Ortopedia out 12 - Centro Hospitalar São João

Transcrição

Ortopedia out 12 - Centro Hospitalar São João
SERVIÇO DE ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA DO CENTRO HOSPITALAR DE S. JOÃO
54 anos
de trabalho em
prol do doente
ortopédico
Criado há quase 55 anos, o Serviço é
composto por três vertentes, a assistencial, a de ensino – pré e pós-graduado
– e a de investigação. Além disso, e
não fosse este um Serviço central que
abrange toda a área do Norte, está
internamente organizado por grupos
funcionais. “São unidades de estudo
e tratamento de várias patologias ou
áreas. Estamos divididos em Grupo Funcional da Coluna, do Ombro e Cotovelo,
do Punho e Mão, da Anca, do Joelho,
do Tornozelo e Pé e, ainda, de Ortopedia Infantil”, explica.
Ao referir que trabalham atualmente neste
espaço 45 médicos, dos quais 12 são internos, 61 enfermeiros e quatro assistentes/secretárias, o Dr. Rui Pinto conta que
o Serviço conheceu apenas, para além
dele próprio, quatro diretores. O primeiro
foi o Prof. Carlos Lima (também fundador), que assumiu o cargo de direção
durante 32 anos, tendo-se seguido os
Profs. Doutores José de Oliveira, Luís de
Almeida e Abel Trigo Cabral.
Resposta mais célere
à necessidade dos
doentes
Com diferentes áreas de diferenciação e
caracterizado pelo seu diretor como central
e polivalente, o Serviço de Ortopedia e
Traumatologia do Centro Hospitalar de São João,
no Porto, dá resposta a todo o tipo de patologias
ortopédicas dos doentes da zona Norte.
“O Serviço de Ortopedia e Traumatologia está integrado num hospital central
e dá resposta a uma multiplicidade de
patologias, desde a área pediátrica à
de adultos, desde a Traumatologia às
artroplastias, aos tumores e às infeções.” Quem o afirma é o Dr. Rui Pinto,
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diretor deste Serviço há cerca de dois
anos, em entrevista ao Mundo Médico®,
explicando que o mesmo é constituído
por três espaços físicos: dois setores de
adultos, um dedicado à Ortopedia, outro
à Traumatologia e uma área Pediátrica,
de Ortopedia Infantil.
Quando questionado acerca dos objetivos a que se propôs ao assumir o cargo
de diretor, o Dr. Rui Pinto responde que
os seus passos iniciais foram dados
com a finalidade de “melhorar a performance de funcionamento do Serviço”.
“Modifiquei algumas normas, nomeadamente a nível da chamada dos doentes,
da sua revisão e do internamento, de
forma a sermos mais céleres na resposta”, menciona o entrevistado.
Resultante destas alterações, o Serviço
tem parâmetros “muito bons” em termos
de serviço de hospital central. “Temos
já uma média de internamento de 5,4
dias, o que é já inferior à média de valor
nacional, o que é ótimo para o tipo
de assistência que damos. São casos
complicados, que obrigam a uma maior
permanência no hospital.”
De facto, os números tendem a subir.
O ano passado, o Serviço efetuou um
total de 32.189 consultas e a expectativa para 2012 é, de acordo com o seu
diretor, de 36.500. Parece ser uma meta
alcançável, uma vez que, no início de
julho, tinham sido já realizadas 18.000.
Em termos de cirurgias, em 2011, foram
feitas 4611 e o expectável para este ano
é de 5576.
O Serviço regista, ainda, um número
de doentes saídos (tratados), à data de
dezembro de 2011, de 3551. Os pacientes operados foram 3338. “Isto significa
que, durante um ano, cerca de 250
doentes foram internados para procedimentos conservadores. Contudo, este
é um serviço eminentemente cirúrgico e
esse valor é de apenas 10%”, explica.
Para este ano, estima-se que sejam
operados 4465 doentes.
PRODUÇÃO CIENTÍFICA
O Dr. Rui Pinto menciona que foi feito,
este ano, “um grande investimento em
cirurgia de ambulatório”. Existem agora
dois polos, um no Hospital de São João
e outro no Hospital de Valongo, onde só
se faz este tipo de cirurgia.
