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Gullane Filmes, Buriti Filmes, Petrobras, Miravista e Globo Filmes apresentam:
CHEGA DE SAUDADE
Direção: Laís Bodanzky
Roteiro: Luiz Bolognesi
Com:
Tônia Carrero
Leonardo Villar
Cássia Kiss
Betty Faria
Stepan Nercessian
Maria Flor
Paulo Vilhena
Conceição Senna
Luiz Serra
Marcos Cesana
Mirian Mehler
Clarisse Abujamra
Marly Marley
Jorge Loredo
Selma Egrei
Participação especial: Elza Soares e Marku Ribas
Produção Gullane Filmes e Buriti Filmes em co-produção com Miravista, Globo Filmes e
Teleimage em associação com ARTE–França
Assessoria de Imprensa:
F&M ProCultura
Margarida Oliveira, Carolina Moraes e Thiago Stivaletti
[email protected]; [email protected] e [email protected]
Telefone: (11) 3263-0197
Miravista
Renata Galeano
[email protected]
Telefone: (11) 5504-9452
material para divulgação disponível no
www.image.net
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Índice
Apresentação
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Sinopse Curta
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Sinopse Longa
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Direção - Laís Bodanzky
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Roteiro - Luiz Bolognesi
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Fotografia – Walter Carvalho
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Montagem – Paulo Sacramento
18
Direção de Arte – Marcos Pedroso
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Trilha Sonora - BiD
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Som direto – Geraldo Ribeiro
23
Edição de Som – Alessandro Laroca
24
Mixagem de Som – Armando Torres
26
Produção De Elenco – Vivian Golombek
27
Preparação de Elenco – Sérgio Penna
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Coreografia – J. C. Violla
30
Produção – Fabiano Gullane
31
Produção – Caio Gullane
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Gullane Filmes
35
Buriti Filmes
35
3
Co-Produção – Miravista
36
Co-Produção – Globo Filmes
36
Distribuição – Buena Vista International
36
Elenco
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Tônia Carrero
37
Leonardo Villar
39
Betty Faria
41
Cássia Kiss
42
Stepan Nercessian
45
Paulo Vilhena
47
Maria Flor
49
Jorge loredo
51
Elza Soares
52
Marku Ribas
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Ficha Técnica
55
Patrocinadores
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APRESENTAÇÃO
A vida pulsante dos salões de baile
Chega de Saudade, segundo longa-metragem de Laís Bodanzky, leva o espectador
ao encontro de personagens que se dão o direito de viver intensamente
Laís Bodanzky gosta de fazer filmes como quem olha pelo buraco da fechadura. “Mesmo
quem não gosta de dançar, adora ver um casal dançando”, convida.
Foi com este espírito que a cineasta realizou Chega de Saudade, seu segundo longa-metragem – o
primeiro foi Bicho de Sete Cabeças - que teve sua estréia no Festival de Brasília, onde ganhou os
candangos de Melhor Filme pelo Júri Popular, Melhor Direção e Melhor Roteiro, e será
lançado em março 2008.
O filme é fruto de mais de quatro anos de produção e pesquisa sobre o universo e os
personagens dos salões. O roteiro é de Luiz Bolognesi, parceiro de Laís em Bicho de Sete
Cabeças e em vários outros projetos, como o Cine Tela Brasil.
O elenco conta com grandes nomes da história do cinema e estrelas atuais, como Tônia
Carrero, Leonardo Villar, Betty Faria, Cássia Kiss, Stepan Nercessian, Paulo Vilhena,
Maria Flor, Jorge Loredo (o impagável Zé Bonitinho), entre outros.
A banda que faz o baile tem Elza Soares e Marku Ribas em grande performance. Juntos
com a trilha eles fazem o filme ser gostoso de ver e ouvir.
Chega de Saudade exigiu vasto apuro técnico e musical. O produtor musical BiD, pesquisador da
nova e antiga música brasileira, elaborou uma trilha sonora que faz o público balançar nas
cadeiras do cinema.
A trilha transita do circuito samba-rock ao bolero dos salões tradicionais. Do forró, ao foxtrot, com grande estilo. Chega de Saudade são vários bailes, como são vários os personagens
misturados no filme. “Trata-se de uma grande salada, bem temperada”, comenta a diretora.
A fotografia ficou a cargo do mais aclamado profissional da área no Brasil, Walter Carvalho.
Com a câmera amarrada ao corpo, ele e seu equipamento dançaram junto com os atores. O
resultado dá chance ao expectador de se sentir parte do baile.
A coreografia tem a assinatura do renomado dançarino J.C. Violla, a quem coube a incrível
missão de fazer os bailarinos dançarem sem música. Pois é, são exigências do cinema.
A direção de arte é de Marcos Pedroso (Bicho de Sete Cabeças, Mutum, Cinema, Aspirinas e
Urubus). Ele fez o filme dar a impressão realista de se viver uma noite num salão de baile.
A preparação de elenco foi feita por Sérgio Penna, que trabalhou em recentes sucessos como
Carandiru, Antônia e o próprio Bicho de Sete Cabeças. A montagem é do premiado Paulo
Sacramento (O Prisioneiro da Grade de Ferro, A Concepção e Querô).
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Produzido pela Gullane Filmes e Buriti Filmes, Chega de Saudade conta com a parceria e coprodução de grandes players internacionais – Miravista (o braço de co-produção da Buena
Vista International), ARTE (França) e também da Globo Filmes.
O projeto foi contemplado pelos editais de incentivo à cultura da Petrobras, BNDES,
Prefeitura de São Paulo e Governo do Estado de São Paulo. E também conta com
importante patrocínio da CCR, Bradesco, MRS, Sabesp e Cinemark.
O filme tem cifras robustas. São 150 freqüentadores de bailes (elenco de apoio) que dançam
durante toda a projeção, com o seu próprio figurino; 24 personagens principais e secundários;
e uma equipe total de mais de 200 profissionais.
***
SINOPSE (curta)
Chega de Saudade conta, numa única noite, várias histórias vividas pelos freqüentadores de
um salão de baile. Com muita música e dança, os acontecimentos fazem o espectador se sentir
dentro da vida pulsante do baile.
***
SINOPSE (Longa)
Chega de Saudade conta, numa única noite, várias histórias vividas pelos freqüentadores de
um salão de baile. Com muita música e dança, os acontecimentos fazem o espectador se sentir
dentro da vida pulsante do baile.
Circular como o salão, a trama gira em torno de Marici (Cássia Kiss), e Eudes (Stepan
Nercessian), que vão junto ao baile. Marici faz amizade com Bel (Maria Flor), uma jovem
“estrangeira” no salão, que namora o rapaz que cuida do som, Marquinhos (Paulo Vilhena).
Eudes tira Bel para dançar, o que provoca reações diversas.
Enquanto isso, Alice (Tônia Carrero) e Álvaro (Leonardo Villar) enfrentam as limitações da
idade, sem abandonar o salão. E Elza (Betty Faria) chega excitada ao baile, cheia de
expectativas e com uma amiga de primeira viagem a tira colo - Nice (Mirian Mehler).
As histórias se misturam com outras, não menos vibrantes. A libido de um par de dançarinos
de tango quase transborda a tela; duas mulheres (a esposa e a amante) duelam pelo mesmo
dançarino; um gordo dança sozinho; o garçom costura tudo, como quem usa linha e agulha.
Sutil e empolgante, o filme, aos poucos, faz o espectador se sentir íntimo dos personagens e
dentro do salão.
***
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DIREÇÃO
Filme feminino “tira o público para dançar”
Laís Bodanzky fala do seu olhar sobre os bailes, as locações-personagens, os desafios
de filmar Chega de Saudade, e dos sentimentos revelados nas pequenas histórias
Antes mesmo do filme Chega de Saudade ser um projeto bem definido, uma coisa já era certa
para a diretora Laís Bodanzky: O seu segundo longa-metragem se passaria num universo tão
presente na narrativa que, de pano de fundo, se converteria em personagem.
“Mais do que uma locação, o salão União Fraterna, onde o filme foi rodado, em São Paulo, é
um personagem de Chega de Saudade afirma Laís.
Na entrevista abaixo, a cineasta conta como foi atraída pelos salões de baile e relata a
complexidade enfrentada numa produção em que a dança e a música são elementos
protagonistas. Laís também fala sobre o ângulo feminino predominante no filme, entre outros
temas:
Quais são as principais características de “Chega de Saudade”?
Trata-se de um filme que pretende criar intimidade entre espectador e personagens. As
impressões relatadas por uma mulher de cerca de 50 anos, que assistiu às sessões de teste do
filme, ilustram bem este componente em potencial do Chega de Saudade.
Esta pessoa me disse que ao assistir ao filme se sentiu como se tivesse ido ao baile. Que foi
como se conhecesse cada um dos personagens, inclusive os menores. E que se sensibilizou
com os sentimentos retratados nas pequenas histórias que se desenrolam num dia de baile.
A meu ver este filme é feminino, e se relaciona muito com este público. Aborda questões
universais, mas de um ângulo próprio das mulheres. Trata de situações alegres e dolorosas.
Quem vai ao baile em busca de um par entra no jogo da vida, marcado por situações ambíguas
e sentimentos conflitantes.
Você ganha, você perde. E para ganhar, muitas vezes tem de ceder em algo. Neste contexto,
existe a verdade da esposa, e a verdade da amante. A razão da casada, e a da solteira. A
vantagem da arrojada e a da tímida. Sem certo e errado.
O benefício desta aposta é que estas pessoas conquistam a chance de terem momentos felizes.
Elas têm uma atitude de ir para a rua, de sair do casulo.
Agora, este também é um filme para voyers, homens e mulheres. Ele permite uma gostosa
visita ao mundo dos bailes. Que é uma festa com muitos atrativos e emoções.
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Que tipo de baile o filme mostra?
O Chega de Saudade contém características de diversos salões de bailes. Ele foi filmado no União
Fraterna, um local bem tradicional deste circuito. Mas somamos a ele elementos de outros
salões e tipos de eventos dançantes.
Há ingredientes tanto dos chamados bailes da terceira idade – que na verdade são freqüentados
por pessoas dos 30 e 40 anos em diante – quanto de outras casas de forró, brega e samba-rock
onde o público é mais jovem.
Nosso salão é como a cidade de São Paulo, que é uma salada cultural, que tem representantes
de várias regiões do país e do mundo convivendo em harmonia. Isso, pra mim, é lindo. Pode
ter japonesa dançando com negro; ruivo europeu paquerando uma senhora de traços
indígenas.
Você se identifica, em algum nível, com os freqüentadores dos bailes?
Eu sou fruto desta mistura. Minha mãe nasceu na Bahia e meu pai em São Paulo. Mas ele
aprendeu a falar alemão antes do português. Meus avós paternos vieram da Áustria um pouco
antes da Segunda-Guerra.
Além disso, sempre gostei de dançar. Fiz aula de bale clássico e jazz. Sou de uma geração que
recuperou o gosto pelos bailes. Peguei uma boa fase do brega e forró. Freqüentei casas na Vila
Madalena em que a gente dançava ao som ao vivo do Waldick Soriano. Nesta época sentia a
mesmo frisson que descobri nos bailes tradicionais.
Foi aí que você notou um mundo pródigo em personagens?
Pois é, este universo extremamente rico me deu a oportunidade de rodar numa locaçãopersonagem, e fazer um filme de personagens. Eu tinha o desejo de filmar num ambiente que
de tão característico é parte integrante, e talvez principal, dos acontecimentos. E que é
determinante para o desenho das demais personagens.
Este é um tipo de cinema que me emociona pela sutiliza, como, por exemplo, são os filmes da
diretora e atriz francesa Agnes Jaoui. Refiro-me a O Gosto dos Outros e O Gato Sumiu.
O primeiro tem vários personagens muito humanos e bem definidos cujas histórias se
entrecruzam. O segundo tem Paris – não a do cartão postal – como locação-personagem.
Procurei usar estes dois tipos de abordagem no Chega de Saudade.
Como foi o processo criativo do filme?
A idéia veio quando fui pela primeira vez ao Cartola Clube, em São Paulo, e fiquei encantada
com a vitalidade dos bailes tradicionais. Eu guardei todas as anotações daquela época, coisa de
10 anos atrás.
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Anos e um longa-metragem depois, em 2003, fui convidada pela Oficina Oswald de Andrade –
um núcleo de criação e produção cinematográfica paulista – para comandar um curso de
desenvolvimento de projetos.
Como não sou professora, sugeri que a oficina tratasse do desenvolvimento de um projeto real,
o meu. A idéia foi bem acolhida e lá pude investigar com atores, diretores, roteiristas e
produtores situações e cenas do universo dos bailes.
Um pouco mais tarde, uma dupla de pesquisadores de roteiro – um homem e uma mulher –
saíram pelos bailes da cidade em busca de personagens característicos dos salões.
Nós, Luiz Bolognesi e eu, jogamos algumas idéias, e recebemos outras de volta, às vezes
surpreendentes. O que me ajudou inclusive a amadurecer o conceito do filme. Fomos
experimentando.
Isto permitiu que o roteiro fosse inspirado em personagens reais, mas completamente
transformado por outras histórias que queríamos tratar.
No início das filmagens, quando o roteiro já estava pronto, pude testar - com o elenco oriundo
dos bailes - a verossimilhança dos personagens.
Estes dançarinos foram selecionados por uma equipe de pesquisadores de elenco que
percorreram os salões em busca de “pés de valsa” e tipos físicos representativos da mescla
dos bailes.
Como foi trabalhar com um elenco que mistura nomes históricos e novas estrelas?
Foi muito prazeroso, além de ser uma honra propiciar para parte do público a redescoberta de
grandes atores. Todos atenderam ao convite com entusiasmo e se mostraram completamente
disponíveis.
Fizemos cerca de um mês de ensaios com o elenco principal e o de apoio. Lançamos mão de
diferentes trabalhos e tratamentos, o que se mostrou adequado.
Com a Tônia Carreiro e o Leonardo Villar fizemos várias leituras de roteiro. Com o Stepan
Nercessian e a Cássia Kiss fomos a alguns bailes, para observar os dançarinos. Com o Paulo
Vilhena e a Maria Flor houve mais espaço para experimentação e improviso. Foi um processo
muito instigante.
E a convivência com os freqüentadores dos salões que participaram do filme?
Foi sensacional. Trabalhamos com 150 pessoas que fizeram não apenas figuração. Nós o
definimos como elenco de apoio porque eles foram essenciais para conferir ao filme a áurea e a
alma dos salões de baile.
Eles dançaram durante toda a filmagem, sem ler roteiro, se dedicando exclusivamente a bailar.
Vestiram as próprias roupas que costumam usar nos salões.
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Demonstraram uma vitalidade impressionante. Durante as cinco semanas e meia de filmagem,
dançaram das 8 da manhã às 6 da tarde, de terça a domingo. E muitos deles ainda tinham
fôlego para ir para os bailes de noite.
Meu receio, antes de rodarmos, era que o pessoal se cansasse e fosse embora – e aconteceu o
contrário. Chamo a atenção para o fato de na maior parte do tempo eles tinham de dançar sem
música.
Ninguém queria filmar cenas em que os personagens iam embora do baile. Atentos às
exigências de continuidade, eles temiam ser descartados caso participassem dessas despedidas
ocorridas na ficção.
Estou certa de que gostaram muito do trabalho. A produção do filme alugou algumas casas em
volta do União Fraterna para servir de infra-estrutura para o elenco de apoio. Eles viviam
tocando violão e fazendo festas. Foi uma diversão à parte.
Que desafios de produção o filme apresentou?
Foram vários, de verdade. Tive uma crise no começo da filmagem. Eu tinha de decidir onde
deveria estar a câmara, como iríamos filmar. Estabelecíamos, a produção e eu, uma limitação
de espaço no salão onde se desenrolariam determinadas cenas. Algo como um quarto do
espaço. No resto, se postava a equipe técnica.
Ao mesmo tempo, pedia ao Walter Carvalho - o diretor de Fotografia que fez, ele próprio,
a câmera do filme - que improvisasse. O resultado é que o Walter fazia um movimento de
360 graus, e agente ficava desesperado, porque o salão inteiro não estava preparado para
ser filmado.
Tive uma crise porque não sabia como iria filmar. O Walter me disse que a gente tinha de ir
fazendo, improvisando. Que a gente descobriria o filme depois da primeira semana.
Foi o que aconteceu, mas não sem que modificássemos o planejamento. Decidimos aumentar
significativamente o número de integrantes do elenco de apoio, para que o salão sempre
estivesse cheio.
Já na montagem, tive uma segunda crise. Apesar de contente com o resultado das filmagens,
não tinha certeza se havíamos conseguido manter uma linha narrativa consistente. Mais uma
vez temi não ter o filme.
