TESE FINAL junho_ 2012_imprimir1 - KIEinvestiga
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TESE FINAL junho_ 2012_imprimir1 - KIEinvestiga
UNIVERSIDAD DE EXTREMADURA FACULTAD DE EDUCACIÓN DEPARTAMENTO DE CIENCIAS DE LA EDUCACIÓN A FORMAÇÃO E AS ATITUDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO FACE À INCLUSÃO DOS ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA LA FORMACIÓN Y ACTITUDES DE PROFESORES DE ENSEÑANZA BÁSICA ANTE LA INCLUSIÓN DE LOS ALUMNOS CON NECESIDADES EDUCATIVAS ESPECIALES EN EL AULA 2012 Maria de Fátima Paiva dos Santos Coelho Directores Florentino Blázquez Entonado Sixto Cubo Delgado INFORME DE LOS DIRECTORES Florentino Blázquez Entonado y Sixto Cubo Delgado, como directores de la Tesis Doctoral titulada “A FORMAÇÃO E AS ATITUDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO FACE À INCLUSÃO DOS ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA ”, desarrollada por la doctoranda Dña. Maria de Fátima Paiva dos Santos Coelho. HACEMOS CONSTAR: Que el trabajo de investigación mencionado, realizado bajo nuestra dirección en el Departamento de Ciencias de la Educación de la Universidad de Extremadura, cumple con los requisitos exigidos en la elaboración de una Tesis Doctoral, por lo que autorizamos su presentación para proceder a la tramitación y poder optar al Grado de Doctora. Para que conste a los efectos oportunos, firmamos la presente en Badajoz a 30 de marzo de 2012 Fdo. Dr. Florentino Blázquez Entonado Fdo. Dr. Sixto Cubo Delgado “Caminante, son tus huellas, el camino, y nada más; caminante, no hay camino,se hace camino al andar Al andar se hace camino,y al volver la vista atrás se ve la senda que nunca se ha de volver a pisar Caminante, no hay camino,sino estelas en la mar.” António Machado À Memória do meu pai que foi para mim fonte de inspiração, um exemplo de luta e determinação e que me ensinou que a vida tem vários caminhos. À minha mãe que fez do seu objectivo de vida tomar conta de nós Aos meus filhos Miguel e João, essência e força impulsionadora da minha vida, que me deram coragem para olhar em frente Ao meu marido por todo o seu amor, ternura cumplicidade e apoio incondicional Agradecimentos Aos professores Doutor Florentino Blázquez Entonado e Doutor Sixto Cubo Delgado meus Directores de investigação, pela partilha destes anos, pela sua atenta orientação, incentivo, atitude crítica e também pela amizade que sempre me dedicaram. Aos professores da Universidad de Extremadura, pela excelente base teórica e científica proporcionada aquando do período de docência e também pela enorme riqueza humana, simpatia e amizade. Aos professores, que participaram nesta investigação e que tanto me ensinaram acerca das suas vidas e experiências enquanto profissionais, por terem deixado que pudesse entrar no seu mundo, observando, interrogando e aprendendo. À minha amiga Luísa Saavedra, pelo seu apoio incondicional e por tantas horas de trabalho conjunto por este Portugal. À minha amiga Tereza Ventura e a todos os colegas da KIE- Associação, Conhecimento Inovação e Educação. Aos meus alunos, futuros professores de Educação Especial pelo apoio e partilha. A todas as crianças e jovens com quem me cruzei durante estes 32 anos de vida profissional no ensino público em Portugal. Tinha 22 anos quando comecei este caminho que me trouxe até aqui. Fui colocada para trabalhar numa escola de uma, na época, grande vila no Alentejo, que recebia crianças vindas de muitos montes dos arredores. No Portugal profundo. Viviam-se momentos históricos da Revolução de Abril. Vi-me pela primeira vez em frente de cinquenta e duas crianças com 6 anos que começavam o seu percurso escolar. Um percurso de esperança. Fiquei aterrada, eram muitos, não cabíamos na sala. Havia que tirar a mobília do professor “na altura um estrado, secretária e cadeira especial”. Lá nos ajeitámos. Estávamos em Novembro e fazia muito frio. Pensei: Nem tudo é mau somos tantos que acabamos por nos aquecer e eu que faço eu no meio disto? Serei capaz? Ao fim de alguns dias, já tinha falado com todos os meninos individualmente (era assim que me tinham ensinado). Reparei na Dina. Era fisicamente maior que os seus colegas mas não era como eles, não falava, parecia nem sempre compreender mas olhava-me profundamente e sempre que tinha oportunidade tocava-me de leve como que a chamar pela minha atenção. Na época não sabia (será que hoje sei) nem tinha tempo para fazer avaliações. Havia que trabalhar. Foi aí que tomei uma firme decisão: Vamos a isto. EU SOU CAPAZ. Eu vou conseguir ensiná-los todos. Todos mesmo. Pelo meu País que despertava, pela minha consciência que queria dormir descansada, mas sobretudo pelos meninos de quem me lembro até hoje: A Dina, O Luís, A Fátinha, O Pedro …. Que me deram tanta força que chegou até hoje e até aqui… Vamos onde nos levar o pensamento, o sonho e a coragem…É só querer Obrigada a todos Fátima Paiva Coelho ÍNDICE GERAL RESUMO V ABSTRACT IX RESUMEN XIII INTRODUÇÃO 1 1. Contextualização e interesse do estudo 3 2. Organização do estudo 10 MARCO TEÓRICO 13 CAPÍTULO I – A FORMAÇÃO DOS PROFESSORES 15 1. Conceitos sobre a formação de professores 17 2. Formação inicial de professores 21 3. Modelos de formação de professores 27 CAPÍTULO II - A EVOLUÇÃO NA FORMAÇÃO DOS PROFESSORES 37 1. Evolução da formação dos professores em Portugal 39 2. Formação de professores e processo de Bolonha 47 3. A actual formação de professores em Portugal 51 4. A formação de professores de educação especial 56 CAPÍTULO III - DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DOS PROFESSORES 65 1. Conceito de formação contínua 65 2. O conceito de necessidades na formação contínua dos professores 74 3. A formação reflexiva de professores na inclusão de alunos com 80 necessidades educativas especiais CAPÍTULO IV - EVOLUÇÃO DAS PERSPECTIVAS SOBRE A EDUCAÇÃO DAS CRIANÇAS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS 87 1. Da perspectiva assistencial à perspectiva educativa 88 2. O atendimento às crianças e jovens com necessidades educativas 91 especiais: da segregação à integração escolar 3. A educação especial em Portugal 101 4. A caminho da escola inclusiva 108 4.1. 117 A qualidade na educação e a inclusão dos alunos com NEE CAPÍTULO V - A FORMAÇÃO INCLUSIVA E A MUDANÇA 123 1. Teorias sobre a mudança dos professores 123 2. O professor como agente de mudança 127 3. A formação dos professores para uma escola inclusiva 130 4. A importância da formação contínua na inclusão dos alunos com necessidades educativas especiais 134 CAPÍTULO VI - AS ATITUDES 139 1. Conceito de atitude 140 2. Formação das atitudes 147 3. Atitudes e comportamentos 150 4. Como medir as atitudes 152 5. Modificação das atitudes 155 6. Atitudes face à pessoa com deficiência 156 7. Atitudes dos professores face à inclusão das crianças com 8. necessidades educativas especiais 158 Formação e atitudes dos professores face à Inclusão 165 ESTUDO EMPÍRICO 177 CAPÍTULO VII - METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO 179 1. Problemática 182 2. Objectivos 186 2.1. Objectivos gerais 187 2.2. Objectivos específicos 187 3. Hipóteses 188 4. Orientações metodológicas 190 5. Abordagem quantitativa e qualitativa 192 6. O método quantitativo 195 6.1. Os questionários 196 6.2. As escalas 197 6.3. Validade da investigação quantitativa 199 7. Método qualitativo 202 7.1. A entrevista 205 7.2. Os inquéritos por questionário 206 7.3. Focus group 206 7.4. A análise documental 209 -II- 8. 9 7.5. Natureza dos dados documentais 210 7.6. Análise de conteúdo 211 7.7. A triangulação 213 Definição da população 216 8.1. Caracterização da amostra do questionário 217 8.2. Caracterização dos participantes no focus group 226 8.3. Caracterização dos participantes na produção documental 227 Apresentação do questionário 228 9.1. Características 230 9.2. Validação 231 9.3. Análise à fiabilidade 235 10 Focus group: procedimentos 239 11 Recolha documental: procedimentos 240 CAPÍTULO VIII – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 247 1. Análise dos resultados 247 1.1. Análise descritiva do questionário 248 1.2. Contraste das hipóteses 253 1.3. Análise dos grupos de discussão 329 1.4. Análise da produção documental 342 2. 358 Discussão dos resultados CAPÍTULO IX – CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES 391 1. Conclusões 391 2. Recomendações para a formação de professores. Propostas 398 3. Linhas abertas de investigação 406 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 409 LEGISLAÇÃO PORTUGUESA CONSULTADA 466 ÍNDICE DE FIGURAS 470 ÍNDICE DE IMAGENS 470 ÍNDICE DE GRÁFICOS 470 ÍNDICE DE QUADROS 473 ÌNDICE DE TABELAS 474 ANEXOS 488 -III- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Resumo] RESUMO Neste estudo procurámos conhecer e compreender as atitudes de professores do ensino básico, face à Inclusão de alunos com necessidades educativas especiais (NEE) na sala de aula, bem como verificar a natureza das dificuldades que estes sentem para promover a educação inclusiva e relacioná-las com o tipo de atitudes que manifestam, com o seu percurso e necessidades de formação. Definimos como objectivos específicos para a investigação, compreender as relações existentes entre formação e as atitudes dos professores do Ensino Básico face à inclusão dos alunos com NEE; relacionar variáveis sócio demográficas e académicas com o tipo de atitude manifestada pelos docentes dos diferentes níveis de ensino; relacionar as atitudes manifestadas pelos professores face à inclusão dos alunos com NEE, com o seu percurso formativo; verificar se a formação inicial, contínua ou especializada recebida tem influência nas atitudes manifestadas pelos docentes; constatar as principais dificuldades de professores do ensino básico, na sua prática diária para que sejam promotores da educação inclusiva; inventariar as necessidades de formação dos professores nesta área, para por fim podermos elaborar sugestões a serem incluídas nos programas de formação inicial, contínua e especializada de professores. Foi utilizada uma metodologia triangulada, num estudo de natureza descritiva e interpretativa e os dados obtidos foram recolhidos a partir de um questionário, de uma análise documental feita a partir de textos produzidos pelos professores e também foram analisados os resultados de dois grupos de discussão (Focus Group) organizados em duas zonas distintas de Portugal. -V- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Resumo] No que se refere às variáveis: idade, tempo de serviço, nível de ensino e habilitações, estas, não influenciam as atitudes face à inclusão, no entanto, verifica-se que a idade influência significativamente a importância de duas das condições que os professores consideram fundamentais para o processo de inclusão. Assim a relevância da condição atitudes dos professores, aumenta com o aumento da idade e a relevância da condição da formação específica para trabalhar com alunos com NEE, é superior para os mais novos e com menos tempo de serviço. Verifica-se situação semelhante em relação ao grau académico que influência também significativamente a relevância dada à condição específica formação. Sobre a variável tipo de formação: concluímos que os professores que tiveram na sua formação inicial disciplinas relacionadas com alunos com NEE, não desenvolveram atitudes mais positivas. Esta variável não influência a relevância dada a nenhuma das condições indicadas aos professores como fundamentais para o processo de inclusão. Já no que se refere às formações contínua e especializada, os dados demonstram que as atitudes positivas face à inclusão são superiores para os professores que tiveram formação contínua ou especializada na área das NEE, durante o seu percurso profissional. Concluímos também, que os professores que nunca fizeram formação contínua nesta área dão mais relevância à condição formação específica, comparativamente com os professores que a frequentaram. Verifica-se que a formação especializada no âmbito das NEE influência significativamente a relevância dada à condição atitudes dos professores face à promoção da inclusão. A variável tipo de função que o professor exerce na escola, influência também positivamente as atitudes face à inclusão, uma vez que os dados revelam que o professor que exerce funções de educação especial tem atitudes mais positivas do que os professores de turma ou com funções de gestão. -VI- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Resumo] Constatou-se também que o tipo de função influência significativamente a importância de duas condições. Assim, os professores de educação especial consideram as atitudes como a condição mais relevante, enquanto os professores com outras funções atribuem maior relevância à condição de existência de técnicos especializados nas escolas. Foram sinalizadas pelos inquiridos seis categorias de dificuldades, para a implementação da escola inclusiva: atitudes dos professores, atitudes das famílias; articulação entre agentes educativos; postura da comunidade educativa; falta de recursos humanos e materiais; falta de formação para o atendimento a alunos com NEE. No que se refere às necessidades de formação foram inventariadas dificuldades quer do ponto de vista da relação pedagógica, quer relacionadas com o planeamento de aulas, com a concepção de actividades, adaptações do currículo, com a falta de competências para gerir da melhor forma o tempo e a sala de aula. Emerge ainda do estudo a relevância dada ao processo formativo com componente prática, onde existam espaços de reflexão sobre a mesma, por forma a serem equacionadas mudanças, que confrontadas com as teorias venham a permitir alternativas à integração de estratégias diferenciadas de modo a poderem responder aos processos mais complexos de diferenciação pedagógica para atendimento a alunos com NEE. Palavras-chave: Necessidades Educativas Especiais; Inclusão Escolar; Atitudes; Formação de Professores; Formação -VII- Inclusiva ; Mudança. A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Abstract] ABSTRACT In this study we sought to discover the attitudes of teachers of Basic Education1 to the inclusion in the classroom of learners with special educational needs (SEN) and the nature of the difficulties they experience in promoting inclusive education, and to relate them with the types of attitudes they display and with their professional development and training needs. The specific objectives we defined for the research were to understand the existing relationships between training and the attitudes of teachers of Basic Education to the inclusion of SEN students; to relate socio-demographic and academic variables with the type of attitude displayed by teachers of different levels of education; to relate the attitudes displayed by teachers to the inclusion of SEN students with their professional development; to see whether the initial, continuing and specialist training received has an influence on the attitudes displayed by teachers; to understand the main difficulties experienced by teachers of Basic Education in their day-to-day work in promoting inclusive education; to inventory the training needs of teachers in this area to enable us to make recommendations for inclusion in initial, continuing and specialist teacher training programmes. A triangulation methodology was used in a descriptive and interpretative study and the data obtained were collected by means of a questionnaire and from document analysis of texts produced by the teachers. The results of two focus groups organised in different parts of Portugal were also analysed. 1 Basic Education in Portugal (Ensino Básico) corresponds to the primary and lower secondary stages of education in England i.e. Years 1-9, although Portuguese children start school a year later, at age 6. -IX- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Abstract] The variables: age, length of service, level of education and academic qualifications do not influence attitudes to inclusion. However, it was found that age significantly influences the importance of two of the conditions that the teachers consider fundamental for the inclusion process. The importance of the ‘teachers’ attitudes’ condition increases with increasing age, and the importance of the ‘specific training to work with SEN students' condition is higher among younger teachers and those with less service. A similar situation was found in the relationship with academic level, which significantly influences the importance attributed to the ‘specific training’ condition. With the ‘type of training’ variable we found that teachers whose initial training had included curriculum components related to SEN students did not develop more positive attitudes. This variable does not influence the importance attributed to any of the conditions presented to the teachers as fundamental for the inclusion process. In terms of continuing and specialist training, the data show that positive attitudes to inclusion are more frequent in teachers who have had continuing or specialist training in the SEN area as part of their professional development. We also found that teachers who have never had continuing training in this area attribute more importance to the ‘specific training’ condition compared with teachers who have received it. It was found that specialist training in the SEN area significantly influences the importance attributed to the ‘teachers’ attitudes’ condition in relation to the promotion of inclusion. The 'type of role performed by the teacher in the school' variable also positively influences attitudes to inclusion, since the data show that teachers who have special education responsibilities display more positive attitudes than class teachers or teachers with management responsibilities. It was also found that the type of role -X- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Abstract] significantly influences the importance of two conditions. Special education teachers consider attitudes as the most important condition, while teachers with other roles attribute greater importance to the ‘existence of specialist teaching assistants in schools’ condition. Respondents also highlighted six categories of difficulties in the implementation of inclusion in schools: the attitudes of teachers; the attitudes of families; coordination between educational staff; the attitude of the teaching community; lack of human and physical resources; and lack of training to work with SEN students. In relation to training needs, difficulties were inventoried both in terms of the pedagogical relationship and in terms of lesson planning, design of activities, curriculum changes, and time management and classroom management skills. Another factor to emerge from the study was the importance attributed to the inclusion of a practical component in the training process, including opportunities for reflection, with a view to introducing changes which, when compared alongside the theories, will facilitate alternatives to the inclusion of differentiated strategies in seeking to respond to the more complex pedagogical differentiation processes in working with SEN students. Keywords: Special Educational Needs; Inclusion in Schools; Attitudes; Teacher Training; Inclusion Training; Change. -XI- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Resumen] “Es la esperanza en la construcción de un futuro educativo más prometedor subyacente a la educación inclusiva lo que debe convertir y guiar la acción educativa, que la concretiza, diciendo a todos los alumnos y al resto de agentes educativos que vale la pena ver y hacer realidad lo soñado, porque lo soñado puede realizarse mañana.” Melro y César (2010) RESUMEN Introducción El presente trabajo se integra epistemológicamente en el ámbito de la educación especial en general y de la escuela inclusiva en particular. La escuela se ha convertido en un espacio y en un tiempo complejo y de cambios (Perret-Clermont; 2004; César, 2009), que procura ser cada vez más inclusiva, acoger a alumnos con necesidades, características e intereses diversos (Blázquez, 1994; Rodrigues, 2003; Ainscow & César, 2006; César, 2003, 2009; César & Santos 2006; Farrel, 2006; Armstrong, Armstrong & Spandagou, 2010;). El éxito de la inclusión depende también de las actitudes de los profesores, de manera que los que presentan actitudes más positivas cambian y adaptan más fácilmente su trabajo con el objetivo de beneficiar a los alumnos con NEE, al tiempo que influyen positivamente en sus compañeros. Los estudios de diversos autores (Rodrigues, 2000, 2003; Morgado, 2003a; Ainscow, 2006; César & Santos 2006; Bowie, 2009), asumen que el desarrollo de prácticas y la construcción de escenarios educativos más inclusivos, en las escuelas de enseñanza general, están íntimamente relacionados con las actitudes de los profesores (César & Carvalho, 2001; Farrel, 2006; Forlin, 2006; -XIII- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Resumen] Sharma, Forlin, Loreman & Earle, 2006; Loreman & Earle, 2007; Loreman, Forlin & Sharma, 2007; Bowie, 2009; Hwang & Evans, 2011). En las últimas décadas y de forma más específica a partir de la Declaración de Salamanca, en 1994, la inclusión escolar de niños con necesidades educativas especiales en la enseñanza general y, posteriormente, la formación de profesores y sus actitudes frente a la inclusión han sido objeto de investigaciones y de eventos científicos (Vaz, 2005; Lambe & Bones, 2006; Rodríguez Tejada, 2006; Loreman & Earle, 2007; Sharma et al., 2008; Santos & César, 2009; Santos & Hamido, 2009). Tomando como base los fundamentos teóricos que guiarán nuestra investigación, definimos como objetivos generales de este estudio conocer las actitudes de los profesores de enseñanza básica frente a la inclusión de alumnos con necesidades educativas especiales en el aula y comprobar la naturaleza de las dificultades que los profesores perciben a la hora de promover la educación inclusiva y relacionarlas con el tipo de actitudes que manifiestan, con su carrera y necesidades de formación. A continuación presentaremos el cuadro técnico de referencia, seguido de la metodología utilizada, los resultados y su interpretación, así como una serie de consideraciones y recomendaciones finales. -XIV- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Resumen] I- Marco teórico 1. Formación de profesores Hoy en día sabemos que la formación es un proceso continuo y organizado que dura mientras dura la carrera docente, y varios autores hacen referencia a la importancia de una concepción ecológica de la formación docente (Imbernón, 1994; Alarcão, 2001a; Pimenta, 2002, 2005). El tema de la formación de profesores es actualmente una preocupación importante para todos los países y políticas y ha sido objeto de varias investigaciones. La importancia de esta temática ha producido gran cantidad de investigación, que nos sirvió de apoyo teórico (Gimeno, Sacristán 1987; Medina & Dominguez, 1989; Zeichner, 1993; Blázquez 1994; Marcelo García, 1994; Hargreaves, 1998; Estrela, 2002; Alarcão, 2001b; Canário, 2001; Roldão, 2001; Borralho & Espadeiro, 2004; Návio, 2007; Estrela, 2010; Lorente García, 2011 Menino e Blázquez, 2012). Queremos subrayar que de las ideas de varios autores surge la idea de que la formación de profesores no puede reducirse a la formación en materia de técnicas y conocimientos instrumentales, dado que las vertientes afectiva y cognitiva asumen un papel predominante. Así, se entiende que la formación inicial de los profesores empieza a ser objeto de debate cuando se demuestra que en ella se basa la construcción del perfil del profesor necesario para cada sistema educativo (Schön, 2000; Benassuly, 2002; Ghedin, 2002; Pimenta, 2005; Tejada Fernadéz, 2009; Sammon & Bakkumescuelas, 2011), donde se destacan aspectos fundamentales relacionados con el aprendizaje y la enseñanza, la socialización profesional y la competencia para la mediación (Nóvoa y Popkewitz, 1992; Buckberger, 2000; Sachs, 2001; Formosinho, 2002, 2009; Flores, 2009, Sola Martínez, López Urquizar e Cáceres Reche , 2009). -XV- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Resumen] En la sociedad portuguesa podemos ver a lo largo de los años algún desfase entre los objetivos políticos en lo que se refiere a la formación de los profesores y a su trabajo. Según Leite (2003), en el escenario de la formación de profesores en Portugal en los años 70 no puede olvidarse el contexto social e ideológico que se vivía. En junio de 1999, 29 Estados europeos, entre los cuales se encuentra Portugal, firmaron la Declaración de Bolonia, que en la actualidad ha sido adoptada por 45 países. En este sentido, y según Flores (2009), todo profesor es profesor de “alguien” que enseña “alguna cosa” en un determinado contexto y con determinadas finalidades, de forma que es importante situar la formación y el profesionalismo docente en un contexto político, social, cultural y económico dado. Actualmente se otorga prioridad a las políticas que tienen por objeto superar los déficits de cualificación de la población portuguesa, ya sea a través de la lucha contra el fracaso y el abandono escolar, o bien intentando aumentar la escolaridad obligatoria. El reto de la cualificación de los profesores portugueses exige un cuerpo docente cada vez más cualificado, de manera que la calidad de la enseñanza y de los resultados del aprendizaje está estrechamente ligada a la calidad de la cualificación de los educadores y profesores. Así, la actual legislación sobre la materia (Decreto-ley 43/2007 de 22 de febrero) propone la valoración de la dimensión del conocimiento disciplinar, de los fundamentos de la práctica de la enseñanza en la investigación y de la iniciación a la práctica profesional. Según un enfoque centrado en el proceso formativo, la escuela se ha convertido en un espacio y en un tiempo cada vez más complejo y de cambios, que procura ser cada vez más inclusiva, acoger a alumnos con necesidades e intereses diversos (Rodrigues, 2003; Ainscow & César, 2006; César, 2003, 2009; César & Santos -XVI- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Resumen] 2006; Farrel, 2006). En este ámbito, la formación de profesores de educación especial tiene lugar en la carrera de un docente, por imperativo legal, después de la formación inicial, siempre que este posea en la fecha de inicio del curso un mínimo de 5 años de práctica lectiva. Un grupo de especialistas portugueses del área de educación especial (Bénard da Costa, Ramos Leitão, Morgado & Pinto, 2006), convencidos de que la calidad de los profesionales es la base para la promoción de una escuela más eficaz para todos, elaboran una serie de sugerencias para la formación inicial y especializada de profesores. Así, entienden que en la formación inicial deberán incluirse los conocimientos y competencias adecuados para el desarrollo de modelos y prácticas educativas inclusivas y de calidad y que los contenidos de planes de estudios deberán estar presentes, no solo a través de unidades curriculares propias, sino también como contenido interdisciplinar en todo el diseño curricular. Un nuevo concepto de formación apunta hacia la idea de aprendizaje permanente ligado al desarrollo profesional de los profesores (Hargreaves & Fullan, 1992; Marcelo García, 1999; Pacheco & Flores, 1999; Day, 2001, 2003, 2005) en una perspectiva de evolución y continuidad, donde teoría y práctica deben considerarse interrelacionadas (Ponte, 2005; Silva, 2009). Este principio parte del supuesto de que los profesores deben tener una formación que les permita ser capaces de pensar en y para su práctica, lo cual implica que cada realidad escolar es diferente y por ese motivo deben diferenciarse las necesidades y las respuestas a esas necesidades (Schön, 2000; Benassuly, 2002; Ghedin, 2002; Libâneo, 2002; Pimenta, 2002). Sobre esta temática destacamos los estudios de Schön (1997, -XVII- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Resumen] 2000), que abordan los procesos de formación del profesional reflexivo, y que son una referencia importante para muchas investigaciones y propuestas en el campo de la formación de profesores (Nóvoa, 1993; Neto, 2002; Roldão, 2003; Cortesão, 2004; Tardif, 2007). A partir de esta concepción del saber, construida socialmente, entendemos lo que se espera del profesor práctico reflexivo y su importancia en el escenario de la escuela inclusiva (Blázquez, 1990; Ainscow, 1998, 2000; Madureira e Leite, 2003; Mizukami & Reali, 2008). 2. Evolución de las perspectivas sobre la educación de los niños con necesidades educativas especiales A lo largo de la historia de la humanidad, podemos observar una multiplicidad de actitudes hacia el individuo diferente. La historia de la atención prestada a este grupo de la población refleja de forma natural la imagen de la evolución de la sociedad a lo largo de los tiempos. Sin embargo, y a pesar de que hoy en día se sabe que la educación de los niños con deficiencias ha pasado por varias etapas, se reconoce que el patrón de evolución ha sido semejante en diferentes países (Felgueiras, 1994). Ya en la Declaración de Salamanca publicada en 1994 por la UNESCO se podía leer que era fundamental preparar adecuadamente a los agentes educativos, siendo esta preparación el factor clave para la promoción de las escuelas inclusivas. En 2001, también el documento de la UNESCO “Open File on Inclusive Education” afirmaba que la formación debería afrontarse como un aspecto fundamental en el proceso global de -XVIII- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Resumen] cambio y que sería una pieza importante para el perfeccionamiento de la escuela y el desarrollo de modelos educativos de naturaleza inclusiva. Las transformaciones sociales, políticas, económicas y culturales influyeron claramente en la educación especial desarrollando nuevas perspectivas pedagógicas. La educación de niños y jóvenes, que hasta el momento era claramente segregacionista, pasará a realizarse en las estructuras regulares de la educación (Madureira & Leite 2003). En Estados Unidos, a partir de 1975, con la publicación de la Public Law y en el Reino Unido, con la publicación del Warnok Report Special Education Needs, en 1978, se da un paso más, muy importante para la integración de los niños con necesidades educativas especiales en la enseñanza general. La educación especial pasa de un lugar a un servicio. Todos deben trabajar en colaboración, compartiendo recursos, decisiones y apoyos (Casanova, 1990; González, 1993; Marchesi & Martin, 1995; García Pastor, 1995; Sanches, 1995; Correia, 1999, 2003a; Morgado, 2003 a; Cervini, 2011). El concepto de inclusión que dio origen a la escuela inclusiva o escuela para todos (Arnaíz, 1996, 1997; Murphy, 1996; Sapon-Shevin, 1996; Wang & Reynolds, 1996; Thomas, 1997; Unesco, 1998; Giangreco, 1999) y el de educación inclusiva (Rodrigues, 2000; López Risco, 2012), modificaron profundamente las prácticas tradicionales, sustituyéndolas por una concepción más global en la cual todo alumno tiene derecho a una educación sin exclusión (Decreto. Ley 3/2008). Morgado (2001) y Correia (2005), consideran que la inclusión presenta una base conceptual formada por seis componentes: i) todos los alumnos deben ser educados en las escuelas de su residencia; ii) el porcentaje de alumnos con NEE, en cada -XIX- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Resumen] escuela/clase debe ser representativo de su prevalencia; iii) las escuelas deben regirse por el principio de “cero” rechazo; iv) los alumnos con NEE deben ser educados en escuelas de enseñanza general, en entornos apropiados para su edad y nivel educativo; v) la enseñanza en cooperación y la tutoría en parejas son métodos de enseñanza preferentes; vi) el apoyo prestado por los servicios de educación especial no es exclusivo para los alumnos con NEE. Así, una escuela inclusiva es una escuela que potencia la expresión múltiple de las culturas a las que pertenece cada uno, es una escuela intercultural, un espacio de intercomunicación de las bases simbólicas del pensamiento de los alumnos, de construcción de protocolos de reconocimiento mutuo y de elaboración de las bases de interpretación crítica del mundo (Ainscow, 1991; 1993; Sprinthall & Sprinthall, 1993; Siegel & Jausovec, 1994; Bénard da Costa, 1996; Niza, 1996; Arnaíz, 1999; Sarmento, 2003; Morgado, 2004). Según los mismos autores, la actitud y el desarrollo profesional de los profesores dependen también de la fase de su carrera en la que se encuentren, de manera que parece que los profesores con más experiencia tienden a mostrar mayor resistencia a los cambios (Morgado, 2003b; Ramos Leitão, 2006). Diversos autores (Rodrigues, 2000, 2003; Morgado, 2003a; Ainscow, 2003; César & Santos 2006; Bowie, 2009; Kyriacou, 2007; Philpott, 2009) asumen que el desarrollo de prácticas y la construcción de escenarios educativos más inclusivos en las escuelas de enseñanza general están íntimamente relacionados con las actitudes de los profesores y otros agentes educativos en relación con la educación inclusiva (César & Carvalho, 2001; Farrel, 2006; Forlin, 2006; Sharma, Forlin, Loreman, & Earle, 2006; Loreman, Forlin, & Sharma, 2007; Bowie, 2009). -XX- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Resumen] 3. Las actitudes Las actitudes de los profesores que algunos estudios asocian con sus conceptos pedagógicos, su formación y su experiencia parecen ser determinantes para las posibilidades y límites de la inclusión (Verdugo, Jenaro & Arias, 1995; Moberg, 1997; Pescador, Palomares & Arrang, 1999; Loreman, Sharma, Forlin & Earle, 2005; Forlin, Loreman, Sharma & Earle, 2007; Santos, 2008; Santos & César, 2009; Santos & Hamido, 2009; Hwang & Evans, 2011; Mulholland, 2011). Tras revisar la literatura podemos subrayar que el éxito de la inclusión depende también de las actitudes de los profesores, de manera que los profesores que muestran actitudes más positivas cambian con más facilidad y adaptan su trabajo con el objetivo de beneficiar a los alumnos con NEE, al tiempo que influyen positivamente en sus compañeros (Forlin, 2001; Avramidis & Norwich, 2002; Sharma et al., 2006, 2008), ya que un profesor con mayor preparación a nivel pedagógico estará más predispuesto a asumir cambios metodológicos y de actitudes (Torre, 1995; Silva, 2002; Plaissance, 2002; Melero, 2004; Sammons & Bakkum, 2011). Se sabe que existe una relación entre las cuestiones vinculadas a la educación de alumnos caracterizados por presentar NEE y la promoción de actitudes más inclusivas (Loreman et al., 2005; Forlin et al., 2007; Santos, 2008; Santos & César, 2009; Santos & Hamido, 2009). Los estudios de Avramidis, Bayliss y Burden, (2000), Lambe y Bones (2006) y Sharma et al. (2008), también nos indican que la formación de profesores influye en sus actitudes frente a la inclusión y que esta influencia es superior a la de la experiencia profesional. -XXI- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Resumen] II- ESTUDIO EMPÍRICO 1. Problemática La perspectiva de la escuela inclusiva exige un cambio radical en todo el sistema educativo. Las tendencias actuales centran este cambio esencialmente en la escuela, en sus actores, y por supuesto, en sus profesores como actores privilegiados en un establecimiento de enseñanza. Sin embargo, para que eso ocurra, es fundamental que las actitudes de los profesores frente a la inclusión sean positivas, dado que estas influyen en el proceso de enseñanza y aprendizaje de estos alumnos. Las actitudes positivas refuerzan el éxito y constituyen la base para la inclusión (Vieira, 1995; Correia, 2001; Marchesi, 2001; Avramidis & Norwich, 2002; Watkins, 2003). La realización de este estudio es la consecuencia de una postura reflexiva en relación con la inclusión de los alumnos con NEE en el aula. A lo largo de nuestra práctica educativa, concretamente desde el año 1976, constatamos diferentes actitudes frente a las NEE. Consideramos que la escuela inclusiva es la respuesta a la educación actual, ya que se basa en principios de oportunidades educativas y sociales, para todos sin excepción, tal como explica Pereira (2004). Nos situamos teóricamente en los trabajos que defienden la inclusión y la calidad en la escuela (Ainscow, 1995, 1998; Porter, 1995; Bénard da Costa, 1996; Cadima, 1997; Stainback & Stainback, 1999; Arnaíz, 2000; Rodrigues, 2001; Moya, 2002; Morgado, 2003b; Sharma et al., 2006; Loreman et al., 2007, Correia, 2008a, entre otros). Algunos autores consideran que los factores que condicionan las actitudes de los profesores, en relación con la inclusión, son factores de tipo personal: edad, sexo, nivel -XXII- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Resumen] de estudios, tipo de formación, tiempo de servicio, experiencia en educación especial (García & Alonso, 1985; Muntaner, 1995; Marchesi, 2001; Avramidis & Norwich, 2002; Watkins, 2003; Vaz, 2005) y factores relativos al contexto, esto es, tipo de profesor, situación profesional, nivel educativo, número de alumnos por clase, experiencia profesional y localización de la escuela. Otros estudios apuntan también a una relación muy fuerte entre las actitudes de los profesores y su formación (Avramidis & Norwich, 2002; Loreman & Earle, 2007; Loreman, et al., 2007). Estas diferentes explicaciones para la relación existente entre actitudes e inclusión nos llevarán a estudiar cuáles son los factores más importantes que condicionan las actitudes de los profesores en Portugal. Si se trata de factores personales pero relacionados con su formación, o si se trata de factores contextúales pero relacionados con el sistema y las políticas educativas. Por otro lado, un estudio que hemos efectuado anteriormente con una muestra seleccionada de 135 profesores apuntaba a una fuerte relación entre formación y actitudes frente a la inclusión, y los demás factores no eran relevantes. Consideramos que el conocimiento, aclaración o profundización de estos factores podrá contribuir a la concienciación no solo de los profesores sino de toda la comunidad escolar hacia lo que tendremos que cambiar para hacer que la inclusión sea no solo una realidad, sino también un derecho de todos y cada uno. En este sentido y tomando como base las referencias teóricas subyacentes a la revisión de la literatura, formulamos como objetivos generales del estudio: i. Conocer las actitudes de los profesores de enseñanza básica frente a la inclusión de alumnos con necesidades educativas especiales (NEE) en el aula. -XXIII- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Resumen] ii. Comprobar la naturaleza de las dificultades que perciben los profesores a la hora fomentar la educación inclusiva y relacionarlas con el tipo de actitudes que manifiestan, con su carrera y necesidades de formación. Como objetivos específicos definimos: i. Comprender las relaciones existentes entre “formación” y las actitudes de los profesores de enseñanza básica frente a la inclusión de los alumnos con NEE. ii. Relacionar variables sociodemográficas y académicas con el tipo de actitud manifestada por los docentes de los diferentes niveles de educación. iii. Relacionar las actitudes manifestadas por los profesores frente a la inclusión de los alumnos con NEE con su carrera de formación. iv. Comprobar si la formación inicial recibida influye en las actitudes manifestadas por estos. v. Constatar las principales dificultades de los profesores de enseñanza básica en su práctica diaria para que fomenten la educación inclusiva. vi. Enumerar las necesidades de formación de los profesores en este campo. vii. Formular sugerencias que deben incluirse en los programas de formación inicial y continua de profesores. Tomando como base la reflexión sobre algunos resultados de estudios relativos a la inclusión de niños con NEE en el aula, así como la revisión de la literatura y teniendo en cuenta los objetivos y la problemática de este estudio, se formularán las cuestiones e hipótesis de investigación. -XXIV- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Resumen] 2. Metodología de investigación Se trata de un estudio de tipo descriptivo, cuya finalidad es describir aspectos de una situación (Polit & Hungler, 1995) o hechos y fenómenos de una realidad (Triviños, 1992). La información se recogió a través de tres procesos distintos (cuestionario, grupos de discusión y análisis documental). El cuestionario utilizado, de tipo mixto, contiene una escala de actitudes frente a la deficiencia (AFI), fue elaborado y validad por su autor (Vaz, 2005) y se realizaron tres análisis de fiabilidad. El original con una muestra de 230 profesores (alfa de Cronbach, 0.920), el siguiente por Paiva (2008), con una muestra de 135 profesores que obtuvo un alfa de Cronbach de 0,881 y el tercero para la muestra de este estudio tal como se indica en la tabla 1. Estadísticas de consistencia interna: Alfa de Cronbach 0,713 Tabla 1: Análisis de la fiabilidad del cuestionario para el estudio actual Los datos recogidos fueron tratados a través del programa SPSS. Para analizar los resultados del cuestionario que recibieron tratamiento estadístico y para efectuar el análisis inferencial correspondiente, sometimos todos los datos a las pruebas de normalidad (K-S), de aleatoriedad (Rachas) y al principio de homogeneidad (Levene). Cuando no se confirmó ninguno de estos supuestos se utilizaron pruebas no paramétricas. Cuando se confirmaron los supuestos se utilizaron pruebas paramétricas. -XXV- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Resumen] Para profundizar en este estudio se utilizaron dos recogidas de información más. Una relativa a dos grupos de debate, con 8 elementos cada una, empleando el modelo de Simon (1999), y la presentación de los resultados se basó en Cubo (2008). Para el análisis documental recurrimos a fuentes de documentación escritas. En cuanto a la naturaleza de los documentos los clasificamos como fuentes primarias. (Cohen & Manion, 1994) En este caso utilizamos fuentes inadvertidas porque las usamos con una finalidad diferente de aquella con la que fueron creadas. Se trata de documentos inéditos de personas que conocen bien la problemática (Dominguez, 2011). Se escogieron de forma aleatoria 23 textos, correspondientes a 16 profesores del 1er ciclo, 4 del 2º ciclo y 3 del 3er ciclo. Todos eran profesores de aula. El debate en grupo (focus group), así como el conjunto de los documentos fue objeto de análisis del contenido, mediante el uso del programa Atlas-Ti. Las variables utilizadas en nuestro estudio son: edad, tipo de profesor, nivel de estudios, formación e información recibida, tiempo de docencia, nivel educativo, actitud de los profesores de enseñanza general y educación especial frente a la inclusión de niños con NEE en el aula. 3. Definición de la población La población (Universo) en la que se centra este estudio está formada por docentes de los tres ciclos de enseñanza básica y educación especial que se enseñan en el curso 2007/2008 en el Portugal Continental. -XXVI- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Resumen] 4. Caracterización de la muestra del cuestionario La muestra está compuesta por 325 profesores, procedentes de escuelas de diferentes regiones de Portugal. En cuanto al tipo de profesores que encontramos en este estudio, un 46,2% de los docentes son profesores de aula, mientras que un 30,2% son del área de educación especial. Un 91,7% de los encuestados son licenciados. Por otro lado, aproximadamente la mitad de los docentes tiene entre 7 y 25 años de carrera profesional. Destacamos también que un 22,5% tiene menos de 3 años de docencia. Observamos que un 43,4% de los profesores recibió en su formación inicial contenidos para trabajar con alumnos con necesidades educativas especiales y que un 25,5% de estos consideran que dicha formación fue insuficiente. De los participantes, el 50,5% tiene alguna formación continua en esta área. Tal como sucedía en la formación inicial, estos cursos no cumplen las expectativas de los profesores, que en el 39,3% de los casos considera la formación insuficiente en relación con la calidad. En lo referente a la formación especializada sobre la temática, el 38,7% de los encuestados había recibido formación especializada, especialmente dirigida a los trastornos del dominio cognitivo y motor. 5. Presentación y análisis de los resultados Procedemos a la presentación, análisis y debate integrado de los resultados. En lo referente al primer objetivo general (conocer las actitudes de los profesores de enseñanza básica frente a la inclusión de alumnos con necesidades educativas especiales en el aula) y a los objetivos específicos correspondientes ya presentados -XXVII- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Resumen] anteriormente, definimos hipótesis y subhipótesis que a su vez se relacionaban con las variables objeto de estudio. En lo que se refiere a las variables edad y tiempo de servicio (los profesores más jóvenes y con menos tiempo de servicio tienen aptitudes más positivas frente a la inclusión de alumnos con NEE en el aula), se observó que aunque los datos muestran un ligero aumento de las actitudes positivas frente a la inclusión de alumnos con necesidades educativas especiales por parte de estos profesores, no se atribuyó la significación estadística prevista. Otros autores hallaron resultados similares (Snyder, et al.,2001; Stubbs, 2009; Jones, 2009; Hwang & Evans, 2011; Mulholland, 2011), que nos muestran que los profesores con más experiencia tienen actitudes más favorables frente a la inclusión, mientras que otros concluyeron que son, sin embargo, los más jóvenes y con menos experiencia (Leyser & Tappendorf, 2001; Avramidis & Norwich 2002; Moberg & Savolainen, 2003; Taylor et al., 2003; Vaz, 2005; Lee-Tarver, 2006; Ramirez, 2006; Boer et al., 2011). Al igual que los estudios de Gal et al., (2010), también se encontró una correlación entre la edad y la experiencia de los profesores en relación con la promoción de la inclusión. En lo relativo a la variable “nivel educativo” (los profesores de 1er ciclo y de educación especial muestran actitudes más positivas frente a la inclusión de alumnos con NEE que los profesores de 2º y 3er ciclo); se concluyó que las actitudes positivas frente a la inclusión son inferiores para el 2º y 3er ciclo) y superiores para la educación especial, siendo los valores de los profesores del 1er ciclo ligeramente superiores a los de 2º y 3er ciclo, aunque este último caso no tiene significado estadístico. Los estudios de Balboni y Pedrabissi (2000), Camisão (2005), Hoffman (2006), Jones (2009) y Meijer (2009), tampoco hallaron, al igual que nosotros, diferencias significativas en las actitudes de los diferentes niveles de enseñanza, aunque otros estudios como Hastings y Oakford -XXVIII- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Resumen] (2003), nos presenten otros resultados cuando concluyen que los profesores de enseñanza básica son más favorables a la inclusión que los de niveles de educación más avanzados. Autores como Webb (2004), Vaz (2005) y Mastin (2010) compararon las actitudes frente a la inclusión de los profesores de enseñanza general y de los profesores de educación especial y concluyeron, al igual que nosotros, que los profesores de educación especial tienen actitudes más favorables frente a la inclusión y son más eficaces en la intervención con estos alumnos en comparación con los demás docentes de otros grupos disciplinares. Para comprender las relaciones existentes entre “formación” y las actitudes de los profesores de enseñanza básica frente a la inclusión de los alumnos con NEE y poder relacionar las actitudes manifestadas por los profesores frente a la inclusión de los alumnos con NEE con su carrera formativa, y para comprobar si la formación inicial recibida influye en las actitudes manifestadas por estos, observamos la influencia de las variables “formación e información recibidas”. Concluimos que el nivel de estudios no influye en las actitudes frente a la inclusión (H de Kruskal-Wallis de 0,941), al contrario que Sharma et al. (2006, 2008), que indican que los profesionales con niveles académicos más elevados se manifiestan teóricamente como actitudes más positivas, pero tienen menos ideales y objetivos para trabajar con los alumnos con NEE, en comparación con otros profesores con títulos académicos de nivel más bajo. En lo que se refiere a la variable “formación” comprobamos, al contrario de lo previsto, que los profesores que tuvieron en su formación inicial disciplinas relacionadas con alumnos con necesidades educativas especiales no desarrollan actitudes más positivas -XXIX- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Resumen] frente a la inclusión de dichos alumnos. En la prueba U de Mann – Whitney, el valor de p=0,092 nos revela que no existen diferencias significativas, de manera que concluimos que la formación inicial no determina el tipo de actitudes de los profesores frente a la inclusión de alumnos con NEE en el aula. A las mismas conclusiones llegaron Loreman (2007) y Gafoor y Asaraf (2009), cuando afirman que no encontraron diferencias significativas en lo relativo a las actitudes de los profesores, tal vez porque este concepto ya esté integrado en el individuo. Otros estudios presentan una relación entre actitudes positivas y currículos donde existen disciplinas relacionadas con la inclusión (Connor 1976; Ringlaben & Price 1981; Chueca 1988; Ortiz et al., 1991; Simon 1991, Upton 1992; Muntaner 1999; Lima, 2004 Loreman et al., 2005 y Flores, 2005). Los resultados del gráfico 1 coinciden con la hipótesis de nuestra investigación (la formación continua en el ámbito de las necesidades educativas especiales desarrolla en los profesores actitudes más positivas frente a la inclusión de los alumnos con NEE en el aula), ya que se puede apreciar un aumento de actitudes positivas frente a los Escala de actitudes frente a la inclusión alumnos con NEE después de que los profesores hayan recibido formación continua. No Sí Formación continua Gráfico 1: Escala de actitudes frente a la inclusión según la formación continua recibida -XXX- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Resumen] Se puede apreciar un aumento de actitudes positivas frente a los alumnos con NEE después de que los profesores hayan recibido formación continua. Las diferencias encontradas en la prueba U de Mann-Whitney (p=0,00) confirman esta hipótesis, de manera que parece que no hay duda de que la formación continua influye positivamente en las actitudes de los profesores frente a la inclusión de alumnos con necesidades educativas especiales. Varios estudios confirman nuestros resultados, indicando que esta influencia es superior a la experiencia profesional (Avramidis et al., 2000; Avramidis & Norwish, 2002; Silva, 2001, 2007; Lambe & Bones, 2006; Leitão, 2007; Loreman & Earle, 2007; Loreman et al., 2007; Sharma et al., 2008; Batsiou, et al., 2008; Kuyini & Mangope, 2011), al mismo tiempo que aumenta la autoestima y la autoconfianza de los profesores y de las capacidades de las competencias para el ejercicio de la profesión (Silva, 2008). Se observa así que ni la formación inicial ni la experiencia acumulada en el día a día preparan a los profesores en lo que a competencia se refiere para prácticas inclusivas, y que a su vez es a través de prácticas reflexivas compartidas y de una lógica de formación permanente que se podrán determinar actitudes más inclusivas (Morgado 2003b). En lo relativo a la variable “formación especializada”, se comprueba también su Escala de actitudes frente a la inclusión influencia sobre las actitudes de los profesores, tal como se muestra en el gráfico 2. No Sí Formación especializada Gráfico 2: Escala de actitudes frente a la Inclusión según la formación especializada recibida -XXXI- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Resumen] Una vez aplicada la prueba U de Mann-Whitney, el valor p=0,00 indica que las diferencias que encontramos en el gráfico anterior son significativas. Al igual que otros investigadores (Wall, 2002; Webb, 2004; Parker, 2009; Mastin, 2010), constatamos que la formación especializada en educación especial en comparación con la formación normal promueve actitudes más positivas. Otra variable objeto del estudio, el tipo de función que el profesor ejerce en la escuela (profesor de educación especial/profesor titular y profesor con funciones de gestión) influye positivamente en las actitudes de los profesores de enseñanza básica frente a la Escala de actitudes frente a la inclusión inclusión de alumnos con NEE en el aula. Aula Ed. Especial Otro Tipo de Profesor Gráfico 3: Escala de actitudes frente a la inclusión según el tipo de función que el profesor ejerce en la escuela El gráfico 3 demuestra que los profesores de educación especial presentan actitudes más positivas frente a los alumnos con necesidades educativas especiales. Para afirmar la relevancia estadística, aplicamos la prueba no paramétrica H de Kruskal-Wallis (valor de p=0,00). Aceptamos que existen diferencias significativas entre los grupos y por lo tanto las actitudes cambian según la función que ejerce el profesor. En este caso podemos comprobar en el análisis a posteriori (tabla 2), que los docentes con funciones -XXXII- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Resumen] de educación especial son los que muestran actitudes más positivas frente a los alumnos con necesidades educativas especiales, por lo que confirmamos esta hipótesis. Tipo de Profesor Tipo de Profesor Educación Especial Sig. Clase 0,000 Otro 0,014 Tabla 2: Procedimiento de contraste de los datos a través del análisis post-hoc (Hipótesis 1.3) Rodríguez Tejada (2006), concluye que hay una relación entre la situación del profesor en la escuela y las actitudes frente a la inclusión, de manera que los profesores con más estabilidad, esto es, los profesores que tienen su plaza asegurada, son menos inclusivos. Se observó también que los profesores de los departamentos de orientación educativa (equivalentes en Portugal a los profesores de educación especial) y los profesores que trabajan con la expresión tienen actitudes más inclusivas, al contrario que los profesores titulares de clases y los profesores de otros departamentos, una situación similar a la encontrada por Alemany (2002). Eslami y Fatahi (2008) afirman que los profesores de enseñanza general con baja eficacia manifiestan sentimientos de incapacidad para ayudar a los alumnos con NEE. Para recoger la opinión de los profesores acerca de los factores que facilitan la inclusión para permitir una respuesta complementaria al segundo objetivo general (comprobar la naturaleza de las dificultades que perciben los profesores a la hora de promover la educación inclusiva y relacionarlas con el tipo de actitudes que manifiestan, con su carrera y necesidades de formación), así como con el objetivo específico (constatar las principales dificultades de los profesores de enseñanza básica en su práctica diaria para que sean promotores de educación inclusiva), solicitamos que en la última parte de la -XXXIII- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Resumen] escala clasifiquen en orden decreciente, esto es: de la más importante a la menos importante, las condiciones (“actitudes de los profesores”, “técnicos especializados”, “formación específica”, “metodologías de enseñanza”, “evaluación/acompañamiento de los alumnos”, “colaboración entre profesores” y “materiales y recursos” que consideran más facilitadoras para el proceso de inclusión de alumnos con NEE en la enseñanza general. Concluimos que la condición más importante escogida por los profesores es “actitudes de los profesores”, seguida de “formación específica”. Se observa también que existen grados de relevancia atribuidos por los profesores a las distintas condiciones que dependerán de factores personales y profesionales. En un análisis global podemos destacar que el grupo de edad de los profesores entre 31 y 40 años es el que más valora el proceso de inclusión. Se observa también que a medida que aumenta la edad aumenta la relevancia atribuida a la condición “actitudes de los profesores”, mientras que los profesores más jóvenes valoran más la condición “materiales y recursos”. Finalmente, la importancia atribuida a la condición “formación específica” está influenciada por la edad, esto es, los grupos de profesores que se sitúan entre 31 y 40 años y entre 41 y 50 años valoran más esta condición. Huberman (2000), nos lleva a lo que acabamos de mencionar, al comprobar que la actitud y el rendimiento de los profesores se modifica a lo largo de su carrera, mientras que Ruiz (2009), a su vez, afirma que cuanta más experiencia tienen los profesores más expresan la falta de conocimientos en el área de las NEE. -XXXIV- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Resumen] En cuanto a la influencia de la variable “habilitaciones literarias y profesionales” en la importancia atribuida por los profesores a las condiciones para que sea posible la realización de un proceso efectivo de inclusión, se comprobó que la importancia otorgada a la condición formación específica para trabajar con alumnos con NEE es significativamente superior en los profesores licenciados. Actitudes de los profesores Evaluación/acompañamiento Metodologías de enseñanza Formación específica Materiales y recursos Colaboración entre profesores Técnicos especializados Bachillerato Licenciado Título académico Maestro Gráfico 4: Condiciones para que sea posible la realización de un proceso efectivo de inclusión según el nivel de estudios Podemos apreciar en el gráfico 4 un pronunciado aumento de la variable de formación específica en los profesores licenciados, que a su vez devalúan la condición “colaboración entre profesores”. Sharma et al. (2006), llegaron a la misma conclusión. En lo relativo a las cualificaciones profesionales y al revisar algunos estudios (Halloway, 2000; Rodrigues, 2000; Martinez, 2001; Correia & Martins, 2002; Pareja, 2002; Plaissance, 2002; Silva, 2002; Verdugo, 2003; Florian, 2003; Cardona, 2003; Sanchez, 2003; Melero, 2004; Vaz, 2005), concluimos que la variable “cualificaciones profesionales” a la cual está asociada la -XXXV- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Resumen] formación específica debe tenerse en consideración en la implementación de una escuela inclusiva, dada la fuerte relación que tiene con las actitudes de los profesores. En relación con la variable “formación” analizamos la influencia de la formación inicial, continua o especializada en la relevancia atribuida a cada una de las condiciones para que el proceso de inclusión sea eficaz. Aunque se hayan observado algunas diferencias entre los dos grupos estudiados (profesores que tuvieron en la formación inicial disciplinas relacionadas con las NEE y los que no tuvieron), estas diferencias no fueron estadísticamente significativas. Algunos autores argumentan que los profesores deben tener en su curso de formación inicial una cátedra de educación inclusiva, ya que se sienten más cómodos para prácticas inclusivas (Campbell, Gilmore & Cuskelly, 2003), otros sin embargo defienden que debe haber una introducción más sistemática de formación intensiva (Kowalski & Rizzo, 1996; Cook, 2002). En lo relativo a la formación continua en el ámbito de las necesidades educativas especiales, esta influye en el grado de importancia atribuido por los profesores a las condiciones para que sea posible la realización de un proceso efectivo de inclusión, tal como podemos comprobar en el gráfico 5. -XXXVI- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Resumen] Actitudes de los profesores Evaluación/acompañamiento Metodologías de enseñanza Formación específica Materiales y recursos Colaboración entre profesores Técnicos especializados No Sí Formación continua Gráfico 5: Condiciones para que sea posible la realización de un proceso efectivo de inclusión según la formación continua Una vez tratados los datos concluimos que la formación continua en el ámbito de las NEE influye significativamente en la importancia otorgada a la condición “formación específica”, dado que los profesores que no han completado acciones en este campo señalan esta falta como la más importante para la implementación de un verdadero proceso de inclusión. Los profesores que intervienen en el estudio que completaron acciones de formación continua parecen darle mayor importancia a las condiciones “actitudes de los profesores” y “formación específica”. Las investigaciones en este ámbito confirman tener una influencia entre formación continua y actitudes positivas para el proceso de inclusión (Avramidis et al., 2000; Van Reusen, Shoho & Barker, 2000; Shade & Stewart, 2001; Sharma, et al., 2008). Otros estudios (Leyser & Tappendorf, 2001; Martinez, 2003), también destacaron que los cursillos de formación pueden no ser suficientes para provocar cambios de actitud consistente para una práctica inclusiva. Sin embargo, algunos autores encontraron diferencias significativas de cambio de actitud entre el inicio y el final de la formación (Avramidis et al., 2000; Hastings & Oakford, 2003). -XXXVII- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Resumen] Se obtuvieron resultados similares en nuestro estudio que se refiere a la variable formación especializada, estos indican que la formación especializada en el ámbito de las NEE influye significativamente en la importancia de una condición: la importancia otorgada a la condición “actitudes de los profesores” es superior para los que tuvieron formación especializada (gráfico 6). Actitudes de los profesores Evaluación/acompañamiento Metodologías de enseñanza Formación específica Materiales y recursos Colaboración entre profesores Técnicos especializados No Sí Formación especializada Gráfico 6. Condiciones para que sea posible la realización de un proceso efectivo de inclusión según la formación especializada. Todas las demás condiciones no parecen presentar diferencias significativas. Estos resultados se desprenden de las tesis defendidas por varios autores, cuando destacan también la importancia de la formación especializada en el proceso de inclusión (Center & Ward, 1987; Hastings & Graham, 1995; Avramidis & Norwich, 2002; Sharma et al., 2006; Subban & Sharma, 2006; Loreman & Earle, 2007; Loreman et al., 2007; Moon, 2008). En cuanto a la variable “tipo de función que el profesor ejerce en la escuela”, comprobamos que influye de manera significativa el grado de importancia atribuido por los profesores a las condiciones para que sea posible la realización de un proceso de inclusión efectivo. -XXXVIII- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Resumen] Actitudes de los profesores Evaluación/acompañamiento Metodologías de enseñanza Formación específica Materiales y recursos Colaboración entre profesores Técnicos especializados Clase Ed. Especial Tipo de Profesor Otro Gráfico 7: Condiciones para que sea posible la realización de un proceso efectivo de inclusión según el tipo de profesión La tendencia de los datos (gráfico 7) muestra que los profesores de educación especial se diferencian del resto de profesores por el grado de relevancia atribuido a la condición “actitudes de los profesores”. La consideran como la más importante para llevar a cabo un proceso de inclusión. Por otro lado, atribuyen menor relevancia a la condición “formación específica” que el resto de sus colegas. Tampoco dan mucha importancia a la condición “técnicos especializados” ni a “materiales y recursos”. Norwich (2008) concluye que el profesor de enseñanza general aparece a la cola del sistema, con la actitud menos positiva. En el diseño de la investigación es nuestra preocupación, además de medir las actitudes de los profesores, observar qué proceso sería necesario desarrollar para que la escuela se vuelva efectivamente más inclusiva. Para la comprensión de este proceso fue importante inventariar también las dificultades percibidas por los profesores, utilizando datos obtenidos a través de la recogida de documentación y de las conclusiones de los grupos de debate (focus group). -XXXIX- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Resumen] Los profesores participantes en el estudio atribuyen las mayores dificultades en el proceso de inclusión a las familias, a la articulación entre agentes educativos; a la falta de formación y refuerzan claramente la importancia de las actitudes. Otorgan también importancia a los criterios de selección y formación de las clases, así como a la actitud de los órganos superiores de la escuela y de sus respectivos Ministerios. Los siguientes estudios subrayan también estos resultados: Palmer et al., 2001; Ainscow 2003; Gilmore et al., 2003; Elkins et al., 2003; Powell, 2006; Roach e Salisbury, 2006; McClean 2007; Gafoor & Asaraf, 2009. En términos generales los profesores explican las dificultades encontradas para la implementación de una escuela inclusiva a través de dos tipos de factores que se basan en causas de naturaleza contextual, como la poca participación de las familias y las actitudes de la comunidad educativa, los problemas de espacio en las escuelas para quedarse a trabajar, y la organización de las clases. Los estudios efectuados por Rodrigues, (2003), Mandarino, (2004), Rodríguez Tejada (2006), suscriben también estas hipótesis. En lo relativo a las causas de naturaleza personal enumeran las actitudes; la falta de formación que no les permite, por ejemplo, construir o adaptar materiales específicos diferentes, la imposibilidad de la gestión de planes de estudios en clases heterogéneas, muchas dificultades en la gestión del tiempo; en la cooperación para el trabajo en equipo, entre otros. Parker (2009) encontró los mismos problemas. También Camisão (2005), Bunch (2008) y Hwang & Evans (2011), concluyeron en sus estudios que los profesores atribuyen las mayores dificultades para la promoción de una escuela inclusiva a cuestiones relacionadas consigo mismos. Otros, sin embargo, afirman que lo -XL- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Resumen] más importante de todo tiene que ver con su propio deseo de cambiar la escuela (Marchesi, 2001; Morgado, 2003a, 2004). Todos los encuestados que habían afirmado no tener formación específica para trabajar con alumnos con necesidades educativas especiales atribuyen el problema de la inclusión a la causa de la formación de los profesores. Así, los profesores de enseñanza general parecen tener la necesidad de saber más sobre los alumnos para adaptar su método de trabajo y de enseñanza y poder definir así nuevas estrategias para atender a los alumnos con NEE (Marchesi, 2001; Dev, 2002; González, 2003; Cortesão, 2004; Morgado, 2004, Ellins & Porter, 2005; Rodríguez Tejada, 2006; Avramidis & Kalyva 2007; Loreman et al., 2007; Boer et al., 2011). En cuanto a los resultados obtenidos en los dos grupos de debate (Norte y Sur), estos fueron similares en los discursos producidos, y se encontró una diferencia clara en el grupo de profesores de la región norte, por el hecho de demostrar ser menos inclusivos en comparación con el grupo del sur cuando afirman que los niños con problemas que están integrados en clases regulares perjudican a los demás alumnos. Consideran también que la obligación legal de integrar a estos alumnos es un problema para el funcionamiento de las aulas. III- CONCLUSIONES Y RECOMENDACIONES De la investigación efectuada comprobamos que los estudios en el ámbito de la formación de profesores han aumentado de forma cuantitativa y cualitativa en varios países. El análisis de los resultados nos permitió llegar a las siguientes conclusiones: -XLI- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Resumen] Las variables “edad”, “tiempo de servicio” y “cualificaciones profesionales” no influyen en las actitudes positivas frente a la inclusión. Sin embargo, la importancia atribuida a la condición “actitudes de los profesores” aumenta a medida que aumenta la edad y la importancia de la condición “formación específica para trabajar con alumnos con NEE” es superior entre los más jóvenes y con menos tiempo ejerciendo. En cuanto a la variable “nivel educativo”, se ha comprobado que los profesores de educación especial presentan actitudes más positivas frente a la inclusión que el resto de profesores. En lo relativo a la formación inicial, concluimos que los profesores que tuvieron en su formación disciplinas relacionadas con alumnos con NEE no desarrollaron actitudes más positivas, mientras que los profesores que tuvieron formación continua durante su carrera profesional o formación especializada presentan actitudes más positivas en comparación con los que no tuvieron ese tipo de formación. Se observó también que la formación especializada en el ámbito de las NEE influye de forma significativa en la importancia otorgada a la condición “actitudes de los profesores” frente a la promoción de la inclusión. La variable “tipo de función que el profesor ejerce en la escuela” influye en las actitudes positivas frente a la inclusión ya que los datos muestran que los profesores que ejercen funciones de educación especial tienen actitudes más positivas que los profesores de aula o con funciones de gestión. Así, los profesores de educación especial consideran las actitudes como la condición más importante, mientras que los profesores con otras funciones atribuyen mayor importancia a la condición de existencia de técnicos especializados en las escuelas. -XLII- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Resumen] Destacamos también seis categorías de dificultades indicadas por los profesores, que describimos a continuación: actitudes de los profesores como obstáculos a la inclusión; actitudes de las familias con respecto a la poca participación de los padres en el proceso educativo de sus hijos; articulación entre agentes educativos; postura de la comunidad educativa; falta de recursos humanos y materiales y falta de formación para la atención a estudiantes con NEE, que van desde las dificultades del punto de vista relacional al punto de vista de la planificación de clases y la concepción de actividades. En el ámbito de las carencias mencionadas por los profesores en relación con la promoción de la escuela inclusiva, las necesidades más mencionadas fueron las necesidades de formación. Para la formación inicial mencionan como imprescindible módulos que incluyan contenidos relacionados con legislación sobre las NEE, enfoque de los diferentes tipos de deficiencia, nociones de evaluación, metodologías específicas de intervención educativa y diferenciación pedagógica, aprendizaje cooperativo, gestión de aula y organización curricular. Todos hacen referencia a la relevancia de la formación en servicio. Al concluir este trabajo, y después de una reflexión profunda sobre todo el curso de esta investigación, abogamos por la importancia que este tuvo para la comprensión de las cuestiones relacionadas con las actitudes de los profesores frente a la inclusión de alumnos con NEE, lo cual nos permite también concluir que las actitudes inclusivas son hoy desde el punto de vista filosófico una realidad aceptada por la mayor parte de los docentes que defienden que la heterogeneidad de una clase proporciona situaciones más ricas de aprendizaje. -XLIII- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Resumen] 1. Recomendaciones para la formación de profesores Teniendo en cuenta la naturaleza de esta investigación, y todo el recorrido subyacente a la misma, más allá de las conclusiones y los resultados obtenidos, procuramos definir directrices de utilidad para el futuro, apuntando algunas recomendaciones tanto para la formación de profesores como para la investigación. En relación con la formación inicial de profesores, consideramos pertinente que las instituciones de enseñanza superior que tienen un papel relevante que desempeñar en el desarrollo de asociaciones eficaces deben asegurar que los cursos de formación de profesores se basan en hechos consistentes y en buenas prácticas pedagógicas, estimulando la autorreflexión y teniendo en cuenta la diversidad, con el fin de movilizar e integrar un conjunto diversificado de conocimientos en la resolución de situaciones concretas en el aula, en la escuela y en las relaciones de esta con la comunidad, tomando como base la escuela inclusiva. Además de organizarse momentos de intervención en un contexto práctico en el aula, de intensidad, duración y responsabilidad progresiva, a lo largo del curso, debe ser obligatorio el componente de prácticas en aulas inclusivas, para que los futuros profesores sepan lidiar con alumnos con NEE. La selección de profesores tutores y supervisores debe hacerse tomando como base la experiencia de los mismos en el ámbito de las buenas prácticas en la atención a estos alumnos, de forma que los futuros profesores desarrollen competencias prácticas de trabajo cooperativo, de reflexión continuada en el ámbito de una escuela inclusiva; En relación con la formación continua de profesores, nos parece importante reforzar la idea defendida por varios autores cuando afirman que los cambios de actitudes han demostrado ser procesos lentos y que la política de formación de profesores a lo largo -XLIV- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Resumen] de su carrera debe ser inicial y en servicio (continua y especializada), y deberá desarrollarse teniendo en cuenta las lecciones de la experiencia y sobre todo, el reconocimiento de la creciente complejidad de la tarea del docente, permitiendo así la construcción de escenarios educativos (más) inclusivos. En el ámbito de los datos analizados en esta investigación, destaca la importancia de la formación continua y formación especializada. Así, se recomienda que cualquier proceso de formación continua y especializada (de grado o de postgrado) debe realizarse en las condiciones y posibilidades de acceso a los espacios formales de conocimiento, en las diferentes modalidades y niveles de educación, para que el profesor, además de ascender profesionalmente, tenga una base teórica necesaria para la reflexión y el análisis de la realidad, indispensables para la construcción de una escuela de calidad, dado que las actitudes educativas eficaces solamente surgen de una reflexión de la experiencia personal compartida entre todos. La formación continua en servicio debe concebirse como aquella que tiene lugar en la propia escuela, esto es, como proyecto pedagógico en acción, garantizando un proceso que debe contener planos auténticos de formación, recogiendo los conocimientos que producen en el ejercicio de la profesión docente diferentes necesidades formativas, y teniendo en cuenta las condiciones reales de trabajo y los deseos educativos, de manera que esta formación se desarrolle en consonancia con los objetivos de la relación enseñanza-aprendizaje. Para que el conocimiento adquirido y construido en la formación se efectúe en las prácticas es obligatoriamente necesario que se concreten en una práctica reflexiva y no repetitiva, que sea capaz de identificar y solucionar problemas y que sea colectiva y -XLV- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Resumen] colaborativa entre los profesionales de la propia escuela, para que esta adquiera en el futuro el estatuto de escuela inclusiva. Por los resultados obtenidos podemos destacar que la perspectiva de formación continua deberá construirse a partir del análisis de necesidades expuestas por los propios profesores, para que así puedan crearse programas de formación que van al encuentro de los intereses y necesidades de los propios profesores, entendida como instrumento regulador muy importante en la práctica profesional de los docentes, y donde se incluirán los factores pedagógico, social y relacional. Al concluir esta investigación adoptamos los fundamentos revisados en la literatura, cuando ponen de manifiesto la expansión en la práctica de la formación profesional tomando como base la importancia de las transformaciones actuales en la sociedad. De ahí la perspectiva ecológica en el ámbito de la formación, partiendo esta siempre del análisis de las necesidades de los propios profesores. 2. Líneas abiertas de investigación Como recomendaciones para la investigación entendemos que resulta pertinente partir de los enfoques estudiados y de los resultados obtenidos y que nos reenvían a procesos de cambio debidos a factores contextúales y personales inherentes a las actitudes inclusivas de los profesores. Desde esta perspectiva, podemos considerar que las actitudes inclusivas se centran en diversos aspectos: En primer lugar, la cuestión de los valores y de los conceptos que están relacionados con factores debidos al cambio personal, identificándose como principales perspectivas -XLVI- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Resumen] el cambio cognitivo o de comportamiento del individuo o de un grupo pequeño. Sugerimos un enfoque de investigación a los cambios de actitud de la comunidad y su reflejo en la escuela inclusiva e inversamente observar cuál es la influencia ambiental externa y el cambio inducido en y por la escuela inclusiva. En segundo lugar, es necesario investigar la perspectiva organizacional del cambio que articula aspectos estructurales, culturales y políticos de la propia organización escolar, donde se incluyen el liderazgo, y el ambiente social. También es importante estudiar la cooperación relativa a la forma en que la comunidad educativa está disponible para apoyar la inclusión de todos sus miembros, así como el impacto de la diferenciación pedagógica como proceso interactivo y multidimensional que exige cambios de metodologías y prácticas. Finalmente, nos parece fundamental profundizar en la investigación con el fin de comprender no solamente el modo en que se elabora y refleja el conocimiento, sino también cómo puede equipararse en el ámbito de las alternativas pedagógicas. En el ámbito de la investigación futura, pensamos que es importante que los proyectos de formación de profesores sean supervisados por profesores especializados, y a su vez que se estudie de forma que un programa de formación de profesores en ejercicio pueda modificar las actitudes inclusivas. Así, proponemos una formación con metodologías y prácticas, con procesos de dinámicas de cambio y contextos en los cuales esta tiene lugar, en el marco de un proyecto de intervención/formación, además de formación centrada en el análisis de procesos de cambio con profundización en cuestiones relacionadas con el aprendizaje, -XLVII- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Resumen] donde se subrayan los efectos de las culturas, el liderazgo y los cambios de prácticas desde la perspectiva de los estudiantes. -XLVIII- INTRODUÇÃO A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Introdução] 1. Contextualização e interesse do estudo O presente trabalho integra-se epistemologicamente, no âmbito da educação especial, em geral e, em termos mais restritos no domínio da escola inclusiva. Para tal será essencial conhecer as atitudes dos professores relativamente à inclusão já que a atitude é passível de intervir e controlar o comportamento e acções, neste domínio. Portugal vive actualmente um período de grande mudança na área da educação, a par de outras alterações mais ou menos profundas, que se verificam na sociedade Portuguesa. O ensino e a educação nunca deixaram de estar intimamente ligados a motivações de natureza económica, política, religiosa e filosófica. Desligar a educação destes campos é ignorar as causas profundas das suas mudanças. Para a educação é fundamental assumir o papel que lhe cabe nesta dinâmica social, espera-se que ela própria não se torne num factor de exclusão social, devendo para isso adoptar uma política educativa diversificada, reconduzindo para o sistema educativo todos os que dela andam afastados ou o abandonaram porque o ensino não se adaptava ao seu caso (UNESCO, 2001). Crianças ou jovens com um percurso, com muito caminho ainda para percorrer (Ainscow, Porter & Wang, 2000; César, 2003, 2009; Farrel, 2006). A Escola está transformada num espaço e num tempo complexo e de mudança (PerretClermont; 2004; César, 2009), procurando ser cada vez mais inclusiva, acolhendo alunos com necessidades, características e interesses diversificados (Rodrigues, 2003; Ainscow & César 2006; César & Santos 2006; Armstrong, Armstrong & Spandagou, 2010; Hwang & Evans, 2011). Entre estes, encontram-se os alunos caracterizados como apresentando necessidades educativas especiais (NEE). -- 3 -- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Introdução] Este processo pressupõe saber ultrapassar as barreiras que surgem ao acesso e ao sucesso académico destes alunos, através da construção de cenários mais inclusivos, que alteraram profundamente as práticas tradicionais, substituindo-as por uma concepção mais global, na qual todo o aluno tem direito a uma educação sem exclusões, principalmente com as práticas educativas e atitudes dos professores (Rodrigues, 2000, 2003; Morgado, 2003a; Bowie, 2009; Ainscow, 2006; César & Santos 2006). Nas últimas décadas temos assistido em quase todo o mundo, à promoção por parte dos governos, do modelo inclusivo como preferencial para a educação. Embora este conceito não seja consensual e tenha vindo a provocar algumas tensões e contradições entre os profissionais e os decisores políticos, um enorme caminho tendo vindo no entanto a ser percorrido. De acordo com um relatório da European Agency for Development in Special Needs Education (2003) em educação inclusiva e práticas de sala de aula, lidar com a diferença é um dos maiores problemas nas escolas de hoje. No entanto teoricamente é quase consensual que as crianças com necessidades educativas especiais, devem ser educadas na escola do seu bairro, em ambientes de salas de aula regulares, apropriadas para a sua idade, com colegas sem deficiências (Porter, 1995). Diversos autores assumem que o desenvolvimento de práticas e a construção de cenários educativos mais inclusivos, nas escolas de ensino regular, estão intimamente relacionados com as atitudes dos professores e outros agentes educativos face à educação inclusiva (César & Carvalho, 2001; Morgado, 2003a; Farrel, 2006; Forlin, -- 4 -- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Introdução] 2006; Sharma, Forlin, Loreman & Earle, 2006; Loreman, Forlin, & Sharma, 2007; Bowie, 2009; Doulkeridou, et al., 2011). Observamos que, em Portugal, embora a legislação não o defina, em alguns cursos de formação graduada e pós-graduada, para professores, os planos curriculares têm vindo a ser alterados, procurando incluir unidades curriculares que tentam trabalhar questões ligadas à educação inclusiva, nomeadamente a educação de alunos caracterizados como apresentando NEE (Rodrigues, 2006). Ainda assim e apesar destes esforços, continuamos a verificar que uma das barreiras à inclusão comentada na literatura como muito difícil de vencer,chama-se atitudes. As atitudes dos professores que alguns estudos associam às suas concepções pedagógicas, à sua formação e à sua experiência, parecem ser determinantes para as possibilidades e limites da inclusão (Verdugo, Jenaro & Arias, 1995; Moberg, 1997; Pescador, Palomares & Arrang, 1999; Batsiou, Bebetsos, Panteli & Antoniou, 2008). São vários os estudos sobre educação inclusiva e formação de professores que têm vindo a sugerir relações entre a frequência de cursos graduados e pós-graduados e a promoção de atitudes mais inclusivas (Loreman, Sharma, Forlin & Earle, 2005; Forlin, Loreman, Sharma & Earle, 2007; Santos, 2008; Santos & César, 2009; Santos & Hamido, 2009; Kuyini e Mangope, 2011). Como referem os diferentes autores, o sucesso da inclusão depende também das atitudes dos professores, sendo que os que apresentam atitudes mais positivas, mais facilmente mudam e adaptam o seu trabalho com o objectivo de beneficiar os alunos com NEE, ao mesmo tempo que influenciam positivamente os seus pares. (Forlin, 2001; Avramidis & Norwich, 2002; Sharma et al., 2006, 2008). -- 5 -- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Introdução] Outra variável que tem sido ao longo dos anos equacionada em relação com as atitudes é a formação dos professores. Já Palácios (1987) referia que provavelmente, duas das variáveis mais importantes para o êxito da inclusão são a sua formação e as atitudes dos professores. O interesse por estas variáveis levou a uma grande quantidade de estudos, revistos por Gottlieb (1977) e Moberg (1997). Uma das conclusões retiradas desses estudos é a de que os professores não têm formação adequada para trabalhar com este tipo de crianças. Conclusões semelhantes são referidas por Casanova (1990) e Correia (1999) quando afirmam que uma das exigências para que a inclusão educativa se verificasse, seria a alteração na formação inicial e contínua dos professores, pois um docente com maior preparação a nível pedagógico, estará mais predisposto a assumir mudanças metodológicas e de atitudes (Torre, 1995; Silva, 2002; Plaissance, 2002; Melero, 2004). Também Boer, Pijl e Minnaert (2011), verificaram numa revisão de 26 estudos que em todos eles os professores não se reconhecem competentes para a intervenção com alunos com NEE. Em Portugal, alguns estudos sugerem também que as carências de pessoal e de recursos ainda se fazem sentir de uma forma muito acentuada, o que poderá aumentar os níveis de preocupação face à educação inclusiva, assim como de atitudes que promovem a segregação dos alunos em condição de NEE (Rodrigues, 2003; Freire, 2006; Santos, 2008). Silva (2002), afirma que a inclusão tem sido “implementada sem que os professores do ensino regular tenham tido formação que os ajude no desempenho das várias e diferentes tarefas com que se vêem confrontados” (p.43). Recentemente encontrámos estudos de Avramidis, Bayliss, & Burden, 2000; Lambe & Bones (2006), Sharma et al. (2008) e Kuyini e Mangope (2011), que indicam que a formação de professores -- 6 -- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Introdução] influencia as suas atitudes face à inclusão e que esta influência é superior à da experiência profissional. Alguns estudos têm sido feitos na área das atitudes como atrás referimos. Em Portugal salientamos o trabalho de Vaz, (2005). Nesse estudo o autor refere nas suas reflexões/conclusões que: ”Pensamos que este estudo deverá ser continuado e estamos convictos, melhorado. Será do maior interesse para o conhecimento deste domínio que a investigação seja continuada e ampliada. Em relação à escala de atitudes deverá ser aplicada a um maior nº de sujeitos (…) a fim de obter uma amostra verdadeiramente significativa do Universo dos Professores do Ensino Básico” (p.335). Em Espanha, salientamos o estudo de Rodríguez Tejada (2006) que concluiu: “no século XX verifica-se um espectacular avanço na educação, mas muito há ainda por fazer (…) a problemática dos alunos com Necessidades Educativas Especiais é uma questão urgente, que temos que abordar. O estudo profundo desta problemática, pode trazer melhorias a este assunto, que têm que ser feitas, sem demoras” (tradução do autor) ” (p. 532). Com base nas conclusões dos autores, implementamos um primeiro estudo (Paiva, 2008) cujas conclusões, apontam para indicadores de relacionamento entre atitudes e formação de professores. Pareceu-nos então de toda a pertinência, partindo de todos os estudos feitos quer em Portugal quer no estrangeiro, procurar determinar o que de mais significativo exista na explicação das atitudes dos professores face à inclusão dos alunos com NEE na sala de aula e se essas atitudes passam pela sua formação. Torna-se premente e pertinente toda a investigação na área das necessidades educativas especiais e da promoção da inclusão, com vista a apoiar mudanças mais -- 7 -- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Introdução] inclusivas. O presente estudo pretende assim analisar “ A formação e as atitudes de professores do ensino básico, face à inclusão de alunos com necessidades educativas especiais na sala de aula” Estudar as mudanças que a formação dos professores promove nas atitudes face à educação inclusiva é, assim essencial (Loreman, et al., 2007; Sharma, et al.,2006). Configura-se uma nova realidade, onde os professores são confrontados com situações que desconhecem e para as quais dizem não se encontrarem habilitados (Boer, et al.,2011). Sabendo que as atitudes dos professores apontam para um processo inclusivo diferenciado (Conaster, Block & Lepore, 2000), constituem-se e surgem variáveis de elevado interesse para a temática em pesquisa (Kozub & Lienert, 2003), a formação e as atitudes de professores, face à inclusão dos alunos com NEE na sala de aula. É também fundamental auscultar os professores sobre as suas necessidades e dificuldades. Esta realidade despertou a atenção do autor enquanto docente ao longo de 32 anos de carreira, que se deparou por diversas vezes com situações e alunos diferentes, que exigiram maior dedicação e, naturalmente, um projecto direccionado às suas características e necessidades educativas especiais. Como tal, constatámos que a elaboração de uma resposta mais correcta depende não só do constructo intelectual do professor, mas também das atitudes que o mesmo constrói no decorrer das suas experiências, que poderão ser influenciadas por diversas razões. O interesse pelo aprofundamento dessas razões, associado ao desejo de contribuir para a promoção da escola inclusiva, levou-nos aos objectivos desta investigação. -- 8 -- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Introdução] Cada vez mais entendemos que a Escola se deve adaptar aos alunos através das formas de organização e das práticas (Armstrong, Armstrong & Barton 2000; Ainscow & César 2006). Desenvolver cenários educativos mais inclusivos constitui um incentivo para a (re) organização e desenvolvimento da escola e dos agentes educativos que nela colaboram, pois não se desenvolvem organizações sem desenvolver também as pessoas que nelas trabalham (Ainscow, 1995; Morgado, 2003a). O mundo, cada vez mais multicultural, coloca à escola desafios constantes uma vez que suscita interrogações e transformações que implicam mudanças, de comportamentos e mesmo de mentalidades. Actualmente encontramo-nos num momento de reconceptualização e reformulação das teorias e das práticas em relação ao atendimento às crianças com NEE no ensino regular. Tendo por filosofia de base a inclusão e por referência o já anteriormente referido, optamos por aprofundar esta temática. Como se pode deduzir do que atrás deixámos exposto, definimos como objectivos gerais do estudo, conhecer as atitudes de professores do ensino básico, face à inclusão de alunos com necessidades educativas especiais na sala de aula e verificar a natureza das dificuldades que os professores sentem para promover a educação inclusiva e relacioná-las com o tipo de atitudes que manifestam, com o seu percurso e necessidades de formação. Este objectivo geral desdobra-se em sete objectivos específicos. Foi com base nos objectivos e nas 8 hipóteses definidas que desenvolvemos o trabalho de investigação. -- 9 -- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Introdução] 2. Organização do estudo Trata-se de um estudo de abordagem descritiva e foi utilizada uma metodologia mista (paradigma qualitativo e quantitativo), com recurso à triangulação dos dados. Seleccionamos como população a estudar os professores do Ensino Básico e da Educação Especial. Os resultados obtidos foram suportados numa escala de atitudes, bem como numa recolha documental e também na utilização de grupos de discussão (focus groups). Apesar de já termos indicado anteriormente e de forma resumida o conteúdo do estudo realizado, faremos de seguida a síntese de cada um dos capítulos que intregra este trabalho. No primeiro capítulo abordámos os conceitos de formação dos professores,fazendo referência à formação inicial e aos modelos de formação. O segundo capítulo é dedicado à evolução da formação dos professores do ensino básico, onde abordámos também o processo de bolonha e a situação da formação em Portugal na actualidade. Terminamos abordando a formação de professores de educação especial. No terceiro capítulo, relativo ao desenvolvimento profissional dos professores, damos conta dos diferentes conceitos de formação contínua e de necessidades nesta área, até chegarmos à abordagem do conceito da formação reflexiva e da importância deste, na inclusão de alunos com NEE. -- 10 -- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Introdução] No quarto capítulo desenvolvemos a evolução das perspectivas sobre a educação das crianças com necessidades educativas especiais, tentando fazer o percurso desde a perspectiva assistencial à educativa, abordando o atendimento às crianças e jovens com necessidades educativas especiais, naturalmente desde a segregação à integração escolar. Revemos aspectos relacionados com a educação especial em Portugal, e sobre o caminho da escola inclusiva e a qualidade na educação e a sua relação com a inclusão dos alunos com NEE. No quinto capítulo referimos a formação inclusiva e a mudança desenvolvendo os fundamentos relativos a teorias sobre a mudança nos professores e a importância da formação contínua na mudança para a inclusão dos alunos com NEE. No sexto capítulo desenvolveu-se o tema atitudes em que se abordaram os conceitos de atitude e da sua formação e o relacionamento das atitudes com os comportamentos. Focámos também a forma de medir as atitudes e a possibilidade de estas se modificarem. Referimo-nos naturalmente às atitudes em geral face à pessoa com deficiência e às atitudes dos professores face à inclusão das crianças com NEE em particular. Terminamos relacionado a formação com as atitudes dos professores face à inclusão. O sétimo capítulo é dedicado ao estudo empírico que conduzimos, relativamente à formação e às atitudes dos professores do ensino básico face à inclusão de alunos com necessidades educativas especiais. Descrevemos a problemática, os objectivos e as hipóteses e respectivas orientações metodológicas. -- 11 -- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Introdução] Nos capítulos oitavo e nono, descrevemos os procedimentos de selecção da amostra e caracterizámos o universo em estudo, identificando os instrumentos de avaliação, os procedimentos de análise, os métodos de tratamento de dados e respectiva discussão dos resultados. No décimo capítulo, conclui-se o trabalho com a apresentação da reflexão efectuada sobre as principais conclusões a que chegamos no desenvolvimento do presente estudo, sumariam-se as principais conclusões obtidas, identificando as recomendações para futuras investigações na área. No final deste trabalho apresentamos as referências bibliográficas utilizadas na realização desta investigação, bem como o índice de ilustrações e de anexos onde consta a informação complementar relacionada com os temas tratados ao longo do estudo. -- 12 -- MARCO TEÓRICO CAPÍTULO I A FORMAÇÃO DOS PROFESSORES “A formação de professores é, provavelmente, a área mais sensível das mudanças em curso no sector educativo: aqui não se formam apenas profissionais; aqui produz-se uma profissão.” Nóvoa (1999) O significado do termo professor não tem sido fácil de descrever. Tem até sido motivo de alguma confusão. Esta definição varia de acordo com as competências que cada autor atribui a este profissional. Para Tejada Fernandéz (2009) professor refere-se a toda “persona que de alguna forma o manera tiene relación com la formación desde la óptica de la responsabilidade-géstion, de la concepción o de la realización de la misma” (p.1). De acordo com o mesmo autor é muito habitual pensar o professor apenas na óptica do sistema educativo. No entanto se pensarmos que este profissional desenvolve a sua actividade a distintos níveis, que tem que actuar profissionalmente em vários cenários e em várias situações dentro e também fora do sistema, compreenderemos como é importante repensar o perfil do professor, bem como o seu sistema de formação. A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Capítulo I - A formação dos professores] Assim o tema formação de professores é actualmente uma forte preocupação de todos os países, governos e políticas e tem constituído motivo de várias pesquisas por parte de vários investigadores. Todos estão conscientes da importância da qualidade do ensino e por consequência da qualidade dos professores para o desenvolvimento e para o futuro das Nações. Segundo Rodrigues (2001) “A escola do futuro só pode ser tão boa como os seus profissionais” (p.88). Isto perspectiva a grande importância atribuída à formação dos professores, durante todo o seu percurso profissional. Hoje sabemos que a formação é um processo contínuo, sistemático e organizado que dura enquanto durar a carreira do docente. Por tal facto, alguns autores sublinham a importância de uma concepção ecológica da formação docente (Imbernón, 1994; Alarcão, 2001a; Pimenta, 2002, 2005). Antes de nos debruçarmos especificamente sobre a formação de professores é importante compreender o conceito genérico de formação. Marcelo García (1999) refere que “a formação tem que ser entendida como uma função social de transmissão de saberes, de saber fazer ou de saber-ser” (p.19), a favor de um sistema político, socioeconómico e cultural dominante. O autor entende que poderemos ver a formação como um processo de desenvolvimento e estruturação da pessoa. Para Zabalza (1990), formação é “o processo de desenvolvimento que o sujeito percorre até atingir um estado de plenitude pessoal” (p.201). Por sua vez Debesse (1982) afirma que o conceito formação inclui uma dimensão pessoal com finalidades, metas e valores e que devemos distinguir entre autoformação (momento em que o indivíduo participa de forma independente, controlando os objectivos, os processos, os instrumentos e os resultados), heteroformação (formação que é organizada e desenvolvida a partir de fora por especialistas) e interformação (.ocorre entre profissionais do mesmo ramo). -- 16 -- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Capítulo I - A formação dos professores] Para Ferry (1991) a formação significa “um processo de desenvolvimento individual destinado a adquirir ou aperfeiçoar capacidades” (p.37). Outra possibilidade, é o encarar da formação como um processo de desenvolvimento e estruturação dos indivíduos, assente na maturação interna e na reflexão sobre a experiência (Couto, 1998; Marcelo Garcia, 1999; Borralho & Espadeiro, 2004). Neste capítulo procuraremos compreender os conceitos sobre a formação de professores, as fases da sua formação inicial e como se tornam professores especialistas em educação especial, sendo abordados também os modelos teóricos existentes subjacentes a esta formação. 