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XXIV ENANGRAD MKT – Marketing ARTIGO FOCO REGULATORIO_RSC Flavio Santino Bizarrias Solange Benites Juvella Jorge Mazza Garcia Enos Neves Coelho de Andrade Florianópolis, 2013 MARKETING - MKT A INFLUÊNCIA DA AUTO-REGULAÇÃO, CONSCIÊNCIA AMBIENTAL, E FRAMING DA MENSAGEM SOBRE A RECOMPENSA ÀS EMPRESAS 1 Resumo: A sustentabilidade se tornou uma temática presente no dia-a-dia das pessoas e também das empresas. Desde meados dos anos 80, e com um aprofundamento nos anos 90, a discussão sobre os impactos das ações sócio-responsáveis levou a uma consolidação da necessidade de se adotar práticas de preservação do meio ambiente, e melhoria da qualidade de vida geral das pessoas, tanto para o sucesso das organizações, quanto para a busca de uma sociedade melhor. Este estudo busca avaliar como as recompensas que os consumidores proporcionam às empresas, são influenciadas pela importância atribuída às ações socioambientais, pela consciência ecológica individual, pelo conceito de auto-regulação, que estabelece que as pessoas fazem julgamentos e tomam decisões com base na busca de prevenção de eventos negativos, ou na promoção de resultados positivos. O estudo concluiu que o fator que influenciou a recompensa proporcionada às empresas, por parte dos consumidores, é a importância atribuída às ações socioambientais, independente do framing da mensagem, e do perfil auto-regulatório do consumidor. Palavras chave: Auto-regulação, consciência ecológica, responsabilidade social corporativa, comportamento do consumidor, framing da mensagem Abstract Sustainability has become a subject present in people and companies everyday life. Since middle 80’s, with a deepen in the 90’s, the discussion about the impacts of environmental actions has led to a consolidation of the need to adopt practices of preservation of environment and improvement of people general quality of life, for the success of organizations, as well as for the search of a better society. This study aims to evaluate how rewards consumers proportionate to enterprises are influenced by the importance attributed to the environmental actions, individual environmental consciousness, and the concept of self-regulation, which establishes that people make judgments, and take decisions based on the search of prevention of negative outcomes, or in the promotion of positive ones. The study concludes that the factor that influences the rewards to companies by consumers, is the importance attributed to environmental actions, regardless of the message framing, and consumer’s self-regulatory profile. Key-words: Self-regulation, environmental consciousness, corporate social responsibility, consumer behavior, message framing 2 1. Introdução A sustentabilidade tem sido um tema mais constante na vida das pessoas e das organizações, desde meados dos anos 90. Embora encontros internacionais precursores já trouxessem à tona o debate, como a conferência da biosfera em 1968 e a conferência das Nações Unidas para questões relacionadas ao meio ambiente realizada em 1972, foi somente em 1992, com a Rio 92, segundo encontro das Nações Unidas para o tema sustentabilidade, que se buscou estabelecer compromissos entre países e organizações para se implementar ações práticas de preservação de recursos naturais. O momento histórico vivido pela sociedade naquela década ensejou o debate sobre preservação do meio ambiente, e por qualidade de vida, ao mesmo tempo em que se buscava desenvolvimento econômico acelerado. A equação se tornou mais difícil. As organizações tardaram em compreender este fenômeno, na medida em que os consumidores também aprenderam aos poucos todo o significado das questões que gravitam em torno do conceito de sustentabilidade. As questões sociais, como uma preocupação, remontam à participação de igrejas na construção desse modelo de atuação (ARAÚJO; MOREIRA; ASSIS, 2004), e aos hospitais, enquanto modelo de tratamento dos menos favorecidos e doentes (LIMA-GONÇALVES; ACHÉ, 1999). O equilíbrio entre desenvolvimento, em um sentido maior, abarcando tanto aspectos econômicos