Reflexões sobre as dificuldades de análise da tendência do

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Reflexões sobre as dificuldades de análise da tendência do
Reflexões sobre as dificuldades de análise da tendência do Coeficiente de
Mortalidade Infantil
1 - Introdução:
O Coeficiente de Mortalidade Infantil – CMI é considerado um excelente
indicador do nível de saúde de uma população e o seu monitoramento permite
avaliar alterações ocorridas ao longo do tempo. Expressa o risco de um nascido vivo
morrer antes de completar um ano de idade e é calculado dividindo-se o número de
óbitos de menores de um ano pelo número de nascidos vivos de uma determinada
área e lugar.
No entanto, vários são os fatores que podem interferir nos resultados
encontrados, estando estes diretamente relacionados com a fidedignidade dos
dados utilizados no seu cálculo.
Este trabalho tem o objetivo de analisar as tendências do CMI em Santa
Catarina e no município de Florianópolis, na tentativa de apontar algumas dessas
dificuldades.
2 - Fatores que interferem no resultado do CMI:
Quando se calcula um CMI o resultado encontrado pode apresentar-se
distorcidos em função de vários fatores:
2.1. Sub-registro de óbitos de menores de 1 ano:
A questão do sub-registro de óbitos, que afeta todos os coeficientes de
mortalidade, assume importância maior quando estamos trabalhando com o CMI,
porque a taxa de sub-registro nessa faixa etária costuma ser muito maior do que
nas outras. Infelizmente não existem trabalhos que forneçam informações sobre a
magnitude do problema no estado de Santa Catarina ou Florianópolis.
As causas do sub-registro passam por questões de ordem econômica e
cultural e é de fundamental importância elaborar medidas que busquem a sua
eliminação ou, pelo menos, sua diminuição. Nesse sentido podem ser desencadeadas
uma série de ações, como a divulgação da importância dos registros dos eventos
vitais e de sua gratuidade, sendo a mais importante o controle efetivo dos
cemitérios, por parte das prefeituras municipais, no sentido de que nenhum
enterramento seja feito sem a apresentação da certidão de óbito, lavrada em
cartório.
2.2. Sub-registro de nascimentos:
O sub-registro de nascimentos também interfere no resultado do CMI,
fazendo com que ele apresente-se super-estimado. A informação sobre o número
de nascidos vivos, utilizada no denominador do coeficiente, tinha como fonte
tradicional o IBGE, que publica os dados referentes aos eventos vitais registrados
nos cartórios de registro civil, com uma defasagem de aproximadamente 3 anos
entre a coleta e a divulgação dos dados. Isso fazia com que além do problema do
sub-registro, não se dispuzesse de dados atualizados para o cálculo dos
indicadores que utilizam essa informação, até porque, mesmo conhecendo o
comportamento fecundidade, é difícil estimar o número de nascidos vivos com base
em anos anteriores.
O Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos - SINASC, implantado no
início da década de 90 em todo território nacional, passou a fornecer informações
oportunas e mais fidedígnas, não só sobre o número de nascidos vivos, mas também
sobre as características desses nascimentos, como peso ao nascer, tipo de parto e
grau de instrução da mãe. No entanto, em Santa Catarina, o SINASC ainda
apresenta limitações quantitativas e qualitativas que dificultam o seu uso de forma
rotineira.
2.3. Uso incorreto da definição de nascido vivo e nascido morto:
A Organização Mundial da Saúde - OMS, define nascido vivo como “ a
expulsão ou extração completa de um produto de concepção do corpo materno,
independentemente da duração da gravidez, o qual, depois da separação, respire
ou dê qualquer outro sinal de vida, como batimento cardíaco, pulsações do cordão
umbilical ou movimentos efetivos dos músculos de contração voluntária, estando ou
não cortado o cordão umbilical e estando ou não despreendida a placenta”.