1. Conceitos sobre a formação de professores De acordo com Blázquez (1994), não é possível encontrar conclusões consensuais, sobre o conceito de formação de professores, talvez porque ainda há algum tempo atrás, para uns bastava aos professores dominar bem a sua matéria para poder ensinar, para outros para se ser professor bastava ter cultura e alguma sensibilidade para a docência. Sabemos hoje que a formação docente é uma actividade profissional complexa. Responder eficazmente à heterogeneidade dos alunos que frequentam as escolas, é uma tarefa que requer talento e seguramente formação adequada. Saviani (2000), refere que “se pensarmos num professor como um formador de homens, a sua formação terá que ser a mais ampla e profundamente possível, porque envolve uma situação de grande complexidade “ (p.291). -- 17 -- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Capítulo I - A formação dos professores] Dada a grande heterogeneidade dos conceitos sobre formação de professores, optámos por sintetizar algumas das concepções que nos parecem mais relevantes, conforme se apresenta no quadro 1. Ano Autor Conceito 2009 Tejada Fernandéz 2007 Návio 2006 Zabalza 2004 Borralho & Espadeiro 2002 Estrela 2001b Alarcão 2001 Canário 2001 Roldão 1998 Hargreaves 1994 Blázquez 1994 Marcelo García 1993 Zeichner 1989 1987 Medina e Domínguez Gimeno, Sacristán A formação de professores é uma fonte de selecção de conteúdos conceptuais procedimentais e atitudinais Processo mediante o qual o professor integra as suas capacidades e competências num contexto evolutivo e para o qual terá que demonstrar capacidades A formação dos professores é permanente. Estes têm que ser preparados para aprender ao longo de toda a sua carreira Relaciona-se com a capacidade e a vontade da formação. O indivíduo é responsável pela activação e desenvolvimento dos processos formativos Processo de preparação e desenvolvimento da pessoa, com vista ao desempenho e realização A formação deve ser para que o candidato se transforme em professorinvestigador para assim desenvolver competências para investigar na, sobre e para a acção educativa e para partilhar percursos e processos com os outros Formação inicial é aprender a aprender com a experiência Deve ser entendida como uma construção social num processo de desenvolvimento contínuo e de contextualização permanente. Deve atender aos aspectos emocionais, já que eles têm um papel decisivo na prática docente Cconsiste num processo sistemático e organizado mediante o qual os professores em formação se implicam individual e colectivamente em processos formativos que propiciam a aquisição de conhecimentos, destrezas e disposições para o exercício da sua tarefa profissional É essencialmente uma área de conhecimento e investigação e de processos através das quais os professores em formação inicial ou em exercício, se implicam em experiências de aprendizagem É uma matriz de crenças e pressupostos acerca da natureza e propósitos da escola e do ensino dos professores A preparação do docente para realizar crítica, reflexiva e eficazmente um estilo de ensino que promova uma aprendizagem significativa nos alunos É uma pedra angular, imprescindível em qualquer tentativa de renovação do sistema educativo Quadro 1: Conceitos sobre formação de professores Parece-nos poder concluir que de todas estas concepções dos vários autores, emerge a ideia de que a formação de professores não pode ser reduzida ao treino de técnicas e conhecimentos instrumentais, dado que as vertentes afectiva e cognitiva, assumem um papel preponderante. “El professor, por su condición de adulto y experto en la matéria -- 18 -- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Capítulo I - A formação dos professores] que imparte,assume automáticamente el papel de líder con respecto a su grupo de alumnos…”(Sola Martínez, López Urquizar e Cáceres Reche , 2009) A formação inclui inequivocamente uma dimensão pessoal que é preciso ter em conta, “formar-se é uma tarefa simultaneamente complexa e frágil e exige do indivíduo a explicitação de um projecto pessoal” (Couto, 1998, p.52). Após efectuada a síntese das várias concepções sobre a formação, importa agora abordar os princípios da formação de professores, que operacionalizarão os conceitos que Marcelo García (1999) nos demonstra através de sete princípios: . O primeiro princípio é a formação como um acto continuado. “O desenvolvimento profissional é um projecto ao longo da carreira desde a formação inicial, à iniciação, ao desenvolvimento profissional… é uma aprendizagem contínua, interactiva e cumulativa” (Fullan,1991,p:215). Também para Montero (1990) entre a formação inicial e a formação contínua dos professores existirá uma forte ligação. O segundo princípio, incide na necessidade de incluir a formação de professores em processos de mudança, inovação e desenvolvimento curricular. Nesta perspectiva, Escudero (1992) também afirmava “a formação, se bem entendida, deve estar preferencialmente orientada para a mudança, activando reaprendizagens nos sujeitos e na sua prática docente” (p.57). O terceiro princípio indica a necessidade de ligar os processos de formação com a organização escolar. Escudero (1990), justifica as potencialidades de escola como organização formadora ou com potencial de formação para os professores e Nóvoa (1991) sustenta que “é no próprio processo de resolução de problemas da vida e da escola, na capacidade para os teorizar e para encontrar as respostas mais adequadas -- 19 -- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Capítulo I - A formação dos professores] que a formação adquire todo o seu significado “(p.73). O quarto princípio propõe a articulação entre a formação de professores no que se refere aos conteúdos e a formação pedagógica dos professores. Referindo-se a este princípio Shulman (1992) comenta-o como sendo o conhecimento didáctico do conteúdo. Já Gudmundsdottir (1987), se referia ao mesmo pressuposto como “uma amálgama especial de pedagogia e conteúdo que faz com que os professores sejam diferentes dos especialistas em cada uma destas áreas (p.1). O quinto princípio indica a necessidade de integração da teoria com a prática na formação de professores. Villar Angulo (1992), também refere que a formação de professores seja inicial ou contínua, deve ter em conta a reflexão sobre a prática. Pérez, Gómez (1995) sublinhou que “a prática é concebida como o espaço curricular especialmente delineado para aprender” (p.143). O sexto princípio é o da necessidade de procurar a relação entre a formação recebida pelo professor e o tipo de educação que terá que desenvolver no futuro. Sobre esta questão, Fernández Pérez (1994), diznos que “em matéria de formação de professores o principal conteúdo é o método através do qual o conteúdo é transmitido” (p.12). O sétimo e último princípio, destaca a questão da individualização na formação dos professores. Isto quer significar que a formação se deve basear nas necessidades e interesses dos mesmos. Uma aproximação a este princípio é a referência de Little e Mclaughlin (1993), quando afirmam que “a formação deve dar aos professores a possibilidade de questionarem as suas próprias crenças e práticas institucionais” (p.139). Sobre o paradigma da individualização, Feiman-Nemser (1983), encontrou quatro fases na formação dos professores: a fase do pré-treino, a fase da formação inicial, a fase da iniciação e a fase da formação permanente. Podemos assim inferir que -- 20 -- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Capítulo I - A formação dos professores] a formação de professores passa por diferentes contextos dos quais se destacam o desenvolvimento intelectual social e emocional, sempre numa perspectiva de reflexão do conhecimento. Iremos no ponto seguinte aprofundar o tema Formação inicial de professores 2. Formação inicial de professores A formação inicial de professores é um dos pontos para onde convergem inevitavelmente as questões relacionadas com a vida escolar. Nela deveriam lançar-se os alicerces para a construção do perfil do professor necessário a cada sistema de ensino, contextualizado no tempo e nas especificidades das sociedades em que se integra (Schön, 2000; Benassuly, 2002; Ghendin, 2002; Pimenta 2005). Vir a ser professor é um processo complexo e com múltiplos aspectos a considerar. Os fundamentais serão o aprender a ensinar e o da socialização profissional (Calderhead & Shorrock, 1997; Hauge, 2000; Flores, 2001). Estes processos são mediados pelas próprias crenças e valores dos docentes, sobre o que significa ser professor e sobre que professores gostariam de ser (Sachs, 2001). O início de qualquer profissão está envolvido em expectativas, inseguranças e emoções, assim como constitui um marco essencial na vida de qualquer indivíduo. De um momento para o outro sai-se da protecção familiar e escolar, enquanto espaços normalmente seguros, facilitadores de crescimento afectivo e cognitivo, e entra-se nas responsabilidades sociais do mundo adulto, que exige competências diversificadas e complexas para as quais nem sempre se encontra a sustentação do ensino formal. Ao -- 21 -- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Capítulo I - A formação dos professores] professor pede-se, logo no primeiro contacto com a escola, que saiba gerir um número infinito de situações, que vão dos conteúdos aos tempos lectivos, passando pelas relações interpessoais e pela escolha e elaboração de materiais. Como se processa hoje essa iniciação no seio da escola? Que trabalho é feito no sentido de preparar os candidatos a professores com as competências que lhes são exigidas? Assim, perspectivando a escola como um espaço em que se educam os indivíduos para serem cidadãos participativos e críticos, apetrechados com competências que lhes permitam responder adequadamente às solicitações sociais, torna-se de crucial importância que se reflicta sobre o modo como são formados os docentes para este desafio. À prática profissional dos professores apontam-se com frequência efeitos sociais negativos, tanto no que respeita directamente aos processos de ensino e aprendizagem, atribuindo-se-lhe responsabilidades pela fraca preparação dos alunos, como na actuação da escola face ao progresso tecnológico das sociedades contemporâneas, afirmando-se a sua distância e pouca abertura à inovação. Não há um “modelo” de bom professor, mas uma grande quantidade de “modelos” de acordo com o estilo pessoal de cada um e do modo como interage com os alunos/meio. O melhor professor será o que tiver uma resposta pronta para a questão que preocupa o aluno naquele momento. Este deverá ter a habilidade, a arte de reconhecer a necessidade imediata do aluno. Deverá ter o “conhecimento tácito” de que fala Polanyi (1966) e que é espontâneo, intuitivo, experimental, quotidiano e que ajudará o professor a conhecer melhor o ser que lhe foi entregue. -- 22 -- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Capítulo I - A formação dos professores] É Gimeno, Sacristán (1987) que nos fala da postura profissional do professor como sendo “a afirmação do que é específico na acção docente, isto é, o conjunto de comportamentos, conhecimentos, destrezas, atitudes e valores que constituem a especificidade de ser professor” (p.64). Numa abordagem focalizada no processo formativo, Pombo (2002) assinala três grandes perspectivas da formação inicial de professores: a experiencial, a mimética e a descritiva. Para esta autora, a perspectiva experiencial assenta na ideia de que os requisitos para se ser professor são de natureza científica, cabendo à Universidade atestar as competências através do certificado de licenciatura. Não se atribui qualquer importância à formação pedagógica, crendo-se que é pela experiência do ensino que se aprende a ser professor. A tendência para se encarar a profissão docente como um dom, embora de outro ponto de vista, transportanos aos tempos em que era encarada como uma vocação religiosa, não parecendo ser este um caminho para a sua valorização. Numa outra perspectiva assume-se que, para além da formação científica, é necessária uma formação para a docência. O diploma da licenciatura dá acesso à formação pedagógica, adquirida na escola junto de professores experientes e supervisionada por um colega orientador. Do orientador dependerá todo o sucesso ou insucesso desta formação pedagógica que pode não passar de uma multiplicação de estereótipos. A terceira perspectiva referida pela autora, designada de descritiva, depende de um conceito pré – estabelecido - o de perfil de professor. Ou seja acredita-se que o professor desejável deve ter determinadas competências e que a formação deve consistir no treino das mesmas sendo que o modelo de estágio integrado assenta nesta perspectiva. A formação científica é reduzida para dar lugar às componentes de formação pedagógica. Neste último modelo, que decorre do acentuar e da necessidade -- 23 -- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Capítulo I - A formação dos professores] de uma formação mais especializada para a docência, integra-se a formação inicial que contém um leque de disciplinas na área das Ciências da Educação e um ano de prática pedagógica realizada em contexto profissional. As ideias expressas por Ponte et al. (2000), são pertinentes quando acrescentam que: “não basta ao professor conhecer teorias, perspectivas e resultados da investigação. Tem de ser capaz de construir soluções adequadas, para os diversos aspectos da sua acção profissional, o que requer não só a sua capacidade de mobilização e articulação de conhecimentos teóricos, mas também a capacidade de lidar com situações práticas”. (p.8) Outros autores, enumeram várias dificuldades presentes na formação de professores: teoria versus prática; conteúdo versus processo; desenvolvimento pessoal versus desenvolvimento profissional e reprodução versus iniciação (Calderhead & Shorrock,1997). Formosinho (2009), define o conceito de “academização” da formação de professores, já anteriormente utilizado como “universitarização” (Buchberger, 2000; Formosinho, 2000; Tardif, Lessard, & Gauthier, 1999), como o processo de transformação da formação inicial de professores, numa formação teórica e afastada das preocupações das escolas e dos professores. Para o autor “a academização não promove a construção adequada da escola para todos, que é uma peça essencial na construção das sociedades contemporâneas” (p.74). Neste sentido, a academização adquire aqui um conceito crítico das práticas de formação inicial de professores. Este fenómeno tem constituído motivo de análise e reflexão para muitos autores um pouco por toda a parte (Nóvoa e Popkewitz, 1992; Buckberger, 2000; Formosinho, 2002).A academização da formação de professores é a “progressiva subordinação das instituições de formação de professores à lógica da acção tradicional do ensino superior” (Formosinho,2009, p.75). -- 24 -- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Capítulo I - A formação dos professores] Isto representa a invasão académica na lógica profissional. Assim, a organização do ensino vai sendo invadida por aulas expositivas, dadas até por brilhantes académicos,uns mais do que outros, mas que não sabem o que é ensinar crianças ou jovens. O maior risco deste fenómeno é a transformação do modelo utilizado no ensino superior para as salas de aula do ensino básico, como verificamos todos os dias em muitas escolas. De facto a formação de professores tem algumas especificidades se compararmos com a de outros profissionais. De acordo com Flores (2009) todo o professor é professor de “alguém” ensinando “alguma coisa” num determinado contexto e com determinadas finalidades, sendo importante situar a formação de professores e o profissionalismo docente, num dado contexto político, social, cultural e económico. Qualquer opção está invariavelmente impregnada de pressupostos político-ideológicos, relacionados com a visão do homem, da sociedade e do saber. Na figura seguinte, apresentamos um modelo sobre os factores e contextos que influenciam e enquadram a formação de docentes, que segundo a autora são “conceitos social e historicamente construídos” (idem, p.145). Contexto político, social, cultural e económico Contexto político Enquadramento legal da Formação de professores Prioridades nacionais e locais Currículo Papel do professor Papel do aluno Concepção de ensino e de aprendizagem Materiais curriculares Opções curriculares Textos normativos Formação de PROFISSIONALISMO DOCENTE professores Investigação Aprender e ensinar Aprendizagem e desenvolvimento profissional Mudança, pensamento e Prática do professor Socialização profissional Currículo Condições de trabalho Constrangimentos institucionais Culturas e lideranças Papéis e tarefas Oportunidades de Aprendizagem Expectativas sociais Fonte: Flores (2009) Figura 1: Contextos que influenciam a formação de professores -- 25 -- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Capítulo I - A formação dos professores] A formação inicial de professores parece dever preparar os candidatos a futuros professores para o estudo do mundo, de si mesmos e do conhecimento académico, para além de os preparar para participar na renovação da escola. Feiman-Nemster (1990), afirma existirem cinco paradigmas que podem ser inspiradores dos currículos de formação de professores e que são: orientação académica; orientação prática; orientação tecnológica; orientação pessoal e orientação crítica social. Sabemos que nenhum programa de formação se enquadra exclusivamente num destes paradigmas. Tal como nos diz Blázquez (1997a), não devemos excluir completamente nenhum deles, pois todos podem trazer ideias para a formação, no entanto para nos posicionarmos mais perante um ou outro modelo, teremos que ponderar sobre que tipo de professor se quer formar. A legislação que regulamenta a formação de professores, contem uma determinada forma de compreender a função do professor e aponta para a necessidade de uma formação inicial que promova nos futuros professores uma atitude investigativa e crítica sobre a sua prática. Os objectivos da formação inicial de professores quer na legislação Portuguesa quer na literatura, espelhando o resultado de vários trabalhos de investigação, apontam para dimensões do conhecimento, de competências e de atitudes. A formação inicial recebe normalmente muitas críticas de todos os intervenientes. Segundo Ponte (2005) os professores universitários dizem que os jovens professores não são suficientemente preparados. Os professores das áreas das didácticas, dizem que tudo o que ensinam aos professores principiantes, acaba por se apagar pelo conservadorismo da escola. Os professores em início de carreira referem que pouco do que aprendem na formação inicial lhes serviu para a sua prática pedagógica. Os professores experientes referem que os jovens vêm mal preparados. Muitos -- 26 -- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Capítulo I - A formação dos professores] investigadores traçam também duras críticas à formação inicial de professores e a própria comunidade desconfia da formação dos seus professores. “(…)estas críticas aplicam-se por inteiro à situação Portuguesa muito marcada por disputas acerca de qual é o melhor modelo institucional para realizar a formação inicial (…) na verdade, não deixa de ser curioso que muitos professores formados em instituições que praticam o modelo integrado, referem ter sido o seu curso um mosaico de disciplinas desconexas, como outro curso qualquer, com a agravante que não vêem muitas dessas disciplinas como relevantes para a sua actividade profissional” (Ponte 2005, p.67). Esteves (2005), refere também que importa que “a formação inicial de professores seja reconceptualizada no sentido de preparar futuros profissionais autónomos, críticos e criativos, promotores do sucesso educativo dos alunos”( p.152). 3. Modelos de formação de professores É possível encontrar, nos vários autores, diferentes concepções relativamente à escola, aos currículos, ao ensino e à inovação. Essas diferentes concepções dão naturalmente origem a vários ideais do que é ser professor. Uns valorizam mais a eficiência, outros a competência ou a tecnicidade. Mas há ainda quem valorize mais a pessoa, o profissional, o sujeito que investiga, reflecte e toma decisões. A cada uma destas imagens corresponde uma concepção de formação de professores, que vai influenciar os conteúdos, métodos e estratégias a utilizar nessa formação. Zeichner (1993), utilizou o conceito de paradigma de formação de professores para se referir a um conjunto de crenças e pressupostos que dariam corpo e características específicas à formação de professores. No entanto, Feiman-Nemser (1990), preferiu -- 27 -- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Capítulo I - A formação dos professores] estabelecer o conceito de orientações conceptuais, entendido como “um conjunto de ideias acerca das metas da formação e dos meios a alcançar. “ (p.220). Outros autores falam de perspectiva (Pérez Gomez, 1999) ou de tradições de formação (Liston & Zeichner,1993). Verificamos assim, que a formação de professores é uma realidade complexa. É por este motivo que não é fácil encontrar uma categorização definitiva dos modelos de formação. Ferry (1991), referia que normalmente se tende a discutir esta problemática, colocando dois modelos em pólos opostos: o tradicional, usado no passado que tende a reproduzir conhecimentos e o da nova pedagogia conotado com o futuro, a actividade, a autonomia e a criatividade. Seguindo esta perspectiva o autor apresenta três modelos de formação de professores que passamos a descrever: o primeiro modelo é centrado nas aquisições e está implementado na lógica de transmissão dos saberes, em que a teoria é mais importante do que a prática. Este modelo ainda hoje em uso, tende a dar continuidade aos sistemas instituídos. É a reprodução dos estereótipos existentes. O segundo modelo é centrado no processo. Está mais preocupado com a forma como o candidato a professor apreende, bem como com o seu projecto pessoal. Nesta concepção não é possível separar a pessoa do profissional. A aprendizagem resulta da transferência recíproca entre teoria e prática. O terceiro modelo centra-se na análise e procura que o candidato, à medida que vai ganhando consciência das suas aprendizagens, vá fazendo mudanças pessoais. A partir desta reflexão o futuro professor vai estruturando a sua acção e vai identificando as suas novas necessidades de formação. -- 28 -- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Capítulo I - A formação dos professores] Acrescenta Estrela (2002), como subjacente a este último modelo, a lógica do desenvolvimento curricular. Por um lado, há competências e saberes pré definidos dos quais o futuro professor se vai apropriar, por outro lado há o currículo aberto que irá ser objecto de estudo, tornando-se a pesquisa um instrumento fundamental entre a teoria e a prática. Por sua vez, Marcelo García (1999), referindo-se a Zeichner (1993), elaborou uma figura cuja adaptação apresentamos na figura 2, e que reflecte os paradigmas distintos da formação de professores. PROBLEMÁTICO Orientado para a indagação Condutistas APRIORÍSTICO REFLEXIVO Tradicional - Artesanal Personalista CERTO Fonte: Marcelo García (1999) Figura 2: Paradigmas da formação de professores Ainda segundo o mesmo autor, estes paradigmas podem ser agrupados em função de duas dimensões: a primeira, denomina-se certo versus problemático (a formação de professores compreende os contextos como correctos ou válidos ou como problemáticos ou discutíveis); à segunda dimensão, chamou apriorístico versus reflexivo (o currículo de formação de professores é ou não pré-estabelecido e portanto transformável). Analisando os estudos de Zeichner (1993) que definiu cinco modelos na formação de professores e tomando por base também os trabalhos de Blázquez (1994), FeimanNemser (1990) e Esteves (2002), poderemos comparar no quadro 2, as principais -- 29 -- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Capítulo I - A formação dos professores] diferenças entre os modelos e paradigmas acima enunciados, bem como verificar o perfil do professor que cada um preconiza. Perfil de Modelo/ Paradigma Académico Tecnológico Prático Personalista Crítico Social/ Investigativo Características/filosofia subjacente Filosofia Positivista. Dotar os profissionais de conteúdos para ensinar.Não valoriza a formação pedagógica e didáctica. O ensino como transmissor de conhecimentos Filosofia behaviorista. Este modelo vê o ensino como uma ciência e o professor como o técnico que a aplica. O acto de ensinar não é valorizado O ensino é a aplicação de um conjunto de técnicas derivadas do estudo científico dos processos de ensino aprendizagem. Formação a partir da observação e da experiência. Valorizado o aprender a ensinar com observação de boas práticas. Trabalho em situações reais, com professores considerados modelos.. Considera a reflexão vital para a aprendizagem Filosofia Humanista. Valoriza o professor informado e consciente. Entende o docente como um todo com as vertentes pessoais e profissionais impossíveis de separar. O ensino é o desenvolvimento da personalidade de cada indivíduo que deseja ser professor Filosofia reflexiva e investigativa. Valoriza o professor consumidor crítico da investigação e capaz de participar com isso no seu desenvolvimento profissional, para uma intervenção fundamentada centrada na turma e na escola Professor Professor intelectual, especialista em determinada matéria que vai leccionar Professor Técnico, que domina um conjunto de skills que favorecem a aprendizagem dos alunos Outras referências ao modelo Nóvoa (1991): refere-se a esta perspectiva como uma relação do aprendiz com o mestre. O acto de ensinar perde o sentido ecológico, sendo visto como algo compartimentado. Programas de carácter behaviorista têm objectivos definidos. Muitos dos seus princípios e práticas encontram-se presentes nos actuais programas de formação (Cambourne, et al., 2003; Estrela,2002) Professor artesão que aprende observando como se faz, por tentativa e erro Através da reflexão o indivíduo dá significado à experiência, questionando e problematizando conhecimentos anteriores, concepções e práticas. O professor deve tornar-se capaz de avaliar as suas reflexões, adquirir capacidades de análise, autocrítica e abertura à mudança. (Schön, 1983; Marcelo García,1994): Professor humanista com necessidades e expectativas que vai encontrar o seu próprio estilo de ser professor O principal objectivo dos programas de formação neste modelo, é o de proporcionar aos professores em formação um auto conceito positivo e uma maturidade adequada para desempenharem a profissão. (Borralho & Espadeiro, 2004). Professor investigador, pesquisador, reflexivo, crítico, aberto e impulsionador da mudança Professor inovador, investigador, reflexivo, sensível à mudança que fomenta a reflexão dos seus alunos. Programa de formação orientado para a ética do dever, da justiça social e do compromisso, para o professor inovador (Estrela, 2002: Borralho & Espadeiro, 2004) Quadro 2: Modelos de formação de professores Os modelos atrás referidos não se excluem mutuamente, pois existem características comuns nos vários modelos (Estrela, 2002). Os modelos são alternativas conceptuais, sujeitas a imensas interpretações nas situações reais de formação e distinguem-se pela importância que cada modelo dá a cada uma das características. Esteves, 2002). Como -- 30 -- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Capítulo I - A formação dos professores] salientam Korthagen, Loughran e Russel (2006), a preparação do professor, mais do que ensinar um conjunto de saberes, deve incidir no como aprender a partir da experiência e no como construir conhecimento profissional. Sobre esta temática, Simão (2002) salienta que, a formação deve tornar o professor capaz de estimular a consciência dos seus alunos e saber utilizar técnicas de ensino que facilitem atingir os objectivos cognitivos e motivacionais. Após a análise da literatura efectuada para elaborar este capítulo e dos pressupostos revistos, para a operacionalização deste estudo posicionamo-nos nos conceitos de formação, que definem o que pensamos acerca do tema e o que no nosso entender estarão mais próximos do desejado para o futuro da educação. “Formação é um processo sistemático e organizado mediante o qual os professores em formação se implicam individualmente ou colectivamente em processos formativos que propiciam a aquisição de conhecimentos destrezas e disposições para o exercício da sua tarefa profissional” Blázquez, 1997b,p.3). “A formação de professores é a área de conhecimento, investigação e propostas teóricas e práticas que, no âmbito da didáctica e da organização escolar, estuda os processos através dos quais os professores – em formação ou em exercício - se implicam individualmente ou em equipa, em experiências de aprendizagem através das quais adquirem ou melhoram os seus conhecimentos, competências e disposições e que lhes permite intervir profissionalmente no desenvolvimento do seu ensino, do currículo e da escola, com o objectivo de melhorar a qualidade da educação que os alunos recebem” (Marcelo García,1999,p.26). Consideramos que darão forma a estes conceitos, os seis princípios aprofundados por Borralho e Espadeiro (2004), que em nosso entender poderão orientar a formação de professores para que se formem os profissionais que a escola precisa e a sociedade exige. -- 31 -- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Capítulo I - A formação dos professores] O princípio da continuidade: o processo de formação não termina nem se esgota na formação inicial. Marcelo García (1999), referiu-se a este princípio, dizendo que o desenvolvimento profissional é um processo contínuo de aperfeiçoamento até o professor poder atingir o nível de expert. Para Couto (1998) existe uma forte ligação entre a formação inicial, a formação contínua e a formação especializada, entendidas como fundamentais para o desenvolvimento da carreira de um professor. O princípio da individualização: o processo de aprender e ensinar é diferente de indivíduo para indivíduo. Por isso a formação tem que considerar as características pessoais, cognitivas e contextuais do futuro professor. Muitos, na falta de experiência de ensino tendem a reproduzir os modelos que viveram na escola, com professores, o que muitas vezes tem dificultado a mudança de que tanto se fala. O princípio do conhecimento indica os diversos saberes necessários ao desempenho do futuro professor, na escola, na sala de aula e na comunidade. Este princípio indica-nos que a formação dos professores não pode ficar apenas pelos saberes relacionados com uma matéria específica a leccionar. Ponte e Oliveira (2002), indicam que é necessário o conhecimento didáctico do conteúdo. O princípio de relação teórico-prática: indica a importância da construção de saberes, quando no contexto da prática o conhecimento do professor tem que ser orientado para o exercício da sua actividade do dia a dia. A formação inicial de professores tem que conter uma forte componente prática, integradora de todos os saberes. Esta componente pode iniciar-se em nosso entender pela observação, análise e reflexão do espaço sala de aula, para de seguida passar à aproximação gradual do acto de ensinar. -- 32 -- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Capítulo I - A formação dos professores] Este princípio indica a importância fundamental da articulação entre a formação e o exercício da profissão, afirmando que o mais importante é aprender a aprender com a experiência (Canário, 2001; Návio,2007). O princípio da reflexão: indica-nos a importância do professor aprender na sua formação inicial a pensar sobre o que faz, tornando- se competente para gerar conhecimento.É fundamental o conhecimento na acção, reflexão na acção e reflexão sobre a acção (Schön,1983). Reflectir implica pensar antes, durante e depois de uma acção e fazer análise crítica para tornar consciente algum saber (Pimenta, 2005). Por sua vez sublinha Sá-Chaves (1999), que as práticas reflexivas dão a possibilidade de discutir e aprender muito sobre o princípio e os processos de ensinar, tendo implicações nas áreas da autoformação e desenvolvimento profissional do professor. O princípio da investigação: aposta numa forte relação entre as investigações produzidas e a formação dos professores, induzindo o professor na busca do seu desenvolvimento como investigador, interveniente nos processos de mudança, inovação e desenvolvimento curricular (Perrenoud, 1993; Alarcão, 2001b; Roldão, 2001; Esteves, 2005, Pimenta, 2005; Medeiros & Cabral, 2006; García Pérez, 2006). Afirma Alarcão (2001b) que “ formar para ser professor investigador implica desenvolver competências para investigar na, sobre e para a acção educativa e para partilhar resultados e processos com os outros” (p.24). Posicionamo-nos na perspectiva de García Pérez (2006): “trata-se, isso sim, de que o professor possa orientar o conjunto do seu trabalho (especialmente ao planificar, levar à prática e validar as principais problemáticas em -- 33 -- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Capítulo I - A formação dos professores] relação ao currículo escolar: o que ensinar, como ensinar, o quê e como avaliar) como um verdadeiro processo de investigação -acção” (p.302). Salientamos no entanto que o trabalho do professor não deve e não pode ser visto como uma soma da actividade investigativa com a actividade docente, mas sim com um desenvolvimento global de aceitação às mudanças, à inovação e ao desenvolvimento, tomando sempre por base qual o perfil do professor que queremos formar. Aparecem aqui como relevantes as competências profissionais gerais (planificar, transmitir tutoriar e avaliar) e específicas (de acordo com as funções estabelecidas) do perfil docente (Perez, 2005; Tejada Fernandéz, 2009). São variáveis as listas de competências que podemos encontrar na literatura, como a serem consideradas para um bom desempenho da profissão docente e portanto a serem igualmente consideradas na formação dos professores. Para Perrenoud (2004) os docentes do ensino básico deverão ter entre outras, competências de organização e animação de situações de aprendizagem, ao mesmo tempo que serão capazes de implicar os alunos no seu próprio percurso escolar, cabendo ao professor gerir a sua progressão. Ainda segundo o autor terá que ter competências de trabalhar em equipa, com os colegas, com a gestão da escola e com a família, não esquecendo a capacidade de utilização de novos recursos e novas tecnologias. Num projecto de investigação realizado por Valcarcel (2003) são apontadas como fundamentais para o perfil do novo professor competências cognitivas (próprias do professor de uma determinada matéria), metacognitivas (que o convertem num professor reflexivo e autocrítico), comunicativas (com uso adequado da linguagem nos mais avriados registos),de gestão (gestão eficiente do ensino e dos recursos), sociais (cooperação, persuasão e trabalho de equipa) e competências afectivas (atitudes e motivação). Surge com Ayala (2008) o modelo das cinco competências para a docência: o professor desenhador de cenários, processos e experiências, o especialista na sua disciplina, o facilitador e guia do processo de -- 34 -- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS SALA DE AULA [Capítulo I - A formação dos professores] aprendizagem, o avaliador da aprendizagem dos seus alunos e o docente consciente, activo em constante processo de mudança. Merecem grande relevo a Tejada Fernandéz (2002, 2009) a dimensão pessoal das competências a adquirir na formação pelos futuros docentes.e que agrupa em 3 categorias: Teóricas e conceptuais (analisar, compreender e interpretar), psicopedagógicas e metodológicas (saber aplicar o conhecimento e os procedimentos assertivos para cada situação) e sociais (saber relacionar-se e colaborar com outras pessoas, integrando o saber estar-atitudes, valores e normas).O autor preconiza a formação centrada na prática quer na formação inicial quer na contínua com equilíbrio e coerência e dá destaque à necessidade da formação em alternância sobretudo nos últimos anos da formação inicial dos docentes. A afirmação de Menino e Blázquez (2012) preconiza uma filosofia na formação de professores: “ Parece consensuado que la formación de los profesores es mucho más un proceso interno al individuo en formación que algo impuesto de fuera hacia adentro. Para que se desarrolle un proceso de formación es necesario que la persona esté implicada y que exista un contexto favorable al cambio de experiencias e interacciones. Así existe un aprendizaje resultado de procesos creativos, analíticos y reflexivos.”( p:35) Esta clarificação é naturalmente de grande utilidade para o desenho da formação dos docentes e tem implicações directas em todo este processo. -- 35 -- CAPÍTULO II A EVOLUÇÃO NA FORMAÇÃO DOS PROFESSORES “É a esperança na construção de um futuro educativo mais promissor subjante à educação inclusiva que deve converter e guiar a acção educativa, que a concretiza, dizendo a todos os alunos e restantes agentes educativos que valer a pena ver e fazer acontecer o sonhado, porque o sonhado pode ser efectivado amanhã” Melro e César (2010) É fundamental para o futuro de todos os países que a educação ministrada nas escolas de todos os níveis de ensino seja de qualidade, capaz de formar os futuros adultos com saberes adequados aos tempos de hoje, mas também com competências humanistas que lhes permitam construir um mundo mais fraterno e mais solidário. A educação para a competência e para os valores está na ordem do dia. É consensual que uma parte da responsabilidade do cumprimento desse objectivo cabe aos professores. Por esse motivo em toda a Europa e um pouco por todo o mundo na última década se tem debatido a questão da formação dos professores bem como o perfil do professor para os tempos actuais mas com os olhos postos no futuro. O desejo político de aumentar o período da escolaridade obrigatória, justifica em grande medida as reformas A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo II- A evolução na formação dos professores] efectuadas na formação de professores. Actualmente os docentes enfrentam uma população escolar cada vez mais diversificada. Segundo Shulman (1989), em ensino, o “knowledge base” é o corpo de compreensões, conhecimentos, habilidades e disposições que um professor necessita para actuar numa dada situação de ensino. Muitos investigadores partilharam a ideia de que essa base de conhecimento permitiria estruturar a educação/formação do professor e influenciaria directamente as práticas da formação. Embora Borges e Tardif (2001) apontem diferenças e variações significativas entre os países que experimentaram ou onde ainda decorrem reformas na formação de professores, verificaram objectivos e princípios comuns tais como: conceber o ensino como uma actividade profissional assente em conhecimentos sólidos dados aos professores pela sua formação; considerar os professores como práticos reflexivos, ver a actividade profissional como um espaço de formação e de produção e organização de saberes; alterar o perfil de entrada dos candidatos a professores e estabelecer uma ligação estreita entre as universidades, escolas de formação e os locais de estágio de docentes em formação. O desejo de melhorar a qualidade da formação tem levado a maior parte dos países a organizar uma formação mais orientada para a prática, para que os futuros docentes estejam em condições de responder à massificação da escolaridade e sobretudo à diversidade dos alunos que frequentam a escola e aos quais é necessário saber responder com atendimento adequado. Todas as reformas efectuadas até agora estão sempre relacionadas com as alterações à estrutura da escolaridade obrigatória, bem como com os ajustes que têm vindo a ser efectuados à carreira dos professores. -38- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo II- A evolução na formação dos professores] 1. Evolução da formação dos professores em Portugal Na sociedade portuguesa poderemos verificar ao longo dos anos, algum desfasamento entre os objectivos políticos no que se refere à formação dos professores e a sua operacionalização. Segundo Benavente (1999), as primeiras abordagens na construção de um novo sistema de ensino no Portugal contemporâneo, surgem em simultâneo com a revolução de Setembro de 1836 e com a implementação da República em 1910. Poderemos para mais fácil compreensão dividir a história da formação de professores em Portugal descrevendo 4 grandes momentos: O primeiro corresponde ao período de 1816 a 1910, o segundo momento corresponde ao período de 1910 a 1926, ano em que se dá o golpe militar que põe fim à 1ª República. O terceiro e último momento correspondem respectivamente aos anos de 1926 a 1974 e após essa data e até aos nossos dias. As primeiras experiências de formação de professores em Portugal datam de 1816 quando João Crisóstomo de Couto e Melo funda a Escola Normal de Lisboa, seguindo – - se em 1862 a Escola Normal Primária Masculina de Lisboa, cujo Director foi Luís Filipe Leite. A ideia original nestas escolas era a normalização e a divulgação de metodologias de ensino para os futuros professores. No fim do Século XIX a classe burguesa produziu muita legislação e algumas realizações muito avançadas para a época, tais como o ensino gratuito e a criação de novas escolas primárias. As novas correntes pedagógicas começam a ser divulgadas entre os professores, sempre associadas a figuras relacionadas com os movimentos políticos revolucionários (republicanos, socialistas e anarquistas). -39- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo II- A evolução na formação dos professores] Ainda assim e no fim do século Portugal, de acordo com Teodoro (1976), apresentava uma taxa de analfabetismo que rondava os 70%, com maior incidência nas mulheres, uma rede escolar deficiente, um corpo docente mal preparado e com formação insuficiente, um ensino profissional limitado, um ensino liceal com muito poucos alunos e uma universidade ultrapassada, com tradições escolásticas e medievais, onde o corpo docente se mantinha intolerante como se de uma casta fechada se tratasse. A formação dos professores conheceu no início do século XX uma expressão visível, apesar de todas as limitações. Entre 1901 e 1910 são criados os cursos de habilitação para o ensino do magistério secundário no curso superior de letras. Existiam já cursos de habilitação para as disciplinas de matemática, ciências físico químicas, históriconatural e desenho na universidade de Coimbra e em Lisboa existia um curso superior de letras, para as disciplinas de línguas, história e geografia, bem como escolas para habilitação ao magistério primário em Lisboa, Porto, Coimbra e em algumas outras capitais de distrito. Com a implementação da 1ª República em 1910, que fez da sua bandeira a educação, ensaiam-se algumas inovações praticamente experimentais, dadas as convulsões internas existentes. Criam-se 3 escolas do magistério para o recrutamento e formação de novos professores. Faz-se um grande esforço para a criação de Universidades. São abertas as de Lisboa e Porto. Procedeu-se a uma reforma profunda das escolas então designadas normais primárias, as quais passam a preocupar-se com as disciplinas de formação pedagógica e didáctica, às quais associam outras de cariz artístico, tais como a música, a educação física à época designada por ginástica pedagógica. Ao mesmo tempo foi aumentada a exigência de entrada nas escolas de formação dos candidatos a professores. Foram ainda criados cursos de reciclagem e aperfeiçoamento para os que -40- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo II- A evolução na formação dos professores] já exerciam a profissão docente. Benavente (1999) refere que esta foi a época considerada como uma estrela da educação em Portugal. É apresentada uma proposta que previa já a formação superior de professores primários e educadores de infância. Falava-se das faculdades de ciências da educação, junto às universidades de Porto, Lisboa e Coimbra. Estas teriam como missão formar professores para os vários níveis de ensino.Ficaram ligados a esta época humanista da educação em Portugal nomes como António Sérgio e João de Barros. O período que se segue ao golpe militar de 28 de Maio de 1926 e até à constituição da república em 1933, revela um processo de transição entre o movimento da escola nova (1910/1926) e o movimento nacionalista que perdurará até 1964. Começam outros tempos para a educação em Portugal. O ensino primário e os seus professores foram muito mal tratados durante este regime autoritário e altamente conservador. No período do estado novo as escolas do magistério foram encerradas (1936 a 1942). Foi entendido que uma formação de 3 anos era uma perda de tempo e dinheiro. Os professores foram substituídos por regentes escolares, alguns apenas com 4 anos de instrução primária, mas a quem era exigido bom comportamento moral e cívico. Antes mesmo de encerrarem, já tinha sido reduzido o currículo de formação das escolas de 12 para 6 disciplinas. A formação limitava-se à educação religiosa, didáctica de leitura e da aritmética e algumas noções de ciências, história e geografia de Portugal, bem como economia domestica. Em 1942 reabrem as escolas de formação de professores mas estão irreconhecíveis. A formação foi limitada a 2 anos onde segundo Benavente (1999) se ensinava “doutrinação e didáctica receituária” (p.58). O estado novo desqualificou academicamente os professores ao mesmo tempo que lhes retirava estatuto -41- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo II- A evolução na formação dos professores] económico. A preparação dos professores para os outros níveis de ensino, baseava se na separação entre formação teórica e prática. Foram extintas as escolas normais e superiores da Universidade de Lisboa e Porto. Verificamos no quadro 3, que apresentaremos de seguida os avanços e retrocessos da formação de professores até 1974, altura em que por via do golpe militar de Abril, se dá uma grande alteração das políticas de educação e por consequência na formação dos professores. 1901-1910 Para o Ensino do 1º ciclo 19421956 Curso Geral do Magistério Primário. Duração 4 anos 19 disciplinas. Em 1914 o curso passa para 3 anos Escolas normais de formação de professores de Coimbra Braga e Ponta Delgada As escolas normais primárias passam a designar se escolas do magistério primário. É suspensa a matrícula nas referidas escolas, o que acabou por provocar a sua extinção Reabrem algumas escolas de magistério Primário 1957-1970 1931-1941 19161930 1911-1915 Existiam escolas de magistério em todas as capitais de distrito excepto Santarém São reformados os currículos das escolas de Magistério. Criam-se cursos complementares para leccionar as 5ª e 6ª classes Existem as escolas superiores de Lisboa e Coimbra. Passa a ser feita a prática pedagógica em liceus As escolas normais superiores são extintas e desintegradas das universidades O novo modelo de formação de professores para o ensino liceal e técnico assenta na divisão entre cultura e prática pedagógica Elimina se a figura do exame de estado Para a Educação Especial Formação para professores de alunos diminuídos nas escolas gerais do magistério É atribuído ao Instituto António Aurélio da Costa Ferreira (IAACF) a competência da formação de pessoal docente para atender “anormais”2 O Instituto forma professores para atender classes especiais Os candidatos do sexo masculino eram dispensados de exames de admissão ao estágio para professores de liceu Institui se o grau de bacharel que habilitava para o acesso ao estágio (faculdades de ciências e letras) É criado um ramo educacional para a formação de professores na faculdade de ciências. A formação científica fazia se nos 3 primeiros anos. No 4º ano optava-se entre o ramo educacional e o científico 1971 -1973 1974 Para o Ensino do 2º e 3º ciclos Cursos de 4 anos para leccionar as disciplinas de matemática, ciências físico químicas, históriconaturais e desenho em Lisboa, Coimbra e Porto São criados os cursos superiores de letras para o ensino do magistério secundário Em 1964 é regulamentado o curso para preparação de professores de ensino de anormais designarse”curso de especialização de professores de crianças inadaptadas”3 Os professores estagiários passam a participar no seu processo de avaliação A formação centra-se nas escolas onde se realizam os estágios Fontes: análise documental da legislação portuguesa; Fontes (2008) Quadro 3: A formação dos professores em Portugal de 1900 a 1974 2 Decreto nº31801 de 26 de Dezembro de 1941 3 Decreto nº 45 :832 de Julho de 1964 -42- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo II- A evolução na formação dos professores] Segundo Leite (2005) até 1970 só houve formação específica para os professores do ensino básico e para os professores de Educação Física. Em todos os outros casos eram recrutados professores não profissionalizados. Eram licenciados num domínio específico no qual iriam exercer actividade docente (Campos, 1995). Em 25 de Abril de 1974, um golpe de estado protagonizado pelos militares, vem provocar rupturas políticas, económicas, sociais e culturais em relação aos últimos 48 anos de história do país.Estava na ordem do dia a palavra “ democratização”. Era preciso construir uma “escola antifascista e democrática” (programa MFA 1974). A constituição da República Portuguesa em 1975, no seu ponto 3, reafirma a incumbência do Estado na realização de políticas de ensino de modo a “assegurar”, “criar”, “garantir”, “estabelecer” e “estimular” o funcionamento, estrutura e objectivos da escola. Com estes indicadores, a formação de professores passou a ser um tema prioritário. Vivemos esse período, que nos deixou marcas profundas nas convicções sobre o que é ensinar e aprender, qual a atitude e missão de um professor e sobretudo qual a relevância para o desenvolvimento do país, do papel de um professor interventivo. Falamos do que vivemos. As escolas do Magistério Primário tão maltratadas pelo antigo regime abrem as suas portas a novas linhas de trabalho. São nomeados novos directores, para que as orientassem segundo uma óptica democrática. “Podem distinguir-se dois períodos nestes anos pós 25 de Abril: de 74 a 76, do 1º Governo provisório ao 1º governo constitucional período de abater muros de criatividade, de múltiplas iniciativas, de desorganização institucional, de equilíbrios, de forças precárias, período quente e agitado” (Benavente, 1999 p.32). Poderemos ver de acordo com Lopes et al. (2006) qual o perfil esperado de um professor antes e depois da revolução de Abril. -43- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo II- A evolução na formação dos professores] Antes de Abril de 1974 Baixa qualificação científica e pedagógica Submisso e Acrítico Burocrata Fiel à ideologia e aos valores do regime Depois de Abril de 1974 Pedagogo Intelectual crítico Professor como agente de mudança (social e cultural) Livre pensador Adaptado de Lopes et al (2006) Quadro 4: Perfil do professor antes e depois de 25 de Abril de 1974 De acordo com Leite (2003) no cenário da formação de professores em Portugal nos anos 70, não pode ser esquecido o contexto social e ideológico que se vivia. Tudo estava marcado pelos ideais da democracia, pela importância da pessoa e da sua individualidade.Os anos de 1974 a 1976, foram agitados, algumas vezes controversos. Por um lado o desejo de exercer o direito à liberdade e à cidadania e por outro a aplicação de um conjunto de medidas que tinham a ver com a organização taylorista do trabalho. A partir desta data começa um período de maior estabilidade a todos os níveis. Assim no quadro 5, podemos apreciar as principais reformas da formação de professores 1982-1985 Para o Ensino do 1º ciclo Implementação de cursos de educação de infância em 6 escolas do magistério primário. Surgem as escolas superiores de educação (ESES) Início da formação de professores nas ESES (3 anos de formação) e atribuição de grau de bacharel 1986-1991 1977-1981 desde 1975 até à actualidade. É promulgada a lei de bases do sistema educativo. Em 1989 com o decreto- lei 344/89 de 11 de Outubro fica claro o nível de exigência da formação dos docentes do 1º ciclo e também da educação de infância Para o Ensino do 2º e 3º ciclos Para a Educação Especial Criação das licenciaturas em educação nas universidades de Aveiro, Minho, Beira Interior, Açores, Trás-os-Montes e Alto Douro Criação do modelo de formação em exercício As ESES passam a ministrar formação pedagógica a professores do ensino básico e secundário em regime de formação em serviço Reconhece-se o direito à formação contínua dos professores .As faculdades de letras e as universidades de Lisboa, Porto e Coimbra, iniciam o ramo da formação educacional. Milhares de professores são profissionalizados -44- Em 1986 é regulamentado o curso de formação de professores de ensino especial ministrado no IAACF.Em 1991 passam as escolas superiores de educação a conferir diplomas de estudos superiores especializados em ensino especial ao pessoal docente A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA 2000-2009 19921999 [Capítulo II- A evolução na formação dos professores] Dá-se o arranque da formação contínua sem precedentes Formação contínua sem precedentes Passa a existir uma habilitação conjunta para a educação pré-escolar e para o 1.º ciclo do ensino básico ou a habilitação conjunta para o 1.º e 2.ºciclos do ensino básico. A habilitação profissional nos domínios de docência exige o mesmo nível de qualificação profissional para todos os docentes.Para a docência de uma ou duas áreas disciplinares, num dos restantes domínios de habilitação, é conferida num domínio específico através de um mestrado em ensino cujo acesso está condicionado, por um lado, à posse do grau de licenciado pelo ensino superior e, por outro, à aquisição de um determinado número de créditos na área disciplinar, ou em cada uma das áreas disciplinares Nesta data todos os docentes a formar terão que ter a graduação de Mestres A formação de professores de educação especial passa a ser feita de acordo com o decreto lei 95/97. Os professores devem fazer uma formação pós graduada que os qualifique para o acompanhamento e integração sócio educativa de indivíduos com Necessidades Educativas Especiais. Esta formação é feita de acordo com os domínios da deficiência Em 1999 são definidos os perfis da formação especializada de professores Os professores terão que ser docentes licenciados já com 5 anos de docência e posteriormente são pôs graduados num dos domínios da deficiência Fonte: Análise Documental da Legislação Portuguesa Quadro 5: A formação dos professores em Portugal de 1975 a 2009 Destacamos de todo este percurso pós 25 de Abril alguns momentos marcantes para a formação dos professores portugueses. A Lei de Bases do Sistema Educativo, Lei nº 46/86 alterada pela lei nº 115/97, de 19 de Setembro e ainda pela lei 49/2005 de 30 de Agosto de 2005, constitui a principal referência para o funcionamento das escolas dos diferentes níveis de ensino e consequentemente para a formação de professores. No seu capítulo IV, artigo 30º são descritos os princípios gerais sobre a formação de professores e que passamos a explicitar: “Formação inicial de nível superior, proporcionando aos educadores e professores de todos os níveis de educação e ensino, a informação, os métodos e as técnicas científicas e pedagógicas de base, bem como a formação pessoal adequada ao exercício da função (…)formação contínua que complemente e actualize a formação inicial(…) formação flexível que permita a reconversão e mobilidade dos educadores e professores (…) formação integrada (…) no plano da articulação teórico-prática, formação assente em práticas metodológicas (…) formação que em referência à realidade social, estimule a -45- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo II- A evolução na formação dos professores] inovação e a investigação (…) formação participada que conduza a uma prática reflexiva e continuada de auto-informação e auto aprendizagem(…)” (pp.13-14). O Decreto-lei 344/89 de 11 de Outubro, aponta para a formação de professores do ensino básico (distinguindo a formação entre 1º, 2º e 3º ciclos) e professores do ensino secundário. Esta lei estabelece o ordenamento jurídico da formação de professores e aponta a estrutura curricular dos cursos de formação inicial de professores dos diferentes ciclos de ensino, dividindo em 3 componentes fundamentais: uma componente de formação pessoal, social e cultural, científica e tecnológica, técnica ou artística ajustada à docência; uma componente de ciências da educação;uma componente de prática pedagógica, orientada pela entidade formadora, em cooperação com o estabelecimento de ensino onde decorre o estágio. Acrescenta que os cursos devem incluir a preparação no campo da Educação Especial de forma a promover a inclusão das crianças com NEE no serviço público de educação. É pois necessário preparar os professores para que possam atender a diversidade de alunos que frequentam as suas salas de aula. O Decreto-lei 95/97 vem explicitar a formação de professores para outras funções educativas nomeadamente a educação especial, entre outras. Estes professores deverão adquirir competências e conhecimentos científicos, técnico - pedagógicos e técnicas que os qualifiquem para o desenvolvimento de capacidades específicas de consultoria, de formação, de supervisão e de avaliação, de atitudes de análise crítica, de diagnóstico, de intervenção de inovação e de investigação nesta área. O Decreto-Lei 194/99 de 7 de Junho constitui uma referência para o processo de acreditação dos cursos que habilitam para a docência no Ensino Básico. São -46- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo II- A evolução na formação dos professores] apresentados alguns critérios que indicam os princípios que devem ser salvaguardados e os objectivos a serem atingidos na Formação de docentes. Pelo Decreto-Lei nº 240/2001 de 30 de Agosto foi definido o perfil geral do desempenho profissional dos professores do ensino básico e secundário. De acordo com o Instituto Nacional de Acreditação da Formação de Professores (INAFOP) o Professor do 1º ciclo deve saber cooperar na construção do projecto curricular de escola, promover, organizar e avaliar a aprendizagem dos seus alunos, valorizar os conhecimentos já adquiridos pelas crianças, promovendo a autonomia, o respeito, o interesse e a solidariedade entre os colegas e as diversas culturas. Em síntese terá que promover um clima satisfatório para o desenvolvimento de aprendizagem dos alunos. Esta legislação foi revogada pelo Decreto-Lei nº 43/2007 de 22 de Fervereiro de 2007, que determina o actual regime jurídico da habilitação profissional para a docência na educação pré-Escolar e nos ensinos básico e secundário mantendo-se apenas o anterior em vigor para os domínios de habilitação, não abrangidos pela referida legislação e identificados no seu anexo. 2. Formação de professores e processo de Bolonha Em Junho de 1999, 29 estados Europeus entre os quais Portugal, subscreveram a declaração de Bolonha, presentemente adoptada por 45 países, cujo objectivo principal se pode descrever como o estabelecimento até 2010 dum espaço europeu de ensino superior, coerente, compatível, competitivo e atractivo para estudantes europeus e de países terceiros, espaço que promova a coesão europeia através do conhecimento, da -47- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo II- A evolução na formação dos professores] mobilidade e da empregabilidade dos diplomados, forma de assegurar um melhor desempenho afirmativo da Europa no mundo. Para atingir esta meta foram definidos os seguintes objectivos: i) adopção de um sistema de graus académicos facilmente legível e comparável, incluindo também a implementação do suplemento ao diploma; ii) adopção de um sistema assente essencialmente em dois ciclos, incluindo:um primeiro ciclo, que em Portugal conduz ao grau de licenciado, com um papel relevante para o mercado de trabalho europeu, e com uma duração compreendida entre seis e oito semestres; um segundo ciclo, que em Portugal conduz ao grau de mestre, com uma duração compreendida entre três e quatro semestres; iii) estabelecimento e generalização de um sistema de créditos académicos (ects - european credit transfer and accumulation system), não apenas transferíveis mas também acumuláveis, independentemente da instituição de ensino frequentada e do país de localização da mesma. De acordo com o Decreto-Lei nº 74/2006, de 24 de Março em Portugal definiram-se desta forma o regime de créditos por ciclo de estudos. Assim para o 1º ciclo, no ensino politécnico, o ciclo de estudos conducentes ao grau de licenciado tem 180 créditos, e uma duração normal de seis semestres curriculares de trabalho dos alunos. Exceptuamse do disposto no número anterior os casos em que seja indispensável, para o acesso ao exercício de determinada actividade profissional, uma formação de até 240 créditos, com uma duração normal de até sete ou oito semestres curriculares de trabalho, em consequência de normas jurídicas expressas, nacionais ou da união europeia, ou de uma prática consolidada em instituições de referência de ensino superior do espaço europeu. -48- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo II- A evolução na formação dos professores] Partindo do pressuposto que a modernização do sistema de educação é fundamental para a promoção da qualidade, competitividade e inovação de todos e cada um dos países da Europa, outro olhar foi colocado sobre a formação de professores no espaço europeu, pois estes assumem um papel fulcral na construção da dimensão social da Europa. A educação e a formação profissional têm que prestar atenção às alterações resultantes quer do processo de globalização, quer do desenvolvimento das novas tecnologias. Novos conceitos chave surgem na actual política educativa: a educação ao longo da vida e o desenvolvimento de competências profissionais (Lorente, 2011). Estes conceitos implicam acções convergentes para um “ideal regulador”.(Nóvoa 2010), que está a influenciar a organização e a planificação das políticas nacionais de formação, como factor fundamental para o crescimento económico. Esta nova realidade promoveu uma alteração estrutural nas universidades, gerando uma nova forma de ensinar, onde as metodologias, estratégias e actividades formativas, poderão ser implementadas de forma presencial ou mediante trabalho autónomo do aluno ( Rubio Gil & Álvarez Irrareta, 2010). Neste contexto, a comissão europeia reafirmou a importância da formação de professores, tendo mesmo elaborado algumas normas para a apoiar e orientar.Essas orientações vão no sentido da criação de dois ciclos de formação, para que esta não seja excessivamente longa. Assim o 1º ciclo dá origem ao grau de licenciado, seguindose um 2º ciclo que daria origem ao grau de Mestre, habilitação necessária para todos os docentes.O 1º ciclo de acordo com Ponte (2005) deve ser “destinado a formação de base e o 2º ciclo a formação de natureza mais especificamente profissional” (p.71). Importa salientar aqui que este processo de Bolonha, embora em alguns aspectos polémico, ao trazer uma grande flexibilidade no acesso ao ensino superior, faz com que -49- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo II- A evolução na formação dos professores] para além dos tradicionais candidatos às escolas ou universidades de formação de professores, possa surgir outro tipo de população. Por exemplo pessoas já com outros cursos superiores, ou pessoas com percursos de vida que não lhes permitiram ingressar no ensino superior e que possuam os requisitos para os cursos, possam ser admitidos e às quais seja possível “validar as competências adquiridas na prática profissional “ (Declaração de Bolonha). Esta é em nossa opinião uma das grandes alterações trazidas para o ensino superior e para a formação de professores, menos consensual. Vieira (2005), refere parecer inevitável a uniformização do número de anos de estudo em cada ciclo em toda a Europa comunitária. Este modelo de dois ciclos de ensino obrigatório para a formação de professores é o que está a ser efectivamente aplicado. Em Portugal de acordo com a legislação que define o regime jurídico das habilitações para a docência, os professores em formação terão que adquirir o grau de Mestre na especialidade para a qual vão leccionar. O CRUP (Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas) em documento produzido em 2004, por um grupo de trabalho por ele nomeado, constituído por professores coordenadores de várias escolas superiores de educação, dá algumas indicações para a formação de professores de acordo com o modelo de Bolonha, das quais salientamos:i) os candidatos à formação de professores deverão ter concluído o ensino secundário (12º ano) com aprovação nas disciplinas de português e matemática.ii) O grau académico necessário à profissão de docente é o de mestre.iii) A duração da formação deverá ser de 2 ciclos, com a duração de 10 semestres e um total de 300 ects.iv) o 1º ciclo deve atribuir o grau de licenciado em educação e dotar o formando de uma formação genérica e consonante com a complexidade da escola de -50- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo II- A evolução na formação dos professores] hoje e dos seus contextos.v) o 2º ciclo deve atribuir a qualificação para a docência e dotar o professor de capacidades para a prática pedagógica e a investigação.vi) os cursos de formação especializada, nomeadamente em educação especial, serão pós graduações, nas quais os formandos deverão obter 60 ects na especialidade. Provavelmente e como poderemos ver no ponto seguinte, a política de formação de professores que veio a ser implementada em 2007 em Portugal, teve por base estas orientações. 3. A actual formação de professores em Portugal Actualmente atribui-se prioridade às políticas que visam superar os défices de qualificação da população portuguesa, seja através do combate ao insucesso e abandono escolares, seja ainda pela tentativa de aumento da escolaridade obrigatória para 12 anos. O desafio da qualificação dos portugueses exige um corpo docente cada vez mais qualificado, estando a qualidade do ensino e dos resultados de aprendizagem estreitamente articulada com a qualidade da qualificação dos educadores e professores. Neste contexto, a actual legislação revê as condições de atribuição de habilitação para a docência e, em consequência, de acesso ao exercício da actividade docente na educação básica e no ensino secundário e define as condições necessárias à obtenção de habilitação profissional para a docência num determinado domínio e determina, ao mesmo tempo, que a posse deste título constitui condição indispensável para o -51- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo II- A evolução na formação dos professores] desempenho docente, nos ensinos público, particular e cooperativo e nas áreas curriculares ou disciplinas abrangidas por esse domínio. Promove – se o alargamento dos domínios de habilitação do docente generalista que passam a incluir a habilitação conjunta para a educação pré-escolar e para o 1.º ciclo do ensino básico ou a habilitação conjunta para os 1.º e 2.º ciclos do ensino básico. A definição de habilitação profissional nos domínios de docência abrangidos por este decreto-lei continua a albergar o mesmo nível de qualificação profissional para todos os docentes, mantendo-se, deste modo, o princípio já adoptado na alteração feita, em 1997, à Lei de Bases do Sistema Educativo. Com a transformação da estrutura dos ciclos de estudos do ensino superior, no contexto do processo de Bolonha, este nível será agora o de mestrado, o que demonstra o esforço de elevação do nível de qualificação do corpo docente com vista a reforçar a qualidade da sua preparação e a valorização do respectivo estatuto sócio-profissional. Assim a habilitação profissional para a docência generalista, na educação pré-escolar e nos 1.º e 2.º ciclos do ensino básico, é conferida a quem obtiver tal qualificação através de uma licenciatura em Educação Básica, comum a quatro domínios possíveis de habilitação nestes níveis e ciclos de educação e ensino, e de um subsequente mestrado em Ensino, num destes domínios. Nos casos dos domínios de educador de infância e de professor do 1.º ciclo do ensino básico, o aludido mestrado tem a dimensão excepcional de 60 ects, em resultado de uma prática internacional consolidada. Por seu turno, a habilitação profissional para a docência de uma ou duas áreas disciplinares, num dos restantes domínios de habilitação, é conferida a quem obtiver esta qualificação num domínio específico através -52- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo II- A evolução na formação dos professores] de um mestrado em Ensino cujo acesso está condicionado, por um lado, à posse do grau de licenciado pelo ensino superior e, por outro, à aquisição de um determinado número de créditos na área disciplinar, ou em cada uma das áreas disciplinares abrangidas pelo mesmo. A actual legislação sobre a matéria (Decreto-Lei 43/2007 de 22 de Fevereiro) propõe a valorização da dimensão do conhecimento disciplinar, da fundamentação da prática de ensino na investigação e da iniciação à prática profissional. Exige ainda o domínio, oral e escrito da língua portuguesa, como dimensão comum da qualificação de todos os educadores e professores. Valoriza-se também o conhecimento no domínio de ensino, assumindo que o desempenho da profissão docente exige o domínio do conteúdo científico, humanístico, tecnológico ou artístico das disciplinas da área curricular de docência. Tal valorização traduz-se na definição de um número de créditos necessários, não só para a qualificação do professor de disciplina, mas também para a do professor generalista, bem como pela exigência de verificação, para ingresso no mestrado, da adequação qualitativa desses créditos às responsabilidades do desempenho docente. Por outro lado, dá-se especial ênfase à área das metodologias de investigação educacional, tendo em conta a necessidade que o desempenho dos educadores e professores seja cada vez menos o de um mero funcionário ou técnico e cada vez mais o de um profissional capaz de se adaptar às características e desafios das situações singulares em função das especificidades dos alunos e dos contextos escolares e sociais. -53- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo II- A evolução na formação dos professores] Toma-se especial atenção à área de iniciação à prática profissional consagrando-a, em grande parte, à prática de ensino supervisionada, dado constituir o momento privilegiado, e insubstituível, de aprendizagem da mobilização dos conhecimentos, capacidades, competências e atitudes, adquiridas nas outras áreas, na produção, em contexto real, de práticas profissionais adequadas a situações concretas na sala de aula, na escola e na articulação desta com a comunidade. A acreditação do ciclo de estudos previstos neste diploma terá em consideração, para além das condições gerais referentes ao nível superior da qualificação para a docência, os critérios relativos à especificidade profissional desta qualificação, pelo que, no processo de acreditação, simultaneamente académica e profissional, a realizar pela agência de acreditação a que se refere o artigo 53.º do Decreto-Lei n.º 74/2006, de 24 de Março, é assegurada a sua necessária articulação com o Ministério da Educação. Procura-se ainda assegurar a criação de programas de incentivos à promoção da qualidade, da inovação e da mobilidade nesta formação, da iniciativa conjunta dos departamentos governamentais responsáveis pela educação e ensino superior, em especial, nos domínios em que a oferta de qualidade seja insuficiente para as necessidades do sistema ou nos casos em que se justifique uma reconversão noutro domínio de habilitação. O anteprojecto de diploma foi objecto de consulta pública, tendo sido recebidos os contributos do conselho de reitores das universidades portuguesas, do conselho coordenador dos institutos superiores politécnicos, da associação portuguesa do ensino superior privado, de estabelecimentos de ensino superior, de associações profissionais, e de associações científicas, bem como contributos individuais. -54- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo II- A evolução na formação dos professores] Nesta data a formação de professores em Portugal exige um 2º ciclo de estudos, organizados com os seguintes componentes de formação: formação educacional geral; didácticas específicas; iniciação à prática profissional; formação cultural, social e ética; formação em metodologias de investigação educacional; formação na área de docência. Para a atribuição do grau de licenciado os futuros professores deverão adquirir na formação educacional geral; nas didácticas específicas e na iniciação à prática profissional 15 a 20 créditos em cada uma das áreas e na formação na docência 120 a 135 créditos. Para a leccionação do 1º ciclo os docentes deverão adquirir o grau de Mestre com um total de mais 60 créditos assim distribuídos: formação educacional geral 5 a 10 créditos; didácticas específicas 15 a 20 créditos; prática de ensino supervisionada 30 a 35 créditos. Se o Professor preferir habilitar-se para o 1º e 2º ciclo simultaneamente terá que adquirir entre 90 e 120 créditos distribuídos pelas componentes de formação, de acordo com as seguintes percentagens mínimas: formação educacional geral 5 %; didácticas específicas 20 %; prática de ensino supervisionada 45%; formação na área de docência 25%. Os professores que pretendem leccionar no 3º ciclo ou secundário terão que adquirir também entre 90 e 120 créditos distribuídos pela formação educacional geral (25 %), pelas didácticas específicas (25%), pela iIniciação à prática profissional (40%) e formação na área de docência (5%). Neste momento em Portugal todas as escolas de formação de professores públicas ou privadas tiveram que rever os seus planos de formação. -55- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo II- A evolução na formação dos professores] 4. A formação de professores de educação especial Já nos referimos anteriormente à história da formação de professores em Portugal, nomeadamente para a docência da educação especial. Salientamos aqui a actual situação. Num contexto sociopolítico marcado por profundas transformações, os investigadores e a comunidade educativa são desafiados a encontrar novos equilíbrios, adaptados à evolução dos referenciais internacionais. Em Portugal, tal como acontece em todos os países europeus, a emergência de novos valores exige que se repensem os objectivos e as práticas de escola e da formação de professores. Assim, a prática pedagógica do docente parece dever articular vários aspectos. também na formação de profissionais desta área. Correia (1999), afirmava” É crucial que os professores adquiram as aptidões científicas e pedagógicas para além daquelas adquiridas nos seus cursos de formação inicial que lhes permitam poder atender às necessidades de todas as crianças que tenham a seu cargo” (p.20). Normalmente em Portugal a formação de professores em educação especial ocorre na carreira de um docente, por imperativo legal após a formação inicial desde que este possua à data de início do curso um mínimo de 5 anos de prática lectiva. A legislação determina também que a formação especializada em educação especial deve qualificar para o exercício de funções de apoio, de acompanhamento e de integração sócioeducativa de indivíduos com necessidades educativas especiais e que os planos de estudos destes cursos terão uma duração não inferior a 250 horas efectivas de -56- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo II- A evolução na formação dos professores] formação e deverão incluir: uma componente de formação geral em ciências da educação que não ultrapasse 20% do total da carga horária; uma componente de formação específica numa das áreas de especialização referidas no artigo 3.o não inferior a 60% do total da carga horária e uma componente de formação orientada para a elaboração, desenvolvimento e avaliação de um projecto na área de especialização. Apesar da existência de conteúdos disciplinares da área da educação especial se encontrar legislada, nem sempre se processa de forma a promover a educação inclusiva, pois de uma maneira geral não parecem assegurar os conhecimentos e as competências necessárias a um atendimento eficaz de classes heterogéneas. De facto, as estratégias educativas utilizadas baseiam-se, em grande medida, na leccionação por parte do professor e na aprendizagem passiva por parte dos alunos, não se propiciando a criatividade, a experimentação, a aprendizagem cooperativa e participação em práticas escolares que constituam modelos inclusivos de qualidade. Verifica-se, por outro lado, uma falta generalizada de formação dos professores sobre a educação de alunos com necessidades educativas especiais, o que condiciona negativamente o funcionamento das escolas e as actividades das salas de aula. Para Correia (1999) um bom programa de formação especializada deve levar o professor a possuir: ”Capacidades de diagnóstico, prescritivas e de avaliação processual; ter conhecimentos aprofundados do tipo de materiais educacionais usados na implementação de programas bem como de novas tecnologias aplicadas à educação especial; ter o conhecimento de todo o processo de avaliação educacional, perceber o processo administrativo que leva à organização e gestão do ambiente de aprendizagem; ter conhecimento de técnicas -57- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo II- A evolução na formação dos professores] escolares de orientação (vocacional) e aconselhamento; ter facilidade de relações humanas e públicas (p.163). Por sua vez Rodrigues (2001), refere que: “existem uma multiplicidade de opções para a formação especializada que é por regra pós graduada (…) um grande número de países, entre os quais a Finlândia, a Alemanha e a Grécia classificaram a formação contínua de professores como um pré requisito para disseminar a educação inclusiva” (p.89). Já na Declaração de Salamanca publicada em 1994 pela UNESCO, se podia ler que era fundamental preparar adequadamente os agentes educativos sendo esta preparação o factor chave na promoção das escolas inclusivas. Referia também que competias às universidades o desempenho do papel consultivo na área das necessidades educativas especiais e em particular no campo da investigação, da avaliação, e da formação de formadores. Em 2001, também o documento da UNESCO Open File on Inclusive Education afirmava que a formação deveria ser encarada como fundamental no processo global de mudança e que seria uma peça importante do aperfeiçoamento da escola e do desenvolvimento de modelos educativos de natureza inclusiva. Um grupo de especialistas portugueses na área da educação especial (Bénard da Costa, Ramos Leitão, Morgado & Pinto, 2006), redigem um documento importante no qual referiam que: “A taxa de cobertura da formação dos professores de apoio é muito baixa, o que leva a que a maioria dos docentes de apoio educativo não possua formação consistente que os prepare para essas funções. Nesta matéria, verificam-se também assimetrias regionais significativas o que origina em alguns territórios educativos fortíssimas necessidades de recursos humanos qualificados para as funções que lhes são solicitadas. (…). Não se encara a formação como um processo contínuo e diversificado que englobe diversos patamares e que possa responder a diferentes exigências da actividade profissional -58- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo II- A evolução na formação dos professores] (…).Embora a diferenciação entre os vários programas e modelos de formação especializada de docentes tenha aspectos positivos, assiste-se a uma excessiva dispersão de modelos, conteúdos e organização destes programas, entre as diferentes escolas e as diferentes regiões do país.No que diz respeito à formação em serviço, verifica-se que esta obedece, frequentemente, a critérios de circunstância e disponibilidades verificados nos Centros de Formação e menos a critérios de necessidade inscritos e decorrentes de planos mais alargados e consistentes de formação contínua de professores” (p.37). Constatada esta situação e convictos de que é na qualidade dos profissionais que assenta a promoção de uma escola mais eficaz para todos, elaboram uma série de sugestões para a formação inicial e especializada de professores. Assim entendem que na formação inicial deverão estar incluídos conhecimentos e competências adequadas ao desenvolvimento de modelos e práticas educativas inclusivas e de qualidade; que os conteúdos programáticos deverão estar presentes, não só através de unidades curriculares próprias, mas também como conteúdo interdisciplinar em todo o desenho curricular. Os autores chamam a atenção para a importância da prática, quer para os cursos de formação inicial quer para os de formação especializada. Para os cursos de formação especializada sugerem que sejam contemplados os diferentes perfis dos docentes quer de apoio educativo, com funções de natureza generalista e os de funções de “educação especial”, de natureza mais especializada e que se harmonize, na medida do possível, os diferentes programas e modelos de formação, dada a dispersão existente Propõem ainda que: “A formação especializada garanta aos professores as competências que lhes permitam intervir junto dos alunos, não exclusivamente na situação de escola e de sala de aula, -59- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo II- A evolução na formação dos professores] mas, igualmente, nos diferentes contextos em que a sua vida se desenvolve: família, comunidade, escola, actividades de lazer e futura inserção na vida activa” (p.39). O processo da educação inclusiva vem sendo gradualmente implementado nas nossas escolas. No entanto para que esse processo possa ser efectivado um dos elementos que tem que ser discutido e aprofundado é sem dúvida o das formações dos professores em geral. Em Portugal a formação especializada em educação especial é uma formação acrescida à formação inicial. O ordenamento jurídico da formação de professores atribui ao ensino superior a exclusividade desta formação. Estas instituições e por indicação legal, atribuem diplomas de especialização em educação especial aos docentes de todos os níveis de ensino e grupos disciplinares que tenham completado até à data do início da sua formação especializada 5 anos completos de serviço docente e frequentem com aproveitamento um curso de pós graduação com cerca de 300H. Esta especialização é feita por domínios da deficiência. Assim os docentes podem optar por especializações no domínio cognitivo e motor; emocional e da personalidade; visão; surdez e recentemente (2008) em intervenção precoce na infância. Com esta formação têm a oportunidade de se candidatarem aos concursos de recrutamento para as escolas públicas, de profissionais para a educação especial. Não deixa de ser curioso que no fim destas 300H de formação, qualquer um dos docentes que à entrada para a formação estava habilitado para o pré-escolar, 1º, 2º ou 3º ciclos do ensino básico ou ensino secundário, a partir daquele momento possam exercer funções em qualquer nível de ensino. Em 2009, o ministério da educação lança -60- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo II- A evolução na formação dos professores] um relatório intitulado da Retórica à Prática, em que afirma que em 2005, apenas 40% dos docentes que trabalham na educação especial tinham formação na área. Parece hoje ser consensual a necessidade de clarificar a especificidade da profissão de docente de educação especial, através da valorização da sua formação, da sua carreira e da sua identidade profissional. Para o êxito da escola inclusiva, o professor de educação especial precisa de ser capaz de promover práticas diferenciadas e parcerias que respondam aos interesses e necessidades das crianças e jovens com necessidades educativas especiais e das suas famílias. No fundo falamos de uma acção transversal em que o professor se constitui como um recurso da comunidade educativa, em vez de se centrar numa intervenção isolada e tecnicista. Muito se tem discutido sobre que modelos de formação adoptar. Queremos professores de educação especial generalistas ou especialistas? Parece de extrema importância debater o modelo de formação de professores de educação especial actualmente existente no nosso país. Passámos de uma formação de mais 3 anos após a habilitação para a docência, que ainda vigorava em 1984, para uma formação de 300 horas, em que os formandos não têm a mais pequena hipótese de experimentar na prática materiais ou estratégias que lhe vão sendo passadas nos cursos. Se a educação especial é agora e bem um grupo de recrutamento, porque os candidatos a professores não podem tal como acontece noutros países optar por um 1º ciclo na área (licenciatura em ensino) e um 2º ciclo integrado (mestrado em educação especial)? Se quisermos ser professores de qualquer uma outra área e ao abrigo da legislação em vigor já aqui referida anteriormente é assim que teremos que fazer. Porque é diferente a formação em educação especial? -61- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo II- A evolução na formação dos professores] A construção de uma escola inclusiva introduziu no sistema educativo uma complexidade de desafios. É preciso para além de outras competências ténicas saber trabalhar em parceria, em cooperação para podermos transformar o ensino e a escola, numa verdadeira escola para todos. Começar por repensar a formação de professores na área é talvez uma boa ajuda. Em Novembro de 2009, nas conclusões do 1º congresso internacional da pró-inclusão (associação nacional de docentes de educação especial) a propósito do modelo de formação docente afirmava-se que a formação deveria decorrer de acordo com os modelos pedagógicos semelhantes aos que são exigidos aos professores implementar enquanto profissionais. Consideramos que em Portugal não estão claramente definidos os conceitos básicos, nomeadamente inclusão, educação especial, necessidades educativas especiais e docente de educação especial o que leva a diferentes interpretações em diferentes contextos, provavelmente por tudo isto ainda não se clarificou o modelo de formação, regulador dos valores e das práticas profissionais. De acordo com números do Ministério da Educação, só do ano lectivo 2007/08 para o 2008/09, 15.986 alunos foram excluídos nas escolas públicas do apoio da educação especial. De acordo com os dados revelados em 7 de Junho de 2008, pelo então director da DGIDC/ME (Direcção Geral da Inovação e do Desenvolvimento Curricular), no encontro temático sobre educação especial, o número de alunos de escolas públicas apoiados pela Educação Especial, em 2007/08, era de 49.877. No ano seguinte, de acordo com o balanço inscrito no documento “educação Inclusiva – da retórica à prática”, divulgado pela mesma DGIDC/ME, o número de alunos de -62- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo II- A evolução na formação dos professores] escolas públicas apoiados pela educação especial, em 2008/09, era apenas de 33.891, o que permite concluir que existem menos 21.000 alunos abrangidos.Importa, pois, entender porquê? Por um maior rigor na avaliação das situações ou pela necessidade imperiosa de reduzir o número de docentes envolvidos e portanto custos. É uma questão de filosofia ou de economia? A clarificação destas questões fará toda a diferença no que à formação de professores diz respeito. A educação inclusiva parte de uma filosofia segundo a qual todas as crianças e jovens, independentemente das suas características, origens e condições, podem aprender juntos, na escola pública das suas comunidades, segundo os princípios da democratização da educação e da igualdade de oportunidades. Podemos talvez concluir que há necessidade de conciliar esta filosofia com a forma como formamos os nossos docentes para que estejam à altura de a implementar. -63- CAPÍTULO III DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DOS PROFESSORES “Cada qual aprende ao longo de toda a vida no seio do espaço social constituído pela comunidade de pertença”. (Delors, 1996) 1. Conceito de formação contínua O conceito de formação contínua é susceptível de múltiplas perspectivas, pois “durante algum tempo, os termos de aperfeiçoamento, formação em serviço, formação contínua, reciclagem, desenvolvimento profissional ou desenvolvimento de professores foram utilizados como conceitos equivalentes” (Marcelo García, 1999, p.136). Entende Formosinho (1991), que o conceito de formação contínua se distingue essencialmente do de formação inicial, não pelos conteúdos ou metodologias de formação, mas pelos destinatários, uma vez que é oferecida a pessoas com experiência de ensino, o que influencia os conteúdos e as metodologias desta formação por oposição às da formação inicial oferecida geralmente a jovens sem experiência de ensino. Deste modo a formação contínua baseada no saber antes do fazer, tem como preocupação primordial a aquisição de competências escolares que habilitam os professores ao exercício da profissão, em serviço e diz respeito à valorização da prática A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo III- O desenvolvimento profissional dos professores] docente como a única possibilidade de êxito do professor aplicar criativamente a racionalidade técnica obtida no processo de aquisição de competências escolares. Segundo Estrela (2003), “o século que findou tem sido denominado como o século da formação contínua” (p. 43), uma vez que a preocupação com esta temática é motivo de discussão das políticas educacionais das últimas décadas. De facto, nas décadas de sessenta e setenta, a formação estava associada à noção de treino (de saberes, de competências e de destrezas), que teve uma forte influência na formação de professores, através de acções de carácter pontual e de actualização, à época designada por reciclagem dos professores. A esta visão redutora e mais tradicional contrapõe-se um novo conceito de formação que aponta para a ideia de aprendizagem permanente ligada ao desenvolvimento profissional dos professores (Hargreaves & Fullan, 1992; Marcelo García, 1999; Pacheco & Flores, 1999; Day, 2001, 2003, 2005) numa perspectiva de evolução e continuidade, afastando-se de uma noção simplista de reciclagem (Landsheere, 1978) ou de um mero complemento da formação inicial (Marcelo García, 1999). Podemos deste modo verificar que a formação contínua tanto concebida como treino para o desempenho de tarefas de instrução, como considerada numa perspectiva de desenvolvimento tem implícito que o aperfeiçoamento dos professores tem finalidades individuais específicas, mas também tem utilidade social. A formação contínua como finalidade última pressupõe o aperfeiçoamento pessoal e social de cada professor, numa perspectiva de educação permanente. Mas tal aperfeiçoamento tem um efeito positivo no sistema escolar se se traduzir na melhoria da qualidade da educação -66- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo III- O desenvolvimento profissional dos professores] oferecida às crianças. É este efeito positivo que explica as preocupações recentes do mundo ocidental com a formação contínua de professores (Formosinho, 1991). No momento em que se inicia o ser professor abre-se um leque imenso de questões para as quais não temos resposta ou, com mais rigor, cujas respostas se passam a elaborar em cada pedaço de aula: gerir o espaço/tempo da aula, assimilando os rituais a ele subjacentes; construir as directrizes que permitam manter a disciplina; motivar os alunos para a aprendizagem, mas incutir-lhes também mecanismos facilitadores de atitudes de cooperação e de participação; planificar o trabalho de modo a assegurar o progresso dos alunos; conceber e participar em projectos que fomentem a interdisciplinaridade, etc. O momento actual é marcado por inúmeras mudanças: científicas, tecnológicas e paradigmáticas. Independentemente da área do conhecimento, os profissionais necessitam ser multifuncionais e competentes. Hoje, o professor, mais do que nunca, necessita actualizar-se constantemente para atender às necessidades educacionais escolares. Alarcão (2001b) ao referir-se à formação continuada, refere, que a função dos docentes exige consciência de que a sua formação nunca está finda, pelo contrário, encontra-se num constante vir a ser, primando pela qualidade do seu ofício e pela sua flexibilização diante de tantas mudanças. Há alguns anos atrás acreditava-se que, com o diploma de um curso superior qualquer profissional estaria capacitado a actuar para o resto da sua vida na profissão. Hoje sabemos que a formação de um professor é um processo a longo prazo, que não se completa com a obtenção do título de licenciado (nem mesmo quando a formação inicial tiver sido excelente). Isso porque, entre outras razões a formação docente é um -67- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo III- O desenvolvimento profissional dos professores] processo complexo para o qual são necessários conhecimentos e habilidades, impossíveis de ser todas adquiridas num curto espaço de tempo que dura a formação inicial (Carrascosa, 1996). A formação inicial não é suficiente para assegurar um trabalho de qualidade. Esta formação é apenas o primeiro passo para a formação contínua (Hargreaves, 2003), A educação é um conceito amplo de ensino, é um processo continuado de aprendizagem que não se encerra ao final do ensino médio, de uma graduação ou de uma pósgraduação, é um processo para toda a vida. Em contrapartida, Demo (2000) diz-nos que a maioria dos professores não possui o hábito de aprender sistematicamente, pois internalizaram a ideia de que já aprenderam o que tinham de aprender, como se o seu ofício se resumisse simplesmente a ensinar, ao educando apenas aprender. É imprescindível que o professor se mantenha actualizado, flexível à mudança e que continue permanentemente a sua formação. Terá, então, como principal função: aprender, inovar, diversificar, rever conceitos, etc. para que se possa atender às necessidades educacionais escolares, na melhoria da qualidade da educação. Em tempos de globalização, o acesso às informações é muito rápido. Assim, o professor necessita qualificar-se constantemente para tentar acompanhar este processo de mudança. De acordo com o pensamento de Thomas (1985): “ser professor não é certamente um produto acabado, um estado final, mas será um permanente tornar-se professor, um processo evolutivo, ao longo do qual as experiências vão ganhando mais significado, o que geralmente se faz acompanhar de um maior envolvimento pessoal por parte do professor”. Tendo em vista a construção de uma sociedade de todos, com todos e para todos, também nós assumimos este processo e nos empenhamos nele verdadeiramente “(p.265). -68- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo III- O desenvolvimento profissional dos professores] O professor vai-se formando ao longo de toda a vida. Adquire conhecimentos, princípios e valores que lhe são transmitidos pela família, pelo meio que o cerca, interiorizando-os na convivência com o “outro”. Ser professor é uma arte e ao mesmo tempo um talento que precisa de ser completado com formação profissional “adequada”. Para exercer bem o papel que a sociedade actual impõe, evidencia-se cada vez mais a procura por novas possibilidades de aprendizagem por parte dos profissionais que actuam em diversas áreas do conhecimento (Prado & Almeida, 2007). Este deve estar preparado para responder, não só aos novos desafios que ele deve desempenhar, bem como às questões relativas à função docente, aos conceitos de ensino e às novas perspectivas de aprendizagem que tem de enfrentar para caminhar de acordo com as mudanças que diariamente lhes são exigidas. Nesta sequência o docente, como produto e produtor desse contexto deverá estar preparado para acompanhar essas mudanças. Para Zainko (2003), “um professor em sintonia com o seu tempo deverá ter, como horizonte de aperfeiçoamento, um processo de aprendizagem contínua, estando em condições de responder às mudanças e aos desafios do tempo presente” (pp. 194-195). Por tal motivo, discutir e reflectir sobre formação contínua de professores deverá ter como objectivo encontrar meios para que os professores possam dar a sua contribuição nesses contextos de mudanças e de desafios permanentes. Sublinha Pereira (2005) a perspectiva de Zainko, ao afirmar que “a maior riqueza que o docente pode ter é o conhecimento de inovar, de aprender a aprender e de lidar com mudanças que gerem o conhecimento diferenciado, exigindo do professor autonomia, criticidade, motivação e criatividade” (p.168). No entanto, Nóvoa (2001) reconhece que -69- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo III- O desenvolvimento profissional dos professores] “existe uma certa incapacidade para colocar em prática, concepções e modelos inovadores” (p. 13), e Astolfi, Darot, Vogel e Toussaint (2002), reforçam que “os professores não se vêem a por em prática o que aprenderam” (p. 13). Essas dificuldades sentidas conduzem a práticas menos eficazes. A mudança suscita receios e são poucos os profissionais que estão motivados a aplicar modelos inovadores na prática docente. Podemos referir que inovar por inovar não é solução, mas uma inovação verdadeiramente fundamentada, que passe por concepções construtivistas do ensino e da aprendizagem e pelo papel orientador e facilitador do professor no processo de ensino, são olhares positivos de actuação e de mudança. Não são muitos os que se orientam para essas concepções (Fischler,1994), no entanto poderão ser mais frequentes se for implementada uma formação adequada, que não pode findar no momento da conclusão de uma licenciatura (Nóvoa, 2001). O docente deve estar continuamente em formação, pelo que, como afirma Pacheco (1995), “o processo formativo de um professor jamais estará concluído” (p. 45). Também Postic (1995), definia o ser professor como “Uma aptidão para estabelecer relação (…) esta aptidão não é uma disposição absoluta, atributo da personalidade; ela manifesta-se por uma qualidade do papel assumido pelo professor no processo relacional: as atitudes, as expectativas, os comportamentos dos alunos exercem uma acção sobre ele e a sua conduta orienta-se pela sua percepção na situação” (p.11). É na escola que a sociedade actual aposta para que o processo de socialização dos jovens se faça de uma forma adequada. Essa socialização ultrapassa em muito os próprios alunos e é conhecida como “algo que atravessa a escola em várias direcções” -70- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo III- O desenvolvimento profissional dos professores] (Alves Pinto, 1995, p.113). Os processos de socialização dos adultos que têm e assumem papéis específicos no processo educativo, como é o caso dos professores, enquadram-se nessas dimensões. Como afirma a mesma autora “os professores vão viver socializações variadas ao longo do seu percurso profissional” (idem., p.115) e também nós estamos conscientes da importância desses momentos e da sua contribuição para a construção pessoal e colectiva/ construção pessoal e profissional. Considerando as reflexões de Zeichner e de Chantraine- Demailly, apenas como modelos teóricos de análise, Nóvoa (1991), constata a existência de dois grandes grupos de modelos de formação contínua de professores:i) Os modelos estruturantes (tradicional, comportamentalista, universitário, escolar), organizados a partir de uma lógica de racionalidade científica e técnica, e aplicados aos diversos grupos de professores; ii) Os modelo construtivistas (personalista, investigativo, contratual, interactivo reflexivo), que partem de uma reflexão contextualizada para a montagem dos dispositivos de formação contínua, no quadro de uma regulação permanente das práticas e dos processos de trabalho (idem., p.21). O autor posiciona-se na linha dos modelos construtivistas, particularmente no “paradigma investigativo” e na “forma interactiva-reflexiva”, baseando a sua opção na necessidade da formação contínua contribuir “para a mudança educacional e para a redefinição da profissão docente” (idem., p.21), ou seja, são os próprios sujeitos que mobilizam os recursos técnicos e científicos para a produção de conhecimentos. Não coloca de parte os modelos estruturantes considerando-os como mais eficientes a curto prazo, no entanto, dificultam o trabalho de invenção (e produção) de uma nova escola e de um novo professor. -71- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo III- O desenvolvimento profissional dos professores] O papel do professor como agente da socialização tem sofrido relevantes modificações devido à transformação do contexto social, o que causou um aumento substancial das suas responsabilidades. A formação contínua de professores em Portugal (educadores de infância e professores dos ensino básico e secundário) está “alicerçada juridicamente na Lei de bases do sistema educativo, no ordenamento jurídico da formação de professores, no estatuto da carreira docente (ECD), no regime jurídico da formação contínua de professores” (Estrela, 2007: pp. 309-310) e no sistema de avaliação de desempenho. Segundo Estrela (2007), a Lei de Bases do Sistema Educativo (Lei n.