- Urbanismo
Transcrição
- Urbanismo
DAVID MANUEL AMEIXA FERREIRA PROPOSTA METODOLÓGICA PARA A REABILITAÇÃO DO NÚCLEO HISTÓRICO DE CABEÇO DE VIDE Dissertação apresentada para a obtenção do grau de Mestre em Urbanismo no Curso de Mestrado em Urbanismo, conferido pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Orientador: Professor Ph.D. Arq. Fausto António de Almeida Cruz Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes Lisboa 2008 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Agradecimentos Muitos foram aqueles que directa ou indirectamente contribuíram para a realização deste trabalho, sem a sua ajuda a minha missão teria sido bem mais difícil. A todos dirijo o meu mais sincero agradecimento. No entanto, gostaria de destacar algumas pessoas pelo enorme apoio que concederam, às quais endereço um agradecimento especial: - Ao Professor Doutor Arq. Fausto Cruz, orientador desta dissertação, pelo seu grande altruísmo, disponibilidade e sábio conselho; - Ao Sr. Presidente da Junta de Freguesia de Cabeço de Vide, Manuel Rodrigues Fontaínhas, pela generosidade que demonstrou em facultar todos os dados referentes à Vila; - À Câmara Municipal de Fronteira, na pessoa do Sr. Eng. Rui Ferreira, por facultar a base topográfica digitalizada, necessária para os diversos estudos elaborados; - Ao Sr. Arq. João Calvino, profundo conhecedor do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, com quem tive o prazer de conversar e aprender. Pelos livros que generosamente me ofereceu; - À minha mãe que sempre demonstrou o seu orgulho em todos os seus filhos. Também eu me orgulho muito dela; - À minha esposa Sandra, mulher preciosa, sempre paciente e longânima para comigo, em especial nos inúmeros e intermináveis serões em que ficou privada da minha companhia. Com grande amor lhe agradeço; - Aos meus irmãos, Filipe, João e André, pelo apoio e motivação; Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 2 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide - À minha avó, uma mulher pequena em estatura mas grande em coragem, que necessitou de emigrar de Cabeço de Vide em busca de um futuro melhor. Este trabalho é fruto do percurso que ela iniciou há muitos anos atrás; - Por último, mas de modo algum menos importante, agradeço a Deus, que tem sido ao longo de toda a minha vida o grande conselheiro, refúgio nos momentos difíceis e dador de todas as bênçãos. Ele me alegra e me dá forças a cada novo dia. Dedico ainda esta dissertação à memória do meu pai, que infelizmente não pode juntar-se a nós e regozijar-se na conclusão de mais uma etapa. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 3 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Resumo A problemática da reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, a sua dinâmica histórica, no âmbito de uma estratégia compatibilizando património, actividade termal e instrumentos urbanísticos, são o objecto de estudo desta tese, consubstanciado numa proposta de intervenção. Assim esta tese, através da proposta metodológica para a reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, define um conjunto de princípios gerais de intervenção, correspondendo a objectivos gerais que devem ser respeitados, formando os fundamentos teórico-conceptuais de intervenção, os quais, levando em linha de conta a especificidade do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, se concretizam em princípios de intervenção específicos, com objectivos específicos e orientações para o desenho urbano. Palavras-chave: património, reabilitação, Cabeço de Vide, actividade termal. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 4 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Abstract The issue of the rehabilitation of Cabeço de Vide Historical Centre, the historical dynamic, as part of a strategy involving heritage, thermal activity and urbanistic instruments, are this thesis subject of study, leading to an intervention proposal. This thesis, through the methodological proposal for the rehabilitation of Cabeço de Vide Historical Centre, defines a set of general principles of intervention, corresponding to general objectives that must be respected, forming the intervention theoretical-conceptual basis, which, taking into consideration the specificity of Cabeço de Vide Historical Centre, lead to specific intervention principles, with specific objectives and design guidelines. Key words: heritage, rehabilitation, Cabeço de Vide, thermal activity. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 5 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Lista de Siglas CIAM - Congresso Internacional de Arquitectura Moderna DGEMN - Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais DGOTDU - Direcção-Geral do Ordenamento do Território e Desenvolvimento Urbano ICCROM - International Centre for the Study of the Preservation and Restoration of Cultural Property ICOMOS - International Council on Monuments and Sites INE – Instituto Nacional de Estatística ITIC – Instituto Técnico para a Indústria da Construção NUTS – Nomenclaturas de Unidades Territoriais – para fins estatísticos PIB – Produto Interno Bruto TIC – Tecnologias de Informação e Comunicação UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 6 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Índice Introdução……………………………………………………………………..…...14 1. Fundamentos teórico-conceptuais……………………….…………………..…18 1.1. Memória………………...……………………………………………..…19 1.2. Conceito de Património……...………………………………………..….20 1.3. Património Cultural…………………………………..………………..…21 1.4. Património Arquitectónico….………………………..………………..…22 1.5. Breve histórica da teoria da conservação e do restauro…........………..…24 1.5.1. O século das luzes………….………………………..………….24 1.5.2. Do século XIX ao século XX…………………………………..25 1.5.3. Século XX………………………………………………….......27 1.6. Bases normativas internacionais sobre património….……………………29 1.6.1. Conservação e Restauro.……………………………………….30 1.6.2. Textos Europeus sobre o Património Arquitectónico Europeu...33 1.6.3. Sítios Históricos e Património Vernacular………….………….35 1.7. Carta de Cracóvia (2000)..……………………..……………………...…42 1.8. Turismo Cultural………………………….……………………………….45 1.9. Modelos de Intervenção Urbana…...……………………………..……...51 1.10. Reabilitação Urbana………………….…………………………………52 1.10.1. Caracterização prospectiva da procura em Portugal……….…53 1.10.2. Síntese Conclusiva…………………………………...……….55 2. Caracterização do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide………….…..…..…58 2.1. Concelho de Fronteira, um breve apontamento………………..……..…62 2.2. Freguesia de Cabeço de Vide………………………..………...……..…63 2.2.1. A Origem e a História…………………..………………..……64 2.2.2. Situação Geográfica……………..………………………….....66 2.2.3. Topografia…………..………………………………………....67 2.2.4. Análise demográfica e sócio-económica……...………….....…68 2.2.5. O turismo termal………...…………………………………..…79 Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 7 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide 2.2.6. Monumentos classificados e edifícios de Reconhecido valor…..…………...………………………….....90 2.2.7. Principais sítios e ruas……………………………..……….....97 2.2.8. Quadro Sinóptico……………………..……………………...100 2.3. Núcleo Histórico de Cabeço de Vide…………………….....…………101 2.3.1. O urbanismo medieval……………………………….……...101 2.3.2. Caracterização Física do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide………………………..………………….102 2.3.3. Análise demográfica e socio-económica………....…..…...…109 2.3.4. Caracterização do Parque Habitacional……..…….…..…….118 2.3.5. Opinião dos Inquiridos Face ao Núcleo Histórico…….…….128 2.3.6. Caracterização de Serviços, Comércio e Indústria…….…....132 2.3.7. Síntese Conclusiva…………………………………….…….136 3. Proposta Metodológica……………..…………………….……………………142 3.1. Princípios de intervenção para o Núcleo Histórico de Cabeço de Vide ……………………………....…………….……...144 3.2. Descrição da proposta…………………..….…………………………..150 3.2.1. Valorizar a identidade específica de ruas, lugares e edifícios……………………….……………….....150 3.2.2. Promoção e interligação entre ambiente natural e construído………….…….………..……………………...…152 3.2.3. Manter e valorizar a função de habitação……………..……154 3.2.4. Melhoria das acessibilidades e reformulação da rede viária…………...….………………...155 3.2.5. Aplicação das novas tecnologias de informação e comunicação……..…………………..………155 3.3. Aspectos gerais…………………..….………………..………………..156 3.3.1. Utilização da água……………………………………..……156 3.3.2. Utilização da vegetação………...……………………..……157 Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 8 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide 3.4. Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) e Domótica – Breve apontamento……………….……………………..158 3.4.1. TIC……………………………………………………..……159 3.4.2. Domótica…...…………………………………………..……161 Conclusão………………………………..……………………………………...…166 Bibliografia……………………………………………………………...…..…….169 Apêndice (Peças Desenhadas).………………………………..………...………..….I Planta de Localização………………………………………...………..……1 Delimitação da área de estudo……………..………………...………..……2 Evolução da malha urbana…………………………………...………..……3 Monumentos classificados e edifícios de reconhecido valor ……........……4 Sítios e ruas de maior relevância ………………………....…………..……5 Equipamentos, serviços e comércio ……………………...…………..……6 Plano geral ……………………..........................................…………..……7 Planta síntese …………………………...………………...…………..……8 Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 9 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Índice de Tabelas Tabela 1 – Evolução da População Residente a Nível Regional……….……………………71 Tabela 2 – Faixa Etária da População do Concelho de Fronteira e da Freguesia de Cabeço de Vide…………………………………….…………...72 Tabela 3 – Distribuição dos Aquistas por Sexos……………….…………………………....81 Tabela 4 – Idade dos Aquistas………………………………….……………………………82 Tabela 5 – Distribuição dos Aquistas por Distritos……………………………………….…83 Tabela 6 – Distribuição Mensal das Inscrições………………………………………….…..84 Tabela 7 – Actividade Profissional dos Aquistas…………………………………………...85 Tabela 8 – Fidelidade dos Utentes…………………………………………………………..85 Tabela 9 – Grupos de Patologias……………………………………………………………86 Tabela 10 – Divisão da População do Núcleo Histórico por Sexos………………..……...109 Tabela 11 – Dimensão da Família………………………………………………..………..111 Tabela 12 – Estado Civil………………………………………………………………..….112 Tabela 13 – Habilitações Literárias………………………………………………..………113 Tabela 14 – Meio de Transporte que Possui………………………...………...…………...114 Tabela 15 – Tempo de Permanência no Local…………………….……..………..………115 Tabela 16 – Divisão da População por Sectores de Actividade………….……..……….116 Tabela 17 – Divisão da População Inactiva…………………...…………………..………117 Tabela 18 – Grau de Ocupação da Habitação…………………...……………..………….118 Tabela 19 – Regime de Propriedade……………………………...…………………….....119 Tabela 20 – Número de Divisões do Fogo…………………...………………………..….121 Tabela 21 – Equipamentos Domésticos……………………..………...…………………..122 Tabela 22 – Habitações com Garagem………………………...……………..………...…123 Tabela 23 – Habitações com Logradouro………………...…………..…………………...124 Tabela 24 – Utilização do Logradouro………………………..……………...…………...125 Tabela 25 – Principais Carências do Fogo………………………..………………..……..126 Tabela 26 – Expectativas Face ao Fogo……………………..……………………..……..127 Tabela 27 – Principais Problemas Infraestruturais………….…………………...……….128 Tabela 28 – Principais Problemas Sociais……………………..……………………........129 Tabela 29 – Principais Carências do Núcleo Histórico…………..…………………..…..130 Tabela 30 – Finalidade da Instalação…………………….………….………..…………..132 Tabela 31 – Finalidade da Instalação………………………..………………………..…..132 Tabela 32 – Finalidade da Instalação……………………...………………………….…..132 Tabela 33 – Regime de Propriedade das Instalações……………...…………………..…..133 Tabela 34 – Tempo de Utilização…………………………...………………………..…...133 Tabela 35 – Número de Compartimentos…………………...………..…………………...134 Tabela 36 – Número de Empregados…………………………...………………..………..135 Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 10 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Índice de Gráficos Gráfico 1 – Pirâmide Etária do Concelho de Fronteira………………..………………..…72 Gráfico 2 – Faixa Etária da População do Concelho de Fronteira…………..……………..73 Gráfico 3 – Faixa Etária da População do Concelho de Fronteira………….……….……..73 Gráfico 4 – Faixa Etária da População da Freguesia de Cabeço de Vide…….…….…...…73 Gráfico 5 – Faixa Etária da População da Freguesia de Cabeço de Vide…….…….……...73 Gráfico 6 – Distribuição dos Aquistas por Sexos…………….…………………….…...…81 Gráfico 7 – Idade dos Aquistas…………………….…………………………….………...82 Gráfico 8 – Distribuição dos Aquistas por Distritos……….…………………….………...83 Gráfico 9 – Distribuição Mensal das Inscrições……………….…………….…………….84 Gráfico 10 – Fidelidade dos Utentes…………………………..…………………………...86 Gráfico 11 – Grupos de Patologias……………………………..………………………….86 Gráfico 12 – Divisão da População do Núcleo Histórico por Sexos……………....……..109 Gráfico 13 – Divisão da População do Núcleo Histórico por Sexos………………....…..109 Gráfico 14 – Pirâmide Etária do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide………..…..…….110 Gráfico 15 – Dimensão da Família……………………………..……………..………….111 Gráfico 16 – Estado Civil…………………………………………..………………..…...112 Gráfico 17 – Habilitações Literárias…………………………………..…………..……...113 Gráfico 18 – Meio de Transporte que Possui…………………………...….…………….114 Gráfico 19 – Tempo de Permanência no Local…………………………...………….…..115 Gráfico 20 – Divisão da População por Sectores de Actividade………………..……......116 Gráfico 21 – Divisão da População Inactiva……………………………..………..……..117 Gráfico 22 – Grau de Ocupação da Habitação…………………………..…..…………...119 Gráfico 23 – Regime de Propriedade………………………………..………..…………..120 Gráfico 24 – Regime de Propriedade……………………………..……………..………..120 Gráfico 25 – Número de Divisões do Fogo……………………………..……..…………121 Gráfico 26 – Número de Divisões do Fogo…………………………………..…..………121 Gráfico 27 – Equipamentos Domésticos……………………………………..……..……122 Gráfico 28 – Habitações com Garagem…………………………………..…..…………..123 Gráfico 29 – Habitações com Logradouro……….……………….………………..……..124 Gráfico 30 – Utilização do Logradouro…………………………..…………………..…..125 Gráfico 31 – Principais Carências do Fogo……………..……………………………..…126 Gráfico 32 – Expectativas Face ao Fogo…………………...……………………….……127 Gráfico 33 – Principais Problemas Infraestruturais……………..………………..………128 Gráfico 34 – Principais Problemas Sociais…………………………..…………..……….130 Gráfico 35 – Principais Carências do Núcleo Histórico……………..………………..….131 Gráfico 36 – Finalidade da Instalação……………………….………..………….………132 Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 11 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Gráfico 37 – Finalidade da Instalação………………….……………..…………..………132 Gráfico 38 – Finalidade da Instalação……………………….………..…………..………132 Gráfico 39 – Regime de Propriedade das Instalações………….….…………………..….133 Gráfico 40 – Tempo de Utilização……………….…………………….………………....134 Gráfico 41 – Número de Compartimentos………………………………..…………..…..135 Gráfico 42 – Número de Empregados…………………………………..…………..……136 Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 12 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Índice de Quadros Quadro 1 - Princípios de intervenção – Património……………….…..…….………………….56 Quadro 2 - Princípios de intervenção - Actividade Termal……………..…......……………….89 Quadro 3 - Quadro síntese da caracterização do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide……...138 Quadro 4 – Análise SWOT do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide…………..…......…..….139 Quadro 5 - Princípios de intervenção – Núcleo Histórico de Cabeço de Vide…………...…..144 Quadro 6 - Núcleo Histórico de Cabeço de Vide – Design Guidelines…….……..............….147 Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 13 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide INTRODUÇÃO Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 14 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Constata-se um pouco por todo o país e em particular nas zonas do interior, a existência de pequenos aglomerados urbanos que sofrem e lutam contra as pressões do despovoamento e envelhecimento populacional, o esquecimento e a pobreza. Muitos destes núcleos urbanos encerram dentro de si um valioso património cultural que se vai deteriorando ano após ano, em conjunto com a sua população e qualidade de vida oferecida. O Núcleo Histórico de Cabeço de Vide representa um caso paradigmático desta realidade. Sabemos que muito da nossa sobrevivência como comunidade depende da capacidade que temos de actualizar e adaptar os nossos modos e estilos de vida (educação, trabalho, lazer, etc.), a história prossegue mostrando-nos essa realidade. Por conseguinte, os novos paradigmas e tendências são, e devem ser, encarados como uma porta aberta de grandes oportunidades para melhorar e evoluir. Por outro lado, a sociedade dos nossos dias move-se alimentada por vários paradoxos, um dos quais diz respeito à ridicularização, ou no melhor dos casos, banalização do que é velho ou antigo ao mesmo tempo que é elevado e glorificado o novo e moderno. A necessidade de conservação e preservação dos nossos aglomerados históricos assume desde algum tempo, felizmente, por acção de uma mudança generalizada da consciência colectiva, um novo protagonismo. A importância de salvaguardar estes espaços prende-se umbilicalmente à necessidade de combater os malefícios de uma sociedade que, em constante mutação, cada vez mais acelerada, nos conduz a novos paradigmas, que não nos permitem recordar mais os antigos, forçando a que se perca a identidade singular em favor da identidade colectiva, das massas, do democraticamente igual. A sobrevivência dos conjuntos históricos reveste-se pois de uma importância capital para cada povo que pretenda conservar a sua verdadeira dimensão cultural e a sua individualidade. (Bouchenaki, 2001) Estes lugares são símbolos construídos da nossa herança cultural, económica, política e social, são o que de mais autêntico podemos mostrar, o que nos diferencia dos outros. É deste ponto de vista que se deve equacionar qualquer intervenção, privilegiando um recurso estratégico, encarando-o e integrando-o no modelo de desenvolvimento de cada comunidade. É precisamente no centro deste paradigma que se pretende situar esta tese, não como um projecto de reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide (com toda a pertinência, mérito e valor inerente que se lhe poderia reconhecer), antes, como uma proposta metodológica que procura encontrar os princípios de intervenção mais adequados ao objecto de estudo, capazes de orientar um futuro projecto de reabilitação para esse tecido urbano Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 15 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide decadente, procurando corresponder a novas exigências, a novas necessidades, presentes e futuras, na forma de habitar e viver o espaço, no âmbito de uma estratégia coerente e integrada. Sabendo-se da forte actividade termal desenvolvida na freguesia, tornou-se evidente que seria necessário integrá-la na nossa proposta metodológica, encarando-a como factor distintivo e estratégico. Propôs-se então como pergunta de partida a seguinte questão: como poderá ser equacionada a reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, aproveitando da melhor forma as suas características endógenas? A metodologia adoptada neste estudo passou pela consulta bibliográfica sobre os diversos temas abordados, pela observação directa, conversas com a população residente e pela análise dos diversos dados recolhidos, em particular o inquérito realizado no âmbito do estudo elaborado para a execução do Plano de Pormenor do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide. A dissertação encontra-se estruturada num único volume. O estudo dos conceitos teóricos que fundamentam a forma de equacionar esta problemática foi desenvolvido no primeiro capítulo, que em conjunto com a caracterização do objecto de estudo realizada no segundo capítulo permitiram avançar para a proposta metodológica expressa no terceiro capítulo. Assim, no primeiro capítulo é realizado um enquadramento teórico sobre património, a evolução que o conceito sofreu ao longo dos tempos e são identificadas as linhas orientadoras de intervenção que foram sendo elaboradas, em particular nas bases normativas internacionais mais recentes, dando especial atenção ao património vernacular. É abordado, embora sucintamente, o conceito de turismo cultural e a sua relação com o património. No mesmo capítulo são ainda identificados os principais modelos de intervenção urbana, em especial o que se refere à reabilitação de núcleos históricos. O capítulo termina com a identificação de um conjunto de princípios de intervenção relativos ao património, que procuram integrar as diversas orientações contidas nas bases normativas internacionais examinadas. A opção encontrada permitiu, do nosso ponto de vista, sintetizar e operacionalizar as múltiplas orientações em princípios objectivos, de fácil compreensão e implementação. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 16 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide O segundo capítulo é preenchido com a caracterização histórica, geográfica e socioeconómica do caso de estudo. É também abordada a problemática do turismo termal, principal motor económico da freguesia. Sobre o tema, procedeu-se à análise da actividade das Termas da Sulfúrea e com base nos dados recolhidos do relatório de actividade termal foi possível apresentar um resumo dos principais aspectos, que do nosso ponto de vista, devem ser considerados na proposta metodológica. É ainda apresentada a caracterização física do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide. O capítulo termina com um quadro síntese da caracterização do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide e com a análise SWOT do aglomerado, estabelecendo a base necessária para a elaboração da proposta metodológica. No terceiro capítulo apresentamos a proposta metodológica para a reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide. A proposta anunciada é uma abordagem que compatibiliza o património e a actividade termal, introduz a especificidade do processo histórico do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, propondo princípios de intervenção específicos com linhas orientadoras de desenho urbano. A proposta considera que só uma abordagem integrada poderá assegurar o desenvolvimento do aglomerado. Como princípios fundamentais da gestão deste processo surgem a garantia da justiça social e o envolvimento e apoio da comunidade para assegurar o sucesso das medidas adoptadas e da conservação do património. Na conclusão são apresentadas as considerações finais decorrentes da pesquisa realizada, relevando os seus aspectos mais importantes e são identificadas novas pistas de investigação. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 17 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide 1. FUNDAMENTOS TEÓRICO-CONCEPTUAIS Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 18 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Neste capítulo são abordados os principais conceitos que directamente se relacionam com este estudo, com o objectivo de identificar os princípios que deverão orientar a proposta metodológica que se pretende desenvolver. É feito um enquadramento teórico sobre o conceito de património e a evolução que sofreu ao longo dos tempos, identificando as várias metodologias de intervenção que foram sendo aplicadas. Procede-se ainda à identificação dos principais modelos de intervenção urbana, atribuindo especial atenção à reabilitação de núcleos históricos. 1.1. Memória A memória de um povo constitui uma parte essencial da sua identidade e a sua preservação deve ser encarada como factor estratégico de desenvolvimento, compreendendo e respeitando a sua autenticidade face a um mundo cada vez mais globalizado. “Indivíduos e sociedades não podem preservar e desenvolver a sua identidade senão na duração e através da memória”. (Choay, 2000, p.95) O sociólogo de origem austríaca Michael Pollak, a respeito da memória, diz o seguinte: “Em sua análise da memória colectiva, Maurice Halbawachs enfatiza a força dos diferentes pontos de referência que estruturam nossa memória e que a inserem na memória da colectividade a que pertencemos. Entre eles incluem-se evidentemente os monumentos, esses lugares da memória analisados por Pierre Nora, o património arquitectónico e seu estilo, que nos acompanham por toda a nossa vida, as paisagens, (…) as tradições e costumes, certas regras de interacção, o folclore e a música, e, por que não, as tradições culinárias.” (Pollak, 1989, p.3) Pollak afirma também que esses pontos de referência são frequentemente interiorizados fortalecendo os sentimentos de origem e filiação, consolidando uma base cultural comum. Desse modo certos elementos são progressivamente integrados num fundo cultural comum a toda a humanidade.1 1 Pollak, M. (1989). Memória, Esquecimento, Silêncio. Estudos Históricos. (Vol. 2, n. 3, p. 3-15). Acedido em 2 de Setembro de 2006 em http://www.cpdoc.fgv.br/revista/arq/43.pdf Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 19 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Memória é também entendida como o processo de aprender, armazenar e recordar informação. Não representa um registo de tudo o que nos aconteceu, pois ela é, por excelência, selectiva, apenas guardamos aquilo que, por um motivo ou por outro, tem ou teve, algum significado especial. Neste sentido, em relação à memória que se procura preservar através do património, não devem ser tomadas decisões com base em fundamentalismos, minando qualquer tentativa de intervenção. É importante permitir a mudança e promover o desenvolvimento, preservando ao mesmo tempo, de forma intransigente, todos os elementos de especial significado necessários à preservação da identidade colectiva. As memórias dos grupos referenciam-se, também, nos espaços em que habitam e nas relações que constroem com estes espaços, por esse motivo é importante que a relação entre memória e lugar seja protegida. A memória como elemento constituinte do sentimento de identidade, tanto individual como colectiva, assume-se como um factor extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerência de uma pessoa ou de um grupo na sua reconstrução de si.2 1.2. Conceito de Património Num sentido amplo o património é o conjunto das obras produzidas pelo homem, nas quais uma comunidade pode reconhecer os seus valores específicos e particulares e com os quais se identifica.3 Este conjunto herdado do passado é um bem insofismável, prova da riqueza e diversidade produzida pela humanidade. A variedade de culturas e patrimónios no mundo é uma fonte insubstituível de informações a respeito da riqueza espiritual e intelectual da humanidade. Deve ser activamente promovida a valorização e protecção da diversidade cultural e patrimonial da humanidade como um aspecto essencial do desenvolvimento humano.4 2 Pollak, M. (1992). Memória e Identidade Social. Estudos Históricos. (Vol. 5, n. 10, p. 200-212). Acedido em 3 de Setembro de 2006 em http://www.cpdoc.fgv.br/revista/arq/104.pdf 3 Carta de Cracóvia 2000 – Princípios para a conservação e restauro do património construído. Lisboa: Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN). 4 UNESCO, ICCROM e ICOMOS (1994). Conferência de Nara - Conferência sobre autenticidade em relação à conservação do Património Mundial. Acedido em 3 de Setembro de 2006 em http://mestrado-reabilitacao.fa.utl.pt/5mranu/BibliografiaCartas.htm Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 20 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide O património é, por um lado, um veículo de integração social, como legado do passado no qual uma comunidade se reconhece e com o qual se identifica, e por outro o património é também um capital com o qual uma comunidade deve contar para promover o seu desenvolvimento sustentável. É símbolo de promoção da sua própria imagem.5 Uma vez que os valores culturais são por natureza dinâmicos, a definição de património é também por inerência dinâmica, o que significa que o conceito está em constante transformação e os objectos que o integram formam um conjunto aberto, com tendência para a sua ampliação. O conceito recente de património, amplo, flexível e dialéctico está ainda em construção. As alterações ao conceito de património, feitas ao longo dos anos, permitiram que este passasse a incluir as paisagens naturais com intervenção humana ou não, centros históricos, bairros típicos, bairros sociais de propostas inovadoras e outros. A constatação da sua importância e a necessidade da sua conservação e preservação, em contextos distintos e confrontando-se com diferentes problemas, originou a criação de diversos documentos contendo normas e directrizes para a orientação da intervenção sobre o património. A intervenção de qualquer ordem sobre o património deve portanto seguir as mais recentes orientações e os critérios proclamados internacionalmente. 1.3. Património Cultural Como referimos, o conceito de património foi sofrendo alterações ao longo dos tempos. A antiga noção de património histórico, com uma visão mais limitada, reduzida por uma “historiografia oficial” que convertia em património apenas os bens de origem aristocrática, religiosa, bélica ou estatal, deu lugar ao conceito actual, mais abrangente, de património cultural. Segundo a UNESCO (1972) o património cultural é o conjunto de bens móveis e imóveis, materiais e imateriais, propriedade de particulares, de instituições, de organismos 5 “Na base do trabalho de Lévi-Strauss acha-se a suposição de que cada ser humano está completamente envolvido num contexto cultural e conceptual. Desse modo, ele argumenta que, para descobrirmos o que é verdadeiramente importante sobre os seres humanos, temos de explorar não a consciência humana como tal, e sim as expressões culturais do ser humano.” Grenz, Stanley J. (1997). PÓS-MODERNISMO, Um guia para entender a filosofia do nosso tempo. São Paulo. Vida Nova. p.176 Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 21 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide públicos ou semipúblicos que tenham valor excepcional desde o ponto de vista da história, da arte, da ciência e da cultura e portanto sejam dignos de ser conservados. Deste modo, o património cultural de um povo integra as obras dos seus artistas, arquitectos, músicos, escritores e sábios, assim como as criações anónimas emergidas da alma popular e o conjunto de valores que o identificam (as suas crenças, artesanato, gastrónoma, etc.)6. A legislação portuguesa integra este principio ao definir o património cultural como o conjunto de todos os bens portadores de interesse cultural relevante e que, sendo testemunhos importantes de civilização ou de cultura, merecem especial valorização e protecção. Considera como bens culturais os bens móveis e imóveis, definindo três categorias para estes últimos, nos termos em que tais categorias se encontram definidas no direito internacional, ou seja, monumento, conjunto e sítio.7 1.4. Património Arquitectónico O património arquitectónico, como elemento do património cultural, faz parte da paisagem cultural8 produzida pela acção conjunta do ser humano e da natureza, condicionada pela morfologia do território e pela capacidade adaptativa do próprio ser humano. Neste sentido, a paisagem criada reflecte o processo histórico das acções evolutivas de cada cultura e testemunha os diversos fenómenos culturais ocorridos, ao mesmo tempo que vai sendo moldada. A forma urbana é portanto o resultado histórico das diferentes etapas de estruturação do espaço, com toda a diversidade e complexidade de valores e significados que lhe são próprios. Este processo dialéctico continua a verificar-se no presente, do mesmo modo que no passado. O património arquitectónico põe em evidência a existência de uma identidade cultural tangível no meio ambiente que nos rodeia. 6 ICOMOS (1982). Declaração do México – Conferência Mundial sobre as Políticas Culturais. Acedido em 3 de Setembro de 2006 em http://mestrado-reabilitacao.fa.utl.pt/5mranu/BibliografiaCartas.htm 7 Lei nº 107/2001, de 8 de Setembro – Estabelece a as bases da política e do regime de protecção e valorização do património cultural. 8 Para uma análise mais detalhada sobre paisagem cultural consultar Recomendação n.º R (95) 9. Sobre a conservação integrada das áreas de paisagens culturais como integrantes das políticas paisagísticas. Adoptada pelo Comité de Ministros em 11 de Setembro de 1995. Conselho da Europa. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 22 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Partindo inicialmente de uma noção limitada aos monumentos isolados de valor excepcional, os primeiros documentos internacionais também não mencionavam o património arquitectónico como tal. A Carta de Atenas (1931) referia-se aos “monumentos históricos”, num contexto mais geral de “património artístico e arqueológico”, a Carta de Veneza (1964) referia-se a “monumentos e conjuntos histórico-artísticos”, contudo, a Carta Europeia do Património Arquitectónico (1975) incorporou já uma linguagem mais próxima daquela que utilizamos hoje. Convenção para a Salvaguarda do Património Arquitectónico da Europa (1985) Definiu que o conceito de património arquitectónico passaria a abranger:9 - Monumentos e a sua envolvente: todas as construções que pelo seu interesse histórico, arqueológico, artístico, científico, social ou técnico são particularmente notáveis, incluindo as instalações ou os elementos decorativos que fazem parte integrante de tais construções; - Conjuntos arquitectónicos: agrupamentos homogéneos de construções urbanas ou rurais, suficientemente coerentes para serem objecto de uma delimitação topográfica, notáveis pelo seu interesse histórico, arqueológico, artístico, científico, social ou técnico; - Sítios: obras combinadas do homem e da natureza, parcialmente construídas e constituindo espaços suficientemente característicos e homogéneos para serem objecto de uma delimitação topográfica, notáveis pelo seu interesse histórico, arqueológico, artístico, científico, social ou técnico. Um bom exemplo da alteração de paradigma é a forma como hoje se considera (fruto de um consenso global que se foi formalizando ao longo das últimas décadas) as cidades/centros históricos, constituídos não apenas pela sua herança física e material (edifícios, ruas, praças, fontes, etc.) mas incluindo também a sua paisagem natural, e acima de tudo, os seus habitantes, seus costumes, seus ofícios, as suas relações socioeconómicas, as suas crenças, etc. Por esse motivo a intervenção sobre o património assume quase sempre uma 9 Resolução da Assembleia da República n.º5/91. Convenção para a Salvaguarda do Património Arquitectónico da Europa. Este documento ratifica a convenção com o mesmo nome assinada em Granada a 3 de Outubro de 1985. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 23 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide enorme complexidade só possível de lidar com equipas multidisciplinares trabalhando em interdisciplinaridade e transdisciplinaridade (integração e somatório dos saberes).10 O património arquitectónico é um bem que pertence a todos, contudo, cada uma das suas partes está à mercê de cada um. Cada geração, aliás, só dispõe do património a título passageiro, cabe-lhe a responsabilidade de o transmitir às gerações futuras.11 1.5. Breve histórica da teoria da conservação e do restauro A preocupação com os monumentos históricos e o interesse pela sua conservação é desde há muito uma inquietação das civilizações. Como referimos anteriormente, o conceito de património foi sendo alterado ao longo do tempo e os desafios a ele ligados percepcionados segundo diferentes perspectivas. Pretende-se neste ponto fazer uma breve revisão dos principais conceitos e princípios aplicados ao património, desde o século XVIII até aos nossos dias. 1.5.1. O século das luzes O legado deixado de gerações anteriores despertou desde sempre interesse ao longo da história do velho continente, ora pela natureza sagrada dos lugares, pelas tecnologias construtivas ou pelas qualidades artísticas dos objectos ou lugares. Foi no entanto no século XVIII que surgiram as primeiras formulações explícitas sobre o valor documental e histórico da arquitectura e a necessidade da sua conservação e transmissão às futuras gerações, surgiam assim os primeiros inventários e catálogos e de seguida as primeiras teorias sobre restauro. 10 O princípio de interdisciplinaridade é geral a todas as ciências. Foi Jacques Boudeville quem escreveu que “toda a ciência se desenvolve nas fronteiras de outras disciplinas e com elas se integra em uma filosofia. (…) Quando se fala em multidisciplinaridade se está dizendo que o estudo de um fenómeno supõe uma colaboração multilateral de diversas disciplinas, mas isso não é por si mesmo uma garantia de integração entre elas, o que somente seria atingível através da interdisciplinaridade, isto é, por meio de uma imbricação entre disciplinas diversas ao redor de um mesmo objectivo de estudo.” Henriques, José M. (1990). Municípios e Desenvolvimento, Caminhos possíveis. Lisboa. Escher. p.102 11 Concelho da Europa (1975). Declaração de Amesterdão - Carta Europeia do Património Arquitectónico. Acedido em 3 de Setembro de 2006 em http://home.fa.utl.pt/~camarinhas/3_leituras12.htm Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 24 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide 1.5.2. Do século XIX ao século XX O conceito de monumento arquitectónico praticamente se manteve inalterado até às primeiras décadas do século XX, ou seja, manteve-se circunscrito aqueles exemplares de valor histórico, estético ou simbólico relevante. As teorias de Ruskin ou de Viollet-le-Duc, propagandeadas durante o século XIX, o discurso de Camillo Boito durante o III congresso de Engenheiros e Arquitectos Italianos realizado em Roma no ano de 1883, apontado por muitos teóricos como um acontecimento de enorme importância para a definição e sistematização da teoria de restauro e conservação, todos estes textos reuniram os princípios com os quais se desenvolveria a actividade de restauro do século XIX. Contudo, as diversas teorias de restauro desse século levaram sempre em consideração os edifícios ou monumentos como objectos isolados. Entre as mais importantes correntes teóricas da linha historicista12 do século XIX, evidenciamos: a) O restauro estilístico do Francês Viollet-le-Duc (1814-1879); Eugéne Emmanuel Viollet-le-Duc, defendia o restauro dos monumentos segundo o seu estilo característico, defendia ainda a destruição de todos os acrescentos de outras épocas de modo a conduzir o monumento ao seu estado mais puro. Viollet afirmou um dia que o arquitecto deve proceder como “o cirurgião hábil e experimentado que não toca um órgão sem ter tomado consciência da função e sem ter previsto as consequências imediatas e futuras da operação. Antes que ter azar é melhor não fazer nada. Melhor deixar morrer que matá-lo.” (cit. in Luso, Lourenço & Almeida, 2004, p. 35) Na sua obra Dicionário da Arquitectura Francesa (1871) escreveu: “restaurar um edifício não é conservá-lo, repará-lo ou refazê-lo, é restabelecê-lo num estado de plenitude que não poderá ter existido em nenhum momento.” (cit. in Luso et. al., 2004, p. 35) Um exemplo da sua obra é o restauro do Castelo de Pierrefonds, situado em Compiegne, França. 12 O historicismo desenvolvido no séc. XIX, representava a tendência generalizada de recuperar as características da arquitectura do passado, elegidas como padrões universais de beleza e qualidade. Nesse sentido eram imitados os estilos arquitectónicos de épocas passadas, incorporando algumas características culturais, evoluindo para o ecletismo. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 25 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide b) O restauro arqueológico praticado por Raffaele Stern (1774-1820); Segundo Stern, no trabalho feito sobre ruínas com vista à sua consolidação, a recomposição deveria ser feita recorrendo a formas simplificadas e com materiais diferentes dos originais, permitindo que a intervenção fosse distinguível do original. Um exemplo é o restauro do arco de Tito em Roma, executado entre 1817 e 1824. c) As reflexões anti-restauro do Inglês J. Ruskin (1819-1900); Quase em simultâneo a Viollet, e em oposição a este, surgiram em Inglaterra as teorias de John Ruskin. Este crítico de arte, sociólogo e escritor, defendia o trabalho dos construtores e artífices, aos acrescentos feitos sobre os originais chamava de “mentiras arquitectónicas”, principalmente se não fossem manufacturadas. Para ele a produção industrial era uma falsificação. Segundo Ruskin os monumentos deviam ser alvo de constante manutenção para evitar futuros restauros. As intervenções feitas na Europa em alguns monumentos foram duramente criticadas por Ruskin e seus seguidores (entre eles, William Morris era o mais importante), gerando-se, na Inglaterra, o movimento que viria a ser conhecido por AntiRestauro. d) O restauro moderno de Camillo Boito (1836-1914); Este arquitecto italiano defendia que o principal valor dos monumentos é o seu valor histórico, devendo ser o aspecto primordial a preservar. Boito defendia, à semelhança de Ruskin, a manutenção do edifício ao longo do tempo para evitar-se o restauro com acrescentos e renovações, para ele, as intervenções de restauro só deviam ser executadas quando necessário. Considerava contudo, que sempre que existisse uma real necessidade de intervir, a obra moderna deveria ficar bem diferenciada da antiga, seguindo o princípio que os acrescentos de épocas posteriores também testemunham a história do monumento. Deste modo, Boito afirmava-se claramente contra os restauros estilísticos que falsificavam os monumentos. A lei Italiana para a conservação dos monumentos e dos objectos de antiguidade e arte13, sem dúvida a mais completa à época e que serviu de exemplo para muitos outros estados europeus, seguiu as normas e os conselhos estabelecidos por Boito. 13 Por ocasião do III Congresso de Arquitectos e Engenheiros Civis realizado em Roma, no ano de 1883, Boito resume a sua teoria em vários princípios de actuação para a conservação dos monumentos históricos. Estes princípios são adoptados pelo Ministério da Instrução Pública de Itália e incorporados na legislação italiana em 1909 através da lei para a conservação dos monumentos e dos objectos de antiguidade e arte. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 26 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Os aspectos principais da lei determinavam a obrigatoriedade de: - limitar as intervenções ao mínimo possível; - distinguir de forma bem visível as partes novas das antigas; - marcar claramente a diferença entre os materiais originais e os modernos; - expor as partes eliminadas num lugar próximo do monumento restaurado; - manter um registo da intervenção, acompanhado de fotografias das diversas fases dos trabalhos, colocando-as no próprio monumento ou num lugar público próximo; - assinalar ou gravar a data de execução das intervenções no edifício numa epígrafe descritiva da actuação. e) O restauro histórico de Luca Beltrami (1854- 1933); Segundo Beltrami a reconstrução dos monumentos deveria ser fundamentada em critérios rigorosos e irrefutáveis, ou seja, documentos historiográficos, incluindo textos literários e representações gráficas, de forma a executar o restauro o mais verdadeiro possível. A maior dificuldade que a aplicação deste método apresentava era a incapacidade muitas vezes encontrada de interpretação dos dados históricos, umas vezes por falta de experiência, outras por insuficiência desses mesmos dados. 