture
sequence in Nort-eastern Angola. Subsídios para a História, Arqueologia e Etnografia dos
Povos da Lunda. Lisboa: Diamang.
MARTINS, C. P. (2008) – Arte Rupestre de Angola, um contributo para o seu estudo numa
abordagem à Arqueologia do Território. Tomar/Vila Real: Instituto Politécnico de Tomar e
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Dissertação de Mestrado em Arqueologia PréHistórica e Arte Rupestre (policopiado);
MILHEIROS, M. (1967) – Notas de Etnografia Angolana. Luanda: Instituto de Investigação
Científica de Angola, 2ª Edição;
MOUTA, F. (1934) – Contribuição para o estudo da Pré-história angolense. Lisboa: Direcção
Geral das Minas e serviços Geológicos;
OOSTERBEEK, L. (2007) – Ordenamento cultural de um território. In PORTUGAL, J.; MARQUES,
S. (eds.) – Gestão cultural do território. Porto : Setepés;
OOSTERBEEK, L. (2008) – Gestão da Arqueologia: mudar o paradigma. Praxis Archaeologica.
Associação Profissional de Arqueólogos, nº 3;
OOSTERBEEK, L. (2008) – Gestão Integrada do território e do património cultural, Área
Domeniu. Tomar: CEIPHAR, vol. 3, pp. 11-17;
OOSTERBEEK, L. (2008) – Problems and perspectives of Rock Art in Portugal: a view from the
Tagus valley. Man In India: A Quarterly International Journal of Anthropology – Special Issue on
Rock Art World Main Problems. Volume 88, (2-3), April-September, pp. 331-351;
OOSTERBEEK, L. (2009) – A arqueologia de um ponto de vista social: recursos, identidades e
riscos num contexto de mudança. In FIGUEIREDO, S. (ed.) – Actas das Jornadas de Arqueologia
do Vale do Tejo, em território português. Lisboa: Centro Português de Pré-História e GeoHistória, pp.49-63;
OOSTERBEEK, L.; CURA, S.; CURA, P. (2007) – Educação, criatividade e cidadania no Museu de
Arte Pré-Histórica de Mação. Revista de Arqueologia, Sociedade de Arqueologia Brasileira.
Volume 19, pp. 103-110;
PHILLIPSON, D.V. (1985) – African Archaeology. Cambridge: Cambridge University Press;
RAMOS, M. (1979) – Gravuras Rupestres de Monte Negro. Lisboa: Junta de Investigações
Científicas do Ultramar;
REDINHA, J. (1948) – As gravuras do Alto Zambeze e a primeira tentativa da sua interpretação.
Subsídios para História, Arqueologia e Etnografia dos Povos da Lunda . Lisboa: Diamang;
SANTOS JÚNIOR, J. R. (1974) – Arte Rupestre em Angola. Porto: Instituto de Antropologia
“Dr.Mendes Corrêa”;
SANTOS JÚNIOR, J.R. (1974) – As gravuras rupestres do Tchitundo-hulo. Barcelos: Companhia
Editora do Mundo;
SANTOS JÚNIOR, J.R.; ERVEDOSA, C. (1978) – As pinturas rupestres da Galanga. Lisboa: Junta
de Investigações Científicas do Ultramar;
SANTOS, E. (1969) – Religiões de Angola. Lisboa: Junta de Investigações do Ultramar;
0313 |
THE MOMENT PAST PROJECT
Alexandra Figueiredo
Luiz Oosterbeek
G. Guizi
Marta Azarello
S. Westengaard
Sara Cura
G. Burenhult
A. Minelli
U. ThunHohenstein
Carlo Peretto
The Moment Past Project
Alexandra Figueiredo, Luiz Oosterbeek, G. Guizi, Marta Azarello, S.
Westengaard, Sara Cura, G. Burenhult, A. Minelli, U. ThunHohenstein
e Carlo Peretto
RESUMO:
Este projeto foi iniciado em maio de 2003 e financiado pelo programa Cultura 2000.
Integra as instituições da Universidade de Ferrara, XXI Comunità Montana del Sarrabus Gerrei, Soprintendenza Archeologica per le Provincia di Cagliari ed Oristano, Università degli
Studi di Ferrara, Instituto Politécnico de Tomar, Arqueojovem e Centro de Pré -Histórica do
Instituto Politécnico de Tomar.
Como objetivo integrou a compreensão de oito sítios arqueológicos europeus, considerando a
aplicação das novas tecnologias com vista a entender a relação do homem com a paisagem
durante a pré-história e como é que este é observável nas estruturas arquitectónicas. Como
resultado prático registamos intervenções realizadas em Isernia, Alvaiázere, Atalaia,
Carrowmore e Sardenha (sempre envolvendo todas as equipas) e sua articulação com outros
trabalhos realizados pelos membros e parceiros.
Desta forma pretendeu-se desenvolver um debate sobre a temática do que é
monumentalidade e arquitetura, seu significado como um fenômeno europeu e historico,
buscando um discurso no sentido de uma compreensão da construção arquitectónica como
forma de domesticação da paisagem, relação de propriedade e sedentarização.
Com este objectivo em mente começamos por criar uma série de aplicações informáticas no
estudo dos sítios arqueológicos, usando um sistema de informação geográfico, fotografias
digitais, conteúdos de mídia, WebGIS, modelos de reconstruções 3D, que foram reunidos num
CD-ROM e uma página web para o publico. Foram ainda projetadas uma série de exposições
que decorreram em importantes museus por toda a Europa. Estiveram patentes nas
exposições não apenas os objetos encontrados nas estações arqueológicas, mas também
painéis, quiosques multimédia e outros conteúdos.
Na exposição foram ainda desenvolvidos 11 cartazes sobre o projeto realizado.
Palavras-Chave: Projeto Europeu, Arquitétura, Pré-História, Novas Tecnologias; Arqueologia
0315 |
ABSTRACT
This project was started in May 2003 and was financiate by the program Culture 2000.
It integrate the institutions Ferrara University, XXI Comunità Montana del Sarrabus - Gerrei,
Soprintendenza Archeologica per le Provincie di Cagliari ed Oristano, Università degli Studi di
Ferrara, Politecnic of Tomar, Arqueojovem and Prehistoric Center of Alto Ribatejo. Together
we developed a study of 8 sites take in account the new technologies to understand how the
relation of the man with the landscape was in prehistory and how it is this observable in the
architecture structures. As contents we will have the works carried out in Isernia, Alvaiázere,
Atalaia, Carrowmore and Sardinia (always involving all the teams), its linkage with other works
carried by the co-organizers and partners in this thematic, an introduction of what is
monumentality and architecture, its significance as an European phenomena and its
significance in History as a form of landscape domestication, as a remain of a different
approach, result of a difference in mentality, in the passage of hunter-gatherer to producers.
With this main objective in mind we start to create a serial of informatical applications in the
study of the sites like GIS, digital photography’s, media contents, WEBGIS, 3D models
reconstructions, that was congregated in a cd-rom and in a web-page, made for the public and
projected in a serial of exhibition that happened in the most important Museums around
Europe. The exhibitions have not only objects found in the sites, but also panels, multimedia
kiosks and other contents.
To take part of the exposition the co-organizers decided also to develop 11 posters to explain
each site and an introduction of what was do it.
At same time the posters give also an abstract of the architecture types of the principal “steps”
of the prehistory.
Keywords: European Project, Architecture, Pre-history, New Technologies; Archaeology
1. TURNING SPACE INTO PLACE
Humans are a contradictory species. Even if we often perceive ourselves as quite fragile, when
compared with most mammals, it is a fact that we came to play a dominant role in the
environment.
Living is, always, interacting with the environment, and humans do it, as monkeys, or lions, or
eagles. And many other species contribute to modify the environment, even in its morphology.
Hedgehogs digging subsoil galleries, termites building gigantic towers of clay, bees
engendering complex honey fabrics,… they all modify the landscape, and leave material traces
that may be recognised by them and also by other species.
Humans do the same, and yet… Something is different.
This project focused on the human relation with its environment, and in questioning how the
practice, then the notion and, later, the concept of architecture, came to play a role as
operational tool for controlling the landscape.
We were interested in raising the questions and stressing the similarities, the convergences,
the trends, rather than bringing final, and likely controversy, answers.
We may perceive, in this very long and discontinuous process, a trend: towards increasing
complexity, increasing domination. Domestication, this notion we often associate with pets
and, in a deeper approach, to the origins of food production, is in fact an older attitude.
Domestication as a means to modify surrounding existences and, then, to reproduce such
modifications, is to be found in the lower Palaeolithic. It was this attitude that enabled
scholars, in the past, to look for evolutionary typologies, even if we question them today. We
perceive the emergence, over a million years ago, of a technological intelligence that
materialises itself in the organisation of occupation floors, and later in the production of
specific tools, where function and aesthetics converge (as in bifaces). These may be seen as
the earliest forms of landscape domestication, always associated to increasin g social
interaction, or what may also be considered social intelligence: the capacity to design group
strategies for achieving increasingly more mediate goals. We may perceive it already in Isernia
La Pineta, in Italy. Fireplaces, mastering one of the pri meval elements that pre-Socratic
philosophy would identify millennia later, were a major step beyond in this trend. The space of
the humans is, for the first time, not only different but also made inaccessible to others. The
control of fire must have been something extraordinary at the time it was first obtained,
almost 400.000 years ago. It still is one of the greater emotions and challenges every child
experiences in the process of discovering and constructing the world. Fireplaces, like the one
from Ribeira da Ponte da Pedra, in Portugal, changed diets and social dynamics. But it also
introduced an element of irreversibility of human constructions. Where as so far architectural
constructions were cumulative physical additions of elements (stones and bones , mainly),
fireplaces introduced a chemical element into the process, hereafter unique in intentional
natural productions: wood turned into ashes, burned clay, cremated bones, stones fragmented
by the heat…
Isernia and Ribeira da Ponte da Pedra are, today, material remains of virtual architectural
constructions. Most of these constructions, though, have perished, being made of mainly
organic, brittle, materials. To a large extent we have to imagine how they really looked like,
and this is also the task of 3D reconstructions, a powerful interpretation tool made available
for archaeology today. They stand, nevertheless, as the oldest evidences of anthropization of
the landscape by our species.
Durability, in the form of material architectural option, would onl y be generalised much later,
as a strategic option of pastoral societies, even if a major previous modification of the
landscape, both irreversible and smooth, was still an invention of hunter-gatherer modern
humans, over 40.000 years ago: rock art. Isn’t it landscape architecture, as may be recognised,
still today, in the Côa or Tagus valleys in Portugal? This project, though, was not concerned
with what today we call art, but with its alter ego.
So we’ve looked into the megalithic world. Funerary constructions for eternity, as a perpetual
bound between past and future, mediated by their contemporary builders. The complexes of
Carrowmore, in Ireland, Rego da Murta, in Portugal, or Pranu Muttedu in Sardinia, cover
almost three millennia time span, between some 6.500 to 3.500 years ago, but they share
many features. They all seat in transition landscapes, as a product of cultural admixture and
0317 |
diversity: Mesolithic and Neolithic in Ireland, Inland and Coastal Neolithic in Portugal,
Megalithic and Hypogeum in Sardinia.
Architecture imposes itself as a systematic way of building the landscape. No longer as a
temporary or smooth way, but with a major aggressively, a sense of final possession of the
land. This is done through the ancestors, which become more important than any mythical
animals (bears, lions or other, like we may recognise in hunter-gatherer groups). Megaliths
convey a new approach to landscape, one that excludes the other species and aims at
dominating the whole environment. No longer by merely creating spaces of refuge (huts,
caves), but by creating a human-made web of built structures. An attitude that emerges in
societies that will, very fast, domesticate other primeval elements: water, retained by dams,
the soil, controlling agriculture, and even the wind, using it for sailing for instance.
Our excursion ends with the Nuraghe of Goni. As in many other regions in Europe, funerary
megalithic constructions leave the stage for new stone monuments that are devoted to living
activities, even if remaining sacred places. The architecture of the dead is gradually submitted
to the architecture for the living. Ancestors’ legitimacy is still required, but no longer the major
social bound. The whole landscape is, now, a piece of architecture, and soon philosoph ers will
start reflecting upon it.
2. THE PERISHED STRUCTURES FROM PALAEOLITHIC TIMES - ANCIENT TRACES OF
HUMAN INTERACTION WITHIN THE LANDSCAPE
Humans began to step out of nature, to search for an independent position shortly after their
emergence. We consider that the landscape is constructed whole, both physical, through the
anthropisation when creating new environments, and symbolic, through the capture of that
specific environment in cultural and cognitive manifestations and representations.
Nevertheless, regarding the Lower and Midlle Paleolithic this second dimension of the
landscape is quite inaccessible. Actually, when we deal with such ancient realities like the one
of Ribeira da Ponte da Pedra or Isernia la Pineta, at present time we can only d are to draw
some possibilities concerning the landscape use and its consequent transformation by the
hunter-gathers.
Such constraint is a consequence of the rarity and feeble visibility of human traces, but as well
of a limited archaeological enquiry, centred on the study of lithic remains.
In the last decade a programme of research, which includes the study of Ribeira da Ponte da
Pedra, has been developed focusing on human dispersal patterns and their interference with
the landscape, in particular the vegetation, habitat preferences, technological evolution and
social organisation.
Concerning the Lower and Midlle Paleolithic of the Alto Ribatejo, the understanding of human
landscape use and transformation is articulated in the following questions:
• How did ancient humans use the landscape and its resources (for example what animals
were they exploiting and how were they obtaining these animals; what plant resources might
have been available)?
• Which environments did humans aimed at and in which environments were they absent?
• Can we reconstruct a generalised habitat preference?
• Are there any chronological or spatial patterns evident in the lithic records of this period? If
so, what do these mean and with which might they correlate?
This quest faces some difficulties since we observe a static archaeological record in order to
achieve and understand behaviours driven by an intense mobility. This one is considered as the
strategic displacements of the residential settlement, from a location to another, in order to
obtain subsistence resources as raw material, animals and plants, water and combustible. The
recognition and understanding of such mobility is rather complicated when faunal and organic
remains are lacking. Nevertheless a multidisciplinary approach integrating archaeological and
environmental data with the Quaternary chronostratigraphical framework gathered and
combined by a Geographic Information System, allow us to observe some elements related
with landscape use.
The density and location of sites in the Alto Ribatejo already provides scope for such purpose.
We observe that the Lower-Midlle Palaeolithic sites are frequently associated with small
tributaries of the Tagus river. Apparently these hunters-gathers preferred the small valleys
bordering on the large river plain of the Tagus where raw material was largely available, as
well as animals and plants.
In spite of the referred lack of faunal remains in the open air sites of this region, the non existence of extremely cold periods, as well as the faunal remains of the middle Palaeolithic
open air site of Foz do Enxarrique, indicates that these hunter-gathers probably were in pursuit
of large mammals like aurochs, horses, bears, red deer and eventually mammoths.
2.1. RIBEIRA DA PONTE DA PEDRA: DEPICTING A PALIMPSEST
The stratigraphic sequence of this site, from the middle fluvial terrace Q3 to the lower terrace
Q4a, evidences that this location was repeatedly visited in an intensive form by ancient
humans. Such reiterative occupations might have not DEEPLY transformed the landscape, but
they surely began a millenary relation of space appropriation.
In fact this site located in a slope of an ancient valley where tertiary deposits, quaternary
terraces and colluviums alternate, might have the key for the problematic concerning the
Tagus river terraces evolution. The place chosen to excavate is directly related to such
problematic, to characterize the lithic industries associated, as well as the one of strategic
emplacement in the landscape.
Presently we divide the intervention in tree sectors west a (base of Q3), west b (colluviums
deposit between the two different terraces) and West c (top of Q4a). In this sector we are
horizontally enlarging the excavation area, particularly now that a paleosol was identified,
containing a fireplace.
The lithic implements show general resemblances in both sectors, being this one a
consequence of the almost exclusive use of local raw material: quartzite pebbles. The
assemblages are composed by a majority of flakes, most of them non retouched, worked
pebbles and some cores. Although the industry is currently under study, some technological
differences can be pointed between the Sector west a and c, namely the presence in this one
of bifacial pieces and elements which is integrated in the Levallois and discoide methods of
débitage.
0319 |
While the determination of internal settlement organization is essential to link with the
patterns of mobility and, in general, landscape interaction, the paleosol of Ribeira da Ponte da
Pedra, which preserved a fireplace, is extremely important. Even more since the total
reconstruction of the landscape use patterns must necessarily start by the determination of
the specific function of each site. Consequently we must undergo technological studi es of the
lithic implements and its intrasite spatial distribution. Wear trace studies where not performed
so far, but the analysis of the Fonte da Moita (located in the midlle terrace Q3) lithics showed
an intensive work of wood, which necessary implies an intrusive interaction between these
communities and the landscape.
Certainly wood branches where needed to create and maintain the most ancient and evident
construction of the Alto Ribatejo.
The Ribeira da Ponte da Pedra fireplace (Fig. 1) presents a sub-circular shape (=90X150 cm)
with perimeter stone elements and burnt sediments.
