Pensamento do Dia Pensamento do Dia
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Pensamento do Dia Pensamento do Dia
Pensamento do Dia Economistas analisam a Economia, o Brasil e o mundo, mundo, na mídia diária 18 05 2011 2011 ------------------------------------------------------------------Valor Econômico - 18/05/2011 Com rigor fiscal e inovação, Suécia propõe novo modelo Humberto Saccomandi | De Brasília Numa Europa atormentada pela crise financeira, a Suécia parece uma ilha da fantasia, com suas contas em ordem e forte crescimento. O segredo, relata o primeiro-ministro Fredrik Reinfeldt, é manter o país em constante e acelerada transformação, para se adaptar aos novos desafios globais. Além, claro, de uma rigorosa disciplina fiscal. "A Suécia fez a sua lição de casa." Reinfeldt é duro com os países em crise na Europa. Diz que eles simplesmente não fizeram as reformas estruturais necessárias e sabidas. E/ou lidaram mal com a crise bancária. Mas isso não implica recusar mais ajuda a esses países. Pelo contrário, é do interesse da Europa socorrer os mais fracos. "Nós não damos dinheiro. Nós emprestamos", disse o premiê. Líder do Partido Moderado, o economista Reinfeldt, de 46 anos, conseguiu uma proeza na Suécia: foi o primeiro premiê conservador que se reelegeu no pós-guerra. Para isso, ele liderou uma guinada para o centro e mesclou a disciplina fiscal com dois dogmas do tradicional modelo sueco social-democrata: a elevada taxação e a manutenção do Estado do bem-estar social. Com isso, diz ele, o eleitor de baixa renda agora poder votar na direita. Reinfeldt esteve ontem com a presidente Dilma Rousseff, em Brasília, dando prosseguimento à Parceria Estratégica entre os dois países. Hoje ele participa, em São Paulo, de uma rodada de negócios na Fiesp focada em economia verde, um dos pontos fortes da inovadora economia sueca. Em Brasília, Reinfeldt concedeu a seguinte entrevista ao Valor: Valor: O que o sr. espera dessa visita e da parceria estratégica com o Brasil? Fredrik Reinfeldt: Primeiro, eu vim com um amplo grupo de grandes empresas suecas e esperamos participar desse rápido crescimento que o Brasil está tendo. Isso interessa às nossas empresas, e acho que elas estão bem posicionadas para oferecer coisas de que o Brasil precisa. O Brasil também está emergindo como uma potência mundial neste mundo multipolar, e isso nos interessa, pois temos visões em comum em muitos aspectos, como direitos humanos, multilateralismo e sustentabilidade. Valor: O que o sr. dirá à presidente Dilma Rousseff sobre o Gripen [avião que concorre na licitação da FAB]? Por que o Brasil deveria comprar um caça sueco? Reinfeldt: É uma boa proposta. O avião é mais barato que os demais e é de ótima qualidade. No fundo, é isso o que vocês precisam: não muito caro, alta qualidade e ser independentes. Além disso, estamos fazendo outros esforços. A presença da indústria sueca no Brasil é muito forte, estamos aqui há mais de cem anos. Há mais de 220 subsidiárias de empresas suecas no Brasil. Claro que isso é parte das discussões e estamos colocando outras coisas. Valor: Que coisas? Reinfeldt: Acho que vocês querem que compremos outras coisas que são feitas no Brasil e que o avião seja construído no Brasil, gerando empregos aqui. Vou mencionar isso e esperamos uma boa decisão da presidente Dilma. Valor: A Suécia tem o principal programa de uso de etanol como combustível automotivo da Europa. Ele é um sucesso? Reinfeldt: Depende de para quem você perguntar. Encontrar soluções renováveis é parte dos nossos esforços, pois estamos priorizando deixar os combustíveis fósseis. E avançamos muito nisso. Já cortamos pela metade nosso consumo de combustíveis fósseis e petróleo em relação a meados dos anos 70. E o etanol é parte disso. Eu mesmo tenho um carro a etanol. Acho ainda que é muito importante que nós sejamos abertos a comprar etanol do Brasil. Em toda a parte há essa pressão para comprar internamente ou comprar de lugares mais próximos, o que com frequência não é bom para o clima, pois é mais caro e não é produzido num ambiente mais eficiente, como aqui no Brasil. Valor: Como o sr. reage às críticas de que o uso do etanol ajuda a aumentar o preço dos alimentos? Reinfeldt: Ainda temos muita terra no mundo que não é usada ou que poderia ser usada de um modo mais produtivo. Acho que, se começarmos por aí, podemos ter tanto produção para etanol como para alimentos. E, se não tivermos o etanol, quais são as opções? Acabamos tendo de voltar aos combustíveis fósseis. Acho que podemos ter ambos, etanol e alimentos. Conversei com o presidente Lula sobre isso e sei que essa é também a posição do governo brasileiro. Valor: Um dos pontos da Parceria Estratégica é o apoio a reformas nas instituições multilaterais. A Suécia poderia apoiar um não europeu para dirigir o FMI? Reinfeldt: Essa discussão deverá ocorrer. Acho que devemos refletir melhor o novo mundo de hoje. Sei que o velho arranjo de que o chefe do Banco Mundial venha dos EUA, e o do FMI, da Europa poderia ser discutido. A indicação de candidatos deveria ser mais aberta, até para encontrarmos a pessoa mais adequada. Sim, acho que deveremos ter essa discussão quando chegar a hora de indicar um novo diretor para o FMI. Valor: A Suécia tem uma dívida baixa, um orçamento equilibrado e crescimento forte. Qual é o segredo? Reinfeldt: Em primeiro lugar, tivemos uma recuperação do nosso comércio. E acho que fizemos muitas coisas certas durante a crise financeira. Nós não cobrimos perdas dos bancos, não adotamos pacotes de estímulo que em geral têm impacto muito ineficiente, como fizeram muitos países. Nós adotamos medidas pontuais para sustentar a demanda interna e setores intensivos em trabalho. Como não gastamos muitos recursos, mantivemos as nossas finanças públicas em ordem. As perdas de empregos que tivemos foram rapidamente compensadas. Acho que aprendemos, com a nossa própria crise bancária no começo dos anos 90, como controlar o setor bancário, dando mais transparência. Talvez por isso estávamos mais bem preparados do que outros países. Se você lidar de modo errado com uma crise bancária, facilmente acabará dobrando a dívida pública. É muito importante como você lida com seus bancos durante uma crise. Valor: Por que alguns países europeus estão crescendo enquanto outros estão ficando para trás? Reinfeldt: Eu acompanho a União Europeia há mais de uma década. Nesse período, nós discutimos uma série de reformas que os países europeus precisavam fazer. E muitos países simplesmente não fizeram essas reformas. Valor: Que tipo de reformas? Reinfeldt: Reformas estruturais, como do mercado de trabalho: incentivar os jovens a entrar rapidamente no mercado de trabalho e pessoas idosas a permanecer trabalhando, cortar os custos de burocracia para as empresas, reformar o sistema de bem-estar social para pressionar as pessoas que estão recebendo seguro-desemprego a voltar logo ao trabalho. Nós fizemos tudo isso na Suécia. Outros países preferiram não fazer nada. Mantiveram sistemas de aposentadoria que permitem às pessoas se aposentar aos 50 anos. Isso custa. Ao final, há pouca gente trabalhando, contribuindo, e muita gente querendo receber benefícios pagos com o dinheiro dos contribuintes. A Suécia tem ainda uma tradição de livre comércio, estamos acostumados a lidar com a competição internacional, estamos presentes em muitas partes do mundo. Outros países são mais fechados, mais focados internamente, não tão engajados no comércio como a Suécia. Isso agora agrava os problemas derivados da crise financeira. E ajuda a explicar porque temos muitos países com problemas na Europa. Valor: Há uma insatisfação em alguns países europeus em relação à ajuda financeira aos países em crise. Por que os países ricos da Europa estão relutando em ajudar os países mais pobres? Reinfeldt: Para ser honesto, isso me intriga também. Vi isso recentemente na Finlândia, onde se dizia "por que temos de dar dinheiro a esses países?". Mas a verdade é que nós não damos dinheiro, nós emprestamos. E sob condições que na verdade são muito boas para os países que emprestam o dinheiro. Nós participamos do pacote de ajuda à Letônia, e