1.5.3. Século XX Os acontecimentos da primeira metade do século XX, com a grande destruição provocada por duas guerras mundiais e a posterior empresa de restauro de uma grande quantidade do património europeu, implicaram a necessidade de redigir um conjunto de documentos14, a nível internacional, com a finalidade de normalizar a actividade de restauro e conservação do património histórico, as mudanças de conceitos e suas definições. Foi, portanto, já no decorrer do século XX, com as referidas alterações conceptuais, que se passou a valorizar o monumento arquitectónico no seu contexto envolvente. a) O restauro científico ou filológico de Gustavo Giovannoni (1873-1948); Surgiu então uma nova corrente teórica, denominada de restauro científico ou filológico, que considerava o restauro como um acto científico e defendia a necessidade de utilizar métodos científicos bem definidos. O seu principal protagonista foi o Italiano Gustavo Giovannoni, tendo sido este o primeiro a alertar para os problemas da defesa dos centros 14 Cartas, normas, resoluções, declarações, recomendações, etc. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 27 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide históricos. Arquitecto, engenheiro civil, historiador, urbanista e crítico de arquitectura, Giovannoni foi considerado um dos principais intervenientes na conferência de Atenas de 1931, da qual surgiu o primeiro documento internacional, publicado no sentido de tornar universais certas regras de protecção e salvaguarda de monumentos, falamos da Carta de Atenas do Restauro. Giovannoni colocava como questão central as relações entre conservação e modernização das cidades históricas reconhecendo que estas, para além do seu valor cultural, constituíam tecidos vivos. Defendia intervenções pontuais na cidade antiga (inserção do novo no antigo, seguindo a sua máxima, conservação e modernização), de forma cuidadosa e mantendo a configuração geral, de modo a manter as suas características ambientais. Gustavo Giovannoni15 tornou-se um “anti-modernista”, crítico dos princípios defendidos pelo movimento modernista. Assim como Boito, Giovannoni manifestava-se contra os acrescentos, prática que denominava de restauro de inovação. Caso estes fossem absolutamente necessários deveriam ser correctamente identificados e datados, utilizando novos materiais que se adaptassem harmoniosamente aos originais. b) O restauro crítico de Cesare Brandi (1906-1988); A outra corrente teórica de maior relevo neste século foi o restauro crítico de Cesare Brandi. Brandi, entendia que o restauro era um acto crítico-cultural, condicionado pelos valores do presente que, segundo ele, deviam ser considerados. Enfatizava a importância histórica e estética da obra e entendia que o autor do restauro devia olhá-la com uma sensibilidade crítica (juízo crítico de valor)16, indo além da mera competência técnica e científica. A intervenção deveria ser multidisciplinar seguindo princípios gerais (descartando fórmulas e regras rígidas) ligados à crítica de arte, à estética, história e filosofia. O restauro deveria restabelecer a unidade potencial da obra de arte, sempre que isso fosse possível, sem cometer qualquer falsificação artística ou histórica, e sem apagar as marcas do percurso da obra de arte através do tempo17. Para Brandi, o acto de restauro fazia parte da própria obra, configurando o momento em que esta era analisada na sua forma 15 No seu livro Vecchie città ed edilizia nuova (1931), Giovannoni critica a forma como estava a ser equacionada a questão da expansão urbana. 16 Cesare Brandi defendia que este juízo crítico de valor, que devia guiar a intervenção, jamais se poderia basear no gosto arbitrário de alguém, ao contrário deveria alicerçar-se em conhecimentos concretos e profundos, resultantes de estudos multidisciplinares. 17 Brandi, C. (1992). Teoría de la Restauración. Madrid: Alianza Editorial Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 28 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide material e na sua dupla dimensão estética e histórica, permitindo a sua transmissão às gerações futuras, imputando ao acto de restauro uma grande responsabilidade, para a geração presente e para as seguintes. Cesare Brandi, sustentava, à semelhança de Boito e Giovannoni, que qualquer intervenção deveria ser facilmente perceptível (princípio de distinguibilidade), sem com isso adulterar a própria unidade do objecto, para ele, o restauro deveria facilitar eventuais intervenções futuras, garantindo ao mesmo tempo o princípio da reversibilidade.18 1.6. Bases normativas internacionais sobre património De entre os diversos documentos normativos gerados sobre o património e adoptados internacionalmente, fazemos menção aos que nos parecem mais importantes: Conservação e Restauro - Carta de Atenas do Restauro, 1931 (I Congresso Internacional de Arquitectos e Técnicos de Monumentos Históricos); - Carta de Veneza, 1964 (Carta Internacional sobre a Conservação e Restauro dos Monumentos e dos Sítios - ICOMOS); - Carta de Cracóvia, 2000 (Conservação e Restauro do Património Construído). Textos Europeus sobre o Património Arquitectónico Europeu - Declaração de Amesterdão, 1975 (Congresso sobre o Património Arquitectónico Europeu – Concelho da Europa); - Acordo de Granada, 1985 (Convenção para a Salvaguarda do Património Arquitectónico da Europa – Concelho da Europa); Sítios Históricos e Património Vernacular - Recomendação de Nairobi, 1976 (Relativo à Salvaguarda e Papel Contemporâneo das Áreas Históricas – UNESCO); 18 Idem Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 29 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide - Carta de Toledo, 1987 (Carta Internacional para a Salvaguarda das Cidades Históricas – ICOMOS); - Carta do Património Vernacular Construído, 2000 (Charter on the Built Vernacular Heritage - ICOMOS); 1.6.1. Conservação e Restauro Carta de Atenas do Restauro (1931): 19 A Carta de Atenas de 1931 (Carta para o Restauro de Monumentos Históricos, adoptada pelo Primeiro Congresso Internacional de Arquitectos e Técnicos de Monumentos Históricos) foi redigida decorrido pouco mais de uma década do fim da Primeira Guerra Mundial (1919), num contexto de profundo debate entre os vários especialistas e pretendia unificar e universalizar os critérios de intervenção sobre o património arquitectónico. Tendo como herança o restauro científico proposto por G. Giovannoni, recomendava o respeito pelo carácter e fisionomia da cidade, particularmente no contexto envolvente dos monumentos antigos onde o ambiente devia ser objecto de um cuidado especial. A Carta de Atenas defendia que a manutenção dos monumentos deveria ser feita regularmente, para que estes pudessem ter uma utilização efectiva, condenava as reconstruções integrais bem como a aplicação irresponsável de materiais modernos, assim como a utilização de publicidade, postes e fios de electricidade na envolvente do monumento. As construções a erigir nesse espaço deveriam ser cuidadosamente equacionadas. Esta carta reforçou a importância da conservação, da educação e propôs vias de colaboração internacional. A carta de Atenas serviu ainda de base para a legislação patrimonial de vários países e para a elaboração de outros documentos internacionais, em especial a Carta de Veneza e a Carta de Cracóvia, granjeando uma grande influência em países como a Itália (nas Cartas de Restauro Italianas de 1932 e 1972), e Espanha. 19 I Congresso Internacional de Arquitectos e Técnicos de Monumentos Históricos (1931). Carta de Atenas Para o Restauro de Monumentos Históricos. Acedido em 3 de Setembro de 2006 em http://home.fa.utl.pt/~camarinhas/3_leituras11.htm Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 30 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Ideias fundamentais expostas na Carta de Atenas de 1931: - assegurar a durabilidade das obras de arte e dos monumentos através de uma manutenção regular e permanente, evitando restituições integrais; - respeito por todas as obras históricas e artísticas do passado sem excluir estilos de qualquer época; - reutilização do edifício, mantendo o seu uso original ou atribuindo-lhe o uso funcionalmente mais adequado, garantido a sua continuidade futura; - o recurso às técnicas modernas seria aceitável desde que de forma dissimulada, para que a sua aplicação não alterasse a imagem e o carácter do monumento; - antes de qualquer intervenção, o monumento devia ser alvo de estudo e análise por parte de uma equipa multidisciplinar, de modo a realizar um diagnóstico correcto e definir os trabalhos adequados de restauro. Carta de Veneza (1964): 20 Redigida em 1964, durante o II Congresso Internacional de Arquitectos e Técnicos de Monumentos Históricos e adoptada pela ICOMOS, a Carta Internacional sobre Conservação e Restauro dos Monumentos e Sítios Histórico-Artísticos21 revela a influência das actividades de restauro levadas a cabo depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Inspirada nos pressupostos teóricos do restauro crítico de Cesare Brandi atribui uma maior importância a motivos espirituais e culturais, ao contrário da Carta de Atenas que defendia critérios mais científicos e documentais.22 A definição de monumento histórico sofre na Carta de Veneza uma alteração, passando a abranger para além da obra arquitectónica isolada e o espaço envolvente onde se encontra implantada, o sítio rural e urbano que testemunhe uma civilização particular, uma evolução significativa ou um determinado acontecimento histórico. Passa também a englobar, para além das obras excepcionais, as criações mais modestas com valor cultural. 20 ICOMOS (1964). Carta de Veneza - Carta Internacional sobre a Conservação e Restauro dos Monumentos e dos Sítios. Acedido em 3 de Setembro de 2006 em http://home.fa.utl.pt/~camarinhas/3_leituras10.htm 21 Modelo de Preservação Histórica e do Conservacionismo 22 Azkarate, A., de Ael, M. J. Ruiz & Santana, A. (2003). El Património Arquitectónico. Acedido em 5 de Setembro de 2006 em http://www.ehu.es/arqueologiadelaarquitectura/documentos/1118164264Patrimonio.pdf Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 31 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Outros pontos importantes deste documento: - necessidade de salvaguardar a obra de arte ao mesmo tempo que o testemunho histórico; - o restauro devia respeitar os materiais utilizados e todas as partes das diferentes épocas, sem adulterar ou destruir; - os estudos deviam ser acompanhados de investigação das várias especialidades, utilizando meios interdisciplinares avançados; - as intervenções de restauro deviam permitir que os trabalhos realizados sobre o objecto pudessem em qualquer altura ser retirados, regressando ao seu estado inicial, prevendo a reversibilidade nas intervenções estruturais e construtivas; - necessidade de uma manutenção periódica dos edifícios e uma atribuição funcional socialmente útil; - importância de salvaguardar a integridade dos sítios monumentais e assegurar o seu saneamento, manutenção e valorização. Carta de Cracóvia (2000): 23 Surge como uma actualização das duas cartas anteriormente referidas, dentro de um contexto de unificação Europeia, com a pretensão de responder aos novos paradigmas culturais. São levantadas questões como a multidisciplinaridade na conservação e restauro e a necessidade de incluir novas tecnologias. Adquire uma importância singular uma vez que é o mais recente documento internacional produzido sobre o Património Arquitectónico. Valoriza em seus princípios, de forma conjunta, o património arquitectónico, urbano e paisagístico, reivindica a recuperação da memória histórica contida no património edificado (resgatando o valor dos elementos documentais) e defende os valores distintos acumulados ao longo dos séculos opondo-se portanto à recuperação selectiva de supostos estados originais. Correndo o risco de nos repetirmos, por ser este o documento mais recente consideramo-lo de maior importância e por isso mesmo, dele falaremos mais detalhadamente posteriormente. 23 Carta de Cracóvia 2000 – Princípios para a conservação e restauro do património construído. Lisboa: DGEMN. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 32 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide 1.6.2. Textos Europeus sobre o Património Arquitectónico Europeu Declaração de Amesterdão (1975): 24 A Carta Europeia do Património Arquitectónico adoptada pelo Comité dos Ministros do Conselho da Europa e proclamada no Congresso sobre o Património Arquitectónico Europeu em Amesterdão, 1975 (Ano Europeu do Património Arquitectónico), introduziu o conceito de conservação integrada (conceito que traduz a necessidade de encontrar a função apropriada a cada caso com o apoio de meios jurídicos, administrativos, financeiros e técnicos)25 e defendia uma intervenção mínima como reacção aos excessos de intervenções realizadas de acordo com critérios demasiado permissivos de reutilização e funcionalidade, que tiveram como consequência a destruição irreversível de valioso património histórico. O funcionalismo foi adoptado por muitas administrações públicas para satisfazer a necessidade de novos espaços, o seu uso displicente caiu muitas vezes no puro fachadismo26, destruindo a memória histórica que muitos edifícios antigos ainda conservavam. Outros aspectos importantes: - define a constituição do património arquitectónico europeu, integrando os monumentos de valor excepcional e a sua envolvente, os conjuntos, bairros de cidades e aldeias que apresentem valor histórico ou cultural; - alerta para o facto de os monumentos perderem uma parte significativa do seu carácter caso fosse adulterado o seu ambiente de inserção; - considera que a estrutura dos conjuntos históricos pode facilitar uma boa distribuição das funções e uma maior integração das populações, devendo ser reabilitados respeitando as proporções, as formas e a disposição dos volumes, assim como os materiais tradicionais (não exclui por completo a arquitectura contemporânea); - a reabilitação dos bairros históricos deve ser feita tanto quanto possível sem modificações importantes da sua composição social, conduzida de forma a garantir justiça social (combatendo o êxodo dos habitantes com menor capacidade financeira) e de uma 24 Concelho da Europa (1975). Declaração de Amesterdão - Carta Europeia do Património Arquitectónico. Acedido em 3 de Setembro de 2006 em http://home.fa.utl.pt/~camarinhas/3_leituras12.htm 25 Luso, E., Lourenço, Paulo B. & Almeida M. (2004). Breve história da teoria da conservação e do restauro. Acedido em 7 de Setembro de 2006 em http://www.civil.uminho.pt/cec/revista/Num20/Pag%2031-44.pdf 26 Considera-se fachadismo toda a intervenção que provoque a destruição do interior de um edifício preservando, de forma acrítica, apenas a sua fachada sobre a rua principal ou reconstruindo-a numa imitação forçada da antiga. Moreno, J.L. Gonzalez (1999). La restauración objectiva. Barcelona: Diputación de Barcelona. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 33 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide maneira tal que todas as camadas da sociedade possam ser beneficiadas. Os conjuntos arquitectónicos devem ser protegidos, edifícios de maior valor e os mais modestos, assim como o ambiente que integram (enfatiza a necessidade de proteger as aldeias tradicionais, que considera estarem em risco); - destaca a importância de despertar o interesse do público pelo património arquitectónico (garantindo a sua sobrevivência) e de assegurar uma arquitectura contemporânea de grande qualidade (a arquitectura de hoje é o património de amanhã); - promove um novo urbanismo, capaz de reencontrar os espaços fechados, a escala humana, a interligação das funções assim como a diversidade sociocultural, características dos tecidos urbanos antigos (as construções antigas podem e devem receber novos usos, que correspondam às necessidades da vida contemporânea); - incentiva a criação de novas actividades económicas, de modo a suster o despovoamento, contribuindo para impedir a degradação das construções antigas; - a conservação contribui para uma economia de recursos, para a redução de utilização para construção de áreas com potencial agrícola e evita ou atenua o deslocamentos das populações; - adverte os urbanistas para a importância de compreender as especificidades próprias de cada espaço, tratando-os de acordo com essas particularidades. Os objectivos e as regras de intervenção sobre os conjuntos históricos devem resultar da compreensão dos seus valores estéticos e culturais. Acordo de Granada (1985): 27 Em 1985, a Convenção para a Salvaguarda do Património Arquitectónico da Europa, veio definir a normativa a seguir pelo Concelho Europeu para o património arquitectónico, foi ratificada a Carta Europeia do Património Arquitectónico com a metodologia de conservação integrada que, como já referimos, implica a disponibilização de meios jurídicos, administrativos, financeiros e técnicos, e cujo sucesso depende da participação de todos, governos e cidadãos. Estabelece a definição do conceito de património arquitectónico como integrando os seguintes bens imóveis: os monumentos, os conjuntos arquitectónicos e os sítios (conforme explanado anteriormente, nesta dissertação). 27 Concelho da Europa (1985). Acordo de Granada - Convenção de Granada para a Salvaguarda do Património Arquitectónico da Europa. Acedido em 3 de Setembro de 2006 em http://www.diramb.gov.pt/data/basedoc/TXT_LI_1309_1_0001.htm Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 34 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide O documento também recomenda: - a inclusão da protecção do património arquitectónico nos objectivos essenciais do ordenamento do território e do urbanismo; - fazer da conservação, promoção e realização do património arquitectónico um elemento fundamental das políticas em matéria de cultura, ambiente e ordenamento do território; - a promoção, a aplicação e o desenvolvimento, indispensáveis ao futuro do património, de técnicas e materiais tradicionais; - a utilização dos bens protegidos tendo em atenção as necessidades da vida contemporânea, promovendo a sua adaptação a novas utilizações sempre que se mostre adequado; - as visitas e abertura dos bens protegidos ao público, não devem prejudicar as suas características arquitectónicas e históricas e do respectivo meio ambiente; - necessário realçar a unidade do património cultural e dos laços existentes entre a arquitectura, as artes, as tradições populares e modos de vida; - importante promover a formação das diversas profissões e ofícios com intervenção na conservação do património arquitectónico; - conciliar da melhor forma a protecção do património arquitectónico e as necessidades actuais da vida económica, social e cultural. 1.6.3. Sítios Históricos e Património Vernacular A constatação da necessidade urgente de proteger o legado deixado pelas gerações anteriores, reconhecendo a sua imensa riqueza e significação histórica e cultural, em especial num contexto de pós-guerra (lamentando-se as perdas significativas ocorridas para o património), obrigou os diversos estados a unirem esforços para a protecção do património que pertence a todos. Com o decorrer do tempo e a continuada ampliação do conceito de património, outros perigos se levantaram, configurando novos paradigmas e obrigando à redefinição das estratégias e metodologias de intervenção, entre as novas ameaças que surgiram destaca-se o perigo da uniformização e da descaracterização. O debate passou a englobar então os Sítios Históricos ou tradicionais, reconhecendo-os como testemunhos particulares da riqueza e da diversidade das criações culturais, religiosas e sociais da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 35 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide humanidade. A recomendação de Nairobi (Novembro de 1976) reflecte estas novas preocupações. Recomendação de Nairobi (1976): 28 A Recomendação de Nairobi de 1976 é um documento da UNESCO relativo à salvaguarda das áreas históricas e o seu papel na vida contemporânea. O texto veio complementar e ampliar o alcance das normas e dos princípios desenvolvidos nos documentos internacionais anteriores. Reconhece a importância vital que os conjuntos históricos ou tradicionais e a sua envolvente têm para cada ser humano, comunidade ou nação, assumindo-se como expressão da sua cultura e, ao mesmo tempo, um dos alicerces da sua própria identidade, constituindo-se como um património universal insubstituível. Define o conjunto histórico ou tradicional como um aglomerado, criado pelo ser humano, de construções e de espaços (incluindo sítios arqueológicos e paleontológicos) coesos e com valor reconhecido do ponto de vista arqueológico, arquitectónico, pré-histórico, histórico, estético ou sociocultural. Nesta categoria encontram-se incluídos: - os sítios pré-históricos; - as cidades históricas; - os bairros urbanos antigos; - as aldeias e povoados; - os conjuntos monumentais homogéneos. Faz ainda as seguintes considerações acerca dos conjuntos históricos ou tradicionais: - são elementos fundamentais a considerar na gestão das áreas urbanas e no planeamento territorial; - diante dos perigos de deterioração e até desaparecimento, os diversos países devem agir de forma adequada a proteger este património, assumindo essa responsabilidade nas suas politicas de planeamento nacional, regional e local (as acções de especulação e expansão urbana causam muitas vezes graves danos a este património); 28 UNESCO (1976). Recomendação de Nairobi - Relativo à Salvaguarda e Papel Contemporâneo das Áreas Históricas. Acedido em 3 de Setembro de 2006 em http://www.unesco.org/culture/laws/historic/html_eng/page1.shtml Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 36 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide - deve ser considerado na sua globalidade, como um todo coerente, respeitando para além da estrutura espacial e das construções, as actividades humanas e a envolvente natural e construída. - devem ser protegidos contra qualquer utilização imprópria, acréscimos supérfluos e transformações abusivas, que atentem contra sua autenticidade, assim como qualquer forma de poluição; - a destruição deste património provoca muitas vezes perturbações sociais; - os conjuntos históricos ou tradicionais devem ser integrados harmoniosamente na vida contemporânea; - em tempo de grande uniformização, incluindo as técnicas construtivas e as formas arquitectónicas, os conjuntos históricos ou tradicionais contribuem de forma especial para a manutenção e desenvolvimento da diversidade e riqueza do património cultural, incluindo naturalmente o património arquitectónico. A Recomendação de Nairobi indica os seguintes aspectos a definir nos planos e documentos de salvaguarda: - as condições e restrições específicas e as zonas e os elementos a serem protegidos (só devem ser permitidas as demolições de edificações sem valor histórico ou arquitectónico); - as normas que regulam os trabalhos de manutenção, restauro e melhoramentos; - as condições gerais de instalação dos sistemas de abastecimento e serviços indispensáveis à vida urbana ou rural; - as formas de protecção contra a descaracterização provocada pela introdução de cabos eléctricos e telefónicos (infra-estruturas necessárias mas com impacto negativo, a solução mais adequada é a instalação subterrânea destas redes), antenas de televisão, painéis publicitários, etc.; - as regras de construção de novos edifícios (regulamentação eficiente que controle as novas construções, assegurando que a sua arquitectura se enquadre harmoniosamente nas estruturas espaciais e na ambiência dos conjuntos históricos, em particular as alturas, cores, materiais e formas, telhados e elementos decorativos, relações e proporções dos volumes construídos e dos espaços abertos e a implantação dos edifícios. Prestar uma atenção especial à estrutura e dimensionamento dos lotes); - o tipo de sinalização das ruas, o mobiliário urbano e o revestimento do solo; Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 37 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide - a proibição da instalação de indústrias nocivas ao ambiente (ruídos, vibrações etc., incluindo uma exploração turística excessiva). Outras medidas de ordem técnica, económica e social: - análise do conjunto e a sua evolução espacial, contendo dados arqueológicos, históricos, arquitectónicos, técnicos e económicos; - determinar os imóveis a serem protegidos ou conservados, e aqueles que em circunstâncias excepcionais (perfeitamente documentadas) podem ser destruídos; - inventariar os espaços abertos, públicos e privados, incluindo a sua vegetação; - estudos sobre as estruturas sociais, económicas, culturais e técnicas, incluindo o contexto urbano ou regional mais amplo (integrando dados demográficos, análise das actividades económicas, sociais e culturais, os modos de vida e as relações sociais, os problemas fundiários, infra-estrutura urbana, o estado do sistema viário, as redes de comunicação e as inter-relações recíprocas da zona protegida com as zonas circundadas). - tomar medidas específicas que ajudem a solucionar o problema do trânsito automóvel nos conjuntos históricos ou tradicionais (devido à densidade do tecido urbano e às características arquitectónicas), por exemplo através do favorecimento da circulação dos pedestres e fácil acesso a parques de estacionamento; - manter as funções apropriadas existentes e os modos de vida, em particular, a habitação (assume uma importância vital), o comércio, o artesanato e a agricultura de pequena escala e criar novas actividades, compatíveis com o contexto económico e social, urbano, regional ou nacional em que se inserem, de modo que sejam viáveis a longo prazo; - converter os conjuntos históricos em pólos de actividades culturais, atribuir-lhes um papel essencial no seu desenvolvimento cultural e das comunidades circundantes. Carta de Toledo (1987): 29 Como vimos, os factores implicados na análise dos sítios históricos foram sendo alargados a fim de incluir elementos como a estrutura social, os problemas de uso, a componente económica e dos serviços, etc., a Carta de Toledo (Carta Internacional para a Salvaguarda das Cidades Históricas, igualmente conhecida como Declaração de Washington, 1987), também aborda e desenvolve estas questões. 29 ICOMOS (1987). Carta de Toledo - Carta Internacional para a Salvaguarda das Cidades Históricas. Acedido em 3 de Setembro de 2006 em http://home.fa.utl.pt/~camarinhas/3_leituras14.htm Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 38 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Aplica-se às cidades e aos centros ou bairros históricos, incluindo o seu enquadramento natural e construído que, para além do seu carácter histórico, exprimam os valores das civilizações urbanas tradicionais. Procura alertar para as pressões e ameaças do urbanismo nascido na industrialização e propõe medidas de salvaguarda, ou seja, medidas que visam proteger, conservar, restaurar e promover, de forma coerente, o desenvolvimento económico e social e a adaptação harmoniosa à vida contemporânea. Elege os seguintes valores a preservar: - o carácter histórico; - a forma urbana definida pela malha fundiária e pela rede viária; - relações entre edifícios, espaços verdes e espaços livres; - a forma e o aspecto dos edifícios, interior e exterior (estrutura, volume, estilo, escala, materiais, cor e decoração, entre outros) e a organização espacial; - relação entre ambiente natural e construído; - vocação da urbe ao longo da história; - qualquer outro elemento material e espiritual que exprima a sua imagem. Principais aspectos e objectivos fundamentais do plano de salvaguarda: - deve incluir uma análise de dados arqueológicos, históricos, arquitectónicos, técnicos, sociológicos e económicos; - definir as principais orientações e modalidades de acção a empreender nos campos jurídico, administrativo e financeiro; - possibilitar a melhoria das condições ambientais (a melhoria das condições de habitação é um objectivo fundamental); - pensado em primeiro lugar para beneficiar os habitantes do próprio sítio; - promover a participação dos habitantes e implicá-los em todo o processo (só através de um processo democrático de participação, se poderão conhecer e satisfazer eficazmente as necessidades da comunidade); - garantir uma articulação harmoniosa com a envolvente, natural e construída; - controlar a integração de elementos contemporâneos, sem prejudicar a harmonia do conjunto, e que possam contribuir para a sua valorização; - regulamentar a circulação automóvel e as zonas de estacionamento. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 39 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide A Carta do Património Vernacular Construído (2000): 30 A correcta compreensão do conteúdo teórico desta carta assume vital importância para este estudo, uma vez que o núcleo histórico em análise, assume um cariz eminentemente vernacular. Por esse motivo consideramos pertinente uma análise mais aprofundada deste texto. Uma vez que o património vernáculo está intimamente ligado com o conceito de cultura tradicional e popular, parece-nos importante, esclarecer em primeiro lugar este conceito. Segundo a Recomendação sobre a Salvaguarda da Cultura Tradicional e Popular (decorrente da 25ª Conferência Geral da UNESCO, realizada em Paris, 1989), a cultura tradicional e popular é: “o conjunto de criações que emanam de uma comunidade cultural, fundadas na tradição, expressas por um grupo de indivíduos e que reconhecidamente respondem às expectativas da comunidade enquanto expressão da sua identidade cultural e social. (…) As suas formas correspondem, entre outras, à língua, à literatura, à música, à dança, aos jogos, à mitologia, aos rituais, aos costumes, ao artesanato, à arquitectura e a outras artes.” (UNESCO, 1989, Secção A, para.1) A cultura tradicional e popular faz parte do património universal da humanidade e é um poderoso meio de afirmação da identidade cultural dos povos e grupos sociais. A Carta do Património Vernacular Construído, ratificada no ano 2000 pela 12ª Assembleia Geral da ICOMOS, realizada no México, reconhece como património vernacular todo o habitat construído de modo natural e tradicional por uma determinada comunidade e reivindica a sua protecção ante a crescente homogeneização da cultura e a globalização socioeconómica, que põem em risco este tipo de estruturas extremamente vulneráveis. Refere ainda o seguinte, em relação ao património vernacular: - constitui-se como uma obra do ser humano e também criação do tempo; - é a expressão fundamental da cultura de uma comunidade, da sua relação com o seu território e, ao mesmo tempo, a expressão da diversidade cultural mundial. Podemos reconhecer o património vernacular do seguinte modo: - forma de construir partilhada pela comunidade; - uma resposta ao ambiente com características local ou regionalmente reconhecidas; - coerência de estilo, forma e aparência (modos construtivos tradicionalmente estabelecidos); 30 ICOMOS (2000). Carta do Património Vernacular Construído (Charter on the Built Vernacular Heritage, México). Acedido em 3 de Setembro de 2006 em http://home.fa.utl.pt/~camarinhas/3_leituras18.htm Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 40 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide - perícia tradicional no desenho e construção transmitida de forma informal; - resposta eficaz aos constrangimentos funcionais, sociais e ambientais; - aplicação eficaz dos ofícios e sistemas de construção tradicional. Este documento indica também os princípios que devem ser respeitados na acção de conservação: - respeitar a identidade, os valores culturais e tradicionais das comunidades; - reconhecer a inevitabilidade do desenvolvimento e da mudança; - a única forma de conservação é através da preservação de todo o conjunto; - o património vernacular construído é parte integrante da paisagem cultural; - o património vernacular engloba não apenas a forma física dos edifícios e aglomerados, mas a forma como são utilizados e compreendidos, as tradições e associações intangíveis que lhe estão associadas. Principais linhas de acção: - executar uma análise completa da forma e estrutura (a documentação deverá ficar guardada num arquivo público e acessível a qualquer pessoa); - respeitar e manter a integridade do aglomerado, a relação com a paisagem física e cultural, e a relação entre estruturas; - as alterações, adaptações e qualquer reutilização (que correspondam legitimamente às exigências de utilização contemporânea) das estruturas vernaculares devem respeitar a sua integridade, o seu carácter e a sua forma, enquanto compatíveis com padrões de qualidade de vida aceitáveis; - promover a continuidade dos sistemas construtivos e ofícios tradicionais como condição fundamental para a continuidade da expressão e imagem vernacular; - utilização de materiais que mantenham uma consistência de expressão, aparência, textura e forma em todo o edifício; - as mudanças e restauros periódicos, feitos ao longo do tempo devem ser apreciadas e entendidas como aspectos da arquitectura vernacular; - o sucesso da sua protecção depende do envolvimento e apoio da comunidade, de uma utilização e manutenção constantes. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 41 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Sintetizando, as principais alterações à teoria normativa neste século foram:31 - a ampliação do conceito de património; - consciencialização, a nível mundial, do valor do património (respeitando valores universais); - diversificação das potencialidades do património (começando a ser visto como um valioso recurso socioeconómico). Estas mudanças tiveram a virtude de democratizar o património, no que respeita à sua identificação, conhecimento, representatividade cultural e social e acesso ao mesmo. No último quarto de século assistiu-se ainda a uma aproximação das recomendações internacionais aos conceitos fundamentais do respeito ambiental e desenvolvimento sustentável. 1.7. Carta de Cracóvia (2000):32 Princípios para a conservação e restauro do património construído O conceito de conservação e restauro assume hoje, felizmente, por acção da mudança da consciência colectiva dos povos europeus em particular (num contexto de novo alargamento da Comunidade Europeia) e por todo o mundo em geral, uma dimensão mais abrangente e ao mesmo tempo objectiva, que permite sem margem para qualquer dúvida salvaguardar de forma mais eficiente o legado histórico (físico e não físico) formado durante toda a existência humana tal qual a conhecemos. A nova sensibilização urge agora ser ramificada por toda a sociedade e interesses instalados, para que todos juntos possamos trabalhar em direcção à sustentabilidade (estudando o desenvolvimento a nível local), implicando como é óbvio a correcta execução do conceito de conservação e restauro. Hoje, o significado de património construído vai muito além do objecto físico por si só, como referimos, são introduzidas muito pertinente e necessariamente questões como o 31 Azkarate, A., de Ael, M. J. Ruiz & Santana, A. (2003). El Património Arquitectónico. Acedido em 5 de Setembro de 2006 em http://www.ehu.es/arqueologiadelaarquitectura/documentos/1118164264Patrimonio.pdf 32 Carta de Cracóvia 2000 – Princípios para a conservação e restauro do património construído. Lisboa: DGEMN. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 42 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide contexto físico envolvente, as características sócio-culturais e económicas onde está inserido, o valor histórico e artístico do objecto bem como da envolvente que lhe é indissociável. A Europa actual compreende uma grande variedade cultural e de valores, implicando uma grande diversidade de significados que cada comunidade atribuí ao seu património. É portanto necessário que os instrumentos e métodos de preservação sejam desenvolvidos de modo adequado ao contexto actual, sujeitos a um processo de evolução contínua. De acordo com a Carta de Cracóvia cada comunidade deve estar consciente do seu passado e da sua memória colectiva, assumindo a responsabilidade pela identificação e gestão do seu património, portador de diversos valores que podem alterar-se com o tempo. O objectivo do documento é a conservação do património arquitectónico, urbano e paisagístico, propondo diferentes tipos de medidas: - o controlo ambiental; - a manutenção e a reparação (devem implicar uma investigação sistemática, inspecção e acompanhamento, prevendo possíveis degradações e possibilitando que as medidas mais adequadas possam ser tomadas); - a renovação; - a reabilitação. A conservação do património edificado é feita segundo um projecto de restauro, que deve corresponder a uma estratégia de longo prazo. O projecto de restauro deve incluir os seguintes elementos: - estudo estrutural; - análises de volumetria; - identificação do significado histórico, artístico e sociocultural; - participação multidisciplinar. Reconhece os diferentes tipos de património edificado: - património arqueológico; - edifícios históricos e monumentos; - decoração arquitectónica, escultura e elementos artísticos; - cidades históricas e os povoados e a sua envolvente. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 43 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide A conservação do património edificado deve responder aos seguintes princípios: - evitar a reconstrução no “estilo do edifício” (pode ser excepcionalmente aceite na reconstrução de partes muito limitadas, com significado arquitectónico); - reflectir a linguagem da arquitectura actual sempre que for necessário incorporar partes espaciais e funcionais mais extensas; - a conservação dos edifícios históricos e monumentos, garantindo a sua autenticidade e integridade, deve incluir os espaços interiores, mobiliário e decoração; - devem ser valorizados e respeitados todos os períodos históricos em presença; - respeitar a função original; - assegurar a compatibilidade com os materiais e estruturas existentes (os novos materiais e tecnologias devem ser rigorosamente testados, ao mesmo tempo deve ser estimulado o conhecimento dos materiais e técnicas tradicionais); - garantir a reversibilidade das intervenções. Cidades históricas e povoados: - a conservação no contexto urbano pode englobar conjuntos de edifícios e espaços livres que fazem parte de áreas urbanas mais extensas, ou pequenos núcleos rurais ou urbanos, considerando valores tangíveis e intangíveis; - a intervenção deve compreender o aglomerado como parte integrante do território, do meio ambiente e da paisagem envolvente, respeitando o seu conjunto morfológico, funcional e estrutural; - a conservação deve visar o conjunto e não os edifícios isoladamente (é o valor de conjunto que deve ser salvaguardado e não apenas o valor do edifício por si só), destacandose a sua unidade orgânica, dimensões particulares e características técnicas, espaciais, decorativas e cromáticas; - o projecto de restauro de uma cidade histórica ou de um povoado deve acautelar: - a gestão da mudança (estudo das forças e factores de mudança, e das ferramentas necessárias ao processo); - a sustentabilidade das opções; - a conjugação das questões do património com aspectos sociais e económicos. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 44 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Na gestão do processo de mudança, transformação e desenvolvimento devem ser considerados os seguintes aspectos: - controlo das opções e dos resultados; - optimização dos custos do processo; - identificação dos riscos a que fica sujeito o património (definir sistemas de prevenção e planos de actuação de emergência); - participação efectiva dos cidadão. Refere ainda que o turismo cultural traz consigo um conjunto de aspectos positivos para a economia do local, devendo ser contudo considerado como um risco. 1.8. Turismo Cultural O turismo é um feito social, humano, económico e cultural irreversível, a sua influência sobre o património é particularmente importante. 33 Embora o turismo esteja desde a sua origem ligado ao património arquitectónico e artístico, tome-se como exemplo as viagens dos jovens aristocratas europeus, a Grand Tour (“viagem filosófica”), foi apenas nos anos setenta do século passado que o turismo cultural adquiriu um carácter independente e diferenciado do turismo de lazer. As viagens relacionadas com interesses culturais aumentaram exponencialmente nas últimas décadas, a elevação do nível cultural das sociedades ocidentais configura-se como uma das principais causas deste fenómeno.34 O reconhecimento do potencial económico do património, e nomeadamente, o seu papel como recurso essencial para o turismo cultural, permitiu que a sua rentabilização fosse 33 ICOMOS (1976). Carta do Turismo Cultural, Bruxelas. Acedido em 3 de Setembro de 2006 em http://www.icomos.org/docs/tourism_es.html 34 Richards, G. (2004). Association for Tourism and Leisure Education (ATLAS) - Interarts Observatory, Barcelona. New Directions for Cultural Tourism? Acedido em 17 de Setembro de 2006 em http://www.diba.es/cerc/Arxinterac04/Arxsem1/richards/ponrichardseng.pdf Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 45 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide encarada para alcançar o desenvolvimento das sociedades, constituindo-se hoje em dia como um elemento central das diversas políticas de planeamento.35 Com o aumento do fenómeno surgiu a necessidade de definir conceitos e linhas de acção, que fossem aceites e aplicados internacionalmente, com vista à valorização e regulamentação do turismo cultural e à protecção do património. Esses princípios ficaram expostos nas cartas do turismo cultural: - Carta do Turismo Cultural, 1976 (ICOMOS, Bruxelas) - Carta do Turismo Cultural, 1999 (ICOMOS, México) Procederemos de seguida a uma breve descrição das mesmas. Carta de Turismo Cultural (1976):36 Surgiu nos anos sessenta um debate sobre a conservação do património e a sua exploração como fonte de riqueza cultural, o debate proporcionou a criação de um documento de âmbito internacional, a Carta de Turismo Cultural (Bruxelas, 1976), esta carta, adoptada no mesmo ano pela ICOMOS, reconhece a importância do turismo, o seu forte crescimento e a sua incidência nos monumentos, define o conceito de turismo cultural e avança medidas de protecção dos monumentos e sítios. Apresenta o turismo como: - feito social, económico e cultural irreversível; - exerce uma influência significativa sobre o património; - actividade em desenvolvimento, o seu impacto tende a aumentar. Define o turismo cultural como: “A forma de turismo que tem por objectivo, entre outros fins, o conhecimento dos monumentos e sítios histórico-artísticos.” (ICOMOS, 1976, Secção I, para.3) 35 “Ela [a indústria patrimonial] representa hoje em dia, directamente ou não, uma parte crescente do orçamento e do lucro das nações. Para muitos estados, regiões e municipalidades, ela significa a sobrevivência e o futuro económico. É por isso que a valorização do património histórico é um empreendimento considerável.” Choay, F. (2000). A alegoria do Património. Lisboa: Edições 70. p.197 36 ICOMOS (1976). Carta do Turismo Cultural, Bruxelas.Acedido em 3 de Setembro de 2006 em http://www.icomos.org/docs/tourism_es.html Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 46 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Faz referência a aspectos positivos e negativos. Aspectos positivos: - contribui para a manutenção e preservação do património; - traz benefícios socioculturais e económicos para a população envolvida. Em relação aos aspectos negativos: - agravam-se sempre que se fizer um uso massivo e descontrolado dos monumentos e sítios (poluição ambiental, degradação do património, etc.); Princípios a respeitar: - o respeito pelo património é o principal aspecto a fazer prevalecer; - os monumentos e sítios devem desempenhar um papel de educação cultural, para além de elementos de atracção turística (devem ser mantidos num estado de aparência que se coadune com essas funções); Bases de actuação: - compreensão, por parte de todos os actores envolvidos, que a preservação e promoção do património natural e cultural só pode ser alcançada (para o benefício de todos), quando integrados e respeitados os diversos valores culturais, sociais e económicos; - combater o turismo anárquico, cujo resultado é a negação dos próprios objectivos; - limitar e adequar os tipos de uso e densidade de utilização; - proteger e respeitar a autenticidade e diversidade dos valores culturais. Carta de Turismo Cultural (1999):37 Redigida num novo contexto, com preocupações que dizem respeito à globalização e desenvolvimento sustentável, baseia-se, para além da carta antecessora, na Recomendação de Nairobi, 1976, onde são definidos os conceitos de autenticidade, identidade e diversidade culturais e na Declaração do México, 1982 (Conferência mundial sobre Políticas Culturais, ICOMOS). Reforça as recomendações feitas na primeira carta sobre turismo cultural, mas fá-lo de forma mais incisiva e pormenorizada. 