fãs, mediação e cultura midiática - GEMInIS UFSCar
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fãs, mediação e cultura midiática - GEMInIS UFSCar
FÃS, MEDIAÇÃO E CULTURA MIDIÁTICA: dramas asiáticos no Brasil1 Alessandra Vinco A. Calixto Madureira2 Daniela de Souza Mazur Monteiro3 Krystal Cortez Luz Urbano4 Resumo: Partindo de uma perspectiva desocidentalizante (CURRAN & PARK, 2000; THUSSU, 2009; WANG, 2011) no que tange a investigação de práticas midiáticas que se verificam em âmbito global, o artigo explora algumas questões acerca do relacionamento que se estabelece entre fãs brasileiros e as séries de TV asiáticas dando enfoque particular aos chamados Dramas de TV, produzidos em alguns países da região. Busca-se dessa maneira, por um lado, refletir sobre a importância das chamadas antigas e novas mídias na circulação desse formato; e por outro, ampliar os horizontes da investigação acerca da relevância da mediação e recepção dos fãs (HILLS, 2002; JENKINS, 2008; CAMPBELL, 2004; GOMES, 2007), dentro de um contexto de interpretação cultural. Palavras-chave: Ficção seriada asiática; Dramas de TV; cultura de fãs; mediação; consumo transmídia. Abstract: From a perspective De-Westernizing (CURRAN & PARK, 2000; Thussu, 2009; WANG, 2011) regarding the investigation of media practices that occur globally, this article explores some questions about the relationship that is established between Brazilian fans and Asian TV series giving particular focus to so-called TV Dramas, produced in some countries of the region. Search up that way, on the one hand, reflect on the importance of old and new media called the circulation of this format; and on the other, expand the horizons of research about the relevance of mediation and reception from fans (HILLS, 2002; JENKINS, 2008; CAMPBELL, 2004; GOMES, 2007), within a context of cultural interpretation. Keywords: Asian serial fiction; TV dramas; fan culture; mediation; transmedia consumption. 1. Introdução Criado em 1992 nos quadrinhos, pela autora japonesa Yoko Kamio, Hana Yori Dango (também conhecida como Boys Over Flowers) conta a icônica história de amor entre uma menina pobre, Makino Tsukushi, e um rapaz rico, Domyouji Tsukasa, integrante do famoso grupo de estudantes chamado “F4”, Flower Four. Desde então, a história já contabilizou Trabalho apresentado no Seminário Temático “Produção de Fãs e Cultura Participativa”, durante a I Jornada Internacional GEMInIS, realizada entre os dias 13 e 15 de maio de 2014, na Universidade Federal de São Carlos. 2 Graduanda em Estudos de Mídia pela Universidade Federal Fluminense. Email: [email protected] 3 Graduanda em Estudos de Mídia pela Universidade Federal Fluminense. Email: [email protected] 4 Doutoranda em Comunicação pela Universidade Federal Fluminense (PPGCOM-UFF). Linha de pesquisa: Mídia, Cultura e Produção de Sentidos. E-mail: [email protected] 1 1 adaptações audiovisuais, para além do seu formato em mangá, dentre animes, filmes e séries de TV, tornando-se parte importante do imaginário produzido pelos países asiáticos no ocidente. O interessante do caso de Hana Yori Dango é que a narrativa se mantém, mesmo depois de duas décadas, como uma história atual, que circula em diferentes formatos e mídias, mas, sobretudo, sendo atualizada em diferentes línguas e países asiáticos como Taiwan, Indonésia, China e Coreia do Sul, que adaptaram a mesma história romântica, acrescentando pontos de vista culturalmente diferentes e particulares. Decerto, Hana Yori Dango se constitui em uma experiência transmidiática na qual se misturam diversos sites, blogs, filmes e música como muitos outros produtos feitos tanto pelas empresas que detém os direitos de produção - Shueisha, Bandai e Toei Animation quanto pelos fãs que manipulam as tecnologias para dar vida a histórias e roteiros sobre a famosa história dos membros do “F4”. Apesar de cada uma dessas expressões oferecerem uma experiência singular, é interessante perceber como as adaptações transnacionais para o formato Drama de TV configuram-se na principal referência no imaginário das audiências globais da referida história, dado o seu caráter dialogicamente cultural. Na esteira da reflexão que o caso de Hana Yori Dango suscita, propomo-nos a discutir sobre algumas questões acerca do relacionamento que se estabelece entre fãs brasileiros e as séries de TV asiáticas dando enfoque particular aos chamados Dramas de TV, produzidos em alguns países da região. Busca-se dessa maneira, por um lado, refletir sobre a importância das chamadas antigas e novas mídias na circulação desse formato; e por outro, ampliar os horizontes da investigação acerca da relevância da mediação e recepção dos fãs (HILLS, 2002; JENKINS, 2008; CAMPBELL, 2004; GOMES, 2007), dentro de um contexto de interpretação cultural. 