Sequenza G– Testo originale→Portoghese

Transcrição

Sequenza G– Testo originale→Portoghese
Sequenza G– Testo originalePortoghese – Francesca Orlandi
Tempo livre é o dedicado à leitura verdadeira, não à hipotética. Aquele
tempo é o único bem somente nosso – como escreveu Seneca nos
comentários iniciais tetros e graves, das Cartas a Lucílio. Tempo que é
consumido por múltiplas ocupações e pelo que com impávido eufemismo
costuma ser chamado de segundo trabalho, equanto é o terceiro ou o
quarto. Tempo que nos é roubado pelos ladrões de tempo, os sujeitos
que causavam incómodo efigiados por Horácio na IX Sátira. E aos quais
Kraus reserva um desolado aforisma: “Muitos têm o desejo de matar-me.
Muitos, o desejo de ter dois dedos de prosa comigo. Dos primeiros a lei me
protege.”
Tempo livre para o livro, significa livrar a leitura de ambições enganosas.
A primeira é de identificá-la com a “Posse” intelectual de um texto. Seria
necessário emancipar-se do desejo de “possuir”, quero dizer, idealmente,
um livro. Ler é um processo sem fim, que somente uma imaginação fraca
pode limitar à leitura duma obra. Do mesmo modo, a linguagem erótica
ilude-nos quando após o verbo possuir coloca, como complemento
objecto, uma pessoa. Nada é mais fugaz do que esse modo de possuir. Mas
o delírio paranóico de onipotência nos faz escolher, entre os verbos, o
menos adequado. É melhor expor o que um livro nos dá às mutações que
transformam ele e nós. Não nos iludamos em cristalizá-lo por uma breve
eternidade, como que num cofre de um banco transformado em cripta.
Uma outra herança patológica, transmitida pela scola, é o culto da
completeza. Ideal impossível, fornece-nos o álibi mais rigoroso e
juntamente o mais difundido para não ler. Nem se pode esquecer aquele
personagem do cimitério de Lee Masters, que dizia ter imaginado algo de
grandioso decidindo, enquanto rapaz, ler toda a Enciclopédia Britânica.
|1
Os ideais que sem sabermos orientam-nos nos subterrâneos da mente e
tiram de nós a liberdade de movimento têm uma relação arcana com
projetos similares. Mesmo assim o significado de um livro nunca está no
que ele é, mas no que somos nós depois de lê-lo. O livro vive por nos
modificar. Tendemos a esquecer isso, naturalmente eu por primeiro. Mas
permence o seu significado essencial.
A loucura – em grego mania – da completeza persegue uma totalidade
irreal para nos inibir do único espaço aberto a nós, o da parcialidade. Ainda
não visitei partes da Grécia por esperar ler livros que nunca lerei. Nunca
visitarei aquelas partes da Grécia. Mas a lembrança de um vale
desconhecido em Creta, onde os corvos sobrevoam, é mais emocionante
para mim do que as ruínas do palácio de Cnossos.
Às aberrações da completeza contribui um imperativo brutal que eu
definiria de economia da indigência, típica dos tempos de guerra: não
deixar nada no prato. Que seria como impôr a um companheiro de mesa
para nunca desistir, mesmo ao descobrir um erro na escolha. Parece que a
ingestão completa seja indispensável para expressar um juízo, enquanto se
sabe que, por exemplo, para o vinho pode bastar somente experimentá-lo.
Outrossim, os livros não devem ser lidos para serem julgados, mas para
serem desfrutados. Longanesi comparava os críticos literários, quando
julgam um texto, aos comissários de polícia quando interrogam um
acusado. Contíguo ao culto da completeza está o culto pela “introdução”.
Ler um livro antes de ler um outro. A escola acostuma-nos a diferenciar a
leitura de um gênio por uma mediocridade que o explique. O resultado é
parar a leitura do primeiro e nunca passar ao segundo. A monotonia da
passagem muitas vezes leva a mudar de rumo.
Sequenza G– Testo originalePortoghese – Francesca Orlandi
|2
E Groucho Marx, quando pediu uma guia para entrar no Ulisses de Joyce,
havia recusado o volume de Gilbert, dizendo que o comentário exigia mais
explicações que o próprio livro.