quanto sociais (KEINERT; KARRUZ, 2002) e a preocupação ambiental, passou a ser um desafio para as empresas e sociedades em geral, tanto nos países desenvolvidos quanto naqueles em desenvolvimento. O desafio se chama, portanto, desenvolvimento sustentável, em que as empresas e demais entidades sociais, como governos, entidades sem fins lucrativos, associações em geral, mas também os consumidores, interagem na busca daquele desenvolvimento de sentido amplo, mas ao mesmo tempo preservando recursos naturais promovendo qualidade de vida e demais aspectos que contribuam para uma sociedade melhor (VEIGA, 2006). O modelo de marketing, além da visão econômica, baseado em trocas de valor, passou a incorporar a partir da ampliação do seu escopo, em meados dos anos 60, uma maior permeabilidade à contribuição de outras áreas do conhecimento (KOTLER; LEVY, 1969, HUNT, 1984, SHAW; JONES, 2005). Tal ampliação de escopo do marketing permite que se possa, por exemplo, aproximar a teoria do marketing à psicologia, antropologia e sociologia, no estudo do comportamento do consumidor, e da comunicação desenvolvendo abordagens cada vez mais diversificadas dos fenômenos de marketing. Kotler e Zaltman (1971) ja preconizavam o marketing social como uma forma de promoção e estabelecimento de ideias sociais por meio de programas de marketing. Os autores atestam que campanhas sociais podem se beneficiar do uso de ferramentas de marketing para engajar as pessoas em suas causas. Em grande medida, a preocupação com as causas sociais foram motivadas pelos movimentos sociais, ecológicos e de defesa do consumidor (ARAÚJO; MOREIRA; ASSIS, 2004) que procuraram estabelecer normas, procedimentos, direitos e deveres para as companhias. Entretanto, as empresas buscam nas causas sociais, particularmente na sustentabilidade, uma oportunidade para capitalizar vantagens competitivas em seus mercados. Na medida em que a relação entre melhores práticas de sustentabilidade e desempenho organizacional, parece ser positiva (LAMEIRA et al, 2013), as organizações tem um caminho importante a trilhar para a gestão de negócios no futuro que se aproxima, no qual o desenvolvimento sustentável se mostra uma prática não apenas importante na sociedade, mas também útil ao propósito das organizações, de sua perpetuação e alcance de resultados, respeitando o princípio de que os custos da transação e equilíbrio da própria organização em si, e da escolha do seu modelo de atuação (BARNEY HERSTLEY, 1998) frente um novo imperativo na sociedade, parecem estar em transição. Os consumidores não estão alheios a este processo em curso. As práticas sócio-ambientais responsáveis se estendem às pessoas, primordialmente na sua ação pós consumo, e suas implicações para o descarte (FERNIE; HART, 2001), além da avaliação e escolha das organizações com as quais tiveram, ou terão alguma experiência (BARBIERI, 2007). O campo do comportamento do consumidor se estabelece como uma área distinta, mas relacionada ao marketing, que pode colaborar na compreensão das relações entre a prática sustentável das pessoas e delas com as organizações. Para este estudo, buscou-se o conceito de auto-regulação, para explicar os julgamentos socioambientais das pessoas para com as empresas. Este conceito estabelece que as pessoas desempenhem um comportamento de prevenção, quando tem o objetivo de evitar resultados negativos, ou promoção, quando tem o objetivo de alcançar resultados positivos. (VOHS; BAUMEISTER;TICE, 2009). Para a realização do estudo foram colhidas respostas de estudantes de uma universidade da cidade de São Paulo. Os dados foram analisados primeiramente por meio de análise fatorial exploratória (HAIR et al, 2009) para se buscar estabelecer as relações descritivas entre as variáveis, 3 e posteriormente, foi realizado um experimento, manipulando-se o framing de auto-regulação, para se estabelecer relações causais entre as variáveis (HUDSON, 2010). Desta forma, o objetivo deste estudo é analisar a influência do framing de auto-regulação, da consciência ecológica e importância atribuída às ações socioambientais das organizações, sobre a recompensa declarada pelos consumidores, às práticas socioambientais das empresas. 