Osteotomia desvalgizante do fêmur distal: técnica e resultados
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Osteotomia desvalgizante do fêmur distal: técnica e resultados
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO RICARDO ANTONIO TAVARES Osteotomia desvalgizante do fêmur distal: técnica e resultados RIBEIRÃO PRETO 2015 RICARDO ANTONIO TAVARES Osteotomia desvalgizante do fêmur distal: técnica e resultados Dissertação apresentada à Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Ciências. Área de Concentração: Ortopedia, Traumatologia e Reabilitação do Aparelho Locomotor. Orientador: Prof. Dr. Maurício Kfuri Júnior RIBEIRÃO PRETO 2015 Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial desta dissertação, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte. FICHA CATALOGRÁFICA Tavares, Ricardo Antonio Osteotomia desvalgizante do fêmur distal: técnica e resultados. Herton Ricardo Antonio Tavares. Orientador: Maurício Kfuri Júnior - Ribeirão Preto, 2015. 64p.: 6il. 30 cm Dissertação apresentada à Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Área de Concentração: Ortopedia, Traumatologia e Reabilitação do Aparelho Locomotor. 1. Genu valgo; 2. Gonartrose; 3. Osteotomia; 4. Cunha de abertura. FOLHA DE APROVAÇÃO Aluno: Ricardo Antonio Tavares Título: Osteotomia desvalgizante do fêmur distal: técnica e resultados. Dissertação apresentada à Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Ciências. Área de Concentração: Ortopedia, Traumatologia e Reabilitação do Aparelho Locomotor. Aprovado em: ____/____/____ Banca Examinadora Prof. Dr. ________________________________________________________ Instituição: ______________________________________________________ Assinatura ______________________________________________________ Prof. Dr. ________________________________________________________ Instituição: ______________________________________________________ Assinatura ______________________________________________________ Prof. Dr. ________________________________________________________ Instituição: ______________________________________________________ Assinatura ______________________________________________________ Dedicatória À minha amada esposa Tabata, com amor, respeito e admiração, pelo carinho, pela compreensão e pelo apoio ao longo deste período, na esperança que eternize a nossa caminhada juntos. À minha querida filha Júlia, por ter engrandecido a minha vida com sua chegada e participado de forma motivadora para a execução deste estudo. Aos meus queridos pais Vicencia e José, pelo carinho, amor, pela motivação e pelo apoio incondicional durante todos os anos da minha vida. A minha estimada irmã, Reisla, pela amizade, pelo amor e carinho nos momentos mais especiais da minha vida. Agradecimento Especial Ao Professor Maurício Kfuri Junior, pelo apoio e pela atenção durante o processo de orientação. Além da amizade desprendida durante esses anos da minha formação, colaborando para a constituição da minha personalidade e do meu caráter profissional e, mais ainda, pessoal. Proporcionando oportunidades ímpares, que engrandeceram a minha trajetória profissional, mas principalmente a minha memória. Agradecimento póstumo Ao Professor Cleber Antônio Jansen Paccola, pelo exemplo de profissional e dedicação às suas convicções. Foi dele a ideia original deste estudo que realizamos em homenagem ao seu caráter inovativo e à sua constante preocupação na busca de soluções simples e economicamente viáveis para problemas ortopédicos cotidianos. Agradecimento À Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, pela oportunidade da formação médica. Ao Departamento de Biomecânica, Medicina e Reabilitação do Aparelho Locomotor, que proporcionou conhecimento e treinamento para a formação ortopédica. Em especial a todos os professores pela dedicação à docência. Ao Programa de Ciência da Saúde Aplicada ao Aparelho Locomotor da FMRP, pela oportunidade da realização deste Mestrado. Aos amigos de trabalho e contratados do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Fabrício Fogagnolo, Marcelo Castiglia, Rodrigo Salim, Rogério Bittar e Vinicius Sugano, pelo companheirismo e acima de tudo pelos ensinamentos. Aos meus amigos que participaram dos grandes momentos da minha vida com apoio e alegria. Resumo Resumo TAVARES, R.A. Osteotomia desvalgizante do fêmur distal: técnica e resultados. 64f. 2015. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo. Ribeirão Preto. 2015. O joelho valgo sintomático tem como característica a sobrecarga mecânica do compartimento lateral da articulação. A osteotomia desvalgizante do terço distal do fêmur tem como objetivo a transferência do eixo de carga do compartimento lateral para o compartimento medial da articulação, promovendo alívio dos sintomas dolorosos e, portanto, a melhora da função articular. Várias técnicas foram descritas para a osteotomia desvalgizante do terço distal do fêmur. A osteotomia desvalgizante com cunha de abertura lateral é considerada uma técnica simples, baseada em um único corte ósseo, que permite a correção dinâmica do eixo, durante o ato operatório, mediante controle fluoroscópico. O problema dessa técnica é o risco de fratura da cortical oposta e a necessidade da utilização de implantes que ofereçam suficiente estabilidade para que a correção, obtida no ato operatório, não seja perdida secundariamente. Na última década, uma nova geração de placas foi desenvolvida com o intuito de adaptar-se ao terço distal do fêmur e oferecer estabilidade angular entre os seus orifícios e parafusos de cabeça rosqueada. Em teoria, esses implantes apresentariam inúmeras vantagens biomecânicas e clínicas. Devido a escassez de recursos para o custeio de implantes de última geração, uma técnica de fixação foi desenvolvida, tomando como base o uso de placas anguladas de 95o. A técnica envolve um planejamento pré-operatório meticuloso do ângulo de correção, o qual será alcançado pelo ângulo de inclinação entre a lâmina da placa e a linha de orientação articular do joelho. Foram analisados os resultados clínicos preliminares dessa técnica, com o objetivo de saber se o seu uso permitiria reproduzir, no ato operatório, o planejamento realizado no pré-operatório e, além disso, quais as dificuldades e complicações mais frequentemente encontradas, até o momento da consolidação. Dezesseis pacientes, totalizando dezoito osteotomias, foram submetidos à osteotomia desvalgizante do fêmur utiliando esta técnica, no período de janeiro de 2005 a dezembro de 2009. A idade média dos pacientes foi de 39 anos e a cunha média de correção calculada no pré-operatório de 12,7º. As cunhas, efetivamente realizadas, obtiveram valor médio de 13,8º e todos os casos evoluiram para consolidação, com tempo médio de 17 semanas, sem necessidade de enxerto ósseo ou de uma segunda intervenção cirúrgica. Não houve casos de perda secundária do alinhamento obtido na cirurgia e três pacientes apresentaram quadro de desconforto persistente leve na face lateral do joelho, resultado do atrito entre a banda iliotibial e a placa. A satisfação geral dos pacientes foi graduada como boa e todos retornaram às práticas da vida cotidiana. Os resultados preliminares apontam que a técnica desenvolvida é reprodutível e segura. Entretanto, estudos com períodos de seguimento mais longos e levando em consideração o estado funcional pré e pós-operatório e o tempo de sobrevida da osteotomia devem agregar evidência mais sólida a respeito dessa técnica. Palavras-chave: Genuvalgo, Gonartrose, Osteotomia, Cunha de abertura Abstract Abstract TAVARES, R.A. Open wedge varization distal fêmur osteotomy: technique and results. 