Shell - Cenários Sob Novas Lentes

Transcrição

Shell - Cenários Sob Novas Lentes
CENÁRIOS SOB
NOVAS LENTES
MUDANÇA DE PERSPECTIVA
PARA UM MUNDO EM TRANSIÇÃO
Os Cenários sob novas lentes fazem parte de um processo
contínuo que é usado há quarenta anos pela Shell para
questionar as perspectivas dos executivos sobre o ambiente
de negócios do futuro.
Os cenários são baseados em suposições e quantificações
plausíveis e foram concebidos para desafiar a gestão
a considerar até mesmo eventos que sejam apenas
remotamente possíveis.
Portanto, estes cenários não pretendem ser previsões de
eventos ou resultados futuros prováveis e os investidores
não devem se basear neles para tomar suas decisões de
investimento referentes aos títulos da Royal Dutch Shell plc.
Prefácio05
Introdução06
Novas lentes para uma nova era 09
Paradoxos10
Caminhos12
Panoramas: Cenários sob novas lentes 16
Montanhas22
Montanhas: uma visão geral
23
Transição geopolítica do Ocidente para
o Oriente
26
Caminhos econômicos para cima e para baixo
30
Energia e ascensão do gás
34
Oceanos46
Oceanos: uma visão geral
47
Uma variedade de litorais
50
Transições e bolhas econômicas
56
As grandes ondas da demanda energética 59
Reflexões sobre desenvolvimento
e sustentabilidade
70
Observações finais
78
Apêndices: comparações de cenários, tabelas
resumidas de quantificação, glossário, fontes
de dados 80
Linha do tempo
92
CENÁRIOS SOB NOVAS LENTES ÍNDICE 01
ÍNDICE
Em uma era de transições voláteis, não é realista
propor uma lente única para prever o mundo de
amanhã. Nossa percepção é moldada pelas
diferentes perspectivas quando consideramos fatores
chave como redes de energia, a velocidade da
mudanças políticas e a disponibilidade de recursos.
Nosso conjunto de novas lentes oferece essa
perspectiva, permitindo que exploremos dois mundos
futuros e entendamos melhor as possíveis
consequências das nossas escolhas de hoje.
OCEANOS
Este é um mundo onde o poder do status quo
é fixo e é mantido firmemente por aqueles que
são atualmente influentes. A estabilidade é o
maior prêmio: aqueles no topo alinham seus
interesses para liberar recursos de forma estável
e cautelosa, não apenas segundo as forças
de mercado imediatas. A rigidez resultante no
sistema reduz o dinamismo econômico e reprime
a mobilidade social.
No mundo de Oceanos a influência é mais
difusa. O poder é delegado, interesses
divergentes são negociados e reina o
compromisso. A produtividade econômica
aumenta com uma grande onda de reformas,
no entanto, às vezes há desgastes na coesão
social e instabilidades na política. Isso faz com
que grande parte do desenvolvimento político
secundário fique estagnado, dando uma maior
proeminência às forças de mercado imediatas.
CENÁRIOS SOB NOVAS LENTES MONTANHAS E OCEANOS 03
MONTANHAS
Prefácio
DEFININDO UMA
VISÃO DE FUTURO
HÁ 40 ANOS
CENÁRIOS SOB NOVAS LENTES PREFÁCIO 05
Recentemente, comemoramos o 40º ano da prática de
planejamento de cenários da Shell. Ao refletirmos sobre
essas décadas de trabalho e ao relembrarmos de todos
os indivíduos talentosos que estiveram envolvidos nesses
anos, nos admira a maneira como esses cenários
influenciaram um conjunto tão notável de questões,
debates e decisões de negócio.
Olhando para o passado, vemos várias semelhanças
entre o ambiente de negócios do início da década de
1970 e o da atualidade. Podemos citar como exemplos
a volatilidade da economia global e certos sistemas
políticos. Outras características são novas na forma
como destacam desafios complexos para o sistema de
recursos como um todo, que pressionarão os esforços
criativos de organizações como a nossa, conforme
caminhamos para o futuro.
Por exemplo, em 2011, pedi à nossa equipe de
estratégia que começasse a examinar o nexo da água,
energia e alimentos, que chamamos Nexo de
Interdependência. Acredito que o sucesso da Shell –
e da sociedade de maneira geral – baseia-se em
trabalhar melhor em conjunto. Como negócio, estamos
acostumados a servir pessoas através de colaborações
comerciais eficazes, que impulsionam inovação e
eficiência comercial e que trazem impactos positivos à
lucratividade. No entanto, algo que precisamos fazer
melhor – e rapidamente – é melhorar nossa colaboração
com outras empresas, com todos os setores da economia
e com governos e sociedades civis em diferentes
localidades do mundo. Só assim seremos capazes
de tirar maior proveito das eficiências que podem ser
alcançadas pela colaboração no nível de sistemas.
Conforme descrevem estes Cenários sob novas lentes,
até 2030, prevê-se um crescimento de 40% a 50% da
demanda por recursos essenciais, tais como água,
energia e alimentos. Para satisfazer essas necessidades
sem prejudicar significativamente o meio ambiente,
permanecer no cenário de atividade atual (business as
usual) não é uma opção. Precisamos de um cenário de
negócios diferente da norma atual. Em breve,
começaremos a compartilhar mais os nossos planos
para fortalecer parcerias e dar continuidade ao nosso
papel ativo na transformação do sistema energético.
Estes novos cenários exploram complexidades e fazem
perguntas exploratórias sobre como podemos criar um
negócio mais reflexivo, receptivo e resistente.
Compartilhá-los e incentivar o debate em torno das
questões que eles consideram são partes importantes
desse processo. Acredito que os suplementos que serão
publicados periodicamente nos próximos anos também
levarão isso à frente.
Espero que você ache o texto instigante e aproveito
esta oportunidade para incentivá-lo a fazer parte da
discussão sobre estes cenários, como tantos outros nos
últimos 40 anos. n
Peter Voser
CEO, Royal Dutch Shell plc,
março de 2013
Introdução
O PODER DOS
CENÁRIOS
O futuro não é completamente previsível nem
completamente aleatório. Um exame pertinente de
possíveis panoramas futuros inevitavelmente deve
destacar características ou padrões alternativos.
Há mais de quatro décadas, a Shell desenvolve e aplica
cenários contrastantes para nos ajudar a considerar mais
amplamente o futuro e a aprofundar nosso pensamento
estratégico. Também compartilhamos externamente
resumos desse trabalho sempre que sentimos que isso
contribuirá para um melhor diálogo público sobre as
escolhas e desafios coletivos que enfrentamos.
Os cenários fornecem pontos de vista quantificados e
uma linguagem a ser usada pelos executivos da Shell
ao lidarem com condições cada vez menos familiares
e mais desafiadoras. Espera-se que estes cenários
sejam instigantes, mas plausíveis, destacando as
questões já proeminentes e também, fundamentalmente,
os desenvolvimentos de base que devem ser
alcançados. Se usados eficientemente, esses pontos
de vista alternativos podem ajudar as organizações a
enfrentarem questões difíceis que devem ser exploradas
de forma colaborativa, mesmo que existam opiniões
extremamente diferentes em relação a elas.
Essa abordagem também ajuda a proporcionar aos
responsáveis pela tomada de decisões um conhecimento
mais aprofundado sobre as opiniões muito diferentes que
outros possam ter, bem como a necessidade de lidar com
essas perspectivas eficientemente e o significado das
escolhas feitas pelos outros em relação ao seu próprio
futuro. Nesse sentido, os cenários são profundamente
relacionais, pois concentram-se em pessoas e no seu
comportamento, e não apenas em forças econômicas,
políticas e sociais que são supostamente impessoais.
Portanto, aqui temos algo da alquimia dos cenários
como a vivenciamos na Shell: uma mescla de processo
de pensamento estratégico, modo de análise, processo
social de envolvimento e influência e, na sua forma mais
potente, um facilitador de exploração e descoberta
individual e coletiva.
Nesse sentido, as palavras do ex-Secretário de Defesa
dos Estados Unidos, Donald Rumsfeld, são relevantes no
sentido de que pelo menos uma das funções do trabalho
com cenários é unir as pessoas para que explorem áreas
a fim de revelar “desconhecimentos desconhecidos”.
Esse exame não é primariamente voltado a produzir
folhetos ou relatórios atraentes, embora estes possam
ser muito interessantes. O mais importante é ajudar as
pessoas a fazerem uma jornada que possa guiá-las a
melhores escolhas baseadas em considerações mais
ricas sobre o mundo à sua volta.
Essa jornada pode ser difícil. Como disse o filósofo
Schopenhauer, as novas verdades são primeiro
ignoradas ou ridicularizadas, depois sofrem violenta
oposição para serem finalmente aceitas como evidentes.
Em momentos diferentes, cenários específicos podem
ser considerados irrelevantes, insensatos, irritantes e
até desnecessários. Contudo, a experiência na Shell
comprovou o valor dessa jornada para nossa empresa. n
Jeremy Bentham
Vice-Presidente de Ambiente de Negócios
Diretor dos Cenários da Shell
CENÁRIOS SOB NOVAS LENTES Introdução 07
Todos nós enfrentamos escolhas que produzem
consequências durante anos – ou até décadas –
no futuro. Seja desenvolvendo novas oportunidades
ou prevendo ameaças significativas, baseamos
nossas decisões nas nossas perspectivas de futuro.
Portanto, é muito valioso desenvolver um entendimento
aprofundado dos possíveis determinantes, tendências,
incertezas, escolhas e ciclos que moldarão esse futuro
desconhecido, que pode parecer muito diferente aos
olhos dos diferentes atores.
Os cenários publicados anteriormente pela Shell
destacaram nossa entrada em uma era de volatilidade e
de transações múltiplas em termos econômicos, políticos
e sociais e dentro dos sistemas energético e ambiental:
nCiclos
econômicos intensificados, pois foram
alteradas as condições que caracterizaram o período
entre meados de 1980 e meados de 2000, chamado
de a “grande moderação” nas economias industriais
avançadas.
nMaior
instabilidade política e social, estimulada em
parte pela volatilidade econômica.
A tecnologia para utilizar recursos renováveis, tais
como energia solar fotovoltaica, também avança,
com o crescimento rápido da oferta proveniente de
uma base pequena, mas bem estabelecida.
nLimites
ecológicos mais bem definidos e
consideravelmente questionados, incluindo pressões
provenientes do Nexo de Interdependência entre
água-energia-alimentos, sendo que cada um dos
componentes sofre pressões em termos de oferta/
demanda. Por causa dos seus vínculos, esses
componentes impactam uns aos outros e aceleram
o crescimento combinado da tensão.
nTransições
Inevitavelmente, dados esses desenvolvimentos,
qualquer panorama plausível será confuso e irregular.
Entretanto, observamos que uma série de novas lentes
pode nos ajudar a olhar para cenários familiares a
partir de ângulos novos para que possamos enfatizar
e esclarecer possíveis futuros.
nAumento
Lentes de Paradoxo e Caminho nos ajudam a observar
de perto e detalhadamente tendências e determinantes,
enquanto nossos cenários panorâmicos destacam
padrões mais abrangentes em possíveis panoramas
futuros.
nTensões
na ordem internacional, com instituições
multilaterais tendo dificuldades para se adaptaràs
mudanças do poder econômico, e proliferação de
outros acordos.
demográficas significativas, incluindo o
envelhecimento das populações em alguns lugares,
o aumento da população jovem em outros, e a
urbanização incansável nas economias emergentes
e menos desenvolvidas.
da demanda energética devido aos
aumentos populacionais e à maior prosperidade,
com a emergência de novas ofertas de energia
enquanto outras têm dificuldades em manter o ritmo,
e o aumento das emissões de gás, particularmente
devido ao aumento do consumo do carvão.
nEmprego
de avanços tecnológicos permitindo o
rápido crescimento de recursos, tais como gás de
xisto e xistos betuminosos, por exemplo, na América
do Norte, com impactos internacionais, mas com
perspectivas incertas em outras partes do mundo.
“PRECISAMOS MUDAR
PARA QUE AS COISAS
PERMANEÇAM AS
MESMAS.”
Giuseppe Tomasi di Lampedusa
O leopardo
CENÁRIOS SOB NOVAS LENTES NOVAS LENTES PARA UMA NOVA ERA 09
NOVAS LENTES PARA
UMA NOVA ERA
PARADOXOS
OLHAR PELA LENTE DE TRÊS PARADOXOS
AJUDA A DESTACAR AS PRINCIPAIS
CARACTERÍSTICAS DO PANORAMA
EMERGENTE
O PARADOXO DA CONECTIVIDADE
A crescente conectividade global estimula a
criatividade, mas também coloca a propriedade
intelectual em risco. A conectividade facilita a expressão
individual e a capacitação, mas também incentiva o
comportamento de rebanho e amplifica variações de
confiança e demanda. A florescente disponibilidade de
informações tem a capacidade de trazer conhecimento
e transparência, mas a sobrecarga de dados pode,
da mesma forma, gerar confusão e obscuridade.
De muitas maneiras, o Paradoxo da Conectividade
impulsiona os outros dois paradoxos. O uso da
tecnologia de informação e comunicação tem sido um
determinante da globalização econômica, expandindo
e fortalecendo vínculos comerciais, financeiros e de
pesquisa, disseminando prosperidade e gerando
desafios de liderança. A volatilidade econômica,
O PARADOXO DA PROSPERIDADE
O PARADOXO DA LIDERANÇA
O desenvolvimento econômico está aumentando o
padrão de vida de centenas de milhares de pessoas.
Entretanto, também impõe pressões ambientais, de
recursos, financeiras, políticas e sociais que podem
abalar alguns dos benefícios da prosperidade. Ganhos
privados podem florescer ao mesmo tempo que sobem
os gastos públicos, e um maior conforto hoje pode levar
a maiores riscos amanhã. A tendência da globalização
é de reduzir a desigualdade de renda entre as nações,
embora tenha aumentado as desigualdades dentro
delas. Uma maior eficiência pode estimular o
crescimento do consumo. Passado um determinado
ponto, o aumento da prosperidade não aumenta o
bem-estar relativo, que pode até diminuir. Por exemplo,
quanto mais as pessoas prosperarem ou virem outras
pessoas prosperarem, maiores serão seus desejos e
expectativas para si e seus filhos – e maior será o
descontentamento potencial.
Lidar com tensões globais exige coordenação entre um
número cada vez maior de grupos de tomadores de
decisão. No entanto, quanto mais diversificados forem os
grupos envolvidos, mais seus interesses tenderão a
bloquear o progresso. Um provérbio africano muito citado
sugere que para ir rápido, é melhor ir sozinho, mas para ir
longe, é melhor ir acompanhado. Lidar com tensões cada
vez maiores exige que caminhemos rápido e longe, o que
implica uma necessidade paradoxal de ir sozinho e
acompanhado. Formas novas de colaboração são
necessárias para ultrapassar os familiares limites nacionais,
público-privados e dos setores da indústria; contudo, não
há modelos fortes para essas colaborações, que são
extremamente difíceis de serem estabelecidas, pois as
diferentes partes continuam a enfatizar em primeiro plano
suas próprias questões e responsabilidades individuais.
Os líderes de todas as nações enfrentam profundos
dilemas políticos. Os governos, pela sua natureza,
são mais lentos do que a velocidade que a vida
contemporânea muitas vezes exige. Os mandatos
eleitorais frequentemente ofuscam a gestão de questões
de longo prazo, complicadas ou impopulares.
De acordo com a ONU e análise da Shell, até 2030, o mundo
precisará entre 40% e 50% a mais de água, alimentos e
energia. A interdependência entre esses recursos – o Nexo
de Interdependência – também aumenta a volatilidade:
mais energia requer mais água; mais alimentos e água
requerem mais energia. Mudanças do clima podem levar a
condições climáticas extremas, tais como secas prolongadas
e enchentes torrenciais que causam impactos à agricultura e à
subsistência. A falta de água pode intensificar a instabilidade
social e política, bem como provocar conflitos e causar danos
ambientais irreparáveis.
O PARADOXO DA PROSPERIDADE
Com o aumento da demanda por alimentos, o impacto dos
recursos ligados a produção de alimentos (terra, água, energia)
pode aumentar consideravelmente, conforme os carboidratos
são substituídos por proteína na dieta das pessoas.
Quantos maiores e mais técnicos os problemas
enfrentados pela sociedade, menor a possibilidade de o
governo poder resolvê-los sozinho sem a ajuda do setor
de negócios e outros. Em democracias avançadas,
quanto mais capacidade as pessoas têm para se unirem
em grupos de interesses especiais para influenciar
governos, mais difícil é para os governos trabalhar
primariamente pelo bem comum. Em várias partes do
mundo, quanto mais a tecnologia das novas mídias dá
poder aos cidadãos, mais capacita o governo a
monitorar esses cidadãos.
O PARADOXO DA LIDERANÇA
A globalização em si traz um paradoxo para os líderes
governamentais: quanto maiores as forças da
globalização, menor é o poder autônomo dos governos
nacionais. Da mesma forma, os líderes enfrentam um
paradoxo resultante da própria natureza humana, com
exceção de momentos de perigo imediato: quanto
maior a necessidade de soluções comunitárias a longo
prazo, menor é o apetite por sacrifícios individuais a
curto prazo. n
A maioria dos países não é totalmente autossuficiente no Nexo
de Interdependência entre alimentos, energia e água. Quais
são as compensações entre segurança alimentar e energética
nacionais? Como os mercados globais de commodities afetarão
a segurança de recursos quando a volatilidade aumentar?
Os governos devem desenvolver políticas em todas as
áreas do Nexo de Interdependência, mesmo sem entender
completamente as interdependências e possíveis consequências
não intencionais. “Alimento versus combustível” sugere que
todos os alimentos e combustíveis são iguais e que há uma
compensação direta, mas os problemas são mais complexos e
a conveniência das partes interessadas determinam os debates.
O PARADOXO DA CONECTIVIDADE
Além de apresentar desafios, o Nexo de Interdependência
dos recursos também apresenta oportunidades. Que novas
colaborações podem ser desenvolvidas, mesmo entre parceiros
atualmente improváveis?
CENÁRIOS SOB NOVAS LENTES PARADOXOS 11
política e social pode ter sempre existido, mas esse grau
sem precedentes de conectividade está contribuindo
para uma intensidade fora do comum, em parte porque
o aumento da conectividade fortalece atores individuais.
Um vendedor de rua pobre pode, por exemplo, instigar
a derrubada de governos no Oriente Médio. Um hacker
solitário pode interromper o funcionamento de grandes
negócios e empreendimentos governamentais. Sob a
proteção do anonimato, pequenos números de
“hacktivistas” podem causar milhões de dólares em
perdas para empresas. Uma cantora de coral religioso
da Escócia pode se tornar uma estrela do dia para noite
quando o vídeo da sua audição para um programa de
TV se transforma em sucesso viral na Internet e seu CD
pode se tornar o CD mais vendido nas paradas do
mundo todo.
O NEXO DE INTERDEPENDÊNCIA DOS RECURSOS
CAMINHOS
ESPAÇO PARA MANOBRA
O capital financeiro, social, político ou tecnológico
incentiva uma atuação rápida e resulta em mudanças/
reformas eficazes.
TRANSIÇÃO COMPLEXA
A capacidade financeira, social, política ou tecnológica
é inadequada para aguentar as tensões. As respostas
comportamentais atrasam as mudanças, fazendo
com que as condições piorem até que, finalmente, é
necessário um reajuste ou ocorre um colapso.
As tensões inerentes aos três paradoxos nutrem a era
atual de transições. Países no mundo todo enfrentam
desafios referentes aos seus modelos econômicos,
regimes políticos e condições sociais. Os EUA estão
lidando com um declínio a longo prazo do seu
poder global relativo e atualmente passam por uma
recuperação decepcionantemente vagarosa de uma
recessão profunda e um sistema político paralisado.
A China e outras economias emergentes, que pareciam
resistentes em 2008, agora estão lidando com um
conjunto adicional de incertezas na sua busca por
estabilidade e crescimento contínuo.
Quando as tensões aumentam e uma crise emerge,
alguns atores se adaptam e implementam reformas.
No entanto, outros têm dificuldades até que a crise
atinja um nível que force uma restruturação dramática
e dolorosa ou o colapso. Explorando eras passadas de
transição e transformação, aprendemos que duas lentes
de Caminhos arquetípicas ajudam a trazer clareza
e discernimento. Esses caminhos são chamados de
“Espaço para manobra” e “Transição complexa”.
CAMINHOS
Reforma pontuada
Espaço para manobra
Acúmulo
de tensões
Deriva
Crise
inicial
Deriva/
declínio
Crise
existencial
Decadência/
colapso
Transição Complexa
Reforma pontuada
Acúmulo
de tensões
Deriva
Crise
inicial
Deriva/
declínio
Crise
existencial
Decadência/colapso
nEmbora
seriamente afetadas pela turbulência
criada pela crise financeira global, economias
tais como a Índia, a China e o Brasil mostraram-se
resistentes, pelo menos no período logo após a
crise. De maneiras diferentes, tiveram o “capital”
financeiro, social, político e de recursos necessário
para responder e reformar, seguindo um caminho de
“Espaço para manobra”.
nA
União Europeia mostrou que não tem esse nível de
resistência e vem seguindo um caminho de “Transição
complexa” no qual os problemas são “empurrados
com a barriga” e os líderes não conseguem criar
espaço para respirar em termos políticos e sociais.
Portanto, os países ficam em uma deriva contínua,
pontuada por uma série de minicrises que em
algum ponto culminarão em uma restruturação
que envolverá uma perda significativa de capital
financeiro e político (através da soberania coletiva,
por exemplo) ou a dissolução do Euro.
É claro que nem todos os países ou atores seguem
exclusivamente um caminho de “Transição complexa”
ou “Espaço para manobra” e nem sempre permanecem
em um só caminho durante todos os desafios. De fato,
aquilo que parece espaço para manobra para alguns
atores pode simultaneamente parecer estar encurralado
para outros; pense nas diferentes perspectivas de um
gato e um rato presos juntos em um quarto. No entanto,
as lentes de Caminhos destacam padrões recorrentes no
panorama mais geral.
Países, negócios e até mesmo indivíduos traçam
trajetórias diferentes. Será que responderão aos desafios
enfrentados através de adaptação e reforma, seguindo
o caminho de “Espaço para manobra”? Ou será que
as mudanças serão adiadas, levando a um caminho de
“Transição complexa” até que haja uma restruturação
fundamental ou colapso?
DINÂMICA DA TRANSIÇÃO
Do ponto de vista dos sistemas, as transições ocorrem
quando aparecem lacunas entre as condições reais
e as esperadas. Essas lacunas criam ansiedade ou
insatisfação, que estimulam o desenvolvimento de
abordagens novas e atualizadas que são, então,
colocadas em prática para fechar essas lacunas.
Entretanto, muitas vezes há atrasos e muitos inibidores
nesse processo. Por exemplo, a ansiedade promove
negação e paralisia da mesma forma que incentiva
novas abordagens. Sem capital social, intelectual e
político, é difícil superar interesses estabelecidos para
desenvolver e implementar novas abordagens. Outros
inibidores-chave incluem inadequação institucional,
desigualdade e insegurança.
Com todos esses inibidores sistêmicos, para que a
transição progrida, são necessários facilitadores
sistêmicos, como por exemplo, vitórias rápidas para
superar a paralisia ou o desenvolvimento de capital
social e político suficiente para superar os interesses
estabelecidos.
É o equilíbrio dinâmico entre inibidores e facilitadores
que molda as transições, um equilíbrio que difere de
ator para ator e de transição para transição. Se esse
equilíbrio favorecer os inibidores, a transição se torna
complexa; no entanto, a presença de facilitadores
suficientes criam espaço para manobra. n
CENÁRIOS SOB NOVAS LENTES CAMINHOS 13
Consideremos exemplos recentes:
UMA NOVA LENTE
SOBRE AS CIDADES
Até 2050, espera-se que cerca de três quartos da
população mundial esteja vivendo em cidades. O maior
crescimento da população urbana nesse período será
na China, Índia, Nigéria e nos EUA. O crescimento mais
dramático acontecerá em milhares de pequenas cidades
que rapidamente se transformarão em grandes cidades.
Grande parte da infraestrutura para essas novas
cidades ainda não foi projetada. A Booz & Company
(em um estudo para o World Wildlife Fund) estima que
o investimento total em infraestrutura urbana e suas
operações nas próximas três décadas ultrapassará
o número impressionante de $350 trilhões. A maior
proporção será direcionada aos mercados emergentes.
O financiamento dessas necessidades de investimento
será um desafio importante e exigirá inovações
consideráveis no financiamento global. Se essas
necessidades puderem ser atendidas, isso constituirá
uma importante fonte de demanda agregada para a
economia global por um longo tempo no futuro.
O PARADOXO DA PROSPERIDADE
Se cidades saudáveis com recursos abundantes crescem
organicamente, elas tendem a se expandir, levando a uma grande
ineficiência energética. As cidades mais pobres e mais povoadas
também correm o mesmo risco. Se elas também seguirem o
caminho orgânico, que é economicamente mais eficiente a curto
prazo, correrão o risco de acabarem com uma infraestrutura
gravemente ineficiente.
O PARADOXO DA LIDERANÇA
Se os líderes municipais considerarem que os problemas são
difíceis demais para serem resolvidos e que as soluções são
impopulares demais para serem executadas, as tensões nas
cidades serão ignoradas até que as condições de vida sejam
ameaçadas. A grande lacuna entre os horizontes temporais de
políticas e de infraestrutura é muito difícil de ser superada, mas
essa superação é necessária para um desenvolvimento saudável.
O PARADOXO DA CONECTIVIDADE
Atualmente, as cidades usam 66% do total de energia
do mundo, e nos próximos 30 anos esse número
pode aumentar para quase 80%. No passado, os
desenvolvimentos urbanos eram impulsionados por
suposições de que a energia permaneceria disponível
a preços relativamente baixos. A falta do conceito
da necessidade de garantir a provisão de energia e
de desenvolver políticas de planejamento levaram à
expansão urbana e à ineficiência energética.
Todos os aspectos da sociedade devem operar juntos para
resolver o problema do crescimento das cidades: os governos têm
que oferecer maiores incentivos e sanções para um crescimento
inteligente; a sociedade deve ser incentivada a moderar a
demanda por bens privados em favor da infraestrutura para todos;
e os negócios devem oferecer uma infraestrutura mais inteligente e
mais integrada, bem como soluções de moradia e de trânsito. Para
prosperar, todos os grupos devem operar de forma coordenada,
mas essa é uma dança difícil de controlar.