2. Revisão teórica Nesta seção serão abordados os conceitos teóricos empregados nas variáveis do estudo, suas definições operacionais e constitutivas, bem como as hipóteses decorrentes dos relacionamentos observados no modelo conceitual proposto. 2.1 As questões socioambientais no âmbito do consumidor A consciência socioambiental parece emergir de uma busca pela qualidade de vida, em uma sociedade que se questiona sobre seus meios e fins de proporcionar esta aspiração. O consumidor consciente e comprometido pode ser definido como “pessoas que costumam praticar determinadas ações que denotam um maior grau de reflexão sobre a dimensão de cidadania existente nos atos de consumo, e uma preocupação com o equilíbrio entre sua satisfação e os efeitos de seu consumo sobre meio ambiente, justiça social, sustentabilidade, etc.” (AKATU, 2005). Este novo consumidor toma suas decisões de maneira a ponderar seus objetivos de consumo em conjunto com os impactos destas decisões para a sociedade como um todo. Ao mesmo tempo, esse novo consumidor observa a atuação das organizações na sociedade, observando o quão responsável é esta organização, impactando nas respostas destes consumidores às manifestações e programas destas empresas (BARBIERI, 2007). As organizações se beneficiam também economicamente das ações de sustentabilidade que empregam, desde os programas de reciclagem até a logística reversa, por toda a cadeia de valor (SHRIVASTAVA, 2007). Estas ações acabam influenciando o valor de mercado das organizações e também seu desempenho financeiro. Este estudo irá se referir às práticas sustentáveis das organizações como Responsabilidade Social Corporativa (RSC desde este ponto). A RSC preconiza que as organizações devem buscar suas orientações de negócio balizando interesses dos stakeholders, mas também reconhecendo seu papel social, que deve contribuir positivamente para esta sociedade, sendo responsáveis pelo impacto de suas ações na sociedade e no meio ambiente, portanto, com objetivos maiores que o lucro apenas (SERPA; FOURNEAU, 2007, OTUBANJO, 2013). Vale ressaltar que mesmo entre os estudiosos existe questionamento sobre os benefícios das ações decorrentes da RSC para as organizações (AUPPERLE; CARROLL; HATFIELD, 1985, CARRIGAN; ATTALLA, 2001), ao se indagar quais aspectos de desempenho devem ser considerados como impactados por ações socialmente responsáveis, ou ainda, sob a perspectiva do impacto destas ações sobre o comportamento dos consumidores. Isto parece se dever ao fato de os consumidores serem pouco informados sobre as ações socioambientais das organizações, até mesmo por conta da amplitude de impactos destas ações (SERPA; FOURNEAU, 2007). O consumidor parece valorizar as empresas e seus produtos por conta de ações socioambientais, particularmente com relação à imagem geral da empresa, o que influencia no processo de julgamento e tomada de decisão de compra (BROWN; DACIN; 1997, BHATTACHARYA; SEN 2001, CURRÁS-PÉREZ; BIGNÉ-ALCAÑIZ; ALVARADO-HERRERA , 2009). Entretanto, em um estudo sobre a RSC no contexto brasileiro Serpa e Fourneau (2007) encontraram nos entrevistados tanto uma postura de comportamento orientado para resultados positivos, ou promoção, quanto comportamentos orientados para evitar resultados negativos, ou prevenção. Os consumidores entrevistados associam a definição de RSC a resultados positivos, idealizados. E quando avaliam a influência da RSC sobre seu comportamento de compra, os consumidores declaram em sua maioria, prevenir resultados negativos. As autoras identificaram que os efeitos negativos das ações socioambientais parecem ter um maior impacto sobre o comportamento do consumidor. De acordo com o estudo de Neves Garcia et al (2008), a importância atribuída às ações socioambientais representa o julgamento do consumidor relativo às ações éticas, mas fundamentalmente sócio responsáveis ambientalmente, que as empresas desempenham na sociedade. Da mesma forma, o conceito de recompensa pelo consumidor às ações socioambientais das empresas, se configura como o julgamento por parte do consumidor em proporcionar ganhos às empresas, como a compra de seus produtos, ou valorização da sua marca, em resposta às suas ações sócio responsáveis. 