2. Dramas de TV: origens e características Dramas de TV é um termo genérico que designa o formato televisivo que abrange as ficções seriadas produzidas pelas indústrias televisivas oriundas, principalmente, do Leste e Sudeste Asiático. Diferente do contexto ocidental, o termo não aponta o gênero, mas sim o formato. Atualmente, os dramas televisivos são formas dominantes do entretenimento de massa na maioria das regiões da Ásia, como Japão, Coreia do Sul, Hong Kong, Filipinas, Singapura, China, Índia, Tailândia e Taiwan, dentre outros demais países da região, se 2 configurando numa parte vital da oferta (e também produção) local disponível nas grades das redes nacionais de televisão (DISSANAYAKE, 2012; HUANG, 2011; ANG, 2007; IWABUCHI, 2004; GOKULSING, 2004; KIM; 2008). Surgido no Japão da década de 1950, o referido formato, com o passar do tempo, desdobrou-se em diversas emulações de caráter regional - TW-Drama5, K-Drama6, C-Drama7, Indian Drama8, HK-Dramas9 dentre outros - e de temáticas abordadas – como relacionamentos românticos e familiares, contextos históricos nacionais, o dia-a-dia no emprego ou no âmbito escolar - que são condicionados as influências de gêneros, formatos e linguagens locais e transnacionais. Decerto, tal formato televisivo exclusivo das indústrias de mídia da região apresenta “um retrato fascinante das intersecções complexas da modernidade, cultura, globalismo, localismo, consumismo, e estética tradicional”10 (DISSANAYAKE, 2012, pg. 191). Entretanto, convém ressaltar que: Quando falamos de drama da televisão asiática, devemos ter em mente que o estamos usando como um termo genérico. As distâncias culturais entre, digamos, China e Índia, ou Japão e Indonésia, ou Coreia e Tailândia são imensas. Portanto, dramas de TV de cada país possuem a sua própria identidade cultural. No entanto, apesar de reconhecer essas diferenças, também é possível identificar algumas características comuns (DISSANAYAKE, 2012, pg. 192-193) 11. A origem dos dramas asiáticos encontra-se no Japão pós-guerra e se confunde com a própria historia da televisão japonesa, iniciada em 1953, com a fundação da emissora NHK (Nihon Hoso Kyohai – Japan Broadcasting Corporation), a primeira emissora pública oficial do país (CARLOS, 2012, pg. 130). Assim como os demais produtos da programação televisiva naquele dado período histórico, as temáticas tratadas nessas produções – chamadas doramas 12 (pronúncia japonesa para drama) –, estavam em consonância com a idéia de reconstrução de uma cultura nacional sólida, enfraquecida com as conseqüências da Segunda Guerra Mundial. Portanto, as histórias dos dramas japoneses tendiam a retratar 5 TW-drama: drama de TV Taiwanês. K-drama: drama de TV Sul-coreano. 7 C-drama: drama de TV Chinês. 8 I-drama: drama de TV Indiano. 9 HK-drama: drama de TV de Hong Kong. 10 Tradução nossa. 11 Original: “When we talk of Asian television drama, we must bear in mind that we are using it as a generic term. The cultural distances between, say, China and India, or Japan and Indonesia, or Korea and Thailand are immense. Hence each country’s television drama bears its own cultural identity. However, while recognizing these differences, it is also possible to identify some common features”. Tradução nossa. 12 Além do termo dorama, que se configura no mais utilizado, também é possível encontrar referências aos dramas de TV japoneses como j-drama, do inglês japanese drama. 6 3 localizadamente, os costumes, histórias e tradições da própria sociedade japonesa. A primeira produção do formato que se tem notícia é “Sano no fue” (“A flauta na passagem da montanha”), exibida pela NHK em 1953, mesmo ano de lançamento dessa emissora (NEVES JR apud CARLOS, 2012, pg. 131). A partir daí, outras emissoras de cunho privado surgiram e foram se apropriando do formato, inserindo-o em sua grade de produção e programação. Dentre elas, se destacam “a TBS (Tokyo Broadcasting System), Asahi Broadcasting Corporation, RKB Mainichi Broadcasting Corporation, Yomiuri Television, Kansai Television, Fuji Television e Mainichi Broadcasting” (NEVES JR. apud CARLOS, 2012, pg. 130). Conforme Carlos (2012) assinala, dois gêneros de doramas se destacam no período entre 1960 e 1980 no Japão: um primeiro, centrado em relações familiares, com temáticas centradas na lar/casa e, um segundo gênero, com temáticas de cunho histórico, mais centrado no suspense. O primeiro, chamado home dorama, trazia como predominância