O montador Paulo Sacramento fez um gráfico com os 18 personagens principais. Analisamos
a participação de cada um. Cruelmente cortamos partes que gostávamos muito. Ao mesmo
tempo recorri às minhas primeiras anotações, que tinham o frescor dos sentimentos da
primeira impressão, sempre forte. Assim, retomamos, mais uma vez o caminho do filme.
Também os obstáculos na preparação da dança eram imensos. Pedi ao J. C. Violla que - além
de treinar os bailarinos para dançar sem música - não coreografasse os passos, para que fosse
capturada a naturalidade dos bailarinos.
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Por outro lado, tínhamos de manter o controle das ações no salão, o conjunto e a harmonia.
Isso sem falar na parte musical. O BiD, o nosso produtor musical, ficou encarregado pela trilha
e pela direção da banda, que de verdade não tocava. Os músicos que gravaram as canções no
estúdio não são os mesmos que aparecem no filme.
Ainda enfrentamos uma questão de agenda, que nos obrigou a filmar em cinco semanas e
meia, menos tempo do que prevíamos e podíamos. O problema é que havia um casamento
marcado no União Fraterna, mas isso eu deixo para a produção contar.
O projeto também continha fatores vantajosos?
Sim. Nós filmamos em ordem cronológica, o que é o sonho de todo diretor. Geralmente as
exigências logísticas e de produção não permitem isso. No nosso caso era o contrário, era a
única opção.
Para se ter uma idéia do que isso significa, nós alugamos um imenso aparato de luz para
simular as cenas diurnas nas primeiras duas semanas, período em que filmamos o começo do
longa. Depois disso, não tinha mais jeito de se rodar a primeira parte.
A produção cronológica gerou muitas outras vantagens importantes. A fotografia e a
preparação de elenco se beneficiaram deste fator.
Também é interessante notar que o Chega de Saudade é um ciclo. Na história, o que indica o
começo, o meio e o fim é o tempo do relógio. Tanto que o ensaio geral que fizemos foi
corrido, como se fosse uma peça de teatro.
Sempre trabalhamos com o universo de 4 horas de um baile. No roteiro, para facilitar o
trabalho, o Luiz colocou o horário fílmico, para gente saber que horas a ação se desenrolava.
A questão do envelhecimento se faz presente em Chega de Saudade. Qual é a relevância dela
no filme?
Este foi um assunto importante para a gente. Tanto que fiz questão de mostrar as rugas dos
personagens no filme. Mostramos uma beleza com rugas.
Sob este aspecto, Chega de Saudade foi influenciado pelo livro “A Velhice”, de Simone de
Beauvoir. Ambas as obras contém o conceito de que a idéia de velho geralmente vem do
outro, e não do próprio indivíduo. Claro que você sente os fatores do tempo no seu corpo,
mas é a percepção externa que faz nos sentirmos velhos.
Os personagens do filme não se entregam fácil. Eles se mantêm em movimento e fiéis aos seus
desejos. Não perdem de vista a busca do prazer, sem ignorar a passagem do tempo.
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BIOGRAFIA LAÍS BODANZKY
O primeiro trabalho audiovisual da paulistana Laís Bodanzky foi o curta-metragem Cartão
Vermelho, de 1994, que recebeu vários prêmios no Brasil e exterior. Em 2000 a cineasta dirigiu
seu longa-metragem de estréia, Bicho de Sete Cabeças, ficção que alcançou grande sucesso de
público e crítica.
No campo dos documentários são da cineasta os filmes Cine Mambembe, o cinema descobre o Brasil
(1999) e A Guerra dos Paulistas (2002). No teatro dirigiu a peça Essa Nova Juventude (2005), de
Kenneth Lonergan. Desde 2004 coordena junto com Luiz Bolognesi o projeto itinerante Cine
Tela Brasil.
Chega de Saudade, seu segundo longa-metragem de ficção, tem estréia em circuito prevista para
março de 2008. O filme foi selecionado para participar do Festival de Brasília em novembro de
2007 e ganhou os prêmios de Melhor Filme segundo o Público, Melhor Roteiro para Luiz
Bolognesi, Melhor Direção para Laís Bodanzky.
***
ROTEIRO
Vida real é a matéria-prima de Chega de Saudade
Luiz Bolognesi descreve o desenvolvimento do roteiro e fala dos desafios na criação de
um filme sutil, cujo foco não está nos acontecimentos, mas nos personagens
O roteirista Luiz Bolognesi afirma que Chega de Saudade é um filme focado nos pequenos
sentimentos. “O namoro que não dá certo, o encontro fortuito, aquela paixão, a frustração do
dia-a-dia. São coisas que, muitas vezes, nos move mais do que grandes acontecimentos” diz.
No subtexto destes “pequenos sentimentos”, o filme aborda a vontade de viver e a luta de
pessoas comuns para ser feliz, apesar de todas as dificuldades da vida, segundo o roteirista.
Para mergulhar fundo na sutileza da alma dos freqüentadores dos bailes, Bolognesi lançou mão
de muitas e diferentes pesquisas. Confira a seguir entrevista especial com o roteirista:
Como foi o processo para chegar da Pesquisa ao Roteiro?
Organizamos um trabalho para a Oficina Oswald de Andrade em 2003 para qual selecionamos
um grupo de direção, roteiro, direção de arte, produção e atores. Este grupo trabalhou no
desenvolvimento do projeto com foco nos personagens dos salões, embora na época ainda não
houvesse roteiro e argumento escritos.
Ali muita coisa surgiu. A gente amadureceu um pouco as idéias e encontramos algumas
pessoas que viriam a trabalhar com a gente mais para frente. Foi o caso do Ricardo Kauffman
e da Daniela Smith, que chamamos para fazer uma pesquisa para o roteiro nos bailes da cidade.
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Eles foram aos salões, conversaram com as pessoas e me entregavam crônicas do encontro
deles com os freqüentadores. Relatos subjetivos que viraram o foco do filme. A personagem
Bel (Maria Flor), por exemplo, é inspirada na experiência da pesquisadora. Ela é um olhar
estrangeiro que entra no baile.
Mais tarde fiz uma pesquisa própria pelos salões. Juntando estas experiências, o roteiro ficou
muito vivo. Em boa parte ele foi retirado das histórias que a gente recolheu nos salões.
Depois desta pesquisa você começou o escrever o roteiro?
Exato. Quando comecei a escrever, trocava impressões com a Laís. Depois trabalhamos com
oito pessoas que não conheciam a história, que leram o roteiro e fizeram observações. O
mesmo fizemos com a equipe técnica do filme.
Cheguei a uma primeira versão acabada, que passou por um trabalho de script doctor (consultoria
de texto dramático), coordenado pela Cris Riera. Os roteiristas Bráulio Mantovani e Adriana
Falcão passaram uma tarde com a gente, depois de ler o roteiro, apontando pontos fortes e
fracos do texto.
Depurados os comentários, fiz a última versão a ser usada no set. Mas como este set era
freqüentado por 150 pessoas que vão aos bailes, reescrevi algumas cenas vendo o andar das
filmagens. Fiz adaptações conforme chegavam contribuições dos atores.
O roteiro foi ainda modificado na montagem?
Claro. A primeira versão do filme chegou à ilha de edição com 2h30. Paulo Sacramento, nosso
montador, liderou um trabalho de enxugamento para que o filme ficasse com 90 minutos. Para
que o resultado final não fosse chato. Para que o filme pudesse se comunicar.
Este foi uma etapa dura, cruel. Não era possível diminuir todas as histórias por igual. Caso
contrário ficariam todas superficiais. Por isso algumas tramas principais caíram para segundo
plano. Nos concentramos em apenas quatro histórias principais. Havia mais duas ou três com
este status, que foram reduzidas. Assim, conseguimos um filme conciso.
Que impressões o universo dos salões lhe causa?
O espírito dos bailes é carregado de uma mentalidade adolescente, só que sem a ansiedade da
adolescência. Este é um estado de espírito muito legal. São pessoas que em geral têm
problemas e sofrimentos da vida, mas não perderam a alegria, não entregaram os pontos.
O ato do baile também é muito interessante porque é uma maneira de você se expressar na
vida pela dança e pela música. Todos dançam muito bem. Quem freqüenta baile, adora dançar.
E esta elaboração de vida também traz benefícios físicos. A gente, em geral, é muito
pensamento, fica sentado em frente da televisão. Nos esquecemos do corpo. Os
freqüentadores de baile não. Eles precisam se movimentar bem para poder dançar.
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Você poderia falar a respeito da natureza sutil de Chega de Saudade?
No Brasil, a gente faz muitos filmes de peripécias, nos quais os acontecimentos são o elemento
mais importante. Os personagens são usados apenas para ajudar a contar a história. Não se
aborda contradições das personagens, e não há um aprofundamento delas.
O “Chega” faz parte de um time diferente de cinema. É um filme de personagens, um grande
desafio. Nosso grande trunfo para enfrentá-lo foi a pesquisa.
O primeiro trabalho neste sentido foi encontrar as personagens e ouvi-las. Deixá-las nascerem
e existirem. Depois, o roteiro tinha de apresentá-las e criar uma dinâmica sem grandes
acontecimentos. Ou seja, sem haver tiro, seqüestro, assalto.
Também foi necessário construir um balanço entre estas personagens. Cada vez que o roteiro
abandonasse a mesa de um grupo de personagens era preciso deixar lá um gancho, algo que
fizesse o espectador querer voltar para aquela mesa.
Como foi a relação entre o roteiro e a pesquisa musical?
Isso foi muito interessante, porque o DJ Tutu, levantou cerca de 50 músicas de baile para o
filme, ainda na fase de roteiro. Escolhi algumas que combinavam com personagens e com
determinados momentos do filme.
Por exemplo, “Lama” está casada ao personagem Álvaro, vivido pelo Leonardo Villar, desde o
roteiro. Também a apresentação do Eudes (Stepan Necerssian) foi criada associada à música
do Martinho. Entre outras.
As letras das músicas estão imbricadas na narrativa da história, o que foi fundamental para o
clima do longa.
Como você lidou no roteiro com a questão do envelhecimento?
Este é um tema muito forte e presente no filme. Abordamos um paradoxo interessante, que é a
vontade de viver diante da perspectiva de morte não muito distante.
Dois livros sobre o tema me influenciaram. “Memória & Sociedade: lembrança de velhos”, da
professora Ecléa Bosi, da Psicologia da USP. E “A Velhice”, de Simone de Beauvoir.
O primeiro trata da relação trágica que o paulistano em particular tem com sua memória.
Todas as coisas concretas que marcaram a infância das pessoas foram destruídas na cidade.
Isso é extremamente trágico, é a conclusão dela.
Numa cidade européia, por exemplo, as pessoas nascem, crescem e envelhecem tendo os sinais
que tinha na infância. As cidades não se transformam do mesmo jeito que São Paulo.
Isso não foi uma coisa que eu li como uma novidade, porque já tinha passado por esta emoção.
Eu passo pela Aclimação, o bairro paulistano onde cresci, e não reconheço nada.
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No livro da Simone de Beauvoir a passagem que eu guardei como sentimento diante do filme é
a que você nunca percebe que está envelhecendo. São os outros que o fazem e te comunicam.
As pessoas começam a cobrar uma atitude de velho. E você tem que encontrar dentro de você
um velho que não enxerga.
O baile dialoga com isso, resolve isso muito bem. Ele permite que as pessoas não se dobrem
diante desta imposição social.
O baile é um ambiente transgressivo?
Sim, mas uma transgressão madura. Eles não querem guerra, briga. Querem continuar
conectados com a energia de vida. Com a libido pulsante. E uma libido sublimada pela música
e pela dança.
Muitas mulheres resolvem sua libido sem precisar ir para a cama com os homens. Na
sensualidade da dança, na paquera, no olhar. Isso alimenta a libido, que está viva e com carga
máxima, alimentada por meio de uma expressão artística.
Os freqüentadores dos bailes querem ser bonitos, sensuais, querem namorar. Gente que soube
amadurecer com sabedoria.
BIOGRAFIA LUIZ BOLOGNESI:
Como diretor, Luiz dirigiu o curta Pedro e o Senhor; o premiado documentário Cine Mambembe, o
Cinema Descobre o Brasil e o documentário A Guerra dos Paulistas. Atualmente está dirigindo o
longa-metragem de animação Lutas.
Dentre seus inúmeros trabalhos como roteirista, destacam-se os filmes Bicho de Sete Cabeças;
Chega de Saudade; a série Animais do Brasil para a National Geographic; O Mundo em Duas Voltas e
o inédito Birdwatchers.
***
FOTOGRAFIA
Walter Carvalho
Amarrada a Walter Carvalho, câmera se converte em narrador
O fotógrafo de Chega de Saudade, Walter Carvalho, conta como foi filmar “dançando”
entre os atores; criar um “pedaço do céu” do lado de fora do salão e outras peripécias
do desenho de luz do filme
Responsável pela fotografia de mais de 50 longas-metragens nacionais e internacionais, Walter
Carvalho é o profissional brasileiro de maior prestígio nesta função. Mesmo com tanta
experiência, afirma que nunca havia filmado um longa-metragem inteiro numa só locação.
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Na entrevista a seguir, Carvalho comenta os desafios desta empreitada, o binômio
repetição/improvisação com o qual teve de trabalhar todo momento, e do seu encantamento
com Chega de Saudade:
Como recebeu o convite para filmar um longa que se passa num baile?
Como um caçador de imagens, eu já vinha nutrindo grande curiosidade em trabalhar com Laís
Bodanzky. De cara, já havia esta vantagem. Quando então Laís apresentou a idéia, foi algo
inesquecível. Porque para mim, muitas vezes, a maneira como as pessoas falam dos seus
projetos pesam mais que o próprio roteiro na minha decisão.
Resumidamente, ela me disse que este é um filme de pessoas, de sentimentos humanos, o que
me cativou profundamente. Aí partimos para a segunda etapa, que foi a aproximação do
universo que estas pessoas habitam, os salões de baile.
Visitei com a produção do filme diversos destes salões. E então, além da atração emotiva, o
projeto passou a me encantar. Encantei-me com o desfile de humanidades que são estes bailes.
Aí entendi porque havia tantos personagens previstos no roteiro. O universo é muito rico, com
vários acontecimentos e encontros simultâneos. Fiquei fascinado.
A movimentação de câmera no filme é muito importante. Como você elaborou planos
tão poéticos?
Eu pude trabalhar a fotografia de uma forma que eu não ficava interrompendo o fluxo da
direção. Eu tinha autonomia de 360 graus o tempo todo. Como esta liberdade de não me
prender aos refletores – não havia sequer tripés aparentes – eu girava junto com a dança.
A câmera, de certa forma, dançou junto com os bailarinos. Ela se movimentou numa pulsação
parecida com a deles. O jogo da dança em si estava impresso na câmera.
Havia outro fator muito interessante. O elenco de apoio não sabia o que iam dizer os
personagens principais. Eles se relacionavam com ação sem conhecer o diálogo e a relação de
conflito ou harmonia que havia ali entre os protagonistas. Portanto, há um grande espaço de
documentário neste filme.
O fato de a câmera nunca estar no tripé - estava sempre no meu ombro – fez com que a
própria fosse descobrindo o seu ponto de vista narrativo. Como a Laís repetia muitas vezes as
cenas, eu podia elaborar isso.
Desta forma, a fotografia teve uma liberdade narrativa com a qual a câmera deixou de apenas
observar ou registrar e passou a narrar. Têm momentos em que eu danço junto com os atores.
Por trás eu abraçava o Stepan e colava a câmera entre eu e ele. Os movimentos não eram mais
os meus. Eram dele, dançando.
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Você fala com entusiasmo das filmagens. Este foi um trabalho prazeroso?
Eu chegava toda a manhã no salão com a sensação de que naquele espaço alguma coisa de
bom podia acontecer. Acontecer no âmbito do cinema, com o cinema, com as pessoas. Com a
Laís, Marquinho Pedroso, atores, música.
Tem uma coisa até meio amarga neste filme. Quando a gente terminou de gravar tínhamos de
entregar o cenário logo nos dias seguintes. Testemunhamos a volta daquele espaço ao seu
estado de origem.
Fui para o hotel amargurado, com uma espécie de melancolia do triunfo. Porque havia uma
amargura de ver o espaço que era nosso - refiro-me ao espaço do filme que passou a ser real –
sumir. A realidade daquele lugar fílmico é muito forte, porque é verdadeiro.
É por isso que eu trabalho com cinema e fotografia. As coisas desaparecem, mas não a
perdemos porque guardamos suas imagens.
Durante as filmagens você criou uma engenhoca que ganhou o apelido de Walter
Movie. O que é isso?
No filme há muitas ações com pessoas dançando e pessoas sentadas. Há aí um desnível
importante de alturas.