64f. 2015. Dissertation (Master) - Ribeirão Preto Medicine School, University of São Paulo. Ribeirão Preto. 2015. The symptomatic valgus knee has an overload on its lateral compartment. Varization osteotomy of the distal fêmur aims to shift the mechanical axis to the medial side of the knee promoting relief of pain and improving knee functional outcomes. Many techniques were described to align the valgus knee. The open wedge distal fêmur osteotomy is considered to be a simple technique, based on a single cut, which allows a dynamic intraoperative correction under fluoroscopic control. The main problem of this techique is the limited amount of correction allowed by the opposite hinge, which may fracture along the procedure. Therefore, the use of this technique is dependable on the stability of the bone-implant constructs, in order to avoid the secondary loss of the alignment obtained intraoperatively. In the last decade, a new generation of locking plates was developed. In theory these implants would have clinic and biomechanic advantages if compared with non-locking plates. In development countries, budget constrain may prevent the use of newer implants. Therefore, an osteotomy technique based on the use of angle blade plates was proposed at our institution. This technique relies on a precise preoperative planning, where the desired angle of correction matches the angle of insertion of the blade plate in relationship with the knee articular joint line in the frontal plane. Sixteen patients were submitted to a total of 18 open wedge varization distal fêmur osteotomies at our institution using our own technique, from January 2005 to December 2009. We aimed to evaluate the short-term results with a focus to the ocurrence of technical complications and also to the ability to reproduce intra-operatively our preoperative plan. The average age of our patients was 39 years and the desired amount of correction was 12.7 degrees. The effective obtained correction was in average 13.8 degrees and all our cases ended up with bone healing, at an average time of 17 weeks, without the need of bone graft or any secondary surgery. There were no cases of secondary loss of alignment and in three patients there was a discrete disconfort on the lateral side of the knee, due to the friction between the plate and the iliotibial band. In general the patients were satisfied with the procedure and all of them returned to their daily living activities. Our results confirm that the technique developed at our institution is reproducible and safe. Nevertheless longer-term follow-ups are necessary including pre-operative and post-operative knee functional scores as well as the survivorship of these procedures in order to add more evidence supporting the use of our techinique. Keywords: Genu valgum, Knee osteoarthritis, Osteotomy, Opening wedge Lista de Figuras Lista de Figuras Figura 1 - (A) Eixo anatômico do fêmur e (B) da tíbia ...................................... 22 Figura 2 - Linhas de orientação articular .......................................................... 23 Figura 3 - (A) Ângulo lateral femoral distal (α) e (B) Ângulo medial tibial proximal (β) ...................................................................................... 23 Figura 4 - Linhas de orientação articular(θ)...................................................... 24 Figura 5 - (A) Eixo valgo, (B) Osteotomia com cunha de fechamento, (C) Cunha de abertura, (D) Cupuliforme .......................................... 29 Figura 6 - Ângulo de abertura articular(γ) ......................................................... 30 Figura 7 - (A) Esboço panorâmico; B) Eixo mecânico do membro inferior; (C) Destacando o valgo articular; D) Cunha de abertura lateral do fêmur; E) Posionamento da placa AO 95o com demonstração da equivalência dos ângulos de abertura e inclinação da lâmina com a articulação; F) Posicionamento do parafuso de fixação do vértice da osteotomia ....................................................................... 41 Figura 8 - Fio de referência paralelo a ambos os anteriores colocados ........... 42 Figura 9 - Entrada do formão com fio de referência, inserido previamente...... 43 Figura 10 - (A) Posicionamento dos fios guia para osteotomia; (B) Esquema em vista anterolateral da osteotomia e entrada da lâmina; (C) Osteotomia aberta fixada com placa e parafuso na cortical oposta .............................................................................................. 45 Figura 11 - (A) Lesão do menisco lateral em vista artroscópica; (B) Vista após a regularização........................................................................ 46 Figura 12 - (A) AP pré-operatório; (B) Perfil pré-operatório; (C) Panorâmico pré-operatório; (D) Planejamento; (E) AP pós-operatório; (F) Perfil pós-operatório; (G) Panorâmico pós-operatório; (H) AP pós-operatório tardio; (I) Perfil pós-operatório tardio ....................... 47 Lista de Tabelas Lista de Tabelas Tabela 1 - Vantagens e desvantagens das osteotomias ...................................... 33 Tabela 2 - Relação sexo e lateralidade ................................................................ 49 Tabela 3 - Degeneração articular ......................................................................... 49 Lista de Gráficos Lista de Gráficos Gráfico 1 - Variação do ângulo femorotibial (entre os eixos anatômicos da tíbia e do fêmur), medidos no período pré-operatório e pós-operatório ....................... 50 Gráfico 2 - Variação do ângulo de convergência lateral da articulação no período pré e pós-operatório para cada paciente ........................................................... 51 Lista de Abreviaturas Lista de Abreviaturas %- Porcentagem °- Grau AO- Arbeitsgemeinschaft für Osteosynthesefragen AP- Anterior e posterior DCS®- Dynamic Condilar Screw DCP- Dynamic Compression Plate HCFMRP-USP- Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .............................................................................................. 21 1.1. O alinhamento normal do joelho ....................................................................... 22 1.2. O joelho valgo .................................................................................................. 25 1.3. O princípio e o histórico nas osteotomias do joelho .......................................... 