ESPAÇO PARA MANOBRA
TRANSIÇÃO COMPLEXA
nCoalizões
de liderança visionárias definem o
crescimento
nAs autoridades preveem tensões e implementam
um planejamento integrado para o uso da terra,
transporte, energia, água e lixo
nSoluções estruturais eficientes em termos de energia,
incluindo desenvolvimento urbano compacto e
transporte público
nConhecimento partilhado e valorizado
n As
forças de mercado ditam o crescimento sozinhas
As autoridades supõem que os problemas são difíceis demais
para serem enfrentados e que as soluções são impopulares demais
para serem implementadas
nAs tensões são ignoradas até que as condições de vida na
cidade são ameaçadas e a reengenharia da infraestrutura
passa a ser difícil
nSoluções individuais pontuais
n
CENÁRIOS SOB NOVAS LENTES CAMINHOS 15
Mounting
Stress
Ciclo virtuoso do crescimento urbano
Ciclo virtuoso do crescimento urbano
nt
os

As vantagens podem incluir:
– Centro comercial
– Conglomerado de experiências
– Zona econômica especial

Empresas investem para capitalizar
vantagens:
– Expansão da produção
– Tecnologia mais eficiente
– Novos produtos - Indústria de serviços

Governo investe em infraestrutura,
permitindo operações de negócios mais
eficientes e melhorando a comodidade
– Transporte – Serviços – Comodidade
– Comunicações – Educação

Oportunidades de emprego e
riqueza atraem mão de obra de
fora da cidade, aumentando o
"pool" de profissionais e o
tamanho do mercado doméstico

Aumentando a educação
e capacitando talentos
e empreendedorismo
sti
lv e
ve
n
se e
A tr ir e d e tal
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Desenvolvimento contínuo
de vantagens comerciais
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competitiva

r
In
PANORAMAS
CENÁRIOS SOB
NOVAS LENTES
À medida que passamos para um ambiente geopolítico
mais fluido, com incertezas políticas muito maiores,
enfrentamos a possibilidade de um mundo cada vez
mais conflituoso.
Quatro características-chave do ambiente geopolítico
transicional se destacam para os próximos 10 a 20 anos.
RELAÇÃO ENTRE CHINA E EUA
Os EUA continuarão em uma posição de proeminência,
mas terão que aceitar um mundo mais plural. Terão que
negociar consequências com outros poderes que
possuem valores e objetivos diferentes. Em outras
palavras, os EUA terão que aprender a “possibilitar
mudanças”, ao invés de agirem unilateralmente.
Sozinhos, não estarão mais dispostos ou não serão mais
capazes de fornecer bens públicos globais dos quais
dependa a ordem internacional. Um vácuo de liderança
pode emergir se nenhum outro país estiver preparado
para liderar ou se os EUA em si não estiverem
preparados para permitir que outros assumam uma
posição equivalente.
Como a grande potência econômica emergente,
a China não se sente confortável com a ideia de assumir
um papel global mais amplo e continua a defender seus
interesses em termos estreitamente específicos e
nacionais. As diferenças estruturais subjacentes entre os
EUA e a China vêm à tona principalmente no que diz
respeito ao comércio, à taxa de câmbio entre eles e aos
desequilíbrios econômicos que foram criados ao longo
do tempo. No entanto, a competição geopolítica entre
eles está aumentando devido à influência na região do
Pacífico Asiático, embora o Japão continue exercendo
uma influência considerável por meio da sua tecnologia,
investimento e esforços significativos na área de ajuda
internacional. Se as capacidades dos EUA forem
ampliadas e a China se estender por se sentir
demasiadamente confiante na busca dos seus interesses
regionais, será que um deles exercerá uma influência
mais decisiva? Ou será que terão que encontrar uma
forma de trabalhar juntos em áreas de interesse mútuo?
Esse sistema não é facilmente traduzido na ordem
geopolítica atual. A transição para uma esfera de
influência chinesa não é uma opção atrativa para muitos
Estados. Há potencialmente uma história de duas Ásias.
A Ásia pode continuar a ser a região mais dinâmica da
economia global, mas pode também se transformar na
região mais volátil e suscetível a conflitos na ordem
global.
“VENCERÁ O PAÍS
QUE MOSTRAR UMA
AUTORIDADE MAIS
HUMANA”
Yan Xuetong
Professor de Ciência Política da Universidade de Tsinghua
ARMADILHA DE TUCÍDIDES
Graham Allison, Professor da Faculdade de Governo John F.
Kennedy da Universidade de Harvard, defende que a questãochave referente à ordem global nas próximas décadas será:
A China e os EUA conseguirão escapar da armadilha de
Tucídides? A metáfora desse historiador alude aos perigos que
as duas partes enfrentam quando uma potência em ascensão
compete com uma potência no poder. A maior parte dos desafios
dessa natureza terminou em conflito. Resoluções pacíficas
exigiram grandes compromissos por parte dos governos e dos
cidadãos de ambas as potências para efetuar grandes reformas.
A ascensão dramática de Atenas nos tempos antigos chocou
Esparta, a potência terrestre estabelecida. O medo produziu
competição, confrontos e por fim conflitos. Após 30 anos, ambos
os Estados foram destruídos. Tucídides escreveu: “Foi a ascensão
de Atenas e o medo que isso causou em Esparta que fez com que a
guerra fosse inevitável”. O Professor Allison observa os paralelos
com os dias de hoje, já que a ascensão da China provoca
frustração e medo nos EUA
COMPETIÇÃO ENTRE EUA
E CHINA
“(…) A competição entre os Estados Unidos e a China é inevitável.
Os líderes de ambos os países asseguram com otimismo que a
competição pode ser gerenciada sem choques que ameacem a
ordem global. Entretanto, a maioria dos analistas acadêmicos
não é tão otimista (...) Dadas as diferenças entre os sistemas
políticos americano e chinês, os pessimistas podem acreditar que
a possibilidade de uma guerra é ainda maior (...) (Contudo) a
moralidade pode exercer um papel fundamental na estruturação
da competição internacional entre as potências políticas –
separando os vencedores dos perdedores (...) Será a batalha
pelos corações e mentes das pessoas que determinará quem
prevalecerá no final. E conforme a previsão dos antigos filósofos
chineses, vencerá o país que mostrar uma autoridade mais
humana.”
Yan Xuetong
Professor de Ciência Política da Universidade de Tsinghua “How
China Can Defeat America” (Como a China pode vencer os EUA),
New York Times, 2011
CENÁRIOS SOB NOVAS LENTES Panoramas 17
TRANSIÇÃO ORIENTAL NO NOVO SISTEMA
INTERNACIONAL
A segunda característica-chave é a natureza do sistema
internacional que as novas potências emergentes, tais
como a China e a Índia, desejam ver. A China sempre
descreveu seus objetivos internacionais em termos
benignos, como “ascensão pacífica” e defende que sob
seu sistema tributário imperial tradicional nunca buscou
interferir nas questões internas de outros Estados. No
entanto, o sistema tributário nunca foi um mundo de
Estados soberanos igualitários, mas sim de Estados
centrados na China como Estado preeminente. Todos os
outros Estados deviam lealdade, pagavam tributos e
definiam suas políticas de forma a manter boas relações
com a China.
TERRENO ACIDENTADO PARA INSTITUIÇÕES
INTERNACIONAIS
A terceira característica-chave do novo ambiente geopolítico
é a cada vez maior inadequação das instituições
internacionais existentes para lidar com problemas globais,
tais como a proteção do comércio, a mudança do clima e o
desarmamento nuclear. A elevação do Grupo dos 20 (G20)
para líderes do nível governamental, incluindo os principais
países desenvolvidos e em desenvolvimento, foi uma resposta
à contínua crise financeira global. O G20 representa melhor
onde o poder global realmente se encontra, em comparação
ao mais exclusivo Grupo dos 8 (G8), que exclui duas das oito
maiores economias globais, a China e o Brasil. No entanto, a
transparência e a responsabilidade do G20 foram
questionadas e o grupo ainda não evoluiu para tornar-se uma
instituição duradoura que possa contribuir de qualquer
maneira significativa.
As intervenções do FMI e do Banco Mundial tiveram um
desempenho misto e a sua governança institucional
permanece ancorada em uma era anterior de preeminência
econômica. Contudo, no nível tecnocrático, muitas formas
de cooperação e coordenação internacionais ainda são
mantidas e estão sendo progressivamente expandidas.
“GRANDE PARTE
DA HISTÓRIA DA
HUMANIDADE É
COMPOSTA DE
CONFLITOS DESIGUAIS
ENTRE OS QUE TÊM E
OS QUE NÃO TÊM.”
Jared Diamond
Armas, Germes e Aço: os destinos das sociedades
humanas
CRESCIMENTO COMPRIMIDO E PERCEPÇÕES DE
SOMA ZERO
A quarta característica-chave do panorama geopolítico
transicional é que ao lidarem com a crise financeira, os
países em desenvolvimento não sentiram que era necessário
oferecer alternativas radicalmente diferentes ao modelo
capitalista liberal que era a referência global antes de 2008.
Por um lado, pode haver o retorno significativo do Estado na
concepção e direção das políticas domésticas econômicas e
sociais. Por outro lado, um período de recessão, ou uma fase
extensa de crescimento abaixo da média, espreme o espaço
para manobra dos governos. Não há dividendos de
crescimento a serem distribuídos e a política passa a se
concentrar em dividir o peso das reformas. Portanto, a
principal questão política é: quem ganha e quem perde
quando o crescimento é comprimido e a torta menor é
dividida? Essa questão se torna altamente pertinente em uma
era de declínio da confiança nos governos, possivelmente
levando a transições políticas turbulentas com resultados
perigosamente incertos.
Todos os países que estão integrados na economia global,
sejam eles desenvolvidos ou em desenvolvimento, em algum
momento precisam de crescimento para manter a
legitimidade política e a estabilidade social. Há o perigo de
que um aumento na insegurança possa resultar em novas
ideologias fundamentalistas, alimentando uma busca
populista de bodes expiatórios. O ponto de ruptura em países
desenvolvidos pode vir não com as classes pobres, sejam elas
empregadas ou desempregadas, mas com uma classe média
pressionada pela competição global crescente e enfrentando
o declínio dos seus padrões de vida. Foi a quebra da classe
média na Alemanha de pós-1918 que criou o ambiente fértil
para o extremismo político. As demandas crescentes da nova
classe média em países emergentes, tais como a China, a
Índia e o Brasil, representam uma pressão diferente, mas
talvez igualmente explosiva, para seus respectivos governos.
Independentemente do que aconteça no debate sobre
modelos rivais de governança – o Consenso de Pequim versus
o Consenso de Washington – o progresso político pode
eventualmente ser caraterizado como um movimento em
direção a estruturas políticas que permitam uma maior
negociação entre interesses conflitantes, ao invés da
imposição de um interesse sobre os outros.
Tradicionalmente, a legitimidade dos regimes elitistas
decorre da provisão de estabilidade e justiça para
a maior parte da população. No último século, essa
negociação ficou mais complicada, pois a busca do
crescimento econômico agora é vista como um atributo
fundamental de um Estado moderno.
A evolução política das democracias liberais da
OCDE no último século pode ser vista como uma
jornada instável, mas bem-sucedida, para lidar com
as tensões entre crescimento econômico, distribuição
e ordem social no nível nacional. Essas democracias
desenrolaram o legado do colonialismo e da guerra
total, que desfigurou as relações entre nações de 1850
a 1950. No nível nacional, essa jornada incluiu um
aumento radical da participação política para incluir
mulheres e grupos minoritários.
No mundo Anglo-Saxão, essa jornada tendeu a
ser evolucionária ao invés de revolucionária, com
notáveis exceções, entre elas a guerra civil nos EUA.
Em momentos cruciais, reformas foram lideradas por
patrícios para evitar desafios existenciais.
Theodore Roosevelt respondeu aos excessos da Era
Dourada e Franklin D. Roosevelt aos escândalos de
corrupção da Era Harding/Coolidge e à ineficiência de
Herbert Hoover para lidar com a Grande Depressão.
O caso da Europa Ocidental é mais complicado por
causa da relativamente recente integração nacional da
Itália, Alemanha e Espanha e do impacto territorial de
duas grandes guerras, bem como episódios de fascismo.
Essas economias mais ricas evoluíram em um período
onde os níveis de renda per capita eram bastante
parecidos com dos níveis de renda per capita dos
mercados emergentes mais ricos da atualidade. No
entanto, paralelos com mercados emergentes e países
em desenvolvimento atuais são difíceis de ver porque
são distorcidos pelo impacto da história colonial. Em
alguns casos, aquilo que costumava levar cerca de um
século agora parece levar apenas uma geração (ver
tabela abaixo).
TRAJETÓRIAS HISTÓRICAS DE ECONOMIAS EMERGENTES EM COMPARAÇÃO A PAÍSES DESENVOLVIDOS
Anos em que níveis comparáveis foram alcançados
China
India
South
Korea
Ano
PIB per capita*
EUA
Alemanha
Japão
Reino Unido
1985
1,519
1840
1856
1916
1820
2008
6,725
1940
1958
1967
1940
1985
1,079
1820
1820
1894
1820
2008
2,975
1880
1900
1957
1865
1985
5,670
1925
1955
1965
1935
2008
19,614
1986
2006
1994
2000
* Dólares internacionais Geary-Khamis -1990
Dados adaptados de Angus Maddison, Universidade de Groningen
CENÁRIOS SOB NOVAS LENTES Panoramas 19
A ESTRUTURA DA ECONOMIA GLOBAL
Há também protestos de descontentamento em relação
à globalização, que alguns indivíduos começaram a
considerar como um jogo de soma zero, apesar das
tendências a longo prazo de desenvolvimento global e
difusão tecnológica. A geopolítica também passa a ser
vista em termos de soma zero, com as potências em
ascensão ganhando às custas das potências
estabelecidas. Essa mentalidade é parcialmente
responsável pela falta de ações internacionais efetivas
para lidar com a mudança climática, além de determinar
a competição por recursos, que é impulsionada por
preocupações referentes à insegurança dos recursos.
Conforme muitos defendem, a globalização
sobreviverá, embora possa desacelerar. Entretanto, não
possui uma tendência inerente de promover o mercado
livre ou a democracia liberal. De fato, a globalização
é comumente vista como prejudicial aos trabalhadores
e como algo que priva as classes médias do mundo
desenvolvido, já que a mão de obra do mundo em
desenvolvimento aumenta seu nível de capacitação
e avança na “escada da tecnologia”.
O capitalismo e as consequências da economia
de mercado global estão começando a colidir com
nacionalismos, aumentando as tensões à medida que
enfrentamos limitações de recursos e ambientais.
A próxima fase de globalização promete ser tão
turbulenta quanto o que vimos no século passado.
Os futuros quadros geopolíticos inevitavelmente terão
um entendimento mais crítico dos mercados na geração
de riqueza e de desigualdades e instabilidade.
A natureza do próximo consenso em relação a Estados
e mercados será um argumento-chave na definição da
política internacional do século XXI e estabelecerá os
termos nos quais a globalização será materializada.
Ainda não há alternativas para a globalização, mas
esta é uma força cada vez mais complexa e diversa, com
impactos positivos e negativos, e cuja direção futura é
incerta.
A NATUREZA DO PRÓXIMO CONSENSO
EM RELAÇÃO A ESTADOS E MERCADOS
SERÁ UM ARGUMENTO-CHAVE NA
DEFINIÇÃO DA POLÍTICA INTERNACIONAL
DO SÉCULO XXI E ESTABELECERÁ OS
TERMOS NOS QUAIS A GLOBALIZAÇÃO
SERÁ MATERIALIZADA.
DISTRIBUIÇÃO GLOBAL DE RENDA
Em comparação ao passado recente, como se desenvolverá o poder econômico dos mais privilegiados
e das camadas mais abrangentes da população?
Mudança percentual em renda real
80
70
60
50
40
30
20
10
0
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
Percentil da distribuição global de renda
Mudança percentual em renda real, 1988-2008, em vários percentis de distribuição de renda global (em dólares PPC em 2005)
Branko Milanovic, “Global income inequality by the numbers: in history and now” (Desigualdade da renda global em números: na história e agora), novembro de 2012
100
O mundo no futuro será definido pela forma como as
pessoas e os governos enfrentam os desafios impostos
por instituições, desigualdades e inseguranças em
relação aos paradoxos de prosperidade, liderança
e conectividade.
n
Quais paradoxos se tornarão mais agudos?
Quais serão resolvidos?
nQuais indústrias, negócios, nações e grupos de
pessoas terão espaço para manobra?
n Quais ficarão encurralados?
nComo se desenvolverão as capacidades do capital,
da colaboração e da criatividade?
n Como o poder e a influência serão distribuídos?
n
Esses cenários são concebidos para oferecer novas lentes
pelas quais podemos explorar essas questões – ou,
conforme exploramos esses mundos contrastantes, dois
panoramas: Montanhas altas onde os benefícios de uma
posição elevada são levados a cabo e protegidos e
aqueles que são atualmente influentes mantêm o poder;
e Oceanos vastos com marés altas, correntes fortes e uma
mistura volátil de atores e eventos com compromissos
irregulares entre interesses rivais.
Esses panoramas têm características sociais, econômicas
e políticas distintas que poderão ser identificadas nos
próximos 20 anos, com consequências para os
desenvolvimentos de energia por meio século. Juntos,
determinam previsões ecológicas para além de 2100.
Eles formam os Cenários sob novas lentes para o
século XXI. n
CENÁRIOS SOB NOVAS LENTES Panoramas 21
MONTANHAS E OCEANOS
Esses dados revelam padrões recorrentes, referentes
à distribuição de poder e disponibilidade de recursos
naturais, e a influência que exercem nas políticas,
pessoas, mercados e crescimento.
MONTANHAS
UMA VISTA DE CIMA
O cenário de Montanhas é um mundo no qual aqueles
que ocupam posições dominantes de vantagem
(no topo) geralmente trabalham para criar estabilidade
de forma a promover a persistência do status quo. Há
uma contenção regular e autossustentada do poder e
instituições titulares. Essa contenção limita o potencial
econômico de certos setores da sociedade, mas permite
que os setores estabelecidos alinhados com as forças de
mercado disponibilizem os recursos que precisam de um
volume considerável de capital e novas tecnologias.
Para aqueles em uma situação menos favorável,
a fragilidade das redes de segurança social não é
completamente compensada pelo crescimento em
filantropia, caracterizado pela erupção de fundações
mantidas pelo crescente número de bilionários.
A oposição latente ao poder das elites políticas,
comerciais e sociais é minimizada por uma combinação
de incentivos e sanções, e a mobilidade social continua
a cair. Porém, investimentos no lado da oferta são
estimulados. Mesmo com novos investimentos, contudo,
a ausência de importantes reformas estruturais e
financeiras em países em desenvolvimento começa a
desacelerar o PIB e a desestimular o comércio. Algumas
economias em rápido desenvolvimento caem na
“armadilha da renda média”, onde o crescimento atinge
um platô e se mantém estagnado após uma proporção
significativa da população alcançar níveis de renda
média, principalmente porque as instituições não
conseguem se adaptar a uma economia mais complexa.
Contudo, essa moderação de crescimento econômico
alivia parte da pressão da demanda por energia.
O crescimento da demanda é desacelerado ainda mais
à medida que progressos são feitos com políticas de
energia do lado da oferta, tais como o incentivo do
desenvolvimento urbano compacto.
O gás não convencional e de xisto e o metano das
jazidas de carvão (CBM) são muito bem-sucedidos e
crescem para formar uma nova “espinha dorsal de gás”
para o sistema energético global. Com um menor
crescimento da demanda por combustíveis líquidos,
o preço do petróleo permanece moderado e, em geral,
o crescimento da produção é limitado.
Um crescimento econômico lento no período inicial,
a substituição relativa de carvão por gás a longo prazo
e os incentivos do lado da oferta para o emprego da
tecnologia de captura e armazenamento de carvão
(CAC) e energias renováveis são aspectos que
contribuem para a moderação das emissões de gases do
efeito estufa. Mesmo assim, o aumento da temperatura
média global ultrapassa a meta atual de 2°C n
MONTANHAS UMA VISTA DE CIMA 23
MONTANHAS: UMA VISÃO
GERAL
nVantagens
criam vantagens. A influência continua concentrada
nas mãos dos atuais poderosos.
nEstruturas
de poder e instituições rígidas limitam o
desenvolvimento econômico.
nCom
menos agentes de poder, avanços positivos nas áreas de
políticas secundárias são viáveis, tais como desenvolvimento
urbano compacto, energia e impactos ambientais.
nExpectativas
de recursos positivas são materializadas, com o
apoio de estruturas políticas postas em prática; o gás natural
torna-se a espinha dorsal do sistema energético global.
nMaiores
tensões ambientais e de CO2 são moderadas devido ao
crescimento geral mais lento; substituição de carvão por gás
natural e o sucesso das tecnologias de captura e
armazenamento de carbono (CAC).
PROSPERIDADE
O prolongamento de acordos institucionais mantendo o
status quo que favorecem os já privilegiados prejudicam
o dinamismo econômico a longo prazo. Conforme os
ricos ficam mais ricos e os pobres permanecem
relativamente pobres, os ricos em termos de educação
e os seus filhos monopolizam as melhores escolas e
universidades, desenvolvendo e perpetuando o sistema
de classe, mesmo em países onde isso não é uma
herança anterior. Os índices de desigualdade continuam
a subir, alcançando níveis altos em muitas sociedades.
A América do Norte é afetada pela contínua
polarização política em torno de acordos fiscais e
o papel do governo, mas pontos fortes subjacentes
continuam a brilhar apesar do impasse governamental
e dos protestos sociais ocasionais. Devido aos contínuos
argumentos de soberania, a crise da Zona do Euro não
é resolvida de forma eficaz resultando em um período
prolongado de estagnação.
No entanto, há algumas histórias de sucesso muito
visíveis nos níveis de empreendimento, negócios e
mesmo nacionais, onde altos níveis de investimento e
criatividade podem ser combinados com custos de mão
de obra relativamente baixos sem criar
descontentamentos excessivos. Esses sucessos são
particularmente visíveis em várias economias
emergentes pobres da África, que são finalmente
capazes de se livrar dos piores excessos de nepotismo
e corrupção.
CONECTIVIDADE
A conectividade digital e financeira continua a aumentar
no mundo das Montanhas, mas os firewalls e as áreas
comerciais privadas também são cada vez mais comuns.
Usando argumentos de segurança e econômicos,
os governos têm mais controle na web, levando à sua
“Balcanização” nos níveis regional e nacional.
À medida que novas webs se desenvolvem,
as perspectivas nacionais e privilegiadas começam
a ser fixadas. De tempos em tempos, os jovens fazem
tentativas de rebelião, levando a um mundo no qual os
LIDERANÇA
Os líderes no cenário de Montanhas são provenientes de
um setor previsível de riqueza, oportunidade, expectativa,
conexão, ideologia, incumbência e enculturação.
Há poucos caminhos para aqueles que vêm de baixo se
elevarem para posições de vantagem, pois esses caminhos
envolvem celebradas conquistas de negócios, educação,
artes ou cultura popular que geralmente reforçam a
ideologia popular prevalente.
A ascensão de indivíduos excepcionais serve para
reforçar a ideia de que as pessoas são
predominantemente donas do seu próprio destino. Uma
mistura vigorosa de “ser agradecido” e filantropia lida
com as tensões que surgem do prolongamento do status
quo para que as manifestações de descontentamento
continuem enterradas nas sociedades. Como os líderes
lidam com grupos de interesse e ambições relativamente
limitados, mudanças ocasionais nas políticas podem ser
rápidas, mas tendem a não ser muito abrangentes.
A concentração do poder no topo significa que as
respostas aos desafios a curto prazo são rápidas e
decisivas. Contudo, às vezes são feitas às custas de
investimentos a longo prazo na prosperidade pública.
O foco da liderança permanece na sustentação da
estabilidade, propagando e defendendo o status quo e
respondendo às inquietações da população em geral,
promovendo a sabedoria dessas ações. O bem público
é atendido quando os interesses são alinhados, por
exemplo, na política de energia, onde a segurança de
oferta e as tecnologias de captura e armazenamento de
carbono (CAC) são consideradas essenciais para que
nosso “estilo de vida” seja mantido. n
A NOVA ERA
DOURADA
Os últimos 25 anos do século XIX nos Estados Unidos
foram caracterizados por um toque de brilho encobrindo
as crescentes desigualdades sociais e econômicas,
pelo estabelecimento de riquezas imensas por meio de
práticas imorais e muitas vezes ilegais e a corrupção
do processo político segundo interesses restritos. Um
período que Mark Twain chamou de a “Era Dourada”.
A crescente desigualdade da Nova Era Dourada
tem dois aspectos principais: uma lacuna em termos
de competências entre aqueles com um diploma
universitário e aqueles que não o possuem e um
crescimento enorme na parcela de renda dos 1%
mais ricos da população, ou 0,1% de fato. Essa
nova elite, muito parecida com suas contrapartes do
século XIX, fez fortunas quando as restrições impostas
pelo governo começaram a retroceder. A Nova Era
Dourada manifesta-se na continuação dos altos níveis
de desigualdade de renda e riqueza, mesmo com
o colapso do mercado financeiro em 2008, e uma
estagnação econômica permanente. A questão é se isso
vai gerar impulsos reformistas no governo, como o que
ocorreu na primeira Era Dourada.
Embora a política governamental seja importante, pode
ser que a globalização e o avanço tecnológico limitem
o espaço para manobra das políticas governamentais.
São cruciais as diferenças entre as economias
globalizadas de hoje e as circunstância que levaram ao
fim da primeira Era Dourada. Isso sugere que embora
as políticas venham a ser críticas, não serão suficientes.
As soluções para resolver os problemas da Nova Era
Dourada terão que ser radicalmente diferentes das
soluções antigas.
MONTANHAS UMA VISTA DE CIMA 25
protestos são pela liberdade de informação, bem como
pela justiça social. A globalização perde o vigor, com
exceção dos casos nos quais novos interesses comuns
emergentes se encaixam nas formas existentes, por
exemplo, a terceirização de mão de obra e serviços
em economias mais baratas.
TRANSIÇÃO GEOPOLÍTICA
DO OCIDENTE PARA
O ORIENTE
Nos próximos anos, o sistema geopolítico sofrerá
pressões de uma combinação de duas transformações.
Ao mesmo tempo em que os países desenvolvidos do
sistema internacional passam por uma crise econômica
transformadora, o poder geopolítico e econômico
continua a se mover de Leste para Oeste, trazendo
consequências profundas. As potências em ascensão
impõem seus interesses sobre as potências estabelecidas,
em parte porque a autoridade destas foi prejudicada
pela crise que as assomou. Mas mesmo com essas
mudanças, a Ásia é a região mais volátil e sujeita a
conflitos na ordem global do cenário de Montanhas.
COERÇÃO E RESPONSABILIDADE
A globalização no mundo das Montanhas concentra
poder não apenas nas economias globais, mas também
nos mais privilegiados de cada país. Juntos, eles
formam uma elite cosmopolita transacional irregular,
mas reconhecível. As empresas multinacionais e seus
líderes também são vistos como parte desse grupo
global. Embora tenham muitos interesses semelhantes,
bem como problemas em comum, também têm fontes
diferentes de poder, riqueza e legitimidade, e essas
diferenças muitas vezes levam a conflitos relativos à lei
internacional e a interesses nacionais concorrentes.