37 ICOMOS (1999). Carta do Turismo Cultural, México. Acedido em 3 de Setembro de 2006 em http://www.international.icomos.org/tourism_sp.htm Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 47 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Considerações gerais: - o património pertence a todos os povos, o conceito é amplo e inclui aspectos naturais e culturais. É a expressão de longos processos de evolução histórica, e deve ser encarado como uma importante base para o desenvolvimento, actual e futuro; - face às tendências uniformizadoras da globalização, a protecção, conservação, interpretação e preservação da diversidade cultural e do património cultural transformou-se num desafio importante para qualquer povo, em qualquer lugar; - cada comunidade deve responsabilizar-se pela conservação e correcta gestão do seu património. Gestão do património/objectivos: - transmitir à comunidade local e aos visitantes o significado do património e a importância da sua conservação; - garantir, gerindo correctamente e de modo sensato ,o acesso físico, intelectual e emotivo aos bens patrimoniais; - enfatizar a ideia do privilegio e do dever que constitui o acesso ao desenvolvimento cultural (responsabilidade de respeitar os valores do património natural e cultural, assim como os interesses da comunidade local). Interacção dinâmica entre o Turismo e o Património Cultural: - o turismo nacional e internacional é um dos meios mais importantes para o intercâmbio cultural; - o turismo é cada vez mais encarado como uma força positiva, valorizando e captando os recursos económicos relacionados com o património, aproveitando-os para a sua conservação; - quando gerido de forma adequada, pode tornar-se um factor muito importante de desenvolvimento; - o património cultural e natural, a diversidade e as culturas vivas constituem atractivos principais do turismo; - o turismo deve beneficiar, motivar e proporcionar os meios necessários para que a comunidade anfitriã possa cuidar e manter o seu património e as suas tradições vivas; Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 48 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide - a preservação e valorização do património é um compromisso que deve ser adoptado por todos os actores relacionados (indústria turística e os intervenientes na gestão e protecção do património). Princípios da carta: - o património cultural e material é ao mesmo tempo um recurso material e espiritual, e desempenha um papel importante na vida moderna; - os sítios com património constituem a base da diversidade cultural e do desenvolvimento social, a sua protecção a longo prazo deve ser uma componente essencial no desenvolvimento de políticas sociais, económicas, culturais e turísticas (gestão sustentável para a geração actual e para as futuras); - a interacção entre o património e o turismo é dinâmica, está em constante mutação, gerando oportunidades e desafios, assim como possíveis situações de conflito. As actividades turísticas devem fazer parte da solução e não do problema, proporcionando resultados positivos e não negativos para o património, para a comunidade anfitriã e seu modo de vida, correspondendo em simultâneo às expectativas e necessidades dos visitantes (garantir que a experiência do visitante seja satisfatória e agradável, oferecendo serviços de máxima qualidade e condições adequadas de conforto e segurança); - os planos de desenvolvimento devem estabelecer limites adequados para a mudança, precavendo o possível impacto negativo de um número excessivo de visitantes, protegendo as características físicas do património, a integridade ecológica e diversidade do sítio, o bem-estar social, económico e cultural da comunidade anfitriã (os projectos de desenvolvimento turístico e as infra-estruturas necessárias devem respeitar a dimensão social, estética e cultural do local, as paisagens culturais e naturais); - devem ser respeitados os estilos de arquitectura, a tradição vernacular e os materiais próprios de cada local; - o envolvimento da comunidade anfitriã no planeamento das actividades turísticas e de conservação do património constitui um factor chave para a eficácia de qualquer estratégia. Respeitando os princípios assinalados nas cartas do turismo cultural, a reabilitação das áreas urbanas, ainda que não perdendo de vista a rentabilização do seu potencial turístico, deve ser feita por uma ordem de prioridades que atenta primeiro para os moradores, utilizadores e só depois os turistas. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 49 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide O turismo cultural, não sendo correctamente gerido pode causar efeitos colaterais, tais como: - a conservação museológica; - higienização do espaço urbano (comprometimento da autenticidade, pastiches e fachadismos); - intervenções mediáticas (criação de ambientes “cenográficos”, transformação do espaço urbano em produto de consumo cultural e de lazer, a “Disneyland approach”); - mercantilização do uso dos espaços públicos; - especulação imobiliária; - gentrificação (de actividades, estabelecimentos tradicionais, moradores, etc.); - perda de vitalidade nos horários de encerramento dos estabelecimentos comerciais, culturais, de lazer e de eventos; - fluxo intenso de visitantes durante alguns períodos do dia. As duas cartas mencionadas reflectem a preocupação de contrariar os efeitos negativos resultantes de uma relação conflituosa entre turismo e património. Sobre o assunto Choay refere o seguinte: “O condicionamento sofrido pelo património urbano histórico tendo em vista o seu consumo cultural, (…) tende a excluir dele as populações locais ou não privilegiadas e, com elas, as suas actividades tradicionais e modestamente quotidianas.” (Choay, 2000, p.197). Para contrariar os referidos efeitos negativos e promover uma gestão sustentável, Choay defende um modelo de intervenção a que chamou conservação estratégica38, ou seja, a aplicação de normas, dispositivos de controlo, medidas pedagógicas e políticas urbanas, como por exemplo: - regulação do fluxo de visitantes (incluindo, sempre que necessário, a redução dos dias de visita); - proibição do acesso automóvel nos bairros históricos, com excepção dos residentes; - criação de percursos pedonais. 38 Choay, F. (2000). A alegoria do Património. Lisboa: Edições 70. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 50 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide 1.9. Modelos de intervenção urbana Ao longo dos últimos dois séculos, os conceitos para a intervenção urbana e as várias metodologias aplicadas foram sendo alterados. De forma genérica podemos distinguir as seguintes teorias de intervenção urbana: - modelo de embelezamento e de saneamento (1850 até à 1ª Guerra Mundial). - modelo de renovação urbana (modelo da cidade modernista da carta de Atenas, 1933). - modelo da preservação histórica e de conservacionismo (anos 60, carta de Veneza, 1964). - modelo da revitalização urbana (anos 80). Modelo de intervenção em núcleos históricos Hoje, a necessidade de intervenção urbana recai, em grande medida, nos núcleos históricos. Estas zonas podem ser caracterizadas genericamente por limites bem definidos, ritmo lento de transformação (incapacidade das estruturas físicas em acompanhar as mudanças tecnológicas e socioeconómicas),39 um tecido urbano formado pela pequena escala de “cheios” e “vazios” e edifícios que raramente assumem um papel de protagonismo isolado, relacionando-se ao contrário uns com os outros numa harmonia que dá forma ao conjunto. Alguns dos seus principais problemas são: - dificuldade de acessibilidade e de estacionamento; - inadequação e obsolência do padrão e tipologia das edificações; - desequilíbrio funcional; - estrutura fundiária complexa. A sustentabilidade económica é um factor chave a levar em consideração. Nos últimos anos a reabilitação dos centros históricos evoluiu de uma visão de mecenato e subvenção para uma outra que os valoriza como activo económico. Existem 39 “A mutação que transforma simultaneamente os modos de vida e a organização espacial das sociedades urbanas europeias torna obsoletos os tecidos urbanos antigos”. Choay, F. (2000). A alegoria do Património. Lisboa: Edições 70. p.95 Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 51 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide visões diferentes de como encarar este desafio que vão desde a gestão pública, a gestão privada, ou a associação entre as duas. Estas modalidades promovem formas de desenvolvimento económico diferentes e criam condições para a obtenção de recursos financeiros de origem diversa (local, regional, nacional, internacional, podendo ser fundos públicos ou privados). Uma estratégia que não seja integralmente implementada e levada até ao fim dificilmente poderá resultar em algo melhor que um mero paliativo, pouco ou nada eficiente. 1.10. Reabilitação urbana40 O consecutivo crescimento urbano tem levado à delapidação e degradação de importantes recursos naturais, produzindo enormes quantidades de resíduos e poluição, criando graves problemas ecológicos. Neste sentido a primeira grande vantagem da reabilitação é a contribuição efectiva que presta para controlar os impactos negativos característicos do crescimento urbano, ou seja, a utilização e deterioração dos solos de qualidade, a pressão exagerada sobre os ecossistemas, o consumo insustentável de energia, água e de outros recursos escassos. A reabilitação urbana valoriza os recursos urbanísticos existentes, traduzindo-se na optimização e reutilização da estrutura edificada pré-existente, preservando património importante e contribuindo para a melhoria da qualidade ambiental, para o desenvolvimento económico, social e cultural da área intervencionada, fixando a população local, mantendo vivo o aglomerado. Através da reabilitação das construções existentes, em detrimento da sua demolição e nova construção, é possível minimizar a utilização de novos materiais, e a criação de entulho (muitas vezes impossível de reciclar e reutilizar). A utilização das novas tecnologias permite melhorar substancialmente a qualidade de vida dos utilizadores dos edifícios e espaços reabilitados e a gestão energética eficiente dos mesmos. 40 “Processo de transformação do espaço urbano, incluindo obras de conservação, recuperação e reabilitação de edifícios e de espaços urbanos, com o objectivo de melhorar as suas condições de uso e habitabilidade, conservando porém o seu carácter fundamental.” DGOTDU (2004). Desertificação em Portugal, Incidência no Ordenamento do Território e no Desenvolvimento Urbano Lisboa: Autor. p.305 Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 52 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Em síntese, a reabilitação permite: - diminuir os impactos ambientais negativos; - reutilizar estruturas edificadas pré-existentes; - preservar património cultural e arquitectónico importante; - manter as características e qualidade intrínsecas dos aglomerados urbanos; - o desenvolvimento económico, social e cultural dos aglomerados; - em muitos casos, ganhos económicos significativos; - minimizar o consumo de novos materiais. - reutilizar materiais (em vez de demolir e/ou reciclar); - a utilização de novas tecnologias, que melhorem a qualidade de vida e a eficácia energética. A reabilitação das zonas históricas deve ser encarada como um instrumento precioso na preservação da identidade histórica e cultural da comunidade, pois tal como afirma Alves: “Atingida a maturidade da cidade contemporânea, no que respeita ao seu crescimento, cabe à transformação do espaço público a responsabilidade do crescimento saudável dentro de barreiras, na perspectiva de que a preservação histórica respeita a tradição e a evolução de um lugar, consolida a sua imagem e promove a mudança e o novo crescimento.” (Alves, 2003, p.248) Este processo deve debruçar-se seriamente na melhoria da qualidade ambiental, fixando a população no local, ao mesmo tempo que sensibiliza e desperta a consciência da comunidade para o seu património arquitectónico e a sua herança cultural. Nunca será de mais repetir o aviso de Giovannoni: “os centros e os bairros antigos não poderão ser conservados e integrados na vida contemporânea se o seu novo destino não for compatível com a sua morfologia e a sua escala” (in Choay, 2000, p.204) 1.10.1. Reabilitação – Caracterização prospectiva da procura em Portugal Podemos afirmar com segurança que a reabilitação é comprovadamente uma via de futuro e pensamos que a mudança, ainda que vagarosa e mais tardia do que no resto da Europa, está a chegar a Portugal. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 53 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide O estudo elaborado no ano de 2006 pelo Instituto Técnico para a Indústria da Construção (ITIC), intitulado “Construção: uma visão do futuro” aponta como principais determinantes na evolução futura do mercado da construção, as seguintes: - a conjuntura económica; - a demografia; - o ambiente; - o ordenamento do território; - as novas tecnologias; - procura com um nível mais elevado de exigência. Segundo o ITIC os aspectos a equacionar em termos demográficos são: - famílias com tendência a ser mais pequenas; - com pessoas mais idosas (atendendo ao envelhecimento da população e à baixa taxa de natalidade). O estudo do ITIC afirma que no ano de 2020 construir-se-á habitações para menos 40.000 pessoas, mas com maiores exigências. O nível de exigência será maior em áreas como: - ambiente; - qualidade; - segurança; - conforto; - design. Relativamente ao mercado residencial o ITIC afirma, com base nos acontecimentos demográficos esperados, que as casas sofrerão alterações do seguinte tipo: - Tipologias mais pequenas; - Maiores áreas por habitante; - Mais funcionalidade (versatilidade); - Adaptadas às necessidades de habitantes mais idosos; - Adaptadas às necessidades das famílias de imigrantes; - Integradas num contexto vasto de prestação de serviços. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 54 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Quanto ao mercado não residencial, as indústrias e as empresas irão requerer: - Melhor tecnologia; - Menores custos energéticos; - Instalações mais eficientes. Assistir-se-á portanto a uma maior dependência do uso de tecnologia e a novas formas de habitar os espaços. O estudo afirma que a oportunidade para a construção estará nos seguintes mercados: - turismo (contando com o potencial de oferta turística a explorar em Portugal, e pelo facto de existir um grande potencial de investimento estrangeiro na procura de segundas casas); - saúde (contando com o envelhecimento da população). Conclui que será notório o aumento dos trabalhos de reabilitação ao longo dos anos: - representam hoje cerca de 28 por cento do total do segmento de edifícios; - em 2020 passarão para 50 por cento (num cenário de evolução favorável). Com base no referido estudo do ITIC, podemos concluir que a construção de novos edifícios e infra-estruturas dará lugar à reabilitação. 1.10.2. Síntese Conclusiva Concluímos corroborando a ideia expressa na Declaração de Amesterdão (1975), afirmando que a reabilitação de um aglomerado que faça parte do património arquitectónico não é uma operação necessariamente mais onerosa que a nova construção sobre um sítio não urbanizado. É importante levar em consideração o custo social, quando se comparam os custos equivalentes desses diferentes procedimentos, com consequências sociais distintas. A reabilitação interessa tanto a proprietários como a inquilinos, mas também aos artesãos, aos comerciantes e aos empresários estabelecidos no local, assegurando a vida e a conservação do aglomerado em bom estado.41 41 Concelho da Europa (1975). Declaração de Amesterdão - Carta Europeia do Património Arquitectónico. Acedido em 3 de Setembro de 2006 em http://home.fa.utl.pt/~camarinhas/3_leituras12.htm Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 55 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide O seguinte quadro síntese tem como objectivo apresentar um conjunto de princípios de intervenção que, segundo o nosso ponto de vista, melhor resumem os diversos princípios definidos nas bases normativas internacionais sobre património e turismo cultural, explanados anteriormente. PRINCÍPIOS DE INTERVENÇÃO - PATRIMÓNIO - Respeitar o carácter histórico, a vocação do aglomerado ao longo da história e a sua riqueza cultural. - Compreender e respeitar a estrutura espacial e das construções (proporções, formas e disposições de volumes, relações entre edifícios e destes com os espaços abertos e rede viária), as actividades humanas e a envolvente natural. - Preservar e valorizar a riqueza do seu património arquitectónico. - Conciliar da melhor forma a protecção do património arquitectónico com as necessidades económicas, sociais e culturais actuais (atribuição funcional adequada e socialmente útil). - Promover actividades culturais, incluindo o turismo cultural (prestando uma atenção especial aos possíveis efeitos negativos deste último). Controlar a contemporâneos. integração de elementos OBJECTIVOS - Preservar a autenticidade e a identidade cultural do aglomerado, factores estratégicos para o seu desenvolvimento, face às tendências uniformizadoras da globalização; - Promover um novo urbanismo, capaz de reencontrar os espaços fechados, a escala humana, a interligação das funções e a diversidade sociocultural. - Assegurar a conservação do património arquitectónico (manutenção regular e permanente) e transmissão às gerações futuras; - Proteger as características arquitectónicas e o seu testemunho histórico (respeitar todas as partes, de diferentes épocas e os materiais utilizados); - Contribuir para a educação e desenvolvimento cultural da sua própria comunidade e circundantes; - Trazer benefícios sociais e económicos para a população (captar os recursos económicos relacionados com o património) - Proporcionar os meios necessários para que a comunidade anfitriã possa cuidar e manter o seu património e as suas tradições vivas. - Salvaguardar a integridade dos sítios monumentais mas permitir o seu saneamento, manutenção, valorização e desenvolvimento; - Assegurar uma arquitectura contemporânea de grande qualidade (a arquitectura de hoje é o património de amanhã), enquadrada de forma harmoniosa nas estruturas espaciais e na ambiência dos conjuntos históricos (alturas, cores, materiais e formas, elementos decorativos, relações e proporções dos volumes construídos e dos espaços abertos, implantação dos edifícios, prestando especial atenção à estrutura e dimensionamento dos lotes; - Garantir a utilização de sinalização das ruas, mobiliário urbano e pavimentos adequados; - Garantir a forma mais adequada para a instalação de infra-estruturas indispensáveis à vida contemporânea, minimizando os impactos negativos (fios de electricidade e de telefones, antenas de televisão, etc.). Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 56 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide - Manter e valorizar a função de habitação. - Manter uma estrutura económica local, por exemplo através do estímulo à criação de novas actividades económicas, de pequenas e micro-empresas, preservando e valorizando as actividades económicas, profissões e ofícios tradicionais (comércio, agricultura, artesanato, técnicas de construção tradicionais). - Melhorar as condições de habitabilidade. - Promover o emprego localmente e a fixação da população, contribuindo para suster a degradação das construções antigas; - Assegurar a sustentabilidade das formas de conhecimento tradicionais, indispensáveis ao futuro do património. - Proibição da instalação de actividades e indústrias nocivas ao ambiente (ruídos, vibrações, etc.). - Evitar a descaracterização ambiental e preservar o património existente. - Reformulação da rede viária. - Solucionar os problemas de trânsito automóvel, típicos dos conjuntos históricos (devido à densidade do tecido urbano e às características arquitectónicas). Para além dos princípios de intervenção apresentados indicamos outros três que são, pela sua natureza, transversais a todos os anteriores: - Evitar modificações importantes da composição social. - A reabilitação deve ser pensada em primeiro lugar para beneficiar os próprios habitantes. - Garantir a justiça social; - Garantir que as medidas adoptadas são as mais adequadas; - O sucesso da conservação do património (depende do envolvimento e apoio da comunidade). - Participação e cidadania. Quadro 1 - Princípios de intervenção - Património Cada caso é único, as diferenças entre países, cidades ou bairros (sociais, culturais, legislativas, económicas, etc.) e o respeito pelo património construído obrigam a um estudo detalhado antes da intervenção, para que a reabilitação possa ser consciente, correcta e eficaz, o mesmo é dizer sustentável. A construção do espaço deve reforçar o equilíbrio entre homem, comunidade e natureza. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 57 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide 2. CARACTERIZAÇÃO DO NÚCLEO HISTÓRICO DE CABEÇO DE VIDE Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 58 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Este capítulo visa caracterizar o Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, incluindo uma breve contextualização da região, concelho e freguesia onde o aglomerado se insere. Pretende-se identificar claramente quais os principais pontos fortes e fracos, bem como as oportunidades e ameaças relacionados com o núcleo histórico, assinalando desse modo os aspectos essenciais a observar na elaboração da metodologia de intervenção que se pretende propor para a reabilitação do referido aglomerado. A metodologia utilizada passou essencialmente pela consulta bibliográfica disponível, pela observação directa, conversas com a população residente e pela análise dos dados recolhidos, em particular os inquéritos realizados no âmbito do estudo elaborado para a execução do Plano de Pormenor do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide. Cabeço de Vide é uma das três freguesias do Concelho de Fronteira, situado no Distrito de Portalegre, Alto Alentejo. O Alentejo debate-se com problemas específicos e parece-nos importante e oportuno tecer uma breve consideração acerca desta região de Portugal. O Alentejo possui uma área de 26,9 mil km2, ocupando, aproximadamente, 30% do território continental de Portugal. Com uma população de 514,8 milhares verifica-se uma densidade populacional muito baixa (19,1 habitantes por km2 sendo a do país de 108,1). Nos últimos anos, a capacidade da região para se auto-regenerar demograficamente perdeu-se, devido à elevada quebra de fecundidade e ao aumento do número absoluto de óbitos, que ocorrem em especial devido ao acentuado envelhecimento demográfico, caracterizado pela existência de um aumento crescente dos idosos e também por um continuado decréscimo dos jovens (Índice de envelhecimento = 147,2).42 A dinâmica migratória negativa registada na região tem tido reflexos também no despovoamento que se tem observado de forma generalizada em quase todo o território, sendo particularmente intenso nas áreas rurais mais deprimidas, onde a população é cada vez mais idosa. É dentro deste contexto que as projecções demográficas efectuadas para as próximas décadas apontam para um continuado declínio demográfico. Deste modo, a região só 42 Direcção-Geral do Desenvolvimento Regional (2005). Programa Operacional Regional do Alentejo 20002006. Revisão Intercalar 2004. Lisboa: Autor. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 59 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide conseguirá ultrapassar a situação de regressão demográfica quando tiver capacidade não só para fixar os seus naturais, mas também para atrair do exterior população activa e em idade de procriar.43 O Alentejo situa-se entre as 25 regiões mais pobres da União Europeia, segundo o indicador “PIB per capita”, sendo aquele que de entre as diversas NUT´s do continente mais afastado está da média nacional. A região do Alentejo apresenta também a taxa de desemprego mais elevada do país (8,7%), ultrapassando a média nacional em 1,3 pontos percentuais (INE 16/11/2006). Tendo o Alentejo a maior parte da sua superfície consagrada à agricultura, o sector primário tem na região um grande peso, sendo ao mesmo tempo a região em que o sector secundário se revela menos dinâmico. O sector terciário é aquele que tem maior expressão, com uma dinâmica de crescimento idêntica à do País, embora com forte representação dos serviços públicos não mercantis. A actividade turística apresenta, no entanto, fortes potencialidades de desenvolvimento (turismo rural, cultural, termal, eco turismo, etc.). O Alentejo, enquanto destino turístico, pese embora as potencialidades já mencionadas, tem ainda uma afirmação reduzida. Importa portanto valorizar os potenciais existentes e fazer do turismo e do lazer uma das âncoras de uma nova base económica, relançando definitivamente esta região, dentro de um contexto nacional e internacional, cada vez mais competitivos.44 Um dos sectores de possível desenvolvimento, a par do turismo, é sem dúvida o artesanato. É uma actividade predominantemente constituída por pequenas unidades individuais ou familiares de reduzida dimensão, baseada no “saber-fazer” do artesão, que poderá e deverá integrar inovação tecnológica e de design (sem perder contudo a sua identidade), introduzindo valor acrescentado aos produtos produzidos. A qualidade, genuinidade e diversidade da produção artesanal poderá significar um substancial aumento do emprego, comércio e turismo, para além de se constituir como instrumento importante para a conservação de práticas, artes e ofícios de uma cultura de raiz eminentemente popular. As micro e pequenas empresas, sendo parte essencial e indispensável à diversificação e 43 Idem Ministério da Economia e da Inovação. Turismo de Portugal, I.P. (2006). O turismo em 2006, Portugal, Continente e Regiões Autónomas. Acedido em 17 de Janeiro de 2007 em http://www.turismodeportugal.pt/Portugu%C3%AAs/conhecimento/estudoseestatisticas/Anexos/TURISMO%20 EM%202006.pdf 44 Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 60 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide consolidação do tecido económico, têm também nesta área um papel importante a desempenhar.45 Segundo o Programa Operacional Regional do Alentejo 2000-2006, esta região apresenta como pontos fortes uma elevada ligação da população ao território, associada a uma grande riqueza de tradições (forte identidade cultural), uma percentagem significativa de população beneficiada por infra-estruturas básicas, existência de importantes subsectores (vinho, azeite, hortofrutícolas, queijo, enchidos, derivados de cortiça, etc.), que produzem produtos bastante competitivos e de excelente qualidade. O Alentejo é também muito rico em património natural e cultural, apresentando elevados padrões de qualidade ambiental. O mesmo programa anuncia, em desfavor da região do Alentejo, factores como o despovoamento e abandono de muitas áreas rurais, falta de equipamentos de apoio à saúde, à primeira infância e à terceira idade. Verifica-se também uma insuficiência de equipamentos que garantam acesso à cultura e lazer. A promoção e comercialização dos seus produtos turísticos é fraca, situação agravada pela existência de recursos humanos pouco qualificados e envelhecidos. O Alentejo deverá ser capaz de aproveitar todas as oportunidades para promover e afirmar as suas potencialidades, combatendo simultaneamente as suas debilidades. É dentro deste contexto que esta dissertação se pretende localizar, tentando perceber até que ponto o turismo assumido como factor de desenvolvimento, subaproveitado mas de grande potencialidade para todo o Alentejo e em particular para Cabeço de Vide, nomeadamente o turismo termal e cultural, poderá ser interligado na estratégia de reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide e quais as medidas a tomar para esse efeito. Concluindo, gostaríamos de salientar que numa economia aberta, crescentemente globalizada e com grandes recursos tecnológicos, a fixação de populações não depende apenas de formas primitivas de uso dos recursos naturais, numa perspectiva próxima de uma economia de subsistência, mas antes da capacidade de identificar e potenciar formas de vida consentâneas com as condições existentes.46 45 Direcção-Geral do Desenvolvimento Regional (2005). Programa Operacional Regional do Alentejo 20002006. Revisão Intercalar 2004. Lisboa: Autor. 46 DGOTDU (2004). Desertificação em Portugal, Incidência no Ordenamento do Território e no Desenvolvimento Urbano. (Vol.1). Lisboa: Autor. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 61 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide 2.1. Concelho de Fronteira, um breve apontamento O Concelho de Fronteira fica situado na zona sul do distrito de Portalegre, ocupa uma área de 248,62 km2 e integra as freguesias de Cabeço de Vide, Fronteira e S. Saturnino. (Vide: Apêndice – Peça Desenhada nº 01) Ao longo da segunda metade do século XX, Fronteira tem assistido a um decréscimo populacional acentuado. Como em quase todo o Alentejo, verifica-se de igual modo neste Concelho o preocupante envelhecimento da sua população residente (segundo o INE o índice de envelhecimento47 situou-se em 224,51 no ano de 2004). Os jovens têm tendência a emigrar devido à falta de oportunidades de emprego e os mais idosos vivem na sua maioria de baixas reformas.48 Os censos de 2001 indicam uma densidade populacional de 13,76 hab/km2 e uma população residente de 3732 indivíduos (1790 homens e 1942 mulheres) o que representa uma variação de 9,5 pontos percentuais negativos, em relação aos censos de 1991.49 Verifica-se também que a taxa de natalidade no concelho, foi no ano de 2004 de 8,41, enquanto a taxa de mortalidade, no mesmo ano, atingiu os 14,79, ou seja, comparando com dados de anos anteriores constata-se uma diminuição do número de nascimentos, assistindo-se em simultâneo a um aumento da mortalidade. A taxa de desemprego caiu de 14,8 em 1991, para 10,2 no ano de 2001, contudo o concelho apresenta uma taxa de actividade50 que poderá variar entre os 30 e 34%. 47 Índice de envelhecimento é a relação existente entre o número de idosos e a população jovem. Fórmula de cálculo: (Pop. 65 e +) / (Pop. 15-64) x 100. 48 O isolamento da população idosa é um fenómeno que aparece normalmente associado ao envelhecimento da população, implica um aumento do número de famílias constituídas por um só adulto com mais de 64 anos, dependente totalmente das pensões de velhice. As graves dificuldades de inserção na vida activa sentidas pelos jovens entre os 15 e os 24 anos, residentes nos concelhos do Alentejo e no interior fronteiriço, onde o desemprego apresenta taxas muito elevadas neste segmento etário, especialmente para aqueles que procuram o primeiro emprego, obriga muitos desses jovens a optarem pelo abandono das suas terras natais, em busca de oportunidades e melhores condições de vida. DGOTDU (2004). Desertificação em Portugal, Incidência no Ordenamento do Território e no Desenvolvimento Urbano. (Vol.1). Lisboa: Autor. 49 O declínio da população deve-se a factores estruturais de natureza demográfica (envelhecimento, queda de fertilidade) e económica, associado sobretudo à incapacidade do crescimento dos sectores secundário e terciário compensarem o declínio da agricultura. Os factores que estão muitas vezes relacionados com a desertificação e o despovoamento são: a população envelhecida, a falta de investimento e a falta de oportunidades de emprego. DGOTDU (2004). Desertificação em Portugal, Incidência no Ordenamento do Território e no Desenvolvimento Urbano. (Vol.2). Lisboa: Autor. 50 Indicador demográfico que corresponde à percentagem da população economicamente activa relativamente à população total. Taxa de actividade = Pop. activa x 100/Pop. total. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 62 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide A relação total de dependência51 situa-se entre os 60 a 69%. A taxa de analfabetismo sofreu uma ligeira redução de 1,7 pontos percentuais, passando de 22,9 em 1991 para 21,2 em 2001. O estudo realizado para a elaboração do Plano de Pormenor do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide (1997), documento que inclui a caracterização do Concelho, indica que a população que reside em Fronteira é, em grande parte, uma população envelhecida, que outrora trabalhou na agricultura, com níveis muito baixos de literacia, vivendo essencialmente de reformas. O documento refere também que a grande maioria das empresas do concelho apresenta uma dimensão reduzida, uma vez que mais de 95% do tecido empresarial é composto por micro e pequenas empresas. O número de empresas sedeadas no Concelho de Fronteira em 31/12/2004 (segundo fonte do INE) era de 97, destas cerca de 35% pertencia ao sector primário, 21% ao sector secundário e 44% ao sector terciário. 2.2. Freguesia de Cabeço de Vide Antes de qualquer outra consideração apraz-nos referir que esta freguesia sofre uma natural influência da Vila de Fronteira, sede de concelho, e em especial uma forte influência da cidade de Portalegre sede de distrito. A cidade de Portalegre tem um forte carácter administrativo polarizando, através dos seus serviços do sector do turismo e agro-pecuário, o território envolvente. Embora extravase o âmbito desta dissertação, é importante levar em linha de conta que a relação desenvolvida entre as cidades e os espaços rurais e aglomerados urbanos de menor dimensão, que se localizam na sua envolvente, se reveste sempre de enorme importância para a promoção de modelos equilibrados de desenvolvimento. Neste sentido, é necessário fomentar as interdependências e melhorar a acessibilidade entre os diferentes 51 É a relação entre a população jovem e idosa e a população em idade activa, por cada 100 indivíduos. Este índice reflecte a vitalidade do concelho. DGOTDU (2004). Desertificação em Portugal, Incidência no Ordenamento do Território e no Desenvolvimento Urbano. (Vol.1). Lisboa: Autor. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 63 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide pequenos núcleos urbanos e os centros que possuem potencialidades para assumirem um papel de centralidade, nesses espaços sub-regionais.52 Sobre Cabeço de Vide diremos como o Dr. Augusto Serras: “Quem, como eu, vindo da Estação de Portalegre, ao passar na direcção do Santo Cristo, olhar em frente, à direita, avistará, no alto de uma elevação, a brancura tisnada de uma igreja, com sua torre apontando o céu; ao lado e no topo do morro, as paredes escuras de uma velha e desbaratada fortaleza; mais em baixo, a silhueta de umas casitas brancas. (…) Decida-se a subir pela Azinhaga do Borbolegão. Pare um pouco na Rua do Santo Mártir; aprecie, como um quadro, o medievalismo daquelas casinhas. Encha os pulmões de ar e suba a Rua do Quebra-Costas. Quase ao cimo desta olhe um instante à direita e fixe a vista na fachada singela de uma velha e modesta casita, cujo interior há-de visitar outra vez. Siga à esquerda, na direcção do hospital. Próximo da igreja passe entre esta e o castelo, até chegar à frente do templo. Feche os olhos e, sem medo, aproxime-se do muro em frente. Ao sentir a parede abra os olhos. Veja e não fale… se for capaz de ficar calado. Agora os comentários são seus. Só lhe digo: Aqui é Cabeço de Vide!” (Serras, 1990, p.19) 2.2.1. A Origem e a História Na freguesia de Cabeço de Vide existem muitas fontes de água e nascem nestas terras as Ribeiras de Vide e do Vidigão. Aproveitando este recurso abundante, terão sido os povos sedentários do Neolítico que aqui começaram por se estabelecer em pequenos grupos, usufruindo em simultâneo dos ricos ecossistemas que as ribeiras e as suas margens sustentavam. Diversos artefactos, como machados e facas de pedra lascada e polida, fazem prova disso mesmo. As antas erguidas nas Penas, Almanhares, Arneiros, Possilgais, Mariolo e tapada do Alexandrino corroboram esta evidência. Sabe-se que pelo Sul da Península passaram também Fenícios, Cartagineses, Celtas e depois os Lusitanos, que gostavam de habitar em lugares altos e aí edificavam os seus Castros. Mais tarde foram os Romanos que dominaram toda a região e se deixaram conquistar pelas virtudes desta terra alentejana, e em especial pelas suas águas sulfurosas com carácter medicinal. Segundo Fernando da Silva Correia, na obra de sua autoria intitulada Origem e formação das Misericórdias portuguesas, a utilização por parte dos Romanos das águas de Cabeço de Vide remonta a 118 a.C., onde edificaram um balneário, do qual se conhece os 52 DGOTDU (2004). Desertificação em Portugal, Incidência no Ordenamento do Território e no Desenvolvimento Urbano. (Vol.2). Lisboa: Autor. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 64 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide vestígios arqueológicos (Correia, 1944), descobertos nas escavações realizadas no século XIX para a construção do edifício termal ainda hoje em funcionamento. Com a queda continuada do Império Romano, os povos Bárbaros não tiveram dificuldade em ganhar a posse das terras. Foram os Suevos, os Alanos e os Vândalos, que, no século V, se estabeleceram por toda a Península. Sucederam-se os Visigodos, os quais, depois de se converterem ao Cristianismo a uniram num reino que durou cerca de duzentos anos. Foram vencidos pelos Mouros (chamavam-lhes assim os Cristãos por não serem baptizados), na batalha de Guadalete, em 711. A ocupação do Sul da Península Ibérica pelos árabes durou cerca de 780 anos. No ano de 1160, D. Afonso Henriques conquistou esta região aos Mouros, sendo retomada e destruída no final desse século. Foi este monarca que lançou o repto à Ordem Religiosa de Avis para vir ajudar a fazer frente aos Árabes, prometendo-lhes a posse administrativa de grandes porções destas terras, depois de conquistadas, suas fortalezas reconstruídas e as populações restabelecidas. Foi sob supervisão da Ordem de Avis que a vida social, económica e religiosa de muitas das populações além Tejo se foi organizando e Cabeço de Vide é disso uma evidência. Até ao reinado de D. Sancho II, a conquista do território aos mouros, em especial na região a Sul do Tejo, foi repleta de vitórias e derrotas, avanços e recuos. Eram tempos sobressaltados, de muita insegurança e incerteza, esta realidade também se fez sentir em Cabeço de Vide. Só depois da conquista da fortaleza do Alto de Vaiamonte, no ano de 1240, se passou a respirar alguma tranquilidade por terras do Alto Alentejo. Com a expulsão da região do povo Árabe, a Vila foi reconstruída, conjuntamente com o seu castelo e edificada uma cerca muralhada em torno da povoação. O documento histórico mais antigo, respeitante à Vila data do séc. XIII, altura em que o monarca D. Sancho II (reinou entre 1223 e 1245) passou pelo povoado. Ainda sem ser sede de concelho, Cabeço de Vide passou, a partir do reinado de D. João I, a enviar dois procuradores à Corte onde prestavam conselho ao rei, tomando assento no banco treze. Este aspecto demonstra bem o crescente aumento de importância e notoriedade à época, da pequena Vila. Cabeço de Vide dependeu, no campo administrativo e jurídico, do Mestrado de Avis até 1512, ano em que, por Foral concedido a 1 de Julho pelo rei D. Manuel I, se tornou sede de Concelho. Assim permaneceu até 24 de Outubro de 1855, quando foi integrada no Concelho de Alter do Chão. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 65 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide As relações não foram fáceis e as consecutivas divergências sobre a posse das águas das Termas da Sulfúrea levaram à desejada desanexação da freguesia passando esta, em 21 de Dezembro de 1932, a fazer parte do concelho vizinho de Fronteira (para comemorar esse acontecimento mudaram o nome da sua avenida principal para Avenida da Libertação). Por entre as personagens notáveis que passaram por esta pequena Vila do Alto Alentejo, em tempos gloriosos já idos, destacam-se alguns membros da família Vaz de Camões que por lá permaneceram, por mais de dois séculos. Em particular Pêro Vaz de Camões, tio do maior poeta português, Luís de Camões, que exerceu na Vila o cargo de juiz das sisas em 1530. Esta família habitava onde agora se situa o prédio número 35 da Rua de Avis. Destaca-se também o Cavaleiro Diogo de Azambuja, figura muito ilustre do reino. Sobre as origens do burgo pouco ou muito pouco (pelo menos em termos factuais) se sabe. Segundo a tradição (que nem sempre é completamente infundada), no ano de 1090, a Península era assolada por diversas batalhas entre mouros e cristãos. As terras junto à antiga povoação de Pombal foram palco de uma sangrenta batalha, da qual resultou um grande número de mortos e feridos. Os corpos em putrefacção desencadearam uma epidemia que ameaçava tirar a vida aos poucos que tinham sobrevivido a tão terrível acontecimento. Ainda lutando pela sua vida estes últimos subiram ao cimo de um cabeço que ali próximo se elevava, aí, respirando o ar puro e simultaneamente banhando-se nas nascentes da água medicinal que outrora os Romanos tinham utilizado, a pouco e pouco se recompuseram e por lá se estabeleceram. Deste modo surgiu uma nova povoação, no cimo do outeiro, que, talvez por estas razões se passou a chamar Vila de Vite (segundo os registos antigos da Ordem de Avis), ou Cabeça da Vide, topónimo que conservou até ao século XVII, altura que adoptou o nome actual de Cabeço de Vide. 2.2.2. Situação Geográfica Como já se referiu anteriormente, a Vila de Cabeço de Vide pertence ao Distrito de Portalegre e Concelho de Fronteira. Os concelhos limítrofes são Alter do Chão, Monforte e Veiros. De Lisboa, dista duzentos e vinte quilómetros. Com uma área de 65,68 km2, a freguesia fica situada, estrategicamente, no centro do Alto Alentejo e da região turística de São Mamede. Do ponto de vista turístico existem portanto inúmeros pontos de interesse histórico, cultural e natural, e ainda as famosas Termas da Sulfúrea. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 66 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Fica localizada próximo do triângulo formado por Portalegre, Castelo de Vide e Marvão, perto situam-se também as ruínas de Torre de Palma, a Coudelaria de Alter, a praia fluvial da Ribeira Grande e o Parque Natural da Serra de São Mamede. O acesso feito através das auto-estradas A1 e A23, ou A2 e A6, passando pelo itinerário principal IP2, é rápido e cómodo, embora os 20 km que ligam o IP2 à Vila sejam feitos por estradas camarárias em más condições, que deveriam ser melhoradas. Dista ainda 10 km do IC 13. O aeroporto internacional de Badajoz fica localizado a 50 km, com acesso através do IP2 e o aeródromo de Évora a 80 km, também com acesso através do IP2. A nível local, a principal infra-estrutura rodoviária que serve a Vila é a Estrada Nacional 369, que liga Alter do Chão a Monforte, em direcção a Elvas. Conta ainda com duas estradas camarárias, uma liga este aglomerado à sede de concelho, e outra, a do “Monte Seco” (que o povo chama de “Estrada da Fome”), liga Cabeço de Vide à Estrada Nacional 245. (Vide: Apêndice – Peça Desenhada nº 01) 2.2.3. Topografia A Vila estabeleceu-se lá no alto do cabeço, junto da sua fortaleza, e aí cresceu, primeiro pela rua que actualmente se dá o nome de Santo Mártir, junto da Estrada Romana também conhecida por Estrada Legionária, que vindo de Alter Pedroso, passava pelo povoado e descia em direcção às Termas, continuando para Torre de Palma, era uma estrada subsidiária da importante via militar romana que ligava Lisboa a Mérida. Depois foi descendo a encosta, a poente, pela Rua de Avis, até à Porta do Arco, seu primeiro limite e posteriormente, estendendo-se lentamente pela Rua do Espírito Santo até ao templo com o mesmo nome. Assim permaneceu a “Vila Antiga”, até ao fim do século XIX, tendo a seus pés o “formoso e alegre” rossio. Este terreno baldio que se estendia, quase plano, da Igreja do Espírito Santo até à Praça de Touros, era pertença da Câmara, foi neste espaço desafogado que foi crescendo a “Nova Vila”, chamada “O Rossio”, obedecendo a uma malha ortogonal regular, hierarquicamente definida, contrastando com as ruas estreitas, irregulares e íngremes da “Vila Antiga”, características da arquitectura medieval. Em 1934, chegava já à Rua Capitão Vaz Monteiro, sendo posteriormente edificado o Bairro Gonçalves Proença. Depois da revolução dos cravos foi construído um novo bairro, hoje o Rossio está totalmente Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 67 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide preenchido, sendo esta uma crítica que a Junta de Freguesia faz ao PDM de Fronteira, que não previu, em quantidade, novas áreas de expansão urbana. O Rossio encontra-se ligado à “Vila Velha” pela já referida Rua do Espírito Santo. (Vide: Apêndice – Peça Desenhada nº 03) A altitude varia entre 276 metros, junto à praça de Touros, e 336, número que se pode observar na placa de pedra colada junto à porta principal da Igreja Matriz. 2.2.4. Análise demográfica e sócio-económica A população de Cabeço de Vide viveu sempre do trabalho do campo, e a organização social na Vila reflectia esse facto. A dicotomia era baseada na “possessão ou não da terra”. Existiam por isso duas classes sociais distintas, o lavrador que era o empregador, e os trabalhadores do campo. A estas, juntava-se uma terceira classe social composta por aqueles que trabalhavam na Vila, os “Faiantes”. Naturalmente a classe mais numerosa era a dos trabalhadores do campo, os Camponeses. Numa sociedade fortemente hierarquizada e estanque, e portanto com poucas ou nenhumas esperanças de ascender socialmente, os camponeses estavam votados a trabalhar do nascer ao pôr-do-sol, os homens nas tarefas mais duras, as mulheres em trabalhos específicos como as mondas, ceifas, a apanha da azeitona, entre outros. Para as crianças estava reservado o trabalho de “ajudas” aos maiorais, assim, sem tempo para estudar (mesmo que para eles ouve-se lugar vago na escola da vila), ficavam na sua esmagadora maioria, para sempre amarrados ao analfabetismo. Esta era a classe mais desfavorecida e desprotegida, pouco mais podiam ambicionar que trabalho duro, por vezes associado à fome. Alguns destes homens exerciam trabalhos com alguma especificidade, que exigiam boa experiência e muita prática profissional: - O Ganadeiro, que lidava com gados; - O Ganhão trabalhava com juntas de bois; - O Abegão era o Maioral responsável pelos últimos; - O Almocreve lidava com os animais de carga; - Os Maiorais eram os responsáveis pelas diversas áreas de trabalho que referimos e pela criação do gado. Assim o vaqueiro, o pastor, o ganadeiro, o abegão, o boieiro e o porqueiro, todos eles eram considerados maiorais do grupo. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 68 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Para além destas tarefas campesinas existiam ainda o Aguadeiro, o Molheiro e Manajeiro. Os primeiros tinham a responsabilidade de ir recolher água para depois a distribuírem pelos trabalhadores, os segundos davam os molhos para carregar as carroças, aos manajeiros competia dirigir os ranchos das mondas, apanha da azeitona, ceifas e outras. Sobre estes homens, mulheres e crianças gostaria de citar as palavras do Dr. Augusto Serras: “Eu vi esses homens trabalhar. Não conheço trabalho mais árduo. Todo o dia curvados de foice na mão a cortar o trigo, no pino de Julho, nas horas de grande calor e num Alentejo sem sombras; o suor ácido a correr-lhes da cabeça para os olhos e para a boca, os lenços ensopados por baixo dos chapéus, as sarugas metidas na roupa a picar o corpo, as camisas, empapadas do sal do suor, a roçarem-lhes a pele ardendo em fogo; mais um púcaro de água, bebida e despejada pelo corpo dorido, e a foice sempre rente ao solo a puxar pão na seara sem fim.” (Serras, 1990, p.50) As culturas (hoje em muito menor número) em Cabeço de Vide não diferiam muito do resto da região do Alto Alentejo. Predominava a cultura do trigo, mas estas terras produziam ainda a cevada, a aveia, o feijão, a fava, o grão-de-bico, o pimentão, a azeitona, a cortiça e a bolota para alimentar as varas de porcos, o linho, a vinha, e diferentes frutas. Mais tarde foi introduzida a produção do tomate, do milho e do girassol. Os “Faiantes”, em menor número que os Camponeses, eram a classe social intermédia, composta pelos artífices, comerciantes e outras profissões liberais, juntamente com os seus empregados e aqueles que prestavam serviço nas casas senhoriais. As mulheres desta classe eram habitualmente criadas de servir, mulheres-a-dias, amas de crianças, costureiras ou donas de casa. Os seus filhos “lutavam” por ter um lugar na escola, sempre lotada (mais pelas parcas condições que propriamente pela quantidade da procura), alguns tinham de ficar um ou dois anos à espera, outros nem sequer tinham tal privilégio. Faiantes e Camponeses nutriam uma rivalidade mútua, que o passar do tempo, as alterações sócioeconómicas e particularmente os bailes da Vila fizeram esquecer. Os Lavradores eram a classe alta da Vila, nem por isso eram grandes latifundiários, mas a abundância de que gozavam era mais que suficiente para os destacar do resto da população. Alguns por verdadeiro altruísmo prestaram boas acções à Vila, outros, o povo ainda recorda com amargura. Durante a sua história, Cabeço de Vide padeceu de várias crises de trabalho e fome, umas vezes provocadas pelas pestes, outras vezes foi a guerra que lhe impingiu tal molesta. Estas crises cíclicas tiveram particular impacto no final do séc. XIX e durante a primeira metade do século XX. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 69 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide A população da Vila tinha aumentado consideravelmente e a capacidade da lavoura, ao contrário, estava muito diminuída pelos consecutivos maus anos agrícolas, pelas mudanças económicas que o país vinha a sofrer e pelo desinvestimento no sector. Como consequência o trabalho era pouco e mal pago. Este povo fez uso do último recurso que lhe sobrava, emigrou. A grande debandada verificou-se na década de sessenta, quando cerca de metade da população foi em busca de melhores oportunidades de trabalho, melhor qualidade de vida e principalmente de esperança. Os principais concelhos que os acolheram foram Sintra, Seixal, Almada, Barreiro e Évora. Quanto à actividade industrial, como já foi referido, o Alentejo não foi solo profícuo para este sector e Cabeço de Vide não foi excepção. As poucas indústrias que chegaram a existir estão quase todas extintas. A Moagem, maior industria que a Vila conheceu, foi transferida para as Caldas da Rainha em 1965, o Secador fundado em 1941, que no meio da Avenida triturava e secava o pimentão (cultivado em grande quantidade por estas terras), que chegou a dar trabalho a cento e sessenta pessoas, também já não existe hoje. Haviam Azenhas e Pisões, das quais restam quase nada, o povo ainda se recorda da Azenha da Bica, a Azenha de São Pedro, a Azenha do Santinho, a Azenha do Carreiras, na Sulfúria (desta ainda se preservou alguma coisa), a Azenha do Dionísio, apenas para mencionar algumas. Os pisões desapareceram sem deixar lembrança, depois de ter sido proibida a actividade junto às margens das ribeiras (para não poluir as águas). Pela Vila também se podiam encontrar alguns fornos públicos de cozer o pão. As pessoas levavam o seu pão, já tendido em tabuleiros, para ser cozido num destes fornos, o forneiro tinha direito a escolher um pão por cada cozedura. Esse pão era depois, por norma, vendido ao público juntamente com os restantes. Existe a lembrança dos seguintes, o Forno do Chico Vaz, na Rua do Espírito Santo, o Forno da Ana Charuta, na Rua da Senhora dos Anjos, o Forno do José Galante na Rua de Avis e o Forno da Barbacã, frente ao pelourinho. Ainda hoje podemos ver um desses antigos fornos, no cimo da Rua de Avis. Chegaram também a funcionar alguns lagares de azeite, o Lagar da Bica, o Lagar Novo, o Lagar do Penedo, o Lagar da Cooperativa e o Lagar da Família Caldeira. O primeiro recenseamento em Cabeço de Vide de que há registos data de 1527, foi mandado fazer por D. João III (o Numeramenta), e dava conta que a Vila tinha 422 moradores. O pequeno aglomerado foi crescendo até à primeira metade do século XX, altura em que muita da sua gente emigrou, ficando reduzida quase a metade. No fim da década de noventa do século passado a população tinha pouco mais de mil habitantes. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 70 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Analisando a evolução da população residente, a nível regional chegamos à conclusão que a tendência tem sido ao longo dos anos para a diminuição dos quantitativos demográficos, como indica o seguinte quadro: EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO RESIDENTE 1960 1970 1981 1991 2001 PORTALEGRE (DISTRITO) 188 482 145 545 142 905 134 607 127 026 FRONTEIRA (CONCELHO) 7 063 4 585 4 452 4 122 3 732 CABEÇO DE VIDE (FREGUESIA) 2 666 1 535 1 458 1 243 1 133 Tabela 1 – Evolução da População Residente a Nível Regional (Fonte: INE) Tanto a nível distrital como concelhio ou de freguesia, o período de perda mais acentuada verificou-se entre 1960-1970. Assistindo-se, nos anos seguintes, a uma continuação do decréscimo populacional, embora de forma mais reduzida. No ano de 2001 o Distrito de Portalegre registava uma perda de 7581 habitantes, em relação aos últimos censos, correspondendo a um declínio superior a 5 pontos percentuais. No Concelho de Fronteira, para o mesmo período, verificou-se uma quebra de 390 habitantes significando um decréscimo de 9,5%. A Freguesia de Cabeço de Vide apresentava uma população residente de 1133 habitantes, o que determinava uma densidade populacional de 17,2 hab/km2. A perda de população tem sido, de igual modo, uma constante nesta freguesia, situando-se o valor respectivo nos 110 habitantes, no período entre 1991/2001, correspondendo a um decréscimo populacional de 8,8%. Como já se referiu anteriormente o fenómeno, que afectou todo o Concelho, foi em grande parte motivado pela emigração das camadas mais jovens para as periferias dos grandes centros urbanos, em busca de trabalhos mais atractivos e melhor remunerados, assim como melhores condições de vida. Este êxodo rural provocou, subsequentemente, um preocupante envelhecimento populacional que tem sido alvo de combate nos últimos anos. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 71 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide PIRÂMIDE ETÁRIA DO CONCELHO DE FRONTEIRA (2001) Gráfico 1 – Pirâmide Etária do Concelho de Fronteira (Fonte: INE) De acordo com o gráfico apresentado o Concelho de Fronteira apresenta uma média de idades avançada, sendo o grupo etário dos 65-69 anos, aquele que apresenta maior expressão. Os grupos de pessoas de ambos os sexos, com menos de 20 anos, são os mais reduzidos, excluindo o grupo de pessoas que superam os 85 anos. Um dado positivo é o número considerável de homens e mulheres entre os 20 e 24 anos, no Concelho. Verifica-se também que as pessoas de sexo feminino apresentam uma maior esperança de vida. A taxa de natalidade do sexo feminino é superior à do sexo masculino (confirmando a tendência nacional e mundial). FAIXA ETÁRIA DA POPULAÇÃO, CONCELHO E FREGUESIA (2001) FAIXA ETÁRIA DA POPULAÇÃO (2001) Concelho/Freguesia FRONTEIRA 0 - 14 481 15 - 24 452 25 - 64 1753 + 65 1046 CABEÇO DE VIDE 144 137 495 357 Tabela 2 – Faixa Etária da População do Concelho de Fronteira e da Freguesia de Cabeço de Vide (Fonte: INE) Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 72 1753 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide 1046 2000 1800 1600 1400 1200 1000 800 600 400 200 0 13% 481 452 0 - 14 15 - 24 28% 12% 25 - 64 FRONTEIRA + 65 0 - 14 15 - 24 25 - 64 47% + 65 Gráficos 2 e 3 – Faixa Etária da População do Concelho de Fronteira (Fonte: INE) 1000 900 800 700 357 13% 0 - 14 15 - 24 32% 12% 137 25 - 64 144 300 200 495 600 500 400 + 65 100 0 0 - 14 15 - 24 CABEÇO DE VIDE 43% 25 - 64 + 65 Gráficos 4 e 5 – Faixa Etária da População da Freguesia de Cabeço de Vide (Fonte: INE) As actividades económicas na Vila desenvolvem-se em torno dos sectores da agricultura, serviços e alguma (pouca) indústria (principalmente na área da construção civil). Em Cabeço de Vide podemos encontrar vários equipamentos, serviços e comércio (essencialmente para dar resposta às necessidades diárias da população local), tais como: - As famosas termas da Sulfúrea; - As Escolas, pré-escolar e primeiro ciclo do ensino básico; - Junta de Freguesia; - Posto da GNR; Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 73 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide - Posto dos Correios; - Agência Bancária; - Centro de Saúde; - Farmácia; - Santa Casa da Misericórdia (com lar de idosos e centro de dia); - A Casa do Povo; - O Albergue (com espaço de acesso à Internet); - O Grupo Desportivo (inactivo no presente momento); - Equipamento Desportivo (campo de futebol); - Mercado (no edifício existe também uma papelaria, talho, minimercado e café); - O Solar (Antiga morada dos Simas Cardoso, reconhecido com valor arquitectónico pelo IPPAR, tem 3 suites, 2 quartos duplos, piscina, sala de jogos e bar); - Unidades Hoteleiras (três unidades); - A Praça de Touros; - Centro de exposições de artesanato; - Cabeleireiro; - Esteticista; - Ourivesaria; - Sapateiro; - Oficina de serralharia civil; - Posto de abastecimento de combustíveis; - Bar/Pub (três unidades); - Discoteca; - Minimercado; - Mercearia; - Drogaria; - Padarias (duas unidades); - Pastelaria; - Cafés (onze unidades); - Restaurantes (cinco unidades); - Lojas (roupa e electrodomésticos, três unidades e uma unidade respectivamente); - Instalações sanitárias públicas (duas unidades); - Cabine telefónica; Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 74 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide - Lavadouros públicos; - Igrejas, Evangélica e Católica; - Agência Funerária; - Cemitério; (Vide: Apêndice – Peça Desenhada nº 06) É no Rossio que se movimenta grande parte da vida social e económica da Vila. É neste espaço que se encontram a maior parte dos serviços e equipamentos supra mencionados. A Avenida da Libertação, que se estende desafogadamente pelo Rossio, é o “espaço de excelência” dos moradores, e estes, fazem dela o seu lugar de “passeio público”. Têm o privilégio de usufruir deste lugar edílico, cheio dos sons que a água das fontes e lagos juntamente com o chilrar dos pássaros pousados nas árvores e as conversas tranquilas das pessoas, lhe emprestam, a cor e o cheiro das muitas flores que a embelezam são também um dos seus maiores atributos. As árvores providenciam a sombra necessária para que as muitas tardes de verão possam ser gozadas tranquilamente num dos seus banquinhos de madeira, num diálogo agradável ou simplesmente a apreciar tão belo cenário. À noite as sombras tornam o espaço ainda mais mágico. Na Avenida parece que a vida passa mais tranquila e serena. No que respeita à Gastronomia, importa referir que antigamente o almoço era tomado pelas oito da manhã e era composto pela açorda ou por umas migas, tinha de ser assim pois o trabalho que tinham pela frente era árduo. O jantar, normalmente grão ou feijão com batata e carne de porco (às vezes nem vê-la), era por volta do meio-dia. A meio das tardes quentes de verão era servido o gaspacho fresco. Pela noite, à ceia, comiam-se umas fatias de pão com um pouco de queijo e chouriço, o bom vinho alentejano “regava” a refeição. Quando os trabalhadores estavam longe, por aqueles campos, a comida era transportada em tarros de cortiça que conservavam a comida quente por muito tempo. É decorrente desta vivência que hoje se pode dar a provar a gastronomia tão típica e saborosa da região. São as sopas de cação e de tomate, sarapatel, o gaspacho, a açorda alentejana (simples ou com bacalhau, ou ainda com sardinhas assadas na brasa), as migas (de pão ou de batata, com entrecosto frito), o ensopado de borrego, o cabrito assado, a tomatada de galinha e a carne de porco à alentejana, entre outras iguarias que fazem a delícia de quem as puder provar. A acompanhar pode-se desfrutar do bom vinho Alentejano, geralmente adocicado e encorpado, o delicioso pão alentejano, as azeitonas, os queijos e enchidos. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 75 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Em relação à doçaria, podemos afirmar que Cabeço de Vide não tem doçaria própria para além das iguarias típicas da região. No Natal fazem-se as azevias (com doce de grão ou batata doce), as filhoses e o nógado. Pelo Carnaval, são confeccionados os pastéis de grão. Na Páscoa, são os bolos fintos, os folares e as merendeiras, os bolos de azeite, as bolemas de pão, canela, noz e maçã, que fazem a delícia dos Cabeço Videnses e seus hóspedes. Quanto à vida cultural e lúdica na Vila, teremos de falar mais do antigamente do que de o agora. Cabeço de Vide viu nascer em 1933 um periódico quinzenal, “O Alentejano”, que teve apesar de tudo uma vida efémera, durou pouco mais de dois anos, mas deixou um conjunto de reportagens muito interessantes sobre a vivência na Vila e na Região. Chegou também a ter, esta Vila, duas filarmónicas que rivalizavam entre si para receber maior número de aplausos dos Cabeço Videnses e até um grupo de teatro que utilizava o palco do Albergue, durou pouco mais de dez anos. Existiu também o Club Tiro e Sport, mais elitista, cujos sócios eram os lavradores e seus familiares e o Grupo Desportivo Vidense. Falta mencionar ainda o Rancho Folclórico, reactivado recentemente, cujos pergaminhos são reconhecidos por este país fora e além fronteiras, e a Praça de Touros que apesar de não ter grande projecção na tauromaquia portuguesa não deixa de ser uma boa infraestrutura para tal prática. A religião foi até à poucas décadas atrás, e à semelhança do resto do país, a grande impulsionadora de parte muito significativa das actividades lúdicas na Vila. A igreja era o centro da vida nas horas extra laborais, sendo essa a razão para as suas festas assumirem cariz religioso. As duas festas anuais em Cabeço de Vide são a da Senhora dos Anjos na segundafeira de Páscoa e a da Senhora das Candeias (padroeira) a 2 de Fevereiro. A respeito do artesanato, fabricam-se os tradicionais artefactos de madeira, de cortiça e de vime, ferraria, tapeçaria, rendas e bordados. Contudo, Cabeço de Vide tem visto desaparecer os seus artesãos, já não há praticamente ninguém que se dedique à confecção de tarros, couchos, tricheiras e colheres de cortiça, cornas de chifres de bois, cadeiras e bancos de bunho. Por ser uma área de actividade com grande potencial a Câmara Municipal de Fronteira desenvolveu um programa estruturante chamado “Aldeia Academia Europeia e Internacional de Artes e Ofícios Tradicionais”, integrado na Acção de Valorização do Norte Alentejano do Programa de Promoção do Potencial de Desenvolvimento Regional – PPDR (Subprograma 3 Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 76 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide – Medida 1), com sede no núcleo histórico de Cabeço de Vide. Nesse sentido foi aprovado pela Comissão Europeia o projecto de cooperação transnacional ALMA – Aliança de Mestres Artesãos, liderado pelo Município de Fronteira, entre Novembro de 2003 e Setembro de 2005, envolvendo parceiros franceses e espanhóis.53 Aldeia Academia Europeia e Internacional de Artes e Ofícios Tradicionais: Esta iniciativa pretendia constituir-se como um projecto de desenvolvimento sustentável do concelho de Fronteira, com reflexos na região envolvente e a nível nacional. Foi um projecto com visão, cheio de vontade e de crer, mas infelizmente não vingou. O resultado de tal empenhamento está visível apenas na pequena edificação restaurada para albergar a sede do projecto ALMA, situada na Rua da Escola Velha, no novo centro de exposições edificado no largo de S. António, ainda não inaugurado e nalgumas obras de melhoramento de espaços e equipamentos públicos. A ideia continua contudo a ser válida e passível de ser utilizada. Todos os estudos e projectos são importantes não devendo ser desperdiçadas nenhum tipo de iniciativas, em especial em pequenos aglomerados como este com fracos recursos e debilidades técnicas. O projecto tinha por objectivo criar, recolher, organizar, armazenar, difundir, utilizar e transmitir o conhecimento e as competências relacionadas com o fabrico de materiais e objectos, a prestação de serviços e a produção e confecção de bens alimentares e encontravase sistematizado em torno de quatro vectores fundamentais, o património, a alimentação, matérias-primas utilizadas e produtos específicos.54 Assentava na ideia de que “nas sociedades contemporâneas, a interdependência entre a cultura e a economia tem-se vindo a aprofundar, acompanhada pelo reconhecimento da cultura como vantagem competitiva. (…) A valorização material e imaterial do património cultural, opera, simultaneamente, a reafirmação, diferenciação e reconstrução das identidades locais e regionais, por via de mudanças de função, significado e valor social dos bens culturais.” (Câmara Municipal de Fronteira [CMF], 2003, p.10) Neste sentido tem-se registado um crescente aumento, sustentado, na procura do património cultural, de bens culturais materiais e imateriais, englobando as tradições e o saber-fazer de cada cultura. A esta vertente o projecto Aldeia Academia pretendia juntar as 53 54 Câmara Municipal de Fronteira (2003). Aldeia Academia de Artes e Ofícios Tradicionais. Fronteira: Autor. Idem Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 77 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide vantagens inerentes às novas tecnologias de informação e comunicação, estimulando novas práticas culturais e promovendo o acesso às diversas formas de cultura e conhecimento. A sociedade contemporânea baseia-se no conhecimento, ou seja, no conjunto de saberes e competências produzidos e mobilizados nas actividades económicas, incluindo naturalmente as artes e ofícios tradicionais.55 Promover o património humano, construído e natural, passou por via das circunstâncias, a ser cada vez mais atractivo e rentável, contudo a mobilização dos recursos culturais existentes a nível local e regional deve significar a ligação estreita entre cultura, ambiente, tecnologia e ciência, interligando tradição e inovação. Um dos grandes desafios que a economia dos nossos dias apresenta é a diferenciação dos produtos e serviços, os bens culturais são na sua génese autênticos, importa portanto trabalhar na sua qualificação, inovação e promoção. As unidades produtivas de artesanato são por norma microempresas, que pelas características próprias das suas estruturas, conseguem adaptar-se com maior facilidade às mudanças e exigências do mercado. As insuficiências e fragilidades que muitas vezes apresentam (incapacidade de inovação, falta de investigação científica, pouca inovação tecnológica, deficiente acesso a informação e ao mercado, etc.) podem ser ultrapassadas quando integradas em rede, correspondendo ao paradigma da sociedade em que vivemos. Desenvolver, aceder e comercializar conhecimento nos mercados globais, será uma fonte indispensável da nova competitividade para as pequenas empresas nesses mercados.56 Estas microempresas deverão significar a criação de emprego especializado, apostando na produção de bens e serviços de valor acrescentado. O turismo cultural é o sector em que o impacto das artes e ofícios tradicionais tem maior visibilidade. 55 Segundo a Resolução do Concelho de Ministros n.º 47/92, de 23 de Dezembro, pela qual foi criado o Programa das Artes e Ofícios Tradicionais, estes compreendem o fabrico de materiais e objectos, a prestação de serviços e a produção e confecção de bens alimentares. 56 Carta relativa às políticas das pequenas e médias empresas, adoptada na Conferência de Bolonha da OCDE, em 15 de Junho de 2000, in, Câmara Municipal de Fronteira (2003). Aldeia Academia de Artes e Ofícios Tradicionais. Fronteira: Autor. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 78 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide 2.2.5. O turismo termal O turismo termal é o principal motor económico da Freguesia de Cabeço de Vide, é nesse contexto que se pretende analisar qual a melhor forma de conciliar esta actividade com a reabilitação do núcleo histórico. Neste ponto essencial procuramos compreender a especificidade da actividade termal em Cabeço de Vide e caracterizar os seus utentes, realidades actuais e projecções futuras, de acordo com as potencialidades que o sector termal em Portugal evidencia. Desse modo deverão ser indicados quais os principais aspectos sobre esta matéria, a incluir na elaboração da referida metodologia de reabilitação. As águas sulfurosas de Cabeço de Vide foram utilizadas pelos Romanos, desde 118 a.C. e durante quase seis séculos, devido às suas extraordinárias capacidades medicinais e terapêuticas. Com a decadência do império, o balneário construído a cerca de 1 quilómetro da Vila, foi deixado à mercê do tempo e as suas águas desaproveitadas, os povos que lhes sucederam não tinham o mesmo culto pela higiene corporal, durante toda a idade média o corpo foi mesmo considerado pelos “cristãos” como algo pecaminoso e desprezível. Permaneceram portanto abandonadas essas águas até ao princípio do século XIX, mais propriamente até 1816, ano em que, por iniciativa do Juiz de Fora de Cabeço de Vide, foram mandadas fazer análises químicas a esta água, revelando a existência de ácido hidrosulfúrico, soda e magnésio. Posteriormente foi tomada a iniciativa de aproveitar estas águas para o tratamento de doentes.57 Foi apenas em 1852, pela mão do então Governador do Distrito Diogo António Palmeiro Pinto, que as termas passaram a ser exploradas com maior empenho, depois da recuperação e ampliação do seu edifício. Os prémios recebidos nas Exposições Universais de Paris e do Rio de Janeiro, em 1878, são prova da qualidade das águas minero-medicinais de Cabeço de Vide. Por esta altura as águas eram vendidas engarrafadas para várias farmácias do país. Depois da sucessão de acontecimentos já referidos anteriormente, respeitantes à posse das águas e menos memoráveis para as gentes desta Vila, a Junta de Freguesia de Cabeço de Vide obteve em 1935, através de concurso público, a exploração definitiva das termas, com alvará assinado pelo Presidente da Republica Marechal Carmona em 17 de Junho desse ano. Foi já com Manuel Fontaínhas na presidência da Junta que, após parecer favorável 57 Junta de Freguesia de Cabeço de Vide (2004). A Origem e a História de Cabeço de Vide. Fronteira: Autor. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 79 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide da Direcção Geral das Minas, se procedeu à arriscada tarefa (pelo perigo que significava a contaminação da água por outra, dita normal) de pesquisa em profundidade de novas nascentes de águas medicinais, que permitiriam aumentar a exploração das termas, beneficiando doentes e Freguesia. Foram abertos dois furos, ditando o segundo (AC2), o almejado resultado, mostrando um caudal que ultrapassa os três mil e seiscentos litros por hora. Desta forma ficaram criadas as condições para a abertura do furo de abastecimento (AC3), com cento e vinte e cinco metros de profundidade na vertical, garantindo um caudal que pode ultrapassar os sete mil e duzentos litros por hora, superando o actual consumo do balneário. O furo AC2 ficou reservado para necessidades futuras.58 Segundo o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, as águas captadas à superfície ou em profundidade são do mesmo tipo, estando agrupadas na classe das águas hipotermais, hiposalinas, carbonetadas e sulfurosas, revelando os mesmos níveis de sílica, cloretos, sulfatos e carbonatos de sódio, cálcio, magnésio e potássio, desde a primeira grande análise de 1939. Estas águas límpidas e incolores, com leve cheiro sulfídrico e sem depósito, têm uma temperatura de 19 graus centígrados e um ph de 11,55. A sua aplicação é feita com sucesso em doenças crónicas de pele (eczema e psoríase), feridas e nos casos de reumatismo articular ou gotoso, em casos de dor ciática e nevralgias musculares, dispepsias, gastrites, colites e outras nevroses do tipo gastro-intestinal. São ainda utilizadas nas doenças uterinas e leucorreia, na dissolução de cálculos renais e de bexiga, sinusites, bronquites e outras doenças respiratórias.59 As técnicas utilizadas passam pela ingestão de água, banhos de imersão simples ou com bolha de ar, hidromassagem, duche subaquático, duche circular, duche escocês e filiforme, duche com massagem vidáqua (Vichy), estufa de vapor à coluna, aerossol e irrigação nasal. Para além destes serviços as termas oferecem também agentes físicos de recuperação, designadamente, infra-vermelhos, ultravioletas e bicicleta, massagem local e geral, e outras técnicas de fisioterapia. As termas de Cabeço de Vide são uma das mais procuradas do país60 e constituem um factor de diferenciação e competitividade para esta pequena Vila do Alto Alentejo, para o seu concelho e restante região. As termas apresentam grandes possibilidades de expansão de 58 Junta de Freguesia de Cabeço de Vide (2004). A Origem e a História de Cabeço de Vide. Fronteira: Autor. Idem 60 Ministério da Economia e da Inovação - Turismo de Portugal, I.P. (2006). Termas em Portugal, 2006. Acedido em 17 de Janeiro de 2007 em http://www.turismodeportugal.pt/Portugu%C3%AAs/conhecimento/estudoseestatisticas/Anexos/Termas%20em %202006.pdf 59 Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 80 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide actividade e atracção do mercado tradicional e de novos mercados, assim que for colocado em funcionamento a nova estância termal, apetrechada com todo o equipamento tecnológico necessário para aumentar a qualidade dos serviços e diversificar a sua oferta. O novo equipamento permitirá multiplicar por cinco a capacidade das actuais instalações. O balneário poderá receber cerca de vinte mil pessoas por ano, com um total de quinhentos mil tratamentos. O novo balneário contribuirá também para a criação de oitenta postos de trabalho directos e um número considerável de forma indirecta. Para fazer face ao aumento espectável da procura está em construção mais um hotel, de quatro estrelas, que terá uma capacidade de acolhimento de noventa camas, a adicionar às já existentes na freguesia. Desde o ano de 2000 que o período de funcionamento do balneário foi alargado para oito meses, entre o dia 16 de Março e 15 de Novembro. O Relatório da Actividade Termal nas Termas da Sulfúrea no ano de 2005 apresenta os seguintes dados: Frequentaram as instalações 2921 aquistas, desses 132 realizaram um segundo ciclo de tratamentos. Foram as pessoas do sexo feminino que mais procuraram as termas, num total de 1905 (65,21%), os aquistas do sexo masculino totalizaram 1016, correspondendo a 34,78 pontos percentuais. DISTRIBUIÇÃO DOS AQUISTAS POR SEXOS Val. Abs. % MASCULINO 1016 34,78 FEMININO 1905 65,22 Tabela 3 – Distribuição dos Aquistas por Sexos (Fonte: Termas da Sulfúrea – Relatório da Actividade Termal, 2005) 34,78% 65,22% MASCULINO FEMININO Gráfico 6 – Distribuição dos Aquistas por Sexos (Fonte: Termas da Sulfúrea – Relatório da Actividade Termal, 2005) Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 81 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Sobre a idade dos aquistas podemos verificar que a faixa etária mais representativa é de 65-74 anos, com um total de 1103, representando 37,76 pontos percentuais. De seguida encontramos o grupo etário de 45-64 anos, com um valor também considerável de 31,56%. Os aquistas com idade superior a 75 anos representam 16,29%. São portanto as pessoas com idades superiores a 45 anos que mais utilizam as Termas da Sulfúrea, conforme indicam a seguinte tabela e gráfico: IDADE DOS AQUISTAS GRUPO ETÁRIO Val. Abs. % 0-10 anos 83 2,84 11-24 anos 119 4,07 25-34 anos 84 2,87 35-44 anos 134 4,58 45-64 anos 922 31,56 65-74 anos 1103 37,76 > 75 anos 476 16,29 Tabela 4 – Idade dos Aquistas (Fonte: Termas da Sulfúrea – Relatório da Actividade Termal, 2005) 0-10 anos 11-24 anos 37,76 % 25-34 anos 31,56 40,0 35,0 35-44 anos 45-64 anos 30,0 65-74 anos 25,0 16,29 > 75 anos 20,0 15,0 5,0 2,84 4,07 2,87 4,58 10,0 0,0 Gráfico 7 – Idade dos Aquistas (Fonte: Termas da Sulfúrea – Relatório da Actividade Termal, 2005) O distrito de Lisboa, secundado pelo distrito de Portalegre, depois, Évora, Setúbal, Santarém e Beja, são as regiões que mais utentes levam às Termas da Sulfúrea. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 82 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide O número de utentes oriundos do estrangeiro é muito pouco significativo, tendo sido um total de 8 no ano de 2005. DISTRIBUIÇÃO DOS AQUISTAS POR DISTRITOS Val. Abs. DISTRITO % Setúbal 480 16,43 Santarém 341 11,68 Portalegre 590 20,20 Lisboa 637 21,81 Leiria 42 1,43 Faro 55 1,88 Évora 537 18,38 Coimbra 7 0,24 Castelo Branco 32 1,10 Beja 167 5,72 Aveiro 5 0,17 Outros 28 0,96 Tabela 5 – Distribuição dos Aquistas por Distritos (Fonte: Termas da Sulfúrea – Relatório da Actividade Termal, 2005) % 18,38 16,43 15,0 11,68 20,0 20,20 21,81 25,0 5,72 10,0 0,96 1,10 0,17 0,0 0,24 1,88 1,43 5,0 Setúbal Santarém Portalegre Lisboa Leiria Faro Évora Coimbra Castelo Branco Beja Aveiro Outros Gráfico 8 – Distribuição dos Aquistas por Distritos (Fonte: Termas da Sulfúrea – Relatório da Actividade Termal, 2005) É no mês de Agosto que se verifica uma maior afluência de aquistas, correspondendo a 20,1% do número total de inscrições. Segue-se o mês de Setembro com 18,0%, Julho Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 83 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide (15,65%) e Outubro com 13,22%. O período de maior actividade é portanto entre os meses de Julho e Outubro, correspondendo estes quatro meses a 66,97% do total de aquistas. O mês com menor número de inscrições é Novembro (1,06%), seguido do mês de Março com 3,66 pontos percentuais. DISTRIBUIÇÃO MENSAL DAS INSCRIÇÕES Val. Abs. MÊS % Novembro 31 1,06 Outubro 386 13,22 Setembro 526 18,00 Agosto 587 20,10 Julho 457 15,65 Junho 301 10,30 Maio 290 9,93 Abril 236 8,08 Março 107 3,66 Tabela 6 – Distribuição Mensal das Inscrições (Fonte: Termas da Sulfúrea – Relatório da Actividade Termal, 2005) % 8,08 3,66 10,0 9,93 10,30 15,0 15,65 13,22 20,0 20,10 18,00 25,0 1,06 5,0 0,0 Novembro Outubro Setembro Agosto Julho Junho Maio Abril Março Gráfico 9 – Distribuição Mensal das Inscrições (Fonte: Termas da Sulfúrea – Relatório da Actividade Termal, 2005) Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 84 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide A actividade profissional dos aquistas pode ser observada no seguinte quadro: ACTIVIDADE PROFISSIONAL DOS AQUISTAS Val. Abs. Trabalhadores Rurais 179 Pescadores e outras profissões ligadas à pesca 2 Profissões ligadas à pecuária incluindo veterinários 3 Profissões manuais / mecânicos de carácter industrial 181 Profissões ligadas à construção civil 189 Outras profissões manuais (costureira, sapateiro, barbeiro, etc.) 101 Comerciantes, vendedores e outros agentes comerciais 183 Profissões ligadas à preparação e distribuição de alimentos e bebidas 84 Profissões ligadas à saude pública 118 Profissões liberais de carácter intelectual e artístico 5 Professores do ensino primário e liceal 150 Profissões ligadas aos transportes 131 Pessoal das F. Armadas, de segurança de fiscalização e vigilância 145 Serviçais e outras profissões subalternas 63 Domésticas 856 Crianças 83 Estudantes com 10 ou mais anos de idade 174 Outras profissões ou outros grupos de actividade 207 Profissões mal definidas 11 Profissões ignoradas 0 Sem profissão 5 Reformados não incluídos em grupos anteriores 51 TOTAL 2921 Tabela 7 – Actividade Profissional dos Aquistas (Fonte: Termas da Sulfúrea – Relatório da Actividade Termal, 2005) Sobre a fidelidade dos utentes, o número destes que voltaram a requisitar os serviços das Termas da Sulfúrea foi de 2234, correspondendo a 76,49%, sendo os restantes 687 (23,51%) novos utentes. FIDELIDADE DOS UTENTES Val. Abs. % 1ª VEZ 687 23,51 2 OU MAIS VEZES 2234 76,49 Tabela 8 – Fidelidade dos Utentes (Fonte: Termas da Sulfúrea – Relatório da Actividade Termal, 2005) Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 85 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide 23,51% 76,49% 1ª VEZ 2 OU MAIS VEZES Gráfico 10 – Fidelidade dos Utentes (Fonte: Termas da Sulfúrea – Relatório da Actividade Termal, 2005) As patologias tratadas nas termas encontram-se divididas em quatro grupos principais: GRUPOS DE PATOLOGIAS Val. Abs. % Doenças Reumáticas e Músculo-Esqueléticas 2412 85,2 Doenças das Vias Aéreas Superiores 1311 44,8 Doenças das Vias Aéreas Inferiores 285 9,7 Doenças de Pele 80 2,7 Tabela 9 – Grupos de Patologias (Fonte: Termas da Sulfúrea – Relatório da Actividade Termal, 2005) 9,7% 2,7% 44,8% 85,2% Doenças Reumáticas e Músculo-Esqueléticas Doenças das Vias Aéreas Superiores Doenças das Vias Aéreas Inferiores Doenças de Pele Gráfico 11 – Grupos de Patologias (Fonte: Termas da Sulfúrea – Relatório da Actividade Termal, 2005) O grupo de patologias sobre o qual incidiu um maior número de tratamentos no período balnear de 2005 foi o das Doenças Reumáticas e Músculo-Esqueléticas, com 85,2%, seguida do grupo das Doenças das Vias Aéreas Superiores com 44,8 pontos percentuais. Atendendo a que cerca de 20% dos turistas que procuram o nosso país são idosos, as termas, se devidamente promovidas, dotadas de serviços de saúde adequados e da necessária Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 86 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide animação turística, podem tornar-se um elemento de atracção importante. Falamos por exemplo dos recursos histórico-culturais, ou seja, todos os elementos criados pelo homem e ligados à sua história, nomeadamente o folclore, a gastronomia, o artesanato, a arquitectura tradicional, entre outros. Segundo estudos da reconhecida Escola de Negócios ESADE, o modelo tradicional de sol e praia deverá ceder nos próximos anos parte considerável do seu mercado ao turismo de saúde e ao cuidado do corpo. De acordo com José Soares Barbosa, secretário-geral da ATP (Associação das Termas de Portugal), mais de 70% dos clientes dos balneários em Portugal buscam os tratamentos que proporcionam o contacto com as águas medicinais, no entanto, o mesmo indica que o crescimento do sector se vai verificar na área do bem-estar e é aí que os empresários e municípios devem apostar. Verifica-se também que em Portugal apenas 1% da população recorre com frequência aos serviços das termas, enquanto que para os Alemães a taxa é de 14%, os Suíços por sua vez apresentam valores de 6,5% e os Espanhóis 2,5%. É portanto um mercado com potencialidade de expansão.61 O novo enquadramento Legal para as termas (Decreto-Lei nº 142/2004, o anterior remonta ao ano de 1928) procura adequar-se às novas características e tendências do termalismo europeu, autorizando que os balneários desenvolvam uma oferta diversificada viabilizando o pleno aproveitamento das potencialidades dos tratamentos de saúde, de bemestar (SPA Termal com tratamentos de relax, anti-stress, beleza, etc.) e de turismo. Passam a ser equacionados na lei dois grandes grupos, o Termalismo Terapêutico e o Termalismo de Bem-Estar, permitindo combater a sazonalidade e atrair novos mercados e públicos alvo (jovens, estrangeiros). A introdução de programas de Bem-Estar, fazem com que as Estâncias Termais entrem em mercados mais competitivos e exigentes que alteram a imagem tradicional associada à doença e à terceira idade.62 61 Ministério da Economia e Inovação - D.G. Turismo (2004). Movimento nas Estâncias Termais Portuguesas. Acedido em 24 de Janeiro de 2007 em http://www.turismodeportugal.pt/Portugu%C3%AAs/conhecimento/estudoseestatisticas/Anexos/TERMAS%20%202004.pdf 62 Grupo Banco Espírito Santo. Research Sectorial (2006). SPA Termal – Oportunidades de Investimento e de Negócio, 11º Congresso da European Spas Association. Acedido em 28 de Janeiro de 2007 em http://www.bescv.cv/sfecv/cms.aspx?srv=207&stp=1&id=1457&fext=.pdf Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 87 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Faz especial sentido, quando se reconhece que 1/6 do mercado com destino Europa (64 milhões de viagens/ano) tem como principais motivações a Natureza, Lazer e Bem-Estar, sendo o sector com maior crescimento na Europa.63 Cabeço de Vide, devido à sua localização estratégica, tem a possibilidade de diversificar a oferta turística, podendo assumir-se como plataforma de promoção de um pacote turístico, que para além do Turismo Termal e Turismo Cultural, pode englobar Turismo Desportivo (desportos radicais incluídos), Turismo no Espaço Rural, Turismo de Aventura, Turismo de Saúde, Enoturismo e Ecoturismo. Embora este estudo não tenha por objectivo integrar tão vasto conjunto, note-se que muitas destas modalidades turísticas são compatíveis e complementares entre si. A título de curiosidade, no que respeita ao Enoturismo, pode ser visitada bem próximo de Cabeço de Vide a Rota de S. Mamede que coincide em parte com a área abrangida pelo Parque Natural da Serra de S. Mamede, onde predominam os vinhos tintos, carregados de cor, com bastante intensidade aromática. É fundamental compreender que “o local se quer prosperar deve ser multilateral, internacional, e deve organizar-se em rede para compartilhar funções de forma cooperante com outros pólos locais próximos ou distantes.” (Izquiero, 2002, p.164) O que se pretende para Cabeço de Vide não é um modelo de desenvolvimento turístico de massas, resultado da civilização urbana e industrial, que gerou efeitos negativos no turista e na zona visitada. Pretende-se, pelo contrário, um modelo que possa gerar benefícios para ambas as partes, em particular na população receptora através da tomada de consciência das particularidades e virtudes da sua própria cultura, estimulando zonas desfavorecidas (caso do núcleo histórico) e potenciando os recursos locais naturais e sócioculturais (conservação da arquitectura, protecção do meio natural, recuperação do património cultural, etc.). 