As operações especiais nos conflitos contemporâneos

Transcrição

As operações especiais nos conflitos contemporâneos
ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO
ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO
Maj Inf ANDRÉ MENDONÇA SIQUEIRA
As operações especiais nos conflitos
contemporâneos
Rio de Janeiro
2014
Maj Inf ANDRÉ MENDONÇA SIQUEIRA
As operações especiais nos conflitos contemporâneos
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
à Escola de Comando e Estado-Maior do
Exército, como requisito parcial para a
obtenção do título de Especialista em
Ciências Militares.
Orientador: Ten Cel Guitián
Rio de Janeiro
2014
S618o Siqueira, André Mendonça.
As operações especiais nos conflitos contemporâneos./André
Mendonça Siqueira. - 2014.
58 f. : il ; 30cm.
Trabalho de Conclusão de Curso - Escola de Comando e
Estado-Maior do Exército, Rio de Janeiro, 2014.
Bibliografia: f. 55-58.
1. Operações Especiais. 2. Forças Especiais. 3. Conflito
Contemporâneo. 4. Guerra Irregular. 5. Estado-Maior. I
Título
CDD: 355.4
Maj Inf ANDRÉ MENDONÇA SIQUEIRA
As Operações Especiais nos Conflitos Contemporâneos
Trabalho
de
Conclusão
de
Curso
apresentado à Escola de Comando e
Estado-Maior do Exército, como requisito
parcial para a obtenção do título de
Especialista em Ciências Militares.
Aprovado em
de
de 2014.
COMISSÃO AVALIADORA
_________________________________________________
José Maria Guitián - Dr. Presidente
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
_________________________________________________
André Vicente Scaffuto de Menezes - Dr. Membro
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
_________________________________________________
Felipe Drumond Moraes - Dr. Membro
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
“Bendito seja o SENHOR, minha
rocha, que adestra minhas mãos
para a batalha.” Sl 155:1
AGRADECIMENTOS
Ao Senhor dos Exércitos que me conduziu nessa peleja, à minha esposa
Renata e meus filhos Daniel e Samuel pela compreensão nos momentos de
ausência, e ao TC Guitián pelas orientações objetivas, claras e precisas.
RESUMO
O fim da Guerra Fria estabeleceu os Estados Unidos da América como única
superpotencia militar. À nova ordem mundial agrega-se a redução do Estado, o
advento de novas tecnologias informacionais e a ploriferação de grupos de
interesses difusos de ordem ideológica, étnica e religiosa. Nesse escopo, emerge no
seio das sociedades um novo ator nos conflitos contemporâneos, o individuo. A
população passa a ser o centro de gravidade, criando um ambiente propicio para a
guerra irregular. Desde 1989, os Estados Unidos se envolveram em conflitos de
caráter eminentemente irregular, ou com largo emprego de forças especiais na
execução das campanhas militares. Primordial aos oficiais integrantes dos EstadosMaiores dos altos escalões do Exército é conhecer as missões, tarefas e
capacidades que essa tropa tem de multiplicar o poder de combate e flexibilizar a
solução de problemas militares. Este trabalho visa a apresentar os conflitos
contemporâneos os quais as forças especiais americanas participaram, extraindo os
principais fatores de
sucesso
para
o Teatro de
Operações no
conflito
contemporâneo, sugerindo adoções por parte das operações especiais brasileiras e
facilitando o entendimento dos oficiais de Estado-Maior para o emprego eficiente das
forças especiais nas Operações Conjuntas.
Palavras Chaves: Operações Especiais, Forças Especiais, Conflito Contemporâneo,
Guerra Irregular e Estado-Maior
ABSTRACT
The end of the Cold War established the United States as the sole military
superpower. The new world order brings the reduction of the state, the advent of new
information technologies and the proliferation of diffuse interests groups of
ideological, ethnic and religious purposes. In this scope, emerges within societies a
new actor in contemporary conflicts, the individual. The population becomes the
center of gravity, creating a supportive environment for irregular warfare. Since 1989,
the United States became involved in conflicts of highly irregular character, or broad
application of special forces in the execution of military campaigns. Paramount to the
members of the staffs of higher echelons of Army officers is to know the missions,
tasks and capabilities that this troop has to multiply combat power and flexibility
military problems. This work aims to present contemporary conflicts which American
special forces took part, extracting the key success factors for the theater of
operations in conflict contemporary, suggesting adoptions by Brazilian special
operations and facilitating the understanding of the officers of the general staff for the
efficient use of special forces in Joint Special Operations.
Key Words: Special Operations, Special Forces, Contemporary Conflict, Irregular
Warfare and Staff.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CENTCOM
Comando Central Americano
DOFEsp
Destacamento Operacional de Forças Especiais
EUA
Estados Unidos da América
F Op Esp
Força de Operações Especiais
F Esp
Forças Especiais
FTC
Força Terrestre Componente
ONU
Organização das Nações Unidas
OTAN
Organização do Tratado do Atlântico Norte
SOCCENT
Comando Central de Operações Especiais
SOCEUR
Comando Europeu de Operações Especiais
URSS
União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
SUMÁRIO
1
INTRODUÇÃO .............................................................................................10
1.1
TEMA ............................................................................................................11
1.2
PROBLEMA ..................................................................................................11
1.2.1
Alcances e limites .......................................................................................14
1.2.2
Justificativa .................................................................................................15
1.3
HIPÓTESE....................................................................................................15
1.4
OBJETIVOS ESTABELECIDOS ...................................................................16
1.5
REFERENCIAL TEÓRICO ...........................................................................16
1.6
METODOLOGIA EMPREGADA ...................................................................18
2
EMPREGO DE FORÇAS ESPECIAIS 1990-2000 .......................................20
2.1
OPERAÇÃO JUST CAUSE..........................................................................20
2.2
GUERRA DO GOLFO..................................................................................22
2.3
OPERAÇÃO PROVIDE COMFORT.............................................................27
2.4
OPERAÇÃO SILVER ANVIL........................................................................30
3
EMPREGO DE FORÇAS ESPECIAIS 2001-2013.......................................32
3.1
GUERRA DO AFEGANISTÃO.....................................................................32
3.2
GUERRA DO IRAQUE.................................................................................39
3.3
RESGATE DO CAPITÃO PHILLIPS............................................................44
3.4
OPERAÇÃO LANÇA DE NETUNO..............................................................45
4
CONCLUSÃO ...............................................................................................48
REFERÊNCIAS ............................................................................................55
10
1 INTRODUÇÃO
As operações especiais tem ganhado cada vez mais evidência nos conflitos
atuais. Cada vez mais, nações e organismos internacionais de defesa empregam
suas forças de operações especiais (F Op Esp) como peça de manobra nos teatros
de operações. (BRASIL. Exército. 1º Batalhão de Forças Especiais, 2013).
As
novas
tecnologias,
equipamentos
armamentos
condicionam
as
capacidades e o emprego de elementos de operações especiais. Aliado a isso a
globalização em todos os campos de poder sugere adoção de novas estratégias e
táticas de combate.
Todo esse acervo encontra-se a disposição de atores não estatais que cada
vez mais se encontram requerendo seus direitos e impondo suas ideologias por
meio de conflitos assimétricos. (RAMONET, 2003).
O Estado perde espaço para as organizações não governamentais,
empresas
multinacionais,
grupos
étnico-religiosos,
grupos
sociais
diversos,
organizações criminosas, e minorias, caracterizando o Estado-Mínimo.
Esses universos encontram terreno fértil na positivação dos Direitos
Humanos, assim como na liberdade conferida pela democracia, instituída no estado
democrático de direito dos países ocidentais, para a condução de ações de natureza
militar ou não de guerra irregular. (US ARMY INTELLIGENCE CENTER, 2010).
A população é
estabelecida como
centro
de
gravidade, havendo
necessidade de operar em ambientes urbanos hostis com o mínimo de coordenação
e controle, onde o oponente se difunde no seio da sociedade, tornando, mormente,
os conflitos duradouros no tempo e indefinido no espaço.
Paralelo a isso, a cobertura da mídia nos conflitos afeta diretamente a
opinião pública. As condutas militares individuais passam a influenciar cada vez mais
os níveis político, estratégico e operacional, surgindo o conceito de “cabo
estratégico”.
A strategic corporal is a soldier that possesses technical mastery in the skill
of arms while being aware that his judgment, decision-making and
action can all have strategic and political consequences that can affect
the outcome of a given mission and the reputation of his country. (LIDDY,
2005, p-140).
11
Sugere-se, nesse contexto, o emprego de operações cirúrgicas, ou pontuais
com o mínimo de efeitos colaterais na vida de civis, ou de pessoas não envolvidas
nas forças beligerantes. (BRASIL. Exército. ESTADO MAIOR, 2013).
Os ambientes e cenários difusos advindos desse quadro confere às
Operações Especiais um emprego sem igual na história.
1.1 TEMA
As operações especiais nos conflitos contemporâneos.
1.2 O PROBLEMA
A guerra sempre se constituiu em ferramenta na resolução de conflitos
humanos. Ao longo do tempo, as formas como ela é conduzida, têm variado em
função do desenvolvimento das sociedades envolvidas e dos respectivos períodos
históricos.
Nesse escopo, não se constitui dessemelhança as operações especiais.
Desde os primórdios, sugere-se que exércitos mais fracos não enfrentem o inimigo
de frente (SUN TZU, 2010). O primeiro relato histórico refere-se a um
reconhecimento especial realizado por doze homens das tribos de Israel em Jericó,
para a posterior investida judaica na então terra prometida. (NÚMEROS, 13, 1-30).
Não raras foram as ocorrências posteriores. No Brasil, por exemplo, em
meados do século XVII, as operações especiais se confundiram com a formação da
nacionalidade. Brancos, negros e índios foram organizados, desenvolvidos,
instruídos e empregados por Antônio Dias Cardoso, Vidal de Negreiro e Felipe
Camarão, em guerra irregular, utilizando táticas de guerrilha contra o invasor
holandês, promovendo o sentimento de nação. (BRASIL, Exército, Centro de
Comunicação Social do Exército, 2013).
12
Da mesma forma, a Espanha, no Sec XIX, empreendeu a guerra irregular
contra a invasão napoleônica na Península Ibérica, sendo, pela primeira vez na
história, empregado o termo guerra de guerrilha.
Con el Dos de Mayo, revuelta que se propagó rapidamente por todo el país,
se inicia la Guerra de Independencia, que habría de prolongarse hasta
1813. La guerra en España fue en muchos sentidos diferente a todas las
demás guerras napoleónicas. Los enfrenamientos en campo abierto
entre ejércitos regulares fueron escasos y la guerra de guerrillas, cuya
denominación es acunhada por primera vez aqui, tuvo una importancia
decisiva. (ESPANHA 2008, p-3).
Na I Grande Guerra Mundial, Lawrence da Arábia empregou intensamente
ações de guerrilha e sabotagem nas linhas de suprimento turcas em favor dos
árabes. (VISACRO, 2010).
Na II Grande Guerra, os aliados intensificaram as operações especiais
contra os países do Eixo. As ações de comandos na retaguarda das linhas alemães
foram amplamente empregadas para desmantelar a indústria militar, incluindo a
destruição de aeronaves em solo. Da mesma forma, operações de forças especiais
(F Esp) foram determinantes na resistência francesa.
No pós-guerra, as forças especiais foram criadas no Brasil. A necessidade
foi visualizada após o êxito no teatro de guerra europeu. Após a realização do curso
nos EUA, foram criados, em 1956, o Curso de Operações Especiais, que se
desmembrou em Curso de Ações de Comandos e Curso de Forças Especiais. Os
primeiros concludentes compuseram o Destacamento Operacional de Forças
Especiais (DOFEsp), embrião do 1º Batalhão de Forças Especiais. (BRASIL.
Exército. 1º Batalhão de Forças Especiais, 2013).
A Guerra Fria, período de disputa política, econômica e militar entre as duas
maiores potencias pós II Grande Guerra Mundial, Estados Unidos da América (EUA)
e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), proporcionou relativo
equilíbrio de poder. As superpotências militares ameaçadas por seus intensos
arsenais nucleares travaram embates, mormente clandestinos, utilizando-se de
Operações Especiais, e mantendo o mundo seguro de grandes conflitos.
No Brasil, organizações de esquerda, com objetivo de impor ao país um
governo comunista e ditatorial, utilizavam técnicas de guerrilha urbana e rural. As
ações do Exército para o desmantelamento desses grupos contaram com grande
assessoramento e emprego de tropas de operações especiais.
13
Com a queda do Muro de Berlim em 1989 e a extinção da antiga URSS em
1991, o equilíbrio relativo de poder foi quebrado. A hegemonia norte-americana,
representando o capitalismo vitorioso, configurou-se como única superpotência
econômica
e
militar
do
globo
capaz
de
lançar
força
em
intervenções
intercontinentais, responsável pela manutenção da ordem mundial, significando que
se opor a essa nação seria fazer uso de guerra irregular. (ALEXANDER, 1999).
Mantenedora das instituições internacionais como a Organização das
Nações Unidas (ONU) ou a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), os
Estados Unidos capitanearam combates em favor da nova ordem mundial, seja para
restabelecer um país, no caso da Guerra do Golfo; seja para fortalecer um
organismo de influência no continente europeu como na Iugoslávia. (RAMONET,
2003).