25 1.4. A osteotomia no joelho valgo............................................................................ 28 2. OBJETIVOS.................................................................................................. 34 3. CASUÍSTICA E MÉTODOS .......................................................................... 36 3.1. A técnica .......................................................................................................... 37 3.2. Os resultados................................................................................................... 37 3.3. Avaliação por imagens ..................................................................................... 37 3.4. Planejamento Pré-Operatório .......................................................................... 39 3.5. Técnica cirúrgica .............................................................................................. 41 3.6. Pós-Operatório ................................................................................................ 46 4. RESULTADOS ............................................................................................. 48 5. DISCUSSÃO ................................................................................................. 53 6. CONCLUSÕES ............................................................................................. 56 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 58 8. ANEXO ......................................................................................................... 63 ANEXO DE PUBLICAÇÃO Dissertação elaborada de acordo com as Diretrizes para Apresentação de Dissertações e Teses a da USP: documento eletrônico e impresso. Parte I (ABNT) 2 edição. São Paulo, 2009. Disponível em http://www.teses.usp.br/Caderno_Estudos_9_PT_1.pdf. 1- Introdução 22 Introdução 1.1. O alinhamento normal do joelho As deformidades do joelho são definidas a partir de desvios do alinhamento dessa articulação em relação aos parâmetros de normalidade. Uma vez que fêmur e tíbia são os dois ossos longos que constituem o joelho, é importante que se definam formas de medir o alinhamento entre esses ossos. Cada um dos ossos longos do joelho apresenta o seu eixo mecânico, definido como uma linha reta que conecta os centros das articulações proximal e distal, e o seu eixo anatômico, definido como uma linha determinada pelo centro da diáfise desses ossos (PALEY, 2002a) (Figura 1). A B Figura 1 - (A) Eixo anatômico do fêmur e (B) da tíbia. Cada osso longo do joelho tem uma linha de orientação articular. No caso da epífise distal do fêmur, no plano frontal, essa linha é traçada tangencialmente ao ponto mais distal da convexidade dos dois côndilos femorais. No caso da epífise proximal da tíbia, no plano frontal, essa linha é traçada tangencialmente às áreas mais côncavas ou aplainadas dos planaltos tibiais (PALEY, 2002a) (Figura 2). 23 Introdução Figura 2 - Linhas de orientação articular. O eixo mecânico e as linhas de orientação articular do joelho determinam ângulos no plano frontal, cujos valores de normalidade são a base para a definição das deformidades em valgo e em varo dessa articulação. Os dois ângulos mais importantes que se deve levar em consideração, são o ângulo lateral femoral distal, cujo valor médio de normalidade é de 88º (85º a 90º), e o ângulo medial tibial proximal, cujo valor médio de normalidade é de 87º (85º a 90º) (PALEY, 2002a) (Figura 3). A B Figura 3 - (A) Ângulo lateral femoral distal (α) e (B) Ângulo medial tibial proximal. Introdução 24 Esses ângulos, de certa forma, revelam que em condições de normalidade, no plano frontal, o joelho encontra-se orientado praticamente perpendicularmente ao eixo mecânico. No genu valgo, o ângulo lateral femoral distal é inferior a 85º, em relação ao eixo mecânico, e 79º, em relação ao eixo anatômico. No genu varo, o ângulo medial tibial proximal é inferior a 85º. As deformidades angulares do joelho no plano frontal podem determinar sobrecarga, seja ao compartimento medial, como no caso do genu varo, ou ao compartimento lateral, no caso do genu varo, sendo fator de predisposição à degeneração articular. Outra forma de estimar a deformidade no joelho no plano frontal é pela utilização do ângulo definido entre o eixo anatômico do fêmur e o eixo anatômico da tíbia, ângulo femorotibial. O valor normal desse ângulo é de 6,85º° ± 1,4° (PALEY, 2002a) (Figura 4). Figura 4 - Linhas de orientação articular(θ). Introdução 25 1.2. O joelho valgo Quando se traça o eixo mecânico do membro inferior em uma radiografia panorâmica toma-se como referência o centro do quadril e o centro do tornozelo. A linha resultante, em geral, cruza o joelho 8 mm medialmente ao centro das espinhas tibiais e este é um parâmetro importante de normalidade para o alinhamento do joelho. Outro parâmetro importante a conhecer é o ângulo definido entre o eixo anatômico e o eixo mecânico do fêmur, que é de aproximadamente 6º (PALEY, 2002a). O joelho valgo é definido como uma deformidade em que há diminuição do ângulo lateral distal do fêmur, um desvio do eixo mecânico para uma posição lateral às espinhas tibiais. Várias são as condições que podem determinar o joelho valgo, que quanto à sua etiologia pode ser idiopático ou secundário a alguma patologia traumática ou metabólica. No joelho valgo idiopático, um fator bastante prevalente é a hipoplasia do côndilo femoral lateral, que leva à inclinação da linha articular. Em qualquer que seja a condição causal, o joelho valgo se caracteriza por sobrecarga do compartimento lateral do joelho e pelo mau alinhamento da articulação femoropatelar. Este último é definido pelo aumento do ângulo Q, que é aquele determinado entre a espinha ilíaca anterosuperior, o centro da patela e a tuberosidade anterior da tíbia. A sobrecarga do compartimento lateral pelo desvio do eixo mecânico para o lado lateral do joelho está fortemente associada ao quadro de degeneração desse compartimento e à dor do joelho (PUDDU et al., 2007). 