As assinaturas LCT e NYF em aplito-pegmatitos Variscos de metais
Transcrição
As assinaturas LCT e NYF em aplito-pegmatitos Variscos de metais
e-Terra http://e-terra.geopor.pt ISSN 1645-0388 Volume 20 – nº 8 2010 Revista Electrónica de Ciências da Terra Geosciences On-line Journal GEOTIC – Sociedade Geológica de Portugal VIII Congresso Nacional de Geologia _________________________________________________________ As assinaturas LCT e NYF em aplito-pegmatitos Variscos de metais raros do NW de Portugal The LCT-NYF signatures in rare-metal Variscan aplite-pegmatites from NW Portugal S. MOURA – [email protected] (CIG-R, EC, Universidade do Minho, Gualtar, 4710-057 Braga) C. LEAL GOMES – (CIG-R, EC, Universidade do Minho, Gualtar, 4710-057 Braga) J. LOPES NUNES – (CIG-R, EC, Universidade do Minho, Gualtar, 4710-057 Braga) RESUMO: A discriminação LCT e NYF baseia-se em minerais tipomórficos e elementos indicadores. Em contexto Varisco, aquelas especializações podem ser encaradas como assinaturas de enquadramento geotectónico e filiação. O carácter NYF ocorre em pegmatóides hiperaluminosos possivelmente précolisionais. Repete-se em pegmatitos amazoníticos epizonais pós-tectónicos filiados em granitos “do tipo I” subalcalinos. A assinatura LCT tem grande amplitude sin-colisional intermédia, Sin-D2 a Tardi-D3, relacionando-se com linhagens graníticas metaluminosas a peraluminosas (“tipo S” ou híbridas) de duas micas. PALAVRAS-CHAVE: aplito-pegmatito, LCT, NYF, tectónica Varisca, assinatura ABSTRACT: Variscan LCT and NYF pegmatite specializations (expressed in elements and minerals) may be considered as signatures of tectonic emplacement and affiliation. NYF is typical of early hyperaluminous pegmatoids pre-colisional. Later it occurs in amazonitic pegmatites related to post-tectonic epizonal I – type granites, subalcaline. LCT signature has larger amplitude of expression resulting from the evolution of D2 to D3 sin-colisional S-type two mica granites, metaluminous to peraluminous. KEYWORDS: aplite-pegmatites, LCT, NYF, Variscan tectonics, signature 1. INTRODUÇÃO A diversidade dos pegmatitos observados na Província Hercínica é estrutural e paragenética e provém da especialização metalogenética dos granitos parentais, das tendências de fraccionação magmática dos seus termos mais evoluídos e das condições metamórficas e deformacionais dos ambientes de instalação dos respectivos diferenciados. Segundo Cerny (1991) a classe dos pegmatitos com metais raros engloba corpos com feição LCT, enriquecidos em Li, Cs e Ta e outros com carácter NYF que apresentam enriquecimento em Nb, Y e F. Numa extensão das propostas tipológicas de Leal Gomes e Lopes Nunes (2003) e Leal Gomes (2005) procura-se aqui propor uma discriminação geoquímica e paragenética das feições acima referidas para os aplito-pegmatitos de metais raros do NW de Portugal. Eventualmente, em contexto Varisco, essas feições ou especializações podem ser encaradas como assinaturas de enquadramento geotectónico, filiação e idade. A discriminação LCT e NYF utilizada baseia-se na identificação de minerais tipomórficos e nos conteúdos de elementos específicos e indicadores tais como, Li, Cs, Ta, Nb, Be e Sn, obtidos 1(4) e-Terra Volume 20 – nº 8 | 2010 VIII Congresso Nacional de Geologia por análise química de rocha total. As metodologias utilizadas incluem a análise de amostras extraídas em canal perpendicular aos contactos mais extensos - para o caso de corpos filonianos ou lenticulares principalmente exo-graníticos - e a análise de unidades internas, parageneticamente individualizáveis, alongadas e de textura granular (não polar) - para amostras colhidas em canais transversais ao alongamento, em bolsadas intra-graníticas irregulares. Neste caso as composições apresentadas para os corpos totais (irregulares e internamente zonados) resultam do cálculo das médias aritméticas dos valores encontrados para as unidades internas. Por absorção atómica e/ou espectrometria de emissão dosearam-se o Li e o Sn. Para o caso de Cs utilizou-se espectrometria de fluorescência de Rx. O Be, Ta e Nb analisaram-se por INAAanálise instrumental por activação neutrónica e/ou ICP-MS - espectrometria de massa. 