Em ambos os casos, acirrou-se os ressentimentos contra os americanos,
principalmente de radicais mulçumanos. Aliado ao apoio incondicional aos
israelenses, quanto ao desrespeito às resoluções da ONU e ao desmantelamento
dos palestinos, esse rancor traduziu-se no atentado terrorista mais cruel da história,
a queda das Torres Gêmeas em setembro de 2001.
Após o atentado, os Estados Unidos da América declararam a Guerra Total
ao Terror, com amplo emprego de forças de operações especiais no que se
convencionou Combate ao Terrorismo. (RAMONET, 2003).
Nesse intuito, essa nação empenhou-se, à revelia das instituições
internacionais, nas Guerras do Iraque e do Afeganistão, repercutindo em conflitos
contemporâneos com características peculiares, com amplo emprego de operações
especiais. Destaca-se o emprego de forças de operações especiais na Operação
Lança de Netuno, no Paquistão, em 2011, que resultou na morte do líder da rede
terrorista internacional Al Qaeda.
Nesse contexto, o Brasil incrementou suas tropas de operações especiais,
mais particularmente o 1º Batalhão de Forças Especiais, tropa especializada na
condução da guerra irregular e no combate ao terrorismo. Foi criado a partir da
unidade supracitada o Comando de Operações Especiais com sede em Goiânia,
Grande Unidade de emprego estratégico do Exército Brasileiro, pronta a
desencadear operações especiais nos cenários e ambientes contemporâneos.
Dessa forma, constitui intenção desse trabalho responder ao seguinte
questionamento: Fruto das experiências norte-americanas como poderia ser
14
empregadas as operações especiais no Brasil e qual sua contribuição na resolução
dos conflitos contemporâneos?
1.2.1 Alcances e Limites
Inicialmente, este trabalho visa, de forma superficial, apresentar os conflitos
contemporâneos mais notórios, ocorridos após a Guerra Fria, os quais os Estados
Unidos participaram conduzindo operações especiais, por ser a maior potência
militar mundial e estar constantemente em combate.
Na seqüência, destacou-se como essas forças foram empregadas e,
descreveu-se os fatores fundamentais para o êxito das operações especiais.
Uma vez destacada a imprescindibilidade das operações especiais nos
conflitos modernos, fruto de sua crescente importância, foi estabelecido um paralelo
com as possibilidades de emprego no Brasil e esporadicamente apresentou-se
sugestões de aperfeiçoamentos adequadas à realidade nacional.
Limitou-se no estudo de operações especiais do Exército, Força Aérea ou
Naval americanas que sejam afetas às capacidades dos comandos e forças
especiais do Comando de Operações Especiais, do Exército Brasileiro, excetuando,
portanto, as Operações Psicológicas. Não foi fruto de pesquisa, também as
operações especiais, cujas capacidades são dos Comandos Anfíbios da Marinha de
Guerra, do Pára-SAR da Força Aérea, ou mesmo das tropas de operações especiais
das Polícias Militares.
Como conclusão, destacou-se os ensinamentos e apresentou-se as
sugestões de adestramento e emprego das operações especiais nos conflitos
contemporâneos, estabelecendo um paralelo com as possibilidades de emprego no
Brasil e apresentando sugestões de aperfeiçoamentos adequadas à realidade
nacional.
15
1.2.2 Justificativas
No Exército Brasileiro, em geral, dentre os militares não especializados em
ações de comandos e operações de forças especiais, se tem pouco conhecimento
das capacidades das operações especiais na resolução de conflitos.
Seja no combate convencional, na guerra irregular ou no combate ao
terrorismo, a gama de formas de utilização de um Destacamento Operacional de
Forças Especiais multiplica o poder de combate de uma força armada.
Setorialmente, por intermédio do Ministério da Defesa, o governo brasileiro
vem unificando o emprego das Forças Armadas para o emprego conjunto. Dentro da
estrutura do Teatro de Operações há a Força Conjunta de Operações Especiais que
pode receber áreas de operações ou ainda destacar seus elementos operacionais
para atuar em proveito das Forças Componentes, seja terrestre, naval ou aérea.
Nesse contexto, é de fundamental importância que oficiais de Estado-Maior,
assessores de alto nível e integrantes dos comandos conjuntos saibam utilizar os
recursos que as operações especiais podem fornecer ao combate moderno.
É importante para os comandantes em potencial das FT conjuntas,
Estados-Maiores e Forças Singulares entenderem o papel das FOpEsp
nas preparações operacional e de inteligência do espaço de combate.
Agencias do Governo e a FOpEsp provavelmente estarão na área a medida
que a FT conjunta se forma e as forças se desdobram e se preparam para
as operações. (JONES, REHON, 2004, p-62).
Analisando todos os aspectos considerados, pode-se concluir que o assunto
é relevante, pertinente e atual, pois se propõe a pesquisar como as forças de
operações especiais estão sendo utilizadas, e a fornecer subsídios para que oficiais
assessores de alto nível possam propor, planejar e empregar forças especiais na
plenitude de suas capacidades.
1.3 HIPÓTESES
As operações especiais são empregadas como apoio às forças de
operações conjuntas em todas as hipóteses de emprego e suas contribuições são
imprescindíveis para o êxito nos conflitos contemporâneos.
16
1.4 OBJETIVOS ESTABELECIDOS
O presente trabalho apresenta objetivos delineados em geral e específicos.
- Apresentar os conflitos contemporâneos mais notórios com amplo emprego
de operações especiais.
- Apresentar as formas de emprego de operações especiais e seus efeitos
para o êxito nos conflitos contemporâneos.
- Apresentar propostas para emprego das operações especiais no Brasil,
destacando as particularidades do cenário nacional.
- Apresentar algumas propostas de integração entre as Forças Especiais e
as forças regulares para emprego da Força Terrestre no Amplo Espectro.
- Concluir evidenciando sua a importância nos conflitos contemporâneos e
propondo como se poderia empregar as operações especiais.
1.5 REFERENCIAL TEÓRICO
As operações especiais são:
operações conduzidas por forças militares e/ou paramilitares especialmente
organizadas, equipadas e adestradas, visando a consecução de objetivos
militares, políticos, econômicos ou psicológicos relevantes, por meio
de alternativas militares não convencionais. Podem ser conduzidas tanto
em tempo de paz quanto em períodos de crise ou conflito armado; em
situações de normalidade ou não normalidade institucional; de forma
ostensiva, sigilosa ou coberta; em áreas negadas, hostis ou politicamente
sensíveis; independentemente ou em coordenação com operações
realizadas por forças convencionais; em proveito de comandos de nível
estratégico, operacional ou, eventualmente, tático. (BRASIL, Exército,
Comando de Operações Especiais, 2012).
Nesse contexto, podem ser divididas em três tipos específicos, ação direta,
ação indireta e reconhecimento especial. As ações indiretas compreendem:
conjunto de atividades destinado a estruturar, prover, instruir, desenvolver e
dirigir o apoio local, a fim de contribuir com a consecução de objetivos
políticos ou estratégicos de mais longo prazo. No campo militar, as ações
indiretas orientam-se, basicamente, para as operações de guerra irregular,
por meio da organização, expansão e emprego em combate de forças
irregulares nativas. (BRASIL, Exército, Comando de Operações
Especiais, 2012).
17
Considerando as operações de guerra irregular como dentre outras, ações
(...) políticas, e em áreas sob controle atual, ou potencial de uma força, ou país com
objetivos antagônicos aos objetivos nacionais (BRASIL, Exército, Estado-Maior,
1991), certamente as operações especiais tem emprego exponencial nos conflitos,
por meio do emprego do operador de forças especiais, o multiplicador de força,
especialista na condução da guerra irregular.
Certamente a guerra é a continuação da política por outros meios
(Clausewitz, 1984). Nesse sentido, há fortes vínculos entre um conflito e a política .
Na guerra irregular a conexão entre guerra e política aparece mais nítida . A guerra
irregular é, num certo sentido, a guerra do político, não do soldado (HEYDTE, 1990).
Fazendo transparecer que o elemento, normalmente civil predisposto a se engajar
nesse combate, o faz com forte vínculo político. Assim como o operador especial
que se opõe a seus pressupostos ideológicos possui características diversas para
multiplicar as opiniões adversas ao oponente.
Todavia há duas formas de se visualizar o combate não convencional.
Ainda, conforme (HEYDTE, 1990), na estratégia militar, particularmente a relativa
aos conflitos, a guerra irregular como forma de guerra, ou como forma de conduzir a
guerra (no contexto de uma beligerância mais ampla) desempenha um papel
significativo.
SUN TZU (2010) aponta que “o ataque direto é ortodoxo. O ataque indireto é
heterodoxo [...] O ortodoxo e o heterodoxo se originam reciprocamente, como um
círculo sem começo nem fim.” evidenciando a importância das operações especiais
na guerra.
Liddell Hart acerta em sua estratégia de aproximação indireta, que o
combate não se caracteriza por oposição de forças que visam à destruição do
oponente.
…destruction (of the enemy force) may not be essential for a decision, and
for fulfillment of the war aim. In the case of a state that is seeking not
conquest but the maintenance of its security, the aim is fulfilled if the
threat be removed – if the enemy is led to abandon his purpose. (HART,
1967, p-338).
Nesse caso, as operações especiais tornam-se essenciais para moldar o
ambiente operacional, atingir centros de gravidade e demover o oponente de seus
propósitos, motivações e ideais, com o mínimo de emprego de força.
18
Assim, seja num quadro de defesa externa, especificamente irregular, como
na resistência, ou no contexto de defesa interna, como nas operações contra forças
irregulares, as operações especiais tem um papel fundamental para o êxito na
resolução dos conflitos contemporâneos.
1.6 METODOLOGIA EMPREGADA
No que diz respeito à metodologia empregada, ressalta-se que a presente
pesquisa será indutiva. Procurar-se-á a aproximação das observações em planos
abrangentes, indo das constatações particulares às leis e teorias, procurando
estabelecer um vínculo entre as operações especiais e o êxito das operações.
Os procedimentos serão históricos, no sentido de observar a variável
independente, operações especiais nos conflitos contemporâneos, e também
comparativos, pois se concentrarão sobre os reflexos das operações especiais para
o êxito na resolução dos conflitos, procurando apontar vínculos entre as operações e
o êxito alcançado.
Será
realizada
uma
pesquisa
qualitativa.
Estudar-se-á
as
ações
desenvolvidas pelas forças de operações especiais por meio de documentos,
artigos, livros, relatos e entrevistas.
A pesquisa histórica posicionará as operações especiais no tempo
conduzindo-a aos dias atuais e a descritiva apresentará as características dos
―modus operandis‖.
A pesquisa bibliográfica será baseada nos documentos já tornados públicos
em relação ao tema de estudo: publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros,
pesquisas, entrevistas com oficiais instrutores de nações amigas, monografias,
teses, material cartográfico, meios de comunicação orais, rádio, gravações em fita
magnética e audiovisuais, filmes e televisão. A finalidade dessa modalidade é
observar como as operações especiais estão sendo empregadas.
A seguir, visando estudar as hipóteses de emprego do Exército será
realizada a pesquisa documental na qual serão sugeridas as formas de emprego das
operações especiais no âmbito nacional.
19
Cabendo a pesquisa explicativa, trazer à luz os fatores que conduziram as
ações ao sucesso, sugerindo-os às operações especiais brasileiras ou apresentando
oportunidades de melhoria.
20
2 EMPREGO DE FORÇAS ESPECIAIS 1990-2000
2.1 OPERAÇÃO JUST CAUSE
Após a guerra fria, e os quinze anos de reformulação da doutrina militar,
desde a Guerra do Vietnam, os EUA verificaram a importância de suas Forças de
Operações Especiais no novo cenário global nos diversos níveis de poder.
O Gen Carl W. Stiner do Exército americano atesta ainda a necessidade de
integração e conhecimento da atividade de forças especiais pelas forças regulares
para potencializar seu emprego ao afirmar que:
Special Operations Force is ideally suited to support our nation’s national
security strategy in today’s complex, interdependent, multipolar word.
Leaders of every service at every level must be familiar with the role
and capabilities Special Operations Forces provides. (STINER, 1991 p6).
STINER (1991) aponta que “o valioso atributo das Forças Especiais é a
habilidade de ser empregada em três cenários político-militar distintos: tempo de
paz, resposta a crises e conflito”.
Em 1989, no Panamá numa situação de tempo de paz, os Estados Unidos
desencadearam uma operação complexa contra o sistema repressivo de Manuel
Noriega. Os principais objetivos eram capturar o Chefe de Estado e estabelecer um
governo democrático naquele país.
A diretriz era cumprir a missão, aplicando um combate esmagador,
minimizando as perdas de civis, a devastação de propriedades, e nesse ímpeto
acresce a importância das Forças de Operações Especiais para o desenvolvimento
de operações cirúrgicas.
As Forças Especiais foram fundamentais ao sucesso da operação Just
Cause. Constituíram-se nos olhos e ouvidos da força regular para a neutralização de
27 alvos essenciais do regime panamenho (STINER ,1991).
Forças Especiais infiltraram-se antes do dia 20 de dezembro de 1989, dia D,
e ocuparam as instalações chaves, sítios de comunicações, além de negar o terreno
ao inimigo, garantindo as principais pontes da cidade e impedindo a reação das
21
tropas panamenhas, ante as 27 ações de tropas pára-quedistas americanas na
cidade (SCALES, 1994).
Tropas leves com ações tipos Comandos, os Rangers, relizaram ações
diretas em aeródromos e no aeroporto internacional da Cidade do Panamá, e
neutralizaram companhias de resistência das Forças de Resistência Panamenha,
permitindo a infiltração das forças convencionais naquele país.