De acordo com a OMS, a definição de nascido vivo está baseada no fato da
criança apresentar, no momento do nascimento, qualquer sinal de vida, não sendo
levado em conta a duração da gestação, ou seja, o conceito de viabilidade. No
entanto, muitos médicos desconhecem essa definição, ou esquecem a necessidade
de usá-la ao atestar um óbito ocorrido logo após o nascimento.
Quando uma criança nasce viva e é registrada como um nascido morto,
ocorrem, simultâneamente, um sub-registro de nascimento, um sub-registro de
óbito e um super-registro de óbito fetal. Esse fato vai distorcer, não só o CMI,
mas todos os coeficientes que trabalham com esses números, seja no numerador ou
no denominador. Em Santa Catarina, o Setor de Mortalidade tem verificado a
ocorrência desse erro, mediante a crítica da própria declaração de óbito, que
muitas vezes informa que o óbito aconteceu após o parto, ou a causa básica do
óbito é informada como “síndrome da membrana hialina”, sendo, mesmo assim, o
óbito especificado como fetal. Nesses casos, os cartórios onde foram registrados
os óbitos devem ser contactados para que providenciem a correção necessária e os
responsáveis pelo preenchimento da declaração de óbito esclarecidos sobre a
correta definição de nascido vivo, para que o erro não se repita. Para efeito de
processamento no Sistema de Informações sobre Mortalidade – SIM, esses erros,
quando identificados, são corrigidos, mas nem sempre é possível identificá-los.
2.4. Declaração errada da idade:
Outro problema que pode ocorrer em relação à qualidade dos dados de
mortalidade é o preenchimento incorreto da idade ou a sua omissão. No caso de
óbitos menores de um ano, às vezes é possível, pela causa do óbito, afirmar tratarse de óbito dessa faixa etária, mas perde-se o detalhamento da idade precisa, tão
importante para o cálculo dos componentes da mortalidade infantil (mortalidade
neonatal e infantil tardia).
No período de 1991 a 1999, foram registrados, em Santa Catarina, 20 óbitos
de menores de 1 ano, sem a especificação da idade.
2.5. Evasão e invasão de óbitos menores de 1 ano:
Sempre que se trabalha com dados de mortalidade é importante que os dados
estejam tabulados por município de residência, porque nos municípios onde existem
hospitais ocorre invasão de óbitos.
Além disso pode ocorrer erro no preenchimento da Declaração de Óbito –
D.O. em relação ao município de residência do falecido, aumentando ou diminuindo,
artificialmente o número absoluto de óbitos menores de 1 ano de residentes em
determinada área. O município de Florianópolis, implantou, recentemente, rotina de
investigação de óbitos infantis que, a partir do cruzamento das informações
registradas nas Declarações de Nascidos Vivos e de visitas domiciliares, conseguiu,
no ano de 1999, corrigir o endereço de residência de 10 óbitos menores de 1 ano e
que, de acordo com as informações registradas na D.O., haviam sido processados,
incorretamente como de residentes em Florianópolis.
3- Análise da tendência do Coeficiente de Mortalidade Infantil
Como qualquer indicador, o CMI deve ser entendido apenas como uma
aproximação do fenômeno que queremos medir, no caso, o risco de uma criança que
nasceu viva, morrer antes de completar 1 ano de idade.
Conhecidos os fatores que podem interferir no resultado do CMI, é importante
refletir um pouco sobre como esses fatores influenciam no monitoramento do
comportamento deste indicador ao longo do tempo.
Quando o pesquisador analisa a tendência de um indicador, ele geralmente está
ciente dos fatores que interferem nos valores encontrados, mas aqui, o interesse é
basicamente obter uma indicação da direção e da velocidade com que estão
ocorrendo as mudanças. Por esta razão, não importa muito se os valores encontrados
estejam sub-estimados ou super-estimados, desde que a sub-estimação ou
supertimação se mantenha relativamente constante ao longo da série histórica
analisada.
Assim, toda vez que procedemos a análise de tendência de um indicador,
supomos que os fatores que podem distorcer numerador e denominador continuaram
a atuar na mesma intensidade.
