ii. o japão pelos tempos - Arverde

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Jardim Japonês
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II. O JAPÃO PELOS TEMPOS
1. INTRODUÇÃO
O Japão, como se pode ver mais adiante, inicia o seu desenvolvimento muito depois do
Ocidente, ou seja no inicio do seu povoamento o Ocidente encontra-se num período de
sedentarização enquanto o Japão se encontra ainda em fase nómada.
Um dos pontos muito interessantes na evolução do Japão, é a facilidade com que o povo
Japonês conseguiu, não só alcançar uma cultura muitos anos mais desenvolvida, como a
consegue ultrapassar. Hoje o Japão, tecnologicamente e socialmente, é um dos países mais
avançados.
Devido à sua conformação, o arquipélago não tem um acesso contínuo ao continente,
tendo sofrido fases de introdução de conhecimentos e fases de institucionalização dos
conceitos aprendidos. Esta forma de viver com o mundo exterior está interiorizada na
cultura Japonesa. A partir de certo ponto da história a evolução tecnológica e de navegação
facilita o constante contacto com o exterior, mas o Japão necessita de fechar as portas, e
de compreender e tornar seu o que aprendeu fora, criando um ciclo, de poucos séculos, de
contacto e reclusão com o exterior.
A maior influência sofrida no Japão vem da China, mas devido à capacidade criativa e
curiosa do povo Japonês, depressa esta se adapta e inova a cada nova introdução.
Desta forma, o Japão consegue criar uma cultura tão particular e vasta na sua expressão,
partindo de poucas fontes diferentes.
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2. DADOS GEOGRÁFICOS
2.1 FORMAÇÃO DO ARQUIPÉLAGO
Na Era Glaciar (cerca de 10 mil anos A.C.), quando o Japão se encontrava na Idade da
Pedra, o arquipélago Nipónico estava ligado ao continente asiático por terra. Os primeiros
Homens a habitar esta parte do continente asiático foram povos que chegaram ao Japão
perseguindo grandes mamíferos como o elefante Nauman. Estes povos utilizavam
instrumentos de pedra lascada para viver da caça e complementavam a sua halimentação
com a recolha dos frutos das árvores.
Com o fim da era glaciar, há cerca de 10 mil anos atrás. o nível do mar subiu e o
arquipélago japonês ficou separado do resto do continente assumindo a forma aproximada
No ocidente por esta época inicia-se
a agricultura e criação de gado.
do que é hoje em dia. O clima ficou ameno e agradável, floresceu uma vegetação de
árvores de folhas largas e surgiu um grande número de animais de pequeno e médio porte
como veados e javalis.
2.2 TERRITÓRIO E REGIÕES ADMINISTRATIVAS
O Japão ( Nippon ou Nihon que se escreve com os ideogramas que significam
“sol” e “origem”) é um arquipélago que se estende, aproximadamente, de
Nordeste a Sudoeste, Situando-se na costa Este do continente Asiático. A área
total de terra, em Outubro de 1989 era de 377.688 Km2. As quatro ilhas
principais são Hokkaido, Honshu, Shikoku e Kyusho. Para além destas, as ilhas
mais a nordeste – Kunashiri (Kunashir), Etorofu (Iturup) foram reclamadas
pelos japoneses, enquanto as ilhas Hamobai e Shikotan, foram ocupadas pela
União Soviética no fim da Segunda Guerra Mundial estando ainda ocupadas
pela Federação Russa. As ilhas Ogasawara e Okinawa, sob as regras
Americanas depois da Segunda guerra Mundial, foram devolvidas ao Japão em
1968 e 1972 respectivamente. As áreas das principais divisões geográficas do
Japão (incluindo ilhas distantes sob controle administrativo) são as seguintes:
Hokkaido 83.520
Km2,
Honshu 230.940
Km2,
Shikoku 18.808
Km2,
1. O Arquipélago Japonês
Kyusho
42.164 Km2, Prefeitura de Okinawa 2.256 Km2. Seguindo a tendência entre países de
aumentar as águas territoriais, o Japão mantém o seu limite a 12 milhas náuticas da costa
desde 1977.
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2.3 POPULAÇÃO
Na época da Restauração Meiji (1868) a população do Japão rondava os 33 milhões. Em
1990 era de 123.612.0001, a sétima maior no mundo. Com uma densidade por km2 de
332 pessoas em1990. Esta ocupação apesar de equiparável à outros países como Holanda
ou Bélgica, tem uma densidade populacional por unidade de área cultivável das maiores no
mundo, uma vez que dois terços do Japão é ocupado por terreno montanhoso, e as
planícies aluvionares ocupam apenas 13% da superfície.
A população, distribuía-se igualmente por todo o terreno até há um século atrás, quando
o Japão dependia ainda essencialmente da agricultura. Nos dias de hoje 43.1% da
população situa-se nos três maiores centros urbanos: Tokyo, Osaka e Nagoya.
2.4 TOPOGRAFIA
A figura principal do arquipélago japonês é a instabilidade geológica, incluindo frequentes
actividades vulcânicas e tremores de terra. Outra característica importante é a topografia,
pelo facto do arquipélago Japonês ser essencialmente povoado por montanhas e ter muito
poucas planícies.
Ao longo da costa existem arribas de 1500- 3000 m onde Vales em ‘V’ cortam as
montanhas. Em contraste, na costa do Mar do Japão existem planaltos e baixas montanhas
com altura máxima de 500 – 1500 m.
No Japão, desde o período geológico quaternário que houve 188 erupções vulcânicas, 40
das quais continuam ainda hoje activas.
2.5 CLIMA
Localizado numa zona de monções, da costa Este do continente asiático, a figura mais
notável do clima do arquipélago japonês, é a larga amplitude térmica verificada nas
diferentes temperaturas anuais, assim como os ventos e a época das grandes chuvas. Por
todos os factores referidos e devido à complexidade da região, há uma diversidade de
manifestações climáticas ao longo das estações.
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In Anónimo, “Japan Profile of a Nation”, Kodansha International, Tokyo, 1994
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Primavera - Quando as baixas pressões passam sobre o Pacifico,
na costa do Japão em Março, a temperatura sobe em cada chuvada
e um vento forte chamado haru ichiban sopra sobre o país. Estes
ventos causam inundações pelo degelo das montanhas. Instala-se
um clima ameno e agradável.
Verão - a estação das chuvas (baiu ou tsuyu) instala-se a 7 de
Junho. Começa pelo Sul do Japão movimentando-se para Norte. O
fim da época das chuvas dá-se por volta de 20 de Julho. Nesta fase
o tempo assume os padrões veraneantes.