a temática centrada nas mudanças ocorridas na sociedade japonesa ao longo do pós-guerra (como as alterações na estrutura familiar, a inserção de democracia no país, presença ocidental etc.), refletindo aquele dado período histórico do país. No entanto, há que se ressaltar que os home doramas foram deveras influenciados pelas narrativas ocidentais, sobretudo, a dos seriados norte-americanos da época, como I Love Lucy, Father Knows Best e, posteriormente, Dallas. Já os taiga doramas, abordavam “histórias de detetives (Torimono Cho), viagens aventurosas (Dochu Mono) e femininas” (CARLOS, 2012, pg. 132). Decerto, os dramas de TV, tal como se configuram atualmente, só vieram a tomar forma no início dos anos 1990. Nesse período, “a concorrência entre os canais por programas de notícias e informações levou a era do home dorama à quase um fim e à recriação do gênero” (CARLOS, 2012, pg. 132). Por intermédio de um movimento de modernização encabeçado pela então Fuji TV com a produção Tokyo Love Story (ANG, 2007)13, a fórmula que se perpetua desde então é a dos trendy dramas. Composta por “um pacote de cenário, elenco e música, com uma trágica história de amor não correspondido” (OTA, 2004, pg. 70), “Tokyo Love Story atingiu níveis extremos de popularidade no próprio Japão, em 1991, e tornou-se um grande sucesso em muitas partes do Oriente e do Sudeste Asiático na década de 1990, lançando a ascensão de um transnacionalismo cultural japonês através da cultura popular em toda a região [...]Tokyo Love Story e seus sucessores parecem ter sido mais popular entre jovens de classe média asiática em cidades metropolitanas: Hong Kong, Taipé, Seul. Obviamente, a combinação de estilo e moda com uma narrativa romântica da busca do amor e da felicidade tem ressoado com milhares de fãs jovens asiáticos, especialmente jovens mulheres”. (ANG, 2007, pg. 26). Tradução nossa. 13 4 as produções do gênero traziam uma abordagem mais realista da vida cotidiana do público japonês, dando enfoque a assuntos como empregos, relacionamentos amorosos e vida sexual, isto é, temas recorrentes para a sociedade japonesa, em ritmo de modernização. Além disso, os trendy dramas trazem em sua fórmula o ritmo mais acelerado da narrativa para o desenvolvimento do roteiro, também enfatizando a estética refinada e urbana da produção, juntamente com a escolha do elenco, trazendo uma nova geração de jovens e belos atores. Outros gêneros surgiram para além dos trendy dramas, fortalecendo a “nova onda” dos dramas de TV nipônicos, como os roller coast dramas (que abordavam a vida amorosa da nova geração de mulheres no seio do mercado de trabalho japonês) e os cartoon dramas (narrativa adaptada das histórias dos mangás14), gênero que ajudou a popularizar os dramas de TV para os públicos estrangeiros consumidores de mangás e animes (como é o caso do Brasil). Além disso, as emissoras japonesas se especializaram na produção de um ou dois gêneros desse formato, revelando assim estratégias bastante particulares de segmentação do seu público, que se diferem daquelas aplicadas ao contexto ocidental (MITTEL, 2004): É possível, entretanto, afirmar que há quase que uma especialização entre os canais de TV nacionais em relação aos gêneros dos doramas transmitidos, quando e se o são. Estes canais são NHK, especializada em doramas históricos e séries matinais. NTV, especializada em “trendy dramas” mostrando as novas nuances da sociedade japonesa e doramas jovens, uma mistura de suspense, “ijime” e “cartoon dramas”. TBS, a qual ainda explora ‘home dramas’ e alguns “trendy dramas”, Fuji, que quase controla o mercado e é o lar por excelência tanto do ‘trendy drama’ como dos, especialmente, “roller coster” (na maioria transmitidos às 21:00, especialmente nas segundas-feiras) e new era dramas, e ocasionalmente “cartoon dramas”. E finalmente, Asahi, especializada em suspense, séries policiais e “cartoon dramas”(NEVES JR., 1998, p.17). Assim, os dramas de TV chegaram a uma fórmula, a partir de seu surgimento e evolução no mercado televisivo japonês, que se tornou recorrente e palatável para outros países da Ásia: histórias de romance e suas complicações, especialmente, com a presença de um triângulo amoroso, condicionado as influências e códigos locais e regionais, mas também globais (CHUNG, 2011; TANAKA, 2013). Além disso, essas produções impulsionam outros segmentos das indústrias de entretenimento asiáticas, que funcionam em sinergia, como por exemplo, a indústria da música. Eles são caracterizados pela forte presença da música pop 14 Histórias em quadrinhos japoneses. 