Às vezes um contacto fugaz é mais desejável que a convivência. Um livro
pode oferecer o melhor somente em certas partes. Tentar achá-las e
demorar nelas. Não quero sugerir a volubilidade, mas a mobilidade.
Uma outra imagem penitencial e burocrática do livro é a da “ferramenta
de trabalho”. Há os modos profissionais de ler. Todos nós os conhecemos,
caso contrário nós todos não teríamos lido todos os livros que não lemos.
Proceder por inquéritos, por olhadelas, por segmentos. Por sequências,
por ataques e conclusões. Não se exclui que o tempo livre também recorra
a isso. Eu estou convencido, sem fazer parte de nenhuma seita espírita,
que somente a presença física dos livros,
numa biblioteca, aja sobre quem os
possui.
Tempo livre para o livro significa uma leitura priva de qualquer finalidade.
Significa ler no presente. Estou a falar duma experiência que me é quase
sempre impedida.
É possível ler também por osmose.
Ler é uma arte que se adquire não menos do que a de escrever. Procuro
ensiná-la, mas no sentido da palavra francesa apprendre, que significa
contemporaneamente aprendê-la. É uma arte que nunca se termina de
aprender.
Readquirir o senso da leitura como felicidade, não como construção: eis a
infância que é preciso reencontrar em idade adulta. Procurar os livros
como prazeres, não como ferramentas. Prazeres gostosos, furtivos,
infindáveis.
Amar a voracidade, não a continência. Caso contrário leem-se – até o final
– poucos livros por anos e nem sempre os melhores. Comprar vários livros
de uma vez para lê-los paralelamente. Descobrir a poligamia. Claro, a
monogamia reserva alegrias que não podem ser narradas, mas talvez por
isso normalmente não são contadas e preferimos as suas infrações.
Para se aproximar dela é necessário esquecer a leitura profissional e
também a do bibliófilo. Acredito que a bibliofilia esteja contida dentro de
um gene que transmite o forte desejo de conhecer atavés do alfabeto. Nos
casos mais graves, ao qual temo fazer parte, é a voluptuosidade de engolir
o universo através dos livros.
Mas aqui uma finalidade, mesmo que irresponsável, permanece. O
cansaço evocado por Mallarmé por ter lido todos os livros, torna-se no
bibliófilo o desespero por não ter conseguido atingir tal alvo. Daí o seu
sonho de acordar na manhã descrita por Nietzsche e descobir a felicidade
de caminhar deixando os livros para trás. Não ler para (para aprender,
para se divertir, para escrever, para falar, para pensar, para fugir, para
lembrar). Ler sem para, apesar de o homem projectar continuamente o
próprio sentido. Ler no presente para ler o presente. O saber das tradições
do Oriente e do Ocidente sempre afirmou a centralidade do presente, a
porta que abre o acesso ao tempo.
Na civilização da técnica - escreveu Heschel – nós consumimos o tempo
para ganhar espaço. Mas o tempo – prosseguia – é o coração da existência.
Acho que este fosse o sentido da frase dirigida por Diógenes a Alexandre,
que estava parado na frente dele agachado:
Sequenza G– Testo originalePortoghese – Francesca Orlandi
“Afasta-te, proque estás a cobrir o sol”.
Frase que foi interpretada como vontade de circunscrever a glória de
Alexandre. Mas eu duvido que Diógenes, comparando-o ao sol, quisesse
dar-lhe uma nova dimensão. Eventualmente, o exacto contrário. O foco,
na verdade, está no sentido total e eterno do presente.
A figura de Alexandre obscurece o sol e tira a Diógenes o bem da luz.
Ler no presente, aderir ao que acontece. Ler como forma de escutar a
interioridade, como diálogo com o autor e consigo mesmo.
Um grande colecionista de quadros disse-me que o prazer de possuí-los
era principalmente a possibilidade de contemplá-los em silêncio, por longo
tempo, quando desejasse. Não tinha outros objectivos. Como um monge
que poderia orar, se não para receber, mas para agradecer que está a
orar.