Como o ojetivo deste trabalho é analisar a tendência do CMI em Santa Catarina
e no município de Florianópolis, na década de 90, talvez fosse interessante verificar
até que ponto essa suposição pode ser aceita. Para responder esta pergunta,
voltemos aos fatores intervenientes citados, na tentativa de imaginar possíveis
mudanças no seu comportamento ao longo do período.
Vimos que o sub-registro de nascimentos e óbitos é decorrente de fatores
econômicos, culturais e até mesmo aqueles relacionados com dificuldades de acesso
aos cartórios. A análise de alguns indicadores econômicos e sociais de Santa Catarina
(taxa de alfabetização, taxa de urbanização, % da população em estado de pobreza,
etc) nos permite afirmar que no decorrer da década de 90, ocorreu uma elevação do
nível de desenvolvimento econômico e cultural da população residente em Santa
Catarina. Teoricamente isso deveria trazer como consequência a diminuição da taxa
de sub-registro tanto de óbitos como de nascimentos e assim, atuando com a mesma
intensidade no numerador e no denominador, não interferiria na análise da tendência
do coeficiente.
Existe um aspecto, no entanto, que deve ser apreciado com cuidado, quando
pensamos na questão do sub-registro dos eventos vitais. Ele se refere a legislação
(preciso verificar a data da publicação, acho que foi 1996) que tornou gratuito o
registro de óbitos e nascimentos em todo território nacional. Um dos objetivos
dessa lei era justamente diminuir o sub-registro desses eventos, mas ainda não
exitem trabalhos que demonstrem o ocorreu na realidade. No entanto, pelo menos
dois argumentos podem justificar uma preocupação com o fato de que essa legislação
possa estar talvez contribuindo para elevação do sub-registro de óbitos:
?? Com a legislação, muitos cartórios deixaram de oferecer o serviço de plantão
nos finais de semana e, pelo menos no município de Florianópolis, mesmo quando
o óbito ocorre durante a semana, os familiares somente obtém a Certidão de
Óbito 4 a 5 dias após a apresentação da Declaração de Óbito. Isso trouxe como
consequência um relaxamento da exigência legal da apresentação da Certidão de
Óbito por parte dos cemitérios;
?? O Ministério da Saúde desencadeou, recentemente, ampla campanha de
divulgação sobre a importância do registro civil de nascimentos. A campanha,
que envolveu toda a mídia do país e distribuiu cartazes e faixas, abordando o
tema e enfatizando a gratuidade do registro de nascimento, deixou de fora a
questão do registro de óbito.
O uso incorreto da definição de nascido morto e da declaração errada da idade
tendem a diminuir, mas não acontecem muito frequentemente, não devendo afetar a
análise da tendência, mas a questão do preenchimento incorreto do município de
residência do falecido precisa ser estudada com cuidado. Nesse sentido, o trabalho
que vem sendo desenvolvido pelo município de Florianópolis pode ter implicações
importantes. Senão vejamos: o município, a partir da investigação dos óbitos infantis,
conseguiu corrigir o endereço de residência de 10 óbitos infantis. A correção fez
com que os óbitos, que haviam sido processados como de residentes no município,
fossem computados no verdadeiro município de residência. Esse é o procedimento
correto, porém, isso pode afetar a análise da tendência porque devemos imaginar que
o preenchimento incorreto deveria ocorrer também nos anos em que não foi feita a
investigação. Assim, a redução observada no último ano pode ser explicada, em parte,
pela introdução de uma rotina que objetiva a melhoria da qualidade da informação.
Outra questão é que, se o problema do preenchimento incorreto do enderêço de
residência ocorre em Florianópolis, ele deve ocorrer também em outros municípios.
Se isso ocorresse na mesma proporção, a invasão dos óbitos de certa forma se
compensaria. Isto é, também devem ocorrer óbitos no município de São José,
informados como residentes neste município, mas que na realidade residem em
Florianópolis. O ideal seria que todos os municípios investigassem os óbitos menores
de 1 ano, não só para corrigir incorreções/omissões no preenchimento da Declaração
de Óbito, mas para estudar mais detalhadamente os fatores determinantes da
mortalidade infantil, coletando informações sobre variáveis que não constam deste
documento.