Verifica-se então o emprego de forças especiais antes da ação propriamente
dita, sendo os ouvidos para colher informações importantes para o planejamento de
uma operação, e os olhos para escolher locais estratégicos facilitando a ação da
força regular que irá executar a operação, sendo fundamentais para o comando e
controle do mais alto escalão enquadrante.
Durante a operação, ao empregar destacamentos para ação de combate em
proveito da força regular, no caso concreto, prover segurança ao negar pontos
essenciais ao inimigo, os EUA utilizaram um instrumento multiplicador do seu poder
de combate, que viria a ser empregado nos combates vindouros, a integração de
tropas convencionais com forças de operações especiais.
Nesse escopo, destaca-se ainda a experiência e a liderança dos
comandantes do teatro de operações Gen Thurman, Commander-in-Chief, South
Command e do Commander of Joint Task Force South, Gen Stiner conhecedor das
Operações Especiais como nenhum outro general à época.
Ressalta-se nessa operação o sucesso fruto da integração entre as forças
convencionais e as forças especiais Acerca dessa importância e do êxito que esse
recurso obtém nas operações, ADAMS (1998) cita (USSOCOM, 1996):
First break down the wall that has more or less between special operations
and the other parts of our military…Second, educate the rest of the militaryspread a recognition and understanding of what SOF does…and how
important that is don…Last integrate SFO efforts into the full spectrum of our
military capabilities.
Desta forma, ressalta-se a importância dos Estados-Maiores brasileiros, dos
diversos níveis, tenham a percepção de que forças especiais não são empregadas
somente isoladas. O emprego conjunto de forças especiais com tropas
convencionais multiplica o poder de combate e facilita o comando e controle dos
mais altos escalões enquadrante.
22
2.2 GUERRA DO GOLFO
O emprego das Forças Especiais destina-se a apoiar, ampliar ou evitar uma
confrontação militar formal (BRASIL, 2012). Com o propósito de apoiar a ofensiva
aliada contra o Iraque, na Guerra do Golfo, em 1990, empregou-se Forças Especiais
na Operação Desert Shield e Desert Storm.
Após a invasão iraquiana no Kuwait, os americanos empreenderam a
Operação Desert Shield, visando persuadir o Iraque quanto a uma possível invasão
à Arábia Saudita e, simultaneamente, concentrar meios e tropas para uma ação
ofensiva contra as Forças Armadas Iraquianas, a Operação Desert Storm:
Missions assigned to CENTCOM for Desert Shield were to deter further Iraqi
aggression, defend Saudi Arabia, enforce UN sanctions and, eventually,
develop an offensive capability to liberate Kuwait. The Desert Storm military
objective was to free Kuwait from Iraqi control by exercising that offensive
capability. (YEOSOCK, 1991, p.4).
Nesse contexto, as Forças Especiais desembarcaram na Arábia Saudita
com as primeiras tropas da 82ª Divisão Paraquedista (Airborne) e foram as primeiras
tropas empregadas pelo Central Command, Comando Central Americano para
apoiar o seu Plano de Campanha. A preocupação do Gen Schwarzkopf,
comandante do CENTCOM era com a habilidade para o combate por parte das
tropas que compunham a coalizão. (SCALES, 1994).
Para isso uma das primeiras missões delegadas ao Special Operations
Command Central (SOCCENT) foi o treinamento individual e de pequenas frações
de forças que compunham a coalizão de países. Operações de Defesa Interna no
Exterior (Foreign Internal Defense), Guerra Convencional e Não-Convencional foram
os assuntos ministrados aos árabes.
O adestramento aplicado pelas forças especiais foi essencial para o sucesso
do comando e controle das forças de coalizão e constava-se de comunicações,
apoio aéreo aproximado, coordenação de planejamentos conjuntos e combinados,
instruções químicas, biológicas e nucleares, reconhecimentos e vigilâncias (STINER
1991).
Tal emprego reveste-se de importante multiplicador do poder de combate ao
inserir em tropas regulares, táticas, técnicas e procedimentos de tropas de
operações especiais, sendo um incremento à força como um todo.
23
Esta integração foi assegurada, no Brasil, por ocasião da Operação Arcanjo
no Complexo do Alemão, Rio de Janeiro em que os Destacamentos de Forças
Especiais aplicaram treinamento de Operações em Ambiente Urbano, Técnicas de
Entrada, Tiro em Área Edificada, e Conduta com a População dentre outros (BRASIL
2012). Da mesma forma as Forças Especiais treinam os contingentes brasileiros que
compõem as tropas da ONU no Haiti.
Dessa forma, sugere-se que essa integração seja permanente, por meio de
adestramentos da força terrestre. Equipes Operacionais de Forças Especiais podem
ser destacadas, por curtos períodos, para, sob controle operacional, ministrarem
instruções às brigadas operacionais dos comandos militares de área.
Durante a Desert Shield, o SOCCENT se empenhou em reconstituir as
forças kuwaitianas. Inicialmente formaram o Batalhão de Forças Especiais e um
comando de brigada. Como o rendimento foi muito bom conseguiram formar ainda
mais 04 brigadas de infantaria.
Com a presença de um movimento inscipiente de resistência kuwaitiana, as
Forças Especiais realizaram a Unconvetional Warfare:
Activities conducted to enable a resistance movement or insurgency to
coerce, disrupt or overthrow a government or occupying power by operating
through or with an underground, auxiliary and guerrilla force in a denied
area. Core activity of ARSOF. core activity and organizing principle for SF
core activity of IW. (HASLER, 2011, p-16)
Tais atividades são clássicas nas Forças Especiais brasileiras, tanto
adestramento e o assessoramento de tropas convencionais, quanto organizar,
desenvolver, equipar, instruir, dirigir e controlar forças locais em operações de
guerra de guerrilha e em operações especiais, até um efetivo de 1500 homens.
(BRASIL, 2006, p5-2).
Os kuwaitianos realizaram operações em seu território ocupado por meio de
técnicas operacionais de infiltração ensinados pelos SEALs, forças especiais da
marinha norte americana, assim designados por operarem em sea, air and land.
Esse fato evidencia um fator primordial no emprego de forças especiais que é a
capacidade de inserir pessoal e material especializado em áreas hostis ou sob o
controle do inimigo ou dela exfiltrar-se, empregando meios terrestres, aéreos,
aquáticos ou subaquáticos. Indo ao encontro da capacidade das forças especiais do
Exército Brasileiro. (BRASIL, 2006, p5-2).
24
O papel das Forças Especiais foi imprescindível para a Força Aérea
americana. Ações Diretas foram realizadas para a destruição de quatro radares, no
sudoeste do Iraque que permitiram o vôo de aeronaves de combate sem serem
detectadas e a aproximação das bases de mísseis SCUD (ESTADOS UNIDOS,
2007, p-49).
Neste tipo de Operação encerra a sinergia que as Forças Especiais pode
fornecer a um combate conjunto, atuando em proveito da Força Aérea.
As ações diretas avultam de importância em face das limitações da Força
Aérea e podem ser concebidas para apoiar e/ou complementar uma
campanha aeroestratégica, particularmente nas etapas iniciais de conquista
da superioridade aérea, contribuindo para a supressão da defesa
aeroespacial inimiga. (BRASIL, 2012, p3-1).
Essa capacidade é afeta às forças de operações especiais do Exército
Brasileiro. Assim como os Destacamentos de Ações de Comandos, os DOFEsp são
aptos a realizarem investida contra alvos de valor estratégico no interior da área de
operações.
O Batalhão de Ações de Comandos (BAC) é a unidade orgânica do
Comando de Operações Especiais especificamente organizada, equipada e
adestrada para a realização de ações diretas. O planejamento e a execução
desse tipo de operação especial constituem sua destinação precípua. A
fração básica de emprego do BAC é o destacamento de ações de
comandos (DAC). Todavia, as peculiaridades da missão podem exigir uma
força valor subunidade ou unidade. Tropas de forças especiais, também,
estão aptas a realizar ações diretas, sobretudo, quando a situação tática:
permitir o emprego de menores efetivos; requerer menor poder de choque;
ou exigir a redução de danos colaterais indesejáveis. Em muitos casos,
Destacamentos de Operações Especiais de constituição híbrida,
combinando elementos de forças especiais e ações de comandos, podem
ser a melhor opção. (BRASIL, 2012, p3-2).
Todavia os rústicos e inofensivos, na visão do General Schwarzkopf, mísseis
SCUD foram estrategicamente usados por Saddam Hussein. A despeito da tentativa
do comandante do CENTCOM de minimizar seus efeitos, mais de 30 mísseis haviam
sido lançados contra Arábia Saudita e Israel, causando pressões no Governo Bush.
Para evitar uma possível entrada de Israel na guerra, os EUA
empreenderam uma forte campanha aérea em vão. Mesmo após a consecução da
superioridade aérea, a Coalizão não conseguia destruir os mísseis SCUD devido a
sua mobilidade. Dessa forma, novamente recorreu-se aos recursos que somente as
tropas de forças especiais oferecem ao Teatro de operações.
By the end of January, the diplomatic pressure on the Bush Administration
was such that General Powell ordered General Schwarzkopf to use Special
Operations Forces to hunt SCUDs and stop them from being fired at Israel.
(ESTADOS UNIDOS, 2007, p-52).
25
Uma Força Tarefa Conjunta de Operações Especiais composta por unidades
de operações especiais do Exército e da Força Aérea (Joint Special Operation Task
Force - JSOTF) recebeu a missão de encerrar os ataques de mísseis SCUD sobre
Israel. Operaram de uma base na Arábia Saudita e realizavam a infiltração em duas
viaturas, com 08 operadores em cada. Pelo ar, helicópteros Black Hawks
acompanhavam as movimentações. As equipes se moviam de noite e descansavam
de dia. A informações das plataformas de SCUD eram repassadas às equipes da
Força Aérea, que realizavam o ataque guiado pelos Operadores de Forças Especiais
no solo, e destruíam os mísseis.
A Operação foi um sucesso e o comandante do CENTCOM acresceu a essa
Força Tarefa, tropa de Rangers (tipo comandos) e o 160th Special Operations
Aviation Regiment Helicopters. Após o início da ofensiva, a JSOTF continuou os
ataques às plataformas de SCUD, às suas linhas de comunicação e outras
instalações de comando e controle iraquianas (ESTADOS UNIDOS, 2007).
Mesmo antes do início dos combates em solo, a Operação Desert Storm,
Forças Especiais foram infiltradas na retaguarda profunda, em território iraquiano,
para a realização de Reconhecimento Especial. Tal operação:
Son aquellas misiones que suponen la proyección y aplicación de una
capacidad de la fuerza militar en una zona hostil o potencialmente hostil,
con la finalidad de proporcionar información sobre los dispositivos enemigos
en profundidad, así como sobre determinados medios de interés especial
susceptibles de convertirse en objetivos de las fuerzas convencionales tales
como:- capacidades, intenciones y actividades de un actual o potencial
enemigo,- elementos del sistema de Mando y Control enemigo, Sus armas
especiales u otros objetivos de interes,- meteorologia, hidrografia o
características geográficas de una zona o área de interes,- daño producidos
por una acción de combate propia o aliada, y en su caso, la posible
evaluación,- situación en una zona determinada antes de la intervención de
fuerzas convencionales. (ESPANHA, 2000, p.2-3).
A inteligência produzida pelas forças especiais foi fundamental para os
planejamentos estratégicos e para o sucesso dos comandantes táticos executarem
seus planos, STINER (1991).
Acerca desse emprego, o General Schwarzkopf numa conferencia a cerca
das operações em Riad, Arábia Saudita relata:
I shouldn’t forget these fellows. That SF stands for Special Forces. We put
Special Forces deep into the enemy territory. They went out on strategic
reconnaissance for us, and they let us know what was going on out there.
They were the eyes that were out there, and it’s very important that I not
forget those folks. (SCHWARZKOPF, 1991).
26
Anos depois, relativo ao emprego do exército americano na Somália, o
Chefe do Departamento de Avaliações Militares Regional da Agência de Inteligência
de Defesa relata que:
Quando fomos à Somália em dezembro de 1992, tínhamos urn banco de
dados baseado em uma única fonte sobre as forças militares locais. Nossa
tentativa de usar os meios padronizados de coleta e estratégias foi bemsucedida apenas em parte porque esses meios convencionais não podiam
nos dar o tipo de informações especificas que necessitávamos. Não havia
divisões de carros de combate ou de fuzileiros motorizados somalianos,
nenhum sistema de defesa aérea, nenhurna marinha e nenhurna força
aérea. Os somalianos tinham alguns caminhões e jipes com armas coletivas
e alguns blindados. Era necessário alguém para localizá-Ios e contá-Ios em
terra e para descobrir se funcionavam. Eventualmente, recebemos essa
informação e ainda melhor inteligência sobre as capacidades das forças do
cIã das unidades das Forças Especiais dos EUA. (WHITE, 2004, p-24).