63 Ministério da Economia e da Inovação - Turismo de Portugal, I.P. (2006). O turismo em 2006, Portugal, Continente e Regiões Autónomas. Acedido em 17 de Janeiro de 2007 em http://www.turismodeportugal.pt/Portugu%C3%AAs/conhecimento/estudoseestatisticas/Anexos/TURISMO%20 EM%202006.pdf Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 88 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Sintetizando a informação recolhida, os utentes das Termas da Sulfúrea apresentam as seguintes características: - Maioritariamente do sexo feminino; - Com idade superior a 45 anos (utilização das termas muito ligada ao avanço da idade); - O nível de escolaridade não se revela factor determinante, uma vez que o recurso às termas é feito, de igual forma, por pessoas com maior e menor literacia; - Oriundos do distrito de Lisboa, secundado pelo distrito de Portalegre, depois, Évora e Setúbal (maioritariamente nacionais, da zona sul de Portugal Continental, verificando-se uma ausência quase total de estrangeiros). Sobre a actividade termal: - Principais meses de actividade, Julho a Outubro (forte sazonalidade); - Forte fidelidade dos utentes; - Maior enfoque nas doenças reumáticas e músculo-esqueléticas e das vias aéreas superiores (utilização das termas muito ligada a problemas de saúde). Necessidades específicas e perspectiva de futuro: - Diversificar a oferta de serviços (tratamentos de saúde e de bem-estar, SPA Termal com tratamentos de relax, anti-stress, beleza, etc.). O Termalismo Terapêutico e o Termalismo de Bem-Estar permitem combater a sazonalidade e atrair novos mercados e públicos alvo; - Aumentar a oferta e interligação com outras actividades turísticas em particular o turismo cultural. O seguinte quadro apresenta um resumo dos aspectos principais, que do nosso ponto de vista, devem ser considerados na estratégia de reabilitação, integrando a actividade termal. PRINCÍPIOS DE INTERVENÇÃO – ACTIVIDADE TERMAL - Atender às necessidades específicas dos utentes das Termas da Sulfúrea, do ponto de vista físico, psicológico e cultural (com idade superior a 45 anos e algum grau de debilidade física, tendo contudo em atenção a tendência de evolução do mercado, perspectivando novos públicos alvo). OBJECTIVOS - A relação da actividade termal com o Núcleo Histórico de Cabeço de Vide deve permitir aproveitar as características intrínsecas do mesmo, por exemplo, tranquilidade, segurança, qualidade ambiental, etc. (condições essenciais para os utentes, nos períodos de descanso entre tratamentos). Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 89 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide - Proporcionar uma oferta qualificada na área do alojamento. - Satisfazer a necessidade de alojamento dos utentes das termas com uma oferta altamente qualificada, criada através da reabilitação de edifícios do núcleo histórico (experiência enriquecida pelo valor cultural e património arquitectónico existente). A aplicação de novas tecnologias (domótica) poderá permitir uma maior comodidade e acompanhamento médico aos utentes. - Garantir uma oferta qualificada de serviços prestados pelas termas, interligada com o turismo cultural. - Potencializar a riqueza do património arquitectónico, artesanato, gastronomia, etc. (valores presentes no núcleo histórico). Quadro 2 - Princípios de intervenção - Actividade Termal 2.2.6. Monumentos classificados e edifícios de reconhecido valor (Vide: Apêndice – Peça Desenhada nº 04) A Fortaleza de Cabeço de Vide Com aproximadamente dois mil e quinhentos metros quadrados, esta fortaleza possui a forma oval característica habitual de um castro, respeitando um modelo utilizado por Celtas e Lusitanos, e que posteriormente seria aproveitado por Romanos e Mouros. A sua área permitiria que se abrigassem no seu interior os guerreiros e habitantes de uma pequena povoação, como Cabeço de Vide. As suas paredes com diferentes alturas, espessuras e técnicas construtivas evidenciam as inúmeras construções, destruições e reparações sucessivas. Existem evidências de várias galerias que outrora ligaram a fortaleza a antigas casas afidalgadas da rua de Avis e à zona da Bica. O seu apogeu verificou-se no período da dinastia de Avis, quando os freires da Ordem de S. Bento de Avis a reconstruíram para ser morada de comendadores, alcaides e governadores (faz prova o escudo em relevo, com a cruz da ordem, situado no cimo da sua porta principal). De entre eles se destaca o Cavaleiro Diogo de Azambuja, figura muito ilustre do reino e da Vila, gozando da máxima confiança do Regente D. Pedro e dos reis D. Afonso V, D. João II, e D. Manuel I. Em 1710, nas campanhas da restauração, os espanhóis arrasaram por completo a pequena alcáçova. Do que lhe sobrou, o povo foi utilizando como pedreira no último século e meio, serviu para a construção de casas, celeiros e até o edifício das termas se fez em parte à Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 90 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide sua custa (em 1817, o general de província, Visconde de Sousel, concedeu que se retirassem pedras da muralha para essa edificação). Também serviu para as actividades tauromáquicas antes da construção, lá no fundo do Rossio, da actual Praça de Touros. Sofreu recentemente algumas obras de melhoramento, continuando muito aquém do resplendor que outrora mostrou, deve ser encarada como um importante activo estratégico a explorar. Deixa-se um reparo ao inestético depósito de água que se achou por bem colocar bem no interior da pequena fortaleza. Porventura sem outra alternativa plausível, e sem dúvida necessário para o abastecimento da Vila Antiga, não podem porém estes argumentos servir de desculpa para que não se procure encontrar uma outra alternativa, condizente com as mais recentes tecnologias, a qual não belisque a dignidade e beleza que se reconhecem ao castro e a toda esta parte da Vila. Edifício da Câmara O primeiro edifício foi também destruído pelos castelhanos, pela mesma altura do castro, sendo posteriormente reconstruído em 1670. O edifício apresenta uma volumetria paralelipipédica, com cobertura simples de duas águas. Com dois pisos, e duas salas em cada um dos níveis, o acesso ao piso superior é feito através de escada exterior. As duas salas do rés-do-chão passaram em 1758 a albergar a cadeia, depois do edifício próprio, situado na rua de baixo, ter ruído. Para chegar às duas celas, uma para cada sexo, era necessário abrir um alçapão colocado no piso superior, e descer por uma escada móvel, de madeira, que era retirada de imediato. Cada uma das respectivas celas possui uma janela fortemente gradeada, voltada para o largo do pelourinho, através das quais os presos podiam ser contactados, umas vezes para receber alimentos outras vezes para suportar insultos. Também chegou a albergar a função de Escola Primária. Torre do Relógio Anexa ao edifício da Câmara, a torre que hoje se conhece como torre do relógio foi construída em data desconhecida e sabe-se que só adquiriu a actual função no século XVI. O primeiro dos dois relógios ali colocados tem gravado a data de 1570 e está voltado a sudeste. O segundo relógio foi já afixado no século XX, e está voltado a sudoeste. No reboco da torre, imediatamente por baixo do mostrador do relógio mais antigo podemos encontrar a data de 1741, que se supõe corresponder a alguma obra de reparação. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 91 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Sabe-se que as torres tinham geralmente funções cívicas ou religiosas, serviam para alertar o povo em momentos de perigo eminente, para convocar os fiéis para os actos do culto religioso, para funerais, para marcar o momento de um óbito ou para a comunicação de qualquer outra mensagem aos habitantes do burgo. Normalmente o sino tocava ainda para marcar o início e o termo dos trabalhos do campo (nascer e pôr-do-sol), para anunciar a hora do meio-dia, do jantar e a hora de recolher. Pensa-se que esta torre tenha sido construída para estes propósitos, sabendo-se também que anexa à primitiva igreja matriz não consta que existisse nenhuma torre, podendo especular-se ter sido esta a torre de tal igreja, que embora afastada, não deixa de corresponder a outros exemplos espalhados por este país fora. A torre tem uma estrutura quadrangular em alvenaria de pedra rebocada, com cunhais de granito. No topo pode-mos encontrar quatro olhais que deixam espreitar o sino existente, o remate do volume é feito por dezasseis ameias, quatro em cada face. O conjunto é encimado por uma pirâmide de base quadrangular. Pelourinho O Pelourinho é um dos dois monumentos nacionais existentes na Vila, assumindo esse estatuto, juntamente com o Cruzeiro do Espírito Santo, por decreto de 11 de Outubro de 1933. Situa-se em frente ao edifício da Câmara, no centro do largo ao qual dá o nome. Juntamente com a Câmara, a Cadeia e a Forca, é símbolo da alforria da vila, com administração e jurisdição próprias. Além de elemento simbólico, o pelourinho desempenhava uma função bem específica, a execução prática da justiça determinada no tribunal. Por norma era colocado em local central do concelho (é o caso de Cabeço de Vide), onde os condenados eram expostos e sujeitos aos castigos decretados, desde que não implicassem a pena de morte. Para esse efeito estava reservada a forca, da qual falaremos de seguida. O monumento quinhentista, de granito, tem um embasamento composto por três degraus de planta quadrada, onde assentam os dois bocelões, sendo o inferior ornado de relevos em trança, a partir dos quais se desenvolve o fuste liso sextavado, rematado por um capitel cónico no qual se pode observar a Cruz de Avis e as armas reais, gravados na pedra e em lados opostos. O capitel era encimado por uma esfera armilar, quando caiu, foi substituída pelo espigão que lá se encontra. No cimo do fuste ficam localizados quatro ferros, já sem argolas, orientados segundo a direcção de cada um dos ventos, onde os réprobos eram pendurados por uma corda, e aí Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 92 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide permaneciam, às vezes durante vários dias, expostos ao escárnio popular, suportando castigos físicos. O monumento de arquitectura civil pública manuelina, tem cerca de quatro metros de altura. A Forca Não se enquadra na nossa área de estudo, mas por ser símbolo e legado da vivência deste povo pareceu-nos importante tecer um breve comentário. Por norma, este “instrumento” de aplicação da justiça, ficava situado fora do aglomerado urbano. Em Cabeço de Vide a forca fica situada a poucos quilómetros para poente da Vila, em direcção a Fronteira, num outeiro com o mesmo nome. Encontra-se num estado avançado de degradação, já desprovida de todos os acessórios que lhe permitiram outrora executar a sua função. Do seu estado original restam apenas os dois obeliscos paralelipipédicos de alvenaria, onde se apoiava uma viga, normalmente de madeira, na qual era amarrada a corda utilizada para o enforcamento. É o único exemplar conhecido que logrou escapar à destruição que os municípios levaram a cabo na sequência da abolição total da pena de morte, em Portugal Continental, no ano de 1867. Igreja Matriz Templo com duas naves, principal e lateral. Supõe-se que o corpo principal tenha sido construído no século XVI, tem quatro arcos redondos de alvenaria e abóbada de meia cana. A nave lateral é mais curta, tem três arcos também de alvenaria e abóbada nervurada dividida em quatro meias luas. O transepto tem numa das suas extremidades uma das capelas e a outra coincide com o topo da nave lateral. O Altar-Mor é ricamente entalhado em estilo barroco, o púlpito e a balaustrada são em mármore (diz-se que esta última foi trazida do castro). Nesta igreja podemos encontrar, na capela lateral à direita, a sepultura do navegador da Casa d´El Rei, António de Azambuja, filho do Comendador de Cabeço de Vide, Diogo de Azambuja, ambos gente muito ilustre desta Vila. D. António de Azambuja foi fidalgo e navegador nos tempos de D. Manuel e D. João III, comandou uma das naus da armada de João Henriques que seguiu para a Índia em 1548, com a finalidade de combater as acções de represália contra o reino, que nessa altura eram já significativas nessa região do império. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 93 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Na segunda capela lateral do lado da Epístola, encontra-se a sepultura de Frei Gaspar Ribeiro de Simas e de sua mulher, D. Francisca de Siqueira, na lousa trabalhada que fecha a campa está gravada a data de 1653, o seu brasão está gravado no arco da capela. Esta personagem ilustre participou activamente na Guerra da Restauração entre 1641 e 1646, serviço que lhe valeu a nomeação de Capitão-Mor de Cabeço de Vide e de Alter Pedroso, em Maio de 1649. Foi cavaleiro professo da Ordem de Avis e por várias vezes provedor da Santa Casa da Misericórdia de Cabeço de Vide. A ligação deste templo à Ordem de Avis é testemunhada pelos exemplares da heráldica dessa Ordem, que podemos encontrar no seu interior. Com uma arquitectura não erudita, simples e depurada, apresenta um volume paralelipipédico de duas águas, características típicas da arquitectura chã portuguesa, adequada às condições socioeconómicas da população que servia (arquitectura muito comum nos pequenos aglomerados urbanos e meios rurais). Construída em alvenaria rebocada, com cantarias em granito, socos, cunhais e cimalhas em reboco pintado à cor amarelo tradicional, destacam-se como elementos arquitectónicos, o seu portal em granito e a torre sineira, com os seus quatro olhais e cúpula bulbosa. A nível estrutural destacam-se os vários contrafortes utilizados. Santa Casa da Misericórdia de Cabeço de Vide Fundada pela rainha D. Leonor em 1498, é uma das primeiras onze Misericórdias que esta figura régia criou. Situado ao lado da Igreja Matriz, fazem parte deste complexo, o Hospital, a Igreja, o Salão dos Mesários da Irmandade e o cemitério. É possuidora de um riquíssimo arquivo documental. A Igreja da Misericórdia foi, tudo indica, construída no lugar de outra que ali existia, sendo portanto posterior ao restante conjunto. É um templo do séc. XVIII, com nave única, a linguagem arquitectónica utilizada reflecte já as tendências e gostos do Rococó, utilizado durante o reinado de D. João V (perfeitamente visível na dinâmica que a fachada principal transmite através das suas curvaturas e o escudo saliente com as armas de Portugal). O altarmor é em mármore a duas cores, também em estilo joanino, o púlpito tem gradeamento em madeira e o coro, na outra extremidade, é também em mármore e alvenaria. A guarnição da porta principal é simples e depurada, não reflectindo a exuberância da complexidade e a dinâmica rítmica que o estilo Rococó almejava transmitir. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 94 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide O conjunto apresenta uma arquitectura simples e desprovida de grande ornamentação. Destaca-se a sua unidade, composta pelos três edifícios de dois pisos, (com a igreja localizada ao centro) de alvenaria rebocada e caiada de branco, com remates em amarelo tradicional e cantarias simples em granito e mármore (no caso do portal e escudo da igreja, e o portal que dá para o cemitério). Pertença da Misericórdia é ainda a Capela do Calvário, situada no Alto do Rossio, única na Vila por apresentar uma forma circular, com cerca de sete metros de diâmetro. Tem um púlpito em granito toscamente trabalhado, à semelhança do resto do seu interior. Não se sabe ao certo a data da sua construção, mas foi a arquitectura renascentista que primeiro recuperou a planta centralizada, passando a ser utilizada até ao fim do período barroco. Capela de São Brás/Senhora do Carmo Foi restaurada muito recentemente, dando uma outra beleza ao Alto do Malhão. A sua primeira função foi a de Ermida de São Brás (por esse facto algumas pessoas ainda a tratam assim). Trata-se de um templo simples com arquitectura vernacular, com pouca ornamentação e cobertura de duas águas. Destaca-se o campanário pela sua dimensão. Capela da Senhora dos Anjos Fica situada na rua que ostenta o mesmo topónimo. É um templo simples de pequena dimensão, de arquitectura vernacular, sem nenhum tipo de ornamentação digna desse nome. Destaca-se a verga do portal, em mármore, onde se consegue reconhecer gravada a data de 1726, altura em que se pensa ter sido reconstruída. O seu pequeno campanário em alvenaria rebocada e caiada de branco com acabamentos em azul, sobressai timidamente da cobertura. O Cruzeiro do Espírito Santo Embora não esteja dentro da área que delimitámos para este estudo, importa fazer-lhe referência uma vez que se trata, a par do pelourinho, de património nacional classificado. Monumento do século XVI é, segundo Luís Keil, composto por “uma coluna simples de mármore, assente sobre quatro degraus de forma rectangular, com capitel sobre o qual está uma cruz de braços largos, com a imagem de Cristo de um lado, e do outro, Nossa Senhora da Piedade, sobrepondo-a a pomba simbólica do Espírito Santo.” Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 95 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Igreja do Espírito Santo Uma vez mais falaremos de um edifício que não se insere fisicamente na área em análise, mas pela sua importância, logo o leitor compreenderá a pertinência desta iniciativa. No livro Portugal Antigo e Moderno (1874), Pinho Leal diz ser esta igreja uma das mais antigas da província já existente antes da Vila ser do Mestrado de Avis, ou seja, antes de 1211 altura em que, por doação de Dom Afonso II, a Vila passou para a dependência desse Mestrado. Nas obras de restauro iniciadas em 1952 ficaram a descoberto os antigos pavimentos inclinados, muito utilizados nas igrejas visigóticas (podendo fazer recuar as origens desta igreja para antes da fundação da nação), foram ainda encontradas moedas do rei Dom Sancho, que, como referimos, esteve em Cabeço de Vide. Ficou também claro que a igreja sofreu várias intervenções nas suas paredes, no séc. XVI, talvez por efeito do terramoto de 1531. Por esta altura Brás Gonçalves Figueiro mandou substituir os antigos pórticos de granito pelos actuais, manufacturados em mármore, tendo sido num deles gravada a cruz de braços duplos, símbolo que apenas se podiam orgulhar de ostentar as confrarias pontificadas, independentes de qualquer autoridade civil ou canónica. A este respeito, consta que Brás Gonçalves Figueiro se deslocou a pé a Roma, nos meses de Junho e Julho de 1517, onde conseguiu o favor do Papa Leão X para a união da Confraria do Espírito Santo de Cabeço de Vide (com sede nesta igreja) à sua congénere em Roma sendo considerada “Santa e Apostólica Confraria do Hospital do Santo Spírito da Cidade de Roma de Cabeço de Vide”, o que se traduziu num conjunto de privilégios e bulas papais para a confraria e o próprio templo. Nesta igreja estão sepultados os restos mortais deste ilustre Cabeço Vidense. O aspecto actual do edifício data do séc. XVI. Tem uma nave principal com transepto e nave lateral, acrescentada por mandato de Brás Gonçalves Figueiro. A platibanda guarnecida com ameias paralelipipédicas truncadas, esconde o telhado simples, de duas águas. Destaca-se o campanário em forma de frontão triangular, com seus três olhais, um sino do séc. XVI, outro do séc. XVII e uma sineta no olhal cimeiro. Destacam-se ainda o portal principal e o lateral, em mármore trabalhado, com ornamentação própria da época. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 96 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide 2.2.7. Principais sítios e ruas (Vide: Apêndice – Peça Desenhada nº 05) Largo do Pelourinho É assumidamente um dos locais com maior valor da Vila. A sua vista panorâmica para Sul e Poente sobre a paisagem característica alentejana das casas aglomeradas caiadas de branco com seus típicos telhados de um vermelho gasto pelo passar do tempo e mais ao longe as planícies douradas que se confundem com o pôr-do-sol, bem pode corresponder a um excelente cartão-de-visita para qualquer turista, mesmo os mais exigentes. Foi outrora local onde o povo se reunia com frequência para actualizar conversas e saber novidades. Alguns acreditam que foi aqui o antigo “Fórum da Vila”. No largo ficam localizados, o Edifício da Câmara e a Torre do Relógio, com o Pelourinho ao centro, dos quais já fizemos referência, e no lado oposto aos primeiros fica o edifício do antigo açougue. Optámos por não o mencionar anteriormente por não ter este edifício grande importância como tal. Não deixa contudo, a sua função, de reflectir as práticas e vivência deste povo, que ali reunia os seus rebanhos e fazia a arrematação do gado para abate público. Por esse mesmo motivo aqui fica a referência. É importante realçar a proximidade da localização dos elementos simbólicos do poder político e religioso. Curioso é também verificar que os Paços do Concelho (no Largo do Pelourinho) se situam num patamar a uma cota inferior à Igreja Matriz, como que evidenciando a hierarquia de poderes vivida numa sociedade fortemente dominada pela religiosidade. Barbacã Pensa-se que foi construída como logradouro para os moradores da fortaleza, terá servido entre outras coisas como campo de treino para as práticas de guerra dos monges de Avis. Esta cerca muralhada com um metro e meio a dois metros de altura constituía a primeira barreira defensiva contra os ataques dos inimigos. Foram encontrados vestígios de antigas habitações que utilizavam a muralha como parede e alicerce, foram também descobertas moedas da segunda e quarta dinastia. Existia também uma cerca exterior que circundava as primitivas habitações em volta da pequena fortaleza. Para muralha era demasiado tosca, na verdade era pouco mais que um muro baixo do qual poucos vestígios restam nos dias de hoje. Tinha três entradas, uma na Rua Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 97 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide de Avis, chamada Porta do Espírito Santo, que continha um arco, (desse arco também já nada resta, a não ser a memória). As restantes eram a Porta de S. Brás, junto à igreja do mesmo nome, que dava para o Largo do Limoeiro e a Porta do Santo Mártir, na Rua Estêvão Longo, no cruzamento com a Rua Bento Varela. Da Barbacã consegue-se avistar Portalegre, Veiros, Estremoz, Évora Monte, Sousel, Fronteira, Arraiolos, Avis, Seda, Alter Pedroso e nos entre meios as searas e montados, com sua policromia, característica da tão bela planície alentejana. Rua Bento Varela (Rua do Quebra Costas) Especula-se que nesta rua tenha existido a Judiaria de Cabeço de Vide, na qual se supõe ter vivido tal comunidade. Os indícios que levam a esta afirmação são os elementos de natureza arquitectónica, bem como os relatórios da Inquisição de Évora, que dão conta da existência nesta Vila de uma activa comunidade judaica, nos séculos XVI e XVII. Por esta altura Cabeço de Vide foi mesmo uma das Vilas do Alentejo mais sacrificadas pelo terror da inquisição. Entre 1533 e 1668, duzentos e onze dos seus naturais ou residentes foram atingidos por penas (abjuração, perda de bens, prisão, tortura, degredo, excomunhão ou mesmo pena de morte). É uma das ruas mais antigas da Vila. Rua de Avis Até final do século XIX, foi uma das ruas mais importantes de Cabeço de Vide, a par da Rua do Espírito Santo. Nela moraram a maioria dos fidalgos, nobres e cavaleiros guerreiros da Ordem de Avis, por esse motivo, ali se podem encontrar as casas mais solarengas da Vila. Como já referimos, existia nesta rua um arco com uma das três portas de uma antiga cerca muralhada, de nome Porta do Espírito Santo, e que com o posterior crescimento do aglomerado urbano passou a ser referência desta rua, por isso ainda hoje se diz Rua de Avis – Arco para cima ou Rua de Avis – Arco para baixo. Esta era a rua “fidalga” da Vila Rua do Espírito Santo Foi nesta rua que se instalou a maioria da classe burguesa, que foi adquirindo sucessivamente maior poder social e político. Esta rua emanou outrora o som, o cheiro e o movimento próprios de um lugar de comércio e negócios, cheio de vida. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 98 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Era a rua do “comércio”. É importante notar que em ambas as ruas, pela sua importância e idade, se podem ainda observar nalguns edifícios, as antigas argolas usadas para prender cavalos e burros. A Praça Velha Já poucos a conhecem por este nome, mas este lugar chegou a ser um dos sítios mais importantes do cabeço. Resulta da confluência das duas últimas ruas acima referidas com a Rua da Senhora dos Anjos, era neste local que até meados do século passado se fazia o mercado. Ali estavam localizadas a Escola Feminina e a Farmácia (que por lá ficou). A aliança com o vigor e dinamismo que a rua com o melhor comércio da terra oferecia, fez deste espaço um local com características suficientes para que muitos o considerassem o verdadeiro “Fórum da Vila”, muitos foram os pregões públicos ali lançados e várias ordenanças da Câmara. A escala do lugar é talvez um pouco pequena para a utilidade que tinha, não choca, pois não descorava das dimensões do próprio burgo. A contenção obtida pelos edifícios de dois pisos que a circundam, ajusta-se com perfeição à dimensão da sua planta atribuindo-lhe o carácter e a escala necessários para se experimentar a boa harmonia de um espaço. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 99 1 ESTRADA NACIONAL 369 1 2 ESTRADAS CAMARÁRIAS 8 CABO OU PENÍNSULA ACIDENTADO 3 ALTITUDE ENTRE 336 E 276 m 3 1 5 SEXO (%) 7 ENTREPOSTO COMERCIAL S Cp TIPOLOGIA URBANA COMPLEXO EVOLUÇÃO POLÍTICA ADMINISTRATIVA INÍCIO DA POVOAÇÃO TRANSF. EM VILA (FORAL) TRANSF. EM CIDADE Nº DE EDIFÍCIOS Nº DE ALOJAMENTOS SEDE DE CONCELHO ANO 4 SEDE DE FREGUES. 1855 OUTRO 1 1 1 1 9 9 9 9 9 9 8 7 6 0 1 1 0 0 0 4 4 4 7 1 4 5 0 2 5 8 6 2 2 2 5 3 1 1 1 1 2 1 2 4 5 6 6 3 4 5 3 6 9 3 3 8 5 6 0 ANO 1 3 1 FREGUESIA CULTO EVOLUÇÃO DEMOGRÁFICA (hab.) MUNICÍPIO ARQUIT. INDUSTRIAL OU AGRÍCOLA E ASSOCIAÇÕES 4 INSTALAÇÕES EM ACTIVIDADE EQUIPAMENTOS COMUNAIS 3 2 3 7 INST. HOTELEIRAS 4 ARQUIT. CIVIL DE FUNÇÃO PRIVADA PREST. DE SERVIÇOS 7 4 0, 3 2 8 ARQUIT. CIVIL DE FUNÇÃO PÚBLICA EDIFÍCIOS RELEVANTES (Nº) 1 1 HABILITAÇÕES LITERÁRIAS (%) 1 1 2 0 5 9 0 COMÉRCIO 2 ARQUIT. MILITAR 3 0 SEGURANÇA PÚBLICA 1 1 0 2 2 1 1 ENSINO MÉDIO 2 9 AGLOMERADO URBANO INST. AGRÍCOLAS, INDUSTRIAIS OU ARTESANAIS 2 4 ENSINO SECUNDÁRIO 1 8 1 4 4 ENSINO BÁSICO 5 5 1 CONSERVAÇÃO (%) 3 5 ACTIVIDADE ECONÓMICA (%) 2 ARQUIT. RELIGIOSA E FUNERÁRIA ANALFABETO SEDE DE DISTRITO ADMINISTRAÇÃO E MAU POPULAÇÃO DESEMPREGADA 1 7 AGLOMERADO URBANO 4 NÚCLEO HISTÓRICO 5 1 MEDIOCRE CASARIO 8 2 4 2 SATISFATÓRIO ARQUITECTURA TÍPIC0 ALENTEJANO 1 3 COBERTURA PLANA 6 COBERTURA 0 OUTRAS TELHAS NÚCLEO HISTÓRICO 0 TELHA DE CAPA E CANAL ARQ. RELIGIOSA METAL ARQ. CIVIL PÚBLICA BETÃO 2 4 DIMENSÃO DA FAMÍLIA (%) 7 POPULAÇÃO DO SÍTIO URBANO INVENTARIADO 5 MADEIRA ARQ. MILITAR MATERIAL 7 TAIPA ARQ. CIVIL PRIVADA 5 TIJOLO CARACTERÍSTICAS DO CONJUNTO URBANO 3 PEDRA + de 65 SEC. XX OU FUNDAÇÃO 5 UTLIZAÇÃO MISTA INÍCIO DAS OBRAS DE REQUALIFICAÇÃO URBANA E RESTAURO DE ALGUNS MONUMENTOS NO NÚCLEO HISTÓRICO - 1994 SEC. XIX INCERTO 9 UTILIZAÇÃO ÚNICA SEC. XVIII ELEMENTOS URBANÍSTICOS RELEVANTES (ÉPOCA) OCUP. LOTE 4 LIVRE EM 2 LADOS COM LOGRADOURO ABASTECIMENTO DE ÁGUA E SANEAMENTO BÁSICO - 1976 SEC. XVII OBRAS DE INFRA-ESTRUTURA OBRAS DE REQUALIFICAÇÃO URBANA URBANA - DÉCADA DE 50 LIVRE EM 1 LADO TRAÇADO URBANO ROSSIO 7 COMPOSIÇÃO POR IDADE 3 1e2 MEDIEVAL IRREGULAR SÉC. 20 ORTOGONAL 1 LIGAÇÃO À REDE PÚBLICA ELECTRICA 25 - 64 COMPOSTO SEC. XVI Nº MÉDIO DE PISOS EM TODA A LARGURA SIMPLES MAU IRREGULAR 15 - 24 AGLOMERADO HABITACIONAL ARTIFICIAL MEDIOCRE NÚCLEO HISTÓRICO CIRCULAR ENTORNO 4 FORMA 4 RECTANGULAR ESPAÇO PÚBL. DOMINANTE FUNÇÃO 1 TRIANGULAR SATISFATÓRIO FUNÇÃO DO AGLOMERADO NATURAL 3 CIRCULAÇÃO CENTRO SERV. ESPECIALIZADOS MAU 2 6, MUNICÍPIO (Km2) 4 3 8, AGÊNCIAS BANCÁRIAS 6 1 2 FREGUESIA (Km2) 6 CULTURA 5, 1 6 7 PRÓPRIOS 5 FONTE OUTROS INE 100 ZONA RURAL 8 2 ALUGADOS REGIME DE POSSE (%) 0 ZONA URBANA EVOLUÇÃO TERRITORIAL POSTO DE CORREIOS 1 MONUMENTOS CLASSIFICADOS EXTERIOR LOCAL DE NASCIMENTO (%) OUTROS DISTRITOS SERVIÇOS DE SAÚDE PELOURINHO OUTROS MUNICÍPIOS CRUZEIRO DO ESPÍRITO SANTO 7 MESMO MUNICÍPIO (DECRETO DE 11 DE OUTUBRO DE 1933) ENSINO SUPERIOR David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide TECIDO 4 ILHA SATISFATÓRIO MEDIOCRE 0 - 14 TERCEÁRIA MARINHA ORTOGONAL OU REGULAR RIBEIRA, PRAIA OU CAIS CONTEMPLAÇÃO SECUNDÁRIA LAGO RIBEIRA RADIOCÊNTRICO REUNIÃO PRIMÁRIA MONTANHA ORGÂNICO OU IRREGULAR MULHERES 6 e + PESSOAS COLINA SITUAÇÃO ÁREAS NATURAIS VALE PLANO HOMENS 3 A 5 PESSOAS PLANALTO TOPOGRAFIA 1 ESPAÇOS LIVRES (Nº) 1 POPULAÇÃO TOTAL PARQUES OU HORTAS ÁREAS LOTEADAS MAS NÃO OCUPADAS ATÉ 2 PESSOAS PÂNTANO ZONAS PROTEGIDAS PRAÇAS OU JARDINS PLANÍCIE 2.2.8 – Quadro Sinóptico IP2 RUAS ÉPOCA ANO PRINC. VIAS DE ACESSO 5 TRIMESTRE 0 Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. AGLOMERADO URBANO 5 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide 2.3. Núcleo Histórico de Cabeço de Vide O Núcleo Histórico de Cabeço de Vide é um activo muito importante do património cultural desta Vila e parte principal da sua identidade cultural. Corroboramos as palavras de Jaime Izquiero Vallina quando afirma que “em si mesmo a identidade cultural de um território é um recurso potencial valioso, singular e irrepetível. Essa identidade é o primeiro recurso endógeno no qual se sustêm os recursos económicos, humanos, institucionais, naturais e patrimoniais, os valores tangíveis e intangíveis (…)” (Vallina, 2002, p.69) É muito importante que os diferentes agentes locais passem a encarar os centros históricos e o património como um “valor” e uma “alavanca” de desenvolvimento e não como um obstáculo. As apostas de desenvolvimento devem basear-se na capacidade de diversificação económica, social e ambiental efectivas, a par da conservação e requalificação de recursos e valores tradicionais, como as actividades artesanais, o património natural e cultural e a riqueza paisagística.6464 2.3.1. O urbanismo medieval Depois da queda do império Romano, e de muitas das suas Civitas, a população foise disseminando pelas áreas rurais adjacentes, a organização política, social, económica e religiosa estava a mudar. O mundo Ocidental sofria um processo de mudança dando lugar a um novo tipo de sociedade, que deixara de se concentrar, por natureza, nas suas grandes Civitas, encontrando-se organizado em torno de aglomerados urbanos de menor dimensão, dispersos por um território mais vasto. Este processo reflectia as novas exigências funcionais de uma sociedade onde dominava por completo a organização feudal e agrária. Este é um factor fundamental para compreender correctamente o processo urbano da Idade Média. O crescimento destes aglomerados foi depois impulsionado pelo desenvolvimento de grupos específicos, de cariz mercantil e artesão e pelas crescentes trocas comerciais entre os aglomerados mais próximos. A sociedade passou, aos poucos, a organizar-se em torno de duas actividades 64 DGOTDU (2004). Desertificação em Portugal, Incidência no Ordenamento do Território e no Desenvolvimento Urbano. (Vol.2). Lisboa: Autor. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 101 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide económicas específicas para além da agricultura, o comércio e a industria. Com o desenvolvimento do comércio, nos séculos XI e XII, começou a constituir-se uma sociedade burguesa, composta por mercadores ambulantes, os almocreves, e por comerciantes residentes nos centros de comércio. A maior parte da vida diária, para a maioria da população, desenrolava-se ao ar livre, nos campos e nas ruas. A rua assumia-se como um prolongamento da casa onde escasseava o conforto, o exterior constituía um campo privilegiado para a comunicação e sociabilidade. As ruas e praças eram, no burgo medieval, o palco da grande maioria das actividades diárias, em torno destas se orientavam as fachadas principais dos edifícios. A organização, disposição e funcionalidade dos edifícios reflectia também, sem espanto, a organização social e económica. No que respeita às suas características físicas, estes aglomerados eram geralmente implantados em locais dificilmente expugnáveis, muitos deles em lugares altos de difícil acesso, criando obstáculos para os inimigos, como é o caso de Cabeço de Vide. A circulação e o traçado das ruas eram portanto condicionados por esta localização geográfica, acrescentando a necessidade de resolver estas dificuldades, as ruas tornavam-se irregulares e tortuosas. O padrão irregular e radioconcêntrico, repete-se muito na cidade medieval, nestes casos as ruas principais tinham o seu início no centro do burgo e dirigiam-se para as portas existentes. As ruas secundárias desenvolviam-se, quase sempre, em redor do centro, ligando as ruas principais. Partilhamos da opinião de Goitia, quando este afirma que “dificilmente encontramos, ao longo da história, conjuntos urbanos tão conseguidos, e com ambientes que superem os das cidades medievais sob o ponto de vista de valores visuais. Estas cidades perfeitamente definidas pela sua cercadura de muralhas, que desempenha o mesmo papel que a moldura na obra de arte (…) A cidade medieval é um meio homogéneo, e ao mesmo tempo plenamente identificável em todas as suas partes. Não há nela nada de dissonante nem que rompa a sua textura subtil; e, não obstante, nenhuma rua se confunde com outra, nenhuma praça ou praceta deixa de ter a sua própria identidade, nenhum edifício deixa de falar a sua própria linguagem, perfeitamente hierarquizados e submetidos, pela sua significação e valor simbólico, aos grandes monumentos representativos que dominam em volume, escala e excelência.” (Goitia, 2003, p.89) 2.3.2. Caracterização Física do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Como referimos anteriormente, o espaço público nos aglomerados urbanos medievais era lugar de intensa sociabilidade. Era na malha urbana de traçado irregular, com ruas tortuosas e inclinadas, que se assistia simultaneamente à convivência pouco salubre entre Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 102 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide pessoas e animais domésticos (cães, galinhas, patos, porcos, etc.). Era também na rua, mais propriamente na sua valeta ao centro, onde se despejavam todos os dejectos, que um pouco de água e a inclinação acentuada ajudavam a escoar. Para evitar surtos epidémicos a sociedade organizava-se de forma a existir um controlo mais ou menos apertado na higiene dos locais públicos, esta tarefa pertencia aos almotacés, que obrigavam os moradores a varrer a rua perto das suas casas e afastar os dejectos onde quer que estes ficassem atulhados. Estes hábitos, também visíveis em Cabeço de Vide, reflectiam o carácter de uma sociedade onde o sector primário era uma actividade económica essencial e principal factor de subsistência. A sobrevivência da população de Cabeço de Vide foi, durante séculos feita à custa das muitas tapadas e hortas que circundavam a Vila e muito especialmente devido às inúmeras pequenas hortas existentes nos logradouros da maioria das casas do Núcleo Histórico, onde se praticava uma agricultura de subsistência. Este último é sem dúvida um aspecto muito característico e de grande valor urbanístico, ambiental e social, que importa preservar. A riqueza arquitectónica do aglomerado depende essencialmente da qualidade e características específicas do seu conjunto, e menos do valor de cada edifício individualmente. Sobressaem porém alguns monumentos e edifícios, aos quais já fizemos referência e alguns pormenores arquitectónicos tais como portais, gárgulas e outros elementos de cantaria de mármore ou granito. A malha urbana deste núcleo histórico desenvolveu-se de forma elíptica, em relação à sua fortaleza, dirigindo-se lentamente para a planície a sudoeste, ocupando progressivamente os arrabaldes dessa encosta. Excepção feita à Rua de Avis e à Rua do Espírito Santo, que constituíam o importante eixo de ligação ao Rossio, e por serem locais mais cobiçados, se desenvolveram de forma ligeiramente mais célere. Na direcção oposta, o burgo cresceu, ainda que apenas numa fase inicial e moderadamente, para os lados da estrada Romana, na saída para as termas (Rua Bento Varela e Rua do Santo Mártir). (Vide: Apêndice – Peça Desenhada nº 03) O crescimento foi condicionado pela sua implantação geomorfológica e pela necessidade de acesso viário às localidades circundantes de maior influência (Avis, Fronteira e Alter do Chão). Sobre os seus principais sítios e ruas tivemos oportunidade de falar anteriormente, recordamos apenas o importante cariz comercial da Rua do Espírito Santo e a aristocrata Rua de Avis. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 103 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide O Núcleo Histórico tem um total de 261 edifícios e o seu conjunto habitacional é composto quase por inteiro pela típica casa alentejana, maioritariamente de rés-do-chão ou com piso superior, de pequena e simples volumetria, com telhado simples de duas ou quatro águas, com as caiações sucessivas de branco (de modo a proteger as paredes e simultaneamente reflectir a luz solar) e com os acabamentos (cunhais, frisos, socos e cimalhas) em reboco pintado com as cores tradicionais (azulão, ocre ou vermelhão), espaçosas cozinhas que servem de sala de visitas, com suas chaminés de grandes dimensões, encostadas à parede que dá para a rua, e vãos de pequenas dimensões guarnecidos com elementos em reboco pintados com as mesmas cores ou cantarias de granito. As fachadas apresentam linhas puras e formas maciças. Os vãos de pequenas dimensões impediam que o calor abrasador nos dias de verão se precipitasse para dentro da habitação, ao mesmo tempo que permitia que o calor do fogão de cozinha permanecesse no interior durante um maior período de tempo à noite. As poucas janelas não tinham vidro e apresentavam na esmagadora maioria um postigo interior. Os socos têm geralmente mais 30 a 50 cm que a cota do pavimento interior, de forma a evitar a subida da humidade por capilaridade, enquanto que as cantarias têm entre 17 e 20cm. O pavimento era feito em terra batida, nas casas mais pobres, em baldosa (tijoleira fina de forma quadrangular), ou em tijoleira rectangular (colocada em espinha de peixe). Para as soleiras eram geralmente utilizadas pedras de granito, devido à resistência ao desgaste que ofereciam. As coberturas são pouco inclinadas, 26º a 27º, e são normalmente utilizadas as telhas de canudo, capa e canal ou meia-cana, pousadas directamente sobre o guarda-pó, em caniços ou em ripas de madeira. Pelo facto de estarem em banda, formam conjuntos arquitectónicos de rara beleza. As ruas estreitas permitem um maior sombreamento e as paredes grossas pintadas de branco permitem uma maior inércia térmica do edifício e uma menor absorção da radiação solar. A grande maioria das habitações tem uma orientação sul/poente. Estão portanto exemplarmente relacionadas com o clima numa fusão perfeita com o ambiente natural envolvente. São estas as suas principais características, a par de outros aspectos muito positivos que importa valorizar como a segurança, o sossego, ar puro e a possibilidade de se poder ser reconhecido como indivíduo. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 104 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Os melhores campos visuais encontram-se naturalmente nos sítios com maior cota altimétrica, e estão voltados a sul, poente e norte, são predominantemente abertos, com horizonte longínquo. Da barbacã pode-se observar, num dia límpido, uma distância que chega aos 40-50 km, sobre as belas planícies alentejanas. Outros locais privilegiados são o Largo do Pelourinho, o Largo do Posto Velho, a Rua Diogo da Azambuja (Malhão) e a Rua da Sra. dos Anjos. Apraz-nos tecer um comentário um pouco mais detalhado sobre a cozinha alentejana, por ser ela reconhecidamente, se não a maior, pelo menos uma das principais características da habitação transtagana. Este é o compartimento mais amplo e de maior serventia da casa, a vida em família gerava-se maioritariamente e invariavelmente em torno deste espaço. A porta sempre aberta (pelo menos no verão) era um convite para o transeunte que por ali passa-se entrar e, por isso mesmo, era também a sala de recepção da típica casa alentejana. A chaminé sempre espaçosa, bem marcada na fachada principal, que dá para a rua, servia no Inverno de lareira e o seu fogo quente aquecia toda a família, que sentada ao seu redor, ocupava o espaço mais acolhedor da casa. Era também ali que se fumavam os enchidos, hoje já ninguém o faz. Na tábua que encimava a grande chaminé penduravam-se os tachos e caçarolas de latão. A chaminé servia ainda para ventilar o espaço interior. A mesa ficava sempre no meio da cozinha, muitas vezes parecia demasiado grande, tal era o espaço que lhe sobrava por tão pouca quantidade de alimento que em cima se lhe colocava, em especial nos meses de Inverno, durante os quais, por falta de trabalho no campo, a vida de muitas destas famílias se transformava numa profunda angústia. Outro elemento característico é o altibanco, encostado à parede, geralmente feito de pedra, indispensável para o descanso de quem acabava de chegar a casa. No poial estavam os cântaros de barro, com água sempre fresca. Os vãos de acesso aos restantes compartimentos da habitação eram muitas vezes tapados apenas com cortinados de chita. O acesso ao piso superior ou ao aproveitamento do sótão era muitas vezes feito através de uma escada de alvenaria, que se desenvolvia anexa a uma das paredes laterais da cozinha. Atendendo às características sócio-económicas deste povo não é de estranhar que as construções fossem, na sua maioria, de dimensões reduzidas, executadas com materiais Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 105 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide pobres (recolhidos in loco), sem grande ornamentação, ainda assim podem observar-se alguns portais renascentistas feitos em granito ou alvenaria e um ou outro edifício mais solarengo. Como já se referiu as casas mais solarengas ficam na Rua de Avis e Rua do Espírito Santo, distinguindo-se ainda assim das restantes, mais pela maior dimensão do seu volume, que propriamente pela riqueza de materiais e ornamentação que ostentam. A excepção pode ser feita ao solar, do final do séc. XVIII e início do séc. XIX, situado no início da Avenida da Libertação, que foi outrora habitação do abastado lavrador Luís José Frade Simas Cardoso, agora transformado em unidade de turismo de habitação. A estratificação socioeconómica está, portanto, bem visível na altura, dimensão, materiais de construção e ornamentação dos edifícios. Os edifícios de dois pisos eram propriedade das famílias de maior poder económico, as elites sociais (classe política, clero e nobreza), residiam nos principais largos ou praças e ruas (Avis e Espírito Santo). O espaço contíguo ao Castelo, Edifício da Câmara e Igreja Matriz também era digno de prestígio, juntamente com os cruzamentos dos eixos viários de maior circulação. Ao povo mais não restava que ocupar as zonas periféricas e as ruas secundárias, com menor importância, menores condições de salubridade e de pior acessibilidade. Os materiais para a construção dos edifícios eram recolhidos da “terra” e resumiamse à alvenaria de pedra e cal e à tradicional taipa, mais rudimentar, aplicada pela maior parte da população, cujos recursos económicos eram poucos. Estes são os principais materiais a que o povo recorreu desde tempos ancestrais no intento de materializar a função vital que é habitar. Terra e homem uniam-se, numa dependência mútua e a funcionalidade e racionalidade fundiam-se no empirismo. A terra dava o material e o artesão, com sua sabedoria, construída pelo esforço de seus ancestrais, tirava dela o maior proveito, numa relação de respeito. A taipa alentejana é uma técnica construtiva tradicional, muito utilizada até à década de 50. Servia para a construção das paredes exteriores, usualmente com 40 a 55cm, enquanto que as paredes interiores eram feitas de tabique de caniço. As taipas de madeira, com as quais se construíam as paredes de taipa, eram desmontáveis e tinham 2 metros de comprimento por 0,50m de altura. As juntas entre os taipais eram muitas vezes na vertical ou em ângulo para obter um melhor travamento. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 106 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Dependendo da qualidade da taipa, directamente relacionada com o tipo de terra utilizada, utilizava-se uma fina argamassa de barro entre as fiadas horizontais, para obter uma melhor agregação. Quando a taipa é forte as juntas tornam-se mais difíceis de distinguir. Quando a taipa era mais fraca, de difícil agregação, aplicavam-se duas camadas horizontais por cada taipal e no meio uma fiada de tijolo de burro, envolvida por argamassa e cal, a consolidarem cada camada de taipa. Também era frequente a utilização de pedra de xisto em substituição ao tijolo de burro. À composição da taipa eram adicionados pedaços de tijolo ou telha, ou ainda pequenos pedaços de pedra irregular (para favorecer a agregação), de modo a aumentar a consistência da mesma. A utilização de materiais orgânicos, para os mesmos fins, também era muito vulgar. As paredes de taipa eram usualmente protegidas por uma argamassa rica em cal. Muitas vezes os cunhais eram reforçados, entre camadas de taipa, com tijolo ou/e pedra. Não constituía método raro a realização do embasamento em alvenaria de pedra para evitar a humidade proveniente do solo. A utilização cada vez menor das técnicas tradicionais de construção, adequadas ao clima e características da região, substituídas pelos industrializados tijolo furado e betão, têm motivado profundas alterações térmicas no interior das habitações. As paredes grossas de taipa, com óptima massa térmica, permitiam manter no verão, o interior dos edifícios frescos durante o dia e mais quentes durante a noite. Os novos materiais de construção, mais baratos e de construção rápida, tornam muitas vezes as habitações frias no Inverno e muito quentes nos meses de verão, note-se também que o clima do Alentejo Interior é característico por grandes variações térmicas entre o dia e o período da noite, implicando a utilização cada vez mais frequente de meios mecânicos de aquecimento e arrefecimento. O resultado é o aumento do consumo de energia e a consequente poluição. Felizmente, ainda há quem continue a caiar as casas de branco e a utilizar os beirados e alpendres, os postigos de madeira, e a empregar vegetação (de folha caduca) para protecção solar e arrefecimento do ar quente. Infra-estruturas básicas Na década de 50, a iluminação pública ainda era fornecida à Vila pelos motores da Moagem que ali existia (instalada em 1903), o abastecimento da energia eléctrica prolongava- Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 107 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide se até ao fim do serão. A Moagem de Luís José Frade de Simas Cardoso foi a maior indústria que Cabeço de Vide já albergou. Uma vez que estamos na presença de um aglomerado urbano de considerável valor arquitectónico, seria importante que o abastecimento de energia eléctrica passa-se a ser feito através de rede subterrânea de distribuição dispensando os desagradáveis postes e fios aéreos existentes. O abastecimento de água e saneamento básico só foi fornecido a partir dos anos setenta, mais propriamente em 1976. Até então existiam aguadeiros que andavam pelas ruas a vender água a dez tostões o cântaro. Quem não a queria ou podia comprar deslocava-se, normalmente a pé, até às fontes mais próximas, e regressava com a pipa à cabeça cheia do precioso líquido. O abastecimento de água é feito por intermédio de duas captações por furo, seguidamente a água é transportada com o auxílio de bombas para o reservatório intermédio R1 que abastece uma parte da Vila. Desse mesmo ponto a água é bombeada, através de uma central elevatória anexa, para o reservatório elevado R2 situado no interior do castro, abastecendo o centro histórico. Os reservatórios R1 e R2 têm uma capacidade de 100m3 e 30m3 respectivamente. A rede de abastecimento de águas é feita de materiais distintos consoante os diferentes períodos em que foi construída, verifica-se portanto que a maior parte da rede é construída em fibrocimento e a restante, mais recente, em PVC. A rede de águas residuais domésticas é do tipo unitário, construída em manilhas de grés cerâmico com 200mm de diâmetro. Num cenário de possível aumento da população será necessário o aumento do diâmetro de alguns troços da rede. O tratamento das águas residuais é feito numa E.T.A.R (Estação de Tratamento de Águas Residuais), processo realizado através de lagoas de estabilização. A estação de tratamento está dimensionada para uma população de 1500 habitantes. No que respeita ao escoamento das águas pluviais, é importante referir que este se faz à superfície, uma vez que não existem sarjetas. Nos períodos de maior pluviosidade o caudal de água que escorre pelas ruas adicionado ao factor da inclinação e o facto de o pavimento ser em calçada, aumentam as dificuldades de circulação e a perigosidade. Os resíduos sólidos são recolhidos diariamente e transportados para o aterro intermunicipal instalado no concelho de Alter do Chão. São essencialmente resíduos sólidos de características domésticas, com elevada percentagem de matéria biodegradável. A este Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 108 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide respeito não nos parece existir qualquer carência ou problema, salvo a necessidade de aumentar o número de contentores uma vez que, segundo a população, são poucos, tornando mais incómoda a tarefa de despejar o lixo. Também não existe no núcleo histórico qualquer Ecoponto. A produção diária é cerca de 500 kg. A rede viária tem na maior parte da sua extensão pavimento em calçada, apresentando nalguns pontos tapete betuminoso e terra batida. O tráfego é de baixa densidade, sendo o T.M.D. (Tráfego Médio Diário) cerca de 150 veículos. O estacionamento é notoriamente insuficiente, em especial porque na maior parte dos arruamentos internos do núcleo histórico os perfis transversais são estreitos, tornando-se muitas vezes impossível estacionar. Muitos dos arruamentos não apresentam mais de 4m de largura de faixa de rodagem, o que impossibilita também, a passagem ao mesmo tempo de um veículo em cada sentido. A rede de transportes públicos rodoviários é bastante precária. 2.3.3. Análise demográfica e socio-económica DIVISÃO DA POPULAÇÃO DO NÚCLEO HISTÓRICO POR SEXOS SEXO Nº de Hab. % de Hab. MASCULINO 194 46,7 FEMININO 221 53,3 Tabela 10 – Divisão da População do Núcleo Histórico por Sexos (Fonte: Plano de Pormenor do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, 1997) 200 194 220 221 240 180 160 140 % de Hab. MASCULINO 120 FEMININO 100 80 60 53,3% 46,7% 40 MASCULINO 20 0 FEMININO Nº de Hab. Gráficos 12 e 13 – Divisão da População do Núcleo Histórico por Sexos (Fonte: Plano de Pormenor do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, 1997) Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 109 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide O Núcleo Histórico de Cabeço de Vide possui, de acordo com o Plano de Pormenor, 415 habitantes, sendo 194 do sexo masculino e 221 do sexo feminino, correspondendo a 46,7% e 53,3% respectivamente. PIRÂMIDA ETÁRIA DO NÚCLEO HISTÓRICO DE CABEÇO DE VIDE Gráfico 14 – Pirâmide Etária do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide (Fonte: Plano de Pormenor do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, 1997) A pirâmide etária do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide mostra um claro envelhecimento da população. No que respeita aos homens, a faixa etária dos 65-69 anos é aquela que apresenta uma maior quantidade de efectivos, secundada pelos grupos dos 60-64 e 50-54 anos, onde se verifica um número ligeiramente inferior (18). Os grupos etários dos 0-4 e 5-9 são aqueles com menor número de indivíduos, contabilizando cada um, (5) efectivos. O sexo feminino apresenta uma maior esperança de vida, bem visível nos valores elevados que os últimos três grupos etários exibem, (22) efectivos por cada grupo. Preocupante é o reduzido número de residentes do sexo feminino, no Núcleo Histórico, com idades compreendidas entre os 10-14 e 15-19, apenas (1) por grupo. Verifica-se ainda que a taxa de natalidade do sexo feminino é superior à do sexo masculino. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 110 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide DIMENSÃO DA FAMÍLIA DIMENSÃO DA FAMÍLIA Nº ELEMENTOS Núm. Abs. % 1 Pessoa 37 22,2 2 Pessoas 59 35,2 3 Pessoas 40 24 4 Pessoas 20 12 5 Pessoas 6 3,6 6 Pessoas 3 1,8 (+) de 7 Pessoas 2 1,2 Tabela 11 – Dimensão da Família (Fonte: Plano de Pormenor do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, 1997) % 35,0 2 Pessoas 35,2 40,0 3 Pessoas 30,0 24 22,2 1 Pessoa 25,0 4 Pessoas 5 Pessoas 15,0 6 Pessoas 12 20,0 3,6 1,8 1,2 10,0 5,0 (+) de 7 Pessoas 0,0 DIMENSÃO DA FAMÍLIA Gráfico 15 – Dimensão da Família (Fonte: Plano de Pormenor do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, 1997) A maior parte das famílias do Núcleo Histórico (32,2%), são compostas por 2 elementos apenas, na grande maioria, estes casos correspondem a casais de idosos cujos filhos já se emanciparam. Em seguida aparecem as famílias compostas por 3 pessoas (núcleo familiar tradicional alentejano, ou seja, pai, mãe e filho), com 24,0 pontos percentuais. Os núcleos familiares constituídos por pessoas isoladas apresentam um número bastante elevado, 22,2%. Os agregados familiares com 4 pessoas correspondem a 12,0%. Realça-se o facto de ser bastante reduzido o número de famílias com 5, 6 e 7 ou mais elementos, correspondendo a 3,6%, 1,8% e 1,2% respectivamente. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 111 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide ESTADO CIVIL ESTADO CIVIL Val. Abs % SOLTEIROS 128 30,8 JUNTOS 8 1,9 10,4 VIÚVOS 43 DIVORCIADOS 7 1,7 CASADOS 227 54,7 SEPARADOS 2 0,5 Tabela 12 – Estado Civil (Fonte: Plano de Pormenor do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, 1997) 0,5% 30,8% SOLTEIROS 54,7% 1,9% 10,4% 1,7% JUNTOS VIÚVOS DIVORCIADOS CASADOS SEPARADOS Gráfico 16 – Estado Civil (Fonte: Plano de Pormenor do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, 1997) A maioria dos habitantes do Núcleo Histórico é casada, correspondendo a uma taxa de 54,7%. O grupo dos solteiros apresenta também valores bastante significativos (30,8%). Os 10,4% de viúvos, são reflexo do envelhecimento da população residente no Núcleo Histórico. Quanto aos restantes grupos, “juntos”, “divorciados” e “separados”, apresentam os valores mais baixos e pouco significativos, cerca de 1,9%, 1,7% e 0,5% respectivamente. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 112 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide NIVEL DE INSTRUÇÃO HABILITAÇÕES LITERÁRIAS Núm. Abs. % ANALFABETOS SABER LER E ESCREVER 99 23,9 29 7,0 INSTRUÇÃO PRIMÁRIA 140 33,7 ENSINO PREPARATÓRIO 47 11,3 ENSINO SECUNDÁRIO 31 7,5 ENSINO COMPLEMENTAR ENSINO MÉDIO/SUPERIOR 39 9,4 30 7,2 Tabela 13 – Habilitações Literárias (Fonte: Plano de Pormenor do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, 1997) 7,2% 9,4% 23,9% ANALFABETOS SABER LER E ESCREVER 7,5% INSTRUÇÃO PRIMÁRIA ENSINO PREPARATÓRIO 7,0% 11,3% ENSINO SECUNDÁRIO ENSINO COMPLEMENTAR ENSINO MÉDIO/SUPERIOR 33,7% Gráfico 17 – Habilitações Literárias (Fonte: Plano de Pormenor do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, 1997) A percentagem de indivíduos que obtiveram apenas a instrução primária é muito elevada (33,7%), este valor é preocupante pois refere-se na maioria dos casos a adultos, uma vez que o número de crianças no Núcleo Histórico é reduzido. O grupo dos indivíduos com grau de instrução do ensino secundário é o segundo maior com 23,9 pontos percentuais. O ensino preparatório e complementar, apresentam valores semelhantes, cerca de 11,3% e 9,4% respectivamente. O número de residentes sem qualquer habilitação literária, mas que sabem ler e escrever é de 7,0%. Preocupante é também o número de analfabetos (23,9%), embora grande parte deste grupo seja preenchida por idosos. O grupo de residentes que apresentam níveis literários com o grau de ensino médio/superior (7,2%) é composto essencialmente por jovens estudantes, que frequentam esses estabelecimentos de ensino fora da Freguesia. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 113 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide MEIO DE TRANSPORTE QUE POSSUI MEIO DE TRANSPORTE QUE POSSUI Val. Abs. % AUTOMÓVEL 76 43,9 MOTO 24 13,9 NENHUM 71 41,0 BICICLETA 2 1,2 Tabela 14 – Meio de Transporte que Possui (Fonte: Plano de Pormenor do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, 1997) 1,2% AUTOMÓVEL 41,0% 43,9% MOTO NENHUM BICICLETA 13,9% Gráfico 18 – Meio de Transporte que Possui (Fonte: Plano de Pormenor do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, 1997) A maior parte dos residentes do Núcleo Histórico (43,9%), possui e utiliza automóvel. É bastante elevado o número de pessoas que não possui qualquer tipo de transporte, cerca de 41,0%. Esta situação é agravada por corresponder maioritariamente a indivíduos idosos, contribuindo para a sua exclusão, aumentando simultaneamente as dificuldades de acesso ao Núcleo Histórico. Este é um assunto de elevada importância, que importa resolver. A moto é ainda um meio “tradicional” de transporte muito utilizado pelos moradores que necessitam de fazer deslocações não muito longas (13,9%). É utilizada maioritariamente por pessoas mais idosas. A bicicleta também é utilizada, embora por uma percentagem menor de indivíduos (1,2%). Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 114 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide As ruas do Núcleo Histórico são inclinadas e algumas com pavimentos bastante irregulares, (talvez justificativa suficiente para a sua menor utilização) mas poderá ser um factor estratégico a desenvolver, desde que equacionado dentro de uma visão estratégica mais abrangente (por exemplo no Ecoturismo) e amenizando as deficiências de acessibilidade típicas neste tipo de malha urbana. O seu potencial ecológico e o incremento que traz à qualidade de vida, são, só por si, factores justificativos de tal investimento. TEMPO DE PERMANÊNCIA NO LOCAL TEMPO DE PERMANÊNCIA NO LOCAL Val. Abs. % < 5 ANOS 24 14,4 > 5 ANOS 32 19,2 > 10 ANOS 37 22,2 > 20 ANOS 29 17,3 > 30 ANOS 45 26,9 Tabela 15 – Tempo de Permanência no Local (Fonte: Plano de Pormenor do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, 1997) 14,4% 26,9% < 5 ANOS > 5 ANOS 19,2% > 10 ANOS > 20 ANOS > 30 ANOS 17,3% 22,2% Gráfico 19 – Tempo de Permanência no Local (Fonte: Plano de Pormenor do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, 1997) Podemos constatar que a maior parte da população inquirida se encontra estabelecida no Núcleo Histórico há mais de 30 anos, (26,9%), reflexo de uma fraca mobilidade da população mas também sinónimo de um forte enraizamento. Os residentes com menos de 5 anos de permanência no local são, na maioria, indivíduos que deixaram os grandes centros urbanos preferindo residir num local que, segundo eles, apresenta melhor qualidade de vida, Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 115 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide este valor situa-se nuns consideráveis 14,4%. Algumas destas pessoas não tinham qualquer vínculo anterior com esta região do Alentejo. O segundo valor mais elevado (22,2%) diz respeito à população que regista uma permanência superior a 10 anos. De seguida aparecem os indivíduos que residem à mais de 5 anos no Núcleo Histórico, correspondendo a uma taxa de 19,2%. Os residentes com permanência superior a 20 anos apresentam uma taxa de 17,3%. Como foi referido, a permanência prolongada no local verificada pela maior parte da população, tem por força maior, o apego à habitação, a importância dada às relações de vizinhança e o forte enraizamento ao local. A dificuldade de acesso a serviços, equipamentos e comércio, e a habitação em más condições, fez com que uma parte da população se deslocasse para zonas periféricas, na maioria dos casos para a parte “nova” da Vila. DIVISÃO DA POPULAÇÃO POR SECTORES DE ACTIVIDADE POPULAÇÃO ACTIVA Val. Abs. % SECTOR PIMÁRIO 33 21,3 SECTOR SECUNDÁRIO 38 24,5 SECTOR TERCIÁRIO 64 41,3 DESEMPREGADOS 20 12,9 Tabela 16 – Divisão da População por Sectores de Actividade (Fonte: Plano de Pormenor do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, 1997) 12,9% 21,3% SECTOR PIMÁRIO SECTOR SECUNDÁRIO SECTOR TERCIÁRIO DESEMPREGADOS 41,3% 24,5% Gráfico 20 – Divisão da População por Sectores de Actividade (Fonte: Plano de Pormenor do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, 1997) Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 116 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Como já se referiu, o sector terciário é aquele que tem maior expressão na Região do Alentejo. O Núcleo Histórico de Cabeço de Vide encontra-se dentro deste contexto, estando 41,3% da sua população empregada nesse mesmo sector. Os sectores, secundário e primário apresentam valores aproximados de 24,5% e 21,3%, respectivamente. Embora a agricultura tenha, desde sempre assumido um papel preponderante nas actividades economias da região, os valores verificados neste inquérito reflectem bem a perda progressiva que este sector tem verificado ao longo dos anos. Importa ainda referir que os trabalhadores ligados à actividade industrial são, na sua maioria, trabalhadores da construção civil. A indústria transformadora tem um peso muito diminuto no Concelho. A percentagem de desempregados é bastante elevada, devendo ser encarada como factor de preocupação acrescida. Sem emprego não é possível a fixação da população. DIVISÃO DA POPULAÇÃO INACTIVA POPULAÇÃO INACTIVA DOMÉSTICAS Núm. Abs. % 34 13,2 DEFICIENTES 4 1,5 REFORMADOS 144 55,4 MILITARES 4 1,5 CRIANÇAS 30 11,5 ESTUDANTES 44 16,9 Tabela 17 – Divisão da População Inactiva (Fonte: Plano de Pormenor do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, 1997) 16,9% 13,2% 1,5% DOMÉSTICAS DEFICIENTES REFORMADOS 11,5% MILITARES 1,5% CRIANÇAS ESTUDANTES 55,4% Gráfico 21 – Divisão da População Inactiva (Fonte: Plano de Pormenor do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, 1997) Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 117 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Reflexo do já referido envelhecimento populacional do Núcleo Histórico, o grupo dos reformados apresenta, destacadamente, o valor mais elevado (55,4%). Em seguida, com 16,9 pontos percentuais, encontramos o grupo de estudantes, compatível com o baixo efectivo de indivíduos nessa faixa etária. O número de domésticas é consideravelmente alto (13,2%), comparativamente com a média nacional, indício provável da falta de oferta de trabalho. Inquietante é também o valor reduzido de crianças, cerca de 11,5%, preocupação de que já demos conta anteriormente. Os restantes grupos, militares e deficientes, são pouco expressivos, contabilizando cada um 1,5 ponto percentual. É merecedor de atenção especial o grupo dos deficientes, em particular no que respeita a serviços de saúde, acessibilidades e condições de habitabilidade, etc., principalmente levando em consideração que a população do Núcleo Histórico é na sua maioria idosa, tornando-se potenciais deficientes. 2.3.4. Caracterização do Parque Habitacional GRAU DE OCUPAÇÃO DA HABITAÇÃO GRAU DE OCUPAÇÃO DA HABITAÇÃO Val. Abs. % HABITADA 121 50,2 TEMPORÁRIAMENTE HABITADA 46 19,1 DESABITADA 54 22,7 DESABITADA (MUITO DEGRADADA) 20 8,0 Tabela 18 – Grau de Ocupação da Habitação (Fonte: Plano de Pormenor do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, 1997) Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 118 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide 8,0% HABITADA 22,7% TEM PORÁRIAM ENTE HABITADA 50,2% DESABITADA DESABITADA (M UITO DEGRADADA) 19,1% Gráfico 22 – Grau de Ocupação da Habitação (Fonte: Plano de Pormenor do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, 1997) O número total de alojamentos sobre os quais recaiu o inquérito, são 241, sendo o número de famílias residentes apenas 167, implicando necessariamente um número bastante elevado de fogos desocupados, cerca de 30,7%, destes 8,0% encontram-se muito degradados, alguns em estado devoluto. Os fogos habitados representam a percentagem mais elevada (50,2%). O número de fogos temporariamente habitados, corresponde a cerca de 19,1% do total dos alojamentos, são, na sua maioria, segunda habitação, utilizada essencialmente nos períodos de férias. REGIME DE PROPRIEDADE REGIME DE PROPRIEDADE HABITAÇÃO PRÓPRIA HABITAÇÃO ALUGADA HABITAÇÃO CEDIDA HABITAÇÃO DE FAMILIARES Nº de Hab. 140 15 8 4 % de Hab. 83,8 9,0 4,8 2,4 Tabela 19 – Regime de Propriedade (Fonte: Plano de Pormenor do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, 1997) Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 119 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide 150 140 130 120 110 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 140 HABITAÇÃO PRÓPRIA HABITAÇÃO ALUGADA % de Hab. HABITAÇÃO CEDIDA HABITAÇÃO DE FAMILIARES 4,8% 2,4% HABITAÇÃO PRÓPRIA 9,0% HABITAÇÃO ALUGADA HABITAÇÃO CEDIDA 15 8 HABITAÇÃO DE FAMILIARES 4 83,8% Nº de Hab. Gráficos 23 e 24 – Regime de Propriedade (Fonte: Plano de Pormenor do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, 1997) A este respeito importa realçar a grande quantidade de pessoas que residem em habitação própria, cerca de 140, correspondendo a 83,8% do total dos moradores. Este facto pode favorecer a execução, por parte dos moradores, de pequenas obras de conservação e restauro, uma vez que se trata da sua própria habitação. Em oposição a esta constatação, surge o facto de, como verificámos anteriormente, a grande maioria da população do Núcleo Histórico estar envelhecida e com poucos recursos financeiros para levar a cabo este tipo de obras. Esta realidade pode tornar-se preocupante, quando os fogos se degradam de tal forma, deixando de garantir as condições mínimas de salubridade, colocando mesmo em perigo a vida dos moradores, sabendo-se também da resistência que muitos oferecem em abandonar as suas habitações. A habitação alugada apresenta valores de 9,0%. A habitação cedida e pertença de familiares, corresponde a 4,8% e 2,4% respectivamente. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 120 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide NÚMERO DE DIVISÕES DO FOGO NÚMERO DE DIVISÕES DO FOGO Nº DE DIVISÕES Val. Abs. % < 3 DIVISÕES 4 2,4 3 a 5 DIVISÕES 57 34,2 5 a 7 DIVISÕES 45 26,9 > 7 DIVISÕES 61 36,5 Tabela 20 – Número de Divisões do Fogo (Fonte: Plano de Pormenor do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, 1997) 70,0 61 57 60,0 50,0 45 < 3 DIVISÕES 40,0 2,4% 3 a 5 DIVISÕES 30,0 5 a 7 DIVISÕES 20,0 10,0 36,5% 34,2% < 3 DIVISÕES > 7 DIVISÕES 4 3 a 5 DIVISÕES 5 a 7 DIVISÕES 0,0 NÚMERO DE FOGOS 26,9% > 7 DIVISÕES Gráficos 25 e 26 – Número de Divisões do Fogo (Fonte: Plano de Pormenor do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, 1997) O parque habitacional do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide é composto maioritariamente por fogos com um número elevado de divisões, comparando com as tipologias usualmente utilizadas nas construções contemporâneas. Estas divisões apresentam na sua grande maioria dimensões reduzidas, muitas sem qualquer iluminação ou ventilação natural (também por este motivo muitos moradores elegeram a humidade nas habitações como um dos principais problemas do edificado do Núcleo Histórico). É usual encontrarmos compartimentos com este tipo de características, a servir de quartos, salas de estar, etc. As edificações com mais de 7 divisões correspondem a 36,5%, enquanto que os fogos com 5 a 7 e 3 a 5 divisões, dizem respeito a percentagens de 26,9 e 34,2 respectivamente. Com um valor muito inferior (2,4%) aparecem os moradores que habitam em fogos com menos de 3 divisões. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 121 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Alguns fogos, em especial os mais antigos, que não tenham sido alvo de obras de melhoramento (desabitados por um longo período de tempo), não possuem ainda instalações sanitárias. EQUIPAMENTOS DOMÉSTICOS EQUIPAMENTOS QUE POSSUI EQUIPAMENTO Val. Abs. % Frigorífico 152 27,3 Máq. Roupa 108 19,4 Máq. Louça 12 2,2 Televisor 148 26,6 Telefone 81 14,6 Vídeo 27 4,9 Alta Fidelidade 28 5,0 Tabela 21 – Equipamentos Domésticos (Fonte: Plano de Pormenor do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, 1997) % 40,0 Máq. Roupa 30,0 Máq. Louça 26,6 27,3 35,0 Frigorífico Televisor 25,0 Telefone 19,4 Vídeo 14,6 20,0 15,0 Alta Fidelidade 2,2 5,0 4,9 5,0 10,0 0,0 EQUIP A M ENTOS QUE P OSSUI Gráfico 27 – Equipamentos Domésticos (Fonte: Plano de Pormenor do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, 1997) Os electrodomésticos que a população possui em maior número são, destacadamente, o frigorífico/arca congeladora, o televisor e a máquina de lavar roupa, correspondendo a 27,3%, 26,6% e 19,4% respectivamente. Estes aparelhos domésticos são considerados pelos moradores do Núcleo Histórico como os mais imprescindíveis. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 122 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Á data da realização do inquérito 14,6% das pessoas possuíam telefone. Levando em consideração que este é também um aparelho essencial em qualquer lar, nos nossos dias, e considerando que o seu número tem vindo a aumentar no parque habitacional do Núcleo Histórico, com certeza este número será agora maior. O aparelho de alta-fidelidade, o vídeo e a máquina de lavar louça não constituem uma prioridade para a esmagadora maioria dos moradores, apresentando valores de 5,0%, 4,9% e 2,2% respectivamente. Estes valores são justificáveis por se tratar de população em grande parte envelhecida, que geralmente pouca utilização faz deste tipo de aparelhos. HABITAÇÕES COM GARAGEM HABITAÇÕES COM GARAGEM Val. Abs. % SIM 29 17,4 NÃO 138 82,6 Tabela 22 – Habitações com Garagem (Fonte: Plano de Pormenor do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, 1997) 17,4% SIM NÃO 82,6% Gráfico 28 – Habitações com Garagem (Fonte: Plano de Pormenor do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, 1997) De acordo com o inquérito realizado verificou-se que 82,6% dos fogos não possui garagem. Relacionando estes dados com o facto de 43,9% dos moradores possuírem automóvel e conhecendo a realidade da malha urbana do Núcleo Histórico, com ruas estreitas, de difícil mobilidade e com défice de parqueamento, somadas as partes, o resultado é o estacionamento das viaturas junto às habitações, dificultando ainda mais a já débil circulação, causando transtorno aos próprios moradores e também a visitantes ou turistas. Tendo em consideração as características próprias da malha urbana e o tipo de vivência que se pretende Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 123 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide alcançar para o aglomerado, a solução poderá passar pela criação de várias bolsas de estacionamento, estrategicamente posicionadas, correctamente dimensionadas (perspectivando o aumento do número de moradores e visitantes) e melhorando as acessibilidades pedonais. HABITAÇÕES COM LOGRADOURO HABITAÇÕES COM LOGRADOURO Val. Abs. % SIM 105 62,9 NÃO 62 37,1 Tabela 23 – Habitações com Logradouro (Fonte: Plano de Pormenor do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, 1997) 37,1% SIM 62,9% NÃO Gráfico 29 – Habitações com Logradouro (Fonte: Plano de Pormenor do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, 1997) Cerca de 62,9% das habitações possuem logradouro. Este espaço assume uma enorme importância histórica, pois foi muitas vezes através da agricultura de subsistência e da criação de animais domésticos, praticada nestes pequenos espaços, que muitas famílias aqui residentes sobreviveram. É símbolo e identidade da vida da Vila e da sua realidade socioeconómica. Mas continua sendo nos dias de hoje um espaço indispensável, essencial na habitação, elegido como tal em particular (mas não só) pelos idosos que continuam ali a plantar as suas flores, legumes e árvores de fruto, criando aves, coelhos, etc., é ali que passam a maior parte do seu dia. Como já referimos é, sem dúvida, um aspecto de primordial importância, de grande valor urbanístico, ambiental e social, que importa preservar. O seu potencial ao nível do aumento da qualidade de vida e da salubridade das habitações é indubitável. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 124 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide UTILIZAÇÃO DO LOGRADOURO UTILIZAÇÃO DO LOGRADOURO Val. Abs. % HORTA 36 27,6 JARDIM 56 43,1 ALOJAMENTO DE ANIMAIS 14 10,8 ESTACIONAMENTO 0 0,0 OUTRO 24 18,5 Tabela 24 – Utilização do Logradouro (Fonte: Plano de Pormenor do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, 1997) 18,5% 27,6% 0,0% 10,8% JARDIM ALOJAM ENTO DE ANIM AIS ESTACIONAM ENTO 43,1% OUTRO Gráfico 30 – Utilização do Logradouro (Fonte: Plano de Pormenor do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, 1997) Corroborando as afirmações anteriores, verifica-se que a maioria dos logradouros são utilizados para jardim e horta, os primeiros apresentam uma percentagem de 43,1, enquanto os segundos correspondem a 27,6%. A utilização deste espaço para a criação de animais domésticos é uma realidade para 10,8% dos habitantes, enquanto 18,5% dá-lhe outro tipo de utilização. Dos vários moradores inquiridos nenhum revelou utilizar o logradouro como lugar de estacionamento. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 125 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide PRINCIPAIS CARÊNCIAS DO FOGO CARÊNCIAS DO FOGO Val. Abs. % Água Canalizada 1 0,5 Electricidade 3 1,5 Esgotos com Ligação à Rede 3 1,5 Mau Estado das Assoalhadas 14 6,7 Falta de Espaço Interior 27 13,1 Humidade 98 47,6 Outras 9 4,4 Não Tem 51 24,7 Tabela 25 – Principais Carências do Fogo (Fonte: Plano de Pormenor do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, 1997) Água Canalizada Electricidade Esgotos com Ligação à Rede Mau Estado das Assoalhadas Falta de Espaço Interior Humidade Outras Não Tem % 50,0 47,6 45,0 40,0 35,0 30,0 24,7 25,0 20,0 15,0 13,1 10,0 5,0 6,7 4,4 0,5 1,5 1,5 0,0 CARÊNCIAS DO FOGO Gráfico 31 – Principais Carências do Fogo (Fonte: Plano de Pormenor do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, 1997) No que diz respeito ao tema supra citado, é importante realçar a grande quantidade de pessoas que indicou a humidade no interior das habitações como principal carência, cerca de 47,6%. Importante também é o facto de 24,7% da população não indicar qualquer tipo de debilidade nas suas habitações. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 126 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide A falta de espaço no interior dos fogos foi mencionada por 13,1% dos moradores do Núcleo Histórico, enquanto que 6,7% fez referência ao mau estado das assoalhadas. Apenas 1,5%, indicou a falta de esgotos com ligação à rede pública, estando a ausência de rede eléctrica referida em idêntica quantidade. A ausência de água canalizada constitui um problema para 0,5% dos inquiridos. Estes últimos valores, apesar de serem relativamente baixos merecem uma rápida resolução uma vez que se tratam de serviços elementares. EXPECTATIVAS FACE AO FOGO EXPECTATIVAS FACE AO FOGO Val. Abs. % 13 7,8 76 45,5 Não Pensa Fazer Obras 76 45,5 Pensa Alienar o Fogo 2 1,2 Pensa Fazer Obras e Tem Possibilidades Económicas Pensa Fazer Obras e Não Tem Possibilidades Económicas Tabela 26 – Expectativas Face ao Fogo (Fonte: Plano de Pormenor do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, 1997) 1,2% 7,8% 45,5% 45,5% Pensa Fazer Obras e Tem Possibilidades Económicas Pensa Fazer Obras e Não Tem Possibilidades Económicas Não Pensa Fazer Obras Pensa Alienar o Fogo Gráfico 32 – Expectativas Face ao Fogo (Fonte: Plano de Pormenor do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, 1997) De acordo com os dados recolhidos no inquérito, verifica-se que cerca de 45,5% dos moradores não tem qualquer intenção de fazer obras. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 127 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide A mesma percentagem de inquiridos respondeu que pensa fazer obras mas reconhece não dispor de capacidade financeira para tal. Apenas 7,8% dos moradores, manifestou essa intenção, tendo para isso possibilidades económicas. A percentagem de inquiridos que manifestou interesse em alienar o seu fogo é diminuta, correspondendo a 1,2 pontos percentuais. 2.3.5. Opinião dos Inquiridos Face ao Núcleo Histórico PRINCIPAIS PROBLEMAS INFRAESTRUTURAIS PRINCIPAIS PROBLEMAS INFRAESTRUTURAIS Val. Abs. % Zona Degradada 116 69,0 Def. Cond. Habitabilidade 2 1,2 Maus Acessos 3 1,8 Outros 15 8,9 Nenhum 32 19,0 Tabela 27 – Principais Problemas Infraestruturais (Fonte: Plano de Pormenor do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, 1997) Zona Degradada Def. Cond. Habitabilidade Maus Acessos Outros Nenhum % 70,0 69,0 60,0 50,0 40,0 30,0 19,0 20,0 10,0 8,9 1,2 1,8 0,0 Gráfico 33 – Principais Problemas Infraestruturais (Fonte: Plano de Pormenor do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, 1997) Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 128 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide O principal problema Infraestrutural mencionado pela esmagadora maioria dos moradores (69%) diz respeito ao grau de degradação geral do Núcleo Histórico, em especial no que se refere à estrutura urbana edificada. Este fenómeno verifica-se particularmente em vários imóveis, cujos proprietários se encontram ausentes, não sentindo qualquer incentivo para a recuperação dos mesmos. O problema assume dimensões mais preocupantes quando estas edificações confinam com outras (sendo a maioria), uma vez que, devido ao método construtivo, os edifícios degradados poderão provocar a consequente degradação das edificações contíguas. 19,0% dos moradores não elegeu qualquer debilidade infraestrutural digna de registo. As deficientes condições de habitabilidade e os maus acessos foram mencionados por 1,2% e 1,8% dos inquiridos, respectivamente. A quantidade de moradores que apontou outras razões, corresponde a 8,9 pontos percentuais. PRINCIPAIS PROBLEMAS SOCIAIS PRINCIPAIS PROBLEMAS SOCIAIS Val. Abs. % Alcoolismo 3 1,8 4,1 Droga 7 Violência 1 0,6 Desemprego 43 25,1 Outros 32 18,7 Nenhum 85 49,7 Tabela 28 – Principais Problemas Sociais (Fonte: Plano de Pormenor do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, 1997) Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 129 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Alcoolismo Droga Violência Desemprego Outros Nenhum % 70,0 60,0 49,7 50,0 40,0 30,0 25,1 18,7 20,0 10,0 1,8 4,1 0,6 0,0 Gráfico 34 – Principais Problemas Sociais (Fonte: Plano de Pormenor do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, 1997) No que respeita ao tema supra mencionado, verifica-se que grande parte da população (49%), considera não existir qualquer tipo de problemas, considera ainda que o Núcleo Histórico é um sítio seguro e tranquilo. O principal problema social, apresentado por 25,1% dos inquiridos, é o desemprego. Outros factores apontados pelos moradores que constituem a problemática social do aglomerado, são o consumo de droga (4,1%), o alcoolismo (1,8%) e a violência (0,6%). PRINCIPAIS CARÊNCIAS DO NÚCLEO HISTÓRICO PRINCIPAIS CARÊNCIAS DO NÚCLEO HISTÓRICO Val. Abs. % Posto Médico 23 10,2 Iluminação 20 8,9 Arruamentos 39 17,3 Parques de Estacionamento 1 0,4 Locais de Comércio 61 27,2 Locais de Convívio 6 2,7 Espaços Verdes 3 1,3 Abast. Eléctrico Deficiente 1 0,4 Outros 49 21,8 Nenhuma 22 9,8 Tabela 29 – Principais Carências do Núcleo Histórico (Fonte: Plano de Pormenor do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, 1997) Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 130 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Posto Médico Iluminação Arruamentos Parques de Estacionamento Locais de Comércio Locais de Convívio Espaços Verdes Abast. Eléctrico Deficiente Outros Nenhuma % 70,0 60,0 50,0 40,0 27,2 30,0 21,8 17,3 20,0 10,0 10,2 8,9 9,8 0,4 2,7 1,3 0,4 0,0 Gráfico 35 – Principais Carências do Núcleo Histórico (Fonte: Plano de Pormenor do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, 1997) As principais carências do Núcleo Histórico manifestadas pelos moradores neste inquérito são, em primeiro lugar, a falta de locais de comércio (27,2%). A maioria dos locais de comércio da Vila “Velha” fica situada no seu limite, na transição para a parte “Nova” da Vila, causando algum transtorno para as pessoas mais idosas que moram mais acima no cabeço. As ruas íngremes e tortuosas, com seus pavimentos irregulares característicos tornam a tarefa ainda mais difícil, os arruamentos foram mencionados por 17,3% dos inquiridos. Uma solução interessante poderia ser a criação de uma estratégia de compras com entrega ao domicílio, inclusive para os potenciais turistas ali hospedados. A falta de condições do posto médico e o período de atendimento ao público insuficiente, foi razão apontada por 10,2% dos moradores. A iluminação constitui para 8,9% das pessoas, uma das principais carências do Núcleo Histórico, enquanto que os locais de convívio foram mencionados por 2,7% da população. Os espaços verdes e os parques de estacionamento foram referidos 1,3% e 0,4%, respectivamente. 0,4% foi também o número de inquiridos que fez menção ao abastecimento eléctrico deficiente. Outro tipo de carências ou nenhumas, foi a resposta dada por 21,8% e 9,8% dos moradores, respectivamente. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 131 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide 2.3.6. Caracterização de Serviços, Comércio e Indústria FINALIDADE DA INSTALAÇÃO COMÉRCIO Val. Abs. SERVIÇOS Val. Abs. % INDÚSTRIA % Papelaria 0 0,0 Cabeleireira 1 9,1 Drogaria 1 16,7 Barbearia 0 0,0 Sapataria 0 0,0 Activ. Relig. 1 9,1 Pronto a Vestir 0 0,0 Activ. Política 0 0,0 Ofic. Carpintaria Ofic. Mecânica Ofic. Latoaria Ofic. Serralh. Civil Ofic. Sapateiro Outros 2 33,3 Lar de 3ª Idade 1 9,1 Outros Outros 4 36,4 Mercearia 2 33,3 Bar/Café 4 36,4 Talho 0 0,0 Restaurante 0 0,0 Farmácia 1 16,7 Pensão 0 0,0 Val. Abs. % 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 50,0 1 50,0 0 0,0 Tabelas 30, 31 e 32 – Finalidade da Instalação (Fonte: Plano de Pormenor do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, 1997) COMÉRCIO INDÚSTRIA SERVIÇOS 0,0% 33,3% 0,0% 33,3% 36,4% 36,4% 50,0% 0,0% 16,7% 0,0% 0,0% 0,0% 9,1% 16,7% 50,0% 0,0% 0,0% 0,0% 9,1% 9,1% Mercearia Talho Farmácia Bar / Caf é Rest aur ant e Pensão Ofic. Carpintaria Ofic. Mecânica Papelar ia Drogaria Sapat aria Cabeleireira Bar bear ia Act iv. Relig. Ofic. Latoaria Ofic. Serralh. Civil Pr ont o a Vest ir Out ros Act iv. Polí t ica Lar de 3ª Idade Out r os Ofic. Sapateiro Outros Gráficos 36, 37 e 38 – Finalidade da Instalação (Fonte: Plano de Pormenor do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, 1997) Os dados recolhidos demonstram que dos três tipos de actividades mencionadas é nos serviços que se podem observar maior número de estabelecimentos instalados no Núcleo Histórico, com um total de 11. Neste sector sobressai o número de estabelecimentos de bar/café, num total de 4. No que diz respeito ao comércio, são as mercearias que assumem o papel maioritário, com 2 estabelecimentos. Realçamos a existência de uma farmácia, pela importância acrescida que assume num contexto de população envelhecida e com dificuldades de mobilidade. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 132 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide A indústria é a área de actividade mais deficitária, existindo apenas uma oficina de serralharia e uma oficina de sapateiro. REGIME DE PROPRIEDADE DAS INSTALAÇÕES REGIME DE PROPRIEDADE Val. Abs. % Instalação Própria 10 52,7 Instalação Cedida 2 10,5 Instalação Alugada 7 36,8 Tabela 33 – Regime de Propriedade das Instalações (Fonte: Plano de Pormenor do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, 1997) 36,8% 52,7% 10,5% Instalação Própria Instalação Cedida Instalação Alugada Gráfico 39 – Regime de Propriedade das Instalações (Fonte: Plano de Pormenor do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, 1997) No que diz respeito ao regime da propriedade, verifica-se uma preponderância da instalação própria (52,7%). A instalação alugada surge em segundo lugar, correspondendo a 36,8%, enquanto que a instalação cedida apresenta valores de 10,5%. Em muitos casos os edifícios que albergam estas actividades económicas servem também de habitação para os seus proprietários, situada, regra geral, no piso superior. TEMPO DE UTILIZAÇÃO TEMPO DE UTILIZAÇÃO Val. Abs. % < 1 ANO 3 1,8 1 a 2 ANOS 7 4,1 2 a 5 ANOS 1 0,6 5 a 10 ANOS 43 25,1 > 10 ANOS 32 18,7 Tabela 34 – Tempo de Utilização (Fonte: Plano de Pormenor do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, 1997) Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 133 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide < 1 ANO 1 a 2 ANOS 5 a 10 ANOS > 10 ANOS 2 a 5 ANOS % 30,0 25,1 25,0 18,7 20,0 15,0 10,0 5,0 4,1 1,8 0,6 0,0 Gráfico 40 – Tempo de Utilização (Fonte: Plano de Pormenor do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, 1997) O inquérito veio revelar que a maioria das instalações está a ser explorada por períodos superiores a 5 e 10 anos, correspondendo a 25,1% e 18,7% respectivamente. Na sua maioria, os promotores destas actividades são pessoas de idade avançada, as quais não revelam grande desejo de operar mudanças ou modernizar as suas actividades. NÚMERO DE COMPARTIMENTOS NÚMERO DE COMPARTIMENTOS Val. Abs. % Uma 3 15,7 Duas 6 31,5 21,1 Três 4 Quatro 1 5,3 Cinco 1 5,3 > Cinco 4 21,1 Tabela 35 – Número de Compartimentos (Fonte: Plano de Pormenor do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, 1997) Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 134 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide 15,7% 21,1% 5,3% 5,3% 31,5% 21,1% Uma Duas Três Quatro Cinco > Cinco Gráfico 41 – Número de Compartimentos (Fonte: Plano de Pormenor do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, 1997) As instalações com 2 compartimentos correspondem à percentagem mais significativa (31,5%), seguindo-se as que possuem 3 divisões e as que apresentam um número superior a 5, em ambos os casos representando 21,1%. A percentagem de estabelecimentos que possui apenas um compartimento é também considerável, correspondendo a 15,7 pontos percentuais. NÚMERO DE EMPREGADOS NÚMERO DE EMPREGADOS Val. Abs. % Nenhum 8 42,1 Um 4 21,1 Dois 4 21,1 0,0 Três 0 Quatro 0 0,0 Cinco 0 0,0 > Cinco 3 15,7 Tabela 36 – Número de Empregados (Fonte: Plano de Pormenor do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, 1997) Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 135 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Nenhum Um Dois Três Quatro Cinco > Cinco % 45,0 42,1 40,0 35,0 30,0 25,0 21,1 21,1 20,0 15,7 15,0 10,0 5,0 0,0 0,0 0,0 0,0 Gráfico 42 – Número de Empregados O tecido empresarial do Núcleo Histórico é composto por pequenas e microempresas. Segundo os dados recolhidos, 42,1% das actividades não possuem qualquer empregado, enquanto que as empresas com um ou dois empregados representam ambas 21,1%. Os estabelecimentos que empregam mais de 5 pessoas correspondem a 15,7%. Verificou-se que as várias actividades estão dimensionadas para a população actual do Núcleo Histórico, mas não se coadunam com um possível aumento de procura dos seus serviços. É importante lembrar que a maioria do comércio e serviços da Vila se encontram instalados no Rossio, em especial ao longo da Avenida dos Libertadores. 