Próximo objetivo:
banco de tecidos
Dr. Rui Pinto
Os transplantes de tecido dentro da
Ortopedia é uma das áreas que se encontra já em desenvolvimento. “Estamos
num processo de acreditação do banco
de tecidos da zona Norte e gostaríamos
de concretizar esta missão, de forma a
recolhermos também tecidos, para além
do osso, que possam ser implantados
Neste capítulo, estão em curso
vários trabalhos de investigação
científica que fazem parte de teses
de doutoramento. Além destes, a
produção científica do Serviço tem
permitido apresentar e publicar
múltiplos trabalhos em congressos
e revistas nacionais e internacionais, alguns galardoados com
prémios a nível nacional.
secundariamente”, indica, desenvolvendo que este é um processo que tem
vindo a evoluir e afirmando acreditar
que, “até ao fim do ano”, será possível
implementar esta colheita.
Por fim, o Dr. Rui Pinto aponta também
algumas das dificuldades do Serviço,
que se prendem essencialmente com a
aquisição de novos materiais e equipamentos e, ainda, com a contratação
de novos especialistas. “Os quadros
hospitalares têm de ser renovados.
É impossível continuar a geri-los quando
a média de idades é de 50-60 anos.
Temos de pensar que quando formos
embora alguém tem de ficar a ‘tomar
conta da casa’”, desabafa.
E conclui: “Temos um Serviço polivalente, que tem a capacidade de dar
uma ótima preparação aos internos e,
com a criação dos grupos funcionais,
consegue também apostar na evolução
cirúrgica dos especialistas, uma vez
que as pessoas se dedicam mais a um
determinado tipo de cirurgia.”
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SERVIÇO DE ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA DO CENTRO HOSPITALAR DE S. JOÃO
Traumatologia
e Consulta Externa:
duas vertentes essenciais
e em constante evolução
Fazendo parte integrante da equipa do Serviço
de Ortopedia e Traumatologia desde 1982,
o Dr. Sérgio Silva é, desde há três anos,
responsável por Trauma 8 e, há 10 anos, pela
Consulta Externa e fala-nos um pouco acerca
do funcionamento e das características de cada
uma destas vertentes.
Dr. Sérgio Silva
No que diz respeito às Consultas Externas, o ortopedista conta que um dos
seus primeiros objetivos, desde que
assumiu a coordenação desta área,
foi diminuir o tempo de espera dos
doentes pelas consultas. “A demora
média era de oito meses. Atualmente,
estamos com cerca de seis semanas
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e aumentámos significativamente o
número de primeiras consultas, em
relação aos doentes externos ao hospital”, indica.
As formas de referenciação para a
Consulta Externa são diversas. Pode,
segundo o Dr. Sérgio Silva, ser externa
ou interna. A primeira é normalmente
efetuada pelo médico de família, das
diversas unidades de saúde que fazem
parte da área de referência do hospital. A interna pode ser feita por outros
serviços do hospital, incluindo o de
Urgência e, ainda, pelo Internamento.
A Traumatologia está, logicamente,
dividida em dois setores, um masculino
e um feminino. “Os doentes são internados através do Serviço de Urgência
e todos os dias é feita uma visita em
grupo, para que possamos avaliar cada
um dos doentes, ver a orientação a
dar e o timming mais adequado para a
realização dos tratamentos”, explica.
As patologias mais frequentes internadas em Traumatologia, segundo o
seu responsável, são, em função do
envelhecimento da população, e principalmente nas mulheres, as fraturas do
colo do fémur. “Além destes casos, são
internados doentes com lesões traumáticas resultantes dos mais variados
acidentes. Merecem especial referência
os acidentes rodoviários com fraturas a
vários níveis.
O Serviço de Ortopedia e Traumatologia está localizado em dois pisos:
um novo, onde se situa a Ortopedia, e
outro mais antigo, da Traumatologia.
“Um dos projetos futuros seria termos
um serviço remodelado, com instalações novas para a Traumatologia”,
refere o Dr. Sérgio Silva, ao falar dos
seus objetivos enquanto responsável
por esta vertente.
E termina: “Nos últimos meses, houve
melhoria da assistência prestada, com
a inclusão, no corpo de enfermagem,
de enfermeira de reabilitação, para
ensino e reabilitação dos doentes.”
Profissionais
diferenciados dão apoio
a uma multiplicidade
de patologias
São sete os Grupos Funcionais que constituem
o Serviço: Coluna, Ombro, Punho e Mão,
Anca, Joelho, Tornozelo e Pé e Ortopedia
Infantil. Não são subespecialidades, mas áreas
de diferenciação, que permitem manter a
especialização técnica e a capacidade de atuar e
responder de forma eficaz a situações extremas,
exigentes e rigorosas.