O Exército Brasileiro possui tal capacidade, estando prevista na Base
Doutrinária do 1º Batalhão de Forças Especiais, conforme prevê BRASIL (2006):
Destacam-se como principais missões das Eqp Op FEsp neste tipo de
operação: 1) Ações a objetivos profundos, para levantar e reconhecer: a)
movimento tático, estratégico e concentração de tropa do inimigo; b)
atividades recentes e atuais, localização, dispositivo, composição, valor,
moral e particularidades do inimigo; c) instalações militares do sistema de
comando e controle (C2), de guerra eletrônica e de telecomunicações; d)
instalações do sistema de defesa aeroespacial e tráfego aéreo (bases
aéreas, sítios de mísseis superfície - ar, radares de vigilância, etc); e)
instalações do sistema de apoio logístico; f) instalações de controle de
energia (elétrica / nuclear); g) instalações industriais (material de guerra,
siderúrgicas, química, biológica etc); h) sistemas de transporte (rodoviário,
ferroviário, aéreo e aquático); i) portos, terminais petrolíferos e obras de
arte; j) campos de prisioneiros de guerra (CPG); k) zonas de lançamentos,
aeródromos e zonas de pouso para helicópteros; e l) outros Elementos
Essenciais de Inteligência (EEI) de interesse para a manobra do escalão
considerado. (BRASIL, 2006, p.10-1).
Normalmente essa operação é desencadeada em situação de crise ou
tempo de guerra, ESPANHA 2000. Todavia o Exército Brasileiro mantém a
capacidade de suas Forças Especiais executarem operações similares, em tempo
de paz, em território nacional, designadas Reconhecimento e Avaliação de Área:
Reconhecimento e Avaliação de Área é uma operação de Reconhecimento
Especial, que é conduzida por elementos especializados de operações
especiais (Forças Especiais) em território nacional ou sob nosso controle,
em áreas hostis, politicamente sensíveis ou não, visando a obtenção e/ou
levantamento de Elementos Essenciais de Inteligência (EEI), de nível
estratégico-operacional, de forma ostensiva, sigilosa ou clandestina, através
do emprego de técnicas operacionais específicas combinadas com meios
terrestres e/ou aeroespaciais. (BRASIL, 2006, p.10-2).
As Forças Especiais podem ser empregadas em Reconhecimento e
Avaliação de Área em Operações de Garantia da Lei e da Ordem ou Operações
Contra Forças Irregulares, por exemplo. E como no Reconhecimento Especial na
27
Guerra do Golfo, seus produtos podem servir de subsídio para as diretrizes e os
planejamentos estratégicos do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, assim
como para as diretrizes e planos operacionais do Comandante do Teatro de
Operações e facilitar a execução por parte das Forças Tarefas Componentes, dos
Grandes Comandos enquadrantes até o nível das pequenas frações de nível tático.
Por ocasião da Operação Desert Storm, as forças especiais foram
empregadas também com destacamentos infiltrados para acompanhar os batalhões
da coalizão. Os destacamentos que adestraram as tropas infiltraram com elas, para
as batalhas. Alguns acompanharam unidades sauditas de engenharia para
assessorar na limpeza de campo de minas em áreas importantes a serem utilizadas
pela coalizão como pistas de pouso (ESTADOS UNIDOS, 2007, p-46). Ademais,
missões de Busca e Salvamento esporadicamente foram dadas as forças especiais,
principalmente a pilotos abatidos em combate.
Similarmente, por ocasião de uma Operação Contra Forças Irregulares no
Brasil, convém que oficiais de ligação, operadores de forças especiais componham
os Estados-Maiores da Força Terrestre Componente (FTC), assim como
destacamentos operacionais de forças especiais estejam sob comando operacional
dos Grandes Comandos tanto para adestramento como para emprego junto das
tropas convencionais.
2.3 OPERAÇÃO PROVIDE COMFORT
A Operação Provide Comfort no nordeste do Iraque e Sul da Turquia deveuse a permanência de Sadam Hussein no poder após a liberação do Kuwait.
Temendo a oposição shiita a Sadam, aliado ao fundamentalismo islâmico no Irã, os
americanos permitiram a permanência de Sadam para o equilíbrio regional.
Da mesma forma, os Curdos, outra oposição, eram povos que lutavam pela
formação de um estado nacional. O recrudescimento do regime de Sadam fez com
que milhares se refugiassem na Turquia. Para se alinhar a OTAN que queria evitar
um encorajamento à formação de um estado curdo na Turquia, os estados Unidos
empreenderam a referida operação:
28
U.S. and coalition forces moved into southern Turkey and helped set up
refugee camps, deliver food and water, and provide rudimentary medical
care. They quickly averted what could have been a humanitarian disaster.
With a strong allied presence watching over them, the Kurds were induced to
return in safety to their homes by the end of July with only minimal losses.
(ESTADOS UNIDOS, 2010, p.430).
Logo, a operação foi realizada com objetivos políticos e humanitários. Nesse
escopo avultou-se o papel das Forças Especiais. Segundo Gen Carl W. Stiner do
Exército americano:
These soldiers, sailors and air men are quiet, professionals instruments of
US policy. They are forward employed, performing their respective missions
every day of the year from the grass-roots level-where the problems are – to
the ambassadorial level, giving advice, providing assistance and
coordinating requirements, all in support of US interests. (STINER, 1991 p15).
Ressalta-se então, o emprego das forças especiais como instrumento da
política de um país. BRASIL (2012) assegura que as operações especiais diferem
das convencionais nos níveis de risco físico e político que envolvem o cumprimento
da missão (p 2-2).
Relativo às questões humanitárias, socorreram e aliviaram as condições
miseráveis dos refugiados curdos. Essa tropa tornou-se a melhor opção do Exército
pelo treinamento que possuem em culturas diversas e pela experiência em organizar
e estabelecer relações com os nativos. Outro aspecto a ressaltar ainda nessa
operação foi a utilização de especialistas em saúde angariando o respeito e apoio
dos curdos assim como sua grande capacidade de organização logística (ESTADOS
UNIDOS, 2010).
Este emprego vai ao encontro do entendimento brasileiro. BRASIL (2012)
afirma que “não raro, as operações especiais requerem o envolvimento, direto ou
indireto, de forças convencionais e/ou outras agências governamentais”. E foi esse
fator essencial para o sucesso da operação.
As Forças Especiais foram o elo de entendimento e coordenação de
esforços, facilitando o
entendimento
entre
órgãos não governamentais e
organizações voluntárias privadas como a Cruz Vermelha e Crescente Vermelho:
Over time, useful working relationships developed among the Special
Forces, the NGOs, PVOs, other allied soldiers in the encampments, and the
Kurdish family and clan leadership. Tents were erected, food and water
became routinely available, medical support matured, and the dying ceased.
(ESTADOS UNIDOS, 2010, p-432).
29
Neste particular, descortina-se um enfático emprego das forças especiais no
combate contemporâneo, as Operações Interagências. Elas são definidas por:
Interação das Forças Armadas com outras agências com a finalidade de
conciliar interesses e coordenar esforços para a consecução de objetivos ou
propósitos convergentes que atendam ao bem comum, evitando a
duplicidade de ações, a dispersão de recursos e a divergência de soluções,
em favor da eficiência, eficácia, efetividade e menores custos. (Brasil, 2013,
p-1-2).
E estão englobadas no ambiente que se convencionou chamar de amplo
espectro das operações. O Gen Araújo caracteriza as forças vocacionadas a esse
contexto:
Dessa forma, as forças a serem empregadas nesses ambientes devem
estar aptas à condução de operações simultâneas ou sucessivas,
combinando atitudes ofensiva, defensiva, de pacificação, de Garantia da Lei
e da Ordem, de apoio às instituições governamentais e internacionais, de
assistência humanitária, em ambiente interagências. (Araújo, 2013, p-17).
Assim, a F Ter deverá estar apta a conduzir Operações no Amplo Espectro,
ou seja, conduzir ações que combinem as atitudes ofensiva, defensiva, de
pacificação, e de apoio aos órgãos governamentais e internacionais (em
Garantia da Lei e da Ordem e na assistência humanitária, por exemplo), de
forma simultânea ou sucessiva. Tal requisito de emprego está presente na
quase totalidade das situações, em um ambiente de cooperação
interagências, e influi no preparo de todos os escalões da F Ter. (Brasil,
2013, p2-4).
JONES, REHOM, (2004, p-62) afirma que a FOpEsp e as agências tem
experiência em trabalhar juntas. Ambas entendem o valor da unidade de esforço e
trabalham juntas para atingir os objetivos comuns sem se preocuparem em obter
claramente a unidade de comando.
A proposta de manual brasileiro de Operações Especiais indica a destinação
de forças especiais brasileira em missões dessa natureza ao assertar que:
As FOpEsp possuem capacidades únicas. São flexíveis e versáteis, quer
estejam atuando isoladamente ou em complemento a outras forças. Podem
ser desdobradas em qualquer ambiente operacional, com elevado grau de
autonomia e sob condições de elevado risco. Em face de suas
possibilidades, seu emprego abrange todo o espectro das operações
militares, desde o tempo de paz até as situações de crise ou conflito
armado. (BRASIL, 2012, p2-6).
Da mesma forma, a caracterização do ambiente operacional em que as
forças especiais operam indica a possibilidade de empregá-las em missões
análogas. Segundo (BRASIL, 2012, p-2-19), as características são complexidade,
não linearidade, instabilidade, imprevisibilidade, heterogeneidade, mutabilidade e
dinamismo; com presença de níveis variáveis de intensidade de conflito, ameaças
provenientes de atores estatais e não estatais, população civil (favorável, neutra e
30
hostil), idiossincrasias culturais (“terreno humano”), onipresença da mídia, assédio
de organismos de defesa dos direitos humanos, Outras agências estatais presentes
no interior da área de operações, Atuação de organizações não governamentais
(ONGs), restrições / limites legais, limites impostos pela opinião pública, controle de
danos sobre bens civis e meio ambiente, disponibilidade de moderna tecnologia
(capacidades ampliadas: ver, atirar, manobrar, comunicar-se), grande volume de
dados (sobrecarga de informação), velocidade da informação e disseminação da
informação em escala global.
Depreende-se com o emprego de forças especiais americanas nesse tipo de
operação, que as forças especiais brasileiras podem ser empregadas pelos altos
escalões como instrumento facilitador da coordenação dos comandos nas operações
interagências. Pela habilidade de operar na dimensão humana, as forças especiais
podem criar ambientes de trabalhos propícios a colaboração, compreensão e
convergência de esforços entre diversas agências nacionais em prol da missão, seja
ela de segurança de grandes eventos ou de garantia da lei e da ordem, por exemplo.
2.4 OPERAÇÃO SILVER ANVIL
Em 1992, um golpe de estado em Serra Leoa, África, deixou as condições
de segurança imprevisíveis para cidadãos de vários países. A instabilidade política
no país requereu por parte da comunidade internacional a evacuação de seus
nacionais.
Nesse escopo, o Comando de Operações Especiais americano na Europa, o
Special Operations Command Europe (SOCEUR), conduziu a Operação de
Evacuação de Não-Combatentes, a Operação SILVER ANVIL.
Dentro de 15 horas um destacamento operacional foi acionado de um
exercício em Stuttgart, Alemanha para cumprir essa missão. Nesse período, foram
realizados a análise da missão, o planejamento, o aprestamento do material,
equipamento armamento, munição, inclusive suprimento de acompanhamento para
estoque, emissão de ordens e deslocamento para a área de operações.
O Destacamento Operacional de Forças Especiais é a tropa que está apta a
ser empregada por meio do método da estratégia indireta, que é aquela o qual
31
deverá ser buscada a utilização preponderante de ações políticas, econômicas e
psicológicas, coadjuvadas por ações militares (BRASIL, 2004, p-3-6).
A estratégia indireta é, ainda, a opção decorrente da inferioridade de meios
militares e/ou da falta de liberdade de ação e da convicção de que o conflito pode
ser solucionado sem emprego da violência
Ressalta-se que ao empregar esse tipo de estratégia e tropa, o governo
americano atesta que, ainda que suas forças armadas possuam capacidade para
obter superioridade e liberdade de ação na área de operações, as forças especiais
lhe asseguram, por suas expertizes, e característica de ações de baixa assinatura e
visibilidade, a certeza do cumprimento da missão.
The coup in Sierra Leone had created an unstable security environment, but
SOF quickly developed a rapport with the local military and arranged for a
safe evacuation with no incidents. They evacuated over 400 American
citizens, third country noncombatants, and USAF MEDCAP team members
in the following two days. (ESTADOS UNIDOS, 2007, p-76).
Semelhantemente, as forças especiais brasileiras são empregadas em
missões dessa natureza, a exemplo do Destacamento Tigre, que em 2004 dentro de
12 horas estava se deslocando por um C-130 da força aérea brasileira de Goiânia
para a Costa do Marfim, na África, com a missão de evacuar nacionais, e
proporcionar segurança a embaixada e ao corpo diplomático brasileiros naquele
país.
Pela capacidade de permanecer em territórios hostis com o mínimo de
direção e controle, de por meio da inteligência etnográfica para obter apoio da
população e estabelecimento de rapport com lideranças civis e militares locais, as
forças especiais se constituem em instrumento fundamental do Estado para
segurança de seus cidadãos não combatentes no exterior.
32
3
EMPREGO DE FORÇAS ESPECIAIS 2001-2013
3.1 GUERRA DO AFEGANISTÃO
Após o maior atentado terrorista da história, a Queda das Torres Gêmeas,
as Forças Especiais norte-americanas se voltaram para a Estratégia americana de
Global War on Terrorism. O Governo americano atribuiu a Al Qaeda, a autoria da
ação e determinou que o Talibã, grupo de governo afegão, que apoiava o grupo
terrorista, entregasse Osama Bin Laden e seus assessores.