Ler no presente descobriria o sentido mais importante do tempo e da
leitura. Uso o tempo condicional porque é uma meta árdua. Porém,
comecei a procurar aingi-la. Talvez, quando tiver duzentos e quarenta e
dois anos, alcança-la-ei todos os dias. Por agora constato que ler no
presente vê finalmente a convergência entre a felicidade e a salvação.
@Traduzione in Portoghese di Francesca Orlandi – 19.03.2014
|3
|1
Sequenza G - Portoghese -->Spagnolo – Aviva Garribba
Es tiempo libre el dedicado a la lectura verdadera, y no a la
hipotética. Este tiempo es el único bien solamente nuestro, según
escribió Séneca en los comentario iniciales, lóbregos y graves, de las
Cartas a Lucilio. Un tiempo que es consumido por multíplices
ocupaciones, por lo que suele llamarse, con un eufemismo impávido,
de segundo trabajo, siendo el tercero o cuarto. Tiempo que nos
roban los ladrones del tiempo, los sujetos que causaban molestias,
efigiados por Horacio en su Sátira IX. Y a los que Kraus reservaba una
aforisma desconsolada: “Muchos tienen el deseo de matarme.
Muchos otros el de charlar un rato conmigo. La ley me protege de los
primeros”.
Tiempo libre para el libro significa liberar la lectura de ambiciones
engañosas. La primera es identificarla con la “posesión” intelectual
de un texto. Sería preciso emanciparse del deseo de poseer, quiero
decir idealmente, un libro. Leer es un proceso sin fin, que solo una
imaginación débil puede limitar a la lectura de una obra. Del mismo
modo el lenguaje erótico nos ilusiona, cuando tras el verbo poseer
coloca, como objeto directo, a una persona. Nada es más fugaz que
este modo de poseer. Sin embargo, el delirio paranoico de
omnipotencia nos hace escoger, entre los verbos, el menos
adecuado. Es mejor exponer lo que nos da un libro a las mutaciones
que nos transforman a nosotros y a aquel. No nos ilusionemos con
poder cristalizarlo por una breve eternidad, como en la caja fuerte de
un banco transformada en una cripta.
Otra herencia patológica, transmitida por la escuela, es el culto de la
totalidad. Ideal imposible, nos facilita la coartada más rigurosa y a la
vez más difundida para no leer. No se puede olvidar a ese personaje
del cementerio de Lee Masters, que decía que había imaginado algo
grandioso, siendo niño, decidiendo leer toda la Enciclopedia
Británica. Los ideales que, sin que lo sepamos, nos orientan en los
subterráneos de la mente y que nos despojan de la libertad de
movimiento, tienen una relación arcana con proyectos similares. Aun
así, el significado de un libro no estriba nunca en lo que este es, sino
en lo que somos nosotros tras leerlo. El libro vive para modificarnos.
Solemos olvidarlo, desde luego yo primero. Pero permanece su
significado esencial.
La locura - en griego manía - de la totalidad persigue una totalidad
irreal para mantenernos alejados del único espacio abierto para
nosotros, el de la parcialidad. Todavía no he visitado algunas partes
de Grecia por esperar leer libros que nunca leeré. Nunca visitaré esas
partes de Grecia. Pero el recuerdo de un valle desconocido en Creta,
que los cuervos sobrevolaban, para mí es más emocionante que las
ruinas del palacio de Cnosos.
Contribuye a las aberraciones de la totalidad un imperativo brutal
que definiría economía de la indigencia, típica de los tiempos de
guerra: no dejar nada en el plato. Que sería como imponer a un
compañero de mesa que no deje de comer aun habiendo hecho un
error al escoger. Parece que la ingestión completa sea indispensable
para expresar un juicio, a pesar de que se sabe que, por ejemplo, en
el caso del vino puede bastar con probarlo.
Además los libros no deben leerse para juzgarlos, sino para disfrutar
de ellos. Longanesi comparaba a los críticos literarios, cuando juzgan
un texto, a los comisarios de policía que interrogan a un detenido.
Otra imagen penitencial y burocrática del libro es la de “herramienta
de trabajo”. Hay maneras profesionales de leer. Las conocemos
|2
Sequenza G - Portoghese -->Spagnolo – Aviva Garribba
todos, de otro modo no habríamos leído todos los libros que no
leemos. Proceder por averiguaciones, por ojeadas, por segmentos.