Outono - Setembro é a época dos tufões, as condições
climatéricas assemelha-se ao da época das chuvas devido ás
frentes de chuva Outonais. O tempo abre em meados de Outubro, e
os ventos de Inverno começam a soprar.
Inverno - em Dezembro, os ventos de Nordeste trazem a neve
para as montanhas e planícies do lado do Mar do Japão, e um vento
seco sopra do lado do Oceano Pacifico. O pico do inverno ronda o
dia 25 de Janeiro.
2. Condições climatéricas do Japão
O território do Japão é pequeno, mas, de estrutura muito complexa, assim sendo, o clima,
a flora e a fauna variam regionalmente, estendendo-se da Zona Subártica, a Norte, para
uma Zona Subtropical a Sul, que se reflectem em alterações estacionais muito marcadas.
As alterações sazonais no Japão trazem consigo muitos desastres naturais, como
chuvadas fortes, tufões e inundações. Para além destes desastres naturais o Japão
derivado dos seus 40 vulcões ainda activos e de se encontrar numa falha sísmica tem
frequentes erupções vulcânicas, terramotos e maremotos, por vezes associados a ondas
gigantes as tsunamis.
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3. PELOS TEMPOS
O isolamento e as condições naturais adversas atrasaram o povoamento do Japão pelo
Homem, mas não o impediram. A expansão da humanidade pelas terras do Sol estavam
reservadas ao Homo Sapiens.
Os vestígios humanos mais antigos que se conhecem datam de há cerca de 30.000 anos;
nessa época o arquipélago esteve por vezes ligado ao continente, devido ao abaixamento
do nível médio da água do mar derivado da glaciação.
Supõe-se, hoje, que o povoamento do país se fez pela China setentrional, Coreia e
Sibéria, não se sabendo porém, por qual delas terão vindo mais grupos. A origem do povo
Japonês continua assim, mal conhecida.
Terminada a última glaciação, as águas voltaram a subir e o Japão tornou-se
definitivamente num arquipélago adoptando as formas aproximada à que hoje conhecemos;
os seus habitantes ficaram isolados no continente e nunca mais se deu uma invasão maciça
do território por novas gentes. O país seguiu, assim, um percurso histórico autónomo.
3.1 PERÍODO PRÉ HISTÓRICO - ERA PRIMITIVA
Os arqueólogos especializados nos primeiros desenvolvimentos da sociedade Japonesa
dividem este período em quatro fases principais:
Período Pré-cerâmico ou Idade da Pedra: até 10 000 a.C.
Período Jômon: 10 000 a.C. - 300 a.C. (cerâmica)
Período Yayoi: 300 a.C – 300 d.C. (metais e Agricultura sedentária)
Período Yamato ou Kofun: 300 d.C. – 710 d.C.(época dos grandes túmulos e princípio de
uma política centralizadora).
Este último é um período de transição para uma era onde aparecem já relatos escritos, é
conhecido também como o período proto-histórico.
No Período pré-cerâmico - aparecem os primeiros habitantes do arquipélago Nipónico
que eram caçadores colectores do paleolítico vindos do continente, utilizavam pedras
lascadas mas não tinham cerâmica nem faziam agricultura.
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O período Jômon é geralmente dividido em cinco épocas pelos arqueólogos:
Soki: época inicial 10 000 a.C. – 3 700 a.C.
Zenki: época anterior 3 700 a.C. – 3 000 d.C.
Chuki: época média 3 000 a.C. – 2 000 a.C.
Kôki: época posterior 2 000 a.C. – 1 000 a.C.
Banki: época final 1 000 a.C – 250 a.C.
Por esta periodização podemos ver como o progresso começa por ser bastante lento; só
após 5 000 anos de uma cerâmica extremamente incipiente e pouco decorada, é que se
reconhecem progressos significativos, quer na criação dos artefactos, quer na sua
decoração. O povo Jômon desde 1 000 a.C. praticava já a cultura de um condimento
conhecido como o shiso e o arroz que não é nativo do Japão.
Durante o período Yayoi ( séc. III a.C.) dá-se a introdução da cultura do arroz por
irrigação, da fundição de metais e ainda da domesticação do cavalo. Este período
demonstra-nos como a evolução da civilização nipónica se encontrava dependente das
Neste período, enquanto no Japão se
começa a cultivar arroz, e a utilizar
metais, na Grécia, vive-se já um
governo democrático
novidades vindas do exterior. Podemos ler neste período um prenúncio de uma das
primeiras características da história japonesa: a um período de lento aperfeiçoamento das
técnicas importadas, sucede um período de grande afluxo de novas técnicas trazidas de
fora, rapidamente adoptadas pelos Japoneses que as ‘digerem‘ num período seguinte de
semi-isolamento.
Em cerca de oito séculos os japoneses passaram de uma civilização pré-histórica para um
estado centralizado e burocratizado que procurava ser uma cópia fiel da civilização chinesa.
Encontram-se testemunhos da fase Yayoi no Norte de Kyushu e em Honshu nas margens
do mar interior. Qualquer uma destas zonas é muito favorável ao acesso pelas populações
introdutoras de novas tecnologias, no entanto, Honshu apresenta melhores condições
naturais para a construção de infra-estruturas, como canais de irrigação para a cultura do
arroz.
O período proto-histórico prolongou-se desde os meados do século III até ao final do
século VI, e é designado por “época dos grandes túmulos” (Kofun jidai), expressão que
testemunha a monumentalidade das sepulturas dos chefes que governavam os territórios
do centro do Japão. Os ‘Grandes Túmulos’ mais antigos foram encontrados nas planícies do
Yamato, encontram-se em fases posteriores no Kinai e depois em Nagoya e Tokyo.
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É importante reter esta tendência
cultural manifestada pelos japoneses
desde os seus primórdios em que a
uma fase de introdução de ideias se
segue uma fase de reclusão e
institucionalização dos conceitos.
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Estas sepulturas de enormes dimensões eram sinal do tipo de sociedade que se
começava a instalar no Japão e que mais tarde iria dominar todo o país baseada
essencialmente no culto do clã, na qual o culto dos antepassados tinha um importante
Nos grandes túmulos aparecem os
primeiros desenhos de um jardim, o
“Jardim das Almas”, apresentado
mais à frente neste trabalho.
papel. Durante este período, os grupos humanos foram aumentando, tornando-se mais
complexos tal como as suas relações. Dá-se a passagem de uma organização tribal para
um estrutura hierarquizada. A existência de um chefe que se dava pela autoridade deste
sobre os chefes dos outros clãs.
3. Mausoléu do Imperador Nintoku. Inicio do Século V. Na prefeitura de Osaka.
O poder dos chefes era dado pelo prestígio religioso do clã que dominava e por um
equilíbrio precário de vontades.