Figure 1: Ribeira da Ponte da Pedra, Portugal. Fireplace view from South.
This structure was built with local raw materials presenting clear signs of rube faction. The top
of the structure was excavated, allowing to detect that the burnt grey sediments are beneath
the termoclast, most of them being large and horizontally disposed. Due to the open nature of
the site and the specific location of this structure on the base of the slope, a cast was made in
order to preserve a rigorous copy of the structure. Naturally the rarity of such constructions in
the middle palaeolithic also justified this work.
Fireplaces associated with lithic implements, and even tough we lack faunal remains, can give
us an enormous information to interpret the human behaviour resulting in the accumulation
of activities as stone knapping and fire management. These elements are very important to
reconstruct the settlement occupation patterns of middle paleolthic hunter-gathers. We hope
that the study of this structure and associated lithic industry, eventually the identification of
other structures, will provide a more profound knowledge of construction planning degree and
expedient organization of the Neanderthals within this landscape.
2.2. THE SITE OF ISERNIA LA PINETA - THE LIVING FLOORS FROM THE MIDDLE
PLEISTOCENE
The exploration and study of the deposit at Isernia La Pineta are carried out in collaboration
between the Dipartimento delle Risorse Naturali e Culturali of Ferrara University and the
Soprintendenza Archeologica del Molise.
The area under excavation covers several hundred square metres; it is covered by a pavilion
housing the laboratories for the restoration work, study of materials, and treatment of the
data banks and living floors using GIS.
Recent research performed on the site allows a completely new interpretation to be made of
how the ancient living floors were formed (3c, 3a, 3S10), mainly thanks to the extension of the
explored area.
These archaeosurfaces are the result of behaviours arising from specific strategies directed at
obtaining meat for food consumption, and are borne out by the palaeogeographic
reconstruction of the area, the deposition and distribution of lithic and bone finds, the
technical and typological characteristics of flan cores, as well as by the operative sequence
adopted by prehistoric humans for their knapping and use.
The three living floors are apparently different facies of a single settlement phase, which the
sequence of events surrounding its burial lead to be erroneously attributed to separate
archaeological layers, from a chronological point of view.
The common element shared by all three living floors is the humid environment
present in the area at that time: this can be seen from the partly-emerged travertine
formations, evidencing a fairly continuous horizontal, linear progression.
The gradual increase of these formations – caused by flowing water – is documented by the
exposed sections and excavation relief’s testifying typical structures linked to this
phenomenon. It appears likely that the entire area was characterised by a reticulate, with a
myriad of small lakes or pools leading into one another.
The excavation work unearthed a large quantity of lithic material on the long, narrow surface
of one of these relief’s surrounded by water; these finds are in a very good state of
preservation, mostly consisting of flakes obtained by direct percussion or on an anvil2, their
surfaces showing frequent traces connected with butchery (L. Longo, personal
communication). Bone remains instead are very scarce, becoming very frequent at its edges,
where water was present; flint artefacts are infrequent here, and present translucent surfaces
to indicate their immersion in water. The bone/flint ratio thus changes in relation to the area,
i.e. reliefs or the lower humid zones.
Furthermore, in the sunken areas we can distinguish the three different living floors (3c, 3a,
3S10), which become joined in a single layer at the level of the travertine bar, on the higher
ground.
0321 |
Volcanic deposits (cinerites) fill in the sunken areas; separating the archaeosurfaces and
tending to level out the whole area, and rise up – like the living floors themselves – along the
sloping edge of the travertine bar towards the lake area. In some places the extension of the
travertine invades part of the living floors.
Bearing in mind the numerous studies on the lithic and faunal finds of the area, the
interpretation of these data informs us that prehistoric humans adopted specific and
productive subsistence strategies. The stable occupation of the travertine relief’s surrounded
by a lacustrine environment afforded the human group the necessary refuge and protection,
while exploration of the surrounding territory offered the opportunity of recuperating animal
carcasses, or parts of these, for food consumption. The carcasses were carried to these areas –
decidedly safer than on the open plains – where they were butchered and further exploited by
fracturing the bones to extract the marrow. The c o n s i d e r a b l e concentration of faunal
remains in the humid environment close to the relief (which was noted f rom the very first
stages of research4) leads us to believe that they were deliberately thrown there. The
immersion of organic remains still rich in organic material ensured they did not draw the
attention of carnivores.
2.3. THE GIS APPLICATION IN ISERNIA LA PINETA
The Lower Palaeolithic site of Isernia La Pineta (Molise, italy) were explored extensively over
an area of about 300 sqm and were yielded an enormous quantity of lithic objects and faunal
remains.
As a management form of such a quantity of data collection a GIS system was chosen for its
unlimited possibilities of alphanumerical and graphical data collection, of visualisation, analysis
and processing. In this way, the choice of making the excavation area a museum has allowed a
new reading of the informatic application to archaeology, as the informatic management
wasn’t conceived a posteriori, but it follows every research phases from the excavation. In fact
the construction of a pavilion covering the whole surface offers the possibility to have a
computerized workstation on the site and a Total Station, a compurized theodolite, with which
every measurement and the cartographic relief of excavation surface are carried out.
Figure 2: Isernia la Pineta, Italy. A color 3d scanning.
A precise methodological rout was arranged, giving us the possibility to homogenise the
previous data, which are part of the historical archives already documented and recorded, and
the new ones.
The establishment of a computerised process to describe the characteri stics of each individual
find is a decisive step towards any subsequent organisation before any queries as to possible
variables and any associative or quantitative statistical analysis. An accurate analysis of the
variability of each attribute is necessary prior to any precise thematic selection from the
various records.
The logical and physical structure employed in the description and organization of informative
level reflected the following research objectives:
• Conversion of paper archives to a digital format;
• Localization and two - and three-dimensional visualization of all the finds;
• Processing of archaeological entities as spatial variables;
• Spatial interrogations (topographical selections, pilfering out of post depositional noise) to
attempt to reconstruct possible natural and/or anthropic post-depositional processes that
transformed the original deposits, and the modes and phases of the frequenting of the sites
through the thematic decomposition of spatial distributions and the creation of in dividual or
combined plans and thematic sections;
• Statistic inference of spatial data (frequency matrixes, density analyses) to highlight
significant associations and connections between specific categories of materials, potential
indicators of the presence of functional areas.
In fact, the GIS is not only a manager tool, but above all a powerful tool to process spatial
analysis, that have long been one of the most important methodologies for the study of the
formation of paleosurfaces in prehistoric deposits, whose reconstruction undoubtedly plays a
decisive role in the validation of subsequent deductive analyses.
The close connection between the spatial location of the evidence and the analytical study of
each individual find makes the use of computer spatial analysis technologies especially useful
in conjunction with GIS. If the spatial distribution of evidence reflects the functional
organization of an investigated surface, quantitative statistic techniques can be very useful for
the classification of finds, the analysis of the overall evidence, and the detection of specific
associative patterns. GIS applications allow the visualization of different distributive levels for
specific categories of objects; more importantly, they can highlight “latent structures” in the
distribution of artefacts through the construction of a thematic cartography (Figure 3).
0323 |
Figure 3: Isernia la Pineta, Italy. Archaeosurface 3a, I Sector. Density areas of all the remains.
3. A NEW CHANGE IN THE ARCHITECTURE, A NEW EMERGENT THOUGHT: THE
FUNERARY MONUMENTS
Between the 6th and 1st Millennia B.C. a major change occurs in the architectural archetypes
in Europe.
What was as a characteristic building perishable style, where all the elements are as one with
nature, gave place to monumental elements of an outstanding architectural harmony with the
landscape.
There is a widespread demarcation of space accompanied by the socio-economic
transformation verified in this period.
The first expressions of landscape modification were elements that were simultaneously
removed and reorganized within the space nowadays perceived as Megalithism, which holds a
variety of meanings: grave, mark, building, effort, domain and change of the environment. The
period marks a change in behaviour, not only enclosed in religious meaning, but also the being
capable of changing its surroundings, and giving them a new long-lasting meaning.
The use of the term megalithic cannot be considered in a narrow way, since it inclu des several
manifestations, all associated to the change of space perception. This is its unifying sense.
For that same reason, we avoid to speak about the megalithic phenomena or of
polymorphism, since these concepts seem to gather a self and complete ide ntity, which in fact
doesn’t exist. Similarly, it is not to be considered a chronological period.
Dolmens, cromlechs, alignments, tholoi, menhirs, cists, hypogei, and other atypical
monuments, as pit-structures or stelae, are some examples of panoply of traditions between
remains of local memoirs and migrations of symbolic thoughts that took place throughout
Europe. Dispersion of this behaviour varies, presenting an unclear picture on the possible
regional dynamics existent in given periods. Only further investigation will enable us to clarify
these aspects.
In a retrospective of the simplest architectural manifestations, all research leads us to believe
that the first megaliths assumed the menhirs form, those great stones erected as outstanding
phallus on the soil.
In a very natural fashion these rock elements were transformed upon the search of a durable
reference label, capable of multiple functions but mainly to last through time.
Speculation on the meaning of these elements is wide, standing out the theo ry of ritual
meaning linked to agricultural cults, (innovation that associates the “habitus” and thoughts
different from those of the traditional hunter-gatherers) or still to the astrological or fertility
rituals previous to the Neolithic period.
For sure we can argue that they express a will of detaching this great stones using a common
“modus operandi”. The construction using small stones, that later served to support giant
stones of several tons, presents evidence of intelligence, and most importantly this behaviour
is the testimonial genesis of architectural thinking: to imagine, to plan out, to build.
The evolution of this concept develops through a combination of several elements coordinated
into spatial formations, technically identified as cromlechs and alignments. These structures
are no more than monoliths, assuming a new spatial significance growing into geometric
forms, circles, lines, squares that seem to be linked to more complex thoughts as well as social
efforts of a more unified primitive society.
With the dolmens, the megaliths appear associated to a structural emergent complexity: a
group of great stones, sculpted in a certain form, and leaned on each other to form one or
several chambers, and finally topped up by a large capstone, that covers the monument as a
roof.
However the original dolmen was much more than that; it represents not only the capacity to
mobilize enormous materials with an architectural purpose, but the capacity of camouflaging
these structures transforming them into mounds nearly in harmony with the naturally existing
landscape: the mound, present in some monuments. It may be perceived as a juggle between
demarking and harmonising with the landscape: of symbolic dualism.
A Dolmen is divided into several sections (synonymous of the architectural complexity),
besides the main chamber and the mound that may be present in several forms and sizes, we
have a series of other structures that were added progressively: the corridor, the atrium, the
buttresses, the outlying ring and the condemnation structures, amongst others. It may be
compared to a complex puzzle that varies from monument to monument, being this variation
that enables each monument to be singular, we simply dismantle the puzzle and try to tell its
tale. Some puzzles are more complex than others; however each one is unique, so that some
of these are classified as atypical or not vulgar.
Chronologically more recent monuments are the hypogei, rock cut tombs where the interior
displays the same type of characteristics observed in the dolmens, different in architecture but
of identical rituals. Just like the tholos, with false corbelled chambers often composed by
several structures but less construction effort. Or still of the cairns or cists, these being smaller
individual burial monuments.
Many other particular types could be mentioned, some characteristic of some regions, others
following traditions and “social habitus” that in certain cases might even have reached
extensive areas of praxis, but we prefer integrating them in the atypical classification.
This binomial equation of the old and the new, of the natural and artificial, of the demarcation
and camouflage is being affirmed in a new social praxis that inexplicably disperses throughout
the whole Western Europe, building the first architectural monuments, with the symbolic
objective of not only to render cult to their ancestors, but also of leaving a legacy for the
future.
0325 |
3.1. DOLMEN I OF REGO DA MURTA, ALTO RIBATEJO, PORTUGAL
The Dolmen 1 of Rego da Murta is located in the Central Portugal in the northernmost part of
the Alto Ribatejo area (Leiria District) and it belongs to a complex area of 7 monuments spread
across of 1,08 square Kilometres. All this sacred area, is embedded in an ancient floodplain and
crossed by a small creek, the surrounding areas being higher ground smoothed by erosion with
very mound like morphology, where remains of habitat are common and date back to the
same period. This is a burial monument, compose d by a heptagonal chamber displaying a
semi-circular area with 4 meters diameter and a height of 1,55 m., with a corridor orientated
SE of about 1,50 m wide and 3 m long. Beside the architectural characteristics of this
monument, we may recognise three building periods, leading us to believe that the monument
was used several times. The initial phase dates back, probably, to 3500 B.C, when the large
chamber was built, followed by a second phase of restructuring and the construction of a
corridor. This second phase dates back to the Bell Beaker period, around 3000 B.C.; a third
phase dates back to the Bronze age, when the corridor was prolonged, around 2000 BC (Figure
4 and 5).
Figure 4 and 5 – Monument I of Rego da Murta after the digs and the GIS representation of the flints remains.
This monument unlike most of the known dolmens was not erected from the surface. Instead,
a ditch was opened and part of the structural chamber was buried, facilitating further
architectural construction, soon followed the application of a small mound allowing the
superior cover to be raised that would finally cover the whole monument.
A similar architectural approach had already been observed in the region, further south, in the
Val da Laje 1 passage grave, in the Zêzere valley. Even if the type of the structure is different (c.
4.500 cal. B.C.), also in this case the monument was partially built on an excavated surface,
being half-buried from the start.
From the interior of the chamber, at a depth of about 60 cm bellow ground level, rose the
corridor with an inclination of 20% towards the surface of the second considered layer of
occupation. The monument was violated several times, leaving traces in the disturbed
assemblages, being the corridor’s area the best preserved one.
The methodology used was based upon recent technology enabling the reconstruction of the
site and simultaneously the treatment and analysis of the data available.
All the artefacts were tridimensionally coordinated on site and computerised, along wit h a
description, allowing a relationship between spatial location and descriptive data.
Along with this information a set of digital imagery was collected and related with the sketches
allowing its use with the data already computerised for the final interpretation.
The artefacts were treated in the laboratory and also treated as further elements to insert in
the digital interpretation of Dolmen I Rego da Murta is know in reconstruction and our main
objective is to turn this all area into an archaeological park, expecting that further projects will
continue to unify the information in this manner enabling the creation of large and dynamic
interpretation centers of European architecture.
3.2. THE WEBGIS OF REGO DA MURTA
One of the main aims of this project was the intention to reach other people as for example
the publication of the data in the web.
This would permit a offering to all, not only of the data that is associated and analysed in the
GIS, but also the possibility of interaction in the information association, and its visualization,
through downloadable GIS coverages, with added restrictions.
Our first approach to this mater, intends to be the most basic possible, starting to present a
webgis of a megalithic Rego da Murta sites.
The Gis of Rego da Murta was developed in ArcGis 8.2 of Esri. All the data that came from the
site was geo-referencied and transported to the geo-database inserted in the GIS. All the
structures vecturised and the objects spatial referenciate with X, Y, and Z values, given us the
3d perspectives. With this we could with a more rapid and efficient ways get more conclusions
and news responses. Also all the sites related was coordinated and inserted in a database.
The GIS information is presented in the web, using the ArcIMS extension (for ESRI software like
ArcView or ArcInfo). The website is composed by maps in 1/25.000, with altimetry
information’s, hidrography and archaeological sites (megalithic and others). All of the
information can be scaled and zoomed in and out. Several themes can be shown at one time.
The ArcIMS have some functionality that can proportionate us measuring, colour tools, coded
information, printed out or to put into a presentation application, like PowerPoint.
3.3. CARROWMORE MEGALITIHIC CEMETERY, IRELAND
The Carrowmore megalithic cemetery covers an area of about half a square kilometre, and the
central part of the cemetery extends in a north-south direction. It is about one kilometre long
and 600 meters wide. Outside the central part of the cemetery, vari ous other stone built
monuments occur, mainly to the north, and altogether 45 sites still exist in the area. So far, 10
monuments have been excavated by the Swedish archaeological excavation campaigns 19771982 and 1994-1998, and they have shown that most tombs at Carrowmore were erected
between 4300 and 3500 BC CAL.
The layout and structure of the Carrowmore cemetery is clearly that of an arranged ritual
landscape, where the tombs have been placed in an oval shape around an area where no
tombs were erected. There is a clear tendency that the tomb entrances, in eight out of the ten
0327 |
cases where this can be established, are facing towards the central part of the cemetery that is
the tombs on the western side of the cemetery are facing eastwards, while the tombs on the
eastern side are facing westwards.
Tomb No. 51, Listoghil, falls outside all the morphological parameters that characterize the
other tombs within the Carrowmore megalithic cemetery. Firstly, with a diameter of c. 32
meters, Tomb No. 51 is the largest tomb in the cemetery. Secondly, Tomb No. 51 is reported to
have been covered by a large cairn with a height of about 50 feet (over 16 meters) as late as in
the 1690’s.
Substantial remains of the lower parts of the cairn, including the boulder circle, are still intact.
The morphology of the central chamber in Tomb No. 51, with its rectangular chamber and
angled limestone roof slab, is that of a portal tomb.
The positioning in the centre of the cemetery, and the original features of Tomb No. 51 gives
the monument a significant, focal role in the Carrowmore Megalithi c Cemetery context.
