em busca de historias
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em busca de historias
DESIGN & TENDENCIAS Bastou uma olimpíada Uma Olimpíada em Pequim, em 2008, mobiliário, como Sergio Rodrigues e outros, é talvez o mais intangível, e, e uma Feira Mundial em Xangai, em os Campana, ou das artes plásticas, em boa parte dos casos, é contratado 2010, mudaram a maneira como os como o pintor Romero Britto e pelo seu usuário final, tornando-se chineses se relacionam com o mundo OsGemeos. Mas não com design mais difícil de ser comprado. e vice-versa; e isso é um alerta para gráfico. É isso que entidades de classe nós. Basta ver como nos últimos anos como a ADG Brasil, Abedesign e SIB, Xangai e Pequim se tornaram cenários e órgãos como a Apex e o Itamaraty de blockbusters de ação como vêm, a duras penas, buscando 007 Skyfall, Karatê Kid, a terceira entender como fazer. continuação de Missão Impossível e A Destino, de 2009, dirigido por Moacyr Góes e estrelado por Lucélia Santos. Nossa Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas cariocas de 2016 parecem já produzir o mesmo efeito, com o quinto Velozes e Furiosos, O Incrível Hulk, Os Mercenários, um daqueles filmes (quem se importa?) da saga Crepúsculo, e a animação Rio, de Carlos Saldanha. Isso só para citar os mais rentáveis. De forma semelhante, o mundo vem fazendo contato com a produção Por não saber direito aonde olhar ou como focar, boa parte dos programas e bem intencionadas ações, que promovem nosso design no exterior, acabam destacando apenas projetos de design com Da mesma forma que nunca se falou tanto em design no Brasil, nunca se mostrou tanto design gráfico brasileira de design gráfico, à medida resultados tangíveis, leia-se produtos. É o caso da bela e variadíssima em busca de historias exposição temática Design Brasileiro: Uma Mudança no Olhar, apresentada no final de 2007, no Palácio do Itamaraty, em Brasília. 65% da seleção de projetos de Então, nos conte a sua história? design brasileiros feitos para clientes POR FLÁVIA MENDONÇA estrangeiros, ou veiculados no exterior, era de design de vestuário, mobiliário, eletrodomésticos, automobilístico. Pouco mais de dez por cento eram projetos gráficos – de CDs, rótulos, revistas e sistemas de identidade visual – e o resto era que encontra interlocutores dispostos a A exportação de serviços, ou apresentar, contextualizar e diferenciar consultoria em design gráfico, requer “as artes gráficas brasileiras” do uma expertise e um modelo que restante da produção mundial. Essa norte-americanas, ilustrações extrapole a mensuração de metas é, no fundo, a essência de se levar o editoriais sem grandes alardes e que costuma ser proposta por design de qualquer país a outras terras. um belo curta animado. Apesar da órgãos governamentais. Quando qualidade de boa parte dos projetos São raros os profissionais brasileiros bem realizadas, feiras e rodadas gráficos expostos, não se tinha ali que reconhecem e diferenciam a de negócios podem ser bons um retrato do verdadeiro potencial produção de design dos diferentes instrumentos para a promoção e brasileiro de design visual. Da mesma países asiáticos, ou mesmo entre realização de negócios de design que forma que nunca se falou tanto em as nações latino-americanas. têm atrelado a produção de bens design no Brasil, nunca se mostrou Mundialmente falando, reconhecem- de consumo, comercializados para tanto design gráfico brasileiro fora se apenas nomes que atuam com terceiros. Apesar do design gráfico do Brasil. Falta apenas que se fale a grifes referenciais ou pontas de lança, estar obrigatoriamente em todos os língua certa: a que traga clientes. composto por quadrinhos para as principais editoras de super-heróis Fotos: Divulgção Maarten Schäfer e Anouk Pappers Múmia, e mesmo do drama brasileiro Pelo mundo afora abrindo caminho para que outros, com menos fôlego ou diferencial, possam ocupar algum espaço. Temos experiência