2.3.7. Síntese Conclusiva O Núcleo Histórico de Cabeço de Vide apresenta, de acordo com o inquérito realizado, as seguintes características: Aglomerado composto por 415 habitantes dos quais 53,3% são do sexo feminino. A maioria da população situa-se numa faixa etária acima dos 60 anos, são casados (54,7%) e detêm apenas a instrução primária (33,7%). Por ser uma população envelhecida a taxa de analfabetismo é bastante elevada, cerca de 23,9% dos habitantes. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 136 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide As famílias deste aglomerado são na sua maioria compostas por duas pessoas (35,2%) e permanecem no local à mais de 30 anos. Destaca-se também o número de famílias com apenas um indivíduo, correspondendo a 22,2%. No que respeita ao tipo de transporte utilizado, a população utiliza primordialmente o automóvel (43,9%), sendo que o número de pessoas que não dispõe de qualquer veículo de transporte é bastante elevado, 41%. A população encontra-se empregada, na sua maioria, no sector terciário, em especial no sector público. A agricultura é para muitos uma ocupação adicional. No período de funcionamento das termas, parte da população tem a possibilidade de adicionar ao seu rendimento económico, uma fatia complementar, através da oferta de serviços e alojamento. Grande parte do conjunto da população inactiva é composta por reformados. Os edifícios do Núcleo Histórico têm uso preferencialmente habitacional, existindo também algumas edificações destinadas ao uso agrícola. Sobre o parque habitacional apraz referir que 50,2% se encontra habitado, existindo contudo uma percentagem muito significativa de fogos desabitados (30,7%), dos quais 8,0% estão muito degradados. Uma percentagem significativa de edifícios desabitados está à venda. A principal carência apontada pelos moradores foi a humidade existente no interior das habitações (47,6%). Muitos inquiridos manifestaram o desejo de realizar obras de melhoramento, mas confessaram não possuir meios financeiros para o efeito. O parque habitacional é caracterizado portanto por um reduzido número de obras de conservação e restauro, agravando deste modo o mau estado geral do edificado. É importante uma intervenção rápida e abrangente, de modo a melhorar as condições de vida dos habitantes do aglomerado, evitando a sua desertificação (no sentido de despovoamento) progressiva. A esmagadora maioria dos fogos constitui habitação própria (83,8%), e apresenta um elevado número de divisões de pequenas dimensões. As habitações com um número superior a 7 divisões são as mais encontradas no Núcleo Histórico, representando 36,5% do parque habitacional. Outra característica comum a quase todos os fogos é a ausência de garagem (82,6%). A existência de logradouro é uma realidade para 62,9% das habitações, utilizado maioritariamente para jardim e horta. Sobre a importância deste espaço não nos cansamos de enfatizar. Para 69% dos inquiridos o Núcleo Histórico é considerado uma zona degradada, é contudo elegido pela maioria dos mesmos como um lugar seguro e tranquilo para viver. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 137 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide As principais deficiências apontadas ao local são, a insuficiência do número de estabelecimentos comerciais e os arruamentos, difíceis de percorrer para pessoas de mais idade, particularmente pela acentuada inclinação e pavimentação dos mesmos. No que respeita às actividades económicas, constatou-se que os estabelecimentos em maior número, instalados na zona, são de bar/café. O tecido empresarial é constituído na totalidade por pequenas e microempresas, compostas na sua maioria por um único elemento. Apresentamos no seguinte quadro síntese as principais características do Núcleo CARACTERÍSTICAS DEMOGRÁFICAS CARACTERÍSTICAS SOCIOECONÓMICAS POPULAÇÃO TRANSPORTES/ MOBILIDADE CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DO NÚCLEO HISTÓRICO QUADRO SÍNTESE DA CARACTERIZAÇÃO DO NÚCLEO HISTÓRICO DE CABEÇO DE VIDE Histórico de Cabeço de Vide. - Maioritariamente situada numa faixa etária acima dos 60 anos. - Famílias de dimensão reduzida (uma ou duas pessoas). - Baixa escolaridade (taxa de analfabetismo elevada). - Grande número de reformados. - População activa empregada maioritariamente no sector terciário, público. - Agricultura como ocupação adicional. - Oferta de serviços e alojamento (em época de funcionamento das termas). - Forte ligação ao local. - Maioritariamente automóvel. - Grande número de pessoas sem qualquer tipo de meio de transporte particular. - Rede de transportes públicos rodoviários é bastante precária. - Uso preferencialmente habitacional, maioritariamente habitação própria. - Alguns edifícios reservados para uso agrícola. - Edifícios com número elevado de pequenas divisões, sem garagem e com logradouro utilizado maioritariamente para jardim e horta. - Percentagem significativa de fogos desabitados. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 138 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide - Percentagem significativa de edifícios degradados - Insuficiência do número de estabelecimentos comerciais (maioritariamente localizados na Avenida da Libertação) - Arruamentos difíceis de percorrer para pessoas idosas e (ou) com debilidades físicas (inclinação acentuada e tipo de pavimentação) Quadro 3 - Quadro síntese da caracterização do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Note-se ainda que a maioria dos moradores considera o Núcleo Histórico de Cabeço de Vide um lugar seguro e tranquilo para viver. Depois de analisado e caracterizado o Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, podemos proceder agora à análise SWOT do mesmo, com o objectivo de realizar uma avaliação global e crítica e proceder ao diagnóstico das suas principais forças e fraquezas, oportunidades e ameaças (tal como o nome indica). A análise referida considera três aspectos específicos, o FACTORES EXTERNOS (acções exteriores ao aglomerado, que não dependem directamente deste, mas que têm a capacidade de o afectar) económico, o social e o físico. FORÇAS - Elevada ligação da população ao território associada a uma grande riqueza de tradições, por outras palavras, forte identidade cultural; - A região apresenta elevados padrões de qualidade ambiental, incluindo uma grande variedade e riqueza de património natural e cultural, grande diversidade de ecossistemas naturais; - A região apresenta também condições ímpares para a produção de energias alternativas e renováveis; - O aeroporto internacional de Badajoz fica localizado a 50 km, com acesso através do IP2 e o aeródromo de Évora a 80 km, também com acesso através do IP2. FRAQUEZAS - O aglomerado encontra-se inserido numa região com forte regressão demográfica e com o PIB dos mais baixos de toda a União Europeia; - Ao acentuado envelhecimento apresentado junta-se ainda uma densidade populacional muito baixa; - A região apresenta constantemente os níveis mais altos de desemprego em todo o Portugal continental; - A economia da região é frágil, baseada essencialmente no sector terciário, maioritariamente serviços públicos não mercantis; - Os níveis de instrução são mais baixos que a média nacional, os recursos humanos são pouco qualificados e envelhecidos; - As interdependências e as acessibilidades com os centros urbanos adjacentes, em especial com os de maior dimensão, necessitam ser melhoradas; - A ligação às grandes vias de comunicação deverá também ser melhorada, principalmente ao IP2. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 139 FACTORES INTERNOS (acções internas ao aglomerado e que dependem directamente deste) David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide OPORTUNIDADES - A actividade turística apresenta fortes potencialidades de desenvolvimento (turismo rural, cultural, termal, eco turismo, etc.). O turismo e o lazer podem constituir-se como âncoras de uma nova base económica para a região; - A indústria do artesanato tem enorme potencial de crescimento. A qualidade, genuinidade e diversidade da produção artesanal poderá significar um substancial aumento do emprego, comércio e turismo, para além de se constituir como instrumento importante para a conservação de práticas, artes e ofícios de uma cultura de raiz eminentemente popular. AMEAÇAS - Existe uma real ameaça de desertificação, conjuntamente com o despovoamento que se tem vindo a verificar nas últimas décadas. FORÇAS - Forte especialização na área do turismo termal; - Forte identificação da população com a terra e o conhecimento profunda da sua lavoura; - Localização valorizada do aglomerado pela proximidade de cidades importantes como Portalegre e Estremoz, e pólos de interesse turístico tais como Alter do Chão, Fronteira, Monforte, Marvão, Castelo de Vide ou a Serra de São Mamede. Possibilidade de apreciar a bela vista sobre as planícies alentejanas; - A malha urbana encontra-se consolidada, proporcionando diversidade de espaços públicos em termos de tipologia e dimensão, oferecendo ainda uma interessante variedade de percursos; - Evidenciando a riqueza e as características próprias de um aglomerado medieval, este permite uma grande legibilidade e embora apresente uma fraca penetrabilidade não existe qualquer descontinuidade física no seu território; - Apresenta uma imagem de grande valor e autenticidade, com edifícios de valor arquitectónico e monumentos nacionais classificados; - Elevada qualidade de vida no que diz respeito a segurança, tranquilidade, qualidade do ar e contacto com a natureza. FRAQUEZAS - Verifica-se uma insuficiência de equipamentos que garantam acesso à cultura e lazer. Os equipamentos de apoio à saúde são de funcionamento insuficiente; - Algumas áreas residenciais encontram-se com problemas de salubridade, iluminação e ventilação; - Estreiteza e variação dos perfis das vias e fraca penetrabilidade do tecido urbano relativamente ao exterior. Dificuldade no acesso de determinado tipo de veículos: bombeiros, lixo e limpeza; - A rede de transportes públicos rodoviários é bastante precária; - Insegurança nas vias de maior circulação devido à falta de passeios. - Estacionamento automóvel escasso; - Iluminação pública insuficiente e inexistência de mobiliário urbano adequado ao local; - Baixo nível de qualificação das actividades económicas; - Degradação de algum património arquitectónico. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 140 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide OPORTUNIDADES - O espaço público demonstra aptidão para estadia e lazer, desde que programado para tal. - O aglomerado demonstra uma natural apetência para a criação de unidades de alojamento de apoio à actividade termal. - Poderá ser atractiva (tanto quanto necessária) a instalação de serviços, estabelecimentos de comércio de proximidade e de artesanato, se forem criadas condições para o aumento da procura. - A malha urbana possibilita ainda, nalguns pontos, a criação de percursos pedestres e de velocípedes, que permitam aos habitantes e turistas um contacto mais próximo com a riqueza natural do núcleo histórico, da vila e da zona envolvente. - A introdução das novas tecnologias é uma oportunidade que não deve ser descorada uma vez que existe a este respeito uma real insuficiência, devendo ser encarada como uma estratégia didáctica, de promoção do desenvolvimento tecnológico, de captação de investimento e de um novo perfil de habitantes, visitantes e turistas. AMEAÇAS - Existe uma quantidade considerável de fogos desabitados, alguns em elevado estado de degradação, o que implica muitas vezes a degradação dos imóveis adjacentes. - Envelhecimento acentuado da população e consequente desaparecimento, colocando em risco a continuação da preservação do património cultural. Quadro 4 – Análise SWOT do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 141 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide 3. PROPOSTA METODOLÓGICA Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 142 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Neste capítulo é apresentada a proposta metodológica para a reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, que se consubstancia num conjunto de princípios de intervenção cujo principal papel é orientar um desejável projecto de reabilitação a desenvolver para o aglomerado (sendo este um tema que facilmente servirá de base para estudos posteriores). Para esse propósito corroboram também as “design guidelines” (linhas orientadoras para o desenho) formuladas, que do nosso ponto de vista, resumem de forma coerente as ideias expressas nos diversos temas abordados no âmbito deste estudo. Os princípios de intervenção para o Núcleo Histórico de Cabeço de Vide resultam da identificação e compreensão de um conjunto de princípios de intervenção gerais que derivam directamente das diversas bases normativas internacionais sobre património, analisadas no primeiro capítulo, e dos aspectos específicos da actividade termal (principal motor económico da freguesia de Cabeço de Vide), sendo aplicados à realidade do núcleo histórico, caracterizado no capítulo dois, onde tivemos a oportunidade de apresentar um quadro síntese da caracterização do aglomerado e a análise SWOT do mesmo. O esquema apresentado explicita a inter-relação dos conceitos, no âmbito do património e da actividade termal, compatibilizando os princípios de intervenção gerais e seus objectivos com as características específicas do objecto de estudo. A aplicação dos princípios de intervenção específicos para o Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, leva-nos a propor soluções concretas para orientar o desenho urbano. Estas orientações deverão ser integradas nos instrumentos urbanísticos a ser criados, à escala adequada à sua especificidade. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 143 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide VISÃO 3.1. Princípios de intervenção para o Núcleo Histórico de Cabeço de Vide - O Núcleo Histórico de Cabeço de Vide funcionará como plataforma de turismo de habitação e de apoio às actividades termais (respeitando deste modo as suas características endógenas), dando ao mesmo tempo uma resposta altamente qualificada às necessidades de lazer, cultura, desporto, comércio e serviços para habitantes e turistas. PRINCIPIOS GERAIS DE INTERVENÇÃO - Respeitar o carácter histórico, a vocação do aglomerado ao longo da história e a sua riqueza cultural. PATRIMÓNIO - Compreender e respeitar a estrutura espacial e das construções (proporções, formas e disposições de volumes, relações entre edifícios e destes com os espaços abertos e rede viária), as actividades humanas e a envolvente natural. - Preservar e valorizar a riqueza do seu património arquitectónico. - Conciliar da melhor forma a protecção do património arquitectónico com as necessidades económicas, sociais e culturais actuais (atribuição funcional adequada e socialmente útil). - Promover actividades culturais, incluindo o turismo cultural (prestando uma atenção especial aos possíveis efeitos negativos deste último). OBJECTIVOS GERAIS - Preservar a autenticidade e a identidade cultural do aglomerado, factores estratégicos para o seu desenvolvimento, face às tendências uniformizadoras da globalização; - Promover um novo urbanismo, capaz de reencontrar os espaços fechados, a escala humana, a interligação das funções e a diversidade sociocultural. - Assegurar a conservação do património arquitectónico (manutenção regular e permanente) e transmissão às gerações futuras; - Proteger as características arquitectónicas e o seu testemunho histórico (respeitar todas as partes, de diferentes épocas e os materiais utilizados); Contribuir para a educação e desenvolvimento cultural da sua própria comunidade e circundantes; - Trazer benefícios sociais e económicos para a população (captar os recursos económicos relacionados com o património) - Proporcionar os meios necessários para que a comunidade anfitriã possa cuidar e manter o seu património e as suas tradições vivas. INTERACÇÕES PRINCIPIOS DE INTERVENÇÃO – NÚCLEO HIST. CABEÇO DE VIDE OBJECTIVOS ESPECÍFICOS - Valorizar a identidade específica de ruas, lugares e edifícios. - Reabilitar os edifícios e sítios mais notáveis, preservando a sua herança histórica e cultural, valorizando a sua autenticidade como factor estratégico; - Compatibilizar a sua identidade com uma função socialmente útil, sem riscos para o património. - Promoção e interligação entre ambiente natural e construído. - Criação de estruturas verdes e percursos complementares de apoio. - Projecção de uma forte componente formativa. - Promover o contacto directo com o património cultural, os princípios ambientais e as novas tecnologias. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 144 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide PATRIMÓNIO - Controlar a integração de elementos contemporâneos. - Salvaguardar a integridade dos sítios monumentais mas permitir o seu saneamento, manutenção, valorização e desenvolvimento; - Assegurar uma arquitectura contemporânea de grande qualidade (a arquitectura de hoje é o património de amanhã), enquadrada de forma harmoniosa nas estruturas espaciais e na ambiência dos conjuntos históricos (alturas, cores, materiais e formas, elementos decorativos, relações e proporções dos volumes construídos e dos espaços abertos, implantação dos edifícios, prestando especial atenção à estrutura e dimensionamento dos lotes; - Garantir a utilização de sinalização das ruas, mobiliário urbano e pavimentos adequados; - Garantir a forma mais adequada para a instalação de infra-estruturas indispensáveis à vida contemporânea, minimizando os impactos negativos (fios de electricidade e de telefones, antenas de televisão, etc.). - Manter e valorizar a função de habitação. - Manter uma estrutura económica local, por exemplo através do estímulo à criação de novas actividades económicas, de pequenas e microempresas, preservando e valorizando as actividades económicas, profissões e ofícios tradicionais (comércio, agricultura, artesanato, técnicas de construção tradicionais). - Manter e valorizar a função de habitação. - Promover o emprego localmente e a fixação da população, contribuindo para suster a degradação das construções antigas; - Assegurar a sustentabilidade das formas de conhecimento tradicionais, indispensáveis ao futuro do património. - Dinamizar as interacções socioculturais e económicas da comunidade local, entre si e com o exterior. - Potenciar as formas de conhecimento tradicionais locais (comércio, agricultura, artesanato, técnicas de construção tradicionais). - Melhorar as condições de habitabilidade. - Incentivar a criação de novas actividades económicas de serviços, comércio local (qualificando e redimensionando a oferta em relação à nova procura expectável); - Dinamizar a oferta cultural da Vila; - Atrair população jovem e qualificada. - Assegurar a sua continuidade; - Criar postos de trabalho para a população local, envelhecida e sem qualificações académicas, mas especialista nestas áreas de conhecimento. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 145 ACTIVIDADE TERMAL PATRIMÓNIO David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide - Proibição da instalação de actividades e indústrias nocivas ao ambiente (ruídos, vibrações, etc.). - Evitar a descaracterização ambiental e preservar o património existente. - Reformulação da rede viária. - Solucionar os problemas de trânsito automóvel, típicos dos conjuntos históricos (devido à densidade do tecido urbano e às características arquitectónicas). - Atender às necessidades específicas dos utentes das Termas da Sulfúrea, do ponto de vista físico, psicológico e cultural (com idade superior a 45 anos e algum grau de debilidade física, tendo contudo em atenção a tendência de evolução do mercado, perspectivando novos públicos alvo). - A relação da actividade termal com o Núcleo Histórico de Cabeço de Vide deve permitir aproveitar as características intrínsecas do mesmo, por exemplo, tranquilidade, segurança, qualidade ambiental, etc. (condições essenciais para os utentes, nos períodos de descanso entre tratamentos). - Proporcionar uma oferta qualificada na área do alojamento. - Satisfazer a necessidade de alojamento dos utentes das termas com uma oferta altamente qualificada, criada através da reabilitação de edifícios do núcleo histórico (experiência enriquecida pelo valor cultural e património arquitectónico existente). A aplicação de novas tecnologias (domótica) poderá permitir uma maior comodidade e acompanhamento médico aos utentes. - Garantir uma oferta qualificada de serviços prestados pelas termas, interligada com o turismo cultural. - Potencializar a riqueza do património arquitectónico, artesanato, gastronomia, etc. (valores presentes no núcleo histórico). - Proibição da instalação de actividades e indústrias nocivas ao ambiente (ruídos, vibrações, etc.). - Evitar a descaracterização ambiental e preservar o património existente. - Melhoria das acessibilidades reformulação da rede viária. - Hierarquização da rede viária condicionamento do trânsito automóvel; - Privilegiar os percursos pedonais; - Aumento da segurança. e e - Aumentar a eficiência energética e de gestão de recursos. - Promover a produção de energias renováveis e a sua utilização eficiente; - Promover a economia, tratamento e reutilização da água; - Promover a reutilização de materiais. - Aplicação das novas tecnologias de informação e comunicação. - Permitir o acesso à Internet em todo o espaço público do aglomerado; - Incentivar a aplicação de tecnologia domótica nos edifícios intervencionados. TRANSVERSAL - Evitar modificações composição social. importantes da - A reabilitação deve ser pensada em primeiro lugar para beneficiar os próprios habitantes. - Participação e cidadania. - Garantir a justiça social; - Garantir que as medidas adoptadas são as mais adequadas; - O sucesso da conservação do património (depende do envolvimento e apoio da comunidade). Quadro 5 - Princípios de intervenção – Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 146 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide PRINCÍPIOS DE INTERVENÇÃO – NÚCLEO HIST. CABEÇO DE VIDE OBJECTIVOS ESPECÍFICOS DESIGN GUIDELINES - Valorizar a identidade específica de ruas, lugares e edifícios. - Reabilitar os edifícios e sítios mais notáveis, preservando a sua herança histórica e cultural, valorizando a sua autenticidade como factor estratégico; - Compatibilizar a sua identidade com uma função socialmente útil, sem riscos para o património. - Criação de um percurso turístico-cultural ligando os principais pontos turísticos e de valor cultural e arquitectónico no Núcleo Histórico. - Dotar cada um dos espaços intervencionados com uma utilidade efectiva, de acordo com as orientações estratégicas de intervenção, compatível com as suas características e identidade. - Criação de um percurso verde ligando as zonas verdes existentes e a criar. - Promoção e interligação entre ambiente natural e construído. - Criação de estruturas complementares de apoio. verdes e percursos - Criação de estruturas verdes de protecção, enquadramento e apoio a actividades lúdicas e desportivas (Valorização da natureza e do ambiente, do bem-estar físico e psicológico). - Criação de diferentes microclimas no ambiente urbano (utilizando por exemplo a água e a vegetação). - Projecção de uma forte componente formativa. - Manter e valorizar a função de habitação. - Dinamizar as interacções socioculturais e económicas da comunidade local, entre si e com o exterior. - Promover o contacto directo com o património cultural, os princípios ambientais e as novas tecnologias. - Promover visitas de estudo para as crianças das escolas do concelho, escolas profissionais e centros de formação. - Melhorar as condições de habitabilidade. - Incentivar a criação de novas actividades económicas de serviços, comércio local (qualificando e redimensionando a oferta em relação à nova procura expectável); - Dinamizar a oferta cultural da Vila; - Atrair população jovem e qualificada. - Elaborar um programa específico de apoio (logístico e financeiro) à criação de novas empresas (actividades económicas compatíveis com a natureza do aglomerado e com a visão estratégica) e às actividades culturais e tradicionais, exposições sobre artesanato, património, ambiente e novas tecnologias, etc. (Criar locais específicos para o efeito). - Potenciar as formas de conhecimento tradicionais locais (comércio, agricultura, artesanato, técnicas de construção tradicionais). - Assegurar a sua continuidade; - Criar postos de trabalho para a população local, envelhecida e sem qualificações académicas, mas especialista nestas áreas de conhecimento. - Proibição da instalação de actividades e indústrias nocivas ao ambiente (ruídos, vibrações, etc.). - Evitar a descaracterização ambiental e preservar o património existente. - Criar um programa específico de apoio (logístico e financeiro) para empresas que desenvolvam actividades de cariz tradicional. O percurso turístico-cultural deverá englobar estas actividades. - Promoção da prática da agricultura biológica nos logradouros privados. - Legislação eficiente. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 147 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide - Melhoria das acessibilidades reformulação da rede viária. e - Aumentar a eficiência energética e de gestão de recursos. - Hierarquização da rede viária e condicionamento do trânsito automóvel; - Privilegiar os percursos pedonais; - Aumento da segurança. - Promover a produção de energias renováveis e a sua utilização eficiente; - Promover a economia, tratamento e reutilização da água; - Eliminação de barreiras arquitectónicas. - Retirar o trânsito automóvel do centro do núcleo histórico (com excepção de moradores e abastecimento de serviços e actividades económicas). - Criação de novos lugares de estacionamento (bolsas de estacionamento em locais facilmente acessíveis). - Recurso a sistemas de aproveitamento de energia solar, eólica e geotérmica (diminuição da necessidade de iluminação, ventilação e climatização artificiais). - Adopção de sistemas de tratamento de resíduos orgânicos e sistemas de reaproveitamento de águas pluviais. - Aplicação de materiais de reduzido impacto ambiental, privilegiando a reutilização. - Aplicação das novas tecnologias de informação e comunicação. - Permitir o acesso à Internet em todo o espaço público do aglomerado; - Incentivar a aplicação de tecnologia domótica nos edifícios intervencionados. - Introdução de "pontos fixos" (estações base) em locais estratégicos do espaço público, permitindo o acesso à Internet a todos os utilizadores que não disponham de equipamento pessoal. - Implementação de um "projecto símbolo" “Casas Inteligentes". Quadro 6 - Núcleo Histórico de Cabeço de Vide – Design Guidelines Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 148 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Urbanistas e arquitectos buscam a máxima qualidade para os aglomerados urbanos que projectam. Segundo Vitruvius existem três qualidades fundamentais da arquitectura, sendo estas, a Beleza (Venustas), a Firmeza (Firmitas) e a Função ou Utilidade (Utilitas). Muitos dos aglomerados urbanos construídos nas últimas décadas têm falhado na tentativa de alcançar estes princípios. Em contrapartida podemos observar, muitas vezes extasiados, a qualidade alcançada nos nossos núcleos históricos construídos empiricamente por mestres e artesãos, de habilidade, conhecimento e gosto excepcionais. O Núcleo Histórico de Cabeço de Vide enquadra-se naturalmente neste último grupo. É pois importante aprender com os bons exemplos que os nossos antepassados erigiram e que o tempo, com seu bom senso, se encarregou de perpetuar, sendo vital a sua conservação, respeitando as suas características e autenticidade. Os princípios indicados pretendem reflectir essa preocupação, procurando ainda, humildemente, orientar os projectistas a criar um espaço contínuo, bem ligado e aberto (dentro das limitações impostas pela estrutura pré-existente, precavendo contra qualquer pressão que leve à sua descaracterização), que possa conduzir ao desenvolvimento, tal como Kevin Lynch afirma. (Lynch, 1999) A proposta apresentada tem como linha estratégica estruturante a criação de uma plataforma de turismo de habitação e de apoio às actividades termais (respeitando deste modo as suas características endógenas), as “design guidelines” formuladas pretendem dar uma resposta altamente qualificada às necessidades de lazer, cultura, desporto, comércio e serviços para habitantes e turistas, valorizando o património cultural e o ambiente natural do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide. A reabilitação deste aglomerado deverá servir para dinamizar as interacções sociais e económicas da comunidade local, entre si e com o exterior, ao mesmo tempo dotando o conjunto de uma imagem moderna, com a introdução de novas tecnologias. Por ser este um tema vasto e complexo não é nossa pretensão explaná-lo de forma exaustiva nesta dissertação, certamente nos levaria para outras áreas de estudo interessantes, mas que nos desviariam do âmago do nosso estudo. Ainda assim, reconhecemos as enormes vantagens que poderá representar para o núcleo histórico e em particular na sua interligação com a actividade termal, por esse motivo gostaríamos de aflorar, ainda que muito ao de leve, o assunto. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 149 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide 3.2. Descrição da proposta Os princípios de intervenção para o Núcleo Histórico de Cabeço de Vide supra mencionados, materializam-se num conjunto de acções objectivas. Daremos relevo, aquelas que por sua natureza específica, nos parecem merecer maior atenção. 3.2.1. Valorizar a identidade específica de ruas, lugares e edifícios (Vide: Apêndice – Peça Desenhada nº 08) - Castelo e Barbacã Por considerarmos que o contexto imediato ao castelo não apresenta condições ajustadas para a utilização do edifício e da respectiva zona, condizentes com o seu valor simbólico, cultural e histórico, parece-nos evidente que se impõe uma necessária intervenção com o intuito de dotar este espaço de uma utilidade efectiva. Em nosso entender a Barbacã deverá constituir-se como um espaço verde de carácter lúdico e miradouro, tirando proveito da bela vista que aí se pode desfrutar. O Castelo servirá como espaço de exposições ligadas ao ambiente, património e às novas tecnologias. - Largo do Pelourinho e Edifício da Câmara Considerado o Fórum da Vila de Cabeço de Vide, é possível identificar a carga simbólica de autoridade e poder que ali outrora residiu. Facilmente se consegue imaginar os muitos pregões públicos que naquele local foram lançados, as várias ordenanças da Câmara e as sentenças lidas por parte do Juiz de Fora. Propomos que o Largo do Pelourinho seja dotado de melhor iluminação pública e mobiliário urbano. Este deverá continuar a funcionar como miradouro devido às suas características excepcionais. O edifício da Câmara poderá albergar um posto de informações e vendas aos turistas. As salas da antiga cadeia passariam então a funcionar como salas de exposição, alusivas ao tema. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 150 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide - Rua Bento Varela (Quebra Costas) Supõe-se que ali tenha existido a Judiaria de Cabelo de Vide. É uma das ruas mais antigas e autênticas da Vila deverá ser integrada no percurso turístico-cultural a dinamizar. - Rua de Avis Foi uma das ruas mais importantes de Cabeço de Vide, nela moraram a maioria dos fidalgos, nobres e cavaleiros guerreiros da Ordem de Avis que pela Vila passaram. Por esse motivo, ali se podem encontrar as casas mais solarengas, era a rua “fidalga” da Vila. Deverá também ser integrada no percurso turístico-cultural e alguns dos imóveis ali situados, utilizados como espaços dedicados ao artesanato (zonas de exposição e casas/oficinas para artesãos), tal como proposto no projecto Aldeia Academia Europeia e Internacional de Artes e Ofícios Tradicionais, ao qual oportunamente fizemos referência. - Rua do Espírito Santo Foi nesta rua que se instalou a maioria da classe burguesa, passando a adquirir sucessivamente maior poder social e político. Esta rua emanou outrora o som, o cheiro e o movimento próprios de um lugar de comércio e negócios, cheio de vida. Era a rua do “comércio”. Respeitando a sua identidade histórica, propõe-se a atribuição de incentivos à qualificação dos espaços e actividades económicas existentes bem como à criação de novas áreas de investimento. A passagem do percurso turístico-cultural por esta rua deverá ser obrigatória. - A Praça Velha Foi neste local que até meados do século passado se fez o mercado. Por ser muito movimentado muitos foram os que o consideraram o verdadeiro “Fórum da Vila”. Foi também um dos locais mais importantes do aglomerado, devendo constar na lista de sítios a visitar obrigatoriamente no percurso turístico-cultural. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 151 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide 3.2.2. Promoção e interligação entre ambiente natural e construído (Vide: Apêndice – Peças Desenhadas nº 07 e 08) Propõe-se a criação de dois percursos distintos: - Percurso Turístico-Cultural (pedonal) Ligando os principais pontos turísticos e de valor cultural no Núcleo Histórico (ruas, largos, miradouros, edifícios, etc.). - Percurso Verde (pedonal com via para velocípedes) Ligando as zonas verdes existentes e a criar. Valorizando a natureza e o ambiente, o bem-estar físico e psicológico. Motivando a prática desportiva ao ar livre, criando percursos de manutenção e desenvolvendo outras actividades desportivas compatíveis com o exterior. Deverá contemplar a utilização de árvores de sombra (com folha caduca) e vegetação autóctone, seguindo os alinhamentos dos percursos pedonais, criando locais com aptidão para os diversos tipos de actividades ligadas ao recreio, convívio e lazer, aproveitando as deslumbrantes vistas que o local oferece. Propõe-se a criação das seguintes Estruturas Verdes: - Criação de bolsas verdes para estacionamento Correctamente inseridas na paisagem, através da utilização de pavimentação não impermeabilizante e de vegetação autóctone. O aumento do número de estacionamentos deverá ser suficiente para responder à necessidade espectável, sendo estritamente aconselhado o melhoramento da oferta da rede de transportes públicos. A utilização de espécies locais é particularmente aconselhável, uma vez que são mais resistentes às condições climatéricas e a doenças locais, requerem pois menores cuidados que as espécies exóticas. Deverão ser localizados nestes espaços painéis fotovoltaicos. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 152 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide - Estrutura Verde de protecção ao Hotel Candelária Permitindo que se baixe a altura do muro no “Malhão”, visto tratar-se de um ponto de logradouro por excelência, com enormes potencialidades. - Estrutura Verde de apoio a actividades lúdicas e desportivas Criando espaços de contacto privilegiado com a natureza, corredores pedonais e ciclo vias, proporcionando um conjunto de actividades lúdicas e desportivas (para todas as idades), dotadas dos respectivos equipamentos. Para o efeito, propõe-se a criação de pequenos anfiteatros ao ar livre que servirão como local de encontro e debate de ideias. Propõe-se também a criação de equipamentos desportivos, percursos de manutenção e desportos radicais (rampas de skate e bicicleta), bem como espaços infantis, de modo a abranger e servir o maior número de utentes. - Estrutura Verde de Protecção/Enquadramento De forma a proteger o Núcleo Histórico da erosão e agressividade dos ventos e promover o seu enquadramento com a restante paisagem. Considera-se um espaço de vital importância para a qualidade de vida no Núcleo Histórico da Vila de Cabeço de Vide. Deverá ser promovida a prática da agricultura biológica nos logradouros privados, para consumo próprio, para fornecimento das unidades de turismo habitacional e dos restaurantes locais. Sempre que as unidades de turismo habitacional disponham de logradouro devem desenvolver esta actividade, para consumo directo dos seus residentes (será uma forma de aproveitar os conhecimentos empíricos da população da Vila e de dinamizar a economia local). A agricultura é uma prática ancestral no núcleo histórico, devendo ser protegida e incentivada. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 153 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide 3.2.3. Manter e valorizar a função de habitação - Habitações turísticas Pretende-se que o aglomerado se transforme num centro de alta tecnologia na área do turismo e serviços de saúde termal e SPA termal. As habitações turísticas poderão disponibilizar um serviço especializado de telesaúde (monitorização da saúde, 24 horas on-line). Além deste serviço, estas unidades deverão apresentar quatro principais vantagens, devido ao sistema domótico nelas instalado (sobre este tema falaremos mais aprofundadamente oportunamente, juntamente com as novas tecnologias de informação e comunicação). Segurança: - intrusão; - detecção de incêndios; - detecção de fugas (gás e água); - avisos (local e remoto); - comando e controlo (local e remoto); - vídeo-vigilância. Conforto: - automatização e controlo das tarefas domésticas (electrodomésticos); - automação e controlo do sistema de iluminação; - automação e controlo do sistema de som e multimédia. Economia: - energia eléctrica; - agua; - gás. Comunicações: - tele-trabalho; - vídeo-conferência. - e-comerce; - e-business; - e-learning; - cultura e entretenimento. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 154 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide 3.2.4. Melhoria das acessibilidades e reformulação da rede viária (Vide: Apêndice – Peças Desenhadas nº 07 e 08) Sugerimos a criação de uma via de cintura que ligará os parques de estacionamento propostos, desviando desta forma o tráfego automóvel do centro do núcleo histórico. Para um resultado eficiente é necessário optimizar a acessibilidade pedonal ao centro do aglomerado. A possibilidade de circulação automóvel no núcleo histórico deverá portanto ser restringida, passando a ser permitido apenas o acesso pontual dos veículos de serviços essenciais ao bom funcionamento do aglomerado. Esta medida visa proteger a qualidade de vida no aglomerado, a protecção do património, melhorando simultaneamente a segurança dos peões. A malha urbana medieval tem naturalmente características eminentemente pedonais, é de vital importância salvaguardar a vivência, as relações sociais e a agitação económica adequadas às suas ruas e pequeno comércio de proximidade, visando que as suas qualidades não venham a ser prejudicadas por uma circulação automóvel desadequada para o local, poluidora e pouco segura. As barreiras físicas, quando existam, deverão ser vencidas através de escadas, passadiços e ascensores ou plataformas elevatórias, de forma a promover a acessibilidade. 3.2.5. Aplicação das novas tecnologias de informação e comunicação A introdução de Infra-estruturas de acesso à Internet no Núcleo Histórico visa: - permitir o acesso livre e gratuito à Internet em todo o espaço público do aglomerado (integração em rede com o mundo exterior); - criar condições para agregar valor acrescentado (com o uso de tecnologia e informação) às actividades económicas desenvolvidas localmente;65 - reduzir as desigualdades de acesso às tecnologias de informação e conhecimento; - investir nas pessoas e suas qualificações, combatendo a info-exclusão e o analfabetismo informático (entrada de Cabeço de Vide na era digital, participar e trabalhar na economia do conhecimento); 65 Na nova economia global “o aumento da produtividade não depende do aumento quantitativo dos factores de produção (capital, trabalho, recursos naturais) antes da aplicação de conhecimentos e informação na gestão, produção e distribuição, tanto nos processos como nos produtos (Foray e Freeman, 1992).” Borja, J. & Castells, M. (1997). Local y Global. La gestión de las ciudades en la era de la información. Madrid: Tauros. p.25 Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 155 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide - estimular a utilização da Internet (comércio electrónico, acesso electrónico aos serviços públicos, cuidados de saúde on-line, etc.); - aumentar a liberdade de escolha; - maximizar a promoção de emprego (promover o tele-trabalho = a criação de emprego jovem e qualificado = a fixação = a criação de riqueza na comunidade);66 - clarificar e simplificar os processos públicos de planeamento e decisão. 3.3. Aspectos gerais A execução das “design guidelines” propostas implica necessariamente preocupações de ordem prática, aspectos gerais transversais a muitas delas. Neste ponto pretendemos identificar dois aspectos essenciais que devem ser considerados na reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, desejando uma vez mais, que as propostas por nós elaboradas possam constituir-se como úteis instrumentos de orientação. 3.3.1. Utilização da água A água é reconhecidamente o principal e mais crítico recurso deste novo milénio. Por ser um bem escasso deve ser adoptada, por parte das comunidades em geral, uma política eficiente de consumo de água que promova a redução do consumo, a conservação e o melhor tratamento, com vista à sua reutilização. A água tem uma grande influência sobre o microclima de um local visto que regula as flutuações de temperatura, quando evapora permite um certo arrefecimento da zona circundante. Muitas vezes recorre-se a dispositivos que pulverizam um determinado espaço contribuindo para a diminuição da temperatura em alguns graus nesse local (por ex. “Water Towers”), também existem sistemas de “roof-spraying”, que através da aplicação de água nos telhados conseguem arrefecer consideravelmente a temperatura ambiente dentro dos edifícios. 