Moreover, in 1993, circular carvings were found on the front side of the roof -slab, the first
appearance of megalithic art at Carrowmore.
Virtual Reality Imaging and 3D-CAD documentation and reconstruction of stone-built tombs at
Carrowmore
A detailed, totalstation-based mapping of the Carrowmore area forms the base of a digital 3D
model of the landscape. GIS and CAD data have been used together with digital photographs
to create a virtual walk through the landscape. The interactive real time visualization of the
environment and the megalithic tombs makes it possible to study, e.g., tomb positioning and
direction, intervisibility between tombs, and relation to surrounding landscape features. Also,
simulations of vegetation may help to reconstruct the ritual landscape at 3500 BC, as well as
construction sequences of individual tombs.
During the 1997 excavation season, a detailed totalstation-based documentation of Tomb No.
51 was carried out. The aim was to create an exact digital reconstruction of the tomb (Fig. 6),
for documentation purposes as well as for the presentation and visualisation of the monument
in the Visitor’s centre after the reconstruction of the monument itself. More than 2000
measuring points were taken for the CAD drawing (MicroStation95).
Figure 6: Carrowmore, Irland. Digital reconstruction of the tomb 51.
3.4 HAGADÖSEN AT ORUST, SWEDEN
A detailed totalstation-based documentation of the Hagadösen was carried out in December
2003. The aim was to create an exact digital reconstruction of the tomb, for the presentation
and visualisation of the monument in the Project Moment Past.
More than 200 measuring points were taken for the CAD drawing (ArchGIS and 3D Studio Max)
(Fig.7).
A detailed, totalstation-based mapping of the Hagadösen forms the base of a digital 3D model
of the tomb. GIS and CAD data have been used together with digital photographs to create a
virtual model of the tomb. The model can be used to help to reconstruct the tomb as it was at
3000 BC.
Figure 7: Haga, Sweden. 3D model of the tomb.
In the excavation in 1915 they found among other things pearls of amber, a stone axe, a flint
dagger and a pendant made of slate.
Those artefacts are visualized in 3D so that they can be seen on the Internet , and also rotated
an zoomed in.
The dolmen is located high up in the landscape overlooking the bay which was, during the
Stone Age, covering the meadow beneath. The Stone Age shoreline was about 10 meters
below the dolmen and north of the dolmen another bay was spreading.
The area is full of remains from both Stone Age and Bronze Age.
Beside the megalithic monuments there are mounds of stones, burial mounds, grave -fields.
The Haga dolmen was probably erected as a single burial tomb. The sepulchral chamber i s built
of four standing stones and one capstone. Originally the dolmen was surrounded by a mound
of earth and had a circle of smaller stones around it.
3.5. The megalithic tombs of Pranu Muttedu, Sardinia
Moreover, the large necropolis contains an alternation of hypogeal tombs (the so-called
“domus de janas” of the Sardinian tradition), in simple, one-cell, or two-cell plans, excavated in
the sandstone, and a vast range of megalithic “chamber” tombs.
0329 |
These all have peristaltic circles made up of large blocks, which present alongside each other in
two rows or in circles or even arranged in concentric terraces in a wall formation, which were
meant to contain and support the tombstones placed on top, but are different in their inner
plans, being adapted according to the circumstances to group or individual burials, and
perhaps to the social class of the deceased that was to be buried in them.
The circles, which open on orthostatic corridor entrances, as a matter of fact enclose inner
chambers of several shapes, which include the following elements: “domus de janas” small
cells obtained from monolithic blocks accurately decorated with sculptures, carried from afar
and placed on beaten sand and clay grounds, in the middle of chambers built in radial
proliferation; one-cell chambers elongated with an apsed end, built with masonry made up of
small boulders, with a rectangular hatch entrance and lowered flooring level; two -cell
chambers with a sepulchral quadrangular cell and transversal elliptic antecell on the entrance
axis; and large quadrangular basket-shaped dry walls which include large menhirs of different
heights.
For all burials, tabular roofs or pseudovault roofing with overhanging corbels are hypothesised
recalling the western dolmen tradition. The materials found in the different burials - a
miniature basket vase, a miniature pyx, and a bowl, all decorated with engraved motives, a
spheroid pommel, a dagger and a stylet made of flintstone, a few flintstone swords, and a few
obsidian arrowheads, besides two silver necklace beads - can be chronologically included in
late Ozieri culture contexts, in the passage between the late Neolithic and the early
Chalcolithic.
This is the direction pointed by the analysis of the burial architectures of the necropolis.
Though indicating what so far is seen as the most ancient expressions of pre -Nuraghic
megalithism in the sub aerial transposition of structures consecrated by the most archaic
funerary hypogeal experience, they actually present hybrid morphologies that se em well to
adapt to pre-existing epigeal models of the dolmen tradition found predominantly in the west.
The megalithic necropolis of Pranu Muttedu is located in southern Sardinia, in the region of
Gerrei, at about 2 kilometres as the crow flies south west of the modern village of Goni. It
extends over a sandstone schistose platform slightly over 500 metres above sea level, covered
by dense vegetation made up of Mediterranean maquis and centuries-old oak tree forests.
Not far away, north of the plateau, is the site of a village of huts referred to the late Neolithic (
3.500 – 2.700 B.C.) and more specifically to later phases of the “Ozieri Culture”, which is
probably to be related to the necropolis, with which it shares the same chronological and
cultural context.
The vast cemetery area (studied by Prof. Enrico Atzeni – University of Cagliari and Dott.
Donatella Cocco - State Archaeology Service for the Provinces of Cagliari and Oristano), a
sacred place associated with the cult of the ancestors, is marked by fifty odd menhirs, the
largest collection found so far in Sardinia.
The menhirs are arranged in pairs, small groups, or in alignments, the longest of which
contains twenty along an east-west axis, with clear reference to the course of the sun’s
passage and religious meanings associated with it. They are menhirs rising up to three metres
in the so-called “protoanthropomorphic” form, with ogival or subogival outline, flat ventral
surface, and convex dorsal surface, shaped carefully and accurately with chip hammers.
The intention is to give simple characteristic features to whatever the menhir was supp osed to
represent: a divinity, a generating force, or an intermediary towards heaven.
3.6. PREHISTORIC SITE OF DOMUS SUAS, SARDINIA
The corridor is made up of stones of variable sizes arranged in rows of a thickness of 1.50
metres in double screen, which is well preserved for about 2.25 metres in the end part by the
inner surface of the corridor which again is arranged in rows.
An outer circle of orthostatic blocks in the longer sides seems to match the part of the
entrance that creates a sort of very irregular exedra. In spite of the irregularity of the exedra, a
sort of antechamber of 3.75 metres by 7.50 metres can be seen.
The inner corridor is legible for a length of about 10.50 metres, since the part facing the exedra
is invested by a large collapse. The difference in level between the treading floor of the
corridor and the floor so far studied in the exedra suggests the presence of a descending
staircase under the collapse. This staircase must have led from the exedra to the funerary
chamber.
The funerary chamber has an average width at the two extremities of about 1.63 metres with a
narrowing in the centre that reduces the width to about 1.12 metres.
The hypothesis that the monument was excavated in not too remote times, justified by the
difference in colour that can is legible in the soil after removal of the superficial layer, is
confirmed by the fact that, apart from a Roman anvil lamp chronologically framed between 15
BC and 20 AD, no other materials were found during the excavation of the end part of the
corridor. The only clear sign of the presence of an exedra is provided by a sort of entrance of a
width of 0.75 metres limited by two small orthostatic slabs. Near this entrance one seems to
recognise a sort of small door 0.75 metres by 0.625 metres leading into a corridor of 3.75
metres by 7.50 metres.
Though not completely clear, the thickness of the exedra is only legible in the North West side
reaching about 1.785 metres.
On the whole the monument reaches a length of about 19 metres by an average width of
about 6 metres.
Another corridor tomb has been highlighted not too far away from this one, of a slightly
different typology, since on a first analysis it appears to be orthostatic. Thanks to an
excavation, it was possible to single out a double curtain wall on the south side. The exedra
was not identified, and this suggests an allèe tomb, though it would be necessary to carry on
the investigation in order to make better supported hypotheses on the typology of this
monument. After clearing and excavation works had been carried out, it was possible to better
highlight a circular structure next to the allèes, preventively indicated as a Nuraghe, leading to
new interpretations of the monument.
This structure is in fact a kind of tumulus with some terracing, which considering its proximity
to Pranu Muttedu, could suggest that a hypogeum between megalithism and burial could be
revealed inside it. The partial discovery of a sort of inner space inside the structure should be
mentioned. This element, which becomes visible simply by moving one of the stones that
define the inner chamber, about two metres deep, could suggest that the monument should
be classified among the “navetiform” typology of corridor Nuraghis. The diameter of the inner
chamber about 3 metres, while the wall defining it is about 2 metres thick on the northern
side.
0331 |
A sort of outer circle or structural ring of difficult interpretation has been discovered around
this chamber with a wall thickness of about 1.75 metres and a diameter of about 12.50 metres.
A circular semi tower that tends to close on the outer circle seems to be legible North West of
this ring at a distance of about 3.75 metres.
This could indicate a subsequent addition, which can also be seen at about 6.75 metres in a
north east direction. This reading is in some way supported by an analysis of the plan of the
monument by aerial photography.
The prehistoric site of “Domus Suas” located in the immediate neighbourhood of the village of
Goni (CA) is easily reached both through a small by-road in the vicinity of the built up area, and
through an access next to urban tract of the river Rio Su Bau. The site has been the subject of
archaeological investigation under the scientific management of Dr. Donatella Cocco of the
State Archaeology Service for the provinces of Cagliari and Oristano.
After clearing works and partial excavation of the site, it was possible point out two allèes
couvertes both oriented towards west, which by typology testify to a sub aerial hypogeism
extensively attested at Pranu Muttedu.
Elimination of the superficial layers and partial removal of an underlying collapse showed an
alignment of stones along the west side that seemed almost to link together the two
monuments above the ground: an obvious sign of subsequent rearrangement.
These alignments, which are perpendicular to each other, can only be seen on the west side
and on the north side, and seem to define a square of sides of 2.75 metres of a thickness of
about 0.25 metres in the most significant remaining blocks, arranged at times orthostatically
and at others in rows.
Few materials were found: a few ceramic fragments chronologically framed in the II Middle
Bronze Age (Dott. Vincenzo Santoni) and fragments of amphorae, which together with related
food remains seem to confirm the frequentation of the site in historical times.
Particularly interesting is one of the Tombe di Giganti (Tombs of Giants) present on the site in
a sort of curvature in the corridor, in the unique exedra typology which appears elongate d in
shape and with closed wings to form a sort of corridor which is still of difficult interpretation.
In its present condition this particular plan seems to represent something unique.
The tomb in a south-west orientation can be defined epigeal, megalithic, and of the stone row
type. Its outer surface defines the corridor of orthostatic blocks, which is better preserved on
the north western side, while on the south eastern side they are aligned irregularly due to a
collapse, which also made the corridor narrower. The south eastern sector is characterised by
a change of altitude, probably due to agricultural works and to the presence of an olive tree
whose roots invade the terminal part of the monument.
4. THE NURAGHE OF GONI
Located northwest of the village of Goni, the Nuraghe of Goni rises on a plateau that
dominates the surrounding valleys.
It is made up of a circular tower, of about 10 metres in diameter at the base, with an
architrave entrance, about 1.40 metres high, facing south-south-east and surmounted by a
discharge crack.
Access to the chamber is through an angle-section corridor, 2.50 m long, which reveals the
mouth of a deep niche on the right side: the original recess for the stairs that must have led to
the terrace collapsed almost entirely in ancient times (except for the last five steps, which are
still visible today) and was adapted as a sentry box.
The chamber has a circular shape, with a diameter of 4.40 metres and “tholos” roofing
obtained by the regular overhang of concentric rows of sub-squared blocks closed at the top
with a sealing slab (Figure 8).
Figure 8: Nuraghe monument of Goni, Sardinia.
Three large niches open inside the chamber, located in relation to the entrance at the bottom,
on the right, and on the left, respectively. The left niche leads on to a small narrow space,
whose function is hypothesised to have been that of a storeroom.
On the left side of the chamber, between the entrance corridor and the large niche on the left,
at a height of about 3.35 metres, is the triangular opening of the stairs recess that leads to the
terrace. This was of a triangular section and had small windows through which it received light.
The very steep staircase, made up of narrow steep steps, is built inside the wall of the tow er,
in the tract between the large niche on the left and the corridor.
The structure of the outer wall of the Nuraghe is of the sub squared type. In it two different
building techniques emerge: up to a height of 3 metres it is made of regular successive ro ws of
very large quadrangular and many-sided blocks; while on top of the large blocks neat rows of
long narrow slabs stand out.
A set of well-squared ashlars, supposedly belonging to the terrace parapet, rounds off the top
of the tower, while plinth reinforcement made up of two clear rows of large sub-squared
blocks of marl and sandstone are set around the base of the tower.
0333 |
The Nuraghe rises on a sub-elliptic platform limited by bank walls, which adapts perfectly to
the morphology of the tableland, following the natural lines of the rock integrated in the
masonry.
Based on the above it can be deduced that the Nuraghe was built at least in two phases, both
attributable to the Nuraghic period, which cannot be identified with greater precision for the
time being due to a lack of stratigraphic archaeological excavations.
5. A LANDSCAPE OF PLACES
The space is the primary dimension of human groups’ behaviour. Time may be neglected, or
compressed, or extended.
But space is the stage for existence, even when this existence is considered illusive.
Space is, also, the result of a primary perception. In this sense it exists in the individuals eyes
before existing in the collective minds. It is a result of cross-cultural evidences and references.
The space of a group may incorporate or not a given mountain, or this stream, or that tree. For
millennia, gold was not part of the prehistoric people space, simply because it wasn’t part of
their needs and abilities.
This space, as seen from within the cultures, is a network of places, of locus.
The place is named, and so is the space.
Our concept of space does not exist.
Space is always land, belonging and place.
And it is within this network that cultural frontiers are built. The Sards, or the Swedes, or the
Italians, or the Portuguese, recognise their places beyond any other economic or political
constraints. As do the !Kung, or the Balantas, or the Tuareg.
The people’s space is always the land of someone, or no-man’s-land. But it is never a mere
geographic territory. And it is, hence, always a cultural and historical construction, depending
upon points of view.
It is in this space of places that the human adventure takes place. But we accede to it always as
foreigners, always from the outside. And what we see is not the space of prehistoric people,
but our perception of it. And the best we can do is to characterise the catchment’s resources,
the potential territory. It is by no accident that our books are filled with air-photographs and
maps: quite useful, providing we remember prehistoric people could not fly, and that their
possible maps were conceived from a ground perception.
Territorial analysis is essential, because it defines the constraints of human habitats. But its
value is restricted to this.
It does not tell us anything about human behaviour, because this is always cultural, not a mere
adaptation to the environment.
The space of prehistoric people, as ours, is always a Man-made Nature. It has to do with
identity.
Identity is based in equilibrium between conservation and innovation, governed by social
interactions that take into consideration material and immaterial memories, which operate as
a sort of ethnic auto-biography. Heritage came to play, in contemporaneous society, the role
once belonging to the founding myths, formerly boosting national rivalries (a vision dominated
by the aesthetic perspective) and now stressing diversity and tolerance concerns (a vision
incorporating all memories, all landscapes).
Prehistoric architecture, this dialectic attitude of adding constructions that change but
harmonize with the landscape, is also about our identity as a species.
This is a new and unsuspected memory, which is twice brittle: for its instantaneous dimension,
since it is re-elaborated and reviewed constantly, and for its minor consideration by the public
authorities, still concerned, mainly, with the former, ethnic driven, approach.
We face, today, the task of interpreting and managing a new and endless Heritage that
pervaded all societies, raising new challenges, while focus on monumental sites still prevails,
even if the landscape approach is emerging.
Isernia la Pineta, Ribeira da Ponte da Pedra, Carrowmore, Rego da Murta, Pranu Muttedu,
Domus Suas, Goni... these places are inscribed in a changing landscape, in which we now live,
and that was, in the past, a mosaic of increasingly interconnected locus. To interpret how they
came to exist is to recognise our own nature.
CONCLUSION:
Looking around the man understood itself, modifying identified as its yours, gave meant to it,
made of it its dlewing.
The Architecture is this, all the transformations introduced in the landscape with sight to the
necessity to the human being.
We can remount to the Paleolithic period these first relations with the landscape (the
construction of shelters, the selection of places to hunter and artefacts cuts, areas with
symbolic or ritual meanings between other innumerable cases, which for being of difficult
preservation never were founded and were lost in the time. Later the association of different
behaviours will have taken to an emergency of complexity and new representations of
meanings transmitting feelings, emotions and intentions. So Man constructed its universe.
Recreated the landscape transformed it into a proper space, a land with their face.
It’s of this immersion that we live and we go transmitting for simple concepts the place where
we live.
0335 |
O ESTUDO DA CERÂMICA: UM QUADRO REFERENTE AOS
TRÊS GRUPOS INDÍGENAS DO SUL DO BRASIL
Samir Alexandre Rocha
Turismólogo (Bom Jesus/IELUSC);
M.Sc. Geografia (UFSC);
Estudante de Especialização em Arqueologia (UNIVILLE).