4 – A evolução do CMI em Santa Catarina e Florianópolis
Nesta parte do trabalho tentaremos analisar a tendência do coeficiente de
mortalidade infantil em Santa Catarina e Florianópolis, cotejando essa análise com os
aspectos anteriormente discutidos.
Considerando o pressuposto de que os fatores que interferem no resultado do
CMI devem manter-se constante ao longo da série histórica estudada, fica claro a
necessidade de utilizar, na análise de tendência do coeficiente, a mesma fonte de
informação, seja para o numerador, seja para o denominador. Isso é necessário
porque geralmente, fontes diferentes costumam apresentar diferentes coberturas.
No caso dos óbitos, a fonte oficial é o Sistema de Informações sobre
Mortalidade – SIM, que coleta os óbitos nos Cartórios de Registro Civil. A fonte
alternativa, o IBGE, também coleta a informação dos Cartórios e em Santa Catarina
o SIM tem uma cobertura próxima de 100% quando comparada aos dados do IBGE.
Em relação ao denominador a ser utilizado, no entanto, é preciso discutir
primeiro as alternativas disponíveis.
Até 1994, a única fonte disponível para obtenção do número de nascidos vivos
era o IBGE. A partir desse ano, foi implantado o Sistema de Informações sobre
Nascimentos – SINASC.
Como o IBGE só disponibiliza os dados até 1995, se a opção for utilizar sempre
esta fonte, é preciso projetar os dados para anos posteriores, com base nos
primeiros anos da década.
A análise da tendência do CMI utilizando no denominador a base de dados do
SINASC só pode ser feita se a série histórica for de 1994 em diante, isto é, analisar
a tendência até 1993 e depois, separadamente. Nesse caso é preciso ter em mente
que o SINASC só foi implantado no ano de 1994 e os problemas relativos à cobertura
variam muito nos primeiros anos de implantação de qualquer sistema.
Existiria ainda a possibilidade de usar a população estimada para menores de 1
ano, com base nos censos demográficos do IBGE.
Para discutir qual o melhor procedimento em relação ao denominador,
comecemos analisando a última alternativa (população menor de 1 ano).
A tabela 1 apresenta a população menor de 1 ano e o número de nascidos vivos
para Santa Catarina e Florinópolis. Os dados para 1991 e 1996, foram obtidos nos
respectivos censos demográficos e os dos outros anos são estimativas do IBGE,
baseada no Censo de 1991 e na recontagem de 1996. Os gráficos construídos
permitem entender melhor os dados apresentados.
Tanto Santa Catarina, como o município de Florianópolis, apresentam, até o ano
da recontagem populacional (1996) tendência de aumento do número de menores de 1
ano. No ano de 1996, ocorre uma queda brusca da população nesta faixa etária,
voltando depois a aumentar.
Sabe-se, no entanto, que a recontagem de 1996 apresentou vários problemas, o
que tem sido evidenciado inclusive quando se calcula a cobertura vacinal alcançada,
que, para muitos municípios de Santa Catarina supera em muito os 100%. Outra
informação que pode corroborar com a supeita de que os menores de 1 ano estão
subestimados na recontagem é o proprio SINASC, que computou, no mesmo ano:
99.454 nascidos vivos no Estado e 4.507 em Florianópolis.
Assim, ao que parece, não é uma boa alternativa usar a população menor de 1 ano
para o que se quer, pois poderia parecer que, considerando os anos de 1995 e 1996,
ocorreu um incremento significativo do CMI, quando na verdade o que acontece é que
estaríamos colocando no denominador uma população menor de 1 ano substimada
(população exposta ao risco).
Tab.1 – População de menores de 1 ano,
Santa Catarina e Florianópolis, 1991-1999.