2.2 Comportamento do consumidor e a auto-regulação 4 Em uma sociedade de consumo, diversos estímulos nos movem a julgar opções que se apresentam e a tomar decisões sobre elas. Os programas de marketing das organizações desenvolvem produtos e serviços, ou promovem ideias e pessoas, com o intuito de satisfazer uma necessidade ou desejo, oriundos da discrepância entre um estado atual e um estado desejado (MOWEN; MINOR, 1998). A auto-regulação é “um processo psicológico interno pelo qual as pessoas alteram suas respostas para colocá-las em linha com várias regras e padrões” (VOHS; BAUMEISTER; TICE, 2009, p. 349, nossa tradução). Ainda, “o impulso inicial da pessoa é agir, pensar e sentir de tal maneira que vá contra estes padrões pessoais ou sociais, então a auto-regulação possibilita à pessoa resistir a este impulso de maneira a responder de maneira mais apropriada ou desejada” (VOHS; BAUMEISTER;TICE, 2009, p. 350). A auto-regulação implica em um balanço entre impulso e restrição (VOHS; BAUMEISTER;TICE, 2009) que irá impactar diretamente em escolhas e julgamentos dos consumidores. Neste estudo, os padrões e normas são por um lado as questões socioambientais e ,por outro, os benefícios advindos do consumo na busca de qualidade de vida. Esta dicotomia impõe um posicionamento do consumidor quando deparado com ambos os aspectos. O consumidor pode ter um foco auto-regulatório de promoção ou prevenção. Na definição de Vohs, Baumeister e Tice (2009, p. 352), promoção implica em “comportamentos que buscam resultados positivos”, e prevenção, implica em “comportamentos que buscam evitar resultados negativos”. A prevenção está associada aos alcances e aspirações, enquanto a prevenção está associada à segurança, vigilância e responsabilidade (HIGGINS, 1997). Neste estudo, os resultados positivos são os benefícios econômicos, na perspectiva de consumo das ações socioambientais das organizações. Na mesma linha, os resultados negativos serão as consequências socioambientais negativas das ações das organizações. Baseado na proposição de que os consumidores preferem marcas e produtos em que a comunicação é coerente com seu foco regulatório, Florack e Scarabis (2006) encontraram evidências de que consumidores expostos a comunicação com framing negativo, tendem a preferir produtos com perfil de prevenção sendo que o contrário também ocorre. Ao se defrontar com uma escolha que parece hedônica, os consumidores tendem a adotar um comportamento de promoção, e, por outro lado, quando forem instados a decidir sobre uma oferta utilitária, tendem a adotar um comportamento de prevenção. Desta forma, podemos sugerir que os consumidores avaliam os benefícios de ações socialmente ambientais por meio dos ganhos que irão proporcionar em suas vidas, tais como qualidade de vida, e realização, associados a dimensões hedônicas. Por outro lado, ao se deparar com resultados negativos das ações socioambientais das empresas, os consumidores avaliam estes impactos como perda, em termos da funcionalidade, uma dimensão mais utilitária, ao pesarem mais aspectos de segurança (ROY; NG, 2012). 2.3 Hipóteses As hipóteses do estudo foram elaboradas com base na revisão teórica, e visam responder ao objetivo da pesquisa. Os consumidores avaliam e decidem conforme seu foco auto-regulatório (VOHS; BAUMEISTER; TICE, 2009). O foco auto-regulatório de promoção está relacionado às aspirações e anseios do consumidor, inclusive por uma sociedade melhor. Enquanto o foco auto-regulatório de prevenção está relacionado aos deveres do próprio self (HAWS; DHOLAKIA; BEARDEN, 2010) em que eventos negativos são evitados. Embora existam evidências de que fatores situacionais possam despertar o foco autoregulatório predominante, como uma ação de comunicação, por exemplo, a construção do foco autoregulatório ocorre ao longo da vida, e “deriva da historia do desenvolvimento de uma pessoa” (HAWS; DHOLAKIA; BEARDEN, 2010, p. 968). Assim, como