ii. o japão pelos tempos - Arverde
Transcrição
ii. o japão pelos tempos - Arverde
Jardim Japonês shakkei II. O JAPÃO PELOS TEMPOS 1. INTRODUÇÃO O Japão, como se pode ver mais adiante, inicia o seu desenvolvimento muito depois do Ocidente, ou seja no inicio do seu povoamento o Ocidente encontra-se num período de sedentarização enquanto o Japão se encontra ainda em fase nómada. Um dos pontos muito interessantes na evolução do Japão, é a facilidade com que o povo Japonês conseguiu, não só alcançar uma cultura muitos anos mais desenvolvida, como a consegue ultrapassar. Hoje o Japão, tecnologicamente e socialmente, é um dos países mais avançados. Devido à sua conformação, o arquipélago não tem um acesso contínuo ao continente, tendo sofrido fases de introdução de conhecimentos e fases de institucionalização dos conceitos aprendidos. Esta forma de viver com o mundo exterior está interiorizada na cultura Japonesa. A partir de certo ponto da história a evolução tecnológica e de navegação facilita o constante contacto com o exterior, mas o Japão necessita de fechar as portas, e de compreender e tornar seu o que aprendeu fora, criando um ciclo, de poucos séculos, de contacto e reclusão com o exterior. A maior influência sofrida no Japão vem da China, mas devido à capacidade criativa e curiosa do povo Japonês, depressa esta se adapta e inova a cada nova introdução. Desta forma, o Japão consegue criar uma cultura tão particular e vasta na sua expressão, partindo de poucas fontes diferentes. 5 5 Jardim Japonês shakkei 2. DADOS GEOGRÁFICOS 2.1 FORMAÇÃO DO ARQUIPÉLAGO Na Era Glaciar (cerca de 10 mil anos A.C.), quando o Japão se encontrava na Idade da Pedra, o arquipélago Nipónico estava ligado ao continente asiático por terra. Os primeiros Homens a habitar esta parte do continente asiático foram povos que chegaram ao Japão perseguindo grandes mamíferos como o elefante Nauman. Estes povos utilizavam instrumentos de pedra lascada para viver da caça e complementavam a sua halimentação com a recolha dos frutos das árvores. Com o fim da era glaciar, há cerca de 10 mil anos atrás. o nível do mar subiu e o arquipélago japonês ficou separado do resto do continente assumindo a forma aproximada No ocidente por esta época inicia-se a agricultura e criação de gado. do que é hoje em dia. O clima ficou ameno e agradável, floresceu uma vegetação de árvores de folhas largas e surgiu um grande número de animais de pequeno e médio porte como veados e javalis. 2.2 TERRITÓRIO E REGIÕES ADMINISTRATIVAS O Japão ( Nippon ou Nihon que se escreve com os ideogramas que significam “sol” e “origem”) é um arquipélago que se estende, aproximadamente, de Nordeste a Sudoeste, Situando-se na costa Este do continente Asiático. A área total de terra, em Outubro de 1989 era de 377.688 Km2. As quatro ilhas principais são Hokkaido, Honshu, Shikoku e Kyusho. Para além destas, as ilhas mais a nordeste – Kunashiri (Kunashir), Etorofu (Iturup) foram reclamadas pelos japoneses, enquanto as ilhas Hamobai e Shikotan, foram ocupadas pela União Soviética no fim da Segunda Guerra Mundial estando ainda ocupadas pela Federação Russa. As ilhas Ogasawara e Okinawa, sob as regras Americanas depois da Segunda guerra Mundial, foram devolvidas ao Japão em 1968 e 1972 respectivamente. As áreas das principais divisões geográficas do Japão (incluindo ilhas distantes sob controle administrativo) são as seguintes: Hokkaido 83.520 Km2, Honshu 230.940 Km2, Shikoku 18.808 Km2, 1. O Arquipélago Japonês Kyusho 42.164 Km2, Prefeitura de Okinawa 2.256 Km2. Seguindo a tendência entre países de aumentar as águas territoriais, o Japão mantém o seu limite a 12 milhas náuticas da costa desde 1977. 6 6 Jardim Japonês shakkei 2.3 POPULAÇÃO Na época da Restauração Meiji (1868) a população do Japão rondava os 33 milhões. Em 1990 era de 123.612.0001, a sétima maior no mundo. Com uma densidade por km2 de 332 pessoas em1990. Esta ocupação apesar de equiparável à outros países como Holanda ou Bélgica, tem uma densidade populacional por unidade de área cultivável das maiores no mundo, uma vez que dois terços do Japão é ocupado por terreno montanhoso, e as planícies aluvionares ocupam apenas 13% da superfície. A população, distribuía-se igualmente por todo o terreno até há um século atrás, quando o Japão dependia ainda essencialmente da agricultura. Nos dias de hoje 43.1% da população situa-se nos três maiores centros urbanos: Tokyo, Osaka e Nagoya. 2.4 TOPOGRAFIA A figura principal do arquipélago japonês é a instabilidade geológica, incluindo frequentes actividades vulcânicas e tremores de terra. Outra característica importante é a topografia, pelo facto do arquipélago Japonês ser essencialmente povoado por montanhas e ter muito poucas planícies. Ao longo da costa existem arribas de 1500- 3000 m onde Vales em ‘V’ cortam as montanhas. Em contraste, na costa do Mar do Japão existem planaltos e baixas montanhas com altura máxima de 500 – 1500 m. No Japão, desde o período geológico quaternário que houve 188 erupções vulcânicas, 40 das quais continuam ainda hoje activas. 2.5 CLIMA Localizado numa zona de monções, da costa Este do continente asiático, a figura mais notável do clima do arquipélago japonês, é a larga amplitude térmica verificada nas diferentes temperaturas anuais, assim como os ventos e a época das grandes chuvas. Por todos os factores referidos e devido à complexidade da região, há uma diversidade de manifestações climáticas ao longo das estações. 1 In Anónimo, “Japan Profile of a Nation”, Kodansha International, Tokyo, 1994 7 7 Jardim Japonês shakkei Primavera - Quando as baixas pressões passam sobre o Pacifico, na costa do Japão em Março, a temperatura sobe em cada chuvada e um vento forte chamado haru ichiban sopra sobre o país. Estes ventos causam inundações pelo degelo das montanhas. Instala-se um clima ameno e agradável. Verão - a estação das chuvas (baiu ou tsuyu) instala-se a 7 de Junho. Começa pelo Sul do Japão movimentando-se para Norte. O fim da época das chuvas dá-se por volta de 20 de Julho. Nesta fase o tempo assume os padrões veraneantes. Outono - Setembro é a época dos tufões, as condições climatéricas assemelha-se ao da época das chuvas devido ás frentes de chuva Outonais. O tempo abre em meados de Outubro, e os ventos de Inverno começam a soprar. Inverno - em Dezembro, os ventos de Nordeste trazem a neve para as montanhas e planícies do lado do Mar do Japão, e um vento seco sopra do lado do Oceano Pacifico. O pico do inverno ronda o dia 25 de Janeiro. 