Como seus predecessores ao longo da história, as elites
do mundo das Montanhas usam uma combinação de
coerção e cooptação para manter seu poder. Os mais
duradouros e bem-sucedidos encontram mecanismos
para inserir novos talentos nas suas hierarquias para se
protegerem contra a estagnação e, ao mesmo tempo,
garantindo seus próprios interesses.
Enquanto isso, fronteiras nacionais desgastadas
começam a influenciar as políticas nacionais.
A resistência à globalização resulta de movimentos
sociais populares, que se juntam em redes para
mobilizar e coordenar ações diretas. A democracia
e o poder populista muitas vezes trabalham contra os
mercados globais, porém a mídia social serve para
apoiar as preocupações locais.
Há um tom coercivo no cenário de Montanhas, mas
é uma coerção sancionada por lei e justificada pela
necessidade de defender a estabilidade. Em diversos
países do mundo, à medida que as sociedades se
tornam mais ricas, diminui sua tolerância por injustiça
e ações arbitrárias, e aumenta a determinação por
conformidade, efeito que fica magnificado com a
ascensão da mídia social. Estados fortes e poderosos
exercem seu poder na esfera política doméstica com
uma proliferação de agências reguladoras, mudando
o equilíbrio entre os setores público e privado.
Estados revitalizados são a pedra angular do sistema
internacional em Montanhas. Embora a governança do
sistema internacional seja guiada pelos membros mais
poderosos, o problema é chegar a um acordo entre
eles, particularmente, assegurar a cooperação entre os
Estados Unidos e a China. Como foi visto na época que
antecedeu a Primeira Guerra Mundial, a questão que
vai pairar no ar nas décadas de 2020 e 2030 será se
as grandes potências optarão por exercer seu poder de
forma responsável ou arriscar destruir a ordem global
devido à sua incapacidade de prever as consequências
das suas ações.
NOVAS “REGRAS ANTIGAS” PARA O JOGO GLOBAL
No cenários de Montanhas, primeiramente, os EUA tentam usar
seu poder para estabelecer as regras do jogo para o sistema
internacional, de acordo com seus próprios valores e a promoção
dos seus interesses comerciais. Mas embora os EUA sejam
incontestados militarmente, não têm mais o domínio dos mercados
globais que possuíam antigamente. O poder é mais disperso na
economia global, portanto, as demandas referentes ao comércio
ou regulamentações financeiras são cada vez mais desafiadas e,
muitas vezes, de forma bem-sucedida.
À medida que muda o equilíbrio do poder global, os EUA não
desistem do seu papel de liderança, levando a um clima de
incessante medo de conflito. A luta pelo poder continua com
diplomacia coerciva, bloqueios e o potencial de conflitos violentos
em águas territoriais, situação similar às guerras por procuração
da era da Guerra Fria.
A China, motivada por um sentimento nacionalista crescente,
busca uma participação exclusiva na Ásia Oriental, resultando em
um tenso impasse, com os EUA agindo como fiador do status quo
regional.
Tanto os EUA quanto a China buscam vantagens um sobre o outro,
mesmo que seja para defender seus respectivos interesses. Mas
essa defesa normalmente exige a ameaça de ofensiva. A presença
de armas nucleares mantém guerras mais gerais à distância, mas
este é um período tenso, difícil e perigoso do sistema global.
O sistema internacional das Montanhas é caracterizado por
coalizões pontuais contra uma ou outra potência dominante,
criando disputas ferrenhas. As antigas relações estão
desgastadas. Os EUA e a Europa começam a se separar no que
diz respeito a questões de segurança em um clima de falta de
compreensão mútua. As instituições multilaterais e os acordos
globais estabelecidos no passado também são muito mais fracos.
À medida que essas instituições passam a se posicionar e se
engajar com gestos simbólicos, aos invés de lideranças claras,
conseguem apenas demonstrar como são irrelevantes no jogo de
poder “realpolitik” que impulsiona o sistema internacional.
MONTANHAS TRANSIÇÃO GEOPOLÍTICA DO OCIDENTE PARA O ORIENTE 27
Perante esses dilemas, os atuais privilegiados buscam
fortalecer seu poder contra a ameaça política da
globalização corrosiva impondo interesses nacionais
ou regionais contra mercados globais. Portanto,
a movimentação em direção a mercados globais, que
de fato beneficiou a maioria dos privilegiados, começa
a ser moderada por um grau de controle estatal dos
mercados e pelo menos por um protecionismo simbólico.
Dessa forma, os Estados agem como um baluarte contra
a insegurança típica do mercado global tanto para
os mais privilegiados quanto para seus compatriotas
menos privilegiados. Não importa que lado puxa com
mais força no contínuo cabo de guerra entre mercados
e Estados, pois as classes privilegiadas conseguem
proteger seus interesses.
VOLTA A UM MUNDO PRAGMÁTICO DE INTERESSES
MÚTUOS
Na década de 2020, há um crescente reconhecimento dos
interesses mútuos entre os EUA e a China, levando a um
Grupo de 2 ou G2 liderando de fato o sistema global. Essa
não é uma relação entre dois aliados, mas um casamento de
conveniência forjado por cálculos de “realpolitik”. Cada um
lida com questões econômicas domésticas e, portanto,
questões políticas, que são influenciadas pelo outro.
O mundo confrontante do período anterior abre caminho
para um mundo adaptativo (mas não amigável), onde ao
lidarem uns com os outros os Estados mantém seus “punhos
preparados”. Os EUA e a China compartilham interesses,
mas não compartilham valores, e portanto permanecem
rivais. A luta pelo poder continua. As instituições multilaterais
do passado não voltam mais. O modelo de liderança do G2,
com seu forte enfoque interno no vai e vem das tensões entre
EUA e China tende a deixar outras potências, principalmente
as europeias, em uma posição secundária.
Até a década de 2030, à medida que outros Estados de
desenvolvem, a ordem internacional torna-se mais variegada.
As hegemonias regionais emergentes, incluindo Índia,
Turquia, África do Sul e Brasil, usam sua crescente influência
para estabelecer suas respectivas agendas regionais. Como
na China antes deles, as políticas internacionais desse países
amadurecem, criando mais grupos de interesse para a nova
ordem mundial, especialmente para lidar com as crescentes
preocupações referentes à mudança do clima, escassez de
recursos e envelhecimento das populações. Alguns temem a
possibilidade de vários países importantes tornarem-se países
falidos, caso seus governos não consigam lidar com o desafio
de manter a ordem dentro das suas fronteiras nacionais, à
medida que comecem a crescer os desafios à sua autoridade.
Enquanto isso, as elites dominantes começam a reconhecer
que novas formas de cooperação internacional são
necessárias para lidar com esses desafios. Os países
simplesmente terão que aprender a viver uns com os outros
se quiserem evitar o tipo de batalha competitiva que leva a
danos mútuos. Com o tempo, o “Concerto dos Grandes”
global do século XXI se desenvolve, nutrido por um
autointeresse pragmático compartilhado.
Como no Concerto da Europa (1815-1914), as relações são
guiadas por coalizões governantes de elites dentro de um
grupo central de grandes poderes que incluem não apenas
os EUA e a China, mas também a Índia, a UE e alguns outros
poucos selecionados. Diferentemente do seu predecessor,
o Concerto dos Grandes do século XXI tem que lidar com uma
variedade de desafios à segurança global, resultantes não
apenas da rivalidade de poder entre seus membros, mas
também de tensões financeiras, ambientais, alimentares,
de água e outros recursos.
O mundo das Montanhas continua sendo um mundo de
preocupações de segurança compartilhadas e acordos para
lidar com elas, mas não de valores universalmente
compartilhados. O desafio para o Concerto dos Grandes
do século XXI é permanecer flexível conforme mudam
rapidamente as condições e cálculos nacionais. Mais do que
no passado, não há permanência no ambiente que os
Estados enfrentam ou nas estruturas necessárias para lidar
com esse ambiente. Com o tempo, as coalizões, acordos e
medidas que sustentam o Concerto dos Grandes do século
XXI gradualmente se solidificam conforme se institucionalizam
e ganham tanto profundidade quanto abrangência.
As pessoas no mundo todo começam a tomar o Concerto
como garantido, da mesma forma como fizeram com seu
predecessor do século XXI no anos anteriores a 1914. n
“A GLOBALIZAÇÃO TORNA O
MUNDO MENOR. TAMBÉM O
TORNA – OU PARTES DELE – MAIS
RICO. NÃO O TORNA MAIS
PACÍFICO OU LIBERAL, E MUITO
MENOS O TORNA PLANO.
John Gray
The World is Round (O mundo é redondo)
MONTANHAS TRANSIÇÃO GEOPOLÍTICA DO OCIDENTE PARA O ORIENTE 29
Caminhos Econômicos
Para Cima e Para Baixo
Apesar das tensões entre Estados-nações, as elites
transacionais cosmopolitas e flexíveis criadas pela
globalização aumentam em proeminência, à medida
que sobem seus níveis de riqueza e influência. Cada vez
mais essas elites determinam as condições expressas e
definem valores e normas, para melhor ou pior. No nível
nacional, são cada vez mais influentes na determinação
de políticas, mas menos preocupadas com seus
compatriotas antepassados em relação à manutenção
da coesão social, apesar da retórica ao contrário.
Nos EUA, por exemplo, a desigualdade de renda e
riqueza continua a aumentar, com os ganhos da classe
média estagnados, uma mobilidade social reduzida e
um sistema educacional superior supostamente baseado
em mérito, generosamente apoiado por isenções fiscais,
cujos principais beneficiários são os filhos dos bemsucedidos. Sobreposta a essa divisão de classe temos
uma divisão cada vez mais séria entre gerações,
enquanto os compromissos com os idosos por meio
de programas de direitos desestimulam gastos
discricionários que poderiam reconstruir infraestruturas
econômicas e sociais. Da mesma forma, na Europa,
o envelhecimento rápido da população e os
compromissos com níveis mais elevados de direitos,
que são frequentemente carentes de recursos, criam uma
mescla de obstáculos sociais e políticos que desviam a
atenção das principais questões econômicas estruturais
enfrentadas pela região.
As economias altamente orientadas também encontram
dificuldades em evoluir de uma forma maleável e
orgânica por causa de poderosas alianças,
empreendimentos e grupos de interesse criados nos
estágios anteriores do desenvolvimento. Até 2030, tanto
para as economias avançadas quanto para os mercados
emergentes, o controle oligárquico desestimula o
crescimento que de outra forma teria sido possível.
No mundo industrializado, o vínculo tradicional entre
crescimento econômico e aumento do emprego em
tempo integral e bem pago é gradualmente quebrado.
Isso leva a uma maior insegurança e a uma crescente
“informalização” do trabalho. Com o uso de impressão
3D, juntamente com o aumento crescente dos níveis de
uso da Internet e das tecnologias de comunicação,
a mão de obra torna-se relativamente menos essencial à
produção. Os retornos do capital continuam favoráveis,
enquanto os governos aumentam as barreiras para
proteger os empregos nas suas próprias economias.
Esse protecionismo leva a uma maior fricção entre os
países.
As pressões protecionistas aumentam, impulsionadas
não somente pela necessidade de proteger o mercado
interno de trabalho, mas também pelo desejo de
proteger direitos adquiridos. Os Estados buscam o
envolvimento de forma oportunista com os mercados
globais, ao invés de se abrirem por completo à
globalização.
Apesar da força considerável da retórica ao contrário,
as economias avançadas não conseguem obter sucesso
na restruturação fundamental dos seus sistemas
financeiros de forma a apoiar inovações de base ou
empreendimentos de pequeno e médio porte.
No entanto, há pouco apetite para expor o sistema
político à ameaça quase existencial imposta por outra
Grande Recessão. As regulamentações financeiras mais
onerosas tencionam a intermediação financeira, além
de serem uma barreira eficaz à entrada. Os reguladores
nacionais adotam uma visão cada vez mais cética das
atividades entre fronteiras das instituições financeiras
estrangeiras, insistindo que o capital deve ser mantido
localmente, ao invés de nos escritórios centrais.
ESPAÇO PARA MANOBRA
As elites governantes podem criar espaço para manobra com
a adoção de programas que distraem a oposição apoiando a
estrutura adjacente do seu regime.
A Alemanha foi a primeira nação do mundo a adotar
um programa de seguro social em 1889, concebido pelo
Chanceler Otto von Bismarck. Sua motivação para introduzir
o seguro social era promover o bem-estar dos trabalhadores,
manter a economia alemã trabalhando no seu máximo de
eficiência e evitar alternativas socialistas mais radicais.
Mais recentemente, as loterias nacionais e a proliferação de
“reality shows” na TV oferecem caminhos bastante divulgados
para uma pequena minoria de indivíduos que tornamse privilegiados financeira ou socialmente, criando uma
impressão exagerada de mobilidade social.
A ARMADILHA DA RENDA
MÉDIA
No nível global, há relativamente poucas mudanças nos aspectos
essenciais da ordem monetária global: o dólar continua a ser a
principal moeda de reserva e os EUA detêm seu domínio do FMI
e do Banco Mundial, em parte porque seu principal rival, a China,
está ocupada demais lidando com tensões internas para arriscar
uma mudança significativa no seu próprio sistema financeiro que
possa resultar de um papel regional mais proeminente.
De maneira geral, nas décadas de 2020 e 2030, várias formas
de obstáculos atrapalham as atividades do sistema econômico
global. O desenvolvimento econômico global decepciona,
enquanto as economias avançadas permanecem rígidas ou
tornam-se rígidas, e várias economias anteriormente emergentes
caem em várias formas de armadilhas de renda média.
O crescimento anual do PIB global nesse período fica em uma
média inferior a 2%. n
Os países pobres tendem a crescer mais rápido do que os
países ricos a partir de uma base relativamente baixa, devido
ao potencial inexplorado e devido ao fato de a imitação
ser mais fácil do que a invenção. Mas isso não significa que
todos os países pobres alcançam desenvolvimento. A maioria
dos países que tinham renda média em 1960, em termos da
renda por pessoa, continua nessa posição 50 anos mais tarde.
Apenas 13 países escaparam dessa armadilha e fizeram
a transição para economias de alta renda nesse período,
incluindo a Coreia do Sul e Singapura, como exemplos mais
notáveis.
À medida que as economias se tornam mais complexas,
o controle centralizado é menos capaz de exercer a função
de coordenação. Acima de um nível de atividade modesto,
são necessárias ondas de reformas estruturais econômicas e
financeiras para manter o vigor do crescimento econômico.
MONTANHAS Caminhos Econômicos Para Cima e Para Baixo 31
LIÇÕES DE OTTO VON
BISMARCK E SIMON COWELL
PROSPERIDADE
Alguns economistas e responsáveis por políticas
defendem que uma carga fiscal baixa estimula o esforço
pessoal e o investimento corporativo, enquanto uma
crescente desigualdade de renda e uma proporção
mais alta de lucros somam-se às economias domésticas.
Experiências mais recentes, no entanto, sugerem que
essas vantagens são substancialmente neutralizadas
por uma demanda de consumo fraca, resultante de
rendimentos estagnados e tensões fiscais.
No passado, os economistas geralmente viam a
desigualdade como uma condição necessária para
o dinamismo econômico. Mas esse pensamento está
atualmente sendo questionado. Em um estudo recente
sobre desigualdade, Jonathan D. Ostry e Andrew G.
Berg, do Fundo Monetário Internacional concluíram
que a concentração de renda nas mãos dos mais ricos
resulta não só em uma sociedade desigual, mas também
em uma expansão econômica menos estável e um
crescimento lento.
A desigualdade parece ter um efeito mais forte
no crescimento do que outros fatores, incluindo
investimentos estrangeiros, abertura ao comércio,
competitividade da taxa de câmbio e a força das
instituições políticas. Um número cada vez maior
de economistas começou a se unir em torno dessa
ideia, chamando atenção também para os perigos da
desregulamentação.
Em relação aos grandes mercados emergentes, alguns
sugerem que o desenvolvimento guiado centralmente,
orquestrado por uma elite política e burocrática, pode
resolver mais facilmente os problemas de coordenação
em uma economia limitada em termos
de oferta. É certamente verdadeiro que economias
tão diversas quanto a União Soviética, Japão, Coreia
do Sul, Singapura, Taiwan e China obtiveram sucesso
considerável em alcançar um desenvolvimento industrial
extraordinário sob uma direção central por um período
considerável de tempo. Em contraste, a Índia é muita vezes
mencionada como uma sociedade que permitiu que uma
democratização prematura interferisse no seu crescimento.
No entanto, os argumentos são mais sutis do que
esta formulação sugere. Para a maioria dos países,
o crescimento rápido foi um importante fator para
a legitimidade política nos estágios iniciais do
desenvolvimento. Talvez também seja verdade que essa
fase inicial de desenvolvimento sob autocracias causou
mais desperdícios de recursos humanos e naturais do
que teria acontecido em democracias, o que não é uma
questão insignificante para um país pobre.
“UMA MAIOR DESIGUALDADE
SIGNIFICA UMA ECONOMIA MAIS
FRACA, QUE SIGNIFICA UMA MAIOR
DESIGUALDADE, QUE SIGNIFICA UMA
ECONOMIA MAIS FRACA. COMO
A DESIGUALDADE ECONÔMICA
ALIMENTA A ECONOMIA POLÍTICA,
SUA HABILIDADE DE ESTABILIZAR A
ECONOMIA FICA MAIS FRACA.”
Joseph e stiglitz
Economista vencedor do prêmio Nobel
MONTANHAS CAMINHOS ECONÔMICOS PARA CIMA E PARA BAIXO 33
DESIGUALDADE, ECONOMISTAS
E CRESCIMENTO
ENERGIA E ASCENSÃO DO GÁS
A velocidade lenta do crescimento global tira um pouco da
pressão da demanda energética. Além disso, as políticas do
lado da oferta ajudam a disponibilizar recursos, e projeções
otimistas para recursos recuperáveis são confirmadas.
mudanças estruturais industriais e financeiras que possam
sustentar um ritmo elevado de desenvolvimento econômico.
Apesar do crescimento populacional global, isso diminui o
ritmo da aceleração da demanda por recursos.
O gás não convencional/de xisto e CBM são amplamente
bem-sucedidos e evoluem para formar uma “espinha dorsal
de gás” para o sistema energético global. Um planejamento
urbano estratégico promove um desenvolvimento urbano mais
compacto e a eletrificação do transporte. Uma infraestrutura
de hidrogênio é desenvolvida para o armazenamento
de energia e o transporte movido a recursos renováveis
intermitentes ou remotos a longo prazo.
No entanto, antes de meados do século, um número cada
vez maior de economias emergem da estagnação da renda
média e o crescimento econômico global começa a subir
novamente. Contudo, por causa do impacto a longo prazo
de medidas anteriores, tais como desenvolvimento urbano
compacto e eletrificação, esse crescimento econômico não se
traduz em aumento da demanda por energia, particularmente
dada à proporção do desenvolvimento que ocorre também
no setor de serviços com um uso menos intensivo de energia.
Essa divergência marca uma quebra com a forte correlação
até esse momento entre crescimento econômico e demanda
energética.
A demanda por combustíveis líquidos é comedida e o preço
do petróleo permanece em média moderado. Os preços do
gás natural convergem globalmente em níveis mais baixos
como resultado das reservas de recursos potenciais de
baixo custo, tais como o gás de xisto, que estão emergindo
globalmente. Os preços moderados da energia fazem com
que os recursos de alto custo não sejam explorados, o que
coloca pressão em alguns detentores de recursos que são
altamente dependentes de rendimentos energéticos.
ENERGIA PRIMÁRIA TOTAL POR FONTE
A substituição parcial do carvão pelo gás e o incentivo da
tecnologia de CAC contribuem para a redução rápida das
emissões dos gases do efeito estufa após 2030. Entretanto,
essas emissões excedem a trajetória necessária para um
caminho de 2°C.
Nas décadas de 2020 e 2030, algumas das economias
antes mais emergentes têm dificuldade em ultrapassar as
barreiras políticas e sociais da implementação de ondas de
1000
800
EJ/ano
O RITMO DERRAPANTE DA DEMANDA
Com uma contínua lentidão econômica em algumas regiões
e com decepções cada vez mais amplas em termos de
crescimento e comércio, a turbulência financeira global do
começo do século XXI entra em um período prolongado no
qual a velocidade do crescimento da demanda energética
é moderada.
1200
600
400
200
0
2000
2010
■ Petróleo
■ Biocombustíveis
■ Gás natural
■ Biomassa gaseificada
■ Carvão
2020
2030
Ano
■ Biomassa/resíduos ■ Solar
■ Biomassa tradicional ■ Eólica
■ Nuclear
■ Outros renováveis
■ Hidroeletricidade
■ Geotérmica
2040
2050
2060
Durante a década de 1990, o hidrogênio foi a grande
sensação como o novo combustível do transporte. No
entanto, já não se fala mais tanto nisso em meados de
2000. Enquanto isso, o hidrogênio continuou a exercer
um papel pouco notado, mas considerável, como
matéria-prima industrial, por exemplo, na produção
de amônia e refinamento de petróleo. A produção
mundial de hidrogênio hoje tem um conteúdo energético
equivalente a 2% do total da demanda por energia,
ou um pouco mais de 10% da produção mundial de
eletricidade. Em Montanhas, o hidrogênio é finalmente
trazido ao mix convencional de energia quando forças
de diferentes setores se combinam em um círculo
virtuoso.
As empresas de eletricidade consideram cada vez
mais difícil equilibrar carga de base e fontes de
geração intermitentes, e diminuem-se as esperanças
de que redes inteligentes serão capazes de satisfazer
a imensidão do desafio de equilibrarem sozinhas o
sistema. Começa a aumentar o medo de apagões
parciais e dobra a atenção dada à energia baseada
em hidrogênio, pois construir usinas de eletricidade
que estão inativas na maior parte do tempo é algo
caro e difícil de sustentar. Independentemente, cresce
o interesse púbico por veículos de próxima geração
movidos a células de combustível. A revista Top Gear™
decide comemorar seu 40º aniversário com uma edição
em 2017 celebrando uma gama cada vez maior de
veículos a célula de combustível de hidrogênio de alto
desempenho que agora são “perfeitamente caros” para
atrair consumidores mais ricos do Ocidente e também
das economias em rápida ascensão da Ásia.
Com base em programas anteriores participativos de
pequeno porte, em 2020 é formada uma aliança de
empresas automobilísticas, empresas energéticas e
fornecedores da indústria de hidrogênio para assegurar
apoio e incentivo em vários países para programas
substanciais para a construção de infraestrutura de
hidrogênio. Os responsáveis pelas políticas reconhecem
a necessidade urgente de garantir uma oferta estável
e financeiramente acessível e de reduzir as emissões
do transporte urbano. A possibilidade de um sistema
energético mais flexível, eficiente e limpo através da
integração do uso do combustível fóssil com a captura
de dióxido de carbono também é atrativa.
Complementando a produção no local em áreas de
indústria pesada, que incentiva economias de escala,
são desenvolvidas redes locais e posteriormente
regionais. A produção de hidrogênio, primariamente
a partir do gás, é cada vez mais integrada ao sistema
de eletricidade. Enquanto parte do uso de hidrogênio
permanece escondido como armazenamento de
energia em usinas para períodos de baixa demanda,
seu uso final como vetor energético direto passa a ser
mais óbvio na sociedade no transporte e geração de
energia distribuída. Até 2060, os usos do hidrogênio
no transporte ultrapassam a demanda industrial, sendo
que os carros de passageiros são a principal força
estimulando a produção, seguidos dos transportes de
cargas rodoviárias.
Até o final do século, é possível que o hidrogênio tenha
se erguido da sua posição inicial como um fênix.
MONTANHAS ENERGIA E ASCENSÃO DO GÁS 35
O FÊNIX DO HIDROGÊNIO EM MONTANHAS
Em muitas economias emergentes, números cada
vez maiores de veículos movidos a gás natural são
acrescentados à frota de veículos. Os caminhões
movidos a gás natural começam a entrar no mercado,
seguidos pela eletrificação de algumas vans de entrega
locais. Os designs urbanos compactos facilitam essa
transição através de centros radiais de transporte.
Remover o petróleo inteiramente do transporte
rodoviário mundial é um compromisso verdadeiramente
colossal. Com o crescimento reduzido da demanda
por viagens, veículos mais eficientes e o uso cada vez
maior de gás natural, eletricidade e hidrogênio, os
combustíveis líquidos para o transporte rodoviário de
passageiros declina após um pico global em 2035.
Até 2070, o mercado rodoviário de passageiros pode
chegar a ser quase livre de petróleo e até o final do
século uma disseminação extensiva da infraestrutura
de hidrogênio desloca a demanda de petróleo para
viagens longas e pesadas. Até lá, a eletricidade e o
hidrogênio podem ser dominantes e veículos híbridos de
hidrogênio recarregáveis e acessíveis oferecem o melhor
da flexibilidade e eficiência.
TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE PASSAGEIROS POR TRANSPORTADORA
% do total de passageiro/quilômetro
(bilhões de veículos por quilômetro/ano)
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
2000
2010
2020
2030
Ano
■ Combustíveis de hidrocarboneto líquidos
■ Combustíveis de hidrocarboneto gasosos
■ Eletricidade e hidrogênio
2040
2050
2060
MONTANHAS ENERGIA E ASCENSÃO DO GÁS 37
UMA INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTE EM
TRANSFORMAÇÃO
Em países importadores de energia com grandes
populações urbanas, como a China e a Índia, as
políticas governamentais oferecem incentivos para
um desenvolvimento urbano compacto e os grandes
negócios ajudam a planejar, financiar e executar projetos
importantes. O desenvolvimento de cidades habitáveis
eficientes é visto como uma forma de aliviar possíveis
distúrbios sociais, que frequentemente se concentram nos
centros urbanos. O desenvolvimento mais disseminado
de cidades mais compactas oferece economias de uso
de automóveis de em média 2.000 veículos/quilômetro
por pessoa por ano, comparado a desenvolvimentos de
baixa densidade comuns em várias partes do mundo
atualmente. A redução é resultado de jornadas em
média mais curtas, bem como de uma mudança para o
transporte público e veículos de duas rodas. Além disso,
as políticas de cidades compactas acompanham medidas
para impor padrões de economia de combustível para
veículos, uma imposição facilitada pelos habitantes dessas
cidades que tendem a usar veículos menores ou híbridos
e comprar veículos elétricos (movidos a bateria elétrica ou
hidrogênio). As emissões por tubos de escape, as medidas
antipoluição, os impostos sobre combustíveis e as taxas
da pegada de CO2 integradas à importação exercem
também um papel importante no alcance de eficiências.
PRODUÇÃO DE ÓLEO, CONDENSADO E GNL
60
50
mboe/dia
40
30
20
10
0
2000
2010
2020
2030
2040
2050
2060
 OPEP
 Não OPEP
A ESPINHA DORSAL DE GÁS
A história da energia no mundo de Montanhas é a história da
ascensão do gás natural. Na primeira década do século XXI,
sucessos na exploração e avanços tecnológicos mais do que
dobram a base de recursos recuperáveis de gás. O gás não
convencional/de xisto e CBM são fatores dominantes no
crescimento dos recursos de gás, pois uma combinação de
tecnologias de perfuração e fraturação desencadearam a
produção.