Grupo da Coluna:
uma área com tradição
O Serviço de Ortopedia e Traumatologia
tem quase 55 anos e, segundo o Dr.
Vitorino Veludo, assistente hospitalar
graduado e responsável pelo Grupo
Funcional de Coluna, sempre teve e
mantém uma “tradição tremenda” no
que diz respeito à cirurgia da coluna.
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SERVIÇO DE ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA DO CENTRO HOSPITALAR DE S. JOÃO
“Este espaço conheceu apenas cinco
diretores de serviço até hoje e alguns
deles marcaram a cirurgia da coluna em
Portugal, como os Profs. José Oliveira
e Luís Almeida e, agora, o Dr. Rui Pinto,
que é o presidente da SPOT e da SPC”,
observa.
“Ao longo dos anos, e à medida que
o Serviço foi evoluindo, verificou-se
uma necessidade crescente, até pela
especificidade das situações, de haver
uma diferenciação das várias áreas”,
afirma o Dr. Vitorino Veludo. E explica:
“Não há subespecialidades na Ortopedia, existem sim pessoas que, durante
a sua formação, se diferenciaram numa
determinada área. Eu fui direcionado
para a cirurgia da coluna.”
“Um hospital com esta grandeza sofre
grande pressão em termos de pedidos
de consultas”, observa, concluindo haver
uma grande vantagem nesta diferenciação: “É possível manter uma capacidade
de especialização técnica, que não conseguiríamos ter se nos mantivéssemos na
generalidade da Ortopedia.”
Dr. Vitorino Veludo
Atualmente, com oito especialistas a fazer Consulta de Coluna, o Grupo efetua
uma média de 200 consultas e quatro
tempos de bloco por semana.
“As patologias mais frequentes são as
deformidades da coluna vertebral, isto
é, as escolioses, as cifoses idiopáticas,
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as consequências das doenças neuromusculares e as deformidades congénitas”, enumera o Dr. Vitorino Veludo,
acrescentando que seguem, também,
as patologias degenerativas da coluna,
as situações de infeção e os processos
tumorais da coluna.
Grupo do Ombro:
um futuro “centro de
referência”
“Formação e evolução técnica” são, segundo o seu coordenador, Prof. Doutor
Manuel Gutierres, as imagens de marca
do Grupo do Ombro. “É um desafio estimulante recorrer às técnicas mais atuais
no tratamento das patologias”, afirma o
também docente da cadeira de Ortopedia e responsável pelos internos.
E acrescenta: “Daí o interesse da
diferenciação por áreas, de forma a ser
possível acompanhar o que de mais
avançado se pratica, podendo depois
tratar um número suficiente de casos/
/ano para acumular experiência.”
Referindo que a profissão médica e a
paixão pela Ortopedia são para si “um
fator de felicidade”, o entrevistado, que
trabalha no Serviço desde 1992, recorda
como nasceu este grupo.
“Lecionámos na faculdade as aulas referentes à patologia do joelho e ombro.
Nessa altura, fomos obtendo o domínio
da técnica de artroscopia através do
treino que adquirimos no joelho e que
pretendíamos alargar também ao ombro. Assim, solicitámos ao responsável
da consulta externa, o Dr. Sérgio Silva,
que efetuasse uma triagem dos doentes
com patologia do ombro e os dirigisse
para nós. Os restantes colegas do serviço e de outras especialidades também
colaboraram”, conta.
O futuro é aguardado com expectativa e
confiança. O Prof. Doutor Manuel Gutierres diz acreditar que, com a experiência
que estão a acumular, podem tornar-se
“num centro de referência” e ajudar os
colegas de outros hospitais a tratar os
casos mais complicados, assim como
recebê-los em estágios na área.
O ortopedista faz ainda referência à candidatura à coordenação da Secção do
Ombro da Sociedade de Ortopedia, com
a colaboração dos Drs. Marco Sarmento
e Pedro Lemos.
Grupo do Punho
e Mão: jovem, mas com
história
Prof. Doutor Manuel Gutierres
Com o passar dos anos, foi-lhes atribuído um bloco extra e, mais recentemente, com a entrada em funcionamento
do Centro de Cirurgia Ambulatório, o
grupo teve a possibilidade de ter mais
uma manhã semanal dedicada à cirurgia
artroscópica do ombro.