Mirian Baptista Carle
Historiadora (PUC-RS);
M.Sc. História (PUC-RS);
Professora do curso de Especialização em Arqueologia da UNIVILLE.
O estudo da cerâmica: um quadro referente aos
três grupos indígenas do sul do Brasil
Samir Alexandre Rocha e Mirian Baptista Carle
Resumo:
A arqueologia é uma ciência que, a partir da reconstituição dos vestígios da cultura material
humana agregadas a dados empíricos encontrados na forma de artefatos, utensílios,
monumentos, ruínas de cidades, aldeias entre outros, busca o passado histórico das
sociedades em suas várias fases. Este artigo foi elaborado tendo como objetivo apresentar de
forma ampla um quadro referente aos três grupos indígenas do Sul do Brasil, ressaltando suas
diferenças e semelhanças em relação a sua dinâmica de ocupação através do reconhecimento
dos tipos de habitação, cerâmica produzida, bem como outros elementos. Para tanto, o estudo
dividido em 3 partes, apresenta aspectos sobre a cultura dos grupos Vieira, Jê e Guarani,
apresentando características tais como a espacialização destes sobre os territórios atualmente
definidos, bem como aspectos relacionados à forma como estes se relaci onavam com a
paisagem e seus recursos.
Palavras-Chave: Arqueologia. Cerâmica. Tradição Vieira. Tradição Jê. Tradição Guarani.
Abstract
Archaeology is a science that, from mixing the remains of material culture human aggregated
with empirical data found in the form of artifacts, utensils, monuments, ruins of cities and
villages, among others, searches the past history of societies in its various phases. This article
was prepared with the aim to present a framework broadly referring to the three indigenou s
groups in southern Brazil, highlighting their differences and similarities between the dynamics
of occupation by recognizing the types of housing, ceramic produced as well as other
elements. Therefore, the study divided into 3 parts, presents aspects of the culture of the
groups Vieira, Jê and Guarani, with features such as the spatial distribution of these territories
on the ones currently defined, as well as aspects referring to how these were related to the
landscape and their resources.
Keywords: Archaeology. Ceramics. Vieira Tradition. Jê Tradition. Guarani Tradition.
0337 |
Introdução
Cada olhar sobre um passado ou objeto é produto de um momento e ao mesmo tempo dos
processos de conhecimento construídos ao longo da história. Esta frase um tanto gené rica
surge no sentido de citar que idéias e teorias nunca são estáticas, mas são elaboradas e
construídas ao longo do tempo de forma a buscar o entendimento mais adequado para
determinado sobre determinados objetos ou processos.
Com base nesta informação, pode-se definir a arqueologia como um campo de estudo amplo
que abarca diferentes modalidades de conhecimentos unidas por métodos e bases comuns.
Este entendimento, resumido em uma breve frase, deve ser entendido como um fato
complexo afinal integrar diferentes conhecimentos disciplinares e relacioná-los, seja na ciência
que for, está longe de ser algo simples uma vez que em cada área de conhecimento vem se
produzindo novas técnicas, métodos, resultados e que estas novas técnicas se relacionaram a
outros conhecimentos e técnicas que se apresentaram e outras áreas de conhecimento.
Quando se trabalha trans e interdisciplinarmente, tem-se estabelecido uma teia onde cada nó
se desdobra em novos nós e estes se vão cruzando e gerando a cada dia novos conhecimentos
e postulações, atualizando as ciências e construindo novos saberes.
Tratando da prática do arqueólogo, um dos artefatos que possuem em si uma série de
informações sobre a relação homem/natureza/espaço é o estudo de cerâmicas, muitas das
quais podem apontar para os tipos de ocupação, apropriação do espaço e traços culturais
enquanto materialização de elementos destes processos.
Neste sentido, este artigo surge com o objetivo de apresentar de forma ampla um quadro
referente aos três grupos indígenas do Sul do Brasil, ressaltando suas diferenças e
semelhanças em relação a sua dinâmica de ocupação através do reconhecimento dos tipos de
habitação, cerâmica produzida, bem como outros elementos.
É importante citar que este trabalho foi elaborado a partir da disciplina “O estudo da
cerâmica”, a qual integra o curso de Especialização em Arqueologia da UNIVILLE e levou em
consideração reflexões a partir de referencial teórico bibliográfico e atividades técnicas
realizadas em sala de aula sob supervisão da professora Mirian Baptista Carle.
Vieira, Jê e Guarani: um quadro da dinâmica sócio-espacial-cultural
Atendendo aos objetivos deste ensaio o presente capítulo busca contextualizar aspectos
referentes aos três grupos indígenas do Sul do Brasil, suas diferenças e/ou s emelhanças em
relação a sua dinâmica de ocupação espacial através do reconhecimento dos tipos de
habitação, cerâmica produzida, bem como outros elementos.
Neste sentido, as informações aqui apresentadas serão dividas em 3 partes tratando
respectivamente da seguinte forma: Tradição Vieira; Jê; e Guarani.
Tradição Vieira
A Tradição Vieira é composta por grupos sociais que tinham como características habitar áreas
alagadiças atuando sobre estes espaços a partir da construção de aterros que passavam a se
destacar na composição da paisagem e, atualmente são denominados como sítios
arqueológicos do tipo “cerritos”. (Pestana, 2013)
Sobre tais intervenções, não há certeza acerca das motivações que levaram tais grupos à
transformação e constituição e tais paisagens, contudo ao que se indica, estes cerritos –
pequenos morros, foram construídos como forma de tornar mais salubre/possível à habitação
dos ambientes úmidos nos quais estes povos se encontravam. Outros estudos indicam para o
fato de que os cerritos podem se tratar de plataformas ritualísticas ou monumentos
funerários. (Pestana, 2013)
Ampliando este debate, Pestana (2013: 85) cita que
O primeiro grupo de pesquisadores, mais antigo, cita que estes cerritos são compostos por um
acúmulo de sedimento forçado pela ocupação humana, não intencional, formativo através de
despejos residuais naturalmente depositados ao longo do tempo. O outro gru po de
pesquisadores sugere que os cerritos seriam mesmo aterros, ou seja, teriam sido construídos
intencionalmente. Entre estes autores existem os que relatam ter observado evidências da
adaptação climática, inclusive com indícios de que a terra húmica foi retirada dos arredores
para a confecção do cerrito; e, outros, que demonstram que estruturas mortuárias teriam feito
o monte crescer, uma vez que não era possível enterrar os mortos no banhado. Os indígenas
históricos moravam em cima destes cerritos.
Fato é que os cerritos são estruturas moticulares que se destacam na paisagem os quais
cumpriram objetivo de moradia, podendo atender a outras necessidades/anseios, os quais
possuem camadas estratigráficas pouco definidas compostas entre outros pela presença de
lascas líticas, fragmentos de ossos – muitos dos quais humanos. (Noelli, 2000)
Para Schmitz (2013: sp.), os cerritos possuem forte dialética da água e isso pode ser
constatado pelo fato de que
(...) quando a água sobe, cobrindo os campos, a primeira impressão pode ser de que ela
impede a vida dos homens e dos animais. O contrário acontece: a enchente, que estaciona,
multiplica a vida: ela traz os peixes, os moluscos, os crustáceos, a capivara, o cervo do
pantanal, as aves aquáticas migratórias e residentes, o junco, a mata ribeirinha, a diversidade
necessária para indígena viver enquanto a água está ali, parada, cheia de vida. Para se apossar
desta riqueza, o homem nativo constrói o cerrito, produto de sua percepção ecológica, e,
morando em cima, desfruta a abundância sem precisar se locomover.
Uma colaboração importante das observações de Schmitz (2013) refere -se ao fato de que
quão maior fosse a abundancia de recursos alimentares maior e mais abundante seria a
presença destes aterros, fruto de um maior adensamento populacional e do provimento
natural.
Possuem formato circular, oval ou elíptico, podendo chegar até 100m de diâmetro e 7m de
altura, isolados ou em grupos. (Loureiro, 2008)
A área de abrangência sobre a qual os Vieira atuaram se estende nos atuais territórios do Rio
Grande do Sul (parte sul) e norte e leste do Uruguai em áreas de várzeas alagadas de arroios,
lagoas e banhados (Pestana, 2013; Noelli, 2000).
0339 |
Em relação aos elementos cerâmicos elaborados por este grupo, diferenças regionais podem
ser observadas, contudo, há características comuns que podem ser evidenciadas, dentre as
quais o fato de que estas, em geral são encontradas sempre fragmentadas. Isso ocorre, entre
outros, pelo fato de que as vasilhas produzidas sofrem um cozimento i ncompleto, realizado
por meio de queima mal controlada, o que garante baixa escala de dureza. (Ribeiro, Pestana,
Penha e Calippo, 2004)
Devido a este processo cor da superfície destes objetos oscila entre o preto-acinzentado e o
pardacento-claro. Outro fator que também influencia na quebra das peças é que elas possuem
espessuras em geral finas com espessuras que variam de 0,6 a 1,4cm predominando a
espessura de 0,8cm. (Ribeiro, Pestana, Penha e Calippo, 2004)
Na cerâmica Vieira as decorações são raras, sendo característico a superfície e a parte interna
com tratamentos alisados, com contornos simples, esféricas, semi -esféricas, elipsóides
horizontais e meia calota. As bases são arredondadas ou planas e a textura frouxa, com grãos
desagregáveis, com a presença de areia média e grossa atingindo a espessura de 0,3cm, além
da possibilidade de presença de conchas moídas e fibras vegetais. (Ribeiro, Pestana, Penha e
Calippo, 2004)
Outra característica desta cerâmica é a presença de furos de suspensão circulares na borda e
próximos à boca.
Em sua distribuição espacial estas estruturas monticulares não figuram formas geométricas,
encontrando-se dispersas ao longo do leito de arroios e a borda dos banhados, se
estabelecendo em meio aos banhados ou em topos de colinas. Além disso, cortes
estratigráficos mostraram que o depósito de materiais em seu interior é relativo para cada
sítio o que interfere na densidade dos mesmos. (Pestana, 2013)
(...) os cerritos seriam entendidos como estações de paragem, centros cerimoniais, referências
na paisagem, locais culturalmente constituídos, fixos. As casas dos caçadores nômades
pampianos eram simples, uma simples tenta de palha ou de couro a que chamavam de toldo.
Simples o suficiente para desarmarem, enrolarem e colocarem às costas para seguir viagem.
(Pestana, 2013:92)
Outra característica dos Vieira se refere aos enterramentos os quais eram realizados sem
seguir um padrão claramente definido. Predominavam os sepultamentos flectidos em
decúbito lateral esquerdo ou direto em posição fetal. Junto a estes podem ser encontrados:
“restos de alimentação e carvão, um pouco abaixo da mesma zona onde já foram
observados buracos de estacas e concentração de fragmentos cerâmicos” (Pestana, 2013:
89).
0341 |
Em relação ao material lítico este é escasso neste tipo de tradição, entre outros, em virtude
da falta de matéria-prima, nos locais os quais ocupavam.
O material encontrado, associado à tradição, é o seguinte: lâ-minas de machado polidas
quadriláte-ras, com um, dois ou três entalhes de cada lado próximo à extremidade de preensão, em basalto, gnaisse e rocha não identificada; pedras com depressão se-miesférica
polida (“quebra-coquinho”), apresentando uma ou mais depressões de um ou ambos os
lados da peça que possui formas variadas; bolas de bolea-deira esféricas ou piriformes com
sulco polar ou equatorial; lascas de quartzo com formas variadas; fragmentos de matéria
corante com ou sem sinais de utilização (estrias); polidores de areni-to; um pingente em
forma de gota, em calcedônia, polido. (Ribeiro, Pestana, Penha & Calippo, 2004: 92)
Tradição Jê
Uma mudança marcante que difere a Tradição Jê em relação aos Vieira refere -se as estruturas
de ocupação, uma vez que ao contrário do grupo anteriormente apresen tado estes
construíam para sua vivencia estruturas subterrâneas.
Sobre estas estruturas, também conhecidas por casas subterrâneas ou buracos de bugre, essas
consistem em modificações espaciais escavadas no solo as quais apresentam grande variação
em termos de tamanho, com variação de vão de 4 metros até 20 metros de diâmetro e
profundidades variáveis de 1 a 7 metros, as quais ocorrem, raramente, ocorrem de forma
isolada, mas sim em conjuntos, às vezes bastante grandes. (Rogge & Beber, 2013; Carle, 2013)
Em relação ao território atual de ocorrência destes sítios, os mesmos podem ser evidenciados
principalmente nos três Estados da Região Sul do Brasil, desde o Planalto do Rio Grande do Sul,
Catarinense e Paranaense, incluindo alguns sítios na parte do Sudeste de São Paulo. (Rogge &
Beber, 2013)
Em geral estas estruturas eram construídas em capões de mato ou campo aberto, próximo a
córregos, nascentes ou banhados. Além disso, estes sítios podem estar associados a outras
0343 |
estruturas construídas a partir da movimentação de terra, tais como montículos, estruturas
anelares, sítios superficiais a céu aberto e grutas e fendas basáuticas. (Rogge & Beber, 2013,
Bandeira, 2004)
Em relação às atividades realizadas nesta estruturas tem-se a indicação de que os montículos
eram formados pelo rejeito da escavação das estruturas subterrâneas e alguns destes serviam,
inclusive, para fins funerários. Tais finalidades se repetiam também nas demais estruturas,
sendo que nas estruturas anelares se destacava a presença de fogueiras na parte central do
sítio que possuem evidencias de sepultamentos em geral com características de cremação.
(Rogge & Beber, 2013)
Em relação a ocupação destes assentamentos, de forma geral, os mais antigos apresentam
diferentes momentos de ocupação e nem sempre as estruturas subterrâneas estão
associadas diretamente à presença de cerâmica, a qual passa a se tornar mais evidente com
início a partir do Século VI e maior ocorrência a partir do Século IX e início do novo milênio.
(Rogge & Beber, 2013)
Conforme Rogge & Beber (2013: 157) este fato ocorre, entre outros acompanhado do
aumento do número de sítios com estrutura subterrâneas
(...) muitas vezes apresentando uma ocupação mais densa e permanente, parecendo indicar
um aumento da estabilidade dos grupos e, talvez, uma maior complexidade social e política,
fenômeno que pode estar relacionado ao momento principal de expansão da Araucaria
angustifolia. Provavelmente não por acaso, nesse momento começam a aparecer estruturas
anelares, muitas vezes tornando-se o centro em torno do qual os assentamentos se aglutinam.
Em relação às características da cerâmica presentes nestes sítios, nos mesmos podem são
encontrados restos de pequenos potes e tigelas utilitárias. Estas são confeccionadas por meio
da sobreposição de roletes ou anéias, os quais são repuxados resultando na modelação da
massa, ou ainda, são moldadas dentro de cestos. Quanto ao acabamento e decoração estas
podem ser feitas por depressões produzidas por pontas de vários formatos, ou ainda com uso
das unhas.
0345 |
Sobre os materiais líticos trabalhados por este grupo, estes faziam uso de artefatos de pedra
polidos, tais como “(...) grandes mãos-de-pilão, que chegavam a medir 80 cm, e deveriam ser
usadas para esmagar, por exemplo, pinhão; ou lâminas de machado, para cortar madeira”. As
rochas mais utilizadas eram o diorito e o basalto. (Carle, 2013: s.p.)
Tradição Guarani
Com origem a partir dos Tupi, os guarani ocuparam os atuais territórios do Paraguai, Nordeste
Argentino, parte Sul do Brasil e Uruguai, espalhando-se assim pelo complexo fluvial Paraná,
Paraguai, Uruguai e pela costa do Atlântico. (CARLE, 2013)
Em geral, este grupo se instalava em áreas de várzeas com facilidades de acesso a água para o
banho e as necessidades da casa, em geral sobre diques na parte marginal interna de rios,
onde as enchentes dificilmente alcançariam, ou ainda na beira de lagos e lagoas. (S chmitz,
2006)
Tal escolha se dava, além do recurso hídrico pelo fato de que tais locais proporcionavam o
acesso facilitado a alimentos tais como moluscos e peixes, além de possuir seixos de materiais
variados, os quais eram utilizados na confecção de instrumentos, e ainda, serem os barrancos
locais de fácil retirada de argila para a fabricação da cerâmica. (Schmitz, 2006)
As aldeias eram levantadas em clareiras abertas nesta mata e ao seu redor se faziam
diversos cultivos, sendo que as mesma aldeias não permaneciam no mesmo lugar por
muito tempo, podendo ser descoladas para áreas não muito distantes a partir da escassez
de recursos, contudo privilegiando áreas de semelhante característica ao local original. As
construções eram organizadas com espaços de diferentes usos pela comunidade, com
presença de locais multifuncionais, que podiam ser cobertos ou não, e que eram utilizados
para processar alimentos, cozinhar, depositar gêneros, instalar o tipiti, entre outros.