O desenvolvimento de novos recursos em todo o mundo é
cada vez mais bem-sucedido, permitindo que tanto a
demanda quanto a oferta cresçam extensivamente. Esse
crescimento é apoiado por políticas de incentivo do lado da
oferta, que são comuns no mundo de Montanhas.
Embora haja certo nível de incerteza referente à quantidade
restante de gás não descoberto, a produção de gás não
convencional/de xisto assume uma porção cada vez mais
significativa do mix de gás global, e o crescimento é sustentado
para além de meados do século. Em um prazo ainda mais longo,
o incentivo do lado da oferta para a realização de pesquisas e o
desenvolvimento e aplicação em escala permite que os hidratos
de metano sejam desenvolvidos. Esses recursos expandem ainda
mais o crescimento da oferta de gás até o final do século XXI.
Os oito países que eram responsáveis por 60% da produção
global de gás em 2012 continuam a aumentar sua
participação nas próximas três décadas. No entanto, o
surgimento de novos recursos cria uma nova ordem mundial
de produtores de gás. O anteriormente esperado declínio da
produção norte-americana de gás é revertido e a China se
junta aos três maiores produtores, permitindo que esses dois
grandes consumidores de energia reduzam sua demanda por
carvão e, mais tarde, por petróleo.
Um crescimento econômico global relativamente fraco e a
abundância de gás significa períodos de pressão decorrentes
da descida de preços para os produtores de todas as energias
primárias, e muitos deles acham difícil garantir os retornos
econômicos desejados. Até certo ponto, este é um fenômeno
que se autoequilibra, pois mais uma vez o investimento
reduzido restringe a oferta.
No mundo do petróleo, preços moderados colocam pressões
em projetos fronteiriços tecnicamente difíceis e caros, mais
comuns fora da OPEP. Países que são grandes detentores de
recursos (MRH) começam a sofrer com rendas reduzidas, e
começam a aflorar agitações sociais.
Embora as demandas populares por reforma política sejam
atendidas em alguns países, os preços do petróleo, que são em
média moderados, perpetuam a instabilidade e restringem a
oferta. Os resultantes picos periódicos nos preços fortalecem o
foco em políticas em outros lugares para reduzir a dependência
na importação, o que é justificado domesticamente como
sendo “bom para todos”. No entanto, as pressões intensas da
OPEP e a necessidade de incorporar a produção crescente do
Iraque também resultam na produção demasiada em relação a
quotas e períodos de depressão dos preços.
MONTANHAS ENERGIA E ASCENSÃO DO GÁS 39
NOVAS RESERVAS DE RECURSOS POTENCIAIS
Recursos como gás não convencional/de xisto, metano
das jazidas de carvão (CBM) e xistos betuminosos
(também conhecido como gás não convencional
leve) são hidrocarbonetos que estão presos em
formações rochosas amplamente impermeáveis em
áreas subterrâneas profundas. Isso faz com que sejam
praticamente imóveis e difíceis de serem acessados
por meio de formas tradicionais de extração de gás
e petróleo. As rochas que contêm esses recursos são
arenitos ou carbonatos, xistos e carvões muito duros.
Geralmente a produção somente é possível quando a
rocha que os contêm é fraturada sob pressão hidráulica,
um processo conhecido como “fracking”.
O gás não convencional/de xisto e CBM já formam
mais de 15% da produção de gás mundial e têm o
potencial de aumentar para 40% com o tempo. Estima-se
que a base total de recursos seja equivalente a cerca de
100 anos do consumo de gás global atual. Os recursos
de xistos betuminosos são menos seguros. Atualmente,
são responsáveis por apenas 1% da produção mundial
total de óleo e espera-se que isso aumente para no
máximo 5-10%. As estimativas recentes da base global
de recursos são equivalentes a 15 anos do consumo
de petróleo atual.
Obter água para o “fracking” pode ser um problema
em áreas onde a água é escassa. Alguns estão
preocupados com o fato de que o “fracking” pode
fazer com que o gás passe para aquíferos de águas
superficiais, embora normalmente a separação vertical
entre gás subterrâneo e água seja de milhares de metros.
Em alguns casos isolados, o “fracking” de poços foi
associado a pequenos eventos sísmicos. O transporte de
grandes quantidades de equipamentos necessários para
desenvolver esses recursos de petróleo de gás também
são preocupantes.
A aceitação pública e política do “fracking” varia de
país para país. A América do Norte até agora é a
região que mais o aceita, devido principalmente ao fato
de os direitos de mineração pertencerem a indivíduos,
que estão livres para lucrar com o seu arrendamento.
Essa atividade é proibida em alguns países, incluindo
a França, onde acredita-se estar localizado o maior
potencial da União Europeia.
GÁS NÃO CONVENCIONAL/DE XISTO E CBM
Revestimento para
proteger águas
subterrâneas e isolar
camadas geológicas
Jazidas de carvão
Zonas de transição
 Aquíferos de água potável
 Sobrecarga – contém várias
camadas impermeáveis que
prendem gás nos seus
reservatórios
 Aquífero salino
Dezenas de quilômetros*
 Acumulação de gás  Acumulação de gás
de metano das jazidas estrutural convencional
de carvão
 Acumulação
convencional
de óleo
 Acumulação contínua
de gás (gás não
convencional/de xisto)
* Esquemático: fora da escala
cerca de 3 quilômetros*
Superfície da terra
A abundância de gás e a demanda energética
moderada em geral levam a um platô de consumo de
petróleo na década de 2030 e um subsequente declínio
nas décadas a seguir.
O gás em abundância também abre caminho para a
eletrificação do transporte e permite que infraestruturas
de hidrogênio recém-construídas forneçam
armazenamento e transporte para energia renovável de
mais longo prazo e intermitente. Novas redes de gás são
construídas para serem mais tarde transferidas para
hidrogênio, sendo necessário apenas um custo
suplementar. A infraestrutura de hidrogênio permite o
crescimento posterior de veículos a célula de combustível.
As empresas de envio e de frete rodoviário começam a
usar gás natural na forma de gás natural liquefeito
(GNL). Com o tempo, a indústria de downstream vê uma
transição firme para o não uso de combustíveis líquidos.
A estrutura de gás exige mudanças ao longo do século.
Historicamente, seu uso tem sido orientado ao
aquecimento, especialmente em latitudes temperadas.
No cenário de Montanhas, o gás deixa alguns setores,
tais como o aquecimento de prédios, ao longo de várias
décadas. Posteriormente, também começa a deixar
a geração de eletricidade. Simultaneamente, surgem
novos mercados, especialmente de frete rodoviário e
envio, bem como de petroquímicos. O mercado de
produtos químicos prospera, em parte por causa do
desenvolvimento da química de metano que permite
a conversão do gás natural em produtos químicos.
Na década de 2030, o gás natural torna-se a maior
fonte global de energia primária, colocando um fim ao
reinado de 70 anos do petróleo. Antes disso, o carvão
reina como a fonte energética global número um,
durando cerca de 50 anos (aproximadamente de 1910
a 1960) após ter substituído fontes tradicionais de
biomassa como madeira, turfa, estrume e resíduos
agrícolas. n
MONTANHAS ENERGIA E ASCENSÃO DO GÁS 41
Nesse mundo de tensão geopolítica, os EUA continuam
a ser o fiador de bens públicos globais mais ativo,
incluindo a paz regional, e permanecem ativamente
engajados na diplomacia do Oriente Médio.
A REVOLUÇÃO
DO XISTO
A fraturação hidráulica ou “fracking” tem o potencial de
disponibilizar grande volumes de petróleo e gás, mais
do que já foi consumido pelo mundo até agora e quase
metade da recuperação futura esperada de petróleo e
gases convencionais combinados. Na América do
Norte, a indústria de gás deu uma reviravolta.
Enfrentando o final da autossuficiência de gás natural
em 2008, os preços subiram vertiginosamente para
$12/MMBtu. Hoje, a produção aumentou 10% e o
preço do gás está abaixo de $4/MMBtu. O continente
enfrenta um longo futuro de crescimento da oferta
energética com a continuação dos preços baixos do gás
natural. A capacidade planejada de importação de
GNL dos EUA foi cancelada e os planos para terminais
de exportação começam a ser colocados em prática.
Como um combustível e matéria-prima de baixo custo,
o gás e o gás natural liquefeito têm o potencial de
revitalizar a indústria pesada norte-americana e de abrir
novos mercados de transporte. As teorias do pico do
petróleo são abandonadas à medida que os EUA
entram em uma nova era de crescimento da produção,
visando a possibilidade de autossuficiência energética
até 2030.
Os EUA lideram o mundo no desenvolvimento da
tecnologia nesse campo e na colheita dos benefícios
provenientes do seu uso. Os fornecedores tradicionais
de petróleo para os EUA estão desviando os
carregamentos para novos mercados, e o carvão
americano agora é exportado para a Europa, já que
o gás torna-se o combustível de preferência para a
geração de energia nos EUA.
A REVOLUÇÃO TECNOLÓGICA CONSEGUIRÁ
SER GLOBAL?
Mesmo com desafios técnicos, sociais e ambientais a
serem superados, a perfuração exploratória continua a
progredir em todo o mundo, e poços de petróleo e gás
produtivos já foram perfurados em países como a
Argentina. Alguns relatórios sugerem que a China pode
ter mais gás de xisto do que os EUA, e poços estão
sendo perfurados para investigar o potencial, já que
essa economia em rápido crescimento busca alternativas
para o carvão. O gás não convencional/de xisto tem o
potencial de mudar a ordem mundial de energia.
Foram levantadas preocupações de que a abundância
de gás pode prejudicar o avanço do setor de
renováveis, mas o gás também pode agir como
combustível fundamental enquanto a indústria de
renováveis se desenvolve e a oferta intermitente torna-se
um desafio cada vez maior. Além de substituir o carvão
para reduzir as emissões de CO2, o gás pode servir
como combustível de destino de baixo carbono
juntamente com a tecnologia de captura de carbono,
proporcionando uma flexibilidade de retaguarda para
uma porção cada vez maior de renováveis.
Mas o crescimento de reservas de recursos potenciais
tais como gás de xisto e xisto betuminoso não é de forma
alguma definitivo. Novas tecnologias, competências e
políticas precisam ser transferidas e desenvolvidas para
transformar esse potencial em produção.
O desenvolvimento deve ser realizado de uma forma
responsável e comprovada para que ganhe aceitação
pública. O futuro pode ser incerto, mas novas reservas
de recursos potenciais têm o poder de moldá-lo.. MONTANHAS ENERGIA E ASCENSÃO DO GÁS 43
HIDRATOS DE METANO
Um hidrato de metano é um gás de metano preso em estruturas
cristalinas de moléculas de água por uma combinação de baixa
temperatura e alta pressão. Esses hidratos são encontrados
em abundância nos oceanos e também nas regiões de gelo
permanente do Ártico em vários sedimentos. Os métodos de
extração estão em estágios iniciais de testes, sendo que os Estados
Unidos (Alasca) e o Japão estão na liderança. Prevê-se que a
produção a partir das fontes mais fáceis (Ártico e areias marinhas)
apenas ocorrerá após a metade do século XXI.
As estimativas de volumes locais variam enormemente, com um
potencial técnico recuperável atual de zero para mais de 100
vezes a produção atual de gás em todo o mundo por ano.
EM GERAL, A PROJEÇÃO DE EMISSÕES
ATÉ MEADOS DO SÉCULO ULTRAPASSA
A TRAJETÓRIA DA META DOS 2°C
Desenvolvendo planos já iniciados, as primeiras
iniciativas de CAC florescem e alcançam mais de 30%
de captura de emissões de CO2 provenientes de energia
até 2050, e 70% por volta de 2075. Esse sucesso
MONTANHAS ENERGIA E ASCENSÃO DO GÁS 45
CÉUS NUBLADOS
As emissões provenientes do uso de energia de
hidrocarbonetos continua a crescer até a década de
2020, embora o ritmo moderado do desenvolvimento
econômico tenha um impacto nessa trajetória. É de
importância significativa a substituição do carvão por
gás nos setores industrial e de geração de energia.
Um setor de eletricidade neutro em carbono é uma
possibilidade cada vez mais viável com o crescimento
geral das contribuições de energia nuclear e de
biomassa, e a aplicação da tecnologia de CAC passa a
ser incorporada nas décadas seguintes. Esse processo é
promovido por políticas segundo as quais os custos são
transferidos aos consumidores. Os preços da eletricidade
começam a refletir o preço implícito das emissões,
enquanto o preço explícito do dióxido de carbono
continua irregular e, em geral, baixo.
permite que o carvão seja reintroduzido posteriormente
quando a próxima onda de economias emergentes faz
com que a demanda aumente novamente. A tecnologia
de CAC é também aplicada à geração de energia de
biomassa. A produção de biocombustíveis de segunda
geração contribui com “emissões negativas” para o
sistema e começa o processo de realmente reduzir a
concentração de gases do efeito estufa na atmosfera.
A geração de eletricidade chega efetivamente a
zero-CO2 até 2060. Em 2090, esses sumidouros de
carbono neutralizam o impacto restante dos setores
de transporte e industrial que são difíceis de serem
descarbonizados.
Em geral, a situação cumulativa de emissões até meados
do século significa que a meta de 2°C não é alcançada,
mas posteriormente o uso expandido de CAC como
sumidouro de carbono oferece um componente
fundamental para um caminho potencial de gestão das
emissões globais totais. n
CO2 POR PONTO DE EMISSÃO
45
40
35
30
25
20
Gt CO2/ano
15
10
5
0
-5
-10
2010
2040
2070
2070
-15
-20
-25
-30
Ano
* Inclui biomassa para eletricidade que é, em combinação com CAC, um sumidouro de carbono.
** Inclui biocombustíveis que são tratados como "créditos de carbono". Emissões de líquidos contadas em Transporte.
*** Biomassa comercial, sem competição com a cadeia de alimentos.
2100
2100
■
■
■
■
■
■
■
Indústria
Serviços
Transporte
Residencial
Geração de eletricidade*
Refinaria e biocombustíveis**
Biomassa para uso não energético***
■
■
■
■
■
Outra produção energética
CAC Indústria
CAC Refinaria
CAC Eletricidade
CAC Outra produção energética
Total
OCEANOS
UMA VISÃO DO HORIZONTE
Oceanos é um mundo no qual interesses divergentes e
a difusão de influências são tratados com uma onda
crescente de entendimento. Essa trajetória é impulsionada
por uma população global cada vez maior e com mais
poder econômico, bem como um reconhecimento
crescente das camadas mais privilegiadas de que seu
sucesso contínuo exige comprometimento. As reformas
estáveis das estruturas econômicas e financeiras
acompanham o desenvolvimento das nações em rápida
ascensão e progressivamente facilitam a produtividade
de setores mais abrangentes da sociedade. No entanto,
a volatilidade e os diferentes grupos de interesse impedem
o desenvolvimento de políticas em outras áreas e,
portanto, os recursos difíceis são disponibilizados
primariamente pelas forças de mercado.
Inicialmente, pressões econômicas afetam a coesão
social, forçando mudanças nas estruturas econômicas
e políticas. As reformas despertam aspirações e quando
são bem-sucedidas também criam expectativas de mais
mudanças em termos de bem-estar, estruturas sociais e
instituições internacionais significativas. Aumentam as
aspirações, e as expectativas em relação a melhorias
contínuas na qualidade de vida tornam-se fixas.
A globalização é fortalecida; os países em desenvolvimento
sustentam suas trajetórias de crescimento de recuperação
e as principais economias em rápida ascensão passam
para uma fase de crescimento mais equilibrado.
Gradualmente, as pressões cada vez maiores em termos
de alimentos, água, energia e outros recursos tornam-se
um novo foco de tensão social e política. As agitações
políticas e o crescimento de grupos de interesses com
poder agora dificultam o desenvolvimento de políticas, e
a escassez de recursos é quase totalmente tratada pelas
forças de mercado agindo segundo estruturas antigas
de políticas que fixam os preços de externalidades
inadequadamente.
Com economias emergentes continuando a surgir e a
impulsionar a demanda por energia, e sem mecanismos
políticos eficazes em vigor, a demanda começa a
comprimir a oferta. O nó fica ainda mais apertado
quando a produção de gás convencional/de xisto e CBM
não alcança as expectativas iniciais, obtendo um sucesso
relativamente limitado fora da América do Norte, em
parte por causa do apoio político irregular e em parte
por causa de decepções geológicas e tecnológicas.
O crescimento na produção de petróleo por parte de
alguns grandes detentores de recursos também é
inicialmente limitado no cenário de Oceanos, por causa
do impacto das transições de liderança. No entanto,
os investimentos voltam a aumentar quando a estabilidade
é restaurada. Períodos de alta nos preços do petróleo
liberam novos recursos e opções de tecnologia, resultando
em um longo jogo do petróleo.
Com um crescimento do volume de gás mais modesto
do que o esperado, o carvão mantém um papel forte na
geração de calor e energia. As tensões de recursos
tornam-se graves, e os altos preços e as crises
eventualmente estimulam um forte investimento do lado da
demanda na eficiência de utilização. Essas medidas não
são suficientes para lidar com as preocupações
ambientais, visto que as emissões de gases do efeito
estufa seguem um caminho em direção a um alto grau
de mudança do clima e necessidade de adaptação
significativa. n
OCEANOS UMA VISÃO DO HORIZONTE 47
OCEANOS:
UMA VISÃO GERAL
nInteresses
econômicos e políticos novos e concorrentes
chegam intermitentemente a acordos.
nReformas
desencadeiam nova produtividade
econômica e aumentam as aspirações por novas
reformas.
nGrupos
com novos interesses adquiridos dificultam o
progresso de políticas secundárias até que as pressões
de recursos tornam-se agudas, como por exemplo, o
crescimento das expansões urbanas, os atrasos na
captura e o armazenamento de carbono.
nPreços
mais altos liberam recursos de energia mais
caros e impulsionam eficiências por parte do usuário
final.
nCombustíveis
líquidos e carvão continuam a exercer
um papel importante no mix de energia até a
ascensão da energia solar na segunda metade do
século. O gás natural cresce mas não alcança as
expectativas devido a estruturas de políticas
inadequadas e recursos decepcionantes.
nAs
emissões de gases do efeito estufa alcançam seu
pico e permanecem altas por um período longo de
tempo até que são reduzidas devido a uma
combinação de energia de biomassa, CAC e solar.
PROSPERIDADE
São iniciadas ou aceleradas reformas institucionais
nos sistemas político, fiscal, jurídico e financeiro por
meio de uma combinação de respostas às crescentes
frustrações das classes médias e a visão de futuro dos
influentes do momento. Em nações onde há uma
compensação insuficiente para as mudanças relativas
de privilégio, ocorrem transições abruptas e até
mesmo violentas. Essas transições destroem capital
e desestimulam investimento. De maneira geral, as
principais economias em rápida ascensão aprendem
com os maus exemplos e tomam medidas para evitar
esses problemas e, portanto, são capazes de conduzir
reformas e restabelecer normas políticas sem colapso.
A força das economias em desenvolvimento estimula
as economias avançadas. As reformas na Zona do
Euro (envolvendo uma redução das soberanias
nacionais) ajudam a criar algo como uma Renascença
Europeia. A economia norte-americana fica estável,
mas relativamente limitada por uma feroz polarização
política em torno do papel do governo.
LIDERANÇA
Em Oceanos, os líderes focam as questões nacionais, em
parte porque as reformas institucionais são geralmente
concentradas em nível nacional. Surge também uma
combinação entre localismo e internacionalismo,
catalisada pelo poder do mundo digital de enfatizar
tanto audiências locais quanto questões difundidas
globalmente. Aparecem diferentes afiliações que são
consistentes com uma ideologia de “destino partilhado”
e, portanto, mesmo com a ênfase nas questões
nacionais, a ideia de protecionismo não é tão forte como
poderia ser em outros casos.
Em Oceanos, há a expansão da participação na
liderança para além dos detentores do poder. Os líderes
começam a emergir das classes médias para representar
interesses mais amplos, criando formas de coesão social
que evitam mais eficazmente a captura por parte de
interesses restritos.
A web é difundida e aprofundada e permanece aberta.
Enquanto essa abertura incentiva criatividade e
variedade, também permite a contenção de
perspectivas, ou seja, as pessoas optam por explorar
apenas aquilo que lhes é familiar e se associam apenas
com “pessoas como a gente”. Essa ênfase estreita é
possibilitada pela tecnologia de sites de busca e de
outros usuários de grandes volumes de dados que voltam
para o indivíduo aquilo que ele já expressou como sendo
uma de suas preferências. Portanto, embora surjam
novas coalizões que impulsionam novas agendas,
há também um número crescente de grupos isolados,
excluídos ou negligenciados.
A conectividade aumenta a capacidade de melhorar a
coordenação científica, de negócios, financeira e da
cadeia de fornecimento, mas também aumenta a
capacidade de transmitir mudanças de opinião muitas
vezes irracionais e de diminuir a confiança em
instituições no mundo todo, somando-se à volatilidade
do cenários de Oceanos.
Alguns membros das camadas privilegiadas reconhecem
a importância prática e moral de investir mais em justiça
social, reconhecendo também que a resiliência nacional
normalmente requer a resiliência de vários setores da
sociedade. Há uma mudança na ideologia popular
em direção ao destaque de “destinos interconectados”,
que muitas vezes é promovida por líderes científicos e
de negócios mais acostumados a relações competitivas
do que colaborativas, e amplificada pelas influentes
comunidades de fé.
Inicialmente, o Paradoxo da Liderança mostra pouco
movimento à medida que são criadas novas posições
políticas, mas isso finalmente leva a um número de
reformas profundas e abrangentes. Entretanto, com o
tempo, essas reformas resultam, em realidade, em novos
interesses adquiridos que tendem a paralisar outras
reformas. Contudo, bens públicos locais e nacionais são
impulsionados por um longo período de tempo e até
mesmo alguns bens públicos globais são considerados
quando a nova atenção política o permite. n
OCEANOS UMA VISÃO DO HORIZONTE 49
CONECTIVIDADE
UMA VARIEDADE DE LITORAIS
O início das reformas aumenta as aspirações das
pessoas por mais, e uma nova - e mais expressiva política ganha dinamismo. A política, ou seja, o debate
entre políticas alternativas e a resolução de conflitos de
interesses ultrapassa as agendas estabelecidas pelos
governos e é impulsionada pela ascensão de uma
sociedade civil cada vez mais dinâmica que desafia
o governo e busca soluções para problemas que
estão fora do controle público. Em Oceanos, parecer
aliado a um lado mais do que a outro (seja o interesse
comercial ou político) é arriscar perder a influência
entre os líderes em ascensão.
O SURGIMENTO DOS “WEB-CIDADÃOS”
Em um mundo cada vez mais conectado em rede, o
poder popular leva a política a estabelecer os termos
sob os quais cada mercado opera e a adaptar o Estado
conforme seus desejos. A ênfase é colocada nos direitos
individuais e coletivos, que são mantidos contra o
Estado, ao invés de nas responsabilidades individuais
em relação ao Estado. Revertendo a famosa citação de
John F. Kennedy no seu discurso de posse presidencial,
as pessoas perguntam o que o seu país pode – e deve
– fazer por elas, ao invés de o que elas podem fazer
pelo país.
nO
As organizações não governamentais (ONGs) são
revitalizadas, principalmente aquelas que expandem
seu foco para além de questões isoladas e abraçam
uma abordagem sistêmica e abrangente. Em contraste,
é bastante difundido o ceticismo público em relação à
honestidade e eficácia dos políticos e suas burocracias.
Os grandes negócios caem na mesma categoria de
desconfiança. Suspeitos de estarem presos a relações
incestuosas com o governo, normalmente são vistos
como “politizados”. Do implacável ponto de vista do
público, as empresas e os governos ficam ou caem pela
sua reputação, seja esta justificada ou não.
debate sobre a educação é realizado entre pais de
diferentes estratos sociais que desejam as melhores
oportunidades possíveis para seus próprios filhos e
um número cada vez maior de pessoas sem filhos que
lamentam a ênfase nessa provisão às custas de outros
serviços.
nO
debate sobre a mudança do clima é realizado
entre a geração mais velha que sempre controlou
o problema e uma geração mais jovem que quer
encontrar soluções e reverter seus possíveis impactos.
nAs
elites financeiras são questionadas nas ruas de
Londres e Nova Yorque.
nOs
regimes autocráticos são desafiados por
comunidades de “web-cidadãos” com o poder
da informática.
A tecnologia da informação emerge como uma força
social poderosa e provedora de interfaces alternativas
para os governos e em torno da qual identidades
coletivas coalescem. Esse desenvolvimento desafia
os governos nacionais que finalmente buscam, de
forma ineficaz, controlar essas redes. A revolução
da informação cria expectativas e demandas,
impulsionando melhorias e, ao mesmo tempo,
incendiando ressentimentos contra as estruturas de
controle social estabelecidas, que são vistas como um
impedimento ao progresso das pessoas. Essas forças
populistas são atualizadas no cenário de Oceanos.
Elas geram novas ideias e novas pressões, mas às vezes,
promulgam pontos de vista limitados e egoístas.
OCEANOS UMA VARIEDADE DE LITORAIS 51
TARA E TINA
A globalização continua, mas a natureza da
globalização, ou pelo menos nosso entendimento
normativo dela, muda. Na década de 1990, foi
dominada pela hegemonia dos EUA e pelo Consenso
de Washington: uma abordagem liberal e baseada no
mercado livre para administrar economias nacionais.
Em outras palavras, a globalização era equiparada
para seguir o modelo econômico norte-americano.
Pela sua própria natureza, a globalização descentraliza
influência e difunde poder: à medida que muitos
países crescem agarrando as rédeas da globalização,
eles deixam suas próprias marcas culturais, sociais,
econômicas e políticas em tudo aquilo que a
globalização promove. O Consenso de Washington
começa a ser equiparado em influência pelo Consenso
de Pequim, que defende, como alternativa, uma
abordagem política e econômica autoritária mais
centrada no Estado. Na realidade, são praticados
vários modelos de governança com diferentes níveis de
envolvimento do Estado.
“O QUE MAIS IMPRESSIONA É A
ACELERAÇÃO, A PROGRESSÃO
GALOPANTE DA MUDANÇA
OU, EM OUTRAS PALAVRAS,
O COLAPSO DO TEMPO.
DA PRIMEIRA PEDRA LASCADA
AO PRIMEIRO AÇO FUNDIDO
FORAM QUASE 3 MILHÕES
DE ANOS; DO PRIMEIRO
FERRO À PRIMEIRA BOMBA
DE HIDROGÊNIO FORAM
APENAS 3.000.”