Atualmente, em termos de cirurgia
aberta, são aqui efetuadas todo o tipo
de artroplastias do ombro, assim como
osteossínteses complicadas ou mesmo
transferências musculares. Quanto à
cirurgia mini-invasiva, o grupo trata por
artroscopia não só instabilidades glenoumerais, como também roturas da coifa e
patologia traumática ou degenerativa da
acromioclavicular.
O docente faz questão de referir a
importância dos elementos mais novos
que colaboram ou já colaboraram com
o grupo, afirmando serem um constante
estímulo e “veículo de nova informação e
experiência”.
“O Grupo do Punho e Mão surgiu há
quatro anos, por iniciativa do Dr. Rui
Pinto, que considerava ser importante a
existência de um grupo que se dedicasse em especial a este tipo de cirurgia,
muito com o objetivo de haver alguma
diferenciação no tratamento da patologia
da mão”, lembra o Dr. Rui Milheiro Matos, assistente graduado e responsável
por este Grupo.
Esta criação foi, também, uma forma de
homenagear o Prof. José de Oliveira,
que dedicava parte do seu tempo a esta
área. Foi então, há quatro anos, que
nasceu o grupo e que o Dr. Rui Milheiro
Matos, que trabalha no Serviço há 20,
Dr. Rui Milheiro Matos
abraçou o projeto, que conta com três
especialistas em Ortopedia e um interno
da especialidade.
Ali se realizam muitas cirurgias, quer da
Mão Traumática, quer da Mão Ortopédica, sendo nestas as mais frequentes as
artroplastias, tanto do punho, como das
interfalângicas, das metacarpofalângicas
e das trapeziometacarpianas.
“Temos trabalhado em colaboração
com a Neurologia e a Medicina, por causa das mãos espásticas, para permitir
uma melhor qualidade de vida a estes
doentes”, conta. E menciona: “Os números da cirurgia de ambulatório, neste
último ano, desde que abriu a Unidade
em Valongo, integrada no Centro Hospitalar desde 2011, têm sido cada vez
mais elevados.”
O grupo está agora, como informa o
Dr. Rui Milheiro Matos, empenhado em
poder ter os materiais mais recentes,
de forma a fazer uso das técnicas mais
avançadas de artroplastia para as diferentes patologias.
Grupo da Anca:
resposta eficaz a casos
difíceis
Constituído por três especialistas e dois
internos, o Grupo da Anca dedica-se
em particular, e segundo o Dr. António
Mateus, seu responsável, à resolução
das situações mais complicadas de
patologia da anca.
“Os casos mais difíceis que nos aparecem, e começando pela ‘cirurgia mais
exigente’, são as revisões das próteses
totais da anca, em que, nas situações
de grande perda óssea, temos de utilizar
enxerto ósseo e recorrer a diversos tipos
de material apropriado a cada caso”,
afirma o Dr. António Mateus. E conta:
“Por se tratar de uma cirurgia complexa,
por vezes, temos dificuldades e limitações, quer pela duração da cirurgia,
pelas perdas hemáticas, quer ainda pelas diversas e frequentes comorbilidades
que os doentes apresentam.”
Por outro lado, continua, as próteses
primárias são geralmente simples de
realizar, contudo, as secundárias a
doenças como a displasia do desenvol-
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SERVIÇO DE ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA DO CENTRO HOSPITALAR DE S. JOÃO
vimento da anca são mais complicadas,
uma vez que a reconstrução se torna
difícil.
Desde há alguns anos, este grupo faz
também a denominada cirurgia conservadora da anca, “o tratamento do
conflito femoroacetabular (CFA), pela
técnica mista de Ribas, onde há uma
miniabordagem complementada por
artroscopia”.
“Estamos também a avançar na cirurgia
artroscópica, que já fazemos, assim
como na cirurgia conservadora da anca,
nomeadamente com as osteotomias
periacetabulares”.
Segundo o responsável do Grupo, que
trabalha no Serviço há 20 anos, os profissionais da área da anca realizam cerca
de 100 cirurgias por ano e uma média
de 400 consultas.
Dr. António Mateus
O tempo de internamento pode ser prolongado, dependendo do tipo de cirurgia
e se ocorreu ou não alguma complicação. “Muitas vezes são tratamentos
prolongados, porque recebemos neste
hospital casos difíceis de tratar, como
infeções, muitas por bactérias resistentes aos antibióticos”, refere.