nessa estratégia com músicos, jogadores de futebol e, mais recentemente, quadrinistas; até existem cases em design de bruno porto Bruno Porto é designer, educador e autor de textos e livros de design como Memórias Tipográficas e Vende-se Design. É Coordenador Geral da 10ª Bienal Brasileira de Design Gráfico, Coordenador Executivo da Bienal de Tipografia Latino-Americana Tipos Latinos e membro do Conselho Consultivo da Adegraf. Trabalhou e lecionou na China entre 2006-2012 e, atualmente, vive em Brasília, onde coordena o curso de Design Gráfico do Centro Universitário IESB. 48 49 Assim começa a investigação da um excesso de informações. Elas visita rendeu desde bate papos com mercado interno - o que não me dupla de holandeses, Maarten querem a sua história”, diz Schäfer Oskar Metsavah, Eike Batista, até a surpreende devido aos 200 milhões Schäfer e Anouk Pappers, que desde em entrevista para a abcDesign. participação na construção de casas de consumidores que vocês possuem. em favelas através da ONG Um Teto Além disso, acho que a grande holandesa foi perceber e apostar na Para Meu País, que também virou diferença entre marcas brasileiras importância do storytelling diante uma história contada no livro. e européias é que no Brasil ainda do novo cenário das corporações. “Na Europa nós só conhecíamos as existem muitas marcas cujo fundador Uma dinâmica que por muito tempo Havaianas. Em 2010 viemos para continua a ser quem a gerencia, ou seu cá procurar por histórias bacanas. filho, ou neto. Empresas familiares e Tem sido muito interessante. valores familiares são muito fortes nos Nós percebemos que as marcas negócios aqui, muito mais do que na aqui são muito orientadas para o Europa e nos EUA”, reflete Pappers. 2002 resolveu rodar o mundo para colher as histórias de marcas e pessoas que têm feito a diferença em seus segmentos. Contudo, não é apenas colher um monte de informação e dados sobre inovação e crescimento, a ideia dos dois é captar o lado humano das marcas, a visão pessoal e autêntica dos CEOs, fundadores e gerentes de comunicação, fugindo dos jargões marqueteiros e coorporativos. Na verdade, a grande sacada da dupla era tida como frívola e infantil, agora se tornou crucial para gerentes, departamentos de RH e toda sorte de comunicação empresarial. Aliás, não é a toa que eventos como TED ou TEDx “O nosso objetivo é baseado na certeza que existe um desejo de saber e uma necessidade de ser conhecido. ” Schäfer e PAPPERS fazem tanto sucesso. São eventos de contadores de histórias, de pessoas “As pessoas não querem que sobem num palco para dividir as informação, elas estão recebendo suas experiências e inspirar. >>E porque contar histórias virou algo tão poderoso? Segundo Steve Denning, consultor em liderança e inovação e autor do livro Em dez anos de storytelling, a dupla “The Leader’s Guide to Storytelling” (2011), contar histórias é uma espécie de já reuniu mais de 400 histórias brincadeira cognitiva capaz de transformar locais de trabalhos estéreis e chatos que são selecionadas e contadas em vigorosos centros de inspiração e criatividade – conceitos mais do que em edições anuais, além de serem necessários para a economia criativa do século 21. distribuídas numa network de mais Mas, voltando para a o tour de Schäfer e Pappers, há mais razões para que o conceito de storytelling interesse as empresas ao ponto de contratarem a dupla para contarem as suas histórias: “A empresa 3DAccountability, de Nova Iorque, fez uma pesquisa sobre a efetividade do storytelling e percebeu que o NPS® cresceu significativamente e continuou alto por seis semanas após a história sobre a marca ter sido contada (Net Promoter Score é uma categorização dos clientes, no caso, o Net Promoter é o cliente que é fiel á marca e capaz de influenciar os outros). Isso quer dizer que storytelling é capaz de influenciar as intenções de compra e a promoção do boca-a-boca entre as pessoas de uma forma