proposto por Avnet e Higgins (2006), os acontecimento ou objetos não serão avaliados mais positivamente por conta deles próprios, por parte dos consumidores, mas por conta do sentimento que os consumidores possuem de que estão decidindo de maneira correta, adequada ao seu foco regulatório, e por meio da força do seu engajamento na decisão. Disto implica que mesmo em frames de promoção (ou prevenção), consumidores com perfil auto-regulatório de prevenção (ou promoção) irão julgar, ou decidir da maneira correta que esperam, e alinhada ao seu foco auto-regulatório, sendo menos persuadidos pela comunicação prévia. O framing terá maior efeito quando alinhado com o foco auto-regulatório do consumidor. Consumidores estimulados com framing de prevenção serão mais persuadidos com mensagens de perdas, e por outro lado, quando estimulados por framing de promoção, serão mais persuadidos com mensagens de ganhos (LEE; AAKER, 2004). As ações socioambientais das 5 empresas são vistas como eventos positivos quando promovem o bem-estar das pessoas, da sociedade em geral, e os consumidores valorizam estas ações (AKATU, 2005, BARBIERI, 2007). Desta forma, estabelecemos as hipóteses: H1a: A recompensa às empresas será maior em um perfil de comportamento de promoção, do que em um perfil de comportamento de prevenção, ainda mais em um cenário de framing de promoção, quando a importância atribuída às ações socioambientais é alta; H2a: A recompensa às empresas será menor em um perfil de comportamento de prevenção, do que de promoção, mesmo em um cenário de framing de promoção, em que a importância atribuída às ações socioambientais é baixa; H3a: A recompensa às empresas será maior em um perfil de comportamento de promoção do que de prevenção, em um cenário de framing de prevenção, porém, somente quando a importância das ações ambientais for baixa; H4a: A recompensa às empresas será menor em um perfil de comportamento de prevenção, do que de promoção, ainda mais em um cenário de framing de prevenção, quando a importância atribuída às ações socioambientais for baixa; H1b: A recompensa às empresas será maior quando os consumidores atribuem uma alta importância às ações ambientais, do que quando esta é baixa, em um cenário de promoção, ainda mais quando os consumidores possuem um perfil de comportamento de promoção; H2b: A recompensa às empresas será menor quando os consumidores atribuem baixa importância às ações socioambientais, mesmo em um cenário de framing de promoção, ainda mais quando possuem um perfil de comportamento de prevenção; H3b: A recompensa às empresas será maior quando os consumidores atribuem uma alta importância às ações ambientais, do que quando esta é baixa, mesmo em um cenário de framing de prevenção, quando seu perfil de comportamento é de prevenção; H4b: A recompensa às empresas será menor quando os consumidores atribuem baixa importância às ações socioambientais, do que quando esta é alta, ainda mais em um cenário de framing de prevenção, quando o consumidor possui um perfil de comportamento de promoção. 3. Método Nesta seção será apresentado o método utilizado no estudo, bem como as demais questões relacionadas a ele, tai como a escolha da técnica de análise, a descrição dos procedimentos de coleta de dados, e os tratamentos estatísticos empreendidos. Este estudo caracteriza-se por ser tanto descritivo, quanto causal, ao analisar antes as relações entre as variáveis, bem como os efeitos destas relações (MALHOTRA, 2009). Optou-se pelo experimento pois esta técnica de pesquisa permite estabelecer relações de causa e efeito entre variáveis dependentes e independentes, por meio da manipulação de algum aspecto da realidade, que representem fenômenos sociais (COOPER; SCHINDLER, 2003). O framing de foco autoregulatório foi definido como estímulo, na medida em que estudo anterior sugere esta abordagem no entendimento do fenômeno (LEE; AAKER, 2004). A importância das ações ambientais, e a recompensa proporcionada às empresas, por estas ações são variáveis observadas em outros estudos (BROWN; DACIN; 1997, BHATTACHARYA; SEN, 2001, NEVES GARCIA et al, 