5 nacional (j-pop15, k-pop16, c-pop17, etc.) e, também, da cultura “idol”18, que se propõe a se utilizar de ídolos da música como atores das séries para que ambas as indústrias se reiterem: “a tríade ‘cenário, elenco e música’ é crucial para a comercialização das exportações culturais asiáticas, incluindo o turismo, artistas e cultura pop. Protagonistas de dramas de TV são promovidos como megastars versáteis que podem atuar, cantar e dançar” (HUANG, 2011, pg. 06) 19. No sentido horário: Boys Over Flowers (drama sul-coreano), Hana Yori Dango (drama japonês), Meteor Garden (drama taiwanês) e Hana Yori Dango (anime) / Fonte: Google 15 J-pop: música pop japonesa. K-pop: música pop sul-coreana. 17 C- pop: música pop chinesa. 18 O conceito de cultura idol se aproxima da ideia de “celebridade”, porém, na indústria de entretenimento lesteasiática, possui certa força que diferencia os conceitos. Cultura Idol é uma potência do entretenimento em que cantores e atores não se propõem a apenas fazerem parte do seu próprio universo, mas também transitar entre outros e reiterar sua condição de ídolo. Por exemplo, ídolos da música se preparam para também fazerem parte do universo dos dramas, da apresentação de programas e eventos, do teatro musical e da publicidade, indo ao máximo que sua imagem pode vender para os fãs. 19 Original: “The triad of ‘setting, cast and music’ is crucial to the marketing of Japanese cultural exports, including tourism, entertainers and pop culture. Drama protagonists are promoted as versatile megastars who can act, sing and dance”. 16 6 Dentre os países asiáticos que obtiveram sucesso na emulação dessa fórmula, China e Taiwan e, em maior escala, Coreia do Sul se destacam, devido a sua grande produção anual e a atenção que conquistaram dentro dos próprios países e fora deles (MARTEL, 2012). A venda de dramas de TV movimenta especialmente o mercado asiático e, na conjectura atual da difusão de conteúdos pela internet, tais produtos conquistam audiência também de outros continentes. Devido a isso, a Coreia do Sul se destaca por ser um dos produtores de dramas que mais exporta títulos dentre todos os países citados. Mesmo o Japão, o país originário do formato, não comercializa tanto esse produto para fora de suas fronteiras como o seu vizinho. O destaque se dá pela peculiar apropriação do formato, da qual surgiu os chamados “Kdramas”20, resultando em um produto formulado a partir de um formato importado que, ao mesmo tempo que retrata a Coreia do Sul, se faz flexível no diálogo com as culturas vizinhas. Os dramas sul-coreanos começaram a mostrar sua força especialmente quando Winter Sonata (2002)21 conseguiu modificar o longamente conturbado relacionamento sócio-político entre Coreia do Sul e Japão, ao conquistar de forma avassaladora o público japonês (HANAKI, et al., 2007; IWABUCHI, 2008). Depois de Winter Sonata, outros títulos começaram a penetrar o mercado japonês e dos países vizinhos. Dramas como Boys Over Flowers, First Shop of Coffee Prince, You’re beautiful, Secret Garden, entre tantos outros, fazem parte do histórico de sucessos e se mantêm no imaginário dos fãs para além de fronteiras vizinhas (CHUNG, 2011). A chave-mestra dos dramas sul-coreanos está na sua dimensão essencialmente híbrida, tanto com suas influências asiáticas, quanto com as ocidentais. Um hibridismo que soma influências e se posiciona, ao apresentar sua própria cultura e especificidades. Em suas narrativas, modernidade e tradição se combinam, articulando o Confucionismo, que é parte estrutural da cultura coreana. A influência desta corrente religiosa se mantém até hoje no cotidiano da sociedade sul-coreana, não mais com o teor religioso, mas como posicionamento moral e tradicional através do forte enfoque ao respeito aos mais velhos, à hierarquia e a importância da família (CHUNG, 2011; SONG apud MARTEL, 2012). Esses traços são visivelmente percebidos nas linhas de roteirização dos K-dramas. K-drama: proveniente do termo “korean drama”, traduzido livremente como drama sul-coreano. Winter Sonata conta a história de um casal que se apaixona na adolescência e por diversos motivos, se separam. Vinte anos depois eles se reencontram e o sentimento ressurge, mas estão em outros relacionamentos amorosos. 