2. Condições climatéricas do Japão O território do Japão é pequeno, mas, de estrutura muito complexa, assim sendo, o clima, a flora e a fauna variam regionalmente, estendendo-se da Zona Subártica, a Norte, para uma Zona Subtropical a Sul, que se reflectem em alterações estacionais muito marcadas. As alterações sazonais no Japão trazem consigo muitos desastres naturais, como chuvadas fortes, tufões e inundações. Para além destes desastres naturais o Japão derivado dos seus 40 vulcões ainda activos e de se encontrar numa falha sísmica tem frequentes erupções vulcânicas, terramotos e maremotos, por vezes associados a ondas gigantes as tsunamis. 8 8 Jardim Japonês shakkei 3. PELOS TEMPOS O isolamento e as condições naturais adversas atrasaram o povoamento do Japão pelo Homem, mas não o impediram. A expansão da humanidade pelas terras do Sol estavam reservadas ao Homo Sapiens. Os vestígios humanos mais antigos que se conhecem datam de há cerca de 30.000 anos; nessa época o arquipélago esteve por vezes ligado ao continente, devido ao abaixamento do nível médio da água do mar derivado da glaciação. Supõe-se, hoje, que o povoamento do país se fez pela China setentrional, Coreia e Sibéria, não se sabendo porém, por qual delas terão vindo mais grupos. A origem do povo Japonês continua assim, mal conhecida. Terminada a última glaciação, as águas voltaram a subir e o Japão tornou-se definitivamente num arquipélago adoptando as formas aproximada à que hoje conhecemos; os seus habitantes ficaram isolados no continente e nunca mais se deu uma invasão maciça do território por novas gentes. O país seguiu, assim, um percurso histórico autónomo. 3.1 PERÍODO PRÉ HISTÓRICO - ERA PRIMITIVA Os arqueólogos especializados nos primeiros desenvolvimentos da sociedade Japonesa dividem este período em quatro fases principais: Período Pré-cerâmico ou Idade da Pedra: até 10 000 a.C. Período Jômon: 10 000 a.C. - 300 a.C. (cerâmica) Período Yayoi: 300 a.C – 300 d.C. (metais e Agricultura sedentária) Período Yamato ou Kofun: 300 d.C. – 710 d.C.(época dos grandes túmulos e princípio de uma política centralizadora). Este último é um período de transição para uma era onde aparecem já relatos escritos, é conhecido também como o período proto-histórico. No Período pré-cerâmico - aparecem os primeiros habitantes do arquipélago Nipónico que eram caçadores colectores do paleolítico vindos do continente, utilizavam pedras lascadas mas não tinham cerâmica nem faziam agricultura. 9 9 Jardim Japonês shakkei O período Jômon é geralmente dividido em cinco épocas pelos arqueólogos: Soki: época inicial 10 000 a.C. – 3 700 a.C. Zenki: época anterior 3 700 a.C. – 3 000 d.C. Chuki: época média 3 000 a.C. – 2 000 a.C. Kôki: época posterior 2 000 a.C. – 1 000 a.C. Banki: época final 1 000 a.C – 250 a.C. Por esta periodização podemos ver como o progresso começa por ser bastante lento; só após 5 000 anos de uma cerâmica extremamente incipiente e pouco decorada, é que se reconhecem progressos significativos, quer na criação dos artefactos, quer na sua decoração. O povo Jômon desde 1 000 a.C. praticava já a cultura de um condimento conhecido como o shiso e o arroz que não é nativo do Japão. Durante o período Yayoi ( séc. III a.C.) dá-se a introdução da cultura do arroz por irrigação, da fundição de metais e ainda da domesticação do cavalo. Este período demonstra-nos como a evolução da civilização nipónica se encontrava dependente das Neste período, enquanto no Japão se começa a cultivar arroz, e a utilizar metais, na Grécia, vive-se já um governo democrático novidades vindas do exterior. Podemos ler neste período um prenúncio de uma das primeiras características da história japonesa: a um período de lento aperfeiçoamento das técnicas importadas, sucede um período de grande afluxo de novas técnicas trazidas de fora, rapidamente adoptadas pelos Japoneses que as ‘digerem‘ num período seguinte de semi-isolamento. Em cerca de oito séculos os japoneses passaram de uma civilização pré-histórica para um estado centralizado e burocratizado que procurava ser uma cópia fiel da civilização chinesa. Encontram-se testemunhos da fase Yayoi no Norte de Kyushu e em Honshu nas margens do mar interior. Qualquer uma destas zonas é muito favorável ao acesso pelas populações introdutoras de novas tecnologias, no entanto, Honshu apresenta melhores condições naturais para a construção de infra-estruturas, como canais de irrigação para a cultura do arroz. O período proto-histórico prolongou-se desde os meados do século III até ao final do século VI, e é designado por “época dos grandes túmulos” (Kofun jidai), expressão que testemunha a monumentalidade das sepulturas dos chefes que governavam os territórios do centro do Japão. Os ‘Grandes Túmulos’ mais antigos foram encontrados nas planícies do Yamato, encontram-se em fases posteriores no Kinai e depois em Nagoya e Tokyo. 10 10 É importante reter esta tendência cultural manifestada pelos japoneses desde os seus primórdios em que a uma fase de introdução de ideias se segue uma fase de reclusão e institucionalização dos conceitos. Jardim Japonês shakkei Estas sepulturas de enormes dimensões eram sinal do tipo de sociedade que se começava a instalar no Japão e que mais tarde iria dominar todo o país baseada essencialmente no culto do clã, na qual o culto dos antepassados tinha um importante Nos grandes túmulos aparecem os primeiros desenhos de um jardim, o “Jardim das Almas”, apresentado mais à frente neste trabalho. papel. Durante este período, os grupos humanos foram aumentando, tornando-se mais complexos tal como as suas relações. Dá-se a passagem de uma organização tribal para um estrutura hierarquizada. A existência de um chefe que se dava pela autoridade deste sobre os chefes dos outros clãs. 3. Mausoléu do Imperador Nintoku. Inicio do Século V. Na prefeitura de Osaka. O poder dos chefes era dado pelo prestígio religioso do clã que dominava e por um equilíbrio