º 46/86 de 14 de Outubro), reconhece o direito dos professores a “ uma formação contínua diversificada, capaz de assegurar o aprofundamento e actualização de conhecimentos e de competências profissionais” (p. 309). No capítulo dos recursos humanos, artigo 30º, considera num dos princípios gerais sobre a formação de educadores e professores que a formação contínua deve complementar e actualizar a formação inicial numa perspectiva de educação permanente. O ordenamento jurídico da formação contínua (Dec. Lei n.º 344/89 de 11 de Outubro, cap. iii, artº 26) define como objectivos fundamentais, a “melhoria da competência profissional exigida pela modernização do sistema educativo; o incentivo à participação dos docentes na inovação educacional e à melhoria da qualidade da educação e ensino” (idem, p. 309), e reconhece ao professor o direito de escolher as acções de formação que mais se adequam ao seu plano de desenvolvimento profissional e pessoal (Correia, 1994). -72- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo III- O desenvolvimento profissional dos professores] O estatuto da carreira docente (ECD) “reafirma a formação contínua como actualização e aperfeiçoamento dos docentes, assim como a sua progressão na carreira” (idem, p. 309). Ainda o referido estatuto na sua forma mais recente (Dec. Lei n.º 15/2007) estabelece a avaliação de desempenho dos professores das escolas de ensino não superior e dá relevo à formação dos professores numa perspectiva da “melhoria dos resultados dos alunos e da qualidade das aprendizagens” (p.508) No ano lectivo 2008-2009, surge uma formação de professores determinada por alteração do ECD e relacionada com a avaliação de desempenho. O enfoque da formação de professores é a inferência dos resultados (daquela formação) na melhoria da qualidade das aprendizagens dos alunos. Em suma, a formação contínua de professores é concebida, neste estudo, como uma formação permanente ao logo da vida (life-long learning) centrada na escola, implicando os formandos na análise reflexiva da sua prática e preparando-os para a inovação e mudança educativa. (Within, 1984). Não podendo falar-se de necessidades absolutas, com existência objectiva e externa aos sujeitos e aos seus modos de percepção do real. Podemos considerar estas representações, como construídas mental e socialmente pelos sujeitos num dado contexto, implicando a concepção de estados desejados, geradores de vontade de mudança e de necessidade, como mais adequados. Podemos interpretar que as acções de formação devem tentar preparar os docentes para acompanharem as mudanças nas suas práticas didácticas, não esquecendo que inovar e mudar, nos obrigam a vencer dificuldades, paradoxos e contradições, e que o sucesso nessa caminhada pode levar a grandes vitórias (Carbonell, 2001). -73- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo III- O desenvolvimento profissional dos professores] Nesta perspectiva, existem, aparentemente, duas formas de encarar o problema da formação contínua dos professores. A primeira como extensão e complemento da formação inicial, ao longo da vida profissional do docente, e outra como “reflexão da prática” como salienta Pimenta (2000). “Esta visão simultaneamente diacrónica e contextualizada do processo de formação profissional e da construção de uma identidade remete para uma concepção da aprendizagem, encarada como um processo interno ao sujeito, em que as diferentes e parcelares aquisições se combinam num sistema harmonioso, a partir de uma atribuição de sentido” (Canário, 1997, p. 4). Podemos assim entender que a prática docente e a formação continua em serviço só se justificam como parte de um processo inacabado de permanente elaboração e reelaboração, pelo sujeito, de um sentido mais amplo do seu processo de necessidades de formação profissional. 2. O conceito de necessidades na formação contínua dos professores O dicionário da língua Portuguesa, na edição de 2010, define necessidade como o carácter do que é imprescindível, do que não se pode dispensar. Carência ou falta de algo. Até aqui, a formação contínua em Portugal tem resultado, essencialmente, das necessidades de ascensão profissional dos docentes e das do sistema educativo (aquisição de créditos para progressão na carreira; alterações que ocorrem no sistema por decisões de política educativa, particularmente nos currículos e na organização da -74- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo III- O desenvolvimento profissional dos professores] escola) e o estado tem assumido esse facto criando os mecanismos de formação adequados ao efeito. Este modelo de formação está, segundo cremos, a chegar ao fim. O novo modelo, sem descurar as necessidades do sistema, antes referido, terá de ser centrado nas necessidades da escola e nas dos seus profissionais, os quais terão de se responsabilizar também pela aquisição dos saberes ou em processos de formação contínua, ou em regime de autoformação. “A produção de práticas educativas eficazes só surge de uma reflexão da experiência pessoal partilhada entre os colegas” (Nóvoa, 1997, p 30). Este novo processo, centrado na escola e nos agentes da acção, encontra legitimação no novo regime de autonomia da escola e, sobretudo, nas necessidades dos intervenientes nos processos, em resultado das mudanças/mutações que se verificam e, ainda, em consequência das novas dinâmicas criadas pela aplicação e desenvolvimento das políticas educativas na escola (pedagógicas e organizacionais). Nesta sequência sublinhamos as palavras de Verdugo (2003), quando nos diz que o trabalho dos profissionais, famílias, organizações e investigadores deve consistir em fornecer uma análise crítica da situação de modo a propor e procurar mudanças positivas. Actualmente resulta melhor a formação dos profissionais (inicial e contínua) se os dotarmos de materiais de apoio úteis para a sua orientação. Assim, a formação contínua contribui significativamente no processo de construção do saber, uma vez que o professor através desta formação pode repensar a sua acção docente de modo a contribuir para um saber pedagógico. Zabalza (2003) referindo-se a Bradshaw, distingue cinco tipos de necessidades:i) necessidade normativa (referindo-se às carências que um sujeito ou grupo tem, se as considerarmos relativamente a um determinado standard ou padrão;ii) necessidade -75- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo III- O desenvolvimento profissional dos professores] sentida (como resposta a que necessitas? que desejarias ter?);iii) necessidade expressa ou procura (expressão comercial, objectiva da necessidade; toma-se a procura como indicador de necessidade); iv) necessidade comparativa (baseada na justiça distributiva); v) necessidade prospectiva (aquela que com toda a probabilidade se manifestará no futuro). Partindo para a análise de necessidades de formação podemos considerar duas perspectivas (Rodrigues, 2000, 2006): uma primeira perspectiva, que procura aproximar a procura à oferta da formação. Aqui a análise de necessidades tem o significado de identificação das expectativas, dos interesses, das dificuldades, das motivações, dos problemas, das preferências e dos desejos das pessoas que buscam a formação. Procura-se coincidir a formação desejada com a formação a dar. Os formandos são assim ouvidos e as suas representações são determinantes na selecção dos objectivos, conteúdos e estratégias de formação. O formador ao centrar-se nas necessidades de formação poderá, deste modo, elaborar um programa dirigido à resolução dos problemas sentidos pelos formandos e que deverão ser tanto mais ultrapassados quanto mais competências técnicas eles adquiram para tornar eficiente o sistema. Esta forma de procedimento apresenta deficiências. Por um lado as necessidades da população a formar poderão não ser as necessidades reais mas sim uma verbalização de modas ou de opiniões pré-concebidas ou ainda de sentimentos pouco claros ou imprecisos. Por outro lado, a partir do momento em que se conhecem as necessidades de formação, os planos de formação serão determinados pela entidade formadora, que assume um papel privilegiado, ficando os formandos -76- como receptores co- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo III- O desenvolvimento profissional dos professores] responsabilizadores no processo – a análise de necessidades para quando se inicia a formação. Acresce que, como só trabalhamos com as representações conscientes da população não é fácil aferir uma relação entre o sucesso das acções de formação e a eficácia do sistema. Uma segunda perspectiva, contrária à anterior, faz entender que a oferta é que terá de se ajustar à procura de formação. Esta segunda perspectiva centra-se na pessoa a formar e é utilizada quando se pretende fazer o seu próprio desenvolvimento. As análises de necessidades são realizadas antes e durante o processo formativo – assumindo aqui um aspecto dinâmico, não se esgotando no começo da formação. A entidade formadora não define e impõe os objectivos de formação mas apoia os formandos na criação de um clima propício à reflexão e à consciencialização das suas necessidades – procurando detectar-se um rol de problemas e de dificuldades. Estas necessidades explicitadas pelas pessoas a formar poderão ser somente imagens das verdadeiras necessidades – mais reais e profundas; daí ser importante o papel do formador no discernimento destas situações. As necessidades formativas dos professores estão relacionadas com diferentes ciclos em que estes se encontram. A este propósito Marcelo García (1999), refere que “diferentes experiências, atitudes, percepções, expectativas, satisfações, preocupações, etc., parecem estar relacionadas com diferentes fases da vida dos professores e da sua carreira” (p.62). Baseado em estudos anteriores, Formosinho (1991), identificou três fases ou estádios no desenvolvimento profissional dos professores: estádio de sobrevivência; estádio de mestria e estádio de estabilidade. Estas fases ou estádios traduzem preocupações -77- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo III- O desenvolvimento profissional dos professores] diferenciadas, entendendo-se por preocupação, de acordo com o modelo C.B.A.M. (Concern-Based Adopcion Model), percepções, sentimentos e motivações. Huberman (1992) é, no entanto, o autor que se debruçou mais profundamente sobre esta temática, identificando as seguintes fases na carreira docente: entrada na carreira (subdividida em sobrevivência e descoberta); estabilidade e responsabilidade; diversificação/experimentação; questionamento; seriedade e distanciamento afectivo; conservadorismo e lamentações; desinvestimento. Estes ciclos na carreira docente relacionam-se com as experiências pelas quais os professores passam a nível de: i) capacidades, conhecimentos e comportamentos profissionais, métodos de ensino, estratégias, etc; ii) atitudes e perspectivas, imagem do ensino, maturidade profissional; iii) acontecimentos profissionais, mudanças na escola. Teóricamente parece ser possível afirmar que os professores evoluem através de diferentes fases, que implicam necessidades de formação diferenciadas assim como requerem estratégias de desenvolvimento profissional específicas. A investigação tem mostrado que a formação deve respeitar os interesses, as motivações, os desejos e as expectativas dos professores, de acordo com o princípio básico da formação de adultos (Charlot, 2002). De acordo com Silva (2009) “a análise de necessidades é uma estratégia que contribui para pôr em evidência e reflectir sobre questões subjacentes à inclusão, envolvendo os professores ao longo do processo em que decorre” (p.150). Esta modalidade de formação de acordo com a mesma autora assenta em dois paradigmas diferentes: o do crescimento e o de resolução de problemas. De acordo com o paradigma do crescimento, o formador conhece e vai ajustando a formação às -78- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo III- O desenvolvimento profissional dos professores] necessidades dos formandos. Para os defensores do paradigma da resolução de problemas, o programa de formação vai sendo construído partindo das necessidades que o formador faz despoletar nos formandos. Relativamente a esta questão Silva (2009), afirma: “Independentemente da perspectiva em que assente, a análise de necessidades de formação contribui para reflectir sobre várias questões que a inclusão, de acordo com a investigação que tem sido feita a este propósito, levanta. Equacionar a(s) resposta(s) a um problema ou devolver os dados para que sejam pensados, de novo, tendo em vista a sua reformulação, são processos enriquecedores para todos, porque permitem troca, partilha e reflexão sobre preocupações muito próprias, que os estádios de desenvolvimento da carreira docente ajudam a compreender melhor”(p:151). Inferimos pois que a formação contínua deve estar baseada nas necessidades de formação e articulada com o desempenho profissional dos professores, tomando como referência as escolas, pois é no espaço concreto de cada escola, em torno de problemas pedagógicos ou educativos reais, que se desenvolve a verdadeira formação do professor (Nóvoa, 2000). Deste modo a prática docente e a formação contínua em serviço só se justificam como parte integrante de um processo inacabado de permanente elaboração e reelaboração, tendo por base um contexto mais alargado inerente ao processo de formação profissional (Canário, 1997). Salientam também Pimenta e Anastasiou (2005), que a formação continua de professores não se dá a partir de saberes profissionais, são eles, contudo, que norteiam a actuação, fundamentam as certezas tão necessárias ao professor, justificam as suas pretensões de profissionais e ajudam na resistência à desvalorização profissional. Constituem-se assim, no ponto de partida para sua formação continua e no elemento mais significativo da sua identidade. -79- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo III- O desenvolvimento profissional dos professores] Estudar a problemática ligada à formação de professores pressupõe considerar o desenvolvimento profissional como um todo global onde estão inseridas as competências da descoberta, da valorização e onde o professor é considerado o principal actor onde teoria e prática devem ser consideradas de forma interligada (Ponte 2005). Deste modo a formação contínua deverá contribuir significativamente no processo de construção do saber, uma vez que o professor através desta formação pode repensar a sua acção docente de modo a contribuir para um saber pedagógico através de práticas reflexivas suportadas por fundamentos colaborativos. 3. A formação reflexiva de professores na inclusão de alunos com necessidades educativas especiais Ao ter como princípio básico a reflexão, parte-se do pressuposto que os professores reflexivos são capazes de pensar sobre e para a sua prática, o que implica que cada realidade escolar seja diferente e por esse motivo as necessidades bem como as respostas a essas necessidades serão diferenciadas (Schön, 2000; Benassuly, 2002; Ghedin, 2002; Libâneo, 2002; Garrido, 2002). Assim: “Cuando hablamos de indagación reflexiva en formación del profesorado, estamos reconociendo la capacidad y obligación que tiene todo profesor para profundizar, investigar, realizar nuevos programas, dentro de su quehacer docente, y que a su vez le sirvan de formación”( Sola Martínez, López Urquizar e Cáceres Reche p.351). Sobre esta temática salientamos os estudos anteriores de Schön (1997 e 2000), e que se debruçam sobre os processos de formação do profissional reflexivo, sendo uma forte referência para muitas pesquisas e propostas no campo da formação de professores. -80- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo III- O desenvolvimento profissional dos professores] No âmbito das proposições para a formação profissional encontra-se a distinção entre o conhecimento tácito, o qual o autor denomina também como “reflexão na acção”, salientando que o diálogo e a dimensão afectiva são duas condições essenciais para um ensino prático reflexivo, até porque quando “o diálogo funciona bem, ele toma a forma de reflexão na acção recíproca” (Schön, 2000, p. 128). Ser professor reflexivo significa ser um profissional que reflecte sobre si mesmo, sobre o que realiza, e atento às situações e contextos em que interage. Normalmente, estes professores tendem a perceber mais facilmente a estrutura dos problemas que têm de enfrentar, usando um conjunto de modelos e estratégias armazenados na sua memória (Marcelo García, 2006). Por tudo isto, o professor reflexivo tende a identificar os aspectos sobre o que quer aprender, está atento às diversas culturas dos seus alunos, criando elos entre a escola e os contextos familiares e sociais de modo a desenvolver uma satisfação profissional (Korthagen, Kessels, Koster, Lagerwerf, & Wubbels , 2001). São vários os autores que se referem ao professor “prático reflexivo” como aquele que consegue superar a rotina das suas práticas e reflectir sobre as suas acções quotidianas antes, durante e depois de executá-las (Neto, 2002; Tardif, 2007). Na sua formação há consciência dos diversos saberes utilizados no quotidiano de trabalho, e que passam pelos saberes curriculares, experienciais e disciplinares (Alarcão, 1996; Tardif, 2007). A literatura acerca da formação do professor centra-se na ideia do professor como prático reflexivo e nos saberes mobilizados para a sua prática profissional (Nóvoa, 1997; Alarcão, 1996; Tardif, 2007). O saber docente, assim como outros saberes, é "um saber plural, mais ou menos coerente, de saberes oriundos da formação profissional e de saberes disciplinares, curriculares e experienciais” (Tardif, 2007, p.36). A partir desta -81- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo III- O desenvolvimento profissional dos professores] concepção do saber, construída socialmente, o autor lança base para entendermos o que se espera de um professor prático reflexivo. Nessa perspectiva, acreditamos que as competências do professor, na medida em que se trata mesmo de ‘competências profissionais’, estão directamente ligadas às suas capacidades de “racionalizar a sua própria prática, de a criticar, podendo fundamentá-la para agir “(idem, p. 223). Nóvoa (1993) defende uma formação docente que esteja voltada para a reflexividade das acções do professor, na qual os seus saberes experienciais, curriculares e disciplinares sejam planeados e contextualizados. O autor remete-nos para modelos de organização dos cursos de formação docente: A formação não se constrói por acumulação (de cursos, de conhecimentos ou de técnicas), mas sim através de um trabalho de reflexividade crítica sobre as práticas e de (re) construção permanente de uma identidade pessoal. Por isso é tão importante a pessoa investir e dar um estatuto ao saber da experiência (Nóvoa, 1993 p. 25). A formação contínua dos professores será pensada como uma forma de desenvolvimento profissional, pessoal, evolutivo e continuado (Marcelo García,1992). Esta formação deve centrar-se na escola e contextualizar-se nas necessidades reais dos professores, cabendo a cada um a capacidade de organizar e (re)organizar toda a informação que recebe das mais variadas fontes e transforma-la em processos dinâmicos no sentido de promover o desenvolvimento intelectual e social, com vista a uma escola inclusiva. Mizukami e Reali (2008) defende que: “a aprendizagem é influenciada por diferentes factores, entre os quais destacamos os cognitivos, os afectivos, os éticos, de desempenho, as crenças e os valores que têm os professores e o contexto em que actuam”( p.80). -82- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo III- O desenvolvimento profissional dos professores] Também Ainscow (1998), abordou a problemática da formação profissional dos professores e concluiu que esta é fundamental para atender a diversidade dos alunos nas escolas. O mesmo autor refere que no âmbito da formação de professores em geral e formação contínua em particular, foi demonstrado em vários estudos que os professores melhoram a sua actividade docente se forem encorajados a adoptar uma atitude reflexiva face à sua prática. Para o autor a mudança geradora de uma educação inclusiva é um dos grandes desafios da educação de hoje porque imputa à escola a responsabilidade de deixar de excluir para incluir e de educar a diversidade, numa perspectiva de sucesso de todos. A implicação de todos os intervenientes no processo de tomada de decisão sobre as mudanças a realizar e a sua operacionalização, numa efectiva dinâmica de acção/reflexão/acção contínua e sistemática, poderá ser, para o professor em geral e para o professor de educação especial em particular, uma estratégia eficaz de resolução de alguns dos problemas com que se confronta hoje, na sua prática profissional, no contexto escola e da sala de aula. Nesta sequência e segundo Ainscow (2000), a investigação-acção obriga a que os próprios grupos-alvo assumam a responsabilidade de decidir quais as mudanças necessárias e as suas interpretações e análises críticas são usadas como uma base para monitorizar, avaliar e decidir qual o próximo passo a dar no processo de investigação, o que aumenta a qualidade do processo e a eficácia do produto. Considerou Sanches (1995), que o professor devia assumir o modelo de professorinvestigador não só para quebrar a distância entre teoria e prática, mas também para estes se tornarem práticos de resolução de problemas, podendo, desta forma adoptar o seu ensino às crianças com necessidades. -83- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo III- O desenvolvimento profissional dos professores] A escola inclusiva depende fundamentalmente de mudanças a desenvolver nas práticas pedagógicas dos professores, e os conhecimentos profissionais e científicos devem estar articulados, com vista a uma adequada formação do professor (Tardif, 2000 Madureira e Leite, 2003). Na mesma linha Schön (1997, 2000), ao abordar a prática reflexiva na formação de professores (reflexão na e sobre a prática), aponta como obstáculo para a sua implementação, a desarticulação entre a teoria veiculada pelas instituições de ensino superior e a prática. O actual paradigma da investigação sobre o pensamento do professor, confirma que durante a sua formação um docente necessita de integrar e organizar os seus esquemas ou marcos conceptuais segundo guiões mentais, isto é, estruturas de sucesso que se organizam em volta de uma meta ou objectivo. Está demonstrado que a fase prática pressupõe um período cognitivamente activo para o professor em formação. Sem dúvida pode acontecer que tal conhecimento permaneça ligado ao teórico previamente armazenado especialmente se este foi percebido sem referências experienciadas. Tratar-se-ia neste pressuposto de uma aprendizagem “informal” (Blázquez 1990). Nesta sequência podemos inferir, que o professor reflexivo não se faz somente a partir de uma boa escola, nem tão pouco pela aquisição da obtenção de cursos de graduação, para que um professor se tome reflexivo, mesmo que este tenha sido graduado para tal fim só acontece pela concretização colectiva de acções pensadas. Para que haja uma compreensão sobre a complexidade do acto de ensinar, o professor necessita de estar consciente de que a aprendizagem não se dá através da aplicação de conhecimentos produzidos por outros, pois o individuo é que assume a sua prática a partir dos significados que ele e o grupo lhes dão, num saber-fazer, provenientes de -84- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo III- O desenvolvimento profissional dos professores] suas próprias actividades, a partir das quais eles as estruturam e orientam de modo a operar mudanças. Vemos assim que o papel exercido pela formação ultrapassa uma simples actualização científica, pedagógica e didáctica convertendo-se numa excelente possibilidade de criar espaços de participação, reflexão e formação de modo a que os professores fiquem preparados para enfrentar rupturas de tradições e ideologias principalmente nos posicionamentos e nas relações profissionais. Sabemos que neste sistema de desenvolvimento de capacidades reflexivas em grupo, compartilhando o conhecimento com o contexto, os professores não só ficam mais competentes para enfrentar as mudanças como ficam menos vulneráveis às incertezas quer políticas quer sociais e profissionais. Alerta Zeichner (1999), no entanto, para a limitação de práticas pedagógicas reflexivas, pelo perigo de poder conduzir a um modelo em que tudo fica igual, em que as reformas podem servir para legitimar o que deveria ser transformado. Assinala Sage (1999), que a inclusão escolar dos alunos que apresentam necessidades educativas especiais, implica necessariamente mudanças no sistema de ensino e menciona também a prática reflexiva como aspecto importante a ser considerado para a obtenção dessa meta. Mittler (2003), parece corroborar esta posição ao afirmar sobre o desenvolvimento profissional do professor “criar oportunidades para reflexão e discussão é essencial na implementação de qualquer tipo de inovação” (p.184). A investigação-acção usada como estratégia formativa de professores, facilita a sua formação reflexiva, promove o seu posicionamento investigativo face à prática e à sua própria emancipação (Moreira, 2001). A introdução de transformações numa -85- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo III- O desenvolvimento profissional dos professores] determinada situação educativa com o propósito de dar solução a problemas identificados só pode ser feita pelos próprios professores, em parceria com os seus pares, com os alunos e famílias, nos contextos em que as problemáticas se desencadeiam. Esta metodologia permite-nos operacionalizar uma diferenciação curricular e pedagógica inclusiva ao invés de uma diferenciação que retoma e reforça a uniformidade e a exclusão. O professor deve estar comprometido com os princípios da Educação Inclusiva ciente do seu papel como profissional preparado para os novos desafios do saber pedagógico (Cortesão, 2004) e que lhe vai permitir conceber dispositivos de diferenciação pedagógica inerentes à educação inclusiva pressupondo escolas abertas, onde todos aprendem juntos, quaisquer que sejam as suas dificuldades, porque o acto educativo centra-se na diferenciação curricular inclusiva, construída em função dos contextos de pertença dos alunos (Roldão, 2003). Podemos assim concluir que a mudança geradora de uma educação inclusiva é um dos grandes desafios da educação de hoje porque imputa à escola a responsabilidade de deixar de excluir para incluir e de educar para a diversidade dos seus públicos, numa perspectiva de sucesso para todos sem excepção. -86- CAPÍTULO IV - EVOLUÇÃO DAS PERSPECTIVAS SOBRE A EDUCAÇÃO DAS CRIANÇAS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS “Do ponto de vista do aluno, a inclusão não é um previlégio é um direito, do ponto de vista dos agentes educativos não é uma moda, não é uma crença, não é uma convicção de natireza técnica, é um exercício de cidadania da comunidade educativa.” (Morgado, 2010) Ao longo da história da humanidade, podemos observar uma multiplicidade de atitudes para com o indivíduo diferente. A história do atendimento a esta faixa da população reflecte naturalmente a imagem da evolução da sociedade ao longo dos tempos, dos valores que a conduziram nas diferentes épocas, das atitudes que foi valorizando em diferentes períodos históricos. No entanto e apesar de hoje se saber que a educação da criança com deficiência tem passado por várias etapas, reconhece-se que o padrão de evolução apresentada em Portugal, tem sido semelhante ao de outros países (Felgueiras, 1994). A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo IV- Evolução das perspectivas sobre a educação das crianças com necessidades educativas especiais] Neste capítulo iremos abordar a evolução do atendimento às crianças com necessidades educativas especiais desde a antiguidade clássica até ao momento actual, destacando a forma como a mesma evoluiu em Portugal. 1. Da perspectiva assistencial à perspectiva educativa Segundo Madureira e Leite (2003), a maioria dos autores que se debruçaram sobre esta problemática, distinguiram quatro grandes fases no que ao atendimento a estas crianças e jovens diz respeito. A primeira fase, não se sabendo exactamente quando teve início, remonta ao tempo em que os Egípcios viam na deficiência o pronuncio de bons acontecimentos e os Gregos e Romanos inclinavam-se para a indicação de maus presságios, de tal forma que eliminavam fisicamente os portadores de deficiência. Na idade média começou a associar-se a deficiência a uma qualquer falha moral do indivíduo ou dos progenitores, pelo que não se lhe podia prestar qualquer atendimento especial. Nos séculos XVII e XVIII, dá-se início ao processo de internamento destas pessoas, mesmo quando crianças, em asilos e hospícios, junto de idosos, marginais ou indigentes. Estamos perante a ambiguidade entre a “caridade cristã” (era necessário proteger os deficientes do mundo) e a ameaça que poderiam constituir para a sociedade. A solução era então interná-los em instituições normalmente fora dos aglomerados populacionais. -88- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo IV- Evolução das perspectivas sobre a educação das crianças com necessidades educativas especiais] Embora sem grandes repercussões imediatas no atendimento às pessoas com deficiência, salienta-se a importância de alguns estudos à época inovadores, nomeadamente os realizados por Ponce de Léon (1509-1584) e Pablo Monet (15791633). Estes dois estudiosos realizaram trabalhos com jovens surdos a quem procuraram ensinar linguagem escrita, associada a imagens e posteriormente ao treino da fala. De acordo com as mesmas autoras, seguiram-se Charles- Michel de L’Epee (17121789), que cria a 1ª escola pública para surdos em Paris. Posteriormente Valentim Huay, em 1784 cria também em Paris um instituto para cegos, onde estudou Louis Braille, que vem a desenvolver um sistema de leitura para invisuais: o sistema Braille. No início do século XIX, inicia-se a 2ª fase. A sociedade passa a ser responsabilizada pelo apoio e protecção aos deficientes, surgindo assim as primeiras instituições especializadas para o seu atendimento. O facto de estas instituições terem sido criadas de forma aleatória quer pela Igreja, quer por particulares, quer por instituições de beneficência, quer pelo estado, fez com que umas tivessem fins meramente assistenciais e outras já manifestassem preocupações educativas. Torna-se relevante nesta época o interesse de trabalhos de carácter científico, tais como os desenvolvidos por Itard (1775-1838), Séguin (1812-1880) e Galton (1822-1880). Estes investigadores procuraram distinguir não só os tipos mas também os graus da deficiência. Apenas no início do século XX, se inicia o atendimento educativo aos deficientes mentais. Binet (1857-1911), desenvolveu técnicas de avaliação da inteligência, muito usadas na classificação dos níveis da deficiência mental e na possibilidade da educação e ou treino das crianças e jovens com deficiências intelectuais. Também Montessori e Decroly com o desenvolvimento da “pedagogia científica” deram um contributo decisivo -89- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo IV- Evolução das perspectivas sobre a educação das crianças com necessidades educativas especiais] para profundas reformas escolares que se vieram a verificar. Para além de terem contribuído para a compreensão da problemática das crianças e jovens diferentes, dão origem a uma corrente pedagógica inovadora, que defendeu os princípios da individualização do ensino, da aprendizagem activa pela descoberta e do respeito pela dignidade e liberdade do aluno. Estes dois mestres na época, influenciaram quer directa quer indirectamente, as políticas educativas implementadas durante o século XX. As concepções pós – renascentistas que vieram dar fundamento à “Escola Nova”, tal como as transformações sociais que começaram a verificar-se nesta altura, foram marcos relevantes para o atendimento às crianças e jovens com deficiência e para a educação especial. O surgimento da psicologia evolutiva como disciplina científica, foi um dos factores que contribuíram para que as instituições começassem a estar directamente ligadas às diferentes etiologias. A avaliação e a definição da deficiência já anteriormente referidas, vão exercer durante muito tempo, grande influência na educação especial. Inicia-se a educação segregada. Verificámos durante toda a fase anterior uma progressiva passagem da preocupação assistencial para a perspectiva clínica e a pouco e pouco esta dá origem a uma perspectiva mais terapêutica e educativa. Estamos na década de 30/40 do Século XX, descrita por Madureira e Leite (2003) como a 3ª fase. Uma época de carácter claramente educativo. Procuravam-se nesta altura soluções pedagógicas, para responder adequadamente às crianças e jovens portadores de deficiências. Estabelece-se a obrigatoriedade da escola básica pública, o que vem facilitar o rastreio e identificação das problemáticas das crianças com deficiências e conduzir a uma reorganização das instituições especializadas e a criação de escolas ou classes especiais (anexas às escolas regulares). Na década de 40, em Portugal é -90- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo IV- Evolução das perspectivas sobre a educação das crianças com necessidades educativas especiais] criado o primeiro centro de observação e diagnostico medico – pedagógico para “crianças anormais”, o Instituto António Aurélio da Costa Ferreira. Nesta fase poderemos falar da criação do ensino especial público, como subsistema do sistema nacional de ensino. Embora crescente a preocupação com a educação destes alunos, esta faz-se ainda de forma segregada. As transformações sociais, políticas, económicas e culturais vão influenciar claramente a educação especial e desenvolver novas perspectivas pedagógicas. A educação das crianças e jovens até aqui com um cunho claramente segregacionista, vai nesta 4ª fase, progressivamente passar a realizar-se nas estruturas regulares de ensino, como veremos de seguida. 2. O atendimento às crianças e jovens com necessidades educativas especiais: da segregação à integração escolar Na concepção de Sousa (1997): “Ao olharmos para o problema global da educação das crianças com problemas, verificamos que algumas tendências marcantes têm existido. A categorização/classificação foi a primeira, seguiu-se uma fase de transição que descentrou do problema individual para incidir também no meio; actualmente a conceptualização baseia-se na noção de necessidades educativas especiais” (p.39). Falar da integração de alunos com necessidades educativas especiais (NEE) no sistema regular de ensino, pressupõe uma longa caminhada da educação especial ao longo da história da educação dos tempos mais modernos. Segundo Bautista (1997), temos assistido ao longo do tempo a mudanças graduais que apontam para uma inclusão de alunos com necessidades educativas especiais no -91- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo IV- Evolução das perspectivas sobre a educação das crianças com necessidades educativas especiais] ensino regular. A este propósito, o autor refere existirem períodos distintos na educação especial. O primeiro seria o que ele designa de pré-história da educação especial, passando depois por uma educação especial aliada à assistência e à educação de deficientes, mas separada da educação regular e, finalmente, a etapa onde nos encontramos hoje que pressupõe a inclusão de alunos com NEE no ensino regular. A institucionalização de deficientes, apresenta duas faces de um só gesto social, ou seja, simultaneamente a partilha e exclusão. Este gesto social reveste-se de dupla protecção, isto é, a sociedade protege-se de crianças e adultos que a embaraçam e protege-as de si mesmas. No início do século XX, por influência do modelo médico, supunha-se que o melhor seria que a educação das crianças com necessidades educativas especiais, decorresse em instituições especializadas e, por conseguinte, que a educação correspondesse, de forma adequada, às necessidades especificas de cada aluno, consoante o seu caso. Importa dizer que, nesta altura, a ênfase era colocada nos aspectos médico–terapêuticos, em detrimento dos aspectos sociais (Pereira, 2004). A primeira instituição especializada, que serviu de modelo a outras instituições criadas posteriormente em Inglaterra e na Alemanha, surgiu em Paris, em 1770, destinando-se a indivíduos “surdos-mudos” (Mazzotta, 1996). As instituições para invisuais e para deficientes físicos surgiram mais tarde e foi apenas no século XIX, com Itard4 que começou a dar-se atendimento educativo aos deficientes mentais. Nesta fase da educação especial de cariz médicopedagógico reconhece-se o direito à educação especializada e à reabilitação. No entanto e, apesar da crescente preocupação com a educação destes alunos, cuja intervenção decorre de um 4 médico francês que organizou métodos sistematizados para o ensino de débeis -92- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo IV- Evolução das perspectivas sobre a educação das crianças com necessidades educativas especiais] diagnóstico médico-psico-pedagógico, o processo de colocá-los numa escola de ensino especial ou numa classe especial não deixa de ser um processo ainda segregativo. Na Dinamarca, ainda nos anos 50, traça-se pela primeira vez um plano de integração para crianças deficientes mentais, na Suécia a publicação de legislação referente à integração data de 1968. Nos anos 70 apela-se ao princípio da “normalização”: na família, na educação, na formação profissional, no trabalho e na segurança social. Em Portugal, esta fase está presente a partir dos anos 60, altura em que se criam centros de educação especial e de observação e se iniciam os primeiros programas de formação especializada de professores, da responsabilidade do ministério dos assuntos sociais (Bairrão, Felgueiras, Fontes, Pereira, & Vilhena, 1998). De acordo com Niza (1996), as estruturas consideradas segregadoras de atendimento à população com deficiência pautavam-se pelo modelo médico com prevalência de uma concepção de deficiência vista como doença, tendo como preocupação a classificação e categorização por tipos de deficiência, legitimando e orientando a colocação no sistema segregado. As duas guerras mundiais e as transformações sociais do pós-guerra, a declaração dos Direitos da Criança e dos Direitos do Homem, são factos que contribuíram para a constatação de que a segregação, quer a nível educacional, quer a nível social, não é uma atitude natural, nem desejável (Vieira, 1984). Vai enfrentar-se a diferença com um outro “olhar”, começam, por outro lado a surgir associações de pais, criando-se assim, uma mudança de filosofia relativamente à educação especial: é a fase da integração. -93- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo IV- Evolução das perspectivas sobre a educação das crianças com necessidades educativas especiais] A integração que pressupõe o direito à educação, o direito à igualdade de oportunidades e o direito a participar na sociedade, começou assim, a ser uma prática corrente nos países da Europa do norte nos anos 50 e 60. No final dos anos 60, surgiram então, fortes movimentos sociais e políticos, legislativos e educacionais, os quais, aliados aos progressos verificados a nível técnico e científico põem em causa o sistema tradicional da educação especial. Foram apontadas várias razões para este facto, tais como os efeitos estigmatizantes nas crianças que frequentavam as classes especiais, a inexistência de professores com formação específica, a inexistência de metodologias diferenciadas; a inexistência de material adequado e a inexistência de espaços físicos adequados às necessidades das crianças. Nos Estados Unidos da América a partir de 1975, com a publicação da Public Law5 e no Reino Unido, com a publicação do Warnok Report Special Education Needs, em 1978, dá-se mais um passo de enorme relevo relativamente à integração das crianças com NEE na escola regular. A Public Law, lei da educação para todas as crianças deficientes que, em termos de política de educação, representa uma alternativa à colocação dos alunos com necessidades educativas especiais em escolas especializadas, introduz o princípio do “mainstreaming”6, ou seja, o princípio da integração. O Warnok Report introduz, pela primeira vez o conceito de necessidades educativas especiais, o que representa um contraponto às categorizações existentes até então. Necessidades Educativas Especiais são, assim, e de acordo com este documento, aquelas que requerem o fornecimento de meios especiais de acesso ao curriculum através de equipamento, instalações ou recursos, modificações do meio físico ou 5 a Public Law é definida, de acordo com Sprinthall & Sprinthall (1993) e Correia (1999) como “a magna carta da educação para todas as crianças que tem sido excluídas das classes normais em função da sua condição deficiente” 6 segundo Sprinthall & Sprinthall (1993), mainstreaming significa “manter a criança na corrente principal ou leito do rio” -94- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo IV- Evolução das perspectivas sobre a educação das crianças com necessidades educativas especiais] técnicas de ensino especial. Podem ainda necessitar de acesso a um curriculum especial ou adaptado e ainda uma especial atenção à estrutura social e ao clima emocional nos quais se processa a educação. Posteriormente e em conformidade com o Education Act, em 1981,considera-se que um aluno tem necessidades educativas especiais quando, comparativamente com os alunos da sua idade, apresenta dificuldades significativamente maiores para aprender ou tem algum problema de ordem física, sensorial, intelectual, emocional ou social, ou uma combinação destas problemáticas, a que os meios educativos geralmente existentes nas escolas não conseguem responder, sendo necessário recorrer a currículos especiais ou a condições de aprendizagem adaptadas (Brennan, 1985). Refere Nielsen (1999) a renomeação da Public Law, conhecida mais especificamente por education for all handiccaped children act (EAHCA) para individuals with disabilities education act (IDEA) salientando a ideia que todas as crianças com NEE devem ter direito à educação pública e gratuita, que deve revelar-se adequada às suas necessidades educativas e deve ter lugar no meio menos restritivo possível”. Brennan (1990), enfatiza que: “Existe uma necessidade educativa especial quando “há uma deficiência (física, sensorial, intelectual, emocional, social ou qualquer combinação destas) que afecta a aprendizagem a tal ponto que são necessárias todos ou alguns dos meios especiais de acesso ao currículo (especial ou modificado), ou umas condições de aprendizagem especialmente adaptadas para que o aluno seja educado eficazmente. A necessidade pode apresentar se em qualquer momento do percurso que vai desde a leve até à aguda e pode ser permanente ou apresentar se num momento determinado na aplicação do currículo” (p.36). Consideram Marchesi e Martin (1995), que existem necessidades educativas especiais, quando um aluno, ao longo da vida escolar, apresenta problemas de aprendizagem que -95- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo IV- Evolução das perspectivas sobre a educação das crianças com necessidades educativas especiais] exigem uma atenção mais cuidadosa e maiores recursos educacionais do que os normalmente utilizados para os seus colegas da classe. Na definição anterior são introduzidos conceitos fundamentais tais como: problemas de aprendizagem e recursos educacionais. Quando se passa a falar de problemas de aprendizagem, evitando o conceito de deficiência, passamos a centrar o problema na escola e na resposta educativa e não no aluno. Quando falamos de recursos educacionais, somos remetidos para a importância do sistema educativo, que deverá estar dotado dos meios que permitam responder às necessidades específicas de cada criança. Estes recursos vão desde a eliminação das barreiras arquitectónicas, à existência de materiais didácticos adequados, aos apoios psicopedagógicos, a novas formas de organização escolar, à formação dos professores, à utilização de novas metodologias. Esta conjugação de todos os factores referidos, permitirá uma intervenção mais eficaz nas necessidades educativas especiais (Casanova,1990; González,1993; García Pastor,1995; Marchesi & Martin, 1995;). A conferência mundial sobre necessidades educativas especiais realizada em Salamanca de 7 a 10 de Junho de 1994 retoma o conceito, redefine-o e alarga-o: “de modo a que possam incluir todas as crianças, independentemente das diferenças ou dificuldades individuais”. (art. 3 Declaração de Salamanca). Esta conferência sobre a educação para todos teve como principal objectivo, chamar a atenção para a necessidade de conseguir escolas com uma orientação inclusiva como melhor meio de combater atitudes discriminatórias, construir comunidades acolhedoras, contribuindo assim para que se constituam sociedades mais justas, mais inclusivas. A mesma culminou com a redacção de uma declaração assinada por diversos países, onde foi -96- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo IV- Evolução das perspectivas sobre a educação das crianças com necessidades educativas especiais] proposto estabelecer programas de resposta às necessidades educativas especiais, garantindo uma educação básica para todos os cidadãos (Veiga, Dias, Lopes, & Silva, 2000). Teve a participação de mais de 92 governos e 25 organizações internacionais, foi palco da assinatura de uma declaração, onde se reafirma o direito à educação para todos, já anteriormente consagrada na Declaração dos Direitos da Criança (1921) e na Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948) que apela aos diferentes países para que procedam às mudanças fundamentais a nível político, económico, social e educacional no sentido de garantir a educação de crianças, jovens e adultos com necessidades educativas especiais no quadro do sistema regular da educação, numa perspectiva inclusiva. De acordo com a declaração de Salamanca, os princípios pelos quais os governos se devem orientar, cimentam a filosofia da educação inclusiva e são os seguintes:i) cada criança tem direito fundamental à educação;ii) cada criança tem características, interesses, capacidades e necessidades que lhe são próprias;iii) as escolas regulares devem receber os alunos com necessidades educativas especiais e os programas educativos devem ser planeados e implementados em função das características e necessidades dos alunos (pedagogia centrada na criança). Constatamos que o conceito de necessidades educativas especiais passa a partir daqui a estar na ordem do dia. Passamos de uma perspectiva centrada na criança para uma perspectiva centrada no contexto e no currículo. -97- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo IV- Evolução das perspectivas sobre a educação das crianças com necessidades educativas especiais] Nesta perspectiva e de acordo com a generalidade dos autores que se têm debruçado sobre o assunto, há necessidades educativas especiais, quando qualquer tipo de problemática, seja de ordem física, emocional, social ou intelectual, isto é, factores de ordem biológica e/ou social, afectam a aprendizagem, implicando o recurso a medidas de intervenção diferenciadas (Brennan, 1985; Sim-Sim, 1986). Por seu lado Correia (2003 a), considera que “os alunos com NEE são aqueles que por exibirem determinadas condições específicas podem necessitar de apoio de serviços de educação especial durante todo ou parte do seu percurso escolar, de forma a facilitar o seu desenvolvimento académico, pessoal e sócio-emocional” (p.25). Esta alteração conceptual vai produzir efeitos no atendimento às crianças e jovens nas escolas. A educação especial passa de um lugar a um serviço. Começa a ser perspectivada como um conjunto de recursos humanos e materiais colocados à disposição do sistema educativo, de forma a responderem às necessidades de alguns alunos. É também fundamental o envolvimento activo de outros intervenientes, nomeadamente: os profissionais da educação, os pais e a comunidade em geral. Todos devem trabalhar em colaboração, partilhando recursos, decisões e apoios (Sanches, 1995; Correia, 1999; Morgado, 2003b). Começa a crescer o movimento da inclusão escolar. O caminho é difícil. As escolas necessitam de fazer grandes alterações nos conceitos, nas atitudes, nas opções, nas prioridades. Os profissionais precisam de aprender a trabalhar juntos, a partilhar sucessos e insucessos. A cultura da escola tem que ser outra. O conceito de necessidades educativas especiais, tem sido alvo de reflexão e algumas críticas. Segundo Marchesi e Martin (1995), pelo facto de ser um termo demasiado vago -98- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo IV- Evolução das perspectivas sobre a educação das crianças com necessidades educativas especiais] o que remete para novos conceitos e ser também demasiado abrangente (a educação especial que se dedicava ao atendimento de 2% dos alunos, passou a atender 20% de alunos com NEE), para além de não se diferenciar neste conceito os problemas que são da responsabilidade do sistema de ensino e os que são originados por outro tipo de situações (família, minorias, classes sociais, etc). Esta situação leva a que não se distinga entre as crianças que têm necessidades especiais e as que têm necessidades educativas especiais. Apesar de todas a definições existentes sobre NEE e das críticas feitas às mesmas, teremos que salientar o valor imenso deste conceito, que permitiu descentrar o problema do aluno e passar a centrá-lo no sistema educativo, abrindo o caminho para a reforma do sistema. A temática das pessoas com necessidades educativas especiais, vai para além de uma mera discussão pedagógica. Implica uma grande mudança sócio-cultural, nos valores e nas mentalidades, potenciando atitudes que as coloquem no centro de todos os direitos (Fierro,1984; Mínguez, 1994). Como já referimos anteriormente, foram os países do norte da Europa (Dinamarca e Suécia), os primeiros a desenvolver e a pôr em prática os princípios da normalização e da integração, tanto a nível social como escolar. Mais tarde, os Estados Unidos adoptaram estes princípios, que só posteriormente foram lentamente surgindo nos restantes países da Europa. -99- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo IV- Evolução das perspectivas sobre a educação das crianças com necessidades educativas especiais] Tal como para o conceito de necessidades educativas especiais, também para o conceito de integração escolar existem várias perspectivas de vários autores. Passamos a referir algumas. Stephens et al. (1982), destacam: ” A integração é a educação de alunos com deficiências moderadas num ambiente o menos restritivo possível. Baseia-se na filosofia de igualdade de oportunidades educativas que se aplica através de uma planificação individual para promover uma aprendizagem, um rendimento escolar e uma normalização social apropriadas” (p.10) A NARC (National Association of Retarded Citizens), refere que a integração é uma filosofia ou princípio de oferta de serviços educativos, que se põem em prática mediante a oferta de uma variedade de alternativas instrutivas e de classes, que são apropriadas ao Plano Educativo, para cada aluno, permitindo a máxima integração instrutiva, temporal e social, entre alunos deficientes e não deficientes durante o dia escolar normal. Se restringirmos agora a filosofia da normalização, ao âmbito da educação, aparecem os conceitos de integração escolar e de ambiente o menos restritivo possível. Estes conceitos são fundamentais pois referem-se à educação conjunta sempre que possível de alunos com deficiência e alunos normais. Segundo Ortiz, (1995), nesta fase a “educação especial” como forma de atendimento a estes alunos, era vista como um sistema que os atenderia, prestando-lhes desde a ajuda temporária até à adaptação permanente, mas sempre com vista à integração do aluno sempre que possível no currículo ordinário. -100- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo IV- Evolução das perspectivas sobre a educação das crianças com necessidades educativas especiais] Como podemos verificar estamos a falar de dois sistemas distintos.O sistema educativo comum e de educação especial que Stainback e Stainback (1984), Will (1986) e Reynolds, Wang e Walberg (1987), preconizam que deve unificar-se, porque segundo estes autores as necessidades educativas dos alunos com NEE não justificam a existência de ensino diferente e porque a ineficácia dos dois sistemas não justifica a sua continuação. Ao estarem contra o sistema dual também Edgard (1987) e Skrtic (1987) argumentam que o sistema está carregado com inúmeros problemas, como a discriminação, a ineficácia dos seus programas e um custo injustificado, acrescentando que o mero acesso à educação em geral não é suficiente, dado que não responde adequadamente à diversidade das crianças e jovens. Como deixamos expresso existiu um grande debate à volta da integração e da educação especial. De seguida apresentaremos a forma como a educação especial evoluiu em Portugal. 3. A educação especial em Portugal A educação especial implementou-se mais lentamente em Portugal, do que na maioria dos países da Europa. As grandes etapas referidas anteriormente (fase assistencial, fase institucional e integração no ensino regular), em Portugal tiveram grande desfasamento no tempo, não tendo acompanhado o que aconteceu em outros países. Até finais do século XIX, não existiam quaisquer apoios oficiais para os deficientes, que eram marginalizados por toda a sociedade (Bénard da Costa, 1985). -101- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo IV- Evolução das perspectivas sobre a educação das crianças com necessidades educativas especiais] De acordo com a mesma autora, em 1863, surge o asilo dos cegos em Castelo de Vide, em 1883 é criado no Porto o instituto José R. Araújo, para deficientes auditivos. Foram criadas mais algumas instituições, mas só por iniciativa do médico António Aurélio da Costa Ferreira, é que se dá uma viragem no atendimento a estas pessoas. Funda-se o instituto médico pedagógico na Casa Pia. Este instituto que começa por atender crianças com deficiências físicas e também mentais, por volta de 1941, abre a consulta externa para todas as crianças com indicação de “anormalidade mental”. Em 1945, já sendo director o Prof. Victor Fontes, o anterior instituto adquire a responsabilidade de formar professores para a educação especial. A partir dos anos 60, a educação das crianças portadoras de deficiência era assegurada pela segurança social e por instituições privadas. Começam a surgir associações privadas com carácter não lucrativo. Com a reforma Veiga Simão é criada no Ministério da Educação a Divisão de ensino especial (Lei 5/73). Esta estrutura era responsável pela criação de serviços destinados a assegurar a educação das crianças deficientes. É nos anos 70, do século XX que ocorre a mudança de paradigma em relação à entrada dos alunos com NEE nas escolas, e que se dá o grande passo da integração à inclusão. Numa primeira fase, dá-se a “ integração física” nas escolas regulares, esta “preconiza uma mudança radical quanto à forma como os alunos com NEE eram educados, abrindo caminho à sua entrada nas escolas regulares de ensino” (Correia,b 2008, p.15). Numa segunda fase dá-se a “integração social”, com o reconhecimento da importância da aproximação social. Embora se defenda que o aluno com NEE beneficiará mais com um ensino à parte no que respeita às áreas curriculares, reconhece-se a importância -102- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo IV- Evolução das perspectivas sobre a educação das crianças com necessidades educativas especiais] destes alunos se juntar aos seus colegas, em determinadas áreas específicas, como por exemplo, os recreios, as refeições e os passeios escolares. Numa terceira fase dá-se a “integração académica” com o reconhecimento de que pelo menos os alunos com NEE mais ligeiras “conseguiam alcançar sucesso escolar nas classes regulares (…) podendo deste modo, fazer parte do sistema regular de ensino”. (Ibidem). Após a revolução de 25 de Abril de 1974, que traz para Portugal um regime democrático, começou a surgir a consciência de como se encontrava no País a educação especial. Em 1976, o texto da Constituição da República (D.Lei 666/76) consigna a igualdade de oportunidades e direitos a todos os cidadãos, obrigando o estado a repensar a situação dos deficientes na escola. Segundo Felgueiras (1994), apesar de constar do texto da constituição da República e de terem sido criadas as equipas de educação especial, a educação das pessoas deficientes não foi um êxito. Surge então um movimento de pais e técnicos, para responder às necessidades das crianças e suas famílias: O movimento CERCI. São criadas por todo o País cooperativas de educação e reabilitação da criança inadaptada. Com o Decreto-lei 538/79 é determinado o ensino básico obrigatório e no que diz respeito às crianças deficientes refere que terá que ser assegurada a sua educação. Embora tenham ocorrido algumas experiências pontuais nos anos 60, só a partir dos anos 70 é que começou a surgir legislação, em Portugal, que foi definindo, aos poucos, o regime de integração progressiva de alunos invisuais, surdos e deficientes motores, primeiro nos ensinos preparatório e secundário e só um ano depois no ensino primário. -103- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo IV- Evolução das perspectivas sobre a educação das crianças com necessidades educativas especiais] Entre 1984 e 1989, a entrada de Portugal na actual União Europeia (UE), a publicação da Lei de bases do sistema educativo (LBSE), do Decreto-lei 3/87 (que estabelece a regionalização dos serviços do ministério da educação) e a reforma do sistema educativo são acontecimentos decisivos para a educação em geral e para a educação especial em particular. A Lei de Bases introduz formalmente o conceito de necessidades educativas especiais, sendo ponto de partida para outros diplomas que consagram medidas de actuação junto da criança. Destacamos pela sua importância alguns dos objectivos e artigos desta lei. O artigo 7º: assegura às crianças com necessidades educativas especiais, devidas designadamente a deficiências físicas e mentais, condições adequadas ao seu desenvolvimento e pleno aproveitamento das suas capacidades. O artigo 16ª: consagra a educação especial como uma das modalidades de educação que visa a recuperação e integração sócio educativa de crianças com necessidades educativas especiais, integrando actividades dirigidas aos educandos e acções dirigidas às famílias, aos educadores e às comunidades. Por sua vez o artigo 17º: preconiza o desenvolvimento das capacidades físicas, intelectuais, emocionais e de comunicação, a inserção familiar, escolar, social, a formação profissional e a integração na vida activa. O artigo 18º: determina ainda o direito das crianças deficientes a uma educação adequada às suas necessidades específicas; o direito à opção por uma educação integrada nas estruturas regulares do ensino, sempre que possível; a tutela pedagógica do ministério da educação sobre todas as modalidades de educação especial, sejam elas do foro oficial, privado ou cooperativo. -104- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo IV- Evolução das perspectivas sobre a educação das crianças com necessidades educativas especiais] Em 1990, a Lei da escolaridade obrigatória (Decreto-Lei 35/90)7 termina com a isenção de escolaridade para as crianças deficientes, assegurando-lhes o direito à educação “em estabelecimentos regulares de ensino ou em instituições de educação especial, quando comprovadamente o exijam o tipo e o grau de deficiência do aluno” (art. 2º). Posteriormente, o grande marco legislativo da educação especial em Portugal foi a publicação do Decreto-lei n.º 319/91 de 23 de Agosto (relativo ao regime de educação especial dos alunos com necessidades educativas especiais). O referido Decreto – Lei vem preencher a lacuna legislativa, no âmbito da educação especial, passando a mesma a assentar nos seguintes pressupostos: i) a abertura da escola a alunos com necessidades educativas especiais numa perspectiva inclusiva (escola para todos); ii) a responsabilização da escola regular pelo atendimento educativo dos alunos com necessidades educativas especiais através dos seus órgãos de direcção, administração e gestão; iii) a consagração da individualização da intervenção educativa através do plano educativo individualizado (PEI) e programa educativo (PE); (Ensino Especial) alínea i; iv) o reconhecimento da necessidade do trabalho em equipa com diversos intervenientes;v) o reconhecimento do papel dos pais na orientação educativa dos filhos; vi) a garantia da possibilidade de integração a alunos com problemas cognitivos, não susceptíveis de acompanhar o currículo escolar regular, inserindo as medidas do regime educativo especial; vii) na substituição da classificação em diferentes categorias, baseadas em decisões do foro médico, pelo conceito de necessidades educativas especiais, baseado em critérios pedagógicos. Mais recentemente o Despacho conjunto 105 /97 de 1 de Julho foi também um salto evolutivo no âmbito das necessidades educativas especiais, no art.º 13º prevê a criação de equipas de coordenação de apoio educativo, as quais têm como função articular e 7 até então, desde que um médico comprovasse a deficiência da criança, esta ficava isenta da escolaridade obrigatória. -105- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo IV- Evolução das perspectivas sobre a educação das crianças com necessidades educativas especiais] orientar os apoios educativos em escolas locais, no âmbito do desenvolvimento dos projectos educativos das escolas visando a promoção da escola inclusiva. Em 2001 foram promulgados os Decretos-lei n.º 6/2001 e 7/2001 (ambos de 18 de Janeiro) que regulamentam as medidas especiais de educação para alguns alunos com Necessidades Educativas Especiais de carácter permanente (art.º 10º). De referir também o Despacho normativo 30/2001 de 19 de Julho que faz o enquadramento de avaliação dos alunos abrangidos pelas medidas especiais de educação (ponto n.º 54). Actualmente a educação especial rege-se pelo Dec. Lei 3/2008, tendo como referência a classificação internacional de funcionalidade, incapacidade e saúde (CIF) da Organização Mundial de Saúde publicada em versão experimental, em 1980. Esta legislação define os apoios especializados a prestar na educação pré-escolar e nos ensinos básico e secundário dos sectores público, particular e social, visando a criação de condições para a adequação do processo educativo às necessidades educativas especiais dos alunos com limitações significativas ao nível da actividade e da participação num ou vários domínios de vida, decorrentes de alterações funcionais e estruturais, de carácter permanente, resultando em dificuldades continuadas ao nível da comunicação, aprendizagem, mobilidade, autonomia, relacionamento interpessoal e participação social. Aparentemente visa reforçar a inclusão das crianças e jovens com necessidades educativas especiais no quadro de uma política de qualidade orientada para o sucesso educativo de todos os alunos, assumindo, de forma consciente, clara e inequívoca, a promoção da qualidade de ensino num modelo de escola inclusiva, consagrando princípios, valores e instrumentos fundamentais para a igualdade de oportunidades. -106- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo IV- Evolução das perspectivas sobre a educação das crianças com necessidades educativas especiais] Com efeito, o novo regime jurídico introduz uma mudança significativa na política educativa, orientada para a diversidade das crianças numa perspectiva abrangente. Circunscreve-se a população alvo da educação especial aos alunos com limitações significativas ao nível da actividade e da participação num ou vários domínios de vida, decorrentes de alterações funcionais e estruturais, de carácter permanente, resultando em dificuldades continuadas ao nível da comunicação, aprendizagem, mobilidade, autonomia, relacionamento interpessoal e participação social. Definem-se os direitos e deveres dos pais/encarregados de educação no exercício do poder paternal, nos aspectos relativos à implementação da educação especial. Definese, igualmente, a adequação do processo de ensino e de aprendizagem integrando medidas educativas que, visando promover a aprendizagem e a participação dos alunos, implicam a adaptação de estratégias, recursos, conteúdos, processos, procedimentos e instrumentos, bem como a utilização de tecnologias de apoio. Prevê-se a criação de uma rede de escolas de referência para o ensino bilingue de alunos surdos e de uma rede de escolas de referência para o ensino de alunos cegos e com baixa visão. Estabelece-se a possibilidade de os agrupamentos de escolas organizarem respostas específicas diferenciadas através da criação de unidades de ensino estruturado para a educação de alunos com perturbações do espectro do autismo e de unidades de apoio especializado para a educação de alunos com multideficiência e surdocegueira congénita, bem como se prevê a possibilidade de os agrupamentos desenvolverem parcerias com instituições particulares de solidariedade social e com centros de recursos especializados visando, entre outros fins, a referenciação e avaliação, a -107- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo IV- Evolução das perspectivas sobre a educação das crianças com necessidades educativas especiais] execução de actividades de enriquecimento curricular, designadamente, actividades físicas e desporto adaptado; o ensino do Braille, o treino visual, a orientação e mobilidade e terapias, o desenvolvimento de acções de apoio à família, a transição da escola para o emprego, bem como a preparação para integração em centros de actividades ocupacionais. Por último, estabelece-se que as escolas ou os agrupamentos de escolas, os estabelecimentos de ensino particular com paralelismo pedagógico, escolas profissionais directa ou indirectamente financiados pelo ministério da educação não podem rejeitar a matrícula ou inscrição de qualquer criança ou jovem com base na incapacidade ou nas necessidades educativas especiais que manifestem. 4. A caminho da escola inclusiva (...) estar incluído é muito mais do que uma presença física: é um sentimento e uma prática mútua de pertença entre a escola e a criança, isto é, o jovem sentir que pertence à escola e a escola sentir que é responsável por ele ” (Rodrigues, 2003, p. 95). Como podemos verificar pelo que atrás ficou dito as pessoas com deficiência têm uma história para contar de inúmeras situações de rejeição, de segregação e de exclusão. O paradigma da escola inclusiva não é um assunto isolado, descontextualizado. é uma exigência política e social que reclama uma educação geradora de sucesso para todos sem excepção.Teoricamente a escola inclusiva não é hoje contestada nem pelos profissionais nem pela sociedade em geral, mas na prática muitos são ainda os obstáculos a transpor. -108- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo IV- Evolução das perspectivas sobre a educação das crianças com necessidades educativas especiais] O conceito de inclusão que deu origem à escola inclusiva ou escola para todos (Arnaíz, 1996, 1997; Murphy, 1996; Sapon-Shevin, 1996; Wang & Reynolds, 1996; Thomas, 1997; Unesco, 1998; Giangreco, 1999) e o de educação inclusiva (Rodrigues, 2000), vieram alterar profundamente as práticas tradicionais, substituindo-as por uma concepção mais global na qual todo o aluno tem direito a uma educação sem exclusões. Embora sem definição unânime, pois ainda permanecem os dois conceitos, o de integração e o de inclusão, para Sassaki (1997), é inevitável que ambos sejam falados e escritos, referindo-se à mesma situação. Optámos por ilustrar no quadro, 6 a diferença entre os conceitos de integração e inclusão aplicados na prática do dia a dia. Modelo Integrativo Alguns alunos estão na sala de aula O processo é o único responsável pelo processo de ensino Os alunos aprendem com o professor e este resolve os problemas Os alunos são agrupados por grupos de nível O ensino dirige-se ao aluno médio A colocação do aluno no ano da escolaridade corresponde aos conteúdos curriculares desse ano O ensino é demasiado passivo, formal e competitivo O apoio educativo é providenciado sobretudo fora da sala de aula Os alunos com NEE são frequentemente excluídos das actividades desenvolvidas O professor é responsável pelo processo educativo dos alunos “sem problemas” e a equipa de apoio é responsável pelos alunos com NEE Os alunos são avaliados usando dispositivos normalizados O sucesso dos alunos é avaliado considerando o objectivo curricular normalizado Modelo Inclusivo Todos os alunos estão na sala de aula Equipas de profissionais partilham responsabilidades Os alunos e professores desenvolvem o trabalho de forma cooperada Os alunos são agrupados de forma heterogénea O ensino considera os diferentes tipos de competências, capacidades e ritmos dos alunos A colocação do aluno no ano da escolaridade e a estrutura curricular que é utilizada é independente O ensino é activo, criativo e cooperado O apoio educativo é providenciado sobretudo dentro da sala de aula As actividades são planeadas de forma a permitir a participação de todos os alunos ainda que a diferentes níveis O professor da turma, o professor de apoio e os outros técnicos, partilham a responsabilidade da educação de todos os alunos. Os alunos são avaliados usando dispositivos diferenciados O sucesso é atingido quando se atingem os objectivos do aluno Fonte: Giangreco et al.,1997) Quadro 6: Modelos tradicionais (integrativos) e modelos da escola inclusiva Poderemos verificar no quadro anterior que a inclusão é um processo de transformações graduais que foi acompanhando a transformação dos tempos. O conceito de Inclusão, (…) -109- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo IV- Evolução das perspectivas sobre a educação das crianças com necessidades educativas especiais] “ultrapassa em muito o conceito de Integração, uma vez que não pretende posicionar o aluno com NEE numa “curva normal” mas sim assumir que a heterogeneidade que existe entre os alunos é um factor positivo, permitindo o desenvolvimento de comunidades escolares mais ricas e mais profícuas”. (Correia, 2008a, p.20). A proclamação da “Declaração de Salamanca” (UNESCO, 1994) foi “indubitavelmente o marco que definiu o verdadeiro ponto de partida de uma escola integrativa para uma escola onde a educação é inclusiva” (David Rodrigues, 2001, p.19). Esta declaração e o enquadramento para a acção na área das necessidades educativas especiais, reforça: “as escolas devem acolher todas as crianças independentemente das suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou outras”. (Declaração de Salamanca, 1994, p. 6). “O princípio da inclusão apela (…) que tenha em atenção a criança - todo, não só a criança – aluno, e que, por conseguinte, respeite os três níveis de desenvolvimento essenciais – académico, sócio emocional e pessoal - por forma a proporcionar-lhe uma educação apropriada, orientada para a maximização do seu potencial.” (Correia, 2008b, p. 9). Elaborando sobre estudos de Sailor, Morgado (2001) e Correia, (2005) consideram que a inclusão apresenta uma base conceptual constituída por seis componentes:i)todos os alunos devem ser educados nas escolas da sua residência;ii) a percentagem de alunos com NEE, em cada escola/classe deve ser representativa da sua prevalência;iii) as escolas devem reger-se pelo princípio da rejeição “zero”;iv) os alunos com NEE devem ser educados em escolas regulares, em ambientes apropriados à sua idade e nível de ensino;v) o ensino em cooperação e a tutoria de pares são métodos de ensino preferenciais;vi) os apoios dados pelos serviços de educação especial não são da exclusividade dos alunos com NEE. Denote-se que a noção de entreajuda e cooperação é fundamental no âmbito da escola inclusiva, consagra o encorajamento a docentes e discentes a fomentarem ambientes -110- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo IV- Evolução das perspectivas sobre a educação das crianças com necessidades educativas especiais] positivos de confiança e respeito mútuos, que levem a um ensino-aprendizagem de qualidade. É também uma escola onde pais, profissionais e a comunidade em geral têm que trabalhar em colaboração, partilhando decisões, recursos e opiniões. Uma escola inclusiva é, deste modo, uma escola que vai potenciar a expressão múltipla das culturas de pertença de cada um, é uma escola inter cultural, espaço de intercomunicação das bases simbólicas do pensamento dos alunos, de construção de protocolos de reconhecimento mútuo e de elaboração das bases de interpretação crítica do mundo (Sarmento, 2003). É, sobretudo, uma escola da diversidade cultural, onde a diferença é considerada um benefício e não um problema. Assume que a diversidade dos alunos é um aspecto positivo, que torna mais rica a comunidade escolar. A diversidade é valorizada, tendo por base sentimentos de partilha, participação e amizade.Quando falamos de inclusão é necessário ter em conta três aspectos: a inclusão física, social e académica nas escolas regulares, porque a sua confluência é que permite que o aluno se desenvolva integralmente desenvolvendo o seu potencial. Alguns autores têm procurado definir o que é a escola inclusiva ou referir o que ela implica.e consideram que é necessário melhorar o sistema regular de ensino para uma maior inclusão Acreditam que as áreas chave para o desenvolvimento das escolas de ensino regular são a formação profissional, a liderança, a participação dos alunos, a inspiração e a celebração de êxitos. (Ainscow, 1993; Rose e Florian, 1996; Zigmond & Baker, 1997). Referindo-se à inclusão Arnaíz (1999), considera-a como “ um sistema de valores, de crenças, não é uma acção nem um conjunto de acções“ (p.27). Rodrigues (2000), considera que “é um novo paradigma de escola organizado em conformidade com um conjunto de valores, de respeito, solidariedade e qualidade para todos os alunos” (p.13). -111- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo IV- Evolução das perspectivas sobre a educação das crianças com necessidades educativas especiais] Afirmam Booth, Ainscow, Black Hawkins, Vaughn e Shaw, (2000) que: “a inclusão implica criar uma comunidade segura, aberta, colaboradora e estimulante na qual são todos valorados (…) Trata-se da criação de valores inclusivos, partilhados por toda a comunidade, os estudantes, os professores, os pais e que são transmitidos aos novos membros da escola” (p.45). Mais recentemente a Convenção sobre os direitos das pessoas com deficiência adoptada na Assembleia Geral das Nações Unidas em Nova Iorque, no dia 13 de Dezembro de 2006, foi alvo em Portugal das resoluções da Assembleia da República nº56/2009 e nº57/2009, que aprovam essa convenção e respectivo protocolo opcional. Foram ainda publicados os Decretos do Presidente da República nº71/2009 e nº72/2009, que ratificam os referidos documentos. Trata-se de um marco histórico, representando um importante instrumento no reconhecimento e promoção dos direitos humanos das pessoas com deficiência e na proibição da discriminação contra estas pessoas em todas as áreas da vida, ao mesmo tempo que responsabiliza toda a sociedade na criação de condições que garantam os direitos fundamentais das pessoas com deficiência. (SNR, 2011). “La Convención sobre los derechos de las personas con discapacidad supone una victoria para la humanidad, que viene a reforzar esos ideales, convencidos de que una sociedad inclusiva y plural es una sociedad más justa y solidaria”. (López Risco, 2009) No seu artigo 24 a Convenção afirma como um direito do ser humano o acesso à educação à igualdade de oportunidades e à não discriminação Esta legislação transforma-se numa esperança para as pessoas com deficiência e suas famílias que sabem no entanto que o principal problema está na distância existente entre a legislação e a realidade, o que faz com que a educação inclusiva seja mais uma -112- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo IV- Evolução das perspectivas sobre a educação das crianças com necessidades educativas especiais] aspiração do que uma prática consolidada. (López Risco, Rodríguez Jiménez, González Hermosell, Merchán Romero (2012). Na Declaração de Lisboa (2009) jovens de 29 países afirmam reconhecer muitas vantagens na educação inclusiva, quer para as pessoas com deficiência quer para as outras que com elas interagem. Salientamos sobre esta temática a afirmação de Lopéz Risco et al (2012): “Por nuestra parte, estamos convencidos de que la inclusión educativa favorece el desarrollo de no sólo los derechos de los alumnos con discapacidad o en desventaja, sino además, de un manera más amplia propiciará la agilización de los cambios culturales y de valores en el sistema educativo y en la comunidad en general.” (p:142). Greven (2009) reafirma a ideia de que a escola inclusiva sendo boa para os alunos com necessidades educativas especiais, naturalmente será também para todos os outros. Preconiza a transformação das escolas especiais em centros de recursos e a existência de serviços de apoio nas escolas, que favoreçam a permanência dos alunos com NEE. Ao memso tempo manifestou preocupação em relação aos modelos de financiamento, afirmando que os mais descentralizados facilitam a implementação prática da inclusão. Muitas outras considerações poderiam ser aqui feitas sobre a escola inclusiva, mas consideramos fundamental inventariar agora alguns dos factores facilitadores de inclusão. Segundo Sprinthall & Sprinthall (1993), as atitudes dos professores do ensino regular constituem um dos factores de relevo para a integração dos alunos com necessidades educativas especiais. Atitudes que passam por saber trabalhar em equipa, em cooperação com outros actores, sobretudo pela aceitação da diferença, favorecem a inclusão. Atitudes de receio, de resistência, de insegurança, dificultam-na. -113- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo IV- Evolução das perspectivas sobre a educação das crianças com necessidades educativas especiais] Na opinião de Vieira (1995) as atitudes de receio dos professores do ensino regular devem-se ao facto de estes não se sentirem devidamente preparados para trabalhar com os alunos com necessidades educativas especiais mencionando ainda como factores facilitadores da inclusão: a organização da escola; a planificação e gestão da prática pedagógica. Opinião idêntica manifestaram Siegel e Jausovec (1994), com base num estudo realizado o Novo México, Estados Unidos da América, concluindo que a formação contínua contribuía consideravelmente para uma melhoria de atitude para com os alunos com necessidades educativas especiais e até para o modo como os professores passavam a perspectivar a inclusão. Também Bergren (1997) a respeito das atitudes dos professores do ensino regular para com a inclusão, concluiu da investigação que realizou em Illinois (E.U.A.), que: os professores pensavam que a inclusão era socialmente benéfica para estes e para os outros alunos, embora mostrassem muitas reservas relativamente ao aproveitamento escolar dos alunos com necessidades educativas especiais; os professores relacionavam essas atitudes de reserva com a falta de preparação que sentiam. Boer et al (2011) numa revisão efectuada a 26 estudos, apresentam como comum a todos o reconhecimento por parte dos docentes da sua incapacidade para trabalharem com alunos com NEE. Outros estudos mais recentes (Doulkeridou et al, 2011; Hwang & Evans, 2011) também confirmaram a importância das atitudes dos professores na inclusão dos alunos com NEE, salientando que os professores do ensino regular têm atitudes mais positivas do -114- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo IV- Evolução das perspectivas sobre a educação das crianças com necessidades educativas especiais] que negativas face à inclusão mas que continuam a ser resistentes no que diz respeito à aceitação destes alunos na sua sala de aula. Muitas destas constatações remetem-nos para a formação, nomeadamente para a formação contínua dos professores do ensino regular. De facto, a inclusão de um aluno com necessidades educativas especiais na escola regular passa, também, por determinadas competências que os professores têm de desempenhar e de saber fazêlo, sob pena de resistirem, ou de se sentirem incapazes de dar uma resposta adequada a esse aluno. Para os diferentes autores que se têm debruçado sobre a problemática da inclusão, a formação dos professores do ensino regular é uma questão fundamental, quando não prioritária. A este propósito, diz Glat (1995) que, uma das principais dificuldades à inclusão é, sem dúvida a falta de preparação dos profissionais para receber esses alunos na sua sala de aula. Uma das principais dificuldades na implementação de uma política de inclusão, reside no facto de os professores não se sentirem preparados a nível pedagógico e, por outro lado, não sentirem ainda que os alunos com necessidades educativas especiais são também da sua responsabilidade (Ainscow 1998). Para Mazzotta (1996), um dos problemas que se levanta à inclusão prende-se também com a avaliação das necessidades educativas, o que corresponde à opinião de Bairrão et al. (1998). Autores como Bénard da Costa (1996), Niza (1996) e Ainscow (1998), entre outros, referem que as grandes dificuldades relativamente à inclusão se explicam, em grande parte, pelo facto de os professores e a escola, na sua globalidade, quererem definir necessidades especiais, centrando a sua intervenção com os alunos em função dessas -115- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo IV- Evolução das perspectivas sobre a educação das crianças com necessidades educativas especiais] necessidades. Na opinião destes autores a intervenção orientada para o currículo perspectiva a prática pedagógica do professor em função de todos os alunos, respeitando a individualidade própria de cada um, pondo em causa na opinião de Niza (1996), o conceito de necessidades educativas especiais e de dificuldades de aprendizagem, na medida em que apela à diferenciação pedagógica centrada na cooperação, deixando de se centrar na problemática do aluno. A prática pedagógica que assenta no currículo e na cooperação elege a diferenciação pedagógica como princípio de intervenção, facilitando a integração e inclusão de alunos com NEE. Por outro lado, apelando à cooperação, elege as inter-relações que devem estabelecer-se entre os alunos, os professores, os pais e a comunidade onde a escola se insere, ou seja, entre todos os intervenientes que interferem em qualquer processo educativo, sobretudo se estamos perante alunos com qualquer tipo de problemática. Relativamente à organização da escola, salienta-se como fundamental a colaboração entre os diferentes intervenientes, as atitudes da escola relativamente à inovação e a sua capacidade de dar resposta aos problemas, a formação contínua dos professores, o apoio da educação especial e de equipas multidisciplinares, o apoio da direcção da escola e dos outros professores aos seus colegas que têm alunos integrados e a redução do número de alunos por turma, são também factores relevantes para o processo e o sucesso da inclusão. No que diz respeito à prática pedagógica salientamos o ambiente de aprendizagem que se cria, a programação das actividades em função das necessidades dos alunos e o modo como a classe se organiza. A inclusão exige, pois, mudanças. A nível das atitudes e da prática pedagógica dos professores, a nível da organização e gestão da sala de aula e da própria escola, a nível da sua própria postura enquanto instituição. Uma escola que inclui não acontece por -116- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo IV- Evolução das perspectivas sobre a educação das crianças com necessidades educativas especiais] acaso, independentemente da vontade dos professores e dos outros intervenientes. Incluir depende de vontades políticas, mas depende também das respostas adequadas que a comunidade e a escola como subsistema da comunidade souberem dar. Todas as iniciativas que foram abordadas bem como, os esforços legislativos implementados por várias nações e organismos, tornaram a inclusão de alunos com NEE no ensino regular uma realidade. No entanto e tal como nos referem Becerra, Montanero, Lucero e González (2008) é ainda importante para a afirmação do direito à igualdade de oportunidades das pessoas com deficiências , a adopção de medidas de acção positiva, orientadas para compensar as desvantagens , de forma a que possam participar activamente em todas as fases da vida ,de acordo com os princípios de normalização e autodeterminação. Para que se vão retirando as pedras do caminho rumo à inclusão é necessário saber o que é uma escola de qualidade e quais as dificuldades dos professores para promoverem uma verdadeira escola inclusiva. 