20 21 7 Salvo essas especificidades temáticas e culturais observadas até então, que são preponderantes na emulação e tradução do formato para cada país, os dramas de TV asiáticos são estruturados, em geral, por temporadas únicas com entre 8 e 25 episódios (podendo se estender para números maiores do que esses, em caso de temáticas e categorias específicas), onde cada episódio tem uma duração média de 1 hora. Esses produtos são exibidos especialmente na parte da noite nas emissoras, abraçando um espaço considerado importante na grade televisiva. Essas obras são formatadas, majoritariamente, como temporadas únicas em sua concepção, com arcos grandes que se abrem no primeiro episódio e se fecham no último, normalmente dando pouco espaço para se estender para outras temporadas. Os dramas asiáticos se destacam por contar histórias com focos bastante direcionados, lidando com poucos núcleos de personagens, e é por isso que seus arcos são formatados para se fecharem depois de uma certa quantidade de episódios previamente escolhida. Porém, especificamente os dramas sul-coreanos, são obras abertas, onde o autor escreve e envia os roteiros durante as gravações a fim de capturar as reações do público telespectador. Essa tática é usada para tentar agradar a audiência e também se manter flexível a possíveis mudanças, se o drama não estiver fazendo o sucesso esperado. Por essa razão, a indústria de K-dramas está começando a lidar com alguns desdobramentos para segundas temporadas de seus produtos. Então, se há sucesso, os canais o canalizam totalmente para o lucro da obra. E a internet vem se mostrando uma grande aliada desses canais e autores de dramas sul-coreanos para capturar os interesses e paixões do seu público. Público este que vem se estendendo para além do continente asiático e adquirindo fãs até mesmo no Brasil. 3. Dramas de TV no Brasil: do circuito dos fãs à mediação oficial No Brasil, os formatos de TV oriundos da Ásia mais conhecidos do público foram os seriados live-actions22 (com os tokusatsus23 e metal heroes24) e as séries animadas japonesas 22 Termo utilizado na televisão, cinema e teatro para definir trabalhos feitos com atores reais diferentemente das animações. 23 Abreviatura da expressão japonesa tokushu satsuei, definida como “filmes com efeitos especiais”. Antigamente, englobava qualquer produção televisiva ou cinematográfica que possuía efeitos especiais, porém, atualmente, virou sinônimo de séries e filmes live-actions japoneses de super-heróis. 24 Este gênero tem como objetivo trazer de volta a ideia de “guerreiros e cavaleiros de armadura reluzente” e/ou os próprios samurais para que lutassem pela justiça com tecnologia avançada, combinando, assim, elementos conhecidos dos tokusatsus e mangás de heróis biônicos ou cibernéticos. 8 (com os animes25), ambos oriundos do Japão. Suas exibições na televisão aberta iniciaram-se na década de 1960, com títulos como National Kid, Jaspion e Changeman, mas o grande boom ocorreu nos anos 1990 com uma elevada gama de animes sendo exibida pela mídia brasileira que perdurou até os anos 2000. Embora esses formatos tenham tido grande visibilidade, o mesmo não ocorreu com os dramas de TV, uma vez que a mídia televisiva brasileira demonstrou pouco interesse nessas produções audiovisuais, não obstante à sua notabilidade mundial. O sucesso de animes como Dragon Ball, Cavaleiros do Zodíaco e Pokémon parece ter ofuscado o grande potencial dos dramas japoneses sem lhes dar muitas chances no mercado televisivo do país. Com a chegada da TV por assinatura, que disponibilizava diversas opções de programas estrangeiros, principalmente produções seriadas norte-americanas, e em menor proporção, britânicas, o espaço dedicado às séries asiáticas como um todo, ao invés de se expandir, diminuiu consideravelmente, apesar da crescente procura e demanda dos fãs. A programação da TV aberta também acabou reduzindo a oferta de animes e demais produções seriadas em sua grade, denotando um mercado local que não soube acompanhar o grande interesse dos fãs brasileiros por essas produções (ALBUQUERQUE & CORTEZ, 2013). No Brasil, apenas duas produções no formato dramas de TV passaram na televisão aberta, ambas do gênero asadora26: “Oshin” e “Haru e Natsu: As cartas que não chegaram”. Ambas as produções foram criadas pela mesma autora, Sugako Hashida e, também produzidas e exibidas pela mesma emissora japonesa, a NHK. A primeira delas – “Oshin” foi exibida na década de 1980 no programa “Imagens do Japão”, pela TV Gazeta e conta a história de uma mulher antes e pós 2ª Guerra Mundial no Japão, com todos os obstáculos e sofrimentos em sua vida. Grande sucesso japonês, o drama foi exibido no Brasil, tendo sido a principal causa na venda de aparelhos videocassetes betamax, já que as locadoras que possuíam cópias do programa trabalhavam com esse sistema (CARLOS, 2012). Já o drama “Haru e Natsu”, por sua vez, foi produzido por conta de uma parceria nipo-brasileira pelo centenário da imigração japonesa no Brasil. A série foi transmitida pela Rede Bandeirantes, 25 O termo anime/animê é uma abreviação da palavra japonesa animeshon que surgiu como uma modificação de animation, animação em inglês, sendo falada pelos japoneses como animeeshon. Os animes são animações ou desenhos animados originários no Japão que possuem características próprias, como olhos grandes e traços simplificados, sendo comumente conhecidos em três formatos: séries de televisão, filmes e OVAs (Original Video Animation). 