66 “Á medida que as comunicações melhoram, mais e mais pessoas podem trabalhar em casa, (…) e ainda assim, continuarem a ser membros activos de sistemas produtivos em larga escala.” Lynch, K. (1999). A boa forma da cidade. Lisboa: Edições 70. p.232 Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 156 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Algumas soluções mais tradicionais, usadas desde a antiguidade, são por exemplo os lagos, fontes e riachos. As vantagens na retenção da água são consideráveis. Essa retenção pode ser feita abaixo ou acima do solo: - abaixo do solo: depósitos e lagos subterrâneos, que actuam eficientemente como dissipadores de calor, contribuindo para o arrefecimento natural do microclima; - acima do solo: lagos, ribeiros, canais e reservatórios podem recolher a água pluvial, ao mesmo tempo que criam habitats naturais. Depois de correctamente filtrada, a água armazenada poderá ser utilizada para lavagens de espaços exteriores, sanitários, alimentação de espelhos de água, sistemas de pulverização (arrefecimento), irrigação das zonas verdes, alimentação de circuitos de circulação de água para arrefecimento dos espaços. Também as águas provenientes de ralos, banhos, lavatórios ou bidés poderão ser encaminhadas para sistemas de tratamento e filtragem e posteriormente conduzidas para reservatórios. Algumas destas soluções podem e devem ser equacionadas na reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide. 3.3.2. Utilização da vegetação A vegetação é muito útil porque protege sazonalmente os edifícios e os lugares, refresca-os através da evapo-traspiração67, reduz o ruído e filtra do ar o pó, o dióxido de carbono e outras impurezas. A vegetação de folha caduca é a mais apropriada, porque permite o sombreamento no Verão mas não impede o acesso dos raios solares no Inverno. Quando se equaciona a sua utilização para o sombreamento é importante levar em conta três factores: - a sua rapidez de crescimento (o tempo necessário até prover sombra); - o diâmetro da copa e altura da espécie adulta (para equacionar correctamente o espaçamento necessário); - a duração do período de folha caída. 67 “Uma árvore adulta pode transpirar até 450 litros durante um dia, desviando cerca de 230.000 Kcal de energia do aumento da temperatura do ar, o equivalente à utilização de cinco aparelhos de ar condicionado por um período de 19 horas cada.” Comissão Europeia. (2000). Sustainable Urban Design, Programa Energie. p.14 Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 157 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide A vegetação é ainda um instrumento precioso na criação de barreiras de vento, reduzindo consideravelmente a velocidade deste (a utilização de diferentes espécies de vegetação, com diferentes alturas, possibilita a redução da velocidade do vento em diferentes níveis). Outra das vantagens que permite é a retenção das águas da chuva, maximizando o combate à erosão do solo, podendo ser utilizada para a criação de sistemas naturais de drenagem e tratamento das águas da chuva e de alguma água residual doméstica. A utilização de espécies locais é particularmente aconselhável, uma vez que são mais resistentes às condições climatéricas e a doenças locais, requerem pois menores cuidados que as espécies exóticas. Nas espécies de vegetação autóctone, e no que diz respeito ao estrato arbóreo, podemos encontrar na região a azinheira (Quercus ilex), a oliveira (Olea europea) e o sobreiro (Quercus suber). Quanto às formações arbustivas, estas são compostas pela esteva (Cistus ladanifer), a giesta (Genista hirsuta) e o rosmaninho (Lavandula pedunculata). A opção da sua utilização poderá passar pela sua aplicação em espaços públicos, semi-públicos ou privados, ou seja, parques, praças, jardins, quintais, ruas, estradas e caminhos, pérgolas, etc. Para o Núcleo Histórico de Cabeço de Vide poderá equacionar-se a criação de um mecanismo de filtragem das águas através de um conjunto escarpado de pequenos lagos que reintroduzirão oxigénio na água e plantas aquáticas que irão digerir quaisquer nutrientes nocivos. A água poderá depois ser encaminhada para reservatórios naturais. Neste caso, as plantas utilizadas formarão adicionalmente um microclima para pássaros e outros animais, naturais da região. 3.4. Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) e Domótica – Breve apontamento Como referimos anteriormente o tema em questão é vasto e complexo, não é portanto nosso objectivo apresentar um estudo exaustivo sobre o assunto, contudo não poderemos ignorar as enormes vantagens que pensamos, poder trazer à reabilitação do núcleo histórico. Por essa razão apresentaremos seguidamente uma pequena reflexão, expondo de forma resumida os principais benefícios identificados. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 158 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide 3.4.1. TIC A sigla TIC designa o conjunto de novas tecnologias que resultaram da fusão das tecnologias de telecomunicações com as tecnologias de informática. O facto destas duas tecnologias distintas passarem, num dado momento, a actuar num mesmo formato (do formato analógico evoluiu-se para o formato digital) possibilitou o intercâmbio de dados entre ambas, marcando definitivamente a entrada no que se conhece por era digital.68 As TIC têm sido portanto, um factor fundamental para o desenvolvimento das sociedades mais avançadas, que tirando partido das suas enormes vantagens optimizam as suas capacidades e impulsionam os seus factores de competitividade. Por outro lado, este processo de evolução tecnológica tem deixado numa situação de exclusão cada vez mais profunda todos aqueles que não conseguem acompanhar eficazmente estas mudanças. O fenómeno de “digital divide”69 consubstancia esta condenação, a que ficam votadas todas as sociedades que tendo como pesada herança uma debilidade estrutural (física, económica, cultural) ou por simples falta de visão, não lhes permite o acesso a este tipo de tecnologias. Nesta condição podemos infelizmente encontrar praticamente todos os países subdesenvolvidos e uma grande parte dos países em vias de desenvolvimento, além disso, também em zonas periféricas de alguns países desenvolvidos podemos encontrar as mesmas dificuldades. “O desenvolvimento das novas tecnologias da informação ao permitir reduzir o atrito geográfico no acesso a determinado tipo de informação, vai oferecer também outras oportunidades para os espaços não metropolitanos”. (Jacinto, 2000, p.10) As TIC podem ser, consequentemente, uma extraordinária ferramenta para o desenvolvimento das comunidades e para a criação de sociedades mais justas promovendo a igualdade de oportunidades, ou contribuir (caso não se leve em conta os repetidos alertas de diversos especialistas sobre esta temática) para um afastamento ainda maior, quase irreversível, daqueles que já hoje se encontram em situações de exclusão, aumentando ainda mais este grupo, todos aqueles que não consigam acompanhar os processos de mudança, cada 68 Junqueiro, R. (2002). A Idade do Conhecimento. A nova era digital. Lisboa: Ed. Jornal de Notícias. A “digital divide” não é mais do que a estratificação social resultante da capacidade desigual para aceder, adaptar e inovar, através da criação/assimilação de conhecimento via utilização das TIC. Cerca de 79% dos utilizadores da Internet estão nos países desenvolvidos que, no seu conjunto, albergam apenas 14% da população mundial. A difusão das novas tecnologias é também muito desigual no interior dos países, concentrando-se nas áreas urbanas e nas camadas mais jovens da população. Salvador R. (2003). A Geografia Mundial da Ciência e da Tecnologia. Departamento de Geografia e Planeamento Regional. Lisboa: Universidade Nova de Lisboa. 69 Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 159 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide vez mais rápidos e exigentes. O “analfabetismo” informático e tecnológico constitui uma das maiores ameaças na luta contra a pobreza e o atraso económico. Segundo Castells (2000), as tecnologias de informação, junto com a habilidade para as usar e adaptar, são o factor crítico para gerar e possibilitar acesso à riqueza, poder e conhecimento no nosso tempo. A confluência dos sectores das telecomunicações, dos computadores e do audiovisual, demonstram o enorme potencial das tecnologias de informação para gerar novas oportunidades de emprego, estimular o investimento e o desenvolvimento acelerado de novos sectores da economia.70 As novas tecnologias estão a libertar a aprendizagem e o trabalho dos seus locais tradicionais, as formas de e-learning, e-business ou e-commerce têm crescido exponencialmente nos últimos anos. O estudo, trabalho ou diversão podem agora sobrepor-se mutuamente num mesmo espaço físico, qualquer serviço pode ser disponibilizado e acedido em tempo real e em qualquer lugar imaginável. O global está já ali, ao virar da esquina, basta carregar num botão para lá chegar. Como resposta a esta nova realidade de oportunidades proporcionadas pelas TIC, no contexto da sociedade em rede, surgiu o modelo de Televillage71, posicionando-se, segundo diversos especialistas, como uma solução possível e credível para alcançar a sustentabilidade urbana. Este modelo procura, portanto, incorporar as vantagens das novas tecnologias de informação e comunicação de forma a proporcionar uma alta qualidade de vida, que seja economicamente e ambientalmente sustentável. Duas das experiências, feitas neste sentido, com melhores resultados e de divulgação internacional são “The Blue Line Televillage” em Los Angeles e a vila medieval de “Colleta”, distrito de Castelbianco, na província italiana de Savona. Destacamos, em particular esta última, por se tratar da reabilitação de um aglomerado histórico desertificado, resultado dos fluxos migratórios das populações para os grandes centros. Esta experiência permitiu, para além de apresentar todas as vantagens da vida em comunidade e “no campo” (utopia desde sempre perseguida por grande número de urbanistas, a titulo de exemplo podemos referir a Cidade Jardim de Ebenezer Howard ou a Broadacre City de Frank Loyd Wright) satisfazer também todas as necessidades e comodidades da vida moderna através da utilização das novas tecnologias (espaço privilegiado para viver e trabalhar, ligado em tempo real ao “mundo lá fora”). 70 Livro verde para a sociedade da informação em Portugal. (1997). Lisboa: D.L Para um maior esclarecimento vide Ruano, M. (2000). Ecourbanism: Sustainable Human Settlements (60 case studies). Barcelona: Gustavo Gili. 71 Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 160 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Este seria certamente outro tema verdadeiramente interessante a aprofundar, deixamos portanto mais uma pista para quem se quiser e puder interessar pelo assunto. 3.4.2. Domótica É importante esclarecer o que significa na realidade domótica. Esta expressão deriva da junção das palavras Domus (casa em latim) e Robótica (automação), domótica significa portanto a automação da casa. Por outras palavras, a domótica é a integração das novas tecnologias electrónicas e informáticas no ambiente doméstico. A domótica oferece diversas vantagens consideráveis, que podem ser ordenadas em quatro grupos principais, são eles: - Segurança; - Conforto; - Economia; - Comunicações. Das vantagens referidas e funcionalidades que representam falaremos de seguida, exemplificando de uma forma prática e objectiva, pois é no fundo aquilo que se espera de um bom sistema de domótica. - Segurança Podemos incluir neste grupo: - intrusão; - detecção de incêndios; - detecção de fugas (gás e água); - avisos (local e remoto); - comando e controlo (local e remoto); - vídeo-vigilância. Uma boa segurança permite uma maior tranquilidade para os donos e utilizadores dos imóveis. Numa situação de possível intrusão o sistema pode enviar mensagens ou efectuar chamadas telefónicas de alerta para o proprietário e para as entidades policiais. Poderá ainda trancar e destrancar portas e janelas, de forma a orientar o intruso na direcção da saída. Pode Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 161 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide subir e descer estores, acender e apagar luzes, para dar a entender que se encontra alguém em casa. Ligar o sistema automático de rega, ou soltar o cão (caso exista), poderão ser também fortes factores de dissuasão. Quando existem fugas de água ou gás, o sistema permite o bloqueio do fornecimento, através da activação de electroválvulas, accionando posteriormente os dispositivos de alarme. Outra vantagem de segurança que a domótica oferece e muitas vezes referida é o sistema anti-pânico. Especialmente vocacionado para pessoas com incapacidade ou idosos, este sistema permite accionar facilmente um sinal de alarme sonoro ao mesmo tempo que contacta as pessoas necessárias, mesmo que não se encontrem no local, através de um SMS ou chamada telefónica. Ainda neste capítulo, é fundamental referirmos que mesmo o sistema de domótica, deve ser ele próprio, protegido por um bom sistema de segurança e protecção contra acessos não autorizados. - Conforto É importante equacionar neste tema as potencialidades que a domótica oferece a todos os utilizadores que se encontram com limitações físicas ou mentais, temporárias ou permanentes. Neste âmbito incluímos obviamente os idosos, revestindo-os de importância acrescida, uma vez que Portugal é já, como sabemos, um país envelhecido e que grande parte do mercado habitacional e turístico será cada vez mais direccionado para esta faixa etária.72 O conforto inclui: - automatização e controlo das tarefas domésticas (electrodomésticos); - automatização e controlo do sistema de AVAC; - automatização e controlo do sistema de iluminação (incluindo estores); - automatização e controlo do sistema de som e multimédia. 72 Segundo a hipótese média de projecção de população mundial das Nações Unidas (2006), a proporção de jovens continuará a diminuir, para atingir os 21% do total da população em 2050. Ao contrário, a população mundial com 65 ou mais anos regista uma tendência crescente, devendo atingir os 15,6% do total da população em 2050. Em Portugal, entre 1960 e 2001 o fenómeno do envelhecimento demográfico traduziu-se num decréscimo de cerca de 36% da população jovem e um incremento de 140% da população idosa. A proporção da população idosa, que representava 8,0% do total da população em 1960, mais que duplicou, passando para 16,4% em 2001 (Censos 2001). Os mesmos Censos indicam que a maior importância relativa de idosos pertence ao Alentejo. Prevê-se que a população idosa atinja os 19,15% da população portuguesa em 2020 (INE, 2006). Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 162 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Hoje em dia podemos controlar a televisão, a aparelhagem de som e outros aparelhos domésticos com um só comando. Com a utilização da domótica é possível, com o mesmo grau de simplicidade, e até com esse mesmo comando, controlar as persianas da sala, acender ou apagar a luz e executar qualquer outra funcionalidade que o utilizador possa desejar. A temperatura da sala pode ser controlada com o simples premir de um botão, o sistema de rega pode ser programado para uma hora específica, o sistema de vídeo-porteiro pode estar ligado ao televisor permitindo visualizar quem está à porta e abrir a mesma sem necessitar de sair do sofá. Estes são alguns dos muitos exemplos práticos que a domótica possibilita e que contribuem para o aumento do conforto do utilizador. Alguns sistemas de domótica, mais avançados, permitem a programação de “cenários” (tipo de luminosidade, som e temperatura) que podem ser activados através de controlo local ou remoto. - Economia Numa primeira análise, torna-se evidente, as vantagens que surgem da poupança de recursos escassos como: - energia eléctrica; - água; - gás. Mas não são apenas estes os exemplos de economia que a domótica pode oferecer. Podemos falar também das poupanças que indirectamente dela advém: - tempo; - dinheiro. A optimização do consumo, adequando-se às necessidades energéticas reais do utilizador, em cada caso, produz uma redução substancial do gasto trazendo consigo benefícios económicos. Por outro lado, podemos falar também de benefícios ecológicos, uma vez que a diminuição do consumo energético é, como sabemos, uma ajuda considerável para a sustentabilidade do meio ambiente. Um bom sistema domótico permite, por exemplo, que ao ser detectado um vão aberto, seja automaticamente cancelado o aquecimento desse compartimento. Permite também, que ao ser detectada uma fuga de gás ou água, o sistema se encarregue de isolar e estancar essa mesma fuga, ou emitir um sinal de alerta (o que remete para a segurança). Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 163 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Possibilita ainda desligar as luzes que tenham sido deixadas acesas acidentalmente. O controlo da temperatura e da luminosidade em cada compartimento facilita uma gestão eficiente da energia. O controlo automatizado da rega pode estar associado à temperatura e humidade do ar, à humidade do solo (contando, por exemplo, com alguma chuva que possa ter caído), com o vento, etc., permitindo gastar em cada caso apenas o necessário e evitar desperdícios. - Comunicações Esta é sem duvida uma grande vantagem. O sistema de comunicações permite um grande número de actividades feitas a partir de casa, o que implica muitas vezes maior comodidade e poupança de tempo e recursos. Através de um bom sistema de comunicações passa a ser possível usufruir de serviços como: - tele-trabalho; - tele-saúde (monitorização da saúde); - e-comerce; - e-business; - e-learning; - acesso aos vários serviços on-line, disponibilizados pelo sector público e privado (eGoverno, pagamento de impostos, pagamento de água ou luz, telebanco, etc.); - cultura e entretenimento; - vídeo-conferência; - e muitos mais num futuro próximo. Uma grande parte da informação tenderá, cada vez mais, a ser gerida a partir de casa e esta passará a ser vista por muitos como um ponto essencial de ligação à rede global de informação. Ainda neste ponto, uma outra vantagem que a domótica oferece, é a capacidade de comunicar ou interagir com a casa desde o exterior, de qualquer parte do mundo, permitindo um novo e fascinante leque de vantagens. Para referir um simples exemplo prático, imagine que ficou detido por um imprevisto e tem um jantar combinado com amigos em sua casa, com um simples SMS, ou com a ajuda de um PDA, poderá colocar o micro-ondas ou forno a trabalhar, poderá também baixar os estores de sua casa, ou aquecer a instalação sanitária para Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 164 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide tomar um banho relaxante assim que chegar. É hoje possível, através de um simples computador portátil, visualizar o estado da sua casa (interior e exterior), mesmo que esteja no lado oposto do planeta. Em suma, a domótica apresenta um leque variado de benefícios e potencialidades, importa portanto que o sistema domótico escolhido corresponda às necessidades e anseios reais dos utilizadores, e que simultaneamente permita, de forma prática e rápida, a sua actualização sempre que necessária. Num momento em que assistimos a constantes inovações tecnológicas, quando o uso dos telefones fixos e móveis, computadores, Internet e “media” se tornou imprescindível, o futuro dos edifícios não oferece dois caminhos, a domótica passará a estar definitivamente presente.73 Para concluir, referimos apenas que sobre as vantagens específicas da sua aplicação nas habitações turísticas propostas para o Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, tivemos a oportunidade de fazer referência anteriormente. 73 Alves, José A. & Mota, J. (2003). Casas Inteligentes. Lisboa: Centro Atlântico. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 165 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide CONCLUSÃO Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 166 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide A problemática do nosso estudo tornou claro desde o início, que os princípios de intervenção elaborados no âmbito da proposta metodológica para a reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, teriam necessariamente que abordar a compatibilização do património e da actividade termal. A análise dos seus fundamentos teórico-conceptuais, permitiu-nos definir os princípios gerais de intervenção que ajudariam a atingir os objectivos gerais expressos no Quadro nº5. Porém, a análise do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, com a sua especificidade, obrigou-nos a uma conceptualização da intervenção, consubstanciada nos princípios de intervenção propostos, que implica cuidados específicos pelo tipo de inter-relações que são absolutamente necessárias assegurar. Isto implica dizer que a abordagem é sistémica, sendo portanto necessário assegurar um estudo que leve em conta estas interdependências, não só para compreender o processo da sua dinâmica, assegurando assim as características do seu processo histórico socioeconómico, mas concretizando também os objectivos específicos de intervenção que deverão condicionar as políticas urbanísticas. Assim, a concepção, os instrumentos urbanísticos, as técnicas a aplicar, deverão ser equacionadas de forma interligada, pela interdependência que evidenciam, conforme se pode concluir da proposta apresentada. A proposta de intervenção elaborada nesta tese, ao pretender ser uma metodologia para a reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, reflecte a preocupação, de que sendo um núcleo urbano um sistema complexo adaptativo, a compreensão do seu processo histórico de transformação é vital para se poder equacionar correctamente os instrumentos urbanísticos no âmbito do planeamento estratégico, normativo e executivo, isto é, a longo, médio e curto prazos. A compatibilização por exemplo, da recuperação de um edifício (objectivo específico), deve estar inserida na valorização da identidade da rua e lugar (princípio de intervenção específico), que deverá preservar a autenticidade e identidade cultural do aglomerado (objectivo geral), respeitando o seu carácter histórico, a sua riqueza cultural, a estrutura espacial (princípios gerais de intervenção). Deste modo, e porque o espaço é um produto social-histórico, esta tese conclui que estes princípios de intervenção gerais e específicos devem estar subordinados à transversalidade das seguintes preocupações, cujo seu respeito é fundamental a todas as escalas: - garantir a justiça social; - garantir que as medidas adoptadas são as mais adequadas; - garantir o envolvimento e apoio da comunidade, por ser determinante no sucesso da intervenção e da conservação do património. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 167 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide No decorrer da investigação tivemos a oportunidade de fazer referência a algumas temáticas que, pelas vantagens que podem oferecer, justificam objectivamente um estudo mais aprofundado. Reforçando essa ideia, sugerimos as seguintes pistas para futuras investigações: - Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), equacionando a melhor forma de introduzir no Núcleo Histórico de Cabelo de Vide; - Domótica, estudando caso a caso os sistemas mais adequados a aplicar nos edifícios a reabilitar, de acordo com as orientações definidas para a reabilitação do aglomerado; - Energias renováveis, promovendo uma reabilitação ambientalmente sustentável, procurando a auto-suficiência energética. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 168 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Bibliografia AAVV. (1961). Arquitectura Popular em Portugal. Lisboa: Associação dos Arquitectos Portugueses (Ordem dos Arquitectos). AAVV. (1995). Arquitectura Popular em Portugal. (Vol.3). Sindicato Nacional dos Arquitectos. Lisboa: Círculo de Leitores. AAVV. (1988 a 1992). A Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. Lisboa: Editorial Enciclopédia. AAVV. (1975). Catálogo dos Imóveis Classificados. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda. AAVV. (1937). Guia de Portugal – Estremadura, Alentejo, Algarve. Lisboa: Biblioteca Nacional de Lisboa. Alarcão, J. (1988). Introdução ao Estudo da História e do Património Locais. (reimp.). Coimbra: Instituto de Arqueologia. Almeida, J. (1945). Roteiro dos Monumentos Militares Portugueses. Lisboa: Autor. Alves, José A. & Mota, J. (2003). Casas Inteligentes. Lisboa: Centro Atlântico. Alves, Fernando M. Brandão (2003). Avaliação da qualidade do espaço público urbano. Proposta metodológica. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. Amado, Miguel P. (2005). Planeamento Urbano Sustentável. Lisboa: Caleidoscópio. Appleton, J. (1998). Guião de Apoio à Reabilitação de Edifícios Habitacionais. (Vols. 1 e 2). Lisboa: LNEC. Ascher, F. (1998). Metapolis: Acerca do futuro da cidade. Oeiras: Celta Editora. Associação das Termas de Portugal. (2001, Outubro). Boletim Informativo da Associação das Termas de Portugal, nº 6. Acedido em 21 de Setembro de 2006 em http://www.termasdeportugal.pt/associacao/boletim/pdf/boletim_termas_6.pdf Azkarate, A., de Ael, Mariano J. Ruiz & Santana, A. (2003) El Património Arquitectónico. Acedido em 5 de Setembro de 2006 em http://www.ehu.es/arqueologiadelaarquitectura/documentos/1118164264Patrimonio.pdf Beatley, T. (2000). Green urbanism: Learning from European Cities. Washington D.C: Island Press. Borja, J. & Castells, M. (1997). Local y Global. La gestión de las ciudades en la era de la información. Madrid: Tauros. Bouchenaki, M. (2001). Organismos internacionales e instrumentos jurídicos para la preservación de los centros históricos. Quito: Ed. Unesco-Bid-Sirchal. Brandi, C. (1992). Teoría de la Restauración. Madrid: Alianza Editorial. Calado, M. (1991, Dezembro). Os estudos históricos no contexto da reabilitação urbana. Sociedade e Território. Revista de estudos urbanos e regionais, nº 14-15. Câmara Municipal de Fronteira. (2003). Aldeia Academia de Artes e Ofícios Tradicionais. Fronteira: Autor. Carta de Cracóvia 2000 – Princípios para a conservação e restauro do património construído. Lisboa: DGEMN. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 169 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Castells, M. (2000). A Sociedade em rede. A Era da informação: economia, sociedade e cultura. (Vol.1). São Paulo: Paz e Terra. Castells, M. (2003). O poder da Identidade. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. CCDR Alentejo (2003, Dezembro). Avaliação de Oportunidades de Desenvolvimento Regional do Alentejo. Relatório Síntese [Versão electrónica]. Acedido em 12 de Setembro de 2006 em http://www.ccdra.gov.pt/downloads/cdi/publicacoes/AvalOportunDesenvRegAlentejo.pdf Choay, F. (2000). A alegoria do Património. Lisboa: Edições 70. Comissão Europeia. (1991). Livro Verde do Ambiente Urbano. Comissão Europeia. (1996). Cidades Europeias Sustentáveis. Comissão Europeia. (2000). Sustainable Urban Design, Programa Energie. Condesso, F. & Condesso, Catarina A. (1999). Direito do urbanismo: noções fundamentais. Lisboa: Quid Juris? I Conferência Europeia das Cidades e Vilas Sustentáveis. (1994, 24-27 de Maio). Carta das Cidades e Vilas Europeias para a Sustentabilidade (a Carta de Aalborg). Aalborg-Dinamarca. Acedido em 12 de Janeiro de 2007 em http://www.anmp.pt/anmp/div2005/age21/docs/a20.pdf Conselho dos Arquitectos da Europa, (2001). A Green Vitruvius – Princípios e Práticas de Projecto para uma Arquitectura Sustentável. Lisboa: Ordem dos Arquitectos. Conselho Europeu de Urbanistas. (2002). Try it This Way. Lisboa: DGOTDU Concelho Europeu de Urbanistas. (2003). A Nova Carta de Atenas. Lisboa: DGOTDU Correia, F. Alves. (2001). Manual de Direito do Urbanismo. (Vol.1). Coimbra: Almedina. Correia, F. da Silva. (1999). Origem e formação das Misericórdias portuguesas. Lisboa: Livros Horizonte. Costa, Padre António C. (1706). Corografia portuguesa e descrição topográfica do famoso Reino de Portugal, com notícias das fundações das cidades, vilas e lugares, que contem varões ilustres, genealogias das Famílias Nobres, fundação de Conventos, catálogo de Bispos, antiguidades maravilhosas da Natureza, edifícios e outras curiosas observações oferecidas a El-Rei D. Pedro II. Lisboa: Bib. Nacional de Lisboa. Costa, A. (1934). Diccionário Chorographico de Portugal Continental e Insular (Vol. 4). Lisboa: IPPC. Dauncey, G. & Peck, S. (2001). 12 Features of Sustainable Community Development: Social, Economic and Environmental Benefits and Two Case Studies, in Sustainable Community Development in Canada, New Urban Agenda, 2001. Acedido em 7 de Novembro de 2006 em http://www.peck.ca./nua/ DGOTDU (2004). Desertificação em Portugal, Incidência no Ordenamento do Território e no Desenvolvimento Urbano. (Vol.1). Lisboa: Autor. DGOTDU (2004). Desertificação em Portugal, Incidência no Ordenamento do Território e no Desenvolvimento Urbano. (Vol.2). Lisboa: Autor. DGOTDU. (2004). Vocabulário de Termos e Conceitos do Ordenamento do Território. Colecção Informação. (Vol.8). Lisboa: Autor. Direcção-Geral do Desenvolvimento Regional (2005). Programa Operacional Regional do Alentejo 2000-2006. Revisão Intercalar 2004. Lisboa: Autor. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 170 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Directiva Habitat (Directiva 92/43/CEE transposta pelo DL 226/97, de 27 de Agosto) Edwards, B. (1999). Sustainable Architecture, European Directives & Building Design, (2nd Edition). London: Architecture Press. Edwards, B. (2004). Guia Básica de la Sostenibilidad. Barcelona: Gustavo Gili. Espanca, T. (1975) Inventário Artístico de Portugal. Distrito de Évora. (Vol. 8). Lisboa: Academia Nacional de Belas Artes. Ferry, L. (1993). A Nova Ordem Ecológica. Lisboa: ASA. Flores, António M. (2004). A criação de valor no binómio: “casa inteligente”/consumidor. Departamento de Engenharia Electrotécnica do Porto, I.S.E.P. Instituto Superior de Engenharia do Porto. Goitia, Fernando C. (2003). Breve História do Urbanismo. Lisboa: Editorial Presença. Gonzalez Moreno, J.L. (1999). La restauración objectiva. Barcelona: Diputación de Barcelona. Gottdiener, M. (1997). A Produção Espacial do Espaço Urbano. São Paulo: Edusp. Graham, S. (2002). Bridging Urban Digital Divices? Urban Polarisation and Information and Comunications Technologies (ICTs) – Urban Studies. (Vol.39, nº 1, 33-56). London: Carfax Publishing. Graham, S. & Marvin S. (2004). The Cybercities Reader. Planning Cyber-Cities? Integrating Telecomunications into Urban Planing. London: Routledge. Grenz, Stanley J. (1997). PÓS-MODERNISMO, Um guia para entender a filosofia do nosso tempo. São Paulo: Vida Nova. Grupo Banco Espírito Santo. Research Sectorial (2006). SPA Termal – Oportunidades de Investimento e de Negócio, 11º Congresso da European Spas Association. Acedido em 28 de Janeiro de 2007 em http://www.bescv.cv/sfecv/cms.aspx?srv=207&stp=1&id=1457&fext=.pdf Guia Europeu de Planeamento para a Agenda 21 Local. (2000). Lisboa. DGOTDU. Hall, Edward T. (1986). A Dimensão Oculta. Lisboa: Relógio de Água. Harvey, D. (2000). Possible Urban Futures, Megacities Lecture 4. Acedido em 4 de Setembro de 2006 em http://www.megacities.nl/lecture_4/possible.pdf Henriques, Fernando M. A. (1991). A Conservação do Património Histórico Edificado. Lisboa: LNEC. Henriques, José M. (1990). Municípios e Desenvolvimento, Caminhos possíveis. Lisboa: Escher. INE – Instituto Nacional de Estatística Instituto Superior Técnico. (2004, Junho). Arquitectura Bioclimática. Perspectivas de inovação e futuro. Seminários de inovação. Lisboa: Autor. IPPAR. (1996). Cartas e Convenções Internacionais. Informar para proteger, Património Arquitectónico e Arqueológico. Lisboa: Autor. Jacinto, José A. (2000). Os Serviços Avançados de Telecomunicações (SAT) e o Desenvolvimento das Cidades e das Regiões. Que novo paradigma? Comunicação apresentada no IV Congresso Português de Sociologia. Coimbra. Junqueiro, R. (2002). A Idade do Conhecimento. A nova era digital. Lisboa: Ed. Jornal de Notícias. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 171 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Junta de Freguesia de Cabeço de Vide. (2004). A Origem e a História de Cabeço de Vide. Fronteira: Autor. Kauffman, S. (2005). O Universo, A Nossa Casa. Lisboa: Editorial Bizâncio. Krier, L. (1999). Arquitectura Escolha ou Fatalidade. Lisboa: Estar. Laurie, M. (1983). Introdución a la arquitectura del paisaje. Barcelona: Gustavo Gilli. Leal, Augusto Soares de Azevedo Barbosa de Pinho. (1873 a 1880). Portugal antigo e moderno. Dicionário. Lisboa: Bib. Nacional de Lisboa. LeBlanc, F. (1993). Is Everything Heritage? (Vol.2, nº2, p.2-3). ICOMOS Canada Bulletin. Acedido em 10 de Setembro de 2006 em http://canada.icomos.org/ Livro verde para a sociedade da informação em Portugal. (1997). Lisboa: D.L Lopes, F. & Correia, Miguel B. (2004). Património arquitectónico e arqueológico. Cartas, Recomendações e Convenções Internacionais. Lisboa: Livros Horizonte. Lorente, Santiago (1999, 12 e 13 de Maio). Qué es la Domótica? Pasado, Presente y previsivel Futuro. Jornadas Gallegas de Gestión Técnica de las Instalaciones en Edifícios. Luso, E., Lourenço, Paulo B. & Almeida, M. (2004). Breve História da Conservação e do Restauro. Acedido em 7 de Setembro de 2006 em http://www.civil.uminho.pt/cec/revista/Num20/Pag%2031-44.pdf Lynch, K. (1982). A imagem da cidade. Lisboa: Edições 70. Lynch, K. (1999). A boa forma da cidade. Lisboa: Edições 70. Mackenzie, D. (1997). Green Design. London: Laurence King. Ministério da Economia e Inovação - D.G. Turismo. (2004). Movimento nas Estâncias Termais Portuguesas. Acedido em 24 de Janeiro de 2007 em http://www.turismodeportugal.pt/Portugu%C3%AAs/conhecimento/estudoseestatisticas/Anexos/TERMAS%20%202004.pdf Ministério da Economia e da Inovação - Turismo de Portugal, I.P. (2006). O turismo em 2006, Portugal, Continente e Regiões Autónomas. Acedido em 17 de Janeiro de 2007 em http://www.turismodeportugal.pt/Portugu%C3%AAs/conhecimento/estudoseestatisticas/Anexos/TUR ISMO%20EM%202006.pdf Ministério da Economia e da Inovação - Turismo de Portugal, I.P. (2006). Termas em Portugal, 2006. Acedido em 17 de Janeiro de 2007 em http://www.turismodeportugal.pt/Portugu%C3%AAs/conhecimento/estudoseestatisticas/Anexos/Term as%20em%202006.pdf Morin, E. (1967). Cultura de massas no séc. XX. Rio de Janeiro: Forense. Morin, E. (1996). O Problema Epistemológico da Complexidade. Lisboa: Europa-América. Olgyay, V. (1996). Arquitectura Y Clima, Manual de diseño bioclimático para arquitectos y urbanistas. Barcelona: Gustavo Gili. Oliveira, Ernesto V. (1992). Arquitectura Tradicional Portuguesa. Lisboa: D. Quixote. Papanek, V. (1995). The Green Imperative: ecology and ethics of design and architecture. London: Thames and Hudson Ltd. Pinho Leal, Augusto S. B. (1990). Portugal Antigo e Moderno. (2ª Edição). Lisboa: Cota d´Armas. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 172 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Conselho de Ministros. (2003, 26 de Junho). Plano de Acção para a sociedade da Informação – Uma Nova Dimensão de Oportunidades. Plano Director Municipal de Fronteira, Resolução do Concelho de Ministros nº 27/95 de 30 de Março Plano de Pormenor do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide, Resolução do Concelho de Ministros nº 57/04 de 28 de Abril Pollak, M. (1989). Memória, Esquecimento, Silêncio. Estudos Históricos. (Vol.2, n.3, p.3-15). Acedido em 2 de Setembro de 2006 em http://www.cpdoc.fgv.br/revista/arq/43.pdf Pollak, M. (1992). Memória e Identidade Social. Estudos Históricos. (Vol.5, n.10, p.200-212). Acedido em 3 de Setembro de 2006 em http://www.cpdoc.fgv.br/revista/arq/104.pdf Porteous, C. (2002). The new eco-architecture: alternatives from the modern movement. London: Spon Press. Primo, J. (1999). Museologia e Património: Documentos Fundamentais – Organização e Apresentação. Cadernos de Sóciomuseologia, nº 15. (p.193-196). Lisboa: ULHT. Programa Aveiro Digital 2003-2006. Acedido em 22 de Fevereiro de 2007 em http://www.aveirodigital.pt/apresentacao/docs/programa.pdf QUERCUS – Seminário Ecocasa – Conservação de Energias & Energias Renováveis. Auditório da FLAD – Lisboa, 18 de Novembro 2005 Richards, G. (2004). Association for Tourism and Leisure Education (ATLAS) - Interarts Observatory, Barcelona. New Directions for Cultural Tourism? Acedido em 17 de Setembro de 2006 em http://www.diba.es/cerc/Arxinterac04/Arxsem1/richards/ponrichardseng.pdf Riviera, J. (1997). Restauración arquitectónica desde los orígenes hasta nuestros días. Conceptos, Teoría e Historia. Teoría e História de la Restauración. Madrid: Munilla-Leria. Rogers, R. (2001). Cidades para um pequeno planeta. Barcelona: Gustavo Gili. Rojas, E. (2004). Volver al centro. La recuperación de áreas urbanas centrales. (Cap.5, p.181-226). Washington DC: Banco Interamericano de Desarrollo. Rossi, A. (2001). A Arquitectura da Cidade. Lisboa: Edições Cosmos. Ruano, M. (2000). Ecourbanism: Sustainable Human Settlements (60 case studies). Barcelona: Gustavo Gili. Ruskin, J. (1987). Las Siete Lámparas de la Arquitectura. Barcelona: Editorial Alta Fulla. Sachs, I. (1993). Estratégias de transição para o séc. XXI. Desenvolvimento e Meio Ambiente. São Paulo: Studio Nobel/Fundap. Salgueiro, Teresa B. (1992). A Cidade em Portugal. Uma Geografia Urbana. Porto: Afrontamento Salvador R. (2003). A Geografia Mundial da Ciência e da Tecnologia. Departamento de Geografia e Planeamento Regional. Lisboa: Universidade Nova de Lisboa. Sassen, S. (1991). The Global City: New York, London, Tokyo. Princeton: Princeton University Press. Sassen, S. (2000). New frontiers facing urban sociology at the Millennium. London: London School of Economics. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 173 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Serras, A. (2005). Cabeço de Vide – Memórias de um Povo de Hoje e de Ontem. (Fac-Símile da Segunda Edição). Fronteira: Edição da Junta de Freguesia de Cabeço de Vide. Serrão, Joaquim V. (1978). História de Portugal. Lisboa: Edições Verbo. Termas da Sulfúrea. (2005). Relatório da Actividade Termal. Vallina, J. Izquiero (2002). Manual para Agentes de Desarrollo Rural. Madrid: Mundi – Prensa. Zeither, L. (1996). The Ecology of Architecture. New York: Whitney Library of Design. Zevi, B. (2002). Saber Ver a Arquitectura. São Paulo: Martins Fontes. Zukin, S. (1996). Paisagens Urbanas Pós-Modernas: Mapeando Cultura e Poder. Revista do Património Histórico e Artístico Nacional, nº24. Brasil. Endereços na Internet: http://www.acasainteligente.com http://www.acre-cae.org http://www.aecops.pt http://www.agenda21local.com.br/ http://www.aldeadomotica.com/ http://www.aloha.net/~laumana/ http://www.antropologia.com.ar/articulos/patrimonio.htm http://www.apap.pt/ http://www.aparqueologos.org/legisnacional.html http://www.aveirodomus.pt/scid/avd4/defaultCategoryViewOne.asp?categoryId=321 http://www.bocc.ubi.pt/pag/nogueira-luis-mundo-como-base-dados.html http://www.broadcom.com/flash/broadcom_life/home.htm http://www.bup.fi/background/ESDdec04/Ryden_intro.ppt#332,36,Diapositivo%2036 http://www.cardio.pt http://www.casaautonoma.com.br/PAGINA1.htm http://www.casadomo.com/noticiasDetalle.aspx?c=153&m=164&idm=164&pat=148&n2=148 http://www.casaip.com/ http://www.ccdr-a.gov.pt/default.asp?action=aprov&EP=1&Fundo=FEDER&passo=2&Page=14 http://www.cebus.org http://ceged.ulusofona.pt Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 174 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide http://www.centralcasa.com http://cesur.civil.ist.utl.pt http://www.cm-monforte.pt/patrimonio/p_arqueologico.htm http://www.cfn.ist.utl.pt/conf_energia/comunicacoes.html http://cicant.ulusofona.pt/ http://www.cidadesdigitais.pt/ http://www.cm-evora.pt/zc_chistorico.htm http://www.cm-guimaraes.pt/pagegen.asp?SYS_PAGE_ID=461165 http://www.cnu.org/ http://www.collettadicastelbianco.com/ http://www.dei.isep.ipp.pt/~bertil/ESEIG/Docs/SDp1.pdf http://www.dge.pt/main.asp?IdTemas=7&IdSubTemas=1&IdConteudos=1012 http://www.dgturismo.pt/index.htm http://www.diramb.gov.pt/data/basedoc/TXT_LN_26063_1_0001.htm#b0006 http://www.dismantle.org/cities.htm http://www.domopor.com http://www.domoticaviva.com http://www.echelon.com http://www.ecocasa.org http://www.ecocitycleveland.org/ecologicaldesign/sustain/sustainability.html http://www.eficiencia-energetica.com/html/eee/eee.htm http://www.eiba.com http://www.enea.it/com/ingl/default.htm http://epp.eurostat.ec.europa.eu/portal/page?_pageid=1090,30070682,1090_33076576&_dad=portal& _schema=PORTAL Relatório Brundtland: http://www.erf.es/eng/empresa/brundtland.html http://erg.ucd.ie http://www.energiasrenovaveis.com/ http://www.esep.pt/jornal/modules.php?name=News&file=article&sid=242 Livro Verde sobre a eficiência energética: http://europa.eu.int/comm/energy/efficiency/index_en.htm Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 175 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide Europe 2002, Uma sociedade da Informação para Todos: http://europa.eu.int/comm/information_society/eeurope/documentation/index_en.htm http://www.fisicohomepage.hpg.ig.com.br/ftr-cabecovide.htm http://www.futurekansas.com/rural/doc21.htm http://www.futurehouse.com.br/produtos.htm http://galerias.escritacomluz.com/jacob/album03 http://www.geocities.com/mleandror/indicel.htm http://www.greenbuilder.com/ http://www.greenguide.com http://greenvalues.cnt.org/ http://home.fa.utl.pt/~camarinhas/3_leituras.htm http://www.iadb.org/projects/Project.cfm?project=EC-L1006&Language=Spanish http://www.icomos.org/ http://ideasana.fundacioneroski.es/web/es/12/imgs/domotica.swf http://www.ine.pt/temas.asp?ver=por&temas=I http://www.info-ab.uclm.es/labelec/solar/Otros/Domotica(2005)/index.htm http://in3.dem.ist.utl.pt/adv/workshops/slides/pf1.pps#384,3 http://www.ippar/.pt/pls/dippar/ippar home http://www.itic.pt http://www.jgcomponentes.pt http://www.jornalfontenova.com/index.php?option=com_content&task=view&id=808&Itemid=161 http://www.lacasadelfuturo.com/domotica.html# http://www.lartec.es/ http://www.liguriadiponente.it/castelbianco.htm http://www.lisboa-abandonada.net/conservacao_livros.html?categoria=6 http://www.minhaterra.com.pt/template/detalhe.php?intNivelID=189&MINHATERRA=a6783ef9572 e061bdf37861168056844 Livro verde para a sociedade da informação em Portugal, Lisboa, D.L. 1997: http://www.missao si.mct.pt http://www.monografias.com/trabajos5/edin/edin.shtml http://www.monumentos.pt/ http://www.mortbay.com/images/holidays/2004/Colletta/index.html Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 176 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide http://oikos.com http://www.onlineopinion.com.au/view.asp?article=3925 http://oprurb.org/relacoes.php?lg=pt http://www.pbs.org/wnet/wideangle/shows/global/ehouse4.html http://www.pnl.gov/doesustainbledesign http://www.portugal.com.pt/get_url.asp?SiteID=4404&search=foto%20albuns%20fotos http://prorestauro.com/index.php?option=content&task=view&id=30&Itemid=54#ano8 http://www.renewableway.co.uk/sustain/asire/apprs2.html http://www.rics.org/greenvalue http://www.rtsm.pt/cabeco_vide.htm http://www.sustainable.org http://www3.taguspark.pt/taguspark/sociedade_gestora/publicacoes/artigos/artigo_01.htm http://www.tcpa.org.uk/biodiversitybydesign/3-4-cs1.htm# http://tecnologias.gio.etsit.upm.es/domotica/master-en-domotica--presencial--11.asp http://www.termatalia.com/index.php?pagina=9&f=1&id=35 http://www.termasdeportugal.pt/termas/termas.asp?iIDTerma=1 http://termasworld.com/content/view/98/43/lang,es/ http://www.tironenunes.pt http://www.urbanecology.org.au/projects/ http://urbi.ubi.pt/000523/edicao/reg_cnovo.html http://viasromanas.planetaclix.pt/ http://vidarural-cabecodevide.blogspot.com/2005_08_01_vidarural-cabecodevide_archive.html http://www.vitruvius.com.br/documento/patrimonio/patrimonio.asp WORLD INFORMATION TECHNOLOGY AND SERVICES ALLIANCE (2004): http://www.witsa.org/papers/index.htm http://www.world-tourism.org/ http://www.wri.org/ http://www.x-10europe.com http://www.3m.com/intl/br/telecomunicacoes_energia/telecomunicacoes/ Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. 177 David M. Ameixa Ferreira - Proposta Metodológica para a Reabilitação do Núcleo Histórico de Cabeço de Vide APÊNDICE (PEÇAS DESENHADAS) Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Faculdade de Arquitectura, Urbanismo e Artes. I