(Milheira & Deblasis, 2011; Carle, 2013; Schmitz, 2006)
(...) a diferença entre estruturas anexas e pisos de habitação [podem ser definidas] pelo
diâmetro das manchas e pela freqüência de materiais a elas associados. As estruturas anexas
teriam em torno de 8m de diâmetro, com coloração acinzentada menos intensa que nos pisos
de habitação, e relativamente pouca quantidade de materiais cerâmicos e líticos. (MILHEIRA &
DEBLASIS, 2011: 159-160)
Uma questão importante relativa aos Guarani refere-se ao modo de vida/produção, tendo
destaque a economia baseada nos cultivos de milho, aipim, abóbora, batata doce, amendoim,
feijão, cará, fumo, algodão e outras plantas tropicais, sob os cuidados das mulheres; e na caça
e pesca, sob a responsabilidade dos homens. Outra atividade realizada pelos Guarani era a
coleta de frutos, fungos, raízes, folhas e uma quantidade apreciável de moluscos fluviais.
(Schmitz, 2006)
Além disso, os Guarani se caracterizam pela confecção de cestarias, tecelagem, produção de
armas, móveis e canoas, sendo para tanto fundamental o material proveniente das florestas.
Em realização aos rejeitos da alimentação, instrumentos em desuso, entre outros, não havia
um depósito único para tais resíduos, podendo os mesmos serem encontrados, por exemplo,
em áreas de habitação. Quanto aos sepultamentos, os mortos eram acomodados em velhas
urnas e depositados em cemitério próximo das casas. (Schmitz, 2006)
Em relação à cerâmica esta tem grande importância para os Guarani os quais tinham funções
como guardar e servir água, para preparar e distribuir bebidas fermentadas de milho e
mandioca, para armazenar produtos e cozinhar alimentos, e, por fim, recipientes maiores,
depois de velhos e inúteis, eram utilizados no enterramento dos mortos, que eram cobertos
por panelas e acompanhados de tigelas com alimentos e bebidas. (Schmitz, 2006)
0347 |
As peças eram feitas com decorações características cobertas por impressões regulares da
polpa do dedo, da borda da unha, da ponta de um estilete, ou eram lisas; um outro conjunto,
melhor trabalhado, era pintado, às vezes comum vermelho uniforme, mas geralmente com
desenhos geométricos variados em vermelho ou preto sobre uma base branca. (Figuras 1, 2, 3
e 4; também Schmitz e outros, 1990). Especialmente a pintura dava um aspecto agradável ao
vasilhame e mostrava que o grupo tinha vencido a mera subsistência e investia algum tempo
em arte. (Schmitz, 2006: 41)
Em relação ao antiplástico utilizado na confecção da cerâmica, ocorre a incidência e areia com
grânulos diversos ou cacos velhos provenientes de cerâmicas quebradas bem trituradas e
misturadas ao barro excessivamente plástico, e não eram muito duradouras em função de que
sua queima era realizada em fogo aberto. (Ribeiro, Pestana, Penha & Calippo, 2004; Schmitz,
2006)
0349 |
Em relação às técnicas de acabamento plástico de superfície eram característicos os usos de
espatulados, espatulados alisados, corrugados, ungulados, pseudo ungulados, serrulados ou
serrungulados e nodulados. (Baco, 2012)
0351 |
Considerações
A arqueologia é uma ciência que, a partir da reconstituição dos vestígios da cultura material
humana agregadas a dados empíricos encontrados na forma de artefatos, utensílios,
monumentos, ruínas de cidades, aldeias entre outros, busca o passado histórico das
sociedades em suas várias fases.
Neste sentido, este artigo foi elaborado tendo como objetivo apresentar de forma ampla um
quadro referente aos três grupos indígenas do Sul do Brasil, ressaltando suas diferenças e
semelhanças em relação a sua dinâmica de ocupação através do reconhecimento dos tipos de
habitação, cerâmica produzida, bem como outros elementos.
O estudo dividido em 3 partes, apresentou aspectos sobre a cultura dos grupos Vieira, Jê e
Guarani, apresentando características tais como a espacialização destes sobre os territórios
atualmente definidos, bem como aspectos relacionados a forma como estes se relacionavam
com a paisagem e seus recursos.
Simplificando e resumindo o estudo, os 3 grupos possuíam características distintas de relações
ambientais e produção.
Os Vieira, tem como marca característica principal a construção de cerritos os quais estão
dispersos em parte do Rio Grande do Sul e Uruguai. Na cerâmica, que foi o aspecto comum
mais destacado neste trabalho, as vasilhas eram confeccionadas pela técnica do modelado
acordelado, que passavam por uma queima incompleta, tendo como antiplástico o uso de
areias média e grossa, além de conchas moídas e fibras vegetais.
Os Jê tem como característica a construção de e estruturas subterrâneas que eram instaladas
em capões de mato ou campo aberto próximos a córregos, nascentes ou banhados. Na
cerâmica a característica principal era a presença de vasilhas pequenas, composta de potes e
tigelas, com decoração impressa variada, porém com trabalhados típicos. Viviam nos três
Estados da Região Sul do Brasil, desde o Planalto do Rio Grande do Sul, Catarinense e
Paranaense, incluindo alguns sítios na parte do Sudeste de São Paulo.
Os Guarani se dispersaram nas áreas do sistema fluvial Paraná, Paraguai, Uruguai, costa
atlântico e bacias de rios costeiros e, por sua vez, destacavam-se pelas técnicas de cultivo. Na
cerâmica elaboravam vasilhas de tamanhos bastante variáveis visando o atendimento a
diversas finalidades que iam desde o armazenamento e consumos de líquidos e alimentos, até
mesmo sendo usadas depois de velhos e inúteis, no enterramento dos mortos.
Sintetizando tais informações podemos reunir tais informações no seguinte quadro
comparativo:
0353 |
Ocupação
Espacial
Habitação
Lítico
Subsistência
Cerâmica
Jê
Ocuparam a área
compreendida
atualmente pelos 3
Estados do Sul do Brasil,
na planície costeira,
planalto e suas encostas,
especialmente em áreas
de vales de rios cobertos
por matas subtropicais e
tropicais.
Ocuparam tanto aldeias a
céu aberto, como abrigo
sob rocha, e casas semi subterrâneas.
Sobre estas estruturas
subterrâneas, essas é
destaque pelo seu papel
enquanto habitação de
inverno devido a sua
eficiência térmica.
Os Jê produziam objetos
líticos polidos (pedrasmó, lâminas de
machado, quebra-cocos,
bolas de boleadeira) e
lascados (raspadores,
furadores e pontas de
projétil).
Eram Caçadorescoletorespescadores.Em
determinada época
coletavam o pinhão e
possuíam agricultura
incipiente.
Cerâmica composta por
vasilhas de base planas
ou convexas, tamanhos
pequenos, com formas
de contorno simples,
infletidos, ou uma
Guarani
Ocuparam amplo território
em áreas no Brasil,
Paraguai, Argentina,
Uruguai e Bolívia, maioria
das vezes em áreas
próximas de cursos
d’água, nas proximidades
das várzeas férteis de
rios, arroios e lagoas, e
ao longo do litoral.
Viviam em aldeias com
300 a 600 pessoas em
media, reunidas em
famílias nucleares sob a
liderança de um individuo.
Apesar de serem raros
encontram-se nos
arredores das aldeias
cunhas polidas ou
lascadas lascas de
calcedônia ou ágata, sem
retoque, tembetás de
quartzo polido, adornos
plaquetas de pedra polida
e adornos dentes de
animais.
Caçavam, coletavam,
escavam e plantavam.
Consumiam mamíferos,
aves, peixes, répteis,
anfíbios, moluscos e
insetos, caçados,
pescados ou coletados
com simplicidade ou por
meio de engenhosas
armas e armadilhas, tanto
de modo individual como
coletivamente.
As dimensões atingem
até 90 cm de altura e 100
cm de diâmetro na boca,
e a capacidade pode
ultrapassar os 120 litros.
A base possui forma
Vieira
Ocuparam a parte Sul
do Rio Grande do Sul
e Norte-Leste do
Uruguai, em
ambientes alagadiços
próximos ao litoral
Atlântico e em áreas
de campo.
Os Vieira construíam
aterros em meio a
áreas alagadiças a
partir do acumulo de
refugos para
construção de
montículos de
diferentes funções e
significados.
Tais estruturas são
denominada por
“Cerritos”.
Os artefatos mais
encontrados são,
quebra-coquinhos,
bolas de boleadeiras,
percutores, mós,
laminas de machado,
talhadores e lascas
utilizadas e lascas
bipolares.
Eram caçadorescoletores-pescadores.
Neste grupo a cerâmica
é caracterizada por não
possuir decoração
plástica ou pintada. Os
vasilhames são de
pequeno a médio porte,
com formas abertas e
ombinação de ambas,
com os maiores
diâmetros alcançando
até 42 cm. Essa tradição
caracteriza-se por
cerâmica lisa, às vezes
polida, às vezes com
engobe e decoração
plástica em maior ou
menor quantidade
conforme a fase.
conoidal ou, quando de
pequenas dimensões,
arredondada. As paredes
são mais ou menos
infletidas, em geral
fortemente convexas,
formando um bojo
pronunciado. A borda
pode ser côncava,
vertical, ligeiramente
inclinada para dentro ou
para fora. O tratamento
de superfície mais
freqüente externa é o
corrugado, podendo
ocorrer também
alisamento, ungulado e
escovado. A base é
conoidal ou, mais
raramente, arredondada.
A técnica principal para
construção da cerâmica é
a de roletes, sendo
presentes alguns casos
de base modelada. O
antiplástico é composto
por minerais e cacos
moídos.
paralelas e utilizam na
formação de sua pasta
antiplástico de areia
(fina, média e grossa).
A idéia final deste ensaio acaba assim resultando em um panorama geral sobre as culturas
indígenas do sul do Brasil e acaba sendo importante para o entendimento dos contextos e
apropriações das paisagens que estes grupos mantiveram ao longo da história bem como para
o reconhecimento dos mesmos em atividades técnicas de campo em arqueologia.
Além disso, o presente trabalho procura contribuir com estudos arqueológicos sobre as
populações indígenas no Sul do Brasil, no sentido de auxiliar na identificação a partir de
vestígios e sítios quanto as sociedades que fizeram deste território atual seu local de vivencia.
Referencias
BACO, H. M. di. (2012) – Arqueologia Guarani e experimental no Baixo Paranapanema
Paulista: o estudo dos sítios arqueológicos Lagoa Seca, Pernilongo, Aguinha e Ragil II . São
Paulo: USP, (Dissertação de Mestrado em Arqueologia), 226 p.
BANDEIRA, D. da R. (2004) – Ceramistas Pré-coloniais da Baía da Babitonga – Arqueologia e
Etnicidade. Campinas: UNICAMP, (Tese de Doutorado em História), p. 227.
CARLE, M. B. (2013) – Apresentação utilizada em aula expositiva do curso de especialização em
arqueologia da Univille. Joinvile.
0355 |
COPÉ, S. M. (2006) – Arqueologia da arquitetura: ensaio sobre complexidade, performance e
processos construtivos das estruturas semi-subterrâneas do planalto gaúcho. In: Anais do V
encontro do Núcleo Regional Sul da Sociedade de Arqueologia Brasileira – SAB/Sul. (20 a
23/11/2006. Rio Grande, RS), p. 1-21.
GARCIA, A. M. (2010) – As cadeias operatórias de uma indústria tecnológica lítica: Sítio
Arqueológico PT-02 (Cerrito da Sotéia), Pelotas-RS. Pelotas: UFPEL, (Trabalho apresentado para
a obtenção do título de Licenciado em Geografia), p. 187.
LOUREIRO, A. G. (2008) – Sítio PT-02-Sotéia: análise dos processos formativos de um Cerrito na
região Sudeste da Laguna dos Patos/RS. São Paulo: USP, (Dissertação de mestrado em
arqueologia), p. 89.
MILHEIRA, R. G.; DEBLASIS, P. (2011) – O território Guarani no litoral Sulcatarinense: ocupação
e abandono no limiar do período colonial. Revista de Arqueologia Americana. Instituto
Panamericano de Geografia e História, (nº 29), p. 147-182.
NOELLI, F. S. (2000) – A ocupação humana na região sul do Brasil: arqueologia, debates e
perspectivas 1872-2000. Revista da USP. São Paulo: USP, (1999-2000, n.º 44: 218-269), p. 285302.
PESTANA, M. B. (2013) – A Tradição Vieira e as estruturas monticulares na Várzea do Arroio
Candiota, Campanha do Rio Grande Do Sul, Brasil. Revista Tempos Acadêmicos. Criciúma,
Santa Catarina, (Dossiê Arqueologia Pré-Histórica, nº 11), p. 84-96.
RIBEIRO, P. A. M.; PESTANA, M. B.; PENHA, M. A. P.; CALIPPO, F. R. (2004) – Levantamentos
arqueológicos na porção central da planície costeira do Rio Grande do Sul, Brasil. Revista de
Arqueologia. (n.º 17), p. 85-99.
ROGGE, J. H.; BEBER, M. V. (2013) – Arqueologia das estruturas subterrâneas do sul do Brasil.
Revista Tempos Acadêmicos. Criciúma, Santa Catarina, (Dossiê Arqueologia Pré-Histórica, nº
11), p. 146-162.
SCHMITZ, P. I. (2006) – Migrantes da Amazônia: a tradição Tupiguarani. In: SCHMITZ, P. I.
Arqueologia do Rio Grande do Sul, Brasil. São Leopoldo: UNISINOS.
SCHMITZ, P. I. (2013) – Sobre os cerritos. [Consultado em 10 de Setembro de 2013]. Disponível
na URL: http://to.plugin.com.br/jag-cerritos.htm.
THE END OF THE NATUFIAN CULTURES AND THE ORIGINS
OF AGRICULTURE. A "SOCIETAL" RESPONSE TO CLIMATECHANGING IN THE EASTERN MEDITERRANEAN REGION.
Matteo Cantisani
Museu de Arte Pré-Histórica e do Sagrado do Vale do Tejo,
Instituto Terra e Memória,
Largo Infante D. Henrique 6120-750 Mação- Portugal),
PhD candidate UTAD (ulD73-F.C.T.).
E-mail: [email protected]
0357 |
The end of the Natufian cultures and the origins of
agriculture. A "societal" response to climatechanging in the eastern Mediterranean region.
Matteo Cantisani
Resumo:
O período de transição do sistema de caça-recolecção para a agricultura representa uma
questão fundamental na história da Humanidade. No Velho Mundo, ocorre ao longo de um
período que varia em torno de 12 a 10 ka BP, como documentado pela cultura Natufian. A
análise polínica realizada no Médio Oriente tem mostrado que durante o Holoceno, a
cobertura florestal se estendeu a zonas de alta latitude, anteriormente ocupadas por espécies
periglaciais. O fim das culturas Natufian, e seu sistema híbrido de subsistê ncia, poderia estar
relacionado com esta dinâmica, as mudanças ambientais, bem como notável estagnação do
modelo social. Por isso, é razoável supor que, o nascimento de um novo sistema de
subsistência ligado à produção pode estar ligado ao surgimento de um novo tipo de ligações.
Isso poderá ter ocorrido após as mudanças paleoclimáticas do início do Holoceno. De um
ponto de vista sociológico, podemos supor um novo modelo de rede social de casamento,
bastante semelhante ao de Wobst.
Palavras-chave: Transição Paleolítico-Mesolítico, Natufian, paleoambiente, redes sociais de
reprodução, sociologia.
Abstract:
The transition period from hunter-gather system to farming represents a fundamental issue in
the history of the Mankind. In the Old World, it takes place over a period ranging around 12
and 10 Ka BP, as documented by the Natufian culture. Pollen analysis performed in the Middle
East have shown that during the Holocene, forest cover increased also to high latitude,
previously occupied by periglacial species. The end of the Natufian cultures, and their hybrid
system of subsistence, could be related to these dynamics, environmental changes as well as
remarkable stasis of the social model. It is therefore reasonable to assume that the birth of a
new system of subsistence production could be linked to a rising of a new kind of networks. It
could have occurred subsequently to the early Holocene paleoclimatic changes. From a
sociological point of view we can hypothesize a new network’s model, quite similar to Wobst ’s.
Keywords: Paleolithic-Mesolithic transition, Natufian, Paleoenvironment, mating Networks,
sociology.
1.
1.1.
INTRODUCTION
Premise and problematics
For hundreds of thousands of years, anatomically modern human (AMH) - and perhaps other
species of hominids before him – led his life hunting and gathering sometimes plants and
seeds. From an “evolutionary” point of view it is reasonable to think about this kind of
subsistence pattern, typical of “primitive” bands societies (Service, 1962), as the most
extremely successful in the history of the Mankind. On the other hand, during the coldest
temperature in the last glacial period documented by the climate -stratigraphy and pollen
analysis, Homo sapiens was able to cope with the drastic harsh paleoclimatic conditions. In all
the Northern hemisphere, Upper Paleolithic human groups of the Late Glacial Maximum (LGM)
were living by the same system of subsistence despite of the continuous climatic fluctuations
and environmental changes. These human groups, and especially those of the Middle Upper
Paleolithic (MUP) lived in a really “Golden Age” as some authors have pointed out (Clark, 1977;
Sahalins, 1980).