26 Dramas matinais de aproximadamente 15 minutos exibidos de Segunda-feira a Sábado pela emissora japonesa NHK. 9 em 2008, e fala sobre duas irmãs separadas ainda crianças, quando a família imigra para o Brasil. Oshin e Haru e Natsu: As cartas que não chegaram, respectivamente / Fonte: Google Contudo, com a evolução da Internet, as redes digitais passaram a ser o principal local de transito do referido formato, já que muitas práticas midiáticas voltadas para esse universo surgiram a fim de suprir essa demanda dos fãs por séries asiáticas e, sobretudo, pelos dramas de TV, não só japoneses, mas de outras nacionalidades asiáticas. A prática fansubber de tradução e legendagem voluntária feita, essencialmente, de fã para fã é de extrema importância para a circulação e acesso dos usuários brasileiros, pois há uma grande dificuldade de encontrar produções asiáticas com traduções e legendas oficiais em português. Esta atividade surgiu a partir de uma movimentação dos fãs de animes em preencher a ausência da continuidade desses produtos pela mídia brasileira, repercutindo na criação de sites e blogs fansubs que distribuíssem com uma maior facilidade essas produções para os fãs (ALBUQUERQUE & CORTEZ, 2013). A partir da popularidade e adoção dessas práticas direcionadas primeiramente aos animes, outras séries asiáticas, principalmente os dramas de TV, foram incluídos no circuito de produção e mediação desses fãs-produtores (JENKINS, 2008; HILLS, 2002; PEARSON, 2010) ganhando grande destaque por um público ávido por novidades, o que auxiliou na ascensão e popularização de outros formatos televisivos asiáticos em terras tupiniquins. 10 Os sites dos grupos fansubs são, geralmente, administrados pelos grupos e membros responsáveis por sua matéria prima, isto é, pela tradução e legendagem das séries, como também pela distribuição por streaming ou via torrent do trabalho finalizado. Ao pesquisar por palavras-chaves como “dorama” ou “k-drama” em sites de busca, dezenas de páginas de grupos fansubs aparecem, sendo algumas destas bastante legitimadas. Os blogs “Ohayo Dramas Fansubs”27 e “Dramafans”28 são grupos de relevo ainda em atividade neste circuito, que traduzem, legendam e distribuem, principalmente, dramas japoneses e coreanos, atendendo à expectativa e interesse dos fãs brasileiros. Porém, mesmo com essa mediação promovida pela prática fansubber, dentre outras demais existentes nesse circuito, a disponibilidade de conteúdo nesse formato ainda se mostra limitada, já que existe um material bastante reduzido de dramas de TV circulando com legendas em português, como também sites que possuam a língua portuguesa como uma das opções para sua fruição. O consumo dos dramas asiáticos não se faz apenas ao assistir ou acompanhar as séries regularmente, mas também se constrói no percorrer as redes digitais de modo a complementar a experiência com aquela dada narrativa (CAMPBELL, 2004; GOMES, 2007). Notícias, curiosidades e críticas são sempre procuradas pelos fãs e compõem grande parte dos sites sobre o assunto, inclusive páginas fansubs que dedicam um espaço para opiniões e análises. Através de portais de notícias como o “Jwave”29 (especializado, principalmente, no universo japonês) e o “SarangInGayo”30 (abrange cultura e o mundo pop sul-coreano), os fãs podem se atualizar sobre os desenlaces de seus dramas favoritos e opinar sobre outros assuntos relacionados ao universo do pop asiático, como músicas, filmes e outras produções televisivas. Além disso, a partir da criação de perfis em contas no Facebook e no Twitter, o fã pode participar de fanpages e grupos secretos de dramas asiáticos, a fim de trocar ideias e curiosidades sobre o assunto, como também de saber, em primeira mão, as últimas notícias. Algumas das fanpages brasileiras mais frequentadas pelos fãs são “Doramania”31, “Dorama Lovers” 32 e “Doramas Brasil” 33 (que também possui um grupo fechado), administradas também por fãs, onde o foco são as novidades, descrições, trailers oficiais e, até mesmo, “tirinhas” e imagens feitas pelos fãs sobre o universo dos dramas asiáticos. Apesar do Twitter 27 Disponível em: http://ohayodramasfansub.blogspot.com.br/ Disponível em: http://dramafansfansub.blogspot.com.br/ 29 Disponível em: http://www.jwave.com.br/ 30 Disponível em: http://www.jwave.com.br/ 31 Disponível em: https://www.facebook.com/Maniadorama 32 Disponível em: https://www.facebook.com/DoramaLovers 33 Disponível em: https://www.facebook.com/DoramasBrasil 28 11 não ser tão usado quanto o Facebook, algumas páginas como “Kdrama_br 34 e “Extreme United” 35 continuam ativas e sendo alimentadas frequentemente com informações mais rápidas, direcionando para o site relacionado. Outras redes sociais bastante utilizadas são o Tumblr e o Pinterest, mas não como meio de notícias, e sim como veículos de criação e compartilhamento de material feito pelos fãs sobre dramas asiáticos. Gifs 36 , memes/menes 37 , fanfics 38 , fanart 39 e fanfilms 40 são especialmente divulgados e circulados nessas redes, dando ao fã a liberdade de se comprometer de uma forma diversificada41 com esse conteúdo, de modo a aprofundar sua experiência de consumo. Gifs e montagens de cenas dos dramas, como também desenhos e histórias com seus personagens e atores são as formas mais comuns dessa dada produção dos fãs no Tumblr. A circulação desse material se dá de forma mais generalizada, principalmente dos gifs, já que esta rede social possui uma linguagem mais universal, onde a língua fica em segundo plano e, muitas vezes, nem é inserida. No Pinterest, a presença maior é de imagens e “tirinhas” retiradas de cenas dos dramas e, como ocorre no Tumblr, a língua utilizada torna-se secundária, visto que é possível modificar a legenda das fotos ao postar no próprio mural. Porém, ao falar da mediação e circulação dos dramas de TV nas redes digitais numa perspectiva brasileira, é importante ressaltar que essas produções já estão sendo inseridas no mercado digital, através de sites oficiais e profissionais de distribuição on-line de séries e filmes. O Netflix 42 , site que obtém cada vez mais adeptos e opera como plataforma de streaming de séries e filmes por meio de um sistema pago, disponibiliza alguns títulos de kdramas para atender a parcela de usuários aficcionados por esse produto. No total, são dez 34 Disponível em: https://twitter.com/kdrama_br Disponível em: https://twitter.com/Extreme_United 36 O gif pode ser compreendido como imagens e cenas de vídeos em animação. 37 Entende-se como memes um conceito que se espalha na Internet e pode ter seu significado reformulado. menes são uma sátira à ideia de memes dentro de um contexto apresentado. 38 Histórias e poemas inspirados em personagens e cenários ficcionais feitos por fãs. 39 Pinturas e desenhos produzidos por fãs. 40 Filmes elaborados por fãs. 41 “A relação extensiva é aquela que não é característica desse fã, mas do telespectador normal, eventualmente um apreciador da série. Ele assiste, pode acompanhar a série e pode até colecionar algumas imagens, por motivos estéticos ou emocionais, mas isso não quer dizer que ele se entregue a algum tipo de exegese especial desse material ou mesmo da série. Já a relação intensiva implica uma atitude exegética que exige uma outra relação do fã com a série, com as personagens e com o material visual relativo a elas. Para começar, esse fã é capaz de retomar várias vezes o mesmo episódio, as mesmas seqüências e cenas. Enfim, o episódio, a temporada e a série passam a constituir um corpus fechado, permitindo várias formas de interpretação expressas nas manipulações que vão se sucedendo a cada retomada das imagens”. (GOMES, 2007, p. 334). 42 Disponível em: https://www.netflix.com 35 12 dramas coreanos que fizeram grande sucesso na Coreia do Sul, disponibilizados em seu catálogo como Boys Over Flowers, You’re Beautiful, Secret Garden, entre outros. Além deste serviço, temos o site Dramafever43 que oferece diversos dramas asiáticos, entre eles produções sul-coreanas, japonesas, taiwanesas, chinesas e tailandesas, além de séries latinas, de modo a preencher a falta de canais oficiais voltadas para esse conteúdo. Em seu catálogo, pode ser observada uma predominância de títulos de produções sul-coreanas, enquanto os dramas japoneses são oferecidos 14, entre séries e minisséries. O Dramafever possibilita aos internautas verem os primeiros episódios de seus produtos de graça, porém, para continuar assistindo, é indicado assinar uma conta “Premium”, bastante considerada pelo site, já que não possui anúncios e pode-se assistir em alta definição. O serviço oficial brasileiro Crunchyroll44, que disponibiliza animes e mangás, também conta com um catálogo de doramas japoneses para seus usuários, com 14 produções. O Crunchyroll também disponibiliza de forma gratuita