eles acabaram nem utilizando todos os recursos à disposição. O que esses países precisam é de um apoio para que se sintam mais seguros, para que possam reduzir os gastos com juros da dívida. Assim, a ajuda é um bom ato de solidariedade que não joga os custos para os contribuintes do seu país. Por isso me intriga [a posição de alguns países]. Vemos isso na Alemanha. Além disso, é do nosso interesse não ter problemas na Grécia, por exemplo, pois isso afetaria o sistema bancário de outros países da região. É do nosso interesse ajudar esses países em crise a sair da situação em que estão. Isso é bom para a Europa, é bom para os países que estão com problemas e é bom para os países que emprestam dinheiro sob condições de mercado. Valor: Há hoje um forte sentimento anti-imigração na Europa. Por quê? O sr. percebe isso na Suécia. Reinfeldt: Concordo. Na Europa hoje há uma tendência de ascensão, em eleições, de partidos e movimentos que culpam os estrangeiros pelos problemas que temos. Há sinais de racismo contra pessoas de diferentes etnias ou religiões. O fato de elas serem diferentes as excluem do que eu quero no meu bairro. A Suécia é bem diferente. Não que não tenhamos esses problemas. Na verdade, um partido xenófobo entrou no Parlamento nas últimas eleições, com 5% dos votos, mas em muitos outros países esses partidos têm 15%. Não estou neglicenciando o fato de que temos isso na Suécia. Mas é importante dizer que a Suécia é um dos poucos países que estão indo na direção oposta, ao dizer que precisamos nos abrir. Aprovamos uma lei no ano passado que permite que pessoas de países vizinhos da Europa entrem na Suécia para trabalhar. Isso não era permitido antes. Queremos manter nossa política de imigração aberta pois precisamos disso para o futuro. A nossa população está envelhecendo. Outras países europeus enfrentam esse problema, e não sei como pensam em resolvê-lo se eles fecharem suas fronteiras. Não nascem muitas crianças na Europa, então precisamos de imigrantes. A Suécia é um país multiétnico, temos gente de todas as grandes religiões mundiais vivendo lado a lado. Mostramos que podemos fazer isso com tolerância e respeitando uns aos outros. Tem 400 mil muçulmanos na Suécia [numa população total de 9,2 milhões]. Temos judeus, católicos. Acho que os suecos gostam disso. Uma sociedade multiétnica é uma sociedade que estimula, que cria uma atmosfera muito aberta, muito criativa. Eu quero manter isso. Por isso, não negociamos com o partido xenófobo na Suécia. Outros governos na Europa deram a eles alguma influência. Eu preferi fazer o oposto: fiz um acordo com o Partido Verde, que é exatamente o oposto. Valor: O seu país está no topo de vários rankings internacionais de desenvolvimento social e econômico. É fácil ser primeiro-ministro da Suécia? Reinfeldt: [risos] Estamos numa situação melhor que a maioria dos outros países. Temos uma economia forte, crescimento bom, somos os primeiros no ranking de inovação do Fórum Econômico Mundial. Mas, para isso, fizemos a nossa lição de casa. Estou na política há 20 anos, e nós fomos um país em constante e rápida transformação nesses 20 anos. Isso deu resultados. Não somos um país parado, estamos constantemente mudando, nos adaptando aos novos desafios mundiais. Acho que, se não tivéssemos feito isso, não estaríamos na posição que estamos hoje. Continuar a transformar um país, aprovar reformas, é fácil de fazer na teoria, mas é difícil ganhar eleições com isso. Meus críticos com frequência me dizem: "não faça isso, voltemos para onde estávamos antes". Eles questionam quase que todas as reformas que fazemos. Valor: O sr. levou o seu partido da direita para o centro e conseguiu se eleger e reeleger. Para isso, o sr. aceitou as políticas de elevada taxação e do Estado de bem-estar social, dois legados da social-democracia sueca. Esse é o perfil da nova direita? Reinfeldt: É definitivamente uma nova direita para a Suécia. O princípio básico para pequenas economias abertas, como a sueca, é ter as finanças públicas em ordem. Não podemos ter a carga fiscal dos EUA e os altos custos da Europa. Isso é impossível, e você tem de escolher. Eu acredito que temos de ter altos níveis de custos para altas ambições em termos de bem-estar social. Para isso, precisamos de impostos, para manter as contas em ordem. Se não fizermos isso, as forças de mercado vão pressionar enormemente a sua economia. Levou uns 20 anos para sairmos da situação de crise que tínhamos no começo dos anos 90. Eu gostaria de ter impostos menores, mas só posso fazer isso se tiver um superávit ou se puder ver que, com o tempo, isso não criará um grande déficit. E isso depende muito de conseguirmos criar empregos e de reduzir os custos do desemprego, pois os muitos esquemas que temos dão recursos para pessoas que são capazes de trabalhar, mas que não estão trabalhando. Ao reduzirmos os custos, podemos reduzir os impostos. E, ao fazer isso, estamos adotando uma política inclusiva, em benefício de uma ampla parte da população, e não de uma pequena elite. Fizemos uma reforma fiscal, que reduziu os impostos na linha do que Bill Clinton e Tony Blair fizeram, isto é, focando nas pessoas de renda mais baixa. Isso ajudou a criar essa nova direita. Pessoas de baixa renda agora votam no meu partido, pois estão ganhando mais quando trabalham, ao mesmo tempo em que veem que mantemos as finanças públicas em ordem e destinamos recursos para o bem-estar social. Valor: São Paulo talvez seja a principal cidade industrial sueca no mundo. As pessoas não se preocupam na Suécia com o êxodo de empregos industriais? Reinfeldt: Tivemos essa discussão, mas talvez numa escala menor que em outros países, pois não acreditávamos que poderíamos congelar a sociedade para manter a pessoa no emprego que ela sempre teve. Aprendemos que nossa economia pode criar muitos novos empregos. Houve uma tremenda conversão na Suécia, de empregos industriais para empregos no setor de serviços. Em 1950, 45% dos trabalhadores estavam empregados na indústria. Agora são cerca de 17%. Tivemos uma rápida ascensão do setor de serviços, que hoje emprega cerca de 80%. Enquanto criarmos mais empregos no setor de serviços, que nos levem mais para cima na cadeia de valor, tudo bem. Claro que houve reação na Suécia, muita ansiedade, especialmente nas pequenas cidades, fora dos grandes centros. As indústrias fechavam as portas, e as pessoas me perguntavam: por que você não protege aqueles empregos? Porque não éramos competitivos naquilo e tínhamos de fazer outras coisas. Mas isso gera tensão com os eleitores. Valor: O sr. não teme que esses empregos mais high-tech, mais inovadores, também migrem para os países emergentes? Reinfeldt: Temos de ter consciência desse risco, tanto de que os empregos migrem como de que tenhamos novas formas de competição. A China, por exemplo, está competindo em todo o mundo agora. Eles têm uma disponibilidade de mão de obra quase inesgotável e também formaram trabalhadores altamente qualificados. Enfrentamos uma nova competição. Por isso é importante saber como competir internacionalmente. Não há outro modo senão ter um sistema educacional melhor, gastar mais com pesquisa e desenvolvimento, ser mais inovadores, mas também tentar encontrar o tipo de emprego que é mais orientado ao setor de serviços. Senão, você será levado à discussão, que está acontecendo em boa parte do mundo, de como se proteger, favorecendo os produtos nacionais e elevando tarifas e barreiras, que tornarão os pobres mais pobres. Isso seria um a pena, pois o mundo deu um salto enorme na redução da pobreza. Veja o Brasil, a China, a Índia. São fantásticas as oportunidades que temos hoje. Mas a questão está aí: os países permanecerão abertos? Eles ousarão continuar abertos e enfrentar a concorrência internacional? Valor: Eles ousarão? Reinfeldt: Não tenho certeza. Temos sinais contraditórios. Esta discussão está ocorrendo por toda a parte, até nos EUA e no Reino Unido, que tradicionalmente foram os bastiões do livre comércio. Na Europa, essa discussão está disseminada. Claro, queremos regras para que a competição seja aberta, mas justa. Há muita intervenção estatal no mundo, há muita corrupção, e isso naturalmente nos preocupa. Mas, pesando os riscos e os benefícios, a direção é muito auspiciosa. O mundo multipolar é um mundo melhor. Não é tão concentrado e cria condições nunca vistas antes para reduzir a pobreza. ----------------------------------------Folha De São Paulo - 18/05/11 Meritocracia Antonio Delfim Neto Há poucas dúvidas sobre dois fatos: 1º) Que a carga tributária bruta no Brasil é sempre maior do que a dos países com a mesma renda per capita. Trata-se do financiamento do processo civilizatório construído na Constituição de 1988, em que o país revelou preferir uma sociedade que proporcione igualdade de oportunidade para todos. Isso implica serviços de saúde e educação universais e gratuitos. 