At the beginning of the Holocene, however, the majority of the archaeological evidence ,
concerning the post-Paleolithic cultures in Europe but especially in the Near East, shows the
emergence of new settlement patterns and new structural housing types. Archaeozoological
analysis also show a tendency in collecting crustaceans and mulluscs in many Epi -Paleolithic
and Mesolithic sites than before, such as Grotta dell’ Uzzo (Italy), Riparo Blanc (Italy) and the
concheiros complexes in the Sado and Muge valleys (Portugal) (Oosterbeek, 1997). For the
same period there are evidences for the first net-fish in French sites as Hauts de Nachères and
Noyen, and for the first bone harpoons clearly associated with fish remains in Norway and
Sweden (De Grossi Mazzorin, 2008). A the same time along the northern coast of Maghreb,
since Cirenayca far to the West, the archaeological record of several lithic assemblages shows
an increasing microlithism, interpreted as the widespread adoption of composites tools useful
to provide barbs (Clark, 1977). In particular, focusing on the part of the continent closest to
south-west Asia, is interesting to note as in Nubia were found some evidences of molluscs
exploitation too (ob. cit.). Both archaeological and archaeozoological data indicate, indeed, a
more intensive exploitation of marine or fluvial resources, related to importan t changing in
human groups traditional livelihood.
From a chronological point of view the transition period begins around 13 Ka BP and finishes
around 10,5 Ka BP, according to the chrono-cultural sequences of the Levantine PostPaleolithic cultures. The scholars who worked in this region studied an extremely rich
archaeological record documenting, throughout the Kebarian, Natufian and Pre-ceramic
Neolithic cultures (PPNA and PPNB), the final transition to a new different system of
subsistence.
With respect to these arguments, the question is: how and why post-Paleolithic human groups
switched to a new system despite of the most successfully hunting-gathering strategies that
provided them for all the needs even in the most critical periods of the LGM? The transition
period between hunting-gathering system and farming is a fundamental issue in the history of
humanity’s development. As demonstrated by the archaeological evidences of the Middle
East, the answer to this question is closely related to the question of the origin of Agriculture
in that region. For this reason, in order to submit an interpretative proposal about it, this study
focused on the end of the Natufian culture and the rise of PPN communities. By this , it is
specifically limited to the Middle East as well as chronologically well defined.
0359 |
1.2.
Geographical settings in the "Middle East"
By the term of Middle East, we mean a wide area including present-day territories belonging
to Iran, Turkey, Syria, Jordan Kingdom, Lebanon and Israel. To the south the desert plateau of
Arabia marks the division between the south-western Asia and the Near East. The long Taurus
mountain chain delimits the area to the North and to the East. To the West instead, the socalled Levantine Corridor is bordered by the Mediterranean Sea. The majority of the territories
along this area belongs to the well-known “fertile Crescent” zone, a fertile region affected by
the hydrographic system of the Tigris and Euphrates. The changing topography of the region as
well as the different climatic conditions, led to the formation of a very rich and diversified
regional biome, characterized by a diversity of environmental niches (Giusti, 1996) (Figure 1).
The Natufian culture grew up and expired in this environment.
Figure 1: The geographical context (elaboratio. Source: Goring- Morris and Belfer Cohen 2011).
1.3.
Agricultural interpretative patterns: History and explanation
The transition from an economy based on hunting and gathering to a productive one has been
a very well studied topic. It produced not little bibliography over the last fifty year and since
the coining of the “Neolithic Revolution” concept introduced by Vere Gordon Childe, different
theories concerning the birth of agriculture have been developed. Firstly the scholars focused
mainly on the “homeland” of the agricultural societies because it was believed that the
agriculture spread out into the West from its epicenter in Mesopotamia as an invention
carried by eastern people (ex oriente lux) (Giusti, 1996). This idea was based on the concept of
a gradual process of “colonization” from the East to the West. According to the original
hypothesis of Cavalli-Sforza and Ammerman (1984), this process would have taken place by a
slow and continuous expansion (wave of advance), during which farmers built up settlements,
making the local people sedentary. Later, scholars began to ask what were the factors that
contributed to the development of this new type of economy. From this point of view Childe
himself had formulated hypothesis before, but especially after the excavations of Robert and
Linda Braidwood at Jarmo (Iraq), further explanations were advanced. Moving away from
Childe’s environmental determinism, Braidwood (1979) claimed that Jarmo’s data suggested
that the rise of agriculture and its development were related to social and cultural dynamics.
However, where did these changes come from? How did Mesolithic people used to live? Mark
Cohen (1975) assumed that at the end of the Late Pleistocene, human groups – who until then
had led strategies of subsistence based on hunting and gathering – met a strong population
growth. Binford (1969) and Flannery (1973), although they formulated different hypothesis to
explain the necessity of developing a new subsistence strategy, used the same premises.
According to these last three positions, agriculture would be created to meet new production
demands and face off population growth. These studies stimulated the d evelopment of a
more comprehensive approach which took into account both cultural and social factors
besides to environmental ones. In England Higgs, the chief of the “Research project in Early
History of Agriculture”, developed the Paleoeconomy approach. The aim consisted of
understanding the interrelations between the environmental context and the anthropic
system. For Higgs and his fellows, agriculture would be born as a response to iron out any
imbalance between the two complex systems.
1.4.
Objectives and Methodology
The purpose of this study concerns the statement of a new interpretative hypothesis with
regard to the origin of the new system based on food production in the Middle East, around
10,5 Ka BP. By this purpose demographic, social, cultural and environmental factors will be
identified and exposed in order to determine the new context in which agriculture arose.
Furthermore, since the first evidences of cultivating plants occurred after the end of the
Natufian culture, it is important to understand and interpret it, according to both
archaeological and paleoenvironmental data.
It is not the first time, the Natufian culture is recognized of global importance for studying
agriculture (Otte, 2009). It can be considered the key to understand the Paleolithic-Mesolithic
transition dynamics in the Middle East. In particular scholars focused on paleoenvironmental
and social factors (Belfer Cohen, 1991; Belfer Cohen e Goring-Morris, 2011) as well as
population growth and its consequences (Henry, 1989).
0361 |
The bibliography literature cited is not at all comprehensive. However data collected , up to
now, concerning both archaeological and paleoenvironmental evidences allows to formulate a
critical assessment of all the previous theories. According to these arguments the Natufian
culture would come to an end because of an interaction among natural causes and social
factors. This interpretation led us to imagine the end of the Natufian cultures as the product
of population growth while natural resources began to short for paleoclimatic factors.
Nevertheless, the way in which all these factors cope with each other is not explained. Why?
How did natural and social causes interact and why Natufian groups were not able to cope
with resources crisis? On the contrary, as pointed out before, the Upper Paleolithic groups
were successfully capable of facing – in desperate climatic conditions too – acute lack of
resources.
This work is focused on the last question mentioned above. For this purpose, a comparison
was made between the Paleolithic hunther-gathering societies and Mesolithic Natufian
culture, within their cultural and paleoenvironmental framework. The comparison among
them is made about developing of mating networks within these different type of societies.
Wobst’s model concerning the social organization of Upper Paleolithic groups has therefore
been used here to describe also the Natufian social organization. Subsequently, this
comparative pattern was dropped within the Holocene paleoenvironmental context for
understanding how paleoclimatic factors did interacted with the human community.
In conclusion, after critical examination of previous patterns with regard to the birth of
Agriculture and the end of the Natufian society, a new interpretative hypothesis was been
stated taking into account all the data derived from this new sociological comparative model.
From a methodological point of view this study was been carried out thanks to bo th
archaeological data (settlements, material culture, art, spatial archaeology) and socio-cultural
ones, as well as paleoenvironment and demography.
2.
DATA
2.1. Archaeological evidences
2.1.1. Natufian
2.1.1.1.
Settlements and structures: development and typology
The Natufian culture was discovered in 1928 by Dorothy Garrod who called it so because close
to uadi Natuf.
Initially, Garrod suggested that Natufian populations arrived in the Middle East from North
Africa (Garrod, 1932; 1957). Then scholars developed the idea that this culture derived from
the last Epi-Paleolithic Levantine groups (Kebarian culture) that turned their quite nomadic
habits into more sedentary ones, according to base camp archaeological remains (Belfer
Cohen, 1991).
From this point of view, the actual size of Natufian settlements is a little bit unknown and how
might have been the internal spatial organization remains still , neither exactly nor entirely
intelligible. Of course archaeological studies have revealed the existence of differe nt types of
settlements, including shelters and open-air sites more or less sedentary. On the other hand
researchers noted a large variability and extension, in contrast with what occurred during the
Paleolithic (Bar-Yosef and Belfer Cohen, 1992).
Topography studies and landscape archaeology showed that this new Mesolithic culture
spread onto the majority of the Middle East (Figure 2) especially in the Levantine Corridor,
identified as the Natufian “core”. Many sites have been excavated over the years but ,
according to the purposes of this paper and to the necessity of synthesis only a few have been
selected in order to collect and present as much as possible all the different types of the
archaeological sources, such as settlements, small encampments and burial areas (Peroni,
1998).
One of the largest and best documented site is Ein Mallaha (Eynan), a settlement located
among the hills of Galilee to the West and the Sea of Galilee to the South (Giusti, 1996). As can
be seen in Figure 3, the excavations led to uncover a first housing “architecture” characterized
by a particular structural type. It does not still show a pre-determined spatial organization
intra-site (as will happen at some PPN sites). However more complexes huts planimetries were
documented, more or less circular.
Figure 2: Distribution of main Late Epipaleolithic and Neolithic sites in the Near East (elaboration. Source: Zeder 2011).
0363 |
Figure 3: Pit-dwelling house reconstruction, Ein Mallaha.
From a technical point of view, these houses consist in huts dwelled in the ground, probably
projected also for storing and harvesting. A similar “architecture” was found in other sites too,
even if it was well developed especially during the PPN and Neolithic itself.
Ein Mallaha is located in the “core” of the Natufian culture. The same structural huts typology
was recognized at El-Wad Cave and Hayonim Cave too (Bar Yosef and Goren, 1973; Belfer
Cohen, 1991).
In addition to the sites of the Natufian “core” a few large settlements of northern Syria should
be remembered, where they are preserved as large high “Tells”. This is a typical Middle East
archaeological source and is the product of anthropogenic accumulation occurred more or
less steadily over thousands of year. Sites particularly important for the study of Natufian
culture are some places along the middle reaches of the Euphrates River, including Tell Abu
Hureyra (Level I) and Tell Mureybet (level IA), of considerable size (Figure 4). Tel Abu Hureyra
was excavated for the first time in 1975 by Moore. Also in this case, pit-dwelling housing
structures have been uncovered in the trench, built up with such similar construction
technique as those of Hayonim Cave and Ein Mallaha.
The settlement of Beidha, however, differs from all those presented up to now because both
of its size and the geographic area. Indeed Beidha settlements is completely different since it is
a small camp, located in a desert area outside the heartland of Natufian culture, close to the
Wadi el-Ghurab (Byrd, 1989; Kirkbride, 1966) (Figure 4).
Figure 4: Site locations.
2.1.1.2.
Burial typology
The Natufian culture is the first post-Paleolithic culture of the Near East that has returned
evidence of specific burial types beside to articulate funeral habits. In this sense, most of the
sites presented has already shown several finds of burials near the inhabited area.
Hayonim cave, located in the hills of Galilee on the left bank of some river tributary of Nahal
Nassaf, has been excavated since 1965 (Bar-Yosef and Goren, 1973). In the cave in front of the
terraces on which the inhabited area has been recognized, a number of graves have been
excavated, but without finding the connection between the burial ground and the terrace.
However, it is reasonable to assume that there was a link between the two areas as shown by
the choice of location, with specific morphological characteristics.
0365 |
Another site with burials is El Wad Cave, located on the western slopes of Mount Carmel,
always in the “core." Excavations were begun in 1928 by Lambert and incorporated in 1985 by
Evron and Kauhfman. The importance of the site is linked to the discovery of a necropolis
inside the cave in Rooms 1 and 2, consisting of 100 graves. Unlike Hayonim Cave, the
connection between the residential area on the terraces and its burial grounds was found.
2.1.1.3.
Socio-cultural settings: artistic manifestations, funeral habits and intrasite spatial organization
A few of the Natufian material record found during excavations consists of artifacts not only
related to daily use but also relevant from the artistic point of view. Decorated bone artifacts
were found together with anthropomorphic and theriomorphic figurines, as well as different
kinds of ornaments made of beads, sea shells, malachite and also obsidian from Turkey (Belfer
Cohen, 1991). In many cemeteries have also been found decorative elements engraved in the
architecture of the tombs.
The composite archaeological record relevant to the sphere of art indicates clearly a complex
development in ideology and symbolic behavior of the entire community. The connections
with the funerary architecture are equally obvious and lead to the hypothesis that Natufian
had developed cultural practices related to the world of the dead.
The complexity of the Natufian society, although still focusing on the model of huntergatherer, is also evident taking into account data from the analysis of the spatial organization
within the settlements. On the other hand, the archaeological evidence of El -Wad Cave in
particular, and those of Hayonim Cave, suggest that the space within the Natufian site was well
structured in two distinct areas: that of the living and that of the dead. This feature overcast
the incipient development that occurred more fully in the Near East, especially during the preceramic Neolithic A and B (PPN) as shown by the archaeological evidence of the so -called
contemporary mega-sites as Mureybet (Level IV A) and Ain-Ghazal (Giusti, 1996). Another
interesting site that shows an intra-site spatial articulation is Nahal Oren, located in the
western slopes of Mount Carmel. It has been originally excavated by Stekelis since 1940. Then
other researchers carried out studies about the lithic assemblages of the site, with respect to
percentage distribution of artifacts in certain areas (Grossman [et al.], 2005). The analysis
results revealed that a portion of the site was reserved for the burial ground, probably where
they held certain cultual practices.
2.1.1.4.
Material culture and system of subsistence
The material culture is represented by several objects relating to everyday use as stone sickles,
grinding stones and mortars, reflecting the growing importance of activities related to the use
of plants. In addition to the material evidence, use tracks identified on molars by microwear
analysis, probably suggest an incipient grains consumption.
Despite all this, the Natufian society adopted basically hunting-gathering strategies, much
more intensive, of course, compared to the past. Someone thinks that it is due to cultural and
environmental factors, but it is possible to state it is rather due to a “forced” choice (interior
factor – not exterior) (see conclusions). By this, the end of the Natufian society may not be
related to with. On the other hand, it is already mentioned in the first paragraph to the
'"opulence" of the Upper Paleolithic hunter-gatherer societies, and some scholars have
pointed out that hunting provided the community with everything it needed, leaving even
some free time for other activities (Sahalins, 1980): it could have certainly been more
vantageous than agriculture and productive effort was much lower.
2.1.2. Pre-Pottery Neolithic A and B
2.1.2.1.
Settlements and structures: development and typology
Many Natufian sites, including Tell Abu Hureyra and Tell Mureybet have continued to exist
after the end of the Natufian societies around 10.5 ka BP. In these cases it is clear not only the
chronological continuity but also the geographical attendance during the Levantine PrePottery Neolithic. Another interesting aspect related to the dynamics of “post-Natufian”
settlements consists of an increasing amount of settlements, along the banks of the
Euphrates, where archaeologists identified riparian locations 20-35 km away from each other,
as Jerf el-Ahmar, Tell Mureybet (Level IVA-B) (Figure 5), and Tell Abu Hureyra theirself (Giusti,
1996; Abbes, 2008; Mazurosky e Jamous, 2001). Regards to the structural types, the
archaeological data always show curvilinear pit-dwelled huts structures during the PPNA and a
more regular housing planimetry during the PPNB (ob. cit.).
Figure 5: New plants tipology. From Jerf el Ahmar and Tell Muraybet.
0367 |
2.1.2.2.
Socio-cultural settings: artistic manifestations, funeral habits and intrasite spatial organization
Archaeological evidence shows that the changes occurring in this period, particularly related to
the dynamics of settlements developing, (such as quantitative increase in number of sites and
''evolution”of some structural types), concern once the conformation of intra-site areas but
also the intra-huts one.
In Mureybet, for example, it was observed that the houses are arranged to form a compound
with a free space at the center, perhaps a square dedicated to the performance of common
tasks (Giusti, 1996) At Kfar Hahoresh some evidence seems to attest to cultural practices in
areas distinct from the rest of the settlement (ob. cit.).
Concerning the second point, however, always at Tell Mureybet some structures seem to have
had an inner area used for cultural activities, linked, this time, to the family unit rather than
the entire community.
Finally, you can make some observations. First, the increase in settlements suggests an
increase in population, undoubtedly linked to a more sedentary pre -pottery Neolithic
communities. Even Natufian settlements built on a permanent basis as evidenced by the burial
grounds in their vicinity, yet their hunting-gathering system required them a lifestyle not
entirely sedentary (Akkermans, 2004). On the contrary, this is not conceivable for neolithic
pre-ceramics communities according to the previous arguments.
On the other hand, also new evidences related to a greater organization of space within the
settlements and houses suggest the development of model life more distant than the EpiPalaeolithic communities.