precário de vontades. O Estudo arqueológico dos Grandes Túmulos levam a crer que a família que veio a deter a suprema autoridade no Japão, começou por se deslocar do Norte de Kyushu para a planície de Yamato. Esta deslocação do lendário Jimnu, fundador da casa imperial nipónica marca sem dúvida, a consagração do Kinai como espaço político e estratégico. Desde a Passagem de Jimnu para o Kinai, seguem-se 10 primeiros chefes de linhagem imperial, estes representam a passagem de uma sociedade tribal a uma chefadura, sendo Sujin, o primeiro chefe a consolidar o ascendente da sua tribo sobre todas as outras da região, ficando conhecido pelo epíteto “O primeiro a governar o país”. Nesta época, o Japão mantinha contactos regulares com o continente, principalmente com a Coreia e, através dela, com a china; estes acentuaram-se em finais do século IV. Numa 11 11 No Período Kofun, no Ocidente assiste-se ao fim do Império Romano no Ocidente, e ao florescer do império Muçulmano. Jardim Japonês shakkei fase de rápido desenvolvimento tecnológico, os grandes senhores nipónicos sentiam ainda a necessidade premente de manter contactos significativos com o continente. O confucionismo, a escrita em caracteres chineses e depois o Budismo, acompanhados de todos os outros valores da civilização chinesa, foram influenciando e começando a mudar pouco a pouco, a civilização nipónica, ao longo do século V e VI. As reacções de carácter nacionalista não impediram o modelo chinês de permanecer como pano de fundo na estrutura civilizacional, embora possua características autónomas e bem vincadas. No final da época dos grandes túmulos já se reconhecem os traços fundamentais da cultura nipónica, o território encontra-se dividido por clãs (uji), directamente relacionados com a casa real, estes tinham, por sua vez, um vasto conjunto de dependentes. 3.2 PERÍODO PROTO-HISTÓRICO Em 587 os soga tomam o poder em Yamato e colocam no trono a imperatriz Suiko. A partir deste momento o Yamato começa a ser regido por leis escritas agrupadas em códigos. Nesta época começa-se a firmar no povo um espírito religioso muito próprio, intimamente ligado com o espírito social vigente, era o Xintoísmo: a via dos Deuses. Na moral xintoísta prepondera, uma percepção natural do bem em detrimento de determinações mais abstractas e teóricas sobre essa noção primordial. O método de pensar dos Japoneses consiste em perceber os significados nos próprios fenómenos naturais. 4. Primeiras formas sagradas na Natureza Esta religião, original do Japão, não se limitava a procurar unir os habitantes do arquipélago à Natureza que os rodeava; também os ajudava a consolidar o sistema social numa estrutura de clã que assistira à génese e florescimento do Yamato. Os espíritos dos antepassados eram venerados ao lado das forças da Natureza, ajudando assim, a fortalecer a solidariedade interna do clã, que possuía os seus próprios espíritos – forças 12 12 Aparecem os primórdios dos arquétipos naturais, a veneração das pedras e árvores de formas raras. Os Santuários Xínto definem os primeiros arquétipos em Jardins. Jardim Japonês shakkei divinas que favoreciam apenas um determinado grupo e davam uma certa unidade nacional. As divindades do clã estabeleciam os limites dessa mesma unidade. Os grandes túmulos que então se erguiam, também se relacionavam com essa diferenciação, acentuando, pelas suas dimensões, o prestigio dos clãs mais importantes. Tal como a estrutura político administrativa do Yamato, também o pensamento religioso do país foi abalado pela importação maciça de valores da civilização chinesa; o Confucionismo e o Budismo, que então se difundiram pelo arquipélago, eram religiões “centralizadoras”. Dá-se a adopção do Budismo pela corte; tornava-se, assim, oficial, uma religião vinda do exterior, que não se identificava com o espírito protector de nenhum clã. Ao mesmo tempo, vinga a noção confucionista de uma autoridade central única – o imperador não era só filho dos Deuses, mas o próprio filho do céu. Inicia-se nesta época um comportamento político típico dos Japoneses, que com episódicas interferências, se prolongou até aos nossos dias; os imperadores em título não detinham o poder político, mas sim um príncipe herdeiro nomeado. Desta forma, as grandes lutas pelo poder travar-se-iam, normalmente, entre facções que desejavam dominar a casa imperial, e não substitui-la, para deter por essa via o verdadeiro poder. Dão-se grandes reformas nos dois séculos que se seguem, até ao ano 710, quando é completada a redacção definitiva do primeiro código de leis, a uniformização de medidas e a cunhagem de moedas que reforçavam o poder do estado. Sob a reforma de Taika em 645, o sistema de administração Kokugun foi instalado , e o país foi dividido em 58 (mais tarde 66) províncias (Kuni ou Koku) com sub unidades chamadas gun . Nesta época, a corte, que nunca se estabelecera numa determinada cidade, movimentando-se ao sabor da evolução política, fixa-se numa cidade especialmente concebida para desempenhar o papel de sede do poder centralizado – Nara ; esta foi criada segundo o modelo urbano chinês, procurando copiar a capital dos T’ang. No final do século VII e no início do seguinte a casa imperial deteve momentaneamente o poder efectivo, refugiando-se para isso numa endogamia, que a defendia da influência dos grandes clãs. 13 13 Jardim Japonês shakkei 3.3 A ANTIGUIDADE Foi Fujiwara no Fuhito (659-720) quem conseguiu quebrar o isolamento da família imperial, casando uma filha com o imperador Monmu. A acção de Fuhito não teve grandes consequências imediatas devido à morte precoce dos seus filhos durante uma epidemia que assolou a capital em 737. O esforço destes, concentrou-se, então, em conseguir afastar os imperadores adultos do trono (forçando-os a abdicar, ou eliminando-os pura e simplesmente), fazendo-lhes suceder pequenos príncipes filhos de princesas Fujiwara, e assumindo o avô a regência; quando o poder do clã se consolidou, foi estabelecido o Kanpaku- a regência em nome do imperador adulto – título ostentado a partir de 887. Este período prolongou-se até ao século XII, a melhor forma de ascender na hierarquia da administração, ou de se ser apontado como pessoa exemplar, era conhecer