2008, CURRÁS-PÉREZ; BIGNÉ-ALCAÑIZ; ALVARADO-HERRERA , 2009) O estudo de Neves Garcia et al (2008) estabeleceu a recompensa às empresas como variável dependente, e a importância ambiental como variável independente. Esta estrutura será utilizada neste estudo, complementada pelo perfil de comportamento auto-regulatório (promoção ou prevenção) como variável independente. Para a realização desta pesquisa, utilizou-se um experimento com design fatorial 2 x 2 x 2, entre sujeitos, com análise de variância (ANOVA), e influência sobre a recompensa atribuída pelo consumidor às ações socioambientais das empresas. O estudo utilizou framing (promoção/prevenção), perfil de comportamento do consumidor (promoção/prevenção), além da importância atribuída às ações socioambientais (alta/baixa), e a moderação sobre a recompensa às empresas. Para a medição do conceito de foco regulatório, foi utilizada a escala composta de Haws, 6 Dholakia, e Bearden (2010). Os julgamentos do consumidor foram baseados na medição de importância dada às ações socioambientais das empresas, e das recompensas proporcionadas pelo consumidor a estas ações, medidas com base no estudo de Neves Garcia et al (2008). As respostas foram analisadas por meio do software SPSS 15.0. Primeiramente, foi realizado uma discussão com alunos (n=6) para se obter um tema e um texto relacionado a sustentabilidade e responsabilidade social corporativa, que implicasse em resultados positivos das ações socioambientais das empresas. Logo depois, outro grupo de alunos (n=07) foi solicitado a alterar o texto inicial de maneira a que ele suscitasse resultados negativos. Outro grupo de alunos (n=4) teve a incumbência de fazer outro texto neutro, a partir dos anteriores, de maneira a transparecer, tanto resultados positivos, quanto negativos. Todos os textos deveriam conter a mesma quantidade de palavras, e estarem em um contexto similar. O manipulation check do framing de promoção e prevenção, para exposição prévia dos respondentes a apenas 2 textos que extraíssem estes conceitos, foi efetuado por meio da validação por especialistas em marketing antes de sua aplicação, com base na observação de suas definições operacionais e constitutivas (prevenção versus promoção, n=10, t= -18.806, p <0.005, prevenção versus neutro, t= -9.000, p<0.005, e prevenção versus neutro, t=9.699, p<0.005 ). Com os textos de promoção e prevenção validados, os respondentes, estudantes de uma grande universidade da cidade de São Paulo, foram abordados em sala de aula, sendo solicitados a participar da pesquisa. A escolha de estudantes se justifica tanto pela conveniência para os autores, quanto, e mais pela sua característica de amostra informada quanto às questões socioambientais, e por estarem em ativos economicamente. Cada sala de aula, de maneira alternada, ou em andares, e campi diferentes, recebeu o mesmo caderno de respostas, em que deveriam ler o texto referente ao framing de promoção, ou de prevenção, para somente então responderem às escalas de importância atribuída às ações ambientais, recompensa atribuída às empresas por estas ações (NEVES GARCIA et al, 2008), e de foco auto-regulatório (HAWS; DHOLAKIA; BEARDEN, 2010). 4. Análise dos e discussão resultados Nesta seção será observado os resultados da pesquisa, com seus indicadores, confrontandose com as hipóteses do estudo. Também se fará uma discussão das implicações gerenciais dos resultados obtidos A amostra é composta de estudantes de uma grande universidade da cidade de São Paulo, sendo 42% homens, e 58% mulheres (n=309). Inicialmente, uma análise fatorial exploratória (AFE) foi executada com extração de componentes principais e método de rotação Varimax. Os resultados não foram satisfatórios, com diversos itens apresentando baixa comunalidade (<0.500), embora o KMO (Kaiser-Meyer-Olkin Measure of Sampling Adequacy) tenha sido relevante, 0.775,para um mínimo de 0.7 (HAIR et al, 2009) e 46% da variância explicada. Após 3 alterações, restaram 3 itens de promoção, e 2 itens de prevenção, com comunalidades altas (acima de 0.5), e, embora tenha-se reduzido o KMO (0.561), chegou-se aos 2 