E conclui: “Para ultrapassar as dificuldades e desafios que vão surgindo,
fazemos a necessária atualização
constante dos nossos conhecimentos, frequentando cursos e fazendo
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estágios no estrangeiro com experts
na matéria.”
Grupo do Joelho:
“prevenção”
é a palavra-chave
Responsável pelo Grupo do Joelho
desde 2001, o Dr. Paulo Oliveira explica
que o mesmo é constituído por três elementos, que se dedicam ao tratamento
da patologia do joelho nas suas várias
vertentes, desde a Traumatologia Desportiva à Patologia Degenerativa.
“Trabalhamos com uma equipa
multidisciplinar, no sentido da recuperação funcional e da integração socioeconómica e familiar do doente”, indica.
Para tal, foi instituído um programa ao
nível da anca e do joelho para tratamento da patologia degenerativa. Também
responsável por este projeto, o Dr.
Paulo Oliveira frisa consistir em ações
de formação junto dos doentes, dadas
por uma equipa composta por um
cirurgião, um anestesista, um enfermeiro
de reabilitação e um assistente social.
“O programa visa apresentar ao doente,
de forma explícita, todo o seu percurso
no serviço, perante a hipótese de uma
substituição da anca ou do joelho.”
Na ótica deste especialista em Ortopedia, esta iniciativa permite que o doente
tenha uma compreensão mais abrangente do problema e uma adesão mais
integrada ao projeto, que inclusivamente
permite a diminuição do tempo de
internamento. “Isto é muito importante.
Neste momento, estamos nos quatro
dias, enquanto antigamente a média era
de seis a sete dias”, salienta.
O Grupo do Joelho desenvolveu, ainda,
um programa na área da prevenção da
artrose, onde são identificados os mecanismos subjacentes a este problema
e cujo objetivo é atuar em conformidade, corrigindo as alterações possíveis,
tentando atrasar de forma significativa a
evolução natural da patologia degenerativa do joelho.
Além deste, o grupo tem um programa
de estudo na área dos transplantes
meniscais e de enxertos osteoligamentares, nomeadamente para as reconstruções de ligamento cruzado anterior. No
entanto, e segundo o Dr. Paulo Oliveira,
está ainda dependente da validação por
parte da entidade competente do banco
de osso.
çar a identificar de forma mais precoce
os problemas e agir em conformidade”,
remata.
Grupo do Tornozelo
e Pé: técnica
e dedicação
Dr. Paulo Oliveira
“O Serviço teve sempre uma área
de Tornozelo e Pé com especialistas
dedicados”, afirma o Dr. António Moura,
chefe de serviço e responsável por este
Grupo Funcional, que trabalha no Serviço desde 1981. Esta área conta com a
colaboração de dois ortopedistas e de
alguns internos da especialidade. “Damos formação a praticamente todos os
internos do Serviço. Ensinamos-lhes o
que sabemos e motivamo-los para que
partam para novas técnicas”, refere.
O Grupo tem, segundo o Dr. António
Moura, dois grupos de consultas semanais e um dia dedicado apenas à cirurgia
de tornozelo e pé.
“O grande futuro da Medicina está na
Biomedicina. A patologia do joelho passa muito mais pela prevenção do que
pela atuação curativa. Temos de come-
Dr. António Moura
“Abrangemos todas as patologias.
Fazemos as cirurgias comuns e também
a supra especializada do tornozelo e pé,
normalmente em doentes que tiveram
complicações em episódios anteriores
ou que recorreram tardiamente ao tratamento”, menciona o responsável.
E refere: “Damos ainda apoio de retaguarda na área do pé diabético e a
todos os casos complicados que nos
aparecem, encaminhados de outros
serviços do hospital ou até mesmo de
fora. São normalmente doentes com
recidivas ou provenientes da área da
Reumatologia.”
Questionado acerca do tempo médio de
internamento, responde que, na grande
maioria dos casos, a alta é dada nas
primeiras 48 horas após a cirurgia, à
exceção das próteses do tornozelo, em
que o pós-operatório é mais demorado,
cerca de cinco dias.
O Dr. António Moura afirma ter alguns
objetivos delineados para o Grupo.