Para resolvê-lo há duas opções: ou se tem perna para segurar a câmera flexionado, durante 10
minutos, sem balançar o ombro; ou filma-se de pé, com um ângulo de cima para baixo, o que
determina uma linguagem. No caso do filme, inapropriada, porque diminui os personagens.
Improvisamos umas tábuas de caixote no nível das duas alturas. Se o personagem se levantasse
e sentasse de novo, eu fazia o mesmo, sentado na tábua. Ficava um assistente atrás de mim.
Quando eu sentava, ele colocava a tábua em baixo. Ele tinha a obrigação de não me deixar cair.
Só que a Laís começou a me pedir para ir de um rosto para outro. Isso não dá para fazer
sentado, parado. Então eu coloquei as taboas em cima de um skate, o que funcionou bem. O
skate balançava, e então o maquinista o amarrou na tábua. Com ele amarrado, descobri que eu
mesmo poderia movimentar o skate, dando impulso com os pés.
A coisa foi se desenvolvendo de tal maneira que começamos a fazer travelings sem parar. E o
pessoal apelidou o instrumento de Walter Movie. Ele fez mesmo as vezes de traveling,
equipamento que não teríamos condições de colocar ali dentro, porque o tambor de ferro
bateria nas pessoas.
Outro dia ligaram na minha casa para saber que produtora em São Paulo tinha o Walter Movie
para alugar. Estou pensando em patenteá-lo.
Quais foram as dificuldades para a fotografia encontradas no salão União Fraterna?
O diretor de Arte, Marcos Pedroso, criou uma intervenção brilhante para aquele espaço,
levando-se em conta a topografia, a geografia e a arquitetura do local.
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A gente não poderia filmar de dia as cenas diárias, e de noite as noturnas, dada a quantidade de
atores do elenco de apoio que tem idade avançada. Seria impraticável.
Resolvemos gravar só de dia e eliminar a luz natural que entrava pelas janelas do salão.
E criamos uma fonte de luz para termos o dia, o entardecer e a noite vindos do lado de fora.
Para isso foi feita uma obra de engenharia em volta do prédio. Tudo se passa no primeiro
andar, a mais de oito metros do chão. Foi construída uma estrutura atrás das janelas, que ficava
paralela à largura da calçada, perto de uma rede de alta tensão. Uma empreitada com alto grau
de dificuldade.
Tratava-se de um fundo branco infinito, iluminado para dar a sensação da entrada da luz pela
janela. Era formado por luminárias emendadas de seis metros cada, que cobriam toda a lateral
pra que pairasse uma filtragem de luz “natural” através das cortinas. Construímos um pedaço
do céu.
Os demais locais do salão exigiram outros tratamentos. No fundo fica o palco, onde há uma
alegria maior. Eu copiei a forma de iluminá-lo que vi na pesquisa, reforçando a luz do lugar de
onde vem a música.
Do lado oposto, tem o bar. Aí mantivemos as lâmpadas fluorescentes, uma característica
brasileira. Perto da saída dos banheiros ficava a mesa do personagem Álvaro (Leonardo Villar),
em que houve um tratamento de luz mais dramático, um pouco mais denso, com tons quentes.
Já para a iluminação do teto foi criada uma idéia cinematográfica para os refletores originais,
estrategicamente colocados levando em conta as canções, os movimentos, os deslocamentos
dos personagens e a relação de cada elemento com as janelas.
BIOGRAFIA WALTER CARVALHO
Maior nome da fotografia cinematográfica brasileira, Walter Carvalho trabalhou com Glauber
Rocha, Nelson Pereira dos Santos, Luiz Fernando Carvalho, entre outros ícones do cinema
nacional. Estabeleceu sua mais constante parceria com Walter Salles, para quem fotografou
Terra Estrangeira, Central do Brasil, O primeiro dia e Abril despedaçado.
Começou no cinema com seu irmão, o documentarista Vladimir Carvalho. Fez novelas e
minisséries para TV. Entre os seus mais de 40 prêmios, destacam-se os troféus internacionais
voltados à fotografia, como o CameraImage (Polônia), em que recebeu o Golden Frog por
Central do Brasil.
Fez mais de 50 longas-metragens e responde pela fotografia de muitos dos principais filmes
brasileiros dos últimos anos, como Lavoura Arcaica, Madame Satã, Carandiru, Cazuza (do qual
também é co-diretor) e O Céu de Suely. Além de Chega de Saudade, fotografou este ano Santiago e
Baixio das Bestas. Como diretor atualmente prepara o seu quarto longa-metragem, Budapeste,
adaptação do livro homônimo de Chico Buarque.
***
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MONTAGEM
Paulo Sacramento
Enxugamento permitiu encaixe natural da história
O montador de Chega de Saudade, Paulo Sacramento, fala como o filme condensou,
de maneira harmoniosa, diversos personagens numa mesma situação, espaço e tempo.
O primeiro corte de Chega de Saudade que chegou à ilha de montagem era muito largo, algo
como 150 minutos. Tínhamos de decidir se cortaríamos personagens, ações ou o tamanho das
músicas.
Nós estávamos restritos às situações que se desenrolavam combinadas com cada canção. A
saída foi fazer um pouco de tudo.
Diminuímos algumas músicas. Foi uma grande sacada editá-las mantendo começo, meio e fim.
Algumas que tinham 3 minutos passaram a ter 2 minutos no filme. Isto permitiu reduzir as
cenas correspondentes.
Apesar do processo trabalhoso, as coisas foram se encaixando naturalmente. Tínhamos de
entender qual era o foco. Para mim ficou claro que tínhamos três casais principais. Os outros
estariam navegando em volta deles. E foi assim que resolvemos a questão.
No mais, devíamos construir a atmosfera dos bailes. Creio que o que a direção queria desde o
começo prevaleceu. As supressões serviram para manter a essência do projeto.
Musical e a passagem do tempo
Eu nunca tinha montado um filme com música presente quase que integralmente. E uma
trama que se passa em quatro horas corridas.
Logo no primeiro corte vimos à importância das pausas. Até para gerar uma alegria no retorno
da música. Os intervalos de silêncio valorizam as canções do filme. Assim, distribuímos pausas
durante todo o longa.
Quanto às indicações de passagem do tempo dentro da história eu não queria usar quebras
muito marcadas. Optamos por não usar reloginhos ou outros símbolos. A gente lidou com os
sinais e sensações de quem está num baile.
Num momento, um personagem vai ao banheiro. Em outro, a banda sai para o intervalo, e
assim por diante. O espectador percebe que o tempo está passando no salão.
Grandes atores
É uma delícia para qualquer montador trabalhar com grandes atores. Em todos os filmes, na
minha visão, o principal para a montagem são os atores. Temos de fazer o espectador acreditar
nos personagens. A gente embarca na história pela contribuição do ator.
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BIOGRAFIA PAULO SACRAMENTO
O paulista Paulo Sacramento possui uma carreira consolidada como montador no cinema
nacional. É dele a montagem de mais de 15 curtas-metragens premiados e de importantes
longas recentes, como Amarelo Manga, A Concepção, Cronicamente Inviável, Quanto Vale ou É por
Quilo?, Tônica Dominante e Querô além de Chega de Saudade.
Formado em cinema pela ECA/USP, presidiu a Associação Brasileira de Documentaristas, em
1997. Como diretor Paulo Sacramento alcançou projeção com o seu primeiro longa-metragem,
o documentário O Prisioneiro da Grade de Ferro, de 2002. O filme é composto por auto-retratos
audiovisuais de detentos do Carandiru, e foi o vencedor do festival É Tudo Verdade.
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DIREÇÃO DE ARTE
Marcos Pedroso
Direção de Arte fez trabalho minucioso
Construção de colunas, figurinos duplos para atender à continuidade, produção gráfica de
rótulos de cerveja. O diretor de Arte de Chega de Saudade, Marcos Pedroso, conta os detalhes
que fazem o filme dar a impressão realista de se viver uma noite num salão de baile.
Elenco de apoio
A primeira forte característica deste projeto, do ponto de vista conceitual, foi a locação única.
Nesta situação é preciso criar identidades espaciais, nichos, núcleos e cantos que dão vazão à
narrativa.
Nós mexemos bastante no salão, o União Fraterna. Diminuímos um pouco os espaços,
mudamos as cores (as originais era mais doces do que o projeto exigia) e criamos reentrâncias
para levar o mundo real para a dramaturgia.
Era necessário colocar os protagonistas numa posição privilegiada na geografia da locação.
Fomos buscando espaços a favor da narrativa que gerassem conseqüências para os
personagens. Este é um trabalho conjunto com a direção e com o roteiro. Trata da evolução
dos personagens dentro do espaço fílmico.
Foi neste contexto que construímos quatro colunas no meio do salão, e um patamar elevado
num dos cantos. Estas estruturas serviram para quebrar o ambiente uniforme e criar
interrupções e apoios para descortinar seqüências e facilitar cortes.
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Figurino e elenco de apoio
Outro fator determinante foi trabalhar com autênticos freqüentadores de bailes. Isso acabou
trazendo uma quantidade grande de informação que nos ajudou a compor a verossimilhança
do filme.
Produzir o elenco de apoio foi uma loucura e uma delícia. Nós pedimos para que eles
trouxessem seu guarda-roupa de baile para o set de filmagem. A gente ia escolhendo as cores
que mais interessavam entre as roupas que eles traziam.
Eles foram incríveis, de uma simpatia total. Era como se nós estivéssemos fornecendo uma
espécie de assessoria de visual para uma festa.
Já o figurino do elenco principal implicou outras providências. Tivemos de produzir peças
duplas, às vezes triplas. Não podíamos filmar com peças manchadas, por causa da
continuidade. O interessante é que a composição das vestimentas dos atores principais foi
fortemente influenciada pelo guarda-roupas do elenco de apoio.
Continuidade
Como devíamos trabalhar com a idéia do salão preenchido o tempo inteiro, um dos grandes
desafios era a continuidade. Foi preciso ter um registro diário do figurino, cabelo, posição das
peças de cena, porque tudo se passa numa noite só.
Todos os objetos de cada mesa eram fotografados na posição final da diária de filmagem e
guardados em caixas separadas. O contra-rega seguia a foto para montá-las no dia seguinte.
Tivemos ainda uma grande produção gráfica. Criamos marcas e rótulos de cerveja e água
mineral fictícias. Bolachas de mesa, faixas e cartazes, adesivos e panfletos de outros bailes
também foram produzidos. Foi um trabalho de muitos detalhes.
BIOGRAFIA MARCOS PEDROSO
O cenógrafo e figurinista paranaense (de Maringá) Marcos Pedroso formou-se em artes
plásticas pela ECA/USP e desenvolveu uma sólida carreira no teatro. Em 2000 assinou a
direção de arte de Bicho de Sete Cabeças (de Laís Bodanzky), o seu primeiro trabalho de fôlego no
cinema.
A partir de então Pedroso foi requisitado para muitos dos principais longas metragens
brasileiros, com os quais recebeu diversos dos principais prêmios do cinema nacional. Ele
responde pela direção de arte dos filmes: Madame Satã; Cinema, Aspirinas e Urubus; Cidade Baixa,
A Máquina, Crime Delicado e O Céu de Suely, além de Chega de Saudade.
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TRILHA SONORA
BiD
“Música de baile é mistura do velho com o novo”
O produtor musical BiD, responsável pela trilha sonora e pela direção da banda de
Chega de Saudade realizou o sonho de muito dançarino de salão: fazer um baile ao
som de Elza Soares
Um time de músicos de primeira foi escalado para a trilha sonora de Chega de Saudade. Sob a
liderança da grande musa Elza Soares, e do ícone do samba-rock, Marku Ribas, a banda mostra
incrível versatilidade nas 15 canções do filme. Rumba, forró, bolero, tango, MPB, foxtrot,
romântico e samba são alguns dos ritmos pelos quais a trilha passeia, com desenvoltura.
“Procuramos nos aproximar ao máximo das seleções que tocam nos bailes”, afirma BiD.
“Descobri nos salões que o público gosta de tradição, mas também assimila as novidades, o
que aumentou o leque de possibilidades”, completa.
O ponto de partida para a escolha das canções foi uma pesquisa feita por DJ Tutu, que fez um
grande levantamento de possíveis músicas para o filme. Já BiD foi à campo para ouvir as
seleções e saber do público quais são as preferidas dos salões.
O produtor afirma que o coreógrafo do filme, J.C. Violla foi outra forte influência no trabalho.
“Ele me alertou para a necessidade de irmos além dos ritmos mais próximos aos brasileiros, o
que me deu a oportunidade de tomar contato com o bolero e fox trot”.
A diretora e o roteirista Luiz Bolognesi também escolheram as músicas. “Algumas canções não
tive escolha, porque já estavam no roteiro e no contexto da trama, como ‘Mulheres’, do
Martinho da Vila. Para minha sorte, adoro esta música”, diz, rindo.
Duas bandas
Chega de Saudade conta, na verdade, com duas bandas – uma se vê, a outra se ouve. A primeira
é formada por atores que encenaram os movimentos vistos no filme. A segunda, composta
por grandes músicos, é responsável pelo play back gravado em estúdio, o som que de fato está
no filme.
Os dois crooners, Elza Soares e Marku Ribas, são os únicos presentes nos dois grupos. Elza
foi a opção dos sonhos para o projeto, devido aos seus inesgotáveis talento e versatilidade.
Marku Ribas também foi escolhido pela sua capacidade de “coringa”.
“Foi incrível trabalhar com a Elza. A força e o canto dela são impressionantes. Ela é tão
criativa que criou dificuldade para edição do filme. Elza nunca canta duas vezes igual a mesma
música. No estúdio fazia de um jeito, e nas filmagens, de outro”, conta o produtor.
BiD teve o apoio de uma dupla de peso nos arranjos: o trombonista Tiquinho, que toca com
Jorge Benjor; e Fernando Nunes, baixista que acompanha Zeca Baleiro.
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Ele explica porque a banda real ficou de fora das filmagens: “os músicos dos bailes tem um
visual bem típico, são ‘uns figuras’. Os músicos que convidei não são tão ricos visualmente”,
diz o produtor, brincando com os amigos.
Além disso, a rotina de filmagens no set dificilmente poderia ser cumprida por todos os
músicos, todos os dias. A tarefa da banda do set foi dublar, já que - assim como os bailarinos
tiveram de “tocar sem música”, enquanto os diálogos eram filmados.
“Eu tive a responsabilidade de extrair dos atores uma verdade musical. Eu dizia: aqui é um
som agudo, toca nesta região do braço da guitarra. Também checava os cabos e microfones
que deveriam estar ligados, e vários outros pequenos detalhes”, afirma.
Trabalho de estúdio
Todas as músicas foram gravadas em apenas 10 dias, no estúdio. “Foi uma grande correria
porque, diferente do que costuma ocorrer no cinema, a trilha deveria estar pronta antes das
filmagens”, diz BiD. Isto porque as canções foram usadas no “ baile do set de filmagem”.
BiD afirma que o conceito principal da trilha foi atingir a sonoridade de uma apresentação
única, como acontece nos bailes. “Para isso, o estúdio permaneceu montado do mesmo jeito
durante os 10 dias, com o mesmo direcionamento de microfone para todas as músicas, como
nos shows de salão”.
Outros cuidados foram não usar equipamentos sofisticados, assim como não corrigir cada erro
na execução das músicas. A intenção foi repetir as condições com que as bandas de salão
trabalham.
“O clima nas gravações foi ótimo, todo mundo se divertiu tocando em teclados Casio e
guitarras mais simples do que de costume”, disse. “Nós gravamos como se fosse ao vivo”,
completa. O resultado desta diversão está nas telas e no CD.
BIOGRAFIA BiD
A carreira do paulista Eduardo Bidlovski (ou apenas BiD) alcançou grande projeção em 1996,
quando produziu para Chico Science & Nação Zumbi o histórico CD Afrociberdelia. Desde
então foi produtor de outros artistas de grande sucesso como Fernanda Abreu, Planet Hemp,
Otto e Daúde. BiD foi membro fundador, guitarrista, tecladista, compositor e arranjador da
big band paulista Funk Como Le Gusta, ícone do samba-rock paulistano da atual década.
Bem antes disso, na adolescência durante os anos 80, o músico integrou a banda de rock
Tokio, lidera por Supla. Depois da experiência morou seis anos em Los Angeles, onde tocou
em outras bandas e trabalhou em gravadoras. Em 2005, BiD lançou o seu primeiro álbum solo:
Bambas & Biritas Vol.1, repleto de participações especiais e mistura de ritmos. Por ele desfilam
craques como Elza Soares, Marku Ribas, Arnaldo Antunes e Seu Jorge.