O Estudo arqueológico dos Grandes Túmulos levam a crer que a família que veio a deter a
suprema autoridade no Japão, começou por se deslocar do Norte de Kyushu para a planície
de Yamato. Esta deslocação do lendário Jimnu, fundador da casa imperial nipónica marca
sem dúvida, a consagração do Kinai como espaço político e estratégico.
Desde a Passagem de Jimnu para o Kinai, seguem-se 10 primeiros chefes de linhagem
imperial, estes representam a passagem de uma sociedade tribal a uma chefadura, sendo
Sujin, o primeiro chefe a consolidar o ascendente da sua tribo sobre todas as outras da
região, ficando conhecido pelo epíteto “O primeiro a governar o país”.
Nesta época, o Japão mantinha contactos regulares com o continente, principalmente com
a Coreia e, através dela, com a china; estes acentuaram-se em finais do século IV. Numa
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No Período Kofun, no Ocidente
assiste-se ao fim do Império Romano
no Ocidente, e ao florescer do
império Muçulmano.
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fase de rápido desenvolvimento tecnológico, os grandes senhores nipónicos sentiam ainda
a necessidade premente de manter contactos significativos com o continente.
O confucionismo, a escrita em caracteres chineses e depois o Budismo, acompanhados
de todos os outros valores da civilização chinesa, foram influenciando e começando a
mudar pouco a pouco, a civilização nipónica, ao longo do século V e VI. As reacções de
carácter nacionalista não impediram o modelo chinês de permanecer como pano de fundo
na estrutura civilizacional, embora possua características autónomas e bem vincadas.
No final da época dos grandes túmulos já se reconhecem os traços fundamentais da
cultura nipónica, o território encontra-se dividido por clãs (uji), directamente relacionados
com a casa real, estes tinham, por sua vez, um vasto conjunto de dependentes.
3.2 PERÍODO PROTO-HISTÓRICO
Em 587 os soga tomam o poder em Yamato e colocam no trono a imperatriz Suiko. A
partir deste momento o Yamato começa a ser regido por leis escritas agrupadas em
códigos. Nesta época começa-se a firmar no povo um espírito religioso muito próprio,
intimamente ligado com o espírito social vigente, era o Xintoísmo: a via dos Deuses. Na
moral xintoísta prepondera, uma percepção natural do bem em detrimento de
determinações mais abstractas e teóricas sobre essa noção primordial. O método de
pensar dos Japoneses consiste em perceber os significados nos próprios fenómenos
naturais.
4. Primeiras formas sagradas na Natureza
Esta religião, original do Japão, não se limitava a procurar unir os habitantes do
arquipélago à Natureza que os rodeava; também os ajudava a consolidar o sistema social
numa estrutura de clã que assistira à génese e florescimento do Yamato. Os espíritos dos
antepassados eram venerados ao lado das forças da Natureza, ajudando assim, a
fortalecer a solidariedade interna do clã, que possuía os seus próprios espíritos – forças
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Aparecem os primórdios dos
arquétipos naturais, a veneração das
pedras e árvores de formas raras. Os
Santuários Xínto definem os primeiros
arquétipos em Jardins.
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divinas que favoreciam apenas um determinado grupo e davam uma certa unidade nacional.
As divindades do clã estabeleciam os limites dessa mesma unidade. Os grandes túmulos
que então se erguiam, também se relacionavam com essa diferenciação, acentuando, pelas
suas dimensões, o prestigio dos clãs mais importantes.
Tal como a estrutura político administrativa do Yamato, também o pensamento religioso
do país foi abalado pela importação maciça de valores da civilização chinesa; o
Confucionismo e o Budismo, que então se difundiram pelo arquipélago, eram religiões
“centralizadoras”.
Dá-se a adopção do Budismo pela corte; tornava-se, assim, oficial, uma religião vinda do
exterior, que não se identificava com o espírito protector de nenhum clã. Ao mesmo tempo,
vinga a noção confucionista de uma autoridade central única – o imperador não era só filho
dos Deuses, mas o próprio filho do céu.
Inicia-se nesta época um comportamento político típico dos Japoneses, que com
episódicas interferências, se prolongou até aos nossos dias; os imperadores em título não
detinham o poder político, mas sim um príncipe herdeiro nomeado. Desta forma, as grandes
lutas pelo poder travar-se-iam, normalmente, entre facções que desejavam dominar a casa
imperial, e não substitui-la, para deter por essa via o verdadeiro poder.
Dão-se grandes reformas nos dois séculos que se seguem, até ao ano 710, quando é
completada a redacção definitiva do primeiro código de leis, a uniformização de medidas e
a cunhagem de moedas que reforçavam o poder do estado. Sob a reforma de Taika em
645, o sistema de administração Kokugun foi instalado , e o país foi dividido em 58 (mais
tarde 66) províncias (Kuni ou Koku) com sub unidades chamadas gun .
Nesta época, a corte, que nunca se estabelecera numa determinada cidade,
movimentando-se ao sabor da evolução política, fixa-se numa cidade especialmente
concebida para desempenhar o papel de sede do poder centralizado – Nara ; esta foi
criada segundo o modelo urbano chinês, procurando copiar a capital dos T’ang.
No final do século VII e no início do seguinte a casa imperial deteve momentaneamente o
poder efectivo, refugiando-se para isso numa endogamia, que a defendia da influência dos
grandes clãs.
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3.3 A ANTIGUIDADE
Foi Fujiwara no Fuhito (659-720) quem conseguiu quebrar o isolamento da família
imperial, casando uma filha com o imperador Monmu. A acção de Fuhito não teve grandes
consequências imediatas devido à morte precoce dos seus filhos durante uma epidemia que
assolou a capital em 737. O esforço destes, concentrou-se, então, em conseguir afastar os
imperadores adultos do trono (forçando-os a abdicar, ou eliminando-os pura e
simplesmente), fazendo-lhes suceder pequenos príncipes filhos de princesas Fujiwara, e
assumindo o avô a regência; quando o poder do clã se consolidou, foi estabelecido o
Kanpaku- a regência em nome do imperador adulto – título ostentado a partir de 887.
Este período prolongou-se até ao século XII, a melhor forma de ascender na hierarquia
da administração, ou de se ser apontado como pessoa exemplar, era conhecer
Enquanto nesta fase o Japão é ainda
governado por clãs no Ocidente
instala-se o Feudalismo.
profundamente todos os ritos e códigos de comportamento.
Em 794 deu-se a última mudança de capital de Nara para Heian até ao século XIX (actual
Quioto). Heian marca o início do desenvolvimento do sincretismo Japonês, o apogeu da
cultura cortesã nipónica e o afrouxamento da influência da cultura chinesa, iniciando-se o
encerramento sobre si próprio em que o Japão mergulhou até ao século XVI.