1.3. O princípio e o histórico nas osteotomias do joelho O objetivo primário da osteotomia periarticular do joelho é o desvio do eixo mecânico, desde o compartimento, onde exista sobrecarga, até o compartimento saudável do joelho. O objetivo secundário é aliviar a dor do paciente e promover Introdução 26 melhor qualidade de vida na atividades cotidianas (SMITH; WILSON; THOMAS, 2013). As osteotomias são cirurgias indicadas para pacientes biologicamente jovens, ativos, com boa perspectiva de vida e osso de densidade normal. De forma geral, as osteotomias para a correção do joelho varo costumam ser realizadas no osso da tíbia, enquanto a correção do joelho valgo costuma ocorrer no fêmur. A razão para esse princípio geral é tentar corrigir primariamente a deformidade nos ossos que mais contribuem para a mesma. Assim, a aplicação das regras do mal alinhamento, com a determinação de eixos e ângulos do membro inferior, são essenciais para definir o centro da deformidade (PALEY, 2002ab). Os primeiros relatos de osteotomia ao redor do joelho são atribuídos a Rhea Barton, em 1835. O primeiro livro dedicado ao tema foi escrito por Macewen, em 1880. Langenbeck também foi um dos pioneiros nessa área, descrevendo correções em pacientes com raquitismo e anquilose (ADAMS, 1879). Os procedimentos ortopédicos, no século XIX, de uma maneira geral, eram associados a um elevado índice de infecções e insucessos. O início do século XX foi marcado por descobertas que mudariam os resultados das cirurgias ortopédicas. Além da introdução das radiografias para controle dos resultados, o advento dos antissépticos e a antibioticoprofilaxia contribuiram para dimuir a taxa de complicações associadas às cirurgias de osteotomias, levando ao aumento de sua aceitação no continente europeu (PENNINGTON, 1994). A falta de protocolos e padronização não permitiam a reprodutibilidade dos resultados. Com isso, na década de 1960, a falha na fixação, o atraso de consolidação e a paralisia do fibular apresentavam altos índices (BAUER; INSALL; KOSHINO, 1969; BENJAMIN, 1969; HARRIS; KOSTUIK, 1970). Coventry (1965) foi um grande inovador na área de osteotomias tibiais para correção de deformidades do joelho. Ele propunha a realização de osteotomias supra-tuberositárias da tíbia, com o objetivo de neutralizar a ação do quadríceps e, também, de realizar a correção em osso metafisário, mais favorável à consolidação. Esse autor reportou resultados satisfatórios no que diz respeito ao 27 Introdução arco de movimentos e alívio da dor, mas se deparou com muitas complicações, especialmente em pacientes com artrite reumatoide. Um dos grandes problemas da fixação interna nas osteotomias, até a década de 1980, era a frequente perda secundária do alinhamento e a soltura dos implantes de fixação interna. O surgimento do grupo Arbeitsgemeinschaft für Osteosynthesefragen (AO*), nos finais da década de 1950, levou ao desenvolvimento de novos dispositivos de fixação, como as placas anguladas dotadas de estabilidade angular (MULLER; JANE, 1971). Resultados preliminares de osteotomias fixadas com esses novos implantes, no caso, as placas anguladas de 90o para osteotomias femorais com cunhas de fechamento, mostraram eficiência do novo método de fixação (HEALY et al., 1988). Se por um lado novos desenvolvimentos ocorriam na área da fixação interna, por outro, um grande impulso se deu na área das artroplastias do joelho. De certa forma, as osteotomias são cirurgias muito mais complexas do que as artroplastias. Isto se deve ao fato de que artroplastias são cirurgias que seguem passos técnicos pré-determinados e orientados por guias de corte ósseo. Já as osteotomias requerem entendimento tridimensional da deformidade, planejamento e execução muito precisos e, acima de tudo, tem o seu sucesso final caracterizado pela completa consolidação óssea sem perda do alinhamento. Esses aspectos fizeram com que as osteotomias deixassem de ser uma cirurgia preferida pela classe ortopédica. Com a difusão de uma nova geração de implantes para osteotomias com placas de baixo perfil, dotadas de estabilidade angular e associadas a técnicas mais reprodutíveis, resgatou-se o interesse por esse tipo de cirurgia, com melhores resultados (BRINKMAN et al., 2008; HOFMANN et al., 2009; MARIN MORALES et al., 2000; SUTTON; HOLLOWAY, 2013). Ainda que o interesse pelas artroplastias do joelho seja muito maior do que pelas osteotomias, no periodo de 1987 a 2008, houve crescimento de 1,4% na realização de osteotomias em pacientes do sexo masculino com idade inferior a 50 anos, já determinando o perfil do paciente com indicação para esse tipo de cirurgia (NIINIMAKI et al., 2012). Introdução 28 Um dos elementos importantes para se julgar o benefício da osteotomia, além do alívio da dor e da melhora da qualidade de vida, é o aumento da sobrevida articular; evitando, assim, a substituição articular por componentes prostéticos. A literatura recente é muito favorável aos bons resultados das osteotomias do joelho (SMITH; WILSON; THOMAS, 2013). Além disso, os dados corroboram o aumento da sobrevida do joelho de 64% nos primeiros dez anos (FINKELSTEIN; GROSS; DAVIS, 1996) e de 50% ao final de 15 anos (KOSASHVILI et al., 2010). A melhora dos pacientes submetidos à osteotomia está associada ao deslocamento da carga para o compartimento saudável (HARRIS; KOSTUIK, 1970) e à diminuição da pressão intravenosa dos lagos trabeculares metafisários, do estresse das microfraturas por sobrecarga do osso subcondral do lado enfermo (COVENTRY, 1973; HELAL, 1965). Novas técnicas cirúrgicas de osteotomias permitem correções mais precisas e resultados mais reprodutíveis (KOCAOGLU et al., 2011). 1.4. A osteotomia para a correção do genu valgo Diferentes métodos foram descritos para as osteotomias femorais corretivas do joelho valgo. A correção da deformidade em valgo pode se dar por osteotomia com cunha de abertura lateral, ou cunha de fechamento medial ou, ainda, pela técnica cupuliforme (SHERMAN; CABANELA, 2010) (Figura 5). Introdução 29 Figura 5 - (A) Eixo valgo, (B) Osteotomia com cunha de fechamento, (C) Cunha de abertura, (D) Cupuliforme. O perfil ideal do paciente a ser submetido à osteotomia varizante do fêmur é jovem, ativo, portador de joelho valgo, com dor em face lateral do joelho, sinais Introdução 30 incipientes de artrose unicompartimental lateral, arco de movimento articular superior a 90º, com déficit de extensão menor que 15º. São critérios de exclusão a presença de artrite reumatoide e/ou osteoatrose tricompartimental do joelho (SHERMAN; CABANELA, 2010). No joelho valgo existe uma inclinação da linha articular para lateral e proximal (Figura 6). A osteotomia com sede no fêmur permite a correção desta inclinação da linha articular. De acordo com Navarro e Carneiro (2004), a osteotomia femoral de abertura lateral permite a fácil correção da inclinação da linha articular. Jacobi et al. (2011) consideram a técnica de abertura lateral mais simples e reprodutível, entretanto alertam para o maior tempo de consolidação e para a possibilidade de irritação do trato iliotibial pela presença da placa de fixação lateral. Figura 6 - Ângulo de abertura articular(γ). O sucesso das osteotomias de abertura medial da tíbia para a correção do genu varo associado ao desenvolvimento de uma geração de placas bloqueadas que incrementam a estabilidade osso-implante, mesmo em casos de fratura da cortical oposta, aumentou a popularidade das osteotomias femorais com cunha de abertura lateral para a correção do joelho valgo (BRINKMAN et al., 2008; STAUBLI et al., 2003). Introdução 31 A literatura é bastante pobre em estudos clínicos comparando diferentes técnicas de osteotomia para a correção do joelho valgo. A maioria desses estudos se resume na série de casos de osteotomias com cunhas de fechamento medial distal do fêmur (SHERMAN; CABANELLA; 2010). Os estudos biomecânicos comparando diferentes sistemas de fixação à região distal do fêmur tomam como modelo experimental fraturas dessa região. Higgins et al. (2007), utilizando modelos experimentais