fatores da escala, promoção e prevenção, com aproximadamente 65.4% da variância explicada. Criaram-se então 2 fatores para o foco regulatório predominante, com base na média dos itens restantes para promoção e prevenção. O mesmo procedimento foi feito para a AFE referente aos itens de importância das ações socioambientais, e recompensa atribuída às empresas, com extração de componentes principais, e rotação Varimax. Devido aos baixos resultados de comunalidade de alguns itens, embora o KMO tenha ficado alto (0.937), com aproximadamente 60% da variância explicada, observou-se a formação de 6 fatores. Após a depuração da escala com eliminação de alguns itens, e a alteração do método de rotação para Oblimin, sustentada por motivos teóricos visto ser razoável admitir alta correlação entre os construtos, pode-se alcançar os dois fatores, para a importância das ações socioambientais, e recompensa às empresas, composto por 8 itens de importância ambiental, e 2 itens de recompensa atribuída às empresas, com KMO alto (0.874), comunalidades altas (acima de 0.5), e aproximadamente 61% da variância explicada, e alpha de Cronbach acima de 0.7 (NUNNALLY, 1978). Foi realizada uma Anova (Analise de variância), com as variáveis independentes importância das ações ambientais, framing de mensagem com foco auto-regulatório, e perfil de comportamento auto-regulatório, com influência sobre a variável dependente recompensa às ações ambientais das organizações. O quadro 1 e quadro 2 (apêndice) mostram o estímulo com foco promocional, e preventivo, , respectivamente, utilizados no estudo Estes estímulos foram analisados por 309 respondentes, sendo 137 com o estímulo de prevenção, e 172 com o estímulo de promoção. Foram identificados 53 respondentes com perfil 7 Framing de prevenção PERFIL_REGULATÓRIO 5,00 RECOMPENSA 4,00 3,00 PREVENTIVO PROMOCIONAL predominante de comportamento preventivo, e 189 respondentes com perfil predominante de comportamento predominante promocional. Os resultados do experimento corroboraram parcialmente as hipóteses. O foco regulatório não teve influência significativa estatisticamente (F(72)=1.923, p=0.170), bem como o framing da mensagem, (F(72)=2.319, p=0.133). Entretanto, identificou-se a influência significativa da importância atribuída às ações socioambientais (F(72)=4.876, p=0.031) A relação entre foco regulatório e a importância ambiental também não foi significativa (F(72)=0.719, p=0.400). O foco regulatório também não teve relação significativa com o framing (F(72)=2.728, p=0.104). A relação entre o framing, importância socioambiental e o perfil auto-regulatório não foi significativa (F(gl=1)=2.421, p=0.125), 2,00 1,00 BAIXA ALTA VALENCIA_IMPORTANCIA __ Figura 2: Framing de prevenção Ambos os cenários da figura 1, e figura 2, sugerem que se corroboram as hipóteses H1a, H2a, H1b, H3b, e parcialmente H2b. Embora a hipótese H3a tenha sido confirmada, a diferença não é significativa estatisticamente. As hipóteses H4a, e H4b foram confirmadas apenas parcialmente. As pessoas se atentam às informações prestadas pelas organizações, Mas, também por diversas outras fontes. O perfil de comportamento de promoção sugere que as pessoas procuram um cenário idealizado, baseado em resultados positivos. Por outro lado, o perfil preventivo estabelece que se evita resultados negativos, e que o consumidor será mais persuadido quando a mensagem for de perda (ganho), ou, resultados negativos (positivos) (LEE; AAKER, 2004). Ambos os aspectos foram secundários perante a importância que se atribui às ações socioambientais das empresas, em um cenário de crescente preocupação com estes aspectos, em toda sociedade. É preciso ver estas ações socioambientais de maneira prática, na realidade do dia-a-dia, para somente então outros instrumentos influenciarem o consumidor. 