alguns de seus produtos, como animes e doramas, porém para ter acesso aos mangás e a um maior catálogo de outras produções, com alta definição e os lançamentos mais recentes, a opção de assinatura “Premium” é a mais recomendada. A observação desta disponibilidade de séries com opções de legendas em português denota o entendimento dessas empresas sobre a popularidade e sucesso desses produtos, que cada vez mais fazem parte de uma cultura e rotina dos fãs do universo asiático. O consumo dos dramas de TV asiáticos no Brasil, portanto, mostra-se intensificada graças a uma cultura participativa e o trabalho fundamental na construção de uma relação de fã para fã. Com o pouco espaço destinado aos dramas asiáticos pela TV brasileira, a internet tornou-se o meio principal para a circulação dessas produções, como também por oferecer diferentes possibilidades para o engajamento dos usuários com seus objetos de consumo (PEARSON, 2010). Os sites fansubs revelam-se, pois, essenciais na distribuição desses produtos e, juntamente com as redes sociais, colaboram na interação e compartilhamento de variados materiais, proporcionando uma experimentação de diferentes emoções e sentimentos, de forma a alimentar e aprofundar o consumo da experiência pela comunidade de fãs (JENKINS, 2008; GOMES, 2007). No entanto, a compreensão de grandes empresas sobre a importância destes produtos específicos mostra-se fundamental para uma ascensão e potencial adoção por outros setores e companhias que operem com este tipo de mídia. 43 44 Disponível em: http://www.dramafever.com/pt/ Disponível em: http://www.crunchyroll.com.br/ 13 4. Considerações finais O debate sobre os dramas de TV, sua circulação e recepção pelos fãs se mostra ainda novo, principalmente, a partir da historicização de seu surgimento até o presente, como também da evolução tecnológica vivenciada nas ultimas décadas, com as novas funções e ferramentas que as redes digitais apresentam. Embora quase inexistente, o desenvolvimento de um mercado oficial no Brasil para os dramas asiáticos se apresenta como promissor, principalmente na internet. Conforme observamos, a crescente movimentação dos fãs através da internet parece vir promovendo mudanças tímidas a fim de viabilizar uma maior circulação desses produtos no país. O resultado desse desenvolvimento deverá se tornar visível em longo prazo. Não obstante, também notamos que os dramas de TV possuem um longo histórico na sua concepção e reformulação no que tange à produção e circulação desses produtos nos países asiáticos e, para além deles, promovendo diálogo e intercambio cultural. Com isso, consideramos relevante a investigação sobre a circulação dos dramas de TV, sob a perspectiva de sua produção e consumo local, uma vez que o caso se apresenta propicio para demonstrar como um formato consolidado das indústrias televisivas asiáticas possui uma grande demanda para consumidores não-asiáticos, como é o caso dos fãs brasileiros. Por isso, o presente artigo buscou investigar como esse formato fora originariamente concebido e categorizado pela indústria televisiva asiática, enfatizando, principalmente, o papel mediador dos fãs estrangeiros na distribuição dessas produções para além-mar, a partir de uma perspectiva brasileira. Este artigo aponta para algumas das muitas questões que podem ser estudadas e apresenta um panorama repleto de pontos possíveis de reflexão. Tratando-se de um texto exploratório, que também faz parte de uma pesquisa mais ampla, naturalmente, algumas questões ficam em aberto, pois requerem maior aprofundamento e reflexão. São questões a serem averiguadas na continuação da discussão. Referências bibliográficas ALBURQUERQUE, Afonso; CORTEZ, Krystal (2013). Ficção Seriada, Cultura Nacional e Des-Ocidentalização: o caso dos Animes. Contemporânea | Revista de comunicação e cultura - v.11 – n.01 – jan-abril. 14 ANG, Ian. (2007). Television Fictions around the World: Melodrama and Irony in Global Perspective. Critical Studies in Television, 2(2): 18-30. CAMPBELL, Colin (2004). O consumidor artesão: cultura, artesania e consumo em uma sociedade pós-moderna. Antropolítica, Niterói, n. 17. 2004. CARLOS, Giovana S. (2012). Do mangá para o dorama: a representação da irritação em Nodame Cantabile. Interamericana de Comunicação Midiática. CHUNG, Ah-young (2011). K-drama: A New TV Genre with Global Appeal. Korean Culture and Information Service - Ministry of Culture, Sports and Tourism. CURRAN, James; PARK, Myung-Jin (2000). De-Westernizing Media Studies. London & New York: Routledge. DISSANAYAKE, Wimal (2012). 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