Enquanto nesta fase o Japão é ainda governado por clãs no Ocidente instala-se o Feudalismo. profundamente todos os ritos e códigos de comportamento. Em 794 deu-se a última mudança de capital de Nara para Heian até ao século XIX (actual Quioto). Heian marca o início do desenvolvimento do sincretismo Japonês, o apogeu da cultura cortesã nipónica e o afrouxamento da influência da cultura chinesa, iniciando-se o encerramento sobre si próprio em que o Japão mergulhou até ao século XVI. 5. Jardins do Paraíso A criação de um regime de códigos, a divisão do país em províncias e distritos, os impostos e o novo sistema de posse de terras foram , acima de tudo, uma demonstração de força da família real e dos cortesãos que se lhe associaram e depois a dominaram. As reformas do século VII tinham eliminado a posse de terra, pelos clãs, mas os grandes senhores transformavam-se nos governadores dos distritos. Os direitos históricos dos clãs evoluíram assim, para direitos administrativos. 14 14 Aparecem os “Jardins do Paraíso” nos palácios imperiais e Templos Budistas, já bastante desenvolvidos nesta época. Jardim Japonês shakkei Apesar de por estas reformas o estado pretender relacionar-se com o indivíduo, o país, longe de Heian assentava numa organização familiar e comunitária, que ganhava consciência da sua autonomia num quotidiano vivido em vales estreitos e semi-isolados; a organização tribal sobreviveu, desenvolvendo gradualmente novas tendências regionalistas por todo o país. O espaço tende a reordenar-se sob a mão dos mais poderosos. 3.4 PERÍODO MEDIEVAL - IDADE MÉDIA A insegurança que se vinha acentuando desde o século X levou ao aparecimento, no século XI, por todo o país, de grupos de guerreiros organizados, ao mesmo tempo surgia na corte, um serviço de policiamento chefiado por duas famílias que se tornariam muito importantes, Taira e Minamoto. O desenvolvimento destes grupos deu-se em paralelo, meio cruzado com a autonomia crescente dos senhores do campo e com o desenvolvimento de laços de relações pessoais na corte. – Aparece o modelo de feudalismo japonês. Até agora a luta pelo poder fora subtil e jogava-se nos bastidores, no século XII, a luta entre os grandes senhores transforma-se numa luta armada e sai para a rua. Tentando obter o poder supremo desta forma. Em 1156 morre o imperador retirado: Toba, deixando dois filhos que lutam pelo acesso ao Trono, Não havendo forma subtil de evitar o conflito, a corte divide-se em dois campos, apoiados um por Minamoto no Tamayoshi e outra por Taira no Kiyomori. Dá-se uma guerra entre as duas partes saindo Taira no Kiyomori vencedor. Pela primeira vez um guerreiro domina a capital. Taira tenta governar como um cortesão, perdendo toda a sua força, pois os seus ascendentes não justificam a sua posição; esquecendo-se das suas origens guerreiras; este fica enfraquecido, sendo derrotado pela mão de Minamoto no Yoritomo onde se inicia a idade média no Japão. Yoritomo preocupa-se com manter a fidelidade dos senhores das províncias; não exige do imperador um título civil mas um título militar: tornando-se num Xógum – o chefe de todos os exércitos. O Japão passa a ser governado pela espada e não por um aparelho burocrático – já não se precisava da corte para legitimar direitos adquiridos; bastava ter como os defender. Os ‘senhores dos ritos’ davam lugar aos ‘senhores da guerra’. 15 15 Jardim Japonês shakkei O novo governo de Yoritomo encontra-se sediado em Kamakura, fora de Kioto, na região de Kantô. Quando Yoritomo morre, a família da mulher - os Hôjo, tomam para si o encargo da educação dos filhos, governa o bakufu, criando um novo título, o shikken, o regente do Dá-se a introdução do Budismo Zen no Japão, os shoguns são os grandes impulsionadores desta religião. xógum. Os Hôjo exterminam os netos de Yoritomo, colocando no berço um bebé Fujiwara. Por esta altura o Japão era governado por um sistema de figurantes. Em 1338 o xogunato passou para as mãos dos Ashikaga, que se instalaram em Muromachi, um quarteirão de Quioto. Mas os novos xóguns tiveram sempre um poder reduzido; quem passou a dominar então o país foram os senhores da terra, nas províncias, e o Japão entrou numa fase de anarquia que conheceria o seu apogeu entre 1467 e 1573. A Autoridade central foi enfraquecendo, até que se extinguiu durante o xogunato dos Ashikaga. O poder dependia agora da força militar e das alianças que se conseguiam estabelecer. O clima de insegurança levava as pequenas comunidades a reforçarem os seus laços de solidariedade interna e a se unirem a um poderoso chefe local. A classe de guerreiros, possuidora de um código de honra próprio – o bushido – assegurava a defesa de cada região. Não existia um verdadeiro sentimento nacional. O feudalismo no Japão tal como na Europa, reflecte um período turbulento de ruptura com um sistema já esgotado e um período de reorganização que dão lugar a alterações profundas na sociedade; isto permitiu que as regiões, em primeiro lugar, depois as províncias e finalmente o país se reestruturassem gradualmente. Surge uma nova figura no tecido social japonês – o dáimio. Este era, normalmente, um antigo governador militar de uma província, que tinha cortado os laços com o bakufu de Murumachi. Os dáimios, novos senhores passam a actuar nas suas regiões. Aparecem novos centros de disputa nas províncias entre os vassalos, aparecendo uma nova figura, uma segunda geração de dáimios no século XV – os sengoku dáimios; estes procuram tornar seus vassalos todos os que tivessem direito sobre a terra, ou autoridade sobre comunidades de camponeses, eliminando assim vassalagens indirectas nos seus territórios. Reorganizam a administração fiscal e desenvolvem a agricultura, o comércio e o urbanismo. 