Para o cinema, antes de Chega de Saudade, BiD já havia feito a premiada trilha de O Primeiro Dia
(2000), filme de Walter Salles.
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SOM
SOM DIRETO
Filme gerou grandes desafios para o som direto
O engenheiro de som de Chega de Saudade, Geraldo Ribeiro, relata as soluções encontradas para
captar o áudio dos bailarinos e acompanhar a “câmera dançante” de Walter Carvalho
O primeiro desafio foi acústico. A locação – o salão de baile União Fraterna – fica ao lado da
principal artéria que liga o bairro da Lapa ao Centro de São Paulo. Desenvolvemos um projeto
de isolamento, que implicou no tratamento das janelas.
Alcançamos um bom nível de ruído interno, tanto que as filmagens foram interrompidas
apenas duas vezes, por causa da passagem de helicópteros.
Foram trocadas todas as janelas convencionais por vidros anti-ruído, que são fixados
diretamente na parede e não deixam passar nenhuma fresta de ar.
Outro desafio para a captação de áudio foi a liberdade dada à fotografia e à movimentação dos
atores. A Laís e o Walter partiram para a experimentação, o que nos levou para o mesmo
caminho. O erro era admitido. Era possível tentar de novo caso não desse certo. Esta foi uma
abertura concedida pela Laís que fez o trabalho crescer muito.
O grande nó sempre é a relação entre voz e interferências determinada pela localização dos
microfones. Trabalhamos com lapelas e direcionais. Na medida em que as pessoas dançam
coladas, a gente teve de colocar o lapela de tal maneira que não houvesse esbarrões.
Chegamos a trabalhar com oito microfones sem fio ao mesmo tempo. Usamos cápsulas que
agüentam a pressão sonora e ruído das roupas. Os atores transpiravam muito, o que chegou a
danificar alguns aparelhos convencionais pela entrada de suor.
Parceria com a fotografia
Sempre brigamos para obter as melhores condições para o som direto. No caso do Chega de
Saudade – em que era essencial mostrar a intimidade dos personagens – a fotografia vinha em
primeiro lugar, em detrimento da captação do som.
Aceitei isto neste projeto porque som a gente dubla; imagem não. Contudo, procuramos evitar
a dublagem ao máximo. Para isso, os técnicos tinham de dançar junto com a câmera.
O Fernando Duca, meu microfonista, tinha de acompanhar o Walter Carvalho no seu balé
com a câmera, entre os atores. Usamos aparelhos sem fio, para o Walter não tropeçar.
Outra parceria ocorreu com a direção de arte. Os pés de mesas e cadeiras foram tratados
acusticamente. O elevado de madeira, posto no final do salão, rangia quando pisado. O
Marcos Pedroso, diretor de arte – o encheu de areia, o que eliminou o problema. A equipe
toda trabalhou em conjunto, o que resultou num filme muito bonito.
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BIOGRAFIA GERALDO RIBEIRO
O engenheiro eletrônico Geraldo Ribeiro é especialista em áudio, acústica e eletroacústica.
Entrou para o cinema há quase trinta anos convidado por um amigo, Hugo Gama, técnico de
som do premiado longa-metragem Pixote, de Hector Babenco.
Ribeiro assina o som direto ou a edição e efeitos sonoros de 21 longas-metragens brasileiros de
grande relevância. São produções dos anos 80 – Asa Branca, e Das Tripas Coração, por exemplo
– e grandes destaques da retomada do cinema nacional, como Terra Estrangeira e Notícias de uma
Guerra Particular. Nos últimos anos fez Casamento de Romeu e Julieta; Jogo Subterrâneo; Quando Vale
ou é por Quilo?; e Chega de Saudade.
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EDIÇÃO DE SOM
ALESSANDRO LAROCA
Edição de áudio exigiu casting de vozes
Alessandro Laroca fez a supervisão de edição de áudio de Chega de Saudade. Esta função é
responsável pela montagem de diálogos (edição do som direto e dublagem), efeitos (criação de
ambientes e os respectivos ruídos), foley (reconstituição da movimentação humana dentro da
locação) e a gravação em estúdio das vozes de fundo dos freqüentadores do salão.
Trata-se, portanto, de toda a área de áudio do filme, com a exceção da captação de som direto,
que ficou a cargo de Geraldo Ribeiro. No depoimento a seguir, Laroca conta como foram
enfrentadas as dificuldades que um longa-metragem com forte característica musical, como
Chega de Saudade, provoca para edição de áudio:
Método de trabalho
A gente trabalha como se o filme fosse mudo. Não aproveitamos os ruídos do som direto,
porque o foco do som direto é o diálogo. Por isso a qualidade dos ruídos não é boa.
Gravamos os ruídos com controle total do desenho de som. Interessante notar que os quatro
departamentos da edição de som (montagem de diálogos, efeitos, foley e vozes de fundo) são
completamente diferentes.
Eles funcionam de maneira separada e simultânea. A junção deles é feita na mixagem. Para
montar o som do filme foram necessários dois meses de edição e um mês e meio de mixagem.
Maiores desafios
Tivemos muita dificuldade com a edição do som direto porque é raro trabalharmos com uma
locação com tanta gente, como é o caso do Chega de Saudade. O “zum-zum-zum” dos casais
rodopiando no salão é uma característica marcante dos bailes e da alma do filme.
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Por isso fizemos um trabalho diferencial para este longa, que foi a gravação destas vozes de
fundo em estúdio. Este trabalho demandou a produção de um casting de vozes.
Na grande maioria das produções, só em algumas cenas há muita gente em volta dos
protagonistas. Neste filme, isso era constante. Foi necessário ter esta dinâmica o tempo todo.
Outro trabalho grande que tivemos foi o de inserir os ruídos de fundo nos trechos de diálogo.
Na filmagem dos diálogos, a música não pode estar presente. Mas houve alguns casos em que
foram aproveitadas cenas feitas de improviso.
E então a música que estava sendo executada era diferente da que deveria estar no filme. Os
atores tiveram de dublar os diálogos para que a música que estava por baixo fosse retirada.
Geralmente se faz dublagem no cinema por três motivos: questões técnicas; quando o diretor
quer mudar alguma intenção do ator; ou porque é preciso mudar alguma palavra no diálogo.
No Chega de Saudade só dublamos para dar limpeza técnica total aos diálogos.
Tratamento da música e banda
Trabalhamos com o áudio da banda captado em estúdio. A formação da banda cênica se
manteve fiel à do estúdio. Como fomos para a mixagem com as músicas separadas por
instrumento, pudemos trabalhar na perspectiva do espectador.
Foi possível realçar o som do acordeom quando este estava em ênfase na tela, por exemplo.
Trata-se de um recurso para fazer com que o show fosse mostrado de maneira natural. Assim,
o espectador não ficará com a sensação de ver um grupo de marionetes no palco.
BIOGRAFIA ALESSANDRO LAROCA
O músico paranaense Alessandro Laroca é formado em Cinema pela Faap, de São Paulo. Seu
caminho até a edição de áudio foi natural, já que a área uniu dois mundos do seu interesse: a
música e o audiovisual.
Depois de curtas-metragens bem sucedidos, seu trabalho na área ganhou grande projeção
nacional e internacional a partir do primeiro longa: Cidade de Deus, em que fez a montagem de
diálogos e a dublagem.
Desde então tem sido escalado para muitos dos principais filmes do cinema brasileiro. Entre os
quais: Olga; Redentor; Dois Filhos de Francisco; O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias; Cheiro do
Ralo; Tropa de Elite, Chega de Saudade e Blindness.
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MIXAGEM DE SOM
Armando Torres
“Complexidade sonora de Chega de Saudade é única”
O mixador Armando Torres Júnior, mais conhecido no meio cinematográfico como
Armandinho, conta que teve dificuldades para achar referências para o filme.
O encontro de banda ao vivo, diálogos e mais de uma centena de pessoas dançando no salão
ao mesmo tempo representou um desafio raro para a mixagem de som. Confira a seguir
depoimento de Armandinho sobre o seu trabalho em Chega de Saudade:
Poucas referências
Do ponto de vista do som e mixagem, Chega de Saudade foi um projeto bem complexo.
Passamos mais de um mês assistindo e procurando filmes para ter referências do registro de
bandas ao vivo e de diálogos num ambiente tão barulhento.
O Baile, do Ettore Scola, foi uma delas, mas o filme não tem diálogos. Dream Girls (Em busca
da fama, em português), também foi interessante de ver para notar como eles resolveram a
sonoridade da banda ao vivo.
Foi difícil controlar todos os elementos de áudio presentes no filme. Nossa maior preocupação
era ajustar a pressão sonora, para que o volume da música fosse adequado.
Equilíbrio sonoro
Outro grande desafio foi encontrar a medida certa entre diálogos e música dentro do conjunto
do filme. Em outras palavras, criar uma estética sonora que deveria se situar entre o
convencional e o completamente musical. Foi necessário fazer um balanço.
A mixagem também se destinou a diferenciar os fonogramas (músicas gravadas) e as canções
executadas pela banda. A performance ao vivo teve um tratamento especial, para que fosse um
destaque no filme tanto quanto o são nos salões. Os fonogramas ficaram no nível das músicas
que são tocadas nos intervalos dos bailes.
Ainda havia a questão do vozerio do elenco de apoio. Isto porque o filme tem cenas em que há
os protagonistas em primeiro plano, alguns casais conversando num segundo plano, e outros
em terceiro. Foi preciso equilibrar isso, em três escalas distintas.
BIOGRAFIA ARMANDO TORRES
Armandinho é técnico em eletrônica e começou sua carreira como DJ de festas e eventos e
editor de imagens para vídeos institucionais.
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Adquiriu densa bagagem audiovisual trabalhando em empresas finalizadoras, já na parte estrita
de áudio, onde fez mixagem para televisão, publicidade, documentários e longas-metragens de
ficção.
Entre as dezenas de filmes em que trabalhou na mixagem estão: Lisbela e o Prisioneiro, Amarelo
Manga; O Maior Amor do Mundo; O Cheiro do Ralo, O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias; Dois
Filhos de Francisco, Cidade dos Homens e Tropa de Elite.
***
PREPARAÇÃO DE ELENCO
SÉRGIO PENNA
Mergulho no mundo interior das personagens
O preparador de elenco Sérgio Penna descreve a seguir os caminhos que ofereceu
aos atores de Chega de Saudade para aproximação do universo e dos personagens
do filme:
A preparação durou quase quatro meses e começou com uma leitura aprofundada do roteiro.
Numa obra sutil e delicada como Chega de Saudade - em que aparentemente não acontece nada,
mas muito se sucede no mundo interior dos homens e mulheres do salão - é preciso conhecer
a fundo o imaginário de cada um deles.
O ponto alto do trabalho foi uma espécie de ensaio geral. A dez dias das filmagens, reunimos
no União Fraterna, o salão de baile que é a locação do filme, todos os personagens. Foi nesta
ocasião que o elenco principal e de apoio se conheceram e aproximaram.
Provocamos os atores a viverem seus personagens neste ambiente, com total liberdade. Sem se
preocuparem com marcas ou com a ordem de suas atitudes. Experimentaram a situação real de
um baile, na pele de seus personagens, por 4 ou 5 horas.
Durante o exercício, estiveram livres para tomar uma cerveja ou ir ao banheiro do salão. Olhar
para o outro, dançar uma música. Mas, claro, ligados nas suas parcerias dentro da história,
porque o filme depende das relações colocadas entre determinados personagens.
A situação foi bem real. Além da estrutura física, o elenco de apoio dançava em torno dos
atores principais. Eles vivenciaram o calor, o suor, o tesão, a energia e a relação pessoal que
acontece neste mundo. O exercício condensou várias necessidades detectadas na preparação.
Improvisação
Improvisação não significa liberdade total. Improvisar - para o ator, dentro da nossa proposta
– é seguir pelos próprios meios até onde se quer chegar. Prescindindo da direção e da ordem
das cenas, o elenco se predispôs a resolver determinados conflitos. Assim, quando foi para as
filmagens, dispunha de uma memória da situação e das emoções sugeridas.
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O filme
Depois do exercício, os atores tiveram uma reação de euforia, de descoberta. Falavam que
entraram na personagem. Puderam se apropriar do universo proposto e sentir o que acontece
lá dentro. Este era o objetivo do exercício: dar espaço para que sentimentos aflorassem.
Os sentimentos são a matéria-prima deste filme. Uma obra delicada, que fala como eles se
desenrolam, vêm à tona, se resolvem e de como se dialoga com eles.
BIOGRAFIA SÉRGIO PENNA
Sergio Penna é preparador de atores para cinema e televisão, diretor teatral e professor de
Direção de Atores do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão da ECA/USP. Em cinema
preparou o elenco dos filmes: Bicho de Sete Cabeças, Carandiru, Contra Todos, Antônia, Batismo de
Sangue, Não Por Acaso, Chega de Saudade, entre outros.
Em televisão fez a preparação de atores das séries da TV Globo Carandiru - Outras Histórias
e Antônia (as duas fases). Na TV Cultura trabalhou os atores dos programas Ilha Rá-Tim-Bum e
Galera.
Em artes cênicas investiga áreas que fazem fronteira com o teatro: dança, música, circo e
performance. É diretor da Companhia Teatral Ueinzz, onde desenvolve o conceito de Teatro
do Inconsciente, espaço de encontro entre a arte contemporânea e a linguagem artística de
pacientes psiquiátricos.
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PRODUÇÃO DE ELENCO
Elenco de apoio saiu de pesquisa densa nos salões
A produtora de elenco Vivian Golombek conta como foram selecionados os 180
dançarinos que bailam em torno do elenco principal de Chega de Saudade. Ela revela
que cenas reais, como briga de ciúmes, aconteciam no set de filmagem, o que serviu
de alimento para o filme.
No começo foi muito difícil. Eu e minha equipe fomos a cerca de 20 bailes. A gente
combinava com os organizadores, que nos anunciavam ao microfone para os freqüentadores:
“aqui tem uma equipe de cinema que está procurando atores para um filme”. Mas apareciam só
meia dúzia de pessoas para conversar com a gente.
Então mudamos o tipo de aproximação. Começamos a dançar nos bailes, o que se revelou
muito mais eficiente. Íamos conhecendo as pessoas naturalmente, e ouvindo histórias sobre os
freqüentadores. Aí fomos descobrindo os personagens dos salões. “Aquele é casado, o outro é
galinha”, o pessoal dizia pra gente (risos).
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Entrevistas e seleção
Passamos a filmar entrevistas com as pessoas que mais nos chamavam a atenção nos próprios
salões, em áreas um pouco afastadas da pista e do barulho. Foi uma quantidade enorme de
entrevistas, coisa de 800. Eu levava a fita para a produtora e assistia com a Laís. Todas. O
bacana foi que a pesquisa firmou a idéia dos personagens que havia no roteiro.
Deste montante, a Laís escolheu cerca de 200 freqüentadores para fazer workshops com o
Sérgio Penna , que procurou identificar pessoas que podiam se sair bem como atores.
Deste processo, além dos cerca de 180 bailarinos do elenco de apoio, saíram várias pessoas que
desempenharam pequenos papéis no filme. Foi assim com Marivaldo de Oliveira (florista),
Domingo de Santis (Wagner) e Walter Luiz (Ébano, personagem que dança com Cássia Kiss e
serviu de inspiração para outros).
Cenas reais no set
Nas filmagens aconteciam coisas reais. No começo do trabalho teve casal que foi embora por
causa de ciúme. Porque a Laís trocava os casais, e isso gerava problema. Tinha gente que
falava: só vou se o meu marido for; só danço com o meu marido. Depois eles foram
começando a entrar na brincadeira e a permitir serem dirigidos.
Às vezes a Laís via que estava acontecendo alguma coisa real no set de filmagem, uma briga
por ciúmes por exemplo, ia lá e filmava. Mas não aconteciam só desentendimentos. Teve gente
que entrou solteiro e saiu casado.
Relação com os freqüentadores
Coisa curiosa acontecia freqüentemente no meio das entrevistas. A pessoa interrompia a
conversa porque estava tocando uma música que ela não podia deixar de dançar.
Nosso prestígio só aumentou nas filmagens, porque aí eles descobriram um outro universo.
Quando passamos a rodar, a notícia se espalhou e as pessoas começaram a se interessar mais.
Freqüentadores que não tinham atendido nosso chamado reapareceram e foram incorporados
ao casting, em substituição a dançarinos que adoeceram ou tiveram outro tipo de problema.
O grande barato desta história toda é que a gente juntou um grupo de pessoas que criou um
grande vínculo de amizade. Eles viraram a turma que fez o filme. Eles se falam e nos ligam
para dizer que querem voltar a trabalhar como atores.