“Temos de trazer gente nova para a área
do Tornozelo e Pé. É importante dar
formação aos mais novos e, se possível, levá-los para centros europeus de
referência, à semelhança de casos anteriores, para que tragam novas técnicas
para o Serviço”, indica. E termina: “No
futuro, temos de aumentar o número de
procedimentos das cirurgias percutânea
e de ambulatório, diminuindo assim o
tempo de internamento.”
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SERVIÇO DE ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA DO CENTRO HOSPITALAR DE S. JOÃO
Ortopedia Infantil
Técnicas
inovadoras
no tratamento
das diversas
patologias
Atualmente dirigido pelo Prof. Doutor
Gilberto Costa, chefe de serviço de
Ortopedia e regente da cadeira de
Ortopedia e Traumatologia da Faculdade
de Medicina da Universidade do Porto,
o Grupo Funcional de Ortopedia Infantil
conta com a colaboração dos Drs.
Jorge Coutinho, Nuno Alegrete e Joana
Freitas.
Situa-se, por força da lei, na Unidade
Pediátrica, um espaço à parte fora do
corpo central do hospital, conhecido
como “Um lugar para o Joãozinho”,
onde dispõe de duas enfermarias, com
um total de oito camas. Tem uma sala
de operações semanal, duas a três salas
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de Cirurgia de Ambulatório por mês e
quatro períodos de Consulta Externa por
semana.
“O Joãozinho” coloca ainda à disposição
das crianças duas coloridas salas com
brinquedos, livros, filmes e diferentes
tipos de jogos para distrair e acolher
os mais pequenos que têm de ficar
internados. No entanto, e mostrandose expectante quanto à construção do
Hospital Pediátrico do S. João, o Prof.
Doutor Gilberto Costa refere que o facto
de as crianças estarem neste espaço
“fora do hospital” acaba por colocar
alguns problemas logísticos, como, por
exemplo, o transporte para as cirurgias
Prof. Doutor Gilberto Costa
ou exames subsidiários, que, apesar
do curto trajeto dentro do perímetro do
Hospital, sempre que necessário, tem
de ser efetuado de ambulância.
“O grupo foi criado em 1984, na altura
constituído pelo Prof. Doutor Trigo
Cabral, pelo Dr. Cid Teles e por mim, dispondo inicialmente de quatro camas no
Serviço de Ortopedia e Traumatologia”,
recorda o atual coordenador do grupo.
E desenvolve: “Foi, entretanto, evoluindo
na especificidade dos serviços prestados à sua área de influência, que neste
momento abrange toda a população
pediátrica do Norte do País.”
De acordo com o Prof. Doutor Gilberto
Costa, este grupo funcional desenvolve
técnicas inovadoras no tratamento de alguns tumores ósseos com recessão da
massa tumoral e substituição da mesma
através de “transporte ósseo”.
“Depois do Dr. Nuno Alegrete ter realizado um estágio no Serviço do Dr. Ponseti,
nos EUA, aplicamos, desde há vários
anos, o Método de Ponseti para o tratamento dos pés botos, com excelentes
resultados”, conta, acrescentando que,
no campo das malformações congénitas, o grupo tem atualmente uma
experiência acumulada no tratamento
da doença do desenvolvimento da anca.
“Estas patologias são-nos enviadas de
todo o Norte do País, como ‘serviço de
fim de linha’”, menciona.
Por outro lado, e de acordo com o ortopedista, os profissionais do Grupo adquiriam, ao longo dos anos, uma grande
experiência no tratamento das sequelas
da doença de Perthes, nomeadamente,
com a reconstrução acetabular (acetabuloplastias). O diagnóstico e tratamento
das deformidades da coluna é também
um dos vetores do grupo, com alta
diferenciação na patologia.
No que confere à atividade assistencial,
o coordenador do grupo indica que, em
2011, foram efetuadas um total de 3578
consultas. “Fizemos 1740 primeiras consultas, 1836 de seguimento e tratámos
497 crianças em internamento.”
Relativamente aos doentes operados,
em Bloco Central, foram contabilizados
195 com uma média de 3,9 por período
cirúrgico (6 horas), em ambulatório 78
e 248 no Serviço de Urgência. Foram
ainda registados 823 episódios em Hos-
pital de Dia, com uma média de 5,2 por
período de 6 horas.
Falando um pouco acerca da atividade
científica destes profissionais que se
dedicam à Ortopedia Infantil, o Prof.