Ano
Santa Catarina
Florianópolis
1991
101127
4611
1992
102978
4719
1993
104565
4818
1994
106152
4890
1995
107674
4961
1996
91826
4093
1997
93423
4153
1998
94774
4203
1999
96119
4254
Fonte: Censos Demográficos e Estimativas - IBGE
População < 1 ano,
Florianópolis, 1991-99
População < 1 ano,
Santa Catarina, 1991-99
6000
5000
4000
,
3000
2000
,
1000
19
91
19
92
19
93
19
94
19
95
19
96
19
97
19
98
19
99
0
19
91
19
92
19
93
19
94
19
95
19
96
19
97
19
98
19
99
110000
105000
100000
95000
90000
85000
80000
A segunda alternativa é usar no denominador o dado do IBGE até 1995 e
estimar o número de nascidos vivos para os anos posteriores. A tabela 2
apresenta esses dados para Santa Catarina e Florianópolis. A projeção foi
feita a partir de um método que permite calcular (prever) valores futuros,
ajustando os valores existentes a uma tendência linear.
Tabela 2 – Nascidos Vivos, Santa Catarina, 1991-1999
Ano
Santa Catrina
Florianópolis
1991
93118
5626
1992
88896
5589
1993
90623
5095
1994
93453
5084
1995
90537
5341
1996
91144
5025
1997
91083
5050
1998
91023
5104
1999
90962
5121
Fonte: 1991-95: Estatísticas do Registro Civil – IBGE
1996-99: Estimativa
Nascidos Vivos,
Florianópolis, 1991-99
Nascidos Vivos,
Santa Catarina, 1991-99
94000
93000
92000
91000
90000
89000
88000
87000
86000
5800
5600
,
5400
5200
,
5000
4800
4600
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999
Os gráficos elaborados também apresentam oscilações importantes nos anos
para os quais os dados não foram obtidos por estimativa. É interessante notar que
pode ser observada, no período de 1991 a 1995, uma tendência de queda, elevação e
novamente queda do número absoluto de nascidos vivos registrados no Estado de
Santa Catarina. Em Florianópolis, observamos somente, no mesmo período, tendência
de queda e elevação. O ponto do gráfico que apresenta para Florianópolis o retorno à
tendência de queda só aparece no ano de 1996, quando os dados são estimados. Outra
coisa interessante é que os picos não ocorrem exatamente nos mesmos anos para
Santa Catarina e Florianópolis. Os dados mostram a necessidade de estudar mais
detalhadamente o fenômeno a fim de verificar as razões desse comportamento.
O que acontece é que o número de nascidos vivos depende de vários fatores,
como a taxa de fecundidade, a taxa de natimortalidade, o número de mulheres em
idade fértil, os processos migratórios e outros. Cada um desses fatores se comportam
de maneira diferente se considerarmos o Estado ou o município e isso pode explicar,
em parte as diferenças encontradas. O número de nascidos vivos registrados em
cartório depende, além desses fatores, de outros, relacionados com as questões antes
discutidas.
Apesar das limitações dessa fonte (IBGE), acreditamos que, no caso específico
deste trabalho, ainda seja uma alternativa melhor usá-la no denominador. Dessa forma
assumimos as oscilações observadas no período de 1991 a 1995, como reais. A principal
justificativa para esse procedimento é que a 3a alternativa, analisar a tendência do
coeficiente utilizando o SINASC, seja separando a análise em duas séries históricas,
seja corrigindo os dados do IBGE para os anos anteriores à implantação do SINASC,
com base na taxa de sub-notificação identificada a partir da comparação dos dados do
SINASC e IBGE no ano de 1995, também é complicada porque em Santa Catarina os
dados do SINASC também não são ainda confiáveis.
A tabela 3 mostra, por exemplo, que em 1994 a cobertura do SINASC era
péssima, visto que o número de nascidos vivos de Santa Catarina processado pelo
SINASC (87.406) era muito inferior do que o de nascidos vivos registrados nos
cartórios (93.453). O município de Florianópolis, no entanto, já no primeiro ano de
implantação do SINASC atingiu uma cobertura bem maior que o IBGE. No ano
seguinte, no entanto, ocorre o inverso, demonstrando que a cobertura do SINASC
piorou no município de Florianópolis, que coletou, em 95, menos de 80% dos nascidos
vivos registrados em cartório.