O Talibã refugou o intimado. Logo, os Estados Unidos intentando sufocar o
patrocínio e impedir a utilização do Afeganistão como refúgio seguro para terroristas
internacionais, resolveu invadir o País e retirar o grupo dominante do governo
(ESTADOS UNIDOS, 2007, p-87).
Os primeiros dois anos de combate podem-se dividir em quatro fases. A
primeira travou-se um combate aéreo sem eficiência, seguido da fase onde iniciouse o emprego de forças especiais.
The initial air and missile strikes seem to have been no more effective than
their predecessors in 1998 had been. There were simply too few discrete
high-value strategic targets in Afghanistan critical to the grip of the Taliban
regime, with the possible exception of the lives of the leaders themselves.
This ineffectualness changed quickly beginning October 19, when several
12-man American Special Forces Operational Detachment A Teams
helicoptered through difficult mountains in the darkness to link up the leaders
of the Northern Alliance. Soon there would be 18 A Teams plus 4 companylevel (B Teams) and 3 battalion-level command units (C Teams) in
Afghanistan, about 300 soldiers all told. (Estados Unidos, 2010, p-469).
O SOCCENT havia confeccionado um plano de Guerra Não Convencional,
Unconventional Warfare (UW), que até mesmo os Estados-Maiores convencionais
perceberam a necessidade de emprego de forças especiais para complementar as
operações convencionais em curso (ESTADOS UNIDOS, 2007).
O plano de guerra não convencional em suma compreendeu algumas fases:
U.S. Army Special Forces doctrine described seven phases of a U.S.
sponsored insurgency: psychological preparation, initial contact, infiltration,
organization, buildup, combat operations, and demobilization. Other
government agencies, such as the State Department or the Central
Intelligence Agency, took the lead role in the first three phases. U.S. SOF
and DOD would typically take the leading role in the next three phases:
organizing the insurgent forces; buildup (training and equipping the insurgent
forces); and conducting combat operations with the insurgents. The final
33
phase would be demobilization, which would involve a variety of U.S.
agencies and the newly-installed government, so the “lead agency” for
demobilization would vary depending on the situation. (ESTADOS UNIDOS,
2007, p-87).
Atesta-se que essas fases são constantes da doutrina brasileira de
condução da guerra não convencional.
O desenvolvimento de um movimento revolucionário patrocinado por país
estrangeiro pode abranger sete fases. Estas fases não se processam,
necessariamente, na seqüência indicada e muitas podem ocorrer
simultaneamente. Primeira fase: Preparação Psicológica -Antes da
infiltração, caso o prazo disponível e a segurança o permitam, são
conduzidas operações psicológicas visando a preparar a população da área
para receber os destacamentos operacionais do BFEsp. Segunda fase:
Contato inicial 1) Antes da infiltração dos destacamentos operacionais, é
conveniente que condições favoráveis sejam desenvolvidas na área
operacional selecionada. O contato inicial de elementos de Forças Especiais
com o chefe das Forças Irregulares favorece o desenvolvimento dessas
condições para a subseqüente recepção e assistência ao destacamento
operacional infiltrado. 2) É valiosa a presença de representantes do
movimento revolucionário, evacuados da Área Operacional da Guerra
Irregular para a Base de Operações do Batalhão de Forças Especiais, tendo
em vista a orientação inicial (estudo de área) dos destacamentos
operacionais e para acompanharem estes destacamentos durante a fase da
infiltração. A falta desses elementos, no entanto, não impossibilita a
infiltração dos destacamentos operacionais. Terceira fase: Infiltração - Iniciase quando o destacamento abandona sua área de isolamento a fim de
entrar em uma área controlada pelo inimigo. O estabelecimento das
comunicações com a Base de Operações do Batalhão de Forças Especiais
(BOBFEsp) deve ser realizado nesta fase. Quarta fase: Organização - A
organização e o desenvolvimento do Comando de Área começam
imediatamente após a infiltração, bem como tem início a avaliação da área e
a organização dos meios das forças irregulares. Quinta fase: Expansão 1)
As forças de guerrilha, de sustentação e subterrânea são expandidas.2)
Todas as atividades aumentam em raio de ação, intensidade e valor tático
ou estratégico para apoiar os objetivos do Teatro de Operações. 3) A
divisão da área em setores pode tornar-se necessária, o que possibilita
maior segurança e o incremento do potencial operacional. Sexta fase:
Emprego em combate - As forças irregulares são empregadas em ações de
combate visando a atingir os objetivos da guerra irregular, planejados pelo
Comando do Teatro de Operações. Esta fase continua até que ocorra a
junção com as forças regulares, o término das hostilidades ou a
desmobilização. Sétima fase: Desmobilização -Uma vez cessada a ação
armada do movimento revolucionário, a ordem da desmobilização de suas
forças cabe ao comando superior. Fatores políticos, econômicos,
psicossociais e militares são normalmente considerados antes de qualquer
providência nesse sentido. O planejamento da desmobilização já deve ser
iniciado durante a primeira fase. Durante todas as fases, deve haver a
preocupação em não realizar qualquer ação que possa comprometer a
desmobilização. (BRASIL, 2006, p-5-4 ).
Todavia o ensinamento maior dessa ação americana que devemos absorver
é o esforço das instituições civis e militares, abrangendo um planejamento além de
conjunto, interagência, para a execução do plano, com participação de órgãos
similarmente: Ministério das Relações Exteriores e Gabinete de Segurança
34
Institucional da presidência da República por meio da Agência Brasileira de
Inteligência.
A terceira fase, a busca de líderes do Talibã e da Al Qaeda nas montanhas
de Tora Bora, se repete até os dias atuais, e contou com a participação
preponderante de equipes de Forças Especiais.
Dentre outros o emprego clássico de Forças Especiais, vem sendo
amplamente utilizado pelos Operational Detachment A (ODA), é condensado no
relato abaixo:
o 3º Grupo de Forças Especiais do Exército dos Estados Unidos enviou o
destacamento operacional nº 316 para a Província afegã de Konar — uma
área tribal localizada junto à volátil fronteira com o Paquistão. O pequeno
grupo, inicialmente composto por apenas seis homens, tinha a tarefa de
capturar e eliminar membros da insurgência talibã. Seu trabalho exigiu a
aproximação e o estabelecimento de relações amistosas com os moradores
de uma pequena vila chamada Mangwel. Nos meses que se seguiram,
aqueles poucos soldados dedicaram-se à missão precípua das forças
especiais, cooptando o apoio da população local em proveito de suas
ações. Convencido de que mesmo uma equipe muito pequena poderia
“fazer milagres”, desde que seus subordinados fossem capazes de
interpretar e compreender as idiossincrasias do complexo ambiente tribal
afegão, o Major Jim Gant, comandante do destacamento, buscou integrar
progressivamente sua fração na vida e nos costumes dos habitantes locais.
Os norte-americanos deixaram crescer a barba, incorporaram indumentárias
da etnia pashtun em seus uniformes, procuraram aprender o dialeto de uso
corrente, saber mais sobre a cultura nativa e o islã, cultivando a empatia e
interagindo com a população em um nível bem pessoal. Gant concluiu que,
a despeito de todo o poderio militar dos Estados Unidos, sua relação com os
habitantes locais não poderia ser simplesmente imposta pela força. Ao
contrário, demandava um autêntico e metódico processo de persuasão. Por
esse motivo, assegurou que seus homens se mantivessem engajados na
conquista do terreno humano. Entre um combate e outro, o destacamento
frequentou a escola do vilarejo, brincou com as crianças, construiu um poço
e experimentou boas conversas sentado com os anciãos até tarde da noite.
Cônscio de que as belicosas tribos afegãs jamais se submeteram a um
poder estrangeiro, Gant procurou exercer aquilo que denominou “influência
sem autoridade”, definindo as principais tarefas em relação aos líderes
locais segundo os verbos: ouvir; entender; aprender; influenciar. Com o
passar do tempo, em Mangwel, os integrantes do Destacamento 316
compreenderam que “a mais confiável e duradoura influência acontece ao
agirmos como parceiros, não como culturas alienígenas superiores,
distantes e estranhas”. Por fim, os habitantes locais não só passaram a
rejeitar a influência talibã, como também se predispuseram a pegar em
armas contra os insurgentes. (VISACRO, 2012, p-2).
Dessa forma, o emprego de Forças Especiais começou a alterar o quadro
das Operações no Afeganistão. As equipes assessoraram as ações da Aliança do
Norte, acompanhavam nas missões a pé, sobre moares, pick-up e colocavam seus
meios a disposição das tropas locais: GPS, óculos de visão noturna, designadores
laser, principalmente os fogos aéreos solicitados com munições guiadas com a
laser.
35
Líderes importantes do governo anterior ao Talibã, como Hamid Karzai, que
se tornara primeiro-ministro e presidente do País, retornaram ao país para combater
o Talibã. A motivação das tropas comandadas por esses líderes foram determinada
pela inteligência etnográfica e pela operacionalidade das forças especiais que
realizaram trabalhos em equipe com empatia e admiração dos nativos.
Quando Karzai conquistou a cidade de Tarin Kowt, o Talibã viu o perigo que
essa insurgência opunha a seu regime. Enviou 80 viaturas e 500 homens para
retomar a cidade e eliminar a ameaça. Um operador de forças especiais com 12
homens de Karzai fornecendo segurança ocupou um Posto de Observação sobre a
ponte de entrada da cidade com um designador laser e mirou sobre a coluna de
carros talibãs, guiando o ataque de um caça F-14 Tomcat acionado de um portaavião (ESTADOS UNIDOS, 2010, p-472).
Reflete-se nesse caso um aspecto imprescindível das forças especiais que é
a capacidade de realizar ações ofensivas com mínimo de efeito colateral a
elementos civis, a instalações e ao meio ambiente fato que deve ser levado em
consideração nos combates contemporâneos.
O resultado do emprego de forças especiais com forças locais foi percebido
nos anos iniciais de combate no Afeganistão:
O aspecto mais interessante da guerra até agora foi a capacidade das
FOpEsp de operar neste ambiente. As FOpEsp puderam se "infiltrar" nas
fileiras das Forças da Aliança e criar uma potente força moral; equilibrando
o aspecto físico com o mental e moral. Estas equipes foram
verdadeiramente adaptáveis e suas atividades permitiram o que William
Lind chama de "exploração de arrasto". Isto é, os elementos de exploração
(as FOpEsp neste caso) arrastaram o resto da força em direção a menor
resistência para obter uma considerável vitória através da manobra.
Estavam capacitadas pela tecnologia a um nível nunca visto (comunicações
diretas com aeronaves e munições dirigidas de precisão). (WILCOX,
WILSON, 2004, p-44).
Uma vez que as formações terrestres da Aliança do Norte foram reforçadas
por equipes das Forças Especiais provendo informação precisa e em tempo
hábil sobre alvos as aeronaves de ataque, a resultante assimetria negou as
forças do Talibã a capacidade de controlar ou defender pontos capitais de
terreno. Causando grandes perdas ao Talibã durante qualquer
concentração de forças que fizesse para defender ou contra-atacar e a
vantagem assimétrica da seleção de alvos com base em terra e os ataques
aéreos dos EUA, tomaram as forças terrestres da Aliança do Norte
invencíveis. O Talibã e a Al Qaeda não tinham nada comparável para se
oporem à vantagem americana. (MEIGS, 2004, p-4).
36
Nesse ínterim, a integração das Forças Especiais com a Força Aérea foi
fator de sucesso, assim como na Guerra do Golfo. No entanto, a Guerra no
Afeganistão trouxe um ingrediente novo para a Força Aérea americana:
Integrating air power and special operations is not new. In fact, SOF and the
joint air community are adept at close integration, and the men on the
ground did a great job working with air support. However, at the operational
level of war, integration on a noncontiguous battlefield with large indigenous
maneuver forces was a new challenge to many. (ESTADOS UNIDOS, 2007,
p-43).
Ressalta-se a importância das forças especiais para a coordenação de fogos
em Teatro de Operações não contíguos, características das operações de amplo
espectro, e das guerras assimétricas e irregulares. Patrulhas da OTAN empregavam
Observadores Avançados de Fogos em suas missões. Da mesma forma,
americanos, assim como espanhóis, infiltravam controladores de fogos da força
aérea, Tactical Air Control Party, com equipes operacionais de forças especiais para
prover a segurança das interdições realizadas em proveito de todo teatro de
operações CENTCOM:
In Afghanistan during OEF, U.S. forces operated in a noncontiguous
battlefield and discovered numerous challenges to coordinating fire with
maneuver when no traditional boundary lines demarcated areas of
operation. We will discuss these challenges, how commanders overcame
them, and offer insights for further improvement. These are key future
challenges and offer insights to potential solutions. While these challenges
and subsequent insights have a special operations perspective, many have
value to future conventional force operations on noncontiguous battlefields.
(FINDLAY, GREEN, BRAGANCA, 2003, p-8).
Mais uma vez foi estreita a integração das Forças Especiais do Exército com
o Grupo de Aviação de Operações Especiais da Força Aérea. Remete-nos a
necessidade que temos de formar um Grupo de Aviação dedicado às Operações
Especiais, tanto no âmbito do Exército Brasileiro, no que tange à aviação de asa
rotativa, quanto à de asa fixa da Força Aérea Brasileira.