2º) Que, com toda evidência, o principal problema não é propriamente a alta carga tributária, mas o uso bastante ineficiente que se faz dela. Temos um Estado pesado, burocratizado, nepotista, lento e ideologicamente aparelhado, que se alimenta de uma centralização do poder frequentemente excessiva. Se fosse necessária uma "prova" disso, bastaria lembrar que, nos últimos 16 anos, o PIB cresceu de 100 (1995) para 157 (2010), ou seja, 57%, enquanto o PIB apropriado e distribuído pelo governo (graças ao aumento do PIB e ao aumento da carga tributária) cresceu 94%, e o apropriado pelo setor privado, 42%. Dada a evidente diferença de produtividade entre os dois setores, não é de estranhar que o PIB per capita cresceu 1,6% ao ano no período, mesmo quando se leva em conta o efeito positivo e civilizatório da melhoria da distribuição de renda. A crítica não é e não pode ser à política de distribuição, mas à sua administração. Desde o início do governo Dilma, a ministra Miriam Belchior (Planejamento) vinha sugerindo o programa de "fazer um pouco mais com um pouco menos". Na última semana, ao anunciar a instalação da Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade, que será presidida pelo competente empresário Jorge Gerdau Johannpeter, a presidente colocou como prioridade na agenda do governo a construção de um "Estado meritocrático e profissional". Seria bom lembrar que, há 2.200 anos, isso foi instituído por um imperador chinês que queria livrar-se do nepotismo que sempre acompanha aqueles que, pela força ou pelas urnas, colocam-se no poder. Em 1937, tentou-se fazer o mesmo no Brasil com a criação do Dasp (Departamento Administrativo do Serviço Público), que prestou bons serviços até ser extinto em 1986, quando se organizou a Sedap (Secretaria de Administração Pública) em seu lugar. Houve uma tentativa de ativá-la no governo FHC, com o ilustre ministro Bresser-Pereira, mas as boas ideias foram dissipadas pela falta de vontade... Parece que o início do processo será na melhoria do formidável, mas ainda ineficiente, SUS. Se funcionar (e não há razão para que não o seja), a presidente justificará o que disse em seu discurso: "Este é um momento fundamental do meu governo". -------------------------------O Estado de S. Paulo - 18/05/2011 Modelo agroexportador, bom ou ruim? André Meloni Nassar Nos últimos três artigos publicados neste espaço, mostrei que as exportações do agro brasileiro continuarão crescendo, respondendo à demanda por alimentos nos países em desenvolvimento e aos elevados preços internacionais. Argumentei, também, que o Brasil vai crescer mais do que outros exportadores, porque, a menos que políticas erradas sejam adotadas, o agro brasileiro responde mais rapidamente às elevações de preço que o de outros países. Isso ocorre porque o agro brasileiro combina três condições não encontradas nos demais: disponibilidade de terra e água, estrutura produtiva que favorece a expansão e alto nível tecnológico na produção. O modelo agroexportador brasileiro, portanto, vai ganhar força. Mesmo que de forma indireta, os benefícios desse modelo têm sido postos em dúvida, em diferentes frentes. A primeira afirma que os custos ambientais da produção de commodities são muito elevados, já que elas são intensivas em recursos naturais e sua produção consome muita energia. Essa crítica parte da premissa de que toda indústria intensiva em recursos naturais traz danos ao ambiente, que, num modelo exportador e com especialização, são maiores do que num modelo não exportador. Assume, também, que seus produtores, sendo países emergentes, possuem regulamentações ambientais mais fracas. Considera, ainda, que os benefícios sociais do aumento da produção são discutíveis, porque envolve setores que geram pouca renda e têm baixo conteúdo tecnológico. Por fim, argumenta que os setores produtores de commodities requerem elevada intensidade energética. Tal crítica ignora diversos fatos. O primeiro é que o "dano" ao ambiente não provém apenas do lado do uso dos insumos, mas também dos produtos finais. No quesito emissões de gases de efeito estufa, o agro é o setor que mais capta carbono da atmosfera. Em segundo lugar, ignora que o Brasil é um dos países líderes em regulamentações que se referem à responsabilidade ambiental e social do setor agropecuário. Ao contrário do que se pensa, o agro tem um enorme efeito multiplicador de renda e gerador de empregos indiretos em regiões com setores industriais e de serviços menos diversificados, ou seja, todos os municípios que não são grandes capitais e estão espalhados pelo interior do País. Por fim, especialização e alguma concentração da produção são sinônimas de eficiência e, em épocas de preocupações com a segurança alimentar mundial e os altos preços de produtos intensivos em recursos naturais, baixa eficiência é tudo o que não se deve almejar. A tese de elevada intensidade energética não se aplica ao agro. De todos os setores, excluindo os de serviços, o agropecuário é o de menor intensidade energética (energia consumida por valor de produto gerado). O setor de alimentos e bebidas, que não faz parte do setor agropecuário, apesar de ter elevada intensidade energética, obtém 75% da energia consumida do bagaço de cana, diferenciando-se dos demais setores industriais. Além disso, avaliando no tempo, agropecuária e alimentos são os dois setores que apresentam o maior ganho de produtividade no uso da energia. A segunda crítica afirma que as crescentes exportações de commodities estão contribuindo para apreciar o câmbio, intensificando o processo de desindustrialização da economia brasileira. Ela se baseia na ideia da doença holandesa. A definição não dogmática de doença holandesa se refere a uma possível apreciação na taxa de câmbio devida a descobertas ou choques nos preços de commodities, baseados em recursos naturais. Fortes incrementos nos fluxos cambiais, tais como entrada de capitais estrangeiros decorrentes, entre outras razões, de elevadas taxas de juros ou condições macroeconômicas específicas, também podem levar a situações de doença holandesa. A maior consequência da apreciação da taxa de câmbio num quadro de doença holandesa seria a desindustrialização do País. No Brasil, por muito tempo se afirmou que as crescentes exportações agroindustriais - como se o agro não fosse um setor intensivo em capital e tecnologia - seriam uma das responsáveis caso a doença holandesa atingisse o nosso país. Atualmente, diante de contínua valorização do real e de crescente participação dos produtos básicos na pauta exportadora brasileira, o tema da desindustrialização voltou à baila. Embora a discussão atual não necessariamente seja dirigida às exportações do agro - ela enfoca com maior vigor o setor de minérios e petróleo aqui, no Brasil -, os elevados preços internacionais das commodities agrícolas têm colocado o setor como alvo também. Estudos contendo análises sobre doença holandesa e regime cambial são unânimes em dois pontos. A valorização cambial pode provocar realocação de fatores de produção, que se movem dos setores industriais, que têm produtos transacionados internacionalmente, para setores da economia baseados em produtos não comercializáveis. No entanto, a apreciação cambial decorrente da doença holandesa não provoca redução do crescimento econômico, ou seja, a realocação pode afetar negativamente alguns setores industriais, mas não implica perda para a