5. Jardins do Paraíso
A criação de um regime de códigos, a divisão do país em províncias e distritos, os
impostos e o novo sistema de posse de terras foram , acima de tudo, uma demonstração
de força da família real e dos cortesãos que se lhe associaram e depois a dominaram. As
reformas do século VII tinham eliminado a posse de terra, pelos clãs, mas os grandes
senhores transformavam-se nos governadores dos distritos. Os direitos históricos dos clãs
evoluíram assim, para direitos administrativos.
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Aparecem os “Jardins do Paraíso”
nos palácios imperiais e Templos
Budistas, já bastante desenvolvidos
nesta época.
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Apesar de por estas reformas o estado pretender relacionar-se com o indivíduo, o país,
longe de Heian assentava numa organização familiar e comunitária, que ganhava
consciência da sua autonomia num quotidiano vivido em vales estreitos e semi-isolados; a
organização tribal sobreviveu, desenvolvendo gradualmente novas tendências regionalistas
por todo o país. O espaço tende a reordenar-se sob a mão dos mais poderosos.
3.4 PERÍODO MEDIEVAL - IDADE MÉDIA
A insegurança que se vinha acentuando desde o século X levou ao aparecimento, no
século XI, por todo o país, de grupos de guerreiros organizados, ao mesmo tempo surgia
na corte, um serviço de policiamento chefiado por duas famílias que se tornariam muito
importantes, Taira e Minamoto. O desenvolvimento destes grupos deu-se em paralelo, meio
cruzado com a autonomia crescente dos senhores do campo e com o desenvolvimento de
laços de relações pessoais na corte. – Aparece o modelo de feudalismo japonês.
Até agora a luta pelo poder fora subtil e jogava-se nos bastidores, no século XII, a luta
entre os grandes senhores transforma-se numa luta armada e sai para a rua. Tentando
obter o poder supremo desta forma.
Em 1156 morre o imperador retirado: Toba, deixando dois filhos que lutam pelo acesso
ao Trono, Não havendo forma subtil de evitar o conflito, a corte divide-se em dois campos,
apoiados um por Minamoto no Tamayoshi e outra por Taira no Kiyomori. Dá-se uma guerra
entre as duas partes saindo Taira no Kiyomori vencedor. Pela primeira vez um guerreiro
domina a capital.
Taira tenta governar como um cortesão, perdendo toda a sua força, pois os seus
ascendentes não justificam a sua posição; esquecendo-se das suas origens guerreiras; este
fica enfraquecido, sendo derrotado pela mão de Minamoto no Yoritomo onde se inicia a
idade média no Japão. Yoritomo preocupa-se com manter a fidelidade dos senhores das
províncias; não exige do imperador um título civil mas um título militar: tornando-se num
Xógum – o chefe de todos os exércitos.
O Japão passa a ser governado pela espada e não por um aparelho burocrático – já não
se precisava da corte para legitimar direitos adquiridos; bastava ter como os defender. Os
‘senhores dos ritos’ davam lugar aos ‘senhores da guerra’.
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O novo governo de Yoritomo encontra-se sediado em Kamakura, fora de Kioto, na região
de Kantô.
Quando Yoritomo morre, a família da mulher - os Hôjo, tomam para si o encargo da
educação dos filhos, governa o bakufu, criando um novo título, o shikken, o regente do
Dá-se a introdução do Budismo Zen
no Japão, os shoguns são os grandes
impulsionadores desta religião.
xógum. Os Hôjo exterminam os netos de Yoritomo, colocando no berço um bebé Fujiwara.
Por esta altura o Japão era governado por um sistema de figurantes.
Em 1338 o xogunato passou para as mãos dos Ashikaga, que se instalaram em
Muromachi, um quarteirão de Quioto. Mas os novos xóguns tiveram sempre um poder
reduzido; quem passou a dominar então o país foram os senhores da terra, nas províncias,
e o Japão entrou numa fase de anarquia que conheceria o seu apogeu entre 1467 e 1573.
A Autoridade central foi enfraquecendo, até que se extinguiu durante o xogunato dos
Ashikaga. O poder dependia agora da força militar e das alianças que se conseguiam
estabelecer. O clima de insegurança levava as pequenas comunidades a reforçarem os seus
laços de solidariedade interna e a se unirem a um poderoso chefe local. A classe de
guerreiros, possuidora de um código de honra próprio – o bushido – assegurava a defesa
de cada região. Não existia um verdadeiro sentimento nacional.
O feudalismo no Japão tal como na Europa, reflecte um período turbulento de ruptura
com um sistema já esgotado e um período de reorganização que dão lugar a alterações
profundas na sociedade; isto permitiu que as regiões, em primeiro lugar, depois as
províncias e finalmente o país se reestruturassem gradualmente.
Surge uma nova figura no tecido social japonês – o dáimio. Este era, normalmente, um
antigo governador militar de uma província, que tinha cortado os laços com o bakufu de
Murumachi. Os dáimios, novos senhores passam a actuar nas suas regiões. Aparecem
novos centros de disputa nas províncias entre os vassalos, aparecendo uma nova figura,
uma segunda geração de dáimios no século XV – os sengoku dáimios; estes procuram
tornar seus vassalos todos os que tivessem direito sobre a terra, ou autoridade sobre
comunidades de camponeses, eliminando assim vassalagens indirectas nos seus territórios.
Reorganizam a administração fiscal e desenvolvem a agricultura, o comércio e o urbanismo.
3.5 PERÍODO PRÉ-MODERNO
Em meados do século XV o país estava assim organizado a um nível regional, faltava
apenas um dáimio que fosse capaz de centralizar de novo o poder, que se encontra-se em
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Aparecimento dos primeiros “Jardim
Zen”, desenhados pelos monges Zen
nos seus templos.
No Ocidente, pela altura em que
aparece esta tipologia de Jardim, o
Renascimento Italiano começa
também a ganhar as suas formas.
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zonas estratégicas e que aos poucos se conseguisse impôr sobre os outros dáimios. Esse
homem foi Oda Nobunaga (1534-1582).
Ao iniciar a nova centralização política do império Nipónico, Oda Nobunaga dirigiu-se para
Quioto e ocupou-a em 1568. Os anos das guerras crónicas foram no entanto muito
penosos. O Japão era então um país de samurais, estes constituíam um grupo aberto, em
que a ascensão era possível aos bons soldados; o caso mais significativo é o de Toyotomi
Hideyoshi, que nascido de uma família camponesa se distinguiu nos exércitos de Oda
Nobunaga, foi seu general e depois investido num feudo se tornou dáimio. Aquando da
morte de Nobunaga, ele sucedeu-lhe no governo dos territórios unificados e terminou o
esforço de centralização política.