Outra necessidade refere-se ao treinamento de tropas para a participação
nesse tipo de missão. Essa necessidade foi percebida durante as surtidas aéreas no
Afeganistão:
Até momento, nossas FA tem obtido resultados inconclusivos nos seus
esforços para enfrentar o conceito de Guerra de 4ª Geração. Temos o
potencial para enfrentar a 4GW ao aprendermos com as FOpEsp e suas
experiências, e ao aplicá-Ias em novas formas, com base no nosso pessoal
e suas idéias. (WILCOX, WILSON, 2004, p-49).
37
Ainda sobre o sucesso das operações especiais, o adestramento conjunto
sem dúvida se reveste de fundamental importância para seu emprego efetivo:
The integration of airpower with special operations has significant doctrine,
organizational, and training implications. As the Joint SOF trainer, Special
Operations Command Joint Forces Command (SOCJFCOM) sent SOF joint
training teams (JTTs) to assist joint special operations commanders in OEF.
They shared insights, practices, and knowledge of the best tactics,
techniques, and procedures (TTPs) to employ SOF. While successful, SOF
JTTs could have done more to improve air-ground fire integration (FINDLAY,
GREEN, BRAGANCA, 2003, p-8).
A quarta fase, foi a Operação Anaconda, a qual empregou-se forças
convencionais dos Estados Unidos com pequenas equipes de Forças Especiais das
Forças Aliadas.
Inicialmente, ao invadir o Afeganistão, os estados Unidos não perceberam a
diferença dessa guerra, para a travada por ocasião da invasão do Kuwait ocupado
pelo Iraque na Guerra do Golfo.
Como afirma (HEYDTE, 1990):
Há situações em que encontramos guerra irregular como forma de guerra e
não apenas como forma de condução da guerra; sob certas circunstâncias,
uma guerra convencional limitada pode se formar uma forma excepcional de
condução da guerra irregular.
(...) alguns teóricos efetivamente reconhecem a guerra irregular como uma
guerra real, mas não a querem ver como uma forma de guerra, e tão
somente como uma forma de condução no contexto de uma guerra maior.
Esse fato vai ao encontro da percepção equivocada dos americanos. Na
primeira, a guerra irregular foi utilizada como forma de apoio, complemento e
economia de meios a uma operação convencional. No Afeganistão, a guerra
irregular deveria ser de fato a estratégia de emprego.
Não somente os combatentes do Al Qaeda ridicularizaram os soldados
americanos. Nossos aliados afegãos também não elogiaram o desempenho
de nossos soldados. Pode-se concluir que os combatentes do Al Qaeda
foram bem-sucedidos ao emboscar os americanos e ao escapar da área. A
Operação Anaconda foi uma tentativa de criar um campo de batalha linear,
por generais que pensavam de forma clausewitziana ao empregar os
princípios da guerra de atrito contra um inimigo evasivo. Embora ainda não
saibamos com certeza os resultados desta operação, está claro que esta
batalha teve menor proporção do que se pensava, com base nos informes.
Tentamos aplicar as táticas de 2GW contra um inimigo que aplicava, outra
vez, 4GW (como no Vietnã), e o resultado foi um fracasso. (WILCOX,
WILSON, 2004, p-45)
Com isso os Estados-Maiores em todos os níveis, principalmente nos níveis
estratégicos devem conhecer as peculiaridades da guerra irregular para empregar a
38
arte da guerra na perfeita compreensão dos problemas militares e no correto
emprego dos meios militares e não militares.
Desta forma, sugere-se que operadores de forças especiais componham, no
Ministério da Defesa, o Estado-Maior conjunto das Forças Armadas para o
assessoramento no Planejamento Estratégico Militar, em suas três etapas: a
avaliação da conjuntura e elaboração de cenário, resultando na correta hipótese de
emprego; o exame de situação e planejamento, e o controle das operações militares.
Essa leitura irá determinar se o ambiente operacional requer o emprego de
forças especiais como apoio, complementação e economia de meios, ou como
principal estratégia a adotar.
Ao avaliar os primeiros anos de operação americana no Afeganistão:
General Moore fez referência as lições aprendidas dos erros soviéticos.
Enquanto é verdade que nossos soldados estão bem adestrados, também é
verdade que até agora não desdobramos um grande numero de tropas não
adestradas no Afeganistão. O que não demonstramos ainda é que somos
capazes de travar a Guerra de 3a Geração (a de manobra), sem mencionar
a de 4GW. Até agora, só as FOpEsp, inclusive aliadas, tem demonstrado a
capacidade de realizar operasções da guerra de manobra (...) Botas no
terreno são um fator importante mas, vale mais a pena ter botas
"inteligentes" no terreno. Há uma grande demanda pelas FOpEsp. Essas
forças vem se adestrando para operar neste tipo de ambiente por mais de
40 anos; portanto não é de se estranhar que essas pequenas equipes
estejam habilitadas para a guerra não convencional. Suas equipes e
capacidades excelentes são capazes de realizar mais neste tipo de
ambiente do que divisões completas de forças convencionais, com grande
presença logística e alvos atrativos. (WILCOX, WILSON, 2004, p-42).
Outro aspecto importante a ser do conhecimento dos oficiais de EstadoMaior na confecção de planos e diretrizes, principalmente o Plano de Emprego
Estratégico Conjunto das Forças Armadas (PEECFA) e seus anexos, é saber
identificar quais as demandas e missões das diversas funções de combate e das
operações complementares podem ser atendidas pelo emprego Destacamentos de
Ações de Comandos e Destacamentos Operacionais de Forças Especiais.
Atualmente o Talibã e a Al Qaeda continuam a operar clandestinamente no
território do Afeganistão, e Guerra no Afeganistão não tem previsão de término
The U.S. military has been involved in Afghanistan since the fall of 2001
whenOperation Enduring Freedom (OEF) toppled the Taliban regime and
attacked the AlQaeda terrorist network hosted in Afghanistan by the Taliban.
A significant U.S.military presence in the country could continue for a
number of years as U.S., NorthAtlantic Treaty Organization (NATO),
Coalition, and Afghan National Army (ANA)forces attempt to stabilize the
country by defeating the insurgency, facilitating reconstruction, and
combating Afghanistan’s illegal drug trade. (FEICKERT, 2006, p-1).
39
No entanto, esforços de formação das Forças de Segurança Afegã para
assumir o comando de seu país já tem data para fim de 2014, assim como a saída
da OTAN do país.
NATO’s primary objective in Afghanistan is to enable the Afghan authorities
to provide effective security across the country and ensure that the country
can never again be a safe haven for terrorists. Since August 2003, the
NATO-led International Security Assistance Force (ISAF) has been
conducting security operations, while also training and developing the
Afghan National Security Forces (ANSF). Launched in 2011, the transition to
full Afghan security responsibility is due to be completed at the end of 2015,
when ISAF’s mission will end. NATO will then lead a follow-on mission to
train, advise and assist the ANSF with the aim to continue supporting
the development and sustainment of the Afghan security forces and
institutions. Wider cooperation between NATO and Afghanistan will also
continue within the framework of the NATO-Afghanistan Enduring
Partnership, signed in 2010 at the Lisbon Summit. NATO’s Senior Civilian
Representative in Afghanistan carries forward the Alliance's political-military
objectives there, liaising with the Afghan government, civil society,
representatives of the international community and neighbouring countries.
(NATO, 2014)
É certo que o problema no país não é relacionado somente ao caráter militar
e sim de outras esferas do poder. No entanto, no que tange a esse aspecto, se
inicialmente fosse adotado a guerra não convencional, talvez a conseqüência não
seria a fuga para as montanhas na fronteira com o Paquistão e o ressurgimento do
Talibã a partir de 2005, como movimento insurgente, adotando novas táticas,
advindas da Guerra do Iraque, como Explosivos Improvisados e Homens-Bombas.
3.2 GUERRA DO IRAQUE
Em 2003 os Estados Unidos e suas Forças Especiais se engajaram em
outra guerra, a do Iraque. Como Saddam Hussein era suspeito de possuir armas de
destruição em massa, realizava extermínio contra etnias xiitas e curdas e tinha
contato com organizações terroristas internacionais, dentre outras a Al Qaeda, os
Estados Unidos resolveram invadir o País e substituir o governo vigente.
O CENTCOM americano por ocasião da invasão planejou ataques
simultâneos de forças convencionais em várias direções. Sob seu comando
empregou as operações especiais durante a invasão com forças especiais da
marinha, Navy Seals na conquista e segurança das plataformas energéticas de
petróleo e gás na península de Al Faw, visando a garantia de funcionamento.
40
Determinou ao SOCCENT que realizasse seu planejamento. Este, por meio
do Combined Joint Special Operation Task Force (CJSOTF) infiltrou Forças
Especiais do Exército no norte do Iraque para realizar contato com os Peshmerga,
as forças da etnia Curda e conduzir a guerra não convencional, para engajar os
Corpos de Exércitos localizados norte do País.
Reflete-se aqui a multiplicação de força que uma equipe de pequeno efetivo
de militares pode oferecer, realizando a guerra não convencional, cumprindo
missões estratégicas de abrir novas frentes contra corpos de exército inimigo.
É imprescindível aos integrantes de Estado Maior saberem que para realizar
esse tipo de operação, é preciso atender certos requisitos como os abaixo previstos
na doutrina das Forças Especiais brasileira:
A AOGI deve possuir: atrativos operacionais que justifiquem o seu
estabelecimento; e condições de subsistência para as forças irregulares
localizadas em seu interior. Atrativos operacionais Condições de
subsistência: - Presença de alvos e objetivos que dêem razão tática à sua
existência - População local: densidade demográfica, tendências políticas e
suscetibilidade às campanhas de operações psicológicas. - Disponibilidade
de recursos locais. - Acesso ao apoio externo. - Menor capacidade de
ingerência do aparelho de segurança do Estado. - Adequação fisiográfica da
área de operações: existência de locais de homizio, refúgios ativos e espaço
para manobra. (BRASIL, 2012, p-4-16).
Outro aspecto importante das tropas de forças especiais é relativo a grande
capacidade de comando e controle sobre as operações. No Norte do Iraque, além
de controlar suas operações em conjunto com as forças curdas, receberam ainda
uma pletora de meios em pessoal, material, transporte e apoio de fogo.
In the north, the Air Force airdropped a reinforced battalion of the 173d
Airborne Brigade, airlanded an M1A1 tank–equipped company team to
support it, and then sustained this host and their Kurdish Peshmerga allies
by air as well. Again much of the necessary fire support came from airborne
PGMs. All these resources—tanks, paratroopers, Peshmerga, and PGMs—
operated under the supervision of the handful of special operators already
deployed in the north, inducing the Army’s Vice Chief of Staff, General John
(―Jack‖) M. Keane, to quip that it was like attaching a naval carrier battle
group to a SEAL team. (ESTADOS UNIDOS, 2010, p-489)
Durante a invasão, destacamentos de forças especiais eram empregados
ainda para localizar e destruir plataforma de mísseis que eram lançados contra
Israel. Em paralelo à suas missões, monitoravam o avanço de tropas convencionais,
cujo objetivo era conquistar e prover a segurança de campo de petróleo em
Rumaylah, intervindo se Saddam Husein tentasse fazê-lo antes da chegada das
tropas. (ESTADOS UNIDOS, 2010, p-483).
41
Outro ponto a ser abordado é a forma de emprego das Forças Especiais.
Ora sob o comando direto do CENTCOM ora sob o comando do SOCCENT, o
emprego de forças especiais permite subordinação e formações distintas para o
emprego no combate conjunto.
O mais alto comando enquadrante deve possuir oficiais em seu EstadoMaior com experiência e conhecimento em operações especiais para determinar a
quem e como as forças especiais estarão subordinadas, para que seus efeitos
atendam da melhor maneira o Teatro de Operações como um todo.
Uma importante consideração organizacional para todas essas opções de
emprego é que o QG tenha experiência em operações especiais e sistemas
para apoiar o planejamento, o controle e o apoio operacional da FOpEsp.
Esse conhecimento garante que a FOpEsp seja melhor empregada dentro
das capacidades existentes para apoiar o combate conjunto. (JONES,
REHOM, 2004, p-61).
As forças especiais em geral podem ser empregadas de três formas
distintas. Normalmente o Comandante da Área de Operações ou do Teatro de
Operações tem o controle das Forças de Operações Especiais por meio do
Comando de Operações Especiais, que é mais uma força componente. As Forças
Singulares nesse caso exerce o controle administrativo de suas tropas.
Outra opção é o Comando de Operações Especiais fornecer os
Destacamentos, e/ou Forças Tarefas, e/ou Forças Tarefas conjuntas de Operações
Especiais para as Forças Singulares e/ou de Forças Tarefas Conjuntas
Subordinadas realizarem suas operações. Podem ainda como força apoiada
receberem, se for o caso, forças convencionais para suas missões.
O comandante do Comando de Operações Especiais é, em geral, o
comandante de apoio que coloca as FOpEsp a disposição para serem
empregadas pelos comandantes regionais de área. Ele poderá também ser
designado pelo Secretário de Defesa, em certas situações, como o
comandante que recebe o apoio para conduzir ou coordenar operações.
(JONES, REHOM, 2004, p-61).
A terceira forma de emprego das forças de operações especiais é sob
controle direto do mais alto escalão, como foi empregado pelo CENTCOM na
invasão do Iraque. Essa forma é mais adequada para operações altamente sigilosas
ou quando o comando quiser um alto grau de flexibilidade para responder a
situações em outro local da área de operações.