Por secuencias, por inicios y finales. No se excluye que el tiempo libre
también recurra a esto. Yo estoy convencido, sin formar parte de
ninguna secta espiritista, de que la presencia física de los libros en
una biblioteca actúe sobre quien los posee.
También es posible leer por ósmosis. Leer es un arte que se adquiere
no menos que la de escribir. Trato de enseñarla, pero en el sentido
de la palabra francesa apprendre, que significa a la vez aprender. Es
un arte que nunca se acaba de aprender.
Recuperar el sentido de la lectura como felicidad, no como
construcción: es la infancia que hay que recuperar en la edad adulta.
Buscar los libros como placeres, no como herramientas. Placeres
sabrosos, furtivos, inacabables.
Amar la voracidad, no la continencia. En caso contrario se leen –
hasta el final– unos pocos libros por año y no siempre los mejores.
Comprar varios libros a la vez para leerlos paralelamente. Descubrir
la poligamia. Claro, la monogamia ofrece alegrías que no pueden
narrarse, pero quizás justamente por esto no se suelen contar y
preferimos sus infracciones.A veces un contacto fugaz es más
deseable que la convivencia. Un libro puede ofrecer lo mejor solo en
ciertas partes. Intentar hallarlas y demorar en ellas. No quiero sugerir
la volubilidad sino la movilidad.
Tiempo libre para el libro significa una lectura libre de cualquier
finalidad. Significa leer en el presente. Estoy hablando de una
experiencia que me es casi siempre impedida. Para aproximarse a
ella es necesario olvidar la lectura profesional y también la del
bibliófilo. Opino que la bibliofilia está contenida en un gen que
transmite un marcado deseo de conocer a través del alfabeto. En los
casos más graves, entre los que me temo que me cuento, es la
voluptuosidad de tragar el universo a través de los libros.
Pero
aquí permanece
una
finalidad, aunque irresponsable. El cansancio que evocaba Mallarmé
por haber leído todos los libros, en el bibliófilo se convierte en la
desesperación por no haber podido atingir a ese caudal. De ahí su
sueño de despertar en la mañana descrita por Nietszche y descubrir
la felicidad de caminar dejando atrás los libros.
No leer para (para aprender, para divertirse, para escribir, para
hablar, para pensar, para huir, para recordar). Leer sin para, pese a
que el hombre siempre proyecta su propio sentido. Leer en el
presente para leer el presente. La sabiduría de las tradiciones de
Oriente y Occidente siempre afirmó la centralidad del presente, la
puerta que abre el acceso al tiempo.
En la civilización de la técnica – escribió Heschel- consumimos el
tiempo para ganar espacio. Pero el tiempo – añadía- es el corazón de
la existencia. Creo que este era el sentido de la frase que dirigió
Diógenes –agachado- a Alejandro, parado ante él: “apártate, porque
me estás cubriendo el sol”
|3
Sequenza G - Portoghese -->Spagnolo – Aviva Garribba
Frase que fue interpretada como la voluntad de circunscribir la gloria
de Alejandro. Pero dudo que Diógenes, comparándolo al sol, quisiera
darle una dimensión nueva. Posiblemente es al revés. El foco, en
realidad, está puesto en el sentido total y eterno del presente.
La figura de Alejandro oscurece el
sol y le quita a Diógenes el bien de la luz. Leer en el presente, adherir
a lo que acontece. Leer como manera de escuchar la interioridad,
como diálogo con el autor y con sí mismo. Un gran coleccionista de
cuadros me dijo que el placer de poseerlos estribaba principalmente
en la posibilidad de contemplarlos en silencio, durante un tiempo
muy largo, cuando lo quisiera. No tenía otros objetivos. Como un
monje que podría rezar, no para recibir, sino para agradecer la
oración.
Leer en el presente desvelaría el sentido más importante del tiempo
y de la lectura. Empleo el condicional porque es un objetivo difícil. Sin
embargo he empezado a tratar de alcanzarlo. A lo mejor, cuando
tenga doscientos cuarenta y dos años lo alcanzaré todos los días. Por
ahora constato que leer en el presente representa finalmente la
convergencia entre la felicidad y la salvación.