“Os guerreiros viviam sob o código de honra o bushido (...) que assentava em cultivar as
sete virtudes: a rectidão, a coragem, a bondade, a polidez, a veracidade, a honra e a
fidelidade, complementadas por uma oitava qualidade moral que as torna possível, o
domínio de si mesmo.” (Costa, J.;1995)
Entre as diferentes correntes de pensamento que animavam o bushi, deve-se destacar o
budismo zen do ramo rinzai, introduzido no Japão no século XII e que ensinava o desprezo
pela vida e a aceitação natural da morte. O guerreiro habituado à acção, aprendia com os
monges zen que não interessava a compreensão filosófica do sistema de pensamento
budista, mas antes a prática de meditação e a aceitação de que tudo está em constante
mudança e nada é permanente.
Os mosteiros ocupavam áreas consideráveis do território e os monges, nomeadamente os
da seita zen, desempenhavam então um papel importante, pois serviam de intermediários
nas negociações entre as grandes famílias e ainda nas relações com a china.
Cada região, no período medieval, sob a direcção dos sengoku dáimios, tornou-se mais
produtiva, mais rica e por isso mais colectável pelo fisco senhorial. Formaram-se pequenas
cortes responsáveis pelo surgimento de novas cidades. Com este surto urbanístico
desenvolveu-se também o comércio e o artesanato. Os dáimios procuram a
complementaridade entre regiões a nível produtivo, havendo uma troca de bens entre
cidades; devido ao terreno acidentado do território e as dificuldades na circulação
monetária, ainda escassa; surgiu então a letra de câmbio.
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Era samurai, todo o guerreiro de
origem nobre que tinha o direito de
usar dois sabres. Era necessária a
posse de determinada porção de
terra para se ser samurai.
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Os Portugueses, chegados ao Índico em 1498, vinham consolidando posições nas águas
do oriente, apropriando-se de importantes redes de comércio marítimo.
Quando se estabeleceram relações contínuas entre os Portugueses e Japoneses, em
meados de quinhentos, havia já vários séculos que o Japão vivia fechado sobre si mesmo,
mantendo apenas contactos esporádicos e limitados com a China.
O Império Nipónico recebeu, então um conjunto variadíssimo de novos conhecimentos em
campos tão variados como a geografia ou a medicina; foi abalado pelo esforço de difusão
de uma nova religião, muito mais radical nas suas exigências de adesão do que as outras
há séculos difundidas entre a população do arquipélago. Foi afectado pela rápida
conversão de milhares de pessoas a essa religião ocidental.
Os japoneses ficam seduzidos com o vestuário estranho daqueles novos visitantes, tendo
chegado os chapéus dos Portugueses, por exemplo, a fazer furor em Quioto; o Japão teve,
ainda, acesso a novas máquinas, como a imprensa, e, sobretudo, novas armas.
A espingarda, levada pelos portugueses, uma vez reconhecida, foi reproduzida
rapidamente e introduzida nos campos de batalha. Esta veio alterar significativamente a
estratégia das guerras civis e acabar com um certo equilíbrio e indefinição que então se
verificavam.
A introdução do cristianismo no Japão a princípio, não apresenta grandes dificuldades, as
religiões orientais eram extremamente tolerantes. O Budismo, aceitava os Deuses
Xintoístas, os Bonzos budistas tomavam normalmente parte durante os festejos Xíntus. A
versatilidade e sincretismo característica do budismo contrasta com o caracter rígido do
cristianismo, destruindo, quando podia, os templos Xíntus e Budistas.
Os conceitos cristãos, tal como os Jesuítas os apresentaram, entravam em grande
divergência com regras muito estabelecidas na sociedade, como o conceito básico que dá
unidade à família japonesa, que é o culto dos mortos, que se reflecte na prática de certos
ritos familiares pelo chefe da família em memória dos mortos.
Os portugueses, que tinham sido recebidos com grande entusiasmo devido à ligação
comercial que estabeleciam entre a China e o Japão2, instalaram a instabilidade pelas
2
Rotas que tinham sido proibidas pela China.
18 18
Em 1519 Fernão de Magalhães inicia
a volta ao mundo e em 1557 Os
Portugueses estabelecem-se em
Macau.
Jardim Japonês
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alterações profundas que propunham na sociedade, derivadas da implantação do
Cristianismo. Desta forma Ieyasu e os seus sucessores Xóguns, mantiveram uma estrutura
feudal centralizada controlando os domínios dos Dáimios na cidade de Edo, erradicando o
cristianismo, controlando os contactos do exterior, e aumentando os regulamentos para
samurais, nobres e templos.
Os Portugueses no entanto deixaram uma grande influência a vários níveis, ciência,
medicina, arquitectura, urbanismo, linguagem, expressão artística, etc.
Depois da saída dos portugueses chegaram os holandeses e os espanhóis, mas o maior
receio dos japoneses era a perda da sua identidade nacional e, de que estes comerciantes,
chegassem com um intuito de conquista, tal como acontecera nas Filipinas. Assim, a
permanência destes no Japão foi limitada, e, com a sua saída o Japão mergulha numa fase
de isolamento, onde interioriza todos os seus conhecimentos da anterior fase de abertura
No século XVI dá-se o aparecimento
do Jardim do Chá, em grande parte
impulsionado pelos monges Zen de
forma a evitarem a sonolência
durante a meditação. O chá foi
trazido pelos portugueses da China
para o Japão.
ao mundo até ao Século XIX, onde se sucede a restauração Meiji em 1868 e a revolução
industrial.
3.6. PERÍODO MODERNO
O sistema Tokugawa, exigente como era, deu ao país
dois séculos de paz, numa reclusão relativa do mundo
exterior. No século XIX esta reclusão foi quebrada pelo
aparecimento de Russos, Ingleses e Americanos em
águas asiáticas, pressionando as trocas com a China e
Japão.
O Xógunato ainda existente falha na “expulsão dos
Bárbaros”. A concessão de tratados inigualáveis e a
abertura dos portos depois da visita do comodoro
americano Perry em 1853, pôs em movimento uma
cadeia de eventos que levaram a um poderoso domínio
6. Pintura que representa a chegada de um navio comerciante português.
de Stasuma, Chochu e Tosa, que usando a corte imperial
para desafiar o Xógunato o destronou na restauração Meiji de 1868.