positiva”, afirma Pappers. de 25 mil líderes de opinião. “O >>Marcas com propósito nosso objetivo é baseado na certeza Apesar das diferenças em relação ao mercado internacional, as marcas brasileiras que existe um desejo de saber e seguem a tendência mundial que virou a principal guia de referência na busca uma necessidade de ser conhecido. de Pappers e Schäfer por histórias interessantes: marcas com um propósito. Então nós trocamos conhecimento e informação entre marcas, pessoas de visão e líderes de opinião ao redor do mundo”, explica Pappers. um propósito antes de qualquer coisa. São justamente essas marcas que irão sobreviver, porque elas geram significados para seus consumidores”, explicam Pappers e Schäfer. Dentro desta perspectiva, eles acreditam que as empresas Dentre as marcas cujas histórias têm um papel fundamental em contribuir com a sociedade. Como exemplo, foram contadas estão as gigantes falam da campanha da OMO cujo propósito é mostrar para as mães que sujar do mercado como a Nespresso, faz bem ao desenvolvimento de seus filhos, ou da Cia aérea KLM que usou a General Electric e a Omo, assim como sua frota para levar computadores velhos para a África. “Essas são as histórias empresas menores, porém de grande que queremos contar”, diz. diferencial no mercado internacional, como as brasileiras Osklen e Melissa, a africana Deola Sagoe, entre outras. Em sua maioria, essas empresas estão focadas no que eles chamam de triple P: People, Planet and Profit (tradução - Pessoas, planeta e lucro). “Recentemente eu tenho percebido que há um crescente número de marcas Recentemente, Schäfer e Pappers que seguem esse trio de conceitos. Isso vai além da responsabilidade social estiveram no Brasil para lançar a coorporativa. Assuntos como sustentabilidade começam a fazer parte da última edição do seu livro CoolBrands: essência do negócio. Pessoas e o Planeta estão integrados na base do Around the World in 80 Brands, negócio, então o lucro depende destes conceitos. Um não sobrevive sem o em São Paulo e no Rio de Janeiro. outro e isso não é perfeito?” questiona Pappers. Além de divulgarem seu trabalho, a 50 “Storytelling é uma forma de vender seus produtos, mas as marcas devem ter “Sim, é perfeito”, respondo. E é daí que surgem as melhores histórias. 51 Imagens mostram a forma como os autores Schäfer e Pappers trabalharam o conteúdo de seu novo livro “CoolBrands: Around the World in 80 Brands”. >>A importância de um propósito “Marcas sem um propósito não terão um futuro no competitivo mercado atual”, disse Aline Santos, vice-presidente sênior mundial da OMO, ao contar a história e o propósito da OMO para dupla holandesa, dentro da Pinacoteca de São Paulo. O local foi escolhido por Santos, pois lá havia crianças brincando livremente >>Empresa verde nas árvores, uma ação que a OMO passou a promover como um propósito Enquanto Papppers e Schäfer estavam em Las Vegas, eles viram que Matt mundial e que provocou uma revolução no mercado de sabão em pó. Levatich, presidente e CEO da Harley-Davidson estava numa coletiva de “Deixem as crianças descobrirem o mundo, as deixem ficarem sujas que o imprensa a uma quadra do hotel que começava em menos de uma hora. OMO vai cuidar da sujeira”, disse Santos ao refletir como um produto virou Foram lá para ouvir de Levatich que a questão da sustentabilidade para a um veículo para espalhar uma mensagem educativa, que estimula as mães empresa era inerente a sua essência de sempre usarem produtos de excelente a promoverem o desenvolvimento intelectual dos seus filhos através das qualidade. “Eu te desafio a ver um produto da Harley-Davidson num ferro- brincadeiras sem preocupações com as roupas sujas no final. velho. Eles são altamente recicláveis” disse Levatich. Isso sem contar que o próprio conceito da marca que motiva motoqueiros a apreciarem as experiências da estrada, irem para locais selvagens e bonitos, já é um grande motivo para que a empresa