For these reasons it is rational to assume that the same social organization of these
communities was changing, becoming more articulated and complex, although the various
forms of social and cultural hierarchy were not yet so much developed. As has been
highlighted by Renato Peroni with respect for the archaeological cultures of the Age of Metals
(2004), the increasing articulation in social hierarchy is typical of societies that begin to
accumulate "wealth" in the form of economic surplus. Up to a certain extent it is possible to
assume that at the beginning of that process, the economic surplus could have been
characterized by foodstuffs. Communities could have been developed strategies to manage
foodstuffs surplus, increasing the degree of inner society articulation and specialization.
However, it is difficult to apply this scheme just at the beginning of the Natufian “stage”.
Rather it becomes presumably more suitable for the subsequent period of the PPN societies. In
this regard, for instance, it is shown that in some sites of the PPN are present large silos useful
to preserve foodstuffs of various types (Belfer Cohen and Goring-Morris, 2011).
2.2.
Paleoenvironmetal data
In particular, the paleoenvironmental reconstruction carried out by the sequence of pollen
analysis shows a major increasing of forest cover and woodland towards higher latitude than
before and previously occupied by a peri-glacial environment (Dusar [et al.], 2011).
With respect to vegetation, in the early Holocen Artemisia-Chenopod open-steppe was
replaced by more tree-dominated landscape. In particular Pinus, deciduous oak, Juniperus,
Cedrus and Quercus are well documented (ob. cit.).
From the paleoclimatic point of view, the study of the oxygen isotopy of some speleothems,
also inside italian Alpine caves (McDermott, 2011), as well as the results of the Dead Sea
eustacism analysis, supports the hypothesis of a coeval increase in mean annual temperature.
Studies of oxygen and carbon isotopy performed on samples from Soreq Cave, Is rael, show an
increase in precipitation and temperature between 17 and 10 Ka BP.
Moreover the dendrology and the study of seasonal growth of the tree rings have suggested
an increase in precipitation too, linked to higher humidity and mild seasonal climate (Dusar [et
al.], 2011).
3.
DISCUSSION
As mentioned in the objectives section, the purpose of this paper is to formulate an
interpretative hypothesis about the reason for which agriculture -in the Mediterranean basin was born and developed in the Near East as the radiocarbon data show. To answer this
question it was necessary to collect as much data as possible concerning the Natufian culture,
in order to better contextualize the transition framework between the Paleolithic and
Mesolithic (see par. 1.1 and 1.4).
According to these purposes, in comparing the above data with the known evidence about the
societies in the European Upper Paleolithic, it is possible to deduce interesting observations.
Firstly, the archaeological evidence relating to the settlement patterns and to the
structural typologies of Natufian societies displays significant differences as compared to
those of the Upper Paleolithic. In this regard, data suggest that during the Holocene , the postpaleolithic communities in the Levant became more sedentary, for a combination of factors
mainly related to the environment, to the type of available resources and to the climate. The
semi-sedentary lifestyle typical of natufian populations had resulted in an increasing
necessity to organize the space inside the settlement in a more articulate one, with a
particular regard to the performance of daily activities.
The semi-sedentary process affecting the Natufian societies could possibly be interpreted also
according to some data of funerary habits.
As written before, the funerary data show an increase in buring practice.With respect to the
paleolithic times it is notable, hence, an important difference.
In this perspective, the paleolithic burials were not so generalized. On the contrary the
funerary habit were presumably strictly related to the exceptionality of the buried body.
Archaeological evidences show to much young or old individuals, as well as particular cases of
individuals affected by diseases. Important burials assemblages are not indeed documented,
neither characterized by multi-depositional events nor by a complete age and sexual-ranges.
On the other hand, the Natufian burials close to the houses may represent the witnesses of a
transitional phase in which the underworld starte d to be more related to the “domestic”
context rather than to the natural environmet.
0369 |
According to this, the data seem to suggest a different relation between man, culture and
environment. The natural features start to be trasformed and molded according to new
specific cultural traits. Beside this, the community appeares to be more stable and linked to its
territory.
These observations may presumably lead to hypothesize a formal conjuction among the
incipient sedentarism and some traits correlated with the appearence of that “domestic”
ideology, previously claimed.
Even if some hunters-gatherers societies’ traits are still present, new features related to the
“immaterial world” start to appear.
However, as previously noticed, during this period there is still a lack of evidence attesting the
articulation of space inside the residential nucleus. Moreover, despite the presence of tools
linked to the exploitation of the plants, the large vessels of the PPN – used to accumulate the
surplus – have not been found. Both data suggest that the changes occurred in
the Natufian society had not yet deeply affected the substrate of the socio-economical
organization of communities. On the other hand observing the further archaeological evidence
relating in particular to the artistic expressions, the comparison between the great vitality of
the Upper Paleolithic cultures and the Natufian is obvious and legitimate.
According to this, it is plausible to imagine that the social organization of the last Upper
Paleolithic cultures and of the Natufian ones was not so different. For this reason, it would
be possible
to
ascribe the model
developed
by Wobst also to
the
early
Epipaleolithic and Mesolithic societies of the Near East.
According to Wobst, relations between hunter-gatherers, to support and maintain a band even
in times of difficulty, took place within a complex hexagonal network consisting
of various tribal units, up to a maximum of 19 units and a minimum of 7 . The basin was
widespread and covered a distance that forced the several groups to move significantly in
order to practice their meetings. In light of the paleoenvironmental data for the last glacial
period, the Wobst model provides an optimal explanation for the adaptive success of the
Upper Paleolithic great cultures. The Natufian society might have had a similar
organization, based on the same model of networks mating, as suggested by the artifacts and
ornaments found in the settlements, which could be interpreted as exchange items rather
than accumulation of "wealth".
The idea of a "Neolithic Revolution" does not fit well with this observations, since it was
noticed a sort of continuity between the Paleolithic period, the Mesolithic and Neolithic ones.
The archaeological evidences shown up to now seem to support this idea indeed. By this is
possible and legitimate to discard this type of interpretation for the birth of a new system
based on subsistence production, at least in the Near East. The Childe’s theory seems to
appear, especially in this new depicted archaeological evidences framework, too much
“manichean”. From this point of view it is much reasonable and suitable with the new data to
observe the dialectic inside the Neolithic Process. It does not fit well with an appearently
abrupt transformation, rather with a long process idea.
The interpretation of Bar Yosef and Belfer Cohen about the end of the Natufian society,
however, is based on the combination of several factors, first of all, that related to population
growth and environmental factors. However, the pattern called "revolutionary" could contrast
with the idea that Upper Paleolithic and Natufian cultures may be based on the same
hexagonal network mating, since exogamy practiced within the network would ease the
burden of population pressure. Consequently, there are two alternatives:
• To accept the hypothesis of Belfer Cohen and Bar Yosef, denying the possibility of the
existence of a mating network equal to that of Paleolithic societies re -interpreting
archaeological data.
• Try to accept the possibility of a Natufian mating network.
To resolve this issue you can imagine a “third way”, which excludes, however, population
growth as the main factor. The archaeological evidences regarding the PPNA and PPNB,
indeed, seem to support this idea since a significant population growth is particularly
pronounced after the end of natufian cultures (see data above).
As shown by the paleoenvironmental evidences, the climatic changed conditions have led to a
woodland increase in the area. Consequently, the open areas, grasslands and the "mammoth
steppe" landscape, typical of the LGM, consistently decreased or completely disappeared.
Furthermore archaeological evidences show that the Natufian society was definitely semisedentary and that each tribe amounted to a number of individuals higher than that of the
paleolithic bands – as the high number of funeraries depositions in some sites seem to
suggest. Assuming that these populations were still organized according to a similar pattern to
that proposed by Wobst for Upper Paleolithic society, it is reasonable to suppose, however,
that the displacements used to maintain the interrelationships between human groups were
not favored because of environmental changing and socio-demographic conditions. In
addition, the incipient process of ideologisation regarding the funerary habits may have
introduced other elements of discordance inside segments of the communities, s ince the
process could have further reduced the mobility of the groups. To sum up, the groups could
not move freely, limited by new type of both natural and cultural constraints, so that the
interrelationships between groups could have been easily stopped – as the decrease in
intensity of the artistic manifestations of the Final Natufian seems to suggest it. In this
perspective, the old hexagonal network was no longer able to support the communities in
times of needs.
The interruption of the relations between one community and another would have led to the
extinction of exogamy as an outlet for population growth. In this respect, therefore, it could
still argue that the increase in population has caused the collapse of society Natufian.
However, it is imperative to confirm that in this scheme of interpretation, it plays a secondary
role compared to the incisiveness of the sociological model, roughly catalyst.
4.
CONCLUSION
These data suggest that the end of Natufian cultures, featured with a still hybrid system of
subsistence, could be
related to
the
interaction between
three
fundamental factors: remarkable environmental changes occurred during a period
characterized either by the stasis of the social patterns or by incipient phenomena of
ideological development, as demonstrated respectively by the Wobst’s model and by the
presence of the first funerary areas as an inner part of some settlement.
Consequently, it is reasonable to assume that the birth of a new system of
subsistence linked the production, domestication and then cultivation of plants may be the
result of the “advent” of a new type of social interrelations, born as the product of the
"failure" of Natufian societies. According to this interpretation it is reasonable to imagine that
the new type of social pattern could have been able to solve the dialectics among the
environment, the social stasis and the incipient ideological development. Such a
0371 |
supposition implies therefore that the Mesolithic populations and those
the PPNA and PPNB are more or less, and with some exceptions, the same.
ones of
The archaeological data relating to material culture, to the models of diachronic
development of settlements, and to the typology of structures, moreover, seem to support
this conjecture (see above). Furthermore, the data for a new and more complex
organization of space allow to hypothesize an ongoing reorganization of the community
occurred toward the end of the Natufian society, based on new relationships and new kinds
of constraints, not just between one community and another, but also within the same
community. The impoverishment of artistic tradition, in this context, it is not surprising. On the
contrary, the decrease of objects or ornaments with an intrinsic value, which – for
thousands of years – had been the mobile media for the exchange of information and ideas
within the networks mating (Gamble, 1982), may be the result of this new period of complete
reorganization of the societies.
From a sociological point of view it is possible to hypothesize a model, similar to Wobst's,
consisting of a network with no "large" but quite “smaller” meshes. This could have
made possible a wider coverage of inter-tribal areas, despite a further reduction of the
space in which to move. On the one hand, therefore, human groups forced themselves to
become more sedentary; on the other, they might have kept in touch more easily in order not
only to face successfully of the periods of food crisis as in the past, but also to establish new
mechanisms for solving socio-cultural conflicts inside or outside the communities. In
conclusion, the whole scheme of interpretation seems to suggest:
I.
Natufian cultures maintained the same social model of populations of huntergatherers of the Upper Paleolithic, and are closely related to the development of
cultures of PPNA and PPNB. Therefore, at least in the Middle East, it is possible to notice a slow
process from a subsistence system to another.
II.
The end of the Natufian society is related to the interaction between climate change,
stasis of the social model and incipient ideological development of the funerary
habits. The demographic increase would not affect decisively and directly on it. On the
contrary it may be considered a secondary product.
III.
The emergence of Agriculture is linked to the adoption of a new model of social
organization: a new mating network within a given environment.
IV.
Finally, this interpretation suggests that the new pre-ceramic Neolithic cultures did not
choose to practice a new system of subsistence. Instead, they were "forced" to search for
it and “tailor” it to new social and cultural environment.
This interpretive scheme prevents both the so-called Environmental and the Cultural
Determinism. It is rather a dialectical process that, once implemented, it had
become irreversible.
For what reason, we wonder, in certain parts of the world the system based on hunting and
gathering was abandoned ? Was it laborious and energy wasteful ? The ethnographic
and archaeological data have always been demonstrating the opposite (Sahalins 1980)
and, even today, there are still places where nomadic or semi-nomadic populations practice
hunting and gathering. Therefore the origins of Agriculture, in certain parts of the
world, seems to respond to specific constraints occurring in specific places and times.
References:
ABBE`S, F. (2008) – Wadi tumbaq 1: a khiamian occupation in the bal’as mountains. Neo-lithics
1:8, p. 3–9.
AKKERMANS, M.M.G. (2004) – Hunter-gatherer continuity: the transition from the
Epipaleolithic to the Neolithic in Syria. In AURENCHE, O. [et al.], eds. lits. – From the River to
the Sea, (2004). Oxford: B.A.R., p. 281-293. (BAR International Series).
AMMERMAN , J.; CAVALLI SFORZA, L. L. 1984 – La transizione neolitica e la genetica di
popolazioni in europa. Torino: Boringheri.
BAR-YOSEF, O.; GOREN, N. (1973) – Natufian Remains in Hayonim Cave. Paléorient. 1: p. 49-68.
BAR-YOSEF, O.; BELFER-COHEN A. (1992) – From Foraging to Farming in the
Mediterranean Levant. In GEBAUER, A. B. E PRICE, T. D., eds. lits. – The Transition to
Agriculture, (1992). Ann Arbor: International Monographs in Prehistory p. 21-48.
BELFER COHEN, A. (1991) – The Natufian in the Levant. Annual Review of Anthropology. 20: p.
167-186
BELFER-COHEN, A.; GORING-MORRIS, A. N. (2011) – Becoming farmers: the inside story.
Current Anthropology. 52: p. 209–220.
BINFORD, L. R., (1968) – Post-Pleistocene adaptations. In BINFORD, S. R. E BINFORD, L. R., eds.
lits. - New perspectives in Archaeology. Chicago: Aldine, p. 313-341.
BYRD, B. (1989) – Excavation at Beidha. 1. the Natufian Encampment at Beidha.
BRAIDWOOD , R. (1979) – The agricultural revolution. In LAMBERG- KARLOSKY, C.C.., ed. lit Hunter, Farmers and Civilazation: Old World Archaeology.
CAUVIN, J. (1974) – Troisième champagne de fouilles à Tell Mureybet (Syrie) en 1974. Rapport
Préliminaire. Annales Archéologique Arabe Syriennes. 24: p.47-58.
CLARK, G. (1977) – World Prehistory in New Perspectives. Cambridge: Cambridge University
Press.
COHEN, M. N. (1975) – Archaeological evidence for population pressure in pre -agricultural
Societies. American Antiquity. 40: p. 471-475.
DE GROSSI MAZZORIN, J. (2008) – Archeozoologia: lo studio dei resti animali in archeologia.
Bari: Laterza.
DUSAR, B. [et al.] ( 2011) – Holocene environmental change and its impat on sediment
Dynamics in the eastern Mediterranea. Earth Science Review. 108: p. 137-157.
FLANNERY K. (1973) – The Origins of Agriculture. Annual Review of Anthropology. 2: p. 271310.
GAMBLE, C. (1982) – Interaction and Alliance in Palaeolithic Society. Man. 17: p. 92-107.
GARROD, D. A. E. (1932) – A New Mesolithic Industry: the Natufian of Palestine. Journal of the
Royal anthropological Institute. 62: p. 257-69 40.
GARROD, D. A. E. (1957) – The Natufian culture: the life and economy of a Mesolithic people in
the Near East. Proceedings of the British Academy. 43: p. 211-27.
GIUSTI, F. (1996) – La nascita dell’Agricoltura: Aree, tipologie e modelli. Roma: Donzelli editore.
GROSMAN, L. [et al.] (2005) – The Natufian Occupation of Nahal Oren, Mt. Carmel, Israel – The
Lithic Evidence. Paléorient. 31: p. 5-26.
HENRY, D. O. (1989) – From foraging to agriculture: the Levant at the end of the Ice Age.
Philadelphia: University of Pennsylvania Press.
KIRKBRIDE, D. (1966) – Five seasons at the Pre-Pottery Neolithic village of Beidha. Palestine
Exploration Quarterly. 98: p.8-72.
MARTINI, F. (2008) – Archeologia del Paleolitico. Roma: Carocci editore.
MAZUROWSKI , R.; JAMOUS , B. (2001) – Tell Qaramel: excavations 2000. Polish Archaeology in the
Mediterranean. 12: p. 327–341.
MCDERMOTT, F. [et al.] (2011) – A first evaluation of the spatial gradients in δ18O recorded by
European Holocene speleothems. Global and Planetary Change. 79: p. 275–287.
0373 |
OLSZEWSKI, D. I. (1989) – Tool blank selection, debitage and cores from Abu Hureyra
1,Northern Syria. Paléorient. 15: p. 29-37.
OOSTERBEEK, L. (1997) – Echoes from the East: the Western Network, North Ribatejo (Portugal)
an insight to unequal and combined development, 7000-2000 B.C. London: University of
London. PhD dissertation.
OTTE, M. (2009) – The Paleolithic-Mesolithic transition. In CAMPS, M. (ed. lit.) – Sourcebook of
Paleolithic transitions. New York: Springer, p. 537-553.
PERONI, R. (1998) – Introduzione alla Protostoria italiana. Bari: Laterza.
PERONI, R. (2004) – L’Italia alle soglie della Storia. Bari: Laterza.
SAHLINS, M. (1980) – L' economia dell’età della pietra : scarsità e abbondanza nelle società
primitive. Milano: Bompiani.