O jovem samurai, que levou avante a restauração queria preservar, revitalizar e fortalecer
o país. Este processo é levado a cabo rapidamente, durante o período Meiji (1868 –
1912). O slogan da nova liderança do Japão era fukoku Kyohei (enriquecer o país,
19 19
Jardim Japonês
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fortalecer o poder militar). Isto significava reformas nas instituições sociais, políticas, e
económicas ao longo da costa Oeste do país.
O Japão adoptou uma nova constituição em 1889,
abrindo caminho para um governo parlamentar.
Alcançou um progresso militar suficiente para derrotar a
China em 1895 e a Rússia em 1905, e para anexar a
Coreia em 1910, emergindo como o maior poder
imperialista a Oeste da Ásia.
Depois da Restauração Meiji o país foi reorganizado
administrativamente no sistema de prefeituras. Tokyo,
Osaka e Kyoto foram transformadas em fu (prefeituras
7. Representação da Constituição Meiji em 1989.
urbanas) em 1871, e o resto do país foi dividido em 302 ken (prefeituras). Em 1888 este
sistema foi integrado num sistema de 3 fu e 43 ken. Hokkaido foi inicialmente administrado
directamente pelo governo central mas mais tarde passou a ser tratado como uma
prefeitura, apesar de ser tratado como uma do em vez de uma ken. Em 1943 Tokyo Fu foi
considerado como uma área administrativa especial passando a ser designada como Tokyo
To (oficialmente traduzida como Metrópole de Tokyo). O presente Japão é actualmente
administrativamente dividido em 1 to (Tokyo To), 1 do (Hokkaido), 2 fu (Osaka Fu e Kyoto
Fu) e 43 ken3.
Segue-se o período Taisho (1912 – 1926) que ficou marcado como uma época de
aceitação do Japão como um “poder supremo”, um período de divisão do governo algumas
vezes referida como a Democracia Taisho. O seguinte período Showa (1926 – 1989)
começou com uma nota de optimismo mas depressa caí perante uma ofensiva militar na
Manchuria e China, e com a saída do Japão da Liga das Nações. Ultranacionalismos e uma
opressão política no interior do país provavelmente levaram á guerra com os Estados
Unidos da América e os seus aliados na Ásia e no pacifico.
3
In Anónimo, “Japan Profile of a Nation”, Kodansha International, Tokyo, 1994
20 20
Jardim Japonês
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3.7 ERA CONTEMPORÂNEA
8. Um Jardim Contemporâneo no Japão.
A derrota do Japão em 1945 sobre um manto de nuvens atómicas trouxe a ocupação
aliada, desmilitarização, desmantelamento dos antigos complexos industriais, renúncia da
condição divina do Imperador, uma nova constituição, democratização e um novo sistema
educacional.
9. Imagem de Tokyo depois dos Ataques aéreos e Tokyo hoje.
21 21
Jardim Japonês
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Depois de um doloroso período de reabilitação pós – guerra, a economia japonesa
começou a desenvolver-se entre 1960 e 1970. Os Jogos Olímpicos de Tokyo em 1964
trouxeram para o Japão um reconhecimento internacional renovado.
O crescimento económico observado baseia-se num tratado de segurança com os
Estados Unidos, donde adveio um esforço continuado no desenvolvimento económico,
apostas numa política de negócios orientada e um grande ênfase na educação.
O povo japonês empenha toda uma grande energia e esforços, sob uma pressão enorme
internacional, para a abertura dos mercados, para que este não se desenvolvesse apenas
no sentido de exportação, e que fosse mais acessível a importações estrangeiras.
Todos estes esforços fazem parte de um largo empenho pelos japoneses de ultrapassar
uma forte tendência histórica de se verem de certa forma, como únicos e distantes das
outras nações. Os japoneses tentam agora uma verdadeira internacionalização da
sociedade tentando uma completa cooperação com um mundo, cada vez mais
independente.
22 22
Jardim Japonês
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4. JAPÃO ACTUAL
De 1945 ao Presente
Em Agosto de 1945, um Japão exausto pela guerra aceita os termos de rendição das
forças aliadas e por decreto imperial o povo depôs as armas. O Japão foi colocado sob
controle dos aliados, em especial dos Americanos, por mais de seis anos após a rendição.
O Imperador teve que renunciar ao seu estatuto Divino, atribuído pelo confucionismo.
Hoje o imperador é símbolo do povo japonês mas está proibido de ter qualquer
participação no Governo do país.
Em 1946 são realizadas várias reformas políticas e sociais pelas autoridades da
ocupação, comandadas pelo General Douglas McArthur. A terra cultivável foi redistribuída
aos antigos arrendatários. Assegurou-se aos trabalhadores o direito de organizar
sindicatos e de fazer greves. Foram dissolvidos os principais zaibatsu – as grandes
holdings baseadas nos laços familiares. As mulheres conquistaram o direito de voto e
outros direitos. Foram garantidos os direitos de reunião, a liberdade de opinião e de
religião. Em 1947, foi promulgada uma nova constituição liberal.
A nova constituição garante liberdade religiosa para todos, sendo que no artigo 20
declara: “Nenhuma organização religiosa receberá quaisquer privilégios do estado, nem
exercerá qualquer autoridade política(...). O estado e os seus órgãos abster-se-ão da
educação religiosa e de qualquer outra actividade religiosa”. (Anónimo, 1990)
Em 1951 o Japão assina o tratado de paz em São Francisco. Nos anos que se seguiram à
guerra, as tarefas mais importantes são a sua recuperação económica, com o apoio dos
Estados Unidos e outras nações, o Japão entra em várias organizações internacionais,
estas possibilitam ao país participar no livre comércio multilateral internacional. Em meados
dos anos 60, o Japão tornou-se economicamente forte o bastante para competir com
sucesso nos mercados livres do Mundo.
Em cerca de 20 anos o Japão atingiu um desenvolvimento tecnológico e social que supera
muitos países desenvolvidos, o que foi considerado um feito histórico, abandonando o
feudalismo japonês para um sistema social perfeitamente ocidentalizado. Este crescimento
acredita-se não ter sido possível sem a constante presença desde o século XV de
contactos com o Ocidente, mas também pela extraordinária disciplina do povo japonês.
23 23
Jardim Japonês
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Os Jogos Olímpicos de Tóquio em 1964 simbolizam a nova confiança do povo Japonês e a
estrutura crescente do país na comunidade internacional.
Após meados da década de 60, o Japão começa a defrontar-se com vários novos tipos de
problemas, tanto interna como externamente. Com as necessidades de vida imediatas
satisfeitas, o povo começa a procurar outros objectivos, em especial melhoramentos da
qualidade de vida. Os estudantes expressam o seu descontentamento nas escolas e
universidades. O ambiente económico internacional cada vez mais austero, influencia a vida
em muito do povo japonês, originando grandes mudanças no seu modo de viver e pensar.