se concentre nas questões da sustentabilidade. Na entrevista com Levatich, a dupla revela que mesmo a mais rebelde das marcas precisa preservar e proteger a natureza que incitam a ser descoberta. >>Lifestyle nations O livro chama a atenção pela maneira O encontro com Oskar Metsavaht, diretor criativo da diferente de contar as histórias das empresas. Osklen não poderia ter um cenário melhor: num café Longe da linguagem institucional, Schäfer em frente à praia. >> O valor da comunidade e Pappers trabalham com o conceito de Lá, a dupla entendeu que a potencialidade do narrativas elaboradas e misturam seu Brasil deve ser explorada de forma que o conceito caderninho de viagens com entrevistas que de sustentabilidade seja visto como algo cool e Num passeio pelas ruas repletas de história de Lausanne, a segunda maior cidade ao redor do lago mais parecem bate-papos entre amigos. Além aspiracional. Algo que fomente o desejo das pessoas, assim como uma marca de luxo o faz. do livro, o projeto consiste em semear essas histórias através das redes sociais, palestras e o diretor de comunicações coorporativas da Nespresso, Além do desenvolvimento de projetos através >>Desafio pela saúde Hans-Joachim Richter. do e-brigade (organização criada por Oskar para Entre um calórico café e outro do Starbucks, Schäfer se meteu na conversa desenvolver e pesquisar materiais que sejam sobre gastos calóricos de um grupo de executivos e descobriu que eles faziam sustentáveis e promovê-los a partir do design), o mais parte do programa Healthymagination, da empresa General Electric. Inclusive, importante para o estilista é fazer da sustentabilidade lá estava a gerente do programa que dispõe de seis bilhões de dólares para “a cool way of life”, diz Oskar para complementar que investir na melhoria da saúde através de P&D para lançar ao menos 100 “o mundo está mudando. Daqui a pouco o local de inovações que diminuam os custos com saúde e aumentem o acesso a onde você vem será irrelevante, não haverá nações equipamentos e melhorem a qualidade em pelo menos 15% até 2015. Genebra, na Suíça, Pappers e Schäffer encontraram com Além de relembrarem algumas histórias já contadas por Richter, a dupla ouviu a história de como a Nespresso construiu a comunidade de sua marca e da importância desta para o negócio como um todo e não apenas como uma estratégia de marketing. workshops. “Nossos membros do Clube Nespresso viraram geográficas e no seu lugar está surgindo as nações de embaixadores da marca e mais da metade dos novos lifestyle, ou seja, pessoas pelo mundo que se conectam membros experimentam Nespresso pela primeira vez baseadas em ideias e atitudes. Não importará onde através dessas pessoas. Você deve ter em mente que você nasceu ou vive, o lifestyle que você possui o a comunidade da marca existe, em primeiro lugar, conectará com seus pares. Eu quero fazer parte de um “Nós acreditamos que as marcas devem ter um propósito. Que papel uma para servir as pessoas na comunidade”, diz Richter ao lifestyle nation sustentável e quero me certificar que marca tem na vida das pessoas, na sociedade? O propósito da GR, através do exemplificar que foram os membros do Clube Nespresso será um lugar ótimo para se estar”, diz Oskar. programa healthymagination, é prover um sistema de saúde mais acessível E por que a GE se preocuparia com uma causa dessas, além do fato de manter uma boa reputação? Indagou Pappers para obter a resposta que, de certa forma, molda a nova estrutura das organizações de sucesso hoje: quem escolheram George Clooney para representar a e melhor. Estamos convencidos que podemos fazer coisas incríveis para as marca nas propagandas. pessoas a ainda lucrar com isso, que é essencial para nossa sobrevivência e sustentabilidade da empresa”, disse Rachel. Uma lição interessante aprendida entre um cafezinho e outro. 52 >>Sobre o livro: Around the world with 80 brands 53 aroundtheworldin80brands. wordpress.com