42
As Forças Especiais tem área de responsabilidade em toda área de
operações do mais alto escalão enquadrante e atuam em missões políticas e de alto
risco e complexas:
Contudo, elas são forças de grande demanda e baixa densidade que
recebem, seguidamente, missões políticas delicadas ou operacionalmente
complexas e de alto risco. Essas missões exigem urn grande conhecimento
de planejamento e execução de operações especiais. (JONES, REHOM,
2004, p-60)
Depreende-se que ainda que as Forças de operações Especiais cumpram
missões táticas, as finalidades das missões atribuídas às Forças Especiais devem
ser sempre de nível político, estratégico, e no mínimo, operacional de alto risco, a
despeito de estar sub-empregando recursos humanos selecionados, altamente
adestrados e motivados.
Acerca de quando as forças especiais devem ser empregadas para
determinadas missões é importante ter em mente que se constitui de importante
vetor de preparação do campo de batalha para todos os escalões, principalmente os
mais elevados, assim como para outros órgãos governamentais devendo ser
empregados anteriormente a eclosão dos conflitos.
As FOpEsp podem apoiar outras agências governamentais nas atividades
de preparação de inteligência do campo de batalha e conduzir a preparação
operacional do campo de batalha sob 0 controle do comandante regional de
área. Quando realizando a preparação operacional a FOpEsp conduz
atividades pré-crises para obter acesso e entendimento da área de
responsabilidade e realiza operações como força avançada para
estabelecer as condições para as operações militares previstas. É
importante para os comandantes em potencial das FT conjuntas, estadosmaiores e Forças Singulares entenderem o papel das FOpEsp nas
preparações operacional e de inteligência do espaço de combate. Agencias
do Governo e a FOpEsp provavelmente estarão na área a medida que a FT
conjunta se forma e as forças se desdobram e se preparam para as
operações. (JONES, REHOM, 2004, p-62).
Em 2005 a situação no Iraque mudou de um ataque convencional com
operações simultâneas de Forças Especiais para apoiar, complementar ou
economizar meios, para a luta contra insurgentes ao novo governo estabelecido,
caracterizando assim as Operações Contrainsurgência.
In late 2005 and into 2006, the Army and Marine Corps teamed up to
reenergize the doctrine necessary to prepare, intellectually and practically,
for counterinsurgency operations in Iraq and Afghanistan. These operations
reemphasized population control, police-like functions, information
operations, and nation building. (…) Even the U.S. Army Special Warfare
Center and School at Fort Bragg, North Carolina, traditionally the Army
center tasked to prepare to wage insurgencies and counterinsurgencies, had
become dominated in recent years by special operations elements that
conducted direct-action missions. Those more ―glamorous‖ missions had
43
received much of the attention and funding for the past decade. (ESTADOS
UNIDOS, 2010, p-504-505).
Mais uma vez a guerra, a exemplo do Afeganistão se apresentou como
Guerra de 4ª Geração, com inimigos não estatais e que requeriam métodos pouco
ortodoxos para a resolução dos problemas militares, ou seja, o emprego de forças
especiais seria mais proeminente que outrora.
Em 2007, durante as operações de contra-insurgência no Iraque, os Estados
Unidos tiveram forte oposição no bairro Sadr City em Bagdá. Gen Petraeus,
inicialmente deixou as áreas shiitas com o Primeiro Ministro iraquiano Maliki para
negociar enquanto as Forças Especiais americanas com forte apoio de inteligência e
apoio aéreo cerrado impuseram pesadas baixas à milícia Sadr e impuseram a fuga
de muitos líderes para o Irã desmantelando os focos de insurgência em meados de
2008 (WEST, 2009).
Segundo Woodward (2008) as Forças Especiais foram empregadas com
autoridade para operarem onde quiser e alcançaram resultados extraordinários na
eliminação ou captura de cerca de 70 por cento dos alvos de alto valor, mormente as
lideranças de grupos terroristas.
Basicamente as forças Especiais foram empregadas na captura de líderes e
fornecendo inteligência para os grandes escalões. Reportando a realidade nacional,
em um contexto de prevenção e combate ao terrorismo, as forças de operações
especiais da Força Conjunta de Operações Especiais ou a Força Tarefa Conjunta de
Operações Especiais podem ser destacadas para realizar o desmantelamento de
redes e células, prisão de líderes de grupos terroristas ou de facções do crime
organizado, ressalta-se nesse contexto a liberdade de ação, principalmente em
termos territoriais, transpondo limites e zonas de ação impostas às tropas regulares.
Conforme Eric Denécé, citado por BRASIL (2012), as forças de operações
especiais não são simplesmente uma infantaria de elite, mas tropas formadas para
agir de modo diferente das forças convencionais, indo além da doutrina militar
tradicional.
No referido emprego vislumbra-se ainda a necessidade de contar com apoio
aéreo cerrado o que se traduz em um grupo de aviação de asa fixa ou rotativa
destinado unicamente às operações especiais com procedimentos específicos a
esse tipo de operação.
44
3.3 RESGATE DO CAPITÃO PHILLIPS
Em abril de 2009, a modernização de uma antiga forma de usurpação
ocorreu na costa do oceano Índico. O navio mercante Maersk Alabama, que levaria
suprimentos de ajuda humanitária ao Quênia, foi seqüestrado por piratas somalis, e
seu comandante, o capitão Richard Phillips, foi mantido refém, à deriva, no bote
salva-vidas da embarcação.
O fato levou o governo a empregar os Navy Seals para resgatar o cidadão
americano. Todavia, a real intenção dessa ação militar foi garantir a liberdade de
comércio marítimo, numa região primordial para a economia norte-americana e
mundial.
The incident was a stark example of the threat international piracy poses to
the freedom of commercial maritime navigation. ―Seventy percent of the
Earth is covered by water. Eighty percent of the world’s population lives near
an ocean and 90 percent of all international trade travels by sea,‖ said CAPT
Robert Rupp, Commander, Office of Naval Intelligence. ―So what happens
on the water, above the water or under the water is the U.S. Navy’s concern,
and as the flagship for Naval Intelligence, it is our concern.‖ (ESTADOS
UNIDOS, OFFICE OF NAVAL INTELLIGENCE PUBLIC AFFAIRS, 2014).
Inicialmente, o U.S. Naval Forces Central Command deslocou um navio
contratorpedeiro, o USS BAINBRIDGE, para o local da crise. Esse navio serviu de
base-mãe para uma equipe de forças especiais que realizou um salto a grande
grande altitude HAHO, (Hight Altitud and Hight Open), e ainda salto Tandem, ou
seja, salto duplo com passageiro, com expertise técnica importante para a missão.
A Inteligência foi primordial para o sucesso da operação. A agência de
inteligência da Marinha fez a interface entre a comunidade de informações e a Casa
Branca, além de alimentar a tropa no local da crise dos modus operandis dos
somalis e suas ações subseqüentes.
We sit at the nexus between the Intelligence Community and the U.S. Navy,
and our ability to inform the White House at the same time we are informing
a cruiser or destroyer commanding officer what threat is happening is truly
significant. (ESTADOS UNIDOS, OFFICE OF NAVAL INTELLIGENCE
PUBLIC AFFAIRS, 2014).
Esse fato foi imperativo para a decisão de resolução da crise por meio do
emprego de caçadores. Em meio a negociação, um dos piratas se machucou e foi
transferido para o contratorpedeiro. Durante os cuidados médicos foi entrevistado
por um integrante da equipe Seals, com técnicas de interrogatório que conduziam a
45
desistência do seqüestro. Todavia quando a vida do refém estava em risco iminente
e o barco salva-vida ficou numa posição de exposição dos três piratas que ainda
estavam dentro, os caçadores abriram fogo e abateram simultaneamente os
seqüestradores (Estados Unidos, 2014).
Essa ação destacou a relevância das forças especiais para combater uma
modalidade de crime atual de caráter econômico global. Esse fato vai ao encontro
da própria definição desse tipo operações cujo espectro transcende a esfera militar.
são operações conduzidas por forças militares e/ou paramilitares
especialmente organizadas, equipadas e adestradas, visando a consecução
de objetivos militares, políticos, econômicos ou psicológicos relevantes, por
meio de alternativas militares não convencionais. Podem ser conduzidas
tanto em tempo de paz quanto em períodos de crise ou conflito armado; em
situações de normalidade ou não normalidade institucional; de forma
ostensiva, sigilosa ou coberta; em áreas negadas, hostis ou politicamente
sensíveis; independentemente ou em coordenação com operações
realizadas por forças convencionais; em proveito de comandos de nível
estratégico, operacional ou, eventualmente, tático. (BRASIL, Exército,
Comando de Operações Especiais, 2012).
Destaca-se nessa ação a capacidade das forças especiais de inserir pessoal
e material na área-problema com técnicas de infiltração não dominadas por tropas
convencionais, como o salto livre a grande altitude. Outro aspecto, refere-se a
habilidade de realização de tiro de precisão com atiradores de escol, os snipers, que
além desse atributo, possuem grande capacidade de observação se constituindo em
execelente fonte de inteligência.
Da mesma forma a ação enfatiza a importância do estreito relacionamento
entre as operações especiais e a inteligência, sendo a consciência situacional
fundamental para ações diretas dessa natureza. Dentro das atividades de prevenção
e combate ao terrorismo estão o apoio de inteligência, o antiterrorismo, o
contraterrorismo e a administração de conseqüência. Verificou-se que o apoio de
inteligência foi primordial para que a equipe de forças especiais realizasse o
contraterrorismo resgatando o refém.
3.4 OPERAÇÃO LANÇA DE NETUNO
Em maio de 2011, o governo americano desencadeou uma operação fruto
de anos de trabalho de inteligência da CIA (Central Inteligence Agency), a Operação
46
Lança de Netuno, que teve por finalidade a captura e/ou eliminação de Osama Bin
Laden, líder da maior organização terrorista internacional, a Al Qaeda (MILITARY
POWER REVIEW, 2014).
A missão foi delicada, pois envolvia o emprego de força militar no Paquistão,
onde o terrorista se homiziava, mais precisamente na cidade de Abbottabad, ao
norte de Islamabad, capital do País. Para isso, foi designado novamente, fruto do
sucesso do resgate do Captain Phillips, um destacamento de Forças Especiais da
marinha de guerra norte-americana, o DevGru, US Navy Special Warfare
Development Group (OWEN, 2014).
O comandante do destacamento tinha ligação com os mais altos escalões
enquadrante e a missão era controlada diretamente por Washington. O presidente e
o secretário da defesa influíram diretamente em como aquela missão seria cumprida
(OWEN, 2014).
O secretário de Defesa Robert Gates era a favor do ataque aéreo, pois
evitaria que forças terrestres americanas entrassem no Paquistão e tornaria a
missão menos ofensiva à soberania do país. Já o presidente não descartara o
ataque terrestre.
A decisão adveio do emprego de veículo aéreo não-tripulado (VANT), que
fotografou um helicóptero militar paquistanês Huey nas cercanias da propriedade de
Bin Laden, o que provavelmente teria como destino a academia militar paquistanesa
sediada naquela cidade. Dessa forma, foi aprovado o assalto a casa, por meio de
uma infiltração helitransportada.
A missão foi exaustivamente ensaiada em maquete de tamanho real com
detalhes da casa de Bin Laden, incluindo as árvores do quintal. As equipes ficaram
em um período de isolamento nos Estados Unidos e só se deslocaram para a Base
de Operações em Jalalabad, no Afeganistão após os ensaios e a apresentação do
Brifin (Briefing Final), atividade a qual um destacamento de forças especiais
apresentam às autoridades dos mais altos escalões, os planejamentos e a execução
da operação.
Assistiram ao Brifin, um grupo de autoridades, composta pelo almirante Mike
Mullen, chefe da Junta de Chefes de Estado-Maior, pelo almirante Eric Olson,
comandante do Comando de Operações Especiais em Tampa, e por um antigo
comandante do DEVGRU, o vice-almirante Bill McRaven, chefe das Operações
Especiais Conjunta.
47
Ressalta-se novamente o emprego dessa tropa em missões de grande
sensibilidade, com as mais altas autoridades políticas do País engajadas
diretamente na sua execução. Nesse caso envolvia as relações exteriores dos
Estados Unidos numa região conturbada da Ásia.
A capacidade de realização de ações cirúrgicas sem grande repercussão à
população civil e a integração com a inteligência foram primordiais para o sucesso,
aliado ao emprego de tecnologias avançadas e ação interagências. O Estado viu
nas suas forças especiais a ferramenta ideal para finalizar anos de esforço do poder
norte-americano na guerra total ao terrorismo.
48
4 CONCLUSÃO
A queda do Muro de Berlim e o conseqüente final dos embates ideológicos
de poder entre os Estados Unidos e a extinta União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas trouxeram novas perspectivas ao combate contemporâneo.
Novos atores envolvidos, mormente não estatais, lutando por causas
religiosas, étnicas, separatistas, deslocaram o combate dos campos de batalhas
para o seio da população. Essas variantes proporcionam uma nova dimensão ao
combate, a guerra não convencional.
Diante disso, os Estados Unidos viram nas operações especiais o
instrumento, necessário à resolução de conflitos contemporâneos, apto a ser
empregado em tempo de paz, resposta a crises e em conflito armado,
principalmente no combate ao terrorismo, em todos os níveis de decisão e
planejamento.