4.1. A qualidade na educação e a inclusão dos alunos com NEE Incluir os alunos com NEE numa sala de aula, é construir uma oportunidade de acesso a uma educação de qualidade quer para eles quer para os seus colegas sem dificuldades. Este princípio que defendemos assenta no pressuposto de que a heterogeneidade e a diversidade são um valor e nunca um obstáculo. Poderá mesmo tornar-se motor de uma nova geração mais justa, mais solidária mais verdadeira. -117- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo IV- Evolução das perspectivas sobre a educação das crianças com necessidades educativas especiais] Ainscow (1991) ao falar sobre a escola inclusiva, associa este “apreender juntos” à qualidade na escola, nomeadamente ao trabalho efectuado pelo professor na sala de aula. Morgado (2004), refere-se a um conjunto de critérios que poderão identificar uma escola de qualidade dos quais destacamos: Potenciar o desenvolvimento das capacidades dos alunos ao nível cognitivo, social, afectivo, estético e moral; Estimular a participação e a satisfação de todos; Promover o desenvolvimento profissional e a satisfação dos professores; Prestar atenção às características individuais dos alunos e ao meio sócio cultural de onde são provenientes (p.12). O mesmo autor inventaria um conjunto de factores contributivos para a qualidade na escola: existência de projecto e objectivos partilhados; liderança; ambiente favorável de aprendizagem; expectativas elevadas; processo de ensino aprendizagem organizado e diferenciado; regulação do processo de ensino aprendizagem; direitos e responsabilidades dos alunos; apoio ao desenvolvimento profissional dos professores; cooperação escola família. No quadro 7, procuramos sintetizar como seria o processo possível de funcionamento das escolas de qualidade. Processo Liderança eficaz Ensino eficaz Desenvolvimento e manutenção de um permanente enfoque na aprendizagem Existência de uma cultura escolar positiva Promover expectativas elevadas e adequadas para todos Reforçar os direitos e os deveres dos alunos Monitorização do progresso a todos os níveis Desenvolvimento das competências dos professores Envolvimento dos pais/encarregados de educação Componentes do Processo Firmeza; objectividade; Envolvimento dos outros; Liderança no ensino; Monitorização pessoal e regular Optimização na gestão do tempo; Boa organização do trabalho dos alunos; Utilização de metodologias adequadas; Adaptação das Praticas às particularidades da sala de aula Enfoque na actividade escolar; optimização do tempo de Aprendizagem Abordagens partilhadas; ambiente organizado; utilização de reforços positivos Alunos; professores; pais/encarregados de educação Responsabilidades/direitos Escola; sala de aula; aluno Sediados na escola; integrados em processos de formação contínua Promoção de interacções positivas e produtivas; amortecimento de expectativas negativas Adaptado de Morgado, (2004) Quadro 7: Processo de funcionamento das escolas eficazes e de qualidade -118- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo IV- Evolução das perspectivas sobre a educação das crianças com necessidades educativas especiais] Muitos aspectos poderiam ser salientados na temática das escolas de qualidade. Queremos no entanto centrar a nossa atenção neste momento, na problemática dos professores. Em contextos educativos é importante que as mudanças se façam com os professores, isto é com o envolvimento e empenho destes profissionais. Os processos de mudança têm que envolver as funções do professor, o seu desenvolvimento profissional, considerar a dimensão pessoal, as variáveis do contexto e a sua cultura enquanto grupo profissional (Fullan & Hargreaves, 1993). Segundo os mesmos autores, a atitude e desenvolvimento profissional dos professores dependem também da fase em que estão na sua carreira, parecendo verificar-se que os professores mais experientes tendem a evidenciar maior resistência à mudança. Por outro lado, Huberman (2000) entre outros autores (Leite, 1997), referem que a atitude e desempenho dos professores se modificam ao longo da sua carreira. Apresentamos no quadro 8, as conclusões do estudo de Huberman (2000), e que incide sobre as várias etapas do desenvolvimento da carreira dos professores e os seus traços dominantes: Anos de Etapa Fases experiência 1 1-3 2 4-6 3 7-25 4 25-35 5 35-40 O início: Choque com o real. Sobrevivência e descoberta Estabilidade: Segurança; entusiasmo; maturidade. Maior interesse a nível pedagógico Divergência Positiva: empenhamento, entusiasmo ou Divergência Negativa: descrença, rotina, crise existencial Serenidade: reflexão, satisfação pessoal, conservantista Renovação do Interesse: retoma do entusiasmo ou Desencanto: desinvestimento e saturação ( tranquilo ou amargo) Adaptado de Huberman (2000) Quadro 8: Etapas do desenvolvimento da carreira dos professores Estes ciclos na carreira docente relacionam-se com as experiências pelas quais os professores passam a nível de: capacidades, conhecimentos e comportamentos -119- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo IV- Evolução das perspectivas sobre a educação das crianças com necessidades educativas especiais] profissionais, métodos de ensino, estratégias, etc; atitudes e perspectivas, imagem do ensino, maturidade profissional; acontecimentos profissionais, mudanças de escola. Não poderíamos terminar esta pequena abordagem às questões da qualidade na escola sem tocarmos num ponto essencial: a colaboração/cooperação entre professores. Muitos esforços têm sido feitos pelos sistemas educativos actuais, no sentido de encorajar os professores a trabalharem em colaboração, quebrando progressivamente com concepções que entendem o ensino como “um acto solitário”. Muitos têm tentado introduzir nas escolas a cultura da cooperação e da partilha, da participação activa e solidária de todos os membros da comunidade educativa. “O ensino cooperativo, a colaboração entre professores, entre professores do ensino regular ou entre estes e os docentes de apoios educativos, pode assumir múltiplas facetas, mas, de uma forma ou de outra, a preocupação de fundo é sempre a de trabalhando em conjunto, os adultos proporcionarem melhores condições de aprendizagem para todos” (Ramos Leitão , 2006, p.112). Consideramos importante salientar que esta colaboração e reflexão partilhadas terão que estar assentes em processos permanentes de investigação, para que esta vá produzindo inovação e regulando as práticas dos profissionais. “a qualidade e a eficácia da cooperação entre os profissionais traduz-se na definição e distribuição de responsabilidades, no estabelecimento e aceitação de processos de tomada de decisão, na partilha , na utilização de recursos disponíveis e na definição de dispositivos de avaliação do trabalho realizado”( Morgado, 2003a ,p.44) Muito fica por dizer dada a complexidade desta área bem como as diferentes componentes que a enformam. Procurámos mostrar a relação existente entre a escola inclusiva e a qualidade da escola. Concluimos referindo Ainscow (1991), quando nos diz que para promover escolas com mais qualidade e portanto mais inclusivas, será -120- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo IV- Evolução das perspectivas sobre a educação das crianças com necessidades educativas especiais] obrigatório fornecer aos professores programas de promoção e reestruturação da sua formação que lhes permitam ganhar mais e melhores competências na organização e gestão da sala de aula. Assim no ponto seguinte falaremos um pouco da importância da formação dos professores na construção da escola inclusiva. -121- CAPÍTULO V. A FORMAÇÃO INCLUSIVA E A MUDANÇA “Ao (re) significar a sua prática pedagógica para a diversidade, o professor estará comprometido com os princípios da Educação Inclusiva e do seu papel como profissional da educação”. (Burigo, 2002) 1. Teorias sobre a mudança nos professores Se há cerca de quinhentos anos Camões considerava a mudança como fundamental, o que diremos hoje onde tudo muda a uma velocidade assustadora. Muda a vida, a sociedade, os seus princípios e valores, a família, os alunos. e a escola e os professores? Mudança e Inovação, embora com significados diferentes, estão intrinsecamente relacionadas. A mudança normalmente ocorre resultante da inovação. De acordo com Spence e Keogh (1996) “a mudança é sempre uma modificação do que já existe, para que mesmo com alterações enormes, continue a haver continuidade. Assim se fornece uma base de estabilidade para a sociedade, mas sem estagnação “ A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo V- A formação inclusiva e a mudança] (p.15). O mesmo autor refere “Uma inovação pode ser algo que nunca tenha existido, ou que é novo para nós ou que é capaz de provocar um novo uso” (p.25). Na mesma linha, Huberman (1973) considera a mudança algo de espontâneo, enquanto a inovação é uma mudança deliberada, voluntária e planificada. Patrício (1988) refere: “Inovação não parece ser, todavia, uma mudança qualquer, mas a produção intencional e, num certo sentido, consciente da novidade por um produtor humano, individual ou colectivo” (p.7). Já Landsheere (1974) distinguiu entre inovação essencial, resultante de uma tomada de decisão que implica uma alteração dos objectivos da educação e inovação contingente, resultante da introdução de uma modificação na educação, não implicando modificação de objectivos educacionais. Para que as inovações no ensino se possam concretizar, os professores terão de estar abertos e receptivos à mudança (Cardoso,2004). Inovar e mudar parece ser um processo complexo, exigindo dos participantes reflexão e participação activa. Para alguns autores, inovar é correr riscos profissionais mas também pessoais” (ibidem, 2004). Também Milstein (1993), sugere que a mudança significa perda, destabilização e incerteza. Assim mudar exige assumir um risco que levará os professores a aprender novas competências. A mudança é percepcionada como a possibilidade de perder alguma coisa, o que cria e gera dor e resistência, criando um ambiente de medo, ansiedade e frustração. A maioria das alterações existentes numa escola as mudanças de crenças dos professores sobre educação e a implementação de novas estratégias de ensino. Patterson (1997) afirma que a mudança sistémica só acontece quando as pessoas -124- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo V- A formação inclusiva e a mudança] dentro da escola mudam as suas práticas de ensino. Richardson e Placier (2001), referem-se a mudança voluntária ou naturalista, enfatizando o seu carácter eminentemente individual, mas integrando-a num sistema complexo de processos de mudança que se relacionam entre si. Morin (2002), realça com particular ênfase, aspectos associados à multidimensionalidade, às interacções não-lineares, à sensibilidade aos contextos e à auto-organização. De acordo com Cardoso (2004), estudos recentes de investigadores da universidade do Texas, evidenciaram a existência de fases (stages) de preocupação dos professores face às mudanças. Estas fases surgem num modelo de adopção baseado em preocupações. Este modelo assenta em três princípios fundamentais: O primeiro considera que a mudança educativa é um processo e não um fenómeno isolado (a mudança exige tempo, desenrola-se por etapas e implica um trabalho de colaboração com outros intervenientes no processo educativo. O segundo indica que o indivíduo deve ser o alvo preferencial das intervenções (a mudança obriga a um trabalho pessoal com o professor, por forma a fazê-lo compreender o seu papel na mudança). O terceiro princípio considera a mudança como uma experiência pessoal (deve dar-se relevância à forma como os implicados sentem essa mudança, à sua motivação e grau de satisfação). Para além destes princípios o modelo assenta num conjunto de fases pelas quais parecem passar os professores, a partir do momento em que são confrontados com a mudança: na fase um ou tomada de consciência (awareness), o professor tem pouca consciência da inovação e por isso não se preocupa muito com ela; na fase dois ou fase -125- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo V- A formação inclusiva e a mudança] da informação (informational) o docente ainda não se sente envolvido mas mostra algum interesse por saber alguma coisa sobre o assunto; na terceira ou fase da implicação pessoal, o professor começa a interrogar-se sobre como o modo da inovação ou mudança o poderão afectar. É a fase em que a mudança pode ser encarada como uma ameaça pessoal. Nesta fase é importante que sejam criados mecanismos institucionais de apoio, capazes de responder em tempo útil às preocupações do professor. Na fase quatro a da reorganização/gestão prática (management) os professores já ultrapassaram a fase anterior e a sua atenção está agora na reorganização dos processos e tarefas referentes ao que é preciso mudar. Na quinta fase, ou da avaliação das consequências (consequentes) o professor fica preocupado com o impacto da mudança nos alunos. Aqui o docente já está empenhado na inovação e essa atitude irá ter consequências nas fases seguintes. Chegámos à sexta fase, a da colaboração (collaboration) onde o professor fica preocupado com a cooperação entre todos os colegas, com vista à inovação que trará a tão agora ansiada mudança. Na sétima e última fase, a da reavaliação ou reajustamento (refocusing) o professor avalia a inovação e interessa-se pelas mudanças que ela pode trazer e inclusivamente pondera reajustamentos e inovações para a mudança agora produzida. Para nós inovação e mudança na formação de professores, centra-se na temática da formação inclusiva, que permita aos docentes acolher nas escolas todas as crianças independentemente das suas características. É fundamental que neste processo haja o -126- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo V- A formação inclusiva e a mudança] envolvimento pessoal dos docentes. Nesta época a formação dos docentes, determina um desenvolvimento profissional diferenciado. Esta formação terá que visar a aquisição de competências comunicativas e habilidades cognitivas e instrumentais, bem como contribuir para a modificação de atitudes e valores. Importa neste momento que o docente se comprometa com a sua função social de viabilizar a transformação do agora existente: uma escola que segrega os que são diferentes, em vez de enriquecer e crescer com essa diferença. 2. O professor como agente de mudança Pensar numa escola inclusiva permite-nos reflectir sobre a escola que temos e a escola que queremos. Sobre a importância do professor como agente de mudança. Ao longo do tempo a nossa identidade profissional de professor foi sendo remodelada e reformulada, de acordo com o contexto político e social em que a escola estava inserida. A relação entre o professor o aluno e os conhecimentos sofreram também diversas mudanças ao longo dos tempos. A escola durante muito tempo foi vista como sendo o lugar em que se ensina e o lugar em que se aprende e o professor por sua vez, seria aquele que teria todo o poder (a autoridade) sobre este conhecimento que seria transmitido aos seus alunos. Ao professor cabia a função de ser o agente do sistema de conservação desse conhecimento (herança cultural) e não de transformação do mesmo, o professor é visto como sujeito que controla o processo de aprendizagem dos alunos. -127- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo V- A formação inclusiva e a mudança] Sabemos que esta não é hoje a nossa realidade. Temos diversos recursos que nos proporcionam o acesso à informação e ao conhecimento além das paredes da escola. Hoje o professor é visto como agente de transformação. Um professor mais reflexivo e investigativo, não pode colocar-se como um professor resistente a todas essas mudanças. Sabemos que é necessário ao professor ser capaz de estabelecer uma parceria com seus alunos. De acordo com Caetano (2004), nos estudos sobre a mudança, um tema particularmente relevante é “a ideia do professor como agente de mudança - mudança em si, mudança dos alunos, das organizações escolares, da própria profissionalidade, do ensino” (p.30). O professor terá o papel central na mudança educacional, ao mesmo tempo que desenvolve a sua própria capacidade de mudar. Elliott-Kemp e Elliott-Kemp (1992) consideraram que qualquer professor se pode transformar em agente de mudança. Definiram um perfil comportamental dos agentes de mudança baseado num modelo conceptual do qual fazem parte de forma interligada quatro elementos: a consciência, a competência, a determinação e o feedback. Para Fullan (1993), existem quatro capacidades para que um professor se transforme em agente de mudança: capacidade de construção de uma visão estratégica pessoal; capacidade de ser curioso e de ser um inquieto intelectualmente; capacidade de atingir um desempenho eficaz; capacidade de colaboração. O autor considera ainda que o desenvolvimento individual deve ser trabalhado desenvolvimento institucional. -128- ao mesmo tempo que o A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo V- A formação inclusiva e a mudança] Nesta profissão é preciso ter uma finalidade pessoal, os professores devem perseguir os seus objectivos e princípios com mais e melhores competências. De acordo com o mesmo autor a génese da mudança surge da dinâmica entre a capacidade de visão estratégica, a capacidade inquiridora e a capacidade de comunicar aquilo que valorizamos. Parece estar a ser redefinido o papel e as responsabilidades do professor. Espera-se de um docente que simultaneamente aprenda e ensine e que se transforme num líder de mudança. O professor deve ser altamente preparado e inquieto com a sociedade que o rodeia; deve procurar novos rumos para educação. Acima de tudo deve ser criativo, uma vez que essa capacidade o estimulará. Esse espírito criativo é o que o fará sobreviver numa sociedade em constante processo de mudança. Autores como Liston e Zeichner (1993) consideram importante que os professores se comprometam politicamente com a construção de uma sociedade democrática, implicando uma preocupação especial com a reconstrução social. Caetano (2004), refere “(…. ) quer nos coloquemos na perspectiva do professor como agente da sua própria mudança, quer como agente de uma mudança social, o conceito que o próprio desenvolve sobre o que é a mudança e a aprendizagem parece ser central” (p.31). Perrenoud (2000), aponta três elementos que em seu entender são fundamentais para a construção de profissionais que assumam a tarefa de desbravar e abrir novos caminhos, construindo com isso uma autonomia individual e uma liderança na gestão de sala de aula. Como profissionais reflexivos, os professores em vez de “receitas” terão que procurar habilidades para identificar, definir, projectar e avaliar os desafios. Se para trabalhar com alunos que apresentam diferentes níveis de desempenho já é necessário desenvolver essas habilidades, mais importante ainda serão essas -129- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo V- A formação inclusiva e a mudança] características diante dos alunos com necessidades educativas especiais incluídos em cada sala de aula. Para os professores a inclusão é uma mudança que surge como uma nova perspectiva que implica rever concepções a respeito da educação, do ensinar e do aprender. Com ela surgem questões sobre o que fazer e como fazer. O professor, é levado a questionar-se sobre os saberes necessários para trabalhar com crianças com necessidades educacionais especiais. Aprender a trabalhar na escola inclusiva e transformar-se em agente de mudança e de construção dessa escola que se quer para todos é um desafio para os docentes e para escola de modo geral, que necessitam criar meios para aprender a trabalhar nessa perspectiva. Assim, o professor, cuja função é ensinar, tem também a necessidade de aprender, pois necessita de adquirir conhecimentos, construir saberes que são fundamentais para desenvolver o seu trabalho. O professor vai aprendendo a ensinar e a enfrentar diversas situações que lhe possibilitam crescer como pessoa e como profissional (Tardif, 2002). 3. A formação dos professores para uma escola inclusiva Com a implementação da filosofia da escola Inclusiva, muitas são as questões que se levantam à escola: os recursos materiais e humanos necessários, a relação escola família, a formação dos professores, o número de alunos por sala, as mudanças a implementar na classe no que toca à organização e à gestão quer da sala de aula, quer -130- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo V- A formação inclusiva e a mudança] do currículo, a legislação, à mudança de atitudes e expectativas envolvidas em todo este processo. Segundo David Rodrigues (2001): “A escola do futuro só pode ser tão boa quanto os seus profissionais. Isto é particularmente verdadeiro quando se trata de escolas inclusivas. Crianças com dificuldades de aprendizagem não conseguem em termos gerais aprender porque não são suficientemente bem ensinadas. Ensiná-las é provavelmente a tarefa profissionalmente mais exigente que se coloca aos seus professores, e não será atingida sem um investimento considerável na educação e desenvolvimento profissional dos professores”(p.88). Para este autor, e no que respeita às escolas inclusivas, importa investir em três áreas cruciais na formação docente: a formação inicial, a formação de professores especializados e a formação contínua. Ao referir-se às Instituições de Ensino Superior, Correia (1999), sublinha que estas “ têm um papel fundamental a desempenhar no que diz respeito aos vários tipos de formação (…) inicial, especializada e contínua” (p.161). Nesta sequência de ideias David Rodrigues (2001), ao nível da formação inicial dos professores, afirma que no contexto de uma educação inclusiva: “ (…) todos os professores necessitam de algum conhecimento sobre deficiências e dificuldades de aprendizagem, algumas competências para o ensino de alunos com NEE e a capacidade para contribuir para a avaliação de alunos com necessidades mais evidentes. Cada vez mais em todo o mundo os sistemas de formação de professores requerem que sejam tratados os temas das NEE por todos os futuros professores. (…) Na Suécia todos os professores em formação têm dez semanas de estudos em educação especial e no Reino Unido todos os estudantes em formação devem adquirir um conjunto de competências sobre estratégias de ensino susceptíveis de intervir e identificar uma gama variada de alunos com NEE” (p. 88). -131- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo V- A formação inclusiva e a mudança] Nno que toca aos cursos de formação inicial é particularmente importante que os professores construam materiais didácticos e “ tenham a oportunidade de visitar escolas, de modo a observar a prática de sala de aula e a realizar tarefas práticas com base em actividades do curso ” (Ainscow, 1998, p. 82). Correia (1999) defende que: “ (…) os cursos de formação inicial das escolas Superiores e Educação do país deverão incluir uma vertente em educação especial (…). Só assim, a nosso ver, é que o professor do ensino regular poderia vir a adquirir um mínimo de aptidões necessárias para lidar com crianças com NEE, ou seja o tipo de formação recebida permitir-lhe-ia identificar os casos em risco e interferir apropriadamente, com ou sem apoio do professor de educação especial. Naturalmente que os casos mais “graves” seriam encaminhados para o professor de educação especial e/ ou para especialistas. Considerando este aspecto, então haverá necessidade de um outro tipo de formação especializada e que deverá ser do tipo pósgraduação” (p. 161). Face a tudo isto a educação inclusiva não elimina a necessidade de professores especializados e a sua formação específica continua a ser imprescindível. Normalmente, a formação especializada tem lugar na carreira de alguns professores, após a formação básica e em alguns casos após alguns anos de serviço em contacto com a realidade da educação especial. Afirma Rodrigues, 2001 que: “ Existe uma multiplicidade de opções para a formação especializada que são por regra pós-graduadas. (…) Um grande número de países, entre os quais se incluem a Finlândia, a Alemanha e a Grécia, clarificaram a formação contínua para professores com prérequisito para disseminar a educação inclusiva” (p.89). Correia (1999), refere um bom programa de formação especializada deve levar o professor a adquirir as seguintes competências: -132- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo V- A formação inclusiva e a mudança] “Possuir capacidades de diagnóstico, prescritivas e de avaliação processual; ter conhecimento dos currículos regulares e ser capaz de identificar, adaptar e implementar currículos alternativos; ter conhecimento aprofundado do tipo de materiais educacionais usados na implementação de programas, bem como de novas tecnologias aplicadas à educação especial; ter o conhecimento de todo o processo de avaliação educacional; perceber o processo administrativo que leva à organização e gestão do ambiente de aprendizagem; ter conhecimento de técnicas escolares de orientação (vocacional) e aconselhamento; ter facilidade nas relações humanas e públicas (contactos com administradores, gestores pais e alunos) ” (p.163). Ainda em relação à formação de professores no âmbito das NEE, o autor supra citado refere ser “crucial que os professores adquiram as aptidões científicas e pedagógicas, para além daquelas adquiridas nos seus cursos de formação inicial, que lhes permitam poder atender às necessidades de todas as crianças que tenham a seu cargo” (p.20). É partindo desta ordem de ideias que David Rodrigues (2001), considera que existem vários tipos de formação contínua, desde os que são organizados, um pouco aleatoriamente, nas escolas até aos estudos superiores como é o caso das pósgraduações. Para este autor, a formação contínua “é um elemento essencial para a educação inclusiva; muitos professores em exercício não possuem as competências ou as atitudes que são requeridas numa perspectiva de educação inclusiva e por isso a formação contínua revela-se de fundamental importância” (p.89). Face a tudo o que foi explanado e, tendo sempre por base o sucesso da inclusão dos alunos com NEE nas escolas do ensino regular, parece-nos evidente que para que este modelo vingue: “ (…) é necessário introduzir nas escolas os novos conhecimentos resultantes da investigação científica, bem como considerar as aplicações práticas adequadas, a fim de se incrementar a eficácia do trabalho do docente e, por conseguinte, a qualidade da -133- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo V- A formação inclusiva e a mudança] educação. (…) Em termos de educação especial, e considerando o caso do nosso país, a formação em exercício deve ser levada a cabo pelas Escolas Superiores de Educação, Universidades e outras instituições e afins e, também, quando se justificar, pelo próprio Ministério da Educação ” (Correia, 1999, p. 162). Perguntas como: “O que é educação? O que ensinar? Como vou fazer para ensinar estas crianças? Qual é a ligação entre a escola e a formação do professor para que adquira mais competências para a sua prática? Que professor a escola inclusiva prevê? Qual a importância que a educação inclusiva ocupa nos cursos de formação de professores? Quais são as acções inclusivas transformadas em práticas pedagógicas? Como (re) pensar e (re) estruturar as práticas pedagógicas? Como atender a essa diversidade? Qual a educação que queremos?”-, são questões que ouvimos diariamente nas escolas por onde passámos. Os docentes sentem que é necessária uma formação contínua, que para além de assentar numa fundamentação teórica necessária, contenha também práticas concretas, que os deixem mais seguros. A educação inclusiva requer mudanças urgentes das teorias, das atitudes e das práticas. Candeias (2005), dizia que é necessário que nos foquemos na formação e na qualificação do professor e de outros técnicos da educação e nos deixemos de tentar “reparar” a criança. 4. A importância da formação contínua na inclusão dos alunos com necessidades educativas especiais Embora a maioria dos professores acredite no conceito de inclusão, tem-se verificado que os professores têm alguns receios em relação a este processo de mudança, especialmente porque sentem que lhes falta formação necessária para ensinar os alunos com NEE (Correia & Martins, 2002). -134- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo V- A formação inclusiva e a mudança] Segundo Porter (1997), ao longo de muito tempo permaneceu a ideia de que os professores de ensino regular não teriam competências técnico-pedagógicas que lhes permitissem trabalhar com alunos com NEE. Também os modelos de organização das escolas com uma cultura individualista, pouco acolhedora das dificuldades dos professores, instalando neles uma atitude isolada de gestão das suas dificuldades e ansiedades não facilitam a mudança e não são resposta de qualidade a culturas de aprendizagem cada vez mais heterogéneas e diversas (Marchesi & Martin 1998). A filosofia da escola inclusiva altera o papel de todos os profissionais de educação. Estes passam a ter um papel muito mais activo no processo de ensino aprendizagem, pelo que devem desenvolver, não só competências que lhes permitam responder às necessidades educativas dos alunos, mas também atitudes positivas em relação à integração e à inclusão (Correia, 1999). Para Porter (1997) esta exigência sobre os professores implica um ajustamento a novos entendimentos sobre o papel e responsabilidade dos professores de ensino regular no que respeita ao apoio aos alunos com dificuldades, às necessidades individuais dos alunos, bem como sobre a sua própria formação como um factor fundamental no desenvolvimento da qualidade na educação. O desenvolvimento dos professores e a sua relação com a mudança educacional implicará necessariamente ajustamentos na profissão, nas instituições que formam professores e nas instituições em que os professores trabalham, as escolas ( Morgado, 2003a). -135- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo V- A formação inclusiva e a mudança] O sucesso da inclusão dependerá do desenvolvimento de programas de formação para professores que promovam a aquisição de novas competências de ensino, que lhes permitam ser mais responsáveis pelas necessidades educativas dos seus alunos e que os tornem mais positivos face à inclusão (Correia, Cabral e Martins, 1999). Os autores referem que os professores adquirem mais competência respondem mais eficazmente às crianças em dificuldades, melhorando assim os resultados da integração, ao mesmo tempo que diminuem as suas necessidades de ajuda doss serviços de educação especial. Para Correia (2003), preparar convenientemente os profissionais para estas novas funções e responsabilidades, exige a implementação de um modelo de formação contínua consistente, planificado e seleccionado de acordo com a filosofia comum definida pela e para a escola. A formação contínua deve ser planeada cuidadosamente e tendo por base uma avaliação das necessidades dos profissionais envolvidos. Esta tipologia de formação deve ser executada no próprio local de trabalho dos professores, através de cursos de média duração, jornadas de trabalho, mesas redondas, ciclos de conferências, colóquios, congressos ou seminários. Batsiou et al (2008), encontra uma relação significativa entre informação/formação dos professores e atitudes facilitadoras da inclusão. Morgado (2003a), identifica como necessidades de formação dos professores na área das necessidades educativas especiais, aspectos como: conceitos em educação especial; problemas de desenvolvimento e implicações socioeducativas; adaptações curriculares; metodologias de intervenção, cooperação interdisciplinar e dinâmica familiar. O autor refere também que o envolvimento em programas de educação -136- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo V- A formação inclusiva e a mudança] inclusiva, bem estruturados e com os recursos adequados, promove nos professores atitudes mais positivas face aos alunos com dificuldades na sua aprendizagem. Alerta ainda para os eventuais efeitos negativos que programas mal estruturados e sem os adequados recursos e dispositivos de apoio podem desencadear. Sanches, (1995), considera que o professor deveria assumir o modelo do professor investigador, não só para quebrar a distância entre teoria e prática, mas também para estes se tornarem práticos da resolução de problemas e desta forma adaptar o ensino às características das crianças. Para Blázquez (1997b), a escola inclusiva parte do pressuposto construtivista de que os alunos têm mais êxito na sua aprendizagem se a aprendizagem for significativa. Então será necessário dar aos futuros professores ferramentas para que sejam capazes de ensinar os alunos partindo da experiência pessoal de cada um, adoptando enfoques contextuais e ecológicos. Perante o que deixamos exposto, parece importante aprofundar o estudo das atitudes dos docentes face à inclusão dos alunos com NEE e tentar compreender qual é a relação existente entre as atitudes que manifestam e as dificuldades que dizem sentir para serem verdadeiramente promotores de uma escola que ainda está a caminho de ser inclusiva. -137- CAPÍTULO VI AS ATITUDES “Quando os ventos de mudança sopram, umas pessoas levantam barreiras, outras constroem moinhos de vento”. (Provérbio Chinês) O conceito de atitude existe na Língua Portuguesa não só como sinónimo de postura, mas também como sinónimo de propósito, norma ou procedimento.No princípio do século existiam duas expressões que pretendiam especificar o conceito de atitude: “atitude motora” e “atitude mental”. O problema do conhecimento das atitudes dos indivíduos põe-se ao nível da importância do seu carácter, quer individual, quer ao nível interpessoal e tem vindo a crescer em termos sociais e políticos. As atitudes positivas face à inclusão, são essenciais em qualquer programa que pretenda ter êxito. As atitudes para cada indivíduo, estão relacionadas com o que ele vê e ouve, o que ele pensa e fala (Allport,1968; Moliner García & Sales 2002; Steele 2003). Dado que parece ter relevância a atitude dos professores na inclusão dos alunos com NEE, vamos neste capítulo procurar fazer uma revisão da literatura sobre esta temática. A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VI- As atitudes] 1. Conceito de atitude De acordo com Allport (1968) “As atitudes são processos mentais individuais, os quais determinam as respostas actuais e potenciais de cada pessoa sobre o mundo social, visto que uma atitude é sempre direccionada para um objecto, ela pode ser definida como estado da mente do individual face a um valor“ (p.62). A literatura relacionada com esta temática (Mortimore, Simmons, Stoll, Lewis, & Ecob, 1988; Tizard, Blatchford, Burke, Farquhar, & Plewis, 1988; Moliner García & Sales 2002; Gerschel, 2003; Snyder, 2010), evidencia a influência das atitudes e expectativas dos professores e a sua implicação no rendimento e na conduta dos alunos com NEE. A investigação nesta área abrange uma diversidade de perspectivas que poderíamos organizar em quatro grupos. Um primeiro grupo inclui os efeitos de rotular os alunos com NEE no ambiente educativo (Siperstein, Budolf & Bak, 1980; Bromfield, Wiz & Messer, 1986; Gottlieb, Corman & Curci, 1986; Jones, 2009). Num segundo grupo e dos estudos mais antigos que se conhecem, enquadram-se as investigações cuja temática é a adaptação social das pessoas com deficiência em contextos inclusivos, perante a avaliação do auto conceito e da sua categoria sociométrica, comparando com o conceito que tinham os estudantes quando estudavam em situação de inclusão (Mayrowitz, 1962; Carrol, 1967). Um terceiro conjunto, procura medir as atitudes dos pares face aos alunos com deficiência (Hoben, 1980; Mchale & Simeonsson, 1980; Johnson & Johnson, 1981; -140- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VI- As atitudes] Miller & Gibbs, 1984; Bak & Siperstein, 1986; Lewis & Lewis, 1988; Shapiro & Morgolis, 1988; Jenkins, Odom & Speltz, 1989, Nikolaraizia, et al., 2005). Por último um quarto grupo de investigadores que fizeram incidir os seus estudos nas atitudes dos professores e nos factores que influenciam a formação das mesmas (Hegarty & Pocklington, 1981; Reynolds, Reynolds & Mark, 1982; Aloia & Macmillan, 1983; Stainback & Stainback 1984; Thomas, 1985, Ladner, 2009). De uma certa forma, qualquer um de nós tem uma ideia mais ou menos aproximada do conceito de “atitudes”. O que é difícil é tentar circunscrever as nossas intuições sobre o que significam as atitudes e os pressupostos que afinam o próprio conceito, distinguindo-o de outros conceitos. Mais difícil se torna ainda tentar estabelecer uma relação entre atitudes e comportamentos observáveis, porque as atitudes não são propriamente uma entidade observável, são sim construções teóricas obtidas indirectamente por deduções lógicas, através de algumas formas de comportamento normalmente verbal. Vamos agora tentar resumir alguns princípios subjacentes à teoria sobre atitudes: As atitudes são fomentadas por estímulos externos. Não são inatas, aprendem-se e vão-se modelando durante a nossa vida: ”As atitudes são processos mentais individuais, que determinam as respostas potenciais e reais de cada pessoa num momento social (Allport, 1935, p.10). -141- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VI- As atitudes] As atitudes implicam juízos avaliativos: “Atitude é uma resposta avaliativa, relativamente estável, em relação a um objecto que tem componentes ou consequências cognitivas afectivas e comportamentais” (Lamberth, 1989, p.27). As atitudes podem comunicar-se: “Combinação de conceitos, informação verbal e emoções, que resultam na predisposição para responder favorável ou desfavoravelmente, face a um grupo de pessoas, ideias, acontecimentos ou objectos (Johnson & Johnson, 1986 p.119). As atitudes levam a pessoa a comportar-se de uma forma determinada: “As atitudes levam a pessoa a comportar-se de uma forma determinada, caracterizando esse comportamento por uma certa coerência lógica e estabilidade temporal, devido a que os indivíduos normalmente organizam as suas atitudes e crenças num sistema interno consistente e estável, que em muitos casos pode ser rígido, como o que é evidenciado pela sua resistência à mudança (Lima, 2004, p.167). As atitudes são construções enquadráveis no sistema cognitivo: “As atitudes são vistas geralmente como predisposições comportamentais adquiridas, introduzidas na análise do comportamento social para dar conta das variações de comportamento em situações aparentemente iguais. Por definição as atitudes não podem ser medidas directamente, mas têm de ser inferidas do comportamento “ (Jaspers, 1986 p.22). As atitudes são complexas e multidimensionais: “Atitude é uma disposição fundamental que intervem, juntamente com outras influências, na determinação de uma diversidade de comportamento face a um objecto ou classe de objectos, as quais incluem declarações de crenças e sentimentos acerca do objecto e acções de aproximação” (Summers, 1982.p.123). -142- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VI- As atitudes] As atitudes são variáveis: “Um conjunto de reacções afectivas para com o objecto da atitude, derivado de conceitos, ou crenças que o sujeito possui acerca desse objecto e predispondo-se a comportar-se de uma certa maneira para com o objecto da atitude” (Shaw & Wright, 1967 p.10). Os indivíduos que mantêm atitudes diferentes face a um objecto diferem nas suas crenças relativamente ao que é verdadeiro ou falso em relação a esse objecto: -“Atitude é um grau de afecto positivo ou negativo associado a algum objecto psicológico” (Thurstone, 1982,p.39). Poderemos dizer que as atitudes são construções teóricas, que se inferem, partindo da observação do comportamento, porque não são só por si observáveis. Por este motivo é tão difícil medi-las. São compostos psíquicos unitários, relativos ao que o indivíduo pensa, sente e faz (García Pastor, 1994). Segundo McGuire (1969), nas atitudes estão contidos três componentes: cognitivo, afectivo e comportamental. No componente cognitivo, incluem-se as opiniões, pensamentos e crenças acerca do objecto de atitude, por exemplo, a inclusão dos alunos com NEE e resulta de uma construção racional do objecto, a partir da ponderação de factos relevantes a seu respeito, sejam eles positivos ou negativos (Aronson, Wilson e Akert,1997). O componente afectivo, reflecte os sentimentos e preferências. O agrado e o desagrado. Esses sentimentos e afectos são com frequência resultado da posição do objecto atitudinal dentro do sistema de valores de cada indivíduo. Para Morissette e Gingras (1989) a atitude faz sobretudo parte do domínio afectivo, assumindo as seguintes dimensões: não são inatas. São adquiridas de acordo com as experiências e as interacções com os outros sujeitos no meio envolvente. Logo que -143- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VI- As atitudes] adquiridas, transformam-se em disposições interiores, que se podem traduzir por respostas ou reacções estáveis, favoráveis ou desfavoráveis, relativamente a certos elementos do meio. Enquanto manifestações observáveis, geram emoções, isto é, respostas ou reacções emotivas internas, sejam positivas ou negativas. Estão relacionadas com os afectos e assim dizem respeito ao estado de prazer ou desprazer, disposição efectiva elementar de aproximação ou de afastamento perante uma situação ou um sujeito. O componente comportamental, verifica-se na reacção que o indivíduo manifesta na presença do objecto atitudinal. Pode definir-se como a preparação, orientação ou predisposição para actuar. Poderíamos dizer que a componente comportamental será a reacção aberta (visível), que o indivíduo manifesta na presença do referente. Segundo Triandis, Adamopoulos e Brinberg (1986), as respostas que o sujeito dá perante o objecto da atitude, pode categorizar-se em função de três parâmetros: intensidade que inclui comportamentos de subordinação (ex: aceitar, pedir ajuda) ou insubordinação (ex: criticar); avaliação: contempla comportamentos de fuga (ex: escusa de contacto, ou associação/cooperação) e actividade que está associada a comportamentos, quer de agressão aberta quer de agressão encoberta ( ex: desprezo). Normalmente são usadas escalas de distanciamento social ou observação directa, em contextos experimentais e naturais, para avaliar a componente comportamental das atitudes. Conscientes de que não existem definições completas sobre esta temática, vamos apresentar de seguida um quadro resumo com definições de vários autores, desde 1950 -144- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VI- As atitudes] (embora se conheçam definições desde 1932), que se debruçaram sobre o tema, partilhando a opinião de Allport (1935), quando este diz que é mais fácil medir as atitudes do que defini-las. De seguida podemos ver no quadro, 9 o resumo de definições de atitudes. Ano Autor 1954 Allport 1960 Rosenberg J.Hovland 1971 Triandis 1982 Rajecki 1988 Ajzen 1989 Lamberth 1997 Aronson Wilson e Akert 2000 Marques 2008 Monteiro Definição “A atitude é um estado mental, ou neuronal, organizado através de experiências, que exerce uma influência directa e ou dinâmica, sobre a resposta do indivíduo a todos os objectos e situações com os que está relacionado” (p.451). “As atitudes são predisposições a responder de uma determinada forma face a uma classe específica de objectos”(p.1). “Atitude é uma ideia prevista de uma carga emocional que predispõe a uma série de acções perante um determinado tipo de situações sociais (p.2). As atitudes implicam juízos avaliativos que a pessoa efectua através de uma avaliação prévia e deliberada de objectos de atitude. Não se limitam a perceber o objecto e efectuar uma descrição narrativa do mesmo. “Atitude é uma predisposição para responder de forma favorável ou desfavorável a um objecto, pessoa, instituição ou acontecimento (p.4) “Atitudes é uma resposta avaliativa , relativamente estável, em relação a um objecto, que tem componentes e consequências cognitivas, afectivas e provavelmente comportamentais (p.217) São constructos hipotéticos que, nesse caso, permitem a integração conceptual de três dimensões que formam uma estrutura relativamente estável: a dimensão cognitiva , afectiva e comportamental A atitude poderá ser definida como a posição ou comportamento que revela uma maneira de estar com os outros e de se posicionar perante as outras pessoas. Um conceito estável, que se perspetiva enquanto um sistema de avaliações positivas ou negativas, o que permite, deste modo, predizer a reação do sujeito em condições conhecidas. Quadro 9: Resumo de definições de atitudes Como podemos verificar muito teóricos ficaram-se por uma definição restritiva do conceito de atitude. Uns realçam a componente cognitiva, outros a afectiva ou social, outros entendem-na como algo que não se pode separar e outros como um conceito que engloba diferentes componentes, como por exemplo Triandis (1971), “uma ideia carregada de emoção, que predispõe um conjunto de acções a um conjunto particular de situações sociais” (p.2). Como verificamos pelas definições citadas, a definição mais aceite sobre as atitudes é aquela que contem a perspectiva das componentes. Das definições revistas aceitamos -145- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VI- As atitudes] que a base para conceptualizar o conteúdo de uma atitude é a sua estrutura categorial, sendo constituída pelas três componentes já atrás referidas.Neste modelo das três componentes é postulada a inter relação entre as várias categorias de resposta atitudinal, onde a medição das atitudes corresponde à avaliação de um destes tipos de resposta atitudinal. De acordo com Lima (2004), pode-se afirmar que as atitudes não nascem de um vazio social, antes pelo contrário, são fruto da interacção social, de processos de comparação, diferenciação social, que possibilitam ao indivíduo situar-se face aos outros num determinado momento. Assim, encontra-se por um lado, semelhanças nas atitudes dos indivíduos que pertencem ao mesmo grupo e, por outro, uma evolução das posições individuais e grupais ao longo do tempo. Este autor ainda refere que, apesar de existirem divergências no conceito de atitude é possível encontrar alguns aspectos em comum, tais como: as atitudes são a expressão de experiências subjectivas, têm um carácter apreendido e são susceptíveis de mudança; as atitudes referem-se a um objecto, ou seja, uma atitude face a qualquer coisa; as atitudes incluem sempre uma dimensão avaliativa, isto é, uma atitude traduz sempre uma posição face a um objecto, que pode ser exprimida por gosto/não gosto, concordo/discordo;as atitudes não são observáveis directamente, mas podem ser inferidas a partir das respostas dadas pelos indivíduos. Deste modo, poder-se-á dizer que, as atitudes constituem-se como um constructo directamente relacionado com os aspectos comportamentais e cognitivos e, referem-se a um sentimento pró ou contra um determinado objecto atitudinal, que pode ser uma pessoa, um acontecimento social, ou qualquer outro produto da actividade humana. -146- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VI- As atitudes] 2. Formação das atitudes A diversidade de abordagens e definições do conceito de atitude, reflecte-se também numa diversidade de perspectivas teóricas sobre o processo de formação das atitudes. Segundo Ferreira (1994), será possível conjugar as explicações hereditárias e ambientalistas na investigação sobre o processo de formação de atitudes. Este autor refere ainda a existência de contributos não apreendidos, ou seja, de características genéticas e fisiológicas na formação de atitudes, embora lhes atribua uma menor importância enquanto elementos no processo de formação de atitudes. Por sua vez Lima (2004), afirma que, apesar das várias “fontes de influência” referidas por diversos autores, as respectivas investigações inclinam-se para o carácter apreendido das atitudes. Este autor salienta ainda que se podem considerar duas grandes linhas teóricas que explicam o processo de formação de atitudes: uma centrada nos processos cognitivos e que remete o problema da formação para a questão da aquisição de crenças e outra, que analisa este processo, enquanto processo afectivo, sem necessidade de um suporte racional. A perspectiva cognitivista afirma que as atitudes dos indivíduos, face a determinados objectos, são a informação que estes possuem sobre o mesmo, ou seja, as suas crenças acerca desse mesmo objecto. A segunda perspectiva teórica, parte de pressupostos menos racionais e liga a formação de atitudes a experiências emocionais. Assim, de acordo com uma perspectiva mais centrada na componente afectiva das atitudes, propõe o que designou -147- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VI- As atitudes] por “efeito da mera exposição” para descrever o facto de ao expor repetidamente os indivíduos a um mesmo estímulo, melhorar a atitude face a esse estímulo. Desta forma, demonstra que a familiaridade do estímulo pode ser considerada como factor responsável pelo aparecimento de sentimentos positivos face a um objecto inicial neutro, ou seja, pode alterar o posicionamento de um indivíduo face a um determinado objecto. Outro processo importante na formação das atitudes, nesta perspectiva, é o condicionamento clássico, que consiste no facto de um estímulo anteriormente neutro se pode tornar positivo ou negativo por ter sido colocado em contacto com outro estímulo, que previamente já provocara essa resposta emocional. O condicionamento poderá, também, ser obtido por observação da experiência de terceiros, ou ainda, por reforço ou punição, conforme a resposta ao estímulo é desejado ou não. Neste caso, o condicionamento dir-se-á instrumental. Dada a complexidade e extensão deste tema bem como aos inúmeros trabalhos de investigação que se debruçaram sobre a formação das atitudes optamos por abordar aqui só os aspectos relacionados com a problemática das atitudes para com as crianças com NEE. Um estudo realizado por Navas et al., (2004), que tinha como objectivo identificar as variáveis predictoras das atitudes dos alunos face à integração de alunos com NEE no Ensino Regular, chegou às seguintes conclusões: as atitudes dos alunos ditos “normais” face à integração, parecem depender mais dos pais; as atitudes dos estudantes “normais” face à integração, não podem predizer-se a partir das atitudes dos pares face -148- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VI- As atitudes] a esta temática, nem do conhecimento mútuo de companheiros com NEE, têm mais em linha de conta a opinião dos pais; as raparigas que estudam no secundário ou universidades e que falam com os seus pais sobre os colegas com NEE e cujos pais aceitam a integração, mostram atitudes mais favoráveis; os rapazes que estudam no secundário ou universidades e que falam pouco com os pais acerca dos seus colegas com NEE e que referem que os seus pais não aceitam a integração, mostram atitudes mais negativas; Parece aqui ser importante chamar a atenção do papel desempenhado pelos pais na formação das atitudes. Trindade (1996), chegou à conclusão que as atitudes são moldadas na interacção do sujeito com o ambiente em que vive. Argumenta McGuire (1969), num modelo complexo, que as atitudes são formadas por cinco factores: hereditários; psicológicos; influências parentais; experiências tanto directas como indirectas com os objectos da atitude e comunicação social. No que se refere ao papel das experiências directas na formação das atitudes, Gottlieb Corman e Curci, (1986) referem que o facto de existir uma oportunidade para o contacto frequente com o mesmo estímulo, está relacionado com a geração de atitudes positivas ou negativas. Enquanto um contacto breve pode fortalecer a atitude inicial, isto é, se uma pessoa tem atitudes inicialmente hostis é provável que estes breves contactos as convertam em mais hostis e se tem atitudes favoráveis provavelmente converter-se-ão em mais favoráveis. Por outro lado as interacções a longo prazo, segundo McGuire (1969), produzem um efeito geral positivo face às atitudes. As experiências indirectas, aquelas em que o sujeito não tem participação activa, podem representar tanto a formação como a modificação das atitudes. Dependerá provavelmente de factores tais como: a forma e o conteúdo da mensagem, o grau de atenção do sujeito, o modo de apresentação, o nível -149- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VI- As atitudes] motivacional e o tipo de informação transmitida. Arias et al. (1995) referem que as atitudes se formam porque uma pessoa é exposta ao objecto de atitude, podendo esta exposição gerar ou não efeitos positivos. Se as atitudes são apreendidas então provavelmente as teorias da aprendizagem poderão explicar a sua formação. 3. Atitudes e comportamentos Considera Ferreira (1994), que as atitudes sociais geram um estado de pré-disposição para a acção que, quando combinado com uma situação desencadeante específica, resulta em comportamentos. Assim, para este autor, as atitudes podem ser consideradas como bons preditores do comportamento. Assim as atitudes são importantes factores na previsão do comportamento humano. No entanto distinguem-nas entre atitudes gerais face a um objecto e atitudes específicas face a um comportamento relacionado com o objecto da atitude. De acordo com esta teoria, as atitudes através do comportamento, predizem melhor as intenções e o comportamento actual, do que as atitudes através dos objectos. (Rodrigues, 1972). No sentido de explicar algumas incoerências observadas entre as atitudes e o comportamento, Rodrigues (1972) referindo se a estudos de Fishbein e Ajzen, propõe o modelo da teoria da acção reflectida, na qual introduzem um novo conceito, uma nova intenção comportamental. Estes autores consideram que o comportamento é uma escolha, uma opção ponderada entre várias alternativas, pelo que o melhor preditor do comportamento será a intenção comportamental, sendo a atitude específica, somente, um de dois factores importantes na decisão. Assim, a atitude só influenciará o comportamento se essa intenção estiver presente. -150- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VI- As atitudes] No entanto, como foram encontradas insuficiências na teoria da acção reflectida, nomeadamente o facto de ignorar a importância do comportamento anterior do sujeito, esta teoria foi enriquecida com uma nova variável que permite ter em conta a percepção de controlo sobre o comportamento. Tal enriquecimento, veio dar origem a uma nova teoria, a do comportamento planificado (Terry & O’Leary, 1995). Tal como o modelo inicial, também o factor central da teoria do comportamento modificado, é a intenção do indivíduo para desempenhar o comportamento. Contudo, nesta teoria, a intenção comportamental está presente no grau de controlo que julgamos exercer sobre esse mesmo comportamento. Esta teoria postula três conceitos determinantes, independentes das intenções. O primeiro é a atitude através do comportamento, que refere o grau na qual uma pessoa tem uma avaliação favorável ou desfavorável do comportamento em questão. O segundo conceito é a norma subjectiva, que se refere à percepção da pressão social exercida para desempenhar ou não o comportamento. O terceiro conceito é o grau de controlo comportamental percebido, ou seja, a percepção da facilidade ou dificuldade de desempenhar o comportamento, que é assumido tendo em consideração a experiência passada, tal como um impedimento ou obstáculo antecipado. Poderemos dizer que quanto mais favorável é a atitude e a norma subjectiva relativamente ao comportamento, maior é o controlo comportamental percebido, logo mais forte deverá ser a intenção do indivíduo para desempenhar o comportamento considerado. Alguns estudos mais recentes têm vindo ainda a sugerir que são demorados os processos de mudança de atitudes (Briñol & Petty, 2005; Loreman, et al., 2005; Forlin & Sharma, 2007). -151- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VI- As atitudes] Ao longo da década de 80, do século passado, e até ao século XXI, alguns autores têm vindo a focar os estudos em torno da noção de atitude em educação e, em especial, da educação inclusiva (Morgado, 2003a; Loreman, et al., 2005; Sharma et al., 2006; Loreman et al., 2007; Rodrigues, 2007). Assim, têm vindo a mostrar relações entre a existência de atitudes menos favoráveis face à educação de alunos caracterizados como apresentando NEE e as baixas expectativas apresentadas, por professores e outros agentes educativos, face ao sucesso escolar destes alunos, em especial aqueles que revelam comportamentos mais agressivos/ indisciplinados (Forlin, et al., 1999; Strecht, 2003; Sá, 2008). É de referir ainda que embora seja muito positiva a atitude de uma pessoa relativamente a um determinado acto, é pouco provável que ela o execute se o seu resultado parecer estar condenado ao fracasso. Em contrapartida, nos casos em que a percepção de controlo é realista, é de esperar que a sua capacidade de predizer o comportamento efectivo vá além da intenção comportamental. 4. Como medir as atitudes Tal como em inúmeros outros conceitos, dentro da pesquisa social, não existe uma medida directa da atitude. É sempre obtida através de manifestações, essas sim visíveis e portanto mensuráveis. Aas primeiras análises sobre as atitudes começaram a realizarse na Alemanha, em meados do século XIX. Tivemos no entanto que esperar pelo século XX, para que investigadores como Allport, Likert, Guttman, Thurstone, e Bogardus sistematizassem e consolidassem o estudo. Thurstone (1928), escreve um artigo intitulado as atitudes podem medir-se; Bogardus (1933), elabora uma escala de -152- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VI- As atitudes] distância social; no mesmo ano Likert (1933) constrói uma escala de estimação sumatória; Guttman (1944), dá a conhecer a escala de determinismo linear. Jaspers (1986), refere que as atitudes apenas podem ser inferidas e portanto deveremos recolher várias respostas das pessoas a quem se quer medir as atitudes. Tais respostas poderão constituir elementos para se conhecer a realidade das atitudes das pessoas. A forma mais usual de medir atitudes, é fazendo uma série de perguntas à população em estudo, através de questionário ou entrevista, do qual se tiram inferências através das suas expressões verbais sejam orais ou escritas (Papalia,1995). As pessoas expressarão as suas crenças, sentimentos e comportamentos. Esta forma de declaração pessoal não pode ser confundida com o método de Edwards (1957), o método de questionamento directo. Segundo este autor se queremos saber algo sobre os indivíduos o melhor é perguntar-lhes. Assim poderíamos agrupá-los em três grupos: Os que tinham atitudes favoráveis, os que não tinham e os que estariam indecisos. Este método apresenta várias desvantagens: a dificuldade de alguns indivíduos de se exporem publicamente sobre assuntos que poderão considerar difíceis, a possibilidade de alguns não estarem preparados para se posicionarem perante o assunto por não terem a certeza dos seus sentimentos e ideias ou também a possibilidade dos inquiridos terem tanto afecto positivo como negativo associado ao mesmo objecto. Outra abordagem tem sido feita a partir das medidas, nas quais as inferências são tiradas do comportamento observado abertamente em relação ao objecto. Esta abordagem ao problema de investigar as atitudes, parte do pressuposto que deve observar-se o indivíduo relativamente ao objecto atitudinal. Este método apresenta uma grande desvantagem, por exemplo para os investigadores que estiverem interessados -153- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VI- As atitudes] num grande número de pessoas em relação a algum objecto. Para além disso o comportamento poderá estar influenciado por um outro qualquer factor e não pela atitude ou sentimentos reais do indivíduo. Poderemos então dizer que quer o método de questionamento directo, quer o da observação do comportamento, podem não conduzir a uma avaliação conveniente do grau das atitudes, porque poderão fornecer como resultados uma classificação imperfeita e grosseira. Como os investigadores estavam interessados nos relacionamentos existentes entre as variáveis e não só em classificar os indivíduos como favoráveis, desfavoráveis ou indecisos, começaram a desenvolver escalas de atitude que pudessem ser aplicadas a grandes grupos. Estes instrumentos constituem-se numa forma simples de se obter uma avaliação do grau de afecto ou concordância que os inquiridos têm perante o objecto atitudinal. As escalas podem ter como base dois objectivos (Moreira, 1986),: Medir as características dos inquiridos (o sujeito que responde irá situar-se em algum ponto ou numa série de categorias organizadas) e usar esses respondentes como juízes dos objectos ou estímulos do que lhes é apresentado. Neste caso, irá ser feita uma relação a algum objecto (que inclusivamente pode ser uma pessoa) que esteja a ser avaliado. No caso do nosso estudo, serão as atitudes dos professores do ensino básico, face à inclusão dos alunos com NEE na sala de aula. -154- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VI- As atitudes] 5. Modificação das atitudes De uma maneira similar à formação da atitude, também a sua mudança ocorre, quando formamos novas crenças, associamos novos sentimentos, ou nos comportamos de uma nova forma perante um objecto ou situação. Para Olson e Zanna (1990) a distinção entre a formação e mudança de atitudes não é muito marcante. A única diferença existente, é que no caso da mudança, o indivíduo já possui uma avaliação anterior do referido objecto ou assunto. Esta avaliação préexistente pode induzir alguma resistência à nova informação ou alterar a interpretação de eventos importantes. Neste sentido, a mudança de atitudes envolve alguns processos que não influenciam uma formação de atitudes. Na literatura existente sobre o tema, pode-se encontrar três teorias fundamentais que procuram explicar este processo: a teoria do reforço, a teoria do equilíbrio e a teoria da dissonância cognitiva. Defensor da teoria do reforço, para (Baliza,1995), a mudança de atitudes é consequência da aprendizagem mediada pelo reforço. Segundo o autor, se existir reforço após a emissão de um determinado comportamento, o indivíduo tende a solidificar o respectivo comportamento e a atitude a ele subjacente, enquanto que, se seguir uma punição após emissão de um determinado comportamento, o indivíduo tenderá a extinguir a resposta e consequentemente impossibilitará a estruturação de uma atitude. Por exemplo, se uma pessoa receber punições provenientes do seu grupo turma por emitir comportamentos favoráveis face aos deficientes, é provável que essa pessoa passe a ter atitudes negativas face aos mesmos e vice-versa. -155- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VI- As atitudes] A teoria do equilíbrio é referenciada por Rodrigues (1972) que se baseia em estudos de Heider e Newcomb. Segundo esta teoria, as pessoas procuram o equilíbrio na sua estrutura cognitiva e a mudança de atitudes tem lugar quando o sistema não está em equilíbrio. As situações que estão organizadas de forma mais equilibrada, serão mais estáveis e consequentemente, mais resistentes à mudança e as situações mais desequilibradas terão tendência a ser modificadas de forma a serem percepcionadas como equilibradas. Lima (2004), defende esta teoria para explicar que existe necessidade em todos os indivíduos, de encontrarem consonância entre as diversas cognições que possuem acerca do mesmo objecto. Como princípio básico, recorre às bases motivacionais e postula que um estádio de dissonância cognitiva, será psicologicamente desagradável, constituindo por si só, uma motivação do organismo no sentido da redução ou eliminação da dissonância. Esta motivação, procura um estado harmonioso e equilibrado entre a forma de pensar do indivíduo e o seu modo de agir, que leve à mudança de atitudes. 6. Atitudes face à pessoa com deficiência Podem ser retiradas algumas conclusões acerca dos estudos sobre as atitudes face às pessoas com deficiência (Soder, 1990). Podemos referir as seguintes: i) as deficiências são características desvalorizadas socialmente; ii) existem indicações de que as pessoas com deficiência evocam sentimentos de simpatia e altruísmo; iii) o afastamento é uma resposta comportamental que aparenta ser típica nos encontros entre pessoas com e sem deficiência; iv) o modo como as pessoas reagem às que são deficientes está -156- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VI- As atitudes] condicionado pelos contextos situacionais. Jones e Guskin (1986), destacam a existência de uma série infundada de concepções sobre atitudes acerca das pessoas com deficiências. Amplamente aceites socialmente, mas segundo os autores não terão sido validadas adequadamente. Dentro dessas concepções salientamos as seguintes: as atitudes face às pessoas com deficiência são negativas e baseiam-se na falta de experiência ou de informação;as atitudes face às pessoas deficientes estão a melhorar. Como as atitudes são multidimensionais e podem ser influenciadas pelo tipo e grau de deficiência, não se pode considerar isto de modo tão simplificado. É necessário explicar o contexto, o objecto e a base destas crenças. Para podermos aceitar esta teoria, seria necessário identificar que tipo de informação e experiência está associada com determinadas atitudes. Uma crença importante reside no facto da experiência com pessoas com NEE poder estar associada a atitudes mais positivas. Contudo esta crença não foi ainda confirmada pelas investigações. A integração e a desinstitucionalização parecem querer confirmar esta teoria. Não é bem assim. Os esforços realizados para se alcançar a normalização são muitas vezes motivados por razões económicas ou políticas mais do que altruístas e reflectem uma enorme falta de sensibilidade face às necessidades destas pessoas. Quem trabalha com pessoas deficientes apresenta crenças e atitudes mais favoráveis em relação a elas e os professores diferem eles próprios nas suas atitudes e crenças em relação a esta população. Para um professor de educação especial a presença de -157- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VI- As atitudes] um aluno com esta problemática pode significar trabalho, para um professor de turma pode significar mais complicações. Considera Gelman (1959), que a origem das atitudes negativas tem a ver com as normas e costumes sociais, experiências e medos pelos quais passamos. Steele (2003), baseando-se em McConkey e McCormack demonstra que o contacto das crianças com NEE e o resto da comunidade é vital, a fim de serem desenvolvidas atitudes favoráveis à sua inclusão na comunidade. Helmstetter,Peck e Giangreco, (1994) reforçam as conclusões de McConkey e McCormack, confirmando que as crianças ditas “normais” criaram atitudes mais positivas face aos seus pares com NEE, acrescentando que não há razões para não acreditar que os professores tal como as outras pessoas não serão susceptíveis à mudança das atitudes. Concordam também Marchesi e Martin (1995), quando referem que uma das variáveis mais importantes para compreender a atitude dos professores é conhecer a sua concepção do processo educacional e das tarefas do mesmo, já que os professores que valorizam mais os progressos académicos, vão ter mais dificuldade em aceitar os alunos que não vão progredir ao mesmo ritmo que os seus colegas da turma. 7. Atitudes dos professores face à inclusão das crianças com necessidades educativas especiais A escola tem como um dos seus objectivos ajudar o aluno a integrar e a organizar as normas específicas que foi adquirindo ao longo do tempo, na sociedade e na família. -158- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VI- As atitudes] Esta função da escola torna-se fundamental quando falamos das atitudes que os professores têm em relação às crianças com NEE. De acordo com Florian (2003), é fundamental que os professores compreendam que todos os alunos se situam num contínuo de capacidade de aprendizagem, o que implica, numa perspectiva educativa, não haver diferenças qualitativas entre a criança com NEE e a criança sem essas dificuldades. Numa sociedade democrática o principal objectivo do sistema de educação básica, deveria ser o de todos os alunos aprenderem os conteúdos curriculares mínimos e obrigatórios (Cervini, 2011). É necessário criaremse oportunidades de aprendizagem, conceptualizando quais as condições ou circunstancias dentro da escola e da sala de aula que são necessárias para que se prova a aprendizagem de todos os alunos sem excepção (Cervini, 2011). A qualidade do ensino (Herman, Klein & Abedi, 2000), as habilidades do professor (Kyriacou, 2007; Philpott, 2009), os diferentes modelos de ensinar, particularmente o tipo de envolvimento com os seus alunos, estarão relacionados com o sucesso de cada sala de aula. Os estudos demonstram que o comportamento/atitude dos professores contribuirão em muito para uma efectiva aprendizagem na sala de aula (Sammons & Bakkum, 2011) A atitude dos professores do ensino básico constituirá então uma variável importante na inclusão dos alunos com NEE na sala de aula e contribuirá seguramente para o seu sucesso educativo. Segundo Larrivée e CooK (1979), historicamente os professores não têm reagido favoravelmente à inclusão dos alunos com deficiências mesmo ligeiras. Os primeiros -159- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VI- As atitudes] estudos que se debruçaram sobre este domínio, evidenciaram que os professores se mostravam muito apreensivos acerca da qualidade do trabalho académico que as crianças com deficiências pudessem realizar, integradas em classes regulares. Expressavam ainda outros receios, nomeadamente preocupações relacionadas com os níveis de desenvolvimento dessas crianças para serem integradas e a quantidade de tempo de ensino individualizado que os alunos com dificuldades necessitavam (Bender, Vail & Scott, 1995). Vários têm sido os estudos destinados a avaliar a integração de alunos com necessidades específicas de aprendizagem, quer sobre o tipo de interacções que estabelecem com os alunos ditos normais, quer ainda acerca dos efeitos da integração dos indivíduos com deficiência no desenvolvimento dos restantes alunos ou sobre as opiniões e atitudes dos professores relativamente à inclusão. Os resultados obtidos em diferentes investigações sugerem que a implementação efectiva e o sucesso da integração/inclusão está dependente das atitudes evidenciadas por parte do corpo docente responsável pelo ensino destes alunos (Leyser, Kapperman & Keller, 1994). Assim os dados de inúmeros estudos e a experiência do dia a dia mostram-nos que os professores do ensino regular ainda não desenvolveram uma compreensão quanto às condições subjacentes à deficiência (Leyser, et al.,1994) e que regra geral os professores não apoiam verdadeiramente a colocação destes alunos nas classes regulares (Correia, 2003). Investigações mais recentes apontam para atitudes mais positivas dos professores. Alguns estudiosos afirmam que as atitudes dos professores estão a tornar-se cada vez mais positivas face à inclusão, sob várias perspectivas (Bender, et al., 1995). Na -160- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VI- As atitudes] tentativa de ampliarem o campo de investigação sobre esta matéria, os investigadores procuraram estudar outras variáveis que influenciaram a aceitação do princípio da inclusão.Entre estas variáveis, encontram-se as características dos próprios professores. Porém nem sempre os resultados destas investigações deram explicações consistentes. Um inquérito internacional realizado por iniciativa da UNESCO, em 1985, para conhecer as perspectivas dos professores face à integração dos alunos com NEE, demonstrou que metade dos professores tinham uma atitude favorável face à integração de alunos nas suas turmas e metade preferiam que eles tivessem atendimento em turmas separadas. Investigadores como Larrivée e Cook (1979) colocaram a possibilidade de que as atitudes dos professores face à integração de alunos com NEE estariam relacionadas com variáveis institucionais que agruparam em duas categorias. Na primeira consideraram o nível educativo, a dimensão da classe e da escola e tipo de apoio (variáveis fixas do meio).Na segunda consideraram o grau de êxito obtido com os alunos com NEE, o nível de apoio administrativo recebido e a disponibilidade dos serviços de apoio (variáveis perceptivas dos professores). Os resultados obtidos neste estudo foram os seguintes: i) as atitudes face à integração, dos professores do ensino regular, tendem a ser mais positivas à medida de que o nível de ensino desce. ii) as atitudes dos professores não são afectadas pelas variáveis dimensão da escola ou das salas de aula e do tipo de escola. iii) há uma forte relação entre as atitudes dos professores face à integração e a percepção que os professores -161- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VI- As atitudes] têm relativamente ao grau de êxito obtido, o nível de apoio administrativo recebido e a disponibilidade de serviços de apoio. Para Hegarty (1994), as atitudes dos professores face à deficiência dependem de muitos factores referindo que eles têm a ver com a natureza da sociedade e das concepções prevalecentes de deficiência e de dificuldades de aprendizagem. Num estudo realizado em seis países (Itália, Dinamarca, Suécia, Estados Unidos, Inglaterra e Holanda), algumas conclusões parecem indicar que factores como ideologias dominantes mais favoráveis à integração, podem actuar sobre as atitudes dos professores, que se mostram mais disponíveis para aceitar estes alunos nas suas salas de aula. Também Diez (2002), aponta o factor ideologia dominante, como factor responsável pela não implementação da escola inclusiva na Austrália. Da mesma forma (Williams,1993) refere como resultado de um estudo que os professores são mais favoráveis à inclusão por princípio do que na prática. Outra variável que tem sido ao longo dos anos equacionada em relação com as atitudes é a formação dos professores. Palácios (1987) refere que provavelmente, duas das variáveis dos professores mais importantes para o êxito da inclusão são: a sua formação e as suas atitudes. O interesse por esta variável levou a uma grande quantidade de estudos, revistos por Gottlieb (1977) e Moberg (1997). Uma das conclusões retiradas desses estudos é a de que os professores não têm formação adequada para trabalhar com este tipo de crianças. -162- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VI- As atitudes] Referindo se a estudos efectuados por Cruickshank e Lovitt, Correia (1999), considerou e concordou que é verdade que muitos professores não têm formação para responder às necessidades educativas que cada criança apresenta. Casanova (1990) também refere que uma das exigências necessárias para que a inclusão educativa se verifique é a formação inicial e contínua dos professores. Silva (2002) afirma que a inclusão tem sido “implementada sem que os professores do ensino regular tenham tido formação que os ajude no desempenho das várias e diferentes tarefas com que se vêem confrontados”. (p.43). Melero (2004) aponta na mesma direcção. Refere que os professores têm que aprender a atender correctamente todos os alunos. Todos estes estudos evidenciam a relação implícita entre a formação e as atitudes dos professores face à inclusão, apesar de haver outros estudos que referem outras variáveis que também podem influenciar e condicionar as atitudes. Um professor com maior preparação a nível pedagógico estará mais predisposto a assumir mudanças metodológicas e de atitudes (Torre, 1995; Silva, 2002; Plaissance,2002; Melero,2004). Também Ortiz, Barrueco, Ramírez, Sarto, Lecuona, e Bueno (1991), Marchesi e Martin (1995) e Leite (2003), propõem que a formação dos professores deve centrar-se em saber como trabalhar na sala de aula e a título de exemplo referem que os professores devem adquirir novas habilidades, tais como: programações específicas; fazer adaptações curriculares; organizar o grupo turma; avaliação; metodologias; técnicas de trabalho de grupo; estratégias diferenciadas. -163- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VI- As atitudes] Como síntese e como base em vários estudos, alguns dos quais aqui apresentados, verificamos que existem duas grandes perspectivas, relativamente às atitudes com impacto educativo dentro da sala de aula. A primeira perspectiva refere-nos que as atitudes são factores verdadeiramente determinantes, positivos ou negativos, da aprendizagem. As atitudes positivas do professor favorecem a aprendizagem e logicamente as atitudes negativas dificultam-na. A segunda perspectiva refere-nos que as atitudes como resultado da aprendizagem, projectam-se no comportamento do aluno, mesmo fora do ambiente escolar. Trata-se de formar atitudes assertivas para a vida, para que cada um possa estabelecer relações com os seus semelhantes e inserir-se no meio social onde pertence (Beltrán, 1995), prevenindo situações de exclusão e isolamento. Segundo Melero (2004), mais importantes que as aprendizagens académicas, são os problemas convivenciais. A legislação em matéria de inclusão teve um grande efeito sobre o modo como as crianças com necessidades educativas especiais são atendidas nas salas de aula de ensino regular. No entanto, há muitos aspectos sobre os quais não se pode legislar, como é o caso das atitudes dos professores. Existe um vasto corpo teórico e empírico que nos permite recolher dados referentes às atitudes dos professores acerca da inclusão de crianças com necessidades educativas especiais (Minke et al, 1996; Scruggs e Mastropieri, 1996; Camisão 2005; Sanches & Teodoro 2007; Correia, 2008 a, 2008 b; Bahn, 2009). Na verdade, Camisão (2005) sublinha que os estudos das atitudes dos professores representam uma percentagem considerável no corpo das investigações sobre a escola -164- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VI- As atitudes] inclusiva e que têm particular importância na capacitação dos mesmos para o ensino inclusivo. Há, pois, de acordo com esta autora, claras evidências de que os professores favoráveis à inclusão de alunos com necessidades educativas especiais utilizam, com mais frequência, estratégias de ensino consideradas inclusivas comparativamente aos seus pares menos favoráveis à inclusão. 8. Formação e atitudes dos professores face à inclusão Actualmente, a escola depara-se com o desafio de responder, de forma eficaz, à diversidade dos alunos que nela se encontram, os quais detêm o direito a uma escolaridade básica e de qualidade. Embora se tenha consciência de que as transformações no âmbito educativo não se circunscrevem exclusivamente à esfera do profissional da educação, para responder ao já referido desafio, a actuação dos professores constitui um precioso contributo. Das várias recomendações apontadas na Declaração de Salamanca (UNESCO 1994) na secção relativa às directrizes para a acção a nível nacional, salientamos o ponto relativo ao recrutamento e treino de pessoal docente. Aqui encontramos uma clara referência à importância da formação inicial dos docentes, que se transcreve: “Fomentar uma atitude face à deficiência e desenvolver a compreensão sobre o que pode ser realizado nas escolas com os recursos locais existentes. O conhecimento e as competências exigidas são, essencialmente, as relativas a um ensino de qualidade e incluem necessidades especiais de avaliação, conteúdos sobre adaptação curricular, utilização de tecnologia de apoio, métodos de ensino individualizado capazes de responder a um largo espectro de capacidades, etc.” (p.143). Neste sentido, a formação de professores assume um papel de grande relevância para que a resposta às transformações de que a escola tem vindo a ser palco seja realmente -165- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VI- As atitudes] eficaz. No presente, é o ensino superior, mais concretamente, as escolas superiores de educação e algumas universidades que, no nosso país, são responsáveis pela formação dos professores do ensino básico, seja ela de carácter inicial e ou contínuo. Num estudo realizado em Portugal, com o intuito de aprofundar o conhecimento acerca das percepções dos professores sobre a formação necessária para concretizar eficazmente a inclusão de alunos com necessidades educativas especiais, Monteiro (2000) concluiu que parecem apresentar lacunas a nível da sua preparação para atender à diversidade dos alunos na sala de aula. Uma equipa do Helios European Seminar, depois de realizar alguns estudos e analisar os seus resultados mostrou que, na formação inicial se encontra uma certa coerência nos países da união Europeia, nomeadamente no que se refere à duração dos respectivos cursos de formação de professores, verificando-se, no entanto, um grande diferença no que diz respeito aos conteúdos propostos. No Reino Unido, desde o ano de 1984 que existe a preocupação de incluir conteúdos em todos os cursos de formação inicial dos professores que capacitem os futuros professores a ensinar e trabalhar com todos os alunos. Caso estas condições não se verifiquem, os cursos não são aprovados oficialmente (Suárez, 1991). Sugere Zabalza (1992) a definição de um tronco pedagógico comum que deve centrarse em três componentes básicas da formação: dominar as técnicas de programação para todo o tipo de necessidades educativas, facilitar e gerir a mudança e ser capaz de atender individualmente todos os alunos. -166- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VI- As atitudes] A UNESCO (1994) considera a formação do pessoal docente, o factor-chave na promoção das escolas inclusivas. Os professores são confrontados com necessidades formativas, a nível dos conhecimentos, nomeadamente nas competências de intervenção na sala de aula, na avaliação bem como na adequação e gestão do currículo. A Áustria, a França, a Itália, Portugal, a Noruega, a Suécia e o Reino Unido constituem os principais países em que é obrigatória a inclusão de conteúdos relacionados com Necessidades Educativas Especiais na formação inicial de professores. Hegarty (2001) evidencia a necessidade de que todos os professores possuam conhecimentos sobre as necessidades educativas especiais e algumas competências para ensinar esses alunos. Morgado (2003a), ao desenvolver estudos neste âmbito, concluiu que o desenvolvimento profissional e a formação de professores são fundamentais para responder à diversidade, dos alunos e do contexto. Acrescenta ainda que existem outros factores importantes a ter em conta, tais como: a cooperação entre profissionaios e a mudança. Alguns estudos sobre educação inclusiva e formação de professores têm vindo a sugerir relações entre a frequência de cursos graduados e pós-graduados, que revelam a intencionalidade de trabalhar questões ligadas à educação de alunos caracterizados como apresentando NEE e a promoção de atitudes mais inclusivas (Loreman et al., 2005; Forlin et al., 2007; Santos, 2008; Santos & César, 2009; Santos & Hamido, 2009). Estudos recentes têm vindo, também, a sugerir relações entre a tomada de atitudes favoráveis face à educação inclusiva e a expressão de sentimentos também favoráveis à educação inclusiva (Forlin, 1999,2006; Forlin et al., 2007; Loreman et al, 2007). -167- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VI- As atitudes] Só assim o professor poderá responder eficazmente à diversidade de alunos que caracteriza as escolas actuais, sendo capaz de proporcionar igualdade de oportunidades com a individualização do ensino e atendendo às especificidades de cada sujeito. O paradigma da escola inclusiva comporta novas exigências para o papel do professor que, face ao desafio da inclusão de crianças com NEE, têm de considerar novas respostas, novas responsabilidades e novas funções. Chow e Winzer (1992), referem que a inclusão requer dos professores novas competências, novas proficiências que viabilizem mudanças no ensino e na gestão da sala de aula. Estes autores referem que é importante que os professores do ensino regular desenvolvam atitudes positivas face à inclusão de crianças com deficiência no ensino regular. Para que o paradigma da inclusão seja uma realidade concreta, há a necessidade dos professores terem uma atitude receptiva para com as exigências e os princípios da inclusão (Porter, 1997). Deste modo, condiciona um ajustamento do professor do ensino regular face às necessidades individuais dos alunos, ao apoio educativo prestado e à necessidade de formação. Esta formação deverá instigar uma prática reflexiva, uma actualização contínua das competências e conhecimentos no âmbito das NEE e dos alunos com necessidades especiais. Este autor reforça o papel da formação como tendo um papel fundamental no desenvolvimento da educação inclusiva. Se a necessidade de formação e constante actualização e adaptação à mudança é uma premissa fundamental para que o paradigma da inclusão impere, é crescente também, como verificam os estudos, que os professores se sentem sem formação para trabalhar com alunos que revelam a diferença e evidenciam a heterogeneidade das classes. Esta -168- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VI- As atitudes] situação, provoca um mal-estar crescente e um sentimento crescente de insegurança, uma vez que a percepção que os professores têm é a de não possuírem competências que satisfaçam os requisitos e as exigências que o novo papel de professor é exigido, numa visão inclusiva da escola. Jesus e Martins (2000), referem que a nova realidade vivenciada na escola exige a necessidade da existência de professores especializados que tenham ferramentas para trabalhar com as crianças com NEE e saibam, deste modo fazer uma intervenção adequada. Falam também, da necessidade dos professores do ensino regular possuírem estratégias de intervenção e actuação. Assume-se um novo conceito de professor, o de generalista, que para além de possuir a formação específica na sua área de docência, terá de ser versátil na adequação das suas estratégias e metodologias de ensino às especificidades e características dos alunos. Esta situação atribui um papel preponderante à diferenciação no paradigma inclusivo, visando a implementação de práticas diferenciadas que contribuam para aprendizagens significativas, baseadas na cooperação e na diferenciação inclusiva. A diferenciação inclusiva é a aposta de que todos aprendam com todos, independentemente da complexidade das suas problemáticas, onde coexista o respeito pelos diferentes níveis de participação, capacidades e potencialidades individuais. É inegável que este desafio se reveste de alguma complexidade operacional que remete o professor para uma percepção relutante para com a mudança. Não é só a diferenciação pedagógica, mas, sim, a diferenciação pedagógica inclusiva, conceito por si só, exigente. -169- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VI- As atitudes] Os estudos parecem revelar que os professores com formação adoptam uma atitude mais inclusiva com alunos com necessidades especiais (Kuyini e Mangope,2011). Silva (2008) refere que inclusão não depende da formação de professores, mas implementase mais facilmente se os professores estiverem sensibilizados para com a diferença, invariavelmente da etiologia que pressuponha, adoptando assim, uma atitude de maior confiança face às respostas que podem pôr em prática. As respostas são “mais eficazes se houver formação que ajude o corpo docente a ponderá-las” (Silva, 1998, p. 480). Croll e Moses (2000), fazem referência a um estado de tensão vivenciado pelos professores que, face ao acesso de todos à escola, exige uma organização e operacionalização das estratégias de ensino assente numa directriz de trabalho para todos, com todos, em diferentes níveis e com respeito pelos ritmos e formas de aprendizagem distinta. Esta tensão deixa antever a preocupação dos professores com as condições das escolas, com os seus conhecimentos e a percepção de que não se sentem preparados para o desafio da inclusão. Há, como referem os autores, uma aceitação visível e generalizada do desejo da inclusão como um ideal educacional, desejo este que é refreado pelas percepções dos professores de que o conhecimento e a forma de chegar à inclusão é ainda algo limitado. Segundo Freitas (2007), parece haver a necessidade de uma mudança, mas os professores apresentam uma relutância face à mesma, uma vez que requer alterações significativas na organização do trabalho afirma que a função docente visa uma adaptação crescente a papéis cada vez mais diversificados e requer uma mudança de atitude, uma superação do receio de não adaptação à mudança. Deste modo, muito embora os professores defendam o conceito de inclusão, é visível a resistência, atestada nos estudos, aos processos de mudança exigidos pela escola inclusiva. -170- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VI- As atitudes] No que respeita à formação de professores, Silva (2008) refere que as necessidades da mesma perspectivam-se: em função das exigências do sistema educativo, que advém das necessidades decorrentes de lacunas ou carências como a inclusão; da percepção dos docentes, dos seus desejos, preferências, expectativas, e no caso da inclusão, dos problemas que encontram no seu quotidiano profissional; e das exigências do sistema em conjunto com as percepções dos professores. “A formação que assenta na análise de necessidades tende a ser bem-sucedida” Silva (2008, p.484) facto importante e revelador de que, os professores que analisam as suas necessidades em lidar com o problema da inclusão, vêem na formação uma saída, um indicador de que a formação poderá estar na base da mudança das atitudes para com a inclusão. Essa diversidade de preocupações, em consonância com os estádios da carreira docente em que se encontram, está patente, de acordo com a literatura a esse respeito, quer nas necessidades que os professores identificam, quer nos próprios tipos de actividades de formação que desejam (Rodrigues & Esteves 1993). A formação docente, sobretudo a que assenta na análise do professor sobre as suas necessidades, que se constrói a partir da sua experiência profissional e entendida enquanto reflexo do percurso pessoal de cada um, contribui significativamente para uma atitude mais inclusiva de alunos com NEE (Silva, 2007). Enfatizam Langdon e Vesper (2000), que a efectividade da inclusão na sala de aula regular está dependente da adesão dos professores aos princípios e às exigências da mesma, sendo que, para uma inclusão seja bem-sucedida, é necessário: i) apoio -171- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VI- As atitudes] administrativo; ii) recursos humanos e material adequado; iii) planeamento adequado da gestão do tempo; iv) competência de ensino para com as crianças com deficiências específicas. A crença dos professores de que as necessidades dos alunos com NEE em termos de aprendizagem, quando incluídos na sala de aula regular, não sejam melhor colmatadas, está devidamente suportada pelas pesquisas actuais. Segundo Salend (1999), os professores do ensino regular efectivos apresentam uma menor tolerância a comportamentos desajustados de crianças com NEE, bem como para com as suas dificuldades de aprendizagem, apresentando padrões de exigência muito elevados. Deste modo se entende que os professores do ensino regular tendem a ter uma atitude menos inclusiva com alunos com NEE na sala de aula regular, daí que resistam à colocação destes alunos nas suas salas. Existe também a crença nos professores de que educar alunos com NEE na sala de aula regular, exige tempo adicional, atenção, trabalho, alterações significativas no currículo e metodologias de ensino, o que determina atitudes contrárias à educação inclusiva. Para Alvarez (2004), a formação inicial é apenas a primeira fase de um longo percurso e processo de desenvolvimento profissional. Por sua vez Wang (1995) afirma que o desempenho do professor determina a promoção da escola com qualidade, visto à luz da educação inclusiva e no que toca às práticas pedagógicas. Treder, Morse e Ferron (2000) ressaltam a importância atribuída à formação dos professores para o sucesso das práticas inclusivas, no que respeita ao grau de -172- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VI- As atitudes] formação de professores do ensino regular e do ensino especial, enquanto garantia de sucesso da educação inclusiva. Peremptórios Scruggs e Mastropieri (1992) afirmam que o progresso académico das crianças com NEE determina-se: i) pelo ambiente educacional que vivenciam; ii) pelas características do professor; iii) pela forma como a sala de aula se encontra constituída. Deste modo, a ainda segundo os autores, os professores necessitam de formação para que seja possível a aquisição de competências que possibilitem as práticas inclusivas. Referem que os programas de formação deverão assentar sobre o conhecimento das NEE, as metodologias que possibilitem aos professores a promoção de interacções positivas e um sistema activo de partilha de informação anterior e em simultâneo com as práticas inclusivas. Mesquita e Rodrigues (1994) referem que a formação inicial de professores do ensino regular deva contemplar e abordar temáticas relativas à metodologia e práticas educativas coniventes com uma intervenção pedagógica inclusiva para com os alunos com necessidades especiais. Deste modo, temáticas como adaptações curriculares, implicações sócio-educativas, cooperação e metodologias de intervenção devem fazer parte do currículo inicial dos professores para assegurar uma maior preparação dos mesmos para a educação inclusiva. A declaração de Salamanca (UNESCO, 1994), evidencia, também, preocupações relativas à formação inicial e especializada dos professores, no que respeita à adopção de atitudes pró-inclusivas face à deficiência, na sala de aula regular:“garantir que, no contexto duma mudança sistémica, os programas de formação de professores, tanto a nível inicial como em serviço, incluam as respostas às necessidades educativas especiais nas escolas inclusivas” (p.10). -173- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VI- As atitudes] “A formação especializada em educação de alunos com necessidades educativas especiais que conduz a qualificações adicionais deverá, normalmente, ser integrada ou seguir-se ao treino e experiência no ensino regular, de forma a permitir complementaridade e mobilidade” (idem, pág. 28). Num estudo exploratório realizado sobre a educação inclusiva e no que concerne às percepções dos professores sobre a formação, Monteiro (2000), concluiu que os mesmos têm a crença de que não estão preparados para adequar as suas estratégias ao desafio da diversidade dos alunos na sala de aula regular. Segundo a UNESCO (1994) é na preparação adequada do pessoal docente que reside o factor-chave para uma educação inclusiva. O desafio da inclusão exige necessidades formativas, conhecimentos teórico-práticos e competências para intervir de forma eficaz e autónoma. Para Oliveira (2009), a preocupação da inclusão na formação inicial de matérias relativas à inclusão de alunos com NEE é evidente:“A Áustria, a França, a Itália, Portugal, a Noruega, a Suécia e o Reino Unido constituem os principais países em que é obrigatória a inclusão de conteúdos de Dificuldades de Aprendizagem na formação inicial de professores” (p.50). Contudo, no decorrer da formação inicial, é possível que se amadureçam atitudes próinclusivas, tal como referem alguns estudos (Shade & Stewart, 2001; Wolpert, 2001) e que os futuros professores poderão beneficiar, na sua formação inicial, de interacções positivas com profissionais que tenham contacto diário com deficientes ou mesmo, de interacções com crianças com NEE. -174- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VI- As atitudes] No que concerne à formação especializada em Educação Especial, e segundo Rodrigues (2000), a mesma promove competências no desenho e gestão curricular, modelo de organização e funcionamento da escola regular, nas metodologias e estratégias de avaliação e no trabalho comunitário. Estas competências promovem as práticas pedagógicas diferenciadas inclusivas, pelo que se determina que os professores especializados, possam ter uma atitude mais inclusiva para com os alunos com NEE. Ainscow (1998), refere que, para a formação de professores de apoio educativo, os programas de formação deverão ter como directriz principal a exercitação de forma apoiada de novas competências e procedimentos que assentem no desenvolvimento da qualidade e nos modelos de cooperação e colaboração dos professores. A importância das aprendizagens significativas assume particular relevância no que concerne à formação contínua. De facto e de acordo com alguns autores (Bull, Montgomery, Overton & Kimball, 2000), os programas de formação contínua são relevantes na medida em que servem as necessidades dos professores. Para que ocorram mudanças significativas no constructo atitude face à inclusão, os programas de formação contínua terão de atender às dificuldades e áreas que os professores necessitam de melhorar e serem competentes. Para Correia (2003), é na preparação dos professores no âmbito das respostas e adequações às exigências de uma educação inclusiva, atendendo às novas responsabilidades e funções exigidas, obtida através da formação contínua e consistente, que se obterá a qualidade da inclusão de crianças com NEE. Esta formação deverá atender as necessidades específicas dos professores. -175- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VI- As atitudes] Leitão (2007), diz-nos que através de uma formação contínua se irá contribuir para: i) “uma mudança de atitudes dos professores em relação aos alunos com NEE”; ii) “o aumento da auto-confiança do professor”; iii) “a aquisição de competências a nível do desempenho da prática pedagógica”; iv) “o desenvolvimento de conhecimentos.” (p. 206) Assim, e de acordo com a literatura, a percepção dos professores sobre a falta de formação faz salientar uma atitude negativa para com a prática da inclusão, sugerindo que os professores do ensino regular não se sentem preparados para fazer a inclusão nas suas salas de aulas, de alunos com características específicas, portadores de NEE. Esta percepção recai sobre a falta de formação inicial que possibilite a segurança para a inclusão destes alunos, no que concerne à gestão de aula e estratégias pedagógicas diferenciadas inclusivas. Alguns autores referiram que as atitudes revelam-se pró-inclusivas quando, no decorrer das suas vidas profissionais, os professores recebem formação contínua. Para Nader (1984), as atitudes são influenciadas e modificáveis com o contributo da formação específica dos professores, tornando-se, deste modo, mais activas. -176- ESTUDO EMPÍRICO CAPÍTULO VII. METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO “A inovação não se decreta. A inovação não se impõe. A inovação não é um produto. É um processo. Uma atitude. É uma maneira de ser e de estar na educação”. Nóvoa (1999) No decorrer deste capítulo, pretendemos explicitar a forma como o nosso estudo está organizado. Sendo pertinente caracterizar os instrumentos escolhidos, a amostra em estudo, bem como os diversos procedimentos utilizados e a tipologia do tratamento de dados efectuada, para a verificação das hipóteses e para a resposta às nossas questões. Trata-se de um estudo não experimental, dado que não pretendemos manipular quaisquer factores, nem executar qualquer controlo de variáveis Quanto ao método consideramos o nosso estudo incluído na categoria de investigação descritiva, cuja intenção é descrever aspectos de uma situação (Polit & Hungler, 1995) ou factos e fenómenos de uma realidade (Triviños, 1992). A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] De acordo com Carmo e Ferreira (1998), esta área da investigação procura compreender e explicar a situação actual do que pretendemos estudar. Para este tipo de investigação utiliza-se normalmente uma recolha de dados através de um questionário, da realização de entrevistas individuais ou em grupos de discussão (focus group), recorrendo à observação em situação real ou à análise documental. A investigação descritiva obedece às mesmas etapas das outras investigações, ou seja: definição do problema, revisão da literatura, formulação de hipóteses e ou questões de investigação, definição da população alvo e da forma de recolha de dados, tratamento e análise dos dados, interpretação dos resultados, formulação das conclusões e sua avaliação, tendo em conta as limitações contextuais e do processo. Gostaríamos de salientar que as pesquisas descritivas, bem como as exploratórias, são normalmente realizadas por investigadores preocupados com a sua prática do dia-a-dia (Gil, 2002). Como temos vindo a referir, as atitudes dos professores, de acordo com a literatura (García Pastor, 1985, 1995; Fierro, 1991; Zabalza, 1991, Bender et al., 1995; Wang, 1995; Bautista, 1997; Ainscow, 1998; Vaz, 2005; Rodríguez Tejada, 2006) e no resultado de quase todos os estudos sobre o tema, constituem um factor muito forte no processo de inclusão escolar e sociais os alunos com NEE. As atitudes (sejam positivas ou negativas) que os docentes manifestem estarão directamente relacionadas com a formação de valores, de conceitos ou preconceitos, das futuras gerações. Para podermos analisar essas atitudes, a sua relação com o processo de inclusão, bem como o que as determina, é necessário dispor de instrumentos fiáveis e válidos que nos ajudem a avaliar as atitudes dos professores. Pensámos que seria interessante neste estudo abranger os docentes dos 3 ciclos do -180- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] ensino básico e educação especial e dados os objectivos do estudo, implementámos uma metodologia assente na recolha de dados a partir de um questionário. Seguidamente foi utilizada a técnica dos grupos de discussão (focus group) e procedemos à recolha de documentos escritos por docentes a quem foi solicitado que o fizessem. Foi utilizada a triangulação metodológica, ao nível dos instrumentos. O questionário foi tratado com apoio do programa SPSS- Statistical Package for Social Sciences. O resultado da discussão em grupo bem como o conjunto de documentos produzidos pelos docentes, foram alvo de análise de conteúdo e foi utilizado o programa Atlas-Ti. Iremos pois abordar esta investigação segundo os paradigmas quantitativo e qualitativo, conforme poderemos verificar em síntese na figura seguinte: Escala de Atitudes Professores de turma do 1º, 2º e 3º ciclo do ensino básico Professores de Educação Especial Focus Group Professores de turma do 1º, 2º e 3º ciclo do ensino básico Método Quantitativo Método Qualitativo Método Qualitativo Professores de Educação Especial Análise Documental Discurso Narrativo Método Qualitativo Professores de turma Figura 3: Apresentação síntese de instrumentos e métodos utilizados -181- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] Abordar ao nível da investigação a formação de professores não é uma tarefa fácil. Relacioná-la com as suas atitudes face à inclusão dos alunos com necessidades educativas especiais parece ser ainda mais complexo. Consideramos no entanto fundamental aprofundar esta realidade para encontrar evidências que possam ajudar a reflectir sobre esta problemática, dada a importância que tem para a escola inclusiva, onde queremos que todos possam ter um lugar por direito. A escola e a sociedade exigem cada vez mais dos profissionais da educação pelo que todos os contributos para a melhoria da sua formação são necessários e pertinentes (Esteves, 2005). 