criaram defeitos ósseos femorais de 10 mm na região metafisária distal e fixaram esses modelos com dois tipos de implantes, as placas bloqueadas e as anguladas. Verificaram que as placas bloqueadas eram discretamente mais resistentes nas montagens in vitro, mas devido à pequena diferença entre os dois grupos, não acreditavam que os dois sistemas de fixação tivessem desempenhos clínicos diferentes. Andrade et al. (2010), em modelo experimental de ossos suínos, em que uma falha metafisária de 1 cm foi criada e os espécimes fixados com placa parafuso condilar dinâmico (do inglês Dynamic Condilar Screw - DCS®) ou com placa angulada AO de 95o®. Os conjuntos osso-implante foram submetidos a ensaios mecânicos de compressão axial e de flexão. Embora nenhuma diferença estatística tenha sido encontrada na resistência mecânica dos dois sistemas de fixação, o local de falha mecânica nos ensaios de flexão diferiu entre os dois grupos, ocorrendo na área da falha óssea no grupo DCS® e na área diafisária de fixação dos parafusos da placa angulada AO de AO 95o®. Brinkman et al. (2011a) utilizando ossos sintéticos (Sawbones, Europe AB, Malmo, Sweden), fizeram análises biomecânicas em osteotomias com cunha de fechamento, com placa Tomofix®, e com cunha de abertura, com placa Tomofix® e placa Puddu®. Verificaram que osteotomias com cunha de fechamento apresentaram maior rigidez aos testes de fadiga. As osteotomias com cunha de fechamento apresentam como vantagem o fato de terem ótimo contato metafisário e, portanto, estarem propensas à rápida consolidação. O maior problema dessas osteotomias é a possibilidade de ocorrência de deformidades residuais em outros planos, pela imprecisão na retirada da cunha. Já as osteotomias de abertura têm como vantagem a sua simplicidade técnica e a possibilidade de que a correção possa ser realizada Introdução 32 gradualmente durante a cirurgia, de maneira dinâmica e controlada com o auxílio de fluoroscopia. A principal desvantagem é a criação de um defeito ósseo metafisário e o fato de a estabilidade dessa cirurgia ser bastante dependente da integridade do vértice da osteotomia, situado na cortical oposta. A fratura da cortical oposta é, sem dúvida, um grande obstáculo ao êxito da osteotomia com cunha de abertura e, uma vez ocorrida, deve ser fixada, com o intuito de se evitar a perda da correção da osteotomia (MILLER et al., 2005). Paccola e Fogagnolo (2005) descreveram a inserção percutânea de um parafuso de suporte à cortical lateral em osteotomias com cunha de abertura medial para a correção do genu varo da tíbia. Freitas el al. (2010) estudaram em bancada experimental em osteotomias tibiais com cunha de abertura os efeitos biomecânicos da inserção desse parafuso na cortical oposta, cruzando o vértice da osteotomia. Os autores demonstraram que a inserção desse parafuso incrementava significativamente a resistência do conjunto osso-implante nos ensaios de compressão axial, flexão e torsão. Batista et al. (2014), em estudo experimental de osteotomias femorais com cunha de abertura, compararam diferentes métodos de fixação assim como o efeito da inserção do parafuso de proteção ao vértice da osteotomia. Os autores relataram que a montagem com o uso da placa angulada de 95o® associada a um parafuso de esponjosa na cortical oposta foi a que ofereceu maior resistência mecânica aos ensaios de compressão e torsão, quando comparada a grupos com placas bloqueadas, consideradas, nos dias de hoje, o padrão ouro do tratamento. A Tabela 1 resume as potenciais vantagens e desvantagens de cada técnica cirúrgica utilizada nas osteotomias desvalgizantes do fêmur. 33 Introdução Tabela 1 - Vantagens e desvantagens das osteotomias. Tipo de cunha Fechamento Abertura Boa estabilidade Vantagens Cupulifomre Correções dinâmicas transoperatória Boa estabilidade Bom contato na superficie Mais fácil execução Bom contato na superficie Consolidação rápida Menor tempo cirúrgico Consolidação rápida Carga precoce Correções "a la cart" Exige planejamento preciso Exige precisa Desvantagens execução Eventual uso de enxerto, defeito ósseo mais Maior tempo cirúrgico Sem correções Lesão neurovascular rotacionais Grande periodo até consolidação Dificuldade Técnica Dependência da integridade do vértice Maior possibilidade redução de perda da 2- Objetivos Objetivos 35 O objetivo primário deste estudo foi descrever a técnica de osteotomia femoral com cunha de abertura lateral utilizando um sistema de fixação de baixo custo com implantes clássicos, placa AO 95o®. O objetivo secundário foi relatar os resultados dessa técnica aplicada a pacientes portadores de joelho valgo sintomático. 3. Casuística e Métodos Casuística e Métodos 37 Dezesseis pacientes portadores de joelho valgo sintomático foram submetidos à osteotomia varizante do terço distal do fêmur. Considerando-se que em dois pacientes o procedimento foi realizado bilateralmente, dezoito procedimentos de osteotomia varizante com cunha de abertura lateral ocorreram no período de janeiro de 2005 a dezembro de 2009. Os prontuários desses pacientes foram avaliados, retrospectivamente, após aprovação obtida junto ao Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (HCFMRP-USP), Proc. nº 096599/2014 (Anexo). 3.1. Critérios de Inclusão Foram incluidos neste estudo pacientes jovens, com fise de crescimento fechada, com idade inferior a 55 anos de idade, com arco de movimentos do joelho variando de 0º de extensão a 100º de flexão, com dor na face lateral do joelho para as práticas da vida cotidiana que não cedeu após a introdução do tratamento conservador, que consistitu, essencialmente, em redução da massa corporal e reabilitação fisioterápica. 3.2. Critérios de Exclusão Foram excluidos os pacientes com histórico de fratura ou cirurgia óssea prévia ipsilateral ao joelho sintomático, com osteoporose com doenças autoimunes, etilistas crônicos e com dificuldade para aceitar e cumprir o protocolo pós-operatório. 3.3. Avaliação por Imagens Casuística e Métodos 38 Todos os pacientes foram submetidos a uma série padrão de exames radiográficos pré-operatórios incluindo as seguintes incidências: - Joelho: anteroposterior com carga e extensão máximas; perfil sem carga e flexão de 30º; axial de patela; - Panorâmica do membro Inferior: anteroposterior com apoio monopodal de carga. No período pós-operatório foram obtidas as seguintes imagens radiográficas dos pacientes: a. Radiografia do joelho nas incidências anteroposterior e perfil sem carga, no período pós-operatório imediato; b. Radiografia do joelho nas incidências anteroposterior e perfil sem carga, às 8, 16 e 24 semanas de pós-operatório; c. Radiografia do joelho nas incidências anteroposterior e perfil com carga, às 16 semanas de pós-operatório e ao final do seguimento, uma vez confirmada a consolidação da osteotomia; d. Radiografia panorâmica do membro inferior na incidência anteroposterior com carga, na 16ª semana de pós-operatório e ao final do seguimento, uma vez confirmada a consolidação da osteotomia; Os seguintes