Doutor Gilberto Costa afirma que, além
da participação anual nos eventos internacionais de maior relevo, “este é um
dos três serviços com maior número de
conferências e comunicações científicas
nas Jornadas Nacionais de Ortopedia
Infantil, que se realizam todos os anos
no âmbito da Sociedade Portuguesa de
Ortopedia e Traumatologia”. E conclui:
“O Serviço organizou, com êxito assinalável, as Jornadas Nacionais de 2006 e
de 2010.”
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SERVIÇO DE ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA DO CENTRO HOSPITALAR DE S. JOÃO
Enf.ª Natividade Lourenço:
“O enfermeiro
é o pivot
da equipa
multidisciplinar”
Com uma presença permanente em qualquer
serviço de internamento, a atuação do enfermeiro
é de vital importância nos hospitais, tanto no que
se refere ao cuidado aos doentes, como outros
procedimentos que são de sua responsabilidade.
Este profissional de saúde tem atividades muito
diversificadas: coordena, supervisiona, controla,
presta assistência direta ao paciente e constitui o
elo de ligação entre a equipa e a família.
“O enfermeiro é o pivot da equipa multidisciplinar. A nossa permanência 24
horas no serviço dá-nos acesso a informações que nos permitem identificar
outros problemas que os doentes possam apresentar, além do ortopédico,
fazendo parte das nossas atribuições
referenciar estes problemas ou providenciar o apoio de outros elementos
da equipa”, afirma a enfermeira chefe
Natividade Lourenço, ao falar acerca do
papel destes profissionais de saúde.
Por outro lado, continua, a relação enfermeiro/doente torna-se privilegiada, dada
a proximidade estabelecida. “Sou enfermeira há 30 anos e sinto que os doentes
desenvolvem uma relação de confiança
com o enfermeiro. Falam, sem constrangimentos, sobre os seus problemas
de saúde e pessoais e expõem as suas
dúvidas”, nota.
Integrada no Serviço de Ortopedia
há cinco anos, desde sempre como
enfermeira chefe, Natividade Lourenço
fala um pouco acerca das suas funções
como responsável por uma equipa de
31 profissionais.
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De entre as diversas atividades, a entrevistada destaca a gestão de recursos
humanos, de cuidados de enfermagem
aos doentes e ainda de recursos materiais.
Enf.ª Natividade Lourenço
E confessa: “A área que constitui para
mim um maior desafio é a gestão de
cuidados de enfermagem ao doente.
O meu principal objetivo é que os enfermeiros sejam competentes e prestem
cuidados de excelência, respeitando os
princípios técnicos e a individualidade
de cada doente e estabeleçam com eles
uma relação terapêutica e humanizante
e uma comunicação eficaz.”
Do seu ponto de vista, estas são vertentes fundamentais. “O doente pode
não ter capacidade de avaliar se tecnicamente o enfermeiro está ou não a desempenhar bem o seu papel. Contudo,
o mesmo não se passa em termos de
relações humanas e de comunicação.”
Outro aspeto que considera essencial
na área da Ortopedia é a prevenção
de acidentes. Segundo indica, muitos
doentes, devido às suas limitações físicas, nomeadamente, na deambulação,
apresentam elevado risco de quedas,
que constitui um importante problema
de Saúde Pública, pela morbilidade e
mortalidade que acarretam, principalmente em pessoas idosas.
A sua prevenção em ambiente hospitalar
é essencial quando se pretende caminhar em busca da excelência dos cuidados. A prevenção de úlceras de pressão,
um flagelo dos doentes hospitalizados,
é outro dos aspetos para o qual a intervenção do enfermeiro é crucial.
Ao ser questionada acerca dos projetos
futuros, a Enf.ª Natividade Lourenço
refere não lhe faltarem e menciona ter,
atualmente, a equipa de enfermagem
envolvida num projeto com doentes
submetidos à artroplastia total da anca e
do joelho.
Deste faz parte a realização de reuniões
pré-operatórias multidisciplinares, em
que estão presentes os doentes e os
prestadores de cuidados e onde lhes é
transmitida toda a informação relativa
aos procedimentos a que serão submetidos durante a cirurgia e internamento.
“Com este projeto, pretendemos não só
reduzir o tempo de internamento e as
suas complicações quando prolongado,
mas sobretudo que o doente atinja o máximo de independência e de satisfação
com os cuidados prestados”, conclui.

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