1. Problemática A educação especial e a educação regular que inicialmente se faziam separadamente, com o decorrer do tempo foram gradualmente confluindo (Madureira & Leite, 2003; Correia 2005). A escola dos nossos dias confronta-se com uma frequência de alunos de grande heterogeneidade social e cultural. Esta realidade implica uma concepção de organização escolar que ultrapasse a via da uniformidade e reconheça o direito à diferença, encarando a diversidade como um aspecto positivo. Actualmente a aceitação da diversidade, o reconhecimento da igualdade e da dignidade das pessoas, leva a uma responsabilização de toda a comunidade, transformando o atendimento às pessoas com necessidades educativas especiais num assunto que a todos diz respeito. Cabe à escola e aos professores, um papel fundamental nesta mudança, não só como impulsionadores mas também como ensinantes de modelos, valores e atitudes. -182- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] Se queremos mudar as gerações vindouras temos que ensinar os nossos alunos desde pequenos, a agir de forma adequada perante a diferença, respeitando as características pessoais de cada um. A perspectiva da escola inclusiva exige uma mudança radical em todo o sistema de ensino. É indispensável que todos os professores disponham também de conhecimentos que lhes permitam ensinar, na mesma classe, crianças diferentes, com diferentes capacidades de aprendizagem e com diferentes níveis de conhecimentos prévios. Falamos de uma perspectiva diferenciada no interior da sala de aula. Melhorar as condições das escolas em geral e do ensino em particular, é formar gerações mais e melhor preparadas, mais intervenientes, para viverem plenamente a vida, livres de preconceitos. As tendências actuais no sistema de ensino centram-se essencialmente na escola, nos seus intervenientes e como é óbvio nos seus professores como actores privilegiados num estabelecimento de ensino. Sentimos cada vez mais a necessidade de encontrar o caminho que nos conduza a uma escola cada vez mais inclusiva, onde se promova uma verdadeira igualdade de oportunidades, atendendo à diversidade dos alunos que nela se encontram. No entanto, para que isso aconteça é fundamental que as atitudes dos professores face à inclusão sejam positivas, pois estas têm influência no processo do ensino aprendizagem destes alunos. Atitudes positivas reforçam o sucesso e constituem o alicerce para a inclusão (Vieira, 1995; Correia, 2001; Marchesi, 2001; Avramidis & Norwich, 2002; Watkins, 2003). -183- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] Vaz (2005), referindo-se a estudos efectuados por González afirma que as mudanças atitudinais para que a inclusão dos alunos com NEE nas salas regulares seja uma realidade, deverão afectar todos os membros da comunidade escolar, as políticas educativas as associações de pais e os responsáveis pela formação dos professores. A realização deste estudo é a consequência de uma postura reflexiva em relação à inclusão dos alunos com NEE na sala de aula. Ao longo da nossa prática educativa concretamente desde o ano de 1976, constatamos diferentes atitudes face às NEE Consideramos que a escola inclusiva é a resposta à educação actual, já que se baseia em princípios de oportunidades educativas e sociais, para todos sem excepção, como refere Pereira (2004): “ A escola inclusiva, reforça por sua vez, o direito de todos (…) de frequentar o mesmo tipo de ensino na medida que preconiza que os objectivos educacionais (…) sejam os mesmos para todos, independentemente das suas diferenças individuais de natureza física, psicológica, cognitiva ou social que possam surgir” (p.11) No presente estudo situamo-nos teoricamente nos trabalhos que defendem a inclusão e a qualidade na escola (Ainscow, 1995,1998; Porter, 1995; Bénard da Costa, 1996; Cadima, 1997; Stainback & Stainback, 1999; Arnaíz, 2000; Rodrigues, 2001; Moya, 2002; Correia, 2003; Morgado, 2003a; Loreman et al., 2007; Sharma et al., 2008 entre outros). Durante muitos anos acompanhámos várias escolas de todos os níveis de ensino, na qualidade de coordenadora de equipas de educação especial e de apoios educativos. Tivemos sempre a percepção que o sucesso da inclusão dos alunos com NEE na sala de aula, estaria profundamente relacionado com as atitudes dos professores perante este paradigma. Apesar da maioria dos professores dizer ser a favor da inclusão, -184- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] verifica-se que estes apresentam alguns receios, apontando várias causas, entre as quais a falta de formação (Marchesi, 2001; Vieira, 1995). Uma das motivações que está inerente a este estudo, reside no facto de ao longo de toda a nossa carreira como professora de educação especial e apesar de todos afirmarem estar de acordo com a inclusão, a prática diária diz-nos que nas escolas embora exista integração física dos alunos com NEE, apoiada por vários normativos legais que têm evoluído nesse sentido, existe uma enorme barreira a transpor para que passemos da integração à inclusão e para que esta seja inquestionável. Foi sem dúvida a nossa experiência profissional que nos levou a aprofundar e a investigar esta temática e nos levou a tentar compreender o que está por detrás das dificuldades que os docentes dizem sentir para incluir os alunos na sua sala de aula, bem como das atitudes que tomam face a esta problemática. Consideram alguns autores que os factores que condicionam as atitudes dos professores, no que concerne à inclusão, são factores de ordem pessoal: idade, género, grau académico, tipo de formação, tempo de serviço, experiência de educação especial (García & Alonso, 1985; Muntaner, 1995; Marchesi, 2001; Avramidis & Norwich, 2002; Watkins, 2003; Vaz, 2005) e factores que se relacionam com o contexto: tipo de professor, situação na profissão, nível de ensino, número de alunos por turma, experiência profissional e localização da escola. Outros estudos apontam para uma relação muito forte entre as atitudes dos professores e a sua formação (Avramidis & Norwich, 2002; Loreman & Earle, 2007; Loreman, et al., 2007; Batsiou et al, 2008; Kuyini & Mangope, 2011). -185- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] Estas diferentes explicações para a relação existente entre atitudes e inclusão, levaramnos a optar por verificar em Portugal, quais os factores mais importantes que condicionam as atitudes dos professores. Se os pessoais mais relacionados com a sua formação ou se os contextuais mais relacionados com o sistema e as políticas educativas. Por outro lado um estudo por nós efectuado anteriormente com uma amostra de conveniência de 135 professores, apontava para uma relação forte entre formação e atitudes face á inclusão, sendo que os outros factores não eram relevantes. Julgamos que o conhecimento e esclarecimento e ou aprofundamento destes factores, poderá contribuir para consciencializar não só os professores mas toda a comunidade escolar para o que teremos que mudar para tornar a inclusão não só uma realidade mas um direito de todos e cada um. Neste sentido e tendo por base as referências teóricas subjacentes à revisão da literatura formulámos os objectivos que se seguem. 2. Objectivos Após a realização do nosso anterior estudo, que demonstrava uma relação entre formação dos professores e os resultados que apresentavam na escala de atitudes, levantaram-se-nos as seguintes questões: i. Quais as atitudes dos professores face à inclusão? ii. Qual a natureza das dificuldades que os professores dizem sentir na sua prática pedagógica, para se tornarem promotores da educação inclusiva? iii. Os professores atribuem a natureza das dificuldades sentidas mais a factores externos do que a si próprios? -186- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] iv. Quais os conteúdos curriculares que os professores consideram que deveriam ter tido nas escolas de formação inicial para que o atendimento às crianças com NEE nas salas de aula fosse mais facilitado? v. Quais as necessidades de formação que os professores sentem durante o seu percurso profissional? A partir destas questões definimos os seguintes objectivos: 2.1. iii. Objectivos gerais: Conhecer as atitudes de professores do ensino básico, face à inclusão de alunos com necessidades educativas especiais (NEE) na sala de aula. iv. Verificar a natureza das dificuldades que os professores sentem para promover a educação inclusiva e relacioná-las com o tipo de atitudes que manifestam, com o seu percurso e necessidades de formação. 2.2. Objectivos especifícos viii. Compreender as relações existentes entre “formação” e as atitudes dos professores do ensino básico face à inclusão dos alunos com NEE. ix. Relacionar variáveis sócio demográficas e académicas com o tipo de atitude manifestada pelos docentes dos diferentes níveis de ensino. x. Relacionar as atitudes manifestadas pelos professores face à inclusão dos alunos com NEE com o seu percurso formativo. xi. Verificar se a formação inicial recebida tem influência nas atitudes manifestadas por estes. -187- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] xii. Constatar as principais dificuldades, de professores do ensino básico, na sua prática diária para que sejam promotores da educação inclusiva. xiii. Inventariar as necessidades de formação dos professores nesta área. xiv. Elaborar sugestões a serem incluídas nos programas de formação inicial e contínua de professores. 3. Hipóteses A elaboração das hipóteses surge com base na reflexão sobre alguns dos resultados de estudos relativos à inclusão de crianças com NEE na sala de aula, assim como na revisão da literatura. Tendo em conta os objectivos e a problemática deste estudo, formularam-se as seguintes hipóteses: H1- As atitudes de professores de ensino básico face à inclusão dos alunos com NEE na sala de aula estão influenciadas por factores pessoais e profissionais. H1.1- A idade, o tempo de serviço e o nível de ensino em que leccionam influenciam a atitude dos professores face à inclusão de crianças com NEE. a) Os professores mais jovens têm atitudes mais positivas face à inclusão de alunos com NEE na sala de aula. b) Os professores com menos tempo de serviço, apresentam atitudes mais positivas face à inclusão de alunos com NEE. c) Os professores do 1º ciclo apresentam atitudes mais positivas face à inclusão de alunos com NEE do que os professores do 2º e 3º ciclo. -188- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] H1.2- As habilitações literárias e profissionais influenciam a atitude dos professores face à inclusão de crianças com NEE. a) Os profissionais com nível de formação académica mais elevada, apresentam atitudes mais positivas face à inclusão de alunos com NEE na sala de aula. b) Os professores que tiveram na sua formação inicial disciplinas relacionadas com os alunos com necessidades educativas especiais desenvolveram atitudes mais positivas face à inclusão desses mesmos alunos. c) A formação contínua no âmbito das necessidades educativas especiais desenvolve nos professores atitudes mais positivas face à inclusão dos alunos com NEE na sala de aula. d) A formação especializada no âmbito das necessidades educativas especiais desenvolve nos professores atitudes mais positivas face à inclusão dos alunos com NEE na sala de aula. H1.3- O tipo de função que o professor exerce na escola (professor de educação especial/professor titular e professor com funções de gestão) influencia as atitudes dos professores do ensino básico face à inclusão de alunos com NEE na sala de aula. H2- O grau de relevância atribuído pelos professores ao tipo de condições para que seja possível a realização de um efectivo processo de inclusão é influenciado por factores pessoais e profissionais. H2.1- A idade, o tempo de serviço e o nível de ensino em que leccionam influenciam o grau de relevância atribuído pelos professores ao tipo de condições para que seja possível a realização de um efectivo processo de inclusão. -189- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] H2.2- As habilitações literárias e profissionais influenciam o grau de relevância atribuído pelos professores às condições para que seja possível a realização de um efectivo processo de inclusão. a) A formação académica influencia o grau de relevância atribuído pelos professores às condições para que seja possível a realização de um efectivo processo de Inclusão. b) Ter disciplinas relacionadas com os alunos com necessidades educativas especiais na formação inicial influencia o grau de relevância atribuído pelos professores às condições para que seja possível a realização de um efectivo processo de Inclusão. c) A formação contínua no âmbito das necessidades educativas especiais influencia o grau de relevância atribuído pelos professores às condições para que seja possível a realização de um efectivo processo de Inclusão. d) A formação especializada no âmbito das necessidades educativas especiais influencia o grau de relevância atribuído pelos professores às condições para que seja possível a realização de um efectivo processo de Inclusão. H2.3- O tipo de função que o professor exerce na escola (professor de educação especial/ professor titular e professor com funções de gestão) influencia o grau de relevância atribuído pelos professores às condições para que seja possível a realização de um efectivo processo de inclusão. 4. Orientações metodológicas Enunciadas as questões da investigação, devemos definir qual a metodologia mais adequada. De acordo com Domínguez, (1998) a escolha da metodologia está condicionada por um conjunto de factores causais, pelo que seria um equívoco -190- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] optarmos por uma estratégia metodológica pré determinada, sem que antes tenhamos efectuado uma profunda análise do que o objecto da investigação exige. Uma investigação implica a identificação do problema, a realização de estudos empíricos, a replicação dos estudos, a síntese da investigação e a sua avaliação, devendo ser objectiva, precisa, verificada, detalhada, empírica com raciocínio lógico e conclusões provisórias (McMillan e Schumacher, 2005). De acordo com as suas funções, a investigação pode ser básica, aplicada e de avaliação. Os mesmos autores afirmam também que a investigação básica, é a realizada para provar uma teoria, sem intenção de aplicar os seus resultados a problemas práticos. Este tipo de investigação preocupa-se em saber explicar fenómenos sociais, não visando a resolução desses mesmos problemas ou fenómenos, mas antes o desenvolvimento do conhecimento independentemente das suas aplicações práticas. A Investigação aplicada centra-se num campo de prática habitual e preocupa-se com o desenvolvimento e a aplicação do conhecimento obtido na referida investigação. Ao contrário da investigação básica, este tipo de investigação alcança um conhecimento relevante para dar solução a um problema geral. Sendo tal como a investigação básica abstracta e geral, a investigação aplicada incrementa o conhecimento obtido através de investigação num campo concreto. A Investigação de avaliação ocupa-se de uma prática concreta de uma ou mais situações determinadas. A prática pode ser um programa, um produto ou um processo. A investigação avaliativa verifica por exemplo o mérito ou o custo de uma prática concreta em função dos valores em causa na situação. Na investigação acção o próprio investigador é envolvido no processo de investigação que desenvolve. -191- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] Podemos ver no quadro seguinte um esquema das modalidades de investigação, das técnicas de recolha de dados e informação da investigação. QUALITATIVO QUANTITATIVO Modalidades de Investigação Experimental • Experimental • Semi-Experimental • Caso ùnico Não Experimental • Descritivo • Comparativo • Correlacional • Inquérito • Ex post facto Interactivo • Etnográfico • Fenomenológico • Estudo de Caso • Teoria • Fundamentada • Estudos Críticos Não Interactivo • Análise de Conceitos • Análise Histórica Técnicas de Recolha de dados Observações estruturadas Entrevistas estruturadas Testes Questionários Avaliações alternativas Observação Participante Observação de campo Entrevista em profundidade Focus Group Documentos Técnicas suplementares Leitura e Avaliação da Investigação Resumo Introdução Problema da Investigação Revisão Bibliográfica Hipóteses de Investigação Metodologia Exposição e conclusão Referências Introdução Metodologia Descobertas e interpretações Conclusões Referências Fontes: Almeida, (2008); McMillan e Schumacher (2005) Quadro 10: Modalidades de investigação, técnicas de recolha de dados e informação de investigação Os métodos de investigação podem classificar-se de acordo com várias perspectivas, sendo que a mais utilizada é a classificação em métodos quantitativos e qualitativos que podemos observar no quadro anterior e que aprofundaremos nos capítulos seguintes. 5. A abordagem quantitativa e qualitativa Segundo Burns (2000) não existe uma metodologia unificada que permita explicar a natureza dos processos e fenómenos sociais. Para Shulman (1998) o que vai definir o paradigma e a metodologia a adoptar é a pergunta de investigação. Assim os métodos de investigação mais do que formas alternativas de responder à mesma questão, são modos diferentes de responder a perguntas sobre o mesmo fenómeno. -192- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] Sendo a educação uma área de estudo complexa são necessárias diferentes aproximações e a formulação de várias questões de investigação a partir de vários olhares. Não é aos investigadores que cabe a decisão antecipada de qual o método que vai utilizar. Esta decisão só depende sobretudo de natureza das questões de investigação e dos objectivos definidos. No que respeita aos métodos e técnicas de investigação existe uma grande diversidade de definições pois estas são variáveis de acordo com vários autores (Carmo & Ferreira, 1998). Berg (1995) afirma que a investigação quantitativa se refere a contas e medidas das coisas. A investigação quantitativa tenta encontrar aspectos mensuráveis do objecto de estudo, preocupa-se com a organização e o planeamento de procedimentos fiáveis e válidos, adopta os princípios do método científico, dando grande relevância à generalização e replicação de resultados (Burns, 2000; Cubo, 2006). Para Tesch (1992) a investigação qualitativa é o uso predominante e exclusivo das palavras como dados. Este paradigma de investigação adopta uma aproximação naturalista, preocupando-se em compreender e interpretar as múltiplas dimensões da realidade (Bogdan & Biken,1994; Burns,2000). Moreira (2007) distingue muito claramente as duas abordagens: O método quantitativo “busca o seu fundamento na teoria positivista do conhecimento, a qual procura descrever e explicar os acontecimentos, processos e fenómenos do mundo social, para que se possa chegar à formulação das generalizações que existem objectivamente” (p:48). -193- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] O método qualitativo procura “entrar dentro do processo de construção social, reconstruindo os conceitos e acções da situação estudada” para “descrever e compreender em detalhe os meios através dos quais os sujeitos empreendem acções significativas e criam um mundo seu” (p.49). A Investigação quantitativa e a investigação qualitativa estão associadas a várias correntes de produção de conhecimento. Alguns autores referem-se a ambas como divergentes e inconciliáveis (Filstead, 1986; Guba & Lincoln, 1982). Nos últimos tempos têm sido muito discutidas as vantagens e desvantagens da utilização de métodos quantitativos ou de métodos qualitativos na investigação em Ciências Sociais. Também tem sido questionada a utilização das duas em simultâneo. Reichardt e Cook (1986), afirmam que uma investigação não tem que necessariamente aderir a um ou a outro método, podendo mesmo beneficiar da combinação dos dois. Pensamos que ambos os paradigmas são válidos sempre que se ajustem às necessidades da investigação. Verifiquemos no quadro abaixo as características destes 2 tipos de paradigmas: Paradigma Quantitativo Paradigma Qualitativo Emprega métodos quantitativos Emprega métodos qualitativos Procura as causas dos fenómenos sociais, não dando importância aos aspectos subjectivos dos indivíduos Procura compreender a conduta humana a partir dos próprios pontos de vista daquele que actua Medição rigorosa e controlada Objectivo Observação naturalista e sem controlo Subjectivo Perspectiva a partir de fora (à margem dos dados) Perspectiva a partir de dentro (Próximo dos dados) Orientado para a comprovação, para o resultado (inferências) Orientado para a descoberta, para o processo (exploratório) Fiável: dados “sólidos” e repetíveis Válido: dados “reais” “ricos” e “profundos” Generalizável: Estudo de casos múltiplos Não generalizável: estudos de casos Particularista Holístico Assume a realidade como estável Assume uma realidade dinâmica Fontes: Reichardt e Cook. (1986) e Pérez Serrano, G. (1994) Quadro 11: Características fundamentais dos paradigmas quantitativo e qualitativo -194- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] A complementaridade de métodos é hoje realizada em investigação. Muitos autores recomendam a combinação de vários métodos no estudo dos mesmos fenómenos, para se obter uma triangulação e apurar os resultados do estudo (Burns, 2000, Patton, 2000). Após análise das características dos dois métodos atrás referidas, optámos pela utilização dos dois no nosso estudo, dado que não queremos só medir as atitudes mas também compreender o que está por “detrás” delas. 6. O método quantitativo Na metodologia quantitativa proposta por Arnau (1995) existem dois objectivos para a investigação científica. O primeiro implica formulação de hipóteses causais e o segundo a formulação de hipóteses de co-variância. Estes dois tipos de hipóteses estão relacionados com desenhos paradigmáticos de investigação. Assim as hipóteses causais estão relacionadas com o desenho experimental ou quase experimental, enquanto as hipóteses de co-variância com o desenho observacional que se baseiam em esquemas interpretativos de tipo relacional. Estas têm como objectivo explicar as relações que se estabelecem entre duas ou mais variáveis, habitualmente expressas em termos de grau de associação e magnitude de dependência. Aprofundemos um pouco este último desenho paradigmático de carácter observacional, os estudos de tipo descritivo, no qual enquadramos este nosso trabalho de investigação. De acordo com Arnau (1995) um estudo descritivo é não experimental porque não existe manipulação de variáveis. Tem como objectivo a recolha de informação junto de um grupo de indivíduos, sem que o investigador exerça manipulação ou intervenção e decorre em meio natural. -195- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] 6.1. Os questionários O instrumento principal de recolha de dados nos estudos descritivos é o questionário, dado que é uma excelente fonte de informação, sobretudo nos aspectos não observáveis, nomeadamente sobre o que pensam, fazem ou sentem os inquiridos. É no entanto um instrumento com algumas limitações, tais como a influência que as respostas podem ter pelo contexto pessoal do respondente, bem como pela dificuldade de interpretação da linguagem escrita. Daí que se recomende que os questionários devem ter perguntas claras, com uma ideia única, com palavras não ambíguas. Existem questionários de tipo fechado, aberto ou misto. Do ponto de vista da metodologia quantitativa, ao analisar um instrumento como o questionário importa discutir os aspectos relacionados com a segurança científica do instrumento utilizado na recolha de dados. A validação de um instrumento como o questionário pode ser definido como o processo através do qual o investigador acumula evidências que sustentem que de facto o instrumento utilizado permite estudar aquilo que o investigador pretende estudar (Burns, 2000; Navas, 2001). Alguns dos procedimentos que permitem assegurar a validade são a verificação de validade do conteúdo e a verificação da validade do constructo. O procedimento habitual para obter a validade do conteúdo é o juízo de peritos. Podem também utilizarse escalas já validadas. A validade do constructo relaciona-se com a análise da estrutura interna isto é com a análise de quais são as dimensões de um constructo determinado que a prova mede. O procedimento habitual para obter a validade do constructo é a análise factorial (Navas 2001). -196- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] A fiabilidade diz respeito à consistência interna entre as respostas que os inquiridos dão aos diferentes itens do questionário. O método matemático normalmente utilizado baseia-se na co-variância dos itens e designa-se por alfa de Cronbach. Esta medida é calculada a partir da matriz de variância e co-variância obtida dos valores dos itens. O coeficiente obtido varia entre 0,000 (fiabilidade nula) e 1,000 (fiabilidade perfeita). Segundo Tuckman (2000), para que o instrumento seja considerado fiável o coeficiente obtido não deve ser inferior a 0,800. 6.2. As escalas Por vezes as questões podem ser colocadas sob a forma de uma escala de atitudes, permitindo ao investigador medir atitudes e opiniões dos inquiridos. Pede-se aos indivíduos para reagir positiva ou negativamente a uma série de itens ou para optar por níveis de concordância ou discordância. De acordo com Vaz (2005) uma escala bem construída consiste num certo nº de itens que tenham sido bem seleccionados, de acordo com critérios definidos, para que possa descrever e medir os constructos relativamente complexos. Os itens que formam uma escala de atitudes são também chamados assertivas. Define-se uma assertiva como algo que é dito acerca do objecto atitudinal. À classe de todas as possíveis assertivas chama-se universo de conteúdo ou domínio de conteúdo. Para se construir uma escala de atitudes o 1º passo é definir a atitude que se deseja medir, seguidamente devem ser redigidos os itens ou seja afirmações que representarão na escala o universo de interesse. Para Vallejo (2003), um item ou uma opinião “é uma atitude verbalizada e através das opiniões, podemos inferir a atitude subjacente” (p.50). -197- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] Quando se constrói uma escala parte-se do pressuposto que haja diferenças nos sistemas de crença das pessoas com atitudes favoráveis em relação a algum objecto atitudinal e das que tenham atitudes desfavoráveis em relação ao mesmo objecto. Se um item for aceite de igual forma por uns e por outros então esse item não será útil para diferenciar entre essas duas classes de respondentes. Existe uma grande variação de escalas. Podemos distingui-las entre escalas de ordenamento ou comparativas (ranking scales) e escalas de pontuação ou categóricas (rating scales). Nas escalas comparativas os sujeitos devem comparar dois ou mais objectos atitudinais. Nas escalas categóricas ou de pontuação o objecto é avaliado de forma independente, sem referência a qualquer outro objecto. Debrucemo-nos um pouco sobre este último tipo de escalas, dado que a por nós utilizada se enquadra neste grupo. Existem várias tipos de escalas pertencentes ao grupo das escalas categóricas ou de pontuação, nomeadamente as escalas gráficas e escalas por itens. As escalas gráficas apresentam-se na forma de uma linha recta, onde os respondentes indicarão a importância do atributo marcando a posição na linha que corre de um extremo do atributo a outro. Os extremos da linha indicam avaliações do atributo que está a ser medido. Segundo Moreira (1986) as escalas gráficas são capazes de facilitar medidas precisas de atitudes em teoria, mas é discutível se essa precisão é realmente obtida na prática. As escalas por itens apresentam um conjunto finito de categorias de respostas. O -198- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] respondente não tem a liberdade de marcar um ponto qualquer. A escolha coincidirá obrigatoriamente com uma das categorias apresentadas. Nestas escalas os indivíduos devem seleccionar a sua resposta dentro de um número limitado de categorias. Geralmente são usadas de cinco a nove categorias. A escala utilizada no nosso estudo teve como base uma escala de tipo Likert, da qual falaremos um pouco mais adiante. 6.3. Validade da investigação quantitativa As conclusões das investigações quantitativas são muitas vezes limitadas pelo facto do desenvolvimento experimental ter de atender aos aspectos de validade interna e externa. É fundamental que todo o investigador se preocupe com a questão da validade dos métodos a que recorre (Vieira, 1999). Para Morse et al (2002) sem rigor a investigação não tem valor, torna-se ficção e perde a sua utilidade. Realça Lucio (2007) que a validade dos resultados são aspectos que importa garantir em qualquer análise de dados. Estes dependem em larga medida da validação do processo de recolha de informações. A validação, segundo Ketele e Roegiers (1999), assegura ao investigador aquilo que quer recolher, as informações que realmente recolhe e o modo como o faz servem adequadamente o objectivo da investigação. Esta deve pois caracterizar-se pela objectividade, precisão, verificação, explicação detalhada, empirismo, raciocínio lógico e conclusões provisorias (McMillan & Schumacher, 2005). Devemos pois falar de validade em termos de qualidade e de garantia científica do resultado (Cubo, 2011). Para Cubo (2006) quando falamos de validade estamos a entrar num campo escorregadio. Para Buendia, et al. (1997) validade interna refere-se à exactidão da -199- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] interpretação dos resultados e validade externa refere-se ao grau de generalização das conclusões. A validade interna depende da capacidade do estudo realmente responder às questões propostas inicialmente. Ela mede até que ponto os resultados do estudo são o produto das variáveis que foram seleccionadas, observadas e medidas e não o fruto de outras variáveis que não foram tratadas. A validade externa mede até que ponto os resultados obtidos pelo estudo podem ser generalizados para outras situações com outros indivíduos. Existem alguns procedimentos a adoptar para garantir a validade interna e externa, dos resultados de uma investigação. Na validade interna deverão ser tidos em conta determinados procedimentos tais como: a experiência do investigador, a adequação das tarefas aos objectivos e questões da investigação, a imparcialidade e a oportunidade das respostas por parte dos informadores e a garantia da não exclusão de dados. Na validade externa deverão ser tidos em conta determinados procedimentos tais como:a validação lógica e empírica do instrumento de investigação e a validação, por parte de especialistas, dos aspectos a ter em conta na análise de conteúdos bem como as categorias de resposta definidas com base nos grupos temáticos, no âmbito do objecto de estudo (Gomes, 2009). “La validez interna se relaciona com la possibilidad que tenemos en una investigación determinada de obviar toda posibilidad de hipótesis alternativa. La validez externa, con las posibilidades en una investigación particular de generalizar los resultados.Validez interna se relaciona por tanto con rigor y precisión en los resultados, y validez externa con generalizabilidad” (Cubo, 2011, p.156). -200- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] Se alguém enunciar uma explicação alternativa, também chamada de hipótese rival dos resultados obtidos, a investigação não possui validade interna, bem como se os resultados não forem generalizáveis ou aplicáveis a grupos exteriores ao enquadramento experimental, não haverá validade externa. Existem naturalmente ameaças à validade interna tais como a história dos sujeitos, a maturação, os efeitos devidos à administração de testes, a regressão estatística, os testes em si mesmos e a selecção da amostra (Campbell & Standley, 1966; Pérez – Llantada & López de la Llave, 2001 & Cubo, 2011). Já no que se refere à validade externa as principais ameaças são a interacção de provas e tratamento de dados, a interacção entre selecção e tratamento dos dados,os efeitos reactivos dos dispositivos experimentais e a interferência dos tratamentos múltiplos (Campbell & Standley, 1966; Pérez –Llantada & López de la Llave, 2001 & Cubo, 2011). Encontra-se ainda na literatura (Cook & Campbell, 1979; Cubo, 2011) referências à validade do constructo definida como o grau de correspondência entre a medida da variável dependente, a manipulação da variável independente e o constructo teórico que se está a medir ou a manipular, bem como à validade ecológica, definida como a possibilidade da aplicação da investigação noutros ambientes. Uma das principais limitações da investigação quantitativa relaciona-se com o facto do investigador, ao lidar com seres humanos, ser incapaz de manipular ou controlar certos aspectos, normalmente chamados de variáveis dependentes e independentes. Por isso a questão do controle é obviamente uma limitação deste método. -201- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] Miles e Hubermann (1994) assinalam como um passo fundamental para a fiabilidade e validade do estudo a verificação das conclusões através da triangulação da qual passaremos a falar no tópico seguinte. 7. Método qualitativo Aprofundemos agora um pouco o paradigma qualitativo, dado que utilizamos bastante esta metodologia no nosso trabalho. Sandín (2003) fez uma compilação de definições sobre a investigação de tipo qualitativo. No quadro seguinte poderemos ver algumas dessas definições. Data 2003 Autor Definição A investigação qualitativa é uma actividade sistemática orientada para a Sandín compreensão profunda de fenómenos educativos sociais , com vista ao desenvolvimento de um conjunto organizado de conhecimentos A investigação qualitativa pode referir-se a investigação sobre a vida das 1999 Strauss e Corbin pessoas, histórias, comportamentos, bem como ao funcionamento organizativo das sociedades. Alguns dados podem ser quantificados mas a análise fundamental é qualitativa 1998 Sherman e Webb A investigação qualitativa implica uma preocupação directa pela experiência tal como é vivida sentida e experimentada. A investigação qualitativa é um processo activo sistemático e rigoroso de questionamento dirigido no qual se tomam decisões sobre o que se investiga. 1994 Perez Serrano Consideram-se descrições detalhadas de situações, eventos, pessoas. São observadas intenções ou comportamentos, atitudes, crenças, pensamentos, reflexões, etc. Quadro 12: Definições de investigação qualitativa Moreira (2007) afirma que o método qualitativo procura “entrar dentro do processo de construção social, reconstruindo os conceitos e acções da situação estudada” (p.48). Procura segundo o mesmo autor, descrever e compreender profundamente os meios através dos quais os sujeitos empreendem acções significativas. -202- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] As características deste tipo de investigação são múltiplas. Bogdan e Biklen (1994) definem como principais as seguintes: i. Os dados são recolhidos em ambiente natural, pelo próprio investigador. ii. Os dados recolhidos são de tipo descritivo iii. O investigador está mais preocupado com o processo do que com o produto iv. A análise dos dados é indutiva v. As perspectivas dos participantes são fundamentais. Salientamos no contexto da investigação qualitativa quatro tipos de estudos que sintetizamos no quadro seguinte: Tipo de Estudo Objectivos Descritivo Identificar e caracterizar os diferentes aspectos do objecto de estudo Interpretativo Compreender os fenómenos e descobrir padrões por exemplo de comportamentos De Análise Teórica Avaliativo Comparar e analisar generalizações ou teorias Avaliar políticas ou práticas Fonte: Menino (2009) Quadro 13: Tipos de estudos em investigação qualitativa Os estudos de natureza interpretativa são apoiados por duas correntes. A fenomenológica, que procura entender os fenómenos e a interaccionista, que entende que a experiência humana é mediada pela interpretação. Segundo esta corrente são as pessoas que atribuem significados às situações e que essa significação é um produto da interacção social (Matos & Carreira, 1994; Ponte 2006). Os estudos de natureza interpretativa são muitas vezes baseados em estudos de caso. Para Ponte (2006) e Burns (2000) o design de um estudo de caso é adequado quando se pretende estudar um objecto ou um fenómeno em contexto natural. Na revisão da literatura efectuada por -203- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] Ponte (2006) são identificados três tipos de estudos de caso: exploratório, descritivo e analítico. Os estudos de análise teórica buscam normalmente a comparação e análise de generalizações. Finalmente os estudos de natureza avaliativa visa avaliarem políticas ou práticas educativas. Sandín (2003) refere que a investigação de natureza qualitativa parece acontecer com avanços e recuos. Na literatura são indicadas quatro etapas de trabalho numa investigação qualitativa (Miles & Huberman, 1994; Cohen, Manion & Morrison, 2000). Na 1ª fase o investigador contacta com o tema e identifica o problema. Revê a bibliografia e enquadra teoricamente o seu trabalho. Na segunda fase o investigador recolha os dados. A recolha de dados em investigação qualitativa supõe um árduo trabalho lento e prolongado no tempo. É partindo do problema em estudo e dos objectivos de investigação que se elegem os métodos a utilizar. Esta ideia é válida no que se refere aos instrumentos de recolha de dados. A terceira fase corresponde à organização e análise dos dados. Esta será a fase mais complexa em que os investigadores têm que tomar decisões sobre que dados a analisar e discutir a qualidade desses mesmos dados. Terão que recolher, analisar e reflectir sobre os dados, definir categorias conceptuais e construir ligações e relações e eventualmente calendarizar novas recolhas. Ainda nesta fase terão que comparar os seus resultados com a literatura existente. A quarta e última fase é a transmissão e partilha dos resultados obtidos. -204- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] Na investigação qualitativa existe uma grande recolha de dados ricos em conteúdo, dado que os poderemos obter com recurso a inúmeras técnicas e com inúmeros instrumentos que facilitam a aproximação à realidade. Os mais utilizados são a entrevista, os inquéritos por questionário, os grupos focados também conhecidos por grupos de discussão ou focus group e a análise documental. Procuraremos descrever um pouco cada um deles nos pontos seguintes. 7.1. A entrevista De acordo com Santos (2000) a técnica da entrevista é um método muito utilizado para descrever e compreender as concepções e perspectivas da população em estudo. A entrevista é normalmente classificada quanto ao tipo, em não estruturada, semiestruturada ou estruturada, dependendo do grau de abertura das questões que colocamos (Bogdan & Biklen, 1994). O sucesso desta técnica depende de como se prepara e se conduz a entrevista. Carmo e Ferreira (1998) referem que a interacção directa é uma questão chave na técnica da entrevista e que antes da entrevista o investigador deve definir o objectivo, construir o guião, escolher os entrevistados, preparar os entrevistados e os entrevistadores se for caso disso, marcar data, hora e local. Durante a entrevista, o entrevistador deve explicar quem é e o que pretende obter e manter a confiança, saber escutar, manter o controlo com diplomacia, avivar a relação, enquadrar as perguntas que possam ser consideradas melindrosas e evitar perguntas indutoras. Logo depois da entrevista deve o entrevistador registar o comportamento do entrevistado e as observações sobre o ambiente em que decorreu a entrevista. -205- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] 7.2. Os inquéritos por questionário Aos inquéritos por questionário já nos referimos quando abordamos o paradigma quantitativo. Apenas referir aqui que muitos questionários são de tipo misto, o que leva a que o tratamento dos dados referentes às perguntas abertas, seja feito sob o paradigma qualitativo. Salientamos que o questionário utilizado no nosso estudo foi de tipo misto. As questões de natureza fechada foram apresentadas em forma de escala de likert e deram origem a dados organizados e analisados numa perspectiva quantitativa, enquanto as questões abertas deram origem a dados analisados sob o paradigma qualitativo. 7.3. Focus group O método aqui designado focus group (grupos focados ou de discussão) evoluiu fora dos métodos da pesquisa convencional, pois foi utilizado durante a 2ª guerra mundial para medir respostas de audiência. Os pioneiros foram Paul Lazarsfeld, Robert Merton e outros investigadores da Universidade da Colômbia. Originalmente este método foi apelidado de entrevista focada, mas era indiferente que essas entrevistas fossem individuais ou em grupo. Segundo Kidd e Parshall (2000) muitos investigadores pelo facto do método ter amadurecido fora da metodologia tradicional da pesquisa qualitativa, recusaram-se a utilizá-lo. Porém nos últimos anos, os grupos de discussão ou focais têm sido utilizados em ciências sociais. Tiveram origem na sociologia e hoje são usados na área da educação, na área de marketing, na área da saúde e sistemas de informação e como qualquer outro método de pesquisa deve ser conduzido com rigor científico. Segundo estes autores no entanto, muitos têm argumentado que os grupos focados não são -206- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] adequados se utilizados como método exclusivo de recolha de informação, mas eficazes se forem associados a outros, nomeadamente de natureza quantitativa. Os grupos focados são então fóruns de um pequeno grupo de indivíduos que se reúnem para conversar sobre o tema em estudo. Utilizam-se para conhecer condutas e atitudes sociais. São constituídos por 6 a 12 pessoas, têm a duração aproximada de 1 hora e são conduzidas por um moderador. Os intervenientes podem expressar se de forma livre e espontânea sobre o tema. Para o desenvolvimento desta técnica, pode ser elaborado um guia de tópicos ou um roteiro de questões (Simon 1999). Se nos decidirmos por um guia de tópicos devemos listar aspectos ou questões formadas apenas por palavras-chave, enquanto no roteiro de questões as frases são completas, para que se possa ter uma sequência das mesmas e obter o conteúdo desejado (Oliveira & Freitas, 1998). No nosso estudo como veremos adiante optámos por uma listagem de tópicos de forma a tornar-se mais flexível a discussão. Cada vez mais os investigadores reconhecem a vantagem da associação de métodos qualitativos e quantitativos. Neste contexto o focus group pode preceder, suceder ou ser utilizado ao mesmo tempo que um método quantitativo. Por último diremos que existem certas vantagens e desvantagens da utilização deste método. Poderemos no quadro seguinte sintetizar essas vantagens e desvantagens de acordo com Aubel (1994) e Beyea e Nicoll (2000a). -207- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] Vantagens Desvantagens Recolher dados num curto espaço de tempo. Método rápido, económico e eficiente para obter informação A experiência do grupo geralmente é positiva para os participantes. Podem expressar se livremente Facilita a discussão entre os participantes. O ambiente do grupo pode transmitir segurança Alguns indivíduos gostam de relatar as suas experiências pois sentem-se mais apoiados. Os membros do grupo têm a possibilidade de ouvir vários pontos de vista. Alta fiabilidade dos dados Os participantes podem ter receio de discutir as suas ideias e crenças ou em expressar as suas preocupações ou opiniões Um ou mais participantes podem monopolizar a discussão do grupo Baixo custo em relação a outros métodos Permite ao pesquisador aumentar o tamanho da amostra dos estudos qualitativos Análise de dados pode consumir tempo e recursos Dificuldade de reunir um grupo Preconceitos do moderador podem influenciar os resultados As questões certas podem não ser perguntadas Uma opinião pode prevalecer no grupo Não se podem tratar os dados estatisticamente Quadro 14: Vantagens e desvantagens de focus group O moderador possui um papel fundamental neste processo de recolha de dados. Deve saber colocar os tópicos da discussão. Segundo Ribeiro (2001) e Ribeiro e Newmann (2008) o moderador deve ser capaz de aprender rapidamente e absorver novos pensamentos e vocabulário, ser um líder amigável, ser esclarecido mas não transformar-se num expert, possuir uma excelente memória, ser um bom ouvinte, ser facilitador e nunca um actor, ser flexível e empático, ter uma visão geral tornando-se capaz de separar as observações importantes e por fim deve ser um bom relator. Quando trabalhamos com focus group, torna-se importante a forma como se recolhem e armazenam os dados para posterior transcrição e análise. A gravação pode se considerada a principal forma de recolha, portanto é fundamental assegurar a sua qualidade. Para Oliveira e Freitas (1998) e Beyea e Nicoll (2000 a) a sessão de focus group é mais facilmente conduzida quando os participantes apresentam homogeneidade em certos aspectos, como nível cultural, faixa etária, sexo, profissões, entre outras. Porém é importante considerar se o resultado obtido pelo grupo reflecte o pensamento do grupo ou da investigação. A heterogeneidade dos participantes em alguns casos, é necessária -208- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] para detectar a divergência de opiniões, para estimular a discussão e gerar um possível consenso. Após a recolha gravada dos dados é feita a transcrição e análise. Beyea e Nicoll (2000 b) e Oliveira e Freitas (1998) chamam a atenção para a forma como essa análise deverá ser feita considerando as palavras e o seu significado, o contexto em que foram colocadas as ideias, a consistência interna, a frequência e a extensão dos comentários e a especificidade das respostas. Segundo Ribeiro (2001) a análise dos dados de focus group é essencial para aprofundar os estudos de cariz qualitativo. 7.4. A análise documental A análise documental é uma das técnicas importantes nas investigações em ciências sociais e humanas. Segundo Bogdan e Byklen (1994), Tuckman (2005) e Quivy e Campenhoudt (2003) existem três grupos de métodos de recolha de dados que se podem utilizar como fontes nas investigações qualitativas: a observação, a entrevista (individual ou colectiva) e a análise de documentos. Esta pode ser usada segundo duas perspectivas. Na primeira usamos para complementar a informação obtida por outros métodos, esperando encontrar nos documentos, informações úteis para o estudo. Na segunda perspectiva utilizamos como método de pesquisa central. Neste caso segundo Bell (1997) os documentos são o alvo central do estudo. Importa clarificar aqui alguns conceitos importantes em análise documental: dado, documento e análise. Segundo Flores (1994) “um dado suporta uma informação sobre a realidade, implica uma elaboração conceptual dessa informação e o modo de expressá-la que possibilite a -209- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] sua conservação e comunicação”.(p.16) Para Bell (1997) um documento é uma impressão deixada num objecto físico. Pode apresentar-se sob a forma de fotografias, filmes, diapositivos, sendo o mais comum a forma impressa. Flores (1994) refere que a análise em investigação educativa consiste na detecção de unidades de significado num texto e no estudo das relações entre elas. 7.5. Natureza dos dados documentais Quanto à natureza dos documentos estes podem ser classificados em fontes primárias e em fontes secundárias. Cohen e Manion (1994) referem que as fontes primárias dizem respeito à produção de documentos efectuada durante o período a ser investigado, como por exemplo manuscritos, leis, actas de reuniões, memorandos, filmes, entre outros. Dentro das fontes primárias as mais comuns são as fontes deliberadas e as fontes inadvertidas. As fontes deliberadas foram produzidas com o objecto de servir futuras investigações, podendo ter a função de esclarecimento de suspeitas. Exemplos de fontes deliberadas são as autobiografias e memórias de políticos ou personalidades.As fontes inadvertidas são as mais comuns e geralmente mais valiosas. São usadas pelo investigador com uma finalidade diferente daquela com que foram criadas. São exemplos actas, manuais, folhetos e textos produzidos com um fim e que irão ser utilizados pelo investigador a posteriori (Bell, 1997). As fontes secundárias são a interpretação de acontecimentos do período em estudo, baseadas em fontes primárias. Estas fontes têm um carácter limitativo uma vez que resultam de passagem de informação de pessoas para pessoas, ou revelam a interpretação de várias pessoas. -210- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] 7.6. Análise de conteúdo Delgado e Gutiérrez (1995) referem que podemos considerar a análise de conteúdo, como um conjunto de procedimentos que têm como objectivo a produção de um texto, no qual apresentamos a informação dos documentos recolhidos de uma forma transformada. Esta transformação segundo os mesmos autores ocorre com regras definidas e devem ser justificadas pelo investigador. Existem pois um conjunto de tarefas que constituem o processo de análise básico, que é comum à maioria dos estudos. Quivy e Campenhoudt (2003) referem que existem vários métodos de análise de conteúdos. Miles e Huberman (1994) dividiram esta análise em 3 conjuntos de tarefas: redução de dados, apresentação dos mesmos e conclusão. Uma das primeiras tarefas do investigador é efectuar a separação dos dados em unidades relevantes e significativas: a unidade de análise. Esta pode ser uma frase ou um parágrafo (Cohen & Manion, 1994). Para Flores (1994) esta divisão da informação em unidades, pode realizar-se de acordo com diferentes critérios. O mais frequente é considerar as unidades em função do tema abordado. O investigador terá que identificar e classificar as unidades de modo a encontrar nelas determinadas componentes temáticas que permitam classificá-las numa determinada categoria de conteúdo. As categorias podem segundo Flores (1994) referir-se a situações e contextos, actividades e acontecimentos, relações entre as pessoas, comportamentos, opiniões, perspectivas sobre um assunto, métodos e estratégias entre outras. Estas quando utilizadas num estudo, podem definir-se a priori de acordo com as questões e hipóteses que orientam a investigação, geralmente enquadrando-se numa investigação de -211- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] natureza positivista, ou a posteriori, a partir dos dados obtidos enquadrando-se numa investigação de natureza interpretativa. Bogdan e Biklen (1994) apresentam vários exemplos de categorias que podem ser estabelecidas: i. Depois da categorização segue-se o processo de codificação. Os processos de categorização e codificação estão relacionados com a decisão sobre a associação de cada unidade a uma determinada categoria (Flores, 1994). ii. Este conjunto de tarefas, separação em unidades, categorização e codificação e agrupamento constituem modos de contribuir para a redução de dados fundamental em análise de conteúdo. iii. Existem vantagens e limitações na análise de documentos. Quivy e Campenhouldt (2003), referem que a análise documental apresenta vantagens tais como: evitar o recurso exagerado a sondagens e inquéritos; a obtenção dos documentos a baixo custo ou gratuitamente (Igea e alt, 1995); os documentos proporcionam informações sobre ocorrências passadas que não se observaram ou assistiram (idem); os documentos são imparciais em relação à investigação e não são afectadas pelos seus processos de desenvolvimento (Merriam, 1988). As limitações referem-se ao facto de nem sempre ser possível o acesso a documentos (Quivy & Campenhouldt, 2003); os documentos podem ser forjados, alterados ou falseados e podem não conter informações detalhadas (Igea et al,1995); os investigadores muitas vezes não explicitam as ferramentas que usaram na análise documental para chegar a determinadas conclusões (Flores, 1994). A análise de documentos tem como qualquer outro método de recolha e análise de dados, vantagens e desvantagens ou limitações e implica um conjunto de pressupostos que deveremos conhecer e respeitar. Para aplicar um determinado método de recolha -212- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] de dados o investigador deverá conhecer o método mas sobretudo compreendê-lo. Tal como nos dizem Quivy e Campenhouldt (2003) apenas conhecemos o método de recolha e análise dos dados depois de o termos trabalhado nós próprios. 7.7. A triangulação No domínio da investigação, triangulação é o processo através do qual se observa o mesmo fenómeno a partir de um ou mais pontos de vista, por observadores e com diferentes instrumentos. Não é apenas “una técnica para recoger datos, sinomas bien un método para relacionar diferentes tipos de evidência entre si com el objecto de comparalas e constrastarlas” (Blázquez, 1991,p.93)8 Para Lacey e Luff (2001) triangular consiste pois em descobrir a complexidade e encontrar pontos de vista diferentes, assim as contradições e as diferenças entre os dados seleccionados devem animar o investigador a realizar análises mais profundas e algumas vezes investigações mais intensas, para que a investigação possa demonstrar rigor. De acordo com Minayo, Assis e Souza (2005) o objectivo da triangulação é recolher e analisar dados a partir de diferentes origens. Essas origens podem ser pessoas, instrumentos, documentos ou a combinação de vários, para os estudar e comparar entre si. O uso da triangulação em investigação é olhado como uma demonstração de rigor. Na literatura aparecem quatro tipos básicos de triangulação (Dezin, 1970; Arias, 2000; Patton, 2000; Merriam, 2002; Minayo et al, 2005): de dados; de investigadores, teórica e metodológica. 8 Blazquéz, Entonado, F (1991) . La Investigación Accion. Métodos y Técnicas de Investigación Cualitativa. En Sáenz Barrio. O (ed). Practicas de ensenanza. Proyectos curriculares y de investigación-acción. Alcoy:Marfil,p:93) -213- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] Estes tipos de triangulação de acordo com os autores citados poderiam ser assim definidos: i)Triangulação de dados: consiste na utilização de várias fontes de informação sobre o mesmo objecto de conhecimento para poder comparar a informação recolhida. Pode incluir três subtipos: tempo, espaço e pessoa. ii)Triangulação de investigadores : consiste no recurso a equipas multidisciplinares que observam um mesmo objecto de estudo, de diferentes pontos de vista. Numa mesma investigação intervêm vários investigadores. iii)Triangulação teórica: consiste na busca de um conhecimento mais compreensivo do fenómeno através do recurso a várias perspectivas e para digmas teóricos iv)Triangulação metodológica:consiste em cruzar informação dentro do método (within method) ou entre vários métodos (between method ou across method). No primeiro caso é usado só um método mas usadas diversas técnicas de recolha e análise de dados. No segundo caso é utilizada a combinação de diferentes métodos de pesquisa na medição de uma mesma unidade de análise (Moreira, 2007). A triangulação metodológica segundo Ventura (2011) é uma via importante na realização de uma investigação, muito referida na literatura e constitui uma das formas de combinar vários métodos entre si e articular métodos quantitativos e qualitativos, ao mesmo tempo que quebrou a hegemonia metodológica dos defensores do método único. -214- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] Para Ruiz Olabuénagua (2003) a triangulação pode ter uma função de controlo de qualidade, sendo utilizada como uma estratégia para o enriquecimento porque é aberta a várias vias de informação e modos de interpretação e porque é possível a comparação entre informações e interpretações coincidentes ou discordantes, visando verificar a correcção ou incorrecção das conclusões, confirmar a fiabilidade e controlar o seu processo de construção. É pois uma outra concepção de triangulação. As técnicas de recolha de dados, utilizadas neste estudo, foram o questionário, a análise documental e a utilização de grupos de discussão (focus group). Numa investigação de carácter descritivo e interpretativo estas técnicas são amplamente utilizadas (Bogdan & Biklen, 1994; Cohen, et al., 2000; Patton, 2000) e permitem uma aproximação aos sujeitos em estudo, durante um período de tempo alargado, facilitando a compreensão do fenómeno que está a ser estudado e a reorientação da forma e tipo de recolha com o intuito de melhor responder às questões colocadas. A utilização destas três técnicas, além de permitir a triangulação, permite a aproximação a um fenómeno de estudo que é pela sua natureza complexa. No domínio da educação assistimos, cada vez mais, a investigações que combinam elementos quantitativos e qualitativos, pela sua riqueza metodológica, atendendo à complexidade dos fenómenos que se pretendem compreender. Foi isso que se procurou fazer neste estudo. Toda a investigação realizada, e em particular a recolha de dados, assentou no conhecimento e consentimento dos participantes, tendo-se clarificado de forma rigorosa o projecto de trabalho que pretendiamos desenvolver (Cohen, et al., 2000). Foram -215- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] abertamente discutidas as questões do anonimato e da confidencialidade, foram fornecidas as informações acerca do estudo e as condições de participação, e as intenções foram explicitadas de forma rigorosa. As técnicas de triangulação, permitem aumentar a quantidade e a qualidade das informações recolhidas, ao mesmo tempo que permitem o contraste entre informações obtidas de diferentes formas (Burns, 2000). 8. Definição da População A População (Universo) sobre a qual incide este estudo é constituída por docentes dos três ciclos do ensino básico e educação especial a leccionar no ano lectivo 2007/2008 em Portugal Continental. Para realizarmos este trabalho e para definirmos o grupo amostra, fizemos um levantamento da população visada pela investigação, através de consulta ao GIASE (Gabinete de Investigação e Avaliação do Sistema Educativo) do Ministério da Educação, referente ao ano lectivo anterior. O número de professores de educação especial foi encontrado através de contactos efectuados com vários profissionais do sector, pois não existiam dados oficiais sobre o assunto (anexo 1). O universo sobre o qual incide o estudo é constituído por todos os Professores em Exercício e está explicitado no quadro seguinte: -216- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] Nº de docentes Região Norte Distritos abrangidos Educação Especial 1ºCiclo Braga/ Bragança Porto V.Castelo V.Real 3º Ciclo 2ºCiclo 10123 7851 9371 12657 10420 13690 3273 2613 3446 26053 20884 26507 Aveiro C.Branco Coimbra Centro Guarda Leiria Lisboa Santarém Viseu Sul Beja Évora Faro Portalegre Setúbal Totais 5526 Fonte: GIASE (Gabinete de Informação e Avaliação do Sistema Educativo) – Ministério da Educação dados do ano lectivo 2007/2008 Quadro 15: Professores em exercício em Portugal em 2007/2008 8.1. Caracterização da amostra do questionário O objectivo de qualquer investigação é encontrar resultados significativos referentes ao assunto em questão, contribuindo para uma melhor compreensão do problema/situação. A possibilidade de obter tais resultados passa pela obtenção de dados relevantes dependentes da qualidade das amostras. A selecção de uma boa amostra é um aspecto fundamental de toda e qualquer investigação (Almeida e Freire, 2003). Para este estudo foi constituída a maior amostra possível. Foram intencionalmente utilizados todos os docentes dos ciclos atrás referidos, que exercem funções como professores titulares de turma, professores de Educação Especial e que voluntariamente preencheram o site na Internet onde o questionário se encontrava, ou o devolveram após nossa distribuição. A amostra (estatística SPSS completa em anexo 2 e descritiva da amostra em anexo 3) ficou constituída por 325 docentes. Iniciaremos pela caracterização dos participantes (distribuição amostral) no estudo que responderam ao questionário. -217- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] Gráfico 8: Distribuição amostral por género Gráfico 9: Distribuição amostral por idade A amostra é composta por 325 professores, dos quais 89,23% são mulheres e só 10,77% são homens (gráfico 8). Esta situação deve-se ao facto da população feminina ser mais numerosa na área da educação. A maioria dos respondentes têm menos de 40 anos como podemos observar no gráfico nº 9, correspondendo a 66,10% de toda a amostra. Gráfico 10: Distribuição amostral por tipo de professor Gráfico 11: Distribuição amostral por grau académico -218- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] Quanto ao tipo de professores (gráfico 10) que encontramos neste estudo, 46,2% dos docentes são professores de turma, enquanto 30,2% são da área da educação especial. É também significativo que 91,7% dos professores tenham uma licenciatura, como se verifica no gráfico 11. Por outro lado aproximadamente metade dos docentes tem entre 7 e 25 anos de carreira profissional (gráfico 12). Destacamos também 22,5% com menos de 3 anos de docência. A maioria dos inquiridos é proveniente do 1º ciclo de ensino básico e 23,8% da educação especial (gráfico 13). Gráfico 12: Distribuição amostral por anos de docência Gráfico 13: Distribuição amostral por nível de ensino Pedimos aos inquiridos que identificassem a sua escola de formação inicial. Escola/universidade de formação inicial Frequência Percentagem CONSERVATÓRIO NACIONAL DE MÚSICA DE LISBOA / UNIVERSIDADE DE LISBOA 2 0,6 ESCOLA DO MAGISTÉRIO PRIMÁRIO DE BRAGANÇA 2 0,6 ESCOLA DO MAGISTÉRIO PRIMÁRIO DE CALDAS DA RAINHA 4 1,2 ESCOLA DO MAGISTÉRIO PRIMÁRIO DE CASTELO BRANCO 2 0,6 ESCOLA DO MAGISTÉRIO PRIMÁRIO DE COIMBRA 1 0,3 ESCOLA DO MAGISTÉRIO PRIMÁRIO DE EVORA 2 0,6 ESCOLA DO MAGISTERIO PRIMARIO DE FARO 3 0,9 ESCOLA DO MAGISTERIO PRIMARIO DE FUNDÃO 2 0,6 ESCOLA DO MAGISTERIO PRIMARIO DA HORTA 1 ,3 ESCOLA DO MAGISTERIO PRIMARIO DE LISBOA 4 1,2 -219- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] ESCOLA DO MAGISTERIO PRIMARIO DE PENAFIEL 1 0,3 ESCOLA DO MAGISTERIO PRIMARIO DE PORTALEGRE 1 0,3 ESCOLAESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO 2 0,6 ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DE ALMEIDA GARRETT 2 0,6 ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DE BEJA 2 0,6 ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DE BRAGANÇA 4 1,2 ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DE CASTELO BRANCO 1 0,3 ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DE FARO 3 0,9 ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DA GUARDA 2 0,6 ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DE INFÂNCIA MARIA ULRICH 4 1,2 ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DE LEIRIA 14 4,3 EDUCAÇÃO FÍSICA – FRANÇA 1 0,3 INSTITUTO POLITECNICO DE LEIRIA 3 0,9 ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DE LISBOA 14 4,3 ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DE PORTALEGRE 1 0,3 ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DE PORTO 2 0,6 ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DE SANTARÉM 9 2,8 ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DE SETÚBAL 7 2,2 ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DE TORRES NOVAS 7 2,2 ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DE VISEU 9 2,8 ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO JEAN PIAGET 14 4,3 ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO JEAN PIAGET - ARCOZELO 1 0,3 ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO JEAN PIAGET NORDESTE - MACEDO CAVALEIROS 1 0,3 ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO JEAN PIAGET - ALMADA 2 0,6 ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO JOÃO DE DEUS 19 5,8 ESEF FAFE 1 0,3 INSTITUTO POLITÉCNICO DE LEIRIA - ESCOLA SUPERIOR DE TECNOLOGIAS, GESTÃO, ARTE 2 0,6 FACULDADE DE LETRAS 4 1,2 ISCE 9 2,8 IMPE 1 0,3 INSTITUTO SUPERIOR CIÊNCIAS DA SAÚDE - NORTE 1 0,3 INSTITUTO SUPERIOR DE CIENCIAS EDUCATIVAS 16 4,9 ESCOLA DE EDUCADORAS DE INFÂNCIA PAULA FRESSINETTI 1 0,3 INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS EDUCATIVAS - ISCE FELGUEIRAS 10 3,1 INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS EDUCATIVAS – ISCE ODIVELAS 2 0,6 INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS 2 0,6 INSTITUTO POLITÉCNICO DA GUARDA 2 0,6 ISPA 1 0,3 ULHT 1 0,3 UNIVERSIDADE CATOLICA PORTUGUESA 1 0,3 UNIVERSIDADE DE AVEIRO 3 0,9 UNIVERSIDADE DE COIMBRA 1 0,3 UNIVERSIDADE DE COIMBRA - FACULDADE DE LETRAS 3 0,9 ESCOLA DO MAGISTÉRIO PRIMÁRIO 7 2,2 UNIVERSIDADE DE ÉVORA 10 3,1 UNIVERSIDADE DE LISBOA 7 2,2 -220- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] UNIVERSIDADE DE LISBOA - FACULDADE DE LETRAS 3 0,9 UNIVERSIDADE DE TRAS-OS-MONTES E ALTO DOURO 8 2,5 UNIVERSIDADE DO ALGARVE 17 5,2 UNIVERSIDADE DO MINHO 3 0,9 UNIVERSIDADE DO PORTO 4 1,2 UNIVERSIDADE DO PORTO - FACULDADE DE LETRAS 6 1,8 UNIVERSIDADE DO PORTO - FACULDADE DE CIÊNCIAS 3 0,9 ESCOLA DE MAGISTÉRIO PRIMÁRIO ANDRADE CORVO - TORRES NOVAS 1 0,3 UNIVERSIDADE DO PORTO - FACULDADE DE FILOSOFIA 1 0,3 UNIVERSIDADE DOS AÇORES 9 2,8 UNIVERSIDADE LUSIADA – LISBOA 1 0,3 UNIVERSIDADE LUSIADA DO PORTO 1 0,3 UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA 4 1,2 UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA - FACULDADE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS 5 1,5 UNIVERSIDADE TÉCNICA DE LISBOA - FACULDADE DE MOTRICIDADE HUMANA 1 0,3 UNIVERSIDADE PORTUCALENSE 1 0,3 INSTITUTO PIAGET 2 0,6 ESCOLA DO MAGISTÉRIO PRIMÁRIO DE SANTARÉM 3 0,9 ESCOLA DO MAGISTERIO PRIMARIO DE AVEIRO 2 0,6 INSTITUTO POLITECNICO BRAGANÇA 1 0,3 UNIVERSIDADE CLÁSSICA DE LISBOA 4 1,2 UTL FMH 2 0,6 FPCEUL 3 0,9 ESTGAD – IPL 1 0,3 UTAD 1 0,3 CURSO NORMAL DE EDUCADORES DE INFÂNCIA 1 0,3 INSITUTO SUPERIOR DE ENGENHARIA DE LISBOA - ESE SETÚBAL 1 0,3 Total 325 100% Quadro 16: Escola/universidade de formação inicial O grupo de professores é muito heterogéneo no que se refere à escola ou universidade onde receberam a sua formação inicial como mostra o quadro 16 destacando a Escola Superior de Educação João de Deus com 19 pessoas das 325 que compõem a amostra total. Perguntávamos ainda aos docentes, se na sua formação inicial, teriam tido algumas disciplinas que os preparassem para o trabalho com as crianças com necessidades educativas especiais e que se pronunciassem sobre a qualidade dessa formação. -221- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] Obtivemos os seguintes resultados: Frequência Percentagem 28 8,6 Insuficiente 83 25,5 Suficiente 33 10,2 Boa 5 1,5 Muito boa 6 1,8 Não contesta 170 52,3 325 100,0 Formacão inicial Muito insuficiente Total Gráfico 14: Disciplinas na formacão inicial Tabela 3: Qualidade da formacão inicial recebida Verificamos (gráfico 14) que 43,4% dos professores receberam na sua formação inicial conteúdos para trabalhar com alunos com necessidades educativas especiais e que 25,5% destes, consideram que essa formação foi insuficiente (tabela 3). À questão seguinte onde se perguntava aos professores que tinham respondido positivamente, quais as disciplinas da sua formação inicial que os preparavam para a actividade com crianças com necessidades educativas especiais responderam 141 professores. Dada a diversidade de respostas (que poderá ser analisada no anexo 4) optamos por colocar no quadro 17, as mais frequentes por ordem decrescente. Frequência Necessidades educativas especiais 67 Não respondem 19 Educação especial 13 Psicologia 6 Psicologia da educação 4 Problemas de integração e aprendizagem 3 Psicossociologia e NEE 3 Actividade física adaptada 2 Psicologia educacional 2 Quadro 17: Tipo de disciplinas relacionadas com NEE na formação inicial -222- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] Observamos que existe uma disparidade de nomenclaturas e possivelmente de enfoques e conteúdos para disciplinas que, de acordo com os inquiridos, os terão preparado para o atendimento a crianças com NEE sendo a mais frequente a de necessidade educativas especiais. Passámos em seguida a inquirir os professores sobre não só a frequência (gráfico 15) durante o seu percurso profissional de acções de formação contínua sobre a temática, mas também sobre o nº de horas frequentado (tabela 4). Nº de horas: Percentagem Até 25 70 21,5 26 a 50 43 13,2 51 a 75 14 4,3 mais de 75 44 13,5 Não contesta 154 47,4 325 100,0 Total Gráfico 15: Acções de formação contínua Frequência Tabela 4: Formação contínua/ Nº horas Esta formação foi também analisada na sua qualidade pelos docentes. Gráfico 16: Qualidade da Informação recebida nas acções de formação -223- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] A formação contínua é um dos elementos importantes deste estudo. Podemos verificar que 50,5% dos professores têm algum curso referente aos alunos com necessidades educativas especiais. Destacamos ainda que 21,5% dos cursos são de curta duração, com menos de 25 horas lectivas. Como sucedia na formação inicial, estes cursos não cumprem as expectativas dos professores que optam em 39,3% dos casos por considerarem a formação insuficiente em relação à qualidade como podemos ver no gráfico 16. Gráfico 17: Formacão especializada de educação especial Gráfico 18: Domínio da especialização Verifica-se na amostra que 38,7% dos inquiridos tinham recebido formação especializada (gráfico 17) especialmente dirigida às perturbações no domínio cognitivo e motor (gráfico 18). Os intervenientes no estudo eram provenientes de escolas de diferentes regiões de Portugal. -224- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] Gráfico 19: Localização da escola onde leccionam Podemos observar (gráfico 19) que quase metade dos professores são da região centro de Portugal, cerca de 44,62%, seguindo-se a região sul com 28,31% e da região norte responderam 27,08% de docentes. Recolhemos também dados sobre a experiência dos inquiridos no que se refere à coordenação e direcção de estabelecimentos de ensino (escolas ou agrupamentos). Gráfico 20: Experiência de coordenação/direcção No que se refere a este item, encontrámos na amostra 66,2% de professores que tinham experiência de coordenar ou dirigir escolas e 33,8% não tinham experiência nesta área (gráfico 20) Para aprofundamento deste estudo foram utilizadas ainda mais duas recolhas de informação. Uma referente a dois grupos de discussão e a segunda recolha tratou se de -225- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] uma análise documental, de tipo inadvertido. São usadas pelo investigador com uma finalidade diferente daquela com que foram criadas. Assim foram utilizados 23 textos produzidos com um fim e que foram utilizados pelo investigador à posteriori. Apresentaremos de seguida a caracterização dos participantes nestas duas recolhas de informação. 8.2. Caracterização dos participantes no focus group Para a constituição dos grupos de discussão (Focus Group) solicitámos a participação de professores voluntários, de turmas nas quais exercemos funções de formador, procurando que nos dois grupos existissem docentes que correspondessem à nossa população em estudo. A amostra ficou assim constituída: Grupo de Norte: 8 participantes, (sendo um o moderador) e sete professores distribuídos da forma como poderemos ver no quadro seguinte: Idade Género Norte Tipo de Professor Grau académico Anos de docência Nível de Ensino/Grupo < 30 31 a 40 45 a 50 Feminino Masculino Turma Educação Especial Licenciado <3 4a6 7 a 25 25 a 35 Ed Especial 1º Ciclo 2º Ciclo 3º Ciclo 2 4 1 6 1 5 1 7 1 1 5 0 1 3 2 1 Quadro 18: Constituição do grupo de discussão organizado no norte de Portugal Grupo do Sul: 8 participantes (sendo um o moderador) e sete professores distribuídos da forma como podem ver no quadro seguinte: -226- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] Idade Género Sul Tipo de Professor Grau académico Anos de docência Nível de Ensino/Grupo < 30 31 a 40 45 a 50 Feminino Masculino Turma Educação Especial Licenciado <3 4a6 7 a 25 25 a 35 Ed Especial (910) 1º Ciclo 2º Ciclo 3º Ciclo 2 4 1 7 0 5 2 7 0 2 5 0 2 3 1 1 Quadro 19: Constituição do grupo de discussão organizado no sul de Portugal 8.3. Caracterização dos participantes na produção documental Para a análise documental os participantes foram professores de todos os níveis de ensino, que participaram em acções de formação por nós efectuadas durante o período em que decorreu o estudo. Foram escolhidos aleatoriamente 23 textos, correspondendo aos participantes que se caracterizam no quadro seguinte: < 30 8 31 a 40 13 45 a 50 2 Feminino 20 Masculino 3 Tipo de Professor Turma 23 Grau académico Licenciado 23 Nível de Ensino 1º ciclo 16 Idade Género Quadro 20: Caracterização dos participantes na análise documental Verificamos no quadro anterior, que este grupo de 23 professores é composto por 16 professores do 1º ciclo, 4 do 2º ciclo e 3 do 3º ciclo. Todos professores de turma. Dos 23 docentes, 3 eram do sexo masculino e 20 do sexo feminino. No que se refere às -227- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] idades apenas 2 tinham entre 45 e 50 anos, 8 menos de 30 e 13 tinham entre 31 e 40 anos. 9. Apresentação do questionário De acordo com os objectivos deste estudo, decidimos colocar o questionário por nós utilizado (anexo 5), num site na Internet: www.surveymonkey.com, pois considerámos esta forma de abordagem dos inquiridos mais atraente, para além de ser mais rápida quer a resposta dos que voluntariamente responderam ao questionário, quer a recolha e tratamento preliminar dos dados necessários ao nosso estudo. Poderemos ver nas imagens seguintes alguns aspectos do questionário. Imagem 1: Aspecto do questionário utilizado no estudo Construímos ainda um blog, onde explicitamos os objectivos do estudo, a necessidade da colaboração dos professores e onde foi possível ir dando, durante todo este processo, algum feedback da situação. Esse blog pode ser consultado em http://mfatimapaiva.blogspot.com e visualizado na figura seguinte: -228- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] Imagem 2: Blog construído para apoio ao estudo Enviamos por e-mail o link do questionário, a todos os agrupamentos de escolas cujos emails se encontravam disponíveis no site do Ministério da Educação, bem como a referência do blog. Enviámos ainda a professores nossos conhecidos em vários pontos do País. A todos solicitamos que reenviassem a todos os docentes possíveis. Entregámos também pessoalmente a alguns professores com quem íamos contactando. Obtivemos assim 429 respostas, das quais utilizámos 325 (75,8%), dado que algumas estavam demasiado incompletas. De salientar que o questionário continua disponível on-line, activo, pelo que poderá vir a ser utilizado em novo estudo, pois os docentes continuam a responder. As variáveis utilizadas no nosso estudo, são: idade, tipo de professor, grau académico, formação e informação recebida, tempo de docência, nível de ensino, localização da -229- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] escola, atitude dos professores de ensino regular e ensino especial, face à inclusão de crianças com NEE na sala de aula. 9.1. Características O questionário utilizado foi de tipo misto. Este é constituído por sete páginas e por três partes distintas. A primeira parte destina-se não só a explicar aos inquiridos os conceitos em estudo mas também a efectuar uma recolha de dados para a caracterização pessoal e profissional dos respondentes. Na segunda está incluída a escala AFI (Atitudes Face à Inclusão) construída e validada para um estudo de Vaz (2005). A terceira contém 5 questões, sendo a primeira de características fechadas. Os inquiridos terão que escolher por ordem de prioridade as condições que consideram mais relevantes para que seja possível um verdadeiro processo de inclusão. As quatro seguintes são de tipo aberto. A escala referida é de tipo Likert e consiste numa série de afirmações/opiniões (itens) relacionadas com um objecto atiudinal. No nosso estudo optámos por cinco opções de preferência: Concordo totalmente; Concordo; Indiferente (no sentido de uma posição intermédia); Discordo; Discordo totalmente. Estas escalas têm normalmente de 20 a 30 itens, sendo a por nós utilizada constituída por 27 itens. As questões de natureza fechada foram apresentadas em forma de escala de likert e deram origem a dados organizados e analisados numa perspectiva quantitativa, tratados através do programa informático SPSS (Statistical package for the social sciences). -230- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] 9.2. Validação A escala por nós utilizada, foi construída pelo seu autor (Vaz, 2005) em 3 fases. A primeira consistiu na revisão da literatura e na selecção das categorias e que inicialmente eram as seguintes:i)apoio político e administrativo;ii) benefícios da inclusão;iii) estereótipos;iv) impacto negativo da inclusão sobre o rendimento escolar;v)comportamento dos alunos com NEE;vi) características dos alunos com NEE;vii) direitos básicos;viii) impacto negativo da exclusão;ix) colaboração dos pais. Na segunda fase e a partir das categorias seleccionadas, foi construída uma lista de 75 itens cujo conteúdo se referia, aos constructos “Atitudes face à inclusão escolar” e “Atitudes face aos alunos com NEE”. Na terceira fase a lista inicial de itens foi apresentada a 4 professores universitários peritos ligados a esta problemática e também a 4 professores de educação especial e 4 dos 1º, 2º e 3º ciclos do ensino regular. Esta apresentação destinou-se a verificar se os itens eram ambíguos, a forma como estavam escritos confusa e se havia pouca clareza na sua formulação, escrita e apresentação. Tinha ainda como objectivos solicitar-lhes que pontuassem numa escala de 1 a 5 a valência de cada item, considerando o 1 como atitude negativa e a pontuação 5 como atitude positiva face à inclusão escolar.Foi-lhes ainda pedido que formulassem observações e comentários que julgassem pertinentes, quer no que se refere à formulação, quer no que se refere ao conteúdo. Com base no anterior procedimento foram anulados 10 itens, ficando a escala com 67 itens. Num segundo momento o questionário já nesta versão, foi aplicado a doze professores com características semelhantes aos quais viria a ser aplicada no futuro. Do -231- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] resultado desta aplicação foram retirados mais 5, ficando a escala com 62 itens, constituída pelas 3 partes já por nós explicitadas anteriormente. Com o objectivo de prevenir a uniformidade dos itens, redigiram-se algumas questões favoráveis e outras desfavoráveis, que pudessem reflectir os sentimentos dos professores face à inclusão escolar de alunos com NEE no ensino regular. Com base no estudo piloto realizado junto dos docentes e especialistas foi elaborada a versão definitiva da escala Os inquiridos tiveram conhecimento dos referentes de atitude utilizados na construção da escala. O estudo piloto foi realizado no Distrito de Castelo Branco. Foram distribuídos 280 questionários, dos quais foram devolvidos 230 (82%). Destes foram aproveitados 73% referentes a 204 sujeitos, todos professores dos 1º, 2º e 3º ciclos do ensino básico e da educação especial. Para o estudo da escala foram utilizados dois procedimentos de análise:análise aos itens pelas suas concentrações de respostas e análise dos itens pelas suas correlações com o total da escala. Seguidamente foi calculado o grau de consistência interna com o coeficiente de Cronbach. Para que os itens sejam considerados discriminativos, é necessário que haja variabilidade nas respostas. Da análise da distribuição percentual das respostas por cada um dos 62 itens constatou-se que nos itens 2, 4, 8, 9, 11,15,17,18, 20, 21, 25, 26, 27, 29, 30, 32, 34, 39, 43, 44, 47, 48, 50, 51, 53, 55, 58, 59 e 60 existia uma concentracção superior a 80% das respostas num dos lados da escala. Com base neste critério foram eliminados 30 itens, visto que não eram discriminativos, ficando a escala com 32 itens. -232- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] Em seguida foram calculadas as correlações de cada item com o total da escala corrigida, bem como a fiabilidade. Sempre que se verificou que a correlação do item com o total da escala era negativo ou muito baixo, esse item foi iliminado, visto não estar a medir o mesmo constructo. Nesta operação iliminaram-se mais 5 itens, pelo que a versão final apresenta 27 itens, cuja correlacção com o total da escala corrigido, é bastante satisfatório como podemos ver no quadro de análise de fiabilidade, mais adiante. Em síntese e para uma leitura mais facilitada, apresentamos na figura 4, as diferentes fases realizadas para construir a escala definitiva que foi aplicada no nosso estudo. -233- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] MEIOS OPERAÇÕES Definição dos constructos Revisão da Literatura SAÍDAS Pool de 77 itens Preparação dos itens 1ª Fase Construção da 1ª escala: Peritos • • • • • Piloto Estilo Formato Alternativas de resposta Instruções 2ª Fase • • • Alternativas de resposta Redacção Instruções Peritos Pool de 67 itens Pool de 62 itens Administração Polaridade dos itens Análise dos itens: • • • Configuração definitiva Pontuação extremas Correlação com o total da escala Consistência interna Categorias Escala de 27 itens Figura 4: Meios, operações e saídas referentes à escala de atitudes (AFI) -234- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] 9.3. Análise à fiabilidade A análise de fiabilidade permite estudar as propriedades de escalas de medida e as questões que as compõem. O procedimento utilizado calcula medidas de fidelidade da escala e também fornece informação sobre as relações entre itens individuais numa escala. Podem ser usados coeficientes de correlação inter-classes para calcular estimativas de fidelidade. No SPSS estão disponíveis vários modelos de análise da fidelidade e validade: i. Alpha (Cronbach): Modelo de consistência interna, baseado na correlação inter- item. ii. Split-half: Divide a escala em duas partes e examina a correlação entre elas. iii. Guttman: Calcula limites inferiores de fidelidade. iv. Paralelo: Assume variâncias iguais e erros de variância iguais nas replicações. v. Paralelo rígido: Também pressupõe médias iguais entre itens. Nas ciências sociais, o modelo mais utilizado para verificação de fidelidade e validade de escalas é o alpha de cronbach, que mede a fidelidade ou consistência de respostas a um conjunto de variáveis correlacionadas entre si, ou seja, como um conjunto de variáveis representam uma determinada dimensão, quando os dados tiverem uma estrutura multidimensional, o alfa de cronbach será baixo. Tecnicamente, o alfa de cronbach não é um teste estatístico - é um coeficiente de fidelidade (ou consistência). Se as correlações inter-variáveis forem altas, então há evidência que as variáveis medem a mesma dimensão. É este o significado de uma fidelidade (reliability) alta. Note-se que um coeficiente de fidelidade de 0.80 ou mais é considerado como "bom" na maioria das aplicações de ciências sociais e um coeficiente de fidelidade entre 0.70 e -235- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] 0.80 é considerado como "aceitável". A escala de respostas dos itens conotados com a atitude negativa são invertidas (“1” passa a “5”, “2” passa a “4”, …, “5” passa a “1”), para que, quer a escala global, meça sempre atitudes positivas face à inclusão. Verificamos agora a análise efectuada para o 1º estudo de Vaz (2005) no qual a escala foi aplicada Scale mean if item deleted Scale variance if item deleted Corrected Itemtotal correlation Cronbach’s alpha if item deleted ITEM 1 84.61 323.020 .456 .900 ITEM 2 85.84 324.727 .436 .901 ITEM 3 84.97 317.394 .562 .898 ITEM 4 84.82 308.005 .769 .894 ITEM 5 84.85 326.145 .492 .900 ITEM 6 86.12 323.264 .480 .900 ITEM 7 84.77 334.831 .244 .904 ITEM 8 85.29 324.088 .449 .901 ITEM 9 85.74 324.107 .455 .900 ITEM 10 84.47 334.367 .283 .903 ITEM 11 84.46 323.762 .473 .900 ITEM 12 84.10 330.687 .338 .902 ITEM 13 84.76 310.953 .688 .896 ITEM 14 85.11 317.895 .527 .899 ITEM 15 85.05 327.003 .349 .903 ITEM 16 85.19 317.045 .595 .898 ITEM 17 85.29 320.500 .518 .899 ITEM 18 84.81 317.816 .529 .899 ITEM 19 84.67 336.359 .208 .905 ITEM 20 84.27 328.404 .498 .900 ITEM 21 84.75 311.829 .670 .896 ITEM 22 85.16 313.052 .682 .896 ITEM 23 85.27 324.043 .426 .901 ITEM 24 86.04 326.052 .408 .901 ITEM 25 85.33 325.578 .390 .902 ITEM 26 84.69 324.508 .454 .900 ITEM 27 84.64 322.018 .592 .898 Quadro 21: Correlacção item com o total da escala. Estudo original (versão final) -236- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] Alfa de Cronbach N de Itens 0,920 27 Tabela 5: Estatísticas de consistência interna da escala AFI, 1º estudo Embora a escala utilizada estivesse validada, nos estudos de Vaz (2005) e Paiva (2008) verificámos a consistência das respostas dos sujeitos desta amostra. Uma escala é considerada fiável quando se obtêm as mesmas medidas ao ser utilizada em mais do que uma ocasião, isto é; consideramos então que o instrumento de medida apresenta exactidão ou precisão (Kerlinger, 1985). Para este questionário, mais uma vez se utilizou o alfa de cronbach, que nos permite conhecer o nível estatístico, a coerência interna da escala e a sua fiabilidade Foi utilizado o programa SPSS V18, oferecendonos os seguintes resultados: Itens do questionário 11) Todos os alunos, quaisquer que sejam as suas necessidades educativas, têm o direito a assistir às 0,692 aulas na turma de ensino regular 7) Os professores de educação especial deveriam apoiar os seus colegas professores e não 0,705 directamente os alunos 19) Se as comunidades educativas fossem responsabilizadas pela concepção/execução dos programas 0,700 educativos para crianças com NEE’s, estas não apresentariam tantas dificuldades de integração e aprendizagem 23) As aprendizagens académicas dos alunos com NEE’s, fazem-se mais lentamente devido às 0,682 dificuldades que enfrentam numa turma de ensino regular 24) Sem uma formação especializada, dificilmente o professor do ensino regular poderá dar uma 0,692 resposta adequada aos alunos com NEE’s 25) Sem os recursos didácticos necessários, a ajuda do professor de apoio é quase inútil 0,688 8) Os alunos com NEE’s não obteriam mais proveito se fossem educados em instituições de ensino 0,684 especial 10) A educação dos alunos com NEE’s numa turma de ensino regular, atenua as diferenças entre eles e 0,694 os seus companheiros ditos “normais” 14) A presença de um aluno com NEE´s numa turma de ensino regular, não interfere com o progresso 0,687 dos seus colegas 17) A atenção que requerem os alunos com NEE’s não prejudica o sucesso dos outros alunos da turma 0,679 20) A presença de um aluno com NEE’s numa turma de ensino regular, proporciona novas situações de 0,695 aprendizagem para outros alunos -237- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] 22) Incluir na turma regular alunos com NEE’s ocasiona mais benefícios que problemas 0,684 26) Nas classes regulares os alunos com NEE’s podem acelerar o seu ritmo de aprendizagem, pois 0,687 tomam como estímulo e modelo os alunos ditos “normais” 27) A heterogeneidade das turmas não é factor de insucesso escolar 0,683 1) O contacto com alunos com NEE’s em aulas do ensino regular, não contribui para que os outros 0,696 alunos assumam condutas inadequadas 3) É difícil manter a ordem numa turma de ensino regular, na qual estão incluídos alunos com NEE’s 0,679 5) Normalmente os alunos com NEE’s comportam-se adequadamente na turma de ensino regular 0,698 2) O aluno com NEE’s não pode enfrentar os desafios que se colocam na turma em igualdade de 0,691 condições com o aluno dito "normal" 4) Devido à falta de autocontrolo dos alunos com NEE’s, não é benéfico para eles serem incluídos em 0,677 turmas de ensino regular 6) A eficácia pedagógica dos professores, nas turmas com alunos com NEE’s fica reduzida, visto que 0,681 têm de atender alunos com diferentes níveis de capacidade 9) A inclusão de alunos com NEE’s no ensino regular obriga a alteração das actividades normais da 0,692 aula 16) Os alunos com NEE’s têm ciclos de atenção mais curtos que os outros, pelo que não podem 0,683 beneficiar das actividades desenvolvidas em turmas de ensino regular 12) Os alunos ditos “normais” que interagem com os alunos com NEE’s, têm menos possibilidades de 0,693 se desenvolverem 13) A inclusão escolar de alunos com NEE’s é uma moda, deixará de se praticar quando se provar que 0,678 não é rentável a longo prazo 15) A educação dos alunos com NEE’s em instituições de ensino especial, fá-los adquirir uma visão 0,693 distorcida da realidade, acentuando a sua deficiência 18) Os que estão a favor da inclusão dos alunos com NEE’s no ensino regular, na realidade, estão 0,684 pouco interessados em melhorar a qualidade do ensino 21) Atender alunos com NEE’s em turmas de ensino regular, não é benéfico, nem para o aluno com 0,679 NEE’s nem para o aluno dito “normal” Atitudes dos profesores 0,710 Avaliação/acompanhamento 0,714 Metodologias de ensino 0,718 Formação especifica 0,742 Materiais e recursos 0,741 Colaboração entre profesores 0,711 Técnicos especializados 0,742 Quadro 22: Elementos de análise de fiabilidade alfa de cronbach Os elementos que se utilizaram para realizar esta análise foram os itens que compõem a escala de atitudes dos professores face à inclusão de alunos com necessidades educativas especiais na sala de aula, juntamente com as 7 condições para a realização de um efectivo processo de inclusão. -238- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] Alfa de Cronbach 0,713 Tabela 6: Estatística de consistência interna da escala AFI, estudo actual Como podemos verificar na tabela 6 consideramos fiável o questionário ad-hoc, utilizado para esta tese, já que apresenta o valor do alfa de cronbach 0,713 de consistência interna. 10. Focus group. Procedimentos Foram constituídos dois grupos de discussão, com 8 elementos cada. Os participantes foram professores voluntários que surgiram no dia hora e local marcado. Pretendiamos analisar as opiniões dos docentes sobre a educação inclusiva e sobre as suas maiores dificuldades e necessidades para a promoverem, bem como sobre a relação existente entre a formação inicial, o percurso profissional e as competências para com mais facilidade conseguirem gerir a questão da diversidade dentro da sala de aula. O primeiro grupo ao qual chamámos Norte foi organizado em Baião (Distrito do Porto) e o segundo ao qual chamámos Sul em Lagoa (Distrito de Faro). A transcrição das gravações encontra-se em anexo (6). Estes convites foram efectuados a grupos de professores a quem fizemos formação durante o decorrer deste estudo. Foram conduzidos por um moderador, neste caso o investigador. Os intervenientes puderam expressar - se de forma livre e espontânea sobre o tema. Para o desenvolvimento desta técnica, utilizámos o modelo Simon (1999). Assim -239- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] listamos aspectos ou questões formadas apenas por palavras-chave, (anexo 7) para que pudéssemos ter uma sequência das mesmas e obter o conteúdo desejado (Oliveira & Freitas, 1998). Pensamos assim tornar mais flexível a discussão. Para apresentação dos resultados tivemos como referência Cubo (2008). 11. Recolha documental. Procedimentos Para a análise documental recorremos a fontes de documentação escritas. Usámos esta técnica para complementar a informação obtida nos outros métodos e esperando encontrar nos documentos, informações úteis para o estudo. Quanto à natureza dos documentos classificámo-los como fontes primárias. Cohen e Manion (1994) referem que as fontes primárias dizem respeito à produção de documentos efectuada durante o período a ser investigado, como por exemplo manuscritos. Dentro das fontes primárias as mais comuns são as fontes deliberadas e as fontes inadvertidas. Neste caso utilizámos fontes inadvertidas porque as usamos com uma finalidade diferente daquela com que foram criadas. Os docentes produziram textos com o fim de serem utilizados como complemento ao seu processo de avaliação e foram por nós utilizados a posteriori (Bell, 1997) para este estudo. São documentos inéditos de pessoas que estão perto da problemática (Domínguez, 2011). Os autores dos documentos foram professores de todos os níveis de ensino, que participaram em acções de formação por nós efectuadas durante o período em estudo. Foram escolhidos aleatoriamente 23 textos, correspondendo a 16 professores do 1º ciclo, 4 do 2º ciclo e 3 do 3º ciclo. Todos professores de turma. (anexo 8). -240- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] Para o tratamento qualitativo dos dados utilizámos a análise de conteúdo. Esta é uma das formas mais frequentes de tratamento de informação, pois permite aos investigadores efectuar inferências, sobre as mensagens.