parâmetros foram avaliados nas radiografias pré-operatórias: a. Ângulo entre os eixos anatômicos do fêmur e da tíbia; b. Orientação da linha articular e ângulo de abertura medial; c. Grau de degeneração articular do joelho, avaliado pela classificação de Ahlback (AHLBÄCK; LAKARTIDNINGEN, 1980). Nas radiografias pós-operatórias, além dos parâmetros citados também foram avaliadas: a. Integridade da cortical oposta (medial) da osteotomia; b. Soltura ou quebra dos implantes; c. Consolidação óssea. Casuística e Métodos 39 3.4. Planejamento Pré-Operatório Para obtenção de radiografias com bom posicionamento do paciente, o mesmo deve estar em ortostase. A ampola de radiografias deve ser posicionada a três metros de distância do paciente, que será exposto a raios horizontais. Um chassi de filme de pelo menos 130 cm é posicionado atrás do paciente e, dessa forma, sera obtida uma radiografia com carga do membro inferior, incluindo na mesma imagem o quadril, joelho e tornozelo. O posicionamento do joelho é de fundamental importância. Para se estimar a deformidade real do paciente, a patela deve estar centralizada em relação aos côndilos femorais na projeção anteroposterior. Isso elimina variáveis rotacionais que podem levar a superestimar ou subestimar defomidades no plano frontal. Uma vez obtida a radiografia deve-se traçar o eixo mecânico do fêmur e da tíbia. Desde que não existam deformidades nesses ossos, os dois eixos devem se cruzar no centro do joelho e definir um ângulo entre si. O mesmo princípio se aplica aos eixos anatômicos do fêmur e da tíbia que se cruzam no centro do joelho, determinando um ângulo entre si de 6,85º ± 1,4º (PAYLE, 2002a). Isso significa que todas as vezes em que se obtiver uma medida angular entre os eixos anatômicos da tíbia e do fêmur superior a 7º, está caracterizado o genu valgo (PAYLE, 2002a). O objetivo do planejamento é corrigir os eixos anatômico e mecânico do joelho. Quando se toma como referência o eixo mecânico, espera-se que os eixos mecânicos do fêmur e da tíbia coincidam, o que significa que o eixo mecânico do membro inferior deverá passar praticamente perpendicular à linha de orientação articular do joelho. No caso da expectativa do planejamento para o ângulo entre os eixos anatômicos do fêmur e da tíbia, o valor desejado é de 7º, que corresponde à diferença entre os eixos mecânico e anatômico do fêmur. Para fins ilustrativos, caso tenha um ângulo de eixo mecânico para o membro inferior de 15º de valgo, o objetivo é realizar uma cunha de 15º de abertura lateral. Com esse planejamento, o eixo mecânico do membro inferior ficará perpendicular ao joelho e com o ângulo entre os eixos anatômicos do fêmur e da tíbia em 7º. Casuística e Métodos 40 No planejamento são desenhados os contornos radiográficos ósseos do terço distal do fêmur sobre papel manteiga. Traça-se a linha de orientação articular, que é paralela e tangente aos côndilos femorais na radiografia anteroposterior. Desenha-se a osteotomia da região distal do fêmur, em área de osso metafisário, iniciando-se na cortical lateral a cerca de 8 cm proximalmente à linha articular do joelho. A osteotomia terá inclinação oblíqua dirigida para a região metafisária proximal medial do fêmur, 1 cm proximal ao início do côndilo femoral medial. Recorta-se a osteotomia, de forma incompleta, ou seja, deixando contínua a cortical medial. A cunha é aberta de tal forma a projetar o eixo mecânico do membro para o centro do joelho ou para um ponto discretamente medial à espinha medial da tíbia. Uma vez obtida a correção do eixo mecânico fixa-se o papel manteiga com fitas de esparadrapo. A etapa seguinte consiste em desenhar a placa angulada de 95o sobre o desenho do fêmur, cujo alinhamento já foi obtido com a osteotomia. Para que a placa AO de 95o se adapte ao desenho, a lâmina da placa terá que entrar obliquamente na região dos côndilos femorais, com inclinação de proximal lateral para distal medial. O ângulo determinado entre a lâmina da placa e a linha de orientação articular do joelho irá corresponder ao ângulo de correção da osteotomia. O desenho pré-operatório ajuda a definir com precisão, portanto, o ponto exato de entrada da lâmina da placa e sua distância em relação à linha articular, a inclinação da lâmina em relação à linha de orientação articular do joelho e o local da osteotomia. Um detalhe importante nesse planejamento é ter a certeza de que no segmento epifisário distal do fêmur exista espaço para inserção de um parafuso de esponjosa que complemente a fixação da lâmina da placa (Figura 7) (PACCOLA, 2010). Casuística e Métodos 41 Figura 7 - (A) Esboço panorâmico; B) Eixo mecânico do membro inferior; C) Destacando o valgo articular; D) Cunha de abertura lateral do fêmur; E) Posionamento da placa AO 95o com demonstração da equivalência dos ângulos de abertura e inclinação da lâmina com a articulação; F) Posicionamento do parafuso de fixação do vértice da osteotomia. 3.5. Técnica cirúrgica O paciente é posicionado em decúbito supino em mesa radiotransparente. Os campos operatórios são colocados de forma a garantir que estejam acessíveis o quadril, joelho e pé. Da mesma forma, o aparelho de fluoroscopia deve permitir a visualização das articulações do quadril, joelho e tornozelo. Dessa forma, é Casuística e Métodos 42 possível avaliar o alinhamento do eixo mecânico do membro inferior em relação ao joelho, utilizando-se o cabo do bisturi elétrico posicionado sobre o centro do quadril e o centro do tornozelo. Com um coxim sob o joelho, a articulação é mantida com flexão de 20 a 30º, realizando o acesso lateral direto ao terço distal do fêmur. A fascia lata é aberta em linha com a pele. Realiza-se o afastamento do músculo vasto lateral do septo muscular posterior com o auxílio de uma rugina. Identificam-se os vasos perfurantes que são cuidadosamente ligados. Uma alavanca de Hohmann é colocada sob o músculo vasto lateral e anteriormente ao fêmur, sem elevar-se o periósteo. Com a exposição da face lateral do 1/3 distal do fêmur, são inseridos fios de Kirschner de 2 mm de diâmetro nas articulações femoropatelar e femorotibial, de forma a se obter orientação espacial dessas articulações. Um fio de Kirschner de 2 mm, que será denominado como “a”, é inserido no côndilo lateral, paralelamente às duas articulações, previamente identificadas, e a 2 cm da linha articular. Figura 8 - Fio de referência paralelo a ambos os anteriores colocados. Casuística e Métodos 43 Um segundo fio de Kirschner de 2 mm, que será denominado “b”, é inserido proximalmente ao fio de Kirschner “a”, de tal forma a respeitar o planejamento pré-operatório com relação ao ponto de entrada da lâmina da placa angulada e a sua inclinação em relação à articulação femorotibial e femoropatelar. O formão guia para a lâmina da placa angulada é inserido paralelamente a esse fio de Kirschner “b”. Figura 9 - Entrada do formão com fio de referência inserido previamente. Uma vez definido o caminho da lâmina da placa e o seu comprimento, é o momento de realizar a osteotomia. O ponto