Tab. 3 – Nascidos Vivos, Santa Catrina e Florianópolis, 1994-99
Ano
Santa Catarina
Florianópolis
1994
87406
5419
1995
98176
4247
1996
99454
1997
96744
1998
95088
1999
89747
Fonte: Sistema de Informações sobre Nascimentos - SINASC
4507
5529
5294
4758
A tabela 4 foi construída a partir da definição das fontes consideradas mais
adequadas para analisar a evolução do coeficiente de mortalidade infantil (SIM e
IBGE) e apresenta os resultados encontrados para Santa Catarina e Florianópolis.
Tab.4 – Coeficientes de Mortalidade Infantil (por 1000 nascidos vivos) e
variação percentual, Santa Catarina e Florianópolis, 1991-99.
Santa Catarina
Florianópolis
Ano
CMI
Variação %
CMI
Variação %
1991
20,8
14,4
1992
19,4
- 7,0
17,7
+23,0
1993
19,3
- 0,3
18,1
+1,9
1994
19,7
+ 2,1
19,5
+7,8
1995
20,1
+ 2,0
18,2
- 6,7
1996
18,4
- 8,4
20,7
+14,0
1997
18,2
- 1,5
16,4
- 20,6
1998
17,2
- 5,3
14,1
- 14,2
1999
16,8
- 2,1
13,1
- 7,2
Variação %
Variação %
no período
Média anual
no período
Média anual
1991-95
- 3,4
- 0,7
-26,4
- 5,3
1996-99
- 8,7
- 2,2
- 36,7
- 9,2
1991-99
- 19,2
- 2,1
-9,0
- 1,0
Fonte: Óbitos: Sistema de Informações sobre Mortalidade – SIM
Nascidos Vivos: 1991-95: Estatísticas do Registro Civil – IBGE
1996-99: Estimativa
Coeficientes de Mortalidade Infantil,
Santa Catarina e Florianópolis, 1991-99
Santa Catarina
25,0
20,0
15,0
10,0
5,0
19
99
19
98
19
97
19
96
19
95
19
94
19
93
19
92
0,0
19
91
por 1000 nascidos vivos
Florianópolis
Cenário 2:
Considerando que, a partir do ano de 1996, os dados do SINASC processados pelo
município parecem mais fidedígnos do que os do Estado como um todo, poderíamos
estudar a tendência do CMI utilizando no denominador esta fonte.
Tab. 5 – Coeficientes de Mortalidade Infantil ( por 1000 Nascidos Vivos),
Óbitos
< de 1 ano
104
83
72
67
Nascidos Vivos
CMI
1996
5317
19,6
1997
5587
14,9
1998
5299
13,6
1999
5699
11,8
1996-99
Média Anual
Fonte: Óbitos: Sistema de Informações sobre Mortalidade – SIM
Nascidos Vivos: SINASC (dados fornecidos pelo município)
Variação %
- 24,0
- 8,5
- 13,5
-39,8
- 9,9
O gráfico abaixo, confirma a tendência de declíneo da mortalidade infantil no
município de Florianópolis no período de 1996-99. A redução média anual, no período,
que tinha ficado em 9,2% utilizando no denominador o dado do IBGE, aumenta para
9,9% quando a fonte é o SINASC. A maior redução % anual é observada de 1996 para
1997 (24%). Isso se explica, em parte porque em 1996 o indicador estava ainda num
patamar relativamente alto, quando é mais fácil impactá--lo.
Coeficientes de Mortalidade Infantil,
segundo fonte utilizada no denominador,
Florianópolis, 1996-99
por 1000 nascidos vivos
IBGE
SINASC
25,0
20,0
15,0
10,0
5,0
0,0
1996
1997
1998
1999
Os componentes da mortalidade infantil em Florianópolis
O CMI é formado, por definição, pela Mortalidade Neonatal, que compreende
os óbitos de menores de 28 dias (até 6 dias: neonatal precoce; de 7 a 27 dias:
neonatal tardia) e pela Mortalidade Infantil Tardia, correspondente aos óbitos
ocorridos entre o 28º dia de vida e 1 ano.