“A análise de conteúdo é uma técnica de investigação, utilizada com vista a uma descrição objectiva, sistemática e quanto possível quantitativa do conteúdo, manifesto das comunicações, com o objectivo final de interpretação” (Morgado, 2003a, p.187). Assim torna-se possível “colocar cada discurso sob a forma que o torne mais inteligível, com tudo o que este termo tem de subjectivo, ambíguo ou impreciso” (Ghiglione, & Matalon 1998). Refere Vala (1986) refere que o conteúdo deve ser submetido a uma divisão por unidades de inferência. Estas unidades podem ou não coincidir com frases completas. O modelo proposto por Bardin (2004) foi por nós utilizado para a fase da categorização à priori. De acordo com este modelo não é definido previamente um sistema de categorias estruturadas, mas construído através da classificação progressiva e por analogia dos elementos e do conteúdo conceptual. O critério de categorização pode ser semântico (categorias temáticas), sintáctico (verbos, adjectivos), lexical (palavras segundo o sentido, com emparelhamento de sinónimos e dos sentidos próximos) e expressivo. Quando formulámos o mapa das categorias tivemos em conta um conjunto de características referidas na literatura (Léon, 1980, Bos & Tarnai,1999, Bardin,2004). Assim considerámos: as categorias pertinentes adaptadas ao material em estudo e assentes no quadro teórico de referência, que poderiam classificar-se numa só categoria (princípio da exclusão mútua) e que manifestavam homogeneidade (princípio da classificação única). Utilizámos uma flexibilidade inicial até à estabilização definitiva -241- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] do mapa de categorias a priori. “A estrutura da grelha não deve ser rígida, de modo a ser possível a integração de novos dados, dependentes do aparecimento, de novas informações durante o processo de codificação” (Santiago, 1996.p.144). A investigação qualitativa tem vindo a desenvolver-se e a assumir-se cada vez mais ao longo dos anos, sendo que um dos seus principais desenvolvimentos foi na área do suporte informático (Bryman, 2004). Nos últimos anos a expansão e aperfeiçoamento do software informático de apoio à análise qualitativa dos dados, tem facilitado cada vez mais o trabalho dos investigadores, nomeadamente na substituição das tarefas manuais associadas ao processo de codificação. O investigador é elemento primordial na análise dos dados e a este pertence todo o processo de decisão e análise, embora o software se assuma como uma ferramenta de apoio importante. No presente trabalho, a análise de conteúdo foi utilizada na análise de reflexões de professores, de dois grupos de discussão (Norte e Sul) bem como de um conjunto de questões abertas resultantes do questionário sobre a temática da inclusão dos alunos com Necessidades Educativas Especiais na sala de aula, através do suporte informático Atlas.ti. A análise de conteúdo deve ser sempre realizada através de processo técnicos precisos, na medida em que existe uma intervenção directa do investigador, e os seus valores e representações não devem nunca ser tidos em conta nos procedimentos que adopta (Quivy & Campenhoudt, 1992). O processo de análise que conduziu à criação das categorias, abaixo esquematizadas em quadro, foi resultado de uma abordagem mista Devemos salientar que estamos -242- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] perante uma metodologia de carácter inductivo e dedutivo, pelo que nos interessa fazer uma categorização geral a priori mas também conhecer se há posteriori sugem novas categorias. Por um lado, foi feita uma análise dedutiva ou Top-Down fundamentada no quadro teórico anteriormente desenvolvido e através do qual foi delineado também o guião dos grupos de discussão. Foi feita também uma análise indutiva ou Bottom-up, seguindo os princípios da Grounded Theory. Na análise dedutiva, seguimos como referenciais teóricos vários autores (Wilcox & Wojnar, 2000; Duart & Sangrá, 2000; Santángelo, 2000; Mir, Reparaz & Sobrino, 2003; Rovai, 2003; Blázquez, 1991), que identificaram uma série de categorias que nos ajudaram na recolha e codificação dos dados para os vários objectivos do estudo. Na análise indutiva, as categorias são fruto da análise dos dados surgindo assim, a posteriori (Ghiglione & Matalon, 1998). Com base nos três pólos cronológicos delineados por Bardin (2004): pré-analise, exploração do material e o tratamento dos resultados, inferência e interpretação, é na fase da exploração do material que se procede à codificação dos dados do corpus do trabalho. No processo de codificação, com base nas opções metodológicas acima referidas, são seleccionadas as unidades de registo, a selecção das regras de enumeração e a escolha de categorias (classificação e agregação). Optámos pelo modelo de análise temática, por ser um procedimento mais aberto e por este motivo, em nosso entender ser mais adequado ao tratamento dos comentários que configuram o tipo mensagem aberta. No que se refere ao método, o corpus deste é constituído por gravações de dois grupos de discussão realizados no Norte e Sul do País e também por produções escritas dos docentes. Durante o decorrer deste estudo efectuámos várias acções de formação em vários locais do País e fomos solicitando aos docentes que colaborassem neste estudo. -243- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] Após a definição do corpus, o resultado dos grupos de discussão foi transcrito e posteriormente gravado na extensão de ficheiros rtf na medida em que é mais facilmente aceite pelo Atlas.ti. A definição do sistema de categorias, na medida em que se optou por um tipo de análise de conteúdo misto, irá ser feito através da combinação de um processo de categorização a posteriori e a priori. Numa fase posterior foram escolhidas as unidades de registo, de contexto e de enumeração, três tipos de unidades constitutivas de uma análise de conteúdo (Vala, 1986). Entende-se por unidades de registo, a unidade de significação a codificar, as quais podem ser formais (palavra, parágrafo, etc) ou semântica (tema); a unidade de contexto diz respeito a segmentos de texto mais extensos, nos quais se inserem as unidades de registo, onde se define o seu significado; por fim as unidades de enumeração permitem quantificar a observação, por exemplo, pela frequência de determinada palavra. No que diz respeito à unidade de registo, nesta análise, optámos pelo tema, o qual, segundo Bardin (1979) tem sido bastante utilizado na análise de conteúdo, tendo em conta que o “tema é a unidade de significação que se liberta naturalmente de um texto analisado segundo certos critérios relativos á teoria que serve de guia à leitura” (p.105). Ainda segundo Bardin (1979) “o tema é geralmente utilizado como unidade de registo para estudar motivações de opiniões, de atitudes, de valores, de crenças” (p.106) como o que acontece no estudo em causa. A análise temática irá permitir delinear ‘núcleos de sentido’, através da sua presença e frequência, atribuindo significado ao objectivo analítico em causa. Assim, os tipos de enumeração seleccionados dizem respeito à ausência ou à presença das unidades de registo ou de contexto, bem como à frequência das mesmas no respectivo corpus. A opção pela análise temática induz que o critério utilizado no processo de categorização seja semântico, o que irá permitir a criação de categorias em que estejam reunidos os diversos temas encontrados, sob -244- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] títulos conceituais. Resumindo, no presente trabalho, as categorias são do tipo semântico, a unidade de registo (unidade de conteúdo mais pequena) é o tema e a unidade de contexto (segmento de conteúdo mínimo que dá sentido) na maioria das vezes foi a frase ou parágrafo. No quadro que se segue podemos ver a grelha de categorias criadas e as sub-categorias. Os códigos atribuídos no Atlas.ti e a respectiva descrição com lista de todas as categorias criadas em formato de output do Atlas.ti encontra-se em anexo 9. Dimensões Categoria Sub-Categoria Oportunidades de Aprendizagens Inovação Educativa Participação activa na sociedade/cidadania Atitude face à inclusão Inclusão no Ensino regular Desenvolvimento pessoal Direito à Educação Estratégias Projectos Estratégias de adaptação Formação e Inclusão Papel do Professor e Desenvolvimento Profissional Auto-percepção do seu papel Necessidades de adaptação Formação inicial Gestão dos conteúdos programáticos /Planificação das aulas Falta/Escolha de materiais pedagógicos Dificuldades pessoais sentidas pelos professores Critérios de avaliação Diagnóstico/Avaliação Formação Gestão de turmas Obstáculos à inclusão Inadaptação das Escolas Constrangimentos externos Dificuldades contextuais sentidas pelos professores Gestão das turmas Formação e preparação do pessoal educativo Adequação e falta de material Falta de recursos humanos Quadro 23: Grelha de categorias -245- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VII- Metodologia de Investigação] Discutidas as diversas opções metodológicas nas várias etapas da análise de conteúdo e com a grelha de categorias já definida, interessa proceder à análise dos dados, a qual foi feita, tal como já referido, com o auxílio informático do programa Atlas.ti. Este software apresenta algumas vantagens, das quais de destaca a possibilidade de utilizar vários tipos de dados, seja texto, imagens ou áudio; não definir limites em termos de codificação ou ainda a possibilidade de criação de uma página em HTML o que, quando o trabalho a desenvolver envolve uma equipa, em muito facilita a comunicação entre os diversos elementos. -246- CAPÍTULO VIII. 1. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Análise dos resultados Como já explicámos anteriormente, a recolha dos questionários compostos por uma escala de atitudes e numa 2ª parte por questões abertas, foi feita na sua maioria através de suporte informático (Survey Monkey), embora entregássemos alguns questionários pessoalmente. Após a primeira leitura dos dados que o próprio site nos fornece, (que se encontra em anexo 10), pudemos obter uma primeira visão de todos os inquiridos e das suas respostas. Assim e como resumo dos resultados diríamos que responderam até ao encerramento da recolha de dados 429 professores dos quais aproveitámos 325 questionários totalmente preenchidos, na sua maioria, com idades inferiores a 40 anos, do sexo feminino e leccionando em turma do ensino regular. Quase todos licenciados, com tempo de serviço situado entre os 7 e os 25 anos. Mais de 50% dos respondentes não A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] tiveram na sua formação inicial disciplinas na área das necessidades educativas especiais e os que tiveram consideram-na insuficiente. Quando se trata de formação contínua a situação inverte-se pois mais de 50% procuraram formação na área após a formação inicial, continuando a considerá-la insuficiente. Os professores apenas se sentem satisfeitos em relação à formação recebida após a frequência de cursos de formação especializada. Na amostra verifica-se que os docentes que mais respondem são os da zona centro do país sendo que a zona norte e sul respondem ao mesmo nível. Para o tratamento dos resultados da escala, bem como de todas as questões fechadas recorremos ao programa SPSS, utilizando os testes estatísticos como veremos na apresentação dos resultados. No que se refere às questões colocadas de forma aberta, na 2ª parte do questionário, bem como para a análise documental, feita a partir das produções escritas dos professores, às quais chamámos evidências e ao conteúdo obtido nos grupos de discussão (focus group) utilizamos o suporte informático Atlas.ti. 1.1. Análise descritiva do questionário Uma vez apresentados anteriormente para caracterização da amostra os gráficos descritivos deste estudo, continuaremos a desenvolver as diferentes análises de dados que efectuamos. Para isso faremos a demonstração das hipóteses com gráficos e tabelas, comentando e aprofundando cada um dos resultados, assim como a confirmação ou infirmação das hipóteses. -248- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Iniciando pela escala de atitudes, passamos a apresentar a estatística correspondente (tabela de frequência de respostas em anexo 11), salientando que os valores indicados reportam-se à escala de medida: 1- Discordo totalmente; 2- Discordo parcialmente; 3- Indiferente; 4- Concordo parcialmente; 5- Concordo totalmente N 1) O contacto com alunos com NEE’s em aulas do ensino regular, não contribui para que os outros alunos assumam condutas inadequadas 2) O aluno com NEE’s não pode enfrentar os desafios que se colocam na turma em igualdade de condições com o aluno dito "normal" 3) É difícil manter a ordem numa turma de ensino regular, na qual estão incluídos alunos com NEE’s 4) Devido à falta de autocontrolo dos alunos com NEE’s, não é benéfico para eles serem incluídos em turmas de ensino regular 5) Normalmente os alunos com NEE’s comportam-se adequadamente na turma de ensino regular 6) A eficácia pedagógica dos professores, nas turmas com alunos com NEE’s fica reduzida, visto que têm de atender alunos com diferentes níveis de capacidade 7) Os professores de educação especial deveriam apoiar os seus colegas professores e não directamente os alunos 8) Os alunos com NEE’s não obteriam mais proveito se fossem educados em instituições de ensino especial 9) A inclusão de alunos com NEE’s no ensino regular obriga a alteração das actividades normais da aula 10) A educação dos alunos com NEE’s numa turma de ensino regular, atenua as diferenças entre eles e os seus companheiros ditos “normais” 11) Todos os alunos, quaisquer que sejam as suas necessidades educativas, têm o direito a assistir às aulas na turma de ensino regular 12) Os alunos ditos “normais” que interagem com os alunos com NEE’s, têm menos possibilidades de se desenvolverem 13) A inclusão escolar de alunos com NEE’s é uma moda, deixará de se praticar quando se provar que não é rentável a longo prazo 14) A presença de um aluno com NEE´s numa turma de ensino regular, não interfere com o progresso dos seus colegas 15) A educação dos alunos com NEE’s em instituições de ensino especial, fá-los adquirir uma visão distorcida da realidade, acentuando a sua deficiência 16) Os alunos com NEE’s têm ciclos de atenção mais curtos que os outros, pelo que não podem beneficiar das actividades desenvolvidas em turmas de ensino regular 17) A atenção que requerem os alunos com NEE’s não prejudica o sucesso dos outros alunos da turma 18) Os que estão a favor da inclusão dos alunos com NEE’s no ensino regular, na realidade, estão pouco interessados em melhorar a qualidade do ensino 19) Se as comunidades educativas fossem responsabilizadas pela concepção/execução dos programas educativos para crianças com NEE’s, estas não apresentariam tantas dificuldades de integração e aprendizagem -249- Média Desvio Padrão Coef. Variação Mínimo Máximo 325 4.06 1.30 32% 1 5 325 3.40 1.25 37% 1 5 325 2.03 1.19 59% 1 5 325 1.78 1.00 56% 1 5 325 3.74 1.05 28% 1 5 325 2.96 1.45 49% 1 5 325 2.98 1.25 42% 1 5 325 3.28 1.32 40% 1 5 325 3.38 1.30 38% 1 5 325 4.02 1.09 27% 1 5 325 4.28 0.96 22% 1 5 325 1.35 0.76 56% 1 5 325 1.87 1.13 60% 1 5 325 3.87 1.22 31% 1 5 325 3.29 1.35 41% 1 5 325 2.34 1.27 54% 1 5 325 3.72 1.24 33% 1 5 325 1.95 1.26 65% 1 5 325 3.99 0.94 24% 1 5 A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] N 20) A presença de um aluno com NEE’s numa turma de ensino regular, proporciona novas situações de aprendizagem para outros alunos 21) Atender alunos com NEE’s em turmas de ensino regular, não é benéfico, nem para o aluno com NEE’s nem para o aluno dito “normal” 22) Incluir na turma regular alunos com NEE’s ocasiona mais benefícios que problemas 23) As aprendizagens académicas dos alunos com NEE’s, fazem-se mais lentamente devido às dificuldades que enfrentam numa turma de ensino regular 24) Sem uma formação especializada, dificilmente o professor do ensino regular poderá dar uma resposta adequada aos alunos com NEE’s 25) Sem os recursos didácticos necessários, a ajuda do professor de apoio é quase inútil 26) Nas classes regulares os alunos com NEE’s podem acelerar o seu ritmo de aprendizagem, pois tomam como estímulo e modelo os alunos ditos “normais” 27) A heterogeneidade das turmas não é factor de insucesso escolar Média Desvio Padrão Coef. Variação Mínimo 325 4.49 0.75 17% 1 5 325 1.58 0.95 60% 1 5 325 3.86 1.19 31% 1 5 325 2.65 1.33 50% 1 5 325 3.67 1.19 32% 1 5 325 2.96 1.30 44% 1 5 325 4.00 0.91 23% 1 5 325 4.17 1.13 27% 1 5 Quadro 24: Estatística da escala de atitudes No gráfico seguinte poderemos ter uma leitura mais clara dos valores médios obtidos 5 Valor médio 4 3 2 1 1) 2) 3) 4) 5) 6) 7) 8) 9) 10) 11) 12) 13) 14) 15) 16) 17) 18) 19) 20) 21) 22) 23) 24) 25) 26) 27) Item Gráfico 21: Valores médios observados na escala de atitudes Verificamos que os valores médios observados apresentam as variações ilustradas, verificando-se que a concordância é superior com os itens 1 (O contacto com alunos com NEE em aulas do ensino regular, não contribui para que os outros alunos assumam condutas inadequadas), 10 (A educação dos alunos com NEE numa -250- Máximo A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] turma de ensino regular, atenua as diferenças entre eles e os seus companheiros ditos normais), 11 (Todos os alunos, quaisquer que sejam as suas necessidades educativas, têm o direito a assistir às aulas na turma de ensino regular), 19 (Se as comunidades educativas fossem responsabilizadas pela concepção/execução dos programas educativos para crianças com NEE, estas não apresentariam tantas dificuldades de integração e aprendizagem), 20 (A presença de um aluno com NEE numa turma de ensino regular, proporciona novas situações de aprendizagem para outros alunos), 26 (Nas classes regulares os alunos com NEE podem acelerar o seu ritmo de aprendizagem, pois tomam como estímulo e modelo os alunos ditos normais) e 27 (A heterogeneidade das turmas não é factor de insucesso escolar), que estão, em média, perto ou acima de “4- Concordo parcialmente”. A concordância é inferior com os itens 3 (É difícil manter a ordem numa turma de ensino regular, na qual estão incluídos alunos com NEE), 4 (Devido à falta de autocontrolo dos alunos com NEE, não é benéfico para eles serem incluídos em turmas de ensino regular), 12 (Os alunos ditos normais que interagem com os alunos com NEE, têm menos possibilidades de se desenvolverem), 13 (A inclusão escolar de alunos com NEE é uma moda, deixará de se praticar quando se provar que não é rentável a longo prazo), 18 (Os que estão a favor da inclusão dos alunos com NEE no ensino regular, na realidade, estão pouco interessados em melhorar a qualidade do ensino) e 21 (Atender alunos com NEE em turmas de ensino regular, não é benéfico, nem para o aluno com NEE nem para o aluno dito normal), que estão, em média, perto ou abaixo de “2- Discordo parcialmente”. -251- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] De acordo com os resultados obtidos, parece-nos poder inferir que atitudes inclusivas são hoje do ponto de vista dos princípios uma realidade aceite pela maior parte dos docentes, que consideram até que a heterogeneidade beneficia todos os alunos e proporciona situações mais ricas de aprendizagem. Na segunda parte do questionário, foi proposto por nós aos professores, que priorizassem por ordem decrescente, as condições que considerassem mais importantes (de uma lista de 7 possibilidades), para o processo de inclusão dos alunos com NEE. Assim, para a atribuição da relevância das condições para que seja possível a realização de um efectivo processo de inclusão, cuja tabela de frequências de respostas, se encontra em anexo 12, obtivemos em síntese os resultados que poderemos verificar no gráfico seguinte: Valor médio 1 2 3 4 5 6 7 Atitudes dos professores Avaliação/acompanhamento dos alunos Metodologias de ensino Formação especifica para trabalhar com alunos com Materiais e recursos Colaboração entre professores Técnicos especializados Gráfico 22: Valores médios atribuídos à relevância das condições para o processo de inclusão. Para o total da nossa amostra, os Professores em geral consideram como mais importante para o processo de inclusão os seguintes aspectos (por ordem decrescente): i. Atitudes dos Professores ii. Formação específica iii. Metodologias de ensino iv. Colaboração entre Professores -252- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] v. Avaliação/acompanhamento dos alunos vi. Técnicos especializados vii. Materiais e recursos Em média, a condição mais importante é a atitude dos professores, seguida da formação específica para trabalhar com alunos com NEE's, sendo os materias e recursos a condição considerada menos importante. As restantes condições apresentam valores ligeiramente abaixo do ponto médio da escala de importância. Salientamos que para o total da amostra, 65% dos professores atribuem mais importância à condição que depende exclusivamente deles: “As atitudes”. É relevante que as 4 condições que os professores consideram como mais importantes, referem - se a situações que são da responsabilidade dos próprios: atitudes, formação, metodologias de ensino e colaboração entre professores. Vamos agora aprofundar os resultados obtidos através do contarste das hipóteses. 1.2. Contraste das hipóteses Globalmente, a análise das hipóteses, permite-nos atingir os objectivos gerais do trabalho: Conhecer as atitudes de professores do ensino básico, face à inclusão de alunos com necessidades educativas especiais (NEE) na sala de aula Apresentaremos cada uma das hipóteses gerais com as sub hipóteses que as compõem, para oferecer uma visão global e pormenorizada dos resultados recolhidos através do questionário utilizado para o estudo. -253- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] A análise da primeira hipótese e das suas sub hipóteses que abaixo se apresentam, permite-nos atingir o objectivo específico de relacionar variáveis sócio demográficas e académicas com o tipo de atitude manifestada pelos docentes dos diferentes níveis de ensino. Demonstramos agora os resultados obtidos para a hipótese 1) as atitudes de professores de ensino básico face à Inclusão dos alunos com NEE na sala de aula estão influenciadas por factores pessoais e profissionais e para a sub-hipótese 1.1) a idade, o tempo de serviço e o nível de ensino em que leccionam influenciam a atitude dos professores face à inclusão de crianças com NEE. Esta sub hipótese divide-se em três alíneas. Para a alínea a) os professores mais jovens têm atitudes mais positivas face à inclusão de alunos com NEE na sala de aula, apresentamos os seguintes resultados: A tendência dos dados mostra uma ligeira subida nas atitudes positivas face à inclusão de alunos com necessidades educativas especiais, com o aumento da idade Gráfico 23: Escala de atitudes face à inclusão segundo a idade -254- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Para efectuar a análise inferencial correspondente e verificar se deveremos utilizar um teste paramétrico ou não paramétrico submetemos os dados aos testes de normalidade (K-S), de aleatoriedade (Rachas) e ao princípio da homogeneidade (Levene), obtendo os seguintes resultados: Idade K-S RACHAS LEVENE < de 30 de 31 a 40 de 41 a 50 > de 50 0,591 0,326 0,347 0,936 0,199 0,544 0,061 0,781 0,00 Tabela 7: Hipótese 1.1 a) Procedimento de contraste dos dados para determinar a utilização testes paramétricos ou não paramétricos Não se verificando o pressuposto da igualdade das variâncias, já que o valor da prova é inferior a 0,05, não se cumpre o princípio da homogeneidade, pelo que utilizaremos um teste não paramétrico. Neste caso em que dividimos a idade em 4 grupos utilizamos o H de Kruskal – Wallis que obtem um resultado de p=0,072 (tabela 8) indicando que embora a tendencia dos dados mostre diferenças estas não são estatisticamente significativas, pelo que não poderemos afirmar que a idade influencia as atitudes dos docentes. La varianza de los datos no es homogénea, ya que el nivel de significación es inferior a 0,05. H de Kruskal - Wallis 0,072 Tabela 8: Hipótese 1.1.a) Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kruskal – Wallis Para a alínea b) Os professores com menos tempo de serviço, apresentam atitudes mais positivas face à inclusão de alunos com NEE, verificámos o seguinte: -255- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Em geral demonstram face aos necessidades os professores atitudes positivas alunos com educativas. As diferenças segundo o tempo de serviço são mínimas. Gráfico 24: Escala de atitudes face à inclusão segundo os anos de docência Para o contraste dos dados submetemo-los ao teste de K-S, Rachas e Levene afirmando que a variável anos de docência cumpre os três requisitos (normalidade, aleatoriedade e homogeneidade das variâncias). Assim podemos aplicar um teste paramétrico como mostra a tabela 9. Neste caso, já que está dividida em mais de 2 grupos utilizaremos a ANOVA de um factor. Anos de docência K-S RACHAS LEVENE <3 4a6 7 a 25 25 a 35 > 35 0,998 0,777 0,203 0,261 0,909 0,195 0,963 0,151 0,119 1 0,670 Tabela 9: Hipótese 1.1 b) Procedimento de contraste dos dados para determinar a utilização de testes paramétricos ou não paramétricos O resultado p=0,134 (tabela 10) indica-nos que não há diferenças significativas, pelo que a variável anos de docência não influencia as atitudes dos professores. -256- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] ANOVA 0,134 Tabela 10: Hipótese 1.1.b) Procedimento de contraste dos dados através da ANOVA No que se refere à alínea c) Os professores do 1º ciclo apresentam atitudes mais positivas face à inclusão de alunos com NEE do que os professores do 2º e 3º ciclo concluímos: Em geral os professores mostram atitudes positivas face aos alunos com NEE, verificando-se uma ligeira subida no que se refere aos professores do 1º ciclo e educação especial. Gráfico 25: Escala de atitudes face à inclusão segundo o nível de ensino Para efectuar a análise inferencial correspondente e comprovar se deveremos contrastar os dados com uma prova paramétrica ou não paramétrica, estes foram submetidos às provas de normalidad (K-S), rachas e ao princípio de homogeneidade. Obtivemos os seguintes resultados: Nível de Ensino K-S RACHAS 1º Ciclo 0,653 0,020 2º Ciclo 0,944 0,845 3º Ciclo 0,374 0,048 Ed. Especial 0,998 0,910 LEVENE 0,111 Tabela 11: Hipótese 1.1. c) Procedimento de contraste dos dados para determinar a utilização de testes paramétricos ou não paramétricos -257- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Verifica-se que os dados não cumprem o princípio de aleatoriedade (nível inferior a 0,05). Utilizámos assim um teste não paramétrico. Como dividimos o nível de ensino em 4 grupos, utilizamos a prova H de Kruskal – Wallis, que obteve um resultado de p=0,002, indicando que existem diferenças significativas e portanto as atitudes mudam segundo o nivel de ensino, no qual o professor exerce funções. H de Kruskal - Wallis 0,002 Tabela 12: Hipótese 1.1.c) Procedimento de contraste dos dados através da prova H de Kruskal - Wallis Neste caso como podemos comprovar no post-hoc (tabela 13), são os docentes de educação especial, os que mostram atitudes mais positivas face aos alunos com necesidades educativas especiais. Não se encontram diferenças entre os que exercem nos 1º, 2º e 3º ciclos. Tipo de Professor 1º Ciclo 2º Ciclo 3º Ciclo Tipo de Professor Sig. 2º Ciclo 0,332 3º Ciclo 0,629 Ed. Especial 0,105 3º Ciclo 0,921 Ed. Especial 0,010 Ed. Especial 0,019 Tabela 13: Hipótesis 1.1.c) Procedimento de contraste dos dados através do Post-hoc Passemos agora a analisar a hipótese 1.2 que nos permitirá responder aos objectivos específicos de compreender as relações existentes entre formação e as atitudes dos professores do ensino básico face à inclusão dos alunos com NEE; relacionar as atitudes manifestadas pelos professores face à inclusão dos alunos com NEE -258- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] com o seu percurso formativo e verificar se a formação inicial recebida tem influência nas atitudes manifestadas por estes. Para a Hipótese 1.2- As habilitações literárias e profissionais influenciam a atitude dos professores face à inclusão de crianças com NEE e no que se refere à alínea a) os profissionais com nível de formação académica mais elevada, apresentam atitudes mais positivas face à inclusão de alunos com NEE na sala de aula. Os dados mostram que o grau académico não influencia a atitude dos professores, já que obtêm a mesma pontuação, como mostra o gráfico 26. No questionário colocámos a opção de doutor no entanto não obtivemos resposta de nenhum docente com este título. Gráfico 26: Escala de atitudes face à inclusão segundo o grau académico Não obstante, para podermos confirmar ou não a hipótese, procedemos à verificação desta, analisando previamente se deveremos utilizar um teste paramétrico ou não paramétrico. No caso em presença e não sendo possível a realização do teste de Levene, não se cumpriu o princípio da homogeneidade, como se verifica na tabela 14. Grau académico K-S RACHAS LEVENE Bacharel Licenciado Mestre Doutor 0,827 0,122 0,900 -- 1 0,003 0,297 -- -- Tabela 14: Hipótese 1.2.a) Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos -259- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Realizou-se o teste H de Kruskal-Wallis que nos revela um valor de p superior a 0,05 (p=0,941), portanto não há diferenças estatisticamente significativas. Concluimos que o grau académico não influencia as atitudes face à inclusão tal como podemos apreciar na tabela 15. H de Kruskal - Wallis 0,941 Tabela 15: Hipótese 1.2.a) Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kruskal – Wallis No que se refere à alínea b) Os professores que tiveram na sua formação inicial disciplinas relacionadas com os alunos com necessidades educativas especiais desenvolveram atitudes mais positivas face à inclusão desses mesmos alunos, verifica-se o seguinte: O gráfico 27 mostra que os professores que não tiveram na sua formação inicial disciplinas relacionadas com os alunos com necessidades educativas especiais, têm atitudes mais positivas do que aqueles que a tiveram. No entanto a diferença é mínima, estando em geral as atitudes positivas acima da média. Gráfico 27: Escala de atitudes face à Inclusão segundo a formação inicial recebida Não tendo os dados superado o teste de Rachas, pois o valor de p não é inferior a 0,05 como podemos comprovar na tabela 16. -260- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Formação inicial Não Sim K-S 0,081 0,532 RACHAS LEVENE 0,001 0,207 0,573 Tabela 16: Hipótese 1.2.b) Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos utilizaremos a prova U de Mann-Whitney, já que só contamos com duas opções. U de Mann – Whitney 0,092 Tabela 17: Hipótese 1.2. b) Procedimento de contraste dos dados através do teste U de Mann – Whitney O valor de p=0,092 revela-nos que não existem diferenças significativas, pelo que concluímos que a formação inicial não determina o tipo de atitudes dos professores face à inclusão dos alunos com NEE na sala de aula. Não se confirma pois esta hipótese. Para a alínea c) A formação contínua no âmbito das necessidades educativas especiais desenvolve nos professores atitudes mais positivas face à inclusão dos alunos com NEE na sala de aula, verifica-se coincidência com a nossa hipótese de investigação. O gráfico 28 coincide com a hipótese da nossa investigação, já que se pode apreciar um aumento de atitudes positivas face aos alunos com NEE depois dos professores terem recebido formação contínua. Gráfico 28: Escala de atitudes face à inclusão segundo a formação contínua recebida -261- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Para determinar se esta diferença é significativa verificamos mais uma vez que tipo de teste aplicar, se paramétrico ou não paramétrico. Formação contínua K-S RACHAS LEVENE Não 0,668 0,037 0,670 Sim 0,057 0,301 Tabela 18: Hipótese 1.2.c) Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos A amostra não cumpre o princípio do pressuposto da aleatoriedade, já que o valor de p=0,037 é inferior a 0,05. Isto indica-nos que devemos utilizar um teste não paramétrico. Dada a composição dos grupos decidimos aplicar o teste U de Mann-Whitney com resultado p=0,00 (tabela 19), o que nos indica que existem diferenças significativas e tal como afirmávamos na hipótese, a formação contínua influencia as atitudes dos professores face à inclusão dos alunos com necessidades educativas especiais de forma positiva. Confirmamos assim esta hipótese. U de Mann – Whitney 0,00 Tabela 19: Hipótese 1.2. c) Procedimento de contraste dos dados através do teste U de Mann – Whitney No que concerne à alínea d) a formação especializada no âmbito das necessidades educativas especiais desenvolve nos professores atitudes mais positivas face à inclusão dos alunos com NEE na sala de aula, verifica-se também concordância entre os resultados e a nossa hipótese de investigação -262- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Como afirmámos nesta hipótese os professores que receberam formação âmbito especializada das educativas no necessidades especiais têm atitudes mais positivas face à inclusão de necessidades alunos com educativas especiais na sala de aula. Gráfico 29: Escala de atitudes face à Inclusão segundo a formação especializada recebida Ao submeter os dados aos pressupostos de normalidade, aleatoriedade, e homogeneidade (tabela 20), observamos que não respeitam o pressuposto da aleatoriedade, (p=0,002) e portanto, devemos aplicar o teste U de Mann-Whitney. Formação especializada Não Sim K-S RACHAS LEVENE 0,598 0,205 0,002 0,832 0,210 Tabela 20: Hipótese 1.2.d) Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos O valor p=0,00 (tabela 21) indica que as diferenças que encontramos no gráfico são significativas e portanto, a formação especializada no âmbito das necessidades educativas especiais desenvolve nos professores atitudes mais positivas face à inclusão dos alunos com NEE na sala de aula, confirmando-se assim esta hipótese. -263- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] U de Mann – Whitney 0,00 Tabela 21: Hipótese 1.2. d) Procedimento de contraste dos dados através do teste U de Mann – Whitney Pelos dados apresentados anteriormente não se confirma a relação entre o tipo de formação inicial dos professores e as atitudes positivas face à inclusão. Assim os professores que tiveram na sua formação inicial disciplinas relacionadas com os alunos com necessidades educativas especiais, não têm atitudes mais positivas dos que os que não tiveram. O que se verifica é que a formação contínua e especializada sobre a temática produzem atitudes mais positivas face à inclusão de alunos com NEE. Passamos de seguida à apresentação dos dados referentes à hipótese H1.3- O tipo de função que o professor exerce na escola (professor de educação especial/professor titular e professor com funções de gestão) influencia positivamente as atitudes dos professores do ensino básico face à inclusão de alunos com NEE na sala de aula. Gráfico 30: Escala de atitudes face à inclusão segundo o tipo de função que o professor exerce na escola -264- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] O gráfico anterior demonstra que os professores de educação especial têm atitudes mais positivas face aos alunos com necessidades educativas especiais. Para afirmarmos a relevância estatística, procedemos primeiro a realização das provas K-S, Rachas e Levene. Tipo de Professor K-S RACHAS Turma 0,290 0,00 Ed. Especial 0,915 0,585 Outro 0,815 0,302 LEVENE 0,001 Tabela 22: Hipótese 1.3. Procedimento de contraste dos dados para determinar a utilização de testes paramétricos ou não paramétricos Comprovámos (tabela 22) que não está cumprido o pressuposto da aleatoriedade, nem as variâncias são homogéneas, pelo que aplicamos o teste não paramétrico H de Kruskal-Wallis. H de Kruskal – Wallis 0,00 Tabela 23: Hipótese 1.3. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kruskal - Wallis O valor de p=0,00 (tabela 23) é inferior a 0,05 pelo que rejeitamos a hipótese nula, aceitando que existem diferenças significativas entre os grupos e portanto as atitudes mudam de acordo com a função que o professor exerce. Neste caso como podemos comprovar no post-hoc (tabela 24), são os docentes com funções de educação especial, que mostram atitudes mais positivas face aos alunos com necessidades educativas especiais, pelo que confirmamos esta hipótese. Tipo de Professor Tipo de Professor Ed. Especial Sig. Turma 0,000 Outro 0,014 Tabela 24: Hipótese 1.3. Procedimento de contraste dos dados através do Post-hoc -265- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Confirma-se a hipótese H1.3, isto é o tipo de função que o professor exerce na escola (professor de educação especial/ professor titular e professor com funções de gestão) influencia as atitudes dos professores do ensino básico face à inclusão de alunos com NEE na sala de aula, sendo as atitudes mais positivas para os professores de educação especial. Apresentamos seguidamente os resultados obtidos referentes às hipóteses relativas à relevância das condições para que seja possível a realização de um efectivo processo de Inclusão. Esta análise também permite complementar a resposta ao objectivo geral de verificar a natureza das dificuldades que os professores sentem para promover a educação inclusiva e relacioná-las com o tipo de atitudes que manifestam, com o seu percurso e necessidades de formação. Permitirá ainda responder ao objectivo específico de constatar as principais dificuldades, de professores do ensino básico, na sua prática diária para que sejam promotores da educação inclusiva. Para a hipótese H2- O Grau de relevância atribuído pelos professores ao tipo de condições para que seja possível a realização de um efectivo processo de inclusão é influenciado por factores pessoais e profissionais e no que diz respeito à sub hipótese H2.1- A idade, o tempo de serviço e o nível de ensino em que leccionam influenciam o grau de relevância atribuído pelos professores ao tipo de condições para que seja possível a realização de um efectivo processo de -266- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Inclusão. Para melhor compreensão cada variável será relacionada com cada condição. Apresentamos os resultados obtidos: a) Idade Gráfico 31: Atribuição de relevância às condições para que seja possível a realização de um efectivo processo de inclusão segundo a idade Podemos observar no gráfico anterior que à medida que os professores aumentam de idade também a relevância de uma ou outra condição varia. Por exemplo, os professores mais velhos escolhem a condição “atitudes dos professores” enquanto os mais jovens consideram mais importante a condição “ materiais e recursos”, como mais relevantes para o processo de inclusão. O resto das condições tem pontuações mais homogéneas. Para comprovar se todos estes pressupostos iniciais estão correctos, aplicaremos testes prévios para a determinação de uso de testes paramétricos ou não paramétricos. Uma vez tomada a decisão, comprovaremos se se confirmam as hipóteses. Para -267- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] estruturar estas hipóteses, subdividiremos as distintas variáveis quantitativas contínuas que as compõem. Cada variável será cruzada com cada uma das condições. I. Atitudes dos professores Idade K-S RACHAS < de 30 0,00 0,347 de 31 a 40 0,00 0,012 de 41 a 50 0,00 0,184 > de 50 0,00 0,703 LEVENE 0,293 Tabela 25: Hipótese 2.1. e condição atitudes segundo a idade. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Verificamos o não cumprimento do pressuposto da normalidade nem da aleatoriedade (tabela 25), pelo que estabelecemos um teste não paramétrico (H de Kruskal – Wallis), onde obtivemos o valor de 0,016 (tabela 26). Atitudes dos professores 0,016 Tabela 26: Hipótese 2.1. e condição atitudes segundo a idade. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kruskal – Wallis Tratando –se de mais do que um grupo, aplicámos o post-hoc. Como podemos apreciar na tabela 27, é o grupo de idades compreendidas entre os 31 e 40 anos, os que apresentam diferenças estatisticamente significativas e portanto, podemos concluir que os professores desta faixa etária valorizam a condição “atitudes dos professores” como facilitadora da inclusão escolar. Existe pois uma influência da idade na relevância atribuída à condição atitudes dos professores. -268- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Idade < de 30 de 31 a 40 de 41 a 50 > de 50 Idade Sig. de 31 a 40 0,820 de 41 a 50 0,021 > de 50 0,066 < de 30 0,820 de 41 a 50 0,035 > de 50 0,087 < de 30 0,021 de 31 a 40 0,035 > de 50 0,639 < de 30 0,066 de 31 a 40 0,087 de 41 a 50 0,639 Tabela 27: Hipótese 2.1. e condição atitudes segundo a idade. Procedimento de contraste dos dados através do Post-hoc II. Avaliação/acompanhamento Idade K-S RACHAS LEVENE < de 30 de 31 a 40 de 41 a 50 > de 50 0,004 0,00 0,012 0,295 0,175 0,614 0,228 1 0,042 Tabela 28: Hipótese 2.1.e condição avaliação/acompanhamento segundo a idade. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Os resultados sombreados indicam-nos que não se cumprem os pressupostos para aplicação de testes paramétricos, pelo que será utilizada o H de Kruskal – Wallis. Avaliação/ acompanhamento 0,247 Tabela 29: Hipótese 2.1. e condição avaliação/acompanhamento segundo a idade. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kruskal – Wallis -269- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Obtivemos um resultado (tabela 29) que demonstra que a idade não influencia a relevância atribuída à condição “avaliação/acompanhamento”. III- Metodologias de ensino Idade K-S RACHAS LEVENE < de 30 de 31 a 40 de 41 a 50 > de 50 0,022 0,002 0,005 0,400 0,702 0,660 0,681 0,137 0,277 Tabela 30: Hipótese 2.1.e condição metodologias de ensino segundo a idade. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Os dados não cumprem o princípio da normalidade, pelo que a realizaremos o teste H de Kruskal-Wallis. Metodologias de ensino 0,926 Tabela 31: Hipótese 2.1. e condição metodologias de ensino segundo a idade. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kruskal – Wallis O valor de p=0,926 (tabela 31) reflecte que a idade não influencia a relevância atribuída à condição “metodologias de ensino”. IV- Formação específica Formação especifica 0,040 Tabela 32: Hipótese 2.1. e condição formação específica segundo a idade. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Como já se verificou nas anteriores variáveis, os resultados não cumprem com o princípio da normalidade. Isto leva-nos a aplicar o teste não paramétrico H de Kruskal – Wallis. -270- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Idade < de 30 de 31 a 40 de 41 a 50 > de 50 K-S 0,00 0,00 0,00 0,032 RACHAS 0,966 0,827 0,091 1 LEVENE 0,236 Tabela 33: Hipótese 2.1. e condição formação específica segundo a idade. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kruskal – Wallis O resultado indica que existem diferenças estatisticamente significativas, concluindo que a idade do professor influencia a relevância atribuída à condição “formação específica”. Concluiu-se no post-hpoc que concretamente os grupos de idade de 31 a 40 anos e de 41 a 50 valorizam de forma mais positiva a formação específica (tabela 34). Idade Idade Sig. < de 30 de 31 a 40 0,018 de 41 a 50 0,042 > de 50 0,515 < de 30 0,018 de 41 a 50 0,815 > de 50 0,493 < de 30 0,042 de 31 a 40 0,815 > de 50 0,589 < de 30 0,515 de 31 a 40 de 41 a 50 > de 50 Tabela 34: Hipótese 2.1. e condição formação específica segundo a idade. Procedimento de contraste dos dados através do Post-hoc V. Materiais e recursos Idade K-S RACHAS LEVENE < de 30 de 31 a 40 de 41 a 50 > de 50 0,00 0,001 0,007 0,480 0,949 0,299 1 0,853 0,412 Tabela 35: Hipótese 2.1. e condição materiais e recursos segundo a idade. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos -271- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Os resultados sombreados indicam-nos que não estão cumpridos os pressupostos para aplicar às diferentes variáveis testes paramétricos. Sobretudo, a série de dados não se enquadra na curva da normalidade como podemos comprovar na tabela 35 ao efectuar o teste K-S. O teste utilizado neste caso, dado tratar-se de mais de dois grupos independentes é o H de Kruskal-Wallis, registando-se os seguintes resultados: Materiais e recursos 0,723 Tabela 36: Hipótese 2.1. e condição materiais e recursos segundo a idade. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kruskal – Wallis Os resultados (tabela 36) mostram que não existem diferenças significativas entre as séries de dados, e portanto a relevância atribuída à condição “materiais e recursos” como condicionantes para a inclusão escolar não se modifica segundo a idade do professor. VI. Colaboração entre professores Idade < de 30 de 31 a 40 de 41 a 50 > de 50 K-S 0,001 0,063 0,004 0,404 RACHAS 0,988 0,246 0,701 0,853 LEVENE 0,864 Tabela 37: Hipótese 2.1. e condição colaboração entre professores segundo a idade. Procedimento de contraste dos dados para determinar o uso de testes paramétricos ou não paramétricos A tabela 37 mostra o incumprimento do princípio da normalidade da amostra em todos os grupos e portanto, torna-se necessário o uso de um teste não paramétrico (H de Kruskal – Wallis). -272- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Colaboração entre professores 0,368 Tabela 38: Hipótese 2.1. e condição colaboração entre professores segundo a idade. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kruskal – Wallis Os resultados obtidos (tabela 38) não demonstram diferenças estatisticamente significativas, pelo que a escolha da condição “colaboração entre professores” não é influenciada pela idade destes. VII. Técnicos especializados Idade K-S RACHAS < de 30 0,153 0,025 de 31 a 40 0,080 0,305 de 41 a 50 0,014 0,231 > de 50 0,379 0,761 LEVENE 0,864 Tabela 39: Hipótese 2.1. e condição técnicos especializados segundo a idade. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos O grupo de idades compreendidas entre 41 a 50 anos, não se ajusta à curva da normalidade e o grupo com menos de 30 anos não supera o teste de Rachas (aleatoriedade), pelo que os resultados indicam-nos o uso do teste H de Kruskal – Wallis. Técnicos especializados 0,052 Tabela 40: Hipótese 2.1. e condição técnicos especializados segundo a idade. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kruskal – Wallis Os resultados (tabela 40) não mostram diferenças significativas pelo que o grau de relevância atribuído á condição “técnicos especializados” não é influenciado pela idade dos docentes. -273- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Concluímos que a idade influencia significativamente a importância de duas condições: a relevância das atitudes dos professores vai aumentando com o aumento da idade e a relevância da formação específica para trabalhar com alunos com NEE também. b) Nível de ensino Gráfico 32: Atribuição de relevância às condições para que seja possível a realização de um efectivo processo de inclusão segundo o nível de ensino Em geral as condições apresentam uma ligeira subida quando se trata do grupo de professores de educação especial comparativamente com os do 1º ciclo, 2º ciclo e 3º ciclo. A condição que aparece com maior relevância para que seja possível a realização de um efectivo processo de Inclusão é a “atitudes dos professores”. Em continuação vamos contrastar os dados de acordo com os pressupostos da homogeneidade com o teste de Levene, aleatoriedade com o teste de Rachas e normalização com o K-S, com a finalidade de establecer qual o melhor teste a aplicar. Posteriormente e depois de aplicado o teste paramétrico ou não paramétrico para recolher as diferentes conclusões. Os resultados mostram-se divididos mais uma vez nas variáveis que compôem o estudo. -274- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] I. Atitudes dos professores Nível de ensino 1º ciclo 2º ciclo 3º ciclo Ed. Especial K-S 0,00 0,00 0,00 0,00 RACHAS 0,024 1 0,117 0,670 LEVENE 0,097 Tabela 41: Hipótese 2.1. e condição atitudes dos professores segundo o nível de ensino. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Como podemos observar na tabela anterior (41), os resultados indicam que deveremos utilizar um teste não paramétrico, pois não cumprem os princípios atrás explicitados. Neste caso utilizaremos o teste H de Kruskal-Wallis. Atitudes dos professores 0,131 Tabela 42: Hipótese 2.1. e condição atitudes dos professores segundo o nível de ensino. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kruskal – Wallis A série de dados mostra-nos diferenças significativas no que se refere ao nível de ensino e à relevância atribuída à condição “atitudes dos professores”(tabela 42). II. Avaliação/acompanhamento Nível de ensino 1º ciclo 2º ciclo 3º ciclo Ed. Especial K-S 0,00 0,123 0,035 0,012 RACHAS 0,160 0,925 0,902 0,614 LEVENE 0,850 Tabela 43: Hipótese 2.1 e condição avaliação/acompanhamento segundo o nível de ensino. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos O grupo de professores que são de educação especial e os que exercem funções no 1º ciclo não superam o teste K-S, por isso optou-se por um teste não paramétrico, neste caso o H de Kruskal – Wallis. -275- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Avaliação/acompanhamento 0,767 Tabela 44: Hipótese 2.1 e condição avaliação/acompanhamento segundo o nível de ensino. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kruskal – Wallis A condição “avaliação/acompanhamento” não sofre variações segundo o nível de ensino do professor, tal como mostra a tabela 44. III. Metodologias de ensino Nível de ensino 1º ciclo 2º ciclo 3º ciclo Ed. Especial K-S 0,001 0,173 0,136 0,010 RACHAS 0,319 0,057 0,330 0,480 LEVENE 0,453 Tabela 45: Hipótese 2.1 e condição metodologias de ensino segundo o nível de ensino. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Os dados recolhidos não cumprem o princípio da normalidade da amostra (tabela 45), pelo que efectuaremos um teste não paramétrico. Metodologias de ensino 0,427 Tabela 46: Hipótese 2.1 e condição metodologias de ensino segundo o nível de ensino. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kruskal – Wallis Vemos na tabela 46 que no que se refere à condição “metodologias de ensino”, não existem alterações na relevância atribuída, quando relacionada com o nível de ensino em que o professor exerce actividade. -276- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] IV. Formação específica Nível de ensino 1º ciclo 2º ciclo 3º ciclo Ed. Especial K-S 0,00 0,002 0,00 0,001 RACHAS 0,381 1 0,229 0,144 LEVENE 0,420 Tabela 47: Hipótese 2.1. e condição formação específica segundo o nível de ensino. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Os dados não se ajustam à curva da normalidade (tabela 47), pois não superam o teste K-S, sendo necessário aplicar um teste não paramétrico (H de Kruskal – Wallis). Formação específica 0,221 Tabela 48: Hipótese 2.1. e condição formação específica segundo o nível de ensino. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kruskal – Wallis A relevância atribuída à condição “formação específica” não varia de acordo com o nível de ensino em que exercem os professores da nossa amostra (tabela 48). V. Materiais e recursos Nível de ensino 1º ciclo 2º ciclo 3º ciclo Ed. Especial K-S 0,00 0,158 0,001 0,035 RACHAS 0,099 0,601 0,972 0,301 LEVENE 0,120 Tabela 49: Hipótese 2.1. e condição materiais e recursos segundo o nível de ensino. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Mais uma vez, os dados da amostra não se ajustam à curva da normalidade (tabela 49), dando assim lugar a uma análise não paramétrica. Neste caso utilizaremos a H de Kruskal – Wallis para contrastar os 4 grupos da condição “nivel de ensino”. -277- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Materiais e recursos 0,668 Tabela 50: Hipótese 2.1. e condição materiais e recursos segundo o nível de ensino. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kruskal – Wallis Verifica-se na tabela 50 que o nível de ensino não influencia o grau de relevância atribuído à condição “materiais e recursos” como indispensável para a realização de um efectivo processo de inclusão. VI. Colaboração entre professores Nível de ensino 1º ciclo 2º ciclo 3º ciclo Ed. Especial K-S 0,001 0,100 0,057 0,020 RACHAS 0,096 0,213 0,439 0,514 LEVENE 0,825 Tabela 51: Hipótese 2.1. e condição colaboração entre professores segundo o nível de ensino. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Os dados referentes na amostra aos docentes que exercem no 1º ciclo ou a educação especial não cumprem o princípio da normalidade (tabela 51), pelo que se torna necessária a análise por teste não paramétrico. Colaboração entre professores 0,671 Tabela 52: Hipótese 2.1.e condição colaboração entre professores segundo o nível de ensino. Procedimento de contraste dos dados através da prova H de Kruskal – Wallis A escolha e a relevância atribuída à condição “colaboração entre professores“ não sofrem modificações segundo o nivel de ensino em que o professor exerce, como se pode comprovar na tabela 52. -278- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] VII. Técnicos especializados Nível de ensino 1º ciclo 2º ciclo 3º ciclo Ed. Especial K-S 0,035 0,306 0,113 0,012 RACHAS 0,138 0,540 0,175 0,022 LEVENE 0,507 Tabela 53: Hipótese 2.1. e condição técnicos especializados segundo o nível de ensino. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Os dados da amostra, não cumprem os principios de aleatoriedade e normalidade (tabela 53) pelo que optamos pela análise através de um teste não paramétrico (H de Kruskal – Wallis). Técnicos especializados 0,087 Tabela 54: Hipótese 2.1. e condição técnicos especializados segundo o nível de ensino. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kruskal – Wallis Como podemos apreciar na tabela 54, o nível de ensino dos professores não afecta a relevância atribuída à condição “técnicos especializados”, como importante para a realização de um efectivo processo de inclusão. Como conclusão geral e apesar do gráfico nos mostrar algumas diferenças, estas não eram estatisticamente significativas e portanto a variável nível de ensino não influencia a relevância atribuída às condições para a realização de um efectivo processo de inclusão. -279- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] a) Anos de docência Gráfico 33: Atribuição de relevância às condições para que seja possível a realização de um efectivo processo de Inclusão segundo os anos de docência. Tal como acontecia na hipótese anterior, a condição “atitudes dos professores” parece ser determinante para a realização de um efectivo processo de inclusão. Destacam-se os professores com mais tempo de serviço docente, que atribuem maior relevância a esta condição. Ao mesmo tempo que os mais jovens dão maior relevância a condição “materiais e recursos”. O gráfico recolhe diferentes pontuações, pelo que iremos contrastar os dados para verificar se são ou não estatisticamente significativas. Inicialmente os dados da amostra irão ser submetidos aos pressupostos da aleatoriedade, da normalidade e da homogeneidade e depois aplicaremos o teste que mais se adequar. Paramétrico ou não paramétrico. -280- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] I. Atitudes dos professores Anos de docência K-S RACHAS <3 0,00 0,028 4a6 0,00 0,163 7 a 25 0,00 0,524 25 a 35 0,00 0,610 > 35 -- -- LEVENE 0,00 Tabela 55: Hipótese 2.1.e condição atitudes dos professores segundo os anos de docência. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Os dados revelam (tabela 55) que não se cumprem os 3 princípios (aleatoriedade, homogeneidade e normalidade), ficando assim o contraste aberto a uma prova não paramétrica. Atitudes dos professores 0,133 Tabela 56: Hipótese 2.1. e condição atitudes dos professores segundo os anos de docência. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kruskal – Wallis A tabela 56 demonstra que as diferenças existentes não são significativas, pelo que os anos de docência não são determinantes para o grau de relevância atribuída à condição “atitudes dos professores”. II. Avaliação/acompanhamento Anos de docência K-S RACHAS <3 4a6 7 a 25 25 a 35 > 35 0,210 0,10 0,00 0,318 0,766 0,083 0,916 0,968 0,136 0,724 LEVENE 0,261 Tabela 57: Hipótese 2.1. e condição avaliação/acompanhamento segundo os anos de docência. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Os dados dos docentes que exercem a sua actividade entre 7 e 25 anos, não se ajustam à curva da normalidade (tabela 57), pelo que se torna necessário um contraste com um teste não paramétrico (H de Kruskal – Wallis). -281- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Avaliação/acompanhamento 0,864 Tabela 58: Hipótese 2.1. e condição avaliação/acompanhamento segundo os anos de docência. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kruskal – Wallis A relevância atribuída à condição “avaliação/acompanhamento” não varia segundo a experiência dos professores, como podemos observar na tabela 58. III. Metodologias de ensino Anos de docência K-S RACHAS <3 4a6 7 a 25 25 a 35 > 35 0,048 0,195 0,002 0,372 0,991 0,168 0,269 0,367 0,384 1 LEVENE 0,275 Tabela 59: Hipótese 2.1. e condição metodologias de ensino segundo os anos de docência. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Os dados sombreados não cumprem o princípio da normalidade (tabela 59), estabelecendo-se um teste não paramétrico para o seu contraste. Metodologias de ensino 0,420 Tabela 60: Hipótese 2.1. e condição metodologias de ensino segundo os anos de docência. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kruskal – Wallis A relevância atribuída à condição “metodologias de ensino” não varia segundo a experiência dos professores, como podemos observar na tabela 60. IV. Formação específica Anos de docência K-S RACHAS <3 4a6 7 a 25 25 a 35 > 35 0,00 0,003 0,00 0,134 0,766 0,934 0,166 0,079 0,482 1 LEVENE 0,585 Tabela 61: Hipótese 2.1. e condição formação específica segundo os anos de docência. Procedimento de contraste dos dados para determinar provas paramétricas ou não paramétricas -282- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Os dados recolhidos no questionário referentes à formação específica não cumprem os princípios da normalidade (tabela 61), pelo que utilizaremos um teste não paramétrico. Neste caso o H de Kruskal – Wallis. Formação especifica 0,044 Tabela 62: Hipótese 2.1. e condição formação específica segundo os anos de docência. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kruskal – Wallis Os resultados mostram (tabela 62) diferenças estatisticamente significativas ( p=0,044) entre as médias das séries de dados, portanto podemos afirmar que a experiência dos professores influencia o grau de relevância atribuído à condição”formação específica” como indispensável para o processo de inclusão escolar. Com efeito, os professores com menos experiência, atribuem maior relevância a esta condição do que os com mais experiência como podemos ver na tabela 63. Anos de docência Anos de docência <3 4a6 7 a 25 25 a 35 > 35 <3 7 a 25 4a6 25 a 35 > 35 7 a 25 25 a 35 > 35 Sig. 0,171 0,015 0,131 0,701 0,171 0,579 0,719 0,966 <3 4a6 25 a 35 > 35 <3 4a6 0,015 0,579 0,983 0,844 0,131 0,719 7 a 25 > 35 <3 4a6 7 a 25 25 a 35 0,983 0,856 0,701 0,966 0,844 0,856 Tabela 63: Hipótese 2.1.e condição formação específica segundo os anos de docência. Procedimento de contraste dos dados através do Post-hoc -283- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] V. Materiais e recursos Anos de docência K-S RACHAS <3 0,001 0,142 4a6 0,111 0,021 7 a 25 0,00 0,018 25 a 35 0,337 0,847 > 35 0,766 1 LEVENE 0,066 Tabela 64: Hipótese 2.1. e condição materiais e recursos segundo os anos de docência. Procedimento de contraste dos dados para determinar provas paramétricas ou não paramétricas Os dados não cumprem os pressupostos de normalidade e aleatoriedade (tabela 64), já que não superam os testes K-S nem Rachas, por este motivo optamos por aplicar o teste não paramétrico (H de Kruskal – Wallis). Materiais e recursos 0,178 Tabela 65: Hipótese 2.1. e condição materiais e recursos segundo os anos de docência. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kruskal – Wallis Não existem diferenças significativas entre os grupos de professores inquiridos (tabela 65) sendo isto comprovado através do teste não paramétrico H de Kruskal – Wallis. Podemos afirmar que os anos de docência não influenciam a escolha da condição” materiais e recursos” como relevante para o processo de inclusão escolar dos alunos com necessidades educativas especiais. VI. Colaboração entre professores Anos de docência K-S RACHAS <3 0,012 0,568 4a6 0,061 0,257 7 a 25 0,00 0,222 25 a 35 0,307 0,757 > 35 0,766 1 LEVENE 0,076 Tabela 66: Hipótese 2.1. e condição colaboração entre professores segundo os anos de docência. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos -284- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Como podemos comprovar na coluna do teste K-S (tabela 66) os dados não cumprem o princípio da normalidade, sendo indispensável este facto para a aplicação de um teste paramétrico. Por este motivo, decidimos aplicar o teste não paramétrico H de Kruskal – Wallis. Colaboração entre professores 0,113 Tabela 67: Hipótese 2.1. e condição colaboração entre professores segundo os anos de docência. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kruskal – Wallis Os dados referentes aos diferentes grupos inquiridos, não oferecem diferenças significativas quando submetidos ao teste não paramétrico( tabela 67). Isto faz-nos pensar que a relevância atribuída à condição “colaboração entre professores” não está influenciada pelos anos de docência que o professor possui. VII. Técnicos especializados Anos de docência K-S RACHAS <3 0,119 0,410 4a6 0,338 0,091 7 a 25 0,00 0,234 25 a 35 0,118 0,825 > 35 1 1 LEVENE 0,218 Tabela 68: Hipótese 2.1. e condição técnicos especializados segundo os anos de docência. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Os resultados obtidos (tabela 68) não se ajustam à curva normal e portanto recomendase o uso de um teste não paramétrico. Utilizaremos para o contraste desta hipótese o teste H de Kruskal-Wallis. Os resultados obtidos podem observar-se na tabela seguinte: -285- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Técnicos especializados 0,436 Tabela 69: Hipótese 2.1. e condição técnicos especializados segundo os anos de docência. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kruskal – Wallis A tabela 69 indica que não se localizam diferenças significativas entre a serie de dados dos grupos analisados. Por este motivo, defendemos a ideia de que o grau de relevância atribuído à condição “técnicos especializados” não está influenciado pela variável anos de docência que o professor possui Concluímos que o tempo de serviço influencia significativamente a importância de uma das condições: a relevância da formação especifica para trabalhar com alunos com NEE é superior para os que têm menos tempo de serviço. Passamos agora à análise da hipótese H2.2- as habilitações literárias e profissionais influenciam o grau de relevância atribuído pelos professores às condições para que seja possível a realização de um efectivo processo de Inclusão, nas suas diferentes alíneas. Assim para a alínea a) a formação académica influencia o grau de relevância atribuído pelos professores às condições para que seja possível a realização de um efectivo processo de Inclusão, apresentamos os resultados seguintes: -286- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Gráfico 34: Atribuição de relevância às condições para que seja possível a realização de um efectivo processo de inclusão segundo o grau académico A condição “atitudes dos professores” é a mais valorizada para que se possa levar a efeito um verdadeiro processo de inclusão dos alunos com necessidades educativas especias. Contudo, se observarmos o gráfico 34 podemos apreciar uma pronunciada ascensão da variável formação específica nos professores licenciados, que por sua vez desvalorizam a condição “colaboração entre professores “. Para verificar se estas diferenças são significativas do ponto de vista estatístico, procedemos como nas situações anteriores,iniciando por uma análise prévia dos dados referentes à amostra, que nos permitirá tomar a decisão da utilização de teste paramétrico ou não paramétrico. I. Atitudes dos professores Grau académico K-S RACHAS LEVENE -- Bacharel 0,766 1 Licenciado 0,00 0,040 Mestre 0,00 1 Doutor -- -- Tabela 70: Hipótese 2.2. e condição atitudes dos professores segundo o grau académico. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos -287- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Os dados não se ajustam à curva da normalidade nem cumprem os principios de aleatoriedade e homogeneidade (tabela 70), pelo que os contrastaremos com o teste não paramétrico H de Kruskal – Wallis. Atitudes dos professores 0,335 Tabela 71: Hipótese 2.2. e condição atitudes dos professores segundo o grau académico. Procedimento de contraste dos dados com o teste H de Kruskal – Wallis A relevancia atribuída à condição “atitudes dos professores” não varia segundo o garu académico que possuem os professores, como mostra a tabela 71. II. Avaliação/acompanhamento Grau académico K-S Bacharel 0,991 0,00 Licenciado Mestre 0,665 Doutor -- RACHAS 1 0,005 0,531 -- LEVENE -- Tabela 72: Hipótese 2.2. e condição avaliação/acompanhamento segundo o grau académico. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos O grau académico de “licenciado” não supera os principios de aleatoriedade, homogeneidade nem normalidade amostral, sendo necessário estabelecer um teste H de Kruskal-Wallis, para o contraste da condição “avaliação/acompanhamento”. Avaliação/acompanhamento 0,715 Tabela 73: Hipótese 2.2. e condição avaliação/acompanhamento segundo o grau académico. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kruskal – Wallis Os resultados da tabela 73 reflectem que não existem diferenças significativas entre os diferentes grupos de professores, divididos segundo o grau académico. Isto indica-nos que o grau de relevância atribuído à condição “avaliação/acompanhamento” não muda de acordo com a habilitação académica do professor. -288- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] III. Metodologias de ensino Grau académico K-S RACHAS LEVENE Bacharel Licenciado Mestre Doutor 0,929 0,00 0,494 -- 0,724 0,125 0,861 -- -- Tabela 74: Hipótese 2.2. e condição metodologias de ensino segundo o grau académico. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Os dados recolhidos, não superam o teste K-S, nem cumprem o princípio da homogeneidade (tabela 74). Aplicaremos então para contrastar os resultados o teste H de Kruskal – Wallis. Metodologias de ensino 0,261 Tabela 75: Hipótese 2.2. e condição metodologias de ensino segundo o grau académico. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kruskal – Wallis A tabela 75 demonstra que não existem diferenças estatisticamente significativas entre a série de dados. Este resultado reflecte que o grau de relevância atribuído à condição “metodologias de ensino” não muda de acordo com o grau académico do professor. IV. Formação específica Grau académico K-S RACHAS LEVENE Bacharel Licenciado Mestre Doutor 0,991 0,00 0,493 -- 0,724 0,030 0,431 -- -- Tabela 76: Hipótese 2.2. e condição formação específica segundo o grau académico. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos O grupo de professores licenciados não supera o teste de de K-S, nem o de Rachas (tabela 76) Por este motivo, utilizaremos um teste não paramétrico (H de Kruskal – Wallis). -289- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Formação especifica 0,042 Tabela 77: Hipótese 2.2. e condição formação específica segundo o grau académico. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kruskal – Wallis Verificamos que a relevância atribuída à condição “formação específica”, está influenciada pelo grau académico do professor, tal como nos mostra a tabela 77. Para comprovar que grupos estão mais influenciados submeteremos os dados ao post-hoc. Grau Académico Bacharel Licenciado Mestre Sig. Licenciado 0,802 Mestre 0,967 Bacharel 0,802 Mestre 0,038 Bacharel 0,967 Licenciado 0,038 Tabela 78: Hipótese 2.2. e condição formação específica segundo o grau académico. Procedimento de contraste dos dados através do Post-hoc Verifica-se (tabela 78) que os licenciados valorizam mais a “formação específica” do que os mestres. Da análise efectuada aos dados verifica-se que os licenciados a escolhem como a segunda condição mais relevante para o processo de inclusão, enquanto os mestres a valorizam apenas em 4º lugar. V. Materiais e recursos Grau académico K-S RACHAS LEVENE -- Bacharel 1 1 Licenciado 0,00 0,178 Mestre 0,291 0,806 Doutor -- -- Tabela 79: Hipótese 2.2. e condição materiais e recursos segundo o grau académico. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos -290- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] A amostra no grupo dos professores licenciados, não supera o pressuposto da normalidade (tabela 79) e por isso, aplicaremos um teste não paramétrico (H de Kruskal – Wallis). Materiais e recursos 0,859 Tabela 80: Hipótese 2.2. e condição materiais e recursos segundo o grau académico. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kruskal – Wallis Na tabela 80 verificamos que não existem diferenças significativas entre os grupos e portanto, podemos concluir que a relevância atribuída à condição “materiais e recursos” não é influenciada pelo grau académico dos professores. VI. Colaboração entre professores Grau académico K-S RACHAS LEVENE Bacharel 0,766 1 -- Licenciado 0,00 0,088 Mestre 0,383 1 Doutor -- -- Tabela 81: Hipótese 2.2. e condição colaboração entre professores segundo o grau académico. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos O teste K-S não é superado pelo grupo dos professores licenciados e por isso, os dados não se ajustam à curva da normalidade (tabela 81). Utilizaremos então o teste H de Kruskal – Wallis. Colaboração entre professores 0,186 Tabela 82: Hipótese 2.2. e condição colaboração entre professores segundo o grau académico. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kruskal – Wallis -291- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] A relevancia atribuída à condição “colaboração entre professores”,não é influenciada pelo grau académico, pois não se registam diferenças significativas entre os grupos inquiridos (tabela 82). VII. Técnicos especializados Grau académico K-S RACHAS LEVENE Bacharel 0,999 0,724 -- Licenciado 0,00 0,177 Mestre 0,524 0,720 Doutor -- -- Tabela 83: Hipótese 2.2. e condição técnicos especializados segundo o grau académico. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Os dados não se ajustam à curva da normalidade, como mostra a tabela 83, pelo que necessitamos de utilizar um teste não paramétrico. Neste caso como temos mais de dois grupos optámos pelo teste H de Kruskal – Wallis. Técnicos especializados 0,491 Tabela 84: Hipótese 2.2. e condição técnicos especializados segundo o grau académico. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kruskal – Wallis A tabela 84 indica não haver diferenças entre as séries de dados, pelo que concluimos que a relevância atribuida à condição “técnicos especializados” não varia segundo o grau académico dos professores. Poderemos assim concluir que o grau académico influencia apenas a escolha da condição formação específica como relevante para o processo de inclusão, pois os professores licenciados valorizam mais esta condição. A relevância atribuída às outras condições não é influenciada pela variável grau académico dos inquiridos. -292- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] No que se refere à alínea b)Ter disciplinas relacionadas com os alunos com necessidades educativas especiais na formação inicial influencia o grau de relevância atribuído pelos professores às condições para que seja possível a realização de um efectivo processo de inclusão, apresentamos os seguintes resultados: Gráfico 35: Atribuição de relevância às condições para que seja possível a realização de um efectivo processo de inclusão segundo a formação inicial. Neste caso existe paridade entre as condições, já que três delas melhoram as escolhas, quando relacionadas com a formação inicial queinclui disciplinas relacionadas com os alunos com necessidades educativas especiais e outras três pioram o grau de relevância atribuído. No gráfico 35 destaca-se a condição “atitudes dos professores”, já que as pessoas que tiveram essas mesmas disciplinas relacionadas com os alunos com necessidades educativas especiais na formação inicial não valorizam esta condição. Para tornar mais legível a leitura dos resultados, procedemos à divisão das condições e vamos comentá-las de forma individualizada . -293- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] I. Atitudes dos profesores Formação inicial K-S RACHAS LEVENE Não 0,00 0,270 0,003 Sim 0,00 0,121 Tabela 85: Hipótese 2.2. e condição atitudes dos professores segundo a formação inicial. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Os dados terão de ser analisados por teste não paramétrico, já que como podemos ver na tabela 85 não cumprem o princípio da normalidade e da homogeneidade.Neste caso o teste utilizado é o U de Mann – Whitney, dado que só temos dois grupos em presença. Atitudes dos professores 0,096 Tabela 86: Hipótese 2.2. e condição atitudes dos professores segundo a formação inicial. Procedimento de contraste dos dados através do teste U de Mann – Whitney. Verificámos que não se encontraram diferenças significativas (tabela 86), portanto concluimos que o facto dos inquiridos, terem tido na sua formação inicial disciplinas relacionadas com os alunos com NEE, não influenciou o grau de relevância atribuído por estes á condição “atitudes dos professores”. II. Avaliação/acompanhamento Formação inicial K-S RACHAS LEVENE Não 0,00 0,388 0,923 Sim 0,00 0,279 Tabela 87: Hipótese 2.2. e condição avaliação/acompanhamento segundo a formação inicial. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Os dados não se ajustam à curva da normalidade (tabela 87), pelo que se torna necessário aplicar o teste U de Mann – Whitney (teste não paramétrico). -294- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Avaliação/acompanhamento 0,125 Tabela 88: Hipótese 2.2. e condição avaliação/acompanhamento segundo a formação inicial. Procedimento de contraste dos dados através do teste U de Mann – Whitney Os grupos estudados não mostram diferenças significativas entre eles (tabela 88). Este facto demonstra que terem tido na sua formação inicial disciplinas relacionadas com os alunos com NEE não influencia o grau de relevância que atribuem à condição “avaliação/acompanhamento”. III. Metodologias de ensino Formação inicial K-S RACHAS LEVENE Não 0,00 0,433 0,137 Sim 0,011 0,489 Tabela 89: Hipótese 2.2. e condição metodologias de ensino segundo a formação inicial. Procedimento de contraste dedos para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Os dados não cumprem o princípio da normalidade (tabela 89) pelo que aplicaremos o teste U de Mann – Whitney. Metodologias de ensino 0,403 Tabela 90: Hipótese 2.2. e condição metodologias de ensino segundo a formação inicial. Procedimento de contraste dos dados através do teste U de Mann – Whitney. As diferenças entre os grupos da amostra pesquisada não são significativas (tabela 90), concluindo que a formação inicial não afecta o grau de relevância atribuído pelos docentes à condição”metodologias de ensino”. -295- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] IV. Formação específica Formação inicial K-S RACHAS LEVENE Não 0,00 0,159 0,590 Sim 0,00 0,835 Tabela 91: Hipótese 2.2. e condição formação específica segundo a formação inicial. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos A série de dados não se ajusta à curva da normalidade (tabela 91) pelo que devemos usar um teste não paramétrico. No caso o U de Mann – Whitney. Formação especifica 0,115 Tabela 92: Hipótese 2.2. e condição formação específica segundo a formação inicial. Procedimento de contraste dos dados através do teste U de Mann – Whitney Os dados demonstram a inexistência de diferenças significativas (tabela 92), as quais determinam que a relevância atribuída pelos inquiridos à condição “formação especifica” não se modifica, mesmo que tenham frequentado na sua formação inicial disciplinas relacionadas com os alunos com NEE. V. Materiais e recursos Formação inicial K-S RACHAS LEVENE Não 0,00 0,184 0,095 Sim 0,001 0,637 Tabela 93: Hipótese 2.2. e condição materiais e recursos segundo a formação inicial. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos O teste K-S não foi superado, pelo que não se verifica o princípio da normalidade dos dados (tabela 93). Por este motivo iremos analisá-los com o teste não paramétrico U de Mann – Whitney. -296- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Materiais e recursos 0,096 Tabela 94: Hipótese 2.2. e condição materiais e recursos segundo a formação inicial. Procedimento de contraste dos dados através do teste U de Mann – Whitney Os resultados demonstram (tabela 94) que não existem diferenças significativas entre a variável formacão inicial e a condição “materiais e recursos”. Isto indica-nos que independentemente de qual tenha sido a formacão inicial do professor, isso não influencia o grau de relevância atribuído à esta condição. VI. Colaboração entre professores Formação inicial K-S RACHAS LEVENE Não 0,00 0,042 0,837 Sim 0,001 0,063 Tabela 95: Hipótese 2.2. e condição colaboração entre professores segundo a formação inicial. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Verificamos que não foi superado o teste K-S (tabela 95), pelo que utilizaremos o teste U de Mann – Whitney. Colaboração entre professores 0,477 Tabela 96: Hipótese 2.2. e condição colaboração entre professores segundo a formação inicial. Procedimento de contraste dos dados através do teste U de Mann – Whitney Os resultados indicam a inexistencia de diferenças significativas (tabela 96), concluindose que a relevância atribuída à condição “colaboração entre professores” não varía em função da formação inicial recebida. -297- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] VII. Técnicos especializados Formação inicial K-S RACHAS LEVENE Não 0,001 0,535 0,304 Sim 0,022 0,229 Tabela 97: Hipótese 2.2. e condição técnicos especializados segundo a formação inicial. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Utilizaremos de novo o teste U de Mann-Whitney, pois a amostra recolhida não supera o princípio da normalidade (tabela 97). Técnicos especializados 0,783 Tabela 98: Hipótese 2.2. e condição técnicos especializados segundo a formação inicial. Procedimento de contraste dos dados através do teste U de Mann – Whitney A relevancia atribuída à condição “técnicos especializados” (tabela 98) não muda de acordo com o tipo de formação inicial recebida pelos professores. Conclui-se desta análise que o facto dos professores que compõem a nossa amostra terem tido na sua formasç~so inicisl disciplinas relacionadas com os alunos com necessidades educativas especiais, não influencia significativamente a relevância atribuída às várias condições que lhe foram apresentadas. Para a alínea c) A formação contínua no âmbito das necessidades educativas especiais influencia o grau de relevância atribuído pelos professores às condições para que seja possível a realização de um efectivo processo de Inclusão, conclui-se: -298- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Gráfico 36: Atribuição de relevância às condições para que seja possível a realização de um efectivo processo de inclusão segundo a formação contínua. Os professores intervenientes no estudo que frequentaram acções de formação contínua, parecem atribuir maior relevancia às condições “atitudes dos professores” e “formacão específica” como mostra o gráfico 36. Depois de realizar a análise descritiva dos dados procedemos a submissão destes, aos testes de K-S, Rachas e Levene, para decidirmos da aplicação de teste paramétrico ou não paramétrico. I. Atitudes dos professores Formação contínua Não Sim K-S 0,00 0,00 RACHAS 0,135 0,714 LEVENE 0,023 Tabela 99: Hipótese 2.2. e condição atitudes dos professores segundo a formação contínua. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Utilizaremos o teste U de Mann – Whitney,pois neste caso os dados não superam o princípio da normalidade (tabela 99). Atitudes dos professores 0,190 Tabela 100: Hipótese 2.2. e condição atitudes dos professores segundo a formação contínua. Procedimento de contraste dos dados através do teste U de Mann – Whitney -299- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] A relevância atribuída à condição atitudes não se altera pelo facto dos participantes do estudo terem recebido formação contínua sobre a temática (tabela 100) II. Avaliação/acompanhamento Formação contínua K-S RACHAS LEVENE Não 0,00 0,239 0,653 Sim 0,001 0,526 Tabela 101: Hipótese 2.2. e condição avaliação/acompanhamento segundo a formação contínua. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Os dados não se ajustam à curva da normalidade (tabela 101) portanto, devemos utilizar um teste não paramétrico. Tratando-se de dois grupos utilizamos o U de Mann – Whitney. Avaliação/acompanhamento 0,302 Tabela 102: Hipótese 2.2. e condição avaliação/acompanhamento segundo a formação contínua. Procedimento de contraste dos dados através do teste U de Mann – Whitney O grau de relevância atribuído à condição “avaliação/acompanhamento” para que seja possível a realização de um efectivo processo de inclusão, não muda quando comparamos um grupo de professores que tenha recebido formação contínua com outro grupo que não tenha recebido (tabela 102). III. Metodologias de ensino Formação contínua K-S RACHAS LEVENE Não 0,00 0,267 0,202 Sim 0,003 0,876 Tabela 103: Hipótese 2.2. e condição metodologias de ensino segundo a formação contínua. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos -300- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Os dados não superam o teste K-S, pois não se ajustam à curva da normalidade (tabela 103), devendo-se aplicar o modelo não paramétrico U de Mann – Whitney. Metodologias de ensino 0,341 Tabela 104: Hipótese 2.2. e condição metodologias de ensino segundo a formação contínua. Procedimento de contraste dos dados através do teste U de Mann – Whitney Independentemente dos professores terem ou não recebido formação contínua sobre alunos com NEE, o grau de relevância que atribuem à condição “metodologías de ensino” não se modifica (tabela 104) IV. Formação específica Formação contínua K-S RACHAS LEVENE Não Sim 0,00 0,00 0,116 0,510 0,212 Tabela 105: Hipótese 2.2. e condição formação específica segundo a formação contínua. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Não foi superado o teste K-S (tabela 105), pois os dados não se ajustam à curva da normalidade. Assim iremos submetê-los ao teste U de Mann – Whitney. Formação específica 0,029 Tabela 106: Hipótese 2.2. e condição formação específica segundo a formação contínua. Procedimento de contraste dos dados através do teste U de Mann – Whitney A tabela 106 mostra diferenças significativas entre os grupos inquiridos, concluindo-se que a formação contínua no âmbito das necessidades educativas especiais influencia significativamente o grau de relevância atribuído à condição ” formação específica”, pois é superior para os que não tiveram formação contínua. -301- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] V. Materiais e recursos Formação contínua K-S RACHAS LEVENE Não 0,00 0,306 0,123 Sim 0,00 0,869 Tabela 107: Hipótese 2.2. e condição materiais e recursos segundo a formação contínua. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos O teste K-S não foi superado pois não se verifica o pressuposto da normalidade (tabela 107) pelo que avaliaremos esta hipótese mediante o teste não paramétrico U de Mann – Whitney. Materiais e recursos 0,383 Tabela 108: Hipótese 2.2. e condição materiais e recursos segundo a formação contínua. Procedimento de contraste dos dados através do teste U de Mann – Whitney. A relevância atribuída à condição “materiais e recursos “ não se altera pelo facto dos docentes terem ou não recebido formação contínua na área das necessidades educativas especiais. VI. Colaboração entre professores Formação contínua K-S RACHAS LEVENE Não 0,00 0,077 0,466 Sim 0,001 0,575 Tabela 109: Hipótese 2.2. e condição colaboração entre professores, segundo a formação contínua. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos O teste não paramétrico utilizado para o contraste dos dados será o U de Mann – Whitney, já que oselementos colhidos sobre a amostra, não se ajustam ao princípio da normalidade como mostra a tabela 109. -302- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] .Colaboração entre professores 0,906 Tabela 110: Hipótese 2.2. e condição colaboração entre professores, segundo a formação contínua. Procedimento de contraste dos dados através do teste U de Mann – Whitney Uma vez realizada a análise dos dados concluimos que a relevância atribuída à condição “colaboração entre professores” não se altera em função dos professores terem ou não recebido formação contínua no âmbito do trabalho com os alunos com NEE (tabela 110). VII. Técnicos especializados Formação contínua K-S RACHAS LEVENE Não 0,004 0,531 0,723 Sim 0,007 0,644 Tabela 111: Hipótese 2.2. e condição técnicos especializados, segundo a formação contínua. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Os dados não superam o princípio de normalidade (tabela 111), aplicando-se por esse motivo um teste não paramétrico (U de Mann – Whitney). Técnicos especializados 0,835 Tabela 112: Hipótese 2.2. e condição técnicos especializados, segundo a formação contínua. Procedimento de contraste dos dados através do teste U de Mann – Whitney Verifica-se que a relevância atribuída à condição “técnicos especializados” não se altera (tabela 112) em função dos professores terem ou não recebido formação contínua no âmbito do trabalho com os alunos com NEE. -303- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Pode concluir-se que a formação contínua no âmbito das necessidades educativas especiais influencia significativamente a importância de uma condição: a relevância da formação específica para trabalhar com alunos com NEE's, pois esta condição é superior para os que não tiveram formação contínua. No que se refere à alínea d) a formação especializada no âmbito das necessidades educativas especiais influencia o grau de relevância atribuído pelos professores às condições para que seja possível a realização de um efectivo processo de Inclusão, apresentamos os seguintes resultados: Gráfico 37: Atribuição de relevância às condições para que seja possível a realização de um efectivo processo de inclusão segundo a formação especializada O grau de relevância atribuído pelos docentes à condição “atitudes dos professores” parece ser influenciado pela formação específica. Todas as outras condições não parecem apresentar diferenças significativas (gráfico 37). Uma vez analisado o gráfico anterior, passaremos a avaliar cada uma das variáveis que compôem as condições para que seja possível a realização de um efectivo processo de inclusão. -304- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] I. Atitudes dos professores Formação especializada K-S RACHAS LEVENE Não 0,00 0,181 0,00 Sim 0,00 0,782 Tabela 113: Hipótese 2.2. e condição atitudes dos professores segundo a formação especializada. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Os dados não cumprem o princípio da homogeneidade nem da normalidade (tabela 113). Utilizaremos então o teste não paramétrico U de Mann – Whitney. Atitudes dos professores 0,036 Tabela 114: Hipótese 2.2. e condição atitudes dos professores segundo a formação especializada. Procedimento de contraste dos datos através do teste U de Mann – Whitney O valor de prova é inferior a 5% para a condição “atitudes dos professores” (tabela 114) rejeita-se a hipótese da distribuição dos seus valores ser igual para os dois grupos. Os valores médios e, portanto, a relevância atribuída a esta condição é superior para os que tiveram formação especializada, sendo as diferenças observadas estatisticamente significativas. II. Avaliação/acompanhamento Formação especializada K-S RACHAS LEVENE Não 0,00 0,026 0,281 Sim 0,003 0,694 Tabela 115: Hipótese 2.2. e condição avaliação/acompanhamento segundo a formação especializada. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Podemos verificar que os dados não cumprem o pressuposto da normalidade nem da aleatoriedade como mostra a tabela 115. Recorreremos ao teste não paramétrico U de Mann – Whitney. -305- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Avaliação/acompanhamento 0,713 Tabela 116: Hipótese 2.2. e condição avaliação/acompanhamento segundo a formação especializada. Procedimento de contraste dos dados através do teste U de Mann – Whitney A avaliação dos dados mostra que não existem diferenças significativas (tabela 116) entre os grupos examinados e portanto, a relevância atribuída à condição “avaliação/acompanhamento” não se modifica independentemente dos professores terem ou não frequentado formação especializada. III. Metodologias de ensino Formação especializada K-S RACHAS LEVENE Não 0,00 0,203 0,344 Sim 0,023 0,394 Tabela 117: Hipótese 2.2. e condição metodologias de ensino, segundo a formação especializada. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Mais uma vez os dados não se ajustam à curva da normalidade (tabela 117) , pelo que os analisaremos com um teste não paramétrico (U de Mann – Whitney). Metodologias de ensino 0,702 Tabela 118: Hipótese 2.2. e condição metodologias de ensino, segundo a formação especializada. Procedimento de contraste dos dados através do teste U de Mann – Whitney O grau de relevância atribuído pelos docentes à condição “metodologías de ensino” não é influenciado pela formação especializada dos inquiridos (tabela 118). Ter ou não ter esta formação não influencia o grau de relevância atribuído a esta condição. -306- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] IV. Formação específica Formação especializada K-S RACHAS LEVENE Não 0,00 0,043 0,369 Sim 0,00 0,183 Tabela 119: Hipótese 2.2. e condição formação específica, segundo a formação especializada. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Avaliaremos de seguida os dados através do teste U de Mann – Whitney, já que estes não cumprem o princípio de aleatoriedade nem normalidade, como mostra a tabela 119. Formação especifica 0,154 Tabela 120: Hipótese 2.2. e condição formação específica, segundo a formação especializada. Procedimento de contraste dos dados através do teste U de Mann – Whitney A tabela 120 mostra que não existem diferenças significativas entre os grupos e podemos pois concluir, que a relevância atribuída à condição “formação específica”, não fica beneficiada pelo facto dos professores terem frequentado cursos de formação especializada. V. Materiais e recursos Formação especializada K-S RACHAS LEVENE Não Sim 0,00 0,001 0,616 0,089 0,333 Tabela 121: Hipótese 2.2. e condição materiais e recursos segundo a formação especializada. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Os dados não se ajustam à curva da normalidade (tabela 121), pelo que iremos utilizar um teste não paramétrico (U de Mann - Whitney). -307- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Materiais e recursos 0,878 Tabela 122: Hipótese 2.2. e condição materiais e recursos segundo a formação especializada. Procedimento de contraste dos dados através do teste U de Mann – Whitney Quando comparamos o grupo de professores que recebeu formação especializada e o grupo que não recebeu, verificamos não existirem diferenças estatisticamente significativas (tabela 122) no que se refere á relevância atribuída à condição “técnicos especializados” para que seja possível a realização de um efectivo processo de Inclusão. VI. Colaboração entre professores Formação especializada K-S RACHAS LEVENE Não Sim 0,00 0,004 0,011 0,693 0,742 Tabela 123: Hipótese 2.2. e condição colaboração entre professores segundo a formação especializada. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Os dados não se ajustam à curva da normalidade, nem cumprem o princípio da aleatoriedade (tabela 123), pelo que os examinaremos mediante um teste não paramétrico (U de Mann – Whitney). Colaboração entre professores 0,311 Tabela 124: Hipótese 2.2. e condição colaboração entre professores segundo a formação especializada. Procedimento de contraste dos dados através do teste U de Mann – Whitney A avaliação dos dados mostra que não existem diferenças significativas entre os grupos examinados (tabela 124) e portanto, a relevância atribuída à condição “colaboração entre professores” não se altera pelo facto de terem frequentado cursos de formação especializada. -308- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] VII. Técnicos especializados Formação especializada K-S RACHAS LEVENE Não Sim 0,008 0,008 0,148 0,854 0,417 Tabela 125: Hipótese 2.2. e condição técnicos especializados, segundo a formação especializada. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Os dados terão que ser analisados através de um teste não paramétrico, já que quando os subtemos ao teste K-S, estes não cumprem o princípio de normalidade (tabela 125). Técnicos especializados 0,256 Tabela 126: Hipótese 2.2. e condição técnicos especializados, segundo a formação especializada. Procedimento de contraste dos dados através do teste U de Mann – Whitney As diferenças verificadas não são significativas (tabela 126). Concluimos que a formação especializada não influencia a relevância atribuída pelos inquiridos à condição” técnicos especializados” como importante para o processo de inclusão. Podemos concluir que se confirma esta hipótese pois a formação especializada no âmbito das necessidades educativas especiais influencia significativamente a importância de uma condição. A relevância atribuída à condição “atitudes dos professores” é superior para os que tiveram formação especializada. Passamos à análise da hipótese H2.3- O tipo de função que o professor exerce na escola (professor de educação especial/ professor titular e professor com funções de gestão) influencia o grau de relevância atribuído pelos professores às condições para que seja possível a realização de um efectivo processo de Inclusão. -309- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Gráfico 38: Atribuição de relevância às condições para que seja possível a realização de um efectivo processo de Inclusão segundo o tipo de professor A tendência dos dados que se pode observar no gráfico 38, mostra que os professores de educação especial se diferenciam dos restantes, pelo grau de relevância atribuído à condição “atitudes dos professores”. Consideram-na como a mais importante para levar a cabo um processo de inclusão. Por outro lado atribuem menor relevancia à condição “formação específica” que o resto dos seus colegas. Também não consideram muito importante a condição” técnicos especializados” nem “ materiais e recursos”. Para comprovar se existem diferenças estatisticamente significativas, procederemos à submissão dos dados aos principios da homogeneidade, aleatoriedade e normalidade, para posteriormente decidirmos da aplicação de um teste paramétrico ou não paramétrico. I. Atitudes dos professores Tipo de Professor K-S RACHAS LEVENE 0,00 Turma 0,00 0,049 Ed. Especial 0,00 0,946 Outro 0,00 0,907 Tabela 127: Hipótese 2.3. e condição atitudes dos professores segundo o tipo de professor. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétrios ou não paramétricos -310- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Como não se verifica a normalidade da distribuição das variáveis (tabela 127), será utilizado o teste não paramétrico de Kruskall-Wallis. Atitudes dos professores 0,015 Tabela 128: Hipótese 2.3. e condição atitudes dos professores segundo o tipo de professor. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kuskal – Wallis. Os resultados mostram diferenças significativas nesta série de dados (tabela 128). Podemos afirmar que o tipo de professor influencia a relevância atribuída à condição “ atitudes dos professores” como condição indispensável para a inclusão escolar. Para saber que tipo de professor, contrastaremos os dados através de um post-hoc. Tipo de Professor Tipo de Professor Turma Ed. Especial Outro Sig. Ed. Especial 0,006 Outro 0,505 Turma 0,006 Outro 0,244 Turma 0,505 Ed. Especial 0,244 Tabela 129: Hipótese 2.3 e condição atitudes dos professores segundo o tipo de professor. Procedimento de contraste dos dados através do Post-hoc Os docentes de educação especial são os que mais valorizam a condição “ atitudes dos professores” como promotora e facilitadora do proceso de inclusão escolar, tal como demonstramos na tabela 129 ao encontrar-se uma diferença estatisticamente significativa de p=0,006. II. Avaliação/acompanhamento Tipo de Professor K-S RACHAS LEVENE Turma Ed. Especial Outro 0,00 0,004 0,008 0,007 0,357 0,247 0,456 Tabela 130: Hipótese 2.3. e condição avaliação/acompanhamento segundo o tipo de professor. Procedimento de contraste dos dados para determinar teste paramétrico ou não paramétrico -311- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] O procedimento segundo o qual avaliaremos os dados será a aplicação do teste H de Kruskal – Wallis, já que não se cumpre o princípio de aleatoriedade nem da normalidade como mostra a tabela 130. Avaliação/acompanhamento 0,557 Tabela 131: Hipótese 2.3 e condição avaliação/acompanhamento segundo o tipo de professor. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kuskal – Wallis. O grau de relevância atribuído à condição "avaliação/acompanhamento” não está relacionado com o tipo de professor como podemos ver na tabela 131, pois não se encontraram diferenças estatisticamente significativas entre os grupos. III. Metodologias de ensino Tipo de Professor K-S RACHAS LEVENE Turma Ed. Especial Outro 0,00 0,006 0,064 0,236 0,103 0,034 0,139 Tabela 132: Hipótese 2.3. e condição metodologias de ensino segundo o tipo de professor. Procedimento de contraste dos dados para determinar teste paramétrico ou não paramétrico A serie de dados não cumpre os principios de normalidade e aleatoriedade (tabela 132), estabelecendo-se assim um teste paramétrico para o seu contraste (H de Kruskal – Wallis). Metodologias de ensino 0,875 Tabela 133: Hipótese 2.3. e condição metodologias de ensino segundo o tipo de professor. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kuskal – Wallis As diferenças entre os grupos pesquisados não são significativas (tabela 133), concluindo-se que o tipo de professor não influencia a relevância atribuída à condição “metodologias de ensino” como promotora de inclusão escolar. -312- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] IV. Formação especifica Tipo de Professor K-S RACHAS LEVENE 0,459 Turma 0,00 0,154 Ed. Especial 0,00 0,425 Outro 0,001 0,880 Tabela 134: Hipótese 2.3. e condição formação específica segundo o tipo de professor. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Os dados vão ser analisados através de um teste paramétrico, já que não cumprem o princípio da normalidade quando submetidos ao teste K-S (tabela 134) Formação especifica 0,289 Tabela 135: Hipótese 2.3. e condição formação específica segundo o tipo de professor. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kuskal – Wallis Os resultados demonstram que não existem diferenças significativas entre os grupos examinados (tabela 135) e portanto, o grau de relevância atribuído à variável “formação específica” não se altera independentemente do tipo do professor participante no estudo. V. Materiais e recursos Tipo de Professor K-S RACHAS LEVENE 0,010 Turma 0,00 0,057 Ed. Especial 0,003 0,809 Outro 0,010 0,646 Tabela 136: Hipótese 2.3. e condição materiais e recursos segundo o tipo de professor. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Como podemos ver na tabela anterior os dados não superam o princípio da normalidade nem da homogeneidade, aplicando-se pois para os contrastar um teste não paramétrico (H de Kruskal - Wallis). -313- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Materiais e recursos 0,460 Tabela 137: Hipótese 2.3. e condição materiais e recursos segundo o tipo de professor. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kuskal – Wallis Não existem diferenças significativas como poderemos apreciar na tabela 137. O tipo de professor participante no estudo não influencia a relevância atribuída à condição “materiais e recursos”. VI. Colaboração entre professores Tipo de Professor K-S RACHAS Turma 0,00 0,201 Ed. Especial 0,009 0,609 Outro 0,021 0,318 LEVENE 0,790 Tabela 138: Hipótese 2.3. e condição colaboração entre professores segundo o tipo de professor. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Não se cumprindo o princípio da normalidade como mostra a tabela 138, faremos o contraste dos dados com o teste H de Kruskal – Wallis. Colaboração entre professores 0,950 Tabela 139: Hipótese 2.3. e condição colaboração entre professores segundo o tipo de professor. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kuskal – Wallis As diferenças entre os grupos pesquisados não são significativas (tabela 139), concluindo que o tipo de professor não influencia o grau de relevância atribuído à condição “colaboração entre professores” -314- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] VII. Técnicos especializados Tipo de Professor K-S RACHAS Turma 0,009 0,106 Ed. Especial 0,028 0,534 Outro 0,024 0,029 LEVENE 0,320 Tabela 140: Hipótese 2.3. e condição técnicos especializados segundo o tipo de professor. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Os dados não cumprem os principios de normalidade (tabela 140) estabelecendo-se um teste não paramétrico para o seu contraste (H de Kruskal – Wallis). Técnicos especializados 0,041 Tabela 141: Hipótese 2.3. e condição técnicos especializados segundo o tipo de professor. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kuskal – Wallis Os resultados mostram diferenças significativas entre as médias das séries de dados (tabela 141), portanto podemos afirmar que o tipo de professor influencia o grau de relevância atribuído à condição “técnicos especializados” como promotora da escola inclusiva. Para saber qual é o tipo de docente devemos contrastar os dados com um post-hoc. Tipo de Professor Tipo de Professor Turma Ed. Especial Outro Sig. Ed. Especial 0,019 Outro 0,084 Turma 0,019 Outro 0,674 Turma 0,084 Ed. Especial 0,674 Tabela 142: Hipótese 2.3. e condição técnicos especializados segundo o tipo de professor. Procedimentos de contraste dos dados através do Post-hoc -315- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Como podemos apreciar na tabela 142 os professores de educação especial mostram diferenças significativas não atribuindo relevância à condição “técnicos especializados”. Concluimos que o tipo de função influencia significativamente a importância de duas condições. O grau de relevância atribuído à condição “ atitudes dos professores”, que é superior para os professores de educação especial e a relevância atribuída à condição técnicos especializados” é superior para os professores de turma. Após a apresentação de todos os resultados referentes à escala de atitudes vamos passar à apresentação das perguntas abertas do questionário. Quando confrontados com a questão aberta: (Se considera que existe outra condição além das anteriores indique qual) os professores indicaram outras mas continuando sempre a referir a condição atitude, como prioritária. Responderam a esta questão 45 docentes. A listagem completa obtida pelos inquiridos encontra-se em anexo 13 da qual foram retiradas as citações dos inquiridos, que apresentamos neste ponto. No gráfico 39 mostramos os resultados totais. 16 Atitudes dos Pais 14 Dinamicas da Comunidade Educativa Colaboração 12 10 8 Liderança 6 4 Formação 2 Recursos 0 Gráfico 39- Outras condições para o processo de inclusão para além das inicialmente apresentadas -316- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Para além das condições assinaladas, foram referenciadas, por alguns professores, outras que estes consideraram relevantes para que seja possível a realização de um efectivo processo de inclusão. Para o aprofundamento deste tópico fomos através da análise de conteúdo, tentar compreender as respostas dos docentes. A análise das perguntas abertas do questionário revela, em primeiro lugar, a importância atribuída a uma outra condição “família”. Assim 31% dos professores referenciam a família, salientando a importância do seu envolvimento no processo educativo dos alunos com NEE. Afirmam que a participação activa dos encarregados de educação, é fundamental de forma a permitir que se desenvolvam esforços conjuntos entre família e comunidade escolar, nomeadamente os professores, possibilitando a estes últimos a recolha de informações privilegiadas em outros contextos que em muito podem contribuir para o melhor diagnóstico e avaliação das necessidades especiais de cada caso/aluno. “A participação activa dos encarregados de educação dos pais de crianças com NEE's no processo de ensino/aprendizagem dos discentes.” “Articulação e colaboração com a família” “Colaboração activa dos pais na construção, acompanhamento e avaliação dos alunos” “Conhecimento do ambiente familiar do aluno e envolvimento dos pais no processo escolar dos filhos/educandos” Uma outra condição referenciada é a “dinâmica da comunidade educativa”, que passa por um leque diferenciado de sub-condições estruturais. Dos inquiridos 20% atribuem importância à sensibilização e aceitação destes alunos com NEE por parte de -317- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] agentes institucionais, como o conselho executivo e outros órgãos máximos da escola/ministério de educação e dos próprios professores. É acentuada também por mais 22% dos inquiridos a importância de existirem condições estruturais externas à vontade dos professores, como os critérios de selecção e formação das turmas, de modo a que existissem menos alunos por turma e permitisse um acompanhamento mais individualizado ou, em contrapartida, a existência de mais alunos por turma. Esta condição é ainda reforçada por 16 % dos respondentes, com a ideia de que é necessário existir uma interacção entre a comunidade educativa e a comunidade local. “Critérios de selecção e formação das turmas. Atitude dos órgãos máximos da escola (órgão de gestão, conselho pedagógico e assembleia de escola)” “Disponibilidade e flexibilidade de toda a comunidade educativa e relacionamento da mesma com a comunidade local” “Número reduzido de alunos, se lermos informação disponível na internet e se falarmos com quem está no terreno, as turmas não deveriam ter mais que oito alunos por docente (já assim acontece em muitos países) e nós chegamos a ter 20 ou mais” “Recursos físicos da escola (rampas, WC adaptados, elevadores, salas de reuniões de professores...) Atitude da comunidade escolar face a alunos com NEE” Verificamos que 11% dos inquiridos defendem também a importância de existir uma outra condição “ relacionamento /cooperação” entre os professores. “Falta de solidariedade entre colegas ” Por fim, uma outra condição referenciada é a necessidade de aceitação da diferença, seja tanto pelos professores como pelos pais dos alunos ditos normais. -318- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] “A atitude dos pais dos alunos ditos "normais" no processo de aceitação dos alunos com NEE nas turmas de ensino regular” “Em Portugal ainda há mentalidades pouco receptivas e sensíveis a estes alunos” “A questão mais importante é mesmo a atitude de quem lida com a diferença” Perguntámos também aos professores quais as dificuldades que sentem mais frequentemente no exercício da sua actividade docente. Esta análise permitiu responder ao nosso objectivo geral (verificar a natureza das dificuldades que os professores sentem para promover a educação inclusiva e relacioná-las com o tipo de atitudes que manifestam, com o seu percurso e necessidades de formação) e ao específico (constatar as principais dificuldades, de professores do ensino básico, na sua pratica diária para que sejam promotores da educação inclusiva). Responderam a esta questão 202 professores, cujo inventário de respostas completas se encontram em anexo 14 e do qual foram retiradas as citações que apresentamos neste tópico. As diferentes respostas dadas foram agrupadas em dois factores: pessoais e contextuais. Nos factores pessoais destacamos três categorias: atitudes dos professores, formação e gestão do tempo, que passamos a apresentar. Na categoria atitude dos professores, 14% dos respondentes referenciam que na sua prática de ensino diária a atitude de alguns dos seus colegas não favorece o seu trabalho, sendo que muitos deles são pouco receptivos à inclusão dos alunos no ensino regular. -319- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] “Atitude de alguns professores - dificuldades na colaboração entre os diferentes técnicos necessários (que nem sempre existem no terreno) - dificuldade na aquisição de material didáctico” “Atitude dos colegas trabalho - a forma como os órgãos de gestão pensam a escola” “Fraco espírito de equipa entre os intervenientes do processo educativo do aluno (titulares de turma, directores de turma, apoio socioeducativo, professores especializados, técnicos especializados, auxiliares de acção educativa) “Falta de partilha / reflexão entre professores, técnicos especializados (terapeutas da fala, psicólogos...) E encarregados de educação de forma regular” ”Atitudes dos professores (preconceito, estigma e rejeição explícita ou encoberta) e metodologias de ensino desajustadas” “A resistência dos professores. Do ensino regular, os preconceitos existentes sobre algumas problemáticas” Na categoria formação, a mais referenciada pelos professores, 38% dos inquiridos referem que o contacto com os alunos com NEE, seja a nível relacional seja no planeamento das aulas, revelou algumas debilidades por parte dos professores, em termos formativos, o que em muito dificulta a concepção do seu trabalho. A falta de formação” “A falta de formação dos docentes e a falta de motivação na carreira docente às constantes perdas de regalias” “A falta de formação/conhecimento sobre as necessidades dos alunos” “A falta de interesse e de conhecimento por parte do professor da turma regular em diversificar e diferenciar” -320- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] “A maior dificuldade que sinto é a planificação das actividades, o cumprimento dessas actividades e a gestão de tempo” Na categoria gestão do tempo, existe a convicção de 7% dos docentes que o seu trabalho também se encontra muito condicionado pela falta de tempo, o que não lhes permite gerir da melhor forma o plano de aulas e desenvolver um atendimento personalizado com estes alunos. “A falta de tempo para gerir algumas actividades” “A falta de tempo para os alunos com NEE” “A falta de tempo” “A fragmentação da profissão com a atribuição de tarefas que distanciam o docente do papel que deveria ser primordial - tempo para preparação de aulas, de instrumentos, avaliação, planificação” Nos factores contextuais destacamos a categoria atitudes de outros, com duas subcategorias: família e comunidade educativa e a categoria condicionalismos externos onde enquadramos a subcategoria recursos humanos e materiais. No que se refere à subcategoria família 3% dos professores estão convictos que a atitude dos próprios familiares não é favorável ao desenvolvimento de um trabalho em conjunto em prol dos alunos. Se, por um lado, existem famílias que não se envolvem de forma activa no percurso escolar dos seus progenitores, outras pressionam e exigem muitas vezes dos professores para além do que as suas valências o exigem. É ainda feita referência à necessidade de existir um apoio a nível social, psicológico e até financeiro para com estas famílias. -321- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] “A articulação entre todos os intervenientes e a falta de apoio e formação para as famílias” “A falta de ajudas e técnicas e a falta de sensibilidade por parte de alguns pais” ”A falta de apoio directo, na escola, de técnicos (terapia da fala, psicologia educacional, língua gestual portuguesa, etc). A não aceitação familiar ou as exigências exageradas para com as pessoas que trabalham com o seu educando com NEE “Na minha opinião, sendo integrado numa escola de ensino regular é igual aos outros (!) E portanto tem as mesmas oportunidades que os outros... É quase uma antítese!” Na subcategoria comunidade educativa, os docentes referenciam a problemática da articulação entre agentes educativos sentindo a necessidade de existir uma articulação entre todos e até do envolvimento externo da família. Dos inquiridos 15% evidenciam a importância de um trabalho em equipa para que os órgãos executivos, professores e outros agentes educativos (psicólogos, terapeutas da fala, etc) articulem esforços, saberes e atributos entre si de forma a definir melhor a estratégias para inclusão no ensino regular destes alunos. “A articulação entre todos os intervenientes e a falta de apoio e formação para as famílias” “A atitude dos professores/colaboração entre professores” “A dificuldade maior é na articulação entre todos os agentes da acção educativa” “A falta de cooperação e trabalho de equipa, trabalho de parceria, trabalho sério” -322- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] A postura menos receptiva da comunidade educativa, para além da dos professores, como já vimos, pode ser um entrave ao sucesso das estratégias levadas a cabo para a inclusão destes alunos. ”A atitude da comunidade educativa em geral e a falta de hábito/vontade (para alguns) de trabalhar em equipas multidisciplinares.actualmente muito "papel" e pouco tempo para a partilha e trabalho directo, produção de materiais específicos adaptados a cada aluno” “A não compreensão dos pais dos restantes alunos. A falta de colaboração entre profissionais” “A sensibilidade do órgão de gestão para as questões da "diferença"” No que se refere aos condicionalismos externos e aos recursos humanos e materiais 9% dos docentes consideram que ao nível organizacional e estrutural poderiam aproveitar como exemplo de dificuldades, a concepção das turmas (número elevado de alunos), a rigidez dos horários, a concepção do currículo, a falta de apoio do próprio Ministério da Educação. “A falta de recursos humanos especializados, o excesso de nº de alunos por turma e a falta de formação” “A organização da escola (horários, constituição de turmas) não é muitas das vezes pensada em função dos alunos com NEE., acabando-se por "remendar" os horários dos alunos, não permitindo que de facto os seus programas educativos sejam implementados na totalidade” “A pedagogia praticada maioritariamente pelos docentes, que tem a ver com a sua formação; a organização escolar com disciplinas separadas, horários rígidos, turmas grandes; os currículos estanques e com prioridade aos resultados e não aos processos e a falta de recursos para parcerias nas salas de aula” “A turma ter dois anos de escolaridade (1º e 4º anos juntos)” -323- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Em relação aos recursos humanos e materiais duas outras dificuldades podem ser consideradas condicionantes externas, mas decidimos categorizar de forma independente devido ao número elevado de vezes em que foram referenciados. A falta, tanto de recurso humanos como de materiais pedagógicos dificulta o trabalho desenvolvido por 14% dos professores. Por um lado, a inexistência muitas vezes de outro pessoal especializado, como psicólogos, terapeutas da fala, etc, não lhe permite recorrer e desenvolver estratégias em conjunto com outros profissionais; por outro lado, a escassez de materiais pedagógicos não lhe permite desenvolver actividades para estes alunos de forma pedagogicamente mais apropriada. Estas limitações condicionam assim a sua tarefa de definição e adaptação de estratégias de ensino adequadas. Estes sentem dificuldade em conceber actividades para os alunos com NEE, bem como em adaptar o currículo escolar de forma estratégica, para desenvolver ao máximo todas as suas potencialidades, não só pela falta de formação que já referenciaram mas também pela falta de recursos: “As atitudes sociais e os materiais e recursos” “A atitude do docente do ensino regular perante a criança com NEE; a falta de recursos materiais e humanos” “A falta de recursos humanos especializados e a falta de adaptação dos recursos materiais” Pedimos ainda aos docentes que emitissem a sua opinião sobre quais os conteúdos/disciplinas que deveriam constar nos planos de estudos das escolas de -324- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] formação de professores, para que estes pudessem atender de forma eficaz todos os alunos. Responderam a esta questão 202 professores. Poderemos ver a listagem das respostas em anexo 15, de onde se retiraram as citações apresentadas neste ponto. A análise efectuada permite responder aos objectivos específicos: inventariar as necessidades de formação dos professores nesta área e elaborar propostas de conteúdos curriculares a serem incluídos nos programas de formação inicial e contínua de professores. Queriamos identificar quais as necessidades de formação mais sentidas pelos professores. bem como também, identificar quais as propostas de conteúdos curriculares a serem incluídas nos programas de formação inicial e contínua de professores. Os professores mencionam que possuem necessidades de acções de formação a vários níveis, nomeadamente no que toca a descrição dos diferentes tipos de deficiência, para que o professor possa criar métodos de trabalho; noções de avaliação e intervenção em NEE; acções de formação sobre a própria educação especial e a legislação reguladora. “Acções de formação onde se descriminem os diferentes tipos de deficiência” “Alguma formação específica, metodologias para trabalhar com estes alunos quando presentes nas turmas” “Algumas noções de avaliação e intervenção em NEE, conteúdos relacionados com cif, metodologias activas, diferenciação pedagógica” “Formação específica na área das necessidades educativas especiais” -325- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] “Formação sobre Educação Especial e Legislação” Dos professores inquiridos, 40% sentem necessidade de na sua formação inicial possuir disciplinas/ conteúdos relacionados com as NEE, enquanto 30% dos respondentes consideram que para poderem atender eficazmente todos os alunos, incluindo os com NEE necessitavam de ter na sua formação inicial conteúdos relacionados com a educação especial, sobretudo ao nível da avaliação educacional; metodologias de intervenção; diferenciação curricular e pedagógica; estratégias de intervenção. “Conteúdos relacionados com ensino especial” “Conteúdos: avaliação educacional do indivíduo e avaliação das aprendizagens; sensibilização às nee. Metodologias específicas de intervenção educativa. Metodologias activas. Trabalho colaborativo. Diferenciação curricular” “Dar maior ênfase à diferenciação pedagógica” “Conteúdo que dessem a conhecer pelo menos as necessidades educativas especiais mais comuns” Na opinião de 30% dos docentes, os seus planos estudos deveriam incluir disciplinas que lhe fornecessem ferramentas para poderem trabalhar e atender de forma eficaz todos os alunos, especialmente os com NEE. Fazem menção de um aspecto relevante, que tem a ver com questões mais práticas, a realização de um estágio na área da educação especial, de forma a estarem mais familiarizados face a esta problemática. “A formação de professores para trabalhar com alunos com nee deveria ser permanente ao longo de todo o curso de formação inicial, devendo incluir algum contacto/estágio exclusivamente com alunos com nee” “Devia constar um estágio na área do ensino especial e mais disciplinas práticas, pois é através da prática que melhor aprendemos” -326- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] “Estágio em escolas com alunos com nee” As disciplinas que referem assentam na necessidade de conhecer melhor quais as NEE; técnicas de trabalho (alunos, equipa e família); métodos de ensino; ética; diferenciação pedagógica; legislação, entre outras. “Disciplina de NEE, estágios em turmas com alunos NEE, disciplina sobre os decretos e documentos em vigor sobre os alunos com nee” “Disciplina de ética profissional” “Disciplinas como as nee, mas não de forma tão superficial” “Disciplinas de diferenciação pedagógica” “Disciplinas que abrangessem os diferentes tipos e graus de deficiência” “Disciplinas várias sobre os vários tipos de deficiência, bem como estratégias e métodos específicos para trabalhar com cada uma delas” Para além do que foi assinalado no decorrer do trabalho, 48 inquiridos consideram relevante fazer comentários/observações sobre certos aspectos não contemplados no questionário, já que no final encontravam a seguinte afirmação: (Este espaço destinase a comentários/observações que deseje fazer e considere importantes sobre o tema focado e que não estejam contemplados neste questionário). Responderam 48 professores (tabela de respostas em anexo 16). Um dos comentários incidiu sobre a questão da inclusão dos alunos com NEE no ensino regular e tudo o que dai advém (organização escolar; relações entre alunos; práticas pedagógicas; politicas educativas; viabilidade da inclusão; apoios à inclusão). -327- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] “Na nossa realidade educativa, a inclusão de alunos com NEE ainda não é uma realidade. Pois o sentimento de pena ainda se sobrepõe ao respeito pela diferença” “A inclusão ainda está longe de ser uma realidade, nas nossas escolas o mais frequente é a pena pelos nees e não o respeito pela diferença” “A verdadeira inclusão consegue-se através do respeito e do trabalho com todos os alunos independentemente das suas problemáticas, raças ou condição social” “No nosso país ainda não existe uma política de inclusão, As mudanças a nível global no ensino estão para fazer” “A inclusão tem também uma vertente que vai a par além da organização escolar e das práticas pedagógicas e que é a "política educativa". As políticas, não sendo determinantes, apontam caminhos, dão indicações, especialmente aos mais perdidos” Mencionaram 25% dos professores que a inclusão pode ser benéfica ou não, porque por um lado podem criar-se relações entre todos os intervenientes mas, por outro, pode prejudicar o cumprimento dos conteúdos programáticos. “A inclusão é benéfica para alunos NEE de um modo geral. Para os alunos "normais" nalguns casos é bastante positivo, criam-se boas relações noutros não é benéfico” “A integração dos alunos com NEE dependente do nível de deficiência do aluno. Há casos em que a inclusão será muito difícil e com prejuízo para todos, há outros em que pode ser benéfica, desde que as aprendizagens não sejam vistas apenas pelo lado da aquisição dos conteúdos programáticos” Para que a inclusão seja uma realidade segundo 75% dos inquiridos, tem que haver apoio quer da comunidade educativa quer do próprio ministério. As escolas para conseguirem incluir necessitam de apoios financeiros e técnicos para o fazer. -328- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] “A inclusão dos alunos com NEE deve ser apoiada pela comunidade educativa e pelo ministério” “As escolas não são apoiadas financeiramente para o efeito, não dispõem de recursos técnicos e humanos com formação nem de materiais específicos, de transporte para o efeito” “A escola pública está numa situação de desigualdade para levar para diante a inclusão dos alunos com NEE. Há que dotar as escolas de meios para o efeito e aí sim penso que se conseguirá fazer um óptimo trabalho” “As escolas têm que ser equipadas (recursos materiais e humanos) para que inclusão seja uma realidade e não mais uma palavra!” 1.3. Análise dos grupos de discussão Para este estudo utilizamos a recolha de dados através da formação de dois grupos de discussão (focus group), com 8 participantes (sete professores e o moderador) em cada grupo, tal como já caracterizámos anteriormente. Um organizado no Norte do país e outro no Sul, cujos resultados apresentaremos de seguida. A cada participante foi atribuída a letra inicial do seu primeiro nome. Seguindo o modelo de Cubo (2008) para mais fácil leitura elaborámos quadros por grupo, onde se podem ver as dimensões,categorias e o conteúdo expresso por cada participante. -329- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Dimensão Categorias P Conteúdo Atitude face Atitudes E Os professores têm relutância em aceitar os alunos nas suas salas de à inclusão aulas por causa dos problemas que têm.IIsto não é inclusão pôr uma criança em sofrimento Porque neste caso ela está lá mas há uma altura em que ela já não pode estar na sala tem mesmo que sair F Sei como era para fazer. Muitas vezes dou importância aquele aluno em detrimento dos com NEE. Não cumpro com os programas. A ideia que eu tenho é que também é certo que os professores até podem saber fazer mas há um clima difícil e normalmente o que paga sempre é o mais frágil que é aquele. Penso que aqui também para além da formação dos professores estão as atitudes dos professores. JP Mesmo sem formação, posso pedir ajuda e se a minha atitude for querer ajudar positiva para aquele aluno não preciso se calhar de ter formação especial basta ter vontade para aprender um bocadinho sobre aquela situação E1 Acho que tudo tem de ter um limite Estar la na sala e fazer o que quer R Não se aguenta Quadro 25: Dimensão, participantes e conteúdos grupo norte Dimensão Formação e Inclusão Categorias P Conteúdo Papel do R É um problema os professores não devem ter eu não tenho formação suficiente para fazer uma avaliação correcta e muita gente faz diagnósticos errados e os alunos andam ali toda uma vida as vezes dizem que eles tem nee e não têm Se nós levássemos logo de base uma formação na faculdade onde nós estamos 4 anos relativamente à educação especial se calhar agora chegávamos á escola para fazer o nosso trabalho e não sentiríamos tantas dificuldades com isso.. Não percebemos nada do assunto, ficamos logo com os cabelos em pé. Não sei se eu soubesse…É um problema da escola e das escolas de formação de professores.Há professores que se tivessem alguma formação nessa área poderiam salvar muita gente Oiço muito falar aquela frase “eu não se lidar com isto” “ eu não sei o que é que hei-de fazer” este menino” “ o que é que eu faço com este aluno” Todos os professores deviam ter formação nesta área. Uma cadeira anual na formação inicial e deviam fazer actualizações anuais Na formação inicial não se falava sequer deste assunto e nas salas a lembrança que tenho é que não havia alunos com nee nas salas de estágio Além da falta de formação inicial senti que não tinha preparação nenhuma para lidar com meninos com NEE decidi agora fazer esta pós graduação. O estágio com meninos com NEE era fundamental. professor e Desenvolvim ento E profissional A FM JP F Quadro 26: Dimensão, participantes e conteúdos grupo norte -330- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Dimensão Categorias Dificuldades P Conteúdo E1 Não é preciso fazer nenhum mestrado ou doutoramento para se adequar a uma situação, planificar uma aula diferente para aquele aluno o problema é se calhar dá mais trabalho e acomodamo-nos E Também tem a ver com o perfil pessoal. Não sei se têm reparado, no que diz respeito á organização da sala de aula a maior parte dos professores não sabe. FM A professora entra em angústia como ela disse há bocado, descreveste muito bem com muita sinceridade, que é nós temos ali aquele problema, ficamos mal connosco porque não o conseguimos resolver e depois também já não damos conta do resto Pessoais Obstáculos à inclusão R Não não há colaboração, A Acho que a legislação obriga sem dúvida, dá muito trabalho ter os miúdos porque acabam por alterar o ritmo da aula e incomodar FM o professor ter 16 miudos do 1º ano, são faladores são tudo e conseguir atender esses do regular e ter aquela miúda sozinha não dá acho que as turmas que tem este tipo de meninos deviam ser mais reduzidas Dificuldades Contextuais E 20 alunos também acho que devia ser um bocadinho menos F Outra coisa é o apoio que a escola dá enquanto instituição JP As escolas também dizem que não têm verba para nada é necessário para haver equipamento, material didáctico. Se a escola definisse como prioridade naquele ano é uma questão de prioridades Quadro 27: Dimensão, participantes e conteúdos grupo norte Dimensão Atitude face à inclusão Categorias P Conteúdo F A sensibilização para a diferença. Por acaso aqui em baixo não senti tanto como eles verbalizaram todos eles foram unânimes de dizer que acham que os professores têm as crianças na sala de aula porque são obrigados e não porque acham que elas devam lá estar A a postura dos professores especializados que vão á sala de aula é muito importante I Temos que pensar também a nível de pais. Porque este menino está aqui e não está numa escola especial? Atitudes MJ Há aqui coisa fundamentais na inclusão uma é a atitude dos professores e Daí que estas questões passam por atitudes pessoais Isso era muito importantes os professores perceberem, vamos é diversificar, fazer qualquer coisa diferente. Quadro 28 - Dimensões, participantes e conteúdos grupo sul -331- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Dimensão Categorias P Conteúdo L Tem de ser a escola de formação a assumir, a inclusão, todos os assuntos terão de ser abordados e falados não há motivos para separar Falta logo naturalmente na formação de base. É por ai que tem de começar. Penso que também formação a nível pessoal mesmo os professores deviam ter porque há uns que rejeitam mais e outros menos A formação dos professores devia ser reflexiva sendo que os mais velhos deviam transmitir aos mais novos e os mais novos inovação aos mais velhos. AB Formação e Inclusão Papel do professor e Desenvolvime nto profissional Esses professores mais jovens dizem que do ponto de vista prático nunca viram nada, e o que se queixaram muito é que quando chegam depois cá fora não sabemos o que fazer. Mas também por formação pessoal e também profissional. Formação em estratégias, metodologias, organização, diferenciação pedagógica, até mesmo a forma como a sala está organizada , batalho um bocado nisto .As escolas de formação também deveriam ter alguma formação na área da formação pessoal MJ T F De qualquer maneira as próprias escolas podem propor ao conselho cientifico em Braga uma formação para os seus professores Quadro 29 - Dimensão, participantes e conteúdos grupo sul Dimensão Categorias P V L Dificuldades Pessoais Obstáculos à inclusão Estava a dizer as adaptações curriculares, tirar as vezes partes de conteúdos e de objectivos era a isso que me queria referir quando dizia não adequado. Pior para mim é falta de tempo para planificar e também para planificar com o colega que está a dar apoio T A tendência é que os professores cada vez menos trabalhem em equipa I Cada vez mais os professores deviam trabalhar em conjunto para aliviar o trabalho, só que não há tempo nem espaço . AB Passa também pelos apoios que os professores de turma tem e com os apoios que são dados tanto a nível de apoio mesmo em sala de aula L Poderá ser limitativa a questão da inclusão que tem a ver com o currículo. Há uma coisa que temos de pensar. Se estamos a falar em diversificação de sala de aula ou se estamos a falar em respeito pelos ritmo MJ Isso é uma coisa que os professores se queixam muito, pressupõe que os professores sejam capazes de gerir grupos de nível diferentes na sala de aula. É vital em termos deformação profissional dos professores até no seu percurso de formação L O professor do apoio que vai lá trabalhar com esse menino pode até trabalhar com o grupo todo e ter o professor titular a trabalhar com o aluno, por exemplo é uma dinâmica. AB Isso é impossível colocar um professor para cada aluno e em cada turma e também não é esse o objectivo da escola inclusiva. Portanto entendo a escola inclusiva , terá de haver um trabalho de articulação com o professor de ensino especial Formem equipas multi profissionais V Se nós funcionássemos numa lógica de ciclo existia um trabalho de equipa F A nossa legislação não deixa considerar isso I Já chegou a acontecer querermos trabalhar em equipa e não termos onde o fazer . MJ Dificuldades Contextuais Conteúdo Quadro 30 - Dimensão, participantes e conteúdos grupo sul -332- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Para mais fácil compreensão poderemos ver a representação das dimensões avaliadas e das ideias centrais obtidas a partir dos grupos de discussão na figura seguinte. Figura 5: Representação das dimensões avaliadas e das ideias principais obtidas -333- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Em continuação elaborámos gráficos que ilustram as percentagens de respostas emitidas para cada dimensão avaliada. Gráfico 40: Dimensão:atitudes face á inclusão Podemos verificar que foi no grupo Norte que se manifestaram atitudes mais negativas, face á inclusão de alunos com NEE na sala de aula. Interessa também referir que 29% dos participantes não fizeram qualquer intervenção. Gráfico 41: Dimensão: formação e inclusão -334- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Observamos que 72% dos professores do grupo norte entendem que o problema da inclusão reside na falta de formação dos docentes, assim como 57% dos participantes do grupo sul. Gráfico 42. Dimensão: obstáculos à inclusão (pessoais) No gráfico anterior podemos ver que 57% dos docentes do grupo sul consideram as dificuldades de organização pessoal, como o maior obstáculo para a promoção da escola inclusiva, enquanto o grupo norte pôe ao mesmo nível o perfil pessoal do professor, a colaboração/parcerias entre os docentes; a angústia do dever não cumprido bem como as dificuldades de organização. -335- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Gráfico 43: Dimensão: obstáculos à inclusão (contextuais) Já no que se refere aos obstáculos contextuais 72% dos docentes do grupo sul consideram que a ausência de equipas multidisciplinares prejudica a inclusão dos alunos no ensino regular, enquanto para o grupo norte a indefinição de prioridades por parte da escola e o número de alunos por turma são os maiores obstáculos. De acordo com a análise de conteúdo efectuada podíamos concluir que na categoria papel do professor e desenvolvimento profissional são relevantes as subcategorias formação e atitudes. No que se refere à formação inicial, nos dois grupos em análise (Norte e Sul) é visível a sua necessidade de bases perante a área da educação especial em falta na formação inicial. Bases essas que lhes seriam muito úteis para poder aplicar quando confrontados com as situações no terreno, como se pode ver nos exemplos: -336- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] “…Sim mas foi uma cadeira que foi dada numa forma muito superficial não foi dada aquela ênfase que nos permitisse ficar preparados para os problemas que hoje enfrentamos no exercício desta actividade” (grupo Norte). “…Não nada nem sequer na altura do estágio havia alunos com NEE nas turmas” (grupo Norte). “…Senti muita falta, além da falta de formação inicial senti que não tinha preparação nenhuma para lidar com meninos com NEE” (grupo Norte). “…Penso que a formação inicial não nos dá nada à partida, embora haja os diferentes estágios, mesmo na sala enquanto formação. Na formação inicial não tivemos nada que abarque esse tipo de crianças.” (grupo Sul). Os professores referem como fundamental a realização de estágios. O grupo do Norte refere a necessidade de ainda dentro da sua formação de base/inicial, poderem desenvolver estágios com alunos com necessidades educativas especiais. Pois só assim poderão ter uma visão da problemática, e não irem ao desconhecido quando confrontados com esta realidade. “…Intervenção na sala de aula, no fundo que é técnicas de intervenção para esses miúdos, se tivéssemos então um estágio era melhor…” (grupo Norte). “…O estágio com meninos com NEE era fundamental ” (grupo Norte). Já no que diz respeito às atitudes dos professores, o grupo de professores do Norte perante alunos com NEE manifesta-se como sendo mais necessário tomarem posição e avançarem no terreno, não precisando muito da “dita formação”. É visível pelo discurso que apresentam que o mais importante é existir vontade, quer ao nível da ajuda directa, quer ao nível da pesquisa de formas de agir. -337- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Em síntese, na formação inicial segundo os participantes, os professores deveriam aprender a diagnosticar, intervir e avaliar sobre alunos com necessidades educativas especiais. Os professores mostram alguma resistência em aceitar os alunos com NEE nas suas turmas devido aos problemas que possam daí surgir, isto porque, não possuem na formação inicial bases sobre a temática da educação especial. O objectivo da escola inclusiva é que haja um trabalho conjunto de articulação entre os professores (ensino regular e do especial) mas, o mais importante é que o trabalho a desenvolver seja feito na sala de aula junto do grupo com o professor. Outra categoria que ressalta do tratamento dos dados, é a das dificuldades pessoais sentidas pelos professores, nas quais encontramos as subcategorias gestão dos conteúdos programáticos; ausência de materiais pedagógicos; diagnóstico/avaliação; formação e gestão de turmas. Em relação à subcategoria conteúdos programáticos tanto os professores do grupo Norte como do Sul consideram que a questão da inclusão pode ser limitativa relativamente ao cumprimento dos conteúdos programáticos propostos. Pela primeira vez no estudo alguns docentes questionam os benefícios da inclusão. “ …Muitas vezes dou importância àquele aluno em detrimento dos outros. Não cumpro com os programas” (grupo Norte). “…Há uma coisa que ainda não falámos que poderá ser limitativa a questão da inclusão que tem a ver com o currículo…” (grupo Sul). -338- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] “ …Se por um lado nós dizemos que como professores temos que respeitar o ritmo nós por outro temos um currículo para cumprir” (grupo Sul). Na subcategoria ausências de materiais pedagógicos, os professores têm dificuldades de actuação pois o apoio que recebem por parte das escolas, no que concerne, ao equipamento é muito reduzido. Isto porque, as instituições escolares alegam não possuir verbas suficientes. O que na realidade não é verdadeiro, segundo os professores, pois consideram que são opções da gestão. “…A escola diz não temos dinheiro mas a escola tem orçamento Se a escola definisse como prioridade naquele ano, em vez de gastar de uma maneira gasta de outra. Os outros têm é uma questão de prioridades” (grupo Norte). Para a subcategoria diagnóstico/avaliação, os professores, segundo os dois grupos em análise, deviam possuir formação suficiente para estarem aptos para poderem fazer uma avaliação e um diagnóstico com clareza e veracidade. Esta avaliação pode permitir que intervenham com mais profissionalismo e mais certezas no seu trabalho quotidiano. “…Fazer diagnóstico, intervenção, avaliação se calhar se os professores soubessem diagnosticar nessa tal cadeira da formação inicial sobre nee era bem melhor. Podíamos pôr avaliação dos alunos. Intervenção na sala de aula, no fundo que é que técnicas de intervenção para esses miúdos, se tivéssemos então um estágio era melhor” (grupo Norte). “…O facto de sinalizar uma criança há logo ali um problema de partida que é a para a criança que fica rotulada logo, mesmo que façamos isso com muitas descrição e para os pais, a partir dai gera-se um problema e as vezes esse problema não existe é gerado pela própria sinalização do professor que sinaliza inadequadamente” (grupo Sul) -339- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] No que concerne à subcategoria gestão das turmas, os professores do grupo do norte referem que muitas vezes é incomportável ter turmas com muitos alunos, porque, por um lado, é difícil dar atenção individualizada aos alunos com NEE, e por outro, não prejudicar os restantes alunos em termos de cumprimento do estipulado pelo programa. “…Acho que as turmas que tem este tipo de meninos deviam ser mais reduzidas, 20 ainda é um número grande para ter lá crianças com deficiências, se querem um ensino diferenciado ao nível do aluno mais possível não só daquele mas dos outros também, os outros também teem muita dificuldade e muitos problemas” (grupo Norte). No que se refere aos obstáculos à inclusão, eles estão identificados como de dois tipos pessoais e contextuais. Nos obstáculos pessoais surge a subcategoria formação em educação especial que é referida em todas as fontes por nós utilizadas. Assim foi referido pelos dois grupos de professores (Norte e Sul) a falta de formação na área da educação especial, que os ajudaria a melhor perceber e avaliar esta problemática, bem como possuir instrumentos de trabalho para melhor agir em situações concretas na sala de aula. . “…Não, fiz aquelas acções de formação inerentes á nossa carreira as TIC, currículo na organização, mas educação especial nunca fiz” (grupo Norte). “…Os professores têm relutância em aceitar os alunos nas suas salas de aulas por causa dos problemas que têm acho que por um lado eles não têm formação sobre esse assunto porque não tiveram na formação inicial e depois não houve acções de formação para falarem sobre os seus problemas reais…” (grupo Norte). “…É ter conhecimento das diferentes formações e ir lá, mas pagas” (grupo Sul). -340- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] “… A formação vai ser mais paga a informação que tenho é que vai 2 formações por ano que o ministério considera que são as necessárias e o resto os professores tem de pagar a sua própria formação” (grupo Sul). Se até aqui falámos de dificuldades pessoais dos professores, agora falaremos da categoria dificuldades contextuais sentidas pelos professores e das subcategorias constrangimentos externos e legislação. No que se refere aos constrangimentos externos (tempo/espaço), os professores do Sul mencionam que é exigido que se trabalhe em conjunto, embora a tendência seja contrária, isto porque muitas vezes são confrontados com o facto de não terem espaço para trabalhar, nem tempo. “…A utilização dos espaços o facto das actividades de enriquecimento curricular ocorrerem no mesmo espaço que dão aulas não nos deixa tempo para ficar a trabalhar em salas de aula” (grupo Sul). “…Mas é exigido, cada vez mais os professores deviam trabalhar em conjunto para aliviar o trabalho, só que não há tempo nem espaço” (grupo Sul). Na subcategoria legislação, os professores consideram que ainda é difícil integrar alunos com NEE na escola e que a legislação obriga. Esta situação tem consequências ao nível da estabilidade e aprendizagem em sala de aula, de acordo especialmente com um dos grupos. “… Além disso considera-se contraproducente para o resto da turma porque aquele aluno não desenvolve ou não tem as capacidades para aprender então os outros também estão ali a estagnar no sentido de não evoluir em virtude das dificuldades dos outros e por vezes também para se fazer cumprir a lei ” (grupo Norte). -341- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] “…Com legislação a sair a todo o momento com alteração na dinâmica das escolas e as pessoas neste momento não teem tempo para conversar aquilo que é verdadeiramente importante que é os alunos aquilo que nos fazemos no nosso dia-a-dia…” (grupo Sul) Em síntese, os professores do grupo constítuido no Norte do país verbalizam que têm as crianças com NEE na sala de aula porque são obrigados e não porque acham que as devam ter. 1.4. Análise da produção documental Na tentativa de aprofundamento desta temática, fomos analisar as produções escritas por professores de várias localidades do País, sobre o tema percurso formativo dos professores, prática pedagógica e inclusão (textos em anexo 17 e grelha de categorias referenciada no quadro 23). No âmbito do ensino de crianças com NEE, a formação dos professores é uma base fundamental para que estes desempenhem bem as suas funções e consigam adaptar a sua prática pedagógica da forma mais adequada possível, tendo em conta as necessidades destas crianças. Muitos são os professores que reforçam esta ideia nos seus discursos, valorizando a importância da formação nesta área e afirmam que a maioria não se encontra preparada e/ou sensibilizada para que estes alunos sejam inseridos no ensino regular. Na categoria formação e inclusão e na subcategoria papel do professor e desenvolvimento profissional, destacamos o que pensam os docentes sobre a formação inicial, já que no âmbito do ensino de crianças com NEE, a formação dos professores é uma base fundamental para que estes desempenhem bem as suas -342- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] funções e consigam adaptar a sua prática pedagógica da forma mais adequada possível, tem em conta as necessidades destas crianças. Os professores reforçam esta ideia nos seus discursos, valorizando a importância da formação nesta área e afirmam que a maioria dos professores não se encontram preparados e/ou sensibilizados para que estes alunos sejam inseridos no ensino regular. “…Ao nível da atitude do professor, na natureza e estrutura do currículo.Para este tipo radical de mudança, não estão ainda sensibilizados e formados os nossos colegas professores” (texto 3). “…Cada vez mais, são notórias as carências dos professores em relação às novas funções que lhe são exigidas, sendo o seu desejo um maior e melhor desenvolvimento profissional em termos pedagógicos” (texto 4). “…Os professores têm um papel importante na adaptação dos alunos com NEE, mas a sua formação inicial nesta área ainda é pouca” (texto 7). “…Durante a frequência da Licenciatura, raros são os cursos que deixam os “futuros docentes” com preparação suficiente nesta área” (texto 15). “…Todos os professores referem que a sua falta de formação inicial para trabalhar com alunos com NEE, principalmente com aqueles com graves limitações físicas ou mentais os impede de actuar muitas vezes de forma adequada” (texto 24). As observações dos professores acerca da sua formação inicial revela que estes fazem, na generalidade, uma avaliação negativa da sua formação no que diz respeito à capacidade técnica para se relacionarem, em termos educativos e sociais, com alunos com NEE. -343- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] …”Na minha formação inicial não tive quaisquer conhecimentos sobre este assunto. Só quando comecei a leccionar é que tive consciência destes problemas destes jovens e suas famílias. Fiquei para morrer. Não sabia como nem o que fazer” (texto 32). …”Na minha formação inicial tive uma abordagem muito generalista. Teria sido necessário aprofundar, conhecer na prática estas situações. É imprescindível haver um estágio numa sala onde existiam crianças com necessidades educativas especiais nesta área” (texto 34). …“Aprender a fazer um programa, aprender a diferenciar metodologias a flexibilizar o currículo. Será que alguém tem consciência que não sabemos nada disso” (texto 34). Fazem também referência à existência em alguns casos e em algumas escolas a uma disciplina sobre NEE, a qual avaliam como insuficiente para que sejam capazes de agir e desenvolver um trabalho pedagógico satisfatório com estas crianças. “ … No curso que frequentei apenas uma cadeira falava de necessidades educativas especiais e apenas na teoria, nunca como base para um futuro de inclusão de alunos com estas necessidades” (texto 9). “… A formação inicial dos professores deverá ser repensada, uma vez que, e no meu caso, penso que tive uma formação muito insuficiente, sendo que nunca tive contacto com estas crianças e apenas tive uma disciplina de um semestre relacionada com a área” (texto 10). “… O único contacto que tive com a educação especial foi na faculdade, através da disciplina NEE. Para mim foi uma cadeira muito vaga,…não me ensinou como devia agir e trabalhar com estes alunos, o que na minha opinião seria muito mais vantajoso e importante para a minha formação como professora do 1º Ciclo” (texto 11). “…Ao nível da minha formação inicial, e como penso que acontece com a grande maioria dos professores, tive apenas uma disciplina, ao longo de um semestre .Houve uma abordagem superficial, mas em termos práticos não foi feita referência a nada que pudessem facilitar a intervenção junto destes alunos” (texto 12). -344- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] “… A minha formação inicial nesta área foi muito vaga, tive um semestre de NEE durante o curso, onde abordámos as leis e a importância de inserir as crianças no ensino regular. Não abordámos técnicas de como inserir estas crianças na nossa sala de aula, o que hoje me faz muita falta” (texto 18). Existem também alguns professores que, complementarmente dizem ter feito um estágio numa instituição. “…No meu caso, fiz trabalhos escritos em duas disciplinas e um estágio de uma semana na APECI” (texto 7). “…A única experiência que tive nesta área foi durante o curso, quando estagiei uma semana na Associação Para a Educação de Crianças Inadaptadas . Este estágio foi só de observação, numa sala com seis crianças que estavam no 1º Ciclo” (texto 14). “…Na minha formação de educadora de infância tive pouco contacto com estes alunos, apenas durante os estágios encontrava nas escolas alguns casos de deficiência” (texto 21). “…Na minha formação inicial, foi proposto um pequeno estágio numa” Instituição para deficientes mentais”, Esta área da formação inicial, para mim, foi claramente insuficiente face aos casos com que nos deparamos quando iniciamos a nossa vida profissional, pois não sabemos muito bem por onde começar.” (texto 23). A auto-avaliação negativa acerca da sua formação inicial nesta área desencadeou a vontade de estes professores apostarem em formação especializada. Muitos são, aliás, os que fazem referencia à actual frequência da pós-graduação em NEE. “…Foi este um dos motivos para o qual me inscrevi nesta pós-graduação, pois nunca tive crianças na minha sala de aula, com este tipo de necessidades e gostaria de saber como ajudar, pois todos ensinam e todos aprendem, tudo depende da “limitação” de cada um” (texto 6) -345- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] “…O no meu caso, não fugi à regra pelo que durante o desenrolar das minhas habilitações, ao integrar num grupo docente de 1º ciclo do ensino básico, estive mutuamente a frequentar o curso de pós-graduação em educação especial, sendo-me muito útil” (texto 15). “…A professora do ensino especial (E.E.) adquiriu a sua formação base no Magistério da Educação no Porto no ano de 1979 e mais tarde especializou-se em educação especial” (texto 25). Perante as dificuldades sentidas no contexto escolar, ao nível do relacionamento, em termos sociais e educativos, com alunos com NEE, os professores tomaram a iniciativa de apostarem em formação complementar à sua formação inicial, de forma a desenvolver as suas competências nesta área. Contudo, apesar de avaliar positivamente a pertinência desta formação, um dos professores atribui um carácter muito teórico, manifestando a necessidade de terem uma formação mais prática. “Trabalho há um ano e já tive que vir fazer outra formação sobre este assunto senão estava perdida. Já aprendi mais mas ainda assim tudo quase teórico” (texto 33). Na categoria obstáculos à inclusão e na subcategoria dificuldades pessoais sentidas pelos professores e na sequência da análise sobre o papel do professor na adaptação da prática pedagógica, podemos inferir nos seus discursos as dificuldades que estes sentem no exercício das suas funções no que diz respeito à intervenção com crianças com NEE. Desta forma, inventariamos uma série de dificuldades. No que se refere ao item: diagnóstico/avaliação, uma das dificuldades apontadas pelos professores e que -346- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] consideramos ser fulcral no âmbito da intervenção com crianças com NEE, é o diagnóstico ou avaliação das necessidades destes alunos. “… Actuação perante o tipo de deficiência” (texto 1) “… Esta é também a minha dúvida perante crianças com NEE, o que fazer e como fazer para ajudá-las” (texto 6). “… Podemos referir, como exemplo, as que se relacionam com as representações negativas sobre o percurso escolar dos alunos com NEE e com as dificuldades na sua identificação/avaliação” (texto 4). “… Insegurança, a falta de conhecimento para atender da melhor forma esta criança, este aluno” (texto 12). “… O que acontece é que na maior parte das vezes, os professores do ensino regular recebem alunos nas suas salas de aula, mas não sabem como ajudá-los, tendo em conta as suas dificuldades e especificidades” (texto 30). De acordo com os docentes, a dificuldade em diagnosticar as necessidades destes alunos inviabiliza muitas vezes o desenvolvimento de estratégias educativas adequadas. Efectivamente muitos docentes, demonstram-se receosos e preocupados quanto à relação pedagógica a desenvolver junto dos alunos com NEE, dizendo: "… Não sei nunca como me devo relacionar com esses alunos. A relação é o mais importante na integração, mas é muito difícil” (texto 4). “… O mais difícil será como “adequar” o trabalho que tem de ser feito entre as crianças “ditas” normais e as com NEE” (texto 18). -347- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Outras dificuldades são referenciadas, como a incapacidade de gerir os conflitos causados pela inclusão destes alunos no ensino regular, em função de estarem inseridos em turmas com outros alunos sem NEE. As necessidades educativas especiais destes alunos exigem um outro nível de atenção. “…Avaliar o aluno com NEE; dar atenção a todos os alunos e ainda resolver os conflitos gerados pela inclusão destes alunos” (texto 7). “… A resolução de situações de indisciplina do grupo, a compreensão de comportamentos dos alunos face à aprendizagem” (texto 4). “…Lacunas a superar, nomeadamente no que diz respeito à comunicação com estas criança, à forma como são encaradas pelo próprio professor, o ambiente criado na sua sala de aula” (texto 25). A exigência requerida na intervenção com estas crianças torna essencial que estes alunos possuam toda a informação possível acerca de cada caso, nomeadamente as suas experiências de aprendizagem em anos lectivos anteriores. “… Por vezes não existem informações válidas relativas às experiencias de aprendizagem realizadas pelos alunos em anos lectivos anteriores.Os professores apresentam dificuldades na detecção de problemas menos evidentes, no foro da saúde, problemas sensoriais e motores, assim como dificuldades emocionais que irão "travar" a aprendizagem normal do aluno” (texto 3). “… Para que os professores sejam promotores de inclusão é necessário que estejam informados das problemáticas dos seus alunos e quais as melhores estratégias que vão adoptar” (texto 28). Em consequência de todas estas dificuldades, alguns professores defendem que nem todos os alunos com NEE devem ser inseridos no ensino regular. -348- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] “… Nem todas as crianças devem frequentar as turmas ditas regulares, há crianças que não são educáveis”( texto 1). Na subcategoria gestão dos conteúdos programáticos/planificação das aulas, uma das maiores dificuldades que os professores dizem enfrentar na inserção dos alunos com NEE no ensino regular é o da gestão dos conteúdos programáticos e consequente planificação das aulas. Na sequências das dificuldades anteriormente anunciadas, relativas à dificuldade de gerir o tempo e o número de alunos por turma, a inserção de alunos com NEE no ensino regular coloca dificuldades ao nível da gestão dos conteúdos programáticos e na consequente planificação das aulas, na medida em que estes alunos, necessitam que sejam desenvolvidas actividades personalizadas. Inserir estes alunos no ensino regular sem prever para estas actividades específicas poderia até contribuir para o seu insucesso escolar. “… Receber alunos com dificuldades, sem que se queira modificar nada do que já se tem, significa contribuir para o seu insucesso escolar, com a agravante de um quadro futuro, de insatisfações e ansiedades, que por certo começará a existir, na medida em que sua aprendizagem se mostrar visivelmente desfasada em relação aos demais alunos de sua faixa etária e/ou de sala de aula” (texto 4). Esta necessidade complexifica a gestão dos conteúdos programáticos e a planificação das actividades a desenvolver no decurso das aulas, na medida em que nem todos os alunos estão a desenvolver as mesmas actividades ao mesmo tempo. “… Conseguir diversificar as práticas pedagógicas, na sala de aula, tendo em atenção cada aluno” (texto 4). “…Dificuldade em adaptar os currículos às necessidades dos alunos” (texto 24). -349- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] “Bastantes dificuldades em preparar as aulas e em conseguir ter um ensino diferenciado que não fosse desmotivante para a restante classe, e ao nível da aluna em questão” (…)“Já que as turmas são tão heterogéneas que se torna complicado conseguir dar aulas para tantos níveis diferentes” (texto 25). Esta tarefa é ainda mais dificultada pela dificuldade em que os professores sentem em desenvolver estas actividades personalizadas para estes alunos, diferentes das dos restantes alunos e com objectivos e estratégias específicas, tendo em conta as suas limitações, mas tentando garantir, ao mesmo tempo, a sua integração na turma. “… Em desenvolver estratégias para trabalhar com esses alunos” (texto 1). “… Na aquisição, aplicação dos conteúdos programáticos às limitações dos alunos” (texto 1). “… A maior ou menor estruturação das actividades próprias na sala de aula” (texto 14). “… Necessitam de maior atenção e dedicação da nossa parte para que se sintam integrados na turma e estejam a ser devidamente acompanhados” (texto 17) “… Neste momento estou com uma turma, onde tenho uma criança autista permanentemente na minha sala, sinto alguma dificuldade em gerir as actividades em conjunto com a turma, pois ele requer muita atenção” (texto 19). Torna-se ainda mais complexa tendo em conta a preocupação que alguns professores demonstraram em manter estes alunos motivados, de forma a garantir que estes desenvolvem todas as suas potencialidades sem ter receios e, como tal, garantir que não vão ter problemas de disciplina. “…Na individualização do ensino e na motivação/disciplinação dos alunos com NEE” (…) “Nesta perspectiva é urgente a elaboração de práticas pedagógicas que visem as necessidades individuais do aluno, bem como a sua potencialidade de -350- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] aprendizagem, fornecendo-lhes autonomia e condições adequadas para que evoluam com os seus próprios erros, sem medos e preconceitos” (texto 4). Na subcategoria falta/escolha de materiais pedagógicos, uma outra dificuldade apontada pelos professores no desenvolvimento de estratégias educativas para alunos com NEE é a insuficiência de materiais e/ou equipamentos adequados ou, muitas vezes a incapacidade que sentem na selecção dos materiais mais adequados. “… Escolher o material adequado” (texto 7). “… Adequação de estratégias e falta de material” (texto 1). “… Infra-estruturas e material adequado” (texto 1). “… Muita falta de materiais pedagógicos correctos” (texto 9). “… Falta de recursos nas escolas” (texto 24). “… Os restantes professores admitiram que há falta de recursos informáticos/equipamentos nas escolas” (texto 24). Na subcategoria gestão das turmas, como já havia sido referenciado, os professores sentem muitas dificuldades em gerir no meio escolar os conflitos gerados pela inclusão no espaço de aula do ensino regular de crianças com NEE. No encadeamento desta dificuldade os professores afirmam sentir dificuldades em gerir as respectivas turmas. Esta dificuldade prende-se com diversos factores, sendo um deles o elevado número de alunos que constituem as turmas, o que inviabiliza muitas vezes que o professor consiga dar atenção personalizada aos alunos com NEE. -351- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] “…Elevado número de crianças pelo qual as turmas são constituídas e o escasso tempo que o professor dispõe para dar atenção às dificuldades de aprendizagem de todo o grupo” (texto 8) “… Instabilidade na sala de aula” (texto 1). “… Turmas numerosas que condicionam o ensino individualizado” (texto 1). “… Excesso de alunos na turma, o que não permite uma eficaz intervenção nesses alunos” (texto 24). “… Número excessivo de alunos por turma” (texto 24). Como o último testemunho demonstra, o elevado número de alunos por turma dificulta a gestão de estratégias, pelos condicionalismos do tempo. “… Gestão de tempo de aula” (texto 1). “… Quanto às minhas maiores dificuldades e uma vez que não tenho experiência nesta área, posso apenas imaginar que estas serão mais ao nível da gestão de tempo para dar atenção a todas as crianças e em especial à dita com necessidades” (texto 10). “… São evidentes as dificuldades na gestão equitativa do tempo” (texto 4). “… Falta de tempo para organizar materiais adequados” (texto 24). Estas dificuldades prendem-se acima de tudo com a necessidade de idealizar actividades personalizadas, o que faz com que muitas vezes estes alunos estejam a desenvolver actividades diferentes dos restantes alunos. Tal complica a gestão do tempo e o delinear de actividades em função do número de alunos. -352- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] “… Um dos problemas incide na dificuldade de atenção diferida do professor quando tem alguns alunos a realizar uma actividade diferente do resto da turma e não propriamente na concepção de actividades diferenciadas” (texto 4). “… As minhas maiores dificuldades para integrar alunos na minha sala de aula” reporta-se especificamente em, por vezes, ultrapassar toda a heterogeneidade existente na mesma. No entanto, penso que o desafio primordial será fazer com que o grupo/turma valorize a deficiência/problemática e manifeste uma visão de aceitação para que tudo funcione em harmonia” (texto 15). “… Embora alguns professores queiram alterar as suas práticas, a maioria sente dificuldade de dar atenção à turma e ao aluno com NEE, pois este acaba por captar toda a atenção da professora” (texto 19). “… O que na maioria das vezes tenha de me sentar com ele e deixar a turma um pouco sozinha e vice-versa” (texto 19). Mais uma vez os docentes referem a subcategoria formação. Muitos dos professores que contemplaram as dificuldades acima mencionadas complementam a sua argumentação com as carências que sentem ao nível da formação, seja a própria, seja a percepção que têm relativamente a outros professores. “…No curso inicial devia haver mais formação adequada e suficiente no ensino especial para podermos actuar e intervir nos casos de NEE” (…) “Não ter conhecimentos básicos quando se deparam com situação de alunos com NEE“ (texto 1). “… Os estabelecimentos de ensino e os agentes educativos não estão suficientemente preparados para as exigências que uma escola inclusiva supõe” (texto 9). “… É necessário que os professores estejam receptivos ainda a mudanças significativas em termos de atitude, capacidades e conhecimentos, no sentido de se desenvolverem práticas que respeitem, reconheçam e valorizem as diferenças -353- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] individuais, e neste aspecto penso que a formação inicial que me foi transmitida não foi suficientemente esclarecedora nem directa” (texto 9). “… A formação inicial dos professores deverá ser repensada, uma vez que, e no meu caso, penso que tive uma formação inicial nesta área muito insuficiente, sendo que nunca tive contacto com estas crianças e apenas tive uma disciplina de um semestre relacionada com a área” (texto 10). “…Devido à minha falta de experiência e especialização nesta área” (texto 11). “… Professores não têm formação adequada para realizar um trabalho proveitoso para todos os alunos” (texto 16). “… A minha formação inicial devia ter fornecido maior e mais competências para a gestão deste tipo de grupos” (texto 18). “… Também pela minha falta de formação a este nível” (texto 20). A auto-avaliação relativamente à formação inicial já tinha demonstrado que os professores sentem que a sua formação de base não lhes forneceu as ferramentas necessárias, seja a nível teórico, seja a nível prático, para desenvolver estratégias educativas e de relacionamento com os alunos com NEE. “… Todos os docentes titulares de grupo deviam possuir formação específica em educação especial” (texto 1). “… Professores têm dificuldades em lidar com este paradigma uma vez que exige destes uma formação mais ampla e uma actuação profissional diferente da que têm experiência” (texto 8). “… As minhas dificuldades para integrar alunos com deficiência vêm do facto de não me sentir preparada e não ter formação para trabalhar com estes casos” (texto 22). -354- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] “… Necessitam de formação adequada, séria e útil na área da Educação Especial e que se ajuste aos reais problemas dos alunos” (texto 24). Defendem assim que os docentes deveriam ter formação específica e contínua em educação especial de forma a garantir da melhor forma a inclusão e integração destes alunos. “ … Competências e de tempo para adquirir conhecimentos através de formação contínua e da própria experiência, elementos essenciais para a gestão dessas diferenças na sala de aula” (texto 2). “…Desta forma, o educador deve deixar de ser resistente á mudança e deve actualizar-se. Para que isso aconteça é fulcral que estes vejam as dificuldades como sendo mais um desafio a enfrentar e não como fracassos” (…) “Em suma, a formação contínua por parte dos professores, resume-se a um conceito de necessidades em termos de investigação exigindo o recurso a metodologias diversificadas e devidamente articuladas que permitam contemplar cada um dos alunos” (texto 4). “… É necessário que todos os profissionais da educação sofram uma actualização de saberes na área da educação especial e contribuir para o desenvolvimento de novas competências e atitudes, no quadro de uma crescente diversidade da população escolar” (…) “Verifica-se ainda nos professores de hoje que não sabem o que fazer o que leva a uma formação continuada inadequada ou inexistente” (texto 9). “… Falta de formação nesta área logo quando tiramos a licenciatura e também falta formações ao longo da nossa carreira, para aprendermos a trabalhar com crianças com NEE” (texto 11) Para além de tudo o que já foi abordado ainda encontramos nas produções dos professores a subcategoria de constrangimentos externos. -355- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Para além de todas as dificuldades referenciadas, os professores fazem ainda referência à existência de constrangimentos externos que consideram que condiciona o seu papel de professores na integração e inclusão destes alunos com NEE. Essas condicionantes reportam-se a estruturas externas que regulam o ensino, e que têm o poder de decisão e legislativo em relação a diferentes aspectos como ao nível da definição dos currículos. A concepção dos currículos deveria então ter em consideração, de raiz as necessidades específicas dos alunos com NEE e prever a sua inserção no sistema de ensino regular. “… O seu processo educativo necessita de alterações, quer ao nível do currículo, quer ao nível das estratégias e dos recursos, que nem sempre são fáceis de concretizar numa sala de aula do regular.” (…) “Legislação menos ambígua e as turmas mais reduzidas para prestar um ensino mais individualizado” (texto 1). A inexistência nas estruturas escolares de técnicos especializados e equipas transdisciplinares que poderiam ser um apoio essencial na delineação de estratégias de inclusão dos alunos com NEE nas turmas de ensino regular, dificulta ainda mais o trabalho dos professores. “… Ausência de técnicos especializados e equipas transdisciplinares” (texto 1). “… Número insuficiente de professores de Educação Especial nas escolas” (texto 24). Acresce ainda que nem todos os profissionais de ensino se encontram disponíveis ou sensibilizados para promover esta integração e para trabalhar em conjunto com os pais, e vice-versa. A falta de comunicação entre os profissionais de ensino e os familiares -356- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] destes alunos dificulta o processo de inclusão destes alunos, que deve contar com a participação de todos, de forma a promover uma inclusão integrada. “… Creio que profissionais e outros agentes educativos designadamente os pais ainda não se encontram disponíveis para colaborar entre si para desenvolverem uma cultura e uma dinâmica organizacional (…) Outro ponto de dificuldade é a falta de relacionamento da escola com a família, a escola ainda se encontra muitas vezes fechada à comunicação para discussão da perspectiva inclusiva” (texto 9) “… A acomodação leva a que muitos profissionais não façam um esforço no sentido de contribuírem para a alteração de mentalidades e procedimentos com vista a uma verdadeira inclusão” (texto 12). “… Uma das piores experiências que vivi relacionada com este tema, foi ter sido notificada pelo Tribunal de Mafra, para ser ouvida como educadora das crianças em causa, por comprovada negligência da mãe aos menores” (texto 23). “…Outra situação difícil de resolver enquanto educadora de um grupo de vinte cinco crianças, foi conseguir convencer uma mãe adolescente que consumiu drogas durante a gravidez e um avô cego a dialogar sobre a criança em questão” (texto 23). “… As famílias por vezes também não ajudam neste processo de inclusão, pois pertencendo a última palavra aos encarregados de educação, estes nem sempre tomam decisões que sirvam para implementar e valorizar a integração do seu educando” (texto 27) Seria assim necessário mudar algumas mentalidades, para que a inclusão destas crianças fosse realizada com sucesso e fossem maximizados todos os esforços para que a mesma acontecesse. “… Mudar mentalidades” (texto 1). -357- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] “… Conseguir ultrapassar a mentalidade da comunidade dos que a rodeiam” (texto 13). “… Se a turma não estiver preparada para aceitar uma criança assim, esta vai ter dificuldade em concentrar-se e manterem um ambiente normal de trabalho” (texto 19). “… No que concerne à postura da comunidade escolar perante estes meninos, a professora do E.E. declarou que, de facto, há pessoas que encaram bem e outras menos bem, pois, ainda há um preconceito muito grande no caso destes alunos” (texto 25). “… O que muitas vezes funciona como bloqueio à inclusão é a atitude das pessoas, a nível social, quer alguns docentes no meio escolar ou de outros técnicos em outros contextos” (texto 26). “… Preconceitos ou à falta de compreensão certo é que as crianças /jovens com necessidades educativas especiais ainda não são vistas ou tratadas como deveriam ser, ou melhor como mereciam ser” (texto 30). Estes condicionalismos externos são ainda complementados por outra dificuldade apontada pelos professores e que também se pode considerar externa à sua intervenção, que é a inadaptação das escolas. Apesar de já ter sido referenciada uma dificuldade – a falta/adequação do material pedagógico – que diz respeito à estrutura escolar, os professores referenciam outras dificuldades relativas à inadaptação das escolas. 2. Discussão dos resultados Vamos agora proceder à discussão triangulada dos resultados, procurando relacionar os objectivos e as hipóteses por nós delineados com os resultados anteriormente apresentados, obtidos pelas diferentes vias de recolha e análise. -358- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Iniciamos respondendo ao primeiro objectivo geral de conhecer as atitudes de professores do ensino Básico, face à Inclusão de alunos com necessidades educativas especiais (NEE) na sala de aula e aos objectivos específicos correspondentes de relacionar variáveis sócio demográficas e académicas com o tipo de atitude manifestada pelos docentes dos diferentes níveis de ensino; relacionar as atitudes manifestadas pelos professores face à inclusão dos alunos com NEE com o seu percurso formativo;verificar se a formação inicial recebida tem influência nas atitudes manifestadas por estes; constatar as principais dificuldades, de professores do ensino básico, na sua prática diária para que sejam promotores da educação inclusiva. Responderemos também às hipóteses definidas. No que se refere à primeira hipótese H1- as atitudes de professores de ensino básico face à Inclusão dos alunos com NEE na sala de aula estão influenciadas por factores pessoais e profissionais e às subhipóteses H1.1- a idade, o tempo de serviço e o nível de ensino em que leccionam influenciam a atitude dos professores face à inclusão de crianças com NEE, com a alínea (a) os Professores mais jovens têm atitudes mais positivas face à inclusão de alunos com NEE na sala de aula, verificamos que quanto às variáveis idade e tempo de serviço, esperávamos que os professores mais jovens e com menos tempo de serviço, adoptassem atitudes mais positivas do que os professores mais idosos ou com mais tempo de serviço. Os resultados obtidos no nosso estudo não confirmam esta hipótese, e resultados similares foram encontrados em Stubbs, (2009), num estudo aplicado em escolas públicas do 1º ciclo, numa amostra de 234 professores onde a autora pretendia ver quais as variáveis que influenciavam as atitudes face à inclusão de alunos com NEE em sala de aula, Jones (2009), obtém também os mesmos indicadores. Similarmente não -359- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] foram encontradas relações entre a idade e o tempo de serviço e as atitudes inclusivas por Hwang e Evans (2011) no seu mais recente estudo. Verificamos que existem opiniões contraditórias, relativamente a esta questão, pois Snyder, et. al, (2001), Batsiou,et al (2008) e Mulholland (2011) dizem-nos que os professores que têm mais experiência têm atitudes mais favoráveis face à inclusão, enquanto outros, concluíram que os professores mais jovens têm atitudes mais favoráveis face à inclusão (Moberg & Savolainen, 2003, Lee-Tarver, 2006; Ramirez, 2006, Boer et al, 2011) tendo sido encontrada uma correlação entre idade e a experiência dos professores relativamente à promoção da inclusão (Gal, et al. 2010). Podemos assim concluir que para uns autores, os professores mais velhos apresentam atitudes mais inclusivas, enquanto para outros é exactamente ao contrário. No que se refere à sub-hipótese b) os Professores com menos tempo de serviço, apresentam atitudes mais positivas face à inclusão de alunos com NEE, os resultados obtidos no nosso estudo não confirmam esta hipótese, pois os valores encontrados não são estatisticamente significativos. Aqui também estamos em concordância com Stubbs, (2009; Leyser et al., 1994), quando nos seus estudos não confirmaram que os professores com menos experiência de ensino apresentassem atitudes mais favoráveis em relação à inclusão. Numa outra perspectiva de resultados consideramos, Avramidis & Norwich (2002) que concluíram que os professores mais novos e com pouca experiência de ensino são considerados mais entusiastas do ponto de vista da integração. -360- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Alguns autores referem que a aceitação de uma criança com incapacidade é maior nos professores com menos de 6 anos de experiência de ensino e tende a cair face àqueles com seis e até dez anos de experiência, bem como professores com menos tempo de serviço que são mais adeptos da inclusão (Leyser & Tappendorf, 2001; Taylor, et al, 2003; Vaz, 2005). Tendo em conta as diferenças encontradas nos diferentes estudos, em que os mais recentes não encontram diferenças significativas nas variáveis em questão, comparativamente com estudos anteriores, poderemos inferir que tais resultados poderão estar suportados na ideia de que mais do que a idade e o tempo de serviço as atitudes dos professores podem ser influenciadas por diversos factores, e que podem passar pela cultura da comunidade educativa onde a escola está envolvida, bem como pela movimentação a nível mundial pelo direito à inclusão. Relativamente à alinea c) os professores do 1º ciclo e da educação especial apresentam atitudes mais positivas face à inclusão de alunos com NEE do que os professores do 2º e 3º ciclo, no nosso estudo verifica-se que os professores de educação especial apresentam atitudes mais positivas face à inclusão do que os restantes professores, embora os professores do 1º ciclo apresentem também atitudes mais positivas face à inclusão de alunos com NEE, comparativamente com os professores do 2º e 3º ciclo. No entanto ao compararmos só os professores do 1º,2º,e 3º Ciclo, verificam-se diferenças entre eles, mas as mesmas deixam de ser estaticamente significativas. Confirma-se esta hipótese apenas quando comparados os quatro grupos. -361- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Relativamente a esta questão, são poucos os estudos que comparam as atitudes dos professores face à inclusão nos diferentes níveis de ensino, apenas encontramos o estudo de Jones (2009), que também não encontra tal como nós, diferenças significativas nas atitudes dos diferentes níveis. Dos estudos analisados verificamos também que não há ideias unificadas sobre esta questão, uma vez que Balboni e Pedrabissi (2000), referem que não encontram diferenças nos professores dos diferentes níveis, embora Hastings e Oakford (2003), apresentem outros resultados quando concluem que os professores do ensino básico são mais favoráveis à inclusão do que os de níveis de ensino mais avançados. Neste âmbito, de salientar o estudo de Vaz (2005), que comparou os professores de educação especial com os professores saídos de licenciaturas mais recentes, e os professores de cursos mais antigos. O autor conclui que os professores de educação especial apresentam atitudes mais positivas do que os do ensino regular e que os professores do 1º ciclo com cursos mais recentes consideram que a escola é o local mais adequado para o aluno com NEE, mostrando assim uma atitude mais positiva face aos seus colegas licenciados há mais anos. Nesta linha de investigação, Webb, (2004), comparou as atitudes face à inclusão dos professores do ensino regular e professores de educação especial e conclui, tal como nós, que os professores de educação especial têm atitudes mais favoráveis face à inclusão e são mais eficazes na intervenção com estes alunos comparativamente com os outros docentes de outros grupos disciplinares. -362- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] As conclusões de Hoffman (2006), e de Camisão (2005), corroboram também os nossos resultados ao comparar professores do ensino secundário com professores de educação especial e ao verificar que estes têm atitudes significativamente mais positivas. Meijer (2009), também refere que os professores do ensino secundário estão menos dispostos a incluir alunos e as suas atitudes dependem do tipo de formação recebida, de situações experiênciadas e de competências ao nível da organização de sala de aula. O que acabamos de constatar, está de acordo com Mastin (2010), quando no seu estudo verificou que os professores de educação especial expressam atitudes e competências mais positivas para trabalhar com alunos com NEE, e uma das razões apresentadas para esta atitude positiva poderá estar relacionada com o facto de se sentirem mais confortáveis para promover o sucesso nestes alunos. Na hipótese seguinte H1.2 as habilitações literárias e profissionais influenciam a atitude dos professores face à inclusão de crianças com NEE, prestámos atenção às variáveis habilitações literárias e habilitações profissionais, de modo a responder à alínea a) os profissionais com nível de formação académica mais elevada, apresentam atitudes mais positivas face à inclusão de alunos com NEE na sala de aula, verificando-se na amostra, que os valores médios e portanto as atitudes positivas face à inclusão tendem a aumentar com o aumento do grau académico, no entanto não podemos confirmar a hipótese porque as diferenças observadas não são estatisticamente significativas, pelo que não se provou que a habilitação académica estará relacionada com as atitudes dos professores face á inclusão dos alunos com NEE. -363- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] As conclusões de Sharma, et al. (2006; 2008), remetem-nos para o que acabamos de referir, quando interpretamos nos seus estudos que os profissionais com níveis académicos mais elevados são mais positivos no que se refere às atitudes para incluir estudantes com NEE nas suas salas, mas têm menos ideias e objectivos para trabalhar com eles quando comparados com outros professores com qualificações académicas mais baixas. Em relação à alínea b) os professores que tiveram na sua formação inicial disciplinas relacionadas com os alunos com necessidades educativas especiais desenvolveram atitudes mais positivas face à inclusão desses mesmos alunos, os resultados obtidos apontam para que as atitudes positivas face à inclusão sejam ligeiramente superiores para os que tiveram alguma disciplina relacionada com os alunos com necessidades educativas especiais, no entanto as diferenças observadas não são estatisticamente significativas, pelo que não podemos confirmar a hipótese. À mesma conclusão chegou Loreman (2002), quando nos transmite que os professores podem ter sucesso na promoção da inclusão e atitudes inclusivas mesmo sem formação inicial, desde que os mesmos tenham competências de aprendizagem onde quer que estejam. Ainscow (2003), sublinha que a formação inicial e o desenvolvimento de competências dos professores são o coração da inclusão, no entanto os estudos são contraditórios. Assim, Gafoor e Asaraf (2009), num estudo a um grupo de professores de formação inicial, utilizando um grupo de controlo e um grupo experimental, aplicaram um programa de formação inicial com e sem um módulo de inclusão. -364- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] As suas conclusões referem que não se encontraram diferenças significativas no que se refere às atitudes dos professores, talvez porque este conceito já esteja integrado no indivíduo. Onde os autores encontraram as maiores diferenças foi ao nível da preparação para as práticas. No entanto há estudos que nos reenviam para outras conclusões quando nos apresentam uma relação entre atitudes positivas e currículos onde existem disciplinas ligadas à inclusão (Connor 1976; Ringlaben & Price 1981; Chueca 1988; Ortiz, et al. 1991; Simon 1991; Muntaner 1999; Loreman, et.al 2005). É pertinente referir Flores, (2005, p. 24), quando salienta que: “… Se queremos nas escolas professores que reflectem sobre as suas práticas (e sobre os propósitos e valores que lhes estão subjacentes), então os cursos de formação (inicial, mas também contínua) têm de ser organizados em função dessa finalidade, colocando de lado processos e práticas de formação dominados, em muitos casos, por modelos tradicionais, escolarizados e baseados numa racionalidade técnica. Um ensino de qualidade exige professores de qualidade, que sejam conhecedores, que demonstrem destrezas para enfrentar a complexidade e mudança inerente à docência, mas também que estejam comprometidos no ensino e na aprendizagem ao longo da sua carreira”. Nesta perspectiva também Lima (2004), afirma que é importante que todos os professores tenham uma informação geral dos fundamentos da inclusão, que se consciencializem dos seus sentimentos em relação às pessoas com deficiências e das motivações destes mesmos sentimentos. Se nos consciencializarmos da complexidade dos processos inerentes à inclusão: “ … é fundamental também que compreendam o contexto sócio-histórico da proposta de exclusão e, especialmente, o contexto da inclusão, e que tenham um -365- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] domínio básico de conhecimentos que auxiliem a sua aproximação das pessoas com deficiência, no sentido de interagir com elas” (Flores, 2005, pp. 29-30). Tendo em conta estas diferentes perspectivas podemos concluir segundo os autores que as atitudes dos professores após os programas de formação inicial podem revelarse um pouco mais positivas mas não se materializam na prática. Essa relação só existirá com o decorrer dos anos e com a experiência profissional, uma vez que aí os professores dão mais relevância à sua prática e à necessidade de incluírem adequadamente os alunos. Deste modo, atitudes pró-inclusão transformam-se em factos e deixam de ser intenções. Os autores propõem que as escolas de formação devem colocar os professores em situações reais de inclusão de modo a que possam vir a existir alterações estruturais quer nas atitudes quer nas práticas. Quanto à alínea c) a formação contínua no âmbito das necessidades educativas especiais desenvolve nos professores atitudes mais positivas face à inclusão dos alunos com NEE na sala de aula, verificamos que as atitudes positivas face à inclusão são mais positivas em todas as dimensões da escala para os professores que frequentaram acções de formação contínua relacionada com a problemática confirmando-se esta hipótese. Vários estudos indicam também que a formação de professores influencia as suas atitudes face à inclusão e que esta influência é superior à experiência profissional (Avramidis, et al, 2000; Lambe & Bones, 2006; Batsiou et al, 2008; Sharma et al 2008). -366- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Destacamos aqui também as conclusões de outros investigadores que encontram uma relação muito forte entre as atitudes dos professores e a sua formação, sublinhando assim, resultados por nós encontrados (Avramidis & Norwish, 2002; Loreman & Earle, 2007; Loreman, Forlin & Sharma, 2007, Kuyini & Mangope, 2011). Silva (2008), acrescenta que quando a formação dos professores assenta na análise das suas necessidades tende a ser bem sucedida, pois quando estes analisam as suas dificuldades em lidar com os alunos em inclusão vêm na formação uma resposta para lidar com tais situações. Alguns estudos evidenciam a formação contínua como fundamental para a mudança de atitudes face aos alunos com NEE, para o aumento de auto-estima e auto-confiança dos professores e das capacidades das competências para o exercício da profissão (Silva, 2001, 2007). Autores como, Leyser e Tappendorf (2001), afirmam que as atitudes não podem ser vistas tão linearmente, isto é, como positivas ou negativas. Baseado neste estudo Colling, et.al, (2003), aplicaram um programa de formação a um grupo de professores do estudo anterior e verificaram após a aplicação desse programa que os professores que anteriormente apresentavam atitudes mais negativas modificaram-nas e aproximaram-se às atitudes positivas dos professores de educação especial. Estes professores para além desta situação demonstraram ainda uma grande diferença nas competências para avaliar e intervir com alunos com NEE. -367- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Verifica-se assim que quer a formação inicial, quer a experiência acumulada no dia a dia, não prepara os professores em termos de competência para práticas inclusivas e que por sua vez é através de práticas reflexivas partilhadas e uma lógica de formação permanente, que se poderá determinar atitudes mais inclusivas (Morgado 2003a). Assim uma formação contínua pode contribuir para uma mudança de atitudes dos professores em relação aos alunos com NEE, para o aumento da sua auto-confiança uma vez que essa formação promove competências e conhecimentos ao nível da prática pedagógica (Leitão 2007). Ainda interligadas com as habilitações, mas desta vez profissionais e relacionadas com a formação específica, colocámos a hipótese d) a formação especializada no âmbito das necessidades educativas especiais desenvolve nos professores atitudes mais positivas face à inclusão dos alunos com NEE na sala de aula, verificou-se que as atitudes dos professores mudam positivamente qunado estes recebem formação especializada nesta área, pelo que se confirma a nossa hipótese. Podemos assim constatar que a formação especializada em educação especial comparativamente com a formação normal promove atitudes mais positivas (Wall, 2002; Webb, 2004; Mastin, 2010). Na mesma linha de investigação, também Parker (2009), concluiu que os professores de educação especial têm atitudes mais inclusivas quando comparadas com os professores em geral. -368- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] A autora atribui esses resultados, ao facto da maioria dos professores de educação especial terem um conjunto importante de formação, comparativamente com os professores de educação especial e por tal facto, estão mais familiarizados com os benefícios da inclusão e com as estratégias necessárias numa sala de aula inclusiva (O’Shea et al., 2000; O’Shea, Hodes, Down & Bramley, 2000). Nesta sequência, poderemos concluir que para o universo da nossa amostra, os professores que possuem formação especializada ou que fizeram formação contínua nesta área, demonstraram atitudes mais positivas face à inclusão de alunos com NEE na sala de aula. As diferenças verificadas pela autora centram-se nos objectivos filosóficos, nos olhares profissionais e nas competências de intervenção, ou seja ao nível das adaptações dos currículos, matérias e estratégias, que aumentam as possibilidades de aprendizagem dos alunos, comparativamente com as convicções, pois neste âmbito já todos consideram que a educação inclusiva é mais benéfica para todos. Tendo em conta estes pressupostos podemos referir que os professores de educação especial se sentem mais à vontade com a sua formação do que os restantes docentes. Ficou também demonstrado que os professores de ensino regular são menos eficazes no que se refere a conhecimentos legais, informações gerais sobre a problemática e estratégias de intervenção para trabalhar com NEE, (Smith, 2000; Hammond & Ingalls, 2003), e que por isso necessitam sempre de mais suporte quer ao nível de mais recursos quer ao nível de mais formação do que os professores com formação no âmbito das NEE (Parker, 2009; Mastin, 2010). -369- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Parece-nos ser possível afirmar que os professores que frequentaram acções de formação relacionadas com as Necessidades Educativas Especiais, procuram respostas para lidarem com a diversidade, pelo que a sua aceitação reflectida em atitudes é mais positiva e visível. Ao nível da hipótese seguinte H1.3 o tipo de função que o professor exerce na escola (professor de educação especial/professor titular e professor com funções de gestão) influencia as atitudes dos professores do ensino básico face à inclusão de alunos com NEE na sala de aula, verificamos que as atitudes positivas face à inclusão, são superiores para os professores de educação especial e inferiores para os outros dois grupos, sendo as diferenças estatisticamente significativas, confirmando-se esta hipótese. Rodríguez Tejada (2006), conclui que há uma relação entre a situação do professor na escola e as atitudes face à inclusão, sendo que os professores com mais estabilidade, isto é os professores que têm o seu lugar assegurado, são menos inclusivos. Verificou também que os professores dos departamentos de orientação educativa (equiparados em Portugal ao professores de educação especial) e os professores ligados às expressões têm atitudes mais inclusivas. Contrariamente aos professores titulares de turmas e aos professores de outros departamentos, situação similar encontrada por Alemany (2002). Estudos sobre esta temática afirmam tal como nós que os professores do ensino regular concordam com a filosofia da inclusão, mas manifestam frequentemente sentimentos de ambivalência quanto há possibilidade de o fazer (Hammond & Ingalls, 2003; Smith, 2000). Eslami e Fatahi (2008), por outro lado referem que os professores do ensino -370- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] regular com baixa eficácia, manifestam sentimentos de incapacidade para ajudar os alunos com NEE. Para recolher a opinião dos professores acerca dos factores facilitadores da inclusão de modo a permitir uma resposta complementar ao segundo objectivo geral de verificar a natureza das dificuldades que os professores sentem para promover a educação inclusa e relaciona-las com o tipo de atitudes que manifestam, com o seu percurso e necessidades de formação, bem como ao objectivo específico de constatar as principais dificuldades dos professores do ensino básico na sua prática diária para que sejam promotores de educação inclusiva, solicitamos que na última parte da escala classificassem por ordem decrescente, isto é: da mais importante para a menos importante, as condições que considerassem mais facilitadoras para o processo de inclusão de alunos com NEE no ensino regular. Foram-lhes dadas as seguintes condições: atitudes dos professores; técnicos especializados; formação específica; metodologias de ensino; avaliação / acompanhamento dos alunos; colaboração entre professores e materiais e recursos. Concluimos que a condição mais importante escolhida pelos docentes é a “atitude dos professores”, seguida da “formação específica”. Verifica-se também que existem graus de relevância diferentes dependendo de factores pessoais e profissionais. No que se refere à segunda hipótese H2- O grau de relevância atribuído pelos professores ao tipo de condições para que seja possível a realização de um efectivo processo de Inclusão é influenciado por factores pessoais e profissionais, começaremos por discutir a sub-hipótese H2.1 a idade, o tempo de serviço e o nível de ensino em que leccionam influenciam o grau de relevância atribuído pelos professores ao tipo de -371- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] condições para que seja possível a realização de um efectivo processo de inclusão, tendo na sua análise incluídas as alíneas, a) a idade influencia a relevância das condições para que seja possível a realização de um efectivo processo de inclusão e b) o tempo de serviço influência a relevância das condições para que seja possível a realização de um efectivo processo de inclusão. Numa análise global podemos salientar que a faixa etária dos professores entre os 31 e 40 anos são os que mais valorizam o processo de inclusão. Verifica-se também que à medida que aumenta a idade também aumenta a relevância de uma outra condição e que se prende com a questão de os professores mais velhos valorizam a condição atitude enquanto que os professores mais jovens valorizam mais a condição materiais e recursos, embora estes últimos dados não sejam considerados estatisticamente significativos. Nesta sequência é de salientar também a condição avaliação e acompanhamento que não mostra diferenças em relação à idade, bem como as condição metodologias de ensino, colaboração entre professores, avaliação, materias e recursos. Por fim, a relevância atribuída à condição formação específica é influenciada pela idade, isto é, os grupos dos professores que se situam entre o 31 aos 40 anos e 41 e 50 anos valorizam mais esta condição, conclusão que nos remete também para concluir que os anos de docência influência a relevância atribuída à condição técnicos especializados. Huberman (2000), remete-nos para o que acabamos de referir, ao verificar que a atitude e desempenho dos professores se modifica ao longo da sua carreira, enquanto que Ruiz (2009), por sua vez afirma que quanto mais experiência os professores têm mais verbalizam a falta de conhecimentos na área das NEE. -372- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Ao analisarmos os estudos de Avramidis e Kalyva (2007), face às atitudes os mesmos sublinham que os professores que já passaram pela experiência de integração têm uma relação mais positiva face às atitudes comparativamente com os professores que nunca passaram pela experiência. Foram encontrados no entanto, estudos antagónicos que nos demonstram que a idade e as atitudes favoráveis têm uma relação inversa (Rodríguez Tejada, 2006). Avramidis e Norwich (2002) refere vários estudos que afirmam que a experiência no contacto com alunos com necessidades educativas especiais torna os professores mais positivos no processo de inclusão. Assim, para o autor a definição de um programa, bem como o seu acompanhamento, são fundamentais para o sucesso da inclusão e a mudança de atitudes. Relativamente à relevância que os professores mais jovens dão à formação específica, Hadadian e Shiang (2007), dizem-nos que os professores mais jovens em início de carreira e que beneficiam de uma formação formal com conteúdos curriculares em necessidades educativas especiais, envolvem-se mais no processo de inclusão de alunos com NEE. Segundo os autores estes resultados foram suportados em estudos anteriores onde foram também encontradas correlações positivas entre o número de cursos que os professores faziam na área e as atitudes inclusivas. Estes resultados estão de acordo também com Jennings (2007), quando verificou que os professores jovens não se sentem preparados para as mudanças que é preciso -373- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] implementar numa sala de aula para integrar alunos com necessidades educativas especiais. Quanto à hipótese H2.2 as habilitações literárias e profissionais influenciam o grau de relevância atribuído pelos professores às condições para que seja possível a realização de um efectivo processo de inclusão no que se refere à alínea a) a formação académica influencia o grau de relevância atribuído pelos professores às condições para que seja possível a realização de um efectivo processo de inclusão, foi verificado que a relevância dada à condição formação específica para trabalhar alunos com NEE é significativamente superior nos professores licenciados, pelo que se valida esta hipótese. O que acabamos de referir em relação aos nossos resultados estão subjacentes nos estudos defendidos por Sharma et al., (2006), que referem também que os professores graduados, são mais positivos quer a receber formação quer a incluir os alunos com essas dificuldades nas suas salas de aula, podendo o uso de estratégias adequadas aos alunos com problemas escolares, estarem associadas ao sentido de eficácia do professor. Bender et al., (1995), avaliando as atitudes dos professores a nível do sentido de eficácia e a nível da integração, concluíram que os professores com atitudes mais positivas são os que usam estratégias de ensino mais adequadas (e com mais frequência) do que os que têm atitudes menos positivas. Também no que se refere às habilitações profissionais e ao revermos alguns estudos (Halloway, 2000; Rodrigues, 2000; Martinez, 2001; Correia & Martins, 2002; Pareja, 2002; Plaissance, 2002; Silva 2002; Verdugo, 2003; Florian, 2003; Cardona, 2003; -374- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Sanchez, 2003; Melero, 2004; Vaz, 2005), concluímos que a variável habilitações profissionais à qual está associada a formação específica deve ser tida em consideração na implementação de uma escola inclusiva, dada a relação forte que tem com as atitudes dos professores. Em relação à alínea b) ter disciplinas relacionadas com os alunos com necessidades educativas especiais na formação inicial influencia o grau de relevância atribuído pelos professores às condições para que seja possível a realização de um efectivo processo de inclusão, embora se tenha verificado algumas diferenças entre os dois grupos estudados (professores que tiveram na formação inicial disciplinas relacionadas com as NEE e os que não tiveram), estas diferenças não foram estatisticamente significativas. Alguns autores argumentam, que os professores devem ter no seu curso de formação inicial uma disciplina de educação inclusiva, uma vez que se sentirão mais confortáveis para práticas inclusivas (Campbell, Gilmore & Cuskelly, 2003), outros porém defendem que deve haver uma introdução mais sistemática de formação intensiva (Kowalski e Rizzo 1996; Cook, 2002). Aos analisarmos estes estudos, entendemos que uma disciplina ao longo do tempo num curso de formação inicial pode não ter significado, comparativamente com a situação de abordagens sistemáticas ao nível da utilização de experiências reais em que os professores estão em simultâneo a assimiliar informação e a receber conhecimentos práticos promovendo aprendizagens significativas e consistentes. O que acabamos de constatar no nosso estudo, poderá estar de acordo também com o facto para o qual nos remete Nogueira (2000), quando diz que os currículos de -375- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] formação inicial de professores na sua grande maioria, possuem uma tão reduzida carga horária sobre esta temática que não permite sequer que os professores tomem consciência de análise sobre esta questão. Passamos de seguida à análise da alínea c) a formação contínua no âmbito das necessidades educativas especiais influencia o grau de relevância atribuído pelos professores às condições para que seja possível a realização de um efectivo processo de inclusão, onde podemos concluir que a formação contínua no âmbito das NEE, influencia significativamente a importância dada à condição formação específica, isto significa que os professores que não frequentaram acções nesta área sinalizam esta falta como sendo a mais importante para a implementação de um verdadeiro processo de inclusão, validando assim esta hipótese. Nesta linha de investigação encontramos vários estudos cuja perspectiva de análise nos confirma haver uma influência entre formação contínua e atitudes positivas para o processo de inclusão (Avramidis et al., 2000; Van Reusen et al., 2000; Shade & Stewart, 2001). Outros estudos (Leyser & Tappendorf, 2001, Martinez, 2003), também salientaram que pequenos cursos de formação podem não ser suficientes para produzir mudanças de atitude consistente para uma prática inclusiva. Desde que a educação inclusiva ganhou um significado tão importante nas atitudes dos professores, alguns investigadores foram verificar se existiriam diferenças no que se refere à aceitação e vontade de ensinar um aluno com deficiência na sala de aula de -376- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] professores com pouca experiência de ensino, aos quais foi facultado um curso de formação contínua. Os estudos reveleram diferenças significativas de mudança de atitude entre o início e final da formação (Avramidis, et al., 2000; Hastings & Oakford, 2003). Um estudo de Sharma, et al., (2008), iniciado simultaneamente na Austrália, Canadá, Hong Kong e Singapura, com o objectivo de medir as atitudes, perspectivas e sentimentos dos professores face à inclusão, em que foi utilizado um pré -teste e um pós-teste e desenvolvido num período de dois anos no Canadá e dez semanas nos restantes países, demonstrou que foi encontrada uma diferença significativa ao nível da modificação das atitudes em todos os locais excepto em Singapura. A mudança encontrada foi enorme na Austrália e Hong Kong e moderada nos participantes do Canadá, onde o estudo decorreu até por um período mais longo. A conclusão destes resultados segundo os autores anteriormente mencionados é parcialmente explicada pelos conteúdos e metodologias usadas na formação, isto é, quando um professor recebe e ou/ adquire conhecimento sobre uma deficiência, este não só promove a mudança de atitude em relação às pessoas que apresentam aquela deficiência, mas também são mais positivos em relação a todas as outras deficiências. Ao confrontarmos os resultados obtidos com os estudos anteriormente referidos, poderemos entender a lógica destes resultados, dado que os professores que nunca obtiveram formação contínua nesta área, confrontados com as situações práticas de sala de aula, valorizem mais esta condição. -377- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Da discussão da alínea d) a formação especializada no âmbito das necessidades educativas especiais influencia o grau de relevância atribuído pelos professores às condições para que seja possível a realização de um efectivo processo de inclusão, resulta no nosso estudo que a formação especializada no âmbito das NEE influencia significativamente a importância de uma condição: a relevância das atitudes dos professores é superior para os que tiveram formação especializada, validando-se assim esta hipótese. Parece-nos que o que acabamos de referir em relação aos nossos resultados, estão subjacentes nas teses defendidas por vários autores, quando salientam também a importância da formação especializada no processo de inclusão (Avramidis & Norwich, 2002; Center & Ward, 1987; Hastings & Graham, 1995; Loreman & Earle, 2007; Loreman, Forlin, & Sharma, 2007; Sharma et al. 2006; Subban & Sharma, 2006), pois referem uma grande influência entre as atitudes positivas face à inclusão e formação especializada. Nesta linha de investigação salienta-se também que a formação especializada desempenha um papel de tal maneira importante nas atitudes dos educadores, que ao ser avaliado o tipo de atitudes face à inclusão do antes e depois do curso de formação encontraram-se grandes diferenças (Avramidis, et al,. 