3.5 PERÍODO PRÉ-MODERNO Em meados do século XV o país estava assim organizado a um nível regional, faltava apenas um dáimio que fosse capaz de centralizar de novo o poder, que se encontra-se em 16 16 Aparecimento dos primeiros “Jardim Zen”, desenhados pelos monges Zen nos seus templos. No Ocidente, pela altura em que aparece esta tipologia de Jardim, o Renascimento Italiano começa também a ganhar as suas formas. Jardim Japonês shakkei zonas estratégicas e que aos poucos se conseguisse impôr sobre os outros dáimios. Esse homem foi Oda Nobunaga (1534-1582). Ao iniciar a nova centralização política do império Nipónico, Oda Nobunaga dirigiu-se para Quioto e ocupou-a em 1568. Os anos das guerras crónicas foram no entanto muito penosos. O Japão era então um país de samurais, estes constituíam um grupo aberto, em que a ascensão era possível aos bons soldados; o caso mais significativo é o de Toyotomi Hideyoshi, que nascido de uma família camponesa se distinguiu nos exércitos de Oda Nobunaga, foi seu general e depois investido num feudo se tornou dáimio. Aquando da morte de Nobunaga, ele sucedeu-lhe no governo dos territórios unificados e terminou o esforço de centralização política. “Os guerreiros viviam sob o código de honra o bushido (...) que assentava em cultivar as sete virtudes: a rectidão, a coragem, a bondade, a polidez, a veracidade, a honra e a fidelidade, complementadas por uma oitava qualidade moral que as torna possível, o domínio de si mesmo.” (Costa, J.;1995) Entre as diferentes correntes de pensamento que animavam o bushi, deve-se destacar o budismo zen do ramo rinzai, introduzido no Japão no século XII e que ensinava o desprezo pela vida e a aceitação natural da morte. O guerreiro habituado à acção, aprendia com os monges zen que não interessava a compreensão filosófica do sistema de pensamento budista, mas antes a prática de meditação e a aceitação de que tudo está em constante mudança e nada é permanente. Os mosteiros ocupavam áreas consideráveis do território e os monges, nomeadamente os da seita zen, desempenhavam então um papel importante, pois serviam de intermediários nas negociações entre as grandes famílias e ainda nas relações com a china. Cada região, no período medieval, sob a direcção dos sengoku dáimios, tornou-se mais produtiva, mais rica e por isso mais colectável pelo fisco senhorial. Formaram-se pequenas cortes responsáveis pelo surgimento de novas cidades. Com este surto urbanístico desenvolveu-se também o comércio e o artesanato. Os dáimios procuram a complementaridade entre regiões a nível produtivo, havendo uma troca de bens entre cidades; devido ao terreno acidentado do território e as dificuldades na circulação monetária, ainda escassa; surgiu então a letra de câmbio. 17 17 Era samurai, todo o guerreiro de origem nobre que tinha o direito de usar dois sabres. Era necessária a posse de determinada porção de terra para se ser samurai. Jardim Japonês shakkei Os Portugueses, chegados ao Índico em 1498, vinham consolidando posições nas águas do oriente, apropriando-se de importantes redes de comércio marítimo. Quando se estabeleceram relações contínuas entre os Portugueses e Japoneses, em meados de quinhentos, havia já vários séculos que o Japão vivia fechado sobre si mesmo, mantendo apenas contactos esporádicos e limitados com a China. O Império Nipónico recebeu, então um conjunto variadíssimo de novos conhecimentos em campos tão variados como a geografia ou a medicina; foi abalado pelo esforço de difusão de uma nova religião, muito mais radical nas suas exigências de adesão do que as outras há séculos difundidas entre a população do arquipélago. Foi afectado pela rápida conversão de milhares de pessoas a essa religião ocidental. Os japoneses ficam seduzidos com o vestuário estranho daqueles novos visitantes, tendo chegado os chapéus dos Portugueses, por exemplo, a fazer furor em Quioto; o Japão teve, ainda, acesso a novas máquinas, como a imprensa, e, sobretudo, novas armas. A espingarda, levada pelos portugueses, uma vez reconhecida, foi reproduzida rapidamente e introduzida nos campos de batalha. Esta veio alterar significativamente a estratégia das guerras civis e acabar com um certo equilíbrio e indefinição que então se verificavam. A introdução do cristianismo no Japão a princípio, não apresenta grandes dificuldades, as religiões orientais eram extremamente tolerantes. O Budismo, aceitava os Deuses Xintoístas, os Bonzos budistas tomavam normalmente parte durante os festejos Xíntus. A versatilidade e sincretismo característica do budismo contrasta com o caracter rígido do cristianismo, destruindo, quando podia, os templos Xíntus e Budistas. Os conceitos cristãos, tal como os Jesuítas os apresentaram, entravam em grande divergência com regras muito estabelecidas na sociedade, como o conceito básico que dá unidade à família japonesa, que é o culto dos mortos, que se reflecte na prática de certos ritos familiares pelo chefe da família em memória dos mortos. Os portugueses, que tinham sido recebidos com grande entusiasmo devido à ligação comercial que estabeleciam entre a China e o Japão2, instalaram a instabilidade pelas 2 Rotas que tinham sido proibidas pela China. 18 18 Em 1519 Fernão de Magalhães inicia a volta ao mundo e em 1557 Os Portugueses estabelecem-se em Macau. Jardim Japonês shakkei alterações profundas que propunham na sociedade, derivadas da implantação do Cristianismo. Desta forma Ieyasu e os seus sucessores Xóguns, mantiveram uma estrutura feudal centralizada controlando os domínios dos Dáimios na cidade de Edo, erradicando o cristianismo, controlando os contactos do exterior, e aumentando os regulamentos para samurais, nobres e templos. Os Portugueses no entanto deixaram uma grande influência a vários níveis, ciência, medicina, arquitectura, urbanismo, linguagem, expressão artística, etc. Depois da saída dos portugueses chegaram os holandeses e os espanhóis, mas o maior receio dos japoneses era a perda da sua identidade nacional e, de que estes comerciantes, chegassem com um intuito de conquista, tal como acontecera nas Filipinas. Assim, a permanência destes no Japão foi limitada, e, com a sua saída o Japão mergulha numa fase de isolamento, onde interioriza todos os seus conhecimentos da anterior fase de abertura No século XVI dá-se o aparecimento do Jardim do Chá, em grande parte impulsionado pelos monges Zen de forma a evitarem a sonolência durante a meditação. O chá foi trazido pelos portugueses da China para o Japão. ao mundo até ao Século XIX, onde se sucede a restauração Meiji em 1868 e a revolução industrial. 