Adotou-se essa subdivisão em função da observação de que esses períodos
apresentam causas de morte bastante específicas. Enquanto as mortes neonatais
são, na quase totalidade, devidas às chamadas causas perinatais e às anomalias
congênitas, a mortalidade infantil tardia deve-se fundamentalmente à causas
ligadas a fatores ambientais, tais como as doenças infecciosas e a desnutrição. No
entanto, nas áreas onde as condições de vida da população são precárias, essa
dicotomia nem sempre é observada, ocorrendo óbitos que dependem do meio
ambiente já no período neonatal.
Quando o CMI é muito baixo, ele é quase totalmente representado pela
mortalidade neonatal e, quando é alto, observa-se exatamente o inverso, a
mortalidade infantil tardia representa, proporcionalmente, quase a totalidade dos
óbitos de menores de um ano.
Assim, à medida que as condições ambientais vão permitindo reduzir a
mortalidade infantil, observa-se que essa redução se faz às custas da mortalidade
infantil tardia. Posteriormente, consegue-se reduzir a mortalidade neonatal,
atuando em condições pré-natais, assistência ao parto e pós-natal imediato. Fica
clara então, a necessidade de analisar a mortalidade infantil segundo seus
componentes, já que as medidas preventivas a serem adotadas para reduzir a
mortalidade neonatal são diferentes daquelas que asseguram a diminuição da
mortalidade infantil tardia.
A tabela 6 mostra o comportamento da mortalidade infantil e seus
componentes em Florianópolis, de 1996 a 1999.
Como era de esperar, no período analisado, enquanto a mortalidade neonatal
caiu de 12,8 para 8,2 por 1000 nascimentos (uma redução de 35,9%), a mortalidade
infantil tardia passou de 6,8 para 3,5, representando uma redução da ordem de
48,5%.
A mortalidade infantil tardia vem diminuindo, gradativamente sua participação
percentual na mortalidade infantil e hoje representa menos de 30% dela. Já os
óbitos que ocorrem na primeira semana de vida (mortlaidade neonatal precoce) são
responsáveis por quase 60% dos óbitos de menores de 1 ano de residentes em
Florianópolis.
Tab.6 – Coeficientes de Mortalidade Neonatal Precoce, Neonatal
Tardia, Infantil Tardia e Infantil e Participação % dos
componentes, Florianópolis, 1996-99.
Coeficientes de Mortalidade
Neonatal Precoce
NeonatalTardia
Infantil Tardia
Infantil
1996
10,9
1,9
6,8
19,6
1997
7,0
2,7
5,2
14,9
1998
7,5
1,7
4,3
13,6
1999
7,0
1,2
3,5
11,8
Participação % dos Componentes da Mortalidade Intantil
Neonatal Precoce
NeonatalTardia
Infantil Tardia
Infantil
1996
55,8
9,6
34,6
100,0
1997
47,0
18,1
34,9
100,0
1998
55,6
12,5
31,9
100,0
1999
59,7
10,4
29,9
100,0
Fonte: Óbitos: Sistema de Informações sobre Mortalidade – SIM
Nascidos Vivos: SINASC (dados fornecidos pelo município)
A análise de outros indicadores, como a razão de mortalidade proporcional em
menores de um ano, na série histórica estudada (tabela 7), confirma a
tendência de queda da mortalidade infantil em Florianópolis.
Tab 7 - Razão de Mortalidade Proporcional(%) em menores de 1 ano,
Florianópolis, 1996-99.
Ano do Obito
<1 Ano
Total
%
1996
104
1575
6,6
1997
83
1493
5,6
1998
72
1554
4,6
1999
67
1565
4,3
Espectativa de Vida ao nascer, Florianópolis, 1996-99
Ano
Expectativa de Vida ao nascer
1996
71,66
1997
72,86
1998
72,49
1999
72,68

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