@Traduzione da Portoghese di Aviva Garribba – 10.04.2014
|1
Sequenza G PortogheseSpagnolo– Irene Butera
È tempo libero quello dedicato alla lettura reale, non a quella ipotetica.
Questo tempo è l’unico solamente nostro per davvero, come scrive Seneca
nei primi libri, cupi e severi di Lettere a Lucilio. Un tempo speso con varie
occupazioni, per cui viene di solito chiamato, con un impavido eufemismo,
secondo lavoro, essendo in realtà il terzo o il quarto. Un tempo che ci viene
rubato dai saccheggiatori del tempo: i soggetti che provocano
impedimento, quelli raffigurati da Orazio nella sua Satira IX. E verso i quali
Kraus riservava un amaro aforisma: “Molti hanno il desiderio di uccidermi.
Alcuni quello di voler chiacchierare con me. La legge mi protegge
solamente dai primi”.
Tempo libero per il libro significa liberare la lettura da ogni ambizione
illusoria.
La prima è da identificare nella “possessione” intellettuale di un testo.
Bisognerebbe emanciparsi dal desiderio di possedere, intendo
ideologicamente, un libro. Leggere è un processo senza fine,che solo una
debole immaginazione può limitare alla lettura di una sola opera. D’altro
canto è lo stesso linguaggio, erotico, a illuderci quando dopo il verbo
possedere colloca, come complemento oggetto, una persona. Niente è più
fugace di questo modo di possedere. Eppure il nostro delirio paranoico di
onnipotenza ci fa scegliere tra tutti i verbi, il meno adeguato. È meglio
interpretare ciò che ci trasmette un libro, piuttosto che interpretare le
mutazioni che trasformano noi e il libro stesso. Non ci illudiamo di poterlo
concretizzare in una breve eternità, come in una cassetta di sicurezza in
una banca, trasformata in cripta. Altra eredità patologica, trasmessa dalla
scuola, è il culto della totalità. Ideale impossibile, ci fornisce l’alibi più
valido e anche più diffuso per non leggere. Non possiamo dimenticarci di
quel personaggio del cimitero di Lee Masters, che da bambino aveva
immaginato di1 leggere tutti i libri dell’Enciclopedia Britannica. Gli ideali
che senza saperlo ci orientano nei meandri della mente e ci privano della
libertà di movimento, hanno un’arcana relazione con progetti simili. Ciò
nonostante il senso di un libro non si radica in ciò che esso è, ma in ciò che
noi stessi diventiamo dopo averlo letto. Il libro vive per modificarci. Siamo
soliti dimenticarcene, io per primo. Ma rimane il suo significato essenziale.
La mania –dal greco manía – della totalità rincorre una totalità irreale, per
tenerci lontani dall’unico spazio aperto a noi, quello della parzialità. Ancora
non ho visitato nessuna zona della Grecia in attesa di leggere libri che non
leggerò mai. Non visiterò mai quelle parti della Grecia. Però il ricordo di
una valle sconosciuta a Creta, sulla quale sorvolano i corvi, per me è più
emozionante delle rovine del palazzo di Cnosso.
Contribuisce ai difetti della totalità un imperativo brutale, che definirei
economia dell’indigenza, tipica dei periodi di guerra: non lasciare niente
nel piatto. Che significherebbe imporre al vicino di sedia di non smettere di
mangiare, nonostante abbia fatto una scelta sbagliata. Sembrerebbe che
l’ingerimento completo sia indispensabile per esprimere un giudizio anche
se, per esempio, il vino basta assaggiarlo. In più i libri non bisogna leggerli
per giudicarli, bensì per goderne. Longanesi comparava i critici letterari
quando giudicano un libro, a un commissario di polizia che interroga un
detenuto.