Os valores tornam-se mais diversificados e agora muitas pessoas dão mais importância à
expressão da própria personalidade e à busca de objectivos pessoais.
Culturalmente o Japão continua a apresentar as mesmas manifestações, ainda muito
enraizadas na sociedade apresentando os mesmos festejos anuais, muito ligados ainda ao
Budismo e Xintoísmo. As artes dramáticas evoluíram no sentido da junção das várias
formas, a dança, o teatro e a música, houve um aprofundamento das raízes, das suas
origens que se deram em diferentes épocas do passado.
Nas Artes Visuais as influências ocidentais começam a ser mais marcadas, na
Arquitectura, os materiais de construção, que originalmente eram apenas a madeira,
passam a ser estruturas tecnologicamente mais complicadas de materiais mais pesados,
mas com um grande respeito pelas tradições. Conseguiram uma boa coexistência do novo
com o tradicional.
A pintura é uma das artes que mais influência sofre, com a importação de novas técnicas
e conceitos ocidentais, que se desenvolvem e adaptam à cultura japonesa.
A liberdade de expressão vai influenciar todas as formas de comunicação, desde a
Literatura, que passa a permitir a entrada de todos os livros qualquer que possa ser o
pensamento, religião ou filosofia expressa. Os meios de comunicação desenvolvem-se e a
existência de mercados livres levam a uma grande importação de ideias, pessoas, etc.
O FUTURO?
Em toda a história do Japão encontra-se um certo padrão temporal, dois acontecimentos
repetem-se de forma cíclica em cada dois séculos, uma fase de grande abertura a tudo o
24 24
Jardim Japonês
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que é novo e uma fase de reclusão, de absorção das novas ideias, de um grande frenesi
para um estado calmo de verdadeira institucionalização dos novos conceitos.
A repetição cíclica no tempo de uma fase de abertura para uma fase de reclusão levamnos a pensar que algures no tempo o Japão irá entrar em fase de reclusão, numa fase de
institucionalização dos conceitos apreendidos desde o século XIX. Ou será que o Japão se
encontra já suficientemente ocidentalizado? Este simples facto implica a ausência de
necessidade de se fechar sobre si próprio? Será a religião, Confucionismo, Budismo, (com
todas as suas teorias de meditação e interiorização do conhecimento), a responsável pela
necessidade de reclusão dos japoneses?
25 25
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5. DATAS
Tabela Cronológica
Principais Acontecimentos
Acontecimentos no Mundo
Período
Pré-Histórico
PRÉ-CERÂMICO
Cerca de 10 mil anos
a.C.
Formação do Arquipélago japonês
O povo vive da caça e da pesca
Inicia-se a agricultura e criação de gado
3000 a.C.
Floresce a civilização egípcia
Século VIII a.C.
JOMON
Século III a.C.
Começa o cultivo de arroz e a utilização de utensílios de
metais
Governo democrático na Grécia
Século III a.C.
YAYOI
Reforma unifica a península Italiana
Século I a.C.
A China, nessa época, chamava o Japão de “Wa”.
Começa a formação de mini estados.
Nasce Jesus Cristo
239 d.C.
KOFUN ou YAMATO
Século III d.C.
Século V d.C.
Século VI d.C.
593
607
Período
Proto-Histórico
ASUKA
645
668
673
701
A Rainha Himico de Yamataikoku manda representantes
à China
A Nação Yamato faz a unificação do Japão
Construção de gigantescas tumbas (Kofun)
Primeira jardim conhecido – “Jardim das Almas”
O budismo, o confucionismo e o alfabeto ideogramático
(Kanji) são trazidos da China
Começa o governo, de facto, do príncipe Shotokutaishi
como regente
Príncipe Shotokutaishi manda representantes a china.
Aparecimento do Xintoísmo apoiado pela Imperatriz
Suiko dos Soga
476
Fim do Império Romano do Ocidente
Por volta dessa época floresce o Império
Muçulmano
Reforma Taika
Imperador Tenji é entronizado
Começa a institucionalização do Japão através do
sistema de governo Ritsu-ryo (Leis e instituições)
Começa o governo do imperador Tenmu
Redigido o sistema de leis e instituições autenticamente
japonês, o Taiho- ritsu- ryo
NARA
710
712
720
743
752
A capital é transferida para Heijokyo (Nara)
Primeiro registo histórico do Japão, Kojiki fica pronto
Registo histórico Nihon-shoki fica pronto
A propriedade privada de novas terras para cultivo passa
a ser permitida
Conclusão do Grande Buda de Todaiji
Antiguidade
HEIAN
794
894
A capital é transferida para Heiankyo – actual cidade de
Qyoto.
Aparecimento de uma nova tipologia de jardim - “Jardim
do Paraíso”, de influência essencialmente budista.
Faz-se uma nova tentativa de institucionalização através
do sistema de governo ritsu-ryo
870
O Reino Franco divide-se em três
Domínio do clã Fujiwara na política
Por volta dessa época instala-se o
Feudalismo
Suspende-se o envio de representantes à China
Propriedades privadas (shoen) nas mãos dos nobres e
templos espalham-se por todo o Japão.
1037
26 26
Instalação da Dinastia Seljuk
Turks
Papa ganha força e influência
Jardim Japonês
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SÉCULO X
1086
Fase áurea do domínio dos Fujiwara na política
Nessa época concluo-se a obra literária Genji
Monogatari.
Os guerreiros (samurais) começam a ter grande
influência no Governo
Começa o governo dos ex-imperadores
1156
Rebelião de Hogen
1159
1167
1185
Rebelião de Heiji
Começa o governo de Taira no Kiyomori
Fim do clã dos Heishi
Período Medieval
1096
Início das cruzadas
Florescem as cidades na Itália
1206
Gengis Khan unifica a Mongólia
1271
1299
Mongóis instalam a dinastia
Marco Polo publica os seus
relatos de viagem ao Oriente
Idade Média
(Divisão da História do
Japão em eras)
KAMAKURA
1192
1219
1221
1232
1274
1281
Introdução da seita Zen no Japão.
Minamoto no Yoritomo inaugura o governo militar
(Bakufu) de Kamakura. Início do Feudalismo japonês.
Começa o domínio do clã dos Hojo no governo
Rebelião de Jokyu
Promulgado o código legal dos Samurais, o Goseibaishikimoku
Nessa época conclui-se a obra literária Heike Monogatari
Invasão do Japão pelos Mongóis
Invasão do Japão pelos Mongóis
Empobrecimento da vida dos vassalos
1333
MUROMACHI
1334
1336
1338
1392
1467
Fim do governo militar (Bakufu) de Kamakura
Aparecimento dos” Jardins Zen”.