Ronald Wright
Breve história do progresso
Até 2025, a influência dos EUA diminui tanto que o
conceito de TINA (do inglês, “There Is No Alternative”),
onde não há alternativas para o avanço da
globalização, liberalização e tecnologia, é substituído
pelo conceito de TARA (do inglês, “There Are Real
Alternatives”), onde são possíveis alternativas reais.
Isso não consiste em um declínio da globalização,
liberalização ou economia, mas um processo dinâmico
no qual outros Estados se recuperam e colhem os
benefícios de uma ordem internacional aberta
estabelecendo suas próprias regras para lidar com isso.
O conceito de TARA leva a um declínio do poder relativo
dos EUA, que, no entanto, continua a determinar as
fronteiras da produtividade global e da tecnologia.
O “poder suave”, ou seja, o poder que atrai outros
e molda o pensamento das outras pessoas por meio
da natureza convincente de seus próprios valores
e exemplos não é mais um monopólio americano.
Outros países e causas oferecem modelos políticos e
econômicos alternativos convincentes e influenciam de
uma maneira ou outra por meio do “poder suave” que
cada um é capaz de dispor.
O APARECIMENTO DO “MINILATERALISMO”
Os problemas enfrentados pela ordem global em
Oceanos surgem da sua maior complexidade e da
proliferação de transações internacionais e
transacionais. Estas requerem coordenação que as
instituições globais existentes acham cada vez mais
difíceis de administrar.
Em contraste às abordagens multilaterais de grande
escala do passado, o “minilateralismo”, que algumas
pessoas definem como o menor número possível de
países para assegurar o maior impacto possível, provou
ser mais eficaz. O minilateralismo proporciona a
velocidade e a flexibilidade necessárias para começar
a lidar com a grande complexidade dos problemas
globais. Com o tempo, o grupo central se expande para
incluir outras partes, tornando-se universalmente difuso
e expandindo sua legitimidade. Nas próximas duas
décadas, proliferarão soluções minilaterais, mantendo
a globalização no bom caminho.
As forças que definem a globalização vêm de várias
fontes diferentes, levando à volatilidade e
desestabilização, pois as antigas forças estatais ficam
enfraquecidas. A concentração cada vez maior de
riquezas, normalmente em minorias definidas
etnicamente, resulta em confrontos com comunidades
majoritárias que dividem o mesmo espaço. Isso fica
particularmente marcado em geografias com grandes
populações de jovens.
Os resultados são colisões explosivas entre democracia
e poder populista de um lado e mercados (e minorias
que são vistas como beneficiárias deles) do outro. Assim
como a revolta contra as minorias ricas, o antagonismo
é direcionado contra os EUA, que ainda são vistos como
um ente todo-poderoso. Nas correntezas transversais de
Oceanos, a globalização da democracia de mercado
livre gera reações destrutivas e violentas que pontuam
a trajetória da globalização e levam a um período de
transições voláteis, junto com crescimento econômico.
Essa globalização de retalhos de Oceanos não
necessariamente cria contradições. Às vezes as
diferentes forças trabalham juntas em uma forma de
sincronia que reconhece interesses comuns em uma
ordem global aberta e estável. A fluidez de Oceanos
cria espaço para manobra para que forças conflitantes
se alinhem e encontrem resoluções que possam gerar
resultados positivos.
Contudo, ainda existem tensões, em parte porque os
governos são pressionados a satisfazer as expectativas
cada vez maiores das pessoas e as demandas por
bem-estar social, bem como a provisão de serviços
públicos. Juntamente com as correntes rápidas e fluidas
que geram oportunidades e expandem a mobilidade
social, o cenário de Oceanos continua a induzir tensões
e choques turbulentos.
A próxima década é caracterizada por um delicado ato
de equilíbrio. Na esfera doméstica, uma sociedade civil
insubordinada não quer mais ser limitada pelo Estado,
mas ainda se volta ao Estado para fornecer a segurança
e os serviços que formam as bases essenciais para que
os mercados operem eficientemente. No sistema
internacional, a soberania é limitada em um mundo
de mercados globalizados e sociedades civis firmes.
Nesse mundo de globalização revitalizada, os Estados
ainda afirmam sua soberania. Muitos resistem às
tentativas de impor regras legais e éticas a questões
“universais”, tais como os direitos humanos e, às vezes,
se dão conta de que seus valores tradicionais são
conflitantes com suas obrigações globais.
OCEANOS UMA VARIEDADE DE LITORAIS 53
A modernidade globalizada não é mais comparada
ao modelo dos EUA, contudo, como um oceano que
toca diferentes litorais, é associada aos caminhos do
desenvolvimento asiático, bem como as trajetórias
baseadas na forte tradição social-democrática europeia.
Essa globalização diversa e polimórfica é expressa no
fortalecimento de identidades regionais supranacionais
em diferentes partes do mundo.
OS NOVOS MANDARINS
Até 2030, a ordem mundial será mantida por relações
econômicas globais, nacionalmente impalpáveis. Há um
impulso em direção à abertura das fronteiras nacionais,
baseado em uma crença na eficiência do mercado,
que é limitado por sua vez por preocupações relativas
à coesão social e aos efeitos negativos dos mercados
globais. Esses efeitos negativos são, até certo grau,
mitigados pelo crescimento econômico, mantendo o
descontentamento controlado, enquanto os países em
desenvolvimento diminuem a lacuna em relação ao
países desenvolvidos, que também alcançam mais
crescimento.
As regras são difíceis de serem impostas globalmente
e ainda mais difíceis de serem acordadas. Esse é um
problema duradouro no mundo de Oceanos, mas que
é mitigado de certa forma por iniciativas minilaterais.
À medida que o cenário de Oceanos progride ao longo
do século, uma nova geopolítica começa a emergir de
colaborações entre países que constroem “arquiteturas
adequadas” para regular os fluxos globais. Estas são
baseadas em vínculos tecnocráticos entre burocracias
internacionais e nacionais. Não são as reuniões de
ministros do governo, nem as reuniões de organizações
não governamentais internacionais que definem o
sistema internacional. Contrariamente, são as redes
transnacionais de cooperação tecnocrática prática
que impulsionam o progresso. Essas redes conectam
burocracias que têm poucos valores em comum e
não veem a necessidade deles. Também não estão
preparadas para adotar modelos econômicos ou
políticos universais.
Os Novos Mandarins sofrem de uma falta de
responsabilidade democrática global mas, ao mesmo
tempo, não há uma autoridade global única que
imponha suas exigências nos outros. O etos pode
ser resumido como “monótono, mas importante – e
funciona”.
Caminhando para um mundo com recursos cada
vez mais finitos e tensões ambientais crescentes, os
países mais fortes normalmente não são os maiores,
mas sim os atores mais ágeis de médio porte que são
economicamente eficientes e que abraçaram caminhos
radicais para a sustentabilidade econômica, incluindo
o Japão, liderado por uma geração de jovens que
reconhecem que pouco pode ser muito, bem como
a Coreia do Sul, a Noruega e uma União Europeia
revitalizada que dá aos seus Estados-membros espaço
para manobra.
Os países maiores são desafiados a descentralizar
e inovar para conquistar um crescimento sustentável.
Até a década de 2030, os EUA conseguem renovar e
revitalizar suas forças inovadoras tradicionais. A China
também transforma seu modelo de governança, criando
uma “nova China” com espaço para vigor inovador,
impulsionada por uma onda de empreendedorismo
dinâmico.
As sociedades civis ganham mais poder que nunca com
a tecnologia. Mas a influência da sociedade civil nas
estruturas globais é mesclada. As organizações sociais
usam novas formas de comunicação e mídia para
avançar suas agendas e para aumentar sua influência
sobre questões globais. Essas agendas variam de liberal
e democrática a limitadamente intolerante ou mesmo
criminosa. Como suas contrapartes da atualidade, as
redes de mídia global disseminam informações, pontos
de vista globais e intolerância paroquial com o mesmo
vigor.
Mesmo assim, no coração da história de Oceanos estão
comunidades definidas por geografia, interesses ou
capacidades. Elas formam a base de toda a estrutura
geopolítica. São suas decisões e sua habilidade de
colaborar e se envolver globalmente que determinam
o destino deste edifício global. n
“Uma nova ordem mundial formada por redes
governamentais horizontais e verticais pode criar um
Estado de direito genuinamente global sem instituições
globais centralizadas e pode envolver, socializar, apoiar
e limitar agentes governamentais de todos os tipos em
todas as nações. Nesse futuro, poderemos ver instituições
governamentais desagregadas – os membros das redes
governamentais – como os verdadeiros portadores
de uma medida de soberania, fortalecendo-as ainda
mais, mas também submetendo-as a obrigações legais
específicas (...) Seria uma ordem mundial criada e
composta por instituições estatais desagregadas,
permitindo que as nações-estados evoluam de forma
a acompanhar as mudanças no setor privado e que
expandem o poder estatal. Seria uma ordem mundial
eficaz no sentido de ser capaz de traduzir princípios
escritos em ação individual e organizacional. Para ser
verdadeiramente eficaz, também terá que ser uma ordem
mundial justa, ou mais inclusiva, respeitosa, tolerante e
igualitária possível.”
Professor Anne-Marie Slaughter
Universidade de Princeton, A New World Order (Uma
nova ordem mundial), 2004
OCEANOS UMA VARIEDADE DE LITORAIS 55
UMA NOVA ORDEM
MUNDIAL
TRANSIÇÕES E BOLHAS ECONÔMICAS
TRANSFERINDO A RIQUEZA DO SUCESSO
Os países escandinavos são muitas vezes os mais bemsucedidos em reconciliar seus modelos sociais e fiscais
com os níveis cada vez mais altos de globalização no
mundo de Oceanos. Mesmo assim, a igualdade continua
a ser em grande parte um processo guiado pelas elites,
pois é um reflexo de agitações vindas de baixo. Nesse
mundo, as maiores economias são relativamente pobres,
e adições à força de trabalho global vêm principalmente
do sul asiático e da África subsaariana.
Em economias avançadas, o sucesso continua sendo
distinguido pelo sistema educacional. Este é sustentado
pela igualdade do acesso à educação da mais alta
qualidade, mecanismos eficazes de ensino até o final da
vida e um alto padrão mínimo de educação para todos
os residentes. Os países bem-sucedidos conseguem
superar desafios políticos imensos inerentes ao processo
de transferência de recursos, tais como a segurança
financeira e médica, da crescente população de idosos
para os jovens. É uma transferência difícil, mesmo em
uma economia fechada, mas especialmente em um
mundo globalizado.
O espaço para manobra é alcançado através de uma
mistura complexa de descentralização e transferências
fiscais. As economias abertas de tamanho médio se
adaptam com mais facilidade a essas mudanças do que
as grandes economias continentais, sendo que as
nações do G20 terminam na retaguarda ao invés de
na vanguarda da inovação social.
Após uma transição difícil, as sociedades que
conseguem superar esses desafios e oferecem empregos
produtivos e competitivos para a sua mão de obra são
recompensadas com um crescimento mais rápido.
MERCADOS EMERGENTES: NEGOCIANDO
A “ARMADILHA DA RENDA MÉDIA”
Em Oceanos, os mercados emergentes que adotam
organizações sociais mais inclusivas tiram proveito de
um dividendo de crescimento que permite que evitem a
“armadilha da renda média”. Eles sustentam sua
evolução em direção ao status de economias avançadas
principalmente porque têm muito caminho a percorrer,
seja na atualização da tecnologia ou na urbanização.
Parte do crescimento sustentável acontece por causa
de uma demografia favorável. Uma característica
definidora do cenário de Oceanos é o sucesso da Índia
e da China na adoção de um sistema econômico
inclusivo e que promove a capacitação, à medida que
enriquecem. Nesse cenário, a Ásia continua a ser
a região mais dinâmica da economia global.
À medida que as economias de grande porte e
relativamente pobres da Ásia dão grandes passos
domesticamente e em termos de segurança regional,
a urbanização impulsiona um boom no investimento em
infraestrutura. Esse boom inclui residências familiares e
se compara ao crescimento da infraestrutura nos EUA,
Europa Ocidental e Japão na décadas de 1950 e 1960.
Enquanto uma parte considerável desse boom é financiada
publicamente, a intermediação financeira exerce um papel
importante, incluindo o investimento transnacional por meio
de ações e títulos. Para se proteger contra o problema do
comportamento de rebanho e interrupções repentinas dos
fluxos de capital, é criado um banco de infraestrutura BRIC,
bem como novos mecanismos de fortalecimento de crédito.
Novos credores oferecem competição às instituições
financeiras internacionais dos EUA e da Europa, e até
meados do século, Nova Yorque e Londres dividem sua
supremacia no mercado com Singapura, Xangai e
Mumbai.
Para acomodar a transferência de recursos do exterior,
muitos mercados emergentes asiáticos aceitam déficits
moderados e a valorização das suas taxas de câmbio.
O aumento do valor da sua moeda coloca pressão no
crescimento do emprego, que ainda é fortemente
dependente das exportações.
ATRAPALHANDO O MONOPÓLIO DA ELITE
Na África subsaariana e em muitos países do sul e do
sudeste asiático, as pressões provenientes de insatisfações
rurais e religiosas perturbam o monopólio da elite. Vários
países, como por exemplo, Gana, fazem progresso estável.
Para outras, melhorias em governança e infraestrutura não
sobrevivem ou não trazem qualquer melhoria para os
resultados econômicos.
Embora Oceanos seja um mundo no qual os mercados
emergentes crescem e prosperam, a volatilidade inerente
às transições rápidas cria incertezas, especialmente para
investidores estabelecidos com muito a perder n
LIDERANÇA
A perspicaz crítica da sociedade indiana de 1990 de
V.S. Naipaul “Um milhão de motins agora” sugere que
após um milênio de uma hierarquia social sufocante
legitimada pelo sistema de castas, uma combinação
de independência, afluência e democracia estava
desencadeando o questionamento geral da ordem e
autoridade tradicionais – um milhão de motins. Como
romancista e diarista, a preocupação principal de
Naipaul eram as implicações humanas e políticas dessas
revoltas. Sua tese traz também importantes implicações
econômicas para a expansão do empreendedorismo
e da produtividade humana. Essas implicações, pelo
menos no caso da Índia, tornaram-se mais claras desde
que seu trabalho foi publicado. “GRANDES GANHOS
EMANCIPATÓRIOS PARA
A LIBERDADE HUMANA
NÃO FORAM O RESULTADO
DE PROCEDIMENTOS
INSTITUCIONAIS ORDENADOS,
MAS DE AÇÕES DESORDENADAS,
IMPREVISÍVEIS E ESPONTÂNEAS
QUE DESTRUÍRAM A ORDEM
SOCIAL A PARTIR DE BAIXO.’”
James C. Scott
Two Cheers for Anarchism (Dois vivas à anarquia)
OCEANOS TRANSIÇÕES E BOLHAS ECONÔMICAS 57
UM MILHÃO DE
MOTINS
DUAS ERAS DOURADAS
PROSPERIDADE
APRENDEREMOS COM A HISTÓRIA?
Há Eras Douradas diferentes, mas conectadas, acontecendo
simultaneamente no mundo. Por um lado, há a Nova Era
Dourada nos EUA e em muitos países desenvolvidos de língua
inglesa. Do outro, há a primeira Era Dourada nos países
emergentes da era moderna, que estão se aproveitando das
oportunidades abertas pela globalização, industrialização e
urbanização, assim como fez o mundo Ocidental no século
XIX, mas com uma tecnologia mais avançada e uma economia
global muito mais interconectada.
A Era Dourada original nos EUA levou a uma “Era
Progressista” marcada pela presidência de Theodore Roosevelt
a partir de 1901, quando a opinião pública, preocupada com
a exploração e os abusos da época, começou a pressionar
contra seus excessos. Um governo mais ativista lidou com
os interesses dos pequenos negociantes, agricultores e
movimentos trabalhistas, buscando a limpeza do processo
político e diminuindo os abusos por meio da dissolução de
grandes negócios e monopólios. O trabalho de jornalistas
e ativistas como Ida Tarbell foi importantíssimo para esse
movimento. Mas foi só quando o Presidente Wilson introduziu
os impostos de propriedade e renda e as reformas contra
trustes, seguidos pelo Novo Acordo de Franklin D. Roosevelt,
que a desigualdade de renda começou a ser comprimida.
O Novo Acordo efetivamente pôs fim à Era Dourada e fez
surgir uma sociedade de prosperidade amplamente partilhada
e um período de crescimento estável que continuou até a Era
Reagan nos anos 80, quando as divisões sociais e econômicas
voltaram a se alargar.
A colisão dessas duas eras douradas está criando intensas
pressões políticas e sociais. Mudanças sempre causam
transtornos e os ganhos provenientes dessas mudanças são
desigualmente distribuídos. Pode muito bem haver uma
reestruturação resultante da Era Dourada no mundo em
desenvolvimento. Os primeiros sinais disso estão aparecendo
com o aumento da renda e das desigualdades sociais e a raiva
e a indignação cada vez mais fortes das novas classes médias.
Elas detectam abusos de poder e corrupção por parte das suas
elites governantes e de negócios, que se juntam em relações
capitalistas cúmplices. Podemos esperar mudanças convulsivas
antes de qualquer ponto de reestruturação ser alcançado.
A ERA DOURADA AMERICANA E ALÉM
60
Proporção de renda dos primeiros decis em %
(excluindo ganhos capitais)
Os privilegiados dos países emergentes são os que mais
se beneficiam, mas essa Era Dourada para o mundo
desenvolvido também está tirando da pobreza uma
grande faixa da população que passa para a classe
média. As elites dos países desenvolvidos e dos países em
desenvolvimento agora são interconectadas e colhem os
lucros dos trabalhadores da industrialização e urbanização
nos países em desenvolvimento. Os mais pressionados são os
trabalhadores de ambos os mundos, conforme sobem degraus
da escada econômica. Enquanto isso, a economia digital, que
supostamente substituiria a economia industrial no Ocidente,
gera cada vez menos empregos.
53
A Longa Era Dourada
46
A Grande Divergência
A Grande Compressão
39
Classe Média Americana
32
25
02
20
10
20
97
19
92
19
87
19
82
19
77
19
72
19
62
19
Fonte: Thomas Piketty and Emmanuel Saez, correção Paul Krugman
67
19
57
19
52
19
7
194
2
194
32
19
37
19
22
19
27
19
7
191
Ano
Enquanto economias emergentes continuam a surgir e a
demanda energética cresce, a tensão entre oferta e demanda
resultante é ainda mais constringida por políticas energéticas
atrasadas.
Fora da América do Norte, o gás não convencional/de xisto
e CBM têm sucesso limitado devido a uma combinação de
políticas e decepções geológicas e tecnológicas.
À medida que as transições políticas têm um impacto negativo
no investimento, a produção de petróleo de alguns grandes
detentores de recursos também é inicialmente constrangida.
Portanto, Oceanos é um mundo onde os preços de óleo e
gás são particularmente altos. Essa realidade econômica
leva à disponibilização de novos recursos e oportunidades
tecnológicas, invocando um “longo jogo do petróleo” e
ascensão da energia solar em escala global.
Como o crescimento da produção global de gás natural é
mais modesto do que o esperado, os preços, que se mantêm
regionalizados, são fortes em regiões de relativa escassez.
As tensões de recursos tornam-se agudas. Os preços altos e
as crises periódicas estimulam uma forte atenção do lado da
demanda para aumentar a eficiência do uso. Contudo, com
um forte crescimento energético e uma atenção atrasada à
tecnologia de CAC, as emissões de gases do efeito estufa
seguem um caminho preocupantemente muito mais alto do que
a meta de 2°C, o que, por sua vez, aumenta ainda mais o foco
na adaptação dos efeitos da mudança do clima.
REVIRAVOLTAS NA DEMANDA E GRUPOS DE
INTERESSE
A turbulência financeira global do começo do século XXI
introduz um período longo de reformas econômicas e políticas
estruturais ou casos ainda mais dramáticos de reestruturações
onde as tensões não são resolvidas. Esses desenvolvimentos
apoiam a recuperação do crescimento econômico global e,
consequentemente, a forte nova emergência de demandas
energéticas subjacentes. O crescimento populacional exerce
um papel importante, mas muito mais significativo é o
desenvolvimento contínuo, e muitas vezes turbulento, da maior
parte das economias de rápido crescimento da atualidade
ao longo das décadas de 2020 e 2030. O desenvolvimento
desses países é seguido de subsequentes ondas de
desenvolvimento das economias mais pobres da atualidade.
A maré alta levanta todos os barcos, mesmo que irregularmente.
ENERGIA PRIMÁRIA TOTAL POR FONTE
1200
EJ/ano
1000
800
600
400
200
0
2000
■ Petróleo
■ Biocombustíveis
■ Gás natural
2010
2020
■ Biomassa gaseificada ■ Biomassa tradicional
■ Carvão
■ Nuclear
■ Biomassa/resíduos
■ Hidroeletricidade
2030
Ano
2040
■ Geotérmica Outros renováveis
■ Solar
■ Eólica
2050
■ Other Renewables
2060
OCEANOS AS GRANDES ONDAS DA DEMANDA ENERGÉTICA 59
AS GRANDES ONDAS
DA DEMANDA ENERGÉTICA
CONSUMO
SUSTENTÁVEL
No mundo de hoje de 7 bilhões de pessoas, as
desigualdades de renda e consumo de energia
são gritantes. Hans Rosling destacou essa lacuna,
demonstrando que 2 bilhões de pessoas vivem abaixo
do nível de pobreza de US$2 por dia. As 5 milhões de
pessoas restantes estão divididas em três grupos:
nTrês
bilhões de pessoas vivem com menos de US$40
por dia, que permite um consumo de energia básico
nas suas casas, por exemplo, uma lâmpada e talvez
um fogão.
nUm
bilhão de pessoas vive com menos de US$80 por
dia – suficiente para operar uma máquina de lavar.
nUm
bilhão de pessoas têm vidas comparáveis ao
mundo desenvolvido e são capazes de pagar, por
exemplo, uma viagem de avião nas férias.
OCEANOS AS GRANDES ONDAS DA DEMANDA ENERGÉTICA 61
Paradoxalmente, aqueles beneficiados pelas reformas
políticas financeiras e econômicas são responsáveis por
atrasos nas reformas da energia. A combinação entre
respostas políticas de energia atrasadas, uma demanda
crescente e várias decepções de oferta levam a preços
de energia altos e crescentes.
A mudança na demanda energética global é dramática.
Em 2000, os países membros da OCDE eram
responsáveis por 55% da demanda mundial de energia.
No entanto, com a ascensão da China, a participação
da OCDE diminuiu para 45% em 2010. A mudança de
Oeste para Leste continua no cenário de Oceanos e a
participação da OCDE cai para cerca de 33% em
2030, com impactos significativos nos fluxos de
comércio de energia do mundo todo.
Por meio de reformas estruturais profundas, as
economias de rápido crescimento conseguem fazer uma
transição adiantada da indústria pesada para leve. Esses
países desenvolvem uma economia com um setor de
serviços maior, seguindo um padrão emergente de
desmaterialização em todo o mundo. A pressão nos
recursos gera preços e incentivos econômicos para a
eficiência, reciclagem e reutilização. A indústria pesada
recicla aço e alumínio, muitas casas usam bombas de
calor e os aparelhos domésticos tornam-se extremamente
mais eficientes.
“...SEIS DAS TRINTA E UMA
PROVÍNCIAS, MUNICIPALIDADES
E REGIÕES DA CHINA
CONTINENTAL SERIAM
CLASSIFICADAS ENTRE AS TRINTA
E DUAS MAIORES NAÇÕES DO
MUNDO EM TERMOS DE PODER
DE COMPRA. XANGAI SE
EQUIPARA À ARÁBIA SAUDITA.”
Até o final do século, um terço das matérias-primas
químicas podem vir da reciclagem e do reutilização e a
eficiência geral do setor da indústria pesada global
aumenta em 80%.
Há ganhos de eficiência consideráveis nas construções,
pois aumenta a porcentagem de moradias passivas e
residências fortemente readaptadas entre as construções
em geral. Com um ambiente de preços altos de
combustível, o valor econômico das melhorias de
energia de capital intenso é alto. A eficiência energética
doméstica melhora 60% em média até 2060 e
possivelmente 90% até 2100.
Mesmo em muitos países pobres, as rendas pessoais
mais altas permitem um mudança direta para a energia
solar fotovoltaica (solar FV) no setor residencial,
substituindo a biomassa tradicional. A imensa
quantidade de tecnologias de geração localizadas
e mais eficiência dos aparelhos elétricos leva a uma
eletrificação de grande escala.
Fora da América do Norte, com recursos decepcionantes
e um apoio político irregular, novas reservas potenciais
têm apenas um sucesso limitado. O mercado rodoviário
global de passageiros busca alternativas para os
combustíveis líquidos, tais como veículos a gás natural,
elétricos ou movidos a hidrogênio. As alternativas não
fazem incursões consideráveis nas próximas duas
décadas, em parte por causa dos impressionantes
avanços tecnológicos com motores de combustão interna
que mantém os carros a gasolina e diesel à frente.
Jonathan Fenby
Tiger Head, Snake Tails (Cabeça de Tigre, Rabo de Cobra), 2012
OCEANOS AS GRANDES ONDAS DA DEMANDA ENERGÉTICA 63
Os fabricantes de carros competem por tecnologias
avançadas de motor de combustão, e outros ganhos de
eficiência dos veículos a gasolina e diesel seguem a adoção
difundida das tecnologias híbridas. Baterias menores para
veículos híbridos (ao contrário das baterias maiores
necessárias para os veículos recarregáveis via plug-in)
tornam-se mais econômicas para quem compra carros novos
e se preocupa com os altos preços do combustível. Em muitos
países, os preços altos e o envelhecimento da população
levam a uma redução parcial dos veículos. Os avanços na
ciência de materiais e petroquímicos possibilitam a criação de
subprodutos para os veículos mais leves. A luta pela volta dos
veículos a gasolina e diesel contra os substitutos é bemsucedida apesar do preço do petróleo mais alto, já que o
custo por quilômetro continua acessível.
A longo prazo, o preço mais alto do petróleo oferece suporte
para o desenvolvimento de recursos de petróleo mais caros e
para a utilização em massa dos biocombustíveis. Até meados
do século, os combustíveis líquidos ainda são responsáveis
por 70% dos quilômetros de passageiros rodoviários.
A demanda por petróleo aumenta entre as décadas de 2020
e 2030 antes de atingir um platô longo na década de 2040.
Com o crescimento forte dos biocombustíveis o total de
combustíveis líquidos continua a crescer até 2060, dando
origem ao longo jogo do petróleo (e dos combustíveis
líquidos). No entanto, até o final do século, os biocombustíveis
satisfazem cerca de dois terços de toda a demanda de
transporte por combustíveis líquidos e o petróleo é, na sua
maior parte, usado como matéria-prima petroquímica, onde
seu valor tende a ser o mais alto.