sociedade. Uma tentação quase irresistível dos defensores da tese da desindustrialização, que está ganhando força no Brasil, é atacar as exportações de commodities, ignorando o fato de que a doença holandesa não compromete crescimento e esquecendo que vários fatores não relacionados ao câmbio determinam a baixa competitividade de alguns setores industriais no País. Qualquer medida que venha a inibir o modelo agroexportador brasileiro, seja ela fundamentada em argumentos ambientais, sociais, de consumo de energia, baixo conteúdo tecnológico ou de desindustrialização do País, vai comprometer o desempenho de um dos poucos setores em que o Brasil é verdadeiramente competitivo. -------------------------------Valor Econômico - 18/05/2011 A zona do euro depois de Strauss-Kahn Martin Wolf A visão de Dominique Strauss-Kahn, diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI) e possível candidato à presidência da França, algemado pela polícia, foi espantosa. Se as acusações forem verdadeiras, esse homem, profissional competente, é um lunático. Mas, a menos que as acusações não se sustentem, o incidente projetará uma longa sombra. Strauss-Kahn revelou-se o homem certo no lugar certo na hora certa. Inicialmente, tive minhas dúvidas sobre a nomeação de mais um francês e, incidentalmente, um político, para dirigir uma instituição internacional tão fundamental. Eu estava errado. StraussKahn revelou-se um ousado tomador de decisões, um político eficaz e um economista competente. Essa combinação é muito rara. Provavelmente, nenhum dos candidatos em discussão se desincumbiria da missão como ele o fez durante a pior fase da turbulência econômica mundial e, depois, das crises financeiras na zona do euro. Era amplamente esperado que Strauss-Kahn em breve deixasse o FMI para concorrer à presidência da França. Se fosse vitorioso, poderia ter transformado a capacidade da zona do euro de administrar sua atual crise interna. Ele certamente traria, para essa tarefa, recursos ausentes no atual presidente francês, Nicolas Sarkozy: antes de tudo, seu peso intelectual e, assim, credibilidade perante as autoridades governamentais alemãs, principal potência europeia. Strauss-Kahn, era uma das poucas altas autoridades econômicas europeias a quem os dirigentes alemães, particularmente a chanceler Angela Merkel, davam atenção. Em momentos cruciais, ele foi capaz de reunir os europeus. Com efeito, ele parecia capaz até mesmo de produzir consenso em um governo alemão dividido. Não consigo imaginar quem poderia substituí-lo. Inevitavelmente, já há muita discussão sobre quem poderia substituir Strauss-Kahn no FMI. É fácil lembrar tecnocratas competentes em todo o mundo. É também possível pensar em personalidades politicamente eficazes. Ninguém combina essas facetas gêmeas como ele. A questão da nacionalidade também se coloca. Os europeus, suspeito, insistirão em que seja outro europeu, possivelmente Christine Lagarde, atual ministra das Finanças francesa. Os países emergentes apresentarão seus próprios candidatos. Mas, dado o papel central desempenhado pelo FMI agora na zona euro como fonte de financiamento e, mais ainda, de competência técnica, é difícil imaginar que os europeus abririam mão. Desconfio que os EUA os apoiariam, e, nesse caso, terão os votos necessários. Certamente nenhum não europeu poderia assumir o papel que Strauss-Kahn desempenhou na zona euro. Ele era uma das poucas altas autoridades econômicas a quem os dirigentes alemães, particularmente Angela Merkel, davam atenção. Em momentos cruciais, ele foi capaz de reunir os europeus. Ele parecia capaz até mesmo de produzir consenso em um governo alemão dividido. A queda de Strauss-Kahn acontece em um momento importante. Como afirmei na semana passada, o programa grego não funcionou como planejado. Isto não é surpreendente: nunca pareceu provável que daria certo. Existe uma boa chance de que o mesmo irá revelar-se verdadeiro quanto ao programa de € 78 bilhões para Portugal. A Irlanda, sem dúvida, recuperou sua saúde. Num mundo de equilíbrios múltiplos, está longe de garantido que até mesmo a Espanha consiga administrar os ajustes que tem pela frente. Além disso, como revela o FMI em uma nova análise da conjuntura europeia, o extremamente alavancado sistema bancário da zona do euro permanece vulnerável. Os fundamentos econômicos da crise são claros. Durante os anos do boom, alguns países foram capazes de tomar maiores empréstimos e em condições mais favoráveis do que nunca. Eles, então, incorreram em enormes déficits em conta corrente. Esses déficits - e não déficits fiscais, conforme a percepção generalizada equivocada dos alemães -, acabaram por ser o principal indicador de futuras crise. As contrapartidas domésticas desses déficits externos poderiam ser enormes déficits fiscais (como na Grécia), enormes déficits financeiros privados (como na Irlanda e na Espanha) ou uma combinação dos dois (como em Portugal). De fato, agora sabemos que a distinção entre déficits privados e endividamento e entre déficits públicos e endividamento é muito menos absoluta do que no entendimento dos sacerdotes fiscais: dívida privada torna-se dívida pública e déficits privados tornam-se déficits públicos muito rapidamente. Em meio a uma crise, grandes déficits externos também resultam em "paradas súbitas" no afluxo de financiamento externo, daí a necessidade de suporte oficial para financiar os déficits em conta corrente e fiscal em curso e a fuga de capitais. Um país com um setor privado sobrecarregado de dívidas que esteja também tentando reduzir seu enorme déficit fiscal estrutural precisa gerar uma melhoria compensadora em sua conta corrente. Isso é uma questão de lógica. Consideremos Portugal. Segundo o FMI, o país teve um déficit em conta corrente equivalente a 10% do Produto Interno Bruto (PIB) no ano passado, um déficit fiscal de 7% do PIB e, portanto, um déficit implícito do setor privado igual a 3% do PIB. Para que o déficit orçamentário possa ser melhorado sem elevar o déficit do setor privado, a conta corrente precisa melhorar substancialmente. Mas isso implica aumento de competitividade. O desafio de competitividade com que se confrontam esses países é muito maior do que o enfrentado pela Alemanha no fim dos anos 1990. Independentemente do ajuste financeiro, alguém precisa também arcar com os prejuízos decorrentes de incobráveis concessões e tomadas de empréstimos passados. Em seu descortino, a zona do euro decidiu que o prejuízo dos credores do setor privado deve ser socializado e que o ônus recaia sobre os países deficitários. Os contribuintes, então, sofrerão, primeiro, recessão, e, depois, anos de austeridade fiscal. A justificativa para tudo isso é a visão, fortemente assumida particularmente pelo Banco Central Europeu (BCE), de que a zona do euro não pode dar conta de eventuais calotes, seja no caso de empréstimos a bancos ou de empréstimos a governos. Mais uma vez, dissolve-se a distinção entre dívida pública e privada. Mas o problema com a estratégia de impor o ônus aos contribuintes em países tomadores de empréstimos é que provavelmente não dará certo. Como uma proporção cada vez maior dos financiamentos acaba em fontes oficiais, é provável que elas acabem arcando com os custos politicamente explosivos quando as dívidas são perdoadas. Alguma "participação do setor privado", ou pelo menos alongamentos de prazos de vencimento serão também necessários. Assim, também precisará haver cancelamento de empréstimos a bancos falidos e subsequente recapitalização de instituições financeiras abaladas. Esse tipo de crise é de difícil solução. Como deveria ser financiado o ajuste? Quem deveria arcar com os prejuízos? Como deveria ser minimizado o pânico? Os desafios são enormes. A estratégia atual exige cada vez maior financiamento oficial por períodos cada vez mais amplos. Será viável? Se não, alguém precisará repensar a questão. Sem Strauss-Kahn, eu me pergunto, quem agora será capaz de apontar o caminho. Martin Wolf é editor e principal comentarista econômico do FT. -------------------------------Valor Econômico - 18/05/2011 A estratégia do BC para melhorar expectativas Cristiano Romero O