Altra immagine penitenziale e burocratica del libro è la “meccanica del
lavoro”. Ci sono tecniche di lettura. Le conosciamo tutti, se no non
avremmo letto tutti i libri che leggiamo. Procedere per verifiche, sguardi,
segmenti. Per sequenze, inizi e finali. Non possiamo escludere che il tempo
libero si serva di questo. Sono convinto, senza far parte di nessuna setta
1
Ndt: “di” non è presente nella testo spagnolo
|2
Sequenza G PortogheseSpagnolo– Irene Butera
spiritica, che la presenza fisica dei libri in una biblioteca agisca su chi li
possiede. È possibile anche leggere per osmosi. Leggere è un’arte che si
raggiunge non meno di quella di scrivere. Provo a insegnarla, nel senso
della parola francese apprendre, che significa apprendere. Ed è un’arte che
non si smette mai di apprendere, imparare. Recuperare il significato della
lettura come felicità, non come costrizione: bisogna recuperare l’infanzia
nell’età adulta. Cercare i libri per piacere, non meccanicamente. Piaceri
gustosi, furtivi, interminabili. Amare l’ingordigia, non la continenza. In caso
contrario si leggono, fino alla fine, solo alcuni libri l’anno, e spesso non
sono neanche dei migliori. Si comprano vari libri allo stesso momento per
leggerli parallelamente. Si scopre la poligamia. Certo la monogamia offre
gioie inenarrabili, ma forse proprio perché non si raccontano, si
preferiscono le sue infrazioni. A volte un contatto fugace è più desiderabile
della convivenza. Il libro riesce a offrire il meglio solo in certe parti. Riuscire
a trovarle e stabilirsi in esse. Non voglio suggerire la volubilità, ma la
mobilità.
Tempo libero per un libro significa tempo per una lettura senza finalità.
Significa leggere nel presente. E parlo di un’azione che mi è quasi sempre
negata.
Per andarci vicino, è necessario dimenticare la lettura professionale e
quella del bibliofilo. Credo che la bibliofilia sia contenuta in un gene che
trasmette il marcato desiderio di conoscere attraverso l’alfabeto. Nei casi
peggiori, tra i quali credo di trovarmi, la voluttuosità(volontà?) di voler
ingurgitare il mondo attraverso i libri. Però qui rimane una finalità, seppur
irresponsabile. La stanchezza evocata da Mallarmé per aver letto tutti i
libri, nel bibliofilo si converte in disperazione per non aver potuto attingere
da quella fonte. Da lì il suo sogno di svegliarsi nella mattina descritta da
Nietzsche e scoprire la felicità di camminare lasciandosi i libri alle spalle.
Non leggere perché (per imparare, per divertirsi, per scrivere, per parlare,
per pensare, per fuggire, per ricordare), ma leggere senza un perché,
nonostante l’uomo progetti sempre il suo sentire. Leggere nel presente per
leggere il presente. La saggezza delle tradizione Occidentali e Orientali
afferma sempre la centralità del presente, l’accesso che apre le porte al
tempo.
Nella civiltà tecnica, scrisse Heschel, consumiamo il tempo per guadagnare
lo spazio. Però il tempo – aggiungeva- è il cuore dell’esistenza. Credo che
questo fosse il senso della frase che Diogene, inginocchiato, diresse a
Alessandro Magno, fermo davanti a lui: “spostati, mi stai coprendo dal
Sole”.
Frase che fu interpretata con la volontà di limitare la gloria di Alessandro
Magno. Eppure dubito che Diogene, comparandolo al Sole, volesse dargli
una nuova dimensione. Forse è al contrario: il focus in realtà è posto nel
senso totale e eterno del presente. La figura di Alessandro Magno copre il
sole, togliendo il bene della luce a Diogene. Leggere nel presente, aderire a
ciò che succede. Leggere come maniera di ascoltare l’interiorità, come
dialogo con l’autore e con se stessi. Un gran collezionista di quadri mi disse
che il piacere di possederli, sfociava per lo più nella possibilità di poterli
contemplare in silenzio, per un lungo periodo di tempo, quando voleva.
Non aveva altri obbiettivi. Come un monaco che prega, non per ricevere,
bensì per essere gratificato dall’orazione. Leggere nel presente svelerebbe
il senso più importante del tempo e della lettura. Utilizzo il condizionale
perché non è un obbiettivo facile. Comunque ho iniziato a tentare di
raggiungerlo. Al massimo, quando avrò duecentoquarantadue anni, lo
raggiungerò tutti i giorni. Per ora mi limito a dire che leggere nel presente
rappresenta il compromesso finale tra la felicità e la salvazione.
@Traduzione dallo Spagnolo – Irene Butera 04.05.2014