E agente tem os recomendado para outros trabalhos. A nossa pesquisa de casting tem sido
usada pelo mercado. Já encaminhamos atores para projetos na Rede Globo e HBO.
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COREOGRAFIA
J. C. VIOLLA
Conjunto e espontaneidade marcam a coreografia
Confira a seguir depoimento sobre o trabalho do bailarino e coreógrafo J.C. Violla para
o filme Chega de Saudade:
Método de trabalho
Para trabalhar com freqüentadores de bailes de salão foi necessário lançar mão de uma direção
que conseguisse dar um conjunto ao grupo, mas que ao mesmo tempo não podasse a maneira
como eles costumam dançar.
Pessoas de baile não seguem cartilha. Elas têm espontaneidade. Mas muitas vezes fazem
poucos passos, e dançam todos os ritmos do mesmo jeito. Por isso o filme tem marcação, mas
abrimos mão do padrão conhecido como “international dance”, para evitar algo mecânico.
Queríamos que as pessoas mostrassem como elas dançam naturalmente.
Dançar sem som
Devido a uma questão técnica, em boa parte das filmagens os dançarinos deveriam bailar sem
som. Isto porque quando os diálogos são gravados, não pode haver o som de fundo, o que
tornaria a edição impraticável.
Nós treinamos esta situação desde os primeiros ensaios. A idéia foi fazer com que os
dançarinos tivessem a música e o ritmo na cabeça. Por isso as músicas do filme eram sempre
executadas nos intervalos das gravações.
Para desenvolver a habilidade de dançar sem música, faço uma espécie de jogo. Começo com o
som normal, depois vou baixando, e peço que todos continuem dançando, até que não haja
música. Também uso o barulho dos pés no chão, para marcar a batida principal da música.
Esta marcação permanece, mesmo sem som. É um treino de grupo, que deu muito certo.
A minha primeira preocupação foi acolher os atores e os bailarinos, que se integraram
generosamente a uma grande empreitada. Com empatia, o trabalho fluiu muito bem. Fiquei
extremamente contente com o resultado, porque está todo mundo à vontade no filme.
Música de baile
Quando vi a proposta achei que deveríamos variar mais os ritmo de dança. Um baile como o
do Chega de Saudade é uma viagem musical, um desfile de ritmos: fox trot, valsa, rumba, tango,
tchá, tchá, tchá. Dão um colorido, mexem partes diferentes do corpo. O BiD, produtor
musical, atendeu às minhas sugestões, e abrimos o leque de estilos do filme.
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BIOGRAFIA J.C. VIOLLA
O coreógrafo, bailarino e professor de dança. J. C. Violla nasceu em Lins, interior de São
Paulo. Iniciou seu trabalho na dança em aulas com a professora húngara Maria Duschenes,
responsável pela difusão no Brasil do método de Rudolf von Laban. Este introduziu o
realismo e o naturalismo na dança.
Em 1975 participou do espetáculo Falso Brilhante, de Elis Regina e pouco depois criou o espaço
“Pod Minoga”, que se converteu em ponto de encontro de bailarinos. Um dos seus principais
trabalhos é Valsa para Vinte Veias, remontado pelo Balé da Cidade de São Paulo. Mais
recentemente encenou o espetáculo Doze movimentos para um homem só.
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PRODUÇÃO
FABIANO GULLANE
Filme simples, produção complexa
O produtor de Chega de Saudade, Fabiano Gullane, fala dos desafios impostos por um
longa com 32 canções e da forte estrutura comercial que o projeto conquistou
Chega de Saudade é o segundo longa-metragem fruto da parceria entre Buriti Filmes (Laís
Bodanzky e Luiz Bolognesi) e Gullane Filmes (irmãos Fabiano e Caio). Na entrevista a seguir,
o produtor Fabiano Gullane revela como o filme foi estruturado, as perspectivas comerciais
que o projeto alcançou, e do prazer de trabalhar com seus parceiros:
Como a Gullane Filmes recebeu a idéia de filmar histórias num baile?
Este projeto tem muitos significados para nós. Talvez o maior deles seja a parceria com a Laís
e o Luiz. Trabalhamos juntos há muitos anos. Apostando, se gostando e investindo juntos.
O projeto nos foi apresentado com a entrega de um primeiro roteiro. Uma das grandes
qualidades do texto era a originalidade. Contar numa noite o que se passa num lugar só, com
personagens que não mudam, onde não entra ninguém, não sai ninguém, é cativante.
Claro que é arriscado, porque pode se fazer uma coisa chata, morosa. Ou então é possível
chegar a algo bacana, íntimo, caso os personagens conquistem atenção e confiança.
Desde a primeira leitura, enxergamos a idéia da segunda maneira.
Hoje, com o filme pronto, sinto uma coisa sobre ele que não sentia antes. O Chega de Saudade é
uma declaração de amor à vida. Independente da classe social, idade, sexo, possibilidade física,
é mais gostoso viver gostando da vida, aproveitando a jornada.
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A forte presença da música no filme gerou que tipo de demanda de produção?
Foram compradas para Chega de Saudade 31 músicas, das quais 15 executadas pela banda e 17
em que são reproduzidos os fonogramas originais. Para todas estas obras é preciso ter todo o
tipo de autorização. Do autor, intérprete, gravadora e editora musical.
Foi necessário obter autorizações que permitem execução em território mundial; que não
tenham prazo de validade; sem limitação de número de DVDs, sem limitação de número de
exibições; e sem limitação de mídia. Estas negociações não são difíceis, mas complexas.
E o número de músicas adquiridas é tremendamente alto. Qualquer outro filme que a gente
fez, mesmo filmes musicais, tem muito menos. O Magnata, por exemplo, um longa escrito pelo
músico Chorão, tem 6 músicas compradas. O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias tem 9
músicas.
Chega de Saudade tem uma complexidade musical muito grande. A presença das canções é
completamente orgânica à história, aos personagens e à ambiência do lugar fílmico.
Como foi montada a operação de financiamento do Chega de Saudade?
Houve bem menos dificuldades de levantar recursos para o Chega de Saudade do que havíamos
encontrado à época do Bicho de Sete Cabeças. Talvez pelo tema, pela época e também porque
naquele tempo nem nós nem a Buriti tínhamos a trajetória que temos hoje.
Conquistamos uma parceria com a ARTE (França), o mais importante canal da Europa da
atualidade. Eles escolhem poucos filmes por ano no mundo inteiro para se associar, sem
obrigação de selecionar filmes brasileiros ou latino-americanos. Eu acredito que a ARTE abrirá
um caminho no exterior muito bonito para o filme.
Ainda de saída, fechamos acordo muito importante com a major norte-americana Buena Vista
International, que é a principal co-produtora do filme. Depois, ganhamos dois editais
relevantes no Brasil, o da Petrobras e do BNDES. Juntos estes recursos deram o suporte inicial
que precisávamos.
Recebemos patrocínio da CCR - concessionária de rodovias, parceira de outros projetos da
Gullane Filmes e Buriti Filmes. - e do Bradesco. Esta é uma operação interessante, porque o
banco nos pede um uso do filme ligado à sua publicidade e promoção. Não é simplesmente
um patrocínio. Estamos montando uma operação mútua.
Também obtivemos suporte da Sabesp - por meio do programa de apoio à cultura do governo
do Estado -, da MRS, da prefeitura de São Paulo e Globo Filmes (os dois últimos são coprodutores do filme).
Por fim, atraímos um exibidor forte, o Cinemark, que também entrou no projeto como
patrocinador, o que mostra o tônus do filme.
Esta sofisticada operação nos permitiu chegar a um orçamento de R$ 5 milhões, uma cifra
significativa para os padrões brasileiros, e adequada ao projeto.
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Que tipo de colocação o filme pretende obter no mercado?
De forma geral, atuamos no nicho chamado de cinema comercial de arte. É um cinema de
qualidade, de reflexão, mas que diverte e que coloca o espectador dentro da história.
Este tipo de filme tem uma distribuição específica. A primeira ação importante nossa é
conquistar o público brasileiro. Ao mesmo tempo acreditamos que seja um filme cativante para
o mercado internacional e em 2008 procuraremos o melhor caminho nesse sentido.
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CAIO GULLANE
Alto astral nos bastidores
O produtor de Chega de Saudade, Caio Gullane, descreve a estrutura que foi montada
para acolher o elenco de apoio; fala do entendimento com a vizinhança e de outras
ações invisíveis aos olhos do público, mas essenciais para a realização do filme
Quais foi o principal desafio desta produção?
Proporcionar condições para que o clima de alto astral que naturalmente existe entre os
freqüentadores dos bailes – o nosso elenco de apoio – se mantivesse no set de filmagem. Este
componente foi decisivo para a criação da atmosfera dos salões. É a alma do filme.
Para isso procuramos agir de tal forma que as interferências técnicas inerentes a uma
empreitada cinematográfica não fossem impedimento para a manutenção deste astral.
Como foi a escolha do União Fraterna como locação exclusiva do filme?
Consideramos todas as hipóteses. Construir o salão todo em estúdio; usar uma fachada real, e
o interior em estúdio; dividir a ação em mais de um salão, etc. E chegamos a conclusão de que
seria melhor fazer tudo num lugar só, que fosse apropriado para receber o projeto.
O União Fraterna, no entanto, não contém espaço físico para abarcar as necessidades de um
filme como o Chega de Saudade. Tivemos, então, que criar uma estrutura para escritório,
alimentação, vestuário, camarim, depósito, entre outras necessidades.
Para isso, alugamos quatro imóveis próximos ao salão. Uma casa para o escritório, um galpão
para alimentação da equipe e elenco, uma garagem de uma outra casa para depósito. E outra
casa grande para o departamento de arte, figurino, maquiagem e repouso.
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Como funcionava este lugar de espera para o elenco de apoio?
Era uma festa. Eles tinham uma animação muito bacana, que é o resultado que a gente
alcançou, gerando boa infra-estrutura. Fomos atrás de proporcionar o bem estar deles, para
que fossem preservados do cansaço e se sentissem acolhidos.
Não foi feita nenhuma extravagância. Eles tinham de dançar 8 horas por dia, além de ficar em
stand by. Precisávamos manter estas pessoas animadas por 40 dias.
Eles se reuniam nesta casa, tocavam violão, tomavam café, descansavam. E acabavam
dançando também na hora da espera, e na hora do almoço. A gente conseguiu estender o astral
do filme para o backstage, para os bastidores do Chega de Saudade.
Como foram negociadas as interferências que o filme representou para as redondezas
da filmagem?
Externamente, tivemos de fazer algumas interferências nas casas vizinhas. Isolamos o trânsito
para fazer as cenas externas e para colocar andaimes e outros equipamentos que o projeto de
engenharia de luz demandou, além de outras necessidades técnicas.
Nada foi feito de uma hora para outra. Obtivemos autorização da CET, da Subprefeitura da
Lapa, da população local, dos mantenedores do União Fraterna, e do Patrimônio Histórico, já
que o prédio é tombado. Não causamos desequilíbrios.
Como foi o episódio do casamento no União Fraterna, que influenciou no cronograma
da produção?
O União Fraterna tem uma postura bem tradicional. Eles nos informaram que o único
compromisso que tinham firmado antes do nosso era um casamento. A família da noiva já
tinha realizado outros dois casamentos lá. E não havia a menor chance de mudar as datas.
Tivemos de apertar o prazo da nossa produção, e fomos negociando com a noiva. O prazo
inicial de entrega era duas semanas antes do casamento, e acabou diminuindo para três dias.
Mas tudo foi conversado, eles foram flexíveis. Viram que a gente já foi preparando o salão nos
últimos dias de montagem para entregá-lo como eles queriam, que foi o jeito que a gente
pegou, antes de pintar, colocar colunas, entre outras estruturas.
Nós armamos uma equipe para desarmar tudo rápido, coisa de pit stop de fórmula 1 (risos). O
serviço ficou ótimo e não houve problema para a realização do casamento.
Vale ressaltar que o grande barato da nossa filosofia de trabalho é fazer um estudo muito
grande e antecipado de como será o plano de filmagem, de acordo com a proposta artística.
A produção trabalhou o tempo todo no sentido de se aproximar do querer artístico, realizando
o trabalho de acordo com ele. Para nós é fundamental compreender a proposta e entregar as
condições para que o projeto artístico possa ser feito na sua plenitude.
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PRODUTORAS
GULLANE FILMES
Criada em 1996, pelos irmãos Caio Gullane e Fabiano Gullane, é atualmente uma das mais
ativas empresas do audiovisual brasileiro. Nos últimos anos foi responsável por produções de
grande sucesso em crítica e público no Brasil e no exterior. Entre os filmes produzidos ou coproduzidos pelos irmãos Gullane estão: Bicho de sete Cabeças, Carandiru, Nina, Benjamim,
Narradores de Javé, entre outros.
Em 2000 a produtora ganhou uma nova sócia, Debora Ivanov, contribuindo assim com o
fortalecimento da sua estrutura.
Em 2006, realizou O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias, premiado filme de Cao Hamburger,
que retrata o Brasil dos anos 70 sob os olhos de um garoto de 12 anos e representou neste ano
o Brasil na competição do Festival de Berlim e agora concorre a uma das cinco vagas do Oscar
de Melhor Filme Estrangeiro
Em 2007 lançou o documentário O Mundo em Duas Voltas, as ficções Querô e O Magnata, filme
com argumento de Chorão, líder da banda Charlie Brown Jr. Para o inicio de 2008 prepara o
lançamento de Chega de Saudade, segundo filme de Laís Bodanzky, a premiada diretora de Bicho
de Sete Cabeças.
Outro lançamento para 2008 é o filme produzido em parceria com a Olhos de Cão, Encarnação
do Demônio, o novo filme de José Mojica Marins, mais conhecido como Zé do Caixão.
Atualmente está realizando duas co-produções internacionais – Birdwatchers (Itália) – em pósprodução - e Plastic City (China) – em pré-produção.
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BURITI FILMES
Buriti Filmes é a produtora dos realizadores Laís Bodanzky e Luiz Bolognesi. Produz filmes
para cinema e projetos especiais para televisão. Nos projetos feitos para cinema, a Buriti
Filmes coleciona mais de 70 prêmios nacionais e internacionais com os filmes Bicho de Sete
Cabeças, Cine Mambembe – O cinema descobre o Brasil entre outros. Os filmes já foram exibidos em
5 continentes e vendidos para mais de 15 países, exibidos com altos índices de audiência na tv
aberta e cabo, além de serem sucesso de público e crítica nas salas de cinema. A Buriti Filmes
também foi a criadora da primeira sala de cinema itinerante do país, que viaja exibindo filmes
brasileiros para população de baixa renda gratuitamente. A sala do Cine Tela Brasil possui um
dos maiores índices de ocupação das salas de cinema do Brasil, 86%.
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CO-PRODUÇÃO
MIRAVISTA
Miravista é o selo cinematográfico da Buena Vista International para as co-produções
na América Latina. O primeiro longa produzido pela Miravista, Ladies' Night, estreou no
México em 2003. No Brasil, a empresa já levou aos cinemas O Caminho das Nuvens, de Vicente
Amorim; Viva Voz, de Paulo Morelli; A Dona da História, Muito Gelo e Dois Dedos D’agua
e Primo Basílio, de Daniel Filho; O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias de Cao Hambuger; Jogo
Subterrâneo, de Roberto Gervitz; Didi - O Caçador de Tesouros e O Cavaleiro Didi e a Princesa Lili, de
Marcus Figueiredo; A Máquina e Fica Comigo Esta Noite de João Falcão; O Casamento de Romeu
& Julieta e Caixa Dois, de Bruno Barreto; Inesquecível, de Paulo Sérgio Almeida e O Magnata, de
Johnny Araujo. Além de Chega de Saudade a Miravista lança este ano Polaróides Urbanas, de
Miguel Falabella.
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GLOBO FILMES
A Globo Filmes foi criada em 1998, como braço cinematográfico da TV Globo, com o
objetivo de produzir obras de qualidade e valor artístico, valorizar a cultura nacional, fortalecer
a indústria audiovisual brasileira, atrair novos talentos e aumentar a sinergia entre o cinema e a
televisão.
Desde a retomada do cinema brasileiro, nove entre os dez maiores sucessos nacionais de
bilheteria são co-produções da Globo Filmes, como Dois Filhos de Francisco, com mais de cinco
milhões de espectadores, Carandiru, Cidade de Deus - que recebeu quatro indicações ao Oscar
em 2004 -, Se Eu Fosse Você, Lisbela e o Prisioneiro, Cazuza - O Tempo Não Pára e Olga. Todos eles
superaram os três milhões de espectadores, um marco de público para o cinema nacional.