3.6. PERÍODO MODERNO O sistema Tokugawa, exigente como era, deu ao país dois séculos de paz, numa reclusão relativa do mundo exterior. No século XIX esta reclusão foi quebrada pelo aparecimento de Russos, Ingleses e Americanos em águas asiáticas, pressionando as trocas com a China e Japão. O Xógunato ainda existente falha na “expulsão dos Bárbaros”. A concessão de tratados inigualáveis e a abertura dos portos depois da visita do comodoro americano Perry em 1853, pôs em movimento uma cadeia de eventos que levaram a um poderoso domínio 6. Pintura que representa a chegada de um navio comerciante português. de Stasuma, Chochu e Tosa, que usando a corte imperial para desafiar o Xógunato o destronou na restauração Meiji de 1868. O jovem samurai, que levou avante a restauração queria preservar, revitalizar e fortalecer o país. Este processo é levado a cabo rapidamente, durante o período Meiji (1868 – 1912). O slogan da nova liderança do Japão era fukoku Kyohei (enriquecer o país, 19 19 Jardim Japonês shakkei fortalecer o poder militar). Isto significava reformas nas instituições sociais, políticas, e económicas ao longo da costa Oeste do país. O Japão adoptou uma nova constituição em 1889, abrindo caminho para um governo parlamentar. Alcançou um progresso militar suficiente para derrotar a China em 1895 e a Rússia em 1905, e para anexar a Coreia em 1910, emergindo como o maior poder imperialista a Oeste da Ásia. Depois da Restauração Meiji o país foi reorganizado administrativamente no sistema de prefeituras. Tokyo, Osaka e Kyoto foram transformadas em fu (prefeituras 7. Representação da Constituição Meiji em 1989. urbanas) em 1871, e o resto do país foi dividido em 302 ken (prefeituras). Em 1888 este sistema foi integrado num sistema de 3 fu e 43 ken. Hokkaido foi inicialmente administrado directamente pelo governo central mas mais tarde passou a ser tratado como uma prefeitura, apesar de ser tratado como uma do em vez de uma ken. Em 1943 Tokyo Fu foi considerado como uma área administrativa especial passando a ser designada como Tokyo To (oficialmente traduzida como Metrópole de Tokyo). O presente Japão é actualmente administrativamente dividido em 1 to (Tokyo To), 1 do (Hokkaido), 2 fu (Osaka Fu e Kyoto Fu) e 43 ken3. Segue-se o período Taisho (1912 – 1926) que ficou marcado como uma época de aceitação do Japão como um “poder supremo”, um período de divisão do governo algumas vezes referida como a Democracia Taisho. O seguinte período Showa (1926 – 1989) começou com uma nota de optimismo mas depressa caí perante uma ofensiva militar na Manchuria e China, e com a saída do Japão da Liga das Nações. Ultranacionalismos e uma opressão política no interior do país provavelmente levaram á guerra com os Estados Unidos da América e os seus aliados na Ásia e no pacifico. 3 In Anónimo, “Japan Profile of a Nation”, Kodansha International, Tokyo, 1994 20 20 Jardim Japonês shakkei 3.7 ERA CONTEMPORÂNEA 8. Um Jardim Contemporâneo no Japão. A derrota do Japão em 1945 sobre um manto de nuvens atómicas trouxe a ocupação aliada, desmilitarização, desmantelamento dos antigos complexos industriais, renúncia da condição divina do Imperador, uma nova constituição, democratização e um novo sistema educacional. 9. Imagem de Tokyo depois dos Ataques aéreos e Tokyo hoje. 21 21 Jardim Japonês shakkei Depois de um doloroso período de reabilitação pós – guerra, a economia japonesa começou a desenvolver-se entre 1960 e 1970. Os Jogos Olímpicos de Tokyo em 1964 trouxeram para o Japão um reconhecimento internacional renovado. O crescimento económico observado baseia-se num tratado de segurança com os Estados Unidos, donde adveio um esforço continuado no desenvolvimento económico, apostas numa política de negócios orientada e um grande ênfase na educação. O povo japonês empenha toda uma grande energia e esforços, sob uma pressão enorme internacional, para a abertura dos mercados, para que este não se desenvolvesse apenas no sentido de exportação, e que fosse mais acessível a importações estrangeiras. Todos estes esforços fazem parte de um largo empenho pelos japoneses de ultrapassar uma forte tendência histórica de se verem de certa forma, como únicos e distantes das outras nações. Os japoneses tentam agora uma verdadeira internacionalização da sociedade tentando uma completa cooperação com um mundo, cada vez mais independente. 22 22 Jardim Japonês shakkei 4. JAPÃO ACTUAL De 1945 ao Presente Em Agosto de 1945, um Japão exausto pela guerra aceita os termos de rendição das forças aliadas e por decreto imperial o povo depôs as armas. O Japão foi colocado sob controle dos aliados, em especial dos Americanos, por mais de seis anos após a rendição. O Imperador teve que renunciar ao seu estatuto Divino, atribuído pelo confucionismo. Hoje o imperador é símbolo do povo japonês mas está proibido de ter qualquer participação no Governo do país. Em 1946 são realizadas várias reformas políticas e sociais pelas autoridades da ocupação, comandadas pelo General Douglas McArthur. A terra cultivável foi redistribuída aos antigos arrendatários. Assegurou-se aos trabalhadores o direito de organizar sindicatos e de fazer greves. Foram dissolvidos os principais zaibatsu – as grandes holdings baseadas nos laços familiares. As mulheres conquistaram o direito de voto e outros direitos. Foram garantidos os direitos de reunião, a liberdade de opinião e de religião. Em 1947, foi promulgada uma nova constituição liberal. A nova constituição garante liberdade religiosa para todos, sendo que no artigo 20 declara: “Nenhuma organização religiosa receberá quaisquer privilégios do estado, nem exercerá qualquer autoridade política(...). O estado e os seus órgãos abster-se-ão da educação religiosa e de qualquer outra actividade religiosa”. (Anónimo, 1990) Em 1951 o Japão assina o tratado de paz em São Francisco. Nos anos que se seguiram à guerra, as tarefas mais importantes são a sua recuperação económica, com o apoio dos Estados Unidos e outras nações, o Japão entra em várias organizações internacionais, estas possibilitam ao país participar no livre comércio multilateral internacional. Em meados dos anos 60, o Japão tornou-se economicamente forte o bastante para competir com sucesso nos mercados livres do Mundo. Em cerca de 20 anos o Japão atingiu um desenvolvimento tecnológico e social que supera muitos países desenvolvidos, o que foi considerado um feito histórico, abandonando o feudalismo japonês para um sistema social perfeitamente ocidentalizado. Este crescimento acredita-se não ter sido possível sem a constante presença desde o século XV de contactos com o Ocidente, mas também pela extraordinária disciplina do povo japonês. 