SERVICE E., (1962) – Primitive Social Organization: An Evolutionary Perspective
WHITTLE, A. (1985) – Neolithic Europe. A survey. Cambridge: Cambridge University Press.
STORDEUR, D. (2004) – “Small finds and poor babies”. Quelques objects “divers” du
mureybetien de Jerf el Ahmar. In AURENCHE, O. [et al.] ( EDS . LITS .) – From the River to the Sea.
Oxford: B.A.R., p 309-322. (BAR International Series).
WOBST, M.H. (1974) – Boundary conditions for Paleolithic Social System: a simulational
Approach. American Antiquity. 39: p. 147-178.
ARCHAEOLOGY OF THE PRESENT.
COMPARING EXPERIENCES AND PROPOSAL FOR A MODEL
OF SOCIAL DEVELOPMENT
Francesco Garbasi
Università di Ferrara,
Dipartimento di Studi Umanistici,
via Ercole I d’Este, 32 – 44121 Ferrara.
E-mail: [email protected]
Matteo Cantisani
Museu de Arte Pré-Histórica e do Sagrado do Vale do Tejo,
Instituto Terra e Memória,
Largo Infante D. Henrique 6120-750 Mação- Portugal)
E-mail: [email protected]
0375 |
Archaeology of the present.
Comparing experiences and proposal for a model of
social development
Francesco Garbasi e Matteo Cantisani
Resumo:
Através da observação dos problemas na gestão e valorização do património artístico na Itália,
um projecto independente em matéria de promoção cultural e de investigação nasceu na área
que inclui as províncias de Reggio Emilia e Parma (Emilia-Romagna, Itália). O grupo que
promove a empresa elaborou um sistema virtuoso que visa envolver uma grande parte da
sociedade e das instituições que protegem os bens. Os objectivos do projecto são trazer uma
ajuda para o crescimento económico e cultural da área escolhida. Como resultado, nós
queremos transformar arqueólogos em um recurso capaz de descobrir as capacidades mais
adequadas e estratégias para promover o território. Depois de uma breve descrição da
situação italiana e como intervir para melhorá-lo, o projecto, que estamos trabalhando, será
exposto.
Palavras-chave: arqueologia, desenvolvimento, valorização, didáctica, investigação.
Abstract
Through the observation of the problems in the administration and valorization of the artistic
patrimony in Italy, an independent project regarding cultural promotion and research was
born in the area that includes the provinces of Reggio Emilia and Parma (Emilia-Romagna,
Italy). The group promoting the enterprise worked out a virtuous system which aims to involve
a great part of the society and institutions that protect the assets. The project aims are to bring
a help to economic and cultural growth of the chosen area. As a result, we want to turn
archeologists into a resource able to figure out the most suitable capacities and strategies to
promote the territory. After a short description of the Italian situation and how to intervene to
improve it, the project, which we are working on, will be exposed.
Key words: archeology, development, valorization, didactics, research.
1.
INTRODUCTION AND ISSUES FRAMEWORK
The contemporary western society is going through a strong period of crisis that strikes across
various fields. As the periodic reports of various watchdog agencies – including the IMF and
Eurostat-have repeatedly pointed out, the financial and economic crisis has led to a general
increase of poverty causing the onset of a significant social and political crisis.
The guidelines promoted by the UNESCO General Conference held in Paris in 1972, have
already identified the close relationship between the promotion of cultural heritage and
economic development of nations.
In this perspective, the economic and financial crisis that began in 2007 could therefore be a
challenging test case for the implementation of the principles of the Conference of ' 72.
Italy could become a model country if the politics had adopted innovative development plans,
according to the purposes expressed by the General Conference, especially given the huge
potential of its historical and archaeological heritage.
Unfortunately, many negative exempla are under the eyes of all. The best-known is probably
the one of the Vesuvian city of Pompeii. Striking cases – occurred in the past few years – of
failure or of insufficient compliance with the principles of Protection and Preservation, so
diligently expressed in the articles three, four and five of the Cultural Heritage Code, show a
very low political sensitivity towards the cultural sector.
What happened is symptomatic of a crisis unfortunately perceived only by the "insiders", since
its meaning loos normally significance in front of the ordinary “cultural beneficiary”. It usually
happens because of the interpretation of data on the public use of cultural heritage, which
shows no decline.
However, the framework briefly presented describes a general situation very complex in which
accessibility and public enjoyment of the cultural heritage represents only one side of the coin.
The other problem is, indeed, related to protection and preservation of the asset.
The Cultural and Environmental Heritage Code specifies in the articles four and five which
institutions are directly involved in protection. Firstly the State, with the help of the regional
superintendents, shall endeavor to coordinate the above activities at national level.
As the case of Pompeii demonstrated, the principles of the Code are not always respected.
The specific causes go beyond the object of this essay but the different events briefly resumed
allow producing some introductory remarks.
First, in Italy there are archaeological sites very large, complex and really difficult to manage.
Secondly, the numerous archaeological remains of different types scattered all over the
territory, are often not easily accessible, either by the public or by the operators.
The idea of creating Regional Superintendents was partly inspired by these considerations as
the principle of homogenization was the legislative basis for the creation of the Code
mentioned above.
Despite the good intentions, the question appears to remain for the time being, however, not
entirely solved and it seems to suggest not so much the inadequacy of legislative measures –
even less of the Code principles – but rather a certain difficulty in their implementation.
The failure to exercise the operations of survey, protection and preservation affects both the
ability and quality of scientific research and the activities of promotion. Stores and Antiquaria
represents corresponding examples. They are usually filled with an alarming amount of
archaeological materials. Since the operation of protection and conservation – preliminary and
fundamental to the maintenance of the heritage – is often insufficient, scholars and
researchers cannot afford to conduct a study of the findings. Consequently the accumulation
0377 |
of material, not properly managed, ends up being – in some cases – unmanageable. The result
is the blockade of the research in the area, which makes the operators incapable of promoting
any kind of local developments.
All this leads to the detriment not only of scientific knowledge but also of the development
opportunities of the local societies. In addition it affects the employment crisis too, causing the
detriment of all the professionals of the sector.
What has been argued so far, suggests that the impasse conditions observed at the national
level are also penalizing both local initiative and societies.
According to the previous data, the primary cause may presumably be the generalized lack of
true synergy between State, local authorities and other public or private organizations like
archaeological groups and Archeoclubs and – above all – the most penalized one, the local
communities.
The lack of synergy is due to the lacking of coordination at the local level, the lacking of
internal organization and, often, the lacking of appropriate skills.
In this perspective and as the "state of the art" seems to suggest, we think it would be
appropriate to devise new organic projects, capable to engage all the institutions in a virtuous
symbiosis for developing the social, cultural and economic life of the community (see the
model proposed and shown schematically in Figure 1).
Based on some personal experiences, considered successful, an innovative strategy has been
developed. It could help, in time of crisis, not only to restore the cultural heritage to the
citizens, but also to develop the concept of economic value of cultural heritage.
2.
SOME DATA: A POSITIVE EXPERIENCE
The Department of Archaeological Science at “La Sapienza” University of Rome conducted in
the month of July 2012 a series of surveys in the vicinity of the pre -Roman site of Alfedena
(L'Aquila province, Abruzzo –Italy) (Mariani, 1901; Parise Badoni e Ruggeri, 1980; Papa, 1988).
The School of Arts and Crafts Nicola Zabaglia of Rome has collaborated too.
The research, headed by the chairman of European Proto-history, gave the chance to have
access to materials discovered both in the nineteenth century excavations and in late
twentieth century, preserved in the local museum and in the stores of the town.
It was then possible to update and complete most of the previous archaeological
documentation through a photographic campaign. The preliminary observation of some
physical characteristics conducted on materials has permitted subsequently to set up future
plans for more detailed study of the findings.
Finally, the re-opening of the museum to the public allowed the organization of educational
and entertainment activities for children, related to the more popular branch of experimental
archeology.
Based on the above mentioned remarks, it is quite clear that the set of activities has made
possible a first approach to the study of materials and the updating of knowledge through the
cataloging. Hence, this represents a continuation of the research interrupted at least in the 80s
of the last century, despite the enormous potential of the archaeological site of Alfedena.
As we can see, the underlying principle of the project consists in having wanted to implement
a dialectical process in which the operators, the activities listed above and all the local
community - involved thanks to the reopening of a museum space not always exploited- have
found mutual interest and stimulus for obtaining common goals.
Inspired either by this experience (Marangoni e Girotto, 2012; Cardarelli, 2004) or the Code,
whose fundamental concepts reflect the importance of the cultural heritage for the society;
we have developed a model of intervention applicable to any territory.
In particular, the project is going to involve the promotion, protection and the local fruition of
the cultural heritage in Canossa, S. Polo d’Enza and Neviano degli Arduini (Emilia-Romagna,
Italy).
3.
THE INTERVENTION PATTERN
The development of the model was born under the stimulus of the following questions:
What are the necessary means to build a long-lasting protection of the local archaeological
heritage?
How they can become part of the local cultural consciousness?
As the difficulty of the State in the management of the immense archaeological heritage and
the difficulty of organizing scientific research outside of academic circles are evident, it may be
useful to think about the need to structure other pattern of intervention, such as creating
groups capable of contributing in both the areas, even in close col laboration with government
agencies.
Firstly, the action of enhancement and protection should develop within the local social
context, involving the inhabitants of the areas where archaeological and historical heritage
stand out.
A preferred way consists of introducing qualified personnel inside a local cultural group in
order to renew action strategies or create new ones. Especially in the first case the advantage
of a strong local rooting could facilitates dialogue between the community and the
representatives of the municipalities.
Qualified personnel will be responsible to communicate directly with the Superintendence for
Archaeological Heritage and with universities.
The research projects, at least at the beginning, should be developed according to lo cal issues
whose effectiveness may be recognized directly by the inhabitants – for example by studying
ancient crafts still practiced or ancient building techniques used until recent years in rural
areas.
One must not overlook the involvement of productive activities.
Indeed, they are usually closely linked to the territory representing therefore a deep cultural
value as well as a real potential for the local economic development. Athwart an appropriate
enhancement of the crafting knowledge would be possible either to develop local economics
or the acquisition, by the person who leads the research, of specific skills that would expand
his/her analytic capacity.
0379 |
The archaeologist, capable of a deep examination of the complex relationship between man
and environment, owns the proper tools to evaluate the possibility of intervention in each
territory and, thanks to other specialists in fields such as economics and marketing, to carry
out projects useful to the cultural and economic growth of different territori al areas.
The self-sustainability of these projects will be related especially to didactics activities and
tourist guide services, which, together with municipal subsidies, enrollments and other
donations or participations in specific projects, will ensure the continuity of activities.
In addition, agreements between the Superintendent and universities, who has recognized the
value of the initiative, can also support the research activities by providing the Group with
scientific skills and sometimes with appropriates labs facilities.
In this basic model (Figure 1), applicable to any territory, the two pillars are therefore:
Social involvement (guided tours, educational projects with artisans), essential for lasting
protection;
research.
Figure 1: The red lines, in the diagram, show how a local cultural group, can establish links and contacts between the three most
important institutions for protection, development and research. Next step, which is indicated by blue lines, is to reach a c ommon
agreement, between the three different institutions. Once we have this system map, the cultural group, will have to involve
society in making good projects in order to discuss about archeological and historical sites that can get common people’s att ention
and curiosity (the double arrows indicate the ongoing and everlasting exchange that we want to create between local community
and everything else is outside). If this system works, we could also plan research programs without costs for researchers.
The implementation model proposed: Canossa, S. Polo d’Enza and Neviano degli Arduini
municipalities (Emilia-Romagna, Italy).
In the year 2012 a group of eight specialists in the field of Archeology and two in History of Art
has been made up. After establishing a sharing of intents, a field area located between the
provinces of Parma and Reggio Emilia (Emilia-Romagna, Italy) was chosen, according to several
criteria:
Next opening to the public of an archaeological site from Roman times;
Presence of innumerous archaeological evidence from the Middle Paleolithic to the
Renaissance;
Special attention to alternative educational programs to those traditional;
Interest of public administrations for the exploitation of its territory.
Identified the area of intervention, it was decided to operate via the local Archaeological
Group of volunteers called Vea and no longer active for some years, in order to have a legal
and social recognition, as well as in close cooperation with the Group of Amici di Luceria
animated by related pursues.
The area of intervention involves two municipalities in the province of Reggio Emilia (Canossa
and S. Polo d'Enza) and one in the province of Parma (Neviano degli Arduini). The involvement
of the two provinces is related both to the opportunity to interact with different public bodies
and "unite" the two territories historically divided (though neighboring).
To achieve its objectives, namely to stimulate cultural and economic growth, we have analyzed
in detail the problems and potential for development.
The analysis has shown that all three have common problems of an aging population, social
isolation of many older people, youth unemployment and depopulation in the winter months.
However it was noted that the problems are accentuated in the municipality of Neviano,
farther from city centers and consisting of numerous small fractions.
However, positive actions such as the Oasi Biologica Nevianese were carried out, which is
actually developing an interesting local market while specialists are recording in the territory a
positive trend of slight population growth.
The economic basis of all three municipalities consists mainly in agriculture and livestock
followed by crafts and small industries.
The complexity of the problems makes clear the impossibili ty of decisive action.
However, it is still possible to stimulate the improvement of the situation through some ideas.
The Vea Group will ensure a high quality service at the Archaeological Park of Luceria (figure
2), offering educational programs related to local history and archeology, jointly involving
children and elderly in craft activities and experimental archeology (as regards the
archaeological area of Luceria see: Malnati [et al.], 1990; Patroncini, 1994; Lippolis, 1998).
0381 |
Figure 2: Roman road of Luceria Archaeological Park.
Photo by the author.
These simple steps, if done regularly, will attract more tourists and will foster the economy,
will form young people with a strong sense of cultural belonging and will allow the pursuit of
careful land management and generate greater entrenchment.
Moreover, the joint involvement of craftsmen (figure 3), school children and elderly people will
decrease the feeling of social exclusion of the latter.
Figure 3: Mr. Albertino Albertini while forging a trowel.
Photo by the author.
The research, however, will be carried out with the support of the Superintendence for
Archaeological Heritage of Emilia-Romagna (thanks to the availability of dr. M. Podini) and the
involvement of the Department of Humanities, Section of History and Classical Studies of
'University of Ferrara (thanks to the availability of the teacher of Classical Archaeology prof. J.
Ortalli).
The research subjects will be chosen according to some peculiarities of the territory.
0383 |
Since agriculture is the activity largely predominant, and an archaeological park with structures
of the Roman era is about to be inaugurated, it was decided to structure a project on Roman
agricultural technologies (in collaboration with the Instituto Terra e Memória in Macao,
Portugal).
The Vea Group may use part of the money arising from the offerings derived from educational
services, tourist guides, available publications, donations and proceeds of enrollments, as
refund for researchers (equipment costs and fuel).
4.
SOME CONCLUSIONS
This work aims to show how a project, appropriately constituted, could lead to important
results both from a social point of view and from the scientific one. The symbiotic
collaboration between multiple agencies, institutions and local communities ensures and
enforces the quality of the work, optimizes the cost of its production and provides a wide
dissemination of the results.
The social importance of the project and the relative simplicity of the pattern’s struct ure
should encourage other researchers to realize similar projects in Italy or in other states, which
could work closely with the Archaeological Group Vea, creating an international network for
the sharing of ideas, experiences and scientific data.
References
CARDARELLI, A. (2004) - Parco Archeologico e Museo all’aperto della Terramara di Montale.
Modena: Museo.
LIPPOLIS, E. (1998) - Nuceria. In FARIOLI, R.C., eds. lits.- XLIII Corso di Cultura sull’Arte
Ravennate e Bizantina. Ravenna: Edizioni de Girasole. p. 401-428.
MALNATI, L. [et al.] (1990) - Gli scavi di Ciano d’Enza (RE) 1983-1985 e il problema del rapporto
tra Liguri e Romani. In REBECCHI, F., lit.- Miscellanea di Studi Archeologici e di Antichità 3.
Modena: Aedes muratoriana. p. 75-103.
MARANGONI, G.; GIROTTO D. (2012) - Un approccio integrato alla gestione del patrimonio.
Evoluzione, campi operativi, governante di un’impresa culturale. In PERETTO, C., lit. - Annali
dell’Università degli studi di Ferrara. Ferrara: Università degli studi di Ferrara. p. 45-48.
MARIANI, L. (1901) - Aufidena: ricerche storiche ed archeologiche nel Sannio settentrionale.
Roma: Accademia nazionale dei Lincei.
PAPA, R. (1988) - La necropoli di Alfedena e la via d’acqua del Sangro. Civitella Alfedena, p.
137-163. Atti del I Convegno nazionale d’archeologia.
PARISE BADONI, F.; M. RUGGERI GIOVE (1980) - Alfedena, la necropoli di Campo Consolino:
scavi 1974-1979. Chieti: Athenaeum 63.
PATRONCINI, L. (1994) - Luceria d’Enza. Insediamento ligure-romano nel territorio di Canossa,
Reggio Emilia: Associazione Industriali.
0385 |