governo acredita que a inflação mensal deste e dos próximos três meses ficará bem abaixo dos resultados recentes. A queda sazonal dos preços dos alimentos e o recuo dos combustíveis devem melhorar a percepção da população quanto à carestia. Apesar disso, uma autoridade do governo assegurou ao titular desta coluna que, embora representem uma "boa notícia", os números já estão na conta e não desviarão o Banco Central (BC) da tarefa de ancorar a inflação de 2012 em 4,5%. Isso significa que a esperada moderação dos preços nos próximos meses não impedirá o Comitê de Política Monetária (Copom) de promover novas elevações na taxa básica de juros (Selic), hoje em 12% ao ano. O objetivo do Comitê é convencer os agentes econômicos de que fará o que for necessário para trazer o IPCA, dos atuais 6,5% em 12 meses, para a meta oficial. "As pessoas, principalmente quando a inflação estiver no pico, provavelmente em agosto, têm que ter o incentivo de olhar para a frente e não para trás. Para isso, você precisa colocar claramente o futuro numa rota consistente com a inflação ancorada em 4,5%", explicou uma fonte. "Não há por que declarar vitória agora." Queda do IPCA não mudará política monetária A disposição do BC em manter a austeridade monetária é importante porque, no mercado, desconfia-se que, após a colheita de bons resultados em maio e nos meses subsequentes, o Copom cairá na tentação de encerrar o ciclo de alta da Selic, colocando em risco o controle da inflação no próximo ano. Segundo autoridades ouvidas por este colunista, isso não ocorrerá porque o BC já comunicou internamente ao governo que a queda do IPCA, embora decorra também da ação do Copom, é sazonal (temporária). Em maio, a inflação, segundo expectativas do mercado colhidas pelo governo, deve ficar em torno de 0,45%, um resultado considerado ainda "carregado", mas inferior ao dos últimos meses. Em junho, julho e agosto, deve cair abaixo de 0,3%. Há analistas prevendo, inclusive, deflação. Nesse período, o IPCA estará em linha com a meta de 4,5%, mas, ainda assim, não terá impacto na atuação do BC, segundo sustentou um auxiliar da presidente Dilma Rousseff. "[A queda do IPCA] dá um alívio do ponto de vista da percepção. Mesmo a inflação alta pontual, quando ocorre em alimentos e combustíveis, tem um efeito sobre a percepção da população. Ainda que os núcleos [de inflação], principalmente em economias mais desenvolvidas, retirem esses dois componentes que são mais voláteis, a percepção aqui no Brasil é muito forte", explicou um técnico. A ancoragem das expectativas depende justamente da nova postura do BC. De janeiro a março, o banco deu indicações de que não via o cenário inflacionário com o mesmo pessimismo da média dos observadores do mercado. Isso se traduziu em pouca disposição para aumentar juros e desaquecer a economia. Entretanto, na última reunião do Copom o diagnóstico mudou e o foco da política monetária voltou a ser a taxa de juros. Desde então, as expectativas melhoraram, embora de forma ainda tímida. Em setembro, a inflação acumulada em 12 meses pode chegar a 7%, 7,5%, algo muito acima, portanto, da meta oficial. O resultado coincidirá com o período de negociações salariais relevantes. O desafio do BC é fazer com que patrões e empregados percebam que o governo está disposto a apertar as condições monetárias para reduzir a inflação nos próximos meses. O Copom quer melhorar as expectativas. O obstáculo a ser superado nessa estratégia está no mercado de trabalho, que continua superaquecido, apesar do aparecimento de alguns sinais de desaceleração da economia. Com esse mercado pressionado, fica difícil conter as demandas por reajustes salariais. O governo acredita, no entanto, que até lá a taxa de desemprego estará mais alta do que agora. Em março, o índice de desemprego chegou a 6,5%, depois de ter caído a 5,3% em dezembro. O governo compara o momento atual com a situação vivida em 2008, quando a economia também estava aquecida e com aceleração inflacionária. A diferença é que, naquela época, a taxa de desemprego estava girando em torno de 8%, embora a economia estivesse um pouco mais acelerada do que em 2011. "De fato, o mercado de trabalho é o último a sentir [o efeito da política monetária], mas em agosto ele pode estar um pouco mais folgado do que está hoje. É o que se espera do que já foi feito", disse uma autoridade. "A nossa parte é mostrar consistência no processo de trazer a inflação para 4,5%. As expectativas cumprem um papel importante." O BC também já teria deixado claro, nas reuniões internas do governo, que, por causa da política anti-inflacionária, o Produto Interno Bruto (PIB) deverá crescer abaixo ou em torno de 4% tanto em 2011 quanto em 2012, um desempenho inferior à exuberância de anos recentes (6,09% em 2007, 5,16% em 2008 e 7,5% em 2010), mas em linha com o potencial do país neste momento. A preocupação é evidenciar que, agora, a política econômica do governo não tem três objetivos, como se chegou a imaginar nos primeiros meses do atual governo - combater a inflação, manter o crescimento acelerado e evitar a apreciação da taxa de câmbio. "O objetivo primordial no momento é o combate à inflação", assegurou uma autoridade. Essa mesma fonte disse que a política monetária é "acumulativa". Segundo ela, não houve inconsistência quando o Copom, em abril, diminuiu o ritmo de aumento da taxa Selic de 50 para 25 pontos básicos. De janeiro a março, observou, o Comitê elevou a Selic em 100 pontos básicos (um ponto percentual). Em abril, aumentou para 125 pontos, depois de ter subido 200 pontos no ano passado. No pós-crise, portanto, o BC já moveu a taxa de juros em 3,25 pontos percentuais. Para uma boa parcela dos economistas, terá que subir um pouco mais para conter a corrida inflacionária. "O futuro muda a cada seis semanas", disse uma fonte oficial, referindo-se ao período que separa as reuniões do Copom. Cristiano Romero é editor-executivo e escreve às quartas-feiras. -------------------------------Valor Econômico - 18/05/2011 Volume maior aponta para revisão de apostas Eduardo Campos Os volumes negociados no pregão de terça-feira trouxeram a sensação de que grandes agentes estão revertendo posições no mercado de câmbio e de bolsa de valores. A percepção é de que o dólar pode devolver parte da alta de 3,70% que acumula desde o começo do mês, da mesma forma que a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) pode mostrar um respiro de alta. Salvo, claro, algum evento imponderável nas próximas horas. O sinal vem do mercado futuro. No câmbio, foram negociados 498 mil contratos no dia, sugerindo mudança de posição tanto de grandes bancos locais quanto de agentes estrangeiros. Antes do ajuste final de posições, o dólar futuro com vencimento em junho, negociado na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), apontava queda de 1,18%, a R$ 1,622. Antes disso, o contrato tinha ido a R$ 1,6455. No mercado à vista, onde os negócios encerram mais cedo que no futuro, o dólar comercial perdeu 0,61%, para R$ 1,622 na venda, preço mínimo do dia, depois de subir a R$ 1,640. O volume estimado para o interbancário ficou em US$ 2,5 bilhões. Contratos futuros sugerem queda no dólar e alta na bolsa Também nas mesas de operação cresceu a percepção de maior entrada de dólar via contratos de exportação, depois que a moeda foi acima de R$ 1,63 pela manhã. O comportamento do dólar no mercado local amplificou o sinal dado pelo câmbio externo, onde a moeda americana perdeu para o euro, que retomou a linha de US$ 1,42, e para outras moedas, mas com intensidade menor do que a registrada por aqui. De acordo com um operador, o comportamento dos preços hoje e nos próximos dias vai indicar se a percepção de ajuste de posições se confirma. Há de se ressaltar, no entanto, que não se trata de mudança de tendência. Atenção também aos números da BM&F sobre as posições em aberto, que indicarão quem comprou e quem vendeu contratos de dólar no pregão de terça-feira. O dia de ontem também foi movimentado com contratos futuros de Ibovespa. Foram cerca de 100 mil contratos negociados em um dia em que a bolsa brasileira se descolou da queda do mercado americano