23 23 Jardim Japonês shakkei Os Jogos Olímpicos de Tóquio em 1964 simbolizam a nova confiança do povo Japonês e a estrutura crescente do país na comunidade internacional. Após meados da década de 60, o Japão começa a defrontar-se com vários novos tipos de problemas, tanto interna como externamente. Com as necessidades de vida imediatas satisfeitas, o povo começa a procurar outros objectivos, em especial melhoramentos da qualidade de vida. Os estudantes expressam o seu descontentamento nas escolas e universidades. O ambiente económico internacional cada vez mais austero, influencia a vida em muito do povo japonês, originando grandes mudanças no seu modo de viver e pensar. Os valores tornam-se mais diversificados e agora muitas pessoas dão mais importância à expressão da própria personalidade e à busca de objectivos pessoais. Culturalmente o Japão continua a apresentar as mesmas manifestações, ainda muito enraizadas na sociedade apresentando os mesmos festejos anuais, muito ligados ainda ao Budismo e Xintoísmo. As artes dramáticas evoluíram no sentido da junção das várias formas, a dança, o teatro e a música, houve um aprofundamento das raízes, das suas origens que se deram em diferentes épocas do passado. Nas Artes Visuais as influências ocidentais começam a ser mais marcadas, na Arquitectura, os materiais de construção, que originalmente eram apenas a madeira, passam a ser estruturas tecnologicamente mais complicadas de materiais mais pesados, mas com um grande respeito pelas tradições. Conseguiram uma boa coexistência do novo com o tradicional. A pintura é uma das artes que mais influência sofre, com a importação de novas técnicas e conceitos ocidentais, que se desenvolvem e adaptam à cultura japonesa. A liberdade de expressão vai influenciar todas as formas de comunicação, desde a Literatura, que passa a permitir a entrada de todos os livros qualquer que possa ser o pensamento, religião ou filosofia expressa. Os meios de comunicação desenvolvem-se e a existência de mercados livres levam a uma grande importação de ideias, pessoas, etc. O FUTURO? Em toda a história do Japão encontra-se um certo padrão temporal, dois acontecimentos repetem-se de forma cíclica em cada dois séculos, uma fase de grande abertura a tudo o 24 24 Jardim Japonês shakkei que é novo e uma fase de reclusão, de absorção das novas ideias, de um grande frenesi para um estado calmo de verdadeira institucionalização dos novos conceitos. A repetição cíclica no tempo de uma fase de abertura para uma fase de reclusão levamnos a pensar que algures no tempo o Japão irá entrar em fase de reclusão, numa fase de institucionalização dos conceitos apreendidos desde o século XIX. Ou será que o Japão se encontra já suficientemente ocidentalizado? Este simples facto implica a ausência de necessidade de se fechar sobre si próprio? Será a religião, Confucionismo, Budismo, (com todas as suas teorias de meditação e interiorização do conhecimento), a responsável pela necessidade de reclusão dos japoneses? 25 25 Jardim Japonês shakkei 5. DATAS Tabela Cronológica Principais Acontecimentos Acontecimentos no Mundo Período Pré-Histórico PRÉ-CERÂMICO Cerca de 10 mil anos a.C. Formação do Arquipélago japonês O povo vive da caça e da pesca Inicia-se a agricultura e criação de gado 3000 a.C. Floresce a civilização egípcia Século VIII a.C. JOMON Século III a.C. Começa o cultivo de arroz e a utilização de utensílios de metais Governo democrático na Grécia Século III a.C. YAYOI Reforma unifica a península Italiana Século I a.C. A China, nessa época, chamava o Japão de “Wa”. Começa a formação de mini estados. Nasce Jesus Cristo 239 d.C. KOFUN ou YAMATO Século III d.C. Século V d.C. Século VI d.C. 593 607 Período Proto-Histórico ASUKA 645 668 673 701 A Rainha Himico de Yamataikoku manda representantes à China A Nação Yamato faz a unificação do Japão Construção de gigantescas tumbas (Kofun) Primeira jardim conhecido – “Jardim das Almas” O budismo, o confucionismo e o alfabeto ideogramático (Kanji) são trazidos da China Começa o governo, de facto, do príncipe Shotokutaishi como regente Príncipe Shotokutaishi manda representantes a china. Aparecimento do Xintoísmo apoiado pela Imperatriz Suiko dos Soga 476 Fim do Império Romano do Ocidente Por volta dessa época floresce o Império Muçulmano Reforma Taika Imperador Tenji é entronizado Começa a institucionalização do Japão através do sistema de governo Ritsu-ryo (Leis e instituições) Começa o governo do imperador Tenmu Redigido o sistema de leis e instituições autenticamente japonês, o Taiho- ritsu- ryo NARA 710 712 720 743 752 A capital é transferida para Heijokyo (Nara) Primeiro registo histórico do Japão, Kojiki fica pronto Registo histórico Nihon-shoki fica pronto A propriedade privada de novas terras para cultivo passa a ser permitida Conclusão do Grande Buda de Todaiji Antiguidade HEIAN 794 894 A capital é transferida para Heiankyo – actual cidade de Qyoto. Aparecimento de uma nova tipologia de jardim - “Jardim do Paraíso”, de influência essencialmente budista. Faz-se uma nova tentativa de institucionalização através do sistema de governo ritsu-ryo 870 O Reino Franco divide-se em três Domínio do clã Fujiwara na política Por volta dessa época instala-se o Feudalismo Suspende-se o envio de representantes à China Propriedades privadas (shoen) nas mãos dos nobres e templos espalham-se por todo o Japão. 