Preocupada em desenvolver projetos que aproximem cada vez mais o público brasileiro do
cinema nacional, a Globo Filmes já produziu um leque diversificado de gêneros
cinematográficos: obras infantis, como as de Xuxa e Renato Aragão; adultos de várias espécies,
como Os Normais - O Filme, Sexo, Amor e Traição, Deus é Brasileiro e A Partilha; e os voltados para
toda a família, como O Auto da Compadecida e O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias. O critério
de seleção de projetos é guiado pela busca de obras com conteúdo nacional de qualidade e com
potencial popular.
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DISTRIBUIÇÃO
BUENA VISTA INTERNATIONAL
A Buena Vista International faz parte do braço de distribuição internacional do Grupo Disney.
Além de atuar como distribuidora, a empresa também está presente na América Latina
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produzindo conteúdos locais por meio de seus dois selos, a Patagonik Film Group, da
Argentina, e a Miravista, para o restante do continente, principalmente Brasil e México.
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ELENCO
TÔNIA CARRERO
Filme traz Tônia Carrero de volta às telas após 18 anos
A atriz conta que se inspirou em peça de Tennessee Williams para compor Alice,
personagem densa e comovente que faz em Chega de Saudade
Na entrevista exclusiva a seguir Tônia Carrero fala de sua felicidade em reencontrar o cinema,
dos sentimentos com que lidou no filme e dos encontros que a dança de salão propicia. Diva
da dramaturgia nacional, Tônia revela que sentiu “frio na barriga” nas filmagens:
O universo retratado em Chega de Saudade é familiar para você?
Não, de jeito nenhum. Trabalhei com um sentimento de surpresa porque o mundo dos bailes
mudou muito. Eu dancei até os 50 anos, no máximo. Depois, perdi contato. Era outra época,
mais glamourosa.
Antes de fazer o filme, não conhecia ninguém que vai a estes bailes de hoje em dia. É muito
interessante observar como os casais se entendem apenas com o corpo, com um linguajar de
passos. Os freqüentadores vão aos bailes em busca de alguma coisa, de algum companheiro.
Não para sempre, mas por àquelas horas, que seja. É bonito isso.
A minha personagem se entende com o companheiro nesta dimensão. Ela tem a ilusão de se
entender com ele mais profundamente. É uma personagem que lida com a desilusão e ao
mesmo tempo com a doçura.
A que elementos você recorreu para compor Alice?
Logo quando li o roteiro percebi que não iria lidar só com um mar de rosas. Então, em muitos
momentos, recorri ao sentimento que vivi no teatro. Fiz, há muitos anos, a personagem de
Tennessee Williams chamada Alexandra Del Lago.
A obra chama-se Doce Pássaro da Juventude. A história dela não é parecida com a de Alice, mas
parte dos sentimentos sim. Alexandra é uma moça desiludida, que tem um certo desespero,
necessidade de acertar. Alice é uma personagem linda, que diz ao companheiro “eu te amo”,
pela primeira vez na vida. Eu falei isso no filme. Foi muito bom.
A referência da Alexandra eu usei para cumprir o que a Laís me pedia. Ela é uma diretora
incrível. Passa muita confiança. O diálogo da direção comigo era muito rápido, como se eu já
entendesse o que ela queria. “Você entendeu o que eu quero”, ela me dizia.
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A Laís me conquistou pela sua percepção, sua ciência. Com uma pequena dica dela o ator é
capaz de construir um mundo em sua volta. Isso é muito raro.
Como foi voltar ao cinema depois de 18 anos?
Fazer cinema para mim é incrível porque comecei a vida profissional nele. O (Adolfo) Celli e a
Cacilda (Becker) falavam que eu só queria fazer cinema, que eu não queria fazer teatro (risos).
Fui contratada pela Vera Cruz no começo dos anos 50 e fiz vários filmes.
Depois os projetos foram rareando. Fiz 18 ao todo. O último foi O gato de Botas Extraterrestre,
de 1990. Estava com saudades.
Foi uma grande felicidade ser chamada pela Laís, porque eu havia gostado muito do Bicho de
Sete Cabeças. Fazer o Chega de Saudade foi uma emoção incrível. Deu muito frio na barriga.
Na véspera das filmagens não consegui dormir. Deitei na cama à meia-noite e quando eram 5
horas ainda estava acordada. Depois, não agüentava ficar de pé.
Mesmo assim, foi um prazer imenso. Fiquei em São Paulo durante um mês sem vir ao Rio. Eu
estive lá disponível para o que precisassem.
Era uma delícia chegar na maquiagem, encontrar alguém diferente que te faz a cara que você
precisa ter, te veste com a roupa que você precisa ter. Eu sou muito ligada à forma física dos
personagens. Gosto de olhar no espelho e pensar: “Ah! Era esta que eu buscava!”.
Como foi o contato com o elenco principal e de apoio?
A minha principal parceria no elenco é com o Leonardo Villar, que faz par comigo. É uma
figura misteriosa, maravilhosa. Ele me deu o mistério que eu precisava. É um camarada
ensimesmado, que não podia chegar perto de mim.
Ele combina perfeitamente com o papel. Esteve completamente mudo o tempo todo. É muito
bom profissional. É um ator que eu quero trabalhar ainda. Por acaso, nunca tínhamos
contracenado.
Quanto ao elenco de apoio, o contato foi extraordinariamente bom. Eles me encantaram,
todos, com a sua disposição e generosidade. Aplaudiam-me a cada final de cena. Este é um
patrimônio que eu carrego. Vai além das coisas comezinhas.
É importante para o ator saber que é uma pessoa. E uma pessoa sofre e padece como outra
qualquer. A verdade é essa. A gente é igual a todo mundo. Quem delira com outra idéia está
muito enganado. Porque o ator tem momentos de sonho. São só instantes que a gente vive na
irrealidade. E aí vem a realidade e despenca na nossa cabeça com todo o seu peso.
BIOGRAFIA TÔNIA CARRERO
Tônia Carrero estreou no teatro em 1949 com a peça Um Deus Dormiu Lá em Casa, com Paulo
Autran, e de lá pra cá já interpretou papéis de grandes autores como Ibsen, Tchekov,
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Shakespeare, Pirandello, Tenesse Williams, Sartre, Beckett, Plínio Marcos e Nelson Rodrigues.
A atriz também teve três grandes experiências com o Teatro Moderno: A Amante Inglesa,
Navalha na Carne e Quartett. As duas últimas lhe valeram um Prêmio Moliére cada. Seus mais
recentes trabalhos no teatro foram Equilibrio Delicado, O Jardim das Cerejeiras, A Visita da Velha
Senhora e Amigos Para Sempre.
Na TV, Tônia fez várias novelas: Sangue do Meu Sangue, Pigmalião 70, Água Viva, Sassaricando, e,
em 2004, uma participação em Senhora do Destino.
Entre 1950 e 1954, fez parte da Cia. Cinematográfica Vera Cruz, sendo uma das suas maiores
estrelas. Lá ela participou de vários filmes, entre eles: Apassionata, Mãos Sangrentas, Tico Tico no
Fubá e É Proibido Beijar entre outros. Sua última atuação no cinema foi em 1990, no filme O gato
de Botas Extraterrestre , dirigido por Wilson Rodrigues. Sua volta ao cinema acontece 18 anos
depois com o filme Chega de Saudade
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LEONARDO VILLAR
“Universo dos bailes tem malícia romântica”
Ícone do cinema nacional, Leonardo Villar fala de sua volta às telas grandes; do
rabugento, porém cativante Álvaro, seu personagem em Chega de Saudade; e de sua
paixão pelos salões de baile
Como foi fazer um mergulho no mundo dos bailes?
Para mim foi uma viagem ao passado, porque me remete a uma época que vivi intensamente.
Fui bailarino de salão assíduo. Entre os 18 e 24 anos ia dançar pelo menos duas vezes por
semana. Então este é um ambiente que conheço bem.
É certo que hoje os bailes são diferentes dos daquela época. Sobretudo quanto à maneira de
dançar, que atualmente é muito mais coreografada, figurada, de certa maneira ensaiada. Mas o
clima é igual.
Num salão se dança de corpo colado, e não pulando um para cada lado sem que ninguém se
toque. Ali tem malícia, uma malandragem muito gostosa. Mas com respeito, mistério, uma
relação camuflada, romântica, muito prazerosa. Têm a batalha pela conquista da dama, as
insinuações, apertões e beijinhos. É um universo romântico.
Eu acho o tema do filme maravilhoso como cinema. Mesmo contemporâneo, faz lembrar de
tempos embalados por músicas com enredo, que contavam uma história. São canções muito
bem escolhidas, que fazem sucesso até hoje. Para mim foi uma experiência muito feliz, a esta
altura da minha carreira e da vida.
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Com que emoções e referências o senhor lidou para compor o seu personagem, Álvaro?
Ele é um assíduo freqüentador, que vai com a mesma dama ao salão há 25 anos. Está frustrado
e mau-humorado porque quebrou o pé. Ele viaja mentalmente às vezes, tem lembranças,
sentado à mesa. É um sujeito ranzinza, mas que não é antipático, acredito. Porque ele está ali
sofrendo por não poder dançar, por sentir dor, por ter sido um bamba de sua época.
Eu sempre procuro ver os papéis que são me entregues com verdade. No teatro, no cinema e
até na televisão, onde a gente tem que decorar tudo na hora. Eu procuro trabalhar com a
emoção. A minha formação é de teatro, e isso é muito de teatro. É uma coisa de procurar viver
o papel, e não interpretar o papel. O Álvaro lida com o contraditório. Para ele é duro estar ali
parado, depois de ter sido o rei do salão.
Como foi o trabalho com a direção e produção do filme?
Foi uma experiência muito prazerosa para mim porque pude reencontrar colegas antigos e
trabalhar com a Laís, pessoa que conheci agora, muito doce e competente.
O contato com o elenco de apoio foi maravilhoso. Eles dançam muito bem. Era uma delícia
olhá-los. São pessoas gentilíssimas, que adoravam os atores principais. A produção também
nos tratou com muito cuidado, carinho e respeito. Só faltou carregar a gente no colo (risos).
Eu adoro fazer cinema. Você faz as coisas com calma, não tem ninguém frenético porque tem
que fechar o dia. No set de filmagem se trabalha animado porque antes é possível ensaiar.
Todos chegam com o texto decorado. Fica um ambiente muito favorável ao ator.
Sempre gostei e me entreguei de corpo e alma aos papéis que recebi. No Pagador de Promessas
(único filme brasileiro vencedor da Palma de Ouro, em Cannes), subia e descia aquela escada
várias vezes, com uma cruz de 30 quilos nas costas. Mesmo assim, dava muito prazer de
trabalhar.
Agora, eu só pego o que gosto. A Laís foi lá em casa, no Rio de Janeiro, falou comigo sobre o
personagem, me deu uma sinopse do roteiro e um DVD com o seu filme anterior, Bicho de Sete
Cabeças.
Fiquei muito bem impressionado e aceitei na hora. Não me arrependo nem um pouco, muito
pelo contrário. Acredito que fizemos um filme que vai mexer com as pessoas.
BIOGRAFIA LEONARDO VILLAR
Leonardo Villar formou-se na primeira turma da Escola de Arte Dramática da USP em 1948.
Estreou profissionalmente em A Raposa e as Uvas (1953), com direção de Bibi Ferreira, pela
Companhia Dramática Nacional, CDN, já chamando a atenção da crítica. Leonardo também
integrou o corpo estável do Teatro Brasileiro de Comédia, TBC.
Em 1960, recebeu os prêmios Governador do Estado de São Paulo e Associação Paulista de
Críticos Teatrais pela célebre interpretação do protagonista Zé do Burro de O Pagador de
Promessas, de Dias Gomes.
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Leonardo voltou a interpretar o mesmo personagem na versão cinematográfica da peça,
dirigida por Anselmo Duarte, em 1962, único filme brasileiro a receber a Palma de Ouro no
Festival de Cannes.
No cinema, também atuou em Lampião, o Rei do Cangaço (1964), A Hora e a Vez de Augusto
Matraga (1965), Ação Entre Amigos (1998) e Brava Gente Brasileira (2000).
Também participou de novelas e mini-séries televisivas de sucesso, como Os Ossos do Barão
(1973 e o remake em 1997), Estúpido Cupido (1976), Barriga de Aluguel (1990), Laços de Família
(2000), Coração de Estudante (2002) e Pé na Jaca (2006)
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BETTY FARIA
Betty Faria se diz encantada pelo universo dos bailes
Confira a seguir depoimento da atriz sobre sua participação em Chega de Saudade:
O mundo dos bailes
Quando Laís Bodanzky me falou do projeto do filme abracei-o imediatamente. Fiquei
totalmente envolvida pela idéia, personagens e o universo como um todo. Muitas das pessoas
retratadas no Chega de Saudade convivem com problemas seríssimos. E ao invés de se
entregarem à depressão, têm o impulso de vida.
Os bailes são sonho, oportunidade de convívio social, esperança de se relacionar docemente e
de ser aceito numa comunidade. Este mundo contém a alegria de dançar. Adaptando o ditado
popular, digo que quem dança também seus males espanta.
Antes do início das filmagens fui levada pela produção a alguns salões e fiquei totalmente
surpresa. Descortinou-se para mim um novo mundo, até então desconhecido para mim, muito
caloroso e distante da realidade que eu vivo.
Personagem Elza
Os códigos, os valores, o vestuário, tudo me fascinou. Minha personagem, Elza, é uma
freqüentadora assídua que de tão carente de atenção e amor, torna-se inconveniente e rejeitada.
Foi muito interessante trabalhar seus conflitos diante da vida, dos sonhos, dos amores e
desafetos. Antes de tudo, Elza adora dançar. É um personagem muito humano.
Elenco de apoio
Por ficar muitos dias sentada à mesa durante as filmagens tive oportunidade de me relacionar
com o elenco de apoio. Eles estavam tão felizes que já estavam dançando às 8 da manhã. E
isso continuava até as 5 ou 6 horas da tarde, todos os dias.
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Aos poucos foram se aproximando de mim, e fazendo amizade. Contando casos, falando das
próprias vidas. Eu fui sendo levada a entrar naquele mundo, que é uma lição de vigor. Pessoas
que tinham tudo para ficar em casa reclamando da vida, estão lá, vivendo intensamente.
A direção e a equipe
Trabalhar com Laís foi delicioso e surpreendente. Ela sabe o que quer, tem pulso firme e
doçura de menina. Além disso, é aberta a propostas arrojadas. Seus assistentes me deram
atenção todo o tempo. Não houve dia em que eu me sentisse abandonada. Eles estavam
sempre presentes com carinho e palavras de incentivo.
Sou admiradora do trabalho de Walter Carvalho (diretor de Fotografia), com quem pude
trabalhar pela primeira vez. Senti-me à vontade para improvisar e fazer o que ele me pedia.
Também tive grande prazer em estar no público da Elza Soares, artista da qual gosto muito e
sou tiete. Enfim, fazer este trabalho foi maravilhoso.
BIOGRAFIA BETTY FARIA
Betty Faria é uma das grandes atrizes do Brasil. Na tv, participou de mais de 30 novelas, dentre
as quais Pecado Capital, De Corpo e Alma, O Salvador da Pátria e Tieta, um dos seus grandes
sucessos, além de séries e musicais. Recentemente a atriz fez uma participação especial no
humorístico da Rede Globo A Grande Família, e atualmente está no ar na novela Duas Caras, na
mesma emissora.
A paixão pelo cinema fez a atriz atuar em 26 filmes: Bye Bye Brasil, Perfume de Gardênia
(Vencedora do prêmio de melhor atriz no Festival de Brasília), Anjos do Arrabalde (Melhor Atriz
no festival de Gramado), Romance da Empregada (Melhor atriz no Festival de Havana); Bens
Confiscados (Melhor atriz no Festival Cine Ceará) entre outros.
Em 2006 estreou no teatro o espetáculo Betty Faria.Doc, onde a atriz canta e dança várias
canções e foi um grande sucesso de crítica e publico.
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CÁSSIA KISS
“Filme é homenagem à delicadeza”
Cássia Kiss fala de sua personagem, Marici, do valor das rugas e dos encontros que
teve com a própria história nas filmagens de Chega de Saudade
Confira a seguir entrevista exclusiva com a atriz Cássia Kiss. A Marici, personagem que junto
com Eudes (vivido por Stepan Nercessian) forma um dos principais núcleos dramáticos do
longa-metragem:
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Como foi encarnar uma típica personagem dos bailes de salão?
Eu vivi uma experiência muito interessante. A minha personagem tem muito em comum com
a minha própria história. Sou uma mulher de origem humilde. Eu freqüentava os bailes da
saudade quando era adolescente em São Caetano do Sul (SP). E sempre vi com fascínio as
pessoas indo ao baile para dançar e encontrar seu par. É um encontro de gente de várias
origens, profissões, idades e características. É um universo riquíssimo, com vários códigos.