e da baixa no preço das commodities. Pode ser apenas que os comprados estejam defendendo posição, mas há quem veja nessa movimentação um sinal de que a bolsa pode mostrar reação. Vale lembrar que o Ibovespa acumula perda de 3,7% no mês, e cai 8,12% no ano. Essa movimentação de contratos de dólar e bolsa mostra íntima ligação. Já que há a percepção nas mesas de que os vendedores de bolsa não remeteram dinheiro para fora do país. Esses agentes se posicionaram em dólar futuro esperando um bom ponto de entrada no mercado de ações. Com outra dinâmica, o mercado de juros futuros convive com firme viés de baixa nos contratos de longo prazo. Parte do movimento tem origem técnica, com bancos revertendo posições compradas recentemente. E parte capta o aumento na oferta de dinheiro estrangeiro nos vértices mais longos, como janeiro de 2014, que voltou a taxas não vistas desde o começo de janeiro. No lado fundamental, a redução nos prêmios de risco encontra respaldo na queda de preço das commodities. Algo que pode contribuir nas leituras futuras de inflação. A redução na taxa de retorno dos títulos americanos também influi nesse movimento, pois é vista como um sinal de menor crescimento da economia americana e mundial. Alguns analistas externos começam a mostrar preocupação com o ritmo de recuperação da atividade, como se fosse surpresa que a retomada não aconteceria em "linha reta". Como lembrou o vice-presidente de tesouraria do Banco WestLB, Ures Folchini, depois de um processo de destruição de riqueza como o observado durante a crise de 2008, é natural que se leve tempo para a situação se restabelecer. "Leva tempo para se criar riqueza novamente", diz Folchini, lembrando que esse é um processo que passa pela recuperação do emprego, reconstrução da confiança, retomada do consumo e alavancagem do consumidor. Para quem gosta de análise técnica, o S&P 500 e o Nasdaq ameaçaram romper a média móvel de 50 dias. Isso quer dizer que, se tal linha fosse perdida, ficaria reforçado o viés de baixa no preço das ações. Atenção aos 1.320 pontos no S&P 500 e os 2.770 pontos na Nasdaq. Ainda no campo técnico, como a alta do petróleo explicou cerca de 30% do ganhos no S&P 500 no ano, nada mais natural que o índice perca força junto com a cotação da commodity, que já caiu 14% desde o começo do mês de maio. Eduardo Campos é repórter -------------------------------O Globo - 18/05/11 Rever impostos Miriam Leitão Ainda não se sabe como desonerar a folha, já que essa contribuição arrecada R$95 bi, mas há duas alternativas para substituir o imposto hoje cobrado das empresas sobre o total dos salários pagos aos trabalhadores. - Podemos transferir a cobrança para um imposto sobre valor agregado como PIS/Cofins, ou sobre o faturamento geral da empresa. Estamos fazendo simulação de cada modalidade em cada indústria. Até o setor de capital intensivo apóia a cobrança sobre valor agregado porque isso desoneraria a exportação - disse o ministro numa entrevista que me concedeu ao programa Espaço Aberto, da Globonews. Mantega acha que as mudanças propostas para o ICMS não terão desta vez a reação dos estados, apesar de os de maior peso econômico serem governados pela oposição. Ele conta que já está conversando com eles: - O ICMS é o imposto mais complexo e seu mair peso recai sobre a produção. Os estados todos estão com problemas e se queixam da guerra fiscal. Chegamos ao paroxismo de que alguns estados incentivam a importação contra o produto nacional. Há conflito entre os estados, queixas ao STF. Por isso a nossa proposta é a de baixar gradualmente o ICMS interestadual que hoje está entre 7% a 12% para 2%. Segundo Mantega os maiores estados não reclamariam contra a proposta porque eles teriam a ganhar, os menores seriam compensados com a redução de impostos federais na atração de investimentos. - Nossa ideia é fechar essa proposta sobre a desoneração da folha salarial e uma proposta de redução gradativa do ICMS interestadual até junho para apresentá-la para a sociedade - afirmou. Ele disse que aquela proposta de reforma tributária que está no Congresso será deixada de lado porque o governo teria se convencido de que uma reforma ampla é muito difícil pela reação dos estados à discussão sobre onde recolher o ICMS, se na origem ou no destino. Ele acha que o melhor seria no destino. A decisão do governo diante do impasse é ir propondo ideias, como a que fará agora, e pôr em marcha uma agenda tributária para simplificar os impostos sobre a produção, tirar o peso que recai sobre o emprego para estimular a formalização do mercado de trabalho que já está em marcha. O ministro garante que o governo está reduzindo a carga tributária, apesar de o número divulgado pelo próprio governo ter mostrado nos últimos anos um aumento, com pequena queda em 2009, para nova alta em 2010. Ele disse que ao longo dos últimos cinco anos, o governo permitiu desoneração de R$100 bi: - A carga subiu por causa da alta do PIB e da formalização. Reduzimos IR, IPI, diminuímos carga sobre pessoa física com novas alíquotas e diminuição de impostos indiretos. Estamos melhorando o aproveitamento do crédito do PIS/Cofins de 24 meses para 12, e logo irá a zero. Para a maioria das empresas e pessoas a sensação é de pagar mais e as estatísticas mostram aumento do percentual de impostos sobre o PIB. Mas o importante é que Mantega garante que não está parada a agenda tributária e que serão anunciadas novas propostas de redução ou simplificação de impostos no próximo mês. Mantega se disse "perplexo" com o que está acontecendo com Dominique Strauss-Kahn: - Espero que tudo se esclareça o mais rapidamente possível. Nossa avaliação é de que ele foi um dos melhores diretores-gerentes do FMI. Tem feito excelente trabalho, coordenou os países na crise, foi muito ativo e importante na busca de uma solução. Contou que quando Dominique Strauss-Kahn veio ao Brasil pedir nosso apoio para assumir o comando do Fundo, prometeu que na sua sucessão lutaria para que fosse derrubado o critério que estabelece que só um europeu pode ser o dirigente do FMI: - É prematuro discutir a sucessão no Fundo e o Brasil torce para que tudo se esclareça em favor do Dominique, mas é preciso se estabelecer a meritocracia, que a pessoa que dirija o FMI seja escolhida por seus méritos e não por ser europeu. Ele é um europeu competente, mas há nomes também de países emergentes. Vamos batalhar pela meritocracia. Outro assunto que conversei com o ministro foi a inflação e as pressões inflacionárias. Ele admitiu que o governo está preocupado, como toda a sociedade: - Vivemos um surto mundial que atinge mais as economias aquecidas, como as emergentes. A inflação de commodities está recuando, mas nas economias que crescem mais o risco é de que a alta de preços seja difundida. No Brasil há a indexação que permanece. Mas nos últimos cinco anos a meta foi cumprida. Em 2010, a economia ficou muito aquecida, mas estamos desaquecendo. Estamos jogando água na fervura sem apagar o fogo. Mantega admitiu que os juros altos o incomodam, mas afirmou que agora eles não podem cair. O ministro Guido Mantega disse que no mês que vem o governo vai anunciar propostas e medidas para reduzir a carga tributária. Uma das principais decisões é a de desonerar a folha de salários para as empresas. A Fazenda já está conversando com os governadores para a redução do ICMS estadual. Ele garante que não se pensa em recriar a CPMF. -------------------------------O Estado de S. Paulo - 18/05/2011 Capitais inflacionários Celso Ming O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, vem denunciando que o afluxo de moeda estrangeira no Brasil se tornou, mais que tudo, fator de inflação. A presidente Dilma Rousseff avisa e torna a avisar que a prioridade de política econômica do seu governo é combater a inflação. Ou seja, se é para levar a sério tanto o diagnóstico do presidente do Banco Central como a política da presidente da República, é preciso conter drasticamente a entrada de capitais. Não se trata mais de conter a entrada de moeda estrangeira para segurar o tombo do dólar, mas, sim, para truncar a marcha da inflação. Tanto a afirmação de Tombini quanto a