1037 26 26 Instalação da Dinastia Seljuk Turks Papa ganha força e influência Jardim Japonês shakkei SÉCULO X 1086 Fase áurea do domínio dos Fujiwara na política Nessa época concluo-se a obra literária Genji Monogatari. Os guerreiros (samurais) começam a ter grande influência no Governo Começa o governo dos ex-imperadores 1156 Rebelião de Hogen 1159 1167 1185 Rebelião de Heiji Começa o governo de Taira no Kiyomori Fim do clã dos Heishi Período Medieval 1096 Início das cruzadas Florescem as cidades na Itália 1206 Gengis Khan unifica a Mongólia 1271 1299 Mongóis instalam a dinastia Marco Polo publica os seus relatos de viagem ao Oriente Idade Média (Divisão da História do Japão em eras) KAMAKURA 1192 1219 1221 1232 1274 1281 Introdução da seita Zen no Japão. Minamoto no Yoritomo inaugura o governo militar (Bakufu) de Kamakura. Início do Feudalismo japonês. Começa o domínio do clã dos Hojo no governo Rebelião de Jokyu Promulgado o código legal dos Samurais, o Goseibaishikimoku Nessa época conclui-se a obra literária Heike Monogatari Invasão do Japão pelos Mongóis Invasão do Japão pelos Mongóis Empobrecimento da vida dos vassalos 1333 MUROMACHI 1334 1336 1338 1392 1467 Fim do governo militar (Bakufu) de Kamakura Aparecimento dos” Jardins Zen”. Início do novo governo Kenmu, do Imperador Godaigo Começa o confronto das cortes do norte e do sul (Nanboku-cho) Começa o governo militar (Bakufu) Muromachi Os vassalos Shugo- daimyo começam a ganhar força Unificação das cortes do norte e do sul Começa a guerra Onin (que vai até 1471) Proliferam as guerras e batalhas entre senhores feudais guerreiros (Sengoku- daimyo) 1543 1549 1573 Período Pré-Moderno Portugueses chegam a Tanega-shima e introduzem as armas de fogo Introdução do cristianismo Oda Nobuganda pões fim ao Governo militar (Bakufu) de Muromachi Idade Moderna AZUCHI-MOMOYAMA 1590 1592 1597 1600 EDO 1603 1610 1639 Yuan APARECIMENTO DO “JARDIM DO CHÁ” Totoyotomi Hydeioshi unifica todo o Japão Totoyotomi Hydeioshi manda tropas à coreia Totoyotomi Hydeioshi manda tropas à coreia A batalha de Sekigahara Começa o Governo militar (Bakufu) de Edo Instituem-se as castas de guerreiros, agricultores, artesãos e comerciantes A nau portuguesa Nossa Senhora da Graça explode e afunda em Nagasaki Institui-se o isolamento nacional no Japão; proíbe-se a entrada de portugueses Desenvolve-se o comércio e eleva-se a força dos 27 27 italiano Nessa época começa o renascimento Nasce o Império Turco-Otomano 1453 Fim do Império Romano do Oriente: tomada de Constantinopla 1492 Colombo descobre o continente Americano 1498 Vasco da Gama descobre a rota marítima para a Índia 1517 Reforma Religiosa de Martinho de Lutero 1519 Fernão de Magalhães inicia a volta ao mundo Surgimento de monarquias absolutas 1557 Portugueses estabeleceram-se em Macau 1588 Inglaterra derrota a frota naval espanhola, a Armada Invencível Jardim Japonês shakkei 1708 habitantes das cidades A vida dos guerreiros e dos agricultores torna-se cada vez mais difícil O governo Bakufu realiza reformas políticas A nau portuguesa que veio de Macau, ao Japão para tentar retomar o comércio é incendiada e os representantes da cidade de Macau são executados Duas naus portuguesas mandadas pelo rei e Portugal aportam em Nagasaki para tentar retomar o comércio O missionário Gioanni Sidotti aporta em Yaku-shima 1782 1787 Inicia-se o período da Grande Fome Inicia-se a reforma Kansei 1828 1841 1853 1854 Incidente Siebold Inicia-se a reforma Tempo Almirante Mathew Perry aporta em Uraga Fim do isolamento nacional e início do comércio externo com nações estrangeiras Ganha força o movimento para derrubar o governo militar, Bakufu, principalmente através dos governos locais de satsuma e Choshu-han Fim do governo militar (Bakufu) de Edo 1640 1647 1867 1642 Reforma Anglicana na Inglaterra 1688 Revolução Gloriosa na Inglaterra 1762 Rousseau escreve “O contrato Social” Começa a Revolução Industrial Declaração da Independência do EUA Revolução Francesa Napoleão coroa-se Imperador Congresso de Viena A guerra do Ópio na China Guerra da Criméia 1776 1789 1804 1814 1840 1853 1861 Guerra civil nos EUA; Guerras eclodem o mundo por disputa por colónias Era Moderna MEIJI 1868 1872 1873 1881 1889 1890 1894 1904 1910 Começa o governo do Imperador Meiji Inaugura-se o primeiro caminho de ferro Espalha-se o movimento para instalar uma Assembleia Nacional É revogada a lei que proíbe o cristianismo Decide-se a instalação de uma Assembleia Nacional em 10 anos Formação de partidos políticos Promulgada a Constituição Meiji Instalada a Assembleia Nacional; Revolução Industrial em Curso Guerra sino-japonesa Guerra russo-japonesa Coreia torna-se colónia japonesa TAISHO 1914 Início da Primeira Guerra mundial; Participação japonesa na Guerra; Economia japonesa em alta 1919 Assinado o Tratado de Versalhes Com o fim da guerra a economia japonesa entra em crise Grande terramoto de Kanto Direito de voto outorgado a todo o cidadão de sexo masculino maior de 24 anos Nessa época, a crise económica agrava-se e muitos bancos vão à falência 1923 1925 1912 Criada a República da China, com o fim da dinastia Sing 1914 Primeira Guerra Mundial 1917 1919 Revolução Soviética Tratado de Versalhes 1920 Cria-se a Liga das Nações 1929 A Grande crise Mundial 1941 Segunda Guerra Mundial 1943 1945 Rendição de Itália Rendição da Alemanha; Criação das Nações Unidas; SHOWA 1931 1933 1937 1940 1941 1945 Incidente na Manchúria Japão retira-se da Liga das Nações Japão adere cada vez mais ao fascismo Incidente sino-japonês Começa a guerra sino-japonesa; Japão entra em estado de guerra Japão firma aliança militar com Alemanha e Itália Começa a Grande Guerra do Pacifico Bombas atómicas são lançadas em Hiroshima e Nagasaki Japão aceita a Declaração de Potsdam e rende-se 28 28 Jardim Japonês shakkei incondicionalmente Era Contemporânea 1946 Agrava-se o Confronto entre as Nações capitalistas e socialistas Promulgada nova constituição Democratização do Japão 1951 1956 1964 1970 1972 1973 Revitalização da economia japonesa Japão recupera a independência através do Tratado de Paz de San Francisco Retomadas as relações diplomáticas com a União Soviética Ingresso nas Nações Unidas Crescimento acelerado da economia Olimpíadas de Tokyo 1949 China 1950 Fundação da República Popular da 1955 Congresso A.A (Ásia – África) Guerra da Coreia 1967 Criação da Comunidade Económica Europeia Exposição Mundial em Osaka Reinicio das relações diplomáticas com a China Crise do petróleo Japão entra em fase de crescimento estável 1973 1975 Crise do Petróleo Fim da Guerra do Vietname Grande Terramoto de Hansehin-Awaji 1980 1990 1991 Guerra entre Irão e Iraque Unificação da Alemanha Dissolução da União Soviética HEISEI 1995 29 29