2000; Hastings & Oakford, 2003). Moon (2008), refere ainda que para incluir alunos os professores precisam de tempo de formação especializada, condições que os professores de uma maneira geral não possuem. Também Connor e Ferri (2007), dizem que os professores não possuem preparação para trabalharem com alunos com NEE e para que eles adquiram tal formação de uma -378- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] forma eficaz, necessitam de receber formação liderada por professores que tenham praticado a escola inclusiva (Angelides, 2008; Avramidis & Norwich 2002). Sobre a hipótese seguinte H2.3 o tipo de função que o professor exerce na escola (professor de educação especial/ professor titular e professor com funções de gestão) influencia o grau de relevância atribuído pelos professores às condições para que seja possível a realização de um efectivo processo de inclusão, ressalta que o tipo de função influencia significativamente a importância de duas condições: a relevância das atitudes dos professores que é superior para os professores de educação especial e a relevância de técnicos especializados que é superior para os professores titulares de turma. Nem sempre as políticas educativas bem como as iniciativas feitas para promover o sucesso de inclusão dos alunos com NEE, surtem os efeitos desejados, Coulter, (2007), Peters, Johnstone e Ferguson (2005). Ao contrário, os esforços para criar mais oportunidades inclusivas dependem de múltiplos factores, tais como a liderança, os serviços de apoio, o desempenho profissional e as oportunidades que são dadas aos professores para trabalharem neste sistema (Powell, 2006; Roach & Salisbury, 2006; McClean, 2007). De uma maneira geral todos os professores se referem ao papel da direcção das escolas como obstáculo à inclusão, bem como a organização das próprias turmas. Mastropieri e Scruggs (2001), também atribuem o sucesso da inclusão à direcção da escola e aos recursos humanos e materiais existentes. -379- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] De acordo com Nilholm (2006, p.442), “qualquer perspectiva razoável de inclusão envolve grandes alterações no sistema educativo e é difícil perspectivar como cada mudança pode ser implementada sem o envolvimento de toda a comunidade educativa”. Todos os intervenientes devem ser envolvidos nas decisões e deliberações acerca da inclusão, mesmo que tenham uma interpretação diferente do conceito. Nesta perspectiva, a inclusão dificilmente pode ser objecto apenas dos serviços de educação especial. O autor tem a convicção de que a inclusão só é possível a partir de processos de tomada de decisão que sejan por eles próprios já incluivos e vai mais longe quando acrescenta que “o cerne do conceito de inclusão é a ideia de que os procedimentos «normais» devem mudar” (Nilholm, 2006 p.443). Van Laarhoven et al., (2007), salientam que os maiores preditores do sucesso de inclusão são as atitudes dos professores e as suas convicções, independentemente dos cargos ocupados dentro da comunidade educativa. Neste âmbito, podemos salientar, Avramidis & Norwich (2002), quando refere que os directores das escolas ou os conselhos executivos constituem agentes fundamentais na construção de atitudes positivas, seguidos dos professores de educação especial. Concluiu que o professor do ensino regular aparece na cauda do sistema, com a atitude menos positiva. No entanto Hwang e Evans (2011) concluem que os professores do ensino regular têm atitudes mais positivas que negativas, mas são muito reticentes em receber alunos com NEE na sua sala de aula. -380- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Num estudo internacional em que se problematizam os conceitos de diferença, inclusão e dificuldade, Norwich (2008) defende que as decisões políticas e a sua implementação envolvem dilemas. Estes surgem em “culturas onde se produz mais do que um ideal possível” (Billing 1988, p.288). A coexistência de valores diferentes propicia a emergência de factores que implicam, consequentemente, a identificação de uma opção face a outras alternativas, sem que nenhuma das propostas seja claramente mais favorável. Em educação, dilemas em torno da “diferença e do controlo” (ibidem) são evidentes na implementação das medidas educativas decorrentes de diplomas legais. Na mesma linha de investigação, Nilholm (2006), levanta questões pertinentes quando refere que na escola, face a alunos todos diferentes, os professores têm a expectativa de encontrar uma forma comum de ensinar todos mas, simultaneamente, responder às necessidades individuais. Esperam ainda, compreender como organizar grupos de alunos onde todos eles aprendam face ao seu máximo potencial e como se promove a aprendizagem. Estas e outras questões são referidas pelo autor, como uma contradição fundamental do sistema educativo que, por um lado se baseia no que os estudantes têm em comum, ou que se espera que tenham, e por outro lado nas respectivas diferenças individuais, sendo este é um dos dilemas com que o professor se confronta diariamente e que pode ser factor de angústias e incertezas. Contudo, o professor é entendido como sendo uma peça elementar no processo de inclusão de qualquer aluno. -381- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Os defensores da inclusão, propõem uma articulação de práticas eficazes da educação especial e educação regular, com recurso a uma nova abordagem que responda eficazmente às necessidades de todos os alunos, “…. a necessidade de possibilitar a articulação do professor na sala de aula e o aperfeiçoamento constante das práticas pedagógicas” (Marques, 2000, p.207) Numa orientação inclusiva, os principais focos de intervenção para a criação de escolas que sejam efectivas para todos, devem estar centrados ao nível da própria escola, da classe e dos professores (Ainscow, 1995). Por tudo o que acabamos de referir podemos entender que este esforço tem que ser feito quer na formação inicial quer na formação contínua dos professores, podendo assim concluir que a função que o professor exerce será tanto mais inclusiva quanto maior for a sua formação nesta área. No nosso desenho de investigação colocámos como preocupação para além de medir as atitudes dos professores, verificar qual o processo que seria necessário desenvolver para que a escola se torne efectivamente mais inclusiva. Para a compreensão deste processo foi importante inventariar também as dificuldades sentidas pelos professores. Assim, dado que a metodologia do nosso estudou apostou na triangulação dos dados, vamos passar agora a discutir os resultados obtidos através da recolha documental e das conclusões dos grupos de discussão (focus group). Por forma a responder ao segundo objectivo geral de verificar a natureza das dificuldades que os professores sentem para promover a educação inclusiva e relacioná-las com o tipo de atitudes que manifestam, com o seu percurso e necessidades de formação, bem como aos dois últimos objectivos específicos -382- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] (inventariar as necessidades de formação dos professores nesta área e elaborar propostas de conteúdos curriculares a serem incluídos nos programas de formação inicial e contínua de professores). Foi encontrada uma confirmação evidente entre todos os dados recolhidos. Os resultados anteriormente discutidos e obtidos através da escala de atitudes, em algumas situações confirmam as hipóteses formuladas, enquanto que noutras situações as rejeitam, parecendo-nos assim concluir que a realidade pode ser diferente das nossas suposições. Para além das condições que lhe foram indicadas para a atribuição de prioridades, no percurso da escola inclusiva os professores do nosso estudo, inventariam outras tais como: a importância atribuída à família, nomeadamente a participação activa dos pais na construção do processo educativo dos seus educandos, bem como a postura de toda a comunidade educativa, Palmer et al., (2001), referem a importância da participação dos pais no processo de inclusão e segundo os autores para que este tenha o sucesso, os pais necessitam de ter confiança nas competências dos professores para incluir os seus filhos no sistema regular de ensino. Gilmore et al., (2003), num estudo sobre o ponto de vista das comunidades em relação à inclusão conclui da importância da participação activa dos pais no processo de inclusão dos seus filhos e dos benefícios positivos que esta participação traz para o êxito da mesma (Elkins, et al., 2003) -383- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Nesta sequência, os professores do nosso estudo referem também como importante os critérios de selecção e formação das turmas, assim como a atitude dos órgãos máximos da Escola e respectivos Ministérios. Assim, em síntese e da análise efectuada às produções escritas dos inquiridos podemos concluir que estes atribuem as maiores dificuldades no processo de inclusão às atitudes dos professores, tal como Van Laarhoven et al., (2007); às famílias, assim como (Gilmore et al., 2003; Elkins, et al., 2003); à articulação entre agentes educativos, de acordo com McClean, (2007; Powell, 2006; Roach e Salisbury, 2006), e à falta de formação (Ainscow 2003; Gafoor & Asaraf, 2009). De uma maneira geral os professores participantes dão como explicação para as dificuldades encontradas para a implementação de uma escola inclusiva, dois tipos de factores que assentam em causas de natureza contextual e pessoal. Do ponto de vista contextual, os professores participantes no nosso estudo de acordo com os resultados indicam: A fraca participação das famílias e as suas atitudes; As atitudes da comunidade educativa; A organização das turmas. Sobre este ponto de vista temos, Rodríguez Tejada (2006), que subscreve também esta hipótese quando refere que a constituição das turmas, nomeadamente o número de alunos por turma influencia significativamente a atitude dos professores face à inclusão, atribuições destacadas também por Mandarino, (2004). -384- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Neste âmbito, Rodrigues (2003), refere que é necessário que seja dada uma especial atenção ao processo da educação inclusiva na perspectiva do trabalho a desenvolver com as famílias e a comunidade. Avramidis & Norwich (2002), numa revisão bibliográfica produzida no âmbito da Escola para todos, constatou que não havia, nos últimos 20 anos, precedentes no interesse revelado em estudos relacionados com as atitudes dos professores face à integração e inclusão e identificou também alguns factores determinantes. Segundo o autor, a cultura de escola e as crenças dos professores têm forte influência na atitude dos mesmos, no que respeita ao processo de inclusão e à prática pedagógica. Os professores que aceitam a responsabilidade de ensinar uma significativa diversidade e se sentem confiantes nas suas capacidades, podem implementar com mais sucesso programas inclusivos. Também Bunch (2008), assume como pressupostos alguns factores de carácter pessoal que ajudam a contribuir para uma efectiva inclusão dos quais destacamos: professores empenhados em resolver os problemas; professores empenhados em colaborar uns com os outros (Mulholland,2011); pais determinados em ajudar a escola e directores empenhados em criar ambientes escolares de aprendizagem para favorecerem todos os alunos. Para os inquiridos as maiores dificuldades para o processo de inclusão são do ponto de vista pessoal as atitudes; a falta de formação; a gestão do tempo; cooperação em trabalho de equipa; as dificuldades de adaptação de materiais. Também Hwang e Evans (2011), encontra os mesmos resultados no seu recente estudo. -385- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Tendo em conta estes factores, também Camisão (2005), chegou à conclusão no seu estudo que os professores atribuem as maiores dificuldades para a promoção de uma escola inclusiva a questões ligadas a si próprios. Outros porém referem que o mais importante de tudo prende-se com a própria vontade de mudar a escola (Marchesi, 2001; Morgado, 2003a, 2004). Relativamente à gestão do tempo, professores do ensino regular e professores da educação especial apresentam este factor como sendo uma grande dificuldade sentida, os primeiros sentem dificuldade em gerir o tempo das aulas, outros e neste caso os da educação especial, necessitariam de mais tempo para apoiarem os seus colegas. Questões idênticas foram encontradas por Parker (2009), e vai mais longe quando subscreve que os professores afirmam não entender quais são as responsabilidades que são atribuídas a uns e a outros e qual a colaboração certa que deve existir entre todos. De todos os inquiridos que afirmaram não ter formação específica para trabalhar com alunos com necessidades educativas especiais atribuem o problema de inclusão à causa da formação dos professores. Boer et al (2011) numa revisão de 26 estudos sobre a temática concluíram que em todos eles, os professores não se reconhecem competentes para trabalhar com alunos com NEE. Assim, os professores do ensino regular parecem ter necessidade de conhecer mais sobre os alunos para adaptar o seu método de trabalho e de ensino e assim poderem definir novas estratégias para atender os alunos com NEE (Marchesi, 2001; Cortesão, 2004; González, 2003; Morgado, 2004; Rodríguez Tejada, 2006). -386- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Esta atribuição está suportada pelas necessidades identificadas pelos professores em relação ao tipo de formação de que necessitam. Estes mencionam que sentem necessidades de saber mais sobre “tipologias de deficiência”, “metodologias de trabalho”, “formação sobre metodologias de trabalho”, “diferenciação pedagógica”, “legislação sobre o tema da educação especial”, “bem como estágios em escolas com alunos com NEE.” Temáticas que alguns autores também referem importantes na formação dos professores (Ainscow 2003; Gafoor & Asaraf, 2009; Doulkeridou et al, 2011). Para trabalhar com a qualidade de formação do professor é fundamental identificar um corpo de competências para a acção educativa de modo a ser criada uma consolidação da profissionalidade docente (Cardoso, 2004). Da pesquisa efectuada verificamos que estudos no âmbito da formação de professores têm crescido de forma quantitativa e qualitativa em vários países, talvez pela necessidade de conhecer mais e melhor a maneira como se desenvolve o processo de aprender a ensinar tenho por base a diferença. Assim, pouco a pouco foram aparecendo importantes pesquisas sobre os professores principiantes e os professores em exercício. Contudo, a temática “formação de professores” continua em evidência, pois necessitamos de analisar os processos de inovação e mudança, as possibilidades de intervenções que ao nível organizacional, quer ao nível curriculares e didáctico, fazendo que, cada vez mais, a pesquisa seja percebida como fundamental nesta área. -387- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] “….é urgente levantar o que vem sendo feito e que se identifica com o perfil de professores a fim de aprender com experiências bem-sucedidas e, ao mesmo tempo, rever ou reinventar as agências formadoras existentes que quiserem e puderem dar respostas eficazes ao desafio de preparar esses professores” (Mello, 2004, p. 72) . Pelo que acabamos de referir e pelos resultados obtidos no nosso estudo também Flores (2005, p.21), nos remete para fundamentos idênticos quando sublinha que “ao iniciar a actividade docente, de forma autónoma, os professores não se sentem preparados para enfrentar as realidades da escola e da sala de aula (que atribuem à discrepância teoria/prática) e evocam a sua experiência enquanto alunos para resolver as dificuldades diárias com que se vão confrontando”. Nesta sequência Sanches (2005), reforça a importância da formação quando subscreve que a mesma pode ajudar a contribuir para um perfil profissional que apoie o sucesso de todos os alunos dentro de uma sala de aula. Ao analisarmos as questões referentes à formação dos professores, foi visível a confirmação dos dados obtidos e anteriormente discutidos. Relativamente aos resultados encontrados nos dois grupos de discussão (Norte e Sul), estes foram semelhantes nos discursos produzidos, sendo que a diferença visivelmente encontrada foi no grupo de professores da região Norte, pelo facto de demonstrarem ser menos inclusivos comparativamente ao grupo do Sul, quando afirmam que as crianças com problemas estando integradas em aulas regulares prejudicam os outros alunos. Consideram também que a obrigatoriedade legal para integrar estes alunos é um problema para o funcionamento das salas de aula. -388- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Em ambos os grupos, também se confirmam as categorias encontradas na recolha de dados feita através da análise documental, efectuada às produções escritas dos professores, também chamadas “evidências” e que passam também por factores de natureza pessoal e contextual. No que se refere ao factor contextual, salientam-se os problemas de espaço nas escolas para permanecerem a trabalhar e a obrigatoriedade do cumprimento legal. Ao nível de carácter pessoal, para além das categorias anteriormente referidas, podemos acrescentar a convicção dos professores de não saberem gerir conteúdos programáticos diferentes em turmas heterógeneas, bem como a falta de formação que não lhes permite por exemplo, saber construir ou adaptar materiais específicos diferentes. Neste âmbito são vários os autores que nos referem que embora existam mais variáveis a influenciar as atitudes positivas dos professores, a mais evidente é a formação na área das NEE (Avramidis & Kalyva, 2007; Loreman, et al. 2007). Uns autores, afirmam existir uma condição forte entre a quantidade de formação na área e as atitudes positivas face à inclusão (Dev, 2002; Ellins & Porter, 2005). Outros porém, referem existir uma correlação entre o tipo de formação (módulos) que é passada aos professores e as suas competências para trabalhar com crianças com NEE, para a promoção da inclusão (Avramidis et al., 2000; Silva, 2001; 2004; 2007; Hastings & Oakford, 2003; Rodrigues, 2006). -389- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo VIII- Análise e Discussão dos Resultados] Ainda nesta sequência, temos estudos que nos reenviam para a importância da qualidade da formação, isto é, quanto melhor for estruturada a formação, mais esta influência o atendimento que os professores fazem aos alunos com NEE (Lambe & Bones, 2006). Podemos assim concluir que todos os inquiridos que não têm formação específica para trabalhar com alunos com NEE atribuem o problema da inclusão a esta causa: “Formação de Professores”. Muitos autores, focam a necessidade sentida pelos professores em conhecer mais sobre as problemáticas dos alunos, de modo a poderem adaptar o seu método de trabalho e ensino e deste modo poderem definir novas estratégias para um atendimento pedagógico mais eficaz (Marchesi, 2001;Sanches, 2001; Cortesão 2004; González, 2003; Morgado, 2004; Rodríguez Tejada, 2006). O que acabamos de referir está também suportado nas necessidades identificadas pelos inquiridos neste estudo após efectuada a triangulação dos dados. -390- CAPÍTULO IX. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES 1. Conclusões Com o presente estudo pretendeu-se investigar a relação existente entre a formação e as atitudes dos professores do ensino básic,o face à inclusão dos alunos com necessidades educativas especiais em sala de aula, considerando-se para tal as abordagens teóricas que a este nível, têm suscitado mais reflexão e debate. A escolha desta temática foi sustentada no decurso dos resultados obtidos num estudo por nós efectuado anteriormente os quais demonstravam a existência de uma relação entre a formação dos professores e as suas atitudes face à inclusão. Da reflexão sobre esses resultados e de modo a aprofundar os conhecimentos sobre os factores que contribuem para a promoção de uma escola inclusiva fomos conduzidos ao levantamento das seguintes questões de investigação: Quais as atitudes dos professores face à inclusão? Qual a natureza das dificuldades que os professores dizem sentir na sua prática pedagógica para se tornarem promotores da educação inclusiva? Os professores atribuem a natureza das dificuldades sentidas mais a factores externos do que a si próprios? De que forma a formação estará relacionada com as atitudes dos professores? Quais os contéudos curriculares que os professores consideram que A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo IX- Conclusões e recomendações] deveriam ter tido nas escolas de formação inicial para que o atendimento às crianças com NEE nas salas de aula fosse mais facilitado? Quais as necessidades de formação que os professores sentem durante o seu percurso profissional? Tendo por base o que acabamos de referir foram delineados os objectivos da investigação e que visam em primeiro lugar, conhecer as atitudes de professores do ensino básico, face à Inclusão de alunos com necessidades educativas especiais (NEE) na sala de aula e em segundo lugar, verificar a natureza das dificuldades que os professores sentem para promover a educação inclusiva e relacioná-las com o tipo de atitudes que manifestam, com o seu percurso e necessidades de formação. A metodologia de investigação adoptada foi de natureza descritiva e interpretativa de modo a permitir a facilitação da compreensão do objecto de estudo. Foi utilizada também a triangulação múltipla: metodológica ao nível das técnicas e dos instrumentos da recolha de dados. Os dados obtidos foram recolhidos a partir de um questionário, do qual fazia parte uma escala de atitudes e uma segunda parte com questões abertas. De uma análise documental feita a partir de textos produzidos pelos professores; e por fim de uma análise aos resultados de dois grupos de discussão em duas zonas distintas de Portugal (Norte e Sul). Da aplicação dos instrumentos anteriormente referidos foi-nos permitido chegar às seguintes conclusões, em relação ao primeiro objectivo: -392- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo IX- Conclusões e recomendações] Verifica-se que as atitudes inclusivas são hoje do ponto de vista filosófico uma realidade aceite pela maior parte dos docentes que defendem até que a heterogeneidade de uma turma proporciona situações mais ricas de aprendizagem. Os professores consideram que os aspectos mais relevantes para o processo de inclusão são: as atitudes, dos professores, seguida da formação específica para trabalhar com alunos com NEE, bem como as metodologias de ensino e a colaboração entre professores. No que se refere às variáveis: idade, tempo de serviço e nível de ensino, estas, não influenciam significativamente as atitudes face à inclusão, embora se verifiquem que nos valores médios da escala exista uma tendência de aumento com o aumento da idade, mas as diferenças observadas não são estatisticamente significativas, o mesmo acontecendo na variável tempo de serviço. No entanto, a idade influencia significativamente a importância de duas das condições que os professores consideram fundamentais para o processo de inclusão, assim a relevância da condição atitudes dos professores aumenta com o aumento da idade e a relevância da condição da formação específica para trabalhar com alunos com NEE é superior para os mais novos e com menos tempo de serviço. Relativamente à variável nível de ensino, verifica-se que os professores de educação especial apresentam atitudes mais positivas face à inclusão do que os restantes professores, embora os professores do primeiro ciclo apresentem também atitudes mais positivas que os professores do 2º e 3º ciclos. No que se refere a estes três grupos de professores, 1º 2º e 3º ciclos, as diferenças observadas não são estatisticamente significativas pelo que não se valida esta hipótese. -393- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo IX- Conclusões e recomendações] Neste ponto é reforçada a não validação desta hipótese, quando se verifica que o nível de ensino não influência a relevância das condições para que seja possível um processo de inclusão. Quanto às variáveis habilitações literárias e profissionais, os resultados não foram validados, pois os professores com nível de formação académica mais elevado não manifestam atitudes mais inclusivas. Verifica-se no entanto que o grau académico de licenciado, influência significativamente a relevância dada à condição específica para trabalhar com meninos com NEEs. Sobre a variável tipo de formação e no que se refere à formação inicial, concluímos que os professores que tiveram na sua formação inicial disciplinas relacionadas com alunos com NEE, não desenvolveram atitudes mais positivas, pelo que não se valida esta hipótese. Verifica-se também que esta variável não influência a relevância dada a nenhuma das condições Sobre as variáveis formação contínua e especializada, os dados demonstram que as atitudes positivas face à inclusão são superiores para os professores que tiveram formação contínua durante o seu percurso profissional ou formação especializada, ficando assim validadas estas hipóteses. Concluímos também que os professores que nunca fizeram formação contínua nesta área dão mais relevância à condição formação específica comparativamente com os professores que fizeram formação. -394- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo IX- Conclusões e recomendações] No entanto a formação especializada no âmbito das NEE influência significativamente a relevância dada à condição atitudes dos professores face á promoção da inclusão. A variável, tipo de função que o professor exerce na escola, influencia as atitudes positivas face à inclusão uma vez que os dados revelam que o professor que exerce funções de educação especial tem atitudes mais positivas do que os professores de turma ou com funções de gestão, validando-se esta hipótese. Constatou-se também que o tipo de função influencia significativamente a importância de duas condições, assim, os professores de educação especial consideram as atitudes como a condição mais relevante enquanto os professores com outras funções atribuem maior relevância à condição de existência de técnicos especializados nas escolas. Confrontados os professores com a possibilidade de identificarem outras condições relevantes para o processo de inclusão, para além das que lhes foram apresentadas reforçaram a ideia de que as atitudes e a formação dos professores eram condições essenciais para o processo de inclusão, tendo no entanto acrescentado outras por ordem decrescente de importância das quais salientamos: atitudes dos pais; colaboração entre profissionais; liderança na escola e dinâmicas da comunidade educativa. Relativamente ao segundo objectivo da investigação enunciamos as seguintes conclusões: Foram encontradas seis categorias de dificuldades sinalizadas pelos professores que passamos a descrever: atitudes dos professores (muitos professores referenciam como -395- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo IX- Conclusões e recomendações] obstáculo à inclusão a atitude pouco receptiva de alguns dos seus colegas na prática de ensino diária; atitudes das famílias (salienta-se a a informação dada quanto à pouca participação dos pais no processo educativo dos seus filhos); articulação entre agentes educativos (os professores evidenciam a falta de articulação entre os agentes educativos o que impede uma melhor definição de estratégias para a inclusão de alunos com NEE no ensino regular); postura da comunidade educativa (os professores sublinham que a atitude menos receptiva da comunidade educativa é um dos entraves ao sucesso da inclusão); falta de recursos humanos e materiais (os professores acentuam num elevado número de vezes como condicionantes externos ao processo de inclusão, tanto a falta de recursos humanos como a falta de materiais pedagógicos); falta de formação (os professores revelam bastantes dificuldades na concepção do seu trabalho para o atendimento a alunos com NEE, acentuando dificuldades quer do ponto de vista relacional quer a questões que vão do planeamento de aulas à concepção de actividades , adaptações do currículo e até à falta de competências para gerir de melhor forma o tempo afim de possibilitarem um atendimento pedagógico personalizado. No âmbito das carências mencionadas pelos professores relativamente à promoção da escola inclusiva de modo a sentirem-se mais eficazes no atendimento à heterogeneidade de uma sala de aula foram referidas com mais frequência as necessidades de formação. Para a formação inicial referem como imprescindível módulos onde constem conteúdos relacionados com legislação relacionada com a temática; abordagem aos diferentes tipos de deficiência; noções de avaliação; metodologias específicas de intervenção educativa e diferenciação pedagógica; aprendizagem cooperativa e gestão de sala de aula; organização curricular; número de alunos por turma; dificuldades dos professores em trabalhar em equipa. De salientar -396- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo IX- Conclusões e recomendações] que todos os professores referem ser imprescindível na sua formação inicial existir estágio em escolas onde existam crianças com NEE incluídas em sala de aula. A auto-avaliação negativa que os professores fazem da sua formação inicial levou a que muitos apostassem em formação contínua ou especializada, pois manifestaram com frequência as grandes dificuldades que sentiram quando se confrontaram no seu campo profissional com crianças com NEE e todos referem a pertinência de formação em serviço, evidenciando o facto de neste tipo de formação continuar a existir o mesmo erro, isto é, as abordagens serem especificamente de carácter teórico. Pelo anteriormente referido, sublinha-se a relevância dada ao processo formativo com componente prática, onde existam espaços de reflexão sobre a mesma, por forma a serem equacionadas mudanças que confrontadas com as teorias venham a permitir alternativas à integração de estratégias diferenciadas de modo a poderem responder aos processos mais complexos de diferenciação pedagógica para atendimento a alunos com NEE. Ao concluir este trabalho, e depois de uma reflexão aprofundada sobre todo o percurso desta investigação argumentamos sobre a importância que o mesmo representou para o entendimento das questões que se prendem com as atitudes dos professores face à inclusão de alunos com NEE, tema cada vez mais actual numa escola que se pretende fundamentalmente inclusiva, daí a importância fulcral enquanto investigadora e o ganho pessoal obtido em diferentes âmbitos dos quais salientamos: a importância do conhecimento obtido nos fundamentos teóricos estudados e que nos orientou acerca da problemática em estudo; a natureza do estudo que implicou uma abrangência de contactos directos e indirectos com professores de diferentes regiões com distintos -397- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo IX- Conclusões e recomendações] contextos e diferentes olhares pedagógicos e que nos enriqueceram através da partilha de saberes e nos orientou no aprofundamento da nossa pesquisa canalizando-a para o principal problema que se prende com uma concepção ecológica de formação profissional. 2. Recomendações para a formação de professores. Propostas Tendo em conta a natureza desta investigação, e todo o percurso subjacente à mesma, para além dos resultados e conclusões obtidas, pretendemos definir orientações de utilidade futura, apontando algumas recomendações quer para a formação de professores, quer para a investigação. Discutir os pressupostos da formação do professor é discutir como assegurar um domínio adequado da ciência, da técnica e da arte da profissão docente, ou seja, é tratar da competência profissional. Nos processos de reformas educativas a formação é, colocada como elemento central e requer a mobilização dos saberes teóricos e práticos capazes de proporcionar o desenvolvimento da sua própria actividade e, a partir dela, constituir os saberes, num processo contínuo. A formação de professores pressupõe, a prática educativa e o ensinar como objecto de análise, permitindo aos professores compreender as relações entre a sociedade e os conhecimentos produzidos, e que os ajude a desenvolver a atitude de pesquisar como forma de aprender tendo em conta o indivíduo, o colectivo, a instituição, a comunidade, as bases implícitas subjacentes, as decisões e as atitudes do professor em contexto inclusivo, a escola, a sala de aula, e toda a comunidade educativa. -398- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo IX- Conclusões e recomendações] Pretende-se assim, uma formação sem descontinuidades que integre a formação inicial dos professores, a indução e o aperfeiçoamento profissional contínuo ao longo da carreira, que tenha a prática educativa e o ensinar como objecto de análise, que os ajude a desenvolver a atitude de pesquisar como forma de aprender incluindo oportunidades de aprendizagem nos diferentes domínios: formal, (titulado pelo Ministério da Educação) informal (no decurso de encontros) e não formal” (não obedece a um plano institucional). Relativamente à formação inicial de professores consideramos pertinente: a) As instituições de ensino superior têm um papel relevante a desempenhar no desenvolvimento de parcerias efectivas com as escolas e com outras partes interessadas, a fim de assegurar que os cursos de formação de professores se baseiam em factos consistentes e boas práticas pedagógicas; b) Estimular a auto - reflexão de modo a valorizar as concepções e ideias prévias dos futuros professores acerca da profissão e da escola, e acerca do que é o ensino e a aprendizagem tendo em conta a diversidade; c) Aprendizagem em contexto de desempenho profissional. A ênfase colocada na iniciação à prática profissional, e em particular na prática de ensino supervisionada por professores qualificados, por forma a exprimir o reconhecimento de que esta constitui o momento privilegiado, e insubstituível, para adquirir a competência do agir profissional. d) A iniciação à prática profissional deve ser assumida progressivamente, desde o início da formação inicial, não como uma componente desligada das outras, mas, sim, -399- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo IX- Conclusões e recomendações] como momento para mobilizar e integrar um conjunto diversificado de saberes na resolução de situações concretas na sala de aula, na escola e nas relações desta com a comunidade, tendo por base a ecola inclusiva; e) Para além de se organizarem momentos de intervenção em contexto prático na sala de aula, de intensidade, duração e responsabilidade progressiva, ao longo do curso, deve ser obrigatório a componente de estágio em salas de aula inclusivas por forma a sabermos lidar com alunos com NEE; f) A selecção de professores tutores e supervisores deve ser feita tendo por base a experiência dos mesmos no âmbito de experiências práticas em lidar com alunos com NEE por forma a desenvolver nos futuros professores competências práticas de trabalho cooperativo de reflexão continuada no âmbito de uma escola inclusiva; g) Adequação dos currículos dos cursos de formação quanto aos perfis de desempenho profissional, quanto aos currículos da educação básica e do ensino secundário, contextualizados nas investigações recentes no âmbito da escola inclusiva. Relativamente à formação contínua de professores consideramos pertinente: Relativamente a esta componente parece-nos importante reforçar a ideia defendida por vários autores (Briñol & Petty, 2005; Forlin et al., 2007; Loreman et al., 2005; Sharma et al., 2006), quando referem que as mudanças de atitudes se têm revelado ser processos lentos e que a política de formação de professores ao longo da sua carreira – inicial e em serviço (contínua e especializada), deverá desenvolver-se tendo em conta as lições da experiência e, sobretudo, o reconhecimento da crescente complexidade do -400- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo IX- Conclusões e recomendações] desempenho docente onde estão inseridas prioridades políticas de superação dos défices de qualificação, daí a importância de se desenvolverem mais projectos de investigação, nomeadamente aqueles que assumem opções metodológicas relacionadas com processos de intervenção no terreno, como a investigação-acção, ou que estudam em detalhe o desenvolvimento de práticas mais inclusivas, como os estudos de caso, pois podem constituir-se como elementos de suporte empírico e teórico por forma a diminuir o nível das preocupações dos professores e outros agentes educativos face à educação inclusiva permitindo, assim, a construção de cenários educativos (mais) inclusivos (César, 2003, 2009; César & Carvalho, 2001; César & Santos, 2006). a) No âmbito dos casos analisados nesta investigação salienta-se a importância para a formação contínua e formação especializada. O sentimento de inclusão fez sobressair na nossa análise a importância de haver espaços de formação de modo a ampliar e a renovar os conhecimentos, na busca do aperfeiçoamento profissional decorrente das exigências e desafios do nosso trabalho de profissionais da educação entendendo-se a formação no seu todo, isto é, como mediação, prática social e humana, fenómeno histórico, que busca a humanização do individuo e abre a possibilidade de maior compreensão de nós próprios e do contexto histórico em que estamos inseridos. b) Qualquer processo de formação contínua e especializada (graduada ou pós- graduada) deve considerar as condições de vida de trabalho e de tempo livre que o professor precisa ter para o acesso ao enriquecimento de experiências e bens culturais, tendo por base a formação gratuita uma vez que a qualificação exigida pelo ensino é feita em condições precárias e à custa do próprio professor. -401- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo IX- Conclusões e recomendações] c) A formação contínua precisa realizar-se nas condições e possibilidades de acesso aos espaços formais de conhecimento, nas diferentes modalidades e níveis de ensino, para que o professor, além de ascender profissionalmente, tenha uma fundamentação teórica necessária à reflexão e à análise da realidade, indispensáveis à construção de uma escola de qualidade, o que para tal é importante estabelecer a relação individuo / professor / instituição escolar / instituições de formação acreditada., uma vez que a produção de atitudes educativas eficazes só surge de uma reflexão da experiência pessoal partilhado entre os todos. d) A formação deverá ter em conta a natureza do trabalho docente requerendo uma permanente revisão das suas práticas. O professor precisa ser sujeito da construção dos seus conhecimentos e para isso, deve saber analisar o próprio trabalho realizado, de modo a que possa actuar incessantemente na direcção de uma educação de qualidade. e) Concebemos a formação contínua em serviço como aquela que ocorre na própria escola, tendo como elemento mediador a própria dinâmica do currículo escolar, isto é, projecto pedagógico em acção, garantindo um processo formativo que promova a tomada de consciência na mediação entre o trabalho educativo efectivamente possível e socialmente desejável,para a construção de uma escola realmente democrática, idealizada no projecto político pedagógico escolar, carta de intenções e compromissos entre a escola e a comunidade, f) A componente de formação contínua em serviço dos professores deve conter planos autênticos de formação, reconhecendo os saberes que produzem no exercício da profissão docente, possíveis contribuições, diferentes necessidades formativas, e -402- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo IX- Conclusões e recomendações] tendo em conta as reais condições de trabalho e os desejos educacionais, de modo a que esta formação ocorra em consonância com os objectivos da relação ensinoaprendizagem, para que a concepção de educação e as metas a serem alcançadas pelas instituições escolares estejam sustentadas na verdadeira escola inclusiva. g) A formação contínua de professores não se dá só a partir de saberes profissionais, no entanto estes constituem-se assim, no ponto de partida para sua formação contínua e no elemento mais substantivo de sua identidade, norteando a sua actuação, de modo a fundamentar as “certezas” tão necessárias ao professor para desenvolverem práticas diversificadas para respostas pedagógicas a alunos com NEE. h) O professor lida directamente com o conhecimento, portanto deve tomar consciência da importância da sua actualização permanente para redimensionar sua prática pedagógica, Neste sentido a formação contínua tem o papel de contribuir significativamente no processo de construção do saber, podendo rever e repensar sua acção docente, contribuindo para seu fazer pedagógico reflexivo. Para que o conhecimento adquirido e construído na formação se efective nas práticas é obrigatoriamente necessário que sejam concretizados numa prática reflexiva e não repetitiva, que seja capaz de identificar e solucionar problemas e que seja colectiva e colaborativa entre os profissionais da própria escola, para que esta venha no futuro a adquirir o estatuto de escola inclusiva i) A formação contínua deve estar articulada com o desempenho profissional dos professores, tomando as escolas como lugares de referência e é competência da formação contínua, o comprometimento com as questões de ensino e da educação. E quando se trabalha a formação pedagógica do professor é indispensável pensar a -403- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo IX- Conclusões e recomendações] formação: nos seus objectivos, nos seus meios, seus fins, o seu rácio de influência, e o seu envolvimento com toda a comunidade educativa, e por fim, o conhecimento das políticas educativas de cada país, pois só se adquire credibilidade se os programas de formação se estruturarem em tomo de problemas e de projectos de acção e não em tomo de conteúdos académicos. j) Pelos resultados obtidos nesta investigação podemos enfatizar que a perspectiva de formação continua, deverá ser construída a partir do levantamento de necessidades expostas pelos próprios professores, para que assim possam ser constituídos programas de formação que vão ao encontro dos interesses e necessidades dos próprios professores. Dentro desta perspectiva, a concepção mais adequada é a finalidade de (re)orientação do processo educativo, tendo como características o carácter intrínseco ao professor. Esse paradigma vai ao encontro da discussão já feita anteriormente sobre formação contínua, pois tem como pressuposto a formação como crescimento, e não como uma formação que preenche os espaços deixados pela formação inicial. k) A formação contínua deve ser um instrumento regulador muito importante na prática profissional dos docentes, daí não se continuar a caír no erro de criar acções de formação só para os professores obterem créditos, esquecendo os aspectos que devem ser tidos conta, como o conteúdo, a aplicabilidade e a relação com a prática, onde estarão inseridos os factores pedagógico, social e relacional. l) Diante desta concepção podemos inferir que as necessidades de formação não são fixas, pois dependem dos contextos e dos indivíduos, ou seja, as necessidades são -404- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo IX- Conclusões e recomendações] mutáveis, e uma vez satisfeitas darão origem a outras necessidades, tornando esta temática de grande responsabilidade e importância para a evolução da escola inclusiva. Ao concluir esta investigação abraçamos os fundamentos revistos na literatura quando põem em evidência a expansão na prática da formação profissional tendo por base a importância das transformações actuais na sociedade daí a perspectiva ecológica no âmbito da formação, partindo esta sempre do levantamento de necessidades dos próprios professores. Neste sentido, é necessário que as pesquisas avancem em relação a esta área, principalmente no nosso país, onde é escassa, pois as pesquisas são de autores internacionais, partindo também de contextos internacionais, deste modo a importância deste estudo para a investigação em Portugal. Tendo como perspectiva que a formação deve partir das próprias necessidades dos professores, precisamos também de percorrer todo um caminho pelo conceito de necessidades, e em particular, sobre o conceito de necessidades contínua, não podendo deixar que a formação de professores seja realizada de qualquer maneira, mas sim que correspondam às dificuldades que estes profissionais estão encontrando no desenvolvimento de seu trabalho. Salientamos também a natureza do estudo desenvolvido, que implicou um contacto profundo com um grupo de professores de vários níveis de ensino, professores de contextos sociais e culturais diversificados proporcionando aprendizagens quer pessoais quer profissionais. Depois, apontamos a riqueza do contributo que todos os participantes deram na realização deste estudo, fornecendo dados importantes para reflexão e análise acerca das problemáticas que de forma tão directa nos ligaram à prática da docência e como esta deverá ser desenvolvida no âmbito dos olhares pedagógicos para preparar a escola do séc XXI, onde todos cabem sem excepção. -405- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo IX- Conclusões e recomendações] A maior surpresa desta pesquisa aparece justamente com as respostas sobre a importância dos professores reconhecerem a necessidade da mudança de práticas e que estas passam pela importância da cooperação do trinómio escola/família/e formação como um reforço para o sucesso, actualização e inovação pedagógica 3. Linhas abertas de investigação Como recomendações para a investigação entendemos ser pertinente partir das abordagens estudadas e dos resultados obtidos e que nos reenviam para processos de mudança decorrentes de factores contextuais e pessoais inerentes às atitudes inclusivas dos professores. Nesta perspectiva podemos considerar que as atitudes inclusivas incidem em quatro dimensões: Em primeiro lugar a) a questão dos valores e dos conceitos que estão relacionados com factores inerentes à mudança pessoal identificando-se como principais perspectivas a mudança cognitiva ou comportamental do indivíduo ou de um pequeno grupo. Sugeríamos uma abordagem investigativa às mudanças de atitude da comunidade e o seu reflexo na escola inclusiva e inversamente verificar qual a influencia ambiental externa e mudança induzida na e pela escola inclusiva. Em segundo lugar, b) a perspectiva organizacional da mudança que articula aspectos estruturais culturais e políticos da própria organização escolar, onde estão inseridos a liderança, e o ambiente social. -406- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo IX- Conclusões e recomendações] Em terceiro lugar c) a cooperação que se prende com a forma como a comunidade educativa está disponível para apoiar a inclusão de todos os seus membros. Em quarto lugar d) a diferenciação pedagógica como processo interactivo e multidimensional que exige mudanças de metodologias e práticas. Nesta sequência, e tendo por base as considerações anteriormente mencionadas os professores necessitam de um processo formativo que se comprometa com a prática reflectida. Por fim parece-nos fundamental aprofundar a investigação no sentido de compreender não só o modo como o conhecimento é elaborado, e reflectido mas também como pode ser equacionado no âmbito de alternativas pedagógicas. No âmbito de Investigação futura pensamos ser importante que os projectos de formação de professores sejam supervisionados por professores especializados e por sua vez que seja estudado de que forma um programa de formação de professores em exercício pode modificar as atitudes inclusivas. Deste modo sugerimos: Formação com metodologias e práticas com processos de dinâmicas de mudança e contextos nos quais a mesma ocorre, num quadro de um projecto de intervenção/formação. Formação em que os professores desenvolvam projectos de investigação- acção cuja temporalidade poderá ser de quatro, três, dois, ou um ano, -407- A FORMAÇÃO E AS ATITUDDES DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO, FACE À INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA SALA DE AULA [Capítulo IX- Conclusões e recomendações] Formação centrada na análise de processos de mudança com aprofundamento de questões ligadas à aprendizagem onde se salienta os efeitos das culturas, lideranças e mudanças de práticas na perspectiva dos alunos. -408- Referências Bibliográficas Ainscow, M. (1991). Effective schools for all: an alternative approach to special needs in education. Em M. Ainscow (Ed.), Effective schools for all. London: David Fulton Publishers Ltd. Ainscow, M. (1993). Teacher education as a strategy for developing inclusive schools. Em R. Slee, (Ed.), Is there a desk with my name on it? The politics of integration. London: Falmer Press. Ainscow, M. (1995). 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Decreto nº 45:832 de 25 de Julho: regulamenta o curso destinado à preparação de professores e outros agentes de ensino de anormais, criado no Instituto de António Aurélio da Costa Ferreira, que passa a designar-se curso de especialização de professores de crianças inadaptadas. 1973 Presidência da Republica. Lei 5/73 de 25 de Julho: reforma Veiga Simão. 1976 Ministérios da Educação e Investigação Científica e dos Assuntos Sociais. Decreto lei nº 666/76 de 4 de Agosto: cria no Ministério da Educação e Investigação Científica o Secretariado do Ensino Especial. 1977 Ministérios da Educação e Investigação Científica. Decreto-lei nº 427-b 77 de 14 de Outubro, rectificado pela lei nº 61/78 de 28 de Julho: cria o ensino superior de curta 1979 Presidência do Conselho de Ministros e Ministério da Educação. Lei nº 538/79 de 31 de Dezembro: assegura um efectivo cumprimento da escolaridade obrigatória relativamente a todas as crianças portuguesas 1986 Assembleia da Republica. Lei nº 46/86 de 14 de Outubro, alterada pela lei nº 115/97, de 19 de Setembro e ainda pela lei 49/2005 de 30 de agosto de 2005: estabelece o quadro geral do sistema educativo. -466- Ministério da Educação e Cultura. Despacho normativo nº 18/86 de 5 de Março: regulamenta o curso de formação de professores de ensino especial ministrado no Instituto Aurélio da Costa Ferreira 1987 Ministério da Educação e Cultura. Decreto lei nº 3/87 de 3 de Janeiro: aprova a Lei Orgânica do Ministério da Educação e Cultura. 1989 Ministério da Educação. Decreto lei nº 344/89 de 11 de Outubro: estabelece o ordenamento jurídico da formação dos educadores de infância e dos professores dos ensinos básico e secundário. 1990 Ministério da educação. Decreto lei nº 35/1990 de 25 de Janeiro: define o regime de gratuitidade da escolaridade obrigatória 1991 Ministério da Educação. Decreto lei nº 319/91 de 23 de Agosto: regulamenta a integração dos alunos portadores de deficiência nas escolas regulares Ministério da Educação. Portaria nº 1072/91 de 23 de Outubro: O Instituto Politécnico de Lisboa, através da sua Escola Superior de Educação, passa a conferir diplomas de estudos superiores especializados em ensino especial, ao pessoal docente (educadores de infância, e professores do ensino básico e secundário. 1997 Ministério da Educação. Despacho Conjunto nº 105/97 de 1 de Julho: estabelece o regime aplicável à prestação de serviços de apoio educativo, de acordo com os princípios consagrados na Lei de Bases do Sistema Educativo. Ministério da Educação. Lei nº 115/97 de 19 de Setembro: altera a lei de bases do sistema educativo. Ministério da Educação. Decreto lei nº 95/97 de 23 de Abril: define o âmbito dos cursos de formação especializada relevantes para o desenvolvimento do sistema educativo e -467- estabelece os princípios gerais a que deve obedecer a respectiva estrutura e organização curricular, bem como os requisitos do seu funcionamento. 1999 Ministério da Educação. Decreto lei nº 194/99 de 7 de Junho: cria e regula o sistema de acreditação dos cursos de formação inicial de educadores de infância e de professores dos ensinos básico e secundário. Ministério da Educação. Despacho conjunto nº 198/99 de 3 de Março: estabelece os perfis de formação na formação especializada de professores. 2001 Ministério da Educação. Decreto lei Nº 6/2001 de 18 de Janeiro: estabelece os princípios orientadores da organização e da gestão curricular do ensino básico, bem como da avaliação das aprendizagens e do processo de desenvolvimento do currículo nacional. Ministério da Educação. Decreto lei Nº 7/2001 de 18 de Janeiro: aprova os currículos para o ensino básico. Ministério da Educação. Decreto lei nº 240/2001 de 30 de Agosto: aprova o perfil geral de desempenho profissional do educador de infância e dos professores dos ensinos básico e secundário. Ministério da Educação. Despacho Normativo 30/2001 de 19 de Julho: estabelece os princípios e procedimentos para a avaliação das aprendizagens no ensino básico, prevendo disposições específicas para os alunos com deficiência. 2005 Assembleia da Republica. Lei 49/2005: alteração à lei de bases do sistema educativo e do financiamento do ensino superior. 2006 Ministério da Educação. Decreto Lei 74/2006 de 24 de Março: aprova o regime jurídico dos graus e diplomas do ensino superior. -468- 2007 Ministério da Educação. Decreto lei 43/2007 de 22 de Fevereiro: aprova o regime jurídico da habilitação profissional para a docência na educação pré-escolar e nos ensinos básico e secundário. Ministério da Educação. Decreto Lei nº 15/2007 de 19 de Janeiro: altera o Estatuto da Carreira dos Educadores de Infância e dos Professores dos Ensinos Básico e Secundário. 2008 Ministério da Educação. Decreto lei nº 3/2008 de 7 de Janeiro: define os apoios especializados a prestar na educação pré-escolar e nos ensinos básico e secundário dos sectores público, particular e cooperativo. 2009 Assembleia da República. Resolução nº56/2009 de 30 de Julho: ratifica a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência Assembleia da República. Resolução nº57/2009 de 30 de Julho: ratifica o Protocolo Opcional à Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência Decretos do Presidente da República nº71/2009 de 30 de Julho: ratifica a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência Decretos do Presidente da República nº72/2009 de 30 de Julho: ratifica o Protocolo Opcional à Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência -469- ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1 Contextos que influenciam a formação de professores 25 25Figura 2 Paradigmas da formação de professores 29 Figura 3 Apresentação síntese de instrumentos e métodos utilizados 181 Figura 4 Meios, operações e saídas referentes à escala de atitudes AFI 234 Figura 5 Representação das dimensões avaliadas e das ideias principais obtidas 333 ÍNDICE DE IMAGENS Imagem 1 Aspecto do questionário utilizado no estudo 228 Imagem 2 Blog construído para apoio ao estudo 229 ÍNDICE DE GRÁFICOS Gráfico 1 Escala de actitudes frente a la inclusión según la formación continúa recibida Gráfico 2 XXX Escala de actitudes frente a la Inclusión según la formación especializada recibida Gráfico 3 XXXI Escala de actitudes frente a la inclusión según el tipo de función que el profesor ejerce en la escuela Gráfico 4 Condiciones para que sea posible la realización de un proceso efectivo de inclusión según el nivel de estudios Gráfico 5 XXXVI Condiciones para que sea posible la realización de un proceso efectivo de inclusión según la formación especializada Gráfico 7 XXXIV Condiciones para que sea posible la realización de un proceso efectivo de inclusión según la formación continúa Gráfico 6 XXXII XXXVIII Condiciones para que sea posible la realización de un proceso efectivo de inclusión según el tipo de profesión XXXIX Gráfico 8 Distribuição amostral por género 218 Gráfico 9 Distribuição amostral por idade 218 Gráfico 10 Distribuição amostral por tipo de professor 218 Gráfico 11 Distribuição amostral por grau académico 218 Gráfico 12 Distribuição amostral por anos de docência 219 -470- Gráfico 13 Distribuição amostral por nível de ensino 219 Gráfico 14 Disciplinas rna formação inicial 222 Gráfico 15 Acções de formação contínua 223 Gráico 16 223 Qualidade da informação recebida nas acções de formação Gráfico 17 Formação especializada em educação especial 224 Gráfico 18 Domínio da especialização 224 Gráfico 19 Localização da escola onde leccionam 225 Gráfico 20 Experiência de coordenação/direcção de escola/ agrupamento 225 Gráfico 21 Valores médios observados na escala de atitudes 250 Gráfico 22 Valores médios atribuídos à relevância das condições para o 252 processo de inclusão Gráfico 23 Escala de atitudes face à inclusão segundo a idade 254 Gráfico 24 Escala de atitudes face à inclusão segundo os anos de docência 256 Gráfico 25 Escala de atitudes face à inclusão segundo o nível de ensino 257 Gráfico 26 Escala de atitudes face à inclusão segundo o grau académico 259 Gráfico 27 Escala de atitudes face à inclusão segundo a formação inicial recebida 260 Gráfico 28 Escala de atitudes face à inclusão segundo a formação contínua recebida 261 Gráfico 29 Escala de atitudes face à inclusão segundo a formação especializada recebida 263 Gráfico 30 Escala de atitudes face à inclusão segundo o tipo de função que o professor exerce na escola 264 Gráfico 31 Atribuição de relevância às condições para que seja possível a realização de um efectivo processo de Inclusão segundo a idade 267 Gráfico 32 Atribuição de relevância às condições para que seja possível a realização de um efectivo processo de inclusão segundo o nível de ensino 274 Gráfico 33 Atribuição de relevância às condições para que seja possível a realização de um efectivo processo de inclusão segundo os anos de docência 280 Gráfico 34 Atribuição de relevância às condições para que seja possível a realização de um efectivo processo de inclusão segundo o grau 287 académico -471- Gráfico 35 Atribuição de relevância às condições para que seja possível a realização de um efectivo processo de inclusão segundo a formação inicial. 293 Gráfico 36 Atribuição de relevância às condições para que seja possível a realização de um efectivo processo de inclusão segundo a formação contínua 299 Gráfico 37 Atribuição de relevância às condições para que seja possível a realização de um efectivo processo de inclusão segundo a formação especializada 304 Gráfico 38 Atribuição de relevância às condições para que seja possível a realização de um efectivo processo de Inclusão segundo o tipo de professor 310 Gráfico 39 Outras condições para o processo de inclusão para além das inicialmente apresentadas 316 Gráfico 40 Dimensão: atitudes face á inclusão 334 Gráfico 41 Dimensão: formação e inclusão 334 Gráfico 42 Dimensão: obstáculos à inclusão (pessoais) 335 Gráfico 43 Dimensão: obstáculos à inclusão (contextuais) 336 -472- ÍNDICE DE QUADROS Quadro 1 Conceitos sobre formação de professores 18 Quadro 2 Modelos de formação de professores 30 Quadro 3 A formação dos professores em Portugal de 1900 a 1974 42 Quadro 4 Perfil do professor antes e depois de 25 de Abril de 1974 44 Quadro 5 A formação dos professores em Portugal de 1975 a 2009 45 Quadro 6 Modelos tradicionais (integrativos) e modelos da escola 109 inclusiva Quadro 7 Processo de funcionamento das escolas eficazes e de qualidade 11/8 Quadro 8 Etapas do desenvolvimento da carreira dos professores 119 Quadro 9 Resumo de definições de atitudes 145 Quadro 10 Modalidades de investigação, técnicas de recolha de dados e informação de investigação Quadro 11 192 Características fundamentais dos paradigmas quantitativo e qualitativo 194 Quadro 12 Definições de investigação qualitativa 202 Quadro 13 Tipos de estudos em investigação qualitativa 203 Quadro 14 Vantagens e desvantagens de focus group 208 Quadro 15 Professores em exercício em portugal em 2007/2008 217 Quadro 16 Escola/universidade de formação inicial 221 Quadro 17 Tipo de disciplinas relacionadas com NEE na formação inicial 222 Quadro 18 Constituição do grupo de discussão organizado no norte de Portugal Quadro 19 226 Constituição do grupo de discussão organizado no sul de Portugal 227 Quadro 20 Caracterização dos participantes na análise documental 227 Quadro 21 Correlação item com o total da escala. Estudo original (versão final) 236 Quadro 22 Elementos de análise de fiabilidade alfa de cronbach 238 Quadro 23 Grelha de categorias 245 Quadro 24 Estatística da escala de atitudes 250 Quadro 25 Dimensão, Participantes e Conteúdos Grupo Norte 330 -473- Quadro 26 Dimensão, Participantes e Conteúdos Grupo Norte 330 Quadro 27 Dimensão, Participantes e Conteúdos Grupo Norte 331 Quadro 28 Dimensões, Participantes e Conteúdos Grupo Sul 331 Quadro 29 Dimensão, Participantes e Conteúdos Grupo Sul 332 Quadro 30 Dimensão, Participantes e Conteúdos Grupo Sul 332 ÍNDICE DE TABELAS Tabla 1 Análisis de la fiabilidad del cuestionario para el estudio actual Tabla 2 Procedimiento de contraste de los datos a través del análisis post-hoc (Hipótesis 1.3) XXV XXXIII Tabela 3 Qualidade da formacão inicial recebida 222 Tabela 4 Formação contínua/nº horas 223 Tabela 5 Estatística de consistência interna da escala AFI, 1º estudo 237 Tabela 6 Estatística de consistência interna da escala AFI, estudo 239 actual Tabela 7 Hipótese 1.1. a) Procedimento de contraste dos dados para determinar a utilização de testes paramétricos ou não paramétricos Tabela 8 255 Hipótese 1.1. a) Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kruskal – Wallis Tabela 9 255 Hipótese 1.1. b). Procedimento de contraste dos dados para determinar a utilização de testes paramétricos ou não paramétricos Tabela 10 256 Hipótese 1.1. b) Procedimento de contraste dos dados através da ANOVA Tabela 11 257 Hipótese 1.1. c) Procedimento de contraste dos dados para determinar a utilização de testes paramétricos ou não 257 paramétricos Tabela 12 Hipótese 1.1.c) Procedimento de contraste dos dados através da prova H de Kruskal – Wallis Tabela 13 258 Hipótese 1.1.c) Procedimento de contraste dos dados através do Post-hoc 258 -474- Tabela 14 Hipótese 1.2.a) Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Tabela 15 Hipótese 1.2. a) Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kruskal – Wallis Tabela 16 263 Hipótese 1.2 d). Procedimento de contraste dos dados através do teste U de Mann – Whitney Tabela 22 262 Hipótese 1.2. d) Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Tabela 21 262 Hipótese 1.2. c) Procedimento de contraste dos dados através do teste U de Mann – Whitney Tabela 20 261 Hipótese 1.2. c) Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Tabela 19 261 Hipótese 1.2 b) Procedimento de contraste dos dados através do teste U de Mann – Whitney Tabela 18 260 Hipótese 1.2. b) Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Tabela 17 259 264 Hipótese 1.3. Procedimento de contraste dos dados para determinar a utilização de testes paramétricos ou não paramétricos Tabela 23 265 Hipótese 1.3. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kruskal – Wallis Tabela 24 Hipótese 1.3. Procedimento de contraste dos dados através do Post-hoc Tabela 25 265 265 Hipótese 2.1. e condição atitudes segundo a idade. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Tabela 26 268 Hipótese 2.1. e condição atitudes segundo a idade. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kruskal – Wallis Tabela 27 268 Hipótese 2.1. e condição atitudes segundo a idade. Procedimento de contraste dos dados através do do Post269 hoc -475- Tabela 28 Hipótese 2.1. e condição avaliação/acompanhamento segundo a idade. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Tabela 29 Hipótese 2.1. e condição 269 avaliação/acompanhamento segundo a idade. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kruskal – Wallis Tabela 30 269 Hipótese 2.1. e condição metodologias de ensino segundo a idade. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Tabela 31 270 Hipótese 2.1.e condição metodologias de ensino segundo a idade. Procedimento de contraste dos dados através do teste 270 H de Kruskal – Wallis Tabela 32 Hipótese 2.1. e condição formação específica segundo a idade. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Tabela 33 270 Hipótese 2.1. e condição formação específica segundo a idade. Procedimento de contraste dos dados através do teste 271 H de Kruskal – Wallis Tabela 34 Hipótese 2.1. e condição formação específica segundo a idade. Procedimento de contraste dos dados através do 271 Post-hoc Tabela 35 Hipótese 2.1. e condição materiais e recursos segundo a idade. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Tabela 36 271 Hipótese 2.1. e condição materiais e recursos segundo a idade Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kruskal – Wallis Tabela 37 272 Hipótese 2.1. e condição colaboração entre professores segundo a idade. Procedimento de contraste dos dados para determinar o uso de testes paramétricos ou não paramétricos Tabela 38 272 Hipótese 2.1. e condição colaboração entre professores segundo a idade. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kruskal – Wallis -476- 273 Tabela 39 Hipótese 2.1. e condição técnicos especializados segundo a idade. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Tabela 40 273 Hipótese 2.1. e condição técnicos especializados segundo a idade. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kruskal – Wallis Tabela 41 273 Hipótese 2.1. e condição atitudes dos professores segundo o nível de ensino. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Tabela 42 275 Hipótese 2.1. e condição atitudes dos professores segundo o nível de ensino. Procedimento de contraste dos dados 275 através do teste H de Kruskal – Wallis Tabela 43 Hipótese 2.1. e condição avaliação/acompanhamento segundo o nível de ensino. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não 275 paramétricos Tabela 44 Hipótese 2.1. e condição avaliação/acompanhamento segundo o nível de ensino. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kruskal – Wallis Tabela 45 276 Hipótese 2.1. e condição metodologias de ensino segundo o nível de ensino. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Tabela 46 276 Hipótese 2.1. e condição metodologias de ensino segundo o nível de ensino. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kruskal – Wallis Tabela 47 276 Hipótese 2.1. e condição formação específica segundo o nível de ensino. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Tabela 48 277 Hipótese 2.1. e condição formação específica segundo o nível de ensino. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kruskal – Wallis Tabela 49 277 Hipótese 2.1. e condição materiais e recursos segundo o nível de ensino. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos -477- 277 Tabela 50 Hipótese 2.1. e condição materiais e recursos segundo o nível de ensino. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kruskal – Wallis Tabela 51 278 Hipótese 2.1. e condição colaboração entre professores segundo o nível de ensino. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Tabela 52 278 Hipótese 2.1. e condição colaboração entre professores segundo o nível de ensino. Procedimento de contraste dos dados através da prova H de Kruskal – Wallis Tabela 53 278 Hipótese 2.1. e condição técnicos especializados segundo o nível de ensino. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Tabela 54 279 Hipótese 2.1. e condição técnicos especializados segundo o nível de ensino. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kruskal – Wallis Tabela 55 279 Hipótese 2.1. e condição atitudes dos professores segundo os anos de docência. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Tabela 56 281 Hipótese 2.1. e condição atitudes dos professores segundo os anos de docência. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kruskal – Wallis Tabela 57 Hipótese 2.1. e condição 281 avaliação/acompanhamento segundo os anos de docência. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Tabela 58 Hipótese 2.1. 281 e condição avaliação/acompanhamento segundo os anos de docência. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kruskal – Wallis Tabela 59 282 Hipótese 2.1. e condição metodologias de ensino segundo os anos de docência. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos -478- 282 Tabela 60 Hipótese 2.1. e condição metodologias de ensino segundo os anos de docência. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kruskal – Wallis Tabela 61 282 Hipótese 2.1. e condição formação específica segundo os anos de docência. Procedimento de contraste dos dados para determinar provas paramétricas ou não paramétricas Tabela 62 282 Hipótese 2.1. e condição formação específica segundo os anos de docência. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kruskal – Wallis Tabela 63 283 Hipótese 2.1. e condição formação específica segundo os anos de docência. Procedimento de contraste dos dados 283 através do Post-hoc Tabela 64 Hipótese 2.1. e condição materiais e recursos segundo os anos de docência. Procedimento de contraste dos dados para determinar provas paramétricas ou não paramétricas Tabela 65 284 Hipótese 2.1. e condição materiais e recursos segundo os anos de docência. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kruskal – Wallis Tabela 66 284 Hipótese 2.1. e condição colaboração entre professores segundo os anos de docência. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não 284 paramétricos Tabela 67 Hipótese 2.1. e condição colaboração entre professores segundo os anos de docência. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kruskal – Wallis Tabela 68 285 Hipótese 2.1. e condição técnicos especializados segundo os anos de docência. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Tabela 69 285 Hipótese 2.1. e condição técnicos especializados segundo os anos de docência. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kruskal – Wallis Tabela 70 286 Hipótese 2.2. e condição atitudes dos professores segundo o grau académico. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos -479- 287 Tabela 71 Hipótese 2.2. e condição atitudes dos professores segundo o grau académico. Procedimento de contraste dos dados com o teste H de Kruskal – Wallis Tabela 72 Hipótese 2.2. e 288 condição avaliação/acompanhamento segundo o grau académico. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Tabela 73 Hipótese 2.2. 288 e condição avaliação/acompanhamento segundo o grau académico. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kruskal – Wallis Tabela 74 288 Hipótese 2.2. e condição metodologias de ensino segundo o grau académico. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Tabela 75 289 Hipótese 2.2. e condição metodologias de ensino segundo o grau académico. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kruskal – Wallis Tabela 76 289 Hipótese 2.2. e condição formação específica segundo o grau académico. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Tabela 77 289 Hipótese 2.2. e condição formação específica segundo o grau académico. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kruskal – Wallis Tabela 78 290 Hipótese 2.2. e condição formação específica segundo o grau académico. Procedimento de contraste dos dados através do Post-hoc Tabela 79 290 Hipótese 2.2. e condição materiais e recursos segundo o grau académico. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Tabela 80 290 Hipótese 2.2. e condição materiais e recursos segundo o grau académico. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kruskal – Wallis -480- 291 Tabela 81 Hipótese 2.2. e condição colaboração entre professores segundo o grau académico. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Tabela 82 291 Hipótese 2.2. e condição colaboração entre professores segundo o grau académico. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kruskal – Wallis Tabela 83 291 Hipótese 2.2. e condição técnicos especializados segundo o grau académico. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Tabela 84 292 Hipótese 2.2. e condição técnicos especializados segundo o grau académico. Procedimento de contraste dos dados 292 através do teste H de Kruskal – Wallis Tabela 85 Hipótese 2.2. e condição atitudes dos professores segundo a formação inicial. Procedimento de contraste dos dados para 294 determinar testes paramétricos ou não paramétricos Tabela 86 Hipótese 2.2. e condição atitudes dos professores segundo a formação inicial. Procedimento de contraste dos dados 294 através do teste U de Mann – Whitney Tabela 87 Hipótese 2.2. e condição avaliação/acompanhamento segundo a formação inicial. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não 294 paramétricos Tabela 88 Hipótese 2.2. e condição avaliação/acompanhamento segundo a formação inicial. Procedimento de contraste dos dados através do teste U de Mann – Whitney Tabela 89 295 Hipótese 2.2. e condição metodologias de ensino segundo a formação inicial. Procedimento de contraste dedos para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Tabela 90 295 Hipótese 2.2. e condição metodologias de ensino segundo a formação inicial. Procedimento de contraste dos dados através do teste U de Mann – Whitney -481- 295 Tabela 91 Hipótese 2.2. e condição formação específica segundo a formação inicial. Procedimentos de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Tabela 92 296 Hipótese 2.2. e condição formação específica segundo a formação inicial. Procedimento de contraste dos dados através do teste U de Mann – Whitney Tabela 93 296 Hipótese 2.2. e condição materiais e recursos segundo a formação inicial. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Tabela 94 296 Hipótese 2.2. e condição materiais e recursos segundo a formação inicial. Procedimento de contraste dos dados 297 através do teste U de Mann – Whitney Tabela 95 Hipótese 2.2. e condição colaboração entre professores segundo a formação inicial. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não 297 paramétricos Tabela 96 Hipótese 2.2. e condição colaboração entre professores segundo a formação inicial. Procedimento de contraste dos dados através do teste U de Mann – Whitney Tabela 97 297 Hipótese 2.2. e condição técnicos especializados segundo a formação inicial. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Tabela 98 298 Hipótese 2.2. e condição técnicos especializados segundo a formação inicial. Procedimento de contraste dos dados através do teste U de Mann – Whitney Tabela 99 298 Hipótese 2.2. e condição atitudes dos professores segundo a formação contínua. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Tabela 100 299 Hipótese 2.2. e condição atitudes dos professores segundo a formação contínua. Procedimento de contraste dos dados através do teste U de Mann – Whitney -482- 299 Tabela 101 Hipótese 2.2. e condição avaliação/acompanhamento segundo a formação contínua. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Tabela 102 Hipótese 2.2. 300 e condição avaliação/acompanhamento segundo a formação contínua. Procedimento de contraste dos dados através do teste U de Mann – Whitney Tabela 103 300 Hipótese 2.2. e condição metodologias de ensino segundo a formação contínua. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Tabela 104 300 Hipótese 2.2. e condição metodologias de ensino segundo a formação contínua. Procedimento de contraste dos dados através do teste U de Mann – Whitney Tabela 105 301 Hipótese 2.2. e condição formação específica segundo a formação contínua. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Tabela 106 301 Hipótese 2.2. e condição formação específica segundo a formação contínua. Procedimento de contraste dos dados através do teste U de Mann – Whitney Tabela 107 301 Hipótese 2.2. e condição materiais e recursos segundo a formação contínua. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Tabela 108 302 Hipótese 2.2. e condição materiais e recursos segundo a formação contínua. Procedimento de contraste dos dados através do teste U de Mann – Whitney Tabela 109 302 Hipótese 2.2. e condição colaboração entre professores, segundo a formação contínua. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Tabela 110 302 Hipótese 2.2. e condição colaboração entre professores, segundo a formação contínua. Procedimento de contraste dos dados através do teste U de Mann – Whitney -483- 303 Tabela 111 Hipótese 2.2. e condição técnicos especializados, segundo a formação contínua. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Tabela 112 303 Hipótese 2.2. e condição técnicos especializados, segundo a formação contínua. Procedimento de contraste dos dados através do teste U de Mann – Whitney Tabela 113 303 Hipótese 2.2. e condição atitudes dos professores segundo a formação especializada. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Tabela 114 305 Hipótese 2.2 e condição atitudes dos professores segundo a formação especializada. Procedimento de contraste dos 305 datos através do teste U de Mann – Whitney Tabela 115 Hipótese 2.2. segundo a e condição formação avaliação/acompanhamento especializada. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou 305 não paramétricos Tabela 116 Hipótese 2.2. segundo a e condição formação avaliação/acompanhamento especializada. Procedimento de contraste dos dados através do teste U de Mann – Whitney Tabela 117 306 Hipótese 2.2. e condição metodologias de ensino, segundo a formação especializada. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Tabela 118 306 Hipótese 2.2. e condição metodologias de ensino, segundo a formação especializada. Procedimento de contraste dos dados através do teste U de Mann – Whitney Tabela 119 306 Hipótese 2.2. e condição formação específica, segundo a formação especializada. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Tabela 120 307 Hipótese 2.2. e condição formação específica, segundo a formação especializada. Procedimento de contraste dos dados através do teste U de Mann – Whitney -484- 307 Tabela 121 Hipótese 2.2. e condição materiais e recursos segundo a formação especializada. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Tabela 122 307 Hipótese 2.2. e condição materiais e recursos segundo a formação especializada. Procedimento de contraste dos dados através do teste U de Mann – Whitney Tabela 123 308 Hipótese 2.2. e condição colaboração entre professores segundo a formação especializada. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Tabela 124 308 Hipótese 2.2. e condição colaboração entre professores segundo a formação especializada. Procedimento de contraste dos dados através do teste U de Mann – Whitney Tabela 125 308 Hipótese 2.2. e condição técnicos especializados, segundo a formação especializada. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não 309 paramétricos Tabela 126 Hipótese 2.2. e condição técnicos especializados, segundo a formação especializada. Procedimento de contraste dos dados através do teste U de Mann – Whitney Tabela 127 309 Hipótese 2.3. e condição atitudes dos professores segundo o tipo de professor. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétrios ou não paramétricos Tabela 128 310 Hipótese 2.3. e condição atitudes dos professores segundo o tipo de professor. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kuskal – Wallis Tabela 129 311 Hipótese 2.3 e condição atitudes dos professores segundo o tipo de professor. Procedimento de contraste dos dados através do Post-hoc Tabela 130 Hipótese 2.3. e 311 condição avaliação/acompanhamento segundo o tipo de professor. Procedimento de contraste dos dados para determinar teste paramétrico ou não paramétrico -485- 311 Tabela 131 Hipótese 2.3 e condição avaliação/acompanhamento segundo o tipo de professor. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kuskal – Wallis Tabela 132 312 Hipótese 2.3. e condição metodologias de ensino segundo o tipo de professor. Procedimento de contraste dos dados para determinar teste paramétrico ou não paramétrico Tabela 133 312 Hipótese 2.3. e condição metodologias de ensino segundo o tipo de professor. Procedimentos de contraste dos dados através do teste H de Kuskal – Wallis Tabela 134 312 Hipótese 2.3. e condição formação específica segundo o tipo de professor. Procedimento de contraste dos dados para 313 determinar testes paramétricos ou não paramétricos Tabela 135 Hipótese 2.3. e condição formação específica segundo o tipo de professor. Procedimento de contraste dos dados através 313 do teste H de Kuskal – Wallis Tabela 136 Hipótese 2.3. e condição materiais e recursos segundo o tipo de professor. Procedimento de contraste dos dados para 313 determinar testes paramétricos ou não paramétricos Tabela 137 Hipótese 2.3. e condição materiais e recursos segundo o tipo de professor. Procedimento de contraste dos dados através 314 do teste H de Kuskal – Wallis Tabela 138 Hipótese 2.3. e condição colaboração entre professores segundo o tipo de professor. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Tabela 139 314 Hipótese 2.3. e condição colaboração entre professores segundo o tipo de professor. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kuskal – Wallis Tabela 140 314 Hipótese 2.3. e condição técnicos especializados segundo o tipo de professor. Procedimento de contraste dos dados para determinar testes paramétricos ou não paramétricos Tabela 141 315 Hipótese 2.3. e condição técnicos especializados segundo o tipo de professor. Procedimento de contraste dos dados através do teste H de Kuskal – Wallis -486- 315 Tabela 142 Hipótese 2.3. e condição técnicos especializados segundo o tipo de professor. Procedimentos de contraste dos dados através do Post-hoc 315 -487- ANEXOS (disponíveis em https://sites.google.com/site/formacaoeatitudes) Anexo 01 Consulta ao GIASE do Ministério da Educação Anexo 02 Tratamento estatístico SPSS Anexo 03 Estatística descritiva da amostra Anexo 04 Disciplinas incluídas no curso de formação inicial dos inquiridos relacionadas com NEE Anexo 05 Questionário Anexo 06 Transcrição das gravações dos grupos de discussão Anexo 07 Anexo 08 Produções escritas dos professores (evidências) Anexo 09 Output e grupos de discussão Anexo 10 Dados obtidos no Survey Monkey Anexo 11 Tabela de frequência de respostas à escala de atitudes Anexo 12 Tratamento estatístico para a questão relevância das condições para a realização do processo de inclusão Anexo 13 Inventário de resposta dos inquiridos à 1ª pergunta aberta do questionário Anexo 14 Inventário de resposta dos inquiridos sobre quais as dificuldades que sentem no exercício da actividade com alunos com NEE Anexo 15 Inventário dos conteúdos curriculares que deveriam constar dos planos das escolas de formação Anexo 16 Inventário de outros comentários efectuados pelos inquiridos Anexo 17 Tratamento qualitativo output-evidências e categorias -488-