de início da osteotomia deve seguir o planejamento pré-operatório no papel. É importante que haja uma distância mínima de 4 cm entre o caminho de inserção da lâmina e o ponto de início da osteotomia na cortical lateral. Essa distância garantirá a inserção de um parafuso de esponjosa no segmento epifisário distal do fêmur, através da placa angulada. A osteotomia deve ser dirigida, desde proximal lateral até medial distal. Deve-se terminar a osteotomia a pelo menos 1 cm de distância da cortical medial do fêmur. É necessário também proteger as estruturas neurovasculares com o uso da Casuística e Métodos 44 alavanca de Hohmann posicionada posteriormente ao fêmur e anteriormente ao septo muscular. Também devem ser utilizados fios de Kirshner para guiar o formão e evitar a ocorrência de fraturas indesejadas (Figuras 10A e 10B). Uma vez concluida a osteotomia, realiza-se a inserção da placa angulada, de maneira suave, com o cuidado de não promover fratura da cortical medial do fêmur, na área da osteotomia. À medida em que a placa é inserida e que a sua extremidade proximal toca a diáfise proximal do fêmur, a osteotomia é aberta e a correção obtida. Ao final da inserção da placa, o ângulo de correção final é alcançado. Nesse momento, confere-se o alinhamento do membro com auxílio do cabo de bisturi elétrico mediante controle fluoroscópico. Se não estiver completamente satisfeito, ainda há maneiras de se corrigirem pequenas impropriedades de alinhamento no plano frontal modelando-se a placa com entortador de placas. Essa medida é excepcional, não é recomendada como regra e, cabe dizer, é dificil de ser realizada, uma vez que a placa angulada de 95o é bastante espessa e difícil de ser manipulada. O primeiro parafuso a ser inserido proximalmente à osteotomia deve ser posicionado de maneira excêntrica ao centro do orifício DCP® (do inglês Dynamic Compression Plate), de modo a evitar a compressão ou o fechamento do foco da osteotomia. Portanto, sua posição de excentricidade equivale à extremidade distal do orifício dinâmico de compressão da placa DCP®. Os demais parafusos devem ser inseridos em posição neutra. Um parafuso adicional é inserido por fora da placa, de maneira percutânea, desde anteromedial até posterolateral. Esse parafuso assegura a fixação biplanar da osteotomia, incrementando a resistência do conjunto osso-implante, e permite a proteção da cortical oposta à osteotomia evitando a translação da diáfise nos casos em que haja fratura dessa cortical (Figura 10C). Casuística e Métodos 45 Figura 10 - (A) Posicionamento dos fios guia para osteotomia; (B) Esquema em vista anterolateral da osteotomia e entrada da lâmina; (C) Osteotomia aberta fixada com placa e parafuso na cortical oposta. Uma vez concluida a fixação e revisada a hemostasia, o fechamento da ferida é realizado por planos, um enfaixamento com discreta compressão é feito e o paciente é submetido a exames radiográficos para atestar a fixação, no período pós-operatório imediato. Como nota adicional, a partir de 2007, iniciou-se um protocolo que incluia a realização de uma videoartroscopia diagnóstica, previamente à osteotomia, no mesmo ato cirúrgico. O intuito desse procedimento é agregar informações objetivas com relação ao estado de preservação articular dos compartimentos medial e femoropatelar, além de permitir a avaliação de lesões meniscais instáveis associadas (Figura 11). Casuística e Métodos 46 Figura 11 - (A) Lesão do menisco lateral em vista artroscópica; (B) Vista após a regularização. 3.6. Pós-Operatório O paciente é mantido no leito com elevação do membro e flexão do joelho a 45º, com uma férula. A movimentação ativa é estimulada a partir do momento do término da anestesia. No primeiro dia de pós-operatório, o paciente é submetido a exercícios passivos com o uso de equipamento de movimentação contínua passiva para o joelho. Nesse dia é permitida extensão completa e flexão de 60 a 80º, de acordo com o limite de dor. O paciente é estimulado a sair do leito no primeiro dia de pós-operatório e já está autorizado a realizar carga toque sobre o membro inferior. A alta hospitalar ocorre entre o segundo e terceiro dias de pósoperatório. Os critérios de alta são ferida limpa e seca, sem sinais de hiperemia, arco de movimentos de 0º de extensão a 90º de flexão, dor suportável que não exija o uso de medicações endovenosas, capacidade de caminhar com muletas para que tenha autonomia para ir ao banheiro. Os pontos de sutura são retirados após dez a quinze dias de pós-operatório. O paciente ingressa no programa de fisioterapia com vistas a treinar carga parcial com apoio progressivo. As radiografias de controle do joelho são realizadas com 8, 16 e 24 semanas de pósoperatório. As radiografias panorâmicas com carga são realizadas com 16 e 24 semanas de pós-operatório. Casuística e Métodos 47 A B C D F E G H I Figura 12 - (A) AP pré-operatório; (B) Perfil pré-operatório; (C) Panorâmico préoperatório; (D) Planejamento; (E) AP pós-operatório; (F) Perfil pósoperatório; (G) Panorâmico pós-operatório; (H) AP pós-operatório tardio; (I) Perfil pós-operatório tardio. 4. Resultados 49 Resultados Foram operados dezesseis pacientes, sendo nove do sexo masculino e sete do sexo feminino. Foram realizadas 18 osteotomias, sendo 12 procedimentos no joelho direito e seis no joelho esquerdo. A Tabela 2 descreve a distribuição das osteotomias em relação ao sexo e lateralidade. Tabela 2 - Relação sexo e lateralidade. DIREITO ESQUERDO MASCULINO 6 4 FEMININO 5 3 A média de idade dos pacientes do presente estudo foi de 39 anos, variando de 17 a 53 anos de idade. O período médio de seguimento desses pacientes foi de 27 semanas, com o mínimo de 16 e máximo de 58 semanas. Segundo a classificação de Ahlbäck, a maioria dos joelhos encontrava-se em estágio I ou II (Tabela 3). Tabela 3 - Degeneração articular. AHLBÄCK NORMAIS I/II III 2 15 1 Com relação à medida do ângulo entre os eixos anatômicos da tíbia e do fêmur, cujo valor de normalidade adotado foi de 7º, o valor médio encontrado no período pré-operatório foi de aproximadamente 15º, variando de 10 a 22º. A cunha de abertura da osteotomia varizante foi medida com o objetivo de se desviar o eixo mecânico para medial, de forma que o mesmo tendesse a terminar perpendicular à linha de orientação articular. O valor médio dessa cunha no planejamento foi de aproximadamente 12º, variando de 10 a 20º. Resultados 50 A cunha efetivamente realizada no ato operatório teve um valor médio de aproximadamente 14º, variando de 10 a 26º. A medida efetiva do ângulo entre os eixos anatômicos do fêmur e da tíbia, no período pós-operatório teve valor médio de zeroº, o que significa hipercorreção de 7º. Os valores variaram de -8º (varo) a 8º (valgo) (Gráfico 1). Gráfico 1 - Variação do ângulo femorotibial (entre os eixos anatômicos da tíbia e do fêmur), medidos no período pré-operatório e pós-operatório. O ângulo de convergência lateral da articulação, que denota a inclinação da linha articular e a abertura anormal do joelho, foi, em média, de