BIOMASSA EM OCEANOS: O CULTIVO DA ENERGIA
A biomassa, como o hidrogênio, exerce um papel pivô no futuro
a longo prazo dos sistemas energéticos com menos emissões de
carbono. No cenário de Oceanos, incentivos econômicos são
alinhados a preferências dos consumidores e negócios para
tornar a biomassa uma das opções energéticas mais valorizadas,
primeiro no transporte e depois como matéria-prima para
plásticos transformados.
Os altos preços do petróleo em Oceanos, além de estimularem
a produção de provisões de petróleo mais difíceis, também
são um incentivo para os produtores de biocombustíveis. Os
biocombustíveis de primeira geração crescem estavelmente,
atingindo um pico de um pouco mais de 4 milhões barris de óleo
equivalente por dia em 2050. À medida que são aplicados
critérios de sustentabilidade mais rigorosos, são feitas mudanças
nos tipos e locais de cultivos ao redor mundo, principalmente para
uma produção mais tropical de etanol da cana-de-açúcar. Mas é
com o desenvolvimento de biocombustíveis de segunda geração
(derivados dos cultivos de não alimentos ou resíduos de colheitas)
que a produção decola. Esses biocombustíveis começam a ser
produzidos comercialmente na década de 2020 e até 2050
a produção global alcança os níveis dos biocombustíveis de
primeira geração.
Embora lidar com biomassa como matéria-prima seja muito
mais difícil do que lidar com petróleo e gás, os bioplásticos
conquistam uma grande aceitação entre consumidores e também
emergem em escala comercial devido ao aumento da demanda
por materiais. Até 2060, quase 10% de todos os materiais
petroquímicos são derivados da biomassa, potencialmente
subindo para 25% até o final do século.
Nos países em desenvolvimento, a eletrificação oferece ainda mais
suporte à comercialização de biomassa. O sucesso crescente da
energia solar FV permite que os usuários finais saltem diretamente
do uso de fontes de energia tradicionais (resíduos agrícolas,
madeira, turfa e estrume) para usar eletricidade em casa, até
para cozinhar. A demanda cada vez mais fraca por biomassa
tradicional leva várias comunidades a desenvolverem biomassa
comercialmente. Até o final do século, o uso de biomassa
tradicional para energia desaparece quase por completo.
Embora as limitações à base de recursos acabe por restringir
a contribuição de biomassa a longo prazo, seu lugar ainda é
substancial, com diferentes tipos de biomassa suprindo quase um
quinto da energia primária total no final do século. Nessa época,
os biocombustíveis também atendem dois terços de todas as
necessidades de transporte em termos de combustíveis líquidos.
A captura de carbono por meio de bioplásticos e a integração
da produção de biocombustíveis com CAC compensam no
final todas as emissões de energia restantes provenientes de
combustíveis fósseis no sistema energético mundial.
POTENCIAL DE BIOCOMBUSTÍVEIS EM COMPARAÇÃO COM A DEMANDA DE COMBUSTÍVEIS
LÍQUIDOS PARA TRANSPORTE
80
EJ/ano (combustível líquido)
70
60
50
40
■ Base potencial de recursos
de biocombustíveis*
30
Demanda por combustíveis líquidos
para Transporte em 2010
20
10
Demanda por combustíveis líquidos
para Transporte em 2060 (Oceanos)
0
North America
South America
Europe
* Base de recursos maximizada para produção de segunda geração
Fonte: estudo da Ecofys para a Shell
Asia
Africa
Oceania
OCEANOS AS GRANDES ONDAS DA DEMANDA ENERGÉTICA 65
COMBUSTÍVEIS LÍQUIDOS E A ASCENSÃO DA
ENERGIA SOLAR
A energia em Oceanos continua no seu caminho recente,
com uma combinação de sucessos exploratórios e
avanços tecnológicos, apoiados pelo preço crescente do
petróleo.
Uma melhor capacidade de perfuração mesmo nos
ambientes mais difíceis permite o acesso a águas
profundas e ao Ártico; técnicas mais avançadas de
recuperação de petróleo tornam-se cada vez mais
viáveis; tecnologias de fraturação e perfuração permitem
o desenvolvimento atraente de óleo não convencional
leve e xisto betuminoso em formações rochosas.
O ambiente de alto preço do petróleo e maiores
capacidades técnicas para produzir óleo extrapesado
em lugares como Canadá, Venezuela, Rússia e
Cazaquistão liberam o potencial desses recursos.
Em Oceanos, os países que produziram mais de 75% da
atual produção global de petróleo em 2012 aumentam
ainda mais sua participação. Os países da OPEP detêm o
maior potencial de crescimento a baixo custo e aumenta
ainda mais a recuperação com tecnologias mais caras.
No entanto, esses desenvolvimentos são inicialmente
limitados por instabilidade geopolítica e o consequente
investimento insuficiente na maioria dos países da OPEP.
Até a década de 2030, os EUA veem uma redução
gradual das importações em termos do volume geral
de petróleo, em parte por causa do aumento da
oferta e em parte por causa dos padrões de eficiência
dos combustíveis. Os preços mais altos ajudam a
moderar a demanda. No entanto, há desalinhamentos
consideráveis entre a cada vez maior importância dos
xistos betuminosos e a configuração das refinarias e
sistemas de dutos e, consequentemente, a importação
e exportação de produtos refinados ou petróleo bruto
ainda são necessárias. Os choques de preços ainda
atingem a América do Norte e é mantido o interesse
nacional na estabilidade do sistema energético global
por razões de políticas internacionais mais amplas.
A produção de gás natural continua a crescer, dando
continuidade aos desenvolvimentos na América do Norte.
BASE DE RECURSOS DE PETRÓLEO
35000
7000
30000
6000
25000
5000
Bilhões de bbl
tcf
BASE DE RECURSOS DE GÁS
Com o tempo, a proteção propiciada pela capacidade
excedente da OPEP fica erodida e os mercados se
adaptam a uma volatilidade de preços mais altos e a uma
nova gestão comercial e estratégica de estoques. A longo
prazo, a OPEP volta a ter estabilidade suficiente para que
o investimento decole, mas a pressão para satisfazer o
forte crescimento da demanda mantém os preços altos,
permitindo o desenvolvimento de reservas convencionais
e potenciais de maior custo fora da OPEP.
20000
15000
4000
3000
10000
2000
5000
1000
0
Montanhas
■ Produzido
■ Convencional desenvolvido
■ Convencional subdesenvolvido
■ Potencial de recuperação
convencional
Oceanos
■ Convencional a ser encontrado
■ Gás não convencional
■ Hidratos de metano
0
Methane Hydrates
Kerogen
Unconventional Gas
Extra Heavy Oil / Bitumen
Yet to Find
Light Tight Oil / Liquid Rich Shale
Scope for Recovery - General
Yet to Find Conventional
Undeveloped
Scope for Recovery Conventional
Developed
Undeveloped
Discovered Conventional
Produced
Montanhas
■ Produzido
■ Convencional desenvolvido
■ Convencional subdesenvolvido
■ Potencial de recuperação
Convencional
■ Convencional a ser encontrado
Oceanos
■ Óleo não convencional leve
Xistos betuminosos
■ Óleo extrapesado
Betume
■ Querogênio
Produced
Apesar do seu impacto ambiental, o carvão continua
a ser o mais econômico respaldo de segurança
energética para a geração de energia, pelo menos
até meados do século. A partir daí, a incidência cada
vez maior de eventos climáticos extremos leva a um
acordo internacional em torno das políticas climáticas
suficientes para impulsionar investimentos significativos
em CAC e para frear a produção de carvão. Com o
avanço do CAC, o crescimento global da demanda
por carvão é retomado até 2050, com novos países em
desenvolvimento iniciando sua fase de desenvolvimento
mais intensiva energeticamente. Na falta de regimes de
políticas de apoio, a energia nuclear encontra barreiras
para o seu crescimento na maioria dos países.
Os preços e demanda crescentes promovem um
forte crescimento contínuo da energia renovável. Os
biocombustíveis tornam-se cada vez mais importantes
em setores como a mobilidade, onde há a dependência
contínua de combustíveis líquidos por causa da falta
de alternativas credíveis. Em outros setores, os recursos
renováveis que precisam de consentimento de grande
escala ou popular, tais como parque eólicos e esquemas
de energia geotérmica, continuam a enfrentar oposição.
Essas condições favorecem o posicionamento da energia
solar FV distribuída como uma das principais fontes de
energia primária na economia global. Da sua posição
atual como 13ª maior fonte de energia no mundo, cresce
rapidamente, alcançando a quarta posição até 2040,
atrás apenas do petróleo, gás e carvão, e prosseguindo
para a primeira posição em 2100. O sol nasce para criar
o domínio da energia solar no sistema global.
A ascensão da energia solar ocorre, em parte,
devido a pressões públicas que levam os governos a
priorizarem esse tipo de energia na “ordem de mérito”
da eletricidade. A integração em rede é adaptada com
um funcionamento mais variável de outras formas de
OCEANOS AS GRANDES ONDAS DA DEMANDA ENERGÉTICA 67
No entanto, as grandes expectativas que muitos tinham
para o desenvolvimento global de gás não convencional/
de xisto e CBM não são totalmente alcançadas, pois
progressos mostram-se demasiadamente difíceis ou os
volumes recuperáveis são muito baixos.
DOMÍNIO DA ENERGIA SOLAR ATÉ 2100?
Solar
37,7%
Petróleo
10,1%
Biocombustíveis
9,5%
Gás natural
7,5%
Biomassa gaseificada
5,3%
Eólica
8,40%
Biomassa Nuclear
de resíduos 6,3%
4,1%
Hidroeletricidade 2,2%
Geotérmica 4,4%
Biomassa tradicional 0,3%
Outros renováveis 0,03%
geração de eletricidade ao longo do dia – notavelmente
a energia hidrelétrica, onde esta estiver disponível,
ou gás, carvão e biomassa. À medida que aumenta
a escala, os regulamentadores são forçados a passar
esses custos mais altos de balanceamento da rede para
os consumidores de energia. Por sua vez, isso incentiva
os usuários finais a desenvolverem soluções locais para
nivelar a oferta e demanda diárias de energia. Enquanto
alguns começam a se concentrar em baterias e outros a
armazenar energia como água quente, alguns aparelhos
domésticos, tais como geladeiras e máquinas de lavar,
oferecem a capacidade de serem conectados à provisão
doméstica de energia solar. Pequenas comunidades
criam redes solares cooperativas, fornecendo um
nivelamento ainda maior dos padrões de oferta e
demanda.
Carvão
3,9%
Portanto, enquanto as nações mais ricas adotam
a energia FV solar mais cedo, é em vários países
emergentes que ela prospera a longo prazo. Até 2060,
quase 40% da eletricidade é gerada pela tecnologia
solar FV, dentro e fora da OCDE. Os números fora da
OCDE continuam a aumentar para 60% até o final do
século e essa revolução fenomenal faz parte de um
crescimento no nível de geração de eletricidade global
até sete vezes maior do que o nível de 2012.
TEMPESTADES NO CÉU
O crescimento econômico global, a importância contínua
do carvão na geração de energia e o uso do petróleo no
transporte acompanham o crescimento contínuo das
emissões de gases do efeito estufa em Oceanos.
Compensados com eficiências e energia renovável,
os gases do efeito estufa alcançam um platô onde
permanecem da década de 2030 à década de 2050.
Até lá, os níveis elevados de CO2 na atmosfera são
claramente reconhecidos como conectados com o
aumento observado de eventos climáticos extremos, que
finalmente, resultam em mudanças políticas e no uso de
tecnologias que até então estavam sendo deixadas de
lado, complementando esforços esporádicos de colocar
preços nas emissões.
Embora o uso de CAC no começo do século seja pouco
significativo, a mitigação de CO2 é acrescentada à lista
de prioridades urgentes a partir de 2060 para
complementar a adaptação dos efeitos da mudança
climática. A tecnologia CAC cresce de 5% das emissões
de energia capturada para 25% até 2075. Até o final do
CO2 POR PONTO DE EMISSÃO
45
40
35
30
25
20
15
Gt CO2 /ano
Balancear a rede ao longo de um dia é uma coisa.
Balancear a rede ao longo de estações é muito mais
difícil para a energia solar FV. Nas latitudes temperadas
de muitos países da OCDE, 80% da eletricidade
solar PV é gerada nos meses de verão. A eletrólise e o
armazenamento de hidrogênio locais tornam-se uma
parte fundamental da solução, particularmente quando
combinados com seu uso industrial. Dada a dificuldade
de coordenação política internacional de alto nível, isso
prova ser mais prático do que os planos sugeridos para
redes de eletricidade em escala continental.
10
5
0
-5
-10
2010
2070
2100
2070
2100
2100
2040
-15
-20
■
■
■
■
■
Ano
Indústria
Serviços
Transporte
Residencial
Geração de eletricidade*
■
■
■
■
■
Refinaria e biocombustíveis**
■ CAC Eletricidade
Outra produção energética
■ CAC Outra produção energética
Biomassa para uso não energético***
Total
CAC Indústria
CAC Refinaria
* Inclui biomassa para eletricidade que é, em combinação com CAC, um sumidouro de carbono.
** Inclui biocombustíveis que são tratados como "créditos de carbono". Emissões de líquidos contadas em Transporte.
*** Biomassa comercial, sem competição com a cadeia de alimentos.
século, quase todas as emissões poderiam ser capturadas
ou neutralizadas.
Tendo começado nas economias avançadas, o impacto
do CAC rapidamente aumentou nas economias de
crescimento rápido. Após 2050, é implementado
relativamente cedo na fase de desenvolvimento
econômico e industrial das novas economias em
desenvolvimento, primariamente para mitigar emissões
na geração de energia e refinaria.
A aplicação da tecnologia CAC em usinas de biomassa e
biocombustível é a primeira contribuição para reduzir as
concentrações gerais de dióxido de carbono na
atmosfera. O setor de geração de eletricidade torna-se
neutro em carbono na década de 2090. No entanto,
na década de 2070, as compensações de carbono
começam a contrabalançar as contínuas emissões dos
setores de transporte e industrial, que são mais difíceis
de serem descarbonizadas. n
Uma das questões mais discutidas em debates sobre
a transformação do sistema de energia é: quando
alcançaremos um sistema energético baseado em 100%
de recursos renováveis?
Nos Cenários sob novas lentes, os recursos renováveis
atingem uma participação de 30-40% do total de energia até
2060 em Montanhas e Oceanos, alcançando talvez 60-70%
de saturação se o horizonte temporal for expandido. Alguns
podem ficar decepcionados com esses números, mas há boas
razões para dizer que mesmo esse nível será uma vitória.
O primeiro desafio é a localização geográfica da base de
recursos renováveis, que normalmente é muito longe dos
centros de demanda de energia. Os locais onde pode haver
grandes recursos solares (por exemplo, no deserto) são
normalmente muito distantes dos centros populacionais, que
também podem ficar em outros países ou continentes. Onde a
localização compartilhada é possível, também existem outros
problemas. As imensas porções de terras necessárias para a
geração de energia eólica, solar FV e outras formas renováveis
podem restringir sua implementação, sendo que a aceitação
social do uso da terra é um problema potencial para que
sejam alcançados níveis de penetração altos. O uso dessas
tecnologias é problemático particularmente em países como a
Índia e a Nigéria, por exemplo, que entre eles conterão quase
um quarto da população mundial até o final do século (de
acordo com projeções médias da ONU), mas que possuem
apenas 3% da terra praticamente disponíveis do planeta.
O segundo maior desafio é a saturação do setor. Os recursos
de energia renovável modernos geram primariamente
eletricidade, mas em 2010, a eletricidade contava apenas
com 18% da demanda total de energia. Há um limite na
quantidade de eletricidade que pode ser forçada em outros
setores. O setor de produtos químicos precisa de matériasprimas de hidrocarboneto, o de transporte (principalmente
a aviação) precisa de combustíveis de hidrocarboneto e a
fabricação de aço precisa de carbono.
Eventualmente poderemos ver um volume muito maior
de hidrogênio usado no transporte. Mas no começo esse
hidrogênio virá do carvão ou do gás. Produzir hidrogênio
a partir de renováveis usando eletrólise é atualmente caro e
termodinamicamente ineficiente.
O terceiro desafio refere-se à competitividade em termos
de custo do armazenamento e transporte de energia em
distâncias. Para que os renováveis façam uma contribuição
significativa para nosso sistema energético, é necessário
algum tipo de armazenamento para as circunstâncias nas
quais a oferta não consiga satisfazer a demanda e viceversa. Embora grandes quantidades de dinheiro já estejam
sendo gastas em pesquisa, as tecnologias de geração estão
deixando as tecnologias de armazenamento de lado. O
armazenamento precisa progredir ou poderá limitar a
velocidade do uso da tecnologia de geração renovável.
Alguns dizem que super-redes intercontinentais e imensos
cabos submarinhos ofereceriam soluções para vários desses
problemas. Outros apontam para o hidrogênio, não apenas
como meio de armazenamento, mas também como uma
fonte de energia transportável em forma de líquido. Embora
essas soluções sejam tecnologicamente possíveis, são todas
projetos enormes que cruzam fronteiras e custam vários
bilhões de dólares. Será necessário um nível extraordinário
de cooperação internacional e um vasto investimento
financeiro para tomarmos esses passos em direção à
descarbonização do nosso sistema energético.
O otimismo referente a um futuro completamente renovável
precisa ser moderado pelo entendimento das consideráveis
questões tecnológicas, geográficas e de mercado, bem como
o desafio político e societário necessário. Mesmo assim, se o
otimismo for direcionado a um sistema energético com zero
emissão, incluindo o uso bem-sucedido de combinações de
CAC e biomassa, essa será uma opção distintamente mais
viável do que um sistema energético 100% renovável.
OCEANOS AS GRANDES ONDAS DA DEMANDA ENERGÉTICA 69
É POSSÍVEL ALCANÇAR
100% DE ENERGIA
RENOVÁVEL?
REFLEXÕES SOBRE
DESENVOLVIMENTO
E SUSTENTABILIDADE
Os Cenários sob novas lentes descrevem desenvolvimentos
plausíveis nas esferas sócio-político-econômica e impulsionam a
exploração a longo prazo da energia e de seus limites
relacionados.
Essas conclusões desafiadoras destacam a importância não só dos
cenários, mas também de um diálogo muito maior para o qual
contribuem, assim como as decisões tomadas como resultado desse
mesmo diálogo.
Esses limites refletem as possíveis consequências de cada cenário,
mas não estão mecanicamente ligados a eles. Por exemplo, se as
escolhas relevantes forem feitas, é possível que o robusto cenário
econômico global em Oceanos seja acompanhado por parte dos
avanços em energia atualmente atribuídos em Montanhas. Isso de
certo modo aliviaria as pressões energéticas e ambientais mais
extremas encontradas nos limites externos da história em Oceanos.
Também é possível que as hipóteses mais otimistas sobre gás não
convencional/de xisto e recursos globais de CBM encontrados em
Montanhas sejam verdadeiras em qualquer um dos cenários.
O crescimento econômico em si é geralmente positivo, embora,
naturalmente, aumente a pressão sobre os recursos. Esta é uma
característica central do Paradoxo da Prosperidade. Se apenas
políticas fracas e reacionárias forem oferecidas no setor energético,
então a trajetória rumo ao limite descrito em Oceanos vai se
concretizar. Isso, por sua vez, provocará uma pressão extrema na
economia de recursos e no meio ambiente, não apenas no que se
refere ao CO2, mas também aos recursos de água doce e de
alimentos.
Ao longo do século, o acúmulo das emissões de CO2 chega a ser
quase 25% maior em Oceanos do que em Montanhas gerando
sérias preocupações sobre turbulências climáticas contínuas e
destacando a necessidade de direcionar atenção e recursos a
estratégias de adaptação. É, evidentemente, muito decepcionante
considerar esse limite “rígido” em Oceanos – mas também é
importante reconhecer que até mesmo o limite “frouxo” em
Montanhas representa um desafio considerável à sustentabilidade
ambiental a longo prazo. O acúmulo de gases de efeito estufa na
atmosfera ainda excede as metas atuais para limitar o aumento da
temperatura atmosférica a 2°C. Isso ocorre mesmo com as menores
trajetórias econômicas, a rápida substituição do carvão pelo gás,
os avanços no desenvolvimento urbano compacto com eficiência
energética e a implementação acelerada da tecnologia de captura
e armazenamento de carbono (CAC) e de outras tecnologias.
Para que resultados insustentáveis sejam evitados, a lição
fundamental é a necessidade de acelerar a implementação de
políticas proativas e integradas – e de não argumentar que
resultados econômicos inferiores por parte de países em
desenvolvimento restringiria os efeitos dos gases de efeito estufa.
Na verdade, economias promissoras podem vir a ser catalisadores
necessários para políticas de recursos inteligentes, uma vez que
preocupações ambientais tendem a perder prioridade quando o
desenvolvimento econômico é lento.
Uma impressão do impacto da política acelerada e coordenada
pode ser obtida a partir do gráfico de emissões de CO2, que ilustra
uma análise de sensibilidade na qual a trajetória econômica global
em Oceanos é combinada com a evolução dos recursos e do lado
da oferta explorados em Montanhas e com a implementação
prévia das respostas de utilização eficiente destacadas em
Oceanos (Oceanos – limpos e verdes). Embora não seja ideal em
termos de emissão, o impacto positivo é significativo – um resultado
encorajador.
50
45
40
Gt CO2/ano
35
30
25
20
15
10
5
0
1960
1970
1980
1990
2000
2010
2020
2030
2040
2050
2060
2070
2080
2090
2100
Ano
Histórico
Oceanos
Oceanos - limpos
e verdes
Montanhas
Nessa análise de sensibilidade, a demanda crescente é
inicialmente atendida pelo aumento da oferta de combustível fóssil
e do emprego de tecnologias de captura e armazenamento de
carbono (CAC). Até 2030, cada vez mais fontes de energias
renováveis entram no mix econômico em escala, a princípio para
atender o aumento da demanda, mas, progressivamente, para
substituir o carvão e o petróleo. A intensidade energética das
tendências de desenvolvimento econômico sofre uma queda em
consequência da melhoria do planejamento urbano e dos ganhos
em eficiência na utilização de energia.
Juntos, esses avanços levam a um sistema energético construído
com base em estruturas e aplicações eficientes, além de gás,
exploração de carvão combinada ao uso da tecnologia de CAC
e de recursos renováveis. Por ser composto por recursos em
abundância, esse sistema atende a demanda, mantém os preços
acessíveis e basicamente reduz o impacto ambiental.
Uma conclusão que pode ser tirada dos Cenários sob novas lentes
é que uma mudança substancial não acontecerá por si só – como
resultado da sinalização de preços ou de respostas políticas
adiadas até que as crises tornem-se aparentes. Um resultado
positivo requer uma série de avanços políticos proativos,
visionários e coordenados, tanto nacional como
Caminho de 2ºC
(ilustrativo)
internacionalmente, o que, até o momento, parece estar além dos
limites da plausibilidade.
Uma vez que a pior fase da crise financeira atual tenha passado,
os alarmantes indícios de resultados negativos para todos os
atores devem resultar na renovação da atenção. Se essas questões
não forem abordadas, o limite rígido descrito em Oceanos se
tornará realidade. Se, no entanto, as consequências climáticas
aceitas por grande parte da comunidade científica estiverem
corretas, o limite aqui descrito torna-se cada vez mais improvável.
Em outras palavras, as elevadas emissões associadas a Oceanos
poderiam gerar um nível de turbulência climática que prejudicaria
severamente a economia, reduziria drasticamente a demanda de
energia e diminuiria as emissões, embora por uma rota negativa.
Este trabalho ilustra uma trajetória hipotética para as emissões de
gases do efeito estufa, com interrupções potenciais resultantes de
turbulências climáticas que terão um impacto cada vez maior nas
condições econômicas, sociais e políticas globais. Em vista das
incertezas em torno dos avanços potenciais a longo prazo, não é
vantajoso inserir ciclos de feedback tão dramáticos diretamente
nos cenários centrais. Em vez disso, desejamos deixar bem claro
o rumo que as trajetórias citadas estão tomando e apoiar um
diálogo mais bem informado sobre as possíveis consequências.
CENÁRIOS SOB NOVAS LENTES REFLEXÕES SOBRE DESENVOLVIMENTO E SUSTENTABILIDADE 71
EMISSÕES DE CO2 GLOBAIS RELACIONADAS À ENERGIA
O NEXO DE INTERDEPENDÊNCIA:
LIGAÇÕES ENTRE ÁGUA E ENERGIA
A agricultura representa cerca de 70% do uso global de água
doce, de modo que para explorar melhores práticas na utilização
da água através dos cenários, seria necessário concentrar a
atenção no setor agrícola.
Contudo, os fornecedores de energia estão entre os maiores
consumidores industriais de água doce.
A água é utilizada principalmente para gerar energia, mas
também é necessária para a perfuração, inundação de poços,
refinamento de petróleo e produção de biocombustíveis.
O International Water Management Institute (IWMI) estima que a
indústria energética dos EUA responde sozinha por 40% de toda
a água doce captada.
Por outro lado, é necessário utilizar energia nos processos de
fornecimento, purificação, distribuição e tratamento da água e
esgoto. No relatório “Clear Gold”, o CSIS afirma que em alguns
países do Oriente Médio, a energia usada para dessalinizar a
água corresponde a 65% do uso nacional de petróleo. De acordo
com o Departamento de Energia dos Estados Unidos, 75% do
custo da água provém dos gastos em energia, e 4% de toda a
energia gerada é utilizada no transporte e tratamento de água.
Olhando para o futuro, nosso modelo de energia e suas ligações
com a água indicam que em 2060 o consumo industrial de água
doce será mais que o dobro do consumo atual. Essa é a situação
indicada tanto em Montanhas quanto em Oceanos, embora a
composição seja ligeiramente diferente. Os principais fatores são
o crescimento da geração de energia elétrica a partir do carvão,
embora outras formas de geração de energia elétrica também
contribuam, assim como os biocombustíveis e o aumento da
intensidade da água na produção de petróleo e gás. Contudo,
a captação de água doce se iguala ao começo da década atual,
devido aos avanços na produção de energia eficiente no que se
refere ao consumo de água – por exemplo, a eliminação gradativa
dos sistemas de resfriamento em ciclo fechado.
CAPTURA GLOBAL DE ÁGUA DOCE POR SETOR
Municipal
10%
Agricultura
70%
CONSUMO DE ÁGUA DOCE (MONTANHAS)
150
Electricity - Geothermal
Indústria
20%
Bilhões de m3/ano
120
90
Electricity - Solar
Electricity - Biomass
Electricity - Nuclear
60
Electricity - Coal
Electricity - Gas
30
Electricity - Oil
0
2010
■ Produção de fósseis
2035
Ano
2060
■ Eletricidade - carvão
■ Produção de biocombustíveis ■ Eletricidade - nuclear
■ Refinaria
■ Eletricidade - biomassa
■ Eletricidade - petróleo
■ Eletricidade - solar
■ Eletricidade - gás
■ Eletricidade - geotérmica
Refining
Biofuels production
Fossils production
CENÁRIOS SOB NOVAS LENTES REFLEXÕES SOBRE DESENVOLVIMENTO E SUSTENTABILIDADE 73
MUNDO PRECISARÁ
O
DE 40% A 50% A MAIS
DE ÁGUA, ENERGIA E
ALIMENTOS ATÉ 2030
POSSIBILIDADES
DRAMÁTICAS:
URBANIZAÇÃO
Na década de 2020, uma série de tempestades violentas leva ao
aumento do nível do mar na Ásia, causando grandes inundações
em cidades costeiras. A resposta dos governos consiste em
diques construídos às pressas, barreiras de desvio para novas
tempestades e infraestrutura de energia renovável,
principalmente parques eólicos e solares. Contudo, uma década
mais tarde, uma outra série de inundações incomuns destrói essas
barreiras de desvio e infraestrutura.