Como você se preparou para fazer esta personagem?
Fizemos um trabalho incrível com o Sérgio Penna, preparador de elenco com que eu já havia
trabalhado no Bicho de Sete Cabeças. Ele te dá condições de descobrir e criar o personagem
dentro de você.
A gente trabalhou o sentimento destas pessoas. O Penna nos colocou na situação dos
personagens do filme, com todos os seus conflitos. E trabalhou os relacionamentos, para que
imprimíssemos na atuação uma história anterior dos personagens.
Quase sempre é importante ter referências na sua própria experiência e emprestá-las ao
trabalho. E aí eu tive muita vantagem neste filme. Porque eu tenho o mesmo tipo de origem
que a Marici. O passado dela é o meu passado.
O Penna fazia ensaios muito fortes. A gente vivia os personagens, misturado ao elenco de
apoio num verdadeiro baile montado no set. Porque para entender os bailes tem de dançar.
Este é um universo muito sedutor. É muito gostoso dançar, ver um casal dançando. É uma
conversa de corpos, guiada pelo ritmo da música. É uma experiência singular.
Então, durante estes ensaios, eu escovava os dentes como Marici e andava feito ela. Os
personagens ficaram tão vivos que a gente foi criando textos. Uma coisa mágica.
Chega de Saudade é um filme que não disfarça as rugas. Como foi lidar com isso?
Desde o primeiro convite ficou claro que a Laís queria as rugas. Eu me identifiquei com a
proposta. Nunca fiz uma cirurgia plástica. Tenho a minha história impressa no rosto.
Acredito que a importância de mostrar as rugas num filme como este é muito grande. Eu gosto
de me ver, profundamente. Olho-me no espelho, de verdade. E vejo que sou eu, eu mesma.
Para se encarar assim, principalmente a partir dos 50 anos, é preciso se aceitar, inclusive com as
precariedades. Meu nariz e boca são tortos.
Olhar fundo a própria história é uma atitude agradável para mim, porque quero envelhecer
bem. Não quero ser uma velha burra, babaca e ignorante.
Tive uma avó que envelheceu muito. Sou filha de croatas e neta de húngaros, pessoas que
tiveram uma vida bem marcada. Não quero fugir da minha verdade e da minha verdadeira
história.
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Não tenho desejo de transformar meu rosto e perder a oportunidade de ver o que seria. Eu
acho infinitamente mais bonito quando este processo é consciente. Envelhecer bem é
envelhecer com consciência.
O que você acha do jeito que a turma dos bailes encara o envelhecimento?
É impressionante como o pessoal do baile encontra a chave para uma trajetória mais feliz, mais
bonita. É uma gente que abre uma porta de magia para as suas vidas.
Eu vi uma mulher de mais de 80 anos dançando com um ótimo dançarino de 25 anos. Ela
parecia uma flor. É evidente que ele tinha que tomar cuidados com ela, mas você via os dois
dançando com o mesmo prazer. O filme é uma homenagem à delicadeza.
Como foi o convívio com o elenco de apoio?
Foi absolutamente maravilhoso.Vimos coisas muito interessantes acontecer entre eles. Há
casais que só dançam entre si, e outros não. Há disputa pelos melhores bailarinos. Eu dançava
muito no set e também comecei a ter as minhas preferências. Tem grandes bailarinos que todo
mundo quer dançar. Eu também queria.
Mas trocávamos muito de par, para viver experiências diversas. Porque na dança você imprime
os seus sentimentos. No último dia foi uma grande tristeza. Nós nos prometemos nos
reencontrar num salão de danças, no espaço deles. E a gente ainda vai realizar isso.
Durante as filmagens havia um sentimento de comunhão. Todo o elenco junto no mesmo
espaço, trabalhando todos os dias juntos. Eu tenho certeza que a gente conseguiu contar uma
história muito bacana.
Que significado o Chega de Saudade tem para você?
Eu vejo o filme como um presente. Porque ele vai encher os olhos e o coração de muita gente.
Vai convidar muito dançarino a ir ao cinema, e os que não dançam vão ficar com muita
vontade de dançar. Eu acho um filme muito singular, não me lembro de nada parecido.
Falando do âmbito pessoal, a Laís é uma grande associação para mim. Se pudesse, estaria perto
dela a vida inteira. Eu me dedico a fazer coisas com associações. Os amigos são muito
importantes. A Laís é uma pessoa da qual não abro mão. Quero sempre jogar no time dela.
BIOGRAFIA CÁSSIA KISS
Em 1984, Cássia Kiss, chegou à televisão e ao cinema depois de começar a sua carreira no
teatro. A primeira novela em que atuou foi Livre Para Voar, de Walter Negrão. Daí para frente
à atriz compõe personagens marcantes, como a Lulu de Roque Santeiro, Leila de Vale Tudo,
Maria Marruá de Pantanal, Ana de Barriga do Aluguel e Ilka Tibiriça de Fera Ferida, entre tantos
outros. Sua última participação foi na novela Eterna Magia com a vilã “Zilda”.
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No cinema, depois de Memórias do Cárcere (1984), atuou em O País dos Tenentes (1987), de João
Batista de Andrade, e em Ele, O Boto (1987), de Walter Lima Jr. Na década de 90, atua em
único filme, A Grande Arte, longa de estréia de Walter Salles.
Em 2000, a atriz atua em Bicho de Sete Cabeças, filme dirigido por Laís Bodansky, e ganha os
prêmios de melhor atriz coadjuvante no Festival de Recife e o Prêmio Qualidade Brasil de
melhor atriz. Seguiu sua carreira no cinema com os filmes Ódiquê (2004), Tapete Vermelho
(2005), Não Por Acaso (2007) e Meu Nome não é Johnny (2007)
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STEPAN NERCESSIAN
“Foi como vivesse o baile de verdade”
Stepan Nercessian fala da emoção que sentiu ao dançar sob a forte interpretação de
Elza Soares durante as filmagens de Chega de Saudade
Confira a seguir entrevista exclusiva com o ator Stepan Nercessian. Ele interpreta Eudes, um
típico dançarino de salão que investe sobre diferentes corações na mesma noite:
A Elza Soares nos contou que te viu chorando enquanto ela cantava nas filmagens.
Você ficou mesmo emocionado ou foi exagero?
Exagero nada. “Chorei feito uma vaca” vendo a Elza cantar. Ela é emocionante. Naquele
momento no set me veio uma sensação muito forte, uma alegria de ver aquela estrela cantando
ali do meu lado, num salão de baile.
Repetindo várias vezes para a filmagem. Foi uma interpretação diferente de qualquer outro
show dela que eu já havia visto. Ela colocou uma força incrível no palco do Chega de Saudade.
A Elza é minha amiga há anos, mas naquele dia e hora, naquela festa, foi como se a verdade
fosse aquela que os meus olhos viam. Por um momento a ficção se transformou em realidade
na minha cabeça.
Eu me senti um homem qualquer naquele baile em que a crooner da banda era uma cantora
com aquela presença, a presença da Elza Soares. Foi mágico. Fiquei emocionado. Dá para
guardar como um grande momento.
Como foi para você mergulhar no mundo dos bailes de salão?
Eu conhecia um pouco este mundo antes do trabalho. Há muito tempo, no Rio de Janeiro,
volte e meia eu conversava com o pessoal dos salões.
Mas a intimidade mesmo eu tive no filme. Foi encantador, porque os personagens são
verdadeiros, com sonhos próprios.
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Os exercícios propostos pelo Sérgio Penna deixavam a coisa fluir, a emoção vinha de acordo
com a situação que a gente experimentava e depois ia contar no filme.
Estes exercícios e ensaios foram fundamentais porque se criou uma cumplicidade entre os
atores. Na hora de filmarmos, as relações já tinham uma memória.
Dizem que você tem muito em comum com o seu personagem, o Eudes. Você
concorda?
O Eudes é uma pessoa comum. Um homem bom, que gosta de estar com as pessoas. O
pessoal deve ter me identificado com ele porque eu também gosto de estar com as pessoas.
No ambiente de filmagem aumenta a amizade. Quando termina um filme vejo que fiz novos
amigos. Claro que a gente não convive mais, mas fica o sentimento, o desejo de se reencontrar.
Ganhei vário irmãozinhos.
E como o Eudes, eu gosto muito de brincar mesmo. A vida é curta, a chateação é garantida
para todo mundo, em algum momento. Então, já que é assim, eu sempre brinco quando posso.
E foi muito bom porque, sem a gente perder a seriedade que o filme exigia, o bom humor foi
uma característica de toda a equipe. A Laís incentivava este clima de alegria.
Como era a relação com o elenco de apoio?
Era muito intensa. Eles nos ajudavam muito, não negavam fogo. Por outro lado, sentíamos a
responsabilidade de não deixar a peteca cair. Tínhamos de estar animados. Já pensou se eles
vissem os atores reclamando toda a hora? Iam pensar que ser artista era isso.
E o filme foi feito numa única locação, com todo mundo junto. Uma espécie de internato.
Muitas horas de filmagem, o que é uma coisa cansativa. Sabia que além de representar éramos
uma referência para o elenco de apoio. Então o bom humor foi um elemento decisivo.
Quanto à disposição do pessoal mais velho, este filme confirmou algo que eu já sabia: somos
iguais a eles. Eu me vejo vivendo intensamente como eles quando tiver mais idade. Vou dar
trabalho até os 45 minutos do segundo tempo. Não vou morrer em vida.
O Eudes tem um lado um tanto “sem-vergonha”. De onde veio a inspiração?
Essa coisa sem-vergonha a gente tem dentro de nós. Nas situações de flerte, galanteio, o
homem arrisca, faz essas coisas, é natural. E às vezes pinta um lance que não dá para parar. O
Eudes se move pelo encantamento. Ele sente que está acontecendo alguma coisa, que não sabe
ao certo o que é. Ele se deixa levar, no ritmo da música.
BIOGRAFIA STEPAN NERCESSIAN
Stepan Nercessian inciou sua carreira artística no final dos anos 60. Em 1970, foi escolhido
através de testes para protagonizar o filme Marcelo Zona Sul (1970). Depois deste sucesso
trilhou uma longa carreira no cinema nacional atuando em filmes, sucessos de crítica e de
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bilheteria, como André a Cara e a Coragem (1971), A Rainha Diaba (1974), Xica da Silva (1976),
Orfeu (1998), Deus é Brasileiro (2003), O Maior Amor do Mundo (2006) e Podecrer! (2007).
Stepan não se dedicou apenas ao cinema estendendo sua carreira ao teatro e à televisão.
Trabalha na TV Globo desde 1972, participando de novelas, como Bandeira Dois, O Astro, Feijão
Maravilha, Vale tudo e, mais recentemente Cobras e Lagartos. Além de grande ator, Stepan se
mostrou um grande dançarino e muito carismático, vencendo o quadro “Dança dos Famosos”
do programa Domingão do Faustão.
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PAULO VILHENA
Paulo Vilhena descreve mergulho profundo
Ator conta que trabalho de preparação para o filme incluiu vivência nos bares de São
Paulo na pele do personagem Marquinhos, de Chega de Saudade
Confira a seguir entrevista exclusiva com Paulo Vilhena. Ele conta como foi fazer um
“outsider” no salão. Seu personagem é o único “peixe fora d`água” do longa-metragem:
Como surgiu o convite para atuar em Chega de Saudade?
Eu estava fazendo a peça Essa Nossa Juventude, dirigida pela Laís, em São Paulo. Um dia ela me
disse que gostaria de convidar o Waren (o personagem que eu fazia na peça) para ser o
Marquinhos – o meu papel em Chega de Saudade.
Fiquei muito surpreso e interessado. Ela disse que a essência dos dois tinha algo em comum. O
Marquinhos tem uma origem que conheço, que vi em Santos (SP), minha cidade natal.
Um cara simples, que cresceu brincando na rua e que tem de dar uma força em casa desde
cedo. Ele trabalha como DJ no baile do Chega de Saudade para ganhar um dinheiro.
É um cara dedicado, atura aporrinhação do dono do salão. O Marquinhos é o único
personagem do filme que está deslocado no salão de baile. É um peixe fora d`água.
Como foi o trabalho de preparação de elenco?
Foi impressionante, porque deu oportunidade de a gente viver aquela vida. Encarnar aquele
garoto e aquela menina, no meu caso e no da Maria Flor (Bel), que faz par comigo.
Depois de um ensaio o Sérgio Penna, preparador de elenco, e a Laís levaram a gente para dar
uma volta pela Vila Madalena. Eles nos soltaram lá, encarnados como Marquinhos e Bel,
condição que mantivemos por cerca de 3 horas.
Não nos foi passado texto. Tínhamos de improvisar, livremente, a partir das seguintes missões:
eu queria sentar num bar, tomar cerveja e assistir ao jogo na TV, e deveria convencer a Bel a
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me acompanhar nisso. Ela, por sua vez, queria que eu a levasse a uma banca de frutas, para
fazer umas compras. As duas coisas acabaram acontecendo.
Então a gente viveu esse conflito, tiramos algumas faíscas que depois usamos no filme. A Laís
e o Penna acompanhavam de longe, com uma câmera. Foi uma experiência incrível fazer
coisas simples, como caminhar entre as pessoas num bar, na pele do personagem. A nossa
relação foi criada ali, na minha opinião.
O Penna fala manso, é sutil. Trabalha de tal forma que te extrai sensibilidade. Consegue uma
conexão direta. É um bruxo, no melhor dos sentidos. Ele compromete os atores. Faz você dar
o máximo que pode pelo time do filme.
Você gosta de dançar? Deu para se divertir no set?
Eu fiquei concentrado, não me deixei contaminar pelo astral e pelo baile que acontecia no set
de filmagem. Aquilo era mágico, morria de vontade de dar uma sacolejada. Mas sabia que isto
poderia alterar o meu semblante para a cena que iríamos filmar em seguida.
O meu personagem não participa da festa. Eu tinha que virar de costas e ficar ali no meu
cantinho, em meio a toda a felicidade que emanava ao meu redor. Foi duro (risos).
Que imagem você tinha sobre a turma dos bailes e com qual ficou depois do filme?
Fiquei muito impressionado com a vitalidade deles. Eu às vezes me vejo sem pique para fazer
tudo o que eles fazem. Eles vão para um baile, para o outro, outro, dia após dia.
Eu os admiro. Acho que é uma redescoberta da vida para eles. Não devem mais nada a
ninguém, querem aproveitar para se divertir. Creio que esta seja a grande sacada da vida. Estou
atento a isso. Aproveitar o dia-a-dia. Concentrar-me nas coisas que valem à pena de verdade.
Como você resumiria a experiência que teve em Chega de Saudade?
O filme se fez em função das pessoas impressionantes da Laís Bodanzky e do Luiz Bolognesi.
O casal é maravilhoso. São de um carinho, respeito, amizade e cumplicidade sem limites.
A Laís deu oportunidade de todo mundo ser ator na plenitude. No ensaio geral organizado
pelo Penna ela nos disse: se preparem, vocês vão ser seus personagens durante 4 horas neste
salão. Aproveitem! Divirtam-se!
Puxa, foi incrível, uma experiência única. Todo mundo ficou lisonjeado com essa atitude de
dar este impulso, como quem diz: vai, descobre aí o seu caminho até o personagem. Foi um
trabalho de muita generosidade.
BIOGRAFIA PAULO VILHENA
Paulo Vilhena começou sua carreira como modelo aos 17 anos, em seguida passou em alguns
testes e participou do seriado Sandy e Junior (Rede Globo) por três anos. Em 2002 fez sua
estréia nas novelas participando de Coração de Estudante, e de lá pra cá trilhou uma carreira na tv
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atuando em Agora É Que São Elas (2003), Celebridade (2003), A Lua me Disse (2005) e Paraíso
Tropical (2007).
Em 2005, a convite da diretora Laís Bodanzky, atuou na peça Essa Nossa Juventude que lhe
rendeu elogios de Paulo Autran: "Me enganei com Paulo Vilhena. Eu disse que ele nunca seria
um ator", lembra Autran.
Em 2007, Paulo Vilhena estreou no cinema com o filme O Magnata, com roteiro de Chorão,
vocalista do grupo Charlie Brown Jr.
***
MARIA FLOR
Menina desvenda alegria no baile dos maduros
Bel, vivida por Maria Flor, se depara com um mundo novo ao acompanhar o namorado
DJ ao salão de baile do Chega de Saudade
Na entrevista a seguir Maria Flor fala de sua experiência como uma das protagonistas do filme.
Bailarina clássica, a atriz conta que o filme revelou também a ela o universo dos bailes:
Que sentimentos ficaram para você do trabalho em Chega de Saudade?