aproximandamente +3º (variando de -2 a +12) no pré-operatório. No pósoperatório houve variação do valor médio desse ângulo para -2º (variando de 0 até -5) (Gráfico 2). Resultados 51 Gráfico 2 - Variação do ângulo de convergência lateral da articulação no período pré e pós-operatório para cada paciente. Quatro pacientes apresentaram lesões associadas de menisco lateral e foram submetidos à meniscectomia lateral parcial, no mesmo ato cirúrgico. Três relataram queixas e achados compatíveis com mau alinhamento patelar, com lesões condrais associadas. Dois deles foram submetidos a realinhamento concomitamente do aparelho extensor. A fratura da cortical oposta ocorreu em 14 de 18 procedimentos de osteotomia (77% dos casos), mas sem comprometimento do objetivo primário da cirurgia. Não ocorreram complicações infecciosas ou quebra de implantes nesta série. Não houve casos de perda secundária do alinhamento obtido no intraoperatório. Não se evidenciou comprometimento do arco de movimentos do joelho devido à cirurgia. A consolidação óssea ocorreu na totalidade dos casos sem a necessidade de enxertia óssea de crista ilíaca ou de uma segunda intervenção cirúrgica para implemento da fixação. O tempo médio de consolidação das osteotomias foi de 17 semanas, variando de 16 a 28 semanas. Em uma escala que variou entre excelente, bom, ruim ou péssimo, os pacientes classificaram o seu tratamento como bom. Três deles apresentaram queixa de desconforto na face lateral do joelho, decorrente de atrito entre a banda Resultados 52 iliotibial e a placa. Desses, apenas um optou por retirar o implante após a consolidação da osteotomia. Embora, não tenha sido objetivo deste estudo avaliar a sobrevida do procedimento cirúrgico, no presente momento todos os pacientes têm um período de seguimento pós-operatório que varia de 5 a 11 anos e não houve nenhum caso de reoperação neste grupo devido à recidiva de dor ou comprometimento funcional do joelho. 5. Discussão Discussão 54 A osteotomia desvalgizante do fêmur com cunha de abertura lateral do mesmo é uma técnica que ganhou maior popularidade a partir do advento das novas placas bloqueadas (BRINKMAN et al., 2008; STAUBLI et al., 2003). As placas bloqueadas, por pertencerem a uma nova geração de implantes, não são acessíveis a uma parcela significativa da população de países em desenvolvimento, devido ao seu alto custo. O intuito deste estudo foi validar clinicamente o uso de implantes de baixo custo na fixação de osteotomias para a correção do joelho valgo. Baseou-se em uma análise preliminar com curto tempo de seguimento avaliando potenciais complicações de uma técnica idealizada no Serviço de Ortopedia do HCFMRPUSP. O uso de implantes não bloqueados para a fixação de osteotomias já foi descrito por vários autores (PACCOLA; FOGAGNOLO, 2005; PUDDU et al., 2010). BATISTA et al. (2014) demonstraram superioridade biomecânica do conjunto osso-implante, dada por essa montagem descrita quando comparada as placas tomofix®. Nesta série houve tempo médio de consolidação de 17 semanas, o que representa desempenho mais satisfatório do que o descrito por série de casos publicada com implantes Tomofix® (JACOBI, et al., 2011). A incidência de desconforto causada pela presença de implantes na face lateral do joelho é similar à descrita para outras séries com outros tipos de implante, e remonta mais à limitação de todas as técnicas de abertura lateral, em que os implantes são posicionados muito superficialmente no côndilo lateral do fêmur (JACOBI, et al., 2011). Um dos fatores envolvidos com a rápida reabilitação no pós-operatório é a estabilidade do conjunto osso-implante como demonstrado em estudos anteriores (BRINKMAN, et al., 2011ab). Neste estudo, cujo objetivo foi avaliar a estabilidade do sistema, por meio da análise da perda da correção da osteotomia, ocorrida entre a data da cirurgia e o término da consolidação, verificou-se que não houve perda em nenhum dos Discussão 55 casos, inferindo que a técnica proposta é segura e reprodutível no que diz respeito à estabilidade. Tecnicamente, o uso de placas anguladas é mais exigente do que o de placas bloqueadas. Isso ocorre porque no uso de placas bloqueadas não se toleram erros na inserção da lâmina da placa. Uma vez definida a inclinação da lâmina, também está definida a correção a ser obtida e inclusive as possibilidades de mau alinhamento. No presente estudo, embora o objetivo fosse levar o eixo mecânico a 0º, observou-se que esse eixo teve tendência à hipercorreção para varo. Essa hipercorreção é desejável e recomendada por vários autores (PUDDU, et al., 2010; STAUBLI, et al., 2003). A inclinação da linha articular demonstrou que a técnica utilizada foi capaz de aproximar o alinhamento da linha articular para valores próximos aos da horizontalização, o que é defendido como fator de bom prognóstico para esse tipo de osteotomia (NAVARRO; CARNEIRO, 2004). Este estudo teve importantes limitações. Inicialmente, não dispunha de avaliações funcionais dos joelhos tratados, fosse no pré ou no pós-operatório. A natureza retrospectiva da pesquisa não permitiu identificar uma série de dados importantes nos prontuários, como por exemplo todas as radiografias panorâmicas com qualidade suficiente que possibilitasse a medição do eixo mecânico do membro inferior em todos os casos. Por isso adotou-se a medida do ângulo entre os eixos anatômicos da tíbia e do fêmur, que de certa forma, se correlaciona com o eixo mecânico do membro inferior (PAYLE, 2002a). Outro aspecto limitante foi a falta de um grupo controle para comparação dos dados do presente estudo, utilizando apenas os de outras séries da literatura, o que nem sempre representa a comparação entre grupos realmente similares quanto ao perfil de atividade, etnia e expetativas funcionais. Por outro lado, foi possível apresentar bons resultados com relação aos índices de consolidação ossea, à restauração da inclinação articular e manutenção da correção obtida cirurgicamente. 6. Conclusões Conclusões 57 Após a análise dos resultados, concluiu-se que: a. A técnica cirúrgica proposta revelou ser precisa e reprodutível; b. A estabilidade do conjunto osso-implante revelou ser adequada para que houvesse consolidação óssea sem perda secundária do alinhamento do membro; c. Os valores obtidos para a correção do eixo anatômico do membro e da linha articular foram satisfatórios com a técnica empregada. 7. Referências Bibliográficas Referências Bibliográficas 59 ADAMS, W. On Subcutaneous Osteotomy. Br Med J, v. 2, n. 291, p. 604-6, 1879. AHLBÄCK, S.; LAKARTIDNINGEN, R. J. X-ray classification and examination technics in gonarthrosis. v. 77, n. 22, p. 2091-3, 2096, 1980. ANDRADE, M. A. P. et al. Avaliação biomecânica da fixação da fratura supracondileana do femur comparando placa-lâmina 95° com DCS. Rev Bras Ortop, v. 45, p.84-88, 2010. BATISTA, B. B. et al. Varization open-wedge osteomy of the distal fêmur: comparison between locking plate and blade plate constructs. 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