Início do novo governo Kenmu, do Imperador Godaigo
Começa o confronto das cortes do norte e do sul
(Nanboku-cho)
Começa o governo militar (Bakufu) Muromachi
Os vassalos Shugo- daimyo começam a ganhar força
Unificação das cortes do norte e do sul
Começa a guerra Onin (que vai até 1471)
Proliferam as guerras e batalhas entre senhores feudais
guerreiros (Sengoku- daimyo)
1543
1549
1573
Período
Pré-Moderno
Portugueses chegam a Tanega-shima e introduzem as
armas de fogo
Introdução do cristianismo
Oda Nobuganda pões fim ao Governo militar (Bakufu) de
Muromachi
Idade Moderna
AZUCHI-MOMOYAMA
1590
1592
1597
1600
EDO
1603
1610
1639
Yuan
APARECIMENTO DO “JARDIM DO CHÁ”
Totoyotomi Hydeioshi unifica todo o Japão
Totoyotomi Hydeioshi manda tropas à coreia
Totoyotomi Hydeioshi manda tropas à coreia
A batalha de Sekigahara
Começa o Governo militar (Bakufu) de Edo
Instituem-se as castas de guerreiros, agricultores,
artesãos e comerciantes
A nau portuguesa Nossa Senhora da Graça explode e
afunda em Nagasaki
Institui-se o isolamento nacional no Japão; proíbe-se a
entrada de portugueses
Desenvolve-se o comércio e eleva-se a força dos
27 27
italiano
Nessa época começa o renascimento
Nasce o Império Turco-Otomano
1453
Fim do Império Romano do
Oriente: tomada de Constantinopla
1492 Colombo descobre o continente
Americano
1498 Vasco da Gama descobre a rota marítima
para a Índia
1517 Reforma Religiosa de Martinho de Lutero
1519 Fernão de Magalhães inicia a volta ao
mundo
Surgimento de monarquias
absolutas
1557 Portugueses estabeleceram-se em Macau
1588 Inglaterra derrota a frota naval
espanhola, a Armada Invencível
Jardim Japonês
shakkei
1708
habitantes das cidades
A vida dos guerreiros e dos agricultores torna-se cada
vez mais difícil
O governo Bakufu realiza reformas políticas
A nau portuguesa que veio de Macau, ao Japão para
tentar retomar o comércio é incendiada e os
representantes da cidade de Macau são executados
Duas naus portuguesas mandadas pelo rei e Portugal
aportam em Nagasaki para tentar retomar o comércio
O missionário Gioanni Sidotti aporta em Yaku-shima
1782
1787
Inicia-se o período da Grande Fome
Inicia-se a reforma Kansei
1828
1841
1853
1854
Incidente Siebold
Inicia-se a reforma Tempo
Almirante Mathew Perry aporta em Uraga
Fim do isolamento nacional e início do comércio externo
com nações estrangeiras
Ganha força o movimento para derrubar o governo
militar, Bakufu, principalmente através dos governos
locais de satsuma e Choshu-han
Fim do governo militar (Bakufu) de Edo
1640
1647
1867
1642
Reforma Anglicana na Inglaterra
1688
Revolução Gloriosa na Inglaterra
1762
Rousseau escreve “O contrato Social”
Começa a Revolução Industrial
Declaração da Independência do EUA
Revolução Francesa
Napoleão coroa-se Imperador
Congresso de Viena
A guerra do Ópio na China
Guerra da Criméia
1776
1789
1804
1814
1840
1853
1861
Guerra civil nos EUA;
Guerras eclodem o mundo por
disputa por colónias
Era Moderna
MEIJI
1868
1872
1873
1881
1889
1890
1894
1904
1910
Começa o governo do Imperador Meiji
Inaugura-se o primeiro caminho de ferro
Espalha-se o movimento para instalar uma Assembleia
Nacional
É revogada a lei que proíbe o cristianismo
Decide-se a instalação de uma Assembleia Nacional em
10 anos
Formação de partidos políticos
Promulgada a Constituição Meiji
Instalada a Assembleia Nacional;
Revolução Industrial em Curso
Guerra sino-japonesa
Guerra russo-japonesa
Coreia torna-se colónia japonesa
TAISHO
1914
Início da Primeira Guerra mundial;
Participação japonesa na Guerra;
Economia japonesa em alta
1919
Assinado o Tratado de Versalhes
Com o fim da guerra a economia japonesa entra em crise
Grande terramoto de Kanto
Direito de voto outorgado a todo o cidadão de sexo
masculino maior de 24 anos
Nessa época, a crise económica agrava-se e muitos
bancos vão à falência
1923
1925
1912 Criada a República da China, com o fim da
dinastia Sing
1914 Primeira Guerra Mundial
1917
1919
Revolução Soviética
Tratado de Versalhes
1920
Cria-se a Liga das Nações
1929
A Grande crise Mundial
1941
Segunda Guerra Mundial
1943
1945
Rendição de Itália
Rendição da Alemanha;
Criação das Nações Unidas;
SHOWA
1931
1933
1937
1940
1941
1945
Incidente na Manchúria
Japão retira-se da Liga das Nações
Japão adere cada vez mais ao fascismo
Incidente sino-japonês
Começa a guerra sino-japonesa;
Japão entra em estado de guerra
Japão firma aliança militar com Alemanha e Itália
Começa a Grande Guerra do Pacifico
Bombas atómicas são lançadas em Hiroshima e Nagasaki
Japão aceita a Declaração de Potsdam e rende-se
28 28
Jardim Japonês
shakkei
incondicionalmente
Era Contemporânea
1946
Agrava-se o Confronto entre as
Nações capitalistas e socialistas
Promulgada nova constituição
Democratização do Japão
1951
1956
1964
1970
1972
1973
Revitalização da economia japonesa
Japão recupera a independência através do Tratado de
Paz de San Francisco
Retomadas as relações diplomáticas com a União
Soviética
Ingresso nas Nações Unidas
Crescimento acelerado da economia
Olimpíadas de Tokyo
1949
China
1950
Fundação da República Popular da
1955
Congresso A.A (Ásia – África)
Guerra da Coreia
1967 Criação da Comunidade Económica
Europeia
Exposição Mundial em Osaka
Reinicio das relações diplomáticas com a China
Crise do petróleo
Japão entra em fase de crescimento estável
1973
1975
Crise do Petróleo
Fim da Guerra do Vietname
Grande Terramoto de Hansehin-Awaji
1980
1990
1991
Guerra entre Irão e Iraque
Unificação da Alemanha
Dissolução da União Soviética
HEISEI
1995
29 29

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