conclusão acima precisam ser melhor qualificadas. À primeira vista, parece estranha essa afirmação, dado que a derrubada do dólar no câmbio interno que se segue ao afluxo de capitais cumpre o efeito colateral de segurar os preços internos a partir de uma entrada mais acentuada de importados. Ou seja, a âncora cambial vinha sendo reconhecida como recurso anti-inflacionário, e não o contrário. Mas Tombini se refere à forte tomada de empréstimos em moeda estrangeira por parte de bancos brasileiros. São recursos que vêm para cá não para serem reaplicados em renda fixa e assim tirar proveito dos juros mais altos, mas para servir de funding para operações de crédito. Em outras palavras, os bancos brasileiros estão tirando proveito da forte abundância de recursos no mercado externo para ampliar suas operações de crédito e, dessa maneira, sabotam a política de juros que tem como um dos seus objetivos conter o crédito. A determinação do Banco Central é inibir a expansão do crédito superior a 15% neste ano para, assim, segurar o consumo e evitar a disparada dos preços. No entanto, como ontem apontou reportagem do jornal O Globo, o avanço das operações de crédito dos grandes bancos brasileiros, no primeiro trimestre de 2011 em comparação com igual período do ano passado, está muito acima desses 15%. A Caixa Econômica Federal, por exemplo, está expandindo o crédito ao ritmo de 39,4% e a direção do banco avisou há dias que não vai reduzir a marcha. O outro grande banco estatal, o Banco do Brasil, vai aumentando sua carteira de crédito a 19,3%. Ou seja, os maiores bancos estatais são os primeiros a ignorar a determinação do Banco Central. Como os bancos privados não podem se dar ao luxo de perder participação de mercado, não há o que consiga deter a marcha do crédito. O Banco Central não está de olho somente na tomada de empréstimos externos pelos bancos brasileiros. Quer também reduzir a tomada de empréstimos externos pelas grandes empresas brasileiras. Se estas se abastecem de crédito lá fora, deixam os bancos com mais recursos aqui dentro para reemprestar a outras empresas. O problema é que as empresas brasileiras precisam de mais recursos. Só a Petrobrás já avisou que planeja captar pelo menos mais US$ 60 bilhões nos próximos cinco anos no mercado externo. Esta será uma equação difícil de armar sem prejudicar o futuro da empresa brasileira e o desenvolvimento do País. No mais, fechar essa porta do crédito externo implica desistir de tirar proveito da atual bonanza global, para reabri-la em que momento? Quando voltar a seca de capitais? CONFIRA De vento em popa O setor de serviços foi, de novo, o que mais proporcionou empregos com carteira assinada no País em abril: 114,4 mil postos de trabalho e crescimento de 0,78%. Na indústria de transformação, houve aumento de 0,63% e no comércio, de 0,52%. Mercado aquecido Os números do Caged mostram que o mercado de trabalho segue aquecido às vésperas das mais importantes negociações salariais do País. -------------------------------- ECONOMIA E OUTRAS NOTÍCIAS Correio Braziliense - 18/05/2011 Trabalho em alta no Norte e no Nordeste O mapa da mina para o emprego Cristiane Bonfanti e Larissa Garcia EMPREGO Estados como Amazonas, Pará, Bahia e Paraíba tiveram forte alta na criação de postos com carteira assinada. No entanto, Sul, Sudeste e Centro-Oeste reduziram o ritmo de crescimento. Em abril, foram abertas 272.225 vagas. TRABALHO Regiões mais pobres, como o Norte e o Nordeste, lideram a abertura de vagas com carteira assinada. Indústria e construção contratam mais no Centro-Oeste O Brasil criou 272.225 empregos formais em abril. O resultado mostra queda de 10,7% em relação ao mesmo mês do ano passado, quando foram abertas 305.068 vagas. Mas, independentemente desse desempenho nacional, estados da Região Norte, como o Amazonas e o Pará, e do Nordeste, como a Bahia, ampliaram a oferta de trabalho com carteira assinada na mesma comparação. A Paraíba, que havia apontado saldo negativo de 206 postos entre março e abril de 2010, abriu 1.902 vagas no mês passado. Os dados reforçam a tendência de desconcentração da economia brasileira, movimento que, ao longo dos últimos anos, vem beneficiando as áreas mais pobres do país. Com forte expansão, estados conhecidos como exportadores de mão de obra para os grandes centros urbanos passaram a atrair investimentos e trabalhadores. Dados do Ministério do Trabalho mostram que, de 2008 para cá, depois do estouro da crise financeira internacional, o Norte do país apresentou o maior crescimento na criação de empregos formais — foram abertas 144.277 vagas no ano passado, ante 60.582 dois anos antes — um aumento de 138,1%. No Nordeste, a elevação foi de 89,8%, de 266.642 para 506.186. Enquanto isso, a abertura de vagas no Sul, no Sudeste e no Centro-Oeste cresceu em ritmo mais lento, 49,1%, 39% e 30,8%, respectivamente. Volta para casa No primeiro quadrimestre deste ano, os resultados para todo o Brasil foram animadores: 880.717 empregos. No Centro-Oeste, que abriu 105.513 postos no período, atrás do Sudeste e do Sul, o desempenho foi puxado pelos setores da indústria da transformação, dos serviços e da construção civil. Em abril, o Centro-Oeste criou 21.237 vagas, ante as 10.551 abertas em março. No DF, houve uma criação líquida de 5.244 postos, com expansão de 174% em relação aos 1.913 de março. O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, chamou a atenção para o desempenho mais modesto da região Nordeste nesse período, devido às chuvas que prejudicaram o cultivo da cana de açúcar. Ainda assim o ministro confirmou a tendência de desconcentração da mão de obra no Brasil. “Atualmente, o fluxo migratório é diferente. Os nordestinos estão voltando para os estados de origem. Além disso, a região está atraindo trabalhadores de fora”, salientou. Para o economista da Fundação Getulio Vargas (FGV) Armando Castelar, o aumento do preço das commodities (produtos primários com cotação internacional), depois da crise mundial, beneficiou diretamente a economia de estados agrícolas. “É um efeito de longo prazo, uma desconcentração positiva da atividade econômica. Claramente, são estados que, além de estarem fora do eixo Rio-São Paulo, são ligados à agricultura”, observou. Além da força da agricultura, o governador de Roraima, José de Anchieta Júnior (PSDB), afirmou que a construção civil tem forte impacto no aquecimento do mercado de trabalho. “Nos últimos três anos, fizemos obras estruturais muito importantes para o estado. Agora, estamos reconstruindo a BR-174, que liga a Região Norte aos países do Caribe, e isso tem criado empregos tanto na capital quanto no interior”, disse. Segundo ele, com a regularização fundiária, a tendência é de que a produção agrícola avance mais. “A vocação do estado é o setor primário. Também devemos ter mais oportunidades no comércio, devido à estabilidade econômica e ao aumento da renda da população”, ressaltou. O economista da Opus Investimentos José Márcio Camargo destacou, ainda, a importância dos programas de transferência de renda tocados pelo governo federal, mais precisamente o Bolsa Família, para alavancar a atividade no interior do país. “Essas medidas aumentam a demanda da população por bens e serviços e, consequentemente, impulsionam o mercado de trabalho. Nos anos 1990, começou um movimento de interiorização. A tendência é que isso continue”, apostou. Nova geografia Na Bahia não é diferente. Com 30.474 vagas formais criadas apenas nos quatro primeiros meses deste ano, o estado tem se destacado no setor de serviços e na construção civil. “Mesmo depois da crise, seguimos apresentando recordes na criação de empregos. Cerca de 80% dos postos foram abertos por micro e pequenas empresas. E o Bolsa Família teve relevância, principalmente, no interior do estado”, disse o diretor-geral da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais do estado, Geraldo Reis. Ele contou que as alterações no cenário econômico estão mudando a cara da Bahia. “Quem sai do Aeroporto Internacional de Salvador e segue pela Avenida Paralela percebe a construção de bairros inteiros. Além disso, tínhamos apenas dois shoppings. Nos