No Panamá, integração de operações de forças especiais com tropas
convencionais foi o fator de sucesso de uma operação complexa como a JUST
CAUSE. Verifica-se que a consciência situacional sólida, baseada nas informações e
no assessoramento fornecido por equipes de forças especiais infiltradas, foram
fatores determinantes na operação militar realizada.
Sugere-se
que
as forças
especiais empregadas
na
produção
do
conhecimento estratégico necessário aos mais altos escalões do Ministério da
Defesa para a realização do Exame de Situação e Planejamento no seio do EstadoMaior Conjunto das Forças Armadas.
Outro ponto de destaque é o emprego de forças especiais com tropas
convencionais. Os conflitos contemporâneos evidenciam a necessidade de integrar
habilmente operações convencionais e especiais a fim de assegurar o êxito da
campanha militar, sobretudo a consecução de objetivos políticos de longo prazo
(VISACRO, 2012), assim a doutrina básica de emprego de forças especiais deixa de
ser prerrogativa exclusiva de seus membros.
As operações especiais não são alheias às operações convencionais nem o
contrário, elas se complementam. Sugere-se então que o emprego de forças
especiais seja matéria a ser ministrada nas escolas militares, desde a formação e
aperfeiçoamento de comandantes de pequenas frações de nível tático: pelotão e
49
subunidades, até as de Estado-Maior para familiarizar os comandantes de unidades
e os integrantes de Estados-Maiores em todos os níveis como os comandantes de
Grande Unidade, Forças Componentes e Teatro ou Área de Operações, com o
emprego de operações especiais.
Agora que a ameaça não convencional é tão ligada à defesa nacional,
lideres militares devem ser treinados. As organizações militares devem
ser capazes de trabalhar em um campo de atividades bem mais amplo
do que aquele do ambiente militar convencional. (MEIGS, 2003, p-7)
Por ocasião da Guerra do Golfo, as forças especiais tiveram missões mais
amplas. Inicialmente a capacitação das forças da coalizão foi a maior preocupação
do comandante em chefe das forças armadas americanas naquele teatro de
operações. Além disso, coube às forças especiais a missão de restituição das forças
afegãs, incluindo suas forças especiais.
Denota-se uma capacidade das forças especiais pouco utilizada no âmbito
do Exército Brasileiro: o adestramento, tanto das tropas convencionais, quanto com
as tropas convencionais. Sugere-se o adestramento das forças especiais junto às
tropas convencionais, a exemplo do proposto na integração combinada das F Op
Esp americana no Centro de Adestramento de Combate:
a integração das FOpEsp com as forças convencionais no nível tático
da guerra e o compartilhamento do espaço de combate tem aumentado
a necessidade de adestrar esse relacionamento nos centros de
adestramento de pessoal. Embora a doutrina combinada empregue, em
geral, esses meios altamente capazes em uma FT de FOpEsp combinada e
compartimentalizada, as experiências e lições aprendidas com as
operações Iraqi Freedom/Enduring Freedom têm motivado um
relacionamento integrado entre as unidades convencionais e as
FOpEsp (...) o cenário inclui: - as FOpEsp atuando como assessores para
a coalizão, a nação hospedeira ou forças irregulares na área da equipe de
combate de brigada; - unidades de FOpEsp sob o controle tático da
equipe de combate de brigada, ou equipes de combate de brigada sob
o controle tático das FOpEsp, por curtos períodos de tempo para executar
ações contra alvos que exigem uma resposta imediata; a tarefa da equipe
de combate de brigada é prover uma força de reação para auxiliar a
FOpEsp na área de ação e conduzir uma coordenação eficaz
apropriada; - as unidades da equipe de combate de brigada e de
FOpEsp trocam inteligência valiosa e acionável, que responde às
necessidades prioritárias de inteligência e afeta a linha de ação da
equipe de combate de brigada; - a equipe de combate de brigada
estabelece contato ou troca de oficiais de ligação com a equipe
combinada de FOpEsp; - áreas de fogo proibido ao redor do
Destacamento Operacional A da FOpEsp ou missões de alvos que exigem
uma resposta imediata da FOpEsp na área de retaguarda da equipe de
adestramento de combate; - a equipe de adestramento de combate
coordena operações aéreas em apoio às necessidades das FOpEsp
combinadas; - a equipe de combate de brigada recebe ordens para
proporcionar segurança ou apoio logístico para o destacamento
operacional da FOpEsp durante as operações ou numa base de
50
operação avançada. O apoio deve incluir a previsão e distribuição de
artigos de subsistência e combustíveis, óleos e lubrificantes, e a evacuação
médica; - entrada imprevista de aeronaves na área de operações da equipe
de combate de brigada; - operações de FOpEsp que afetam ou provêem
apoio às operações dentro da área da equipe de combate de brigada; e
o comandante ou estado-maior da equipe de combate de brigada está
ciente das capacidades das equipes combinadas de FOpEsp e pode
integrar suas operações nas operações convencionais. (WALLACE,
LIVSEY, TOBLETEN, 2005, p-10)
Com a proeminência nacional no cenário global, as tropas brasileiras serão
mais requisitadas a compor forças internacionais, tropas da ONU ou coalizões, com
a presença de forças especiais de outros países, e portanto devem estar aptas a
atuarem ambientes, operando com forças especiais de outros países. Da mesma
forma, a própria forças especiais brasileiras devem estar aptas a compor as forças
combinadas e conjuntas de forças especiais dessas organizações internacionais.
Apresenta-se uma imprescindibilidade do emprego de forças especiais no
combate contemporâneo ao abordar a capacidade de utilizar as técnicas de
infiltração para se inserirem nas áreas de operação, nos combates não lineares e na
retaguarda profunda, em combates lineares. Aliadas às técnicas operacionais de
inteligência, ao profundo conhecimento do terreno humano e às operações
psicológicas, realizadas em proveito de suas missões, essa tropa torna-se
fundamental em qualquer campanha por permanecer, por tempo indeterminado, em
áreas hostis, ou sob o controle do inimigo com mínimo de direção e controle.
Da mesma forma, a imprescindibilidade das forças especiais se dá por ser a
única tropa apta a organizar, desenvolver, equipar, adestrar, instruir e empregar
forças irregulares compostas por elementos nativos. Podendo esse recurso ser
utilizado em prol de operações convencionais linear, ou não, e como apoio,
complemento ou economia de meios.
A importância dessa tropa acresce no emprego da guerra irregular como
forma de condução da guerra. Certamente esse recurso seria fundamental em caso
de uma invasão ao território nacional por motivos ambientais, ou outros, mais
particularmente relativos à Amazônia brasileira.
A conveniência de assegurar que as forças convencionais adquiram
predicados comumente associados a forças não convencionais (...) É
resposta a uma vocação estratégica geral. (Brasil, 2013, p-6).
Independente do local da invasão, as forças de ocupação exerceriam
domínio sobre o ambiente amazônico e as forças armadas brasileiras não teriam
51
condições de se opor, de forma regular ao invasor, que provavelmente seria uma
coalizão de países com aval de instituições internacionais.
Tampouco o invasor deixaria operativas as instituições nacionais vigentes. A
exemplo do Afeganistão e Iraque, para a consecução dos objetivos políticos
propostos, pressupõe-se a derrubada do governo vigente e o estabelecimento de
outro, adepto aos efeitos políticos desejados dos invasores.
O esforço de guerra, nesse caso, se assemelharia aos modus operandis do
Talibã, dos insurgentes no Iraque, assim como da resistência francesa na II Guerra
Mundial. A única forma de reação e expulsão do invasor seria por meio da condução
da guerra irregular.
Sendo as forças especiais a única tropa especializada nesse tipo de
combate não convencional, cresce de importância no emprego, no adestramento de
tropas
convencionais
e
principalmente
no
desenvolvimento
de
doutrina,
independente do ambiente operacional a ser desenvolvido o combate, seja selva
amazônica, os pampas gaúchos, o cerrado do planalto central ou a caatinga
nordestina.
A conveniência de assegurar que as forças convencionais adquiram
predicados comumente associados a forças não convencionais pode
parecer mais evidente no ambiente da selva amazônica. Aplicam-se
eles, porém, com igual pertinência, a outras áreas do País. Não é uma
adaptação a especificidades geográficas localizadas. É resposta a uma
vocação estratégica geral. (Brasil, 2013, p-6).
Ressalta-se que a tropa de forças especiais é aquela cuja capacitação a
caracteriza como tal, e não a caracterização gramatical do termo. Por exemplo, na
América do Sul, há tropas chamadas forças especiais, mas não tem competência
para conduzirem a guerra irregular, nem possuem expertises como o domínio do
terreno humano, da consciência situacional ou das operações de informação.
São chamadas como tal, pois se classificam como especiais. Em alguns
casos são tropas de combatentes comandos, especialistas na condução de ações
diretas, como os comandos peruanos, que realizaram a ação de resgate dos reféns
na embaixada do Japão naquele país, todavia não tem capacidade de operar a
guerra irregular.
Paralelamente, as outras forças singulares nacional não possuem tropas de
forças especiais, são especializados em missões pontuais de curta duração, sendo
ações diretas tipos comandos.
52
Quanto
à
operação
conjunta,
aspecto
determinante
no
combate
contemporâneo, não se emprega forças armadas isoladas, nem em prol de uma
mesma finalidade, mas sim elementos com capacidades complementares,
integrando e conjugando esforços para consecução dos efeitos políticos e militares
desejados.
Nessa moldura, vimos as Forças Especiais americanas, no Afeganistão,
como instrumento imprescindível a essa finalidade. Ações diretas, em prol da Força
Aérea, permitiram a conquista da superioridade aérea, da mesma forma, uma vez
infiltrada, puderam aperfeiçoar os ataques aéreos, garantindo eficiência, diminuindo
o fratricídio, o número de baixas entre os civis e impressionando as forças nativas,
motivando-as para o combate.
Outro recurso das forças de operações especiais conjuntas foi a infiltração
por terra e o grupo de operações especiais da aviação fornecendo segurança. É
primordial que para isso haja uma interoperabilidade em termos de equipamento,
instrução, adestramento conjunto. Sugere-se uma maior aproximação das tropas de
operações especiais com os grupos de aviação de combate da Força Aérea.
Decerto é que, o ideal seria a formação de um Comando de Operações
Especiais Conjunto. Seria ativado desde o tempo de paz, como o COMDABRA, e
seria composto por tropas de operações especiais do Exército da Marinha e da
Força Aérea. Dessa força, haveria grupos de aviação de combate e de transporte
voltados para as operações especiais realizando operações de reconhecimento,
ataque ao solo, ressuprimento aéreo, lançamento de pessoal, dentre outras.
Quanto ao Combate ao terrorismo, percebe-se que as forças especiais
americanas dão ênfase, não às ações contraterroristas, visando o gerenciamento de
crise, mas sim à infiltração de equipes de pequenos efetivos para identificar as
ameaças.
O maior ensinamento sugerido às forças de operações especiais brasileiras
é o emprego de forma preventiva com identificação de redes e células, ou seja, o
monitoramento, o emprego proativo, e não somente de forma reativa após o
estabelecimento da crise.
O Brasil às vésperas de grandes eventos como a Copa do Mundo e as
Olimpíadas deveria infiltrar operadores especiais para integrado com a inteligência
realizar reconhecimento e avaliação de área na Tríplice fronteira, por exemplo, para
53
identificar possíveis redes e células, patrocinadores, apoios e monitorar o
planejamento de atos terroristas, agindo assim de forma preventiva.
Outra sugestão baseada no emprego de operações especiais americana é o
prefeito entendimento que deve ser utilizada para garantir as políticas do estado.
These soldiers, sailors and air men are quiet, professionals instruments
of US policy. They are forward employed, performing their respective
missions every day of the year from the grass-roots level-where the
problems are – to the ambassadorial level, giving advice, providing
assistance and coordinating requirements, all in support of US
interests. (STINER, 1991 p-3)
Apesar de instrumento militar, suas missões são realizadas no nível tático,
operacional e estratégico, porém seus efeitos são projetados nos níveis mais
elevados, principalmente o estratégico e normalmente podem estrapolar o campo do
poder militar, a atuar sobretudo no político, incluindo a diplomacia e o campo
econômico.
Por ocasião do emprego de Forças Especiais na península de Al Faw,
visando à garantia de funcionamento, vemos aqui o emprego de forças especiais
com finalidades político-econômicas a nível global, uma vez que interrompida o
fornecimento desse combustível, atingiria diretamente a produção industrial
americana, e indiretamente a economia mundial, pelo provável aumento no preço do
petróleo e conseqüente nos demais derivados e produtos.
Por fim, os conflitos contemporâneos têm características eminentemente
irregulares e as forças especiais se acresce de importância, tanto na execução de
suas missões clássicas, quanto no planejamento, assessoramento, adestramento,
complemento e apoio às tropas convencionais.
Atestamos que as operações especiais americanas foram primordiais para
os conflitos contemporâneos aos quais os Estados Unidos da América se
envolveram, principalmente no combate ao terrorismo, ao eliminar o líder da maior
rede terrorista internacional, Osama Bin Laden.
Adotar seus ensinamentos nas Forças de Operações Especiais brasileira
incrementaria as capacidades da Força Conjunta de Operações Especiais e das
demais Forças Componentes no interior do Teatro ou Área de Operações.
Nesse particular todos os militares, principalmente integrantes dos EstadosMaiores, devem ter a expertise de empregar as forças especiais para uma maior
54
projeção do poder militar brasileiro, em prol das missões constitucionais das Forças
Armadas e de uma maior projeção do Brasil no cenário internacional.
55
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