8 Framing de promoção 5,00 PERFIL_REGULATÓRIO PREVENTIVO PROMOCIONAL RECOMPENSA 4,00 3,00 2,00 1,00 BAIXA ALTA VALENCIA_IMPORTANCIA __ Figura 3: Framing de promoção Observando estes resultados, entendemos que existe uma prevalência da importância das ações socioambientais sobre o perfil regulatório, até mesmo sobre o framing da mensagem. O consumidor parece ser menos suscetível às tentativas de persuasão, e, embora desenvolva seu perfil de comportamentos por meio de um aprendizado ao longo da vida (HAWS; DHOLAKIA; BEARDEN, 2010), recompensa as organizações por meio da importância que atribui às ações socioambientais destas empresas. Este estudo sugere que as organizações devem tornar mais estreito seu relacionamento com os consumidores, para que estes enxerguem de maneira mais clara as ações socioambientais empreendidas por elas. Apenas divulgar estas ações não é suficiente. É necessária a conscientização do consumidor quanto à importância de ações socioambientais, de maneira prática, visível na sua realidade. Referências AKATU. O QUE O CONSUMIDOR CONSCIENTE ESPERA, 2005 ARAÚJO, M. M.; MOREIRA, A.; ASSIS, G. Significado de responsabilidade social de empresas para o consumidor.Revista Psicologia: Organizações e Trabalho, v. 4, n. 2, p. 85-116, 2004. AUPPERLE, K. E.; CARROLL, A. B.; HATFIELD, J.D. An empirical examination of the relationship between corporate social responsibility and profitability. Academy of Management Journal, v. 28, n. 2, p. 446-463, 1985 AVNET, Tamar; HIGGINS, E. Tory.How Regulatory Fit Affects Value in Consumer Choices and Opinions. Journal of Marketing Research, 43 (February), 1–10, 2006 9 BARBIERI, J. C. Gestão socioambiental empresarial: conceitos, modelos e instrumentos. São Paulo, 3a ed, Saraiva, 2007 BARNEY, J.; HERSTLEY, W. 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As comunidades da região do litoral norte do Rio de corrências têm sido registradas, desde pequenos vazamentos, até outras de impacto maior, aneiro, como a população da cidade de Macaé, têm notado os progressos que a cidade omo o recente derramamento de óleo no litoral norte de São Paulo. As comunidades xperimenta porsofreram conta dacom exploração de petróleo noAs seu litoral. A renda média capitatanto dos aquela região este último acidente. atividades turísticas e deper pesca, NEVES GARCIA, Mauro; SILVA, Dirceu da; SILVA PEREIRA, Raquel da; BEDINELLI ROSSI, eus cidadãos é bastante superior à média nacional. Ao mesmo tempo, a cidade parece ara venda, quanto para consumo dos moradores, foi suspensa por algumas semanas.ter A George; MINCIOTTI, Silvio Augusto. RAI Revista de Administração e Inovação, São Paulo, v. 5, n. 2, espertado os benefícios de umadeconvivência harmoniosa a exploração de ssociação para de moradores das praias Massaguaçu, Cocanha entre e Praia da Fortaleza, 73-91, 2008 cursos naturais, e ap.qualidade deUbatuba, vida, e o progresso que vem empara conjunto a produção calizadas em Caraguatatuba e reuniram assinaturas pedircom mais rigor na ecalização petróleo,das poratividades conta da maior arrecadação de impostos. Hábitos de reciclagem, e de NUNNALLY, J.C. Psychometric Theory.tenham 2. ed. New York:ajuda McGraw, 1978 da Petrobrás na região. Embora recebido financeira ualidade de vida aumentaram. As escolas de Macaé ensinam as crianças, e os jovens, que a Petrobrás, após o acidente, os moradores acreditam que a uma fiscalização constante, o e OTUBANJO, Olutayo. Theorising the Interconnectivity between Corporate Social Responsibility (CSR) ogresso advindo exploração das jazidas de petróleo muitos ganhos para todos. ais rigorosa, irá da evitar e garantir que novos acidentestraz como estes ocorram, e assim, a and Corporate Identity. Journal of Management and Sustainability; Vol. 3, No. 1; 2013 mpresa continue atuando na exploração deste recurso natural tão importante para a oberania energética ROY, do Brasil. Rajat; NG, Sharon. Regulatory focus and preference reversal between hedonic and utilitarian consumption. Journal of Consumer Behavior. V. 11: P.81–88, 2012 SERPA, Daniela Abrantes Ferreira; FOURNEAU, Lucelena Ferreira. Responsabilidade Social Corporativa: uma investigaç!o sobre a percepç!o do consumidor. RAC, v. 11, n. 3, p. 83-103, 2007 SHAW, Eric H.; JONES, Debra Jones. A history of schools of marketing thought. Marketing Theory, 2005, pp 5 - 239, 2005 SHRIVASTAVA, S. K. 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