2. ESPECIALIZAÇÕES (LCT-NYF) E RESPECTIVAS PARAGÉNESES Na figura 1 localizam-se do ponto de vista geográfico, e na sua relação cartográfica com granitos Hercínicos, algumas ocorrências chave e respectivas análises, que foram seleccionadas de forma a abrangerem a diversidade de assinaturas e especializações metalogénicas discerníveis na Província Pegmatítica Varisca – sector de NW de Portugal. Referem-se aí conteúdos representativos de alguns metais raros. NOTAS- * Não se apresentam resultados para o Be uma vez que no caso dos pegmatitos internamente zonados os cristais de berilo apresentam crescimento em pente e por isso a colheita em canal induziria a obtenção de conteúdos excessivamente enviesados.; X Arga – média aritmética para análises de aplito-pegmatitos LCT que se consideram geneticamente relacionados com o granito da Serra de Arga; Mo-Ab – zonas intermédias e de bordadura com textura granular. And – zonas intermédias com andaluzite e outros silicatos de alumínio; Be – unidade muito rica em berilo; P – unidade muito rica em fosfatos; Ab – zona mural essencialmente albítica do pegmatito Sul do Grupo de Senhora de Assunção – LCT e NYF não fracccionado. Nota: A amostra referenciada como Sª da Assunção Ab representa o que se julga ser a cristalização directa (pouco fraccionada) do diferenciado percursor do corpo Sul do grupo pegmatítico de Srª de Assunção. Figura 1 – Área de incidência do estudo com indicação dos locais chave considerados e respectivos teores de Ta, Sn, Li, Nb, Cs e Be (Leal Gomes, 1994 e análises posteriores). Contemplaram-se sempre que possível as fácies mais granulares e mais finas. Representam-se apenas alguns maciços graníticos da região - aqueles que se julgam genética e espacialmente relacionados com os aplito-pegmatitos em estudo. Na figura 2 indicam-se as associações mineralógicas de fases tipomórficas das feições LCT e NYF, que foram identificadas nas diferentes ocorrências chave localizadas na figura 1 e também se figuram os contornos das caixas e as formas de colheita de amostras para análise química cujos 2(4) e-Terra Volume 20 – nº 8 | 2010 VIII Congresso Nacional de Geologia resultados constam da figura 1. Notou-se no estudo paragenético que existem minerais em cuja estequiometria não estão presentes os metais índice e que, mesmo assim, funcionam como tipomórficos. Isto pode ser explicado pela sucessão de ligandos e espécies químicas metaestáveis, cristalinas ou não, que se vão formando no decurso da fracionação especializada mas podem não sequestrar definitivamente os metais índices. Por outro lado a presença de minerais com F na estrutura não acompanha estritamente as paragéneses NYF, o que reflecte o carácter altamente higromagmáfilo, volátil e móvel do F, com grande capacidade de escape em episódios de abertura dos sistemas pegmatíticos. Formas - amostragem Ocorrências chave Minerais tipomórficos V – canal transverso Balouca N Olenite nodular + Elbaite + Berilo alcalino + Ambligonite-montebrasite (branca) + Eosforite V – canal transverso V – canal transverso Balouca S Picoto do Carvalho Lepidolite + Elbaite + Lidicoatite + Polucite + Berilo alcalino + Ambligonite-montebrasite (branca) Espodumena (p-petalite) + Ambligonite-montebrasite (branca) V – canal transverso Bustarenga Lepidolite + Elbaite + Lidiicoatite + Polucite + Berilo alcalino + Ambligonite-montebrasite (branca) V – canal transverso V – canal transverso V – canal transverso Cabração (Monteiro) Ambligonite-montebrasite (branca) Verdes Espodumena + Ambligonite-montebrasite (branca) Formigoso I Petalite + Elbaite + Cookeite + Espodumena (p-petalite) V – canal transverso Formigoso II Ambligonite-montebrasite (branca) + Petalite + Londonite + Rhodizite + Ganite + Nigerite V – canal transverso V – canal transverso P.Frias Real Espodumena + Ambligonite-montebrasite (branca) Ambligonite-montebrasite (branca) V – canal transverso V – canal transverso Lousado Cerquido Andaluzite + Zircão + Lazulite-scorzalite + Berilo + Xenotima + Columbite + Crisoberilo + Anatase Andaluzite + Lazulite-scorzalite + Tapiolite + Zircão + Silimanite V – canal transverso Formigoso And. Andaluzite (And.) + Zircão + Lazulite-scorzalite +Berilo+Xenotima+Columbite Lourinhal Berilo + Berilonite + Berlinite + Eosforite + Xenotima + Ce-Monazite + F-apatite Afife Queiriga Pet. Espodumena + Rossmanite + F-apatite + Mn-almandina + Lolingite Petalite (Pet.) + Trifilite-litiofilite + Gormanite + Berilo alcalino + F-apatite + Oligonite + Rodocrosite + Sulfuretos Lepidolite (Lep.) + Berilo alcalino + Ambligonite-montebrasite (branca) + Polucite Lepidolite (Lep.) + Topázio + Mn-tantalite + Ambligonite-montebrasite (branca) + Microlite Ambligonite-montebrasite (verde) + Tainiolite + Polilitionite (análoga-Cs) + Lepidolite + Elbaite + Mncolumbite + Mn-tantalite + U,Pb-microlite + Zircão + Cirtolite + Zinnwaldite + Ganite B helicóide V – canal transverso V – canal transverso V – canal transverso V – canal transverso Queiriga Lep. Régua Lep. Rossas B haltere V – canal transverso Braga (Oleiros) V – canal transverso Braga (Gondizalves) Ambligonite-montebrasite (branca) + Espodumena (p-petalite) B – chaminé Dornas Tainiolite + Mn-columbite + Mn-tantalite + Ambligonite-montebrasite (verde) + Zircão + Cyrtolite B Arreigada Mo-Ab Trifilite-litiofilite + Scorlite + Bismutinite + Cosalite + Matildite + Calcite + Dolomite + Siderite Carvalheira Mo-Ab Trifilite-litiofilite + Scorlite Gonçalo (Vela) lente B ampulheta V – canal transverso Ambligonite-montebrasite (branca) + Espodumena (p-petalite) V – canal transverso Penedono Lepidolite + Cookeite + Espodumena II + Petalite II + Polucite + Liddicoatite + Microlite + Mn-tantalite + Simpsonite + Cestibtantite + Rynersonite + Berilo alcalino + Topázio + Zinnwaldite + Ambligonitemontebrasite (branca) Lepidolite + Ambligonite-montebrasite (branca) + Mn-tantalite Unidade fosfatada - canal Sª da Assunção P Trifilite-litiofilite + Ambligonite-montebrasite + Lazulite-scorzalite + Brasilianite + Augelite + Wolfeite B haltere - muro Sª da Assunção Ab Unidade granular c/berilo Sª da Assunção Be Seixinhos B aracniforme B B B gota invertida periferia - canal gota – canal a muro Zircão + Isokite Berilo + Ixiolite + Molibdenite + Bazzite + Thortveitite Columbite-tantalite + Berilo Arreigada And. Esfena + Andaluzite (And.) + Distena + Silimanite + Ilmenite + Xenotima + Monazite + Scorlite Carvalheira And. Esfena + Andaluzite (And.) + Silimanite + Ilmenite + Xenotima + Monazite + Scorlite Covide Xenotima + Alanite + Uraninite + Pirocloro + Perovskyite + Zircão + Monazite + Columbite + Scorlite + Clorite Xenotima + Alanite + Uraninite + Pirocloro + Perovskyite + Zircão + Monazite + Columbite + Scorlite + Clorite + FK amazonitico + Topázio + Fluorite + Berilo (água marinha e heliodoro) + Molibdenite + Calcite + Zeólitos + Helvite Xenotima + Alanite + Uraninite + Pirocloro + Perovskyite + Zircão + Monazite + Columbite + Scorlite + Clorite + FK amazonitico + Topázio + Fluorite + Berilo (água marinha e heliodoro) + Molibdenite V – canal transverso Carris V – canal transverso Taião Figura 2 - Síntese de paragéneses correspondentes aos locais chaves selecionados. P-petalite - produto da evolução em subsolidus da petalite.V – filões e veios; B – bolsadas irregulares intra-graníticas. Em Leal Gomes (1994) são apresentados os valores de Li = 529 ppm e Nb = 50 ppm, como limiares acima dos quais os corpos magmáticos (pegmatóides) exo-graníticos podem apresentar mineralizações de Li e Nb-Ta, respectivamente. No entanto, para a região mais abrangente agora 3(4) e-Terra Volume 20 – nº 8 | 2010 VIII Congresso Nacional de Geologia considerada, definem-se limiares mais baixos, 344 e 28 ppm respectivamente. O limiar do Li mais baixo (344ppm) corresponde ao aparecimento de ambligonite. As restantes mineralizações verificam-se para valores mais altos de