Os ricos conseguem garantir para si geradores e outros
mecanismos energéticos de sobrevivência, mas os pobres exigem
que o governo encontre um culpado para pagar por essa rodada
de reparos. Além disso, ricos e pobres insistem que algo deve ser
feito para sanar a principal causa do problema, isto é, reduzir
drasticamente as emissões de CO2 no prazo de uma geração.
Em resposta a esse consenso social, os combustíveis fósseis ficam
sujeitos a uma carga fiscal maior para arcarem com os custos das
adaptações de infraestrutura exigidas pelas novas realidades
climáticas. Eventualmente, esses custos são repassados para os
consumidores finais, mas no começo pegam a indústria de
combustíveis fósseis completamente desprevenida.
Nesse novo mundo, prefere-se o gás ao carvão, e os
biocombustíveis tornam-se obrigatórios no mix de combustíveis
em um ritmo vertiginoso. No final da década de 2030,
a implementação da tecnologia de CAC também se apresenta
em estado acelerado. Surgem medidas de regulamentação para
adequar a utilização final da energia. Dentre elas incluem-se
mandatos para a integração da resiliência, tais como:
habitações ecologicamente corretas que emitem zero-carbono,
painéis solares fotovoltaicos ou energia eólica e produção
combinada de calor e eletricidade (CHP). A demanda de
transporte é reduzida através do replanejamento de cidades que
tornam-se mais compactas, equipadas com centros de logística e
que dão preferência a soluções que produzem baixo teor de
carbono (transporte público elétrico), que limitam a necessidade
de utilizar automóveis.
CENÁRIOS SOB NOVAS LENTES REFLEXÕES SOBRE DESENVOLVIMENTO E SUSTENTABILIDADE 75
POSSIBILIDADES
DRAMÁTICAS: ALIMENTOS
E ÁGUA
A partir da década de 2020, uma seca prolongada nos
Estados Unidos e o excesso de chuvas e alagamentos em
outras partes do mundo reduzem drasticamente a produção de
alimentos nos 20 anos seguintes. Empresas multinacionais que
possuem a maior parte das terras agrícolas dos Estados
Unidos começam a vendê-las a fim de investir em
empreendimentos mais previsíveis. Os fazendeiros de menor
poder aquisitivo nos países em desenvolvimento enfrentam um
aumento vertiginoso no preço do milho, arroz e trigo.
Condições climáticas extremas afetam fazendas,
infraestruturas e linhas de abastecimento global, enquanto o
aumento do nível do mar resulta na salinização dos rios
Mekong e Ganges. A acidificação oceânica mostra-se
igualmente prejudicial para a cadeia alimentar. Os corais,
fitoplânctons calcários, mexilhões, caracóis, ouriços-do-mar e
outros seres marinhos tornam-se incapazes de construir suas
conchas ou esqueletos de carbonato de cálcio. Juntamente
com alterações na temperatura do mar, esse desaparecimento
progressivo desequilibra os ecossistemas marinhos de tal
forma que várias espécies passam a migrar em grande escala,
resultando até mesmo no colapso de ecossistemas.
Há migrações de populações em massa que dependem de
todas essas fontes de alimentos. Os governos de vários países,
sempre que possível, respondem a essa crise com projetos de
irrigação e proteção à inundação, mas também se utilizam do
deslocamento forçado de pessoas, que prova-se uma medida
muito impopular. Além disso, as emissões de CO2 são
tributadas de forma significativa. A China se destaca no uso
de tecnologias de CAC limpando seu processo de geração de
energia a partir do carvão e trazendo o carvão de volta à
cena como um competidor formidável para o gás a longo
prazo. Há uma redução dos biocombustíveis e de outras
formas de biomassa utilizadas na produção de energia,
uma vez que a produção de alimentos torna-se prioridade.
Do ponto de vista da resiliência , o problema na primeira
abordagem é que todos os resultados plausíveis parecem
ser ecologicamente insustentáveis a longo prazo e,
portanto, tornam-se economicamente insustentáveis.
A segunda abordagem supõe uma mudança sísmica
no comportamento humano e um consumo de energia
em menor escala a partir de hoje. Além disso, o debate
sobre as mudanças do clima tem sido fortemente
contaminado por ideologias polarizadas e politizadas
oriundas de tensões históricas.
Usando parte da linguagem utilizada neste livro,
a evolução de políticas climáticas globais enfrenta
atualmente uma Transição Complexa. A situação é
de deriva, com apenas pequenos avanços ocorrendo
enquanto as escolhas difíceis são adiadas, muitas vezes
por anos. Esse atraso se dá através dos longos períodos
de tempo que sustentam mudanças ecológicas globais.
Mas o caminho arquetípico sugere que quanto maior o
período de deriva, maior será a reposição necessária
e redução associada do capital financeiro, político e
social.
Será que estamos moralmente preparados para
deixar que a próxima geração lide com essa questão?
Se medidas forem tomadas mais cedo do que tarde,
estaremos prontos para aceitar o potencial dano
econômico e as frustrações causadas por erros no
desenvolvimento de políticas e por beneficiários?
Será que agora estamos prontos para explorar
implementações de políticas por etapas que
desencadeiem o poder do motor comercial para oferecer
bens públicos globais ao mesmo tempo em que atende
às necessidades privadas localizadas? n
CENÁRIOS SOB NOVAS LENTES REFLEXÕES SOBRE DESENVOLVIMENTO E SUSTENTABILIDADE 77
O atual debate sobre o futuro energético é marcado
por um grande abismo. Há quem faça projeções com
base no que consideram plausível tendo em vista a
realidade atual, a natureza do comportamento humano
e a gama de possibilidades técnicas e econômicas.
Outros almejam resultados que gostariam que se
tornassem realidade e, em seguida, demonstram a
viabilidade matemática dessas metas a fim de oferecer
encorajamento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Vivendo em um mundo complicado e conectado,
esperamos que esses cenários contribuam para um
diálogo sobre os tipos de escolhas e colaborações que
todos nós podemos fazer para alcançar um melhor
equilíbrio de consequências positivas das nossas ações.
De forma mais detalhada, esses quadros diagnósticos e
panoramas de cenários já estão sendo usados na Shell
para nos ajudar a considerar nossas escolhas na
qualidade de negócio e um modelador do sistema
energético do futuro.
Os cenários estão nos ajudando a reconhecer como os
desenvolvimentos estão conectados, como os ciclos de
feedback modificam direções iniciais e como as
correntes em uma direção criam contracorrentes fazendo
com que os ciclos sejam inevitáveis.
A lentidão das reformas políticas descritas no início
de Montanhas cria tensões sociais que, em algum
momento, encontrarão alguma forma de expressão
política, levando a mudanças. As reformas descritas
no começo de Oceanos criam mais grupos com novos
interesses adquiridos que podem reprimir reformas
futuras. A rigidez ou soltura da oferta/demanda estimula
os preços de mercado e respostas que alteram o
equilíbrio de oferta e demanda. Nesse sentido,
um cenário contém as sementes do outro e vice-versa.
Essa característica pode ser mais familiar aos leitores
com uma perspectiva Oriental tradicional, enquanto as
características lineares quantificadas dos cenários
podem ser mais notáveis aos olhos educados em
padrões de pensamentos Ocidentais. É claro que em um
mundo conectado estamos aprendendo a importância de
usar ambas as lentes.
Este não é um argumento para supor que a realidade do
futuro será uma “média” entre Montanhas e Oceanos.
É um reconhecimento de que independentemente de onde
olhamos, vemos tanto Montanhas quanto Oceanos, da
mesma forma que vemos os paradoxos da prosperidade,
liderança e conectividade, e os dois caminhos Transições
Complexas e Espaço para Manobra.
Um objetivo da abordagem de cenário no planejamento
estratégico é desenvolver líderes que são mais eficientes
em notar os padrões de comportamento que podem ser
diferentes da visão de mundo convencional. Também nos
ajudam a reconhecer que há uma variedade de possíveis
consequências para eventos que não podem ser
totalmente controlados, nem ignorados, mas que podem
ser influenciados.
A sabedoria das nossas escolhas, individual e
coletivamente, é fundamental. Ambos os cenários
captam características tanto positivas quanto
preocupantes, com uma diferença que depende muitas
vezes do nosso próprio ponto de vista. Quanto mais
claramente conseguirmos olhar para a complexa
dinâmica do mundo de amanhã, mais facilmente
poderemos navegar da turbulência para águas mais
calmas e picos mais altos, fazendo escolhas mais sábias
para nossa jornada e fomentando parcerias mais fortes.
Esperamos que você defenda isso de forma tão
apaixonada quanto a nossa e que os Cenários sob novas
lentes que apresentamos aqui ajude a todos nós a
aprimorarmos nossa visão do futuro.
The Shell Scenario Team
Março de 2013 CENÁRIOS SOB NOVAS LENTES CONSIDERAÇÕES FINAIS 79
APÊNDICES:
COMPARAÇÕES DE CENÁRIOS
E DESAFIOS – EXEMPLOS
ÁREA
DETERMINANTES
MONTANHAS
OCEANOS
PADRÕES PERSISTENTES
Legado de posições
Contenção do poder titular, instituições e
Disparada das expectativas e acordos entre
e comportamentos
rigidez
interesses concorrentes
Número limitado de partes com poder facilita
Maior número de partes com poder atrasa
alguns desenvolvimentos
algumas reformas
PROSPERIDADE
Maior estratificação e concentração
Cada vez mais distribuído e difundido
LIDERANÇA
Manutenção de posições de privilégio e
Base crescente de grupos de interesses
acordos institucionais
divergentes e representações
A globalização perde certo vigor
Globalização turbulenta
humanos
Contracorrentes
PARADOXOS
CONECTIVIDADE
Balcanização da web
Desenvolvimento aberto da web
CAMINHOS
ESPAÇO PARA
Estruturas econômicas e de poder atualmente
MANOBRA
influentes.
Grupos de renda média e estruturas emergentes
Áreas de políticas que não ameaçam
Reformas importantes de políticas econômicas e
diretamente prioridades de status quo.
financeiras e crescimento
TRANSIÇÃO
Dificuldades na reforma econômica levam
Novos interesses adquiridos atrasam reformas
COMPLEXA
à armadilha da renda média em algumas
fora das áreas de prioridade
economias
OUTRAS CARACTERÍSTICAS
Criatividade
Tensões políticas e sociais
Tensões referentes ao clima e emissões
Conquistas individuais em artes, tecnologia e
Inovação política e do modelo de negócios
empreendedorismo
Preservação
“Nossa forma de vida”
Redução de ineficiências
Justiça social
Relações
Afiliações nacionais e de elites
Affiliations among ‘silent majorities’
Ideologias populares
Mestre do próprio destino
Destinos interligados e compartilhados
Excelência e recompensa individuais
Solidariedade
As pessoas têm o que merecem
Os sistemas têm o que merecem
DETERMINANTES
MONTANHAS
OCEANOS
DEMANDA ENERGÉTICA
Escolha
Mandatos
Mercados
Preços
Externalidades implicitamente incluídas
Mundo com preços mais elevados
Mundo de preço moderado
Externalidades explicitamente incluídas
Tecnologia eficiente
Padrões de produtos
Impulsionado pelo mercado
Comportamento
Incorporado
Sensível a preços
Economia
Inicialmente mais baixa que a tendência
Seguindo a tendência
Petróleo
Perdendo terreno
Longo jogo dos combustíveis líquidos
Gás
Sucesso global do gás de xisto
Gás de xisto vacilante fora da América do Norte
Carvão
Carvão limpo
Carvão resistente
Nuclear
Renascença
Oposição pública
Renováveis elétricos
Dificuldades com custos
Espinha dorsal de solar FV
Biomassa
Para eletricidade
Para transporte e (mais tarde) usos em materiais
Inovação
Governada por direitos de propriedade
Inovação aberta
eficiente
RECURSOS ENERGÉTICOS
TECNOLOGIA ENERGÉTICA
intelectual
Implementação
Focado em oferta de grande escala
Respostas locais (oferta e eficiência)
Transporte
Gás e eletrificação
Transporte movido a gasolina e diesel mais
eficiente
Jornadas urbanas mais curtas
MEIO AMBIENTE
Eletricidade
Centralizada & CAC, integrada com hidrogênio
Mais distribuída, gestão de intermitência
Uso da terra
Cidades compactas
Debate de energia versus alimentos
Poluição local
Padrões regulados incorporados ao modelo
Soluções locais preventivas
Clima/
Áreas protegidas e reflorestamento
Tecnologia geneticamente modificada,
Biodiversidade
Adaptação
restauração local
Defesas
Migração
CENÁRIOS SOB NOVAS LENTES APÊNDICES: COMPARAÇÕES DE CENÁRIOS 81
ÁREA
TABELAS RESUMIDAS DE QUANTIFICAÇÃO
MONTANHAS VERSUS OCEANOS
MONTANHAS – TOTAL DE ENERGIA PRIMÁRIA – POR FONTE
Demanda de energia primária (EJ/ano)
Ano
Petróleo
Biocombustíveis
Gás natural
Biomassa gaseificada
Carvão
Biomassa/resíduos sólidos
1960
1970
1980
1990
2000
2010
2020
2030
2040
2050
2060
52,0
98,0
130,3
135,7
153,3
173,1
190,2
199,6
188,7
160,5
132,4
0,0
0,0
0,1
0,3
0,5
2,5
6,6
8,6
10,0
10,2
13,5
18,9
35,3
51,6
70,2
87,3
114,8
149,7
188,8
226,2
237,7
234,8
0,0
0,0
0,0
0,0
0,2
1,3
5,4
11,5
18,2
33,9
41,7
52,2
61,6
75,9
94,2
100,1
146,2
184,8
199,0
191,4
211,8
247,0
31,9
6,6
7,7
9,8
11,6
13,3
17,1
14,0
10,5
16,3
26,3
14,9
18,0
21,5
26,0
29,3
33,2
35,1
37,6
39,9
42,0
45,9
Nuclear
0,0
0,9
7,8
22,0
28,3
30,1
37,5
55,6
74,6
91,9
107,5
Hidroeletricidade
2,6
4,2
6,2
7,8
9,5
12,4
13,2
14,7
16,7
18,7
20,7
Geotérmica
0,1
0,2
0,5
1,4
2,1
2,4
4,0
6,1
9,4
14,7
30,8
Solar
0,0
0,0
0,0
0,1
0,2
0,8
3,6
11,3
19,5
32,1
51,3
Eólica
0,0
0,0
0,0
0,0
0,1
1,2
3,0
5,2
11,5
21,8
34,3
Outros renováveis
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,1
147
226
304
369
424
535
647
749
822
902
992
2060
Biomassa tradicional
Total
MONTANHAS – CONSUMO FINAL TOTAL – POR SETOR
Consumo de energia (EJ/ano)
Ano
1960
1970
1980
1990
2000
2010
2020
2030
2040
2050
Indústria pesada
16,0
28,2
36,4
36,4
43,5
56,8
71,0
77,5
76,2
76,5
80,6
Agricultura & outra indústria
29,8
41,2
51,7
57,1
45,5
56,9
69,5
76,0
74,5
73,8
73,8
68,2
Serviços
6,1
12,7
16,9
19,2
23,6
30,0
36,6
43,3
52,1
59,7
Transporte de passageiros – Marítimo
0,2
0,2
0,3
0,5
0,6
0,7
0,9
1,0
1,0
1,0
1,0
Transporte de passageiros – Ferroviário
1,3
0,7
0,7
0,9
0,6
0,7
1,0
1,2
1,3
1,4
1,5
Transporte de passageiros – Rodoviário
9,1
16,9
25,1
31,9
39,5
48,5
56,1
64,0
68,9
62,7
50,4
Transporte de passageiros – Aéreo
2,3
3,7
4,8
6,2
7,5
8,4
9,9
11,2
12,1
14,0
15,7
14,2
Transporte de cargas – Marítimo
5,4
5,6
5,7
5,9
7,7
9,8
12,1
13,5
13,8
14,0
Transporte de cargas – Ferroviário
2,7
2,6
2,5
1,6
1,3
1,5
1,6
1,7
1,6
1,5
1,4
Transporte de cargas – Rodoviário
4,1
7,2
11,4
15,2
20,4
25,1
29,8
36,2
42,6
48,1
53,0
Transporte de cargas – Aéreo
Residencial – Aquecimento & cozinha
0,5
0,9
1,0
1,5
2,0
2,1
2,6
3,3
4,0
5,0
6,2
30,0
40,6
49,4
58,1
67,2
74,1
77,0
80,4
82,8
84,3
87,7
Residencial – Iluminação & aparelhos domésticos
0,9
2,1
4,0
6,0
8,8
12,8
16,8
21,9
25,7
27,7
28,8
Uso não energético
3,7
9,4
14,8
20,0
25,8
33,4
45,7
58,6
69,2
79,9
91,3
112
172
225
260
294
361
430
490
526
550
574
Total
* Todos os totais são arredondados para o número inteiro mais próximo
Demanda de energia primária (EJ/ano)
Ano
Petróleo
Biocombustíveis
Gás natural
Biomassa gaseificada
Carvão
Biomassa/resíduos sólidos
Biomassa tradicional
1960
1970
1980
1990
2000
2010
2020
2030
2040
2050
2060
52,0
98,0
130,3
135,7
153,3
173,1
196,4
214,0
221,8
220,7
201,4
0,0
0,0
0,1
0,3
0,5
2,5
4,6
5,5
7,2
14,2
25,9
18,9
35,3
51,6
70,2
87,3
114,8
147,9
169,2
187,3
185,6
175,4
0,0
0,0
0,0
0,0
0,2
1,3
7,8
19,8
20,4
22,1
26,8
52,2
61,6
75,9
94,2
100,1
146,2
202,7
222,3
201,7
218,6
204,2
6,6
7,7
9,8
11,6
13,3
17,1
18,7
14,1
15,5
17,7
21,4
14,9
18,0
21,5
26,0
29,3
33,2
28,9
26,9
24,2
24,3
22,5
Nuclear
0,0
0,9
7,8
22,0
28,3
30,1
33,3
42,1
47,2
52,4
54,7
Hidroeletricidade
2,6
4,2
6,2
7,8
9,5
12,4
13,5
14,8
16,8
18,7
20,6
Geométrica
0,1
0,2
0,5
1,4
2,1
2,4
5,1
9,7
18,9
26,4
34,1
Solar
0,0
0,0
0,0
0,1
0,2
0,8
4,4
25,2
70,1
132,6
209,6
Eólica
0,0
0,0
0,0
0,0
0,1
1,2
4,7
13,2
24,7
42,4
59,3
Outros renováveis
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,1
0,2
147
226
304
369
424
535
668
777
856
976
1056
1960
1970
1980
1990
2000
2010
2020
2030
2040
2050
2060
Indústria pesada
16,0
28,2
36,4
36,4
43,5
56,8
74,3
76,7
80,0
90,0
92,5
Agricultura & outra indústria
29,8
41,2
51,7
57,1
45,5
56,9
69,1
76,8
81,0
85,4
89,0
98,4
Total
OCEANOS – CONSUMO FINAL TOTAL – POR SETOR
Consumo de energia (EJ/ano)
Ano
Serviços
6,1
12,7
16,9
19,2
23,6
30,0
41,4
54,2
63,8
80,7
Transporte de passageiros – Marítimo
0,2
0,2
0,3
0,5
0,6
0,7
0,9
1,1
1,1
1,1
1,0
Transporte de passageiros – Ferroviário
1,3
0,7
0,7
0,9
0,6
0,7
1,0
1,2
1,4
1,7
2,0
Transporte de passageiros – Rodoviário
9,1
16,9
25,1
31,9
39,5
48,5
56,8
62,2
65,4
67,7
66,2
Transporte de passageiros – Aéreo
2,3
3,7
4,8
6,2
7,5
8,4
10,2
13,0
16,9
21,5
24,8
17,9
Transporte de cargas – Marítimo
5,4
5,6
5,7
5,9
7,7
9,8
12,3
13,7
15,1
16,9
Transporte de cargas – Ferroviário
2,7
2,6
2,5
1,6
1,3
1,5
1,8
2,0
2,1
2,2
2,4
Transporte de cargas – Rodoviário
4,1
7,2
11,4
15,2
20,4
25,1
31,3
40,3
49,9
59,2
66,1
Transporte de cargas – Aéreo
Residencial – Aquecimento & cozinha
0,5
0,9
1,0
1,5
2,0
2,1
2,6
3,5
4,4
5,7
6,9
30,0
40,6
49,4
58,1
67,2
74,1
72,5
73,1
70,7
73,8
76,6
Residencial – Iluminação & aparelhos domésticos
0,9
2,1
4,0
6,0
8,8
12,8
18,3
22,4
25,5
27,6
27,2
Uso não energético
3,7
9,4
14,8
20,0
25,8
33,4
44,8
56,3
66,8
79,6
91,6
112
172
225
260
294
361
438
496
544
613
663
Total
CENÁRIOS SOB NOVAS LENTES APÊNDICES: TABELAS RESUMIDAS DE QUANTIFICAÇÃO 83
OCEANOS – TOTAL DE ENERGIA PRIMÁRIA – POR FONTE
MONTANHAS – TOTAL DE ENERGIA PRIMÁRIA – POR REGIÃO
Demanda de energia primária (EJ/ano)
Ano
EUA & Canadá
1960
1970
1980
1990
2000
2010
2020
2030
2040
2050
2060
46,0
71,0
83,9
89,6
106,9
105,0
107,0
106,7
112,0
123,2
130,2
UE
31,5
53,2
65,8
69,7
72,4
74,2
71,8
71,2
73,2
80,5
88,0
Outros países Europa
22,4
30,1
44,9
58,2
40,6
46,4
51,3
58,6
63,7
64,9
66,7
OCDE Ásia & Oceania
China
Índia
5,1
13,9
19,6
26,9
35,6
38,0
39,2
37,9
37,5
39,3
41,1
10,5
15,6
25,2
36,5
49,5
101,3
152,0
193,4
213,8
211,3
199,8
4,9
6,4
8,6
13,3
19,2
29,1
49,4
70,7
76,1
99,1
138,7
102,1
Outros países Ásia & Oceania
8,6
11,3
17,9
24,2
30,8
43,0
55,7
68,3
77,4
87,2
América Latina & Caribe
7,1
9,8
16,3
19,8
25,4
33,6
41,3
49,6
63,9
78,2
88,7
Oriente Médio & Norte da África
1,6
3,0
7,5
13,5
21,2
34,8
43,3
49,4
53,6
57,8
66,2
África Subsaariana
5,3
6,9
9,5
12,7
16,0
21,3
25,8
30,9
38,9
47,7
57,6
Bunkers marítimos internacionais
4,5
4,5
4,6
4,8
6,4
8,4
10,4
11,8
12,1
12,4
12,8
147
226
304
369
424
535
647
749
822
902
992
2060
Total
MONTANHAS – CONSUMO TOTAL DE ELETRICIDADE TOTAL – POR FONTE
Consumo de energia (EJ/ano)
1960
1970
1980
1990
2000
2010
2020
2030
2040
2050
Petróleo
Ano
0,8
2,9
5,0
4,1
3,6
3,0
2,6
1,8
1,1
0,6
0,4
Biocombustíveis
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
Gás natural
0,9
1,9
2,9
5,0
8,2
14,4
20,0
25,7
26,8
21,5
18,9
Biomassa gaseificada
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,4
1,3
3,4
7,7
9,1
Carvão
3,8
6,1
9,3
13,0
17,8
26,2
34,9
39,0
39,0
41,8
46,4
Biomassa/resíduos sólidos
0,1
0,1
0,1
0,4
0,5
1,0
1,3
1,5
3,2
5,7
6,6
Nuclear
0,0
0,2
2,1
5,9
7,7
8,3
10,4
15,5
20,9
25,8
29,3
Hidroeletricidade
2,2
3,5
5,1
6,3
7,6
10,2
10,9
12,1
13,9
15,7
17,4
Geotérmica
0,0
0,0
0,0
0,1
0,2
0,2
0,3
0,5
0,9
1,4
3,0
Solar
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,1
1,6
7,2
13,2
19,9
29,7
Eólico
0,0
0,0
0,0
0,0
0,1
1,1
2,5
4,0
8,2
15,1
22,6
Outros renováveis
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,1
8
15
25
35
46
65
85
109
131
155
184
Total
* Todos os totais são arredondados para o número inteiro mais próximo
Demanda de energia primária (EJ/ano)
Ano
1960
1970
1980
1990
2000
2010
2020
2030
2040
2050
2060
EUA & Canadá
46,0
71,0
83,9
89,6
106,9
105,0
104,6
100,1
98,4
97,6
97,9
UE
31,5
53,2
65,8
69,7
72,4
74,2
69,8
68,8
68,1
69,5
70,1
Outros países Europa
22,4
30,1
44,9
58,2
40,6
46,4
56,9
63,3
63,9
62,5
61,0
5,1
13,9
19,6
26,9
35,6
38,0
38,3
36,1
34,7
34,1
34,0
10,5
15,6
25,2
36,5
49,5
101,3
159,5
198,4
190,9
176,5
162,6
4,9
6,4
8,6
13,3
19,2
29,1
51,9
80,3
111,1
142,9
156,3
OCDE Ásia & Oceania
China
Índia
Outros países Ásia & Oceania
8,6
11,3
17,9
24,2
30,8
43,0
55,2
71,9
94,4
133,2
158,2
América Latina & Caribe
7,1
9,8
16,3
19,8
25,4
33,6
51,9
63,5
73,9
84,1
87,8
Oriente Médio & Norte da África
1,6
3,0
7,5
13,5
21,2
34,8
42,3
45,2
51,2
67,7
83,2
África Subsaariana
5,3
6,9
9,5
12,7
16,0
21,3
26,8
37,5
56,2
92,5
128,5
Bunkers marítimos internacionais
4,5
4,5
4,6
4,8
6,4
8,4
10,6
11,8
13,2
15,2
16,4
147
226
304
369
424
535
668
777
856
976
1056
2060
Total
OCEANOS – CONSUMO TOTAL DE ELETRICIDADE TOTAL – POR FONTE
Consumo de energia (EJ/ano)
1960
1970
1980
1990
2000
2010
2020
2030
2040
2050
Petróleo
Ano
0,8
2,9
5,0
4,1