últimos três anos, outros três foram erguidos”, afirmou. A perspectiva é de que o estado cresça, em média, 5% ao ano até a Copa do Mundo de 2014. O economista da Faculdade da Academia Brasileira de Educação e Cultura (Fabec-RJ) Max Monteiro, alerta para os problemas sociais que a interiorização das vagas e a migração de trabalhadores para as regiões Norte e Nordeste podem causar. “O questionamento é sobre os transtornos a que esses fenômenos vão levar. A Coreia do Sul fez 30 anos de reforma educacional para ter a atual quantidade de engenheiros e técnicos. Nós precisamos de capital humano de qualidade para que as novas necessidades do país sejam satisfeitas. Caso contrário, se não tivermos base para o aumento da demanda, a consequência será a inflação”, observou. Apagão De fato, com o recorde na criação de empregos, a preocupação de governos e empresas é encontrar profissionais capacitados. Um dos setores mais críticos é o da construção civil, por causa do crescimento do mercado imobiliário no país e das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) revela que a falta de mão de obra qualificada atinge 89% das construtoras. A situação é comum no Amazonas. Ao comemorar a criação de 18.586 vagas apenas nos primeiros quatro meses deste ano, a secretária do Trabalho do estado, Iranildes Caldas, ressaltou a dificuldade em encontrar profissionais. “Infelizmente, esse é o gargalo no Amazonas. Hoje, todos os pedreiros e carpinteiros bons já estão empregados”, disse. -------------------------------O Globo - 18/05/2011 Arminio Fraga pede mais transparência no BNDES Liana Melo Ex-presidente do Banco Central elogia governo Dilma Rousseff por adotar a meritocracia no setor público Ao elogiar a presidente Dilma Rousseff no seu esforço de investir na meritocracia no serviço público como forma de aperfeiçoar a gestão governamental, o ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga aproveitou para cutucar o BNDES, onde esteve na manhã de ontem para participar do XXIII Fórum Nacional, promovido pelo ex-ministro João Paulo dos Reis Velloso. Mesmo admitindo estar bem impressionado com os sinais dados pelo governo nesse sentido, Arminio disse que "faz falta um maior esforço de transparência e autoavaliação" no banco de fomento: - Isso se aplica também a esta ilustre casa que está nos recebendo. Arminio admitiu que a meritocracia é difícil de ser posta em prática, até porque, no caso da sua aplicação aos órgãos públicos, "pode exigir o afastamento de aliados". Ainda assim, ele vê com "esperança e entusiasmo" as sinalizações dadas pela presidente. O foco na gestão é crucial. Independentemente do tamanho (no sentido de presença) do Estado, se pequeno, como os Estados Unidos, ou grande, como a Escandinávia, não há país desenvolvido sem gestão eficiente - disse Arminio. À frente da Gávea Investimentos e membro do Conselho de Administração da BM&FBovespa, o economista aproveitou para comentar sobre a "surpresa negativa" dos dados referentes à taxa de investimento no país: 18,4% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) em 2010. - Algo em torno de 25% é o mínimo para acelerar e sustentar o crescimento - disse Arminio, avaliando que o governo Dilma optou "por um Estado grande, mas que investe pouco". Arminio irrita Mercadante ao falar em Estado grande Essa declaração irritou o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, que também participou do encontro. Em resposta ao comentário de Arminio sobre um Estado grande, o ministro lembrou as privatizações feitas durante o governo Fernando Henrique nos setores de siderurgia, mineração e telecomunicações: - Não acho que a saída seja insistir na tese de um Estado mínimo. Depois das privatizações, sobrou o Palácio do Planalto. E a Petrobras e o BNDES - afirmou Mercadante. -------------------------------Valor Econômico - 18/05/2011 Belo Monte pode atrasar um ano Tarso Veloso | De Brasília O presidente do Ibama, Curt Trennepohl, disse que não sabe quando será aprovado o parecer definitivo da obra da usina de Belo Monte. Durante seminário no auditório do Ministério das Minas e Energia, ele não se comprometeu com a data mencionada por mais de uma vez pelo ministro Edison Lobão, que espera a licença de construção para junho. Há o risco, portanto, da obra só começar no segundo semestre de 2012. Os técnicos do Ibama responsáveis pela análise da obra retornaram, na semana passada, de uma vistoria ao local da usina e ainda não finalizaram a análise. A licença de instalação é exigida para que as obras da hidrelétrica possam ser efetivamente iniciadas. "Se todas as condicionantes estiverem cumpridas o Ibama vai emitir licença para instalação. Não é papel do Ibama permitir ou não a construção, mas ver se as condicionantes foram ou não cumprida", disse Trennepohl. Segundo Antônio Coimbra, diretor Socioambiental do consórcio Norte Energia, já foram contratados R$ 103 milhões em ações antecipatórias. O início de Belo Monte pode sofrer atraso de até um ano caso a licença de instalação da usina não saia até novembro, que marca o fim do período de seca região. -------------------------------O Estado de S. Paulo - 18/05/2011 País abre 272 mil vagas formais de emprego em abril Célia Froufe Depois de números pífios em março, o mercado de trabalho formal voltou a se aquecer em abril. E a expectativa do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, é que a expansão ocorra mês a mês até que o saldo de criação de vagas líquidas atinja a marca histórica de 3 milhões de novos postos este ano. Para ele, isso será possível porque, ao contrário do que foi visto em 2010, a tendência é de aquecimento do setor na segunda metade do ano. No mês passado, foram criados 272,2 mil empregos com carteira assinada. Muito acima dos 103 mil postos verificados em março, depois da atualização do número, mas distante do resultado do mesmo mês de 2010, quando o saldo foi recorde para o período, com 349 mil novas vagas. No acumulado de janeiro a abril, os números seguem mais fracos em 2011: chegaram a 880.717, depois de ultrapassarem a barreira de 1 milhão no mesmo período de 2010. "Controlada a inflação, a tendência é de crescimento maior de geração de empregos com carteira assinada no segundo semestre", avaliou Lupi ao detalhar os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) ontem. "O primeiro semestre de 2010 foi muito forte e o comportamento do emprego este ano será diferente: teremos mais expansão no segundo semestre." O curioso é que Lupi prevê um aquecimento do mercado de trabalho mesmo sabendo que o crescimento econômico do Brasil será menos robusto do que os 7,5% verificados em 2010. Ele disse que isso é possível porque as novas vagas serão fruto de investimentos já ocorridos e que começam a amadurecer, com as empresas passando para a fase de contratação. Como ilustração, o ministro lembrou que, apesar da leve queda do Produto Interno Bruto (PIB) de 2009, o saldo das contratações com carteira assinada foi de 1,4 milhão. Além disso, segundo ele, há uma aposta de que os juros, se não caírem "um pouquinho" na segunda metade do ano, permaneçam pelo menos estáveis. Lupi disse não ter dúvidas de que o resultado de maio será melhor do que o de abril. Mesmo sem cravar um número, ele previu que o saldo deste mês ficará acima da média dos últimos quatro anos, como ocorreu em abril, cuja média ficou em 252 mil. A média para os meses de maio de 2007 a 2010, no entanto, é mais baixa, de 248 mil postos. "Estou muito otimista para maio: a construção civil está muito forte; os serviços, pujantes, e o Centro Oeste voltando a crescer na área agrícola", enumerou o ministro. Setores. O setor de serviços liderou a abertura de vagas em abril, com o volume recorde para o mês de 114,4 mil postos. Também uma marca, mas com menor expressividade, apresentou o comércio, ao criar 41.587 postos. A indústria criou 51,3 mil novos empregos e a agricultura e a construção civil, que estavam enfraquecidas em março, voltaram a empregar: saldo de 28,1 mil e 29,8 mil vagas, respectivamente. Justamente a agricultura é que impulsionou a força do mercado em abril, gerando mais vagas no interior do que das grandes metrópoles.