Li em rocha total: turmalina litinífera – Li > 1138, espodumena - Li > 1320 e petalite - Li > 1889 ppm (figura 1 e tabela 1). Também aqui se notam valores mais baixos que os que haviam sido referidos em Leal Gomes (1994, 1995). Acima de 1000 ppm de Cs em rocha total é possível o aparecimento de polucite sobretudo em sistemas mais deficitários em sílica, mas não há uma relação tão estrita entre a presença de mineralização e o teor expresso na rocha total. Por vezes um mesmo pegmatito apresenta as duas feições geoquímicas em paragéneses ou unidades correspondentes a estados de fraccionação distintos mas cogenéticos. É o caso das bolsadas intra-graníticas de morfologia irregular mas com grandes dimensões. Nestes casos, diferentes porções do mesmo corpo podem mostrar assinaturas distintas. No que respeita aos minerais hiperaluminosos, ganite e nigerite caracteristicamente tendem a estar relacionadas com feições LCT, enquanto que andaluzite, hercynite, franklynite e corindo se relacionam fundamentalmente com paragéneses de feição NYF. Há nióbio-tantalatos com alto conteúdo de Ta que se verifica serem típicos da feição NYF é o caso da tapiolite e da struverite. São no entanto raros e as fácies que os comportam mantêm baixos conteúdos globais de Ta. Embora não seja um padrão muito marcado, constata-se que no caso dos aplito-pegmatitos LCT, uma maior diversidade mineralógica conjuga maiores teores de Li, Cs e Ta. 3. CONCLUSÕES No Varisco do NW de Portugal existem aplito-pegmatitos de metais raros, tanto de tipo LCT como NYF. Em cada conjunto registam-se termos com mineralizações distintas. Com base nas posições espaciais e paragéneses anteriormente referidas e atendendo ao quadro tipológico de Leal Gomes (2005) o carácter NYF é mais marcado em corpos precoces hiperaluminosos com implantação afectada pela 2ª fase Varisca de deformação (D2) ou ainda anteriores (alguns possivelmente serão de contexto pré-colisional). Posteriormente, a mesma assinatura repete-se nos pegmatitos implantados já em situação pós-tectónica relativamente à 3ª fase Varisca (D3). Estes são inequivocamente NYF, estão filiados em granitos “do tipo I” com marcada tendência subalcalina e estão afectados em subsolidus por fenómenos de amazonitização e enrubescimento das pertites, próprios de ambientes de génese miarolítica já indicadores de “uplifting” ou exumação e implantação epizonal. A assinatura LCT cobre uma grande diversidade de condições de implantação intermédias SinD2 a Tardi-D3, sin-colisionais, relacionando-se com linhagens graníticas metaluminosas a peraluminosas (“tipo S” ou híbridas) de duas micas a essencialmente biotíticas. Todos os pegmatitos e aplito-pegmatitos estudados tinham cassiterite e erraticamente alguns tinham volframite e ou scheelite pelo que estes minerais, e os metais Sn e W, não podem ser invocados como discriminantes das linhagens pegmatíticas Variscas. Referências Cerny, P. (1991) - Rare-element granitic pegmatites. Part I: Anatomy and internal evolution of pegmatites deposits. Geosc. Canada, 18, pp. 49-67. Leal Gomes, C. (1994) - Estudo estrutural e paragenético de um sistema pegmatóide granítico. - o campo aplitopegmatítico de Arga - Minho (Portugal). Tese de doutoramento, Universidade do Minho – Braga; 695 p. Leal Gomes, C. (2005) - Contributo para a sistemática dos pegmatitos graníticos referentes à Cintura Varisca CentroIbérica – Características a considerar e quadro tipológico. Geonovas, 19, pp. 35-45. Leal Gomes, C.; Lopes Nunes, J. (2003) – Análise paragenética e classificação dos pegmatitos graníticos da Cintura Hercínica Centro-Ibérica. A geologia de engenharia e os recursos geológicos, Coimbra - Imprensa da Universidade, vol.II, pp. 85-109. 4(4)
Documentos relacionados
e-Terra A assinatura fosfática de linhagens pegmatíticas Variscas
Covide, Terras do Bouro peri-graníticos e Taião, Valença Quadro 1 – Ocorrências mais persistentes de fosfatos em pegmatitos Variscos. Notas: D - fase de deformação e campo de tensões Varisco que co...
Leia mais