Foi muito emocionante participar do trabalho que a Laís Bodanzky e o Sérgio Penna fazem
com os atores. Já no teste de elenco, senti que este projeto era uma coisa muito especial,
porque me senti muito querida e cuidada desde o começo do processo.
A busca do personagem e os papos todos foram muito delicados e bonitos. Dá sempre
motivação de estar no set de filmagem. Eu aprendi muito com o Penna, nos exercícios que ele
propôs, como levar o personagem para a rua. Só de lembrar fico emocionada, porque foi
muito importante para mim como atriz.
Com que tipo de emoção você lidou ao interpretar a Bel?
A Bel é uma menina com a vida muito definida, apesar de ser bem nova. Uma vida um pouco
entediante, sem aventura. Ela namora há muito tempo o Marquinhos (Paulo Vilhena). No baile
do Chega de Saudade descobre que é possível ser mais alegre, que a vida oferece muito mais do
que ela aproveitava deste então.
No salão, ela se sente um princesa. E fica muito tocada como as pessoas mais velhas se
comportam no salão de baile, inclusive com ela. Aquela felicidade mexe com ela.
Como foi sua relação com os demais atores?
Eu fiquei muda neste filme, só escutava. Foi muito importante observar em ação atores como
a Tônia Carrero. Gosto muito do personagem do Leonardo Villar (Álvaro). Ele fez uma
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interpretação brilhante, totalmente diferente do que eu imaginava. Verdadeira e contida ao
mesmo tempo. São grande atores em grandes atuações, que me deixavam de boca aberta.
Fiz uma grande amiga neste filme, a Cássia Kiss. Nós nos identificamos muito. Ela me indicou
para fazer a novela das 6, da Rede Globo, Eterna Magia. Vamos fazer uma peça juntas em breve
e tenho certeza que é uma relação que vai ficar marcada na minha vida.
A Conceição Senna (personagem Aurelina) também virou uma grande amiga. Fomos
companheiras de hotel em São Paulo. Foi maravilhoso ter a companhia dela ali.
O Stepan foi incrível de trabalhar. É muito engraçado e adora uma piada. É parecido com o
seu personagem, o Eudes. O Paulinho foi meu grande parceiro neste trabalho, pessoa muito
querida. Fizemos uma cena de improviso que foi incrível. O elenco todo é maravilhoso.
Que visão você tem do mundo dos bailes?
Eu nem sabia da existência deste tipo de baile antes do filme. A dança tem uma presença muito
forte na minha vida. Fui bailarina clássica até os 18 anos. Só deixei de seguir carreira
profissional na dança quando decidi ser atriz. Mas até hoje adoro dançar.
Mesmo assim, não conhecia este tipo de salão. No Rio de Janeiro fui a bailes que tinham
pessoas mais velhas. Mas era aquela coisa do Rio, com muito samba, misturado, muito
freqüentado por gente da minha idade também.
Fui aos salões de São Paulo levada pela produção do filme. Foi uma surpresa muito grande,
fiquei maravilhada. Conversei com várias pessoas e dancei muito. É um ambiente muito bom e
diferente.
O contato com os freqüentadores de salão que fazem parte do elenco de apoio do filme
também foi sensacional. Eu não parei o tempo todo de dançar com eles. São muito animados.
Eles deram uma contribuição imensa. Sem eles, não haveria metade da atmosfera dos bailes
que sentíamos durante as filmagens.
BIOGRAFIA MARIA FLOR
Nascida em 1983 no Rio de Janeiro, fez sua estréia participando do filme Cazuza – O Tempo não
Pára (2004), de Sandra Werneck e Walter Carvalho, no ano seguinte protagonizou o longa O
Diabo a Quatro (2004), de Alice de Andrade, pelo qual ganhou o prêmio de melhor atriz no
Festival de Manaus. Paticipou também de Quase dois Irmãos (2005), de Lucia Murat – prêmio de
melhor atriz coadjuvante no Festival de Belém, É Proibido Proibir (2007) de Jorge Durán e
Podecrer! (2007) de Artur Fontes.
Na televisão também tem uma boa carreira, participando de novelas de sucesso como:
Malhação, Cabocla (2004), Belíssima (2006) e protagonizou Eterna Magia (2007).
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JORGE LOREDO
“Zé Bonitinho estaria à vontade no baile de Chega de Saudade”
Jorge Loredo, o impagável Zé Bonitinho, fala sobre sua participação no filme:
Zé Bonitinho
O Zé Bonitinho certamente se daria bem no universo dos bailes que é retratado no Chega de
Saudade. Ele encontraria tipos excêntricos como ele. Ele iria se sentir à vontade. O Zé
Bonitinho é um personagem tirado da realidade. Eu o criei imitando um amigo meu.
Ele jamais aceitaria a terceira idade dele. O pessoal que vai aos bailes hoje em dia vive uma
continuidade da juventude deles. O Zé Bonitinho continuaria fazendo as suas estripulias, sem
dar conta da sua idade.
Acredito que a terceira idade contém algo de libertador. O pessoal já criou os filhos, tem os
netos crescidos, já está aposentado. Não tem mais a preocupação imediata. É uma forma de
vida em que a pessoa se libera para ver o mundo e conhecer gente. A pessoa já cumpriu a sua
missão, e por isso se abre um universo muito amplo, para quem tem coragem de sair de casa.
O mundo dos bailes
Quando era jovem freqüentei muito salão, nos clubes, e bailes de formatura. No filme eu vi
muita coisa parecida ao que via naquela época. A não ser os cabelos brancos. Mas a forma de
proceder e a gentileza com as damas são as mesmas.
Percebo uma mudança na composição das orquestras. Naquele tempo era comum a gente
dançar sob o som de formações em que prevaleciam os metais – trompetes e saxofones – e o
piano. Hoje os conjuntos são menores, são bandas.
O convite para a volta ao cinema
Fazia muitos anos que não fazia cinema. A última vez havia sido com o Rogério Sganzerla – o
diretor de O Bandido da Luz Vermelha – em Sem Essa, Aranha, de 1971.
O Selton Mello mostrou o documentário que fez comigo à Laís e abriu a chance de eu ser
convidado. Fiquei muito tenso na semana de filmagens da qual participei. O meu personagem
é um homem que volta aos bailes depois de ter se afastado para fazer um aponte de safena.
A Laís e o Sérgio Penna conversaram muito comigo, me explicaram qual era a emoção do
personagem. Nós fomos falando, trabalhando, e eu fui absorvendo. Fui muito interessante.
Você vai vivendo o personagem nos ensaios, com liberdade. Fellini já dizia: ator não se dirige,
se sugere. A pessoa acrescenta alguma coisa com a sua interpretação.
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BIOGRAFIA JORGE LORREDO
Em 1954, Jorge Loredo entrou para a TV Tupi do Rio de Janeiro, fazendo pontas e dublagens.
No programa Noites Cariocas, na TV Rio, fez sua primeira apresentação como o personagem Zé
Bonitinho. Foi um sucesso imediato e Jorge passou a fazer apresentações em todo país.
De lá pra cá. passou por quase todas as emissoras do País. Nos anos 70 trabalhou na TV
Globo, onde participou dos programas: Balança Mas Não Cai, Chico Anísio Show, Escolinha do
Professor Raimundo e Viva o Gordo. Na TV Record o personagem Zé Bonitinho participou da
Escolinha do Barulho e hoje pode ser visto no programa A Praça é Nossa, no SBT.
Em 2002 Jorge Loredo recebeu um convite para participar da ópera rock infantil Eu e Meu
Guarda-Chuva. Desde 1983 o ator não subia aos palcos para interpretar um personagem que
não fosse o Zé Bonitinho.
Sua participação no teatro chamou a atenção da jornalista Susanna Lira que decidiu rodar um
documentário contando sobre sua vida. O documentário recebeu nome de Câmera, Close.
Em 2005 Jorge Loredo filmou, com a direção de Selton Mello, o curta Quando o Tempo Cair. No
filme ele surpreende a todos num papel dramático, num roteiro escrito especialmente para ele.
***
ELZA SOARES
“Esta moça, idade, não a conheço”
No depoimento a seguir Elza Soares comenta seu retorno como crooner em Chega de
Saudade:
Bailes de salão
Comecei minha carreira nos salões de baile, cantando como crooner. No Texas Bar, no Rio de
Janeiro, cantava gafieiras. O crooner, nos anos 50 e 60, era uma preparação para ser um cantor.
Primeiro tinha de passar por isso, entende?
Porque ali era um teste. Se as pessoas gostassem, dançavam. Se não gostassem, ficavam
paradas tomando cuba libre ou cerveja, sem dar bola para quem está no palco.
O baile do set de filmagens do Chega de Saudade parecia de verdade. Foi muito bom voltar a
toda esta atmosfera, porque fazia décadas que eu não era crooner. É prazeroso demais viajar
por várias estações, fazer baldeação em cada ritmo.
Durante um bom tempo, nos anos 50, fui crooner em Buenos Aires, na Argentina. Cantava
junto com o Astor Piazzolla, que me chamava de “nenita”, bebezinho. Você vê como eu era
inocente? Eu não sabia que ele era o Piazzolla (risos).
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A gente adorava tocar junto, e ele estava no auge, era muito famoso. E estava no auge das
críticas, inclusive, porque revolucionou o tango. Eu acho que eu faço um pouco parte disso,
desta coisa do Piazzolla ter aproximado o tango do jazz.
O filme me permitiu recordar isso. Voltar a visitar o tango, assim como tantas outras
baldeações. Lembrei-me muito também do meu tempo na orquestra de Severino Araújo.
Outra coisa que me atraiu no Chega de Saudade foi a preocupação da produção musical em
compor as condições reais das bandas dos bailes. Tem uma cena no filme em que o som pifa
de repente, como acontece nos salões. Este tipo de coisa ajuda a fazer o clima e não me
assusta. Se precisar, canto sem microfone.
Público do salão
A troca com o elenco foi genial, só grandes atores. O Stepan (Necerssian) é uma graça. Ele me
viu cantando nas filmagens e chorou. Eu fico muito solta. O palco é minha vida.
Também adorei conviver com o elenco de apoio, formado por freqüentadores dos bailes. Eles
aplaudiam todas as músicas e dançavam com muito vigor. O povo ali sentia que eu estava
inteira naquele momento.
Eu me identifico com o espírito deles. Não estou “nem aí” para o que vão pensar de mim.
Tem que ser assim. Se eu ficar ligando para o que os outros vão pensar não vou nem no
banheiro (risos) Já pensou?
Quanto à idade, quem é esta moça? Não a conheço. O tempo, quando cheguei, já estava lá.
Quando eu sair, vai estar aqui. Eu bato palma pra ele, e ele conjuga o verbo comigo.
BIOGRAFIA ELZA SOARES
Elza Soares foi criada em Engenho de Dentro, subúrbio do Rio de Janeiro, onda contava
desde criança, com voz rouca e ritmo sincopado dos sambistas de morro. Aos 20 anos, mãe e
viúva, começou a cantar profissionalmente na Orquestra de Bailes Garan. Por intermédio de
Moreira da Silva, cantou na Rádio Tupi e virou crooner da boate Texas, em Copacabana.
No seu primeiro disco, gravado em 1960, cantou Se acaso você chegasse, de Lupicínio Rodrigues,
alcançando logo grande sucesso. Em 1962, na Copa do Mundo do Chile, cantou ao lado de
Louis Armstrong. Desde então não largou mais o estrelato. Gravou mais de 50 discos e cantou
com os principais nomes da MPB e da música internacional. Viveu nos EUA e Europa entre
1986 e 1994, após a morte de Garrincha e do seu filho com ele, Garrinchinha.
Na sua volta ao Brasil, gravou o CD Trajetória, só de sambas de Zeca Pagodinho, Guinga e
Aldir Blanc. Nos últimos anos continuou a produzir e a conquistar novas platéias, sempre
antenada com os movimentos mais relevantes da música brasileira. Em 2007 gravou o seu
primeiro DVD, Beba-me.
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MARKU RIBAS
“A indiscreta deselegância dos bailes”
Par de Elza Soares como crooner de Chega de Saudade, Marku Ribas comenta o que mudou e o
que permaneceu igual nos salões nas últimas décadas; e como foi cantar ritmos tão diversos
Mundo dos bailes
Comecei minha carreira em 1962, em Pirapora, Minas Gerais, num barzinho chamado
Coqueirinho. Foi lá que estreamos o baile do Conjunto Flamingo. Eu era baterista e crooner.
Já tocávamos mambo, chá,chá,chá, fox trot. Tínhamos como modelo a grande Orquestra
Tabajara. Interessante notar que esta referência dos anos 60 está muito viva nos bailes atuais, e
por conseqüência no filme. O ambiente, o conteúdo e a confraternização são os mesmos.
Está certo que naquele tempo todo mundo era um pouco mais pomposo. Porque hoje existe
uma indiscreta deselegância nos salões. Um despojamento maior.
Crooner no estúdio
De antemão, quando gravamos as canções no estúdio, procurei trabalhar no sentido de facilitar
a dublagem que faríamos depois, nas filmagens. Este foi o meu maior desafio, porque
tínhamos a responsabilidade de não comprometer a montagem.
Para passear por tantos ritmos como o baile exige do crooner, é preciso não só falar a língua,
mas compreender o regionalismo e o sabor de cada estilo.
Eu cantei todas as músicas gravadas em estúdio no tom da orquestra. Os arranjos não foram
feitos para a minha voz. Entrei na onda da orquestra com os arranjos já prontos.
Humildemente priorizei a Elza e o conceito que já existia.
Tenho como característica a versatilidade. Minha lista de parceiros de gravação vai de Jackson
do Pandeiro a Rolling Stones.
Sou do Vale do Rio São Francisco. Um local onde há um sítio arqueológico com registros da
presença do homem de mais de 2,5 mil anos. Pelo meu sangue já passou muita história e
música.
Baile no set
O trabalho no União Fraterna, locação do filme, foi incrível. A Laís nos deu segurança e
liberdade para improvisar. Aconteciam verdadeiros bailes no set de filmagem. A equipe inteira
trabalhava na dimensão do emocional.
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BIOGRAFIA MARKU RIBAS
O mineiro Marku Ribas é um músico e compositor múltiplo. Mistura variados ritmos
brasileiros com elementos afros do Caribe, balanço, black, jazz, entre outros. Dono de uma
discografia ímpar rodou o mundo e fez música com o primeiro time do pop mundial. Gravou
com Rolling Stones e fez show com James Brown. No Brasil é parceiro de João Donato,
Sebastião Tapajós, Sivuca, entre muitos outros.
Nos últimos anos Marku fez parcerias com grandes nomes da nova geração da música
brasileira, como Marcelo D2, Ed Motta, Arnaldo Antunes e BiD . Trajetória interessante fez
Zamba Ben, música sua que virou cult em todo o país como o "hino do samba-rock".
No cinema Marku já trabalhou em filmes de diretores de grande fama internacional, como
Robert Bresson e Jean Marc Tibeuau. No Brasil, em 2007, além de sua atuação em Chega de
Saudade, interpretou Carlos Marighela no longa Batismo de Sangue, de Helvécio Ratton.
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FICHA TÉCNICA
CHEGA DE SAUDADE
um filme dirigido por Laís Bodanzky
roteiro: Luiz Bolognesi
direção de fotografia: Walter Carvalho-ABC
direção de arte: Marcos Pedroso
montagem: Paulo Sacramento
música: BiD
preparação de atores: Sergio Penna
coreografia: J.C. Violla
produção de elenco: Vivian Golombek
figurino: André Simonetti
maquiagem: Doel Sauerbronn
som direto: Geraldo Ribeiro e João Godoy
supervisão de edição de som: Alessandro Larocca
mixagem: Armando Torres Jr.
making of: Edu Abad
coordenação de pós produção: Helena Maura e Alessandra Casolari
coordenação de marketing: Manuela Mandler, Fred Avellar e Eduardo Nóbrega
direção de produção: André Montenegro
co-produção executiva: Renata Galvão
produção executiva: Caio Gullane e Fabiano Gullane
produzido por Caio Gullane, Fabiano Gullane, Debora Ivanov, Laís Bodanzky e Luiz Bolognesi
produção: Gullane Filmes e Buriti Filmes
co-produção: Miravista e Globo Filmes
em associação: ARTE–France
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Elenco:
Tônia Carrero
Leonardo Villar
Cassia Kiss
Betty Faria
Stepan Nercessian
Maria Flor
Paulo Vilhena
Conceição Senna
Luiz Serra
Marcos Cesana
Miriam Mehler
Clarisse Abujamra
Marly Marley
Jorge Loredo
Selma Egrei
Participação especial: Elza Soares e Marku Ribas
www.chegadesaudadeofilme.com.br
lançamento: 21 de março de 2008
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