3,6
3,0
1,7
0,8
0,3
0,0
0,0
Biocombustíveis
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
Gás natural
0,9
1,9
2,9
5,0
8,2
14,4
21,8
27,1
30,8
27,0
17,9
Biomassa gaseificada
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
1,2
3,8
3,7
3,3
2,9
Carvão
3,8
6,1
9,3
13,0
17,8
26,2
37,7
41,9
36,9
44,0
41,8
Biomassa/resíduos sólidos
0,1
0,1
0,1
0,4
0,5
1,0
2,9
2,7
2,8
2,8
2,7
Nuclear
0,0
0,2
2,1
5,9
7,7
8,3
9,3
12,0
13,7
15,3
16,1
Hidroeletricidade
2,2
3,5
5,1
6,3
7,6
10,2
11,1
12,4
14,3
16,2
17,9
Geotérmica
0,0
0,0
0,0
0,1
0,2
0,2
0,5
0,8
1,2
0,8
0,6
Solar
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,1
1,9
14,2
41,1
74,7
112,0
Eólico
0,0
0,0
0,0
0,0
0,1
1,1
3,5
8,3
14,5
24,1
33,0
Outros renováveis
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,1
0,2
8
15
25
35
46
65
92
124
159
208
245
Total
CENÁRIOS SOB NOVAS LENTES APÊNDICES: TABELAS RESUMIDAS DE QUANTIFICAÇÃO 85
OCEANOS – TOTAL DE ENERGIA PRIMÁRIA – POR REGIÃO
MONTANHAS – EMISSÕES DE CO2 LÍQUIDAS – POR PONTO DE EMISSÃO
Emissões líquidas (Gt CO2/ano)
Ano
Indústria pesada
1960
1970
1980
1990
2000
2010
2020
2030
2040
2050
2060
1,07
1,79
2,12
2,09
2,43
3,16
3,70
3,72
3,20
2,62
2,05
Agricultura & outra indústria
2,07
2,66
3,34
2,87
2,40
2,91
3,58
3,69
3,15
2,64
2,23
Serviços
0,42
0,78
0,91
0,81
0,77
0,89
0,99
0,94
0,91
0,84
0,76
Transporte de passageiros – Marítimo
0,02
0,02
0,02
0,04
0,04
0,05
0,07
0,07
0,07
0,07
0,07
Transporte de passageiros – Ferroviário
0,11
0,05
0,03
0,02
0,02
0,02
0,03
0,03
0,02
0,01
0,01
Transporte de passageiros – Rodoviário
0,64
1,20
1,78
2,26
2,79
3,41
3,92
4,36
4,37
3,43
2,15
Transporte de passageiros – Aéreo
0,16
0,27
0,34
0,44
0,53
0,59
0,70
0,79
0,86
0,95
1,02
Transporte de cargas – Marítimo
0,39
0,39
0,41
0,42
0,55
0,69
0,86
0,96
0,97
0,98
0,98
Transporte de cargas – Ferroviário
0,23
0,20
0,18
0,12
0,08
0,08
0,09
0,10
0,09
0,07
0,06
Transporte de cargas – Rodoviário
0,29
0,51
0,81
1,08
1,45
1,78
2,11
2,55
2,90
2,99
2,85
Transporte de cargas – Aéreo
0,03
0,06
0,07
0,10
0,14
0,15
0,19
0,23
0,28
0,35
0,44
Residencial – Aquecimento & cozinha
1,09
1,47
1,57
1,84
1,81
1,88
1,90
1,87
1,81
1,69
1,55
Produção de combustíveis sólidos
1,00
0,91
0,91
0,91
0,84
1,53
1,56
1,54
1,35
1,23
1,16
-0,22
Produção de combustíveis líquidos
0,41
0,74
0,92
1,07
1,01
1,05
0,99
1,00
0,84
0,47
Produção de combustíveis gasosos
0,30
0,49
0,60
0,73
0,96
1,26
1,72
2,10
2,26
2,03
1,27
Geração de eletricidade
1,89
3,25
4,94
6,46
8,35
11,76
15,13
16,67
14,09
7,18
0,89
Produção de hidrogênio
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,02
0,10
0,30
0,58
Geração de calor
0,18
0,38
0,69
1,24
0,97
1,08
0,94
0,79
0,64
0,45
0,32
Biomassa – Comercial a uso não energético
-0,10
-0,16
-0,19
-0,73
-0,85
-0,99
-0,87
-0,75
-0,74
-0,78
-0,98
10
15
19
22
24
31
38
41
37
28
17
Total
MONTANHAS – CONSUMO DE ÁGUA DOCE PARA ENERGIA
Consumo de água (bilhões m3/ano)
Ano
1960
1970
1980
1990
2000
2010
2020
2030
2040
2050
2060
Produção de fósseis
1,2
1,5
3,1
4,1
5,1
7,6
10,4
13,8
15,9
16,1
17,2
Produção de biocombustíveis
0,0
0,0
0,6
1,2
1,6
8,4
21,4
27,6
28,3
23,6
21,0
Refinaria
1,7
3,2
4,1
4,4
5,0
5,7
6,2
6,6
6,3
5,3
4,3
Eletricidade – petróleo
0,2
0,7
1,4
1,1
0,6
0,4
0,3
0,2
0,1
0,1
0,1
Eletricidade – Gás
0,9
1,4
1,6
2,2
2,0
2,5
2,1
2,6
2,8
2,5
2,6
Eletricidade – Carvão
7,6
11,2
17,0
23,7
29,7
36,6
46,4
50,4
48,6
54,5
64,0
Eletricidade – Nuclear
0,0
0,1
1,0
2,6
3,1
3,2
3,3
4,3
5,2
6,1
6,8
Eletricidade – Biomassa
0,1
0,1
0,1
0,7
0,6
1,0
1,5
2,3
5,1
10,2
12,2
Eletricidade – Solar
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,3
0,7
2,4
6,8
15,4
Eletricidade – Geotérmica
0,0
0,0
0,1
0,3
0,4
0,5
0,7
1,1
1,8
2,9
6,2
Total
12
18
29
40
48
66
93
110
116
128
150
* Todos os totais são arredondados para o número inteiro mais próximo
Emissões líquidas (Gt CO2/ano)
Ano
Indústria pesada
1960
1970
1980
1990
2000
2010
2020
2030
2040
2050
2060
1,07
1,79
2,12
2,09
2,43
3,16
4,23
4,08
3,53
2,99
2,33
Agricultura & outra indústria
2,07
2,66
3,34
2,87
2,40
2,91
3,36
3,39
3,19
3,02
2,90
Serviços
0,42
0,78
0,91
0,81
0,77
0,89
1,12
1,27
1,43
1,77
2,27
Transporte de passageiros – Marítimo
0,02
0,02
0,02
0,04
0,04
0,05
0,07
0,08
0,08
0,08
0,07
Transporte de passageiros – Ferroviário
0,11
0,05
0,03
0,02
0,02
0,02
0,02
0,02
0,01
0,01
0,00
Transporte de passageiros – Rodoviário
0,64
1,20
1,78
2,26
2,79
3,41
3,98
4,29
4,35
4,18
3,74
Transporte de passageiros – Aéreo
0,16
0,27
0,34
0,44
0,53
0,59
0,73
0,92
1,20
1,51
1,73
Transporte de cargas – Marítimo
0,39
0,39
0,41
0,42
0,55
0,69
0,87
0,97
1,06
1,19
1,25
Transporte de cargas – Ferroviário
0,23
0,20
0,18
0,12
0,08
0,08
0,10
0,11
0,09
0,07
0,05
Transporte de cargas – Rodoviário
0,29
0,51
0,81
1,08
1,45
1,78
2,21
2,84
3,49
3,99
4,09
Transporte de cargas – Aéreo
0,03
0,06
0,07
0,10
0,14
0,15
0,18
0,25
0,31
0,40
0,48
Residencial – Aquecimento & cozinha
1,09
1,47
1,57
1,84
1,81
1,88
1,92
1,70
1,29
0,95
0,76
Produção de combustíveis sólidos
1,00
0,91
0,91
0,91
0,84
1,53
1,77
1,66
1,39
1,24
1,06
Produção de combustíveis líquidos
0,41
0,74
0,92
1,07
1,01
1,05
1,26
1,77
2,12
1,58
0,53
Produção de combustíveis gasosos
0,30
0,49
0,60
0,73
0,96
1,26
1,59
1,68
1,58
1,44
1,27
Geração de eletricidade
1,89
3,25
4,94
6,46
8,35
11,76
16,19
17,99
16,58
16,87
13,75
Produção de hidrogênio
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,01
0,03
0,09
0,23
Geração de calor
0,18
0,38
0,69
1,24
0,97
1,08
1,02
0,89
0,74
0,63
0,57
Biomassa – Comercial a uso não energético
-0,10
-0,16
-0,19
-0,73
-0,85
-0,99
-0,95
-1,01
-1,15
-1,50
-2,25
10
15
19
22
24
31
40
43
41
40
35
Total
OCEANOS – CONSUMO DE ÁGUA DOCE PARA ENERGIA
Consumo de água (bilhões m3/ano)
Ano
Produção de fósseis
1960
1970
1980
1990
2000
2010
2020
2030
2040
2050
2060
1,2
1,5
3,1
4,1
5,1
7,6
10,6
14,3
17,7
19,5
21,6
39,5
Produção de biocombustíveis
0,0
0,0
0,6
1,2
1,6
8,4
14,3
17,8
22,0
32,3
Refinaria
1,7
3,2
4,1
4,4
5,0
5,7
6,7
8,3
9,6
9,6
8,9
Eletricidade – petróleo
0,2
0,7
1,4
1,1
0,6
0,4
0,2
0,1
0,0
0,0
0,0
Eletricidade – Gás
0,9
1,4
1,6
2,2
2,0
2,5
2,3
2,7
3,2
2,7
1,7
Eletricidade – Carvão
7,6
11,2
17,0
23,7
29,7
36,6
51,1
58,3
50,6
52,2
46,2
Eletricidade – Nuclear
0,0
0,1
1,0
2,6
3,1
3,2
3,1
3,4
3,5
3,5
3,5
Eletricidade – Biomassa
0,1
0,1
0,1
0,7
0,6
1,0
2,5
3,7
3,8
3,6
3,4
41,8
Eletricidade – Solar
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,5
3,0
9,1
21,7
Eletricidade – Geotérmica
0,0
0,0
0,1
0,3
0,4
0,5
0,9
1,6
2,5
1,6
1,3
Total
12
18
29
40
48
66
92
113
122
147
168
CENÁRIOS SOB NOVAS LENTES APÊNDICES: TABELAS RESUMIDAS DE QUANTIFICAÇÃO 87
OCEANOS – EMISSÕES DE CO2 LÍQUIDAS – POR PONTO DE EMISSÃO
GLOSSÁRIO
IMPRESSÃO 3D
G8 (GRUPO DOS 8)
Tecnologia de fabricação relativamente rápida e barata onde
um objeto tridimensional é criado por camadas de material
bruto que formam uma réplica precisa do original.
Fórum estabelecido em 1975 para os governos de oito das
maiores economias mundiais que se reúnem anualmente
para discutir questões globais. Os membros são: França,
Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido, Estados Unidos,
Canadá, Rússia e um representante da União Europeia.
BRICS Brasil, Rússia, Índia e China (às vezes BRICs – também
incluindo a Indonésia) – economias emergentes de rápido
crescimento.
CAC (CAPTURA E ARMAZENAMENTO DE CARBONO)
Tecnologias que podem ser usadas para coletar dióxido de
carbono (CO2) e colocá-lo em armazenamento subterrâneo
a longo prazo.
PIB (PRODUTO INTERNO BRUTO)
Medida da atividade econômica anual de uma nação. Soma
do valor agregado pelos produtores da economia mais
impostos, menos quaisquer subsídios.
XISTOS BETUMINOSOS/ÓLEO NÃO
CONVENCIONAL LEVE (LTO)
CHP
Óleo bruto ou condensado de baixa viscosidade contido em
formações rochosas de baixa permeabilidade.
Produção combinada de calor e eletricidade
GNL (GÁS NATURAL LIQUEFEITO)
RECUPERAÇÃO AVANÇADA DE PETRÓLEO
Gás (principalmente metano) resfriado até a forma líquida
para ser transportado e depois aquecido para voltar à forma
de gás para ser usado em geração de energia e provisão
elétrica doméstica.
Técnica para aumentar a quantidade de petróleo que pode
ser extraída de um reservatório (campo petrolífero) usando
métodos térmicos ou químicos ou injeção de gás miscível.
MRH
FRACKING (FRATURAÇÃO HIDRÁULICA)
Processo no qual água é misturada com areia e são injetadas
substâncias químicas sob altas pressões para criar fendas na
subsuperfície de rochas para permitir o fluxo de gás preso.
Do inglês, “major resource holder” (grande detentor de
recursos) - uma nação com recursos soberanos significativos,
tais como petróleo, gás, carvão, metais e minerais.
ONG (ORGANIZAÇÃO NÃO GOVERNAMENTAL)
G20 (GRUPO DOS 20)
Fórum estabelecido em 1999 para cooperação internacional
em questões econômicas e financeiras globais, composto
de representantes de 19 importantes países e da União
Europeia.
Qualquer organização sem fins lucrativos ou grupos de
cidadãos voluntários que se organizam em nível local,
nacional ou internacional.
Uma organização de 30 países, na sua maior parte
nações industrializadas ocidentais, formada em
1961 para ajudar os países-membros a alcançar um
crescimento econômico sustentável e aumentar o padrão
de vida dos seus habitantes.
OPEP (ORGANIZAÇÃO DOS PAÍSES
EXPORTADORES DE PETRÓLEO)
ABREVIAÇÕES DE ENERGIA
boe = barril de óleo equivalente
CO2 = dióxido de carbono
Gt = gigatonelada
kWh = quilowatt por hora
mbd = milhões de barris por dia
ppm = partes por milhão em volume
t = tonelada métrica
tcf= trilhões de pés cúbicos
SISTEMA INTERNACIONAL DE UNIDADES:
Organização formada em 1961 para administrar uma
política comum para a venda de petróleo. Seus membros
atuais são Argélia, Angola, Equador, Irã, Iraque,
Kuwait, Líbia, Nigéria, Qatar, Arábia Saudita, Emirados
Árabes Unidos e Venezuela.
MJ = megajoule = 106 joules
GJ = gigajoule = 109 joules
TJ = terajoule = 1012 joules
EJ = exajoule = 1018 joules
ENERGIA SOLAR FV (FOTOVOLTAICA)
CONVERSÃO ENTRE UNIDADES:
Tecnologia que usa um painel solar para produzir
elétrons livres quando expostas à luz, resultando na
produção de uma corrente elétrica.
1 boe = 5,63 GJ*
1 mbd = 2,05 EJ/ano
1 milhão de metro cúbico de gás natural = 34 450 GJ*
1 milhão de tonelada de gás natural = 46 100 TJ*
1 tonelada de carvão = 25 GJ*
1 tonelada de biomassa primária = 12 GJ*
1 kWh = 3,6 MJ
NEXO DE INTERDEPENDÊNCIA
A inter-relação entre os sistemas de energia, água e
alimentos.
GÁS NÃO CONVENCIONAL/DE XISTO E
METANO DAS JAZIDAS DE CARVÃO (CBM)
Fontes de gás presas subterraneamente em rochas de
baixíssima permeabilidade, tais como carvão, arenito
e xisto. O gás normalmente é extraído por meio de
fraturacão hidráulica por poços horizontais.
*Esta é uma média típica, mas o conteúdo de energia
de um condutor específico pode variar.
CENÁRIOS SOB NOVAS LENTES APÊNDICES: GLOSSÁRIO 89
OCDE (ORGANIZAÇÃO PARA A COOPERAÇÃO
E O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO)
ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
Este livro de cenários contém declarações sobre expectativas
futuras que podem afetar a condição financeira da Shell, bem
como os resultados das operações e negócios da Royal Dutch
Shell.
Todas as declarações, com exceção das declarações sobre fatos
históricos, são ou podem ser consideradas declarações sobre
expectativas futuras. As declarações sobre expectativas futuras
baseiam-se em expectativas e pressuposições atuais da direção
e envolvem riscos e incertezas, conhecidos e desconhecidos,
que podem fazer com que resultados, desempenhos ou eventos
concretos sejam substancialmente diferentes daqueles expressos
ou implícitos nessas declarações.
As declarações sobre expectativas futuras incluem, entre outras
coisas, declarações sobre a exposição potencial da Royal Dutch
Shell aos riscos de mercado e declarações que expressam as
expectativas, crenças, estimativas, projeções e suposições
da direção. Essas declarações sobre expectativas futuras são
identificadas pelo uso de termos e frases como “antecipar”,
“acreditar”, “poderia”, “calcular”, “esperar”, “metas”,
“tencionar”, “poderia/poderiam”, “objetivos”, “perspectiva”,
“planejar”, “provavelmente”, “projeto”, “riscos”, “buscar/
procurar”, “deveria/deveriam”, objetivo”, “irá/irão”, bem como
termos e frases semelhantes.
Há vários fatores que poderiam afetar as operações futuras
da Royal Dutch Shell e fazer com esses resultados sejam
substancialmente diferentes daqueles expressos nas declarações
de perspectiva futura contidas neste livro de cenários, o que inclui
(sem limitar-se a):
(a)flutuações dos preços de petróleo bruto e do gás natural;
(b)mudanças na demanda por produtos da Shell;
(c)flutuações cambiais
(d)resultados de atividades de perfurações e produção;
(e)estimativas de reservas
(f) perda de participação no mercado e concorrência da indústria;
(g)riscos ambientais e físicos;
(h)riscos associados à identificação de propriedades e alvos
adequados para aquisição em potencial, e a negociação
e conclusão bem-sucedidas de tais transações;
(i)o risco de manter atividades comerciais em países em
desenvolvimento e países sujeitos a sanções internacionais;
(j)desenvolvimentos de natureza legislativa, fiscal e reguladora,
incluindo medidas regulamentadoras que lidam com a
mudança climática;
(k)condições de mercado de natureza econômica e financeira em
diversos países e regiões;
(l)riscos políticos, incluindo os riscos de expropriação e
renegociação dos termos de contratos com entidades
governamentais, atrasos ou avanços na aprovação de projetos
e atrasos no reembolso de custos partilhados; e
(m) mudanças na condições comerciais.
Todas as declarações sobre o futuro contidas neste livro de
cenários são expressamente qualificadas, em sua totalidade, pelas
declarações de prudência contidas ou mencionadas nesta seção.
Os leitores não devem basear-se excessivamente em declarações
de perspectiva futura.
Os fatores adicionais que podem afetar os resultados futuros
estão contidos no relatório 20-F da Royal Dutch Shell para o ano
encerrado em 31 de dezembro de 2011, que está disponível nos
sites: www.shell.com/investor e www.sec.gov.
Esses fatores também devem ser considerados pelo leitor. Cada
uma das declarações de perspectiva futura refere-se somente à
data deste livro de cenários, ou seja, março de 2013. Nem a
Royal Dutch Shell nem qualquer das subsidiárias assume qualquer
obrigação no sentido de atualizar ou revisar publicamente
qualquer declaração de perspectiva futura como resultado
de novas informações, eventos futuros ou outras informações.
Tendo em vista esses riscos, os resultados poderão diferir
substancialmente daqueles declarados, implícitos ou inferidos a
partir das declarações de perspectiva futura contidas neste livro de
cenários.
Agradecemos os colegas da Shell e os muitos especialistas externos que
contribuíram para o desenvolvimento dos Cenários sob novas lentes e
dos outros Cenários da Shell já publicados.
Outros materiais dos Cenários da Shell podem ser encontrados no
website: shell.com/scenarios.
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pode ser reproduzida ou armazenada em sistemas de informações,
publicada ou transmitida sob qualquer formato ou por qualquer meio
sem a autorização prévia, por escrito, da Shell International BV.
FONTES DE DADOS
As principais fontes de dados usadas no desenvolvimento das análises
e quadros dos cenários da Shell neste livro, além das que já foram
mencionadas, são:
nIEA
World Energy Statistics and Balances 2012 © OCDE/IEA 2012,
conforme modificado pela Shell International
nDivisão de população da ONU
nEIA
nBooz & Company
nInternational Water Management Institute (IWMI)
nCenter for Strategic and International Studies (CSIS)
nBanco Mundial
CENÁRIOS SOB NOVAS LENTES ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE E AGRADECIMENTOS 91
AGRADECIMENTOS
Carvão torna-se a fonte
de energia número um
Veículos de hidrogênio
são comercializados
Emissões de CO2 globais
alcançam 40 Gt/ano
Eletricidade mundial a partir de
gás natural alcança 2000 GW,
40% acima do nível de 2012
Capacidade
mundial de
CAC 20 GW
10% de todos os
quilômetros rodoviários
de passageiros no
Japão são rodados
Gás natural é fonte de energia
com eletricidade
número um, a primeira
ou células de
a alcançar 200 EJ/ano
combustível
China conta com
180 GW instalados
de energia nuclear
CAC mundial captando
1 Gt CO2/ano
PRESSÕES SOCIAIS E POLÍTICAS
INCENTIVAM A FIXAÇÃO DE
INTERESSES EXISTENTES
RELAÇÕES INTERNACIONAIS
ALINHAMENTOS ENTRE OS
DOMINADAS PELOS EUA E CHINA
INFLUENTES FACILITAM A
IMPLEMENTAÇÃO SELETIVA
DE POLÍTICAS
COMBUSTÍVEIS LÍQUIDO
REFORMAS FINANCEIRAS E
O USO DE GÁS NÃO CONVENCIONAL/
PARA O TRANSPORTE
ECONÔMICAS SÃO INSUFICIENTES
DE XISTO E CBM REPETE A EXPERIÊNCIA
RODOVIÁRIO DE PASSA
PARA SUSTENTAR AS TAXAS DE CRESCIMENTO
DA AMÉRICA DO NORTE INTERNACIONALMENTE
ATINGE PICO GLOBAL
2020
ECONOMIAS DE RÁPIDO CRESCIMENTO
IMPLEMENTAM REFORMAS ECONÔMICAS
QUE SÃO EFICAZES
Capacidade eólica
mundial = 400 GW
Frota de carros na China
= 114 milhões de veículos
Capacidade mundial de
energia solar FV = 500 GW
Emissões mundiais de CO2
alcançam 40 Gt/ano
China supera EUA como
consumidor número um de petróleo
LINHA DO TEMPO
DE OCEANOS
80% DA EUROPA
URBANIZADA
TOTAL POPULACIONAL DA
EUROPA COMEÇA A DIMINUIR
50% DA ÁSIA
URBANIZADA
PRESSÕES SOCIAIS E POLÍTICAS
ESTIMULAM REFORMAS OU MUDANÇA
RADICAL DE REGIME
50% DA ÁFRICA
URBANIZADA
2030
POPULAÇÃO MUNDIAL
ALCANÇA 8 BILHÕES
2010
MUDANÇAS ENERGÉTICAS
MUDANÇAS ENERGÉTICAS SOCIAIS/ECONÔMICAS/POLÍTICAS
MUDANÇAS NA ENERGIA
Linha do tempo de
Montanhas
PIB DA CHINA ALCANÇA
20.000 USD/CAP (PPP)
PIB DA ÍNDIA ALCANÇA
10.000 USD/CAP (PPP)
GÁS NÃO CONVENCIONAL/
DE XISTO E CBM TÊM SUCESSO
LIMITADO FORA DA AMÉRICA DO NORTE
Produção de petróleo
alcança 100 mbd
Média da frota de carros
dos EUA (em estradas) é
de 30 milhas/gal. dos EUA
(acima 45% desde 2010)
DESENVOLVIMENTO TECNOLÓG
ESTIMULADO POR PREÇOS, MAS
SECUNDÁRIO AO ATRASO POLÍT
Média da frota de carros
da UE (em estradas) é de
50 milhas/gal. dos EUA
(acima 45% desde 2010)
Capacidade mundial de
energia solar FV = 1800 GW
Fontes renováveis
compõem 20% da
energia mundial primária
Média mundial da frota de carros
(em estradas) é de 35 milhas/gal.
dos EUA (subindo 45% desde 2010)
Fontes não fósseis compõem 30%
da energia primária do mundo
CAC mundial captando
10 Gt CO2/ano
Capacidade nuclear
mundial chega a 1200 GW
GÁS SE TORNA A ESPINHA
DORSAL DO SISTEMA ENERGÉTICO
(GÁS NATURAL COM BIOGÁS CRESCENTE)
AGEIROS
Índia torna-se o
natural número
VÁRIAS ECONOMIAS DE GRANDE
PORTE EMERGEM DA ARMADILHA
DE RENDA MÉDIA E TENDÊNCIA
DE CRESCIMENTO GLOBAL MAIS
UMA VEZ É ALTA
TOTAL POPULACIONAL
DA ÁSIA COMEÇA
A DIMINUIR
POPULAÇÃO MUNDIAL
ALCANÇA 9 BILHÕES
2050
2040
A
Demanda mundial por
energia alcança 1000 EJ/ano
2060
OS
Eletricidade
descarbonizada
2070
Eficiência da frota
mundial de aeronaves
aumenta 50%
desde 2012
OS IDOSOS AGORA SÃO
15% DA POPULAÇÃO
MUNDIAL
LONGO PLATÔ DE CONSUMO/
PRODUÇÃO DE PETRÓLEO
GICO
S
TICO
Frota de carros da Índia
alcança 500 milhões
de veículos
Eletricidade alcança
30% da demanda final
de energia
ÁFRICA SUPERA A EUROPA E A AMÉRICA
DO NORTE COMO O SEGUNDO MAIOR
CONTINENTE CONSUMIDOR DE ENERGIA
(DEPOIS DA ÁSIA)
Demanda mundial por
energia alcança 1000 EJ/y
Índia é o maior
consumidor
de energia
Capacidade mundial de
energia solar FV = 2000 GW
Média mundial da eficiência
do aquecimento de edifícios
dobra em relação a 2012
Média mundial de passageiros
rodoviários/km chega a 3 vezes
o nível de 2012
Eletricidade alc
da demanda fi
Demanda final de energia
mundial atinge pico
Energia solar FV é a fonte
de energia número um do mundo
cança 40%
final de energia
CENÁRIOS SOB NOVAS LENTES Linha do tempo 94
A média mundial de eficiência
energética da indústria pesada dobra
em comparação a 2012
A demanda mundial de viagens áreas
(22 trilhões de passageiros/quilômetros)
alcança 5 vezes o nível de 2012
Média mundial de passageiros
rodoviários/quilômetro satura
em 3 vezes o nível de 2012
Zero emissões
mundiais de CO2
Eletricidade
descarbonizada
2100
2090
Combustíveis líquidos eliminados
de veículos rodoviários de passageiros
2080
o consumidor de gás
o um do mundo
10% da eletricidade
mundial proveniente
de biomassa
Emissões mundiais de CO2
diminuem para 2 Gt/ano
Média mundial da frota
de carros (em estradas) é
de 70 milhas/gal. dos EUA
(quase três vezes o nível de 2012)
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